A notícia política na mídia evangélica: o Mensageiro da Paz e a Folha Universal em perspectiva comparada

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    INTRODUO

    A presena de atores religiosos e a ascendncia de valores confes-sionais sobre a poltica brasileira no recente. Embora a laicida-de tenha se firmado no corpo da lei com a Constituio republicana de1891, o certo que a Igreja Catlica soube manter sua influncia na

    vida pblica por meio da educao escolar dos filhos das elites, da ati-vidade da Ao Catlica e da atuao das Comunidades Eclesiais deBase (CEBs) (Della Cava, 1975; Giumbelli, 2002: 229-284; Leite, 2003;Montero, 2006; Novaes, 1997; Sanchis, 1994; Steil, 1999). Tambm osprotestantes, ainda que em pequena quantidade e sem despertar aten-o como grupo diferenciado, estiveram na poltica, com assento noCongressoNacionaldesdeadcadade1930.Algunsdelestinhamumeleitorado basicamente protestante, mas nenhum tinha o endosso ofi-

    cial de uma denominao (Freston, 1999:335). At a eleio para aAssembleia Nacional Constituinte, em 1985, seu modo de agir no di-vergia de maneira significativa da dos demais candidatos, nem na for-ma como se apresentavam na disputa eleitoral, nem naquilo que se re-fere s suas bases ou ao seu desempenho parlamentar. Naquele mo-mento, contudo, o estabelecimento de um ambiente plural no mundocristo brasileiro, promovido pela expanso do pentecostalismo, refle-tiu-se inclusive na poltica institucional. Se at as duas ltimas dca-das do sculo passado a inscrio religiosa no distinguia a atuao

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    DADOS Revista de Cincias Sociais, Rio de Janeiro, vol. 55, no 1, 2012, pp. 221 a 250.

    A Notcia Poltica na Mdia Evanglica:O Mensageiro da Paze a Folha Universalem

    Perspectiva Comparada

    Diana Lima1

    Vincius Werneck2

    1Professora do Programa de Ps-Graduao em Sociologia do Instituto de Estudos Sociais ePolticos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). E-mail:[email protected] em Cincia Poltica do Instituto de Estudos Sociais e Polticos, da Universidadedo Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). E-mail: [email protected].

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    dos parlamentares evanglicos da dos outros parlamentares, a partici-pao massiva dos evanglicos pentecostais na Constituinte produziuuma importante mudana nesta realidade ao promover um intensifi-

    cadotrnsitodepersonagensevaloresentreesferasdavidareligioepoltica modernamente, e at ento no Brasil, concebidas como sepa-radas.

    Duas grandes denominaes pentecostais brasileiras, a Igreja Univer-sal do Reino de Deus (IURD) e a Assembleia de Deus1, entraram naatividade poltica nacional no momento da redemocratizao, quandoelegeram parlamentares com inscrio denominacional e, ao mesmotempo, orientaram, com grande eficcia, seus fiis na votao de candi-

    datosaoExecutivoeaoLegislativo(Pierucci,1989;PieruccieMariano,1992; Freston, 1992, 1993; Oro, 2003). A participao dessas importan-tes instituies do ambiente religioso brasileiro suscitou o interessedos pesquisadores porque quando passaram a comparecer nos proces-sos eleitorais e a participar ativamente na poltica, elas contrariavam aideia at ento vigente no entendimento sobre o quadro religioso na-cional de que o ascetismo evanglico envolveria inclusive a total abs-teno poltica. Esse cenrio provocou ainda mais a curiosidade doscientistas sociais que se dedicam religio porque, como afirma Ma-

    chado (2006), os pentecostais so o grupo evanglico mais competiti-vo e com maior capacidade de transferir influncia da esfera religiosapara a esfera poltica, sendo particularmente pronunciada a disposi-odosfiisdaIURDemseguirasindicaesdaslideranasdaigreja.

    SegundoPieruccieMariano(1992),em1989,apesardesuasdiferenasteolgicas, foi em nome de uma mesma causa a da liberdade religiosa que esses setores se engajaram na eleio do ex-presidente Fernando

    Collor de Mello. Enquanto os pastores da Assembleia de Deus temiamque Luiz Incio Lula da Silva, candidato da esquerda, impusesse noBrasil a experincia de intolerncia religiosa vivida nos pases comu-nistas, a Igreja Universal acreditava que o candidato do Partido dosTrabalhadores (PT) iria entregar toda a vida confessional brasileira Igreja Catlica.

    Freston oferece um quadro menos linear dos evanglicos naquele mo-mento em que a Igreja Universal ainda no tinha a fora que veio a de-

    monstrar mais tarde. Alm do Movimento Evanglico pr-Collor,outros comits se formam: pr-Brizola e pr-Lula (Freston, 1992:33).E relata que quando perguntou aos integrantes do Movimento

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    pr-Collor se no estavam com receio de perseguio religiosa, a res-posta eminentemente sensata foi que no, porque a liberdade religiosaestava garantida pela Constituio (ibidem). O autor entende, assim,

    que a motivao desse grupo para no votar em Lula girou em tornoda convulso social que suas polticas gerariam. Para ele, a politi-zao pentecostal uma afirmao da maioridade cvica deste seg-mento social, queresultou de umacombinao de diversos fatores con-junturais e estruturais. Freston adverte ainda que h uma enorme di-versidade de estilos religiosos e de atitudes sociopolticas abrigadapelo rtulo de evanglico (ibidem:42).

    Mais de vinte anos depois, a observao do processo eleitoral de 2010

    refora a constatao da relevncia das posies desses grupos no em-bate pblico. Nas ltimas eleies presidenciais, sua fora poltica vol-tou a se mostrar e foi diretamente disputada pelos trs candidatos.Ainda que Pierucci (2011) tenha constatado que a confisso religiosaseja um fator secundrio na determinao do voto, indiscutvel que,de maneira sintomtica, todos os candidatos tenham incorporado ssuas campanhas o tratamento de questes sexuais e reprodutivas, pro-curando corresponder a demandas morais vocalizadas por diferentessetores do universo cristo.

    Tendo sido afastada a ameaa de inibio da liberdade religiosa quepreocupava muitos desses eleitores no fim dos anos 1980, ao que pare-ce, hoje os pentecostais veem na poltica uma via de afirmao da mo-ral crist sobre os costumes privados. Mas no s isso. Muito almdesse ponto comum, como argumentou Freston (1992) e demonstrouFigueiredoFilho(2002),hnumerosasdiferenasnomododepercebere de estar na poltica dentro deste universo a que a mdia secular insiste

    em se referir, genrica, indistinta e no raro pejorativamente, comoevanglicos.

    Com vistas a avanar na compreenso acerca do modo como esses doisgrupos religiosos representam a poltica, vamos verificar como a vidapblica foi tratada no interior dessas duas importantes fraes do uni-verso evanglico pentecostal durante o ltimo perodo eleitoral. Que-remosverificaremquemedidasuascaractersticasinstitucionaiseteo-lgicas se refletem nas suas formas de participar da atividade poltica.

    Instigados pela insistncia com que a mdia laica se ocupou dos evan-glicosduranteoperodoeleitoralde2010,apostamosnorendimentoheurstico de uma anlise dos seus prprios veculos de comunicao.

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    Oobjetivonoverificarassuasposiespartidrias,muitofacilmen-te evidenciadas pelo material examinado. Tambm no vamos fazerespeculaes acerca de supostos interesses inexplcitos a orientar a ati-

    vidadepolticadessesgruposouofereceranossaavaliaopessoalso-bre o seu comportamento enquanto instituies religiosas ou enquan-to atores polticos. Tendo em mente as peculiaridades e semelhanasentre essas duas comunidades de f, olhamos para esses veculos embusca de respostas acerca do modo como essas duas denominaes re-presentam e assim participam da poltica partidria.

    Apoiados na ideia consagrada de que os elementos constitutivos deuma estrutura so simbolicamente expressivos desta estrutura

    (Barthes, 2006; Jakobson, 2001; Lvi-Strauss, 1996; Saussure, 2004), to-mamos como material emprico para anlise os jornais impressos pu-blicados por essas duas denominaes crists, Assembleia de Deus eIgreja Universal do Reino de Deus. Sabemos que a imprensa, emboraseja importante, no a nica forma de comunicao nesses universos(Conrado, 2001; Birman, 1996; Figueiredo Filho, 2002; Fonseca, 1997,2003; Swatowiski, 2004), mas entendemos que uma boa janela deacesso s vises de mundo vigentes nos ambientes em que so produ-zidos e por onde circulam. Assim, sero examinadas e comparadas asedies de maio de 2010 a janeiro de 2011 daFolha Universal seman-rio da Igreja Universal com tiragem de 2,7 milhes de exemplares edoMensageiro da Paz publicao mensal da Assembleia de Deus.

    MDIA E PRODUO DE SENTIDO

    Ariquezadosmeiosdecomunicaodemassaenquantorecursoanal-ticoestconsolidadanasteoriasdacomunicao,sejapormeiodepes-

    quisas de referncia visual, seja por meio de anlises de discurso oucontedo, entre outros. Mais especificamente os jornais impressos,como os utilizados no presente artigo, so constantemente estudadosem interface com diversas reas das cincias humanas (historiografia,poltica, cultura etc.)2.

    Neste esforo de melhor compreender os enquadramentos da vida p-blica e poltica nas pginas dos dois jornais analisados (Folha UniversaleMensageiro da Paz),relevanteressaltarquesecompreendeojornalis-

    mo como parte de um processo de construo social da realidade noum espelho dela. No esteio de uma parcela significativa dos estudossobre comunicao e poltica, compreendemos que o discurso jorna-

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    lstico produzido com base no concurso e do efeito daquilo que lheofertam outros cdigos, isto , outras vozes e mltiplas polifonias pro-venientes de outros campos culturais ou que deles so tomadas por

    emprstimo (Vizeu, 2007:9).

    Notcias no espelham a realidade. Ao contrrio, elas a constituemcomo um fenmeno social compartilhado, visto que no processo dedescrever o evento, as notcias o definem e redefinem (Tuchman,1978:184; Correia, 2005:184). Fausto Neto, conforme sumariza Vizeu(2007:7), entende que toda notcia constitui uma espcie de formaosubstitutiva.Ouseja,algoquetentasecolocarnolugardeoutracoisaque lhe exterior. Como, entretanto, o tema ali tratado e o fato origi-

    nrio acontecem com um intervalo de tempo de natureza incontorn-vel, cabe aos jornais recorrerem mediao para reconstruir o tempodo fato originrio da notcia.

    Por conta disso, a lngua um ponto de partida importante: o princi-palrecursopormeiodoqualumjornalelegeorealquevainarrar,eaoescolher o modelo narrativo em que o vai exprimir, [...] reduz a infini-tudederealidadesesignificaesaumpequenoconjuntoqueasrepre-

    senta. (Correia, 2005:196). Passa-se, portanto, a ver a lngua como adimenso constitutiva do jornalismo (Vizeu, 2005:8). Aliando essa di-menso a todos os outros recursos do fazer jornalstico, da diagrama-oaofotojornalismo,datipologiaaoformatoescoresdospapisuti-lizados, o jornal impresso torna-se um lugar privilegiado de produode sentidos e um importante campo de ao para a pesquisa que pro-pomos.

    No h objetividade no jornalismo. Ao contrrio, h toda uma estrutu-raque,aoregeraprticajornalstica,favoreceacriaoeamanutenoda iluso da no subjetividade dos processos jornalsticos, como ocaso dos prprios critrios de noticiabilidade. Por outro lado, so am-plas as formas pelas quais essa subjetividade exercida e, de certaforma,inevitavelmenteexercida.Aoconstruir-seumdiscursoespeci-almente virado para a descrio do que existe, do que natural outido como dado, cai-se facilmente, independentemente de qualquerimputao de intencionalidade conspirativa, no risco de se construir

    um discurso que divide a realidade entre a norma e o desvio. E con-cluiCorreia:Osrelatospodemserideolgicos,noporcausadequal-quer forma de parcialidade ou de manipulao intencional dos dados,

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    mas porque so sempre produzidos no interior de uma determinadamatriz ideolgica (Correia, 2005:191).

    Peter Berger e Thomas Luckmann (1985:179) sustentam que na expe-

    rincia da vida cotidiana, o ser humano partilha sua existncia com osdemais sua volta, num processo de interaes sociais (e, portanto, deinteraes comunicativas mediadas pela linguagem) que fundamen-tal para a produo de sentidos e de autossentidos. Segundo os auto-res, no se pode dissociar o que chamamos de realidade dos processosde socializao primria (experimentada na infncia) ou secundria(interiorizao, pelo indivduo j socializado, de valores de submun-dos institucionais). a partir de nossas relaes comunicativas com os

    outros,dasinteraesaquesomossubmetidosedaconstituiodeumuniverso simblico que percebemos a realidade a partir de determina-dos enquadramentos especficos e criamos um significado para o mun-do e para ns mesmos.

    As possibilidades que a anlise dos dois jornais evanglicos abrempara a compreenso do tema que nos interessa so, portanto, bastantericas. Como foram tratados os temas polticos em cada um dos vecu-los, nas edies que circularam durante a ltima eleio presidencial?

    Uma eleio especialmente singular, durante a qual os candidatos bus-caramoapoioformaldasigrejaseaslideranasdessasigrejasdiversasvezes se pronunciaram publicamente acerca da sua posio poltica, aomesmotempoquedebatessobreoprpriovnculoentrereligioepol-tica invadiram o noticirio e a mdia secular.

    Em seguida vamos apresentar as duas denominaes em questo, bemcomo os jornais tomados como janela de acesso ao ambiente empricoque pretendemos examinar. No custa lembrar que estamos menos in-

    teressados em verificar qual a posio poltico-partidria de cadauma delas ou em evidenciar seus interesses como grupo e antes pre-ocupados em compreender o que , para elas, a poltica.

    AS DENOMINAES EM QUESTO

    A Assembleia de Deus (AD)

    A histria do protestantismo no Brasil, e dentro dela a do percurso do

    pentecostalismo, desde o incio do sculo XX, com sua nfase na expe-rinciadiretadoEspritoSantoenaglossolalia,jfoicontada.Noestno escopo deste artigo avaliar os critrios empregados pela literatura

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    acadmica para ordenar o fragmentado universo cristo no catlicono Brasil e classificar a diversidade denominacional que dele resulta.Tampouco interessa aqui esgotar as tipologias disponveis para a com-

    preensodestequadro.PaulFreston(1993;1994)nosajudaaagruparapluralidade e nos permite deixar claro que esto em anlise duas insti-tuies religiosas muito distintas. Para ele, a chegada e a evoluo dopentecostalismo no Brasil pode ser melhor compreendida se ordenadacom base nas caractersticas das igrejas e nas marcas que carregam domomento em que surgiram. Freston identifica, ento, trs ondas pen-tecostais:

    A primeira onda a dcada de 1910, com a chegada quase simultnea

    daCongregaoCrist(1910)eaAssembleiadeDeus(1911)[...].ACon-gregao, aps grande xito inicial, permanece mais acanhada, mas aAssembleia se expande geograficamente nesse perodo como a igrejaprotestante nacional por excelncia [...]. A segunda onda pentecostal dos anos 50 e incio de 60, na qual o campo pentecostal se fragmenta, arelao com a sociedade se dinamiza e trs grandes grupos (em meio adezenasdemenores)surgem:aQuadrangular(1951),BrasilparaCristo(1955) e Deus Amor (1962) [...]. A terceira onda comea no final dosanos 70 e ganha fora nos anos 80. Sua representante mxima a Igreja

    Universal do Reino de Deus (1977) [...] essas igrejas trazem uma atuali-zao inovadora da insero social e do leque de possibilidades teol-gicas, litrgicas, ticas e estticas do pentecostalismo. (Freston,1994:70-71)

    Acapacidadeelucidativadessatipologiaresidenaatenoqueconfereaos contextos sociais e histricos de emergncia de cada uma dessasigrejas ou conjunto de igrejas. Em outras palavras, seguindo a pista deFreston, est claro que para se entender as duas igrejas em foco nesta

    anlise, imprescindvel levar a srio seus respectivos processos deformao, bem como o momento que surgiram.

    AADfoifundadanoBrasilmaisoumenosnamesmapocaemque,en-treintegrantesdochamadomovimentodesantidade3,oprpriopente-costalismo surgiu nos Estados Unidos e se espalhou para o resto domundo. O autor lembra que, neste momento, os pastores pentecostaisestavam mais preocupados com a divulgao da mensagem do quecom a estruturao de igrejas. Assim, sem estar vinculado a qualquer

    instituio estrangeira, o pentecostalismo pde se desenvolver no Bra-sil com caractersticas eclesiais prprias. A AD nasceu em Belm, capi-tal do Estado do Par, do encontro de missionrios suecos homens

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    humildes e marginalizados na Sucia luterana com a realidade patri-arcal e rural das regies Norte e Nordeste do Brasil, no incio do sculoXX. Por 40 anos cresceu e se expandiu pelo pas como uma igreja de ex-

    cludos, valorizando a leitura direta da Bblia4

    e a bno divina, man-tendo recato na vestimenta e reserva em relao a hbitos como a dan-a, o fumo, o lcool e o futebol, segundo o exemplo de modstia trazidopor seus criadores. Eram, na sua reserva e humildade, [o]s escolhidosdeDeus(Novaes,1985).Aaparnciadignadosfiiscontrastavacomo vozerio impetuoso da orao em lnguas estranhas, num misto deordem e intensidade mstica incompreensvel para muitos (Mafra,2001:30).

    Em 1930 a igreja j se espalhara pelo pas inteiro, como resultado dotrabalho evangelizador das lideranas pastorais e tambm dos fiis,que, seguindo a recomendao de que cada membro da igreja tam-bm um missionrio da palavra bblica, fervorosamente espalhavam amensagempentecostalporseuscaminhosdetrabalhadoresmigrantes.Esta ampliao provocou desavenas entre suecos e brasileiros, umavez que contrariava as pretenses originais daqueles dissidentes daigreja nacional (sueca) luterana que aqui vieram para criar pequenascongregaes livres e locais. Foi assim que, naquele ano, a igreja se au-tonomizou da Misso Sueca (embora a sua presidncia tenha permane-cido nas mos dos pastores suecos at 1951) e transferiu a sede da de-nominao de Belm para o Rio de Janeiro.

    J em relao hierarquia na Assembleia, tradicionalmente umhomem chega a ser pastor na AD, vencendo uma srie de estgios deaprendizado: auxiliar, dicono, presbtero, evangelista, pastor(Freston,1994:87).Suaordenaonodependedeumaformaoespe-

    cializada,eleescolhidoporunanimidadeentretodosospastoresere-conhecido como ungido do Senhor. A igreja se organiza segundouma lgica de rede altamente hierarquizada, formada por igrejas-mes e congregaes dependentes. O pastor que preside a ConvenoGeral das Assembleias de Deus do Brasil tem autoridade sobre todasas decises, embora seus poderes sejam diludos em funo da coexis-tnciademuitasconvenesestaduaiseministriosfiliados.Contudo,Freston entende que ainda que o modelo da igreja sectria continueprevalecendo, ele vem sendo desafiado por pastores jovens, com for-

    mao teolgica em seminrios e institutos bblicos hoje mantidos pelaprpria igreja, no Brasil, na frica e em outros pases da Amrica Lati-na. Em 1994, o autor avaliava que, com dificuldade de se adaptar cul-

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    tura urbana brasileira e ascenso social e escolarizao de boa partedos filhos das suas famlias, e tambm em virtude do surgimento denovas denominaes pentecostais para lhe fazer concorrncia, a AD,

    atualmente, enfrenta crises de vrios tipos (Freston, 2002:89).OMensageiro da Paz

    OMensageiro da Paz (MP) o peridico mensal da Assembleia de Deus,vendido tanto nas lojas da Casa Publicadora das Assembleias de Deus(CPAD) quanto por meio de assinaturas ou cotas para igrejas. A tira -gem do jornal no divulgada no expediente ou na capa como o faz a

    Folha Universal. Por meio de contato com a redao do jornal, cuja sede

    estlocalizadanaZonaOestedoRiodeJaneiro,apurou-sequeamdiaencontra-se entre 125 mil e 150 mil exemplares mensais5.

    Ojornaltemformatotabloide,com28pginascoloridas,impressasempapeltop print, de baixa porosidade comparada ao papel jornal (utili-zado peloFolha Universal), possibilitando melhor fidelidade para re-produodecores,fotoseilustraes.Publicadoh80anos,conside-rado o rgo oficial da Assembleia de Deus: O MP o grande canal deinformaes da Assembleia de Deus no Brasil e tem o prestgio de ser-

    vir ao povo de Deus h 72 anos (CPAD, 2010).Nos textos oficiais (ibidem),o Mensageiro da Pazafirma ter por objetivolevar a viso do evangelismo e a divulgao da doutrina pentecostalpor intermdio da imprensa. A descrio vai alm e estabelece por siprpria o paralelo com a imprensa tradicional: Embora siga os mes-mos padres do jornalismo secular, a redao CPAD apresenta estiloprprio, desenhado por um Manual de Redao que segue a lingua-gem do meio cristo evanglico.

    As matrias no peridico se dividem entre no assinadas e assinadaspor pastores, e percorrem um amplo espectro de gneros textuais: htestemunhos, artigos opinativos, notcias, relatos sobre falecimentos eaniversrios, reflexes teolgicas e sries de textos que funcionamcomo cursos (seja para a prtica ministerial ou para montar um grupomusical). OMensageiro da Pazcontm as seguintes sees a cada edi-o, sendo que as barras, aqui, descrevem uma mudana de pgina:Capa/ AD em Pauta/ Opinio e Expediente/ Destaque/ Matria da

    Capa/ Opinio, Cartas e Cremos/ Nacional/ Prtica Ministerial/Internacional/ Avanos, sinais & descobertas/ Matria da Capa/Apologtica Contempornea/ A Bblia tem resposta/ Artigo/ Mulher

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    & Famlia/ Testemunhos/ Curso de Msica/ Louvor e Adorao/Artigo/ Msica, Em dia com Israel/ Artigo/ Entrelinhas/ Nossa His-tria/ Em evidncia.

    A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)

    AIgrejaUniversaldoReinodeDeusamaiorrepresentantedatercei-ra onda pentecostal. Ela foi fundada em 1977 no Rio de Janeiro porEdir Macedo, um homem de origem catlica que teve uma rpida pas-sagem pela umbanda e foi membro da Igreja de Nova Vida6. Pregandoa teologia da prosperidade, praticando a cura divina e a libertaodo poder do demnio, a IURD a igreja que mais tem atrado fiis des-

    de a dcada de 1990, quando, justamente, o campo pentecostal brasilei-rocomeouaseexpandiraopontodemodificarademografiareligiosado pas.

    Os valores estimulados pelo sistema moral da Igreja Universal do Rei-no de Deus e repetidos em sua pedagogia voltada para o trabalho em-preendedor autnomo so aqueles caros tica profissional postuladapelo mercado ps-social que se instala no Brasil nos anos 90 do sculoXX e ao hedonismo que a essa altura est, em ampla medida, moral-

    mente legitimado no Ocidente moderno (Lima, 2007). assim que ahumildade no um conceito importante no projeto de criao dessadenominao, como foi no caso da fundao da Assembleia de Deus.Ao contrrio, no sistema teolgico da IURD, o sagrado e o desfrute in-tramundano da fortuna esto positivamente vinculados e a busca in-dividual pela plenitude terrena, prioritariamente objetivada na rique-za material, o que d sentido adeso religiosa.

    Do mesmo modo, alguns aspectos do ascetismo frente s coisas do

    mundo,queoprotestantismohistricoeopentecostalismotradicionalprescreviam para seus fiis, so afrouxados por esta expresso emble-mtica da forma religiosa que se convencionou chamar de neopente-costalismo. Embora, nos templos, as drogas, a promiscuidade, o ho-mossexualismo, o lcool, o cigarro e o jogo sejam repetidamente con-denados pelo clero, o fiel da Igreja Universal o principal responsvelpelaretidodesuaconduta,sendoquecabeaelesaberoqueapropri-ado a um evanglico.

    Para alcanar a vida boa que Deus lhe reservou, o membro da IgrejaUniversal chamado a intervir na sua prpria realidade, colocandosua f em exerccio, como dizem os pastores. Alm de convocar a

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    membresiaatomarparasiasrdeasdeseudestinosocial,emsuaspre-gaes os pastores insistem que, pronunciadas com f, palavras positi-vas7 tmforaperformativaepodemexpulsaromalpersonificadona

    figura do demnio8

    que obstrui o acesso a tudo de bom que a existn-cia terrena pode oferecer ao bom cristo.

    NaIURD,amensagemdaprosperidadedivididaempartesepassadaparaopblicoemcultosvoltados,cadadiadasemana,aumtemadife-rente.Segunda-feiraodiadaReuniodosEmpresrios,tera-feira,os membros renem-se para a Sesso de Descarrego; na quarta, oculto dedicado aos Filhos de Deus; quinta-feira a consagrao daFamlia; sexta-feira o dia do culto da Libertao; sbado eles re-

    servam para a Terapia do Amor e, no domingo, fazem Louvor eAdorao. Esse universo composto por um contingente de pessoascuja adeso igreja varia em graus de intensidade entre frequentado-res eventuais, fiis, obreiros e pastores. Os frequentadores eventuaisso convidados a participar de correntes de orao para a obteno dagraa. Muitos, assim, conhecem a libertao e firmam sua adeso igreja. Os obreiros so fiis que trabalham voluntariamente nos tem-plosajudandonoscultosemantendoasigrejaslimpasearrumadas.Ospastores, rapazes cuja habilidade para a funo identificada no coti-diano da participao religiosa, recebem tambm uma formao na es-cola da prpria instituio e so remunerados em sua atividade. EssespastoresseguemasorientaesdahierarquiadaIURDeraramentecri-am uma relao congregacional com a comunidade onde esto atuan-do, porque so periodicamente deslocados de uma igreja para outra,no Brasil e no exterior.

    A Igreja Universal parte de um complexo empresarial transnacional

    gerido de maneira centralizada por Edir Macedo e seus homens deconfiana. Esse complexo envolve uma grande fora miditica impres-sa e eletrnica, uma construtora, uma agncia de viagens e um peque-no banco, alm da entidade de assistncia social, a Associao Benefi-cente Crist.

    AFolha Universal

    O veculoFolha Universal um dos jornais com maior circulao naAmrica Latina, alcanando tiragem semanal de 2,7 milhes de exem-plares.Asuadistribuioocorrepormeiodostemplos,querecebemos

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    jornais entre sexta-feira e domingo e os entregam ao longo da semana(nos prprios templos e fora deles, em trabalhos de evangelizao).

    Em ocasies especiais h uma tiragem maior, como na edio 911, da

    ltima semana de setembro de 2009, quando 3,5 milhes de exempla-res foram impressos em uma edio especial contra as OrganizaesGlobo9. A tiragem recorde aconteceu h pouco tempo, na primeira se-mana de junho de 2010, quando se comemorou a edio de nmero1.000. Foram, ento, 4 milhes de exemplares, cujas pginas conti-nhammensagensdecongratulaesdepersonalidadesconhecidasna-cionalmente. Eram pessoas do meio poltico brasileiro, entre os quaisesto a presidenta e o vice-presidente, Dilma Roussef (PT) e Michel

    Temer (Partido do Movimento Democrtico Brasileiro PMDB), o pre-sidente do Senado, Jos Sarney (PMDB), entre outros; funcionrios daRede Record, como a apresentadora Ana Hickmann e a jornalista AnaPaula Padro; ou, por fim, evanglicos famosos, como o jogador de fu-tebol, Kak. Estimativas divulgadas pelo prprio veculo sugerem queo jornal seja lido, semanalmente, por mais de 10 milhes de pessoas.

    AredaodojornalemSoPaulo,havendocorrespondentesemonzecapitais (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, So Lus,

    Manaus,RioBranco,Macap,Goinia,CuiabeCuritiba).Tantoasno-tcias quanto as reportagens so sempre assinadas. Nas edies anali-sadas, entretanto, diversas fotografias so creditadas a agncias (Fo-lhapress, do Grupo Folha; Agncia France-Presse e Reuters) ou a por-tais de contedos fotogrficos de baixo custo, como o PhotoXpress.Algumasimagenssocedidaseoutrassodalavradoprpriojornal.

    O jornal se apresenta em formato tabloide, com dimenses aproxima-das de 288 mm x 388 mm. Constitudo sempre de 32 pginas coloridas,

    impressas em papel jornal, tem os espaos para publicidade bem deli-mitados e no tem seo dedicada a classificados. Quanto aos temas, operidico os divide em dois grandes eixos que se separam fisicamenteem dois cadernos: de um lado, aqueles diretamente relacionados Igreja e f noFolha IURD , de outro, assuntos gerais (como poltica,sade, cultura, entretenimento) no caderno principal.

    Nos textos oficiais (Folha Universal, 2011), o jornal diz ter por objetivolevar seus leitores melhor informao, ao entretenimento e refle-

    xo sobre os mais variados assuntos. O formato tabloide foi adotadoem 2006 para acompanhar a tendncia moderna de mercado, utiliza-da inclusive na Europa; essa reestruturao vai alm, e procura tor-

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    nar a leitura mais fcil e rpida [...], textos mais enxutos, com a valori-zao da parte fotogrfica. O jornal diz tambm que as matrias sotratadasdemaneirasimples,objetiva,claraeisenta.Soabordadosas-

    suntos de interesse geral, como sade, educao, esportes, poltica,economia, oportunidades, cidadania e orientaes, entre outros. umjornal que j conquistou espao em todas as camadas da sociedade.Trata-sedeumsemanriodiversificado,atual,buscandosempreinfor-maes de qualidade, com respaldo de especialistas (ibidem).

    Para os interessados em anunciar no jornal, o veculo informa que o p-blico-alvo so os homens e as mulheres a partir de 16 anos, classesABCD,oque,decertaforma,todaapopulaobrasileiraalfabetizada.

    A POLTICA NA MDIA EVANGLICA DURANTE A DISPUTA ELEITORAL

    As 36 edies e quase 1.200 pginas publicadas peloFolha Universaleas 8 edies e 224 pginas distribudas peloMensageiro da Pazconstitu-em umcorpusemprico rico, repleto de referncias disputa eleitoral,as quais vamos analisar em dois planos. Selecionamos as edies dosdois jornais nas quais as eleies foram tematizadas e, de um lado,olhamos para uma dimenso mais aparente, relativa a todos os mo-

    mentos em que os candidatos foram citados nominalmente ou nosquais o tema da eleio foi explicitamente tratado. De outro, prestamosateno formade apresentao de cada edio. Redobrando o sentidoda mensagem lingustica contida na notcia e mantendo com ela umarelaodesignificao,omodocomoanotciaencadeadacomoutrostextos(osquelhedosuporteeosquenotmnenhumarelaodiretacomela)ecomosrecursosvisuais(imagensechamadas)encarregadosde marcar o valor diferencial de cada questo abordada pelo jornal, aqui igualmente importante. Ele contribui no processo intermitente deproduo de sentidos que, postos em dilogo com os leitores, confor-mam as concepes de mundo partilhadas nos espaos sociais poronde circulam.

    Como veremos adiante, nos meses que antecedem a eleio de 2010,ambososveculostrataramdetemasrelativospolticainstitucional.

    A Disputa noMensageiro da Paz

    NoMensageiro da Pazde setembro de 2010 (n 1.504), a matria de capatem a manchete Est em suas mos escolher o presidente sobre as fo-tos de Serra, Marina e Dilma, nessa ordem. A matria se prope traar

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    o perfil e as propostas dos principais candidatos Presidncia(MP:4-5), e, embora inexplicitamente, o jornal faz uma valorao. Des-taca-serapidamenteofatodequeenquantoSerraeMarinaolhampara

    o leitor e estampam um grande sorriso, Dilma olha para um ponto di-fuso e traz a compleio sria. Ainda na capa do jornal, embaixo dastrs fotografias, o texto da chamada explica ao leitor que [o]s evang-licos representam 25% da populao, o que lhes d um peso importan-tenessadeciso[...]sabe-sequeasbasesdaeconomiabrasileiranose-ro mudadas, assim como Lula no as mudou ao assumir em 2003, tra-indo seu discurso de mais de dez anos de oposio, deciso esta que ga-rantiu o crescimento do nosso pas iniciado nos anos 90 (ibidem).

    No interior do jornal, Marina est na mesma foto, embora espelhada,Serra tem uma nova foto novamente sorrindo e Dilma passa a ser re-presentada por uma foto em fundo preto, olhar preocupado e nova-mente sem sorrir.

    O objetivo expresso discursivamente pela edio claro. Embora argu-mentem que o que preocupa agora so outros aspectos que no aeconomia, como melhoria na educao, segurana, sade e algunsposicionamentosdoprximopresidentenoquedizrespeitoadetermi-nados projetos de lei que se chocam com os valores, so esses ltimosposicionamentososnicosquerealmenteimportam.Maisfrente,areal preocupao se traduz em temas: conhea o perfil ideolgico doscandidatos e o que pensam sobre f, aborto, unio civil homossexual,adoo de crianas e legalizao das drogas (ibidem:1).

    Nesta edio o jornal traz ainda um texto de pgina inteira, assinadopor um pastor e consultor doutrinrio da CPAD, sobre os constan-

    tes ataques do maligno para o esfacelamento da famlia (ibidem:11);uma matria de meia pgina sobre um ataque frontal liberdade reli-giosa nos EUA (ibidem:13); uma pequena notcia sobre a rejeio daadoo gay por parte de crianas argentinas (ibidem:12) e, emgrande destaque, em pgina dupla, uma matria no assinada infor-mando que [e]specialistas destacam que educao tolerante, banali-zao do casamento e desapreo aos valores criam uma sociedade de-generada e violenta. H uma [c]rise moral em nosso pas, cuja res-ponsabilidade recai sobre leis criadas nos ltimos anos (ibidem:14-15).

    Interessante notar que os dois parlamentares citados como autores detaisleissomembrosdoPT,partidodeDilma.Napgina18,umartigoassinado por um pastor e 1o Secretrio da AD em Campina Grande

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    (PB), coordenador do Setor Oeste e presidente da Comisso Jurdicaconvida os evanglicos a escolherem para o Poder Legislativo um re-presentante que seja uma pessoa que tem compromisso com Deus e

    comaIgreja,queserveaoSenhor.Paraoautor,semfundamentooargumento segundo o qual a poltica no coisa de cristo, que Deusno quer que determinado irmo ou irm seja candidato(a) porqueele(a) vai se corromper [...]. A igreja prescinde da poltica para suasustentao espiritual, diz ele, mas no para sua administrao eexpansogeogrfica,paraaimplantaodasuaestruturapatrimonial,para o cumprimento de sua misso evangelizadora. Alm dessespontos, tambm para a boa concretizao de obras sociais de granderelevncia, preciso que os evanglicos entendam que a poltica

    no um bicho, uma porta [...]. Na pgina 26, uma notcia breve in-forma que [n]ova lei sobre o aborto divide a Espanha.

    Na edio de outubro (no 1.505), que foi distribuda antes do primeiroturno, uma matria de pgina dupla (ibidem: 4-5) d ao leitor a dimen-so da populao evanglica do pas e, dentro dela, do tamanho damembresia da Assembleia de Deus. Segundo estimativa da prpriaigreja,em2010havia,nomnimo,15milhes[...].Asestimativasmaisufanistas falam em 25 milhes. Na pgina (dupla) central, oMPapre-senta os [c]andidatos apoiados pelas Convenes regionaisCGADB10,convidandoosleitoresaseguiremaindicaoorientativada liderana das Convenes regionais na hora de votarem para de-putado estadual e federal. Os nomes so indicados como pessoas deconfiana, que estaro defendendo os valores esposados pelas As-sembleiasdeDeusnoBrasil,inclusiveaseoporemdescriminaliza-o do aborto, unio civil homossexual, adoo de crianas por ho-mossexuais, ao projeto de lei contra a dita homofobia e legalizao

    dasdrogas(ibidem:14). Nas duas pginas constam 22 fotos coloridas ea lista de nomes dos candidatos. O texto da matria volta ao assunto:[o]s evanglicos representam hoje 25% da populao, o que lhes dum peso muito importante nessa deciso.

    Na edio seguinte (no 1.506), de novembro, publicada aps os resulta-dos do primeiro turno e antes da votao do segundo turno, o tema daeleio aparece duas vezes. No espao dedicado Opinio, na pgina2, l-se que [e]vanglicos levaram eleio ao segundo turno. O texto

    analisa as notcias produzidas pela mdia secular e reproduz o resulta-dodapesquisarealizadapeloIbope,publicadopelo O Estado de S. Pau-lo:aposiodeDilmaRousseffemrelaoaoabortoterialevadoacan-

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    didata a perder sete pontos no meio evanglico faltando dois diaspara a eleio. Em seguida, a coluna direta: H [sic] poucos dias dosegundo turno [...], os evanglicos tm diante de si mais uma grande

    misso: demonstrar, nas urnas, a importncia de se valorizar genuina-mente os valores cristos.

    Na pgina 7, na seo Destaque, umboxcom fotografias de parlamen-tares pastores e irmos eleitos para a prxima legislatura traz um t-tulo entusiasmado: Cresce Bancada Evanglica em Braslia. Bancadada AD tambm aumenta, de 5 para 22 parlamentares. O texto ressaltao crescimento da bancada como um fator muito positivo para os evan-glicosevoltaadarrelevoforadosevanglicos,quelevaramavota-

    o ao segundo turno.

    nesse mote que a mesma edio traz na capa a frase Evanglicos po-dem decidir segundo turno, chamando para uma reportagem especi-al de quatro pginas. A reportagem se divide em trs partes. A primei-ra, nas pginas 14 e 15, no centro do jornal, relata a posio do governoem relao aos repetidamente citados temas do aborto, da unio homo-afetiva, da prostituio, do aborto etc. A meno candidata Dilma,

    maisdeumaveznareportagem,podeserresumidaemumadaslegen-das, sob uma foto que no a retrata: O Programa Nacional de DireitosHumanos reflete, em muitos dos seus artigos, ideais histricos da es-querda, linha ideolgica do atual presidente brasileiro e de sua candi-data presidncia, DilmaRousseff, coautora do PNDH-3(ibidem:15).

    A segunda parte, na pgina 16, traz um artigo opinativo alertando osevanglicos contra o oportunismo poltico. O pastor Elinaldo Renova-

    to de Lima, escritor, comentarista de Lies Bblicas da CPAD e lderda AD em Parnamirim, [a]lerta os evanglicos contra o oportunismopoltico e argumenta que Dona Dilma era favorvel ao aborto, se-guindo a inspirao de Lula, seu Tutor Maior. Quando amargou aida ao segundo turno, ela vem a pblico para dizer que no apoia oaborto! Que oportunismo! Que desfaatez! Que desprezo intelign-cia e ao discernimento dos que no votaram nela!. No mesmo diapa-so discursivo, o pastor cita Stlin e suas promessas de liberdade reli-giosa, que deu no que deu, e faz referncia tambm a Fidel Castro e

    Hugo Chvez. Ao fim do artigo o pastor declara seu voto em Serra, dizter esperana de que Marina tambm o faa e pede que Deus salve oBrasil! (ibidem:16).

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    Na pgina 17 encontramos a terceira parte do artigo, com os relatos so-bre os valores cristos de Dilma e Serra, com 3,5 colunas dedicadas aocandidato tucano e 1,5 coluna voltadas para a candidata petista. O tom

    dotextofavorvelaocandidatodoPSDB(PartidodaSocialDemocra-cia Brasileira) e contrrio candidata do PT, sempre em funo dasmesmas questes, como o aborto e a unio civil homossexual.

    A Disputa noFolha Universal

    OveculodaIURD,oFolha Universal,trouxe,jnaediodeno 962(12a18desetembrode2010)umamatriadecapachamadaAImportnciado Voto. Mais de 135 milhes de brasileiros vai s urnas decidir o futu-

    ro do Brasil nas prximas eleies. Saiba por que voc no pode des-perdiar essa chance. Ainda na capa, o jornal informa: A novidadedeste ano: alm do ttulo de eleitor, voc deve levar documento comfoto. O texto da matria de quatro pginas majoritariamente infor-mativo e tem como gancho uma situao extrema vivida em MatoGrosso, onde uma operao da Polcia Federal prendeu prefeito, ovice [...] e mais oito vereadores suspeitos de participar de um esquemade corrupo, e convoca os leitores a refletirem sobre a escolha doscandidatos. Eles devem ter capacidade administrativa e honestida-de.IntegrantesdeONGscomoaTransparnciaBrasileaVotoConsci-ente so entrevistados e o jornal pe em destaque uma de suas respos-tas: Escolha um candidato que voc se identifique. Se voc acreditaque o principal problema na sua cidade a sade, procure candidatosque defendam a causa ou atuem em benefcio da rea. Veja se ele temum passado limpo, no tem processos (Folha Universal:9).

    A mesma matria traz um guia do voto, com espaos em branco para a

    famosa cola, que os leitores podem recortar para preencher e levar urna. H tambm entrevistas com um jovem de 17 anos, que vota pelaprimeira vez, e com uma senhora de 70 anos, que vota desde os 25 enunca faltou a uma eleio. Ambos no so obrigados, por lei, a votar,mas dizem que fazem questo de faz-lo. Na pgina 10 h um quadrocom perguntas e respostas de utilidade pblica (como justificar a au-sncia; se pode votar usando camisa de candidato; como regularizar ottulo; se a identidade basta para votar; se analfabetos tambm podemvotar etc.), e na pgina 11 o jornal ressalta as atribuies constitucio-

    nais de cada um dos cargos em disputa (presidente, senadores, deputa-dos federais e estaduais). , claramente, uma reportagem que poderiaestar em qualquer jornal secular.

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    No caderno Folha IURD, o jornal traz uma matria com foto do bispoMacedo ao lado do prefeito de So Paulo, Gilberto Kassab, e outra, me-nor,comamaquetedasfuturasinstalaesdoTemplodeSalomo,a

    ser construdo em So Paulo. Em letras capitais, a manchete diz: OTemplo. Conquista de So Paulo. Recepcionado pelo bispo Macedo,prefeitoGilbertoKassabconheceobradoTemplodeSalomoedizquelocal ser futuro ponto turstico da cidade. Na pgina seguinte, outramatria informa que [c]onstruo de templo atrao do canal de no-tcias norte-americano, a CNN. No corpo da matria, o The GuardianeoThe New York Timestambm so citados. Todos esses veculos deramdestaque grandeza da obra que ter 55 metros de altura [...] supe-rando os 38 metros do Cristo Redentor. Rabinos exaltam a utilizao

    de materiais vindos de Israel e o ministro Celso Amorim elogia pro-jeto da IURD (ibidem:2i).

    Algumas pginas mais frente, depois de uma sequncia de matriasdecunhoreligioso,naseoPolticaeF(ibidem:6i),amatriaintitu-ladaDoaoderemdios.FarmciaSolidriapretendereduzircustosno oramento familiar e estimular reaproveitamento traz uma foto efornece o e-mail do vereador baiano, Isnard Arajo, responsvel peloprojeto de lei. Fale com o vereador, sugere o jornal. O caderno noexplicita, mas Isnard Arajo pastor da IURD. Logo abaixo, uma notabreve informa sobre outro projeto, desta vez relativo a esportes paracrianas e jovens. O Fale com o Vereador ocorre novamente, e indi-ca Andr Luiz Magalhes, do Partido Republicano Brasileiro (PRB) deGois.

    Uma matria de quatro pginas, baseada na Primeira Pesquisa Nacio-nal sobre Populao em Situao de Rua realizada em 2008, na seo

    Brasil em Xeque conta histrias de sem-tetos que, mesmo sem apo-io, conseguiram recuperar a dignidade de ter um lar e reproduz o de-poimento de um homem de 43 anos que acredita que [q]uem vive as-sim fica anos sem ver o cu porque s olha para baixo, humilhado,mas que, [n]aquele dia senti[u] que podia fazer qualquer coisa (ibi-dem:14-17).

    Na edio publicada no dia da votao do primeiro turno, de nmero965, um selo no canto superior direito, com fundo vermelho e letra

    branca anuncia: Rede de mentiras Boato religioso tenta prejudicareleio de Dilma. A chamada leva contracapa, em que aFolha Uni-versaltenta desconstruir o Boato do Mal: Mensagem leviana que

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    circula na internet acusa Dilma [...] com o objetivo de jogar a candidatacontra os evanglicos. No Brasil, golpes sujos so comuns em vsperade eleio (Folha Universal:24). Na capa, a fotografia de um ncleo fa-

    miliar formado por um casal e dois filhos ilustra a manchete: A Fr-mula da Felicidade. Pesquisa indita revela quais so os componentesde uma vida feliz: acreditar em Deus, ter um bom casamento e levaruma vida financeira estvel. Na pgina 4 do caderno principal, na se-o Aconteceu, [o] Brasil vai s urnas o ttulo da matria informati-va sobre a votao. Um [g]uia do voto contendo informaes sobre ohorriodefuncionamentodasurnasesobreosdocumentosnecessriopara votar, alm de um espao para a cola, pode ser recortado. Nestaedio, a seo Brasil em Xeque trata da janela de oportunidade de-

    mogrfica (ibidem:15) que o Brasil estaria vivendo. Se o Brasil fosseumapessoa,eleestarianoauge[...].Comonmerodenascimentosembaixa atualmente de 1,9 filho por mulher, em mdia [...] o pas mu-dou. A matria leva ao entendimento de que as oportunidades estocolocadas para aqueles que souberem planejar suas vidas e as de suasfamlias.

    Na edio 967, de 17 de outubro, a matria de capa tem por tema [a]fora da[s] mulher[es], que brilha[m] em funes antes dominadaspelos homens, avanam no mercado de trabalho, lideram equipes e jsomaiorianasuniversidades.Daspginas8a11,diversosexemplosso citados, de empresrias a apresentadoras de TV, de policiais milita-res a ministras de Tribunais. A pgina 12 encerra a matria com Dilma.Ottulo,Vtimadementiras,destaca-sesobreumafotodacandidatado PT acenando ao lado de uma bandeira do Brasil. O subttulo resumeoespritodotexto:Escolhidacomoumadasmulheresmaisinfluentesdo mundo por importante revista americana, Dilma atacada por boa-

    tos que dizem que ela a favor do aborto. Mas ela j disse: contra(ibidem:12).AcapadocadernoFolhaIURD,igualmentediscuteasitua-o da mulher moderna e revela o que a igreja tem proporcionado aelas mundo afora:

    Amodernidadetrouxemuitosbenefciosparaasmulheres[...].Hojehmaisleisqueasprotegemeosavanosdacinciaedamedicinapropici-am-lhes o direito de planejar a gravidez, retardar o envelhecimento[...].Masostemposmodernostambmacarretarammudanasnadabe-

    nficas: mes solteiras e adolescentes, mulheres que dormem com v-rioshomens[...]deixam-seescravizarpelospadresdebelezaestabele-cidospelamdia[...].Justamentepararesgatarvalorescristosefamili-

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    ares, Cristiane Cardoso Fundou o Sisterhood, um grupo exclusivo daIgreja Universal. Nele, jovens aprendem como se tornar mulheres deDeus, cheias de graciosidade, beleza e fora [...]. (ibidem:___)

    Napgina6i,aseoPolticaeF,normalmentecommetadedapginadedicada a comentar as atividades de parlamentares ligados igreja,destaca o PAC da Baixada e o senador Marcelo Crivella, cujo objeti-vo [ o] de continuar trazendo recursos para o Rio de Janeiro. Adian-te, o senador apontou os pontos em que discorda do projeto de lei122/2006 sobre criminalizao da homofobia. Um padre ou um pas-tornopodeserpunidocasoafirmequeahomossexualidadepecado,mas qualquer descriminao e violncia fsica e psicolgica contra

    homossexuais deve ser punida por lei [...]. Para os evanglicos, isso pecado.Oquenosignificafecharasportasdasigrejasedoslaresnemnegar a eles amizade e respeito. O texto encerra com a informao dequeaONGTransparnciaBrasiloconsideraoterceirosenadorcomaspropostas mais relevantes para o Pas.

    Na contracapa do jornal, a matria Insegurana pblica. Em So Pau-lo, segurana privada cresce a passos largos no vcuo deixado pelo go-verno fecha esta edio. O Estado de So Paulo elege, desde 1995, go-

    vernadores filiados ao PSDB. Jos Serra (PSDB) foi governador de SoPauloatabrirmodoposto,emabrilde2010,paraconcorrercomDil-ma Rousseff (PT) na eleio presidencial. A matria, dessa forma, fazreferncia ao candidato tucano ao dizer que a violncia em So Paulocrescera por conta de vcuo deixado pelo governo.

    Na semana seguinte, na edio 968, de 24 de outubro, a matria decapa, que o leitor encontra entre as pginas 8 e 11, denuncia [a] derro-ta do jogo sujo e informa:

    A manchete acima composta por letras de veculos de comunicaoque, no ano passado, promoveram um ataque covarde Igreja Univer-sal. Organizaes Globo, Grupo Folha e Veja uniram-se a promotoresde So Paulo em campanha para divulgar denncias requentadas e va-zias.Nestasemana,ajustiadecidiu:ainvestigaofoiilegaletodasasacusaesestoanuladas.Aperguntaquefica:porqueaIURDvtimade tantas agresses? (Folha Universal : 8-11)

    Em seguida, a chamada O candidato do Vaticano. Entidade mximado clero romano no Brasil entra na campanha de Jos Serra. O que estpor trs do apoio? leva o leitor pgina 13, onde uma foto de Jos Ser-

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    ra beijando um tero estampa a mensagem: Na mo do clero. Bispos epadrescatlicostentaminfluenciareleies,declaramapoioaJosSer-ra e atacam Dilma. Especialistas estranham atitude indita. A partir

    dali, 5 pginas so dedicadas ao tema das eleies. Ao lado da chama-da para esta grande matria, na capa do jornal, o ttulo: Bispo EdirMacedo pede cautela. Em artigo no seu blog, bispo diz para eleitoresterem cuidado na hora de votar indica a pgina 24. Ali, uma pequenafoto de Silas Malafaia no canto inferior direito divide espao com umaimagem grande de uma barriga de gestante, ilustrando o alerta: Cui-dado com o profeta velho. Finalmente, ainda na capa, a chamada[f]arpas, criana e sofrimento leva o leitor pgina 18, onde discu-tido o problema do trabalho infantil entre famlias pobres e sem

    alternativas.

    Na pgina 3 desta edio, uma matria de pgina inteira discute o mo-delo de combate ao trfico e em destaque reproduz a avaliao de Wal-ter Fanganiello Maierovitch, desembargador aposentado do Tribunalde Justia e presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, decincias criminais: Estatsticas so importantes. O problema quan-do o estado mascara, como aconteceu em So Paulo. Adiante, na jmencionada pgina 13, a Igreja Catlica acusada de promover umacampanha difamatria agressiva contra Dilma, ao mesmo tempoque declara apoio a Serra, de So Paulo. AFolha Universalconsideraindita tamanha intensidade na mistura de religio e poltica e a criti-ca,citandoaprofessoraMariadasDoresCamposMachado,daUniver-sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): um ativismo religioso ex-tremamente conservador e moralista. O debate no est sendo feitocombaseemquesteseconmicasousociaiscomodistribuioderen-da, mas sim focado em questes moralistas. um movimento que

    acontece h algumas eleies, mas agora se apresenta de forma claraem uma disputa presidencial. Isso novo.

    interessantenotarqueumdostrechosdafaladasocilogatransfor-mado em olho11: O estado no pode atender um e sacrificar os outros, preciso respeitar todos (ibidem:14). A matria destaca a prefernciadeSerrapeloscatlicos,almdaprefernciadaIgrejaCatlicaporSer-ra. Cita tambm uma frase de Fernando Henrique Cardoso, em entre-vista revistaIsto: O Serra tem uns demnios dentro dele que, s ve-

    zes, nem ele mesmo controla (ibidem:16). Em contraponto, Marina re-comenda aos brasileiros que no importem conflitos religiosos e, abai-xodeumafotoondeaparecesorridente,Dilmadefendeaconvivncia

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    entre diferentes religies e a liberdade religiosa, assegurada pelaConstituio (ibidem).

    Na seo Brasil em Xeque, o jornal noticia que a Polcia Federal apre-

    ende milhes de panfletos contra Dilma encomendados pela Igreja Ca-tlica. Dona de grfica irm de coordenador da campanha de Serra.Agora a investigao quer descobrir: de onde veio o dinheiro? (ibi-dem:17)

    A ltima edio antes do segundo turno traz uma interessante matriadecapa:Vidaapsocncer.Doladodireito,acima,umselodefundovermelho e letra branca anuncia: Artigo: por que votar em Dilma.Pg.24.Entreaspginas8e11,amatriadestacadanacapadaedioexplora diversos casos de pessoas que tiveram cncer e hoje vivembem, beneficiados pelos avanos da medicina. A matria no se refere candidata Dilma, mas favorece a associao de ideias. O poder da ftambm ali ressaltado. Entre as pginas 14 e 17, o jornal traz uma ma-tria tambm anunciada na capa, sobre os [a]taques verdade. Escu-tamos cerca de 200 mentiras por dia. Os motivos podem variar, mas oresultado sempre ruim. Diversas calnias marcam a campanhaeleitoral para a Presidncia da Repblica no Brasil. O grande alvo foi a

    candidata do PT, Dilma Rousseff (:15).Na contracapa, o texto assinado pelo senador Marcelo Crivella, expe7razesparavotaremDilma,queresumidamenteseriam:1)veiodopovo; 2) dar prosseguimento diminuio da desigualdade, promo-vida por Lula; 3) mais empregos, mais comida e dignidade para os ca-rentes; 4) respeitada no exterior, ajudou a devolver a autoestima dosbrasileiros; 5) conhece como ningum o PAC; 6) hora de uma mulherno governo, que tem as cicatrizes da tortura na ditadura e aprendeu na

    pele o que democracia; 7) vai respeitar as igrejas e a liberdade religio-sa. Uma foto grande com Dilma sorrindo estampa a pgina.

    GUISA DE CONCLUSO: OS EVANGLICOS E OS EVANGLICOS NASELEIES DE 2011

    Provocados pela indiferenciao com que, no perodo eleitoral, a m-dia laica e, eventualmente, o prprio senso comum erudito referiu-seao contingente de sujeitos sociais que costumam exercer seu direito de

    voto orientados pelo pertencimento confessional, neste artigo atenta-mos para os veculos de informao impressos das duas denominaesreligiosas brasileiras mais importantes em termos de atividade polti-

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    ca. Do conjunto de questes que se colocam para o amplo e complexodebateacercadarelaoentrereligioepolticanoBrasilatual,quera-mos responder uma pergunta: como foi tratada e, portanto, como pen-

    sam a campanha eleitoral cidados brasileiros que tm na adeso reli-giosa o eixo de sua identidade como eleitor?

    AAssembleiadeDeuseaIgrejaUniversalentraramnapolticanofinalda dcada de 1980 e desde ento, concorrendo com as semelhanas(Pierruci e Mariano, 1992), vrias diferenas (Freston, 1992; Oro, 2003)marcam essas participaes evanglicas. A observao dos seus res-pectivos jornais, a cada notcia, a cada edio e no seu todo, revela queno apenas as posies poltico-partidrias so distintas, mas que no

    interior dessas duas comunidades de f to diferentes, a poltica e aparticipao na poltica so representadas de maneira muito diversa.

    No jornal da Assembleia de Deus, publicado pela entidade que, embo-ra no controle toda a comunidade, constitui ali dentro uma vozhierarquicamente muito forte, encontramos um interesse quase queexclusivo pela conservao da moral privada, relativa, do ponto devista pblico, aos direitos sexuais e reprodutivos. No noticirio eleito-ral doMensageiro da Paza participao civil aparece como uma conces-so necessria ao tempo, uma concesso que no rompe com o espritooriginal de afirmao religiosa, nem com a orientao ao apartamentodas coisas do mundo, fundante da Assembleia de Deus. A razo secu-lar retratada como uma realidade que cabe aos 25% (evanglicos) dapopulao brasileira regular por meio da obedincia aos princpios daf. A poltica apresentada como uma arena onde se pode/deve asse-gurar a fora institucional da igreja perante as demais entidades reli-giosas deste pas e reafirmar os valores congregacionais para os fiis.

    Porsuavez,aFolha Universal,edioapsedio,igualmenterefleteasambies de visibilidade institucional e influncia social da IURD, esegue a lgica estruturante da teologia da prosperidade. O jornal circu-la, se no universalmente, amplamente, e veicula matrias que visamdespertar demandas de diferentes tipos e levar o leitor, que pode seriurdiano ou no, a posicionar-se politicamente em relao s mltiplasdimenses da vida social intramundana.

    assimque,comovimos,oMensageiro da Paz retornasempredescri-

    minalizaodoaborto,uniocivilhomossexual,adoodecrianasporhomossexuais,aoprojetodeleicontraaditahomofobiaelegali-zaodasdrogas(MP,1.505:14),sugerindoqueaparticipaonapol-

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    tica obedece lgica simblica que ordena o mundo assembleiano eentende que quem respeitar os valores cristos estar preservado con-tra o mal. As edies dos jornais aqui analisadas buscam sustentar a

    mensagem poltica explicitada nos espaos dedicados ao pleito elei-toral com notcias sobre o esfacelamento da famlia, a liberdade re-ligiosa, a adoo de crianas por casais homossexuais, a banalizaodo casamento e o desapreo aos valores, a crise moral em nossopas, e o aborto que divide a Espanha. E insistem: Os evanglicosrepresentam hoje 25% da populao e tm uma grande misso: de-monstrar, nas urnas, a importncia de se valorizar genuinamente osvalores cristos.

    AFolha Universal parte de um conglomerado miditico que, assimcomo os cultos da Igreja Universal, atinge um pblico amplo, integra-do no s por fiis, mas tambm por frequentadores eventuais de seustemplos. Mantendo coerncia com o estilo da igreja, neste jornal o tompedaggico tpico do jornalismo acrescido do mesmo estilo didticoempregado nos seus servios religiosos dedicados ao enfrentamentoda vida cotidiana. Deste modo, as edies do perodo eleitoral trouxe-ram informaes de utilidade cvica, como nos jornais seculares, e ofe-receram aos seus milhes de leitores orientao prtica para o manejodascoisasdavida,comoasuperaodapobreza,oplanejamentofami-liar, a sade, como tambm fazem os pastores nas reunies da prospe-ridadequetratamacadadiadeumadimensodaexistnciaterrena.

    Neste veculo, publicado por esta denominao que explicitamente ede diferentes formas confronta a hegemonia histrica da Igreja Catli-ca no Brasil, a razo religiosa no se separa da razo mundana e a dis-cusso da poltica, embora sempre encadeada com matrias de cunho

    religioso e apostas na fora da f, envolve o mesmo espectro de ques-tes contempladas em um jornal secular. Nos termos de Freston(1992:32), poderamos dizer que voto religio, para a teologia da pros-peridade, no se distingue do voto cidado. Assim como se faz nasigrejas, ao falar da votao o jornal implicitamente convida seus leito-resacolocarafemato.Procedercomocristo,segundoesteveculo,votar com conscincia acerca de questes relativas moral privada,mas tambm quelas que dizem respeito aos temas pblicos.

    AFolha Universalfornece ao seu leitor a dimenso da fora da igreja edesuamembresianopormeiodenmeros.AgrandiosidadedaIgrejaUniversal se materializar em breve no Templo de Salomo que, con-

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    forme o jornal, ser um monumento maior do que o Cristo Redentor,emblema da catolicidade cultural brasileira. A ateno a ela devotadapor polticos, pela mdia nacional e internacional, e pela populao,

    que se mobiliza aos milhes para estar nos eventos que realiza no espa-o pblico, evidenciam sua importncia enquanto ator social. destelugar social que a Igreja Universal convoca seus interlocutores a nosepararem religio e poltica, entendendo a segunda como um dosmeios de alcance para a prosperidade prescrita pela primeira.

    (Recebido para publicao em agosto de 2011)(Verso reapresentada em janeiro de 2012)

    (Aprovado para publicao em maro de 2012)

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    NOTAS

    1. Em 2000, segundo o Censo, dois teros do universo evanglico brasileiro era pente-costal. Apesar do grande nmero de denominaes, a IURD, a Congregao Crist

    doBrasil e a ADconcentravam,ento, 74% dos fiis.A IURDe a ADso asigrejascommais visibilidade e penetrao na poltica institucional. A Congregao Crist doBrasil mantm atitude mais sectria e apoltica desde a sua fundao.

    2. H, certamente, diferenas entre os jornais analisados e aqueles que constituem agrande mdia. Enquanto os jornais seculares dispem de estrutura profissional deproduo e distribuio, no podem perder totalmente de vista os interesses de seusanunciantesecostumamvisarumpblicoamplo;osjornaisevanglicostmumafa-bricao mais caseira e se dirigem ao leitor evanglico, ainda que aFolha Universalcircule tambm fora do ambiente religioso. Alm disso, os jornais seculares, emboratenham suas agendas em diversos temas, com certa frequncia tratam de assuntos

    polmicos sem assumir posies, e os jornais evanglicos, por conta de sua prpriaessncia de rgo oficial de uma instituio ou de uma coletividade, costumam ado-tar posies oficiais e dogmticas a respeito de muitos dos temas que aborda. Mas aoladodessasedeoutrasdiferenassobreasquaisaquinocabediscorrer,importan-telembrarqueemumaspectotodososjornaisseassemelham:emambososmundos,no secular e no religioso, os jornais utilizam-se da lngua e da palavra, integrando oprocesso de construo social da realidade.

    3. O movimento holiness surgiuno corao do metodismo pregando a doutrina da per-feio crist e defendendo o direito a todos os fieis experincia imediata e intensacom o Esprito Santo. Essa beno ou o batismo no Esprito Santo seria capaz de

    trazer a paz e a limpeza interior a todo aquele que a alcana. Nos cultos avivados domovimento, a glossolalia sinalizava o encontro espiritual. Em pouco tempo, o falarem lnguas assumiu centralidade teolgica e litrgica no pentecostalismo.

    4. [S]uas Escolas Dominicais muito facilmente se tornaram verdadeiros centros de al-fabetizaodeadultosparaumapopulaodebalconistas,trabalhadoresrurais,fer-reiros, seringueiros, operrios da construo civil, faxineiras (Mafra, 2001:31).

    5. Em comunicao pessoal, um redator do jornal informou que a maior tiragem foi em2001, nos 90 anos da Assembleia de Deus no Brasil, quando o nmero ficou prximode 500 mil exemplares.

    6. A Igrejade Nova Vida foi criada nadcada de 1960 por um pastor canadense que saiuda AD para oferecer um pentecostalismo menos rgido e influenciado pela renova-o carismtica norte-americana. Seu pblico composto pela classe mdia baixa.

    7. Para um aprofundamento do tema da Confisso Positiva ou do poder performati-vo da linguagem, ver Mafra (2002) e tambm Fonseca (2000).

    8. Sobre a Teologia da Batalha Espiritual, ver Mariz (1997; 1999). Para a discusso acer-ca da demonizao do panteo afro-brasileiro operada pela IURD, ver Silva (2007) eReinhardt (2007).

    9. Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/congresso/distribuicao-uni-versal/

    10. Conveno Geral das Assembleias de Deus do Brasil.

    11. Na linguagem jornalstica, a frase posicionada com destaque no meio da massa detexto, com destaque de cor ou tipo conhecida como olho.

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    ABSTRACTPolitical News in the Brazilian Evangelical Media: O Mensageiro da Pazand Folha Universal from a Comparative Perspective

    This article analyzes the editions published from May 2010 to January 2011 ofFolha Universal, the weekly newspaper of the Universal Church of theKingdomofGodinBrazil,withacirculationof2.7million,and OMensageirodaPaz,theAssemblyofGodsmonthlypublication.DuringBrazilslastelections,the Evangelicals political force and their capacity to define the agenda of thePresidential campaign attracted constant news attention in the lay press.However, little was said about this worlds internal diversity or the differentways these religious people think of politics. Wagering on a dialecticinterweaving worldview and communication, we focused on the symbolic

    expressiveness of these publications as a window on the way politics wasportrayed and experienced by the two main forces in the BrazilianEvangelical/Pentecostal community during the last electoral campaign.

    Key words: Election; Evangelical; media

    RSUMLInformation Politique dans les Mdia vangliques: Mensageiro daPaz (Messager de la Paix) et Folha Universal (Feuille Universelle) dansune Perspective Compare

    Dans cet article, on analyse les ditions partir de mai 2010 jusqu janvier2011 de Folha Universal (hbdomadaire de lglise Universelle tir 2,7

    millions dexemplaires) et de Mensageiro da Paz (publication mensuelle delAssemble de Dieu). Pendant les dernires lections, la force politique desvangliques et leur capacit de modeler la campagne prsidentielle ont tobjet de nouvelles difuses par les mdias laques. Mais on a trs peu parl dela diversit lintrieur de cet univers et des diffrentes formes de la pensepolitique de ces rligieux. Tout en croyant lincorporation dialectique entreperception du monde et communication, on part de lexpressivit symboliquede ces mdias et on les prend comme une fentre sur le mode comment lapolitique a t reprsente et vcue pendant la dernire priode lectoraleentre les deux grandes factions du segment vanglique/ pentectiste

    brsilien.

    Mots-cls: lections; vanglique; mdias

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