9
ihu.unisinos.br A vida como história de liberdade. Artigo de Rosino Gibellini by Moisés Sbardelotto • 7 min read • original “Também na Igreja, a história da liberdade se faz luta pela liberdade e, portanto, processo de libertação para ampliar os espaços da liberdade.” Publicamos aqui a introdução à nova edição de Libertà e manipolazione. Una riflessione sulla società e sulla Chiesa [Liberdade e manipulação. Uma reflexão sobre a sociedade e sobre a Igreja] (EDB 2013), de Karl Rahner. O texto foi escrito pelo teólogo italiano Rosino Gibellini, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e em filosofia pela Universidade Católica de Milão, e republicado pelo blog Teologi@Internet, da Editora Queriniana, 07-02- 2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Eis o texto. O que é, em última análise, a nossa vida e a vida dos povos? É uma história de liberdade, que se expressa superando as limitações e restrições vários (ou manipulações) que condicionam e obstaculizam a sua expressão e a sua constituição. Rahner escreve em um ensaio paralelo – por temática e por tempo:

A Vida Como História de Liberdade. Artigo de Rosino Gibellini — Www.ihu.Unisinos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

vbnklçmn xbnç,lmzx zxcvbçlvbmn zxvbçlnfgvn xvbçlzcvmn zxcvçlm zxcvçlkbnm

Citation preview

  • 28/04/2015 Avidacomohistriadeliberdade.ArtigodeRosinoGibelliniwww.ihu.unisinos.br

    https://www.readability.com/articles/17pnom9w 1/9

    ihu.unisinos.br

    A vida como histria deliberdade. Artigo de RosinoGibellini

    by Moiss Sbardelotto 7 min read original

    Tambm na Igreja, a histria da liberdade se faz luta pelaliberdade e, portanto, processo de libertao para ampliar osespaos da liberdade.

    Publicamos aqui a introduo nova edio de Libert emanipolazione. Una riflessione sulla societ e sulla Chiesa[Liberdade e manipulao. Uma reflexo sobre a sociedade esobre a Igreja] (EDB 2013), de Karl Rahner.

    O texto foi escrito pelo telogo italiano Rosino Gibellini, doutorem teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e emfilosofia pela Universidade Catlica de Milo, e republicadopelo blog Teologi@Internet, da Editora Queriniana, 07-02-2014. A traduo de Moiss Sbardelotto.

    Eis o texto.

    O que , em ltima anlise, a nossa vida e a vida dos povos? umahistria de liberdade, que se expressa superando as limitaes erestries vrios (ou manipulaes) que condicionam eobstaculizam a sua expresso e a sua constituio. Rahnerescreve em um ensaio paralelo por temtica e por tempo:

  • 28/04/2015 Avidacomohistriadeliberdade.ArtigodeRosinoGibelliniwww.ihu.unisinos.br

    https://www.readability.com/articles/17pnom9w 2/9

    "Talvez seja possvel interpretar com um certo direito tudo o que

    aconteceu no palco da histria como um produto da liberdade aservio da liberdade" [1]. A histria da liberdade se faz luta pelaliberdade e, portanto, processo de libertao para ampliar osespaos da liberdade.

    O ensaio de Karl Rahner (1904-1984) ento professor daUniversidade de Mnster que reproposto a leitores eleitoras, cerca de 40 anos depois da sua primeira publicao, em1970, na edio original alem, prontamente traduzido em 1971,conserva a sua atualidade. Em 1970, estava-se em torno do 1968[2], que, nos seus movimentos juvenis, reivindicava maisliberdade na sociedade; mas tambm a Igreja Catlica era abaladapelas discusses sobre a encclica Humanae vitae (1968), dePaulo VI, assim avaliada retrospectivamente pelo grande telogoda moral Bernhard Hring: "Se tivermos em mente tudo isso, no de se admirar que inmeros bispos e um nmero ainda maior detelogos, pastores, confessores e especialmente pessoas casadas econselheiros matrimoniais tenham dificuldade em aceitar ocarter absoluto das novas normas" [3].

    A atualidade dada pela situao de crise da sociedade civil,diversamente interpretada (Habermas, Beck, Bauman,Rmond), mas tambm de uma crise da Igreja [4], que perdeu odinamismo e os horizontes de esperana, abertos pelo ConclioVaticano II, do qual completam-se nestes anos o 50 aniversriode celebrao e de promulgao dos 16 documentos conciliares[5].

    O autor do ensaio proposto est entre os telogos catlicos maisconhecidos do sculo XX. Na conferncia programtica deChicago, Teologia e antropologia, de 1966, Rahner defende a

  • 28/04/2015 Avidacomohistriadeliberdade.ArtigodeRosinoGibelliniwww.ihu.unisinos.br

    https://www.readability.com/articles/17pnom9w 3/9

    necessidade dada a j no obviedade e estranheza das doutrinascrists em um mundo secular e pluralista de tratar com mtodoantropolgico-transcendental todas as doutrinas teolgicas, demodo a poder identificar para cada ponto doutrinal umainspirao antropolgica correspondente [6].

    Por causa dessa sua sistematizao, a teologia de Rahnerrepresenta a contribuio mais rigorosa, no mbito da teologiacatlica, quela que foi definida como a "virada antropolgica nateologia". O seu discpulo, Johann Baptist Metz, bemcaracterizou a contribuio do seu mestre teologia catlica: "Ateologia de Rahner forou o sistema da 'teologia de escola',abrindo-o ao sujeito. Ele cavou 'o sujeito' da rocha de umobjetivismo escolstico, em que essa 'teologia de escola' estavaaprisionada em todas as suas partes" [7].

    A temtica do ensaio proposto, estruturalmente de antropologiateolgica, expressa-o nessa linha, no tempo em que se assistia apassagem da teologia transcendental-antropolgica de Rahner teologia poltica, promovida pelo discpulo j citado, J. B. Metz,emSobre a teologia do mundo (1968), em que se prospectava aIgreja como instituio de liberdade crtica com relao sociedade, ento interpretada nos seus dinamismos pela Escolade Frankfurt [8].

    Liberdade uma palavra de longa histria [9], que se tornapalavra-chave nos ltimos dois sculos; e o telogo, nesse ensaio,a ilumina na sua dimenso social e, especialmente, no seu sentidoteolgico e eclesial.

  • 28/04/2015 Avidacomohistriadeliberdade.ArtigodeRosinoGibelliniwww.ihu.unisinos.br

    https://www.readability.com/articles/17pnom9w 4/9

    1. A liberdade criatural, em sentido teolgico, liberdade doegosmo e pelo amor de Deus e do prximo: " liberdade liberadapor obra da graa" [10]. Mas ela exercida no espao do mundo e"no material do mundo" (p. 18). H, portanto, uma relao entreliberdade religiosa (entendida como liberdade em sentidoteolgico) e liberdade civil (ou profana, como chamada). Aliberdade religiosa precisa de um espao de liberdade civil, porser liberdade que atua no mundo, e liberdade "agonal" (p. 27),que luta para se afirmar contra as diversas manipulaes: "Ahistria do ser humano continua sendo fundamentalmentehistria da liberdade contra as manipulaes" (p. 26).

    A histria do ser humano no evolutiva, mas sim "criativa" (p.32), "histria da luta pela liberdade" (p. 34); "histria aberta,fundamentada na esperana e na responsabilidade" (p. 32). Mas aesperana do cristo escatolgica, esperana em um "futuroabsoluto" (expresso recorrente na teologia de Rahner) com oadvento do reino de Deus; e isso explica um "realismo ctico" (p.37) do cristo com relao histria da progresso (Hegel eCroce) e ao utopismo revolucionrio (Marx), mas no exclui, porsi mesmo, um "empenho de esperana" (p. 36), bem diferente doconservadorismo dos cristos, gerado, indevidamente, pelomotivado ceticismo com relao ao futuro intramundano.

    Aqui, Rahner fala abertamente do ceticismo dos cristos e daIgreja, que no se mostraram defensores e colaboradores nahistria da liberdade do mundo moderno, mas sim "crticos ecensores, certamente no portadores dessa histria" (p. 38), e issono campo histrico, bem verificvel e documentado, masjustamente em contradio com uma concepo profunda e cristdo mundo. Bela pgina rahneriana, ps-conciliar, incomum no

  • 28/04/2015 Avidacomohistriadeliberdade.ArtigodeRosinoGibelliniwww.ihu.unisinos.br

    https://www.readability.com/articles/17pnom9w 5/9

    tempo de improdutivas lamentaes, que se colocam mais no ladodo ceticismo (histrico) dos cristos e da Igreja, superado, emlinha doutrinal, pelos documentos do Conclio Vaticano II.

    Rahner, rpido e orientativo nas concluses: "De todos os modos,apesar da confuso existente no mundo e na Igreja, pe-se hoje atarefa de cooperar decisivamente nessa histria da liberdade" (p.39). Essa advertncia, teolgica, ainda vale no tempo dofundamentalismo, mas tambm do ressurgimento da conscinciaapocalptica, como expressada tambm pelo filsofo MassimoCacciari no seu livro muito estimulante Il potere che frena [Opoder que freia] (Adelphi Edizioni, 2013), em que se prev (e seprediz) que a humanidade dominada pela tcnica s pode esperara abertura de novas caixas de Pandora. E Rahner: "A vontade deque a histria prossiga um dever para o cristo" (p. 41).

    2. A histria da Igreja tambm , ou deveria ser, histria deliberdade; a Igreja como "koinonia da esperana e do amor olugar em que ocorre aquela salvao que se realiza somente naliberdade" (p. 48). Mas um espao de liberdade a ser conquistadosempre de novo, dada a pecaminosidade humana at mesmo doshomens da Igreja e tambm da Igreja como instituio, que gerepoder.

    Em um livro seu, pungente e realista, o telogo brasileiroLeonardo Boff tinha denunciado corajosamente emIgreja:Carisma e Poder (1981): "O carisma no exclui o elementohierrquico, mas o inclui. O carisma mais fundamental que oelemento institucional. O carisma a fora pneumtica (dynamistou Theou) que instaura as instituies e as mantm" [11].Rahner reconhece que a Igreja historicamente alimentou

  • 28/04/2015 Avidacomohistriadeliberdade.ArtigodeRosinoGibelliniwww.ihu.unisinos.br

    https://www.readability.com/articles/17pnom9w 6/9

    "desconfianas" contra a liberdade, percebida como "ameaa", emvez de se constituir na sociedade como "instncia crtica deliberdade" (p. 50-51).

    3. Por fim, Rahner avana no tema da relao entre Magistrio eteologia, que se coloca na temtica mais vasta da "democracia naIgreja", que apenas mencionada e no expressamente tratada noensaio. Aqui, o telogo alemo desce ao concreto, fazendoreferncia expressa Carta do episcopado alemo (30 de agosto1968) depois da encclica Humanae vitae (25 de julho 1968), parareivindicar pesquisa teolgica um espao de liberdade, nocomo concesso soberana e benevolente, mas sim como exignciade verdade: "Esse espao de liberdade, como dimenso da verdadecrist e eclesial, deve ser sublinhado e reconhecido" (p. 56).

    O tema assume a sua relevncia, tambm no 50 aniversrio damemria do Conclio. Reconhece-se que o entusiasmo do Concliotinha favorecido uma colaborao fativa entre bispos e telogos,que no precisou de uma teorizao. O telogo Otto HermannPesch escreve (nos anos 1990), com uma certa amargura: "No'ncleo duro', porm, continua-se sendo da opinio de que noexiste uma semelhana real, em certos casos tambm em forma dedisputa, entre magistrio e teologia, mas que h, aqui, o anncio e,l, a teologia, que forada a uma obedincia interior e exteriordiante do ensino oficial embora ainda no formalmentedogmatizado da Igreja. Olhando bem, com tal viso no sequerrespeitado o custoso compromisso alcanado pela Constituiosobre a Revelao" [12]. Assim se evidencia a passagem dacolaborao no Conclio a uma justaposio entre Magistrio eteologia nas dcadas seguintes, que contribuiu com a crise, hojelamentada, da Igreja Catlica.

  • 28/04/2015 Avidacomohistriadeliberdade.ArtigodeRosinoGibelliniwww.ihu.unisinos.br

    https://www.readability.com/articles/17pnom9w 7/9

    Citamos um recente documento oficial sobreA teologia hoje,assinado pela Comisso Teolgica Internacional em 2012, quese mostra consciente dos problemas existentes e se situa na linhade uma desejada colaborao entre bispos e telogos [13]. Escreveo recente documento vaticano no nmero 42: "Inevitavelmente,s vezes, poder haver tenses no relacionamento entre ostelogos e bispos. Em sua anlise profunda da interao dinmica,no organismo vivo da Igreja, dos trs ofcios de Cristo comoprofeta, sacerdote e rei, o Bem-aventurado John Henry Newmanreconheceu a possibilidade de tais 'colises crnicas oucontrastes', e bom lembrar que ele via isso como 'de acordo coma natureza das coisas'".

    E continua citando a Tese 9 do documentoMagistrio eTeologia de 1975: "Com relao s tenses entre telogos eMagistrio, a Comisso Teolgica Internacional, em 1975, assimse expressou: 'Onde quer que haja uma verdadeira vida, a haversempre tenso. Essa tenso no precisa ser interpretada comohostilidade ou oposio real, mas pode ser vista como uma foravital e um estmulo para a realizao em comum de (suas)respectivas tarefas por meio de dilogo'".

    Talvez se trate de recuperar, em nome de uma novaevangelizao, aquela capacidade de sntese, da qual nasceramlaboriosamente, na real comunho e colaborao entre Magistrioe teologia, os documentos do Conclio Vaticano II.

    Notas:

    1. K. RAHNER, Istituzione e libert (1971), in Schriften zurTheologie, Band X; trad. it., Nuovi saggi V. Roma: Paoline, 1975,153-174; qui: 168.

  • 28/04/2015 Avidacomohistriadeliberdade.ArtigodeRosinoGibelliniwww.ihu.unisinos.br

    https://www.readability.com/articles/17pnom9w 8/9

    2. Cf. R. GIBELLINI, Sessantotto e teologia. Teologi@Internet 124(10-12-2008).

    3. Cf. B. HRING, Liberi e forti in Cristo, vol. 2 (1979), versioneintegral do ingls. Roma: Paoline, 1980, vol. 2, 636.

    4. Cf. F.-X. KAUFMANN, Kirchenkrise. Wie berlebt dasChristentum?, Herder, Freiburg-Basel-Wien 2011; H. KNG,Salviamo la Chiesa (2011). Milo: Rizzoli, 2011.

    5. Cf. S. SCATENA D. GIRA J. SOBRINO M.C. BINGEMER(edd.), A cinquantanni dagli inizi del Vaticano II (1962-2012),Concilium 48 (3/2012). Brscia: Queriniana, 2012

    6. Cf. R. GIBELLINI, La teologia del XX secolo. Brscia:Queriniana, 1992, 2007 6 ed. aum., 251.

    7. Ibid., 252.

    8. Ibid., 324.

    9. Cf. E. STERPA, Storia della libert, Rubbettino, SoveriaMannelli (CZ) 2008.

    10. K. RAHNER, Istituzione e libert, cit. n. 1, 172.

    11. L. BOFF, Igreja: carisma e poder. So Paulo: tica, 1994, 259.

    12. O.H. PESCH, Il Concilio Vaticano II. Preistoria, svolgimento,risultati, storia post-conciliare (1996 4). Brscia: Queriniana,2005, 304.

  • 28/04/2015 Avidacomohistriadeliberdade.ArtigodeRosinoGibelliniwww.ihu.unisinos.br

    https://www.readability.com/articles/17pnom9w 9/9

    13. COMISSO TEOLGICA INTERNACIONAL. Teologia hoje:perspectivas, princpios e critrios. Livraria Editora Vaticana,Cidade do Vaticano, 2012.

    Adicionar comentrio

    Nome (obrigatrio)

    Website

    Notifique-me de comentrios futuros

    Atualizar

    E-mail (obrigatrio)

    Comentrio

    Original URL:http://www.ihu.unisinos.br/noticias/528184-a-vida-como-historia-de-liberdade-artigo-de-rosino-gibellini