5
1 “Capítulo I - De como o autor deste erudi- to livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu imortalizar-se escrevendo estas suas viagens.” A importância da Leitura Do you read any books? A leitura na Língua Materna É um dado adquirido que antes das televisões e computadores invadirem as nossas casas, a leitura desempenha- va um papel predominante na aquisi- ção de conhecimento e ocupação de tempos livres. Crianças, jovens e adul- tos passavam horas a ler e a viajar para lugares longínquos em pensamento. 1 Com o passar do tempo, surgiram outras opções bem atrativas e a paixão pela leitura foi-se desvanecendo. Todos constatamos que, hoje em dia, e independentemente da faixa etária e estrato social, todos estamos demasia- do ocupados com jogos de computa- dor, com redes sociais e / ou com a televisão. É certo que também nos ser- vimos do computador para pesquisar e trabalhar, mas chegou a altura de nos preocuparmos mais com outro tipo de literacia – a da leitura, a do conheci- mento veiculado por cada livro, por cada virar de página. 1 Garrett, Almeida Viagens na Minha Terra Porto Editora, 1980, pag 14 De acordo com a UNESCO 2 , a literacia é um direito fundamental, não só para se atingir a tão desejada ‘Educação para Todos’, mas também como forma de erradicar a pobreza. Nada, pois, como começar cedo, junto das crianças com a leitura de pequenas histórias. A melhor altura para incutir bons hábi- tos e valores é na infância. Assim, sen- do, e como tudo na vida, a leitura deve ser um hábito a adquirir o mais jovem possível. Ler para as crianças / ler com elas é uma das melhores estratégias para estimular a imaginação, desenvol- ver a criatividade, o pensamento críti- co, alargar vocabulário e promover competências linguísticas e comunicati- vas. Fundamental é, pois, que os pais compreendam a importância desse gesto – por vezes, admitamos, algo penoso depois de um dia de trabalho – e não o descurem: uma criança que cresce a ler, será seguramente um jovem mais enriquecido e a leitura durante a adolescência ajudará a mol- dar a sua vida futura. Os livros e a Internet são, na atualida- de, as mais ricas e variadas fontes de informação, abrangendo um largo espetro de tópicos e armazenando um volume incomensurável de informação. A prática da leitura – seja em formato papel ou noutro suporte, por ex. e- books – cria em nós uma habituação, 2 http://www.unesco.org/education/ild2010/Fac tSheet2010_Lit_EN.pdf Já diz a sabedoria popular… É de pequenino que se torce o pepino”

A importancia da leitura

Embed Size (px)

DESCRIPTION

a importancia da leitura

Citation preview

1

“Capítulo I - De como o autor deste erudi-

to livro se resolveu a viajar na sua terra,

depois de ter viajado no seu quarto; e

como resolveu imortalizar-se escrevendo

estas suas viagens.”

A importância da Leitura

Do you read any books?

A leitura na Língua Materna

É um dado adquirido que antes das

televisões e computadores invadirem

as nossas casas, a leitura desempenha-

va um papel predominante na aquisi-

ção de conhecimento e ocupação de

tempos livres. Crianças, jovens e adul-

tos passavam horas a ler e a viajar para

lugares longínquos em pensamento.

1

Com o passar do tempo, surgiram

outras opções bem atrativas e a paixão

pela leitura foi-se desvanecendo.

Todos constatamos que, hoje em dia, e

independentemente da faixa etária e

estrato social, todos estamos demasia-

do ocupados com jogos de computa-

dor, com redes sociais e / ou com a

televisão. É certo que também nos ser-

vimos do computador para pesquisar e

trabalhar, mas chegou a altura de nos

preocuparmos mais com outro tipo de

literacia – a da leitura, a do conheci-

mento veiculado por cada livro, por

cada virar de página.

1 Garrett, Almeida Viagens na Minha Terra

Porto Editora, 1980, pag 14

De acordo com a UNESCO 2, a literacia é

um direito fundamental, não só para se

atingir a tão desejada ‘Educação para

Todos’, mas também como forma de

erradicar a pobreza. Nada, pois, como

começar cedo, junto das crianças com a

leitura de pequenas histórias.

A melhor altura para incutir bons hábi-

tos e valores é na infância. Assim, sen-

do, e como tudo na vida, a leitura deve

ser um hábito a adquirir o mais jovem

possível. Ler para as crianças / ler com

elas é uma das melhores estratégias

para estimular a imaginação, desenvol-

ver a criatividade, o pensamento críti-

co, alargar vocabulário e promover

competências linguísticas e comunicati-

vas. Fundamental é, pois, que os pais

compreendam a importância desse

gesto – por vezes, admitamos, algo

penoso depois de um dia de trabalho –

e não o descurem: uma criança que

cresce a ler, será seguramente um

jovem mais enriquecido e a leitura

durante a adolescência ajudará a mol-

dar a sua vida futura.

Os livros e a Internet são, na atualida-

de, as mais ricas e variadas fontes de

informação, abrangendo um largo

espetro de tópicos e armazenando um

volume incomensurável de informação.

A prática da leitura – seja em formato

papel ou noutro suporte, por ex. e-

books – cria em nós uma habituação,

2

http://www.unesco.org/education/ild2010/FactSheet2010_Lit_EN.pdf

Já diz a sabedoria popular…

“É de pequenino que se torce o pepino”

2

um ritual, uma dependência saudável…

não nos deixa aborrecer e depois de ler

um livro, apetece pegar logo em outro

numa busca sem fim pelo conhecimen-

to. Pesquisas nesta área comprovam

que leitores mais ávidos se destacam

devido às suas capacidades cognitivas;

pensam de forma criativa e apreendem

tudo o que os rodeia com mais facilida-

de e rapidez. Outras vantagens da leitu-

ra podem ser ainda elencadas como,

por exemplo, o abrir horizontes, o par-

tilhar o que lemos com amigo e / ou

colegas; promove a autoconfiança e

autoestima, já que aumenta o nosso

conhecimento relativamente a deter-

minado(s) tópico(s), propicia a melhoria

do desempenho ao nível da escrita… os

livros podem ser verdadeiras fontes de

inspiração e podem chegar a mudar

vidas ao relatar histórias e façanhas

reais.

A leitura na Língua Estrangeira (LE)

Bem documentada e comprovada está,

pois, a importância da leitura na Língua

Materna. Inevitável será então a per-

gunta: porque não investir também na

leitura em LE como forma de promover

o ensino / aprendizagem dessa mesma

língua e, consequentemente, contribuir

para o seu sucesso?

De acordo com Stephen Krashen,3 ler

por prazer numa LE contribui para um

melhor desempenho dos alunos a nível

da escrita, da grafia, do domínio voca-

bular e gramatical. Outros aspetos posi-

3 http://successfulenglish.com/wp-

content/uploads/2010/01/81-Generalizations-about-FVR-2009.pdf

tivos desta leitura extensiva (por oposi-

ção à leitura intensiva)4 referidos por

Alan Maley5 são:

alun@s escolhem o que que-

rem ler

os objetivos da leitura residem

no prazer, na informação e

compreensão geral

a não existência de testes,

exercícios, perguntas ou dicio-

nários

os materiais à disposição são

inferiores à competência lin-

guística d@s leitor@s

a leitura é individual e silencio-

sa

@ professor@ / formador@ é

um exemplo: um@ leitor@ que

também participa em simulta-

neidade

Se os argumentos a favor da leitura em

Língua Materna se aplicam à LE, mais

importância adquirirá ainda o princípio

de que quem tem essa motivação

intrínseca para ler, não mais parará.

Ora, tendo em conta que a leitura per-

mite o encontro variado de vocábulos e

frases e que a verdadeira aprendizagem

de vocabulário novo não se faz apenas

com uma exposição (pesquisas suge-

rem entre 15 a 20 ocasiões de contato

com palavras),6 há que criar condições

4

http://www.oupjapan.co.jp/teachers/media/tebiki_GREng_1100.pdf 5

http://www.teachingenglish.org.uk/articles/extensive-reading-why-it-good-our-students%E2%80%A6-us 6

http://www.oupjapan.co.jp/teachers/media/tebiki_GREng_1100.pdf

3

para que @s noss@s alun@s leiam

mais e mais vezes. Coloca-se então a

questão aos professores de LE: porque

não criamos condições para a leitura na

sala de aula e em casa?

Ainda segundo Maley,7 as razões são as

mais variadas:

tempo insuficiente a nível curri-

cular

é demasiado dispendioso

indisponibilidade de materiais

inexistência de obras / livros

não relacionados com os pro-

gramas e

pressão para os professores se

limitarem aos programas e

manuais adquiridos

alguma falta de compreensão

dos benefícios da leitura e, daí,

a resistência a parar de ensinar

e permitir que @s alun@s

aprendam…

Este, sim, parece-me um aspeto recor-

rente e o menos admitido por nós,

docentes de LE: só há lugar a aprendi-

zagem quando há motivação, que por

vezes, por condicionalismos vários, tan-

to falta aos professores, quanto mais

a@s noss@s alun@s!

Partilha de experiência com turmas de

adultos

Partindo do pressuposto que a exposi-

ção a uma LE é normalmente planeada,

restrita, gradual e artificial, há que criar

algumas condições para que haja lugar 7

http://www.teachingenglish.org.uk/articles/extensive-reading-why-it-good-our-students%E2%80%A6-us

a essa aprendizagem com material que

alun@s / formand@s possam conside-

rar apelativo num ambiente relaxado.

Assim, tendo também em linha de con-

ta a existência de dezenas de “Graded

Readers”8 na Biblioteca Escolar e gru-

pos de adultos (sejam eles de cursos de

Educação e Formação de Adultos ou

Unidades de Formação de Curta Dura-

ção) altamente motivados e interessa-

dos para formação de 2 tempos / 2x

por semana ou 4 tempos / 1x por

semana, desafiei já vários grupos para,

depois de um dia de trabalho, escolhe-

rem um livro em língua inglesa, se sen-

tarem a ler cerca de 10 / 15 minutos

enquanto aguardam que a aula come-

ce: desta forma, relaxam um pouco e,

em silêncio, lemos todos não por ape-

nas 10/15 minutos mas, por vezes, por

20 a 30 minutos…

O feedback tem sido espantoso. Em

primeiro lugar, é difícil interromper

aqueles momentos que já todos ansia-

mos e tanto prezamos; criou-se um

verdadeiro ritual que rapidamente

termina. Em segundo lugar, e com

grande espanto, descobrem que, afinal,

conseguem ler e em Inglês!

Depois de alguma relutância inicial e

dissipadas quaisquer dúvidas quanto

aos objetivos deste desafio, eis que

estão criadas as condições para desen-

volver a fluência linguística e a auto-

8 Graded Readers são livros escritos /adaptados

especificamente para a aprendizagem de Inglês; são versões simplificadas ao nível voca-bular e gramatical de 1 a 5. Exemplo disso é o sítio da Oxford University Press http://elt.oup.com/cat/subjects/graded_reading/all/?cc=global&selLanguage=en&mode=hub

4

confiança - não importa o que lêem:

aventura, ficção, romances, histórias

reais… importa, sim, que tenham prazer

em fazê-lo e que quando aquele livro

terminar, haja motivação para ler mais

outro.

Acredito que estas serão eventualmen-

te situações pouco habituais nas nossas

escolas, mas não há como ousar expe-

rimentar. As pesquisas9 confirmam que

há menos problemas disciplinares

quando há alun@s / formand@s moti-

vados inclusive recorrendo à leitura.

Para além do mais, no que toca a adul-

tos, há benefícios adicionais a ter em

conta: pessoas que lêem ao longo da

vida demonstram menos perda de

memória e a leitura variada na infância

e adolescência está positivamente rela-

cionada com o sucesso na vida adulta.

Deste último grupo (UFCD com grupo

da autarquia de Montemor-o-Velho10),

cuja formação terminou já em Julho, há

a referir alguns leitores ávidos; aqueles

que não liam frequentemente, passa-

ram a fazê-lo primeiro na aula e depois

também em casa, o que, seguramente,

será um belíssimo exemplo a seguir

pelos filhos. Voluntariamente, houve

quem elaborasse resumos e me solici-

tasse correção, quem escrevesse 160

carateres e recomendasse a leitura de

determinada obra,11 o mesmo já tendo

acontecido com grupos anteriores em

9 http://successfulenglish.com/wp-

content/uploads/2010/01/81-Generalizations-about-FVR-2009.pdf 10

http://clubeinglesoure.blogspot.com/2011/07/some-months-ago-i-published-here-my.html 11

http://www.wallwisher.com/wall/myreadings

que houve até lugar à elaboração e

publicação de posters digitais.12

E, porque é importante continuar a

falar de leitura, mesmo ou sobretu-

do em férias, porque não recorrer à

biblioteca mais próxima e requisitar

não um, mas dois livros? Também

recorrendo às novas tecnologias e ten-

do em conta que estamos a atravessar

um período de crise, para ler em Inglês,

o leitor interessad@ pode aceder a

http://www.booksshouldbefree.com/

onde encontra livros áudio; em

http://www.planetebook.com/ pode

fazer o download gratuito de dezenas

de clássicos da literatura; para uma

leitura mais especializada, dispõe de

http://sciyo.com/ onde pode ler, fazer

download ou partilhar mais de 270

livros científicos…

Oferta não falta, que não falte a vonta-

de de, independentemente de onde

estiver, ter um livro para ler!

12

http://clubeinglesoure.blogspot.com/2010/07/white-death.html http://clubeinglesoure.blogspot.com/2010/07/blog-post.html

5

Considerações finais

13

Tal como o Principezinho desta famosa

fábula, @s professor@s alegam fre-

quentemente indisponibilidade de

tempo, o que não deixa de ser verdade,

dada a multiplicidade de funções e

tarefas na escola e em casa. Desta for-

ma, é legítimo que também nós preci-

semos que o Ministério da Educação e

os Orgãos de Gestão das nossas escolas

nos cativem, nos motivem para ultra-

passarmos tantos constrangimentos

diários de falta de espaço, de verbas,

de material adequado e, obviamente,

de falta de tempo para gerir tanta

burocracia e conseguir ir ao encontro

dos interesses d@s noss@s alun@s

promovendo, assim, o tão ansiado

sucesso escolar. A função de motivar

não está só nas mãos d@s docentes e

d@s alun@s; deve, sim, partir do topo

da hierarquia…

Soure, Julho de 2011

Alexandra Duarte, docente de Inglês

do Agrupamento de Escolas de Soure

13

Saint-Exupery, Antoine de O Principezinho, Editorial Presença, 31ª edição, pag 69

“- Se fazes favor… cativa-me! (…)

- Eu bem gostava – respondeu o Principe-

zinho, - mas não tenho muito tempo.”