8
Ano XXIX Nº 354 fevereiro de 2019 A leitura de boas crônicas sempre me trouxe mui to prazer. Desde que conheci Rubem Braga, tornei-me um ávido e contumaz leitor do gê- nero. O prazer que me causa uma bela crônica é, à falta de melhor comparação, mais ou menos como o que sentia o menino quan- do subia num pé de jabuticaba car- regado das dulcíssimas frutinhas, no quintal da fazenda escondida lá no fundo do passado. Pois bem, fica valendo a com- paração: para mim as letras e pa- lavras de uma crônica que me en- canta são jabuticabas. Ao degus- tar as letras e palavras, essas fru- tas de pele negra que vou apanhan- do da página, saboreio o seu mio- lo, a polpa de neve e mel, mas às vezes engulo até as sementes e as cascas. O prazer que gozo com a lei- tura de uma crônica pode não ser maior do que com a leitura de um poema, mas é diferente. O bom poema às vezes é sisudo, senão arrogante, exigindo-nos uma aten- ção e uma reverência submissa para decifrar-lhe as intenções ocul- tas. O poema, quase sempre é um dissimulado. Não é comum encon- trem-se poemas com jeito de me- nino amigo querendo brincar, ou com ares de tio divertido e carinho- so, como são os de Mário Quintana. Já a crônica flui com a naturalida- de, a transparência e o frescor de águas de riacho que correm remo- tas no fundo do quintal da fazenda de minha avó. Quando a crônica, além de muito bem escrita, versa sobre o poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, também exímio cronista, aí, então, o sabor é ainda mais in- tenso. É o que estou sentindo com a leitura das crônicas de Edmílson Caminha, reunidas no livro O poe- ta Carlos & outros Drummonds. Estou como um menino antigo, - para usar expressão que dá título a um dos livros do poeta itabirano - As crônicas de Edmílson Caminha sobre Drummond Wilson Pereira num pomar de variadas doçuras. Além de bem elaboradas, numa linguagem fluente e elegan- te, as crônicas de Edmílson trazem informações precisas e preciosas sobre o poeta e, também, sobre pessoas que privaram de sua inti- midade e de sua amizade, princi- palmente os familiares e alguns es- critores. Assim, os textos revelam fatos e situações da vida pessoal de Drummond, homem afável, de vida simples, dedicada à convivên- cia familiar. Mostram dele uma per- sonalidade sincera, avessa a bajulações, indiferente aos eflúvios e aos arroubos da fama. Talvez a grandeza interior e a sabedoria de que a obra fala por si mesma dis- pensasse a necessidade de autoafirmação. Isso, aliás, é carac- terístico de poetas medíocres, que costumam se vangloriar, para com- pensar a falta de talento. Mas há, também, neste livro, importantes informações sobre a atuação do escritor e sobre sua obra, como a correspondência que manteve com alguns escritores, com destaque para as cartas que trocou com Mário de Andrade. E ainda sobre o que se produziu em discos e em outras formas de gra- vação de seus poemas por diver- sos atores e músicos. Na crônica “Drummond pelo vasto, vasto mun- do” (p. 115), Edmílson nos oferece uma detalhada relação das tradu- ções que se fizeram, mundo afo- ra, do poeta brasileiro. Trabalho de um pesquisador cuidadoso, que pode interessar aos estudiosos e admiradores do autor de Claro Enigma. O cronista e estudioso de Drummond menciona, também, a incursão do poeta no tema do fute- bol (“Gol de Drummond”, p. 111), assunto ao qual dedicou muitas crônicas. E me deu a alegria de saber que o poeta torcia pelo Vasco da Gama, meu time do coração, desde a tenra infância, apesar dos percalços que o Gigante da Colina tem enfrentado ultimamente, para meu desgosto, e de toda a sua gran- de torcida. Edmílson dedica reverência especial, na crônica “Grande Manolo” (p. 61), além de citações em várias outros textos, a Manuel Graña Etcheverry, intelectual e es- critor, genro de Drummond e tra- dutor dos poemas do sogro, prin- cipalmente para a língua espanho- la. Aliás, segundo EC, o poeta con- siderava Manuel Etcheverry seu melhor tradutor. Por fim, Edmílson Caminha ainda provoca em nós uma ponta- da de inveja pela convivência amis- tosa que manteve com o poeta, com um encontro pessoal (Drummond o recebeu em sua casa) e a troca de correspondên- cia. Páginas primorosas são as que se referem à entrevista que o autor do livro em foco fez com o poeta, que raramente concedia tal honra a jornalistas. Chegou a ne- gar, como informa EC, entrevista à Revista Veja. As respostas dão mostra da consciência e da res- ponsabilidade do poeta em relação ao seu ofício de escritor. As crônicas de O poeta Carlos & outros Drummonds são verdadeiras lições de vida e de li- teratura sobre o maior poeta brasi- leiro. Concluída a leitura, saímos com a sensação de ter participado de um curso ministrado, com hu- mor, leveza e profundo conheci- mento, por um emérito professor de relações humanas e de belezas poéticas. Wilson Pereira, associado da Associação Nacional de Escritores, é poeta, contista, cronista, ensaísta e autor de livros infanto-juvenis.

A r n i de don in o re r o nd - Linguagem Viva · 2019. 3. 13. · ( b bb 1 ( a * 78cde dffg: a a h cfd i$ ' i' fjf>d fff 3 (788:d>cj fjcd ckj9e >d99 #$ (1 & " 4 3 >gk ' i' 8jgff

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A r n i de don in o re r o nd - Linguagem Viva · 2019. 3. 13. · ( b bb 1 ( a * 78cde dffg: a a h cfd i$ ' i' fjf>d fff 3 (788:d>cj fjcd ckj9e >d99 #$ (1 & " 4 3 >gk ' i' 8jgff

Ano XXIX Nº 354 fevereiro de 2019

A leitura de boas crônicassempre me trouxe muito prazer. Desde que

conheci Rubem Braga, tornei-meum ávido e contumaz leitor do gê-nero. O prazer que me causa umabela crônica é, à falta de melhorcomparação, mais ou menoscomo o que sentia o menino quan-do subia num pé de jabuticaba car-regado das dulcíssimas frutinhas,no quintal da fazenda escondida láno fundo do passado.

Pois bem, fica valendo a com-paração: para mim as letras e pa-lavras de uma crônica que me en-canta são jabuticabas. Ao degus-tar as letras e palavras, essas fru-tas de pele negra que vou apanhan-do da página, saboreio o seu mio-lo, a polpa de neve e mel, mas àsvezes engulo até as sementes e ascascas.

O prazer que gozo com a lei-tura de uma crônica pode não sermaior do que com a leitura de umpoema, mas é diferente. O bompoema às vezes é sisudo, senãoarrogante, exigindo-nos uma aten-ção e uma reverência submissapara decifrar-lhe as intenções ocul-tas. O poema, quase sempre é umdissimulado. Não é comum encon-trem-se poemas com jeito de me-nino amigo querendo brincar, oucom ares de tio divertido e carinho-so, como são os de Mário Quintana.Já a crônica flui com a naturalida-de, a transparência e o frescor deáguas de riacho que correm remo-tas no fundo do quintal da fazendade minha avó.

Quando a crônica, além demuito bem escrita, versa sobre opoeta maior, Carlos Drummond deAndrade, também exímio cronista,aí, então, o sabor é ainda mais in-tenso. É o que estou sentindo coma leitura das crônicas de EdmílsonCaminha, reunidas no livro O poe-ta Carlos & outros Drummonds.Estou como um menino antigo, -para usar expressão que dá títuloa um dos livros do poeta itabirano -

As crônicas de Edmílson Caminha sobre DrummondWilson Pereira

num pomar de variadas doçuras.Além de bem elaboradas,

numa linguagem fluente e elegan-te, as crônicas de Edmílson trazeminformações precisas e preciosassobre o poeta e, também, sobrepessoas que privaram de sua inti-midade e de sua amizade, princi-palmente os familiares e alguns es-critores. Assim, os textos revelamfatos e situações da vida pessoalde Drummond, homem afável, devida simples, dedicada à convivên-cia familiar. Mostram dele uma per-sonalidade sincera, avessa abajulações, indiferente aos eflúviose aos arroubos da fama. Talvez agrandeza interior e a sabedoria deque a obra fala por si mesma dis-pensasse a necessidade deautoafirmação. Isso, aliás, é carac-terístico de poetas medíocres, que

costumam se vangloriar, para com-pensar a falta de talento.

Mas há, também, neste livro,importantes informações sobre aatuação do escritor e sobre suaobra, como a correspondência quemanteve com alguns escritores,com destaque para as cartas quetrocou com Mário de Andrade. Eainda sobre o que se produziu emdiscos e em outras formas de gra-vação de seus poemas por diver-sos atores e músicos. Na crônica“Drummond pelo vasto, vasto mun-do” (p. 115), Edmílson nos ofereceuma detalhada relação das tradu-ções que se fizeram, mundo afo-ra, do poeta brasileiro. Trabalho deum pesquisador cuidadoso, quepode interessar aos estudiosos eadmiradores do autor de ClaroEnigma.

O cronista e estudioso deDrummond menciona, também, aincursão do poeta no tema do fute-bol (“Gol de Drummond”, p. 111),assunto ao qual dedicou muitascrônicas. E me deu a alegria desaber que o poeta torcia pelo Vascoda Gama, meu time do coração,desde a tenra infância, apesar dospercalços que o Gigante da Colinatem enfrentado ultimamente, parameu desgosto, e de toda a sua gran-de torcida.

Edmílson dedica reverênciaespecial, na crônica “GrandeManolo” (p. 61), além de citaçõesem várias outros textos, a ManuelGraña Etcheverry, intelectual e es-critor, genro de Drummond e tra-dutor dos poemas do sogro, prin-cipalmente para a língua espanho-la. Aliás, segundo EC, o poeta con-siderava Manuel Etcheverry seumelhor tradutor.

Por fim, Edmílson Caminhaainda provoca em nós uma ponta-da de inveja pela convivência amis-tosa que manteve com o poeta,com um encontro pessoal(Drummond o recebeu em suacasa) e a troca de correspondên-cia. Páginas primorosas são asque se referem à entrevista que oautor do livro em foco fez com opoeta, que raramente concedia talhonra a jornalistas. Chegou a ne-gar, como informa EC, entrevista àRevista Veja. As respostas dãomostra da consciência e da res-ponsabilidade do poeta em relaçãoao seu ofício de escritor.

As crônicas de O poetaCarlos & outros Drummonds sãoverdadeiras lições de vida e de li-teratura sobre o maior poeta brasi-leiro. Concluída a leitura, saímoscom a sensação de ter participadode um curso ministrado, com hu-mor, leveza e profundo conheci-mento, por um emérito professorde relações humanas e de belezaspoéticas.

Wilson Pereira, associado daAssociação Nacional de

Escritores, é poeta, contista,cronista, ensaísta e autor de

livros infanto-juvenis.

Page 2: A r n i de don in o re r o nd - Linguagem Viva · 2019. 3. 13. · ( b bb 1 ( a * 78cde dffg: a a h cfd i$ ' i' fjf>d fff 3 (788:d>cj fjcd ckj9e >d99 #$ (1 & " 4 3 >gk ' i' 8jgff

Periodicidade: mensal - www.linguagemviva.com.brEditores: Adriano Nogueira (1928 - 2004) e Rosani Abou Adal

Rua Herval, 902 - São Paulo - SP - 03062-000Tels.: (11) 2693-0392 - 97358-6255

Distribuição: Encarte em A Tribuna Piracicabana, distribuído aassinantes, bibliotecas, livrarias, entidades, escritores e faculdades.

Impresso em A Tribuna Piracicabana -Rua Tiradentes, 647 - Piracicaba - SP - 13400-760

Selos e logo de Xavier - www.xavierdelima1.wix.com/xaviArtigos e poemas assinados são de responsabilidade dos autoresO conteúdo dos anúncios é de responsabilidade das empresas.

Assinatura Anual: R$ 120,00Semestral: R$ 60,00

Tels.: (11) 2693-0392 - 97358-6255

Depósito em conta 19081-0 - agência 0719-6 - Banco do Brasil -Envio de comprovante, com endereço completo, para o email

[email protected]

Página 2 - fevereiro de 2019

Restaurou a antiga penteadeira, com o espelho de cristal bisotado

e a banqueta de couro, que ficavano quarto dela, a sua mãe. Muitasvezes a filha a viu frente ao espe-lho, que lhe parecia baço, cobertode pó. A mãe abria potes de cre-mes, passava unguentos, o rostolambuzado de grumos.Que esperava encon-trar naquelas geleias?Juventude eterna? Mu-cos verdes escorriamem sua pele. Haviafrascos de perfume,meio abertos, violentos,exalando odores fortesem estranha alquimia.Quando o sol batia na penteadei-ra, quase na hora do crepúsculo,o torpor morno aquecia as essên-cias e a filha tinha vontade de cho-rar. A mãe envelhecia tristemente.Algo acontecera no passado delaque a tornara tão vulnerável. Nãoconseguia envelhecer com graçae se satisfazer com oflorescimento da filha, ao contrá-rio, corroía-se de ciúme e inveja.

A princípio, quando pequena,a filha a considerava uma rainha,a mulher mais bela do mundo,enquanto a mãe confirmava seuencanto no espelho mágico dapenteadeira. A mãe ajeitava asmechas louras, passava lápis pre-to ao redor dos olhos claros. Mira-va-se de longe e de perto comose o espelho fosse a superfície daágua e ela uma espécie de Narci-so. Sim, Narciso, aquele rapaz damitologia grega, objeto da paixãode ninfas e mortais, mas insensí-vel ao amor. Ao abaixar-se numafonte para saciar a sede, olhouseu reflexo. Ficou seduzido pelaprópria beleza. Indiferente ao mun-do, apaixonada por si mesma, amãe se inclinava sobre sua ima-gem com meneios do corpo, pro-jetando para a frente os seios al-vos de flor.

O espelho da penteadeira bri-lhava, quando a mãe perguntou: “-Minha filha é mais bonita do queeu?” O espelho respondeu com avoz da filha: “- Ela é mil vezes maislinda.” A mãe se enfureceu: “- Mi-nha filha tornou-se uma ameaça.Preciso devorar seu coração, ter

PENTEADEIRA

Raquel Naveira é Doutora emLíngua e Literatura Francesaspela Universidade de Nancy

(França), Mestre emComunicação e Letras pelaUniversidade Presbiteriana

Mackenzie/SP e vice-presidenteda Academia Sul-

Matogrossense de Letras.

um comportamento semelhante aodela, competir. O pai sempre foi umfraco, ambivalente, um sumido nomundo. Não adiantará ela tentarfugir, penetrar florestas. Tenho po-der sobre ela, reaparecerei em suavida em todas as fases, em todasas circunstâncias, em todas as noi-tes de lua, quebrando caixões devidro, imobilizando-a com cintosapertados de fitas, cravando pentes

pontiagudos e veneno-sos em sua cabeça.Ela é da mesma maté-ria que eu, do mesmosangue, da mesma ár-vore, da mesma vaida-de, da mesma atração,da mesma fraquezahumana. Destruirei suapaz interna, devastarei,dividirei com ela a

maçã branca e vermelha do desejomaduro até o fim, até calçar sapa-tos de ferro e sair dançando em di-reção ao abismo, até orenascimento, até nossos ossosvirarem um punhado de cal e neve.”

Sentada no banco de couro dapenteadeira, a filha observa o espe-lho numinoso com o terror que ins-pira o autoconhecimento. Relembrao nostálgico poema de CecíliaMeireles: “Eu não tinha este rostode hoje, assim calmo, triste, magro,nem os olhos tão vazios e o lábioamargo. Em que espelho ficou per-dida a minha face?” Tantos anos sepassaram...Como elaborar um con-flito que a consome há séculos? Umdilema de mulher? Bem que umduque grisalho tentou protegê-la, ar-rancar em vão de sua boca o peda-ço da maçã que a sufoca. Ela lhedisse: “- Perdoe-me. Não posso melibertar de minha raiz. Agora vemospor esse espelho realidades inver-tidas, enigmas, mas um dia vere-mos tudo face a face.”

Restaurou a antiga penteadei-ra. Dentro do espelho, um espíritoem forma de máscara, rodeado porfumaça e fogo, continua falando averdade.

Raquel Naveira

ww

w.elo7.co m

.br

Com tantas tragédias acontecendo no Brasil e no mundo, nossoscorações ficam, também, envoltos na lama que invade nosso País e oPlaneta.

Para que tantas mortes desnecessárias de homens, animais, daflora, fauna e dos rios?

Andreia Donadon Leal, conforme texto QUANTO VALE, MINAS? (Ea história se repete), publicado na página 4 dessa edição, nos faz refletirsobre o quanto vale nosso Planeta, nosso País e a vida de todos osseres.

Pelo visto não devem valer nada para os gananciosos quecomandam o poder econômico no mundo. Vale tudo em se tratando doenriquecimento dos seus próprios bolsos.

Rejeitos de lama destruindo a vida de homens e animais, suasfamílias e casas; devastando cidades, planícies, planaltos, rios e mares.

Incêndios terminando com os sonhos e as vidas de quem aindadeu poucos passos.

Bombardeios destruindo cidades, mutilando crianças e homens,deixando mães e filhos órfãos.

Não podemos nos esquecer da fome que invade as barrigas demilhões de seres em todos os continentes; bem como das balas perdidase daquelas com tiro certeiro.

Quanto vale a vida de pessoas e animais que são sacrificados,diariamente, em todos os rincões do Brasil e no mundo?

Quanto vale?A vida? O Planeta? O País? A ganância do poder econômico?Sem mais palavras, apenas um minuto de silêncio.

Quanto Vale?Rosani Abou Adal

Rosani Abou Adal é escritora, poeta, jornalista, membro daAcademia de Letras de Campos do Jordão e vice-presidente doSindicato dos Escritores de São Paulo. www.poetarosani.com.br

Page 3: A r n i de don in o re r o nd - Linguagem Viva · 2019. 3. 13. · ( b bb 1 ( a * 78cde dffg: a a h cfd i$ ' i' fjf>d fff 3 (788:d>cj fjcd ckj9e >d99 #$ (1 & " 4 3 >gk ' i' 8jgff

Página 3 - fevereiro de 2019

Tels.: (11) 3214-3325 - 3214-3647 - 3214-3646 [email protected] - Face: Sebo Brandão São Paulo

https://www.estantevirtual.com.br/brandaojr

Rua Conde do Pinhal, 92 -ao lado do Fórum João Mendes

Sebo Brandão São PauloNovo Endereço para melhor atendê-lo:

Em Gravidade dasXananas (EditoraPenalux, 2019), a par-

tir do poema “Ensinamentos Sobrea Solidão” - emblemática aberturaconduzindo aura de grande epígrafe-, Diego Mendes Sousa inicia per-curso de visitação afetiva a acon-tecimentos do dia a dia, à terra na-tal e aos desígnios do coração di-ante do inexorável na existência.

Nessa caminhada de viajanteda alma, em busca da plenitude edos vazios causados pela passa-gem do tempo e pelas lonjuras,emerge extenso e enigmático ce-nário de acontecimentos enraiza-dos nas expectativas humanas,que, no livro, compõem dois núcle-os temáticos: Na lanugem da florsilvestre e Messes selvagens daflor.

Nos poemas reunidos em Nalanugem da flor silvestre, Diegoapresenta seu livro deensinamentos. Em verdade, demodo implícito, Diego apresentaum livro de aprendizados, que abar-cam vários tópicos - tristeza; ve-lhice; juventude; amor; solidão; fe-licidade; melancolia; esperança.Entre muitos outros temas que seentrelaçam em Na lanugem da florsilvestre, o poeta inclui a morte, avida e o tempo. E assim, entre eva-são e promessas do tempo, anteas surpresas do coração batendoao fluxo do sentir, Diego prosseguee convida o leitor a visitar segre-dos aos ofícios das xananas, no se-gundo núcleo temático do livro:Messes selvagens da flor.

Em Messes selvagens da flor,ainda que não nomeados comoensinamentos, os poemassubsumem pedagogia lírica atrela-da ao aprendizado da vida e subs-crevem perguntas implícitas, que,através de outras imagens, se di-versificam e retomam, sob váriosaspectos, temáticas abordadas naprimeira parte do livro. Ao curso daleitura, crescente trama envolve eentrelaça ensinamento e aprendi-zado e, assim, a gravidade dessasflores surpreende o olhar e a peledo leitor, ou melhor, o corpo inteiro,a vivenciar através dos poemas ex-periências do tempo da vida. Ex-

GRAVIDADE DAS XANANAS E AGRAVIDADE DA EXISTÊNCIA

Mirian de Carvalho

periências da vida diante do tem-po. E diante da morte.

Embora os poemas reunidosno livro tangenciem o lado trágicodo existir, pressente-se que asxananas resistem. Não se entre-gam. Nascem. Renascem. Amam.As xananas amam ao ritmo da vida,que se faz substrato dos versos deDiego, entre o drama e os limitesda finitude e da infinitude. E, desa-fiando esse drama e esses limites,nessas amoráveis xananas sobre-vive certo espírito insuflado porEros:

(...)onde as xananas são corpos,onde a fêmea é a xanana,onde o isolamento é potestadee o macho é outra xanana.Ah, xananas mundanas!recolhidas nas manhãs.

E, seguindo destino que ascerca de gravidade e leveza, asxananas da Parnaíba saem mun-do afora, espalhando sementes depoesia ante a calma conturbadagravidade da existência, que seanuncia esperançosa nas manhãsdessas flores abertas ao mundo.

SERVIÇO:www.editorapenalux.com.br/loja/

gravidade-das-xananasDiego Mendes Sousa:

[email protected](86) 99451-5454

Mirian de Carvalho é escritora,professora da UFRJ, poeta,ensaísta, crítica de arte emembro das AssociaçõesBrasileira e Internacional

de Críticos de Arte.

Pobres de tão pretose pretos de tão pobresOs documentos serão todos ultrassecretos, que se danem os

órgãos de controle, parentes de políticos não poderão ser maisinvestigados.

O deputado ameaçado renuncia antes da posse: quer viver.E uma violência devastadora contra a democracia vira piada

nas redes.O ex-moralista ministro da Justiça, se cala (envergonhado?),

se esfarela - está no liquidificador.Sua ética era seletivaE o rebanho foi atrás das “Fake News”, do candidato “decente”.Na “internet democrática”, o idiota da aldeia, torna-se oráculo.E proclama:“Abaixo a inteligência! Viva a morte!”Para os que pensam, a fogueira está acesa.“Meio ambiente?Balela!”A cara é a mesma: escravocrata.O rio se chamava Docee era amargo,agora o nome é outro.(O rompimento da barragem de Brumadinho liberou 13 milhões

de metros cúbicos de rejeitos que entraram no rio Paraopeba.)A lama escorre, passando por cima de brasileiros que nem

nósA lama na cara de ”nuestra” AméricaA tragédia se repete como farsa(ou tragédia novamente?)E as desculpas são as mesmas,à espera de outras barragens que serão rompidas e esquecidas.

POBRES DE TÃO PRETOS...(Pobre prosinha poética panfletária, escrita no calor da hora)

Emanuel Medeiros Vieira

Emanuel Medeiros Vieira é escritor, poeta, críticoe membro da Associação Nacional de Escritores.

Page 4: A r n i de don in o re r o nd - Linguagem Viva · 2019. 3. 13. · ( b bb 1 ( a * 78cde dffg: a a h cfd i$ ' i' fjf>d fff 3 (788:d>cj fjcd ckj9e >d99 #$ (1 & " 4 3 >gk ' i' 8jgff

Página 4 - fevereiro de 2019

Roberto Scarano

R. Major Basílio, 441 - Cjs. 10 e 11 - Mooca - São PauloTel.: (11) 2601-2200 - [email protected]

Advogado

Trabalhista - Cível - Família

OAB - SP 47239

Bilhete paraJorge Amado

“...mas é bicho mau, o homem!” (Simões Lopes Neto)

Nos meus tempos deadvogado em São Simão, assuntos da pro-

fissão me levaram até um frigoríficoinstalado em distante cidade de nos-so interior. Estabelecimento peque-no, ainda usava métodos rudimen-tares, mas gozava de renome naregião e tinha considerável produ-ção.

O gerente me aguardava noportão e caminhei com ele por umacalçadinha lateral que levava aosfundos do prédio pintado de um ver-melho fosco. Numa espécie detelheiro tinha lugar o início do pro-cesso de produção e enquanto con-versava com o homem sobre as ra-zões de minha visita fui observandoo que lá acontecia.

Suspenso do teto havia um lar-go anel de metal brilhante que mepareceu de aço. Dele pendiam cer-ca de vinte dispositivos que seme-lhavam grandes funis com os tubosou bicos voltados para o chão. Emcada um deles estava sendo colo-cado um frango vivo, ainda novo,com as cristas nascentes muito ver-melhas. As pernas ficavam voltadaspara cima e os pescoços e cabeçassurgiam por baixo, através dos bi-cos dos funis, de forma que os cor-pos ficavam entalados e sem movi-mento. Os pescoços e cabeças pen-dentes, movendo-se em todas asdireções, constituíam um espetácu-lo estranho. O conjunto lembravaum carrossel com as figuras vivas evoltadas para baixo, sem luzes e semmúsica. Ficava a impressão de queas pobres aves buscavam uma ex-plicação para tão insólita postura.

Acionada uma chave, o anelmetálico começava a rodar em ra-zoável velocidade. Surgia, então,uma espécie de navalha de lâminalarga e afiadíssima que ia decepan-do aqueles pescoços, um a um, comextrema rapidez e eficiência. A sur-presa impedia qualquer pio, quan-do muito algum gruolejo sanguino-lento. Com o impacto, os pescoçosdecepados saltavam para um pisoladrilhado de branco, muitos delesainda se contorcendo nos estertoresda morte. As cabecinhas saltitantes,com suas cristas vermelhas e olhos

A DEGOLAEnéas Athanázio

esbugalhados ainda pareciam vivas,indagando perplexas o que haviaacontecido e sem perceber que es-tavam irremediavelmente mortas.

Munido de uma espécie derodo, um garoto empurrava comabsoluta frieza aqueles restos fúne-bres para uma valetinha cuja águacorrente os conduzia a um imensotacho. Nele, com outros ingredien-tes, se transformariam em grossei-ro sabão de barras.

Enquanto isso, o círculo metá-lico fazia uma parada, esperandoque o sangue das aves sem cabe-ça vertesse para o solo e dali, atra-vés de um cano, escorresse paraoutro local onde, com certeza, seriaaproveitado. Depois voltava à posi-ção anterior. Mãos ágeis e experi-entes retiravam dali os cadáveresainda quentes e talvez pulsantes eos levavam para um compartimentovizinho. Apanhados num cercadinhopróximo, outros frangos vivos toma-vam o lugar dos mortos e os pesco-ços não tardavam a surgir por baixodos grotescos funis. E então tudorecomeçava.

Não consegui acompanhar asegunda rodada. Com uma bola noestômago, os olhos turvos, afastei-me pela calçadinha lateral. Todo osangue deve ter fugido de minhasfaces porque tanto o gerente comoos funcionários me fitavam comolhares irônicos. Chegando aoportão, contemplei os morrosverdejantes que cercavam a cidadee mirei o céu azul sem nuvem. Res-pirei fundo e embarquei no carro,deixando inconcluso o assunto a sertratado.

Durante largo tempo não con-segui ingerir carne de frango ou dequalquer ave.

Aquelas cabecinhas saltitan-tes, com seus olhos perplexos, ain-da hoje me assombram.

Enéas Athanázio é escritor,advogado e Promotor de

Justiça (aposentado). Resideem Balneário Camboriú (SC).

Quanto vale, Vale? Quanto vale: sobrecarga de rejeitos? Quanto vale: ruptura de barragens? Quanto vale: tsunami de lamatóxica? Quanto vale: desespero? Quanto vale: terror? Quanto

vale: vale de dores? Quanto vale: vale verde? Quanto vale: mal súbito?Quanto vale: centena de casas destruídas? Quanto vale: punhado deferidos? Quanto vale: ser terrestre? Quanto vale: ser aquático? Quantovale: desabrigados? Quanto vale: número de desaparecidos? Quantovale: número de mortos? Quanto vale: enxurrada de lágrimas laborio-sas? Quanto vale: cachoeira de lágrimas dolorosas? Quanto vale: pe-nhasco? Quanto vale: árvore? Quanto vale: nascente? Quanto vale: flor?Quanto vale: fruto? Quanto vale: animal? Quanto vale: plantação? Quan-to vale: atividade pesqueira? Quanto vale: água? Quanto vale: rio? Quan-to vale: Rio Paraopeba? Quanto vale: impacto socioambiental? Quantovale: abalo sísmico? Quanto vale: abalo cínico? Quanto vale: desculpaesfarrapada? Quanto vale: empurrar com a barriga? Quanto vale: desa-mor ao próximo? Quanto vale: mutirão solidário? Quanto vale: ação hu-manitária? Quanto vale: enxurrada noticiosa? Quanto vale: pânico? Quan-to vale: união de mãos? Quanto vale: espírito de salvadores? Quantovale: coragem da população? Quanto vale: povo unido? Quanto vale:tristeza compartilhada? Quanto vale: vale de deprimidos? Quanto vale:minério de ferro? Quanto vale: matéria tóxica? Quanto vale: matéria plás-tica? Quanto vale: metal pesado? Quanto vale: aviso sonoro de evacua-ção? Quanto vale: estratégia de salvamento? Quanto vale: população?Quanto vale: dependência? Quanto vale: ficar de braços fechados?Quanto vale: ficar com o coração na mão? Quanto vale: taquicardia?Quanto vale: negligência? Quanto vale: omissão? Quanto vale: troca defavores? Quanto vale: ouvido tampado? Quanto vale: boca serrada?Quanto vale: grito entalado na garganta? Quanto vale: conselho não ou-vido? Quanto vale: fazer vista grossa? Quanto vale: enlamear a paisa-gem? Quanto vale: fingir fiscalização? Quanto vale: novo imposto? Quan-to vale: alimentar máquinas administradoras? Quanto vale: sangrar aterra? Quanto vale: tirar o couro dos trabalhadores? Quanto vale: suoralheio? Quanto vale: memória destruída? Quanto vale: patrimônio? Quantovale: sumir do mapa? Quanto vale: mudar histórias? Quanto vale: inte-resse por lucros? Quanto vale: commodity? Quanto vale: uma classe depolíticos ignorantes? Quanto vale: ignorar a ciência? Quanto vale: igno-rar a Lei? Quanto vale: a Deus dará? Quanto vale: mudar de vida? Quantovale: indenização? Quanto vale: enganação? Quanto vale: desculpa es-farrapada? Quanto vale: submissão? Quanto vale: brecha na licençaambiental? Quanto vale: leniência na legislação? Quanto vale: multa?Quanto vale: acumular rejeitos? Quanto vale: desertificar vale verde?Quanto vale: investigar? Quanto vale, MINAS?

QUANTO VALE, MINAS?(E a história se repete)

Andreia Donadon Leal

Andreia Donadon Leal é poeta, artista plástica, cronista, Mestreem Literatura pela UFV, autora de 15 livros e membro efetivo da

Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.Reside em Mariana (MG).

me

rcyfora

nim

als.o

rg.b

r

Page 5: A r n i de don in o re r o nd - Linguagem Viva · 2019. 3. 13. · ( b bb 1 ( a * 78cde dffg: a a h cfd i$ ' i' fjf>d fff 3 (788:d>cj fjcd ckj9e >d99 #$ (1 & " 4 3 >gk ' i' 8jgff

Página 5 - fevereiro de 2019

Débora Novaes de CastroPoemas: GOTAS DE SOL - SONHO AZUL - MOMENTOS - CATAVENTO

- SINFONIA DO INFINITO –COLETÂNEA PRIMAVERA - AMARELINHA - MARES AFORA...

Antologias:

Haicais: SOPRAR DAS AREIAS - ALJÒFARES - SEMENTES- CHÃO DE PITANGAS -100 HAICAIS BRASILEIROS

Trovas: DAS ÁGUAS DO MEU TELHADO

Poemas: II Antologia - 2008 - CANTO DO POETA

Trovas: II Antologia - 2008 - ESPIRAL DE TROVAS

Haicais: II Antologia - 2008 - HAICAIS AO SOL

Opções de compra: 1.www.deboranovaesdecastro.com.br, LIVROS.2. E-mail: [email protected] 3. Correio: Rua Ática, 119 - ap. 122

- Jd. Brasil - São Paulo - SP - Cep 04634-040.

Poemas Devocionais: UM VASO NOVO...

REDES E INTERLOCUÇÕES NA INSTIGANTE POESIA

DE PEIXE-PAPIRO, DE BEATRIZ H. RAMOS AMARAL

Qual é a investigação poética deBeatriz H. Ramos Amaral que tanto nos atrai em Pei-

xe Papiro? Os amantes da po-esia aprendem com o tempo deexposição às imagens poéticasque estas são responsáveis porinesgotáveis associações. De-vaneios tão bachelarianos! Aconstrução de tais imagens estáno poder de colocar a palavralado a lado sem a possibilidadedo leitor prever o que vem a se-guir. É o que sentimos, por exem-plo, em “a mão extrai fuligem /das sílabas”, no poema A Lápis,de Beatriz Amaral.

O que marca a singularida-de de cada poeta é a naturezade suas imagens, ou seja, o seucampo de exploração. Por outrolado, o que caracteriza o leitor deum poeta é como o lê - o que oatrai. Isto é que leva à pergunta:qual é a investigação poética de Beatriz quetanto nos atrai em Peixe Papiro?

Para mim, é instigante vivenciar suas afir-mações como na “hipótese de concha e tem-po” ou em seu pedido “que a luz teça a hipóte-se da sílaba”. Hipóteses poéticas que são ex-perimentadas por meio de seu labor com a pa-lavra, em complexas e belas homenagens àlíngua, como no “portal de anáforas / um guiade vírgulas enrubesce a língua”

A poesia de Beatriz H. R. Amaral fala tam-bém de interlocuções responsáveis pela ex-

Cecília Almeida Salles tremamente densa trama de sua rede de cria-ção sob a forma de citações como emLatência: “na cauda de um / compasso, em seulance de dados”, além das belas homenagens

à Olga Savary, a Augusto deCampos e a Haroldo de Cam-pos, seus tão respeitados ami-gos.

Ao mesmo tempo, não dápara deixar de acompanharcom atenção o modo como apoeta se relaciona com a na-tureza. Convivemos com a po-esia tirada dos musgos, ma-res, riachos, lagos e peixes. Na“pera escrita sem moldura /como fruta”, vivemos sensa-ções semelhantes à potênciada estaticidade das frutas commoldura de Paul Cézanne.

Enquanto que no lindo po-ema sobre a Matéria, BeatrizH. Ramos Amaral vive a incan-sável busca pela essência, queme fez lembrar a angústia deAlberto Giacometti diante de

suas limitações em seu modo de conhecer omundo: a total impossibilidade de ver algo comose nunca tivesse visto antes.

Cabe a você leitor de Peixe Papiro encon-trar seu caminho em meio a esses poemas tãointensos e cativantes.

Cecília Almeida Salles é ensaísta,Professora Titular do Programa de

Estudos Pós-graduados em Comunicaçãoe Semiótica da PUC-SP e Coordenadora

do Centro de Estudos de Crítica Genéticada PUC - CECG.

De Mariana e Brumadinholevaram minério e grana

Ao povo deixarammorteferrolama

O povo de Brumadinhonão teve tempo depiscar os olhos,de garimpar seus sonhos,de ver o rio pela última vezcom vida, peixes, água...Entre lamas, minérios e rejeitos,o Paraopeba assistiu a mortedos animais, da flora e fauna,do seu rio e da sua gente.Sem passaporte para despedida,a Vale e sua lama devastarama vida do rio, da terra, dos animaise do povo de Brumadinho.O córrego do feijão, num sopro,deixou órfãs as brumas deRola-Moça e Moeda.

Rosani Abou Adal é escritora, poeta,jornalista, membro da Academia de Letrasde Campos do Jordão e vice-presidente

do Sindicato dos Escritores de São Paulo.www.poetarosani.com.br

Rosani Abou Adal

Sem Brumas

QUANTO VALE?Dinovaldo Gilioli

Dinovaldo Gilioli é escritor,poeta e ativista cultural.

Tel.: (11) 2796-5716Cel.: 97382-6294

[email protected]

Profa. Sonia Adalda Costa

Revisão

Aulas Particulares

Page 6: A r n i de don in o re r o nd - Linguagem Viva · 2019. 3. 13. · ( b bb 1 ( a * 78cde dffg: a a h cfd i$ ' i' fjf>d fff 3 (788:d>cj fjcd ckj9e >d99 #$ (1 & " 4 3 >gk ' i' 8jgff

Página 6 - fevereiro de 2019

Houve omissão geral na catástrofe em Brumadinho. O poderpúblico nas três esferas: federal, estadual e municipal e a Vale

menosprezaram o risco representado pelas barragens que abrigamos rejeitos das mineradoras. As inspeções foram falhas por todos

quantos as executaram. O sistema das barragens estáultrapassado há muitos anos. As leis nacionais, primeiras

responsáveis pelo seguro funcionamento destas estruturas, são, nomínimo, fracas, não protegendo o elemento humano nem o meioambiente; vulneráveis a desastres, cujas proporções estamos

assistindo dolorosamente. Tivemos outro episódio, em Mariana ,parecido com o de Brumadinho, sendo a Samarco responsável pelabarragem que ruiu ocasionando dezenove óbitos, número pequenose comparado aos cento e sessenta e seis já contabilizados em

Brumadinho. A Lei diz: “colocar em riscoa vida humana é crime, sujeito a punição e cadeia”.

Senhores da Justiça, cumpram com a vossa obrigação,punam os culpados sejam eles quem forem...

Odette Mutto é escritora e dentista.

BRUMADINHO UMA CATÁSTROFE FABRICADAOdette Mutto

A mala, o violão, o apito do trem...Estremeci! Não é fácil partir!Na mala de papelão repousavamminhas poucas peças de roupasque minha mãe arrumou carinhosamentesem conseguir conter as lágrimas...No violão, escondidas no seu bojo,um turbilhão de lembranças afagandoas serenatas que fiz com diletos amigosem calmas madrugadas enluaradas...E agora o apito triste do tremme avisando que o quintal de minha infânciaficava definitivamente para tráse que nunca mais eu ouviriao canto estridente do galoque me acordava todas as manhãs...Nunca mais!

A PARTIDARaymundo Farias de Oliveira

Raymundo Farias de Oliveira é escritor, poeta eprocurador do estado aposentado.

Vivo em desacordocom minha raçacom meu paíscom meu exílio

com meu ambientecom meus amigos

com as horas do diacom os preços do mercado

com a bolsa de valorescom todas as igrejase todos os votantes

e com o planeta.

DECLARAÇÃOTeresinka Pereira

DICHIARAZIONE

Vivo nel dissensocon la mia razzacon il mio paesecon il mio esilio

con il mio ambientecon i miei amici

con il tempo in cui sono natacon i prezzi di mercato

con il mercato azionariocon tutte le chiese

e tutti i cittadini votantidel pianeta.

Traduzione perGiovanna Guzzardi

No caminho dos ventos de agostoespalhando as cinzas de Zeussentinelas da burguesiaseguem a rota dos leigospensando em ganhar o mundo,dos deuses o poder.Tentando furtar segredosdaqueles que já se foramos pés descalços, famintosabandonados, sem terra.

Teresinka Pereira é escritora, poeta e presidente daInternational Artists and Writers Association.

SEM TERRA

Sonia Sales é escritora, poeta, historiadora emembro da Academia Carioca de Letras.

Sonia Sales

Page 7: A r n i de don in o re r o nd - Linguagem Viva · 2019. 3. 13. · ( b bb 1 ( a * 78cde dffg: a a h cfd i$ ' i' fjf>d fff 3 (788:d>cj fjcd ckj9e >d99 #$ (1 & " 4 3 >gk ' i' 8jgff

Página 7 - fevereiro de 2019

Livros

www.poetarosani.com.br

Seus poemas foram traduzidos para o francês,

inglês, espanhol, italiano, húngaro e grego.

Rosani Abou Adal

Contos Selecionados de JoséRibamar Garcia, de José Ribamar Garcia,organizado por Francisco da Cunha e SilvaFilho, Litteris Editora, 216 páginas, Rio deJaneiro (RJ).

ISBN: 978-85-374-0359-4O autor é escritor, advogado, contista,

ficcionista, romancista, jornalista e membroda Academia Piauiense de Letras.

Segundo Francisco da Cunha e SilvaFilho, no prefácio da obra: “Este amploespectro de figuras humanas é que daráconfiguração aos elementos da narrativa noque diz respeito à combinação deles comos temas e os enredos de que constituirãoas narrativas de Garcia. A eles também seagregarão outros componentes decisivos:

o tipo de técnica usada na elaboração dos contos e seu elementopropulsor e inarredável, i.e., a linguagem literária.”

Litteris Editora: www.litteris.com.br

Caricaturas do Xavi, de Xavier (Se-bastião Xavier de Lima), EditoraPantemporâneo, São Paulo (SP), 56 pá-ginas. ISBN: 978-85-62402-21-0. A capaabriga autocaricatura com Madoninha.

O autor é caricaturista, artista plásti-co, comunicador visual, ilustrador, cenó-grafo, fotógrafo e figurinista. Colaboradore criador do logotipo e selos do jornal Lin-guagem Viva.

A obra abriga caricaturas, criadas porXavi, de Bibi Ferreira (primeira página),Adoniran Barbosa, Ayrton Senna, AlceuValença, Aldemir Martins, Amy Winehouse,Angela Merkel, Angelo Agostini, AntonioAbujamra, Antonio Banderas, AntonyHopkins, Ariano Suassuna, Ary Fontoura,Barak Obama, B. B. King, Betinho, Carto-la, Chaplin, Chaves, Chico Buarque, Chico Mendes, Claude Debussy,Conficius, Dalai Lama, Djanira, Dominguinhos, Francisco Baratti, Henfilé a mãe, Joaquim Barbosa, José Mojica, José Serra, Kenichi Kaneko,Luis Fernando Veríssimo, Machado de Assis, Man Ray, Manoel de Bar-ros, Marta, Mazzaropi, Mercedes Sosa, Michael Phelps, Monet, OscarD’Ambrosio, Papa Francisco, Picasso, Pissarro, Pixinguinha, Portinari,Rainha Elizabeth II, Ronie Von, Silvio Santos, Tomie Ohtake, Usain Bolt,Valdir Rocha, Wagner Moura e de Xavier.

Xavi: http://xavierdelima1.wixsite.com/[email protected]

Cartas e Silêncios [policromia],poemas e cartas de Maria Lúcia López eDeolinda Nunes, Edições Archangelus, SãoPaulo (SP), 130 páginas. ISBN: 978-85-85059-02-6.

Maria Lúcia é escritora, poeta, artistaplástica e membro da Academia de Letrasde Campos do Jordão e da Academia deLetras dos Professores da Cidade de SãoPaulo. Deolinda é escritora, poeta eprofessora.

A obra, com prefácio de BenilsonToniolo, reúne 40 poemas de cada umadas autoras, cartas e poemas escritos emduas mãos. O desenho da espiral da capafoi feito pelas poetas. As autoras acreditamque “poesia é movimento traduzido por

sons e silêncios. Poesia é policromia, soma, ciranda.”Maria Lúcia López: [email protected]ções Archangelus: [email protected]

Diuturnos, de Dalila Teles Veras,Alpharrabio Edições, 120 páginas, SantoAndré (SP).

A capa é de Guedo Gallet e Isabela A.T. Veras. Os desenhos são de GuedoGallet.

A autora, natural da Ilha da Madeira(Portugal), reside no Brasil desde 1957. Époeta, escritora, cronista, ensaísta e ani-madora cultural. Dirige, desde 1992, aAlpharrabio Livraria e Editora, em SantoAndré (SP). Desde 2007 coordena oFórum Permanente de Debates Culturaisdo Grande ABC. Colabora em jornais erevistas do Brasil e do exterior. Autora dePalavraparte, Elemento em Fúria, À Janelados Dias - poesia quase toda, entre outrasimportantes obras.

Segundo Rosana Chrispim, na orelha do livro: “Penso que boa par-te do valor desta obra reside na postura observador/sujeito / observadorda poeta inserida, engajada, comprometida (compromissada, gostomais), montando um mosaico do espaço tempo que bem pode ser qual-quer um, posto que a sua transgressão a faz universal.”

Alpharrabio Edições: [email protected]

Page 8: A r n i de don in o re r o nd - Linguagem Viva · 2019. 3. 13. · ( b bb 1 ( a * 78cde dffg: a a h cfd i$ ' i' fjf>d fff 3 (788:d>cj fjcd ckj9e >d99 #$ (1 & " 4 3 >gk ' i' 8jgff

Notícias Página 8 - fevereiro de 2019

Andreia Donadon Leal foinomeada Delegada da AcademiaPortuguesa de Ex-Líbris no Brasil.É a primeira mulher a ocupar o car-go. A criadora da aldravia - primei-ra forma de poesia brasileira - époeta, artista plástica, cronista,colaboradora do Jornal LinguagemViva, Mestre em Literatura pelaUFV, autora de 15 livros e membroefetivo da Academia Municipalistade Letras de Minas Gerais.

Andreia Donadon Leal eJosé Benedito Donadon Leal,poetas aldravistas da cidade deMariana (MG), foram convidadospara a FLIPOÇOS, que será reali-zada de 27 de abril a 5 de maio,em Poços de Caldas (MG). A ofici-na de aldravias será no dia 3 demaio, sexta-feira, às 14h30, na Bi-blioteca Museu. www.flipocos.com

A II Feira do Livro da Unespserá realizada de 10 a 14 de abril,das 9h às 21h, no campus daUnesp em São Paulo (ao lado daestação Palmeiras-Barra Funda doMetrô), Av. Jornalista AloysioBiondi, 556, em São Paulo.

Machadiana Eletrônica, re-vista editada por Alex Sander LuizCampos e José Américo Miranda,lançou o número 2 do volume 1 queabriga crônicas publicadas por Ma-chado de Assis em 1894, na sérieA Semana de Gazeta de Notícias,editadas e anotadas por JohnGledson .per i odicos .u fes .b r /machadiana/issue/view/867

Políbio Alves lançou o livro depoemas Acendedor de Relâmpa-gos, pela Arribaçã Editora, comapoio da Fundação Casa de JoséAmérico, Av. Cabo Branco, 3336,Cabo Branco - João Pessoa (PB).

A Editora Melhoramentoslançou Fartura – Expedição BrasilGastronômico, volumes 4 e 5, deRodrigo Ferraz e Rusty Marcellini.As obras foram finalistas doGourmand World CookbookAwards - a maior premiação inter-nacional de livros de gastronomia.

O II Festival Naci-onal de Poesia BeagáPsiu Poético, que serárealizado de 14 a 18 demarço, em vários espa-ços da cidade de BeloHorizonte (MG), contarácom a participação de po-etas de diversas partes

do país. O evento é uma extensãodo Psiu Poético, que é realizadoem Montes Claros (MG) há 32anos ininterruptos. O projeto, idea-lizado pelo poeta João Aroldo Pe-reira, é realizado pelo Grupo de Li-teratura e Teatro “Transa Poética”.Já estão confirmadas as participa-ções de Noélia Ribeiro, RômuloFerreira, Bruno Candéas, OlíviaIkeda, Míria Gomes de Oliveira,Jovino Machado e MarceloDolabela, Artur Gomes, DeomídioMacedo, Paulo de Barros e ÉlcioLucas, Karla Celene Campos,Márcio Moraes e Tânia Fraga. ABicicletada do Beagá Psiu Poético,programada para o dia 17 de mar-ço, domingo, irá da Praça da Liber-dade à Praça Afonso Arinos. Seráencerrada com um Recital de Po-emas no Parque Municipal.facebook.com/psiupoeticomoc

A Sesi-SP Editora publicaráa obra completa de Monteiro Lobatoque entrou em domínio público nodia 1 de janeiro desse ano. Serãolançados 27 títulos, com projetográfico da coleção de RaquelMatsushita, com ilustrações dosartistas brasileiros Psonha,Guazzelli, Mariana Massarani e IonitZilberman.

Gláucia Gonçalves, da UniDuni Editora, é a nova presidenteda Câmara Mineira do Livro para obiênio 2019/2020, sucedendoRosana de Mont’Alverne Neto daAletria.

Leitura & Resistência, pro-jeto com a finalidade de estimulara leitura e a formação de leitores,realizou de 4 a 12 de fevereiro, emGoiânia (GO), uma programaçãocom oficinas, debates e uma in-tervenção urbana, intitulada#PovoQueLê, que apresentouuma vigília de 24 horas de leitura.

Os Fantasmas Inquilinos,obra com seleção de MarianoMarovatto que apresenta a carrei-ra e os poemas publicados em li-vro de Daniel Jonas, foi lançadapela Editora Todavia.

Leda Campestrin e AntonioCostella apresentam Mostra desuas Xilogravuras até o dia 31 demarço, no Museu Casa daXilogravura, em Campos do Jordão(SP). Leda Campestrin Costella éprofessora e diretora técnica doMuseu e Antonio Costella é profes-sor, jornalista, escritor, artista plás-tico e diretor geral do Museu. Parti-cipam de exposição temporária, atéo dia 31 de março, as artistasKAMILA VASQUES e DENISEMüller. O Museu Casa daXilogravura funciona de quinta asegunda-feira, das 9 às 12 e das14 às 17 horas, na Av. EduardoMoreira da Cruz, 295, BairroJaguaribe, em Campos do Jordão(SP).www.casadaxilogravura.com.brTel.: (12) 3662-1832.

A Câmara Brasileira do Li-vro realizará eleições para nova Di-retoria, em Assembleia Geral Ordi-nária, para o biênio 2019/2020, nodia 26 de fevereiro, terça-feira, nasede da entidade. Apenas uma cha-pa foi inscrita. A entidade será pre-sidida por Vitor Tavares (LivrariaLoyola). www.cbl.org.br

A Editora & GráficaHeliópolis lançou seis títulos es-critos por moradores da comunida-de homônima, com o apoio daEcoQuality que doou mais de 30mil folhas de papel sustentável paraviabilizar a produção dos livros.Foram lançados Meu canto em 83poemas, de Paulo Rams, Existên-cia Ilimitada, de Edson Fernandes,Não diga que digo verdades, deFagner Araújo, Melissa, de PauloCésar Marciano, Imagine como é,de Rubê Limeira, e Tem cordel noHelipa, de um grupo de alunos daETEC Heliópolis. O projeto visa lan-çar 50 obras até o final do edital quecontemplou a iniciativa. Tem comoobjetivo promover a difusão da lei-tura na comunidade, com diversoseventos e concursos culturais;bem como estimular a escrita, aleitura, a reflexão e o senso crítico.

A Livraria Madalena, primei-ra loja especializada em livros defotografia de São Paulo, mudoupara novo endereço para a empre-sa Visual Print, Rua Girassol, 323,em Pinheiros, São Paulo (SP). A li-vraria, idealizada pelo fotógrafo IatãCannabrava, abriga um acervo commais de 600 títulos de editoras na-cionais e internacionais.

A Fundação José Saramago,em Lisboa, realiza o encontro Fron-teiras Literárias, de 21 a 25 de fe-vereiro, com o objetivo de reunirescritores brasileiros residentes noexterior para discutir temas ligadosà literatura diaspórica, como a in-fluência da extraterritorialidade e dodeslocamento na vida e na produ-ção literária dos mesmos.

O projeto, idealizado pela pro-fessora Else Vieira, da Queen MaryUniversity, de Londres, em parce-ria com a Universidade Federal deJuiz de Fora, tem como co-organizadores os escritores brasi-leiros Andrea Zamorano e RonaldoCagiano.

O encontro conta com a pre-sença, dentre outros, de NélidaPiñon, Guiomar de Grammont,Eltânia André, Everardo Norões,Vera Lúcia de Oliveira, KátiaGerlach, Virna Teixeira, Marta Bar-bosa Stephens, Márcia Camargos,Edmilson de Almeida Pereira,Prisca Agustoni, Maurício Vieira,Júlio Silveira e Álvaro Filho.

O Escritório de Direitos Au-torais no Rio de Janeiro da Fun-dação Biblioteca Nacional está comnovo horário de atendimento, das10 às 16 horas, de segundaa sexta-feira. O registro de direitosautorais, de acordo com a Lei nº9.610/98, tem como finalidade darao autor segurança quanto ao di-reito de criação sobre sua obra;bem como especificar direitos mo-rais e patrimoniais e estabelecerprazo de proteção tanto para o ti-tular quanto para seus sucesso-res. O escritório da representaçãode São Paulo, com mesmo horá-rio de funcionamento, fica na Ala-meda Nothmann, 1058. Tel.: (11)3825-5249. https://www.bn.gov.br/servicos/direitos-autorais

O Centro Literário dePiracicaba realizará reunião no dia23 de fevereiro, sábado, das 15hàs 17h, na Biblioteca MunicipalRicardo Ferraz de Arruda Pinto,Rua Saldanha Marinho, 333, Cen-tro, Piracicaba (SP). Em março, areunião será realizada no dia 30.

O Grupo Oficina Literáriade Piracicaba realizará reunião nodia 6 de março, quarta-feira, das19h30 às 21h30, na Biblioteca Mu-nicipal Ricardo Ferraz de ArrudaPinto, Rua Saldanha Marinho, 333,Centro, Piracicaba (SP).

J. B. D

ona don-Lea

l

Andreia Donadon Leal