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A Infância Berlinense: 1900 de Walter Benjamin e algumas reflexões sobre o ponto de vista do narrador cinematográfico Apresentadores: Me. Gilka Padilha Vargas Me. Márcio Zane: Negrini Porto Alegre, maio, 2015.

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A Infância Berlinense: 1900 de Walter Benjamin e algumas reflexões sobre o ponto de vista do narrador cinematográfico

Apresentadores:    Me.  Gilka  Padilha  Vargas  Me.  Márcio  Zane:  Negrini      Porto  Alegre,  maio,  2015.  

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 -­‐  A  escrita  de  Infância  Berlinense:  1900    -­‐  Relação  com  os  textos  Rua  de  Sen6do  Único  e  Imagens  de  Pensamento  na  edição  portuguesa  de  2004    

 CONTEXTUALIZAÇÃO    

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 Tenho  um  pedido  a  fazer-­‐lhe:    Não   veja   nada   do   que   possa   chocá-­‐lo,   na   forma   interna   ou   externa   do   livro,  qualquer  compromisso  com  as  “tendências  do  tempo”.  É  precisamente  nos  seus  elementos   mais   excêntricos   que   este   livro   é,   se   não   troféu,   pelo   menos  documento  de  uma   luta   interior  cujo  objecto  poderia  se  resumir  nas  seguintes  palavras:    “Captar   a   actualidade   como   o   reverso   do   eterno   na   história   e   6rar   uma  impressão  desta  face  escondida  da  medalha”  (Benjamin,  p.  264,  2004).    

CARTA  DE  WALTER  BENJAMIN  AO  EDITOR  SOBRE  A  PUBLICAÇÃO  DE  RUA  DE  SENTIDO  ÚNICO  

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COMENTÁRIOS  DO  KRACAUER  

“Benjamin   mal   se   aproxima   de   imagens   e   fenômenos   no   momento   de   seu  florescimento,   preferindo   muito   mais   buscá-­‐los   no   passado.   Para   ele,   as  imagens  e  os  fenômenos  vivos  perturbam-­‐no  como  um  sonho,  mas  se  iluminam  no  estágio  da  desintegração”  (Kracauer,  p.  282,  2009).    Destruir  e  em  seguida   iluminar   lá  para  onde  de  costume  não  se  volta  a  nossa  atenção,   corresponde   propriamente   ao  método   de   Benjamin   [...]   Benjamin   é  tão  alheio  a  forma  imediata,  que  nem  mesmo  pensa  em  se  confrontar  com  ela    (Kracauer,  p.  284,  2009).    O   seu  material   próprio   é   o   que   passou:   para   ele,   o   conhecimento   nasce   das  ruínas   [...]   Desintegração   –   assume   uma   aparência   esté]ca   (Kracauer,   p.   285,  2009).  

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COMENTÁRIO  DO  EDITOR  SOBRE  INFÂNCIA  BERLINENSE  :  1900

“Esta   nota   introdutória   do   autor,   não   figura   em   nenhuma   das   outras   versões,  sugere,  de  facto,  uma  mudança  de  perspec]va,  do  sen]do  autobiográfico  mais  ou   menos   acidental   destas   peças   narra]vas   para   a   sua   intencionalidade  documental  ou,  como  se  lê  nas  palavras:  ‘Palavras  prévias’  de  Benjamin,  para  a  irreversibilidade   do   tempo   passado,   não   como   qualquer   coisa   de   casual   e  biográfico,  mas  sim  de  necessário  e  social  [...]  procurei  apoderar-­‐me  das  imagens  nas  quais  se  evidencia  a  experiência  da  grande  cidade  por  uma  criança  da  classe  burguesa.  (p  .70)    A  inflexão  é  importante  porque  abre  todo  o  espaço  que,  aqui  como   noutros   lugares   da   obra   de   Benjamin,   vai   do   conceito   de   ‘vivência’   à  categoria  mais  ampla  de  ‘experiência’”  (Barrento,    p.  271,  2004).  

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Aforismo:  

O  despertar  do  sexo    “e   as   duas   ondas   convergiram   imparavelmente   na   primeira   sensação   de  prazer,  em  que  se  misturavam  a  profanação  do  dia  santo  e  a  cumplicidade  da  rua,   que   aqui  me   faz   antever   pela   primeira   vez   os   serviços   que   iria   prestar  àquela  pulsão  desperta”  (Benjamin,  p.  122,  2004).  

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 “Disso   decorre,   sem   dúvida,   seu   ‘efeito   estranho’,   apesar   de   seu   ar  ‘familiar’,   pois   nada  mais   próximo  da   experiência   do  homem  moderno,  do  homem  da  grande  cidade,  diria  Benjamin,  do  que  a  vivência  co]diana  do  ‘deslocamento’.  Deslocamento,  literalmente,  nos  desloca,  nos  ]ra  de  um   lugar,   frequentemente   habitual,   para   outro,   ao   pôr   em   movimento  este  mecanismo  pelo  qual  uma  ‘capa’ esconde  uma  ‘insuspeita  profusão  de  significações’”  (Chaves,  p.  141,  2007).  

SOBRE  WALTER  BENJAMIN  

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Esconderijos      

“[...]  a  criança  escondida  atrás  das  cor]nas  torna-­‐se  ela  própria  algo  de  esvoaçante  e  branco,   um   fantasma.   A   mesa   da   sala   de   jantar,   debaixo   da   qual   se   acocorou,  transforma-­‐a   em   ídolo   num   templo   em   que   as   pernas   torneadas   são   as   quatro  colunas”.  (Benjamin,  p.  107,  2004).  

 

Aforismos:    

A  meia    “[...]   agora,   tentava   ]rar   para   fora   da   bolsa   de   lã   ‘o   que   trazia   comigo’.   Puxava,  puxava,  até  que  qualquer  coisa  de  perturbador  acontecia:  eu  ]nha  re]rado   ‘o  que  trazia  comigo’,  mas  ‘a  bolsa’  onde  isto  estava  já  não  exis]a.  Nunca  cansei  de  pôr  à  prova  este  exercício.  Ele  ensinou-­‐me  que  a  forma  e  o  conteúdo,  o  invólucro  e  o  que  ele  envolve,  são  uma  e  a  mesma  coisa”  (Benjamin,  p.  106,  2004).  

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 Na  leitura  de  Benjamin  proposta  por  Chaves  (2007),  a  par]r  de  Freud,    há  o  

sujeito  que  atua    e  o  que  recorda.        

Nas  memórias  de  cenas  infan]s  o  sujeito  se  vê  como  criança  e  sabe  que  é  a  criança   colocando-­‐se,   entretanto,   com   um   ponto   de   vista   externo   –  (narrador-­‐observador).    

O  PONTO  DE  VISTA    

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A  Lua    

“Quando   eu   descia   da   cama,   eles   ]niam,   e   este   ]nido   propagava-­‐se,   sobre   o  reves]mento  de  mármore  da  mesa  do  lavatório,    às  taças  e  ]jelas.  Por  um  lado,  ficava  contente  por  ouvir  um  sinal  de  vida  –  ainda  que  fosse  apenas  o  eco  do  meu  próprio  –  vindo   do   ambiente   nocturno   [...]   pois   todos   os   lugares   daquela   Terra   paralela   para  onde   eu   me   desterrara   pareciam   estar   ocupados   pelo   passado.   Tinha   de   me  conformar  com  a  situação.  E  quando  voltava  para  a  cama  era  sempre  cheio  de  medo  de  me  encontrar  já  estendido  nela”  (Benjamin,  p.  116,  2004)  .    

O  Carrocel    

“Da   floresta   virgem   emerge   depois   uma   copa   alta,   como   a   criança   já   a   viu   há  milénios,  como  agora  a  vê  no  carrocel  (Benjamim  p.  121,  2004).  

Aforismos:    

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REFLEXÕES  SOBRE    O  PONTO  DE  VISTA  DO  NARRADOR  CINEMATOGRÁFICO  

O  eco  é  uma  metáfora  do  retorno  enquanto  produção  de  algo  que  é  novo  no   tempo.  Trata-­‐se  da  memória  do  narrador  e   também  de   seu  ponto  de  vista.      O   adulto   narra   image]camente   suas   memórias   infan]s;   este  observador  narra  como  se  es]vesse  vendo  a  criança.    

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A  NARRATIVA  E  O  NARRADOR    

“A   narra]va,   que   durante   tanto   tempo   floresceu   no   meio   de   artesão   –   no  campo,   no  mar   e   na   cidade   –   é,   ela   própria,   num   certo   sen]do,   uma   forma  artesanal  de  comunicação.  Ela  não  está   interessada  em  transmi]r  o   ‘puro  em  si’  da  coisa  narrada  como  uma  informação  ou  relatório.  Ela  mergulha  a  coisa  na  vida  do  narrador  para  em  seguida  re]rá-­‐la  dele.  Assim  se  imprime  na  narra]va  a  marca  do  narrador,  como  a  mão  do  oleiro  na  argila  do  vaso”.   (Benjamin,  p.  205,  1994)  

Filme  para  debate:      Adeus,  meninos.  Louis  Malle,  1987.  França.    

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Referências:    BENJAMIN,  Walter.  Imagens  de  pensamento.  Lisboa:  Assírio  &  Alvim,  2004.    ______  Magia  e  técnica,  arte  e  polí[ca:  ensaios  sobre  literatura  história  da  cultura.  São  Paulo:  Brasiliense,  1994.  (Obras  escolhidas  V.  1).              CHAVES,  Ernani.  Sexo  e  morte  na  Infância  berlinense,  de  Walter  Benjamin.  In:  SELIGMANN-­‐SILVA,  Márcio  (Org.)  Leituras  de  Walter  Benjamin.  São  Paulo:  Fapesp,  Annablume,  2007.          KRACAUER,  Siegfried.  O  ornamento  da  massa.  São  Paulo.  Cosac  Naify,  2009.