15

A LEITURA E A COMPREENSÃO DE CONTOS, ATRAVÉS DE TEMAS · Contos através de temas voltados aos problemas familiares. ... além de ser uma narrativa breve. ... necessários para

Embed Size (px)

Citation preview

A LEITURA E A COMPREENSÃO DE CONTOS, ATRAVÉS DE TEMAS VOLTADOS AOS PROBLEMAS FAMILIARES.

Ana Maria Pereira de Oliveira

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2010

Orientação: Prof. Dr. Luiz Carlos Santos Simon

RESUMO

Este trabalho é parte integrante do processo de formação continuada

desenvolvido pela Secretaria Estadual da Educação do Paraná, através do

Programa de desenvolvimento Educacional (PDE). A proposta deste artigo é

proporcionar momentos de incentivo e reflexão sobre o ensino e aprendizagem

da leitura, a partir da compreensão de contos, através de temas voltados aos

problemas familiares. O trabalho privilegiou o despertar para os inúmeros

benefícios que a leitura pode proporcionar e com isso favorecer um contato”

íntimo” com o texto, pois um leitor atuante só se forma através de uma prática

constante da leitura. Apresentou reflexões teóricas para o desenvolvimento

crítico do aluno, bem como a metodologia aplicada para os alunos do oitavo

ano do ensino fundamental. Logo, enfrentar os desafios que afastam os

educandos da prática da leitura é dever de cada professor que atua com o

ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa.

PALAVRAS-CHAVES: Leitura, Conto, Família, conflito.

INTRODUÇÃO: Este artigo é o resultado de um trabalho de pesquisa e

aplicação voltado ao estudo da leitura, desenvolvido por meio do PDE-

programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da

Educação do Paraná (SEED), em parceria com a Universidade Estadual de

Londrina (UEL).

Os objetivos que levam alguém a ler podem ser os mais variados.

Alguns leem porque estão buscando uma informação, outras leem a fim de

“sonhar” ou de se divertir.

Pretende-se aqui relatar um Projeto de Intervenção Pedagógica,

que foi desenvolvido na 8ª série, denominado: A Leitura e a Compreensão de

Contos através de temas voltados aos problemas familiares.

O grande desafio para os professores de Língua Portuguesa é

induzir o aluno a tomar gosto com a leitura e fazer dele um grande leitor.

Atente-se aqui para a importância de despertar o prazer de ler, e

com isso, favorecer um contato “íntimo” com o texto.

Como disse o professor de literatura francês, Daniel Pennac: “o

verbo ler não suporta o imperativo. É uma aversão que compartilha com outros:

o verbo amar... o verbo sonhar...” ( Pennac, Como um romance, 1996, p. 11).

Há coisas que não se manda fazer; elas acontecem. Leitura não é tarefa,

castigo. A leitura tem que ser prazer. Nos dez direitos do leitor, Pennac afirma

que ele tem o direito de não ler se não quiser; de ler de trás para adiante; de

começar do meio, e por aí vai. O leitor é livre. Você lê para você mesmo, para

seu divertimento, para sua emoção, não tem obrigação nenhuma. Você

começa a ler e vai logo percebendo que é bom. Uma história bem contada

pode fazer alguém chorar, rir, prender o leitor.

Um leitor só se forma através de uma prática constante de leitura,

organizada em torno da diversidade de gêneros textuais que circulam

socialmente. A partir do pressuposto de que a leitura é uma prática social,

concebemos o leitor não como mero decodificador, mas como alguém que

assume um papel atuante na busca de significações.

O gênero conto é muito instigante, aguça a curiosidade do leitor

por sua linguagem simples, objetiva e principalmente pelo desfecho rápido e

surpreendente que apresenta, além de ser uma narrativa breve.

O objetivo principal desse trabalho foi mudar a visão que se tem

da leitura como obrigação escolar e chamar a atenção para necessidade de

formar leitores críticos, que sintam prazer na leitura.

Sabendo que a leitura propicia o desenvolvimento de uma atitude

crítica e transformadora, é necessário selecionar leituras que envolvam temas

que agucem a curiosidade do leitor ou temas que eles estão vivenciando no

meio familiar.

Pensando assim, foi trabalhado a leitura de três contos a partir de

temas familiares.

Como as relações familiares encontradas em alguns contos

podem sensibilizar e despertar os alunos para leitura e senso crítico?

Os contos fictícios podem estar relacionados com a realidade de

nossos leitores e ajudá-los a mudar sua realidade?

Assim, o projeto visou levar os alunos a uma reflexão sobre os

problemas que envolvam conflitos familiares, resgatando e transformando o

ambiente em que estão inseridos, através do diálogo e compreensão,

adquirindo uma visão crítica de que o indivíduo poderá mudar ou transformar a

realidade em que vive.

Enfim, ler bem é compreender o que se lê. E se possível

transformar sua realidade ou amenizar os problemas vivenciados.

FUNDAMENTACÃO TEÓRICA

Segundo as DCEs, a leitura é como um ato dialógico,

interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas,

pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca

suas experiências,os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar,

religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem.

Para Silva (2005, p.24),

[...] a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz.

Formar leitores proficientes deve ser um dos objetivos do ensino

de língua Portuguesa. A capacidade de ler criticamente garante ao indivíduo

condições de interferir no meio em que está inserido, podendo inclusive,

transformar, transformar a realidade. O pensamento de Lívia Suassuna (1995,

p.52) pode servir para confirmar essa asserção: Se o aluno lê sem prazer, sem

o exercício da crítica, sem imaginação; se ele lê e não faz disso uma

descoberta ou um ato de conhecimento: se ele só reproduz, nos exercícios, a

palavra lida do outro, não há nisso nada que historicamente está posto.

A partir do contato com diversos gêneros textuais e de qualidade

considerável é que o aluno poderá alcançar essa proficiência.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – língua, p.

36.

“Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não esta escrito, identificando elementos implícitos, que estabeleça, relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto, que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos que permitam fazê-lo “.

Por isso que é importante selecionar textos que levem o leitor à

sensibilidade motivando, instigando a curiosidade em relação ao assunto a ser

tratado, enriquecendo a sua prática de leitura e com isso desenvolver leitores

críticos e autônomos, capazes de criar textos coerentes e coesos, usando

diferentes recursos linguísticos e de fazer a leitura da palavra associada à

leitura do mundo.

Para Kleiman (1989), a leitura é um processo interativo, pois

resultado da interação de diversos níveis de conhecimento – o conhecimento

linguístico, o conhecimento textual e o conhecimento do mundo. Para

compreender o texto, o leitor utilizava conhecimento prévio que é constituído

por todo conhecimento reunido ao longo de sua vida.

E esse conhecimento prévio partilhados entre autor e leitor

permite fazer inferências necessárias para relacionar diferentes partes do texto

e devem ser considerados como ponto de partida.

A partir do prazer pela leitura, o leitor despertará para os

inúmeros benefícios que a leitura pode proporcionar, pois ler e refletir o eu

estão se tornando uma ferramenta de sobrevivência, condições para viver com

as constantes mudanças sociais, e ter argumentos para acompanhar todas

essas mudanças e saber questionar.

Afinal, a prática de leitura é o princípio da cidadania, pois é

através da leitura que se fica sabendo quais são as suas obrigações e também

como se pode defender seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de

outros direitos necessários para uma sociedade, mais justa, democrática e

feliz.

Atente-se que ler e escrever devem ser considerados dois atos

inseparáveis. A prática da leitura favorece a escrita, ou seja, quem tem o hábito

de ler diferentes textos tem condições de pensar, refletir sobre as ideias e

formar opiniões. Enfim, ao produzirmos um texto, precisamos ter nossos

argumentos formados a cerca do assunto a ser tratado.

É necessária que a prática discursiva de leitura não seja somente

uma mera decodificação, mas que o leitor saiba compreender e interagir na

sociedade de forma consciente.

De acordo com Orlandi (2001, p. 38),

a relação do aluno com o universo simbólico não se dá apenas por uma via – a verbal - , ele opera com todas as formas de linguagem na sua relação com o mundo. Se considerarmos a linguagem não apenas como transmissão de informação mas como mediadora (transformadora) entre o homem e sua realidade natural e social, a leitura deve ser considerada no seu aspecto mais consequente, que não é o de mera decodificação, mas o de compreensão.

O trabalho com os gêneros é uma grande possibilidade de

inserção social, onde o leitor poderá formar sua opinião e compreensão e

tentar modificar o ambiente em que está inserido, principalmente no âmbito

familiar, pois o diálogo, respeito e o exemplo, precisam ser resgatados e

ressignificados em seu papel social em nossos tempos.

Para Bakhtin (1992), os tipos relativamente estáveis de

enunciados são denominados gêneros discursivos. A definição de gênero, em

Bakhtin, compreendendo a mobilidade, a dinâmica, a fluidez, a imprecisão da

linguagem, não aprisiona os textos em determinadas propriedades formais.

Bakhtin (1922) dividiu os gêneros discursivos em primários e

secundários. Os primários referem-se às situações cotidianas; já os

secundários acontecem em circunstâncias mais complexas de comunicação

(como nas áreas acadêmicas, jurídicas, artística, etc...). As duas esferas são

independentes.

Sendo assim, o conto que retratar os conflitos familiares, referem-

se às situações cotidianas primárias, pode levar o aluno a refletir e se

conscientizar de que é no meio familiar que pode-se ter uma forma individual e

coletiva, adotar posturas que promovam a convivência, a integração e a troca

de saberes e de experiências.

A família é o melhor espaço humano para nos fazer gente, não é

uma moda passageira, mas o espaço que criamos para nos humanizar.

Alguns valores da família mudaram, e isso trouxe uma infinidade

de novos paradigmas para o ser humano. Porém um paradigma não mudou: a

formação da personalidade do individuo como fruto de uma relação com a

família, que é o primeiro grupo de valor significativo para o ser humano.

No entanto, esses valores vem se perdendo, e é preciso criarmos

possibilidades de levar os alunos a conscientizar-se e compreender que é no

convívio familiar que muitas vezes encontraremos a paz, o discernimento para

a transformação de uma sociedade mais justa.

Para o desenvolvimento desse artigo, o foco foi voltado para

leituras do Gênero Conto, pois o conto é uma narração atraente, gênero do

narrar, era nas origens uma narrativa oral de fatos acontecidos ou

imaginados,tão antigo quanto a fala humana.

A palavra “conto” deriva do latim computare – relatar

acontecimentos ou ações. Porém o sentido do substantivo “conto” não tem

compromisso com o real além de que “relato copia-se e um conto inventa-se”,

afirma Castagnino (apud GOTLIB, 1988). Há, portanto, diferença entre relato,

que pode ser um documento e a literatura – que não é documento, daí temos

então o “conto literário” - quando o narrador assume a função de contador –

criador – escritor de contos.

O Conto é um dos gêneros literários da prosa de ficção.

Frequentemente contam-se a amigos histórias sobre acontecimentos da vida

diária. Do mesmo modo, podem-se contar anedotas para fazê-los rir ou para

explicar melhor o que se quer dizer. Tais modalidades de narrativa possuem

um íntimo parentesco com o conto, mas este tem vários elementos que lhe dão

características próprias. Todos os seus detalhes desempenham um papel

preciso e ampliam seu efeito.

De acordo com Nádia Batella Gotlib, o contista deve omitir o que

não for essencial para o impacto; expandir os motivos diretamente relacionados

com ele, contrair o que estiver relacionado, mas sem muita relevância, e

apresentar pontos de vista entre a voz do narrador e as vozes das

personagens que não se afastem do tema central do conto.

Para alguns os contos egípcios – Os contos de mágicos são os

mais antigos: devem ter aparecido por volta de 4000 anos de Cristo, mas foi

com Baccaccio, autor do Decamerão, que o conto pela 1ª vez ocupou um lugar

entre as grandes universidades.

Há sempre controvérsias entre os escritores críticos quando se

pretende definir o que realmente é um Conto. Por exemplo, Machado de Assis,

já disse que o conto “é um gênero difícil, a despeito de sua aparente

facilidade”. Outros escritores também destacaram a dificuldade de explicá-lo,

como Julio Cortázar, em “Alguns aspectos do conto”, em que se refere a “esse

gênero de tão difícil definição, tão esquivo nos seus múltiplos e antagônicos

aspectos.”

Cortázar comenta sobre a definição de conto:

Se não tivermos uma ideia viva do que é conto, teremos perdido tempo, porque um conto, em última análise, se move nesse plano do homem onde a vida e a expressão escrita dessa vida, travam uma batalha fraternal, se me for permitido o termo; e o resultado dessa própria batalha é o conto, uma síntese viva e ao mesmo tempo uma vida sintetizada.

Outro aspecto fundamental, além da brevidade é a intensidade.

Há duas metáforas criativas e precisas, criada por Júlio Cortázar que definem

bem a questão.

O conto está para a fotografia como o romance para o cinema. No

conto o autor vence o leitor por nocaute, enquanto no romance a luta é vencida

por pontos.

A teoria de Poe sobre o conto recai no princípio de uma relação:

entre a extensão do conto e a reação que ele consegue provocar no leitor ou o

efeito que a leitura lhe causa.

Na obra Review of twice tales, escrita em 1842, Poe destaca a

indispensabilidade sentada. Se o leitor abandonar a leitura antes do término, o

conto não está funcionando, há problemas.

Poe destaca:

No conto breve, o autor é capaz de realizar a plenitude de sua intenção, seja ela qual for. Durante a hora da leitura atenta, a alma do leitor está sob o controle do autor. Não há nenhuma influência extrema ou extrínseca que resulte de cansaço ou interrupção.

O fato é que a elaboração do conto, segundo Poe, é produto

também de um extremo domínio do autor sobre os seus materiais narrativos. O

conto, como obra literária, é produto de um trabalho consciente, que se faz por

etapas, em função desta intenção: a conquista do efeito único, ou impressão

total. Tudo provém de minucioso cálculo.

Júlio Cortázar sintetiza o conceito de Poe, chamando o conto de

uma verdadeira máquina de criar interesse. Aquilo que ocorre num conto, para

Cortázar, deve ser intenso, inseparável e decisivo.

O conto é, pois, conto quando as ações são apresentadas de um

modo diferente das apresentadas no romance: ou porque o autor escolheu

omitir algumas de suas partes. A base diferencial do conto é pois a contração:

o contista condensa a matéria para apresentar os seus melhores momentos.

Pode haver o caso de uma ação longa ser curta no seu modo de narrar, ou

então ocorrer o inverso.

Daí a conclusão a que chega Norman Friedman: “Um conto é

curto porque, mesmo tendo uma ação longa a mostrar, sua ação é mais bem

mostrada numa forma contraída ou numa escala de proporção contraídas

“(p.134).

Conto é toda história de ficção narrada de modo livre, que

apresenta enredo, tempo e espaço condensados e número reduzido de

personagens. O autor de um conto utiliza muitos recursos narrativos: faz

escolhas de linguagem e estrutura os elementos da narrativa – personagem,

ação, espaço e tempo – de modo a enredar o leitor na trama.

Os contos estão presentes em todas as sociedades; ultrapassam

fronteiras, épocas e, por onde passam, sofrem adaptações, ganham marcas da

cultura de um povo. E por meio desse gênero textual podem-se descobrir

outros lugares, outros tempos, outras formas de agir e ser, outra ética.

Entre as principais características estão a concisão, a precisão, a

densidade, a unidade de efeito ou impressão total – da qual falava Poe (1809-

1849) e Tchekhov (1860-1904): “ o conto precisa causar um efeito singular no

leitor, muita excitação e emotividade ”.

Para estabelecer o que é o conto – Propp determina então uma

“morfologia do conto”. Isto é: faz uma descrição do conto segundo partes que o

constituem e segundo as relações destas partes entre si e destas partes com o

conjunto do conto.

Julio Cortázar afirma em “Alguns aspectos do conto”: “ o bom

contista é aquele cuja escolha possibilita essa fabulosa abertura do pequeno

para o grande, do individual para a essência mesma da condição humana.”

(p.155)

Para que ocorra isso, há necessidade de ser um bom leitor, pois

aquele que lê frequentemente terá cada vez mais argumentos e vivência para

elaborar suas produções.

Além da leitura deve-se estimular os alunos a escrever, anotar e

produzir seus próprios textos e mostrar que a escrita apresenta seus próprios

elementos significativos.

O aluno precisa compreender o funcionamento do texto escrito,

por isso, o professor deve trabalhar diversos gêneros com objetivos de

aprimorar a prática da escrita, e essa prática com a escrita se realiza de modo

interlocutivo, relacionando o dizer escrito às circunstâncias de sua produção.

Geraldi propõe que o produtor do texto deve assumir-se como

locutor e dessa forma, ter o que dizer; razão para dizer; como dizer,

interlocutores para quem dizer.

Assim sendo, para que haja uma boa desenvoltura é fundamental

ressaltar que o professor é a peça principal, o mediador de toda aprendizagem,

é aquele que, através de estratégias diversificadas e significativas, proporciona

uma educação de qualidade.

Para Cavalcante, 1998, p. 172: a prática de ensino requer um

exercício constante de reflexão e a construção de teorias, de pesquisas

voltadas para o entendimento do processo de produção de conhecimento dos

alunos. Em outras palavras, ensinar é sempre favorecer a aprendizagem.

METODOLOGIA

A leitura deve ser motivada na escola como uma prática

constante e ser aplicada também no contexto familiar e social.

Outro aspecto importante a ser considerado durante as aulas de

leitura é o exercício permanente da oralidade, quando o professor estimulará o

indivíduo a expressar-se, sem medo da reprovação dos colegas, para que seu

horizonte seja ampliado.

O projeto de intervenção foi apresentado primeiramente à direção,

equipe pedagógica e corpo docente do colégio. Foram divulgados os objetivos

a serem alcançados e a metodologia aplicada. Tive incentivo, apoio e

aprovação de todos. Apresentei o projeto para a turma escolhida, bem como

todo o trabalho a ser desenvolvido durante a implementação.

A turma foi dividida em seis grupos e em seguida os alunos foram

conduzidos por mim até a biblioteca da escola, para pesquisarem sobre a

parte teórica do conto. Os materiais disponíveis para essas pesquisas foram

anteriormente pré- selecionados por mim.

É preciso garantir a todos os alunos o direito de pesquisar e de

adquirir as diferenças metodológicas para aquisição de todos os saberes e

conscientizá-los da importância da pesquisa e da leitura, não somente quando

o professor solicita, mas que eles tenham o hábito da leitura e a curiosidade na

busca de novas informações através dos diferentes gêneros textuais.

O primeiro grupo ficou responsável de pesquisar sobre o

conceito de conto; segundo grupo sobre os elementos da narrativa:

personagens- espaço-tempo-ação e sobre os momentos da narrativa: situação

inicial, conflito, clímax do conflito, desfecho; o terceiro grupo sobre tipos de

discurso: direto e indireto; o quarto grupo sobre os tipos de foco narrativo:

narrador-observador e narrador-personagem; e o quinto grupo sobre a

biografia dos autores: Monteiro Lobato, Fernando Sabino e Lígia Bojunga.

Todas essas informações pesquisadas foram expostas e

compartilhadas pelos grupos, fizeram debates, esclarecendo algumas dúvidas

que foram surgindo.

Dando continuidade leram o primeiro conto proposto “Colcha de

retalhos” de Monteiro Lobato. Cada aluno lia três parágrafos em voz alta. Já no

início da leitura do conto, houve muita inquietação e interrupção por parte dos

alunos, pois não conheciam, não entendiam alguns vocábulos contidos no

conto e eu ia fazendo as inferências necessárias quando solicitadas e quando

eu percebia que havia necessidade. É muito importante pelas diversas leituras

que cada aluno faz, pois as experiências e as condições emocionais deles são

distintas. Além das inúmeras e diversas respostas sobre o texto, ampliam a

reflexão que cada aluno promove diante da leitura do texto.

Durante a leitura puderam perceber as expressões que marcaram

o tempo passado (expressões coloquiais). Em seguida fizeram todas as

atividades propostas no Caderno Pedagógico e perceberam que neste conto

lido o convívio entre gerações tem que ter lugar privilegiado no ambiente

familiar. E para finalizar essa etapa os alunos produziram uma narrativa a partir

de uma introdução sugerida por mim. Dos três contos lidos, “Colcha de

retalhos” foi o que mais foi explorado, pois os alunos acharam difícil a

linguagem, a interpretação, mas com certeza essas dúvidas foram superadas.

O segundo conto lido foi ”TCHAU”de Lígia Bojunga. Esse conto já foi mais

fácil, conforme a leitura ia avançando pude perceber como a leitura ia mexendo

com suas emoções, sentimentos. Portanto os temas selecionados nos contos

foram de grande relevância, pois muitos alunos daquela turma se identificaram

com a situação focalizada no conto.

Houve a necessidade de abrir um espaço para que alguns alunos

se posicionassem diante do tema separação e traição, pois muitos vivenciavam

esses problemas dentro da sua própria família. Depois de uma longa

discussão, os alunos foram enumerando algumas causas e consequências

sobre o tema em pauta. Eles interagiram com o conto de forma individual e

social.

O terceiro conto lido foi “PAI E FILHO” de Fernando Sabino. Usei

a mesma estratégia, já não houve tantas dificuldades.

Foi uma leitura calma,clara e objetiva, pois a linguagem era

compreensiva e acessível ao nível da turma. Logo em seguida fizeram a

análise do conto. Senti a necessidade de abrir um espaço para discussão,

porque eles se interessaram pela situação que viviam os personagens pai e

filho, a falta de diálogo, contato físico (carinho fraternal). Alguns se

identificaram com a história e outros sentiram compaixão daqueles que não

viviam com seus pais.

E para finalizar esse conto pedi que cada aluno escrevesse uma

carta a seus pais, agradecendo pelo convívio familiar,onde recebiam carinho,

amor, ou pedindo, sugerindo de como eles(filhos) gostariam que fossem o seu

relacionamento com os seus pais. Foi uma experiência muito boa e prazerosa

tanto para mim como para os alunos.

É imprescindível concluir que um leitor ativo e crítico não se faz

apenas com leitura de um único gênero textual , é necessário que o professor

proporcione aos alunos a leitura de diversos gêneros textuais.

CONSIDERACÕES FINAIS

Todas as atividades desenvolvidas durante o projeto, focalizaram

a leitura do gênero textual conto, a partir dos conflitos familiares, como um dos

meios para desenvolver o gosto pela leitura e com temas que atendam as

expectativas dos alunos. Considerando que esse é um trabalho contínuo, cabe

ao professor a responsabilidade de mediação desse trabalho com a leitura.

A escola deve proporcionar condições para que os alunos tenham

acesso ao conhecimento. E é lendo que isso acontece. A leitura é um

instrumento valioso para a apropriação de conhecimentos relativos ao mundo

exterior e interior.

Ler, comentar, discutir, questionar, argumentar, produzir, foram

ações executadas para estimular e incentivar o gosto pela leitura e ampliar o

universo cultural dos educandos.

Os contos trabalhados foram de suma importância para o

enriquecimento e desenvolvimento da leitura, investindo na formação de

leitores ativos e críticos, capazes de interagir com diferentes textos presentes

no mundo contemporâneo.

Enfim, este projeto foi bem aceito pelos alunos que participaram,

pois houve interação e comprometimento com os trabalhos propostos,

incentivando a leitura. Os objetivos propostos superaram as expectativas, visto

que a prática e o desenvolvimento das atividades ampliaram o espaço de

debate, estimulando o hábito pela leitura e senso crítico, dando oportunidade a

todos de exporem suas opiniões nas diversas situações apresentadas pela

leitura dos contos e fazendo um paralelo sobre a realidade de cada um,

sensibilizando-os para os temas apresentados nos contos.

Ler bem é compreender o que se lê. E a partir disso transformar

a realidade ou amenizar os problemas vivenciados no convívio familiar e na

sociedade. Não apenas isso: ela pode se constituir também em um poderoso

instrumento para o autoconhecimento.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN. M.(Volochinov) Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BAKHTIN. MIKHAIL. Os Gêneros do Discurso, In: Estética da Criação Verbal – 1f953/1979. São Paulo, Martins Fontes 2003.

CAVALCANTE, M. C. B.; MELLO, C. T. V. Oralidade no Ensino Médio: Em busca de uma prática. In: BUZEN, Clecio.; MENDONÇA, Marcia. (orgs.).

Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola, 2006

CORTÁZAR, Julio. Valise do Cronópio. Trad. Davi Arrigucci Jr. e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 1993.

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre, Artes Medicas, 1994.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo, Cortez, 1984.

GERALDI, J.W. Concepções de linguagem e ensino de português. In: O texto na sala de aula. S. ed. Cascavel: Assoest, 1990.

GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do Conto. São Paulo: Ática, 1988.

LEFFA, Vilson. Aspectos da literatura/uma perspectiva psicolinguística. Porto Alegre, Sagra Luzzato, 1996.

LIMA, Herman. Variações sobre o Conto. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s.d.

LOBATO, Monteiro, 1882 – 1948. Urupês/Monteiro Lobato. São Paulo: Brasiliense, 2004. 6ª reimpre. Da 37. ed. De 1994.

PARANÁ, Diretrizes Curriculares de Português para a Educação Básica do Estado do Paraná. Curitiba. SEED, 2006.

SABINO, Fernando, 1923. Os melhores contos de Fernando Sabino. 5. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1997.

SILVA, E. T. Consequências sobre leitura – trilogia pedagógica. 2. Ed. Campinas/SP: Autores Associados, 2005.

SUASSUNA, Lívia. Ensino de Língua Portuguesa: uma abordagem pragmática. Campinas: Papirus, 1995

ZILBERMAN, REGINA. A leitura e o ensino de literatura. São Paulo; Contexto, 1988.

www.escrevendoofuturo.org.br

www.literaturainfantil-grup.blogspot.com/2010/11/tchau-ligia-bojunga-nunes.html