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Algumas das amostras mais abrangentes da fala infantil foram registradas nas primeiras décadas deste século pelos chamados “diaristas”, que eram linguistas ou filólogos estudando seus próprios filhos. Os mais interessantes trabalhos descritivos com tendência behaviorista. Esses trabalhos são do tipo longitudinal, uma das metodologias de pesquisa com dados de desenvolvimento hoje já bem estabelecidos, iniciada exatamente pelos diaristas. Uma outra metodologia de pesquisa em aquisição da linguagem, a de tipo transversal, baseia-se no registro de um número relativamente grande de sujeitos, muitas vezes classificadas por faixas etária. Embora não exclusivamente, a pesquisa de tipo transversal geralmente também é do tipo experimental (por oposição a naturalístico), em que os fatores e as variáveis intervenientes no fato analisado são isolados e controlados e depois testados. Dados naturalísticos destinam-se sobretudo à análise da produção; os experimentais prestam-se mais à observação e análise da percepção, compreensão e processamento da linguagem pela criança. A aquisição da Linguagem é, pelas suas indagações, uma área híbrida, heterogênea ou multidisciplinar. As questões suscitadas pela Aquisição da Linguagem, bem como os problemas metodológicos e teóricos colocados pelos próprios dados aquisicionais, têm, não raro, levado tanto a Psicologia (sobretudo a Cognitiva) como a própria Linguística a se repensarem e a se renovarem. A Aquisição da Linguagem alimenta os tópicos recobertos pela Psicolinguísticas, além de ser de interesse central nas ciências cognitivas e mesmo nas teorias linguísticas, sobretudo nas de inspiração gerativista. a) Aquisição da língua materna, tanto normal quanto “com desvios”, recobrindo os componentes “tradicionais” dos estudos da linguagem, como fonologia, semântica e pragmáticas, sintaxe e morfologia, aspectos comunicativos, interativos e discursivos da aquisição da língua materna. Sob a égide de “desvios”, contam-se: aquisição da linguagem em surdos, desvios articulatórios, retardos mentais e específicos da linguagem etc.; b) Aquisição de segunda língua, quer como bilinguismo infantil ou cultural, quer na verificação dos processos

Algumas Das Amostras Mais Abrangentes Da Fala Infantil Foram Registradas Nas Primeiras Décadas Deste Século Pelos Chamados

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Algumas das amostras mais abrangentes da fala infantil foram registradas nas primeiras dcadas deste sculo pelos chamados diaristas, que eram linguistas ou fllogos estudando seus prprios flhos. Os mais interessantes trabalhos descritivos com tendncia behaviorista.sses trabalhos s!o do tipo longitudinal, uma das metodologias de pesquisa com dados de desenvolvimento ho"e "# bem estabelecidos, iniciada e$atamente pelos diaristas. %ma outra metodologia de pesquisa em aquisi&!o da linguagem, a de tipo transversal, baseia'se no registro de um n(mero relativamente grande de su"eitos, muitas ve)es classifcadas por fai$as et#ria. mbora n!o e$clusivamente, a pesquisa de tipo transversal geralmente tambm do tipo e$perimental *por oposi&!o a natural+stico,, em que os fatores e as vari#veis intervenientes no fato analisado s!o isolados e controlados e depois testados. -ados natural+sticos destinam'se sobretudo . an#lise da produ&!o/ os e$perimentais prestam'se mais . observa&!o e an#lise da percep&!o, compreens!o e processamento da linguagem pela crian&a. A aquisi&!o da 0inguagem , pelas suas indaga&1es, uma #rea h+brida, heterognea ou multidisciplinar. As quest1es suscitadas pela Aquisi&!o da 0inguagem, bem como os problemas metodolgicos e tericos colocados pelos prprios dados aquisicionais, tm, n!o raro, levado tanto a 2sicologia *sobretudo a 3ognitiva, como a prpria 0ingu+stica a se repensarem e a se renovarem. A Aquisi&!o da 0inguagem alimenta os tpicos recobertos pela 2sicolingu+sticas, alm de ser de interesse central nas cincias cognitivas e mesmo nas teorias lingu+sticas, sobretudo nas de inspira&!o gerativista.a, Aquisi&!o da l+ngua materna, tanto normal quanto com desvios, recobrindo os componentes tradicionais dos estudos da linguagem, como fonologia, sem4ntica e pragm#ticas, sinta$e e morfologia, aspectos comunicativos, interativos e discursivos da aquisi&!o da l+ngua materna. 5ob a gide de desvios, contam'se6 aquisi&!o da linguagem em surdos, desvios articulatrios, retardos mentais e espec+fcos da linguagem etc./ b, Aquisi&!o de segunda l+ngua, quer como bilinguismo infantil ou cultural, quer na verifca&!o dos processos pelos quais se d# a aquisi&!o de segunda l+ngua entre adultos e crian&as, se"a em situa&!o formal escolar, se"a informal de imers!o lingu+sticas/ c, Aquisi&!o da escrita, letramento, processo de alfabeti)a&!o, rela&!o entre a fala e a escrita, entre o su"eito e a escrita nesse processo etc.Os estudos sobre processo e mecanismo de aquisi&!o da linguagem tomaram um grande impulso a partir dos trabalhos do linguista 7oam 3homs89, no fm da dcada de :; meses.7este est#gio de desenvolvimento cognitivo E...F d#'se o desenvolvimento da fun&!o simblica, por meio da qual um signifcante *ou um sinal, pode representar um ob"eto signifcado, alm do desenvolvimento da representa&!o, pela qual a e$perincia pode ser arma)enada e recuperada.ssas duas fun&1es est!o estreitamente ligadas a outros trs processos E...F relacionados a seguiro da descentrali)a&!o das a&1es em rela&!o ao corpo prprio, isto , entre su"eito e ob"eto *ou entre eu e o outro ou eu e o mundo,, o su"eito come&a a se conhecer como fonte ou senhor dos seus movimentos/o da coordena&!o gradual das a&1es6 em lugar de continuar cada uma a formar um pequeno todo em si mesmo, elas passam a se coordenar para constituir uma cone$!o entre meios e afns/o da permanncia do ob"eto, segundo o qual o ob"eto permanece o mesmo eigual a si prprio mesmo quando n!o est# presente no espa&o perceptual dacrian&a.m contraposi&!o ao modelo inatista, a aquisi&!o vista como resultado da intera&!o entre o ambiente e o organismo, atravs de assimila&1es e acomoda&1es, respons#veis pelo desenvolvimento da inteligncia em geral, e n!o como resultado do desencadear de um mdulo G ou um rg!o G especifco para a linguagem.As criticas ao modelo piagetiano, que criaram for&a tambm neste per+odo, baseiam'se na interpreta&!o de que 2iaget avaliou mal e subestimou o papel do social e das outras pessoas no desenvolvimento da crian&a e que um modelo interativo social se fa)ia necess#rio para e$plicar o desenvolvimento nos primeiros dois anos, modelo esse que desse conta de como a crian&a e seu interlocutor e$ploram os fenJmenos f+sicos e sociais. A+ que surgiram nas elabora&1es tericas ocidentais, as propostas de K9gots89 E...F sua grande inLuncia nos estudos de aquisi&!o da linguagem come&a efetivamente nos anos :;C=, no bo"o dos questionamentos ao inatismo choms8iano e como uma alternativa ao cognitivismo construtivista piagetiano.-e orienta&!o construtivista como 2iaget, e$plica, porm, o desenvolvimento da linguagem *e do pensamento, como tendo origens sociais, e$ternas, nas trocas comunicativas entre a crian&a e o adulto.Mais estruturas constru+das socialmente, e$ternamente, sofreriam, com o tempo *mais ou menos por volta de ? anos de idade,, um movimento de interiori)a&!o e de representa&!o mental do que antes era social e e$ternali)ado.K9gots89 entende o processo de internali)a&!o como uma reconstru&!o interna de uma opera&!o e$terna, mas diferentemente de 2iaget, para a internali)a&!o de uma opera&!o deve concorrer a atividade mediada pelo outro, "# que o sucesso da internali)a&!o vai depender da rea&!o de outras pessoas.5!o as seguintes as transforma&1es que ocorrem no processo de internali)a&!o6a, uma opera&!o que, inicialmente, representa uma atividade e$terna reconstru+da e come&a a ocorrer internamente, da+ a import4ncia da atividade simblica atravs do uso de signos/b, um processo interpessoal transformado num processo intrapessoal/ as fun&1es no desenvolvimento da crian&a aparecem primeiro no n+vel social e,depois, no individual, c, a transforma&!o de um processo interpessoal num processo intrapessoal resultado de uma longa srie de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento, isto , a histria das rela&1es reais entre as pessoas s!o constitutivas dos processos de internali)a&!o. Os trabalhos de inspira&!o v9gots8iana entendem a aquisi&!o da linguagemcomo um processo pelo qual a crian&a se frma como su"eito da linguagem *e n!o como aprendi) passivo, e pelo qual constri ao mesmo tempo seu conhecimento do mundo, passando pelo outro.?.H O interacionismo social 7uma vis!o que se distancia em graus variados tanto do cognitivismo piagetiano quanto do inatismo choms8iano, est# o interacionismo social. 5egundo essa abordagem, rituais comunicativos pr'verbais preparam e precedem a constru&!o da linguagem pela crian&a