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Acórdão n.º 311/2011-Plenário, TC-006.306/2008-3, rel. Min- Subst. André Luís de Carvalho, 09.02.2011. Relatório do Ministro Relator Trata-se de Levantamento de Auditoria realizado nas obras de modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Estado do Paraná, no âmbito do Fiscobras 2008. 2. Inicialmente, estes autos foram submetidos à apreciação do Plenário na Sessão de 23/07/2008, ocasião em que foi proferido o Acórdão 1.411/2008, mediante o qual foi decidido, verbis: "9.1. com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, determinar à Petrobras que informe o Tribunal de Contas da União, no prazo de 15 (quinze) dias, acerca da exclusão dos itens orçamentários denominados "Fornecimento de Serviços Complementares" dos contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, nos termos dos esclarecimentos prestados pela empresa no decorrer dos trabalhos de auditoria relatados nestes autos; 9.2. reiterar à Petrobras os termos do Acórdão 1.497/2004-TCU-Plenário, com vistas a esclarecer aos atuais gestores da Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras que, sob pena de aplicação das sanções legais previstas no artigo 57, incisos V e VI, da Lei nº 8.443, de 1992, processos,

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Acórdão n.º 311/2011-Plenário, TC-006.306/2008-3, rel. Min-Subst.

André Luís de Carvalho, 09.02.2011.

Relatório do Ministro RelatorTrata-se de Levantamento de Auditoria realizado nas obras

de modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Estado do Paraná, no âmbito do Fiscobras 2008.

2. Inicialmente, estes autos foram submetidos à apreciação do Plenário na Sessão de 23/07/2008, ocasião em que foi proferido o Acórdão 1.411/2008, mediante o qual foi decidido, verbis:

"9.1. com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, determinar à Petrobras que informe o Tribunal de Contas da União, no prazo de 15 (quinze) dias, acerca da exclusão dos itens orçamentários denominados "Fornecimento de Serviços Complementares" dos contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, nos termos dos esclarecimentos prestados pela empresa no decorrer dos trabalhos de auditoria relatados nestes autos;

9.2. reiterar à Petrobras os termos do Acórdão 1.497/2004-TCU-Plenário, com vistas a esclarecer aos atuais gestores da Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras que, sob pena de aplicação das sanções legais previstas no artigo 57, incisos V e VI, da Lei nº 8.443, de 1992, processos, documentos ou informações não devem ser sonegados aos analistas da Secretaria deste Tribunal quando da realização de auditoria, consoante previsto no art. 42, c/c o art. 87, da mesma Lei, ainda que nas portarias de designação e nas correspondências de apresentação dirigidas ao gestor máximo da entidade esteja indicada a área prioritária a ser auditada;

9.3. com fulcro no art. 43, inciso II, da Lei nº 8.443, de 1992, determinar à Secex/PR que promova a audiência dos gestores da Petrobras responsáveis pela inclusão do item orçamentário

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denominado "Eventos globais" no Contrato nº 0800.0035013.07.2, sem o detalhamento necessário e em desacordo com as disposições do art. 6º, inciso IX, da Lei nº 8.666, de 16 de junho de 1993;

9.4. enviar cópia do presente acórdão, acompanhado do relatório e do voto que o fundamentam, à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional, informando que as ocorrências identificadas na presente fiscalização não recomendam o bloqueio dos recursos orçamentários relativos ao exercício de 2008 para as obras de modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas, bem assim que as irregularidades apuradas no exercício anterior, no âmbito do TC 015.638/2007-4, encontram-se pendentes de saneamento."

3. Por força do comando inserto no item 9.2 do aludido acórdão, a Secex/PR expediu o Ofício nº 428/2008-TCU-Secex/PR (fl. 188), dirigido à Repar/PR, e, ainda, o Ofício nº 429/2008-TCU-Secex/PR (fl. 189), encaminhado à Petrobras. Por sua vez, a determinação contida no item 9.4 foi implementada por intermédio do Aviso 862-Seses-TCU-Plenário (fl. 187).

4. O exame das informações prestadas pela Petrobras em atendimento ao item 9.1 da deliberação, bem como da resposta à audiência determinada pelo item 9.3, foi promovido pela auditora da Secex/PR e consta da instrução de fls. 258/268, que reproduzo, em parte, a seguir, com ajustes de forma, verbis:

"6. Cumpridas as notificações, a presente instrução tem, portanto, o objetivo de verificar e analisar as respostas dadas pela Petrobras nos itens 9.1 e 9.3 do Acórdão 1.411/2008 - TCU - Plenário.

VERIFICAÇÃO DO CUMPRIMENTO DE DETERMINAÇÃO(item 9.1 do Acórdão 1.411/2008 - TCU - Plenário)7. O item 9.1 do Acórdão 1.411/2008 - TCU - Plenário se

refere à determinação do Tribunal de Contas da União à Petrobras, com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, para que fosse informado acerca da exclusão dos itens orçamentários denominados "Fornecimento de Serviços Complementares" dos

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contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, nos termos dos esclarecimentos prestados pela empresa no decorrer dos trabalhos de Auditoria relatados nestes autos.

8. Os contratos onde se verificaram a cláusula de "Fornecimento de Serviços Complementares" foram:

1) Contrato 0800.0033538.07.2, Construção de Subestação de 230 KV - Consórcio Camargo Correa/Weg/Sênior (Regime de Preço Global);

2) Contrato 0800.0034045.07.2, 13/7/2007, Subestações da carteira Consórcio Conenge/Elco (Regime de Preço Global);

3) Contrato 0800.0030222.07.2, Serviço de Apoio Técnico para a área de Propeno Atp - Assessoria, Tecnologia e Planejamento Ltda. (Regime de Preço Unitário);

4) Contrato 0800.0027054.06.2, Serviços de Apoio Técnico e Administrativo Atp - Assessoria, Tecnologia e Planejamento Ltda. (Regime de Preço Unitário);

5) Contrato 0800.0031123.07.2, 26/4/2007, Serviços na Subestação de 69 KV - Consórcio Abb/Cegelec/Mha (Regime de Preço Global);

6) Contrato 0800.0025357.06.2, Serviços Técnicos de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde - IMC Saste Construções Ltda. (Regime de Preço Unitário);

7) Contrato 0800.0032814.07.2, Ultra 5300 Archel Engenharia Ltda. (Regime de Preço Global);

8) Contrato 0800.0033801.07.2, Infra 3 Normatel - Nordeste Materiais Ltda. (Regime de Preço Global);

9) Contrato 0800.0032380.07.2, Serviços Técnicos - carteira de Gasolina Tecnosolo Eng. e Tecnologia de Solos e Materiais S.A. (Regime de Preço Unitário);

10) Contrato 0800.0035852.07.2, Serviços Técnicos no Centro Integrado de Controle Acv Tecline Engenharia Ltda. (Regime de Preço Unitário);

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11) Contrato 0800.0032563.07.2, Serviços Técnicos - Carteira de Coque e HDT Tecnosolo Eng. e Tecnologia de Solos e Materiais S.A. (Regime de Preço Unitário);

12) Contrato 0800.0034356.07.2, Interligações GV-5603 com Cafor e unidades existentes Lavitta (Regime de Preço Global);

13) Contrato 0800.0036253.07.2, Interligações GV-5603 c/sistemas existentes Engecampo - Engenharia Ltda (Regime de Preço Global).

9. Em relação a esse item, foi enviado à Repar/PR, o Ofício 428/2008-TCU-Secex/PR, de 1º/8/2008, fl. 187, Vol. Principal, recebido através de AR, fl. 191, e o Ofício 429/2008-TCU-SECEX-PR à Petrobras, de 1º/8/2008, fl. 188, Vol. Principal, recebido através de AR, fl. 192. As respostas a esse item estão nas fls. 213/225, 231/233 e 245/250 do Vol. 1.

10. Em vez de demonstrar a exclusão das cláusulas indevidas de "Fornecimento de Serviços Complementares", como já havia expressamente informado em resposta à oitiva prévia durante a fase de auditoria, "(...) a exclusão será realizada em todos os contratos listados no Relatório de Auditoria, até julho de 2008, por meio de aditivos contratuais pertinentes, o que apenas ainda não ocorreu por motivo operacional", a Petrobras apresentou cópias dos aditivos firmados para excluir esta cláusula em sete contratos e argumentos para não excluir em seis dos treze contratos.

ARGUMENTOS APRESENTADOS11. Primeiramente a Petrobras alega que a conclusão a que

chegou a equipe de auditoria tem por pressuposto a celebração por preço global: "como se observa do próprio relatório de fiscalização, cuja passagem exposta na folha 62 trazemos à colação: As planilhas de preços dos contratos não discriminaram a composição dos custos unitários dos itens ora impugnados, com infração ao art. 7º, §2º, 11, da Lei 8.666/93. Acresce que os contratos foram celebrados sob a forma de empreitada por preço global. E, segundo o art. 6º, inciso VIII, letra "a", da mesma lei, esta forma de contratação somente se aplica

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"quando se contrata a execução da obra ou do serviço por preço certo e total". E, sendo assim, isto é, tratando-se de preço certo, não há que se falar em acréscimo de valor por preço contratado.".

12. Em seguida, a Petrobras argumenta que seis dos treze contratos foram contratados sob a forma de Contratação por Preço Unitário e traz as seguintes colocações:

a) nos contratos por preço global o contratado assume total responsabilidade pelos serviços, tais como execução do projeto, aquisição de equipamentos/materiais e construção/montagem e nos contratos por preço unitário, o contratado presta serviços de apoio técnico à Petrobras, seja para serviços de engenharia, consultoria ou apoio à fiscalização de campo, dentre outras atividades e neste "o valor a constar é apenas uma estimativa";

b) a cláusula de Serviços Complementares constante nos contratos de preços unitários tem natureza distinta da cláusula presente nos contratos de preços globais em razão das diferenças elencadas;

c) considerando a diferença que existe entre as duas formas de contratação, "restou ratificado o comprometimento demonstrado pela Petrobras no sentido de excluir dos contratos celebrados na modalidade empreitada por preço global a cláusula questionada ("Fornecimento de Serviços Complementares"), através da realização de termos aditivos, que já foram celebrados e encaminhadas a esta Corte." (grifado no original).

ANÁLISE DOS ARGUMENTOS APRESENTADOS13. A previsão de valores adicionais no contrato sem

vínculo a um objeto, item ou bem contratado é vedado para qualquer tipo de contrato. A observação feita pela equipe de auditoria foi no sentido de acréscimo de informação, posto que esta irregularidade é mais visível nos contratos de preço global, já que o preço deve estar absolutamente fechado e o aditivo seria possível apenas no caso de reequilíbrio econômico financeiro na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis ou em caso de força maior. O aditivo firmado seria uma

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excepcionalidade, jamais uma possibilidade previamente definida ou uma previsão financeira no contrato.

14. Todo contrato somente pode ser alterado por meio de aditivo, mesmo nos de preço unitário. Nesse tipo de contrato o preço total pode oscilar para mais ou para menos em função da precisão com que foram estimados os quantitativos, mas existe um limite para esses aditivos, que é de 25% do valor total originalmente contratado. São irregulares as contratações com aditivos embutidos, seja pela ótica da Lei nº 8.666, de 1993, seja pelo Regulamento da Petrobras.

15. O Decreto nº 2.745, de 24 de agosto de 1998, que aprova o Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado da Petróleo Brasileiro S.A., publicado no DOU em 25/8/1998 estabelece:

(...)7.2 Os contratos regidos por este Regulamento poderão ser

alterados, mediante acordo entre as partes, principalmente nos seguintes casos:

(...)b) quando necessária a alteração do valor contratual, em

decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, observado, quanto aos acréscimos, o limite de vinte e cinco por cento do valor atualizado do contrato.

16. Em vista do exposto, considera-se que houve descumprimento por parte da Petrobras de decisão deste Tribunal. Neste caso, considerando que a má-fé ainda não foi configurada, deve ser assinado novo prazo para o cumprimento da determinação e somente então, se não for cumprido esse novo prazo, deve ser proposta a multa ao gestor responsável.

ANÁLISE DA AUDIÊNCIA(item 9.3 do Acórdão 1.411/2008 - TCU - Plenário)17. O item 9.3 do Acórdão 1.411/2008 - TCU - Plenário

refere-se à determinação para que a Secex/PR, com fulcro no art. 43, inciso II, da Lei nº 8.443, de 1992, promovesse a audiência dos gestores da Petrobras responsáveis pela inclusão do item

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orçamentário denominado "Eventos globais" no Contrato nº 0800.0035013.07.2, sem o detalhamento necessário e em desacordo com as disposições do art. 6º, inciso IX, da Lei nº 8.666, de 16 de junho de 1993. Embora a fundamentação no acórdão tenha sido o art. 6º, inciso IX, da Lei nº 8.666, de 1993, as motivações da equipe de auditoria se basearam no descumprimento do art. 65, inciso II, letra "d", da Lei nº 8.666, de 1993, e foi nesse sentido que a Petrobras respondeu ao questionamento.

18. A constatação da auditoria de que a cláusula denominada "Eventos Globais" para fazer frente a possíveis despesas decorrentes de raios, chuvas e variação de preços, caracteriza sobrepreço embutido no contrato decorrente da compreensão de que houve inclusão indevida de previsão de despesas associadas a eventos futuros e incertos. Por essa perspectiva, conclui-se que tal cláusula tem a mesma natureza da cláusula de "Fornecimento de Serviços Complementares".

19. Em relação a esse item, foi enviado à Repar/PR o Ofício nº 432/2008-TCU-Secex/PR, de 4/8/2008, recebido através de AR, fl. 190. A resposta a esse item está contida nas fls. 193/211 do Vol. 1.

ARGUMENTOS APRESENTADOS20. A respeito do assunto, o responsável tece várias

considerações para diferenciá-la da cláusula de Fornecimento de Serviços Complementares:

20.1. Inicialmente explica que existem duas alternativas para lidar com a repercussão dos fenômenos climáticos sobre a execução de obras em céu aberto, para fins remuneratórios: utilizar o "cronograma seco" ou o "cronograma molhado". No cronograma molhado a contratada embute em seu preço total o custo de paralisação passível de ser aferido pelas médias históricas. No cronograma seco se define uma parcela específica correspondente à reparação estimada a ser paga pelos dias de inatividade.

20.2. Informa que no caso do Contrato 0800.0035013.07.2, foi adotada a metodologia de "cronograma seco" como uma

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alternativa econômica capaz de mitigar mais diretamente o risco para ambas as partes.

20.3. Argumenta também que foram seguidas as regras do Decreto 2.745/98 e do Manual de Procedimentos Contratuais e solicita que este Tribunal, na linha das suas ultimas decisões, acolha como regular a aplicação desse decreto, conforme orientado pela Companhia e pelo seu corpo jurídico, com amparo em orientação da AGU e em decisões judiciais e não "exija pura e simplesmente a aplicação da Lei de Licitações".

20.4. Tece ainda o seguinte comentário: "Isso se faz necessário porque é dentro desse marco regulatório que os agentes da Petrobras pautam suas ações - e o justificante pautou as suas no caso concreto - convictos de se tratar de conduta pessoal obediente e disciplinada no âmbito da Companhia e a forma correta de proceder. Assim, espera-se que essa Corte reconheça a legalidade e legitimidade do ato em exame, bem como a impossibilidade de o justificante, no caso, se conduzir de modo diverso.".

20.5. E continua: "Existe uma clara diferença entre a verba contida na cláusula "Eventos Globais" e aquela outra consignada na clausula denominada de "Serviços Complementares" que não foi aceita pela Equipe Técnica no Relatório Preliminar. Isto porque a verba contida na cláusula "Eventos Globais" foi atribuída direta e antecipadamente de acordo com o valor estimado pela Petrobras, isto é, referiu-se a despesa que decorreria das condições normais esperadas para a execução contratual com base em calculo da média histórica da ocorrência de chuvas e raios na região."

20.6. E por último, reitera que a inclusão da clausula "Eventos Globais" foi uma orientação corporativa.

ANÁLISE DOS ARGUMENTOS APRESENTADOS21. Em sua argumentação, o responsável procura

convencer esta Corte de que se trata de questão econômica, decidida corporativamente no âmbito da Petrobras de acordo com os normativos internos e sem relação alguma com a cláusula de

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"Fornecimento de Serviços Complementares", por tratar-se exclusivamente da ocorrência de chuvas e raios.

22. Como se verá adiante, não houve economicidade na medida, está em desacordo com os normativos próprios da Petrobras e tem relação direta com a cláusula de "Fornecimento de Serviços Complementares".

23. O gestor público tem o dever de bem aplicar os recursos que lhe foram confiados, mas com estrita observância das normas legais. Ademais se reitera o entendimento de que os denominados "Eventos Globais" configuram hipóteses de eventos futuros e incertos (porque não é possível precisar quando nem com que intensidade haverão de ocorrer nem tampouco seu impacto financeiro sobre o contrato) e, como tal, ensejam reequilíbrio econômico financeiro que, de acordo com a legislação aplicável, não pode ser de antemão inserido nos termos originais do contrato.

24. Os processos de contratação na Petrobras são regidos pelos seguintes normativos internos: Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras, aprovado pelo Decreto 2.745, de 24/8/1998, e Manual de Procedimentos Contratuais, publicado no Diário Oficial da União em 15/2/2006.

25. O Regulamento do Procedimento Licitatório mostra que:"7.2 - Os contratos regidos por este Regulamento poderão

ser alterados, mediante acordo entre as partes, principalmente nos seguintes casos:

a. quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos;

b. quando necessária a alteração do valor contratual, em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, observado, quanto aos acréscimos, o limite de vinte e cinco por cento do valor atualizado do contrato;

c. quando conveniente a substituição de garantia de cumprimento das obrigações contratuais;

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d. quando necessária a modificação do regime ou modo de realização do contrato, em face de verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais originários;

e. quando seja comprovadamente necessária a modificação da forma de pagamento, por imposição de circunstâncias supervenientes, respeitado o valor do contrato."

26. O Manual de Procedimentos Contratuais, publicado no Diário Oficial da União em 15/02/2006 mostra que:

"5.4 - ALTERAÇÕES CONTRATUAIS5.4.1 - O contrato, no curso de sua vigência, poderá ser

objeto de alterações em razão de fatos supervenientes ou oportunidades que imponham a revisão das estipulações iniciais.

5.4.1.1 - As alterações contratuais serão realizadas mediante a celebração de aditivos, os quais receberão numeração seqüencial.

5.4.1.2 - Dos aditivos constarão o nome e qualificação das partes, contendo cláusulas referentes ao objeto de alteração do contrato e ratificação das estipulações contratuais não alteradas por sua celebração.

5.4.1.3 - Os aditivos terão um fecho, após o qual será expressa a data de celebração, apostas as assinaturas das partes contratuais, intervenientes e cessionários quando for o caso e testemunhas.

5.4.1.3.1 - No caso de contratos formalizados por meio de Autorização de Fornecimento de Material (AFM), os aditivos se consubstanciarão por meio de revisões daqueles instrumentos, numerados seqüencialmente.

5.4.1.4 - Celebrado o aditivo, suas estipulações, salvo havendo disposição em contrário, passam imediatamente a serem partes integrantes do instrumento contratual alterado.

5.4.1.5 - As minutas de aditivo, a critério do órgão, serão objeto de análise pelo Jurídico.

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5.4.2 - Os aditivos para prorrogação do prazo de vigência exigem como requisitos mínimos:

a) a celebração anteriormente ao encerramento do prazo original do contrato;

b) a necessidade de prosseguimento da contratação; ec) a existência ou previsão de recursos orçamentários

alocados ou a alocar no contrato.5.4.2.1 - Quando existir cláusula permissiva de prorrogação

no contrato, a celebração do aditivo caberá à autoridade que celebrou o contrato original, não sendo necessária outra autorização.

5.4.2.2 - Inexistindo a cláusula permissiva de prorrogação, esta ficará adstrita à prévia consulta ao Jurídico e à autorização de quem autorizou originariamente a contratação.

5.4.3 - As alterações que envolvam acréscimos, substituição ou decréscimos de serviços ou fornecimentos serão realizadas através de aditivos.

5.4.3.1 - Nos casos de decréscimos, a celebração do aditivo contratual caberá à autoridade que celebrou o contrato original, não sendo necessário outra autorização.

5.4.3.1.1 - O aditivo informará o decréscimo e a pertinente redução ou exclusão do item de planilha, bem como serão adotadas as praxes do subitem 5.4.1 deste Manual.

5.4.3.2 - Nos casos de substituição, sem que haja alteração de valor, o aditivo informará a substituição do item de planilha pelo novo item, sendo justificadamente celebrado pela autoridade que celebrou o contrato original, sem necessidade de outra autorização, devendo ser adotadas as praxes do subitem 5.4.1 deste Manual.

5.4.3.3 - Nos casos de substituição ou acréscimo com alteração para maior do valor, o aditivo informará a substituição ou acréscimo de quantitativo do item de planilha, atendendo às regras do subitem 5.4.1 deste Manual e sua celebração dar-se-á consoante os critérios específicos de cada órgão, aprovados pela Diretoria Executiva da Petrobras.

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5.4.3.4 - Quando houver inclusão de itens na planilha, seus preços deverão ser objeto de justificativa comercial suficiente a restar respeitado o princípio da economicidade.

5.4.4 - As alterações no escopo da contratação ocorrerão através de aditivos.

5.4.4.1- Os aditivos para alterações de escopo, sem alteração ou com decréscimo do valor contratual, terão sua celebração autorizada por quem deteve competência originária à celebração do contrato em alteração.

5.4.4.2 - Quando a alteração imponha acréscimo no valor contratual, o respectivo aditivo contratual será autorizado por quem detenha limite de competência face ao novo valor contratual.

5.4.4.2.1 - Admitir-se-ão alterações no escopo, que redundem em alteração com acréscimo do valor contratual, desde que elas se mostrem necessárias e justificáveis sob os aspectos técnicos e comerciais.

5.4.4.3 - A alteração de escopo, em nenhuma hipótese significará alteração do objeto contratual.

5.4.5 - Serão admitidos aditivos para realinhamento de preços em razão de desequilíbrio da equação econômico-financeira de formação dos preços contratuais.

5.4.5.1 - Na realização de tais alterações ouvir-se-á previamente o Jurídico, devendo o aditivo ser celebrado consoante os critérios mencionados no subitem 5.4.3.3 deste Manual.

5.4.6 - As hipóteses de alterações contratuais, contidas no item 5.4 deste Manual, têm caráter meramente exemplificativo.

5.4.6.1 - As alterações contratualmente previstas poderão ser efetuadas, observadas as praxes mencionadas no subitem 5.4.1, não sendo necessária outra autorização."

27. A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) prevê:

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Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

28. Pelo exposto o termo aditivo é a única forma de pagar por serviços não previstos ou extraordinários.

29. Mais grave do que tudo que foi dito até agora é o que mostra o documento de uma reunião de negociação da Petrobras com o Consórcio Conpar (formado pelas empresas Odebrecht, UTC e OAS), ocorrida nos dias 14 e 15 de agosto de 2007, que transcrevo abaixo os itens 1, 5 e 6 e insiro cópia às fls. 255/256 do Volume 1:

"(...)1. Em conformidade com parecer do Jurídico da Petrobras, a

Comissão de negociação e o representante do Conpar acordaram com a exclusão do item 3.3 "Serviços Complementares" do Anexo 11(8) - Planilha de Preços de Serviços Realizados no Brasil.

(...)5. O representante do Consórcio Conpar concordou com a

criação do item 3.3 - "Eventos Globais" no Anexo II(B), e com o valor de R$ 52.012.130,93 (cinquenta e dois milhões, doze mil e cento e trinta reais e noventa e três centavos), definido pela Comissão de Negociação, que tem como objetivo o ressarcimento dos custos decorrentes das paralisações por chuvas e raios (Alerta Vermelho), e dos eventuais ressarcimentos devidos à comprovação de aumento/redução de quantitativos definidos no Adendo E do Anexo I - Memorial Descritivo.

6. Através da Carta Conpar 006/2007, de 15/08/2007, o representante legal do Consórcio Conpar entregou a Proposta de preços revisada, no valor de R$ 1.821.012.130,93 (um bilhão, oitocentos e vinte e um milhões, doze mil, cento e trinta reais e noventa e três centavos). (...)"

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30. O valor incluído no contato sem definir uma prestação de serviço a título de "Eventos Globais", R$ 52.012.130,93, foi estimado conforme a "Memória de Cálculo de Verba para Ressarcimentos", que reproduzo abaixo e insiro cópia à fl. 257 do Volume 1:

1) Origem: paralisações por chuvas e/ou alertas vermelhos e suas consequências e diferenças entre quantidades apuradas e quantidades determinadas.

2) Paralisações por chuvas e/ou alertas vermelhos e suas consequências

ValorUnidadeItem Formulamédia de dias de chuva cf. anexo xv do contrato 2,5

dias/mês Amédia de horas em alerta vermelho cf. anexo xv do

contrato 7,16 horas/mês Bregime de trabalho 8,8 horas/dia Cmédia de dias em alerta vermelho calculado 0,81 dias/mês

D C/Btotal de dias de condições adversas 3,31 dias/mês E A+Dquant. de meses afetados por condições adversas cf. anexo

xv 27,5 meses Fquant. de dias afetados por condições adversas no contrato

91,13 dias G E+Fquant. de dias expostos a condições adversas no contrato

825,00 dias H 30*F% estimado de MOD afetado por condições adversas cf.

contrato 70,00% - I custo de MOD cf. estimativa de custo rev. final 137.422.020,80 R$ J valor estimado ref. a perdas por chuvas e raios 10.625.220,79 R$ L I*J*G/H

3) diferença entre quantidades apuradas e quant. determinadas

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% estimado de variação dos quantitativos 7,00% - a% de materiais no suprimento da contratada - estimativa

34,00% - bvalores de suprimento da contratada cf. estimativa rev. final

493.909.809,18 R$ cvalores de construção e montagem cf. estimativa rev. final

200.670.420,85 R$ dvalores de subfornecedores cf. estimativa rev. final

222.541.817,50 R$ evalores de ressarcimento por variação de quantitativos

41.386.910,14 R$ f a*(b*c+d+e)4) totalvalor total da verba para ressarcimentos 52.012.130,93 T

L+f31. Na tabela acima, vemos que o valor estimado para

perdas por chuvas e raios é de R$ 10.625.220,79 e o valor estimado de ressarcimento por variação de quantitativos é de R$ 41.386.910,14.

32. Toda a argumentação dos responsáveis no sentido da economicidade do contrato ao assumir os riscos de "cronograma molhado ou seco", "riscos decorrentes de precipitação de chuvas ou em razão de raios" ou "eventos nos conceitos de futuro e de incerto", é derrubada pela proporção do valor estimado para tais eventos, R$ 10.625.220,79.

33. A maior parcela, R$ 41.386.910,14, representa "valores de ressarcimento por variação de quantitativos". Em outras palavras, o projeto licitado é deficiente ou a empresa executora não tem conhecimento suficiente na área para identificar eventuais falhas do projeto, propor correções ou assumir os riscos.

34. Desse modo, fica nítido que a Petrobras apenas substituiu o item contratual "Fornecimento de Serviços Complementares" por "Eventos Globais".

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35. Em vista do exposto, devem ser rejeitadas as alegações apresentadas, realizadas determinações com fixação de prazo para o cumprimento, e também o monitoramento pela Secex/PR. Deixa-se de propor, neste momento, a multa prevista no inciso III do artigo 58 da Lei nº 8.443, de 1992, por entender que poderá ser proposta a prevista no inciso IV do mesmo artigo, quando realizado o monitoramento proposto.

CONCLUSÃO36. Diante do exposto, submeto os autos à consideração

superior, com as seguintes propostas:36.1. rejeitar as razões de justificativas apresentadas pelos

representantes da Petrobras;36.2. reiterar à Petrobras a determinação do subitem 9.1 do

Acórdão 1.411/2008 - TCU - Plenário, no sentido de firmar aditivo para excluir o item orçamentário denominado "Fornecimento de Serviços Complementares" em todos os contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, em qualquer modalidade de contratação, seja por preços globais ou preços unitários;

36.3. determinar à Petrobras a exclusão, por meio de aditivo, do item orçamentário denominado "Eventos Globais" do contrato 0800.0035013.07.2 (IERP 101) e em todos os contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, independente da modalidade de contratação;

36.4. determinar à Petrobras, com fundamento no art. 71, inciso IX, da Constituição Federal e no art. 45 da Lei nº 8.443, de 1992, que instaure processo interno com vistas à recuperação dos valores pagos indevidamente ao consórcio Conpar, formado pelas empresas Norberto Odebrecht SA, UTC Engenharia SA e Construtora OAS Ltda., no âmbito do Contrato 0800.0035013.07.2, referente a pagamentos ocorridos sob o item "Eventos Globais", sob pena de responsabilidade solidária das autoridades competentes e do consórcio beneficiário;

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36.5. fixar o prazo de 120 dias, a partir da notificação, para o atendimento das determinações, informando este Tribunal sobre as medidas adotadas ao final do prazo;

36.6. alertar que o descumprimento de decisão do Tribunal poderá ensejar a aplicação de multa prevista no art. 58, inciso IV, da Lei nº 8.443, de 1992, c/c o art. 268, inciso VII, do RI/TCU;

36.7. determinar o monitoramento pela Secex/PR das determinações acima."

5. O diretor da 2ª DT, mediante parecer acostado às fls. 269/271, divergiu parcialmente da proposta de mérito oferecida pela auditora, conforme se segue, verbis:

"A proposta de encaminhamento de fls. 267/268 mostra-se adequada, com exceção do encaminhamento dado em razão da análise da irregularidade cometida pelos responsáveis, caracterizada pela inclusão do item "Eventos globais" no Contrato nº 0800.0035013.07.2, de que trata o subitem 9.3 do Acórdão 1.411/2008 - TCU - Plenário.

As justificativas apresentadas pelos responsáveis foram acertadamente rejeitadas, conforme subitens 13/28 da instrução (fls. 261/265).

Neste sentido, seria dispensável qualquer comentário adicional quanto à inadequação da admissão e inclusão em contratos firmados pela Petrobras, ou por qualquer ente público, de itens relativos a supostos serviços com descrição genérica a serem prestados pelas contratadas, que, de fato, revelam-se formas mal-disfarçadas de elevar irregularmente a remuneração das mesmas.

Embora os responsáveis tentem direcionar a discussão para o âmbito da conceitualização orçamentária (cronograma molhado/seco), na realidade, a questão resume-se à inclusão indevida de itens de serviços com descrições genéricas (eventos globais, serviços complementares) que poderiam abranger qualquer atividade ou ocorrência, mesmo que não relacionada ao objeto do contrato,

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passível, ou não, de mensuração, mas com garantia de remuneração para a empresa contratada.

A argumentação oferecida pelos responsáveis se revela mais apropriada a um contexto atuarial, próprio de análises de risco do setor de seguros e correspondentes negociações empresariais envolvendo custos e prêmios, do que a um contrato em que, de um lado, está o poder público como contratante, e de outro, uma empresa fornecedora de bens e serviços com fins lucrativos.

Todo o arcabouço legal e os princípios constitucionais direcionam e conformam como devem ser pautadas as ações dos agentes públicos nos contratos administrativos, inclusive aqueles a serviço da Petrobras. Os riscos a que se submetem quaisquer empresas, quando passíveis de previsão, submetem-se a uma adequada composição de custos que incluem, até mesmo, contratação de seguros. O mesmo é observado quando a administração pública contratante exige garantias na forma de carta-fiança ou de seguros específicos a serem apresentados pela empresa contratada.

Aquilo que é imprevisível, geralmente, situações decorrentes de mudanças climáticas radicais de origem natural, ou não, encontra previsão legal específica que trata das compensações financeiras devidas em razão de contratos firmados com administração pública cujos objetos tenham sido afetados por esta razão: "7.2 Os contratos regidos por este Regulamento poderão ser alterados, mediante acordo entre as partes, principalmente nos seguintes casos: (...) d) quando necessária a modificação do regime ou modo de realização do contrato, em face de verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais originários; (Decreto nº 2.745, de 24 de agosto de 1998) e Art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará adstrita à vigência dos respectivos créditos orçamentários, exceto quanto aos relativos: (...) § 1º Os prazos de início de etapas de execução, de conclusão e de entrega admitem prorrogação, mantidas as demais cláusulas do contrato e assegurada

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a manutenção de seu equilíbrio econômico-financeiro, desde que ocorra algum dos seguintes motivos, devidamente autuados em processo: (...) II - superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estranho à vontade das partes, que altere fundamentalmente as condições de execução do contrato;" (Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993).

O que não existe é amparo legal para a inclusão de itens de serviços a serem remunerados pela contratante, contendo descrições imprecisas, vagas ou genéricas que permitam o enquadramento de qualquer serviço adicional no referido item. No caso em análise, não existe descrição mais abrangente para um item de serviço que "eventos globais".

Da análise efetuada, conclui-se pela necessária proposta de aplicação da multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei nº 8.443, de 1992, em decorrência da rejeição das razões de justificativa apresentadas pelos responsáveis ouvidos em audiência em razão da irregularidade caracterizada pela inclusão sem amparo legal do item "Eventos globais" no contrato nº 0800.0035013.07.2, de que trata o subitem 9.3 do Acórdão 1.411/2008 - TCU - Plenário.

10. Diante do exposto, propõe-se, em complementação à proposta de encaminhamento de fls. 267/268:

rejeitar as razões de justificativas apresentadas pelos responsáveis;

aplicar, individualmente, a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei nº 8.443, de 1992, ao Sr. João Adolfo Oderich, CPF nº 192.150.290-87, Gerente-Geral da Repar; ao Sr. José Paulo Assis, CPF nº 167.249.849-04, Gerente-Geral da Implementação de Empreendimentos da Repar; ao Sr. Ademar Kiyoshi Itakussu,CPF nº 327.068.049-04, Gerente Setorial de Construção e Montagem da Unidade de Coque da Repar, em razão do cometimento da irregularidade caracterizada pela inclusão sem amparo legal do item "Eventos globais" no contrato nº 0800.0035013.07.2;

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reiterar à Petrobras a determinação do subitem 9.1 do Acórdão 1.411/2008 - TCU - Plenário, no sentido de firmar aditivo para excluir o item orçamentário denominado "Fornecimento de Serviços Complementares" em todos os contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, em qualquer modalidade de contratação, seja por preços globais ou preços unitários;

determinar à Petrobras a exclusão, por meio de aditivo, do item orçamentário denominado "Eventos Globais" do Contrato nº 0800.0035013.07.2 (IERP 101) e em todos os contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, independente da modalidade de contratação;

determinar à Petrobras, com fundamento no art. 71, inciso IX, da Constituição Federal e no art. 45 da Lei nº 8.443, de 1992, que instaure processo interno com vistas à recuperação dos valores pagos indevidamente ao consórcio Conpar, formado pelas empresas Norberto Odebrecht SA, UTC Engenharia S/A e Construtora OAS Ltda., no âmbito do Contrato 0800.0035013.07.2, referente a pagamentos efetuados a título de remuneração relativa ao item "Eventos Globais", sob pena de responsabilização solidária dos responsáveis, nos termos do art. 8º da Lei nº 8.443, de 1992;

fixar o prazo de 120 dias, a partir da notificação, para o atendimento das determinações com o envio de documentação comprobatória informando a este Tribunal sobre as medidas adotadas;

alertar que o descumprimento de decisão do Tribunal poderá ensejar a aplicação de multa prevista no art. 58, inciso IV da Lei nº 8.443, de 1992, c/c o art. 268, inciso VII, do RI/TCU;

determinar à Secex/PR, o monitoramento das determinações objeto desta deliberação."

É o Relatório

Voto do Ministro Relator

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PROPOSTA DE DELIBERAÇÃONeste Levantamento de Auditoria realizado pela Secex/PR

nas obras de modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Estado do Paraná, foram constatadas as seguintes ocorrências (fl. 183):

"a) as planilhas de preços anexas aos contratos incluíram verbas para "Fornecimento de Serviços Complementares" sem o devido detalhamento, caracterizando, assim, sobrepreço embutido no valor do contrato;

b) a letra "a.1" da cláusula 5ª do contrato 0800.0035013.07.2 previu gasto da ordem de R$ 52.012.130,93 com "Eventos globais", mediante dispositivo contratual que estabelece a apropriação de custos "incorridos por motivo de incidência de raios ou chuvas e suas consequências", bem como custos decorrentes de "variação de preços" a serem pagos pela Petrobras à contratada, cujo "valor será apurado contra o item 3.3 do Anexo II-B";

c) sonegação de documentos requisitados pela equipe de Auditoria com a justificativa de que se tratava de informações confidenciais."

2. Com relação à irregularidade relativa à inclusão do item "Fornecimento de Serviços Complementares", foi apontado no relatório inicial que já havia sido apurada na fiscalização de 2007. Considerando, todavia, que a Petrobras havia adotado medidas corretivas em um dos contratos e que havia esclarecido à equipe de fiscalização que estaria excluindo esse item das planilhas orçamentárias dos demais ajustes até julho de 2008, entendi que seria suficiente o envio de determinação à empresa para que informasse o Tribunal acerca da implementação da medida.

3. Quanto à previsão de item orçamentário denominado "Eventos globais" sem a devida especificação, considerei pertinente a proposta de audiência de gestores da Petrobras, nos termos sugeridos pela unidade técnica, em vista da incompatibilidade da ocorrência apurada com o Decreto nº 2.745, de 24 de agosto de 1998

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- e também com a Lei de Licitações e Contratos - e a manifestação da empresa no sentido de que não iria modificar o orçamento em relação a esse ponto.

4. Desse modo, na Sessão de 23/7/2008, estes autos foram submetidos à apreciação do Plenário, ocasião em que foi proferido o Acórdão 1.411/2008, mediante o qual foi decidido, verbis:

"9.1. com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, determinar à Petrobras que informe o Tribunal de Contas da União, no prazo de 15 (quinze) dias, acerca da exclusão dos itens orçamentários denominados "Fornecimento de Serviços Complementares" dos contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, nos termos dos esclarecimentos prestados pela empresa no decorrer dos trabalhos de auditoria relatados nestes autos;

9.2. reiterar à Petrobras os termos do Acórdão 1.497/2004-TCU-Plenário, com vistas a esclarecer aos atuais gestores da Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras que, sob pena de aplicação das sanções legais previstas no artigo 57, incisos V e VI, da Lei nº 8.443, de 1992, processos, documentos ou informações não devem ser sonegados aos analistas da Secretaria deste Tribunal quando da realização de auditoria, consoante previsto no art. 42, c/c o art. 87, da mesma Lei, ainda que nas portarias de designação e nas correspondências de apresentação dirigidas ao gestor máximo da entidade esteja indicada a área prioritária a ser auditada;

9.3. com fulcro no art. 43, inciso II, da Lei nº 8.443, de 1992, determinar à Secex/PR que promova a audiência dos gestores da Petrobras responsáveis pela inclusão do item orçamentário denominado "Eventos globais" no Contrato nº 0800.0035013.07.2, sem o detalhamento necessário e em desacordo com as disposições do art. 6º, inciso IX, da Lei nº 8.666, de 16 de junho de 1993;

9.4. enviar cópia do presente acórdão, acompanhado do relatório e do voto que o fundamentam, à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional,

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informando que as ocorrências identificadas na presente fiscalização não recomendam o bloqueio dos recursos orçamentários relativos ao exercício de 2008 para as obras de modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas, bem assim que as irregularidades apuradas no exercício anterior, no âmbito do TC 015.638/2007-4, encontram-se pendentes de saneamento." - grifos acrescidos.

5. Com relação à exclusão do item orçamentário denominado "Fornecimento de Serviços Complementares" em treze dos contratos celebrados pela Petrobras com vistas à execução das obras de modernização da Repar, a empresa apresentou cópias de aditivos que excluíram referidos valores em sete instrumentos e ofereceu argumentos para não excluir nos seis restantes.

6. Essencialmente, a Petrobras argumenta que esses seis contratos foram celebrados por preço unitário e que a cláusula de "Serviços Complementares" constante nos contratos dessa natureza seria distinta daquela presente nos contratos por preços globais. Conforme alega a empresa, "nos contratos por preço global o contratado assume total responsabilidade pelos serviços, tais como execução do projeto, aquisição de equipamentos/materiais e construção/montagem e, nos contratos por preço unitário, o contratado presta serviços de apoio técnico à Petrobras, seja para serviços de engenharia, consultoria ou apoio à fiscalização de campo, dentre outras atividades e neste "o valor a constar é apenas uma estimativa"".

7. Todavia, como bem examinou a auditora da Secex/PR, a previsão de valores adicionais sem vínculo específico a um objeto, item ou bem contratado é vedado para qualquer tipo de contrato, seja ele por preço global, seja por preço unitário, mesmo porque, como regra, é o BDI que serviria para cobrir eventuais despesas indiretas ou custos que não possam ser apropriados especificamente a um determinado item.

8. A propósito, registro que, mediante o Acórdão 93/2009 - Plenário, proferido nos autos do TC 015.638/2007-4 (Fiscobras 2007),

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esta Casa chegou a expedir determinação à Petrobras para que se abstenha de incluir em seus editais ou contratos qualquer item que não esteja vinculado a serviços ou fornecimentos previamente definidos, a exemplo de verba para "Serviços Complementares", providenciando a exclusão, dos contratos em andamento, deste último item e respectivo valor, considerado desvinculado da realização de serviços bem definidos.

9. E essa deliberação é posterior ao Acórdão 1.411/2008, que, no item 9.1, apenas determinou à Petrobras que informasse o TCU "acerca da exclusão dos itens orçamentários denominados "Fornecimento de Serviços Complementares" dos contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, nos termos dos esclarecimentos prestados pela empresa no decorrer dos trabalhos de auditoria relatados nestes autos".

10. Diante disso, entendo pertinente que, nesta oportunidade, seja assinado prazo para que a Petrobras, se ainda não o fez, exclua o item orçamentário atinente ao "Fornecimento de Serviços Complementares" de todos os contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, quer por preços globais, quer por preços unitários, e, ainda, que apresente a este Tribunal detalhamento sobre eventuais pagamentos efetuados a esse título nos seguintes contratos (listados à fl. 250):

10.1. Contrato 0800.0030222.07.2;10.2. Contrato 0800.0027054.06.2;10.3. Contrato 0800.0025357.06.2;10.4. Contrato 0800.0032380.07.2;10.5. Contrato 0800.0035852.07.2; e10.6. Contrato 0800.0032563.07.2.11. Quanto à inclusão do item orçamentário denominado

"Eventos globais" no Contrato nº 0800.0035013.07.2, estou de acordo com as conclusões da auditora da Secex/PR, vez que a inserção dessa verba no orçamento - destinada a resguardar o pagamento de

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eventuais custos incorridos em função das consequências de raios ou chuvas - não guarda amparo legal.

12. Como demonstrado pela auditora, esse item assemelha-se ao anterior, porquanto se trata de hipótese de gastos relacionados a eventos futuros e incertos, que, como tais, deveriam ensejar o reequilíbrio econômico-financeiro do ajuste, nos termos da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e do Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras (aprovado pelo Decreto nº 2.745, de 1998), não havendo, pois, razão para que valores dessa natureza sejam inseridos, de antemão, nos termos originais do contrato.

13. Conforme bem ponderou o diretor da Secex/PR, os riscos a que se submetem quaisquer empresas, quando passíveis de previsão, submetem-se a uma adequada composição de custos que incluem, em alguns casos, até a contratação de seguros, sendo a mesma situação observada nos casos em que a administração pública contratante exige garantias na forma de carta-fiança ou de seguros específicos a serem apresentados pela empresa contratada.

14. Desse modo, não há como acatar as razões de justificativa oferecidas. Sem embargo, com as devidas vênias ao diretor, deixo de acatar a proposta de multa aos Srs. José Paulo Assis, João Adolfo Oderich e Ademar Kiyoshi Itakussu, pois observo que os dois últimos responsáveis sequer foram demandados, nestes autos, a apresentar razões de justificativa acerca da referida irregularidade. Assim, considero que possa ser acatada a proposta formulada pela auditora e, por ora, ser determinado à Petrobras que: (i) exclua o item orçamentário denominado "Eventos Globais" do Contrato nº 0800.0035013.07.2 (IERP 101) e de todos os contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, independente da modalidade de contratação; e, ainda, que (ii) instaure processo interno com vistas à recuperação dos valores eventualmente pagos, de forma indevida, a título de remuneração relativa ao item "Eventos Globais" ao consórcio Conpar, formado pelas empresas Norberto Odebrecht S.A., UTC Engenharia S.A. e

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Construtora OAS Ltda., no âmbito do Contrato nº 0800.0035013.07.2, sob pena de responsabilização solidária dos responsáveis, nos termos do art. 8º da Lei nº 8.443, de 1992.

Pelo exposto, manifesto-me por que seja adotado o Acórdão que ora submeto a este Plenário.

TCU, Sala das Sessões, em 9 de fevereiro de 2011.ANDRÉ LUÍS DE CARVALHORelator

AcórdãoVISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se

aprecia o Relatório de Levantamento de Auditoria realizado nas obras de modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Estado do Paraná, no âmbito do Fiscobras 2008;

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. rejeitar parcialmente as razões de justificativa apresentadas por José Paulo Assis;

9.2. determinar à Petrobras a adoção das seguintes providências:

9.2.1. exclua, se ainda não o fez, o item orçamentário atinente ao "Fornecimento de Serviços Complementares" de todos os contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, sejam eles por preços globais ou preços unitários;

9.2.2. apresente a este Tribunal detalhamento sobre eventuais pagamentos efetuados a título na rubrica "Fornecimento de Serviços Complementares" nos seguintes contratos:

9.2.2.1. Contrato 0800.0030222.07.2, Serviço de Apoio Técnico para a área de Propeno -Atp - Assessoria, Tecnologia e Planejamento Ltda.;

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9.2.2.2. Contrato 0800.0027054.06.2, Serviços de Apoio Técnico e Administrativo - Atp - Assessoria, Tecnologia e Planejamento Ltda.;

9.2.2.3. Contrato 0800.0025357.06.2, Serviços Técnicos de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde - IMC Saste Construções Ltda.;

9.2.2.4. Contrato 0800.0032380.07.2, Serviços Técnicos - carteira de Gasolina Tecnosolo Eng. e Tecnologia de Solos e Materiais S.A.;

9.2.2.5. Contrato 0800.0035852.07.2, Serviços Técnicos no Centro Integrado de Controle - Acv Tecline Engenharia Ltda.;

9.2.2.6. Contrato 0800.0032563.07.2, Serviços Técnicos - Carteira de Coque e HDT Tecnosolo Eng. e Tecnologia de Solos e Materiais S.A.;

9.2.3. exclua o item orçamentário denominado "Eventos Globais" do Contrato nº 0800.0035013.07.2 (IERP 101) e de todos os contratos celebrados com vistas à execução das obras de modernização da Repar, independente da modalidade de contratação;

9.2.4. com fundamento no art. 71, inciso IX, da Constituição Federal e art. 45 da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, instaure processo interno com vistas à recuperação dos valores eventualmente pagos, de forma indevida, a título de remuneração relativa ao item "Eventos Globais" ao consórcio Conpar, formado pelas empresas Norberto Odebrecht S.A., UTC Engenharia S.A. e Construtora OAS Ltda., no âmbito do Contrato nº 0800.0035013.07.2, sob pena de responsabilização solidária dos responsáveis, nos termos do art. 8º da Lei nº 8.443, de 1992;

9.3. fixar o prazo de 120 (cento e vinte) dias, a partir da ciência desta deliberação, para o atendimento das determinações contidas neste Acórdão, com o envio de documentação comprobatória a este Tribunal;

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9.4. alertar os gestores de que o descumprimento de decisão do Tribunal poderá ensejar a aplicação de multa prevista no art. 58, inciso IV, da Lei nº 8.443, de 1992, c/c o art. 268, inciso VII, do Regimento Interno do TCU;

9.5. determinar à Secex/PR que promova o monitoramento das determinações objeto desta deliberação

Quorum13.1. Ministros presentes: Benjamin Zymler (Presidente),

Valmir Campelo, Walton Alencar Rodrigues, Ubiratan Aguiar, Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro, José Jorge e José Múcio Monteiro.

13.2. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti, Marcos Bemquerer Costa, André Luís de Carvalho (Relator) e Weder de Oliveira

PublicaçãoAta 04/2011 - PlenárioSessão 09/02/2011Dou 14/02/2011