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Agência Reguladora http://jus.uol.com.br/revista/texto/3339 Publicado em 10/2002 José Maria Pinheiro Madeira 1. – INTRODUÇÃO As agências reguladoras surgem com o firme propósito de controlar através do planejamento e normatização as atividades privadas na execução dos serviços de caráter público, sendo órgão imprescindível no processo de descentralização estatal vivido pelo Estado. Resume de forma brilhante o ilustre administrativista Diógenes de Gasparini o surgimento das agências reguladoras em nosso ordenamento, aduzindo o seguinte: "Com a implementação da política que transfere para o setor particular a execução dos serviços públicos e reserva para a Administração Pública a regulamentação, o controle e a fiscalização da prestação desses serviços aos usuários e a ela própria, o Governo Federal, dito por ele mesmo, teve a necessidade de criar entidades para promover, com eficiência, essa regulamentação, controle e fiscalização, pois não dispunha de condições para enfrentar a atuação dessas parcerias. Tais entidades, criadas com essa finalidade e poder, são as agências reguladoras. São criadas por lei como autarquia de regime especial recebendo os privilégios que a lei lhes outorga, indispensáveis ao atingimento de seus fins. São entidades, portanto, que integram a Administração Pública Indireta." [1] E é neste contexto que o presente trabalho se desenvolverá, abordando temas polêmicos e atuais que envolvam as agências reguladoras, sem a pretensão, contudo, de esgotar o assunto que é complexo e vasto e que embeleza e engrandece o Direito Administrativo neste momento de transições e reformas.

Agência Reguladora - MONOGRAFIA

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Agncia Reguladorahttp://jus.uol.com.br/revista/texto/3339Publicado em 10/2002 Jos Maria Pinheiro Madeira1. INTRODUOAs agncias reguladoras surgem com o firme propsito de controlar atravs do planejamento e normatizao as atividades privadas na execuo dos servios de carter pblico, sendo rgo imprescindvel no processo de descentralizao estatal vivido pelo Estado.Resume de forma brilhante o ilustre administrativista Digenes de Gasparini o surgimento das agncias reguladoras em nosso ordenamento, aduzindo o seguinte:"Com a implementao da poltica que transfere para o setor particular a execuo dos servios pblicos e reserva para a Administrao Pblica a regulamentao, o controle e a fiscalizao da prestao desses servios aos usurios e a ela prpria, o Governo Federal, dito por ele mesmo, teve a necessidade de criar entidades para promover, com eficincia, essa regulamentao, controle e fiscalizao, pois no dispunha de condies para enfrentar a atuao dessas parcerias. Tais entidades, criadas com essa finalidade e poder, so as agncias reguladoras. So criadas por lei como autarquia de regime especial recebendo os privilgios que a lei lhes outorga, indispensveis ao atingimento de seus fins. So entidades, portanto, que integram a Administrao Pblica Indireta." [1]E neste contexto que o presente trabalho se desenvolver, abordando temas polmicos e atuais que envolvam as agncias reguladoras, sem a pretenso, contudo, de esgotar o assunto que complexo e vasto e que embeleza e engrandece o Direito Administrativo neste momento de transies e reformas.

2.0 CONTEXTO HISTRICOAs mudanas no cenrio poltico-econmico-social do mundo levaram a interdependncia econmica dos pases e influenciaram na poltica estatal interna de cada um deles que vive hoje um perodo de transformaes internas, sendo estas transformaes mais ou menos intensas dependendo do grau de desenvolvimento de cada pas.A esse fenmeno deu-se o nome de globalizao que, como bem ressaltou o ilustre mestre Diogo de Figueiredo Moreira Neto um "fenmeno sociolgico de expanso dos horizontes de interesses das sociedades humanas". Continua, ainda, o douto jurista:A globalizao j foi cultural, pelo poder do exemplo, como se deu no mundo Helnico; foi poltica, pelo poder da espada, como no mundo romano; foi econmica, pelo poder das riquezas, como no mundo ibrico dos descobrimentos e religiosa, pelo poder da f, como no mundo cristo.Outros movimentos globalizantes apresentaram combinaes desses interesses, como o da expanso do Isl e o do imperialismo, sendo que este ltimo se desdobrou em manifestaes especficas, como o ingls, o norte-americano e, por ultimo, o sovitico.A globalizao que se experimenta neste fim de sculo e de milnio ultrapassa, porm, todas essas experincias, pois ela no s mais ampla e diversificada: , sobretudo, mais profunda, pois um produto da Revoluo das Comunicaes e, por isso, veio para permanecer. [2]O que podemos extrair desta lio que em todas as pocas se buscava a globalizao atravs de um comportamento ativo de seus idealizadores, entretanto, nesta globalizao que vivemos, assumimos um papel passivo de recebermos quase que de forma coercitiva os dogmas desta nova etapa civilizatria, a qual o prprio Diogo denominou como a "Era do Conhecimento".As conseqncias deste novo ciclo so imensas, pois o acesso indiscriminado das pessoas s informaes resulta em se formar uma conscincia crtica coletiva que se desdobra na participao e reivindicao da populao por eficincia no atendimento de suas necessidades, seja pelo poder pblico seja pelo privado.Vem a tona a discusso de qual deve ser o "tamanho" do Estado e seu respectivo mbito de atuao. A falncia do hiper-estado (Bem-estar social e o Socialista), dominante durante todo o sculo vinte, fez perceber que a existncia de um Poder Central por mais forte e poderoso que seja, no atende de forma satisfatria aos anseios sociais. Como bem advertiu Daniel Bell, o Estado se tornou grande demais para os pequenos problemas e pequeno demais para os grandes problemas. [3]Desta forma, a busca de um Estado "exato", ou seja, nem grande nem pequeno o novo desafio para o limiar do sculo que se inicia. Institutos como o da privatizao e concesso, desestatizao e terceirizao aparecem com fora mxima em nosso ordenamento jurdico. O surgimento de agncias reguladoras, agncias executivas e organizaes socias torna-se imprescindvel governabilidade do Estado. Busca-se assim a eficincia atravs do aprimoramento do modelo gerencial de gesto do Estado, surgindo o conceito da chamada Administrao Pblica Gerencial (ou NPM, New Public Management) que visa a despolitizao das decises eminentemente tcnicas que antes eram tomadas pelo modelo burocrtico de gesto permeado pelo capricho de polticos e interesses de partidos.O Estado torna-se menor, retirando-se do domnio de reas conquistadas pela iniciativa privada, embora subsistente a superviso administrativa, em resguardo da finalidade pblica. O Poder Pblico tende a concentrar-se na prestao de servios pblicos essenciais associados ao bem-estar, educao, a cultura, a sade e ao meio ambiente, limitando-se a exercer a vigilncia e o complemento de atividades privadas segundo princpio da subsidiariedade. [4]

3.0 NATUREZA JURDICA DAS AGNCIAS REGULADORASCom a poltica de Reforma do Estado em prtica, o legislador, imbudo pelo sentimento da despolitizao da gesto estatal, buscando de forma incansvel a aplicao do modelo gerencial na Administrao Pblica no que tange, neste primeiro momento, aos servios prestados coletividade, entendeu por bem criar agncias reguladoras sob a forma de autarquia sob regime especial, tendo como nico precedente e modelo de tal regime o Banco Central do Brasil.Ensina Odete Meduar[5] que "O termo autarquia, que literalmente significa poder prprio, foi o usado pela primeira vez pelo publicista italiano Santi Romano, em 1897, para identificar a situao de entes territoriais e institucionais do Estado unitrio italiano. Para Romano, autarquia significava administrao indireta do Estado exercida por pessoa jurdica, no interesse prprio e do Estado. Em monografia sobre comunas, publicada em 1908, no Primo Trattato, de Orlando, Santi Romano menciona que a autarquia uma forma especfica de capacidade de direito pblico ou, mais concretamente, a capacidade de administrar por si seus prprios interesses, embora estes se refiram tambm ao Estado.No Brasil, muitas autarquias surgiram a partir do final das dcadas 20 e 30. As primeiras obras doutrinrias sobre autarquias datam de meados desta dcada (a de Tito Prates da Fonseca, 1935, a de Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, 1939)."Nos termos do art. 5, inciso I, do decreto-lei 200/67, autarquia "o servio autnomo, criado por lei, com personalidade jurdica, patrimnio e receita prprios, para executar atividades tpicas da Administrao Pblica, que requeiram para seu melhor funcionamento, gesto administrativa e financeira descentralizado."Na lio de Hely Lopes Meirelles, "A autarquia no age por delegao, age por direito prprio e com autoridade pblica, na medida do jus imperii que lhe foi outorgado pela lei que a criou. Como pessoa jurdica de direito pblico interno, autarquia traz ncita, para a consecuo de seus fins, uma parcela do poder estatal que ele deu vida. Sendo um ente autnomo, no h subordinao hierrquica da autarquia para com a entidade estatal a que pertence, porque, se isto ocorresse, anularia seu carter autrquico. H mera vinculao entidade matriz de que, por isso, passa a exercer, um controle legal, expresso no poder de correo finalstico do servio autrquico".[6]Na mesma esteira de raciocnio entende Digenes Gasparini, "A Administrao Pblica, sempre que desejar descentralizar uma dada atividade cuja cura lhe foi atribuda pelo ordenamento jurdico, observado, naturalmente, o interesse pblico, cria, por lei, uma pessoa pblica de natureza administrativa e para ela transfere a titularidade da atividade ou servio e, obviamente, sua execuo. A entidade criada para esse fim a autarquia. A ela se outorga, como prpria, a atividade, ou servio, que se pretende ver descentralizada e, como no podia deixar de ser, a correspondente execuo. O trespasse da atividade autarquia significa a transferncia da titularidade e, por conseguinte, da execuo que lhe corresponda. Essa, como vimos, a desempenhar em seu prprio nome, prestando-a por sua conta e risco, embora sob controle da administrao pblica que a criou."[7]Entretanto, no decorrer dos anos, o controle finalstico (controle de resultados) das autarquias foi sendo substitudo pelo controle dos meios de sua atuao, resultando no engessamento de suas atividades, de tal sorte que pouco se distinguia a autarquia de um departamento da Administrao Direta. Da a necessidade de encontrar novos caminhos para escapar dessas restries genricas que, visando coibir determinados abusos, acabaro por emperrar a entidade descentralizada.A soluo encontrada foi criao da autarquia sob regime especial, que se distingue da autarquia comum apenas por lhe conferir a lei maiores privilgios, de modo a ampliar a sua autonomia e possibilitar o cumprimento adequado de suas finalidades, conforme ensinou o professor Eurico de Andrade Azevedo [8].Insta acrescentar que a expresso autarquias de regime especial surgiu, pela primeira vez, na Lei 5.540, de 28.11.1968, art. 4, para indicar uma das formas institucionais das universidades pblicas. [9]Conclui-se assim, que a natureza jurdica da agncia reguladora a de autarquia de regime especial, pois assim foi determinado pela lei que as instituiu. Entende-se por autarquia de regime especial, em uma conceituao simplista e prtica, nada mais do que uma autarquia que possui maiores privilgios que as autarquias comuns, tais como possuir ampla autonomia tcnica, administrativa, financeira e oramentria, bem como, poder normativo que sero vistos detidamente a posteriori.

4.0 PRIVILGIOS DA AUTARQUIA DE REGIME ESPECIALDiante desta realidade onde a autonomia e independncia so premissas imprescindveis ao desenvolvimento da atividade reguladora, alguns privilgios devem ser firmados para que a autarquia instituda possa atuar de forma eficaz no exerccio da fiscalizao pelo Estado.Desta forma, faz-se necessrio ao exerccio satisfatrio da agncia: I) possuir ampla autonomia tcnica, administrativa e financeira, de maneira a ficar, tanto quanto possvel, imune s injunes poltico-partidrias, aos entraves burocrticos e a falta de verbas oramentrias; II) expedir normas operacionais e de servio, de forma a poder acompanhar o ritmo extraordinrio do desenvolvimento tecnolgico e do atendimento das demandas populares; III) aplicar sanes com rapidez, respondendo aos reclamos da populao e exigncias do servio; IV) por fim, associar a participao dos usurios ao controle da fiscalizao do servio.Para o exerccio destas funes, escolheu o governo a forma de autarquia sob regime especial, outorgando-lhe poderes para que, de forma austera e independente, atuasse o exerccio da regulao estatal.Arnold Wald[10] identifica a independncia que caracteriza uma agncia reguladora em quatro dimenses:1) independncia decisria - consiste na capacidade da agncia de resistir a presses de grupos de interesses no curto prazo. Procedimentos como o de nomeao e demisso de dirigente, associados com a fixao de mandatos longos, escalonados e no coincidentes com ciclo eleitoral, so arranjos que procuram isolar a direo da agncia de interferncias indesejveis, tanto por parte do Governo, quanto da indstria regulada.2) independncia de objetivos - compreende a escolha de objetivos que no conflitem com a busca prioritria do bem-estar do consumidor. Uma agncia com umnmero pequeno de objetivos bem definidos e no conflitantes tende a ser bem mais eficiente que uma outra com objetivos numerosos, imprecisos e conflitantes.3) independncia de instrumentos - a capacidade da agncia de escolher os instrumentos e de regulao de modo a alcanar os objetivos da forma mais eficiente possvel.4) independncia financeira refere-se a disponibilidade de recursos materiais e humanos suficiente para execuo das atividades de regulao.O festejado autor Diogo de Figueiredo Moreira Neto [11], elenca o que chama de quatro importantes aspectos de atuao das agncias reguladoras:1) independncia poltica dos gestores, investidos de mandatos e com estabilidade nos cargos durante um termo fixo;2) independncia tcnica decisional, predominando as motivaes apolticas para seus atos, preferentemente sem recursos hierrquicos imprprios;3) independncia normativa, necessria para o exerccio de competncia reguladora dos setores de atividade de interesse pblico a seu cargo; e4) independncia gerencial oramentria e financeira ampliada, inclusive com a atribuio legal de fonte de recursos prprios, como, por exemplo, as impropriamente denominadas taxas de fiscalizao das entidades privadas executoras de servios pblicos sob contrato.Esta a nova viso da atuao do Estado na economia, que ao mesmo tempo em que diminui sua participao direta na prestao de servios, impe o fortalecimento de sua funo reguladora e fiscalizadora.Para melhor entendimento dos privilgios que gozam as autarquias especiais no exerccio de suas atividades, veremos detidamente, a seguir, cada um deles.4.1 INDEPENDNCIA NORMATIVA E SUA COMPETNCIA DE ATUAOInicialmente, faz-se necessrio algumas anotaes sobre os Princpios da Legalidade e da Tripartio dos Poderes para que se possa percorrer o tema abordado de forma precisa.O Princpio da Legalidade, dogma consagrado pela Constituio vigente (art. 5, II) e imprescindvel para a existncia do Estado, determina que ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei.Jos Afonso da Silva aduz de forma expressa que "a palavra Lei (art. 5, II da CF), para a realizao plena do princpio da legalidade, se aplica, em rigor tcnico, lei formal, isto , ao ato legislativo emanado dos rgos de representao popular e elaborado de conformidade com o processo legislativo previsto na Constituio (art. 59 a 69).Cabe ento uma indagao: possvel que a prpria Lei (formal) transfira do Poder Legislativo para o Poder Executivo a competncia de "legislar" (no por lei, mas por ato normativo prprio) sobre matria determinada? A resposta positiva, na ocorrncia do fenmeno denominado deslegalizao, tipo de delegao de competncia, que ser visto detidamente em tpico prprio.Para Canotilho, "Lei uma regulamentao intrinsecamente aberta estabelecida segundo critrios jurdico-constitucionais prescritos." Estaramos, portanto, no caso das agncias reguladoras, diante de uma forma de regulamentao prescrita pela lei e pela Constituio. Pela Lei na forma vista acima (fenmeno da deslegalizao) e, pela Constituio, no dispositivo constitucional permissivo (art.21, XI) que acena para um rgo regulador. Deve-se ressaltar que, para os defensores do princpio da legalidade puro e inviolvel, tal situao concebida como uma exceo Constitucional prpria regra estabelecida pela Constituio.Desta forma, entendo correta a definio moderna do princpio da legalidade trazida na lio do Constitucionalista Alexandre de Morais, na qual ensina que ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, seno em virtude de espcie normativa devidamente elaborada pelo Poder competente, segundo as normas do processo legislativo constitucional, determinando a Carta Magna, desta forma, quais os rgos competentes e quais os procedimentos de criao das normas gerais. [12]A Teoria da Separao dos Poderes, incorporada ao constitucionalismo atravs da obra de Montesquieu [13], tem como premissa bsica assegurar a liberdade dos indivduos. Sustenta o filsofo iluminista, que o efeito da reunio dos poderes em uma nica pessoa a constituio de um poder tirano.De fato, quando se pretende desconcentrar o Poder, atribuindo seu exerccio a vrios rgos, a preocupao maior a defesa da liberdade dos indivduos, pois maior a concentrao do Poder maior ser o risco de um governo ditatorial[14].Atualmente, desenvolvida e adaptada a novas concepes e relacionada idia do controle do Estado Democrtico, a Teoria da Separao dos Poderes[15] alm de determinar o sistema de freios e contrapesos entre as funes estatais, objetiva aumentar a eficincia do Estado pela distribuio de suas atribuies entre rgos especializados.O sistema Constitucional vigente adotou a Tripartio dos Poderes, albergando este princpio no art. 2 do texto constitucional, princpio este de tal relevncia para o nosso ordenamento jurdico, que foi "petrificado" pelo art. 60, 4, III da CF.A diviso dos poderes, conforme foi visto, fundamenta-se em dois elementos: a especializao funcional e a independncia orgnica[16].A atividade legisferante do Estado, originariamente exercida pelo Poder Legislativo, dentro da concepo da tripartio, tem como objeto precpuo do Poder- Funo a ele atribudo, produzir normas para o funcionamento racional e equilibrado do Estado e o desenvolvimento e convivncia harmnica de seu povo. Pontua-se, aqui, o principio da reserva legal, que constitui uma garantia individual em nossa Carta Poltica atual, e que tem sido tradicionalmente adotado nos ordenamentos constitucionais dos Estados de Direito.Ocorre que, embora seja o Poder Legislativo o rgo tradicionalmente competente para elaborar leis, o Princpio da Separao dos Poderes vem sendo gradativamente mitigado, com a ocorrncia do fenmeno das delegaes legislativas que tm por escopo proporcionar a outros rgos (Executivo e Judicirio) competncia normatizadora, objetivando atribuir "poder legislativo" ao prprio rgo que criar a norma coadunada com a peculiaridade dos assuntos pertinentes.Deve-se ressaltar, que a norma delegada s ter validade se houver previso legal para sua edio; se forem cumpridos os requisitos elencados pela lei permissora e, por fim, se estiver de acordo com o ordenamento jurdico vigente.Nesta linha de raciocnio leciona Diogo de F. M. Neto, "Como, em princpio, no se fazia necessria e ntida diferena entre as matrias que exigem escolhas poltico-administrativas e as matrias que devam prevalecer s escolhas tcnicas, a competncia legislativa dos parlamentos, que tradicionalmente sempre foi privativa, na linha do postulado da Separao dos Poderes, se exerceu, de incio, integral e indiferenciadamente sobre ambas. Somente com o tempo e o reconhecimento da necessidade de fazer a distino, at mesmo para evitar que decises tcnicas ficassem cristalizadas em lei e se tornassem rapidamente obsoletas, que se desenvolveu a tcnica das delegaes legislativas." [17]A ocorrncia de delegao de poder, inicialmente de competncia privativa de outro rgo, praxe em nosso ordenamento jurdico, e ocorre em todas as Funes Estatais (Executivo, Legislativo e Judicirio), enriquecendo e fortalecendo o regime democrtico de Direito vigente, pois de uma forma mitigada cumpre-se o Princpio da Separao dos Poderes que previa a desconcentrao dos poderes. O que temos hoje a desconcentrao do poder que j era desconcentrado, permitindo uma melhor gesto do Estado.De fato, a independncia normativa das agncias reguladoras, como dito anteriormente, condio sine qua non para que a regulao ocorra de forma satisfatria e ntegra. Para Diogo de F. M. Neto, (...) "essa competncia normativa atribuda s agncias reguladoras a chave de uma desejada atuao clere e flexvel para a soluo, em abstrato e em concreto, de questes em que predomine a escolha tcnica, distanciada e isolada das disputas partidarizadas e dos complexos debates congressuais em que preponderam as escolhas abstratas poltico-administrativas". [18]Devemos diferenciar trs tipos de delegao do poder legislativo. A delegao receptcia, que consiste na transferncia ao Poder Executivo da funo de produzir normas com fora de lei, assumindo o poder Legislativo como prprio o contedo da norma delegada. O art. 59, IV, c/c art. 68 da Constituio Federal de 1988 trata das Leis Delegadas, tendo suas condies formais e materiais estipuladas no art. 49, V da mesma Carta Poltica, podendo, ainda, submeter-se ao controle poltico em caso de exorbitncia dos limites da delegao, que o chamado veto legislativo. A delegao remissiva, outra forma de delegao, consiste na remessa, pela lei, a uma norma subseqente a ela que dever ser elaborada pela Administrao, sem fora de lei. No vincula o poder delegante podendo ser revogada a qualquer tempo, pois o Poder Legislativo no assume como prprio o contedo da norma delegada. Trata-se, aqui, da regulamentao ou do poder regulamentar.[19] A deslegalizao, que ser vista detidamente em tpico prprio, por tratar-se exatamente de uma modalidade nova de delegao e por ter sido a modalidade adotada pelas agncias reguladoras.4.1.1 - A QUESTO DA DESLEGALIZAOSurgido na Frana, o instituto da deslegalizao traz em seu bojo a possibilidade de outras fontes normativas, estatais ou no, regular por atos prprios determinada matria, ou seja a retirada do mbito da lei propriamente dita o condo de reger determinada matria.De forma resumida a deslegalizao modificou a postura tradicional da tcnica de delegao, no sentido de que o titular de um determinado poder no ter dele a disposio, mas to somente o exerccio, passando-se a aceitar, como fundamento da delegao, a retirada, pelo prprio legislador, de certas matrias, do domnio da lei (domaine de la loi) passando-as ao domnio do regulamento (domaine de lordonnance).[20]O conceito de deslegalizao oferecido por Gianmario Demuro, trazida colao pelo mesmo Diogo, determina de forma concisa e precisa os contornos deste instituto: " a transferncia da funo normativa (sobre matrias determinadas) da sede legislativa estatal a outra sede normativa" [21]No Brasil, a Constituio Federal traz em vrios dispositivos a possibilidade da deslegalizao, quais sejam: art.22, pargrafo nico; art. 217, I e seu pargrafo 1; art. 220, pargrafos 3 e 4; a Emenda Constitucional n 8 que alterou a redao do art. 21, XI; a Emenda Constitucional n 9 que alterou a redao dada ao art. 177 pargrafo 2, III.Como no foi proibido genericamente a deslegalizao legal ser sempre possvel no ordenamento constitucional vigente desde a Constituio no a proba expressamente.Deve se consignar que o art. 25 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, determinou a revogao de todas as normas delegadoras de competncia normativa, in verbis:"Art. 25. Ficam revogados, a partir de cento e oitenta dias da promulgao da Constituio, sujeito esse prazo a prorrogao por lei, todos os dispositivos legais que atribuam ou deleguem a rgo do Poder Executivo competncia assinalada pela Constituio ao Congresso Nacional, especialmente no que tange a:I ao normativa;II alocao ou transferncia de recursos de qualquer espcie."Por bvio que o dispositivo transcrito se prope a por termo aos abusos praticados pelo regime ditatorial que vigia at a promulgao da atual Carta, mas no se prope a por termo a delegao legislativa, proposta por diversas vezes pela prpria Constituio, conforme supra exposto.No caso das agncias reguladoras, trata-se de uma delegao legislativa conhecida pela doutrina e jurisprudncia americana como delegation with standards, que ocorre quando o ato emanado pelo poder legislativo fixa parmetros (standards) adequados e satisfatrios para se pautar a atuao do rgo delegado, ou seja a fixao de limites atuao do poder delegado. [22]Para o Procurador do Estado do Rio de Janeiro, Lus Roberto Barroso[23] (...)"a doutrina brasileira passou a encarar com certa atenuao a questo das delegaes legislativas, para admiti-las, com reservas, sempre que o legislador oferecesse standards adequados, isto , quando houvesse incio de legislao apta a confirmar dentro em limites determinados a normatizao secundria do rgo delegado. Inversamente, quando o rgo legislativo abdicasse de seu dever de legislar, transferindo a outros a responsabilidade pela definio das alternativas polticas e diretrizes a seguir, a invalidade seria patente".(...) "Cumpre remarcar, nesse passo, que o poder regulamentar, em sentido rigorosamente tcnico, privativo do Presidente da Repblica, nos termos da letra expressa do inciso IV do art. 84 da Constituio Federal. De sorte que, a rigor, no deve utilizar a expresso quando se trate de atribuio desempenhada por rgo qualquer do Poder Executivo ou por entidade da Administrao Direta. Tais rgos e entidades, certo, titularizam, em certos casos, competncias para expedir atos administrativos normativos gnero do qual regulamento espcie. Mas, por evidente, no desfutram, no particular, de franquias mais amplas do que as que pode desfrutar o Chefe do Poder Executivo."De fato o ato normativo gnero do qual regulamento espcie, entretanto, em virtude do exposto pelo Dr. Barroso sobre a nomenclatura errnea Poder Regulamentar entendo, que no de trata de Poder Regulamentar e sim de Poder Regulador (buscando aqui uma nomenclatura diferenciada), pois cria, dentro de padres pr-fixados (standards) pela lei originria da agncia reguladora, uma normatizao que "inova no ordenamento" visto que no visa explicitar a lei ou lhe dar executabililidade como deve fazer o regulamento propriamente dito, mas sim direcionar a execuo dos servios pblicos prestados ou resolver conflitos atravs da norma infra legal advinda da necessidade setorial concreta e indita.Exemplos de deslegalizaes Legais, visto que os exemplos supracitados so de deslegalizaes constitucionais, so os casos da Lei 9427/96 que instituiu a Agncia Nacional de Energia Eltrica ANELL, onde possibilita a agncia de regular, entre outras, a produo, transmisso e comercializao de energia eltrica. (art. 2) [24]Essa a espcie de delegao que as agncias reguladoras devero possuir. A lei determina seu mbito de atuao e os atos normativos produzidos pelas agncias regero o mercado de atuao especfica de cada agncia. A celeridade das decises imprescindvel para a gesto eficaz do negcio e essas normas direcionaram rapidamente o rumo a ser tomado sem a morosidade que impera no poder legislativo seja pela desdia de seus parlamentares, seja pelo devido processo legal, normalmente longo e lento.Insta acrescentar que no h de se falar em riscos de injustias neste processo de deslegalizao pois as empresas reguladas no so hipossuficientes juridicamente para sofrerem alguma leso irreversvel visto que a Constituio Federal disponibiliza a qualquer tempo a ida ao Poder Judicirio para proteger qualquer leso ou ameaa a direito (art.5, XXXV).4.1.2 LIMITES AO PODER NORMATIVOO objetivo da delegao de poder normativo s agncias reguladoras tem como causa nica e exclusiva, dar a possibilidade de se editar de forma rpida normas de cunho exclusivamente tcnico. A discricionariedade tcnica o fundamento de validade das normas reguladoras baixadas pelas agncias.Ultrapassar os limites tcnicos ao acrescentar as normas reguladoras critrios polticos-administrativos onde no deviam existir, caracterizar invaso de poder prprio esfera das decises do poder legislativo. Deve-se atentar, portanto, que a discricionariedade tcnica existe apenas quando a deciso que nela se fundar poder ser motivada tambm tecnicamente. Esta , qui, a limitao mais importante, pois afasta, ao mesmo tempo, o arbtrio, o erro, a impostura e a irrazoabilidade. [25]Desta forma temos limitaes materiais normas de cunho tcnico - e formais, dado pela normatizao de lavra sempre infralegal.4.2 INDEPENDNCIA DECISRIAPara Marcos Juruena Villela Souto as agncias reguladoras no so to independentes quanto deveriam, pois, sua independncia, esbarra no princpio da jurisdio una.Para ele "a citada independncia dos rgos reguladores relativa, posto que vigora o princpio da jurisdio una, o que implica em dizer que nenhuma leso ou ameaa de leso escapar apreciao do Poder Judicirio. Essa submisso das decises das agncias reguladoras ao magistrado diminui-lhes a fora e a eficcia de agilizar o procedimento, solucion-los atravs da interveno de tcnicos habilitados e reduzir os custos do contencioso. O ideal introduzir a limitao da lei n 9307 (que regula arbitragem), somente admitindo o questionamento jurisdicional se houver vcios formais na deciso, respeitadas as situaes em que h direitos indisponveis do estado". [26]Peo vnia para discordar do Douto Jurista, pois se verdade que para a reforma do Estado necessrio um rgo que haja de forma clere e eficaz na busca de uma prestao dos Servios Pblicos, condizentes as necessidades da populao, tanto quanto verdade que o princpio da Tripartio dos Poderes est sendo mitigado, tambm verdade que no se pode transpor Garantia Constitucional para tanto. Nesse caso os meios no justificam os fins, at porque os meios so inconstitucionais sendo portanto inadmissveis. A possibilidade legal de existncia de um rgo que rena a edio, a fiscalizao e o julgamento de seus atos seria constituir legalmente um poder totalitrio, execrado pelo ordenamento constitucional vigente, atravs do que dispe o princpio ptrio da Separao dos Poderes. Como citou anteriormente o prprio Montesquieu, seria a possibilidade da criao de um poder tirano.Desta forma, entendo possvel a agncia reguladora normatizar, fiscalizar e julgar seus prprios atos, entretanto entendo impossvel retirar do Judicirio o poder de julgar determinada causa. O que a lei visa possibilitar uma forma mais rpida de resolver conflitos mas no retirar de ningum a possibilidade de discutir essa causa em juzo se alguma das partes se sentir lesada.Se a regulao no que tange a resoluo de conflitos for eficiente, havendo concesses mtuas com objetivo de um fim comum, qual seja, a melhor prestao do servio, no h porque se preocupar com a ida ao Judicirio, pois as partes no o procuraro. Contudo, se a mediao no for feita de forma adequada, a busca do Judicirio imperativa. Assim, se houver uma boa atuao das agncias reguladoras na resoluo de conflitos e na edio de normas, o judicirio no assusta, entretanto, se essa atuao no se der de forma eficaz e adequada o Judicirio imprescindvel para a manuteno do Estado de Direito.Ademais, a praxe, como se sabe, o corporativismo, por fora do qual dificilmente nos processos administrativos se conclui por erro da Administrao, fatos pelos quais vejo inafastvel a garantia individual proposta pelo art. 5 XXXV; e 2 c/c art. 60 4, III e IV de nossa Carta Poltica.4.3 AUTONOMIA ECONMICA-FINANCEIRAA fim de impedir a submisso das agncias reguladoras a qualquer tipo de condio, garantindo-lhe a autonomia exigida para seu funcionamento de acordo com o modelo fixado, estabeleceu-se uma forma de aquisio de receita sem que os recursos transitem pelo errio. Instituiu-se, para tanto, a "taxa de regulao" ou "taxa de fiscalizao dos servios concedidos ou permitidos", que devida pelo concessionrio ou permissionrio dos servios e pagas diretamente s agncias reguladoras. Calcula-se o valor da taxa com base em percentual sobre o proveito obtido com a concesso ou permisso.A primeira celeuma criada foi no tocante ao custeio da regulao pelo prprio fornecedor do bem ou servio regulado, fato este assim criticado pelo douto Marcos Juruena Villela Souto: "A agncia, com isso, no depende de recursos oramentrios, mas, em compensao, submete-se crtica de ser custeada pelo sujeito fiscalizado".[27]Traz, ainda colao na mesma obra, o festejado jurista, parecer de Lucia Helena Salgado, que analisa a questo nos seguintes termos:"O argumento inicial no sentido de que regulao seria adquirida pela indstria e desenhada e operada primariamente para seu benefcio (Stigler), ao que se contrape a inteligncia de que nenhum interesse econmico captura de forma exclusiva o corpo regulatrio. Ele deriva um equilbrio em que o poltico maximizador de utilidade aloca benefcios entre grupos otimamente. Assim, dado que consumidores podem oferecer votos ou dinheiro em troca de algum afastamento do equilbrio de cartel, a proteo pura do produtor no ser, em geral, a estratgia poltica dominante (Peltzman)". [28]Entendo, entretanto, que no h de se falar em submisso, pois as receitas adquiridas so de natureza compulsria e os valores determinados por uma base de clculo pr-estabelecida por lei. Ademais, no se trata de uma relao comercial propriamente dita e sim de uma ao fiscalizadora e reguladora do Estado no exerccio legtimo de seus poderes. Qualquer verba recebida a maior do valor estipulado, com objetivo outros seno os da mantena do rgo regulador, tipificaria crime punido pelas leis penais.O segundo ponto controverso da questo no que tange natureza jurdica da taxa de regulao devida. Parte da doutrina entende que se trata de um tributo e a outra parte entende que a referida taxa tem natureza contratual.Para os que entendem tratar-se de um tributo, a defesa caminha no sentido de que a taxa fora instituda por lei cujo fato gerador o exerccio do poder de polcia definido no art.145, II da CF e no art. 78 do Cdigo Tributrio Nacional, posto que se trata de prestao pecuniria, compulsria, que no constitui sano de ato ilcito, instituda por lei e cobrada mediante atividade administrativa vinculada. E assim sendo, seria vedada tal previso, vez que taxa no pode ter base de clculo tpica de imposto.Diferente, contudo, o entendimento da ilustre procuradora do estado do Rio de Janeiro Vera Lucia Kirdeik [29], que em parecer trazido a lume na obra de Marcos Juruena [30], esclarece que "a referida taxa tem natureza contratual, no sendo cobrada em funo de um servio pblico prestado pelo Estado s concessionrias nem, tampouco, pelo exerccio do poder de polcia, caracterizado este, valendo-se da eleio de Celso Antnio Bandeira de Mello, pelas manifestaes impositivas da Administrao limitadoras da liberdade, distinguindo-se de outras manifestaes impositivas da Administrao porque originam-se de um ttulo jurdico especial relacionador da Administrao. Visa, pois, remunerar os servios de fiscalizao do cumprimento das normas contratuais ou legais pertinentes. E o faz amparada na lio sempre atualizada de Hely Lopes Meirelles, que expe:" comum ainda nos contratos de concesso de servios pblicos a fixao de um preo, devido pelo concessionrio ao concedente a ttulo de remunerao dos servios de superviso, fiscalizao e controle de execuo do ajuste a cargo deste ltimo.".Dever-se ressaltar que a aplicao prtica de tal discusso se faz no sentido de transfigurar como inconstitucional a taxa de regulao sendo esta concebida como tributo, visto que por vedao constitucional a taxa no pode ter base de clculo prpria de imposto.(art. 145 2 da Constituio da Repblica).Ocorre que o STF vem sistematicamente se posicionando no sentido de entender legitima a cobrana da taxa, o que faz esta discusso se limitar ao campo meramente doutrinrio, conforme publicado em seus informativos abaixo transcritos:"INFORMATIVO do STF N 119 - TAXA E CAPACIDADE CONTRIBUTIVA.Iniciado julgamento de recurso extraordinrio afetado ao plenrio pela segunda turma (ver informativo 112) em que se discute a constitucionalidade de taxa de fiscalizao dos mercados de ttulos e valores mobilirios, institudos pela lei n 7.940/89. O ministro Carlos Velloso, relator, proferiu voto no sentido da constitucionalidade da referida lei, afastando a tese da empresa recorrente na qual sustenta que a variao do valor da taxa em funo do patrimnio lquido contribuinte equivaleria adoo desse patrimnio como base de clculo do tributo, descaracterizando a natureza contraprestacional da taxa. Salientou, ainda, que a tabela prevista na lei questionada - que apenas uma referncia sobre o valor fixo, no estabelecendo para agressividade de alquotas - observa o princpio da capacidade contributiva, que tambm pode ser aplicado s taxas (CF, art. 145, 1: sempre que possvel, os impostos tero carter pessoal e sero graduados segundo a capacidade econmica do contribuinte, facultado administrao tributria, especialmente para conferir efetividade esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimnio, os rendimentos e as atividades econmicas do contribuinte.). Aps os votos do ministro Nelson Jobim, Maurcio Corra e Ilmar Galvo, acompanhando o voto do ministro Carlos Velloso, o julgamento foi adiado em virtude do pedido de vista do ministro Marco Aurlio. RE 182.737-PE, rel. Min. Carlos Velloso, 20.08.98.""INFORMATIVO do STF N 146 - TAXA DE FISCALIZAO: CVM.Concludo o julgamento de recursos extraordinrios em que se discute a constitucionalidade da taxa de fiscalizao do mercado de ttulos e valores mobilirios, institudos pela lei n 7.940/89 (ver informativos 82,112 e 119). O tribunal, por maioria, mantendo as decises recorridas, entendeu constitucional a referida taxa. Considerou-se: 1) que o fato de a taxa variar em funo do patrimnio lquido da empresa no significa que se patrimnio lquido constituam sua base de clculo - serve, apenas, de elemento informativo num montante a ser pago, quando da aplicao da tabela prevista na lei; 2) que o critrio adotado para a cobrana da taxa observo princpio da capacidade contributiva, que tambm pode ser aplicado essa espcie de tributo, principalmente quando se tem como fato gerador o poder de polcia. (CF, art. 145, 1: sempre que possvel, os impostos tero carter pessoal e sero graduados segundo a capacidade econmica do contribuinte, facultado administrao tributria, especialmente para conferir efetividade esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimnio, os rendimentos e as atividades econmicas do contribuinte.). Vencido o Min. Marco Aurlio, que declarava a inconstitucionalidade da referida lei. RE 177.835-PE; 179.177-PE; 182.737-PE; 202.533-DF e 203.981-PE, rel. Min. Carlos Velloso, 22.04.99.""INFORMATIVO do STF N 137 - TAXA E CRITRIOS DE INCIDNCIAIndeferida medida liminar em ao direta ajuizada pela Confederao Nacional do Transporte - CNT, contra a Taxa de Fiscalizao e Controle dos Servios Pblicos Delegados, instituda pelo Estado do Rio Grande do Sul (Lei estadual 11.073/97, regulamentada pelo Decreto 39.228/98), cujo valor, a ser pago pelos Delegatrios dos Servios Pblicos prestados no referido Estado, definido de acordo com o faturamento do contribuinte, conforme tabela de incidncia progressiva. primeira vista, o Tribunal, por maioria de votos, afastou a alegao de ofensa ao art. 145, 2, da CF ("As taxas no podero ter base de clculo prpria de impostos."), uma vez que o referido tributo no incide sobre o faturamento das empresas contribuintes, mas apenas utiliza-o como critrio para a incidncia de taxas fixas. Vencido o Min. Nri da Silveira, relator, que, considerando relevante a tese de inconstitucionalidade sustentada pela autora da ao - no sentido de que a variao do valor da taxa em funo do faturamento do contribuinte equivaleria adoo desse faturamento como base de clculo do tributo, descaracterizando sua natureza jurdica, transformando-a em imposto deferia o pedido de medida liminar. ADInMC 1.948-RS, rel. Min. Nri da Silveira, 4.2.99."4.4 INDEPENDNCIA ADMINISTRATIVA DOS GESTORESAs leis instituidoras das agncias reguladoras estabeleceram um processo peculiar de nomeao de seus dirigentes, no sendo atravs de concurso pblico, provimentos de cargos de confiana atravs da livre nomeao ou contratao excepcional de mo-de-obra temporria.A diretoria composta atravs da escolha dos dirigentes (pessoas de reputao ilibada e notrio saber do setor regulado) pelo Chefe do Poder Executivo, passando em seguida pela aprovao do Poder Legislativo, conhecido como sabatina do Congresso.Trata-se portanto de agentes polticos e no de agentes administrativos, no tendo que estar portanto submetido s condies de "contratao" do servidor pblico nas formas vistas (concurso, livre nomeao ou temporrio). Submetem-se, os dirigentes das agncias reguladoras, a critrios definidos em lei, que determina a forma e as condies de sua contratao e sua exonerao, no podendo s-la feita seno nas hipteses legalmente autorizadas.Deve ainda a lei estipular que durante o mandato ou na quarentena posterior a ele no poder os dirigentes da agncia manter qualquer vnculo com o concedente, concessionrio ou associao de usurios.[31]Estas e outras medidas legais tm o intuito de desvincular da atividade reguladora qualquer interesse que no seja o interesse Pblico, objetivando um direcionamento eficaz na prestao do servio para que atenda assim os anseios da populao.

5.0 FUNO REGULADORAO Estado no exerccio do jus imperii, no decorrer do sculo que se finda, sempre exerceu a funo reguladora da economia em suas diversas vertentes. Entretanto, com surgimento do Welfare State o Estado assumiu a economia, tomando para si a responsabilidade de seu desenvolvimento, sendo esta gradativamente estatizada o que determinou o afastamento da iniciativa privada e a proliferao de entidades estatais industriais, de incio, sob a forma autrquica e, posteriormente de paraestatais (empresas pblicas, sociedades de economia mista, fundaes econmicas e subsidirias).Desta forma, a regulao e o controle feito pelo Estado passaram a se tornar incuos e sem sentido, j que no havia necessidade de uma duplicidade de controles, haja vista a existncia do controle inerente prpria atividade administrativa pblica. Assim, os rgos estatais de controle foram desaparecendo quando no confundidos em uma mesma entidade que ao mesmo tempo em que prestava o servio fazia seu controle.Com a busca de um Estado preocupado apenas com suas atividades essenciais, e por conseqncia imbudo na vontade de desestatizar a economia passando assim, as atividades essencialmente econmicas para o setor privado, ressurge a necessidade da fiscalizao e controle estatal dessas atividades.No Brasil, como bem lembrou Diogo de F. M. Neto, esta evoluo sofreu atraso de quase uma dcada pois, a Constituio de 1988, estava destinada a ser o ltimo modelo instituidor de um Estado do Bem-Estar Social e, por isso, no continha nem previa providncias para a retomada do desenvolvimento dos servios pblicos no pas. Como j nasceu obsoleta, com pouco mais de trs anos de existncia j sofria sua primeira Emenda. O Brasil enveredado pela contramo da histria foi levado a promulgar uma carta poltica ditada pelo o utopismo; pela demagogia dos populistas e progressistas; pelo corporativismo dos grupos organizados; pelo socialismo dos que criam piamente ser possvel fazer justia social sem liberdade econmica pelo estatismo; pelo paternalismo, pelo assistencialismo; pelo fiscalismo dos que se despreocupavam com as conseqncias desmotivadoras da sobrecarga tributria; e por fim da xenofobia dos que viam o pas como alvo de um imenso compl internacional [32].Contudo, o Estado de forma herclea conseguiu superar os percalos e obstculos impostos e iniciar seu processo de modernizao tendo como passo marcante criao das agncias reguladoras.Segundo Vital Moreira[33], podemos vislumbrar trs concepes de regulao: (a) em sentido amplo, toda a forma de interveno do estado na economia, independente dos seus instrumentos de fins; (b) num sentido menos abrangente, a interveno estadual na economia por outras formas que no a participao direta na atividade econmica, equivalendo, portanto, ao condicionamento, coordenao e disciplina da atividade econmica privada; (c) num sentido restrito, somente o condicionamento normativo da atividade econmica privada (por via de lei outro instrumento normativo).Tony Posner[34] destaca que na viso dos economistas, trata-se de uma interveno estatal em decises econmicas das empresas, normalmente vista como ato poltico de restrio de mercados.Por fim, de forma acertada, Marcus Juruena Villela Souto [35], define a funo regulatria, afirmando que a regulao deve ser considerada sob trs aspectos, a saber, a regulao de monoplios, em relao aos quais os devem ser minimizadas as foras de mercado atravs de controles sobre os preos e a qualidade do servio, regulao para a competio, para viabilizar a sua existncia e continuidade, e a regulao social, assegurando prestao de servios pblicos de carter universal e a proteo ambiental.

6.0 - CRIAO E EXTINO DAS AGNCIAS REGULADORASSendo uma autarquia, as agncias reguladoras devem ser criadas por Lei ordinria especfica, conforme exige o inciso XIX do art. 37 da Constituio Federal, e por representar uma opo discricionria de descentralizao de uma funo da Administrao, a iniciativa desta lei privativa do chefe do poder executivo pelo que dispe a Constituio Federal em ser art. 84, II, c/c 61, 1, II, alnea e.As agncias reguladoras, pelo princpio da simetria, s podero ser extintas por Lei, cujo juzo de convenincia e oportunidade inclui-se no exerccio do poder hierrquico de quem a instituiu. Assim, a iniciativa de Lei que vise a extino de determinada agncia obrigatoriamente ter que ser de iniciativa do chefe do Poder Executivo.

7.0 EXPERINCIA INTERNACIONAL (DIREITO COMPARADO)O termo agncias reguladoras advm da traduo direta da expresso regulatory agencies (ou regulatory commissions), surgida na Inglaterra em 1834 e nos Estados Unidos em 1887 com a criao da Interstate Commerce Commission. [36]Cabe transcrever a brilhante obra de pesquisa do Prof. Mauro Roberto Gomes de Mattos que traduz de forma concisa a trajetria deste instituto:"No direito norte-americano o vocbulo agncia tem sentido amplo, e segundo a lei de procedimentos administrativos (Admistrative Procedure ACT), abrange qualquer autoridade do governo dos EUA, esteja ou no sujeita ao controle de outra agncia, com excluso do Congresso e dos Tribunais". uma passagem sumria, as agncias administrativas so divididas em reguladoras - regulatory agency - e no reguladoras - non regulatory agency. As agncias reguladoras so as que exercem, por delegao do Congresso, poderes normativos e deciso que afetam os administrados com que se relacionam, condicionando seus direitos, liberdades ou atividades econmicas, resolvendo conflitos entre a prpria administrao e os mesmos cidados.(...).O fenmeno das agncias marcou a transformao dos servios pblicos, que deixaram de ser prestadas diretamente pelo Estado, passando para os particulares tal tarefa. Este novo quadro significa que os modelos anglo-saxo e norte-americano no seguiram o tradicional modelo francs adotado pela Europa continental e pelo nosso pas, pois o Estado fica com a incumbncia de regular servios prestados pelo ente de direito privado. Nessa moldura, Hctor A. Mairal destaca que a Argentina imitou modelo norte-americano". [37]Como j foi dito, a criao das agncias reguladoras o resultado direto do processo de retirada do Estado da economia. Na Alemanha, este novo conceito tem sido chamado de "economia social de mercado".Nos pases que adotam um sistema similar ao que est sendo implantado no Brasil, ou seja, um sistema regulador, observa-se uma oscilao no poder das agncias, ora maior, ora menor, variando de acordo com o perodo histrico de transio de cada nao. Vrias naes contam com agncias reguladoras, e o nmero destas varia de acordo com cada pas. Os EUA contam com 72 agncias; o Canad com 15; a Argentina com 12; a Dinamarca com 9; a Holanda com 7; Alemanha e Sua com 6; China com 5 e Frana com 4.O Brasil concebeu inicialmente trs agncias, ANP - Agncia Nacional do Petrleo (lei n 9.478/96); ANATEL - Agncia Nacional de Telecomunicaes (lei n 9.472/97) e ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica (lei n 9.427/96). Posteriormente a estas, foram criadas a ANVS - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (lei n 9782/99) ; ANS - Agncia Nacional de Sade e por fim a ANA - Agncia Nacional de guas (lei n 9.984/2000).Em alguns estados foram criadas agncias que visam, da mesma forma que as nacionais, regular servios delegados. Encontram-se agncias reguladoras de servios pblicos delegados nos estados do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Bahia, Par, Cear, Rio de Janeiro, Sergipe, Pernambuco e So Paulo. Alm de suas funes especficas em relao aos servios delegados dos estados, as agncias estaduais podem firmar convnios com as agncias nacionais, com escopo de realizar os servios de regulao nacional dentro de seu territrio.O Estado ao perceber que seu modelo burocrtico de funcionamento emperrava o novo processo de desenvolvimento vivido, impossibilitando a sua gesto e afetando sua governabilidade, tanto no tocante a prestao de servios quanto prpria forma de administrao estatal, resolveu pr fim ao chamado "Welfare State" iniciando a poltica de um Estado voltado apenas para as suas funes essenciais, concedendo a explorao dos servios pblicos no essenciais ao particular.Para a gesto do servio pblico concedido criamos ento as agncias reguladoras, instituto europeu que se desenvolveu com fora total nos Estados Unidos que atuam controlando e regulando o exerccio da prestao de servio pblico por empresa privada. Este rgo, desburocratizado e profundo conhecedor das novas tcnicas do mercado regulado, surge sob o regime de autarquia especial, possuindo privilgios em relao s autarquias comuns como autonomia tcnica, financeira, administrativa e normativa, o que o desvincula da burocracia e politicagem da administrao estatal.Neste passo, entendo que o Estado est no caminho certo, iniciando uma nova era da Administrao Pblica atravs de conceitos modernos e investindo em uma administrao gerencial que busca acima de tudo transparncia e efetividade objetivando dar eficincia aos servios pblicos prestados.

Notas1.GASPARINI, Digenes. Direito Administrativo, 5 Edio. So Paulo, Saraiva, 2000. Pg. 3422 - MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo Globalizao, Regionalizao, Reforma do Estado e da Constituio, Rio de Janeiro, Revista de Direito Administrativo n 211: jan. /mar.1998. Pg. 1.3 - Ob. Cit. Item 2 pg. 2.4 - TCITO, Caio. A Reforma do Estado e a Modernidade Administrativa, Rio de Janeiro, Revista de Direito Administrativo n 215: jan. /mar.1999. Pg. 2.5 - MEDUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno, 4 Edio revista, ampliada e atualizada. So Paulo, Revista dos Tribunais, 2000. Pg. 77.6 - MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 23 Edio, 1998. Pg. 298.7 Ob. Cit. Item 1, pg. 271/272.8 - AZEVEDO, Eurico de Andrade. Agncias Reguladoras. Rio de Janeiro, Revista de Direito Administrativo n 213: jul. /set.1998. Pg. 143.9 Ob. Cit. Item 5, pg. 81.10 - WALD, Warnold e MORAES, Luiza Rangel de. Agncias Reguladoras. Braslia, Revista de Informaes Legislativas jan. / mar. 1999.11 - MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutaes do Direito Administrativo, Rio de Janeiro; Renovar, 2000. Pg. 148.12 - MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 6 edio revista, ampliada e atualizada com a EC N 22/99. So Paulo, Atlas, 1999. Pg. 487.13 - Esprito das Leis Montesquieu, Livro XI, cap. VI.14 - Elementos de Teoria Geral do Estado DALLARI, Dalmo de Abreu, 19 Ed. - Saraiva, 1995.15 - Embora seja clssica a expresso Separao de Poderes, pacfico que o poder do Estado uno e indivisvel. O que existe de fato a Separao de Funes estatais, quais sejam: Funo Executiva, Legislativa e Judiciria.16 - Independncia Orgnica significa que alm da especializao funcional, cada rgo deve ser efetivamente independente, postulando sem qualquer meio de subordinao.17 Ob. Cit. Item 11. Pg. 162.18 Ob. Cit. Item 11. Pg. 162.19 - Ob. Cit. Item 11. Pg. 165.20 - MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Natureza Jurdica, Competncia Normativa e Limites de Atuao, Rio de Janeiro, Revista de Direito Administrativo n 215: jan. /mar.1999. Pg. 77.21 Ob. Cit. item 20. Pg. 78.22 - BARROSO, Lus Roberto. Temas de Direito Constitucional. Rio de Janeiro, Renovar, 2001. Pg. 173.23 Ob. Cit. item 22. Pg. 173. Pg. 182.24 - Ob. Cit. Item 11. Pg. 172.25 - Ob. Cit. item 20. Pg. 81/8226 - Marcos Juruena Villela. Agncias Reguladoras. Rio de Janeiro, Revista de Direito Administrativo n 216: abr. / jun. 1999. Pg. 132.27 - SOUTO, Marcos Juruena Villela. Desestatizao, Privatizao, Concesses e Terceirizaes, 3 Edio Atualizada. Rio de Janeiro; Lumen Juris, 2000. Pg. 268.28 A economia poltica da ao antitruste. So Paulo: Singular, 1998, pp 84-86. Extrado da ob. cit. item 28. Pg. 268.29 Parecer s/n, exarado em 1/12/1998 no processo administrativo n E-04/887.145/98, provocado por consulta da ASEP Agncia Reguladora de Servios Pblicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro. Extrado da ob. cit. item 28. Pg. 269.30 Ob. cit. item 28. Pg. 269.31 Ob. cit. Item 27. Pg. 140.32- Ob. cit. 2. Pg. 149/150.33- Vital Moreira, Auto-Regulao profissional e a Administrao Pblica. Coimbra. Almedina, 1997. Pg. 3/7.34- Tony Posner, Law and the regulators. Oxford. Claredon Press, 1997, pg. 3/7.35- Ob. cit. Item 28. Pg. 249.36 Ob. cit. Item 5. Pg. 8737 - MATTOS, Mauro Roberto Gomes. Agncias Reguladoras e Suas Caractersticas. Rio de Janeiro, Revista de Direito Administrativo n 218: out. /dez.1999. Pg. 87.Autor Jos Maria Pinheiro Madeiraprofessor da ps-graduao da Faculdade de Direito da Universidade Estcio de S, professor do Centro Universitrio Moacyr Sreder Bastos, professor do CEPAD (Centro de Estudos Pesquisa e Atualizao em Direito), professor palestrante do IBEJ (Instituto Brasileiro de Estudos Jurdicos)http://www.josemadeira.cjb.netComo citar este texto: NBR 6023:2002 ABNTMADEIRA, Jos Maria Pinheiro. Agncia reguladora. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 59, 1 out