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Neste artigo buscamos ampliar a discussão sobre os sentidos da “globalização” a partir da discussão sobreinclusão digital – acesso às tecnologias de informação e de comunicação/TIC – e as consequências e desafiospara a educação. Dentro deste cenário, discutimos a produção teórica na área de educação sobre a incorporaçãodas TICs no espaço educacional e a importância da formação continuada de professores neste processo.Enfatizamos que a discussão sobre a incorporação dos computadores e da internet na estrutura educacional incluia necessidade de integrar os instrumentos tanto no nível de concepção quanto no da prática, levando em conta acomplexidade da relação entre estes equipamentos e os conhecimentos e técnicas utilizados pelos docentes.
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A SOCIEDADE DA INFORMAO E OS NOVOS DESAFIOS PARA A EDUCAO
Roberta Fantin Schnell Mestre em Educao pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Professora no Ncleo de
Tecnologia Educacional da Rede Municipal de Educao da Prefeitura de Florianpolis Santa Catarina.
E-mail: [email protected]
Elisa Maria Quartiero Professora no Centro de Cincias Humanas e da Educao, da Universidade do Estado de Santa
Catarina UDESC. E-mail: [email protected]
Resumo Neste artigo buscamos ampliar a discusso sobre os sentidos da globalizao a partir da discusso sobre incluso digital acesso s tecnologias de informao e de comunicao/TIC e as consequncias e desafios para a educao. Dentro deste cenrio, discutimos a produo terica na rea de educao sobre a incorporao das TICs no espao educacional e a importncia da formao continuada de professores neste processo. Enfatizamos que a discusso sobre a incorporao dos computadores e da internet na estrutura educacional inclui a necessidade de integrar os instrumentos tanto no nvel de concepo quanto no da prtica, levando em conta a complexidade da relao entre estes equipamentos e os conhecimentos e tcnicas utilizados pelos docentes. Palavras-Chave: Globalizao. Tecnologias de Informao e de Comunicao. Formao de Professores. Tecnologia e Educao.
THE INFORMATION SOCIETY AND THE NEW CHALLENGES FOR EDUCATION
Abstract In this article we seek to broaden the discussion on the meanings of "globalization" from the discussion of digital inclusion - access to information technologies and communication / ICT - and the consequences and challenges for education. Within this scenario, we discuss the theoretical production in education on the incorporation of ICT in education space and the importance of continuing education for teachers in this process. We emphasize that the discussion on the embodiment of computers and the Internet in the educational structure includes the necessity to integrate the instruments at both the design and in practice, taking into account the complexity of the relationship between such equipment and the knowledge and techniques used by teachers. Keyworks: Globalization. Education and Technology. Information Technologies and Communication / ICT. Education for Teachers.
A SOCIEDADE DA INFORMAO E OS NOVOS DESAFIOS PARA A EDUCAO
Roberta Fantin Schnell - Elisa Maria Quartiero
Florianpolis, v. 10, n. 02, p. 104 126, jan. / jun. 2009 105
Introduo
A sociedade contempornea passa por diversas transformaes de cunho cientfico e
tecnolgico. Essas mudanas provocam modificaes na economia, na cultura e nas formas de
as pessoas relacionarem-se e apropriarem-se do conhecimento. A sociedade que est
emergindo dessas transformaes tem sido denominada sociedade da informao ou do
conhecimento, na qual a caracterstica central a profuso de informaes que transitam
mundialmente por meio de tecnologias de base digital. Esta realidade vai provocar mudanas
radicais nas formas de acesso, distribuio e armazenamento das informaes.
Consequentemente, vo intensificar-se as discusses tericas, principalmente nas reas de
sociologia e poltica, sobre a apropriao e as repercusses desta nova maneira de acessar as
informaes. Entre as expectativas e as possibilidades que se descortinam, uma primeira
discusso remete diviso entre as sociedades tecnologicamente avanadas e aquelas
inseridas parcialmente ou fora deste processo. Nas discusses ganham destaque as
implicaes destas mudanas na formao humana e, mais especificamente, aquela realizada
dentro das instituies escolares.
Constatamos a importncia de discutir a formao tendo como parmetro indivduos
que possam se apropriar, sistematizar e transformar este dilvio de novas informaes em
conhecimento. Como analisa Bartolom (2005, p. 1) as mudanas que esto se realizando
com as tecnologias de informao e de comunicao afetam os processos de aprendizagem
de um modo muito mais profundo do que poderia parecer. E complementa: No s a
informao disponvel cada vez maior o que implica uma mudana em nossas habilidades
e tcnicas para process-la como tambm mudam os cdigos e o modo de acess-la.
Frente a essa sociedade cada vez mais complexa, interpelamos os modos como a
escola e seus professores so construdos e reconstrudos assim como constroem socialmente
uma determinada realidade, dentro de um mundo cada vez mais globalizado e cuja principal
caracterstica parece ser a incrvel capacidade de difuso, transporte, acesso e transformao
de informaes em uma escala sem precedentes. Neste contexto, buscamos ampliar a
discusso sobre os sentidos da globalizao e a produo terica na rea de educao sobre
a incorporao das Tecnologias de Informao e de Comunicao/TIC no espao educacional
e a importncia da formao continuada de professores neste processo.
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A Configurao da Sociedade da Informao
A expresso sociedade da informao passou a ser utilizada, nos ltimos anos do
sculo passado, em substituio ao conceito da sociedade ps-industrial 1
Com a finalidade de analisar e compreender melhor a diferenciao entre as
sociedades da informao e do conhecimento, buscamos primeiramente, no dicionrio
Aurlio, a definio dos dois conceitos fundamentais a essa discusso: informao e
conhecimento. As acepes apresentadas pelo verbete informao consistem em:
e como forma de
transmitir o contedo especfico do novo paradigma tcnico-econmico que se firmava.
Esse conceito refere-se s transformaes tcnicas, organizacionais e administrativas que tm
como fator-chave no mais os insumos baratos de energia como na sociedade industrial
mas os insumos baratos de informao, propiciados pelos avanos tecnolgicos na
microeletrnica e telecomunicaes. Esta sociedade ps-industrial tem suas ligaes com a
expanso e reestruturao do capitalismo a partir da dcada de 80 do sculo XX
(WERTHEIN, 2002). Castells (2006) analisa, no entanto, que o conceito de sociedade ps-
industrial no define com preciso a natureza das recentes transformaes promovidas pelo
capitalismo globalizado. Para ele, o mais correto definir a sociedade atual como a
Sociedade em Rede. Uma de suas discusses gira em torno do papel do conhecimento e da
informao nessa nova sociedade e o papel da tecnologia. No entanto, no utiliza o conceito
sociedade da informao por entender que informao e conhecimento sempre estiveram
em todas as formas de desenvolvimento social, e uma sociedade baseada somente na
informao no apresentaria efetiva transformao. Para ele o termo a ser utilizado
corretamente informacional, haja vista que a gerao, o processamento e a transmisso da
informao tornam-se fontes fundamentais de produtividade e poder devido s novas
condies tecnolgicas surgidas nesse perodo histrico (2006, p.65), ou seja, na sociedade
caracterizada pelo autor a informao produto dos processos produtivos.
1. Ato ou efeito de informar(-se); informe. 2. Fatos conhecidos ou dados comunicados acerca de algum ou algo. 3. Instruo. 4. Tudo aquilo que, por ter alguma caracterstica distinta, pode ser ou apreendido, assimilado ou armazenado pela percepo e pela mente humanas (2004, p.478).
Conhecimento, por sua vez, definido como o 1. Ato ou efeito de conhecer. 2.
1 Conceito cunhado por Bell na obra O Advento da Sociedade Ps-Industrial: uma tentativa de previso social, publicada em 1973.
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Informao ou noo adquiridas pelo estudo ou pela experincia. 3. Conscincia de si
mesmo (p. 258). As acepes no dicionrio nos levam a perceber que ambas se assemelham
muito, porm distinguem-se num pequeno, mas no menos importante, detalhe: enquanto a
informao consiste nos dados a serem assimilados, armazenados, o conhecimento seria a
assimilao, a compreenso dessas informaes, ou seja, a informao o que vamos buscar,
e o conhecimento o que podemos sistematizar a partir dos dados obtidos.
Frequentemente as expresses sociedade da informao e sociedade do conhecimento
so utilizadas como sinnimas. No entanto, diante da complexidade desses conceitos, uma
distino h de ser feita, por entendermos que o significado no o mesmo. De acordo com
Burke (2003, p. 19) citado por Pacheco2
Dessa forma, concordamos com Bianchetti (1998) ao afirmar que ter dados e
informaes disposio constituem um pressuposto muito importante para o conhecimento.
No entanto, ele alerta: no so garantia suficiente para que os seus possuidores abandonem a
atitude passiva de meros depositrios. Pouco adianta uma gama imensa de informaes ao
nosso dispor se no tivermos a capacidade de compreender, sistematizar essas informaes e
transform-las em conhecimento de fato. O conhecimento, nunca demais repetir, tem a ver
com construo, refora o autor (p. 94).
, a informao o que relativamente cru,
especfico e prtico, enquanto o conhecimento caracteriza-se por ser o que foi cozido,
processado ou sistematizado pelo pensamento. Neste sentido, segundo Mcgarry (apud
PINHEIRO; LOUREIRO 1995: p. 45), a informao consiste na matria-prima a partir da
qual podemos chegar ao conhecimento, assim como os dados se constituem na matria-prima
das informaes. Pois aceitando-se esta relao entre quantidade e qualidade, pode-se
concluir que, especialmente em se falando de pases perifricos, estaramos no na sociedade
do conhecimento, mas na sua pr-histria (BIANCHETTI, 1998, p. 94).
A sociedade em que vivemos pode ser denominada sociedade da informao, por
entendermos que estamos em uma fase em que muitos dados e informaes encontram-se
disponveis e que, no entanto, precisam ser trabalhados, apreendidos, internalizados. Essa a
condio necessria para que possamos chegar de fato a uma sociedade do conhecimento,
para a qual temos caminhado a passos muito lentos. Como enfatiza Bianchetti (1998, p. 101),
ao analisar a forma como o conhecimento concebido,
2 PACHECO, J. A. Seminrio Especial: A problematizao do conhecimento escolar no contexto da Sociedade de Informao e do Conhecimento. 2007. Mimeog.
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(...) uma construo individual e social, num espao e num tempo determinados, possibilitando apreender a realidade e nela interferir conscientemente, no sentido da promoo de todos os homens e mulheres. Neste processo, as novas TICs, bem como os dados e informaes que possibilitam o seu armazenamento e veiculao, se constituem em poderosos meios para que este conhecimento possa ser construdo. Se a quantidade e a qualidade puderem ser assim entremescladas, passa a ser possvel pensar numa sociedade em que a esfera pblica, o interesse coletivo ganhe primazia sobre os interesses privados, unilaterais de uma classe ou de um bloco de pases. Enquanto isto no se efetivar, a chamada sociedade do conhecimento no passar de um simulacro ou de um eufemismo para mascarar a contradio de um lugar e um tempo da histria no qual todas as condies materiais estavam dadas para a sua efetivao, tendo porm as opes polticas andado no sentido da sua obstruo.
Para discutir o que caracteriza a sociedade da informao faz-se necessria tambm
a discusso de outros dois conceitos que a permeiam: globalizao e mundializao.
Entendemos que imprescindvel contextualizar e polemizar tais conceitos, tendo em vista
que ambos esto intimamente relacionados nesta nova sociedade.
O momento atual caracterizado por uma nova ordem mundial, globalizada, que tem
apresentado mudanas significativas na vida das pessoas, principalmente com relao a tempo
e espao, onde h uma ressignificao na sua forma de compreenso, a partir da utilizao
maior das atuais tecnologias de comunicao. Uma caracterstica dessa nova ordem, segundo
diversos autores (DREIFUSS, 2001; IANNI, 2005; CASTELLS, 2006), a compresso do
tempo e do espao, onde as fronteiras so alargadas e diludas e h a constituio de uma rede
de relaes polticas, sociais e principalmente econmicas entre pases, tendo como base a
massificao e facilidade da troca de informaes em rede. De acordo com Castells (2006),
nesta nova configurao, constituda a partir da interconexo das redes, a economia mundial
torna-se global e interdependente. O autor constata que h uma nfase no papel
desempenhado pela informao na constituio da sociedade contempornea. Na chamada
sociedade da informao, a tecnologia, com todas as suas inovaes, a caracterstica
principal desta nova ordem social.
Nesse contexto, Giddens (apud IANNI, 1995), ao fazer a anlise desse momento
histrico, conclui que o conceito de globalizao envolve a intensificao das relaes
sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos
locais so modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distncia e vice-versa.
Segundo ele, este um processo dialtico porque tais acontecimentos locais podem se
deslocar numa direo adversa s relaes muito distanciadas que os modelam. A
transformao local tanto uma parte da globalizao quanto a extenso lateral das conexes
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sociais atravs do tempo e espao. Assim, o autor analisa que, seja quem for, ao estudar as
cidades hoje em dia, em qualquer parte do mundo, estar ciente de que o que ocorre numa
vizinhana local tende a ser influenciado por fatores tais como dinheiro mundial e mercado
de bens operando a uma distncia indefinida da vizinhana em questo.
Para Brunner (2004, p. 22), a sociedade da informao pode ser caracterizada de
diferentes maneiras segundo a concepo de cada autor, mas que no geral h um conjunto de
caractersticas comuns: a) est em processo de formao; b) adquire gradualmente uma
estrutura de redes; c) baseia-se na generalizao e convergncia das novas tecnologias de
informao e comunicao, em particular a Internet; d) est dando lugar a economias que
usam intensamente o conhecimento e, para funcionar com eficcia social, dever adotar a
forma de uma sociedade de aprendizagem, que vir acompanhada de inovaes
organizacionais, comerciais, sociais e jurdicas; e) dar lugar a diversos modelos de
desenvolvimento, cujo principal elemento diferenciador ser o quanto integram ou excluem
pessoas, grupos e naes; f) existir uma maior demanda de flexibilidade em todos os planos,
incluindo oportunidades de formao, os mercados de trabalho e as relaes sociais.
A partir da definio desses autores podemos dizer, acerca da sociedade da
informao, que h uma convergncia de ideias para o fato de que, a partir da insero das
tecnologias de informao e comunicao, as relaes sociais vm passando por
transformaes, acelerando o desenvolvimento cientfico e tecnolgico e consolidando esta
sociedade emergente, cujo elemento central a facilidade de acesso s informaes advindas
das redes eletrnicas capazes de conectar pessoas de todas as partes do mundo, redefinindo o
prprio conceito de tempo e espao.
Um forte desdobramento do conceito de sociedade da informao o conceito de
globalizao, outro conceito polissmico e, portanto, que merece um olhar mais detalhado
de nossa parte. At por ser o grande argumento na definio e implementao de polticas
pblicas de insero das Tecnologias de Informao e de Comunicao/TIC na educao.
Utilizamos novamente Brunner (2004) que, ao analisar o processo denominado
globalizao, o define como uma crescente interconexo de atividades em nvel mundial.
Constata que so atividades de ordem poltica, econmica, social e cultural que influem
diretamente no cotidiano das pessoas. Dreifuss (2001, p. 26), por sua vez, corrobora as ideias
de Brunner ao afirmar que sob a denominao de globalizao podemos encontrar
fenmenos ligados economia, cujos desdobramentos refletem na sociedade, cultura, marcam
a poltica e condicionam a gesto e a governana nacional. Segundo ele, so fenmenos do
mundo da tecnologia, da produo, das finanas e do comrcio que atingem de forma desigual
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e combinada todos os pases da terra, e no somente aqueles que operam em escala mundial.
Aliado ao fenmeno da globalizao, Dreifuss refere-se ainda a outro fenmeno
intimamente ligado a ele, a mundializao, por ele entendido como a generalizao e
uniformizao de produtos, instrumentos, informaes e os meios disponveis a grandes
parcelas da populao mundial. Esse conceito, segundo Dreifuss (2001), tambm envolve a
massificao e homogeneizao cultural, o que fica evidente quando observamos o consumo
de produtos difundidos mundialmente: redes de fast food, refrigerantes, cigarros, entre outros,
ou mesmo a prpria lngua inglesa, considerada por muitos e pelo prprio autor como um
intercomunicante global. No entanto, apesar deste fenmeno global, o autor chama a
ateno para os fatores locais e suas particularidades que tambm so incorporadas pela
mundializao (grupos tnicos, religiosos, culturais, particularidades locais, regionais,
nacionais), tornando a mundializao um fenmeno de mbito societrio, embora
predominantemente condicionado economia e poltica.
Ao refletir sobre o conceito de mundializao, Dreifuss entende que este deve ser
discutido dentro do conceito de sociedade da informao, pois tem como eixo de conduo os
produtos de inteligncia ou instrumentos-sistema (computadores, telefones, televisores) que
fundem suas funes num s, os instrumentos-conhecimento (programas e aplicativos) e os
servios-sistema, alicerados na indstria da informao. Esse entendimento pressupe que
tais elementos constituem os elos indispensveis de cadeias de produo e servios que se
cruzam e formam os megassistemas, responsveis por atender mercados diferenciados em
vrios pases. Para ele so instrumentos de vinculao dos distantes (em termos espaciais,
sociais e culturais) que agem como estruturantes de vrias corporaes responsveis pelo
controle do espao da produo e o mercado de produtos, alm de determinar tambm estilos
de vida e padres de consumo. Podemos dizer, ento, que globalizao e mundializao
configuram-se em fenmenos imbricados de significados muito prximos e indissociveis,
cuja origem, econmica, marcante e determinante, o que acaba por permear todas as
relaes sociais em suas diversas ordens. A globalizao remete mais questo ideolgica,
enquanto a mundializao s questes culturais.
O conceito de globalizao sugere, de certa forma, uma unicidade, segundo anlise de
Ortiz (1996, p. 5), pois quando nos referimos economia global, estamos falando de uma
estrutura nica, no entanto com relao cultura no podemos agir da mesma forma, haja
vista que uma cultura mundializada no implica o aniquilamento das outras manifestaes
culturais, ela coabita e se alimenta delas.
Utilizando-nos da percepo de Ortiz (idem, p. 29), a fim de realizar uma distino
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entre o global e o mundial, dizemos que o global refere-se a processos econmicos e
tecnolgicos, e a mundializao est ligada especificamente cultura, caracterizando-se
como um fenmeno social que enreda o conjunto das manifestaes culturais. Para o autor,
(...) a categoria mundo encontra-se assim articulada a duas dimenses. Ela vincula-se primeiro ao movimento de globalizao das sociedades, mas significa tambm uma viso de mundo, um universo simblico especfico civilizao atual. Nesse sentido ele convive com outras vises de mundo, estabelecendo entre elas hierarquias, conflitos e acomodaes.
Ortiz afirma que uma cultura mundializada corresponde a uma civilizao cuja
territorialidade se globalizou (p.31). Ainda no que tange ao fenmeno da globalizao, faz-
se necessrio ressaltar que, segundo Dreifuss (2001, p. 158),
(...) a globalizao traz consigo a concentrao de capitais, reforada por processos de associao e incorporao de diversos tipos (fuses de iguais, absores hostis) e outras variadas razes: adio de valor s posies dos acionistas, reduo de custos, ganho de escala, tomada de posio em novos mercados, penetrao regional ou nacional, alcance multinacional, aumento de produtividade, ganhos operacionais, novos produtos, aumento de receita etc.
Este conceito ganha efetividade quando analisamos as diversas crises econmicas
que, esporadicamente, tm sacudido as bolsas de valores e cujas repercusses so de ordem
mundial.3 A aliana entre mundializao e globalizao pode se encontrar em outro exemplo
vinculado s campanhas mundiais de consumo de produtos, que transformam equipamentos e
acessrios em objetos de consumo internacional. Recentemente constatamos esse processo
com a venda do aparelho IPhone3G, da Apple4
3 Como exemplos, podemos citar: a queda da bolsa de New York, em 1929; a Segunda-Feira Negra, de 1987; a Crise do Mercado Asitico, em 1997; a Crise das Pontocom, em 2000; o 11 de Setembro, em 2001 e, em 2008, a crise da subprime ou das hipotecas, crise mundial com origem no mercado imobilirio americano.
. O lanamento foi quase simultneo em
diversos pases e em cada um deles especulava-se a data de lanamento no prximo pas. No
caso do Brasil a mdia impressa e televisiva e, mais intensamente, a internet fizeram uma forte
campanha de divulgao do aparelho antes mesmo de ser lanado no pas, transformando-o
em objeto de desejo mundializado. Assim, de acordo com Dreifuss, h uma padronizao que
induzida pelos fabricantes globais, ou mesmo uma globalizao do varejo. Este fenmeno
ocorre com os mais variados produtos, desde as peas de vesturio at os aparelhos
eletrnicos.
4 Empresa multinacional americana que atua no ramo de aparelhos eletrnicos e informtica, fundada em 1976 na Califrnia, EUA.
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Com a criao da rede eletrnica, as informaes passam a ser divulgadas/trocadas em
um fluxo maior e mais rpido, o que contribui para modificaes nos processos de
convivncia das sociedades que se vem transformadas e unificadas por um intercmbio
sociocultural advindo da comunicao em redes.
No Brasil, com o intuito de inserir o pas nesta nova sociedade, a da informao, o
Ministrio da Cincia e Tecnologia coordenou o Programa Sociedade da Informao
(SocInfo), institudo por Decreto Presidencial em 1999, durante o governo FHC (1994-2002),
com o objetivo de integrar, coordenar e fomentar aes para a utilizao de tecnologias de
informao e comunicao, de forma a contribuir para a incluso social de todos os brasileiros
na nova sociedade e, ao mesmo tempo, contribuir para que a economia do Pas tenha
condies de competir no mercado global5
. O Programa desdobra-se em um conjunto de
objetivos globais, com prioridade para cincia, tecnologia, educao e cultura. A tabela
abaixo permite visualizar essas reas e seus objetivos.
Tabela I reas de Atuao e Objetivos do Programa SocInfo
Cincia e Tecnologia Colaborao e conduo de experimentos cooperativos e disseminao de informao cientfica e tecnolgica.
Educao Educao a distncia de qualidade e bibliotecas temticas digitais.
Cultura Criao e difuso cultural com nfase nas identidades locais, seu fomento e preservao.
Sade Prottipos de servios de referncia em atendimento, telemedicina e de informao em sade.
Aplicaes Sociais Mundo virtual como habilitador de competncias e de participao social.
Comrcio Eletrnico Ambientes de comrcio eletrnico e transaes seguras atravs da rede.
Informao e Mdia Meios, processos e padres para publicao e interao; propriedade intelectual e negcios de conhecimento.
Atividades de Governo Integrao e maximizao de aes pblicas para a cidadania, transparncia das aes e melhoria da qualidade dos servios.
Educao para a Sociedade da Informao
Treinamento e formao tecnolgica; popularizao da cultura digital.
Fonte: www.socinfo.org.br, acesso em 12/11/2008.
5 Informaes obtidas junto ao site http://ftp.mct.gov.br/temas/Socinfo/livroverde.htm, acesso em 10 de novembro de 2008.
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Dentro do trabalho realizado pelo Programa, foram organizadas as propostas e
projetadas metas para preparar a nova gerao de redes, viabilizando um novo estgio de
evoluo da Internet e suas aplicaes no pas em um documento, o Livro Verde (2000).
Construdo com a participao do governo, sociedade civil, setor privado e instituies
acadmicas, ele detalha as aes das grandes reas de atuao, apresentando-se com a
seguinte estrutura, organizada a partir de captulos: 1) A Sociedade da Informao; 2)
Mercado, Trabalho e Oportunidades; 3) Universalizao de Servios para a Cidadania; 4)
Educao na Sociedade da Informao; 5) Contedos e Identidade Cultural; 6) Governo ao
Alcance de Todos; 7) P&D, Tecnologias-chave e Aplicaes; 8) Infraestrutura Avanada e
Novos Servios.
O documento traz um conceito de sociedade da informao que remete aos conceitos
presentes entre os tericos da rea, como podemos constatar no trecho transcrito do primeiro
captulo do Livro Verde, onde realizado um trabalho de contextualizao do momento
histrico que pe em discusso a necessidade de definir a atual sociedade como sendo de
informao. Os autores analisam que esse um fenmeno global, com elevado potencial
transformador das atividades sociais e econmicas onde a estrutura e a dinmica dessas
atividades so afetadas pela infraestrutura de informaes disponveis. Enfatizam,
igualmente, sua dimenso poltico-econmica, decorrente da contribuio da infraestrutura
de informaes para que as regies sejam mais ou menos atraentes em relao aos negcios e
empreendimentos. E, por fim, sua dimenso social, em virtude do seu elevado potencial de
promover a integrao, ao reduzir as distncias entre pessoas e aumentar o seu nvel de
informao (TAKAHASHI, 2000, p. 5, grifos do autor).
O foco de nossa anlise nesse documento concentra-se no captulo referente
Educao na Sociedade da Informao, no qual enfatizada a necessidade de insero das
TICs nos espaos escolares e apontam-se estratgias para que isso ocorra, com nfase na
preparao e qualificao dos professores para trabalharem com essas tecnologias, tanto na
formao inicial quanto na continuada.
Podemos dizer que, se por um lado a globalizao contribui para haver uma facilidade
na troca de informaes devido aos meios de comunicao disponveis, por outro lado ela
contribui para a criao de espaos de excluso, na medida em que estes meios no so
disponveis e acessveis a todos.
Martin-Barbero (2003) reflete sobre essa questo ao afirmar que os filhos de classes
mais abastadas conseguem interagir com o novo ecossistema informacional e comunicativo
presente em suas casas, enquanto os filhos das classes populares tm um acesso pobre e
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controlado - via telecentros e cybercafs. O autor chama a ateno para o fato de que essas
crianas estudam em escolas que, em geral, tambm no tm essa comunicao proporcionada
pelo ambiente informtico, o que os deixa ainda mais margem do espao laboral e
profissional que essa cultura tecnolgica configura. A partir dessas observaes, Martin-
Barbero enfatiza a importncia de uma escola que trabalhe com princpios voltados para a
utilizao crtica e criativa dos meios audiovisuais e das tecnologias informticas e seja um
espao de socializao das TIC. Compartilhamos com a ideia de Martin-Barbero, pois as
escolas tm um papel fundamental, na medida em que podem minimizar os processos de
excluso digital e tm condies de proporcionar um acesso qualificado destas crianas e
jovens.
Ainda com relao insero das tecnologias nas escolas, Martinez (2004) atenta para
o fato de que durante muito tempo as tecnologias foram introduzidas em sala de aula num
processo inverso, em que primeiro se observavam as tecnologias disponveis, para s depois
buscar uma definio de como utiliz-las. Para o autor, para que se obtenham resultados
positivos faz-se necessrio inverter essa ordem: primeiro devemos saber o que queremos fazer
na sala de aula e, posteriormente, determinar as tecnologias mais pertinentes para
potencializar, simplificar e melhorar os processos de ensino e aprendizagem (p. 34).
Assim, alunos e professores encontram-se no centro do processo e a tecnologia atua como um
recurso coadjuvante.
Com as tecnologias digitais e a comunicao em rede, amplia-se o problema existente
na escola a respeito de como utilizar a televiso, o videocassete, o retroprojetor e outras
tecnologias. O aparato tecnolgico est na escola, mas o professor, aquele que auxilia na
construo e mediao do conhecimento de seus alunos, ainda no se sente preparado para
utiliz-lo ou ao faz-lo demonstra muita insegurana. Desta forma, os alunos de classes
populares ficam de fora do que, para Martin-Barbero (2004), estratgico: a insero da
educao no processo de comunicao da sociedade atual.
De acordo com Braslavsky (2004), faz-se necessria a busca de polticas mais ativas
em detrimento das polticas de promoo, isto , polticas que forneam e facilitem o acesso
aos artefatos necessrios, bem como a reelaborao dos modos de fazer dos professores. A
partir destas aes fica mais vivel o alcance de uma educao centrada na aprendizagem dos
alunos e no fazer pedaggico dos professores. Evidentemente estes fatores esto distantes do
fato de ter ou no computadores e internet nas escolas.
A SOCIEDADE DA INFORMAO E OS NOVOS DESAFIOS PARA A EDUCAO
Roberta Fantin Schnell - Elisa Maria Quartiero
Florianpolis, v. 10, n. 02, p. 104 126, jan. / jun. 2009 115
Educar na Sociedade da Informao
Diante de tantas mudanas, discute-se o trabalho realizado com as tecnologias no
mbito da educao. Os professores esto sendo desafiados a repensar seu compromisso
frente s novas condies que esto sendo produzidas socialmente nesse contexto de
globalizao. Aponta-se a necessidade de atualizao do cotidiano escolar, de equipamentos
mais modernos e de profissionais com outras competncias. Ou seja, a escola confrontada
com a necessidade de aprender a conviver com as novas tecnologias, trilhar novos caminhos,
bem como assimilar esses percursos a fim de que o novo possa ser de fato compreendido.
Parece haver um consenso, e nos filiamos a ele, que a educao a forma mais
eficiente para assegurar o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e democrtica. Uma
educao voltada para o conhecimento e para as tecnologias de informao e comunicao
deve partir do princpio de que fundamental investir maciamente na formao dos
professores, fator considerado elemento-chave para uma educao realmente transformadora.
No basta simplesmente aparelhar escolas sem, no entanto, promover o aperfeioamento dos
professores para a utilizao destes equipamentos, numa perspectiva de que sejam
desenvolvidas novas habilidades e competncias para a compreenso do trabalho com as
tecnologias em sua prtica pedaggica. A esse respeito, Torres (2001, p. 426) salienta:
Introduzir eficazmente as TIC na escola implica no s proviso massiva de computadores e acesso internet como um reordenamento geral da ordem escolar (infraestrutura, administrao, currculo, pedagogia) e formao (inicial e em servio) dos docentes como usurios competentes das chamadas TIC, tanto para o ensino como para a sua prpria aprendizagem permanente.
evidente que se faz necessrio tambm o aparelhamento das escolas, com
equipamentos digitais de boa qualidade, com conexo Internet e todos os recursos
disponveis; no entanto, de nada adianta termos escolas bem preparadas se no temos o
principal: professores preparados para introduzir estas tecnologias no seu fazer pedaggico.
Martinez (2004, p. 100) concorda que o aparelhamento das escolas importante, mas
atenta para o fato de que a tecnologia deve estar a servio da educao, e no o contrrio.
importante tambm que o processo de equipar as escolas tenha sentido e esteja muito bem
definido a fim de que se saiba para que, onde, como e quando eles sero utilizados. Ainda
segundo esse autor, os educadores e associaes de pais devem participar do processo de
equipar as escolas, a fim de que seja fortalecido o papel social que a escola desempenha na
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comunidade. Os professores, porque conhecem a realidade escolar, e as associaes de pais,
porque cumprem um papel importante como coparceiros no financiamento destas iniciativas
ou mesmo como beneficiados na utilizao dos equipamentos.
Mas afinal, o que educar nesta sociedade da informao? Quais as implicaes para
a escola? No Livro Verde (2000, p. 45), a resposta para nosso primeiro questionamento a
seguinte:
[...] educar em uma sociedade da informao significa muito mais que treinar as pessoas para o uso das tecnologias de informao e comunicao: trata-se de investir na criao de competncias suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuao efetiva na produo de bens e servios, tomar decises fundamentadas no conhecimento, operar com fluncia os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mdias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicaes mais sofisticadas. Trata-se tambm de formar os indivduos para aprender a aprender, de modo a serem capazes de lidar positivamente com a contnua e acelerada transformao da base tecnolgica.
Cercada por tecnologias e mudanas sociais que esto ocorrendo em grande parte do
mundo, a escola se defronta com um desafio imediato e fundamental: formar cidados. Nesse
sentido, cabe estrutura escolar6
Os alunos esto crescendo neste mundo digital e tm acesso cada vez maior s
tecnologias. A tabela a seguir apresenta dados acerca da utilizao da Internet no Brasil, os
quais so de pesquisa realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informao e
da Comunicao sobre o uso das TICs no Brasil durante o ano de 2007:
uma ampla transformao a fim de que possa acompanhar,
apropriar e, se possvel, promover mudanas nas relaes entre as pessoas e no
desenvolvimento social e econmico. Frente a isso, os desafios escola e seus educadores so
os de criar processos permanentes e colaborativos de aprendizagem, ajudando os alunos a
construir/desconstruir identidades, isto , que lhes permitam fazer escolhas, repensar, tanto o
espao escolar quanto as relaes estabelecidas em seu interior. Apostar que a interao
crtica e criativa com as tecnologias digitais poder contribuir para a formao de uma
sociedade mais democrtica.
6 Por estrutura escolar compreendemos a escola como um todo, desde sua organizao curricular at as pessoas que fazem parte de sua organizao, quais sejam: pais, professores, alunos, especialistas, diretores.
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Tabela II Utilizao da Internet no Brasil - Percentual sobre o total de usurios de internet
Fonte: NIC.br set. / nov. 2007
A partir dos dados desta pesquisa percebemos que a populao de baixa renda vem
utilizando cada vez mais os espaos das lan houses para acessar a Internet. No Brasil, a
utilizao destes espaos ou de outros como os cybercafs envolvem 49% da populao. Na
regio Sul, onde o nmero de usurios de computadores pessoais maior, este valor cai para
30%.7
Os centros pblicos de acesso pago so utilizados majoritariamente por pessoas com
baixo nvel de escolaridade: dos que frequentam lan houses, 64% so estudantes do nvel
fundamental e 53% so do nvel mdio. Entre os usurios que afirmam ter ensino superior,
Entre os usurios da Internet com renda at 1 salrio mnimo, 78% declararam utilizar
a rede nos centros pblicos de acesso pago. Esse nmero cai para 67% entre os que tm renda
de 1 a 2 salrios mnimos; 55% para os que tm renda entre 2 e 3 salrios mnimos; 42% para
os com renda entre 3 e 5 salrios mnimos; e de apenas 30% para os usurios com renda
superior a 5 salrios mnimos.
7 Fonte: NIC.br set. / nov. 2007 Disponvel em http://www.cetic.br/usuarios/tic/2007/rel-int-04.htm acesso em 10/08/2008.
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esse percentual cai para 27%. Como a escolaridade, no Brasil, tem uma relao direta com o
emprego e os nveis salariais, podemos concluir que a lan-house o principal espao para as
classes E, D e C renda entre 1 e 4 salrios mnimos plugarem-se internet e localiza a
populao que no tem poder aquisitivo para adquirir um computador pessoal.8
O universo da informao de alunos e professores ampliou-se nestas ltimas dcadas.
As informaes, saberes, conhecimentos so produzidos com tanta velocidade que h
necessidade de um rigor seletivo para definirmos aquilo que realmente pertinente aos nossos
propsitos, pois apesar da riqueza de contedos, impossvel o aceso a toda essa informao
disponvel. No entanto, Porto (2003) em suas pesquisas sobre o uso de TICs nas escolas da
regio Sul do pas constata que, no cotidiano da maioria das escolas pesquisadas, h muito
conhecimento repetitivo, esttico, reproduzido ao infinito por meio de prticas pedaggicas
vazias no sentido e significado, no s para os alunos como para os prprios professores,
presos dentro de posturas dogmticas, fechadas e unilaterais.
Em face deste cenrio, de tantas transformaes e possibilidades, para as escolas
pertinente discutir a integrao crtica e criativa das tecnologias digitais no espao escolar,
pois traz impressa a possibilidade de contribuir para mudanas qualitativas no processo
ensino-aprendizagem. O professor, nesse processo, torna-se um ator importante por meio da
mediao pedaggica que realiza. Pois no h tecnologia em si mesma; tecnologias so
produtos de relaes sociais, so construtos culturais, e no naturais. Ao serem utilizadas e
fazerem parte do cotidiano da escola, as tecnologias, em especial os computadores e a
Internet, podem favorecem as relaes entre professores, alunos e conhecimento, o que
permitiria estabelecer novas relaes e espaos colaborativos de aprendizagem. De acordo
com Kenski (2007, p. 66),
(...) as TICs e o ciberespao, como um novo espao pedaggico, oferecem grandes possibilidades e desafios para a atividade cognitiva, afetiva e social dos alunos e dos professores de todos os nveis de ensino, do jardim de infncia universidade. Para que isso se concretize, preciso olh-los de uma nova perspectiva. At aqui, os computadores e a internet tm sido vistos, sobretudo, como fontes de informao e como ferramentas de transformao dessa informao. Mais do que o carter instrumental e restrito do uso das tecnologias para a realizao de tarefas em sala de aula, chegada a hora de alargar os horizontes da escola e de seus participantes, ou seja, todos. O que se prope para a educao de cada cidado dessa nova sociedade e, portanto, de todos, cada aluno e cada professor no apenas
8 Pesquisa sobre o uso das Tecnologias da Informao e da Comunicao no Brasil 2007 realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informao e da Comunicao CETIC.br . Este centro faz parte do Comit Gestor da Internet no Brasil CGI.br . Disponvel em http://www.cetic.br/ acesso em 10/8/2008.
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formar o consumidor e usurio, mas criar condies para garantir o surgimento de produtores e desenvolvedores de tecnologias. Mais ainda, que no aprendam apenas a usar e produzir, mas tambm a interagir e participar socialmente e, desse modo, integrar-se em novas comunidades e criar novos significados para a educao num espao muito mais alargado.
A atual revoluo tecnolgica, dentro de uma sociedade cada vez mais complexa,
impe educao a necessidade de discutir a incorporao e os usos das tecnologias no fazer
pedaggico. Segundo os autores que teorizam sobre os impactos das tecnologias digitais na
educao (ALMEIDA, 2007; FAGUNDES, 1999; GOMES, 2002; KENSKI, 2007; MORAN,
2004; BEHRENS, 2000; VALENTE, 1997; MASETTO, 2000, PORTO, 2003), as mudanas
envolvem todos os aspectos do processo educativo: o ensino, a aprendizagem, a estrutura e o
funcionamento da escola, assim como as suas relaes com a comunidade. Na construo do
cenrio educacional necessrio para a incorporao das tecnologias digitais, esses autores
ressaltam dois aspectos: a dificuldade que o professor tem para utilizar o computador devido
falta de contato e formao; e os requisitos e habilidades requeridos ao professor para a
incorporao do computador no seu trabalho pedaggico. A inveno de aparelhos,
instrumentos e tecnologias da cultura permite e exige novas formas de experincia que
requerem novos tipos de habilidades e competncias.
Enfatizam a importncia da subordinao da tcnica ao pedaggico ao mesmo tempo
em que ressaltam que as novas possibilidades tcnicas criam novas aberturas pedaggicas e
com isto cresce a importncia do aperfeioamento docente. Igualmente, analisam que as
tecnologias podem provocar um impacto significativo na prtica do professor. Entre os
autores que enfatizam esse aspecto, destaca-se Valente (1993), para quem o papel do
computador na educao o questionamento da funo da escola e do professor deixar de
ensinar para promover o aprendizado. Segundo ele, ao modificar a concepo de escola,
altera-se tambm o papel do professor, que passa a ser no mais o repassador de informaes
papel desempenhado pelo computador e sim de facilitador do processo de aprendizagem.
Dessa forma, as tecnologias de informao e de comunicao no substituiriam o
professor, mas modificariam as suas funes, ao possibilitarem uma maior dinamicidade na
organizao pedaggica. Essa condio implicaria a transformao e construo de um novo
paradigma centrado agora no desenvolvimento integral do cidado e, como nos aponta Levy
(1993), na construo de uma ecologia cognitiva que favorecesse a construo de outra
dinmica educacional.
Paralelamente, vrios autores apontam a importncia da formao docente
(BEHRENS, 2000; MASETTO, 2000, PORTO, 2003). Ao discutirem esse aspecto, enfatizam
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a necessidade de se superar uma formao mecnica, onde o domnio tcnico e o domnio
pedaggico sejam trabalhados separados. Na anlise de Imbernn (2000, p. 45), a formao
continuada fundamenta-se em diversos princpios, quais sejam: a) aprendizagem contnua,
colaborativa e participativa num ambiente de interao social, compartilhando dificuldades e
sucessos com os colegas; b) relao dos conhecimentos advindos da socializao para aceit-
los ou no em funo do contexto; c) aprendizagem mediante reflexo individual e coletiva e
a resoluo de situaes prticas; d) elaborao de projetos de trabalho coletivo, vinculando-
os formao atravs da pesquisa-ao.
H uma grande nfase na necessidade de organizar a formao de modo que permita a
criao de situaes de aprendizagem que favoream a aquisio e o desenvolvimento de
competncias e habilidades para lidar com os desafios impostos pelo cotidiano, frente ao
desenvolvimento acelerado das tecnologias de informao e de comunicao na sociedade
contempornea. Nesse aspecto, os autores levantam uma srie de indicadores que demonstram
que estamos vivendo uma revoluo tecnolgica sem precedentes. Estes pressupostos so
adotados por diversos tericos (GATES, 1995; NEGROPONTE, 1995; DRUCKER, 1993) e
criticados por outro grande nmero de pensadores (CHESNEAUX, 1996; HARVEY, 1993;
DREIFUSS, 2001). Vale ressaltar a discusso de Vieira Pinto (2005, p. 41) sobre o conceito
de era tecnolgica, no alentado estudo que realiza sobre o conceito de tecnologia entre as
dcadas de 50 e 80 do sculo XX. Para Vieira, o conceito de era tecnolgica encobre, ao
lado de um sentido razovel e srio, outro tipicamente ideolgico, graas ao qual os
interessados procuram embriagar a conscincia das massas, fazendo-as crer que tm a
felicidade de viver nos melhores tempos desfrutados pela humanidade. Segundo o autor, essa
mistificao possvel pela converso da obra tcnica em valor moral, onde uma sociedade
capaz de criar as estupendas mquinas e aparelhos atualmente existentes, desconhecidos e
jamais sonhados pelos homens de outrora, no pode deixar de ser certamente melhor do que
qualquer outra precedente. E nesta sociedade to complexa que o professor convocado a
assumir outro papel: disseminador das informaes e conhecimentos gerados pelo uso das
tecnologias digitais. Moran (2004) analisa que o rdio, o cinema e a televiso trouxeram
desafios, novos contedos, histrias e novas linguagens para dentro da sociedade. Pensava-se
que haveria muitas mudanas na educao em virtude destas mudanas ocorridas na
sociedade; mas, aponta Moran, as pesquisas realizadas sobre o uso destes meios na educao
evidenciaram que foram inseridos marginalmente, ou seja, as aulas continuaram a ser
predominantemente orais e escritas, com algum recurso audiovisual de ilustrao. Segundo
ele, houve um mascaramento, um verniz de novidade, dado pela embalagem mas que no
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promoveu de fato mudanas na educao. Gomes (2002 p. 121) discute este aspecto quando
afirma que:
(...) a escola, como parte da sociedade, precisa estar preparada para acompanhar e participar das transformaes em curso pela introduo dos novos recursos informticos e comunicacionais cada vez mais numerosos e velozes que passam a integrar o dia a dia dos cidados.
Dentro desta mesma discusso, Moraes (1996, p. 58) alerta para o fato de que
programas visualmente agradveis, bonitos e at criativos, podem continuar representando o
paradigma instrucionista, ao colocar no recurso tecnolgico uma srie de informaes a ser
repassada ao aluno. Ou seja, insere-se a tecnologia, mas preservam-se as caractersticas da
abordagem tradicional de educao. Masetto (2000) observa que no podemos colocar na
tecnologia a possibilidade de soluo dos problemas educacionais brasileiros. Para ele, as
tecnologias so um meio, um instrumento para colaborar no processo de aprendizagem e que,
podem sim, auxiliar no desenvolvimento educacional de nossos alunos.
Na anlise realizada sobre as possibilidades das TICs na educao, h uma nfase na
tarefa que est sendo delegada ao professor a partir desta insero, seja na Educao Bsica
ou no Ensino Superior. Essa nova tarefa geralmente apresentada de forma comparativa
maneira como o professor atua sem o uso das atuais tecnologias. Ao mesmo tempo, h a
definio de como deve ser este novo professor: consultor, articulador, mediador, orientador
e facilitador do processo de aprendizagem do aluno. Almeida (2005, p. 47) aponta as novas
caractersticas do trabalho docente com as tecnologias:
O professor que trabalha na educao com a informtica h que desenvolver na relao aluno-computador uma mediao pedaggica que se explicite em atitudes que intervenham para promover o pensamento do aluno, implementar seus projetos, compartilhar problemas sem apontar solues, ajudando assim o aprendiz a entender, analisar, testar e corrigir os erros. (grifo nosso)
Esse aspecto as caractersticas do professor para atuar competentemente com as
tecnologias perpassa os trabalhos e obras de vrios autores da rea de Tecnologia
Educacional ou Educao e Comunicao e remete, na nossa anlise, busca histrica de um
professor ideal que norteou grande parte das discusses terico-metodolgicas da educao.
Como exemplo citamos Moran (2003, p. 58), que ao analisar as mudanas decorrentes da
introduo de tecnologias aposta numa prtica educativa inovadora e em educadores
maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam
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motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque delas samos
enriquecidos.
Consideraes Finais
O modo como educamos e o prprio sistema educativo esto sendo submetidos a
mudanas muito importantes, com relao: aos valores educacionais, ao conceito de
autoridade, s novas necessidades de formao continuada, estrutura e composio do
ncleo familiar. Uma mudana especialmente relevante aquela que se produz em relao ao
modo como a informao distribuda atravs dos novos canais e meios de comunicao
(Bartolom, 2005). Neste cenrio, os professores so convocados e considerados os
responsveis pela insero de seus alunos neste novo espao tecnolgico, mais fortemente
aqueles professores das escolas publicas. Disseminam-se discursos sobre o papel dos
professores no sucesso ou fracasso escolar de seus alunos a partir da sua assimilao do novo,
corporificado nas atuais tecnologias digitais. Entre os diversos discursos ressalta aquele que
aponta a necessidade de os professores superarem suas reaes afetivas, ligao a modelos
tradicionais e amigveis, para reconhecer qual a realidade do mundo em que vivem ou iro
trabalhar seus alunos. Segundo Bartolom (2005, p. 4), ao procurar situar a escola dentro
destas novas demandas sociais,
(...) frente ao discurso unidirecional da classe magistral, do manual e do livro-texto, da interpretao clssica da televiso e dos meios audiovisuais, dos conceitos de ensino e de aprendizagem, saber e autoridade clssicos, das formas de governo clssicas, hoje a sociedade emerge com a ideia de participao.
Para que os alunos sejam inseridos e participem efetivamente da sociedade da
informao, enfatiza Pretto (2001, p. 48), deve ocorrer uma srie de aes continuadas, com a
utilizao das tecnologias contemporneas de informao e comunicao no cotidiano escolar.
Para o autor, essas aes podem ser desenvolvidas
(...) a partir da articulao intensa de aes com a perspectiva de associar a montagem da rede, tanto no sentido fsico como no sentido terico, de forma a fortalecer uma nova concepo de currculo que no mais se constitua numa grade em sentido estrito e em sentido figurado tambm com um elenco de disciplinas e ementas soltas que passam a se encaixar na grade, formando o todo, estando as disciplinas elencadas e arrumadas em sequncia hierrquica, uma sendo pr-requisito para as demais, a se somarem
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linearmente.
Alm destas necessrias mudanas, um aspecto que precisaria ser revisto a formao
de professores, tanto em nvel inicial quanto ao longo da vida profissional. Considerando que
grande parcela de professores que atuam nas escolas publicas no teve, na sua formao
inicial, contedos e prticas sobre o uso das tecnologias digitais para a incorporao ao seu
trabalho docente, a formao continuada reveste-se da maior importncia, pois a
possibilidade que os professores tm em adquirir uma formao que ocorra dentro das
necessidades da sua escola e de seus alunos. Barreto (apud SHUI, 2003, p. 125), no entanto,
alerta que a formao dos professores em servio deve ser permanente e continuada, mas no
com o objetivo de substituir ou preencher as lacunas de uma formao inicial descuidada.
Segundo ela, os cursos de formao inicial de professores precisam assumir a
responsabilidade primeira de proporcionar aos futuros professores uma anlise crtica a
respeito das relaes sociais, histricas, polticas e econmicas do acelerado desenvolvimento
das tecnologias digitais e de suas implicaes terico-prticas no campo da educao. Ao ser
contemplado este aspecto na formao inicial, segundo a autora, haveria a possibilidade de
repensar o papel social da escola e do professor neste momento histrico.
Os cursos superiores de formao inicial de professores precisam estar atentos
formao dos novos professores necessrios para esta sociedade conectada. A discusso
acerca das possibilidades pedaggicas da utilizao das tecnologias digitais nas escolas pode
estar inserida na proposta curricular destes cursos a fim de que os professores sejam capazes
de incorporar estas tecnologias s suas prticas.
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A SOCIEDADE DA INFORMAO E OS NOVOS DESAFIOS PARA A EDUCAOA Configurao da Sociedade da InformaoEducar na Sociedade da Informao