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INTRODUÇÃO
Soluções viáveis para um problema urgente EDITORIAL
4| QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016
Nos rios Forqueta e Taquari, multiplicam-se as possibilidades de instalação de novas hidrelétricas
Ao mesmo tempo, existe campo vasto para geração de energia renovável, como solar e de biometano
Vital para a economiae o desenvolvimento
Publicação do jornal A Hora.
Vale do Taquari - RS
Textos: Thiago Maurique
Diagramação: Gianini Oliveira e Fábio Costa
Capa: WO Agência de Marketing
Tiragem desta edição:10.000 exemplares.
Proibida a venda avulsa
Fundado em 1º de julho de 2002
Diretor-geral: Adair WeissDiretor de Conteúdo: Fernando WeissDiretor Administrativo: Fabrício de Almeida
RedaçãoAv. Benjamin Constant, 1034/201Fone: 51 3710-4200CEP 95900-000 - Lajeado - RSwww.jornalahora.inf.br
ANDERSON LOPES
AI CERTEL
O sistema de abastecimento energético do Vale do Taquari é precário e inseguro. A a$rmação certeira se sustenta a partir das entrevistas, dos dados e das análises que vêm a seguir. Faz tempo, o jornal A
Hora acompanha as carências desse setor e testemunha proble-mas decorrentes da interrupção das redes que levam energia para os vários recantos regionais.
O grito de empresários, liderados pela Câmara de Indústria e Comércio, o drama de agricultores, os alertas de técnicos es-pecializados. Conjunto de queixas que aumenta a relevância do tema central desta publicação. Em plena transformação tecnológica, com novos modelos de geração de energia pedindo passagem, se ergue inaceitável a região agonizar por melhor abastecimento.
As reportagens que sustentam este caderno inédito traduzem um raio X daquilo que temos e somos. Mas também daquilo que dispomos e poderíamos ter. O Vale – tantas vezes dito – tem geogra$a abençoada pelos deuses. Goza de vasta riqueza hídrica, capaz de comportar bem mais do que as duas usinas hidrelétricas instaladas nos rios Forqueta, entre São José do Her-val e Putinga, e Boa Vista, em Estrela. Projetos de instalação de novas estruturas esbarram, até aqui, na burocracia e na falta de vontade política.
Um dos motivos primordiais da produção deste material reside no fortalecimento da bandeira que pede pressa na liberação dos nove projetos de usinas aprovados para os rios Forqueta e Taquari. Não fosse a demora e o marasmo das instituições públicas, o Vale não estaria produzindo parcos 5% de energia de tudo que consome. Pior que isso é depen-der de apenas uma linha de transmissão que traz os 95% restantes ao Vale.
Ao lado do potencial gerador hidrelétrico, fortalecem-se os exemplos de geração de energia renovável. Solar, biogás e eó-lica oferecem as melhores chancelas para o Vale acompanhar os movimentos mundiais no sentido de apostar na energia limpa. Vale a pena conferir.
Sem energia não há desenvolvimento. Essa frase será repetida por vários entrevistados a seguir. Não é por menos. Ela resume com clareza a importância de ser fortalecida e popularizada a mobilização acerca da energia elétrica.
Melhorar o abastecimento de energia é
fundamental para o desenvolvimen-
to do Vale do Taquari. Com um cres-
cimento populacional médio de 5%
ao ano, aumento ainda maior no consumo e apenas
uma ligação com o Sistema Integrado Nacional, a
região corre o risco de &car às escuras e enfrentar
novos apagões, como o registrado no verão de 2014.
O tema é uma das principais bandeiras da Câmara
de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-
-VT) e nos últimos dois anos foi debatido em diver-
sos encontros, audiências públicas e reuniões com
autoridades estaduais e nacionais. Empresários, lí-
deres da sociedade civil organizada, agentes públi-
cos e instituições de classe buscam soluções diante
da fragilidade da rede.
Entre as medidas imprescindíveis, está a amplia-
ção e desburocratização dos projetos de produção
de energia. Hoje, o Vale gera apenas 5% do total
consumido e o restante é recebido por meio de uma
única linha de transmissão entre Nova Santa Rita e
Lajeado. Bastaria uma pane para interromper todo
o funcionamento.
Apesar de expor os problemas, o diagnóstico tam-
bém aponta caminhos baseados no potencial gera-
dor. O Vale começa a 1,3 mil metros em relação ao
nível do mar e chega a quase zero. Em 200 quilôme-
tros de rios, temos 1,1 mil metros de quedas de água.
Nos rios Taquari e Forqueta, foram identi&cados
pelo menos nove pontos possíveis para construção
de hidrelétricas. Somados, os projetos gerariam
eletricidade su&ciente para atender a demanda dos
mais de 350 mil habitantes da região. Mas esbarram
na burocracia para sair do papel.
As energias renováveis são opções importantes e
inadiáveis. Com uma economia baseada na agricul-
Soluções viáveis para um problema urgente tura familiar, a região apresenta o maior potencial
gaúcho para a produção de biogás e bioenergia. O
governo estadual incentiva investimentos na área,
que também solucionariam o problema da destina-
ção dos dejetos agropastoris.
Aliado a isso, mudanças nas legislações federal e
estadual tentam estimular projetos de pequena gera-
ção, bene&ciando especialmente a área de energia so-
lar. Diante da elevação das tarifas de energia, investi-
mentos privados são cada vez mais comuns no setor.
Conforme estimativa da Câmara de Indústria e
Comércio regional (CIC-VT), a produção de ener-
gia própria impulsionaria o crescimento, elevaria o
PIB regional e ampliaria a arrecadação de ICMS dos
municípios. No caso das hidrelétricas maiores, ainda
resultariam royalties para os municípios atingidos
pelas águas.
Atento às necessidades, o governo gaúcho, por
meio da Secretaria de Minas e Energia, elaborou o
Plano Energético Estadual. O documento detalha o
cenário existente e contempla projetos previstos em
todas as regiões. Junto com o já concluído mapa eóli-
co, estudos solarimétricos e do potencial bioenergé-
tico, visa orientar investimentos no setor.
Tal realidade motiva esta publicação especial. Ini-
ciativa inédita é fruto de parceria do A Hora com a
CIC-VT e o Comitê da Bacia Hidrográ&ca Taquari-
-Antas. Uma radiogra&a completa capaz de nortear
novas iniciativas e corroborar mobilizações coletivas
e regionais.
Comissão especial: seis instituições formam o
grupo de discussão no Vale. Elas são representadas
por Valdacir Bresciani, da CIC-VT; Sidnei Eckert,
da Amvat; Jonas Calvi, da Avat e Codevat; Júlio Sa-
lecker, do Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari-
-Antas; e Ernani Mallmann, da Certel.
Queda no abastecimento de energia, no ve-
rão de 2014, matou mais de 500 mil frangos
na região e expôs a precariedade do sistema
ARQUIVO A HORA
Conforme estimativada Câmara de Indústriae Comércio regional (CIC-VT), a produçãode energia própria impulsionaria o cresci-mento, elevaria o PIB e ampliaria arrecadação de ICMS dos municípios.
LUCAS REDECKER
PRESIDENTE DA CÂMARA DA INDÚSTRIAE COMÉRCIO DO VALE DO TAQUARI
PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL
SECRETÁRIO ESTADUALDE MINAS E ENERGIA
6| QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016
OPINIÃO
A Câmara da Indústria, Comércio e
Serviços do Vale do Taquari (CIC
VT) desenvolve um trabalho com a
comunidade regional envolvendo os setores
empresarial, político e ambiental pela reto-
mada do crescimento e para recuperarmos o
PIB que já foi de 4,% e agora está um pouco
acima dos 3,43%. Hoje o PIB é de R$ 10.064
bilhões (FEE/RS 2015, ano-base 2013).
A entidade acredita que um dos caminhos
para promovermos esse crescimento é a par-
tir da construção de hidrelétricas na região.
Hoje o Vale do Taquari produz 13 megawat-
ts de energia, mas temos potencial 20 vezes
maior, de acordo com projetos de instalação.
Com a implantação, poderíamos nos tornar
autossustentáveis na produção de energia.
Os projetos de energia hídrica represen-
tam investimentos de R$ 1,5 bilhão e signi-
9cam nossa independência na produção e
geração de energia, fortalecendo, portanto,
desde residências urbanas, indústrias até o
agronegócio em geral.
Este caderno tem como grande objetivo
socializar as informações referentes à ques-
tão energética, seja na produção de energia
hídrica, biomassa, fotovoltaica e a eólica,
para então, podermos negociar avanços com
autoridades das mais diferentes áreas.
Paralelo a essa luta, a entidade busca for-
mas de implementar importantes projetos
de infraestrutura regional, como a maior
utilização do Rio Taquari, integração mais
efetiva com a ferrovia e ainda a 9nalização
de acessos asfálticos a municípios que
ainda não têm.
Dessa forma, a CIC VT espera fortalecer
a diversi9cada cadeia produtiva da região,
que tem na sua predominância o agronegó-
cio. Precisamos de uma atenção maior dos
governantes, principalmente para destravar
projetos que impedem o nosso crescimento
sustentável e comprometem a nossa quali-
dade de vida. Assim pensamos em construir
uma agenda positiva
e, mesmo diante da
crise, criarmos um
cenário positivo,
de crescimento e
desenvolvimento
sustentável.
Estamos diante de dois desa9os relevantes. O primeiro diz
respeito ao próprio tema central que mobiliza a região, que é
o de aprofundar o diagnóstico da situação atual e oferecer al-
ternativas diante do desa9o energético do Vale do Taquari. O outro,
não menos importante, é o de assumir e publicizar essa bandeira,
tarefa que se impuseram com determinação a Câmara de Indústria
e Comércio do Vale do Taquari, o Comitê da Bacia Hidrográ9ca
Taquari-Antas e o jornal A Hora, legítimos porta-vozes das deman-
das da região. Assim, saudamos essas ações e, como presidente da
Assembleia Legislativa, a primeira mulher nessa condição em 180
anos de história, colocamos o Parlamento gaúcho à disposição para
contribuir nos debates e na busca das melhores soluções.
Sabemos que a energia elétrica se consolida cada vez mais como a
grande força motriz de todos os setores e gradativamente vai substi-
tuir até mesmo a gasolina como combustível dos carros.
A energia é um insumo fundamental para o desenvolvimento
econômico, que pode ser relacionado diretamente com outro
desenvolvimento, o do potencial hidrelétrico de um país. Estudos
apontam que, de modo geral, países economicamente desenvol-
vidos apresentam uma taxa de aproveitamento do seu potencial
hidráulico bem superior à dos países em desenvolvimento. A boa
notícia é que no Brasil o aproveitamento deverá chegar a 30%
com os projetos instalados e em construção ou outorgados.
O RS caracteriza-se por ser um dos estados mais privilegia-
dos em termos de potencialidades em diferentes modais de
energia. Entretanto, o planejamento energético no RS não vinha
sendo desenvolvido de forma adequada. O Plano Energético
do RS elaborado pela Secretaria Estadual de Minas e Energia foi
uma resposta a essa defasagem ao apresentar um conjunto de
diretrizes e propostas de políticas públicas na área de energia
para o decênio 2016-2025.
O Plano, que subsidia boa parte das informações deste artigo, dedica
um capítulo especial às Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHS), des-
tacadas como fontes de energia renováveis. No Vale do Taquari, privile-
giado por seu potencial hídrico, o A Hora dá conta de que a Coopera-
tiva Regional de Eletri9cação Teutônia (Certel) instalou duas e projeta
mais cinco PCHS no Rio Forqueta e existem outras em discussão. A
opção pelas energias limpas e renováveis vai contribuir para impulsio-
nar o desenvolvimento da região. Entretanto, persiste a necessidade
de agilizar a concessão das licenças de instalação. A solução para esse
gargalo passa pelos reforços necessários na estrutura da Fepam.
E assim o Vale se insere diretamente, em pelo menos dois pon-
tos, nas ações previstas no Plano para adequar o sistema energético
do estado. Seja em energia como em outros temas de interesse
público, ninguém conhece melhor suas
necessidades e alternativas de soluções
que as próprias comunidades. E, no
caso do desa9o energético do Vale do
Taquari, as instituições da região dão
exemplo de como se mobilizar para
obter os melhores resultados em
benefício de todos.
Poucas regiões do RS tem tamanho potencial para
a geração de energia como o Vale do Taquari. A
fonte hídrica é a mais explorada até o momento,
mas há um potencial latente também em relação à bio-
massa e à fotovoltaica.
Em relação à energia proveniente de PCHs (Pequenas
Centrais Hidrelétricas), há vários projetos em andamen-
to, muitos deles em caráter prioritário junto à Secretaria
de Minas e Energia. A estimativa é de que o Vale do Ta-
quari tenha condições de produzir 260 MW, capazes de
abastecer uma população de 350 mil pessoas, tornando
assim a região autossu9ciente.
Quanto à geração de energia a partir da biomassa, a região
tem forte atuação na produção de suínos, aves e leite, cujos
dejetos gerados por essas atividades são a principal matéria-
-prima para a produção do biometano. Há poucos dias, a As-
sembleia Legislativa aprovou a lei número 14.864, que institui o
Programa RS-Gás, sendo que uma linha de crédito está sendo
aberta junto aos bancos de fomento do Estado para incentivar
a instalação de empreendimentos dessa natureza. Em parceria
com a Univates e Sulgás, estamos elaborando o Atlas do Bio-
metano, que vai evidenciar todo o nosso potencial nessa área.
A exploração de energia fotovoltaica é a que mais tem
despertado interesse, uma vez que a luz solar é gratuita e
sua incidência se faz presente na maior parte do ano. A
Alemanha, por exemplo, é o país europeu que mais faz uso
desse energético, tendo uma incidência de luz solar muito
menor que a do RS. Nesse sentido, está em fase de elabora-
ção o Atlas Solarimétrico, uma radiogra9a completa sobre
essa fonte energética no RS e que deverá ser lançado até o
9m deste ano. O maior desa9o dos empreendimentos de
energia, seja de qual for a natureza, esbarra nas di9culdades
dos licenciamentos ambientais. Já ocorreram avanços, como
a criação da Sala de Atendimento Integrado, onde o em-
preendedor pode acompanhar o andamento da demanda
e conversar com os técnicos da Fepam, bem como ocorreu
a redução do tempo de espera por uma licença ambiental,
que caiu de 909 dias para 180 dias, com a expectativa de que
até o 9m do ano esse prazo seja de até 140 dias. Mesmo com
essas melhorias, ainda há muito por ser feito.
Partimos absolutamente do zero na estruturação da
Secretaria de Minas e Energia, e aí saúdo a decisão do
governador Sartori em recriá-la, para torná-la um ponto
de referência para o setor. Aliado a isso, a busca por um
abastecimento de energia com qualidade para os gaúchos
é uma constante, pois, assim como
o fornecimento de água, ela é um
serviço essencial para o cidadão. E
nessa busca por serviços públicos
de mais qualidade o Vale do
Taquari terá sempre um aliado na
defesa dos seus interesses.
Energia: nossabandeira principal
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8| QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016
As iniciativas de geração de
energia no Vale do Taqua-
ri remontam ao início do
século passado. Em 1922,
o técnico em Engenharia Industrial,
Hanz Wirz, instalou a primeira indús-
tria de turbinas hidráulicas para peque-
nas hidrelétricas no estado, ao lado do
Porto de Estrela.
Formado na Alemanha e com passa-
gens pela Espanha e Argentina, Wirz
também fabricava moinhos, engenhos
de serra e bombas manuais. A primei-
ra turbina foi comercializada em 1923,
para José H. Prediger, em Arroio da
Seca Baixa.
Em uma queda d'água de 2,7 me-
tros, Prediger instalou um gerador
com 2,65 quilowatts (kW) de potência.
No mesmo ano, outros dois geradores
foram implantados na localidade. Um
deles, de 2,8 kW em uma queda de 6,7
metros, na propriedade de Wilibal-
do Lautert, e o outro de 6,33 kW em
6 metros de queda na propriedade de
Rodolfo Suhre.
Entre 1947 e 1949, foi construída a
usina Augustin, no Arroio Boa Vista,
em Linha Geraldo, Estrela. A hidre-
létrica forneceu energia ao curtume
Agostin, algumas propriedades rurais e
a uma pequena fábrica de esquadrias de
madeira durante décadas.
A iniciativa partiu dos empreen-
dedores Reynaldo A+onso Augustin,
Bertholdo Schwingel e Frederico Pe-
dro Lohmann, responsáveis pela cons-
trução do canal e da implantação da
primeira turbina, com 74 Kw de po-
tência. Em 1951, foi instalada a segun-
da turbina, de 124 Kw.
História aponta para potencial adormecido
Em 24 de janeiro de 1950, começou
a funcionar a usina de Vila Teutônia.
Com uma potência de 75 Kw, o empre-
endimento foi liderado por Reinoldo
Aschebrock e atendia os moradores da
localidade e redondezas.
Entre 1923 e 1977, 117 pequenas
geradoras foram instaladas pela in-
dústria de Wirz no Vale do Taquari.
Ao todo, elas eram responsáveis pela
geração de 2.365 kW. Era a forma de
conseguir acesso à eletricidade em
uma época com poucos investimentos
públicos no setor.
As pequenas instalações começaram
a ser abandonadas nos anos de 1970, a
partir da consolidação da Companhia
Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e
da criação das cooperativas de produ-
ção e distribuição de energia.
Pronta faz 40 anos, eclusa não produz
Construída pelo governo federal, a
obra da Barragem Eclusa de Bom Reti-
ro do Sul foi iniciada em 1959, na ges-
tão de Juscelino Kubitschek. A previsão
era concluir os trabalhos em cinco anos,
mas, após a construção de quatro pila-
res no Rio Taquari, foi paralisada por
dez anos.
Durante a Ditadura Militar, o presi-
dente Arthur da Costa e Silva decidiu
retomar a obra. Natural de Taquari, o
coronel defendia o empreendimento
por acreditar em melhorias na navega-
bilidade do rio. A barragem foi concluí-
da em 1977 no governo de Geisel.
Com 109 metros de comprimento,
a estrutura é constituída por seis pila-
res, com comportas-vagão duplas de
17 metros de largura. A barragem tem
um vertedouro =xo, com 50 metros de
extensão na margem direita, e uma es-
cada de peixes para permitir a migração
durante a piracema.
Obra concluída na década de 70, a barragem eclusa de Bom Retiro do Sul espelha o potencial de geração de energia encalha
Apesar do dano ambiental já con-solidado e do po-tencial para gerar energia, a eclusa nunca se transfor-mou em usina e hoje é alvo de uma disputa judicial.”
QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016 |9
Apesar do dano ambiental já con-solidado e do potencial para gerar energia, a eclusa nunca se transfor-mou em usina e hoje é alvo de uma disputa judicial.
Capacidade para 40,3 mil pessoas
As usinas em operação no Vale foram construídas a partir dos anos 2000 pela Cooperativa Certel. A primeira delas, hidrelétrica Salto Forqueta, tem potên-cia instalada de 6.124 Kw e está locali-zada entre São José do Herval e Putinga.
A obra foi iniciada em fevereiro de
2001, durante o aniversário de 45 anos da Certel. Na data, foi formalizado o contrato de (nanciamento com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extre-mo Sul (BRDE).
A usina levou 21 meses para ser concluída e teve apoio da Univates para a conclusão dos projetos ambien-tais. Uma Área de Proteção Ambiental de 45 hectares foi criada como medida compensatória aos impactos da obra e uma escada de peixes foi construída para assegurar a reprodução das espé-cies.
A segunda hidrelétrica construída foi a Boa Vista, em Linha Geraldo, Es-trela. Iniciada em 2003, a obra reapro-veitou a estrutura da Usina Augustin.
A estrutura tem dois geradores. Um
deles foi repotencializado e ligado a uma nova turbina da 150 kW. O lo-cal da primeira turbina foi reformado, permitindo ampliação em 250 kW. Também foi implantada uma terceira unidade geradora de 550 kW. Hoje, a usina gera eletricidade su(ciente para 1,3 mil residências.
A terceira hidrelétrica em operação no Vale é a Rastro de Auto, entre Li-nha Lajeado Bonito, Putinga, e Linha São Sebastião, São José do Herval. Construída pela Certel em parce-ria com a Electra Power Geração de Energia, é resultado de R$ 50 milhões em investimento.
Localizada no Rio Forqueta, a usina tem potência instalada de 7.020 kW, e 43,20 metros de queda na barragem. A geração anual chega a 34,6 milhões de kW, su(ciente para abastecer 21 mil pessoas.
Todas as hidrelétricas estão equi-padas com sistema de telecomando a distância, com transmissão de dados via banda larga a partir do Centro de Operações do Sistema, em Teutônia. Todas as operações e informações es-tão disponíveis nos computadores dos operadores.
Juntas, as três hidrelétricas somam 13,4 megawatts (MW) e representam 5% dos cerca de 240 MW consumidos no Vale do Taquari. O percentual é considerado baixo diante do poten-cial hidrelétrico da região.
Com uma topogra(a que inicia em 1,3 mil metros acima do nível do mar e chega próximo dos 200 metros em um raio de 30 quilômetros, o Vale é cortado por rios como o Forqueta e o Taquari, formando o cenário ideal para a produção de energia.
Propostas aguardam liberação há anos
Ao todo, nove projetos de usinas hidrelétricas foram inventariados na região. Se concretizadas, as unidades juntas seriam capazes de produzir 280 MW. Hoje, os mais de 350 mil habitan-tes da região, junto com os empreendi-mentos comerciais e industriais, conso-mem aproximadamente 220 MW.
Obra concluída na década de 70, a barragem eclusa de Bom Retiro do Sul espelha o potencial de geração de energia encalhado faz anos. Os projetos para exploração da estrutura foram protocolados ainda na década de 1980
As hidrelétricas instaladas no Vale geram 13,4 megawatts e rep-resentam ape-nas 5% do que a região consome.
ARQUIVO A HORA
10| QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016
Pequenas Centrais Hidrelétricas
A mais próxima de ser concretizada é a usina hidrelétrica Foz do Jacutinga, de 5,5 MW. A obra era disputada na Aneel pela Certel e a empresa Bolognesi, com decisão favorável à cooperativa. Agora, aguarda liberação da Fepam para ser realizada. Quando concluída, terá capa-cidade para abastecer 16,5 mil pessoas.
Localizada no Rio Forqueta, entre Putinga e Fontoura Xavier, é uma das cinco pequenas usinas com menos de dez MW de potência. Também estão previstas as usinas Moinho Velho, de 4,1 MW, entre Pouso Novo e Putinga,
e três instalações entre Pouso Novo e Coqueiro Baixo: Vale Fundo, de 5,6 MW, Vale do Leite, 6 MW, e Olaria, 4 MW. Somadas, as PCHs agregariam 25,2 MW ao quadro de geração do Vale, su+cientes para abastecer 75,6 mil habitantes.
Disputa judicial trava sonho antigo
Projeto mais antigo para geração de energia no Vale do Taquari, a usina na eclusa de Bom Retiro do Sul dá sinais de avanço após anos de disputa judicial. Com a barragem concluída faz quase 40 anos, a eclusa forma o maior lago da re-gião, com 30 quilômetros de extensão, chegando aos municípios de Cruzeiro do Sul, Estrela e Lajeado.
As intenções de exploração da es-trutura para +m de geração de energia remontam aos anos 1980. A Federação das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural do RS (Feco-ergs) e a empresa Moinho Estrela, hoje Bom Retiro Energia, mostraram inte-resse. A Fecoergs abriu mão do empre-endimento em favor da empresa, cujo projeto prevê a geração de 30 MW, ca-paz de abastecer uma população de 90 mil pessoas.
Na época, a burocracia para os proje-tos na área de energia era menor. Basta-va solicitar autorização da Companhia Estatual de Energia Elétrica (CEEE) e encaminhar o projeto ao Departamen-to Nacional de Águas e Energia (DNA-EE). Porém, por décadas, os ministérios dos Transportes e de Minas e Energia disputaram a propriedade da obra, atrasando o processo.
Nesse meio-tempo, ocorreu a cria-ção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que estabeleceu novas regras para os trâmites. Entre as novas exigências, estava a realização do inven-tário do rio, que inclui levantamentos de geologia, topogra+a, socioambien-tal, hidrologia e aproveitamento ideal.
A empresa Energias Complementa-res do Brasil (ECB) solicitou e recebeu da Aneel autorização para inventariar área. Após a conclusão do estudo, re-gistrou projeto de uma usina com 43 MW/h de potência, iniciando uma ba-talha judicial com a Bom Retiro Ener-
Capacidade de usinas para região
Somada, a capacidade
geradora dos projetos
de novas usinas hidre-
létricas para o Vale seria
suficiente para abastecer
800 mil pessoas, mais do que o dobro de toda
população regional. Urge agilidade na libera-
ção dos nove projetos que aguardam aval das
instituições públicas.
gia pelo direito ao empreendimento. Advogado da Bom Retiro Energia,
Ângelo Arruda a#rma que o Superior Tribunal de Justiça deu ganho de causa à empresa. Segundo ele, um julgamento do Tribunal Regional Federal discute a
Em Muçum, projeto de usina protocolado em 2008 na Fepam teria capacidade de produzir 79,5 Mw para abastecer 240 mil pessoas
Energia, hoje detentora da Licença Pré-via emitida pela Fepam. De acordo com Arruda, toda a documentação exigida para o empreendimento foi protocola-da na Aneel no início de abril de 2016. Em nota, a Aneel alega que o processo está em análise técnica.
Projeto ousado para Muçum
Desenvolvido pela Certel, é o proje-to com maior capacidade de geração. Com previsão de produzir 79,5 MW, seria su#ciente para abastecer uma po-pulação de 240 mil habitantes. A obra orçada em R$ 330 milhões esbarra na burocracia para ser concretizada. Pro-tocolada em 2008 na Fepam, a proposta de construção da usina na localidade de Barras das Contas, em Muçum, ha-via sido indeferida pelo órgão no início de 2015, sob alegação de estar localiza-da em área classi#cada como “livre de barragens”. A Certel protocolou uma explicação técnica e reenviou os estu-dos responsáveis pela decisão. No dia 8 de janeiro de 2016, a estatal publicou em seu site o cancelamento da negativa. Em nota, o órgão informa que o proces-so de licenciamento prévio terá prosse
vista a disputa entre as duas empresas. Conforme o órgão, a ECB não apresen-tou o despacho da Aneel com o projeto básico para autorização ambiental.
Em dezembro de 2015, o documen-to foi enviado em nome da Bom Retiro
necessidade de apresentar autorização ambiental por parte da Fepam como condição para autorização da Aneel.
Em nota, a Fepam a#rma ter solicita-do manifestação da Aneel quanto à si-tuação do empreendimento, tendo em
JUREMIR VERSETTI/CHINELAGEM PRESS
guimento com a analise do estudo de
impacto ambiental.
Conforme a Certel, a proposta será
modi#cada seguindo os apontamentos
da Fepam e reenviada para obtenção
de uma licença prévia. Em seguida, o
estudo ambiental será elaborado para
obtenção da licença de instalação.
A previsão da cooperativa é parti-
cipar do leilão até #nal de 2017 para
após viabilizar e iniciar as obras.
Geogra a favorável e experiência no setor
Além de ter a geração de energia
como componente histórico regional,
o potencial do Vale inclui ainda uma
topogra#a favorável, a experiência téc-
nica da Certel Energias na construção
de barragens e o apoio da população
aos projetos.
Em abril de 2012, foi realizado o en-
quadramento das águas da bacia Ta-
quari-Antas, que incluiu consultas pú-
blicas à comunidade regional sobre a
utilização do recurso hídrico. Mais de
90% dos votos para geração hidrelétri-
ca nos usos não consultivos, atestam o
apoio da comunidade a atividade.
A geografia da região também fa-
vorece a geração, em especial para
hidrelétricas. Em uma área de cerca
de 200 quilômetros, cortados por di-
versos cursos d’água, a altitude varia
de 2 metros a 1,3 mil metros acima do
nível do mar.
Nos inventários dos dois principais
rios da região, foram identi#cados
nove locais possíveis de serem apro-
veitados para empreendimentos hidre-
létricos. cinco desses aproveitamentos
#cam no Forqueta e três no Taquari.
Em termos de construção de usinas,
a Certel Energia apresenta franca evo-
lução. No primeiro empreendimento,
a PCH Salto Forqueta, a cooperativa
contratou praticamente todos os ser-
Além de gerar energia, usinas são determinantes para o orçamento dos municípios locais
Nos inventários dos dois principais rios da região, foram identi$cados nove lo-cais possíveis de serem aproveitados para empreendimentos hidrelétricos.
viços da obra, cujo custo alcançou R$
15,5 milhões.
A iniciativa seguinte, na usina Boa
Vista, foi toda construída com mão
de obra própria. A cooperativa in-
cluiu pedreiros e engenheiros em sua
folha de pagamento, atuando também
como integradora da obra, que custou
R$ 2,9 milhões.
Devido a maior dimensão da PCH
Rastro de Alto, a Certel decidiu re-
alizar a obra em um sistema misto.
Parte do trabalho foi executada por
profissionais da própria cooperativa
e parte foi realizada por empreiteiras
contratadas.
Ao completar 60 anos, em fevereiro
de 2016, a Certel inaugurou a sua quar-
ta usina hidrelétrica, segunda comple-
tamente construída com mão de obra
própria. Localizada em São Francisco
de Paula, a PCH Cazuza Ferreira tem
potência instalada de 9,1 MW, capaz
de abastecer uma população de 28,3
mil habitantes.
O investimento na estrutura alcan-
çou R$ 35 milhões. A energia gerada
abastece uma subestação da Eletrosul
e chega ao sistema nacional por meio
de uma linha de transmissão que liga
Caxias do Sul a Tubarão (SC). Tam-
bém alcança uma ligação até a região
de Vacaria.
Insegurança na rede e apagões
O ano de 2014 evidenciou a urgência
da discussão em torno da geração de
energia. No ano em que um apagão na-
cional expôs a fragilidade do sistema, a
região se viu diante de um blecaute na
única linha de transmissão que liga o
Vale ao sistema brasileiro.
Na primeira semana de fevereiro,
uma queda no sistema de distribui-
ção deixou cerca de 20 mil pessoas
sem energia. O problema interrom-
peu o funcionamento de sistemas de
ventilação e nebulização em granjas e
causou a morte de cerca de 500 mil
frangos, com prejuízo avaliado em R$
DIVULGAÇÃO
5,4 milhões.Naquele verão, o produtor Sérgio
Schruer, 55, perdeu 1,2 mil frangos com 35 dias de vida. Desde então, Schruer continua sofrendo com pequenas que-das. No %m de semana dos dias 23 e 24 de abril, %cou mais de 72 horas sem luz devido a um problema no contador.
Dessa vez, o tempo sem eletricidade não resultou maiores prejuízos à pro-priedade localizada em Fazenda Loh-man, Roca Sales, mas a insegurança na rede faz o produtor avaliar a compra de um gerador. “Ainda estou pagando pelo aviário, mas é um investimento neces-sário, porque corro risco de perder a produção novamente.”
A a*ição aumenta principalmente nos dias de chuva. Segundo ele, a região tem muitos postes de madeira em con-dições precárias. “Alguns ainda estão de pé porque %cam pendurados pelos %os. É um perigo.”
No apagão de 2014, Sander Paulo Nie-tiedt, 32, %cou dois dias sem luz. Produtor de leite e suínos, acumulou mais de R$ 3 mil em prejuízos. Além de perder 1,2 mil
litros de leite que estavam no resfriador, muitas vacas desenvolveram mastite.
“Todo o nosso sistema é automatiza-do, seja a ordenha bovina ou a alimen-tação dos porcos. Sem luz, nada funcio-na”, ressalta. Segundo ele, outras quedas de luz foram registradas após o apagão, mas sem consequências mais graves.
Nietiedt também tenta viabilizar a compra de um gerador para evitar no-vos prejuízos, mas o principal empeci-lho é o custo. “Para o que eu preciso, o investimento chega a R$ 45 mil.”
A compra de um gerador também é objetivo de Danilo Wildner, 72, mo-rador de Sampaio, Santa Clara do Sul. Produtor de aves faz mais de 20 anos, a%rma que as quedas de energia resul-tam perdas constantes.
A família de Wildner integra proje-to de ampliação da produção, Diante da insegurança do sistema, uma das exigências é aquisição de um gerador capaz de assegurar as condições ideais para o desenvolvimento dos animais até os 30 dias de vida.
Na propriedade de Paulo e Marlise
Apagões e prejuízos em 2014 desnudaram os problemas no sistema de abastecimento do Vale Produtor Sérgio Schruer, 55, amargou a perda de 1,2 mil frangos com 35 dias de vida
É só cair uma chuva mais forte ou um raio que a luz termina. Já %-camos dois ou três dias sem energia.
Mahler, também em Sampaio, as recla-mações persistem. Conforme Marlise, os %os do contador de luz esquentavam e derretiam no verão, causando quedas recorrentes. A família chegou a instalar uma nova entrada para a rede, mas os incômodos persistem.
“É só cair uma chuva mais forte ou um raio que a luz termina. Já %camos dois ou três dias sem energia”, relata. O casal já perdeu uma geladeira e outros equipa-mentos eletrônicos devido a oscilações e tentou trocar a rede da AES Sul pela da Certel, mas não obteve permissão.
Conforme Marlise, a produção de 35 mil frangos precisa de ventilação e água durante o verão. Segundo ela, uma queda de duas horas representa a morte de frangos. “Ainda não temos como comprar um gerador, então vi-vemos inseguros.”
Hoje, o Vale do Taquari recebe energia de uma única linha de transmissão, entre Lajeado e Nova Santa Rita. Com capacida-de para suportar até 320 MW de potência, a ligação entre a região e o Sistema Nacio-nal Integrado está próxima do limite.
FOTOS ARQUIVO A HORA
14| QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016
Diante de um crescimento popu-lacional de cerca de 5% ao ano e da instalação de novas indústrias de médio e grande porte, urge a neces-sidade de uma opção de entrada de energia. Caso contrário, uma pane no sistema seria capaz de deixar toda a região às escuras.
Presidente da Certel, Erineo Henne-mann a)rma que a ligação entre Ga-ribaldi e Lajeado teria capacidade de garantir segurança de abastecimento por, no mínimo, 15 anos.
Problemas com empresa atrasam nova linha
Uma segunda linha de transmissão para o Vale do Taquari foi licitada pelo governo federal em junho de 2013. O leilão previa a conclusão da linha entre Garibaldi e Lajeado e de novas subes-tação em 2016. As obras garantiriam oferta de 160 MW adicionais à região, mas sequer foram iniciadas.
O conjunto de obras compreende a linha de 47 quilômetros de extensão entre os dois municípios e outra li-nha, com 16,4 quilômetros dentro de Lajeado, além de duas subestações de energia, sendo uma no Vale e outra na Serra Gaúcha.
Vencedora da licitação, a empre-sa MGF Energy foi questionada por especialistas desde o início do
A Hora – Por que a demanda por
energia passou a ser um dos prin-
cipais temas em debate no Vale do
Taquari?
Júlio Salecker – Estamos envol-vidos nesse projeto da CIC desde 2014. Aqui na região sempre se fala-va em aumentar os acessos de asfal-to, mas era preciso garantir também o acesso de elétrons. O diagnóstico era de que precisávamos de mais disponibilidade de energia no Vale do Taquari. É uma demanda mais difícil de compreender, porque todo mundo passa sobre o asfalto, enquanto a energia é virtual. Você aperta um botão, ligou a luz, mas não sabe como ela chega. A CIC abraçou essa bandeira de que ou a energia tinha que chegar ou ser ge-rada internamente na região. A se-gunda opção é melhor para evitar a evasão de recursos.
Os problemas enfrentados no
verão de 2013 para 2014 evidencia-
ram a fragilidade da rede. O que
ocorreu naquele período?
Salecker – Além de ter o apagão nacional, tivemos um blecaute re-gional, porque temos apenas uma entrada de energia. Uma coisa é o produto, o MW/h, que a região pre-cisa, outra é o )o para que essa ener-gia chegue até aqui. Temos apenas um acesso. Se você conversar com pessoas de São Paulo, por exemplo, dirão que somos loucos. Nas regiões semelhantes à nossa, eles têm duas a três entradas. Até agora, nós tive-mos mais sorte que juízo. Isso não é culpa da Certel nem de nenhuma das concessionárias. É um histórico, desde a época da CEEE.
A segunda linha de transmissão
prevista para o Vale deveria %car
pronta neste ano, mas problemas
com a empresa travaram a obra. O
governo anunciou nova licitação e
o prazo %cou para 2021. Existe via-
bilidade de outros projetos antes
desse prazo?
Salecker – Houve uma reunião na CEEE-Transmissão em Porto
processo diante da viabilidade eco-nômica da proposta apresentada, considerada de alto custo e baixo retorno. Sem cumprir os prazos, a companhia acabou descredenciada do processo.
Uma nova licitação deve ser conclu-ída ainda em 2016. O início da opera-ção é adiado para 2021. A informação foi con)rmada em abril, durante visi-ta do gerente-executivo do Operador Nacional do Sistema (ONS), Manoel Botelho, ao estado.
Na época, Botelho alertou para a gravidade da situação, ressaltando que, em caso de pane, a região )caria às escuras.
Medidas emergenciais sem garantias
Em março, uma reunião entre ONS, CEEE-GT, Eletrosul, RGE, Certel, AES Sul e a Empresa de Pesquisa Energéti-ca debateu medidas de urgência para evitar problemas no abastecimento. Apesar disso, não há certeza da efeti-vidade das ações.
Na ocasião, a AES Sul informou a necessidade de instalar um trans-formador na Subestação Lajeado 2 e outro na Subestação Venâncio Aires, além de recapacitar a linha de trans-missão entre as duas subestações de Lajeado. A CEEE-GT assegurou a dis-ponibilização de até quatro unidades reservas do transformador.
“Temos potencial hidrelétrico inestimável para usar”
Alegre para de)nir essa questão. Tere-mos todo um projeto emergencial para fortalecer a rede. Se isso vai resolver o problema ou não, depende da demanda. Do consumo de cada casa, comércio e indústria. Se der um calorão, poderemos ter problema.
Essa fragilidade di%culta a atração
de empresas?
Salacker – Essa é a principal questão. Não é nem tanto saber se vamos )car no escuro, e sim de con)abilidade. Do jeito que está, uma empresa de porte interes-sada em se instalar no Vale analisa essa questão antes de fazer investimentos. Também avalia quando esses problemas estarão resolvidos. Caso contrário, corre risco. Não acredito que teremos proble-mas, mas alguém disposto a construir um empreendimento milionário não vai correr esse risco.
A Certel tem diversos projetos pre-
vistos no campo da geração de energia.
Como está o andamento e qual a po-
Julio Salecker é diretor de Geração de Energia da Cooperativa Certel e presidente do Comitê da Bacia Hidrográf
Um dos principais problemas regionais é a dependência de apenas uma linha de transmissão
ENTREVISTA/ JÚLIO SALECKER
ARQUIVO A HORA
QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016 |15
“Temos potencial hidrelétrico inestimável para usar”
tencialidade?
Salecker – Não são alternativas, por-que serão concluídas depois de 2021. As duas propostas mais impactantes são Bom Retiro do Sul e Muçum, que po-dem iniciar depois de várias soluções burocráticas. Tem a questão da Fepam, ainda por se resolver. Cassaram um em-bargo que eles mesmos tinham imposto à hidrelétrica de Muçum. A primeira análise foi equivocada e tivemos que provar que estava errado. Demorou um ano para isso e ainda precisam analisar o processo para emitir a licença.
Dos projetos previstos, quais estão
em estágio mais avançado?
Salecker – A mais avançada é a Foz do Jacutinga. É uma usina de 5,5 MW. Não é uma potência signi+cativa, mas ajuda a compor o cenário energéti-co, ainda mais se pensarmos na soma dessas pequenas usinas. Se pegarmos o Forqueta inteiro, que é o nosso foco, são 25 MW em cinco usinas. Não chega a ser uma solução, por exemplo, para a
nossa única linha de transmissão, mas ajuda. Até porque, se completarmos as duas usinas maiores, teremos a ge-ração de 120 MW na soma. A região não consome tudo isso de madrugada, por exemplo. Essa energia tem que sair também. A linha é imprescindível.
Qual a previsão de iniciar as obras da
Foz do Jacutinga e os demais?
Salecker – Gostaríamos de iniciar em breve a Foz do Jacutinga e dar seguimen-to aos projetos do Rio Forqueta, com foco em Muçum, mas tudo depende da Fepam. No caso da Foz do Jacutinga, eles passaram anos falando que tínha-mos um concorrente na Aneel e que en-quanto a agência não desempatasse, não fariam nenhum esforço. Mas, não im-porta quem vai fazer, a Fepam tem que olhar o projeto e dizer se é viável ou não. Saiu o desempate, faz quase dois anos, protocolamos o pedido na Fepam. Era só pegar o nosso projeto mais a resolu-ção da Aneel e analisar. Mas ainda nem começaram a fazer.
Desde o início do novo governo,
existe a promessa de mais agilidade
por parte da Fepam. Você enxerga es-
ses avanços?
Salecker – Antes da licença na Fepam, o projeto não existe. Caso contrário, se gasta recursos com a área, topogra+a, sondagens e pode ser impedido. Tem uma usina em Rio da Várzea com licen-ça de instalação e obra andando, cujo licenciamento foi caçado. Entendemos a preocupação ambiental, o problema do nosso órgão vai postergando, não deci-de, depois lá na frente vem dizer que não pode. Mas concordo que tivemos evolu-ções. Inauguramos recentemente a usina Cazuza Ferreira e percebemos agilidade no processo +nal.
Quais as características que favore-
cem a produção de energia na região?
Salecker – Temos fábricas de turbinas e equipamentos de hidrelétricas desde 1922 e a primeira usina foi instalada em 1923. A Mecamidi Wirz fabricou mais de 117 pequenas usinas instaladas na região do Codevat. Somos geradores na-tos. Tínhamos a barragem de Encanta-
do, na Lagoa Garibaldi, a barragem do Harmonia. Em Encantado, conseguiram 240 metros de queda. Somos um povo que tem isso no sangue. Além disso, nosso Vale começa a 1,3 mil metros em relação ao nível do mar e chega a quase zero. Em 200 quilômetros, temos 1,1 mil de quedas. Temos um potencial hidrelé-trico inestimável para utilizar.
Como você enxerga a resistência de
ambientalistas às hidrelétricas?
Salecker – A geração de MW/h está na Constituição do Brasil como um bem de utilidade pública. Têm muita ONGs e pessoas que não concordam. Fui à reunião no Ministério Público em Porto Alegre e saí apavorado com as críticas de radicais às hidrelétricas. Não consigo entender. Três Gargan-tas na China colocou aquele monte de cidade embaixo d'água, mas estamos conversando sobre pequenas usinas que não estragam nada nos rios, mui-to pelo contrário. Se formos analisar a enchente de 2010, que dizimou os rios Forqueta e Fão, as margens preserva-das foram as do lago da Salto Forqueta. Uma pequena usina ajudou a preservar.
Qual o benefício da instalação de
uma hidrelétrica para um município?
Salecker – Primeiro o ICMS agrega-do, o índice de retorno. Via de regra, a arrecadação vai para o município onde está instalada a casa de máquinas. A não ser que os municípios vizinhos façam um acordo antes ou durante a constru-ção da usina e enviem o documento à Secretaria da Fazenda. Em Putinga, a maior empresa de índice agregado é a Salto Forqueta. Não teve acordo por-que uma usina +ca em Putinga e outra em São José do Herval. Mas em outros locais, como Bom Retiro do Sul, a su-gestão é por um acordo, incluindo os municípios atingidos. Usinas acima de 30 MW, no caso de Muçum e Bom Re-tiro do Sul, também têm pagamento de royalties. Os únicos usuários de água que pagam por usar o recurso no Brasil são as hidrelétricas, isso desde a década de 70. Existe um fundo estadual de re-cursos hídricos com R$ 60 milhões ano pago pelas hidrelétricas gaúchas.
Julio Salecker é diretor de Geração de Energia da Cooperativa Certel e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Taquari-Antas
Temos um grande potencial bioener-gético, utilizando os dejetos da produção animal, é uma grande oportunidade e dever moral, agregaremos valor na geração de energia e ajudaremos muito na limpeza de nossas águas.
ANDERSON LOPES
16| QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016
Se as características topográ$-cas, técnicas e culturais do Vale do Taquari favorecem a insta-lação de hidrelétricas, a matriz
econômica focada na produção de ali-mentos demanda não apenas de ener-gia, mas também de uma solução para os dejetos da atividade agrícola.
Conforme levantamento da Agência Nacional das Águas (ANA), realiza-do em 2007, cerca de 56% da poluição encontrada na região hidrográ$ca do Guaíba é proveniente da bacia que atra-vessa a região. No caso dos rejeitos or-gânicos de animais, o percentual sobe para cerca de 66,6%.
O motivo é a alta concentração de granjas de suínos, aves e produção lei-teira ao longo da bacia Taquari-Antas. A atividade agrícola é responsável por 90% dos lançamentos prejudiciais ao ambiente nos mananciais da região.
Nesse cenário, o investimento em biodigestores se torna ainda mais ne-cessário, pois, além de gerar energia ou gás, o material pode ser utilizado como adubo orgânico. Para estimular os investimentos, o governo do Estado desenvolve programa de incentivo e elabora um atlas do biometano gaúcho.
Liderado pela Univates para a Com-panhia de Gás do Estado do RS (Sul-gás), o mapeamento das potenciais fontes visa orientar investimentos na atividade. O levantamento é realizado desde a metade de 2015 por meio de análise dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes).
Também são visitadas agroindús-trias, aterros sanitários e estações de tratamento de e;uentes domésticos. Após a conclusão, o atlas estará dispo-
Caminho para produção limpa
e sustentávelnível impresso e digital.
Principal matéria-prima do biogás, a biomassa é um resíduo sólido encon-trado em restos de alimentos, resíduos de madeira, palha do arroz e esterco de animais. Ela pode gerar o combustível por processo de queima, decomposi-ção, extração e transformação.
Incentivodo Estado
Aprovado em abril na Assembleia Legislativa, o Programa Gaúcho de In-centivo à Geração e Utilização de Bio-metano (RS-Gás) foi desenvolvido pela Sulgás e pela Secretaria Estadual de Mi-nas e Energia. Com ele, o governo quer ampliar a oferta de gás natural para regiões não atendidas pelo gasoduto Brasil-Bolívia.
O RS-Gás vislumbra aumentar o acesso a fontes de gás, energia, gerar emprego e renda e reduzir o problema de destinação de dejetos da ativida-de agrícola. Junto com o Vale do Caí, o Vale do Taquari é considerado pelo Piratini a região com maior potencial gerador de biometano.
O programa cria linhas de crédito especiais junto ao BRDE e ao Badesul para investimentos na cadeia do gás, além da criação de parcerias público--privadas. Conforme a proposta, a Sul-gás garantirá a compra da produção pelos próximos 20 anos.
Por meio de uma chamada pública, a ser lançada no segundo semestre deste ano, inicia a aquisição de projetos de biometano, com volume total estima-do de 200 mil metros cúbicos por dia. Hoje, os gaúchos consomem dois mi-
lhões de metros cúbicos diariamente. Por ano, o RS perde R$ 166 milhões
em ICMS para o Mato Grosso, estado onde o gasoduto ingressa no Brasil e o imposto é tributado. O Piratini também intenciona reduzir os custos de logísti-ca incentivando o consumo do gás na região onde ele é produzido e estimular a utilização de gás encanado.
Números da Sulgás
Extensão da redecanalizada:
966,4 km
38 municípios(25 por rede canalizada
e 21 por gás naturalcomprimido (GNC).
27.576 clientes
Clientespor segmento:
· Industrial: 119· Veicular: 81
· Comercial: 575· Residencial: 26.783
· Cogeração: 2· Geração ponta: 14
· Termelétrico: 1
A usina solar, instalada em 2015, na Univates, tem capacidade para gerar 5% de toda eletricidade consumida no Campus
QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016 |17
Distribuidora do Vale é referência
A rede Charrua é responsável pela
distribuição de gás GNV no Vale do Ta-
quari e outras regiões do Estado. Pres-
tes a completar 20 anos de atuação no
setor, a empresa tem capacidade para
comprimir dois milhões de metros cú-
bicos por mês.
A distibuidora fornece o combus-
tível em Lajeado e outros 11 municí-
pios gaúchos, com previsão para novas
unidades em Soledade e Rio Grande.
Além disso, também leva o produto
em unidades industriais da Serra e Re-
gião Metropolitana.
A companhia utiliza tecnologia
para compressão e transporte, pro-
piciando fornecimento do produto
onde não há previsão de rede de gás
encanado. Presidente do Grupo Arco,
detentor da empresa, Elvídio Eckert
considera o gás natural como o com-
Estrela é um dos dois municípios do
RS a receber investimentos da empresa
Ecometano. Em abril, ela con*rmou a
aplicação de R$ 160 milhões na cons-
trução de duas fábricas no RS. Além
do Vale, a Serra Gaúcha também terá
uma unidade, em Carlos Barbosa.
Cada planta custará R$ 80 milhões.
Denominadas de Uter, terão capacida-
de para receber até 722 toneladas de
rejeitos agroindustriais por dia. A pro-
dução deve chegar a 35 mil metros cú-
bicos diários de biometano e 500 tone-
ladas de fertilizante. A quantidade de
gás é su*ciente para abastecer 2,5 mil
carros ou 30 mil residências por dia.
O projeto aguarda liberação da Fe-
pam e as obras têm duração prevista
de 18 meses. Em Estrela, a instalação
será na localidade de Santa Rita. As
operações ocorrem por meio de par-
ceria com a empresa Folhito. Confor-
me a Ecometano, a política de elimi-
nação dos passivos orgânicos adotada
pelo governo gaúcho foi decisiva para
o investimento.
A empresa pertencente ao gru-
po MDCPar, do Rio de Janeiro, tem
unidades na capital do estado de São
Paulo, e em Salvador (BA).
De acordo com o engenheiro de pro-
jetos da Ecometano, Alexandre Sousa
da Rosa, a intenção da empresa é apro-
veitar os resíduos orgânicos da região e
transformá-los em uma fonte de receita
ao mesmo tempo em que proporciona a
destinação correta dos materiais.
Além de converter dejetos das gran-
jas e agroindústrias do Vale, a planta
também terá capacidade para receber
carcaças de animais mortos. Confor-
me Rosa, essa opção surgiu durante
o mapeamento da potencialidade da
geração regional.
De acordo com ele, o estudo demons-
trou a di*culdade dos produtores em
realizar a destinação adequada. Após
receber tratamento térmico, as carcaças
serão enviadas aos biodigestores onde
ajudarão na produção do biogás.
Conforme o secretário de Agricul-
tura de Estrela, José Adão Braun, o
município presta o serviço de enterrar
carcaças de animais mortos nas pro-
priedades. Segundo ele, são realizados
em média três atendimentos por dia,
na maioria para enterrar vacas.
Diante do ônus criado pela deman-
da, considera a iniciativa da Ecome-
tano fundamental. Para ele, além de
assegurar a destinação correta, evita
problemas de poluição e ainda resul-
ta na geração de energia por meio da
matéria orgânica.
Biodigestores contra passivo ambiental
Em abril de 2015, foi inaugurado o
projeto-piloto de biodigestores da co-
operativa Languiru. Desenvolvido por
meio de parcerias com o aporte do go-
bustível do futuro.
R$ 80 milhões de investimento
Ecomentano projeta investimento de R$ 80 milhões em Estrela para a implantação de uma fábrica de gás natural por meio de biodigestores
A usina solar, instalada em 2015, na Univates, tem capacidade para gerar 5% de toda eletricidade consumida no Campus Lajeado. Projeto é pioneiro entre as instituições de ensino do país
REPRODUÇÃO
ANDERSON LOPES/ARQUIVO A HORA
verno da Alemanha, tem o apoio da Or-ganização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs).
Instalados em Bom Retiro do Sul, junto à Unidade de Produtora de Lei-tões (UPL) Novo Mundo, os equipa-mentos têm capacidade de gerar 20 Kw ou cerca de 5 metros cúbicos de biogás por hora. As tratativas para o projeto iniciaram em novembro de 2012, fruto de um estágio realizado na Alemanha pelo engenheiro ambiental da coopera-tiva, Tiago Feldkircher.
No país, o Biogás recebe incentivo por meio de /nanciamentos governa-mentais e é utilizado tanto para geração elétrica quanto para o aquecimento. Representantes das empresas alemãs visitaram a UPL e elaboraram o proje-to. Encaminhada ao governo alemão, a proposta recebeu aporte /nanceiro.
As instalações de Bom Retiro do Sul permitem utilização do biogás no aquecimento da água de chuveiros e na substituição do gás de cozinha.
A cooperativa recebeu o suporte téc-nico do Instituto de Pesquisa Agros-cience, da Alemanha, órgão de pesquisa cientí/ca para melhorias na agricultura e manejo animal, e da empresa Örkobit, especializada na construção, instalação e operação de plantas de biogás.
A partir do piloto, a Languiru segue os estudos na área com apoio da Uni-vates, também aproveitando dejetos e
cooperativa com o projeto era dar uma destinação adequada aos dejetos prove-nientes da UPL.
Incentivo àspequenasproduções
O governo gaúcho criou lei que isenta de ICMS a energia produzida em pe-quenas centrais geradoras de energia renovável, desde que conectadas à rede de distribuição convencional. A legisla-ção passa a valer a partir do dia 1o de junho deste ano, e incentiva a produção doméstica, comercial e industrial por meio de placas solares, biodigestores e pequenas torres de captação eólica.
O benefício vale para minigerações, com até 1 Mw de potência e microgera-ções de até 100 Kw. Antes da lei, o gover-no cobrava 30% de ICMS sobre a energia excedente produzida em uma residência enviada à rede de distribuição.
A isenção foi possível graças à adesão do Estado a um convênio do Conselho Nacional de Política Fazendária (Con-faz). O termo assegura que a isenção não impactará a arrecadação gaúcha, pois apenas 186 instalações desse tipo
resíduos de outras unidades produtivas e industriais da cooperativa.
Conforme Feldkircher, a intenção da
Dejetos viram energia e gásEquipamento responsável por transformar dejetos agro-
pastoris em gás, utilizado como fonte de energia ou trans-formado em eletricidade. É apontado como saída para a
destinação adequada dos dejetos do Vale do Taquari
QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2016 |19
estão registradas no RS. O uso da energia solar no estado é
pequeno, principalmente em função do custo de implantação dos painéis de captação. Na Aneel, uma capaci-dade de 7,06 Kw de potência instalada está registrada no RS.
O estado tem média de seis horas di-árias de insolação, índice superior ao registrado no norte do Brasil, e tam-bém é grande produtor agropecuário, atividade cujos dejetos podem gerar bioenergia. Diante do encarecimento da energia e do surgimento de tec-nologias mais baratas no mercado, o apoio governamental ajuda a impul-sionar o setor.
A Secretaria de Minas e Energia ela-bora, em parceria com a Univates, o Atlas Solarimétrico do Estado. Com previsão de lançamento em 2016, o material visa indicar os pontos mais favoráveis para investimentos no setor.
Retorno chega em seis anos
Com sede em Porto Alegre, a em-presa EPI Energia Projetos e Investi-mentos, especializada em sistemas de geração solar e eólica, mantém uma unidade de pesquisa no Vale do Ta-quari. O laboratório fica na proprie-dade da diretora da empresa, Anneli-se Dessoy, em Cruzeiro do Sul.
Na unidade, são realizados testes
apostar também na energia fotovol-taica, a EPI estava concentrada em projetos de energia eólica. O primeiro laboratório da empresa foi instalado faz cerca de dez anos na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), junto ao museu oceanográfico.
Conforme a diretora, em 2012, a Aneel criou uma resolução permitin-do que o consumidor instale peque-nos geradores e troque energia com a distribuidora local para reduzir o va-lor da fatura de energia, permitindo avanços no mercado do setor.
Ela afirma que a principal van-tagem dos pequenos sistemas de energia elétrica está na economia doméstica. O retorno do investimen-to demora em média seis anos, para equipamentos cuja vida útil pode chegar a 50 anos, ressalta. No caso das placas solares, existe garantia de 25 anos contra defeitos.
Criada em 2004, a EPI Energia Pro-jetos e Investimentos é representante da empresa alemã EAB New Energy, que atua faz mais de 20 anos no mer-cado de produção renovável. Além do Brasil, a companhia desenvolve pro-jetos na Argentina, Chile, Uruguai e outros 11 países da Europa, Ásia e América do Norte.
Univates aposta naenergia solar
Uma das principais iniciativas em geração de energia por meio de células fotovoltaicas está instalada na Univa-tes. A universidade inaugurou em abril de 2015 uma usina solar com capaci-dade para produzir 5% de toda eletri-cidade consumida no câmpus Lajeado.
O projeto é pioneiro entre as institui-ções de ensino do país. São 1,1 mil pai-néis que produzem 25 mil Kw ao mês. A quantidade é su:ciente para abas-tecer o prédio da Tecnovates, que tem área construída de 5,2 mil metros qua-drados. É o equivalente ao consumido por cem famílias de quatro pessoas.
Antes de instalar a microusina, a instituição aplicou um teste com dez placas fotovoltaicas que resultou no
cadastro de Gestora de Energia na Aneel. Diferente dos modelos insta-lados em residências, o sistema não acumula eletricidade em baterias e toda a carga produzida é liberada na rede da AES Sul.
de equipamentos, demonstrações a clientes, além de treinamentos para representantes e técnicos de insta-lação. No centro de demonstrações, existem dois aerogeradores de peque-no porte e três diferentes conjuntos de módulos fotovoltaicos.
No telhado do laboratório, há um painel de captação solar para geração de energia elétrica e outro para aque-cimento de água. O telhado também abriga uma estação capaz de medir a velocidade do vento e os índices de radiação solar.
O sítio tem ainda um conjunto foto-voltaico de solo, com duas opções de fixação, por meio de estacas ou com sapatas de concreto. Todos os equipa-mentos estão ligados em uma central,
Modelo para ser ampliado
onde são simulados diferentes siste-mas, a depender da capacidade do in-vestimento e do tamanho do projeto.
Nos próximos três meses, a empresa pretende instalar na propriedade um estacionamento solar, com módulos fotovoltaicos que geram energia ao mesmo tempo em que proporcionam sombra aos veículos.
Além do laboratório em Cruzeiro do Sul, a EPI também tem uma uni-dade de pesquisa eólica e fotovoltaica na PUCRS, em projeto aporte das em-presas alemãs WKA e Sequa, e apoia-do pelo Senai-RS. A unidade serve para auxiliar a formação de profis-sionais das áreas de engenharia, com foco na energia renovável.
De acordo com Annelise, antes de
Com módulos solares e aerogeradores, laboratório da EPI Energia fica em Cruzeiro do Sul
Painéis
fotovoltai-
cos captam a
radiação emi-
tida pelo sol e
transformam
em impulsos
elétricos.
Sistema pode
abastecer con-
sumo de casas,
comércios e
indústrias,
além de ser co-
nectado à rede
para envio de
eletricidade
excedente.
ARQUIVO A HORA
A Hora – Quais os principais poten-
ciais do Vale no campo das energias
alternativas?
Odorico Konrad – A Univates traba-
lha a biomassa e o biogás faz quase uma
década. Em 2007 e 2008, apostamos
em pesquisas sobre o tema e o Vale é
referência. Mas também temos inicia-
tivas na energia solar. Com mais de mil
placas instaladas, a universidade é única
do país com uma estrutura dessas. Acre-
dito que daqui a cinco ou dez anos esse
número será insigni'cante, diante da
potencialidade. Mas a energia solar foto-
voltaica se mostrou muito satisfatória.
A substituição dos combustíveis fós-
seis na produção de energia é viável?
Konrad – Hoje a energia eólica
participa mais da matriz energética
do que o carvão, por exemplo. Mas
são coisas separadas. O carvão é uma
reserva, uma energia segura. Se houver
uma catástrofe ambiental e não tiver-
mos mais disponibilidade solar ou de
vento e a biomassa morrer, o carvão
estará lá. Como as energias fósseis são
seguras, deveriam 'car reservadas para
o caso de necessidade. Se nunca forem
necessárias, melhor ainda. Mas é muito
ENTREVISTA/ ODORICO KONRAD
“Um economista diria que estamos perdendo dinheiro.” Odorico Konrad coordena o Laboratório de Biorreatores da Univates
errado queimar gasolina como fazemos
hoje, sabendo que ela é 'nita.
As renováveis conseguem substituir
totalmente as demais matrizes?
Konrad – Precisamos pensar em
energias 'rmes. Se alguém me pergun-
tar por que o carvão e o petróleo dão
certo, o motivo é a facilidade de reservar
essas fontes de energia. Posso guardar
um tanque de petróleo e transportá-lo
por quilômetros que continuará com o
mesmo potencial energético. Quando
não tem sol ou vento, qual energia va-
mos utilizar? A energia por hidrelétricas
trabalha em um sistema 'rme porque a
água está reservada. O biogás também
pode ser reservado. Sabemos que temos
um potencial espetacular de biomas-
sa e energia solar, mas é preciso um
olhar híbrido. Durante o dia, tem uma
demanda energética, uso o sistema solar.
No momento que o sistema solar não
atender a demanda, posso complementar
com a energia da biomassa que estará em
um reservatório.
Até que ponto a energia alternativa
pode suprir as necessidades do Vale?
Konrad – Hoje, mais de 90% da nossa
eletricidade vem de fora. Não vamos
atender a demanda completa, pois não
consigo estabelecer uma situação total-
mente autossu'ciente de imediato. Mas
se pudermos aumentar a participação do
Vale de 10% a 30%, estamos falando em
recursos energéticos e 'nanceiros que
'cam na região. Um economista diria que
estamos perdendo dinheiro. Não quer
dizer que estamos rasgando os recursos,
mas mandando para fora. Os recursos cir-
culam onde ocorre a geração de energia.
Quais as vantagens de gerar ener-
gia? Konrad – Transportar energia em
longa distância resulta perdas e quem
paga por isso é o consumidor. Temos
valores de energia elétrica altos, seja no
ambiente urbano ou rural. Aquele preço
que estávamos acostumados a pagar na
conta de luz há dois ou três anos não vai
mais ocorrer. Se 'zermos uma geração
descentralizada, com viés renovável,
foco em biomassa e energia solar, quan-
do tiver uma oscilação de preços, conse-
guiremos amortecer um pouco essas
subidas repentinas, por exemplo.
Qual sua avaliação sobre os be-
nefícios anunciados pelo governo
gaúcho? Konrad – Estamos apostan-
do muito em energias renováveis, na
pesquisa, na questão tecnológica e eco-
nômica e o poder público precisa fazer
sua parte para mostrar claramente ao
investidor uma tributação ou linhas
de 'nanciamento diferenciada. Todos
os países com grande matriz solar e
de biogás tiveram incentivos gover-
namentais. Temos uma sinalização de
melhoria no cenário com a desone-
ração do ICMS e o projeto da Sulgás.
Sem apoio público, a iniciativa privada
demora demais para ter a certeza de
que o investimento é um bom negócio.
“Sabemos que temos um poten-cial espetacular de biomassa e energia solar, mas é preciso um olhar híbrido.”
THIAGO MAURIQUE
Geração de energiaeleva o PIB regional
Os impactos do cenário
energético para a econo-
mia são o principal motivo
para as mobilizações em
torno do tema. A dependência de uma
única linha de transmissão e a pouca
geração local causa insegurança para
produtores rurais, indústrias, comér-
cios e consumidores domésticos.
Diante desse cenário, a CIC-VT lidera
mobilização regional pela aprovação dos
projetos de geração de energia e por uma
solução ao impasse envolvendo a cons-
trução da nova linha de transmissão.
Para a entidade, o setor é capaz de ala-
vancar o crescimento do PIB regional.
Conforme a CIC-VT, o percentual do
Vale na composição do PIB gaúcho teve
redução na comparação com o início
dos anos 2000. Na época, a região era
responsável por 4% de toda a riqueza
produzida no RS.
O último levantamento da Federa-
ção de Economia e Estatística (FEE),
hidrelétricos esbarram em di1culdades
burocráticas para avançar. Juntos, re-
presentariam uma injeção de R$ 1,5 bi-
lhões somente na realização das obras.
Conforme a CIC-VT, todo o valor será
revertido em custo-benefício para a re-
gião.
Os projetos resultariam em condição
de uma energia mais barata, garantia
de abastecimento estável e menor custo
para manutenção das linhas de trans-
missão. Para o presidente da entidade,
Ito Lanius, as perdas com os atrasos são
imensuráveis.
Benefícioeconômicosustentável
O Conselho de Desenvolvimento do
Vale do Taquari (Codevat) também in-
tegra a mobilização por novos projetos
de geração. Segundo ela, no caso das
PCHs, além do menor impacto am-
biental, a eletricidade gerada também é
mais barata em relação às demais.
Ressalta o resultado do acionamen-
to das termelétricas a partir de 2014,
devido à estiagem que reduziu o nível
dos reservatórios das hidrelétricas. Na
época, o cada megawatt produzido no
país passou a custar quatro vezes mais.
No primeiro ano da crise energética o
governo tentou segurar as tarifas, mas a
política se mostrou insustentável e, em
2015, as contas de luz dispararam.
De acordo com a presidente do Co-
devat, assim como as tarifas, o consu-
mo de eletricidade também aumentou
nos últimos anos. O acesso à bens de
consumo como ar-condicionados, ele-
trodomésticos e eletrônicos melhorou a
qualidade de vida das famílias, mas teve
como consequência a ampliação da de-
manda energética.
referente à 2012, mostra que o índice
reduziu para cerca de 3,4%. A autos-
su1ciência energética é uma das metas
para aumentar a participação do Vale
na composição do PIB estadual.
O exemplo está na região de Osório,
onde a instalação de parques eólicos
com aporte 1nanceiro do Governo Fe-
deral desde 2006 resultou em geração
de emprego, renda e arrecadação aos
municípios do litoral gaúcho.
No Vale do Taquari, nove projetos
Fundada em 1922 em Estrela, a H. Wirz foi adquirida em 2008 pelo Mecamidi. É especializada na fabricação de turbinas e componentes para PCHs
THIAGO MAURIQUE
Diante desse cenário, uma maior
oferta de energia produzida no Vale
não bene$ciaria apenas a região, mas
sim todo o sistema elétrico gaúcho.
Mesmo assim, Cíntia destaca a neces-
sidade de atentar para outros aspectos,
como os impactos ambientais e sociais
dos empreendimentos.
Para o Codevat, as propostas de hi-
drelétricas precisam ser responsáveis
no manejo dos rios e da população
atingida. Cíntia avalia que os atores
regionais estão cientes dessa responsa-
bilidade, buscando dar transparência
aos processos e focados em melhorar a
qualidade das comunidades. Represen-
tante do Conselho de Desenvolvimento
Territorial (Codeter-VT), Lídia Marga-
reth Müller alerta para a necessidade de
projetos que permitam a ampliação da
atividade primária. Propõem o inves-
timento em usinas de compostagens e
biodigestores para solucionar o passivo
das atividades e ainda gerar energia.
Tendênciaglobal
O mundo experimenta desde o $nal
do século XIX um avanço tecnológico,
populacional e produtivo sem prece-
dentes. O crescimento se intensi$ca
a partir da metade do século passado.
Entre 1971 e 2005 o PIB mundial tripli-
cou e a demanda por energia dobrou.
De acordo com a Agência Interna-
cional de Energia (AIE), 66% da ele-
tricidade consumida no globo é pro-
veniente da queima de combustíveis
fósseis. O carvão mineral, um dos
principais responsáveis pela emissão
de poluição na atmosfera, responde
por quase 40% da produção.
Conforme a AIE, a tendência para os
próximos 30 anos é de de um aumento
de 60% na demanda de energia global.
Os motivos são o avanço econômico
dos países emergentes a melhoria dos
padrões de vida em regiões de alta den-
sidade populacional e o aumento dos
índices de urbanização
De acordo com a Agência diante do
impacto ambiental crescente, da escas-
sez de combustíveis fósseis e do aqueci-
mento global, é urgente o investimento
em projetos de geração de energia lim-
pa e renovável. Caso contrário, o cres-
cimento econômico mundial se tornará
insustentável, penalizando principal-
A necessidade de avanços na oferta de energia para o desenvolvimento da região motivou o debate Pensar o Vale sobre o tema
ANDERSON LOPES
mente países do BRICS(China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul).
Referência
em tecnologiaSe a demanda por energia aumenta
em escala global, o Brasil tem expertise técnica e potencial natural para se tornar um dos principais e fornecedores eletri-cidade da América Latina. A ampla ex-periência no campo hidrelétrico coloca o país como uma referência do setor. Gerente da empresa Mecamidi Wirz, especializada na fabricação de turbinas e componentes para PCHs, o espanhol Carlos Sanches destaca a capacidade brasileira, mas ressalta a necessidade de apoio governamental ao setor.
Segundo ele, apesar de ser o principal componente da matriz nacional, a ener-gia hídrica recebe investimentos muito inferiores na comparação com as outras formas de geração. Porém, enquanto boa parte da tecnologia fotovoltaica e eólica é importada, a cadeia produtiva das hidrelétricas, que inclui a fabrica-ção dos componentes, a construção ci-vil e a operação, é totalmente nacional.
O impulso ao setor resultaria na pro-dução de energia mais barata, evitando o uso das termelétricas à carvão, uma
das formas mais caras e poluidoras de produção. Na França, lembra Sanches, o potencial hídrico é 100% aproveitado, e a composição com a matriz nuclear tornou o país um dos principais expor-tadores de energia da Europa, além de ser o que possui o ar menos poluído.
Para ele, é preciso apostar nas novas fontes como a energia solar e eólica, mas sem deixar de lado a capacidade hídri-ca. Ressalta a diferença entre os gran-des obras hidrelétricas realizados pelo governo e os projetos menores como os previstos para o Vale. Os primeiros resultam em danos ambientais e sociais imensuráveis, além de custarem aos co-fres públicos entre duas e três vezes o valor orçado originalmente. No caso das PCHs, o orçamento raramente é ultra-passado, os danos são diminutos e existe a garantia de diversi5cação na matriz.
Energia solar mais barata
Entre os integrantes do BRICS, a Ín-dia é o que possui o maior problema em termos de disponibilidade energética. Segundo país mais populoso do mun-do, com 1,2 bilhão de habitantes, tem 60% da geração de eletricidade prove-niente da queima de carvão mineral.
A matriz baseada nos combustíveis fósseis faz com que 13 das 20 cidades mais poluídas do mundo estejam no país. Além disso, 300 milhões de india-nos não tem acesso a rede elétrica, e a maior parte das cidades sofre com cons-tantes apagões. Este cenário obrigou o governo indiano investir no desenvol-vimento de tecnologias fotovoltáicas. A partir de 2014 a substituição da matriz por carvão virou tônica. Em 2016, o primeiro ministro Piyush Goyal anun-ciou que, pela primeira vez, o preço do quilowatt-hora de energia solar atingiu o mesmo preço da energia termelétrica.
Agora, a ideia é gerar 100 gigawatts de energia solar até 2022, e com isso desligar as usinas térmicas. Seria o pri-meiro país do mundo a produzir essa quantidade. É quatro vezes mais do que o produzido hoje nos Estados Unidos.
O projeto ambicioso avança em velo-cidade surpreendente. Em 2015, a Índia construiu o primeiro aeroporto que fun-ciona apenas com energia solar, na cidade de Cochim. No mesmo ano, foi projetada a maior estação de produção fotovoltaica do mundo, no estado de Madhya Pradesh.
Com todo esse investimento, o custo de produção tende a cair ainda mais. A projeção para 2020 é de que o preço da energia solar esteja 10% menor em rela-ção ao carvão.
Apesar de ser o prin-cipal componente da matriz nacional, a energia hídrica recebe investimentos bem inferiores na compa-ração com as outras formas de geração.
Carlos Sanches é gerente da Mecamid
Wirz, especializada na fabricação de
turbinas componentes para PCHs
THIAGO MAURIQUE
O Secretaria Estadual de Mi-
nas e Energia lançou no #m
de 2015 o primeiro estudo
detalhado sobre o cenário
energético gaúcho. Iniciado em 2014, o
diagnóstico inédito aponta gargalos e in-
vestimentos necessários para assegurar o
abastecimento pelos próximos dez anos.
Diante do encarecimento da energia e
da insegurança do sistema, o plano men-
sura o potencial do RS nas diferentes for-
mas de produção de eletricidade, apos-
tando no setor privado para diversi#car
a matriz energética. Projetos sólidos terão
acesso a crédito facilitado pelo governo
gaúcho, por meio de bancos nacionais ou
estrangeiros, como o Banco da China.
O estudo mostra a necessidade de va-
lorizar as características próprias de cada
região. No caso do Vale do Taquari, des-
taca o forte potencial para abrigar usinas
Plano contemplaa próxima década
hidrelétricas e iniciativas de geração por
meio de biodigestores.
Para viabilizar novas iniciativas, o mape-
amento indica o aprimoramento dos inter-
câmbios de energia para os ambientes na-
cional e internacional e o estabelecimento
de políticas para captação de recursos.
No capítulo Caderno de Propostas,
constam mais de 80 iniciativas projetadas
em 17 regiões com a participação de ór-
gãos municipais, estaduais e federais, em-
presas privadas e sociedade civil organi-
zada. Entre elas, estão todas as propostas
registradas para o Vale, incluindo usinas
hidrelétricas e biorreatores.
Também estão incluídas as obras de ex-
pansão dos sistemas de transmissão, sub-
transmissão e distribuição, com ênfase nos
empreendimentos da Eletrosul. Resultado
de leilão da Aneel ocorrido 2014, inclui 18
linhas de transmissão com investimento
previsto de R$ 1,27 bilhão. Entre os pro-
jetos, está a segunda linha para a região,
ligando Lajeado a Garibaldi.
O estudo ainda evidencia a necessida-
de de estabelecer uma política de con-
servação de energia para adequar o uso
racional. Conforme o levantamento, o
setor energético é capaz de proporcio-
nar uma redução do insumo de 10% a
15% em dez anos, diminuindo em R$ 1
bilhão a necessidade de investimento na
expansão da oferta.
Logo que abrimos a Secretaria de Minas e Energia, a primeira visita que recebemos foi da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari.
Estudo sobre o sistema energético contempla as carências e potenciais existentes e aponta saídas viáveis para melhorar
Caminhos a percorrer
O Plano Energético enumera por segmento as possibilidades para a ma-triz elétrica do RS. Recomenda maior
aproveitamento do carvão mineral como oportunidade de desenvolvimen-to socioeconômico, seja como fonte de energia básica ou como apoio para ex-pansão industrial.
Cerca de 90% dos recursos brasilei-ros de carvão mineral estão localizados
no estado. O estudo projeta a ampliação da termeletricidade na matriz nacional. Hoje, as usinas de carvão representam 1,4% da energia produzida no Brasil. A expectativa é alcançar 6%.
Sobre energia eólica, aponta a viabili-zação de novas expansões. Hoje, o estado tem 66 parques que somam 1,5 gigawatts (GW) à rede. Além de potencial para no-vos empreendimentos eólicos, o estudo mostra que o RS tem condição para re-ceber fabricantes de máquinas e equipa-mentos, bem como prestadores de servi-ços especializados para o segmento.
No campo das pequenas centrais hi-drelétricas (PCHs), o plano propõe ações para viabilizar a expansão das ins-talações já existentes e o prosseguimento de projetos registrados na Aneel. O le-vantamento indica interesse privado no setor devido à facilidade de implantação, concessão de incentivos 2scais e taxas de lucratividade atrativas.
De acordo com a pesquisa, as PCHs atendem aos princípios do desenvolvi-mento sustentável, uma vez que a sua exploração não afeta drasticamente o equilíbrio do meio ambiente. Nas usinas existentes, a proposta é reformar, redi-mensionar, modernizar equipamentos, além de reativar turbinas desligadas. Os procedimentos são considerados de bai-xo custo e de fácil realização.
Energias alternativas
O estabelecimento de formas alter-nativas para geração de energia é um dos pontos mais importantes do levan-tamento. A criação de sistemas limpos para geração de gás, reduzindo assim a dependência do combustível obtido por meio do gasoduto Brasil Bolívia, está entre as prioridades.
No âmbito da energia solar, o Mapa mostra a necessidade de elaborar o Atlas Solarimétrico gaúcho para deter-minar a incidência do sol em cada re-gião e orientar investimentos.
O estudo também contempla ações de incentivo à biomassa, capaz de fornecer energia e auxiliar na diminuição do CO².
Entre as possibilidades indicadas pelo Mapa, está o investimento em iniciativas pioneiras no mundo. Pesquisas na Ásia e na Europa tentam viabilizar a produção de eletricidade por meio da corrente dos rios e mares, da energia das ondas, e até mesmo em canos do saneamento urbano.
Outra tecnologia incipiente, chamada Lucidenergy, para geração de energia elétrica em tubulações de abastecimento de água. O sistema de adutora captura energia da água por meio de turbinas, instaladas dentro dos encanamentos.
Estudo sobre o sistema energético contempla as carências e potenciais existentes e aponta saídas viáveis para melhorar o abastecimento gaúcho
DIVULGAÇÃO
A Hora – Qual a intenção do governo
ao criar o Mapa Energético do RS?
Lucas Redecker – A intenção é contemplar todo o estado, fazendo uma radiogra%a do setor. É uma ferramenta antes inexistente que apresenta para qualquer empresa ou cidadão as in-formações sobre a situação energética gaúcha. Hoje está tudo disponível na página da Secretaria de Minas e Energia. Além disso, o estudo faz o diagnóstico do potencial de geração de cada região e apresenta as di%culdades e necessidades locais. A intenção é nortear a busca por projetos e planejamentos para cresci-mento e desenvolvimento. Não há desen-volvimento sem energia adequada.
O que o plano mostra sobre o Vale?
Redecker – Observando as caracterís-ticas de cada região, vemos que o Vale do Taquari tem uma posição diferenciada. Fica claro que não existe, por exemplo, um potencial eólico de destaque e que o potencial solar, fotovoltáico, é semelhan-te ao de outros locais. Mas a região tem um potencial grandioso para a ener-gia hídrica. Apesar das características favoráveis por natureza para a criação de PCHs, esse tipo de iniciativa sofre um desestímulo histórico do governo, principalmente com projetos que travam na Fepam. Todos os projetos inventaria-dos para o Vale fazem parte do Mapa. A região também tem um potencial de biomassa e biometano.
ENTREVISTA/ LUCAS REDECKER
“Não há desenvolvimentosem energia adequada”
A busca pela su%ciência energética
traz resultados para a região?
Redecker – Logo que abrimos a Secretaria de Minas e Energia, a primeira visita que recebemos foi da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), junto com outras entidades que vieram mostrar o potencial energé-tico da região e manifestaram a intenção de buscar autossu%ciência na geração. Na minha opinião, a su%ciência não evita %-car sem energia elétrica, porque, como o sistema é interligado, nem sempre o que é gerado acaba consumido localmente. Mas é importante como contribuição
ao sistema e no estimulo à geração de emprego e renda. Também assegura o crescimento econômico e o retorno %nanceiro para as regiões produtoras.
Quais as di%culdades burocráticas
A questão ambiental é um dos prin-
cipais impasses da área. Como superar
essas questões?
Redecker – Representa entraves, mas avançamos muito. A Fepam diminui o prazo do licenciamento e já conversa formalmente com o empreendedor. An-tes, o empreendedor sequer tinha com quem falar e hoje você marca uma hora e
fala diretamente com o responsável pelo licenciamento. A recriação da Secreta-ria de Minas e Energia estimulou esses avanços e não tenho dúvida que teremos mais progressos em breve.
Qual o tempo médio para a execução
de uma usina?
Redecker – Não é uma questão de curto prazo. Depois de conseguir os licenciamentos ambientais e as outorgas da Aneel, tem o processo de construção até iniciar a produção e a negociação de venda. Em relação às PCHS, não temos como dar um prazo exato. Tivemos a inauguração da Cazuza Ferreira por par-te da Certel, cujo processo de agilidade foi atípico. Mas, muitas vezes, o prazo é mais dos investidores. Quando ele vê que o mercado não está interessante, ele segura o projeto. Quando vê que o mercado está positivo de novo, pede novamente por agilidade.
Qual potencial identi%cado pelo
Mapa Energético para a produção de
energia alternativa no Vale?
Redecker – A biomassa e o biometano são dois potenciais muito próximos e podem ser usados na mesma matriz para produção. O projeto de biometano da Sulgás vai garantir a compra por 20 anos. As regiões com maior potencial são os vales do Taquari e do Caí. Nelas, temos alta concentração de suinocultura, avi-cultura e bacia leiteira. Também vamos lançar o atlas do biometano no estado, que dará garantia para o investidor sobre as regiões mais propícias para investi-mentos. Hoje, os produtores sofrem por-que não têm o que fazer com os dejetos, o que inviabiliza expansões. Com esse projeto, o dejeto terá valor agregado. O biometano será o grande potencial para gerar riqueza para o Vale.
Para Secretário de Minas e Energia, Lucas Redecker, mobilização regional é determinante
AI/GOVERNO DO ESTADO