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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO – ITAJAÍ NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - NPJ
A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E SUA APLICAÇÃO NA USUCAPIÃO FAMILIAR
LUIS HENRIQUE DE LARA OLIVEIRA
Itajaí, junho de 2015
DECLARAÇÃO
DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PÚBLICA EXAMINADORA
ITAJAÍ, ____ DE ____________ DE 20__.
________________________________ Professora Orientadora Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes
1
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO – BALNEÁRIO CAMBORIÚ NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - NPJ
A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E SUA APLICAÇÃO NA USUCAPIÃO FAMILIAR
LUIS HENRIQUE DE LARA OLIVEIRA
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientadora: Professora Ma. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes
Itajaí , junho de 2015
2
AGRADECIMENTO
Primeiramente agradeço a Deus, por me dar forças
nas horas difíceis, por ser o maior mestre para os
ensinamentos da vida e por ter me proporcionado
essa conquista.
Agradeço a minha mãe Roze Maria de Lara, pessoa
inigualável, de enorme caráter e amor imensurável,
que sempre me colocou em primeiro lugar em sua
vida, a ela que foi minha maior incentivadora, que
sempre confiou nas minhas escolhas e me ajudou a
enfrentar todos os obstáculos.
Ao meu falecido pai Evandro Maceno de Oliveira,
exemplo de caráter, humildade e honestidade, que
sempre esteve do meu lado, me auxiliando nas
escolhas e decisões mais difíceis, e que infelizmente
não poderá se fazer presente e comemorar essa
vitória na minha vida, mas tenho a certeza que lá de
cima estará muito feliz.
Aos meus irmãos Karen e Junior, que estão sempre
do meu lado, me apoiando e com toda a certeza
contribuíram muito para o meu crescimento.
Os meus sinceros agradecimentos aos meus amigos
de turma, em especial a Claudiane, Cristiane e Aline
que me ajudaram e me aguentaram durante todo o
curso, e que sem dúvidas hoje passaram de colegas
para irmãos, aos quais quero levar para toda a vida.
A minha orientadora Ma. Fernanda Sell de Souto
Goulart Fernandes, que foi de suma importância
para realização deste trabalho científico, agradeço
por todo apoio, dedicação, ajuda, atenção, e por ter
confiado no meu trabalho.
A todos os professores que contribuíram
valiosamente na conclusão do meu curso.
A todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte da
minha formação, о meu muito obrigado.
3
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a minha família, em especial
a minha mãe Roze Maria de Lara, e ao meu pai
Evandro Maceno de Oliveira, que sempre foram e
sempre serão a minha maior inspiração.
Aos meus amigos pelo apoio incondicional.
Aos professores pelos valiosos ensinamentos, e que
sem dúvidas sem ele nada disso seria possível.
A minha orientadora Fernanda Sell, por toda ajuda e
apoio no decorrer do trabalho.
4
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, junho de 2015
LUIS HENRIQUE DE LARA OLIVEIRA Graduando
5
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI, elaborada pel[o] graduand[o] [Nome do Graduando], sob o título
[Titulo da Monografia], foi submetida em [Data] à banca examinadora composta
pelos seguintes professores: [Nome dos Professores ] ([Função]), e aprovada com a
nota [Nota] ([nota Extenso]).
Itajaí, junho de 2015.
Professora Ma. Fernanda Sell de Souto Goulart
Fernandes
[Professor Título Nome] Coordenação da Monografia
6
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil
CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916
CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002
ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
Dec. Decreto
Art. Artigo
7
8
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................. 10
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1 ........................................................................................................ 14
A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE........................................................... 14
1.1 FUNÇÃO SOCIAL ......................................................................................... 14 1.2 PROPRIEDADE................................................................................................18 1.3 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE.......................................................30
CAPÍTULO 2 ........................................................................................................ 35
USUCAPIÃO .........................................................................................................35
2.1 CONCEITO DE USUCAPIÃO ........................................................................ 35 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO USUCAPIÃO....................................................38 2.3 ESPÉCIES DE USUCAPIÃO............................................................................45 2.3.1 USUCAPIÃO TRADICIONAL........................................................................46 2.3.1.1 A USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA................................................................46 2.3.1.2 A USUCAPIÃO ORDINÁRIA...........................................................................47 2.3.2 A USUCAPIÃO ESPECIAL............................................................................49 2.3.2.1 USUCAPIÃO URBANA...................................................................................49 2.3.2.2 A USUCAPIÃO RURAL..................................................................................50 2.3.3 A USUCAPIÃO FAMILIAR............................................................................52 2.3.4 A USUCAPIÃO COLETIVA...........................................................................53
CAPÍTULO 3 ........................................................................................................ 55
USUCAPIÃO FAMILIAR ...................................................................................... 55
3.1 CONCEITO DE USUCAPIÃO FAMILIAR ...................................................... 55 3.2 REQUISITOS DO USUCAPIÃO FAMILIAR.....................................................58 3.2.1 PRAZO DE 2 (DOIS) ANOS ..............................................................................58 3.2.2 POSSE SEM OPOSIÇÃO..................................................................................58 3.3.3 POSSE DIRETA E PESSOAL............................................................................59 3.3.4 POSSE EXCLUSIVA ........................................................................................59 3.3.5 BENS IMÓVEIS................................................................................................59 3.3.6 LOCALIZAÇÃO URBANA ................................................................................60 3.3.7 TAMANHO DE DUZENTOS E CINQUENTA METROS QUADRADOS...................60 3.3.8 COPROPRIEDADE ..........................................................................................61
9
3.3.9 ABANDONO DO LAR...................................................................................62 3.3.10 UTILIZAR PARA SUA MORADIA ..............................................................63 3.3.11 NÃO POSSUIR OUTRO IMÓVEL ..............................................................64 3.3.12 RECONHECIDO UMA ÚNICA VEZ............................................................64 3.3 A FUNÇAO SOCIAL DA PROPRIEDADE EM RELAÇAO COM A USUCAPIAO FAMILIAR........................................................................................64
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 69
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ............................................................. 72
10
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar este novo instituto de usucapião, onde será destacado o seu conceito, os requisitos e a função social que o cônjuge ou companheiro abandonado exerce perante o imóvel, uma vez que esta modalidade é utilizada exclusivamente entre os cônjuge ou companheiros em face do seu antigo consorte, que abandonou o lar e não se opôs, pelo decurso do tempo de dois anos, à posse mansa e pacífica (sem oposições), do outro cônjuge ou companheiro. Primeiramente, procurou-se analisar o princípio da função social da propriedade. Em seguida passou-se ao estudo do instituto da usucapião, abordando o seu conceito, a sua evolução histórica e as suas espécies. Por fim, o estudo da modalidade, usucapião familiar, explanando o seu conceito, os requisitos e a aplicabilidade da função social nesta modalidade. Desta forma, dentre os requisitos elencados o que mais gera discussão é o do abandono do lar pelo ex-conjugê ou ex-companheiro, porquanto o que será abordado no presente trabalho é que este requisito não tem ligação a culpa pela separação, mas tem única e exclusiva ligação a função social exercida por quem se manteve na posse do imóvel.
Palavras-chave: Função Social – Propriedade – Usucapião familiar
11
INTRODUÇÃO
O presente trabalho versa sobre a Usucapião Familiar á luz do
princípio da Função Social da Propriedade, dando respaldo aquele conjuge que
permaneceu no lar.
O seu objetivo é analisar este novo instituto de usucapião,
onde será destacado o seu conceito, os requisitos e a função social que o cônjuge
ou companheiro abandonado exerce perante o imóvel, uma vez que esta
modalidade é utilizada exclusivamente entre os cônjuge ou companheiros em face
do seu antigo consorte, que abandonou o lar e não se opôs, pelo decurso do tempo
de dois anos, à posse mansa e pacífica (sem oposições), do outro cônjuge ou
companheiro.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da Função
Social da Propriedade, onde será destacado o conceito da função social, que
consiste no efetivo cumprimento dos interesses sociais da coletividade, será
abordado o conceito da propriedade e suas modalidade, e por fim a função social
que a propriedade deve exercer perante a sociedade.
No Capítulo 2, tratar-se-á do instituto da Usucapião, onde será
abordado o seu conceito, a evolução histórica bem como as espécies cabíveis no
ordenamento jurídico brasileiro.
No Capítulo 3, será tratado especificamente sobre a
modalidade da Usucapião Familiar no que tange o princípio da função social, onde
será abordado o conceito de usucapião familiar, os seus requisitos para se
enquadrar, bem como a função social exercida de quem se manteve na posse do
imóvel.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:
12
O princípio da Função Social da Propriedade condiciona o
reconhecimento e proteção do direito do proprietário (poder) ao direcionamento do
uso dado à Propriedade para os interesses sociais (dever). A Função Social da
Propriedade consubstancia-se na busca do equilíbrio, do meio-termo entre dois
extremos. Concilia poder e dever, direito e obrigação, individual e social, utilização
econômica e preservação do Meio Ambiente. Ao mesmo tempo em que garante a
Propriedade Privada e a obtenção de vantagens para o proprietário, vincula essas
vantagens à promoção do Bem Comum.1
Com o Código Civil aberto, ao ler os artigos 1.238 até 1.244
notamos haver sete tipos de usucapião, além de haver mais um no Estatuto da
Cidade (Lei 10.257/2001), totalizando oito espécies, quais são: USUCAPIÃO
EXTRAORDINÁRIA previsto no art. 1.238, caput, CC; USUCAPIÃO EXT.
REDUZIDA previsto no art. 1.238, § único, CC; USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL ou
pró-labore, constitucional previsto no art. 1.239, CC; USUCAPIÃO ESPECIAL
URBANA ou pró-misero, pró-moradia, pró-habitatione, habitacional, previsto no art.
1.240, CC; USUCAPIÃO FAMILIAR ou conjugal, previsto no art. 1.240-A, CC;
USUCAPIÃO ORDINÁRIA, previsto no art. 1.242, caput, CC; USUCAPIÃO ORD.
REDUZIDA, previsto no art. 1.242, § único, CC; e USUCAPIÃO COLETIVA, previsto
no art. 1.228, §4.º, CC e art. 10, Lei 10.257/01, Estatuto da Cidade.2
A Lei 12.424/2011 que regulamenta o programa de governo
Minha Casa Minha Vida, inseriu no Código Civil a previsão de um cônjuge usucapir
do outro, nos seguintes termos, a seguir: Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2
(dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade,
sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja
propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar,
utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral,
1 CAVEDON, Fernanda de Salles. FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DA PROPRIEDADE / Fernanda
de Salles Cavedon – Florianópolis : Visualbooks, 2003. 2 SILVA, Érika Moura e. DIFERENTES ESPÉCIES DE USUCAPIÃO PARA IMÓVEIS, Disponível
em: <http://www.blogladodireito.com.br/2012/11/as-diferentes-especies-de-usucapiao.html#.VVDmbNLBzGc>. Acesso em 15/09/2014.
13
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. §1º O direito
previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.3
As categorias fundamentais para a monografia, bem como os
seus conceitos operacionais serão apresentados no decorrer da monografia.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de
Investigação4 foi utilizado o Método Indutivo5, na Fase de Tratamento de Dados o
Método Cartesiano6, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia
é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas
do Referente7, da Categoria8, do Conceito Operacional9 e da Pesquisa
Bibliográfica10.
3 MARTINS, Rodrigo. O que é e quando ocorre a usucapião familiar? Disponível em:
<http://www.rodrigomartins.adv.br/o-que-e-e-quando-ocorre-a-usucapiao-familiar/>. Acesso em: 15/09/2014. 4 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.
5 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática.
p. 86.
6 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.
7 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.
8 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.
9 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.
10 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.
14
CAPÍTULO 1
A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
1.1 FUNÇÃO SOCIAL
Não há como definir o conceito de função social sem antes
conceituar o princípio, conforme José Isaac Pilati menciona:
Todo o exercício de poder econômico que, por omissão ou comissão, afete negativamente interesses fundamentais da coletividade, como ambiente, qualidade de vida, patrimônio histórico, está na
perspectiva de não cumprimento da função social.11
Logo, o exercício da função social é o efetivo cumprimento dos
interesses sociais da coletividade.
Para que possa ser explanado sobre Função Social,
necessariamente se deve destacar o que se entende por Função, Conforme explana
Carlos Ari Sundfeld, “função, para o Direito, é o poder de agir cujo exercício traduz
verdadeiro dever jurídico e que só se legitima quando dirigido ao atingimento da
específica finalidade que gerou sua atribuição ao agente”.12
Já no entendimento de Eros Roberto Grau, a Função pode ser
explicada como um poder que não pode ser exercitado no interesse exclusivo de
seu titular, devendo ser exercido juntamento no interesse de terceiros, dentro de um
clima de prudente arbítrio.13
Perante Antônio Herman V. Benjamin, a Função estaria
caracterizada na atividade dirigida à tutela de interesse de outrem, definindo-se pela
relevância global, homogeneidade de regime e, manifestação através de um dever-
11
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade / José Isaac Pilati. - Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2012. p. 72. 12
SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. - São Paulo: Malheiros, 1992. P 156. 13
GRAU, Eros Roberto. Direito Urbano. p. 70.
15
poder. Sempre estando atrelado um ao outro, a atribuição do direito ao cumprimento
do dever.14
No entanto, entende-se como Função Social, um dever visando
satisfazer os interesses e necessidades para com a Sociedade, vinculado ao
cumprimento do dever, sendo este o poder, e que juntamente provê os meios para
tanto.15
Cada indivíduo é titular de seu direito, pelo qual exerce esse
poder conforme queira, em seu próprio benefício ou para outrem. A função social
comporta a propriedade como uma obrigação a ser cumprida por seu titular, que a
todos pertence e a todos interessa.16
Conforme explana César Luiz Pasold, no que diz respeito a
função social do Estado Contemporâneo, o qual como criatura da Sociedade, deve:
possuir uma característica peculiar que é a sua Função Social, expressa no
compromisso (dever de agir) e na atuação (agir) em favor de toda a Sociedade.17
Por se tratar de um compromisso que o indivíduo tem com a
sociedade fica claro que este, deve estar fundado em um dever e um agir,
corroborando com o interesse coletivo.
A função social, quanto aos contrato restabelece a autonomia
do coletivo, o que não que dizer que deve ser extinto o Mercado e suas regras, mas
garantir a satisfação de todos.
Logo, cabe ressaltar que a função social, é a garantia e
satisfação de todos os direitos, no qual todos devem sair ganhando.
14
BENJAMIN, Antônio Herman V. Reflexos Sobre a Hipertrofia do Direito de Propriedade na Tutela da Reserva Legal e das Áreas de Preservação Permanente. P. 28. 15
CAVEDON, Fernanda Salles. Função social e ambiental da propriedade - Florianópolis: Visualbooks, 2003, p. 84. 16
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade / José Isaac Pilati. - Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2012. p. 103. 17
PASOLD, César Luiz. Função Social do estado contemporâneo. 3. Ed. Florianópolis: Diploma Legal, 2003, p. 21.
16
Assevera, no mesmo ambito José Isaac Pilati, ao dizer:
[...] o conceito de função social pressupõe, para ter eficácia, a autonomia política, jurídica e (extra) patrimonial do coletivo: sujeito próprio (a coletividade), autonomia dos bens respectivos (da coletividade e não do Estado como pessoa jurídica separada da população), soberania de leis participativas (distintas das leis representativas do Parlamento) e tutela jurídica com especialidade própria (na dimensão de ágora). Não é simples limitação da propriedade, ou simples atributo de determinados bens (os de produção), nem se restringe à solidariedade proprietária.18
O direito se apresenta como proibições de lesar, através de
leis, devendo ser observado o direito a igualdade ou liberdade garantida, impostas
com proibições de anular ou limitar o indivíduo.19
O entendimento Constitucional do coletivo e da função social,
pode ser observado inicialmente pelos princípios constitucionais, destacando-se os
da: soberania nacional; propriedade privada; função social da propriedade; livre
concorrência; defesa do consumidor; defesa do meio ambiente; redução das
desigualdades regionais e sociais; busca do pleno emprego; tratamento favorecido
para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração do país.20
O art 225, da CRFB/88 explana a respeito dos bens coletivos,
enquadrando o meio ambiente como bem de uso comum do povo e essencial à
qualidade de vida, impondo ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Ressalatando que cabe ao
Poder Público, bem como a coletividade, preservar e proteger o meio ambiente.21
Segundo relata José Carlos Tosetti:
[...] A função social, segundo pensamos, visa coibir as deformidades, o teratológico, os aleijões, digamos assim, da ordem jurídica. A
18
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade / José Isaac Pilati. - Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2012. p. 76. 19
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 3. Ed. Coimbra : Armênio Amado, 1974. p. 190. 20
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade / José Isaac Pilati. - Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2012. p. 100. 21
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade / José Isaac Pilati. - Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2012. p. 100.
17
função social está em nosso direito ligada à necessidade de imporem-se medidas mais graves para o particular do que aquelas autorizadas pelo supremacia do interesse amplo da coletividade sobre a de seus membros. [...]22
Corroborando com o mesmo entendimento é o que explicita no
art. 173 da CRFB/88, ao estabelecer que a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado atenderá à função social e será realizada sob fiscalização da
Sociedade, entendendo que não cabe somente ao Estado o dever de fiscalizar e
controlar os órgãos públicos. Outrossim tem dimensão coletiva e social e como tal
deve ser exercida, pois cabe a coletividade atuar como sujeito de direito, quanto aos
bens da sociedade. Sendo este o arcabouço da função social da propriedade, que
se projeta em face de bens coletivos e atores coletivos, mediante norma de ordem
pública e interesse social.23
A função social da propriedade no que tange a Constituição,
por atribuir tanto os bens públicos quanto os privados, deve ser cumprida e
fiscalizada, tanto pelo poder estatal quando a sociedade. Devendo ser observada
como comunitária e não como individualista.
José Afonso da Silva, da ênfase às propriedades especiais
constitucionais, aduzindo que o princício da função social opera em cada espécie,
tendo em vista a destinação do bem objeto da propriedade. Não devendo ser
confundido os limites da propriedade com a função social da propriedade.24
A função social a luz da jurisprudência brasileira, configura-se,
sob o manto da dignidade humana, sendo três categorias quanto a pessoa:
Indivíduo, Estado e Sociedade; e três categorias quanto aos bens: privado, público e
coletivo. O indivíduo exerce a função como condômino do bem coletivo e da
construção participativa; o Estado não atua como vontade da dimensão
representativa, mas sim como colaborador; e a Sociedade atua mediante
procedimento de democracia direta quanto a propriedade coletiva. A função social,
22
BARRUFFINI, José Carlos Tosetti. Usucapião constitucional: urbano e rural: função social da propriedade. – São Paulo: Atlas, 1998. p. 185. 23
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade / José Isaac Pilati. - Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2012. p. 101. 24
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. Ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 274, 281, 283.
18
atua neste mesmo contexto estrutural, quando envolve o interesse das três esferas
(sociedade, estado e indivíduo), quanto ao exercício de um direito ou poder.25
A função social é o apoio que um fato provê a um sistema
maior do que aquele ao qual tal fato é atribuído.
1.2 PROPRIEDADE
O instituto da propriedade se modificou conforme as condições
históricas e o contexto da organização social criada pelo próprio homem, conforme
explana Norberto Bobbio, “os direitos do homem são direitos históricos que nascem
e se modificam consoante com as condições históricas e o contexto social, político e
jurídico pelo qual se inserem”.26
A Propriedade, como direito do homem, modificou-se e evoluiu
com a evolução do próprio homem e da organização social por ele criada, podendo
ser considerada como o núcleo de muitas destas etapas de evolução.27
A partir da análise histórica da propriedade, Gilissen classifica
as formas em quatro tipos diferentes: Propriedade individualista, que tem a sua
forma mais absoluta, seja a do direito romano clássico seja a do code civil de 1804;
Propriedade dividida, como a dos diversos direitos reais do feudalismo; Propriedade
comunitária, sendo assim, o uso dos bens por uma comunidade, família, clã, aldeia,
cidade, etc.; Propriedade coletivista, a qual pertence a uma grande coletividade, em
geral o Estado.28
A origem e os fundamentos da propriedade sempre foi alvo de
interesse por parte de filósofos e teóricos. Obteve correntes a respeito que a
Propriedade consiste num direito natural do homem, anterior à formação do Estado
25
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade / José Isaac Pilati. - Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2012. p. 109. 26
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. - Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 05. 27
CAVEDON, Fernanda de Salles, FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DA PROPRIEDADE / Fernanda de Salles Cavedon. Florianópolis : Visualbooks, 2003. p. 06 28
GILISSEN, John. Introdução Histórica ao Direito. Trad. A.M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros. 2 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. p. 636.
19
e que não está sujeito a delimitações, e as correntes a respeito da Propriedade
entendida como uma criação do Estado, neste caso devendo se sujeitar às normas
dele derivadas.29
Para Norberto Bobbio, a origem da propriedade são divididas
em dois grupos:
Aquelas que afirmam que a propriedade é um direito natural, ou seja, um direito que nasce no estado de natureza, antes e independentemente do surgimento do Estado, e aquelas que negam o direito de propriedade como direito natural e, portanto, sustentam que o direito de propriedade nasce somente como conseqüencia da constituição do estado civil.30
A propriedade já foi considerada como causadora de
desigualdade entre os homens, “o verdadeiro fundador da sociedade civil foi o
primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou
pessoas suficientemente simples para acreditá-lo”. O entendimento era que
constituía a propriedade quem primeiro se ocupava dela, pela qual se legitimava e
tinha a garantia estabelecida pelo Estado.31
A propriedade em sua abordagem estrutural tem forte
contraponto no Direito Romano clássico, da qual teve suas fontes perdido
importância no período bizantino e depreciação na fase da construção moderna. Os
romanos utilizavam o método dialético, no qual colocavam em análise, todas as
circunstâncias e tendências do momento histórico, visando a busca do que
realmenteera justo.32
Duas constatações fundamentais, portanto: a primeira de que o Direito Romano clássico é contraponto e não origem (linear) da Modernidade; a segunda de que a dimensão política que define a propriedade precede a dimensão jurídica; melhor, é a forma polítca
29
LÉVY, Jean-Philippe. História da Propriedade. Trad. Fernando Gerreiro. Lisboa: Editorial Estampa, 1973. p. 105-106. 30
BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant. Trad. Alfredo Fait. 4 ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997. p. 103. 31
ROUSSEAU, Jean Jacques. Do Contrato Social; Ensaio Sobre a Origem das Línguas; Discurso Sobre as Ciências e as Artes; Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens. Trad. Lourdes Santos Machado. - São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 265. 32
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. - Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 21
20
da propriedade em cada elemento da sua estrutura. Na verdade o Direito Romano como experiência societária que tem começo, meio e fim permite mais; permite visualizar a propriedade como objeto de estudo em sentido amplo, com vistas a sua transformação; pois permite observar em bloco os elementos: históricos, econômicos, políticos, jurídicos e axiológicos da instituição.33
Na modernidade o conceito de propriedade é trabalhada como
um conceito estrito, o qual se limita no âmbito das coisas corpóreas, enquanto na
Pós-Modernidade deverá ser trabalhada com um conceito amplo, o que inclui todo o
poder patrimonial oponível ao grupo social, “Isso coloca ao alcance da função social
todo poder, individual e social, seja ele político, seja econômico, seja de que
natureza for”.34
Ocupa-se a propriedade em sentido amplo, como estrura e nas
classificações, o que visa materializar o perfil constitucional de 1988. A propriedade
extrapatrimonial, garante a introdução dos bens coletivos no mesmo patamar jurídico
do interesse privado. Logo o coletivo é retirado da esferea do público-estatal para
lhe outorgar a prerrogativa de ser tutelado com a mesma efetividade como que se
acolhe o direito subjetivo privado.35
A Propriedade no ordenamento jurídico brasileiro tem destaque
em duas concepções:
A Propriedade de cunho individualista, prevista pelo antigo Código Civil Brasileiro de 1916 e a transformação de instituto no novo Código, a fim de se adequar aos preceitos constitucionais; e a Propriedade/Função Social Ambiental, caracterizada na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, bem como a relação destas concepções com o processo evolutivo dos direitos. Busca-se, finalmente, determinar o significado, conteúdo e extensão da Função Social da Propriedade, elemento caracterizador deste instituto no Direito Contemporâneo.36
33
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 22 34
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 15. 35
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 20 36
CAVEDON, Fernanda de Salles, FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DA PROPRIEDADE / Fernanda de Salles Cavedon – Florianópolis : Visualbooks, 2003. p. 59.
21
Com a evolução dos direitos a propriedade deixou de ser
observada como o direito individual, e passou a ser percebida como um poder e
dever de contribuir com todo coletivo, ou seja, devendo exercer a função social para
com a sociedade.
Os direitos do homem por mais essencial que possam ser, são
denominados como direitos históricos.
Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circuntâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas.37
O direito obteve uma grande evolução, foram transformados a
fim de se adequar aos direitos que lhe são subsequentes. Um direito considerado
renovado para que pudesse atender as exigências trazidas pelos novos direitos.38
Assim é que, na primeira geração dos direitos, o Direito de Propriedade é marcado pelo cunho individualista, é um direito inviolável, absoluto e, até mesmo, sagrado. Nesta geração, característica do Direito Moderno, não se concebia a possibilidade de limitação da Propriedade visando interesses sociais e difusos, nem a visão do proprietário como sujeito a obrigações decorrentes de seu direito. As necessidades e carências da época eram por liberdade e maior autonomia do indivíduo. Essa concepção individualista da Propriedade prevaleceu até a incorporação, pelo Ordenamento Jurídico, dos direitos sociais, difusos e coletivos, respectivamente de segunda e terceira geração.39
A Propriedade na nova percepção deixa de ter um cunho
individualista e passa a compor interesse públicos, vinculando ao cumprimento da
Função social e Ambiental, assim é o que explicita Willis Santiago Gerra Filho:
Ao invés de ‘gerações’ é melhor se falar em ‘imensões de Direitos Fundamentais’, nesse contexto, não se justifica apenas pelo preciosismo de que as gerações anteriores não desaparecem com o surgimento das mais novas. Mais importante é que os direitos ‘gestados’ em uma geração, quando aparecem em uma ordem
37
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. p. 5. 38
CAVEDON, Fernanda de Salles, FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DA PROPRIEDADE / Fernanda de Salles Cavedon – Florianópolis : Visualbooks, 2003. p. 60. 39
CAVEDON, Fernanda de Salles, FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DA PROPRIEDADE / Fernanda de Salles Cavedon – Florianópolis : Visualbooks, 2003. p. 60-61.
22
jurídica que já trás direitos da geração sucessiva, assumem uma outra dimensão, pois os direitos de gerações mais recentes tornam-se um pressuposto para atendê-los de forma mais adequada – e, conseqüentemente, também para melhor realizá-los. Assim, por exemplo, o direito individual de propriedade, num contexto em que se reconhece a segunda dimensão dos Direitos Fundamentais, só pode ser exercido observando-se sua função social, e com o aparecimento da terceira dimensão, observando-se igualmente sua função ambiental.40
O constitucionalismo pós-moderno confere autonomia jurídica
aos bens coletivos (ambiente, patrimônio cultural), tendo a soberania dividida entre:
representativa e participativa, como universos distintos de competência e atuação. 41
Na Pós-Modernidade, surge um novo conceito de propriedade,
que se rearticula com o contrato, a responsabilidade civil e o direito de vizinhança
em nova ordem, que impõe revisão das fontes do Direito, superando o monismo
jurídico estrito pela participação democrática efetiva. O que se faz exigir da técnica
jurídica uma nova classificação de pessoas e bens, “Modalidades que se constituem
pela absorção do coletivo e tendo objetos diferenciados; que se disciplinam por
princípios de legislação especial, de raiz consitucional.” Propriedades estas que
devem sempre preservar, obedecer e conciliar o individual, o público e o coletivo.42
Na dimensão jurídica, o paradigma da propriedade é como
valor fundamental, condição que é de todos os demais valores.43
Compete, ao jurídico, disciplinar os sujeitos; classificar bens;
conferir a fatos e atos forma e feição; estabelecer a estrutura de solução dos
conflitos individuais e tem como sua fonte primordial, o processo legislativo de
natureza estatal.44
A técnica jurídica parte da grande dicotomia público/privado – relações de subordinação e de coordenação – e forma a estrutura departamentalizada do ordenamento em ramos (direito civil, penal,
40
GERRA FILHO, Willis Santiago. Processo Constitucional e Direitos Fundamentais. p. 40. 41
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 31. 42
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 39. 43
REALE, Miguel. Introdução à filosofia. p. 181 44
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 31.
23
processual, administrativo, constitucional), a qual, pela complexidade, favorece, intrinsecamente, a desenvoltura privada. A Propriedade corpórea, por exemplo; limitada, estritamente, às situações jurídicas pertinentes aos bens tangíveis, sem incluir outros direitos patrimoniais, como créditos e ativos bancários – confere a estes últimos a possibilidade de serem excluídos de limitações e deveres de função social, previstos expressamente para a propriedade.45
Quanto ao interesse público, explicíta Charles Louis de
Secondat:
Tenhamos por máxima, pois, que, quando se trata do bem público, este não consistirá nunca em se privar um particular do seu bem, ou mesmo em lhe retirar uma parte, por mínima que seja, por uma lei ou um regulamento político. Nesse caso, dever-se-á seguir rigorosamente a lei civil, que é a salvaguarda da propriedade. [...] Se o magistrado político desejar construir algum edifício público ou alguma nova estrada, será preciso que ele indenize; o público é, a esse respeito, como um particular que trata com outro particular.46
Os bens coletivos tem sua desclassificação a princípio, na
prória configuração do sistema. O coletivo não tem sua consagração como
autônomo para o jurídico da Modernidade. É proclamado como direito, mas tem a
forma dada de dever. O que lhe nega a autonomia jurídica do bem, suprimindo a
participação efetiva da sociedade. As propriedades especiais na pós –modernidade
jurídica, no entanto, é reconhecida como: “sujeito coletivo ao lado de Estado e
Indivíduo; bens coletivos além dos bens públicos e privados; novas formas de
exercício e tutela, democratizados, quando o objeto for bem coletivo”.47
Nessa baila leciona Stefano Rodotá, quanto as dimensoes das
propriedades e o equilíbrio ecológico:
Compatibilidade entre decisões individuais e outros interesses [omissis] como parte de um patrimônio comum (da coletividade, de
45
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 32. 46
MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat. Senhor de La Brède e Barão de. O espírito das leis. São Paulo: Martin Claret, 2007, p. 500. 47
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 32-33.
24
um povo, da humanidade inteira) ou como direitos das gerações futuras.48
A Pós-Modernidade elenca os novos tipos de propriedade as
quais são tituladas como especiais, dentre elas podem ser identificadas como: as
propriedades especiais particulares, as público-privadas e as propriedades especiais
coletivas. A propriedade especial particular, como a urbana e a rural , é a que tem
dimensão própria de função social.49
A Propriedade urbana é a que se destina à moradia, bem
como ao comércio e à indústria, como regra geral se situa na zona urbana, ou até
mesmo na zona rural.50 Tem como objeto comum os bens corpóreos imóveis;
quando ao regime jurídico é de direito real, a título singular ou sob condomínio. A
propriedade urbana deve sempre exercer a função social, a qual é cumprida quando
atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor.51
As diretrizes gerais desse novo perfil da propriedade urbana estão previstas no Estatuto da Cidade, Lei n° 10.257/2001, além das leis de parcelamento do solo urbano (n° 6.766/1979), Minha Casa Minha Vida (n° 11.977/2009) e das incorporações (n° 4.596/1964), e numa lei municipal participativa que é o plano diretor, na alçada do povo constitucional. A discussão, a aprovação, as modificações, as emendas devem ser debatidas com a comunidade municipal mediante os instrumentos previstos, como audiências públicas, plebiscitos e referendos; a Câmara de Vereadores, no final, aprova o que foi decidido na discussão coletiva, à semelhança da auctoritas patrum do Senado Romano.52
48
RODOTÁ, Stefano. Il terribile diritto: studi sulla proprietà privada. Bolonha: Il Mulino, 1990, p. 21. 49
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 49. 50
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função ambiental da propriedade rural. São Paulo: 1999, p. 59-64. 51
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 50. 52
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 50.
25
A Propriedade especial rural tem semelhança com a
propriedade urbana quanto à dimensão de direito comum, no entanto se distingue
quanto ao regime jurídico e à função social.53
Conforme art. 4°, inciso I, da Lei n° 8.629/93, “Imóvel Rural - o
prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine
ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou
agro-industrial”. 54
Tem como cumprimento da função social, quando respeita o
meio ambiente, as disposições que regulam as relações de trabalho e o
favorecimento do bem estar de proprietários e trabalhadores, devendo sempre
atender o aproveitamento racional e adequado.55
A Propriedade intelectual tem sua garantia expressa no art.
5°, XXVII a XXIX da CRFB/8856, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País, agrega no gênero categorias
como “direitos autorais, marcas, indicações geográficas, desenhos industriais,
patentes, topografia de circuitos integrados, proteção de informação confidencial,
controle de práticas de condorrência desleal, tudo sob influência do direito
internacional, e sob a égide da função social”.57
A Propriedade especial público privada decorre da
investidura pública e do regime de utilização por leis próprias, mediante empresas
privadas ou públicas, devendo exercer a função social sob fiscalização do Estado e
da Sociedade. O poder de polícia, protege os bens de uso comum do povo e dispõe
53
FERREIRA, Pinto. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 3 54
Art. 4°, inciso I, da Lei n° 8.629/93. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8629.htm>. Acesso em: 19/09/2014. 55
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 51. 56
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 19/09/2014. 57
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 52-53.
26
dos bens dominicais nas suas necessidades58. Na propriedade especial público
privada o Estado exerce sobre os bens públicos uma função vinculada à lei.59
Ela surge com o desenvolvimento econômico, tendo por objeto bens nacionais, que são explorados por empresas estatais ou privadas, sob concessão ou autorização da União federal, a teor dos art. 20, V, VIII, IX, 176 e parágrafos e 177, incisos e parágrafos da CRFB. É o caso das jazidas de petróleo, gás natural, hidrocarbonetos fluidos e demais recursos minerais e potenciais de energia hidráulica, como propriedade distinta do solo: ...mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sede e administração no País, na forma da lei (CRFB, art. 176 § 1°).60
Propriedade especial coletiva indígena tem sua previsão
legal no art. 231 da CRFB/8861, e é regulada pela Lei n° 6.001/73 (Estatuto do
Índio)62. É uma espécie de propriedade que não se admite usucapião ou alienação
nos moldes do direito comum,trata-se de outras formas de aquisição e outras
maneiras de exercício e tutela do direito. O art 232 da CRFB/88 legitima os próprios
índios e suas comunidades defender seus direitos e interesses em juízo, intervindo o
Ministério Público.63
É o instituto do indigenato que permite aos índios viver em suas
terras segundo seus usos, costumes e tradições – devendo, a União,
demarcá-las protegendo e fazendo respeitar todos os seus bens. O
regime jurídico da propriedade indígena não é de domínio
propriamente dito, mas de posse permanente, como usufruto
exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos; de sorte que se
for necessária a sua remoção (após deliberação do Congresso
Nacional), no caso de catástrofe, de epidemia que ponha em risco a
58
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 24. ed. São Paulo: RT, 1999, p.461. 59
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 54-56. 60
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 54. 61
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 19/09/2014. 62
LEI Nº 6.001, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm>. Acesso em: 19/09/2014 63
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 56- 57.
27
sua população ou de interesse da soberania do país, o retorno será
imediato, tão logo tenha cessado o risco ou a causa do
afastamento.64
A Propriedade Quilombola, tem sua previsão legal no ADCT
da CRFB/88, art. 68 c/c arts. 215 e 216 da CRFB/8865 e Dec. N° 4.887/2003, pelo
qual se reconhece aos remanescentes das comunidades de quilombos (grupo
étnico-raciais) que estejam ocupando tais terras. É propriedade coletiva, inseridas
por direitos culturais, pelas quais, suas manifestações dever ser protegidas pelo
Estado. 66
Há no entanto categorias semelhantes, como a das
comunidades caiçaras (localizadas nos litorais, nas regiões entre a Baía de
Guanabara e Santa Catarina, quem sobrevivem da pesca e roça.67
São distintos por suas condições culturais, e incluem-se na
categoria de comunidade local, oraganizam-se por costumes próprios, conservando
suas instituições sociais e econômicas. Conforme o art 68 do ADCT, é assegurado
a essas comunidades de afro-descendentes, a propriedade definitiva das terras que
estejam ocupando, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos, devendo ser
prosseguido da seguinte forma: “A titulação é mediante outorga de título coletivo e
proindiviso, com cláusula de inalienabilidade, imprescritibilidade e
impenhorabilidade, já que outra é a sua racionalidade. O título é levado ao Registro
de Imóveis, constando em nome de associação legalmente constituída pela
comunidade beneficiada”68
A Propriedade coletiva extrativista, também conhecidas
como propriedade de unidades de uso sustentável por populações tradicionais, são
64
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 58. 65
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 19/09/2014. 66
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 58. 67
FELTRIN, Diego. Comunidade caiçara. Disponível em: <http://equipedesocioogia. wordpress.com/category/uncategorized/>. Acesso em: 19/09/2014 68
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 59.
28
estabelecidas em favor de tais coletividades sobre áreas de domínio público,
transformadas por iniciativa federal, estadual ou municipal em Unidades de
Conservação do Grupo de Uso sustentável, a qual garante a posse e o uso dos
recursos naturais de forma limitada e sustentável.69
Elas integram o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza – SNUC, de que trata a Lei n. 9.985/2000 (art. 225, § 1º ,
incisos I, II, III da CRFB).70
Outrossim, é um instituto, de cunho étnico, incidente sobre
patrimônio nacional, estabelecido por lei, tem o seu conteúdo fixado em contrato
coletivo, com participação popular, e tem como objetivo proteger os meios de vida e
a cultura das populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da
Unidade de Conservação.71
Propriedade coletiva extrapatrimonial, também conhecida
como coletiva propriamente dita, esta é a base constitucional da função social. A
qual preocupa-se com o uso produtivo dos bens, sob direção geral do Estado, a
velar por resultados positivos em benefício do todo social, combatendo, portanto, os
abusos do poder econômico, utilizando de forma a contribuir para o desenvolvimento
econômico social.
É de suma importância a autonomia da Propriedade
Extrapatrimonial Coletiva coma efetividade da função social, pois o proprietário deve
exerce-la, visando um poder e uma função voltada ao bem da coletividade.
69
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 61. 70
LEI No 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=322>. Acesso em: 19/09/2014. 71
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 62 .
29
1.3 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
Vencida a fase em que se pergunta no que consiste o instituto
da função social, parte-se para a discussão sobre qual é a função social da
propriedade:
No contexto atual, pode-se encarar a propriedade como um
direito real que proporciona o alcance da ordem, tendo em vista a segurança que ela
confere aos indivíduos que compõem a sociedade.
O princípio é: todo o exercício de poder econômico que, por omissão ou comissão, afete negativamente interesses fundamentais da coletividade, como ambiente, qualidade de vida, patrimônio histórico, está na perspectiva de não cumprimento da função social. E o primeiro degrau para desenhar a estrutura de implemento da função social é reconhecer a existência da propriedade coletiva autônoma; pois, reconhecendo autonomia jurídica aos bens coletivos, como categoria distinta do público e do privado, reconhece-se a Sociedade como titular dos mesmos, e bem assim, a existência de procedimentos próprios de exercício e tutela de tal propriedade.72
Com esse novo contexto do coletivo, nos remete idealizar o
individual e o púbico-estatal, como o próprio conceito de propriedade e a respetiva
tutela jurídica nos termos estruturais.73 Desta forma, a propriedade adquire uma
função social com o intuito de apreciar os interesses coletivos e garantir a promoção
do bem comum. “Esta Função Social determina que o proprietário, além de um
poder sobre a Propriedade, tem um dever correspondente para com toda a
Sociedade de usar esta Propriedade de forma a lhe dar a melhor destinação sob o
ponto de vista dos interesses sociais”.74
A função social da propriedade tem o intuito de ser exercído
em função dos interesses da sociedade, conforme explana Eros Roberto Grau, “a
72
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 72. 73
PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. – Rio de Janeiro : Lumem Juris, 2012. p. 72. 74
CAVEDON, Fernanda de Salles, FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DA PROPRIEDADE / Fernanda de Salles Cavedon – Florianópolis : Visualbooks, 2003. p. 83.
30
função, assim é um poder que não se exercita exclusivamente no interesse de seu
titular, mas também no de terceiros, dentro de um clima de prudente arbítrio”75
No que tange o poder e dever do proprietáriom “é ele, a um só
tempo, titular de direito subjetivo e depositário de deveres de índole social, para cujo
alcance lança mão dos poderes inerentes ao seu domínio”76. Sempre o uso vai estar
interligado com a obirigação para com o coletivo “é notório que a relação com as
coisas não se afasta nunca, neste contexto, da relação com os homens: o uso
acompanha-se de obrigações para com os outros membros da comunidade"77
Nesta ordem de idéias, o proprietário (pessoa física ou jurídica, esta de direito privado ou público), como membro integrante da comunidade, sujeita-se a obrigações crescentes que, ultrapassando os limites dos direitos de vizinhança, no âmbito do direito privado, abrangem o campo dos direitos da coletividade, visando ao bem-estar geral, no âmbito do direito público.78
O Princípio da Função Social da Propriedade protege o direito
do proprietário (poder), e o direciona ao uso da propriedade almejando os interesses
sociais, o que deve estar sempre um meio termo entre a Propriedade Privada
qualificada por uma Função Social.79
O princípio da Função Social da Propriedade, desta sorte, passa a integrar o conceito jurídico-positivo de Propriedade, de modo a determinar – repita-se – profundas alterações estruturais na sua interioridade. Por isso que embora sem autorizar a supressão da Propriedade Privada, tranforma-a em um dever.80
Logo, busca a harmonia, entre o individual e o social, “de forma
a que todos os interesses possam ser satisfeitos senão na sua plenitude, pelo
menos até o limite em que garanta que os outros interesses a este opostos possam
75
GRAU, Eros Roberto. Direito Urbano. p. 70. 76
RABAHIE, marina Mariani de Macedo. Função Social da Propriedade. p. 277. 77
OST, François. A Natureza à Margem da Lei: a Ecologia à Prova do Direito. Lisboa: Instituto Piaget, 1995. p. 58. 78
CUSTÓDIO, Helita Barreiro. A Questão Constitucional: Propriedade, Ordem Econômica e Dano Ambiental – Competência Çegislativa Concorrente. p. 118. 79
CAVEDON, Fernanda de Salles, FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DA PROPRIEDADE / Fernanda de Salles Cavedon – Florianópolis : Visualbooks, 2003. p. 84. 80
GRAU, Eros Roberto. Direito Urbano. p. 67.
31
tem um mínimo de realização”.81 Visto isso, “passa a propriedade, assim, a ser vista
desde uma prospectiva comunitária, não mais sob uma visão individualista”.82
O conceito de propriedade acha-se revestido de uma função
social. O que nos remete ao instituo do usucapião, pois a Função Social da
Propriedade pode ser promovida e concretizada pelo usucapião, instituto pelo qual
tem como objetivo garantir a estabilidade e segurança da propriedade, bem como,
consiste em uma forma de consolidar a propriedade, transformando uma situação de
fato em uma situação de direito, criando um direito. 83
O usucapião é uma forma para adquirir a propriedade pela
posse continuada durante um certo lapso temporal, com os requisitos estabelecidos
em lei. Tem como fundamento a posse unida ao tempo. Este instituto favorece o
possuidor contra o proprietário, este perde um direito, o que acarreta em um novo
direito.84
[...] O tempo aparece como grande sanador de vícios e defeitos dos modos de aquisição, porque a ordem jurídica tende a dar segurança aos direitos que confere, evitando conflitos e divergências. Além disso, é um prêmio ao trabalho, vez que constitui justa recompensa a quem, encontrando coisa abandonada, fá-la útil por seu esforço. [...]85
Não pode ser considerado o tempo como elemento único para
a garantia do usucapião, o embasamento está na circuntância de que o uso da
propriedade deve ser conforme as necessidades sociais, não se admitindo o uso
socialmente nocivo.86
A Propriedade , além de ser ligada a um sujeito particular de
direito, sempre deve atender a uma destinação social, ou seja os frutos advindos
81
CAVEDON, Fernanda de Salles, FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DA PROPRIEDADE / Fernanda de Salles Cavedon – Florianópolis : Visualbooks, 2003. p. 85. 82
GRAU, Eros Roberto. Direito Urbano. p. 66. 83
BARRUFINI, José Carlos Tosetti. Usucapião constitucional : urbano e rural : fução social da propriedade – São Paulo : Atlas, 1998. p. 189. 84
BARRUFINI, José Carlos Tosetti. Usucapião constitucional : urbano e rural : fução social da propriedade – São Paulo : Atlas, 1998. p. 189. 85
BARRUFINI, José Carlos Tosetti. Usucapião constitucional : urbano e rural : fução social da propriedade – São Paulo : Atlas, 1998. p. 189. 86
BARRUFINI, José Carlos Tosetti. Usucapião constitucional : urbano e rural : fução social da propriedade – São Paulo : Atlas, 1998. p. 189.
32
desta propriedade, deverão ser revertidos de algum modo à sociedade, o que não
exclui o direito de fuição do domínio. Destarte, “a realização do princípio da função
social da propriedade reformula uma prática distorcida de ação social traduzida na
privatização dos lucros e socialização das perdas”.87
O proprietário que abandona a sua propriedade,
consequentemente, está deixando de cumprir com a função social para com o
coletivo. Desta forma, a fundamentação para justificar a perda do domínio está
relacionado diretamente a função social que a propriedade tem e que a todos
interessa, e que não lhe deu o proprietário, relegando-a ao abandono.88
Desta maneira, tem-se como fundamento racional da prescrição aquisitiva a função social que a propriedade deve ter, função social esta que se declara pela conduta omissiva do proprietário, no exercício de um não uso que, por ser improdutivo e anti-social, é nocivo, e pela conduta comissiva do prescribente que, usando a coisa, exercendo sua utilidade, lhe dá uma função de conteúdo social. Estes elementos em conjunto justificam o usucapião, dando-lhe um caráter ético, mesmo que, objetivamente, seja despojamento da propriedade alheia. Assim entendido, vê-se que a estabilidade e harmonia sociais não são fundamentos da prescrição aquisitiva; ao contrário, são conseqüencias lo´gicas, naturais e salutares.89
Fica claro, que o caráter do usucapião, se dá pela função social
da propriedade, uma vez que é resultado de uma conduta omissiva do proprietário e
de uma conduta comissiva do prescribente.90 Conforme explana Celso de Mello
Filho, “a função social, inerente à propriedade, justifica a perda do domínio, em favor
do possuidor, por via do usucapião. Este instituto resgata a hipoteca social que
incide sobre o próprio direito de propriedade”91
O princípio da função social da propriedade visa privilegiar
aquele que a tornou produtiva, contribuindo para o bem comum e da coletividade.
Logo, revela-se através da conduta omissiva do proprietário, no exercício de um não
87
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p. 249-250. 88
BARRUFINI, José Carlos Tosetti. Usucapião constitucional : urbano e rural : fução social da propriedade – São Paulo : Atlas, 1998. p. 190. 89
NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do. Usucapião. 6. Ed. Rio de Janeiro : Aide, 1992. p. 15. 90
BARRUFINI, José Carlos Tosetti. Usucapião constitucional : urbano e rural : fução social da propriedade – São Paulo : Atlas, 1998. p. 190. 91
MELLO FILHO, José Celso de. Constituição Federal anotada. 2. Ed. São Paulo : Saraiva, 1986. p. 500.
33
uso que, por sem improdutivo e antisocial, é nocivo, e pela conduta comissiva do
prescribente,q eu, utilizando a coisa, lhe dá uma função de conteúdo social.92
92
BARRUFINI, José Carlos Tosetti. Usucapião constitucional : urbano e rural : fução social da propriedade – São Paulo : Atlas, 1998. p. 191-192.
34
CAPÍTULO 2
USUCAPIÃO
2.1 CONCEITO DE USUCAPIÃO
Acerca dos conceitos no que condiz ao instituo do usucapião,
um dos principais e que mais se adequa ao ordenamento jurídico brasileiro é a
definição romana “Usucapio est addjecto dominii per continuationem possessionis
temporis lege definit”, assim sendo, uma forma de adquirir a propriedade pela posse
contínua, com o cumprimento dos requisitos legais.93
Segundo o autor Benedito Silvério Ribeiro a aquisição pela
usucapião dar-se-á pela posse, a qual se transforma em propriedade, desde que
tenha permanecido pelo tempo suficiente para que tal ato se constate.94
Outrossim, de acordo José Carlos de Moraes Salles o instituto
não deriva tão somente do lapso temporal, mas também, para que seja concedida a
propriedade do bem para o posseiro, o mesmo deve preencher o requisito da posse
(mansa e pacífica), assim Salles conceitua a usucapião como “a aquisição do
domínio ou de outro direito real sobre coisa alheia, mediante posse mansa e
pacífica, durante o tempo estabelecido em lei.”95
Já, segundo Carlos Roberto Gonçalves, além dos requisitos já
citados, deve ser acrescentado que o bem usucapido deve ser hábil, ou suscetível
de usucapião: “Os pressupostos da usucapião são: coisa hábil (res habilis) ou
suscetível de usucapião, posse (possessio), decurso do tempo (tempus), justo título
(titulus) e boa-fé (fides). Os três primeiros [posse, tempo e coisa hábil] são
93
RUGGIERO, Roberto de. Instituições de Direito Civil, tradução da 6º. Edição, Saraiva, São Paulo, v. II/ 402. 94
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião. São Paulo: Saraiva, 2006, v.1. p.173 e 189. 95
SALLES, José Carlos de Moraes. Usucapião de bens imóveis e móveis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.48.
35
indispensáveis e exigidos em todas as espécies de usucapião. O justo título e a boa-
fé somente são reclamados na usucapião ordinária”.96
Conforme entendimento do doutrinador Sílvio de Salvo Venosa,
o instituto deve atender ao Princípio da Função Social, em detrimento a utilidade do
bem:
A possibilidade de a posse continuada gerar a propriedade justifica-se pelo sentido social e axiológico das coisas. Premia-se aquele que se utiliza utilmente do bem, em detrimento daquele que deixa escoar o tempo, sem dele utilizar-se ou não se insurgindo que o outro o faça, como se dono fosse. Destarte não haveria justiça em suprimir-se o uso e gozo de imóvel (ou móvel) de quem dele cuidou, produziu ou residiu por longo espaço de tempo, sem oposição.97
No mesmo diapasão no que diz respeito ao cumprimento do
princípio da função social sob bem, aquele que se apossou de um determinado bem,
de forma mansa e pacífica, durante determinado lapso temporal expresso em lei, e
que cuidou desse bem e lhe deu destinação, utilizando como se seu fosse, adquire a
propriedade em favor do proprietário desidioso, que por irresponsabilidade não
cuidou do que é seu, ao ponto de deixar seu bem em estado de abandono, mesmo
que não fosse essa sua intenção.98
Sendo assim, compreende que todo bem, móvel ou imóvel,
deve cumprir uma função social, devendo ser usado pelo seu proprietário de modo
mais adequado a fim de gerar utilidades.
Acrescentando a denominação do instituto, tem-se o usucapião
como uma forma originária para adquirir a propriedade e outros direitos reais
suscetíveis de apropriação material, devendo cumprir os requisitos da posse
contínua, durante um determinado lapso temporal, e observando os demais
requisitos estabelecidos em lei.99
96
GONÇALVES. Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol. V: direito das coisas. 4. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2009. p.253. 97
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direitos reais. São Paulo: Atlas, 2010. p.209. 98
SALLES, José Carlos de Moraes. Usucapião de bens imóveis e móveis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 49. 99
PACHECO, José Ernani de Carvalho. Usucapião. / 10ºed. / Curitiba: Juruá, 1998. p. 11
36
Desta forma, cabe salientar que o usucapião é uma forma de
aquisição tanto do direito de propriedade quantos de outros direitos reais, que
podem ser objeto de posse continuada.
A forma originária de aquisição é observada, visto que o
adquirente não decorre juridicamente ao proprietário. Porém há quem classifica a
forma de aquisição como derivada, pois não há um novo direito, e sim a substituição
da anterior titularidade.100 Neste sentido entende Santiago Dantas ao se pronunciar
que "o usucapião é um meio derivado de aquisição da propriedade, o que equivale
dizer que os ônus que recaem sobre a coisa passam para aquele que adquirir pelo
usucapião".101
Para tanto, verifica-se em tese que o modo derivado de
aquisição do direito de propriedade funda-se no direito do titular anterior, como
inferência do direito transmitido, o qual notadamente determina a existência, a
extensão e as qualidades. Por conseguinte, a preponderância dos doutrinadores,
enxergam o instituto do usucapião como uma forma originária de aquisição, em
conformidade com o fundamento de que a mesma venha a ser consumada em razão
da posse continua e, tal fato, associado aos demais pressupostos previstos em lei,
desta forma obtém êxito por enquadrar-se a um direito real novo.102
Neste sentido explicita Pontes de Miranda ao dizer que na
usucapião não existe uma relação entre perdente e usucapiente, ou seja, não se
adquire o bem de alguém:
No usucapião, o fato principal é a posse, suficiente para originariamente se adquirir; não para se adquirir de alguém. É bem possível que o novo direito se tenha começado a formar antes que o velho se extinguisse. Chega momento em que esse não mais pode subsistir, suplantado por aquele. Dá-se, então, impossibilidade de coexistência, e não sucessão, ou nascer um do outro. Nenhum ponto
100
PINTO, Nelson Luiz. Repertório de jurisprudência e doutrina sobre usucapião / Nelson Luiz Pinto, Teresa Arruda Alvin Pinto. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1992. p. 07-08. 101
Programa de Direito Civil, 2. ed., Rio, 1981, p. 157 102
JUNCO, José Alexandre. Aspectos materiais e atuais da usucapião. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9111>. Acesso em 30 de março 2015.
37
entre os dois marca a continuidade. Nenhuma relação, tampouco,
entre o perdente do direito de propriedade e o usucapiente.103
Corroborando com o entendimento, cabe salientar que o
instituto da usucapião consiste num modo originário para que possa adquirir o seu
domínio, mediante posse mansa e pacífica, por determinado lapso temporal, fixado
na lei. 104
Sendo assim o instituto da usucapião conforme demonstrado
pela maioria dos doutrinadores é um modo originário de aquisição, visto que não
existe relação entre o perdente do direito de propriedade e o usucapiente.
Porquanto, por ser a usucapião um modo originário para que
se adquira o seu domínio, sendo assim não se adquire o bem de alguém, o que
ocorre é o surgimento de um novo direito de propriedade, surge daí um novo titular
do bem, consequentemente ocorrendo no mesmo momento a extinção da
propriedade do anterior, uma vez que o bem se deslocou da esfera dos seus direitos
para o usucapiente. Sendo assim, não o que se falar em ação reivindicatória, uma
vez que não existe o objeto, qual seja, o bem já usucapido, que não mais poderá ser
legitimamente reivindicado. Cumprindo assim a sua função social, uma vez que o
bem usucapido terá o uso e a conservação mais adequado, beneficiando assim à
coletividade. 105
2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA USUCAPIÃO
O instituto da usucapião surgiu no Direito romano, e tinha como
objetivo a proteção da posse do adquirente imperfeito, o qual obtinha o bem sem os
devidos atributos necessários, de acordo com o que aduzia a legislação vigente
aquela época. A aquisição imperfeita se dava devido à falta de mancipatio (forma
solene para transferir a propriedade), ou seja, o alienante, quando este não era
proprietário do bem, não possuía o direito que deveria ser transmitido. Sendo assim
103
MIRANDA, Pontes de, Tratado de direito privado, parte especial, 1. ed., São Paulo, Bookseller, 2004, T. XI., p. 117. 104
RODRIGUES, Silvio. In Direito Civil: Direito das Coisas. v. 5. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 108. 105
PACHECO, José Ernani de Carvalho. Usucapião. / 10º ed. / Curitiba: Juruá, 1998. p. 12
38
“O Direito romano estabeleceu uma dupla proteção para estes casos, garantindo, ao
adquirente imperfeito, de um lado as ações possessórias e, após o decurso de certo
lapso de tempo, que se transformasse em legítimo proprietário.”106
No entanto teve maior detalhamento e obteve amparo através
da lei das XII Tábuas, a qual estabeleceu o prazo de dois anos de posse para
adquirir as terras por usucapião, e depois de um ano para as coisas móveis.
Acerca do instituto materializado na Lei das XII Tábuas,
Benedito Silvério Ribeiro comenta:
A usucapião, consagrada na Lei das Doze Tábuas, data do ano 305 da era romana ou da fundação de Roma (urbe condita), correspondendo ao ano 455 a.C. Essa Lei superou o Código de Hamurabi, contendo normas aos cidadãos e princípios democráticos. Tem-se, portanto, que a Lei das Doze Tábuas contemplava a usucapião, estendendo-a aos bens móveis e imóveis, mas com o tempo veio a sofrer restrições. Os prazos eram de dois anos (biennium) quanto a imóveis (fundi) e de um ano (annus) para móveis e outros direitos (coeterarum rerum).107
Posteriormente a Lei das Doze Tábuas, advieram novas sendo
elas: a Lex Atinia que proibiu aos ladrões o direito de usucapir coisas advindas de
furtos ou apropriações; as leis Julia e Plautia impediu a usucapião de coisas obtidas
mediante atos violentos; e a Lex Scribonia vedou o usucapião das servidões
prediais.108
Assim, o instituto não se aplicava aos fundos provinciais e
mais, não podia ser concedida aos estrangeiros, uma vez que estes não gozavam
dos direitos arguidos no ius civile e, por ser a usucapião um modo civil para se
adquirir a propriedade, os romanos preservavam seus bens diante dos peregrinos, o
qual podiam ser reivindicados a qualquer momento.109
106
PINTO, Nelson Luiz. Repertório de jurisprudência e doutrina sobre usucapião / Nelson Luiz Pinto, Teresa Arruda Alvin Pinto. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1992. p. 09. 107
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.140. 108
ARVANITIS, Eric Georges. A origem e evolução histórica do usucapião. Disponível em: < http://jus.com.br/artigos/33970/a-origem-e-evolucao-historica-do-usucapiao >. Acesso em 23/04/2015 109
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.141.
39
Com o decorrer do tempo, o prazo de posse do determinado
bem, para a sua aquisição teve ampliações consideráveis.
No entanto, como a aquisição pela usucapião era restrita aos
cidadãos romanos e quanto as coisas romanas, devido ao fato que os peregrinos
estavam proibidos de faze-lo, vedada juntamente quanto aos imóveis provinciais,
criou-seb a praescriptio longi temporis, criada como meio de defesa processual.110
A chamada praescriptio, assim denominada porque vinha no cabeçalho de uma fórmula, era modalidade de exceção, meio de defesa, surgido posteriormente à usucapio, no Direito Clássico. Quem possuísse um terreno provincial por certo tempo poderia repelir qualquer ameaça a sua propriedade pela longi temporis praescriptio. Essa defesa podia ser utilizada tanto pelos cidadãos romanos como pelos estrangeiros. A prescrição era de 10 anos contra presentes (residentes na mesma cidade) e 20 anos entre ausentes (residentes em cidades diferentes). [...] Desaparecendo a distinção entre terrenos itálicos e provinciais, os dois institutos surgem já unificados na codificação de Justiniano, sob o nome de usucapião.111
A partir daí surgiu a denominada praescriptio longi temporis, no
qual a posse exercida no imóvel, sobre um determinado lapso temporal, extinguia
todas as ações existentes em relação ao proprietário ou terceiros,
independentemente de possuir justo título ou boa-fé.112 Existe uma divergência
doutrinária sobre o prazo. Benedito Silvério Ribeiro sustenta ser a posse no prazo de
30 anos sobre o imóvel.113 Ebert Chamoun de outro lado afirma que prazo
prescricional é de 40 anos exercidos sobre o imóvel.114
A praescriptio longi temporis115, estabelecida a mais de dois
séculos da usucapio, foi criada para amparar o possuidor que, não se enquadrava
na usucapio, seja por ser ele peregrino, ou por ser um imóvel provincial.116
110
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.149. 111
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direitos reais. São Paulo: Atlas, 2010. p.207 e 208. 112
CHAMOUN, Ebert. Instituições de Direito Romano. 6. ed. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1977. p.257. 113
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.151. 114
CHAMOUN, Ebert. Instituições de Direito Romano. 6. ed. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1977. p.257. 115
Praescriptio longi temporis significa: prescrição de longo tempo (de longa duração). 116
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.149.
40
A Usucapião ordinária, antes do código de civil de 1916,
chamada de prescrição aquisitiva ordinária, enquadrava os bens imóveis, móveis e
semoventes, desde que cumprido o prazo de três anos para o móveis e semoventes,
quanto aos bens imóveis o prazo era de dez anos (proprietário e prescribente
residentes na mesma comarca) e de vinte anos (ambos residentes em
circunscrições judiciárias diferentes).117
Assim como, antes do código civil de 1916118 a Usucapião
extraordinária, denominada longissimi temporis praescriptio ou magna praescriptio,
se dava tanto para os bens móveis ou imóveis, com o cumprimento do prazo de
trinta anos, e existindo a boa fé, pois o justo título se presumia. Já para os bens
públicos patrimoniais, o prazo se estendia para quarenta anos para o seu
cumprimento.119
Antes da Constituição de 1934120 não tinha o que se falar
quanto a usucapião de terras públicas. Foi na constituição de 1934, em seu artigo
125, que ficou consagrado a figura da Usucapião rural, visando garantir os direitos a
propriedade do trabalhador rural.
Desta forma assegura o art. 125:
Todo brasileiro que, não sendo proprietário rural ou urbano, ocupar, por dez anos contínuos, sem oposição nem reconhecimento de domínio alheio, um trecho de terra de até dez hectares, tornando-o produtivo por seu trabalho e tendo nele a sua morada, adquirirá o domínio do solo, mediante sentença declaratória, devidamente transcrita.121
117
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.157-158. 118
LEI Nº 3.071, DE 1º DE JANEIRO DE 1916, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm >. Acesso em: 13/04/2015. 119
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.158. 120
LEI Nº 3.071, DE 1º DE JANEIRO DE 1916, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm >. Acesso em: 13/04/2015. 121
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm> Acesso em: 13/04/2015.
41
No art. 148 da Constituição de 1937122, repetiu o preceito sem
quaisquer alterações. Já a Constituição de 1946, em seu art. 156 §3º, manteve a
mesma redação, porem enquanto antes era conferida somente aos brasileiros,
passou a estender a todas as pessoas que se enquadrem em seus requisitos,
ademais, expandiu a área que antes era de dez hectares, e passou a ser de vinte e
cinco hectares123, senão vejamos:
Art. 156 § 3º: Todo aquêle que, não sendo proprietário rural nem urbano, ocupar, por dez anos initerruptos, sem oposição nem reconhecimento de domínio alheio, trecho de terra que haja tornado produtivo por seu trabalho, e de sua família, adquirir-lhe-á a propriedade mediante sentença declaratória devidamente transcrita. A área, nunca excedente de cem hectares, deverá ser caracterizada como suficiente para assegurar ao lavrador e sua família, condições de subsistência e progresso social e econômico, nas dimensões fixadas pela lei, segundo os sistemas agrícolas regionais.124
Posteriormente, a Emenda Constitucional n. 10, de 09 de
novembro de 1964125, alterou o referido artigo e expandiu a área para nunca
excedente de cem hectares, ou seja, aumentou para até cem hectares a área a ser
usucapida.
A Emenda Constitucional n. 01, de 17 de outubro de 1969,
modificou a Constituição Federal de 1967, não mencionando sobre a usucapião de
terras públicas, remetendo o assunto à lei ordinária.126
O Estatuto da Terra (Lei Lei 4.504, de 30-11-64), estabeleceu
em seu art. 98, modificando somente o tamanho da área a ser usucapida, sem
mensurar o tamanho se limitando somente a área rural.127
122
CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 10 DE NOVEMBRO DE 1937). Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm>. Acesso em: 13/04/2015 123
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.158-159. 124
Art 156, § 3º, da Constituiçao Federal de 1946, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>. Acesso em: 14/04/2015. 125
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 10, DE 9 DE NOVEMBRO DE 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc10-64.htm#art6>. Acesso em 13/04/2015. 126
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.159. 127
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.160.
42
Art 98: Todo aquele que, não sendo proprietário rural nem urbano, ocupar por dez anos ininterruptos, sem oposição nem reconhecimento de domínio alheio, tornando-o produtivo por seu trabalho, e tendo nele sua morada, trecho de terra com área caracterizada como suficiente para, por seu cultivo direto pelo lavrador e sua família, garantir-lhes a subsistência, o progresso social e econômico, nas dimensões fixadas por esta Lei, para o módulo de propriedade, adquirir-lhe-á o domínio, mediante sentença declaratória devidamente transcrita.128
Destarte, a Lei nº 6.969/81, denominada usucapião especial,
alterou o prazo, desta vez diminuindo de dez anos para cinco anos129, juntamente
diminui o tamanho, não podendo exceder a 25 hectares, salvo se o módulo rural da
região for superior a 25 hectares, de acordo com o parágrafo único do referido
artigo.
Assim prevê a Lei nº 6.969, de 10 de dezembro de 1981, em
seu art 1º e parágrafo único:
Art. 1º - Todo aquele que, não sendo proprietário rural nem urbano, possuir como sua, por 5 (cinco) anos ininterruptos, sem oposição, área rural contínua, não excedente de 25 (vinte e cinco) hectares, e a houver tornado produtiva com seu trabalho e nela tiver sua morada, adquirir-lhe-á o domínio, independentemente de justo título e boa-fé, podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para transcrição no Registro de Imóveis.
Parágrafo único. Prevalecerá a área do módulo rural aplicável à espécie, na forma da legislação específica, se aquele for superior a 25 (vinte e cinco) hectares.130
A figura da usucapião especial rural está previsto atualmente
na Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, em seu art. 191, com a seguinte
redação:
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou
urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem
oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta
128
Art 98, da LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm>. Acesso em: 13’/04/2014 129
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p.163. 130
Art. 1º e parágrafo único, da LEI No 6.969, DE 10 DE DEZEMBRO DE 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6969.htm>. Acesso em: 13/04.2014
43
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por
usucapião.131
Ademais, a usucapião se estendeu para as propriedades
urbanas, como pode observar no art. 183, da CRFB/88, sendo vedado a aquisição
por usucapião dos imóveis públicos, em ambos os casos.
Com a Constituição Federal de 1988, surgiu uma nova visão
em relação à propriedade, no que tange ao Princípio da Função Social, sendo
estabelecido a propriedade para quem o melhor lhe da utilidade.
Sendo assim, simplificou mais os institutos, instituindo
modalidades com menor tempo de período aquisitivo, como a Usucapião Familiar,
previsto no art. 1240-A do Código Civil, objeto deste trabalho.
No entanto verifica-se que as mudanças ocorridas desde o
surgimento do instituto do usucapião até o presente momento, foi quanto ao prazo
do período para adquirir a propriedade e tamanho, sem quaisquer mudanças
extremas. Ademais, observa-se que com a evolução do instituto, a figura da
usucapião vem sendo simplificada, principalmente quanto aos prazos, cada vez
menores, visando dar mais efetividade aos seus fundamentos.132
2.3 ESPÉCIES DE USUCAPIÃO
As espécies de usucapião se distinguem, quanto ao tempo,
posse e os demais requisitos previstos em lei, devendo sempre ser destinados a
uma função social, ou seja, o posseiro que estará dando uma melhor utilização ao
131
Art. 191, da CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 13/04/2015. 132
MARTINS, Fernanda da Silva. A USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA POR ABANDONO DO LAR CONJUGAL: a volta da culpa? – Disponível em: <http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2012_1/fernanda_martins.pdf>. Acesso em: 13/04/2015
44
bem abandonado pelo proprietário, se tornará proprietário do mesmo, por estar
cumprindo com a função social da propriedade.
No ordenamento jurídico brasileiro são encontrados três
espécies de usucapião: o tradicional (divide-se em extraordinário e ordinário), o
especial (divide-se em rural, urbano e familiar) e o coletivo, ademais, há a
concessão especial de uso para fins de moradia (singular e coletiva).133
As espécies de usucapião tradicionais tem o seu
processamento sobre o rito especial conforme expresso no CPC, art. 941, porquanto
a usucapião especial, tem previsão de seu processamento pelo rito sumário e por
via administrativa em casos específicos.
Cabe salientar que a usucapião ordinário e extraordinário
enquadram os bens móveis e imóveis, enquanto os demais só cabe aos bens
imóveis.`
2.3.1 USUCAPIÃO TRADICIONAL
2.3.1.1 A USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA
Exige a posse no prazo de 15 (quinze) anos, sem interrupção,
nem oposição, independentemente de justo título e boa fé, sendo reduzido o prazo
para 10 (dez) anos se nela estabelecido a sua moradia habitual, ou realizado obras
ou serviços de caráter produtivo.
A usucapião extraordinária tem seu amparo legal, previsto no
artigo 1.238, do Código Civil (Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002), tem como
requisito exigido: posse de 15 anos, sem interrupção (continua), sem oposições
(mansa e pacífica), possuir como seu um imóvel (animus domini).
Assim prevê o art. 1238 do Código Civil, senão vejamos:
133
OLIVEIRA, Álvaro Borges de; OLDONI, Fabiano. Aquisiçao da Propriedade Ilícita pela Usucapiao. Jundiaí, Paco Editorial: 2013. p. 85.
45
Art. 1.238 CC/02: Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.134
Por conseguinte, de acordo com o parágrafo único do mesmo
artigo, o prazo será reduzido para dez anos, se quem o possuiu estiver estabelecido
a sua moradia habitual, ou nele estiver realizado obras ou serviços de caráter
produtivo.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.135
O prazo do caput será reduzido para dez anos se o possuidor
residir no imóvel ou nele desenvolver atividades produtivas. A propriedade sendo
assim deve cumprir sua função social, uma vez que, o possuidor não ser prejudicado
pela espera, por longo tempo, para adquirir o domínio pela prescrição aquisitiva; pois
se assim ocorrer, quem sairá beneficiado será o proprietário negligente, que deixou
de cumprir com sua função social.136
O parágrafo único traz uma elasticidade, o legislador destaca a
posse- trabalho, no tocante a moradia habitual, ou quanto a realização de obras ou
serviços de caráter produtivo, partindo para um fim social da propriedade, diferente
de como estava sendo norteado até então a propriedade, com um fim
individualista.137
2.3.1.2 A USUCAPIÃO ORDINÁRIA
Exige posse contínua e incontestadamente, com justo título e
boa fé, pelo prazo de 10 anos, sendo reduzido o prazo para 5 anos se o imóvel
134
Art. 1238, LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15/04/2015 135
Art. 1238, parágrafo único, da LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15/04/2015 136
MALUF, Carlos Alberto Dabus, Código Civil comentado, Coordenador Ricardo Fiúza, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 1106. 137
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p. 236.
46
houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante no respectivo
cartório de registro de imóveis, posteriormente cancelada, desde que os possuidores
nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse
social e econômico.
A usucapião ordinária tem seu amparo legal, previsto no artigo
1.242, do Código Civil (Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002), tem como
requisitos exigidos: posse de 10 anos, contínua (sem interrupções),
incontestadamente (mansa e pacífica), com justo título e boa fé.
Assim prevê o art. 1242 do Código Civil, senão vejamos:
Art. 1.242: Adquire também a propriedade do imóvel aquele que,
contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir
por dez anos.138
Outrossim, no que tange o parágrafo único do mesmo artigo, o
prazo será reduzido para 5 anos, se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente,
com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente,
desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado
investimentos de interesse social e econômico.
Parágrafo único: Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.139
Um exemplo do cancelamento do registro posteriormente é
“referente a lote adquirido em que o registro matriz venha a ser anulado ou
cancelado por irregularidade ou inobservância de requisitos na constituição do
138
Art. 1.242, da LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15/04/2015 139
Art. 1.242, parágrafo único, da LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15/04/2015
47
loteamento, o que também pode ocorrer nos casos em que sejam cancelados os
registros das unidades de incorporação do condomínio”140.
Outrossim fica evidenciado o sentido social da propriedade, no
que tange ao possuidor estabelecer no imóvel a sua moradia, ou realizado
investimentos de interesse social e econômico.
O artito 1.243 do mesmo código, traz uma novidade quanto a
usucapião extraordinária, possibilitando ao possuidor, acrescentar a sua posse a dos
seus antecessores, para o fim de contar o tempo exigido, desde que preenchido os
requisitos legais.
Assim assegura o art 1.243, do Código Civil:
Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.141
2.3.2 A USUCAPIÃO ESPECIAL
2.3.2.1 USUCAPIÃO URBANA
Exige posse com animus domini, de área urbana, com área de
até 250 metros quadrados, pelo prazo de 5 anos, ininterruptamente e sem oposição,
utilizando para sua moradia ou de sua família, e que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural.
Inicialmente o legislador constitucional estabeleceu a
usucapião urbana no texto de nossa Carta magna, trazendo no Capítulo II do Título
VII, que trata “Da Plítica Urbana”.142
140
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 1 - São Paulo: Saraiva, 2003, p. 232. 141
Art. 1.243, parágrafo único, da LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15/04/2015 142
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 2 - São Paulo: Saraiva, 2003, p. 901.
48
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.143
Assim, trata-se de uma modalidade, com requisitos específicos
e peculiares, com prazo bem menor de tempo prescricional, sendo estabelecido
prazo de 5 anos, para se adquirir a propriedade por este instituto.144Além da área
limitada de até 250 metros quadrados, deve possuir com animus domini, de forma
contínua, sem oposições, desde que não possua outro imóvel urbano e rural.
Além da previsão constitucional, o usucapião especial urbano
está previsto no Código Civil, em seu art. 1240, senão vejamos:
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.145
143
Art. 183 e parágrafos, da CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15/04/2015 144
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 2 - São Paulo: Saraiva, 2003, p. 901. 145
Art. 1.240, § 1 º e 2º, da LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15/04/2014
49
2.3.2.2 A USUCAPIÃO RURAL
Exige que o possuidor não seja proprietário de outro imóvel
urbano ou rural, possua como sua, pelo prazo de 5 anos, sem interrupções, nem
oposições, área de terra em zona rural não superior a 50 hectares, tornando-a
produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia.
Tem o seu amparo legal,na Constituiçao Federal, nos termos
do disposto do art. 191:
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.146
No direito brasileiro, quanto a usucapião rural, não existe
impedimentos a que se adquira imóvel sem dono ou que o mesmo esteja
abandonado, basta que não haja oposição, que contínuos os 5 anos e que possua
com animus domini (possua como seu), o bem usucapiendo.147
O termo “rural é aquilo que está fora dos limites das zonas
urbanas ou suburbanas, é o que melhor se adapta á usucapião estabelecida no art
191 da Constituição Federal”.148
São indispensáveis para este instituto: a moradia, a
produtividade, o tamanho de até 50 hectares, a propriedade deve ser em zona rural,
que o possuidor não detenha a propriedade de mais um imóvel seja ele urbano ou
rural, animus domini, posse ininterrupta e sem oposições.
146
Art. 191, da CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 15/04/2015 147
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 2 - São Paulo: Saraiva, 2003, p. 990. 148
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 2 - São Paulo: Saraiva, 2003, p. 993.
50
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.149
2.3.3 A USUCAPIÃO FAMILIAR
Exige posse pelo prazo de 2 anos, ininterruptamente e sem
oposição, posse direta, com animus domini, exclusividade, devendo o imóvel ser
urbano e não superior a 250 metros quadrados, e que tenha ocorrido o abandono do
lar pelo ex-cônjuge ou ex-companheiro, cuja propriedade era dividida entre ambos, e
que não possua outro imóvel urbano ou rural.
Este instituto está previsto no art. 1.240-A do Código Civil, que
foi acrescentado pela Lei n. 12.424, de 16 de junho de 2011.
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.150
Sendo assim, o cônjuge que permaneceu no lar passa a ter o
domínio com exclusividade do bem, e a propriedade não será mais dividida
conforme se dá no divórcio, desde que o cônjuge abandonado preencha todos os
requisitos supramencionados.
O rito processual, conforme expresso no Estatuto da Cidade
(Lei 10.257/2001), será o sumário.
149
Art. 1.239, da LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15/04/2014 150
Art. 1.240-A, da LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15/04/2014
51
2.3.4 A USUCAPIÃO COLETIVA
Exige que a área deve ser urbana, com mais de 250 metros
quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, pelo prazo
de 5 anos, ininterrupta e sem oposição, e que não seja possível identificar os
terrenos ocupados por cada possuidor, desde que os possuidores não sejam
proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
Essa modalidade tem previsão legal no artigo 10 da Lei 10.257,
de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade).
Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinqüenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
§ 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis.
§ 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas.
§ 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio.
§ 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes.151
151
Art. 10, da LEI No 10.257, DE 10 DE JULHO DE 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: 16/04/2015
52
Esta modalidade visa beneficiar as pessoas de baixa renda e
regularizar as áreas de favelas ou de aglomeramentos residenciais sem condições
de legalização do domínio. 152
152
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 2 - São Paulo: Saraiva, 2003, p. 940.
53
CAPÍTULO 3
USUCAPIÃO FAMILIAR
3.1 CONCEITO DE USUCAPIÃO FAMILIAR
O novo dispositivo foi inserido pela Lei 12.424, de 16 de junho
de 2011, esta nova espécie de usucapião, que denomina-se usucapião familiar ou
usucapião especial urbana por abandono do lar. Os termos utilizados variam de
cada jurista, porém uns entendem que “usucapião especial urbana por abandono do
lar” é a melhor forma para se diferenciar das demais modalidades de usucapião,
pois ambas possuem uma conotação familiar.153
A nova modalidade de usucapião, a especial por abandono do
lar ou usucapião familiar, criada pela Lei nº 12.424/2011, que alterou o Código Civil,
criando um dispositivo, o art. 1.240-A, adentrou-se a esfera do direito de família,
gerando uma nova forma para adquirir a propriedade, exclusivamente utilizada entre
cônjuge ou companheiro contra o seu antigo consorte, que abandonou o lar e não se
opôs, pelo lapso temporal de dois anos, à posse mansa e pacífica (sem oposições),
do outro cônjuge ou companheiro.154
De acordo com o que explana o artigo 9º da Lei no. 12.424, de
16 de junho de 2011 (publicada no Diário Oficial da União em 17/06/2011), foi
inserido o artigo 1.240-A ao Código Civil de 2002, incluindo assim a nova
modalidade de usucapião denominada usucapião especial por abandono de lar
(usucapião familiar):
Art. 9o. A Lei no. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 1.240-A: Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta,
153
TARTUCE, Flávio. A USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA POR ABANDONO DO LAR CONJUGAL. Disponível em: <http://www.flaviotartuce.adv.br/index2.php?sec=artigos>. Acesso em: 23 de abril de 2015. 154
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 20.
54
com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 2o (VETADO).155
Nota-se que, a lei supramencionada que alterou a lei que
regulamenta o programa federal Minha casa Minha vida, tem como objetivo principal
resguardar os direitos das pessoas financeiramente vulneráveis (baixa renda).
Conforme reforça Carlos Eduardo de Castro Palermo: “A
usucapião especial urbana por abandono do lar tem como objetivo dar casa a quem
não tem. Neste sentido, atende ao novo tratamento jurídico à família, tutelado pela
Constituição”.156
No entanto, de acordo com o referido artigo, observa-se os
requisitos exigidos para que se possa adquirir a propriedade do imóvel pelo instituto
do usucapião familiar.
Os requisitos da usucapião familiar assemelham-se aos
requisitos da usucapião especial urbana prevista no art 1.240, do Código Civil, no
que tange ao tamanho da área, qual seja, 250 metros quadrados, a utilidade que
deve ser para uso próprio ou de sua família, ao possuidor que for adquirir a
propriedade não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural, e por fim que
esta modalidade não poderá ser utilizada mais de uma vez pelo mesmo possuidor.
155
BRASIL. Lei no. 12.424, de 16 de junho de 2011. Altera a Lei no. 11.977, de 7 de julho de 2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas, as Leis nos. 10.188, de 12 de fevereiro de 2001, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 4.591, de 16 de dezembro de 1964, 8.212, de 24 de julho de 1991, e 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil; revoga dispositivos da Medida Provisória no. 2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. In: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12424.htm>. Acesso em: 23/04/2015. 156
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 05-06.
55
A modalidade da usucapião familiar não se estende aos
imóveis rurais, abrangendo tão somente aos imóveis da zona urbana, fato este que
ficam sem amparo legal as famílias que passam pela mesma situação, porém em
imóveis de zona rural.
Outrossim, o fator tempo estabelecido pela nova modalidade,
consiste no prazo de 2 anos, o qual nota-se ser relativamente curto, quando
comparado com as demais modalidade.
Nessa baila, leciona Luciana Santos Silva:
[…] o imóvel pode ser fruto dos regimes de comunhão total ou parcial, bem como do regime de participação final de aquestos em havendo no pacto previsão de imóvel comum e, ainda, no de separação legal, consoante Súmula nº 377 do STF, que dispõe que os bens adquiridos na constância do casamento se comunicam. Quanto ao regime de separação convencional de bens, resta afastada a possibilidade de utilização do instituto uma vezque nesse regime não há perspectiva de comunicação de patrimônio entre cônjuges e companheiros.157
Cabe salientar que para se fazer valer do instituto, a posse no
lapso temporal de 2 anos, deve ser única e exclusiva do cônjuge ou companheiro
que continuou no lar, após ter sido abandonado pelo ex-cônjuge ou ex-
companheiro.
Ademais, quando se faz menção a ex-cônjuge ou ex-
companheiro, muitos assemelham o termo ao divórcio ou dissolução da união
estável, mas cabe informar, que abrange também aos que se encontram separados
de fato (separação de corpos).
3.2 REQUISITOS DO USUCAPIAO FAMILIAR
Para que o cônjuge se faça valer do instituto da “usucapião
familiar”, cumpre analisar os seguintes requisitos legais:
157
SILVA Luciana Santos . Uma nova afronta à Carta Constitucional: usucapião pró-família. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/artigos/detalhe/752>. Acesso em: 23/04/2015.
56
3.2.1 PRAZO DE 2 (DOIS) ANOS
Primeiramente deve ser respeitado o prazo de 2 anos sobre o
referido imóvel, prazo este que deve ser ininterrupto, ou seja, o cônjuge que
permanecer no imóvel não poderá abandoná-lo.
Pois, conforme preceitua o caput do art. 1.196 do Código Civil:
Art. 1.196 - considera-se possuidor todo aquele que tem, de fato, o exercício de alguns poderes inerentes da propriedade. A propriedade é dominação jurídica, posse é dominação de fato. Posse é um exercício, comportamento de quem age como dono158.
No entanto, a posse denota-se uma situação de fato em que
uma pessoa, que podendo ou não ser o proprietário, exerce sobre uma determinada
coisa, atos e poderes ostensivos, conservando-a, defendendo-a e dando-lhe seu
natural destino.159
3.2.2 POSSE SEM OPOSIÇÃO
A posse do imóvel deve ser sem oposição (mansa e pacífica),
porquanto, somente será cabível a usucapião familiar se o ex-companheiro ou ex-
cônjuge não propor quaisquer medidas judiciais ou extrajudiciais, para resguardar
seus direitos quanto ao imóvel.
Insta salientar, que tal requisito é essencial, pois “se aquele
cônjuge ou companheiro, que não resida no imóvel, providenciar medida judicial ou
extrajudicial ligada à manutenção da propriedade, está desconfigurado o
abandono”.160
3.3.3 POSSE DIRETA E PESSOAL
158
Art. 1.196, da LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 16/04/2014 159
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 09. 160
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 11.
57
O requisito da posse para o usucapião familiar, deve ser
exercido de forma direta e pessoal, sem interferência de prepostos, ou seja, o
cônjuge não poderá aproveitar a posse de terceiros, tampouco alugar ou ceder o
referido imóvel.
O possuidor direto denota-se aquele que possui a coisa em seu
poder, de forma imediata e temporária em virtude de relação jurídica de direito real
ou pessoal preexistente.161
3.3.4 POSSE EXCLUSIVA
A posse além de direta deve ser exclusiva pelo cônjuge, o que
não poderá se valer da posse de terceiros que passe a residir no local, sendo novo
cônjuge ou companheiro.
A esse respeito explana Palermo ao mencionar que “Nessa
parte do dispositivo o legislador quis dizer que nesta modalidade de usucapião
exige-se a posse personalíssima, com exclusividade. Daí excluir a hipótese de
extensão a cessionários, não se admitindo hipótese de aproveitamento por terceiros,
do prazo concedido ao cônjuge ou companheiro inocente”.162
3.3.5 BENS IMÓVEIS
A usucapião familiar, só é cabível quanto ao bens imóveis, não
podendo ser requerido este instituto sobre os demais bens (móveis ou semoventes).
3.3.6 LOCALIZAÇÃO URBANA
Quanto à localização do imóvel, abrange somente aos imóveis
da zona urbana, não estendendo sua aplicação aos imóveis rurais.
161
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 10. 162
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 10.
58
Diante desse requisito, argumenta FARIAS e ROSENVALD ao
mencionar que o artigo 1240-A faz menção somente ao imóvel em área urbana
comum. Visto que para moradia localizada na zona rural, a sua divisão patrimonial
deverá ocorrer pelo regime ordinário do direito de família.163
No mesmo diapasão é o que explana Elpídio Donizetti
Interessante que o legislador não se preocupou com a sorte de quem foi abandonado num casebre na zona rural. Essa pessoa, abandonada pela sorte e pelo cônjuge, também o foi pelo legislador, que não se dignou em lhe conferir a prerrogativa de aquisição da pequena área de terras onde mora. Dois pesos e duas medidas.164
No entanto, observa-se que o legislador inviabilizou a aplicação
da usucapião familiar para as famílias que possuem imóveis rurais.
3.3.7 TAMANHO DE DUZENTOS E CINQUENTA METROS QUADRADOS
No que tange ao tamanho do imóvel, este não pode ultrapassar
os 250 metros quadrados, uma vez que o presente instituto foi instituído para
assegurar os direitos das famílias de baixa renda e não para o enriquecimento ilícito.
Por conseguinte, como o Diploma Constitucional não faz
distinção quanto a área, se a metragem se refere ao solo ou a construção, e que não
é lícito a cada intérprete distinguir, há entendimento de que o limite de 250 metros
quadrados não pode ser ultrapassado, seja para a área de solo, ou para área
construída, e que prevalecerá a que for maior, dentro da limitação. Ademais, não
deverá ser somada a área construída com a do terreno.165
Sendo assim, somente os imóveis com as medidas
supramencionadas, abrange a nova modalidade. Quanto a esta metragem, tem
163
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Direitos reais. 8ed. – 2012. p. 467. 164
DONIZETTI, Elpídio. Usucapião do lar serve de consolo para o abandonado. Disponível em: <www.conjur.com.br/2011-set-20/consolo-abandonado-usucapiaolar-desfeito> Acesso em: 23/04/2015. 165
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 2 - São Paulo: Saraiva, 2003, p. 909-910.
59
como finalidade precípua a efetivação do princípio da função social da propriedade,
expresso no artigo 5º, inciso XXIII, da CRFB/88.166
A extensão fixada pelo legislador representa um tamanho
máximo, a qual é vista como suficiente para a moradia do possuidor ou de sua
família,167
3.3.8 COPROPRIEDADE
O imóvel deve pertencer aos cônjuges ou companheiros, ou
seja, deve existir a copropriedade, se fazendo valer do instituto por um deles após o
término da relação.
No entanto, o dispositivo privilegia aos cônjuges ou
companheiros, incluindo os casais homoafetivos, tendo em vista o amplo
reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar, a qual equipara-se à
união estável. Desta forma fica evidente que o instituto incide restritivamente entre
os que se adequam a entidade familiar, sendo esse o seu âmbito inicial de
aplicação.168
Ao acrescentar: "Cuja propriedade divida com o ex-cônjuge ou
ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua
família...". Verifica-se que a proposta do legislador visa privilegiar a moradia de
propriedade do casal oriunda de casamento ou união estável, não importando esta
última seja hétero ou homossexual.169
Por conseguinte, os casamentos efetuados com o regime de
separação convencional de bens não se enquadram na usucapião familiar, uma vez
166
ALMEIDA, Anderson. Lar conjugal: o abandono e o direito a usucapião especial. Disponível em: < http://andersonmaiaalmeida.jusbrasil.com.br/artigos/111746377/lar-conjugal-o-abandono-e-o-direito-a-usucapiao-especial>. Acesso em: 23 de abril de 2015. 167
RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião : Volume 2 - São Paulo: Saraiva, 2003, p. 908. 168
TARTUCE, Flávio. A USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA POR ABANDONO DO LAR CONJUGAL. Disponível em: <http://www.flaviotartuce.adv.br/index2.php?sec=artigos>. Acesso em: 23 de abril de 2015. 169
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 11.
60
que neste regime os bens não se comunicam. A esse respeito leciona Luciana
Santos Silva:
O imóvel comum no Usucapião Pró-Família pode ser fruto dos regimes de comunhão total ou parcial, regime de participação final de aquestos em havendo no pacto previsão de imóvel comum ou separação legal por força da Súmula no. 377 do STF, a qual prevê que os bens adquiridos na constância do casamento se comunicam. Quando o regime for de separação convencional de bens, a ausência dos bens comuns não permite a aplicação do Usucapião Pró-Família. (...). No regime de separação convencional, não há perspectiva de comunicação de patrimônio entre cônjuges e companheiros, afastando-se o Usucapião Pró-Família, sendo cabível as demais espécies de usucapião previstas no ordenamento legal com prazo mais longo.170
3.3.9 ABANDONO DO LAR
O requisito do Abandono do lar, uma vez que a modalidade é
cabível somente em face do ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar.
No entanto, aquele que ficou omisso ou deixou de praticar os
atos inerentes ao proprietário, quais sejam: uso, gozo, disposição ou reivindicação,
perde a propriedade para aquele que está cumprindo com sua função social. Ou
seja, abandono, no caso, consiste na certeza da falta do exercício de atos
possessórios.171
A usucapião familiar garante a regularização da situação do
imóvel, para o cônjuge ou companheiro que continua residindo no imóvel e foi
abandonado pelo seu ex-cônjuge ou ex-companheiro.
Ocorre que existem inúmeros motivos para que se finde um
relacionamento, e o consorte tenha que se retirar da residência da família.
170
SILVA, Luciana Santos. Uma nova afronta à Carta Constitucional: usucapião pró-família. In: Revista IOB de direito de família. v. 14, n. 71. São Paulo: abril/maio, 2012, p. 33-34. 171
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 11.
61
Para tanto, não será verificado quanto a culpa de quem se deu
pelo fim do relacionamento, mas sim pelo fato de quem continuou na posse
mantendo a função social da propriedade, dando a ela uma melhor utilidade.
Outrossim, existe a forma de garantir que a modalidade seja
desconfigurada, basta que o consorte que se retirou da residência familiar, entre
com uma medida judicial ou extrajudicial, com o fim de resguardar a manutenção da
propriedade.172
Sendo assim, mesmo que ocorra o abandono do lar conjugal,
se for pedido a partilha do referido bem ou arbitrar um valor de aluguel, neste
período de 2 anos, caracterizará a oposição, gerando assim, óbice intransponível à
concessão do pedido de usucapião.173
3.3.10 UTILIZAR PARA SUA MORADIA
Utilizar para sua moradia ou de sua família, este requisito
expõe a finalidade do imóvel, o qual não pode ser utilizado para outros fins, que não
seja para moradia do cônjuge, companheiro ou de sua família.
Sendo assim, insta informar, que o objeto de usucapião não
pode ter utilidade comercial, locatícia ou afins.
3.3.11 NÃO POSSUIR OUTRO IMÓVEL
O consorte não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou
rural, sendo assim se o cônjuge ou companheiro tiver outro imóvel, seja urbano ou
rural, ele perde o direito de requerer a usucapião familiar.
Ao instituir este requisito, o legislador deixa explícito que o
cônjuge ou companheiro que pretende arguir este dispositivo não poderá ele ter
outras propriedades, seja urbana ou rural, o que limita a possibilidade de
172
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 11. 173
MACIEL, Otávio Roberto. USUCAPIÃO FAMILIAR – LEI 12.424/11*. Disponível em: <http://mspadv.com.br/artigos-juridicos/usucapiao-familiar-lei-12.42411>. Acesso em: 23/04/2015.
62
enriquecimento sem causa e garante a aquisição do imóvel com finalidade clara de
moradia e estabilidade da família.174
3.3.12 RECONHECIDO UMA ÚNICA VEZ
O direito a usucapião familiar não será reconhecido ao mesmo
possuidor mais de uma vez, conforme explana o § 1º do Art. 1.240-A.
Frisa-se que este dispositivo cujo objetivo é social. No entanto
como se sabe, o objetivo da propriedade não visa tão somente satisfazer o interesse
do proprietário, mas também o da sociedade em geral.175
3.3 A FUNÇAO SOCIAL DA PROPRIEDADE EM RELAÇAO COM A USUCAPIAO
FAMILIAR
Muitos autores indagam a respeito da culpa pelo abandono do
lar ao se referir sobre o instituto do usucapião familiar. Ademais que o legislador
estaria ressuscitando a investigação da culpa pela extinção do vínculo conjugal ou
união estável.
O presente trabalho não enfatizará a culpa do abandono, se foi
por uma insuportável convivência, ou se ocorreu para beneficiar o abandonado para
que este não ficasse desamparado. No entanto o que deve ser analisado é a função
social que o abandonado estará cumprindo durante o lapso temporal de 2 anos, no
referido imóvel, motivo que o garante a propriedade da totalidade do imóvel.
No que tange a culpa do direito de família e a mens legis
voltada à Justiça Social, tem-se que o abandono de lar deve ser avaliado sobre a
sentido da função social da posse e não no que diz respeito a moralidade da culpa
pelo fim do vínculo conjugal. Portanto, não cabe analisar se o abandono de fato
caracterizou-se com a culpa, ou se a evadir-se foi legítimo ou até mesmo urgente. O
174
ALMEIDA, Anderson. Lar conjugal: o abandono e o direito a usucapião especial. Disponível em: < http://andersonmaiaalmeida.jusbrasil.com.br/artigos/111746377/lar-conjugal-o-abandono-e-o-direito-a-usucapiao-especial>. Acesso em: 23 de abril de 2015. 175
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 13.
63
que será examinado será quem permaneceu dando destinação residencial e social
ao imóvel, independente da legitimidade da posse e do abandono.176
Cabe lembrar que a usucapião é um dos meios para exercer a
função social da propriedade, certificando assim, o direito à moradia àquele que
exerce a posse de determinada propriedade.177
É neste sentido que explica a Lei 12.424 de 16 de junho de
2011, ao instituir o art. 1.240-A no Código Civil de 2002, o qual direciona o instituto
ao fim social da moradia.
Colimando a pretensão social ao expurgo da culpa do direito de família e a mens legis voltada à Justiça Social, temos que o abandono de lar deve ser analisado sobre a vertente da função social da posse e não quanto a moralidade da culpa pela dissolução do vínculo conjugal. Ou seja, não é de se analisar se o abandono de fato caracterizou culpa, ou se a evadir-se foi legítimo ou até mesmo urgente. Buscará apenas qual dos dois permaneceu dando destinação residencial ao imóvel e pronto, independente da legitimidade da posse e do abandono.178
Ao incluir o a figura da usucapião familiar, a legislação visou
resolver a desagradável situação de algumas pessoas, financeiramente vulneráveis
(baixa renda), que com o esforço do casal conseguem financiar um imóvel, e com
isso realizam o tão esperado sonho de adquirir uma residência e dar um abrigo aos
seus filhos. Porquanto, ao findar o vínculo afetivo com seu cônjuge ou companheiro,
encontram-se obrigados a se desfazer do imóvel adquirido, único imóvel da família,
para efetuar a partilha dos bens, tendo estas que ficar com a guarda dos filhos e por
se tratar de imóvel de baixo valor, ficam sem quaisquer possibilidades financeira de
176
AMORIM, Ricardo Henriques Pereira. Primeiras impressões sobre a usucapião especial urbana familiar e suas implicações no Direito de Família. Disponível em: < http://jus.com.br/artigos/19659/primeiras-impressoes-sobre-a-usucapiao-especial-urbana-familiar-e-suas-implicacoes-no-direito-de-familia>. Acesso em: 23/04/2015. 177
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 07. 178
AMORIM, Ricardo Henriques Pereira. Primeiras impressões sobre a usucapião especial urbana familiar e suas implicações no direito de família. Disponível em: < http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?pagina=26&idarea=19&id_dh=6405>. Acesso em: 14 abr. 2015.
64
adquirir uma nova moradia, diante do mísero valor que lhe cabe por meio de sua
meação.179
É nesse mesmo sentido que explana Maria Cabral quanto à
inserção do instituto:
Essa possibilidade foi inserida em atenção aos problemas sociais, já que o cônjuge que permanece no lar, o qual foi abandonado, sofre com a instabilidade financeira e a insegurança social e por esse motivo, o legislador pretende proteger essas pessoas, regularizando a posse do bem imóvel, ocupado exclusivamente por um dos cônjuges, em face do abandono do lar, integralizando o domínio.
Esse foi o objetivo da função social da usucapião familiar.180
O principal objetivo da usucapião especial urbana por
abandono do lar é “dar lar a quem não tem.”181
Se o cônjuge ou companheiro abandonado continuar residindo
e mantendo o imóvel, ou se nele estiver residindo sua família, este está dando
função social a propriedade, assim cumprindo o princípio constitucional da função
social, cabendo a este a integralidade da propriedade.
Conforme leciona Flávio Tartuce, esta nova categoria merece
elogios, uma vez que tenta solucionar inúmeras situações que surgem
corriqueiramente na prática. É habitual ao cônjuge ou companheiro que tenha
tomado a iniciativa de findar o relacionamento, que o mesmo abandone o lar,
deixando para trás o domínio do imóvel comum. E como frequentemente o ex-
cônjuge ou ex-companheiro não pretende ceder expressamente o bem, por meio da
renúncia à propriedade, a nova usucapião acaba sendo a solução. Salienta-se que
se houver disputa, judicial ou extrajudicial, referente ao imóvel, descaracterizará a
posse ad usucapionem, não sendo o caso de subsunção do direito. Podendo, o
179
SIQUEIRA, Heidy Cristina Boaventura. USUCAPIAO ESPECIAL URBANO POR ABANDONO DO LAR: comentários ao artigo 1.240-A do Código Civil Brasileiro. Disponível em: < http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,usucapiao-especial-urbano-por-abandono-de-lar-comentarios-ao-artigo-1240-a-do-codigo-civil-brasileiro,38492.html>. Acesso em: 23/04/2015. 180
CABRAL, Maria. Usucapião familiar: o direito do cônjuge residente em face do abandono do lar. Disponível em: <http://mariateixeiracabral.jusbrasil.com.br/artigos/137644940/usucapiao-familiar-o-direito-do-conjuge-residente-em-face-do-abandono-do-lar>. 181
PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A Nova Usucapião Especial por Abandono de Lar e a Função Social da Propriedade. Síntese Direito de Família – 2012. p. 05-06.
65
cônjuge ou companheiro que abandonou o lar, notificar o ex-consorte anualmente,
para demonstrar o impasse relativo ao bem, afastando a contagem do prazo.182
Visto as formas que autorizam a aplicação da modalidade,
Anderson Almeida lista alguns dos motivos que não autorizam a aplicação da norma:
O companheiro que viaja para assuntos de negócios ou estudos, mesmo que por tempo superior aos 02 (dois) anos que por si autorizariam a possibilidade do companheiro que exerce a mesma posse por esse período de forma ininterrupta. O companheiro que mesmo saindo do lar, ainda ajuda na assistência material e moral do lar conjugal, caso esse observados quando a saída do lar é um preparo para a ação de divórcio. Infelizmente, alguns operadores do direito, tentando fazer prevalecer os interesses do seu cliente, aquele que continua no lar, tenta induzir o Magistrado ao erro, quando leva aos fatos do pedido da usucapião especial o tempo de afastamento do lar, suprimindo por muitas vezes os fatos de assistência material e
moral do cônjuge que se afastou do lar.183
Diante disso, conclui-se que a lei 12.424/11, ao inserir a alínea
A no artigo 1.240 do Código Civil de 2002 visou solucionar as situação que antes se
perpetuavam e que por inúmeras vezes vinha prejudicar as famílias abandonadas,
pois além de tem que suportar o abandono pelo ex-cônjuge ou ex-companheiro,
aquele que ficava residindo no imóvel, tinha que sozinho sustentar a família a qual
era abandonada a consorte, e esta se ver amarrado a casa sem possiblidade de
usufruir de sua totalidade, uma vez que não poderia vender o imóvel, devido aos
impedimentos legais.184
Desta forma, cabe salientar que para os fins do Usucapião, o
requisito do abandono de lar não tem ligação a culpa pela separação, mas tem única
e exclusiva ligação a função social exercida por quem se manteve na posse do
imóvel.
182
TARTUCE, Flávio. A USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA POR ABANDONO DO LAR CONJUGAL. Disponível em: <http://www.flaviotartuce.adv.br/index2.php?sec=artigos>. Acesso em: 23 de abril de 2015. 183
ALMEIDA, Anderson. Lar conjugal: o abandono e o direito a usucapião especial. Disponível em: < http://andersonmaiaalmeida.jusbrasil.com.br/artigos/111746377/lar-conjugal-o-abandono-e-o-direito-a-usucapiao-especial>. Acesso em: 23 de abril de 2015. 184
ALMEIDA, Anderson. Lar conjugal: o abandono e o direito a usucapião especial. Disponível em: < http://andersonmaiaalmeida.jusbrasil.com.br/artigos/111746377/lar-conjugal-o-abandono-e-o-direito-a-usucapiao-especial>. Acesso em: 23 de abril de 2015.
66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente trabalho, que o princípio da Função Social da
Propriedade, consiste no cumprimento dos interesses sociais da coletividade, ou
seja, visa privilegiar aquele que a tornou produtiva, contribuindo para o bem comum
do coletivo. Outrossim que a Usucapião é um modo originário de se adquirir a
propriedade, visto que não existe relação entre o perdente do direito de propriedade
e o usucapiente.
Logo, aquele proprietário desidioso que, por desinteresse, ou
por irresponsabilidade não cuidou do seu imóvel, ao ponto de deixar seu bem em
estado de abandono, mesmo que não fosse essa sua intenção, perde a propriedade
para aquele que permaneceu no imóvel de forma mansa e pacífica, durante
determinado lapso temporal expresso em lei, e que cuidou do bem e lhe deu
destinação, utilizando como se seu fosse. Pois este cumpriu com a função social da
propriedade, uma vez que o bem usucapido terá o uso e a conservação mais
adequado, beneficiando assim à coletividade.
O novo instituto de usucapião, denominado usucapião familiar,
criado pela Lei 12.424, de 16 de junho de 2011, a qual inseriu o art. 1.240-A no
Código Civil, adentrou-se na esfera do direito de família, e instituiu uma nova forma
para se adquirir a propriedade, utilizada exclusivamente entre os cônjuge ou
companheiro em face do seu antigo consorte, que abandonou o lar e não se opôs,
pelo decurso do tempo de dois anos, à posse mansa e pacífica (sem oposições), do
outro cônjuge ou companheiro.
Ademais, foi salientado quanto aos requisitos essenciais para
que possa requerer a usucapião familiar sendo elas: o lapso temporal de 2 anos
sobre o referido imóvel; a posse do imóvel que deve ser sem oposição (mansa e
pacífica); a posse deve ser exercida de forma direta e pessoal, sem aproveitar a
posse de terceiros; além de direta a posse deve ser exclusiva pelo cônjuge; esta
modalidade só é cabível quanto aos bens imóveis, não podendo recair sobre os
móveis e semoventes; quanto a localização do imóvel, abrange somente aos
67
imóveis rurais; quanto ao tamanho do imóvel, este não pode ultrapassar 250 metros
quadrados; deve existir a copropriedade, ou seja o imóvel deve pertencer aos
cônjuges ou companheiros; o abandono do lar, pois só é possível requerer
usucapião familiar aquele que foi abandonado pelo cônjuge ou companheiro; o
imóvel deve ser utilizado para sua moradia ou de sua família; o consorte não pode
ser proprietário de outro, seja urbano ou rural; e por fim que o possuidor não será
agraciado com este instituto mais de uma vez.
Se o cônjuge ou companheiro abandonado continuar residindo
e mantendo o imóvel, ou se nele estiver residindo sua família, este está dando
função social a propriedade, assim cumprindo o princípio constitucional da função
social, cabendo a este a integralidade da propriedade.
Desta forma conclui-se que a modalidade de usucapião
familiar, visou solucionar as situação que antes se perpetuavam e que por inúmeras
vezes prejudicavam as famílias abandonadas, uma vez que se o cônjuge ou
companheiro abandonado continuar residindo e mantendo o imóvel, ou se nele
estiver residindo sua família, este está dando função social a propriedade, assim
cumprindo o princípio constitucional da função social, cabendo a este a integralidade
da propriedade. Ademais aquele que foi abandonado e ficava residindo no imóvel,
tinha que sozinho sustentar a família, sem possiblidade de usufruir de sua totalidade,
uma vez que não poderia vender o imóvel, devido aos impedimentos legais.
Assim, para os fins da Usucapião, o requisito do abandono de
lar não tem ligação a culpa pela separação, mas tem única e exclusiva ligação a
função social exercida por quem se manteve na posse do imóvel.
A seguir serão abordadas as hipóteses do presente trabalho, e
uma análise para verificar se houve ou não a sua confirmação:
Hipótese 01: O princípio da Função Social da Propriedade
condiciona o reconhecimento e proteção do direito do proprietário (poder) ao
direcionamento do uso dado à Propriedade para os interesses sociais (dever). A
Função Social da Propriedade consubstancia-se na busca do equilíbrio, do meio-
68
termo entre dois extremos. Concilia poder e dever, direito e obrigação, individual e
social, utilização econômica e preservação do Meio Ambiente. Ao mesmo tempo em
que garante a Propriedade Privada e a obtenção de vantagens para o proprietário,
vincula essas vantagens à promoção do Bem Comum.185 A hipótese confirma-se
com o presente trabalho.
Com o Código Civil aberto, ao ler os artigos 1.238 até 1.244
notamos haver sete tipos de usucapião, além de haver mais um no Estatuto da
Cidade (Lei 10.257/2001), totalizando oito espécies, quais são: USUCAPIÃO
EXTRAORDINÁRIA previsto no art. 1.238, caput, CC; USUCAPIÃO EXT.
REDUZIDA previsto no art. 1.238, § único, CC; USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL ou
pró-labore, constitucional previsto no art. 1.239, CC; USUCAPIÃO ESPECIAL
URBANA ou pró-misero, pró-moradia, pró-habitatione, habitacional, previsto no art.
1.240, CC; USUCAPIÃO FAMILIAR ou conjugal, previsto no art. 1.240-A, CC;
USUCAPIÃO ORDINÁRIA, previsto no art. 1.242, caput, CC; USUCAPIÃO ORD.
REDUZIDA, previsto no art. 1.242, § único, CC; e USUCAPIÃO COLETIVA, previsto
no art. 1.228, §4.º, CC e art. 10, Lei 10.257/01, Estatuto da Cidade.186 A hipótese
está confirmada.
A Lei 12.424/2011 que regulamenta o programa de governo
Minha Casa Minha Vida, inseriu no Código Civil a previsão de um cônjuge usucapir
do outro, nos seguintes termos, a seguir: Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2
(dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade,
sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja
propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar,
utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral,
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. §1º O direito
185
CAVEDON, Fernanda de Salles. FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL DA PROPRIEDADE / Fernanda de Salles Cavedon – Florianópolis : Visualbooks, 2003. 186
SILVA, Érika Moura e. DIFERENTES ESPÉCIES DE USUCAPIÃO PARA IMÓVEIS, Disponível em: <http://www.blogladodireito.com.br/2012/11/as-diferentes-especies-de-usucapiao.html#.VVDmbNLBzGc>. Acesso em 15/09/2014.
69
previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.187
Confirmada a presente hipótese.
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
ALMEIDA, Anderson. Lar conjugal: o abandono e o direito a usucapião especial. Disponível em: < http://andersonmaiaalmeida.jusbrasil.com.br/artigos/111746377/lar-conjugal-o-abandono-e-o-direito-a-usucapiao-especial>.
AMORIM, Ricardo Henriques Pereira. Primeiras impressões sobre a usucapião especial urbana familiar e suas implicações no Direito de Família. Disponível em: < http://jus.com.br/artigos/19659/primeiras-impressoes-sobre-a-usucapiao-especial-urbana-familiar-e-suas-implicacoes-no-direito-de-familia>.
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