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A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E PREVENÇÃO DE ERROS E FRAUDES Gizieli Pinheiro da Silveira 1 Manoel dos Santos e Silva 2 RESUMO Este artigo tem como objetivo geral a relevância da auditoria interna na identificação e prevenção de erros e fraudes. Nele é feita uma descrição documental do papel da auditoria interna nos processos decisórios, preventivos e de controle de erros e fraudes nas empresas, apoiada pelos seguintes objetivos específicos: a definição dos termos temáticos, especialmente fraude e erro; a distinção entre auditoria externa e interna; a caracterização normatizada de fraude e erro e uma análise da NBC TI 01 por sua pertinência ao tema. A metodologia para coleta de informações de caráter documental secundário foi feita através de pesquisa bibliográfica em livros impressos e hipertextos. O artigo discute a dificuldade de detectar fraudes e de diferenciá-las de erros em determinados contextos apesar do rigor aplicado nos procedimentos da Auditoria Interna. A análise dos dados coletados apresenta um quadro preocupante em relação às fraudes no ambiente empresarial, reforçando a relevância da auditoria interna como meio de prevenção e verificação dos sistemas de controle da empresa. Palavras-chave: Auditoria Interna, Fraudes, Erros, NBC TI 01. ABSTRACT The main objective of this paper is the relevance of internal auditing for the identification and prevention of errors and fraud. It shows a documental description of the role of internal auditing in decision making process as well as in prevention and control of errors and fraud in companies, supported by the following specific objectives: the definition of thematic terms, such as fraud and error; the distinction between external and internal audit; the legal characterization of fraud and error and an analysis of the NBC T1 01, due to its relevance to the theme. The methodology for gathering secondary document information was done through bibliographic research on literature in printed books as well as in hypertexts. This paper discusses the difficulty in detecting fraud and differentiating it from errors in certain contexts despite the rigor applied in the procedures of Internal Audit. The analysis of the collected data presents a disturbing scenario in relation to fraud in the business environment, thus enhancing the relevance of internal auditing as a means of prevention and verification of the control systems at work in the company. Keywords: Internal Audit, Fraud, Errors, NBC TI 01. 1 Gizieli Pinheiro da Silveira Bacharel em Ciências Contábeis, Universidade de Cuiabá UNIC 2 Professor Manoel dos Santos e Silva Profº Adjunto II, Mestre em Contabilidade, Universidade Federal de Mato Grosso UFMT

A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

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Page 1: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

PREVENÇÃO DE ERROS E FRAUDES

Gizieli Pinheiro da Silveira1

Manoel dos Santos e Silva2

RESUMO

Este artigo tem como objetivo geral a relevância da auditoria interna na identificação e

prevenção de erros e fraudes. Nele é feita uma descrição documental do papel da auditoria

interna nos processos decisórios, preventivos e de controle de erros e fraudes nas empresas,

apoiada pelos seguintes objetivos específicos: a definição dos termos temáticos,

especialmente fraude e erro; a distinção entre auditoria externa e interna; a caracterização

normatizada de fraude e erro e uma análise da NBC TI 01 por sua pertinência ao tema. A

metodologia para coleta de informações de caráter documental secundário foi feita através de

pesquisa bibliográfica em livros impressos e hipertextos. O artigo discute a dificuldade de

detectar fraudes e de diferenciá-las de erros em determinados contextos apesar do rigor

aplicado nos procedimentos da Auditoria Interna. A análise dos dados coletados apresenta um

quadro preocupante em relação às fraudes no ambiente empresarial, reforçando a relevância

da auditoria interna como meio de prevenção e verificação dos sistemas de controle da

empresa.

Palavras-chave: Auditoria Interna, Fraudes, Erros, NBC TI 01.

ABSTRACT

The main objective of this paper is the relevance of internal auditing for the identification and

prevention of errors and fraud. It shows a documental description of the role of internal

auditing in decision making process as well as in prevention and control of errors and fraud in

companies, supported by the following specific objectives: the definition of thematic terms,

such as fraud and error; the distinction between external and internal audit; the legal

characterization of fraud and error and an analysis of the NBC T1 01, due to its relevance to

the theme. The methodology for gathering secondary document information was done through

bibliographic research on literature in printed books as well as in hypertexts. This paper

discusses the difficulty in detecting fraud and differentiating it from errors in certain contexts

despite the rigor applied in the procedures of Internal Audit. The analysis of the collected data

presents a disturbing scenario in relation to fraud in the business environment, thus enhancing

the relevance of internal auditing as a means of prevention and verification of the control

systems at work in the company.

Keywords: Internal Audit, Fraud, Errors, NBC TI 01.

1 Gizieli Pinheiro da Silveira

Bacharel em Ciências Contábeis, Universidade de Cuiabá – UNIC 2 Professor Manoel dos Santos e Silva

Profº Adjunto II, Mestre em Contabilidade, Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT

Page 2: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

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1 INTRODUÇÃO

A auditoria interna é um dos mecanismos mais importantes para controles

administrativos. A inexistência de controles dentro das organizações resulta na exposição a

erros e riscos incalculáveis para as empresas. A prevenção de erros e fraudes exige auditorias

internas que garantam o controle necessário para que se mantenha a lucratividade da empresa

e a qualidade de seus serviços, seja ela com ou sem fins lucrativos.

A necessidade das empresas investirem em recursos tecnológicos na tentativa de

melhorar o processamento de seus produtos, para conseqüentemente ganhar escala e se tornar

mais competitivas, fazem com que tais empresas sejam obrigadas a absorver um enorme

volume de recursos. Porém, tais estratégias requerem um controle administrativo eficiente

para auxiliar a alta administração das companhias, tanto na geração de informações para

subsidiar a tomada de decisão, como para atuar na prevenção e controle de erros e fraudes que

possam ocorrer nas empresas.

Um problema recorrente é que erros e fraudes podem acontecer em qualquer ambiente

da empresa. No entanto, alguns setores têm maior probabilidade de se tornar alvo desses

eventos. Sabendo disso, a Auditoria Interna dispensa uma maior atenção a esses setores, um

acompanhamento mais constante, verificando, analisando e realizando todos os controles. Isso

é feito no setor financeiro, por exemplo, que compreende caixa, bancos contas a pagar e a

receber, ou no setor de almoxarifado, onde se faz necessário que haja mais atenção quanto a

ajustes e diferenças de contagens. O mesmo ocorre no setor de vendas, onde é preciso haver

atenção especial quanto a descontos concedidos, prazos e créditos diferentes dos usualmente

praticados na empresa.

A fim de descrever o papel da Auditoria Interna nos processos decisórios e

preventivos nas empresas, o objetivo geral deste artigo é demonstrar a relevância da auditoria

interna na identificação e prevenção de erros e fraudes. Para isso foi estabelecido como

suporte os seguintes objetivos específicos: definir os termos temáticos utilizados neste

trabalho; distinguir auditoria externa de auditoria interna; verificar a caracterização

normatizada de fraude e erro e analisar detalhadamente a NBC T1 01 por sua pertinência ao

tema.

A metodologia utilizada na produção desse artigo baseou-se em pesquisa bibliográfica

em livros impressos ou digitais, escritos por autoridades nas áreas afins que lidam com o tema

do artigo, a relevância da auditoria interna na identificação e prevenção de erros e fraudes,

cuja pertinência seja evidente na discussão dos tópicos deste artigo. A pesquisa também

utilizou outras fontes secundárias, tais como websites oficiais de entidades públicas ou

privadas, de caráter informativo ou educacional, visando os objetivos propostos neste artigo,

considerando, como afirma LAKATO & MARCONI (2003, p. 183), que a pesquisa

bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, pelo

contrário, a partir dela é feito o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, o qual

pode chegar a conclusões inovadoras.

2 AUDITORIA INTERNA E PREVENÇÃO DE ERROS E FRAUDES

Segundo publicação do Professor Alexandre Alcântara (2015) em seu website

(http://www.alcantara.pro.br), há rumores entre as firmas de auditoria de que a

regulamentação da Lei 12.846, que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de

Page 3: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

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pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira,

conhecida como lei anticorrupção, juntamente com a deflagração da Operação Lava Jato, em

2014, fez aumentar a demanda por auditorias antifraudes. Segundo ele, a KPMG Brasil tem

um departamento com mais de 100 pessoas dedicadas a esse assunto. Na Ernst & Young,

onde Alcântara foi Auditor Assistente, a procura também tem aumentado, somando 140

pessoas na equipe de trabalho.

Mais recentemente, a publicação do Decreto Federal 8.420, em 18 de março de 2015,

aumentou a preocupação de muitas empresas, visto que esse decreto regulamenta a Lei

12.846, detalhando a responsabilidade das empresas em fraudes. De acordo com Alcântara

(2015), estudos mostram que dentre os diversos tipos de fraude, o que mais causou prejuízo às

empresas em 2014 foi o de fraude contábil. Um executivo da Ernst & Young afirma no

website do Professor Alcântara que há estudos mostrando que entre 7% a 10% dos

funcionários estão em uma empresa para cometer fraude. Tendo isso em vista, fica evidente a

seriedade dos problemas que a auditoria tem de investigar, identificar e para os quais precisa

fornecer meios de prevenção.

2.1 AUDITORIAS: INTERNA E EXTERNA

A fim de demonstrar a relevância da Auditoria Interna na identificação e prevenção de

erros e fraudes, faz-se necessária a definição do termo e sua distinção da Auditoria Externa.

CREPALDI (2000, p. 25) propõe uma definição nos seguintes termos:

“De forma bastante simples pode-se definir auditoria como o

levantamento, o estudo e avaliação sistemática das transações,

procedimentos, operações, rotinas e das demonstrações financeiras de

uma entidade”. (CREPALDI, 2000, p.25)

Há varia tipos de auditorias específicas, conforme seja o objetivo da instituição e o

campo específico em que a auditoria será feita. Uma lista não exaustiva pode incluir: auditoria

ambiental, auditoria de circulação, auditoria contábil, auditoria de demonstrações financeiras,

auditoria fiscal, auditoria em segurança da informação, auditoria social, auditoria de prestação

de contas, auditoria de riscos, auditoria de sistemas, auditoria governamental, auditoria de

desempenho, auditoria operacional, auditoria financeira, auditoria tributária e auditoria

trabalhista. Mas, de modo geral, as auditorias classificam-se em interna e externa.

Em determinadas situações o Auditor Externo trabalha em parceria com o Auditor

Interno, especialmente quando busca testar a eficiência dos sistemas de controle utilizados na

empresa. Nesses casos, o auditor externo funciona como um consultor e tem sua atenção

voltada para a confiabilidade dos registros contábeis. Observa-se, assim que as duas funções

têm interesses comuns. Na verdade, a Auditoria Interna funciona como uma coordenação

dentro da empresa. Por sua vez, a Auditoria Externa trabalha na comprovação das

demonstrações financeiras, utilizando quase sempre dados e resultados obtidos pela Auditoria

Interna. Portanto, tanto há pontos em comum como também há diferenças básicas entre a

Auditoria Interna e a Auditoria Externa.

Como pontos dessemelhantes, o trabalho executado pelo Auditor Interno e Externo

apresenta as seguintes diferenças básicas, conforme mostra o Quadro a seguir:

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Quadro – Diferenças entre Auditoria Interna e Auditoria Externa

Fonte: Maph Editora. http://www.portaldeauditoria.com.br Acessado em 05/12/2015

Atualmente a Auditoria Externa é obrigatória por lei. Todas as empresas de grande

porte são obrigadas pela força da Lei 11.638/07 a sujeitar suas demonstrações contábeis a

análise de auditores externos registrados na Comissão de Valores Mobiliários – CVM. O

objetivo dessa obrigatoriedade é que essas grandes empresas, que geralmente negociam suas

ações em bolsa, apresentem dados financeiros fidedignos, auditáveis e auditados, transmitindo

segurança aos acionistas e ao mercado. As empresas de Auditoria Externa são autorizadas a

atuarem pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, atestando o nível de segurança das

demonstrações das grandes empresas. Daí o peso da emissão de seus pareceres. Aliás, o

mercado é dominado por quatro empresas multinacionais de Auditoria Externa: a Price

WaterHouse Coopers (PWC), a KPMG, a Ernst & Young (EY) e a Deloitte. Mas, no controle

e minimização de fraudes não basta que se conte unicamente com a Auditoria Externa, até

mesmo porque a detecção de fraudes não é o objetivo precípuo da auditoria. É necessário que

se faça uso de outros métodos de controle.

A seqüência de ações que CREPALDI (2000, p. 25) utiliza em sua definição de

auditoria, começando com levantamento, estudo, avaliação sistemática das transações,

procedimento, operações, rotinas e demonstrações financeiras, assume a forma de um

conjunto de procedimentos técnicos. Usando esse mesmo termo, a NBC TI 01 (2003), que

trata especificamente da atividade e dos procedimentos de Auditoria Interna Contábil, observa

em seu Item 12.1.1.4 que sua estrutura se baseia em procedimentos, com enfoque técnico.

Segundo esse item da norma, o procedimento técnico da auditoria interna é objetivo,

sistemático e disciplinado. Assim, a Auditoria Interna surge com o objetivo principal de

controle administrativo, mensurando e avaliando os controles internos, estendendo-se a todas

as áreas da empresa, com enfoque na prevenção e controle de erros e fraudes. Ademais, a

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prevenção e o controle eficiente de fraudes através do processo de Auditoria Interna

demonstram ser vantajoso para empresas e organizações devido ao seu relacionamento

estreito com a operacionalização da empresa, facilitando o trabalho e percebendo indícios de

prováveis fraudes, tempestivamente e de forma constante. O investimento de se manter uma

equipe de Auditoria Interna é vantajoso, principalmente para evitar ações de fraudes que

possam ocorrer, colocando em risco os negócios da empresa. É importante que a empresa

mantenha a área de auditoria em constante aperfeiçoamento de seus trabalhos, buscando

inovações e métodos cada vez mais eficientes para prevenir a prática de fraudes.

2.2 BREVE HISTÓRIA DA AUDITORIA INTERNA

Como definição específica de Auditoria Interna, a NBC TI 01, item 12.1.1.3, reza que:

“A Auditoria Interna compreende os exames, análises, avaliações,

levantamentos e comprovações, metodologicamente estruturados para a

avaliação da integridade, adequação, eficácia, eficiência e

economicidade dos processos, dos sistemas de informações e de

controles internos integrados ao ambiente, e de gerenciamento de

riscos, com vistas a assistir à administração da entidade no

cumprimento de seus objetivos.” (CFC, Resolução Nº 986/03, NBC TI

01, item 12.1.1.3).

A história da auditoria pode ser considerada milenar, pois todas as propriedades

humanas, em algum momento no tempo exigiram contabilização, e com a contabilidade

surgiram meios de controle das entradas e saídas, e com os meios de controle dos bens,

surgiram os verificadores, ou auditores. Segundo LISBOA (2015), a Auditoria Interna, como

a conhecemos, começou a vigorar em 1941, em New York, após a fundação do Institute of

Internal Auditors. Mas, para chegar a esse ponto, o processo passou por fases modestas.

Há indícios históricos de que reis e imperadores sempre tiveram alguém nomeado para

supervisionar as operações financeiras de seus administradores e também de seu Tesouro.

Quando o Brasil era colônia de Portugal, surgiu a figura do juiz colonial, a serviço da Coroa

Portuguesa para supervisionar o recolhimento dos tributos reais, com autoridade para reprimir

e punir fraudes. Ele era alcunhado de “O Olho do Rei”. Registros mais antigos mostram as

seguintes datas: em 1314, criação do cargo de Auditor do Tesouro da Inglaterra; em 1559:

sistematização e estabelecimento da Auditoria dos Pagamentos a Servidores Públicos pela

Rainha Elizabeth I; em 1880, criação da Associação dos Contadores Públicos Certificados da

Inglaterra e do País de Gales; em 1886, surge a Associação dos Contadores Públicos

Certificados (AICPA) dos Estados Unidos; em1894, formação do Instituto Holandês de

Contadores Públicos; em 1934, estabelecimento da Security and Exchange Commission

(SEC) nos Estados Unidos; em 1976, a Lei das S/A, no Brasil, impulsionou o mercado de

auditoria em nosso país.

A auditoria Interna surgiu como ramificação da Auditoria Externa e da necessidade de

assegurar aos acionistas que as demonstrações e balanços reproduziam fielmente a situação

patrimonial da empresa. Com o crescimento da economia mundial e expansão dos mercados

internacionais sentiu-se a necessidade de um acompanhamento mais minucioso das operações,

somando-se a isso o fato de que para atender tais necessidades era necessário que as empresas

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adequassem suas normas de acordo com as normas contábeis e pudessem acompanhar se estas

estavam sendo seguidas pelos empregados da empresa. Então, criou-se a Auditoria Interna,

pela qual um grupo de funcionários de confiança da administração passava a exercer as

funções de Auditores Internos.

Inicialmente, a responsabilidade desses Auditores estava mais voltada para

conferencias de documentações e verificação de lançamentos contábeis realizados. Entretanto,

em decorrência do desenvolvimento da Indústria e Comercio, observou-se que o papel dos

auditores era mais abrangente e os mesmos passaram a ser vistos como ferramenta primordial

de controle dentro da empresa, passando a ter enfoque de controle administrativo, e seu

objetivo passou a ser mensurar e avaliar os outros controles internos. Seu campo de ação

estendeu-se para todas as áreas da empresa. A Auditoria Interna passou a ser cada vez mais

independente, respondendo diretamente à diretoria da empresa.

2.3 ERROS E FRAUDES

A Auditoria Interna é feita para assegurar aos acionistas que as demonstrações e

balanços reproduzem com fidelidade a situação patrimonial da empresa em determinado

momento. Essa auditoria nada mais é que conferencias de documentações e verificação de

lançamentos contábeis realizados. Mas, nesse processo, pode acontecer a detecção de

anomalias contábeis que indicam a existência de erros ou fraudes na empresa.

Erros e fraudes são resultados de elementos e eventos mal conduzidos que contribuem

para seu surgimento podendo ocorrer em qualquer ambiente da empresa no ciclo de vida de

processos mal administrados.

A fim de descrever o papel da Auditoria Interna nos processos decisórios bem como

na prevenção e controle de erros e fraudes nas empresas fez-se necessária sua definição,

conforme apresentada na exposição de sua breve história. Da mesma forma, também se faz

necessária a definição desses objetos de investigação da auditoria, erros e fraudes,

especialmente no sentido contábil e administrativo usado neste trabalho.

2.3.1 Definição de Erro

FERREIRA (2001, p. 277) define “erro” como: ato ou efeito de errar; juízo falso;

incorreção; desvio do bom caminho. No primeiro sentido dessa definição o erro pode ser uma

ação ou um efeito. A Auditoria Interna eventualmente detectará um ato ou ação que não se

justifica no balanço patrimonial da empresa. Também pode ser que o que a auditoria tenha

encontrado seja um efeito negativo de uma ação justificada nos registros ou de caráter

justificável. Em ambos os casos, trata-se a principio de erro. No erro não há dolo, pois não há

intencionalidade, ainda que haja culpabilidade. O segundo sentido da definição de Ferreira,

juízo falso, refere-se a julgamento imperfeito sobre um fato, a algo ou alguém, conduzindo a

uma interpretação deficiente, expressa no terceiro sentido do erro, incorreção. A matemática

contábil não provê espaço para isso. Erros contábeis detectados precisam ser analisados e

corrigidos. A Auditoria Interna investigará a origem e a razão desse erro, dessa incorreção, a

fim de determinar se há fraude, caracterizada por intencionalidade, culpabilidade e dolo.

Portanto, a auditoria examina a moralidade dos atos praticados dentro das empresas e

organizações e tem a função técnica e social de analisar se os recursos estão sendo aplicados

corretamente, certificando a confiabilidade dos dados.

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Nessa linha de significados, a NBCT TI 01, item 12.1.3.3 define erro como

“[...] ato não-intencional de omissão, desatenção, desconhecimento ou

má interpretação de fatos na elaboração de registros, informações e

demonstrações contábeis, bem como de transações e operações da

entidade, tanto em termos físicos quanto monetários.” (CFC, Resolução

Nº 986/03, NBC TI 01, item 12.1.3.3).

O Erro Contábil é entendido pela norma como um ato sem intenção de omissão,

muitas vezes gerado por desatenção, por desconhecimento ou por interpretação deficiente de

fatos nos procedimentos contábeis. Ainda que não haja dolo, o erro cria conseqüências

negativas na forma de prejuízos em termos físicos e monetários.

2.3.2 Definição de Fraude

Em sua definição do substantivo “erro”, FERREIRA (2001, p. 277) apresenta um

quarto significado, menos técnico, muito mais ético-filosófico, através de uma figura de

linguagem, uma alegoria, “desvio do bom caminho”. Quando a Auditoria Interna investiga e

detecta um erro, localizando sua origem e razão e percebe no erro certa intencionalidade,

surge a suspeita de um “desvio do bom caminho”, de uma possível fraude.

FERREIRA (2001, p. 333) apresenta fraude como “logro, abuso de confiança”, mas

SACCONI (1998, p. 347) amplia a definição do termo, explicando-o como: “ação praticada

com má-fé, para auferir vantagem; contrafação; alguma coisa que não é aquilo que pretende

ser; pessoa enganadora, impostora”. As definições são sempre negativas. De fato, há vários

tipos de fraudes, mas o tipo investigado neste trabalho é aquele que acontece em instituições

públicas e privadas, nas grandes empresas e até mesmo em pequenos negócios. Na definição

contábil, explícita na NBCT TI 01, item 12.1.3.2, o termo fraude refere-se a

“[...] ato intencional de omissão e/ou manipulação de transações e

operações, adulteração de documentos, registros, relatórios,

informações e demonstrações contábeis, tanto em termos físicos quanto

monetários.” (CFC, Resolução Nº 986/03, NBC TI 01, item 12.1.3.2)

Essa definição surge pela apresentação de características próprias da fraude, que é

marcada pela intencionalidade do ato e pela essência do próprio ato: manipulação e

adulteração de diversos tipos de documentos.

2.3.3 Caracterização de Erros e Fraudes

Erros e Fraudes têm características próprias nas definições da NBCT TI 01. É

interessante observar que em sua redação a norma apresenta a fraude antes do erro.

Inversamente, na prática da auditoria, primeiro tem-se o erro, que mais tarde pode vir a ser

classificado como fraude, conforme suas características nos termos da norma. A diferença

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entre Erro e Fraude está na evidente intencionalidade do ato. Tanto que a NBCT TI 01

caracteriza o Erro como ato-não intencional e a Fraude como ato intencional, na base de suas

definições.

Tendo em vista as caracterizações citadas, desatenção que resulta em erros aritméticos

na escrituração contábil ou nas demonstrações contábeis, aplicação incorreta das normas

contábeis e interpretação errada das variações patrimoniais não são apenas características de

erro e sim tipos de erros detectáveis pela auditoria. Por outro lado, segundo a NBCT TI 01, a

fraude é caracterizada pela omissão e manipulação intencional de transações e operações, pela

adulteração de documentos, registros, relatórios, informações e demonstrações contábeis,

tanto em termos físicos quanto monetários.

Uma versão estadual de algumas dessas características se encontra no § 3º do Artigo 3º

da Resolução Normativa nº 11/2009 do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, cuja

redação é a seguinte:

“Parágrafo terceiro – Constituirá fraude à Contabilidade, assim como à

ordem pública, a omissão de registro de despesas e receitas, bem como

a inserção contábil de despesas e receitas inexistentes, com o fim de

fraudar os balanços” (Resolução Normativa nº 11/2009, TCE MT).

Por serem práticas costumeiras, tanto em empresas privadas tentando enganar o fisco,

bem como em empresas privadas a serviço de órgãos públicos, ou mesmo empresas públicas e

os próprios órgãos públicos, os atos caracterizadores de fraude acarretam em penalidades com

citação pessoal do contabilista responsável pelos documentos e peças contábeis que der causa

à fraude, conforme rezam os § 4º a 7º da referida resolução.

Segundo o website Monitor das Fraudes, disponível em www.fraudes.org, a fraude

interna pode ser dividida em duas grandes famílias: fraudes com registro nos livros contábeis

e fraudes sem registro nos livros contábeis.

As fraudes com registro nos livros contábeis afetam diretamente o fluxo contábil ou de

caixa da empresa. Observa-se que auditorias contábeis e internas bem executadas e profundas

costumam detectar este tipo de fraudes, ou pelo menos seus indícios. Mas, na maioria dos

casos, este tipo de fraude é detectado no momento dos pagamentos, na saída do dinheiro da

empresa para a estrutura dos fraudadores.

Exemplos típicos dessa fraudes apresentam: faturamentos irregulares (serviços não

prestados, mercadorias não entregues, superfaturamento etc.); lançamento de pagamentos

indevidos ou fictícios; reembolsos irregulares ou falsos (por viagens, despesas, etc.);

alterações, desvios e/ou roubos nos estoques de mercadorias ou nos bens da empresa; troca de

dinheiro da empresa por recebíveis (muitas vezes pouco líquidos); lançamento de gastos "de

consumos" irregulares; omissões ou falsificações nos registros de operações contábeis ou de

recebimentos; falsificação de faturas ou documentos contábeis; operações financeiras

irregulares.

Quanto às fraudes sem registro nos livros contábeis, delas fazem parte todas aquelas

que não afetam diretamente o fluxo normal da contabilidade. Contudo, observa-se que esse

tipo de fraude envolve normalmente valores mais elevados que os das fraudes com registro

nos livros contábeis. Geralmente, esse tipo de fraude se repete com regularidade, não sendo

detectada durante muito tempo. Portanto, trata-se de fraude de difícil detecção. Para detectar

esse tipo de fraude, o website www.fraudes.org sugere que sejam feitas pesquisas com

clientes e fornecedores.

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Exemplos típicos dessa fraude envolvem: descontos excessivos ou indevidos à

clientes; freqüentes vendas em dinheiro (com descontos não transparentes e/ou sem emissão

de nota fiscal e/ou sem o devido registro contábil) com desvio do valor; descontos de

fornecedores não repassados à empresa; corrupção geral; ganho de comissões em troca de

vantagens junto à empresa; desvio de clientes ou negócios da empresa para outra entidade

(própria ou de terceiros); negociações de créditos ou dívidas; concessões e benefícios em

favor de "amigos" ou outros tipos de conflito de interesses.

2.4 NORMAS PARA CONTROLE DE ERROS E FRAUDES

A fim de que auditores no exercício de sua profissão possam desenvolver seus

trabalhos sob um padrão reconhecível por outros profissionais, foram criadas as normas

brasileiras de auditoria. Essas normas são regras ditadas por orgãos reguladores da profissão

contábil no Brasil, tais como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Instituto dos

Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), o Banco Central do Brasil, a Comissão de

Valores Mobiliários (CVM) e a Superintendência de Seguros Privados. Os objetivos

principais das normas brasileiras de auditoria são a regulação da profissão do auditor e o

estabelecimento de diretrizes para o exercício da auditoria.

Há diversos tipos de normas técnicas que tratam sobre questões específicas do trabalho

de auditoria. Sempre que necessário, o CFC emite Interpretações Técnicas esclarecendo

assuntos específicos e pontuais dos trabalhos de auditoria contábil.

A NBC TI 01 trata da atividade e dos procedimentos de Auditoria Interna Contábil,

que a norma convenciona chamar apenas de Auditoria Interna ao longo de sua redação. A

análise dessa norma é de particular importância para este trabalho, pois versa sobre Fraude e

Erro no contexto da Auditoria Interna, elementos centrais no tema deste artigo. Nessa análise

é preciso ter em mente de que não se trata de uma teoria distanciada da prática, de uma lista

de orientações, sugestões ou desejos, e sim de um texto legal que determina o que deve ser

feito nas situações explícitas ou implícitas previstas pelo texto.

A NBC TI 01 é composta de três seções: a primeira apresenta Conceituação e

Disposições Gerais; a segunda, Normas de Execução dos Trabalhos; e a terceira, Normas

Relativas ao Relatório da Auditoria Interna.

Na apresentação da Conceituação e Disposições Gerais, a NBC TI 01 define o que

compreende a Auditoria Interna, traça os seus objetivos, define os Papéis de Trabalho na

auditoria e conceitua fraude e erro. Na seção dedicada às Normas de Execução dos Trabalhos

ficam estabelecidos os elementos relacionados ao Planejamento da Auditoria Interna, os

riscos da Auditoria Interna, os procedimentos da Auditoria Interna, a amostragem e o PED,

Processamento Eletrônico de Dados. Por fim na seção das Normas Relativas ao Relatório da

Auditoria Interna são estabelecidos os aspectos que deverão ser abordados e outras

disposições pertinentes. Cada um desses tópicos será visitado, o mais das vezes ipsis litteris,

de forma breve nesse artigo.

A NBC TI 01 inicia apresentando seu objetivo, que é tratar da atividade e

procedimentos de Auditoria Interna Contábil, a qual ao longo da norma será denominada

Auditoria Interna (item 12.1.1.1). Na mesma seção é definida a área de atuação da Auditoria

Interna: pessoas jurídicas de direito público interno ou externo, e de direito privado (item

12.1.1.2), bem como o que compreende sua ação efetiva (item 12.1.1.3) e sua finalidade (item

12.1.1.4).

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2.4.1 As Ações Efetivas na Auditoria Interna e o Controle Interno

Conforme o item 12.1.1.3 da NBC TI 01, o conjunto de ações efetivas que constituem

a Auditoria Interna compreende:

“[...] os exames, análises, avaliações, levantamentos e comprovações,

metodologicamente estruturados para a avaliação da integridade,

adequação, eficácia, eficiência e economicidade dos processos, dos

sistemas de informações e de controles internos integrados ao ambiente,

e de gerenciamento de riscos, com vistas a assistir à administração da

entidade no cumprimento de seus objetivos.” (CFC, Resolução Nº

986/03, NBC TI 01, item 12.1.1.3)

Portanto, de acordo com a norma, os exames e seus correlatos visam, entre outras

coisas, a avaliação da eficiência dos controles internos integrados ao ambiente. Esses

controles internos são particularmente importantes na prevenção de erros e fraudes. A

implantação de um sistema de controle interno adequado garante o bom funcionamento da

empresa em suas múltiplas dimensões, especialmente nos aspectos administrativos, gerenciais

e contábeis, facilitando a Auditoria Interna quando esta se fizer necessária. FRANCO &

MARRA (2001, p. 267) definem o controle interno da seguinte forma:

“Por controles internos entendemos todos os instrumentos da

organização destinados à vigilância, fiscalização e verificação

administrativa, que permitam prever, observar, dirigir ou governar os

acontecimentos que se verificam dentro da empresa e que produzam

reflexos em seu patrimônio.” (FRANCO & MARRA, 2001, p. 267).

Nessa definição, o Controle Interno envolve todos os instrumentos da organização

destinados a esse fim. Esse controle ocorre como: Vigilância, Fiscalização e Verificação

Administrativa. Os objetivos do Controle Interno, quanto aos acontecimentos que se

verificam dentro da empresa e que produzam reflexos em seu patrimônio, são: Prevenção,

Observação e Gerenciamento dos mesmos. Cada um desses itens envolve subprocessos para

um efetivo Controle Interno. Seu fim imediato não é a prevenção de fraudes e/ou erros per si

e sim a proteção do patrimônio em termos de estabilidade e lucratividade, expressa nessa

definição por reflexos patrimoniais. O Item 12.2.3.2 da NBC TI 01 estabelece Testes de

Observância como formas de avaliação da eficiência nos Controles Internos da empresa.

O citado website, Monitor das Fraudes, disponível em www.fraudes.org, apresenta

uma série de formas eficazes de prevenção e combate às fraudes internas. Dentre elas,

destacam-se as seguintes: análise dos fluxos operacionais e identificação prévia dos pontos de

risco para sucessivo intenso monitoramento e adoção de outras medidas preventivas;

realização de freqüentes e rigorosas auditorias específicas para fraudes, nas áreas de negócios

sensíveis; troca periódica, ou rotação, dos auditores; criação de um manual de normas e

procedimentos internos, a ser aplicado pelos funcionários em todas as funções sensíveis;

estruturação de um sistema de administração e monitoramento eficientes com troca e

verificação constante e redundante de informações entre os vários departamentos; rotação

Page 11: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

11

freqüente, quando possível, de funcionários em posições sensíveis a fraudes; criação de

equipes para condução de funções chave e sensíveis a fraudes, eliminando estruturas de

decisão e centros de controle independentes; estruturação de uma adequada política de

alçadas, autorizações e controles em todas as funções sensíveis; monitoramento de mudanças

repentinas e/ou injustificadas no estilo de vida ou comportamento de funcionários

responsáveis por posições sensíveis; atenção a eventuais indícios de vícios (jogo, drogas,

álcool etc.) dos funcionários, algo previsto na legislação trabalhista brasileira como motivo de

demissão por justa causa; comparação periódica de dados e informações administrativas e

operacionais com as médias de períodos anteriores (anos, semestres etc.), com as médias de

diferentes departamentos e unidades e com as médias de mercado para as áreas equivalentes e

homogêneas; adoção de regras de segurança no projeto e desenvolvimento dos sistemas

informativos internos; atenção à reclamações de fornecedores ou clientes que possam ter

origem em comportamentos fraudulentos de funcionários, dentre outras situações.

Contudo, mesmo a manutenção de um adequado sistema de controle interno não

elimina o risco da ocorrência de fraudes ou erros na entidade. Esse aspecto indica a gravidade

do trabalho do Auditor Interno e ressalta a importância de seu papel na Auditoria Interna da

entidade bem como seu nível de responsabilidade, não como preventor de fraudes ou erros e

sim como identificador dos tais, competindo a ele propor medidas mais apuradas de controle

interno.

2.4.2 O Planejamento da Auditoria

No item 12.2.1, dedicado ao Planejamento da Auditoria Interna, a NBC TI 01 observa

que o planejamento do trabalho da Auditoria Interna compreende exames preliminares das

áreas, atividades, produtos e processos, a fim de definir a amplitude e a época do trabalho a

ser realizado, de acordo com as diretrizes estabelecidas pela administração da entidade, e no

item 12.2.1.2 fica estabelecido ipsis litteris que o planejamento considere determinados

fatores relevantes na execução dos trabalhos, especialmente os seguintes:

a) O conhecimento detalhado da política e dos instrumentos de gestão de riscos da entidade;

b) O conhecimento detalhado das atividades operacionais e dos sistemas contábil e de

controles internos e seu grau de confiabilidade da entidade;

c) A natureza, a oportunidade e a extensão dos procedimentos de auditoria interna a serem

aplicados, alinhados com a política de gestão de riscos da entidade;

d) A existência de entidades associadas, filiais e partes relacionadas que estejam no âmbito

dos trabalhos da Auditoria Interna;

e) O uso do trabalho de especialistas;

f) Os riscos de auditoria, pelo volume ou pela complexidade das transações e operações;

g) O conhecimento do resultado e das providências tomadas em relação a trabalhos

anteriores, semelhantes ou relacionados;

h) As orientações e as expectativas externadas pela administração aos auditores internos; e

i) O conhecimento da missão e objetivos estratégicos da entidade.

Esses fatores mostram-se relevantes quando determinado contexto evidencia uma

conjuntura que os exigem; por exemplo, a partir do conhecimento da natureza de Auditoria

Interna que será aplicada o Auditor Interno poderá determinar qual NBC orientará seus

procedimentos, se será necessário o uso de trabalho de especialistas, etc.

O planejamento orientado pela norma deve ser documentado e os programas de

trabalho devem apresentar todos os detalhes necessários para que sejam compreendidos os

procedimentos que serão aplicados na execução da auditoria, em todos os termos previstos na

Page 12: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

12

norma, seja de natureza, quanto a oportunidade, a extensão, a equipe técnica e/ou o uso de

especialistas, conforme reza o item 12.2.1.3. Além disso, de acordo com o item 12.2.1.4, os

programas de trabalho devem ser estruturados de forma a servir como guia e meio de controle

de execução do trabalho. Por isso, eles devem ser revisados e atualizados sempre que as

circunstâncias o exigirem.

2.4.3 Os Procedimentos da Auditoria Interna

Sendo a Auditoria Interna compreendida por exames, análises, avaliações,

levantamentos e comprovações, metodologicamente estruturados, a seção 12.1.2 da NBC TI

01 estabelece que ela seja documentada por meio de papéis de trabalho, os quais devem ser

elaborados em meio físico ou eletrônico, que devem ser organizados e arquivados de forma

sistemática e racional. Segundo a norma, esses papéis de trabalho são os documentos e

registros obtidos no decorrer da auditoria, a fim de evidenciar os exames realizados e dar

suporte à sua opinião, críticas, sugestões e recomendações. Neles estão registrados fatos,

informações e provas que substanciam o parecer do Auditor Interno e que serão apresentados

na forma de relatório, ou seja: tudo que foi obtido pelos Procedimentos da Auditoria Interna.

De acordo com o Item 12.2.3.1, os procedimentos da Auditoria Interna constituem

exames e investigações, incluindo Testes de Observância e Testes Substantivos. Os Testes de

Observância, estabelecidos no Item 12.2.3.2 da NBC TI 01 são formas de avaliação da

eficiência nos Controles Internos da empresa, através de inspeção, observação, investigação e

confirmação. Por sua vez, conforme o Item 12.2.3.3, os Testes Substantivos visam à obtenção

de evidência quanto à suficiência, exatidão e validade dos dados produzidos pelos sistemas de

informação da entidade. Ambos os testes permitem ao auditor interno obter subsídios

suficientes para fundamentar suas conclusões e recomendações à administração da entidade.

Os Procedimentos da Auditoria Interna também incluem a obtenção e avaliação da

efetividade das informações obtidas, mediante a aplicação de procedimentos da Auditoria

Interna. Segundo o Item 12.2.3.4, as informações que fundamentam os resultados da

Auditoria Interna são denominadas de “evidências”. Essas evidências devem ser suficientes,

fidedignas, relevantes e úteis. Com elas será fornecida uma base sólida para as conclusões e

recomendações à administração da entidade. A obtenção e avaliação das informações que

fornecem evidências suficientes, fidedignas, relevantes e úteis ocorrem através de

determinado processo. Segundo o Item 12.2.3.5, I.a, na obtenção de evidências, a informação

suficiente é aquela que é factual e convincente. Tão factual e convincente, tão evidente, que

uma pessoa prudente e informada possa entendê-la da mesma forma que o auditor interno.

Outra qualidade dessa informação é que ela é adequada, fidedigna, conforme reza o Item

12.2.3.5, I.b, que sendo confiável, essa informação propicia a melhor evidência alcançável,

por meio do uso apropriado das técnicas de Auditoria Interna. Quanto à sua relevância,

segundo o Item 12.2.3.5, I.c, a informação relevante é a que dá suporte às conclusões e às

recomendações da Auditoria Interna. Quanto à sua utilidade, o Item 12.2.3.5, I.d, enuncia que

a informação útil é aquela que auxilia a entidade a atingir suas metas.

Os procedimentos da Auditoria Interna estabelecem no Item 12.2.3.6 que o processo

seja supervisionado a fim de alcançar razoável segurança de que o objetivo do trabalho da

Auditoria Interna está sendo atingido. Um aspecto importante é que, segundo o Item 12.2.3.7,

devem ser adotados procedimentos adequados para assegurar que as contingências ativas e

passivas relevantes, decorrentes de processos judiciais e extrajudiciais, reivindicações e

reclamações, bem como de lançamentos de tributos e de contribuições em disputa, foram

Page 13: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

13

identificadas e são do conhecimento da administração da entidade. Esse Item remete ao

conhecimento dos fatores relevantes apontados pelo já citado Item 12.2.1.2.

O último item a orientar os Procedimentos da Auditoria Interna é o 12.2.3.8, segundo

o qual, quando aplicável, deve ser examinada a observância dos Princípios Fundamentais de

Contabilidade, das Normas Brasileiras de Contabilidade e da legislação tributária, trabalhista

e societária. Da mesma forma, deve ser observado o cumprimento das normas reguladoras a

que estiver sujeita a entidade auditada. Esses procedimentos postos em prática funcionam em

parte como um filtro que tanto detecta como impede a passagem de irregularidades no

processo da Auditoria Interna. Ainda assim, erros são cometidos e fraudes são perpetradas.

2.4.4 A Detecção de Fraude e Erros

Além do aparato teórico fornecido explicitamente pela NBC TI 01 para identificação

de fraude e erro, o Auditor Interno conta com outras normas oficializadas pelo CFC que

podem auxiliá-lo nessa tarefa. Contudo, seu guia principal é a NBC TI 01. Pela natureza

analítica de seu trabalho, o Auditor Interno eventualmente detectará irregularidades no

decorrer do seu trabalho. Ele não é responsável pela prevenção de fraudes ou erros, nem

mesmo por detectá-los, pois não é um investigador criminal. Sua função é verificar o bom

funcionamento dos sistemas de controle interno da entidade e da adequação da entidade,

como um todo, às legislações fiscais e contábeis. Mas, visto que há grande probabilidade de

detecção de tais eventos, seu planejamento de auditoria deve incluir essa probabilidade.

Segundo o Item 12.1.3.1 da NBC TI 01, havendo detecção de fraudes ou erros, o

Auditor Interno é responsável por sua comunicação à administração da entidade,

preferencialmente com advertência sobre possíveis efeitos no patrimônio da entidade e nas

esferas legais, acompanhada de sugestões de medidas corretivas adequadas, pois segundo o

item citado, a Auditoria Interna deve assessorar a administração da entidade no trabalho de

prevenção de fraudes e erro, informando-a sobre quaisquer indícios ou confirmações de

irregularidades detectadas no decorrer de seu trabalho. Essas irregularidades podem constituir

erro ou fraude, razão pela qual o Auditor deve comunicar sua detecção nos termos da norma,

sempre por escrito, de maneira reservada. Por isso, mesmo não sendo responsável pela

prevenção de fraudes ou erros, ainda assim o Auditor Interno deve planejar seu trabalho

avaliando o risco de sua ocorrência, de forma a ter grande probabilidade de detectar aqueles

que impliquem efeitos relevantes nas demonstrações contábeis. Ao detectá-los, o auditor tem

a obrigação de comunicá-los à administração da entidade e sugerir medidas corretivas.

Conforme o item 12.1.1.4 da NBC TI 01, a atividade da Auditoria Interna tem por finalidade,

entre outras coisas, apresentar subsídios para o aperfeiçoamento dos processos, da gestão e

dos controles internos, por meio da recomendação de soluções para as não-conformidades

apontadas nos relatórios.

Um dos recursos eficientes para a detecção de fraude e/ou erro na Auditoria Interna

são os Testes de Observância orientados pelo Item 12.2.3.2 na seção dedicada aos

Procedimentos da Auditoria Interna. Segundo esse item, os testes de observância a serem

feitos no processo da Auditoria Interna visam à obtenção de razoável segurança de que os

controles internos estabelecidos pela administração estão em efetivo funcionamento, inclusive

quanto ao seu cumprimento pelos funcionários e administradores da entidade.

Consequencialmente, a aplicação de Testes de Observância pressupõe que o Auditor Interno

tem conhecimento dos diversos fatores relevantes na execução dos trabalhos, conforme

orientação do Item 12.2.1.2, especialmente o Sub-item “b” que pressupõe do Auditor Interno

o conhecimento detalhado das atividades operacionais e dos sistemas contábil e de controles

Page 14: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

14

internos e seu grau de confiabilidade da entidade. Ainda segundo o Item 12.2.3.2, na

aplicação dos Testes de Observância devem ser considerados os seguintes procedimentos:

inspeção, observação, investigação e confirmação.

Na inspeção é feita a verificação de registros, documentos e ativos tangíveis. Na

observação é feito o acompanhamento de processo ou procedimento quando de sua execução.

Na investigação e confirmação ocorre a obtenção de informações perante pessoas físicas ou

jurídicas conhecedoras das transações e das operações, dentro ou fora da entidade.

É interessante observar que um dos primeiros modelos para detecção de fraudes foi

proposto por Messod D. Beneish, em seu trabalho “The Detection of Earnings Manipulation”,

publicado em 1999. Beneish selecionou uma amostra de 74 empresas que no período de 1982

a 1992 comprovadamente manipularam as informações contábeis. O texto é emblemático em

vários sentidos, especialmente em demonstrar as dificuldades de interpretação para os

Auditores Internos ou Externos em questões relacionadas à sutil distinção entre erros e

fraudes em situações que beiram as fronteiras da legalidade.

A dificuldade de distinção entre erros e fraudes é exemplificada por Marco Antonio

Papini, sócio-diretor da Map Auditores Independentes e vice-presidente da CPAAI Latin

America, que observa em artigo publicado online (“Fraude ou Erro no Reconhecimento da

Receita?”) que o reconhecimento da receita, Normatizado pela Resolução CFC 1.412/2012,

cuja base assenta-se no Pronunciamento Técnico CPC 30 (R1) (International Accounting

Standards – IAS 18 do International Accounting Standards Board – IASB), tem gerado casos

emblemáticos posicionados no limbo entre fraude e erro. Como exemplo prático disso, ele

apresenta o caso da TAM Linhas Aéreas em 2012, no qual a empresa apresentou erros na

contabilização de passagens que mudaram completamente suas demonstrações contábeis do

exercício. Papini diz que a administração da TAM atribuiu tal erro à fragilidade do sistema de

controles internos no reconhecimento da receita, problema sanado no exercício de 2012. Em

sua opinião, o caso da TAM revela erros que aparentemente não decorrem de fraude na

contabilidade, mas sim de deficiências de controle interno, sem o conhecimento dos seus

contadores e auditores sobre a interpretação das normas contábeis à luz daquelas operações, o

que acabou gerando efeitos relevantes nos resultados demonstrados. Ele observa em seu artigo

que na análise de fraudes contábeis genuínas, invariavelmente a receita também é uma das

áreas mais afetadas. Sua conclusão é que tais situações demonstram a necessidade de que

contadores e auditores tenham pleno entendimento do sistema de controle interno das

empresas que atendem, e que realizem todos os procedimentos possíveis e necessários,

suficientes para fundamentar sua opinião. Caso contrário, serão deixadas brechas que

poderão, mais cedo ou mais tarde, motivar casos de manipulação além do beneficio da dúvida.

Notoriamente, há fraudes cometidas por funcionários contra a empresa, que são

geralmente detectadas pela Auditoria Interna, e há fraudes cometidas pela empresa contra o

fisco, cuja detecção é feita por Auditoria Externa a qual é obrigatória por força de lei.

A descoberta de fraudes nem sempre é uma tarefa simples de ser realizada devido ao

fato de que são cometidas por pessoas mal intencionadas e que tentam se preservar de

suspeitas fazendo uso de conhecimento dos processos da empresa de vários outros meios e

facilidades que a tecnologia trás. No caso dos erros são de mais fácil detecção por serem

seguidos de falhas e pelo fato de quem cometeu por equivoco ou desconhecimento do

processo correto. O que dificulta a descoberta das fraudes é o fato de que, na maioria das

vezes, elas estão escondidas em inúmeros documentos falsos. As fraudes no Brasil têm

sofrido alterações. Antes, elas eram cometidas individualmente. Atualmente, os fraudadores

estão se aprimorando na técnica de fraudar e formam grupos, caracterizando formação de

quadrilha, dificultando ainda mais que as fraudes sejam descobertas rapidamente. Isso ressalta

ainda mais a importância dos controles internos e da Auditoria Interna, que através de

métodos avançados monitora minuciosamente todas as movimentações financeiras e contábeis

Page 15: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

15

dentro da empresa. Em resumo, erros são razoavelmente fáceis de serem identificados, pois

são falhas em um determinado sistema ou procedimentos, não havendo evidente

intencionalidade ou dolo. Por sua vez, fraudes não são facilmente detectáveis, pois quem as

perpetram são pessoas astuciosas e preocupadas com sua ocultação.

O website Monitor das Fraudes, disponível em www.fraudes.org, apresenta

resumidamente algumas das mais úteis ferramentas para a detecção e combate as fraudes

internas: Análise comparativa; Conciliação de saldos; Conciliação entre contas;

Comprovações e inspeções documentárias; Inspeções físicas (em estoques, por exemplo);

Confirmação com terceiros; Indagações e perguntas a funcionários, clientes, fornecedores,

etc.; Observação da conformidade das rotinas com o fluxograma e Apreciação de cifras.

O mesmo website sugere atenção aos seguintes pontos em uma auditoria de fraudes ou

fiscalização contábil: omissão de lançamentos em registros; lançamentos falsos em registros;

anotações falsas em registros; erros nos cálculos em registros; destruição ou "perda" de

documentos; falta de documentos; existência de documentos falsos; alteração de documentos

originais; duplicidade de documentos ou lançamentos; falta de depósitos bancários ou caixa;

aumentos repentinos de custos ou despesas médias; diminuição repentina de receitas médias;

pagamentos irregulares ou fictícios; manutenção de dois jogos de livros de registro; rasuras e

espaços brancos nos registros.

2.4.5 As Comunicações de Fraude e/ou Erro

O Item 12.1.3.1 da NBC TI 01 determina como será feita a comunicação de fraude ou

erro à administração. Segundo a norma, o auditor sempre deve comunicar à administração da

entidade auditada quaisquer indícios ou confirmações de irregularidades detectadas no

decorrer de seu trabalho. Toda irregularidade cairá necessariamente em uma das seguintes

categorias: ou erro ou fraude. Determinar se há erro ou fraude nem sempre será algo fácil.

Segundo a norma, essa comunicação deverá ser feita sempre por escrito, e de maneira

reservada. Essa obrigatoriedade de informação das irregularidades detectadas pressupõe que

tais irregularidades sejam relevantes, constituindo-se em possível impropriedade ou mesmo

ilegalidade, conforme o Item 12.3.4, necessitando providências imediatas da administração da

entidade. É interessante observar que para a entidade auditada, o valor de uma fraude não se

resume ao seu aspecto financeiro. Há que se considerar a falha encontrada no controle interno

bem como o aspecto moral e ético da fraude, a quebra de confiança naquele que a pratica. Por

isso, quando houver dúvida quanto ao envolvimento da alta administração da entidade, o

auditor deve avaliar as circunstâncias do fato. O relatório com evidências de erro ou fraude,

especialmente fraude, salienta a delicadeza do serviço de auditoria e as dificuldades que

surgem à medida que o auditor se defronta com situações que podem envolver toda uma rede

interna organizada para a prática de fraudes. A obrigatoriedade da comunicação da detecção

de irregularidades pela Auditoria Interna se mostra ainda mais necessária quando se leva em

conta a natureza hídrica da fraude: o auditor não pode presumir que um caso de fraude e/ou

erro seja ocorrência isolada. A Hidra tem muitas cabeças. A Fraude assume muitas formas e

se espalha facilmente nos meandros da empresa.

Além disso, por causa do aspecto orgânico da entidade empresarial, o auditor deve

avaliar as implicações de fraude e/ou erro que se mostrem relevantes em relação a outros

aspectos de auditoria, particularmente quanto à confiabilidade das informações escritas ou

verbais, fornecidas pela administração da entidade auditada. Resumidamente: o intricado

relacionamento entre as várias partes constituintes do micro-universo empresarial produz uma

Page 16: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

16

seqüência de dilemas para o auditor, que precisa decidir quais decisões serão de fato mais

benéficas para a entidade auditada e como comunicá-las à administração.

Alcântara (2013) reportou em seu website (http://www.alcantara.pro.br) que um

levantamento feito com 1.700 auditores, em 2013, revelou resultados polêmicos, como o dado

que aponta que 13% dos executivos-chefes de auditoria interna que atuam no Brasil (5% na

América do Norte), já sofreram algum tipo de influência para alterar, indevidamente, os

resultados de seus trabalhos. Sendo que 21,5% (7% na América do Norte) destas pressões

vieram de diretores financeiros. Além disso, segundo o informe de Alcântara, 16% dos

executivos-chefes de auditoria interna do Brasil relatam que já tiveram, em algum momento,

prejudicada a objetividade de seus departamentos ou foram afetados (influenciados)

negativamente, por parte hierárquica superior dentro da organização. Em contrapartida, 43%

afirmam que melhoraram a independência e a objetividade da auditoria interna quando

alteraram a linha de reporte de seu departamento para um nível hierárquico mais alto dentro

da estrutura de governança na organização.

A comunicação de fraude e/ou erro é apresentada na forma de relatórios. Esses

relatórios estão normatizados na seção 12.3 da NBC TI 01. Segundo o Item 12.3.1, o relatório

é o documento pelo qual a Auditoria Interna apresenta o resultado dos seus trabalhos,

incluindo a comunicação das irregularidades encontradas ao logo da Auditoria Interna. Por

isso, de acordo com a norma, esse relatório deve ser redigido com objetividade e

imparcialidade, de forma a expressar, claramente, suas conclusões, recomendações e

providências a serem tomadas pela administração da entidade. Ele deve ser apresentado a

quem tenha solicitado o trabalho ou a quem este autorizar, devendo ser preservada a

confidencialidade do seu conteúdo (Item 12.3.3), que segundo o Item 12.3.2 deve abordar, no

mínimo, os seguintes aspectos: o objetivo e a extensão dos trabalhos; a metodologia adotada;

os principais procedimentos de auditoria aplicados e sua extensão; eventuais limitações ao

alcance dos procedimentos de auditoria; a descrição dos fatos constatados e as evidências

encontradas; os riscos associados aos fatos constatados; e as conclusões e as recomendações

resultantes dos fatos constatados. Tais aspectos são auto-explicativos, dispensando

interpretações sem um contexto adequado.

2.5 RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA

A relevância da Auditoria Interna reside em seu potencial de minimizar diversos

problemas de ordem gerencial, administrativa, financeira e até mesmo da imagem pública de

uma empresa. Através da Auditoria Interna a empresa se previne contra fraudes e erros

causados por seus próprios funcionários. A empresa também se previne contra si mesma,

quando por falta de informação, por desleixo ou má intenção em qualquer um de seus níveis

laborais, regras são quebradas e erros são cometidos contra seu programa de produção,

afetando sua lucratividade e competitividade ou chamando a atenção do fisco.

MIGLIAVACCA (2002, p. 142) realça a relevância da Auditoria Interna ao descrever seus

objetivos, que são:

“Prestar uma avaliação independente das diversas operações e controles

da companhia, para determinar se os procedimentos e políticas estão

sendo seguidos, se os padrões estabelecidos são cumpridos, se os

recursos são usados eficiente e economicamente, e se os objetivos da

organização estão sendo atingidos".

Page 17: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

17

A Figura abaixo mostra o lugar ideal da Auditoria Interna na empresa, visando um

Controle Interno eficaz na estrutura organizacional.

Figura – A Auditoria Interna na Estrutura Organizacional

Fonte: Maph Editora. http://www.portaldeauditoria.com.br Acessado em 05/12/2015

Ocupando um lugar estratégico no organograma da empresa, a Auditoria Interna é o

olho crítico da empresa. Ela fornece meios de prevenção de erros, que serão expressos em

perdas ou ganhos, e previne fraudes, expresso em desconfiança dentro e fora da empresa.

ATTIE (2006, p. 52) explica que:

“A importância que a auditoria interna tem em suas atividades de

trabalho serve para a administração como meio de identificação de que

todos os procedimentos internos e políticas definidas pela companhia,

os sistemas contábeis e de controles internos estão sendo efetivamente

seguidos, e todas as transações realizadas estão refletidas contabilmente

em concordância com os critérios previamente definidos.”

A Auditoria Interna é aquele “olho do rei” do Brasil Colônia, agora no Brasil do

século XXI, o olho crítico que verifica com zelo monástico todos os procedimentos internos

definidos pela companhia, desde os sistemas contábeis aos controles internos, o registro

contábil de todas as transações, a observância de todas as leis e normas oficiais e seu reflexo

no patrimônio da empresa.

Page 18: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

18

3 METODOLOGIA

Este artigo foi desenvolvido utilizando-se dados literários sobre a eficácia da auditoria

interna na prevenção de erros e fraudes, cuja fundamentação baseia-se em pesquisa

bibliográfica extraídas da literatura especializada na abordagem do tema de auditoria e

auditoria interna bem como conteúdo de sites de órgãos contábeis disponíveis. Portanto, este

artigo pode ser classificado como teórico empírico. Foram consultados livros impressos ou

digitais, escritos por autoridades nas áreas afins que lidam com o tema do artigo, a relevância

da auditoria interna na identificação e prevenção de erros e fraudes, cuja pertinência se

mostrou evidente na discussão dos tópicos deste artigo. Na pesquisa foram utilizadas outras

fontes secundárias, especialmente websites oficiais de entidades públicas ou privadas, de

caráter informativo ou educacional, sempre tendo em vista os objetivos propostos neste artigo,

e levando em consideração a afirmação de LAKATO & MARCONI (2003, p. 183), que a

pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto,

pelo contrário, é a partir dela que um tema pode ser reapresentado sob novo enfoque ou

abordagem, o qual pode chegar a conclusões inovadoras, não meramente reciclando

conhecimentos, mas criando novos ciclos no saber, gerando novas formas de compreender a

realidade sobre o tema pesquisado.

CONCLUSÃO

A escolha do tema acerca da Eficácia da Auditoria Interna na prevenção de erros e

fraudes decorreu de interesse profissional pessoal, tendo em vista a observância do importante

papel exercido pela Auditoria Interna. Em um cenário onde a evolução de fraudes ocorre de

forma organizada e avançada mundialmente, tanto em empresas públicas como privadas

ocasionando prejuízos expressivos, a proposta deste trabalho foi de inserir e discorrer sobre os

vários pontos positivos de se manter uma Auditoria interna.

A análise dos dados da pesquisa bibliográfica, apresentados ao longo do artigo,

apresenta um quadro preocupante em relação às fraudes no ambiente empresarial e reforçam a

relevância da auditoria como meio de prevenção dessas e outras fraudes. Tais dados, com seus

resultados e conclusões, poderão servir de base para outros estudos acadêmicos ou para

pesquisas profissionais.

Ao longo deste artigo foi observado que dentre os vários fatores causadores de fraudes

encontra-se a falta de ética de indivíduos com disposição para cometer ato ilícito, e que

munidos de um planejamento bem estruturado e administrado, exploram vulnerabilidades dos

processos para cometerem fraudes. Ficou evidente que há uma cultura empresarial que não

adota práticas para impedir tais atos, sendo a obrigatoriedade da lei seu único elemento

restritivo.

Contudo, apesar das limitações inerentes ao ambiente empresarial, especialmente

quando já há intenções de omissão de informações, a Auditoria Interna ainda é o melhor

mecanismo para se fazer raios-x da empresa em todos os seus aspectos, especialmente no que

diz respeito à contabilidade. Sua contribuição ao detectar, ou não detectar, fraudes e erros,

vícios laborais ou qualquer deficiência no programa de produção, na estrutura administrativa

ou nos procedimentos gerenciais e contábeis da empresa, justificam plenamente sua

implantação e execução, seja por razões legais ou circunstanciais.

Através da descrição do papel da Auditoria Interna nos processos decisórios e na

prevenção e controle de erros e fraudes, a pesquisa bibliográfica demonstrou a relevância da

Page 19: A RELEVÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA NA IDENTIFICAÇÃO E

19

auditoria interna nesses cenários, como meio de verificação do funcionamento contínuo das

engrenagens da empresa. Reafirma-se nessa conclusão que a relevância da Auditoria Interna

reside efetivamente em seu potencial de minimizar diversos problemas da empresa. Mas, no

que concerne a esse artigo, é através da Auditoria Interna que a empresa se previne contra

fraudes e erros advindo de falhas nos sistemas de controle interno, fraudes e erros planejados

e perpetrados por seus próprios funcionários.

REFERÊNCIAS

ALCÂNTARA, Alexandre. Cresce demanda por auditoria antifraude. Publicado em

21/04/2015. http://www.alcantara.pro.br/novo/index.php?option=com_content&view= article

& id=803:cresce-demanda-por-auditoria-antifraude&catid=35:fraude contabil&Itemid=56.

Acessado em 06/12/2015.

_____________________. Auditores sofrem pressão para alterar resultados. Publicado

em 28/05/2013. http://www.alcantara.pro.br/novo/index.php?option=com_content&view=

article&id=718:auditores-sofrem-pressao-para-alterar-resultados&catid=35:fraude-

contabil&Itemid=56. Acessado em 06/12/2015.

ATTIE, William. Auditoria Interna: conceitos e aplicações. 3. Ed. São Paulo: Atlas,

2006.

BENEISH, Messod D. The Detection of Earnings Manipulation. Publicado em 1999.

http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.195.3676&rep=rep1&type=pdf

Acessado em 06/12/2015.

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sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações

financeiras. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm

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_______ Decreto Nº 8.420, de 18 de março de 2015. Regulamenta a Lei no 12.846, de 1

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agosto de 2013, que dispõe sobre a responsabilização administrativa de pessoas jurídicas pela

prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira e dá outras

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