A dor da Crucificação

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  • 7/31/2019 A dor da Crucificao

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    A dor da Crucificao

    Mdico francs reconstitui a agonia de Jesus.

    Sou um cirurgio, e dou aulas h algum tempo. Por treze anos vivi em companhiade cadveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo.

    Posso, portanto escrever sem presuno a respeito de morte como aquela.

    Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sanguea escorrer pela terra. O nico evangelista que relata o fato um mdico, Lucas. E ofaz com a preciso de um clnico.

    O suar sangue, ou "hematidrose", um fenmeno rarssimo. produzido emcondies excepcionais: para provoc-lo necessrio uma fraqueza fsica,acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profundaemoo, por um grande medo.

    O terror, o susto, a angstia terrvel de sentir-se carregando todos os pecados doshomens devem ter esmagado Jesus. Tal tenso extrema produz o rompimento dasfinssimas veias capilares que esto sob as glndulas sudorparas, o sangue semistura ao suor e se concentra sobre a pele, e ento escorre por todo o corpo at aterra. Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sindrio hebraico, o enviode Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatoscede, e ento ordena a flagelao de Jesus.

    Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do ptio. Aflagelao se efetua com tiras de couro mltiplas sobre as quais so fixadasbolinhas de chumbo e de pequenos ossos. Os carrascos devem ter sido dois, um decada lado, e de diferente estatura.

    Golpeiam com chibatadas a pele, j alterada por milhes de microscpicashemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra. Acada golpe Jesus reage em um sobressalto de dor. As foras se esvaem; um suorfrio lhe impregna a fronte, a cabea gira em uma vertigem de nusea, calafrios lhecorrem ao longo das costas. Se no estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia emuma poa de sangue.

    Depois o escrnio da coroao. Com longos espinhos, mais duros que os de accia,os algozes entrelaam uma espcie de capacete e o aplicam sobre a cabea. Osespinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgies sabem oquanto sangra o couro cabeludo).

    Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado multido feroz, oentrega para ser crucificado.

    Colocam sobre os ombros de Jesus o grande brao horizontal da Cruz; pesa unscinqenta quilos. A estaca vertical j est plantada sobre o Calvrio.

    Jesus caminha com os ps descalos pelas ruas de terreno irregular, cheia depedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas. O percurso de cerca de 600metros. Jesus, fatigado, arrasta um p aps o outro, freqentemente cai sobre os

    joelhos. E os ombros de Jesus esto cobertos de chagas.

    Quando ele cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega, e lhe esfola o dorso.

    Sobre o Calvrio tem incio a crucificao. Os carrascos despojam o condenado,

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    mas a sua tnica est colada nas chagas e tir-la produz dor atroz.

    Quem j tirou uma atadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata.Cada fio de tecido adere carne viva: ao levarem a tnica, se laceram asterminaes nervosas postas em descoberto pelas chagas.

    Os carrascos do um puxo violento. H um risco de toda aquela dor provocar umasncope, mas ainda no o fim. O sangue comea a escorrer.

    Jesus deitado de costas, as suas chagas se incrustam de p e pedregulhos.

    Depositam-no sobre o brao horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas.

    Com uma broca, feito um furo na madeira para facilitar a penetrao dos pregos.Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apiam-nosobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatemsobre a madeira. Jesus deve ter contrado o rosto assustadoramente. O nervomediano foi lesado.

    Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante,agudssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo ocrebro. A dor mais insuportvel que um homem pode provar, ou seja, aquelaproduzida pela leso dos grandes troncos nervosos: provoca uma sncope e fazperder a conscincia. Em Jesus no. O nervo destrudo s em parte: a leso dotronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o corpo for suspensona cruz, o nervo se esticar fortemente como uma corda de violino esticada sobre acravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrar despertando doresdilacerantes. Um suplcio que durar trs horas.

    O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus,

    colocando-o primeiro sentado e depois em p; conseqentemente fazendo-otombar para trs, o encostam-se estaca vertical.

    Depois rapidamente encaixam o brao horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Osombros da vtima esfregam dolorosamente sobre a madeira spera.

    A ponta cortante da grande coroa de espinhos penetram o crnio.

    A cabea de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o dimetro da coroa oimpede de apoiar-se na madeira. Cada vez que o mrtir levanta a cabea,recomeam pontadas agudas de dor. Pregam-lhe os ps.

    Ao meio-dia Jesus tem sede. No bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo umamscara de sangue. A boca est semi-aberta e o lbio inferior comea a pender. Agarganta, seca, lhe queima, mas ele no pode engolir. Tem sede.Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida embebida cida, em uso entre os militares. Tudo aquilo uma tortura atroz. Umestranho fenmeno se produz no corpo de Jesus. Os msculos dos braos seenrijecem em uma contrao que vai se acentuando: os deltides, os bcepsesticados e levantados, os dedos, se curvam. como acontece a algum ferido dettano. A isto que os mdicos chamam tetania, quando os sintomas segeneralizam: os msculos do abdmen se enrijecem em ondas imveis, em seguidaaqueles entre as costelas, os do pescoo, e os respiratrios. A respirao se faz,pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas no consegue mais sair.Jesus respira com o pice dos pulmes. Tem sede de ar: como um asmtico em

    plena crise, seu rosto plido pouco a pouco setorna vermelho, depois se transforma num violeta purpreo e enfim em ciantico.

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    Jesus envolvido pela asfixia. Os pulmes cheios de ar no podem mais seesvaziar. A fronte est impregnada de suor, os olhos saem fora de rbita.

    Mas o que acontece? Lentamente com um esforo sobre-humano, Jesus toma umponto de apoio sobre o prego dos ps. Esfora-se a pequenos golpes, se eleva

    aliviando a trao dos braos. Os msculos do trax se distendem.

    A respirao torna-se mais ampla e profunda, os pulmes se esvaziam e o rostorecupera a palidez inicial.

    Por que este esforo? Porque Jesus quer falar: "Pai, perdoa-lhes porque no sabemo que fazem". Logo em seguida o corpo comea afrouxar-se de novo, e a asfixiarecomea. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vezque quer falar, dever levar-se tendo como apoio o prego dos ps. Inimaginvel!Atradas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscaszunem ao redor do seu corpo, mas ele no pode enxot-las. Pouco depois o cuescurece, o sol se esconde: de repente a temperatura diminui. Logo sero trs da

    tarde, depois de uma tortura que dura trs horas.

    Todas as suas dores, a sede, as cimbras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos,lhe arrancam um lamento: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?".Jesus grita: "Tudo est consumado!". Em seguida num grande brado diz: "Pai, nastuas mos entrego o meu esprito". E morre. Em meu lugar e no seu.

    Autoria atribuda a Dr. Barbet, mdico francs.