View
6
Download
4
Embed Size (px)
DESCRIPTION
ANDRÉ LUIZ BERTOLE, condenado à pena de 1 ano e 2 meses de reclusão em regime semiaberto por sequestro, juntamente com o Luiz Carlos Perin, o Chiba, condenado à pena de 1 ano e 3 meses de reclusão em regime semiaberto, pelo mesmo crime.
Citation preview
1PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
Registro: 2015.0000157932
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283, da Comarca de Rio Claro, em que são apelantes/apelados ANDRÉ LUÍS BERTOLE e LUIZ CARLOS PERIN e Apelante/A.M.P WILLIAN VIANA DOS SANTOS, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM, em 4ª Câmara Criminal Extraordinária do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "De ofício, declararam extinta a punibilidade dos acusados em relação aos crimes do art. 129, caput, art. 146, § 1º e art. 345, todos do Código Penal pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva, prejudicado o exame do mérito do recurso do Assistente do Ministério Público, com fundamento no art. 109, incisos V e VI (com a redação da época dos fatos), art. 117, inciso I, amos do Código Penal. Por outro lado, deram provimento parcial aos recursos dos réus André Luis Bertole e Luiz Carlos Perin para absolvê-los da prática do crime do art. 15, da Lei nº 10.826/03, com fundamento no art. 386, incisos III, do Código de Processo Penal e reduzir a pena do sequestro para 1 ano e 2 meses de reclusão em regime semiaberto para o primeiro e 1 ano e 3 meses de reclusão em regime semiaberto para o segundo. Oportunamente, com o trânsito em julgado, expeçam-se mandado de prisão. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME G.STRENGER (Presidente) e XAVIER DE SOUZA.
São Paulo, 11 de março de 2015.
Alexandre AlmeidaRELATOR
Assinatura Eletrônica
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 13
2PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
Lesão corporal leve, constrangimento ilegal qualificado e exercício arbitrário das próprias razões Penas máximas que não excedem 2 anos
Sentença absolutória Decurso de mais de 4 anos entre a data do recebimento da denúncia e julgamento do recurso Prescrição Ocorrência
Exame do mérito prejudicado.Sequestro e cárcere privado Restrição da liberdade da vítima Crime autônomo, praticado após ter sido atingido o intuito inicial de conseguir reaver telefone celular Prova segura e coerente Condenação mantida Recurso provido em parte para redução das penas.Disparo de arma de fogo Falta de prova de que o disparo tenha sido perpetrado em local habitado ou em suas adjacências Tiros disparados contra a vítima com a finalidade de constrangê-la Ausência do elemento subjetivo Absolvição decretada.
Vistos.
ANDRÉ LUIS BERTOLE e LUIZ CARLOS
PERIN, qualificados nos autos, foram denunciados e processados perante
o Juízo da Vara Única do Foro de Itirapina Comarca de Rio Claro,
apontados como incursos no art. 129, caput, art. 146, § 1º, art. 148, caput e
art. 345, todos do Código Penal e art. 15, da Lei nº 10.826/03.
Isto porque, no dia 27 de fevereiro de 2009, por
volta das 20 horas, nas proximidades do Bar do Zé Leonel, cidade de
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 14
3PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
Analândia, agindo em concurso e com unidade de propósitos, fizeram
justiça pelas próprias mãos, ofendendo a integridade corporal de Willian
Viana dos Santos, causando-lhe lesões corporais de natureza leve.
Momentos depois, privaram essa mesma vítima
de sua liberdade, mediante sequestro, e o constrangeram, mediante
violência e grave ameaça a fazer o que a lei não manda.
Além disso, nas mesmas condições de tempo e
lugar, André, com o auxílio material de Luiz Carlos, disparou arma de fogo
nas adjacências de lugar habitado.
Após regular instrução, sobreveio a r. sentença de
fls. 506/514, proferida pelo MM. Juiz de Direito Dr. Daniel Felipe Scherer
Borborema, que julgou procedente em parte a ação penal e condenou os
acusados, por infringência ao art. 148, do Código Penal, ao cumprimento
da pena de 2 anos de reclusão em regime inicial semiaberto e, por infração
ao art. 15, da Lei nº 10.826/2003, ao cumprimento da pena de 2 anos e 4
meses de reclusão em regime aberto, substituída por prestação de serviços
à comunidade e proibição de frequentar determinados lugares, além da
pecuniária equivalente a 20 dias-multa, no valor de 5/30 do salário mínimo.
Inconformados apelam o assistente do Ministério
Público buscando a condenação dos acusados nos termos da denúncia, sob
o argumento de que há nos autos prova suficiente da ocorrência de todos os
fatos ali narrados (fls. 531/533), e os réus André e Luiz Carlos, pleiteando
a absolvição, sob a alegação de que as provas são insuficientes para
embasar decreto condenatório. Subsidiariamente, André aguarda a fixação
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 15
4PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
do regime aberto para desconto das penas (fls. 523/527 e 541/564).
Recebidos os recursos (fls. 528), vieram aos autos
as contrarrazões (fls. 568/572, 574/578, 580/592, 584/595) seguidas da
manifestação do representante do Ministério Público, que opinou pela
rejeição de todos os recursos (fls. 597/599).
Bem processados os apelos, a d. Procuradoria de
Justiça opinou pelo parcial provimento de todos, reduzindo-se as penas
aplicadas pelo crime de disparo de arma de fogo e o valor do dia-multa
estabelecido, e condenando-se os réus também pelos crimes de lesão
corporal e constrangimento ilegal qualificado em concurso material (fls.
603/607).
Anote-se que o processo foi inicialmente
distribuído para a Col. 8ª Câmara de Direito Criminal (fls. 602), mas
acabou redistribuído para esta E. 4ª Câmara de Direito Criminal
Extraordinária em 11 de novembro de 2014 (fls. 609).
É o relatório.
Cuidam os autos de apelações interpostas por
Luiz Carlos Perin e André Luís Bertole e pelo assistente do Ministério
Público contra a r. sentença de fls. 506/514, que condenou os dois
primeiros por infração ao art. 148, do Código Penal, ao cumprimento da
pena de 2 anos de reclusão em regime inicial semiaberto e, como incursos
no art. 15, da Lei
nº 10.826/2003, ao cumprimento da pena de 2 anos e 4 meses de reclusão
em regime aberto, substituída por duas restritivas de direitos.
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 16
5PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
E, na análise das pretensões deduzidas, cumpre
reconhecer que os crimes de lesão corporal leve, constrangimento ilegal
qualificado e exercício arbitrário das próprias razões foram alcançados pela
prescrição, o que prejudica o recurso do assistente do Ministério Público
que pretendia a condenação por esses delitos.
Isso porque a sentença foi absolutória em relação
a esses crimes e, portanto, a última causa interruptiva da prescrição foi o
recebimento da denúncia ocorrido em 16/11/2010 (fls. 213/214). Acontece
que a pena máxima para o crime de lesão corporal leve é igual a 1 ano e a
do constrangimento ilegal qualificado de 2 anos e multa, razão pela qual
prescrevem em 4 anos (art. 109, inciso V, do Código Penal), e a do crime
de exercício arbitrário das próprias razões é igual a 1 mês de detenção, com
prazo prescricional de 2 anos, nos termos do art. 109, inciso VI, do Código
Penal, com a redação da época dos fatos (27/02/2009).
Assim, entre a data do recebimento da denúncia e
a do presente julgamento, esses prazos já foram ultrapassados, o que
justifica a extinção da punibilidade quanto aos crimes do art. 129, caput,
art. 146, § 1º e art. 345, todos do Código Penal, prejudicado, nesse ponto, o
exame do mérito do recurso do assistente da acusação.
Resta analisar a prova quanto aos crimes de
sequestro e disparo de arma de fogo.
Com esse intuito, o que se percebe é que os
acusados negaram os fatos quando foram ouvidos na delegacia de polícia,
limitando-se a informar que estiveram com a vítima apenas para cobrar a
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 17
6PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
devolução de um aparelho celular e do respectivo carregador, que ela teria
comprado de André, sem contudo efetuar o pagamento, bem como de um
notebook pertencente a Gilberto de Oliveira, adquirido nas mesmas
condições, bens que foram recuperados de maneira pacífica e sem qualquer
coação (fls. 16/17 e 18/19).
Mas, já naquela oportunidade foram incriminados
pelo ofendido Willian Viana dos Santos, que contou que realmente foi
abordado pelos acusados, que solicitavam a devolução do telefone celular
pertencente a André. Assim, entregou o objeto, mas como não trazia
consigo o carregador respectivo, foi colocado de forma violenta e agressiva
dentro do veículo de deste último e levado até sua casa, onde devolveu o
acessório. Ato contínuo, mesmo depois de satisfeito o desejo dos réus, foi
levado para um canavial e novamente agredido por André e Luiz Carlos,
que arrancou suas vestes e entregou um revólver ao primeiro, que passou a
efetuar disparos de arma de fogo próximo de seus pés e para o alto.
Diante de tudo isso, tratou de fugir para o mato e
alcançou a cidade ainda nu, dirigindo-se à residência de seu amigo
Jonathan, que lhe emprestou uma bermuda e o acompanhou até à
delegacia. Acrescentou, que mesmo depois desses fatos, vinha sendo
perseguido e intimidado pelos réus (fls. 12/13, 20/21 e 101).
A testemunha Jonathan Marques dos Santos
confirmou ter visto o momento em que a vítima foi empurrada para dentro
do carro de André, e, cerca de uma hora depois, compareceu em sua casa
completamente despida, pelo que lhe emprestou uma roupa e procuraram a
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 18
7PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
polícia (fls. 10).
Rodrigo Tendolini Balerini, por sua vez, afirmou
que, no dia seguinte aos fatos, acompanhou a vítima até o local por ela
apontado, onde encontrou um projétil de arma de fogo e constatou a
existência de dois orifícios na terra, aparentemente decorrentes de tiros (fls.
31).
A genitora do ofendido, Alaíde Antunes de
Souza, narrou que ele esteve em sua casa na companhia de André para
buscar um carregador e algum tempo depois, seu outro filho Robson lhe
contou sobre a violência empregada contra Willian, fato que ele confirmou
quando chegou em casa, vestindo um short que não lhe pertencia (fls.
32/33).
Ainda durante o inquérito policial, foi apreendido
em poder de Francisco Pereira de Alencar, amigo dos réus, um revólver
com numeração suprimida, cujo calibre correspondia ao do projétil
encontrado e apresentava resíduos de pólvora combusta, denotando a
utilização recente (fls. 74/75, 76 e 119/110).
Diante desses indícios, os réus terminaram
denunciados pela prática dos crimes de lesão corporal de natureza leve,
constrangimento ilegal qualificado, exercício arbitrário das próprias razões,
sequestro e cárcere privado e disparo de arma de fogo, dos quais, como se
viu, remanescem apenas os dois últimos.
Isso tudo considerado, de rigor concluir que
apenas o sequestro restou bem comprovado nos autos.
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 19
8PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
O réu André, ouvido em Juízo, agora sob as
garantias do contraditório, ratificou a versão oferecida na polícia, dizendo
acreditar que as acusações decorreram de vingança da vítima pelo fato de
tê-la feito devolver os bens dos quais ela indevidamente visava se apropriar
e também em razão de uma das testemunhas fazer oposição política à
família de Luiz Carlos, membros da administração local (mídia de fls.
329). O corréu Luiz Carlos, embora devidamente citado, tornou-se revel,
não tratando de apresentar sua versão sobre os fatos que lhe foram
imputados (fls. 452).
O ofendido relatou, assim como havia feito na
delegacia de polícia, que os agentes o obrigaram a acompanhá-los até o
canavial, sempre sob ameaça efetivada com emprego de arma, e naquele
local foi violentamente despido e submetido a situação altamente
humilhante, onde os réus, efetuando disparos de arma de fogo para o alto e
próximo de seus pés, não deixaram outra alternativa senão fugir nu pelo
mato até a cidade para conseguir ajuda (fls. 12/13 e 20/21 e mídia de fls.
329).
Essas declarações foram corroboradas pela
testemunha Jonathan, que reafirmou que entre uma ou duas horas depois de
ter visto Willian entrar no carro com os acusados, ele esteve em sua casa,
completamente nu e lhe pediu roupa emprestada, após o que, tomando
conhecimento do ocorrido, acompanhou Willian até à delegacia (mídia de
fls. 329).
No mesmo sentido é o depoimento da mãe da
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 20
9PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
vítima, Sra. Alaíde, que declarou que quando viu seu filho, ele trajava
roupas de um amigo (mídia de fls. 329).
Em reforço a esta conclusão, há nos autos as
declarações da testemunha Rodrigo, que ratificando suas palavras do
inquérito (fls. 31), confirmou que encontrou no chão do canavial um
projétil, o qual entregou ao Delegado de Polícia (mídia de fls. 329). E a
testemunha Adilson de Oliveira, que esteve no local logo após os fatos,
confirmou a existência de sinais de tiros, precisamente no lugar onde foi
encontrado o projétil.
Nesse passo, mesmo que não se tenha
comprovado que o projétil encontrado no local apontado pela vítima era
proveniente da arma apreendida em poder de Francisco Pereira de Alencar
cuja conduta é objeto de apuração em procedimento distinto (fls.
208/209) o encontro desse artefato comprova a utilização de arma,
confirmando a versão trazida pela vítima.
Diante desse quadro, tem-se como caracterizado o
crime de sequestro, já que a análise da prova indica que os réus, depois de
constrangerem a vítima a devolver o aparelho de celular, a privaram da
liberdade.
Com efeito, como bem ponderou o Magistrado na
r. sentença combatida, depois de entregar o carregador aos agentes e entrar
no carro de André, a vítima teve sua liberdade privada e foi levada para o
canavial, onde foi despida e constrangida pelos disparos de arma de fogo
perpetrados pelos réus (fls. 512).
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 21
10PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
Essa privação, conforme se depreende da prova,
repita-se, ocorreu depois que a vítima já havia sido constrangida a entregar
o aparelho de celular, de sorte que não foi o meio utilizado para a prática
de outro crime.
Na verdade, o próprio ofendido, quando ouvido
em juízo, declarou que inicialmente entrou voluntariamente no carro de
André pretendendo retornar ao local de onde havia sido retirado e buscar
sua bicicleta, deixada por Chiba (Luiz Carlos), no Bar do Zé Leonel (fato
que foi confirmado pela testemunha José Carlos Leonel a fls. 11 e mídia de
fls. 329).
Entretanto, após essa entrada voluntária, ao invés
de ser levado de volta, a vítima foi encaminhada até o canavial e submetida
a agressões e humilhações, de sorte que o sequestro não integrou o crime
de constrangimento ilegal, ao contrário, foi conduta autônoma que ocorreu
depois que já estava exaurida a intenção inicial que era de obrigar o
ofendido a devolver o aparelho.
Assim, considerando que a intenção dos agentes
ao conduzir o ofendido ao canavial era efetivamente privá-lo da liberdade e
submetê-lo a humilhações e constrangimentos, restou bem comprovado o
sequestro, ainda que o local fosse aberto e que tenha conseguido fugir e
esconder-se na vegetação local.
Em relação ao crime do art. 15, da Lei nº
10.826/03, no entanto, não há dúvida de que os agentes efetuaram os
disparos mencionados pela vítima Willian.
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 22
11PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
Em que pese o laudo de confronto balístico (fls.
136/138) tenha apresentado resultado inconclusivo, tendo em vista as
condições do projétil encontrado, o fato é que a testemunha Rodrigo
Tendolini Balerini encontrou o referido projétil no local apontado pela
vítima e, conforme atestaram os policiais Willian Aparecido da Silva e
Marco Henrique Ferreira Lima (este último ouvido apenas na polícia), no
local havia alguns orifícios que bem poderiam ser decorrentes de disparos
de arma (mídia de fls. 329, fls. 148/149, 150 e 421).
De qualquer forma, quanto a este delito a prova se
fez insuficiente para sustentar a condenação dos acusados.
Na verdade, ainda que se reconheça a
desnecessidade do perigo concreto para a configuração do crime de disparo
de arma, o tipo exige que o disparo se aconteça em “lugar habitado ou em
sua adjacências, em via pública ou em direção a ela” e excepciona que
“essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime” (art.
15, da Lei nº 10.826/03).
No caso dos autos, não veio para os autos
qualquer comprovação de que os tiros foram disparados nas adjacências de
local habitado. Afinal, não foi juntado croquis e nem ouvida qualquer
testemunha para atestar a existência de habitação nas proximidades do
lugar, que era uma fazenda conhecida nas redondezas, mas, pelo que
disseram as testemunhas ouvidas, distante, no mínimo, cinco quilômetros
da cidade.
Além disso, repita-se o objetivo dos agentes era
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 23
12PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
subjugar a vítima, conforme já restou esclarecido, tanto que a humilharam
ao tirar as suas vestes e passaram a atirar para cima e próximo dos seus pés,
com o intuito de amedrontá-la, permitindo que fugisse para a cidade nesta
situação.
Portanto, se não há indicação a propósito da
existência de lugar habitado, a absolvição dos réus é medida que se impõe,
seja por falta de prova da materialidade deste delito, seja por ausência do
dolo, elemento essencial do tipo em questão.
Em suma, o único crime que restou configurado
foi o de sequestro, bem reconhecido pela r. sentença, restando, portanto,
analisar as penas fixadas.
Neste mister, bem sopesados os elementos
norteadores do art. 59 do Código Penal, cumpre reconhecer que as
circunstâncias judiciais ultrapassaram o normal para o crime praticado,
mas nada justificava a exasperação da pena base no dobro da mínima
prevista. Assim sendo, para o sequestro, a pena de André, fica aumentada
de 1/6, ou seja em 1 ano e 2 meses de reclusão, enquanto a de Luiz Carlos,
que é portador de maus antecedentes (certidão de fls. 184, copiada a fls.
240 e 244) é elevada de 1/4, estabelecida para 1 ano e 3 meses de reclusão.
Em seguida, na ausência de outras circunstâncias
modificadoras, essas penas se tornam definitivas.
Tratando-se de réus primários, mas como as
circunstâncias judiciais são desfavoráveis fica mantido o regime
semiaberto estabelecido na sentença (art. 33, § 3º, do Código Penal).
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 24
13PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOApelação nº 0002032-90.2009.8.26.0283 - Rio Claro
Apelante/A.M.P: Willian Viana dos Santos Aptes/Apdos: André Luís Bertole e Luiz Carlos Perin Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Voto nº 4773
Impossível a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos nos termos da fundamentação aplicada
na sentença, já que a vítima foi submetida a grave ameaça, razão pela qual
estão ausentes os requisitos do art. 44, do Código Penal.
Diante do exposto, de ofício, declara-se extinta a
punibilidade dos acusados em relação aos crimes do art. 129, caput,
art. 146, § 1º e art. 345, todos do Código Penal pela ocorrência da
prescrição da pretensão punitiva, prejudicado o exame do mérito do
recurso do Assistente do Ministério Público, com fundamento no art.
109, incisos V e VI (com a redação da época dos fatos), art. 117, inciso
I, amos do Código Penal.
Por outro lado, DÁ-SE PROVIMENTO
PARCIAL AOS RECURSOS dos réus André Luis Bertole e Luiz
Carlos Perin para ABSOLVÊ-LOS da prática do crime do art. 15, da
Lei nº 10.826/03, com fundamento no art. 386, incisos III, do Código de
Processo Penal e reduzir a pena do sequestro para 1 ano e 2 meses de
reclusão em regime semiaberto para o primeiro e 1 ano e 3 meses de
reclusão em regime semiaberto para o segundo.
Oportunamente, com o trânsito em julgado,
expeçam-se mandado de prisão.
Custas na forma da Lei.
ALEXANDRE Carvalho e Silva de ALMEIDA
RELATOR
Par
a co
nfer
ir o
orig
inal
, ace
sse
o si
te h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
000
2032
-90.
2009
.8.2
6.02
83 e
cód
igo
RI0
0000
0OX
UN
A.
Est
e do
cum
ento
foi l
iber
ado
nos
auto
s em
13/
03/2
015
às 1
1:11
, por
Ale
xand
re A
lmei
da, é
cóp
ia d
o or
igin
al a
ssin
ado
digi
talm
ente
por
ALE
XA
ND
RE
CA
RV
ALH
O E
SIL
VA
DE
ALM
EID
A.
fls. 25