A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

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  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

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    Rio l ando Azz i

    In te rpre tação d a H is tó r ia do

      Bras i l

    S e g u n d o  José Honór io Rodr igues

    I N T R O D U Ç Ã O

    E n t r e  os

      g r andes

      intérpretes da História do

      B r a s i l

    José Honório

    Rodr igues ocupa

      sem dúvida uma posição

      destacada.

    Este   estudo

      t e m

      como f inal idade

      uma anál ise

      dessa

      visão

      i n t e r p r e -

    tativa

      proposta pelo autor.

    Pa r a maio r c l a r e za

      didática o

      estudo

      será

      d ividido

      em três

      Pa r t es .

    Na pr imei ra apresentaremos

      e m

      g randes l inhas

      a crítica da

      h i s t o

    r iograf ia bras i le i ra segundo

      José Honório

      Rodr igue s inc l t iindo   i n i

    cia lmente

      seus dados

      biográficos e a indicação de sua

      p r inc ipa l

      b i

    bliografia.

    Na segunda par te qu e   const i tu i  o   c e r n e   do   p resente t raba lho pro

    curaremos ident i f icar

      a s

      g randes l inhas

      de força do método

      i n t e r -

    pretat ivo ut i l izado pe lo autor procur and o car ac te r izar ass im  o s e u

    modelo   hermenêutico.

    P o r

      último na

      t e r ce i r a pa rt e ind ica r emos

      e m

     forma

      sintética

      a lguns

    exemplos

      práticos da interpretação de José Honório

      Rodr igues .

      Serão

    indicados algvms

      tópicos

      mais signif icat ivos

      d a

      ampla

      e

      r i c a

      visão

    histórica do

      autor .

    1 . A

      C R Í T I C A

      D A

      H I S T O R I O G R A F I A B R A S I L E I R A

    Considerado como

      u m d o s

      maiores escr i tores atuais

      da História

    do Bras i l

    José H.

     R od rig ue s possui como ponto

      d e

      apoio

      se u

      amplo

    conhecimento

      d a

      h istor iograf ia bras i le i ra .

    1 1 1

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    Ê,  p o r t a n t o , a   pa r t i r  da análise e da crítica do que já se   escreveu

    sobre

      a História do

      B ras i l

      que esse

      h istor iador car ioca

      traça sua

    própria interpretação da história pátria.  Essa   interpretação,  con

    f o r m e

      seu próprio

      testemunho,

      t e m

      suas

      raízes no

      pensamento

      e

    na

      obra   de   Capistrano  de   Abreu.  Daí ter   sido   ele   designado como

    u m   novo Capistrano

     de

     A breu.

    A o   descrever   o m étodo de produção histórica de José H . Ro drigues,

    Álvaro

      L i n s a f i r m a :

    " P r ime i ro ,  nas  p esquisas,  ele é

      f r i o ,

      ob je t i vo ,

      imparcia l ,

      até   encon

    t ra r  a  verdade   ou o que lhe pareça a   verdade   n os  a rquiv os. Depois,

    apaixona-se  por e la ,  examina   e   discute fatos antigos   e   homens

    históricos

      como

      se

      f o ra

      u m contemporâneo

      deles.

      O seu

      estilo

    límpido, sóbrio, tranqüilo e

      f i r m e

      —

      agita-se

      então, de vez em

    quando,  mediante  u m frêmito que lhe

     f i r m a

      a  v i ta l idade  e o

      bri lho.

    E  José Honório   Rodrigues   é u m   g rande h is tor iador   por várias

    razões, mas

     p r inc ipa lmente

     p o r

      esta capacidade

      de

      revelar mundos

    m o r t o s  como   se  fossem   matérias   v ivas;   e de   tran sportar-se pa ra   os

    ambientes   de séculos atrás e apresentá-los com o   mov imento   e a

    ideologia  da s   coisas   que se põem de   repente ante   os   nossos olhos.

    Neste  sentido,

      na antigüidade da

      nossa histor iograf ia,

     só

      vun  h isto

    r iador  José Honório   Rodrigues   nos faz   l e m b r a r :  u m  Capistrano  de

    Abreu.

      N a   verdade,  José Honório   Rodrigues   é o   Capistrano   de

    Abreu

      de

      nossa

      geração e de

      nossa

      época. O que

      s ignif ica dizer:

    José Honório

      Rodrigues

      é um dos

      p r i m e i r o s

      — o u

      seja:

      um dos

    melhores  e dos   ma iores   —   entre   os   nossos histor iadores vivos".

     ̂

    J o sé H o n ór i o   R o d r i g u e s  n a   h i s t o r i o g r a f i a   b r a s i l e i r a

    José Honório   Rodrigues situa-se   ao   lado   de Sérgio   Buarque   de

    Holanda,

      Pedro

      Ca lmon,

      Américo

      Jacobina Lacombe, Nelson

      Wer-

    neck   Sodré,   Caio Prado   Júnior e   alguns poucos mais, considerados

    os

      grandes nomes atuais

      da

      h is to r i ogra f ia bras i le i ra .

    N u m   estudo recente   sob o título   A História em questão:  historio

    grafia

      brasileira  contemporânea, José   Roberto   do   Am ara l Lapa   faz

    um a

      classificação dos   pr inc ipais autores   de História do

      B ras i l ,

      e

    situa  José H.   Rodrigues entre aqueles poucos   que   fazem   a "análise

    crítica das  ideologias   da História do

      B ras i l " .

    E  o   assinala   também no

      restr i to

      g rupo   de   autores preocupados

    com

      a História   Moderna   do

      B ras i l .

      Escreve   Amara l Lapa :

    "Vam os encontrar , pr i m e i ro

      de

      mane i ra

      tímida, e

      mais recente

    mente  com  ma is v igor ,  o  ap arecimento   de   alguns  títulos d e História

    1.

      Lins,

      Álvaro, in   Rodrigues,  José Honório,

      spirações

      Nacionais:

    interpretação  histórico-política Rio, Civilização   Brasileira, 1970, 4." e

    Contracapa.

    1 1 2

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    Contemporânea do

      Bras i l .

      Para tan to , parece-nos  também

      s igni f i

    cat iva  a influência de Honório   Rodrigues,  que com sua  pena   e sua

    pa lavra  v em   encarecendo sistem atica m ente   o   papel  da História

    Moderna

      do

      B r a s i l

      Moderno" . "

    O   mesmo autor indica quatro nomes como   os   mais representativos

    da   h i s t or i og ra f i a moderna bras i l e i ra :

      Sérgio

      Buarque

      de

      Holanda,

    Caio Prado

      Júnior,

      Nelson Wemeck

      Sodré e José Honório Ro

    drigues.

    " F o i

      sobretudo

      a

      pa r t i r

      da publicação do seu

      estudo sobre

      as

    Aspirações

      Nacionais,

      interpretação histórico-política

      (1965)  que

    Honór io   Rodrigues passou   a   expor   de   manei ra mais   polêmica   suas

    idéias

      sobre

      um a Histór ia

      engajada.

      E m

      verdade,

      já em seu

      t ra

    ba lho

      imediatamente anter ior   Brasil  e África —   Outro Horizonte

    (1961) temos expostas suas

      preocupações por

      luna   h istor iogra f ia

    bras i le ira

      que se

      desamarre

      de seu excessivo

      a ferro

      a

      lu n

     pretérito

    relat ivamente d istante

      em

      det r imento

      do

      estudo

      de

      nossa

      História

    Contem porânea. M as é   realmente  o

      ano

      de 1965 que   marca   a

    definição   mais atuante  do

      autor". ^

    Na realidade, Amaral Lapa   não é

      m u i t o

      exato nessa   afirmação,

    pois  a   p r i m e i r a   edição de

      Aspirações

     Nacionais  f o i   publicada pela

    editora  Pulgor

      em 1963, e o

      volume reunia dois estudos escritos

    p or

      José H.   Rodrigues respectivamente  em 1057 e 1960.   Portanto,

    essa

      tendência   in terpretat i va   do   autor   já se   mani festa anter ior

    mente, pelo menos  desde o período de   governo   de   Juscelino

      K u b i -

    tschek

      (1956-1960).

    Aliás,

      o própr io   Amara l Lapa procura mat i zar melhor   o seu  pensa

    mento a f i rmando :

    "Apontando-se

      esse

      bal izamento

      no seu

      pensamento

      histórico, não

    se   quer signi f icar

      i m i a

      mudança   rad ica l  na sua posição ideológica

    de pesquisador, cientista

     e

      professor, perante

      a história, o que n o

    caso

      não   deixar ia   de ser um a mudança em relação à sua própria

    obra

      an ter i o r ,

     que po r

      sinal  apresenta

      a

      m a i o r ia

      de

      temas referin

    do-se   aos séculos X V I , X V I I  e   X V I I I .  A   quem   se dê o   t rabalho

    de  ler a   Teoria  da História do

      Brasil,

      obra   de   grande  erudição,

    permanecendo   única em seu gênero e   tendo   u m   alcance  didático-

    -científico sem

      paralelo para

      os

      estudantes

      de História do

      Brasi l ,

    não será fácil

      encontrar

      a

      unidade

      das idéias que ora

      defende

    com ca lor " . *

    O que se

      observa

      nos

      escritos

      de José Honório

      Rodrigues

      não é

    um a

      mudança de orientação, mas um

      amadurecimento

      que se

    2.   Lapa,  José   Roberto   do   Amaral, A História em  questão:  historio

    grafia  brasileira

      contemporânea

    Petrópolis, Vozes, 1976, 32.

    3.  Lapa,  José   Roberto   do   Amaral, o. c, 61 .

    4.  Lapa,  José   Roberto   do  Amaral,  o. c,   61-62.

    1 1 3

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    expressa  através de u m a definição   sempre mais clara   dos   objetivos

    de  su a   tarefa   de   h istor iador.

    Com

      mui to

      acerto con clui Am ara l Lap a:

    "A pregação em que se

      empenha

      o

      autor

      é

      sobretudo

      a de

      alertar

    o   h is to r iador bras i le i ro para   uma  missão que   reconhece como   a

    mais  autêntica e compatível com a   realidade   do país, com a sua

    condição de nação em   desenvolvimento,  a de   fazer   um a História

    passado-presente  e um a História   moderna   do   B ras i l  moderno.

    Assim   ao   longo   de sua   obra nota-se   o esforço por  ensinar   a

      escre

    ver

      e

      pensar

      a História do

      B r a s i l " . '

    Honório   Rodrigues possui duas   condições básicas   para   u m a  com

    petente

      interpretação da história do   B ras i l .  E m

      pr imeiro lugar,

    possui

      tm ia

      ampla

      erudição

      sobre

      a história do

      B ras i l

      e

      seus

      p r i n

    cipais histor iadores,  f ruto   de   acurado trabalho   de   pesquisa.  E m

    segundo lugar, possui  t ambém lun   conhecimento relevante   das

    modernas correntes  de   f i losof ia   de história,   onde  se   discutem   as

    possibilidades   e o   valor   da interpretação histórica.

    1 . 2 .  D a d o s

      b i o g r áf i c o s

    Nascido  no R io de   Janeiro   em 1913, J . Hon ório   Rodrigues  t e m

    dedicado

      sua

      v ida

      adulta

      aos

      estudos

      históricos.

    Leda Boechat Rodrigues,  sua   esposa,  ao   compi lar   sua   biograf ia,

    assim escrevia   em

      ab r i l

      de 1 956:

    "A

      p a r t i r

      de 1937, an o em que   recebeu   o 1." Prêm io de Erudição

    da Academia Brasile ira   de   Letras, dedicou todo   o seu   entusiasmo

    e  toda   a sua   at iv idade  a   Cl io .  Não se

      d istra i

      ele em   trabalhos

    marginais : tudo

      o que lê,

      tudo

      o que escreve,

      tudo

      o que

      orienta,

    tudo   o que   d ir ige, tudo   o que   professa

      converge

      para   u m só   obje

    t i vo ,  a História, que é   v ida   e é a sua  v ida.  A   obra   já   encorporada

    em l ivros

      é

      facilmente consultada

      e

      facilmente enumerada.

      Mas

    toda  u m a   massa   de   artigos, alguns   dos   quais constituindo   séries

    que seriam outros tantos volumes,  só   podem   se r   praticamente

    conhecidos  p o r   poucos. . .

    Num

      conhecimento   de   quase vinte anos,   v i o   histor iador sempre

    f ie l  a s i   mesmo,  e aos   caminhos  que   conduzem   à história...".»

    Afirmação análoga   encontra-se  em   Am ara l L apa:

    "Prat icamente toda   a   v ida   e a   obra   de José Honório   Rodrigues

    têm

      sido consagradas

      à história".

     ^

    5. Lapa,  José   Roberto   do   Amaral,  o. c, 62.

    6. Rodrigues, Leda Boechat,  Bibliografia  de José Honório  Rodri

    gues,  Rio de   Janeiro,  1956. Apresentação.

    7. Lapa,  José   Roberto   do   Amaral,  o. c, 62.

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    Formado

      n a

      Faculdade

      de

      D i re i t o

      da

      Universidade

      d o

      B ras i l

      em

    1937,  José Honório

      recebeu posteriormente

      u m a

     bolsa

      de

      pesquisa

    da   Fundação

      Rockefeller, passando

      nos

      Estados Unidos

      o ano

    escolar 1943-1944.

    Como

      ele próprio o

      a f i rm a ,

      esse ano foi   mui to

      im por tan te pa ra

    def inir

      sua vocação h istórica:

    "Depois

      de freqüentar em

      1943-1944

      o

      curso "M atu re. M ethods

    and  Types of   H i s t o r y "   da   Univers idade  de Colimíbia,   d ir ig ido pelo

    Professor Charles Cole,

      com a colaboração de

      Henry

      Steele Co m -

    ma ger, Jacques B ar zun , A lla n Nevins, grandes nom es

      da

     h i s t o r i o

    graf ia  americana,  v i m  para   o   B ras i l  entusiasmado   com a idéia de

    renovar

      os métodos de História,

      cr iar novos campos

      de

      estudo,

    rever

      o que se

     fazia

      e

      t entar reforma r

      o

      ensino superior

     da História.

    É   neste  que se   inic ia,  em   cadeia,  a renovação   completa,  m as é no

    primário que

      realmente

      se

      produzem seus efeitos f inais".

    E  acrescenta   em   seguida:

    "Quando cheguei

      de

      vol ta

      ao   B ras i l ,  em 1944, a

      Universidade,

    acabada  de   c r i a r ,  e   especialmente  sua  Faculdade  de   F i losof ia ,  e ra

    um a

      cidadela

      inexpugnável de

      conservator ismo,

      o

      ma is ro t ine i ro

    e

      arcaizante. M etolodog ia , pesquisa

      e

      h is tor iogra f ia eram

      total

    mente desconhecidas".

    José Honório

      conclui

      com

      esta

      af irmação:

    "Quando relembro

      os

      p r ime i ros momentos

      de

      m inha   luta  pela

    aceitação da

      d isc ip l ina

      de Introdução à História nos

      cursos imiver-

    sitários, vejo que foi

      um

      esforço bem recompensado".«

    Ao estabelecer-se de

      novo

      no R i o de

      Janeiro,

      f o i

      professor

      de

    História do

      BrasU

      n o

      Inst i tu to

      R i o

      B ranco ,

      de 1946 a 1951.

    A   p a r t i r  de 1946 f o i

      nomeado Diretor

      da Divisão de

      Obras Raras

    e Publicações da   B ib l ioteca Naciona l M ais tarde,  fo i também

    diretor

      do Arqiüvo

      Nacional.

    É

      a inda membro correspondente

      do Seminário de

      Estudos Ameri-

    canistas  da   Universidade  de   M a d r i d desde   1950, suplente  do delega

    do

      do

      B ras i l

      na comissão de História do

      Inst i tu to   Pan-Americano

    de Geografia   e História desde   1953, e   membro correspondente   da

    Comissão

      In ternac ion a l para

      a História do

      Desenvolvimento   Cul

    tural  e Científico da   Humanidade,  sob os auspícios da   Unesco,

    desde

      1954.

    É também

      m em b ro

      do

      Inst i tu to

      Histórico e Geográfico

      Bras i le i ro ,

    da   Academia Portuguesa

      de História e do

      The

      Hispanic Society

      of

    America,

      Nova

      Iorque.

    A 5 de

      dezembro

      de 1969

      ingressou

      n a

      Academia B ras i le i ra

      de

    Letras.

    8. Rodrigues,

      José Honório,  História,

     Corpo

      do

      Tempo,

      S.

      Paulo,

    Perspectiva,

      1976,

      15-16.

    1 1 5

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

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      3 O b r a s p u b l i c a d a s

    Tendo   em   v is ta   a   ampl i tude   da   b ib l iogra f ia   de José H.   Rodrigues

    nos l imi taremos

      à indicação dos

      l ivros publicados,

      sem

      fazer

      refe

    rência aos inúmeros opúsculos, prefácios, introduções e edições

    críticas por ele   preparados.

    E is  o   elenco   de   suas obras, segundo   a   ordem   cronológica de

      publ i

    cação da   p r i m e i r a   edição.

    — Cimlização  Holandesa  no  Brasil.  1°  Prêmio de Erudição da

    Academia Bras i le ira   de   Letras.  R i o de  Janeiro, Companhia

    Ed i t o ra  Nac ional ,

      1940.

      Teoria

      da História do

      Brasil.

      1.'

      ed. 1949; 3.' ed. São   Paulo,

    Companhia Editora Nacional ,

      1969.

      Historiografia

      e

      Bibliografia

      do DO mínio Holandês no

      Brasil.

    R io   de   Jane i r o , I .N .L . ,  1949.

    — As  Fontes  da História do  Brasil  na  Europa.  R io de  Janeiro,

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      do R io

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    — Independência: R evolução e C ontra-R evolução.   R i o de  Janeiro,

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    — História,  Corpo  do  Tempo,  São   Paulo, Perspectiva,  1976.

    1 1 6

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    7/41

    1 . 4 .

      N e c e s s i d a d e

      d a i n t e r p r e t a ção h i s t ó r i c a

    Ê   prat i camente  impossível  escrever sobre  História sem que se

    faça um a interpretação. A

      simples

      seleção do

      ma t e r i a l

      histórico,

    já é na   realidade  tuna   manei ra   de interpretação.

    M as  José Honório   Rodrigues  v a i   ma i s  além, e   considera   a   capaci

    dade inter preta t i va como   v i t a l  ao   h i s t or i ador .  Desse   mod o ,  a

    tarefa  dos   h istor iadores  é u m a contínua reinterpretação dos   dados

    históricos. São   palavras suas:

    "Ass im como   a   teologia protestante acha   que a Bíblia deve ser

    sempre  de   novo interpretada,  de   acordo   com as   necessidades  de

    cada   época,  assim   também a História te m que ser  sempre  e   sempre

    revista.

      M esmo po rque, como acredita aquela teologia,

      "o

      h omem

    não é  meio   b o m e   me i o mau, m as   in te i ramente  as   duas coisas  e

    está   sempre  sub ira  o u   sub   gratia Dei .^

    Pode-se   v i s lum brar por tan to   n o   autor certo conhecimento   e

      influ

    ência da hermenêutica bíblica,

      cujo grande mestre protestante

      f o i

    Bultman.

    No prefácio da   ob ra   História,  Corpo   do   Tempo,  José Honório

    a f i rm a :

    " E m b o r a

      a História não

      seja

      um a ciência

      aplicada,

      ela é

      im ia

    f o rma   de   conhecimento,  u m a interpretação dos   nossos erros  e

    virtudes,

      e serve de

      catarse social, especialmente

      nas

      horas

      de

    crise  política,  como   a que   v ivemos.  Nestes   ensaios estudam-se

    os heróis

      l ibertadores, como

      o

      Alferes Tiradentes

      e

      Frei Caneca,

    e se   aprendem   os   males  dos   regimes absolutistas   e autoritários".

    E  acrescenta:

    "O  título do   conj imto inspira-se  em   Shakespeare:  "A   verdadeira

    idade  e   corpo   do   t empo,  sua  f o r m a   e pressão". O   corpo   do   t empo

    deve

      entender-se como

      a História, sua

      f o rma ,

      seu

      est i lo,

      as

      pres

    sões que   nela   se   exercem,  a história   v i va ,  a fabricação histórica,

    a

      criação e a recriação, com os   atores todos,  os   protagonistas  e

    os  deuteragonistas,  os   p r inc ipa i s  e os secundários...".^»

    Nessa   mema obra ,

      o

      autor vo l ta

      a

      enfat izar

      a

      necessidade

      da

    interpretação histórica,  escrevendo:

    "A história não é o   passado.  A história é um a criação dos  h isto

    riadores

      que

      sempre selecionam

      e

      ju lgam

      p o r

      conta

      própria, de

    acordo

      com sua concepção do

      mundo.

      Os

      fatos

      básicos não são

    9.  Rodrigues,  José Honório,  Vida

      e História,

     R io , Civilização  Brasi

    leira,  1966, 16.

    10.  Rodrigues,

      José Honório,

      História

    Corpo  do  Tempo,  S .

      Paulo,

    Perspectiva,

      1976, 12.

    1 1 7

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    8/41

    senão matéria-prima, os   t i jo los  de construção.   Eles   não   falam

    por  s i .

      Eles

      são,

      c omo

      diz ia   um a   personagem   de   Pirandelo,  u m

    saco,

      que se   enche

      como

      se   quer.  Não   p ropr iamente

      como

      se

    quer, pois mesmo desrespeitando   o   fet ichismo   dos   fatos  e dos

    documentos,

      o

      h is tor iador

      tem obrigações

      para

      c om os

      fa tos:

      exa

    tidão,

      seleção, relevância", n

    E  prossegue   c o m a   mesma   força   inc is iva :

    "A interpretação é o   sangue  da história. O   h is tor iador  n e m é

    escravo   humilde,

     n em

     mestre

      tirânico dos

      fatos,

      mas está

      sempre

    engajado   n o   processo   cont inuo   de   ajxistar  seus   fatos  à sua  inter

    pretação, e sua interpretação a   seus   fatos,  de ta l  modo   que a

    História — e não o

      passado

      — se   t o rna   um diálogo interminável

    entre

      o

      h is tor iador

      e o

      fato, entre

      o

      passado

      e o

      presente.

    Gerações de  h istoriadores europeus marcharam,

      c omo

      lembrou

    E .  H .  Carr ,  a   quem seguimos nestas  considerações metodológicas,

    entoando   as   palavras  mágicas de   Ranke  — wie es   eingentlich

    gewesen

      ( c omo   realmente

      aconteceu)

      —

      c omo

      um a encantação,

    que visava,  como   todos

      os sortilégios, a salvá-los da obrigação

    cansativa   de   pensar  por eles própr ios". 12

    O

      verdadeiro historiador portanto, segundo

      José Honório, é

      aquele

    que  adquir iu  a   capacidade  de   analisar  e   in terpretar   os   dados  e os

    acontecimentos

      históricos.

    Também no prefácio da   obra   Independência: Revolução e  Contra-

    -Revolução o  autor insiste  no   papel  do   h is tor iador

      como

      intérprete

    dos fatos:

    "O h is tor iador  não deve   t r a t a r  somente  de   fatos,  porém da   signi

    ficação que eles   possuem.  A história é um a   estrutura carregada

    de valores,  e   para organizar  a percepção do   passado,  a   nossa lem

    brança   cognoscitiva, temos  que   a r t icular o   inart iculado,

     estabelecer

    a

      interação dialética

      entre

      o que

      aconteceu

      e o que

      s ignif icou

      o

    acontecido.  A s   dificuldades  da reconstituição e da análise, as

      ver

    sões dos   v i tor iosos  e   derrotados  —   sempre mais  dos   p r ime iros

    que  dos   segundos,  a relação   entre  a documentação de vária espécie

    e a "história"   existencial mostram   a preeminência, na   profundidade

    e  generalidade,  das   "verdades"  da história   sobre  as da ficção, não

    impor ta   que   isso   se   contraponha   à   nota   de Aristóteles na

     P oética.

    Tanto p ior para  Aristóteles. A história é um a  poderosa   construção

    ideológica, que pode

      modelar  nosso   sentido

      de

      identidade social,

    e o

      nosso

      futuro   nacional  o u o

      nosso

      propósito   in ic ia l .  A história

    não é só um

      processo

      acumulat ivo

      de elucidação

      documentada,

    mas  u m  conjunto integrado  de "traduções"   interp retat iv as. Quando

    1 1 Rodrigues,  José Honório,   ibidem, 135.

    12.

      Rodrigues,  José Honório,   ibidem, 135.

    m

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    9/41

    se

      consegue   reunir

      ao

      fa to

      reconstituído a interpretação,

      melhora-

    -se a   qual idade  da história   como   apresentação lingüística do

    passado".

    E

      conclui :

    "Nossa   tarefa

      é da

      m a i o r

      importância:

      desmist i f icar

      a história,

    purificá-la ou limpá-la dos

      m i t o s

      e

      preconceitos.

      Nesse

      desmas-

    caramento  ela   corre  u m   r isco, naturalmente, m a s a   pesquisa   da

    significação

      matr i z va le

      o esforço",

    É

      evidente

      que, ao

      tentar "desmist i f i car "

      a história, o

     h i s to r i ador

    pode

      também, por sua

      ideologia,

      cont r ibu i r

      pa r a

      a criação de

    novos mitos.

    E m b o r a

      u rg indo

      a

      necessidade

      da interpretação histórica, José

    Honório

      reconhece

      que se

      t rata

      d e uma

      tarefa complexa

      e árdua:

    "Os

      embaraços da interpretação histórica

      resultam

      das concepções

    filosóficas, teológicas, das

      teorias,

      das visões do

      mundo

      de

      cada

    um .

      1

    Nessa

      última afirmação está

      velado

      o corolário de que

      diversas

    são as interpretações possíveis da

      mesma real idade

      histórica.

    5

    A i n t e r p r e t a ção

      o f i c i a l : V a r n h a g e n

    A  interpretação da História do   B ras i l  predomin ante durante  os

    últimos cem

      anos

      — e

      of icial izada

      de

      certo modo

      n os

      textos

      e

    manuais

      escolares

      — se deve a

      Francisco Adolfo

      de

      Vamhagen,

    visconde

      de

      Porto Seguro.

    Na

      opinião de José Honório, essa interpretação foi

      fe i ta

      sob um a

    ótica

      t ip icam ente conservadora. A f i r m a

      ele:

    "A visão

      conservadora

      de

      nossa

      h istór ia — foi

      Vamhagen quem

    a

      estabeleceu

      com

     punhos

     de

      fe r ro .

      Esse

      germano

      —

      sorocabano,

    que

      já em

     1857 m an ifestava

      sua

     ant ipat ia

      ao

     nacion al ism o, dizendo:

    "e   sendo   nós, mercê de  Deus,  dos   menos  partidários do   incoerente

    sistema  do

      p atr i ot ism o caboclo", frase

      que

      desaparece

      na edição

    de

      1877, f o i o

      p r inc ipa l

      responsável

      pelo escrito

      histórico-oficial,

    neutro,  l i m i t ado

     e

      d ivorc iado

      do

      presente".

    E  acrescenta   em   seguida:

    "Of ic ia l ,  porque sempre

      a razão de

      Estado estava correta, porque

    f ing iu

      não

      t omar

      par t ido ,

      m as

      sempre

      os

      v i tor iosos estavam

      cer-

    13.  Rodrigues,

      José Honório,

      Independência:  Revolução e  Contra-

    •revolução

    Rio,

      Francisco Alves,

      1975, 1

      volume.

      Prefácio.

    14.  Rodrigues,

      José Honório,

      História, Corpo  do  Tempo,

      S.

      Paulo,

    Perspectiva, 1976,

      22.

    1 1 9

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    10/41

    tos;

      l im i tado , porque  lh e   coube estabelecer aqueles li m i te s tem

    pora is  permissíveis a   um   t ra tamento   histórico que, ultrapassados,

    faz iam incorrer  n a   pecha   de   d i le tant ismo.  E m   resumo,  a   com

    preensão   conservadora   f o i   sempre tradic ional  n o   B ras i l ,  e só

    recentemente sofreu  os   pr imeiros agravos.  A   Ideologia   dos  h isto

    r iadores

      f o i

      sempre

      a

      apologia

      do

      passado

      e a conseqüente defesa

    do

      status

      quo.

    Assim   a razão de   Estado,  a razão   conservadora,  os   grandes homens

    imper i a i s  e

      republicanos explicam

      e

      conduzem

      o

      nosso processo

    histórico,  onde falta sempre  a presença do povo —   v isto como

    infecto,

      deseducado

      e

      errado, pois foram

      os

      seus

      pecados que

    or ig inaram

      os   nossos insucessos".^'

    Na

      Explicação

      que precede aos

      Capítulos da História

      Colonial

    José Honório   c i ta textualmente  as   palavras  de   Capistrano   de

    Abreu,  ntraia

      crítica à visão histórica de   Vamhagen :

    "A História do   B r a s i l  não se lhe   a f igurava   u m   todo   solidário e

    coerente.  Os pródrom os da  nossa   emancipação política, os   ensaios

    de  afirmação   nac iona l  que por vezes   p e rcor r i am   as   f ibras popu

    lares, encontram-no  severo e até   prevenido. Pa ra   ele, a Conjuração

    mine i ra  é um a cabeçada, é u m

      conluio;

      a Conjuração

      ba iana

      de

    João de  Deus,  um   cataclisma   de que   rende  graças à Providência

    p o r

      nos ter

      l i v rado;

      a Revolução

      pernambucana

      de

      1817

     uma

     gran

    de calamidade,  u m   c r ime  em que só   t omaram parte homens  de

    inteligência

      estreita

      ou de caráter

      pouco

      elevado. Sem D. Pedro

    a

      independência   seria ilegal,  Uegítima,  subversiva, digna   da   forca

    ou

      do   fuzil.  Juiz  de   Tiradentes  e G onzaga , ele não   teria hesitado

    em assinar  a   mesma   sentença que o   desemba rgador Dini z  e   seus

    colegas".

     i«

    Essa   visão   o f ic ia l  da história, de   natureza conservadora  e  el it ista ,

    dando relevo apenas  à ação do   poder dominante vitorioso, tendo

    sido iniciada

     p o r

      Varnhagen

      t em

     hoje

      em Pedro

      Ca lmon

      seu

     m a io r

    representante.

    Escreve  José Honório

      Rodr igues:

    "Desde

      Varnhagen   até Pedro   Ca lmon   as histórias   gerais brasileiras

    não   comprendem   os sucessos   populares,  n em   ju l gam   as danações

    elit istas;  ma ls inam   as insurreições;   ev i tam   o u   condenam   as   revol

    tas,

     dão as  costas  ao sertão;   seus  heróis são   apenas  as  elites mu ita s

    vezes  alienadas  a   interesses ant inacionais; "b iograf izam"  a história

    para

      personalizá-la em

      "estadistas"

      que não

      valem alguns

      heróis

    15.

      Rodrigues,

      José Honório,

      Vida  e

     História Rio de

      Janeiro, Civi

    lização

      Brasileira, 1966,

      17.

    16.   Rodrigues,  José Honório,

     Explicação

    i n  Abreu,  J . Capistrano  de.

    Capítulos

      da História Colonial, Rio, Civilização   Brasileira, 1976, XXXV.

    1 2

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    11/41

    do

      sertão

      abandonado; evitam

      as controvérsias e te m , pelo   seu

    próprio   pa r t idar i smo   e   o f ic ia l ismo,  um caráter   ma is  político que

    c ient í f i co " . "

    E  em   out ro   tópico   a f i r m a :

    "A   re lat iva   indiferença que a história   o f ic ia l bras i le ira,  de   V a m h a

    gen   a Pedro   Calmon, revelou   pelo   negócio   real  da história econô

    mica

      que não se   enquadra   n a   na rra t iva convencional , dominada

    pela miudeza   da política   pessoal, mostra   como   é necessário   rever

    e  renovar   as forças de produção que   inf luem nesta   e nas gerações

    futuras".  8

    Esta

      interpretação histórica,

      cuja paternidade

      se deve ao

      visconde

    de Porto Seguro,  f o i de   certo modo ofi cializada ain da   na época

    imper i a l

      p o r

      Joaquim Manuel

      de

      Macedo,

      pr ime i ro ocupante

      da

    cadeira  de História do   B r a s i l  do Colégio D. Pedro I I .

    6 A r e v i s ão h i s t ór i c a :

      C a p i s t r a n o

      d e

      A b r e u

    E m

      oposição à

      histor iograf ia of ic ial, cujo mestre

      f o i

      Vamhagen,

    surgiu

      out ro gmpo

      que

      exigia

      a revisão ou renovação histórica,

    l iderado

      p o r

      Capistrano

      de

      Abreu.

    Após

      descrever

      a versão   o f ic ia l  da História do   B ras i l , José Hon ório

    a f i rm a :

    "Es ta   visão   deformada   de   nossa   história vem   sendo   totalmente

    revista,  e o   m a i o r   esforço   para   ajustá-la à   realidade nacional  f o i

    fe ito  p o r   Capistrano   de   Abreu,  João   Ribeiro, Euclides  da   Cunha,

    Ol ive ira Viana,  e as   novas correntes   que   abandonam   o   sentido

    colonial ista

      e

      saudosista, valorizador

      do   passado

      contra

      o

      contem

    porâneo, e que

      reconhecem

      o

      sentido progressista

      da história.

    Capistrano

      de

      Abreu

      escreveu   em 1882 que a

      obra

      de

      Vamhagen

      seria l ida

      pelos

      prof issionais

      e que o povo a

      desconheceria".

    Segundo   o própr io   Capistrano   de   Abreu,  o   visconde  de   Por to Segu

    ro ,  preocupado simplesmente   em da r

      relevo

      à   ob ra   de colonização

    e dominação luso-européia,  o lv idara   ou   om it i r a deliberadamente

    a

      história   real  da formação da pátira e do povo   bras i le iro ,  que

    tem

      sua base n o sertão. E screve ele :

    "Na   distribuição da s m atérias,  quase nunca tomou   como   chefe

    de   classe um   acontec imento im porta nte,   m as   fatos m uitas   vezes

    17.

      Rodrigues,

      José Honório,

      História e

      Historiadores

      do

      Brasil,

    Rio, Pulgor,  1965, 10.

    18.  Rodrigues,  José Honório,  Vida

      e História,

     R io , Civilização   Bra

    sileira,  1966, 19.

    19.  Rodrigues,

      José Honório,  História e  Historiadores  do  Brasil,

    Rio, Fulgor,

      1965, 10.

    1 2 1

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    12/41

    inferiores,  demissões de   governadores, tratados feitos  n a   Europa,

    m o r t e  de   reis et c.. .

    Sob   as mãos de   Varnl iagen,  a história do   Brasi l uniformiza-se  e

    esplandece:

      os relevos

      arrasam-se,

      as características

      misturam-se

    e as cores   desbotam.  Vê-se   i ra ia   extensão, mas   plana , semp re

    igual,  que

     lemb ra

      as páginas de u m

     l i v ro

     que o

      brochador descuido-

    so repete.  E   todavia, mesmo   as pessoas que  desconhecem   a histó

    r i a  pátria

      in f in i tamente menos

      que

      Vamhagen, percebem

      que as

    épocas se  sucedem,  m as não se  parecem,  e   mui tas  vezes não se

    cont inuam",

    Exis tem portanto  ávias vertentes pri ncip ais   de interpretação da

    história do   B ras i l .  U m a   v inculada diretamente  a   Varnhagen,  n a

    qual

      a contribuição luso-européia tem

      aspecto

      dominante.

      A se

    gunda vertente  tem sua   or igem   n o   pensamento   e n a   obra   de J.

    Capistrano  de   Abreu, cujo   discípulo   mais destacado   f o i   Afonso

    d'E. Taunay,  o   h is tor iador   das   bandeiras paulistas.

    Nessa

      segunda   visão histórica, a preocupação é   in terpretar   a   for

    mação do território e da pátria   brasi le i ra   através da   conquista

    do   sertão e da miscigenação   rac ia l ,  que deu   origem   ao espírito

    nat iv ista

      de   cunho mameluco   o u   caboclo.

    Na  Nota liminar  à   obra   Caminhos Antigos  e  Povoamento  do  Brasil,

    de Capistrano  de   Abreu, José Honório   Rodrigues assim   se   expressa

    a

      respeito   do seu conteúdo:

    "Escr i t o  em 1899, sete   anos antes  dos Capítulos, este   estudo   não

    é

      somente inovador

      e

      o r i g ina l ,

      como   preparatório do

      segundo,

    onde, pela primeira  vez se destacará o   papel  do sertão na história

    do B ras il . B asta dizer  que n o f i m do século   pouco   se   sabia   da

    obra bandeirante,  da   conquista   do sertão, dos  camirihos  de ligação,

    terrestre  o u   f luviais,  do   gado,  da   gente  do sertão".

    E

      continua

      co m

      esta

      observação:

    "Joaquim   Manuel  de

      Macedo,

      que   ensinou durante tanto tempo

    história do   B r a s i l  no Colégio P edro I I , a   primeira cadeira of icial

    de ensino  da história pátria, não   colocou  em seu   l i vro nenhuma

    palavra sobre  o sertão, as  bandeiras,  o

      gado,

      a expansão

      te rr i tor ia l .

    Assim ensinava-se  a história do  B r a s i l.  A  culpa v inh a  de  V a m l u ^ ^

    cuja

      História  Geral  do  Brasil  fora abreviada didaticamente  p o r

    Joaquim   Manuel  de

      Macedo,

      e que   escrevera   um capítulo pífio,

    assim denominado

      pelo

      próprio   Capistrano, sobre  as   "M inas  de

    Ouro

      e

      Diamantes",

      o único que

      compreendia

      o

      grande assimto.

    20.

      Abreu,  J .  Capistrano   de. Ensaios  e  Estudos,  1.» série. R io ,  Civi

    lização

      Brasileira, 1975,

      2." ed., 140.

    1 2 2

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    13/41

    o maior de todos, na liistória  colonial . Assim, o maior   l i v ro   esque

    cera o maior   cap i tu lo " . 21

    Aliás,

      a 17 de

      ab r i l

      de 1890, em car ta a Rio B ra nco , o  próprio

    Capistrano

      expressara esta

      idéia:

    "Dou-lhe   uma grande

      notícia

      (p ara m i m ) : estou resolv ido a escre

    ver a  história  do   B r a s i l . . .  Escrevo-a po rque posso   reunir

      mui ta

    coisa que  está  esparsa, e espero encadear melhor certos fatos, e

    chamar  a  atenção  para certos aspectos até agora menosprezados.

    Parece-me

      que poderei dizer a lgiunas coisas novas e pelo m enos

    quebro os quadros de fer ro de Va m ha gen que, int roduzi dos po r

    Macedo no  olégio  de Pedro I I , ainda hoje são a base do nosso

    ensino.  As ban deiras, as m ina s, as estradas, a  criação  de gado

    pode dizer-se que ainda são desconhecidas, como

      aliás,

      quase todo

    o  século  X V I I ,  t irando-se as guerras espanholas e holandesas".

     

    Í

    Com a obra   Caminhos Antigos e Povoamento,  Capistrano dava

    novo rum o à h i stor i og ra f i a nacional.  José Honório Rodrigues assim

    destaca sua importância:

    " F o i  p or ta n to , este estudo, ao depois desenvo lvido nos  cpfíwlos

    de  Históría  Colonial,  que  abr iu  aos estudos o assunto que

      i r i a

    se desenvolver

      numa

      enorme, emdita e substanciosa histor iograf ia

    e bi b lio gr af ia . Este ensaio de 1899 é u m

      padrão

      de

      renovação

    histórica

      e representa para a nossa h isto rio gr afi a pap el semelhante

    ao que signi f icou o de P. Tumer,  The Frontier in American History,

    de 1893. Co m u m só estudo renovava-se t od o o  espírito  de nossa

    h istor iogra f ia

      e se estimulava a

      investigação

      e o esclarecimento de

    luna  zona nova desconhecida, abandonada".

    E

      em seguida prossegue, salientando o significado da obra de

    Ta imay:

    "A

      investigação

      das bandeiras sofreu desde  esse  momen t o um

    impulso

      novo e o nosso saber

      histórico

      alargou-se imensamente

    até desabrochar neste m on iunen to de

      emdição

      que fo i a

     História

    Geral

      das  Bandeiras

      Paulistas  (S. Paulo, 1924-1950, 11 vo ls.) p o r

    Afonso d'E. Taunay,

      discípulo

      querido de Capistrano de Abreu,

    erudito   investigador não esquecido pelos estudiosos do

      B ras i l " ,

    2 1 Rodrigues,

     José

      Honório,

      Nota liminar,

      in Abreu, J. Capistrano

    de.

      Caminhos antigos e povoamento do

      BrasU,

      Rio,

      ivilização

     B rasilei

    ra, 1975,

      x n - x i i i .

    2 2 Abreu, J. Capistrano de.

      Capitulas de  História  Colonial,

      Rio,

    ivilização  Brasüeira 1976, XI-X II .

    2 3 Rodrigues,  José  Honório,  Nota liminar,  i n Abreu, J. Capistrano

    de.  Caminhos antigos e povoamento do

      Brasil,

      Rio,  ivilização Brasileira,

    1975, 4.' ed.,

      X I I I .

    1 2 3

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    14/41

    2 .  O

      M O D E L O H E R M E N Ê U T I C O   D E

     oSÉH .

      R O D R I G U E S

    E m

      seus estudos  de História do

      Bras i l ,

      José H.  Rodrigues p rocura

    ser

      f ie l

      à

      n o r m a

      básica que exige do

      h i s t or i ador

      não

      apenas

      im ia

    apresentação dos

      fatos,

      mas a sua interpretação.

    Nesta segunda parte  do   estudo, queremos focalizar   os   pr inc ipa is

    princípios que

     o r i en tam

      a interpretação da História do

      B ras i l  ado

    tada   pelo autor.

    Aliás,

      ele não faz segredo de que sua visão histórica é

      essencial

    mente interpretat i va .

    A o

      escrever

      o prefácio da

      ob ra   Conciliação e

      Reforma

      no  Brasil,

    datado

      de

      setembro

      de 1964, ele

      a f i r m a :

    "Este l ivro nasceu  do   mesmo quadro   de cogitações que  produz i

    r a m

      as

      Aspirações  Nacionais.

    Espero  que este   l ivro represente  u m a   t entat i va   de compreensão

    do quadro presente brasi leiro,  c om os   i ns tnunentos  históricos, e

    signif ique  ma i s

      i m i a

      pedra para   a construção de   luna   ponte,  não

    de ouro,  que   Nabuco   de Araújo   p lanejou para   p e rm i t i r  apenas  a

    comunicação das

      el i tes brasi leiras,

      mas de aço

      pela qual atraves

    sem todos

      os

      brasi le i ros

     a f i m de se

      associarem

      n a

     ob ra

      de

      moder

    nização do

      B ras i l " .

     2í

    Também no prefácio de

      Vida  e História,  datado

      de 1 de

      j ane i ro

     de

    1966   José Honório não faz mistério de sua visão   i n t erpre ta t i va :

    "Estas  páginas

      t ra tam

      das várias   correntes  que nos   podem ajudar

    a   encontrar   e   aceitar   o   sentido   da direção da História, e   conse

    qüentemente, u m a visão   construt i va   do   passado   e do   futuro,  já

    que

      são

      tantos,

      tão

      var iados

      e

      color idos

      os

      seus

      caminhos" .

     2»

    A o   pub l i ca r

      História,

      Corpo

      do

      Tempo  ele   ressalta   seu conteúdo

    interpretat ivo,

      escrevendo

      n o prefácio, em

      j ane i ro

      de 1973:

    "Resumo neste volume  u m a   nova   série de   estudos  e   ensaios...

    Todos

      estão   l igados pelo mesmo   espírito de interpretação, a   mes

    m a   paixão   pela   história   inte i ra   do

      B r a s i l . . .

      Espero   que este

    volume, como outros  que   tenho publicado, ajudem   a   sugerir   leitu

    ras,

      a

      provocar

      reflexões, a

      de f in i r caminhos

      e vocações".

    Não

      obstante,

      o

      fato

      de

      optar

      p o r

      i m i a

      história

      in terpretat i va

     não

    signif ica  compromisso

      partidário.

    24.  Rodrigues,

      José Honório,

     Conciliação  e

      Reforma

      no  Brasil,

      Rio,

    Civilização   Brasileira, 1965,  9-10.

    25.

      Rodrigues,  José Honório,  Vida

      e

     História Rio, Civilização Bra-

    sUeira,  1966, Prefácio.

    26.   Rodrigues,  José Honório,  História, Corpo  do  Tempo,  S .  Paulo,

    Perspectiva,  1976,  11-12.

    1 2 4

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    15/41

    No prefácio da   segunda   edição da   ob ra   Brasil  e África:  Outro

    Horizonte,  publ icado

      em

      1964,

     José Hon ório faz questão de

      de f in i r

    bem claro   sua posição:

    "Rea f i rmo   o que já   escrevi   na introdução da   m inha pr im e i ra

    edição   sobre

      m inha

      não filiação partidária,

      m inha

      s impat i a   p o r

    todos  os   povos, independentemente  de raça ou religião, a   p r i o r i

    dade  que se deve dar aos   interesses nacionais,  e que só reconheço

    como  Mãe Pátria o   B ras i l .  Neste   sentido,  de   defesa apenas  e

    sobretudo   dos   interesses nacionais,  este   l i vro   é

      nac ional is ta". 27

    A   necessidade  de interpretação histórica   p a ra   José Honório tem

    raizes mais profundas,  e   coaduna-se evidentemente  com a posição

    filosófica que o

      autor assiune diante

      da

      vida.

    E m   Vida

      e História

      José Honório escreve:

    "As  relações da História com o   presente,  da Histór ia com a   V ida

    a   Ação têm   sido tratadas  p o r f i lósofos,  pensadores  e  h istor ia dores.

    É a História um  poder at ivo   que   determina   o u   condiciona   o   pre

    sente,  que nos   sugira meios  de ação,  agens  o u  potentia  de   vida?".

    E  declara   em   seguida, como resposta:

    " In ic ia lmente

      não devemos   esquecer   que o   passado   é lun  conceito

    tempora l ,

      sempre representado

      p o r

      um

      caos e que nós, os

      histo

    riadores,  é que o   t rans formamos  em   p roduto   espir i tual.  Não

    esqueçamos também que   K a r l  Marx fa lou   na   Ideologia  Alemã das

    "potências do   passado"   que   agem   com força   sobre nossa vida   e

    nossa   a ção ... A tradição de  todas  as gerações   mortas pesa   de

    mane ira  m u i t o

      forte sobre  o cérebro e a consciência dos   v ivos",

    Pode-se   fa lar   de um   verdadeiro modelo   hermenêutico   adotado   p o r

    José H. Rodrigues  em   seus estudos   históricos.

    Nesse  m odelo interp retat i v o, podem   ser   indicados seis   princípios

    básicos.

    Os   três   p r i m e i ro s têm   m a i o r   vinculação com o   revis ionismo   histó

    r ico,  tema tantas  vezes   ressaltado pelo au to r. Po dem   ser   enun

    ciados  da   seguinte manei ra : pr imei ro,   equilíbrio   entre  a   cultura

    dominante  e a   cultura  opr imida; segundo,  valorização da   con tr i

    buição   popula r ;  por últ imo,   abertura para   o   aspecto social  e

    econômico.  Essas no rm as seriam   básicas   pa ra   u m a   releitura   ou

    nova   interpretação do   nosso passado   histórico.

    Os  três   outros p rincípios,  in t im am ente l igados entre   si , estão   ma is

    or ientados

      p a ra

      a

      realidade

      atual.

      São eles: conexão

      entre

      o pas-

    27.

      Rodrigues,

      José Honório,

      Brasil  e África,  outro horizonte,

     R io,

    Civilização   Brasileira,  2.» ed., 1964. Prefácio.

    28.

      Rodrigues,  José Honório,

      Vida

      e

     História

    Rio, Civilização

      Bra

    sileira,  1966,  3-4.

    1 2 5

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    16/41

    sado  e o   presente,  vinculação   en t re  história e   v ida ,  e a afirmação

    da   história   como inst rumento   de transformação   social.  Esses

    princípios   sal ientam   o   conhecimento   histórico   como forma   de

    análise da

      atualidade,

      e p o r

      conseguinte como meio

      eficaz de ação.

    2

    E q u i l íb r i o

      e n t r e

      a

      c u l t u r a   d o m i n a n t e

      e a

      cu l t u r a

    o p r i m i d a

    Segundo   José Honório a História do   B ras i l  divulgada   e   oficializada

    apresenta  m n a   grande lacuna,  por ser   extremamente parcia l :  de

    fende apenas  a   cultura   dominante  das   elites.

    "A História que   conhecemos  não é senão um a versão   mu i t o   duvi

    dosa,  construída   para satisfazer interesses  de classes e   grupos

    dominantes".

    Existe por tanto   n o   B ras i l im ia   cultura   domraante, sustentada   e

    imposta  pelas elites,  e u m a  cultura   o p r im ida ,  de raízes  n i t idam ente

    populares.

    E m

      suas  Ref lexões

      sobre

      os

      rumos

      da História,  ele   declara:

    "Na h is tor iogra f ia bras i le i ra predomina

      a razão incontrastável do

    Estado,  do   v i t or ioso .  Ê   preciso   que restabeleçamos o equilíbrio,

    ouvindo   e   incorporando   vencedores e   vencidos. . .

    É o espírito da   verdade, buscada   sem   t emor ;  é a compreensão de

    que

      o

      objet ivo

      da História é dar

     sentido

      a o

      passado;

      é

      conhecer

      e

    compreender  não   para contemplar  l u n  passado m or to ,  m as   para

    ag ir , para l ibertar  as consciências,  pa ra   dar força às forças do

    progresso, para identif icar

      e

      in tegrar

      o país

      todo

      com sua história

    e seu   futuro,  essa é a   tarefa   da História".

      ^9

    Essa tarefa

      de

      buscar

      um equil íbr io

      entre

      vencedores e

      vencidos,

    valor izando

      a atuação destes últimos é

      exercida mediante

      o

      revi

    sionismo

      hi stórico. A esse

      respeito,

      José Honório se

      expressa

      da

    seguinte maneira:

    "A   p r ime ira ta re fa   da história   combatente  é   rever   a   realidade

      his

    tórica,  esquadrinhar todos  os   aspectos daquela falsa   idealização

    com   que se tem  a presentado   o   passado.  O   rev is ion ismo   se opõe à

    or todox ia .  Ê u m   m ovi m ento independente,  u m   desenvolvimento

    cr iador  e   in terpreta t ivo , que   restabelece  o   contato entre  a   teor ia

    e a prática,

      abandona

      os

      mitos pela realidade,

      não

      cancela (si c),

    antes enfrenta

      as condições

      ortodoxas,

      desde os figurões,

      desafia

    a   o l igarquia,

     não

      despreza

      as

      ideologias

      e não

      considera histori ca-

    29.

      Rodrigues,  José Honório,  História, Corpo  do  Tempo,  S.   Paulo,

    Perspectiva,  1976, 21.

    1 2 6

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    17/41

    mente  necessárias a injustiça   social,  a privação econômica, o   desa-

    tendimento educacional  e sanitário".

    E

      conclui

      em

      seguida:

    "O rev is ion ismo   t em de  buscar fatos  e conexões   novas inspiradas

    nas  exigências   in terroga t ivas  do   presente  e na vivência de   repente

    descoberta   de   coisas passadas.  O   revisionismo busca novos valores

    e não   acredita somente  nos   v i tor iosos, pois   sabe que os   vencidos

    e   derrotados fazem parte  do  processo   e não   podem   ser   el iminados,

    a   menos  que se   l iquide parte  da história",

    U m a   interpretação da História do   B r a s i l  que   defenda apenas  os

    interesses  dos   grup os domin an tes apresenta-se evidentem ente como

    facciosa.

    Por isso

      José Honório

      Rodrigues defende

      a

      necessidade

      de se

    cr iar  u m a  nova   visão histórica que leve em consideração também

    a

      contribuição das   massas op rim idas   e da

      cultura

      por e las   cr iada

    e  defend ida . Segundo   ele, estes são   valores genuinamente nacionais.

    E m   Aspirações  Nacionais  o

      autor enfat iza   também este   aspecto:

    "Os males  da   nossa   história advêm da   o l igarquia,  das   m inor ias

    dominadoras

      que

      querem evitar

      a opção

      pelo progresso,

      a

      l iberta

    ção do povo e da nação de   todas  as servidões. E la   quer impedir

    o f i m do s

      seus

      privilégios e o começo

      imedia to

      da História, com

    futuro.

      A s

      m inor ias dominadoras

      são

      alienadas, detestam nossa

    realidade  e   v i vem   n o   mimdo europeu,  o u   euro-americano,  sob pa

    drões alienígenas;  jamais reconhecem como   o   poeta :

    "Quem   me fez   assim   f o i   minha gente  e   m in h a te r r a

    E  eu gosto bem de ter

      nascido

      com essa

      t a ra .

    P a r a m i m , de   todas  as   burr ices, a   m a i o r   é   suspirar pela Europa" .

    Porque suspiram pela E urop a  — e   amam todos  os Poderes   m a i o

    res

      —-

      asp i ram

      as

      m in o r i a s

      a

      man te r

      o   statu  quo,

      evitando

      a

    re f o rma

      e a sua urgência".

    E  cont inua, n a   mesma

      l inha

      de   pensamento:

    "Incapazes  de   d is t inguir   co m   clareza   os   interesses nacionais per

    manentes, buscando  nas fórmulas jurídicas as soluções   imediat is-

    tas

      e transitórias,

      jwrsistem

      em

     coexist ir,

      n o

      t emor

      e n o

      e r ro ,

     c o m

    o

      povo .

      Nossa história, de evolução

      mu i t o l en ta

      até

      recentemente,

    se compõe de

      pequenos sucessos,

      f ruto

      ma is

      da paciência, da

      per

    sistência, do   o t im i sm o ,  do   estoicismo   do   povo,  que do   j e i t o   o u

    habil idades  da  m in or ia dominante. Esta encontra  n o   compromisso

    30.

      Rodrigues,  José Honório,

      Vida  e História

    Rio, Civilização   Bra

    sileira,

      1966,  16.

    1 2 7

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    18/41

    polít ico um   meio   de

      ludibr iar

      o   povo   e de   desviar   o   processo

    histórico do   caminho   do   progresso   e da justiça   soc ia l " .

     » i

    Somente mediante  luna   amp la   valorização da   cultura   popula r  p o -

    der-se-á  chegar   ao   desejado   equilíbrio   entre

      cultt ira

      dominante  e

    cultura  op r i m i d a .

    2 2 V a l o r i z a ção d a c o n t r i b u i ção

      p o p u l a r

    A valorização da contribuição

      popular

      é

      van.

     coro lário necessário

    do   princípio   an ter i o r .  Também este  const i tui  um   do s   aspectos

    básicos no   modelo   hermenêutico do   autor.

    Segundo

      ele, até o

      presente

      a História do

      B ras i l

      va lor i zou

      pr inci

    palmente

      a contribuição das   elites  que   estavam   n o   poder, desta

    cando como   heróis e   benfeitores  da pátria os   vultos  que  sustenta

    ra m

      e   defenderam   as posições   conservadoras.

    Urge agora fazer   um a Histór ia do   B ras i l  em que se   considere  o

    povo como verdadeiramente atuante. Esta   é   uma  das   tarefas  do

    rev is ion ismo

      hi stórico. A esse  respeito, assim   se   expr ime  José

    Honór io :

    "O revis ionismo

      que

      in terpreta

      e

      r e in terpre ta

      o

      passado

      na sua

    significação  presente,  que   combate  a mumificação de   estadistas  e

    realça a contribuição   popular, pode  ser, de   certo modo, resumido

    na

      lição de  M ichelet . "  Na história,  d iz ia   ele a   seus alunos, " é   como

    o   romance  de   Sterne:  o que se  fazia   no salão,  fazia-se  n a   cozi

    nha " .

      3

    O própr io   estudo   da lingüística,  segxmdo   ele,  pode servi r para

    detectar  a dominação das   elites sobre   a   cultura  popula r .  São

    palavras

      suas:

    "Para

      o

      h i s t or i ador ,

     u m do s

      aspectos mais valiosos

      do

      estudo

      da

    lingüística está na relação   entre  língua e   sociedade,  n o   passado

    como presente.

    Há uma   guerra   de   falares  n o   B ras i l  como   em   Portugal ,  que   dis

    t ingue  as

      classes

      da s

      duas sociedades. Assim como

      não há paz

    cultural  nas   sociedades,  não há paz lingüística.   Antes,  há um a

    guerra

      implacável, que excliü   m utuam ente grupo s sociais, separa

    dos  já   pela   estrutura   de   classe, pela   educação,   pe la renda. . .

    A   fala   não está

      un indo,

      está   d i v id indo  a   sociedade,  está   separando

    o

      pouco

      de

      c omum

      que

      existe entre

      luna

      pequena

      minor ia a l ta-

    3 1

    Rodrigues,  José Honório,

      spirações

      nacionais:

      interpretaçã

    histórico-política.  Rio, Civilização   Brasileira,  1970, 4.' ed.,  192-193.

    32.

      Rodrigues,

      José Honório,  Vida

      e

     História Rio, Civüização   Bra

    sileira,  1966,  15.

    1 2 8

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    19/41

    mente cult ivada   e u m a   maior ia brutal izada, conscientemente

      bru

    talizada  p a ra ma i o r   subjugação política".

    As  raízes do   na t i v i smo bras i l e i ro   estão na miscigenação   racial,

    e a contribuição

      popular pode

      ser

      designada como

      mestiça, ma-

    meluca  o u   cabocla.

    Por isso,  José Honório   fala   por vezes em   suas obras   e m u m a

    cultura   e u m   netcionalismo caboclo.

    Referindo-se

      à Confederação do

      Equador,

      ele   indica   esse

      naciona

    l ismo

      como   u m do s  aspectos  básicos   p a ra   a compreensão desse

    episódio:

    "Revelou  a força do   nacional ismo caboclo,  que   signi f ica especial

    mente dois

      princípios:

      p r i m e i r o ,

      que a

      g rande maior ia

      do

      povo

    bras i le iro

      é   cabocla,  seu  substrato  ético é m estiço. É esse o   agente

    pr inc ipa l  de atuação histórica e o   ma i s im por tan te fa tor   de   iden

    t idade  e   estabi l idade na cion al. Segundo, como   conseqüência do

    pr ime i ro ,

      quando

      se

      visa atender

      a

      esta gente,

      se

      atende

      impl ic i ta

    mente  ao   elemento   básico do   interesse nacional" .

    Não   obstante,  esse   sent imento   nat iv ista   e   nacional ista,  esboçado

    nas

      lutas

      pela   Independência, não teve até o   presente  as condições

    para   desabrochar   e   amadurecer, sufocado   com freqüência   pelas

    tendências

      conservadoras

      da s

      elites luso-brasileiras.

    Para   José Honório, o   verdadeiro nacional ismo   é   aquele  que   visa

    atender  as aspirações do   povo   e   dar-lhe verdadeira   participação

    na  v ida social  e no   processo   decisório da nação.

    E m

      Aspirações Nacionais,  assim   se   expressa   o   au t o r :

    "Só com a   real soberania popular   o   governo   se nacionalizará e os

    interesses nacionais  serão prioritários,  pa ra   benefício do   povo   e

    não de  poderosos grupos   econôm icos. A libertação do   governo   das

    minor i as

      alienadas

      e de

      seus agregados,

      os

      caiados,

      que já era

    1817 se   colocavam   ao   lado   da antiindependência,   apenas  se   i n i c i a . . .

    Por isso,  as vitórias   populares  são   lentas, pequenas  e   sofridas.  A

    conseqüência é a ameaça de lançar o autêntico   rad ica l i smo, o   ver

    dadeiro nacional ismo brasi le i ro   nos braços do   l i ber ta r i smo  anár

    quico,

      especialmente depois

      que o

      nosso processo

      democrático foi

    in te r rompido  pe lo l ibert i c ismo.  Desde 1964  dois p roblem as   polít i

    cos  se   a g ra va ram:  a relação instável   entre  o   governo   e a   sociedade,

    e a   alterada   distribuição de   poder   no própr io governo".» »

    33.  Rodrigues,  José Honório,

      História, Corpo  do  Tempo,

      S.   Paulo,

    Perspectiva,

      1976, 24.

    34.

      Rodrigues,  José Honório,  ibidem, 132.

    35.  Rodrigues,  José Honório,  spirações

      nacionais:

      interpretação

    histórico-política.  Rio, Civilização   Brasileira, 1970,  4.» ed., 192-193.

    1 2 9

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    20/41

    E  conclui

      com as

      seguintes

      considerações:

    "As

      legítimas apirações do

      povo bras i le i ro

      são também as legí

    t imas  aspirações do

      Bras i l ,

      e sua interpretação deve   inspirar-se

    não nos

      interesses

      dos

      poucos privi legiados

      do

      statu

      quo,

      que

    escamoteiam   o   processo   histórico, n em dos   re formistas  demagó

    gicos

      que, sob a p ressão dos

      fa tos, barganham

      concessões, nem

    dos antinacionalistas, nem dos   alienados, quer  os que não vêem

    mmca   o

      Bras i l ,  quer

      os que só o vêem com

      lentes emprestadas,

    dogmat icamente  pré-fabricadas   f o ra   do país.   Estas lentes podem

    e

      devem ajudar-nos, com o

      u m

      inst rumento

     de análise, m as a

     pala

    vra

      f inal

      surge  dos próprios   brasi le iros, inspirados n o  nacional ismo,

    nos interesses

      e

      objet ivos nacionais,

      no bem públ ico

      comum" ,

    E m

      conclusão, o

      nacional ismo

      autêntico não é

      aquele criado

      o u

    impos to   pelo Estado   o u   pelos  que   d om in a m   o   poder,  mas s im

    o que

      corresponde verdadeiramente

      às aspirações do

      povo   brasi

    le i ro  em re lação a uma  m a i o r   participação na   v ida   do país.

    2 3 Ên f a s e n o

      a s p e c t o   s o c i a l

      e e c o n ôm i c o

    Para

      um a

      verdadeira

      interpretação histórica, é necessário que

    o

      h istoriador tenha suficiente conhecimento

      dos

      aspectos socio-

    -econômicos que

      condic ionam

      os próprios

      fatos

      políticos.

    Escreve

      José Honório:

    "Ninguém

      pode realmente  cult ivar   seriamente

      a História se não

    souber,  ao   lado   do método, da crítica, da orientação na pesqiúsa,

    da   evolução da

      H is t o r i og ra f i a ,

      as relações, as contribuições, os

    auxílios que as várias Ciências  Sociais podem prestar  à História.

    U m   h i s t o r i ador

     deve

      manter-se

      em d ia com

      estas disci pli na s, bus

    cando tudo

      que

      possa servi-lo para melhor realizar suas tarefas

    históricas".

    E   acrescenta:

    "Os historiadores sabem como podem

      lucrar   com os avanços

    objet ivos

      das Ciências

      Sociai s. Depois

      de

      1930, m m to

      se

      desenvol

    veram

      as

      pesquisas

      e

      estudos sociais,

      econômicos e políticos, re

    presentando

      um a contribuição

      verdadeiramente

      extraordinária

    para   a síntese —

      in tegra t iva

      que cabe à História

      real izar, a inda

    que provisoriamente.

    Deste modo

      os

      h is tor iadores t ransformam

      as Ciências

      Sociais

      em

    auxil iares  da interpretação histórica,   como seria atualmente  não

    36.  Rodrigues,

      José Honório,

      ibidem, 192-193.

    1 3

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    21/41

    só a   psicolog ia,  mas a própria psicanálise, que nos serve   como

    um a

      categoria  de comp reensão histórica, instrumental , n ão  c a u s a i " . "

    Nossa  visão histórica

      t radic ional ,

      segundo   o   modelo Vamhagen,

    f o i

      marcadamente

      política.

      Essa

      era a tônica dos

      ant igos manuais

    de   História do   Bras i l .

    Capistrano  de   Abreu procurou ampl i a r   o   panorama, dando grande

    destaque  aos   aspectos sociais.

    E m b o r a  v inculado  p o r  sim pa tia especial  a  Cap ist rano, José H on ório

    é  um   h i s t o r i ad o r   de tendência   t ip icamente  política.  Sobre  ele,

    escreve

     Álvaro

      L ins :

    "Espír ito   caracterizadamente  político, José Honório   Rodrigues

      tor

    nou-se h isto r ia dor , talvez po rque

      de

      todos

      os gêneros da

      pa lavra

    escrita,  é a história o que  me lhor   se   entende  com a Polít ica,  como

    já   observava   José Veríssim o, nu m dos   seus estudos  críticos   sobre

    Joaquim

      Nabuco.  E o que  singulariza efet ivamente  este

      h istor ia

    d o r . . .  é a em oção, a paixão, a sensação de  atualidade  com que

    revive acontecimentos  históricos e fenômenos   sociais  do   passado",

    Não   obstante,  ele   soube sempre enfat izar   a   necessidade  de   im ia

    abertura

      pa ra   os   aspectos  sócio-econômicos.

    Assim,  p o r   exemplo, valor iza altamente   o   trabalho desenvolvido

    p o r  Capistrano

      de

      Abreu nessa

      área,

      a f i rmand o :

    "Suas  introduções à

      Primeira

      Visitação do

      Santo O ficio. Conf is

    sões  e às   Denunciações da

      Bahia,  1591-1592

      (S .  Paulo,  1922 e 1925,

    sendo  a

      p r ime i ra

      reproduzida pela Sociedade C ap istran o  de   Abreu,

    R io   de   Janeiro,  1935) são   empresas  inigualáveis   pela pesquisa nova

    e  o r i g ina l  que   abr i a   u m   novo campo   de   estudo, quase sempre

    envolvido pela escondida   discriminação — que ele   r o m p i a  —   como

    porque  e ra um   r e t ra to   que até então não se   f izera   da   sociedade

    colonial,

      da   psicologia   dos   povos,  n o   p r i m e i r o   século do   Bras i l .

    Novamente pion eiro, como sempre",

      ŝ»

    Da   mesma forma, ressaltou   ele a   vaUosa   contribuição   p a ra   os  estu

    do s  históricos   dada   p o r   G i lberto Freyre  e   Caio Prado   Júnior, o

    pr ime i r o

      com ênfase no   aspecto social,  e o   segimdo   n o   aspecto

    econômico.

    Aliás,  também ele   p rocurou de f in i r   as características do   povo

    brasile iro,  c o m a   seguinte   just i f icat iva:

    37.

      Rodrigues,

      José Honório,

      História,

     Corpo

      do

      Tempo,

      S .

      Paulo,

    Perspectiva,  1976,  20,22.

    38. Lins,  Álvaro in  Rodrigues,  José Honório,

      spirações  nacionais:

    interpretação  histórico-política.

      Rio, Civüização   Brasileira,  1970, 4.* ed..

    Contracapa.

    39.  Rodrigues,  José Honório,

      Nota liminar

      i n   Abreu,  J . Capistrano

    de. Ensaios  e

     Estudos,

      2 .' série, R io , Civilização   B rasileira, 1976, 2 .' ed. X I .

    1 3 1

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    22/41

    "A caracterização

      nac iona l

      não foge

      assim,

     à

      tarefa

      histórica. Não

    é possível  compreender   a

      sociedade

      ou a política   part indo delas,

    m as

      s im de

      seus

      próprios

      desenvolvimentos

      históricos. A

      mais

    impor tan te

      contribuição de   Riesman analisada  n iun   vasto

      exame

    crítico,

      consist iu

      em t e r

      observado,

      no caráter, a tendência

      para

    a

      mudança. E

      esta

      não

      pode

      ser

      v ista

      sem a história, sem as

    variações históricas, no jogo dinâmico do permanente-variável.

    O   h i s t o r i ador   deve   enfrentar   o   assunto,  e não abandoná-lo aos

    antropólogos e sociólogos que, se

      ad iantaram

      o

      conhecimento

      do

    prob lema,  não o   reso lveram" . * "

    N o

      vo lume

      História  Corpo  do  Tempo  há

      duas

      contribuições

      para

    a

      história econômica do   B r a s i l :  Holanda  e  Portugal,  um  paralelo

    entre  dois  mundos  e  História e Economia.  A

     Década

     ãe

     1870

      a  1880.

    Existem

      diversas outras  contribuições históricas de José Honório

    na

      área de

      estudos

      sócio-econômicos.

    M as

      o que

      importa aqui sobremaneira ressaltar

      é que

      para

      esse

    autor  os

      componentes

      sócio-econômicos são indispensáveis

      numa

    correta   interpretação histórica.

    2 4 C o n e x ão

      en t r e

      o

      p a s sa d o

      e o

      p r e s e n t e

    U m a   das preocupações básicas dos

      estudos

      de José Honório Ro

    drigues consiste

      em

      ressaltar

      a

      necessidade

      de

      re lac ionar

      os

      fatos

    e os

      acontecimentos

      de épocas

      anter iores

      com a situação

      a m a i

    do

      país; em

      suma, colocar

      em evidência os

      nexos existentes entre

    o

      passado

      e

      presente.

    E m

      sua   obra   Vida  e História,  José Honório   declara:

    "Venho repet indo   desde a   segunda   edição de  Teoria  da História

    do  Brasil  que

      precisamos preparar

      o

      professorado

      e a

      juventude

    com   um a história que man tenha v iva   a conexão com o   presente".  i

    Já em   um   de   seus primeiros estudos, publicado como art igo entre

    1945

      e

      1947,

     e

      reeditado

      n a

     ob ra

      Notícia de Vária História, o

      autor

    coloca  com  clareza   seu  pensam ento sobre  a  necessidade  de   estudar

    o

      passado

      à luz dos

      acontecimentos presentes, buscando

      nos

    acontecimentos anteriores,  um a   melhor   compreensão da situação

    presente.

    Eis como

      ele se

      expr ime:

    "Nas  épocas de   lenta   transformação   social  há u m a tendência a

    considerar

      as

      formas sociais

      de comunhão

      humana ,

     então

      corrente.

    40.

      Rodrigues,  José Honório,

      spirações

      nacionais:

      interpretação

    histórico-política

    Rio, Civilização

      Brasileira, 1970,

     5.

    4 1

    Rodrigues,  José Honório,  História, Corpo  do  Tempo,  S.  Paulo,

    Perspectiva, 1976,

      17.

    1 3 2

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

    23/41

    como eternas.

      Perde-se, nesse

      caso, facilmente

      o

      sentido

      da

    histór ia.. .

    Realmente

      nas fases revolucionárias,

      como

      a que

      v ivemos hoje,

    a

      var iab i l idade

      da s

      formas sociais toma-se aparente

      e a história

    ó então

      namorada pelos

      que

      desejam conhecer

      as

      or igens

      e a

    evolução da

      v ida hmnana

      e de

      suas

      instituições.

      Toda

      a história,

    quando

      a

      vemos pelo pr isma

      da

      agonia   m imd ia l ,  toma-se

      então,

    história contemporânea,

      po is para combater

      é

      preciso

      ter confiança

    na

      causa

      que

      defendemos,

      e

      esta

      confiança tem

      suas

      raízes no

    passado

      h istórico. U m a nação não é

      somente

      u m

      gmpo h i m i an o

    a   defender   ^^m   passado,  mas também um   grupo   que participará

    de

      l u n

     futuro   comum".

    E m

      seguida,

      faz a aplicação desse princípio

      para

      a situação histó

    r ica  concreta:

    "Nessa   h o r a ,

      desde os

      mais indi ferentes

      aos

      mais alertas, todos

    sent imos

      a significação da

      nossa vida passada

      em

      c omum

      e do

    nosso

      futuro,  que

      pretendemos seja

      também

      c o m u m . . .

    Se

      alguns podem negar

      a

      esta

      história

      statu  nascendi,  d i r e i t o

      à

    v ida,

      poucos

      poderão

      negar

      que na história

      post-mortem

      se

      julga

    o que

      aconteceu como

      a única

      coisa

      que

      poder ia

      t er

      acontecido.

    Desta atitude

     de

      devotado

      exercício à história

      presente poder-se-ia

    extra ir

      um a lição de conseqüente

      vantagem para

      nós.

    Quando   os   d i tadores modernos inauguraram   os serviços   of iciais

    de

      informação, o que de

      fa to pretendiam

      era

      f raudar

      a história.

    De nada

      o u

      pouco

      nos

      valer ia,

      n o

      entanto, combater aquela   lite

    ratura

      c om a de

      contrapropagan da, po rque esta

      t ra r i a   em s i pró

    pr i a  as

      mesmas potencial idades

      de

      erro

      e

      inverdade.

    A boa

      a t i tude

      que se

      ex t ra i

      da

      possibUidade

      de

      fazer

      história

    statu  nascendi

      n o

      B ras i l  seria

      a adoção de

      processos

      científicos

    histórico-sociológicos que

      procurassem descrever

      as tendências e

    a   atual idade

      do

      nosso processo social,

      econômico e político.

    As

      três

      pr incipais vantagens

      que logo se

      apresentam ser iam:

      1 )

    corr ig i r

      os

      erros

      e

      inverdades

      da

      Uteratura

      d i r i g ida   sem

      ca i r

      nos

    seus

      próprios m étodos; 2)

      apresentar

      à nação   mn

    re trato v i vo

    de suas necessidades

      e de sua situação histórico-sociológica; 3)

    servir

      à

      futura

      história da

      nossa

      época com relatórios do que

    pareceu

      aos próprios contemporâneos

      como suas pr incipais  ten

    dências".

      2

    42.  Rodrigues,

      José Honório,

      Noticia  de Vária História

    Rio,

     Livra

    ri a  S. José,  1951.

    1 3 3

  • 8/20/2019 A Interpretação do História do Brasil Segundo José Honório Rodrigues

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    Também em sua   ob ra   História

      Corpo

      do

      Tempo,

      José Hon ório

    ressalta

      a posição já

      assumida

      em

      A  Pesquisa  Histórica no

      Brasil,

    insist indo  em   v incular   a História com a   realidade presente:

    "Re lembro

      o que

      escrevi

      em

      A

      Pesquisa

      sobre

      a relação íntima

    entre

      o

      desenvolvimento

      dos

      arquivos,

      preservação

      documental,

     a

    pesquisa

      e a

      hora

      histórica

      c r iadora .

      A

      d isc ip l ina

      "Introdução à

    História", na   f a l ta   de   outras,  que   ser iam outros  focos de   energia

    combat iva, cont inua

      a ser uma das

      poucas fontes

      de inspiração

    para  a

      defesa

      de

      tantas

      aspirações dos   h istor iadores". * '

    O   estudo   do   passado, po rta nto , adquire m aio r  dimensão   quando

    nos ajuda  a   i n t e rp re ta r  e   compreender melhor   o   presente;  p or sua

    vez, o   momento presente  é v isl imíbrado com   maior clareza   à luz

    dos acontecimentos passados.

    2 5 V i n c u l a ção

      e n t r e

      a H i s t ó r i a e a

      v i d a

    A conexão   entre passado   e o   presente  é   apenas  u m