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AJES - FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA BACHARELADO EM DIREITO ROSANGELA LONDERO HAAS REINCIDÊNCIA E A CRISE CARCERÁRIA NO BRASIL. CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA DE JUÍNA: UM MODELO DE GESTÃO VOLTADA À REINTEGRAÇÃO SOCIAL JUÍNA-MT 2017

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AJES - FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO DO VALE

DO JURUENA

BACHARELADO EM DIREITO

ROSANGELA LONDERO HAAS

REINCIDÊNCIA E A CRISE CARCERÁRIA NO BRASIL.

CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA DE JUÍNA: UM MODELO DE GESTÃO

VOLTADA À REINTEGRAÇÃO SOCIAL

JUÍNA-MT

2017

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AJES - FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO DO VALE

DO JURUENA

BACHARELADO EM DIREITO

ROSANGELA LONDERO HAAS

REINCIDÊNCIA E A CRISE CARCERÁRIA NO BRASIL.

CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA DE JUÍNA: UM MODELO DE GESTÃO

VOLTADA À REINTEGRAÇÃO SOCIAL

Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Direito da Faculdade AJES - Faculdade de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito sob orientação do Prof. Me. Caio Fernando Gianini Leite

JUÍNA – MT

2017

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AJES - FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO DO VALE

DO JURUENA

CURSO: BACHARELADO EM DIREITO

BANCA EXAMINADORA

________________________________

Professor Mestre Caio Fernando Gianini Leite

Orientador

________________________________

Professor Mestre Givago Dias Mendes

________________________________

Professora Mestre Larissa Copatti Dogenski

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Dedico este trabalho aos maiores amores da minha vida: Minha mãe, Dozolina Luiza Londero, por todo

incentivo e ensinamento ético e moral que moldou o meu caráter e às minhas filhas, razão dos meus dias, Maria Luiza Londero de Castilho e Cecília

Marcela Londero Haas Couto Cunha.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela vida e pela proteção celestial das pessoas que eu amo,

considero e estimo.

Agradeço, ainda, a todos os meus familiares por ser o meu alicerce, especialmente

minha mãe Dozolina Luiza Londero e irmã Rosane Londero Haas por sempre me

incentivar a estudar e lutar por dias melhores, vejo nessas duas fíguras o meu

melhor exemplo de mulheres guerreiras e de honestidade.

A minha filha, Maria Luiza Londero de Castilho, por ter compreendido a minha

ausência em alguns períodos da sua infância e adolescência. O caminho trilhado

para chegar até aqui se iniciou nos anos de 2006, foi grande o percurso em razão de

transferência de I.E.S, que infelizmente acarretou no não aproveitamento da grade

curricular dos dois primeiros anos de faculdade. Por nunca desistir de sonhar e

objetivando servir de exemplo para ela, reiniciei o curso de Direito no ano de 2012,

desta forma, somam-se bem mais de cinco anos de longas batalhas tendo que

dividir com ela todas as dificuldades e o tempo escasso em que me desdobrava com

o trabalho e com a faculdade. Foi o nosso amor que cada vez mais se fortaleceu e

sempre prosperou quem me ajudou a chegar até aqui.

Da mesma forma, agradeça a minha filha caçula, Cecília Marcela L. H. C. Cunha,

que veio ao mundo nos últimos três anos de faculdade, revitalizando minhas

energias, alegrando meus dias, completando uma família feliz.

Ao meu companheiro Edivaldo Ferreira Pereira e minha enteada Larissa Gomes

Pereira que nos últimos dois anos de faculdade vieram somar dias melhores em

minha vida.

Aos meus colegas e amigos, em especial Edson Alves Bezerra e Débora Schuab

Ribeiro que desde o início da faculdade estiveram presentes em meus dias, não só

na academia de Direito, mas compartilhando experiências e também construindo

laços de amizades e parcerias, que espero se estenderem por toda minha vida.

Aos meus colegas de trabalho agentes penitenciários do Centro de Detenção

Provisória de Juína, Bravo e Charlie, pela compreensão da minha ausência nos

plantões durante meus horários de aulas noturnas nos três últimos anos de

faculdade.

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Ao Senhor Diretor Hemerson Franquis Ferreira Belizário e sub Diretor Senhor

Izacjorgimar Nunes Fonseca do Centro de Detenção Provisória de Juína- MT pela

autorização dos levantamentos de dados da minha pesquisa de campo, que

contribuiu muito para entender a realidade do cárcere de Juína e assim poder

compartilhar conhecimentos com os estudiosos do Direito e afins.

Ao meu Orientador Professor Mestre Caio Fernando Gianini Leite pela atenção e

paciência no decorrer deste trabalho.

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“Conheça todas as teorias. Domine todas as técnicas, mas quando tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana.”

Carl Gustav Jung

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RESUMO

A presente pesquisa traz à contribuição de estudos sociológicos criminais cuja finalidade recai sobre as definições e processos de criminalização delineados pelo instituto da Reincidência frente a eminente Crise Carcerária brasileira. Vem demostrar a marginalização criminal a partir de teorias criminológicas, que, desde períodos remotos criou sistemas de justiça julgados adequados para cada período vivenciado na história. Traz, ainda, uma análise crítica da Crise Carcerária embasada em teorias de políticas públicas criminais, abordando sobre a Teoria da Tolerância Zero com reflexos nos problemas enfrentados pela crise, demonstrando a responsabilidade do Estado. Aborda a Teoria das Janelas Quebradas com uma sinuosa comprovação dos efeitos da omissão da Administração Pública frente ao domínio do poder que atualmente se encontra nas mãos das facções criminosas, denotando a dificuldade do Estado em acompanhar a evolução social na esfera criminal diante da conjectura da “modernidade líquida”, fruto de um capitalismo desenfreado. Com reflexões inerentes aos discursos dogmáticos da legislação penal no que concerne a criação do instituto da Reincidência, cuja finalidade é reprimir a prática de crimes, mas que acaba por provocar agravamento da pena, o que não parece viável diante da crise carcerária e falta da aplicabilidade das políticas de reintegração, resultando na prática a seleção, exclusão e etiquetamento do apenado que carrega consigo os estigmas sociais, mesmo fora do cárcere, o que justifica a Teoria do Labeliing Approach, também abordada na presente pesquisa. Além de tais lições teóricas o estudo vem demostrar por meio de pesquisa de campo os perfis dos recuperandos que se encontram segregados na unidade prisional de Juína, localizada no interior de Mato Grosso, cujo objetivo é levantar os problemas de um modelo de gestão voltado à reintegração social que procura cumprir os requisitos básicos da Lei de Execução Penal vigente, apesar dos ínfimos incentivos estatais.

Palavras-Chave: Crise Carcerária; Reincidência; Teorias Criminológicas; Facções Criminosas; Reintegração Social.

RESUMEN

La investigación directa para la investigación de estudios sociológicos criminales cuyo propósito cae en procesos y procesos de criminalidad por parte del Instituto de Recidivismo ante la Crisis de la Prisión Brasileña. Se trata de mostrar la criminalización penal de las teorías criminológicas, que, desde tiempos remotos, han creado sistemas de justicia adecuados para cada período experimentado en la historia. También trae un análisis crítico de la Crisis Carcerial basado en teorías de políticas públicas criminales, abordando la Teoría de la Tolerancia Cero con reflejos en los problemas que enfrenta la crisis, demostrando una responsabilidad del Estado. Se aborda la Teoría de las Ventanas Rotuladas con una sinuosa prueba de los efectos de la omisión de la Administración Pública frente al poder que está en manos de las facciones criminales, denotando una dificultad del Estado para acompañar al desarrollo social en el ámbito penal Esfera ante la conjetura de la "modernidad líquida", fruto de un capitalismo desenfrenado. Con reflexiones inherentes a los discursos dogmáticos del derecho penal, no es importante para la creación de una institución de reincidencia, cuyo propósito se reimprime en la práctica de los crímenes, pero que con el tiempo agrava la sentencia, lo que no parece factible en la El propósito de este documento es examinar la aplicabilidad del enfoque de etiquetado al enfoque de etiquetado y el enfoque de etiquetado del enfoque de etiquetado. Además de tener lecciones teóricas en el estudio, se verifica a partir de una investigación de campo con perfiles de recuperación, que están segregados en la unidad carcelaria de Juína, ubicada en el interior de Mato Grosso, cuyo objetivo es plantear los problemas de un modelo de gestión Dirigido a la reintegración Derecho a implementar los requisitos mínimos de la Ley de Ejecución Vigilancia Penal, a pesar de los índices de incentivos estatales.

Palabras clave: Crisis penitenciaria; Reincidencia; Teorías Criminológicas; Facciones criminales;

Reintegración Social.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01. Percentual de recuperandos condenados e provisórios do CDP de Juína...........................................................................................................................76

Gráfico 02. Percentual de recuperandos que cometeram crimes em local diverso a cidade de Juína ......................................................................................................... 77

Gráfico 03. Percentual de recuperandos por crime praticado .................................. 80

Gráfico 04. Percentual de recuperandos por seguimentos de crime praticado ........ 81

Gráfico 05. Grau de Instrução dos recuperandos do CDP de Juína ........................ 81

Gráfico 06. Profissão desempenhada pelos recuperandos do CDP de Juína, antes do cárcere. ................................................................................................................ 83

Gráfico 07. Percentual de recuperandos do CDP de Juína que têm filhos .............. 84

Gráfico 08. Percentual do número de filhos que possuem os recuperandos que são pais ............................................................................................................................ 84

Gráfico 09. Percentual de presos assistidos por advogado particular ...................... 85

Gráfico 10. Percentual de recuperandos assistidos pelo benefício do Auxílio Reclusão. .................................................................................................................. 85

Gráfico 11. Recuperandos que já contribuíram para a previdência com a anotação na CTPS .................................................................................................................... 86

Gráfico 12. Faixa etária dos recuperandos do CDP de Juína .................................. 92

Gráfico 13. Percentual dos recuperandos que se auto declararam brancos, pardos e pretos ........................................................................................................................ 92

Gráfico 14. Percentual dos recuperandos que possuem membro do seu convívio familiar preso ............................................................................................................. 96

Gráfico 15. Percentual de recuperandos que possuem família em Juína ................ 96

Gráfico 16. Percentual de recuperandos que recebem visitas ................................. 97

Gráfico 17. Percentual de recuperandos que participam de alguma política de remição da pena ........................................................................................................ 97

Gráfico 18. Percentual de recuperandos do CDP de Juína que são Reincidentes .. 99

Gráfico 19. Percentual dos recuperandos do CDP Juína que possuem maus antecedentes ........................................................................................................... 100

Gráfico 20. Percentual de recuperandos que trabalham ou estudam no CDP de Juína ....................................................................................................................... 103

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Gráfico 21. Percentual de recuperandos do CDP de Juína que laboram por seguimento .............................................................................................................. 105

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 12

2 BREVE CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA MARGINALIZAÇÃO CRIMINAL - DOS SUPLÍCIOS A REINCIDÊNCIA NA VISÃO DA CRIMINOLOGIA .................... 15

2.1 Considerações Iniciais – Síntese da Evolução Histórica da Punição através do Cárcere ............................................................................................................. 15

2.1.1 A Marginalização Criminal na Inquisição ............................................ 18

2.1.2 A Marginalização Criminal com Advento do Capitalismo no Estado Democrático .................................................................................................... 21

2.2 Reincidencia em uma Perspectiva Criminológica ........................................ 26

2.2.1 Conceito de crime na Etimologia da palavra ...................................... 26

2.2.2 Crime para o Direito Penal ................................................................. 27

2.2.3 Crime para a Criminologia .................................................................. 29

2.2.4 Crime para a Política Criminal ............................................................ 30

2.3 O Enfoque das Teorias da Pena .................................................................. 31

2.3.1 Teoria Absoluta da Pena .................................................................... 31

2.3.2 Teoria Relativa da Pena ..................................................................... 32

2.3.3 Teoria da Prevenção Geral da Pena .................................................. 33

2.3.4 Teoria da Prevenção Especial ............................................................ 34

2.4 Dos Antecedentes à Reincidência Criminal ................................................. 34

2.4.1 Conceito de Reincidência Criminal no Direito Penal Pátrio ................ 36

2.4.2 Classificação da Reincidência ............................................................ 38

2.4.2.1 Reincidência Genérica e Específica ........................................... 39

2.4.3 Aplicabilidade dos Antecedentes na Atualidade ................................. 40

3 REINCIDÊNCIA, POLÍTICAS DE TOLERANCIA ZERO, FACÇÕES CRIMINOSAS E SUAS RESPECTRIVAS CONTRIBUIÇÕES PARA A CRISE CARCERÁRIA NO BRASIL ...................................................................................... 42

3.1 Considerações Iniciais ................................................................................. 42

3.2 Teoria das Janelas Quebradas Em Uma Breve Reflexão das Políticas de Tolerância Zero..................... ................................................................................. 47

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3.3 Modernidade Líquida de Bauman em uma Analogia sobre as Facções Criminosas: Uma Prisão Além do Cárcere ............................................................. 51

3.4 O Labelling Approach ou Teoria do Etiquetamento do Delinquente ............. 66

3.5 A Política Carcerária e a Segurança Pública ............................................... 71

4 PESQUISA DE CAMPO: PERFIL DOS RECUPERANDOS - REINCIDÊNCIA E POLÍTICAS DE REINTEGRAÇÃO NO CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA DE JUÍNA/MT ........................................................................................................... 73

4.1 Considerações Iniciais ................................................................................. 73

4.2 Perfil dos Recuperandos em uma Análise sobre a Superlotação da Unidade Prisional de Juína ................................................................................................... 75

4.2.1 Acúmulos de Vulnerabilidades dos Recuperandos do CDP de Juína.. .90

4.3 Políticas de Reintegração Ofertadas aos Recuperandos do Centro de Detenção Provisória de Juína .............................................................................. 101

4.3.1 A Busca pela Reintegração Social ....................................................... 101

4.3.2 Políticas de Reintegração Social dos Recuperandos que Recebem o Benefício da Remição da Pena .................................................................... 102

4.3.3 A Importância da Psicologia e Assistência Social no Cárcere ............. 109

4.3.4 A Importância da Agente Penitenciário ................................................ 110

4.3.5 O Monitoramento Eletrônico ................................................................ 113

4.4 Possíveis Soluções para Evitar a Reincidência e a Crise do Sistema Carcerário ............................................................................................................ 115

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 117

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 121

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12

1 INTRODUÇÃO

Diuturnamente a discussão sobre a crise carcerária no Brasil é pauta nos

canais midiáticos, em especial pelos últimos motins ocorridos dentro das unidades

prisionais em decorrência da guerra entre as facções criminosas por território a ser

explorado pelo mercado de narcotráfico, demonstrando que há muito o Estado

perdeu o controle, fazendo com que o espaço de recuperação do segregado se

torne letra vazia da Lei, pois há um verdadeiro fracasso institucional instalado em

decorrência das inúmeras denúncias de maus tratos aos encarcerados, problemas

de superlotação nos estabelecimentos penais em nível nacional, além de problemas

na falta de estrutura predial, qualificação profissional dos servidores que têm

trabalhado em número reduzido acarretando uma série de outros problemas como,

por exemplo, o comprometimento na própria segurança dos recuperandos e dos

agentes prisionais que se tornam vítimas da luta pelo poder entre as gangues dentro

e fora do cárcere.

Fato é que o indivíduo preso, em que pese ter sua liberdade de locomoção

suprimida pelo período em que deve cumprir a pena, não deveria perder a sua

dignidade humana, devendo o Estado garantir-lhes o pleno exercício aos seus

direitos constitucionais, direito à liberdade religiosa, liberdade de expressão,

liberdade de reunião com o seu advogado (seja este público ou privado) em espaço

adequado para que este promova a defesa dos seus direitos, direito à visitação,

recreação, lazer, alimentação, saúde, trabalho, estudo, dentre outros, o que na

prática não tem ocorrido em razão dos problemas apresentados.

Nesse cenário, surge à necessidade de uma breve reflexão sobre as

políticas de tolerância zero que se traduzem em Leis mais rígidas que têm produzido

um vertiginoso aumento no número de indivíduos encarcerados a cumprirem penas

cada vez maiores, discutir, ainda, sobre o aumento da criminalidade que tem se

mostrado pela presença de facções criminosas dentro e fora dos estabelecimentos

penitenciários, abordando sobre o número de indivíduos que voltam à prática

delitiva, pois o número de reincidência demonstra se o caráter de recuperação e

transformação do indivíduo criminoso dos quais se reveste a legislação pertinente

não tem sido alcançado, afinal, tais fatores têm sido determinantes para a crise

carcerária do país, razão pela qual se buscou estudar em especial a situação

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carcerária em que são aprisionados os recuperandos no município de Juína, Estado

de Mato Grosso, para averiguação de como tem sido enfrentado toda essa

problemática que envolve o cárcere local.

Serão observados com afinco os problemas aos quais estão expostos os

recuperandos desta unidade prisional, obervando o perfil dos encarcerados e qual o

modelo de gestão tem sido adotado para efetivar o que preconiza a Lei de Execução

Penal objetivando a recuperação de fato dos segregados, preparando-os para o

retorno ao ceio social, fazendo-se uma breve análise quanto à finalidade da pena,

seus aspectos preventivos e punitivos, além de abordar sobre a reincidência do

indivíduo que se encontra segregado no Centro de Detenção Provisória Juinense,

que é sem dúvida, como dito alhures, o indicador de aferição quanto a sua

recuperação e/ou ressocialização.

Com efeito, a partir das sucintas ponderações pertinentes ao tema, buscou-

se discutir na presente pesquisa os inúmeros fatores que implicam na não

observância ao direito dos segregados, objetivando explorar neste material

monográfico a realidade do Centro de Detenção Provisória de Juína para averiguar

no caso concreto qual a real situação do cárcere e qual é o modelo de gestão

adotado visando à recuperação dos encarcerados, bem como verificar como tem se

dado no caso concreto toda a problemática que envolve a unidade prisional no que

concerne a reintegração social do indivíduo preso, se as medidas adotadas têm sido

eficazes e se os esforços voltados na gestão do cárcere são compatíveis e

suficientes para cumprir com o caráter recuperador da pessoa do segregado

conforme objetiva o ordenamento jurídico brasileiro, em especial no tocante a

aplicabilidade da Lei de Execução Penal.

O tema abordado no presente trabalho torna-se indispensável para se

entender o processo dinâmico em que vivemos enquanto sociedade e operadores

do direito. Da análise dos dados e das teorias que revestem o problema do cárcere é

que se pode ter uma visão clara de que não basta termos aparatos legais

garantidores de direitos aos segregados e revestidos de princípios para que a pena

possa servir de reprimenda e exemplo, considerando-se que de fato a pena possui

caráter preventivo e ressocializador. Quando se está diante da falta de estrutura

advinda da falta de investimento por parte do Estado ou os investimentos são

insuficientes, expõem os indivíduos a penalidade do esquecimento, o que

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rapidamente produz o surgimento de novas organizações dos segregados voltada a

proteção mútua e a promoção de práticas delitivas, fazendo com que a unidade

prisional se torne verdadeira escola profissionalizante da criminalidade.

Na realização do trabalho que fundamenta a presente pesquisa, foram

utilizadas análises de textos doutrinários com finalidade de respaldar o objetivo

pretendido, investigando opiniões dos estudiosos do ramo, além de estudos

documentais com dados extraídos a partir das fichas de qualificação de 212

(duzentos e doze) e 232 (duzentos e trinta e dois) recuperandos, catalogadas nos

períodos de março e abril de 2017, respectivamente. Os referidos levantamentos

documentais são oriundos de dados declaratórios que constam nos arquivos da

administração do Centro de Detenção Provisória de Juína, no estado de Mato

Grosso.

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2 BREVE CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA MARGINALIZAÇÃO CRIMINAL -

DOS SUPLÍCIOS A REINCIDÊNCIA NA VISÃO DA CRIMINOLOGIA

2.1 Considerações Iniciais – Síntese da Evolução Histórica da Punição

Através do Cárcere

De um modo geral a história nos conta que a reprimenda através do cárcere

já existia por volta de 1700 a.C, conforme se extrai de diversas passagens bíblicas1,

a demonstrar que durante todo o período de evolução da humanidade a pena de

prisão sempre aparece até mesmo como forma cultural do homem, pois este possui

consigo a costume punitivo.

Como bem pontua Noronha2, nos primórdios da humanidade as penas

continham requintes de crueldades para retribuir a agressão provocada pelo agente

delitivo, não havia proporcionalidade na pena aplicada e muito menos se pensava

em justiça. Esse período primitivo do cárcere se dividiu em dois períodos: período

conhecido como consuetudinário ou reparação, período no qual o homem se valia

da autotutela, ou seja, o homem era punido pelas vinganças privadas, divinas e

públicas, período conhecido também pela Lei de Talião, do olho por olho e dente por

dente; O outro período era conhecido por Direito Comum, proveniente da

combinação do Direito Grego, Romano, Germânico e Canônico, cujo objetivo das

reprimendas era a intimidação e expiação.

Sem intervenção estatal, imperava nesta fase a lei dos mais fortes sobre os

mais fracos, era escolhida pelo ofendido a forma de penalizar o ofensor. A fase da

vingança privada era caracterizada por uma espécie de guerra particular que

dizimava toda a família do ofensor, que retribuía da mesma forma até que houvesse

um derrotado, sendo considerado como derrotado aquele que desistia primeiro da

guerra privada. Ainda como forma de castigo, o ofensor era banido da vida em

1 Como por exemplo, às passagens nos livros de Lucas capítulo 4, versículo 18-19; Êxodo, capítulo 3,

2 NORONHA, Edgar Magalhães. Direito Penal. 39ª edição, volume 1. São Paulo: Rideel. 2009, p.84.

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16

sociedade, passando a viver isoladamente e sofrendo as adversidades da vida

solitária que culminava em sua morte em decorrência de ataques de tribos rivais3.

Posterior as penas de vingança privada, surge as penas sacerdotais como,

por exemplo, a pena de Talião, conhecida também como lei de retaliação, Código de

Hamurábi e Código da Babilônia no século XVIII a.C4. A punição cabia ao Sacerdote

que reprendia severamente o ofensor, pois todas as ofensas criminosas eram

consideradas como sendo contra as divindades, o que justificava a aplicação de

castigos de extrema crueldade. Neste período o objetivo das penas aplicadas era

não só o caráter preventivo contra novos crimes como também a proteção e

segurança do príncipe ou soberano. O intuito era a intimidação e expiação de

preceitos que enraizavam na sociedade demonstrando que a ideia punitiva era

forma de satisfazer os princípios religiosos e reafirmar o poder do soberano e da

igreja.

Conforme leciona Mirabete5, após este período de barbáries como forma

punitiva, houve um processo evolutivo da sociedade de forma que as penas

perderam o aspecto religioso. Em que pese esse período sangrento justificado pelos

preceitos religiosos do período inquisitorial que estudaremos mais adiante, no

período do século XIII ao século XVIII a igreja católica teve uma indiscutível

importância na evolução das penas, pois surge na idade média um marco para o

direito punitivo, o chamado direito canônico que objetivou pleitear a humanização

das penas aplicadas.

Como defesa do segregado a igreja católica defendeu o fato de que o

indivíduo que comete atos criminosos não o faz com caráter pessoal ou social, mas

sim um desvio de conduta pela sua fraqueza enquanto ser humano.

Essa trajetória histórica sobre a aplicação de penas culminou em nosso

estado atual onde o Estado tomou para si o poder/dever de dizer o direito, de forma

3 TEIXEIRA, Sérgio William Dominges. Estudo sobre a evolução da pena, dos sistemas prisionais

e da realidade brasileira em execução penal. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2008, p.216. 4 Ibidem, p. 217.

5MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal: comentários à lei nº 7.210, de 11-7-1984. 11. ed. rev. e

atual. até 31 de março de 2004. São Paulo: Atlas, 2004, p.21.

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a deter exclusivamente a ius puniendi6, limitando a autodefesa do indivíduo, vedando

a autotutela.

Se for possível dizer que o homem em seu estado de natureza7 é

completamente incapaz de pacificar o convívio social, dirimindo os conflitos sem a

degradação que impossibilita a segurança de que deve gozar uma sociedade

organizada, menos verdade não seria atribuir ao Poder Punitivo o mérito da força do

monstro Leviatã de Thomas Hobbes8, que como figura representativa do Estado

toma pra si a tarefa do domínio e da força necessária para à resolução dos conflitos

cotidianos, tudo sobre o prisma da legalidade, pois como bem pontua Beccaria9,

somente as leis devem fixar penas para os delitos, pois o contrato social que une a

sociedade é que determina a competência do legislador para a criação de penas e,

para que cada pena não tome forma de vingança de um ou de muitas contra um

cidadão privado, as penas devem ser rápidas, públicas, proporcional ao crime

cometido, necessárias e ditadas previamente por leis.

Essencialmente, ser um Estado dotado de Soberania é tomar para si o ius

puniendi e conceber o direito penal como sendo, nas palavras de Ferrajoli10, um

“sistema racional de minimização da violência e do arbítrio punitivo, bem como da

exponenciação da liberdade e da segurança dos cidadãos.” Desta forma, o Estado

regula a vida em sociedade, pois em tese possui poder suficiente para manter a

ordem, prevenindo conflitos por meio de normas regulamentadoras que promovem a

estabilidade da sociedade ao dispor de um ordenamento jurídico que contemple

6FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução Ana Paula Zomer Sica,

Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares, Luiz Flávio Gomes. 3 ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p.326. 7Teoria de Thomas Hobbes, em “O Leviatã” conclui que partindo do princípio de que os homens são

egoístas e que o mundo não satisfaz todas as suas necessidades, as lutas ocorrem porque cada homem persegue racionalmente os seus próprios interesses, sem que o resultado interesse a alguém, diferentemente o que ocorre quando o Estado age tendo como objetivo primordial o bem comum. (CASTELO BRANCO, Pedro Hermílio Villas Bôas. Poderes invisíveis versus poderes visíveis no Leviatã de Thomas Hobbes. Rev. Sociol. Polt. nº23, Cuitiba:2004, ISSN 1678-9873 versão online, disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-44782004000200004, acesso em: 19.05.2017.) 8 Escritor Clássico da Ciência Política que apresentou em sua obra “O Leviatã (1587-1666)” a teoria

do contrato social como objetivo de paz, através do qual temos que aceitar abandonar a nossa capacidade de atacar os outros em troca do abandono pelos outros do direito de nos atacarem. Utilizando a razão para aumentar as nossas possibilidades de sobrevivência. O leviatã é a figura representativa do Estado para Hobbes. (Ibidem) 9BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Tradução José Cretella Junior; Agnes Cretella. 2.

ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p.21. 10

FERRAJOLI, op. Cit., p.316.

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18

normas que apresente modelos de conduta, castigando e/ou punindo quem quebrar

as regras normatizadoras da justiça de modo intolerável.

Em tempo, esclarece-se que não é a intenção o esgotamento total do

contexto histórico que envolve o direito penitenciário, pois não é o objetivo primordial

deste trabalho. Contudo, não se furtando em trazer à baila alguns aspectos

históricos de maior relevância, segue o desdobramento do estudo sobre a

marginalização do segregado nos períodos inquisitorial e no capitalismo para uma

melhor compreensão sobre o tema.

2.1.1 A marginalização Criminal na Inquisição

A prática judicial da inquisição11 veio substituir a luta ou a disputa como meio

antes considerado natural de resoluções de conflitos entre duas pessoas ou grupos

de pessoas do modelo de justiça privada.

Surge, neste contexto, um poder centralizado e burocratizado, adotando um

novo modelo punitivo que substituía a luta e o Estado na figura do monarca e suas

burocracias passando a confiscar os conflitos na justificativa de que o dano

prejudicava o soberano e o que importava era a indisciplina, a desobediência, a falta

de respeito para com a lei do soberano.

Nasce então a figura do “procurador do rei12” que era responsável pela

expropriação do conflito, pois o procurador duplicava a vítima e o ofensor era

anulado, tido como um objeto (réu) da indagação. Dessa maneira se afirmaria a

exclusão do acusado como sujeito do processo, tanto durante a investigação quanto

no momento de influenciar na decisão. O acusado deixa de ser o sujeito da relação

e passa a ser um objeto da mesma, dele se extraindo a “confissão”.

Para a prática da confissão adotava-se a tortura sob a justificativa do juízo

de Deus, constituindo-se assim uma modalidade de atuação do Estado através de

modos opressivos. O Direito baseava-se do limite e da justificativa, porém do direito

11

ANITUA, Gabriel Ignacio. Histórias dos Pensamentos Criminológicos. Tradução de Sérgio Iamarão. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2008, p 45. 12

Procurador do rei era um personagem que aparecia em nome do rei, sempre que ocorresse um crime, como o danificado, retirado dessa situação a vítima do dano real de desobediência ao poder religioso ou político da época. (ANITUA, op Cit., p. 45).

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19

canônico que havia guardado algo da racionalidade de Estado do império Romano e

também de seus métodos hierárquicos que não havia sido modificado até então.

Foi Inocêncio III, Papa de 1198 a 1216, quem modificou o direito canônico

da época, direito este tido como base do limite e da justificativa, introduzindo a

Inquisição juntamente com a organização do papado, visto como uma monarquia.

A inquisição tinha como objetivo burocrático investigar a má conduta dos

clérigos, expressa no afastamento da ortodoxia. Esse foro especial foi assumindo

poderes crescentes ao interpretar os motivos que obrigavam a atuar em outros

casos de heresia.

Praticava-se a indagação para obter confissões como métodos e práticas

habituais de assegurar a disciplina, inicialmente pública, e depois secretas. As penas

eram cruéis e desumanas, como cita Foucalt13 em sua obra numa passagem de

suplício público de um delinquente:

[Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão publicamente diante da porta principal da Igreja de Paris, levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa e duas libras; na dita carroça, na Praça da Greve, e sobre um patíbulo que aí era erguido, atezanado nos mamils, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimava com fogo de enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos as cinzas e suas cinzas lançadas ao vento.

Com base nos suplícios públicos é quase impossível imaginar as torturas

secretas perante os Sacerdotes Confessores, que regulavam as penitencias de

acordo com a personalidade do delinquente e utilizavam do domínio do corpo

individual à confissão, de modo a satisfazer os próprios interesses políticos da

Igreja, que nesse período dominava o Estado.

Assim dispõe Anitua14; “Este domínio sobre o corpo individual estava

associado ao domínio do corpo social, da mesma forma que a “censura” está

relacionada ao censo”. Uma cidade em destaque foi Veneza, que organizou uma

justiça inquisitorial e que no ano de 1516 construiu um recinto amuralhado para

13

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. 42. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014, p. 9. 14

ANITUA, op. Cit., p. 50.

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20

manter encerrados os judeus em um bairro ao qual recebeu o nome de “Gueto”15,

um modelo de estigmatização e exclusão social conhecido até os dias de hoje.

Os crimes comuns dos períodos Inquisitórios eram os que consideravam

desordem dos dominicanos, ou seja, os criminosos eram os que iam contra os

princípios da igreja na luta contra o pecado, identificados como crimes de lesa-

majestade, da heresia16.

A heresia somava aos “estigmas” de judeus ou leprosos e de mulher como

“bruxa”, essa por sua vez estigmatizada pelo “suposto mal cósmico” e “crime

nefando”, considerado este último como sendo crime de manter relação sexual com

o demônio. Todos considerados hereges deveriam ser perseguidos ou eliminados da

sociedade.

Todas essas formas de discriminação e perseguição da igreja católica

mantinham-se pela intenção de não desconstruir os conceitos de governo e formas

de se manterem no poder através dos princípios religiosos, que se confundiam com

as normas e constituições de crimes da época.

A inquisição durou quase um século de horrores e barbáries e foi aos

poucos perdendo espaço para um modelo mais humano de punir os crimes.

Segundo Foucault. 17

Menos de um século na Europa e nos Estados Unidos foi redistribuída, toda a economia do castigo. Época de grandes escândalos para a justiça tradicional, época dos inúmeros projetos de reformas; nova teoria da lei e do crime, nova justificação moral ou política do direito de punir; abolição das antigas ordenanças, supressão dos costumes; objetos ou redação de códigos “modernos”: Rússia, 1769; Prússia, 1780; Pensilvânia e Toscana, 1786; Áustria, 1788; França 1791, Ano IV, 1808 e 1810. Para justiça penal uma nova era.

Assim a transição do estado Absolutista onde a soberania e a autoridade se

concentravam entre Reis, Papa ou imperador, que poderiam ditar as regras tanto

das leis existentes quanto as consuetudinárias, o poder de domínio implicava a

capacidade de transformação social.

15

Gueto um local onde vivem os membros de uma etnia ou outro grupo minoritário, devido a injunções, pressões ou circunstâncias econômicas ou sociais. 16

Como por exemplo, a promoção da igualdade dos bens, a liberdade sexual, a crítica às crenças católicas, dentre outros. 17

FOUCAULT, Op. Cit., p 13.

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21

É preciso considerar que a ordem nessa época era mantida pela pena que o

corpo carregava, mas para isso era necessário um ritual18, um elemento na liturgia

punitiva que consistia em: ser marcante para a vítima, na função de purgar o crime

não de conciliar, era traçados sinais no corpo do condenado que não se apagavam a

memória dos homens e nos casos mais sérios os suplícios eram realizados mesmo

depois da morte do condenado, como um suposto castigo para alma, como, por

exemplo, jogar o corpo ao fogo depois as cinzas ao vento. Tal ritual pós-morte era

utilizado para demonstrar a sociedade daquela época que a justiça tinha o poder de

perseguir o corpo mesmo depois da morte.

Os suplícios do corpo também continuaram no século XVIII, que aos poucos

foi dando espaço a ordem econômica com a formação do capitalismo e agora a

marginalização de indivíduos que não conseguiam se adaptar com a nova realidade.

2.1.2 A Marginalização Criminal com advento do Capitalismo no Estado

Democrático

Foi Século XVIII19 na Europa que se produziram as mudanças mais

importantes na forma da política e no concreto da política criminal, que perduram até

hoje no Estado democrático.

As mudanças tiveram origem naquele importante momento histórico:

“Capitalismo”, “Estado”, ”Monarquia”, dentro do paradigma de soberania - que se

manteve até a abolição das monarquias, a partir do século XVIII.

A “burocracia” como governo nas mãos de especialistas e um novo

desempenho de poder nas mãos do Estado, que com as noções do delito e de

castigo, conformou o poder punitivo estatal, conhecido como ius puniend.

Expõem os historiadores marxistas, com atenção no estudo, que a partir da

Idade Média, com o surgimento das cidades e o modo de produção capitalista se

iniciou a formação do capitalismo e a superestrutura integrada pelo Estado e o

Direito.

18

Ibidem, p. 37. 19

ANITUA, op. Cit., p 37.

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22

Houve uma ruptura da ordem econômica feudal e da forma de apropriação

da mão de obra que produziu um excedente de população marginal, um

despovoamento do campo e um êxodo de proporções imensuráveis para as áreas

urbanas, que começaram a criar suas próprias leis apropriadas do avanço

econômico da burguesia, e das novas necessidades de controle social urbano.

No que se refere à questão criminal passou a ser segregativa e excludente.

Algumas destas cidades converteram-se em verdadeiros Estados, como Florença

que centralizou o poder político e consolidou a “Academia” de intelectuais, que no

final do sec. XVIII, responsáveis pela constituição de um sistema de justiça penal

estatal, construíram um dos primeiros presídios moderno no ano de 1301, chamado

Le Stinche.

Nesse período o modo capitalista de produção, segundo Anitua20, reproduzia

que os poderes econômicos e políticos seguiam misturados para poder impor o

mercado e surgia necessidade de se criar novos Estados.

Desta forma, muitas cidades não aceitavam esse domínio de submissão e

se manifestavam através de rebeliões, que ganhou destaque a “Comuneras de

Castela” que ocorreu pelo período de 1520 a 1522.

Mesmo antes do Século XVIII foi um exemplo de resistência e do triunfo

definitivo do poder absolutista da monarquia, dando ênfase ao poder punitivo e o

processo de centralização monárquica que passaram a ser conhecidas como

“capitais”, em que só os reis ou imperadores podiam erguer forças. Até hoje são

conhecidas como capitais pelo poder político e econômico que estas têm sobre as

cidades menores, conforme demonstra nessa passagem de Anitua21:

Neste novo período de renascimento urbano começaria outro longo período que parece ir suavizando os costumes e que pode ter engrenado a duvidosa assertiva durkheiminiana (...) ou de progresso (...). Se compararmos o mundo moderno e contemporâneo com o anterior, da época medieval, é plausível crer que a brutalidade e a violência estavam diminuindo. Isso é evidentemente contradito pelos grandes genocídios e mortes “industriais” provocados pelos “avanços” técnicos.

20

ANITUA, op. Cit., p 63. 21

Ibidem, p. 67.

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23

Diante de diversas mudanças em que o capitalismo e também a doutrina

católica passou a influenciar desde a Idade Média até os dias atuais, houve uma

seleção “natural” de indivíduos, porque nem todos conseguiam acompanhar os

processos de mudanças de leis e normas sociais, culminavam em meios às

infrações e desde então não conseguiam espaço na nova sociedade seletiva,

influenciados também pelo “Mundo das Aparências22” de Platão, com contribuição

dos reflexos estigmatizastes das cerimônias religiosas que empunha valores do

indivíduo pelos seus aspectos externos, contribuía assim com a marginalização dos

menos favorecidos economicamente.

Assim todas as transformações, tanto as sociais brevemente expostas, como

também as científicas, biológicas, filosóficas, dentre outras, influenciariam para

compreensão das mutações de leis, normas e condutas que refletem na

transformação direta do indivíduo diante das mudanças de paradigmas e conceito de

crime no decorrer da história.

A partir da revolução industrial do século XVIII, na Inglaterra, houve a

abertura para as grandes inovações tecnológicas substituía definitivamente a

manufatura, artesanatos e a economia de subsistência dos camponeses sem terras,

fazendo com que a nova forma de produção desenvolvesse as cidades, como por

exemplo, a de Londres, provocando um aumento explosivo do número de seus

habitantes sobre a ideia de desenvolvimento econômico da era do capitalismo

liberal.

Apresentada por Adam Smith23 em sua obra “A riqueza das nações”, o

empirista reformulou as justificativas do Estado e do mercado para as novas funções

sociais, pois na visão deste “se os interesses privados funcionassem em

circunstancia da economia perfeita, sem intervenção Estatal, seria melhor para toda

sociedade”, conforme esclarece Anitua24.

22

Platão escreveu a obra “A República” nela consta uma passagem que denominou como “O Mito das Cavernas” numa construção de que a realidade está nas ideias, no mundo real e verdadeiro, e hoje o homem vive no mundo da ignorância, apenas nas coisas sensíveis, ou seja, o homem vive no mundo das aparências e não da essência. 23

SMITH, Adam foi um economista e filósofo escocês. Considerado o pai da economia moderna. O mais importante teórico do liberalismo econômico do século XVIII. Sua principal obra "A Riqueza das Nações", é referência para os economistas. (BELL, John Fred. História do pensamento econômico. 2. ed. Rio de janeiro: Zahar Editores, 1976). 24

ANITUA, op. cit. p. 201

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24

Trata-se de um sistema de liberdade natural, no qual cada um contanto que não desrespeitasse a lei, deve ficar livre para perseguir a sua maneira, o seu próprio interesse e dirigir sua propriedade em concorrência com as dos outros; o governo limita-se a manter a segurança, a justiça, e “certas obras e instituições públicas”.(...) o objetivo seria de deixar a busca individual de privilégios em liberdade para dar lugar a uma ordem social “natural”, com o maior aumento das riquezas das nações.

Esse liberalismo, teoricamente “sem regras”, fez com que os que

possuíssem o domínio social em razão de suas riquezas saíssem beneficiados pela

elaboração das regras e leis do mercado, conhecido fenômeno intitulado de “mão

invisível”25 e, por outro lado à classe trabalhadora ou chamados proletariados eram

vitimas de exploração e de injustiças sociais.

As condições de trabalho que permitiam aumentar o lucro foram sub-

humanas, por exemplo, a exploração infantil no mercado de trabalho, o que

acarretou no surgimento de movimentos grevistas advindas de sindicalizações,

fazendo com que essas tais práticas “naturais” fossem declaradas ilegais.

A Revolução industrial provocou uma nova forma de exercer o controle

estatal através dos castigos e das penas, que deveria se dar aos grandes

contingentes humanos explorados nas fabricas como forma de castigos, privando os

trabalhadores de benefícios pessoais.

Assim, no século XIX, passou a existir uma nova forma de castigo, a pena

restritiva de liberdade criada pelo poder disciplinador do Estado devido à ascensão

da burguesia com posição vantajosa de poder de persuasão individual, como forma

de reprimir e tornar o homem um ser responsável e auto controlador guiados pela

doutrina de Locke26.

No fim do século XVIII e início do século XIX com as políticas penais

utilitárias e disciplinares onde ganhou destaque os pensamentos de Jeremy

25

A mão invisível do Mercado é um conceito criado pelo economista escocês Adam Smith, o pai do liberalismo econômico. É uma teoria que descobre uma lógica que explica que a economia capitalista se auto regula através do mercado através da liberdade de competição e da lei da oferta e da procura. Resumindo, é uma teoria que explica a auto regulação do mercado capitalista. (BELL, op. Cit. p.22) 26

LOCKE, fundador do empirismo e um dos principais teóricos do contrato social. Um dos objetivos de Locke é a reafirmação da necessidade do Estado e do contrato social e outras bases. Opondo-se à Hobbes, Locke acreditava que se tratando de Estado-natureza, os homens não vivem de forma bárbara ou primitiva. Para ele, há uma vida pacífica explicada pelo reconhecimento dos homens por serem livres e iguais.

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25

Bentham27 que trouxe uma nova forma de castigar que vai de encontro com as

transformações sociais, mudando conceitos de todo mundo ocidental, demonstrando

que a missão do cárcere deveria ser reformadora e de converter os indivíduos em

cidadãos.

Foi Benjamin Rush28 que organizou o Sistema Penitenciário e demonstrou

que a missão dos cárceres era converter os indivíduos em verdadeiros cidadãos,

capazes de dialogar com seus semelhantes. Assim dispõe Anittua29

Tanto o desaparecimento dos castigos como o surgimento da prisão foram explicados como produtos da mesma necessidade de existência da democracia liberal e igualitária nos Estados Unidos. O coetâneo da substituição dos castigos no suplício pela prisão e do aparecimento da democracia em um grau até então igualado- com referencia a algo mais que o Estado.

Com o surgimento do então Estado Democrático a pena passou a ter um

viés mais humanizado, abolindo-se o suplício e/ou às penas de castigo corporal,

sendo substituídos pelas penas privativas de liberdade, buscando-se pelo devido

processo legal que confere ao acusado o direito ao contraditório e a ampla defesa,

passando a serem aplicadas as penas com finalidade de reprimir o indivíduo para

que o mesmo possa refletir no crime que cometeu, e meditar sobre a sua punição.

É a experiência árdua da restrição da liberdade que deve ser vista como a

forma mais justa de arrependimento, também podendo ser exemplo para não

27

BENTHAM propôs o Panoptismo, foi autor de uma grande quantidade de inventos, de leis e passou a se dedicar a política depois que abandonou ainda jovem a profissão de advogado . Suas inovações no campo da política criminal tomaram corpo nas práticas policiais e penais de diversas partes do mundo. Assim seus projetos de códigos foram adotados por alguns estados dos EUA, que influenciaram legisladores de toda América Latina. (ANITUA op. Cit., p. 208). 28

RUSH, Benjamin foi defensor da abolição da escravidão. Defendeu que todos os seres humanos agem, regra ou instituição devem ser julgados de acordo com sua utilidade, ou seja, de acordo com o prazer ou o sofrimento que ocorrem em pessoas. Desde então simplificando um critério tão antigo quanto o mundo, pretende formalizar a análise de questões políticas, sociais e econômicos, com base na medição da utilidade da ação decisiva. Como irá instituir uma nova política, baseada no gozo da vida, não o sacrifício e no sofrimento. Um dos mais influentes médicos da história dos Estados Unidos, nascido em Byberry, Pennsylvania. Ele é conhecido como o pai da psiquiatria norte-americana em reconhecimento aos seus esforços para estabelecer tratamento humanos a doentes mentais. Seu Medical Inquiries and Observations upon Diseases of the Mind (1812) foi o primeiro trabalho em psiquiatria publicado nos Estados Unidos. Na política foi um dos signatários da Declaração de Independência. Foi membro do Continental Congress (1776-1777) e ministro do tesouro (1797-1813). (BUCK-MORSS, Susan. Hegel, Haiti and universal history. University of Pittsburg Press. Tradução de Sebastião Nascimento, Novos estud. – CEBRAP nº90, São Paulo, July de 2011. ISSN 0101-3300). 29

ANITUA, op. Cit., p. 204.

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26

reincidir. Almeida30 acrescenta que “é através desse mecanismo retributivo de

controle que o Estado visa resguardar a defesa social, ainda por imprimir um papel

preventivo, e inclusive ressocializador à pena, que optou por um tratamento mais

severo aos reincidentes”.

A finalidade então da penitência31 “seria educar e ressocializar”, o que

também ocorria na época do reino de Portugal ainda no século XVI, mesmo antes

dessa evolução, quando o reino enviava seus condenados às colônias africanas e

ao Brasil mediante uma pena denominada “degredo”, que não estava orientada tanto

para o aproveitamento dessa mão de obra, mas também para povoar os novos

territórios.

2.2 Reincidência Numa Perspectiva Criminológica

2.2.1 Conceito de Crime na Etimologia da Palavra

A etimologia da palavra crime32 considerando suas raízes latina e grega, não

significa propriamente o ato de infringir uma norma, mas o ato institucional judiciário

de julgar. A palavra latina crimen (-inis ) significava originalmente “decisão judiciária”,

e ela vem da palavra grega krimein, que quer dizer julgar, escolher, separar.

Nesse viés, a própria palavra crime, em sua etimologia, realça um caráter

conclusivo. A característica criminosa, reconhecida presente no comportamento, não

lhe é intrínseca, mas sim atribuída pela força da lei. O que existe realmente sem a lei

penal é o comportamento desviante, problemático e antissocial. Na atualidade o

sentimento etiológico volta à cena e se torna objetos de novos debates.

Para compreender a reincidência, torna-se imprescindível a análise e o

conceito de crime, voltados para a visão do Direito Penal, da Criminologia e para as

Políticas Criminais, numa análise democrática.

30

ALMEIDA, Débora de Sousa. Reincidência Criminal: Reflexões Dogmáticas e Criminológicas. Curitiba: Juruá Editora. 2012, p.33. 31

ANITUA, op. Cit., p. 229. 32

ALGUSTO DE SÁ, Alvino. Criminologia Clínica e Execução Penal. Proposta de um modelo de terceira geração. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 43.

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27

Na mesma toada, a partir da compreensão do que é crime trazer à baila a

finalidade da pena em ideologias de correntes teóricas e as consequências que um

indivíduo assume, por meio do modelo punitivo penal ao reincidir em crimes.

2.2.2 Crime para o Direito Penal

Segundo o Direito Penal o crime33 se ocupa da “Norma”, com finalidade

fortemente repressiva e protege bens relevantes por meio de sanção penal,

voltando-se unicamente com adequação do comportamento humano indesejado ao

tipo penal.

O Direito Penal define quais comportamentos devem ser rotulados como

crime ou contravenção, anuncia a pena com base no princípio da intervenção

mínima e não se realiza diagnósticos.

É a ciência do dever ser, axiológico/valorativo, possui método lógico e

abstrato, também dedutivo, onde a conclusão é extraída de um raciocínio geral

desprovido de qualquer valor científico.

Deve ser levando em consideração que crime foi conceituado apenas no

Artigo 1º34 da Lei de Introdução ao código penal, e não no Código Penal

propriamente dito.

Segundo Zaffaroni35 utilizando o plano do Direito Penal brasileiro, crime é

toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídico

legalmente tutelado, sendo no campo jurídico trabalhado em três ramos: material,

formal e analítico.

Na concepção material nasce em razão da ofensa ao bem jurídico, do dano

na perspectiva social que desvaloriza a ação podendo resultar na postulação

33

Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal. Decreto – Lei Nº 3.914, de 09 de dezembro de 1941: “Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.” 34

Art. 1º Lei N. 3914 de 09 de Dezembro de 1941: Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. 35

ZAFFARONI, E. Raúl. et al. Direito Penal Brasileiro, segundo volume: teorias do delito: introdução histórica e metodológica, ação e tipicidade. Rio de Janeiro: Renan, outubro 2010, 1ª reimpressão, julho de 2013. p. 21.

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28

criminológica de um delito natural. Na concepção formal advém da norma penal

incriminadora, que define uma conduta como infração penal que tem como virtude

recordar o caráter discricionário da criação legislativa do delito, aplicando uma

sanção como consequência. Por fim, na concepção analítica oferece às agências

judiciais do sistema penal elementos mais precisos para, mediante um processo

legalmente estipulado, decidirem se habilitam ou não a passagem do poder punitivo

sendo então considerado o crime numa versão moderna analítica como fato típico,

ilícito e culpável.

Também a teoria analítica pode ser conceituada a partir da fragmentação do

crime em uma construção abstrata teórica. De acordo com a teoria majoritária o

crime é conduta típica, antijurídica e culpável, conforme dispõe Bissoli Filho36.

Esse conceito parte de uma dupla perspectiva, que se apresenta como um juízo de desvalor que recai sobre um fato ou ato humano e como um juízo de desvalor que se faz sobre o autor desse fato ou ato. Ao primeiro se chama injusto ou antijuricidade, e ao segundo culpabilidade. Como nem todo ato ou fato antijurídico realizado pelo autor culpável é criminoso, surge um terceiro elemento do conceito de crime, a tipicidade, em razão da seleção e descrição de condutas formuladas pelo legislador, às quais cominam pena, ante o princípio da legalidade (mullun crimen, nulla poena sine lege). Conde, 1988, pp.02-04.

Desta forma, as teorias do crime no viés analítico utilizado pela ciência penal

possui uma ação típica (ação ou conduta criminosa), antijurídica no sentido de

ilicitude que contraria as normas penal tipificado formalmente no Código Penal e

culpável, sendo considerada como aquele ação reprovável socialmente, no sentido

de haver ciência com culpa ou dolo que contrapõe as definições formais da

transgressão da norma.

Diante disso, torna-se possível compreender que a versão analítica do

crime, o que é aplicado no Brasil, traz ao sistema penal elementos seguros para que

a partir de um processo seja analisado se aquela conduta deve ser punível pelo

poder punitivo do Estado dentro da legalidade.

Vale ressaltar que no ordenamento jurídico brasileiro a terminologia

“antijurídica” com a reforma penal de 1984 foi substituída pelo termo “ilícita”,

36

BISSOLI FILHO, Francisco. Estigmas da Criminalização. Dos Antecedentes à Reincidência Criminal. Florianópolis: Livraria e Editora Obra Jurídica LTDA, 1998, p. 113.

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29

conforme preconiza o artigo 23 do Código Penal em que se usa o termo “exclusão

de ilicitude”.

É o direito penal quem cria o crime através do ato legislativo de cada modelo

social, cultural, ou período vivenciado, por meio dos valores sociais passíveis de

criminalizar os que transgredirem as normas impostas e é a criminologia que estuda

os fatos e consegue entender por meio da ciência empírica quais os motivos que

levam um indivíduo a praticar crimes e ainda reincidir criminalmente.

2.2.3 Crime para a Criminologia

Na visão da doutrina Criminológica37 o crime se ocupa do “Fato”, em que há

a necessidade de conhecer a realidade, voltada a diagnosticar o crime, o criminoso,

a vítima e o controle social.

Caracteriza-se como ciência empírica de caráter preventivo, possui um

conceito pré-penal, voltada para compreender os elementos criminológicos em que o

fato não pode ser algo isolado e sim há necessidade de haver uma reiteração de

fatos, com incidência maciça da população, assim como a incidência aflitiva do fato

praticado, aquele que causa dor na vítima ou na sociedade, ao passo que a dor

passa a ser a essência do crime e a persistência espaço temporal do fato, este deve

distribuir pelo território social e ao longo de um tempo ser juridicamente relevante,

dando o inequívoco consenso a respeito de sua ideologia e de quais técnicas de

intervenção passa a ser mais eficazes para combater o crime.

Com base no método empírico os estudos criminológicos são voltados a um

conjunto de dados de um fenômeno natural. Nessa perspectiva elabora uma teoria

ou chega a um resultado, que na verdade não é exato, porque ela busca entender o

homem como um ser natural, não traz informações pontuais, por se fragmentada,

não definitiva, que depende do vínculo social que esse homem natural esta inserido,

porém se envolve ao empirismo pautado na realidade.

Conforme Edwin Sutherland, citado por Anitua38, a “criminologia é o corpo de

conhecimentos que observa o delito como um fenômeno social. Inclui dentro dos

37

Ibidem, p. 21. 38

STHERLAND, Edwin. Apud ANITUA, op. Cit., p. 20.

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30

objetivos, os processos de elaborar leis, de descumprir leis e de reagir contra quem

descumpriu as leis”.

Hodiernamente, para a criminologia, o crime é considerado um fenômeno

social e comunitário. Social dada sua influência massiva na população, causando

latente insegurança e temor aos membros da sociedade. Comunitário por ter suas

raízes e soluções na própria comunidade, considera que a partir do momento que se

faz parte de determinada sociedade compete à coletividade buscar dirimir ou

combater a criminalidade, o que diferencia da visão do Direito Penal pátrio.

2.2.4 Crime para a Política Criminal

Para Ferri39 a Política Criminal não se trata de uma ciência, mas a arte do

legislador em utilizar as conclusões e as propostas que as Ciências dos crimes e

das penas lhe apresentam, adaptando-as as condições do país, segundo seu clima

histórico e social, pois na Política Criminal40 o crime se ocupa do “Valor”, conjunto de

princípios e estratégias, que visa diminuir os indícios da criminalidade, orienta o

legislador na construção de tipos penais com sugestão a melhor eficácia do aparato

Estatal. No mesmo sentido Amaral41 esclarece:

As estratégias e as ações que o Estado usa para afrontar a criminalidade são chamadas de políticas criminais, e estas se desenvolvem nos mais diversos âmbitos e graus de atuação. Podemos, por exemplo, falar em politicas criminais que são aplicadas já no âmbito da escola e da assistência social – sempre as mais eficientes de todas. Ou ainda, podemos ter políticas criminais realizadas através da promulgação das leis, das decisões do poder judiciário interpretando a lei penal, de ações administrativas dos Estados etc.

A política criminal baseia-se de ações preventiva e repressiva, a primeira

com finalidade de evitar a criminalidade, o que necessita de estratégias e incentivos

do Estado, e a segunda baseada nas formas de identificação do autor, vestígios,

39

FERRI apud BISSOLI FILHO, op.Cit., p. 54. 40

Políticas Públicas Criminais no sistema prisional visa à garantia da oferta das assistências previstas na Lei de Execução Penal, Lei nº 7210 de 11 de julho de 1984, demandam uma articulação institucional com coordenação e execução de atividades intra e intergovernamental. (CARDOSO, Maria Cristina Vidal. As assistências previstas na Lei de Execução Penal: uma tentativa de inclusão social do apenado. SER Social, Brasília, v.11, nº23, pag. 106-128, jan/jun/2009). 41

AMARAL, Cláudio do Prado. Políticas Públicas no Sistema Prisional – Belo Horizonte: CAED-UFMG, 2014. v.1, p.11.

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31

condenação e execução na tentativa de satisfazer o valor da pena aplicada com

intenção de prevenir a reincidência.

2.3 O Enfoque das Teorias da Pena

Para adentrar no patamar da reincidência, é necessária uma breve

referência da finalidade da pena, através de teorias que foram levantadas ao longo

da história a partir de uma visão criminológica, que estuda tanto o crime (concepção

clássica) quanto o criminoso (concepção positivista).

2.3.1 Teoria Absoluta da Pena

Teoria da pena absoluta42 ou retributiva advém do pensamento do livre-

arbítrio do indivíduo (possui a livre escolha de cometer o crime). A referida teoria

considerou a pena como um castigo merecido ao indivíduo quando este rompe com

o “contrato social”, sendo a pena uma forma de punição para aquele que descumpre

a ordem jurídica estabelecida pela sociedade, na forma de justiça pela razão.

Kant43 seguindo o princípio de Talião acreditava que a pena era um

imperativo categórico do crime, Hegel na lógica da negação da negação, acreditava

que a pena era uma negação do fato criminoso, por sua vez negação do Direito.

Desta forma, a teoria absoluta trouxe o princípio da culpabilidade como pressuposto

e medida da pena, e essa teoria se opõe a crença da ressocialização se tornando

socialmente negativa, pois para Kant a pena nega a legitimidade de qualquer função

preventiva, onde punir o condenado para prevenir crime se equivale a

instrumentaliza-lo, o que viola a sua dignidade humana. No mesmo sentido Bissoli

Filho44 explica o pensamento de Kant:

É sobre tais pressupostos que, segundo Kant, se funda a pena como retribuição, no sentido que não pode este nunca aplicar-se como um simples meio de procurar outro bem, nem ainda em benefício do culpado ou da sociedade, senão que deve ser sempre contra o culpado pela só razão

42

São defensores das teorias absolutas Carrara, Petrocelli, Maggiore E Bettiol na Itália, Oton Oneca na Espanha; Welzel, Mezger, kant e Hegel na Alemanha. (GOULART apud ALMEIDA, op. Cit., p. 27-34). 43

ANITUA, op. Cit, p.230. 44

BISSOLI FILHO, op. Cit. p. 143.

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de que tenha delinquido, porque jamais um homem pode ser tomado como instrumento dos desígnos do outro, nem ser contado no numero das coisas como objeto do direito real.

Considerando o indivíduo culpado, a teoria absoluta prega que o individuo

deve ser punido mesmo sem analisar as circunstancias que o levou a decidir praticar

o crime, ignorando inclusive o fato da influencia que a sociedade tem sobre o ato

delituoso, considerando que a vontade do indivíduo depende única e exclusivamente

da sua conduta moral.

2.3.2 Teoria Relativa da Pena

Voltada para a prevenção geral e especial, cujos objetivos são intimidar a sociedade e o indivíduo respectivamente, a Teoria relativa da pena45, também conhecida como prevenção de integração, se preocupava como a prevenção de novos delitos, visando à restauração da ordem jurídica. Nesse sentido explica Almeida46:

No que tange a prevenção geral, é cediço que compreende a prevenção geral negativa e prevenção geral positiva. Consoante à prevenção geral negativa, a pena em abstrato funciona como uma ameaça que intimida o impulso criminoso, pois quanto mais dura, mais intimida o impulso criminoso, pois quanto mais dura, mais intimidadora será. Ao atuar nesse sentido, desmotivaria a prática de novos delitos, conduzindo o homem enquanto integrante da coletividade a sopesar as próprias ações por intermédio da razão. A prevenção geral positiva, por seu turno, visa reforçar a confiança da norma que orienta o convívio social.

Na teoria relativa à pena tenta intimidar de forma geral a sociedade e

especial o indivíduo, no sentido de quanto mais rígida a pena for maior será a ordem

social, e assim o homem deverá escolher através da razão ciente de que o resultado

do seu ato ilícito será punido numa forma severa voltada na tentativa de coibir a

prática de novos crimes, com a finalidade de que a sociedade se mantenha

organizada.

45

Dentre os defensores da Teoria relativa ou utilitária encontram-se Beccaria, Filangieri, Bentham, Feuerbach e Carmignani, da Escola Clássica, assim como Lombroso, Ferri e Garófalo, da escola Positivista. (GOULART apud ALMEIDA, op. Cit., p. 27). 46

Ibidem. p. 29.

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33

2.3.3 Teoria da Prevenção Geral da Pena (negativa ou positiva)

Nessa corrente os efeitos da pena se voltam ao alcance de modo geral,

podendo esses efeitos incidir de forma negativa ou positiva.

Conforme leciona Bissoli Filho47 na teoria da prevenção geral negativa, os

destinatários da pena são os infratores potenciais. A utilidade da pena é a

intimidação ou a dissuasão neles provocadas pela mensagem (ameaça) contida na

lei penal, em especial pela cominação da pena em abstrato, que estaria então

dirigida a criar uma contramotivação ao comportamento contrário à lei.

Acredita-se que a pena em abstrato, ou seja, o período que o indivíduo vai

pagar pelo crime, deve ser rígido, extenso, pois quanto maior o lapso temporal maior

será a reflexão para o não cometimento de novos delitos, evitando-se desta forma a

reincidência.

Por outro lado, à teoria da prevenção geral positiva, preconizada pelo

sociólogo positivista Emile Durkheim e sistematizada pelo jurista alemão Gunter

Jakobs, sustenta partindo de uma perspectiva sistêmica do também jurista alemão

Niklas Luhmann, consultada na obra de Bissoli Filho48, que a função da pena não

constitui a retribuição de um mal com um mal, como também não é dissuasão

(prevenção negativa), sendo sua função primária a prevenção positiva.

Assim, como instrumento de prevenção positiva, ela tende a restabelecer a

confiança e a consolidar a fidelidade ao ordenamento jurídico, em primeiro lugar na

relação com terceiros e, possivelmente, também em relação ao autor da violação.

A pena é prevenção integração no sentido de exercitar o reconhecimento da

norma e a sua fidelidade frente ao direito por parte dos membros da sociedade. O

delito é uma ameaça à integridade social e à estabilidade social, enquanto constitui

a expressão simbólica de uma falta de fidelidade ao direito. Esta expressão

simbólica faz estremecer a confiança institucional e a pena é, por sua vez, a

expressão simbólica oposta à representada pelo delito.

47

BISSOLI FILHO. op.Cit., p.145. 48

Ibidem. p. 147.

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34

2.3.4 Teoria da Prevenção Especial (negativa e positiva)

A teoria especial tem a finalidade de impedir que o autor do crime venha a

praticar novos delitos que segundo Ferri citado por Bissoli Filho49 destaca que:

É um erro clássico considerar que a prevenção geral é força predominante da pena. Ao contrário, diz não só para cada delinquente descoberto e condenado, mas também para a opinião pública, a influência inibitória da pena está na concreta aplicação, isto é na prevenção especial e, complementa, a pena individualmente aplicada não pode ter senão uma destas finalidades: 1) tornar inócuo o delinquente incorrigível e incurável; 2) reeduca-lo, se emendável e curável, pra a vida social. Se o fim de prevenção de novos delitos forem alcançados através da primeira posição, estamos diante da prevenção especial negativa; se for através da segunda, estamos diante da prevenção especial positiva.

A prevenção especial negativa observa apenas a pura aplicação da lei, por

meio da intimidação, se a pena for individualmente aplicada sem outras formas de

reabilitação. Já na prevenção especial positiva, a pena deve ter a possível finalidade

de recuperar o indivíduo, para isso é preciso outros meios através do qual o Estado

poderia auxiliar.

2.4 Dos Antecedentes à Reincidência Criminal

Antecedentes e reincidência são categorias que possuem características

próprias, com tratamentos especiais e efeitos distintos dentro do sistema penal; a

reincidência considera-se espécie e antecedentes50 o gênero.

49

FERRI apud BISSOLI FILHO, Ibidem, p.147. 50

Nesse sentido, vale transcrever as lições de BISSOLI FILHO: “Tais situações consideram-se antecedentes para a dogmática penal: a) Inquéritos policiais arquivados (...); b) Inquéritos policiais em tramite; c) inquéritos policiais em julgamento da extinção da punibilidade do indiciado (...); e) processos judiciais já julgados com absolvição decretada por insuficiência de provas (...); f) processos judiciais já julgados com condenação em primeiro grau não transitada em julgado (...); g) processos judiciais com julgamentos da extinção da punibilidade do acusado (salvo se for motivada por prescrição de pretensão executória, por não impedir esta os efeitos da reincidência) (...); i) processos administrativos ou ficais em trâmite ou arquivado (...); j) infrações disciplinares civis ou militares (...); l) processos civis de suspensão ou de destituição do pátrio poder, tutela ou curatela (...); m) condenações em processos civis de separação judicial ou divórcio (...); o) processos de apuração de ato infracional tramitados perante ao juízo da infância e juventude (...); p) a inclinação ou repugnância para o trabalho ou outras atividades honestas, a conduta como pai, esposo, filho, e amigo, as relações sociais, atenção manifestada no lar, assistência e carinho dispensados a família. (...), (Ibidem, p. 63).

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35

Os antecedentes foram tratados com valores relevantes a partir da

Consolidação das Leis Penais aprovado pelo Decreto n° 22.213 de 14 de dezembro

de 1932 no seu artigo 7º, § 1º, o acusado que não possuí caráter voltado ao crime,

considerando a sua individualidade, motivos determinantes e circunstâncias

amparados na legislação penal todos possibilitado a suspensão condicional da pena,

e caso contrario a revogação desta, mediante fato anterior ou posterior à mesma

suspensão.

Os antecedentes são relevantes nas decisões de aplicação da pena,

conforme explica Bissoli Filho51:

Os antecedentes passaram a figurar expressamente como fator relevante, passíveis de impedir a concessão do benefício da suspensão condicional da pena(...). Assim como o comportamento e a cessação da periculosidade do condenado passam a ser componentes de avaliação para fins de concessão do benefício do livramento condicional.

Desta forma é preciso entender que antecedentes são situações ou atos

comportamentais de um indivíduo, em que a sociedade não aprova, porém possui

uma classificação subjetiva para determinadas correntes, depende da interpretação

do aplicador da lei, que pode variar de acordo com o meio social que o individuo

está inserido. Reitera Bissoli Filho 52

O conceito inicial de antecedentes considere como tal qualquer situação (positiva ou negativa) que revele conduta, o comportamento anterior do autor do fato criminoso, ou os fatos ou episódios nos quais este tenha se envolvido (...) por se restringirem basicamente aos antecedentes “judiciais ou policiais”, acabam considerando apenas os maus antecedentes , uma vez que os registros existentes nas repartições públicas, mormentes das agencias judiciais e policiais, via de regra revelam o envolvimento do indivíduo em “fatos negativos”.

Pode se entender que antecedentes na dogmática penal dependem

basicamente dos registros policiais e judiciais, mas não são suficientes, pois um

indivíduo pode ter uma vida com muitas faltas morais ou desvios de condutas, mas

não significa que podem cometer crimes. Complexo embasar uma decisão num

processo em andamento que pode ser usado em desfavor do indivíduo como “maus

51

Ibidem, p. 61. 52

Ibidem, p. 64.

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36

antecedentes”, sem ao menos dar lhe a chance do contraditório e respeitar o

princípio da presunção da inocência, por exemplo.

Segundo Toron (1993 p.73) citado por Bissoline53 “a relatividade dos

antecedentes judiciários, que verdadeiramente só podem fornecer uma fração das

informações necessárias à composição de um quadro geral da conduta do acusado”.

Vale ressaltar que os antecedentes servem apenas para verificação geral

da conduta do acusado, porém devido o princípio da presunção de inocência, não

podem ser utilizados como agravantes no momento do calculo da pena. Conforme

dispõe Toron54:

Os antecedentes do acusado, do ponto de vista de registros policiais e judiciais, só se considerarão maculados quando houver decisão transitada em julgado, dessa forma não se poderá computar o mero registro de inquéritos e ações penais em folhas de antecedentes.

No mesmo sentido já há jurisprudência consolidada a partir do julgamento do

Resp. n. 730.352, onde na oportunidade, a relatora, ministra do Superior Tribunal de

Justiça, Maria Thereza de Assis Moura55, ressaltou que inquéritos e processos

judiciais em curso também não devem servir “para valorar negativamente a conduta

social ou a personalidade do agente, sendo preferível a fixação da pena-base no

mínimo legal”. Assim o que pode ser usado para agravar a pena é especificamente o

instituto da reincidência criminal e não os antecedentes.

2.4.1 Conceito de Reincidência Criminal no Direito Penal Pátrio

Reincidência56 significa ato ou efeito de reincidir, teimosia, pertinácia,

recaída segundo teoria do Dicionário de língua portuguesa, ou seja, dentro do

mundo do crime trata-se de repetição de ato ilícito que caracteriza crime.

53

Ibidem, p. 65. 54

TORON, Alberto Zacharias. A constituição de 1988 e o conceito de bons antecedentes para apelar em liberdade. Revista Brasileira de Ciências Criminais. Ano 1. Nº4. 1993, p. 73. 55

Súmula nº444 do Superior Tribunal de Justiça: “É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.” 56

Ato ou efeito de reincidir: Cometer novamente um delito ou um crime. (in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2017. [consult. 2017-05-26 20:54:31]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/reincidir)

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37

No âmbito do Direito Penal brasileiro, a reincidência se faz presente desde o

Código do Império em 1830, sofreu inúmeras alterações, e atualmente está inserida

no art. 63 do Código Penal, o qual determina que a reincidência é a prática de um

novo crime da mesma natureza ou não, cometida pelo agente após o transito em

julgado de sentença condenatória exarada no Brasil ou exterior, por crime anterior.

No ultimo caso não se exige a homologação da sentença estrangeira, que funciona

como fato jurídico.

Nesse sentido é preciso observar o lapso temporal de cinco anos entre a

sentença condenatória de delito anterior transitada em julgado e o novo crime, como

dispõe o Artigo 64 inciso I do Código Penal brasileiro. Se ultrapassar os cinco anos

do cumprimento da pena, já não se considera reincidência, voltando à primariedade.

Assim como explica Almeida57:

O inicio da contagem dos cinco anos do período depurador da reincidência varia de acordo com a situação ocorrida. Assim se houve o cumprimento da reprimenda, mesmo que de forma unificada, o termo inicial será a data efetiva do término da mesma; havendo a extinção da pena por qualquer causa o cômputo será iniciado no dia em que a pena foi extinta e não da data da decretação da sentença declaratória da pretensão ou do livramento condicional, que não revogados, a contagem se dará da audiência admonitória, prevista no art. 160 da lei de Execução Penal.

A reincidência criminal no Direito Penal se dá a partir de repetição de

condenações de um individuo pela prática de crimes, podendo ser idênticos ou não,

é um ato humano negativo com diversas teorias, tal ato humano necessita da

contribuição da Criminologia para sua compreensão, pois envolve estudos

interdisciplinares. Vale ressaltar que se a audiência de admoestação deve observar

o prazo do sursis . Conforme Delmanto citado por Almeida58:

Se de um lado a audiência de admoestação prejudica o condenado (que não pode, desde logo, começar a computar o prazo do surcis), do outro o favorece, pois se vier a cometer novo crime antes do inicio do surcis, este não será revogado nem o condenado será reincidente, pois a condenação precedente ainda não terá passado em julgado.

57

ALMEIDA, op. Cit., p. 63. 58

DELMATO apud ALMEIDA, op. Cit., p. 63.

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No caso da suspensão condicional na pena restritiva de liberdade, enquanto

estiver dentro desse lapso temporal do sursis aplicado, por não transitar em julgado

não se considera reincidência.

No mesmo sentido ressalta Bissoli Fillho59

Considera como uma repetição de fatos criminosos, pode ser vista sob a ótica da identidade jurídica dos crimes praticados, ou ainda genericamente, do fato delituoso em sentido amplo. Assim posta a reincidência criminal pode ser genérica, geral ou absoluta, se não existir nenhuma identidade entre os fatos praticados, e específica ou especial, se tratarem de fatos idênticos, e a reincidência especialíssima, se os crimes além de serem da mesma natureza, violarem o mesmo artigo da lei penal.

A lei penal brasileira não reconhece a reincidência quando o primeiro fato for

uma contravenção e o segundo um crime, prevê uma condenação anterior transitada

em julgado que possuem classificações dentro do ordenamento jurídico.

2.4.2 Classificação da Reincidência

A reincidência se classifica em espécies real e ficta e genérica e específica.

Para Almeida60 Reincidência Real ocorre quando o agente comete novo

delito após o cumprimento parcial ou integral da condenação por outro crime, já a

ficta se dá quando o novo crime é praticado após o transito em julgado da sentença

condenatória por delito anterior. Esta ultima é vigente para o sistema jurídico penal

brasileiro.

Todavia se verificar que a finalidade da pena na maior parte das unidades

prisionais não possui efetividade na prática, conforme rege o artigo 1º da LEP a

finalidade de integrar e o efeito do etiquetamento social não proporciona ao indivíduo

a reintegração, sem as devidas políticas de reintegração dentro ou fora do cárcere,

além de ferir o princípio do non bis in idem61, não há de que se falar em

ressocializar, logo pode ser considerado injusto agravar a pena quando o mesmo

59

BISSOLI FILHO, op. Cit., p.76. 60

ALMEIDA, op. Cit., p. 69. 61

O princípio Non Bis In Idem deriva do princípio da legalidade e tem por objetivo impedir a dupla valoração fática na punição, tanto na prestação de um mesmo elemento nas fases da dosimetria da pena quanto na consideração de um fato pretérito já condenado. (CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Parte geral. v.1. Ed.rev.São Paulo:Saraiva,2012.p.507).

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39

reincidir, pois em tese, não foi cumprida a verdadeira finalidade da pena, tais

institutos serão abordados nos próximos capítulos.

2.4.2.1 Reincidência Genérica e Específica

A reincidência genérica ocorre quando os crimes são praticados pelo agente

estando previstos em dispositivos legais diversos, configurando natureza distinta,

conforme o dispõe o código Penal brasileiro que considera reincidente o sujeito que

comete novo delito após ser condenado em definitivo por outro, mesmo incidindo-

nos mesmos crimes, tanto faz ser o primeiro um roubo e o segundo um homicídio, o

que é considerado é a pratica de um novo crime doloso ou culposo. Por outro lado a

reincidência específica resulta na prática de infrações penais de igual natureza, que

se igualam pelos motivos determinantes e características fundamentais comuns, que

é parcialmente aplicada no sistema penal brasileiro. Nesta esteira fundamenta

Almeida62que a reincidência específica ainda é encontrada na legislação brasileira,

particularmente na lei de Crimes Hediondos onde dispõe no artigo 5º que o se o réu

não for reincidente específico terá direito ao livramento condicional, no Código de

Transito Brasileiro, na Lei das Penas Alternativa 9.714/98, na Lei de Crimes

Ambientais n° 9.605/98.

Figueiredo Dias63 comenta que “a classificação acerca da identidade do

instituto sempre foi objeto de polêmica, visto que não há consenso quanto à

conceituação de “delitos da mesma natureza”, que passa a ser discutida na seara

criminológica”.

Nesse viés é a criminologia que possui a finalidade de compreender os

supostos motivos que levam um indivíduo a reincidir, e pela luz que ela oferece faz

com que o juiz ao aplicar o instituto possa ter uma base subjetiva de todos os

elementos extraída no crime, intitulado “mesma natureza”, mesmo não definido no

direito penal brasileiro.

62

Ibidem, p. 71. 63

DIAS FIGUEIREDO apud ALMEIDA, Ibidem, p.72.

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Vale ressaltar segundo Lyra64 que “a reincidência é de circunstância

personalíssima não se comunica ao co-réu, em caso de concurso de agentes”,

também conforme súmula 241 do Supremo Tribunal de Justiça ela não pode ser

considerada circunstância agravante e ao mesmo tempo circunstância judicial. No

mesmo sentido Jesus65 invoca a primeira parte do artigo 30, do Código Penal, para

sustentar que “a reincidência criminal é uma “circunstância” de caráter pessoal e por

isso incomunicável ao co-autor.” Assim sendo, por mais que exista participação de

outros indivíduos em um mesmo crime, a pena do reincidente não serve de base,

pois ela será mais rígida, diferenciada dos demais, visto que não se comunicam.

2.4.3 Aplicabilidade dos Antecedentes na Atualidade

Por meio de aparato normativo os antecedentes possuem prestígio para os

operadores do Direito Penal ao passo que é utilizado como controle seletivo no

sistema Positivo brasileiro. Também podendo ser usado para pesquisas em bancos

de dados de empresas e organizações66. Segundo Bissoli Filho 67

Os antecedentes têm influência explícita na aplicação de vários institutos previstos em lei, via de regra obstando o exercício de determinados direitos, de tal sorte que o indivíduo detentor de “maus antecedentes” é tratado de forma diferente em relação aos demais.

Dentro da dogmática penal os indivíduos que possuem “maus antecedentes”

são tratados de forma diferente dos que não possuem, não significando que este é

culpado, mas alguns benefícios podem ser negados até a manifestação contraria.

Na lei penal os antecedentes possuem importância desde a aplicação da pena até

sua execução. Na aplicação da pena o juiz precisa obedecer ao exposto no artigo 59

do Código Penal brasileiro que também traz a influencia da criminologia moderna no

que tange a fixação da pena dispõe “O juiz atendendo à culpabilidade, aos

antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às

circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,

64

LYRA apud ALMEIDA, Ibidem, p. 100. 65

JESUS apud ALMEIDA Ibidem, p. 100. 66

Como por exemplo, quando um indivíduo passa em um determinado concurso público é necessário demonstrar que não constam processos abertos em seu nome sob a pena de eliminação do certame. 67

BISSOLI FILHO, op. Cit., p. 68.

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estabelecerá conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do

crime”.

No mesmo sentido Bissoli68 faz analogia ao artigo 93 inciso IX da

Constituição Federal como deve ser aplicado os antecedentes:

Ao reconhecer a existência de antecedentes que interfiram de qualquer forma na aplicação da pena, deverá o juiz fazê-lo de forma fundamentada, sob pena de malferir o princípio da motivação das decisões, insculpido na norma do artigo 93, IX, da Constituição Federal.

A fundamentação do juiz tem grande importância durante a aplicação da

pena, precedida do Ministério Publico como fiscal da lei, verificação da regularidade

da execução da pena juntamente com a pretensão punitiva do Estado, assim como a

Defensoria Pública ou advogado particular, na atuação com contraditório, para

defender a progressão de regime, sempre observados os prazos e fundamentos

legais, observada a exceção ao conjunto de crimes (pena unificada totalizada) cujo

calculo inicial fechado seja de 30 anos de encarceramento, não haverá possibilidade

de progressão já que esse é o limite permitido por lei, com fundamento na Sumula

71569 do Supremo Tribunal Federal e Artigo 7570 do Código Penal Brasileiro.

Todos esses critérios são estudados pela criminologia, que analisa todos

dos meios e seus reflexos, e durante a aplicação da pena deve ser considerada a

criminalização do acusado, e na fixação da pena o juiz baseia-se nas circunstancias

judiciais e legais, agravantes e atenuantes, em seguida nas causas gerais e

especiais de aumento ou diminuição da pena.

Deve-se levar em consideração que em tempos modernos e com

entendimento Sumulado71 pelo Supremo Tribunal de Justiça, que é vedado à

utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena base,

68

Ibidem, p. 69. 69

Súmula 715 do Supremo Tribunal Federal: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo artigo 75 do Código Penal, não é considerado para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução. 70

Artigo 75 do Código Penal dispõe que o tempo de cumprimento da pena privativa de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. 71

Como, por exemplo, a já citada Súmula 444 do Supremo Tribunal de Justiça.

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salvo, se utilizado pelo juiz para afastar o tráfico privilegiado72, pois um dos

requisitos é que o réu não se dedique a atividades criminosas, e entende-se se há

inquéritos ou ações também por tráfico, esse não merece ser privilegiado, porque

não foi a primeira vez que cometeu o crime, assim seus reiterados maus

antecedentes podem ser analisados como risco social.

No mesmo sentido o julgado em Recurso Especial73 com repercussão geral,

reafirma que existindo inquéritos policiais ou ações penais sem transito em julgado

não podem ser considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da

pena.

Já durante a execução da pena o comportamento do condenado também é

levado em consideração, partindo para exemplo de crime hediondo ou equiparado,

conforme Súmula Vinculante n° 26, para efeitos de progressão de regime o juiz

observará se o condenado preenche ou não os requisitos objetivos os subjetivos do

benefício, podendo determinar a realização do exame criminológico.

Nesse mesmo sentido a Súmula 471 do STJ reitera o dispositivo do artigo

112 da Lei de Execução Penal 7210/198474: A pena privativa de liberdade será

executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a

ser determinada pelo juiz, como contrapartida aquele que ostentar de bom

comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas

as normas que vedam a progressão.

À medida que finalidade da pena privativa de liberdade, obedece ao

Princípio Constitucional da individualização da pena75, por meio do art. 59 Código

Penal, possui o caráter preventivo (ressocialização), devendo ser executada de

forma progressiva, voltado à reinserção social, e de caráter retributiva, voltada ao

castigo do apenado, não podendo ser cumprida integralmente, dando a possibilidade

da progressão de regime de forma objetiva (tempo de pena cumprida) e subjetiva

72

STJ- Embargo de divergência Regimental 1431091- publicado em 01/02/2017. Disponível em < www.tjmt.jus.br/.../REsp_-_TRÁFICO_PRIVILEGIADO_-_DEDICAÇÃO_ATIVIDA/> Acesso em Abr. de 2017. 73

STJ-Plenário, RE 591054/ SC (Repercussão Geral-17.12.2014). Disponível em < www.stf.jus.br/.../jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?...591054/ > Acesso em Abr. de 2017 74

Lei de Execução Penal n° 7210 de 1984, Artigo 112. 75

Artigo 5º inciso XLVI: “A lei regulará a individualização da pena (...)”.

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(comportamento carcerário). Assim se durante a execução, o sujeito que não tiver

bom comportamento, perderá o direito de progressão de regime.

A partir de todos dispositivos citados, a dogmática penal demostra o valor da

analise dos comportamentos; antecedentes criminais (durante a fixação da pena), do

bom comportamento (durante a execução), devendo ser analisado pelo juiz, com

auxilio do exame criminológico76 realizado pela equipe de execução penal do

estabelecimento prisional, também com a ciência do Ministério Público e Defensoria

Pública ou advogado constituído, dando a ele a possibilidade de progressão de

regime nos limites da lei e de acordo com os critérios e funções de individualização

da pena.

Desses fundamentos conclui se que assim como substituição de penas os

antecedentes também são levados em consideração com base no artigo 44 inciso III

e artigo 60 do Código Penal brasileiro, as penas restritivas de direitos são

autônomas e podem substituir as privativas de liberdade quando, a culpabilidade, os

“antecedentes”, a conduta social e a personalidade do condenado, os motivos e

circunstancias indique que essa substituição seja suficiente.

76

Súmula 439 do STJ: Admite-se exame criminológico, pela peculiaridade do caso, desde que em decisão motivada.

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3. REINCIDÊNCIA, POLÍTICAS DE TOLERÂNCIA ZERO, FACÇÕES

CRIMINOSAS E SUAS RESPECTIVAS CONTRIBUIÇÕES PARA A CRISE

CARCERÁRIA NO BRASIL

3.1 Considerações Iniciais

Hodiernamente muito se ouve dizer sobre o aumento da criminalidade e o

caos no qual se encontra mergulhado o sistema carcerário brasileiro, em especial

pelas notícias midiáticas que nos dão conta da presença maciça de facções

criminosas que comandam os crimes mais bárbaros de dentro dos presídios. Tais

facções se organizam de forma que em cada estado da federação se façam

presentes, formando um verdadeiro espetáculo de horror a briga por território/poder

do crime dentro dos presídios brasileiros, demonstrando que o Estado há muito

perdeu o controle da situação, pois há uma diferença abissal entre o que disciplina a

Lei de Execução Penal, tida como modelo mundial a ser seguido, e o que

efetivamente ocorre na prática do sistema.

Dentre os maiores problemas que se apresentam para que se possa

implementar as políticas públicas efetivando o que impõe a Lei de Execução Penal,

a Administração Pública estatal se vale da reserva do possível, usando como

justificativa para sua omissão a falta de verbas para estruturar os presídios de forma

adequada, com instalação predial correspondente ao que estipula a Lei de Execução

Penal77, além de contratação de pessoal e qualificação daqueles que trabalham com

a reintegração e/ou ressocialização dos apenados.

Para Luiz Flavio Gomes78 o sistema penal brasileiro possui uma política

equivocada, sendo que o Brasil faz parte do quadro dos países mais violentos do

mundo, conforme levantamento do Instituto Avante Brasil. Os índices de

criminalidade epidêmica esta gerando desesperança nacional, pois a sociedade

77

A Lei 7.210 de 1984 Institui a Lei de Execução Penal dispõe que o condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana; b) área mínima de 6,00m

2 (seis

metros quadrados). 78

GOMES, Luiz Flavio. Violência epidêmica e política equivocada. Brasil: Reincidência de até 70%. Instituto Avante Brasil. 2014. Rev. Eletrônica Disponível em: http://institutoavantebrasil.com.br/brasil-reincidencia-de-ate-70/ acesso em: 03 de abr. de 2017.

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cobra reação das autoridades. Basicamente as reivindicações da sociedade se

amoldam a pena vingativa, aclamando pela edição de novas leis penais mais

rígidas, razão pela qual no período de 1940 a 2013 foram criadas 150 normas,

aumentando o castigo penal em 72%, tornando a segregação abusiva e tirana à

medida que se trata de delinquentes de diversos perfis, inclusive os não violentos

que poderiam ser condenados com sanções alternativas.

Nos últimos 20 anos a população carcerária cresceu 400%79, sendo

apontado como a solução do problema da criminalidade, da segurança pública, da

violência, na verdade o encarceramento se justifica em parte, diante dos

delinquentes violentos, essencialmente os que assumem perversidade. Fora desse

parâmetro não passa de uma doença adicionada, em função de sua falta de razão e,

especialmente, da alta taxa de reincidência que ela proporciona.

Notadamente, o cárcere massivo se dá em decorrência da segregação dos

que não deveriam estar na cadeia em razão do não cometimento de crime violento

ou que não representa perigo para a sociedade.

É visto que a degeneração moral avançada da sociedade esta afrontando

drasticamente o problema da segurança pública, porque unido a um engodo, a um

embuste, observa-se uma técnica espalhada nos países populistas, conforme

salienta Luiz Flavio Gomes80:

Surfando na onda da violência epidêmica descontrolada, que é dramatizada diariamente pela mídia (falada, escrita, televisada e compartilhada), que se aproveita da emotividade e da passionalidade que acompanham a reação social ao crime (Durkheim), engendrando representações sociais severamente punitivas, o Estado, como porta-voz não declarado da burguesia econômico-financeira conservadora (que vê o criminoso preso como um degenerado da natureza), que atua por meio dos agentes políticos e jurídicos, acaba impondo todo tipo de excesso impensável, sobretudo prendendo muita gente das chamadas “classes perigosas” (proletariado e “ralé”) que não praticam crimes violentos. Todo excesso punitivo é tirânico (Montesquieu) e típico do estado policialesco.

Destarte, perante o clamor social advindo do senso comum o Estado baseia

suas políticas de criminalidade, o que contribui para o aumento nas estatísticas da

79

CIDADANIA nos presídios. Notícias do CNJ – Conselho Nacional de Justiça. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/cidadania-nos-presidios> Acesso em 10 de abr. de 2017. 80

GOMES, op. Cit.

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criminalidade ao invés de solucioná-lo, adotam a criminologia populista que ao longo

dos anos tornou-se vingativa e irracional, fundamentada em uma política pública

equivocada que é colocada como solução quando na verdade é um problema grave.

A patologia do crime em alguns países, a exemplo do Brasil, estão

agregando a doença da segregação massiva e aloprada, entendida atualmente

como a multiplicação e não a saída do problema.

Nos últimos anos começaram a divulgar os primeiros números de

reincidência a nível nacional. Em que pese tais números não serem muito

confiáveis81, dão uma ideia sobre o tema.

No Brasil contamos com dificuldades empíricas, “dinâmica da pesquisa” e

também de conceito, porque cada legislação adota critérios específicos para o

reconhecimento da reincidência. Nesta esteira, denota-se que reincidente é quem

comete nova infração penal após ter sido o apenado definitivamente julgado por

outro crime anterior. Entretanto, as pesquisas não observam esse conceito técnico e

limitado de reincidência, porque acham que reincidente é quem comete um segundo

crime, ou terceiro ou quarto dentre outras formas, ainda que não tenha transitado em

julgada a sentença penal condenatória dos referidos crimes.

Não se pode olvidar, contudo, que num país democrático muitas vezes à

Administração Pública promove suas políticas públicas voltando seu pensamento de

forma a atender aos anseios da população. E é nesta toada que se constroem

políticas públicas enraizada de dogmáticas do senso comum, pois ao se fazer uma

breve observação quanto ao clamor popular na atualidade, notam-se as vozes da

multidão clamando para o endurecimento de penas, redução da menoridade penal,

que traz como consequência o encarceramento capaz de aumentar sobremaneira a

superlotação dos cárceres, dentre outros clamores da mesma natureza, pois o

aumento da criminalidade trouxe o sentimento de impunidade para a sociedade, que

algumas vezes ignora todos os princípios constitucionais e acabam por fazerem

“justiça com as próprias mãos”82.

81

Os dados sobre reincidência no Brasil levam em consideração processos em curso e inquéritos policiais, indicando, desta forma que o percentual de reincidentes é de 70% dos que cumpre pena. (Ibidem). 82

Segundo MARTINS o Brasil é o país onde mais ocorrem linchamentos. Pelos cálculos, nos últimos 60 anos, um milhão de brasileiros participaram de linchamentos. Estudos realizados em 2013 revelam

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Neste viés, como bem apontam os ensinamentos de Strasser e Santos83 ao

abordar sobre as implementações de políticas criminais que demonstram a

verdadeira tolerância zero, colaborando para o superencarceramento, que há uma

verdadeira produção de leis baseadas nos apelos midiáticos, como ocorreu com as

Leis de Crimes Hediondos, Lei de Crimes Organizados, Lei de Lavagem de Dinheiro,

Lei Antidrogas, dentre outras.

Como bem pontua os doutrinadores em sua obra, apesar do constituinte

prever a edição da Lei de Crimes Hediondos em 198884, somente em 1990, após

uma onde de sequestros de empresários com grande repercussão midiática é que

houve a elaboração da referida Lei.

Tais políticas de tolerância zero ficam claras diante do seu texto que proibia

a liberdade provisória, estabelecendo que o condenado cumprisse a pena restritiva

de liberdade no regime “integralmente fechado”, nada proporcional em um Estado

Democrático de Direito, onde a regra é a liberdade e a prisão exceção, sendo tal

previsão contrária ao princípio constitucional da presunção de inocência, razão pela

qual o Supremo Tribunal Federal se posicionou dando interpretação conforme a

Constituição, possibilitando a liberdade provisória mesmo sem fiança85,

posteriormente, houve a edição de uma Lei86 suprimindo do texto original a proibição

à liberdade provisória e permitindo a progressão de regime prisional ao condenado

por crime hediondo.

Na mesma toada a Lei de Crimes de Tortura87 foi instituída devido às

repercussões midiáticas com imagens de policiais agredindo pessoas na entrada de

uma favela, na cidade de Diadema-SP.

que há mais de um caso de linchamento ocorrendo por dia. (MARTINS, José de Souza. Linchamentos: a justiça popular no Brasil. São Paulo: Contexto. 2015. p. 98). 83

STRASSER, Francislaine de Almeida Coimbra; SANTOS, Jurandir José dos. Teoria dos testículos despedaçados e da vidraça quebrada numa abordagem crítica da operação tolerância zero. Florianópolis: CONPEDI, 2015, p. 497. 84

Constituição da República Federativa do Brasil: Artigo 5º, XLIII. “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.” 85

STF - HC: 82959 SP, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 23/02/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 01-09-2006 PP-00018 EMENT VOL-02245-03 PP-00510. 86

Lei 11.464/2007. 87

Lei 9.455 de 1997.

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No ano seguinte, fruto das notícias sobre a venda de medicamentos

falsificados (Androcur – para câncer de próstata e Microvilar – anticoncepcional) foi

criada a Lei nº 9.677/1998 que aumentou a pena do crime do artigo 273 do Código

Penal de 01 a 03 anos de reclusão para 10 a 15 anos de reclusão. Sem se

preocupar em definir as formas de adulterações dos produtos e dar patamares de

penas distintas, o legislador incluiu entre os produtos a que se refere esse artigo a

adulteração de cosméticos, considerando tal adulteração como sendo crime

hediondo.

Ocorre que tais políticas de encarceramento em massa, requerem, antes de

qualquer coisa, investimentos de verbas públicas para a melhoria da infraestrutura

tanto predial quanto profissional. Ademais, não bastasse à falta de condições

financeiras do país em investir no sistema e diante da crise econômica instalada

ante ao quadro de corrupção sistêmica e o fenômeno dos crimes de colarinho

branco, a história de um modo geral tem dado indicativos de que este não é o

caminho mais acertado para a solução da criminalidade, como oportunamente se

verificará.

Assim, qualquer Governo que tomar para si essa responsabilidade de

estruturar o sistema prisional, não terá reconhecimento populacional da benfeitoria,

pois o Estado é caótico em outras áreas sociais como: educação, saúde, moradia,

dentre outros; o que seria visto de forma crítica pela sociedade, desmotivando que

as autoridades governamentais façam alguma coisa para mudar esse quadro

lamentável ao qual se encontram os presídios brasileiros.

Desta forma, com a ausência do Estado que não tem voltado esforços para

garantir a dignidade humana do recuperando, a criminalidade torna-se ainda mais

presente, fazendo do espaço público que deveria ressocializar, reintegrar, reeducar,

repreender o crime, uma ferramenta a serviço do crime, podendo considerar um

espaço de profissionalização do crime, pois é onde o apenado aprende novas

práticas delitivas e ao se verem livres, tornam-se, muitas vezes, um sujeito sem

identidade, rejeitado pelo estigma social que carrega por ser um ex-apenado, ex-

presidiário, visto como um delinquente ou sujeito perigoso, e por estar etiquetados88,

88

Etiquetados é o termo utilizado em referência a Teoria do Etiquetamento, na qual o individuo preso uma vez passa a ser etiquetado como delinquente, uma forma de reação social.

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a margem da sociedade, não encontram seu lugar no mundo/sociedade voltando a

delinquir e, como reincidentes que se tornaram, voltam ao sistema de onde pode,

com todo aparato moderno da criminalidade líquida89, liderar e ser reconhecido

como parte de algo, como um membro, “irmão”90 de alguma facção criminosa.

Ante ao exposto, imperioso se faz uma análise profunda, tendo como base

estudos minuciosos de todo o contexto social, biológico, político e jurídico,

superando o senso comum e buscando soluções para a reincidência criminal, que

faz hoje do Brasil o ocupante do quarto lugar no ranking dos países que mais

encarceram no mundo91, somente assim poder-se-á voltar a valorar o caráter

preventivo e retributivo da pena, de forma a recuperar de fato o recuperando que

esteja dentro do sistema prisional para essa finalidade, para que o mesmo não volte

a delinquir, o que não ocorre, visto que hoje 70% dos recuperandos são

reincidentes92.

3.2 Teoria Das Janelas Quebradas Em Uma Breve Reflexão Das Políticas De

Tolerância Zero

Comumente se ouve dentre as vozes doutrinárias uma breve explanação a

cerca da teoria das janelas quebradas e a forma como a mesma é apontada como

justificativa para o atual estado caótico no cenário criminológico frente à falência do

Estado, a ausência de políticas públicas em todos os campos, a omissão em efetivar

os direitos sociais que proporcionam uma vida digna a sociedade menos abastada,

transferindo a culpa de forma exclusiva para o Estado, o que antecipamos de

antemão que não nos parece razoável ante os tantos outros fatores que

desencadeiam a criminalidade.

89

Criminalidade líquida é o termo utilizado em analogia à modernidade líquida de Bauman, a criminalidade das facções que se utilizam de meios eletrônicos para proliferar o crime dentro e fora das prisões e cada dia conquistam mais territórios. 90

Quando um indivíduo é batizado perante uma facção criminosa ele passa a pactuar nas relações criminosas como um membro da família. 91

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA, Reincidência Criminal no Brasil – Relatório de Pesquisa. Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República: Rio de Janeiro, 2015. 92

INFOPEN – JUNHO DE 2014, Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Ministério da Justiça: Departamento Penitenciário Nacional. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 2014.

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Em que pese haver outros fatores que desencadeiam o aumento da

criminalidade, não se pode ignorar as políticas de tolerância zero que se

desencadearam em decorrência da referida teoria que se justifica ante ao clamor da

população, o que por consequência reflete nos presídios superlotados.

Como bem retrata Odon93 a referida teoria das janelas quebradas foi

publicada na revista The Atlantic Monthly em março de 1982 por dois cientistas

sociais da Universidade de Harvard, James Wilson e George Kelling e trata-se de

um experimento feito pelos dois cientistas aos deixarem, em duas vias públicas, dois

automóveis idênticos, sendo um dos automóveis deixados em uma zona de conflito

de Nova Iorque e o outro em uma zona rica e tranquila da Califórnia.

A experiência registrou que o carro deixado na zona conflituosa começou a

ser vandalizado em poucas horas, sendo totalmente destruído, levaram todas as

peças que se pudesse aproveitar do automóvel e destruíram o que não se pode

aproveitar. O segundo carro, por seu turno, manteve-e intacto até que os dois

cientistas lhe quebraram uma das janelas do veículo após uma semana deixado na

zona rica e tranquila da Califórnia.

O resultado da experiência dos cientistas revelou que bastou uma única

janela quebrada no veículo para que, mesmo estando em uma zona tranquila de

pessoas mais abastadas para que rapidamente o mesmo resultado danoso do

veículo abandonado na área de conflito se produzisse.

Para Odon94, dentre as conclusões que se chegaram da teoria, apesar das

duras críticas tecidas, destaca-se o fato de que:

Há relação de causalidade entre desordem e criminalidade, entre a não repressão a pequenos delitos e a criminalidade violenta. Se uma janela de uma fábrica ou prédio é quebrada e não é imediatamente consertada, as pessoas que por ali passam tendem a concluir que ninguém se importa, que não há autoridade zelando pela manutenção da ordem. Assim, as pessoas começariam a atirar pedras para quebrar as demais janelas. Inicia-se assim a decadência do local, com pequenas desordens levando a grandes desordens. Nessa lógica, diante do abandono de comunidades pela autoridade responsável, desocupados, desordeiros e pessoas com tendências criminosas se sentiriam à vontade para ali fazer negócios ou

93

ODON, Tiago Ivo; Tolerância Zero E Janelas Quebradas: sobre os riscos de se importar teorias e políticas; Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, março/2016 (Texto para Discussão nº194). Disponível em < www.senado.leg.br/estudos> Acesso em 10 de abril de 2017. 94

Ibidem, p. 27.

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mesmo morar, levando outros moradores a desejarem se mudar para outros locais. A pequena desordem gera a ideia de deterioração, de desinteresse e de despreocupação nas pessoas. A percepção da ausência de lei, normas e regras tende a levar à quebra dos códigos de convivência. Assim, o crime é maior em zonas onde o descuido, a sujeira e o maltrato são maiores, e pequenas faltas não punidas levam a faltas maiores e logo a delitos cada vez mais graves.

Sob esta perspectiva se conclui ainda que a crise brasileira em todos os

campos sociais e a consequente ausência de políticas públicas eficazes, a exemplo

do que ocorrem com relação à falta de estrutura na educação, saúde, a má

distribuição de renda, moradia e o encarceramento em número vertiginoso é que

geram desigualdades sociais e consequentemente a criminalidade tende aumentar

cada dia um tanto mais em razão disto.

Neste diapasão, exemplifica-se a desordem e marginalização presente nas

favelas brasileiras. O caos ali gerado pelo sentimento de abandono pelas

autoridades públicas consequentemente deixam esta parte da população que vivem

à margem da sociedade, muitas vezes nem mesmo fazendo parte de uma sociedade

civilizada de fato, vulnerável a todo tipo de mazela, o que faz com que uma espécie

de sociedade se organize em torno desta comunidade desordenada. Todavia, a

referida sociedade se organiza de forma criminosa, fazem suas próprias leis,

formulam suas políticas e até mesmo suas “polícias”, surgindo assim às facções

criminosas que se instalam e ocupam o espaço fazendo às vezes de “governo” onde

o objetivo não é o bem estar social, o bem comum, e sim o lucro advindo da

dependência gerada pela circulação de drogas.

Controlando essa população menos abastada, varias são as facções que se

estruturam dia após dia nessas favelas, fazendo alianças, se armando como

verdadeiro exercito a serviço do crime.

O raciocínio ao qual induz a teoria das janelas quebradas é que há um

verdadeiro círculo vicioso onde o Estado aparece como o vilão ao se omitir a

implantação de políticas públicas eficazes, o que gera uma sociedade desordenada

e até mesmo criminosa e a única saída para o então Estado omisso é repreender as

mazelas geradas por sua omissão com políticas de tolerância zero, produzindo

encarceramento em massa.

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Ocorre que as políticas de tolerância zero mascaradas de uma pseudo

verdade aponta como solução clara e quase absoluta para a repressão da

criminalidade o encarceramento, como supramencionado, agravando o quadro do

sistema penitenciário nacional. São verdadeiras utopias penitenciárias, como bem

pontua Pedroso95:

[...] sempre tomando como base modelos ideais e perfeitos de aprisionamento – as utopias penitenciárias –, sobre as quais os juristas, via de regra, acreditavam que proporcionando leis em favor desses pressupostos livrariam os bons homens dos perigos que circulavam visivelmente pelas ruas das cidades; protegiam o Estado do perigo que o afrontava e, sobretudo, levariam à regeneração social o futuro encarcerado.

Como é de fácil percepção, tais utopias têm em seu imaginário jurídico que

as políticas de tolerância zero deveriam causar temor para a sociedade ante ao

poder policial e judicial do Estado e o aumento das penas afastariam criminosos do

seio social e transmitiria a sensação de que todos são potencialmente condenáveis,

o que em tese evitaria a prática delitiva. 96 No entanto, conforme leciona Boschi97:

Os maiores estudiosos afirmam que a intimidação dos criminosos pela pena também não passa de um mito. Os criminosos habituais, com efeito, continuam praticando ilícitos muitas vezes como modo ou estilo de vida. Aqueles que estão determinados a cometer um crime, por outro lado, não costumam ler os Códigos antes do início dos atos de execução, para avaliarem os riscos, sendo certo, bem ao contrário disso, que confiam em não serem apanhados pelo sistema de Justiça Penal.

Tal assertiva faz concluir que o ponto de partida para o controle da

criminalidade não é o endurecimento penal e suas reprimendas, pois o problema da

violência jamais se resolverá com mais violência, muito menos o aumento da

criminalidade pode ser combatido com encarceramento em massa sob pena de os

estabelecimentos penais perderem o caráter de ressocialização98, de recuperação

do apenado, pois não se pode ignorar a projeção do valor igualdade, liberdade e

95

PEDROSO, Regina Célia apud CHIES, Luiz Antônio Bogo. Questão Penitenciária: obstáculos epistemológicos e complexidade. Revista Paranaense de Desenvolvimento. Curitiba, v.35. nº126, 2014, p. 29. 96

Ibidem, p.126. 97

BOSCHI, Jose Antonio Paganella apud STRASSER op. Cit., p.496. 98

Art. 1 da Lei 7.210/1984 (Lei de Execuçao Penal): a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.

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51

dignidade humana que muitas vezes são deixadas de lado na busca incessante em

apenas punir.

Conforme postula o legislador em sua exposição de motivos à Lei de

Execução Penal99, baseado no relatório da CPI do Sistema Penitenciário, o sistema

prisional é de fato uma rede de prisões destinadas ao confinamento discriminatório

onde a minoria ínfima da população carcerária possui o tratamento adequado com

respeito a sua liberdade e dignidade conferindo-lhes o direito a celas individuas,

trabalho, recreação, atendimento psicológico, dentre outros.

No entanto, o Capítulo II da Lei de Execução Penal deixa claro ao

estabelecer políticas baseadas na assistência ao recuperando, conferindo-lhes

direito que resguardam sua dignidade, estabelecendo programas de assistência

social à família do preso e do internado, que há um viés humanizado no cárcere com

objetivo de recuperação do segregado, todavia, as políticas criminais de

encarceramento em massa torna o vazio legislativo dominante neste setor, pois a

estrutura existente impede a aplicabilidade das regras mínimas adotadas pela Lei de

Execução Penal, regras estas estabelecidas segundo orientação da Organização

das Nações Unidas.

3.3 Modernidade Líquida De Bauman Em Uma Analogia Sobre As Facções

Criminosas: Uma Prisão Além Do Cárcere

De início salientamos que não se pretende esgotar todos os paradigmas da

modernidade e da pós-modernidade vivenciada atualmente, pois tal feito

demandaria um maior desdobramento da questão e possivelmente fugiria a

abordagem pretendida.

Basicamente o que se pretende é delinear a evolução dos crimes na era do

capitalismo, da globalização, da tecnologia de ponta, onde as informações circulam

com uma velocidade jamais vista antes em toda a face da terra. Pois é neste cenário

que os valores morais do indivíduo vêm aos poucos sendo substituídos ao ponto em

99

BRASIL. Câmara Legislativa Brasileira. Exposição de motivos à Lei de Execução Penal - nº213, Do Senhor Ministro de Estado da Justiça, de 9 de maio de 1993. Disponível em < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-1987/lei-7210-11-julho-1984-356938-exposicaodemotivos-149285-pl.html> Acesso em: 11 maio de 2017.

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que o indivíduo já não se preocupa primeiramente com a sua moral que o define

como “ser”, sendo esses valores ressignificados e substituídos pelo poder de “ter”, o

poder de posse, de compra, de imagem, refletindo na expansão do Direito Penal e

Criminal.

Isso porque, a passagem da modernidade foi marcada especialmente pela

restrição de liberdades dos indivíduos em razão do que Zygmnunt Bauman100

chamou de “solidez” das relações intersubjetivas e coletivas ocorridas pelo

afastamento do aspecto subjetivo humano, pela imposição de padrões exigidos e

seguidos por todos, o que objetivava a eliminação de condutas desviantes vistas

como anomalias aos interesses de uma classe dominante.

Havia a presença de uma sociedade totalitária com verdadeira

homogeneidade compulsória a partir das indústrias fordistas da época101. Tal

período foi conhecido e marcado pela alienação do indivíduo, pois se exigia das

pessoas apenas trabalhos manuais em decorrência da industrialização, da

mecanização, de forma que a rotina dos trabalhadores se resumia em apertar

parafusos, botões, sem nem mesmo saber em que o seu trabalho contribuiria para o

produto final.

Não havia qualquer manifesto cultural ou social. Essa inexpressividade

intelectual e a longa jornada de trabalho mecanizado e rotineiro comprometia a

própria noção de subjetividade humana daquela classe de proletariados, como ficou

ilustrado e marcado pela crítica de Charlie Chaplin102 em seu filme “Tempos

Modernos” e como bem corrobora os ensinamentos de Bauman103:

100

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. DENTZIEN, Plínio (Trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 32. 101

Século XIX. 102

No filme “Tempos Modernos” o diretor e ator Charles Spencer Chaplin parodiava as facetas nefastas da crise econômica mundial e da nova fase da industrialização que surgia nesta era fordista. Apesar de Chaplin negar qualquer mensagem política a partir de seu filme, o governo americano sentiu-se incomodado, assim como os governos nazista da Alemanha e facista da Itália, o que resultou na proibição da exibição de seu filme. Tais atritos com o governo dos Estados Unidos fez com que Charlie deixasse o país e retornasse à Europa. (MÖDERLER, Catrin. “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin: Mensagem política ou pura diversão?. Filmes e Séries. Revista UOL online. publicada em 06 fev. de 2017. Disponível em: <https://cinema.uol.com.br/noticias/deutsche-welle/2017/02/06/tempos-modernos-de-charles-chaplin-mensagem-politica-ou-pura-diversao.htm> Acesso em 30 maio de 2017). 103

BAUMAN, op. Cit., p.33-34.

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53

A sociedade totalitária da homogeneidade compulsória, imposta e onipresente, estava em constante e ameaçadoramente no horizonte – como destino último, como uma bomba nunca inteiramente desarmada ou um fantasma nunca inteiramente exorcizado. Essa modernidade era inimiga jurada da contingência, da variedade, da ambigüidade (sic.), da instabilidade, da idiossincrasia, tendo declarado uma guerra santa a todas essas “anomalias”; e esperava-se que a liberdade e a autonomia individuais fossem as primeiras vítimas da cruzada. Entre os principais ícones dessa modernidade estavam a fábrica fordista, que reduzia as atividades humanas a movimentos simples, rotineiros e predeterminados, destinados a serem obedientes e mecanicamente seguidos, sem envolver as faculdades mentais e excluindo toda espontaneidade e iniciativa individual; [...] as identidades e laços sociais eram pendurados no cabide da porta da entrada junto com os chapéus, guarda chuvas e capotes, de tal forma que somente o comando e os estatutos poderiam dirigir, incontestados, as ações dos de dentro enquanto estiverem dentro; [...].

Vista como um processo social, econômico, político e cultural para muitos

pensadores, especialmente para Marx e Engels104, a passagem da modernidade em

sua marcha histórica provocava o derretimento dos sólidos existentes. Em sua fase

aguda a modernidade foi marcada pela privatização e individualização que

desvinculou os poderes de derretimentos dos sólidos da tradição resultando,

segundo Fragoso105, no fenômeno da “desregulamentação política, social e

econômica que se manifesta na expansão livre dos mercados mundiais, no

desengajamento coletivo e esvaziamento do espaço público”.

Superado este período da modernidade, o que se verificou especialmente

com a positivação dos direitos sociais e fundamentais desse último século onde o

ser humano tem sua dignidade reconhecida e colocada como pano de fundo no

plano das políticas sociais, o que é marca da pós-modernidade, as pessoas

passaram a buscar incessantemente por sua realização pessoal, mudando

radicalmente muitos padrões morais adotados pela sociedade.

Houve, a partir de então, uma aceleração do tempo e do domínio em todos

os lugares do mundo em razão da globalização econômica do mercado capitalista e

consequentemente na mudança comportamental da sociedade, o que reflete

sobremaneira nas ciências jurídicas e criminológicas.

104

Como bem pontua Fragoso e pode ser traduzido pelo pensamento de Marx em sua clássica frase “tudo que é sólido se desmancha”. (FRAGOSO, Tiago de Oliveira. Modernidade líquida e liberdade consumidora: o pensamento crítico de Zygmunt Bauman. Revista Perspectivas Sociais. Pelotas, Ano 1, n.1, [p.109-124], Març/2001. p.109) 105

Ibidem, p.110.

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54

Como exemplo do que fora acima exposto, podemos apontar as mudanças

ocorridas na estrutura familiar da sociedade contemporânea. Ao analisar sobre o

casamento, que era tido como verdadeira instituição moral na sociedade do século

passado, se nota que hodiernamente este é dissolvido com grande facilidade,

havendo uma nova forma de organização e formação familiar, em muitos casos até

mesmo na desorganização e desestruturação familiar com reflexos no campo

criminológico.

Pela busca ao direito de serem felizes, indivíduos defendem a todo custo o

direito a suas liberdades individuas, alguns até mesmo adeptos ao poliamor,

deixando para traz o tradicionalismo da monogamia tão presente no século passado.

Consequentemente tais mudanças comportamentais da sociedade fizeram com que

o crime de bigamia capitulado no Código Penal no Título VII, que trata dos crimes

contra a família, caísse em desuso e, ainda, o crime de adultério que era previsto no

Artigo 240 do mesmo codex tenha sido revogado106 em razão do princípio da

intervenção mínima pela qual é revestido o Direito Penal brasileiro que segue o

dinamismo da sociedade.

Nesta senda, vige o capitalismo avançado onde o modelo patriarcal do início

do século foi substituído por um novo arranjo do modelo familiar onde às mulheres

são inseridas no mercado de trabalho, o homem já não atende sozinho às

necessidades familiares e, em muitos casos nem mesmo faz parte do núcleo

familiar. Houve com a evolução econômica uma evolução também social, e não se

nega as conquistas das mulheres com direitos garantidos no mercado de trabalho de

forma que ela possa participar das relações sociais de igual modo que o homem,

porém as alterações na concepção de família trouxe como consequência lares sem

a figura paterna e com mães cada vez mais ausentes de seus lares pela

necessidade de trabalhar para sustentar sua prole, houve um desfazimento da base

familiar.

Em razão disto, cada vez maior é o número de crianças que crescem na

companhia da televisão, computadores, tabletes, games. Houve um inevitável

perdimento dos valores familiares e aos poucos o consumismo foi buscando suprir

essa perda de identidade. Se antes o padrão de felicidade era casar, construir uma

106

O referido crime de adultério foi revogado pela Lei 11.106 de 28 de março de 2005.

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55

família e criar os filhos, hoje cada dia mais os objetivos pessoais tidos como padrão

de felicidade é a conquista material, estudar para conquistar um bom trabalho que

confere um bom salário para que possa ter uma casa confortável, o carro do ano, a

roupa de grife.

A inversão de valores vivenciados pela cobrança da sociedade capitalista

com seus padrões sociais altíssimos contribuíram para o surgimento de novas

modalidades delitivas, especialmente a corrupção daqueles que deveriam gerir o

Estado, como podemos constatar a partir da deflagração da “Operação Lava Jato”107

de onde se verifica a existência de um quadro de corrupção sistêmica na política

nacional.

O surgimento dos crimes econômicos108 aparece como o novo câncer desta

era de modernidade líquida. Dentre os quais, além dos crimes de organização

criminosa, ganha destaque o de Lavagem de Dinheiro, pois muitos são os delitos

que podem ser „lavados‟, a exemplo do tráfico de drogas, dos crimes contra o

sistema financeiro, as fraudes contra a Previdência, desvios de verbas públicas,

dentre outros, de forma que a camuflagem do patrimônio de origem ilícita tem se

revelado como instrumento preciso de perpetuação do círculo vicioso de

refinanciamento da delinquência moderna, provocando discussões doutrinárias que

contrariam o discurso de críticas ao alargamento do ordenamento criminal,

reconhecendo-se que a luta travada pelos operadores do direito no combate à

lavagem de dinheiro é claro exemplo de expansão razoável do Direito Pena.

Denotam-se mudanças no campo criminológico e jurídico em razão do atual

Estado capitalista instalado nesta modernidade líquida, pois houve o surgimento das

107

Deflagrada em março de 2014 pelo Ministério Público Federal, a Operação Lava Jato é considerada a maior operação de combate aos crimes de lavagem de dinheiro e outros crimes de colarinho branco. Envolvendo figuras políticas do mais alto escalão (Presidente da República, Michel Themer, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros) a operação conta com mais de 159 acordos de cooperação jurídica internacional para troca de provas de corrupção e lavagem de dinheiro pelo mundo, acordos firmados em mais de 37 países. Tais acordos permitiram a repatriação de R$ 550 milhões de recursos desviados da Pedrobrás. (MACEDO, Fausto. Em 3 anos, Operação Lava Jato chegou a 37 países. Coluna Política do Jornal Estadão. Publicada em 03 jan. De 2017. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/em-3-anos-operacao-lava-jato-chegou-a-37-paises/> acesso em 30 maio de 2017). 108

São exemplos de crimes econômicos: Lei n. 9.613/1998 (Lavagem de Dinheiro), Lei n. 7.492/1986 (Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional), Lei n. 8.137/1990 (Crimes contra a Ordem Tributária, Ordem Econômica e Relações de Consumo), Lei n. 8.176/1991 (Crimes contra a Ordem Econômica), crimes previdenciários (a exemplo dos arts. 168-A e 337-A do Código Penal), dentre outros.

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“cifras douradas”109 da criminalidade, refletindo em verdadeira expansão do Direito

Penal a tentativa de coibir os crimes de colarinho branco110, pois o legislativo e

judiciário vêm buscando novos mecanismos para combater de forma acertada esses

crimes que afeta toda a sociedade, pois não se pode ignorar que as vítimas são

normalmente difusas, indeterminadas.

Nesse Cenário, a jurisprudência111 admitiu a importação da Teoria da

Cegueira Deliberada, também conhecida como Instrução da Avestruz, de forma que

se vislumbrou possível à tipificação da conduta dos crimes de Lavagem de Dinheiro

na modalidade de dolo eventual; o judiciário viabilizou, ainda, a implantação de

Varas Federais Especializadas em crimes contra o Sistema Financeiro Nacional e de

lavagens ou ocultação de bens, direitos e valores112; houve, também, a criação

legislativa de duas importantes Leis113 que fogem ao método tradicional pela busca e

obtenção de provas, possibilitando acordos entre o judiciário e o investigado para

desmantelar o esquema das organizações criminosas, as intituladas Leis de

Delação/Colaboração Premiada e Acordo de Leniência, além de provocar mudanças

no que se refere à prisão cautelar que se justifica para assegurar o processo

investigativo, para que não haja obstrução às investigações em curso por parte do

investigado.

109

Muitos fatos criminosos não chegam ao conhecimento das autoridades policiais ou não são objeto de apuração pelas autoridades competentes por diversas razões. Parcela dos crimes que passam a ser oficialmente registrados pelo sistema de Justiça criminal é chamada de criminalidade revelada, a outra fração que permanece oculta, não investigada e consequentemente impune, são designadas como cifras sendo que quando se refere a crimes do colarinho branco, denomina-se cifra dourada da criminalidade. (DE MOLINA, Antonio García-Pablos. Criminologia. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 42-43) 110

Difundido a partir de 1939 pelo sociólogo americano Edwin Sutherland, o termo crimes do colarinho branco ou white collar crime alude a “crime cometido por uma pessoa de respeitabilidade e elevado status social em relação às suas ocupações”(TANGERINO, Davi de Paiva Costa; CANTERJI, Rafael Braude. Estado, economia e direito penal: o direito penal tributário no liberalismo, no wellfare state e no neoliberalismo. Direito penal tributário. São Paulo: Quartier Latin, 2007. pp.28 e SS). 111

A discussão acerca da aplicabilidade da referida teoria de origem Norte Americana na jurisprudência pátria foi defendida de forma incidental pelo Ministro do STF Celso de Mello quando do julgamento da Ação Penal 470 ou „escândalo do mensalão‟, como ficou conhecida à citada Ação Penal, sendo aplicada no auge do julgamento da Operação Lava Jato pelo juiz Federal Sérgio Fernando Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR, que condenou pela primeira vez um agente delitivo sob o fundamento da Teoria da Cegueira Deliberada. (BRASIL, 13ª Vara Federal de Curitiba. Sentença em Ação Penal – Processo n° 504729-77.2014.404.7000. Autor: Ministério Público Federal; Réus: Alberto Youssef, Carlos Habib Chater, Ediel Viana da Silva, Carlos Alberto Pereira da Costa. Juiz: Sérgio Fernando Moro. DJ: 06.05.2015.p.99) 112

Resolução 517 de 30 de junho de 2006 do Conselho da Justiça Federal. 113

Lei 12.850/2013 que possibilitou a chamada Delação Premiada e a Lei 12.846/2013 prevendo em seu capítulo V o chamado acordo de Leniência. (MENDONÇA, Ana Cristina; MORAES, Geovane. Vade Mecum Penal. 6ª Edição, Rev. Atual. e Amp. Recife: Editora Armador. 2015.)

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Inegavelmente a passagem da modernidade mudou a forma das pessoas

pensarem e agirem, pois o mundo tornou-se capitalista, refletindo no padrão

comportamental de toda a sociedade que busca no consumismo uma forma de

realização pessoal. Marcas e grifes são palavras de uma “linguagem de

reconhecimento” 114. A busca incessante pela utópica felicidade trazida pelo

consumismo nesta era de “modernidade líquida”, expressão cunhada por Zygmunt,

passou a ser a preocupação central do ser nessa era de pós-modernidade de forma

tal que para os indivíduos:

[...] ter e apresentar em público coisas que portam a marca e/ou logo certos e foram obtidas na loja certa é basicamente uma questão de adquirir e manter a posição social que eles detêm ou a que aspiram. A posição social nada significa a menos que tenha sido socialmente reconhecida – ou seja, a menos que a pessoa em questão seja aprovada pelo tipo certo de “sociedade” (cada categoria de posição social tem seus próprios códigos jurídicos e seus próprios juízes) como um membro digno e legítimo – como “um de nós”

115.

Essa lógica do mundo líquido e globalizado contextualizada com a taxa de

desemprego crescente, a concentração de riquezas nas mãos de poucos

ocasionando uma enorme desigualdade social, a corrupção dos detentores do poder

estatal, a precarização da mão de obra que há muito não consegue acompanhar a

velocidade em que as máquinas se modernizam e a falta de educação adequada

para a sociedade menos abastada tem refletido sobremaneira nos números

alarmante do aumento da criminalidade, como bem destacam Salla, Dias e

Silvestre116:

A globalização e a dissolução do bloco soviético também serviram de suporte para que a economia ganhasse efetivamente patamares internacionais com uma intensa circulação de bens e pessoas. A força das relações de mercado de bens legais e ilegais se impôs muitas vezes sobre a capacidade dos Estados exercerem ativamente seu papel de regulação e controle (...). A exploração de atividades ilegais e de atividades ilegais conjugadas com atividades legais tornou-se campo favorável para diversas máfias (russa, italiana, nigeriana, búlgara, chinesa etc.) que protegem seus negócios por meio da edificação de relações identitárias nacionais ou étnicas e sustentadas por vínculos também de lealdade (...).

114

BAUMAN, Zygmunt. Arte da vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed. 2009, p. 21. 115

Ibidem, p.21. 116

SALLA, Fernando; DIAS, Camila Nunes; SILVESTRE, Giane. Políticas Penitenciárias e as Facções criminosas: uma análise do regime disciplinar diferenciado e outras medidas administrativas de controle da população carcerária. Araraquara, v.17, n333, 2012. p. 333.

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De um modo geral, os números do cárcere brasileiro dão conta de que há

uma sociedade marginalizada, seres cuja autonomia e autodeterminação são

poucas ou inexistente ante a suas necessidades básicas não atendidas e sua

utópica ideia construída na cultura do “ter” para se reconhecer como um ser, parte

da sociedade, aceito, amado.

Há uma inversão de valores em que os crimes famélicos vão aos poucos

sendo substituídos pelos crimes de posse, não mais furtos baseado na necessidade

de alimentos e sim baseado na necessidade de se adequar no arranjo social ou se

entorpecer no mundo moderno abarrotado de drogas ilícitas que erroneamente são

vistas como problema de políticas criminais e não problemas de saúde pública.

São seres humanos comuns, seres livres e ao mesmo tempo tão

aprisionados a culpa de seus próprios infortúnios (desemprego, pobreza, depressão,

drogas, mendicância, marginalização, etc.). Esses indivíduos dessa crescente

população compõem a massa iludida com a expectativa de serem incluídos na

sociedade de consumo, mas que na verdade, fazem parte tão somente de sua

solidão coletiva.

Esse ideário cultural dessa massa marginalizada e ocupante da maioria dos

presídios brasileiros se faz presente nas vozes uníssonas que ecoam cantando as

letras dos funk ostentação. Vejamos trecho da entrevista ao desembargador do

Tribunal de Justiça de São Paulo, Antonio Carlos Malheiros, concedida e veiculada

pela revista Época117:

Os crimes contra o patrimônio são os que mais levam jovens à Fundação Casa, a instituição que recebe os menores infratores no estado de São Paulo, segundo um levantamento recente do Ministério Público (MP-SP). Mais de 60% das infrações cometidas por menores no estado entre agosto de 2014 e abril de 2016 são associadas a furtos e roubos, quase três vezes mais que os casos de tráfico de drogas. Cada vez mais, educadores da Fundação Casa, juízes e promotores ouvem histórias semelhantes. “Em geral, eles primeiro negam. Quando falam, o discurso é o da ostentação”, afirma o desembargador Antonio Carlos Malheiros, do Tribunal de Justiça de São Paulo. “Sempre existiu o roubo para mostrar, mas o funk e a [cultura da] ostentação amplificaram isso.” Os adolescentes afirmam, com aquela franqueza de quem ainda guarda algum pingo de inocência, que roubam carros, motos e dinheiro para comprar tênis, roupas, celulares, acessórios

117

ADOLESCENTES fazem do crime profissão para ostentar baile funk. Revista Época. São Paulo: Globo, revista eletrônica. Outubro/2016. Disponível em http://epoca.globo.com/vida/noticia/2016/10/adolescentes-fazem-do-crime-profissao-para-ostentar-em-bailes-funk.html Acesso em: 12/04/2017.

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para exibir-se nos fluxos e se dar bem – ser admirados, conquistar garotas e fazer sexo.

Além da casa de detenção de menores infratores, supracitada, o espaço

prisional brasileiro de forma geral permanece como lugar de retenção de pobres

praticantes dos chamados crimes de colarinho azul118. Como bem pontuou o

Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux119, quando do julgamento da Ação

Penal 470, conhecida como “escândalo do mensalão”120, os crimes de colarinho azul

atraem para si uma maior repulsa social, diferente do que ocorre com os crimes de

colarinho branco, razão pela qual há um maior rigor na aplicabilidade da lei e

consequentemente provoca um maior encarceramento dos pobres, constatando-se,

nas palavras de Cervini121, uma “desfiguração do Estado de Direito, vez que o risco

de ser preso aumenta significativamente em razão inversa à situação

socioeconômica” dos que praticam crimes de colarinho branco.

O ultimo levantamento do DEPEN divulgado pelo InfoPen122 traduz essa

triste realidade ao apontar que esse perfil se mantém estável no decorrer dos anos,

pois os internos são majoritariamente jovens e negros (55% têm entre 18 e 29 anos

e 61,6% são negros) e em sua maciça maioria possuem baixa escolaridade (75,08%

no máximo cursaram até o ensino fundamental completo) o que corrobora com a

ideia de que essa massa marginalizada/encarcerada pertence a classe de baixa

renda familiar e moradores de áreas periféricas.

118

Crimes do colarinho azul ou blue collar crime são os praticados geralmente por pessoas economicamente menos favorecidas, como furto, roubo, estelionato etc. A alusão ao colarinho azul deve-se à cor da gola do macacão dos operários e trabalhadores de fábricas, razão pela qual Sutherland opôs à criminalidade dos pobres (blue collar) a white-collar criminality. (TANGERINO, op. Cit.). 119

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Acórdão em Ação Penal de n°470. Autor: Ministério Público Federal; Réus: José Dirceu de Oliveira e Silva e outros. Relator: Ministro Joaquim Barbosa. DJ: 17.12.2012. p.1496. 120

A ação Penal 470 foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal, onde apurou-se um esquema de corrupção política mediante compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional do Brasil, nos anos de 2005 e 2006. Deflagrou-se um quadro de corrupção sistêmica, onde além do crime de corrupção ativa, verificou-se a prática de formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e evasão de divisas. 121

CERVINI, Raul. A cifra negra da criminalidade oculta. São Paulo: Revista dos Tribunais, v.678, abr. 1992, p.291. 122

INFOPEN, op. Cit.

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É como se, nas palavras acertadas de Wacquant123, o complexo

penitenciário assumisse o lugar da “administração da pobreza”, nesse sentido:

(...) o Estado punitivo procura manter o controle dos setores populares que estão à margem do consumo e do sistema capitalista, setores geralmente representados por pobres, negros e imigrantes. A prisão surge como um instrumento de controle, punição e de gestão da miséria social. Assim (...) o complexo penitenciário assumiu um lugar central na administração da pobreza, na gestão do mercado de trabalho desqualificado, no colapso do gueto urbano, assim como nos serviços do chamado Estado de Bem Estar Social reformados.

Na mesma toada, Zaffaroni124 empresta sua fala ao endossar que a

presença massiva de pobres e marginalizados nas cadeias é fonte de renda para

seus exploradores, movimenta a economia e mantém a “ordem pública”. As prisões

brasileiras se transformaram num aglomerado de marginalizados que cumprem sua

função não só social, mas econômica também, pois mantêm o discurso promocional

acerca da violência e criminalidade e faz com que o poder político não troque de

mãos.

Neste cenário, entre crimes punidos de formas mais brandas para a elite e

penas rigorosas para os crimes cometidos pela classe economicamente

desfavorecida, surge às organizações criminosas, facções que funcionam como

verdadeiras multinacionais da criminalidade e exploram a massa marginalizada.

A presença crescente das facções criminosas que, segundo apontam

estudos já passam de 30 em todo o país125, dá aos excluídos um sentimento de

pertencimento de algo, onde cada dia mais os detentos aderem a alguma gangue

criminosa, tomando emprestado um novo significado para suas vidas destituídas de

sentido.

Uma vez excluídos no poder de consumo pela sua origem social, tornam-se

presa fácil das organizações criminosas que buscam aliciar outros integrantes ao

123

WACQUANT, L. apud SALLA, Fernando; DIAS, Camila Nunes; SILVESTRE, Giane. Políticas Penitenciárias e as Facções criminosas: uma análise do regime disciplinar diferenciado e outras medidas administrativas de controle da população carcerária. Araraquara, v.17, n333, 2012, p.334. 124

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema penal. 2 ed. Trad: Vânia Romano Pedrosa e Amir Lopes da Conceição. Rio de janeiro, Revan: 1996. p.151. 125

LOURENÇO, Luiz Claudio e ALMEIDA, Odilza Lines de. “quem mantém a ordem, quem cria a desordem”. Tempo soc. Vol.25, nº1. São Paulo, junho/2013. p. 3.

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vício e ao tráfico, que geram lucros imediatos, ostentando bens de consumo e os

fazendo acreditar neste caminho da criminalidade como sendo fácil de percorrer.

Essas organizações criminosas, intituladas de facções, tratam vidas como

cifrões, objetos produtores de lucro e riqueza, descartáveis a qualquer momento

como ficou evidente durante os últimos motins, rebeliões e guerra por disputa

territorial do narcotráfico entre facções vivenciadas nas penitenciárias brasileiras e

pelo tráfico internacional de entorpecentes. Em razão de tais conflitos, somente no

início do ano de 2017 houve diversas crises nas unidades prisionais, conforme

Alexandre Hisayasu126:

As facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), do Rio, estão em guerra pelo domínio do tráfico de drogas na fronteira do Brasil com países como Paraguai, Bolívia e Colômbia. A relação entre as duas quadrilhas, até então pacífica, vinha se desgastando nos últimos meses também por causa da disputa pelo comando do tráfico em alguns Estados. (...) 18 presos foram mortos durante rebeliões em presídios de Boa Vista (Roraima) e Porto Velho (Rondônia) por causa da guerra.

Enquanto o governo não retomar o controle dos presídios brasileiros e adotar

medidas eficazes contra a corrupção e os crimes de colarinho branco, o que só aumenta

a desigualdade social e consequentemente o encarceramento dos marginalizados, as

facções vão continuar ocupando espaços, medindo forças e dominando territórios,

aumentando seu poder capital que advém do rico mercado127 de drogas ilícitas, capital

capaz de estruturar as facções com todo o aparato tecnológico moderno, culminando na

perplexidade dos crimes cometidos diuturnamente.

Dia após dia os números de integrantes das facções aumentam, pois o

encarceramento em massa provoca um tratamento desumano aos encarcerados, sendo

a integração a alguma facção uma opção razoável de sobrevivência, pois as facções

126

HISAYASU, Alexandre. PCC e CV travam guerra pelo domínio do tráfico nas fronteiras e em Estados. Jornal Estadão. Edição de 19 de out. de 2016, versão online disponível em: <http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,pcc-e-cv-travam-guerra-pelo-dominio-do-trafico-nas-fronteiras-e-em-estados,10000083002> acesso em 11/05/2017. 127

Ainda segundo a polícia, eram usados para lavar dinheiro do crime organizado. O Ministério Público Estadual (MPE) apurou que o PCC gasta cerca de R$ 6 milhões com pagamentos para advogados e fatura aproximadamente R$ 200 milhões por ano só com o tráfico de drogas. (HISAYASU, Alexandre. Polícia pede cárcere duro para Marcola e mais 13 líderes do PCC. Jornal Estadão. Edição de 13 de dez. de 2016, versão online disponível em: <http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,policia-pede-rdd-para-marcola-e-mais-13-lideres-do-pcc,10000094141 > acesso em 14 de abr. de 2017).

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prometem melhores condições de subsistência durante o cárcere e até mesmo após ele,

diferente do que tem feito o Estado.

O estigma social , assim como a reincidência altíssima, demonstra que o país

não tem políticas publicas criminais eficazes e também não está preparado para

combater o crime organizado, pois cada estado possui um modelo de administração

diferente, autorizado inclusive pelo dispositivo constitucional artigo 24, que permitem que

os estados legislem sobre o seu sistema prisional, inexistindo uma padronização, muito

menos fiscalização eficaz.

Diante disto, a barbaria assistida e veiculada pela mídia expõe a sociedade ao

medo, como ocorreu em janeiro de 2017 e ficou conhecida como “O Massacre de

Alcaçuz”. Foi na Penitenciária Estadual de Alcaçuz no Rio Grande do Norte em que a

barbaria vitimou 26 presos, mortos devido à guerra entre facções o terror foi

acompanhado pela população através da mídia com transmissões ao vivo por meio de

celulares dos próprios membros que disseminavam ameaças e mostravam a forma cruel

de execução dos presos daquele estabelecimento. Nas palavras do juiz titular da vara de

Execuções Penais de Natal/RN, Henrique Baltazar128:

Alcaçuz está controlada, mas o estado não. Diferente do que é dito, o tráfico de drogas não é o motivo da violência. A violência é provocada pelas facções, pela força do crime organizado. Claro que é um dos fatores, mas existem outras práticas criminosas adotadas. Hoje as facções atuam como verdadeiras multinacionais. Temos duas grandes facções em atuação no país e outras 23 menores que atuam como franquias.

Denota-se que o tráfico não é o motivo principal da violência, a violência é

provocada pelas facções no intuito de pressionar o Estado e mostrar quem domina, o

aumento de membros em cada região do país visa cada vez mais consolidar as facções

e dominar o mercado com reações que causam pânico e comoção social.

Tais reivindicações e demonstração de poder ocorrem inclusive fora dos

presídios, incêndios de ônibus, ataques em bancos e delegacias, como ocorreu em

128

FACÇÕES atuam como verdadeiras multinacionais, afirma juiz do RN. G1 Rio Grande do Norte, Jornal Eletrônico, edição de 30 de mar. De 2017. Disponível em <http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2017/03/faccoes-atuam-como- verdadeiras-multinacionais-afirma-juiz-do-rn.html> Acesso em 20 de Abr. de 2017.

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Fortaleza – Ceará129. Nos primeiros 20 dias do mês de abril de 2017 a Segurança

Pública do Ceará contabilizou mais de 21 ataques terroristas, principal alvo foram os

ônibus coletivos incendiados, tais ataques foi uma forma de resposta ao governo do

Ceará pela transferência de membros de facções criminosas para outras unidades

prisionais.

É evidente o despreparo do Estado nesses momentos de crises decorrentes das

reivindicações das facções. A estratégia adotada pelo Estado para desconstituir os

grupos criminosos é colocar em Regime Disciplinar Diferenciado os líderes das facções,

objetivando o seu isolamento para com o mundo externo, porém, tal medida não tem se

mostrado eficaz, conforme foi possível verificar através da operação Ethos130 de

Presidente Prudente/SP.

Isso porque a referida operação desvelou que os advogados dessas

organizações criminosos compactuam com o crime se valendo de sua prerrogativa

constitucional que lhe confere o sigilo das comunicações com seus clientes, o que os

permitia contribuírem com as facções criminosas dentro e fora dos presídios.

Os comandos são precisos e as facções possuem administração e regras,

seguidas pelos seus membros que de tão numerosos e espalhados em todas as

unidades da federação, dentro e fora das unidades prisionais, o Estado não consegue

acompanhar e nem manter o controle e a segurança.

De leste a Oeste e de Norte ao Sul do país as facções dominam territórios.

No Mato Grosso a última guerra comandada por facções ocorreu em Sinop, nos dias

12 e 13 de abril de 2017, na penitenciária Ferrugem. A unidade prisional com

capacidade para abrigar 326 presos acomodava 828 no momento do motim. Segundo

dados da Sejudh131 foram 240 detentos envolvidos na crise local que resultou na

129

XEREZ, Gloras; SENA, Lena; CORDEIRO, Marília. Grande Fortaleza tem segundo dia de ataques a ônibus e delegacia. G1 Ceará de 20 de abr. de 2017, Jornal eletrônico disponível em: <http://g1.globo.com/ceara/noticia/fortaleza-tem-segundo-dia-de-ataques-a-onibus-e-delegacias.ghtml> Acesso em 20 de Abr. de 2017. 130

AO CONCLUIR operações ethos, polícia civil pede 54 prisões preventivas. G1 de Presidente Prudente e Região, Edição de 01 de dez. de 2016. Jornal Eletrônico disponível em <http://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/noticia/2016/12/ao-concluir-operacao-ethos-policia-civil-pede-54-prisoes-preventivas.html > Acesso em 20 de Abr. de 2017 131

RIXA ENTRE GRUPOS RIVAIS É PROVÁVEL CAUSA DE REBELIÃO EM SINOP; Rev. Eletrônica da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, de 11 de abr. de 2017, Disponível em <http://www.sejudh.mt.gov.br/-/6107080-rixa-entre-grupos-rivais-e-provavel-causa-de-rebeliao-em-sinop. > Acesso em 14 de abr. de 2017.

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morte de cinco presos e deixou 26 feridos. No conflito foram apreendidas armas de

fogo e celulares, inclusive, várias armas artesanais criadas por eles.

Essas facções utilizam-se da tecnologia, produto da modernidade, para

consolidar suas raízes e ampliar seus horizontes, com uso de aparelhos celulares132

informatizados, que entram de várias formas no cárcere, inclusive por drones133,

passando por importantes fontes, voltadas a disseminar informações dentro e fora

dos presídios de forma rápida, instantânea e eficiente, causando grandes impactos

sociais reflexos do mundo do crime.

Essa sociedade cada dia mais moderna, liquida, capitalista e as inversões

de valores que se apresentam a cada dia constatam a falência da política e do

Estado em gerir o sistema, demonstrando a utopia da ressocialização, da reinserção

dos presos à sociedade, conforme preconiza a Lei de Execução Penal em seu artigo

1º que demonstra que a execução penal tem o objetivo de proporcionar condições

para a harmônica integração social do condenado, o que na prática está longe de

acontecer.

Hoje o Brasil mantém em cárcere 40% de presos provisórios134,

considerados tecnicamente primários, sobre ao qual recai a presunção constitucional

da inocência e que se veem diante de celas abarrotadas, em condições sub-

humanas, obrigando-os a passarem e a integrarem a uma facção até mesmo como

forma de sobrevivência, uma triste realidade.

Em razão da ingerência estatal há nos presídios brasileiros um verdadeiro

vácuo causado pela falta de servidores com mão de obra qualificada e/ou até

mesmo número reduzido de servidores, além de não haver verbas suficientes para

proporcionar aos segregados condições mínimas de subsistência.

Desta forma, este vácuo vai aos poucos sendo ocupadas pelas gangues que

ocupam o poder do Estado em administrar os estabelecimentos prisionais, ofertando

132

SOARES, Denise. Bebedouro Com 181 Celulares É Deixado Em Penitenciária De Cuiabá. G1 Mato Grosso, Edição de 04 de jan. de 2017, Jornal Eletrônico, Disponível em <http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2017/01/bebedouro-com-181-celulares-e-deixado-em-penitenciaria-de-cuiaba.html> Acesso em 14 de abr. de 2017. 133

DRONE É flagrado sobrevoando presídios para levar celulares aos detentos. R7 notícias, edição de 21 de ago. de 2014, Jornal Eletrônica, Disponível em <http://noticias.r7.com/balanco-geral/videos/drone-e-flagrado-sobrevoando-presidio-para-levar-celulares-aos-detentos-16102015>. Acesso em 14 de abr. de 2017. 134

INFOPEN, op. Cit.

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melhores condições aos segregados, onde a moeda de troca é sua participação

como membro da organização criminosa.

Assistimos à cruenta e bárbara decomposição capitalista onde a

criminalidade toma conta do espaço de recuperação daquele que amanhã voltará

para o seio social e que infelizmente continuarão marginalizados, porque uma vez

batizado por facções, tornam-se obrigados a se manterem no mundo do crime, pois

mesmo fora do cárcere, devido à alta dívida que contraem para sua manutenção e

confidências absolvidas pelas organizações criminosas, acarretam para reincidirem

em crimes. Isso porque, como bem pontua Bauman135:

As “classes perigosas” são assim redefinidas como classes criminosas. E, desse modo, as prisões agora, completa e verdadeiramente, fazem as vezes das definhantes instituições do bem-estar. (...) os consumidores falhos – os consumidores insatisfatórios, aqueles cujos meios não estão à altura dos desejos (...) são exatamente a encarnação dos “demônios interiores” peculiares à vida do consumidor. Seu isolamento em guetos e sua incriminação, a severidade dos padecimentos que lhes são aplicados, a crueldade do destino que lhes é imposta, são (...) o estímulo primordial da atual exuberância do que o grande criminologista norueguês Nils Cristie denominou “a indústria da prisão”, então a esperança de que o processo possa ter a marcha abrandada, para nem se falar em ser suspensa ou invertida, numa sociedade inteiramente desregulamentada e privatizada, animada e dirigida pelo mercado consumidor, é vago – para se dizer o mínimo.

Neste sentido, conclui-se que houve aumento da criminalidade

contemporânea com o advento do capitalismo em razão da necessidade de

consumo dos indivíduos que compõem a sociedade.

Como forma de preenchimento dos vazios interiores e símbolo das

realizações pessoais, a sociedade se tornou consumista o que provocou a

instalação de um verdadeiro estado de caos na sociedade com reflexos na

criminalidade.

As consequências trazidas com o processo de derretimento das bases

morais, da solidez que se vivia no século passado em razão dos padrões morais

adotados pela sociedade, a velocidade e volume de informações que circulam nesta

era globalizada e a facilidade em conhecer novas pessoas através das redes sociais

135

BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Tradução: Mauro Gama e Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1998. p.58.

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acarretou o desfazimento dos vínculos familiares, fizeram com que o indivíduo

perdesse sua identidade, suas raízes, buscando no consumismo o preenchimento

do vazio que se instalou.

Neste cenário, surgem os crimes de colarinho branco que fazem de vítima

toda a sociedade, aumentando ainda mais a desigualdade social, esvaziando os

cofres públicos e tornando recorrente o discurso de falta de verbas para

implementações de políticas sociais garantidoras dos direitos fundamentais da

sociedade menos favorecida economicamente.

Tais diferenças sociais acarretam o encarceramento da massa

marginalizada, e esses excluídos do poder de compra acabam sendo seduzidos

pelas vantagens oferecidas pelas associações criminosas, que lhes conferem a

sensação de bem-estar que há muito não é proporcionada pelo Estado, tornado

presas fáceis de uma prisão que vai muito além do cárcere.

3.4 O Labelling Approach ou Teoria do Etiquetamento do Delinquente

Segundo Francisco Bissoli Filho136 o paradigma etiológico europeu que é

originário como modelo tradicional da Criminologia orientando os estudos

relacionados às causas da criminalidade chega ao Continente Americano, mas

precisamente nos Estados Unidos da América onde se desenvolve estudos da

Sociologia Criminal que passou a criticar o modelo do Sistema Penal positivo, com

novos paradigmas.

Tais paradigmas negaram a ideologia da defesa social no sentido da

finalidade da pena para um novo paradigma o da reação social, ou seja, a reação do

sistema penal em face da criminalidade advindo então o Labelling Approach ou

teoria do etiquetamento.

A referida Teoria foi influenciada por duas correntes fenomenológicas que

surgiu no início do século XX, como reação do positivismo científico137;

136

BISSOLINE FILHO, op. Cit., p. 44. 137

Positivismo Científico é o termo usado por Comte referindo-se a uma unidade da tese da ciência segundo a qual todas as ciências podem ser integradas num único sistema natural. (LACERDA, Gustavo Biscaia de Lacerda. Augusto Comte e o “Positivismo” Redescobertos. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v.17, nº34, p. 219-343, 2009, p.323).

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estreitamente ligadas entre si à sociologia americana pelo “Intervencionismo

Simbólico”, inspirado na Psicologia Social e na sociolinguística do psicólogo social

norte americano George H. Mead e na etnometodologia originária da Sociologia

fenomenológica do jurista e sociólogo austríaco Alfred Schutzém, demonstrando que

o Labelling approach advém de uma forma de etiquetar um desviado das condutas e

leis sociais. Segundo Sá138:

Com o labelling, a Criminologia migra da pergunta por que certas pessoas cometem crimes para a pergunta por que certas pessoas são selecionadas, rotuladas e tratadas como criminosas e quais as consequências que isso poderá lhes acarretar. Entre os desdobramentos dessa rotulação seletiva estão as chamadas cerimônias degradantes dessa rotulação seletiva estão as chamadas cerimônias degradantes (SHECAIRA, 2008, p. 294), que ficam a cargo, sobretudo das unidades prisionais. Nelas, o indivíduo terá “a experiência de ser preso e publicamente etiquetado como desviante” (BECKER, 191, p. 31), como alguém que violou as regras impostas pelo grupo, condição essa importante para que ele estabeleça um padrão estável de conduta desviante. Graças a prisão, a personalidade do indivíduo se degrada e ele acaba incorporando outra identidade.

No mesmo sentido Gabriel Inacio Anitua139 conceitua o etiquetamento:

As chamadas aplicações do etiquetamento- deixaria de perguntar quem é o criminoso e passaria a perguntar primeiro quem é considerado desviado. Logo viriam outras perguntas associadas a ela, porém mais radicais, como por exemplo, quem é o que etiqueta dessa forma, como o faz e porque etc. Dessa maneira o enfoque do criminoso mudaria totalmente, pois as definições legais e institucionais deixariam de ser assinadas acriticamente como algo natural, e a ênfase seria colocada exatamente nessas definições.

Portanto o objeto de estudo da criminologia na visão da teoria do

etiquetamento deixa de ser o delinquente e passa a serem os motivos que criam e

influencia o delinquente a partir dos processos de criminalização, o que poderia

explicar como a sociedade e suas instituições reagem diante de um fato passa ser

mais determinante para defini-lo como delitivo ou desviado do que a própria

natureza do fato, como era visto no positivismo.

Talvez pelo estigma da severidade da pena como era na antiguidade por

meio dos suplícios, a sociedade ainda possui o pensamento arcaico e vingativo de

que todo o indivíduo que comete crime deve ser punido na forma mais rígida

possível e a satisfação passa a ser imediata, não se importando como os meios que

138

ALGUSTO DE SÁ, op. Cit., p. 58. 139

ANITUA, op. Cit. p. 134.

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levaram aquele indivíduo a desviar sua conduta muito menos se sua identidade será

violada.

Há exemplo disto é o que ocorre com Suzane Von Richthofen, uma jovem de

22 anos de classe média alta, estudante de Direito, por motivos de seus pais não

aprovar de seu relacionamento amoroso com Daniel Cravinhos, rapaz de classe

baixa, planejou e executou o plano homicida.

Suzane e o namorado, com a ajuda do irmão de Daniel, no dia 31 de outubro

de 2002 colocaram em prática o plano de assassinar o casal, o engenheiro Manfred

e sua esposa Marísia Von Richthofen. A jovem abriu a porta da casa em que morava

com seus pais (vítimas), para que os irmãos Cravinhos executassem com o

planejado. O crime chocou o país pela frieza e crueldade da moça de forma que até

hoje Suzana é taxada de fria, psicopata, maníaca e outros adjetivos desta

natureza140.

Igualmente ocorre com Bruno Fernandes, suposto assassino de Eliza

Samudio141, com quem tem um filho. O caso chocou os brasileiros pelos requintes

de crueldades em que a mídia narrou o crime. Segundo foi apurado pelas

investigações e divulgado pela mídia nacional, Eliza Samudio foi assassinada,

esquartejada e dada de comida aos cães142. Em que pese o corpo de Eliza nunca

ter sido encontrado, Bruno que há época era goleiro do renomado clube de futebol

Flamengo, foi acusado do homicídio.

Todos os indícios apontavam para o goleiro que foi condenado pelo Tribunal

do Júri em março de 2013 a 22 anos e três meses de prisão em decorrência do

homicídio e posterior ocultação do cadáver da jovem. Apesar de réu primário, cumpriu

seis anos e sete meses de reclusão mesmo com recurso em andamento na Segunda

140

Conforme revela matéria veiculada pela Revista Veja (CAMPBEL , Ullisses. Suzane Von Richthofen, 14 anos depos. Revista Veja de 26 de Agosto de 2016, versão online. Disponível em: http://veja.abril.com.br/brasil/suzane-von-richthofen-14-anos-depois/ Acesso em: 25.05.2017. 141

DEPOIMENTO de irmãos de bruno não possibilida buscas, dis polícia em MG. G1 Minas Gerais, edição de 06 de jul. de 2016, Jornal Eletrônico, Disponível em <http://g1.globo.com/minas-gerais/julgamento-do-caso-eliza-samudio/noticia/2016/07/depoimento-de-irmao-de-bruno-nao-possibilita-buscas-diz-policia-em-mg.html > Acesso em 20 de abr. 2017. 142

HERINGER, Carolina. Em lágrimas, goleiro Bruno confirma que Eliza Samudio foi esquartejada e jogada para cachorros. Jornal Extra, versão online disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/em-lagrimas-goleiro-bruno-confirma-que-eliza-samudio-foi-esquartejada-jogada-para-cachorros-7762016.html Acesso em: 25.05.2017

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Instância, ou seja, sem mesmo ter condenação definitiva, o que o torna tecnicamente

primário.

Habeas Corpus143 impetrado pela defesa de Bruno na tentativa de conseguir a

liberdade do acusado até que haja decisão em última instância judicial foi julgado

favorável, todavia, Bruno tentou se reintegrar socialmente e seguir sua profissão, porém

sem sucesso, conforme declaração ao site Extra Globo144 dada pelo Presidente do

Clube Flamengo, Eduardo Bandeira Mello, via assessoria.

Objetivando desvincular a imagem do acusado ao Clube futebolístico, a

assessoria informou ainda que apesar do “habeas corpus de Bruno, (este) não tem

qualquer relação com o Flamengo e que o retorno dele ao clube um dia não existe a

menor possibilidade de acontecer”.

Essa rejeição pode ser explicada pela teoria do etiquetamento, que mesmo

depois do goleiro pagar pelo que ele fez diante da justiça, recebe o julgamento social

após o cárcere.

Tanto Suzane quanto Bruno levam com eles estigmas sociais que

ultrapassam as muralhas do cárcere, o estigma da discriminação145. Apesar de

ambos terem cumprido a pena de reclusão objetivando a punição, a própria

sociedade não os recebe de volta ao seu seio, assim passam também serem

vitimados e fadados a viverem o resto da vida com o estigma da exclusão social,

sem oportuniza-los a demonstrar que não são “naturalmente criminosos”, mas quais

os motivos que os levaram a cometerem os crimes.

Essa ótica trazida pela teoria do etiquetamento apresentada através do

estudo do crime precisa ser difundida dentro da sociedade quebrando paradigmas

143

MINISTRO do STF manda soltar goleiro bruno. G1 Minas Gerais, edição de 24 de fev. de 2017, jornal eletrônico disponível em: < http://g1.globo.com/minas-gerais/julgamento-do-caso-eliza-samudio/noticia/stf-determina-liberacao-do-goleiro-bruno-da-prisao-por-morte-de-eliza-samudio.ghtml > Acesso em 20 de abr. de 2017. 144

FLAMENGO descarta possibilidade de retorno de bruno ao clube: „menor possibilidade de acontecer‟. Jornal Extra. Versão online disponível em <http://extra.globo.com/esporte/flamengo/flamengo-descarta-possibilidade-de-retorno-de-bruno-ao-

clube-menor-possibilidade-de-acontecer-20977976.html> Acesso em 20 de abr. de 2017. 145

Neste sentido, vejamos os comentários dos leitores da revista eletrônica Veja sobre a reportagem “Suzane Von Richthofen 14 anos depois” de 26 de agosto de 2016: Samanta: “Uma vez psicopata, sempre psicopata. Isso é traço de carácter (sic). Eles NÃO mudam. Leiam qualquer livro científico que vai dizer exatamente isto sobre os psicopatas. Um psicopata que é capaz de matar uma vez,é capaz de matar de novo.” Alex Cardoso: “Ela merece uma segunda chance sim, a chance de morrer numa cadeira eletrica.(sic.) quem morre não(sic.) tem segunda chance…” (CAMPBEL, op. Cit.).

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para que, à luz da Criminologia moderna, seja excluído o reflexo do antigo modelo

de repressão penal e inquisição.

Antes do crime Suzane era conhecida como uma menina doce, de classe

média alta e estudante de Direito, e depois passou a vivenciar inúmeras formas de

agressões voltadas à repressão social, que mesmo depois de anos de cumprimento

de pena teve medo146 até de receber o benefício do livramento condicional.

Igualmente discriminado o goleiro Bruno foi rejeitado pelo seu clube. Logo

após receber o benefício do livramento condicional, a sociedade reagiu com a

criação de abaixo-assinado, por iniciativa de uma ONG, com assinatura de mais de

20 mil brasileiros que não aceitaram que o goleiro voltasse a trabalhar, mesmo

depois de receber Habeas Corpus. Dá-se destaque a um comentário estigmatizante

veiculado em blog pertencente à ONG - Somos Todos Vítimas Unidas147:

Jogadores são vistos como ídolos, e esse tipo de exemplo não pode ser aceito para nossos filhos. Não aceitamos esse símbolo da morte visitando nossas casas nos domingos. Agora basta ser goleiro para cometer um crime para depois ser aplaudido?.

Isso porque, conforme esclarece os ensinamentos de Algusto de Sá148:

O indivíduo que desrespeita uma regra imposta pelo grupo é visto como um tipo especial de pessoa, como um estranho (intruso, não sócio, não pertencente – ousider) são aquelas pessoas que são julgadas pelos outros como desviante, estranhos são os que fizeram as regras, graças às quais ele foi julgado culpado por desobedece-las.

O etiquetamento é uma forma de rejeição social, devido o ato desviante que

acaba excluindo os indivíduos que cometeram crime, bloqueando-os ao direito de

reinserção social, e essa teoria se aplicada com o estudo interdisciplinar da

146

CAMPOS JR. Nadir de. Recusa de Progressão de Regime Conquistado pela Defesa: Impossibilidade. Jornal Carta Forense, publicação de 04 de nov. de 2014, versão online, disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/recusa-de-progressao-de--regime-conquistado-pela--defesa-impossiblidade/14630 acesso em 20/04/2017> Acesso em 20 de abr. de 2017. 147

MENGUE, Priscila. ONG lança petição para impedir clubes de contratarem goleiro Bruno. Jornal O Estadão de São Paulo, versão online de 06 de março de 2017. Disponível em: <ttp://www.novonoticias.com/cotidiano/ong-lanca-peticao-para-impedir-clubes-de-contratarem-goleiro-bruno> Acesso em 17 de abr. de 2017. 148

ALGUSTO DE SÁ, Alvino. REINCIDÊNCIA CRIMINAL; Sob o Enfoque da Psicologia Clínica Preventiva. E.P.U Editora. São Paulo, 1987. p. 59.

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criminologia, é possível demonstrar através da experiência empírica, indícios do

propósito que o indivíduo teve para escolher desviar das leis e regras sociais.

É cediço que a maioria da população carcerária pertence à classe

economicamente baixa ou miserável. Ao cumprirem a pena sem finalidade de

reintegração se deparam com a liberdade, todavia, já perderam suas identidades, e

sem o mínimo de aparato Estatal no que tange a ressocialização, com contribuição

dos estigmas sociais que os marginalizam, restando-os etiquetado devido seus

antecedentes criminais, passam a cometerem novos delitos como forma de

sobreviver, tendo em vista não conseguirem uma colocação ao mercado de trabalho.

3.5 A Política Carcerária e a Segurança Pública

Com o desenvolvimento das cidades nos últimos anos aumentou os conflitos

entre as pessoas e grupos, sendo que os Estado, por sua vez não consegue evita-

los e/ou administrá-los. Certo que o ordenamento jurídico pátrio, a polícia e o

sistema penal não acompanharam a cadência das transformações se tornando

impotentes para combater a violência e os delitos. Nesta esteira a impunidade há

muito tem feito parte da rotina e a repressão tropeçou na carência de vagas dos

presídios do Brasil, o déficit que ultrapassa 350 mil149.

De acordo com Bittar150 a incumbência pela formulação da política prisional

é do Ministério da Justiça, através do Conselho Nacional de Política Criminal e

Penitenciaria, haja vista que este colegiado é o órgão máximo do sistema interligado

pelo Departamento Penitenciário Nacional, amparado pelo Fundo Penitenciário no

âmbito estadual no que concerne os conselhos e órgão executivos e conselhos da

comunidade nos municípios. Vislumbra-se que o sistema é regulamentado pela Lei

de Execução Penal (7210/84), que orienta sua gestão, os direitos dos presos e os

deveres do Estado.

149

Coforme divulgado pelo Conselho Nacional de justiça. CIDADANIA NOS PRESÍDIOS. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/cidadania-nos-presidios> Acesso em 14 de abr. de 2017. 150

BITTAR, Walter. A criminologia no século XXI. Rio de Janeiro: Lumen Júris, IBCCRIM, 2007, p. 35.

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No tocante ao conjunto do sistema penitenciário, enfatiza Baratta151 que este

nunca trabalhou como um sistema. Desse modo, a legislação jamais foi inteiramente

cumprida e a política carcerária não foi concretizada. Assim sendo, a

superpopulação carcerária gerou uma desastrosa mistura de presos condenados de

alta periculosidade, provisórios e primários.

A criação dos estabelecimentos prisionais possuem o objetivo de reeducar e

recuperar infratores, foi alterada num humilhante e desumano modelo o qual nivela

os recuperandos por baixo, tal comportamento traz revolta e promove a

desesperança, realimentando a criminalidade. De acordo com Câmara152:

Os deveres do Estado e os direitos dos presos são ignorados, em total desrespeito aos direitos humanos básicos e com a cumplicidade de quem deveria fiscalizar o cumprimento da lei. Presos ficam enjaulados em xadrezes policiais, onde lhes falta atendimento adequado à saúde, inclusive à prevenção, e muitas unidades penais são verdadeiras bombas epidemiológicas (com tuberculose, DST, incluindo a AIDS em altos níveis). É gravíssima a situação dos recolhidos por medida de segurança imposta pela Justiça, que, em alguns estados, não recebem acompanhamento médico-psicológico e acabam condenados à prisão perpétua, pois sua liberação requer um laudo certificando que o paciente não oferece risco à sociedade. No tocante à educação dos internos, o quadro é também dramático. A exigência de vincular o magistério a uma escola de ensino regular inviabiliza sua inserção no sistema prisional, e o resultado, então, é uma nova exclusão do preso, dificultando ainda mais o processo de reinserção social.

Conforme leciona Bitencourt153, o desrespeito com o sistema carcerário pode

ser mensurado pelas carências identificadas. Os atuais estabelecimentos prisionais

foram construídos em sua maioria a contra gosto dos governos federal e estadual

para atender a pressão da demanda. O desajustamento de suas instalações,

congregada às dificuldades de administração, facilita a entrada de drogas, celulares,

armas etc. Despreparo visível na mão de obra dos servidores que trabalham com os

presos, razão pela qual, falhas primárias acontecem nos controles internos da

gestão prisional.

151

BARATA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do Direito Penal: introdução À Sociologia do Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan, 2003. p. 31. 152

CÂMARA, Paulo Sette. Política Carcerária e a Segurança Pública. Revista Brasileira De Segurança Pública. Ano 1, edição 1, Brasília: 2007. ISSN: 1981-1659. p. 66. 153

BITENCOURT, Cezar Roberto. Criminologia crítica e o mito da função ressocializadora da pena. Rio de Janeiro: Lumen Juris, IBCCRIM, 2007. p. 98.

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73

Por outro lado, a maioria dos estados brasileiros não contempla a carreira de

agentes prisionais, sendo que poucos, senão raros, recebem treinamento adequado,

outros, sequer usam uniformes e os que usam por vezes são custeados pelo próprio

servidor, como forma estratégica de segurança, principalmente para momentos de

crises para identificação visual. O cotidiano do agente não é regulado por

procedimentos operacionais padrões na maioria das prisões brasileiras e, seus

míseros salários, por vezes contribuem para o aliciamento e a corrupção de alguns

servidores. Para finalizar o descalabro, em muitos lugares policiais são removidos de

suas missões estabelecidas para fazer a guarda externa desses estabelecimentos

prisionais.

Assevera Bittar154 que nesse contexto, com quase duas décadas de atraso,

a União deu os primeiros passos para receber a custódia de presos condenados e

provisórios da competência federal e dos criminosos cuja pratica teve repercussão

interestadual, que de acordo com a Constituição Federal também é de competência

da União, mesmo sendo julgado pela justiça dos estados. No rol desses criminosos

destacam-se os assaltantes de bancos, cargas, carro forte, membros de facções

criminosas e outros, desde que coloquem em risco as instalações prisionais dos

Estados.

154

BITTAR, op. Cit., p. 35.

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4. PESQUISA DE CAMPO: PERFIL DOS RECUPERANDOS -

REINCIDÊNCIA E POLITICAS DE REINTEGRAÇÃO NO CENTRO DE DETENÇÃO

PROVISÓRIA DE JUÍNA-MT

4.1 Considerações Iniciais

A presente Pesquisa de Campo tem por finalidade identificar o índice de

reincidência e demonstrar um pouco do perfil social dos recuperando do CDP-

Centro de detenção Provisória da cidade de Juína, localizado no interior de Estado

de Mato Grosso, bem como trazer a baila o modelo de gestão adotado cujo objetivo

é a reintegração social dos recuperando.

Juína conta com uma unidade prisional que no início da cidade estava

localizada na Avenida Governador Jaime Campos - BR-AR1, entrada da cidade,

sentido Cuiabá/Juína. Funcionava junto a policia judiciária civil, sendo que alguns

anos mais tarde a polícia judiciária civil adquiriu cede própria, ficando no endereço

supramencionado apenas a Cadeia Pública de Juína. Em 2014, com a Operação

Casa Nova realizada pelos agentes penitenciários do estado, a cadeia foi desativada

e os presos transferidos para uma nova estrutura, numa distancia de oito

quilômetros da sede administrativa da cidade, localizada na Avenida Jaime Campos-

BR-ARI, saída para Vilhena/RO.

Inaugurada em 11 de dezembro de 2014, na gestão da Presidente Dilma

Rousseff, com capacidade para 152155 vagas a nova cede possuía ao tempo da

inauguração uma população carcerária aproximada de 90 (noventa) presos,

atualmente, o número ultrapassa o limite de vagas, variando de 200 até 240,

fazendo parte de mais uma realidade de encarceramento em massa.

Analisando o índice nacional da população carcerária do país, observa-se

que está é uma realidade que atinge o sistema carcerário de forma geral, segundo

155

Conforme matéria veiculada pela assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos humanos em 03 de dezembro de 2014, em seu sítio. (MELONI, Rodrigo Maciel. Centro de Detenção Provisória de Juína será inaugurado dia 11. SEJUDH, dezembro de 2014. Disponível em <http://www.sejudh.mt.gov.br/-/centro-de-detencao-provisoria-de-juina-sera-inaugurado-dia-11> Acesso em 10 de Abr. DE 2017).

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dados de 2014 do Ministério da Justiça156 houve um aumento considerável no

número de segregados, pois no Brasil subiu mais de 400% em 20 anos.

De acordo com o Centro Internacional de Estudos Penitenciários, ligado à

Universidade de Essex, no Reino Unido, a média mundial de encarceramento é 144

presos para cada 100 mil habitantes, no entanto, o Brasil apresenta número

vertiginoso, sendo de 300 presos a cada 100 mil habitantes.

Nesta esteira, de acordo com o relatório do INFOPEN/2014157 o Brasil é o

quarto país que mais encarcera no mundo, possuindo uma população carcerária

brasileira de 607.731 presos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (primeiro

lugar), China (segundo lugar) e Rússia (terceiro), a demonstrar que os números

acima da capacidade do estabelecimento prisional da unidade de Juína não é um

caso isolado.

Utilizando o procedimento documental de pesquisa, a análise dos dados foi

desenvolvida a partir do método hipotético indutivo experimental, com abordagem

quantitativa que será demonstrada através de gráficos. A pesquisa foi realizada no

mês de março e abril de 2017, utilizando-se de recursos documentais oriundos de

levantamento de dados declaratórios de 212 (duzentos e doze) recuperandos e 232

(duzentos e trinta e dois) recuperandos, respectivamente.

Os dados foram extraídos a partir de fichas de qualificação individualizada

que consta nos arquivos da administração do Centro de Detenção Provisória de

Juína, Mato Grosso.

Apesar de a nomenclatura ser Centro de Detenção Provisória, a unidade

conta com um índice alto de presos condenados, conforme se demonstrará

oportunamente.

Vale destacar que a etimologia recuperando será usada no decorrer da

pesquisa para referir-se aos presos, pois há entendimento que em unidades

prisionais onde existem políticas de reintegração a finalidade é de recuperar o

segregado.

156

Dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça. CIDADANIA NOS PRESÍDIOS: Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/cidadania-nos-presidios> Acesso em 10 de abr. de 2017. 157

Segundo relatório final sobre o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, INFOPEN de junho de 2014.

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Os dados que seguirão apresentará o perfil dos recuperandos do

Centro de Detenção Provisória de Juína o que permitirá uma análise quanto ao

modelo de gestão adotado para a ressocialização dos recuperando de Juína, na

oportunidade se explorará os dados colhidos analisando-os frente às teorias das

políticas de tolerância zero (ou teoria das janelas quebradas) e a teoria do

etiquetamento.

4.2 Perfil dos Presos em uma Análise Sobre a Superlotação da Unidade

Prisional de Juína

Provisório é aquele que tem a prisão decretada apesar de recair sobre ele a

presunção de inocência, pois sua prisão é essencialmente cautelar visto que ao

indivíduo preso provisoriamente ainda lhe será conferido o devido processo legal

concedendo-lhe o direito ao contraditório e a ampla defesa. A natureza dessa prisão

provisória é cautelatória, também chamada de prisão processual, pois possui

finalidade de assegurar o tramite do processo até que tenha uma condenação

definitiva.

Os motivos principais do cárcere não é o de amontoar os mais variados

perfis de criminosos, por esta razão há diferença entre a estrutura física de um

Centro de Detenção Provisória e uma Penitenciária. No entanto, segundo a

advogada da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de São Paulo, Vanessa Kiss158

A gravidade disso reside no fato de as condições do aprisionamento nesses locais serem significativamente piores que as das penitenciárias: tendo sido projetados para abrigar presos provisórios por curto período até o julgamento, os CDPs possuem estrutura precária e não costumam dispor de espaços para atividades laborais ou educacionais – privando a maior parte dos ali detidos da possibilidade de remir pena por trabalho ou estudo, direito assegurado na Lei de Execução Penal; além disso, tais unidades apresentam uma taxa média de ocupação de 192%, (consideravelmente superior às cifras referentes ao regime fechado e ao semiaberto) ; essa superlotação, por sua vez, agrava as condições de salubridade, higiene e intimidade, deteriorando a saúde física e mental dos ocupantes; por outro lado, a quantidade excessiva de pessoas presas inviabiliza a prestação de serviços básicos de saúde, assistência social, atendimento psicológico,

158

KISS, Vanessa. A celebração da prisão provisória pela administração penitenciária paulista. Coluna: Justificando – mentes inquietas pensam Direito. Jornal Carta Capital. Edição Online de 13 de fevereiro de 2017. Disponível em < http://justificando.cartacapital.com.br/2017/02/13/celebracao-da-prisao-provisoria-pela-administracao-penitenciaria-paulista/ > Acesso em abr. de 2017.

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entre outros, diante do número reduzido de profissionais nesses estabelecimentos – para citar apenas alguns dos problemas. A degradação é tamanha que a remoção para uma penitenciária costuma ser aguardada e comemorada como se fosse a própria liberdade.

De fato os Centros de Detenção Provisória, como o próprio nome faz

menção, possuem estruturas específicas para aqueles que ficarão provisoriamente

até receber uma condenação e ser transferido para uma Penitenciária, onde

cumprirão sua pena em regime fechado. Mas, as políticas de encarceramento em

massa e a omissão do Estado em estruturar novas unidades prisionais fazem com

que isso não seja observado na prática, infringindo a legalidade e a dignidade da

pessoa humana dos recuperandos, acarretando corriqueiramente no risco à

integridade física e mental destes.

Nesta toada, outra não é a conclusão a que se chegou ao analisar os dados

apresentados no gráfico, que segue abaixo, onde demonstra que o Centro de

Detenção Provisória de Juína conta com 47,17% de presos provisórios e 52,83%

definitivos. Ou seja, apesar do Centro de Detenção Provisória ser criado para

segregar indivíduos provisoriamente, conforme dito alhures, mais da metade da

população carcerária da unidade possui pena definitiva, razão pela qual deveriam

ser transferidos para outra unidade prisional, a saber, para uma Penitenciária que é

destinada ao cumprimento da pena em regime fechado.

Gráfico 1. Percentual de recuperandos condenados e provisórios do CDP de Juína.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Com a devida transferência dos presos condenados que se encontram no

Centro de Detenção Provisória de Juína, a unidade prisional estaria dentro do

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número de presos para o qual foi construído, o que evitaria a superlotação que tem

provocado resultados danosos.

Ocorre que não há, em todo o estado de Mato Grosso, vagas para novos

presos nas Penitenciárias, pois conforme já debatido anteriormente, o problema de

superencarceramento é um problema a nível nacional, não fugindo a regra a

realidade local de Juína bem como de todo o estado mato-grossense, razão pela

qual, conforme é possível constatar através do gráfico abaixo, além de manter um

alto número de condenados, o Centro de Detenção Provisória de Juína recebe,

ainda, preso de outras unidades prisionais que se encontram, em sua maioria, com

problema maior em relação à superlotação.

Gráfico 2. Percentual de presos que cometeram crimes em local diverso a cidade de Juína.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Indiscutível que o problema da superlotação do cárcere provoca no apenado

a terrível sensação da perca da honra e de sua dignidade, pois após a condenação

recai sobre ele a ciência de que não somente a liberdade de locomoção lhe será

retirada, mas há ainda o afastamento de seus familiares, a ociosidade que não

poderá ser usada para a busca de capacitação profissional, recreação social ou

exercício do direito a profanar sua fé religiosa, desenvolvendo sua espiritualidade,

pois no cárcere, com todas as mazelas geradas em decorrência da superlotação, os

exercícios das demais liberdades ficam impraticáveis, exacerbando a pena aplicada

no caso concreto, o que acarreta na destruição da personalidade do segregado e

resulta no fracasso legislativo que instituiu a pena com caráter contrário ao que

ocorre na prática, pois nos moldes que se encontra o sistema prisional atual não há

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que se falar em recuperação do segregado e sim em uma completa aniquilação do

mesmo, conforme nos emprestada à fala Oliveira159:

Um aparelho destruidor de sua personalidade, pelo qual: não serve o que diz servir; neutraliza a formação ou o desenvolvimento de valores; estigmatiza o ser humano; funciona como máquina de reprodução da carreira do crime; introduz na personalidade e prisionalização da nefasta cultura carcerária; estimula o processo de despersonalização; legitima o desrespeito aos direitos humanos.

A pena privativa de liberdade por si só já é um castigo que pode levar um

indivíduo a depressão profunda e quando se verifica as condições desumanas do

cárcere brasileiro é visível à tortura, pois amontoar presos em estabelecimentos

legais sem as mínimas condições de dignidade humana já fere o princípio da

legalidade, quiçá aprisiona-los num local em que foi construído para prisão

temporária, que não possui meios suficientes para permanência, como enfatiza o

relatório da Pastoral Carcerária 160:

Há prisões onde os presos são deixados no “mofo”, durante meses, nas condições em que se encontravam no ato da prisão: comendo mal, sem cama e, às vezes, sem a roupa do corpo. Vezes há em que o detido não tem qualquer possibilidade de comunicar-se com a família a qual, por sua vez, não consegue localizar o preso, pois lhe é negado qualquer informação neste sentido. Isto ocorre principalmente com aqueles que são submetidos à tortura, fato comum em não poucos cárceres e que levaram inclusive, as mortes que passaram por „suicídio‟.

Em que pese o Centro de Detenção Provisória contar com uma estrutura

predial nova e relativamente melhor, se comparado com a Cadeia Pública que

antecedeu a atual unidade prisional de Juína, em razão da superlotação, a pouco

mais de dois anos de sua inauguração as instalações já dão sinais de degradação, a

indiciar que o número de segregados que traz em seu interior não é compatível com

a estrutura construída.

159

OLIVEIRA, Eduardo. Política criminal e alternativas a prisão. Rio de Janeiro:Forense, 1997, p.55. 160

PASTORAL CARCERÁRIA NACIONAL. Tortura em Tempos de Encarceramento em Massa. São Paulo: ASAAC, 2016. p.16.

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Por não comportar o número de presos que atualmente se encontram

encarcerados, a fossa do Centro de Detenção Provisória de Juína transbordou161

invadindo a BR-174, onde está localizado, sendo necessária a contratação de

empresa para fazer o esgotamento uma vez por dia na tentativa de contornar o

problema, contudo, sem sucesso, pois uma enorme poça de dejetos líquidos se

formou a margem da BR que liga MT a RO, correndo o risco de atingir e contaminar

a nascente do rio Perdido e atingir a rede de captação e tratamento da água que

abastece Juína, a demonstrar que os problemas gerados atingem tanto os

segregados quanto a sociedade de forma geral.

E não é só. O problema da superlotação em Juína vai muito além do

mencionado, pois uma analise do perfil dos segregados que se encontram no CDP

Juinense nos permite mensurar que há um perigo ainda maior com aglomeramento

desses presos se levarmos em consideração que são, em sua maioria, considerados

de alta periculosidade.

Isso porque os indivíduos que cometeram crimes de violência contra a vida

perfazem o percentual de 31,90%, esse percentual sobe para 38,79% se somado

aos crimes de lesão corporal e para 52,15% somados aos crimes contra a dignidade

sexual, conforme gráficos abaixo apresentados, desvelando perigoso manter em um

mesmo estabelecimento um número considerável de presos violentos em uma

unidade prisional com número de servidores reduzido, sendo reduzido também o

espaço das celas162, pois o CDP de Juína foi aparelhado para comportar um número

significantemente menor de segregados, o que poderá culminar em rebeliões

sangrentas e/ou surgimento de novas gangues.

161

Conforme notícia veiculada pelo jornal eletrônico Juína News em 12 de maio de 2017. Disponível em: <http://www.24horasnews.com.br/noticia/fossa-do-centro-de-detencao-provisoria-jorra-a-ceu-

aberto.html> Acesso em 16 de maio de 2017. 162

O art.88 da Lei de Execução Penal estabelece que: “O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana; b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados)”.

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Gráfico 3. Percentual de presos por crime praticado.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Com a maior taxa de homicídios da região Centro-Oeste163 o Mato Grosso

acumula fatores de risco ruins164, indicando a presença de gangues e drogas165,

violência interpessoal e falta de proteção do Estado166, apresentando uma situação

de sociabilidade violenta, a demonstrar que a realidade do Centro de Detenção

Provisória de Juína não é exceção à regra.

Não menos importantes e reveladores são os índices que demonstram que

17,24% dos segregados no CDP de Juína estão presos por tráfico de drogas e

30,17% dos presos cometeram crimes patrimoniais, os chamados crimes de

colarinho azul (roubo e furto), conforme demonstra o gráfico 4 que segue abaixo,

demonstrando que a causa da criminalidade guarda estreita relação com a

desigualdade social.

163

Segundo SINESP/MJ, em 2014 a região centro-oeste era a terceira região com maior índice de homicídios no Brasil (26,26 por 100 mil habitantes), sendo o Mato Grosso o estado da região com maior número. (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. SINESP – Sistema Nacional de Informações sobre Segurança Pública, Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública. Ano base 2013). 164

Segundo quadro de Distribuição dos indicadores por UF apresentado no diagnóstico dos homicídios no Brasil, realizado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública. (ENGEL, Cíntia Liara. Diagnóstico dos homicídios no Brasil: subsídios para o Pacto Nacional pela Redução de Homicídios. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública, 2015). 165

Esse indicador é a síntese de outros fatores como o índice de vulnerabilidade de jovens, taxa de evasão escolar, taxa de óbitos por intoxicação por drogas ilícitas, número de ocorrência de tráfico de drogas, taxa de ocorrência de tráfico por 100 mil habitantes. (Ibidem, p. 225). 166

Compõem esse indicador-síntese os seguintes indicadores: taxa de homicídio de crianças, idosos e mulheres, registros hospitalares de violência doméstica, registro hospitalares de estupros ocorridos na residência. (Ibidem, p.225).

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Gráfico 4. Percentual de presos por seguimentos de crime praticado.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

A presença de traficantes de entorpecentes e/ou drogas ilícitas corroboram o

entendimento de que o alto índice de crimes violentos no estado mato-grossense se

dá em razão da presença de gangues e drogas, vitimizando, em sua maioria, jovens

de baixa renda167. O alto índice de presos por crimes patrimoniais, por seu turno,

indica a crise econômica que atinge o país de modo geral, pois a alta taxa de

desemprego somada a baixa escolaridade, que também é uma triste realidade dos

segregados do Centro de Detenção Provisória de Juína (conforme gráfico5 abaixo)

demonstra que a crise carcerária em Juína não é só uma questão de políticas

criminais como também de políticas sociais.

Gráfico 5. Grau de Instrução dos recuperandos do CDP de Juína, abril 2017.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

167

Ibidem, p.177.

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Observa-se, portanto, que 53,77% dos recuperandos, ou seja, mais da

metade da população carcerária examinada não possuem nem mesmo o nível

fundamental completo, ainda se observa que 8,02% são analfabetos e apenas 3,3%

possuem nível superior completo, o que se traduz na falta de preparo dos

recuperandos frente ao exigente e concorrente mercado de trabalho contemporâneo,

o que consequentemente pode influenciar na sua prática delitiva, deparando-se,

portanto com uma possível justificativa para o cometimento dos crimes, pois a falta

de conhecimento acarreta na desestrutura econômica, social e cultural vivenciada na

realidade dos que utilizam do crime como o meio mais “fácil” de sobrevivência senão

o único meio de subsistência. Nesse sentido Monteiro e Cardoso168 destacam:

(...) a passagem do modelo taylorista/fordista para o neoliberal (...) implicou no condicionamento de um novo perfil de trabalhador mais técnico e qualificado e na desqualificação de antigos perfis de trabalhadores para a afirmação de um novo. A reclusão que antes visava o controle das populações desviantes passa a assumir um lugar central no sistema de controle do mercado de trabalho desqualificado, guetos urbanos com vistas a apoiar a disciplina do trabalho assalariado dessocializado. Juntamente com a crise do Welfare State, essas mudanças formaram uma massa de desprovidos que aumentaram o número de desempregados. (...) o sistema penitenciário estaria servindo como um depósito da massa de desempregados cumprindo um papel de limpeza e higienização dos excluídos da sociedade. A luta contra o crime serviu como “[...] pretexto e trampolim para uma reformulação do perímetro e das funções do Estado [...]”, no enxugamento do welfare state e inchaço dos setores policiais, correcionais (Wacquant, 2008, p. 10).

Notadamente em quase todo o país há problema de superencarceramento,

como visto em razão dos reflexos dos problemas apresentado com a Revolução

Industrial em que o mercado de trabalho passou a ser mais exigente com os

trabalhadores a fim de se enquadrarem a novas formas de mão de obra, qualificada

conforme o mercado exige, refletindo num número maior de marginalizados, que não

conseguem se adaptar com a realidade, acabando por ocupar os espaços prisionais.

Não é diferente o que ocorre hoje no estado de Mato Grosso, especialmente

no que se refere ao Centro de Detenção Provisória de Juína. O avanço tecnológico

168

MONTEIRO, Felipe Mattos; CARDOSO, Gabriela Ribeiro. A Seletividade do Sistema Prisional brasileiro e o perfil da população carcerária. Um debate oportuno. Civitas – Revista de Ciências Sociais, vol. 13, nº1, 2013. Revista eletrônica disponível em <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/view/12592> Acesso em 18 de abr. de 2017. e-ISSN: 1984-7289.

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83

presente no agronegócio, em que pese contribuir para a aceleração da economia em

nível nacional, provoca o acentuamento da desigualdade social, em especial ao

desemprego e marginalização dos desfavorecidos.

Segundo o IBGE169 o estado de Mato Grosso apresenta o índice de 59,83%

da renda concentrada nas mãos dos 20% mais ricos do país, o que reflete a

presença maciça de pobres de família pertencente à classe trabalhadora,

analfabetos ou com baixíssimo grau de instrução (vide gráfico 5), desempregados ou

sem profissão (conforme gráfico abaixo), em sua maioria jovens e negros170

(conforme se verifica nos gráficos 12 e 13), ocupando os espaço dos presídios. Mais

uma vez, esse quadro se reflete dentro do Centro de Detenção Provisória de Juína,

conforme se pode averiguar nos gráficos que seguem:

Gráfico 6. Profissão desempenhada pelos recuperandos do CDP de Juína, antes do cárcere.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Conforme se verifica, antes do cárcere 9,43% dos recuperandos do Centro

de Detenção Provisória de Juína não possuíam qualquer profissão, a desvelar sua

não inserção no mercado de trabalho no momento em que foram presos, 12,74%

são rurícolas que viviam em regime de subsistência familiar, sem renda fixa e, 25%

trabalhavam na informalidade (pedreiros, pintores, jardineiros e carpinteiros),

169

IBGE. Pesquisa de Informações Básicas Municipais - Munic. Disponível em: <http://www.ibge. gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/> Acesso em 18 de maio de 2017. 170

Segundo o IBGE, negros é a soma de pretos e pardos. Os negros no Centro de Detenção Provisória de Juína perfazem o percentual de 56,61%; o percentual de recuperandos de até 30 anos é de 44,81%. No Brasil, o percentual de jovens negros é de 14,4% da população (possuem entre 15 e 29 anos).

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igualmente sem renda fixa, o que revela uma situação de vulnerabilidade frente às

oscilações que sofrem o cômputo da renda familiar.

A estes fatores, soma-se ainda o fato de que 72,17% dos recuperandos que

se encontram no CDP de Juína possuem filhos, o que pode ser determinante para a

prática delitiva ligada aos crimes patrimoniais, que perfazem o percentual de 30,17%

das causas que levaram os recuperandos ao cárcere.

Gráfico 7. Percentual de recuperandos do CDP de Juína que têm filhos.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Gráfico 8. Percentual do número de filhos que possuem os recuperandos que são pais.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Saltam aos olhos as desigualdades sociais dos encarcerados, verifica-se,

ainda, que apenas 36,32% possuem advogados particulares, restando aos demais à

promoção de sua defesa por advogados nomeados pelo judiciário, pois no município

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não há defensoria pública, o que contraria, ainda, o disposto na Lei de Execução

Penal171.

O descaso no que tange as políticas de assistência aos recuperandos e

suas famílias também ficam evidentes ao se constatar que apenas 7,08% são

beneficiados pelo Auxílio Reclusão, apesar de 73,11% dos recuperando já terem

contribuído para a Previdência com a devida anotação em sua Carteira de Trabalho

e Previdência Social, conforme se verifica nos gráficos abaixo:

Gráfico 9. Percentual de presos assistidos por advogado particular.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Gráfico 10. Percentual de recuperandos assistidos pelo benefício do Auxílio Reclusão.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

171

Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos financeiros para constituir advogado. Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica, integral e gratuita, pela Defensoria Pública, dentro e fora dos estabelecimentos penais.

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86

Gráfico 11. Recuperandos que já contribuíram para a previdência com a anotação na CTPS.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Os gastos orçamentários do Estado com as forças da lei e da ordem, dentre

os efetivos policiais e serviços penitenciários crescem e, o mais preocupante, o

número de pessoas em conflito com a lei aumenta cada vez, de uma forma

desproporcional, o que precisa ser verificado com auxilio não só das políticas

criminais como também políticas sociais, pois se observa que as desigualdades

sociais refletem no comportamento da sociedade, a indicar fatores que contribuem

para o aumento da criminalidade.

Necessário uma nova reflexão por parte do Estado para que se voltem suas

políticas para a prevenção e não apenas para a repressão. A formulação de leis

baseadas em políticas de tolerância zero, leis escritas à mão de ferro, só têm

contribuído sobremaneira para o aumento da população carcerária. Esse fenômeno

pode ser mais explicado por Baumam172 que traz em sua visão o indicador que tem

motivado o aumento da criminalidade:

Uma causa evidente do aumento do número de prisioneiros é a espetacular promoção de questões classificadas na rubrica da “lei e da ordem” na panóplia de preocupações públicas, particularmente quando essas difusas preocupações se refletem nas interpretações doutas e autorizadas dos males sociais e nos programas políticos que prometem curá-los. Em o mal-estar da pós-modernidade (Jorge Zahar,1998) argumento que, se Sigmund Freud estava certo ou errado ou seguir que a troca de uma boa parcela da liberdade pessoal por uma certa medida de segurança coletivamente garantida era a principal causa das aflições e sofrimentos psíquicos no período “clássico” da civilização moderna, hoje no estagio derradeiro ou pós-moderno da modernidade, é a tendência oposta, de trocar um bocado de segurança pela crescente remoção de restrição que tolhem o exercício da livre escolha , que geram os sentimentos amplamente difundidos de

172

BAUMAM, op. Cit., p. 124.

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medo e ansiedade. São esses sentimentos que buscam descarregar-se (ou não canalizados) nas preocupações com a lei e a ordem.

Em um país em que o interesse político é utilizado para manter-se no poder

e pleitear votos, neste momento de Crise Carcerária no Brasil, explorada

diuturnamente pela mídia com grande repercussão internacional, principalmente em

razão das guerras de facções, superlotação dos presídios e tratamentos

desumanos, faz com que o governo tome providencias imediatas para demonstrar

que “tem preocupação” com a situação.

Em razão das inúmeras cobranças e revolta da população brasileira, que

clama por justiça e pela retomada da ordem nos presídios, o atual Presidente

Temer173 liberou um valor de R$ 1,2 bilhão do Fundo Penitenciário Nacional

(FUNPEN), por meio da Portaria que regulamenta a Medida Provisória 755/2016,

que garante distribuição rápida da verba para construção de presídios e compra de

equipamentos pelos estados. Deste montante, R$ 799 milhões serão destinados

exclusivamente para construção de presídios. Tal medida foi utilizada como forma

de gerenciamento da crise, que é de incumbência dos entes políticos de cada

estado, o que requer planejamento.

Devido o aumento da criminalidade no Mato Grosso, a segurança está

sendo reforçado nas ruas na tentativa de prevenir a incidência de crimes. No dia 05

de abril de 2017 por ordem da Secretaria de Segurança Pública do Estado,

deflagraram a Operação Bairro Seguro em todos os municípios do Estado de Mato

Grosso, que tem finalidade preventiva, com patrulhamento nas ruas contando com a

união das Polícias Judiciária Civil, Garra, Polícia Militar, Bombeiros da 14º CIMB,

Policiais da Rotam e da Força Tática de Cuiabá. E em entrevista para o jornal

eletrônico, Juína News,174 o delegado Regional da Polícia Civil José Carlos de

Almeida Junior explicou:

173

GOVERNO LIBERA R$ 1,2 bi para modernização do sistema penitenciário. Notícia do Palácio do Planalto. Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/noticias/2016/12/governo-libera-r-1-2-bi-para-modernizacao-do-sistema-penitenciario> Acesso em 17 de abr. de 2017. 174

FORÇAS de segurança de juína deflagram operação bairro seguro. Jornal Eletrônico Juína News. Edição de 05 de abr. de 2017. Disponível em <http://www.juinanews.com.br/noticia/28337/forcas-de-seguranca-de-juina-deflagram-operacao-bairro-seguro> Acesso em 20 de Abr. de 2017.

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Por ordem da Secretaria de Segurança Pública em razão do aumento da criminalidade na nossa regional foi determinado à intensificação do patrulhamento da cidade e hoje vamos começar uma operação, vai ter muitos policiais nas ruas visando diminuir estes índices e dar tranquilidade que Juína sempre teve, eu garanto que Juína voltará a ser uma cidade mais tranquila.

Conforme pontuou o Delegado José Carlos, Juína era uma cidade tranquila

que hoje sofre as consequências de um sistema criminal que pouco faz pelas

políticas de prevenção, sobressaindo assim à repressão das forças armadas.

O que se constata com a aplicação de tais medidas baseadas em políticas

de tolerância zero, políticas repressivas, é o superencarceramento, sendo possível

se constatar que a intolerância aos delitos se traduz tanto na formulação de leis mais

rígidas, que preveem penas mais ásperas, como também na aplicação das sanções

no caso concreto.

Visível é a intolerância aos pequenos delitos em Juína. Tal constatação é

possível ante ao fato de que 10,76% dos presos estão encarcerados pelo

cometimento do crime de furto (conforme gráfico 3), cuja pena máxima culminada é

de quatro anos de reclusão. Por ser considerado crime de menor potencial ofensivo,

uma vez que não há emprego de violência no cometimento deste, o que permitiria o

cumprimento da pena em regime menos gravoso, ainda que grande parte dos

condenados seja reincidente ou possuam maus antecedentes, pois conforme se

verifica ao analisar a Súmula nº269 do Superior Tribunal de Justiça “É admissível a

adoção de regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou

inferior a quatro anos, se favoráveis as circunstâncias judiciais”.

Ressalta-se que o município de Juína não dispõe de Defensores Públicos,

como exposto outrora, o que se traduz no completo descaso com relação aos

direitos dos recuperandos do Centro de Detenção Provisória de Juína, pois sendo a

liberdade uma regra e a prisão exceção, outra não pode ser a justificativa que

mantém pouco mais de dez por cento da população carcerária presa por crime que

comporta pena menos gravosa.

Isso demonstra a omissão do Estado no que concerne aos direitos dos

recuperandos, pois há investimentos na segurança pública, ainda que tais

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investimentos se mostrem insuficiente175, incentivos ao patrulhamento repressivo

que reflete na superlotação do cárcere176, pelo número exorbitante de encarcerados

se nota que o Ministério Público tem feito um brilhante trabalho no papel de

acusador, todavia essa máquina encarceradora que se tornou a Administração

Pública tem quedado inerte ao conferir os Direitos dos segregados em relação ao

seu direito de defesa técnica e especializada, pois não há em todo o estado de Mato

Grosso número suficiente de Defensores Públicos para atender a população e as

unidades prisionais, como se verifica através das informações veiculada no site da

Defensoria Pública de Mato Grosso177 abaixo transcrita:

Foi feito recomendação explícita pelo grupo de 78 países-membros durante uma sabatina na ONU foi que verificou o déficit de defensores públicos em todas as unidades prisionais do país. O que corrobora com a permanência de presos dentro do cárcere e, o Defensor tem como funções acelerar a apuração de abusos de direitos humanos contra presos, dando assistência jurídica para que não fiquem encarcerados após acabar de cumprir suas penas ou tenham acesso mais rápido ao sistema de progressão de regime o que ajudaria a reduzir a superlotação. Só em São Paulo, um dos três Estados com maior número de defensores, o atendimento a presos nas unidades prisionais é feito por meio de visitas esporádicas. Segundo Cacicedo, apenas 29 das 300 comarcas do Estado têm defensoria. Além disso, só 50 dos 500 defensores se dedicam ao atendimento dos presos. O Estado, no entanto, possui 151 unidades prisionais da Secretaria de Administração Penitenciária (sem contar as cadeias públicas subordinadas à Secretaria de Segurança Pública.) os problemas não são resolvidos em parte devido ao perfil da maioria dos detentos. Um levantamento da Pastoral Carcerária mostra que a maior parte tem baixa escolaridade, é formada por negros ou pardos, não possuía emprego formal e é usuária de drogas.

O déficit de Defensores públicos é um problema em todo país que vivencia

uma crise do Sistema carcerário, e pessoas marcadas pelo cárcere, em sua maioria

de baixa escolaridade, negros marginalizados, usuários de drogas, são amontoadas

em celas que não possuem estrutura para abrigar o dobro ou mais de indivíduos, e

muitos esperam pela justiça contando os dias de se depararem com a liberdade,

175

Estudos da Secretaria Nacional de Segurança Pública demonstra que o Estado de Mato Grosso apresenta o segundo pior índice relativo à população e o número de efetivo da região centro-oeste, sendo de 363,5 habitantes por policial. (ENGEL, op. Cit., p. 175). 176

Pesquisa datafolha revela que o Mato Grosso possui indicador ruim de conflito da polícia com a população. (Ibidem, p. 177). 177

BRASIL tem 4ª maior população carcerária e deficit de vagas. Notícias sítio da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso. Edição de 01 de jun. de 2012. Disponível em < http://www.defensoriapublica.mt.gov.br/portal/index.php/noticias/item/8735-brasil-tem-4%C2%AA-maior-popula%C3%A7%C3%A3o-carcer%C3%A1ria-e-deficit-de-vagas> Acesso em 21 de abr. de 2017.

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muitas vezes esperando mais do que o tempo que foi condenado por falta de

defesa.

Isso porque os advogados dativos muitas vezes não dão a devida atenção

para o processo, por já terem suas cartas de clientes constituídas, também pela

demora de receberem os honorários, pagos em precatórios pelo Estado, acabam

priorizando os que contratam seus serviços particulares. Ademais, o advogado

dativo fica adstrito para o ato em que foi nomeado, não patrocinando a defesa de

outros direitos do segregado, como por exemplo, a prestação de auxílio junto à

família, orientando-os quanto ao direito ao benefício previdenciário do auxílio

reclusão, não lutando por melhores condições quanto às celas, direito ao trabalho e

estudo, ao cumprimento da pena em unidade prisional próximo à família, dentre

outros.

Essa realidade dos segregados do Centro de Detenção Provisória de Juína

se reflete pelo baixo índice de acesso à justiça apresentado no Estado de Mato

Grosso, pois ao medir o acesso ao sistema judiciário disponível para à população a

Secretaria de Reforma do Judiciário, ligada ao Ministério da Justiça, constatou que

em Mato Grosso o índice é de 0,17 numa escala em que se considera 0 a pior

situação de possibilidade de acesso a justiça e 1 a melhor178, o que demonstra que o

desrespeito à Direitos não é uma particularidade apenas dos recuperados de Juína,

mas que sem dúvida no contexto do cárcere é fator preocupante que faz com que a

pena passe além da pessoa do apenado, exasperando a pena aplicada no caso

concreto.

4.2.1 Acúmulo de Vulnerabilidades dos Recuperandos do CDP de Juína

O índice de vulnerabilidade juvenil é de extrema importância para se

averiguar os locais em que os jovens estão mais vulneráveis a violência, bem como

medir a existência ou não de políticas pública voltadas para a proteção dessa

parcela da população.

178

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. SRJ. Atlas de Acesso à Justiça. Secretaria de Reforma do Judiciário. Apud MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, Diagnóstico dos Homicídios no Brasil, 2015, p.174.

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O referido índice é objeto de estudo da Secretaria Nacional de Segurança

Pública e leva em consideração para aferição desse índice a frequência escolar,

escolaridade, inserção no mercado de trabalho, taxa de mortalidade por causas

externas, taxa de mortalidade por causas violentas, valor do rendimento familiar

mensal e riscos relativos de brancos e negros serem vítimas de homicídio179,

podendo dimensionar a partir desses índices onde os jovens precisam de mais

atenção. Segundo Engel180:

O percentual de jovens negros na população é também um indicador de vulnerabilidade, uma vez que são os mais afetados pela violência urbana advinda de diversos contextos, assim como são os mais vitimados pelos homicídios. Nesse sentido, esse é um dos indicadores usados (...) porquanto pode apontar locais nos quais são necessárias ações orientadas para a proteção dessa parcela da população e controle de fatores de risco associados à violência urbana.

Mato Grosso apresenta a pior situação de vulnerabilidade juvenil da região

Centro-Oeste181, possui ainda, a maior taxa de abandono escolar182 e o percentual

de jovens negros da população mato-grossense é de 17,45%, acima da média

nacional onde aponta que o índice de jovens negros perfaz o percentual de 14,4%

da população183 o que se reflete como possível justificativa para altíssimo percentual

de jovens e negros dentro do Centro de Detenção Provisória de Juína, conforme se

verifica nos gráficos que seguem:

179

Dados do Ministério da Saúde, Datasus, indica que os negros representam 50,7% da população, sendo que dentre o percentual das mortes ocorridas no país o número de vítimas negras é de 72,0%. A taxa nacional da morte de jovens negros é de 79,4 por 100 mil habitantes. (MINISTÉRIO DA SAÚDE. DATASUS. Sistema de informação sobre Mortalidade (SIM). Dados de 2013. Disponível em: <http://svs.aids.gov.br/dashboard/metasSIM/metasSIM.show.mtw> acesso em: 15 de maio de 2017. 180

ENGEL, op. Cit., p.155. 181

Os valores do índice de vulnerabilidade juvenil variam de 0 (menor vulnerabilidade) a 1(maior vulnerabilidade), sendo que o estado de MT apresenta índice de 0,439, Goiás 0,384, MTS 0,377 e DF 0,294. Fonte: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública. (ENGEL, op. Cit. p.19). 182

Na Região Centro-Oeste as taxas de abandono no Ensino Médio se comportaram da seguinte forma: o Distrito Federal (5,2) apresentou a menor taxa, seguido pelo estado de Goiás (5,8), com uma taxa ligeiramente maior. Mato Grosso do Sul (8,2) teve uma taxa intermediária na região, enquanto a maior taxa do Centro-Oeste foi observada no estado de Mato Grosso (12,4). Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. INEP. Censo Escolar. Disponível em: < http://portal.inep.gov.br/sinopses-estatisticas-da-educacao-basica> acesso em 05 de maio de 2017. 183

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. SINESP. Sistema Nacional de Informações sobre Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas, 2013 e 2014. Apud ENGEL, op. Cit., p.155.

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Gráfico 12. Faixa etária dos recuperandos do CDP de Juína.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Gráfico 13. Percentual dos recuperandos que se auto declararam brancos, pardos e pretos.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Como bem pontua Hirschi e Gottfrendson184, a existência de um percentual

alto de jovens na população pode ser um indicativo dos fatores de riscos de

homicídios, colocando-os dentro do fator de vulnerabilidade, ainda mais quando

estão associados às gangues e drogas, pois a maior parte dos aliciados para o

trabalho com o tráfico são de jovens.

Diante disto, jovens fazem parte da maioria no mundo do crime não apenas

em Juína. Para uma possível resposta a essa incidência inclina-se as Teoria das

Subculturas de Sutherland185 e Merton 186através da obra de Willilam Foote Whyte

184

HEGEL, op. Cit., p.17 e 18. 185

SHUTHERLAND, Edwin foi um renomado sociólogo estadunidense, que ganhou enorme reconhecimento pelo desenvolvimento da teoria criminal da associação diferencial. (FERRO, Ana Luiza Almeida. Sutherland, a teoria da associação diferencial e o crime de colarinho branco. De jure: revista jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, 2008.)

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(1914-2000) com o livro Sociedade de Esquina, de 1943 e o Estudo das Gangues

Juvenis187, percebidas por Walter Cade Reckless (1898-1988) em sua obra

“Delinquência Juvenil” em 1932, no qual se referia às áreas de “bons e maus

rapazes”, de acordo com os valores sociais, morais e individuais preponderantes.

Whyte, em sua obra, analisou a estrutura social do bairro italiano pobre de

Chicago, e especialmente a forma como essa estrutura afetava as crianças e

adolescentes que ali viviam, separava duas classes de jovens: os da rua e os da

escola. Os primeiros se identificavam totalmente como a cultura do bairro pobre,

enquanto o segundo tentaria alcançar o “sonho americano”, mediante a introjeção de

valores da classe média norte-americana que lhes proporcionava a escola e os

meios de comunicação, dentre outros.

A cultura188, dentre outros aspectos, se mede pelo conjunto de costumes,

códigos morais, crenças e preconceitos que as pessoas de uma comunidade

compartilham e aprendem no convívio social, por outro lado a subcultura que

derivava a partir da cultura geral para os subgrupos, poderiam distinguir com valores

diferentes da cultura geral e quando essa subcultura valoriza-se ou dá desculpas pra

aquelas condutas que para a cultura geral são delitivas, nasce assim uma subcultura

criminosa. Nas subculturas criminais as condutas desvalorizadas pela cultura jurídica

e moral são legítimas, que podem ser reflexos de alguns problemas da ordem

urbana.

Com a obra do professor democrata da Universidade de Connecticut , Albert

K. Cohen (1903-1984), formado em Harvard cujo título Jovens Delinquentes: a

cultura das gangues (1955)189, a partir dela que os estudos criminológicos passa a

categoria da teoria sociológica em particular no que diz respeito a delinquência

juvenil.

186

MERTON, Robert King foi um sociólogo norte-americano, considerado o pioneiro na sociologia da ciência explorando o modo como os cientistas se comportam e o que os motiva, recompensa e intimida. Foi importante teórico da burocracia e da comunicação de massa. (CROZIER, Michel. Subdesenvolvimento, administração e burocracia. Rev. adm. Empres. Vol.3, nº9, São Paulo,

set/dez de 1963, versão online Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901963000300007#8a> Acesso em 15 de abr. 2017). 187

ANITUA, op. Cit., p. 497-508 188

Ibidem, p. 498. 189

Ibidem, p. 500.

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Anitua190 sintetiza a ideia das teorias das subculturas criminais a partir do

pensamento de Cohen

Cohen verificou a existência de subculturas criminosas nas gangues juvenis, jovens que se reuniam com assiduidade que dispunham de estrutura hierárquica de grupo e adotavam critérios de admissão. Embora essa teoria seja plenamente aplicada na atualidade, deve-se levar em consideração a territorialidade. A partir da influencia de Merton e de Shutherland a teoria da anomia é que explica que as subculturas surjam, segundo Coher entre jovens de classe operária que não encontrem resposta para a frustação dentro da cultura geral que enfatiza o êxito econômico. A teoria das associações diferenciais explica o processo de influencia cultural do grupo sobre o indivíduo que permitem que uns e outros valorizem o ato desvalorizado pela cultura geral. Par Cohen, cada uma dessas teorias, por si só não podem explicar tanto o slum como a subcultura desse lugar. Mas juntas, sim, elas tem a capacidade explicativa: a pressão social explica o bloqueio de satisfação de alguns indivíduos e a associação com outros na mesma situação explica como esse bloqueio é solucionado.

Os jovens sempre foram seletivos, em todos os lugares pode se observar

que existem subgrupos, desde a sala de aula, no período estudantil, os que se

identificam se unem e fazem de tudo para se manterem no grupo até o fim do curso.

Assim são os subgrupos criminais, se identificam entre si pela pratica de atos ilícitos,

e tal pratica são moralmente aceitáveis e aplaudidas pelo grupo que os

recepcionam, contrario da cultura geral que os descriminam e passam a serem

percebidos como delinquentes marginais e consequentemente são bloqueados.

Anitua191 também informa por meio do estudo de Cohen as característica

predominantes dos subgrupos de jovens delinquentes:

Cohen descreve as características das gangues delitivas juvenis da sua época e do seu país, eram compostos por jovens do sexo masculino, pertencentes a famílias de classe trabalhadora, e normalmente cometiam delitos: a) expressivos ou não utilitários, isto é que não servem para jovens adquirirem as coisas inacessíveis pelos meios legais, mas que produzem prazer por si mesmas e, sobretudo permitem obter um reconhecimento dentro do grupo; b) maliciosos, isto é simplesmente obtém prazer por incomodar a moral geral ou que a respeita; c) negativistas, isto é que se define por oposições aos valores da cultural geral ou da classe média, não tem referencia autônoma, mas são exatamente o contrária do que aquela (a cultura geral) prescreve; d) variável, que os jovens das gangues não se especializam num comportamento delitivo, mas sim realizam uma grande variedade de atos delitivos, ou que sem chegar a sê-lo aparecem como contrários a esses valores gerais- desde furtos até provocar desordens ou faltar a aula ou à boa educação; e) hedonistas a curto prazo, o que se

190

Ibidem, p. 501. 191

Ibidem, p. 501.

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relaciona como o anterior, pois não realizam atividades planificadas, mas sim relaciona com o anterior, pois não relacionam atividades planificadas, mas sim respondem ao impulso; e f) reforçadores da independência do grupo, mediante a hostilidade e a resistência a outros grupos, especialmente à autoridade ou instituições que a representem- família, escola etc.

Por analogia a época da pesquisa da obra aos dias de hoje, verifica-se que

grande parte dos jovens que se relacionam ao crime pertence a famílias de classes

trabalhadoras, pouca condição financeira, jovens são levados pela vontade e

ambição de forma a se sobressaírem ou se enquadrarem na sociedade mediante

sua aparência relacionada a bens de consumo material, ou perfis desviantes, o que

acabam fazendo do crime um meio de se manterem aceitos aos subgrupos, mesmo

não tendo referencia autônoma se mantém contrários à sociedade, que estão

inseridos já que são rejeitados pelo comportamento negativo da delinquência,

apesar de muitos jovens cometerem crime pelo prazer de contrariar as regras, outros

cometem crimes por impulso ou por influencia dos amigos aos quais mantém

vínculos, até mesmo como forma de resistência dos reflexos sofridos pela sociedade

ao imporem determinados comportamentos como regra a ser seguidas.

Nessa toada, ao se analisar as características do município de Juína, se

observa que no município a maioria dos habitantes fazem parte da classe dos

trabalhadores do comércio, assalariados com renda per capita baixa192. Aplicando-

se às teorias criminológicas advindas das teorias da subcultura, nota-se que tais

características se fazem presente na sociedade juinense, refletindo na população

carcerária do Centro de Detenção Provisória de Juína que se apresentam com

baixos índices de escolaridade, são, em sua maioria, jovens e negros, pertencentes

à classe de proletariado, coforme dados revelados na presente pesquisa.

Outro fator que se soma as vulnerabilidades dos recuperandos do Centro de

Detenção Provisória de Juína é o contexto familiar onde se verifica que 28% dos

192

A média da renda em Juína é de dois salários mínimos mensal, comparado ao nível nacional, em 2014, Juína tinha PIB per capita de R$ 19667.04. Comparado aos demais municípios do estado, se posicionava entre em 83 de 141. E quando comparado a outros municípios do Brasil, essa colocação é 1790 para 5570. No ano de 2015 Juína tinha 74.2% do seu orçamento proveniente de fontes externas. Em comparação aos outros municípios de MT, está em 100 de 141 e quando comparado a municípios no Brasil todo, fica em 4297 de 5570. (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, Censo municipal da cidade de Juína, Estado de Mato Grosso. Banco de dados disponível em <http://www.cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/mt/juina/panorama> Acesso em 21 de abr. de 2017).

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96

recuperandos possui algum membro de seu convívio familiar preso, a demonstrar

que parcela da população carcerária não possui estrutura familiar e/ou possuem

exemplos criminosos como referência.

Gráfico 14. Percentual dos recuperandos que possuem membro do seu convívio familiar preso.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

A vulnerabilidade dos recuperandos do Centro de Detenção Provisória de

Juína também se apresenta pelo fato de viverem em total isolamento. Apesar da

previsão legal ao direito de visitas e o fato de que, em regra, deveriam cumprir suas

penas em local próximo aos seus familiares, o que facilitaria a convivência e não

causaria o rompimento dos laços, quase metade da população carcerária do CDP de

Juína não possui qualquer familiar que more no município, o que provavelmente se

reflete no número de visitas recebidas, pois 52,83% dos recuperandos não recebem

visitas.

Gráfico 15. Percentual de recuperandos que possuem família em Juína.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

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97

Gráfico 16. Percentual de recuperandos que recebem visitas.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Em que pese a previsão legal ao direito de remir sua pena através do

trabalho ou do estudo193, apenas 35,49% dos recuperandos do Centro de Detenção

Provisória de Juína laboram ou estudam, a demonstrar que as políticas de

encarceramento contribuem sobremaneira para a não reintegração dos

encarcerados, desvelando-se que definitivamente o espaço de cumprimento da pena

não possui qualquer caráter de ressocialização do sujeito preso que permanece

ocioso por todo o tempo de pena a ser cumprida e não contando com qualquer

política de profissionalização, o que fará com que estes sujeitos despreparados para

o mercado de trabalho sejam descartáveis, o que se refletirá no índice de

reincidentes.

193

Tanto a Lei de Execução Penal 7210/84 em seu artigo 126 quanto a Súmula 341 do Supremo Tribunal de Justiça dispõe que o condenado que cumpre pena de regime fechado ou semiaberto poderá remir parte da pena com estudo ou trabalho, podendo também remir por leitura desde que atenda os critérios do Conselho Nacional de Justiça, conforme Resolução nº 44 do CNJ.

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98

Gráfico 17. Percentual de recuperandos que participam de alguma política de remição da pena.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

É cediço que sem políticas de ressocialização e sem cumprir com as

finalidades da pena, tanto no olhar criminológico como no que tange a função da

pena no direito penal e os estigmas que vivenciam fora do cárcere, que deveriam ser

de reintegrar com políticas criminais voltadas a ressocializar, conforme explicitados

nos capítulos anteriores desse trabalho acadêmico, certamente os indivíduos

continuarão a reincidir em crimes. Assim contribui Almeida194:

O tratamento não se satisfaz com a subtração da liberdade. Tal impressão revela-se mais instigante quando é constatado o passeio irresponsável do sistema entre os nebulosos caminhos do castigo e do descaso, pois não parece ser uma medida sensata confinar o apenado a um ambiente de escassa luminosidade e arejamento, no qual proliferam doenças contagiosas em decorrência de uma superlotação carcerária sem assistência, cujo convívio diário, somado ao ócio e a uma gama de sentimentos confusos como apatia, depressão e revolta, conduz qualquer acirramento de ânimos a um estopim.

O problema da Crise carcerária esta particularmente ligada com a

reincidência e a falta de ressocialização dos apenados, pois simplesmente jogar um

indivíduo ao cárcere, que pelos mais variados motivos podem ter cometido o crime,

dentre eles o reflexo da marginalização social que advém da discriminação pela cor

da pele, classe social, falta de estudo, falta de qualificação profissional ou de

estrutura familiar.

Encarcerar passa longe de ser uma solução para o problema. O Poder

Executivo precisa urgentemente garantir a dignidade humana dos apenados,

194

ALMEIDA, op. Cit., p. 122.

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fiscalizar o cumprimento da Lei de Execução Penal, oferecer aparatos aos setores

públicos envolvidos visando estruturar tanto fisicamente os cárceres, quanto investir

em qualificação profissional dos servidores do sistema carcerário, para melhor tratar

o interno e elaborar políticas que vise reintegrar aqueles que um dia foi excluído

socialmente, e mesmo para os raros casos daqueles que não sofreram qualquer

discriminação mas optaram por cometer crimes, também precisam ser tratados com

dignidade humana para não reincidirem.

O índice de reincidência dos recuperandos segregados no Centro de

Detenção Provisória de Juína é de 39,62%, considerado baixo se comparado com o

índice nacional195, os que possuem maus antecedentes criminais, por seu turno,

perfazem o percentual de 48,11% dos recuperandos do Centro de Detenção

Provisória de Juína, a demonstrar que pelo menos metade da população carcerária

do CDP já cometeu algum tipo de crime diverso ao que se encontra preso, razão

pela qual sofreu aumento considerável sem sua pena base, tendo que cumprir pena

maior que os condenados primários, demonstrando que o Estado falhou uma

primeira vez com o caráter recuperador de sua reprimenda e agora uma segunda

vez, pois é certo que, com o perfil vulnerável que se desvela os recuperandos do

Centro de Detenção Provisória de Juína e sem políticas sociais de reintegração

eficientes a pena não cumprirá, mais uma vez, com o seu desiderato.

195

O índice nacional aponta que 70% da população carcerária são reincidentes, porém, podem existir divergências, pois o índice nacional não versa sobre a reincidência que é conceituada pelo código penal brasileiro, o que deve levar em consideração o transito em julgado. (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA, Reincidência Criminal no Brasil – Relatório de Pesquisa. Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República: Rio de Janeiro, 2015, p.11).

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Gráfico 18. Percentual de recuperandos do CDP de Juína que são Reincidentes.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

Gráfico 19. Percentual dos recuperandos do CDP Juína que possuem maus antecedentes.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional de Juína/MT.

De acordo com Bitencourt196 a Lei de Execução Penal, apesar de ser

considerada avançada, enfrenta barreiras na aplicação de muitos de seus

conteúdos. No rol do artigo 1º da Lei de Execução Penal197 apresenta a finalidade de

concretizar as disposições da decisão criminal ou sentença e, harmonizar condições

para a integração social do apenado e do internado.

Assim sendo, a lei 7210/84 tenta de um lado assegurar a dignidade e a

humanização no decorrer da execução da pena, como forma de preservação dos

196

BITENCOURT, op. Cit., p. 45. 197

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.

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direitos constitucionais dos internos e presos e por outro lado garantir as condições

fundamentais para a sua reintegração social.

Em conformidade com art. 10 da Lei de Execução Penal198, o estado dever

atender as necessidades básicas dos presos, como: assistência psicológica,

assistência à saúde, educação, religião, assistência material, social e jurídica.

4.3 Políticas de Reintegração Ofertadas aos Recuperandos do Centro de

Detenção Provisória de Juína

4.3.1 A Busca pela Reintegração Social

Foi possível verificar o quão frágil é o atual Sistema Penal do Brasil

principalmente a partir da contribuição de estudos criminológicos que demonstra a

vulnerabilidade dos apenados que alimentam a exclusão social e falta de políticas de

reintegração frente ao descaso do seguimento, as precárias condições humanas

ofertadas pelo modelo punitivo.

Todo o descaso favorece a permanência do condenado ao mundo do crime

evidenciado pelo grande índice de reincidência criminal do país. O sistema penal é

composto por um conjunto de instituições estatais e suas atividades que interferem

na aplicação e criação das normas penais. Inclusive, pelo aparato total de normas,

saberes, ações e decisões direta ou indiretamente relacionadas com o fenômeno

criminal. Abrange desde Agencias Legislativas, Instituições Policiais, Ministério

Público, Poder Judiciário e Sistema Prisional como também inúmeras instituições

que concorrem para a aplicação das leis penais e as que são responsáveis para

notificação das praticas de crimes como Polícia Ambiental, Vigilância Sanitária,

Pastoral Carcerária dentre outros.

Logo a problemática da Crise Carcerária incluindo a reincidência não esta

ligada a uma só instituição, pois como se viu, todo Sistema Penal precisa ser

humanizado, tratando os recuperandos com dignidade e fazer jus a nomenclatura

198

Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso

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dada, “recuperar” no sentido de integrar, congênere ao Artigo 1º da Lei 7210/84199

para que o preso volte ao meio social modelado por um sistema justo, aquele que

aplica a lei e fiscaliza, porque o país conta com a proteção de uma lei de execução

penal completa no que tange garantias de direitos, assim todo Sistema Penal deve

andar, de mãos dadas e com o mesmo objetivo, a saber, o de punir na forma da lei,

mas utilizando métodos que busca integrar ou reintegrar o apenado. Nos moldes do

que preceitua Alessandro Barata200:

(...) a reintegração social se processa não através da pena e do cárcere, mas apesar da pena e do cárcere. Para tanto, pressupõe-se, não só a melhora significa do cárcere, mas que o cárcere seja cada vez menos cárcere, tanto em termos de duração de pena, quanto em termos de tratamento e das condições internas do mesmo, ou ainda em termos de abertura da parte encarcerada da sociedade para a parte não encarcerada e vice-versa. A reintegração social supõe o reconhecimento do preso como um cidadão que não é passivo de tratamento, mas que é ativo e participativo num processo de comunicação entre o cárcere e a sociedade livre.(...) Todos os meios que o cárcere oferece deve oferecer para o “tratamento” do preso, tais como o trabalho e o estudo, devem ser encarados como direitos deles não como obrigações. O preso não deve ser obrigado a se curvar perante o estudo e o trabalho como valores que lhes são impostos, mas eles tem todo o direito a dispor desse recurso e com eles construir seu próprio “diálogo” e perante eles se posicionar. Não se pode juridicamente exigir do preso sua “ressocialização”, mas ele tem o direito de todas as condições para sua reintegração social, a todos os tipos de assistência; saúde, educação, trabalho, assistência jurídica etc. O preso tem todo direito de se deparar com os valores socialmente vigentes e a se posicionar perante eles como ser pensante, que é capaz de refletir sobre todas suas contradições internas.

A reintegração social é uma forma mais moderna de ressocialização, volta-

se a opção de escolha do apenado frente à oferta dos institutos de reintegração que

devem ser disponibilizados pelo sistema penal. Ela não obriga o recuperando a

estudar ou trabalhar, mas ela oferece os meios para que ele possa livremente

escolher se quer ou não se submeter a esse tipo de mudança.

Nesse viés, o Centro de Detenção Provisória de Juína traz algumas

alternativas de reintegração que podem refletir em possíveis soluções para o

problema da reincidência com garantias legais.

199

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. 200

BARATA, op. Cit., p. 320-321.

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103

4.3.2 Política de Reintegração Social dos Recuperandos que Recebem o

Benefício de Remição de Pena

Remição de pena é um direito e também incentivo das políticas da Lei de

Execução Penal que o recuperando possui durante o período do cumprimento de

pena, ao mesmo tempo em que progride de regime de cumprimento de pena mais

rápido, também agrega conhecimentos e valores sociais.

Como se observou anteriormente, o número de recuperandos que participam

de alguma política de remição da pena é pequeno, sendo de apenas 35,49% o

percentual dos que se beneficiam deste tipo de política, o que de certa forma é

reflexo da falta de estrutura em receber quase o dobro de recuperandos que a sua

capacidade física comportaria.

Contudo, dentro de suas limitações a gestão do Centro de Detenção

Provisória tem se lançado de algumas políticas de reintegração que, apesar de

insuficientes, podem surgir neste contexto como um benefício capaz de tornar o

cárcere menos ocioso para parte da população encarcerada.

A administração da unidade prisional seleciona os perfis dos recuperandos a

partir do bom comportamento e convívio, nos casos dos que podem transitar pelo

lado de fora das celas sem oferecer riscos eminentes aos servidores que juntos

circulam pela unidade e dentro das celas a oportunidade advém da oferta de labor

ou estudo em consonância com a livre escolha do apenado.

Além de contribuir para a inclusão social ao sair do cárcere, essas atividades

também servem pra remir a pena, ou seja, reduzir seu tempo no regime fechado.

Dentre os perfis que se utilizam das políticas de reintegração ofertadas pela

unidade e ainda recebem remição de pena: 31,58% estudam o nível fundamental -

primeiro seguimento, 68,42% exercem atividades de laborterapia, conforme gráfico

que segue:

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Gráfico 20. Percentual de recuperandos que trabalham ou estudam no CDP de Juína.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional.

O benefício da remição é uma política de reintegração amparada pela Lei de

Execução Penal em seu Artigo 126, estabelece que a cada 3 (três) dias trabalhados

o preso tem direito a reduzir 1 dia da pena e 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze)

horas de frequência escolar, compreende atividade de ensino fundamental, médio,

inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional

divididas, no mínimo, em 3 (três) dias.

Há possibilidade, através da Recomendação nº44 do Conselho Nacional de

Justiça201, de remir a pena por meio da leitura, sendo que a referida prática já é

realidade em diversos presídios do país. De acordo com a referida Recomendação,

deve ser estimulada a remição pela leitura como forma de atividade complementar,

especialmente para apenados aos quais não sejam assegurados os direitos ao

trabalho, educação e qualificação profissional.

Ocorre que, para que isso seja possível, há necessidade de elaboração de

um projeto por parte da autoridade penitenciária estadual ou federal visando à

remição pela leitura, assegurando, entre outros critérios, que a participação do preso

seja voluntária e que exista um acervo de livros dentro da unidade penitenciária, o

que infelizmente não é a realidade local.

201

CNJ SERVIÇO – Saiba Como Funciona A Remição De Pena. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/81644-cnj-servico-como-funciona-a-remicao-de-pena> acesso em abr. de 2017.

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105

Segundo a norma, o preso deve ter o prazo de 22 a 30 dias para a leitura de

uma obra, apresentando ao final do período uma resenha a respeito do assunto, que

deverá ser avaliada pela comissão organizadora do projeto. Cada obra lida

possibilita a remição de quatro dias de pena, com o limite de doze obras por ano, ou

seja, no máximo 48 dias de remição por leitura a cada doze meses.

Apesar do incentivo para remição através do estudo e da grande parte da

população carcerária possuir baixíssimo grau de instrução, observa-se que há

poucos recuperandos se valendo do benefício da remição através do estudo, a

demonstrar que falta dentro da unidade prisional um trabalho voltado a incentivá-los,

imperando mais uma vez a omissão do Estado, pois oferecem unicamente como

política de remição através do estudo o ensino fundamental, primeiro seguimento.

São ofertadas aos recuperandos do CDP como proposta de reintegração e

conciliando com necessidade da administração em relação ao bom funcionamento

na unidade algumas possibilidades de remição pelo seguimento laboral.

Gráfico 21. Percentual de recuperandos do CDP de Juína que laboram por seguimento.

Fonte: O autor; extraído a partir de documentos de qualificação dos recuperandos da unidade prisional.

As políticas de reintegração da unidade com base na laborterapia se dividem

nas seguintes atividades:

1. Horta - Somam 3,95 % dos recuperandos cuidam da sua manutenção e

produção de hortaliças que são distribuídas para as escolas municipais de Juína

com projeto de parceria do Município.

2. Marcenaria - Somam 5,26 % dos recuperandos que laboram como

marceneiros, fabricando móveis, brinquedos de madeira, utensílios domésticos

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dentre outros. Esses objetos ficam expostos na unidade para venda e também

fabricam sob encomendas.

3. Artesanatos - Somam 46,05 % dos recuperandos que laboram com a

confecção de artesanatos: crochê, redes, bonecas dentre outros. Geralmente a

venda acontece a partir dos seus familiares, mas também pode ser comercializado

dentro da unidade com autorização de servidores prisionais sob custódia e vigia.

4. Cantina - Somam 3,95 % dos recuperandos que laboram nessa atividade,

comercializam produtos ofertados pela cantina sob vigia e custódia de servidores

penitenciários.

5. Manutenção - Somam 5,26 % dos recuperandos que laboram com

limpeza e conservação da unidade.

6. Correria - Somam 6,58 % dos recuperandos que prestam serviços no

interior do cárcere, como limpeza e distribuição de alimentação dentro das celas.

São denominados correrias, como medida de segurança eles fazem “corres” diretos

com os internos, o que contribui para que os servidores prisionais não tenham

contato diretamente com internos.

7. Estudo - Somam 31,58 % dos recuperandos que estudam o nível

fundamental primeiro seguimento. Foi realizado a partir de um projeto junto ao

município e judiciário.

O estudo e o trabalho são meios que contribuem para que o indivíduo se

reintegre a sociedade, apesar de muitos deles ainda estarem no processo de

integração diante da realidade que viviam antes do cárcere, muitos nem mesmo

possuem nível de instrução mínima, sem condições para enfrentar o exigente e

mínima do mercado de trabalho.

Nesse sentido o aparelho penal deve oferecer a partir da lei e da justiça

oportunidade aos recuperandos para optar por se incluírem às medidas de

reintegração social. E o Centro de Detenção Provisória de Juína procura atingir sua

finalidade social, fazendo parcerias com outras instituições. A evolução vai surgindo

a partir do momento em que os administradores se adéquam a realidade do sistema

carcerário, sem oprimir e discriminar o indivíduo, buscando oportunizar meios que

viabilizem a mudança do perfil social, visando uma possível busca pela inclusão ao

se depararem com a liberdade.

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A oferta de ensino para os recuperandos do CDP de Juína conta com a

parceria da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (SEJUDH) com

apoio da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) de Mato Grosso que

disponibilizou um professor para dar aula aos reeducandos, a partir de um projeto

da Escola Nova Chance em concordância com a então Direção da unidade.

Hemerson Beliziário202 declara que o estudo é uma forma de reintegração:

“Através da Escola Nova Chance foi feita essa parceria. Vamos fazer com que o

recuperando aproveite uma oportunidade que talvez ele não tenha tido lá fora, que é

a alfabetização, eles vão aprender a ler e a escrever”.

Vale ressaltar que A Escola “Nova Chance203” foi criada para atender as

pessoas privadas de liberdade do Sistema Prisional do Estado de Mato Grosso

através da modalidade EJA - Educação de Jovens e Adultos, propondo uma forma

de educação com conteúdos críticos, voltados à realidade do aluno adulto, que

geralmente é marcada pelo preconceito e exclusão social.

O direito a educação é considerado um direito humano universal desde as

considerações da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, disposto no

artigo 26, que reconhece o direito humano à educação e estabelece como objetivo o

pleno desenvolvimento da personalidade humana assim como o fortalecimento do

respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais, no qual o Brasil é

signatário, dessa forma cabe ao país à obediência perante as normas. Nesse

sentido uma grande dificuldade na atualidade não está na positivação do direito do

homem a educação, mas sim na aplicabilidade desse direito.

Conforme dispõe Bobbio204: “o problema fundamental em relação aos

direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los”, ou seja

na prática diante da crise que o sistema carcerário se encontra torna-se cada vez

mais distante a proteção a esse direito.

202

BELIZIARIO, Hemerson. Ano letivo começou no CDP de Juína para 24 reeducandos. Entrevista concedida ao Jornal Eletrônico Juína News, edição de 23 de mar. De 2017. Disponível em <http://www.juinanews.com.br/noticia/28036/ano-letivo-comecou-no-cdp-de-juina-para-24-reeducando> Acesso em 20 de abr. de 2017. 203

Escola Nova Chance. Histórico disponível em <http://www.escolanovachance.com.br/historico> Acesso em 21 de abr. de 2017. 204

BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Tradução de Marco Aurélio Nogueira- São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 24.

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Por outro lado os valores sociais do trabalho é um direito fundamental

amparado pela Constituição Federal de 1988 a partir de seu artigo art. 1°, IV, assim

com fundamentos no seu art. 170, que dispõe a ordem econômica que é “fundada

na valorização do trabalho humano”. Esse direito também deve ser um direito

assegurado dentro das prisões brasileiras, visto que ele é capaz de transformar um

indivíduo em um ser útil perante a sociedade, pois também é através dele que

ocorre a inserção do homem a sociedade. Para Lukács205:

O trabalho é o instante inicial da sociabilidade, o complexo originário, ineliminável que expressa a posição e a condição primeira da gênese e do devir homem do homem [...], ao mesmo tempo em que revela a realidade objetiva da natureza como a base imprescindível do processo de auto constituição do ser social (p. 13). Não apenas o trabalho é responsável pela sobrevivência, mas ele transforma o indivíduo ao mesmo tempo em que este transforma o mundo. Sobre isso, Soratto e Heckler (1999) dizem: [...] falamos em trabalho quando, independente da relação financeira definida por vínculos empregatícios, contratos de trabalho, salários, deveres e direitos trabalhistas, uma atividade resulta em um produto que transforma a natureza e permanece no tempo e no espaço (p. 111).

No mesmo sentido Lúcia Casali206, diretora-executiva da FUNAP (Fundação

de Amparo ao Preso) de São Paulo, credita que 70% dos presos que trabalham e

estudam se ressocializam:

De toda a massa carcerária, acredito que 70% podem ser recuperados por meio de trabalho e educação. Eu levo em consideração o histórico do preso, como trabalho, educação, família e religião. A partir deles, a Funap pensa nas diretrizes ... 75% dos presos que prestaram o último Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] passaram e conseguiram o diploma do ensino médio. A partir de agora a própria Secretaria da Educação vai certificar.

O trabalho do homem tem um importante papel na sociedade, não

necessariamente produzir status social, mas contribui para a formação social, capaz

de transformar o indivíduo e prepara-lo para enfrentar os desafios que mundo e o

concorrente mercado de trabalho dos tempos moderno oferecem. Assim ele pode

205

LUKÁCS, George. apud BARBALHO, Lidiane de Almeida; BARROS, Vanessa Andrade. O Lugar do Trabalho na Vida do Egresso do Sistema Prisional: Um Estudo de Caso. Gerais, Rev. Interinst. Psicol. [online]. 2010, vol.3, n.2, p. 198-212. ISSN 1983-8220. p. 205. 206

CASALI, Lúcia. Trablaho e educação podem recuperar 70% dos presos. Entrevista concedida a SOBRINHO, Wanderley Preite. Portal de Notícias online R7, publicada em 16 de ago. de 2011. Disponível em: <http://noticias.r7.com/brasil/noticias/trabalho-e-educacao-podem-recuperar-70-dos-presos-20110816.html> Acesso em 20 de abr. de 2017.

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ser uma possível solução se aplicados dentro do cárcere, pois os indivíduos que ali

se encontram, geralmente não possuem qualificação profissional suficiente pra

encarar a liberdade depois do cárcere, e oportunizando-os a uma manutenção de

atividade, faz com que ele reflita sobre sua utilidade, ajudando até a construir uma

dignidade moral mais compatível às exigências sociais, fazendo da pena de privação

de liberdade atingir sua finalidade ressocializadora e não só de repressão.

Dentro do CDP de Juína os recuperandos trabalham pela remição da pena,

e pela busca da possível ressocialização. Nessa toada em entrevista veiculada no

site Juína News207 o advogado Marcos Vilaça Filho, atual Presidente do Conselho da

Comunidade de Execuções Penais do município contribuiu: “Sabemos que quando a

pessoa trabalha ela dignifica é uma questão que vai ajudar e muito na

ressocialização dos detentos”. Assim demonstra o quanto o trabalho esta norteado

de valor social.

4.3.3 A Importância da Psicologia e Assistência Social no Cárcere

A Unidade conta com um quadro de servidores técnicos e qualificados para

prestar atendimentos visando às estratégias de reintegração e garantias dos direitos

dos apenados. Dentre eles 02 (dois) psicólogos e 01 (um) assistente social que

possuem a função de mostrar aos recuperandos o caminho para a reabilitação e

reconstrução da identidade. Segundo o professor Doutor em Psicologia Oliveira208 a

função do psicólogo é essencial diante do cárcere:

É preciso ensinar a todos que trabalham desde nossa disciplina, que tratar as pessoas como sujeito e cidadão é condição terapêutica por excelência e é condição promotora da inscrição do sujeito no laço social. Fugir disso é produzir violência, é produzir opressão, produzir dominação, e dominação não dá bom resultado. Então o tema fundamental com o qual nós estamos trabalhando neste momento é a produção de laço social como uma direção. Temos de disputar os recursos que hoje são investidos no sistema prisional, para a construção de redes, redes substitutivas, redes de acompanhamento, redes de suporte.

151 CDP DE JUÍNA inaugura marcenaria e área do visitante. Disponível em: <http://www.juinanews.com.br/noticias_ver.php?id=26139> Acesso em 20 de abr. de 2017. 208

OLIVEIRA, Marcos Vinicius. Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional. O Fim das Prisões. Brasília: CFP, 2010, p. 135.

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110

A assistência de um psicólogo dentro do cárcere tem fundamental

importância para a compreensão da realidade do individuo ao se deparar com a

privação da liberdade, que exige uma adaptação continua sem perder os laços

sócias e sua identidade, pois são esses profissionais técnicos, os mais preparados

para enfrentarem os problemas do indivíduo segregado, e ainda contribuir para a

identificação de seu perfil carcerário, quando solicitados pelo aparelho prisional.

A Lei de Execução Penal209 institui a criação da Comissão Técnica de

Classificação que tem o objetivo de classificar o segregado conforme as suas

características, personalidade e seus antecedentes, assim como elaborar programa

individualizado. Estabelece ainda os profissionais que devem compor as CTC‟s de

cada estabelecimento onde deverá haver um psicólogo entre outros técnicos como

assistente social, apesar da realidade brasileira ser deficitária diante da demanda

existente.

No que tange a contribuição do profissional técnico em Assistência Social210

e do intercambio entre a família e o segregado em relação ao acesso dos recursos

sociais, o profissional tem a possibilidade de conhecer a realidade familiar

vivenciada pelo apenado, dando suporte e orientação à família, por exemplo, quanto

aos encaminhamentos para a rede de serviços públicos como os benefícios do

INSS, auxílio-reclusão, auxílio-doença e aposentadoria. Ainda no campo do acesso

a direitos, umas das intervenções mais realizadas pelo assistente social é o registro

dos filhos de presos e reconhecimento de paternidade.

4.3.4 A importância do Agente Penitenciário

O agente penitenciário possui papel fundamental no Sistema Prisional211. O

de assegurar a custódia, zelar pelas regras e disciplina na unidade prisional para

209

Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade. Parágrafo único. Nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da Execução e será integrada por fiscais do serviço social. 210

DE OLIVEIRA, Odete Maria. Prisão: um paradoxo social. Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, 1984, p. 293. 211

Missão Institucional da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado de Mato grosso tem como objetivo assegurar a custódia, resgatar valores, manter a dignidade e o ambiente harmonioso, oportunizando a qualificação profissional, trabalho e renda, das pessoas privadas de liberdade, com

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111

evitar motins, rebeliões ou até mesmo fugas de detentos de vários níveis de

periculosidade. Ainda propiciar ambientes voltados à reintegração social do

apenado.

Apesar do Estado não oferecer todo aparato necessário para o bom

andamento do trabalho do agente penitenciário, ainda assim com muito suor e

jornadas exaustivas, exercem suas funções de forma solene, pois fazem parte da

segurança pública em categoria de alto risco, é responsável por uma “bomba

relógio” que se explodir afeta toda sociedade. O que se presencia na atualidade com

os inúmeros conflitos, alguns já demonstrados nessa pesquisa diante da eminente

crise carcerária do país. O agente penitenciário tem em suas mãos a

responsabilidade direta do controle e da ordem representando o Estado, por isso

necessita de todo aparato estatal para desempenhar um trabalho com resultado

satisfatório.

Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS – classifica a atuação do

servidor prisional como uma das profissões mais vulneráveis ao estresse

ocupacional212 entre as mais perigosas do mundo. Conforme o Procedimento

Operacional Padrão-POP213 o agente penitenciário tem contato direto com os

presos, abre celas para o banho de sol, faz a conferência diárias dos presos, por

meio de chamada nominal ligando sua fisionomia ao nome, frente a frente com o

criminoso. Retira o preso da cela para atendimentos de advogados, oficiais de

justiça dentre outros. Realiza revistas nas celas, na alimentação, com o objetivo de

manter o ambiente seguro, evitando entrar objetos ilícitos e não autorizados pelo

sistema como entorpecentes, celulares, armas letais entre outros. É responsável

pela revista de visitantes lidando diretamente com pessoas de todos os níveis

instrução e cultura.

profissionalismo dos servidores, zelando pelos direitos e deveres de todos, com o propósito de melhor qualidade de vida e a reinserção de cidadãos na sociedade. Disponível em < http://www.sejudh.mt.gov.br/saap > acesso em 30 de maio de 2017. 212

NETO, Luiz Fabrício Vieira. Políticas Públicas no Sistema Prisional. Saúde e qualidade de Vida. CAED - UFMG Belo Horizonte, MG 2014. p 82. 213

MELONI, Rodrigo Maciel. Governo Lança Manual De Procedimento Do Sistema Penitenciário. Governo do Estado de Mato Grosso, SEJUDH, publicado em 05 de Setembro de 2014. Disponível em <http://www.sejudh.mt.gov.br/-/governo-lanca-manual-de-procedimento-do-sistema-penitenciario> Acesso em 30 de maio de 2017.

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112

É o agente penitenciário quem socorre um preso quando se encontra em

perigo de morte por outros companheiros. Muitas vezes também serve de psicólogo

para evitar suicídios devido o desespero do recluso ao se deparar com a prisão e

com o abandono familiar. Além de fazer as mais variadas escoltas externas para

audiências e transferências de presos entre unidades, cidades e estados. Inclusive é

o agente penitenciário que leva o preso no velório de seu ente querido e passa pelas

mais variadas situações psicológicas.

Muitos estados brasileiros não valorizam os agentes penitenciários, ofertam

remunerações injustas e estruturas indignas de trabalho, a sociedade inclusive não

reconhece seu devido valor, por se tratar de uma profissão voltada a cuidar de

segregados, vulgarmente conhecidos como “lixos sociais”. Nesse sentido Neto

reitera214

O primeiro dado a ser levado em consideração é que o próprio sistema prisional tem pouquíssima visibilidade social. É quase invisível. Para a maior parte da sociedade, o preso deve ser punido do modo mais severo e exemplar possível. Os homens lamentam que não haja pena de morte, prisão perpétua ou penas cruéis, como amputação de membros para criminosos patrimoniais e castração para criminosos sexuais. De modo geral, para a sociedade, o que se passa dentro de uma penitenciária não lhe diz respeito e é melhor que fique lá e não saia de lá. É desagradável para a sociedade ter que olhar para aqueles seus integrantes que erraram, assim como é também desagradável tratá-los com humanidade e ajudá-los durante e após o cumprimento de pena, a fim de que retornem ao meio aberto em condições de conviverem em paz. Isso por si só já revela que o sistema prisional é algo que não se quer ver. Por isso, dizemos que é um sistema quase invisível. Assim, também, ocorre com o servidor deste sistema.

Embora mesmo com essa falta de reconhecimento do servidor penitenciário

diante da sociedade, inúmeras são as lutas sindicais, com intuito de mudar essa

realidade. Na Câmara dos Deputados e no Senado existem dois projetos de emenda

constitucional em andamento (PEC 308/04215 e 14/2016216), respectivamente, com

214

NETO, op. Cit. p 74 215

BRASIL, Proposta de Emenda à Constituição nº308/2004. Altera os arts. 21, 32 e 144, da Constituição Federal, criando as polícias penitenciárias federal e estaduais. Câmara dos Deputados. Disponível em <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=261742> acesso em 06 de jun. De 2017. 216

BRASIL, Proposta de Emenda à Constituição nº14/2016. Cria as polícias penitenciárias federal, estaduais e distrital. Senado Federal. Disponível em <https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=125429> acesso em 06 de jun. de 2017.

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113

intuito de alterar o artigo 144 da Constituição Federal e incluir o agente penitenciário

dentro do rol taxativo dos órgãos de segurança pública com a nomenclatura “polícia

penal” e ou “polícia penitenciária” por se tratar de funções equiparadas aos demais e

que também vislumbra o exercício da presença da ordem pública e da incolumidade

das pessoas e do patrimônio. No mesmo sentido argumenta o presidente da

Federação Nacional Sindical do Sistema Penitenciário Fernando Anunciação217 “O

sistema prisional brasileiro está falido, acreditamos que a polícia penal é solução

para padronizar todo o sistema, além do reconhecimento da categoria que já

desenvolve o trabalho policial dentro das unidades”.

O agente penitenciário é o principal intermediador da comunicação interna

entre os setores de resgate social, voltado à reintegração, é ele que analisa a

possibilidade de atendimento e andamento dos trabalhos dos demais servidores do

sistema penitenciário; se o ambiente esta propicio para atendimento dos serviços

psicológicos, da assistência social, do educador físico entre outros. Assim como os

pedidos dos recuperandos a esses atendimentos, são analisados pela equipe de

plantão com autorização do chefe imediato. Caso não houver possibilidade, por

exemplo, no dia contar com baixo efetivo no plantão os atendimentos são

suspensos, visando à segurança da unidade, sendo atendidos apenas os casos

emergenciais.

Servidores incluindo os agentes penitenciários realizam avaliações, com aval

da direção da unidade prisional, dos perfis criminológicos de cada segregado

quando solicitado pelo judiciário, que por sua vez profere as progressões de regime.

Também faz parte de suas atribuições selecionar os recuperandos que possuem

bom comportamento, e oferta-los com benefícios de estudo, qualificação

profissional, trabalho e renda, oportunizando-os à remição de pena, além de

contribuir com o resgate de valores e manutenção da dignidade humana e do

ambiente adequado, garantidos por lei.

A direção das unidades em muitos estados, inclusive Mato Grosso é

concedida a um servidor penitenciário por meio de cargo de confiança indicado pelo

217

FENASPEN promoverá campanha pró PEC‟s 308/04 e 14/16 no congresso na próxima semana. Redação da Federação Nacional dos Servidores Penitenciários. Publicada em 17/08/2016. Disponível em: <http://www.fenaspen.org.br/fenaspen-promovera-campanha-pro-pecs-30804-e-1416-no-congresso-na-proxima-semana/> acesso em 06 de jun. de 2017.

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114

governo, o que reflete numa administração mais produtiva, pelo fato de que este já

conhece na prática a realidade do sistema prisional e sentem-se valorizados.

4.3.5 Monitoramento Eletrônico

Outro meio utilizado que visa à reintegração e o desencarceramento é o

novo modelo de prisão que o judiciário vem fazendo uso, aquele que não necessita

de uma estrutura arquitetada, o da Tornozeleira Eletrônica que veio para modernizar

o sistema prisional. Na comarca de Juína conta com 26 (vinte e seis) recuperandos

sendo monitorados eletronicamente pelo CDP.

A Monitoração Eletrônica, uma medida cautelar está amparada pela Lei

12.403/2011, que passou a vigorar no dia 04 de julho de 2011, conforme dispõe

artigo 39, trazendo um conjunto de medidas cautelares diversas da prisão

preventiva, dentre elas a da “monitoração eletrônica”, que somente pode ser

aplicada com alternativa quando se tratar de infração a que for aplicada pena

privativa de liberdade, obedecendo aos critérios de aplicação da lei, investigação ou

instrução criminal, ou para evitar a reiteração delitiva e a adequação à gravidade do

fato, às circunstâncias do caso e às condições pessoais do agente, com base na

nova redação dada ao art. 282 do Código de Processo Penal.

O modelo de monitoramento além de ajudar a diminuir a superlotação dos

presídios a oferece ao sentenciado um melhor retorno à sociedade reduz os

impactos negativos do cárcere. A vigilância por meio eletrônico contribui para que

ele não conviva com outros perfis criminosos. Também é uma estratégia econômica

por parte do governo, porque os custos são reduzidos significativamente. Nesse

sentido em abril de 2017 a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), foi aprovado,

por unanimidade. O projeto é do deputado estadual Firmino Paulo do Partido Social

Democracia Brasileira, que dispõe sobre o monitoramento eletrônico de apenados

no âmbito do estado do Piauí. O relator da matéria foi o deputado estadual Fernando

Monteiro218 do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro. Na oportunidade explicou

218

MONTEIRO, Fernando. Apud LINDALVA, Miranda. CCJ aprova projeto para monitoramento de apenasdos. Assembleia Legislativa do Piauí. Informativo eletrônico. Edição de 18 de abr. de 2017. Disponível em <http://alepi.pi.gov.br/noticiasConteudo_inc.php?idNoticia=5978> acesso em: 26 de abr. de 2017.

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115

que o monitoramento é importante para o sistema fazendo as seguintes

considerações:

Atualmente a humanidade passa por um processo de constantes e aceleradas transformações e que as formas de vida e as instituições sociais do mundo moderno são totalmente diferentes de uma passada. Pode se afirmar que a globalização tem participação no desenvolvimento de todos os setores da sociedade. O desenvolvimento tecnológico edificou melhorias para a sociedade. Melhorou a vida das pessoas e, com isso, vieram os efeitos nocivos, como o aumento da criminalidade e da violência, conhecida essa Nova Ordem Mundial Globalizada e suas negativas consequências para a sociedade, compete também a essa Nova Ordem Social, a inserção de tecnologias, que possam mitigar esses efeitos noviços aos quais todos estão submetidos.

Cada época criou suas próprias leis penais, embasados em diferentes

formas de punição, vivemos numa nova era e a lei penal precisa de adequar com as

mudanças da sociedade. Nesta toada, a Corregedoria-Geral da Justiça de Mato

Grosso autorizou o uso do monitoramento eletrônico através do Provimento de

nº25/2008219, dando início a uma nova forma de punir.

Outras são os meios de cumprimento da pena, que estão sendo aplicadas

pelo judiciário para tentar desafogar o encarceramento do país; o livramento

condicional e a suspensão condicional da pena, assim como introdução de penas

alternativas e a subsequente despenalização, todos aplicados em conformidade com

a lei e com finalidade de reintegração social ou ressocialização. Apesar desta ultima

estar sendo substituída pelas correntes que acreditam que reintegrar é a melhor

forma de se expressar.

4.4 Possíveis soluções para evitar a Reincidência e Consequentemente a

Crise do Sistema Carcerário

De acordo Bittar220 a previsão dos legisladores a cerca da ressocialização

trouxerem para o centro da discussão, o objetivo atribuído à prisão moderna, com

embasamento da concepção de execução penal, prevista no diploma legal 7210/84.

Não obstante, a literatura apresenta controvérsias em torno do assunto da

219

PROVIMENTO n.º 25/2008 -GAB/CGJ Autoriza e recomenda o uso de aparelhos de monitoramento eletrônico. Corregedoria-Geral da Justiça de Mato Grosso. Em 13 de jun. de 2008. 220

BITTAR. op. Cit., p.43.

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ressocialização, nesse sentido quaisquer propostas têm por incumbência impactar

no andamento de vida dos indivíduos segregados.

Salienta Bitencourt, e adotando uma posição majoritária, que as prisões são

incapazes, de ressocializar os condenados. Os adeptos da criminologia crítica

censuram o atual modelo de ressocialização, por violar o livre arbítrio e da

autonomia da pessoa, uma vez que o pensamento de “tratamento”, ou correção do

homem que sustenta essa expectativa pressupõe a anulação de sua ideologia,

personalidade e suas escalas de valores, para juntarem aos legítimos valores.

Vislumbra-se um paradoxo, como acreditar que pessoas com desvio de conduta se

adaptem á normas sociais apartando-os inteiramente da sociedade e colocando-os

em um microcosmo221 carcerário com suas próprias culturas e regras.

No entanto, há opinião unanime de que a prisão não tem capacidade de

ressocializar, não se estende aos caminhos que a prisão deveria oferecer. Neste

aspecto Baratta222 apresenta duas posições; idealista e realista.

Os simpatizantes da posição realista, partindo do princípio de que a prisão

não tem capacidade de construir um ambiente ressocializador, defende que ela

deveria neutralizar o criminoso. Em consequência, alinha-se a fala oficial da

segregação como prevenção de forma especial negativa, incapacidade do criminoso

ou neutralização, que se encontra no recrudescimento das táticas repressivas.

De lado oposto, estão os que se colocam na posição idealista, que persistem

na defesa da prisão como ambiente de prevenção positiva, que visa a

ressocialização. Embora se admita os fracassos, para esta finalidade, advogam que

é necessário manter o idealismo de ressocialização, tendo em vista que sua

221

Microcosmo (do grego Mikrokosmos, mundo pequeno) corresponde a um de três fatos: ao homem, ao mundo pequeno ou ao pequeno mundo. Assim, considera-se que: O homem representa todo o Universo e nele está consciente. Microcosmo é o Universo do ponto de vista pessoal e subjetivo, por oposição ao macrocosmo: ao Universo do ponto de vista coletivo e objetivo. No Homem encontram-se ambos o universal e o particular, ora na forma de conteúdo (microcosmo), o que é contido, ora na forma de continente (macrocosmo), o que contém. O microcosmo é o mundo do homem consciente de si, e o mundo é a medida do homem. Além do microcosmo estende-se o macrocosmo, mas além desse último não há o que estender, porque não há medida fora do mundo. (microcosmo in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2017. [consult. 2017-05-26 18:56:50]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/microcosmo) 222

BARATTA, op. Cit., p. 65.

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abdicação reforçaria o caráter unicamente punitivo da pena, oferecendo à prisão a

única forma de excluir da sociedade as pessoas apresentadas como delinquentes.

Argumenta Baratta223 que as duas posições não é aceitável. Neste aspecto,

a prisão, de forma como se apresenta, é incapaz de oferecer a ressocialização;

observa-se que ela tem produzido realmente são impedimentos para obtenção desta

finalidade. Embora, reconhece essas falhas, sustenta que o objetivo não deve ser

abdicado, porém reconstruído.

Sendo assim, o tratamento e ressocialização denotam um comportamento

passivo do apenado e ativa das instituições, compreendendo como verdadeira

herança antiquada da velha criminologia positiva, que imputava ao preso uma

pessoa inferior e anormal que necessitava ser readaptado à sociedade, ponderando

acriticamente este com “bom” e aquele como “mau”.

Por outro lado, o aspecto da reintegração social implica a igualdade entre os

envolvidos no processo, permitindo a abertura e interação entre sociedade e prisão,

no qual indivíduos presos se reconheçam no meio social e este por sua vez, se

reconheça na segregação.

De acordo com Sá224, os termos ressocialização e reabilitação se dão pela

incumbência que a sociedade desempenha neste processo. Afirma que pela

reintegração social, a comunidade deveria (re) incluir os indivíduos que ela excluiu,

por meio de estratégias nas quais esses marginalizados tenham uma convivência

ativa, não se trata de objeto de assistência, mas de pessoas.

Outro aspecto relevante traz a discussão do conceito reintegração no âmbito

social, são as condições da prisão. Nesta ótica, tanto no panorama da integração

social como do delinquente, “o melhor cárcere é aquele que não existe”, haja vista

que não há nenhuma prisão de qualidade, com o objetivo de reintegração. Observa-

se nesse contexto assombroso, que existem prisões piores que outras, e dessa

forma qualquer ação, ainda que para enclausurar, deve ser enfrentada com

serenidade, de forma a fazer com que a vida na prisão seja menos danosa e

prejudicial ao apenado.

223

BARATTA, op. Cit., p. 67. 224

SÁ, op. Cit., p. 107.

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De outro prisma, não se consegue reintegrar o condenado por meio do

cumprimento da pena, porém deve procura-la apesar dela, com mais reintegração.

Esses aspectos não se tratam em defender uma reforma tecnocrática que se

restringiria somente a constituir “um cárcere melhor”, mas de incorporar em uma

política que caminhe no sentido de menos prisão. Nas questões que rodeiam o

encarceramento em massa resultado do endurecimento penal, conforme

demonstrado, não tem eficácia apenas traz satisfação instantânea, na contramão

dos direitos humanos constitucionais. Inúmeras são as medidas que podem ser

aplicadas com mais assiduidade dentre elas as penas alternativas; justiça

restaurativa, monitoramento eletrônico, conciliação, mediação de conflitos dentre

outras.

Desse modo, o poder público tem um grande desafio diante da crescente

reincidência. O ordenamento jurídico pátrio acredita na recuperação do apenado,

tendo como princípio; dignidade da pessoa humana, os direitos e garantias

constitucionais. De forma enfática é preciso abominar tratamentos degradantes e

cruéis, entre eles o castigo físico, não aceitar os presos em presídios insalubres.

Diante do contexto, visualiza esperança de que a sanção opere uma mudança na

pessoa para que possa ter uma vida produtiva.

A essência da lei, entretanto, é no sentido de confiar na recuperação do

individuo, dando oportunidade ao condenado de reintegração à sociedade. Sendo

assim, como criar mecanismos efetivos para que isso aconteça, porém até presente

momento não há respostas definitivas, mas uma questão é evidente a de que o

Estado precisa retomar o controle das prisões, pois quanto mais se encarcera

maiores são as dificuldades para gerir, muitos direitos acabam sendo desprezados,

mais aumenta a incidência de crimes e passa ser uma gestão pautada na

ilegalidade.

Mais medidas precisam ser tomadas em busca do combate ao crime

organizado, como a neutralização das facções, não adianta transferir as células pra

presídios diferentes, pois só demonstra o despreparado de gestão, são medidas

equivocadas, iniciadas por quem não lida diretamente com a realidade do sistema

prisional, é evidente a força das facções criminosas frente à falta de segurança dos

estados, pois quanto mais circulam os lideres de facções mais elas se disseminam

aumentando os membros batizados.

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O judiciário precisa trabalhar junto com a polícia investigativa através de

medidas processuais com bloqueios dos valores milionários que geram essas

facções, conforme anteriormente apresentado, na tentativa de fazer com que o país

retome o controle, mais políticas públicas de prevenção também se fazem

necessárias visando o combate do consumo de entorpecentes que é um dos fatores

primordiais, pois quanto maior a procura maior será a oferta.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De todo o exposto, resta claro que a partir dos desdobramentos apontados

na Teoria das Janelas Quebradas e Políticas de Tolerância Zero, corroboradas pela

Teoria do Etiquetamento que, a pena restritiva de liberdade perdeu seu caráter

ressocializador.

Explica-se: a priori a pena privativa de liberdade ainda tem por finalidade a

ressocialização do condenado, inicialmente retirando-o do seio social para reeducá-

lo, recuperá-lo, fazê-lo refletir sobre seus erros e o quão reprovável foi a sua conduta

de forma que ao ser devolvido para a sociedade possa exercer sua liberdade de

forma plena, optando por conduzir sua vida de forma íntegra, moralmente aceita

tanto pelo ordenamento quanto pela sociedade.

Todavia, esse caráter ressocializador vem sendo aniquilada pelas

desumanas situações da segregação nas unidades prisionais brasileira, tendo ainda

a ilegal e injusta sanção acessória que é a espoleta/estopim que comina na

reincidência do condenado que é o fato de serem presas fáceis das facções

criminosas que dominam o interior dos presídios.

Isso porque, as referidas facções se aproveitam da ausência do estado e

ofertam mais estrutura e proteção, dando aos segregados membros das facções a

sensação de dignidade por fazer parte de uma sociedade, ainda que criminosa, além

de introduzi-los a um subgrupo fora do cárcere que empresta a eles a esperança de

não estarem vulneráveis ao sair do estabelecimento penal, conferindo-lhes status e

devolvendo-lhes o sentimento de poder de compra com os valores expressivos que

movimenta o mercado de drogas, restando condenados a uma prisão que vai muito

além do cárcere.

Como visto, as políticas de tolerância zero acabam por segregar um maior

número de indivíduos com penas exacerbadas fazendo com que os benefícios aos

segregados previstos na Lei de Execução Penal se tornem inexecutáveis.

Neste contexto, ressalta-se que a referida Lei de Execução Penal foi o único

aparato legal pensado pelo legislador como ferramenta capaz de ressocializar e não

apenas punir o indivíduo, todavia a prática vivenciada nas unidades prisionais deixa

visível que os reclusos que saem dos presídios não conseguem se reintegrar a

sociedade pela falta de oportunidade que recai sobre o mesmo em decorrência do

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estigma que este carrega por ser um ex-apenado, aliviando sua angustia na

sociedade com a inserção em gangues, escolhendo o caminho do crime como único

e possível, o que consequentemente aumentam os indicadores de violência e reflete

nos autos índices de reincidência.

Reconhece-se que o Sistema Carcerário do Brasil encontra-se em crise. O

sério problema enfrentado pelo sistema penal, como acima exposto, se traduz pelos

índices da reincidência, o que evidencia a falta de políticas públicas voltadas à

esfera criminal capaz de recuperar o segregado, assim como falta também

fiscalização da aplicabilidade das normas que preceituam regras mínimas de

tratamento dos apenados.

Como visto no decorrer da pesquisa, desde a antiguidade as penas são

aplicadas com meros intuitos de punir e não resolvem a criminalidade, não obtém a

finalidade pela qual foram instituídas. No entanto a presença de penas com

sentimento de vingança de uma sociedade amedrontada pelos incides de violências

é um problema que se arrasta nas mais diversas formas de governo, tanto na era

dos reinados soberanos até as ordens sociais presentes na atualidade, o que faz

com que as políticas criminais sejam pautadas no senso comum, nos anseios

sociais e interesses políticos equivocados.

Nesta senda, com estudos do efeito das penas levantaram-se diversas

teorias, cada qual com uma lógica embutida de acordo com o período vivenciado e

interesses envolvidos, o que aos poucos foram sendo criticadas por perfis mais

humanistas.

As concepções positivistas recepcionadas pelo sistema penal brasileiro se

contrapõem aos estudos da criminologia que possui paradigmas etiológicos

pautados em estudos interdisciplinares, que de uma maneira humanitária estuda o

crime não só através do criminoso, mas também a partir de todos os fatores que

rodeiam e influenciam esse indivíduo a cometer um crime e posteriormente reincidir,

o que foi analisado as se verificar o perfil de vulnerabilidade dos recuperandos que

se encontram no Centro de Detenção Provisória de Juína.

A reincidência e antecedentes criminais são utilizadas como fatores de

diferenciação entre criminosos, que passam por processo de criminalização

difundida pelo sistema penal com efeitos agravantes da pena por meio de discursos

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legais que envolvem a lei penal, o processo penal e a execução penal, contudo,

traduzem o fracasso institucional no que tange a recuperação do preso, pois os

índices de presos que voltam a delinquir nos situa de que o caráter recuperador do

qual se reveste a pena não tem sido alcançado.

Nesse sentido, para não limitar-se apenas a mera e fria aplicação na norma

penal, a presente pesquisa trouxe a baila uma construção dos estudos

criminológicos que levantam hipóteses a partir do delinear da crise do sistema

carcerário, atualmente deflagradas, dentre outras razões, por facções criminosas e

pelo sentimento de exclusão da massa marginalizada, o que culminou na atual crise

carcerária.

Como ápice de um modelo penal sem efeitos de reintegração, pautados

apenas na pura aplicação da lei sem políticas públicas eficazes, denota-se que o

cárcere tem contribuído para elevar a cada dia o índice violência, pois as unidades

prisionais têm funcionado como verdadeira escola profissionalizante da delinquência

moderna, o que se verifica, mais uma vez, pelo índice de reincidência que acarreta

consequentemente a superlotação dos presídios com efeitos negativos que atingem

toda a sociedade, principalmente pela perda de poder controlador do Estado.

A par de tais lições e para sair do campo puramente teórico, este trabalho

monográfico buscou os dados da unidade prisional de Juína/MT para aferir qual a

realidade local e se o modelo de gestão voltado para a reintegração social do

apenado tem surtido efeitos positivos na prática, contudo, o que se constatou foi

mais uma triste realidade do que ocorre no cárcere brasileiro, de forma geral.

Sob tal perspectiva, constatou-se que há políticas de reintegração voltadas a

recuperação dos apenados, todavia, insuficientes em razão da superlotação da

unidade prisional.

Tendo em vista tais considerações e na certeza de que não se esgotou as

possíveis discussões acerca do tema proposto em razão de sua complexidade, o

que se denota pela importância e larga discussão em doutrina e jurisprudência, fica

a provocação aos colegas estudiosos do Direito, sobretudo aqueles que discordam

que a pena deveria ter um caráter ressocializador, desafiando-se a buscar se

questionarem sobre a possibilidade de humanização da pena e das unidades

prisionais, pois do contrário, não parece possível reprimir a criminalidade com

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encarceramento, pois conforme os dados demonstrados, não têm sofrido nenhum

efeito prático.

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