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AÇORES 2010 Edições Market Iniciative Natureza ritmos da Região Europeia do Ano 7 Maravilhas Naturais de Portugal nas 7 Cidades Ilhas de Turismo Activo Janeiro 2010 • Esta revista é distribuída com as edições dos jornais “Público” e “Jornal de Notícias” de 12.01.2010

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Edição Market Iniciative integralmente dedicada aos Açores, difundida a nível nacional em Portugal, com os diários "Jornal de Notícias" e "Público" de 12 de Janeiro de 2010

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Turismo Activo: O Planeta nos Açores 04

Corvo: Identidade Digna 07

Pesca: Mar Generoso 07

Whale Watching: Santuário das Baleias 08

Pico: A Ilha Montanha 11

Mergulho: Arquipélago dos Assombros Subaquáticos 12

Graciosa: Profunda Sedução 15

Surf: Alto Spot 16

São Jorge: Vertiginosa Fantasia 17

Iatismo: A Irmandade do Mar 18

Faial: Oceanos Coloridos 19

Praias e Piscinas: Banhos Vulcânicos 20

Santa Maria: História(s) de Arrebatar 21

Pedestrianismo: Ao Ritmo do Coração 22

São Miguel: Terra dos 1001 Encantos 24

Geocaching: Tesouros na Paisagem 26

Flores: Beleza Reflectida 27

Vulcanologia: Corpo e Alma de Lava 28

Montanhismo: Subida Mágica 30

Negócios e Golfe: Tacadas Certeiras 31

Património: Arco-íris Cultural 32

Terceira: Heranças Liberais 33

Agenda: Eventos em cenários místicos 34

Ficha TécnicaGeoMarket – Edições Market IniciativeParque Peninsular, Rua David Mourão Ferreira, nº 5, Lote 3/4 1º Esq.Tel.: 309 991 731 email: [email protected]

Propriedade: Região Autónoma dos Açores; Direcção: Market Iniciative; Redacção: Market Iniciative; Design e Paginação: FuturMagazine; Imagem de capa: Market Iniciative / Carlos Duarte; Impressão: Lisgráfica; Tiragem: 165.000 exemplares; Distribuição: Público e Jornal de Notícias, a12 de Janeiro de 2010.

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Nos últimos anos os Açores, pelo seu património natural e histórico, foram distinguidos com vários títulos de reconhecimento internacional que os colocam entre os melhores destinos do planeta para turismo sustentável. Agora, dotados de uma nova estratégia Marketing, 2010 perfila-se como o ano “zero” para a afirmação da imagem do Arquipélago como referência no panorama do turismo de natureza europeu e internacional. Estes nove pedaços de terra vulcânica que formam nas Flores a Europa mais Ocidental, por rara sensatez dos homens - comuns e governantes -, têm sabido preservar a magistral obra que a Natureza ali gerou ao longo de milhões de anos e a herança histórica que ao longo de séculos o Homem edificou utilizando os recursos locais. Hoje, os Açores, no conjunto das nove ilhas e múltiplas vertentes, são certamente um exemplo mundial de uma ocupação humana e uma economia desenvolvida assente na sustentabilidade ambiental, oferecendo à Humanidade um imenso e diverso património, justamente reconhecido. Foram declarados pela UNESCO Património Cultural da Humanidade com o Centro Histórico de Angra do Heroísmo - na sequência do sismo de 1980, graças a uma política de reconstrução que soube converter a catástrofe em oportunidade – bem como a Paisagem Natural da Vinha do Pico. O Conselho Internacional de Coordenação do Programa da UNESCO “O Homem e a Biosfera” atribuiu o título de Reserva da Biosfera ao Corvo, às Flores e à Graciosa - e outras ilhas se seguirão, decerto. As cinco fontes hidrotermais submarinas até agora descobertas nos seus mares, com os respectivos ecossistemas únicos, foram distinguidas pela fundação World Wildlife Fund (WWF) com o galardão “Gift to the Earth” (Dádiva à Terra). A internacionalmente prestigiada revista National Geographic Traveler, considerou-as as segundas melhores ilhas do mundo para turismo sustentável. Em terra, mar e ar – incluindo o subsolo e os fundos marinhos – os Açores concentram o maior número de áreas com algum estatuto de protecção de Portugal e, muito provavelmente, da Europa.Este ano, em Setembro, os Açores são, nas Sete Cidades, em São Miguel, o palco para o místico espectáculo que irá proclamar os tesouros vencedores das “7 Maravilhas Naturais de Portugal”, em que o Arquipélago, só por si, apresenta, nas várias categorias, quase um terço da totalidade do património nacional a concurso. Coincidência ou não, os Açores também são a “Região Europeia do Ano 2010”, seleccionados pelo Internacional Bureau of Cultural Capitals (IBOCC) do Conselho da Europa. É neste quadro virtuoso que o Turismo dos Açores lança um novo plano de Marketing através do qual o Arquipélago se promove no Mundo como o mais importante destino europeu de turismo activo e de natureza, cujos variados e extraordinários cenários oferecem o imenso leque de aventurosas propostas e modalidades para turismo activo, desportivo e de lazer, sem igual noutra região isoladamente considerada. Uma comunicação que convida à descoberta, à experiência, ao usufruto e ao conhecimento dos mais extraordinários, surpreendentes e intocados patrimónios – e muitos são - que o planeta ali ainda tem para partilhar.

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Os Açores contam-se entre os mais perfeitos destinos mundiais para o encontro com a Natureza, que ali se manifesta, diversa, em mistério e exuberância. Em terra e no mar, milenares fenómenos vulcânicos geraram o Arquipélago, criando paisagens de espanto em que se abrigam manifestações de vida ímpares, tudo espicaçando a curiosidade, apelando ao espírito de exploração e aventura e convidando a inúmeras actividades de descoberta, lazer, usufruto... Estas ilhas e este mar têm a capacidade de, a cada passo, surpreender e espantar, despertando inusitadas e intensas emoções. As mesmas paisagens que convidam à contemplação, convertem-se em cenários perfeitos para a acção e irrecusáveis experiências. São múltiplas as alternativas de práticas e modalidades - para todas as idades, condições físicas, estilos de vida e estados de alma – que ali se oferecem. Nesta natureza diversa, bem preservada e em estado puro, cada uma das nove ilhas encerra em si um

mundo, com personalidade muito própria.Este é um destino de privilégio. Generoso nos segredos que revela. Inesgotável nos mistérios que teima em resguardar. A cada visita fica sempre a vontade do regresso. As experiências açorianas, a par das memórias indeléveis que deixam para a vida, criam a estranha sensação de “falta” pelo muito que, ainda e sempre, ficou por ver, descobrir, sentir, experimentar, usufruir e fazer. Os mistérios dos Açores, ou, sequer, de uma ilha, não se revelam numa única visita. São um destino viciante. Concretizam o imaginário de “paraíso perdido”, alimentando o desejo de eterno retorno. Alguns ficam cativados para o resto da vida. Nas diversas ilhas, lagoas aninhadas em vulcões extintos convidam à exploração - por trilhos para percursos pedestres, passeios a cavalo, BTT e Moto4 - e a safaris fotográficos. Em crescendo no Arquipélago, o “geocaching” guia-nos os passos até tesouros naturais únicos, sejam paisagens desconhecidas e de outro modo inacessíveis ou

a uma araucária candidata ao título da “mais antiga do Mundo”. São terras de miragens, onde cada olhar sobre as verdes tonalidades da paisagem e a transparência do mar revela segredos. As costas de recorte variado, a abrir-se em fajãs, angras e baias, acolhem apetecíveis praias de areia, escura e também clara, ou de pedra rolada. Belíssimas piscinas de marinhas águas translúcidas – umas naturais, abertas nas negras rochas vulcânicas, outras construídas pelo Homem – convidam a banhos. Os desportos de mar encontram condições de excepção em todas as ilhas. No surf, com 20 spots de primeiro nível, vários são os “santuários” internacionalmente reconhecidos - especialmente, a Fajã da Caldeira de Santo Cristo (São Jorge), uma Meca do surf europeu. As modalidades de mergulho, com mais de 130 spots, tem ali cenários únicos, como o biologicamente rico banco de S. João de Castro (entre São Miguel e a Terceira) com as suas fumarolas subaquáticas, o Caneiro dos Meros (Corvo), ou os Parques

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Arqueológicos Subaquáticos dos Açores, na Baía da Angra (Terceira). No iatismo, três grandes marinas (Faial, Angra e Ponta Delgada) e múltiplos portos de recreio nas várias ilhas asseguram apoio a barcos e velejadores ou a possibilidade de aluguer de iates para uma aventurosa navegação entre ilhas. Quanto ao whale watching, muitas são as empresas locais que proporcionam a observação e fotografia das variadas espécies de cetáceos encontráveis nestes mares ou a emoção da natação com golfinhos. Com mares ricos em espécies, a pesca de lazer e desportiva encontra generosos pesqueiros ao longo das costas de todas as ilhas açorianas. A cada passo, a natureza vulcânica, qual magistral arquitecto, modelou ao longo de milhares e milhões de anos cada ilha – e também os fundos marinhos -, deixando manifestações extraordinários em terra, no subsolo e nas profundezas atlânticas. Fumarolas, géisers, e múltiplas nascentes de variadas águas minerais e quentes que alimentam tépidas piscinas naturais.

Extensos túneis de lava e grutas vulcânicas, visitáveis, que revelam os mistérios do vulcanismo e uma ainda pouco conhecida vida subterrânea. Fósseis marinhos expostos à superfície de Santa Maria, que se contam entre os mais bem preservados do mundo - o mais antigo terá cinco milhões de anos. E o impressionante museu vivo que representa os Capelinhos, no Faial. A combinação de clima, natureza do solo, recobre as ilhas de uma exuberante vegetação em que pontuam espécies exóticas, algumas raras ou únicas no mundo – casos da floresta Laurissilva do Planalto dos Graminhais (São Miguel) e da Caldeira de Guilherme Moniz (Terceira) ou da Reserva Natural da Montanha do Pico -, cuidadosamente preservadas em extensas áreas classificadas e protegidas (existem mais de 100 áreas com estatuto de protecção ambiental nos Açores). Culturas únicas na Europa, como o ananás e chá (São Miguel) ou o café (São Jorge), dão-se neste clima. A que se juntam uma imensidão de outros saborosos frutos tropicais

– maracujá, anonas ou “capuchos”. Belíssimos parques florestais, ricos em fauna e flora, ajardinados e abrindo-se a espaços de lazer e merendas, dão-se à visita e usufruto, Nas negras escarpas das arribas costeiras, nas encostas que se precipitam das montanhas, ou nas paredes declinadas das grutas vulcânicas, o montanhismo e a escalada ganham vocação de aventura e vertigem. Incontornável é a subida ao céu, até ao cimo do Pico. O baloonismo, para-quedismo e parapente – modalidade ali com provas que já marcam presença no calendário nacional –, aliam à adrenalina o mais exclusivo dos olhares sobre as paisagens vulcânicas das ilhas. Para o repouso do corpo, um alojamento que às excelentes unidades de quatro estrelas, acrescenta uma oferta distintiva, traduzida em aristocráticas quintas como as da Terceira e extraordinárias casas de turismo rural, espalhadas pelas ilhas, que recuperaram para o turismo o melhor da genuína arquitectura tradicional, de que são exemplo as “Adegas do Pico”.

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Região Europeia do Ano 2010Os Açores são a Região Europeia do Ano 2010, tendo sido seleccionados pelo International Bureau of Cultural Capitals entre as muitas regiões que integram os 47 estados membros do Conselho da Europa. Sucedendo à região albanesa de Gjirokaster, esta nomeação cria ao arquipélago em 2010 excelentes oportunidades para dar a conhecer a sua cultura, herança histórica, tradições e património natural, bem como promover a sua imagem como destino turístico de natureza de primeiro plano.

Webcams: as janelas do tempoUm arquipélago que se espalha por centenas de quilómetros no meio do Atlântico, está, inevitavelmente sujeito a múltiplas influências meteorológicas que se reflectem em estados de tempo diferentes em cada uma das suas 9 ilhas. As previsões meteorológicas difundidas diariamente informam sobre as tendências verificadas globalmente para cada um dos três grupos em que as ilhas se repartem - Oriental, Central e Ocidental. Mas cada Grupo estende-se por dezenas ou centenas de quilómetros, pelo que quando as previsões ditam “aguaceiros”

num Grupo, independentemente destes se verificarem, é frequente acontecer que várias das ilhas se apresentem com um belíssimo dia de Sol, se não durante todo o dia, pelo menos em boa parte dele. Assim, nada melhor que ver como está o tempo na ilha do lado, o que se pode fazer através de webcams espalhadas pelo arquipélago. Acedendo ao endereço www.climaat.angra.uac.pt é possível obter imagens - em tempo real e em alta-definição - através das Weather Cams do projecto CLIMAAT, da Universidade dos Açores, instaladas nas principais localidades de todas as ilhas. Deste modo pode constatar-se ser frequente brilhar o Sol em localidades situadas nos Grupos para os quais as previsões meteorológicas apontavam a ocorrência de “aguaceiros”.

As idades das ilhasSendo todas as ilhas dos Açores de origem vulcânica, formaram-se ao longo de milhões de anos. A Microplaca dos Açores resulta do movimento de afastamento dos continentes, tendo sido gerada há cerca de 34 milhões de anos. Das ilhas iniciais, resta Santa Maria, que apresenta formações vulcânicas com mais de 8 milhões de anos. Todas as outras são mais recentes, resultantes sucessivas reactivações vulcânicas. Assim, há 4 a 5 milhões de anos surgiram os ilhéus das Formigas e a zona de Nordeste (S. Miguel). Seguiu-se a Terceira, há cerca de 2,5 milhões de anos e, depois, há 1,5 milhões de anos, surgiram S. Jorge e a Graciosa, às quais se sucedeu, há perto de 800 mil anos, o Faial, seguido das Flores e do Corvo. O Pico, a ilha montanha, é a mais jovem, tendo eclodido há 260 mil anos, contrariando a ordem de “nascimento” das ilhas de poente para nascente. O Arquipélago dos Açores assenta nas Placas Norte-Americana, Euro-asiática e Africana, que formam a Microplaca dos Açores. As ilhas e ilhéus correspondem às maiores elevações. Os bancos – elevações submarinas – dos mares dos Açores foram, outrora, ilhas, que submergiram por erosão ou por abatimento do fundo do mar. Dão expressão maior à actividade vulcânica submarina da actualidade cinco campos hidrotermais profundos, classificados como áreas protegidas, descobertos entre 1992 e 2006 nos mares a Sul do arquipélago. As altas temperaturas destas fontes termais subaquáticas geraram ricos ecossistemas marinhos em que proliferam formas de vida de tal modo únicas que levaram a fundação “World Wildlife Fund” (WWF) a atribuir aos Açores o galardão “Gift to the Earth” (Dádiva à Terra). São eles “Lucky Strike” (1992), “Menez Gwen” (1994), “Rainbow” (1997), “Saldanha” (1998) e “Ewan” (2006).

“7 Maravilhas Naturais de Portugal®” nos Açores em 2011

Foram 7 as maravilhas da antiguidade, tantas quantas as colinas de Roma ou os dias da Criação referidos no “Génesis” pelo Cristianismo. O número 7 desde sempre esteve envolto em cabalísticos mistérios, tal como a Lagoa das Sete Cidades, paisagem inspiradora e de beleza insuperável, que alimentou lendas que remetem para o imaginário dos contos de fadas ou para o mítico continente perdido da Atlântida - uma outra versão do “paraíso perdido”.É por isso o local apropriado para acolher a cerimónia de eleição das “7 Maravilhas Naturais de Portugal®”, que ali decorre a 11 de Setembro de 2010, com o apoio da Direcção Regional de Turismo, da Associação

de Turismo dos Açores (ATA) e da New 7 Wonders Portugal®(N7WP), organização responsável pelo projecto. Com esta eleição, a N7WP antecipa todo o movimento global em torno da eleição das “7 Maravilhas da Natureza®”, eleitas a nível mundial em 2011, e Portugal será o primeiro país a eleger as suas maravilhas da natureza, o que nos coloca na linha da frente em termos de preservação ambiental e de sustentabilidade.A iniciativa visa distinguir a riqueza natural de Portugal em 7 categorias distintas, desde as zonas marinhas, passando por Praias e Falésias, Florestas e Matas e Zonas Protegidas. Nas palavras de António Vitorino, Comissário para as “7 Maravilhas Naturais de Portugal®”, esta iniciativa promete “a divulgação das nossas belezas naturais nas escolas e junto das crianças e jovens. Até porque temos consciência de como é importante esse conhecimento para promover uma cidadania activa em defesa da preservação do ambiente e em prol de um desenvolvimento sustentável do nosso País.”A região do país com mais candidaturas nas diversas categorias é, exactamente, a Região Autónoma dos Açores, facto que evidencia o mérito de uma política de desenvolvimento ambientalmente consciente e o imenso património natural intocado que o arquipélago concentra.

nos Açores em 2011Foram 7 as maravilhas da antiguidade, tantas quantas as colinas de Roma ou os dias da Criação referidos no 7 desde sempre esteve envolto em cabalísticos mistérios, tal como a Lagoa das Sete Cidades, paisagem inspiradora e de beleza insuperável, que alimentou lendas que remetem para o imaginário dos contos de fadas ou para o mítico continente perdido da Atlântida - uma outra versão do É por isso o local apropriado para acolher a cerimónia de eleição das “de 2010, com o apoio da Direcção Regional de Turismo, da Associação

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Circundadas por mar, as ilhas açorianas estavam predestinadas a ser um destino fabuloso de pesca. E são. Desde a captura em alto mar de um espadarte até à presa de um pargo junto à costa, as águas do arquipélago representam o paraíso para os entusiastas da actividade.A pesca desportiva e lúdica pode ser praticada em todas as ilhas. Na espectacular e frenética pesca grossa de alto mar, apanham-se nas águas açorianas relíquias como espadarte, bonito e atum. Ocasionalmente pescam-se tubarões. Devido à abundância de exemplares recorde de tamanho e peso, os Açores costumam receber competições internacionais de Big Game Fishing. Comum entre habitantes das ilhas e turistas é o entusiasmo pela pesca costeira. Seja

a partir de embarcação ou de terra, o mar é pródigo em dádivas. Na pesca de corrico (muito acarinhada em Santa Maria mediante várias competições internas), colhe-se anchova, cavala ou barracuda, entre outras espécies. Na pesca de fundo é comum encontrar abrótea, pargo, besugo, sargo e até mero. As costas rochosas tremendamente recortadas não podiam ser mais apropriadas para a pesca de cana: há peixe durante todo o ano. Captura--se pargo, bicuda, anchova, congro, goraz, cavala ou moreia. Através da aquisição de uma licença de pesca desportiva, também é possível pescar nas ribeiras e lagoas do arquipélago. Perante tanta diversidade de estilos e espécies, os Açores são um local apetecível para todos os tipos de pescadores. O difícil está mesmo na escolha.

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Identidade DignaA ilha mais pequena dos Açores representa uma experiência inigualável. Com poucas centenas de habitantes, o Corvo é terra pacata. Mas para não fugir à regra do arquipélago, também encerra emoções e sensações prontas a conquistarem os visitantes. Meros 6,5 quilómetros de comprimento. Quatro de largura. Um único povoado, em forma de vila com o nome da ilha. As pessoas conhecem-se pelo nome. Apetece ficar dias no Corvo até que conheçam também o nosso. No entretanto, pesca-se a partir dos rochedos. E explora--se o interior verdejante. O trilho PR2COR começa no Caldeirão, cratera que surge gigante comparada com o tamanho total da ilha. É um percurso que deve ser feito com recurso a guia, dado o grau elevado de dificuldade dos mais de cinco quilómetros e aos perigos relacionados com nevoeiros repentinos, piso acidentado e falésias perigosas. O irreal interior da caldeira, com lagoas e ilhotas, lombas e declives, marca os primeiros passos. Ficará impresso para a eternidade. Depois vêm as vistas das falésias, os cones vulcânicos, a Ponta do Marco, uma praia e uma fonte de água. Um caminho ladeado de hortênsias acolhe com graciosidade os destemidos caminhantes. É tempo de regressar à vila do Corvo, a tempo de dois dedos de conversa com os locais. Talvez se lembrem do nosso nome.

Pedalar uma IlhaMontar numa BTT e pedalar o Corvo é uma aventura fantástica. Os caminhos da ilha, bem como as ruas sinuosas do povoado, são propícios para os ciclistas que gostam de emoções fortes aliadas a paisagens de cortar a respiração. Só por um momento, porque o coração pede mais velocidade!

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os locais. Talvez se lembrem do nosso nome.

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Condições naturais, associadas a medidas para a conservação da vida marinha, levam a que várias espécies de cetáceos encontrem nos Açores uma casa de paz e tranquilidade. Os mares do Arquipélago transformaram-se num dos melhores locais do mundo para a observação de baleias e golfinhos. O mar irrompe em salpicos. Vários, simultâneos e alternados, aqui e ali. Primeiro longínquos, de origem imperceptível. Com a proximidade, percebe-se que as erupções da crosta de água não resultam de caprichos de marés. São golfinhos a exibirem-se, em saltos acrobáticos. Parecem sorrir num “olá” despreocupado aos humanos que os observam. Mostram que conseguem acompanhar a velocidade do barco, ora com a barbatana dorsal a rasgar a água, ora submersos com movimentos enérgicos da barbatana caudal. Ao longe, novamente, uma turbulência no mar sob aspecto de esguicho de água. E o vislumbre de uma cabeça agigantada, apesar da distância, a subir à tona e a regressar ao fundo. Culmina o quadro com uma barbatana colossal, elevada no ar. Apetece cristalizar o passar dos segundos e a rotação da Terra. Um clique imortaliza o momento. E a baleia pode prosseguir pacificamente o seu trajecto. O mar dos Açores é hoje em dia um lugar sagrado para os cetáceos. Cerca de um terço das espécies existentes no mundo circula pelas águas do Arquipélago. Nas migrações entre as altas e baixas latitudes, algumas baleias traçam rota com paragem nesta “casa” aquática. O cachalote, outrora caçado numa epopeia de homens corajosos que forjaram o povoamento e subsistência de algumas ilhas, é o símbolo da fauna marinha açoriana. Comum durante o ano inteiro, representa o tipo de espécies que frequentam grandes profundidades na proximidade da costa. A abundância de alimento agrada aos inquilinos marinhos.

24 espécies identificadasO cachalote destaca-se pela cabeça achatada. Os machos medem entre os 11 e os 18 metros e pesam entre 20 a 50 toneladas. Recordistas de mergulho, podem submergir até aos três mil metros. Além deste simpático e característico animal, avistam-se continuamente nos mares açorianos o golfinho comum (o culpado pelos saltos fora de água), o roaz (de bico pontiagudo) e o grampo (delfinídeo de coloração esbranquiçada). No Verão juntam-se ao grupo o golfinho pintado, o golfinho riscado e a baleia-piloto-tropical.A listagem já chegaria para atrair os novos caçadores do milénio, cujas capturas são feitas em artes fotográficas e, melhor que isso, de experiências únicas de contacto com estes fabulosos mamíferos. Mas o manancial açoriano ainda não esgotou. Durante a Primavera é frequente a afluência da baleia-comum, caracterizada pelo lábio e barbas do lado direito brancos, e da baleia-sardinheira, com manchas ovais esbranquiçadas no dorso cinzento escuro. Ambas impressionam pelas dimensões, que Fo

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A Ilha MontanhaNo Pico, com a sua montanha ominipresente, emana uma estranha magia, que nos faz oscilar entre a admiração e o espanto. Ilha de baleeiros, é onde as antigas tradições da caça à baleia se encontram hoje admiravelmente preservadas e presentes num vasto património que ganha expressão maior no Museu dos Baleeiros, nas Lajes, Museu da Indústria Baleeira, em São Roque, e na antiga Fábrica das Armações Baleeiras, internacionalmente referenciado entre os melhores do género. Há que explorar os vários percursos pedestres que nos levam pela Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, Património Mundial da UNESCO. O PR1PIC, com início na Maragaia, em Santa Luzia, serpenteando entre “canadas” e “currais” que abrigam dos ventos marítimos as vinhas rasteiras que “nascem” nas fendas das lajes vulcânicas, formando uma das mais gigantescas obras humanas em pedra – se colocadas em linha recta, daria mais do que uma volta à Terra. Ao passar na típica localidade do Lajido – que herda a designação das lajes vulcânicas e dá nome ao mais tradicional “verdelho” do Pico – espantam-nos as casas tradicionais, de dois pisos, em cujas fachadas negras contrastam janelas vermelhas. Já sobre a rocha, vizinha ao mar, são observáveis os “rilheiros” – rastos gravados na rocha ao longo de séculos pelos rodados dos carros de bois que levavam as pipas do vinho para embarque. Ali um lagar tradicional deixa--se visitar frente a uma adega onde ainda se continua a destilar - e a dar a provar ao passante - a afamada Aguardente do Pico. O percurso terminará na Igreja de Santa Luzia, não sem antes nos levar a Forno dos Frades, e pelas matas de pau branco, urze e incenso, espécies autóctones, únicas no Mundo.Na estrada costeira entre o Lajido e a Madalena, várias localidades ligadas à vinha pedem visita, mostrando currais redondos e “Rola-Pipas”

AÇORES2010 |Whale Watchingpodem chegar até aos 20 metros no caso da baleia-comum. O cume do assombro está no entanto reservado pela baleia-azul. Maior cetáceo e animal do mundo, mede entre 24 a 27 metros e pesa mais de 100 toneladas. Este bom gigante de corpo azulado com manchas circulares mais claras, mostra-se durante a estação primaveril. Consegue permanecer imerso até 30 minutos. Mas sempre que regressa

Em Busca das RaridadesEntre as espécies que ocasionalmente atravessam os mares açorianos, encontram- -se as particulares baleias-de-bico, como a de bico-de-garrafa e o zífio, em que os machos apresentam dentes. Exemplares de baleia-anã e baleia-de-bossa (caracterizadas pela coloração das barbatanas peitorais e do ventre) podem surgir na época da Primavera. Com sorte, a inconfundível orca fará uma aparição especial para completar a colecção de encontros especiais.

Tradições RecicladasEm tempos idos, as vigias da baleia eram utilizadas por homens com visão de águia. Tinham a tarefa de avisar os baleeiros sempre que houvesse caça no mar. Actualmente, algumas vigias estão novamente activas, com gente a perscrutar o horizonte marítimo. Mas desta vez a intenção é descobrir os nobres cetáceos para que possam ser devidamente venerados e apreciados. Sem desperdiçar uma história feita por pescadores intrépidos, os Açores reciclaram a tradição baleeira. Os arpões cederam lugar às câmaras fotográficas, criando um novo templo sagrado da fauna marinha. O mundo agradece a preciosa dádiva.

Actividade ReguladaA observação de baleias é efectuada através de operadores turísticos licenciados, os quais estão concentrados principalmente nas ilhas do grupo

central. O Pico ocupa uma posição privilegiada nesta actividade, dada a extensa ligação histórica ao universo baleeiro. As empresas geralmente estão dotadas de equipas de skippers, biólogos e vigias que asseguram o desenrolar seguro, informado e cumpridor do código de conduta, antes e durante as saídas em observação que podem durar até três horas.

Código de CondutaNo sentido de salvaguardar a fauna marinha dos Açores foi criado um Código de Conduta da Observação de Cetáceos. Do conjunto de regras a cumprir sobressai a proibição de perseguir, perturbar e alimentar cetáceos ou poluir o mar. As observações estão limitadas a períodos de trinta minutos. A natação está vedada com baleias, mas é possível praticá-la com golfinhos, na vertente de snorkeling (mergulho apenas com óculos e tubo de respiração). Nadar junto a estes animais muito sociais e brincalhões resulta numa experiência emocionante a não perder.

Artes PassadasInstalado no piso superior do Peter Café Sport, na Horta, o Museu do Scrimshaw expõe uma extensa colecção particular da arte baleeira que consistia na gravação e pintura em marfim de cachalote. Os ossos e os dentes deste animal também foram utilizados para forjar peças utilitárias ou decorativas como punhos de bengala, dedais e caixas. O museu contempla ainda uma colecção de documentos e fotografias associadas à caça da baleia e à navegação.

ao cimo da água, é garantia de acontecimento extraordinário. Apetece recorrer a todos os clichés imagináveis. Fiquemos pela doce melodia cantada por Louis Armstrong, a relembrar-nos de como o nosso mundo é maravilhoso. Em momentos assim, é mesmo. Observar um animal deste porte, que mesmo movendo-se com placidez acelera o ritmo cardíaco de quem o encara, é memória para durar a vida inteira.

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– caminhos aplanados na rocha que seguem em declive até pequenos ancoradouros, por onde rolavam as pipas de vinho para embarque. As ilhas do Faial e São Jorge, são presença constante à vista. É incontornável a ida ao Museu do Vinho, aproveitando para uma degustação. Passada a Madalena surge a Criação Velha, a mais extensa zona de “currais” do Pico, com o típico moinho flamengo em destaque. Próximo, para o interior, são visíveis os “maroiços” – pirâmides de pedra resultantes da árdua limpeza dos currais. Uma degustação do “verdelho”, fica ao lado, na Cooperativa Vitivinícola (necessário fazer marcação de véspera). Dos múltiplos Percursos Pedestres do Pico, memorável é o que nos conduz ao céu, lá bem no cume da montanha, onde a alma se queda em mudo espanto. A subida inicia-se na Casa de Apoio à Montanha, situada no Cabeço das Cabras, a cerca de 1200 metros de altitude.

Ao redor da montanhaNa Estrada do Planalto, que atravessa o interior do Pico, sempre com vistas sobre a montanha e o mar, pasme-se na Lagoa do Capitão, em cujas águas a montanha se espelha, e depois a sucessão das lagoas do Caiado, do Paúl, do Rosado e do Ilhéu. Em São João pare-se para degustar o afamado queijo do mesmo nome. A típica vila baleeira das Lajes do Pico, com a sua enseada e amplo porto e o Museu dos Baleeiros, exige uma pausa para um passeio na avenida aberta à beira-mar, com típicas casas de segundo andar em madeira, que acolhem empresas de Whale watching e Mergulho. Na Manhenha, com o seu infatigável farol, estamos na ponta mais Oriental da ilha. Solarengas adegas destacam-se na Baía de Canas. Em São Roque do Pico, urbe fronteira a São Jorge que domina a costa Norte, há que visitar a Fábrica da Baleia.

Pico ActivoA ilha oferece-se por todo o lado em actividades em terra, mar e ar. Na costa multiplicam-se as piscinas de lava, pequenas

Viver numa AdegaNa Hotelaria o pico apruma-se na “Aldeia da Fonte” e na oferta de Turismo Rural absolutamente distintiva, em casas convictamente fiéis à arquitectura tradicional da ilha, em pedra negra, de que são exemplo a rede de Adegas do Pico: um conjunto de confortáveis e bem recuperadas casas de pedra espalhadas ao longo da costa, sempre na proximidade e com vista sobre o mar.

baías ideais para a exploração submarina, surf e o windsurf. Uma rica oferta em whale watching, mergulho, passeios de barco ou de iate e a possibilidade de zarpar para a pesca de alto-mar são uma constante na ilha. Mas também em terra há propostas de aventura:

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escalada, montanhismo, geocaching, passeios de BTT, Moto4 e jeep 4X4, ou altos voos em asa-delta. E mais, e mais. De barco, a partir do Pico, alcança-se o Faial em meia-hora e numa hora São Jorge, havendo ligações todos os dias do ano.

Paisagem da Vinha Paisagem da Vinha Lajes

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Navios Destroçados O mergulho em naufrágios constitui, na generalidade, uma oportunidade de encontrar uma grande concentração de vida marinha. Os destroços dos barcos afundados transformam-se em recifes ou refúgios artificiais para inúmeras espécies, providenciando material de sobra aos praticantes de fotografia e vídeo subaquático. Os mares dos Açores dispõem de vários spots com vestígios de naufrágios: Slovonia e Papadiamandis (Flores), Viana (Faial), Terceirense e Corvo (Graciosa), Dori (São Miguel) e Olympia (Ilhéus das Formigas). E tão interessante como descer aos restos de navios afundados, acessíveis na generalidade por mergulhos de pouca profundidade, será depois (ou antes) conhecer as respectivas histórias e tragédias.

Transporte Aéreo de EquipamentoA SATA tem um programa para o transporte de equipamento de mergulho em que oferece uma franquia adicional de dez quilogramas em relação à franquia livre de bagagem. A medida está sujeita à reserva antecipada pelo passageiro e posterior confirmação por parte da companhia aérea face à disponibilidade do voo. Nas regras a cumprir pelo detentor do equipamento, as garrafas de ar comprimido devem estar vazias e com as válvulas de segurança abertas. As lanternas subaquáticas devem ser transportadas na bagagem de cabine com a bateria removida.

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A linha do horizonte demarca dois tipos de azul: o do céu e o do mar. Por debaixo dessa delimitação imaginária, existe um mundo de experiências inesquecíveis, prontas a serem conquistadas pelos que mergulharem nas águas cálidas do Atlântico açoriano. O mar dos Açores é de uma generosidade infindável. Em redor das ilhas e dos ilhéus açorianos existe uma topografia composta por mais de três centenas de montanhas, vales e cordilheiras que acolhem uma biodiversidade selvagem assinalável. Quase 700 espécies de peixes. Cerca de 30 tipos de cetáceos. Tartarugas, cefalópodes e crustáceos. Corais multicolores... Para poder apreciar estas maravilhas subaquáticas, os Açores dotaram-se de condições de mergulho ao nível dos mais elevados padrões internacionais. Actualmente existem cerca de 30 operadores certificados de mergulho, espalhados pelas nove ilhas, que complementam a actividade dos clubes navais. É praticado o aluguer de equipamento de mergulho. Em São Miguel (Ponta Delgada) e no Faial (Horta) estão instaladas duas câmaras hiperbáricas de apoio ao mergulho. Está prevista a entrada em funcionamento de uma nova câmara para auxílio à actividade no Grupo Ocidental. Com quase 100 spots assinalados no mapa de mergulho, muitos deles em zonas classificadas devido ao respectivo valor ambiental, os Açores têm uma oferta apropriada a vários níveis de experiência e expectativa. Os novatos podem começar pelo snorkeling, onde apenas é necessária a utilização de tubo, máscara, barbatanas e colete flutuante. O passo seguinte natural é o casamento com o mar. Um baptismo de mergulho nos mares açorianos será uma memória indelével. Abrem-se então as portas para o paraíso subaquático do Atlântico.A temporada de Maio a Outubro é considerada a melhor para a actividade, embora seja possível mergulhar em qualquer altura do ano. O tempo pode estar agreste ao cimo da terra e calmo debaixo do mar. Além disso, as temperaturas da água são convidativas, oscilando entre os 17 e os 24 graus centígrados. Não é raro que a água esteja mais quente do que o ar. No Verão, é possível atingir visibilidades até aos 30 metros. Situação ideal para apreciar qualquer dos vários tipos de mergulho que pode efectuar- -se nos mares dos Açores.

Da costa até às grutasNo mergulho em zonas costeiras atingem-se profundidades entre os cinco e os 25 metros. Há spots em águas fáceis e locais muito acessíveis a partir de terra ou de mar, onde se pode observar uma boa biodiversidade de algas e espécies como cavacos, lagostas, castanhetas, salemas, vejas, badejos, peixes-cão, abróteas, ratões, peixes-porco. Sobejamente famoso é o Caneiro dos Meros, na ilha do Corvo, exemplo modelar de sustentação da riqueza subaquática face à auto-regulação da apanha de meros por parte da comunidade piscatória local.

Raridades MarinhasOcasionalmente passam pelos Açores algumas espécies raras. Caso da tartaruga-de-couro, a maior espécie de tartaruga, com exemplares que atingem em média os dois metros de ponta a ponta. Ou do tubarão-baleia, o maior peixe conhecido, cujos espécimes atingem um comprimento médio entre os cinco e os dez metros. Em Novembro de 2008, a revista National Geographic Portugal publicou um artigo sobre o tubarão-baleia, com base em imagens captadas pelo fotógrafo de natureza Nuno Sá quando um grupo destes gigantes aquáticos “passeou” ao largo da ilha de Santa Maria.

Profundezas OceânicasA Fundação Rebikoff-Niggeler, instituição sem fins lucrativos dedicada à pesquisa e documentação cinematográfica dos oceanos, detém um submarino autónomo desde 2000. Sedeado na Horta, no Faial, o Lula leva até três passageiros a profundidades na ordem dos 500 metros. Em 2002, a empresa Deep Ocean Expeditions, efectuou uma expedição a um conjunto de géisers subaquáticos açorianos, localizados 2400 metros abaixo do nível do mar. Apesar da profundidade e das altas temperaturas da água em redor destas chaminés em constante erupção, os exploradores encontraram formas de vida estranha (camarões cegos, caranguejos brancos...) que muitos cientistas julgam representar o início da vida no planeta Terra. O registo da viagem pode ser consultado em www.deepoceanexpeditions.com/azores2.html.

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AÇORES2010 |MergulhoEste universo colorido ganha dramatismo no mergulho nocturno. O feixe da lanterna subaquática aumenta a saturação das cores e ilumina uma atmosfera com características bem diferentes da existente durante o dia. Os crustáceos mostram-se mais activos enquanto algumas espécies piscícolas se rendem ao estado sonolento, permitindo uma observação minuciosa. Os jogos de luz e escuridão também são pródigos no mergulho em grutas. Geralmente formadas por tubos de lava, estas cavernas encerram águas com animais exóticos, forjados pela ausência dos raios solares. Esponjas, camarões, canários-do- -mar, caranguejos, moreias ou chicharros podem ser vistos em locais como a Gruta das Cinco Ribeiras (São Miguel), Gruta Profunda e Gruta do Ilhéu Negro (Monte da Guia, no Faial), Furna dos Enxaréus (Ponta da Caveira, nas Flores), Gruta dos Ratões (Ilhéu das Cabras, na Terceira), ou nas duas grutas do Ilhéu da Vila (Santa Maria).

Em busca de emoções fortesPara novas e excitantes sensações, bem como maiores níveis de exigência técnica, é possível mergulhar em baixas litorais e bancos oceânicos. As baixas são afloramentos rochosos cujos topos se acercam da superfície. Podem resultar de grandes profundidades e, em certos casos, apresentam-se em paredes quase verticais que requerem alguma experiência de mergulho. Nestes locais congregam-se grandes cardumes de enxaréus, barracudas, anchovas, albacoras ou atuns. Pode também avistar-se grandes meros e, a partir dos 30 metros de profundidade, há spots com colónias de coral negro. Quanto aos bancos oceânicos, trata-se de picos rochosos e vulcânicos que quase tocam a superfície. Geralmente representam locais de extraordinária beleza mas também de correntes fortes que requerem cuidados redobrados. A zona dos Ilhéus das Formigas, ao largo de Santa Maria, inclui alguns dos spots mais importantes, como o Banco Dollabarat e os próprios recifes dos ilhéus. Entre São Miguel e a Terceira, é possível observar fontes hidrotermais no Banco D. João de Castro, entre cavalas-da-Índia, bicudas, bonitos, serras e patuços. A partir do Faial visita-se o Banco Princesa Alice, cordilheira montanhosa subaquática que resulta numa experiência inesquecível. À paisagem junta-se a companhia de tubarões, lírios e espadins-branco que aumentam a adrenalina do momento. Com sorte e tempo vislumbram-se jamantas a pairar nos fundos. Mergulhar na companhia destes animais em forma de losango e cauda alongada, que podem atingir os seis metros de envergadura e ultrapassam a tonelada em peso, é uma espécie de nirvana: atinge-se um estado de beatitude perfeito. Que perdurará até à próxima descida ao fundo do mar açoriano, pródigo em dádivas para atingir o êxtase. Tudo graças a um movimento perpétuo de vida em cenários que decantam a palavra perfeição.

Dicas e descrições sobre os spots de mergulho dos Açores em www.horta.uac.pt/SCUBAzores

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a direcção do vento, através da rotação da cúpula. Termina-se o percurso na Vila da Praia, de preferência a tempo de um banho no mar tépido. E num momento de merecido repouso, no areal da baía, apreciar o sol que se põe naquela linha de horizonte que esconde tantas maravilhas subaquáticas.

Na Agenda do MergulhoNo trajecto de afirmação como um dos principais pólos de mergulho nacional e internacional, a Graciosa é palco de uma bienal dedicada ao Turismo Subaquático. O evento decorre em anos ímpares e serve de ponto de encontro de especialistas e amantes do mergulho para debate de temáticas relevantes ao sector. Nos anos pares, acontece o Open Internacional de Fotografia Subaquática, onde competem equipas de vários países. A fotografia subaquática é, aliás, uma actividade em alta nos Açores.

Profunda SeduçãoFormosa como o nome indica, a Graciosa associa o património histórico e natural ao cimo da terra a um fundo subaquático que a torna central para a actividade do mergulho. Uma ligação marítima que permanece cristalizada num ilhéu em forma de baleia.A Graciosa é considerada uma das melhores ilhas para mergulhar no oceano Atlântico. Gaba-se a visibilidade das águas, a abundância de baixas oceânicas e a riqueza da fauna. Parte do turismo associado à ilha relaciona-se intimamente com esta actividade, face à romaria de muitos profissionais e amadores da fotografia subaquática. Uma das melhores formas de conhecer a Graciosa é, aliás, por mar; num caiaque ou numa canoa, desfrutando de paisagens inusitadas para a costa geologicamente diversificada. Saídos da água, muito há ainda para ver e fazer. Sem deixar os assuntos marinhos, mas com incursão pela vulcanologia, aprecia-se na Ponta da Barca um ilhéu que sugere as formas de uma baleia petrificada. Mantenhamos a bússola com a mesma orientação temática na visita à Baía da Caldeirinha (cratera de antigo vulcão), às vinhas plantadas em solo de lava, ou à piscina natural (de rocha vulcânica, claro está) e Termas do Carapacho onde a água escorre de uma nascente a uma temperatura entre os 35 e os 40 graus.

Resta a descida à Furna do Enxofre, feita num passo de caracol ou mais apressado por 184 degraus de escada enrolada. No fundo, uma gruta e um lago ocultam o facto de estarmos no coração de um vulcão adormecido.Ou quase, pois ainda se vislumbram gases sulfurosos expelidos pela terra. De novo ao ar livre, a imensa Caldeira centra atenções. Paisagem ideal para saborear a doçaria típica da ilha, prévia e sabiamente adquirida. As queijadas têm fama além Graciosa, mas ainda sobram encharcadas de ovos, escomilhas ou barrigas-de-freira. Gastem-se as calorias no trilho PR1GRA que liga Serra Branca a Praia. Em sete quilómetros fáceis de percorrer, atravessa-se a ilha da costa Oeste à costa Leste. Sucedem-se as vistas panorâmicas e conhece-se um dos ex-libris da Graciosa: os moinhos de vento. Caracterizados por uma cúpula terminada em bico, apresentam mecanismos construídos em madeira que orientam as velas para

Recuperar o RuralA oferta de camas na ilha está principalmente associada às residenciais localizadas em Santa Cruz da Graciosa. Em termos de turismo rural, a merecer destaque a Quinta dos Frutos, representando a recuperação de um agregado rural secular composto por casa principal, casa de bois e de despejo, adaptadas aos confortos modernos.

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Os Açores oferecem condições naturais óptimas para a prática do surf ou do bodyboard. Ao mesmo tempo que sobe o número de praticantes entre os habitantes das ilhas, o arquipélago começa a ser reconhecido como um destino internacional. O ambiente também agradece. O surf, o bodyboard e o windsurf, entre outras actividades praticadas na orla costeira, representam uma interacção total com o mar. De tal forma que forja filosofias de vida. E cria elos fortes e indissociáveis com a protecção do ambiente. Nos Açores, esta ligação ganha especial dimensão. Surfar nas ondas já míticas da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, em São Jorge, é um privilégio e um sonho que muitos surfistas de várias latitudes do globo gostariam de concretizar. Mas ao mesmo tempo, existe a plena consciência de que é preciso manter intactas todas as idiossincrasias que tornam a Caldeira um santuário tão especial. Na maior parte dos casos, os spots açorianos representam grandes e novos desafios. A adrenalina está garantida e em níveis apropriados para diferentes tipos de experiência. Domar a força da natureza num sítio como a baixa da Vila Nova, na Terceira, é descrito nos websites da especialidade como tarefa para

“pros ou kamikaze”! Muitos spots trocam o tradicional fundo de areia pelo calhau e contêm recifes. E, na generalidade, o mar nas costas viradas e Norte apresenta-se mais exigente. Entre os locais mais consistentes –- e divulgados – encontram-se os micaelenses Santa Bárbara, Rabo de Peixe, Maia e Pópulo. Em Santa Maria, destaca-se a Praia Formosa, também palco privilegiado para o windsurf. Na Terceira, centram atenções sítios como Santa Catarina, Cabo d’Aço e Quatro Ribeiras. Ainda nesta ilha, a Praia da Vitória destaca-se como destino para a prática do windsurf e kitesurf.Setembro e Outubro costumam ser os melhores meses para surfar: swell muito regular com ondas de boa dimensão. Entre Novembro e Fevereiro cresce a altura das vagas, tal como a frequência dos períodos de chuva. A temperatura do oceano é amena e quase sempre superior à do ar, com excepção do período de Verão. Ao longo do ano as ondas também mantêm assinalável estabilidade. Julho e Agosto são os meses menos propícios para a prática da modalidade. Certos locais são de difícil acesso por terra, mas há empresas que organizam surf trips com entradas a partir do mar, nomeadamente para spots nas ilhas do grupo central. Durante

o Inverno, com apoio de uma embarcação, é possível praticar Big Wave Surfing. Face ao enorme desafio que certos spots representam, a interacção cordata e humilde com a crescente comunidade surfista local é a melhor forma de conhecer as características de cada zona. E, com sorte, ficar a conhecer um sítio fantástico ainda no segredo dos Deuses...

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Nível InternacionalA Ribeira Grande (São Miguel) é uma das zonas mais exploradas do surf açoriano devido ao ritmo intenso da ondulação. A projecção além-fronteiras surgiu em 2009 com o Azores Islands Pro09, prova de qualificação do campeonato mundial de surf que serviu de montra para as condições extraordinárias da Praia do Monte Verde.

Pranchas pelo arTaxas de transporte em vigor nos voos da Sata

a partir da Europa. Pranchas até 150 cm: transporte

gratuito (desde que peso não exceda a franquia livre

da bagagem). Pranchas de 150 a 250 cm e pranchas

com mais de 250 cm pagam tarifa.

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dificilmente sairão da Caldeira sem antes se meterem no mar; os restantes cumprirão o resto do trilho com a deslocação até à Fajã dos Cubres. Porque São Jorge tem sempre mais uma fatia de maravilha para oferecer. Amêijoas SantificadasProtegidas por sucessivos actos legislativos, as amêijoas que crescem na lagoa da Caldeira de Santo Cristo compõem um dos capítulos mais saborosos do património gastronómico de São Jorge. De modo a promover a sobrevivência deste recurso natural renovável, é necessária uma licença especial para a apanha deste molusco, único no panorama dos Açores.

Vertiginosa FantasiaLugar de ondas que enfeitiçam surfistas, a ilha tem ilusionismos capazes de cativar qualquer visitante. A cordilheira central é um miradouro natural para as fajãs. Lá em baixo, amêijoas, cafés, colchas. E gente única que mesmo o famoso queijo de São Jorge não fará esquecer.

Há diversidade para todos os gostos. Uma direita, “do passe”, apropriada para principiantes. Uma esquerda, “da igreja”, constante e comprida. Ou a onda do “lago do linho”, maior e sustentada. A magia da Caldeira de Santo Cristo, apenas acessível por um trilho, já levou surfistas amadores a mudarem de vida. Instalaram-se de alma e bagagem numa fajã, elemento distinto de São Jorge que tem sido tratado com critério por representar um legado histórico-cultural precioso.Delgada e comprida, conhecida pela ilha do dragão, tem um maciço central que chega a ultrapassar os mil metros de altitude no Pico da Esperança e se estende por um planalto de 45 quilómetros. Neste topo alongado vêem-se as ilhas adjacentes. O Pico, com a montanha imã, o Faial e a Graciosa. Em dias limpos, avista-se até à Terceira. A sucessão de pequenos cumes e vales dá a impressão de viajarmos por entre a fileira de dentes do réptil mitológico. O contacto com a zona costeira faz-se através de falésias. Volta e meia o abismo é cortado pelas fajãs. Do alto, mal se avistam as plantações e as casas dessas superfícies planas à beira-mar.

Pequenas porções de magia em forma geológica, as fajãs parecem ter sido criadas apenas para puro deleite contemplativo. O mapa jorgense assinala 46, a maior parte situada na costa norte. Muitas delas apenas têm acesso pedestre. Assim seja. O trilho PR2SJO começa na Serra do Topo e estende--se por cinco quilómetros. Percorre mata endémica composta por imponentes cedros--do-mato e urzes e desce por escadaria de pedra antiga até à Fajã dos Vimes. Procure--se a casa que funciona como pouso de velhos ofícios e café. No piso superior, persiste-se em manter viva a tradição das colchas de ponto alto. É gente de abrir a porta com carinho e falar com estranhos como se fossem velhos conhecidos. No andar térreo serve-se café forte, feito de grãos semeados na fajã. A procura de sensações invulgares prossegue no percurso pedestre que nos leva até à Caldeira do Santo Cristo. Com ou sem prancha às costas. A primeira parte dos dez quilómetros do PS1SJO desemboca na Caldeira de Cima. Pouco depois, uma cascata. Já em plena fajã, pausa no restaurante que funciona como ponto de encontro da comunidade local. Ouvem-se conversas de café enquanto se provam as famosas amêijoas. Os surfistas

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dificilmente sairão da Caldeira sem antes

fará esquecer.

Há diversidade para todos os gostos.

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Casa SurfistaA oferta hoteleira de São Jorge está centrada nas Velas. As boas condições para a prática do surf ou bodyboard levam a que comecem a surgir estruturas necessárias para receber os praticantes, como é exemplo a surf house Casa da Caldeira de Santo Cristo.

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Os Açores e o mar são companheiros inseparáveis. O oceano Atlântico envolve as nove ilhas do arquipélago e entranha-se no espírito dos habitantes. Mas em vez de uma prisão, o mar é uma via de comunicação. Por ele chegam visitantes de todo o mundo a estas terras abençoadas.As ilhas de São Miguel, Terceira e Faial acolhem as excelentes marinas açorianas, com os três locais a merecerem a Bandeira Azul Europeia. Ponta Delgada tem a maior marina, alojada no novo complexo das Portas do Mar, desenhado pelo arquitecto Manuel Salgado. Às 670 amarrações para pequenas embarcações juntou-se um terminal para navios de cruzeiro e um cais de honra para mega-iates. O curvilíneo espaço dedicado a lojas, restaurantes e bares já se confirmou como um novo ponto de animação da vida diurna e nocturna da cidade.Rumo à Terceira aporta-se na marina de Angra do Heroísmo, com a solenidade de se chegar a uma cidade Património Mundial da UNESCO. Os motivos de interesse não se resumem a uma visita terrestre. A baía de Angra presta-se a ser velejada. Ou desfrutada. A rodear a marina

com espaço para 260 embarcações, de um lado uma praia convidativa. Do outro, os parques arqueológicos subaquáticos da cidade. Já com o Faial à vista, os velejadores encontram o famoso porto da Horta (300 amarrações). Trata-se de uma das marinas mais visitadas do mundo, com uma localização que a transforma num abrigo contra os ventos de variadas direcções. Quase todos os veleiros que atravessam o Atlântico cumprem escala no Faial, sendo a Horta um ponto de encontro de regatas internacionais como Les Sables – Les Açores, La Route des Hortensias, ARC Europe, Ceuta-Horta ou OCC Pursuit Race. Os muros do cais estão pejados de pinturas feitas pelos velejadores, num gesto a requisitar boa sorte para a jornada marítima. Os turistas apreciam e fotografam. E se quiserem, experimentam. Sendo uma terra intrinsecamente associada ao iatismo, começa a haver uma oferta consistente de aluguer de embarcações, com e sem skipper. O exigente oceano que circunda o arquipélago exige o porte da Carta de Patrão de Alto-Mar. Mas pode sempre navegar-se por estas águas dentro dos ferries que ligam ilhas dos três

grupos durante o período de Verão. No grupo central, as viagens entre ilhas têm uma constância anual, principalmente no chamado triângulo, permitindo, por um preço cómodo, obter perspectivas únicas dos perfis do Faial, São Jorge e Pico. E com sorte, avistarem-se grupos de golfinhos que parecem cortejar os barcos e agraciar os passageiros com um espectáculo inesperado.

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Portos de recreioAlém das grandes marinas, os Açores estão servidos por uma rede de pequenos portos que permitem deslocações inter-ilhas. Nas Velas, em São Jorge, ou na Vila do Porto, em Santa Maria, existem pequenas marinas. Além disso, existem bem equipados portos de recreio e abrigo espalhados por várias localidades das principais ilhas, como os de Vila Franca e da Povoação, em S. Miguel, o das Lajes, no Pico, e o da Praia de Vitória, na Terceira, entre outros que dão forma a uma importante rede de apoio à navegação.

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Marina de Ponta Delgada

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derrete-se num horizonte formado por múltiplos enquadramentos de excepção. O cinzento assume cambiantes coloridas. E juramos avistar um veleiro a navegar por entre o oceano de lava azulada, rumo a um porto distante no outro lado do mundo. Mais uma lenda para relatar pela noitinha, acompanhada de um gin.

Semana do Mar

Durante uma semana do Verão, a agitação percorre (ainda mais) a cidade e o porto da Horta. A Semana do Mar é palco de largadas de regatas, concertos de bandas filarmónicas, provas de vela, windsurf, pesca desportiva, canoagem, remo, jet-ski e triatlo, actuações de grupos folclóricos, animações de rua, passeios em botes baleeiros e do Cortejo Náutico da Senhora da Guia.

A Ilha dos Oceanos ColoridosOmnipresente, o azul do mar tolda os tons faialenses. Mas a ilha também é feita de outras lendas e cores. E é fácil ao visitante perder-se no oceano de cinzas do vulcão dos Capelinhos ou na maré verde da imensa cratera que dá pelo nome de Caldeira.A Horta é uma das cidades mais cosmopolitas dos Açores. Na marina, entre mastros e velas recolhidas, ouvem-se conversas em línguas estrangeiras. Omnipresente, paira no ar a paixão e respeito pelo mar. Este espírito marinheiro, repleto de lendas e histórias, ganha aspecto físico e voz no Peter Café Sport. Entra--se pela porta de um estabelecimento quase centenário (fundado em fundado em 1918) e cheira a maresia. As paredes estão cheias de flâmulas e bandeiras coloridas. Por cima do balcão, penduram-se cartas para o destinatário que um dia há-de chegar. Nas mesas, entre conversas animadas, bebe-se o famoso “Gin do Peters”. Diz-se que aqui é o melhor do

mundo. Porque o ambiente também se saboreia.O Faial só podia ser a ilha azul por causa deste mar imenso que a banha mesmo em terra. Desvie-se o olhar dos barcos que chegam e parta-se para uma incursão até ao centro da ilha. Aguarda-nos a caldeira, num trajecto que passa pelos característicos moinhos de vento pintados de vermelho e branco. É uma cratera que prima pela dimensão: 400 metros de profundidade e dois quilómetros de largura. Será a mesma dimensão espacial que assombra o visitante do vulcão dos Capelinhos. Antes de chegar à esta extremidade faialense, percorra-se o trilho PR1FAI que liga o Capelo aos Capelinhos. Com sete quilómetros de extensão e uma dificuldade média, o percurso funciona como uma antecâmara da paisagem do vulcão. A rota assinala passagem por vários cones vulcânicos, com destaque para o Cabeço Verde que inclui uma caldeira. A subida ao cume do Cabeço do Canto permite uma vista panorâmica sobre os Capelinhos. O farol despido desponta no meio de um mar de cinzas. Na primeira impressão, parece um planeta distante do Sol. Árido, seco, desumano. Depois, à medida que nos aproximamos e pisamos o solo cinzento, reparamos na vegetação que teimosamente procura crescer naquele terreno. O cenário atinge um dramatismo avassalador. Calcorreia-se as ruínas do farol e os espaços em redor sem noção do tempo passar. O vulcão exerce uma força magnética sobre o visitante, numa manifestação ímpar do poder da Natureza. A imaginação

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Pousar o Olhar no PicoA cidade da Horta, que serve como base para exploração da ilha, está bem apetrechada de unidades hoteleiras de quatro estrelas. Instalada dentro das muralhas do Forte de Santa Cruz, construção do século XVI classificada como Monumento Nacional, a Pousada da Horta permite acordar com vista para a montanha do Pico. Também aqui há boas alternativas de turismo de habitação disponíveis.

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Entrar num mar enquadrado por mirabolantes construções de rochas negras é uma experiência peculiar. Não só pelo cenário sensacional, como pela água morna que aguarda pacientemente o banhista. Mas nos Açores também é possível trocar a pedra basáltica por areia fina.Em termos de praias, o arquipélago tem uma mão cheia de possibilidades. Santa Maria e Terceira têm praias tradicionais de areia fina, mais ou menos branca. Contrastam com as praias de areia negra vulcânica, estranhas ao princípio, agradáveis depois de sentida nos pés a suavidade dos grãos acinzentados. Ambas bem diferentes das praias de calhaus rolados, moldados pelo bater das ondas, frequentes nas costas de todas as ilhas. Muitas vezes, estas praias de pedras apresentam algo comum às piscinas naturais de água salgada que verdadeiramente caracterizam o arquipélago: o cenário. Melhor dizendo, trata-se de piscinas de lava, presentes da Natureza em formato de pequenas baías abrigadas. A rocha vulcânica aos cortes, cheia

de carácter, contrasta com o azul cristalino da água. O mar tão pujante nas ondas ao largo, mostra-se afável e cordial dentro das piscinas. Apetece tomar banho para refrescar do sol ameno que aquece os corpos. A temperatura da água é tépida, mesmo nos meses mais frios. Passam-se eternidades dentro do mar. Em certos locais, as explosões de ondas sobre a amurada das piscinas conferem uma animação de espuma branca para deleite dos banhistas estendidos ao longo das rochas e plataformas criadas pelo Homem.As piscinas naturais açorianas apresentam condições excepcionais para a prática balnear. Praticamente todas estão dotadas de infra--estruturas de apoio como restaurantes, casas de banho e chuveiros públicos. Os elementos arquitecturais, quando existentes, criam uma transição funcional e discreta entre as construções humanas e a Natureza. São espaços de lazer, algumas vezes associados a jardins de merendas ou parques infantis.Quem não dispensa o areal branco geralmente ruma até Santa Maria, terra da Praia Formosa

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Praia da Vitória – Terceira

Mosteiros - São Miguel

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História(s) de Arrebatar

A ilha do sol é a estância balnear dos Açores. Mas um lugar com tanta história para contar obriga a deixar os deliciosos areais da Praia Formosa e São Lourenço. Regressaremos a tempo de assistir ao pôr-do-sol, com a memória já impressa de alucinantes fósseis, dunas vermelhas, cascata e disjunção prismática. Ilha mais velha dos Açores, estima-se entre os oito a dez milhões de anos, Santa Maria tem idade suficiente para propor um autêntico safari geológico. Na Pedreira do Campo encontram-se fósseis de conchas e ouriços--do-mar. Esta formação rochosa outrora submersa, parcialmente de origem vulcânica, está agora 100 metros acima do nível do mar, resultando num local de grande interesse para a paleontologia, geologia e turismo. Na Pedra-que-Pica, descobre-se outra importante jazida de fósseis marinhos com mais de cinco milhões de anos. Dentes de tubarão, esponjas, ouriços-do-mar, variados tipos de conchas, acolchoam solo e paredes. A deslocação à jazida, bem como à da Malbusca (fósseis de moluscos e peixes) efectua-se melhor por via marítima. O Farol de Gonçalo Velho, situado na Ponta do Castelo em que o Oceano Atlântico separa os Açores do extenso continente europeu, velará a viagem. Mas é por caminhos terrestres e desconhecidos que se chega até às escoadas basálticas com disjunção prismática da Ribeira das Maloés. A parede rochosa em bordões hipnotiza o visitante.

É difícil deixar o local. Mas seria pena não aproveitar o bater do sol nas piscinas naturais da Maia. Ou apreciar a Cascata do Aveiro, uma das mais magníficas dos Açores. Rumemos ao Pico Alto, cume da ilha com 587 metros e de onde se avista mar para os dois lados. Aqui chegados, façamos o percurso pedestre que nos levará até aos Anjos. Quase literalmente.Com extensão de 14 quilómetros e dificuldade média, o trilho atravessa partes da floresta de laurissilva. Pau-branco, urze, uva-da--serra, tamujo ou louro unem-se para formar abóbadas sobre o estreito caminho. A saída do labirinto encantado não podia ser mais extraordinária: finda a vegetação, apenas uma extensa planície vermelha e árida. O Barreiro da Faneca é um local sem igual no resto dos Açores. Conhecido por “deserto vermelho”, este ecossistema de terrenos argilosos ondulantes transporta o imaginário até aos canais de Marte. Prossegue-se outra vez a custo por deixar um sítio tão apaixonante. Mas há ainda que passar pela Baía da Cré (local de mais fósseis marinhos) e atravessar o leito da Ribeira do Lemos antes de chegar aos Anjos. À entrada do povoado, a estátua de Cristóvão Colombo protege a Ermida de Nossa Senhora dos Anjos. Reza a história que o navegador genovês aportou nestas latitudes em Fevereiro de 1943, quando regressava da primeira viagem à América. E mandou celebrar uma missa na capela encontrada. Lenda ao facto, Santa Maria será sempre uma ilha de história(s). Bem contada e inspiradora.

SANTA MARIA

Maré MusicalPraia e festa associam-se durante os dias da Maré de Agosto. O festival de música realizado na baía da Praia Formosa, em Santa Maria, teve início em 1984, numa apelidada noite mágica que juntou vários intérpretes açorianos. Desde então a Maré ganhou fama e pelos palcos do evento já passaram nomes como Rui Veloso, Sérgio Godinho, Carlos do Carmo, GNR, Xutos & Pontapés, Ivan Lins, Zizi Possi, Waldemar Bastos ou Gabriel o Pensador.

Vulcânicosbanhos

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de nome e feitio. No alto do mastro, desfralda--se com orgulho a Bandeira Azul. Atravessada a ilha, a baía de São Lourenço acompanhada do ilhéu de nome semelhante, duplica o enternecimento panorâmico. Da beira-mar, o olhar estende-se pelos quartéis que retalham a encosta e delimitam as vinhas. O cultivo foi abandonado ao longo dos tempos; ficou a visão avassaladora e o apontamento histórico. E a praia, claro.

História(s) de Arrebatar

A ilha do sol é a estância balnear dos

ilha de história(s). Bem contada e inspiradora.

Baía de São Lourenço – Santa Maria

Quartéis de Vinha em São Lourenço

Barreiro da Faneca

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Furnas - São Miguel

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Segurança PrimeiroApesar de ser uma actividade bastante segura, o pedestrianismo requer alguns cuidados por parte dos praticantes. Tudo conselhos simples, mas muito úteis: confirmar se o percurso está activo – podem ser fechados por questões de segurança; atentar às condições meteorológicas particularmente se o trilho se desenvolve em altitude, onde é frequente a ocorrência de chuva e nevoeiro, sendo nesta eventualidade preferível optar por um percurso junto ao mar; informar alguém do trilho que se vai percorrer; levar calçado adequado, capa de chuva, chapéu, protector solar, água e alimentos sólidos como fruta ou barras de cereais; não sair do percurso marcado; saber que os tempos de duração do percurso são indicativos, prevendo valores médios para uma caminhada sem interrupções; adequar o ritmo de andamento e as paragens às condições e preferências.

Caminhar com ÉticaCabe ao pedestrianista zelar pela boa manutenção dos trilhos. Guarde todo o lixo que fizer durante o percurso para depositá-lo em local apropriado. Não recolha amostras geológicas e plantas, nem fruta dos pomares. Respeite os animais, evitando perturbá-los. Quando necessitar de abrir cancelas, feche-as em seguida; geralmente destinam-se a manter o gado nas pastagens. Irradie simpatia quando passar pelas pessoas que trabalham no campo. Cumprimente-as. Muitas delas gostarão de trocar dois dedos de conversa. Será uma oportunidade de juntar rostos e histórias humanas às inspiradoras paisagens naturais.

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Os Açores representam um paraíso do pedestrianismo, dada a quantidade e diversidade de percursos assinalados. Trilhar cada ilha pode ser uma actividade desportiva intensa ou um passeio sereno. O coração ditará a cadência. Porque o arquipélago é um caso de pura paixão.Um caminho de pé posto ladeado por uma mata densa. Por entre os ramos e as folhagens entra apenas uma réstia de luz difusa. Apressa-se o passo. Passados poucos metros, após uma curva, surge uma clareira. A vegetação alta cede lugar a espécies rasteiras. A paisagem abre-se como uma cauda de pavão, com o azul do mar a requisitar atenções. Tempo para uma pausa. Aprecia-se o local e o momento. E regressa-se ao caminho, cujo apelo é incessante. Haverá mais perfeição a contemplar. Ou não estivéssemos num trilho açoriano.O pedestrianismo define-se como uma actividade desportiva e lúdica que decorre na Natureza. Os caminhos estão sinalizados de acordo com marcas e códigos internacionais. Face à existência de indicações claras e eficazes, é possível percorrer os trilhos de forma autónoma, promovendo uma comunhão e conhecimento especial dos locais por onde se passa. Dada a génese do pedestrianismo, os Açores revelam--se terreno fértil para o fomento e a prática desta actividade. O Governo Regional criou por isso uma Rede de Percursos Pedestres Classificados, com a intenção principal de garantir a tranquilidade e segurança dos pedestrianistas.A composição dos trilhos passou primordialmente pela reabilitação de velhos caminhos, a maior parte de pé posto, que eram utilizados pelos habitantes das ilhas nos afazeres do dia-a--dia. Vias por onde passavam pessoas, cavalos, burros e mulas, manadas de gado. Percursos complementares às viagens por mar, modo que durante séculos reinou como o principal e mais fácil modo de deslocação entre localidades da mesma ilha. Agora, estes caminhos que outrora foram de intensa labuta, estão à mercê dos que acedam deixar-se deslumbrar pelas seduções inolvidáveis dos Açores.Presentemente, o arquipélago conta com mais de 60 percursos pedestres classificados, espalhados pelas nove ilhas. São Miguel lidera em quantidade, aproximando-se das três dezenas

de trilhos. Segue-se o Pico com dez percursos. São Jorge contempla seis, a Terceira cinco, o Faial e as Flores quatro cada um. A Graciosa mostra parte dos encantos em três trilhos e o Corvo já tem dois assinalados.

Conhecer a alma das ilhasAs localizações dos percursos, bem como respectivas características de topografia, tempo estimado para percorrer, distância e nível de dificuldade, podem ser consultadas através de um sítio da Internet – www.trails-azores.com -– ou nos folhetos individuais produzidos para cada percurso. A escolha é ampla. Há percursos com diferentes níveis (Fácil, Médio ou Difícil),que representam diferentes tipos de desafios em termos de condição e resistência física. Alguns trilhos são circulares. Outros encontram complementaridade em novos percursos, permitindo o respectivo encadeamento. Comum a todos é a possibilidade de conhecer a alma de cada uma das ilhas açorianas. Em São Jorge desce-se às típicas fajãs (a dos Vimes, a do Ouvidor, a do Além, entre outras), preservadas nas suas gentes e costumes, algumas delas sem outro acesso além do trilho. Na Terceira descobrem-se as “relheiras”, vestígios centenários da circulação de carros de bois. Em Santa Maria avista-se as ruínas de uma fábrica da baleia após passagem pelo farol de Gonçalo Velho que parece alumiar o mar a separar os Açores de Portugal continental. Na Graciosa conhecem-se os fenómenos vulcânicos da Furnas do Enxofre e da Maria Encantada, por entre a flora da reserva do Parque Florestal da Caldeira. No Faial circunda--se a enorme Caldeira ou ruma-se por uma falésia até ao Morro de Castelo Branco, observando espécies de aves marinhas como garajaus ou cagarros. Nas Flores é possível percorrer uma costa quase inteira, associando dois trilhos, com início em Ponta Delgada e término em Lajedo num total de 22 quilómetros de caminho quase sempre com vista para o mar. No Corvo, descobre-se uma cara de índio esculpida na pedra e a peculiar Vila do Corvo que procura manter intacta a secular estrutura urbana. E no Pico passeia-se por calçada de grandes pedras, antiga passagem de burros, ou por entre “currais” de vinha até encontrar os “rilheiros” deixados pelas carroças

que transportavam pipas de vinho. Nesta síntese andámos dezenas, talvez centenas, de quilómetros. Mas descobrir um destino assim, neste convívio directo com a Natureza, as gentes e as tradições, não cansa. E dormimos acalentados pelas novas surpresas que nos esperam amanhã, no próximo trilho.

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as das Sete Cidades, servidas por um miradouro sabiamente nomeado como Vista do Rei. O percurso pedestre da Serra Devassa serve para a descoberta de outras lagoas, menos conhecidas mas não menos nobres em termos de espectacularidade. Os cerca de quatro quilómetros do trilho decorrem entre os 750 e os 900 metros, o que permite pontos de vista favoráveis para apreciar as lagoas do Canário, das Éguas, da Rasa e do Carvão. Na Lagoa de Pau Pique um aqueduto reivindica atenção. Apelidado de “Muro das Nove Janelas”, serviu para transportar água até Ponta Delgada.

Contraste alvinegroAproveite-se a deixa para um passeio urbano. Os três arcos predominantemente barrocos das Portas da Cidade, monumento datado de 1783, acolhem os visitantes de Ponta Delgada. O preto

Terra dos 1001 EncantosEnumerar os atractivos de São Miguel é tarefa entre o ingrato e o impossível. A extensão quilométrica encontra correspondência na diversidade de locais a visitar e actividades a praticar. Ilha iniciática na experiência açoriana, destila grandiosidade com uma sedutora modéstia. A maior ilha dos Açores é terra de contrastes. Mas num aspecto gera unanimidade: fazer jus à designação de ilha verde. Sai-se do centro das cidades e a cor lá está. Estendida num tapete de pasto ou içada numa copa de criptoméria. A designada árvore bem pode pertencer à frondosa mata do percurso pedestre que liga a Algarvia ao Pico da Vara. Estamos na ponta Este

da ilha, na zona nordestina. No caminho testemunha-se a apregoada “força da Natureza” que marca a paisagem serpenteante. Ora vê-se o azul do mar, ora vê-se o verde intenso dos fetos que teimam em revestir as montanhas cortadas pelo homem para fazer estradas. O trilho agora é pedestre e antigamente usado para aceder ao mato onde se produzia carvão e maneava gado. As altas criptomérias deram lugar às rasteiras gramínias. Ao contrário do que aconteceu com os navegadores dos Descobrimentos, grita-se “mar à vista” quando o olhar vislumbra a costa sul da ilha. Dos 1103 metros do Pico da Vara, ponto mais alto de São Miguel, o alcance será outro. A altitude não chegará para ver a Lagoa do Fogo, bem ao centro da ilha, e ainda menos a ponta Oeste. Estamos em território de lagoas. Majestosas e famosas como

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Banhos QuentesUm caminho de terra vermelha contrasta com o verde da vegetação abundante. Imponentes fetos-arbóreos saúdam o visitante, acompanhados dos súbditos louro, hera, urze, incenso e malfurada. São a guarda de honra da Cascata Velha. Veios ocre vivo abraçam a água translúcida que escorre rocha abaixo até pousar num pequeno lago de água a borbulhar. A temperatura quente convida ao banho. Tal como na piscina do Parque Terra Nostra de cor acastanhada devido à presença de ferro. Águas naturais quentes: um dos prodígios de São Miguel.

e branco serão as cores predominantes também nos Paços do Concelho, na Igreja Matriz de S. Sebastião, nos restantes conventos e ermidas da cidade. No interior da Igreja do Colégio reina o dourado da talha, aqui encontrada numa das reuniões mais amplas e felizes do país. E há os matizes de verde dos vários jardins botânicos. E ainda o azul das Portas do Mar, porto de cruzeiros e de lazer, com piscinas oceânicas a completar a paleta de cores que compõe este património de excepção. A Loja dos Açores assim o demonstra, em ponto pequeno, com oferta de produtos regionais genuínos para levar e mais tarde recordarO dramatismo cromático continua na deslocação à Ribeira Grande, onde o negro do basalto parece mais carregado e, ao mesmo tempo, luzidio. Contradição própria de quem depara com a escada monumental no largo da Igreja de Nossa Senhora da Estrela, de singular torre sineira negra. A incursão barroca tem capítulo extravagante na Igreja do Espírito Santo e respectiva fachada convexa com duas portas. Após passar pelos Paços do Concelho com escadaria exterior e torre do relógio, aprecia-se o ex-líbris local: a Ponte dos Oito Arcos. O azul do mar ressurge, por entre as porções de circunferência, e invoca o visitante.Retoma-se a paisagem de lombas, vales e planícies verdes, manchadas pela brancura das vacas que pastam. Os tons escuros regressam sob forma de um melro-negro que esvoaça, um xaile que cobre uma cabeça idosa ou umas botas de borracha usadas por quem anda na lavoura. O azul invade de novo o olhar nas piscinas naturais dos Mosteiros ou de Vila Franca do Campo, ambas com ilhéus sobranceiros a comporem o bilhete-postal perfeito. Ou na Caloura, onde o mergulho no oceano é actividade que pede meças ao estender uma toalha nas praias de Água d’Alto ou do Pópulo. Regressa o verde nas plantações de chá de Porto Formoso e Gorreana que parecem formar um mar de ondas de folhas. Pausemos o nosso desfile colorido para conhecer por dentro os museus--fábrica e provar o chá açoriano. E agora dilua--se verde e azul na cascata da Achada, inserida no parque natural da Ribeira dos Caldeirões que ostenta com orgulho o moinho de água e a casa do moleiro devidamente recuperados. Estamos prontos para as Furnas, vale de grande lagoa e de localidade misteriosa em que as fumarolas surgem em cada bueiro de muro ou de calçada. Perto das caldeiras naturais que fervilham com constância, homens retiram de buracos no solo, com a força de braços que puxa uma corda, grandes sacos. Lá dentro estão

as panelas que acomodam os ingredientes do célebre cozido das Furnas, que leva cinco horas a cozer no calor geotérmico desta terra tão fecunda e cativante. Tempo de regressar ao trilho inicial. Ou quase. Das Furnas é um pulo até à Praia da Amora, onde começa o percurso pedestre PR10SMI. São quase seis quilómetros, maioritariamente junto à costa, com subidas e descidas, a atravessar ribeiras, pequenas praias, vinhas e adega tradicionais. Termina na Lobeira, ponta pertencente à freguesia da Ribeira Quente. É assim que o coração está. Cálido e aconchegado por uma ilha que consegue ter sempre mais um deslumbre à nossa espera.

Miradouros do NordesteA rota junto à costa nordestina obriga a paragens sistemáticas. Os miradouros desta zona proporcionam paisagens vertiginosas que apenas deliciam o olhar porque o belo nunca apoquenta. Além das panorâmicas, funcionam como locais de lazer. Os espaços estão primorosamente ajardinados e possuem grelhadores para preparar refeições. Há abundância de bancos e mesas abrigados e nalguns casos até existem mini parques infantis.

Qualidade e DiversidadeA ilha está dotada de um extenso parque hoteleiro de quatro e três estrelas, numa geografia que deriva de Ponta Delgada para localidades como Caloura, Vila Franca do Campo ou Ribeira Grande. Nas Furnas, o Terra Nostra Garden Hotel prima por estar integrado no luxuriante Parque Botânico. São Miguel apresenta ainda uma oferta interessante de Hotel-Apartamentos.

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Há dezenas de tesouros escondidos algures. Não assumem obrigatoriamente a forma de baú com moedas de ouro. Os aventureiros dos nossos dias deslumbram-se mais com paisagens naturais. O Geocaching permite-lhes chegar a esses sítios especiais.Regressamos ao tempo dos piratas, graças a este jogo de caça ao tesouro. A diferença é que em vez de velhos mapas com um X a marcar o destino, a rota é determinada por coordenadas de GPS. O objectivo é descobrir “caixas” que foram escondidas por alguém. E depois partilhar a aventura da descoberta através do sítio de Internet www.geocaching.com (onde também pode ser consultada a listagem de caches formalizadas), com descrições e fotografias do momento e do local. As Caches tradicionais consistem num invólucro (uma tupperware, uma caixa de munições, um balde...), que possa abrigar, no mínimo, um caderno (log book) onde os geocachers assinalam a descoberta do tesouro. Caso a cache inclua outros brindes, a regra de ouro é deixar um artigo, de valor igual ou superior, em troca daquele que se retirar. A comunidade de geocachers regista actualmente um grande desenvolvimento. Estima-se que existam cerca de quatro mil geocachers em Portugal. Algumas personalidades VIP, como Jorge Gabriel, Carlos Alberto Moniz ou Cândido Barbosa, testaram esta actividade nos Açores e gostaram.

O geocaching pratica-se de forma livre, isoladamente, em família, com amigos... Ganha--se-lhe o gosto e a vontade de coleccionar novas caches. Algumas, mais não são que o próprio lugar: recôndito, desconhecido, de rara beleza. E neste casos há que fotografar-se no local e colocar a foto no sítio de Geocaching na Internet. A descoberta nem sempre é fácil. Recebidas as coordenadas GPS, o caminho mais directo para o ponto assinalado no mapa pode estar barrado por obstáculos naturais, como um rio ou uma escarpa. É preciso planear e encontrar a melhor rota até ao ansiado destino, num trajecto que por vezes representa um desafio técnico e físico.

Ligação umbilical com a NaturezaDada a beleza e diversidade do arquipélago, os Açores revelam-se um local fantástico para a prática desta actividade. Existe um inesgotável manancial de oportunidades para a colocação de caches, das mais simples às mais exigentes. Assumindo o Geocaching como um aliado activo na preservação e divulgação do ambiente (um dos princípios basilares da actividade é não deitar lixo para o chão durante o percurso), a lista de caches açorianas já ultrapassava os 130 registos no final de Novembro de 2009. Os “tesouros” contidos dentro da caixa não deslustram o verdadeiro prémio reservado aos

exploradores. Porque as caches tanto podem estar num local com vista para o memorável Ilhéu da Baleia, na Graciosa, como no passeio marítimo da Praia da Vitória, na Terceira. No singular Barreiro da Faneca, em Santa Maria, ou na Caldeira Velha de São Miguel. Junto a uma plantação de ananases ou às fábricas micaelenses de chá. No faialense vulcão dos Capelinhos ou na Caldeira de Santo Cristo de São Jorge. No Caldeirão da remota ilha do Corvo ou no Monte das Cruzes, nas Flores, ponto onde lendas se juntam a uma vista panorâmica da Vila de Santa Cruz para finalizar a caça ao tesouro com um sorriso nos lábios. Afinal de contas, tudo está bem, quando acaba bem.

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A Árvore GiganteO geocaching é uma ferramenta extraordinária para abrir os olhos aos visitantes e evitar que eles passem ao lado de locais distintivos. É o caso da cache “A Grande Araucária”, localizada na Lagoa das Furnas, em São Miguel, em que o geocacher é conduzido até uma araucária que impressiona pela dimensão. Trata-se de um dos exemplares mais velhos do mundo – se não mesmo o mais velho - desta espécie e representa uma visão gloriosa num cenário igualmente deslumbrante.

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Beleza reflectida Não faltam recantos ocultos para apreciar a paisagem onde desponta o verde exuberante, aqui e ali entrecortado pelo azul das lagoas e das hortênsias. Importa pouco se chegámos a este destino na procura de uma cache escondida. O deslumbramento está agora bem à vista.Apetece demorar na contemplação da Lagoa Funda, testemunho da actividade vulcânica mais recente do Grupo Ocidental, com o negro da caldeira a rodear o tom turquesa das águas. O cenário repete-se na Lagoa Comprida, bordeada por margens basálticas, mas o belo nunca cansa. Flores é uma ilha de lagoas. Podem-se ganhar dias a visitá-las, desde a Seca que teima em não fazer jus ao nome, até à Branca, cratera vulcânica de origem explosiva. Estamos num complexo de zonas húmidas que formam um pouso natural para a avifauna aquática. Em devido tempo, avistaremos espécies de aves migradoras. Mas restam lagoas por visitar. A Rasa e a Funda, desirmanadas por um declive e ainda assim tão próximas uma da outra, e a da Lomba, espécie de caldeira anã debruada por hortênsias a solicitar um passeio pela margem. Muda-se o cenário e entra o branco oriundo da espuma das águas que correm encosta abaixo. Flores também é sinónimo de cascatas. São às dezenas mas ganha em notoriedade a do Poço do Bacalhau, situada na Fajã Grande. A queda tem 90 metros de altitude. Em baixo, na lagoa formada pelas águas da cascata, a única vertigem existente é de um mergulho refrescante. Será o tónico ideal para rumar ao Poço da Alagoinha, miradouro privilegiado das inúmeras cascatas circundantes.Altura para conhecer o Sul da ilha. O trilho pedestre PR4FLO inicia-se junto ao miradouro da fajã de Lopo Vaz. Durará cerca de duas horas a descida até à fajã, num caminho de terra batida, calçada e degraus em pedra, e o regresso novamente ao local de partida. Mas uma vez em Lopo Vaz, o ponteiro do relógio parece exigir repouso. Para saciar a sede numa fonte com água potável, acariciar a areia negra da pequena praia, trocar olhares com as cabras selvagens que saltitam entre as rochas. E entender, em concreto, o porquê de estamos numa Zona de Protecção Especial. Para depois coleccionar essas memórias como se fosse o tesouro de uma cache.

Rocha dos BordõesNo sítio conhecido por Cabo Baixo das Casas, na freguesia do Mosteiro, reside um acidente geológico que se transformou num ex-libris das Flores. A Rocha dos Bordões é uma formação geológica caracterizada pela solidificação da rocha basáltica em altas colunas prismáticas verticais. São gigantescos bordões feitos em pedra. E são dos mais relevantes e impressionantes que há no mundo.

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Aldeia recuperadaEm termos de alojamento, além de dois hotéis, destaca-se a Aldeia da Cuada. As casas da aldeia, abandonadas pelos proprietários que emigraram para a América durante a década de sessenta do século passado, foram recuperadas por Teotónia e Carlos Silva, mantendo a traça rural mas adaptando-as às necessidades de um turismo de qualidade.

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A espeleologia tem nos Açores um destino de eleição, fruto da imensidão de grutas existentes. Algumas estão abertas ao público, mas a maior parte está por explorar. A ligação das ilhas à vulcanologia é no entanto mais ampla e umbilical: o poder criador da Natureza ardente manifesta-se em todo o lado.Um longo túnel, alumiado com fachos que parecem de castelo assombrado, providencia acesso à entrada do Algar do Carvão, na Terceira. Logo na primeira escadaria, percebe-se que estamos a dar os primeiros passos rumo a um mundo distinto do conhecido à superfície. Graças às excelentes condições de visitação, esta gruta inserida em área classificada como Monumento Natural Regional funciona como uma prodigiosa introdução à espeleologia. Caracterizado por finalizar numa lagoa alimentada por água da chuva (a qual seca no Verão e em anos de pouca pluviosidade), o Algar do Carvão tem nas estalactites e estalagmites de cor branca leitosa aquela que é considerada uma das visões mais exuberantes

e raras do conjunto das grutas açorianas.É obra. Todas as ilhas pertencentes ao arquipélago resultam da acumulação de materiais vulcânicos, ditando um património vulcano-espeleológico de dimensão quase infindável. Nas cavidades vulcânicas, despontam os tubos lávicos e os algares (antigas chaminés ou condutas de vulcões que se esvaziaram de lava). Ambos são locais de enorme fascínio. De certo modo, representam a concretização da viagem ao centro da terra, prometida na obra literária de Júlio Verne. As cavidades naturais já identificadas aproximam--se das três centenas. O Pico, ilha mais nova do arquipélago com cerca de 260 mil anos, acolhe a maior fatia: mais de 100 referências. Mas todas as ilhas, exceptuando o Corvo, apresentam estruturas subterrâneas vulcânicas conhecidas. Para os espeleólogos mais experimentados, os Açores constituem um cenário idílico. Além das grutas abertas ao turismo genérico, existem cavidades com pouca ou nenhuma intervenção humana que esperam uma hipótese de serem exploradas por especialistas.

Dos espaços facilmente visitáveis destaca-se, além do citado algar terceirense, a Gruta das Torres, no Pico, que consiste no maior tubo lávico do arquipélago. A Furna do Enxofre, na Graciosa, é reconhecida mundialmente devido a uma abóbada de grandes e perfeitas dimensões. Em São Miguel, é possível percorrer 1800 metros na Gruta do Carvão, através de três troços distintos. Novamente na Terceira, o tubo de lava da Gruta do Natal revela-se de grande carácter didáctico devido à facilidade de circulação e à ligação sentimental com a Sociedade de Exploração Geológica “Os Montanheiros”, instituição com papel fundamental no desenvolvimento da actividade da espeleologia – e não só – nos Açores.

Transversalidade vulcânicaRegressemos à superfície porque a vulcanologia não se resume ao que se passa debaixo da terra. Encontram-se vestígios da actividade vulcanológica mesmo nos locais mais insuspeitos. Principalmente por serem sítios de rara beleza, como as lagoas de São Miguel,

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Lavacorpo e alma de

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Vulcões paisagísticosPerante a visão das lagoas das Sete Cidades, das Furnas ou do Fogo, custa a acreditar que tamanha formosura seja resultado de processos eruptivos vulcanológicos. Talvez por essa razão, os antepassados locais se tenham dedicado a criar lendas para explicar a formação de tão extraordinárias lagoas. Actualmente, deslizar suavemente de parapente sobre as Sete Cidades ou as Furnas constitui uma forma fantástica de apreciar estes deslumbrantes fenómenos naturais. E para os amantes do contacto com a água, nada melhor do que entrar num caiaque para remar calmamente dentro dos vestígios de um vulcão.

Génese do conhecimentoO Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, no Faial, encontra-se instalado por debaixo da paisagem lunar deixada pela erupção. No museu subterrâneo recorre-se às tecnologias multimédia mais avançadas para mostrar a origem do Universo, da Terra e, com maior ênfase, das ilhas dos Açores. Um holograma sofisticado permite acompanhar a erupção do vulcão dos Capelinhos. Além do excepcional circuito interpretativo, destaca-se a arquitectura vanguardista do edifício. A rampa de entrada dissimulada na paisagem sinaliza o respeito pelo local. No interior, sobressai o enorme fuste a simular uma erupção e o aproveitamento do piso térreo do farol que ficou submerso pelas cinzas. A terminar a rota, é possível ascender ao cimo da torre outrora luminosa para obter panorâmica sublime da área circundante.

AÇORES2010Vulcanologia |

todas de tirar o fôlego – aliás, e em todas as ilhas, lagoas homenageiam em beleza essas origens vulcânicas. No Monte Brasil da Terceira, vulcão originário no mar que acabou por se ligar à cidade de Angra. No planalto central do Pico em que sobressaem o conjunto de cones vulcânicos alinhados e as lagoas do Capitão, Caiado e Peixinho. No Monte da Guia faialense, resultado de dois vulcões associados por um istmo, observatório especial para o casario da Horta e praia de Porto Pim. O fenómeno também não passa ao lado dos campos de lava em que se plantaram vinhas e dos infindáveis quilómetros de muros de pedra basáltica na ilha do Pico. Ou das piscinas naturais lávicas, espalhadas praticamente por todo o arquipélago. Das temperaturas quentes de cascatas, lagos e nascentes, locais de banhos lúdicos ou terapêuticos quando assim o ditam as riquezas minero-medicinais das águas. Das caldeiras e fontes de águas borbulhantes, numa terra aquecida que até serve para cozinhados. E das fumarolas activas no mar, que também apelam a descidas ao fundo, desta vez

com fato e equipamento de mergulho. Na Gruta das Torres, na ilha do Pico, a incursão ao interior da terra inicia-se com o acender da mini lanterna acoplada ao capacete protector. Caminha-se em chão de lava, às vezes tão liso como se fosse uma camada de alcatrão, outras vezes rugoso como um mar encrespado. Estamos no maior tubo lávico dos Açores, com mais de cinco quilómetros de extensão, mas o nosso percurso fica aquém dos 500 metros. Mais que suficientes. À passagem dos feixes de luz artificial, a gruta escura mostra-se magnânime na partilha dos tesouros escondidos no solo, tecto e paredes. Os bens preciosos assumem aqui formas de estalactites e estalagmites, bancadas laterais, bolas de lava, paredes estriadas e lavas encordoadas. Os nomes não fazem jus ao espanto provocado. Talvez por isso se queira vislumbrar, impregnada em blocos de lava negra, a cara da Mona Lisa ou a volumetria de uma baleia. Não duvidemos. Debaixo da terra, nos restos de uma erupção vulcânica, o mundo só pode ganhar contornos de fantástico.

Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos - Faial

Algar do Carvão - Terceira Parque Terra Nostra - São Miguel

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A actividade montanhista tem nos Açores o maior desafio possível em território nacional. Ponto mais elevado de Portugal, a montanha do Pico pode ser escalada de forma autónoma. E com o bónus de estar a pisar-se o vulcão que atrai todos os olhares. À vista desarmada, os 2351 metros de altitude da montanha do Pico parecem presa fácil. A empreitada de os subir é acessível. Mas também comporta dureza. O caminho é íngreme e em média, dependendo de factores como a condição física ou o estado atmosférico, a subida leva entre três a quatro horas. Escalar o Pico é por isso um desafio e, simultaneamente, um acto de auto-

conhecimento. Um teste ao corpo mas também às capacidades mentais e traços de personalidade. Um apelo à resistência e à perseverança. E caso se suba acompanhado, uma prova nos domínios do companheirismo e do espírito de entreajuda.Quem aceder a enfrentar o repto, guardará uma jornada memorável até ao ponto mais alto de Portugal. Chegados ao cume, ganha-se a satisfação pessoal de uma meta cumprida, servida com uma vista paisagística única, de espanto, isto caso a bruma não se tenha enamorado pelo topo da montanha. É então tempo de recuperar energias e deambular calmamente pela univocidade de um cone vulcânico que ainda não desabou para se

desfazer em cratera. Depois descer, sem pressa, fase que dura sensivelmente o mesmo tempo que levou a ascensão. Prossegue assim o teste às capacidades físicas e psíquicas dos que se agigantaram a domar a montanha.Existe um trilho marcado que permite realizar a escalada de forma autónoma. Na Casa da Montanha há acesso a um apoio inestimável: um aparelho de GPS/telemóvel que monitoriza cada passo do montanhista. Para que a jornada se faça em total segurança, quem se desviar da rota precisa será prontamente avisado por telemóvel para regressar ao carreiro demarcado. Nos casos de urgência, este sistema garante que possa ser prestado socorro de forma rápida e eficaz.A escalada também pode ser feita em grupo, com o auxílio de um guia especializado. A subida acompanhada permite conhecer de forma aprofundada a evolução geológica e o ecossistema da magnética montanha. Magnética porque, seja da ilha do Pico, seja das adjacentes Faial e São Jorge, o olhar procura sempre esta imponente referência que rasga o céu. No seu chapéu cónico perfeito, por vezes coberto de neve no Inverno, o Pico parece saudar o visitante. E convidá-lo para a aventura de lhe tocar o topo.

AÇORES2010 |Montanhismo

Escalar as falésiasA escalada desportiva, onde a segurança é tema privilegiado, é uma actividade em expansão nos Açores. As pequenas falésias de rocha basáltica são um local extremamente apetecível para esta prática. Em São Jorge, existem sectores equipados na Urzelina e na Fajã do Ouvidor. No Pico, pode-se escalar na Calheta de Nesquim e no Cachorro. Na ilha de São Miguel existem zonas preparadas na Ferraria e em Porto Carneiros. Na Terceira, as vias equipadas ultrapassam a centena, agregadas em três zonas. A da Chupa--Cabras (junto à circular de Angra do Heroísmo) e da Grota-do-Medo (freguesia de Posto Santo), ambas apropriadas para uma iniciação à escalada. E a da Chanoca (orla costeira na freguesia de São Mateus), que apresenta vias com nível de dificuldade mais elevado. Link: http://escalada.montanheiros.com

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AÇORES2010Negócios e Golfe |

O golfe nas ilhas açorianas é uma actividade turística. Mas também social. Ou até rural. Independente da forma, o deporto é sempre altamente paisagístico. Característica que enquadra igualmente na perfeição como cenário de congressos, seminários ou eventos de empresas.Numa paisagem já de si tão verdejante, os campos de golfe dos Açores pouco mais fazem do que aproveitar as condições naturais já existentes. Actualmente existem duas opções em São Miguel. O Campo de Golfe da Batalha ocupa 100 hectares numa zona que proporciona vistas para o mar. São 18 buracos de fairways longos e greens largos. O clubhouse, dotado de bares e restaurantes - uns só para jogadores

outros de luxo -, conta com uma sala de conferências para 300 pessoas. Já no Campo de Golfe das Furnas, situado numa área montanhosa, os fairways são enquadrados por lagos e fileiras de árvores de grande porte. Na Terceira, o Clube de Golfe situa-se entre Angra do Heroísmo e Praia da Vitória. Povoado de hortênsias e azáleas, o percurso passa por montes, vales e pequenos lagos. Graças aos preços acessíveis para habitantes da ilha, o Clube da Terceira representa um golfe de carácter social. Construído em 1954 por norte--americanos, o campo é hoje em dia um local onde jogam lado a lado o agricultor, o gestor, o médico ou o turista. Muitos associados têm o golfe nas veias dado que foram caddies nos

Múltiplos IncentivosSão Miguel, Terceira e Faial lideram em termos de infra-estruturas adequadas ao turismo de negócios. Além das capacidades tradicionalmente alocadas ao parque hoteleiro para a realização de eventos de pequena ou média dimensão, Ponta Delgada dispõe do Teatro Micaelense - Centro Cultural e de Congressos, cujo auditório alberga até 800 pessoas. A Terceira aposta no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, capacitado com dois auditórios para 900 e 200 pessoas servidos por cabines de tradução simultânea e equipamento multimédia, e no Auditório do Ramo Grande situado na Praia da Vitória (400 lugares). O turismo de incentivos também encontra guarida no Arquipélago. Uma viagem aos Açores tanto funciona como recompensa inesquecível para os melhores colaboradores, como para efectuar acções de formação empresarial, enquadradas em actividades como parapente, paintball, orientação, slide, mergulho, rappel, entre muitas outras, que dinamizam aspectos como o espírito de equipa ou a liderança.

Certeirastacadas

anos 50. A sala de congressos do Clube, com capacidade para 450 pessoas e inserida num clubhouse de arquitetura moderna, é utilizada pela população terceirense para momentos festivos como casamentos, baptizados e aniversários.Em grande dinâmica e expansão está o golfe rústico, jogado em pastagens com relva baixa e sem gado, onde se colocam bandeiras e “buracos” na relva (pneus ou desenhados com cal). Actividade lúdica em contexto rural, assume um importante cunho ambiental, dado utilizar recursos naturais já existentes. Já é frequente a existência de torneios em várias ilhas do Arquipélago, cujas condições são excepcionais para a prática desta nova modalidade.

Club House - Golf da Terceira

Portas do Mar - São Miguel

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O acervo patrimonial dos Açores não está limitado às tradicionais igrejas, embora elas sejam dignas de visita. Além de estruturas edificadas por mãos humanas, existem tradições e artes que se entrelaçam para formar uma manta cultural de excepção.A arquitectura açoriana é rica e diversa. Sobressai Angra do Heroísmo, na Terceira, por ser uma cidade Património Mundial da UNESCO. Sobejam casas senhoriais com magnífica traça preservada. Os conventos, mosteiros e igrejas, mais ou menos majestosos e liderados pela Sé Catedral, competem num jogo cromático com os modestos, mas bonitos, Impérios do Divino Espírito Santo. Angra, observada do Monte Brasil, é um arco-íris em forma de casario. As fachadas de cores garridas geram um calor quase tropical nos transeuntes. Muda-se de ilha e altera-se a paleta. No Pico, as adegas e casas rurais foram feitas com recurso à pedra vulcânica. Na zona do Lajido, o jogo de contrastes atinge o auge; o negro das paredes luta com as portas de madeira pintadas de vermelho vivo. Noutras ilhas predomina a alvenaria branca e a cantaria negra do basalto. Em Santa Maria, as casas rústicas sobressaem pela forma particular do conjunto forno/chaminé. Caminhemos na mesma ilha para regressar à arquitectura religiosa. Digna

de apreciar a fachada decorada com esses e curvas da Igreja da Nossa Senhora da Purificação. Já em São Jorge, admire-se a torre sineira da Urzelina, única parte da antiga igreja paroquial que sobreviveu à erupção vulcânica de 1808. Não se muda de ilha sem visitar a Igreja de Santa Bárbara (século XVIII), fascinante exemplar do barroco açoriano em que a ornamentação exterior de pedra basáltica afronta o interior de talha dourada. Na ilha da Graciosa, os tesouros estão guardados no interior da Igreja Matriz de Santa Cruz, sob a forma de seis painéis pintados, datados do século XVI. Em São Miguel, entre múltiplas escolhas, releve-se a Ermida da Nossa Senhora da Paz. Erguida num monte, funciona como miradouro sobre o casario e o ilhéu de Vila Franca do Campo. E não se perca, em Ponta Delgada a contrastante fachada Manuelina da Igreja Matriz, esculpida em pedra calcária, branca, ou a Igreja do Colégio, onde se guarda a uma das mais ricas obras em Talha Dourada do País. Deixemos a arquitectura chegados a este ambiente inspirador. Restam muitos museus onde entrar. O de Carlos Machado, em Ponta Delgada, tem vasto espólio nas áreas da botânica, zoologia, etnografia, escultura, pintura e arte sacra. Na terceirense Angra, o dos Montanheiros auxilia a compreensão da geodiversidade açoriana. E na ilha do Pico

AÇORES2010 |Património

Preciosidades GastronómicasTerra de peixe e carne abundante, os Açores apresentam uma gastronomia típica com um carácter e paladar bem vincado. Impossível resistir ao Queijo de São Jorge, símbolo de uma ilha e de um arquipélago. Ou às alcatras de peixe e carne, saborosamente confeccionadas na Terceira. E os torresmos, a linguiça com inhame, o polvo guisado. As lapas com Molho Afonso já serviram de entrada a este espólio gastronómico. E nisto de património, convém não esquecer o famoso Cozido das Furnas. Quase a roçar o religioso, afirme-se que são todos sabores divinos.

Culturalarco-íris

relata-se a epopeia baleeira dos Açores. Na localidade de Santo Amaro ainda é possível encontrar a céu aberto um estaleiro activo. Mesmo ao lado, revisitam-se velhas histórias da construção naval num acarinhado museu particular. Para aprofundar ainda mais na história, nada melhor do que mudar de vestimenta para o fato de mergulho. Na Terceira, ao largo de Angra, um museu singular: o Parque Arqueológico Subaquático.

Igreja da Nossa Srª da Purificação - Vila do Porto, Santa Maria

Parque Arqueológico Submarino - Angra do Heroísmo, Terceira

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as portas das casas, com comida posta nas mesas, para a recepção dos visitantes. Depois estala o foguete que dá a saída ao touro, manobrado à corda por sete “pastores”, para as ruas da localidade. As Festas do Divino Santo Espírito são vividas com semelhante devoção. Repletas de diferentes etapas, as festividades estendem-se por oito semanas em redor da época pascal.

Heranças Liberais

O encanto da Terceira começa quase inevitavelmente por uma paixão irredutível pela Muito Nobre, Leal e Sempre Constante Cidade de Angra do Heroísmo. Mas a ilha está repleta de outros mistérios, negros ou subaquáticos, para descobrir com veia libertária. Da Angra do Heroísmo, terra de ideais e lutas liberais, já muito se sabe. É de um prazenteio desarmante, que deixa embevecido mesmo o viajante mais resoluto. Podem gastar-se horas em ruas e vielas secundárias, a encontrar recantos especiais, nos intervalos das visitas às artérias e monumentos principais. Além desta magnificência terrestre, Angra também surpreende pela fecundidade no fundo do mar.Inaugurado em 2006, o Parque Arqueológico Subaquático da Baía de Angra contempla dois locais arqueológicos passíveis de visita: o naufrágio do vapor Lidador e o núcleo conhecido por Cemitério das Âncoras, uma jazida de cerca de três dezenas de âncoras pertencentes a diferentes estilos e séculos. Estes museus subaquáticos podem ser vistos autonomamente – é necessária a posse de caderneta de mergulho válida – ou através dos serviços de um operador de turismo. Debaixo de água, os mergulhadores encontram um circuito identificado com placas explicativas. Em piso seco, a Terceira revela-se uma ilha igualmente ordenada. A paisagem é retalhada pelos muros de pedra e hortênsias que delimitam as pastagens, criando “cerrados” geralmente em forma de quadrícula. O arranjo estende-se às piscinas naturais da Salga, de Porto Martins, dos Biscoitos. O porto de pesca de São Fernando, com os barcos imaculadamente pintados e conservados, é prenúncio da disciplinada Praia da Vitória. Do miradouro da Serra do Facho, percebe-se bem a extensão do areal e da baía, considerada excepcional para a prática do triatlo. O trajecto da vulcanologia leva-nos até às fumarolas das Furnas do Enxofre

e ao visitável tubo lávico da Gruta do Natal. Tem início e término junto à gruta o trilho PRC1TER dos Mistérios Negros. Com um nível difícil, os caminhos de terra batida e pastagem depressa cedem passo a um rumo de pé posto. Atravessa-se uma mata de criptoméria, queiró, urze, cedro-do-mato, aprecia-se a lagoinha de Vale Fundo, e prossegue-se por uma zona rica em vegetação endémica. Uva-da-serra, louro, folhado, azevinho, tamujo servem de antecâmara aos mistérios propriamente ditos: três domos resultantes de lavas recentes. O negrume resulta de ainda não estarem cobertos de vegetação. Resta encontrar o Pico Gaspar e ascender ao topo. Dali não se avistam os parques subaquáticos de Angra. Mas observa-se uma cratera cheia de património endémico, a mostrar o lado selvagem e resiliente da Terceira.

Touradas à CordaApetece parar junto a um prado para observar os portentosos animais que nas míticas touradas da ilha desvairam a compostura terceirense. As touradas à corda são uma tradição popular que resultam em autênticos arraiais. Abrem-se

TERCEIRA

AÇORES2010Património |

Reino das QuintasDa vasta oferta de hotelaria de três e quatro estrelas, espalhada por Angra do Heroísmo e Praia da Vitória, destaca-se o Hotel Caracol pela diversidade de actividades que propõe aos hóspedes. No Forte de São Sebastião, sobre a Baía de Angra, está instalada uma Pousada de Portugal. A Terceira contempla ainda uma belíssima oferta de turismo rural, com relevo para as quintas. A Quinta do Galo engloba uma área pedagógica onde as crianças contactam com realidades próprias do campo. Na Quinta do Martelo, recria-se um ambiente rural terceirense, podendo o hóspede participar nas fainas ainda existentes ou assistir aos ofícios tradicionais de sapateiro, ferreiro, barbeiro, marceneiro, latoeiro, oleiro e tanoeiro. A solarenga e oitocentista Quinta das Mercês, onde ficaram os Reis de Espanha, debruçada sobre o Atlântico, prima pelo requinte, com alguns dos quartos a oferecerem jardim privativo, entre muitas outras distintas mordomias.

as portas das casas, com comida posta nas e ao visitável tubo lávico da Gruta do Natal.

Heranças Liberais

O encanto da Terceira começa quase

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Praia da Vitória

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AÇORES2010 |Agenda

FEVEREIRO1: Senhor Santo Cristo (Praia do Almoxarife/Faial)1: Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande (S. Miguel)12/16: Festejos de Carnaval (todas as ilhas)

MARÇO19: Festas de S José (Ponta Delgada e Ribeira Chã/S. Miguel)

ABRILFestas do Espírito Santo (início das festas – todas as ilhas)4: Domingo de Páscoa (todas as ilhas)4: Triatlo do Peter Café Sport (Faial)11: Festa do Senhor dos Enfermos (S. Miguel)23/25: Festas de S. Jorge

MAIOaté Outubro: Touradas à Corda (Terceira)9: Festas do Santo Cristo dos Milagres (Ponta Delgada/S. Miguel)15/16: Festa da Nossa Senhora das Angústias (Faial)23: Dom. do Espírito Santo (todas as ilhas)24: 2ª Feira do Espírito Santo / Dia da Autonomia (todas as ilhas)23/30: I Bodo e II Bodo (Terceira)30: Domingo da Trindade (todas as ilhas)

JUNHOFesta de S. Miguel Arcanjo (Vila F. do Campo/S. Miguel)3: Corpo de Deus (Povoação/S. Miguel)19/28: Sanjoaninas (Terceira)19/28: Feira Regional de Artesanato (Terceira)23/24: Festas de S. João (S. Miguel/Sta Maria/Faial/Flores)29: Cavalhadas de S. Pedro (Ribeira Grande/S. Miguel)29/03 Julho: Festa do Chicharro (Ribeira Quente/S. Miguel)

JULHO4: Aniversário da Cidade da Horta (Faial)4/9: Semana Cultural de Velas (S. Jorge)3/7: Festas dos Biscoitos (Terceira)8/14: Festas do Concelho do Nordeste (S. Miguel)9/11: Festival de Música Tradicional Maia Folk (Sta Maria)

15/17: SATA Rally Açores (S. Miguel)16/18: Festival Blues - Anjosblues (Anjos/Sta Maria)16/19: Festa do Imigrante (Lajes/Flores)16/20: Festa de Santa Maria Madalena (Pico)17/25: Festas do Porto Judeu (Terceira)18/19: Rally Ilha Azul (Faial)20/24: 4ª Semana da Juventude da Maia (Ribeira Grande/S. Miguel)20/25: Festival de Música (Calheta/S. Jorge)20/25: Semana da Juventude (Praia Formosa/Sta Maria)23/25: Festas de Nª Sra do Bom Despacho (Almagreira/Sta Maria)23/01 Agosto: Festas de S. Sebastião (Terceira)29: Festa do Baleeiro (S. Vicente Ferreira/S. Miguel)29: Festa de Santa Ana (Furnas/S. Miguel)28/31 Agosto: Cais de Agosto (S. Roque/Pico)30/08 Agosto: X Edição da Feira Gastronómica do Atlântico (Praia da Vitória/Terceira)31/8 Agosto: Festas do Concelho da Praia da Vitória31/8 Agosto: Feira Regional de Artesanato (Praia da Vitória/Terceira)

AGOSTOFesta do Baleeiro (S. Vicente Ferreira – S. Miguel)Festival da Povoação (S. Miguel)1: Festa do Santíssimo (Ribeira Chã – S. Miguel)1/2: Festas do Coração de Jesus (Santa Bárbara – Sta Maria)1/8: Semana do Mar (Horta – Faial)4: Festa da Nossa Sra. de Lurdes (Faial e Pico)6: Festa do Bom Jesus Milagroso (Pico)6/11: Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres (Graciosa)7/14: Festas de 15 de Agosto (Vila do Porto/Sta Maria)8: Festa de S. Nicolau (Sete Cidades/São Miguel)8/14: Festival dos Moinhos (Corvo)8/14: Festival Internacional de Folclore (Terceira)9/13: VI Feira de Artesanato e Sabores Tradicionais (Praia da Vitória/Terceira)11/14: Rally de Santa Maria14/16: Festival Maré de Agosto (Sta Maria)15: Festa de Nª Sra dos Anjos (Água de Pau/S. Miguel)15: Nª Sra da Graça (Praia do Almoxarife/Faial)15: Festa de S. Roque (Pico)

15/18: Festival Baia do Rock (S. Lourenço/Sta Maria)16/22: Festa do Pescador (Caloura/S. Miguel)22/28: Semana dos Baleeiros (Lajes do Pico)22/28: Festa do Bom Jesus da Pedra (Vila Franca do Campo/S. Miguel)27/29: Festival da Maia (Maia/Sta Maria)27/29: Festas da Conceição (Faial)28/04 Setembro: Festas de S. Bartolomeu (Terceira)

SETEMBROFestas do Espírito Santo (todas as ilhas)3/5: Festa da Vinha e do Vinho dos Biscoitos (Terceira)3/5: Nossa Senhora da Penha de França (Fajã/Faial)3/5: Angra Rock 2010 (Terceira)5: Festas do Varadouro (Faial)5/6: Festa de Nª Sra Mãe de Deus (Povoação/S. Miguel)10/11: Rally Ilha Lilás (Terceira)11: 7 Maravilhas Naturais de Portugal (Lagoa das Sete Cidades/S. Miguel)12: Festa de Nª Sra dos Milagres da Serreta (Terceira)12: Festas de Nª Sra Dá Pureza (Lajido - Sta Luzia/Pico)24/27: Festas de S. Paulo (Ribeira Quente/S. Miguel)27: Dia Mundial do Turismo28/29: Festa de Nª Sra de Lurdes (Feteira/Faial)

OUTUBROOutono Vivo (Praia da Vitória)SATA Azores Open (S. Miguel)Festival do Ramo Grande (Praia da Vitória/Terceira)1/3: IX Festival Angra Jazz (Angra do Heroísmo/Terceira)2/9: Festas das Lajes (Terceira)10: Festa de Nª Sra do Rosário (Lagoa e Rabo de Peixe/S. Miguel)22/24: Wine in Azores (Ponta Delgada/S. Miguel)

NOVEMBRO11: Festa de S. Martinho (todas as ilhas)

DEZEMBRO8: Festa de Nª Sra da Conceição (Faial/Terceira)8: Dezembro em Festa (Faial)

A rica agenda cultural, desportiva e religiosa dos Açores confere aos seus eventos uma dimensão mística inigualável ao dar-lhes por palco os ímpares cenários naturais e de mistério que caracterizam aquelas paragens. As manifestações de tradições e cultura popular, sacra e profana sintetizam as múltiplas influências que ali aportaram ao longo dos séculos. Destacam-se, como grandes festividades religiosas, com marca fortemente comunitária em todas as ilhas, as festas do Espírito Santo, a par das Festas do Santo Cristo, em Ponta Delgada, e das Sanjoaninas, em Angra do Heroísmo. No Faial, Pico e S. Jorge, a tradição baleeira faz prevalecer as corridas dos botes baleeiros associadas a diversos eventos.Na Terceira, todos as efemérides são pretexto para as leais e sempre vibrantes “Touradas à Corda”, que nada invejam ao Festival de Pamplona (Espanha). O “Entrudo” expressa modos únicos a nível nacional de festejar o Carnaval. A grande diversidade de manifestações dá lugar a uma infindável agenda cultural com espectáculos de música popular e erudita, dança, teatro, exposições de arte, fotografia ou artesanato, que com grande frequência levam a paragens açorianas nomes e expressões maiores da cultura nacional e mundial. Os impressivos cenários naturais, com frequência crescente, são palcos

Eventos em cenários místicosmísticos de eventos, caso das Sete Cidades, onde, em 2009, foi lançado o álbum “Mind at Large”, dos Blasted Mechanism, ou da Gruta do Natal, na Terceira, “sala” de místicos concertos. Rico é o calendário açoriano associado ao mar. A famosa Semana do Mar, na Horta, faz rumar aquele Porto corridas oceânicas, iates e velejadores de todo o mundo. O Festival Marés de Agosto, em Santa Maria, com os seus concertos musicais de culto, arrasta à ilha jovens de todas as paragens. O Festival Angra Jazz, leva á Terceira intérpretes maiores deste género. Concursos internacionais de fotografia subaquática têm lugar no Arquipélago. Os Açores há muito se afirmaram nas provas de pesca desportiva. As ondas das ilhas estão a cativar provas dos circuitos nacional e mundial de surf, o mesmo se aplicando ao mergulho. No que à ciência se refere, o Arquipélago pontua no calendário científico nacional nos eventos ligados ao Ambiente, ao Vulcanismo e ao Mar, atraindo especialistas nacionais e internacionais nas respectivas áreas. Aliás, verifica-se uma tendência crescente para o que se pode chamar de turismo científico em direcção aos Açores, que bem souberam converter as suas múltiplas “dádivas” da natureza em referências europeias e mundiais de estudo. Até porque só se pode amar o que se conhece.

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