A Culpa e o Surgimento Da Responsabilidade Objetiva

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    A culpa e o surgimento da responsabilidade objetiva:evoluo histrica, noes gerais e hipteses previstas

    no Cdigo Civil

    A CULPA E O SURGIMENTO DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA: EVOLUOHISTRICA, NOES GERAIS E HIPTESES PREVISTAS NO CDIGO CIVILThe guilt and the emergence of objective responsability:historical evolution, general concepts and

    assumptions set out in the Civil CodeRevista dos Tribunais | vol. 964/2016 | p. 215 - 241 | Fev / 2016

    DTR\2016\226

    Cristiane de MarchiEspecialista em Direito Tributrio pela Fundao Getlio Vargas e em Gesto de Tributos ePlanejamento Estratgico pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul - PUC-RS.Mestranda em Direito Pblico pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul - PUC-RS.Bolsista da Capes. Advogada. [email protected] do Direito: CivilResumo: Ao longo da histria, a ideia da existncia de culpa como pr-requisito do dever de indenizarcumpria satisfatoriamente seu papel. Porm, com a evoluo das atividades profissionais, em especiala revoluo industrial, que introduziu as mquinas e instrumentos industriais na rotina dostrabalhadores e empregadores, causando diversos acidentes de trabalho, comeou-se a perceber que osistema de culpa exclusiva no atendia mais as demandas que justificavam a reparao do dano. Aresponsabilidade objetiva, que pressupe a inexigncia do requisito da culpa do autor do dano, abrangediversas teorias, como as do risco-proveito, do risco-criado, da ideia de garantia, e da responsabilidadeobjetiva agravada, entre outras. O Cdigo Civil prev hipteses de responsabilidade objetiva, mas aculpa ainda a regra geral.Palavras-chave: Responsabilidade civil objetiva - Culpa - Risco - Reparao - Dano.Abstract: Throughout history, the idea of fault as a duty to indemnify the prerequisite satisfactorilyfulfilled its role. However, with the evolution of professional activities, especially the industrialrevolution, which introduced the machines and industrial tools in the routine of workers and employers,causing several accidents at work, it began to realize that the exclusive fault system did not meet themore demands that justified reparations. The objective responsibility, which implies the requirement of

    damage from the publisher's fault requirement encompasses several theories, such as the risk-benefit,risk created, the idea of guarantee, and aggravated strict liability, among others. The Civil Codeprovides several chances to objective responsibility, but the guilty is still the general rule.Keywords: Objective responsibility - Guilty - Risk - Repair - Damage.Sumrio:Introduo - 1Noes gerais de culpa e do surgimento da responsabilidade objetiva - 2Teoria do risco eseus desdobramentos - 3Casos especficos de responsabilidade civil objetiva no Cdigo Civil vigente

    A culpa como condio essencial do dever de indenizar sempre foi a nica regra e, durante muitotempo, ao longo da histria, cumpria satisfatoriamente sua funo na responsabilidade civil. Assim, a

    culpa sempre foi uma categoria jurdica muito estudada, em todos os pases, ocupando papel central nadoutrina.

    A investigao de critrios objetivos de imputao de responsabilidade, que pudessem substituir ouatenuar a culpa, teve como marco inicial a obra de Raymond Saleilles e de Louis Josserand, que seguiua mesma orientao daquele, defendendo a ideia de risco como critrio de responsabilizao. Oprejuzo injusto que deve ser considerado.

    No Brasil, a responsabilidade objetiva ingressou efetivamente no ordenamento jurdico positivo pormeio de diplomas especiais, sendo aps inserida no Cdigo Civil vigente, em seu art. 927, pargrafonico. Antes disso, porm, o Cdigo de Defesa do Consumidor j apresentava hipteses de proteo doconsumidor contra produtos e servios que lhe oferecessem riscos.

    Com essa clusula geral de responsabilidade objetiva por atividades de risco, foi definida a prevalnciada culpa no sistema brasileiro (responsabilidade subjetiva), no deixando de ser extremamenteimportante a confirmao da existncia da responsabilidade objetiva nos casos que a comporta.

    A preocupao do ordenamento jurdico, assim, tornou-se a reparao do dano, estabelecendo-se quecada um deve suportar os riscos de sua atividade, e que cada conflito de responsabilidade civilpressupe um conflito entre responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva.

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    O presente artigo, portanto, se prope a apresentar, brevemente, a evoluo histrica daresponsabilidade objetiva, as noes de culpa, de risco, bem como as teorias mais significativas sobrea responsabilidade em questo, apresentando, por ltimo, hipteses de responsabilidade previstas peloCdigo Civil brasileiro vigente, como a responsabilidade dos incapazes, por fato de outrem, pelo fato doproduto, pelo fato dos animais, pelo fato das coisas e pelo abuso de direito, situaes que merecem sertrazidas baila, a fim de ressaltar a recepo dessa teoria pelo nosso ordenamento jurdico.1 Noes gerais de culpa e do surgimento da responsabilidade objetiva

    Sobre a definio de responsabilidade civil, Savatier1 expressa que a responsabilidade civil aobrigao que pode incumbir a uma pessoa de reparar o dano causado outra pessoa por fato por elacometido, ou por fato das pessoas ou coisas que dela dependem.

    Antes do surgimento da responsabilidade objetiva, acentua Lima2 que a teoria clssica da culpa"recebeu do direito justinianeu a celula mater, da qual nasceu o princpio genrico daquelaresponsabilidade, cristalizado no preceito do art. 1.382 do CC de Napoleo".

    Prossegue o autor afirmando que so os conceitos advindos do direito romano que constituem ofundamento da responsabilidade aquiliana do direito moderno, e que o Cdigo Civil francs o padrodas legislaes modernas e influncia nos Cdigos Civis das naes cultas e legislaes semcodificao.3

    A culpa, portanto, sempre foi uma categoria jurdica muito estudada, seja no Brasil ou no exterior. Aresponsabilidade civil, contratual ou extracontratual, como alguns chamam, sempre ocupou papel

    central na doutrina. O conceito de culpa multicultural, com feies religiosas e psicolgicas. Nesseltimo, chamado complexo de culpa, entende-se que o fardo pelos erros sempre acompanhou e sempreacompanhar o ser humano.4

    Juridicamente, na Itlia, a clssica obra de Chironi,5 associa-se a culpa ideia de desrespeito a umdever preexistente ou de violao de dever jurdico.

    No direito brasileiro, Clvis Bevilqua6 afirmava que "a culpa a negligncia ou imprudncia doagente, que determina a violao do direito alheio ou causa prejuzo a outrem". Ainda, aduzia que "naculpa, h sempre a violao de um dever preexistente".

    Pontes de Miranda7 entende que "a culpa defeito que se pode apontar na vontade. Supe-se que oagente, no que quis, passou o limite em que sua atividade ou a sua omisso seriam sem defeito".

    Ainda, aduz que "a culpa, em sentido amplo, abrange a culpa porque culpado quem pratica o ato, oudeixa de o praticar, com dolo".

    Para Tartuce,8 pode-se afirmar que a culpa possui sentido amplo (lato sensu) e sentido estrito (strictosensu). No sentido amplo, a culpa engloba o dolo - a inteno de prejudicar outrem, a ao ou omissovoluntria mencionada no art. 186 do CC brasileiro - e a culpa estrita - que vem a ser o desrespeito aum dever preexistente ou a violao de um direito subjetivo alheio, pela fuga de um padro geral deconduta. Pelo que consta do ltimo dispositivo citado, e tambm pelo que previa o art. 159 dacodificao anterior, a culpa em sentido estrito relacionada a trs modelos jurdicos, quais sejam, aimprudncia, a negligncia e a impercia. A imprudncia vem a ser uma falta de cuidado somada a umaao, algo prximo da ideia de culpa in comittendo dos romanos. A negligncia, por sua vez, umafalta de cuidado somada a uma omisso (culpa in omittendo). Por fim, a impercia pode ser definidacomo a falta de qualificao geral para desempenho de uma funo ou atribuio.

    Assim, percebe-se que a culpa em sentido estrito possui dois elementos: um objetivo, qual seja, aviolao de um dever e o consequente desrespeito a um direito alheio, e outro subjetivo, que aprevisibilidade da impossibilidade de praticar o ato, por ato consciente ou at inconsciente(imputabilidade).9

    Lima10 leciona que "fixado o conceito da culpa como um erro de conduta, aferido pelo proceder dohomem prudente e imputvel moralmente, verificamos que as necessidades sociais arrastaram osdoutrinadores e a jurisprudncia dos tribunais a uma concepo mais ampla da culpa, dentro da qual seenfeixassem todos os fatos da vida real, causadores de danos, cuja reparao se impunha com justiae que escapavam noo restrita e acanhada da culpa como omisso de diligncia imputvelmoralmente".

    Contudo, o conceito de culpa apenas para responsabilizao por danos a quem agiu contra oordenamento jurdico mostrou-se limitado. Sobre a ampliao desse conceito, Larenz11 assim explica:"Quien se comporta de un modo no desaprovado por el ordenamiento jurdico debe quedar liberado deldeber de resarcimiento por danos causados a otros a consecuencia de la conduta de aqul. El danopermanece entonces en aquel en cuyos bienes se h originado. Esta regulacin h demonstrado serdemasiado limitada en vista de los riesgos especiales de daos, casi inevitablemente unidos al

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    funcionamento de los modernos mdios de transporte y de determinadas instalaciones tcnicas o alempleo de determinadas matrias extremadamente peligrosas [...] Se patentiza como ms justosocialmente endosar el dao, total o parcialmente, a quien h creado el foco de peligro o lo mantiene ysaca provecho del mismo. [...] Esta es la idea central de la moderna responsabilidade por riesgos".

    Dias12 afirma que os precursores da doutrina do risco seriam Thomasius e Heineccius, partidrios daescola do direito natural no sculo XVIII, que sustentavam que o autor de um dano deve serresponsabilizado, independentemente de culpa. Foi feita para estabelecer a responsabilidade depessoas privadas sem discernimento, e, assim, incapazes de culpa, princpio consagrado no cdigoalemo, mas isolado e deixado de lado na expanso universal tomada pelo direito romano na Alemanha

    durante o sculo XIX.Seria a verdade trazida para a simples indagao do aspecto prtico do problema, qual seja,estabelecer a obrigao de reparar diante do simples lao de causalidade seria tornar a vidainsuportvel. O prejuzo injusto que deve ser considerado.13

    As teorias da responsabilidade objetiva comearam a ser esboadas em 1888, por Mataja, naAlemanha, e Orlando, na Itlia, em 1894. Porm, a partir dos estudos dos franceses Saleilles eJosserand, em 1897, que a nova teoria ganha dimenso e adeptos. 14

    A investigao de critrios objetivos de imputao de responsabilidade, que pudessem substituir ouatenuar a culpa, teve como marco inicial a obra de Raymond Saleilles, nominada "les acidentes detravail et la responsabilit civile: essai d'une thorie objetctive de la responsabilit dlictuelle" (O

    acidente de trabalho e a responsabilidade civil: um exame terico objetivo da responsabilidadedelitual). Para o autor, o princpio da imputabilidade vem substitudo por um princpio de simplescausalidade, a prescindir da avaliao do comportamento do sujeito causador do dano. Louis Josserandseguiu a mesma orientao, defendendo a ideia de risco como critrio de responsabilizao.15

    Esse movimento revisionista iniciado na Frana, em que a tese da responsabilidade objetiva julgou ombito da culpa com o escopo de resolver o problema da responsabilidade, difundia a reparao dodano decorrente, exclusivamente do fato ou do risco criado, garantindo s vtimas uma reparaoindependentemente de culpa do responsvel. Conforme tais obras, a doutrina se debruou em umdebate intenso sobre esse instituto jurdico. Com isso, grandes juristas se filiaram ideia de umaresponsabilidade objetiva, fundada na teoria do risco, e outros se ergueram na defesa da culpa. Emrazo desse debate, a responsabilidade objetiva veio a ser adotada em quase todos os ordenamentos

    jurdicos, por meio de leis especiais e especificas de determinado setor, relacionados aos anseios mais

    graves no campo da responsabilidade civil.16

    No Brasil, a responsabilidade objetiva ingressou efetivamente no ordenamento jurdico positivo pormeio de diplomas especiais, como a Lei das Estradas de Ferro (Dec. 2.681/1912), o Cdigo CivilBrasileiro de Aeronutica (Lei 7.565/1986) e Lei 6.453/1977, relativa s atividades nucleares. AConstituio Federal de 1988 previu hipteses especficas (art. 7., XXVIII art. 21, XXIII e art. 37, 6.), com a inaugurao de um novo norte axiolgico, mais valorizado em uma responsabilidade que,dispensando a culpa, se mostre comprometida com a reparao de danos em uma perspectiva marcadapela solidariedade social.17

    Antes do Cdigo Civil vigente, o Cdigo de Defesa do Consumidor j apresentava hipteses de proteodo consumidor contra produtos e servios que lhe oferecessem riscos, abrangendo a questo dainformao (art. 6., I e III, da Lei 8.078/1990).

    Portanto, no anterior diploma civilista, o fundamento nico da responsabilidade civil era a culpa, esomente em casos especficos, previstos em lei, o ordenamento jurdico brasileiro previa algumashipteses de responsabilidade objetiva, como os casos acima citados (da responsabilidade civil doEstado, do acidente de trabalho, do DPVAT, dos acidentes nucleares, do transporte ferrovirio, dotransporte areo, dentre outros). Quanto a esse aspecto, nenhuma alterao real ocorreu, resolvendo olegislador transpor para o formante legislativo a lio doutrinria corrente (expresso "formante"utilizada pela doutrina comparativista italiana, a partir da teoria da dissociao dos formantes). 18

    O Cdigo Civil vigente prev, em seu art. 927, pargrafo nico (em novidade ao anterior Cdigo) que"aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo". E noseu pargrafo nico, prev a obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casosespecificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por

    sua natureza, risco para os direitos de outrem.Assim, conforme Facchini Neto,19 "a periculosidade deve ser aferida objetivamente, pela sua prprianatureza ou pela natureza dos meios empregados, e no em virtude do comportamento negligente ouimprudente de quem agiu". Para o autor, a periculosidade deve ser "uma qualidade preexistente,intrnseca e no eliminvel. O homem prudente pode apenas reduzir tal periculosidade, sem jamais

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    conseguir elimin-la".

    A lio no direito comparado que "cabe substancialmente ao magistrado identificar a periculosidadeda atividade, mediante anlise tpica". No se trata de mero decisionismo judicial, mas de uma anliseatenta s noes correntes de periculosidade e a entendimentos jurisprudenciais consolidados outendenciais. Atravs de uma mobilidade intersistemtica, podem as legislaes trabalhistas eprevidencirias auxiliar em conceitos sobre atividades perigosas.20

    A responsabilidade objetiva foi optada pelo Cdigo brasileiro, e no por um sistema intermedirio, depresuno de culpa, como o ordenamento italiano e portugus. Com a clusula geral de

    responsabilidade objetiva por atividades de risco, contida no pargrafo nico do art. 927 do CC/2002,foi definida a prevalncia da culpa no sistema brasileiro. Ao exigir a participao jurisdicional na tarefade definir as atividades sujeitas sua incidncia, a dita norma retirou o carter excepcional e o exlege, que eram atribudos responsabilidade objetiva na cultura jurdica brasileira.21

    2 Teoria do risco e seus desdobramentos

    Coube, portanto, a Saleilles e Josserand, a construo de uma teoria definitiva da responsabilidade pelofato da coisa, apresentada num dos primeiros julgados a acolher a teoria do risco na Frana. A doutrinade Saleilles mais radical do que o sistema proposto por Josserand, eis que esse se limitava a aplicara teoria objetiva a coisas inanimadas, enquanto aquele pregava a necessidade de substituir a culpapela causalidade, mediante a interpretao objetiva da palavra faute inserida no art. 1.382 do Cdigofrancs, pois, no entender desse autor, tal se refere ao prprio fato causador do dano, e no aoelemento psicolgico do agente. Saleilles refunde o seu sistema, publicando um trabalho sobre "La

    responsabilit du fait des choses devant la Cour Suprieure du Canada", em que conclui que, emrelao ao Cdigo Civil da Provncia de Quebec, inspirado no Cdigo francs, no possvel considerarcomo simples causalidade a relao entre o dano e o ato do agente, como havia raciocinado em facedo Cdigo francs.22

    O risco profissional j estava admitido na legislao canadense em 1910, a exemplo da Frana, pela Leide 09.04.1898. Mas ficavam de fora muitos acidentes ocorridos durante o trabalho, decorrente demquinas ou instrumentos industriais. em 1909 que a jurisprudncia canadense entende pelapresuno legal, na responsabilidade pelo fato da coisa. O caso tratava-se de um empregado de umafbrica, encarregado de cuidar de um forno, que ficou cego devido exploso do mesmo. A deciso deprimeira instancia culpou a companhia que estava sob a guarda do forno, sendo essa a responsvel. OTribunal de Reviso modificou a deciso, alegando que o encarregado da coisa era a vtima, e que essa

    estava obrigada a provar a culpa da companhia, mas no o fez. O Tribunal de Apelao decidiu quehavia culpa da companhia e que a vtima no precisava provar essa culpa, pois a culpa era presumida,j que o forno estava sob a guarda da companhia. Chief Justice, da Corte Suprema, declarou que oforno estava sob a guarda do empregador, que o utilizava a seu proveito e obtinha lucro sobre tal riscocriado assim, estava obrigado a reparar o dano causado pela mquina em questo. Em concluso, semostra impossvel conceber culpa por coisas inanimadas, expressando uma verdade jurdicaencontrada em muitas legislaes, qual seja, "nada do que pertence a algum pode impunementecausar dano a outrem". Portanto, "a parte que tem sob sua guarda a coisa pode no ter conhecimentodo defeito de construo, nem do meio de utilizar-se dele. No importa: sempre responsvel pelosdanos por ela causados".23

    Ao tratar das noes gerais e evoluo histrica da responsabilidade civil, Facchini Neto24 demonstraque "a ideia genrica de responsabilidade objetiva (="independente" de culpa) abrange uma mirade de

    teses e enfoques diversos - sendo mais importantes as teorias do risco-proveito, risco-criado, ideia degarantia, responsabilidade objetiva agravada". O sistema da culpa funcionara satisfatoriamente at ofinal do sculo XIX. A introduo do maquinismo na vida cotidiana trouxe consigo o aumento do nmerode acidentes, tornando cada vez mais difcil para a vtima identificar uma "culpa" na origem do dano e,muitas vezes, se tornava difcil identificar o prprio causador do dano. Prossegue o autor dizendo que"surgiu, ento, o impasse: condenar uma pessoa no culpada a reparar os danos causados por suaatividade ou deixar-se a vtima, ela tambm sem culpa, sem nenhuma indenizao. Para resolver oscasos em que no havia culpa de nenhum dos protagonistas, lanou-se a ideia do risco, descartando-sea necessidade de uma culpa subjetiva. Afastou-se, ento, a pesquisa psicolgica, do ntimo do agente,ou da possibilidade de previso ou de diligncia, para colocar a questo sob um aspecto at ento noencarado devidamente, isto , sob o ponto de vista exclusivo da reparao do dano. Percebe-se que ofim para atingir exterior, objetivo, de simples reparao, e no interior e subjetivo, como na

    imposio da pena".Segundo Gomes,25 a obrigao de indenizar sem culpa nasce por ministrio da lei, para certos casos,por duas razes: a primeira, seria a considerao de que certas atividades do homem criam um riscoespecial para os outros, e a segunda, a considerao de que o exerccio de determinados direitos deveimplicar a obrigao de ressarcir os danos que origina.

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    Pereira26 afirma que o surgimento da teoria do risco, em todos os seus estgios, procura inspirar-seem razes de ordem social e prtica. A partir de um processo interpretativo do Cdigo Civil, a doutrinafrancesa foi se aperfeioando e tornando-se oposta ao princpio da culpa (art. 1.832 do CCF). Apreocupao do ordenamento jurdico reparar o dano, estabelecendo que "cada um deve suportar osriscos de sua atividade", e que cada conflito de responsabilidade civil pressupe um conflito entrereponsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva.

    Savatier27 refere que houve a atenuao moderna da primazia da responsabilidade fundada sobre aculpa (falha), tendo em vista que essa hierarquia entre a falha/erro e o risco nem sempre foirespeitada. Cita o autor dois casos que puderam explicar essa diferena: o erro de um eletricista,causando um curto circuito eltrico que explode um terreno em uma cidade um manobrista de tremque, por erro, causa um descarrilamento, fazendo uma centena de vtimas. Nesses casos, aresponsabilidade pessoal fundada no erro do empregado parece ridcula, totalmente desproporcionaldiante de um dano to imenso. A falha do servio acaba-se por negligenciar a responsabilidade pessoaldo agente, absorvida pela responsabilidade da empresa.

    No direito brasileiro, nos dizeres de Tartuce,28 pretende-se que, em vez de se utilizar do termo culpaconcorrente da vtima na responsabilidade objetiva, comum na doutrina e jurisprudncia, se utilize determos como fato concorrente, corresponsabilidade da prpria vtima e, em especial, risco concorrenteda vtima, no intuito de atenuar o nexo de causalidade e o correspondente quantum indenizatrio.

    Ainda, conforme o autor, o conceito de risco concorrente " suficiente e adequado para substituir aculpa concorrente como atenuante da responsabilidade objetiva em muitas situaes, quando isso for

    possvel", e que "o risco concorrente no afasta totalmente a utilizao da culpa, podendo sernecessrio procurar socorro no fato culposo da vtima em algumas hipteses". 29

    Portanto, em razo do surgimento da responsabilidade civil objetiva, em torno da ideia central do risco,ocorreram vrias concepes de teorias. Entre tais teorias, as que mais se destacam so a do risco-integral, risco-proveito, risco-criado, ideia de garantia e responsabilidade objetiva agravada.2.1 Risco integral

    Influenciada pela doutrina ambientalista, a "teoria do risco integral aquela que no admite qualquerexcludente de responsabilidade civil. No se cogitam os fatos que excluem a ilicitude, como aquelesprevistos no art. 188 do CC".30 Portanto, no cabe a invocao das excludentes de ilicitudes, como oexerccio regular de um direito reconhecido ou a legtima defesa, o estado de perigo, nem asexcludentes de nexo de causalidade, como so os casos da culpa ou fato exclusivo da vtima ou fatoexclusivo de terceiro, do caso fortuito ou da fora maior.

    No entender de Noronha,31 tal risco integral gera uma responsabilidade civil objetiva agravada,hiptese que ser adiante analisada. Essa teoria, como j dito, geralmente mencionada por autoresdo Direito Ambiental.32

    A Constituio Federal ampara a responsabilidade civil por danos ambientais, no seu art. 225, 3.,que prev a reparao de danos causados,33 isso como consagrao do princpio do poluidor-pagador.34

    A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por leso ao meio ambiente propriamente dito(dano ambiental pblico), seja por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado), objetiva,fundada na teoria do risco integral, tambm em face do disposto no art. 14, 1., da Lei 6.938/1981.

    A jurisprudncia do STJ, por diversas vezes, faz meno responsabilidade objetiva baseada no risco

    integral, por danos causados ao meio ambiente, no admitindo qualquer excludente. 35

    2.2 Risco proveito

    Em sntese, a teoria do risco proveito impe, pessoa que extrair proveito de certa atividade, aresponsabilizao pelos riscos que ela traz.36 Portanto, o risco proveito est fundado no princpio ubiemolumentum ibi onus, que se traduz na responsabilidade daquele que tira proveito ou vantagem dofato causador do dano, sendo obrigado a reparlo. Se a atividade econmica desenvolvida gera riquezaao seu empreendedor e a possibilidade de dano a quem executa o servio, nada mais justo que, nocaso de dano, ainda que ausente a culpa ou dolo, deva haver responsabilidade pelos danos ocasionadosda explorao de uma atividade. Dessa forma, para essa teoria, quem cria riscos potenciais de danopara os outros deve suportar os nus correspondentes.

    Essa teoria recebeu crticas, indagando-se qual o sentido da palavra "proveito". Os opositores irmosMazeaud e Mazeaud37 afirmaram que a teoria do risco-proveito puramente negativa, confundindosecom a teoria do risco integral, e sustentaram que o conceito de proveito seria em sentido amplo, ouseja, que traria vantagens a toda e qualquer atividade.

    Lima refere que38 "a questo da responsabilidade, que mera questo de reparao dos danos, deproteo do direito lesado, de equilbrio social, deve, pois, ser resolvida atendendo-se somente aquele

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    critrio objetivo quem guarda os benefcios que o acaso da sua atividade lhe proporciona deve,inversamente, suportar os males decorrentes desta mesma atividade. Eis a teoria do risco-proveito nasua concepo a que chamaremos primitiva, porque outras doutrinas consideram a responsabilidadeextracontratual decorrente do risco, sem esta extenso, nos termos expostos".

    Os partidrios da teoria do risco-proveito passaram a aplicar suas ideias a outras reas daresponsabilidade civil, isso como uma evoluo da teoria do risco-proveito em direo teoria dorisco-criado (pois, pelo fato de agir, o homem pode causar riscos potenciais de danos a outrem).39

    O STJ cita a teoria do risco-proveito no caso daresponsabilidadesolidria da seguradora na hiptese de

    m prestao do servio por oficina automotiva credenciada ou indicada pela seguradora ao segurado,para o conserto de veculo sinistrado, pois somente quando o segurado escolhe livremente a oficina que fica afastada a responsabilidadeda seguradora, restringindo-se a sua responsabilidade,no caso, aoservio securitrio, nos limites das coberturas avenadas. Nessa deciso, aduz que so plenamenteaplicveis as normas de proteo e defesa do consumidor, na medida em que se trata de relao deconsumo, em decorrncia tanto de disposio legal (CDC, art. 3., 2.) como da natureza da relaoestabelecida, de ntida assimetria contratual, entre o segurado, na condio de destinatrio final doservio securitrio, e a seguradora, na qualidade de fornecedora desse servio. No permitido seguradora condicionar os custos da reparao a requisito diverso do pactuado, ou a mesma recusar asuport-los, quando certo que as avarias derivam de sinistro em que se envolveu o veculo, salvoquando ocorrente causa de excluso expressa da cobertura.40

    Sobre a responsabilidade fundada no risco e a prtica do seguro, Savatier 41 expe que, para o seguro

    permitiu-se estender quase indefinidamente o chamamento dessa responsabilidade. O motorista de umcarro responde pelos danos causados, mesmo que no tenha cometido nenhum erro. Os tribunais noteriam julgado de maneira uniforme que o motorista de carro responde civilmente pelo dano causadopelo seu veculo, mesmo sem cometer erro, se no houvesse seguro para tanto. Assim, os tribunaisafirmaram a responsabilidade assegurada por precauo. E prossegue o autor dizendo que "a influnciado seguro tambm exercida em lugares certamente criticveis. Porque no se adquire o segurosomente contra a responsabilidade que deriva do risco, mas tambm contra aquela fundada sobre umerro, e essa ltima foca os elementos morais da responsabilidade. O valor moral de responsabilidadefundado sobre a falta vem em efeito da conscincia que ela d ao homem de ser tratado devido seusmritos e de suportar a sano de toda infrao s regras de prudncia que deveria observar em tornodele".42

    2.3 Risco criado

    Facchini Neto,43 na teoria do risco-criado, afirma que "a responsabilidade no mais a contrapartida deum proveito ou lucro particular, mas sim a consequncia inafastvel da atividade em geral. A ideia dorisco perde seu aspecto econmico, profissional. Sua aplicao no mais supe uma atividadeempresarial, a explorao de uma indstria ou de um comrcio, ligando-se, ao contrrio, a qualquerato do homem que seja potencialmente danoso esfera jurdica de seus semelhantes. Concretizando-se tal potencialidade, surgiria a obrigao de indenizar".

    Ainda, prosseguindo, cita-se como exemplo a responsabilidade do proprietrio de um veculo, que devepossuir plena conscincia de sua enorme potencialidade danosa. "Se, por culpa ou por uma fatalidade,aquela potencialidade de dano se concretizar, deve o proprietrio assumir o dever de indenizar",excluindo-se essa responsabilidade apenas quando houver inexistncia ou ruptura de nexo causal (foramaior, culpa exclusiva da vtima e fato de terceiro). Assim, conforme conclui, essa a "ideia de risco-

    criado, que se distingue da anterior ideia de risco-proveito, pelo fato de que, mesmo na ausncia dequalquer proveito para o proprietrio da coisa perigosa, o dever de indenizar acionado". 44

    Caio Mario45 tambm trata da teoria do risco criado, que "importa em ampliao do conceito de riscoproveito. Aumenta os encargos do agente , porm, mais equitativa para a vtima, que no tem deprovar que o dano resultou de uma vantagem ou de um benefcio obtido pelo causador do dano. Deveeste assumir as consequncias de sua atividade. O exemplo do automobilista esclarecedor: nadoutrina do risco-proveito a vtima somente teria direito ao ressarcimento se o agente obtivesseproveito, enquanto que na do risco-criado a indenizao devida mesmo no caso de o automobilistaestar passeando por prazer (Cf Alex Weili e Franois Terr, Droit Civil, Les obligations, n. 590, p. 605)".

    A teoria do risco-criado mais abrangente do que a teria do risco-proveito, pois aumenta os encargosdo causador do dano e mais justa vtima, que no necessita provar que o dano resultou de uma

    vantagem ou de um benefcio obtido pelo agente danoso.O STJ, nessa linha, j decidiu que, tratando-se de acidente automobilstico, o proprietrio do veculoresponde objetiva e solidariamente pelos atos culposos de terceiro que o conduz e que provoca oacidente, no necessitando ser o motorista seu empregado ou preposto, ou que o transporte sejagratuito ou oneroso, uma vez que sendo o automvel um veculo perigoso, o seu mau uso cria a

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    responsabilidade pelos danos causados a terceiros, eis que o dono de um veculo ou seu motorista criador do risco para os seus semelhantes.46

    2.4 Ideia de garantia na responsabilidade objetiva

    Segundo Facchini Neto,47 essa ideia particularmente eficiente para explicar certas espcies deresponsabilidade objetiva, como quando o autor direto do dano desprovido materialmente de bens ourenda, ou seja, quando o legislador especifica os preponentes pelos atos dos prepostos, o que teriaobjetivado assegurar s vtimas o seu direito indenizao dos prejuzos sofridos injustamente, direitoque restaria comprometido caso dependesse apenas da solvabilidade do autor direto do dano.

    B. Starck,48 jurista francs, critica as demais teorias do risco e entende que a responsabilidade deveser buscada sob o enfoque da vtima, eis que seus direitos subjetivos devem possuir proteo egarantia do ordenamento jurdico, de forma objetiva, reconhecendo esse autor a existncia de umdireito individual segurana, independente das condies fsicas ou psicolgicas do causador do dano.

    Em deciso sobre a culpa do empregador ou preponente por ato do empregado ou preposto, o STJentendeu que deve ser considerada a responsabilidade civil por ato de terceiro como sendo objetiva,aumentando sobejamente a garantia da vtima, no caso de acidente causado por preponente ouempregado, desde que seja provada a culpa desses (com exceo de culpa apenas nos casos derelao de consumo).49 A respeito dessa responsabilidade, tambm entende a mesma Corte Superiorque a responsabilidade do empregador depende da apreciao quanto responsabilidade antecedentedo preposto no dano causado - que subjetiva - e a responsabilidade consequente do preponente, que

    independe de culpa, observada a exigncia de o preposto estar no exerccio do trabalho ou o fato terocorrido em razo dele, independentemente do horrio em que o fato ocorreu.50

    2.5 Responsabilidade objetiva agravada

    Na teoria da responsabilidade objetiva, Noronha51 destaca duas correntes que serviram de guia para seconsolidar a chamada teoria do risco: a responsabilidade civil objetiva comum e a agravada. Naresponsabilidade objetiva comum, conforme j explanado, basta o ofendido provar que sofreu um danoadvindo da atividade desempenhada pelo ofensor, independente da prova de culpa, formalizando,assim, a teoria do risco recepcionada pelo pargrafo nico do art. 927 do CC/2002.

    J na responsabilidade objetiva, em sua forma agravada, dispensa-se a necessidade de perquirio dacausalidade da conduta do agente, devendo haver apenas algum tipo de relao entre a atividade doagente e o resultado lesivo (relao de risco). Quanto ao nexo de causalidade, esse acaba por ficar

    subentendido (in re ipsa), em razo do tamanho do risco advindo de tal atividade.Desse modo, a responsabilidade objetiva agravada apresenta ndole especialssima, destinada asituaes tpicas, dispensando a comprovao do nexo de causalidade e a necessidade de comprovaode qualquer conduta comissiva ou omissiva do agente, embora requeira algum nexo entre o dano e osriscos da atividade.

    Exemplo para explicar essa gradao, de modalidade objetiva agravada (isto , apenas a fora maior eo fato da vtima so excludentes de nexo causal), a do acidente de transporte. Disso resulta que nosocorre ao transportador comprovar que no teve culpa no acidente, como tambm no basta provarque houve um caso fortuito interno, como um estouro do pneu ou a quebra da barra de direo doveculo, na medida em que continuar havendo uma relao de conexo entre o dano e a sua atividade.Apenas o evento externo, inevitvel e irresistvel, o exonerar, configurando-se fora maior, como nocaso de uma tempestade inesperada ou a ao de um assaltante que atira de fora do nibus, ferindoalgum passageiro.

    Schreiber52 afirma que o pargrafo nico do art. 927 do CC/2002 impe responsabilizao baseada noelevado risco produzido por certa atividade, o que no se verifica em qualquer espcie de prestao deservios, mas apenas naquelas hipteses em que houver uma possibilidade de dano realmente alta.Conclui, ainda, que essa clusula geral de responsabilidade objetiva dirige-se simplesmente satividades perigosas, que apresentam grau de risco elevado, seja porque possuem bens danosos(explosivos, radioativos, armas de fogo etc.), seja porque empregam mtodos de alto potencial lesivo(controle de recursos hdricos, energia nuclear etc.), sendo irrelevante que a atividade de risco tenhase organizado sob forma empresarial ou que se tenha revertido em proveito de qualquer espcie para oresponsvel. Esse autor, assim, entende que essa previso legal uma exceo, aplicada em casosespeciais, de alto perigo de dano.

    Larenz53 j afirmava que era indispensvel compensar os danos que se devem s falhas de instalaestcnicas do que falhas de pessoas, em razo dos riscos do trfego areo, ferrovirio e rodovirio,devendo tais adquirirem uma crescente relevncia na cobertura de danos mediante seguro deresponsabilidade prevista em lei, ou, alternativamente, mediante um seguro geral de acidentes cujosgastos deve participar, em primeiro lugar, os beneficirios.

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    O principal evento que gerou discusses na jurisprudncia foi justamente o assalto ou roubo, tendo oentendimento se pacificado no mbito do STJ ao classific-lo como fora maior, e no como riscoinerente atividade profissional (caso fortuito interno), excluindo-se a responsabilidade objetiva datransportadora, neste caso especifico.54

    3 Casos especficos de responsabilidade civil objetiva no Cdigo Civil vigente

    Alguns casos de responsabilidade objetiva so expressamente previstos pelo Cdigo Civil brasileirovigente, que merecem ser trazidos baila, a fim de ressaltar a recepo dessa teoria pelo nossoordenamento jurdico.

    3.1 Da responsabilidade dos incapazesFacchini Neto55 aborda que o art. 928 do CC/2002, na esteira das codificaes europeias, adota oregime da responsabilidade subsidiria e equitativa dos incapazes, diferentemente do que ocorria noCdigo Civil anterior (em que os incapazes eram considerados irresponsveis, e os atos danosos eramrespondidos pelos seus pais, tutores e curadores - art. 1.521).

    Essa responsabilidade ser subsidiria porque "somente ser acionada se as pessoas por eleresponsveis no tiverem obrigao de faz-lo ou no dispuserem de meios suficientes". A regra, naverdade, continua sendo a responsabilidade objetiva dos pais, tutores e curadores, com base no art.933 do CC/2002. De qualquer maneira, "a responsabilizao direta dos incapazes s ocorrer se osrecursos necessrios ao pagamento da indenizao no privarem o incapaz ou as pessoas que deledependam do necessrio, segundo a dico da lei".56

    Interessante o caso da afirmao da responsabilidade dos pais pelos atos ilcitos cometidos por filhosmenores. O STJ decidiu que a parte sucumbente quem tem legitimidade para recorrer, e que o art.499, 1., do CPC/1973, apesar de assegurar ao terceiro prejudicado a possibilidade de interporrecurso de determinada deciso, desde que ela afete, direta ou indiretamente, uma relao jurdica deque seja titular, deve ser interpretada a norma do art. 942 do CC/2002 em conjunto com aquela dosarts. 928 e 934, que tratam, respectivamente, (i) da responsabilidade subsidiria e mitigada do incapaze (ii) da inexistncia de direito de regresso em face do descendente absoluta ou relativamenteincapaz.57

    3.2 Da responsabilidade civil por fato de outrem

    A ideia inicial na teoria da responsabilidade civil era que uma pessoa s podia ser responsabilizada porseu prprio ato danoso - responsabilidade direta e pessoal. Com a evoluo da teoria, considerou-se

    que a responsabilidade poderia ser indireta ou complexa, com outrem responsabilizado por ato depessoa a quem tivesse ligao de alguma forma, tudo para garantir vtima de dano uma reparaoefetiva.

    Conforme Lima,58 "se no domnio das atividades pessoais, o critrio predominante de fixao daresponsabilidade reside na culpa, elemento interno que se aprecia 'em funo da liberdade, daconscincia e, s vezes, do mrito do autor do dano', no caso da responsabilidade indireta, deresponsabilidade pelo fato de outrem, predomina o elemento social, o critrio objetivo. [...] Em seusentido amplo, a responsabilidade civil pelo fato de outrem se verifica todas s vezes em que algumresponde pelas consequncias jurdicas de um ato material de outrem, ocasionando ilegalmente umdano a terceiros. Em matria de responsabilidade pelo fato de outrem, a reparao do dano cabe auma pessoa que materialmente estranha a sua realizao".

    Se trata, portanto, de responsabilidade objetiva, independentemente de culpa, como o caso retratadono art. 1.521 do CC/1916, que prev a responsabilidade dos pais, tutores e curadores, patres ecomitentes, por atos de seus filhos, tutelados, curatelados, empregados e prepostos, alm de donos dehotis e internatos, por atos de seus hspedes e alunos internos.

    Quanto aos pais, salienta-se que somente os que tem o direito de guarda sobre o menor, decorrente doexerccio do ptrio poder, so responsveis pelos atos ilegais praticados pelos menores, lesivo dedireitos de terceiros.59

    3.3 Da responsabilidade civil pelo fato do produto

    O art. 931 do CC/2002 refere-se responsabilidade civil do empresrio pelo fato do produto,mantendo-o sob o enfoque da responsabilidade objetiva. Contudo, isso no foi uma novidade, pois oCdigo de Defesa do Consumidor (CDC) j estabelecia a responsabilidade objetiva pelo fato do produto

    (art. 12).Pereira60 retratava a responsabilidade do fabricante em sua relao direta com o consumidor, aduzindoque, para se definir essa responsabilidade, necessrio estabelecer seus extremos, quais sejam: (1)responsabilidade do fabricante pelo dano causado por produto defeituoso (2) defeituoso todo oproduto que, em razo de falha na confeco, no desenho ou na utilizao de matria-prima no sejaadequado aos fins a que geralmente se destina (3) responsabilidade do fabricante tambm pela

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    utilizao de produtos por deficincia de informao quanto ao seu uso ou quanto aos riscos que esseuso pode gerar (4) iseno da responsabilidade do fabricante quando demonstrar que o produtotornou-se defeituoso por falhas na conservao e utilizao, em poder de intermedirio ou pelo prprioconsumidor.

    Alerta Facchini61 que, em um exame mais detalhado, encontram-se algumas diferenas entre apreviso do Cdigo Civil e do CDC. O art. 12 do CDC faz aluso a produtos com "defeitos", o art. 931refere que os empresrios respondem "pelos danos causados pelos produtos postos em circulao", nofazendo qualquer meno a defeitos dos produtos. O CC/2002 amplia o conceito de fato do produtoexistente no CDC, imputando responsabilidade civil empresa e aos empresrios individuais vinculados

    circulao dos produtos, indo alm do CDC, pois contemplou inclusive riscos de desenvolvimento doproduto, passando a enriquecer o instituto.3.4 Da responsabilidade civil pelo fato dos animais

    Pereira62 refere que a origem dessa responsabilidade "est no direito romano, segundo o qual odominus era o responsvel, mas exonerava-se abandonando o animal (abandono noxal)".

    Facchini Neto63 entende que existe uma autntica responsabilidade objetiva nesse caso, pois no exigeo legislador que se prove a culpa do dono ou detentor do animal. Segundo a redao, "o dono, oudetentor, do animal, ressarcir o dano por este causado, se no provar culpa da vtima ou fora maior".As excludentes tambm fazem parte da responsabilidade objetiva, pois a mesma admite essas causasde excluso.

    A responsabilidade do dono do animal presumida. Basta a vtima provar o dano e a relao decausalidade entre o dano por ela sofrido e o ato do animal, sendo que pode ser responsvel tanto odono como o mero detentor do animal.

    Venosa64 cita que, no bastassem os princpios do CdigodeDefesa do Consumidor, osresponsveisporespetculos pblicos assumem tambm obrigao inerente deincolumidade com relaoa seus espectadores.

    A rigor, a responsabilidade do dono do animal decorre da posio de guardio, no somente da posiode proprietrio do animal. Porm, se o dono confiou a guarda do animal a um empregado, porexemplo, e ocorreu o dano a terceiro, cabe ao empregador ressarcir o ofendido, independentemente decomprovar a concorrncia de culpa.65

    Tratando-se de furto, ao dono pode se imputar a culpa in vigilando. Se o furto se deu apesar do donoter tomado as cautelas devidas, o dono se exonera, eis que se trata de fora maior. 66

    Portanto, o dono ou detentor doanimalter que ressarcir o danoporesse causado, independentemente deculpa, por aplicao da teoria da responsabilidade objetiva. Todavia, poder eximir-se da culpa seprovar a ocorrnciadeculpa exclusiva da vtima ou fora maior.3.5 Da responsabilidade civil pelo fato das coisas

    Em geral se estuda, sob a denominao de "responsabilidade civil pelo fato das coisas" as duasespcies de responsabilidade civil previstas nos arts. 937 e 938 do CC/200267 (correspondentes aosarts. 1.528 e 1.529 do CC/1916). Ambas as hipteses devem ser consideradas casos deresponsabilidade objetiva. Da mesma forma, o vocbulo runa deve ser entendido em um conceitoamplo, abrangendo a runa total, parcial, e a simples queda de partes de edificao (marquises,

    sacadas, rebocos, muros etc.).68

    A origem dessa responsabilidade se encontra na cautio damni infecti do direito romano, eis que,quando um imvel ameaava ruir, o pretor podia ordenar ao proprietrio que prestasse cauo para ocaso de tal se efetivar, se no preferisse abandonar o imvel.69

    O art. 938 do CC/2002, antigo 1.529, abraa inequivocamente a responsabilidade objetiva, pois cumpre apurar o dano em si mesmo, a pessoa ou coisa, e no verificar o autor dessa queda ou arremesso decoisa responsvel o proprietrio ou ocupante do imvel, de onde veio a coisa que causou o dano. 70

    3.6 Do abuso de direito

    Lima71 afirma que, aquele que age obedecendo aos estritos e objetivos limites legais, mas que, aoexercer o direito conferido por lei, "viola os princpios da finalidade econmica e social da instituio,

    da sua destinao, produzindo o desequilbrio entre o seu interesse individual e o da coletividade,abusa de seu direito".

    Prossegue o autor, alegando que "distinguem-se, pois, as esferas do ato ilcito e do abusivo, ambosgeradores de responsabilidade naquele transgridem-se os limites objetivos traados pela prpria lei,negando-se ou excedendo-se ao direito no ato abusivo, h obedincia apenas dos limites objetivos dopreceito legal, mas fere-se ostensivamente a destinao do direito e o esprito da instituio".

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    A concluso de existir uma noo de abuso de direito antigamente, mas no como hoje conhecida, defendida por Serpa Lopes,72 ao dizer que "no acreditamos que no direito romano houvesse uma ideiade abuso de direito, no sentido do que modernamente considerado como tal. Entretanto, no se podedizer que se tratasse de uma concepo por completo desconhecida, j que, de um ponto de vistageral, a prpria noo de direito preponderasse em Roma no podia permitir fazer-se dele um abusodeslimitado, sob qualquer dos seus aspectos. Assim, observam-se normas restritivas do seu exerccio,no s precipuamente nas relaes de vizinhana, como ainda no poder do senhor sobre o escravo, noptrio poder e no poder marital".

    Os primeiros textos legislativos mais modernos que trataram, do abuso de direito como princpiogenrico, extensivo a todos os direitos em geral, proibindo esse abuso de direito, foram os do CdigoCivil da Prssia, de 1794, que referia o exerccio do direito dentro de limites legais, sob pena dereparao de dano, bem como, alm do dispositivo genrico, previa uma limitao ao exerccio depropriedade, dentro do mesmo critrio de proibio de atos emulativos.73

    No Brasil, o Cdigo Civil de 1916 no retratava expressamente o abuso de direito. Com a leitura do art.160 da referida legislao civilista, que afirmava que no constitua ato ilcito aqueles praticados emlegtima defesa ou no exerccio regular de um direito reconhecido, poder-se-ia cogitar, lendo o artigoinversamente, que, aqueles atos que no constituem ilcito, seriam considerados lcitos.

    Martins-Costa74 sustenta que "o Cdigo Civil de 1916 no cuidou, estruturalmente, de sistematizar oregramento do exerccio jurdico, isto , a atuao humana relevante para o direito, abrangendo os

    atos jurdicos, lcitos e ilcitos, incluindo, pois, todas as prticas negociais, muito embora o tenha feito -casuisticamente - por meio de regras esparsas".

    No Cdigo Civil vigente, a previso est contida no art. 187,75 em uma exegese confirmada por umainterpretao sistemtica, sendo que no se exige inteno de prejudicar, contentando-se com umexcesso objetivamente identificvel, ou seja, se acolhendo, aqui tambm, a teoria da responsabilidadeobjetiva.76

    H indcios de abuso de direito no art. 186 do CC/2002,77 e pode ser referido como atos que noconstituiriam abusivos aqueles do art. 188 do mesmo Cdigo, a teor do que ocorria no art. 160 do CC/1916.78

    O art. 1.228, 2., do CC/2002,79 trata de abuso de direito em relao propriedade. Tendo em vista

    sua finalidade econmica e social, a mesma refere uma responsabilidade objetiva nesse abuso queocasiona prejuzo.

    A figura do abuso de direito um dos institutos de reao ou conteno ao direito subjetivo, porobjeo de face tica, dentro da compreenso de que o direito no pode possuir finalidades contrariasa tica.80

    A responsabilidade civil objetiva veio para modificar a noo de que apenas a culpa deve desempenharo papel de indenizar um dano. Com a revoluo industrial, que ocasionou diversos acidentes detrabalho, os juristas comearam a se debruar sobre um sistema que pudesse garantir a indenizaodo dano ocasionado, sem que se comprovasse a inteno (culpa) do autor, principalmente porque, emmuitos casos, a vtima no possua culpa alguma, nem a ela era possvel identificar o causador dodano.

    A responsabilidade objetiva, por meio principalmente dos estudos dos franceses Saleilles e Josserand,em 1897, implicou na anlise concreta da defesa da ideia de risco como critrio de responsabilizao. Areparao do dano decorrente, exclusivamente do fato ou do risco criado, garante s vtimas umareparao independentemente de culpa do responsvel, tudo para refletir, no fundo, a ideia de justia vtima de danos.

    Os critrios objetivos de imputao de responsabilidade, que possam substituir ou atenuar a culpa,abrangeu diversas teorias, como as do risco integral (responsabilidade objetiva que no admitequalquer excludente, admitida em casos de danos ao meio ambiente), risco proveito (que trazvantagens quele que o cria em desfavor de outrem, adotada pelo Cdigo de Defesa do Consumidor),do risco criado (presente nas situaes em que a atividade ou um ato isolado cria riscos a outrem), daideia de garantia (quando possa haver insolvabilidade do autor do dano, pressupondo que um terceiro,vinculado ao autor do dano, possa reparar a vtima) e da responsabilidade objetiva agravada (em que

    se dispensa a necessidade de perquirio da causalidade da conduta do agente, devendo haver apenasalgum tipo de relao entre a atividade do agente e o resultado lesivo), entre outras.

    O Cdigo Civil de 2002 manteve a culpa - responsabilidade subjetiva - como regra da responsabilidadecivil, conforme clusula geral inserida no art. 186. A responsabilidade objetiva surgiu como um grandeavano na responsabilidade civil, e perfaz uma medida externa, de reparao de dano,

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    independentemente da culpa do causador desse, responsabilidade essa j prevista anteriormente, emlegislaes esparsas, vindo a ser codificada em vrias hipteses previstas pelo atual Cdigo Civil, emespecial nas trs clusulas gerais de responsabilidade objetiva, como no caso do abuso de direito (art.187), por risco-criado (art. 927, pargrafo nico) e pelo fato do produto (art. 931).

    O risco uma probabilidade concreta de perigo de dano. A responsabilidade objetiva que decorre deuma atividade de risco desempenhada, em geral, pelo autor do dano, veio optada pelo Cdigo Civil de2002, alm dos demais casos previstos em lei (art. 927, pargrafo nico). Cabe relembrar que antes doCdigo Civil, o Cdigo de Defesa do Consumidor j apresentava hipteses de proteo do consumidorcontra produtos e servios que lhe oferecessem riscos, abrangendo a questo da informao.

    As clusulas gerais, amplamente utilizadas pelo atual Cdigo Civil na sistemtica da responsabilidadecivil, permite diversos desenvolvimentos na doutrina e na jurisprudncia, o que visa a suprir eventuaisdificuldades ou deficincias que tais teorias ou normas legais apresentem em face do caso concreto.

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    Torres, Ricardo Lobo Torres. Valores e Princpios no Direito Tributrio Ambiental. In: Torres, HelenoTaveira (org.). Direito tributrio ambiental. So Paulo: Malheiros, 2005.

    Venosa, Slvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 5. ed., So Paulo: Atlas, 2005.

    1 Savatier, Ren. Trait de la Responsabilit Civile em Droit Franais - civil, administratif,professionnel, procdural. Tome I. Deuxime dition. Paris: Librairie dnrale de droit et dejurisprudence, 1951. p. 1.: "la responsabilit civile est l'bligation qui peut incomber une personne derparer le dommage caus autrui par son fait, ou par le fait des personnes ou des choses dpendantd'elle".2 Lima, Alvino. Culpa e risco. So Paulo: Ed. RT, 1960. p. 19.3 Idem, p. 29.4 Tartuce, Flvio. Responsabilidade civil objetiva e risco - a teoria do risco concorrente. So Paulo:Mtodo, 2011. p. 61-62.5 Chironi, G.P., apud Tartuce, Flavio. Responsabilidade civil objetiva e risco - a teoria do riscoconcorrente, p. 62.6 Bevilqua, Clvis. Cdigo Civil dos Estados Unidos do Brasil. ed. histrica, 3. tir., Rio de Janeiro: Ed.Rio, 1977. vol. I e IV, p. 426.7 Pontes de Miranda, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro: Borsoi, 1958. t.XXIII, p. 71.8 Tartuce, Flvio. Responsabilidade civil objetiva e risco - a teoria do risco concorrente. p.65.9 Idem, p. 66.

    10 Lima, Alvino. Culpa e risco. p. 113.11 Larenz, Karl. Derecho civil - parte general. Traduccion y notas de Miguel Izquierdo y Macas Picavea.Editorial Revista de Derecho Privado, 1978. p. 77.12 Dias, Jos de Aguiar. Da responsabilidade civil. 10. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1997. vol. 1, p. 50.13 Idem, p. 51.14 Neto, Martinho Garcez. Responsabilidade civil no direito comparado. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.p. 95.

    15 Salleiles, Raymund Josserand, Louis apud Schreiber, Anderson. Novos paradigmas daresponsabilidade civil. 5. ed., So Paulo: Atlas, 2013. p. 19.16 Schreiber, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil. p.19.17 Idem, p. 20.18 Facchini Neto, Eugnio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 186. Vide nota 33.19 Idem, ibidem.

    20 Idem, p. 187.21 Schreiber, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil. p. 22-23.22 Dias, Jos de Aguiar. Da responsabilidade civil. p. 56

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    23 Idem, p. 57.24 Facchini Neto, Eugnio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. p. 177-178.25 Gomes, Orlando. Obrigaes. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 307.26 Pereira, Caio Mrio da Silva. Responsabilidade civil. 9. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 19-20.

    27 Savatier, Ren. Trait de la Responsabilit Civile em Droit Franais - civil, administratif, profesonnel,procdural. p. 356.28 Tartuce, Flavio. Responsabilidade civil objetiva e risco - a teoria do risco concorrente. p. 262.29 Idem, p. 262-263.30 Idem, p.173.31 Noronha, Fernando. Direito das obrigaes. So Paulo: Saraiva, 2003. vol. I, p. 638.32 Nesse sentido, vide Barroso, Lucas Abreu. A obrigao de indenizar a determinao daresponsabilidade civil por dano ambiental. So Paulo: Forense, 2006. p. 86 Catalan, Marcos Jorge.

    Proteo constitucional do meio ambiente e seus mecanismos de tutela. So Paulo: Mtodo, 2008, p.83.33 "Art. 225. (...) 3.. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro osinfratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas, independentemente daobrigao de reparar os danos causados."34 Vide Torres, Ricardo Lobo Torres. Valores e princpios no direito tributrio ambiental. In: Torres,Heleno Taveira (org.). Direito tributrio ambiental. So Paulo: Malheiros, 2005. p. 27.35 Brasil. STJ. REsp 1.175.907/MG, rel. Min. Luis Felipe Salomo, 4. T., j. 19.08.2014, DJe 25.09.2014.Disponvel em: [www.stj.jus.br]. Acesso em: 12.06.2015.

    36 Schreiber, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil. p. 29. Vide nota 74.37 Mazeaud e Mazeaud apud Alonso, Paulo Srgio Gomes. Pressupostos da responsabilidade civilobjetiva. p. 64. (S.D.) Disponvel em: [www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link="revista_artigos_leitura]." Acesso em: 17.05.2015.38 Lima, Alvino. Culpa e risco. p. 120.39 Facchini Neto, Eugnio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. p. 178.40 Brasil. STJ. REsp 827.833/MG, rel. Min. Raul Arajo, 4. T., j. 24.04.2012, DJe 16.05.2012.Disponvel em: [www.stj.jus.br]. Acesso em: 13.06.2015.41 Savatier, Ren. Trait de la Responsabilit Civile em Droit Franais - civil, administratif,professionnel, procdural. p. 357.42 Savatier, Ren. Trait de la Responsabilit Civile em Droit Franais - civil, administratif,professionnel, procdural. p. 357-358. "Mais l' influence de l' assurance s' est aussi exerce dans umsens plus certainement critiquable. Car, on ne s' assure pas seulement contre la responsabilit drivantdu risque, mais aussi contre celle fonde sur une faute. Et cette dernire assurance mine directementles lments moral de la responsabilit. La valeus morale de la responsabilit fonde sur la faute,vient, em effet (v. supra, n. 280), de la coscinte que' ele donne l' homme dtre trait suivant sesmrites, et de supporter la sanction de oute infraction aux rgles de prudence qu' il doit observer

    envers autrui".43 Facchini Neto, Eugenio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. p. 179.44 Idem, ibidem.

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    45 Pereira, Caio Mario da Silva. Responsabilidade civil. p. 285.46 Brasil. STJ. REsp 577.902/DF, rel. Min. Antnio de Pdua Ribeiro, rel. p/ acrdo Min. NancyAndrighi, 3. T., j. 13.06.2006, DJ 28.08.2006. Disponvel em: [www.stj.jus.br]. Acesso em:13.06.2015.47 Facchini Neto, Eugenio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. p. 180.

    48 Starck, B. apud Facchini Neto, Eugenio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, IngoWolfgang. O novo Cdigo Civil e a Constituio. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 180.49 Brasil. STJ. REsp 1.135.988/SP, rel. Min. Luis Felipe Salomo, 4. T., j. 08.10.2013, DJe 17.10.2013.Disponvel em: [www.stj.jus.br]. Acesso em: 18.05.2015.50 Vide REsp 1.072.577/PR, rel. Min. Luis Felipe Salomo, 4. T., j. 12.04.2012, DJe 26.04.2012.Disponvel em: [http: www.stj.jus.br]. Acesso em 18.05.2015.51 Noronha, Fernando. Desenvolvimentos contemporneos da responsabilidade civil. RT 761/38, SoPaulo: Ed. RT, mar. 1999.

    52 Schreiber, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil. p. 25.53 Larenz, Karl. Derecho Civil - parte general. p. 78.54 Brasil. STJ. AgRg no Ag 1.389.181/SP, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3. T., j. 26.06.2012,DJe 29.06.2012. Disponvel em: [www.stj.jus.br]. Acesso em:18.05.2015.55 Facchini Neto, Eugnio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. p. 192.56 Idem, p. 193.

    57 Vide REsp 1.319.626/MG, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26.02.2013, DJe 05.03.2013. Disponvel em:[www.stj.jus.br]. Acesso em: 18.05.2015.58 Lima, Alvino. A responsabilidade civil pelo fato de outrem. 1. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1973. p.27.59 Idem, p. 35.60 Pereira, Caio Mrio da Silva. Responsabilidade civil. p. 198.61 Facchini Neto, Eugnio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. p. 194-195.62 Pereira, Caio Mrio da Silva. Responsabilidade civil. p. 108.63 Facchini Neto, Eugnio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. p. 201.64 Venosa, SlviodeSalvo.Direito civil:responsabilidadecivil. 5. ed., So Paulo: Atlas, 2005. p. 123.65 Pereira, Caio Mrio da Silva. Responsabilidade civil. p. 109.66 Idem, p. 110.67 "Art. 937. O dono de edifcio ou construo responde pelos danos que resultarem de sua runa, se

    esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Art. 938. Aquele que habitar prdio,ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele carem ou forem lanadas em lugarindevido."68 Facchini Neto, Eugnio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. p. 202.

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    69 PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Responsabilidade civil. p. 112.70 Idem, p. 114.71 Lima, Alvino. Culpa e Risco. p. 219.72 Serpa Lopes, Miguel Maria. Curso de direito civil. 2. ed., Rio de Janeiro: Ed. Freitas Bastos, 1957.vol. I, p. 545.

    73 Lima, Avino. Culpa e risco. p. 225.74 Martins-Costa, Judith. A boa-f no direito privado. 1. ed., So Paulo: Ed. RT, 2000 p. 507-508.75 "Art. 187. Tambm comete ato ilcito o titular de um direito que, ao exerc-lo, excedemanifestamente os limites impostos pelo seu fim econmico ou social, pela boa-f ou pelos bonscostumes."76 Facchini Neto, Eugnio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novoCdigo Civil e a Constituio. p. 191.77 "Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e

    causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito."78 CC/1916, art. 160. "No constituem atos ilcitos: I - os praticados em legtima defesa ou noexerccio regular de um direito reconhecido II - a deteriorao ou destruio da coisa alheia, afim deremover perigo iminente (arts. 1.519 e 1.520). Pargrafo nico. Neste ltimo caso, o ato ser legtimo,somente quando as circunstncias o tornarem absolutamente necessrio, no excedendo os limites doindispensvel para a remoo do perigo".79 "Art. 1.228. (...) 2. So defesos os atos que no trazem ao proprietrio qualquer comodidade, ouutilidade, e sejam animados pela inteno de prejudicar outrem."80 Facchini Neto, Eugnio. Da responsabilidade civil no novo Cdigo. In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novo

    Cdigo Civil e a Constituio. p. 188.