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  UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO - LATU SENSU - GESTÃO PENITENCIÁRIA PROBLEMAS E DESAFIOS UMA ANÁLISE DOS FATORES DE RISCO DA P ROFISSÃO DO AGENTE PENITENCIÁRIO: CONTRIBUIÇÕES PARA UMA POLÍTICA DE SEGURANÇA E SAÚDE NA GESTÃO PENITENCIÁRIACURITIBA 2006

Ademildo Passos Correia2006

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risco da profissão de agente penitenciário

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO - LATU SENSU - GESTÃO PENITENCIÁRIAPROBLEMAS E DESAFIOS

“UMA ANÁLISE DOS FATORES DE RISCO DA PROFISSÃODO AGENTE PENITENCIÁRIO: CONTRIBUIÇÕES PARAUMA POLÍTICA DE SEGURANÇA E SAÚDE NA GESTÃO

PENITENCIÁRIA”

CURITIBA

2006

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ADEMILDO PASSOS CORREIA

“UMA ANÁLISE DOS FATORES DE RISCO DA PROFISSÃODO AGENTE PENITENCIÁRIO: CONTRIBUIÇÕES PARAUMA POLÍTICA DE SEGURANÇA E SAÚDE NA GESTÃO

PENITENCIÁRIA”

Monografia apresentada ao Curso de Especialização - Latu Sensu -  Gestão Penitenciária: Problemas eDesafios, Departamento Ciências Sociais, UniversidadeFederal do Paraná, como requisito para obtenção dograu de Pós-Graduado.

Orientador: Pedro BodêCo-orientadora: Cíntia Helena dos Santos

CURITIBA2006

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 CORREIA, Ademildo Passos. UMA ANÁLISE DOS FATORES DE RISCO DAPROFISSÃO DO AGENTE PENITENCIÁRIO: CONTRIBUIÇÕES PARAUMA POLÍTICA DE SEGURANÇA E SAÚDE NA GESTÃO

PENITENCIÁRIA. 2006. 66 páginas. Monografia no Curso de Especialização -  LatuSensu -  Gestão Penitenciária: Problemas e Desafios – Departamento de CiênciasSociais, Universidade Federal do Paraná, 2006.

RESUMO

O presente trabalho possui o intuito de se constitui em conhecer os reflexos do

exercício profissional do agente penitenciário nas suas dimensões psicossociais,com base nas análises do seu cotidiano de trabalho e visando contribuir para que oEstado desenvolva uma Política de Segurança e Saúde para esses trabalhadores.Diante da pesquisa elaborada, dos subsídios encontrados na legislação, nasdemandas e expectativas dos Agentes Penitenciários é que se entende urgente aadoção de medidas como as que estão sistematizadas a seguir baseadas nasDiretrizes apresentadas pelo Ministério do Trabalho.

Palavras-chave:  Redes de Proteção ao Trabalho, Estresse, Segurança e Saúde. 

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 06

2 DESENVOLVIMENTO ..................................................................... 11

2.1. R EFERENCIAL TEÓRICO  .......................................................... 11

2.1.1. A Caracterização do Cotidiano Penitenciário: Uma Realidade

Vivida que não está Inscrita nas Redes de Proteção do Trabalho............. 11

2.1.2. O trabalho do Agente Penitenciário ...............................................  14

2.1.2.1 Ambiente Físico............................................................................ 14

2.1.2.2 Ambiente Psicológico........................................... ....................... 17

2.1.2.3 Ambiente Institucional................................................................. 19

2.1.2.3.1 A Lei de Execução Penal e o Trabalho Penitenciário.............. 19

2.1.3 Sistematização da Profissão: Do contrato À Prática....................... 20

2.1.4 Relações de Trabalho Sob os Aspectos Psicossociais..................... 23

2.1.4.1 Conjuntura Atual: Políticas de Governo...................................... 23

2.2. A SAÚDE FISICA E MENTAL DOS TRABALHADORES QUE ATUAM EM

PROFISSÕES DE CARATER  PERIGOSO, PENOSO E I NSALUBRE.................................  32

2.2.1 Sindrome de Burnout................................ ...................................... 33

2.2.2 Estresse............................................................................................ 37

2.3 MEDIDAS DE ORDEM LEGAL E OPERACIONAL PARA COMPOR AS 

POLITICAS DE SEGURANÇA E SAUDE NO TRABALHO...................................... 42

2.3.1 As Contribuições da Medicina e Segurança do trabalho................. 43

2.4 METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................ 44

2.4.1 Caracterização do universo da Pesquisa...................................... ... 44

2.4.2 Analise dos Dados ............................. ............................................ 452.4.2.1 Identificação.................................................................................. 45

2.4.2.2 Tempo de Serviço na Função de Agente Penitenciário................ 45

2.4.2.3 Formação Acadêmica.................................................................... 45

2.4.2.4 Informações de Caráter Sócio- Familiar...................................... 46

2.4.2.5 Informações de caráter econômico-financeiro.............................. 46

2.4.2.6 Informações de caráter de segurança e medicina do trabalho....... 46

2.4.2.7 Avaliação de Ordem Profissional................................................. 472.4.3 Interpretação dos Dados................................................................... 48

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3 CONCLUSÃO ..................................................................................... 52

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 60

ANEXO I – Modelo de Questionário ................................................... 62

ANEXO II – Regimento Interno da PEL – Resolução nº. 121/93 –

SEJU ....................................................................................................... 63

ANEXO III – Manual de Saúde e Segurança do Trabalho ............... 64

ANEXO IV – Reportagens ................................................................... 65

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa foi desenvolvida durante o ano de 2006 como

requisito para a titulação no curso de pós-graduação Latu Sensu em Gestão

Penitenciária – Problemas e Desafios, realizado pela Universidade Federal do

Paraná em convênio com o Ministério da Justiça.

O Objetivo Geral se constitui em conhecer os reflexos do exercício

profissional do agente penitenciário nas suas dimensões psicossociais, com base

nas análises do seu cotidiano de trabalho e visando contribuir para que o Estadodesenvolva uma Política de Segurança e Saúde para esses trabalhadores.

Com a meta de apreender esse objetivo geral, os objetivos

específicos são:

1. Caracterizar o cotidiano de trabalho penitenciário, evidenciando os fatores

que contribuem para que o exercício dessa profissão seja uma atividade de riscopara o trabalhador.

2. Descrever os ambientes físico, psicológico e institucional onde o agente

penitenciário desenvolve seu trabalho;

3. Demonstrar as prerrogativas institucionais e legais dessa profissão sob a ótica

dos órgãos oficiais e da legislação;

4. Analisar aspectos psicossociais como família, situação econômica e a saúde

física e mental dos trabalhadores que atuam em profissões de caráter perigoso,

penoso e insalubre conforme as ciências da Segurança e Medicina do trabalho;

5. Descrever as Políticas Públicas destinadas a este setor, assim como o modo

como estas são operacionalizadas.

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A relevância social que justifica a realização deste estudo se inscreve

na importância que o trabalho penitenciário representa para a sociedade e para os

sujeitos da execução penal. Vale ressaltar que a questão penitenciária tem se

constituído em um desafio que evocam todos os atores ligados às áreas das

ciências sociais, dos direitos humanos, da segurança e da paz social.

Desenvolver um trabalho penitenciário voltado às garantias dos

direitos humanos do preso em seu processo de ressocialização e conciliar os

interesses de segurança da população constitui-se na tarefa mais árdua da

profissão. Do ponto de vista da profissão a contribuição mais relevante que se

espera com este estudo é desvelar os fatores de risco para a saúde e segurança dotrabalho de tal maneira que estes fatores possam ser levados em consideração nas

políticas de segurança e medicina do trabalho. No que se refere à ciência

penitenciária e da administração, este estudo se torna relevante na medida em que

busca, na pesquisa da realidade, evidenciar as relações entre os fatores

determinantes da profissão, a teoria da medicina e segurança do trabalho e os

programas de gestão. Estas relações podem evidenciar estratégias mais adequadas

no sentido de alcançar e garantir a saúde e a segurança do trabalhadorpenitenciário.

Nos últimos anos, o Governo Federal vem envidando esforços no

sentido de promover uma Política Nacional de medicina e segurança do trabalhador

tendo em vista o caráter social e humano destas medidas e considerando,

principalmente, a importância dessa questão para consolidar o desenvolvimento do

país com base nas relações da produção.

Na definição destas políticas, o Governo central requisita a

participação de todos os segmentos e esferas da administração pública.

É nessa linha de análise que se espera contribuir para que o Estado

do Paraná detenha os subsídios necessários para desenvolver uma política de

gestão penitenciária comprometida com a medicina e a segurança do trabalho

penitenciário.

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O problema que deu origem a esta pesquisa foi a real relação entre o

trabalho do Agente Penitenciário e uma série de agravos a saúde física e mental.

A ciência reconhece que atividades repetitivas, que envolvem

pessoas, são estressantes ou desgastantes, resultando em um quadro de

síndromes, doenças e sintomas que estão diretamente relacionadas ao trabalho.

Síndromes como Burnout, prisionização, Estocolmo, absenteísmo profissional,

abstinência, estresse são passíveis de acometer profissionais que atuam sob

condições adversas.

A legislação vigente, resultado de políticas de segurança e medicinado trabalho, descreve e orienta para a promoção de medidas que minimizem, ou,

que reduzam os danos para todos os trabalhadores, inclusive com possibilidade de

redução da jornada de trabalho e ou tempo de serviço.

Diante desse quadro o problema se constitui da seguinte questão:

quais os fatores de risco da profissão do agente penitenciário e quais as políticas de

medicina e segurança do trabalho adotado pelo Departamento Penitenciário doParaná para atender a estas demandas?

Na prática, existem riscos inerentes à profissão que se refletem na

saúde e na segurança, mas não podem ser minimizados porque fazem parte da

característica da função. Por exemplo, as atividades repetitivas e o convívio

constante com a massa carcerária. No entanto, a dinâmica penitenciária comporta

mecanismos preventivos, não somente do ponto de vista da atividade intramuroscomo do desenvolvimento pessoal e profissional de uma maneira mais ampla. Há

fatores que interferem na qualidade de vida do agente penitenciário, na sua

longevidade e expectativa de vida que poderiam ser equacionados, minimizados, ou

preventivamente tratados numa perspectiva da Medicina e Segurança do Trabalho.

Estes fatores se evidenciam na forma de reflexos na vida do agente penitenciário

Após alguns anos de exercício da profissão, podemos constatar reflexos destes

fatores na vida de alguns agentes penitenciários.

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A metodologia utilizada neste estudo foi uma análise quantitativa e

qualitativa da pesquisa documental envolvendo a legislação e políticas públicas

referentes ao trabalho no Sistema Penitenciário do Paraná e à Medicina e

Segurança do trabalho, e também dos dados obtidos através de observação direta e

aplicação de questionário. Foram aplicados 27 questionários. Os sujeitos foram

escolhidos aleatoriamente entre os agentes penitenciários da Penitenciária Estadual

de Londrina.

A partir da teoria e dos dados empíricos coletados junto aos relatórios

do Departamento Penitenciário se promoveu uma análise de conteúdos dos dados

de maneira que ao final foi possível descrever algumas situações e estratégiasapontadas pela teoria como medidas viáveis á promoção de uma política de gestão

da medicina e segurança do trabalho aos moldes das propostas no Programa

Nacional que estabelece as diretrizes para todas as esferas do poder publico e da

iniciativa privada.

No primeiro capítulo se desenvolveu uma descrição e caracterização

da realidade, evidenciando-se os aspectos mais gerais do cotidiano penitenciário. Asinformações de ordem familiar, social, profissional, institucional, e do ambiente físico

foram descritas com base nas observações diretas corroboradas pelas

documentações oficiais do DEPEN-PR.

O ambiente institucional; as requisições institucionais dessa

profissão: a lei de execução penal e o trabalho penitenciário. A sistematização da

profissão: do contrato à prática. As relações de trabalho sob os aspectospsicossociais; família; econômico-financeira; a saúde física e mental dos

trabalhadores que atuam em profissões de caráter perigoso, penoso e insalubre.

Aspectos legais e institucionais das políticas e proteção ao trabalhador:

A legislação pertinente, as diretrizes do Ministério do trabalho

orientaram a analise sobre as novas perspectivas apontadas pelo Governo Federal.

No campo da medicina e segurança do trabalho foram analisadas a doenças do

trabalho mais com uns às profissões que trabalham com pessoas.

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Ao final foram elaboradas algumas possibilidades de sistematização

de políticas que visem atender às reais demandas dessa profissão.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1. REFERENCIAL TEÓRICO:

2.1.1 A Caracterização do Cotidiano Penitenciário: Uma Realidade Vivida que não

está Inscrita nas Redes de Proteção do Trabalho.

Os sujeitos sociais aos quais se destina o trabalho do agentepenitenciário, por suas características criminógenas, revelam a exata medida dos

riscos que esta profissão representa.

Na verdade, ao segregar seus criminosos, toda organização social

sabe dos riscos iminentes que estes sujeitos representam para o conjunto da

sociedade.

Nesse sentido, a profissão do Agente Penitenciário, por sua natureza,

requisita uma abordagem e um conjunto de medidas de proteção que garantam à

integridade social, econômica e psicológica, inclusive através de formação

continuada e diferenciação nas condições trabalhistas.

Conforme dados do Departamento Penitenciário (DEPEN-PR - 2006),

a população carcerária do Estado do Paraná é formada por nove mil presos epresas.

Destes 1564 (mil, quinhentos e sessenta e quatro) são homicidas,

1686 (mil, seiscentos e oitenta e seis) foram condenados por tráfico de drogas,

10.464 (dez mil, quatrocentos e sessenta e quatro) estão envolvidos em crimes

contra a propriedade.

Conforme dados da Policia Federal os presídios do Paraná abrigam

facções criminosas entre elas o PCC (Primeiro Comando da Capital).

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Esta facção que age no interior dos presídios do País foi responsável

pela execução sumária de inúmeros policiais civis e militares e vários agentes

penitenciários e civis no Estado de São Paulo.

Além daquele Estado esta facção está agindo em rede

principalmente nos Estados do Espírito Santo, Mato Grosso e Paraná.

No Paraná, recentemente promoveu rebeliões em série ocasião em

que protagonizou o macabro movimento que batizou de “pedágio da morte” que

consistia na decapitação de um preso há cada quinze ou vinte dias e culminou coma execução de um agente penitenciário.

No ano de 2006, conforme se percebe nos anexos referentes à

pesquisa de dados dos jornais da capital, a ação desta facção foi ostensiva no

Estado, tendo sido, inclusive, apontada como a facção responsável pela execução

do filho menor de um agente penitenciário e de outros dois agentes embora, não

tenha sido confirmado pelas investigações policiais.

Na realidade, percebe-se a vulnerabilidade do sistema penitenciário

para dar proteção aos seus servidores e a seus familiares.

A fragilidade do Sistema Penitenciário neste aspecto tem sido

agravada pelo propósito das Instituições de não creditar à questão a devida

gravidade. Esse mecanismo de escamotear a realidade evita que a opinião públicase alarme.

Situações alarmantes são sempre desfavoráveis aos governantes.

Diante desse quadro, recai sobre o Agente Penitenciário  toda carga

de riscos internos e externos, a expectativa, a ansiedade, a angústia e a exposição

que interferem e influenciam seu ambiente familiar, social e profissional.

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Toda uma dinâmica de vida sofreu uma adaptação forçada marcada

principalmente pela abstinência de um convívio social mais livre, pela busca de

mecanismos de defesa como a omissão de sua profissão ou qualquer indicio que

possa revelar suas atividades profissionais, por exemplo, não expor seu colete de

identificação profissional nem mesmo para secar ao sol, evitando evidencias no local

onde reside.

Também a família é instruída para não fazer comentários sobre sua

profissão, a ter cuidados ao atender a qualquer chamado de pessoas estranhas

mesmo no portão de casa.

Cuidados com telefonemas estranhos, carros suspeitos, tudo deve

fazer parte do esquema de alerta em que vivem os agentes penitenciários, amigos e

familiares.

O clima de terror é ainda pior para aqueles que suspeitam fazer parte

da “lista” de funcionários marcados para morrer elaborada pelos líderes das facções

criminosas.

Em geral, a lista se compõe justamente de servidores ilibados,

avessos à corrupção e severos na exigência da disciplina interna dos presídios.

Prova disso está no fato de que nas últimas investidas do PCC nos Estados do

Paraná e São Paulo, o lema do movimento deflagrado foi “Menos Opressão”.

Em geral, as medidas mais severas adotadas pelos Estados e ouGoverno Federal para coibir e neutralizar as ações destas facções nos presídios

resulta em ações de violência e ameaças aos agentes penitenciários que em

primeira instância são os profissionais que identificam as lideranças e que

operacionalizam as medidas adotadas.

Nesta “luta do rochedo com o mar” o agente penitenciário personifica

o “marisco” que absorve os impactos das ofensivas tanto dos criminosos quanto dos

mecanismos coercitivos do Estado.

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Conforme se verifica nos anexos, as notícias divulgadas nos jornais

na última década ilustram com muita propriedade este momento histórico no qual se

consolida a profissão do agente penitenciário como a atividade meio para a

contenção, a custódia, e o tratamento penal.

Percebe-se, portanto, que o exercício dessa profissão impõe aos

agentes uma carga de fadiga que pressupõe estresse funcional.

Contraditoriamente, não existe na estrutura organizacional do Estado

um mecanismo de prevenção, de suporte multidisciplinar ou mesmo de dinâmica

operacional da profissão que viabilize mesmo que minimante a proteção institucionaldestes profissionais.

2.1.2. O Trabalho do Agente Penitenciário

2.1.2.1. Ambiente Físico

O Sistema Penitenciário Paranaense, no seu Nível de Execução

Penal, é composto por 20 unidades penais:

Casa de Custódia de Curitiba – CCCCasa de Custódia de Londrina - CCLCentro de Observação Criminológica e Triagem - COTColônia Penal Agrícola do Paraná - CPAComplexo Médico Penal - CMPRegime Semi-Aberto Penitenciário. Waldemar Teodoro de P. Grossa - RAPGPatronato Penitenciário do Paraná - PATRPatronato Penitenciário de Londrina - PLDAPenitenciária Central do Estado - PCEPenitenciária Feminina do Paraná - PFPPenitenciária Feminina de Regime Semi-Aberto do Paraná - PFAPenitenciária Estadual de Londrina - PELPenitenciária Estadual de Maringá - PEMPenitenciária Industrial de Guarapuava - PIGPenitenciária Industrial de Cascavel - PIC

Penitenciária Estadual de Piraquara - PEPPenitenciária Estadual de Foz do Iguaçu - PEFPenitenciária Estadual de Ponta Grossa - PEPG

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Centro de Detenção Provisória de São José dos Pinhais - CDPSJPCentro de Detenção e Ressocialização de Piraquara – CDRPQA.

Destas vinte unidades penais, sete possuem mais de dez anos de

funcionamento. As demais são construções mais recentes.

Seria de se esperar que as unidades penais mais modernas

reunissem melhores condições de trabalho para os agentes penitenciários em todos

os aspectos tais como: segurança, condições operacionais de trabalho, quadro de

recursos humanos, equipamentos de segurança com tecnologia avançada, espaçofísico apropriado ao tratamento penal, tecnologia de gestão, entre outros.

Na prática, porém, o que se verifica é que modernidade não resultou

em condições mais confiáveis de trabalho.

A forma de se constatar esta análise são os reiterados episódios em

que ocorreram fugas, motins, tentativas de fugas, uso de reféns para obtenção de

benefícios pessoais, resgates de presos, atentados armados contra o patrimônio,

entre outras investidas de presos e de facções.

Na verdade, o que se percebe é que na última década nenhuma das

unidades penais do Estado permaneceu imune, livre de episódios de conversão da

ordem interna.

Significa dizer que o estado de alerta, a tensão permanente são as

condições marcantes na dinâmica penitenciária.

A dinâmica do trabalho no interior de uma Unidade Penal apresenta

poucas diferenças entre uma Unidade e outra. As atividades de movimentação de

presos são semelhantes diferindo uma ou outra especificidade que depende apenas

do perfil de seus dirigentes, de suas prioridades que se polarizam entre a custódia e

disciplina e o tratamento penal.

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Comparativamente é possível demonstrar esta polarização

observando-se a dinâmica adotada nas unidades penais como, por exemplo, as

Penitenciárias Estaduais de Maringá e de Piraquara.

Já na Penitenciária Estadual de Piraquara, o número de presos com

atividade laborativa remunerada é de 50%, apenas 10% estudam e alguns

participam de cursos de formação para o trabalho.

Estes dados apresentados pelo DEPEN-PR demonstram que embora

se tenha uma mesma entidade mantenedora, as políticas de gestão são diferentes

em cada unidade.

Outro dado significativo diz respeito à sobrecarga de trabalho em

razão de um dimensionamento equivocado do pessoal. Para se ter uma idéia, em

uma unidade penal como o COT, cuja média diária de presos em trânsito e ou

internados é de 40 (quarenta) presos, um grupo de seis (06) agentes penitenciários

realiza mais de duzentas e cinqüenta movimentações de presos em um único dia de

trabalho. Estas movimentações se compõem de fornecimento de alimentação,encaminhamento para atendimento nos diferentes setores de assistência ao preso,

para atendimentos a visitantes, advogados particulares, para horário em que tem

acesso ao exterior das celas para sol, atividades laborativas, desportivas, religiosas

e culturais, audiências, entre outras.

Durante estas movimentações os agentes permanecem expostos à

massa carcerária. Vale ressaltar que estes profissionais não são munidos dequalquer equipamento de segurança ou monitoramento das dependências.

2.1.2.2. Ambiente Psicológico

Na prática, a profissão de agente penitenciário se constitui em um

complexo relacionamento com o criminoso que cumpre pena e o homem em

processo de ressocialização cujas demandas se inscrevem na área dos direitos

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humanos, através das assistências social, psicológica, jurídica, pedagógica,

odontológica, médico-psiquiátrica, laborativa e religiosa, previstas em lei e que

devem considerar a individualidade e rede social de cada um.

É justamente no respeito a esta alteridade, identidade e singularidade

que reside o segredo da atividade penitenciária. Na verdade, é o conhecimento

destas dimensões humanas que permite o trabalho penitenciário eficiente e eficaz. O

desequilíbrio no atendimento a estas dimensões provoca os episódios convulsivos e

de subversão da ordem que eclodem intempestivamente de tal maneira que

somente nestas ocasiões a sociedade e as autoridades percebem os dilemas dessa

área da Administração Pública.

Conforme se percebe, o ambiente psicológico em que se desenvolve

o trabalho penitenciário se imbrica no fazer cotidiano. Não se trata, portanto, da

custódia pela custódia.

Essa condição do ambiente psicológico não é abordada na descrição

sumária da profissão tal como descreve o Ministério do Trabalho (2007: 16):

“Vigiam dependências e áreas públicas e privadas com a finalidade deprevenir, controlar e combater delitos como porte ilícito de armas emunições e outras irregularidades; zelam pela segurança das pessoas, dopatrimônio e pelo cumprimento das leis e regulamentos; recepcionam econtrolam a movimentação de pessoas em áreas de acesso livre erestrito; fiscalizam pessoas, cargas e patrimônio; escoltam pessoas emercadorias. Controlam objetos e cargas; vigiam parques e reservasflorestais, combatendo inclusive focos de incêndio; vigiam presos.Comunicam-se via rádio ou telefone e prestam informações ao público eaos órgãos competentes”.

No cotidiano penitenciário, situações ontológicas da dimensão

humana emergem e as requisições da práxis do agente penitenciário se contradizem

quando se polariza custódia e tratamento penal, anseio do senso comum pelo

asseveramento do castigo aos criminosos e a promoção da ressocialização como

meio de viabilizar ao detento vivências alternativas ao crime quando egresso do

Sistema Penal.

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O agente penitenciário trabalha consciente de que violência gera

violência. No dia-a-dia, isso se torna concreto quando é requisitado pelo preso a

resolver problemas simples como uma dor física, moral ou psicológica pela perda de

um benefício jurídico, de um ente querido, de um amor.

Também existem momentos em que são requisitados para sanar

dúvidas sobre a execução penal, sobre trabalho, educação, atendimentos médicos,

odontológicos, assistenciais, de visita familiar, etc.

Sempre que um detento apresenta uma necessidade é através do

Agente Penitenciário, preliminarmente, que os encaminhamentos acontecerão. Estaresponsabilidade instala na dimensão psicológica do agente penitenciário

contradições significativas. Se o sujeito de seu trabalho é custodiado, condenado,

apenado é, pois, um criminoso. Sob essa condição o Agente Penitenciário tem

consciência de tratar-se de um algoz potencial, que não medirá esforços para

subverter a ordem do Sistema mesmo que isso signifique torná-lo mais uma de suas

vítimas.

Por outro lado, tem diante de si um ser humano em processo de

ressocialização. De maneira que reconhece que se o tratamento penal for

adequado, aumenta-se a possibilidade de que aquele indivíduo sob sua custódia

não reincida. O que é possível sob a ótica da criminologia crítica.

Muitas vezes, ao conhecer o criminoso e os detalhes da

perversidade de seus crimes, precipitam-se no profissional sentimentos de vingançaem nome da vítima e da sociedade, trava-se assim uma luta interior para que o

Agente Penitenciário desempenhe suas funções de forma isenta e neutra. Esse

conflito interior provoca um “stress” que se acumula, agravando suas condições

psicológicas, sua saúde mental e física. Na realidade, é muito desgastante promover

a segurança, a assistência integral e garantir os direitos humanos de uma massa

carcerária sabidamente cruel, violenta e desumana na execução de seus crimes.

Todo esse processo de relações sociais entre o Agente penitenciário e o detento se

realiza de forma silenciosa e anônima. Indiferente para a Instituição.

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2.1.2.3. Ambiente Institucional

2.1.2.3.1  A Lei de Execução Penal e o Trabalho Penitenciário 

Embora a atividade penitenciária em sua totalidade se desenvolva

aprioristicamente pela ação dos agentes penitenciários que são os garantidores da

disciplina, da ordem e da segurança interna dos presídios, condição fundamental

para que todas aos outras atividades se desenvolvam, esse apriorismo não está

reconhecido pela Lei de Execução Penal.

Como descreve Mirabete (1990:229)

“A vigilância e a custódia de presos, apesar de importante e mesmoindispensáveis, não são as únicas finalidades dos sistemaspenitenciários modernos, nem devem ser as preocupações primordiaisdos funcionários no processo de reinserção social dos condenados.Por muito adiantado que seja um programa penitenciário, por mais

avançado que seja a arquitetura prisional, por muitos meioseconômicos que se destinem a esse processo, não se pode conseguirêxitos reformadores nos presos se não se conta com um corpo defuncionários competentes que estejam imbuídos de sua alta missãosocial.”

Ao analisar a descrição da Lei sobre o objeto da execução penal, não

há descrição da atividade fim e da atividade meio. Se houvesse um detalhamento da

operacionalidade da execução da pena no interior dos presídios, necessariamente aLei disciplinaria o trabalho do Agente Penitenciário e nessa descrição perceberia que

estes profissionais atuam tanto na atividade fim como na atividade meio, ou seja,

tanto atuam no tratamento penal com vistas na ressocialização enquanto atividade

fim, quanto na custódia enquanto atividade meio.

Essas dimensões do trabalho penitenciário, embora não se dissociem

no âmbito da lei, podem ser inseridas a partir de seu artigo 1º onde se estabelece

que a execução penal tem como objetivo efetivar as disposições de sentença ou

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decisão criminal proporcionando as condições para uma harmônica integração social

do condenado e do internado.

Conforme analisa Mirabete (1990: 33)

“Realmente, a natureza jurídica da execução penal não se confinano terreno do Direito Administrativo e a matéria é regulada à luz deoutros ramos do ordenamento jurídico, especialmente o DireitoPenal e o Direito Processual. Há uma parte da atividade daexecução que se refere especificamente a providênciasadministrativas e que fica a cargo das autoridades penitenciárias e,ao lado disso, desenvolve-se a atividade do juízo da execução ouatividade judicial da execução. (...) Não se nega que a execução

penal é uma atividade complexa, que se desenvolve conjuntamenteno plano jurisdicional e administrativo, e não se desconhece quedesta atividade participam dois Poderes: o Judiciário e o Executivopor intermédio, respectivamente, dos órgãos jurisdicionais eEstabelecimentos Penais.”

2.1.3. Sistematização da Profissão: Do Contrato à Prática

Ao analisar o trabalho penitenciário sob a ótica da finalidade deste no

contexto da Execução Penal, foram muitas as críticas feitas ao desempenho do

Agente Penitenciário, o que contribuiu muito para que esta função estivesse sempre

desprestigiada e tivesse negado o seu real significado no processo de execução

penal.

Considerados funcionários de “pequena categoria”, a crítica semprereconheceu serem estes os profissionais que mais contatos têm com os presos e

por conseqüência, são os profissionais que mais influenciam e estimulam a massa

carcerária. Para Mirabete (1990) o pessoal da vigilância tem a prerrogativa de

contribuir eficazmente para o bom êxito do trabalho dos técnicos ou, por outro lado,

podem comprometer esse trabalho de maneira irremediável.

Em sua análise o autor revela que: “O baixo nível cultural dosguardas prisionais e a ausência de critérios seletivos têm criado grande

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vulnerabilidade no sistema penitenciário. Por isso, é indispensável que se exija uma

vocação para tais funções, uma preparação profissional adequada e uma seleção

que exclua o candidato que não tem bons antecedentes.” (Mirabete, 1990: 230).

Essas recomendações têm orientado os critérios para a realização

dos últimos concursos efetivados pelo Governo do Estado do Paraná. Entre os

requisitos para ingresso nesta profissão, além da idoneidade, figuram a formação no

nível médio, a aprovação em prova de conhecimentos gerais, a aprovação em curso

de formação específico como etapa eliminatória, além de testes de aptidão física e

psicológica, tal como se verifica no edital de concurso anexo. No nível federal, a

profissão esta contida no rol das profissões reconhecidas pelo Ministério do trabalhode tal sorte que a descrição da profissão está sistematizada na CBO – Classificação

Brasileira de Ocupações, na Família das ocupações da área de Segurança da qual

fazem parte os vigilantes e agentes de segurança em geral, conforme especificação

oficial do Ministério do Trabalho.

“Vigiam dependências e áreas públicas e privadas com a finalidade deprevenir, controlar e combater delitos como porte ilícito de armas e

munições e outras irregularidades; zelam pela segurança daspessoas, do patrimônio e pelo cumprimento das leis e regulamentos;recepcionam e controlam a movimentação de pessoas em áreas deacesso livre e restrito; fiscalizam pessoas, cargas e patrimônio;escoltam pessoas e mercadorias. Controlam objetos e cargas; vigiamparques e reservas florestais, combatendo inclusive focos de incêndio;vigiam presos. Comunicam-se via rádio ou telefone e prestaminformações ao público e aos órgãos competentes.” (Ministério doTrabalho, 2007: 23)

No nível estadual a regulamentação da profissão está contida na Lei

13.666/2002 que criou o Quadro Geral dos Servidores do Estado. Conforme se

percebe no texto da lei, não se especifica as competências da função penitenciária.

O que se verifica são os ordenamentos de caráter administrativo.

Não se constata, portanto, as especificidades da profissão na

descrição da atividade penitenciária sistematizada pela Secretaria da Administração

e Previdência do Estado, assim como não se contempla na regulamentação da

profissão o seu caráter de profissão perigosa, penosa e insalubre, embora se

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estabeleça no corpo da lei a Gratificação prevendo esses fatores de risco da

profissão. Segundo a descrição da profissão no Quadro Geral do Executivo – QPPE

LEI Nº. 13666 - 05/07/2002 Publicado no Diário Oficial Nº. 6265 de 05/07/2002:

“Art.” 4º - A jornada de trabalho dos cargos constantes da presente Leié limitada em 40 (quarenta) horas semanais, ressalvada a da funçãode médico, que será de 20 (vinte) horas semanais, observado odisposto no inciso XVI, do Art. 27, da Constituição Estadual.§2º - A carga horária para funções desempenhadas em locaisinsalubres, penosos ou perigosos será avaliada pelo órgão de períciaoficial do Estado, que lavrará laudo de caráter individual para aconcessão de jornada diferenciada conforme estabelece legislaçãofederal específica.

Art. 3º - As Carreiras do Quadro Próprio do Poder Executivo doEstado do Paraná - QPPE, serão organizadas em 08 (oito) Cargos,disposto de acordo com a natureza profissional, complexidade desuas atribuições e nível de escolaridade, sendo que, cada cargo serácomposto de 03 (três) classes III, II e I, com as quantidades na formado disposto nos Anexos I e VI desta Lei.§1º - As carreiras do Quadro Próprio do Poder Executivo do Estado doParaná - QPPE, são: Apoio, Execução, Aviação, Penitenciária,Profissional e Fazendária, conforme segue:I – Apoio, composta pelo cargo de Agente de Apoio;II – Execução, composta pelo cargo de Agente de Execução;

III – Aviação, composta pelo cargo de Agente de Aviação;IV – Penitenciária  composta pelo cargo de Agente Penitenciário;V – Profissional composta pelo cargo de Agente Profissional;VI –... Vetado... “

Do ponto de vista institucional o órgão responsável por estabelecer,

descrever, prever, analisar e definir o nível de risco, periculosidade e insalubridade

da profissão é o setor da Divisão de Medicina e Saúde Ocupacional (DIMS) voltado

para o desenvolvimento de ações relativas à Segurança e à Medicina do Trabalho,tendo como público alvo, servidores públicos do Estado do Paraná. Existe um

conjunto de normas que regulam as atividades do SESMT. Significa dizer que este

órgão tem sua ação amparada pela Lei Estadual 10.692 de 27 de dezembro de 1993

e tecnicamente na Portaria 3214 do Ministério do Trabalho. Esta última definiu as

Normas Regulamentadoras em Segurança e Medicina do Trabalho.

Conforme se constata nas normas de funcionamento deste órgão

suas atribuições dizem respeito a promover as devidas avaliações para concessão

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de gratificações de insalubridade e periculosidade e Efetivar os Levantamentos

necessários para constatação de Riscos Ambientais.

Conforme se descreve nas normas de funcionamento da SESMT

(1993) “Quando se relacionar as gratificações de insalubridade ou periculosidade e

levantamentos de Riscos Ambientais, o órgão interessado deverá encaminhar ofício

protocolado para a gerência da DIMS, informando o(s) setor (es) envolvido(s) e

 justificando a solicitação.“ outra atividade desenvolvida pela DIMS se constitui em

Desenvolver atividades que permitam realizar o Controle de Acidentes de Trabalho e

Doenças Profissionais.

2.1.4 Relações de Trabalho sob os Aspectos Psicossociais

2.1.4.1 Conjuntura Atual: Políticas de Governo

A partir do ano de 2004 o Governo Federal incluiu na agenda dasmedidas pró ativas para viabilizar o desenvolvimento da economia, especial atenção

às relações de trabalho. Para isso desenvolveu estudos que descrevem os

fundamentos de uma Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador -

PNSST – cuja versão final abrangeu as sugestões - 29/12/2004 elaboradas pelo

conjunto dos órgãos governamentais e representantes dos trabalhadores.

Com isso as Políticas adotadas conjugam uma série de indicadoresque estão sendo desenvolvidos de modo articulado e cooperativo pelo Ministério do

Trabalho, da Previdência Social e da Saúde.

Conforme descreve os indicadores oficiais da (PNSST, 2004: 03):

“Com vistas a garantir que o trabalho, base da organização social e direito humano

fundamental, seja realizado em condições que contribuam para a melhoria da

qualidade de vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores e sem prejuízo

para sua saúde, integridade física e mental”.

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Para que o Estado cumpra seu papel na garantia dos direitos básicos

de cidadania é necessário que a formulação e implementação das políticas e ações

de governo sejam norteadas por abordagens transversais e intersetoriais. “Nessa

perspectiva, as ações de segurança e saúde do trabalhador exigem uma atuação

multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial capaz de contemplar a complexidade

das relações produção – consumo - ambiente e saúde”.

Na idealização das Políticas o Governo levou em consideração os

preceitos constitucionais do direito à saúde, à previdência social e ao trabalho e a

necessidade de se estruturar a articulação intragovernamental em relação às

questões de segurança e saúde do trabalhador.

A finalidade dos primeiros grupos de trabalho se constituiu em

desenvolver análises de medidas e propor ações integradas e sinérgicas que

contribuam para aprimorar as ações voltadas para a segurança e saúde do

trabalhador.

A elaboração dessa Proposta de Política Nacional de Segurança eSaúde do Trabalhador observou as “interfaces existentes e ações comuns entre os

diversos setores do Governo” assim como se propôs a analisar e indicar ações de

caráter intersetorial referente ao exercício da garantia do direito à segurança e à

saúde do trabalhador, assim como ações específicas da área que necessitem de

implementação imediata pelos respectivos Ministérios, individual ou conjuntamente,

compartilhando os sistemas de informações referentes à segurança e saúde dos

trabalhadores existentes em cada Ministério.

Como explica Antunes (1997) nas últimas décadas, sob o signo

neoliberal, as políticas de desenvolvimento se restringiram aos aspectos econômicos

assumindo um caráter prioritário e divorciado das políticas sociais, “cabendo a estas

últimas arcarem com os ônus dos possíveis danos gerados sobre a saúde da

população, dos trabalhadores em particular e a degradação ambiental”, tal como o

próprio Governo Federal confessa.

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Ao editar as Diretrizes, o Governo se compromete com uma Política

Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador – PNSST buscando a superação da

fragmentação, desarticulação e superposição, das ações implementadas pelos

setores Trabalho, Previdência Social, Saúde e Meio Ambiente.

Significa dizer que emerge daí um esforço amplo, que abrange todas

as esferas e órgãos do Governo onde se define as diretrizes, as responsabilidades

institucionais e mecanismos de financiamento, gestão, acompanhamento e controle

social, que deverão orientar os planos de trabalho e ações intra e intersetoriais.

O Ministério do Trabalho (2007) conceitua trabalhadores comosendo:

“Todos os homens e mulheres que exercem atividades para sustentopróprio e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua forma deinserção no mercado de trabalho, no setor formal ou informal daeconomia. Estão incluídos nesse grupo todos os indivíduos quetrabalharam ou trabalham como: empregados assalariados;trabalhadores domésticos; avulsos; rurais; autônomos; temporários;servidores públicos; trabalhadores em cooperativas e

empregadores, particularmente os proprietários de micro e pequenasunidades de produção e serviços, entre outros. Também sãoconsiderados trabalhadores aqueles que exercem atividades nãoremuneradas, participando de atividades econômicas na unidadedomiciliar; o aprendiz ou estagiário e aqueles temporária oudefinitivamente afastados do mercado de trabalho por doença,aposentadoria ou desemprego.”

Com isso se percebe que as orientações do ministério do trabalho

não se destinam apenas aos trabalhadores formais cujo vinculo de trabalho e da

pela Consolidação das Leis Trabalhistas, mas, abrange também os trabalhadores

informais, os micro empresários, e os Servidores Públicos.

Salem (2005) descreve que a saúde e segurança do trabalhador é

condicionada por fatores sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais

relacionados ao perfil de produção e consumo, bem como aos fatores de risco de

natureza física, química, biológica, mecânica e ergonômica que são característicos

de cada processo de trabalho dentro de suas especificidades.

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Para o Ministério do Trabalho (2007), esquematicamente, pode-se

dizer que o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores no Brasil, na atualidade,

esta caracterizado pela coexistência de:

“Agravos que têm relação com condições de trabalho específicas,como os acidentes de trabalho típicos e as “doenças profissionais”; -doenças que têm sua freqüência, surgimento ou gravidademodificados pelo trabalho, denominadas “doenças relacionados aotrabalho” e; - doenças comuns ao conjunto da população, que nãoguardam relação de causa com o trabalho, mas condicionam a saúdedos trabalhadores.”

Na verdade Glockner (2004) informa que a falta de informações

sobre a real situação de saúde dos trabalhadores inviabiliza a definição de

prioridades para as medidas necessárias.

Como esclarece Leal (2004) às políticas públicas, o planejamento e a

implementação das ações em qualquer área, inclusive de saúde do trabalhador,

necessitam da participação de todos os atores envolvidos nas relações de trabalho.

A privação dessa participação seja por omissão das partes

interessadas, seja por falta de mecanismos de acesso, além de privar a sociedade

de instrumentos importantes para a melhoria das condições de vida e trabalho,

inviabilizam o processo de desenvolvimento do País e a consolidação dos princípios

democráticos.

Analisa o autor que “na verdade, podemos chegar à conclusãohistórica de que, enquanto os direitos civis e políticos à autodeterminação foram

aplicados somente à esfera do governo, a democracia esteve restrita ao voto

periódico ocasional, contando pouco na determinação da qualidade de vida das

pessoas. Para que a autodeterminação possa ser conquistada, aqueles direitos

humanos e fundamentais precisam ser estendidos do Estado a outras instituições

centrais da sociedade, pois a estrutura do contemporâneo mundo corporativo

internacional torna essencial que as prerrogativas civis e políticas dos cidadãossejam ampliadas permanentemente por um conjunto similar e variado de deveres,

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centrados na idéia de responsabilidade coletiva que marca a. gestão dos interesses

comunitários.

Por tais razões, é certo sustentarmos a tese de que, ao lado destes

direitos, há deveres igualmente importantes a serem observados, tais como: (a) o da

solidariedade; (b) o da tolerância; (c) o do envolvimento orgânico e efetivo da

cidadania nos assuntos públicos; (d) o do controle da administração pública, dentre

outros.

Em outros termos, não basta que se garantam as liberdades civis e

políticas tradicionais dos umbrais da Idade Moderna, pois, os indivíduos nacontemporaneidade devem ter a possibilidade material de imprimir a esta a

autonomia cognitiva que exige uma efetiva inserção e participação social, fundada

em uma interlocução não contaminada pelos discursos e práticas totalitárias das

elites dominantes (com as suas linguagens tecnoburocráticas e enclausuradas em si

próprias), só assim oportunizando que o sistema social possa ser gerido

compartilhadamente; esta possibilidade de interlocução deve contar, por sua vez,

com mecanismos e espaços oficiais de diálogos, deliberações e execuções depolíticas públicas voltadas para tal desiderato”. (Leal, 2004:965).

No que se refere à saúde e segurança do trabalho nota-se a

necessidade de se desenvolver políticas de proteção ao trabalhador, sobretudo no

campo da prevenção.

Conforme dados do Ministério do Trabalho (2007), no período de1999 a 2003, a Previdência Social registrou 1.875.190 acidentes de trabalho, sendo

15.293 com óbitos e 72.020 com incapacidade permanente, média de 3.059

óbitos/ano entre os trabalhadores formais (média de 22,9 milhões em 2002).

O coeficiente médio de mortalidade, no período considerado, foi de

14,84 por 100.000 trabalhadores (MPS, 2003). No mesmo período mencionado, o

Instituto Nacional do Seguro Social – INSS concedeu 854.147 benefícios por

incapacidade temporária ou permanente devido a acidentes do trabalho, ou seja, a

média de 3.235 auxílios-doença e aposentadorias por invalidez por dia útil. No

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mesmo período, foram registrados 105.514 casos de doenças relacionadas ao

trabalho.

Nota-se que não existe, no âmbito do departamento penitenciário,

estudos ou comissões designadas para promover o controle destas informações.

Embora os afastamentos sejam notificados, uma vez que as licenças

médicas necessitam exames da perícia médica, não há uma sistematização,

controle ou estudo para que se promova uma correlação entre o estado de saúde

dos servidores e o tipo de trabalho desempenhado. Esse dado reflete uma realidade

das relações de trabalho. Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde -OMS, na América Latina, apenas 1% a 4% das doenças do trabalho são notificadas.

Uma realidade lamentável uma vez que o Governo assume que acidentes e doenças

relacionadas ao trabalho são agravos previsíveis e, portanto, evitáveis.

Os estudos estatísticos da Previdência Social revelam que em 2003,

as lesões de punho e da mão representaram 34,20 % dos acidentes. Conforme

descreve Mendes (2003) o trabalho em máquinas e equipamentos obsoletos einseguros foram os responsáveis por aproximadamente 25% dos acidentes do

trabalho graves e incapacitantes registrados no país.

É importante frisar que o uso de novas tecnologias e métodos

gerenciais nos processos de trabalho contribui para modificar o perfil de saúde,

adoecimento e sofrimento dos trabalhadores, porem, estes demandam

investimentos, e vontade política do Governo e dos empregadores.O que se observa é que não existindo um controle, não se estabelece

um padrão, assim, no que se refere ao trabalho penitenciário não se tem uma

sistematização sobre as doenças que efetivamente podem se constituir em doenças

do trabalho. Salem (2005:31) define que “Acidente de trabalho é o ocorrido durante a

prestação de serviços ou no percurso de ida ou de volta para o trabalho, o que

usualmente se chama de acidente in itinere, ou ainda a doença profissional causada

pelo acidente de trabalho e equiparada a acidente do trabalho.

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A Lei 8.213/91 em seus artigos 19, 20, e 21 definem em que consiste

o acidente do trabalho.

Os autores transcrevem o artigo 20 da referida lei onde se estabelece

que:

“Acreditamos que sempre tenha existido doença relacionada com otrabalho. Mas não se pode negar que a automação e a informatizaçãodas últimas décadas vêm acompanhadas de uma mudança, também,no perfil da saúde do trabalhador. Não são somente os poluentes,agentes químicos, agentes insalubres que podem causar patologia notrabalhador, mas também as patologias advindas da automação e da

informática. O art. 20 da Lei n2 8.213/91 relaciona as doençasprofissionais equiparadas a acidente do trabalho.”

“Para que se considere doença profissional equiparada a acidente dotrabalho, não basta que a doença tenha se desencadeado peloexercício da profissão, mas, é necessário que conste da relaçãoelaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. O § 2ºdo art. 20 faz exceções quanto ás doenças relacionadas comcondições especiais em que é executado o trabalho. “

"Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigoanterior, as seguintes entidades mórbidas:

I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeadapelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade econstante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalhoe da Previdência Social;II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeadaem função de condições especiais em que o trabalho é realizado ecom ele se relacione diretamente, constante da relação mencionadano inciso I”. (Salem e Salem, 2005:43).”

No Anexo II do Decreto n° 3.048, de 6 de maio de 1999 têm-se

estabelecidos os agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou dotrabalho, conforme previsto no art. 20 da Lei na 8.213, de 1991, assim como citado

anexo anota, com relação à doença profissional que:

"1. A doença profissional ou do trabalho será caracterizada quando,diagnosticada a intoxicação ou afecção, se verifica que o empregadoexerce atividade que o expõe ao respectivo agente patogênico,mediante nexo de causa a ser estabelecido conforme o disposto nosManuais de Procedimentos Médico-Periciais em DoençasProfissionais ou do Trabalho, levando-se em consideração acorrelação entre a doença e a atividade exercida pelo segurado.2. O Instituto Nacional do Seguro Social - INSS adotará asprovidências necessárias para edição dos Manuais de Procedimentos

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Médico-Periciais em Doenças Profissionais ou do Trabalho, paraaplicação a partir de 1ºde setembro de 1999.”

Segundo os autores as doenças profissionais podem ser causadas

por diversas condições no trabalho. Assim, por exemplo, pode ser causada por

produtos químicos (que pode gerar patologia no aparelho respiratório; no aparelho

gastrintestinal, entre outros); doenças advindas da automação, como por barulho

excessivo (patologia na audição); iluminação inadequada (patologia na visão).

Existem, ainda, funções que podem desencadear patologias de ordem emocional-

psicológica, gerando distúrbios emocionais como depressão, neuroses, stress, entre

outros.

Salem Neto, (2000:422) descreve "Doenças do trabalho são as

doenças degenerativas que não provocam incapacidade instantânea, mas podem

com o tempo e gradativamente tornar o indivíduo portador de incapacidade

laborativa, como reumatismo, artrites, as de coluna etc., e que atingem um grupo

etário, são consideradas mesopáticas, porque não constam do quadro de

classificação do Ministério do Trabalho, e dependem de condições peculiares eexcepcionais do trabalho."

Segundo dados do ministério do trabalho entre as doenças

relacionadas ao trabalho mais freqüentes estão as Lesões por Esforços

Repetitivos/Distúrbios Ósteo-Musculares Relacionados ao Trabalho (LER / DORT);

formas de adoecimento mal caracterizadas e sofrimento mental que convivem com

as doenças profissionais clássicas, como a silicose, intoxicações por metais pesadose por agrotóxicos.

Glockner (2004) salienta que é importante considerar que entre os

problemas de saúde relacionados ao trabalho deve ser ressaltado o aumento das

agressões e episódios de violência contra o trabalhador no seu local de trabalho,

traduzida pelos acidentes e doenças do trabalho; violência decorrente de relações

de trabalho deterioradas, como no trabalho escravo e envolvendo crianças; a

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violência ligada às relações de gênero e o assedio moral, caracterizada pelas

agressões entre pares, chefias e subordinados.

Como descreve o autor (2004:18) “Podemos então conceituar o

assedio moral, como sendo toda a conduta abusiva, através de gestos, palavras,

comportamentos, atitudes, que atente, seja pela sua repetição ou sistematização,

contra a dignidade ou integridade física de um trabalhador, ameaçando o seu

emprego ou degradando o seu ambiente de trabalho. Trata-se, portanto, da

exposição do trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, feitas de

forma repetitiva e prolongada durante a jornada de trabalho e no exercício de suas

funções.”.

O próprio Ministério do Trabalho reconhece que o atual sistema de

segurança e saúde do trabalhador carece de mecanismos que incentivem medidas

de prevenção, responsabilizem os empregadores, propiciem o efetivo

reconhecimento dos direitos do segurado, diminuam a existência de conflitos

institucionais, possibilite um melhor gerenciamento dos fatores de riscos

ocupacionais.

A questão assume uma dimensão econômica e provoca sérios

prejuízos aos sistemas previdenciários. Estima-se que em 2003, os gastos da

Previdência Social com pagamento de benefícios acidentários e aposentadoria

especial (concedida em face de exposição a agentes prejudiciais à saúde ou

integridade física, com redução no tempo de contribuição) totalizaram cerca de 8,2

bilhões de reais. O resultado desse problema é que para cada real gasto com opagamento de benefícios previdenciários, a sociedade paga quatro reais, incluindo

gastos com saúde, horas de trabalho perdidas, reabilitação profissional, custos

administrativos etc. Esse cálculo eleva a um custo total para o país de

aproximadamente 33 bilhões de reais por ano.

Na estimativa do Ministério do o número de dias de trabalho perdidos

devido aos acidentes aumenta o custo da mão de obra no Brasil, o que representa

um encarecimento significativo da produção e a conseqüente redução da

competitividade do país no mercado externo. Estima-se que o tempo de trabalho

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perdido anualmente devido aos acidentes de trabalho seja de 106 milhões de dias,

apenas no mercado formal, considerando-se os períodos de afastamento de cada

trabalhador.

2.2 A SAÚDE FÍSICA E MENTAL DOS TRABALHADORES QUE ATUAM EM PROFISSÕES DE 

CARÁTER PERIGOSO, PENOSO E INSALUBRE.

Conforme se percebe as questões relacionadas à saúde à segurança

do trabalhador, bem como, a sua qualidade de vida são fatores que assumem umpapel importante sob a ótica da economia, do desenvolvimento do país e das

instituições.

Conforme se constata empiricamente as condições de trabalho dos

agentes penitenciários são as mais adversas e não existe, nas redes de proteção do

trabalho, qualquer descrição de atividade que possibilite ao legislador constatar as

adversidades desse trabalho em toda sua dimensão.

Conforme a classificação nacional de atividades econômicas

estabelece-se a Relação de Atividades preponderantes e os correspondentes graus

de risco. Na definição esta lista as atividades estão avaliada por grau de risco em

níveis de 1 a 3.

Conforme se constata nesta Lista na Letra L – ADMINISTRAÇÃOPUBLICA ITEM 75.2 SERVIÇOS COLETIVOS PRESTADOS PELA

ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, DEFESA E SEGURIDADE SOCIAL, 75.23-0 Justiça e

75.24-8 segurança e ordem pública, o grau de risco está estabelecido no grau 2 –

correspondendo risco médio na alíquota de 2,00%.

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2.2.1. Síndrome de Burnout

A chamada Síndrome de Burnout é definida por BELUSCI (2005)

como sendo um dos reflexos mais significativos do estresse profissional. Esta

síndrome, conforme explica a autora é caracterizada por exaustão emocional,

avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase

tudo e todos o que pode ter um propósito, ainda que inconsciente, de se constituir

em uma forma de defesa emocional.

O termo Burnout é uma composição de burn = queima e out =exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física

e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço.

A análise dessa síndrome se faz recorrente na medida em que se

refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com significativa incidência

em profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas,

principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda como, por exemplo,em profissionais como médicos, enfermeiros, professores.

Belusci (2005) esclarece que a síndrome foi estudada, originalmente,

em profissões predominantemente relacionadas a um contacto interpessoal mais

exigente, tais como médicos, psicanalistas, carcereiros, assistentes sociais,

comerciários, professores, atendentes públicos, enfermeiros, funcionário de

departamento pessoal, telemarketing e bombeiros.

Hoje, já se concebe que esta síndrome afeta outros profissionais que

atuam ativamente junto a pessoas, e que no desempenho de seu trabalho se

envolvem e solucionam problemas de outras pessoas, desenvolvendo técnicas e

métodos mais exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho submetidas às

avaliações, etc.

Entendida como uma reação à tensão emocional crônica que se

origina a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho, essa

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doença faz com que a pessoa perca a maior parte do interesse em sua relação com

o trabalho, de forma que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço

pessoal passa a parecer inútil.

Muitos são os fatores que podem estar associados ao

desenvolvimento da Síndrome de Burnout, entre eles Salem (2005) cita: rebaixada

autonomia no desempenho profissional, dificuldades de relacionamento com as

chefias, com colegas ou clientes, conflito entre trabalho e família, sentimento de

desqualificação e falta de cooperação da equipe.

Nota-se que a Síndrome de Burnout difere do estresse, na medidaem que esta doença envolve atitudes e condutas negativas com relação aos

usuários, clientes, organização e trabalho, enquanto o estresse se caracteriza mais

como um esgotamento pessoal com interferência na vida do sujeito e não

necessariamente na sua relação com o trabalho. Para Belusci (2005), Burnout seria

a conseqüência mais depressiva do estresse desencadeado pelo trabalho.

A síndrome, tal como sua designação já indica, é caracterizada porum conjunto de condutas negativas como, por exemplo, a deterioração do

rendimento, a perda de responsabilidade, atitudes passivo-agressivas com os outros

e perda da motivação, onde se relacionariam tanto fatores internos, na forma de

valores individuais e traços de personalidade, como fatores externos, na forma das

estruturas organizacionais, ocupacionais e grupais.

Embora se atribua a Freudenberger, (1974), o primeiro artigodescrevendo essa síndrome, Pereira (2007) esclarece que em 1969, Bradley já

havia publicado um artigo no qual fazia referencia à expressão “staff burn-out",

referindo-se ao desgaste de profissionais e propondo medidas organizacionais de

enfrentamento. Segundo Pereira (2001) a maioria dos autores está de acordo que o

burnout é uma síndrome característica do meio laboral e que se trata de um

processo que se dá em resposta à cronificação do estresse ocupacional, trazendo

consigo conseqüências negativas tanto no nível individual, como profissional,

familiar e social.

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Segundo a autora no âmbito institucional, os reflexos do burnout se

fazem sentir tanto na diminuição da produção como na qualidade do trabalho

executado, no aumento do absenteísmo, na alta rotatividade, no incremento de

acidentes ocupacionais, na visão negativa da instituição denegrindo a imagem desta

e, tendo como resultado importantes prejuízos financeiros.

Historia a autora em sua análise “O Estado na Arte no Brasil”, que foi

na década de 90 que as primeiras teses e outras publicações começam a aparecer,

alertando alguns profissionais sobre a questão da síndrome de tal maneira que em 6

de maio de 1996, quando da Regulamentação da Previdência Social, a síndrome de

burnout passou a fazer parte de Anexo II no que se refere aos Agentes Patogênicoscausadores de Doenças Profissionais.

Alerta a autora que muitas vezes, em razão do despreparo de muitos

profissionais da área de saúde, que desconhecem os mecanismos dessa síndrome,

a pessoa em burnout é tratada como em estresse ou depressão, o que a prejudica

significativamente na medida em que principal causa do problema não é tratada.

Consequentemente, os problemas se agravam tendo em vista a

sobrecarga de se atribuir toda a dificuldade apenas à responsabilidade pessoal.

Desta forma, peço que compreendam as prováveis ausências. Benevides-Pereira

(2007) informa que a referência à síndrome, pode ser descrita sob diferentes

denominações tais como: “estresse laboral para assinalar a associação necessária

ao mundo do trabalho (Büssing & Glaser, 2000; González, 1995; Herrero, Rivera &

Martín, 2001; Schaufeli, 1999), ou estresse profissional (May & Revich, 1985,Nunes, 1989), ou estresse assistencial, estresse ocupacional assistencial ou

simplesmente estresse ocupacional evidenciando a maior incidência entre aqueles

que se ocupam em cuidar de pessoas, independentemente do caráter profissional

ou trabalhista (Carlotto, 1999; Firth, 1985; Shoröder, Martín, Fontanais & Mateo,

1996). Localizamos a expressão síndrome de queimar-se pelo trabalho (Gil-Monte

& Peiró, 1997, Seisdedos, 1997) ou desgaste profissional (Moreno-Jiménez,

Garrosa & González, 2000) em alguns estudos espanhóis. No Brasil, encontramos

também a referência à neurose profissional ou neurose de excelência (Stella,

2001), ou síndrome do esgotamento profissional (Moraes, 1997)” na analise da

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autora, essas diferentes abordagens “confundem e muitas vezes, dificultam um

levantamento de pesquisas na área”.

Adverte a autora que o burnout revela a extensão multidimensional

do problema que atinge os profissionais e aponta os prejuízos não só pessoais,

como também familiares, sociais e institucionais envolvidos, denunciando neste

último não só os aspectos relacionais como os financeiros implicados.

É interessante a descrição que Belusci (2005) faz dessa síndrome no

que se refere às causas no desempenho do trabalho descrevendo que geralmente

se desenvolve como resultado de um período de esforço excessivo no trabalho comintervalos muito pequenos para recuperação vale ressaltar que os autores citados

são unânimes em avaliar que trabalhadores com determinados traços de

personalidade (especialmente de neuroses) são mais suscetíveis a adquirir a

síndrome.

A Síndrome de Burnout pode ser concebida como sendo diferente do

estresse na medida em que esta doença envolve atitudes e condutas negativas comrelação aos usuários, clientes, organização e trabalho, diferente do estresse que se

caracteriza mais como um esgotamento pessoal com interferência na vida do sujeito

e não necessariamente na sua relação com o trabalho. Essa Síndrome de seria a

conseqüência mais depressiva do estresse desencadeado pelo trabalho.

É possível, portanto, reconhecer os sintomas da síndrome pela

ausência de alguns fatores motivacionais: energia, alegria, entusiasmo, satisfação,interesse, vontade, sonhos para a vida, idéias, concentração, autoconfiança e

humor.

2.2.2. Estresse

Outra doença relacionada coma as condições de vida e trabalho dos

profissionais que atuam em áreas desgastantes se constitui no estresse.

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Segundo o manual de doenças do trabalho SPRINGHOSE

CORPORATION (2005) para que ocorra qualquer tipo ou forma de estresse é

preciso que haja a disposição pessoal do portador do estresse e as circunstâncias

favorecedoras ou agentes ocasionais. Significa dizer que sem a disposição pessoal,

os agentes estressores ocasionais não seriam capazes, por si só, de produzir a

reação de estresse.

Mas, além das disposições pessoais e dos agentes ocasionais há

que ser considerado também a qualidade psíquica atual da pessoa que se estressa.

Segundo o manual (2005) atuam nesse processo de estresse asDisposições Pessoais e as Condições Psíquicas Atuais.

O termo Disposição Pessoal se refere ao tipo de disposição com que

a pessoa irá se relacionar com a realidade. Não é possível falar disso sem comentar

alguma coisa sobre a Personalidade, já que essa Disposição Pessoal está

intimamente atrelada às características da personalidade.

Entre outras definições sobre personalidade, pode-se dizer,

sinteticamente, que personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior

do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências

singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo,

capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de desempenhar o

seu papel social.

Outra motivação interna para o estresse são as Condições

Emocionais Atuais. Essas, ao contrário dos traços de personalidade, não

caracterizam a maneira de ser da pessoa, mas, sim, dela estar no exato momento

em que se desencadeiam a reação de estresse.

A Organização Mundial de Saúde calcula que 4 em cada 10 pessoas

podem estar passando por momentos depressivos, o que permite inferir que a

incidência do estresse é ainda mais significativa..

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As conseqüências desse processo de estresse é que qualquer tipo

de doença psicossomática pode se manifestar no paciente ansioso e estressado.

Além disso, do ponto de vista emocional o estresse está intimamente relacionado à

Depressão, à Síndrome do Pânico, ao burnout, aos Transtornos da Ansiedade e às

Fobias. Isso tudo sem contar uma vasta lista de sintomas (não doenças) que

acompanham o paciente estressado.

Existe uma série de sintomas possíveis no paciente estressado,

quando este tem tendência a manifestar, como conseqüência do estresse, um

transtorno depressivo, como: dores sem causa física: cabeça, abdominais, pernas,

costas, peito e outras incaracterísticas; Alterações do sono: insônia ou sonolênciaexcessiva; Perda de energia: desânimo, desinteresse, apatia, fadiga fácil;

Irritabilidade: perda de paciência, explosividade, inquietação; Ansiedade: apreensão

contínua, inquietação, às vezes medo inespecífico; Baixo desempenho: alterações

sexuais, memória, concentração, tomada de decisões; Queixas vagas: tonturas,

zumbidos, palpitações, falta de ar, bolo na garganta.

Em relação aos sintomas genéricos, agravados ou desencadeadospelo estresse, podem ser acometidos diversos órgãos ou sistemas, como:

Cardiologia: Palpitações, arritmias, taquicardias, dor no peito; Gastroenterologia:

Cólicas abdominais, epigastralgia, constipação e diarréia; Neurologia: Parestesias,

anestesias, formigamentos, cefaléia, alterações sensoriais; Otorrino: Vertigens,

tonturas, zumbidos; Clínica Geral: Falta de ar, bolo na garganta, sensação de

desmaio, fraqueza dos membros, falta de apetite ou apetite demais; Ginecologia:

Cólicas pélvicas, dor na relação, alterações menstruais; Ortopedia: Lombalgias,artralgias, cervicalgias, dor na nuca; Psiquiatria: Irritabilidade, alterações do sono

(demais ou de menos), angústia, tristeza, medo, insegurança, tendência a ficarem

em casa, pensamentos ruins.

Há, ainda, a ocorrência das chamadas doenças psicossomáticas.

Estas, também desencadeadas ou agravadas pelas emoções, notadamente pelos

estados estressantes à longo prazo, podem atingir qualquer órgão ou sistema:

Cardiologia: Hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, arritmias; Gastroenterologia:

Doença de Crown, polipose, diverticulose, insuficiência hepática; Neurologia:

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Enxaqueca, seqüelas de AVC, hidrocefalias, epilepsia; Otorrino: Labirintopatias,

síndromes vertiginosas, zumbidos; Endócrinologia: Diabetes, insuficiência

suprarenal, Cushing não iatrogênica, tireóide; Clínica Geral: Reumatismos, Lupus,

doença de Reynauld, imunopatias; Ginecologia: Endometriose, esterilidade,

insuficiência ovariana; Ortopedia: Lombalgias, ostofitose, osteoartrose.

Estes dados estão descritos por Springhose Corporation (2005).

Belusci (2005) adverte que as conseqüências do estresse, não se

limitam ao próprio indivíduo estressado. Significa dizer que comunidade

relativamente fechada, como é o trabalho ou o lar, pode ocorrer o fenômeno da"contaminação" emocional. Isso acontece com um pouco de maior freqüência no lar

que no trabalho. Através da contaminação emocional os circundantes passam a

sentir-se ansiosos devido à ansiedade do paciente. Isso acontece também em

relação à irritabilidade, depressão e mau humor.

Para Garcia (2006), uma pessoa estressada muitas vezes se

comporta de maneira a querer que as pessoas em sua também estejamcontaminadas com o seu mal estar, isso a faz sentir-se conformada com a situação.

Ou seja, quer cúmplices para seu mal estar.

O trabalho penitenciário por sua característica precipita em seus

servidores uma condição de esgotamento que reflete justamente nesse sintoma

apresentado pela autora.

Moraes (2005: 232) em seu estudo de caso realizado junto aos

Agentes Penitenciários do Estado do Paraná aponta para esse fenômeno:

“A propósito da relação entre o trabalho e família, explicaSeligmann-Silva (1994, p. 197): "(.») a trama complexa dessainterface, numa visão preliminar, deixa entrever uma via de mãodupla: de um lado, há o fluxo em que a subjetividade deslocaexperiências familiares para o mundo do trabalho; de outro, acorrente que transporta para a vida familiar determinaçõesemanadas do trabalho. Mas os dois fluxos se entrecruzam muitasvezes, ao mesmo tempo em que dão lugar às dinâmicas pelas quaisse «alimentam reciprocamente".

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No entanto, no caso dos agentes penitenciários tudo indica que o

fluxo principal é do trabalho para a família funcionando como um importante

desestabilizador do equilíbrio familiar. Foram recorrentes os depoimentos de

agentes penitenciários que estabeleceram uma relação entre trabalho e

desequilíbrio familiar, quando não indicaram o trabalho na prisão como elemento

determinante da separação do casal ou mesmo da dissolução da família”.

Como se percebe o estresse do trabalho interfere significativamente

nas relações de afeto e amizade podendo inclusive desencadear outros problemas

ainda mais estressantes gerando um circulo vicioso de proporções cada vez mais

imprevisíveis.

Godinho (2006) explica que o sujeito passa a ser mais exigente com

as pessoas mais próximas. O excesso de tensão também pode comprometer a

comunicação, quando as mensagens não são transmitidas integralmente por falta de

paciência ou tolerância. Parece que o estressado cobra ser compreendido por seus

próximos além da capacidade deles entendê-lo.

Na descrição apresentada por Springhose Corporation (2005) estão

descritos alguns sintomas próprios dessa doença do trabalho como:

* Perda de concentração mental, esquecimento

* Fadiga fácil, fraqueza, mal-estar, esgotamento físico, apatia, desmotivação

* Instabilidade, descontrole, agressividade, tendência a discussões

* Depressão, angústia

* Palpitações cardíacas

* Suores frios, tonturas, vertigens

* Dores generalizadas

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* Queixas físicas sem constatação médica

* Respiração alterada, ofegante e curta

* Extremidades (mãos e pés) frias e suadas

* Musculatura tensa e dolorida.

* Indigestão, Gastrite, mudança de apetite

* Insônia

* Indigestão

* Dermatoses, alergias, queda de cabelo

* Tiques nervosos

* Isolamento e introspecção

* Alterações do sono

* Abuso de substâncias alcoólicas e entorpecentes.

2.3. MEDIDAS DE ORDEM  LEGAL E  OPERACIONAL PARA  COMPOR AS  POLÍTICAS DE 

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO 

A Constituição Federal, em seu Capítulo II (Dos Direitos Sociais),

artigo 6º e artigo 7º, incisos XXII, XXIII, XXVIII e XXXIII, dispõem, especificamente,

sobre segurança e saúde dos trabalhadores. A Consolidação das Leis do Trabalho -

CLT - dedica o seu Capítulo V à Segurança e Medicina do Trabalho, de acordo com

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a redação dada pela Lei 6.514, de 22 de dezembro de 1977. O Ministério do

Trabalho, por intermédio da Portaria nº. 3.214, de 8 de junho de 1978, aprovou as

Normas Regulamentadoras - NR - previstas no Capítulo V da CLT.

Esta mesma Portaria estabeleceu que as alterações posteriores das

NR seriam determinadas pela Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho, órgão

do atual Ministério do Trabalho e Emprego. Incorporam-se às leis brasileiras, as

Convenções da OIT - Organização Internacional do Trabalho, quando promulgadas

por Decretos Presidenciais.

As Convenções Internacionais são promulgadas após, submetidas eaprovadas pelo Congresso Nacional. Além dessa legislação básica, há um conjunto

de Leis, Decretos, Portarias e Instruções normativas que complementam o

ordenamento jurídico dessa matéria. Completando essa extensa legislação, é

preciso lembrar que a ocorrência dos acidentes (lesões imediatas ou doenças do

trabalho) pode dar origem a ações civis e penais, concorrendo com as ações

trabalhistas e previdenciárias.

2.3.1 As Contribuições da Medicina e Segurança do Trabalho

Segurança do trabalho pode ser entendida como o conjunto de

medidas que são adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenças

ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho dotrabalhador.

Segundo Reis (2007:22) “A segurança do trabalhador não é apenas

uma obrigação de cumprimento da lei, mas também uma forma de promover o

desenvolvimento e a valorização do ser humano, respeitando sua saúde, integridade

física e bem estar. A função dos Serviços Especializados em Engenharia de

Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) é promover uma relação positiva entre

empregador e empregado, auxiliar no desenvolvimento da consciência coletiva,

tanto dentro como fora da empresa, transmitindo ao trabalhador conhecimentos que

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lhe permitam assumir sua parcela de responsabilidade no que diz respeito à

segurança. Os profissionais do SESMT devem estar sempre atentos a práticas e

condições que possam expor o trabalhador a algum risco, assumindo ações que

visem corrigir e eliminar as irregularidades observadas”

A Segurança do Trabalho estuda diversas disciplinas como

Introdução à Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho, Prevenção e Controle de

Riscos em Máquinas, Equipamentos e Instalações, Psicologia na Engenharia de

Segurança, Comunicação e Treinamento, Administração aplicada à Engenharia de

Segurança, O Ambiente e as Doenças do Trabalho, Higiene do Trabalho,

Metodologia de Pesquisa, Legislação, Normas Técnicas, Responsabilidade Civil eCriminal, Perícias, Proteção do Meio Ambiente, Ergonomia e Iluminação, Proteção

contra Incêndios e Explosões e Gerência de Riscos.

Estão disponíveis no site do Ministério do Trabalho e de outros

órgãos e comissões, inclusive Ongs, ligados à OIT e às relações de trabalho que

orientam, com base na Legislação Nacional e Internacional para a Constituição dos

Serviços de Segurança e Saúde do trabalhador no âmbito das empresas privadas ePublicas, tal como se pode constatar no modelo anexo.

2.4. METODOLOGIA DA PESQUISA 

2.4.1. Caracterização do Universo da pesquisa

O universo desta pesquisa se constituiu na Penitenciaria Estadual de

Londrina - PEL. Esta unidade penal foi criada pelo Decreto nº. 2537 de 02 de

setembro de 1993. Caracteriza-se como Unidade Administrativa de nível sub-

departamental do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná – DEPEN, como

estabelecimento de regime fechado e de segurança máxima, destinado a presos do

sexo masculino, de conformidade com a Lei de Execução Penal nº. 7210 de 11 de

 julho de 1984.

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O objetivo dessa unidade é dar cumprimento às decisões judiciais

privativas de liberdade, nos termos do Regimento Interno do DEPEN.

Conforme dados do Depen – Pr (http://www.pr.gov.br/depen/), essa

unidade se compõe por um quadro de pessoal multidisciplinar formado por 149

Agentes Penitenciários: 30 Administrativos: 12 Técnicos, perfazendo um total de 191

servidores.

Os sujeitos da pesquisa se constituíram na amostra aleatória

composta por 27 agentes de um total de 149 profissionais que formam o Efetivo doServiço de Segurança e Disciplina da Unidade.

A Divisão de Segurança e Disciplina da Unidade - DISED, como nas

demais Unidades Penais do DEPEN, é responsável pela manutenção da integridade

física, moral e custódia de todos os reclusos.

O instrumento de coleta de dados se constitui na observação livre eno questionário.

As perguntas foram elaboradas de forma objetiva buscando

contemplar as categorias: segurança e medicina do trabalho, relações sociais e

econômico-financeira.

2.4.2. Análise dos dados

2.4.2.1. Identificação

Sexo: masculino (22) feminino (05)

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2.4.2.2. Tempo de serviço na função de Agente Penitenciário:

·  Até dez anos: (02)

·  De 11 a 15 anos: (16)

·  Mais de dezesseis anos: (06)

·  Não respondeu: (03)

2.4.2.3. Formação Acadêmica:

·  Ensino médio: (06)

·  Superior completo: (13)

·  Incompleto: (07)

2.4.2.4. Informações de caráter sócio-familiar

·  Sua história conjugal compõe-se de mais de um relacionamento estável, ou seja,

você já passou por processo formal ou informal de separação conjugal? Sim (15)

Não (12)

·  Possui filhos oriundos de outros relacionamentos conjugais, além dos atuais, aos

quais presta auxilio de ordem financeira, pensão alimentícia, etc.? Sim (10) Não

(17)

·  Diante da atual conjuntura de ameaças aos profissionais da área de segurança

sente-se preocupado com a segurança pessoal e de sua família? Sim (16) não(01)

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·  Esta situação interfere no seu ciclo de amizades? Sim (14) Não (13)

2.4.2.5. Informações de caráter econômico - financeiro

·  Seus compromissos financeiros estão de acordo com o seu salário? Sim (17)

Não (10)

·  Já esteve inscrito em algum serviço de proteção ao credito? Sim (19) Não (08)

·  Possui empréstimos consignados em folha de pagamento? Sim (24) Não (03)

2.4.2.6. Informações de caráter da segurança e medicina do trabalho

·  Já esteve afastado para tratamento de saúde? Sim (19) Não (08)

·  Faz uso de medicação continuada para tratamento de alguma doença? Sim (15)

Não (12)

·  Apresenta sintomas como os abaixo descritos?

·  Dores sem causa física: cabeça, abdominais, pernas, costas, peito e outras

características. Sim (25) Não (03)

·  Alterações do sono: insônia ou sonolência excessiva. Sim (19) Não (08)

·  Perda de energia: desânimo, desinteresse, apatia, fadiga fácil. Sim (17) Não (10)

·  Irritabilidade: perda de paciência, explosividade, inquietação. Sim (20) Não (07)

·  Ansiedade: apreensão contínua, inquietação, às vezes medo inespecífico. Sim(21) Não (06)

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·  Baixo desempenho: alterações sexuais, memória, concentração, tomada de

decisões. Sim (14) Não (13)

·  Queixas vagas: tonturas, zumbidos, palpitações, falta de ar, bolo na garganta.

Sim (12) Não (15)

2.4.2.7. Avaliação de Ordem Profissional:

·  O que mais te causa stress no exercício de sua profissão?

(06) ingerências externas à dinâmica do seu trabalho;

(06) assédio moral (abuso de poder de seus superiores, da administração

penal, da burocracia do Estado, etc.);

(14) o caráter penoso, perigoso e insalubre decorrente do trabalho com amassa carcerária;

(10) o plano de carreira, cargos e vencimentos.

2.4.3. Interpretação dos dados

Dos vinte e sete sujeitos que participaram da pesquisa vinte e dois se

constituíram em agentes penitenciários do sexo masculino e cinco do sexo feminino.

Vale ressaltar que a unidade que serviu de universo da pesquise se constitui em

uma unidade destinada ao cumprimento de penas privativa de liberdade em regime

de segurança máxima exclusiva para presos do sexo masculino. O que significa que

o contingente de homens no quadro funcional é significativamente maior. No que se

refere à escolaridade foi possível constatar que a maioria dos servidores apresenta

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um nível de escolaridade acima do nível requerido como pré-requisito para a

admissão na carreira que o nível médio.

Assim dos vinte e sete vinte agentes completaram ou estão em vias

de completar o ensino superior. Interessante informar que dos seis agentes que

detém apenas a formação em nível médio, cinco são profissionais com mais de

dezesseis anos de função, portanto, não fizeram parte do grupo que participou do

concurso publico para formar o quadro original da PEL. A política de plano de

carreira desenvolvida pela lei 13666/2002, conforme se constatou, demanda

formação continuada do servidor como requisito para a promoção na carreira.

Essa exigência pode constituir-se em um fator importante para esse

quadro de formação dos trabalhadores.

Também o fato de que os servidores que compõem esse quadro

prestaram concurso na década passada, se constituindo de candidatos muito jovens

à época do concurso. Isso se percebe pelo tempo de serviço informado sendo que

02 detêm até 10 anos de vinculo com 16 pessoas estão no cargo pelo períodocorrespondente entre onze e quinze anos, o que corresponde ao tempo de

existência da própria unidade penal pesquisada. Seis agentes estão no cargo há

mais de dezesseis anos. E três não informaram seu tempo de serviço no cargo.

No que se refere aos dados de ordem sócio-familiar em sua relação

social com o trabalho os resultados revelaram que quinze servidores já vivenciaram

mais de uma relação estável.

Dez servidores informam constituir famílias descritas como

recombinadas formadas pelo casal por filhos de outros relacionamentos, e ou,

possuem compromissos financeiros com outras famílias seja por força legal de

pagamento de pensão alimentícia ou obrigações assumidas em função do

reconhecimento moral da paternidade.

Quanto aos reflexos das condições atuais de segurança e dos

episódios de violência envolvendo profissionais da área de segurança pública e as

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constantes ameaças das facções criminosas aos agentes penitenciários 26 dos

sujeitos da pesquisa informam que vivem sob o signo do medo em relação aos

riscos de sua profissão para os membros de suas famílias. Na verdade, apenas um

sujeito da amostra informa não estar preocupado com essa questão. No mesmo

nível de analise as relações

De amizade foram avariadas como sendo também, uma área das

Relações sociais afetadas pelas características da profissão. Nessa questão 14

agentes entendem que suas amizades são prejudicadas em função da área em

atuam.

Para 13 servidores, porém, o circulo de amigos não sofre

interferência pela característica de sua profissão.

Ao avariar os aspectos de ordem econômico-financeira 17 servidores

avaliam que seus compromissos financeiros estão de acordo com seu nível salarial.

Tal situação parece refletir as políticas salariais implementadas apartir da implantação da lei 13666/2002.

Esse dado, no entanto, conflita com os resultados seguintes na

medida em que 19 informam terem vivido a experiência de ter seu nome escrito no

serviço de proteção ao credito como SERASA e SPC. E 24 revelam terem

constituído empréstimos consignados em folha de pagamento. Significa que dos 27

entrevistados apenas 08 não tiveram “passagem” por esses serviços e 03, nomomento não detém seus vencimentos comprometidos com empréstimos

consignados.

Quanto às questões relativas à segurança e medicina do trabalho

observou-se que 19 dos pesquisados já esteve afastado dos serviços para

tratamento de saúde sendo que: 15 agentes fazem uso de medicamentos de uso

continuado para tratamento de alguma doença.

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No que diz respeito à saúde física e mental atual constatou-se que 25

agentes são acometidos de dores sem causa física: cabeça, abdominais, pernas,

costas, peito e outras características. Dezenove queixam-se de alterações do sono:

insônia ou sonolência excessiva.

Dezessete (17) pessoas sofrem de perda de energia provocando

desânimo, desinteresse, apatia, fadiga fácil. 20 agentes se percebem com um

quadro de Irritabilidade o que acarreta perda de paciência, explosividade,

inquietação.

São 21 os servidores que no seu dia a dia se encontro em um quadrode ansiedade de maneira que está sofrendo de uma apreensão contínua,

inquietação, às vezes medo inespecífico. Questões relativas ao Baixo desempenho

no que se refere às alterações sexuais, de memória, de concentração, de tomada de

decisões afetam 14 dos 27 entrevistados.

Ressalta-se que como este dado envolveu desempenho sexual, pode

ter tido uma variável do ponto de vista moral e emocional o que pode ter prejudicadona veracidade das respostas. Doze (12) dos entrevistados informam queixas vagas

como tonturas, zumbidos, palpitações, falta de ar, bolo na garganta. No que se

referiu às avaliações de Ordem Profissional, foram propostas a consideração de

diferentes fatores estressores. Observou-se neste quesito que há dificuldade dos

agentes dimensionarem quais são os aspectos que provocam maior desgaste

culminando com o estresse no seu dia-a-dia. Dessa maneira as respostas

contemplaram mais de um fator por entrevistado.

Foi possível inferir que são as questões orgânicas e estruturais da

profissão as que mais prejudicam o trabalho penitenciário, sob a ótica dos

profissionais pesquisados.

Vale alertar para o significado dos dados coletados que cada um dos

plantões, de acordo com as escalas de serviço atual, sobretudo, no período noturno

em que o efetivo em significativamente menor, são formados por no máximo XX

agentes. Isso significa que estimativamente mais de cinqüenta por cento do efetivo

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por escala de serviço apresenta um quadro de comprometimento no que se refere à

saúde e à segurança do trabalho.

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3 CONCLUSÃO

A medicina e segurança do trabalho reconhecem a existência de

doenças causadas pelo desgaste físico e mental em razão do tipo de atividade

laborativa desempenhada por certas profissões.

No que se refere à profissão do agente penitenciário não se constata

um quadro reconhecido o que significa que de acordo com as novas diretrizes do

Ministério do Trabalho, os Estados devem envidar esforços no sentido de se

promover políticas preventivas para todos os trabalhadores e inclui nas diretrizes

também os servidores públicos.

Na verdade, o referencial que se tem dessa profissão do ponto de

vista do amparo legal carece de detalhamento de tal maneira que o

dimensionamento dos riscos da profissão em toda sua amplitude e complexidade

esta inscrito muito mais em estudos não oficiais das diferentes áreas do

conhecimento sem, no entanto, influenciar nos ordenamentos de proteção

profissional.

O que foi possível avaliar a partir desse estudo é que de fato:

1. Não existe uma sistematização, um estudo, um programa, uma

previsão, etc., sobre o quadro de segurança e saúde do trabalhador na área

penitenciaria, portanto, se não há no nível institucional o conhecimento do problema,

não há também a respectiva providencia;

2. Existem problemas sérios relacionados à saúde e segurança do

trabalhador que não esta dimensionado, mas pode ser constatado pelos dados da

pesquisa e pela Política nacional destinada a esta área;

3. Há uma orientação do Governo Federal e seu cumprimento pelos

Estados deve ser fiscalizado, acompanhado participativamente pelos atores

envolvidos nesta questão com base nos princípios democráticos do estado de

Direito;

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4. Existe uma demanda, portanto, de que o Estado e, sobretudo o Depen

implementem um Programa de Segurança e Saúde do Servidor Penitenciário, não

apenas porque assim o determina as Diretrizes da Política nacional de Saúde e

Segurança do Trabalho, mas, em razão da urgência de suas funções sociais e legais

de estabelecer uma Política de Saúde e Segurança do Trabalho no âmbito de suas

unidades à medida que este departamento se agiganta, assim como se tornam

complexas as suas demandas nesta área.

Diante da pesquisa elaborada, dos subsídios encontrados na

legislação, nas demandas e expectativas dos Agentes Penitenciários é que seentende urgente a adoção de medidas como as que estão sistematizadas a seguir

baseadas nas Diretrizes apresentadas pelo Ministério do Trabalho.

Diretrizes e Estratégias para uma Política Estadual de Segurança e

Saúdo do Servidor Penitenciário

Com base nas propostas sistematizadas nas Diretrizes do Ministériodo Trabalho do Governo Federal è possível desenvolver um quadro de

possibilidades de políticas de segurança e medicina do trabalho para o desempenho

do trabalho penitenciário.

Ampliação das ações de Saúde e Segurança do Trabalho, visando ao

desenvolvimento de um programa de Gestão da Saúde e Segurança na Gestão de

pessoas do Departamento Penitenciário do Paraná.

Elaboração e aprovação de dispositivos legais que garantam a

Harmonização das normas e articulação das ações de promoção, proteção e

reparação da saúde do Agente Penitenciário.

Normatizar, de forma intersecretarial, os assuntos referentes à

Segurança e Saúde do Trabalhador, em matérias que requeiram ações integradas

ou apresentem interfaces entre os diversos órgãos de governo, como a Secretaria

do Planejamento e Fazenda para viabilizar recursos para o desenvolvimento de um

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programa preventivo, de implementação de equipamentos de segurança; de

medidas de redução e reparação de danos e de suporte psicossocial para todos os

Agentes Penitenciários;

Adotar regras comuns de Segurança e saúde do Trabalhador para

todos os servidores que atuam na segurança e custodia de presos observando o

principio da equidade;

Dimensionar os Serviços Especializados em Engenharia de

Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT, de modo a adequá-los aos objetivos

da PNSST tendo em vista que esta é uma área que não promove no âmbito dodepen qualquer ação conjunta visando otimizar suas prerrogativas na administração

publica;;

Articular e integrar as ações de interdição nos locais de trabalho

inclusive postos de guardas nos quais as condições de trabalho apresentem riscos

acima do tolerável.

Estabelecer como principio norteador a precedência das ações de

prevenção sobre as de reparação, ou seja, propor medidas preventivas.

Implementar a aposentadoria especial tal como prevê a Lei para as

profissões de caráter perigoso penoso e insalubre.

Estabelecer política de incentivos que privilegie as unidades commenores índices de doenças e acidentes de trabalho e que invistam na melhoria das

condições de trabalho. Criar mecanismos de benefícios com financiamento

subsidiado para a melhoria das condições e ambientes de trabalho, incluindo,

equipamentos e processos seguros sobretudos nas unidades não automatizadas;

Organizar o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e

Medicina do Trabalho – SESMT, de modo a adequá-los aos objetivos da PNSST no

âmbito do DEPEN – PR;

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Instituir a obrigatoriedade de publicação de balanço de SST para as

unidades penais, a exemplo do que já ocorre com os dados contábeis.

Contemplando incidentes com presos, internamentos, afastamentos para tratamento

de saúde, óbitos, programa de acompanhamentos a doenças do trabalho;

Estruturação de Rede Integrada de Informações em Saúde do

Trabalhador a partir da padronização dos conceitos e critérios quanto à concepção e

caracterização de riscos e agravos à segurança e saúde dos Agentes Penitenciários

relacionados aos processos de trabalho, inclusive, estabelecendo níveis de risco

para cada posto de gurada e vigilância, atividade internas como movimentação de

presos, escoltas, etc., a fim de equacionar e distribuir qualitativa e com equidade adesignação de postos de trabalho ao longo do dia e do mês. Isso evita que um

mesmo profissional seja escalado repetitivamente em postos de maior risco em

detrimento de outros protegidos escalados sempre para setores de menor risco;

Compatibilizar os Sistemas e Bases de Dados, a ser partilhado pela

secretaria de justiça, de administração (DIMS), Paraná Previdência para que se

compatibilizem os instrumentos de coleta de dados e fluxos de informações namedida em que os problemas na área de segurança e medicina do trabalho não são

tratados de maneira conjunta por estes órgão o que significa na pratica que o

tratamento que se da à questão não se harmoniza entre estes órgãos de maneira

que não existe uma ação integrada, sistematizada.

Instituir a concepção do nexo epidemiológico presumido para

acidentes e doenças relacionadas ao trabalho;

Atribuir também ao SAS a competência de estabelecer o nexo

etiológico dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho e analisar possíveis

questionamentos relacionados com o nexo epidemiológico presumido;

Incluir nos Sistemas e Bancos de Dados as informações contidas nos

relatórios de intervenções e análises dos ambientes de trabalho, elaborados pelos

órgãos de governo envolvidos nesta Política.

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Reestruturação da Formação em Saúde do Trabalhador e em

Segurança no Trabalho e incentivo a capacitação e educação continuada dos

trabalhadores responsáveis pela operacionalização da PESST (Política Estadual de

Segurança e Saúde do Trabalhador) estabelecendo referências

curriculares para a formação de profissionais em SST, de nível técnico e superior

pela SEAP através da escola de Governo ou pela ESPEN;

Incluir conhecimentos básicos em SST nos cursos de formação do

GAP, nos admissionais e de formação continuada para todas as áreas;

Incluir disciplinas em SST, obedecendo aos interesses desta Política,

nos programas dos cursos para os profissionais de saúde, engenharia e

administração.

Desenvolver um amplo programa de capacitação dos profissionais,

para o desenvolvimento das ações em segurança e saúde do trabalhador,

abrangendo a promoção e vigilância da saúde, prevenção da doença, assistência ereabilitação, nos diversos espaços sociais onde essas ações ocorrem.

Os servidores e representantes dos sindicatos responsáveis pelo

controle dessas ações também devem estar incluídos nos processos de educação

continuada.

Promoção de Agenda Integrada de Estudos e Pesquisas emSegurança e saúde do Trabalhador de tal maneira que seja possível compatibilizar

os Sistemas e Bases de Dados, a serem partilhados pelos órgãos envolvidos na

questão.

Promoção de Agenda Integrada de Estudos e Pesquisas em

Segurança e saúde do Trabalhador nas unidades penais do estado tendo em vista a

relevância dessa área para a sociedade estimulando a produção de estudos e

pesquisas na área de interesse desta Política através da articulação com instituições

de pesquisa e universidades para a execução de estudos e pesquisas em SST,

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integrando uma rede de colaboradores para o desenvolvimento técnico - cientifico na

área;

Garantir recursos do Governo para linhas de financiamento de

pesquisa em segurança e saúde dos trabalhadores da área penitenciaria.

Quanto a Gestão e Acompanhamento do Programa de Segurança e

Saúde no trabalho penitenciário será conduzida por uma Comissão multidisciplinar

de Segurança e Saúde do Servidor integrada, no mínimo, por representantes do

SAS, do DEPEN, dos Servidores. Essa comissão terá como prerrogativa elaborar o

Plano de Ação de Segurança e Saúde do Servidor, assim como coordenar aimplementação de suas ações.

A partir das deliberações da Comissão, serão constituídos Grupos

Executivos no interior das Unidades Penais de Segurança e Saúde do Trabalhador,

com a atribuição de coordenar as ações de Segurança e Saúde do Trabalhador, em

suas respectivas áreas de abrangência.

Os integrantes da Comissão serão designados por portaria

secretarial.

O funcionamento da Comissão será estabelecido em Regimento

Interno, estabelecendo, entre outros aspectos:

- coordenação rotativa, com mandato de um ano;

- definição de periodicidade das reuniões;

- estrutura de apoio a cargo do órgão em exercício da coordenação.

A formulação de Normas e Regulamentos, na área de SST, seguirá

as metodologias próprias de cada unidade, e serão levadas à Comissão para a

informação e discussão de possíveis conflitos de interesses ou superposição de

áreas, antes de sua publicação;

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Caberá à Comissão propor a revisão periódica da Política e

estabelecer os mecanismos de validação e controle social.

A Comissão ficará vinculada diretamente ao Secretario da Justiça

como uma estrutura subdepartamental de maneira orgânica.

Os setores de governo envolvidos na implementação e execução

desta Política, respeitados os respectivos âmbitos de competências, serão

responsáveis pelo desenvolvimento das atribuições abaixo discriminadas.

a) formular e implementar as diretrizes e normas de atuação da área de

segurança e saúde no trabalho no âmbito do DEPEM-PR

b) planejar, coordenar e orientar a execução do Programa de Alimentação

do Trabalhador e da Campanha de Prevenção de Acidentes do Trabalho;

c) planejar, coordenar e executar as atividades relacionadas com a inspeçãodo trabalho, no âmbito das unidades penais

d) desenvolver pesquisas relacionadas com a promoção das melhorias das

condições de trabalho;

e) produzir e difundir conhecimentos técnicos científicos, em SST;

f) propor atividades de educação e treinamento em SST;

g) subsidiar a elaboração e revisão das Normas Regulamentadoras;

h) avaliar as atividades de modo a dimensionar o impacto das ações

desenvolvidas, permitindo sua reorientação.

i) avaliar, em conjunto com o SAS, a relação entre as condições de trabalho

e os agravos à saúde dos trabalhadores;

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No que se refere aos recursos financeiros deve ser previsto na

programação orçamentária anual do DEPEN recursos para a área da segurança e

saúde do trabalhador de modo adequado e permanente no orçamento da SEJU,

mediante programa específico

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 ANEXO I

Modelo de Questionário

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 ANEXO II

Regimento Interno da PEL 

Resolução nº. 121/93 - SEJU 

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 ANEXO III

MANUAL DE SAUDE E SEGURANÇA DO TRABALHO:

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 ANEXO IV

REPORTAGENS