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DANIEL GARCIA FOGAÇA
FLAVIO SÉRGIO GONÇALVES
A IGREJA NO MUNDO
DIVIDIDO PELAS GUERRAS
SÃO PAULO – SP
MAIO DE 2015
FLAVIO SÉRGIO GONÇALVES
DANIEL GARCIA FOGAÇA
A IGREJA NO MUNDO
DIVIDIDO PELAS GUERRAS
Trabalho apresentado como pré-requisito parcial para aprovação da disciplina de História da Igreja III. Prof. Dr. Rev Christian Brially Tavares de Medeiros.
SÃO PAULO – SP
MAIO DE 2015
Turma: 3º ano, diurno
INTRODUÇÃO
Enquanto o mundo entrava no século 20, os humanistas liberais,
defensores do cristianismo social e até muitos evangélicos estavam certos de
que o reino de Deus, ou pelo menos um mundo melhor, se aproximava, outros
questionavam se havia provas válidas de que tal progresso realmente existia e
sugeriam que os males da industrialização e urbanização eram muito maiores
que seus benefícios.
Com certeza os novos sistemas de crença daquele tempo não eram
otimistas e nem ofereciam elogios à natureza humana, sendo:
Os Marxistas viam os seres humanos em termos de relação de
propriedades, os darwinistas sociais em termos de sobrevivência do mais
adequado;
Os freudianos falavam de uma libido desconhecida;
Os positivistas, de um racionalismo científico.
Então, duas guerras mundiais, seguidas por quase meio século sob o
temor de uma terceira, sepultaram de vez a esperança otimista de
aperfeiçoamento humano. Essa situação iria moldar profundamente o
Cristianismo do século 20.
Em busca da Paz
No início da primeira guerra, esforços foram evidenciados na tentativa de
se resolver as disputas entre nações. O movimento pela conciliação nacional
tinha feito muitas conquistas, havia sociedades pacíficas em vários países e
diversos congressos internacionais procuravam dar um rumo a essa causa
Entre os esforços cristãos para que muitos países não se lançassem à
Guerra temos o iniciado pelo Secretário de Estado Americano, William
Jennings Bryan1 que entre 1913 e 1914 assinou mais de trinta tratados com
esse objetivo.
Outra iniciativa veio em 1908, por parte de líderes das igrejas na
Alemanha e Grã-Bretanha que começaram a trocar visitas para incentivar um
entendimento comum e estabeleceram contatos com colegas dos Estados
Unidos que também tinham a mesma preocupação.
Várias igrejas protestantes tentaram uma aproximação em torno de uma
organização com fins sociais, abrindo mão de posições doutrinarias.
Organizaram, então, o Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América.
Com o clima sombrio que antecedia a primeira Guerra Mundial, esta
organização uniu-se a igrejas protestantes européias, fundando assim em
agosto de 1914, a Aliança Mundial para Promover a Amizade Internacional
através das igrejas.2
Essas instituições revelaram-se como uma força importante na
promoção do entendimento internacional, porém apesar dos esforços desses
defensores da Paz, as tensões continuaram a crescer.
O INÍCIO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Apesar das tentativas de se evitar os conflitos, houve crescente tensão e
partir de 28 de junho de 1914, com a morte do príncipe austro-húngaro, os
exércitos marcharam alegremente para a guerra.
1 Bryan foi um presbiteriano devoto, um forte defensor da democracia popular, e um inimigo dos bancos e seu padrão-ouro. Ele exigiu "Livre de prata". Ele era um defensor da paz, um proibicionista, e um adversário do darwinismo por motivos religiosos e humanitários. Com suas viagens profunda, voz de comando e de largura, ele foi um dos oradores mais conhecidos e professores da época. Por causa de sua fé na sabedoria das pessoas comuns, ele foi chamado de "The Great Commoner".2 http://solascriptura-tt.org/SeparacaoEclesiastFundament/PerigosDoEcumenismo-Ferro.htm
O que parecia em primeiro momento ser uma guerra rápida e logo
voltariam para casa, durou mais de 3 anos e gerou uma verdadeira carnificina
que ceifou a vida de mais de 12 milhões de pessoas, dentre as quais a maioria
homens na faixa etária do 18 aos 32 anos, destruindo o otimismo dos
defensores da paz.
Uma guerra que contou com o complexo industrial para garantir o
suprimento de armas e que ocasionou um controle rígido na produção de
alimentos e distribuição de matéria prima e mão de obra, pois um dos lados
tentava destruir a economia do outro, impondo-lhe bloqueio naval e submarino.
Outras restrições como a dos direitos civis e na censura, vieram com a
intenção de combater subversões e com a intenção de silenciar críticas sobre a
guerra e possíveis informações que venham a ajudar o inimigo. Por outro lado,
a propaganda era usada para retratar o inimigo da pior maneira possível e ao
mesmo tempo despertar nas pessoas um senso de solidariedade e de
convicção de que estavam enganjados numa cruzada de retidão.
Apesar do Comitê Permanente de Edinburgo e o Movimento pela paz
terem feito no progresso no sentido da cooperação ecumênica, os sonhos de
solidariedade cristã se dissipavam à medida que os ventos da guerra sopravam
sobre a Europa. A iniciativa Missionária sofreu um golpe devastador tendo em
vista que os fundos para obras em outros países haviam sido drasticamente
reduzidos e as viagens missionárias dificultadas. Com isso até a
“supranacionalidade das Missões”, que fora discutido em 1914 quando na
conquista dos territórios alemães na África e no Pacífico, não foi levado em
conta pelos aliados, que confiscavam propriedades das missões e detinham ou
repatriavam missionários de nacionalidade alemã que estivesse trabalhando
nesses locais e em seus próprios territórios na Índia, África e Pacífico Sul.
Essas ações levaram a igreja a envolver-se nos conflitos desde o
princípio. Líderes da comunidade teológica e missionária alemã, incluindo Adolf
von Harnack, preparam uma declaração com termos severos, condenando os
Aliados de culpar a Alemanha pela guerra e de tomar posse das propriedades
das missões, afirmavam que a Alemanha havia agido em defesa própria.
No mês seguinte, líderes e teólogos da igreja Britânica liderados pelo
arcebispo de Canterbury responderam com uma defesa igualmente severa de
seu país e acusações continuaram a ser trocadas até mesmo nos púlpitos,
onde se proclamava a retidão de sua causa de um lado e acusando o inimigo
dos mais vis motivos e atos.
Apesar dos esforços ecumênicos ter fracassado, um fator positivo desse
trabalho veio da ACM - Associação Cristã de Moços3 trabalharam
incansavelmente para dar assistência às regiões afetadas pela guerra e ajudar
prisioneiros de guerra e soldados feridos.
Entre as atrocidades da guerra, houve um que mexeu profundamente
com o Ocidente – o massacre turco de cristãos armênios. Apesar dos aliados
condenarem o genocídio, não conseguiu evitá-lo, o que culminou no extermínio
sistemático de um povo cristão muito antigo e deu a Hitler um modelo para
seguir no tratamento dos judeus europeus.
O PANORAMA HISTÓRICO DO GENOCÍDIO DE CRISTÃOS ARMÊNIOS
Frequentemente, ao tentarem “justificar” o genocídio, muitos turcos
alegam uma “traição” armênia da relação de quase 600 anos entre ambos os
povos no Império Otomano.
No século 19, o Império otomano foi gradativamente perdendo terreno
na Europa, o que levou as autoridades a temerem a fragmentação total do país
caso a onda de independência atingisse a Ásia Menor. Para evitar a destruição
do Império, os Jovens Turcos alimentaram as ideias de panturquismo, que
preconizavam a união dos povos de raízes turcas (azerbaijanos, turcomanos,
uzbeques, etc.).
Os armênios, povo não turco e cristão, eram um empecilho físico a esse
plano. Ademais, ideias nacionalistas oriundas da Europa atingiram os armênios
no final do século 19, tornando-os mais hostis ao nacionalismo turco e
ajudando a organizá-los para resistir às tentativas de turquificação oriundas de
Constantinopla.
Altos impostos, tratamento desigual, saques constantes e outras
situações começaram a fazer parte do cotidiano dos armênios, que já não
suportavam mais ser considerados cidadãos de segunda classe em suas
próprias terras. Algumas vilas e cidades se rebelaram contra a violência
3 uma organização fundada em 6 de junho de 1844, em Londres por um jovem chamado George Williams. Na ocasião o objetivo era oferecer aos jovens que chegavam em Londres a trabalho, uma opção à vida nas ruas, incentivando a prática de princípios cristãos, conforme ensinados por Jesus Cristo, através de estudos bíblicos e orações
imperial, mas foram rapidamente sufocadas pelas tropas otomanas. Tais
eventos foram usados como justificativa pelo governo dos Jovens Turcos para
atacarem o povo armênio, afirmando que eram revoltosos e traidores.4
Aproximadamente um milhão e meio deles morreu vítima de
assassinato, linchamento e marchas mortais de deportação.
A PRESENÇA AMERICANA NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E A
REAÇÃO DA IGREJA
Ao longo da guerra os aliados conquistaram a simpatia dos americanos,
principalmente nos meios eclesiásticos, quando começaram a retratar os
conflitos em termos moralistas e ideológicos, como sendo uma guerra santa
contra a tirania, despotismo e militarismo, uma paz negociada e baseada no
restabelecimento do equilíbrio do poder tornou-se totalmente fora de questão.
Isso acabou levando em 1917 os Estados Unidos para a guerra e o
argumento de que a guerra era uma luta entre a democracia e o autoritarismo
ganhou novo fôlego. Os poderes centrais precisavam ser derrotados para que
uma nova ordem mundial fosse criada.
A maioria dos cristãos americanos apoiaram com entusiasmo a
participação na guerra, apesar de algumas igrejas historicamente favoráveis à
paz (Menonitas, Quackers e Igreja dos irmãos) continuaram firmes em seus
princípios pacifistas, mas acabaram sendo perseguidos pelas autoridades civis
e militares.
Alguns pregadores protestantes foram a extremos em sua retórica de
guerra, entre eles o evangelista Billy Sunday que declarou: “Se você virar o
inferno de cabeça para baixo, vai ver a marca “Feito na Alemanha” escrita no
fundo” e o proeminente ministro liberal e educador presbiteriano Henry Van
Dyke (1852-1933), que defendia que todos aqueles que erguiam a voz contra a
participação americana na guerra “deveriam ser enforcados sem demora”.
Esse tipo de entusiasmo ilimitado na defesa de seu lado podia ser encontrado
igualmente nos sermões de ministros alemães e britânicos.
As denominações também foram impactadas pela guerra. Em 1917 foi
criado o Concílio Federal de Igrejas, este concílio representava dois terços dos
protestantes de todo país, emergindo como uma das forças mais influentes da
4 http://genocidioarmenio.com.br/historia/o-genocidio/
América, que através da Comissão Geral das Igrejas em Tempos de Guerra do
FCC, coordenava as iniciativas de assistência social e lidava com o governo. E
concentrando-se em questões práticas, as igrejas superaram suas divisões e
desbravaram novos horizontes na busca pela unidade. Quanto aos
Católicos, sua experiência com guerras permitiu que se tornassem parceiros
integrais da comunidade religiosa americana.
Podemos dizer que o Presidente Wilson foi um verdadeiro
revolucionário, pois sua visão idealista de guerra como uma contenda de bem
contra o mal e da democracia contra a tirania e o militarismo prussiano e ainda
com a criação da Liga das Nações, contribuíram para esse fim.
Esse fato teve um segundo elemento revolucionário ao quadro geral que
foi a deposição do Governo da República Rússia em 1917 por Vladimir I. Lenin
e seu partido Bolchevique, estabelecendo logo após a Ditadura e o sistema de
crenças Marxismo-leninismo, que se tornou um grande desafio ideológico à
democracia e para preservar a Revolução Rússia separou-se da Alemanha.
Os aliados lançaram uma ofensiva em todas as frentes, os Poderes
Centrais entraram em colapso, seus países foram varridos por revoluções e a
guerra terminou com o armistício de 11 de novembro de 1918.
O TRATADO DE VERSALHES5
Os Europeus planejavam punir a Alemanha e impedir que ela se
levantasse contra eles novamente. O medo de que o Bolchevismo se
espalharia em seus países firmou ainda mais a resolução dos líderes de não
aceitar uma paz conciliatória.
Com ondas conservadoras avançando sobre os países aliados, os
líderes em Paris estavam extremamente cônscios das tendências nacionalistas
e anti-revolucionárias em suas nações.
Após seis meses de negociações, em Paris, o tratado foi assinado como
uma continuação do armistício de Novembro de 1918, em Compiègne, que
tinha posto um fim aos confrontos. O principal ponto do tratado determinava
que a Alemanha aceitasse todas as responsabilidades por causar a guerra e
5 O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado pelas potências européias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial, tinha um caráter de paz imposta, pois não foi permitido aos alemães participar das sessões de negociação.
que, sob os termos dos artigos 231-247, fizesse reparações a certo número de
nações da Tríplice Entente.6
O acordo de Paz também ergueu uma barreira na Europa Oriental para
conter o Bolchevismo7 ao permitir a criação de vários países novos nos
territórios antigos impérios.
CONTRIBUIÇÃO DA IGREJA NO TRATADO DE VERSALHES
Uma realização importante da comunidade cristã no acordo de paz foi a
preservação das propriedades de missões. Os redatores do tratado haviam
autorizado os aliados a confiscarem em suas terras todos os bens que
pertencessem a cidadãos alemães para quitar dívidas com indivíduos e com
vários governos, o que significaria a completa destruição das missões alemãs.
Entretanto, J.H. Oldham e outros membros do grupo ecumênico
persuadiram os redatores a incluírem uma cláusula de exceção no documento.
O artigo 438 determinava que as propriedades das missões seriam colocadas
nas mãos de um “curador” da mesma denominação, que a sociedade
envolvida. Depois que os ânimos haviam se acalmado os curadores ocidentais
discretamente devolveram as propriedades para seus proprietários alemães.
ANTI-SEMITISMO E SIONISMO
O crescimento do racismo europeu é um assunto complexo, mas fica
claro que a criação de estereótipos como o “nobre ariano” e a sistematização
dos tipos raciais à partir de características físicas eram voltadas para um grupo
– os judeus.
Havia também uma lenda sobre um “judeu errante” que reforçava a ideia
do judeu como o eterno estrangeiro, um nômade incapaz e sem raízes que
dedicava-se ao comércio – diferente do nobre ariano que tinha raízes. Um
outro mito era o da sinistra conspiração mundial judia, um tema da ficção do
século 19 que foi incorporado no maior livro anti-semítico de todos os tempos
“Os protocolos dos Sábios anciãos de Sião”. Produzido na Rússia por volta de
6 http://www.sohistoria.com.br/ef2/versalhes/7 O bolchevismo, Partido Russo que defendia uma mudança radical de política para o povo, defendendo uma revolução socialista armada, caso necessário. Em 1917, passaram a ser conhecidos apenas como Partido Comunista da União Soviética.
1905, chegou traduzido no ocidente em 1918 e é considerado desde então a
“bíblia” dos anti-semitas.
Em contraste com esse pensamento havia ainda a ideia iluminista de
assimilação dos judeus que afirmava que os judeus poderiam tornar-se parte
da civilização em geral e que deveriam ter os mesmos direitos que todas as
outras pessoas. Em 1860-1904, Theodor Herzl, um jornalista austríaco que
acompanhou o julgamento de Dreyfuss e viu o anti-semitismo agressivo
naquele que era o mais liberal de todos os países – a França - concluiu que a
assimilação não era a solução. Publicou um livro no qual argumentava que os
judeus deveriam ter a sua própria terra – um Estado Judaico.
Herzl foi o fundador do sionismo moderno, o movimento em favor de um
país para os judeus. Para ele essa era uma resposta racional para o anti-
semitismo e não alguma coisa baseada num profundo sentimento de
identidade dos judeus. Esta ideia ganhou força com Chaim Weizmann (1874-
1952), um fervoroso defensor do movimento na Grã-Bretanha e que tinha
contatos com cargos elevados, persuadiu o Secretário de Assuntos
Estrangeiros Arthur Balfour a apoiar o sinomismo como uma medida de guerra.
Na famosa Declaração de Balfour em 2 de novembro de 1917, ele
afirmou que o governo britânico “vê favoravelmente a fundação na Palestina de
um lar nacional para o judeu”. A intenção dessa declaração era firmar o apoio
de judeus americanos e russos para as iniciativas de guerra e buscar um
possível endosso alemão para o sionismo e, de fato, no mês seguinte as tropas
britânicas entraram em Jerusalém.
No Tratado de paz a Grã-Bretanha recebeu um mandato da Liga das
Nações sobre aquela área, enquanto q França assumiu o mandato do Líbano e
da Síria. Imigrantes Judeus começaram a dirigir-se em massa para a Palestina
mandatária, compraram terras, construíram cidades, fundaram escolas e
hospitais e em 1929, criaram um órgão de governo próprio, a Agência Judia da
Palestina. Durante os anos que se seguiram, a violência entre grupos de
guerrilha judeus e árabes se intensificou e os britânicos ficaram presos entre os
dois.
Depois que Hitler subiu ao poder na Alemanha, a imigração cresceu
ainda mais e com ela também o ressentimento árabe. O número de judeus na
região havia subido de 58 mil em 1919 para 450 mil em 1939. Para a Grã-
Bretanha o problema na Palestina parecia não ter solução.
A CRISE CULTURAL E O PENSAMENTO CRISTÃO
Dúvida, desordem, incerteza e pessimismo marcaram a crise do
pensamento. Uma revolução de ideias que havia se iniciado antes da Primeira
Guerra Mundial espalhou-se para toda a população na década de 1920. Tudo
era relativo e dependia da referência usada pelo observador. Com isso a
sociedade começou a abandonar crenças e valores que mantinham desde o
Iluminismo.
Muitos autores rejeitaram a fé geral no progresso e racionalidade
humana e sugeriram que a experiência direta e a intuição eram tão importantes
quanto o pensamento científico. Vários profetas do apocalipse falaram do
declínio da civilização ocidental e usaram a guerra mais destrutiva da história
como prova de que os seres humanos eram um bando de animais violentos e
irracionais.
A Psicologia Freudiana explicou o comportamento humano em termos
de inconsciente irracional que era dirigido por desejos sexuais, agressivos e
dirigidos para o prazer que estavam em constante conflito como as partes
racionais e morais da mente.
O positivismo lógico afirmou que os únicos conceitos válidos eram
aqueles que podiam ser testados através de experimentos científicos ou
demonstrados pela lógica da Matemática. Assim, não se podia falar dos
conceitos como Deus, liberdade e moralidade pois estes não tinham
significados.
Estes acontecimentos afetaram profundamente a Teologia.
Desde a Idade Média a Fé e a Razão estavam ligadas e a confiabilidade
do Cristianismo só era questionada por aqueles que estavam do lado de fora,
que foi o caso do deísmo iluminista que na verdade era uma religião rival.
No século 19, o conceito de revelação divina foi colocado em dúvida não
apenas por descrentes mas por teólogos dentro da própria igreja. Enquanto a
reação liberal foi de reforçar a nova situação, a dos conservadores foi a de
rejeitá-la. Essa posição causou divisão entre os cristãos modernos e isso
preparou terreno para um terrível conflito cultural na década de 1920, a
controvérsia fundamentalista-modernista.
Os conservadores desafiaram os princípios básicos do modernismo com
coragem profética e mostraram que coisas como a teoria da evolução e a
hipótese documentária das Escrituras eram incompatíveis com o Cristianismo
bíblico.
Os conservadores encontraram uma explicação plausível para o
“colapso” da civilização alemã na teologia modernista e na evolução
darwiniana, crenças essas que haviam destruído a alma da Alemanha,
estavam agora enfraquecendo as instituições educacionais da América. Assim,
a intensidade e militância da Guerra Mundial foi transferida para o campo da
religião.
Outro fator que estimulou o ativismo fundamentalista foi a profecia
bíblica, pois com a volta dos Judeus muitos achavam que a Segunda Vinda
estava próxima. Então, o exército celestial do Rei Jesus, iria aniquilar as formas
terrenas do mal.
Em 1919, W.B. Riley, um proeminente pregador Batista do norte de
Minneapolis, encontrou um encontro de conservadores na Filadélfia para lançar
a Associação Mundial dos Fundamentos Cristãos. Seu credo era a Inerrância
Bíblica e a volta pré-milenar e iminente de Cristo, movimento este que se
espalhou e desafiou os modernistas em duas frentes: A primeira nas igrejas e a
segunda na cultura de modo geral. As igrejas, as principais denominações e
suas agências missionárias combateram o Liberalismo ao pressionar os oficiais
a se comprometerem com as doutrinas tradicionais.
Em grande parte esse era um problema do Norte, uma vez que os
conservadores controlavam as denominações do Sul. As lutas mais dramáticas
aconteceram nos Discípulos de Cristo, Convenção dos Batistas do Norte
sIgreja Presbiteriana nos EUA. Tendo como destaque o estudioso do Novo
Testamento do Seminário de Princeton, J. Gresham Machem, autor do livro,
Cristianismo e Liberalismo, que argumentava que esses dois lados eram
religiões diferentes.
Na Esfera Cultural, o movimento concentrou-se em salvar a civilização
americana da influência perniciosa do Darwinismo, que foi acusado de causar a
revolução na moralidade e ameaçar a Democracia. Os fundamentalistas
asseguraram-se de que fossem aprovadas leis em alguns estados proibindo o
ensino da evolução nas escolas públicas.
A mídia transformou esse julgamento num circo e os fundamentalistas
acabaram sendo ridicularizados. Machem deixa Princeton em 1929 e começa o
novo Westminster Theological Seminary e os conservadores deixaram as
principais denominações para começar novos grupos, como a Igreja
Presbiteriana Ortodoxa , a Igreja Metodista do Sul, as Igrejas Independentes
Fundamentais da América e a Convenção Cristã Norte Americana.
Essas igrejas por concentrarem-se exclusivamente em negar o
modernismo, os fundamentalistas deixaram de desenvolver uma cosmovisão
afirmativa e tornaram-se partido derrotado na política denominacional. Ainda
assim o fundamentalismo passou por uma transformação institucional,
tornando-se uma religião popular através da criação de uma complexa rede de
institutos bíblicos, conferências bíblicas de verão, iniciativas de radiodifusão
religiosa e sociedades missionárias. Isso permitiu que os conservadores
voltassem à tona com vigor renovado na década de 1940.
Ao mesmo tempo, um outro movimento chamado de neo-ortodoxia
oferecia respostas mais singulares para o dilema moderno. Uma importante
fonte dessa nova visão de mundo foi Sorem Kierkgaard, um filósofo
dinamarquês cujas obras eram desconhecidas fora de sua terra natal até o
século 20. Veio de uma família devota, estudou para o ministério, mas nunca
pastoreou uma igreja e viveu uma existência solitária e deprimente. Passou a
ver a importância da fé pessoal baseada num coração partido, rebelou-se
contra as explicações sobre a fé, oferecidas pelo racionalismo popular e insistiu
que a verdade podia ser vista através de lutas, da dedicação e da decisão.
Kierkgaard declarou que “a existência é anterior a essência”, isto é, que
a pessoa individual é mais importante do que a abstração. Possuia profunda
consciência do pecado e achava que o abismo entre o Deus distante e
majestoso e a humanidade podia ser transposto somente através da fé em
Cristo. Cada pessoa está sozinha diante de Deus e deve encontrar o caminho
até ele através da ansiedade e do desespero. Deve-se ter uma fé autêntica e
pessoal, não algo recebido de segunda mão da igreja Oficial secular e morna
de sua época. Foi o primeiro expoente do Existencialismo, filosofia que
rejeitava tanto o Romantismo como a Razão e enfatizava a existência da
pessoa como um todo (ou o ser) e a experiência como base para o viver.
Somente depois da primeira guerra mundial que a melancolia daquele
dinamarquês influenciou a Teologia. O Sofrimento daquele conflito
desacreditou a fé na Ciência e na capacidade de aperfeiçoamento do ser
humano e muitos se perguntaram como podia Deus permitir tal tragédia. O
pastor suíço Karl Barth, que viria a ser o maior teólogo do século 20, publicou
um comentário sobre Romanos que tomava por base a Bíblia e a obra de
Kierkgaard e mostrava a inadequação do Liberalismo e a necessidade de uma
fé genuína em Deus. Rejeitando a ênfase liberal sobre a imanência de Deus na
natureza, Barth insistiu na transcendência divina.
A Teologia não era o desenvolvimento gradual e progressivo de uma
vida boa, mas de caráter “dialético” ou “cataclísmico”. Ele caracterizou a vida
humana como a tensão entre o julgamento e a graça de Deus. A única
esperança estava na “crise da fé” quando havia o arrependimento diante de
Deus e o viver num estado de humildade, perdão e obediência. Isso preparava
o indivíduo para a participação na igreja e no reino de Deus, para o qual não há
substitutos nas meras instituições humanas.
Com ideias semelhantes às dos reformadores protestantes, a neo-
ortodoxia reteve algumas coisas do Liberalismo do século 19, incluindo a
explicação científica da natureza e da vida humana, a natureza histórica das
declarações e atividades religiosas e a necessidade da relevância por parte da
mensagem cristã.
Desde 1918, a religião tornou-se mais importante e significativa para os
pensadores do que havia sido antes. Não apenas os filósofos franceses Gabriel
Marcel e Jacques Maritain voltaram para o catolicismo em busca de sustento
para sua fé, como também os escritores T.S. Eliot e C.S. Lewis eram
profundamente comprometido com os valores cristãos. Através de suas obras
literárias e apologéticas, Lewis exerceu uma enorme influência no
evangelicalismo anglo-americano, onde é considerado em alta estima até os
dias de hoje.
Após a 1ª Guerra a Europa já não dispunha da influência de antes e entrou em uma crise que terminou por desencadear a 2ª Guerra. Mas, nesse período, entre guerras, enquanto a Europa enfrentava crise, países como Estados Unidos e Japão, bem como alguns da América Latina, que não tinham sido “palco da Guerra” tiraram proveito do comércio europeu. Essa Guerra voltou a atenção do mundo para o poderio americano, despertou o conflito entre capitalismo e socialismo e localizou-se no auge da Gripe Espanhola, que dizimou mais vidas que a própria Guerra. Nichols (1985, p.254) afirma o seguinte sobre esse período:
A Primeira Guerra Mundial interrompeu sèriamente a obra missionária, reduzindo as contribuições de manutenção, prejudicando as relações inter-eclesiásticas e criando sérios distúrbios em vários campos. Admirável, porém, é que todos esses prejuízos sérios foram ràpidamente enfrentados e superados. A própria guerra estimulou as missões por ter aproximado muitas partes do mundo com o que fortaleceu o sentimento de solidariedade humana.
Fim do conflito e resultados
Em 1917 ocorreu um fato histórico de extrema importância : a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os EUA entraram ao lado da Tríplice Entente, pois havia acordos comerciais a defender, principalmente com Inglaterra e França. Este fato marcou a vitória da Entente, forçando os países da Aliança a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram ainda que assinar o Tratado de Versalhes que impunha a estes países fortes restrições e punições. A Alemanha teve seu exército reduzido, sua indústria bélica controlada, perdeu a região do corredor polonês, teve que devolver à França a região da Alsácia Lorena, além de ter que pagar os prejuízos da guerra dos países vencedores. O Tratado de Versalhes teve repercussões na Alemanha, influenciando o início da Segunda Guerra Mundial.
A guerra gerou aproximadamente 10 milhões de mortos, o triplo de feridos, arrasou campos agrícolas, destruiu indústrias, além de gerar grandes prejuízos econômicos em todos os países envolvidos.