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A Escola Na Percepção de Crianças Da Ed. Infantil

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A Escola Na Percepção de Crianças Da Ed. Infantil

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  • A ESCOLA NA PERCEPO DE CRIANAS DA EDUCAO

    INFANTIL Ana Rita Silva Almeida; Ariane de Brito Santos; e Camila Barreto da Gama

    Eixo Temtico: 15. Psicologia, Aprendizagem e Educao: aspectos pedaggicos e

    psicossociais

    Resumo A escola elemento fundamental no desenvolvimento do ser humano, alm de trabalhar os aspectos cognitivos dos seus alunos, ela tambm influencia na construo da afetividade dos mesmos. As relaes humanas so eivadas de emoes e na escola podemos observar este processo. Objetivamos pesquisar qual a perspectiva do aluno frente escola, focando nas emoes, sob o referencial terico de Henri Wallon. Participaram do estudo alunos das Oficinas I e II de uma escola pblica de Aracaju. Um questionrio ilustrado foi utilizado para a coleta de dados. Os resultados mostraram que a maioria dos sujeitos relatou ter sentimentos positivos em relao escola, a professora, suas prticas, e seus coleguinhas. A aprendizagem e afeto no podem ser desvinculados, principalmente no ensino-aprendizagem. Palavras-chave: Escola, emoes, alunos. Abstract The school is a fundamental element in human development, and work on the cognitive aspects of their students, it also influences the construction of affection from them. Human relations are mired in emotions and in school we can observe this process, we aimed to research what the perspective of the student outside the school, focusing on emotions, based on studies of Henri Wallon. The participants were students of Workshops I and II of a public school in Aracaju. An illustrated questionnaire was used to collect data. The results showed that the majority of subjects reported having positive feelings about school, their teacher, their practices, and their classmates. The learning and affection can not be detached, especially in teaching and learning. Keywords: School, emotions, students.

  • Introduo

    A escola engloba vrios aspectos que so indispensveis para o desenvolvimento

    cognitivo, afetivo e social da criana, os quais permitem que a criana atinja nveis de

    evoluo cada vez mais elevados, e uma satisfatria formao educacional. O processo de

    aprendizagem para Wallon um processo dialtico, uma vez que, para este autor, h uma

    relao recproca entre esses aspectos (cognio, afetividade e motricidade). Para Wallon o

    desenvolvimento humano acontece, primeiramente a partir da interao de fatores orgnicos e

    fatores ambientais, que, por sua vez, deve atender as necessidades e as aptides sensrio-

    motoras, e depois psicomotoras do indivduo. A interao com o meio, se constitui o foco de

    sua teoria (MAHONEY & ALMEIDA, 2005; COELHO, 2008).

    A afetividade integra e abrange as relaes afetivas, emoo, sentimento, e paixo.

    Wallon ratifica a diferena entre a emoo e sentimentos. A primeira a manifestao de um

    estado subjetivo com componentes fortemente orgnicos, j o sentimento psicolgico,

    portanto revela um estado mais permanente, enquanto que as paixes contam com o

    raciocnio; portanto, existe noo de realidade externa (ALMEIDA, 1999, p. 52).

    A escola, junto com a famlia, a instituio social que maiores repercusses tem para

    a criana. No s intervm no saber cientfico organizado culturalmente como influi todos os

    aspectos relativos aos processos de socializao e individuao da criana, como o

    desenvolvimento das relaes afetivas, a habilidade de participar em situaes sociais,

    aquisio de destrezas relacionadas com a competncia comunicativa, o desenvolvimento da

    identidade sexual, das condutas pr-sociais e da prpria identidade pessoal. A ao de educar

    se preocupa com o processo de constituir indivduos crticos, socializados, conhecimento

    pleno daquilo que importante ser, enquanto indivduos, e daquilo que o mundo espera de si,

    enquanto pessoas ticas, plenamente integradas no espao que esto inseridas (PALACIOS,

    COLL & MARCHESI, 1995).

    Rogers (1972) faz uma distino entre o significado das palavras ensinar e educar.

    Para ele ensinar est relacionado apenas transmisso de conhecimentos, um processo no

    qual o educando apenas decora os contedos que lhe so transmitidos. Educar uma prtica

    na qual o educador preocupa-se em facilitar o processo de aprendizagem que tenha

    significado para o aluno, que envolva vrias dimenses do ser, facilitando, tambm o processo

    de crescimento, de auto-realizao.

    No ambiente escolar, o professor ocupa tambm um papel indiscutvel na formao do

    aluno, sendo ele o responsvel pela administrao dos conflitos que decorrem no interior do

  • cotidiano escolar, e pela mediao da afetividade, seja atravs de sua relao direta com a

    criana, seja atravs de suas prticas pedaggicas. propiciando, instigando, e gerando

    conflitos, que o professor contribui para que o aluno, na busca de solues, avance. Sua

    contribuio observar para saber o momento e a maneira exata de intervir, auxiliando o

    aluno (PELISSON, 2006).

    De acordo com Davis, Silva e Espsito (1989), o professor ainda pode enfatizar as

    interaes simtricas, e adotar um papel de rbitro ou moderador, abrindo mo de sua

    autoridade, e incentivando ainda mais as interaes criana-criana. Tais interaes

    fortalecem a dimenso afetiva e as emoes da criana, elementos essenciais tambm para o

    processo de desenvolvimento da personalidade, que manifesta-se primitivamente no

    comportamento e nos gestos expressivos da criana, como bem enfatiza Wallon (1993 apud

    ALMEIDA, 2000).

    As atividades pedaggicas quando envolvem a afetividade, motiva e estimula os

    alunos a formar novos esquemas, tomar novas atitudes, tornando-se autnomos para

    solucionar os seus problemas. Paulo Freire (2003), afirma que a pedagogia deve ser

    libertadora, dialgica, reflexiva e a partir do momento que o educador faz o alicerce desta

    educao, ele trabalhar com outros aspectos, como o afetivo, os contedos sociais e

    individuais dos alunos.

    Esta pesquisa foi fruto de uma reflexo realizada durante a nossa experincia como

    voluntrias em uma escola de Educao Infantil para crianas carentes, que tinham entre trs

    e cinco anos. O objetivo foi o de investigar a opinio de crianas da Educao Infantil sobre a

    escola atravs das emoes, sob o enfoque terico de Henri Wallon.

    Mtodo

    Participantes

    Participaram da pesquisa todos os alunos que cursavam a Oficina I e a Oficina II, do

    turno matutino, de uma escola pblica da cidade de Aracaju, no ano de 2009. Com exceo de

    uma aluna da Oficina I, que no conseguiu responder ao questionrio. O total foi de vinte e

    sete crianas, com idades que variavam entre trs e cinco anos de idade, sendo treze dessas da

    Oficina I e quatorze da Oficina II.

    Ambientes, materiais e instrumentos

  • Realizou-se a pesquisa numa escola da rede municipal localizada num bairro

    perifrico de Aracaju, a qual foi construda com o objetivo de inserir as crianas da

    comunidade no mbito escolar. A estrutura e a coordenao da mesma modelo no estado de

    Sergipe, j que vrios projetos so implantados com o intuito de buscar a integralidade da

    populao.

    O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionrio, com oito

    perguntas, acompanhado por dez painis fotogrficos, os quais eram constitudos de figuras

    com expresses de crianas: alegre, triste, com raiva e com medo, alm de figuras que

    representavam o desenhar e pintar, histrias, brincar, professora, coleguinhas, e a hora da

    merenda. Optou-se por utilizar estes painis como forma de simbolizar a reao e/ou

    expresso da criana em relao pergunta, tornando esta mais concreta e mais fcil de ser

    respondida. Para cada pergunta existiam trs opes de resposta, ou seja, trs opes de

    painis, alm da opo Outro.

    As figuras dos painis foram escolhidas de modo que melhor representassem tanto a

    ideia pretendida quanto a realidade da escola analisada (Figura I). Chegou-se aos dez painis

    fotogrficos definitivos, depois da realizao de uma pr-testagem com crianas da mesma

    faixa etria, na qual verificou se as figuras escolhidas expressavam com clareza o objetivo

    proposto. Nesse sentido, observou-se a necessidade de modificar uma das figuras dos painis

    fotogrficos, a que expressava raiva, tornando-a mais legvel para a criana.

    Figura I: Imagens utilizadas nos painis de respostas e a legenda correspondente

    Alegre

    Triste

    Com raiva

    Com medo

    Desenhar e

    Pintar

    Histrias

    Brincar

    Professora

    Meus

    coleguinhas

    A hora da merenda

    Procedimentos para coleta de dados

  • Num primeiro momento, identificou-se a escola de Educao Infantil. A escola

    escolhida, por se tratar de uma escola modelo, a qual s foi formada devido interveno do

    Ministrio Pblico, exigiu vrias etapas de aprovao para a realizao de trabalhos. Foi

    solicitada a liberao de entrada do pesquisador na escola prefeitura, bem como a entrega do

    termo de compromisso livre e esclarecido para a realizao da pesquisa com as crianas. Com

    autorizao iniciou-se a pesquisa.

    Realizou-se uma pesquisa etnogrfica, que teve como objetivo a insero das

    pesquisadoras na escola, na sua dinmica e rotina que culminou na coleta de dados e no

    registro etnogrfico (dirio de campo) dos mais diferentes espaos da instituio. A etnografia

    um mtodo que possibilita o conhecimento da realidade, a descrio minuciosa do campo e

    uma possvel interveno no mesmo. (NEVES, 2006) Desse modo, a partir da anlise dos

    dados observados, percebeu-se a necessidade de investigar a percepo que os alunos da

    Educao Infantil tm em relao sua escola, atravs de uma entrevista cujas respostas eram

    opes de ilustraes que revelavam emoes.

    O procedimento de aplicao dos questionrios ocorreu da seguinte maneira:

    inicialmente perguntou-se sobre os dados pessoais da criana, a saber: nome e idade, e caso

    fosse necessrio, conversvamos brevemente com as mesmas, o que servia de aquecimento,

    principalmente para aquelas que se mostraram mais tmidas e retradas. Em seguida, os

    painis fotogrficos eram mostrados criana, de modo a verificar se a criana conseguia

    relacionava a figura vista com a ideia que esta representava. Por exemplo, se o painel n 1,

    representava a idia de alegria, e s aps desta verificao, em todos os painis, iniciava-se a

    aplicao do questionrio. Em seguida perguntava-se s crianas sobre a primeira sentena, e

    logo aps, pedia-se que a criana apontasse nas figuras ali presentes, qual delas melhor

    representava sua resposta. Por exemplo, na primeira sentena: Quando eu chego na escola eu

    fico assim..., a criana teria que responder como ela fica e/ou sente ao chegar na escola,

    apontando para uma das opes de painis, que nesse caso eram os de: alegre, triste, ou com

    raiva. No entanto, caso fosse outra a resposta da criana, ao preencher no questionrio escrito,

    marcava-se a opo Outro. E assim ocorreu com o restante das perguntas do questionrio.

    Procedimentos de anlise dos dados

    Assim que se concluram as entrevistas, passou-se a fase de leitura, releitura e

    discusso das respostas que possibilitou uma anlise preliminar. Aps essa primeira

    aproximao com os dados descobertos, partiu-se para o agrupamento das respostas por

    imagens atentando para, o que Szymanski nos ensina, a maneira como o fenmeno se insere

  • no contexto no qual faz parte. Este inclui interrupes, clima emocional, imprevistos e a

    introduo de novos elementos (2010, p.72). Portanto, procuramos interpretar os dados tendo

    como referncia a nossa experincia exploratria do lcus da pesquisa no qual se inseria os

    nossos sujeitos.

    Para anlise dos dados, trs categorias foram definidas, a saber, Como eu me sinto na

    escola; Como eu me sinto quando estou aprendendo; e O que eu mais gosto na escola.

    Desse modo, procurou-se identificar os principais sentimentos e a percepo dos alunos

    acerca da escola, da professora, e do que ele aprende com a professora.

    Resultados

    Como eu me sinto na escola

    A partir do relato das crianas foi possvel verificar que a maioria delas sente-se

    alegres quando chegam na escola, quando vem a professora e durante a hora da merenda. Em

    relao a essas perguntas, a raiva foi a emoo mencionada por quatro crianas, e a tristeza

    por apenas uma delas. A opo outro tambm foi escolhida, mas por apenas duas crianas,

    as quais relataram que quando chegam na escola ficam: quietas, e do mesmo modo quando

    vem a professora. Esse aspecto demonstra a dificuldade de algumas crianas em discriminar

    sentimento de comportamento. Para Wallon, as emoes constituem-se em reaes

    instantneas e efmeras que se diferenciam em alegria, tristeza, clera e medo. J o

    sentimento e a paixo so manifestaes afetivas em que a representao torna-se reguladora

    ou estimuladora da atividade psquica. Ambos so estados subjetivos mais duradouros e tm

    sua origem nas relaes com o outro, mas ambos no se confundem entre si (ALMEIDA,

    1999). Portanto, a emoo a manifestao de um estado subjetivo com componentes

    fortemente orgnicos, j o sentimento psicolgico, revela um estado mais permanente. Por

    sua vez, as paixes contam com o raciocnio; portanto, existe noo de realidade externa

    (ALMEIDA, 1999, p. 52).

    Na hora de ir embora da escola o sentimento de alegria tambm prevaleceu nas

    respostas das crianas. A raiva e a tristeza continuaram sendo mencionadas, nesse caso por

    duas e trs crianas respectivamente. Percebeu-se, portanto, que os sentimentos da criana

    acerca da escola foram em sua maioria positivos.

  • Como eu me sinto quando estou aprendendo?

    A tristeza foi a segunda emoo mais citada entre as respostas dadas pelas crianas.

    Especificadamente duas delas relataram ficarem tristes durante os dois processos de

    aprendizagem (ler e fazer continhas), apesar de terem relatado ficarem alegres em relao aos

    outros aspectos da escola (na hora da merenda, quando veem a professora). Isto pode ter

    acontecido, por que para algumas crianas, o processo de aprendizagem visto de maneira

    negativa (punitiva e dolorosa), mesmo que este acontea num ambiente afetivo.

    Sobre esse aspecto, vale ressaltar tambm, que o contexto pesquisado apresentava

    condies as mais adversas, sejam elas de segurana, higiene, sade, etc., a estrutura da escola

    e as condies de vida das crianas chamaram a ateno das pesquisadoras. Todas essas

    condies podem ser fatores de influncia para os sentimentos e os comportamentos das

    crianas nesse espao. Pois, apesar da escola se constituir tambm como meio afetivo, a

    criana necessita da mediao de outros ambientes que frequenta, como a famlia e a

    comunidade. Essas relaes diversificadas podem influenciar em seu desempenho escolar e

    talvez sobre seu amadurecimento afetivo.

    A ideia de que possvel aprender sem dor, ou seja, atravs da alegria, do humor, vem

    se disseminando na literatura com trabalhos que pretendem discutir a importncia do prazer

    para a aprendizagem. (MALRIEU, 1976; GRANDO, 2000; BORALHO & OLIVEIRA, 2010; VERAS & FERREIRA, 2010).

    O processo de ensino e aprendizagem quando permeado por afetividade se torna mais

    prazeroso e satisfatrio tanto para a criana quanto para o professor. O aspecto afetivo ,

    muitas vezes, ignorado em sala de aula, pois os professores no vem a articulao entre o

    afetivo, o cognitivo nas atividades escolares, apresentando uma falta de clareza sobre a

    relao intrnseca existente entre essas dimenses humanas. Segundo Leite (2006) possvel

    afirmar que a afetividade est presente em todos os momentos ou etapas do trabalho

    pedaggico desenvolvido pelo professor e no apenas nas suas relaes tte--tte com o

    aluno. As dimenses afetivas, envolvidas nas prticas pedaggicas, vo alm do circuito

    relacional professor-aluno, estendendo-se nas relaes que se estabelecem entre o sujeito

    (aluno) e os diversos objetos de conhecimentos (contedos educacionais) (p. 13).

    Desse modo, a afetividade interfere no processo de aprendizagem, por isso

    importante a mediao do professor na sala de aula para que ocorra o avano das crianas

    tanto nas aprendizagens de carter conceitual, quanto de procedimentos e de valores.

    importante que o professor respeite o aluno e acredite em seu potencial, contribuindo para que

    ele se sinta capaz de aprender (PELLISSON, 2006).

  • A participao da afetividade na sala de aula envolve todas as decises e condies de

    ensino assumidas pelo docente, sendo, portanto, um fator fundante das relaes que se

    estabelecem entre os alunos e os contedos escolares. (LEITE & TASSONI, 2002, p.80). O

    professor que consegue envolver ou contemplar a afetividade em suas atividades pedaggicas

    motiva e estimula seus alunos a formar novos esquemas, tomar novas atitudes, tornando-se

    autnomos para solucionar os seus problemas. Logo, importante que o docente acompanhe

    o desenvolvimento da criana, porque as suas manifestaes afetivas vo se modificando em

    cada perodo. A afetividade de simples expresso motora antecipada por manifestaes

    orgnicas. E ao passar do tempo, a criana vai mantendo uma maior relao com o meio e

    essa afetividade orgnica simples se transformar em expresses cada vez mais diferentes.

    Em relao a esse aspecto as crianas relataram se sentirem alegres durante os

    processos de aprendizagem de leitura e continhas. Respostas como Quietinha ou Fazendo

    o dever, todas referentes opo Outro do questionrio, tambm foram mencionadas,

    demonstrando mais uma vez que a relao de diferenciao sentimento-comportamento, ainda

    no foi construda por algumas crianas.

    O que eu mais gosto na escola

    Dos vinte e sete sujeitos entrevistados sobre o que mais gostam na escola, doze

    responderam a hora da merenda, nove responderam a professora, quatro responderam

    meus coleguinhas, e um respondeu a opo Outro: ficar na escola. A hora da merenda foi

    o maior fator motivacional da ida dos alunos escola. Vale ressaltar que por se tratar de uma

    escolar localizada num bairro perifrico, muitas dessas crianas relataram se alimentar apenas

    no momento em que esto na escola. Outro dado importante, diz a respeito importncia que

    estes alunos do as relaes sociais, como se sentem diante das professoras e dos colegas.

    Alm disso, importante mencionar que crianas dessa faixa etria, que se encontram no

    estgio personalista, ainda tem a famlia como sua principal referncia, e no meio escolar

    que novas oportunidades de convivncia e interao sociais com os pares so ser oferecidas,

    sendo estas essenciais para a construo da pessoa (COSTA, 2006). O meio social no qual o

    indivduo participante exerce grande influncia sobre a sua construo humana.

    O meio social uma circunstncia necessria para a modelagem do indivduo. Sem ele a civilizao no existiria, pois foi graas agregao dos grupos que a humanidade pde construir os seus valores, os seus papis, a prpria sociedade. Cruzando psicognese e histria, Wallon demostrou a relao estreita entre as relaes humanas e a constituio da pessoa, destacando o meio fsico e humano como um par essencial do orgnico na constituio do indivduo. Sem ele no haveria evoluo, pois o aparato orgnico no capaz

  • de construir a obra completa que a natureza humana, que pensa, sente e se movimenta no mundo material (ALMEIDA, 1999, p. 45).

    J em relao s prticas pedaggicas utilizadas pelas professoras, nove sujeitos

    disseram gostar de brincar em sala de aula; nove de desenhar e pintar, oito preferem as

    histrias, e um escolheu a opo Outro, diz gostar quando a professora passa dever.

    Percebe-se, desse modo, um equilbrio nas respostas das crianas, o que nos evidencia a

    importncia dessas prticas nesse perodo do desenvolvimento. De acordo com Costa (2006)

    o professor na pr-escola precisa manter uma relao de ordem pessoal, direta e quase

    maternal com a criana que se encontra no perodo personalista, privilegiando atividades em

    grupos nas quais todos possam transitar nos diferentes papis e/ posio, com o objetivo de

    satisfazer uma necessidade inicial de camaradagem.

    Quando as crianas gostam das atividades, estas podem facilitar o processo de

    aprendizagem, por isso a importncia do professor conhecer os alunos e suas preferncias,

    para com isso, explorar aquelas que melhorem e facilitem no s a aprendizagem quanto s

    relaes entre eles.

    Altlet (2000) cita os processos situacionais pedaggicos como sendo determinantes

    para os comportamentos tanto do professor quanto dos alunos. Para esta autora, a situao

    pedaggica so todos os fatos e/ou acontecimentos que ocorrem em sala de aula, sendo essa

    situao composta basicamente de trs componentes principais: as circunstncias; as situaes

    de aprendizagem e as condies organizacionais. Dessa forma, sero esses componentes que

    determinaram o quadro das interaes professor-aluno, bem como dos processos cognitivos,

    sociais e afetivos, e as prticas utilizadas em cada momento.

    Consideraes finais

    Observamos durante a pesquisa e ao analisar os dados coletados que podemos

    confirmar as informaes passadas nas teorias. A famlia o primeiro meio educacional da

    criana, os pais so seus primeiros educadores, com eles a criana aprende as primeiras lies.

    A escola o segundo meio de socializao e por ser um meio novo provoca um desequilbrio,

    elicia na vida e no dia-a-dia familiar, mudanas desde os contextos fsicos, econmicos,

    sociais como tambm na subjetividade de cada um.

    Wallon nos deixa claro que esta mudana faz parte do processo de maturao

    fisiolgica e emocional. Os pais so referncias, mas surgiro neste novo contexto outros

    suportes, novas relaes sero construdas e permeadas de afetos, emoes, sentimentos e

  • paixes. A criana vai levar para a escola a sua histria familiar, social, cultural, religiosa,

    econmica e da mesma forma levar para sua famlia o que aprendeu na escola, fazendo disso

    um processo de socializao e transformao.

    A sociedade influencia diretamente nas reaes humanas em suas emoes. Os gestos

    e as expresses servem para transmitir a emoo. O riso e o choro so bastante debatidos e

    Wallon comenta que so puras descargas do tono, pois so irreprimveis, desmedidos,

    imprevistos e convulsivos. A alegria uma emoo positiva, prazerosa, uma das primeiras

    sensaes que se observam no beb. Alm disso, a alegria gera uma maior reproduo, pois

    assim facilita o aumento de atividades do homem para com a sociedade a qual pertence. Ao

    contrrio da tristeza, que traduz uma diminuio de atividade e um acmulo de tono.

    O medo aparece nos primeiros meses de vida da criana, e acontece quando h uma

    ameaa no equilbrio. Apresenta-se, na maioria das vezes, na criana como motivo bsico

    variao de situaes, pessoas ou coisas novas, ao que lhe habitual. Emoo e inteligncia

    so duas linhas do desenvolvimento que percorrendo equilibradamente seu percurso, cruzam -

    se continuamente superpondo se uma outra quando necessrio. Mas diante de todas as

    ideias pode se afirmar que a emoo instiga a inteligncia toda vez que ameaa com sua

    insubordinada presena nas atividades do conhecimento (ALMEIDA, 1999).

    Os resultados da pesquisa mostraram que a maioria dos sujeitos relatou ter sentimentos

    positivos em relao escola, a professora, suas prticas, e seus coleguinhas. Esse aspecto

    fundamental tanto para o desenvolvimento das relaes interpessoais desses quanto para a

    motivao, o desempenho e o sucesso da aprendizagem (BORALHO & OLIVEIRA, 2010).

    Aprendizagem e afeto no podem ser desvinculados, principalmente no processo de

    aprendizagem de crianas da Educao Infantil, que ingressam escola, carregadas das mais

    variadas emoes. As relaes afetivas que a criana estabelece com a professora e os

    coleguinhas so as mesmas que determinaro sua adaptao e envolvimento nesse novo

    ambiente. (ALENCASTRO, 2009)

    Contudo, faz necessrias mais pesquisas que aborde a temtica da emoo na escola,

    na percepo dos alunos, e nas prticas pedaggicas, em diferentes sries educacionais. Tanto

    para conhecer, ainda mais, a influncia da emoo na aprendizagem quanto para contribuir

    para a escolha, aplicao e manuseamento de prticas durante o processo de aprendizagem,

    que deve ser tambm permeado de sentimentos positivos por parte dos alunos, favorecendo a

    construo do conhecimento.

  • Referncias Bibliogrficas

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    Ana Rita Silva Almeida - Professora do Instituto Federal Baiano (Ifbaiano). Mestre e Doutora em Psicologia da Educao (PUC/SP); e Lder do Grupo de Pesquisa Polticas, Saberes e Formao de Professor. E-mail: [email protected]

    Ariane de Brito Santos Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe, bolsista PIBIX. Camila Barreta da Gama Psicloga Clnica; Psicloga da Escola e Oficina Pedaggica Renovar de Educao Especial; Ps-Graduanda em Psicologia Organizacional e do Trabalho.