Upload
andrepaesbarretoselva
View
218
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
1/128
Universidade Federal de PernambucoCentro de Cincias Sociais Aplicadas
Departamento de Cincias AdministrativasPrograma de Ps-Graduao em Administrao PROPAD
Otavio de Moura e Reis de Melo
A relao entre o Estado e a indstria de vinhos do
Vale do So Francisco sob a tica da Teoria do
Principal-Agente
Recife, 2007
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
2/128
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO
CLASSIFICAO DE ACESSO A TESES E DISSERTAES
Considerando a natureza das informaes e compromissos assumidos com suas fontes, oacesso a monografias do Programa de Ps-Graduao em Administrao da UniversidadeFederal de Pernambuco definido em trs graus:
- "Grau 1": livre (sem prejuzo das referncias ordinrias em citaes diretas e indiretas);- "Grau 2": com vedao a cpias, no todo ou em parte, sendo, em conseqncia, restrita a
consulta em ambientes de biblioteca com sada controlada;
- "Grau 3": apenas com autorizao expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto,se confiado a bibliotecas que assegurem a restrio, ser mantido em local sob chave oucustdia;
A classificao desta dissertao/tese se encontra, abaixo, definida por seu autor.Solicita-se aos depositrios e usurios sua fiel observncia, a fim de que se preservem as
condies ticas e operacionais da pesquisa cientfica na rea da administrao.___________________________________________________________________________
Ttulo da Monografia: A relao entre o Estado e a indstria de vinhos do Vale do SoFrancisco sob a tica da Teoria do Principal-Agente
Nome do Autor: Otavio de Moura e Reis de Melo
Data da aprovao: 26 de Janeiro de 2007
Classificao, conforme especificao acima:
Grau 1
Grau 2
Grau 3
Local e data:
---------------------------------------Assinatura do autor
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
3/128
Otavio de Moura e Reis de Melo
A relao entre o Estado e a indstria de vinhos do
Vale do So Francisco sob a tica da Teoria do
Principal-Agente
Orientador: David Ricardo Colao Bezerra
Dissertao apresentada como requisitocomplementar para obteno do grau deMestre em Administrao, rea deconcentrao em Gesto Organizacional,do Programa de Ps-Graduao emAdministrao da Universidade Federalde Pernambuco.
Recife, 2007
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
4/128
Melo, Otavio de Moura e Reis deA relao entre o Estado e a indstria de vinhos do
Vale do So Francisco sob a tica da teoria doprincipal - agente / Otavio de Moura e Reis de Melo. Recife : O Autor, 2007.
126 folhas : fig.,tab. e quadro.
Dissertao (mestrado) Universidade Federal dePernambuco. CCSA. Administrao, 2007.
Inclui bibliografia .
1. Organizao industrial 2. Relaes pblicas ePoltica. 3. Vinho e vinificao. I. Ttulo.
658.5 CDU (1997) UFPE658.5 CDD (22.ed.) CSA2007-046
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
5/128
Universidade Federal de PernambucoCentro de Cincias Sociais Aplicadas
Departamento de Cincias Administrativas
Programa de Ps-Graduao em Administrao PROPAD
A relao entre o Estado e a indstria de vinhos do
Vale do So Francisco sob a tica da Teoria do
Principal-Agente
Otavio de Moura e Reis de Melo
Dissertao submetida ao corpo docente do Programa de Ps-Graduao em Administraoda Universidade Federal de Pernambuco e aprovada em 26 de janeiro de 2007.
Banca Examinadora:
Prof. David Ricardo Colao Bezerra, Doutor, UFPE (orientador)
Prof. Fernando de Mendona Dias, Doutor, UFPE (examinador externo)
Prof. Marcos Andr Mendes Primo, Doutor, UFPE (examinador interno)
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
6/128
A Deus e minha famlia por terem sido
to presentes neste sonho.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
7/128
Agradecimentos
A Deus, que me deu tanto alento nas adversidades.
A Kalina, esposa e companheira pelo incentivo, fora e pacincia.
Aos meus pais, Antnio e Letcia, pelo exemplo de pessoas e o esforo empreendido.
Ao meu orientador Professor David Ricardo, pela dedicao e comprometimento, essenciais realizao deste trabalho, assim como pela amizade e experincias proporcionadas por estaconvivncia.
Aos Professores Pedro Lincoln e Marcos Viera, por terem sido os primeiros a acreditar que
um sonho poderia se tornar realidade.Ao Corpo Docente do Mestrado em Administrao da UFPE, especialmente aos
professores Marcos Primo e Rezilda Rodrigues, Marcos Feitosa e Bruno Campello.
Aos colegas da Turma 11 do Curso de Mestrado em Administrao da UFPE, pelaconvivncia, motivao e suporte nos momentos bons e nos difceis. Aprendi muito comvocs, um agradecimento especial ao grupo de estudo da BP.
Ao grande amigo Srgio Ferreira, parceiro da Turma 11, pela presena e amizade.
A Irani Vitorino e Ana Alice, pelo suporte administrativo, assim como a todos aqueles quefazem parte do Propad.
Um agradecimento especial a todos aqueles que de alguma forma contriburam para esteprojeto de vida. Obrigado, do corao!
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
8/128
Vers que um filho teu no foge a luta,
(Hino nacional brasileiro)
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
9/128
Resumo
Em pleno serto nordestino, uma regio s margens do Rio So Francisco, vem se destacando
como um plo fruticultor no Brasil. O Sub-mdio So Francisco, regio centrada no eixo
Petrolina/PE e Juazeiro/BA, apresenta condies nicas quanto ao clima e ao solo, que aliados
ao aproveitamento da gua do Rio So Francisco e a tcnicas modernas de produo agrcola
permitiram, tambm o desenvolvimento da indstria de vinhos finos que vem conquistando
reconhecimento nacional e internacional, atraindo tradicionais produtores do Rio Grande do
Sul e da Europa. Alinhado a este fenmeno existe a participao do Estado quanto implementao de polticas pblicas capazes de fomentar e regular o setor. Esta dissertao
tem como foco estudar o relacionamento entre o Estado e a indstria de vinhos finos da
Regio do So Francisco, identificando as polticas governamentais e seus impactos na
obteno de novos investimentos em busca de um aumento na arrecadao e de
desenvolvimento local. Para estudarmos este relacionamento optamos pela Teoria do
Principal-Agente, pois procura analisar os conflitos e custos resultantes de um relacionamento
onde o Governo (principal) tem interesses divergentes dos empresrios (agentes). Desta forma
o Governo lana aes que possam incentivar os empresrios de acordo com seus interesses
ao menor custo possvel. A pesquisa analisa o esforo de ambos os atores e conclui que o
setor j apresenta caractersticas tpicas de uma economia de aglomerao capaz de prover um
desenvolvimento da renda per capita da regio e avaliando de maneira positiva o Programa do
Vinho realizado pelo Governo do Estado.
Palavras-Chaves: Indstria Vincola. Polticas Pblicas. Teoria do Principal-Agente.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
10/128
Abstract
In the middle of the Northeastern interior, an area at the margins of the Rio San Francisco,
comes if highlighting as a pole producing fruit in Brazil. The San Francisco Valley, area
between the cities Petrolina/PE and Juazeiro/BA present unique conditions of the climate and
the soil, that formed an alliance with the Rio San Francisco's waters and of modern techniques
of agricultural production, that allowed, also the development of the industry of fine wines.
The region is conquering recognition, national and international, attracting the traditional
producers of Rio Grande do Sul and of Europe. Aligned to this phenomenon, there is theparticipation of the State with the implementation of public politics capable to foment and to
regulate the sector. This dissertation has as focus, study the relationship between the State and
the industry of fine wines of the San Francisco Valley, identifying the government politics
and their impacts in the obtaining of new investments in search of an increase in the outturn
and of local development. For study this relationship chose for the principal-agent theory,
because it tries to analyze the conflicts and resulting costs of a relationship where the
Government (principal) has the entrepreneurs' divergent interests (agents). This way the
Government launches actions that can motivate the entrepreneurs in agreement with yours
interests at the smallest cost possible. The research analyzes both actors' effort and it
concludes that the sector already presents typical characteristics of a gathering economy
capable to provide a development of the per capita income of the region. Evaluating in a
positive way the Program of the Wine accomplished by the Government of the State.
Word-key: Wine-Producing Industry. Public Politics. Principal-Agent Theory.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
11/128
Lista de figura
Figura 1 (2) Distribuio da carga tributria global Ano 206 ....................... 39
Figura 2 (2) Relao Governo e Empresrios para formao do SetorVincola ................................................................................................................ 46Figura 3 (5) Cadeia Produtiva da Uva e do Vinho. .......................................... 66Figura 4 (5) Cadeia Produtiva do Vinho. ......................................................... 67Figura 5 (6) Desempenho do ICMS em Pernambuco 2005-2006 (mensal). .... 109Figura 6 (6) ndice de crescimento do PIB do Brasil, Nordeste, Pernambuco,Bahia, Cear.. ....................................................................................................... 110Figura 7 (6) Taxa crescimento do PIB de Pernambuco/NE/Brasil 95/03 ........ 111
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
12/128
Lista de tabelas
Tabela 1 (2) Carga Tributria por grupamento de tributos 1980/96 (Em %
da receita tributria).............................................................................................. 38Tabela 2 (2) - Carga Tributria Brasileira 2001/2005 (em % PIB). 39Tabela 3 (4) Produo Mundial de Vinhos........................................................ 54Tabela 4 (4) Produo de vinhos, sucos e derivados do Rio Grande do Sul,em litros 2003/2005........................................................................................... 57Tabela 5 (4) Participao das importaes de vinhos finos comercializadosno Brasil 2000/2005 em litros. .......................................................................... 57Tabela 6 (4) Exportaes brasileiras, outros vinhos, mostos de uva, ferm.imp. por adio lcool. (NCM 2204.2100 e 2204.2900) 2001/2004. .................. 58Tabela 7 (4) Importaes brasileiras, outros vinhos, mostos de uva, ferm.imp. por adio lcool. (NCM 2204.2100 e 2204.2900) 2001/2004.................... 58
Tabela 8 (6) Taxa crescimento do PIB de Pernambuco/NE/Brasil 95/03 ......... 111
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
13/128
Lista de Quadros
Quadro 1 (4) Sntese das etapas de evoluo da fruticultura no SMSF............. 62
Quadro 2 (5) Tributos segundo a base de incidncia......................................... 84Quadro 3 (5) Resumo da tributao incidente na cadeia do vinho brasileiro.... 84Quadro 4 (5) Tributos incidentes em cada elo da cadeia produtiva................... 87Quadro 5 (5) Mark-up utilizados por cada elo da cadeia do vinho noformulao de seu preo de venda. ...................................................................... 88Quadro 6 (5) Porcentagem (%) da tributao incidente sobre o valor de umagarrafa de vinho oferecida ao consumidor final. .................................................. 88Quadro 7 (5) Porcentagem (%) da tributao incidente sobre uma garrafa devinho de mesa, vinho espumante e vinho fino. .................................................... 88Quadro 8(6) Pernambuco taxa de crescimento total e setorial do PIB2001/2003 ............................................................................................................. 111
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
14/128
Sumrio
1 Introduo ...........................................................................................................................14
1.1 Problema de pesquisa ........................................................................................................161.2 Objetivos............................................................................................................................171.2.1 Objetivo geral ..................................................................................................................171.2.2 Objetivos especficos.......................................................................................................171.3 Justificativa.........................................................................................................................182 Referencial terico ..............................................................................................................202.1 Teoria dos jogos ................................................................................................................202.1.1 Algumas consideraes sobre a teoria dos jogos ............................................................222.1.2 Teoria do Principal-Agente .............................................................................................232.1.2.1 Informao assimtrica.................................................................................................242.1.2.2 Incentivos .....................................................................................................................26
2.2 Princpios tributrios .........................................................................................................272.2.1 Princpios tericos da tributao.....................................................................................272.2.2 Espcies de tributos ........................................................................................................322.2.3 Tipos de tributos .............................................................................................................342.3 Sistema tributrio brasileiro ...............................................................................................352.3.1 Contexto histrico da tributao no Brasil 1...................................................................352.3.2 Receita tributria brasileira.............................................................................................372.4 Integrao entre o referencial terico e o problema ...........................................................402.4.1 O problema da evaso fiscal ............................................................................................402.4.2 Incentivos fiscais .............................................................................................................432.4.3 Esquema de integrao da fundamentao terica..........................................................453 Metodologia.........................................................................................................................483.1 Tipo de pesquisa .................................................................................................................483.2 Fase preparatria ................................................................................................................503.3 Identificao dos fatores de restrio .................................................................................524Indstria nacional de vinhos...............................................................................................544.1 Importao e exportao.....................................................................................................574.2 O Vale do So Francisco ....................................................................................................594.2.1 Sub-mdio So Francisco ...............................................................................................604.2.2 Desenvolvimento agroindustrial......................................................................................604.2.3 Introduo da indstria vincola no Vale do So Francisco ............................................63
5 A indstria do Vinho do Sol ...............................................................................................655.1 A Cadeia produtiva do vinho no VSF ................................................................................655.2 Anlise institucional ...........................................................................................................685.2.1 Instituies da indstria do vinho do VSF ......................................................................705.2.1.1 Valexport ......................................................................................................................705.2.1.2 Instituto do Vinho do Vale do So Francisco - VINHOVASF ....................................715.2.1.3 Centro Tecnolgico da Uva e do Vinho .......................................................................725.2.1.4 EMBRAPA...................................................................................................................735.2.1.5 Instituies de ensino....................................................................................................745.2.1.6 Agncias reguladoras....................................................................................................755.2.1.7 Vincolas do Vale do So Francisco.............................................................................78
5.2.1.7.1 Botticelli ....................................................................................................................785.2.1.7.2 Grupo Garziera ..........................................................................................................795.2.1.7.3 Vitivincola Santa Maria S/A ....................................................................................79
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
15/128
5.2.1.7.4 Chateaux Ducos.........................................................................................................805.2.1.7.5 Adega Bianchetti Tedesco Ltda.................................................................................805.2.1.7.6 Bella Fruta do Vale....................................................................................................815.2.1.7.7 Miolo .........................................................................................................................81
5.3 Questo tributria ...............................................................................................................825.3.1 Apurao dos tributos......................................................................................................835.4 Perfil do consumidor ..........................................................................................................905.4.1 Hbitos dos consumidores...............................................................................................915.4.2 Questes mercadolgicas ................................................................................................925.4.3 Percepo dos agentes do canal de distribuio ..............................................................935.4.4 Consideraes sobre o captulo .......................................................................................956Relao principal agente ..................................................................................................966.1 Resultado esperado do Governo .........................................................................................966.1.1 O Governo no Vale do So Francisco .............................................................................976.1.1.1 Principais realizaes ...................................................................................................98
6.2 Resultado esperado da empresa........................................................................................1026.3 Consideraes sobre o captulo ........................................................................................1076.3.1 Sonegao fiscal ............................................................................................................1076.3.2 Desempenho pernambucano..........................................................................................1106.3.3 O problema das restries de incentivos .......................................................................1127Consideraes finais ..........................................................................................................1157.1 Concluses........................................................................................................................1157.2 Contribuies da pesquisa ................................................................................................1187.3 Limitaes do estudo ........................................................................................................1197.4 Sugestes para estudo futuros ..........................................................................................119Referncias ............................................................................................................................121
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
16/128
14
1 Introduo
O desenvolvimento agroindustrial tem sido um dos principais responsveis pelo
desempenho do Brasil no cenrio econmico mundial, contribuindo assim, para manuteno
dos ndices superavitrios da balana comercial. Este crescimento tambm tem forte
importncia social, visto a criao de frentes de trabalhos no campo, dando condies ao
trabalhador rural de permanecer em sua regio. Sendo que em algumas regies temos um
xodo rural s avessas com o cidado migrando das grandes metrpoles para cidades do
interior que despontaram como economias rurais.
Entre estas regies podemos destacar a regio do sub-mdio So Francisco, localizada
em pleno semi-rido tropical, centrado no eixo Petrolina/PE e Juazeira/BA onde desde a
dcada de 70 tm sido implementados projetos pblicos de irrigao que, alinhados a
pesquisas e desenvolvimento tecnolgico, proporcionaram regio o reconhecimento
nacional e internacional como plo produtor/exportador de frutas do Brasil, principalmente
manga e uva.
A combinao de investimentos de recursos pblicos e privados, juntamente com a
capacidade de associao dos produtores contribuiu para o crescimento da estrutura
econmica regional, atravs do aumento de empregos diretos e indiretos (VALEXPORT,
2000) criando condies para a abertura de 15 cursos regulares de ensino superior, que nos d
uma pequena amostra dos benefcios sociais e econmicos do desenvolvimento do
agribusiness.
Assim uma regio considerada problemtica, devido s recorrentes secas, apresenta
condies nicas quanto ao clima e ao solo, que aliado ao aproveitamento da gua do Rio So
Francisco e a tcnicas modernas de produo agrcola permitiram tambm, o desenvolvimentodo setor industrial, a montante e a jusante da cadeia produtiva.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
17/128
15
Uma indstria que vem se destacando cada vez mais na regio, principalmente pelos
seus nveis de qualidade e tecnologia, a indstria de vinificao. At o ano de 1995 investia
apenas em derivados da uva menos nobres, como o vinagre e os vinhos de mesa. Hoje,
desponta para produo de vinhos finos, considerados produtos de melhor qualidade e de
maior valor agregado. Conquista reconhecimento nacional e internacional, como prova o
grande volume de investimento na indstria, inclusive de empresas estrangeiras com know-
howvincola mundial.
Nesta dissertao buscou-se abordar o papel das polticas pblicas no desenvolvimento
deste setor que comea a despontar no cenrio nacional em meio a total descrena de boa
parte dos especialistas e conhecedores de vinhos. Foi dado enfoque a capacidade local de
associativismo dos empresrios em aumentar os nveis de negociao com o estado e tambm,
se estudou a questo tributria, que tem impacto direto no preo do produto, varivel
relevante na escolha dos consumidores.
Assim organizamos esta dissertao atravs de sete captulos, elencados a seguir. O
captulo 1 contempla esta introduo, a problemtica da pesquisa, sua justificativa e os
objetivos. No captulo 2 abordado o referencial terico que consiste na utilizao de um
arcabouo terico que possibilita a anlise de nossos dados com base em modelos slidos.
Constam neste captulo os temas da teoria dos jogos com o problema do principal-agente e o
sistema tributrio nacional, levantando os motivos da sonegao e da guerra fiscal. Nocaptulo 3 apresenta-se o mtodo utilizado para coleta de dados e das informaes para
realizao da pesquisa. O captulo 4 aborda a indstria do vinho no mundo e no Brasil, para
que o leitor possa se inteirar das caractersticas gerais do setor. O captulo 5 responsvel por
delinear a cadeia produtiva do vinho no Vale do So Francisco, os modos de consumo dos
consumidores e agentes do canal e analisar o impacto dos tributos sobre os vinhos no mercado
nacional. No captulo 6 definem-se as variveis relevantes para os jogadores (agente e
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
18/128
16
principal) e quais os esforos feitos pelos mesmos para manter suas funes utilidades
maximizadas. No captulo 7 so apresentadas as concluses da pesquisa, suas contribuies,
consideraes e sugestes para novas pesquisas. E por fim, so apresentadas as listas de
referncias utilizadas na confeco deste estudo.
1.1 Problema de pesquisa
O crescimento da Regio do Vale do So Francisco em grande parte decorrente dos
projetos e das polticas pblicas que funcionam como instrumentos para o desenvolvimento
da regio, pela criao de infra-estrutura para irrigao, financiamento de projetos e de
benefcios fiscais aos diversos setores, principalmente aos ligados a fruticultura irrigada.
Conforme Silva (2001, p.173):
A falta de autonomia do setor frutcola no plo evidente quando se trata,
por exemplo, dos custeios de implementao e manuteno de algumasaes de polticas setoriais. O nus da maioria dessas aes sempre ficou sexpensas do Estado [...].
O Brasil se caracteriza por gerar um alto nvel de receita tributria, chegando a
arrecadar algo em torno de 30% do PIB na dcada de 90, quase to alta quanto nos pases
desenvolvidos. Apesar deste alto nvel de tributao o Brasil tem um grave problema quanto
qualidade dos tributos, que caracteriza-se por ter impostos indiretos de carter cumulativo, e
que sobretaxa excessivamente bens e servios (GIAMBIAGI; ALM, 2000).
Diante desta dependncia do Plo do So Francisco quanto s Polticas Pblicas e do
complexo Sistema Tributrio Brasileiro que se apresentam como importantes fatores no
desenvolvimento regional, propomos a seguinte questo de pesquisa.
Como as polticas pblicas do Estado de Pernambuco tm impactado no
desenvolvimento da indstria vincola do Vale do So Francisco?
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
19/128
17
1.2 Objetivos
Com base nos aspectos levantados nos itens anteriores o presente estudo procuraatingir os seguintes objetivos:
1.2.1 Objetivo geral
Demonstrar que as polticas pblicas realizadas pelo Governo do Estado de
Pernambuco tm criado condies favorveis para atrao de novos investimentos e
consolidao do setor vincola no Vale do So Francisco.
1.2.2 Objetivos especficos
Identificar os tributos e seus respectivos pesos no preo do vinho produzido no
Vale do So Francisco e vendido ao consumidor final;
Identificar os agentes relevantes envolvidos na poltica pblica do Estado, seus
papis e suas aes no processo de institucionalizao do setor vincola do Vale do So
Francisco;
Identificar os investimentos e projetos do setor pblico;
Identificar as expectativas e projetos dos empresrios do setor;
Mostrar que o Governo do Estado de Pernambuco observou as restries de
participao e de compatibilidade de incentivos no problema do principal-agente.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
20/128
18
1.3 Justificativa
A Regio do Vale do So Francisco tem despertado profundo interesse como projetotransformador no semi-rido nordestino. A regio se consolida como um osis em pleno
serto. O desenvolvimento da agricultura irrigada tem proporcionado mudanas em toda a
estrutura econmica regional. Este desenvolvimento espelhado no nmero de
estabelecimentos na rea de servios gerados para atender as novas necessidades do mercado.
So 22 agncias bancrias, 42 concessionrias e revendas de veculos, 45 postos de gasolina,
28 hotis com aproximadamente 1500 leitos, 15 cursos regulares de ensino superior e 33
supermercados instalados nas cidades de Petrolina e Juazeiro (VALEXPORT, 2005).
A Indstria do Vinho tem tido papel relevante neste processo de transformao,
atraindo diversos investimentos gerados pelos bons resultados dos vinhos da regio. Isto,
graas ao conjunto das vantagens locais, edafoclimticas e de infra-estrutura alinhadas com
um processo contnuo de recriar novas vantagens concorrnciais relacionadas ao processo
produtivo, logstica e ao ambiente institucional (MIRANDA, 2003A).
Por outro lado a questo fiscal no Brasil um tema recorrente na agenda de debates de
toda a sociedade. Com a estabilizao e crescimento da economia os nveis de tributao do
Estado chegaram em 2005 a 37% do PIB (RECEITA FEDERAL, 2007), considerada
excessivamente alta para pases em desenvolvimento. Altos ndices de tributao podem
trazer diversos problemas pela falta de equidade ou sobre a competitividade do setor
(AFONSO et al, 1998).
Para se analisar o impacto desta carga tributria e dos incentivos governamentais no
desenvolvimento da indstria vincola do Vale do So Francisco optou-se pela teoria dos
jogos, pela qual se pode demonstrar como os agentes interagem entre si de forma racional.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
21/128
19
Agir de forma racional supor que os agentes empregam os meios mais adequados aos
objetivos que almejam (FIANI, 2004).
A teoria dos jogos tem sido constantemente aplicada em estudos de administrao,
economia, direito, cincia poltica e biologia, tendo evoludo nas diversas reas de estudos
que exijam um processo de interao.
Do ponto de vista terico a pesquisa justifica-se por identificar as varveis relevantes
que possibilitem a formalizao de um modelo que possa refletir o setor vincola do Vale do
So Francisco e possa servir de exemplo para outros estudos de forma a contribuir para o
arcabouo terico-cientfico.
Do ponto de vista prtico espera-se contribuir com a formulao de uma poltica de
desenvolvimento sustentado para o setor vincola, criando ferramentas vlidas que possam
guiar as decises estratgicas tributrias no setor vitivincola e gerar mais informaes para o
debate sobre uma Reforma Fiscal.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
22/128
20
2 Referencial terico
Este captulo apresenta uma reviso terica que fornea uma sustentao para as
futuras anlises, basicamente divide-se em trs itens. Primeiro aborda-se a Teoria dos Jogos,
atravs de um breve histrico, detalhando seu uso e definindo o problema do principal-agente.
Para isto so exemplificados modelos j estudados e testados por outros pesquisadores que
guiaram esta dissertao. Depois aborda-se a questo da tributao fiscal, visto o impacto
desta varivel sobre os diversos setores da economia e sua influncia sobre a receita dos
estados. Por fim procura-se relacionar o referencial terico com os problemas de pesquisa.
2.1 Teoria dos jogos
A teoria dos jogos uma representao formal que permite uma boa anlise de
situaes em que os agentes interagem entre si de forma racional, como define Fiani (2004, p.
2), podemos caracterizar como um jogo:
Situaes que envolvam interaes entre agentes racionais que secomportem estrategicamente podem ser analisadas formalmente como umjogo.
Assim o status da teoria dos jogos como uma forma de teorizao apia-se numa
metodologia formal associada a uma propriedade positiva, a capacidade de gerar previses
(MUNK, 2000).
Para melhor caracterizao de um jogo importante conhecer todos os elementos que
o compem, conforme segue (FIANI, 2004):
Modelo Formal: envolve tcnicas de descrio e anlise, ou seja, o pr-
estabelecimento de regras para se apresentar e estudar um jogo;
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
23/128
21
Interao: estabelece que as aes de um jogador devem levar sempre em
considerao os outros jogadores;
Agentes: qualquer indivduo ou grupo de indivduos com capacidade de deciso
para afetar os demais;
Racionalidade: parte do pressuposto que cada agente emprega sempre os meios
mais adequados para alcanar os melhores objetivos para si;
Comportamento estratgico: exige raciocnios complexos pois as decises dos
agentes dependem do que eles acham que os demais faro s suas aes.
Utilidade: indicador de bem estar de uma pessoa, caracterizado por um ndice
quantitativo que representa a satisfao que um consumidor obtm com diferentes conjuntos
de bens e servios, chamados de cestas de bens. A partir de um conjunto de preferncias,
ser possvel ordenar as cestas de bens por ordem de preferncia atravs de uma funo
utilidade desde que as preferncias sejam monotnicas (VARIAN, 1999, p.61). Pode-se
generalizar esta definio de utilidade para qualquer unidade individual, no caso de empresas
comum definirmos a sua satisfao pelo lucro.
O uso da teoria dos jogos ajuda a entender teoricamente o processo de deciso dos
agentes, atravs de modelos abstratos amplos. Isto significa que necessrio se respeitar todas
as hipteses dessa teoria e identificar as circunstncias especificas de cada caso. Outra
vantagem que o raciocnio estratgico garante a tomada de decises que nem sempre
corresponde intuio (FIANI, 2004).
Esta nfase na escolha estratgica faz uma importante promessa programtica:
contribuir para o desenvolvimento de uma teoria da ao (MUNK, 2000).
A essncia da teoria da ao proposta pela teoria dos jogos consiste fundamentalmente
por trs componentes: a) pelo processo de escolha fundado no modelo de utilidade esperada
da tomada de deciso; b) pela previso associada anlise do processo de escolha ao conceito
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
24/128
22
de equilbrio; c) pela conceituao das regras do jogo, onde so estabelecidos o conjunto de
jogadores, as estratgias ou escolhas dos jogadores, a seqncia com que as escolhas so
feitas e as informaes de que eles dispem (MUNK, 2000).
2.1.1 Algumas consideraes sobre a teoria dos jogos
A teoria dos Jogos tornou-se um ramo proeminente nas cincias sociais com os
trabalhos do matemtico John Von Neumann (1903-1957), mais precisamente em seu livroThe Theory of Games and Economic Behavior publicado em 1944 em co-autoria com o
economista alemo Oskar Morgenster onde analisavam solues para jogos de soma zero
(jogos onde o sucesso de um jogador necessariamente significava o insucesso do outro) e
definia a representao de jogos de maneira extensiva, onde so identificadas as decises de
cada jogador em diferentes etapas do jogo e tambm discutiu cooperao e coalizo entre
jogadores (FIANI, 2004).
A partir de 1950 com os estudos de John F. Nash, John C. Harsanyi e Reinhard Selten,
a teoria dos jogos desenvolveu-se para mais reas de atuao, antes limitada pelos jogos de
soma zero, abordando uma noo de equilbrio para modelos de jogos e levantando
consideraes sobre a assimetria de informaes dos jogadores. Em 1994 os trs estudiosos
alcanaram o Prmio Nobel em economia que contribuiu para reconhecimento da teoria dos
jogos como um instrumento essencial no estudo de qualquer processo de interao (FIANI,
2004).
No ano de 2005, Thomas C. Schelling e Robert J. Aumann, dividiram o Prmio Nobel
de Economia por importantes contribuies para a teoria dos jogos, eles desenvolveram novos
conceitos e ferramentas analticas que diminuram a distncia entre economia e outras
cincias sociais (ESTEVES, 2005).
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
25/128
23
A partir de 1960, Schelling comeou a aplicar mtodos da teoria dos jogos para
analisar questes ligadas corrida armamentista na poca da Guerra Fria, o que lhe
possibilitou definir fatores que poderiam influenciar as decises dos pases envolvidos e que
seriam teis na definio de estratgias para resoluo de conflitos. O autor tambm trabalhou
em questes que envolviam cooperao de indivduos em situaes sem conflitos de
interesses. Em 1978, o autor publicou a obra Micromotives and Macrobehavior onde
desenvolveu um modelo que explica a emergncia da segregao a partir dos comportamentos
individuais (ESTEVES, 2005).
J, Robert Aumann, focando estudos sobre jogos repetidos demonstrou que a
cooperao pacfica freqentemente uma soluo de equilbrio em jogos desse gnero,
mesmo quando os agentes tm interesses divergentes. Juntamente com Michael Maschler,
desenvolveu modelos de teoria dos jogos repetidos com informaes assimtricas, nos quais
um dos agentes tem mais informaes que os outros, o que se tornou uma referncia para
questes de cooperao nas cincias sociais (ESTEVES, 2005).
Outra contribuio de Aumann foi a soluo para modelagem de uma economia de
competio perfeita, onde demonstrou que modelos com um nmero finito de participantes
no so adequados a uma economia deste tipo, ento props um modelo com um contnuo de
participantes, mais prxima da situao real, onde existe um nmero grande mas finito de
agentes envolvidos (ESTEVES, 2005).
2.1.2 Teoria do Principal-Agente
A questo do Principal-Agente existe sempre que h uma relao na qual o bem-estar
de algum depende daquilo que feito por outra pessoa. Sendo o agente a pessoa atuante e o
principal a parte afetada pela ao. Existem diversas relaes de agentes disseminadas pela
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
26/128
24
nossa sociedade (PINDYCK; RUBINFELD, 1999), mdico-paciente, agncia reguladora-
empresa regulada, empresa seguradora-segurado, empregador-empregado.
Em nosso caso especifico, temos o governo como principal que estipula, atravs de
leis, um sistema tributrio e um conjunto de incentivos de seu interesse que os empresrios
teriam por obrigao segui-lo. Entretanto, nem sempre os empresrios esto dispostos a seguir
a regra, ou a lei.
A teoria do principal-agente procura analisar os conflitos e custos resultantes de um
relacionamento onde a diviso do trabalho ocorre entre pessoas ou empresas com interesses
divergentes, o problema da relao ocorre quando os objetivos do principal so conflitantes
com os do agente e a ao do agente difcil ou custosa de ser verificada (EISENHART,
1989).
Esta dificuldade de verificar a conduta do agente cria uma situao de oportunismo
por parte do agente que negligncia o cumprimento de suas tarefas tomando decises baseada
em ambies pessoais ao invs de considerar questes de eficincia econmica, prejudicando
o objetivo do principal (PINDYCK; RUBINFELD, 1999).
2.1.2.1 Informao assimtrica
O principal agravante para o problema do agente e principal est exatamente na
informao incompleta e a dispendiosa monitorao que influenciam o modo de ao dos
agentes. Nos jogos de informao assimtrica supe-se que um dos jogadores possui mais
informaes do que seu oponente.
O problema da informao assimtrica pode se apresentar, basicamente, em dois
pontos do relacionamento. No primeiro momento o oportunismo acontece ex ante, ou seja,
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
27/128
25
antes da adeso a uma determinada transao, situao conhecida como seleo adversa. Em
outro momento oportunismo do agente se verifica durante a execuo de uma transao j
contratada, situao denominada risco moral.
A seleo adversa acorre principalmente pela incapacidade do principal verificar
completamente as caractersticas do agente momentos antes do contrato, pois o agente
oportunista oculta as informaes sobre suas caractersticas negativas, esta situao tambm
conhecida como informao oculta (VARIAN, 1999, p.684).
Uma soluo para o problema da seleo adversa a sinalizao. A forma mais
comum de sinalizao a utilizao de certificados e as garantias de longo prazo, que apenas
bons agentes estariam dispostos a fornecer. Outra forma de se verificar a sinalizao atravs
da projeo de uma situao na qual o agente confrontado; a partir das decises dadas por
ele, obtm-se uma percepo valiosa sobre as qualidades de sua personalidade ou produto
(PINDYCK; RUBINFELD, 1999).
O problema do risco moral, tambm conhecido como ao oculta, se d pelo fato de s
ele ter acesso a algumas informaes podendo negligenciar o cumprimento dos termos
acordados e assim agir em interesse prprio para tirar proveito em prejuzo ao principal
(AZEVEDO, 1997).
A existncia do risco moral est associada a trs fatores: o agente toma uma deciso
que afeta sua utilidade e a do principal que por sua vez, observa somente o resultado, um sinalimperfeito da deciso tomada pelo agente; e a deciso que o agente escolheria tomar
espontaneamente no um timo de Pareto (SALANI, 1997).
Como ao principal no possvel observar as decises do agente fica difcil fora-lo a
tomar uma deciso timo de Pareto, resta ao principal duas possibilidades no excludentes:
manter um constante e eficiente monitoramento dos esforos do agente e/ou influenciar a
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
28/128
26
escolha de uma deciso tomada pelo agente, condicionando sua utilidade nica varivel
observvel: o resultado (SALANI, 1997).
O foco da questo estudar os estmulos, sejam incentivos ou punies, que operem
em sintonia com os interesses do principal.
2.1.2.2 Incentivos
Uma das solues do problema de fazer com que o agente aja de forma a maximizar a
funo utilidade do principal seria atravs de uma poltica de incentivos, ou seja, o principal
precisa garantir ao agente uma utilidade to grande quanto ele obteria em outro lugar para que
ele aceite o contrato. Este impasse conhecido como restrio de participao. Podemos
utilizar o caso de um contrato de trabalho entre empregador e empregado, para melhor
exemplificar o modelo, como se segue:
uxcxfs )())(( onde,
u : funo utilidade do trabalhador
x: quantidade de esforo do trabalhador
f (x): valor da quantidade produzida de um bem (produo)
s(f (x)): valor da quantia paga ao trabalhador pela produo
c(x): custo do esforo x.
Para o empregador seria razovel induzir o trabalhador um nvel de esforo x que gere
o excedente mximo, dada a restrio de que o trabalhador aceite o contrato:
))(()(max xfsxfx de modo que uxcxfs )()((
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
29/128
27
Agora para que o empregado escolha x basta satisfazer a restrio, ou seja, igualar a
funo utilidade, s(f(x)) c(x) = u . Substituindo na funo objetivo temos o problema de
maximizao sem restrio:
uxcxfx )()(max
Que pode ser resolvido escolhendo x* de modo que o produto marginal se iguale ao
custo marginal
PM(x*) = CMa(x*), qualquer escolha de x* que no valide esta equao no poder
maximizar os lucros.
Esta afirmao traz outro problema, como fazer o trabalhador atingir o ponto x*, o
sistema de incentivos deve prever que depois que o agente aceite o contrato ele escolha um
nvel de esforo x* que maximize a funo utilidade do principal, esta nova restrio
chamada de restrio de compatibilidade de incentivo, como segue:
s(f(x*)) c(x*) s(f(x)) c(x) para todo x.
Resumindo o sistema de incentivo deve prever pelo menos estas duas restries
garantir que o agente aceite entrar no jogo, fornecendo ao agente (trabalhador) uma utilidade
total de e depois mant-lo sob um esforo necessrio de forma que o produto marginal do
esforo se iguale ao custo marginal do esforo no nvel do esforo x*.
2.2 Princpios tributrios
2.2.1 Princpios tericos da tributao
A cobrana de impostos na vida do cidado uma certeza que se tem numa sociedade
moderna. Para se manter mnimas estruturas sociais, polticas e econmicas razovel que
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
30/128
28
parte da riqueza gerada pela populao seja repassada aos cofres pblicos para que a mquina
pblica possa atingir seus objetivos.
Se a cobrana dos impostos uma certeza, as formas, os mtodos e os percentuais
desta cobrana que esto longe de um consenso. Cada pas possui seus mtodos e nveis de
taxao, de acordo com suas necessidades. comum que pases mais liberais como os
Estados Unidos, ou os pases em desenvolvimento, tenham taxas mdicas se comparadas aos
pases escandinavos que possuem cargas superiores a 50% do PIB, sendo grande parte deste
percentual destinado manuteno do sistema previdencirio (AFONSO et al, 1998).
Diversos fatores devem ser levados em considerao quando se estuda o sistema
tributrio de um pas, onde se distingue pelo menos cinco tpicos diferentes (GIAMBIAGI;
ALM, 2000):
1) Funcional refere-se ao percentual que o setor privado disponibilizar para os
salrios em relao aos lucros;
2) Pessoal refere-se distribuio da renda entre a populao;
3) Regional refere-se forma de distribuio entre as regies do pas;
4) O corte Governo versus Setor Privado refere-se ao percentual apropriado pelo
Governo;
5) Corte federativo refere-se como o governo deve repartir sua renda entre a unio,
estados e municpios, o que um complemento da questo regional.Percebe-se a dificuldade de satisfazer a todos os participantes do sistema. O ideal seria
atingir um timo de Pareto (GIAMBIAGI; ALM, 2000), ou seja, atingir um ponto em que
houvesse um equilbrio entre os benefcios e os prejuzos, de forma que no houvesse nenhum
outro ponto atingvel do sistema melhor que o atingido. Outra questo que deve ser analisada
que o sistema tributrio algo determinante na competitividade de setores produtivos, alm
de ser uma ferramenta para redistribuio de renda.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
31/128
29
O conceito de equidade fiscal busca seguir, basicamente, trs princpios como forma
de garantir um sistema tributrio justo sua renda, gerada graas tanto a proteo do Estado,
quanto pelos benefcios que o Estado coloca sua disposio. Tambm colocado que os
mais ricos devem pagar mais impostos que os mais pobres. Assim pode-se dizer que a
equidade fiscal construda em cima de trs princpios basilares o benefcio, a capacidade e a
progressividade (CASTRO, 2000).
O princpio do benefcio baseia-se na cobrana por parte do Estado ao cidado que de
alguma maneira faz uso de seus servios, presumivelmente cobrados de acordo com os
benefcios individuais direta e indiretamente recebidos, conforme Castro (2000).
O princpio do benefcio pode dar margem a diversas interpretaes distintas, a seguir
(CASTRO, 2000):
Benefcio Total: Onde o contribuinte deveria pagar o equivalente aos benefcios
totais recebidos dos gastos pblicos. Analisar os tributos desta forma o mesmo que pensar
que na iniciativa privada o comerciante venderia seu produto pelo preo de custo, o que uma
incongruncia. Os benefcios totais do setor pblico so sempre maiores que os custos desses
servios.
Benefcios proporcionais: Tem em vista que as contribuies devem ser
distribudas proporcionalmente ao benefcio total recebido, em suma, o excedente do
contribuinte deve ser distribudo de forma equivalente entre as demais contribuies.
Benefcios Marginais: Mais adequada do ponto de vista analtico, baseia-se no fato
que os impostos devam ser distribudos com base nos benefcios marginais ou incrementos
recebidos. O contribuinte deve pagar um imposto equivalente a sua avaliao da utilidade
marginal do servio pblico a ele prestado.
Operacionalizao do Princpio do Benefcio: Apesar da viabilidade lgica, o
princpio do benefcio tem sua operacionalizao dificultada, pois a produo pblica no est
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
32/128
30
sujeita a lei do preo. Servios como justia, segurana, despoluio, sade pblica, so bens
indivisveis, de acesso livre e no existem formas possveis de aferir seu uso pela quantidade
ou pelo ndice de utilidade desfrutada. Outros fatores devem ser questionados, quanto forma
de cobrar os impostos. Nveis de renda e necessidade do servio tm de ser levados em
considerao.
A questo da operacionalizao dos tributos apenas pelo princpio do benefcio leva a
um conflito, pois se todos devem pagar pelos benefcios gerados pelo gasto pblico
independente de sua condio social nunca teramos uma ao redistributiva, tributria e de
gastos. Da mesma forma, os governos no poderiam utilizar polticas tributrias para a
estabilizao da economia atravs da gerao de supervits oramentrios (CASTRO, 2000).
O princpio da capacidade de pagamento leva em considerao a proporo de sua
capacidade de pagar os tributos, sem levar em considerao a efetiva utilizao dos servios
prestados pelo Estado.
Um indicador bastante utilizado para se determinar a base de clculo do imposto a
renda do contribuinte, devendo antes ser abatido alguns gastos necessrios a unidade familiar,
pois gastos realizados nestes nveis no atestam capacidade de pagamento. Outro indicador
importante o grau de riqueza do cidado, visto que, a princpio, quem tivesse um conjunto
de ativos substancial teria mais capacidade de pagar impostos que os no-proprietrios. Este
tipo de indicador pode ocasionar diversas distores, como no caso dos idosos, cujos ativosacumulados no representam sua renda atual. Tambm pode-se tributar sobre os gastos de
consumo, j que o consumo uma funo estvel da renda, onde renda igual a consumo
mais poupana, sendo a poupana considerada na categoria riqueza. Conclui-se que
qualquer que seja o imposto ele poder incidir sobre pelo menos um destes indicadores, renda,
riqueza ou consumo (CASTRO, 2000).
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
33/128
31
O princpio da capacidade de pagamento est bastante relacionado ao de equidade
fiscal, pois sugere que cada indivduo deve arcar com cargas fiscais que representem igual
sacrifcio de bem-estar. Sendo esta equidade entendida de duas formas, conforme Castro
(2000, p. 156):
A equidade horizontal um dos princpios ortodoxos da tributao exigeque se d igual tratamento para iguais. Os contribuintes com a mesmacapacidade de pagamento devem arcar com o mesmo nus fiscal. (...) Aequidade vertical exige que seja dado desigual tratamento para desiguais.Normalmente isto significa que os cidados com maior renda devam pagarmais impostos que os com menor renda.
Estes princpios de equidade tm caractersticas distintas, a crena que todos devempagar o mesmo percentual de impostos decorre de um julgamento tico, enquanto os que
defendem tributar mais os ricos acreditam que a renda sujeita a lei da utilidade marginal
decrescente e que as utilidades podem ser comparadas, mas que no pode der provada como
verdadeira (CASTRO,2000).
Deve ser levado em considerao a forma de financiar os gastos pblicos, analisando
aspectos como a rentabilidade, pois, a base tributria deve garantir ao Governo os recursos
compatveis com seus gastos; a elasticidade, pois o nvel de cobrana deve crescer juntamente
com os gastos do Governo; a economicidade, quanto ao custeio da mquina pblica
responsvel pela arrecadao dos tributos; e pela simplicidade das regras de tributao, como
forma de minimizar a rejeio social aos tributos (CASTRO, 2000).
Segundo Castro (2000) os modernos sistemas fiscais consagram a progressividade na
tributao que prev que os impostos devam evoluir mais acentuadamente que a renda. Entre
as principais teorias que procuram justificar este modelo temos a o mnimo sacrifcio
agregado, esta hiptese sugere que os contribuintes arquem com decrscimos marginais
iguais na utilidade de sua renda, buscando-se minimizar o sacrifcio combinado (agregado)
dos contribuintes.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
34/128
32
2.2.2 Espcies de tributos
Seguindo a definio do Cdigo Tributrio Nacional (CTN), Lei 5.172/66, art.3,
Tributo pode ser definido como:
O tributo toda prestao pecuniria compulsria, em moeda ou cujo valornela se possa exprimir, que no constitua sano por ato ilcito, instituda emlei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada(BRASIL, 1996, p.24).
Apesar de algumas divergncias quanto s espcies de tributos, a maioria dos
estudiosos reconhecem as seguintes espcies: impostos, taxas, contribuies de melhorias,
contribuies parafiscais, contribuies sociais, emprstimos compulsrios (CASTRO, 2000).
O imposto um tributo cobrado de forma genrica, ou seja, independe de um servio
ou de atividade especfica do Poder Pblico em relao ao contribuinte.
O imposto simplesmente exigido, sem contraprestao e sem indicaoprvia sobre sua destinao. A aplicao posterior ser para custeio daadministrao, e para servios em benefcio de toda a comunidade, em geral,como ocorre, por exemplo, com os servios de sade pblica, sem
destinatrio especfico. (FHRER; FHRER, 1998, p.28).
Diferentemente dos Impostos, a Taxa uma espcie de tributo que tem uma
contrapartida especfica por parte do Governo a um beneficirio identificado ou identificvel.
As taxas podem ser cobradas por servios efetivos ou potenciais, sendo considerado potencial
o servio posto disposio, mesmo no sendo utilizado, podendo tambm estar relacionado
ao Poder de Polcia do Estado, que abrange licenciamentos e fiscalizaes em geral
(FHRER; FHRER, 1998).
As taxas podem ser cobradas por qualquer Pessoa de direito Pblico de forma comum
ou cumulativa, desde que prestem as referidas atividades, nas situaes descritas pela
Constituio Federal e em suas normas gerais (CASTRO, 2000).
A Contribuio de Melhoria uma espcie de tributo que decorre da valorizao de
um bem privado em decorrncia de obras pblicas devendo o imposto ser cobrado pela Unio,
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
35/128
33
pelos Estados, pelo distrito Federal ou pelos municpios no mbito de suas atribuies, para
fazer face ao custo da obra pblica, tendo como limite total a despesa realizada e como limite
individual o valor valorizado sobre o imvel beneficiado (CTN, art.81). Apesar de sua
previso a Contribuio de melhoria continua utpica (CASTRO, 2000).
O Emprstimo Compulsrio uma espcie de tributo prevista pela constituio no art.
148, que prev que a Unio poder instituir emprstimos compulsrios para atender despesas
extraordinrias, decorrentes de calamidade pblica, de guerra externa ou sua iminncia e no
caso de investimento pblico de carter urgente e de relevante interesse nacional (CASTRO,
2000). O emprstimo compulsrio distingue-se de outros impostos pela promessa de
restituio, seria uma espcie de contrato, embora ditado ou coativo (FHRER; FHRER,
1998).
Contribuies, espcie de tributo que se distingue das demais por no ter os cofres
pblicos como seu destino final. So contribuies paralelas s do Fisco. No art. 149 da
constituio as contribuies so previstas como competncia exclusiva da Unio de instituir
contribuies sociais, de interveno no domnio econmico e de interesse das categorias
profissionais ou econmicas (CASTRO, 2000). As contribuies devem ter destinao certa,
prevista pela lei que a instituiu. A Unio a nica competente para instituir contribuies de
cunho social, excetuando o caso dos Estados, Distrito Federal e Municpios que podem cobrar
de seus servidores o custeio de sistemas previdencirios e assistncia social prprio(CASTRO, 2000). Segundo Ruy Barbosa Nogueira (apud FHRER; FHRER, 1998), as leis
referentes s contribuies no comportam uma sistematizao.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
36/128
34
2.2.3 Tipos de tributos
Basicamente pode-se distinguir os impostos sob dois aspectos, quanto ao sistema de
cobrana que divide-se em sistema progressivo, sistema regressivo e sistema neutro ou
proporcional, e pode-se distingui-lo, tambm, quanto incidncia tributaria, que pode ser
direta ou indireta, impactando assim na forma como as pessoas e organizaes transferem
suas cargas tributrias para outros (CASTRO, 2000).
Diz-se que um sistema tributrio progressivo quando se aplicam maiores percentuais
de imposto, progressivamente as classes mais altas. De maneira inversa, o sistema regressivo
taxa mais fortemente as classes mais pobres da populao e o sistema neutro ou proporcional
caracteriza-se por impor uma nica alquota de imposto independente do nvel de renda dos
contribuintes (CASTRO, 2000).
Os impostos podem incidir de vrias formas sobre os contribuintes, quando esta
incidncia afeta a renda e a riqueza, denomina-se impostos diretos; de outra forma quando os
impostos incidem sobre as transaes comerciais, denominam-se indiretos. No caso especfico
dos impostos indiretos aplica-se o fenmeno da transferncia da carga tributria. Este
processo pode se tornar bastante complexo, dependendo da quantidade de transaes e do
nmero de impostos que incidem sobre determinada atividade. A transferncia pode se dar
em duas direes, para frente, quando o imposto empurrado para o consumidor final que
assume o nus do imposto ou pode ter o movimento para traz, que traduz-se por um menor
preo aos fatores de produo, ou seja, atingem primeiro os fornecedores e depois os
empregados e demais fatores por eles contratados (CASTRO, 2000).
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
37/128
35
2.3 Sistema tributrio brasileiro
O sistema tributrio brasileiro est longe de ser considerado um timo de Pareto,todavia, no tem sido fcil encontrar um caminho capaz de melhorar a situao de algum
sem piorar a de outros.
Mesmo com a estabilizao da economia aps o Plano Real que proporcionou um
considervel aumento da receita pblica, o Estado no tem se mostrado capaz de diminuir as
carncias sociais do pas e de sua frgil situao fiscal. Da, a necessidade de empreender uma
reforma tributria nacional que possibilite uma melhor distribuio de renda entre os
contribuintes e que vislumbre uma harmonizao fiscal requerida pelo contexto internacional
(AFONSO et al, 1998).
Para melhor entender-se o complexo sistema tributrio brasileiro preciso rever um
pouco da histria, para que se possa melhor acompanhar a evoluo deste tema.
2.3.1 Contexto histrico da tributao no Brasil1
Pas tipicamente agrcola o Brasil depois da proclamao da Republica, em 1889,
manteve praticamente o mesmo sistema tributrio vigente na poca do Imprio. Nesta poca,
o sistema tributrio brasileiro baseava-se principalmente sobre as exportaes e importaes.
As primeiras mudanas ocorreram com a Constituio de 24/02/1891 que estipulou
um regime de separao de fontes tributrias, discriminando os impostos de competncia
exclusiva da Unio e dos Estados. Alm da diviso dos impostos, tanto a Unio como os
Estados receberam poder para criar outras receitas tributrias. O imposto de importao
manteve-se como a principal fonte de receita da Unio.
A Constituio de 1934 trouxe diversas modificaes principalmente na esfera dos
Estados e Municpios. Os impostos internos sobre produtos passaram a predominar, enquanto
1 Esta seo foi toda baseada na obra de Giambiagi e Alm, Finanas Pblicas: Teoria e prtica no Brasil.Rio de Janeiro: Campus, 2 ed., 2000.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
38/128
36
se proibia a tributao de exportaes em transaes interestaduais e limitava-se, a alquota
deste imposto a um mximo de 10%. No nvel Federal o imposto de importao permaneceu
como principal fonte de recurso at o fim da dcada de trinta.
Com a constituio de 1946 os municpios conquistaram mais espao na distribuio
dos recursos, primeiro com a criao de dois novos impostos, o imposto do selo municipal e o
imposto de indstrias e profisses. Depois, com a institucionalizao de um sistema de
transferncia de impostos que atribuiu aos municpios 10% da arrecadao do imposto de
consumo e em 15% da arrecadao do imposto de renda. Neste perodo cresceu a importncia
relativa dos impostos internos sobre produtos. Em 1956 foi criado um imposto sobre o
consumo que chegou a representar, no incio dos anos 60, 40% da receita total da Unio,
estados e municpios.
Diante de diversos problemas de dficit fiscal e da necessidade de estruturar o sistema
tributrio para apoiar e estimular o crescimento econmico foi realizada uma reforma a partir
do ano de 1960, que foi considerada por Giambiagi e Alm (2000, p.242) como:
...um sistema tributrio inovador, do ponto de vista administrativo e tcnico,dotado de potencial para interferir na alocao de recursos da economia eamplamente conectado s metas de poltica econmica traadas em nvelnacional.
Com a reforma houve uma racionalizao do sistema tributrio com a reduo do
nmero e reformulao dos tributos e sobretudo, a fundamentao dos fatos geradores e
conceitos econmicos que evitava a sobreposio de impostos e entraves produo e
comercializao dos bens.
Foram criados dois novos impostos, o imposto sobre produtos industrializados (IPI) e
o imposto sobre circulao de mercadorias (ICM), que posteriormente seria transformado no
imposto sobre circulao de mercadorias e servios (ICMS). Os novos impostos tm a
vantagem de no atuarem de forma cumulativa em cascata, ao contrrio dos anteriores que
oneravam as vendas e consignaes na esfera estadual e o consumo na esfera federal.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
39/128
37
O ICM foi criado como um imposto de alquota uniforme, de forma a no interferir na
alocao de recursos e investimentos, favorecendo a desonerao das exportaes e
dificultando o conflito entre os estados. J o IPI possua alquotas diferenciadas que eram
estabelecidas sob critrios inversos a essencialidade dos bens, caracterizando o imposto como
uma ferramenta de poltica econmica e social.
Mesmo considerado um sistema tributrio inovador para poca a reforma tributria
pecou quanto falta de equidade e o alto grau de centralizao. Com as novas mudanas a
carga tributria chegou a alcanar 25% do PIB, mantendo-se neste nvel at a dcada de 80.
Em 1988, a promulgao da Constituio de 1988 marcou a busca pelo fortalecimento
da Federao aumentando o grau de autonomia fiscal dos estados e municpios e
descentralizando os recursos tributrios disponveis. Na prtica, a constituio atribuiu
competncia a cada estado de fixar as alquotas de seu principal imposto o ICMS e tirou da
Unio o direito de conceder isenes de impostos estaduais e municipais, alm de impedir a
Unio de impor condies ao repasse de recursos distribudos s unidades subordinadas.
Estas modificaes trouxeram para Unio um agravamento de seu desequilbrio fiscal
e financeiro, o que a fez utilizar de meios menos eficientes de tributao, mas que no
estavam vinculados partilha com estados e municpios. Apesar do esforo da Unio em
manter seu nvel de arrecadao, a m qualidade do sistema tributrio criado acabou no
resolvendo os problemas do dficit fiscal.
2.3.2 Receita tributria brasileira
De maneira geral evoluo da carga tributria brasileira tem demonstrado uma leve
tendncia de crescimento nos ltimos 50 anos, com exceo de dois perodos nos anos de
1967/69 e 1994/96 em decorrncia da reforma tributaria da dcada de 60 e pela estabilizao
da moeda promovida pelo Plano Real em 1994.
Na dcada de 60 as principais modificaes foram:
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
40/128
38
Adotou-se a tributao sobre o valor adicionado tanto para o principalimposto estadual como para o imposto federal sobre produtosindustrializados, reduziu-se drasticamente a tributao cumulativa ereformulou-se o Imposto de Renda (AFONSO et al, 1998, p.4).
Com a melhor a eficincia do sistema tributrio e a melhoria na qualidade da
administrao fazendria, o Estado alcanou a marca de arrecadao de 25% do PIB,
mantendo este patamar at o comeo dos anos 90. Somente com a estabilizao da economia
em 1994 a carga tributria volta a crescer atingindo aproximadamente 29% do PIB.
Segue abaixo na Tabela 1(2), a evoluo da carga tributria em que os tributos so
distribudos entre as principais bases de incidncia e na segunda os tributos so classificados
em diretos e indiretos.
Tabela 1 (2) - Carga Tributria por grupamento de tributos 1980/96 (Em % da receita tributria).NATUREZA DA RECEITA 1980 1985 1990 1991 1992 1993 1994 1995a 1996b
Tributos s/o Comrcio Exterior 2,85 1,66 1,35 1,65 1,59 1,74 1,75 2,58 1,87
Tributos s/os Bens e Servios 43,55 38,23 49,06 49,96 47,61 47,74 51,83 46,81 45,94
Cumulativos 10,90 5,70 10,89 12,11 9,97 11,46 17,20 13,11 13,16
Outros 32,65 32,53 38,17 37,85 37,64 36,28 34,64 33,70 32,78
Tributos sobre o Patrimnio 1,09 0,71 0,96 2,12 1,43 1,04 1,33 2,70 3,06
Tributos sobre a Renda 12,28 21,31 19,72 16,54 19,65 18,00 16,12 19,33 17,79
Tributos sobre a Mo-de-Obra 30,32 29,84 25,38 24,06 25,16 26,90 24,58 24,41 26,58
Demais 9,91 8,25 3,54 5,67 4,57 4,58 4,39 4,16 4,76
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Diretos 46,78 54,00 45,40 44,05 45,32 45,98 43,78 45,34 47,10
Indiretos 53,22 46,00 54,60 55,95 54,68 54,02 56,22 54,66 52,90
Fontes Primrias: IBGE e FGV (Adaptado de Afonso et all, 1998, p.5).aValores preliminaresbValores estimados
Quando se agrupam os tributos por bases de incidncia, a carga tributria mostra-se
desequilibrada sofrendo os bens e servios uma tributao desproporcional em relao
arrecadao total. Este aumento percebido a partir dos anos 90 principalmente pelo aumento
da arrecadao de impostos cumulativo. Na dcada de 90 percebe-se ainda o aumento dos
impostos indiretos. (AFONSO et al, 1998).
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
41/128
39
Pode-se observar dados mais recentes na Tabela 2(2), onde percebe-se que o aumento
da carga tributria permanece com tendncia de crescimento, principalmente na esfera federal.
Tabela 2 (2) - Carga Tributria Brasileira 2001/2005 (em % PIB).Ano 2001 2002 2003 2004 2005
Unio 23,47 24,92 24,24 25,00 26,18Estados 9,02 9,19 9,14 9,36 9,62Municpios 1,53 1,50 1,53 1,52 1,57Total 34,01 35,61 34,92 35,88 37,37Fontes: Adaptado Receita Federal (2006).
Apesar da grande quantidade de tributos previstos na legislao brasileira, o ICMS, a
Contribuio para Previdncia Social, o IR, o COFINS, a CPMF, o FGTS, o PIS, o IPI a
CSLL so os principais impostos de arrecadao, chagando a 85% do total se for analisado o
ano de 2005, ver Figura 1(2).
ICMS; 21%
PIS; 3%
IR; 18%
PREVIDNCIA; 15%
CSLL; 3%
COFINS; 12%
IPI; 4%
OUTROS; 15%
FGTS; 4%
CPMF; 4%
Figura 1 (2) - Distribuio da carga tributria global (Ano 2006).
Fonte: Adaptada de Receita Federal (2006).
Um detalhe que o Brasil o nico pas do mundo que tem seu tributo de maior
renda, o ICMS, sob a responsabilidade dos estados, o que dificulta a harmonizao do
Sistema Tributrio Nacional, propiciando falhas e "guerras-fiscais", que prejudicam as
finanas Pblicas.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
42/128
40
2.4 Integrao entre o referencial terico e o problema
Esta seo tem o propsito de trazer tona modelos sob o arcabouo da teoria doprincipal-agente que nos dem base para a formulao de um modelo que possa representar de
forma satisfatria umframeworkde integrao da fundamentao terica.
A relao entre governo e contribuinte tem sido estudada por diversos autores,
principalmente sobre o problema da evaso fiscal. A maioria dos estudos foram realizados
luz da teoria do principal-agente em que o governo (principal) tem por objetivo prover os
incentivos para que os contribuintes (agentes) no soneguem impostos.
Outro ponto chave nesta relao, entre governo e contribuinte, a questo da guerra
fiscal entre os diversos estados da federao brasileira, onde cada estado em busca de
aumentar a arrecadao de impostos ou mesmo de fomentar a economia local tm buscado
atravs de polticas fiscais e de infra-estrutura incentivar empresrios a implantar suas
empresas em seus territrios.
2.4.1 O problema da evaso fiscal
Em 1972 Allinghan e Sandmo j estudavam o problema da evaso fiscal. Em seu
trabalho os autores desenvolveram um modelo em que o contribuinte teria duas estratgias
bsicas, declarar rendimentos totais ou declarar menos do que os rendimentos totais, ou seja,
sonegar imposto. Estaria a recompensa do agente diretamente relacionada ao fato do agente
ser ou no auditado.
Sandmo aperfeioou o modelo de forma a destacar o valor evadido e no o valor
reportado (SANDMO, 2005), com a recompensa do sonegador baseado em sua renda final:
Y = W-t(W-E) = (1-t)W+tE
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
43/128
41
Onde, Y se refere renda do sonegador, t a taxa do imposto, W sua renda bruta e E o
montante evadido que a varivel de deciso do sonegador. Acrescenta-se ao modelo, a
possibilidade do sonegador ser descoberto, e ento ter que pagar uma multa ou penalidade
representada no modelo por . A recompensa do sonegador passa a ser:
Z = (1-t)W+tE-E = (1-t)W-(-t)E. onde, > 1.
Segundo o modelo ainda necessrio considerar a probabilidade subjetiva de deteco
p (probabilidade, atribuda pelo agente de ser auditado), levando em considerao a
racionalidade do agente ele escolheria um valor de sonegao que maximizaria sua utilidade
esperada, conforme a relao abaixo:
V = (1-p)U(Y) + pU(Z)
Tem-se ento a funo utilidade esperada que leva em considerao a probabilidade de
ocorrncia de um evento, dado que um dos pressupostos do modelo que o contribuinte
avesso ao risco, as utilidades acima so cncavas e crescentes. Assim a condio de primeira
ordem da utilidade esperada em V = (1-p)U(Y) + pU(Z) seria representada por:
U(Z)/U(Y) = (1-p)t/p(-t).
Desta forma o modelo contribui para concluses que tanto o aumento de p
(probabilidade de o agente ser auditado) como o aumento de (multa), diminui o montante
evadido E.
Assim a condio para que o comportamento de evaso seja timo que o montanteesperado de evaso, dado pela ponderao entre probabilidade de deteco e multa pela
evaso, seja menor que o imposto devido.
p
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
44/128
42
que as empresas acreditam que existe de a sonegao ser efetivamentepunida () (BEZERRA; DIAS; FONTES, 2005, p. 251).
Sendo que os autores nos trazem novos insightssobre a reputao do governo quanto
cobrana e efetividade das punies s empresas inadimplentes. O governo deve evitar aes
como perdo de dvidas, anistias, renegociaes a fundo perdido, pois apesar dos resultados a
curto prazo com a incluso de contribuintes que estavam sem recolher impostos, no longo
prazo as empresas passam a perceber o risco num patamar inferior. (Bezerra, Dias e Fonte,
2005, p. 251).
Outra questo sobre a funo utilidade das empresas que o modelo de Sandmo se
limita ao consumo privado do contribuinte (ou lucro, no caso de empresas), no levando em
considerao o retorno com os bens e servios gerados pelo sistema tributrio (COWELL,
2003).
Tambm foi deixado em segundo plano pelo modelo de Sandmo o papel do
monitoramento do principal, este aspecto foi levantado nos estudos de Reinganum e Wilde
(1985) que argumentam que o modelo ignora a possibilidade de que o montante reportado ao
governo poderia servir como parmetro para iniciar aes de auditoria. Assim sugerem que a
probabilidade de deteco pode ser determinada pelo contribuinte, alm de indiretamente
destacar a importncia do papel nas regras e da tecnologia de deteco adotada pelo principal.
Ao modelo pode-se ainda acrescentar os custos do agente em evadir o imposto,
conforme Cowell (2003), que prope a incluso de uma varivel custo de ocultao que se
refere as despesas que uma empresa incorreria em manter uma estrutura paralela com o
objetivo de sonegar impostos. Desta forma, o entendimento dos determinantes deste custo
fundamental para a compreenso do fenmeno da evaso fiscal, assim como a formulao de
incentivos que podem ser aplicados pelo governo (COWELL, 2003).
Esta varivel de ocultao deve ser determinada por pelo menos quatro fatores(COWELL, 2003):
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
45/128
43
1. A natureza do produto: quanto mais visvel for o produto, tanto maior o custo
de ocultar a tributao incidente;
2. O tamanho da estrutura organizacional da empresa: quanto mais complexa a
organizao, tanto maior o custo de ocultao;
3. Reputao e marca da empresa: quanto mais respeitada a marca, maiores os
riscos de se expor a empresa a uma atividade ilegal;
4. O grau de concentrao da indstria ou estrutura de mercado: quanto maior o
nmero de empresas semelhantes mais reduzidos os custos do governo para
monitorar eventuais desvios das normas tributrias.
2.4.2 Incentivos fiscais
Expresso recorrente em nosso cotidiano a Guerra Fiscal, caracteriza-se
pelos benefcios fiscais e financeiros que so concedidos pelos governos estaduais e
municipais como atrativo s empresas interessadas em investir em novas atividades
econmicas. Estes benefcios tm se caracterizado por uma concorrncia predatria entre os
estados. A nvel nacional esta concorrncia no apresenta um aumento de investimento e sim
uma relocalizao dentro do territrio brasileiro. (VALENTIM, 2003).
Por outro lado, os governos estaduais cumprindo seu papel procuram colocar os
interesses estaduais acima dos federais na tentativa de alocar mais recursos para sua unidade,
em nome de uma poltica de investimentos e de gerao de empregos, deixando de lado, uma
poltica fiscal estvel que propiciasse o saneamento de suas finanas.
A partir deste luta por investimentos, Gibbons (1992 apud Debaco e Neto, 2000)
formulou um modelo onde o governo fixa o nvel de impostos com o objetivo de maximizar o
bem-estar da populao.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
46/128
44
A funo Yni(i, i, j) expressa a base da arrecadao proveniente de novos
investimentos, que pode ser entendida como a renda por novos investimentos na economia,
onde i so as vantagens competitivas apresentadas por cada estado, ti a alquota do imposto
indireto (ICMS, p.ex.), i= ti-i a alquota efetiva do imposto no estado i e i o valor da
renncia fiscal.
No modelo assume-se que a renda decorrente de novos investimentos no pode
diminuir devido ao aumento nas vantagens competitivas do estado, no pode aumentar como
resultado de um aumento de impostos no prprio estado e no pode diminuir como resultado
de um aumento de impostos em outro estado. Formalmente:
Yni/i0 ; Yni/i0 ; Yni/j0
Ainda leva-se em considerao que as isenes fiscais so concedidas apenas para os
impostos indiretos devidos pelos novos investimentos e que as empresas j instaladas
continuam pagando a alquota anterior, de forma que a riqueza no alterada, pois o modelo
de curto prazo, assim a arrecadao de impostos sobre a propriedade no afetada. Temos a
funo objetivo:
Wi = tiYei+ iYni(i, i, j) + Ti
Onde:
Yei: a parte da renda que depende dos investimentos j existentes
Ti: a arrecadao autnoma do governo, aquela que independe da renda.
Assim a diminuio em ialtera a rentabilidade dos investimentos realizados naquele
estado, de forma que o aumento na rentabilidade atrai novos capitais, os quais geram uma
renda agregada adicional para o estado. necessrio que a funo objetivo seja cncava
(TIROLE, 1996 apud DEBACO; NETO, 2000), ou seja,
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
47/128
45
2Wi*/i2= 2Yni/i+
2Yni/i2< 0
Levando em considerao que existisse apenas um estado disposto a conceder
incentivos fiscais para obteno de novos investimentos, podemos representar a situao pela
seguinte forma funcional para gerao de renda nova:
Yn1= k1[1-c11+c2t2]
Yn2= k2[2-c11+c2t2]
Temos que o oferecido pelo estado 2 para que empresas se instalem em seu territrio
igual a zero e com isto temos 2= T2. Os coeficientes c1e c2refere-se a sensibilidade dos
investimentos cobrana de impostos por parte dos estados. Entre os colchetes temos a
rentabilidade do investimento, e podemos cham-la de .
O problema do estado ento determinar o nvel de renncia tima, determinado o
imposto efetivo, de modo a maximizar sua riqueza Wi. Assim,
12211111111 ][1
TtccKYtWMax e +++=
A alquota efetiva tima definida como sendo:
1m = 1+ c2t2/ 2c1 (condio de equilbrio)
O modelo nos possibilita prever que a renuncia atrai investimentos, tal fato ocorre
porque outro estado no reage, e perde investimentos que, de outra forma seriam realizados
em seu territrio. Substituindo a condio de equilbrio na funo objetiva obtm-se o nvel
mximo de arrecadao que o estado pode obter concedendo incentivos:
1111
1
11
11 ]2
[ Ttc
c
kYtW el
m+
++=
2.4.3 Esquema de integrao da fundamentao terica
Diante da adequao da teoria do principal-agente ao problema da relao conflituosa
entre o governo e as empresas, esta seo prope um esquema conceitual com o objetivo de
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
48/128
46
integrar os aspectos considerados neste referencial terico relacionando-o ao problema dessa
dissertao.
Atravs do esquema montado na figura 2(2) procuramos representar alguns
pressupostos para o problema enfocado nesta dissertao que so racionalidade dos jogadores
e assimetria de informao que por sua vez vo influenciar nas estratgias do governo e nas
estratgias da firma representativa, cujas funes utilidades so interdependentes.
Figura 2(2) Relao Governo e Empresrios para formao do Setor Vincola.Fonte: Elaborao prpria.
No referencial terico procuramos delinear o comportamento de uma firma
representativa que pauta sua reao estimulada pelo lucro, associada a um comportamento
oportunista em detrimento utilidade do estado. Dado este conflito de interesses cabe ao
governo (principal) desenhar mecanismos de incentivos que motivem as empresas a adotarem
as aes desejadas.
Para isto buscamos no arcabouo acadmico temas que fossem capazes de nos guiar
em busca de um raciocnio lgico-cientfico. Comeamos por entender como os tributos
incidem sobre os contribuintes e seu peso para a sociedade com os estudos de Giambiagi e
Alm (2000) e Afonso et all (1998).
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
49/128
47
Utilizamos o modelo de Allinghan e Sandmo (1972) como forma de demonstrar a
maximizao da utilidade da firma pelo lucro, levando sempre em considerao o fato da
evaso fiscal como varivel desta funo. Foram levantados novos insightse novas variveis
sobre o modelo como o custo de ocultao e a proviso de bens pblicos pelo governo
(COWELL, 2003).
E ainda nos preocupamos em demonstrar a funo utilidade do governo, atravs do
modelo de Gibbons (1992) apresentado nos estudos de Debaco e Neto (2000), sobre captao
de novos investimentos atravs de incentivos fiscais capazes de aumentar a utilidade do
governo pelo aumento da arrecadao.
Este referencial nos possibilitar demonstrar que o Governo contribuiu para o setor de
vinhos finos do Vale do So Francisco, mostrando que ele observa as restries de
participao e de compatibilidade de incentivos.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
50/128
48
3 Metodologia
Neste captulo apresentam-se os mtodos, processos e tcnicas utilizados na pesquisa
que pelo seu carter cientfico seguiram um procedimento racional e sistemtico de forma a
proporcionar respostas aos problemas enunciados.
3.1 Tipo de pesquisa
Basicamente, existem duas estratgias distintas para se tratar os problemas de
pesquisa, a qualitativa e a quantitativa.
Conforme Godoy (1995),
(...) a pesquisa qualitativa ocupa um reconhecido lugar entre as vriaspossibilidades de se estudar os fenmenos que envolvem os seres humanos e
suas intrincadas relaes sociais, estabelecidas em diversos ambientes.
Na pesquisa qualitativa um fenmeno pode ser melhor compreendido no contexto em
que ocorre e do qual parte, devendo ser analisado de forma integrada, partindo de questes
amplas que vo se aclarando no decorrer da investigao (GODOY, 1995).
Esta pesquisa possui um carter qualitativo visto que nos permite, de forma geral,
descrever a complexidade de determinado problema e a interao de certas variveis,
compreender e classificar os processos dinmicos vividos por grupos sociais, contribuir no
processo de mudana de dado grupo e possibilita, em maior nvel de profundidade, o
entendimento das particularidades do comportamento dos indivduos (DIEH; TATIM, 2005).
Quanto ao tipo classifica-se esta pesquisa de acordo com a taxonomia apresentada por
Vergara (1997), que as considerou sob dois critrios, quanto aos fins e quanto aos meios.
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
51/128
49
Quanto aos fins a pesquisa busca um carter exploratrio, visto que realizado em
rea de pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Este tipo de pesquisa tem como
objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema de pesquisa, com vistas a torn-lo
mais explcito, servindo inclusive como estudo preliminar ou preparatrio para outros tipos de
pesquisa.
Conforme Tripodi, Felin e Meyer (1975) os estudos exploratrios tm por objetivo
oferecer um quadro de referncias para futuras aplicaes e podem ser classificados em trs
tipos bsicos: estudos que combinam caractersticas de explorao e descrio de um
fenmeno, estudos que usam artifcios especficos para a coleta de dados na busca de idias e
estudos que envolvem a manipulao de variveis independentes na demonstrao da
viabilidade de tcnicas.
Diante do referencial acima, pode-se classificar a presente pesquisa como exploratria,
porque tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a
torn-lo mais explcito, e gerar conhecimento sobre os impactos das polticas pblicas sobre o
desenvolvimento da indstria vincola do So Francisco.
Quanto aos meios o estudo basicamente fundamentar-se- na investigao documental,
que prev a coleta de documentos diversos dos rgos governamentais e dos agentes da
indstria vincola, e pela pesquisa bibliogrfica caracterizada pelo estudo sistematizado de
material publicado sobre o assunto, inclusive como forma de dar suporte terico-metodolgico. (VERGARA, 1997).
Em uma pesquisa exploratria, existem vrias tcnicas que podem ser adotadas. Dada
a sua natureza, este estudo foi dividido em duas etapas, que se complementam: uma
denominada fase preparatria, para a obteno de dados e informaes de fontes secundrias e
de especialistas; e outra, destinada a formulao de modelos de exemplificao a fim de
7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco
52/128
50
representar as situaes suscitadas no problema de pesquisa relacionadas teoria do principal-
agente.
3.2 Fase preparatria
Primeiro passo para execuo desta dissertao foi definir a estratgia de pesquisa