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Alexandro correia marins

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Page 1: Alexandro correia marins

A GATA QUE PESCAVA

Em uma terra distante, onde o inexplicável ocorria com naturalidade, morava um casal

muito simpático de serradores – pessoas que serravam madeira usando uma serra manual.

Naquela época onde tudo era feito de forma artesanal, a serraria deste casal fornecia tábuas,

caibros e ripas para construção de casas. Este casal possuía vários animais de estimação, mas

a preferida era uma gata preta com manchas branca carinhosamente chamada de “bichana”. Ela

era mesmo muito especial, pois possuía uma habilidade curiosa. Pode até parecer estranho, mas

a gata pescava.

Certa vez, a gata chegou em casa com um lambari – peixe de pequeno porte que vive

em água doce – até então o serrador achou normal. Pensou que fosse algum peixe que havia

caído do embornal de algum pescador. Porém, as aventuras de bichana só estavam começando.

Um belo dia, após ter serrado uma belíssima tora de jacarandá, o velho serrador descansava em

sua cadeira de balanço enquanto sua Senhora preparava o jantar, quando de repente, a gata

aparece com uma traíra de aproximadamente 20 cm atravessada na boca. O velho serrador por

um instante pensou que estava sonhando, passou as mãos nos olhos e olhou novamente e ficou

assustado, levantou rapidamente e foi até a cozinha chamar sua esposa.

__ Mulher! Venha! A Bichana pegou uma traíra!

A Senhora preocupada com o jantar, respondeu:

__ Meu velho, você deve estar cansado e com fome, já vou servir o jantar. Ah! Falei com

você que aquele pó de jacarandá estava caindo em seus olhos e ia atrapalhar sua visão.

O velho não desistiu, pegou sua Senhora pelo braço e a trouxe até o quintal. A Senhora

olhou para gata, ficou muito espantada e disse:

__ Meu Deus! Será que nossa gata sabe pescar?

O velho surpreso, respondeu?

__ Não sei minha velha, mas este é o segundo peixe que ela traz.

A velha ainda muito espantada, disse para o velho:

__ Amanhã vou ficar na tocaia desta gata.

No dia seguinte, a Senhora não foi trabalhar, passou o dia todo vigiando a gata. Era um

dia ensolarado, típico do verão Campo-alegrense, ótimo para a pesca. Depois de horas

observando a Bichana, a Senhora teve uma ideia:

__ Já que esta gata está tão desanimada vou aproveitar este dia bonito para pescar.

Page 2: Alexandro correia marins

Então, a Senhora passou a mão na enxada, foi até o fundo do quintal e arrancou algumas

minhocas, colocou em uma cuia, em seguida pegou dois anzóis e foi pescar em um açude perto

de sua casa. Chegando lá, iscou os anzóis, arremessou-os nas águas do açude e ficou a esperar

a sombra de uma árvore de pau d’alho. Apesar do dia bonito, os peixes não queriam nada com

os anzóis, pois já havia um bom tempo que a Senhora estava tentando pescar e nenhum peixe

veio comer a isca. Então, a Senhora resolveu voltar para sua casa.

No caminho de casa ainda na beira do açude, ela ouviu um barulho e decidiu investigar.

Saiu bem sutil, pé por pé e logo avistou a sua gata escondida numa moita de capim. A Senhora

muito curiosa ficou esperando a reação da gata. Para sua surpresa a gata estava pescando de

uma forma bem diferente. Ela balançava a semente de capim que caia na água e quando os

peixes vinham pegar, ia com suas unhas afiadas e dava-lhe um tapa, jogando o peixe para fora

d’água. Neste dia, Bichana se superou, conseguiu retirar das águas duas traíras e quatro

lambaris.

A partir deste dia, o casal de serradores não teve mais dúvida, a Bichana realmente

pescava. O fato se espalhou pela comunidade, e como sempre, quase ninguém acreditava na

história do casal. No entanto, esta história foi repassada de pai para filho até chegar aos bisnetos.

Até hoje, as pessoas mais antigas da Vila caçoam sobre o assunto.

Professor: Alexandro Correia Marins