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Agradecimentos:
Aos meus amigos de mesa de RPG, Rogério Rosa, Daniel, Diandro,
Dalessandro, Luciano Pinto, Luciano Rodrigues, Felipe e Everton,
cujos personagens são retratados nas linhas que se seguem. Ao
meu grande amigo Emanuel Braga pela capa há muito desenhada,
antes mesmo de a história estar concluída, ao Vinny Machado e
Andrey Ximenez, que me ajudaram em diversos aspectos desta
obra, aos blogueiros e blogueiras: Rafael e Thiago Casanova,
Fernanda Assis, Priscila Braga, Priscila Amaral, Nando e Laila
Ribeiro por todo o apoio.
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Prólogo
A escuridão do complexo de cavernas da montanha
de Rion era quebrada apenas pela luz esverdeada dos
musgos esmeralda, como eram chamadas estas plantas
fosforescentes que impregnaram as paredes do local. Na
câmara do trono, dois soldados vestidos em armaduras de
couro estavam firmes, faziam a segurança de seu rei e no
centro da grande sala, sentado em seu trono rústico
esculpido na pedra crua estava Ross Chifre Farpado.
Detinha o rosto apoiado nas palmas das mãos, o olhar
nervoso corria de um lado ao outro buscando em cada
entrada de sua sala, esperava por noticias do mundo
exterior. Seu povo estava impaciente, havia prometido aos
Garkos, seres de sua raça meio-demoníaca, de que teriam
gloria, com seus algozes a arrastarem-se sob seus pés
pedindo perdão pelos anos de humilhação e maus tratos que
estes haviam lhes infringido, mas para que seus planos de
conquista fossem completos esperava por uma resposta,
uma única resposta, e esta teria que vir, ou perderia o auxilio
de seus pares impacientes os quais esperavam pela guerra.
Enfim a amargura do aguardo havia acabado. Seu
informante acabava de chegar, Malock, um Garko pouco
diferente dos humanos, não havia nele como em Chifre
Farpado nenhum traço que denunciasse sua natureza, mas
assim mesmo o sangue de seu antepassado demônio corria
forte em suas veias. O rei de pele acinzentada levantou seu
rosto e o desprendeu do pedestal formado pelas mãos, seu
olhar angustiado em busca de resposta fez Malock não
perder muito tempo, pois sabia que aquele olhar logo poderia
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mudar para um aspecto de fúria tão prodigiosa como poucos
bárbaros seriam capazes de reproduzir.
- Ele está lá meu senhor, na cidade de Boolai. -
Respondeu o informante a questão estampada nos olhos de
seu rei, sem fazer mesuras, ou rodeios.
Um ar de alivio percorreu o rosto do monarca e como
que por reflexo seu corpo tenso recostou-se mais confortável
ao trono. O primeiro passo para a conquista havia sido dado,
restava agora iniciar os planos de ataque, para que tudo
desse certo e para que sua aliança com o velho mago e o
Lorde do Abismo se consolidasse precisaria capturar seu
alvo vivo.
- Reúna os homens e chame o general Asas Negras
para que montemos a estratégia. Quero que você também
esteja pronto com o seu grupo disfarçado dentro da cidade,
não quero falhas nesta etapa dos nossos planos entendeu? –
O rei agora confiante em sua vitória sequer voltava a olhar
para seu comandado, ergueu-se de seu trono, dando visão
ao porte avantajado, esculpido por muitas e muitas batalhas,
para se tornar o primeiro rei de seu povo teve de usar força e
astúcia, sem estes dois requisitos nunca teria reunido todos
aqueles Garkos que por natureza eram extremamente
desunidos.
Malock girou nos calcanhares e seguiu pelo corredor
oeste deixando seu rei na sala do trono sonhando com o dia
no qual viria à vitória definitiva, e no qual finalmente honraria
seu povo, porém sabia que ainda iria demorar para que sua
própria glória chegasse.
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O Guerreiro de Boolai
Capitulo 1
O Circo Chegou.
Mais um dia se iniciava em Boolai, a pequena cidade
de muitas estradas e poucos prédios, não trazia muros a sua
volta, apenas as ruas, muitas delas pequenas vielas sujas e
escuras mesmo a luz do dia. Os prédios maiores se
concentravam na maior das ruas, a chamada estrada
principal a qual levava de um extremo a outro da cidade e
tinha a largura de três carroças.
No centro do vilarejo existia uma praça circular, uma
espécie de área para as caravanas pararem, neste dia,
porém não haviam caravanas paradas ali, isso acontecia
muitas vezes durante o ano, a avenida principal circulava a
praça e a maioria dos prédios ao redor eram estalagens e
tavernas. Naquela manhã muitas pessoas estavam nas ruas,
estivadores da praça central ficavam sentados a espera de
uma nova caravana, enquanto comerciantes chamavam seus
fregueses para dentro de suas lojas na avenida principal.
Nas sombras das vielas o crime ocorria enquanto a
pequena milícia formada por pessoas sem treino militar não
se dava conta do que acontecia a sua volta, e a rotina da
cidade continuava, até que cinco carroções do que parecia
ser um circo entrava na cidade.
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********
O dia estava ensolarado e os raios de sol entravam
pela janela do quarto de hospedaria, um quarto pequeno,
uma cama de palha e uma bacia d'água, tudo o que suas
míseras moedas de cobre podiam pagar. Alef sentia o sol
tocar seu rosto naquela manhã. Para ele aquela luz era um
aviso de que deveria virar-se na cama e dormir por mais
algumas horas. A noite anterior havia sido difícil, não
arranjara trabalho pela guilda e os poucos bêbados que
perambulavam pelas ruelas já haviam gasto boa parte de seu
dinheiro nas tavernas por onde passaram. Uma noite sem
lucros fora aquela, para um ex-Lorde da noite, cuja
habilidade e fama corriam por muitas paragens tudo aquilo
se resumia num grande insulto, ter de viver como um simples
ladrão. Mesmo assim já teria tido muita sorte, mas não
naquela cidade. Este tinha sido o pior local desde o inicio de
seu exílio, porém nesta manhã não só a luz do sol o
acordava, mas também um som, um som vindo do outro lado
da cidade, o som de tambores, flautas, risos e aplausos, o
som da oportunidade.
Ele pôs-se de pé em um salto, buscou pelo cinto que
estava atirado ao lado da cama, um ótimo cinto pensou, com
vários “bolsos” por assim dizer, aquele utensílio carregava as
ferramentas do experiente ladrão. Vestiu sua capa, as luvas
negras, arrumou suas adagas nos bolsos escondidos da
túnica. Quando parecia estar pronto foi até a janela e olhou
para o local de onde vinham os sons, um grande tumulto de
pessoas havia se formado na entrada norte da cidade. Sim
ele via a oportunidade bater a sua porta novamente, poderia
talvez conseguir dinheiro para então voltar a viajar, encontrar
uma cidade maior, onde pudesse ter mais oportunidades.
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Imerso nestes pensamentos desceu as escadas da
estalagem, a hora chegara.
********
Do outro lado da cidade três cavaleiros adentravam
pela rua central. O sol ainda brando da manhã a tocar-lhes a
face, os pesados mantos sobre os ombros, cobrindo-lhes as
armaduras douradas já surradas pelas batalhas do longo
percurso de sua provação. Homens de valor, pode-se assim
falar dos cavaleiros de Narsel, o reino mais ao leste, guiados
por Sir Farric os jovens Degos e Nost estavam ainda em
treinamento, mas um dia iriam brandir suas espadas como
verdadeiros cavaleiros e quem sabe defender seu reino em
alguma guerra que estivesse por vir. Sir Farric os havia
trazido até ali, pois esta era a última cidade da rota comercial
entre Tebas e Narsel antes de chegar ao reino dos
cavaleiros, e há algum tempo eles rondavam por estas rotas
defendendo-as das criaturas que insistiam em atacar as
caravanas. Outros cavaleiros haviam fixado um posto há
alguns quilômetros dali e Farric vinha buscar provisões na
cidade.
Ao longe podia-se ver a multidão aglomerar-se,
parecia haver algum festival naquele lado, algo talvez útil
para ensinar aos jovens, assim pensou o cavaleiro mais
velho e fazendo sinal com a cabeça chamou os aspirantes
para ver o que acontecia.
********
No templo de Taito, o deus sol, Miriane estava
ajoelhada, rezava para seu deus esperando ser de alguma
serventia a ele. Há poucos dias retornara a Boolai, depois de
cumprir sua missão em Calinas a cidade portuária da Baia de
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Nenai. A sacerdotisa ajudara um grupo de aventureiros a
destruir uma praga de mortos vivos nos esgotos da cidade, lá
ela viu amigos morrerem naqueles dias de terror. Uma
sensação de perda a qual nunca mais gostaria de
experimentar, uma sensação de derrota, mesmo durante a
vitória, por ter perdido pessoas importantes naquele dia. Foi
assim que o som da multidão correndo a encontrou, imersa
na culpa de não ter podido ajudar, mas o som despertara um
novo sentimento, este de emergência o que a fez ficar
desperta uma vez mais. Tateando ao seu lado no chão
encontrou sua maça, uma arma que poucas vezes fora
usada, colocou-a presa ao cinto e seguiu para a porta do
templo. Uma vez mais seu deus a chamava e ela atenda a
este chamado entrou na rua sendo recebida pelos sons de
flautas e do povo.
********
Há muitos anos Evinwerr o elfo senta-se no galho
daquela arvore para observar os humanos e sua vida
agitada. Hoje no entanto observava outra coisa, o elfo olhava
para o norte da pequena cidade com curiosidade redobrada.
Tinha sua atenção tragada pelos cinco carroções que
chegavam por aquele lado. Homens corriam a frente fazendo
malabarismos, outros dançavam ou tocavam seus
instrumentos em carroções destampados, mas o último trazia
uma gaiola imensa, uma espécie de prisão a qual mesmo os
seus olhos elficos não conseguiam ver o conteúdo. Atraído
pela curiosidade ele desceu de sua arvore, com o arco preso
as costas passou a aproximar-se da cidade que nunca antes
vira um membro de seu povo, ninguém em Boolai nunca
havia visto um elfo dos olhos vermelhos.
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********
O primeiro carroção era puxado por dois poderosos
cavalos de guerra e a frente dos animais vinham três homens
mascarados, os quais saltavam de um lado ao outro, indo e
vindo, girando mortais e outras acrobacias. Suas mascaras
de cerâmica branca ostentavam pequenos chifres, o povo ao
ver tal demonstração de habilidade aplaudia e sorria
enquanto uma a uma as carroças passavam pelo portão da
cidade. Sobre a segunda e a terceira carroça músicos
tocavam seus instrumentos de sopro e de cordas enquanto
outros dançavam com grande equilíbrio sobre o veículo em
movimento. Todos vestiam o mesmo tipo de mascara, mas
um que estava sobre o quinto carroção não ocultava seu
rosto. Ele fez com que a musica parasse com um sinal, o
mesmo gesto fez o publico voltar toda a sua atenção a ele e
ao que estava atrás dele, um pano cobria algo existente ali, o
homem olhou para a platéia e quando soube que tinha toda a
atenção que desejava falou:
- Senhoras e senhores, considerem-se com sorte,
pois trago a vocês um grande espetáculo. Musica, dança,
magia e grandes atores malabaristas, tudo para a sua
diversão, mas também, bem aqui, atrás de mim, trago o
terror para seus olhos, trago uma cria dos planos
demoníacos, para seu deslumbre e alvoroço presenciem
Derk Estrela Caída. - Neste momento de um puxão forte o
pano caí e um grito espantado do povo em uníssono ecoa
pela cidade. Lá estava ele, um meio-demônio, sua pele
cinzenta, corpo forte vestido em farrapos, chifres recurvos e
grandes asas coreaceas, seu olhar tenebroso havia pairado
sobre o público espantado, o desdém de seu olhos gelava a
alma dos espectadores, mas nada mais ele fez se não ficar
ali parado.
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- Não se assustem – continuou o porta voz com
confiança em suas palavras – Ele nada pode fazer se não
apenas olhar para vocês. Estas barras estão enfeitiçadas
com as mais poderosas magias de proteção que possam
existir em todos os reinos.
No meio do publico Alef ia de um lado ao outro,
procurando pelos cintos, observando a espreita por bolsas de
ouro ou outros objetos de valor, mas o ladrão sabia que
dificilmente o povo daquela vila teria algo que valesse a
pena, porém do outro lado da rua um cavaleiro havia lhe
chamado à atenção. Trazia preso ao cinto um saco de couro,
provavelmente bem recheado pelo volume que parecia
portar. Dois passos ele deu para o outro lado da rua antes
que outra coisa lhe chamasse a atenção, o brilho do aço, não
o aço da espada do cavaleiro, mas o brilho de lâminas
polidas, punhais aguçados, o brilho da morte, um brilho que
há muito não via. Um brilho que lhe trazia muitas
recordações e foram estas recordações que o fizeram
retroceder. Olhou novamente ao redor, agora com mais
atenção aos detalhes e percebeu coisas ainda mais
aterradoras, as mascaras dos acrobatas, não de todos, mas
de alguns, os chifres não faziam parte delas, eles se
projetavam de pequenos furos feitos na cerâmica. Seus
instintos o levavam de volta ao quarto, mas por outro lado a
curiosidade lhe instigava a ficar.
O mentor dos jovens cavaleiros terrificado com a
presença de tal criatura olhava diretamente para ela. Sua
presença e a de seus pupilos já havia sido notada, mas
Estrela Caída não parecia se importar muito com eles, mas a
presença do cavaleiro o deixava receoso, sabia que qualquer
coisa a qual fizesse poderia ser um motivo para o ataque do
homem e de seus aliados jovens demais para serem
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graduados, e pretensos a perder a calma com mais facilidade
que seu experiente líder. Degos e Nost por outro lado nem
estavam interessados no meio demônio, seus olhos
pairavam sobre as bailarinas que agora voltavam a dançar.
Degos de longe o mais inquieto havia percebido algo que
aparentemente seus colegas ainda não tinham percebido, a
pele de alguns dos performers tinha um tom acinzentado,
talvez fosse algum tipo de pintura quem sabe, mas era algo
diferente.
O meio demônio não olhou mais para os cavaleiros e
voltou seu olhar para a multidão, não demorou muito para
que ficasse novamente surpreso. Uma jovem havia chamado
a sua atenção, seu rosto angelical, cabelos longos e negros
que lhe caiam por trás dos ombros, uma beleza anormal,
mas em volta de seu pescoço estava o que teria despertado
sua curiosidade, o símbolo de Taito. Uma sacerdotisa, ele a
encarou com um olhar sarcástico e um sorriso escarnecido
se esboçou em seu rosto, Miriane nada fez alem de olhar o
carroção se afastar dirigindo-se ao centro da cidade onde
havia a praça circular. Com o carroção prisão no centro e os
outros quatro ao redor deste, eles pararam e a música se
intensificou, então o povo se reuniu na volta deles.
********
Doze era o número de malabaristas que se
apresentavam ali dançando e saltitando por entre as
carroças no ritmo ditado pela musica quando enfim um urro
ressoou pela praça. O grito de guerra, o sinal da morte,
quase que instantaneamente pequenas lâminas surgiram nas
mãos dos malabaristas que em uma dança de carnificina
abriam caminho pela multidão enquanto esferas flamejantes
vindas dos dedos de magos, os quais antes tocavam seus
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instrumentos, explodiam no meio do povo criando mais
danos e confusão. Dos carroções cobertos outros assassinos
saltavam e corriam para atacar aqueles desafortunados que
estavam a sua frente, um deles não tão desafortunado era
Sir Farric que ainda montado fez seu fiel garanhão investir
contra os atacantes. A lança havia trespassado o peito de um
dos garkos o qual logo foi ao chão enquanto o cavaleiro
desembainhava sua espada, em meio aos gritos de guerra
ele observava seu alvo, o agora livre da prisão Estrela Caída
levantava uma moça pelo pescoço. Ela se debatia tentando
atingir seu adversário com a maça, mas nada encontrava.
O jovem cavaleiro Nost havia perdido o controle sobre
seu cavalo e caiu ao chão, trazia a lança em sua mão e a
usava para auxiliá-lo a se levantar, porém antes que
conseguisse um dos garkos estava sobre ele. Nada mais
enxergou, apenas sentiu a lâmina fria cortar-lhe a garganta e
o sangue quente escorrer pelo peito, neste momento Degos
chegava para tentar ajudá-lo, porém era tarde, seu primo
estava morto, mas ainda assim teve a chance de vingá-lo. O
garko ali distraído pelo agonizar de sua vitima não percebeu
a chegada do rapaz, a lança atravessou-lhe a paleta e o
trespassou. Com a fúria da investida por pouco o cavaleiro
não deixou seu oponente pendurado em uma parede,
rapidamente desmontou e sacou a espada indo para perto do
corpo de Nost. Iria protegê-lo, porém mais rápida como os
ventos das colinas gélidas uma maça o atingiu na cabeça
derrubando-o, enquanto em outra local Sir Farric desferia seu
primeiro golpe contra Estrela Caída, o meio demônio sentiu a
espada do cavaleiro, o sangue negro sujou a lâmina, mas a
criatura apenas largou a garota que caiu no chão
inconsciente e Estrela Caída virou-se para seu oponente.
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Seu olhar malicioso, puro veneno e maldade eram
destilados naqueles olhos, movimentos rápidos com as mãos
para atrair a atenção do cavaleiro, mas Sir Farric era
experiente em combates e sabia que o movimento era uma
espécie de ilusão o que não havia notado fora o que
acontecia atrás dele, um dos assassinos veio andando rápida
e silenciosamente para eliminar o cavaleiro o qual apenas
escutou o zunido de uma flecha passando perto de sua
cabeça e depois o ganido surpreso do assassino. Espantado
Farric olhou para cima a sua frente e lá estava uma figura
desconhecida, disparando uma chuva de flechas na direção
das carroças e dos garkos, uma chuva mortal, porém este
olhar lhe custou à vida, pois Estrela Caída aproveitando o
momento investiu contra o homem.
De braços abertos ele o agarrou e apertou, sua força
era titânica, os músculos tensos pelo esforço de esmagar o
oponente, uma mão agarrada à outra tendo a espada de sua
vitima entre os dois e as mãos dele pressionadas contra seu
peito impulsionou suas pernas e moveu as asas. Farric
sentiu seus pés deixarem o chão, olhou os prédios da cidade
ficarem cada vez menores enquanto cada vez mais perdia o
ar de seus pulmões, os dois voavam cada vez mais alto, mas
em um ponto sentiu-se desprender. O ar entrou em seu peito
violentamente, a sensação terrível de cair o petrificou e um
grito prendeu-se em sua garganta, no fim escuridão, no alto
do prédio Evinwerr viu um cavaleiro cair, da posição em que
estava nada pode fazer, o sangue se empoçara ao redor do
corpo do homem, provavelmente estava morto.
As lâminas das adagas dançavam em golpes velozes
na frente de Alef, sua sorte era ser mais rápido ainda para se
esquivar de seu agressor, mas mesmo rápido sentiu a lâmina
afiada riscar-lhe o rosto e o sangue molhando a bochecha,
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mas mesmo assim estava calmo, um ladrão tinha de saber a
hora de estar concentrado, muito mais ele, que há muito
passara do nível de um simples ladrão, que já fora um lorde.
Lorde das sombras, senhor da escuridão, nenhum destes
assassinos se assemelhava em habilidade nem com o
menos qualificado de sua antiga guilda, antiga família, em
um movimento circular esquivou-se do ultimo ataque de seu
agressor enquanto deixava sua própria arma no pescoço
dele. Uma visão sinistra, ver o cabo do punhal encostar no
pescoço enquanto a lâmina sumia na carne para enfim
aparecer novamente apenas sua ponta do outro lado. Alef
olhou para os lados a procura de outros, mas parecia não
haver mais nenhum garko e nem mesmo o meio demônio,
um ataque que terminou tão rápido quanto começou, mas é
claro que não ficaria ali para se certificar de que tudo havia
realmente terminado.
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Capitulo 2
Depois da tempestade
Oito quilômetros a oeste, no meio do campo, neste
ponto as forças se encontraram. Os dois meio demônios,
estavam sentados olhando para Malock, ele tinha general e
capitão a sua frente, agora Estrela Caída em toda a sua
majestade, usando uma armadura de cota de malha
prateada com dois rasgos nas costas, os quais liberavam as
longas asas coriáceas, seus olhos amarelos, riscados na
vertical como os de um gato, a pele cinzenta, as mãos
grandes terminadas em garras e os chifres recurvados, ele
era muito maior que qualquer ser humano, e também muito
mais perigoso. Já o general Asas Negras trajava uma
armadura peitoral de aço, nela também existia o rasgo
vertical para as asas, como o nome já dizia as asas eram
negras como a noite, a pele no restante de seu corpo
também, não tinha chifres como o capitão, mas mesmo
assim o mais corajoso dos guerreiros ficaria com medo em
sua presença, seres poderosos, mas a força de ataque do
espião havia se saído bem também, e não havia com o que
se preocupar. Trouxeram o alvo como Malock esperava de
seus soldados. O próprio garko foi à tenda onde estava o
humano e confirmado que ele veio vivo com pouco mais que
alguns arranhões, agora trazia um ar satisfeito e certamente
seus superiores também o teriam.
- Sucesso meu general, vosso plano funcionou
perfeitamente – Dizia ele enquanto entrava na barraca com
um sorriso no rosto, mas logo teve um baque, pois seus
superiores não demonstravam o mesmo sentimento.
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- Como esta o humano, precisamos partir logo. - Asas
Negras não deu muito papo para Malock, ele não gostava do
garko, sabia que aquela criatura era perigosa, um genuíno
traidor que faria o necessário para salvar a própria pele.
- Ele está desacordado senhor Asas Negras, mas
como eu disse está intacto. – Respondeu o espião da
mesma forma rápida que sempre fazia, olhou para o rosto do
general tomando o cuidado de não olhar diretamente em
seus olhos.
- Coloque-o em um dos cavalos com um soldado e
inicie os preparativos para nossa partida. Não podemos ficar
muito tempo, logo os humanos deverão se recuperar da
surpresa e quero estar longe, quero estar já no nosso posto
avançado do sul. – O general já levantava-se, começava a
preparar as coisas, mas antes queria por sua estratégia em
prática, queria afastar Malock de perto de seus soldados.
- Sim senhor. - Desapontado com o tratamento Malock
preparava-se para sair quando o general falou novamente,
não sabia o que poderia vir desta segunda chamada, mas
quem sabe o reconhecimento viesse, não, ele não esperaria
tanto.
- Bom trabalho sargento, seus soldados provaram
merecedores da confiança que neles depositei, assim que
completar os preparativos quero que você volte até a casa
de nosso povo e entregue ao Rei Chifre Farpado os
relatórios sobre o ataque. – Existia um sorriso sarcástico no
rosto embrutecido do general, foi aquilo que fez Malock
gelar, sabia que algo estava errado, fora do controle.