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a vida e criaçao de abelhas indigenas sem ferrao

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Vida e Criao de Abelhas Indgenas Sem Ferro

Atrs destas pginas, mostro como vive um povo. So os membros de uma nao dinmica e operosa, cujas origens remontam a milhes de anos de evoluo lento e persistente. Se o leitor trata a Natureza a ferro e fogo, em minutos o seu machado destruidor arrasar a cidade e seus habitantes, Se, porm, o seu corao for amigo das maravilhas que nos proporcionou o Criador, preservar este pequeno reino e poder entender melhor a Terra e a vida que a povoa. A salvaguarda dos recursos est em suas mos. Orelhas:

O autor Paulo Nogueira-Neto, trabalhou durante muitos anos para apresentar aqui o resultado de suas pesquisas e conhecimentos sobre as abelhas indgenas sem ferro. Este livro relata os aspectos mais importantes da vida dos Meliponneos, as simpticas abelhas tropicais e subtropicais que fascinam os que possuem colnias desses insetos to atraentes e inusitados. Alm disso, so indicados mtodos que permitem criar e multiplicar essas abelhas. O autor, Professor Titular (aposentado) de Ecologia na Universidade de So Paulo, escreveu este livro no estilo dos trabalhos cientficos, expondo e comentando informaes abundantes e fundamentadas, mas procurando sempre usar uma linguagem acessvel. O leitor encontrar, tambm, uma discusso sobre alguns assuntos importantes, como o da viabilidade de pequenas populaes de Meliponneos Na realidade, algumas concluses aqui apresentadas transcendem o mundo das abelhas. Foi demonstrado pelo autor que pequenas populaes dessas abelhas podem ser geneticamente viveis, contrariando opinies que negavam essa possibilidade. Assim, h esperanas de que as inmeras pequenas florestas remanescentes das Amricas, tenham um significado maior que o comumente reconhecido, como ilhas de biodiversidade. Neste livro esto indicadas as principais caractersticas dos Meliponneos e a informao de como os seus produtos devem ser tratados desde sua colheita at seu consumo. Foram tambm apresentadas as colmias racionais PNN

aperfeioadas e amplamente testadas. Outros captulos tratam das tcnicas necessrias criao das abelhas indgenas sem ferro e dos cuidados que meliponicultor deve tomar para ser bem sucedido, o que pode ser feito facilmente. Alm das consideraes sobre o comportamento, gentica e criao de Meliponneos, h tambm neste livro uma discusso e esclarecimento sobre as seguintes questes: a conservao do mel e sua pasteurizao, antibiticos naturais do mel, a higiene ou a falta de higiene certas espcies de abelhas, a existncia de casos raros de mis e plens perigosos, tomo prevenir casos de botulismo infantil eventualmente causados pela ingesto de mel, uma relao de plantas txicas para abelhas e outros assuntos que no so comumente encontrados em livros sobre esses insetos.

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Professor Titular de Ecologia, AP Instituto de Biocincias, Universidade de So Paulo, Brasil Professor Honorrio do Instituto de Estudos Avanados, Universidade de So Paulo Ex-Secretrio (Federal) do Meio Ambiente (1974-1986) Membro da Academia Paulista de Letras

Paulo Nogueira-Neto

Vida e Criao de Abelhas Indgenas Sem Ferro

1997 Urna Edio Nogueirapis ISBN-86525

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Copyright 1997 por Paulo Nogueira-Neto proibida a reproduo integral ou parcial desta obra sem o consentimento prvio do autor, exceto se o trecho a ser reproduzido for menor que duas pginas. Alm disso, a publicao deve ser fiel e acompanhada da citao deste livro e do seu autor. 70 Ilustraes de: France Martin Pedreira Planejamento visual grfico: Eduardo Hfling Milani Transcrio em computador: Sandra Camerata e Clemilde Soares Pociano Reviso e organizao do texto: Tereza Cristina Giannini Reviso tcnica geral: Vera Lcia Imperatriz-Fonseca Catalogao elaborada com a colaborao do Servio de Biblioteca do Instituto de Biocincias da Universidade de So Paulo Nogueira-Neto, Paulo Vida e Criao de Abelhas indgenas sem ferro. So Paulo: Editora Nogueirapis, 1997. 445 p

N 778v

1. Meliponicultura 2. Apicultura 3. Comportamento animal 4. Gentica Toxicologia I. Ttulo ISBN:85-86525-01-4 Impresso: Editora Parma Ltda Greco Fotolito

LC QL568.M456 CDD 595.799

IMPRESSO NO ESTADO DE SO PAULO, NA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1997

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Europa & New York. Livro de viagem. 1964. 139pp- Edio limitada, esgotada. . A criao de abelhas indgenas sem ferro. 1953. 280pp; 1970, 365pp. Edies esgotadas. Animais aliengenas, gado tropical, reas naturais. 1970. 256pp. Edio esgotada. A criao de animais indgenas vertebrados. Peixes, anfbios, rpteis, aves, mamferos. 1973. 327pp. Edio esgotada. O comportamento animal e as razes do comportamento humano. Bases e interfaces da Ecoetologia. 1984. 229pp. O estudo dos ecossistemas terrestres a nvel geral e neotropical .1988. Estruturas biolgicas; um sistema de classificao; os solos e a gua disponvel; climas do presente e do passado; deslocamentos, refgios, compensao ecolgica, especiao. 320pp. Edio restrita. Esgotada. Estaes ecolgicas. Uma saga de Ecologia e de poltica ambiental. 1991. H uma traduo em ingls. Ilustraes de diversos fotgrafos. 103pp Do Taim ao Chui. Da Barra do Rio Grande s terras e guas do Arroio Chui. 1993. Fotografias de Alex Soletto. 95pp.

Livros publicados pelo autor

Livros do autor em preparo:Razes histricas e perspectivas da meliponicultura Dicionrio das abelhas indgenas da Amrica Latina Algumas estratgias ecolgicas dos Meliponneos - abelhas tropicais e subtropicais sem ferro Uma verso em castelhano do presente livro.

Editora Nogueirapis (Sucessora da Tecnapis) R. Pedroso Alvarenga 1245 - 5o S. Paulo 04531-012 (SP) Brasil FAX(55)-(011)-280-7354

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UMA HOMENAGEM ESPECIAL minha amada mulher Lucia Ribeiro do Valle Nogueira, que faleceu pouco depois de comemorarmos 50 anos de casamento feliz, presto aqui uma homenagem muito especial. Caminhando na rota da salvao, resta-me a firme esperana de reencontr-la um dia junto a Deus Nosso Criador, graas sobretudo Sua infinita misericrdia e intercesso sempre carinhosa de Nossa Senhora, de quem Lucia era muito devota. Orai por ela. A perda de Lucia para mim uma grande e sofrida provao. Mas, repito, solicito fervorosamente e rezo confiante para que um dia nossas duas almas, cheias de amor e felicidade, sejam reunidas para sempre junto Glria da Santssima Trindade, onde haveremos de encontrar tambm todos os que caminham para junto de Deus.

Na foto acima estou ao lado de Lucia, por ocasio do recebimento em 1990 do Prmio de Conservao da Natureza Augusto Ruschi, concedido pela Academia Brasileira de Cincias. Foi um momento importante para ambos. Nunca teria recebido este e outros prmios e nem exercido as misses e atividades que pude desenvolver, se no fosse o amplo apoio de Lucia.

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Este livro tambm dedicado memria deRegina Coutinho Nogueira, minha me, que me proporcionou uma boa base cultural e um exemplo de profunda f crist.

Paulo A. Nogueira, meu av, cujo interesse pela agricultura e assuntos da natureza constituram um rumo a seguir. Manoel Joaquim Ribeiro do Valle, meu sogro, que me iniciou na admirao s abelhas indgenas.

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Um poema sobre as abelhas indgenas"Quando chove as abelhas Comeam a trabalhar: Moa-branca e a pimenta, Mandaaia e mangang; Canudo, Man-de-Abreu, Tubiba e irapu." "Ronca a tataira, Faz boca o limo, Zoa o sanharo, Trabalha a jandaira, Busca flor a cupira Faz mel o enx, Zoa o capuch, Vai fonte a jata, Campeia o enxu, Faz mel a uruu"

Francisco Romano (1840-1891), cancioneiro nordestino (Transcrito de Lamartine de Faria & Lamartine, 1964:187).

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UMA PRESTAO DE CONTAS E RECORDAES DO PASSADONa apresentao das primeiras duas edies deste livro, contei as dificuldades iniciais e as origens dos meus estudos e trabalhos com os Meliponneos, abelhas que no ferroam. Agora h outros fatos a relatar. Alguns amigos meus, como o Professor Warwick Kerr, o Professor Charles Michener, os conservacionistas John e Jane Perry, o navegante Almir Klinck, o pai extremoso Peter Green, a dirigente do clube de literatura "Penso Jundiai" Mariazinha Consiglio, todos eles e certamente muitos outros, nos finais de ano e em outras ocasies enviam cartas-circulares e at livros, dando notcias de suas andanas, lutas e atividades. o que fao aqui ao amigo leitor. Tenho, pois, precedentes. Passaram-se longos anos, desde a 2a edio de A criao de abelhas indgenas sem ferro", em 1970. Muita gua correu debaixo das pontes. Quero aqui fazer uma prestao de contas que tambm uma explicao e um pedido de desculpas pela demora em publicar este livro. Em janeiro de 1974 assumi o cargo de Secretrio do Meio Ambiente, do Governo Federal. Para mim o convite feito pelo Secretrio-Geral Enrique Brando Cavalcante e pelo Ministro Costa Cavalcante, foi uma enorme surpresa. Procurei exercer o cargo com um enfoque tcnico, no poltico-partidrio ou ideolgico. Sempre respeitei a dignidade, as idias e as crenas das outras pessoas. Ao mesmo tempo, guardei intactas minhas convices crists, democrticas e federalistas. Pude influir para que as leis ambientais (6.938/81 e 6.902/81) fossem aprovadas quase que unanimemente pelo Congresso Nacional, coisa rarssima naquele perodo. Durante os doze anos e meio em que exerci o cargo, trabalhei na elaborao de uma legislao ambiental moderna, instalei e prestigiei o Conselho Nacional de Meio Ambiente-CONAMA e alm disso criei 26 Estaes Ecolgicas (3.200.000 hectares) e 12 reas de Proteo Ambiental (cerca de 1.500.000 hectares), unidades de conservao. Quando deixei a SEMA, implantei a Secretaria do Meio Ambiente, Cincia e Tecnologia - SEMATEC, do Distrito Federal, o que fiz de meados de 1986 at o final de 1988 a convite do Governador Jos Aparecido de Oliveira. Criei l, principalmente, a APA de Cafuringa. Depois de uma breve passagem pelo Ministrio da Cultura, onde estabeleci um setor ambiental de durao efmera, em 1989 retornei Universidade de So Paulo no cargo, conquistado por concurso (1988), de Professor Titular do Departamento de Ecologia Geral do Instituto de Biocincias. Alm de exercer cargos pblicos brasileiros, fui membro e eventual presidente do Programa MAB da UNESCO, que estabelece as Reservas da Biosfera. Fui tambm um dos 23 membros da Comisso das Naes Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como Comisso Brundtland. De 1983 a 1987, periodicamente

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percorremos o mundo para estudar os problemas locais e gerais relativos ao meio ambiente e ao desenvolvimento auto-sustentvel. Estivemos em muitos pases e visitamos numerosas reas naturais. Durante essas viagens a Comisso Brundtland preparou e completou o livro-relatrio "Nosso futuro comum", do qual sou um dos autores. H uma traduo da Fundao Getlio Vargas. Durante os meus tempos de Planalto Central, consegui tambm tempo, trabalhando noite na minha residncia e nos fins de semana na Fazenda Jatiara (Luzinia, Gois) e em outros lugares, para desenvolver estudos e pesquisas sobre o comportamento dos animais e sobre questes ecolgicas. Assim, em 1980 pude apresentar e defender a minha tese de Livre-Docncia (293 pgs) sobre aspectos do comportamento de pombas silvestres e de periquitos e papagaios (Psitacideos). Para que isso fosse possvel, foi necessrio escrever at altas horas, nas calmas noites de Braslia, e usar o tempo disponvel aqui e ali, como, por exemplo, a bordo de avies, nos sales "belle epoque" de tranqilos hotis europeus, bem como em movimentados sagues de aeroportos, no Rio de Janeiro, em Madrid, Oslo, Copenhaguen, e em numerosos outros lugares. Alm disso, fazia as pesquisas nos fins de semana. Foi uma fase intensa mas altamente gratificante de minha vida, que compartilhei intensamente com a minha saudosa esposa. Quando na Fazenda Aretuzina, em So Simo (SP) contemplo o Vale do Ribeiro Tamanduazinho com saudade que me lembro dos meus dias no Rift Valley e outras paragens do Kenya, onde estive vrias vezes, a servio do meio ambiente. Em 1985 pude completar a redao e publicar o primeiro livro escrito na Federao Brasileira sobre Etologia ou seja, sobre o comportamento dos animais em condies naturais. Trata-se do "Comportamento animal e as razes do comportamento humano" (Nogueira-Neto, 1985). Antes, s havia tradues de autores de outros pases. Em 1988, apresentei a edio experimental de um trabalho de 320 pgs. "O estudo dos ecossistemas terrestres a nvel geral e neotropical". Trata basicamente do impacto das mudanas climticas sobre os ecossistemas terrestres. um ensaio que estou aos poucos revendo para eventual republicao. Foi minha atividade principal corno Professor Visitante no Instituto de Estudos Avanados da USP, do qual sou hoje Professor Honorrio. Em 1991 publiquei uma nova classificao dos cerrados (savanas neotropicais), com base nas minhas observaes (Nogueira-Neto, 1991). Foi muito bem recebida pelo Prof. Guillean Prance, diretor do Kew Gardens, principal jardim botnico da Gr Bretanha e grande centro de estudos sobre o mundo vegetal. Para mim isso equivaleu a um prmio de Botnica e Ecologia Em 1991 escrevi tambm o livro "Estaes Ecolgicas", fartamente ilustrado, relatando a saga da implantao dessas unidades de

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conservao. Em 1993, tambm editado pela Empresa das Artes, escrevi o texto do livro "Do Taim ao Chu (Da Barra do Rio Grande ao Arroio Chu)", muito bem ilustrado por Alex Soletto. Ambos livros tm edies em ingls e em portugus. Todos esses projetos, estudos, livros e atividades, competiram em tempo e em ateno, uns com os outros e tambm com a publicao deste trabalho. A partir de 1990 retornei com intensidade aos estudos e pesquisas sobre os Meliponneos. Finalmente saiu este livro, aguardado pacientemente durante tanto tempo. Espero que no desaponte o leitor. Fui aos poucos aperfeioando a tecnologia necessria a uma criao mais eficiente dessas abelhas indgenas. Acredito que os progressos realizados nesse campo, desde 1970, foram significativos. o que passo a oferecer, com as minhas desculpas pela demora havida. Neste novo livro, tive que resumir e ao mesmo tempo atualizar. Assim, deixei de apresentar alguns detalhes menos importantes, sobretudo na parte histrica de alguns assuntos. Esses pormenores podero ser consultados em vrias bibliotecas brasileiras e do exterior, que possuem exemplares da edio de 1970. Neste livro foi evitado um erro tcnico importante, que cometi nas edies anteriores, quando recomendei o emprego de telhas e chapas de cimento-amianto. Muitos usos desse material causam poeira. A poeira de produtos que contm amianto (=asbestos) causadora de enfisema e de cncer, principalmente se a pessoa fuma. Quando estive frente da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Federal) procurei advertir os usurios e os fabricantes das telhas onduladas e outros produtos que contm amianto (= asbestos), mas infelizmente o resultado prtico ainda foi relativamente pequeno. Est em vigor, embora nem sempre cumprida, a Portaria da SEMA e a Resoluo 007/1987 do CONAMA que determinou aos fabricantes a impresso de palavras de advertncia sobre os graves perigos da poeira causada pelo ato de serrar, cortar, perfurar, atritar, etc. objetos feitos de cimento-amianto. Essas palavras de advertncia devem ser impressas sobre os prprios objetos de cimento amianto ou sobre as suas embalagens, nesse ltimo caso quando se trata de peas e objetos de pequenas dimenses. Se essa advertncia no estiver impressa, peo ao leitor que avise s autoridades ambientais, assim como as entidades de proteo ao consumidor e aos rgos de classe dos trabalhadores. No Brasil, como todos sabemos, a vida humana freqentemente ainda considerada coisa de pouco valor. Contudo, como Presidente do Conselho de Administrao do CETESB, em So Paulo, e membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e outros tcnicos, foi possvel revigorar e atualizar as determinaes legais com a Resoluo n 19/96 do CONAMA. Esta Resoluo est (1997) em fase de plena aplicao no Estado de So Paulo. Onde no estiver sendo aplicada, contate o rgo ambiental estadual ou a Delegacia do IBAMA. Ou me escreva.

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Talvez o leitor pergunte porque tantas vezes escrevi as palavras "Federao Brasileira" ao invs de simplesmente dizer Brasil. Somos uma Repblica Federativa, como o caso de todos os grandes pases do planeta, exceto a China. Sou de um tempo, o Estado Novo de Vargas, em que a Federao foi praticamente abolida. Junto com meus colegas, arrisquei a minha vida para que a Federao e a Democracia fossem restabelecidas. No anoitecer de 09 de novembro de 1943, no Largo do Ouvidor, em So Paulo, fomos metralhados numa manifestao que era pacfica. No possuamos qualquer arma. Nesse episdio brutal, pelo menos um jovem (J. Silva Telles) morreu e cerca de 60 ficaram feridos. Sa de l vivo e ileso, mas foram os 50 metros mais perigosos e dramticos da minha vida. Corria, tropeava nos que tombavam provavelmente feridos, caia esparramado, me levantava e recomeava a correr, at chegar exausto a uma esquina protetora. Por pouco o leitor ficaria sem este livro. Refugiei-me por alguns dias na casa das minhas tias Helena e Leonor, filhas de meu bisav, o Presidente Campos Salles. Lucia, nessa ocasio, era minha namorada. Tempos difceis, perigosos, que no devem voltar mais, nunca mais. Caminhamos para um mundo melhor. Na calada da noite, s vezes pintava nas paredes a bandeira das treze listas do meu Estado, arriscando-me a ir para a priso. Nesses momentos perigosos, com a mo num pincel e os olhos sondando freqentemente a aproximao possvel de uma rdio-patrulha, simplifiquei a bandeira paulista. Na minha verso ela passou a ter apenas umas 4 ou 5 listas... Essa minha atuao grafiteira-cvica decorreu sem problemas maiores. Contudo, segundo penso hoje, aos donos das paredes essa atividade deve ter causado alguns aborrecimentos, pelos quais peo compreenso e desculpas. Na realidade ramos jovens e cometemos alguns poucos excessos e imprudncias. Mas j faz parte da histria o fato de que o nosso adversrio, o Governo do Estado Novo, finalmente abandonou o seu carter fascista e anti-democrtico e convocou as eleies que o pas desejava. Sua ideologia foi sepultada no esquecimento geral do povo. Alis, quem venceu mesmo foi a opinio pblica. Mas seja como for, devemos sempre em nossas vidas perdoar as ofensas recebidas. o que mandam nossas convices crists. necessrio unir esforos na busca de melhores dias para o nosso sofrido povo, superando antagonismos do passado e do presente. Devemos respeitar fraternalmente as idias srias e a dignidade das outras pessoas. Isso da essncia da Democracia. Contudo, a defesa dos princpios ticos, que incluem os direitos humanos, tambm exige o repdio onda de pornografia, drogas, violncia, desrespeito vida em todas as suas fases, destruio predatria da natureza, corrupo e outros males que infestam o mundo contemporneo. Muitos anos depois, em outra poca difcil, tomei parte na formulao e dirigi a implantao de uma legislao ambiental descentralizada. Vi de perto, intensamente, o quanto a Federao Brasileira uma unio

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fraterna de Estados membros, herdeiros da imensa, maravilhosa e diversificada Amrica Portuguesa! Em certo ponto da caminhada, verifiquei que este livro estava demasiado extenso. Isso dificultaria o seu manuseio. Assim, resolvi transferir uma parte dos captulos para outro livro, "Algumas estratgias ecolgicas dos Meliponneos abelhas tropicais e subtropicais sem ferro". Contudo, para no deixar os dois livros falhos e incompletos, haver em ambos tambm alguns trechos sobre os mesmos assuntos, embora com maior nfase e profundidade em um ou em outro livro. Tambm ser publicado como livro o Captulo da 2a Edio, revisto e ampliado, sobre os nomes dos Meliponneos. Ser o "Dicionrio das abelhas indgenas da Amrica Latina". Alm disso, houve outra "imploso" do livro, quando achei mais acertado transformar os dois ltimos captulos, num livro que ter o ttulo de "Razes histricas e perspectivas da Meliponicultura". Em julho de 1996 foi publicado um livro escrito e organizado por Warwick E. Kerr, Gislene Almeida Carvalho e Vania Alves Nascimento, com a colaborao de Luci Rolandi Bego, Rogrio Marcos de Oliveira Alves, Maria Amlia Martins e Ivan Costa e Souza, sob o ttulo de "A ABELHA URUU". Bem-vindo seja. Em alguns pontos h certamente discordncias de alto nvel entre esse livro e este, principalmente no que se refere a conseqncias da consanginidade (endocruzamentos) nos Meliponneos, como a teoria do mnimo de 44 colnias. Contudo, o leitor ter a oportunidade de conhecer melhor certos pontos de vista e registrar tambm muitas concordncias. Isso ser til e instrutivo para os meliponicultores. O Professor Warwick E. Kerr amigo h mais de 50 anos. Seu idealismo e trabalho constante na formao de novos centros cientficos, muito admiro. O Professor Kerr, no melhor sentido da expresso, um grande semeador de cientistas valiosos. No encerramento desta edio, recebi a monografia "A MANDAAIA" (Melipona quadrifasciata), de Davi Said Aidar, editada pela Revista Brasileira de Gentica. Trata-se do desdobramento da sua interessante dissertao de mestrado (1995)." Em fins de 1994, senti com Lucia o mundo desabar sobre ns. Dois meses depois de uma maravilhosa viagem a Roma, Costa Amalfitana, Calbria (onde fiz duas palestras na Universidade) e Siclia, onde h cerca de 30 milhes de anos (G. Poimar Jr., 1994 p.71) existiram Meliponneos, Lucia, minha esposa, que sempre possuiu tima sade, ficou gravemente enferma. Teve uma intensa inflamao em muitas artrias, chamada poliarterite nodosa. Durante alguns meses, ora numa Unidade de Terapia Intensiva, ora em quarto de hospital e tambm em casa, lutou bravamente para sobreviver. Comemoramos nessa ocasio 50 anos de um casamento feliz, em 03 de abril de 1995, de modo muito singelo, mas profundamente emotivo. Quase soobrando num mar de preocupaes e inquietao, mantive-me tona apegado minha

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profunda f crist e trabalhando neste livro. H muito Lucia queria v-lo publicado. As minhas contnuas revises do texto, embora necessrias para aperfeio-lo e incorporar informaes, frustaram o seu desejo de ver o trabalho pronto. Lucia faleceu na madrugada de 05 de junho de 1995. Seja feita a vontade do Senhor. Pouco depois de morta, uma rolinha passou pela janela aberta e entrou voando na sala onde ela estava. Pousou perto de sua cabea. Com f crist e portanto com muita humildade, ouso ver nisso um valor simblico. Como o leitor cristo poder se recordar, os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas relatam que o Esprito Santo apareceu sob a forma de uma pomba, no batismo de Cristo. Tambm vejo um valor simblico no fato de que minha amada Lucia morreu no dia do meio ambiente. Talvez a passagem dela para a vida eterna nesse dia, de alguma maneira signifique que num outro nvel e de algum outro modo, ela prosseguir me acompanhando e me apoiando nesse campo. Peo a Deus que assim seja. profunda a tristeza que me assola pela ausncia de Lucia neste outono de minha vida. Os longos anos de um casamento feliz, no voltaro mais aqui na terra. Contudo, eles povoaram a minha memria de inmeras lembranas agradveis em So Paulo e Braslia, onde residimos, bem como nas numerosas viagens que realizamos na Federao Brasileira e em outras partes do mundo, nas Amricas, na frica, na Europa, e um pouco na sia. Vivemos uma vida intensa e crist. Tivemos tambm a ventura de possuir uma dedicada famlia e numerosos e bons amigos. Sem isso e sem o apoio constante, firme e encorajador de minha mulher, pouco teria realizado. Neste momento difcil, peo para Lucia as oraes de todos. Na vida eterna esperamos encontrar tambm os familiares, os colegas, os amigos, os abelheiros, os ambientalistas e muitos outros, todos os que seguirem o caminho do Senhor, pois h no cu muitas moradas, como diz o Evangelho de So Joo (14,2).

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UMA RELAO DE AGRADECIMENTOSO fato de ter podido seguir uma carreira cientifica no campo biolgicoecolgico, devo direta ou indiretamente a diversas pessoas. Primeiro quero agradecer minha famlia, a comear pela minha saudosa esposa Lucia, bem como minha me (Regina), profundamente crist; ao meu pai que sonhava com um mundo melhor e ficou 8 anos exilado no tempo de Vargas; ao meu av Paulo e minha av paterna Ester, que asseguraram aos seus netos uma vida produtiva; ao meu sogro Manoel que me deu a primeira colnia de Meliponneos, uma JATA, e minha sogra, Lavinia, que me permitiu ter um meliponrio em So Simo (SP); aos meus filhos Paulo, Luiz Antonio e Eduardo Manuel e aos netos, Paulo V, Luciana, Eduardo, Paula, Orlando, que j nasceram meus amigos extremosos; s noras, sempre muito amigas; ao meu av Jos Bonifcio, Professor de Direito e muito catlico, cedo falecido e sua esposa vov Sofia, firme na adversidade; ao meu tio Professor Mdico Jos Salles Oliveira Coutinho, pela boa e encantadora influncia e sua esposa, tia Vera; ao irmo muito solidrio, um dos criadores da TV Cultura paulista e da CEASA, Secretrio da Agricultura e depois da Educao, Jos Bonifcio e cunhada Maria Thereza. Lembro-me tambm do meu tio Fred, que faleceu num desastre de aviao na Baia de Guanabara quando ele e outros colegas politcnicos sobrevoavam o navio que trazia Santos Dumont de volta da Europa; do tio Jos Paulino, renomado criador de cavalos, dos cunhados e cunhadas, e dos sobrinhos, numerosos, sempre alegres e cordiais. Entre as pessoas que tambm muito me ajudaram esto o Zologo Paulo Emilio Vanzolini, que insistiu e me convenceu a prestar exame vestibular e seguir o curso de Histria Natural na USP; o Professor e Zologo Ernesto Marcus, que me designou como um dos seus assistente; o geneticista Alcides Carvalho, que me ensinou a redigir trabalhos tcnicos; o Zologo-escritor Rodolfo von Ihering (que no conheci pessoalmente) autor do "Dicionrio de animais do Brasil", que me atraiu ao estudo dos Meliponneos; o notvel divulgador das Cincias Jos Reis; o jornalista-agrcola Diretor da "Chcaras e Quintais", Amadeu Barbiellini, que publicou muitos artigos meus; era conde italiano de nascimento, mas preferiu o ttulo de cidado brasileiro. Na rea de atuao federal devo muito a Henrique Brando Cavalcanti e a Rogrio Marinho, alm dos companheiros da SEMA, aos quais me refiro mais adiante; na Argentina tenho a amizade fraternal de Jorge Ardig; no mundo dos Meliponneos, recebi grande ajuda da Professora Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, minha sucessora no Laboratrio de Abelhas. Os Professores Pe. J. S. Moure e Joo M. F. Camargo identificaram para mim muitas abelhas, apoio indispensvel; quero lembrar tambm os amigos

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dos tempos da mocidade: h 50 anos nos reunimos mensalmente, o Grupo do Alargarrua, bem como desejo recordar os antigos colegas do Ginsio So Bento, os 341, 548, 582 (PNN era o 517); no me esqueo tambm dos colegas e professores da Faculdade de Direito e da Fac. de Filosofia Cincias e Letras do antigo curso de Histria Natural, ambos da USP e no olvido a colaborao sempre sincera e firme dos ambientalistas pioneiros Jos Carlos Reis de Magalhes, Lauro Travassos Filho (falecido), Almirante Belart (falecido), Jos Candido de Mello Carvalho (falecido), Almirante Ibsen Gusmo Cmara, Luiz Emygdio de Mello e muitos outros antigos companheiros de ideal, alm de meu primo Jos Carlos Boliger Nogueira. Este o derradeiro mateiro paulista. Alm dos seus prprios conhecimentos, adquiriu do pai Guilherme um saber prtico notvel sobre nossas florestas da Bacia do Rio Paran. Personalidades muito diferentes entre si, cada uma delas, a seu modo e na sua esfera de atuao e competncia, muito me ajudaram ou me orientaram em ocasies importantes. Lucia, em todos os 50 anos de nosso feliz casamento, foi um apoio essencial, a metade da minha vida. Aos meus amigos e colegas do Departamento de Ecologia Geral, do qual fui um dos fundadores, e aos colegas dos demais setores do Instituto de Biocincias, bem como aos companheiros de outras reas da Universidade de So Paulo, agradeo o apoio e as manifestaes de amizade que sempre recebi, inclusive por ocasio de minha aposentadoria em abril de 1992. Continuei, voluntariamente, a trabalhar na USE No Instituto de Estudos Avanados da Universidade de So Paulo, fui recebido com muita considerao pelos Professores Jacques Marcovitch, Umberto Cordani, Aziz Ab'Saber e demais companheiros. Tambm ao Vice-Reitor e depois Reitor da USP, Prof. Ruy Laurenti, que em 1991 e 1992 chefiou o setor ambiental da Universidade, sou grato, assim como ao seu sucessor, o Reitor Prof. Flvio Fava de Morais. Como j tive ocasio de dizer aqui, no campo dos estudos sobre os Meliponneos, sou muito grato Professora Dra. Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, minha ex-aluna do curso bsico de Biologia e ex-orientada de ps-graduao. uma satisfao v-la assumir sucessivamente e com grande competncia as funes de Chefe do Laboratrio de Abelhas, Professora Titular, Chefe do Departamento de Ecologia Geral e Vice-Diretora do Instituto de Biocincias da USP. A Professora Imperatriz-Fonseca vem h muitos anos realizando um excelente trabalho de pesquisa cientfica, com Meliponneos. Conseguiu ampliar enormemente, firmar e dar uma situao de destaque ao Laboratrio de Abelhas, no somente nos estudos e investigaes cientficas sobre esses insetos, mas tambm no terreno da divulgao da Ecologia para fins educacionais. Agradeo a ela, igualmente, as valiosas sugestes que me apresentou ao fazer uma excelente reviso deste livro. Tambm agradeo Profa. Dra. Astrid de Matos Peixoto Kleinert a reviso de diversos captulos. Sou grato Usina Aucareira Ester, de Cosmpolis (SP), empresa

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quase centenria e de alto padro ambiental, pelo grande apoio de sempre. Nos trabalhos referentes a este livro, agradeo tambm ao Arquiteto Eduardo Hfling Milani pela arte e apresentao grfica, Biloga Tereza Cristina Giannini pela reviso geral do texto, assim como pela organizao final do ndice Remissivo e da Bibliografia. Sandra Camerata, auxiliada por Clemilde Soares Pociano, agradeo pela grande atividade como secretria e na transcrio do texto em computador. Ao Professor Dr. Antonio (Tune) Cardoso de Almeida agradeo suas atenes na reviso de conselhos para prevenir o cncer. Tambm sou grato s informaes do acarologista Professor Dr. Carlos Flechman. Agradeo Biloga Dilma S. Gelli pela reviso do texto referente ao botulismo e ajuda bibliogrfica. Ao Professor Dr. Emil Sablaga, ao Professor Dr. Silvano Raia e ao Professor Dr. Vicente Amato Neto, meus agradecimentos por consideraes diversas. Na rea mdica pessoal sou muito grato ao Professor Dr. Antonio Branco Lefevre (falecido) e ao Professor Dr. Emil Sabbaga, bem como ao Professor Dr. Antonio Cardoso de Almeida, j mencionados. Ao Reitor Professor Waldyr Muniz Oliva e ao Vice-Reitor Prof. Antonio Brito da Cunha, que autorizaram e construram o Laboratrio das Abelhas, bem como ao Reitor Professor Flavio Fava de Morais e FAPESP, que possibilitaram sua ampliao, e ao Prof. Jos Goldemberg e aos demais reitores que tambm prestigiaram as atividades pr-ambientais e ecolgicas, deixo aqui os meus agradecimentos e os da Professora Vera L. Imperatriz-Fonseca, que planejou e dirige o Laboratrio. Quase todos os desenhos que figuram neste livro, inclusive o desenho bsico da capa, so da competente autoria de France Martin Pedreira. Foram executados com grande tcnica, arte e boa vontade, o que muito agradeo. Esses desenhos foram feitos, quase sempre, com base em fotografias de minha autoria. Na SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente) do Governo Federal (1974-1986) recebi o apoio idealista e competente de uma notvel equipe e tambm de numerosos colaboradores (voluntrios) ambientalistas. Seus nomes esto, em grande parte, no meu livro "Estaes Ecolgicas, uma saga de Ecologia e poltica ambiental", a comear pela figura saudosa de Dona Zlia Azevedo Campos, Chefe de meu Gabinete. Graas a esses apoios e aos companheiros de trabalho, pude salvaguardar alguns milhes de hectares nas Estaes Ecolgicas e nas reas de Proteo Ambiental, federais e do Distrito Federal, o que certamente permitiu preservar inmeras colnias de abelhas indgenas. Tambm nesta fase do meu trabalho ambiental, tem sido importante a colaborao do antigo colega na SEMA, Joo Batista Mons. Na SEMATEC (Secretaria do Meio Ambiente, Tecnologia e Cincia do Distrito Federal, em 1986-1988) contei com o apoio valioso de Vania Ferreira Campos e de Valmira Mecenas, entre outros colaboradores e do ento Governador Jos Aparecido de Oliveira.

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Feliz o Professor que v a carreira ascendente de seus antigos alunos, orientados e ex-companheiros de trabalho. Tambm agradeo a eles o muito que me ensinaram durante anos de convvio proveitoso, construtivo e estimulante. Sou grato, tambm, Professora Dra. Astrid de Matos Peixoto Kleinert, Dra. Marilda Cortopassi-Laurino, ao Dr. Mauro Ramalho, Dalva M. Stanischesk Moinar, Walkiria Bisaccia, aos tcnicos e auxiliares Lenilda Maria de Oliveira, Paulo Cesar Fernandes, Eduardo Tadeu Mattos, Raimunda S. de Souza Mattos, Simone C. B. Baron, Denise A. Alves, Carla Magione Fracasso e a outras pessoas do Laboratrio das Abelhas, Bernadete P. Preto e Solange A. Ferrari, do Depto de Ecologia, ao diretor Professor Dr. Joo Morganti e aos demais funcionrios e colegas do Inst. de Biocincias da USE No CETESB, entidade encarregada do controle ambiental no Estado de So Paulo, j antes de assumir a Presidncia do seu Conselho de Administrao, assessorei-me e recebi a ajuda valiosa da Dra. Petra Sanchez e colaboradoras, que providenciaram anlises bacteriolgicas e me deram informaes e bibliografia. O Eng. Galdino Sousa Neto me ajudou l de vrias maneiras. Assumi o referido cargo no CETESB, no Governo Mario Covas, por designao deste e do Secretrio do Meio Ambiente e valoroso companheiro de lutas ambientalistas, Deputado Federal Fabio Feldmann. No CETESB, trabalho em estreita colaborao com o seu Presidente Executivo, Eng. Nelson Nefussi e os demais Conselheiros. No Instituto de Cincias Biomdicas da USP, troquei idias com a saudosa Professora Dra. Thereza Martins, sobre a pasteurizao do mel e outras questes. Ela me colocou em contato com o Dr. Stephen P. Day, Chefe do Depto de Biologia Molecular, Univ. de Wisconsin-Madison, USA, que enviou valiosos esclarecimentos sobre pasteurizao e hepatite-A. No ITAL (Inst. de Tecnologia de Alimentos), em Campinas, gentilmente me prestaram informaes sobre pasteurizao. No Instituto Biolgico da Secretaria da Agricultura de So Paulo, fui atenciosamente recebido pelo Diretor Substituto Flavio Puga, que encaminhou, para exame, material que lhe levei para identificao. Nos USA recebi valiosa colaborao do Dr. E. Jefferi Rhodehamel, da Food and Drug Administration, e do Dr. Haim Solomon, da mesma instituio. Fui apresentado a eles atravs do Dr. Tom Lovejoy e da Ms Sarah Boren, ambos do Smithsonian Institution. Deram-me valiosos artigos e informaes sobre o botulismo. O exame de uma amostra de melato suspeito, foi encaminhado pelo Dr. Haim Solomon. Na visita que fiz ao seu laboratrio, este contatou o Dr. S.S. Arnon, que forneceu uma indicao bibliogrfica valiosa, sobre mel txico na Turquia. Ao SIBI (Sistema de Informao Bibliogrfica) da Universidade de So Paulo, devo uma ajuda de enorme importncia para este livro e outros trabalhos. dirigido por Rosaly Fvero Krzyzanowski. Atravs do SIBI pude obter cpias xerox de numerosos trabalhos cientficos,

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inclusive dissertaes de mestrado e teses de doutoramento. Tambm agradeo a colaborao muito valiosa da Biblioteca do Instituto de Biocincias da USP dirigida antes por Enilda Andrade e agora por Nelsita F. C. Trimer bem como o apoio de "Shell", de Isabel Calherani e de outras bibliotecrias da USP. Saliento tambm a notvel biblioteca sobre abelhas do Departamento de Gentica, Faculdade de Medicina, Campus de Ribero Preto, dirigida por Ademilson Espencer E. Soares e David de Jong. Um ano antes da publicao deste livro, na 6a Conferncia sobre abelhas tropicais da International Beekeeping Association, na Costa Rica, troquei muitas idias com meliponicultores de outros pases, principalmente da Amrica Latina. Tive a surpresa de ser designado Vice Presidente da IBRA (International Bee Research Association). Em novembro de 1996, tivemos a lamentar o falecimento, no Japo, do Professor Dr. Soichi F. Sakagami, um dos mais ilustres estudiosos dos Meliponneos. Trabalhou alguns anos na Federao Brasileira, principalmente So Paulo e Paran, onde deixou bons amigos e fez importantes pesquisas cientficas. Orai por ele. Sandra Camerata, que h longos anos trabalha como minha secretria, agora auxiliada por Clemilde Soares Pociano da Silva; a Wilson Carlos de Lima e Souza, que me ajudou muito como motorista, marceneiro e nos trabalhos com as abelhas; a Antonio Braz de Queiroz, a Miguel Pereira dos Santos, a Zico e Jos Pereira Cardoso e a Servilio Nomura, que ajudaram nas pesquisas ecolgicas realizadas na Fazenda Jatiara, em Luzinia, Gois; a Jos Nivaldo Gomes da Silva (ex-administrador em So Simo,SP), a Ademar Cappovila e a Miguel Florncio da Silva (jardineiros); a Dagmar de Almeida e Francisco de Assis (carpinteiros), Serralheria Batista, a Jos Ramalho da Silva, a Ado Bernachi, a Galbatori e a Donizeti Ortiz (motoristas), a Antonio Francisco (abelheiro localizador de colnias), a Nelson Gomieiro (caseiro em Itanham, SP), a Darci Hickmann (caseiro em Campinas (SP), a Aparecido Leite (caseiro em So Simo, SP), a Servilio Nomura (administrador, Luzinia, GO), a Antonio Luiz Laine, a Jos da Silva Feitosa, a Jos Vicente da Silva Caxeita, a Daniel Martins da Silva, a Ronaldo e Lauro Martins de Queiroz, a Bento Rodrigues dos Santos, a Gilberto Gonalves de Araujo, a Claudio Martins de Moura e a muitos annimos fornecedores de colnias de abelhas, em Luzinia (GO); a Jos Correia (litoral Sul paulista); a Luis Costa (Serra da Bocaina, SP); a Ana Maria Lopes Menezes que me enviou colnias de Piat (BA); a Lauro Schluter, que me mandou colnias de Pomerode (SC); a Renato Barbosa, que me conseguiu colnias do Recife (PE); a Lauro Bacca, que obteve para mim uma colnia em Blumenau (SC); a Brasilio Cunha, por uma colnia rara de Cosmpolis (SP); a Joana Pinto dos Santos, pelos servios de apoio no meliponrio da Fazenda Jatiara (Luzinia, GO) e. a todas as outras pessoas que de algum modo me ajudaram com abelhas e

informaes diversas aqui referidas, tambm apresento meus agradecimentos cordiais e sinceros. Do mesmo modo agradeo as informaes, comentrios e outras formas de colaborao que tambm me proporcionaram as pessoas adiante mencionadas: Joo M. F. Camargo, Beatrice Meyerson, David W. Roubik, Eva Crane, Wolf Engels, Hayo Velthuis, Marinus Sommeijer, Jorge Gonzalez Acereto, Henry Arce, Jorge Ardig, Ronaldo Zucchi, Renato Jos de Siqueira-Jaccoud, Jos Rubens Pirani, Valmira Mecenas, Astrid Kleinert, Nanuza Menezes, Hermes Moreira de Sousa, Marilda Cortopassi-Laurino, Charles e Mary Michener, Helio de Almeida Camargo, Beatriz Coelho Pamplona, Angelo Machado, Marie Lagueux, Ademilson Espencer Egea Soares, David de Jong, Sarah Boren, Lucia Rossi, Maria Lucia Kawasaki, George Eiten, Egon Roepke, Tatiana van Heemsted Leal da Cunha, Carlos A. Garfalo, Renato Barbosa, Herclio G. Santos, Jos Ricardo Cantarelli, Alexandre Jorge Moura, Artagnan Cicero Costa, Antonio Carlos Faria, Marcio Luiz de Oliveira, Elder Ferreira Morato, Maria do Carmo Fornek, Oswaldo Carlos de Oliveira, Karl V. Krombein, Srgio Vanin e outras pessoas. Por ltimo, mas no menos, agradeo a colaborao, ao me ajudar no trato de minhas abelhas indgenas, da menina Maria Geane Neves do Nascimento, pequena e alegre flor dos seringais e castanhais de Xapuri, que minha saudosa esposa e eu acolhemos em nossa casa paulistana. Ela participou de nossa vida, sem deixar seus laos com os familiares no Acre. Agora (1997) ela regressou a Xapuri onde, com a colaborao dos seus pais, j instalei um meliponrio. Nas edies anteriores h uma longa relao de agradecimentos a outras pessoas, das quais tambm me recordo com afeto, inclusive em minhas oraes. Muitas j no esto mais entre ns. Os que me ajudaram so to numerosos, que tenho receio de no ter mencionado todos, o que desde j me preocupa. Nos agradecimentos que fiz, no coloquei os nomes mencionados em ordem alfabtica, nem tampouco em ordem de importncia. Todos foram e so importantes.

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ndice GeralUma homenagem especial .......................................................................................7 Uma prestao de contas e recordaes do passado..............................................11 Uma relao de agradecimentos.............................................................................17 Captulo Caractersticas diversas, distribuio geogrfica e aclimatao......................33 Consideraes gerais..............................................................................................33 Os Meliponneos e as outras abelhas.....................................................................33 Os nomes e a identidade dos Meliponneos...........................................................36 A distribuio geogrfica.......................................................................................37 As tentativas de aclimatao..................................................................................38 Captulo Os materiais de construo................................................................................ 40 Consideraes gerais............................................................................................. 40 A cera.................................................................................................................... 40 O cerume............................................................................................................... 41 As resinas ou prpolis........................................................................................... 41 O geoprpolis........................................................................................................ 44 O barro.................................................................................................................. 44 Os excrementos de vertebrados............................................................................. 45 Outros materiais usados pelas abelhas indgenas sem ferro................................ 46 Captulo A arquitetura dos ninhos.................................................................................... 47 Consideraes gerais............................................................................................. 47 Os depsitos de cera e de cerume.......................................................................... 48 Os depsitos de prpolis....................................................................................... 49 Os batumes............................................................................................................ 49 A entrada e o tnel de ingresso .............................................................................50 As clulas e os favos de cria.................................................................................. 52 O invlucro ........................................................................................................... 54 Os potes de alimentos ........................................................................................... 56 As cmaras de aprisionamento.............................................................................. 56 Os cabos ou colunas.............................................................................................. 57

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O escutelo.................................................................................................. 58 Os pequenos depsitos de detritos............................................................. 58 Os pequenos materiais depositados........................................................... 59 As galerias de drenagem............................................................................ 59 Captulo A determinao dos sexos e castas......................................................... 60 Consideraes gerais................................................................................. 60 Alguns aspectos genticos e alimentares................................................... 60 Captulo A questo dos machos diplides............................................................. 63 Consideraes gerais................................................................................. 63 Na Apis mellifera ...................................................................................... 64 Nos Bombneos (mamangabas sociais)..................................................... 64 Nos Meliponneos ..................................................................................... 65 Captulo As rainhas, as operrias e os machos..................................................... 78 Consideraes gerais................................................................................. 78 As rainhas, determinao e "ritual" de postura ........................................ 78 As operrias e suas funes....................................................................... 82 Os machos ou zangos e seus hbitos....................................................... 83 A idade e a cor de operrias e machos..................................................... 85 Captulo Algumas capacidades e atividades bsicas............................................ 87 Consideraes gerais................................................................................. 87 A diviso geral de trabalho........................................................................ 87 As distncias de vo.................................................................................. 88 Do ovo ao adulto....................................................................................... 90 A comunicao entre as abelhas campeiras.............................................. 90 A enxameao .......................................................................................... 92 Captulo A escolha das espcies............................................................................. 96 Consideraes gerais................................................................................. 96 As abelhas de lugares distantes.............................................................. 96 As espcies nativas da regio.................................................................... 97

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Captulo A obteno de colnias............................................................................ 99 Consideraes gerais................................................................................. 99 O recenseamento preliminar...................................................................... 99 A abundncia de colnias nativas ...........................................................100 Alguns cuidados importantes ..................................................................103 Seguindo abelhas em vo........................................................................104 A procura e o corte de rvores ................................................................106 O transporte da colnia capturada...........................................................108 A captura de colnias subterrneas.........................................................109 A obteno de colnias por meio de "colmias iscas"............................111 Caixotes provisrios................................................................................112 Captulo Q transporte e o recebimento de colnias...........................................114 Consideraes gerais...............................................................................114 A alimentao prvia ..............................................................................114 O fechamento da entrada.........................................................................114 A embalagem ..........................................................................................115 O transporte por via area .......................................................................115 A abertura da colmia recm-chegada ....................................................116 O exame da colnia antes e depois da remessa.......................................116 O aproveitamento de colnias que morrem em viagem.......................... 117 O deslocamento da colmia para longe e para perto............................... 117 Captulo Os meliponrios, seus equipamentos e a construo de abrigos .....................................................................119 Consideraes gerais....................................... .......................................119 Os suportes fixos para as colmias .........................................................119 Os suportes mveis para as colmias......................................................122 As banquetas de alvenaria.......................................................................122 As banquetas de concreto........................................................................124 As localizaes demasiado frias .............................................................124 As localizaes demasiado quentes ........................................................124 Os quadros de ferro e as ripas de madeira removveis............................124 A gua corrente .......................................................................................126 Os depsitos de materiais, colmias e instrumentos ...............................126 As telhas .................................................................................................126 As luzes perigosas ..................................................................................127 Os ladres de duas pernas .......................................................................127

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Um meliponrio concentrado.................................................................. 127 Os bebedouros.........................................................................................128 Os abrigos subterrneos ..........................................................................129 As estufas aquecidas ...............................................................................134 Os caixotes de proteo........... ...............................................................134 Captulo Uma nova colmia racional para meliponneos..................................136 Consideraes gerais...............................................................................136 Uma breve perspectiva histrica .............................................................136 O projeto de uma colmia nova e aperfeioada ......................................142 Captulo As peas necessrias para construir uma colmia .............................148 Consideraes gerais...............................................................................148 A relao de peas para uma colmia de gavetas empilhadas................ 148 O espao livre, quadrado e central, para a cria .......................................150 A colmia de tamanho grande.................................................................150 As peas para colmias grandes de 3 gavetas .........................................152 As outras dimenses e caratersticas.......................................................152 A colmia de tamanho mediano..............................................................152 As peas para colmias medianas de 2 gavetas ......................................154 As outras dimenses e caratersticas.......................................................154 A colmia de tamanho pequeno ..............................................................155 As peas para colmias pequenas de 2 gavetas.......................................155 A colmia de tamanho muito pequeno....................................................156 As peas para colmias muito pequenas de 2 gavetas ............................156 Outras dimenses e caratersticas ...........................................................156 Captulo Alguns detalhes das colmias ...............................................................157 Consideraes gerais...............................................................................157 O tamanho da entrada .............................................................................157 Os tetos ou coberturas .............................................................................157 Os espaos laterais .................................................................................. 158 Os sulcos e as varetas de conteno........................................................158 O tamanho dos espaos livres centrais das gavetas de cima...................159 Uma colmia de uso mltiplo e seus quadros de aumento .....................159 As madeiras da colmia ..........................................................................162 A pintura e o isopor.................................................................................162 O melhor tamanho de colmia ................................................................163 A diminuio do espao interno excessivo .............................................163

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Captulo A transferncia para a nova colmia e alguns cuidados especiais...................................................................164 Consideraes gerais...............................................................................164 Algumas recomendaes especficas ......................................................164 Captulo As atividades de manuteno ...............................................................179 Consideraes gerais...............................................................................179 Indicaes teis .......................................................................................179 A manuteno do meliponicultor............................................................181 Captulo As inspees e o manejo das colmias .................................................184 Consideraes gerais...............................................................................184 As inspees peridicas ..........................................................................184 Algumas ferramentas ..............................................................................185 O manejo dos batumes ............................................................................185 O manejo dos potes .................................................................................187 Os faroletes .............................................................................................187 A retirada e a reposio de gavetas e tetos..............................................187 As pancadas e batidas .............................................................................188 Os cuidados para evitar esmagamentos ..................................................188 As abelhas mais agressivas .....................................................................189 As abelhas agarradas aos vus e tecidos .................................................189 As construes presas aos tetos ..............................................................189 Primeiro o dever......................................................................................190 Captulo Como fortalecer as colnias .................................................................191 Consideraes gerais...............................................................................191 A umidificao........................................................................................191 A alimentao artificial com polem e substitutos ...................................192 A alimentao artificial com produtos diversos......................................193 A alimentao artificial com xarope de gua e acar............................193 A alimentao artificial com mel ...........................................................194 Os tipos de alimentadores .......................................................................195 Um novo alimentador..............................................................................198 A quantidade de alimentos a dar .............................................................201 O cerume e a cera de reforo ..................................................................201

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O prpolis de reforo .............................................................................. 202 Os favos e os cachos de cria....................................................................203 A reunio de colnias..............................................................................204 Captulo A diviso das colnias ...........................................................................206 Consideraes gerais...............................................................................206 Alguns mtodos de diviso de colnias ..................................................206 Os procedimentos para a diviso ............................................................208 Captulo 0 manejo das rainhas ............................................................................218 Consideraes gerais...............................................................................218 Nas colnias de Meliponneos ................................................................219 A substncia de rainha ............................................................................220 A retirada prvia da rainha poedeira .......................................................221 Odores estranhos .....................................................................................222 O parasitismo social temporrio, um caso de substituio de rainhas ......................................................................222 Captulo A orfandade ...........................................................................................225 Consideraes gerais...............................................................................225 Prazo inicial...................................... ......................................................225 Incapacidade ou capacidade de superar a orfandade ..............................226 A questo das obreiras-rainhas produtoras de fmeas ............................226 As operrias poedeiras produtoras de zangos .......................................229 A ausncia de operria poedeiras em colnias rfs...............................231 A identificao de colnias rfs ............................................................232 O controle da orfandade..........................................................................233 Captulo Limitaes srias em colnias de espcies no nativas ......................234 Consideraes gerais...............................................................................234 A ausncia de fecundao .......................................................................234 A ausncia de casulos reais.....................................................................236 A questo da postura infrtil ...................................................................237 A multiplicidade de formas regionais .....................................................237 Algumas concluses................................................................................238

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Captulo A samora / sabur (polem), os leos florais e as protenas animais ...........................................................................239 Consideraes gerais...............................................................................239 As funes do polem...............................................................................239 A colheita e o transporte do polem .........................................................241 A samora ou sabur.................................................................................241 A ao dos microorganismos na samora/sabur (polem)........................243 Os leos florais .......................................................................................245 Algumas fontes de protena animal.........................................................246 Captulo 0 nctar, a seiva, o melato, o mel e as suas colheitas ..........................248 Consideraes gerais...............................................................................248 O nctar ...................................................................................................248 A seiva.....................................................................................................249 O melato..................................................................................................249 O mel dos Meliponneos e seus apreciadores .........................................250 A colheita do mel ....................................................................................251 As pocas de maior presena de mel nas colmias.................................254 Os mis mais saborosos .........................................................................257 A meliponicultura migratria..................................................................257 Captulo Hbitos anti-higinicos de certas abelhas ...........................................259 Consideraes gerais...............................................................................259 Hbitos indesejveis e anti-higinicos das abelhas.................................259 Captulo As propriedades antibiticas do mel .......................................................263 Consideraes gerais...............................................................................263 Estudos e pesquisas.................................................................................263 Outros antibiticos no mel ......................................................................272 As misturas de mis que possuem diferentes teores antibiticos............274 A ao contra fungos...............................................................................274 Substncias antibiticas produzidas pelas prprias abelhas ..................275 Usos medicinais e cuidados necessrios .................................................275 Captulo Como pasteurizar e conservar bem o mel...........................................279

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Consideraes gerais...............................................................................279 Por que pasteurizar..................................................................................279 Como pasteurizar ....................................................................................281 Aquecimento e botulismo .......................................................................283 O papel da acidez em conjunto com a temperatura ................................283 Influncias da temperatura e da exposio luz na conservao do mel ............................................................................284 Mel cristalizado.......................................................................................285 Captulo Alguns mis, melatos e samoras / saburs (plena) txicos para as pessoas ......................................................................................286 Consideraes gerais...............................................................................286 Mis perigosos ........................................................................................287 O mel e a samora/sabur semilquida das iratim ou limo .....................288 Os mis txicos no Paraguai, Misiones, Rio Grande do Sul .................290 As lendas do "vamos embora" e do "mel de abreu"...............................291 As intoxicaes causadoras de tonturas ..................................................293 Os casos graves no Estado de So Paulo ................................................294 Distinguindo as possveis causas ............................................................298 Uma hiptese fitotoxnica .......................................................................299 Plantas Ericaceas perigosas ou suspeitas, na Federao Brasileira........ 302 Uma hiptese botulnica..........................................................................303 Tratamento de intoxicaes ....................................................................307 Os esporos no mel e o botulismo intestinal.............................................310 O botulismo intestinal infantil e o mel....................................................311 O melato e sua possvel toxidez nas Amricas .......................................314 Medidas de preveno.............................................................................315 Mis txicos purgativos ..........................................................................316 Outros casos graves causados pela ingesto de samora-sabur (polem) 317 Diabetes e o consumo de mel e acar.................................................... 319 Captulo Outras plantas indesejveis..................................................................321 Consideraes gerais...............................................................................321 Ararib ....................................................................................................321 Balsa........................................................................................................321 Canora-can ou cangar-can .................................................................322 Espatodea ou tulipeira do Gabo ............................................................323 Malaleuca ................................................................................................324 Mulungu .................................................................................................................................................... 324 Tlias........................................................................................................324 Tupuraiba ................................................................................................324

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Uvaia grande ...........................................................................................324 Velame ....................................................................................................325 Barbatimo ..............................................................................................325 Captulo As mortalidades da cria........................................................................327 Consideraes gerais............................................................................... 327 Observaes na Europa...........................................................................327 As observaes do Dr. Hermann von Ihering .........................................328 As observaes do Dr. Jos Mariano-Filho ............................................330 As observaes do Prof. Dr. Warwick E Kerr ........................................331 As observaes de diversos autores ........................................................333 Um caro perigoso ..................................................................................334 Um caro teraputico ..............................................................................334 A amostragem da cria .............................................................................335 Uma severa mortalidade de pupas .........................................................335 A mortalidade causada por calor solar excessivo ...................................336 A mortalidade da fase de transio (MFT) ............................................336 A natureza da mortalidade da fase de transio (MFT) ..........................340 A mortalidade de embries e larvas jovens ............................................342 Alimento larval infestado .......................................................................345 A postura infrtil .....................................................................................346 Captulo As mortalidades das abelhas adultas...................................................349 Consideraes gerais...............................................................................349 A samora/sabur (polem) quando txica..............................................349 Os nematides perigosos.........................................................................349 A nosemose .............................................................................................350 As mortalidades indeterminadas de abelhas adultas ...............................350 Os caros Pyemotes.................................................................................352 Os insetos parasitas .................................................................................352 Os pesticidas no ar ..................................................................................352 Captulo Os furtos e roubos efetuados por abelhas ...........................................354 Consideraes gerais...............................................................................354 As pilhagens entre espcies trabalhadoras de Meliponneos......................................................................................354 Ataques e roubos dos Meliponneos aos Apneos...................................356 Ataques e roubos dos Apneos aos Meliponneos...................................358 As ladras exclusivas ................................................................................360

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A questo da agressividade mnima versus agressividade intensa ...................................................................362 Algumas espcies e colnias resistentes ou imunes aos ataques das pilhadoras IRATIM ou LIMO ....................................363 As medidas de controle ...........................................................................365 O equipamento Roepke de controle ........................................................366 Captulo Os inimigos, os vizinhos associados e os inquilinos......................................................................367 Consideraes gerais...............................................................................367 Os insetos em geral .................................................................................367 As Thysanura ..........................................................................................368 As baratas................................................................................................368 Os cupins ou termitas..............................................................................368 Os barbeiros ............................................................................................370 As traas..................................................................................................371 Os micro Lepidpteros............................................................................371 Alguns Fordeos ......................................................................................373 A moscona...............................................................................................376 Os pequenos besouros cegos ....................... ,.........................................376 As formigas .............................................................................................378 Os micro Himenpteros ..........................................................................381 Os marimbondos ou vespas.....................................................................382 Vizinhana pacfica entre Apneos e Meliponneos................................383 As aranhas ...............................................................................................384 Os caros .................................................................................................385 Vertebrados: As lagartixas............................................................................................387 As aves ....................................................................................................388 Os mamferos ..........................................................................................389 Bibliografia .............................................................................................391 ndice Remissivo.....................................................................................432

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CAPTULO 1CARACTERSTICAS DIVERSAS, DISTRIBUIO GEOGRFICA E ACLIMATAO

Consideraes gerais

Para apresentar ao leitor os Meliponneos, preciso, antes de mais nada, dizer algo sobre o que eles so e tambm discorrer sobre a sua distribuio. Assim, os prximos subcaptulos sero sobre a sua classificao, o seu relacionamento com as outras abelhas, algumas de suas caratersticas gerais, a rea que ocupam presentemente e as perspectivas de futura expanso (aclimatao). Em todas essas questes est implcito o desenvolvimento e a diferenciao das espcies, gneros, subfamlias, famlias, superfamlias, ordens, filos, e a ocupao do planeta pelos seres vivos. Quem trata da classificao, tem sempre presente a existncia de ancestrais comuns e a evoluo das espcies. A evoluo foi certamente um dos instrumentos que Deus usou para a criao e o desenvolvimento biolgico dos seres vivos (Nogueira-Neto, 1994).

Os Meliponneos e outras abelhas

Os insetos constituem um grande Filo zoolgico, dividido em vrias Ordens. Uma delas a dos Himenpteros, que compreende as formigas, as vespas e as abelhas. As abelhas podem ser reunidas na superfamlia Apoidea. A imensa maioria das espcies de abelhas tm no nctar e no polem das flores a sua principal fonte, respectivamente, de energia e de protenas. A descoberta de 3 espcies carnvoras (Trigona hypogea, T. crassipes e T. necrophaga) que digerem carne e outros tecidos animais, ao invs de polem, foi coisa inesperada e relativamente recente. A Trigona hypogea s vezes chamada MOMBUCA, mas h outros Meliponneos com o mesmo nome. Existem tambm abelhas ladras, que vivem apenas da pilhagem que fazem aos ninhos de outras abelhas. A principal delas a IRATIM ou LIMO (Lestrimelitta limao). Contudo, indiretamente, essas espcies parasitas vivem custa do nctar e do polem colhido pelas abelhas que trabalham nas flores. A superfamlia Apoidea (pronuncia-se com acento no "i") por sua vez constituda por diversas famlias. A que tem hbitos sociais mais

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avanados, a famlia Apidae (pronuncia-se pide). Possui 4 subfamlias: a dos Apneos, a dos Meliponneos, a dos Bombneos e a dos Euglossneos. As trs primeiras famlias esto num estgio social avanado. A grande maioria das outras Apoidea so abelhas solitrias ou de hbitos sociais primitivos. Entre os Apneos, a nica espcie que presentemente vive na Federao Brasileira a Apis mellifera, introduzida no Brasil em 1839 pelo Padre Antonio Carneiro, em colnias vindas do Porto, em Portugal (Francisco Antonio Marques, 1845 p.1-2). Essas abelhas foram criadas primeiro na Praia Formosa, no Rio de Janeiro. Segundo Nicolau Joaquim Moreira (1878, in "O Auxiliador da Indstria Nacional"), tambm Paulo Barbosa e Sebastio Cordovil de Siqueira e Mello participaram dessa iniciativa. De acordo com Candido de Jesus Marques (1859) 100 colnias foram embarcadas, mas dessa viagem sobreviveram s 7 colnias, que foram instaladas na Praia Formosa, no Rio de Janeiro. Tive ocasio de descobrir esses dados, e outros mais, pesquisando na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Nogueira-Neto, 1962 e 1967).

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Os Meliponneos so as abelhas indgenas sem ferro, de que trata este livro (Fig. 1). A sua criao constitui a MELIPONICULTURA, palavra usada pela primeira vez no meu livro de 1953 (Nogueira-Neto, 1953 p. 8). Outras abelhas, pertencentes famlia dos Apdeos, so os Bombneos, mamangabas grandes e peludas. No Brasil so negras, s vezes tambm com reas amarelas no corpo. Podem ter ninhos pequenos ou grandes, estes com centenas de indivduos. H ainda uma quarta subfamlia, os Euglossneos, as abelhas das orqudeas. Elas so relativamente grandes e possuem cores metlicas, s vezes verdes, vinceas ou arroxeadas. Nas fmeas dessas 4 subfamlias que constituem os Apdeos, somente as dos Meliponneos no tm ferro. Com algumas excees, a caracterstica comum desses 4 grupos ter, nas tbias das patas traseiras das fmeas, uma concavidade onde elas carregam o polem das flores ou outras substncias para os seus ninhos. Essa concavidade chama-se corbcula (veja figura 1). Contudo, as rainhas dos Meliponneos e dos Apneos, e as fmeas (rainhas e operrias) das espcies parasitas, no possuem corbcula. Tambm todos os machos desses quatro grupos no tm nem corbcula. Alm disso, os machos da Ordem dos Himenpteros (abelhas, vespas, formigas) no possuem ferro. Outra caracterstica da famlia Apidae o fato de que, nos ninhos de suas espcies, as clulas de cria, ou as clulas ou depsitos de alimento so construdas pelas abelhas com cera ou cerume. O cerume uma mistura de cera pura e branca, secretada pelas abelhas, com o prpolis que elas retiram dos eventuais ferimentos que algum acidente ou corte causou uma rvore ou arbusto. Para o Professor Padre Jesus S. Moure (1951 pp.27-32; 1961 pp.182-183), as abelhas que na classificao anterior estariam nos gneros Melipona e Trigona, passaram a constituir as tribos Meliponini e Trigonini. O referido autor criou tambm a Tribo Lestrimelittini Moure 1946 (op. cit. 1951 pp.29-31). Contudo, esse autor (informao pessoal) no aceita mais essa tribo. Os Meliponini se caraterizam por no construrem clulas reais. Todas as rainhas, operrias e machos, nascem e se desenvolvem, at o estgio adulto, dentro de clulas de cria de igual tamanho. Alm disso, a entrada dos ninhos est quase sempre, em todas as espcies, no centro de uma estrutura de terra, ou de geoprpolis (argila e resinas vegetais), crateriforme, raiada. A meu ver, a tribo Meliponini constituda apenas pelo gnero Melipona. Os Trigonini constituem um grupo muito diversificado, com dezenas de gneros. Constrem quase sempre clulas reais, maiores que as outras, de onde emergem as futuras rainhas. s vezes se desenvolvem machos gigantes nessas clulas, como tive ocasio de descobrir (Nogueira-Neto, 1951). Em relao s clulas reais h porm uma exceo. As Frieseomelitta spp, comumente chamadas BREU, BRANCA ou MARMELADAS, e s vezes tambm as pequenas Leurotrigona, no constrem

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tais clulas. Contudo, essas abelhas tm rainhas grandes, que emergem de casulos reais. A explicao simples. Yoko Terada (1974 pp. 13-18, 84-85) descobriu que s vezes uma larva rompe a parede de uma clula vizinha, penetra na mesma, come o alimento ali disponvel e j tendo aumentado o seu tamanho, tece um casulo maior, ou seja, real. As Frieseomelitta e as Leurotrigona constrem suas clulas de cria em cachos. A tribo Lestrimelittini compreenderia os Meliponneos que vivem exclusivamente de roubos e no tm corbcula nas tbias das patas traseiras. um grupo muito pequeno. discutvel se as Cleptotrigona, ladras obrigatrias africanas, pertencem ou no a esta tribo. Provavelmente surgiram de modo independente.

Os nomes e a identidade dos Meliponneos

Na 2a edio do meu livro de 1970, havia uma extensa relao de nomes dos Meliponneos. Neste livro a referida relao tornou-se to grande que me levou concluso de que o melhor seria transform-la em livro. Surgir, assim, o "Dicionrio das abelhas indgenas da Amrica Latina". Ainda em 1998 espero que seja impresso. Para o meliponicultor ser um trabalho til, que ajudar na identificao de muitas espcies, difcil dar o nome certo a todos os Meliponneos, mesmo porque constantemente espcies novas so descobertas. Contudo, se as abelhas indgenas sem ferro mais comuns puderem ser identificadas, isso j ser uma grande ajuda. Neste livro procurei chamar os Meliponneos pelo seu nome popular mais comum ou mais descritivo. Apesar disso, h muita confuso em relao a esses nomes. Assim, muitas vezes, mas no sempre, as denominaes JATI, JATA, MOSQUITO, MIRIM so aplicadas a vrias espcies diferentes de abelhas pequenas. Por outro lado, o nome URUU quer simplesmente dizer abelha grande, e usado em relao a muitos Meliponneos de tamanho maior, pertencentes ao gnero Melipona. Os nomes populares muitas vezes no indicam com preciso a verdadeira identidade da abelha. Assim, neste livro, sempre que possvel ou desejvel, o nome popular vem acompanhado de nome cientfico ou latino da abelha. Os nomes cientficos, principalmente depois dos estudos do Professor Padre Jesus S. Moure CMF, e mais tarde tambm do Professor Joo M. F. Camargo, apresentam maior segurana ou estabilidade. Para identificar com preciso os Meliponneos, sugiro acondicionar exemplares mortos e secos, envoltos em guardanapos de papel e bem protegidos, tudo dentro das caixas de papelo vendidas pelos correios para a remessa de pequenas encomendas. Depois envie essas caixas a uma destas instituies: Setor de Abelhas, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paran, Caixa Postal 19020 CEP 81531-970 - Curitiba (PR).

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Setor de Abelhas, Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, Campus de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo -Av. Bandeirantes 3.900 CEP 14040-901 Ribeiro Preto (SP).

A distribuio geogrfica

Os Meliponineos ocupam grande parte das regies de clima tropical do planeta. Ocupam, tambm, algumas importantes regies de clima temperado subtropical. Assim, essas abelhas so encontradas na maior parte da Amrica Neotropical, ou seja, na maioria do territrio Latino-Americano. Os pontos mais ao Sul esto numa rea central da Argentina (Arizona, Provncia de San Luis). Na Federao Brasileira, o limite austral est no Rio Grande do Sul, nas proximidades do Uruguai. Tambm nas Amricas, os pontos mais ao Norte esto no Estado Mexicano de Sonora, prximos dos USA. Nas ilhas do Caribe, ocorrem em Cuba, Jamaica, Guadalupe, Montserrat, Dominica, Trinidad. Na frica, vo dos pases do Sul do Sahara, at o Transvaal, na frica do Sul. Encontrei-as no Planalto de Nairobi, de clima ameno, no Kenya. Na Federao Australiana vivem na sua metade Norte, aproximadamente. Do Sul da ndia se estendem ao Estado de Uttar Pradesh, no sop do Himalaia, no Norte da Federao Indiana. Ocupam tambm o Sudeste da sia e no seria surpresa se estiverem no Sul da China. Habitam a ilha de Taiwan. Outros dados podem ser tambm encontrados nos trabalhos de Herbert F. Schwarz, nos do Prof. Pe. Jesus S. Moure, nos do Prof. C. D. Michener, nos do Prof. J. M. F. Camargo e nos do Prof. S. F. Sakagami. J existiram abelhas Plebeia sp e Proplebeia (MIRINS) entre 25 e 40 milhes de anos atrs. Seus fsseis foram conservados em mbar (resina fssil) e encontrados na atual Repblica Dominicana, no Caribe. Houve Trigona na Siclia, h 30 milhes de anos, tambm encontrada em mbar (George Poinar Jr., 1994 p.71). Pretendo investigar a presena de Meliponineos no Uruguai, de onde J. M. Perez (1895) teria recebido uma colnia, Procurei essas abelhas a cerca de 40 km ao Sul do Arroio Chu, em territrio uruguaio, nas flores junto a uma pequena floresta, no parque histrico de Santa Thereza, mas no as encontrei. Contudo, necessrio pesquisar mais, principalmente ao longo da fronteira Norte do Uruguai. L perto, mas no Rio Grande do Sul, Dieter Wittmann e Magali Hoffman (1990 p. 28) encontraram a Plebeia wittmanni em Uruguaiana, Cangu, Pelotas, etc. e a Mourella caerulea em Canguu, Piratini, etc. Vi abelhas dessa espcie a alguns km de Camaqu, s margens do rio desse nome, a 50 km ao Norte de Pelotas. Esta cidade e o seu grande entorno (Piratini, Cangu, etc), poderiam ser considerados um dos baluartes orientais meridionais de Mourella e Plebeia wittmanni e portanto, dos Meliponineos. Curiosamente, tambm a IRAPU (Trigona spinipes), que constri ninhos externos, aparentemente mais vulnerveis ao frio, encontrada em Piratini,

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Cangu e Pelotas (D. Wittmann & M. Hoffman, 1990 p.29). Parece-me interessante determinar, no Brasil e no Uruguai, a fronteira meridional dos Meliponneos nessa regio.

As tentativas de aclimatao

As tentativas de introduzir Meliponneos em outros pases e regies foram muitas. Uma das principais, em nmero de colnias envolvidas, foi a de Drory, na Frana, nos anos 1872-1873, na regio de Bordeaux. As abelhas foram remetidas da Bahia, pelo naturalista francs Louis Jacques Brunet, radicado no Nordeste. Infelizmente as abelhas no sobreviveram por muito tempo aos rigores do inverno europeu, mas permitiram a realizao de observaes importantes, por Edouard Drory, Maurice Girard e outros. Outra tentativa de aclimatao que envolveu tambm muitas colnias, vindas principalmente da regio de Caxias, no Rio Grande do Sul, foi idealizada e realizada por mim. Consistiu na remessa de Meliponneos a diversos lugares dos USA, com a participao de James I. Hambleton e seus colaboradores, do US Department of Agriculture. Tratava-se de aclimatar naquele pas novos insetos polinizadores. Isso poderia abrir um novo mercado para os meliponicultores brasileiros e seria um incentivo importante para as pesquisas sobre essas abelhas. Em 1948 foram enviadas aos USA 10 colnias de Meliponneos, e em 1950 mais 22 colnias. Foram testadas em Baton Rouge (Louisiana), Tucson (Arizona), Davis e Palo Alto (Califrnia), Logan (Utah) e Beltsville (Maryland). Detalhes em Nogueira-Neto (1948-B, 1951-B e 1960). Na Universidade de Stanford, em Palo Alto, o Prof. George Schafer manteve viva uma colnia de MIRIM (Plebeia sp) durante 8 anos. Nos demais lugares, a sobrevida foi de apenas 1 ou 2 anos. Se tivesse sido possvel enviar essas abelhas ao Sul da Flrida, o resultado poderia ter sido positivo. Desde 1990 est sendo feito um notvel esforo para aclimatar em Portugal, Meliponneos das espcies MANDAAIA (Melipona quadrifasciata), MIRIM GUAU (Plebeia remota) e JATA (Tetragonisca jaty). O pesquisador Joo Pedro Cappas e Sousa est conseguindo manter bem essas abelhas, primeiro em Lisboa. Foram depois mantidas no Alentejo, mais a Oeste, onde pereceram em fins de 1996. Tambm na Europa, na Universidade de Tbingen, na Alemanha, o Prof. Dr. Wolf Engels mantm colnias de MANDAGUARI ou CANUDO (Scaptotrigona postica), numa cmara tropical. O Prof. Dr. Marinus Sommeijer, na Universidade de Utrecht, na Holanda, tambm possui colnias de Meliponneos em cmaras tropicais, provenientes principalmente de TrinidadTobago e da Costa Rica. Nos casos aqui mencionados, as colnias so mantidas para fins de pesquisa cientfica, assim como faz Cappas e Sousa em Portugal.

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A meu ver h um campo promissor para aclimatar Meliponneos em vrias partes do mundo. Dessas abelhas, a que mais poderia interessar aos pases receptores seria a JATA (Tetragonisca angustula), no somente por ser adaptada para visitar muitas flores, mas tambm por ser muito rstica, produzir um mel excelente e ser a abelha mais limpa (higinica) de todas as que conheo. Nas Amricas, a JATA poderia ser introduzida no Sul da Flrida, em Cuba e nas demais ilhas do Caribe, bem como no Uruguai e no Delta do Rio Paran, na Argentina. As ilhas tropicais do Pacfico seriam locais ideais para essa abelha. Na Europa, o Sul de Portugal, a costa da Calbria e principalmente o litoral da Siclia, que percorri em grande parte, so lugares potencialmente favorveis a vrios Meliponneos do Sul da Federao Brasileira. Alm disso, partes da frica, Austrlia Norte e Noroeste, ndia exceto reas semi ridas ou desrticas e regies frias, bem como Ceilo, Madagascar nas suas reas tropicais midas e o Sudeste da sia, poderiam tambm ser habitadas pela JATA. Diga-se de passagem que a experincia de aclimatao nos USA mostrou que os Meliponneos, com poucas excees, no se adaptam bem a regies secas ou frias. reas desse tipo ocorrem em todas essas grandes regies, mas nas mesmas tambm existem territrios midos, tropicais ou subtropicais, que poderiam receber bem a JATA. Contudo, em qualquer introduo de animais ou plantas, h o risco de eliminar espcies nativas com igual nicho ecolgico. Mas no provvel que isso ocorra com a JATA, pois ela parece ter um nicho ecolgico muito peculiar e convive bem nas Amricas, com muitos Meliponneos e com abelhas de outros grupos. Ela est bem adaptada, inclusive nas grandes cidades como So Paulo, onde h poucas abelhas nativas. Vive, tambm, em lugares onde h muitas outras abelhas nativas e muitas colnias de Apis mellifera, como o Sudeste da Federao Brasileira.

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CAPTULO 2OS MATERIAIS DE CONSTRUO

Consideraes gerais

Os Meliponneos constrem os seus ninhos com materiais diversos, que encontram na natureza, e tambm com um outro material secretado, ou seja, produzido por essas abelhas: a cera. Essa classificao sumria, para ficar completa, precisa ainda considerar uma categoria mista, ou seja, o cerume. Este , basicamente, uma mistura de cera com a resina (prpolis) que as abelhas recolhem de rvores ou arbustos feridos. um equvoco confundir cera e cerume. So coisas diferentes. Neste e em outros captulos dou especial realce aos que primeiro descobriram ou estudaram um determinado fato ou particularidade. Veja a figura 3.

A cera

A cera secretada pelos Meliponneos jovens em glndulas existentes no dorso do abdome, entre os segmentos abdominais. O produto dessa secreo uma pequena placa de cera branca, que a gente pode ver com certa freqncia no dorso do abdome dos indivduos jovens da colnia. Edouard Drory (1873 p. 60) foi