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1 “ADOPT_DTV: Barreiras à adopção da televisão digital no contexto da transição da televisão analógica para o digital em Portugal” ( PTDC/CCI‐COM/102576/2008) Relatório do Estudo Etnográfico Setembro de 2011

Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

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Relatório do projecto de investigação ADOPT-DTV

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Page 1: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

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“ADOPT_DTV:Barreirasàadopçãodatelevisãodigitalnocontextoda

transiçãodatelevisãoanalógicaparaodigitalemPortugal”

(PTDC/CCI‐COM/102576/2008)

RelatóriodoEstudoEtnográfico

Setembrode2011

Page 2: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

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Esterelatórioconstituiumadascomponentesdeinvestigaçãodoprojecto“ADOPT‐DTV:Barreirasà

adopçãodatelevisãodigitalnocontextodatransiçãodatelevisãoanalógicaparaodigital”(PTDC/CCI‐COM/102576/2008),daresponsabilidadedoCentrodeInvestigaçãoemComunicação,ArteseNovas

Tecnologias(CICANT)daUniversidadeLusófonadeHumanidadeseTecnologias,comofinanciamentodaFundaçãoparaaCiênciaeTecnologia,emparceriacomoObercomeAnacom.

EQUIPADEINVESTIGAÇÃOUniversidadeLusófonadeHumanidadeseTecnologias

‐ManuelJoséDamásio(investigadorresponsável)‐CéliaQuico(coordenação‐geral)

‐IolandaVeríssimo‐SaraHenriques

‐RuiHenriques‐InêsMartins

‐ÁgataSequeira

PARCEIROS

‐Obercom–ObservatóriodaComunicação‐Anacom–AutoridadeNacionaldasComunicações

FICHATÉCNICA

Título: “ADOPT‐DTV:EstudoEtnográfico”Autoria: IolandaVeríssimo,comSaraHenriqueseCéliaQuico(coordenaçãoerevisão)

DatadePublicação: Setembrode2011

Page 3: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

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Índice

1. Introdução...................................................................................................................... 4

Trabalhodecampoeamostra.................................................................................................. 8

2. Principaisresultadosdoestudoetnográfico ................................................................. 14

ConhecimentosobreaTVDigital ........................................................................................... 16

VantagensedesvantagensdaTVDigital ................................................................................ 20

MotivosparaterounãoterTVdigital.................................................................................... 23

Conhecimentodo“switch‐off” ............................................................................................... 26

ATVnospróximos5e10anos ............................................................................................... 31

3.Bibliografia ...................................................................................................................... 38

Page 4: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

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1. Introdução

O estudo etnográfico nas três zonas‐piloto de transição para a Televisão Digital

Terrestre(TDT)emPortugal, inseridonoprojectode investigação“ADOPT–DTV:Barreirasà

adopção da televisão digital no contexto da transição da televisão analógica para o digital

(PTDC/CCI‐COM/102576/2008)”, teve por principal objectivo compreender em contexto

natural quais são as suas atitudes, grau de conhecimento, usos ou expectativa de uso em

relação à TVdigital. Ainda, houve a intençãode compreender comoestas famílias adoptam

novas tecnologiasde informaçãoecomunicaçãoounovosequipamentosdeentretenimento

domésticoepessoalequaissãoosseusestilosdeaprendizagem.

Arealizaçãodeentrevistassemi‐estruturadaseaobservaçãopresencialdarotinadas

famíliastevetambémoobjectivodeavaliarasatitudesepreferênciasemrelaçãoàtelevisão,

abordando‐se,porexemplo,osgénerostelevisivosfavoritosdosindivíduos,afrequênciacom

queestãoem frente aoecrã e a forma como interagemcomeste através, por exemplo, de

serviços como o teletexto. Finalmente, aos participantes foi pedido que projectassem no

futuroassuaspreferênciasrelativamenteàtelevisão:oquegostariamdeverouobteratravés

datelevisãoecomoseriasuatelevisãoidealnofuturopróximo.

A Etnografia (do Grego ‘ethnos’ = nação e ‘graphein’ = escrita) é uma abordagem

teóricaepráticaherdadadaAntropologiaqueprocuraobterumadescriçãoholísticadetalhada

eprocederàanálisedeculturasatravésdetrabalhodecampointensivo(Barker,2000‐2003).

ParaCliffordGeertz(1973)oquedefineaEtnografiaéserumademandaarriscadaecomplexa

paraobterumadescriçãodensaou‘thickdescription’,tomandodeempréstimoumanoçãodo

filósofoGilbertRyle.

NocampodosEstudosCulturais,aEtnografiaestácentradanaexploraçãoqualitativa

dosvaloresesignificadosnocontextodeummododevidatotal(Barker,2003).Ganharacesso

aosdomíniosnaturalizados,naexpressãodeDavidMorley(1992:186),eàssuasactividades

características é o objectivo principal da Etnografia e de outras estratégias de investigação

qualitativas usadas nos Estudos dosMedia.Morley defende que uma acção como a de ver

televisão deve ser compreendida na dinâmica e na estrutura do contexto doméstico de

consumo do qual é parte (1992). As limitações dos inquéritos quantitativos baseados em

dadosestatísticosestãobemestabelecidas,afirmaMorley,paraquemastécnicasestatísticas

sãodesagregadoras,jáqueinevitavelmenteisolamunidadesdeacçãodoscontextosquelhes

dãosignificado.Denotarque,comfrequênciaaEtnografiatemvindoaserinvocadadeforma

Page 5: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

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polémica contra a tradição da investigação quantitativa em comunicação, já que trata da

compreensãoqualitativadaactividadeculturalemcontexto(Barker,2003:26).Oargumento

apresentadoporMorley(1992)éque,emprimeirolugar,orequisitoessencialéodefornecer

uma descrição densa adequada à complexidade da actividade de ver televisão, seguindo

Geertz,equeasperspectivasantropológicaseetnográficassãoutilidadeparaseatingireste

objectivo. Este sociólogo integrou o Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS) da

University of Birmingham, onde de 1975 a 1979 liderou o importante estudo Nationwide

Audience, baseado no noticiário de assuntos correntes transmitido todos os dias úteis pela

BBC1das18às19horas.Nasequênciadesteestudo,MorleyviriaaadoptaraEtnografiacomo

metodologianoprojectode investigaçãoFamilyTelevision (1985‐86),noqual seprocedeua

entrevistasdefamíliasnassuasprópriascasas,deformaaseaveriguarcomopercepcionamo

papeldatelevisãonoconjuntodasactividadesdetemposlivres.

AntesdeMorley,jáoantropólogoculturalnorte‐americanoJamesLullhaviarecorrido

à Etnografia como método, ao realizar um estudo com a duração de 3 anos no qual os

investigadores viveram com 200 famílias dos estados da Califórnia eWisconsin, integrados

durante2a7diasnoseudia‐a‐dia.Nesteestudo,quedecorreunadécadade70,optou‐sepor

considerar os usos sociais da televisão, com recurso à Antropologia e à Etnometodologia

(observação dos comportamentos rotineiros). Deste trabalho de investigação, Lull concluiu

queos usos sociais da televisão sãoprimordialmentededois tipos: estruturais e relacionais

(Gauntlett&Hill,1999).

Noentanto,aaplicaçãodemétodosde investigaçãodematrizetnográficanocampo

dos Estudos de Audiências coloca novas questões e desafios. Ien Ang, autora de livros

fundamentaisnestecampocomoWatchingDallas(1986)eDesperatelySeekingtheAudience

(1991),perguntaquetipodeconhecimentopodeserproduzidopelainvestigaçãoempíricadas

audiências,melhordizendo,qualéapolíticadaetnografiadasaudiências(cit.Morley,1992).

De ummomento para outro, todos eram etnógrafos, refere aindaMorley (1992: 186), que

perguntaseoetnógrafonãosetornouuma‘fashionvictim’,seguindodepertoaobservação

deLull,queconsideravajánofinaldadécadade80queapalavraEtnografiasetornounuma

‘buzz‐word’utilizadaabusivamentenosEstudosdeAudiências.

A utilização abusiva do termo Etnografia também foi notada por David Gauntlett e

Annette Hill, autores de outra obra de referência nos estudos de audiências TV Living:

Television,CultureandEverydayLife(1999),combasenumestudolongitudinalcomaduração

de cinco anos promovido pelo British Film Institute, com recurso a diários de utilização de

mediaporpartede500departicipantes, tendoporobjectivosexplorarquestõesdegénero,

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identidade,impactodasnovastecnologiaseoimpactodasprópriasideiaseexperiênciasdos

espectadores.GauntletteHill consideramque,apesarde tudo,o termoEtnografianão será

inapropriado (1999: 8), já que reflecte um compromisso com o quotidiano e com a

investigação qualitativa, porém o seu significado no campo dos estudos de audiências é

diferente do atribuído tradicionalmente na Sociologia ou Antropologia, cujos investigadores

observam durante meses ou mesmo anos os seus sujeitos de investigação. Ainda assim, o

contributodaEtnografiaparaodesenvolvimentodosestudosdeaudiências temvindoaser

extremamente importante ao introduzir os contextos quotidianos nos quais os media são

usados e ao permitir que os consumidores exprimam ou demonstrem nos seus próprios

termos o que fazem com os media (Gauntlett & Hill, 1999: 8), sendo bem evidente nos

seguintesestudosdeautoriadeDavidMorley(1985‐86)FamilyTelevision,dePatriciaPalmer

(1986)The Lively Audiencee deDavidMorley&Roger Silverstone (1990) –HouseholdUses

ofInformationandCommunicationTechnologyproject.

Metodologiaeprocedimento

Emrelaçãoàmetodologia seguidaparaopresenteestudoetnográfico,optou‐sepor

recorreraotipodeetnografia‘quick&dirty’porestapossibilitardeformarápidaeeficazuma

compreensãoricaedetalhadadediferentescontextosdomésticosdeusodosmediaeTICpor

partedefamíliasportuguesas.Osestudosetnográficos‘quick&dirty’sãodistintosdosestudos

etnográficosconvencionaispor teremumaduração temporalmais limitadaepornãoserem

exaustivos em relação aos contextos que se propõem investigar, ou seja, são breves e

fornecemuma ideia geralmas informadados contextos (Hughes,King,Rodden&Andersen,

1994:432).

A etnografia ‘quick& dirty’ tem vindo a ser utilizada na área do design de sistemas

parainformardesignerseprogramadoressobreosmodoscomoosutilizadores‐finaisactuam

emcontextosconcretos,sobretudoemlocaisdetrabalho.Dosdiferentesusoseaplicaçõesda

etnografia no design, JohnHughes e sua equipa do Computer Supported CooperativeWork

(CSCW) Research Centre da University of Lancaster identificaram (1994) para além da

etnografia ‘quick & dirty’, a etnografia concorrente, a etnografia avaliativa e o reexame de

estudosprévios. TranspondooqueHuguese suaequipaafirmaram (1995) sobreautilidade

dos estudos etnográficos ‘quick& dirty’ no desenvolvimento de sistemas e software para a

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investigaçãodas audiências, aooptar por esta via háo entendimentodeque será capazde

fornecerconhecimentoválidoevaliososobreumdadocontextonumperíodocurtodetempo.

O procedimento geral para estas sessões de observação etnográfica consistiu na

observaçãopresencialda família,comduraçãoaproximadade30a60minutose registoem

vídeo,àqualseseguiuaconduçãodeumaentrevistasemi‐estruturadaatodaafamília,com

duraçãoaproximadade30a60minutos,tambémcomregistoemvídeoecomanotaçõesno

guiãodaentrevista.

Procedimento

1.Introdução

- descreverobjectivodoestudoetnográficoeoseuenquadramentonotrabalhode

investigação;

- asseguraraconfidencialidadedosdados.

2.Observaçãoetnográfica(cercade30a60minutos)

‐instalaçãodecâmaradefilmarnumlocalcentraldasaladeestar:registovídeoda

dinâmicafamiliarnasaladeestar+tomadadenotas;

- duraçãodaobservação:limite60minutos.

3.Entrevistasemi‐estruturada(cercade30a60minutos)

- pediracadamembrodafamíliaparadescreverumdiatípicodesemanaeumdia

típicodefim‐de‐semana.

- questõessobrepadrõesdeusodetelevisão,erespectivasatitudesepreferências:

I–Ocupaçãodetemponodia‐a‐diaeactividadesnostemposlivres

II–Televisão:posse,usos,preferênciaseatitudes

III–TVdigital:conhecimento,atitudeseexpectativas

4.Conclusão(5minutos)

- pedir a todos os membros da família para assinar um compromisso de

Page 8: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

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confidencialidade para utilizar dados e que no qual fique assegurada a

confidencialidadedainformaçãoprestada,

- agradecer.

Trabalhodecampoeamostra

O trabalho de campo decorreu entre Setembro de 2010 e Março de 2011, e o

recrutamentodaamostrafoifeitoatravésdocontactocomascâmarasmunicipaisdeAlenquer

e da Nazaré, bem como com as juntas de freguesia de Agualva, Cacém, Mira‐Sintra e São

Marcos, na tentativa de encontrar famílias com os perfis adequados aos objectivos do

projecto.AjuntaràcolaboraçãodascâmarasdeAlenqueredaNazaré,edajuntadefreguesia

de Agualva, houve a necessidade de se recorrer a algumas pessoas conhecidas, para que

sugerissemfamíliasnastrêszonas‐pilotopotencialmentedisponíveisparaparticiparnoestudo

etnográfico.

Devesernotadoquehouveapreocupaçãodeincluirnestaamostrafamíliascompelo

menos um elemento commais de 65 anos de idade e com pelomenos um elemento com

necessidadesespeciais,demodoaobterumamelhorpercepçãodascaracterísticasespecíficas

destaspopulaçõesemrelaçãoàTVdigital.Destaforma,entreaamostrade30famílias,13são

constituídasporumoumais elementos commaisde65 anos, comoeraobjectivo inicial do

projecto. Da mesma maneira, duas das famílias visitadas incluem um elemento com

necessidadesespeciais.Numdoscasos,visitou‐seafamíliadeumaadolescentequesofrede

deficiênciamental,enooutro,entrevistou‐seumindivíduoinvisual,de64anos.

No conjunto, foram contabilizadas 117 pessoas, das quais 63 estiveram presentes e

participaramactivamentenasentrevistas.Apesardenãotersidopossívelentrevistartodosos

elementosdasfamílias,nãorarasvezesosindivíduosentrevistadosdescreveramasrotinasdos

familiaresquenãofalaramounãoestiverampresentes.

Nouniversoda amostra, apenasduaspessoas afirmaramnão ver televisão todosos

dias,tendo‐seapuradoque,em14famílias,emmédiaassiste‐seentre3a5horasdetelevisão

pordia.Emcontrapartida,aamostraincluitambémfamíliasondesevêmenosdeumahorade

televisãodiária(3famílias),atéfamíliascujososelementosemmédiapassammaisde7horas

emfrenteaoecrã(6famílias).Finalmente,édesalientarqueseatribuíramnomesfictíciosaos

participantesnoestudo,deformaapreservaroanonimatodosparticipantes.

Page 9: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

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Tabela1Estudoetnográfico“ADOPT‐DTV”‐Participantes

ID: Dataelocal: Participantes: Parentesco:Adelaide(33anos) MãeCarlos(37anos) PaiPedro(8anos) FilhoMartim(4anos) FilhoFilipe(2anos) FilhoJoão(59anos) Avô

Família1‐Rosário(7elementos)

17‐09‐2010Nazaré

Marta(53anos) Avó17‐09‐2010Nazaré

José(68anos) Pai

Beatriz(60anos) Mãe Laura(70anos) Irmã

Família2Sobral

(3elementos) Patrícia(22anos) Filha

Margarida(35anos) MãeJacinto(40anos) PaiCélia(20anos) FilhaSandra(18anos) FilhaFátima(15anos) FilhaInês(19meses) Filha

Henrique(14anos) Filho

Família3‐Roda(8elementos)

11‐10‐2010Nazaré

Júlio(recém‐nascido)Neto(filhode

Célia)Isabel(73anos)Família4‐Pereira

(2elementos)15‐10‐2010Nazaré João(77anos)

Casal

Família5‐Santos(1elemento)

19‐10‐2010Alenquer

Catarina(73anos)

Marília(43anos) Mãe

Vasco(51anos) Pai

Luísa(32anos) Filha

João(25anos) Filho

Mário(15anos) Filho

Raquel(13anos) Filha

Joana(9anos) Neta

Sofia:(8anos) Filha

Família6‐Alves(10elementos)

21‐10‐2010Nazaré

Miguel(1ano) Neto

Família7‐Pinto(2elementos) 23‐10‐2010 Margarida(69anos) Casal

Page 10: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

10

Nazaré António

Família8–Lopes

(1elemento)29‐10‐2010

AlenquerJoana(71anos)

Adelaide(37anos) Mãe

Teresa(6anos) FilhaFamília9Gaudêncio(3pessoas)

29‐10‐2010Alenquer

Rita(11anos) Filha

Celeste(74anos)Família10‐Graça(2elementos)

05‐11‐2010Alenquer Américo(77anos)

Casal

Rosa(76anos)Família11‐Assis(2elementos)

05‐11‐2010Alenquer António(76anos)

Casal

Carla(50anos) Mãe

Lara(18anos) Filha

Cristiano(23anos) Filho

Rodrigo(71anos) Avô

Família12Marques

(5elementos)

08‐11‐2010Nazaré

Amélia(76anos) Avó

Júlia(26anos) Mãe

Manuel(48anos) Pai

Rui(6anos) Filho

Família13Andrade

(4elementos)

15‐11‐2010Nazaré

Ivo(9anos) Filho

Paula(59anos)Família13Freitas(2elementos)

22‐11‐2010Nazaré Jorge(64anos)

Casal

Celeste(72anos)Família15‐Matos(2elementos)

25‐11‐2010Nazaré Manuel(71anos)

Casal

Rita(70anos)Família16Mendonça

(2elementos)

25‐11‐2010Nazaré Ricardo(71anos)

Casal

Maria(65anos) Avó

Sara(46anos) Filha

Família17‐Sousa(4elementos)

26‐11‐2010Nazaré

Joana(6anos) Neta

Page 11: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

11

Matilde(9anos) Neta

Sandra(34anos) Mãe

Jacinto(32anos) Padrasto

Filipe(14anos) Filho

João(12anos) Filho

Família18Fragoso

(5elementos)

29‐11‐2010Alenquer

Miguel(8anos) Filho

Sofia(37anos) Mãe

Rui(40anos) Pai

Filipa(10anos) Filha

Família19Baptista

(4elementos)

28‐12‐2010Cacém

Ana(18anos) Filha

Sónia(35anos) Mãe

Ricardo(35anos) Pai

Marta(7anos) Filha

Família20Mendes

(4elementos)

10‐01‐2011Alenquer

João(5anos) Filho

Carla(65anos)Família21‐Costa(2elementos)

10‐01‐2011Alenquer Rogério(64anos)

Casal

Josefa(47anos) Mãe

António(46anos) Pai

Verónica(22anos) Filha

Família22Guerreiro

(4elementos)

10‐01‐2011Alenquer

Guilherme(18anos) Filho

Ana(33anos) Mãe

Alberto(38anos) Pai

Carlos(8anos) Filho

Clarisse(4anos) Filha

Família23Simões

(5elementos)

10‐01‐2011Alenquer

Sofia(4anos) Filha

Família24 10‐01‐2011 Isabel(39anos) Mãe

Page 12: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

12

Isabel(39anos) Mãe

Filipa(48anos) Tia

Matilde(32anos) Tia(IrmãdeIsabel)

Pedro(21anos) Filho

Mário(19anos) Filho

Fonseca(6elementos)

Cacém

Rui(14anos) Filho

Cristina(24anos) Filha

Antónia(48anos) Mãe

Pedro(14anos) PrimoFámilia25‐Neves(4elementos)

11‐01‐2011Cacém

Miguel(17anos) Primo

Joana(83anos) Avó

José(50anos) Tio

Maria(50anos) Tia

Família26Gomes(4elementos)

12‐01‐2011Cacém

Carla(28anos) Neta

Rita(47anos) Mãe

Jorge(35anos) IrmãoFamília27‐Brito(3elementos)

17‐01‐2011Cacém

Inês(20anos) Filha

Clara(67anos) Mãe

Jorge(70anos) Pai

Pedro(29anos) Filho

Carlos(35anos) Filho

Sofia(37anos) Filha

Família28Cardoso

(7elementos)

21‐01‐2011Alenquer

Jacinta(89anos) Avó

Carlos(43anos) Pai

Amanda(42anos) Mãe

Família29Justino(5elementos)

10‐02‐2011Cacém

Margarida(12anos) Filha

Page 13: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

13

Maria(10anos) Filha

Fátima(5anos) Filha

Ana(34anos) Mãe

Luís(54anos) PaiFamília30Ribeiro

(3elementos)

17‐03‐2011Cacém

Francisco(11meses) Filho

As sessões de observação e as entrevistas em profundidade foram registadas em vídeo e

procedeu‐seaumaanálisedastranscriçõesedasimagensrecolhidas,atravésdautilizaçãodo

softwaredeanálisequalitativaNVivo.Estesoftwarepermitiuacodificaçãodasentrevistasem

33 categorias de análise, que foramderivadasdas respostas dadaspelos participantes, bem

como das perguntas colocadas no decorrer as entrevistas semi‐estruturadas.

Page 14: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

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2. Principaisresultadosdoestudoetnográfico

O estudo etnográfico com 30 famílias das três zonas‐piloto de transição para a

TelevisãoDigitalTerrestrepossibilitouaanálisedealgumastendênciasporpartedasfamílias

noquetocaàtelevisão,presençatãoimportantenamaiorpartedoslares,esobretudotendo

emcontaonovocontextodigital.Asentrevistaspermitiramregistaralgumaspreferênciasdos

indivíduos em relação aos conteúdos ‐ como os géneros televisivos de eleição ou os mais

detestados–eaobservaçãodasrotinasajudouaindaaavaliaropesoqueatelevisãoocupano

dia‐a‐diadas famílias, emcomparação comoutras actividadesemesmo comautilizaçãode

outrosmedia.

Porém,estecapítulodebruça‐seespecialmentesobreosaspectosrelacionadoscomo

conhecimentosobreatelevisãodigital,o“switch‐off”easexpectativasdosindivíduosperante

o novo panorama digital. É de salientar que, neste estudo, a amostra é pequena para se

extraírem conclusões que possam ser extrapoladas para o universo, valorizando‐se antes a

possibilidadedeouvirabertamenteosentrevistados,retirandodaíumaperspectivageraldos

contextos concretos que são estas três zonas‐piloto, num período temporal ainda mais

delimitado,comoéoqueantecedeo“switch‐off”.

Emsíntese,eisalgumasdasprincipaisconclusõesdesteestudoetnográficocom30famílias,

relativamenteaosusos,atitudeseexpectativasemrelaçãoàtelevisão:

‐ verifica‐se umdesconhecimento ‐ independentemente da idade ou do género ‐ sobre as

características da televisão digital. Entre as 30 famílias, pelo menos um elemento de 26

famíliasafirmou já terouvido falarno tema,masapenas trêspessoas souberamexplicarno

queconsisteestetipodetransmissão;

‐Éperceptívelahesitaçãodosindivíduosaofalardasvantagensedesvantagensdatelevisão

digital, acabando por nenhum elemento de 15 das famílias por responder não conhecer

nenhum dos seus pontos fortes ou fracos. Ainda assim, a vantagemmaismencionada foi a

melhorqualidadede imagemesom,seguidadaaltadefiniçãoedo3D.Adesvantagemmais

apontadafoiocustoqueaTVdigitalimplica;

Page 15: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

15

‐ É de salientar queas vantagens da TV digitalmaismencionadas pelos entrevistados não

coincidemcomasprincipaisrazõesqueestesdizempoderlevaraaderiràTVdigital.Neste

caso,oaumentodagrelhadecanaiseaexistênciadepacotesvantajosossãoasrazõesmais

mencionadas,emvezdamelhoriadaqualidadedeimagem,daaltadefiniçãoedo3D;

‐ Verifica‐se que os indivíduos que já ouviram falar no “switch‐off” têm dificuldades em

explicaroprocessoeemapontarumadata‐limiteparaoapagão.Algunsatésabemqueas

famílias terão que investir num “aparelho”, apesar de desconhecerem os custos e se serão

afectados;

‐ Verifica‐se que as fontes mais citadas pelos entrevistados quando lhes perguntam como

souberam do “switch‐off” sãoo “boca‐a‐boca”, osmedia nacionais e locais, bem como as

operadorasdetelecomunicações,viatelefone;

‐Éperceptívelque,quandoasfamíliasnãosabemcomoresolverumproblemacomumdado

equipamento tecnológico, recorrem maioritariamente a amigos ou familiares. As pessoas

commais de 50 anos tendem a pedir “aosmais novos” ajuda para lidar com os aparelhos,

sejamtelemóveis,computadoresouumatelevisão.Porém,regrageral,osassuntos ligadosà

televisãosãoresolvidosportécnicosespecializados;

‐ Nota‐se que as pessoas mais idosas julgam que, daqui a cinco anos, verão ainda mais

televisão,porqueestarãocadavezmaisdesocupadas.Poroutrolado,acriseeasdificuldades

emmanterumempregoactualmente,levamaspessoasmaisjovensaanteciparquecadavez

menosverãotelevisão.Porúltimo,alguns indivíduos julgamquevãovermenostelevisãono

futuro,poisvãosubstituiraTVporoutromedia;

‐Asfamíliasprevêemqueatelevisãodaquiadezanossejamuitodiferente.Ascaracterísticas

maismencionadaspelosentrevistadosapontamparatelevisorescadavezmaiores,maisfinos

ecomtecnologia“táctil”;

‐ É perceptível que as pessoas estão interessadas numa televisão que lhes permita novos

serviçose funcionalidades, comoa gravaçãodeprogramas (em11 famíliashouve sugestões

nestesentido).Poroutrolado,oacessoaserviçosdesaúdeebem‐estar,atravésdatelevisão,

Page 16: Adopt dtv estudo-etnografico_out2011

16

é encarado como um ganho,mais do que a existência de canais locais ou regionais, ou o

aparecimentodeumnovocanalgratuitogeneralista,comoo5ºcanal;

ConhecimentosobreaTVDigital

A televisãodigitalnãoéumconceitoestranhopara26das30 famíliasentrevistadas

em Alenquer, no Cacém e na Nazaré. Com o intuito de compreender até que ponto os

indivíduos conheciam esta tecnologia, foi colocada a questão “Já ouviu falar de televisão

digital”, a que os entrevistados responderam maioritariamente “sim”. Em 26 famílias, pelo

menos um elemento do agregado afirmou ter ouvido falar em televisão digital através dos

media nacionais ou locais, de familiares ou de amigos, de técnicos especializados, ou das

empresasoperadorasdetelevisão,viatelefone.«Euouvinatelevisão,atéparecequeiasera

partir de Janeiro ou qualquer coisa,mas não sei bem...», aponta Sofia, alenquerense de 37

anos. «Jáouvi falar, atravésdo senhordas televisões, onosso técnico. Ele já tinhaditoque

qualquerdia…EdissequeAlenquereraumadaszonasdeexperiência‐piloto»,contaCarla,de

65anos,depoisdeexplicarque,quandocomprouasuaúltimatelevisão,lhedisseramqueesta

jáestavaequipadacom«nãoseioquêparaaeradigital».«Fuiabordadopelotelefone,por

mais de uma vez (…) Falaram em televisão digital, diziam que iam aplicar um equipamento

parapoder fazera transformaçãonocasodos televisoresque jáexistem,porqueos futuros

vêmjápreparados»,refereManuel,de71anos,sublinhandoqueépelotelefone,atravésdas

empresas, que normalmente lhe chegam as primeiras informações sobre equipamentos

tecnológicos.

Figura1Família“Pinto”–Margaridadizqueoseutécnicodetelevisõesaavisoudequeasantenastradicionaisiriamdeixardefuncionar

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Daquipodemosretirarque,em9das26famíliasemquepelomenosumdosseusrespectivos

elementosdisseramconheceronovomeiodetransmissão,falaremtelevisãodigitalenvolve

falar do “switch‐off”. Isto é, em 9 agregados familiares, ouviu‐se falar pela primeira vez em

televisãodigitalquandolheschegouinformaçãosobreatransiçãoparaaTDT.

ÉocasodeMargarida,doméstica,de69anos:«achoqueéumatelevisãodessasque

agora vão pôr, não é?O Jaime (técnico de televisões) quando veio aqui uma vez arranjar a

antena disse‐me: “isto depois já não presta. Daqui a dois anos isto vai‐se embora tudo”».

TambémJoana,de71anos,reportaparaoanúnciodoapagãodatelevisãoanalógicaquando

questionadasobrese“jáouviufalaremTVDigital”:«lino jornaldeAlenquer.Lique iasera

primeiraafazeraexperiênciadatelevisãodigital.Ora,apartirdaínemseidoqueéqueissoé

feitonemcomoéquefunciona».JáRicardo,de71anos,identificaatelevisãodigitalcomasua

mais recente aquisição tecnológica. Antes de ter sido avisado de que a televisão analógica

terrestre iria deixar de existir, este reformado não sabia o que era televisão digital. «A

televisão digital foi agora posta há pouco tempo, há uns meses. Diz que daqui por algum

tempo é só digital que vai funcionar e então eles lá me convenceram e lá pus a digital».

Posteriormente,Ricardoapercebeu‐sedequenãoprecisavadeteractualizadoasuatelevisão

paracontinuararecebersinal,vistoquejátinhatelevisãopaga,porcaboanalógico.

Figura2:Família“Alves”–NestafamíliadaNazaré,ninguémsabiaaocertooqueéaTVdigital.Luísa,umadasfilhas,sugeriuqueéatelevisãoquejánãonecessitadecomando

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Apesarde,aparentemente,aspessoassedemonstraremfamiliarizadascomotermo,

asideiassobretelevisãodigitalparecemservagasem21das26famíliasqueafirmaramjáter

ouvido falarnotema,chegandoalguns indivíduosa relacionar televisãodigitalcomaspectos

aindadistantesdarealidade.«OqueeuentendicomoTVDigitaléquesãoaquelastelevisões

emqueagentenãoprecisadeter,porexemplo,umcomandopara ligaredesligar»,sugere

Adelaide, de 37 anos. «Agora já nãohá comandos, já nãohánada. É tudopelo ecrã,muito

fininho»,explicaLuísa,apostandonamesma ideia,dequedigitalésinónimode”touch”.Na

verdade,apesardemaisde40 indivíduos,de26famílias, teremassumidoconhecerotermo

“televisão digital”,muito poucos souberam defini‐la, sendo as expressõesmais recorrentes:

«jáouvi falarnatelevisãodigital,masmuitosinceramentenãotenhobemumaideiadoque

é…»(Sónia,35anos);«Ouvirfalarjáouvi,masnãoestouassimmuitopordentro…»(Isabel,73

anos);«Jáouvifalar.Mas,nofundo,nãoseimesmooqueéquesepassa»(Adelaide,37anos);

«Euouvifalar,masnãoligueinenhuma»(Américo,77anos).

Por outro lado, quase não se ouviram definições precisas de televisão digital,

destacando‐se apenas três respostas mais concretas: «A ideia que eu tenho é que é um

formato diferente, que tem a capacidade de transportar muito mais informação. O que

permiteumasériede funcionalidades.No imediato,umamelhorqualidadede imagemede

som.EdepoisumasériedefuncionalidadesqueaTVnormalnãopermite»,explicouCarlos,de

37 anos; «É diferente, vai ser uma televisão com mais qualidade… É o que dizem… Mais

qualidadedeemissão»,definiu Jorge,de64anos;«Fala‐semuitona televisãodigital.Queé

um sistema de transmissão de televisão diferente daquele actualmente está em uso. Os

pormenores técnicos, não sei. A ideia que eu tenho é que é uma coisa nova, que vai ser

aplicadaemPortugal,masnãosóna televisão.Noutrossistemasdecomunicação também»,

considerouManuel,de71anos.

Figura 3Manuel e Celeste esperam que a TV digital seja sinónimo demelhores conteúdos. Os programas deteatroevariedades,sãoospreferidosdocasal

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De facto, em todas as famílias foi necessário explicar no que consiste a televisão

digital, havendo até casos emque a família já possuía um serviço de televisãodigital e não

sabia. O tema da televisão parece interessar aos indivíduos, mas o facto de ser digital ou

analógica, é‐lhes indiferente. Comoem casa deRosa e Carlos, reformadosde 76 anos. Para

estecasal,oqueimportasãoosconteúdosesóumaavariaqueosdeixesemTVpoderálevara

pensarnasquestõestécnicas.Consumidoresassíduosdetelevisãoconfiamnofilhoparatratar

dessas questões, não pensando sequer nelas. Também Celeste eManuel, de 71 e 72 anos,

consideramqueantesdaqualidadedeimagemedosom,devehaverumapreocupaçãocoma

qualidadedosconteúdos.Éessaqueverdadeiramente lhes importa,ounão ligarãosequero

televisor.

Noquetocaàspessoasquedesconheciamcompletamenteotermo“televisãodigital”,

podemos referir, por exemplo, o caso de Célia e Sandra, de 20 e 18 anos respectivamente,

pertencentes a uma família numerosa, da Nazaré. As duas jovens já não estudam e estão

desempregadas, passando a maior parte do tempo em frente ao ecrã. Ainda assim,

desconheciam a nova forma de transmissão que lhes poderia trazer melhor qualidade de

imageme som,oumesmo funcionalidadesque lhespoderiam serúteis, edemonstraram‐se

desinteressadas no tema. É de sublinhar que estas jovens não têm por hábito assistir aos

noticiáriosouaprogramasdeinformação,baseandoasuaexperiênciatelevisivanoconsumo

detelenovelas.Aocontráriodamãe,Margarida,de35anos,queobteve informaçãosobrea

televisão digital no telejornal, sabendo até que vai haver uma mudança que obrigará os

portuguesesapagarparacontinuaravertelevisão,destaveznoformatodigital.Esteéumdos

casosemquealgunselementosdafamíliajátinhamconhecimentosobreatelevisãodigitale

outrosnão.

Figura4:Família“Santos”‐Catarinapassaosdiassozinhaeesperaqueosnoticiáriosacoloquemapardoquesepassanomundo

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No caso de Catarina, de 73 anos, seria muito difícil ouvir falar em televisão digital

atravésdeoutrosmeiosquenãoatelevisão.Porpassarquasetodootempoisolada,emcasa,

Catarinaobtéminformaçõessobreoquesepassanomundoquaseexclusivamenteatravésdo

seutelevisor.Deitadanacama,emfrenteaoecrãcominterferências,aidosaexplicaquejálá

vaiotempoemqueseentretinhaafazerbordadoseosdiasemquesaía.Devezemquando,

para se distrair, ainda vai ao baile, mas não como antigamente. Por isso, o seu principal

passatempo é a televisão e é esta que lhe proporciona, muitas vezes, a sensação de estar

acompanhada,bemcomoasnotíciassobreoquesepassaláfora.

Aliás,depoisdelhetersidobrevementeexplicadooprocessode“switch‐off”,quelhe

eracompletamenteestranho,aidosaquestionou:«porqueéqueeuaindanãoouvifalarnisso

na televisão?». O facto de ter apenas os quatro canais, pela “reformamuito pequena” que

recebe, deixouCatarinamuito alarmadaperante a possibilidadede ficar sem televisão. «Oh

meuDeus…Istoéaminhacompanhia!»,desabafava,jáprevendoosproblemasquepoderão

surgir, por ser umapessoa sozinha, sempossibilidades de recorrer à família para resolver a

situação.

Na mesma localidade, Guilherme, de 18 anos, dá resposta idêntica à de Catarina:

“nuncaouvifalar”.Ojovem,quedivideoseutempodelazerentreatelevisão,ocomputador,

o novo iPad e a Playstation, diz conhecer a “televisão 3D, com óculos”, não a “digital”. No

entanto, parece tudo uma questão de desconhecimento da terminologia, uma vez que

Guilherme tem televisãodigital emcasae atéestáhabituadoausufruir de serviços comoa

gravaçãodeprogramasouo“vídeo‐on‐demand”.

VantagensedesvantagensdaTVDigital

Tendo em conta que a maior parte dos entrevistados não soube explicar no que

consistia a televisão digital, reconhecendo apenas o termo, as famílias tiveram algumas

dificuldadesemapontarasvantagensedesvantagensdestesistema.

Entre as 26 famílias que admitiram já ter ouvido falar em TV digital, um ou mais dos

respectivoselementosde15famíliasafirmaramnãosaberquaissãoosseusbenefícioseem

11famíliaspelomenosumdosseusmembrosdisseramnãoconhecerquaisasdesvantagens.

Depoisdomaioritário“nãosei”(por15famílias),avantagemmaismencionadafoiamelhoria

da qualidade de imagem e do som (por 6 famílias). Seguidamente, em 2 famílias, a

possibilidade de trazer a alta definição ou o 3D para as salas de estar são vantagens

reconhecidas, tal como a possibilidade de haver mais canais (2 famílias), mais serviços e

funcionalidades(2famílias).

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Há,poroutro lado,quemnãoencontrequalquervantagemnatelevisãodigital.Emcasados

Baptista,porexemplo,amãe,Sofia,de37anos,admitequenãovênenhumavantagemnaTV

digital, aoquea filhamaisnova, Filipa,de10anos, responde:«Ohmãe,euvejovantagens.

Imagine que decide dar o jantar numa altura que está a dar um programa importante, eu

possometernapausaeassimnãopercooprograma...».

Adiversificaçãodosconteúdos,areduçãodasfalhastécnicaseaevoluçãotecnológicaforam

outrasdasvantagensmencionadaspelosentrevistados.NoCacém,Ana,de34anos,considera

queasvantagensdatelevisãodigitalsão«coisasquemulheresnãoreparam».

A jovemfuncionáriapúblicaexplicaqueatelevisãodigitalpermiteumamelhorqualidadede

imagem e de som, evitando também as falhas técnicas habituais da televisão analógica.

«Nuncafalhaatelevisãoporqueháumtemporaleficámossemantena...».Noentanto,nasua

opinião, issosãoquestõespoucorelevantesparaasmulheres.«Desdequesevejabemese

consigaleraslegendas,tudobem»,considera.Nãosernecessáriaantenaparahaverimagem,

ou comando de televisão para o manuseamento do aparelho são outras das vantagens

mencionadas. E, por último, a poupança de energia, mencionada como possível vantagem

numadasfamílias.

Quanto às desvantagens, as famílias demonstraram novamente desconhecimento sobre o

tema, prevalecendo a resposta “não sei”. Para Jorge, invisual de 64 anos, é uma perda de

tempopensar nisso, já que a sua família se sente bem servida coma Cabovisão. Apesar de

conheceraprincipale,nasuaopinião,únicavantagemdatelevisãodigital–melhorqualidade

Figura5:Família“Ribeiro”–Anaestáfamiliarizadacomasnovastecnologias.Ajovemmãetemequeosseuspaiseavóstenhamdificuldadesemadaptar‐seàTVdigital,maisdifícildemanusear

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deimagem–estenazarenodesconheceospontosfracosdatransmissãodigital.«Nãosei.Não

estamosinformadosdenadadisso.Neminformados,nemcomintençõesdepôressesistema.

Sóseforobrigatório»,explica.Apesardenãoconseguirveroqueestáapassarnoecrã,Jorge

éconsumidorassíduodetelevisão,talcomoaesposa,Paula,de59anos.Umagrelhadecanais

maisalargadaajuda‐osapassarotempo,eatelevisãoédosbensmaisessenciaisdacasa.Para

nãorepetirodesamparosemelhanteaodeumanoite,háalgunsmeses,emqueficaramsem

televisão, Jorge assegurou‐se de que pelo menos um dos televisores da casa é moderno e

preparadaparaofuturo,sejaeledigitalounão.«Aquelatelevisão(amaisnova)játemoDTI,

ouDNI…nãosei,jáestápreparadaparaessesistema»,assegura.

Apesarde11famíliasreferiremquenãosabemosuficientesobreaTVdigitalparaapontaras

suas desvantagens, os custos são o primeiro “senão” de quem se atreve a sugerir os

inconvenientes deste tipo de transmissão. «As desvantagens são para a carteira!», exclama

Jacinto,de32anos.«Émaisumacoisaparaagentegastardinheiro»,completaSandra,de34

anos.«Éconformeocustodela…»,apontaLaura,de70anos,virando‐separaoirmãoquediz

aindanãoconhecerasdesvantagensdaTVdigital,pornãoter informaçãosuficientesobreo

assunto.Depois,aobrigatoriedadedaadesão,anecessidadedeadaptarosequipamentosea

precisãodehaverdoiscomandossãodesvantagensmencionadaspelas famílias.Clara,de67

anos,habitantedeAlenquer,consideraqueofactodenãohavernenhumavantagemevidente

na mudança, mas apenas a obrigação de mudar, é a maior das desvantagens: «Não há

motivação…»,defende,aoqueomarido,Jorge,de70anos,responde:«Oprogressoéassim

Figura6:Família“Freitas”–JorgeéinvisualeconsideraqueaúnicavantagemdaTVdigitaléamelhorqualidadedeimagem,queparaelenãoéimportante

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nãoé?Ninguémachabem,todaagenterefila,masdepoisacabaporaceitar».JáAna,de34

anos,vêageraçãodosseuspaiseavósaconfrontarem‐secommaisumaevoluçãotecnológica

quelhestrará,emvezdevantagens,complicaçõesnastarefasmaissimplesdomanuseamento

da televisão: «Para a geração dos nossos pais, que não estão habituados a lidar comnovas

tecnologias, a desvantagem é que o comando émuito complexo. Porque há o comando da

televisãoeocomandodabox...Sãodoiscomandos...Qualéocomandodeonde?Edoquê?».

MotivosparaterounãoterTVdigital

No universo das 30 famílias entrevistadas, 14 já possuíam um serviço de televisão

digitalempelomenosumatelevisãodacasa(11famíliasatravésdocabodigital,2famíliaspor

IPTVe1famíliaporsatélite).Questionadassobreasrazõesqueasmotivaramatertelevisão

digital, 8 destas famílias apontaramo aumentoda grelhade canais comoumdosprincipais

incentivos. Os canais de desporto, sobretudo a Sport TV e o Benfica TV, são importantes

alavancas para aderir a um serviço de televisão paga e, consequentemente, de televisão

digital.Jacinto,de32anos,trabalhadordeumafábricadesabonetes,admiteque«avidaestá

difícil»,mascontaqueaderiuàMEOpara«podersaber tudosobreoseuclube»,oBenfica,

atravésdocanalBenficaTV.Aesposa,Sandra,de34anos,moderaumpoucooentusiasmodo

marido,explicandoqueafamíliatempassadopordificuldadesequesótemtelevisão,porque

estalhesfoioferecida.Sandralembraque,maisdoqueoBenficaTV,oserviçodeIPTVaque

aderiramincluiinternetetelefone,oquelhepermitecomunicarcomosfamiliaresqueestão

longe.

Figura7:Família“Fragoso”–AúnicatelevisãodosFragosopassouateroutrasfuncionalidadescomapassagemparaodigital,masfoiopacoteeconómicodeTV,telefoneeinternetquelevouaqueaderissemaoserviço

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A existência de pacotes vantajosos foi, aliás, a segunda motivação mais citada pelos

entrevistadosquandofalavamnasrazõesparaaderiràTVdigital.NocasodeSandra,opacote

que englobava telefone fixo, televisão e internet ficavamais em conta e proporcionava‐lhe

maiscomodidadeparafalarcomafilha,quevivecomopaibiológico:«Agentetevequepôr

MEOporqueeuassimfalomaisvezescomaminhafilha.Porqueseeunãotivessetelefoneem

casa,tinhaqueiraumacabinetelefonaratéàs20h30.Eassimcomtelefoneemcasa,atéàs

dezdanoiteeupossotelefonar‐lhe.Éumacoisaboaqueeutenho».Naverdade,estepacote

acabaporresponderàsdiferentesnecessidadesdafamíliaFragoso,umavezqueSandrautiliza

muito o telefone e a internet, e Jacinto consome aindamais televisão. Para este último, o

digital representamuitomais do que a televisão tradicional: «Que serviços utiliza naMEO?

Jacinto: Tudo. Gravação, vídeo‐clube, jogos, música, tudo…». Durante a entrevista, o

trabalhador fabril demonstrou um pouco da sua experiência televisiva, mostrando, por

exemplo,comosejogaxadrezou“4emlinha”comotelevisor,eacedendoaalgumasdassuas

gravações, sublinhando que agora já pode dormir e deixar owrestling ou oDragon Ball a

gravar de madrugada. Efectivamente, a existência de novos serviços e funcionalidades é

apontadaporalgunsentrevistadoscomooutradasrazõesque levamàescolhadaTVdigital.

Aindaassim,esteúltimofactornãopareceterumpesodecisivoparaamaioriadasfamílias.

Figura8:Família“Pereira”–Isabel ligamaisatelevisãodoqueJoão.Alojistaaproveitaahoradoalmoçoparaespreitaroecrã,masaindanãotevetempodeexplorarosnovosserviçosdaTVdigital

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Porvezes,osindivíduosreconhecemqueaTVdigitallhestrazestesnovosserviços,vêemisso

comoumavantagem,masdepoisacabampornãoosutilizar,comoéocasodeIsabel,de73

anos:«Isto (TVdigital) trazcoisasqueaindanãoaprendi,masseiquetem,queégravarum

programa enquanto estamos a ver outro. Mas ainda não aprendi, ainda não tive tempo».

Acompanharaevoluçãotecnológicaeterumamelhorqualidadedeimagemedesomforam

também razões mencionadas pelos entrevistados. A juntar a estas razões, o anúncio do

“switch‐off” pode ser decisivo no momento de passar para o digital, como no caso dos

Mendonça,daNazaré,queoptaramporaderiràtelevisãodigital,comreceiodeficarsemsinal

detelevisão.RitaeRicardo,de70e71anos,jápossuíamtelevisãopagaháalgunsanos,mas

ainda assim julgaram necessário fazer uma mudança, para não deixarem de ver televisão.

Depois de vários telefonemas por parte da empresa que lhes fornece televisão por cabo, a

juntar ao gosto de Ricardo pelos canais de desporto, os Mendonça foram finalmente

convencidosamudar.«Amaiorrazãofoi,defacto,ocanaldoBenfica‐metidonocanaldigital

‐ e vermais programas. E essa informação que o senhorme deu, de que daqui por algum

tempoerasóodigitalafuncionar»,contaRicardo.

Poroutrolado,nãohouvequalquerreferênciaàaltadefiniçãoouao3Dcomopossíveisiscos

paraumatransiçãoparaodigital.

Noquerespeitaàsrazõesquedesmotivamasfamíliasateremtelevisãodigital,aquestãodos

custosapareceemprimeirolugar.OcasodeJoana,de71anos,ésemelhanteaodeCatarina,

Figura9:Família“Lopes”–JoanamostraumaTVavariadaquetempenadedeitarfora.Acostureiragostavadevertelevisãocommaisqualidade,masháoutrasprioridadesnoorçamento

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doisanosmais velha.Emcomum,estas reformadas têmo factodeviveremnoconcelhode

Alenquer,sozinhas,edatelevisãolhesservirdecompanhiatodososdias.Damesmamaneira,

Joana e Catarina gostariamde termais canais para preencher as várias horas em frente ao

ecrã,masdeparam‐sesemprecomasmesmasquatroestações.Naverdade,Joanalembraque

nem os quatro canais consegue apanhar, e Catarina sublinha as constantes interferências a

roubarem‐lhe a imagem. Ainda assim, estas idosas ‐ que nem se conhecem ‐ rejeitam

completamente a hipótese de virem a ter um serviço de televisão paga,mais uma vez, por

umamesmarazão:abaixareforma.Poroutrolado,tambémhájovensfamíliasadescartara

opção “televisão digital”. A família “Simões”, por exemplo, é servida pelo sinal analógico

terrestredetelevisão.Anaexplicaquenãopodejuntarmaisumamensalidadeàsdespesasde

uma família numerosa como a sua. «Comoestou pouco tempo em casa, não se justifica eu

pagar um valor acrescido para ver mais televisão. Porque esse valor também conta no

orçamento da família e é um grande abalo no agregado familiar. Num agregado familiar

grandecomoomeu,tudoconta,enãose justifica.Àsvezesosmiúdoschateiam‐meporque

gostavam de ver o Panda. E eu digo “quando lá fores abaixo ao café, vês”. Têm que ter

paciência(…)Nãosejustificaporqueospreçostambémsãoelevadíssimos».

Conhecimentodo“switch‐off”

Analisaroconhecimentoeasexpectativasdealgumasfamíliasportuguesasacercado

desligamento do sinal analógico terrestre de televisão era um dos objectivosmaiores deste

Figura10:Família“Mendes”–EmcasadosMendes,hátelevisãopaga.Noentanto,amãe,Sónia,consideraqueháfaltadeinformaçãosobreosprocedimentosaterfaceaoswitch‐off

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estudoetnográfico.Entreas30famíliasentrevistadas,15disseramsaberqueosinalanalógico

de televisão ia ser desligado, e outras 15 afirmaram desconhecer o acontecimento. Na

verdade,entreas15famíliasapardoapagão,houve3laresemquealgunselementossabiam

do“switch‐off”eoutrosnão.EmcasadosRosário,porexemplo,podianotar‐sequeCarlos,o

pai,de37anos,estavamuitomaisapardasnovidades tecnológicasdoquequalqueroutro

membro da família. Apesar de a esposa e os sogros também terem afirmado conhecer o

“switch‐off”,foiCarlosoúnicoqueimediatamenteutilizouapalavra“apagão”pararesponder

edemonstrouestarmaisoumenosapardadata‐limiteparao“switch‐off”.Damesmaforma,

nafamíliaMatos,Manuel,de70anos,jásabiaqueoapagãoiaacontecer,enquantoaesposa

disse que a situação lhe «passou ao lado». Para além do “boca‐a‐boca”, estas informações

chegaram aManuel através dos media. No entanto, nunca deumuita atenção ao assunto,

explicando que o mais provável é que, daqui a algum tempo, se preocupe mais em saber

pormenores«paranãoserapanhadodesurpresa»1.«Jáouvimosdizerque,apartirdecerta

alturadopróximoano,essesinaldesapareceepassaahaversóosinaldigital. Issoestános

jornais,emrevistasevamosouvindo.EtambémjásesabequeaNazarééumadaslocalidades

escolhidascomoprojecto‐piloto(…)Osjornaislocaisdevezemquandofalamnissoeháagora

aíumarevistaquesaiu,quetambémtrazumtrabalhosobreisso.Jásevaisabendo»,conta.

NocasodeSónia,de35anos,otemadoapagãotambémnãolheeraestranho.Atrabalhadora

deumaempresadeSegurosafirmoujáterouvidofalarnoassunto,masnãosaberosuficiente1Note‐sequeaentrevistacomos“Matos”foirealizadaa25deNovembrode2010.

Figura11:Família"Fragoso"–JacintosabequeaTelevisãoDigitalTerrestrejáexistedesde2009,masjulgaqueo“switch‐off”obrigarátodososportuguesesacomprarumaparelhodescodificador

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parafalardele.Sóniaafirmouque«sabiaqueissoiaacontecer»,masprecisavaquealguémlhe

explicasseoprocesso.«Passaaserumaúnicavia,nãoé?Tinhaouvido falar,masnãoestou

muitoesclarecidaacercadoassunto»,diz,assumindoquenãofaz ideiadadata‐limiteparao

“switch‐off”.Mãededuascrianças,de5e7anos,Sóniaafirmouqueasuafamílianãosaberá

comoprocedercasosevejaconfrontadacomanecessidadedeadaptarasduas televisõesà

eradigital. JáVerónica,professoradedança,de22anos, contaque soubedoapagãonuma

conversacomacunhada,queviveemEspanha,equelheexplicouqueopaísvizinhojátinha

feitoatransição.ApesardeVerónicanãoterficadomuitoesclarecidasobreotema,percebeu

que iria haver uma mudança: «Na conversa com a minha cunhada apercebi‐me, mas

sinceramenteeunãoligueimuito.Acheiestranho…Pensei“AiagoraTVdigital,tambémagora

fazem tudo.Nãomedigamquemevão tiraro comando”. Foi aprimeira coisaqueeudisse

(risos)». A resposta de Verónica não foi a única deste género, a reflectir um pouco a

persistência de dúvidas nas famílias em relação aos pormenores da transição. Por exemplo,

Margarida,mulher‐a‐diasde69anos,recordaquehádoisanos,quandocomprouasuamais

recentetelevisão,otécnicoqueaauxilioufalou‐lheno“switch‐off”,dequeteriadeadquirir

umaparelhoparacontinuaratertelevisãooudeinvestirnumatelevisãomoderna.Porém,as

ideias sobre o apagão permaneceram confusas para a nazarena. «Eu perguntei‐lhe: “Então,

massevai‐seemboratudoeoqueéqueagentefazàsnossastelevisões?”.Eeledisse‐meque

eutinhaquecomprarumaparelhonãoseioquê.Eleatémedissequeagentedepoistinha

que ter plasmas emais não sei o quê», recorda.No caso de Jacinto, o trabalhador fabril já

atrás mencionado, que se tenta manter sempre actualizado acerca das novas tecnologias,

tambémdisseestarapardoapagão.

Noentanto,asconfusõessurgemnovamente.Jacinto,quejátemtelevisãodigital,julgavaque

tambémeleteriadecomprarumdescodificador.«Jacinto:ÉaTDT(…)Vaientraremvigorem

2013. Já deu nas notícias e tudo. Eles já avisaram. Ou compra‐se o aparelho para estas

televisões ou a pessoa é obrigada a comprar uma televisão LCD que suporte esse sistema.

Senão… Entrevistadora: Esta televisão que tem, comMEO? Jacinto: Sim. Se não comprar o

aparelho.Masoaparelhocusta50euros».

ParaAna,de34anos,o“switch‐off”tambémnãoéumanovidade.Ajovemmãefoi,aliás,uma

dasentrevistadasquedemonstroutermaisconhecimentossobreo“switch‐off”,jáqueoseu

emprego implica estar ao corrente das notícias sobre televisão. «Já sabia. Dia 12 de Abril...

Não,emAbrilde2012.Odiaachoqueaindanãoestádecidido(…)Oucompramumacaixa,

quefazaconversão,paraatelevisãoantiga,outêmquecomprarumatelevisãonova.Atéseio

preço dessa caixa: varia entre os 50 e os 250 euros», conta.No café da família Simões, em

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Alenquer, outra Ana, de 33 anos, também afirmou conhecer vagamente o processo da

transiçãodatelevisãoanalógicaparaodigital,explicandoque,atravésdasconversasnocafé,

percebeuqueumamudançaseavizinhava.«Ouvidizerqueestava‐seapensarretirartodoo

tipodeecrãsdomercado…Aliás,nãoétodootipodeecrãs,massimosecrãsmaisantigos,

parafazerumainstalaçãodeTVdigital.Massóouviassimistomuitovagamente.Também,na

altura,nãomedespertouinteresseporqueestavaocupadaepassou.Nãofaleisobreoassunto

comninguém.Nãoseicomoéqueesseprocessopoderáser feito,nãoseiquecustoséque

poderáter,nãoseisepossotiraralgumavantagemounãodaí».Àquestão«Achaquevaiser

afectada por esse processo?», Ana respondeu não saber, acrescentando que «depende da

obrigatoriedade das coisas» e admitindo que não faz ideia da data limite para o processo.

Depoisdesaberopreçomédiodeumdescodificador,aempregadadebalcãosugeriuqueesse

é «um investimento que se pode justificar». «Se o investimento for só um descodificador…

Nãoéporaí…Mesmoqueodescodificadorcustasseodobrododinheiroquemedisse,100

euros.Nãoéumacoisaquevoucomprartodososmeses.Nãoé?Éuminvestimentoalongo

prazo»,disse.Aindaassim,Anaafirmounãosaberaquemsepoderádirigirdeformaaobter

apoioouajudaparacontinuaraterosquatrocanaisgratuitosemcasa.Normalmente,quando

nãosabecomoutilizarumequipamentoelectrónico, recorre«aumfamiliarhabilidoso»que

costumaresolverosproblemas.Seatransiçãoparaodigitaltrouxesseumacréscimodecanais,

«seriaoideal»paraAna,umavezque,nestascondições,nãosesentemotivadaparafazera

transição.«Nãoháoferta.Amelhoriadaqualidadedeimagemnãoésuficienteparamotivar,

masnósosportuguesestambémnãonoschateamoscomnada,somosmuitopermissivos.Ese

foiumadecisãodaUniãoEuropeia,nósvamosterqueacatarcomela.Claroque,sepuderem

melhorar alguma coisa… Se, ao facto de sermos obrigados a mudar para continuar a ter

televisão,conseguissemjuntarumamais‐valiaaocliente,sócaíabem(risos)»,considera.No

pontoevistadaempregadadebalcão,asuafamíliabeneficiariaaindamaiscasoaTelevisão

Digital Terrestre lhe trouxesse, para além do aumento do número de canais,mais serviços,

comoodagravaçãodeprogramasoudePausaTV.«Podiamserumamais‐valiaporcausada

situaçãodoshorários».GravarosfilmespermitiriaaAnanãoterdeperderalgumashorasde

descansoparapoderverumfilmequelheinteresse.Quantoaosserviçosdeinformaçãoútil,

estes tambémparecempositivos aos olhos deAna. «As farmácias de serviço então…Muito

importante…Achoquefacilitavaavidaamuitagente(…)Éumainformaçãoquetocaatodos.

Na Internet é verdade que já temos tudo, mas esquecemo‐nos que Portugal tem uma

populaçãomuito envelhecida e o nosso concelho aqui de Alenquer também. Ou seja, nem

todas as pessoas têm capacidades nem sabedoria para trabalhar com a inovação que é um

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computador».

Na verdade, tudo isto são possibilidades que as famílias não sabem quando vão aparecer.

Apesar de alguns entrevistados já terem ouvido, de facto, falar no “apagão” analógico, 14

famílias não fazem ideia da data‐limite para se concretizar o processo. Assim, na altura de

perguntar a data em que as emissões analógicas iriam deixar de funcionar, ouviram‐se

respostascomo:«não»;«nãofaçoamínimaideia»;«nãoseinadadoquenosespera».Quanto

aos procedimentos a ter nessa altura, como já foimencionado, algumas famílias afirmaram

saberdanecessidadedesecomprar«umaparelho»(6famílias).Algumasatésabiamopreço

médiodesteequipamento(2famílias),masnamaioriadoslares(18famílias),asdúvidassobre

quemseráafectadoecomodeveráprocedersubsistem.

De forma a compreender quais são normalmente os primeiros recursos para os indivíduos

quando têm alguma dúvida ou problema com equipamentos tecnológicos, foi colocada a

questão:«Quandonãosabecomofuncionaumdadoequipamentoelectrónico,comoresolvea

situação?».A respostamais ouvida foi «a familiaresou amigos», com11 famílias a eleger a

rede de conhecimentos mais próxima como o primeiro recurso em caso de problemas.

«Quandoháqualquercoisaécomosmeusfilhos»,contaJoana,de71anos.«Recorremosaos

maisnovos (risos)»,dizCeleste,de74anos, referindo‐seà famíliaeaosempregadosdoseu

restaurante.«Tenhoumfamiliarmuitohabilidoso»,garanteAna,de33anos.«Emrelaçãoao

computador, tenho pessoas conhecidas que percebem, que me vão explicando algumas

coisas», afirma Júlia, de 26 anos, depois de mencionar que começou a fazer um curso de

Figura 12: Família “Andrade” – Família recebe a visita dos técnicos de uma empresa que faz a instalação dainternet

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informática recentemente. «Ligo a um familiar ou a um amigomeu que é técnico», explica

Jacinto,de32anos,que,namaioriadasvezes,consegueresolverosproblemassozinho.Nota‐

seque,muitas vezes, as pessoas commais de50 anos recorremaosmais novosquando se

trata de resolver um problema no computador, no telemóvel ou mesmo na televisão. No

entanto, no que respeita a esta última, normalmente os indivíduos recorrem a técnicos

especializados. «Chamamos um técnico. Por exemplo, a gente tem a ZON, se temos algum

problema, ligamos para lá», assegura Sofia, de 37 anos, já habituada a recorrer aos call

centers, talcomoAmanda,de42anos,queafirmaquesea televisãosedesligar, ligaparaa

operadora.«Recorremosaquemnosvendeuoequipamentoequenospossadarassistência»,

descreve tambémSónia, de 35 anos. «Falamos comos técnicos.Normalmente nós estamos

sempre em contacto com eles se for preciso alguma coisa», explica Carla, de 65 anos. Por

outrolado,houvefamílias5queafirmaramque,antesdepediremajudaaoutros,consultamo

manualdeinstruçõesdoequipamento,havendoaindacasosemque,seomanualnãoajudar,

serecorreàinternet.«Tambémnossuportamosnanet.Nooutrodiaeunãosabiadomanual

deinstruçõesdaconsolaparasintonizarumcomandoefuivernanet»,descreveAdelaide,de

33anos.«Seasinstruçõesnãomeesclarecerem,vouànetprocuraramarcaetentoencontrar

instruções com bonecos, que sejam de percepção mais fácil», responde Ana, de 34 anos,

habituada a lidar com tecnologia. Há ainda quem prefira resolver os problemas através da

“experimentação”,ou“aventurando‐se”.Cincofamíliasreferiramestemétodo.

ATVnospróximos5e10anos

Pedimosaosentrevistadosqueseimaginassemdaquiacincoanos,enosdissessemse

estariamavermais,menosouomesmotempodetelevisãodoqueactualmente.Asrespostas

foram variadas. Começando pelos que se projectam a ver mais tempo de televisão (12

famílias),podemosdestacaraquelesque,comoavançoda idadeeaentradanareforma,se

imaginamatermenosactividadesforadecasae,consequentemente,apassarmaistempoem

frenteaoecrã.«Achoquevouvermaisainda. Jápossosairmenos…Cadavezvoupodendo

sairmenoseachoquepodereivermaisainda.E,namedidaemqueestousozinha,nãovejo

outras alternativas», antecipa Joana, de 71 anos, explicando que só quando vai a casa dos

filhos,ao fim‐de‐semana, se sentemaisacompanhadae,aindaassim,acaba sempreporver

televisão.«Seforvivo,decertezaabsolutaquevouvermais televisão.Porquedaquiacinco

anosjátenho65anos,jávouparaareformaevouter,portanto,maistempolivre(risos)»,diz

João,de59anos.«Começoaterdificuldadesemmexernocomputadoredeixo‐meadormecer

a olhar para a televisão (risos). Digo eu,mas isso é no caso de perder amobilidade, etc.»,

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prevêJoão,de77anos,queactualmentepassaamaiorpartedotemponocomputador,coma

gestão de dois blogues, colocando a TV num segundo plano. «Daqui a cinco anos osmeus

netosjásãomaiores,jánãoestãoaquicomagenteejátemosqueterqualquercoisaquenos

entretenha (risos). A televisão é uma companhia», desabafa Paula, de 59 anos. Há também

quem se projecte a ver mais televisão por ser sinal de melhor qualidade de vida, e quem

coloqueamelhorqualidadedeimagem–queaTDTpoderátrazer‐eamelhorprogramação,

como factoresquedecidirãoomaioroumenorconsumode televisão.«Se forassim (coma

TDT) acho que vou ver mais, porque assim já não há interferências e uma pessoa pode

escolher o canal que quiser ver», reflecte Catarina, de 73 anos. «Provavelmente mais… Se

tivermosmais tempodisponívele seaprogramaçãoagradar…Agora, seaprogramaçãonão

agradar, aquilo temaliumbotãoeagentedesliga.Atéporquegostamosdeouvirmúsicae

issoéumagrandevantagem»,prometeManuel,de71anos,maisadeptodarádiodoqueda

televisão.

No que respeita aos elementos de 14 famílias que planeiam ver menos televisão do que

actualmente,verificamosquesãoindivíduosmaisjovensque,comomaiorpesodotrabalhoe

adiminuiçãodosperíodosdelazer,contamvermenostelevisão.«Menos.Istocadaveztemos

quetrabalharmaisparateralgumacoisa(risos),sublinhaMargarida,de35anos.«Damaneira

que o país está acho que não. Porque acho que nós cada vez trabalhamosmais e cada vez

temosmenostempoparaolazer,defendeAna,de33anos,acrescentandoquevalorizamuito

Figura13:Família“Graça”–Celesteachaquevercincohoraspordiadetelevisãojáésuficiente,econfessaquegostariadeterumcinemaemcasa

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o tempo passado em família em frente à TV. Por outro lado, a falta de qualidade da

programação leva a que algumas famílias se cansem da televisão. «Menos. São sempre os

mesmos programas, sempre a mesma coisa. Torna‐se repetitivo», queixa‐se Fátima, de 15

anos, que gosta de ver programas sobre moda e remodelação de casas. «Os programas

começamaserdesinteressantes.Estãoarepetirmuitoosprogramaseumapessoacomeçaa

perder o interesse na televisão por isso», acrescenta amãe,Margarida. Há ainda quem se

imagineasubstituiratelevisãoporoutromedia.«Comestedesenvolvimentoqueháanívelda

tecnologiaachoquenão.Ouatelevisãocrianovosinteressesouentão…Maseuachoquenão.

Por acaso, há bocado estava a ver o meu genro a mexer no Ipad. Ele mostrou‐me umas

notíciasdoCarlosCastroeeuinteriorizei:“Isto,qualquerdia,jánãoprecisamosdetelevisão.

Háoutrascoisas”»,projectaCarla,de65anos.«Euachoque,porexemplo,hácincoanosatrás,

via bemmais televisão do que vejo hoje e vou substituindo gradualmente. Porque o pouco

tempo livre que tenho vou ocupando com a leitura, com a pesquisa de alguma coisa que

precise,mesmoparaotrabalho…Portanto,vousubstituindoatelevisão,explicaAdelaide,de

33anos,quejápassamaistempojuntoaocomputadordoquedaTV.

Aquestão“Comoimaginaatelevisãodaquia10anos?”foidasquelevouosentrevistadosa

demorarmais tempoaresponder.Aindaassim,arespostamais imediata foi,namaioriados

casos,oadjectivo“diferente”,utilizadoem13famílias.OcasalFreitas,porexemplo,estáde

acordoquantoaestetópico.«Cadadiamudaafacedascoisas»,salientaJorge.«Estãosempre

a fazer modificações. Os programas são outros, os noticiários já são contados de maneira

diferente…Achoquevai serdiferente,pelomenosque sejaparamelhor»,prosseguePaula.

Porvezes,osentrevistadosnemchegamaexplicaremquesentidovaiserdiferente,sósabem

quenãovaiser,detodo,amesmacoisa.«Euachoquenãovaiserigual.Nãoseicomovaiser,

masachoquedevemudarmuito,porqueestá tudoamudar», sugereAmanda,de42anos,

reforçandoqueaevoluçãotecnológicaestásempreasurpreender.«Sevaiserdigital…Acho

que vai ser diferente», aposta também Catarina, de 73 anos. Em contrapartida, alguns

indivíduos lançam pistas mais concretas sobre o que imaginam para daqui a 10 anos. «Se

calhar fisicamente, acho que até já nem vai existir televisão, vai passar a ser uma

maquinazinhaqueprojecta,qualquercoisadessegénero»,imaginaVerónica,de22anos.«As

televisõesdesaparecemparadarlugaraalgumacoisadogénerodaquelesdatashows,quese

transmitem na parede», afirma Ana, de 34 anos, demonstrando‐se receptiva a essas

alterações.Efectivamente,poucasforamasprevisõesnegativassobreatelevisão.Aindaassim,

háquemolheparaofuturocomalgumacautela,sobretudonoquetocaaosconteúdos.«Toda

a tecnologia tem um lado perverso. E como, no início, nós tínhamos aquela internet

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relativamente “clean”, de repente começou os vírus, os banners, “pop‐ups”, aquelas coisas

todas…Eeutenhoacertezadequeatelevisãovaipelomesmocaminho.Ainvasãodanossa

privacidade,semdúvidaquesim»,assinalaSérgio,de30anos.«Maisàfrente,achoqueaTV

vai dar mais problemas. Problemas com os miúdos, que estão a nascer com cabeça fraca,

porque uma pessoamadura não vai pegar nos exemplos da TV para pôr emprática», avisa

Rita, de 47 anos. Porém, uma visãopositiva sobreo futuroda televisãopredominou, tendo

surgido as seguintes ideias nas respostas:maior,mais leve,mais fina,mais interactiva, com

melhorqualidadede imagem,melhoresprogramas,maisserviçose funcionalidades, fazendo

partedaevoluçãotecnológica,comtecnologiaHDou3Decomtecnologiatáctil.Atente‐seque

estaúltimaassociaçãodatelevisãoao“touch”érecorrente.Emquatrofamíliasrelacionou‐se

o futuro da televisão com este tipo de tecnologia. «Já há daquelas que são tactáveis… O

contactoécomosdedos.Andaparatrás,mexe,mudaetal»,asseguraJorge,de64anos.«Vai

sertudocomecrãtáctil»,sugereSónia,de35anos.«Anívelfísico,achoqueatelevisãotema

tendênciaparaser,cadavezmais,umacoisa“touch”,comoostelefones,consideraAna,de33

anos.

Háaindaquemconsidereque,daquiaunstempos,nãovaihaversequertelevisão‐ istoé,o

aparelhocomooconhecemos,vaidesaparecercompletamente‐eoutrosqueprevêemquea

TVvaiacompanharaspessoasparatodoolado.AreformadaJoana,porexemplo,achaqueno

futurosepoderá«levaratelevisãonaalgibeira»,enquantoSónia,deAlenquer,consideraque

«vamostertelevisãoemtodososcantosdacasa,paracontrolartudo».

Figura 14: Família “Justino” – Amanda elogia o potencial educativo da televisão portuguesa e acredita que odesenvolvimentodeserviçosligadosaobem‐estareàsaúdepoderiasermuitoútilparaasfamílias

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A propósito do futuro da televisão, foi ainda colocada a questão: «O que gostaria de

ver/aceder através da TV digital?». Neste caso, a existência de novos serviços de Pausa TV,

video‐on‐demandegravaçãodeprogramasfoiumadaspossibilidadesmaisfaladas,umavez

que, depois de perceber se os entrevistados tinham ou não algumas ideias sobre o que

gostariam de ter na TV, a entrevistadora sugeria este tipo de serviços, para avaliar a

receptividadedestasfuncionalidadesporpartedasfamílias.

Assim,em11famílias,osindivíduosconsideraramqueapossibilidadedegravarosprogramas

oudepausaraemissãodaTVtrariamaisinteresseàsuaexperiênciatelevisiva.«Ah,issoera

capazatédeserbom!Porexemplo,seeuquisessevero“Prós‐e‐Contras”,nãoviaànoite,via

nooutrodia.Nósescolhíamosomomentoquenosdessemaisjeito»,entusiasma‐seManuel,

de 71 anos. «Não temos,mas gostaríamos imenso de ter. Eu acho que émuito importante

isso. Porque, por exemplo, nós acabamos às vezes por não ver umas notícias porque não

houve tempoe, se calhar…», reflecte Sónia, de 35 anos. «Éumamais‐valia por causadessa

situaçãodoshorários.APausaTVtambémpoderiaserinteressante»,dizAna,de33anos.As

conversascomasfamíliasdeixaramperceberqueosserviçosdeinformaçãoútileosserviços

interactivos ligados ao bem‐estar e à saúde também são muito valorizados pelos

telespectadores.Porexemplo,Amanda,de42anos,temtrêsfilhaseconsideraqueestetipo

deserviçospodemsermuitoúteisparaasuafamília.«Maisserviçosdeinstruçõesemrelação

acuidados.Euachoquetodaagentedeviaterformaçãosobreosprimeirossocorros.Paraa

genteteressaformaçãotemosquefazerumcursoeoscursosnãosãobaratos.Euachoque

essa é uma formaçãoque as pessoas precisavamde ter. Saber agir nomomento.Achoque

poderiam investir nisso. Agora falammuito de gastos. Se eu tivesse informação, dentro da

minhacasa,haviacoisasqueeupodiafazercasoasminhasfilhasestivessemdoentes.Emvez

de ir parao centrode saúde5/6horas. Porque se eu for às 7hdamanhãparao centrode

saúdemarcar uma consulta só saio de lá Às 10h/11h. Então, se eu tivesse uma informação

certa, já poderia evitar isso. Ginástica também. Poderiam dar umas ginásticas para nós

fazermos em casa. Temos que procurar ginásios e nem sempre podemos ir. Só gastamos

dinheiro», sugere a imigrante. Amanda explica que os serviços de informação útil ‐

inclusivamente, os relacionados coma sua zonade residência ‐ poderiamajudá‐la a poupar

tempo que lhe é precioso para cuidar da família. «Eu tenho uma vidamuito “contadinha”.

Tenhoquemelevantardemanhã,tenhoquefazeristoefazeraquilo…Enãoestoupordentro

dasinformações.ÀsvezesaSegurançaSocialouaJuntadeFreguesiafazemascoisaseeunão

sei. Por exemplo, eu fiquei a saber, o ano passado, que havia praia para asmeninas e não

chegueiatempoporquenãocalhoupassaralinaruaparaverocartaz.ASegurançaSocialé

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mesmoaquiperto,masnãocalhoueupassar.Seeutivesseinformaçãonatelevisãoeramais

fácil»,defende.

Adelaide,de37anos,mãedeRita,umaadolescenteque sofrededeficiênciamental, pensa

nestes serviços, sobretudo se eles forem direccionados para pessoas com necessidades

especiais. Adelaide afirmou ter «umas ideias espectaculares» para conteúdos adaptados às

necessidadesda sua filha, sublinhandoqueumcanalprópriopara crianças comdificuldades

cognitivaspoderiafazertodaadiferençanarotinadeRita.«Achoquedeviahaverumlocutor

que,porexemplo,quandoaparecesseumdado,repetisseduasoutrêsvezes“Istoéumdado”.

Porqueéassimqueaminha terapeuta trabalhacomaminha filha.Eugostomuitodeaver

trabalhar.Euprópriagostodeouvir.Elestêmumrádioemquegravamaminhafilhaafazer

“Bah, bah…” e depois aminha filha ouve. E nota‐se que ela reconhece a voz. Há coisas na

televisão que podiam ser feitas para melhorar», explica a auxiliar de Educação, depois de

sugerir também a existência de um programa dedicado à fisioterapia e aos doentes. Na

verdade, as ideias dos entrevistados denotam muito os seus gostos, hobbies e temas de

interesse,havendoindivíduos,porexemplo,asugerirmaisprogramassobremoda,programas

dehumor,espectáculosdeculturaevariedadescomteatroemdirecto,programaseducativos,

rubricasdesportivasemaisproduçãonacional.

Questionadas também sobre a pertinência de incluir na grelha novos canais locais ou

regionais, quatro famílias consideraram que essa possibilidade iria trazer um acréscimo

significativo de qualidade à televisão. É o caso da famíliaMarques, da Nazaré. Para amãe,

Figura15:Família“Gaudêncio”–AdelaidecuidadafilhaRita,enquantoestasedistraicomatelevisão

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Carla,de50anos,eparaaavó,Amélia,de76anos,estetipodeconteúdosseriadiferenciador.

«Gostavaqueastelevisõesportuguesas–fossequalfosse–fizessemdonossopaís,quetem

coisastãobonitas,omesmotipodeprogramaquefazememEspanha.Estábemqueelessão

capazes de financeiramente ter outras possibilidades, mas os portugueses perdem tanto

tempoafazersériesouatéacomprarprogramasaoestrangeiroparaadaptar,quesecalhar

tambémconseguiriam.Talveznãocomtantosmeiosnemcomtantoimpacto,mas irem…Até

podiaserumúnicoafazerissononossopaís.Nãoprecisadeserumcanalemcadaregião,mas

que fosse umúnico a preocupar‐se em fazer isso. Porque quemnão pode viajar… Eu gosto

desses programas. Faz‐me viver. E então se mostra coisas que eu já conheci e que gostei,

entãoeuficoali,queparecequenãoestácáninguém.Estousóeueaminhatelevisão»,conta.

Também Carla e a filha Sónia, de Alenquer, consideram que os canais que falam sobre as

regiõessãodegrandeinteresseparaoscidadãos.«Issoprendemuitoaspessoas.Prende‐nosa

nós,mastambémnóssabemosqueprendemuitooutraspessoas.Quandoháalgumacoisana

televisãodiz‐se logo“Olha,viste?Fulano talenãoseiquê…Apareceu istoeaquilo” (…)Um

canalémuito,muitoimportante.Nóssabermosnãosódestesítio,comotambémdosoutros

concelhos.»,dizCarla.«Éverdade.Tambémerauma formadedara conhecerestas regiões

menosprivilegiadas», completa Sónia. Por outro lado, há quemnão veja qualquer interesse

emcanaislocaisouregionais.SandraeJacinto,porexemplo,consideramdispensávelumcanal

dessegénero,porque,nasuaopinião,parasaberasnovidadeslocaisbastairaocafé.

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