A Inconstitucionalidade Do Banco de Horas e Seus Efeitos No Direito Trabalhista - Trabalho - Âmbito Jurídico

08/06/2015 AinconstitucionalidadedobancodehoraseseusefeitosnodireitotrabalhistaTrabalhombitoJurdico

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Trabalho

A inconstitucionalidade do banco de horas e seus efeitos no direito trabalhistaAndr Filippe Loureiro e Silva

Resumo: O presente artigo pretende realizar um breve estudo sobre o Banco de Horas institudo pela lei 9.601/98 luz dos princpios constitucionais da sade dotrabalhador. Para tanto, sero focados os aspectos histricos e principiolgicos da durao do trabalho, as consequncias do excesso da jornada de trabalho sade doempregado, assim como ser feita uma anlise de como o instituto em anlise fere princpios constitucionais e direitos do trabalhador. Portanto j que este sistema feredireitos trabalhistas e causa danos ao trabalhador deve este ser considerado inconstitucional, por ir contra os pilares do nosso sistema jurdico.

Palavraschave: Banco de Horas, Excesso de jornada de trabalho, prejuzo sade do trabalhador, dignidade da pessoa humana, regulamentao.

Sumrio: Introduo. 1. Regime de Compensao de Jornada. 2. Limites Temporais da Compensao. 3. Titulo Jurdico Autorizador. 4. Banco de Horas e seus efeitos.Concluso. Referncias Bibliogrficas.

Introduo

Quando se fala em proteo jurdica a sade do trabalhador, no se pode perder de vista uma das bases do Direito do Trabalho: o principio da proteo.

O referido principio inspirase no propsito de igualdade. O Direito do trabalho tem como preocupao central proteo do trabalhador, parte mais fraca do contrato detrabalho, com o objetivo de alcanarse uma igualdade substancial e verdadeira entre as partes envolvidas.

Este um dos pilares das normas que visam proteo da sade do trabalhador, melhorando sua qualidade de vida e condies de trabalho. O desenvolvimentotecnolgico trouxe instabilidade no emprego, aviltamento salarial, cargas excessivas de trabalho, depresso em face do pessimismo e ausncia de perspectiva demelhoria na qualidade de vida. Diante deste quadro, tornase necessria elaborao de regras que protejam o trabalhador, evitando que ele se submeta a condiesaviltantes de trabalho, para a manuteno de seu emprego.

O presente trabalho se fixar na analise da lei 9.601/98, que instituiu o Banco de Horas, estabelecendo um limite excessivamente longo para a compensao de jornadasde trabalho, qual seja, um ano, perodo este que mal utilizado poder causar srios prejuzos sade do trabalhador. Alm disso, o trabalhador sujeito ao Banco deHoras no recebe as horas trabalhadas a mais do que o legalmente permitido como horas extras na hora da compensao. Portanto, tendo em vista que os dispositivos deproteo do trabalhador previstos na Constituio de 1988, e tambm na CLT, visam reduo dos riscos do trabalho ser que o instituto do Banco de Horas constitucional, j que vai de encontro aos ditames Constitucionais trabalhistas?

1 Regime de Compensao de Jornada

O sistema de compensao ocorre quando o empregado trabalha mais num determinado dia para prestar servios em um nmero menor de horas em outro. Assim, eletrabalhar at duas horas prorrogadas por dia, que no sero remuneradas com o adicional de horas extras. um mecanismo flexibilizatrio importante previsto noordenamento brasileiro.

Sendo utilizado de maneira correta e sem excessos em sua extenso temporal, ele considerado um acordo benfico que alarga o tempo de disponibilidade pessoal doobreiro e vantajoso para o empregador. Porm havendo abusos ele perde o carter de vantagem trabalhista recproca de ambas as partes contratuais, em detrimentoda sade e segurana laboral do trabalhador.

2 Limites Temporais da Compensao

O limite temporal da compensao de jornada pode ser dividido em dois tempos, antes e depois do advento da Lei 9.601/98.

Antes da mesma havia trs correntes distintas, que defendiam a validade do instituto quando realizada no perodo de uma semana, um ms ou um ano.

A corrente que defendia a compensao semanal fundamentava seu posicionamento no texto da CLT, que no art 59, 2 dispunha que: (...) o excesso de horas em umdia for compensado pela correspondente diminuio em outro dia, de maneira que no exceda o horrio normal da semana nem seja ultrapassado o limite mximo de dezhoras dirias.

A segunda corrente, at ento forte na jurisprudncia, pregava que o parmetro temporal que melhor se adequaria ao art 7, XIII da CR/88 seria o ms, tendo em vistaque no estabelece um perodo extremamente curto como a semana, e nem um perodo excessivamente longo como o ano, respeitando assim os aspectos da sade esegurana laborais.

A ltima corrente argumentava que, no h qualquer imposio de limite ao regime, portanto sendo cabvel o padro mximo admitido no clculo de parcelastrabalhistas, qual seja, o ano. Tal entendimento sempre encontrou forte resistncia, devido aos danos que poderia causar ao trabalhador se erroneamente utilizado.

Entretanto o regime de compensao anual tambm conhecido como Banco de Horas foi institudo pela lei 9601/98, que, em seu artigo 6, modifica a redao do artigo 59da CLT, que passa a vigorar com a seguinte redao:

Art. 59 (...)

2 Poder ser dispensado o acrscimo de salrio se, por fora de acordo ou conveno coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pelacorrespondente diminuio em outro dia, de maneira que no exceda, no perodo mximo de cento e vinte dias, soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nemseja ultrapassado o limite mximo de dez horas dirias.

3 Na hiptese de resciso do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensao integral da jornada extraordinria, na forma do pargrafo anterior, far otrabalhador jus ao pagamento das horas extras no compensadas, calculadas sobre o valor da remunerao na data da resciso.

Inaugurouse no direito brasileiro a sistemtica de compensao de horrios anual, fato interessante que quando votada os parlamentares atenuaram o projeto originalremetido ao Congresso Nacional criando uma compensao anual limitada, tendo durao de 120 dias e no de um ano completo. No entanto o poder executivo, atravsda medida provisria n 1709 (publicada em 07.08.1998), estabeleceu o parmetro anual pleno para a compensao eliminando assim a atenuao previamente efetivada(parmetro que se manteve em inmeras MP subseqentes, inclusive a MP 2.16441, publicada em 24.08.2001). (Delgado, 2006, pg. 863).

O regime de compensao semanal tambm adquiriu regulamentao no enunciado nmero 85 do TST que diz que a compensao de jornada de trabalho semanal deveser ajustada por acordo individual escrito, acordo coletivo ou conveno coletiva.

3 Ttulo jurdico autorizador

A doutrina e jurisprudncia brasileiras, obedecendo s exigncias atuais e em resposta s questes surgidas neste campo, tm se pronunciado com bastante frequnciaacerca de celebrao de compensao da jornada: por acordo tcito, acordo bilateral escrito ou por instrumento de negociao coletiva.

Antes de qualquer coisa necessrio diferenciar tais instrumentos, o acordo tcito seria o realizado sem o consentimento expresso do empregado, no sentido dacompensao de horrios. Quando existir acordo expresso de vontade entre empregado e empregador, temos o acordo bilateral.

A impossibilidade de compensao mediante acordo tcito j entendimento consagrado no TST, conforme se verifica no enunciado 85 do mesmo, que incorporou asOrientaes Jurisprudenciais ns 182, 220 e 223 da SBDI1.

TST Enunciado n 85: Regime de Compensao de Horrio Semanal Pagamento das Horas Excedentes

I A compensao de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo individual escrito, acordo coletivo ou conveno coletiva.

II O acordo individual para compensao de horas vlido, salvo se houver norma coletiva em sentido contrrio. (exOJ n 182 da SBDI1 inserida em 08.11.2000)

III O mero noatendimento das exigncias legais para a compensao de jornada, inclusive quando encetada mediante acordo tcito, no implica a repetio dopagamento das horas excedentes jornada normal diria, se no dilatada a jornada mxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. (exSmula n 85 segunda parte alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003)

IV A prestao de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensao de jornada. Nesta hiptese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal

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devero ser pagas como horas extraordinrias e, quanto quelas destinadas compensao, dever ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinrio. (exOJn 220 da SBDI1 inserida em 20.06.2001)

Portanto temos que a compensao semanal pode ser feita por qualquer instrumento, seja ele acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenes coletivas, sendo oacordo tcito considerado um noatendimento das normas legais.

Em relao s convenes ou acordos coletivos o caput do art 61 da CLT, conceitua conveno coletiva de trabalho como acordo normativo pelo quais dois ou maissindicatos representativos de categorias econmicas e profissionais estipulam condies de trabalho aplicveis, no mbito das respectivas representaes, s relaesindividuais de trabalho.

No 1 do mesmo artigo, trata do acordo coletivo, dizendo que facultado aos sindicatos representativos de categorias profissionais celebrarem acordos coletivos comuma ou mais empresas da correspondente categoria econmica, que estipulem condies de trabalho, aplicveis no mbito da empresa ou das empresas acordantes asrespectivas relaes de trabalho.

Portanto a conveno coletiva tem em seus plos sindicatos que representem trabalhadores e empregadores, enquanto o acordo coletivo entre o sindicato dosempregados e no plo dos empregadores temos empresas sozinhas ou em grupo sem a necessidade de representao sindical, elas per si podem se subscrever.

Em relao ao mbito de abrangncia temos que a conveno coletiva mais ampla, pois abrange todos representados pelos sindicatos naquela base territorial, enquantoo acordo coletivo atinge somente as empresas que se subscrevem no mesmo.

A compensao semanal como j foi dito pode ser firmada por acordo bilateral, acordo coletivo ou conveno coletiva, cabe ressaltar que o enunciado 85 do TST somentese aplica a compensao semanal; j a compensao anual ou banco de horas seria firmada somente por negociaes coletivas, ou poderia ser a mesma firmada por acordobilateral, entre empregador e empregado? Tanto o art 59 da CLT e o art 7, XIII da Constituio da Repblica quando se referem compensao de jornada usam aexpresso acordo ou conveno coletiva, uma corrente defende que o legislador colocou o termo acordo, afastado da qualificao coletiva, o que levaria aconcluso de que no se restringiu seu uso apenas a uma das acepes possveis: acordo bilateral ou coletivo. Tal posicionamento reforado quando se verifica que,quando o legislador brasileiro quis restringir a validade da manifestao de vontade, ao uso de instrumentos negociais coletivos, enfatizou a expresso conveno ouacordo coletivo, excluindo, assim, o acordo bilateral.

Outra corrente a que sustenta q validade deste regime flexibilizatrio apenas quando realizado por instrumentos coletivos, e encontra fundamento no prestigio que aConstituio da Repblica forneceu aos mesmos; e no fato que banco de horas, ao contrario do regime de compensao clssico, geralmente desfavorvel aotrabalhador, alm de constituir flexibilizao ao direito de receber o pagamento de horas extras deve ser firmado somente por negociaes coletivas, sendo necessria presena do sindicato para proteger os direitos dos trabalhadores. Neste mesmo sentido temos decises do TST proferidas pelos ministros Jos Roberto Freire Pimenta eMauricio Godinho delgado, da Segunda e Sexta Turma, respectivamente:

Notase que o dispositivo exige que a instituio do banco de horas seja feita por acordo coletivo ou por conveno coletiva de trabalho, ou seja, o acordo individual noautoriza a compensao pelo banco de horas. Isso porque a instituio de compensao anual, com a prestao de horas excedentes da jornada diria, constituiflexibilizao do direito ao pagamento da jornada extraordinria, motivo pelo qual deve ser feita mediante a interveno sindical. PROCESSO N TSTRR50480019.2005.5.09.0016

A Smula 85 do TST aplicase ao regime compensatrio clssico, que combina aspectos favorveis e desfavorveis ao trabalhador, em medida ponderada e razovel dagesto da durao do trabalho na empresa. Por isso pode ser pactuado bilateralmente (Smula 85, I e II, TST), implicando, mesmo quando desrespeitado, a atenuao doclculo da sobrejornada (inciso IV da Smula 85 do TST). J o banco de horas, regime de compensao anual, usualmente desfavorvel, tem de ser pactuado semprepor negociao coletiva, implicando seu desrespeito o pagamento das horas em sobrejornada com o respectivo adicional. pacfica a jurisprudncia quanto noaplicao da Smula 85, inclusive seu item IV, no tocante ao banco de horas. PROCESSO N TSTAIRR7244098.2005.5.04.0028

4 Banco de Horas e seus efeitos:

A agresso que propicia sade, higiene e segurana laborais obscurece, significativamente, o sentido favorvel ao trabalhador de que era classicamente dotado e ocoloca em confronto com o art 7, XXII, da Constituio, que assegura aos empregados direitos a normas de sade, higiene e segurana que reduzem (e no elevem) os riscosinerentes ao trabalho. Sob esta tica, portanto, o critrio inaugurado em 1998, no Brasil (compensao anual), teria ultrapassado a fronteira mxima compatvel a Cartada Repblica (compensao intersemanal, respeitado o ms), por instituir mecanismo que amplia (em vez de reduzir) os riscos inerentes ao trabalho (DELGADO, 2006,pg. 865).

A pactuao de horas complementares jornada regular, que extenue o trabalhador ao longo de um grande perodo de tempo, gera riscos sade e segurana domesmo. Desse modo o regime de compensao anual, tambm conhecido como Banco de Horas, obscurece o sentido favorvel ao trabalhador de que a Constituio de1988 e os direitos trabalhistas so dotados. (DELGADO, 2006, pg 863).

O limite anual estabelecido pelo Banco de Horas favorece somente s empresas, sendo o empregado s vezes obrigado a trabalhar grandes perodos de tempo comjornada excedida, privandose do convvio familiar e da sua sade, para manterse no emprego. O mesmo sistema no se coaduna com vrios preceitos constitucionais, oBrasil se fixou como um Estado Democrtico de Direito, tendo como fundamentos entre outros a dignidade da pessoa humana, a livre iniciativa do trabalho e valoressociais do trabalho (art 1), da promoo do livre emprego (art 170, VIII), do direito ao pagamento do adicional de horas extras (art 7, XVI), alem de evitar a contrataode novos trabalhadores, ao sobrecarregar os j existentes em pocas de aumento de demanda.

O Banco de Horas, de certa forma, torna o pagamento das horas extras uma mera iluso. O art 59 da CLT suprimiu o direito ao pagamento das horas extrasconstitucionalmente previsto, pois na hora de equiparao a hora suplementar trabalhada equiparada uma hora normal. Ora, se na hora de perceber a horasuplementar a mesma deve ser acrescida de pelo menos 50% do valor da hora normal (art 7, XVI), o correto seria na hora de equiparar levar este aumento em conta,uma hora suplementar deveria se equiparar uma hora e meia regular de trabalho nos dias normais e duas horas para cada hora extraordinria realizada nos domingos eferiados. A Constituio da Repblica autoriza a extenso da hora de trabalho, permite sua compensao, mas em nenhum momento autoriza a supresso ou renncia aodireito do pagamento das horas extras, os direitos constitucionalmente previstos deveriam ser tidos como parmetros pelas normas infraconstitucionais, e no reduzidos mera letra morta por elas como fez a Lei 9.60198.

As horas extras integram o conceito de salrio que devido e pago diretamente pelo empregador. De acordo com o art 459 da CLT o pagamento do salrio, qualquer queseja a modalidade do trabalho, no deve ser estipulado por perodo superior a 1(um) ms (...) em seguida em seu 1 diz que: quando o pagamento for estipulado porms, dever ser efetuado o pagamento, o mais tardar, at o quinto dia til do ms subsequente ao vencido.. Porm quando a lei 9.60198 aplicada, temos que acompensao das horas extras, que se pagas deveria ser feita impreterivelmente at o quinto dia til, pode ser feita durante o perodo de um ano. O direito do trabalhopossui carter protetivo, portanto o trabalhador, como parte hipossuficiente, deveria ser protegido e normas infraconstitucionais no deveriam ter poder de restringirseus direitos.

A lei do Banco de Horas, de uma s vez, flexibiliza o horrio de trabalho, o pagamento das horas suplementar com acrscimo de pelo menos 50% da hora normal e a regrarelativa ao tempo do pagamento do salrio. A redao de tal lei, portanto, vai de encontro a vrias normas constitucionais e a prpria noo do direito de trabalho comoprotetor do trabalhador.

Tais falhas podem ser explicadas da criao do Banco de Horas e de seus motivos, este instituto surgiu no Brasil em 1998, momento de recesso econmica e demissesem massa, alm de quebra de muitas empresas. O governo (na poca o FHC), tentou atravs da utilizao deste sistema, flexibilizar alguns direitos trabalhistas, de formaa combater o desemprego e reduzir os impactos resultantes do mesmo. Assim em perodos de baixa produo e crise seria possvel dispensar temporariamente ostrabalhadores, em troca da carga horria aumentada em poca de maior produo e a garantia de manter seus empregos.

Portanto a utilizao da compensao anual se permitida deveria estar condicionada real necessidade do empregador, em pocas de crise, para evitar dispensascoletivas, somente desta maneira, e para evitar efeitos mais funestos, seriam viveis as redues aos direitos trabalhistas que tal sistema propicia e a agresso sade evida do trabalhador que ela gera.

A legitimidade do Banco de Horas deveria estar ligada presena destes requisitos, porm sabemos que os empregadores utilizam tal sistema a todo o momento emesmo sem a necessidade real do mesmo, valemse dele somente para se beneficiarem custa de seus empregados.

Outro ponto que vale ser questionado o que acontece se a compensao no for feita no prazo legal, o art 59 em seu 3 prev a hiptese de resciso do contrato semque tenha havido a devida compensao, neste caso pagarse as horas extras no compensadas com o acrscimo legalmente previsto. Entretanto, no h nenhumapreviso na lei do que deveria ser feito se o perodo de um ano decorresse sem que haja a devida compensao, neste caso o empregador tambm deve pagar as horasno compensadas como se extra fossem, porm no h previso legal nenhuma de multa ou sano ao empregador por no cumprir a compensao no perodo correto.Novamente o empregado sai prejudicado, pois trabalha sem receber as horas extras, no momento devido, com a promessa de descanso maior no futuro, o que no ocorree ele somente recebe o que j deveria ter recebido tempos atrs. Sendo utilizado erroneamente o banco de Horas se torna uma maneira de fornecer um prazo de umano para o empregador pagar as horas extras devidas em prejuzo da sade do trabalhador.

Para ilustrar melhor o que acontece vejamos alguns depoimentos retirados do livro Banco de Horas e reduo da jornada de trabalho:

A questo do banco de horas, ou flexibilizao da jornada, como chamamos, estamos conseguindo resolver. Eu devo ter hoje, em So Paulo, uns 200 desses acordos deflexibilizao da jornada. No so coisas muito novas. H muito tempo que a gente faz este tipo de acordo. Temos discutido bastante isso, porque, do nosso ponto devista, a empresa quem ganha mais com o negocio do banco de horas. O trabalhador acaba apenas garantido no emprego, porque no tem novos empregos com obanco de horas. No mximo, mantmse nos empregos que esto dentro das empresas.

Ns temos discutido a reduo de algumas horas de trabalho, porque, do nosso ponto de vista, a empresa ganha quando as pessoas trabalham mais e no recebem comohora extra, e deixa de perder quando as pessoas trabalham menos. Se eu disesse que ela tambm ganha quando sas pessoas trabalham menos, vocs iriam estranha, masacho que ele deixa de perder, porque se a gente trabalha quatro dias por exemplo, fazse um banco de horas e depois trabalhase apenas trs. Ento, a empresaeconomiza transporte, alimentao, energia eltrica, todas essas coisas que ela deixa de gastar (PEREIRA DA SILVA, VicePresidente da Fora Sindical, fls. 14).

A argio de inconstitucionalidade foi de ponto afastada. Como eu disse o dispositivo j se encontrava na CLT h 60 anos praticamente, e nunca foi considerado



inconstitucional. Houve apenas uma modificao no prazo, de uma semana para 120 dias. Mas nesse evento da OAB um determinado magistrado disse: Seria um absurdoporque pode ser feito um acordo em que uma pessoa trabalhara 60 horas por semana durante tantas semanas e depois reduzira a carga para 24h, e isso ser quase umaescravido. A verdade que no h como eu presumir que a norma j esta sendo concebida para causar um problema ou uma distino muito grande dentro daempresa. Agora, claro que para o empregado que trabalha 60 horas continuamente durante semanas, e ele j faz isso, na medida em que presta horas extras e atgosta, pois recebe o adicional, ter que haver compensao. ( ANASTSIA, Secretrio Executivo do Ministrio do Trabalho, fls. 54).

No primeiro momento temos o depoimento de um representante das foras sindicais, que admite que o bando de horas beneficia duplamente o empregador, por no terque pagar as horas extras quando precisa de sobrecarregar o obreiro, e quando o obreiro fica em casa dando menos gastos para ele. E no segundo momento, um membrodo Ministrio do Trabalho com idias no mnimo absurdas, a inconstitucionalidade se deu devido alterao do prazo, que no foi apenas uma pequena modificao, tendoem vista que foi de uma semana para 120 dias (e depois um ano atravs da Medida Provisria 1709).

Ademais, o recebimento de hora extra inibe, o empregador a deixar o obreiro se sobrecarregar, pois assim ele ira ter mais gastos, j com a compensao este problemano existe devido o no percebimento do adicional de hora extra pelo trabalhador.

Concluso

Neste ponto, j vimos os dispositivos de proteo do trabalho encontrados na CLT, e a promessa da CR/88 de reduo dos riscos do trabalho mediante normas de sade,higiene e segurana.

A realidade que nos encontramos, infelizmente, bem diferente. Todo dia vemos noticias de abusos dos trabalhadores, de como seus direitos so sem nenhum receiodilacerados, vemos em rgos previdencirios ou ambulatrios especializados em sade do trabalhador, pessoas com doenas ocupacionais, familiares buscando reparaespor acidentes do trabalho, e trabalhadores extenuados e precocemente envelhecidos, fruto do descaso dos empregadores em cumprir as exigncias legais.

O presente trabalho mostrou as ilegalidades do banco de horas que se utilizado sem restries podem causar srios danos aos trabalhadores. Nos dizeres do autorVicente de Paula Maciel Jnior:

O problema das horas extras tem repercusso na sade do trabalhador, visto que o trabalho excessivo gera a fadiga, a maior probabilidade de acidentes, o estresse etambm a reduo das horas de convvio social e familiar.

O abuso na exigncia do cumprimento do trabalho em horas extras nos faz lembrar o negro perodo das jornadas estafantes exigidas dos homens, mulheres e menores nasfabricas inglesas, dos ndios que trabalhavam nas minas de prata e carvo ...

A jornada extra faz com a dimenso temporal do ser humano trabalhador o que um tumor faz com o organismo. O trabalho extra vai se expandindo, ocupando os espaos,sufocando a possibilidade de integrao e convvio do trabalhador com a sociedade e sua famlia. (2001, p.231)

Por todo o exposto, conclumos que a lei 9.601/98 que alterou o art 59 da CLT manifestamente inconstitucional, por permitir a extrapolao meramente suplementarda jornada de trabalho, e sua compensao pelo limite excessivo de um ano, causando assim danos ao trabalhador, tanto monetrio, quanto sociais e de sade.

O Banco de Horas institudo pela Lei 9.601/98 no atende os preceitos constitucionais de proteo ao trabalhador, e da reciprocidade de obrigaes tendo em vista quebeneficia somente o empregador ao valerse da compensao anual. A compensao somente seria tambm benfica ao obreiro se feita de maneira mensal ou semanal,limite em que ainda possvel, a recuperao das foras desprendidas na realizao de suas atividades laborais.

Infelizmente, no Brasil, comum a pratica de horas extras pelos empregadores para aumentar seus rendimentos mensais. Ocorre que a Constituio de 1988 pretendeumodificar esta mentalidade, elevando o adicional de horas extras e eliminando a possibilidade de extrapolao meramente suplementar da jornada. Entretanto com obanco de horas, possibilitou novamente tal mecanismo de explorao, mesmo que esta no fosse a inteno original do legislador. O empregado e seu sindicato muitasvezes aceitam tal encargo, sem ter conhecimentos dos danos que ir acarretar, e caso tenha com medo de perder seu emprego caso recuse. O trabalhador passa a servisto apenas como uma pea do sistema de produo, devendo adequarse as exigncias do mesmo, sob pena de ser substitudo.

A questo da dispensa dos empregados nos momentos de recesso e de baixa produo uma realidade que deve ser enfrentada. No entanto, no se pode exigir aresoluo do problema com o sacrifcio da parte mais fraca, que deveria ser protegida, perante e o favorecimento da outra.

Desta forma, exigese, alm de um conjunto de normas de proteo sade do trabalhador, a conscientizao dos operadores do direito, para que passem a colaborarativamente para que todos usufruam uma vida profissional qualitativamente melhor.

Referncias bibliogrficas:BANCO DE HORAS. Reduo da jornada de trabalho e descansos trabalhistas: Experincias, tendncias, perspectivas e aspectos legais. Anais do Workshop. Rio deJaneiro: CNI, RT, Conselho temtico permanente de relaes do trabalho e desenvolvimento social. BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 5. ed. So Paulo: LTr, 2009. 1392 p.BRASIL, Constituio da Repblica Federativa do Brasil, in VADE MECUM, Acadmico de Direito Organizao Anne Joyce Angler. 10. ed. So Paulo: Rideel. 2010.BRASIL, DecretoLei 5.452 que institui a Consolidao das Leis do Trabalho, in VADE MECUM, Acadmico de Direito Organizao Anne Joyce Angler. 10.ed. So Paulo:Rideel. 2010.BRASIL, Lei 9.601 que dispe sobre o contrato de trabalho por prazo determinado e d outras providncias, in VADE MECUM, Acadmico de Direito Organizao AnneJoyce Angler. 10. ed. So Paulo: Rideel. 2010.CASSAR, Vlia Bomfim. A Prtica do 'banco de horas': direito ou abuso?. Revista Magister de Direito Trabalhista e Previdencirio, Porto Alegre , v.4, n.19 , p.2029, jul.2007.DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5. ed. So Paulo: LTr, 2006.Delgado, Mauricio Godinho. TST. Disponvel em: Acessado em 15 de abril de 2011.MACIEL JNIOR, Vicente de Paula. Proteo Jurdica sade do trabalhador. Revista da Faculdade Mineira de Direito. Belo Horizonte: v.4, n.7 e 8, 2001, p.222250.MARQUES, Rafael da Silva. Da inconstitucionalidade do sistema banco de horas breves comentrios. Justia do Trabalho, Porto Alegre, [S.l.], v.22,n.264,p.3035,(2005:dez).PIMENTA, Jos Roberto Freire, TST. Disponvel em Acessado em 15 de abril de 2011.SEVERO, Valdete Souto. A dimenso plural do trabalho humano e a inconstitucionalidade do banco de horas. Justia do Trabalho: Doutrina, Jurisprudncia, Legislao,Sentenas e Tabelas, Porto Alegre , v.23,n.274,p.3463, out.2006.SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. O direito do trabalho como instrumento de justia social. So Paulo: LTr, 2000. 407p.

Andr Filippe Loureiro e SilvaBacharel em Direito pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. Advogado e psgraduando em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela PontifciaUniversidade Catlica de Minas Gerais.

Informaes Bibliogrficas

SILVA, Andr Filippe Loureiro e. A inconstitucionalidade do banco de horas e seus efeitos no direito trabalhista. In: mbito Jurdico, Rio Grande, XV, n. 100, maio 2012.Disponvel em: . Acesso em jun 2015.

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