133
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo (DAUP) A COMPANHIA ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO BRASIL E AS OFICINAS GERAIS DE BAURU (PROCESSO 2011/19484-2) RELATÓRIO FINAL Felipe Alves van Ham Orientador: Prof. Dr. Nilson Ghirardello

A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

Universidade Estadual Paulista

“Júlio de Mesquita Filho”

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC)

Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo (DAUP)

A COMPANHIA ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO

BRASIL E AS OFICINAS GERAIS DE BAURU

(PROCESSO 2011/19484-2)

RELATÓRIO FINAL

Felipe Alves van Ham

Orientador: Prof. Dr. Nilson Ghirardello

Page 2: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

2

SUMÁRIO

RESUMO 04

1. OBJETIVOS 06

2. MÉTODO 08

INTRODUÇÃO

3. Bauru e as Ferrovias

4.1 Processo de Formação de Bauru 09

4.2 A chegada das Ferrovias na cidade 12

DESENVOLVIMENTO

4. Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (CEFNOB)

5.1 A criação da CEFNOB 14

5.2 Construção da Ferrovia 15

5.3 Os primeiros anos 17

5. A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB)

6.1 Encampação pelo Governo Federal 19

6.3 Reestruturação e primeiras diretorias 20

6.4 A administração Arlindo Luz 20

6. Oficinas Gerais de Bauru

7.2 Concepção das Oficinas 23

7.2 Construção e Inauguração das Oficinas 24

7.3 A organização industrial 30

7.4 Os edifícios e os equipamentos

7.4.1 Seção A – Ajustagem e Seção B – Eletricidade 31

7.4.2 Seção C – Carpintaria 38

7.4.3 Casa de Força e Caldeira a Vapor 41

7.4.5 Abrigo do Compressor 43

7.4.6 Almoxarifado 45

7.4.7 Ferraria 49

7.4.8 Fundição 50

7.4.9 Oficina Diesel 52

7.4.10 Administração 55

7.4.11 Outros edifícios 57

Page 3: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

3

7. Bauru e as Oficinas

9.1 Os trabalhadores 60

9.2 Vila Falcão 63

9.3 Curso de Profissionalização 63

8. O dia-a-dia nas Oficinas Gerais de Bauru

10.1 Produção por setor, fatalidades, crises 65

9. Decadência e abandono

11.1 Transferência para a RFFSA e privatização 69

10. O Complexo hoje

12.1 Preservação e processo de tombamento 71

11. RESULTADOS E ANÁLISE 73

12. FONTES PRIMÁRIAS 75

13. BIBLIOGRAFIA 77

14. FICHAMENTOS (Anexos 1.) 78

15. LEVANTAMENTO DOS RELATÓRIOS DA EFNOB

(1916-1991) (Anexos 2.) 98

16. LEVANTAMENTO DE MATERIAL GRÁFICO NA

INVENTARIANÇA DA EXTINTA RFFSA 110

17. LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO NO COMPLEXO

DAS OFICINAS CENTRAIS DE BAURU (Anexos 3.) 118

Page 4: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

4

RESUMO

Este trabalho de Iniciação Científica é parte do Projeto de Pesquisa:

EFNOB/BAURU-KM0, vinculado à FAPESP, processo n◦.: 2011/51014-6, e

CONDEPHAAT, processo n◦.: 2012/50041-2 cujo intuito é o levantamento

documental e o inventário do patrimônio ferroviário da EFNOB em Bauru. O

tema do trabalho, portanto, é a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB),

sendo que essa IC aborda como tema específico as Oficinas Gerais de Bauru.

Bauru era até o início do século XX um pequeno povoado conhecido

como “boca-do-sertão”, até então a última fronteira do Estado de São Paulo. A

posição estratégica levou à Bauru, durante a década de 10, os trilhos das

grandes ferrovias Sorocabana, Paulista e Noroeste, tendo a última seu

quilômetro zero na cidade. A chegada das ferrovias transformou o incipiente

povoado em uma moderna e populosa cidade tornando-a logo uma metrópole

regional.

Parte essencial neste processo a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

(NOB) instala em 1917 seus escritórios na cidade e transporta para Bauru a

administração e corpo técnico da ferrovia, junto de seus investimentos e

tecnologias, e, no ano 1921 ergue junto ao pátio ferroviário as Oficinas Gerais

de Bauru. Tidas como base do funcionamento de todo o material rodante e de

tração desta grande indústria ferroviária, as Oficinas da Noroeste destinavam-

se a projetação, à montagem e principalmente à manutenção das locomotivas,

vagões e carros, cobrindo todos processos desde a forja e usinagem dos

metais até o estofamento e acabamentos dos vagões de passageiros.

O complexo foi construído com materiais e técnicas de primeira

qualidade para a época e apresenta um projeto que desenvolve racionalmente

e esteticamente os vários usos que ali se concentravam, e detém ainda hoje

uma reconhecida qualidade arquitetônica. Após décadas de intensas atividades

as Oficinas começaram a partir de 1980 terem seu papel dentro da NOB

diminuído, graças “a vinda das locomotivas a diesel, carros metálicos,

aquisição de peças prontas” (SILVA, A. Roteiro histórico: uma cidade uma

instituição. Bauru: Tipografia Comercial, 1957. p.87). Também a Estrada de

Ferro já não tinha a importância estratégica de antes, principalmente após a

Page 5: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

5

adoção do modelo rodoviarista como principal rede de transporte de cargas e

passageiros no país.

Este projeto de iniciação científica pretende ser ativo frente às questões

de preservação da memória e do patrimônio histórico, pois além de organizar

uma documentação que garanta a permanecia dos relatos e dados históricos,

também tem a finalidade de entrar em diálogo com os órgãos de preservação,

principalmente, a Prefeitura Municipal de Bauru, podendo servir como escopo

para um futuro processo de tombamento e revitalização do páteo ferroviário.

Oficinas Gerais de Bauru na década de 1920. Fonte: Autor Desconhecido em http://www.estacoesferroviarias.com.br/rotundas/bauru.htm

Page 6: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

6

1. OBJETIVOS

Este projeto de Iniciação Científica tem por objetivo geral o estudo da

história da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), grande ferrovia

paulista/mato-grossense, e sua relação com a história da cidade que foi a sua

sede, Bauru, a antiga “boca-do-sertão” paulista. Como fragmento que dá tema

à pesquisa, temos o importante complexo industrial construído pela ferrovia na

cidade, as Oficinas Gerais de Bauru.

A partir de um levantamento bibliográfico que abrange os temas: as

primeiras ocupações do território na região de Bauru; a história da Companhia

Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (que passaria a se chamar Estrada de

Ferro Noroeste do Brasil após a estatização); o processo de urbanização e

crescimento de Bauru, maior entroncamento ferroviário de São Paulo; o

entendimento do modus operandi de uma indústria ferroviária de grande porte

(a Noroeste chegaria a possuir até 1272 quilômetros de linha) e o processo que

levou à sua desestruturação e por fim ao abandono; pretendemos entender a

realidade das Oficinas Gerais de Bauru, datadas de 1921, que permaneceram

por décadas como parte vital da Noroeste e como catalisadoras do crescimento

acelerado que a cidade de Bauru passaria durante sua atividade.

Como objetivo do projeto, também temos o levantamento fotográfico e

arquitetônico do conjunto, a partir de visitas in loco e a busca de documentos

primários, plantas e fotografias em arquivos da extinta ferrovia e do Museu

Ferroviário Regional (junto ao Centro de memória regional da UNESP/ Rede

Ferroviária Federal S.A.). Tais materiais servirão além de suporte imagético,

como parte do entendimento da história da ferrovia. Almejamos ainda, através

de relatos históricos de ex-trabalhadores da ferrovia, criar uma paisagem que

ilustre a construção, o dia-a-dia, e o declínio das Oficinas.

Atualmente as Oficinas, assim como a estação e diversos outros

edifícios da NOB, estão inutilizadas e passam por um acelerado processo de

degradação. O grande valor histórico que elas representam tanto para a

indústria ferroviária brasileira quanto para a cidade de Bauru encontra-se

ameaçado e este trabalho deseja tornar-se parte de um possível processo de

tombamento do conjunto junto aos órgãos de preservação municipal e estadual

pondo fim ao estado de abandono desta importante memória bauruense.

Page 7: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

7

Page 8: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

8

2. MÉTODO

Iniciada em Dezembro de 2011, a Pesquisa “Estrada de Ferro Noroeste

do Brasil e as Oficinas Gerais de Bauru” seguiu o Cronograma proposto em

seu Projeto, e finaliza com a entrega do Relatório Final seu ciclo de trabalho.

Este Relatório compreendeu os itens: levantamentos documental (obtidos a

partir de consultas no centro de memória regional da UNESP/ Rede Ferroviária

Federal S.A.), bibliográfico (leitura de trabalhos que discorrem sobre a história

da ferrovia, as Oficinas Gerais, a região em estudo, e sobre a formação e

crescimento da cidade de Bauru), fotográfico (consultas nos arquivos da NOB e

in loco); representações gráficas (plantas, cortes, elevações) das edificações

pertencentes ao complexo (cedidas pela Inventariança da extinta RFFSA); e

jornais da época que noticiam sobre os acontecimentos das Oficinas.

As consultas a diversas fontes, como as bibliográficas e primárias,

puderam recompor o processo histórico dos dois temas estudados, a Ferrovia e

Bauru, ilustrando a conjuntura dos fatos que as cruzaram e o que este

acontecimento pôde gerar em ambas. Agradeço ao Centro de Memória

Regional da UNESP/ Rede Ferroviária Federal S.A pelo apoio na pesquisa com

os Relatórios Anuais da Noroeste, material primário da extinta ferrovia, ao

Museu Ferroviário Regional e à administração da extinta Rede Ferroviária

Federal S.A. de Bauru, pela colaboração na captação de materiais gráficos

como as plantas originais e fotografias da época.

3. INTRODUÇÃO

Page 9: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

9

3.1 Processo de Formação de Bauru

A região Oeste do Estado de São Paulo, ainda nos últimos anos do

século XIX, permanecia sem ocupação permanente pelo homem branco e

bastante desconhecida para a maioria da população, nos mapas oficiais era

tratada com “Terra devoluta ou zona desconhecida”. Era tida como insegura,

graças à presença dos indígenas nativos, os Caingangues, considerados

violentos, e a mata densa, ainda praticamente intocada. O oeste paulista, onde

se situava Bauru, era uma região ainda sem ocupação formal. Conhecido como

“boca-do-sertão”, o pequeno vilarejo ainda era a transição entre o promissor

estado de São Paulo e o virgem interior do Brasil.

“As ocupações rurais mais antigas na região de Bauru acontecem por

volta de 1856.” (GHIRARDELLO, 2001. p. 70) Os primeiros colonizadores da

região foram os mineiros atraídos pela ideia da terra fácil e a promessa de

progresso vindas da capital paulista. Logo a região foi parcelada e as primeiras

fazendas foram instaladas. Para elas os mineiros trouxeram suas lavouras e

criações. “Plantavam milho, criavam gado e principalmente porcos.”

(GHIRARDELLO, 2001. p. 73) Não muito tardou para a onda cafeeira

esparramar-se pela região, trazendo consigo uma nova cultura e a expansão

do capitalismo rumo ao sertão.

Em fins do século começa a surgir o vilarejo que daria origem a Bauru.

No início ele era formado por um pequeno número de casebres simples, feitos

principalmente de taipa e madeira, esta que era um recurso ainda muito

abundante na região. A ocupação se inicia junto à estrada que ligava a vila de

Fortaleza e a cidade de Lençóis Paulista aos sertões do oeste, esta “Estrada

depois chamada de Araújo Leite, se situava no sentido norte-sul, próximo ao

Ribeirão das Flores, mas, em cota suficientemente alta para evitar as

enchentes.” (GHIRARDELLO,N Aspectos do direcionamento urbano da cidade

de Bauru. Dissertação de Mestrado (Curso de Arquitetura e Urbanismo) -

Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1992. p. 52)

Em 1884, o mineiro Antônio Teixeira do Espírito Santo e sua mulher

doam parte de sua fazenda, adquirida em 1855 do posseiro João Baptista

Monteiro, à Igreja Católica, a fim de formar o patrimônio de São Sebastião do

Page 10: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

10

Bauru. Tal área era demarcada entre “uma grande reta, hoje rua Araújo Leite,

em sentido norte-sul, e a atual rua 1˚ de Agosto em sentido leste-oeste”

(GHIRARDELLO, 1992. p. 52) e contava com aproximadamente 57 hectares.

Somente em 1888 foi convocado pela Câmara de Fortaleza, município ao qual

a Vila de Bauru era subordinada, o serviço de arruamento do vilarejo. As ruas

foram demarcadas em traçado de tabuleiro de xadrez, tendo como linha de

referência a estrada de Lençóis, com uma ocupação de forma triangular entre

as barrancas do Ribeirão Bauru e seu afluente Ribeirão das Flores.

Já nesta data, a região de Lençóis, Jahú e principalmente de Botucatu,

já eram grandes produtoras de café e atraiam para si investimentos em

infraestrutura. Parte importante da agroindústria, símbolo do

desenvolvimentismo capitalista, e bandeira do estado de São Paulo, a ferrovia

chegara ao interior trazendo um novo modo de vida. “A 18 de fevereiro de 1887

chegam os trilhos da Paulista a Jahú, vindos da região de Rio Claro e no ano

seguinte a Sorocabana atinge Botucatu, e depois Lençóis.” (GHIRARDELLO,

1992. p. 58)

Durante a década de 1890 novas fazendas são criadas nas redondezas

de Bauru e diversas famílias mineiras e também uma grande quantidade de

estrangeiras, principalmente imigrantes italianos, espanhóis, portugueses e

sírios, se instalam na roça e na área do patrimônio. Trazem consigo o

comércio, que começaria a se instalar na rua Araújo Leite, e principalmente a

política pelas famílias que depois se tornariam ricas e influentes em toda a

região, como a Almeida e a Leite. Também “homens de todas as espécies

aportavam em busca de fortuna fácil. Apresentavam-se com falsos títulos,

arranchavam-se por estas bandas e promoviam toda a sorte de desordem”.

(SILVA, A. Roteiro histórico: uma cidade uma instituição. Bauru: Tipografia

Comercial, 1957. p.61) A chegada de fazendeiros poderosos, de inúmeros

colonos, e também dos desclassificados, traz o progresso ao vilarejo de Bauru,

que começa a acumular funções típicas de uma cidade moderna, como o

comércio de artigos de consumo básico e de itens específicos para a

manutenção das lavouras, a pousada, a capela e o cemitério, o posto do

correio e o primeiro distrito policial, erguido em 1892.

Graças ao rápido crescimento do vilarejo, em 1893 Veríssimo Antônio

Pereira e sua mulher doam mais de 134 hectares de terra contígua que são

Page 11: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

11

somadas ao patrimônio, demonstrando a intenção dos fazendeiros no

desenvolvimento da vila. No mesmo ano Bauru ganha um distrito de paz, e em

1896 o “município de Espírito Santo de Fortaleza passa a denominar-se Bauru,

mudando sua sede para esta última povoação”. (GHIRARDELLO, 1992. p. 63)

A rua Araújo Leite em Bauru em 1908. Fonte: Autor Desconhecido em http://www.embauru.com.br/bauru/fotos/

Page 12: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

12

3.2 A chegada das Ferrovias na cidade

É evidente o crescimento que os grandes produtores de café traziam

para Bauru, porém, o maior ícone do desenvolvimento do município ainda

estava por chegar. Em 1905, vindos da região de Botucatu, aportam em Bauru

os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana, dando inicio ao período ferroviário

da cidade. A EF Sorocabana passaria a levar a crescente produção cafeeira do

município ao porto de Santos, de onde era distribuído para todo o mundo.

Em 1905 foi criada pelo Governo Federal, no Rio de Janeiro, a

Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (CEFNOB) financiada a partir

de capitais franco-belgas, e com a premissa de num primeiro momento ligar o

município de Bauru, a “boca-do-sertão”, à Corumbá, no Mato Grosso (atual

Mato Grosso do Sul). No final de 1905 têm inicio as obras de construção da

ferrovia, localizadas na porção mais a oeste do município de Bauru.

A CEFNOB era considerada por políticos, fazendeiros e toda a

população como uma dádiva concedida para o desenvolvimento de Bauru, e

realmente o era. A população de “pouco mais de seiscentas pessoas à época

do surto do ferro-carril do município, Bauru, em 1908, já possuía uma

população superior a três mil habitantes”. (SILVA, 1957. p.85)

Em 1910 chega à cidade mais uma ferrovia, a Estrada de Ferro Paulista,

conformando Bauru como o maior entroncamento ferroviário do interior paulista

e um dos maiores do país, selando assim a transformação sociocultural e do

destino da cidade, como citado por GHIRARDELLO: “O encontro de várias

ferrovias coloca a cidade em contato com diversas regiões do estado, privilégio

comparado apenas com São Paulo. Essa “independência” da capital,

transformaria Bauru em polo regional, de uma parte considerável e central do

estado, favorecendo o comércio, a prestação de serviços, e por consequência,

seu crescimento.” (GHIRARDELLO, 1992. p. 90)

A chegada de grandes investimentos, mão de obra qualificada e de

novas tecnologias, rapidamente transforma a cidade. Diversos são os relatos

na bibliografia acerca da época que enaltecem a ligação entre a chegada da

ferrovia e a modernização de Bauru:

“As ferrovias necessitarão, urgentemente, de infraestrutura básica, e

forçará o município á abertura de concorrências públicas para esse fim. As

Page 13: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

13

comunicações, especialmente, eram fundamentais; os telefones são instalados

na cidade em 1907, pela iniciativa privada.” (GHIRARDELLO, 1992. p. 90)

“[José Joaquim Cardoso Gomes, engenheiro CEFNOB] Em 1911, dotou

Bauru de iluminação elétrica.” (PELEGRINA, G. R. Memórias de um ferroviário.

Bauru: Editora da Universidade do Sagrado Coração, 2000. p. 28).

“Agora, porém tudo era diferente. Bauru já se constituía em uma

realidade com várias ruas sarjetadas, iluminação pública através de lampiões a

gás, telefones, bom comércio, atividades sociais-recreativas, cinema fixo (...)

jornais, enfim, tudo o que bem demonstravam o progresso da cidade.” (SILVA,

1957. p.87)

Avenida Rodrigues Alves, no centro de Bauru, na década 1920. Autor Desconhecido em http://www.pereiraimoveisbauru.com.br/bauru_antigo.asp

Page 14: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

14

4. COMPANHIA ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO BRASIL

(CEFNOB)

4.1 A criação da CEFNOB

No panorama nacional eram discutidas estratégias para tornar as

ferrovias brasileiras efetivamente uma malha, servindo como ligação entre

diversos polos de desenvolvimento e como meio de povoamento e

desenvolvimento dos territórios ainda não sistematicamente ocupados. Após a

Proclamação da República, fora traçado o Plano Geral de Viação Nacional, em

que se desenhava uma ferrovia cujo objetivo era ligar São Paulo ao Mato

Grosso, chegando até terras bolivianas, e finalmente, ligando por trilhos os

oceanos Atlântico e Pacífico. Tal empreitada demoraria anos até ser realmente

definida, até que, já no século XX, fosse escolhida a cidade de Bauru como

ponto de partida da nova estrada de ferro.

Assim, em 1905 foi criada no Rio de Janeiro, pelo Clube de Engenharia

e o Governo Federal, a Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

(CEFNOB), a partir de capitais franco-belgas, com a premissa de, num primeiro

momento, ligar Bauru a Corumbá. No final de 1905 têm inicio as obras de

construção da ferrovia com sede na porção mais a oeste de Bauru.

“Sua implantação mereceu acurados estudos, pois se tratava do ponto

inicial da ferrovia. Foi escolhida uma área próxima à estação da Sorocabana,

como forma de facilitar o transporte de cargas e passageiros e de maneira a

aproveitar a topografia plana, além de ser o ponto mais a oeste do patrimônio,

não havendo necessidade que os trilhos o cruzassem. Para a edificação da

estação, pátio, oficinas e algumas casas de operários foi adquirida da Fábrica

da Matriz do Divino Espírito Santo, uma área de 83.537 metros quadrados.”

(GHIRARDELLO, 1992. p. 90) As obras se seguiram durante um ano,

comandadas pela empreiteira vencedora da licitação, a Empresa Construtora

Machado de Mello.

Page 15: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

15

4.2 A Construção da Ferrovia

Após diversas dificuldades, como doenças (malária, febre amarela,

leishmaniose), lutas contra os índios caingangues, nativos da região, falta de

comunicação entre os trabalhadores e o canteiro de obras e também com a

administração no Rio de Janeiro, além das dificuldades técnicas na

implantação da ferrovia, em 27 de setembro de 1906, era inaugurado o

primeiro trecho da Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil contanto

com 48 km de extensão.

A construção da Noroeste impulsiona todo o oeste paulista, que se

tornou uma região extremamente produtiva. “Em menos de cinco anos, de

1905, em que se atacou à construção da estrada, a 1910, plantaram-se

2.651.700 pés de café, à volta de Bauru que, em 1938, já ostentava perto de 11

milhões.” (AZEVEDO, F. de. Um trem que corre para o Oeste. São Paulo:

Martins Editora, 1950. p. 155)

“Após a vinda da Noroeste, que traz excelente corpo técnico que atuaria

decisivamente na infraestrutura urbana, quer participando diretamente na sua

construção, quer apenas fazendo análises aos projetos encaminhados à

Câmara.” (GHIRARDELLO, 1992. p. 90)

Além do caráter estrutural, os engenheiros, técnicos e mesmo os

marceneiros e carpinteiros da ferrovia deram à cidade uma elevação na

qualidade das construções e da arquitetura. Trouxeram além de técnicas e

materiais novos, um novo estilo de construção, e após o expediente nas

companhias ferroviárias, particularmente na CEFNOB, prestavam serviços às

famílias bauruenses. GHIRARDELLO (1992) remonta o espírito chegado a

Bauru: “as estações e oficinas de execução primorosa sob acompanhamento

de técnicos e engenheiros vindos de São Paulo e Rio de Janeiro. Sua

linguagem arquitetônica, despojada, quase industrial, era o que mais moderno

e tecnologicamente avançado havia na cidade. A contemporaneidade de suas

instalações devia se igualar a potentes locomotivas inglesas.”.

Em primeiro de setembro de 1914, é finalmente inaugurada em sua

totalidade a Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. A ferrovia ligava

Bauru a Corumbá, num total de 1272 quilômetros, somando trinta e seis

estações (quatorze no estado de São Paulo e vinte e duas no Mato Grosso)

Page 16: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

16

construídas com a ainda abundante variedade de madeiras presentes nas

matas da região.

Uma das características da ferrovia era a necessidade de seu traçado estar

sempre ligado ao trajeto dos cursos de água, pois as locomotivas a vapor

precisavam sempre ser reabastecidas, como descrito em GHIRARDELLO “O

transporte a vapor, no período, guardava ainda características que deviam ser

obedecidas por todas as companhias ferroviárias, como a existência de caixas

d’água e lenheiros em espaçamentos regulares para a alimentação das

locomotivas (...) as caixas d’água precisavam estar próximas á fonte

fornecedora, em nosso caso os cursos d’água, pois eram abastecidas por

bambas a vapor de pouca potência, chamadas “burrinhos a vapor”.”

(GHIRARDELLO, 2001. p. 53)

Grande peça do Plano Nacional de Viação, a C.E.F.N.O.B. agora

cumprira sua missão de ligar sobre trilhos o Brasil à Bolívia. Porém, mesmo

após a inauguração, o estado da ferrovia era deplorável.

Trem da Noroeste inaugurando os trilhos já no Mato Grosso. Fonte:

Autor Desconhecido emhttp://www.pereiraimoveisbauru.com.br/bauru_antigo.asp

Page 17: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

17

4.3 Os primeiros anos

Empreendida por uma construtora privada, a estrada de ferro

apresentava vários problemas técnicos e de conservação. Desde curvas mal

desenhadas até problemas com abastecimento de água, os aspectos negativos

eram tantos que a dificultavam até mesmo sua plena utilização. Somado a isso,

a localização da sede administrativa da ferrovia, no Rio de Janeiro dificultava

um maior controle do que se fazia a centenas de quilômetros dali, em Bauru.

Ainda nos primeiros anos da ferrovia a carga transportada,

principalmente na região do antigo Mato Grosso era mínima, pois esta ainda

estava se constituindo como uma produtora nos moldes capitalistas. Tal fato

levou desde o início à CEFNOB a operar em déficit, o que ajudou a piorar ainda

mais a qualidade de sua infraestrutura.

Em contraste com a condição precária de funcionamento dos trilhos, nos

primeiros anos da ferrovia começam a ganhar destaque a maestria com que se

davam os trabalhos em suas Oficinas de Bauru, onde iniciava-se o serviço de

reparação das locomotivas, carros e vagões. Encontramos em NEVES relatos

da diretoria da ferrovia, em relatório datado de 1907, sobre o funcionamento

das primeiras instalações mecânicas da ferrovia: “As oficinas de Bauru, bem

que não possuindo ainda que algumas máquinas-ferramentas que até hoje não

tem sido dispensável, são suficientes para as reparações necessários de todo

o material fixo e rodante”. Como podemos ver no inicio de suas atividades,

diferentemente do que se seguirá, as oficinas prestavam além da reparação

dos trens, também outros serviços. “Nas oficinas além dos serviços ordinários

da estrada, faz-se também muito trabalho por conta da empresa e de

particulares, do que resulta uma boa receita pelos lucros que deixa, além dos

inapreciáveis serviços que prestamos aos agricultores e industriais aqui

residentes, que antigamente eram obrigados a recorrer a São Paulo.” (NEVES,

Correia das. História da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Bauru:

Tipografias e Livrarias Brasil. 1958. p. 53)

Em relatório de 1916 de M. J. Machado da Costa, superintendente da

CEFNOB em Bauru encontramos alguns resultados do primeiro ano da

ferrovia. Transportaram-se neste ano (1906), ao longo de seus 48 km, 97

Page 18: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

18

passageiros em primeira classe e 3676,5 passageiros em segunda classe, num

total de 3773,5 passageiros.

Folha de Rosto do Relatório do Superintendente de 1916. Fotografia do autor

Page 19: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

19

5. A ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO BRASIL (NOB)

5.1 Encampação pelo Governo Federal

Os primeiros anos da ferrovia, como descrito, não alcançaram resultados

quantitativos e qualitativos esperados. Graças aos diversos problemas de

infraestrutura e administrativos instauraram-se debates entre o Clube de

Engenharia do Rio de Janeiro e o governo federal, até que em 1917 foi

formalizada e encampação da Companhia, que agora passaria a se chamar

Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), tendo sede na antiga “boca-do-

sertão”, ou Bauru. Esta decisão seria de suma importância para a cidade, que

receberia agora sua “segunda leva de migrantes”.

“Essa mudança traz consigo grande quantidade de funcionários ligados

a setores burocráticos, vindos principalmente do Rio de Janeiro, impulsionando

tanto o comércio de artigos mais sofisticados, como a produção cultural, que

terá ápice na década de 20.” (GHIRARDELLO, 1992. p. 112)

Após a encampação e a transferência de sua administração para Bauru,

a estrada de ferro, passaria agora por uma profunda fase de reestruturação.

Desde a reforma, ou a reconstrução de boa parte dos trilhos, estes com no

máximo onze anos de uso, até uma ampla reorganização técnica-administrativa

em diversos setores da ferrovia a NOB seria foco de diversos investimentos

públicos. Sobre tal fato AZEVEDO mostra sob que perspectiva se dá a história

das ferrovias brasileiras “Esses dois fatos – a iniciativa privada, como pioneira

abrindo caminho e alargando perspectivas, e o poder público, interferindo e

encampando, à mercê e sob pressão das circunstâncias; o impulso

empreendedor dos particulares e a intervenção salvadora do Estado,

pertencem à história da viação férrea do pais. (...) Frutos desses “malsinados

processos” que só interessavam financeiramente a companhias ou a

empreiteiros sem escrúpulos, a cuja ganância, se não fechava os olhos, não se

opunha o Estado um sistema de freios.” (AZEVEDO, F. de. Um trem que corre

para o Oeste. São Paulo: Martins Editora, 1950. p. 229)

Page 20: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

20

5.2 Reestruturação e primeiras diretorias

A administração da NOB agora passaria a ser feita principalmente por

engenheiros. Sob eles uma enorme hierarquia de trabalhadores residentes em

Bauru, e ao longo dos 1272 quilômetros da ferrovia. Todo ano o engenheiro

diretor, e os responsáveis pelos diversos setores da indústria que mantinha

viva a ferrovia, redigiam relatórios ao Ministério de Viação e Obras Públicas

que descreviam minuciosamente o funcionamento, os resultados e também os

problemas e necessidades a serem superados.

Estes relatórios revelaram a seu destinatário, o deplorável estado em

que a ferrovia se encontrava, e ajudou-o a guiar os investimentos necessários

para a sua reestruturação. No Relatório datado de 1916, portanto último antes

de a ferrovia ser encampada, o superintendente M. J. Machado da Costa

descreve o panorama que o governo federal viria a tomar para sua

responsabilidade. Neste ano a extensão em tráfego somavam 473 km e um

total de 127.794 passageiros transportados. Havia 20 locomotivas a vapor, e 15

já encomendadas; 31 carros, 72 vagões, 20 gôndolas e 4 gaiolas.(RELATÓRIO

da Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de 1916. Rio

de Janeiro, s.c.e., 1916)

5.3 A Administração Arlindo Luz

No ano de 1919 toma posse como diretor da Noroeste o engenheiro

Arlindo Gomes Ribeiro da Luz, iniciando um período caracterizado por grandes

investimentos focados em infraestrutura, principalmente em material rodante

(locomotivas e vagões), nos setores de manutenção deste material (as

oficinas), e também de apoio aos funcionários da ferrovia, como descreve

PELEGRINA “Tão logo assumiu a direção da estrada o engenheiro Arlindo

Gomes Ribeiro da Luz, ao relacionar problemas que exigiam maior rapidez na

sua solução, colocou como prioridade a construção das oficinas, a fim de

proceder reparos em todo o equipamento da estrada, inclusive a montagem de

locomotivas importadas. (PELEGRINA, 2000. p. 108). Também AZEVEDO

comenta as iniciativas tomadas durante o período “Sob a gestão de Arlindo Luz

(1919-1922), instalaram-se as Oficinas de Bauru (1921), construíram-se

Page 21: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

21

armazéns, inaugurou-se a nova estação de Três Lagoas e ampliou-se de 20

locomotivas, 150 vagões cobertos e 70 gôndolas.” (AZEVEDO, 1950. p. 198)

O foco principal da administração de Arlindo Luz, como exposto, foi

prover a ferrovia com a capacidade de manutenção de todo seu material

rodante, algo que já não era possível nos últimos anos, e gerava gastos com a

terceirização destes serviços a outras empresas ferroviárias. No Relatório

Anual de 1916 encontramos depoimentos de funcionários sobre a necessidade

da construção de novas oficinas para a Noroeste: “Obras mais urgentes a

executar (obras projetadas e urgentes): Aumento do escritório em Bauru;

Construção e instalação completa das oficinas para a reparação de carros e

locomotivas em Bauru (orçadas em 600.000$)” Nele também descreve-se

como era feita a manutenção das locomotivas, carro e vagões que eram

reparados pela companhias Paulista e Mogiana, gerando 136.346$

(locomotivas) e 99538$ (carros e vagões) em despesas para a CEFNOB: “W.

Schmidt, Chefe da Locomoção: O custo demasiado de quase todo os serviços

feitos na Locomoção, como por exemplo: Reparação de Locomotivas – que

saiu a $327 por locomotiva-kilometro (sic), vem mais uma vez corroborar a falta

com que lutamos de maquinismos aperfeiçoados e em quantidade suficiente

para podermos atender a tempo os serviços afeitos a esta

repartição.”(RELATÓRIO 1916) Fica claro a necessidade da construção de um

local e a compra de equipamentos para a instalação de novas oficinas de

reparação em Bauru para o aprimoramento dos serviços ferroviários da Estrada

de Ferro Noroeste do Brasil. A seguir descreveremos como se dá a concepção

de uma industria ferroviária a partir de sua produção de transporte, o processo

de instalação e consolidação do nosso objeto de estudo, as Oficinas Gerais de

Bauru.

Page 22: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

22

Vista atual do Páteo Ferroviário de Bauru, Oficinas ao fundo. Fonte:

Adriano Pazzini em http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=925556

As Oficinas Gerais de Bauru hoje, fotografia do autor.

Page 23: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

23

6. AS OFICINAS GERAIS DE BAURU

6.1 Concepção das Oficinas Gerais de Bauru

Quando pensamos na ferrovia como uma indústria de transporte, e a

encaramos como um processo industrial, nos deparamos com a vasta gama de

serviços e materiais necessários para por uma locomotiva em movimento.

Como discorre Fernando de Azevedo em seu livro “Um trem corre para Oeste”:

“O que uma indústria ferroviária produz para vender no mercado é o transporte.

E aqui tocamos em cheio no processus de produção.” (AZEVEDO, 1950.

p.281) Tal processo se inicia na compra e montagem daquilo que é coração de

uma ferrovia, o trem. As ferrovias brasileiras, em geral, importavam de países

europeus suas locomotivas, e também os trucks (mecanismo base dos vagões

e carros, entendido como um “chassi”, em que estão dispostos os eixos e os

jogos de rodas). Sobre os trucks eram montados os diversos tipos de vagões e

carros: de transporte de cargas, comuns ou específicas como animais,

minérios, etc; e de transporte de passageiros, como os carros leitos,

restaurante, escola, etc. Todo este material rodante necessita de manutenção

regulamentar, que demanda diversos setores ligados a mecânica e reparação

de carros, locomotivas e vagões.

Os processos de montagem e manutenção dos trens eram sediados no

mesmo espaço, organizados em amplos complexos, as Oficinas Ferroviárias,

consideradas base desta indústria. “É no material rodante que se vê a

fragilidade do sistema [ferroviário] (...) sempre se exaltaram as oficinas de

manutenção da Central do Brasil (...) em Engenho de Dentro, as da Paulista,

em Jundiaí, e mesmo as oficinas da São Paulo Railway.” (MOTOYAMA, S

(org.) Tecnologia e Industrialização no Brasil - Uma Perspectiva Histórica. São

Paulo, Editora Unesp, 1994. p. 96)

Portanto são inegáveis a necessidade e importância da instalação das

Oficinas Gerais de Bauru para a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, e

notáveis as consequências de tal empreendimento para a cidade.

Page 24: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

24

PLANTA DA ESPLANADA

DE BAURU

OFICINAS GERAIS

ESTAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO

EIDIFÍCIOS DE APOIO

QUADRAS JÁ DEMARCADAS

NOROESTE DO BRASIL - 26/09/1955

Esplanada de Bauru, desenhada a partir de Planta Original da Noroeste do Brasil.

Fonte: Imagem do autor.

6.2 A Construção e Inauguração das Oficinas Gerais de Bauru

As Oficinas Gerais de Bauru tiveram suas obras iniciadas na gestão de

Arlindo Luz, já em 1919. Localizadas a oeste da cidade, margeando e

expandido o pátio ferroviário, foram dispostas num complexo à esquerda da

estrada de ferro (considerando-se o sentido Bauru-Corumbá), numa área que

totaliza 35.150 metros quadrados. A construção dos edifícios foi confiada à 5ª

Divisão Provisória, criada para exclusivamente para este fim, e que prosseguiu

as obras administrativamente até junho de 1920, concluindo o galpão iniciado e

erigindo as colunas em concreto armado e as armações do telhado e a

cobertura em peroba rosa, de mais dois. A conclusão da foi obra contratada por

empreitada com duas empresas construtoras e instaladoras de sistemas

Page 25: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

25

industriais a L. Serva & Cia e Costa, Campos & Malta ambas sediadas em São

Paulo.

“Cobre o edifício uma área de 12.000 metros quadrados, localizados

num canto da vasta explanada, com 35.150 metros quadrados, feita também

pela V Divisão, parte em corte, parte em aterro, à esquerda da linha entre os

quilômetros 0 e 1, na qual esta localizada também o edifício do Almoxarifado e

será construída a rotunda.” (RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do

Brasil do Ano de 1921. Bauru, 1921)

O trecho a seguir, parte do Relatório Anual de 1921, escrito pelo próprio

diretor Arlindo Luz faz parte da descrição do complexo das Oficinas Gerais de

Bauru ao Ministro da Viação e Obras Públicas Pires do Rio:

“Descrição das Novas Oficinas da Locomoção Construídas em Bauru.

As oficinas antigas de Bauru e Aquidauana eram insuficientes para o

serviço de manutenção do material rodante. A antiga Companhia Noroeste do

Brasil iniciou em Bauru a construção de um edifício destinado às oficinas. A

atual diretoria resolveu continuar o projeto e construir instalações completas

para assegurar às necessidades de reparação da nova Noroeste e permitindo

ainda a construção de toda a parte de carpintaria dos carros e vagões de modo

a aproveitar nesse particular os grandes recursos em madeira da zona servida

por sua própria linha. A construção do edifício foi confiada à 5ª Divisão

Provisória que prosseguiu as obras administrativamente até junho de 1920,

concluindo o galpão iniciado e erigindo as colunas e as armações do telhado e

a cobertura de mais dois. Nessa época foi a conclusão da obra contratada por

empreitada com uma firma construtora.

Compõe-se o edifício de seis galpões de 100 metros de comprimento

por 16 de largura, situado três de cada lado da área central de igual

comprimento e frente de 17 metros, onde corre o carretão e cuja parte anterior

é ocupada por um corpo avançado do edifício, tendo instalado, em sobrado, o

escritório da Locomoção. Dispõe cada galpão do telhado independente, com

tesouras de madeira e ferro, com lanternim, sendo a cobertura de telhas

francesas com duas fachas de vidro fosco proporcionando ampla iluminação

pelo alto. São as tesouras sustentadas por colunas de concreto armado de

Page 26: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

26

0,40 x 0,40 m de seção e 7 m de pé direito, que também existem embebidas

nas paredes laterais, cujos panos de alvenaria repousam sobre fortes alicerces

de concreto. Nessas paredes são rasgadas grandes janelas com caixilhos fixos

de ferro e bandeiras móveis. Cada galpão tem nas fachadas anterior e

posterior uma grande porta, com cortina de aço ondulado e uma janela no

oitão. As oficinas são assim profusamente iluminadas.

As águas pluviais descem dos telhados em condutores de folha ao longo

de colunas e seguem em canalizações de manilhas de barro por um coletor

central de alvenaria, que corre transversalmente ao edifício e cuja máxima

seção é de 0,4 x 0,5 m.” (RELATÓRIO, 1921)

Como descreve detalhadamente o engenheiro, o edifício principal das

Oficinas de Bauru é composto por seis barracões separados três a três por um

vão onde se encontrava o carretão. A estrutura principal (fundações e pilares)

foi realizada em concreto armado enquanto o telhado, considerado uma obra

de arte, foi totalmente feito com madeira da região, a peroba rosa e possui

aberturas superiores, os lanternims, para a ventilação e iluminação natural. O

estilo arquitetônico das fachadas do edifício remete à força e poder deste

parque industrial, considerado na época da inauguração um dos mais bem

realizados do país. Suas paredes espessas e grandes aberturas, com

contornos realçados em cor azul claro, criam a sensação de gigantismo que

reforçam a imponência do conjunto. Sobre o assunto escreve PELEGRINA “As

estações e oficinas de execução primorosa sob acompanhamento de técnicos

e engenheiros vindos de São Paulo e Rio de Janeiro. Sua linguagem

arquitetônica, despojada, quase industrial, era o que mais moderno e

tecnologicamente avançado havia na cidade. A contemporaneidade de suas

instalações devia se igualar a potentes locomotivas inglesas.” (PELEGRINA,

2000. p. 108)

O conjunto foi finalmente inaugurado em 12 de outubro de 1921, com a

presença de uma grande comitiva de políticos, jornalistas e empresários, entre

eles o governador do estado de São Paulo Washington Luis e o ministro da

Viação e Obras Públicas Pires do Rio como ilustram os Jornais da época,

apresentados abaixo.

Page 27: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

27

Manchete do Jornal O Estado de São Paulo de 09 de outubro de 1921, relatando a

inauguração das Oficinas Gerais de Bauru, disponível em http://acervo.estadao.com.br/, acessado em 13/10/2012.

Page 28: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

28

Page 29: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

29

Reportagem do Jornal A Cigarra sem data, relatando a inauguração das Oficinas

Gerais de Bauru, disponível em http://www.estacoesferroviarias.com.br/b/bauru.htm, acessado em 13/10/2012.

Page 30: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

30

6.3 A Organização Industrial

As Oficinas, desde sua inauguração, são divididas em três grandes

seções: A oficina A – Ajustagem, que “Abrange a construção, ajuste, usinagem

em máquinas e montagem de peças de dispositivos mecânicos de usinagem,

de controle ou de fixação, bem como o controle de precisão de tolerâncias

geométricas, dimensionais e de acabamento, com base em desenhos e

especificações estabelecidas no projeto.” (fonte: www.sp.senai.br, acessado

em 29/03/2012), e são equipadas com fresas, plainas, tornos, e dispositivos de

usinagem e fundição; a seção B – Eletricidade cuida de todos os sistemas e

dispositivos movidos a energia elétrica, como dínamos, geradores,

alternadores, tantos dos trens quando da própria estrada de ferro; e a oficina C

– Carpintaria, que cuida de todos os trabalhos de transformação dos trucks nos

diversos tipos de vagões e carros, realizando os trabalhos em marcenaria,

carpintaria, estofamento e demais acabamentos.

“Pelo projeto organizado pela IV Divisão foi a parte mecânica dividida em

três grandes seções ocupando cada qual um dos três galpões que lhe foram

reservados.” (RELATÓRIO, 1921) Conforme explicado nas citações acima a

organização do pátio industrial das Oficinas da Noroeste em Bauru seguia uma

lógica espacial derivada dos próprios processos de produção e manutenção

que eram ali realizados. Os diversos barracões (os inaugurados em 1921 e

também os novos que foram erguidos com o passar dos anos) eram divididos

entre as três Seções principais, a Ajustagem, a Eletricidade e a Carpintaria, e

depois a Oficina Diesel, incluindo suas específicas necessidades, como as

Seções de Fundição, Serralheria, Casa de Força e Equipamentos Hidráulicos,

os depósitos entre outros. Para explicitar de maneira mais completa a

organização dos espaços dentro das Oficinas, iremos a seguir numerar cada

edifício do complexo e descrever suas características e funções.

Page 31: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

31

Construção das Oficinas Gerais de Bauru em 1921. Fonte: Alípio Munhoz em

http://mafuadohpa.blogspot.com/2010/10/documentos-do-fundo-do-bau-14-fotos.html

Construção das Oficinas Gerais de Bauru em 1921, com a Rotunda ao fundo. Fonte:

Alípio Munhoz em http://www.estacoesferroviarias.com.br/rotundas/bauru.htm

Page 32: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

32

As Oficinas já em funcionamento, vê-se ao fundo a Vila Falcão. Fonte: Jornal da Cidade em

http://www.jcnet.com.br/suplementos/bauru_ilustrado/250212/files/assets/seo/page2.html

Implantação do edifício principal das Oficinas Gerais de Bauru sem data, cedida pela

Inventariança da Antiga RFFSA de Bauru, foto do autor.

Page 33: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

33

6.4 Os edifícios e os equipamentos

6.4.1 Seção A – Ajustagem e Seção B – Eletricidade

O complexo industrial das Oficinas inaugurado em 1921, já se colocava

como a base para a realização de todos os serviços necessários à construção

e manutenção dos carros, vagões e locomotivas. Como já descrito através do

relato do engenheiro Arlindo Luz, o edifício principal formado por seis galpões,

cada um com 16 metros de frente por 100 metros de comprimento foi dividido,

sendo que os três primeiros foram destinados à instalação da Seção A –

Ajustagem, que contava com suas subdivisões: Seção de Máquinas

Operatrizes – Frezas, Tornos, Plainas, Furadeiras; Seção de Ferramentaria;

Seção de Caldeiraria – Ferro; Seção de Recuperação dos Equipamentos

Móveis e Fixos; Seção de Bombas; Seção de Reparação de Vagões Metálicos;

Seção de Eletricidade.

Como suporte à Ajustagem foi instalada nestes barracões toda a

infraestrutura necessária aos trabalhos inicialmente somente com as

locomotivas e depois com os vagões que chegavam às oficinas, como descrito

no relatório anual da companhia:

“Foram assim no primeiro deles, dispostos junto ao carretão, 20 valas de

inspeção e nele trabalha a seção de desmontagem, ajustagem e montagem

das locomotivas, dispondo de bancadas de serviço com os respectivos tornos e

armários para ferramentas, colocados um e outros logo atrás das valas e

perpendicularmente as mesmas. Abriga o segundo galpão todas as máquinas

ferramentas necessárias à reparação ou confecção das várias peças metálicas,

e das quais dá o quadro abaixo:

Page 34: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

34

Quadro Ajustagem presente no Relatório Anual de 1921, no Centro de Memória

Ferroviária Regional.

Page 35: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

35

Tabela da Fundição presente no Relatório Anual de 1921, no Centro de Memória

Ferroviária Regional.

Tabela da Ferraria presente no Relatório Anual de 1921, no Centro de Memória

Ferroviária Regional.

Page 36: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

36

Tabela da Calderaria presente no Relatório Anual de 1921, no Centro de Memória

Ferroviária Regional.

Tabela de Ferramentas Móveis presente no Relatório Anual de 1921, no Centro de

Memória Ferroviária Regional.

Page 37: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

37

Para o fornecimento a esta seção das peças que nela recebem o

necessário reparo e acabamento, acham-se no terceiro e último galpão

instaladas juntamente com a ferraria e a caldeiraria, as fundições de ferro e

bronze, com a seção anexa de modelação. Acha-se esta última situada na

parte anterior do mencionado galpão, em compartimento a parte, no qual

amplas prateleiras correndo ao longo das paredes de que tomam toda altura,

abrigam o já numeroso arquivo de modelos caprichosamente feitos. No mesmo

compartimento dispõe a modelação de aparelhamento mecânico próprio

consistindo em um torno e uma plaina para madeira e uma serra circular e uma

serra de fita, as quais um motor elétrico de 5 H.P. movimenta por intermédio de

uma transmissão subterrânea.” (RELATÓRIO, 1921)

Como observado na descrição original além da qualidade arquitetônica

despendida aos edifícios das Oficinas, também houve a preocupação com a

qualidade dos equipamentos instalados. Foram importadas um total de

3.875:944$706 réis em máquinas-ferramentas e ferramentas independentes

para as Seções descritas.

Fundos dos Setores A, B e C das Oficinas. Fonte: Relatório Anual Noroeste

1921, no Centro de Memória Ferroviária Regional.

Page 38: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

38

Seção de Frezas e Plainas, pertencentes à Seção A – Ajustagem. Foto do Autor

6.4.2 Seção C - Carpintaria

Os três barracões posicionados à direta do vão livre, onde estava

instalado o carretão, foram destinados à Seção C – Carpintaria, onde seriam

realizados os serviços em que mais se destacou a qualidade das Oficinas de

Bauru, aqueles ligados à madeira e ao acabamento. Nesta área subdividiam-se

as atividades da Carpintaria além da, neste primeiro momento, administração

das oficinas, assim dispostas: no térreo a Portaria, o Escritório de Chefes de

Oficinas, a Seção de Reparação de Vagões de Madeira, a Seção de

Carpintaria em Geral, o Estofamento, as Chefias, a Serralheria (também neste

primeiro momento), a Seção de Máquinas Operatrizes da Marcenaria e

Carpintaria de Carros, o Estoque de Madeiras, a Niquelação, a Seção Pintura

de Carros, a Seção Reparação de Carros e a Seção de Iluminação; no

pavimento superior estavam os Escritórios de Material, Expediente e Técnica, o

Escritório do Chefe do Departamento de Montagem, o Setor Contabilidade e

Frequência, o Estoque de Peças; e já no terceiro pavimento as instalações

sanitárias. Esta seção do edifício principal das Oficinas foi a que mais sofreu

alterações ao longo de seu funcionamento. Em 1940 seu piso, antes de terra

Page 39: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

39

socada, foi trocado por um novo de tacos de madeira assentados sobre uma

base de concreto. Em 1944 ocorreu um grande incêndio que destruiu parte da

estrutura dos escritórios que ficavam na frente do barracão, a estrutura foi

parcialmente reconstruída nos anos seguintes, porém agora se dedicava à

própria Seção C que teve seus espaços redivididos com divisórias e telas. Em

1947 foi construído um anexo ao edifício onde se instalaram melhor algumas

seções da carpintaria, como por exemplo, a serraria.

Sobre o funcionamento, dado cada local de trabalho seguindo a

sequência do processo de produção, da Seção C, Arlindo Luz descreve em seu

relatório: “Na oficina de carros e vagões instalada nos três galpões à direita do

carretão, têm os dois primeiros as linhas de serviço em que, normalmente

podem ser colocados 30 vagões, número esse que pode porém ser elevado a

45. Aos fundos de ambos os galpões acha-se a seção de pintura de carros, na

qual, em trabalho normal, seis veículos podem se recolher. No terceiro galpão

acha-se instalada em sua parte posterior e em comunicação direta com o

depósito de toras, possante serraria, que abastece com as várias bitolas de

madeira a seção de carpintaria instalada em sequência. Nesse galpão acham-

se montadas as seguintes máquinas:”.

Page 40: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

40

Tabela da Serraria presente no Relatório Anual de 1921, no Centro de Memória

Ferroviária Regional.

Page 41: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

41

Interior do Setor C, Carpintaria, com os operários em serviço. Fonte: Relatório

Anual Noroeste 1921, no Centro de Memória Ferroviária Regional.

6.4.3 Casa de Força e Caldeira a Vapor

As Oficinas receberam um moderno e completo sistema de

abastecimento elétrico que para cada ferramenta, usadas tanto pelas áreas de

carros e vagões como de locomotivas, há um motor elétrico diretamente

conjugado. Esse sistema independente apesar de mais caro oferecia

vantagens compensadoras às oficinas, explicadas por Arlindo Luz, como a

possibilidade de movimentar as ferramentas livremente, a não necessidade de

diversas fiações e correias penduradas pelas oficinas, a capacidade máxima de

trabalho que cada máquina-ferramenta assim adquiriria.

Para abastecer de energia elétrica todo o complexo, foi construída uma

edificação exclusiva para a Casa de Força, erguida em alvenaria de tijolos, é

amplamente iluminada por suas grandes aberturas em janelas de ferro com

bandeira, o telhado tem estrutura em madeira e cobertura em telhas metálicas

e se localiza a cerca de 30 metros da fachada posterior do edifício principal e

no eixo no carretão.

Page 42: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

42

O carretão inclusive, tratava-se de um modo de transportar as

locomotivas, carros e vagões entre os trilhos instalados e as valas de inspeção,

através de um sistema com capacidade de mover até 100 toneladas a partir de

um motor de 25 H.P..

O sistema elétrico, portanto, deveria ser capaz de suprir toda esta

necessidade e para isto foi instalado na Casa de Força um transformador

conforme descrito: “Foi instalada uma casa de força para a produção da

corrente continua, utilizada pelos motores e máquinas, que transforma 15000

volts de corrente alternada em 220 volts contínuos, através de dois

transformadores de 200KVA. Conta também com um sistema de para-raios e o

sistema-socorro que conta com uma caldeira com superaquecedor que move

um motor alternativo”. (RELATÓRIO, 1921)

A Casa de Força e Caldeira a Vapor em 1937, fonte Relatório Anual de 1937,

foto do autor.

Page 43: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

43

Interior da Casa de Força e Caldeira a Vapor vê-se a máquina importada da

Chicago Pneumatic Tool Co, fotografia do autor.

6.4.4 Abrigo do Compressor

As oficinas contavam também com um sistema de ar-comprimido que

era distribuído para os numerosos aparelhos portáteis através de canalizações

e registros de tomada que se faziam presente por todos os edifícios, e que se

dedicavam a proporcionar mais facilidade e rapidez ao trabalho. Este ar

comprimido era gerado pelo compressor, instalado no Abrigo do Compressor,

importado da empresa americana Ingersoll Rand Co., com capacidade de

comprimir 12,5 m³ por minuto. O Abrigo do Compressor é um edifício feito com

alvenaria de tijolos, piso em ladrilho hidráulico, grandes janelas basculantes

que permitem a iluminação e ventilação natural, forro ripado de madeira e

possui cobertura em madeira.

Outro sistema instalado, para auxiliar a alimentação das fornalhas de

caldeira, era um aspirador centrifugo de 10 H.P. que aspira diretamente a

serragem produzida nas principais máquinas e através de uma boca a

produzida por maquinas menores, conduz tudo até um depósito ao lado da

Page 44: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

44

casa de força. As oficinas eram também amplamente providas de água e linhas

de serviço correndo ao longo dos galpões que se comunicam com ramais

transversais, permitindo o rápido e fácil transporte de peças de um lado para o

outro.

Os dados obtidos a partir do Relatório de 1921 a cerca da instalação das

Oficinas Gerais de Bauru e seus sistemas industriais são:

“Potencia total instalada (motores, compressor e carretão): 776,5 H.P.; Custo

dos edifícios e casa de máquinas: 1.126:246$851; Custo das máquinas:

3.875:944$706 importadas; Custo total das oficinas: 5.493:212$125”

(RELATÓRIO, 1921)

Planta Corte e Fachada Abrigo do Compressor – 21/08/1968, fonte: Inventariança da

Extinta RFFSA.

Page 45: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

45

O Abrigo do Compressor em seu estado atual, fotografia do autor.

6.4.5 Almoxarifado

O Almoxarifado Central, parte do complexo das Oficinas da Noroeste, foi

construído em 1916 durante a administração de M.J. Machado da Costa

superintendente da ainda CEFNOB em Bauru. Segundo seu Relatório Anual o

pátio ferroviário passou por várias obras durante o ano como demolições de

edifícios antigos, terraplanagens e principalmente a construção do

Almoxarifado e da Plataforma de passageiros em Bauru. (RELATÓRIO, 1916)

O edifício do Almoxarifado teve um custo de 12:000$000 réis e foi erguido em

alvenaria de tijolos, num desenho retangular, que apresenta a separação entre

Almoxarifado da 1ª divisão e Depósito do Almoxarifado Central. O barracão de

550 metros quadrados apesar de ter sido construído antes das oficinas

apresenta também uma preocupação com o desenho arquitetônico em suas

fachadas, tendo sido uma delas transformada posteriormente em passagem

coberta ao Refeitório. Além desta transformação os espaços internos do

Almoxarifado também foram alterados ao passar dos anos, se adequando às

novas necessidades da Ferrovia.

Page 46: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

46

Planta, Corte e Fachadas Almoxarifado da 4˚ Divisão e Depósito do Almoxarifado

Central – 11/05/1976, fonte: Inventariança da Extinta RFFSA.

Interior do Almoxarifado na década de 20. Fonte: Relatório Anual Noroeste 1921,

no Centro de Memória Ferroviária Regional.

Page 47: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

47

6.4.6 Rotunda

A Rotunda de Bauru é parte do complexo das Oficinas Gerais da

Noroeste e se destinava a receber as locomotivas, prover o primeiro tratamento

e encaminhá-las para os diversos processos de reparação. As rotundas são

“depósitos de locomotivas de forma circular ou semi-circular (...) A distribuição

das locomotivas para cada baia é feita por um girador, movido na maioria das

vezes manualmente.” (fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/rotundas/

bauru.html, acessado em 27/11/2012)

A rotunda de Bauru é na verdade uma meia rotunda pois tem arco de

180 graus e teve suas obras iniciadas em 1926 durante a administração Alfredo

de Castilho, sendo concluída no ano seguinte com capacidade para receber e

inspecionar até 20 locomotivas ao mesmo tempo. O edifício foi construído em

concreto e alvenaria de tijolos ao preço de 509:600$273 réis e passou por uma

grande reforma em que seu telhado e suas divisões foram alterados, sendo a

rotunda aumentada, em 1937 sob a administração de Américo Marinho Lutz.

Além de depósito de locomotivas o edifício da rotunda passou a receber outras

atividades ligadas aos serviços das oficinas e mais recentemente da

administração da ferrovia. Seu girador permanece em atividade até hoje.

Page 48: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

48

Planta e Detalhe Reforma da Cobertura da Rotunda – 08/1983, fonte: Inventariança da

Extinta RFFSA, foto do autor.

Rotunda 180˚ de Bauru ainda em construção, sem data. Fonte: Autor Desconhecido

em http://www.estacoesferroviarias.com.br/rotundas/bauru.htm

Page 49: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

49

6.4.7 Ferraria

A ferraria foi construída em 1938 sob a direção de Américo Marinho Lutz

para instalar em melhores condições a caldeiraria, as máquinas operatrizes,

necessárias para a produção da peças e molas a partir do ferro fundido. O

galpão é dividido também em depósitos de materiais e ferramentas, a serra

num espaço mais fechado além da carvoaria que ficava ao seu lado. A ferraria

também era atendida pelo sistema de escoamento d’água que trazia em

caneletas de concreto a água necessária para as caldeiras e as demais

atividades da Seção. O edifício foi construído em concreto armado em

alvenaria de tijolos, a estrutura do telhado em madeira com lanternim para

ventilação, esta que foi privilegiada nas várias aberturas tanto das janelas

quanto dos elementos vazados, sua fachada possui oitão com vidraças foscas.

O edifício é coberto com telhas metálicas e há dutos para a queda d’água.

A ferraria fica situada entre o fundo do edifício principal das oficinas, o

abrigo do compressor e as caixas d’água de ferro instaladas no ponto mais alto

do terreno.

Planta Seção de Ferraria – 02/09/1992, fonte: Inventariança da Extinta RFFSA.

Page 50: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

50

Fachada claramente debilitada da antiga Seção de Ferraria, fotografia do autor.

6.4.8 Fundição

Em seu Relatório de 1949 o Coronel José Lima Figueiredo escreve

sobre a realização de uma concorrência pública para a construção de um

edifício para a fundição das Oficinas de Bauru. O grande barracão, que teve as

obras atacadas já neste ano, mede 119,45 x 34,35 metros (4103 m²) e foi

erguido com uma robusta estrutura de concreto armado e fechamentos em

alvenaria pela firma construtora “Módulo”. Neste ano também foram adquiridas

para o novo edifício duas pontes rolantes uma de 17 metros e outra de 7

metros além de um monta cargas, para os quais foram instalados trilhos sobre

vigas de concreto armado.

As obras foram terminadas somente no ano de 1952 como relatado pelo

diretor da NOB Américo Marinho Lutz. O edifício segue o desenho de fachadas

dos barracões de 1921 com grandes aberturas e oitão, porém seu pé direito é

muito superior a qualquer outro do complexo até então. Conta com grandes

janelas de ferro, inclusive no alto da “nave” principal e com lanternim, a

estrutura do telhado é em madeira e as telhas são metálicas com algumas

Page 51: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

51

faixas translúcidas. A verba para obra a e instalação da aparelhagem foi Cr.$

30.000.000,00 (RELATÓRIO, 1949), porém foi ultrapassada em Cr.$

3.575.085,40 (RELATÓRIO, 1952)

A fundição era dividida entre a Fundição de Ferro e a Fundição de

Bronze como narrado em LOSNAK (2003) tendo cada qual suas máquinas e

espaços específicos. Há demarcando o meio do edifício uma plataforma de

concreto armado de três pisos que sediava os equipamentos de queima da

Fundição inclusive a grande chaminé de ferro.

Planta Oficina de Fundição – 05/11/1992, fonte: Inventariança da Extinta RFFSA.

Page 52: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

52

Fundos da antiga Seção de Fundição e moradias da Vila Falcão, fotografia do autor.

6.4.9 Oficina Diesel

A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil manteve desde sua fundação em

1905 todas suas locomotivas movidas à vapor. Porém a partir o Relatório de

1946 do Coronel José Lima Figueiredo a NOB inicia a discussão sobre a

substituição desta tecnologia como vemos no trecho a seguir: “A lenha

encarece a cada dia e fica sempre mais distante de nossos depósitos (...) A

estrada só poderá contar na tração de seus trens com o combustível lenha por

mais um lustro (...) a solução ideal seria o emprego de máquinas “diesel”

elétricas no tráfego de Bauru a Três Lagoas. Essa medida, porém, exigiria a

transformação completa das oficinas que em sede nesses dois pontos e que

hodiernamente estão aparelhadas apenas para fazer a reparação das

locomotivas a vapor que a estrada possui.”

Foram, a partir de 1949, feitos grandes investimentos oriundos do Plano

Salte para a remodelação da NOB, incluindo a eletrificação e aquisição de

material rodante. Após 1957, ano em que a NOB passou a fazer parte da Rede

Page 53: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

53

Ferroviária Federal S.A., foram adotadas finalmente as locomotivas movidas a

motor diesel/elétrico, e este fato mudou o panorama de toda a indústria

ferroviária da Noroeste. Durante os próximos anos as oficinas seriam

remodeladas para atender as necessidades das locomotivas a diesel e também

seu número de funcionários começaria a passar por um processo de redução.

Foi assim, ainda na década de 50, iniciada a construção da nova Oficina

Diesel em um grande galpão independente das Oficinas Antigas, as quais

entrariam a partir daí numa lenta fase de desativação. Para a nova Oficina

Diesel foi construído um galpão de planta escalonada que alcança em sua face

maior 152,25 m de comprimento e chega a ter 53,95 m de largura e pé direito

de até 15 m, num total de 6070 m², e que comporta seis longas linhas para a

reparação de locomotivas. O espaço era originalmente dividido entre truque,

elétrica, freio, depósitos, reparação de cabeçote, solda, salas de ferramentas,

salas administrativas, banheiros e a seção de reportagem de locomotivas. O

edifício foi construído com estrutura em concreto armado e vedação em blocos

de concreto, a cobertura com estrutura em aço e telhas de fibrocimento, há

aberturas para ventilação no alto das paredes através de elementos vazados e

grandes plataformas de concreto junto às valas onde era feita a desmontagem

das locomotivas. O edifício já não traz em seu projeto uma preocupação com a

qualidade estética, nem ao menos tenta uma linguagem que o una ao resto do

complexo construído até então.

Planta Baixa da Oficina Diesel – 26/08/1992, fonte: Inventariança da Extinta RFFSA.

Page 54: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

54

Cortes Oficina Diesel – 08/1967, fonte: Inventariança da Extinta RFFSA.

Cortes Oficina Diesel – 08/1967, fonte: Inventariança da Extinta RFFSA.

Detalhe Oficina Diesel – 08/1967, fonte: Inventariança da Extinta RFFSA.

Page 55: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

55

Fachada atual da Oficina Diesel, desativada em 2012, foto do autor.

6.4.10 Administração

O último edifício notável construído no complexo das Oficinas Gerais de

Bauru é a Administração, erigida para sediar os escritório do Departamento de

Mecânica da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, já encampada pela RFFSA.

Não encontramos ao longo da pesquisa a data exata de sua construção, pois a

partir da década de 60 os relatórios apresentados se referem apenas a

estatísticas da ferrovia, e não a assuntos internos. Porém, através de mapas do

Pátio Ferroviário encontrados podemos concluir que esta ocorreu após 1957.

O edifício da Administração possui desenho de planta retangular

disposto em dois pavimentos. O primeiro foi ocupado da seguinte maneira:

guaritas, entrada de veículos, relógios de ponto, frequência, expediente,

secretária, copa, WCs, diretoria, consultório dentário, sala de exames, e outras

salas não especificadas. Já o segundo pavimento dedicava-se às seções

técnicas, arquivo, copiadora, assistência social, copa, WCs e um auditório. O

edifício soma aproximadamente 1110 m² de área útil.

Page 56: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

56

Sua arquitetura tem um caráter mais modernista evidenciado pelas

janelas basculantes em fita e pela ortogonalidade das linhas das marquises e

platibanda, e também dos pilares, demarcada pelo acabamento em pastilhas

coloridas. Foi construído com estrutura em concreto armado e fechamento em

alvenaria, sua cobertura tem estrutura de madeira e telhas metálicas.

Planta Térreo do Escritório do Departamento de Mecânica – 05/11/1992, fonte:

Inventariança da Extinta RFFSA.

Planta 2˚ Pavimento do Escritório do Departamento de Mecânica -04/11/1992, fonte:

Inventariança da Extinta RFFSA.

Fachada do Escritório do Departamento de Mecânica -04/11/1992 fonte: Inventariança

da Extinta RFFSA.

Page 57: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

57

Corte do Escritório do Departamento de Mecânica – 05/11/1992, fonte: Inventariança

da Extinta RFFSA.

6.4.11 Outros Edifícios

Ao longo dos 91 anos em que as Oficinas de Bauru estiveram em

funcionamento várias pequenas construções foram erguidas e desmanchadas

de acordo com as tecnologias e diferentes necessidades disponíveis. Além dos

edifícios explicitados a cima há diversos outros que ainda se mantém no

complexo e que atendiam como suporte às atividades ali realizadas.

Listaremos rapidamente os edifícios ainda restantes nas Oficinas de Bauru:

Sanitários e Chuveiros: construído em 1937, durante a administração de

Américo Marinho Lutz, o edifício foi destinado a garantir a higiene aos

aproximadamente mil trabalhadores da época;

Garagem e Seção de Bateria: construído em 1938 também sob direção

de Américo Marinho Lutz, o edifício de madeira foi originalmente

destinado à seção de escavadeiras e hoje funciona alugado para uma

empresa terceirizada;

Edifício Cozinha: datado de 1948, foi construído pela administração do

Coronel José Figueiredo para o preparo das refeições e também como

próprio refeitório para os funcionários das oficinas, sua arquitetura

remete a uma casa de vila ferroviária, com planta quadrada e telhado

recortado;

Page 58: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

58

Depósitos de materiais: diversas ampliações também foram feitas aos

edifícios das oficinas, em sua maior parte para abrigar depósitos de

peças, ferramentas e materiais utilizados nos processos industriais. São

geralmente no estilo “puxadinho” com telhado de uma água saindo do

corpo do edifício principal, mas também há o abrigo de rodas, que se

trata de uma cobertura metálica que liga o edifício principal das oficinas

com o da fundição, sendo feita em duas longas águas.

Planta e Corte Abrigo de Rodas – 21/10/1684, fonte: Inventariança da Extinta RFFSA.

Page 59: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

59

Edifício de madeira que abrigou a Seção de Baterias e Garagem, fotografia do autor.

O Abrigo de Rodas ao lado do edifício principal das Oficinas de Bauru,

fotografia do autor.

Page 60: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

60

7. BAURU E AS OFICINAS

7.1 Os trabalhadores

Após a inauguração das Oficinas uma grande quantidade de

trabalhadores, mão de obra qualificada ou não, vieram a Bauru e tiveram que

se instalar na cidade por própria conta. Também muitos nascidos na região

viram as Oficinas como um “porto-seguro”, pois ali havia grande necessidade

de mão de obra e o trabalho na ferrovia, além de bem remunerado, era bem

visto pela sociedade. PELEGRINA descreve estes primeiros anos de

funcionamento das Oficinas: “A construção das Oficinas centrais da antiga E. F.

Noroeste, em Bauru, foi um dos fatores que mais contribuíram para acelerar o

crescimento da cidade. (...) A partir de sua inauguração, em 1921, centenas de

operários, com ou sem mão de obra especializada, chegaram a Bauru e foram

admitidos como artífices ou aprendizes. A formação dos artífices se fazia

através da prática. Os mais velhos e experientes procuravam transmitir aos

mais novos – os aprendizes, seus conhecimentos. Esses trabalhavam sem

receber compensação monetária, mas recebiam, em troca conhecimentos da

profissão e um emprego garantido depois de um tempo. (PELEGRINA, 2000.

pg. 118) Assim formou-se um grupo articulado e tecnicamente capaz de

desenvolver ali todo tipo de trabalho que a indústria ferroviária necessitasse.

Houve um destaque de alguns grupos de trabalhadores, como explica

GHIRARDELLO: “Entre os diversos profissionais se destacarão excelentes

carpinteiros e marceneiros, que nas horas livres executarão inúmeras

construções em madeira, especialmente para a população trabalhadora

beneficiada pelo baixo custo da matéria-prima.” (GHIRARDELLO, 1992. p.

112), eles se destacaram, principalmente, por levar seu conhecimento e

habilidades para fora do trabalho oficial na Noroeste, prática que se tornou

comum entre os ferroviários. Já no ano de 1922, consecutivo à inauguração,

em seu Relatório anual Clodomiro Pereira da Silva, então diretor da Noroeste,

elogia os trabalhos desenvolvidos nas Oficinas de Bauru: “Tem sido

construídos nas oficinas da Estrada excelentes veículos mormente carros de

passageiros que podem figurar ao lado dos melhores de outras estradas do

Estado de São Paulo. Aproveitando as madeiras nacionais, obtidas na zona por

Page 61: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

61

preços relativamente baixos, a Estrada tem realisado consideráveis

economias.” (RELATÓRIO, 1922)

Sobre o ritmo dos trabalhos nas Oficinas, Bolívar Coelho, ex-trabalhador

das Oficinas Gerais de Bauru, narra: “A locomotiva entrava para reparar e já

tinha dia marcado para sair, então era muita pressão. Às vezes acontecia de

não entregar a máquina no prazo, porque o serviço nunca é como a gente

quer, afinal, uma peça pode quebrar, pode demorar pra descobrir o defeito,

enfim, acontece isso aí. Quando atrasava muito a entrega da máquina,

chegava até a tomar gancho. (...) O serviço já era difícil, porque a gente

trabalhava pesado das sete às quatro e meia da tarde, depois tinha o serão até

onze horas, meia-noite, e na manhã do dia seguinte já tinha que estar na

Noroeste outra vez.” (LOSNAK, 2004, pg 79)

Os trabalhadores e uma locomotiva em manutenção aos fundo das Oficinas. Fonte:

Relatório Anual Noroeste 1921, no Centro de Memória Ferroviária Regional.

Page 62: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

62

A Seção A – Ajustagem repleta de máquinas-ferramentas e alguns homens

trabalhando. Fonte: http://leitaoberigo.blogspot.com.br/2007/11/blog-post.html

Através da leitura dos Relatórios da NOB pudemos ter um panorama de

quantos trabalhadores estiveram nas Oficinas da empresa. Em 1924 eram

empregados 2 chefes de oficina, 1 eletricista e 378 pessoas como pessoal

jornaleiro (RELATÓRIO, 1924). Já em 1956, época de auge de produção nas

Oficinas de Bauru em que se “triplicou o número de passageiros, quintuplicou o

número de cabeças de gado e triplicaram-se as mercadorias transportadas”

(AZEVEDO, 1950, pg 116), era empregado um total de 681 funcionários da

mecânica, 253 na carpintaria, 216 nos diversos setores, somando um total de

1150 trabalhadores. Após a encampação pela Rede Ferroviária Federal SA,

iniciou-se um movimento de diminuição no quadro de funcionários, porém no

Relatório de 1967 encontramos o dado de 1289 funcionários da Noroeste

ligados à manutenção dos equipamentos e dos transportes. Este número

provavelmente é uma somatória dos funcionários das três Oficinas que a

estrada de ferro mantinha nesta época: a de Bauru, a de Aquidauana e de Três

Lagoas. Apesar desta redução relatada na bibliografia consultada, no mesmo

Relatório de 1967 comenta-se sobre a produtividade técnica de pessoal

Page 63: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

63

(medida em milhares de toneladas por quilômetro por empregado) que obteve

na Noroeste o maior índice (388,4) de toda a RFFSA. Já no Relatório

Estatístico de 1980 é apresentado o número de 813 funcionários no setor de

manutenção da empresa, e no documento do ano de 1986 dá-se a relação

entre empregados da manutenção de equipamentos dos transportes por

veículo em tráfego num total de 15,3 sendo este número o mais baixo de toda a

rede (a média era 27,2). Tais número refletem a política de diminuição de

ferroviários contratados pela NOB após a encampação pela Rede Ferroviária

Federal, e no Relatório de 1991, o mais recente encontrado, temos o número

de 742 funcionários.

Este panorama é comentado nas entrevistas realizada com antigos

funcionários da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil pelo grupo de trabalho da

UNESP liderada pelo professor Célio Losnak e presente no livro Nos Trilhos da

Memória: ferro e sangue, resultado da parceria entre a universidade e a

Prefeitura Municipal de Bauru. A seguir o trecho sobre o assunto, parte da

entrevista com Bolívar Coelho, antigo funcionário das Oficinas de Bauru: “Eu

aposentei em 83 pelo seguinte: porque a Rede estava querendo eliminar os

funcionários. Nessa época, ela estava em decadência, porque com os ônibus,

começou a ter poucos carros de passageiro, então a Rede precisava ficar livre

de nós. Eles falaram assim: “Ó, nós aposentamos vocês aí, ganhando integral

o que vocês ganham aqui, e damos prêmio pra quem quiser aposentar”.”

(LOSNAK, C J (org) Nos Trilhos da Memória: ferro e sangue. História de vida

de ferroviários da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e RFFSA. Bauru:

Prefeitura Municipal de Bauru – Secretaria da Cultura. 2004. pg 79)

7.2 Vila Falcão

As Oficinas Gerais de Bauru foram erguidas entre o pátio ferroviário e a

recém-formada Vila Falcão, bairro junto à estrada de Piratininga. Criado na

década de 10 pelos operários da ferrovia, sendo o primeiro fora do limite

urbano de Bauru, o bairro se torna uma comunidade tão importante para a

cidade como vital para a estrada de ferro Noroeste. Ali morava a grande

maioria dos funcionários das Oficinas, que principalmente pela proximidade ao

Page 64: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

64

trabalho se fixaram no bairro. A Vila Falcão mantinha uma relação íntima com a

rotina das Oficinas, como descrito por PELEGRINA “Durante muitas décadas,

desde sua inauguração, a população local esteve bem sintonizada com o

funcionamento das oficinas. Acertavam seus relógios pelo apito da mesma, que

era semelhante ao de um navio. Às 6h45 dois longos apitos alertavam seus

funcionários que deviam sair de suas casas, e tomar rumo ao serviço; às sete

horas, um apito curto anunciava o início do trabalho, às 10h45, novamente os

apitos longos chamando os funcionários; às onze inicio do segundo expediente

e, às 16 horas, encerramento dos trabalhos do dia. No tempo antigo, esse apito

chegava a ser ouvido na vizinha cidade de Piratininga, pois ainda não existia a

mínima poluição sonora. Como a cidade era pequena e todos moravam perto,

quinze minutos eram suficientes para os operários se deslocarem de suas

casas até o local de serviço. Além disto, quase todos os operários fixaram suas

residências na Vila Falcão, que acabava de ser fundada, dando-lhe um

crescimento rápido.” (PELEGRINA, 2000. pg 119)

7.3 Curso de Profissionalização

Como parte integrante e ao mesmo tempo como suporte às Oficinas da

Noroeste, foi criado o Curso de Profissionalização Ferroviário como

descreve AZEVEDO: “o engenheiro Alfredo de Castilho que, atendendo a

todos os setores, ainda instalou em 1936, em Bauru, o Curso de

Ferroviários sob a orientação do Centro Ferroviário de Ensino e Seleção

Profissional, de São Paulo. Foi o primeiro curso de aperfeiçoamento

profissional que se inaugurou na estrada.” (AZEVEDO, 1950, pg 198) O

curso era voltado para a formação de mão de obra especializada tanto para

os setores de manutenção do material rodante e do material fixo, quanto

para a condução dos trens, servindo de suporte a vários setores da

Ferrovia. Estudou na década de 70, no curso de eletricidade da escola

profissionalizante aquele que viria a ser o primeiro astronauta brasileiro, o

bauruense Marcos Pontes. A escola manteve-se em funcionamento até a

década de 90, e como ilustração do ensino ali desenvolvido apresentamos

nas tabelas seguintes os dados de 1942.

Page 65: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

65

Números do Curso de Profissionalização do ano de 1942. Fonte: Relatório Anual

Noroeste 1942, no Centro de Memória Ferroviária Regional.

8. O DIA-A-DIA NAS OFICINAS GERAIS DE BAURU

8.1 Produção por setor, fatalidades, crises

Durante as oito décadas que as Oficinas mantiveram-se em

funcionamento sua produção, seus funcionários e os próprios edifícios

colecionaram histórias, dados e lembranças que permanecem arquivadas nas

diversas fontes consultadas durante esta pesquisa. Para ilustrar o dia-a-dia

vivido nas Oficinas transcrevo parte da entrevista do ex-funcionário da

Noroeste Bolívar Coelho, presente em LOSNAK (LOSNAK, 2004, pg 73):

“Eu entrei na Noroeste em 52. Fui assim de olhos fechados, nunca tinha

trabalhado nisso antes. Meu pai era encarregado da Mecânica e foi ele que

arrumou pra mim lá. Eu fui trabalhar na seção de Ajustagem, eu fui ser

ajudante do oficial; tinha mais ou menos quatro ou cinco ajudantes pra cada

oficial. A gente tinha que desmontar e montar locomotivas. Naquela parte, todo

mundo trabalhava igual, e o oficial era o responsável pelo reparo das

Page 66: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

66

máquinas. Cada parte da locomotiva tinha um oficial e os ajudantes; vamos

supor: entrava uma locomotiva, então ia lá o pessoal da Caldeiraria. Caldeiraria

era aquela parte que trabalhava com água, era onde punha o fogo pra fazer

vapor. Então tinha a caldeiraria de cobre, caldeiraria de ferro; tinha o pessoal

do tênder, tênder era onde se guardavam as lenhas pra fazer a locomotiva

andar; tinha também a Carpintaria, a parte elétrica, etc. Eu só fazia a parte do

truque. (...) O trabalho era um sufoco, porque quando a máquina entrava para

reparar você mexia com muita graxa. Então, se você vestia uma roupa na

segunda-feira, com dois, três dias, parecia que era roupa de uma semana

inteira! (...) Lá na oficina tinha um cheiro de graxa muito forte. Serviço meio

pesado, tudo, mas deu pra se acostumar. Enfrentava aquela graxa que entrava

no corpo da gente e era duro de sair. Tinha hora que dava vontade de sair

correndo, aí falava depois: “Não, tenho que ficar aqui, porque aqui, queira ou

não, é seguro””.

Neste relato sobre como se dava o trabalho do operário nas diversas

seções das Oficinas fica claro que, apesar de todos os sistemas industriais

instalados com a premissa de dinamizar a produção, as condições enfrentadas

mantinham-se difíceis e o trabalho era realmente penoso. Bolívar comenta

ainda sobre sua passagem por outras seções. “Acho que as máquinas a fogo

acabaram mais ou menos nessa época, na década de 70. Aí, nós da

Ajustagem, ficamos quase sem função, então o chefe decidiu espalhar cada

um pra uma seção. (...) Aí me mandaram pra Pintura, mas eu não quis, não me

dei bem com o cheiro, era muito forte. Eu fui trabalhar na Ferraria. Mas lá você

enfrentava muito fogo, porque as peças eram tiradas do forno. Aí, ajeitei de

com um encarregado que era amigo de meu pai, chamava seu Miro, pra eu

trabalhar no quarto de Ferramentas. Lá era só entregar ferramentas pros

outros. Eu sentava lá e tinha um livro, daí quando o sujeito queria uma

ferramenta, ele pedia: “Quero tal broca pra tal coisa”, e eu anotava no livro.

Depois dali eu fui pro torno de bronze, na Fundição. Porque às vezes quando o

serviço estava meio apertado, eles nos mandavam pra Fundição. Lá, tinha que

despejar o ferro líquido nas formas e depois enfiá-las na boca do forno, aqueles

fornão, pra fazer as peças. Entrei lá, peguei um torno e fiquei com uns bronzes.

Eu gostava de trabalhar ali, porque assim podia ficar sozinho. (...) Fui trabalhar

Page 67: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

67

na Seção de Plaina e Fresa. Ali, tinha uma máquina só pra mim, que se

chamava mandrilhadora. Essa máquina servia pra ajustar as peças.”

Os relatos do ferroviário da Noroeste ilustram com emoção como era

seu dia-a-dia nas Oficinas, mais friamente mas não menos importante são os

dados dos Relatórios Anuais da estrada de ferro que podem nos dar

informações de como se dava a produção nas Oficinas Gerais de Bauru,

resultando na construção de um panorama cronológico dos resultados obtidos.

Em 1922, ano seguinte à inauguração, a estrada possuía 77

locomotivas, 94 carros e 616 vagões e foram realizadas 101 reparações de

locomotivas, 35 de carros e 163 de vagões. Em 1933 foram realizadas 133

reparações em locomotivas, já em 1942 o número foi de 134 reparações em

locomotivas, 234 de carros e 509 reparações de vagões. Vale notar que estes

números são a somatória das grandes, médias e pequenas reparações e

também de montagens e transformações do material rodante. Além das

reparações em si as Oficinas promoviam outras atividades industriais, já

comentadas, como a fundição de bronze, que alcançou 192.676 quilos em

1942, a fundição de ferro que somou 376.562 quilos, e 2.145,914 m³ de

madeira serrada durante o ano.

Tabela ilustrando os números e custos das reparações de locomotivas entre 1933 e

1942, fonte: Relatório Anual 1942 no Centro de Memória Ferroviária Regional.

Page 68: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

68

Os anos seguintes tiveram reduções na produção todas as seções das

Oficinas, graças à dificuldade de compra de materiais causada pela II Guerra

Mundial. No Relatório de 1947 do Coronel José Figueiredo fala-se sobre as

apenas 74 reparações em locomotivas e da necessidade de reutilização da

sucata das Oficinas como material para estes serviços. Também neste ano

começaram ali a ser fundidos os cilindros das locomotivas, motivados pela

mesma questão. Já no relatório de 1956 fala-se sobre 97 reparações de

locomotivas, 192 de carros e 394 de vagões e de 580.148 quilos de ferro

fundido, 292.640 quilos de bronze e 2.041.720 m³ de madeira serrada.

Outros sinistros marcaram a história das Oficinas de Bauru como os

incêndios sobre os quais comenta PELEGRINA “Na história das oficinas da

Noroeste, estão registrados dois grandes sinistros. São incêndios ocorridos em

1944 e 1966. O primeiro irrompido às 23 horas do dia 15 de dezembro, destruiu

completamente as oficinas C, carpintaria; o segundo, foi em 17 de agosto,

quando se incendiaram as instalações do Centro de Formação Profissional,

onde tudo era construído em madeira, no começo do carretão. (PELEGRINA,

2000, pg 120)

Foto apresentando o Vagão Restaurante um dos primeiros montados nas Oficinas. Fonte:

Relatório Anual Noroeste 1921, no Centro de Memória Ferroviária Regional.

Page 69: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

69

9. DECADÊNCIA E ABANDONO

9.1 Transferência para a RFFSA e privatização

Em fins da década de 50 um grande evento mudaria o rumo da história

da Noroeste do Brasil, é a criação pelo então presidente da república Juscelino

Kubistchek da Rede Ferroviária Federal SA, a RFFSA, em 16 de março de

1957, pela lei 3115. Segundo VENTURINI a empresa é “uma holding, forma de

organização em que diversas empresas se unem e são administradas por um

mesmo núcleo” (VENTURINI, L, O que há de novo no Oeste, UNESP, Bauru,

2005, pg 23). Um fator importante para a criação da Rede foi a concorrência

que as ferrovias brasileiras passaram a ter com as empresas de ônibus, que

passaram a dominar o transporte de passageiros a partir desta época.

A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil passaria então a compor esta

nova empresa ferroviária que tomaria como principais medidas a “remodelação

das linhas, modernização do material rodante e de tração, reestruturação

tarifária, supressão dos ramais antieconômicos, diminuição de empregados.”

(VENTURINI, 2005, pg 24) Estas medidas unidas à mudança na sede

administrativa da ferrovia visavam principalmente reduzir os custos e aumentar

a eficiência das ferrovias englobadas à Rede.

Já em 1958 a Noroeste passaria por grandes mudanças, como a

implantação de locomotivas à diesel, aumento no transporte de gado e cargas

e a redução no pessoal, sendo a primeira decisiva para o futuro das Oficinas,

como comenta PELEGRINA “Com a vinda das locomotivas a diesel, carros

metálicos, aquisição de peças prontas, diminuíram consideravelmente os

trabalhos ali executados, contribuindo também para a diminuição de seu

pessoal”. Passaria a vigorar a política das promoções de aposentadoria e da

não renovação dos quadros de funcionários, o que levou nas próximas

décadas, junto a outras mudanças, à redução sistemática dos trabalhadores

nas Oficinas de Bauru como já citamos nos capítulos anteriores e como

comenta VENTURINI “Nas décadas de 80 e 90 a diminuição do pessoal

continua, principalmente pelas aposentadorias e não mais demissões, e o

quadro não era reposto (...) Nas últimas décadas: foco em transporte de

combustível, poucos clientes, diminuição em investimentos, Noroeste não era

Page 70: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

70

prioridade.” (VENTURINI, 2005, pg 61) A autora ainda comenta “As oficinas

tentavam ao máximo manter o material rodante, que já era insuficiente para o

transporte, porém faltava material e mão de obra”.

Ainda sobre este contexto comentam respectivamente José Carlos da

Silva, ex-mecânico e Antônio Grillo Neto, ex-funcionário da administração da

NOB: “Foi um período em que a Rede começou a entrar em decadência. O

orçamento que vinha para o setor Diesel, o engenheiro discutia com a gente,

era baixo. Então, comprava o que era necessário e a gente começou a fazer o

resto”; “Então começou a canibalização de algumas peças. Você tinha uma

locomotiva muito ruim, que já não tinha mais condições de recuperar, você

começava a sacrificar mais ela, tirando peças dela para salvar outras”.

(VENTURINI, 2005, pg 94)

No Boletim Estatístico da RFFSA de 1991 temos dados sobre os gastos

da Rede com a manutenção dos trens. Teria sido neste ano cerca de 50% dos

gastos totais da NOB e previa-se a redução destes gastos em quase 40% na

via permanente e 17,3% na manutenção do material rodante. A administração

da ferrovia voltaria também nesta época a ser realizada em Bauru e segundo

VENTURINI tais medidas visavam já a privatização da Rede.

Através do Decreto 473 de 10 de março de 1992 a Rede Ferroviária

Federal SA foi incluída no Programa Nacional de Desestatização que se

basearia na “transferência ao setor privado, mediante licitação, da concessão

de serviços de transporte ferroviário de cargas; arrendamento dos bens

operacionais da RFFSA aos novos operadores; preservação da RFFSA,

cabendo-lhe funções de administração patrimonial e financeira, fiscalização

técnica e segurança operacional”. (VENTURINI, 2005, pg 131)

Em 1º de julho de 1996 a empresa norte-americana Noel Group,

ganhadora do processo de licitação, constitui a Ferrovia Novoeste SA,

herdando da NOB seus 1800 funcionários e toda a infraestrutura industrial da

ferrovia. Já em novembro do mesmo ano, a Novoeste SA apresentava um

quadro de 860 funcionários e várias locomotivas quebradas que não passariam

mais por uma manutenção.

Page 71: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

71

10. O COMPLEXO HOJE

10.1 Desativação e processo de tombamento

A partir de 1996 o parque industrial da antiga Noroeste do Brasil

começaria a ser desativado, incluindo grande parte do complexo das Oficinas

Gerais de Bauru, a estação ferroviária de Bauru e diversas locomotivas, carros

e vagões abandonados pelos trilhos.

Sobre o assunto o ex-ferroviário Bolívar Coelho diz: “Hoje em dia,

quando vejo a ferrovia do jeito que está, eu sinto fracasso. Se uma ferrovia do

porte da Paulista, da Sorocabana ou da Noroeste estivesse trabalhando, acho

que teria emprego pra muita gente de Bauru. Porque na Estrada nossa aqui

tinha a parte da Eletricidade, Caldeiraria, Fundição, Marcenaria, tudo era feito

aqui. Aqui era cheio de emprego! O depósito então! Era cheio de locomotiva. E

Bauru perdeu tudo isso. Foi uma pena!”.(LOSNAK, 2004, pg 79)

Também comenta o assunto o engenheiro Archimedes Raia em seu

artigo digital: “Na década de 1990, o Governo Federal concedeu à Novoeste as

linhas da RFFSA/Bauru. Era a esperança que faltava. O movimento de

passageiros na Estação caíra quase a zero; o comércio localizado nos

arredores da Estação conhecia o seu declínio mais forte. Os hotéis, que viviam

lotados nas décadas passadas, passaram a viver com as moscas; os casarios

construídos no início do século passado estavam abandonados.O abandono

seria completo se não existisse o projeto “Ferrovia para Todos”, desenvolvido

desde 1991 pelos funcionários do Museu Ferroviário de Bauru, que promove

excursões e passeios na “Maria Fumaça””. (RAIA, A, Bauru e o ocaso de uma

era ferroviária, artigo digital disponível em http://www.vitruvius.com.br

/revistas/read/minhacidade/08.090/1906, 2008)

Em 09 de maio de 2006 a Novoeste SA é comprada pela América Latina

Logística, então a maior operadora logística com base ferroviária do continente

que a nomeia, herdando a concessão do transporte e o arrendamento do

patrimônio da antiga Noroeste, porém a ALL manteve em desuso a maior parte

deste imenso patrimônio industrial. VENTURINI comenta sobre o estado das

Oficinas: “As oficinas de Bauru, lugar responsável pelas principais reparações

da antiga Noroeste e pela fabricação de carros e peças, estão abandonadas e

Page 72: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

72

subutilizadas. Apenas dois galpões encontram-se em uso para fazer

reparações e revisões em vagões.” (VENTURINI, 2005, pg 146)

Durante o ano de 2012, em que se desenvolveu esta pesquisa de

iniciação científica, foi finalmente desativada toda a unidade de manutenção de

material rodante de Bauru pela concessionária ALL, tornando inoperante todo o

conjunto de edifícios das antigas Oficinas Gerais de Bauru.

Atualmente, segue em andamento a Ação Civil Pública com Pedido de

Tutela Liminar, sob processo número 0002979-36.2011.4.03.6108 – 2ª Vara

Federal de Bauru, em que se argumenta: “A obtenção de tutela jurisdicional

para a proteção de tal patrimônio se revela necessária e imprescindível, tendo

em vista que muitos dos bens ferroviários, móveis e imóveis, encontrados em

Bauru, estão abandonados, expostos à ação degradadora do homem e da

natureza. Essa situação decorre da inércia dos responsáveis pela preservação

de todo esse acervo, como será demonstrado”. (PROCURADORIA DA

REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE BAURU, Processo n˚ 0002979-

36.2011.4.03.6108)

Page 73: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

73

11. RESULTADOS E ANÁLISE

Os resultados encontrados durante o processo da Iniciação Científica

fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo –

FAPESP, sob registro 2011/51014-6 e parte integrante da pesquisa EFNOB/

Bauru km 0, abrangem os quesitos propostos em seu projeto, e conseguiram

criam um panorama da história das Oficinas Gerais de Bauru, descobrindo

inclusive, que o nome correto do tema da pesquisa seria As Oficinas Centrais

de Bauru, como eram conhecidas de fato.

Estudamos, inicialmente, os processos de formação de Bauru e a

chegada das ferrovias à cidade. Notamos a importância da escolha desta como

sede da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que trouxe além dos

investimentos, avanços sociais, culturais e políticos à antiga “boca-do-sertão”.

A partir de 1917, quando a ferrovia foi encampada pelo governo federal Bauru

passou a receber toda a importante infraestrutura industrial necessária para

movimentar a grande ferrovia que foi a NOB. Marca imponente deste período

são as Oficinas Centrais de Bauru, inauguradas em 1921 e que centralizaram a

manutenção e confecção de grande parte do material rodante da estrada.

As Oficinas de Bauru chegaram a contar com 1 150 funcionários em

suas diversas Seções e processos industriais ali desenvolvidos e a realizar a

manutenção de 134 locomotivas/ano, além da construção e reparação de

centenas de carros, vagões e outros materiais. Esses números revelam a

importância deste pátio industrial para a Noroeste do Brasil e para a cidade de

Bauru, principalmente a Vila Falcão, onde residiam grande parte dos

trabalhadores das Oficinas e onde a própria se localiza.

O complexo das Oficinas foi construído e reformado ao longo do século

XX resultando num símbolo da grande capacidade de seus projetistas e

construtores, sendo hoje em um importante patrimônio histórico e arquitetônico

que infelizmente encontra-se abandonado pelos responsáveis e em acelerado

processo de deteriorização e que condena sua valorização cultural.

Hoje diversos trabalhos vêm de encontro a esta situação, como esta

própria iniciação científica, o já comentado Pedido de Tutela Liminar, um grupo

de discussão sobre o Patrimônio Ferroviário de Bauru e até um Trabalho de

Page 74: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

74

Conclusão de Curso da arquiteta Camila Mascarenhas, que propôs um novo

uso através da requalificação do conjunto e entorno, e que ilustro a seguir.

Apesar destas movimentações em prol da salvaguarda e proteção das

Oficinas Centrais de Bauru, os órgãos públicos e empresas privadas

responsáveis pelo complexo ainda se mantém indiferentes ao importante valor

cultural que este belo conjunto representa para Bauru e toda a região atingida

pela antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

Prancha 4/4 do Trabalho de Conclusão de Curso da arquiteta Camila Mascarenhas,

arquivo da autora.

Page 75: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

75

12. FONTES PRIMÁRIAS

Relatórios e Estudos da C.E.F.N.O.B.:

1. ANUÁRIO Estatístico da Rede Ferroviária Federal SA do Ano de

1967, São Paulo, 1967;

2. ANUÁRIO Estatístico da Rede Ferroviária Federal SA do Ano de

1980, São Paulo, 1980;

3. ANUÁRIO Estatístico da Rede Ferroviária Federal SA do Ano de

1983, São Paulo, 1983;

4. ANUÁRIO Estatístico da Rede Ferroviária Federal SA do Ano de

1986, São Paulo, 1986;

5. ANUÁRIO Estatístico da Rede Ferroviária Federal SA do Ano de

1991, São Paulo, 1991;

6. INTRODUÇÃO ao Relatório da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil,

referente ao Exercício de 1921, apresentado ao Exmo. Sr. Dr. J.

Pires do Rio M. D. Ministro da Viação e Obras Públicas. São Paulo,

Secção de Obras D’O Estado de São Paulo, 1922;

7. RELATÓRIO da Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil

do Ano de 1916. Rio de Janeiro, s.c.e., 1916;

8. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1922. Bauru, 1922;

9. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1924. Bauru, 1924;

10. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1926. Bauru, 1926;

11. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1927. Bauru, 1927;

12. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

Page 76: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

76

1931. Bauru, 1931;

13. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1937. Bauru, 1938;

14. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1940. Bauru, 1940;

15. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1942. Bauru, 1942;

16. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1945. Bauru, 1945;

17. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1946. Bauru, 1946;

18. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1947. Bauru, 1947;

19. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1948. Bauru, 1948;

20. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1949. Bauru, 1949;

21. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1950. Bauru, 1950;

22. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1952. Bauru, 1952;

23. RELATÓRIO da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do Ano de

1956. Bauru, 1956;

Page 77: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

77

13. BIBLIOGRAFIA

1. AZEVEDO, F. de. Um trem que corre para o Oeste. São Paulo:

Martins Editora, 1950;

2. FIGUEIREDO, Lima. A Noroeste do Brasil e a Brasil Bolívia. São

Paulo, Livraria José Olimpio Editora, 1950;

3. GHIRARDELLO, Nilson. À beira da linha: formações urbanas da

Noroeste Paulista. São Paulo: Editora UNESP, 2001;

4. GHIRARDELLO, Nilson. Aspectos do Direcionamento Urbano da

Cidade de Bauru. São Carlos, 1992, 187 p.. Dissertação de Mestrado

(Curso de Arquitetura e Urbanismo) - Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo, 1992;

5. LOSNAK, C J (org.) Nos Trilhos da Memória: ferro e sangue. História

de vida de ferroviários da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e RFFSA.

Bauru: Prefeitura Municipal de Bauru – Secretaria da Cultura. 2004

6. MOTOYAMA, Shozo (org.) Tecnologia e Industrialização no Brasil -

Uma Perspectiva Histórica. São Paulo, Editora Unesp, 1994;

7. NEVES, Correia das. História da Estrada de Ferro Noroeste do

Brasil. Bauru, Tipografias e Livrarias Brasil, 1958;

8. VENTURINI, L. O há de novo no Oeste. Bauru: UNESP, 2005

9. PELEGRINA, G. R. Memórias de um ferroviário. Bauru: Editora da

Universidade do Sagrado Coração, 2000;

10. SILVA, A. Roteiro histórico: uma cidade uma instituição. Bauru:

Tipografia Comercial, 1957

Page 78: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

78

ANEXOS

1. FICHAMENTOS

Á Beira da Linha: Formações Urbanas da Noroeste Paulista

Á Beira da Linha: Formações Urbanas da Noroeste Paulista

Expansão Ferroviária e surgimento das cidades no oeste de São Paulo

GHIRARDELLO, Nilson. À beira da linha: formações urbanas da Noroeste

Paulista. São Paulo: Editora UNESP, 2001

O livro, resultado do trabalho de doutoramento do autor, aborda desde os tempos da

ocupação original indígena até a instalação da Estrada de Ferro Noroeste na região

oeste do estado de São Paulo e no antigo Mato Grosso. A intenção colonizadora da

ferrovia fazia parte do projeto de povoamento e desenvolvimento do interior brasileiro.

Resultado da implantação da Noroeste, surgiram a partir das suas estações e chaves,

diversos povoados e vilarejos. As antigas “estações de mato” levaram o progresso a

estas formações que se tornaram cidades importantes. Talvez o maior caso deste

processo seja a cidade de Bauru, quilômetro zero da NOB, que cresceu e se

desenvolveu a partir das ferrovias.

“As margens do Tietê ofereciam as condições ideias aos mosquitos transmissores.

Nesse período seria fundada a Santa Casa de Misericórdia de Bauru, que atendia

quase que exclusivamente aos operários.” (pg. 42)

“ O transporte a vapor, no período, guardava ainda características que deviam ser

obedecidas por todas as companhias ferroviárias, como a existência de caixas d’água

e lenheiros em espaçamentos regulares para a alimentação das locomotivas (...) as

caixas d’água precisavam estar próximas á fonte fornecedora, em nosso caso os

cursos d’água, pois eram abastecidas por bambas a vapor de pouca potência,

chamadas “burrinhos a vapor”.” (pg. 53)

“As estações, incluindo a sede da ferrovia em Bauru, foram erguidas em madeira,

conseguidas nas matas abertas.” (pg. 53)

“ É criado o município de Bauru em 1896 (...) as ocupações rurais mais antigas na

região de Bauru acontecem por volta de 1856.” (pg. 70)

Page 79: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

79

“Os mineiros transplantaram para a “boca-do-sertão” paulista o seu modo de vida,

bem como sua lavoura e criação”. Plantavam milho, criavam gado e principalmente

porcos, em sua maioria.” (pg. 73)

Aspectos do Direcionamento Urbano da Cidade de Bauru.

ASPECTOS DO DIRECIONAMENTO URBANO DA CIDADE DE BAURU

Remonta um histórico completo da evolução urbana da cidade de Bauru.

GHIRARDELLO, Nilson. Aspectos do Direcionamento Urbano da Cidade

de Bauru. São Carlos, 1992, 187 p.. Dissertação de Mestrado

(Curso de Arquitetura e Urbanismo) - Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo, 1992)

A Dissertação de Mestrado do professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e

Comunicação de Bauru, remonta um panorama completo da evolução urbana de

povoado a importante metrópole que se deu em Bauru durante todo o século XX.

Desde as primeiras ocupações pelos fazendeiros mineiros, a doação do patrimônio à

Igreja Católica e a formação da vila de Bauru, até a vinda das ferrovias, dos

investimentos, da modernidade para a cidade. Através de uma leitura que abrange os

diversos fatores sociais, econômicos e políticos o trabalho analisa como se deu a

origem do traçado urbano, a distribuição espacial da população, enfim, a

consolidação de Bauru.

“O café dará as condições propícias para o desenvolvimento de toda a província de

São Paulo e para retirar da letargia secular a região oeste. (...) Logo atrás das

plantações vira a ferrovia, na época, o meio mais rápido e econômico para transportar

grandes quantidades de mercadorias. É por ela que chegará ao porto de Santos toda

a produção cafeeira, mas também, por ela virá toda a sorte de novidades importadas

que mudarão a paisagem das cidades e o modo de vida das pessoas, desde a telha

de ardósia aos gradis de ferro, passando pelas notícias recentes e os lustres belgas.”

(pg. 09)

“Característica do capitalismo que privilegia alguns centros em relação a outros, a

concentração das atividades econômicas em determinadas sedes urbanas atrairão

Page 80: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

80

para si grande contingente humano, modificando sua paisagem e alternando toda

forma de relacionamento social anterior.” (pg.10)

“Aos 15 de novembro de 1884, Antônio Teixeira do Espírito Santo e sua mulher,

doam parte de sua fazenda, adquirida em 1855, do posseiro João Baptista Monteiro.

Esta doação lavrada no ano seguinte, foi feita por graças recebidas a fim de formar o

patrimônio de São Sebastião do Bauru. (...) Inicia-se a aglomeração urbana, agora,

em terras legalizadas para este fim, mas ainda não arruadas.” (pg. 51)

“Como não poderia deixar de ser, as primeiras casas foram construídas junto à

estrada que ligava os sertões a Fortaleza e Lençóis. Esta estrada, depois chamada

de Araújo Leite, se situava no sentido norte-sul, próximo ao Ribeirão das Flores, mas,

em cota suficiente alta para evitar as enchentes.” (pg. 52)

“O arruador para demarcação do traçado urbano só vai ser indicado em 17/04/1888.”

(pg. 52)

“Uma grande reta, hoje rua Araújo Leite, em sentido norte-sul, e a atual rua 1˚ de

Agosto em sentido leste-oeste, via esta que delimitava a área doada ao patrimônio.

(...) foram demarcadas quadras até as barrancas do Ribeirão Bauru e seu afluente

córrego das Flores, os restantes divisores da área.” (pg.54)

“A 18 de fevereiro de 1887 chegam os trilhos da Paulista a Jahú, vindos da região de

Rio Claro e no ano seguinte a Sorocabana atinge Botucatu, e depois Lençóis.” (pg

58)

“O patrimônio de Bauru aumentava dia a dia sua população.” (pg 58)

“O grande número de famílias que passam a residir como colonos nestas fazendas,

em sua maioria estrangeiros (...) é responsável direto pela expansão do comércio.”

(pg 62)

“Com a chegada dos grandes fazendeiros, a importância política do vilarejo aumenta,

à medida que muitos interesses destes resultam em progresso, para o patrimônio que

ia ganhando funções urbanas de um pequeno burgo. Um comércio que servisse aos

colonos e diaristas na venda de artigos de consumo básico, alimentos, bebidas,

panos, chapéus, fumo, etc. Outro mais específico para a lavoura com ferramentas em

geral; alguns locais para a pousada. A capela, o cemitério, o posto de correio, um

distrito policial construído em 17 de agosto de 1892.” (pg. 62)

“Em 03 de maio de 1893, Veríssimo Antônio Pereira, filho de Felicíssimo, e sua

mulher doam à Igreja mais 134 ares de terra da Fazenda Grande, área contígua ao

Page 81: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

81

patrimônio inicial.” (pg. 63)

“Em 30 de agosto de 1893, Bauru ganha seu distrito de paz.” (pg. 64)

“Assim em 1˚ de Agosto de 1896, o poder executivo decreta a lei numero 428:

Artigo 1˚- O município do Espírito Santo de Fortaleza passa a denominar-se Bauru,

mudando sua sede para esta última povoação.” (pg. 65)

“O período é definitivo para a cidade de Bauru, quando se implantam três ferrovias,

por ordem cronológica, Sorocabana, Noroeste e Paulista. Elas vão mudar a feição do

lugarejo alterando todas suas características.” (pg 82)

“É nesse curto espaço de tempo, também, que Bauru passará a contar com quase

toda infraestrutura presente numa cidade do começo do século.” (pg 82)

“O periodo será de apogeu e queda do colonialismo que dominava a política de forma

incontestável. Ele se fecha com a vinda da comarca em 09 de março de 1911. (pg 85)

“Bauru em pouco tempo se torna um importante entroncamento, porta de grande

região, servida pela Noroeste, única a transportar imensas quantidades de café

produzidas desde as barrancas do Rio Paraná, até Bauru e daí transportada pela

Sorocabana ou Paulista.” (pg 85)

“O encontro de várias ferrovias coloca a cidade em contato com diversas regiões do

estado, privilégio comparado apenas com São Paulo. Essa “independência” da

capital, transformaria Bauru em pólo regional, de uma parte considerável e central do

estado, favorecendo o comércio, a prestação de serviços, e por conseqüência, seu

crescimento.” (pg 85)

“Sua implantação mereceu acurados estudos, pois se tratava do ponto inicial da

ferrovia. Foi escolhida uma área próxima à estação da Sorocabana, como forma de

facilitar o transporte de cargas e passageiros e de maneira a aproveitar a topografia

plana, além de ser o ponto mais a oeste do patrimônio, não havendo necessidade

que os trilhos o cruzassem. Para a edificação da estação, pátio, oficinas e algumas

casas de operários foi adquirida da Fábrica da Matriz do Divino Espírito Santo, uma

área de 83.537 metros quadrados só escriturados oficialmente em 1915(6).”(pg 90)

“A instalação do complexo ferroviário da Noroeste embora ainda pequeno em relação

ao que se transformaria no futuro, obriga, mais uma vez radical transformação no

traçado desse setor da cidade. (...) Supomos que a nova estrada de ferro, devida sua

importância, muito maior que a Sorocabana, teve menor dificuldade para se instalar,

sendo encarada pelos vereadores e a população como uma verdadeira dádiva para o

Page 82: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

82

desenvolvimento da cidade.” (pg 90)

“Após a vinda da Noroeste, que traz excelente corpo técnico que atuaria

decisivamente na infra-estrutura urbana, quer participando diretamente na sua

construção, quer apenas fazendo análises aos projetos encaminhados à Câmara.”

(pg 104)

“Também não é por outro motivo que em 1910, um grupo de fazendeiros cria na

cidade um Banco de Custeio Rural, primeiro estabelecimento do gênero, que tem

como seu presidente o coronel Azarias Leite.” (pg 104)

“As ferrovias necessitarão, urgentemente, de infraestrutura básica e forçarão o

município à abertura de concorrências públicas para este fim. As comunicações,

especialmente, eram fundamentais; os telefones são instalados na cidade em 1907,

pela iniciativa privada (...) A própria Noroeste terá aparelhos telefônicos

acompanhando a abertura das linhas, meio de comunicação mais eficaz para

chamadas de socorro em caso de acidente ou ataque indígena.” (pg 104)

“Os lampiões instalados em 1903, são substituídos, já em 1911, pela energia elétrica

gerada pelo aproveitamento de queda d’água no Ribeirão Bauru em território de

Pederneiras.” (pg 104)

“Também em 1911 são iniciados estudos para implantação de serviço de água e

esgotos, ligadas em 1912,” (pg 104)

“... as estações e oficinas de execução primorosa sob acompanhamento de técnicos

e engenheiros vindos de São Paulo e Rio de Janeiro. Sua linguagem arquitetônica,

depojada, quase industrial, era o que mais moderno e tecnologicamente avançado

havia na cidade. A contemporaneidade de suas instalações devia se igualar a

potentes locomotivas inglesas.” (pg 108)

“Em 1917 é transferida para Bauru a sede da Companhia Noroeste (...) Essa

mudança traz consigo grande quantidade de funcionários ligados a setores

burocráticos, vindos principalmente do Rio de Janeiro, impulsionando tanto o

comércio de artigos mais sofisticados, como a produção cultural, que terá seu ápice

na década de 20. Eles darão inicio ao que se pode chamar de segunda leva de

migrantes, após os mineiros do século XIX.” (pg 112)

“Parte significativa do operariado representada por funcionários da NOB formarão um

novo bairro, junto à estrada que ia para Piratininga, sendo o primeiro organizado fora

dos limites urbanos, chamado Vila Falcão.” (pg 118)

Page 83: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

83

“Esse bairro, desenvolvido sobre área do agrimensor Ismael Marinho Falcão – donde

vem sua denominação – teve sua ocupação inicial, presume-se, no final da primeira

década, juntamente com a instalação da Noroeste.” (pg 118)

“A vila Falcão se desenvolverá ainda mais com a construção das novas oficinas da

Noroeste, em 1921, trazendo para a comunidade, número maior de moradores.” (pg

118)

“A vinda das oficinas das NOB para a cidade terá fundamental importância econômica

pois a ferrovia além de consertar as composições, as montavam inteiramente sobre

“trucks” importados. Os vários componentes aqui produzidos exigindo mão de obra

qualificada para operar setores que iam de fundição à mecânica. Entre os diversos

profissionais se destacarão excelentes carpinteiros e marceneiros, que nas horas

livres executarão inúmeras construções em madeira, especialmente para a população

trabalhadora beneficiada pelo baixo custo da matéria-prima, retirada das imensas

florestas ainda existentes à oeste, e no estado de Mato Grosso.” (pg 152)

História da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

HISTÓRIA DA ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO BRASIL

NEVES, C. História da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil . Bauru: Tipografias e

Livrarias, 1958.

O livro retrata a história da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, desde sua

idealização e formação, ainda como Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

(CEFNOB), sua implantação desbravadora das matas ainda virgens do Oeste

paulista, a encampação pelo Governo Federal até chegar aos anos 50, data do livro.

Relatório de 1909: “As oficinas de Bauru, bem que não possuindo ainda que algumas

máquinas-ferramentas, que até hoje não tem sido indispensável, são suficientes para

as reparações necessárias de todo o material fixo e rodante” pg 53

“Nas oficinas além dos serviços ordinários da estrada, faz-se também muito trabalho

por conta da empresa e de particulares, do que resulta uma boa receita pelos lucros

que deixa, além dos inapreciáveis serviços que prestamos aos agricultores e

Page 84: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

84

industriais aqui residentes, que antigamente eram obrigados a recorrer a São Paulo.”

pg 53

“NOB passou a fazer parte da RFFSA em 16 de março de 1957 pela lei 3115.”

Memórias de um ferroviário.

MEMÓRIAS DE UM FERROVIÁRIO

Relato histórico do cotidiano na Estrada de Ferro e na cidade de Bauru.

PELEGRINA, G. R. Memórias de um ferroviário. Bauru: Editora da

Universidade do Sagrado Coração, 2000

O livro se trata de um relato de um protagonista e estudioso da história das ferrovias,

e de suas relações com a cidade de Bauru. O autor foi funcionário da ferrovia e

participou de diversos momentos importantes da NOB, fatos estes narrados com

grande qualidade. Os relatos vão desde temas como a construção da ferrovia,

organização e funcionamento da Noroeste, até os relacionamentos entre a

sociedade bauruense a Estrada de Ferro.

“José Joaquim Cardoso Gomes, engenheiro da NOB, em 1904, demarcou onde seria

construída a Avenida Alfredo Maia (atual Rodrigues Alves). Em 1911 dotou Bauru de

iluminação elétrica.” (pg. 28)

“Quando da construção da ferrovia, que teve seu primeiro trecho inaugurado em

no dia 27 de setembro de 1906 (...) Somente em 1910, é que passaram a trafegar por

ela, em toda sua extensão, os trens de passageiros. Três vezes por semana.” (pg. 61)

“Bauru ganhou muito com esse evento [Criação da NOB, 1918] pois o então

prefeito, Octávio de Pinheiro Brisolla, apressou a construção de um eficiente serviço

de abastecimento de água na cidade, assim como intercedeu junto à Companhia

Paulista de Força e Luz para que abreviasse a extensão da rede de energia elétrica.

(...) Até o Banco do Brasil tratou de abrir em Bauru uma agência de seu

estabelecimento.” (pg.61)

“Em 1918, instalou a sede da antiga Noroeste em Bauru. Finalmente o pessoal

que já fazia parte dos quadros de funcionários das duas estradas.” (pg. 62)

“A construção das Oficinas centrais da antiga E. F. Noroeste, em Bauru, foi um

Page 85: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

85

dos fatores que mais contribuíram para acelerar o crescimento da cidade. Bauru

havia sido escolhida, por ocasião da encampação da E. F. Bauru a Itapura, para

sediar os escritórios gerais sendo, por este motivo, transferidos para Bauru centenas

de funcionários que passaram, juntamente com suas famílias, a residir em nossa

cidade. Tão logo assumiu a direção da estrada o engenheiro Arlindo Gomes Ribeiro

da Luz, ao relacionar problemas que exigiam maior rapidez na sua solução, colocou

como prioridade a construção das oficinas, a fim de proceder reparos em todo o

equipamento da estrada, inclusive a montagem de locomotivas importadas. A partir

de sua inauguração, em 1921, centenas de operários, com ou sem mão-de-obra

especializada, chegaram a Bauru e foram admitidos como artífices ou aprendizes. A

formação dos artífices se fazia através da prática. Os mais velhos e experientes

procuravam transmitir aos mais novos – os aprendizes, seus conhecimentos. Esses

trabalhavam sem receber compensação monetária, mas recebiam, em troca

conhecimentos da profissão e um emprego garantido depois de um tempo. As

oficinas sempre foram divididas em três grandes seções: A oficina A – Ajustagem –

sempre cuidou da parte operacional, com as maquinas operatrizes: tornos, fresas,

plainas, usinagem de peças, fundição, etc.; a seção B, Eletricidade, cuida de tudo

relacionado a eletricidade: transformadores, dínamos, geradores, alternadores e

outros aparelhos correlatos; a oficina C – Carpintaria, cuida de todos os trabalhos

com madeira: carros, vagões, móveis,etc.” (pg. 118)

“Durante muitas décadas, desde sua inauguração, a população local esteve

bem sintonizada com o funcionamento das oficinas. Acertavam seus relógios pelo

apito da mesma, que era semelhante ao de um navio. Às 6h45 dois longos apitos

alertavam seus funcionários que deviam sair de suas casas, e tomar rumo ao serviço;

as sete horas, um apito curto anunciava o início do trabalho, às 10h45, novamente os

apitos longos chamando os funcionários; às onze inicio do segundo expediente e, às

16 horas, encerramento dos trabalhos do dia. No tempo antigo, esse apito chegava a

ser ouvido na vizinha cidade de Piratininga, pois ainda não existia a mínima poluição

sonora. Como a cidade era pequena e todos moravam perto, quinze minutos eram

suficientes para os operários se deslocarem de suas casas até o local de serviço.

Além disto, quase todos os operários fixaram suas residências na Vila Falcão, que

acabava de ser fundada, dando-lhe um crescimento rápido.” (pg. 119)

“Na história das oficinas da Noroeste, estão registrados dois grandes sinistros.

Page 86: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

86

São incêndios ocorridos em 1944 e 1966. O primeiro irrompido às 23 horas do dia 15

de dezembro, destruiu completamente as oficinas C, carpintaria; o segundo, foi em 17

de agosto, quando se incendiaram as instalações do Centro de Formação

Profissional, onde tudo era construído em madeira, no começo do carretão. Com a

vinda das locomotivas a diesel, carros metálicos, aquisição de peças prontas,

diminuíram consideravelmente os trabalhos ali executados, contribuindo também para

a diminuição de seu pessoal.” (pg. 120)

Nos trilhos da memória: ferro e sangue. História da vida de

ferroviários da Noroeste do Brasil e RFFSA.

NOS TRILHOS DA MEMÓRIA: FERRO E SANGUE

LOSNAK, C. (org.) Nos trilhos da memória: ferro e sangue. História da vida de

ferroviários da Noroeste do Brasil e RFFSA. Bauru: Prefeitura Municipal de

Bauru – Secretaria da Cultura, 2004.

O livro, parte de um trabalho desenvolvido pela Universidade Estadual Paulista,

UNESP, com intuito de recriar através de entrevistas com ex-ferroviários das

Companhia Paulista e da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil a memória das

estradas. O livro, é extremamente rico de referencias aos diferentes momentos e

setores da história da NOB e ilustra os tempos de seu funcionamento e

principalmente, sua inserção na Rede Ferroviária Federal SA, com consequente

privatização da ferrovia.

“Bolívar Coelho:

Eu entrei na Noroeste em 52. Fui assim de olhos fechados, nunca tinha trabalhado

nisso antes. Meu pai era encarregado da Mecânica e foi ele que arrumou pra mim lá.

Eu fui trabalhar na seção de Ajustagem, eu fui ser ajudante do oficial; tinha mais ou

menos quatro ou cinco ajudantes pra cada oficial. A gente tinha que desmontar e

montar locomotivas. Naquela parte, todo mundo trabalhava igual, e o oficial era o

responsável pelo reparo das máquinas. Cada parte da locomotiva tinha um oficial e

Page 87: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

87

os ajudantes; vamos supor: entrava uma locomotiva, então ia lá o pessoal da

Caldeiraria. Caldeiraria era aquela parte que trabalhava com água, era onde punha o

fogo pra fazer vapor. Então tinha a caldeiraria de cobre, caldeiraria de ferro; tinha o

pessoal do tênder, tênder era onde se guardavam as lenhas pra fazer a locomotiva

andar; tinha também a Carpintaria, a parte elétrica, etc. Eu só fazia a parte do truque.

O trabalho era um sufoco, porque quando a máquina entrava para reparar você mexia

com muita graxa. Então, se você vestia uma roupa na segunda-feira, com dois, três

dias, parecia que era roupa de uma semana inteira! (pg 73)

Lá na oficina tinha um cheiro de graxa muito forte. Serviço meio pesado, tudo, mas

deu pra se acostumar. Enfrentava aquela graxa que entrava no corpo da gente e era

duro de sair. Tinha hora que dava vontade de sair correndo, aí falava depois: “Não,

tenho que ficar aqui, porque aqui, queira ou não, é seguro”.

Acho que as máquinas a fogo acabaram mais ou menos nessa época, na década de

70. Aí, nós da Ajustagem, ficamos quase sem função, então o chefe decidiu espalhar

cada um pra uma seção. (...) Aí me mandaram pra Pintura, mas eu não quis, não me

dei bem com o cheiro, era muito forte.

Eu fui trabalhar na Ferraria. Mas lá você enfrentava muito fogo, porque as peças

eram tiradas do forno. Aí, ajeitei de com um encarregado que era amigo de meu pai,

chamava seu Miro, pra eu trabalhar no quarto de Ferramentas. Lá era só entregar

ferramentas pros outros. Eu sentava lá e tinha um livro, daí quando o sujeito queria

uma ferramenta, ele pedia: “Quero tal broca pra tal coisa”, e eu anotava no livro. (pg

74)

Depois dali eu fui pro torno de bronze, na Fundição. Porque às vezes quando o

serviço estava meio apertado, eles nos mandavam pra Fundição. Lá, tinha que

despejar o ferro líquido nas formas e depois enfiá-las na boca do forno, aqueles

fornão, pra fazer as peças. Entrei lá, peguei um torno e fiquei com uns bronzes. Eu

gostava de trabalhar ali, porque assim podia ficar sozinho.

Fui trabalhar na Seção de Plaina e Fresa. Ali, tinha uma máquina só pra mim, que se

chamava mandrilhadora. Essa máquina servia pra ajustar as peças. (pg 75)

A locomotiva entrava para reparar e já tinha dia marcado para sair, então era muita

pressão. Às vezes acontecia de não entregar a máquina no prazo, porque o serviço

nunca é como a gente quer, afinal, uma peça pode quebrar, pode demorar pra

descobrir o defeito, enfim, acontece isso aí. Quando atrasava muito a entrega da

Page 88: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

88

máquina, chegava até a tomar gancho. Um dos ganchos que tomei fez eu ser

transferido pra Água Clara em Mato Grosso do Sul.

Aqui em Bauru as coisas eram mais rígidas. O horário de entrada e saída da oficina

era controlado, e muitas vezes eu chegava atrasado, porque eu morava na rua

Gustavo Maciel, no alto da cidade. Aquele tempo não tinha ônibus pra ir até o serviço.

Depois que eu me casei, fui morar lá perto do Cemitério da Saudade. Na hora do

almoço, ia a pé da oficina até em casa, porque eu não queria que a Aparecida, minha

esposa, levasse almoço pra mim. A maioria do pessoal levava, mas eu gostava de

almoçar em casa, ia a pé e voltava. Fazia esse trajeto todo dia. (pg 78)

(...) Mas na Noroeste também tinha os que eram loucos por um trabalho,

principalmente quando era serão. Nossa, tinha gente lá da oficina que até brigava

porque queria fazer serão. Eu não, eu fazia só quando realmente precisava, quando

não tinha mais jeito. Eles até que pagavam bem, mas eu sempre gostei de ter a

minha vida, poder sair, passear. Quando dava quatro e meia, eu já ia no banheiro,

tomava banho e saía arrumadinho, pronto pra passear.

O serviço já era difícil, porque a gente trabalhava pesado das sete às quatro e meia

da tarde, depois tinha o serão até onze horas, meia-noite, e na manhã do dia

seguinte já tinha que estar na Noroeste outra vez. (pg 79)

Eu aposentei em 83 pelo seguinte: porque a Rede estava querendo eliminar os

funcionários. Nessa época, ela estava em decadência, porque com os ônibus,

começou a ter poucos carros de passageiro, então a Rede precisava ficar livre de

nós. Eles falaram assim: “Ó, nós aposentamos vocês aí, ganhando integral o que

vocês ganham aqui, e damos prêmio pra quem quiser aposentar”.

Hoje em dia, quando vejo a ferrovia do jeito que está, eu sinto fracasso. Se uma

ferrovia do porte da Paulista, da Sorocabana ou da Noroeste estivesse trabalhando,

acho que teria emprego pra muita gente de Bauru. Porque na Estrada nossa aqui

tinha a parte da Eletricidade, Caldeiraria, Fundição, Marcenaria, tudo era feito aqui.

Aqui era cheio de emprego! O depósito então! Era cheio de locomotiva. E Bauru

perdeu tudo isso. Foi uma pena!”

Page 89: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

89

O que há de novo no Oeste.

O QUE HÁ DE NOVO NO OESTE

VENTURINI, L. O há de novo no Oeste. Bauru: UNESP,

2005

O livro, parte do trabalho de conclusão de curso de Jornalismo da autora, retrata o

processo histórico de constituição, auge e queda da Estrada de Ferro Noroeste do

Brasil, com foco nas questões ligadas ao trabalhador, às relações econômicas e

políticas que a NOB manteve durante sua existência. Através de entrevistas a autora

consegue recriar com riqueza de expressão o cenário dos últimos momentos de

atividade da empresa, foco desta leitura.

“Mudanças práticas na Noroeste a partir de 1958: implantação da locomotiva a

diesel; aumento no transporte de gado e cargas em geral, redução no pessoal (ao

todo quase 6 mil)” pg 40

“uma holding, forma de organização em que diversas empresas se unem e são

administradas por um mesmo núcleo”

a “remodelação das linhas, modernização do material rodante e de tração,

reestruturação tarifária, supressão dos ramais antieconômicos, diminuição de

empregados.” pg 23

“Nas décadas de 80 e 90 a diminuição do pessoal continua, principalmente pelas

aposentadorias e não mais demissões, e o quadro não era reposto (...) Nas últimas

décadas: foco em transporte de combustível, poucos clientes, diminuição em

investimentos, Noroeste não era prioridade.” pg 77

“Foi um período em que a Rede começou a entrar em decadência. O orçamento que

vinha para o setor Diesel, o engenheiro discutia com a gente, era baixo. Então,

comprava o que era necessário e a gente começou a fazer o resto”; “Então começou

a canibalização de algumas peças. Você tinha uma locomotiva muito ruim, que já não

tinha mais condições de recuperar, você começava a sacrificar mais ela, tirando

peças dela para salvar outras”. pg 94

na “transferência ao setor privado, mediante licitação, da concessão de serviços de

transporte ferroviário de cargas; arrendamento dos bens operacionais da RFFSA aos

Page 90: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

90

novos operadores; preservação da RFFSA, cabendo-lhe funções de administração

patrimonial e financeira, fiscalização técnica e segurança operacional” pg 131

“As oficinas de Bauru, lugar responsável pelas principais reparações da antiga

Noroeste e pela fabricação de carros e peças, estão abandonadas e subutilizadas.

Apenas dois galpões encontram-se em uso para fazer reparações e revisões em

vagões.” pg 146

O Roteiro Histórico: uma cidade uma instituição.

ROTEIRO HISTÓRICO: UMA CIDADE UMA INSTITUIÇÃO

Conta o crescimento da cidade de Bauru, desde o fim do séc XIX, até o meado do

século XX.

SILVA, A. Roteiro histórico: uma cidade uma instituição. Bauru: Tipografia

Comercial, 1957.

O texto consiste numa narração bem próxima do processo da chegada das ferrovias

à Bauru e de suas consequências à cidade. Vista a partir do ponto de vista da

comunidade bauruense de origem portuguesa, o livro conta como se deu a

necessidade e o meio em que surgiu o primeiro grande hospital da cidade, a

Beneficência Portuguesa.

“Grande fama de suas terras corria o mundo. Homens de todas as espécies

aportavam em busca de fortuna fácil. Apresentando-se com falsos títulos

arranchavam por estas bandas e promoviam toda sorte e desordem. Outros, tendo

somente um passado negro e vergonhoso, vinham para cá e se atiravam em

aventuras mil: Bauru chegou a ser o despoliciado paraíso de uma súcia relasa!”

(pg.61)

“O progresso de Bauru, após as ligações ferroviárias, tornou-se evidente. Vilarejo

incipiente com pouco mais de seiscentas pessoas à época do curto ferro-carril do

município, Bauru, em 1908, já possuía uma população superior a três mil habitantes.”

(pg. 85)

“Agora porém tudo era diferente. Bauru já se constituía em uma realidade com várias

ruas sarjetadas, iluminação pública através de lampiões a gás, telefones, bom

Page 91: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

91

comércio, atividades sociais-recreativas (sic), cinema fixo (...) jornais, enfim, tudo o

que bem demonstravam o progresso da cidade.” (pg. 87)

Tecnologia e Industrialização no Brasil – Uma Perspectiva

Histórica.

TECNOLOGIA E INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL – UMA PERSPECTIVA

HISTÓRICA

Conta o crescimento da cidade de Bauru, desde o fim do séc XIX, até os anos 50.

MOTOYAMA, Shozo (org.) Tecnologia e Industrialização no Brasil - Uma

Perspectiva Histórica. São Paulo, Editora Unesp, 1994

“É no material rodante que se verifica toda a fragilidade do sistema [ferroviário].

Desde Augusto Pinto, sempre se exaltaram as “oficinas de manutenção” da central do

Brasil, (...) em Engenho de Dentro, as da Paulista, em Jundiaí, e mesmo as oficinas

da São Paulo Railway. Mas essas oficinas não propiciaram nenhum desenvolvimento

tecnológico apreciável, nem poderiam, pois não existiam as indústrias de base que

garantiriam sua retaguarda.” (pg.46)

“Volume de bens transportados em 1940 e 1959:

Ferroviário 62%; 37%

Rodoviário 34%; 58%

Outros 4%; 5%”

“As teses principais para o descalabro do sistema ferroviário nacional se assentam

nos seguintes negativos:

1. Insuficiência dos investimentos estatais diante da parcela adjudicada às

rodovias;

2. Administração incompetente e retrógrada das ferrovias estatais;

3. Crescimento político desmensurado do número de funcionários,

comprometendo a competitividade das tarifas em relação á rede rodoviária e

multiplicando a ineficiência do sistema;

4. Inexistência de uma efetiva rede ferroviária. Na verdade, trata-se de um

aglomerado de sistemas regionais sem qualquer interligação;

5. Equipamento obsoleto, ou em vias de obsolescência.” (pg. 80)

Page 92: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

92

Um trem corre para o Oeste.

UM TREM CORRE PARA O OESTE

Histórico da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

AZEVEDO, F. de. Um trem corre para o Oeste. São Paulo:

Martins Editora, 1950

O livro de Azevedo trata sobre a história da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

Inicia-se com o panorama das ferrovias brasileiras no inicio do século XX, e com o

projeto da ferrovia que ligasse os oceanos Pacífico e Atlântico, através de trilhos

entre Bauru-Bolívia. Azevedo destrincha em seus estudos todo o processo de

construção e de funcionamento da ferrovia, e através de seu texto claro e objetivo

explica como se deu o auge e o declínio da Noroeste.

“A população de Bauru, donde partiram os trilhos da E.F. Noroeste e que em 1909,

se abrigava algumas centenas (500) de casas rústicas, atingia, em 1940 a 32.791,

contando então o município desse nome 55.472 habitantes.” (pg 126)

“Em menos de cinco anos, de 1905, em que se atacou a construção da estrada, a

1910, plantaram-se 2.651.700 pés de café, à volta de Bauru que, em 1938, já

ostentava 11 milhões.” (pg 155)

“Certamente, a insuficiência ou o desgaste do material rodante (de tração ou de

veículos) tem obrigado a E.F. Noroeste a recorrer com frequência aos trens mistos,

de passageiros e carga.” (pg 163)

“Ao abandono da estrada pela via férrea sucedeu, na zona paulista e depois em Mato

Grosso, como por toda a parte, um interesse cada vez maior pela abertura de novas

rodovias e pela adaptação, às necessidades do automóvel, de estradas já

existentes”. Ao longo da Noroeste, no trecho paulista, multiplicaram-se por tal forma

os caminhos rodoviários (...) que em 1942 já se registravam 55 linhas de auto-ônibus

ou empresas de transporte coletivo.” (pg 168)

“A Noroeste não fugiu a regra geral das estradas mantidas e administradas pela

União e pelos Estados (...) Mas, se as rendas da Noroeste cresceram desde 1906,

em que não passavam de Cr$17.568,03, e sobretudo a partir de 1914 em que já

haviam atingido Cr$1.847.375,33 até alcançarem, em 1947, a importância avultada

de Cr$132.279.700,40, a despesa exagerou-se e descomediu-se, tornando crônico o

Page 93: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

93

desequilíbrio orçamentário, e cada vez mais precária a situação financeira desse

caminho de ferro.” (pg 178)

“Em vez de se constituírem em fontes de renda para a união e no interesse de seu

próprio desenvolvimento, podem restringir-se à categoria de instituições parasitárias.”

(pg 183)

“Mas, se passarmos para quase 1000 quilômetros de linha de Mato Grosso, a

situação, como pondera Lima Figueiredo, ainda é mais desfavorável. Não existindo

nessas regiões, qualquer outra riqueza em exploração, além do gado, cujo transporte

é altamente deficitário, o trecho de Mato Grosso dá prejuízo pela falta de produto

exportável em volume e em frete que possa compensar a exploração do transporte.”

(pg 185)

“Sob a gestão de Arlindo Luz (1919-1922), instalaram-se as Oficinas de Bauru

(1921), construíram-se armazéns, inaugurou-se a nova estação de Três Lagoas e

ampliou-se de 20 locomotivas, 150 vagões cobertos e 70 gôndolas.” (pg 198)

“engenheiro Alfredo de Castilho que, atendendo a todos os setores, ainda instalou

em 1936, em Bauru, o Curso de Ferroviários sob a orientação do Centro Ferroviário

de Ensino e Seleção Profissional, de São Paulo. Foi o primeiro curso de

aperfeiçoamento profissional que se inaugurou na estrada, de que por duas vezes

assumiu a direção.” (pg 198)

"A administração do Cel. Marinho Lutz (...) época de grandes realizações (...)

Concluiu em 1939, a nova estação de Bauru, cujas obras tiveram começo na gestão

Alfredo Castilho; empreendeu a construção de 3 rotundas – a de Bauru, da qual

assentou o girador de locomotivas (...) constituiu o depósito de carros (...) quatro

grandes reservatórios com a capacidade de 100.000 litros de água, além de casas

para operários, empregados de turmas e pessoal de tráfego, e hospitais como o

Sanatório Sales Gomes, nos altos do Jardim Bela Vista. Além de escolas de

alfabetização para os filhos dos empregados, o Curso de Aperfeiçoamento

Profissional, em 1939, para os operários da seção de mecânica das oficinas gerais.”

(pg 201)

“[No governo do presidente Vargas] como ponto alto de seu programa, neste setor de

magna importância da pública administração, promover a regeneração da linha

férrea, melhorando-a em suas condições técnicas, ampliando-lhe a capacidade de

transporte.” (pg 206)

Page 94: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

94

“De todas essas obras que estão em andamento ou em estudos (...) talvez as de

maior alcance serão, além da renovação do material rodante, da conclusão da linha

férrea até Corumbá e do ramal de Campo Grande a Ponta Porã, o alargamento da

bitola e a eletrificação da estrada. (...) É necessário cuidar da substituição da madeira

seca, largamente empregada como combustível, pela eletricidade como força motriz

das estradas de ferro.” (pg 207)

“A substituição do combustível lenha, cada vez mais escasso, pela energia

hidroelétrica que pode ser captada em algumas das mais poderosas quedas d’água

das bacias fluviais da região. (...) Estimula, com a produção, em larga escala, da

eletricidade, a criação e o progresso de numerosas indústrias.” (pg 212)

“Esses dois fatos – a iniciativa privada, como pioneira abrindo caminho e alargando

perspectivas, e o poder público, interferindo e encampando, à mercê e sob pressão

das circunstâncias; o impulso empreendedor dos particulares e a intervenção

salvadora do Estado, pertencem à história da viação férrea do pais.” (pg 228)

“Frutos desses “malsinados processos” que só interessavam financeiramente a

companhias ou a empreiteiros sem escrúpulos, a cuja ganância, se não fechava os

olhos, não se opunha o Estado um sistema de freios.” (pg 229)

“A Noroeste do Brasil, quando sobreviveu ao golpe de Estado de 1937, já estava,

portanto, a cerca de 20 anos, sob o regime da administração federal, de cujos vícios,

quanto ao espírito burocrático e à organização dos serviços, participara, como as

demais ferrovias, mas que lhe foi realmente benéfica sob vários aspectos.” (pg 249)

“Mas, se a Noroeste se tem desenvolvido numa constante progressão, desde que foi

encampada, em 1917, pelo governo federal, não é menos certo que foi sob a

ditadura que tomaram maior impulso as obras de conclusão da Estrada e da

remodelação de seu parque de material rodante e de tração.” (pg 250)

“Então, concluída a grande Estrada que se bifurca na direção do Oeste e do Sul, e

que se vai entroncar, como parte dela, na Linha Transcontinental, será a pátria

verdadeiramente maior, mais forte, mais rica em territórios e cidadãos; terá

engrandecido ao mesmo tempo seu patrimônio físico e seu patrimônio moral;

alargando até suas fronteiras territoriais a sua ação política, social e cultural;

aumentando, no avanço para o Oeste, sua parte de influência sobre o continente e

afirmando seu papel na marcha da civilização.” (pg 251)

“Mas se às crises de produção, e particularmente, do café que, sobretudo depois de

Page 95: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

95

1930, tão fortemente influíram sobre a situação de algumas ferrovias, devido à

redução de transporte rendoso de carga, juntou-se, nesses últimos 25 anos, uma

série de transformações econômicas de que os principais fatores são a variação

quantitativa e qualitativa da população rural, as transformações quantitativas e

qualitativas da mão de obra agrícola (...) Ao novo surto industrial seguira-se, com a

desorganização da lavoura, a crise da produção. O desequilíbrio rapidamente

crescente entre a cidade e o campo (...) não foi sem consequências sobre a situação,

já grave, de estradas de ferro que se haviam lançado ao encalço das grandes

plantações de café, concentradas em várias e extensas zonas agrícolas. O equilíbrio

rompeu-se em proveito da cidade, da indústria; e, embora essa ruptura não tenha

sido brusca nem violenta, repercutiu poderosamente sobre as mudanças da

repartição do emprego e da população, os movimentos migratórios para as cidades

(êxodo rural), a exploração suburbana intensiva e outros fenômenos que permitiram

à civilização industrial nascente tirar partido da vantagem tirada sobre a outra – a

vida rural.” (pg 256)

“O próprio desenvolvimento industrial que se processou no pais, sem um fomento

correspondente da agricultura, não foi favorável, como já observamos, ao progresso

das vias férreas.” (pg 257)

“Que a organização das estradas sob administração federal não prima pela

excelência e que, apesar dos esforços para convertê-las em aparelhos de transporte,

organizados e eficiente e aumentar-lhes a capacidade de tráfego, continuam manter-

se no regime de déficits e com uma estrutura provadamente incapaz de concorrer

para lhes melhorar os serviços e a eficiência.” (pg 259)

“A frase de Euclides da Cunha: “progredir ou desaparecer”, poderia traduzir-se, na

era dos organizadores, em termos mais precisos: “organizar-se ou desaparecer.”(pg

275)

“Não poderá surpreender ninguém que, sob um dos aspectos capitais, - o

tecnológico, a E.F. Noroeste não se tenha avantajado e nenhuma ferrovia e, ao

contrário, se haja mantido em nível inferior às grandes estradas paulistas.” (pg 278)

“Se às más condições técnicas e ao precário estado de conservação das linhas, em

muitos pontos, se acrescentarem as dificuldades para aquisição de materiais

indispensáveis tanto ao tráfego (locomotivas e carros) quanto ao funcionamento e à

produção das oficinas, ter-se-á completado, sem lhe carregar as tintas, o quadro

Page 96: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

96

sombrio (...) se arriscaria a interromper-se o tráfego do caminho de ferro. ( pg 280)

“Não dá para promover criação e inovação técnica num contexto em que a própria

sobrevivência é difícil.

1945: 132 locomotivas (68 em bom estado)

120 carros

1818 vagões (e gôndolas, tanques e gaiolas)” (pg 281)

“É como se vê, todo um mundo, nessa vastidão de necessidades prementes (...) para

atenuar a importância do papel das Oficinas de Bauru, Três Lagoas e Aquidauana:

somente em 1945 foram reparadas 117 locomotivas, das quais 81 passaram por

grandes reformas, e reconstruídos ou reparados 214 carros e 578 vagões, ou seja, a

maior parte do material rodante e de tração.” (pg 281)

“Prepostas antes a função de reconstruir e reparar, do que às de pesquisar, criar e

construir; sem laboratórios e mal equipadas, essas oficinas de eletricidade, de

locomotivas, de carros e vagões, com suas forjas de produção de bronze e ferro

fundido, e, de modo particular, as de Bauru, sobre as quais incide a maior carga de

serviços, realizam trabalhos de Hércules.” (pg 281)

“O que uma indústria ferroviária produz para vender no mercado é o transporte. E

aqui tocamos em cheio no processus de produção.” (pg 281)

“Satisfazer o transporte de passageiros e mercadorias, assinala, para o tráfego em

geral, “cuidado, segurança, presteza e modicidade de tarifas.”” (pg 282)

“No entanto, esse “elemento humano”, cuja presença quase não se percebe nessas

vastas estruturas, onde tudo parece funcionar mecanicamente, é, na verdade, a

medula óssea do sistema.” (pg 284)

“Daí os cuidados imensos que reclama o material humano, em cuja resistência e

energia, disciplina e capacidade, bem estar e conforto, repousam essas complexas

organizações.” (pg 284) *Noroeste: oito postos médicos, cinco gabinetes dentários,

três hospitais.

Page 97: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

97

2. LEVANTAMENTO DOS RELATÓRIOS ANUAIS DA

ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO BRASIL

1916-1991

RELATÓRIO 1916 – M. J. MACHADO DA COSTA (SUPERINTENDENTE)

1906 – Extensão em tráfego 48 km, Passageiros transportados em 1a classe 97, em

segunda classe 3676,5; num total de 3773,5 passageiros.

1916 – 473 km de extensão em tráfego, 127.794 passageiros transportados num

percurso médio de 98,1 km.

Obras novas e serviços extraordinários executados no ano de 1916 - 2º semestre

Terraplanagem e desvios em Bauru

Demolição, edifícios e remoção materiais em Bauru

Edifico para o Almoxarifado

Armazém para materiais em Bauru

Plataforma para passageiros em Bauru

Obras novas mais urgentes a executar

Obras projetadas e urgentes

Aumento do Escritório em Bauru

Construção e instalação completa das oficinas para a reparação de carros e

locomotivas em Bauru (orçadas em 600.000$)

Já havia 20 locomotivas e mais 15 eram encomendadas. Já havia 31 carros, 72

vagões, 20 gôndolas e 4 gaiolas. Porém esse material de tração e rodante eram

reparados pela companhias Paulista e Mogiana, gerando 136.346$ (locomotivas) e

99538$ (carros e vagões) em despesas para a CEFNOB.

“W. Schmidt, Chefe da Locomoção: O custo demasiado de quase todo os serviços

feitos na Locomoção, como por exemplo: Reparação de Locomotivas – que saiu a

$327 por locomotiva-kilometro (sic), vem mais uma vez corroborar a falta com que

lutamos de maquinismos aperfeiçoados e em quantidade suficiente para podermos

atender a tempo os serviços afeitos a esta repartição.”

Page 98: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

98

RELATÓRIO EXERCÍCIO DE 1921 APRESENTADO AO MINISTRO DA VIAÇÃO E

OBRAS PÚBLICAS J. PIRES DO RIO PELO ENGENHEIRO ARLINDO GOMES

RIBEIRO DA LUZ DIRETOR DA ESTRADA.

Inauguração das oficinas 12 de outubro de 1921.

As oficinas antigas de Bauru e Aquidauana eram insuficientes para o serviço de

manutenção do material rodante.

A antiga Companhia Noroeste do Brasil iniciou em Bauru a construção de um edifício

destinado às oficinas.

A atual diretoria resolveu continuar o projeto e construir instalações completas para

assegurar às necessidades de reparação da nova Noroeste e “permitindo ainda a

construção de toda a parte de carpintaria dos carros e vagões de modo a aproveitar

nesse particular os grandes recursos em madeira da zona servida por sua própria

linha”.

A construção do edifício foi confiada à 5ª Divisão Provisória que prosseguiu as obras

administrativamente até junho de 1920, concluindo o galpão iniciado e erigindo as

colunas e as armações do telhado e a cobertura de mais dois. Nessa época foi a

conclusão da obra contratada por empreitada com uma firma construtora.

Compõe-se o edifício de seis galpões de 100 metros de comprimento por 16 de

largura, situado três de cada lado da área central de igual comprimento e frente de 17

metros, onde corre o carretão e cuja parte anterior é ocupada por um corpo avançada

do edifício, tendo instalado, em sobrado, o escritório da Locomoção.

Dispõe cada galpão do telhado independente, com tesouras de madeira e ferro, com

lanternim, sendo a cobertura de telhas francesas com duas fachas de vidro fosco

proporcionando ampla iluminação pelo alto. São as tesouras sustentadas por colunas

de concreto armado de 0,40 x 0,40 m de seção e 7 m de pé direito, que também

existem embebidas nas paredes laterais, cujos panos de alvenaria repousam sobre

fortes alicerces de concreto. Nessas paredes são rasgadas grandes janelas com

caixilhos fixos de ferro e bandeiras móveis. Cada galpão tem nas fachadas anterior e

posterior uma grande porta, com cortina de aço ondulado e uma janela no oitão. As

oficinas são assim profusamente iluminadas.

As águas pluviais descem dos telhados em condutores de folha ao longo de colunas

e seguem em canalizações de manilhas de barro por um coletor central de alvenaria,

Page 99: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

99

que corre transversalmente ao edifício e cuja máxima seção é de 0,4 x 0,5 m.

Foram os três galpões à esquerda da área do carretão destinados à seção de

locomotivas, com a parte mecânica, ferraria e caldeiraria e os da direita aos carros e

vagões, com carpintaria e serraria.

Fechando pelos fundos a área central e em avanço sobre a fachada posterior do

edifício, foram construídas completas instalações sanitárias com fossa séptica. No

interior dos galpões foram feitos um escritório para o chefe das oficinas, um deposito

para materiais, um quarto de ferramentas, um deposito de modelos para a fundição e

um compartimento para a pintura de carros.

Cobre o edifício uma área de 12.000 metros quadrados, localizados num canto da

vasta explanada, com 35.150 metros quadrados, feita também pela V Divisão, parte

em corte, parte em aterro, à esquerda da linha entre os quilômetros 0 e 1, na qual

esta localizada também o edifício do Almoxarifado e será construída a rotunda.

Foi também projetado um edifício para a casa de força, construído nos fundos das

oficinas, a cerca de 30 metros de sua fachada posterior e no eixo da área do carretão.

Pelo projeto organizado pela IV Divisão foi a parte mecânica dividida em três grandes

seções ocupando cada qual um dos três galpões que lhe foram reservados.

Foram assim no primeiro deles dispostos junto ao carretão 20 valas de inspeção e

nele trabalha a seção de desmontagem, ajustagem e montagem das locomotivas,

dispondo de bancadas de serviço com os respectivos tornos e armários para

ferramentas, colocados um e outros logo atrás das valas e perpendicularmente as

mesmas.

Abriga o segundo galpão todas as máquinas ferramentas necessárias à reparação

ou confecção das várias peças metálicas, e das quais dá o quadro abaixo:

QUADRO AJUSTAGEM

Para o fornecimento a esta seção das peças que nela recebem o necessário reparo e

acabamento acham-se no terceiro e último galpão instaladas juntamente com a

ferraria e a caldeiraria, as fundições de ferro e bronze, com a seção anexa de

modelação.

TABELA DA FUNDIÇÃO

TABELA FERRARIA

TABELA CALDERARIA

Acha-se esta última situada na parte anterior do mencionado galpão, em

Page 100: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

100

compartimento a parte, no qual amplas prateleiras correndo ao longo das paredes de

que tomam toda altura, abrigam o já numeroso arquivo de modelos caprichosamente

feitos. No mesmo compartimento dispõe a modelação de aparelhamento mecânico

próprio consistindo em um torno e uma plaina para madeira e uma serra circular e

uma serra de fita, as quais um motor elétrico de 5 H.P. movimenta por intermédio de

uma transmissão subterrânea.

Além destas maquinas ferramentas até aqui enumeradas, grandes e fixas todas elas,

numerosos aparelhos portáteis, em sua maioria acionados a ar comprimido de que

por toda a parte se encontram registros de tomada, concorrem para a facilidade e

rapidez do trabalho.

TABELA FERRAMENTAS

Para cada destas ferramentas, usadas tanto pela seção de carros e vagões como de

locomotivas, há um motor elétrico diretamente conjugado. Esse sistema independente

apesar de mais caro oferecia vantagens compensadoras às oficinas.

Foi instalada uma casa de força para a produção da corrente continua, utilizada pelos

motores e máquinas, que transforma 15000 volts de corrente alternada em 220 volts

contínuos, através de dois transformadores de 200KVA. Conta também com um

sistema de para-raios e o sistema-socorro que conta com uma caldeira com

superaquecedor que move um motor alternativo.

As oficinas contam também com um sistema de ar-comprimido, gerado pelo

compressor instalado na casa de força, Ingersoll Rand Co. com capacidade de 12,5

m³ por minuto, distribuído por canalização para todos os edifícios.

Para auxiliar a alimentação das fornalhas de caldeira um aspirador centrifugo de 10

H.P. aspira diretamente a serragem produzida nas principais máquinas e através de

uma boca a produzida por maquinas menores, conduz tudo até um depósito ao lado

da casa de força.

As oficinas são amplamente providas de água e linhas de serviço correndo ao longo

dos galpões que se comunicam com ramais transversais, permitindo o rápido e fácil

transporte de peças de um lado para o outro.

Potencia total instalada (motores, compressor e carretão) 776,5 H.P.

Custo dos edifícios e casa de máquinas: 1.126:246$851

Custo das máquinas: 3.875:944$706 importadas

Custo total das oficinas: 5.493:212$125

Page 101: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

101

Gastos com manutenção pagos à Paulista e Mogiana: 922:390$535

RELATÓRIO 1922 – CLODOMIRO PEREIRA DA SILVA

“Tem sido construídos nas oficinas da Estrada excelentes veículos mormente carros

de passagerios que podem figurar ao lado dos melhores de outras estradas do

Estado de São Paulo. Aproveitando as madeiras nacionais, obtidas na zona por

preços relativamente baixos, a Estrada tem realisado consideráveis economias.

Possui a estrada 77 locomotivas, 47 carros de passageiros, 47 carros de bagagem,

correio e chefe de transporte, 3 vagões para animais de trato, 306 vagões fechados,

307 vagões abertos, 64 gôndolas e 33 diversos.

Custo médio de reparação de locomotivas 5:494$577 (101 reparações)

Custo médio de reparação de carros 2:909$173 (35 reparações)

Custo médio de reparação de vagões 1:372$462 (163 reparações)

RELATÓRIO 1924 – OSCAR TEIXEIRA GUIMARÃES

Pessoal Geral da divisão: Oficinas

Chefe de oficinas 2

Eletricista 1

Pessoal jornaleiro 378

RELATÓRIO 1926 – ALFREDO DE CASTILHO

Obras Iniciadas em 1926 e não terminadas: meia rotunda em Bauru (300:199$695)

Obras Iniciadas em 1926 e terminadas: guarita nas oficinas de Bauru (330$674)

RELATÓRIO 1927 – ALFREDO DE CASTILHO

Acabamento das construções do edifício da Rotunda de Bauru

Meia rotunda em Bauru (209:400$578) tem capacidade para 20 locomotivas.

Page 102: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

102

RELATÓRIO 1931 – HENRIQUE EDUARDO COUTO FERNANDES

Locomotivas: 111

Carros: 84

Vagões: 484

Gondolas: 549

Gaiolas: 163

RELATÓRIO 1937 – AMÉRICO MARINHO LUTZ

Instalações Sanitárias para atender as necessidades dos 1000 trabalhadores.

Aumento da Rotunda

Aumento da casa de força

Instalação de fornalha

Diversas obras relacionadas ao assentamento de máquinas

RELATÓRIO 1938 – AMÉRICO MARINHO LUTZ

Construção de um novo galpão de 40 por 12 metros, para instalação em melhores

condições da caldeiraria de ferro.

Construção de um galpão de 11 por 12 metros, para instalação em melhores

condições da seção de soldagem elétrica.

Reforma geral dos escritórios das oficinas

Construção de mais 4 valas de 12,50 metros para reparação de locomotivas e de piso

de concreto na seção de Ajustagem

RELATÓRIO 1940 – AMÉRICO MARINHO LUTZ

O piso das oficinas de Bauru era de terra socada, decorrendo dessa circunstância

sérios inconvenientes para a higiene do pessoal, limpeza e conservação das

máquinas. Fez-se a pavimentação a tacos de madeira, assentes sobre concreto e

Page 103: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

103

construi-se um bueiro para coletrar as águas pluviais.

RELATÓRIO 1942 – AMÉRICO MARINHO LUTZ

116 reparações de locomotivas em Bauru (98 grandes reparações, 2 meia

reparações)

TABELA CUSTO DE REPARACOES DE LOCOMOTIVAS NO ULTIMO DECENIO

234 reparações ou reconstruções de carros

TABELA CUSTO DE REPARACOES DE CARROS NO ULTIMO DECENIO

509 reparações ou reconstruções de vagões

TABELA CUSTO DE REPARACOES DE VAGÕES NO ULTIMO DECENIO

Fundição de Bronze no ano em Bauru 192.676 quilos

TABELA FUNDICAO DE BRONZE NO ULTIMO DECENIO

Fundição de Ferro no ano em Bauru 376.562 quilos

TABELA FUNDICAO DE BRONZE NO ULTIMO DECENIO

Movimento da serralheria das oficinas de Bauru no ano: 2145,914 m³

TABELA DESPESA DE SERRALHERIA NO ULTIMO DECENIO

Consumo de energia elétrica pela VI Divisão

Oficinas de Bauru: 1.089.160 KWH

Ensino e seleção Profissional (curso técnico) TABELA

RELATÓRIO 1945 – CORONEL JOSÉ LIMA FIGUEIREDO

Construção de dois pavimentos, sendo um para a dependência da seção de

eletricidade e outro para as seções de marcenaria, estofamento e serralheria.

Aquisição de máquinas e ferramentas

81 reparações em locomotivas

RELATÓRIO 1946 – CORONEL JOSÉ LIMA FIGUEIREDO

Construção do último pavilhão atingido pelo incêndio de 1944

Aquisição de máquinas e ferramentas

Page 104: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

104

74 reparações em locomotivas

“A lenha encarece a cada dia e fica sempre mais distante de nossos depósitos (...) A

estrada só poderá contar na tração de seus trens com o combustível lenha por mais

um lustro (...) a solução ideal seria o emprego de máquinas “diesel” elétricas no

tráfego de Bauru a Três Lagoas. Essa medida, porém, exigiria a transformação

completa das oficinas que em sede nesses dois pontos e que hodiernamente estão

aparelhadas apenas para fazer a reparação das locomotivas a vapor que a estrada

possui.”

RELATÓRIO 1947 – CORONEL JOSÉ LIMA FIGUEIREDO

Perduram as dificuldades existentes para a obtenção de materiais indispensáveis às

reparações. Muito material posto na sucata foi dali retirado e reparado inclusive

cilindros.

71 reparações em locomotivas

195 carros

693 vagões

Iniciou-se a fundição de cilindros para locomotivas de até 1410 kg.

Aquisição de máquinas e ferramentas

Forno de fundição de bronze

Conclusão do galpão da carpintaria, construção da seção de serraria, construção e

instalação da seção de carregar bateria de acumuladores, construção da seção de

amolagem, aumento do prédio do poço artesiano, construção de um galpão de 16x7

m para a seção de fundição, construção de um quarto para ferramentas e deposito de

materiais na oficina de eletricidade, construção de divisões com telas e armários para

as oficinas de ajustagem, construção de divisões com telas e armários para as

oficinas de carpintaria, construção do madeiramento e cobertura dos galpões de

ferraria.

RELATÓRIO 1948 – CORONEL JOSÉ LIMA FIGUEIREDO

Page 105: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

105

Construção de um edifício-cozinha para o preparo de lanche a ser servido ao pessoal

operário

Conclusão do edifício da nova seção de ferraria

Assentamento de uma caixa d’água de 10000L

61 reparações em locomotivas (hoje a estrada possui 150)

RELATÓRIO 1949 – CORONEL JOSÉ LIMA FIGUEIREDO

Plano Salte – investimentos em eletrificação, prolongamento da estrada até Cuiabá.

Foi realizada a concorrência pública para a construção de um edifício para a fundição

das oficinas de Bauru, constituído de um pavilhão em concreto armado e escolhida a

firma construtora “Modulo” para a construção.

Aquisição (para o novo edifício) de uma ponte rolante de 17 metros, uma de 7 e um

monta carga.

Realizados nas oficinas: armários e prateleiras para a seção de Braçagem, que foi

transferida de um galpão de madeira para a área então ocupada pela seção de

Ferraria, no corpo do edifico das oficinas; armários e prateleiras para a seção de

Caldeiraria, que foi transferida de um galpão de madeira para o corpo do edifico das

oficinas; uma porta de 4x6 m para o compartimento de desinfecção de carros;

construção de depósito de ferros finos em aumento à nova seção de ferraria;

RELATÓRIO 1950 – AMÉRICO MARINHO LUTZ

70 reparações em locomotivas

RELATÓRIO 1952 – AMÉRICO MARINHO LUTZ

Finalização do edifício para a seção de fundição das oficinas de bauru

80 reparações em locomotivas

188 em carros

360 em vagões

Page 106: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

106

RELATÓRIO 1952 – AMÉRICO MARINHO LUTZ

Relatório 1956 – Ubaldo Medeiros

A estrada possui 174 locomotivas

97 reparações em locomotivas

Reparação de carros 192

Reparação de vagões 394

Consumo de energia 2.041.720 KWH

Fundição de Ferro no ano em Bauru 580.148 quilos

Movimento da serralheria das oficinas de Bauru no ano: 2.516,369 m³

Fundição de Bronze no ano em Bauru 292.640 quilos

Pessoal nas Oficinas

681 mecânica

253 carpintaria, pintura e truques

216 diversos

1150 total

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA RFFSA – 1967

Locomotivas existentes 79 (8 a vapor, 71 a diesel, 0 elétricas)

Carros existentes 189 (passageiros 89)

Vagões existentes (2718)

Pessoal empregado, manutenção dos equipamentos e dos transportes 1289

Despesa manutenção dos equipamentos e dos transportes 6.596.883 milhares de

cruzeiros

Despesa pessoal manutenção dos equipamentos e dos transportes 3.437.388

milhares de cruzeiros

Despesa material manutenção dos equipamentos e dos transportes 1.519.725

milhares de cruzeiros

Receita do exercício ferroviário 17.184.956 milhares de cruzeiros

Despesas do exercício ferroviário 28.695.892 milhares de cruzeiros

Déficit 11.510.936 milhares de cruzeiros, porém ainda um dos menores da rede

(MAPA DE DENSIDADE DE TRÁFEGO)

Noroeste apresenta boa produtividade econômica das unidades motrizes, e ainda

Page 107: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

107

melhor produtividade técnica (milhares de t km brutas por cavalo vapor), em ambas é

uma das mais produtivas da RFSSA.

A produtividade dos vagões e carros também é alta.

A produtividade técnica de pessoal (milhares de t km brutas por empregado) é a mais

alta de toda a RFFSA (388,4)

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA RFFSA – 1980

O percurso médio geral na NOB é de 862km contrastando com as outras paulistas

(173 na média), porém a densidade de tráfego é bem abaixo da média (apenas um

quarto)

Locomotivas 85 (todas a diesel)

Vagões 4055

Pessoal empregado – efetivo existente 4636

Na manutenção são 813

Principais mercadorias transportadas

Derivados de petróleo, soja, Clínquer, cimento, adubos, açúcar, minério de ferro,

madeira, carnes, dormentes, trigo, produtos siderúrgicos, minério de manganês,

algodão.

RELATÓRIO ANUAL DA RFFSA – 1983

87 locomotivas estão em atividade,

O principal problema foi o relacionado à aquisição de peças, também há recursos

humanos abaixo do necessário e instalações limitadas e inadequadas.

4074 vagões, sendo 2442 novos, 906 modernizáveis e 726 obsoletos.

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA RFFSA – 1986

Número de manutenções de equipamentos de transporte 680

Empregados da manutenção de equipamentos dos transportes por veículo em tráfego

15,3 uma das menores da rede (média de 27,2)

Page 108: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

108

BOLETIM ESTATÍSTICO DA RFFSA – 1991 (PRIMEIRO SEMESTRE)

Déficit de 163.350.356 cruzeiros

Despesa com conservação e manutenção 331.455.153 (50% da despesa total)

Em movimento:

Número de carros 169

Vagões 2853

Número de funcionários segundo a lotação: manutenção dos equipamentos de

transporte 742

“o ano de 1992 caracterizou-se, como no exercício anterior, pela grande compressão

de despesas, afetando drasticamente a área de manutenção. O quadro abaixo

expressa o ocorrido em termos de redução de custeio nas duas principais áreas de

manutenção da Empresa:

Em milhares de dólares

Via Permanente – 1991: 42,6 – 1992: 25,7 (-39,7%)

Material Rodante – 1991: 48,1 – 1992: 39,8 (-17,3%)”

(POR A TABELA)

Notas Explicativas às Demonstrações Financeiras para os exercícios findos em 31 de

dezembro de 1992 e 1991

Pelo Decreto 473 de 10 de março de 1992 a Companhia (Rede Ferroviária Federal

S.A.) e sua contralada AGEF foram incluídas no Programa Nacional de

Desestatização.

Page 109: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

109

3. LEVANTAMENTO DE MATERIAL GRÁFICO NA

INVENTARIANÇA DA EXTINTA REDE

FERROVIÁRIA REGIONAL SA

Page 110: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

110

Page 111: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

111

Page 112: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

112

Page 113: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

113

Page 114: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

114

Page 115: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

115

Page 116: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

116

Page 117: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

117

4. LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO NO

COMPLEXO DAS OFICINAS CENTRAIS

DE BAURU

Page 118: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

118

Page 119: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

119

Page 120: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

120

Page 121: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

121

Page 122: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

122

Page 123: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

123

Page 124: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

124

Page 125: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

125

Page 126: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

126

Page 127: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

127

Page 128: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

128

Page 129: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

129

Page 130: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

130

Page 131: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

131

Page 132: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

132

Page 133: A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e as Oficinas

133