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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS NÚMERO ATUAL - V. 1, N. 2 2014 SÃO LUIS MARANHÃO - JUNHO 2014

All em revista volume 1 numero 2 junho 2014

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ALL EM REVISTA, Volume 1, Número 2, abril a junho de 2014 - revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

NÚMERO ATUAL - V. 1, N. 2 2014

SÃO LUIS – MARANHÃO - JUNHO – 2014

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A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA Leopoldo Gil Dulcio Vaz Presidente Ana Luiza Almeida Ferro André Gonzalez Cruz COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Dilercy Aragão Adler Presidente Aldy Mello de Araújo Antonio José Noberto da Silva Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sanatiel de Jesus Pereira CONSELHO EDITORIAL Sanatiel de Jesus Pereira Presidente Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler Leopoldo Gil Dulcio Vaz EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz [email protected] Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659

ALL EM REVISTA

Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras

A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrando-se as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico [email protected]

NOSSA CAPA: Estudo de Ana Luiza A. Ferro para o escudo da ALL.

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Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras

ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA:

EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz [email protected] Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322

NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO

V.1, n. 1 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma

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Fundada em 10 de agosto de 2013

Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33

DIRETORIA

PRESIDENTE ROQUE PIRES MACATRÃO VICE PRESIDENTE DILERCY ARAGÃO ADLER SECRETARIO GERAL LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 1º SECRETARIO ÁLVARO URUBATAN MELO 2º SECRETARIO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO 1º TESOUREIRO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO 2º TESOUREIRO CLORES HOLANDA SILVA

CONSELHO FISCAL

MEMBRO ALDY MELLO DE ARAUJO MEMBRO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM MEMBRO JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES

CONSELHO DOS DECANOS

DECANO ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 CONSELHEIRO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 CONSELHEIRO ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 CONSELHEIRO JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938 CONSELHEIRO RAIMUNDO DA COSTA VIANA – 09. 11.1939

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Oito novos Membros eleitos. A Comissão de Avaliação – composta por Álvaro Mello (presidente), Antonio Brandão, e Roque Macatrão -, considerou que sete (07) candidatos preencheram as condições de elegibilidade na categoria de membro efetivo: (1) CERES COSTA FERNANDES, aprovada por unanimidade, cadeira 34, patroneada por Lucy de Jesus Teixeira, indicação de Álvaro Urubatan Melo; (2) MARIO DA SILVA LUNA DOS SANTOS FILHO, indicado por Arquimedes Viegas Vale para a cadeira 10, patroneada por Sousândrade; (3) JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO, indicação de Antonio José Noberto da Silva para a Cadeira 26, patroneada por Raimundo Correa de Araujo, aprovada por unanimidade; (4) MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES, indicada por Sanatiel de Jesus Pereira, aprovada por unanimidade para a cadeira 13, patroneada por Artur Azevedo; (5) EVA MARIA NUNES CHATEL, indicação de Ana Luiza Almeida Ferro, patroneada por Dilú Mello; (6) SÁLVIO DE JESUS DE CASTRO COSTA – Sálvio Dino, indicado por João Batista Ericeira, aprovado por unanimidade para a Cadeira 28, patroneada por Astolfo Serra; e, por fim (7) DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA, indicado por André Gonzalez Cruz, aprovado por unanimidade para a cadeira 15, patroneada por Raimundo Correa. (8) ANA MARIA FELIX GARJAN, como Membro Correspondente, de Fortaleza-CE.

Substituição no Conselho de Decanos; com o passamento do Conselheiro WILSON PIRES FERRO (1936), ocorrida em 20 de janeiro de 2014, passa ocupar o referido Conselho o membro RAIMUNDO DA COSTA VIANA (09. 11.1939).

Incluímos neste segundo numero de nossa Revista duas matérias, que deveriam ter sido publicadas, primeiro, em numero anterior, volume 0, com os perfis acadêmicos; depois por indicação do Conselho de Publicações e Eventos, deveria ser um livro, não exemplar da Revista; assim, foi feito; depois, retirado, por considerar-se não ser pertinente em um livro dedicado aos perfis dos fundadores... Assim, vai aqui, pois se trata de um registro histórico, da formação e constituição de nossa Academia.

Prosseguimos com a publicação dos discursos, sejam de posse, sejam de elogio ao patrono, com as respectivas apresentações. Aymoré Alvim e João Ribeiro Filho são os dois que assumiram, efetivamente, suas cadeiras.

As contribuições de nossos Confrades e Confreiras na mídia, local e de alhures, constam de nossa sessão “ALL na Mídia”... João Ericeira e Ana Luiza Almeida Ferro tiveram uma importante participação nesse trimestre.

Na sessão “Crônicas, contos, opiniões” dá-se divulgação de material inédito – muitos depois têm aparecido em vários jornais – das contribuições dos Membros da All para o conhecimento, literário e científico – dos fazeres e afazeres.

E a ultima sessão, “Poesias”, alguns escrevinhados de nossos poetas...

Boa leitura!

Ah, sim: aguáramos a contribuição de todos os membros...

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

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EXPEDIENTE 2 APRESENTAÇÃO 5 SUMÁRIO 6 CALENDÁRIO 2014 8 ICNOGRAFIA 9

ELOGIO AO PATRONO 17 APRESENTAÇÃO DO FUNDADOR DA CADEIRA 16: AYMORÉ DE CASTRO ALVIM ÁLVARO URUBATAN MELO

18

ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA 16: BARBOSA DE GODÓIS AYMORÉ DE CASTRO ALVIM

21

DISCURSO DO MEMBRO-FUNDADOR ANTONIO NOBERTO, CADEIRA Nº1, EM RECEPÇÃO AO POETA, CANTOR E COMPOSITOR JOÃOZINHO RIBEIRO

30

DISCURSO DE POSSE DO POETA, CANTOR, COMPOSITOR E ESCRITOR JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO NA CADEIRA N. 26 DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, PATRONEADA PELO POETA PEDREIRENSE RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO

41

FESTA PARA JOÃOZINHO SAMUEL BARRETO

47

CAMARADA JOÃO JOANA BITTENCOURT

48

ALL NA MÍDIA 49 LANÇAMENTO DE LIVRO Criminalidade Organizada - Comentários à Lei 12.850, de 02 de Agosto de 2013 - Prefácio de Eugenio Pacelli - A Organização Criminosa - A Colaboração Premiada - A Infiltração Policial - As Ações Controladas - Análise Artigo a Artigo - Com Exemplos Práticos. ANA LUIZA ALMEIDA FERRO, Cadeira 31 FLÁVIO CARDOSO PEREIRA e GUSTAVO DOS REIS GAZZOLA

50

ARTIGO - REVISTA JURIS, ano 1, n. 1, março/abril 2014 25 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ACERTOS E DESACERTOS JOÃO BATISTA ERICEIRA

52

ARTIGO - REVISTA JURIS, ano 1, n. 1, março/abril 2014 EDWIN SUTHERLAND – O CRIME DE COLARINHO BRANCO E O CRIME ORGANIZADO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO - Cadeira 31

55

Seminário "A operação civil-militar de 64: o contexto maranhense" “NATUREZA POLÍTICO-JURIDICA DA OPERAÇÃO CIVIL-MILITAR DE 64 E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O FUTURO DO MARANHÃO”. JOÃO BATISTA ERICEIRA

74

O ÚLTIMO CAFÉ DO POETA CERES COSTA FERNANDES

77

CRONICAS, CONTOS, OPINIÕES. 79 ANTONIO NOBERTO ESCREVE, E ALERTA 80 “SUGESTÕES DE NOMES PARA COMPOREM O QUADRO DE PATRONOS DE CADEIRAS (1 a 40) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL)” WILSON PIRES FERRO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

87

QUANDO O CORAÇÃO FALA MAIS ALTO. AYMORÉ ALVIM, Cadeira

95

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PALESTRA EM LYON ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO, Cadeira

97

CONFERENCE A LYON ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO, Cadeira

100

MEDICINA E ESPIRITUALIDADE AYMORÉ ALVIM

104

BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

106

DIA DO TRABALHO OU DO TRABALHADOR? AYMORÉ ALVIM

162

SELO COMEMORATIVO - HISTÓRICO E JUSTIFICATIVA DILERCY ADLER

164

CARAMURU ROSENHEIM SANATIEL PEREIRA

166

O CAMINHO DAS ESTRELAS SANATIEL PEREIRA

168

MELANCOLIA ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

170

MOMENTOS ONÍRICOS. AYMORÉ ALVIM.

171

QUEM NÃO PODE COM O POTE NÃO AGARRA NA RODILHA. AYMORÉ ALVIM

173

REIVENTAR O CAPITALISMO? ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

175

ESPERANDO O HEXA. AYMORÉ ALVIM

176

NOITES DE JUNHO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

178

A CONSTITUIÇÃO EM RUÍNAS JOÃO BATISTA ERICEIRA

180

POSTURAS DO MUNICÍPIO DE ARARI JOÃO FRANCISCO BATALHA

182

A LEI, ORA A LEI... JOÃO BATISTA ERICEIRA

184

POESIAS 186 REPÚDIO AO ESTUPRO DILERCY ADLER, Cadeira

187

POESIA PROFILÁTICA AYMORÉ ALVIM

188

AMOR E DESEJO

AYMORÉ ALVIM 189

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CADEIRA PATRONO FUNDADOR DATA

RITUAL CUMPRIDO 23 Domingos Quadros B. Álvares – Álvaro Urubatan Mello 31/01/2014 21 Manuel Fran Paxeco Leopoldo Gil Dulcio Vaz 31/01/2014 32 Josué de Souza Montello Aldy Mello de Araujo 22/02/2014 16 Antônio B. Barbosa de Godois Aymoré de Castro Alvim 31/05/2014 26 Raimundo Corrêa de Araújo João Batista Ribeiro Filho 06/06/2014

DATA MARCADA – ALGUNS APENAS O MÊS DEFINIDO 02 Antônio Vieira João Batista Ericeira 26/07/2014 08 Maria Firmina dos Reis Dilercy Adler 09/08/2014 03 Manuel Odorico Mendes Sanatiel de Jesus Pereira 30/08/2014 12 José Ribeiro do Amaral Michel Herbert Alves Florencio 30/08/2014 20 José Pereira da Graça Aranha Arquimedes Viegas Vale 30/08/2014 04 Francisco Sotero dos Reis Antônio Augusto Ribeiro Brandão 27/09/2014 19 João D. de Abranches Moura João Francisco Batalha SETEMBRO 11 Celso T. da Cunha Magalhães – André Gonzalez Cruz OUTUBRO 01 Claude d’Abbeville Antonio Noberto NOVEMBRO 07 Antônio Gonçalves Dias Wilson Pires Ferro in memoriam NOVEMBRO 31 Mário Martins Meireles Ana Luiza Almeida Ferro NOVEMBRO 14 Aluísio de Azevedo – Osmar Gomes dos Santos DEZEMBRO 30 Odylo Costa, filho Clores Holanda Silva 14/12/2014

AINDA SEM DATA MARCADA – PRAZO: ATÉ 20 DE DEZEMBRO 05 João Francisco Lisboa Raimundo Nonato S. Campos Filho 06 Cândido Mendes de Almeida Roque Pires Macatrão 17 Catulo da Paixão Cearense Raimundo Gomes Meireles 18 Henrique M. Coelho Neto Arthur Almada Lima Filho 27 Humberto de Campos Veras José de Ribamar Fernandes 33 Carlos Orlando R. de Lima Paulo Melo Sousa 36 João Miguel Mohana Raimundo da Costa Viana 39 José Tribuzi Pinheiro Gomes Jose Claudio Pavão Santana

A TOMAR POSSE – PRAZO: ATÉ OUTUBRO 10 Joaquim de Sousa Andrade Mario da S. Luna dos Santos Filho 13 Artur de Azevedo – Maria Thereza de Azevedo Neves 15 Raimundo Correia – Daniel Blume Pereira de Almeida 28 Astolfo H. de Barros Serra Sálvio de Jesus de Castro Costa 29 Maria de Lourdes A. Oliver Eva Maria Nunes Chatel 34 Lucy de Jesus Teixeira Ceres Costa Fernandes

CADEIRAS VAGAS – A SEREM PREENCHIDAS NO PRÓXIMO ANO 09 Antônio Henriques Leal vaga 22 José Américo O. C. dos A.

Maranhão Sobrinho vaga

24 Manuel Viriato C. B. do Lago F. vaga 25 Laura Rosa vaga 35 Domingos Vieira Filho vaga 37 Maria da Conceição N. Aboud vaga 38 Dagmar Destêrro e Silva vaga 40 José Ribamar Sousa dos Reis vaga

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REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL CADASTRO NACIONAL DA PESSOA JURÍDICA

NÚMERO DE INSCRIÇÃO

20.598.877/0001-33

MATRIZ

COMPROVANTE DE INSCRIÇÃO E DE SITUAÇÃO CADASTRAL

DATADE ABERTURA 09/01/2014

NOME EMPRESARIAL ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - ALL

TÍTULO DO ESTABELECIMENTO (NOME DE FANTASIA) ALL

CÓDIGO E DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA PRINCIPAL

94.93-6-00 - Atividades de organizações associativas ligadas à cultura e à arte

CÓDIGO E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS SECUNDÁRIAS

Não informada

CÓDIGO E DESCRIÇÃO DA NATUREZA JURÍDICA

399-9 - ASSOCIACAO PRIVADA

LOGRADOURO

PC GONCALVES DIAS NÚMERO 351 COMPLEMENTO CEP 65.020-240 BAIRRO/DISTRITO CENTRO MUNICÍPIO SAO LUIS UF MA

SITUAÇÃO CADASTRAL ATIVA

DATADASITUAÇÃO CADASTRAL 09/01/2014

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PLENÁRIA DE MARÇO

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PLENÁRIA DE ABRIL

MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES, cadeira 13

Patroneada por Artur Azevedo, indicada por Sanatiel de Jesus Pereira

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CERES COSTA FERNANDES, cadeira 34,

Patroneada por Lucy de Jesus Teixeira, indicação de Álvaro Urubatan Melo

MARIO DA SILVA LUNA DOS SANTOS FILHO, cadeira 10

patroneada por Sousândrade, indicado por Arquimedes Viegas Vale

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CERES FERNANDES reafirmando a cessão das instalações do C.C. Odylo Costa,

filho para os encontros das ALL, e convite para participação na II MOSTRA DE LITERATURA MARANHENSE, como representante do Município de São Luis

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ANTONIO BRANDÃO fazendo o relato de estada em Lyon/França, em missão da

UFMA, e lançamento de seu livro

Visita da comissão composta por Antonio Noberto (padrinho) e Leopoldo G. D. Vaz à residência de JOÃOZINHO RIBEIRO para entrega do oficio de comunicação de sua

eleição para a Academia Ludovicense de Letras, no dia 09 de maio de 2014.

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PLENÁRIA DE MAIO

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EVA CHATEL no momento em que recebi a sua carta de confirmação de sua eleição para a ALL, de sua

madrinha Ana Luiza A. Ferro.

João Batista Ericeira no momento em que recebi do Presidente Roque Macatrão a carta de eleição de Sávio Dino para membro da ALL. Justificou a ausência de seu apadrinhado pelo

momento político atual, haja vista ser parente de candidato às eleições.

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ELOGIO AO PATRONOELOGIO AO PATRONOELOGIO AO PATRONOELOGIO AO PATRONO

Page 18: All em revista volume 1 numero 2 junho 2014

� � � � � � � � � � � � � � � � � � �ELOGIO AO PATRONO, POR ELOGIO AO PATRONO, POR ELOGIO AO PATRONO, POR AYMORÉ DE CASTRO ALVIMAYMORÉ DE CASTRO ALVIMAYMORÉ DE CASTRO ALVIMAYMORÉ DE CASTRO ALVIM

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APRESENTAÇÃO DE AYMORÉ DE CASTRO ALVIM

Por ÁLVARO URUBATAN MELO

Nasceu em Pinheiro-Ma em 13 de maio de 1940, filho de JOSÉ PAULO DE CARVALHO ALVIM E INEZ DE CASTRO ALVIM. VIÚVO, Aposentado desde maio de 2010. Cursou o Primário no Grupo Escolar Dr. Elizabetho Barbosa de Carvalho e Escola Paroquial Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Pinheiro – MA; o Curso Secundário no Seminário de Santo Antônio e Colégio de São Luís, em São Luís – MA. Graduado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Maranhão (São Luís – MA, 1966); Cursos de Pós-Graduação: Curso de Especialização em Epidemiologia (UFMA/DSP/CCS – São Luís – MA); Curso de Aperfeiçoamento em Parasitologia (UFMA/FESP/CAPES/DAU - São Luís – MA); Curso de Especialização em Patologia Tropical (MEC/UFMA - São Luís – MA); ); Curso sobre Diagnóstico e Profilaxia em Esquistossomose e Filariose (Instituto de Medicina Tropical de Berlim – Alemanha Ocidental); Curso de Especialização em Biologia Parasitária (UFMA/DEPAT - São Luís – MA). Professor Adjunto de Parasitologia para os Cursos de Medicina, Farmácia, Enfermagem, Nutrição e Odontologia da Universidade Federal do Maranhão, Professor de História da Medicina para o Curso de Medicina, tendo desenvolvido as seguintes atividades científicas: Coordenador de vários Projetos de Pesquisas e de Extensão Universitária desenvolvidos, na área da Parasitologia e Medicina Tropical; Professor orientador de bolsistas de Iniciação à Pesquisa Científica;

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No campo administrativo exercer as funções de: Chefe do Departamento de Patologia; Membro Conselheiro do Colegiado do Centro de Ciências da Saúde; Membro Conselheiro do Colegiado do Curso de Medicina; Membro Conselheiro do Projeto Ensino Integrado; Membro Conselheiro do Conselho Universitário; Membro Conselheiro do Conselho de Administração; Chefe de Gabinete do Reitor; Pró-Reitor de Graduação; Membro Conselheiro do Conselho de Ensino e Pesquisa; Presidente da Comissão Permanente de Vestibular – COPEVE; Chefe do Laboratório de Parasitologia Humana do DEPAT. Membro Assessor de Comitês Assessores de Ciências da Vida e da Saúde – Convênio UFMA/CNPq;

Membro fundador e diretor da Sociedade de Parasitologia e Doenças Tropicais do Maranhão; Ex-Membro Conselheiro e Diretor do Conselho Regional de Medicina; Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Parasitologia; Sócio fundador da Fundação SOUSÂNDRADE de Apoio ao Desenvolvimento da UFMA e Membro do Conselho Consultivo para o período 2000/2003. Atualmente, membro do Conselho Curador;

Medalha Simão Estácio da Silveira da Câmara Municipal de São Luís – Decreto Legislativo nº 04/2003; Distinção Honorífica Palmas Universitárias concedida pela UFMA, 2008; Diploma de Honra ao Mérito Médico Nacional conferido pela Federação Brasileira de Academias de Medicina. Florianópolis-PR, julho de 2006; Certificado de Reconhecimento por relevante contribuição concedido pelo Conselho Curador da Fundação Sousândrade, dezembro de 2006.

Conferencista, Expositor e Palestrante em Mesas Redondas, Painéis, Cursos e Seminários, em diferentes eventos científicos locais e nacionais.

Membro fundador e diretor da Academia Maranhense de Medicina; Membro efetivo da Sociedade Brasileira de História da Medicina; Membro fundador e Diretor da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências.

Autor de vários trabalhos científicos, no campo da esquistossomose mansônica e de parasitoses intestinais, em Revistas Científicas e em Anais de Jornadas e de Congressos; Orientador de vários Projetos de Monografias para conclusão de Curso, na área da saúde, na Universidade Federal do Maranhão; Membro de Bancas Examinadoras de Concurso para Docentes e para defesa de Monografias de conclusão de Curso/UFMA;

LIVROS PUBLICADOS * Pinheiro em Foco – 2006 * Contos e Crônicas de um Pinheirense – 2010 * 400 Anos de Medicina no Maranhão – 2012. * Ecos do Pericumã – Poesias, em publicação. TRABALHOS PUBLICADOS EM JORNAIS O autor tem um grande número de artigos, contos, poesias sobre temas variados publicados nos Jornais: Cidade de Pinheiro, Jornal do Estado do Maranhão, Jornal Pequeno e Jornal da Tarde e Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão: D. JOÃO E A ESCOLA DE MEDICINA DO MARANHÃO No. 28, 2008 90-94 DISCURSO DE POSSE, REVISTA DO IHGM – No. 29 – 2008 – Edição Eletrônica, p. 91 CÉLULAS-TRONCO E A MEDICINA DO SÉCULO XXI N. 30, agosto 2009 ed. Eletrônica 84-85 CELSO MAGALHÃES – UM PRECURSOR DOS DIREITOS HUMANOS. REVISTA IHGM 32 -

MARÇO 2010, p. 44 E DEUS CRIOU A MULHER! REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 86

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A TERCEIRA IDADE – UMA NOVA ERA. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 31-32

FELIZ 2011. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 63 DIOGO DOS REIS PINHEIRO. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 76 POR QUE HOLANDESES? REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 189 DIA INTERNACIONAL DA MULHER. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 183 SOCIEDADE MARANHENSE DE HISTÓRIA DA MEDICINA. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 195 A VILA DE SANTO INÁCIO DO PINHEIRO – A luta de um povo pela sua emancipação política. No.

37, junho de 2011 – Edição Eletrônica, p 38-41 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_37_-_junho_2011

O ALERTA QUE VEIO DE LONGE. No. 37, junho de 2011 – Edição Eletrônica, p 112-113 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_37_-_junho_2011

AYMORÉ DE CASTRO ALVIM LANÇA NOVO LIVRO DE CONTOS E CRÔNICAS No. 37, junho de 2011 – Edição Eletrônica, p 119-120 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_37_-_junho_2011

DIA DO TRABALHO OU DO TRABALHADOR? ; No. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 73 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011

EU SÓ QUERIA SABER; No. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 120 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011

O MOVIMENTO CULTURAL DE 1920. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 162 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011

A SAGA DE UMA GUERREIRA. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 217 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011

OS 90 ANOS DO JORNAL CIDADE DE PINHEIRO Revista IHGM n. 40, MARÇO 2012, p 95, http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_40_-_mar_o_2012 O PRIMEIRO MÉDICO PINHEIRENSE Revista IHGM n. 40, MARÇO 2012, p 116, http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_40_-_mar_o_2012 E DEUS CRIOU A MULHER! Revista IHGM n. 40, MARÇO 2012, p 134, http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_40_-_mar_o_2012 A ARTE DE CURAR – O PAJÉ. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 168 Edição Eletrônica

http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 O DOMINGO DAS MÃES. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 185 Edição Eletrônica

http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 A VISITA DO INTERVENTOR. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 215 Edição Eletrônica

http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 400 ANOS DE MEDICINA NO MARANHÃO. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 313 Edição

Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 AS ESTEARIAS DO ENCANTADO. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 90.

http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 OS BABAÇUAIS DE PINHEIRO. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 97.

http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 DE LONDRES AO RIO DE JANEIRO. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 111.

http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 AS ESTEARIAS DO ENCANTADO; Revista IHGM, No. 42, setembro de 2012, p. 90, http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 OS BABAÇUAIS DE PINHEIRO; Revista IHGM, No. 42, setembro de 2012, p. 97, http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 DE LONDRES AO RIO DE JANEIRO. Revista IHGM, No. 42, setembro de 2012, p. 111, http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 QUATRO SÉCULOS DE MEDICINA NO MARANHÃO. Revista IHGM, No. 43, DEZEMBRO de

2012, p. 220Ç. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_43_-_dezembro_2012

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ELOGIO AO PATRONO CADEIRA 16

PATRONO:

ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS

FUNDADOR:

AYMORÉ DE CASTRO ALVIM

Pinheiro- 13 de maio de 1940 / Posse: 14 de dezembro de 2013 Elogio ao Patrono: 31 de maio de 2014

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BARBOSA DE GODÓIS, NO CENÁRIO SÓCIOCULTURAL E INTELECTUAL DO MARANHÃO

INTRODUÇÃO –

Reconstruir o cenário sociocultural e intelectual do Maranhão desde os seus primórdios, na busca do momento histórico em que dele participou Antônio Batista Barbosa de Godóis ou, simplesmente, Barbosa de Godóis, nos obrigou a uma exegese considerando os múltiplos fatores intercorrentes ao longo do processo de desenvolvimento econômico e social do Maranhão.

É certo que a evolução sociocultural e intelectual de um povo está atrelada, sobremaneira, ao desenvolvimento e expansão da sua economia não somente como o motor dinamizador do processo, mais ainda, como suporte indispensável à sua sustentação.

Desta forma, entendemos que esse momento histórico que buscamos nos impõe traçar um perfil do desenvolvimento do Estado, ao longo do tempo, a fim de podermos avaliar, a partir de que momento, houve as reais condições para criar e consolidar uma identidade cultural e intelectual.

Inicialmente, consultemos a história e vejamos o que ela nos diz.

No final do século XVI e início do XVII, as incursões estrangeiras se tornaram mais frequentes ao longo da costa norte da grande, cobiçada e longínqua possessão americana, em evidente reflexo da pouca importância que Portugal lhe dispensava.

Esse vasto espaço geográfico era ocupado, à época, por grande número de indígenas, distribuídos em diferentes etnias, cujo número era bastante desencontrado.

MOMENTOS HISTÓRICOS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E CULTURAL DO MARANHÃO

Para avaliar o esforço empreendido para a criação de uma genuína identidade cultural e intelectual, ao longo do seu período histórico que se projeta, para fins deste trabalho, às primeiras décadas do século XX, iniciemos pela sua divisão, em 3 (três) Momentos.

O Primeiro compreende todo o espaço de tempo que se estende da ocupação francesa, em 1612, ao início da segunda metade do século XVIII quando da ascensão ao trono português de D. José I e de D. Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, ao cargo de primeiro-ministro.

O Segundo tem início, em 1750, projeta-se, ao longo dessa centúria, terminando, em meados do século XIX.

Por fim, o Terceiro Momento vai de 1850 ate a terceira década do século XX, ou mais precisamente, até a Semana de Arte Moderna de São Paulo.

PRIMEIRO MOMENTO

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Com a missão francesa de La Ravardiére chegaram os primeiros intelectuais à terra com destaque para os padres capuchinhos Claude d’Abbville, Yves D’Evreux e ao médico cirurgião Thomas De Lastre os quais, em suas crônicas e cartas, legaram aos pósteros preciosas informações para a história deste Estado.

O mesmo pode ser dito das cartas trocadas entre La Ravardière e Jerônimo de Albuquerque após a vitória dos portugueses sobre os franceses pela recuperação da antiga capitania. Essas cartas são muito importantes por esclarecer parte do ocorrido, nos momentos que se seguiram à queda da França Equinocial.

Em 1617, sob a soberania luso-espanhola, o rei Felipe III de Espanha e II de Portugal com o objetivo de garantir mais segurança à parte setentrional do seu domínio americano, criou o Estado Colonial do Maranhão, separado do Brasil, com subordinação direta à Lisboa.(Meireles).

O novo estado que compreendia as duas principais Capitanias gerais do Maranhão e do Grão-Par foi dado, oficialmente, por instalado, em 1621, sob o reinado de Felipe IV (Meireles), embora o seu primeiro governador, Francisco Coelho de Carvalho, só tenha assumido em 1625 quando, para Barbosa de Godóis, essa criação se efetivou. Segundo relata Carlos de Lima, a unidade recém-criada tinha por destinação receber degredados malfeitores e criminosos procedentes do reino e do Estado do Brasil.

O POVOAMENTO E A ECONOMIA

O novo Estado contou entre os seus primeiros povoadores com os índios, de há muito aqui radicados, com os franceses que preferiram, por haver constituído família com índias, permanecer na terra, militares e nobres remanescentes da conquista recente, por colonos trazidos de outras possessões portugueses e por malfeitores e degredados para cá enviados para cumprir penas.

Em 1619, para dar inicio a um programa de povoamento e colonização da vasta área territorial do Maranhão, foi determinado pela corte, a introdução de, aproximadamente, trezentos açorianos entre casais, e mulheres solteiras que chegaram à terra em um navio, comandado pelo capitão Simão Estácio de Silveira.

Era necessário estimular o crescimento da economia local até então apoiada, na agricultura e no extrativismo.

Este heterogêneo quadro, conforme nos relata Barbosa de Godóis citando João Lisboa, concorreu, desde o início, para formação de 3 classes sociais, na Colônia: a dos moradores ou cidadãos formada pela elite política e portugueses com seus descendentes legítimos, a dos peões que compreendia os mercadores, mecânicos e outros trabalhadores e a terceira na qual eram incluídos os infames pela raça ou pelos crimes, os cristãos-novos e degredados. Os índios não classificados eram discriminados por todos que queriam sujeitá-los ao trabalho escravo.

Foi, no entanto, do entrecruzamento dessas raças que teve início a formação do povo maranhense e sua identidade cultural.

Ao longo de todo o restante do século, o povoamento e o processo de colonização foram muito lentos quer pela falta de incentivos do poder central quer pela falta de braços para a lavoura, principalmente, pela reação do índio ao serviço forçado e pela proteção que lhes era dada pelos jesuítas. Tudo isto se refletia numa incipiente

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produção de gêneros alimentícios que mal conseguia atender à demanda do mercado de São Luís.

A economia se restringia a uma cultura de subsistência à base de mandioca, do extrativismo vegetal, do aprisionamento de animais silvestres, de uma rudimentar cultura de cana-de-açúcar e de algodão com fibras de baixa qualidade, fruto da insensatez de uma política de colonização mal conduzida por agentes, para cá enviados pela corte, preocupados, segundo o padre Antônio Vieira, apenas em exaurir do Estado o pouco que produzia seja pela necessidade do não possuir muito ou pela avidez da cobiça a que nada satisfaz. O Estado estava abandonado, sua economia estagnada. Os mais qualificados trajavam vestidos de pano de algodão grosso tingido de preto.

Na realidade, por todo o século XVII, imperaram a miséria, as doenças e as frequentes epidemias de varíola e sarampão que causavam grande mortandade, em toda a extensão do novo Estado.

Esse quadro, ao que tudo indica, se estendeu até meados do século seguinte pelo que se conclui das informações prestadas, em 1751, ao marquês de Pombal pelo seu irmão Mendonça Furtado por ele designado para assumir o governo local: “Este Estado, principalmente, esta capital, se encontram reduzidos à extrema miséria. Todos os seus moradores estão na extrema consternação. São poucos os que ainda cultivam algum gênero”.

As tentativas empreendidas visando a melhoria das condições econômicas e bem estar do povo foram todas frustradas.

O CENÁRIO CULTURAL

Não é possível falar de uma cultura literária maranhense, nessa época, mesmo porque a grande maioria dos cronistas, poetas, escritores, oradores e teatrólogos que deixou importantes informações para a reconstrução da nossa história era estrangeira. Os raros maranhenses não foram suficientes para criar um grupo de intelectuais nativos porque viveram em períodos diferentes, como ainda, a economia do Estado não dava suporte para a sua criação.

Dessa forma, segundo relatam Clóvis Ramos, Carlos de Lima, Maria de Lourdes Lacroix e Magaly Trindade, e outros, destacamos, apenas para registro, aqueles que entendemos como os mais conhecidos que se não compuseram um quadro de luminares que marcou essa primeira fase do desenvolvimento do Estado, deixaram substanciosas informações que têm permitido reescrever os primórdios da história do Maranhão.

Como primeiros cronistas do período francês ou França Equinocial, registramos os frades capuchinhos Claude d’Abbeville, Yves D’Evreux e o médico cirurgião Charles de Lastre que em cartas trocadas com o pai, professor da Universidade de Paris, deixou proveitosas informações sobre a arte de curar, no Maranhão primitivo.

Dentre os que vieram de Portugal e de outras partes da Europa iniciamos com os cronistas Diogo de Campos Moreno, Simão Estácio da Silveira, padre Domingos Araújo, padre Luiz Figueira – teatrólogo, educador e filólogo, frei Manuel Assunção – escritor e orador sacro, frei Cristóvam de Lisboa – historiador, padre Antônio Vieira – escritor, epistógrafo e orador sacro, poeta Manuel Beckmann que chefiou o Levante maranhense contra o Estanco e seu irmão, o advogado, orador e poeta Tomaz Beckmann, o padre João Filipe Bettendorff – historiador e, para fechar o século XVII, o padre Antônio Pereira – escritor e orador sacro.

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Na primeira metade do século XVIII, deixou à História valiosa contribuição Bernardo Pereira Berredo, cronista que governou o Estado de 1718 a 1722, em seus Anais Históricos do Estado do Maranhão, bem como ainda, o padre Gabriel Malagrida, educador e teatrólogo.

SEGUNDO MOMENTO

Com início em 1750, este Momento começa com a ascensão de D. José I ao trono português e a nomeação de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, à chefia de governo como seu primeiro-ministro. Como uma de suas medidas administrativas, voltou sua atenção à Colônia Americana objetivando dinamizar o comércio através de estímulos à agricultura e à agro-exportação.

Para tanto, criou , em agosto de 1755, a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão com prerrogativa de exercer o monopólio da comercialização de gêneros aqui produzidos de maneira a fomentar e controlar a atividade mercantil da Colônia.

Na contrapartida das inúmeras e vantajosas concessões recebidas, a Companhia introduziu grande número de escravos africanos para suprir a mão de obra indígena, financiou a cultura do arroz de Carolina do Sul e do algodão de melhor qualidade e o agronegócio exportador, alavancando, assim, o desenvolvimento econômico do Estado.

Em menos de 20 anos, prazo de vigência do contrato da Companhia, o Maranhão se tornou um dos Estados mais prósperos da Colônia. Na pauta de exportação, o algodão assumiu grande destaque seguido pelo arroz, madeiras-de-lei, sal, tapioca, cacau dentre outros, o que mudou radicalmente o perfil econômico-social do Maranhão. Foi, nessa época, 1775 a 1783, que o Estado se tornou o grande exportador de algodão para a Inglaterra em substituição aos Estados Unidos envolvidos na Guerra pela Independência.

Nesse cenário de prosperidade nunca visto, surgiu uma elite poderosa e opulenta que passou a construir belos solares e sobradões, concorrendo para a expansão do centro urbano de São Luís. O mesmo ocorria nas principais vilas do interior como Alcântara, Mearim, Itapecuru e Caxias.

Muitas famílias começaram a enviar seus filhos para estudar na Europa, os quais ao retornar deram formação ao primeiro grupo de maranhenses beneficiados com o desenvolvimento econômico do Estado.

Essa euforia mercantil se estendeu até a segunda década do século seguinte quando o Estado começou a se ressentir da grande crise econômica causada pela queda do preço do algodão, no mercado internacional.

Essa crise, associada a outras resultantes da Independência do Brasil, no início da década seguinte, desencadeou muitas instabilidades sociais e políticas, desorganização administrativa que evoluíram até eclodir na Revolução da Balaiada, em 1839.

REFLEXO CULTURAL

Nesse campo, em decorrência dos benefícios decorrentes do primeiro ciclo do algodão, começaram a retornar, no final do século XVIII e início do XIX, os primeiros

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que daqui partiram para estudar na Europa. Foram advogados, filósofos, professores poetas, escritores que deram início a um novo perfil cultural ao Estado.

Dentre esses, segundo nos relata Clóvis Ramos, destacamos José Constantino Gomes de Castro, alcantarense, que em Coimbra defendeu o título de doutor em filosofia e matemática, Antônio Pedro Costa Ferreira, jornalista e poeta também nascido em Alcântara e formado em Coimbra, José Pereira Silva, jornalista e Custódio Alves Serrão, filólogo, escritor, formado em Ciências Naturais.

Mais tarde, a partir da década de 1820 ate a de 1840, um novo grupo de jovens intelectuais inicia intensa atividade, nos campos da política e do jornalismo, na imprensa recém-implantada na Província, sem, contudo deixar de desenvolver seus dotes intelectuais quer através de suas publicações na imprensa quer nos saraus realizados nos faustosos casarões de ricos comerciantes.

Desse grupo merecem destaque pela sua visibilidade também, no cenário nacional, os intelectuais Antônio Gonçalves Dias, Manuel Odorico Mendes, Sotero dos Reis e Gomes de Souza que fizeram o contra ponto da problemática situação político-econômica em que estava mergulhada a Província ao formarem o Grupo Maranhense que suscitou a criação do mito de Atenas Brasileira.

Mais tarde, incorporaram-se a esse Grupo outros importantes poetas, escritores e jornalistas como: Antônio Henriques Leal, Franco de Sá, Cândido Mendes de Almeida, Joaquim Gomes de Sousa, Celso Magalhães, Raimundo Nina Rodrigues, Gentil Braga, Maria Firmina dos Reis, Cesar Augusto Marques, José Silva Maia, Antônio Marques Rodrigues, Trajano Galvão de Carvalho dentre outros.

Com o final da Revolta da Balaiada em 1841, a política da agroindústria do açúcar recebeu substancial incentivo durante o governo de Franco de Sá e deu como resposta a ampliação da área plantada com cana-de-açúcar de melhor qualidade, às margens dos grandes rios, bem como, a instalação de grande número de engenhos muitos deles já automatizados por maquinas a vapor.

TERCEIRO MOMENTO

Este compreende o período que vai de 1850 ao final da segunda década do século XX.

A partir de 1850, começaram o açúcar e o algodão a assumir importância, na pauta de exportação da Província.

O algodão experimentou, conforme relata Botelho, seu segundo ciclo de esplendor, tanto pela ampliação da área plantada quanto pelas exportações que voltam a bater novos recordes, entre 1861 a 1865, período que durou a Guerra de Secessão nos Estados Unidos da América que, ate então, era o grande fornecedor para os teares ingleses.

No início da década de 1870, novamente, o algodão entra em crise no setor agroexportador, assumindo o açúcar o carro-chefe das exportações para o mercado externo.

Vários foram os fatores que levaram também a produção açucareira da Província à decadência, no final do século.

Nos dois primeiros decênios do século XX, o Estado mantém a sua economia à base de gêneros essenciais sem muita representatividade na balança comercial da época:

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arroz, feijão, milho além de uma incipiente agro-indústria de algodão e açúcar, mas a partir do fim da primeira guerra mundial começa a tomar impulso o extrativismo do coco babaçu sem assumir, no entanto, a pujança dos áureos tempos do algodão e do açúcar.

REFLEXO CULTURAL

Os membros que formaram o terceiro grupo de intelectuais que se autoproclamaram de Novos Atenienses como já vimos, anteriormente, foram também na grande maioria filhos da elite que se beneficiou dos bons resultados proporcionados pelo sistema agroexportador, nos ciclos econômicos ocorridos desde a segunda metade do século XVIII e no XIX, conforme se refere Regina Faria citada por Gusmão Rocha.

Os títulos de curso superior que traziam ao retornar à terra, além de lhes assegurar posição de poder intelectual lhes abriam espaços tanto no setor econômico quanto no político-administrativo.(Meireles).

Outro aspecto que podemos destacar, neste Grupo, iniciado no último quartel do século XIX e que se projetou às primeiras décadas do século seguinte, foi uma diversificação de estilos que ia do neorromântico ao moderno. Creio não errar ao afirmar que este Grupo mediou a transição do neoclássico europeu para uma radical mudança onde predominou uma nova linguagem de expressão e liberdade para criar que marcaram a Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Emergia, a partir desse momento, um novo e genuíno perfil nos mais diferentes campos das artes, no panorama cultural brasileiro, que se refletiria mais tarde no maranhense.

Esse Grupo criou ou influenciou a criação de várias entidades como Oficina dos Novos, Renascença Literária, Academia Maranhense de Letras, Faculdade de Direito de São Luís, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão além de outras. Segundo, ainda, Nascimento citado por Moraes seus membros injetaram novo vigor nas publicações de periódicos como Philomathia, Os Novos, A Renascença, O Ateniense e muitos outros.

Embora não homogêneo e nem poderia sê-lo, vários foram os intelectuais que fizeram parte desse Grupo, alguns até com expressão nacional. Dele fizeram parte dentre outros Aluísio Azevedo, Arthur Azevedo, Humberto de Campos, Sá Viana, Antônio Francisco Lobo, Vieira da Silva, Domingos de Castro Perdigão, Graça Aranha o precursor do modernismo no Brasil, Raimundo Lopes, Aquiles de Faria Lisboa, José Nascimento de Moraes, José Ribeiro do Amaral, Fran Pacheco, Maranhão Sobrinho, Dunshee de Abranches, Coelho Neto.

É deste Grupo que encontramos como parte integrante o professor e historiador Antônio Batista Barbosa de Godóis.

ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODÓIS.

Nascido em São Luís, Maranhão, aos 10 dias do mês de novembro de 1860, Antônio Batista Barbosa de Godóis é filho reconhecido e perfilhado de João Batista Barbosa de Godóis com Joana Camila de Menezes.

Tendo concluído em São Luís os cursos primário e secundário, viajou para Pernambuco onde, na Escola de Direito de Recife, concluiu, em 1884, o curso superior de Bacharel em Direito.

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Ao retornar à terra natal, foi designado Procurador da Justiça Federal com exercício no Maranhão.

Militou na política maranhense elegendo-se deputado estadual e Vice-Governador do Estado.

Foi educador, historiador, escritor e poeta. Como vários membros do Grupo teve marcada atividade na imprensa maranhense.

No exercício do magistério, lecionou nas cátedras de História e de Instrução Cívica, como ainda, foi diretor da Escola Modelo Benedito Leite e da Escola Normal do Maranhão.

Ao longo da sua ativa vida literária publicou várias obras dentre as quais destacamos:

- Instrução cívica (Resumo Didático) - Maranhão, 1900. - História do Maranhão - Maranhão, 1904, 2 volumes. - Escrita rudimentar - São Luís, 1904. - À memória do Doutor Benedito Pereira Leite - Maranhão, 1905. - O mestre e a escola - Maranhão, 1911. - Higiene pedagógica - São Luís, 1914. - Os ramos da educação na Escola Primária - São Luís, 1914. - Doutor Almeida Oliveira. Discurso na Academia, in RAML. Vol. I - São Luís, 1919. - Autor da letra do Hino do Maranhão.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.

ABBEVILLE, Claude d’.História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. Trad. Dr. César Augusto Marques. São Paulo: Siciliano, 2002.

ALVIM, Aymoré de Castro. 400 Anos de Medicina no Maranhão. São Luis: Lithograf, 2012.

BARBOSA DE GODÓIS, Antônio Batista. História do Maranhão. 2ª Ed. São Luís: AML/EDUEMA. 2008.

BERREDO, Bernardo Pereira. Anais Históricos do Estado do Maranhão. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Tip.Editor Ltda.

BOTTELHO, Joan. Conhecendo e debatendo a História do Maranhão. São Luís: Fort Gráfica, 2007.

EVREUX, Yves d’. Viagem ao norte do Brasil feita nos anos de 1613 e 1614. Trad. César Augusto Marques. 3ª Ed. São Paulo: Siciliano, 2002.

FERNANDES, Henrique Costa. Administrações Maranhenses: 1822 – 1929. São Luís: Instituto Geia, 2003.

HENRIQUES LEAL, Antônio. Pantheon Maranhense – ensaios biográficos de maranhenses ilustres já falecidos. Tomo 1. 2ªed. Rio de Janeiro. Ed. Alhambra, 1987.

-----. Pantheon Maranhense – ensaios biográficos de maranhenses ilustres já falecidos. Tomo II. 2ªed. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987.

LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. São Luís do Maranhão – Corpo e Alma. São Luís: 2012.

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LIMA, Carlos de. História do Maranhão – A Colônia. Vol. I. 2ª Ed. Revista e ampliada. São Luís: Instituto Geia, 2006.

-------. História do Maranhão – A Monarquia. Vol. II. 2ª Ed. Revista e ampliada. São Luís: Instituto Geia, 2008.

MARQUES, Augusto César. Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão. 3ª Edição revista e ampliada. São Luís: Edições AML, 2008.

MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. 3ª Edição atualizada. São Paulo: Ed. Siciliano, 2001.

MORAES, José de. História da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Ed. Alhambra, 1987.

RAMOS, Clovis. Roteiro Literário do Maranhão: neoclássicos e românticos. 1. Niterói, RJ: Clovis Ramos, 2002.

SILVEIRA, Simão Estácio da. Relação sumária das cousas do Maranhão: dirigidas aos pobres deste reino de Portugal. 8ª Ed. São Paulo: Ed. Siciliano, 2001.

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POSSE DE JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO

Eleição: 28 de fevereiro de 2014 / Posse: 06 de junho de 2014

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DISCURSO DO MEMBRO-FUNDADOR ANTONIO NOBERTO, CADEIRA Nº1, EM RECEPÇÃO AO POETA,

CANTOR E COMPOSITOR JOÃOZINHO RIBEIRO

Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Dr. Roque Pires Macatrão, em nome de quem cumprimento os demais confrades e confreiras,

Excelentíssimo (a)

Demais autoridades, familiares e amigos do nosso empossando, amigos, docentes e discentes, companheiros da imprensa, funcionários da casa, demais presentes, senhoras e senhores.

Falar do ludovicense João Batista Ribeiro Filho, o Joãozinho Ribeiro, contemplando sua vida, trajetória e arte não é tarefa das mais fáceis, pois o nosso homenageado, “poeta dos desterrados” é multifacetado, destacando-se como poeta, cantor, compositor, sambista, passista, militante, revolucionário, administrador, consultor, político, secretário de cultura, servidor federal, visionário, etc. Tudo isso e mais um pouco. Só falta ser galã! E não está totalmente descartado... Depois do Lázaro Ramos chegar lá, nós também temos chance, João!

Mas voltemos... Diante desta face multi do nosso amigo, totalmente alinhada com a história do estado, talvez o melhor caminho seja abrir a porta do tempo e rememorar um pouco a história do Maranhão e dos maranhenses para, enfim, desenvolver a bela trajetória do nosso poeta e compositor. Convido-os agora a relembrar um pouco a história de alguns outros atores e tentar encontrar a razão do Maranhão ter alcançado muito sucesso e se tornado um dos maiores palcos do Brasil em outros tempos.

OS ATORES

Muitos aqui sabem que eu e a minha companheira Aline Vasconcelos – a mãe da Alana – criamos um passeio turístico na necrópole do Gavião em 2005. Passeio musicado realizado com flauta, violino, violão, sax e pandeiro. O evento é sempre um grande sucesso, inclusive, já foi alvo de diversas matérias na imprensa do Maranhão e fora do estado. Tudo muito natural – literalmente sem espanto –, pois os brasileiros visitam cemitérios no mundo inteiro de uma forma muito espontânea. O etnólogo e escritor francês Jean-Yves Loude, com quem percorri muitos lugares e quilombos no Maranhão, em visita ao Gavião, escreveu que aprendeu na África negra, subsaariana, que toda vez que tiver um grande desafio deve sempre visitar os mortos e pedir ajuda aos mesmos. Isto consta em uma das mais importantes obras sobre o Brasil escrita nos últimos cinco anos por um estrangeiro, o livro Pepitas brasileiras, publicado ano passado pela editora Actes Sud. Obra que se atem à luta do negro no Brasil, com destaque para o Maranhão e os maranhenses que lutaram por esta terra. Nessa esteira, vamos navegar na história da nossa gente.

Em um longo período de viagem pelo Brasil mapeamos a última morada de maranhenses ilustres como Coelho Neto, Humberto de Campos e Josué Montelo, inumados no São João Batista, no Rio; Vespasiano Ramos no cemitério dos Inocentes em Porto Velho-RO; Catulo da Paixão Cearense, que nos encanta com o seu eterno Luar do Sertão, no Catumbi, no Rio; Raimundo Nina Rodrigues, no Campo Santo, bairro Federação, em Salvador; Antonio Gonçalves Ribeiro, racionalizador da

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cidade de Manaus, que descansa no São João Batista, na capital amazonense. E no Gavião, com tanta riqueza, nosso alto lugar de memória é guardião da história de Aluízio de Azevedo, o fundador do naturalismo no Brasil com suas magistrais e sempre atuais obras O mulato, O Cortiço, Casa de pensão e Uma lágrima de mulher; Bandeira Tribuzzi, um dos fundadores do Jornal O estado do Maranhão, que não para de convidar maranhenses e turistas a ouvir “à noite tambores do Congo gemendo e cantando dores e saudades” a “ler nas ruas, fontes, cantarias, torres e mirantes, igrejas sobrados, nas lentas ladeiras que sobem angústias, sonhos do futuro e glórias do passado”; o culto José do Nascimento Morais, escritor deVencidos e degenerados, que exibe orgulhoso em sua campa o epitáfio Sou lutador. Vencidos os negros, degenerada a sociedade! Joaquim de Sousa Andrade, o Sousândrade, Poeta do Guesa e do Inferno de Wall Street, primeiro intendente de São Luís e idealizador da bandeira do Maranhão; os historiadores Ribeiro do Amaral e Jerônimo de Viveiros; os governadores Benedito Leite, Luís Domingues, Gualberto Torreão, Dr. Aquiles Lisboa, Saturnino Bello, dentre outros; médicos e sanitaristas como Almir Parga Nina, “o reformador da saúde pública de São Luís”, Aquiles Lisboa, “pioneiro no tratamento da hanseníase no Maranhão” e Neto Guterres; o carnavalesco Joãozinho Trinta, de tantas alegrias e alegorias; General Arthur Carvalho; José Ribamar Bogéa, o Zé Pequeno, fundador do Jornal Pequeno. E ainda o professor e escritor Rubem Almeida; a médica comunista Maria Aragão; o sempre lembrado Coxinho, com o Urro do boi, reconhecido como hino do folclore maranhense; o Padre João Mohana, autor de Maria da Tempestade; músico Kalil Mohana; Pastor Estevão Ângelo de Sousa; os folcloristas Sousa dos Reis e Terezinha Jansen, e tantos outros atores ilustres que abrilhantaram em quatro séculos de história este belo palco chamado Maranhão. Se somarmos aqueles inumados nas praças, a exemplo de João Lisboa e Odorico Mendes, com os que enfeitam o interior: Maria Firmina, em Guimarães, João do Vale, em Pedreiras, dentre outros? Estas e milhares de dezenas de outras personalidades deram sua contribuição para fazer desta terra um lugar mais belo e destacado. Pessoas geralmente pobres, que entenderam a brevidade da vida e, em lugar da acomodação, sem levarem em conta a origem carente da família, não optaram por reparar na força do vento e fugir dos problemas. Ao contrário, empreenderam, lutaram, sofreram, pagaram o preço e venceram levando a bom termo causas coletivas. É esse o real sentido da vida! É isto que nos fala o Barão de Montesquieu: “Qualquer homem é capaz de fazer bem a outro homem, mas contribuirmos para a felicidade de uma sociedade inteira é parecermo-nos com os deuses”

O PALCO

Falemos um pouco do palco.

O Maranhão é o berço do Brasil setentrional. A ocupação e colonização desta terça parte da Terra papagalis começou por aqui, nesta Ilha, neste torrão. Foi de São Luís que partiram os primeiros ares de civilização, tanto por Daniel de La Touche, quanto por Jerônimo de Albuquerque. Antes, a título de resumo, o que existia era o Brasil do Leste (compreendido entre Salvador e Natal) e o Brasil Meridional (De Vila Velha a São Paulo).

Foram os gauleses os que primeiro se estabeleceram e aqui protagonizaram um dos mais belos capítulos do Brasil colonial, pois em plena efervescência das guerras de religião que grassavam a Europa, católicos e protestantes realizaram, no dizer de Ferdinand Denis, conservador da biblioteca dos Capuchinhos da Santa Genoveva, em Paris, “... a maior, mais leal e desinteressada transação entre católicos e protestantes” do século XVII. Não bastasse a excentricidade da convivência religiosa, adiciona-se outro

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componente: a simbiose com os tupinambás. O Maranhão foi palco de algo inimaginável no mundo ibérico: as crianças francesas estudavam no mesmo espaço com as indígenas. Isso se deu no Convento e capela São Francisco, hoje substancialmente alterado para Convento e Igreja de Santo Antônio. Tal feito só foi repetido no século XIX com o corajoso Negro Cosme, que ensinava as crianças negras as primeiras letras e distribuía a seus pares títulos e cartas de alforria. Tal ousadia, em tempos onde a educação era algo vedado à indolência nativa e à magia africana, custou-lhe a cabeça, pois foi preso e enforcado na Vila do Itapecuru-Mirim. Seu algoz, o Duque de Caxias, logo em seguida à Revolta da Balaiada, usou outro tratamento na Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, vez que substituiu o chicote, o chumbo e a forca pelo diálogo: “Eu não vim aqui para derramar sangue dos meus irmãos”, bradou Luiz Alves de Lima e Silva. Mas voltemos à história primeira... Além do nome da cidade, das balizas, topônimos, os primeiros estabelecimentos, o Primeiro Conjunto de Leis da América, as Leis Fundamentais decretadas na Ilha do Maranhão em 1º de novembro de 1612, tão bem estudadas pelo Doutor, confrade e amigo José Claudio Pavão Santana na obra O pré-constitucionalismo na América (MÉTODO. 2010).

Sob domínio ibérico o Maranhão perdeu a heterogeneidade dos tempos gauleses. Firmou-se a força das armas e, igualmente, os conflitos com os jesuítas e, especialmente, com os indígenas, que aos poucos foram se escasseando para enfim serem praticamente banidos. Em menos de duas décadas, das vinte e sete aldeias que existiam na Ilha Grande apenas duas subsistiram. Sobre isto o melhor testemunho é do cronista luxemburguês João Felipe Bettendorf, que vivenciando as dificuldades daquele século XVII escreveu nas suas Crônicas: “Quanta devia ser a crueldade e cobiça dos que acabaram com guerras e trabalhos tanta gentilidade”.

Ainda naquele século inicial, o Padre Antonio Vieira nos brindou com sua presença, estada, dedicação, críticas e seus Sermões. Manuel Beckman se revoltou contra a inércia e a opressão da metrópole, que prometeu resolver o problema da falta de mão de obra escrava e não o fez. No século seguinte o Maranhão permaneceu acanhado e quase inexpressivo, mas isso se deu só até meados daquele século, quando foi criada a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, em 1755, fundada em vários privilégios, sendo um dos principais o monopólio do comércio no Grão-Pará e Maranhão. Fato interessante e importante destacar é que a petição que pediu ao governador e Capitão-general Francisco Xavier de Mendonça Furtado a criação de uma Companhia de comércio de escravos foi iniciativa da Câmara Municipal de São Luís, em 1752. A partir de então o Maranhão iniciou uma escalada exponencial de riqueza, importando escravos e exportando algodão, arroz, madeira e outros gêneros. Não tardou surgir um dos maiores acervos arquitetônicos luso de todos os tempos. O ápice viria na primeira metade do século seguinte com a instalação de duas colônias estrangeiras no Maranhão: uma francesa, que comercializava o luxo e uma inglesa que negociava o conforto. Nesta época as sinhás e sinhazinhas andavam em cadeiras e palanquins exibindo a riqueza de uma colônia próspera, que, com lastro na produção, esperava o que de mais novo era desembarcado vindo da Europa. Outro fato importante de destaque também foi iniciativa pública, desta feita pela Assembléia provincial maranhense, que redundou em diversos ganhos à esta província. A feliz iniciativa autorizava o envio de jovens maranhenses, e os bancava, para as principais cidades da Europa, entre as quais Lisboa, Paris, Marselha e Londres. A relação que antes se restringia basicamente ao comércio atingiu outro vértice. O Maranhão passou a cultivar e exportar também as letras. Surge a Atenas maranhense com uma plêiade de escritores e artistas de alto nível, entre os quais Antonio Gonçalves Dias, o maior poeta brasileiro,

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e também: João Francisco Lisboa, Sotero dos Reis, Gomes de Sousa, Sousândrade, Joaquim Serra e Gentil Braga. Na Academia Brasileira de Letras, cinco patronos são maranhenses: Gonçalves Dias, João Lisboa, Adelino Fontoura, Joaquim Serra e Teófilo Dias. E outros cinco são fundadores da ABL: Arthur e Aluísio Azevedo, Coelho Neto, Raimundo Correa e Graça Aranha. Mas como bem cantou Roberto Carlos na música Canzone per te “La festa appena cominciata è giá finita”. A festa mal começou e já acabou. A Guerra do Paraguai, a Abolição da escravatura e a Proclamação da República, contribuíram para a decadência da economia nacional e, consequentemente, da “quarta maior cidade brasileira”. Isto em plena belle époque, das invenções modernas e do conforto. A economia entrou em colapso. Fazendeiros e ruralistas ainda tentaram escapar à bancarrota construindo fábricas e importando máquinas e equipamentos da Inglaterra. Não ouviram o conselho do vinking do Maranhão, Martinus Hoyer, que sempre advertiu aos comerciantes maranhenses que deveriam se prevenir aprendendo a trabalhar com mão de obra livre. O resultado todos sabem: um monte de fábricas falidas e um amontoado de equipamentos abandonados. O Maranhão industrial de ponta foi mais um sonho que uma realidade, apesar da permanência de algumas. Não se faz um industrial da noite para o dia. Foi com este cenário que atingimos o século XX, com raros momentos de prosperidade – ocorridos geralmente nos períodos da I e II Guerra mundial. Iniciou-se um momento onde a política de grupos suplantou os interesses coletivos. Onde o poder se concentrou nas mãos de poucos e, infelizmente, nossa principal mercadoria ou commodity, que outrora foi o arroz, o algodão e o açúcar se tornou o voto. A lei foi relativizada em nome dos interesses localizados e sectários. O marketing interesseiro trabalha para tirar a atenção do foco e, com isto, obnubilar e turvar mentes e almas. Mas é preciso trazer lucidez ao processo e dizer aos maranhenses que existem flores à beira do caminho e que é possível sonhar. Foi por isto senhoras e senhores, que conhecendo a história do nosso estado e vendo em João Batista Ribeiro Filho, o Joãozinho, um perfeito alinhamento com esta história, sendo ele uma alma elevada, eu o convidei para fazer parte do sodalício da Academia Ludovicense de Letras. E o fiz por indicação da minha amiga Joana Bittencourt, que com um espírito de amizade e desprendimento tratou de tomar a frente de todas as ações para que este evento acontecesse. Joana, sempre Joana! Joãozinho é um profundo conhecedor da nossa realidade. Homem de razão, lucidez e sentimentos aflorados. O verdadeiro poeta, que sonha e busca materializar a poesia. Sabe que a cultura pode ser um motor da transformação, como fez a Bahia, que exporta cultura e turismo. Vejo que nosso empossando é detentor de muitas das características dos bravos maranhenses destacados neste texto.

Joãozinho não tem os olhos puxados como os orientais, mas nasceu na Coreia, bairro de São Luís, em 1955. De família simples – o pai, João, era feirante e a mãe, Amália, uma operária têxtil – quando criança sofreu com um câncer no lado direito da face. Foi buscando a cura, nos idos de 1965, no estado da Guanabara, que tomou conhecimento das passeatas contra o Golpe militar. O menino de dez anos retornaria da viagem sem a enfermidade, porém, com o vírus da poesia e da luta. Morou no Diamante, 18 de novembro, Cavaco (Bairro de Fátima) e Desterro. Já Técnico da Receita Federal se muda para o Vinhais. Em seu livro Paisagem feita de tempo, publicado em 1985, ele escreve: “Hoje, o homem, edificado sob as perdas. Novas mortes na família: o pai, a mãe, o cachorro. A breve condição humana coberta por terra no cemitério. O homem sofrido (...) vira compositor, vai morar numa casa do BNH, recebe salário, batalha o sustento e se torna cidadão comum”. Sua poesia naturalista fala da vida, do dia a dia, do que é simples. E esse alinhamento com o meio popular o fez participar de agremiações estudantis. O que evoluiu para a militância política com

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destaque para a histórica luta na Greve pela meia passagem de 1979. Junto com o Laborarte criou musicais carnavalesco na década de 90. Mesma época em que instalou o Fórum Municipal de Cultura, e, em seguida as Feiras Culturais da Praia Grande.

Em 2008, pelo projeto Clube do Choro, o Instrumental Pixinguinha recebeu nosso poeta João Batista. Desta visita extraímos: “Joãozinho Ribeiro foi militante estudantil ativo na greve da meia passagem, em 1979, ano que marca suas primeiras incursões no campo musical, ainda na universidade, onde, quase economista e quase engenheiro, concluiu o curso de Direito (hoje é especialista em Direitos Autorais).

Compositor dos mais requisitados, já foi gravado por nomes como Rosa Reis, Cláudio Pinheiro, Célia Sampaio, Célia Maria (prêmio Universidade FM 2002 para o compositor, pela "melhor letra" e "melhor música" de Milhões de uns) e Lena Machado. É parceiro de nomes como Escrete (Gaiola), Cesar Teixeira (Sindicato do samba) e Gerô (Samba do capiroto, também com Cesar Teixeira).

Em 2002 e 2003 liderou o projeto Samba da Minha Terra, circuito musical alternativo que percorreu 18 comunidades em São Luís, levando música gratuita e de qualidade, sempre com participações especiais dos bairros nas apresentações. Em 2003 também, coordenou o projeto Serenata dos Amores, que incluía cortejo poético-musical, esquetes teatrais e apresentações musicais no Largo dos Amores, como foi rebatizado, por conta do projeto, o Largo da Igreja do Desterro, no bairro homônimo, um dos três que compõem o Centro Histórico da capital Maranhense.

Joãozinho Ribeiro é técnico da Receita Federal, foi Secretário Executivo do Fórum Municipal de Cultura de São Luís e publicou em 2006 o livro Paisagem Feita de Tempo, poema que relembra uma outra São Luís, a da infância e juventude do poeta”. Gravou recentemente o seu primeiro CD intitulado Milhões de uns.

O poeta Hamilton Faria1, amigo do nosso empossando, também quis homenageá-lo escrevendo o seguinte:

JOÃOZINHO RIBEIRO: POETA E DESBRAVADOR DA CULTURA

Joãozinho Ribeiro é um poeta, preciso dizer mais? No entanto, é um poeta, que além de contribuir com o desenvolvimento das linguagens e da imaginação poética, também está envolvido com os processos construtivos da cultura deste país.

Joãozinho Ribeiro participou de uma importante articulação nacional, o Fórum Intermunicipal de Cultura (FIC), com presença em 27 estados brasileiros, verdadeiro precursor do momento áureo que vivemos na cultura após o ano 2000. Com sua capacidade de mobilização pública em ação colocou também a sua inteligência a serviço do Fórum de Cultura de São Luis, verdadeira referência para fóruns locais que desenvolvemos em outros estados.

Neste fórum, pela primeira vez foi apresentada por mim propostas ao país, no campo das políticas públicas de cultura de paz e reencantamento do mundo. Mais adiante, criamos uma articulação mundial de artistas, realizando encontros mundiais em vários países e construímos a Carta de Responsabilidades do Artista, da qual Joãozinho é um dos autores e signatários. Esta Carta tem presença até hoje em cerca de 100 países, de todos os continentes e tem sido útil para que os artistas sensibilizem-se com o seu 1 Hamilton Faria, poeta, diretor do Instituto Pólis, coordenador da área de cultura e comunicação, criador

da Rede Mundial de Artistas, Professor titular na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado/FAAP, São Paulo e premiado em 2006 pela Academia de Artes Ciências e Letras da França por sua obra poética.

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papel no desenvolvimento das palavras, mas também com a sua ética pública e compromisso com a cultura. Mais adiante, para consolidar este trabalho também no campo acadêmico, Joãozinho criou e coordenou o curso de pós-graduação em Gestão de Cultura, na Faculdade de Direito Estácio de São Luis, onde tive a honra de ministrar curso.

Acompanhei também a sua trajetória como presidente da Fundação Municipal de Cultura de São Luis onde, em 1997, dá inicio à construção de políticas de cultura, efetivamente públicas e inclusivas. Deu seguimento a este trabalho no Ministério da Cultura, quando convidado, por sua competência e reconhecimento público, pelo Ministro da Cultura Juca Ferreira, para o cargo de coordenador-geral de estratégias e gestão de ações da Secretaria de Articulação Institucional do Minc, com papel de coordenador da II Conferência Nacional de Cultura, realizada em março de 2010, na Cidade de Brasília-DF.

São tantas as atribuições e ações desenvolvidas por Joãozinho Ribeiro em prol da Cultura e das artes no país que eu correria o risco de tornar este um documento cansativo e enfadonho. No entanto, a sua criação poética me salva a tempo de incursionar nestes caminhos possivelmente laudatórios, pois a sua sensibilidade tem construído poéticas diversas na música e na poesia. Quero destacar o seu livro “Paisagem Feita de Tempo”, verdadeiro memorial emotivo da cidade de São Luis, que ficará registrado como uma das obras mais importantes sobre a poética desta cidade, juntamente com trabalhos literários de Ferreira Gullar e Nauro Machado, outros dois expoentes da poesia maranhense. Também o seu CD “Milhões de Uns” – o próprio título nos leva a uma concepção de diversidade e pluralismo presentes na ação e na criação de Joãozinho Ribeiro.

Finalmente, não posso deixar de reafirmar a sua ética pública, sempre viva em toda a sua biografia, e a sua presença humanizadora na cultura. Esta Academia Ludovicence de Letras, que tem a honra de recebê-lo, acolhe não apenas um poeta, um literato, um desbravador da cultura deste país, mas uma pessoa humanizadora de relações vitais para o desenvolvimento das pessoas, da sociedade brasileira e para o reencantamento do mundo.

Joãozinho Ribeiro foi secretário de cultura do estado à época do saudoso governador Jackson Lago. No breve período tentou democratizar a cultura da maranhensidade (termo criado pelo nosso amigo In memorian Sousa Reis). A gestão de João Batista na cultura foi interrompida pela cassação do mandato do governador, em 2009. O evento abrupto – parafraseando o maior poeta brasileiro – “levou consigo muitas esperanças”. Esperança de algum dia ver implantado no estado o casamento da cultura com o turismo. Esperança de sairmos da monotonia do viés agrário e entrarmos no mundo das tecnologias, dos serviços de excelência, no século do turismo, do lazer e do entretenimento. Vender cultura através do turismo é a concretização do Ócio criativo, teoria defendida pelo sociólogo italiano Domenico De Masi, que prega que o verdadeiro ócio é a junção de trabalho, estudo e diversão, onde o carnaval e a cultura são os maiores exemplos.

Vejo na serenidade, objetividade, dedicação e persistência de João a esperança do sonho da economia da cultura. Portanto, seja bem vindo, confrade, ao seio da Academia Ludovicense de Letras.

Muito obrigado!

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ELOGIO AO PATRONO CADEIRA 26

PATRONO

RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO

PRIMEIRO OCUPANTE JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO

Eleito em 28 de fevereiro de 2014 Posse em 06 de junho de 2014

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DISCURSO DE POSSE DO POETA, CANTOR, COMPOSITOR E ESCRITOR JOÃO BATISTA RIBEIRO

FILHO NA CADEIRA N. 26 DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, PATRONEADA PELO POETA PEDREIRENSE RAIMUNDO CORRÊA DE

ARAÚJO

Excelentíssimo Senhor Leopoldo Gil Dulcio Vaz, aqui representando o presidente da ALL, Meu confrade e padrinho Antonio Noberto, Demais amigos e amigas integrantes desta elevada mesa, Estimados confrades, confreiras da Academia Ludovicense de Letras, Meus amigos de luta e labor, em especial minha irmã de cultura Joana Bittencourt, além de ... Minhas senhoras, meus senhores, Boa noite!

Esta noite, do dia 6 de junho do ano de 2014, que tenho a imensa honra de compartilhar com todos os presentes, tem um significado mais do que especial na vida e na arte desta cidade e, por consequência, na deste artista militante, coroando todo um conjunto da minha atribulada existência, compartilhada por vivências múltiplas, espalhadas pelas diferentes geografias urbanas e humanas, locais, nacionais e internacionais que vivi e aprendi a dividir com as pessoas.

A escolha do lugar desta reunião também é perfeita para a evocação de uma paisagem feita de tempo, construída no coração do centro histórico por um menino que passou grande parte de sua infância e juventude habitando os espaços do mirante de um casarão situado na Travessa da Lapa, no velho e querido Bairro do Desterro.

Falar de espaço e de lugar é lembrar, neste início da minha fala, de um grande intelectual brasileiro, negro como eu, patrimônio das nossas humanidades, que sobreviveu às agruras do exílio durante os anos de chumbo da ditadura militar. Falo do saudoso Professor Milton Santos, que assim lecionava, com poucas e tão significativas palavras sobre o tema: “Lugar é o espaço do acontecer solidário.”

Talvez seja justamente disso que estamos começando a nos sentir cada vez mais órfãos, tal como náufragos, ilhados pelas águas do desencanto e da barbárie. Órfãos de nossas humanidades, de nossas solidariedades, de espaços de vivências e convivências, para realizarmos a grande tarefa, que cabe não só aos poetas, mas a todos que acreditam e apostam na cultura de paz enfim, em um novo encantamento do Mundo.

Do livro Arte e Cultura pelo Reencantamento do Mundo recolho um trecho da lavra dos meus amigos poetas, da Rede Mundial Artistas em Aliança, Hamilton Faria e Pedro Garcia, um carioca e outro curitibano, que integra um texto intitulado Arte e Identidade Cultural na Construção de um Mundo Solidário:

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Em O nascimento da tragédia, Nietzche,ao estabelecer a relação entre ciência e mito, nos fala do aniquilamento deste último, fato que determina a expulsão dos poetas da República. Por poetas entende-se: sonhadores, criadores de utopias, santos e outros da mesma estirpe – toda uma tribo errante, perambulando pelo mundo e carregando o facho do re-encantamento. Re-encantamento que não é uma volta a um passado mítico, embora se possa pensar em um mito restaurado, que volte a se apropriar daquilo que o presente oferece como possibilidade de encanto.

E a primeira imagem humana que me chega ao pensamento, carregada com a carga da vida difícil, encharcada das marés de humanidades por estas paragens da Praia Grande, não é a imagem de nenhum intelectual consagrado ou de um homem de relevantes ofícios, das artes, das letras ou das ciências; porém de uma mulher simples que por aqui viveu e depois se tornou símbolo, memória virou azulejo. Refiro-me a Faustina que hoje, pela voz do povo, virou nome de canto, ainda que o reconhecimento oficial ainda não tenha sido feito pela toponímica municipal.

Precisava escolher objetivamente um modelo de abordagem para cumprir a função acadêmica de elaborar o elogio ao patrono da cadeira n. 26 da Academia Ludovicense de Letras, conforme as circunstâncias e contexto de sua existência; que pudesse guardar a fidelidade das convicções do elaborador do discurso, com a vida e a obra do reverenciado.

Então, senhores e senhoras, numa primeira e sincera abordagem, confesso não ter elaborado um trabalho acadêmico erudito, rebuscado como exigiria uma ocasião desta magnitude para discorrer sobre o ilustre patrono da cadeira n. 26, da Academia Ludovicense de Letras, o poeta pedreirense Raimundo Corrêa de Araújo.

Aliás, ser patroneado por um poeta desta estirpe e história, por si só, já acarreta uma responsabilidade considerável, traduzida na escolha da abordagem mais oportuna e conveniente para manifestar em palavras o cenário, o roteiro e o legado que a arte e a vida das pessoas vão transformando em atos, como espécies de impressões digitais e culturais cunhadas por suas respectivas passagens por esta incrível e formidável aventura humana chamada cultura.

Talvez a melhor maneira de elaborar um elogio a um patrono como o poeta Corrêa de Araújo fosse simplesmente recitar alguns poemas de sua autoria e tentar, deste modo modesto, entender a complexidade da sua relação com os seres e as coisas que povoaram a sua existência, buscando explicar, ainda que inutilmente, o real escopo de sua atividade literária, que o poeta alemão Goethe, assim procurou justificar: “o início e o fim de toda atividade literária é a reprodução do mundo que me cerca por meio do mundo que está dentro de mim.”

Feitas as devidas reparações iniciais, me advém a necessidade de tentar compreender o mundo que cercava, ao seu tempo, o poeta Corrêa de Araújo; mundo este que naturalmente influenciaria a sua produção poética e as reflexõessobre a vida.

O poeta e as suas circunstâncias. O poeta e as suas inconstâncias. O poeta e as suas irreverências, que já me parecem anunciadas, na primeira estrofe do soneto De Volta, dissertando sobre a sua chegada de Pedreiras a São Luís:

Cheguei há pouco. E São Luís parece, Ao meu saudoso olhar, o abominado,

O temeroso exílio em que padece, Longe do céu natal, o desterrado.

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Sem constrangimentos ou esgueiramentos intelectuais de qualquer natureza, socorro-me nas palavras de outro poeta contemporâneo, também do município de Pedreiras, garimpadas do seu discurso de posse na Academia de Letras daquela cidade, banhada pelas sinfonias das águas barrentas do valente Mearim.

Cadeira igualmente patroneada pelo poeta Corrêa de Araújo, n.8,ocupada pelo ilustre filho daquele torrão, “o camarada” Samuel Barreto, um dos meus convidados especiais desta iluminada noite.

É do poeta Samuel Barreto, que passo a compartilhar alguns dados sobre a história de Pedreiras, onde na data de 29 de maio de 1885 nascia o nosso patrono comum, Corrêa de Araújo:

A primeira tentativa de ocupação de Pedreiras, que ainda era uma terra de índios, se deu em 1830 só que os verdadeiros donos da terra resistiram de maneira feroz e continuaram no seu habitat natural, mas não durou, e mais uma vez o homem branco chegou com toda sua força bruta e mandaram ospedras verdes de Mearim acima.

O Centro Geodésico do Maranhão sócomeçou a serexplorado 220 anos após afundação da Ilha de São Luís,em1612.Ou seja, a partir de 1835, quando o desbravadorFrancisco Melo Uchoachegou ao Município de Barra do Corda. Mas aocupação de Pedreiras aconteceu 10 anos depois, em 1845.

Por aqui então foi instalada a Fazenda Recurso, tendo como proprietário o Senhor Raimundo Áudio Salazar, que para comprar todas estas terras, fez um grande empréstimo junto ao Banco Hipotecário, como não quitou o débito com a instituição financeira, as terras foram hipotecadas, após o seu falecimento. A viúva de Salazar ainda cobrou os direitos a terra, mas lhe foram negados, tendo assim se arrastado por longos anos este processo na justiça. O Pai do poeta Corrêa de Araújo, o vibrante Raimundo Nonato de Araújo ainda bem moço, ocupando o cargo de Vereador da Vila Pedreiras, fez um discurso inflamado e cheio de emoção, cobrando que fossem compradas as terras da fazenda Recurso, dando assim um destino mais libertário para os pequenos agricultores que por aqui viviam regando o nosso abençoado solo.

Retomando o rumo da reprodução do mundo que cercava a origem do nosso patrono, destacamos sua filiação civil, fruto da união matrimonial de Raimundo Nonato de Araújo, seu pai fundador de Pedreiras, e Antônia Corrêa de Araújo, sua mãe, um casal de prósperos proprietários de terra daquela região do médio Mearim.

É nessa região que se inicia a intensa relação do poeta com o rio, navegando pelas águas de infância, que deságuam nos seus versos juvenis, transbordando em exaltações poéticas, cujas rimas extrapolam as margens geográficas da vida e do tempo:

Ó Mearim natal, em cujo veio Caudaloso, menino e adolescente

Me banhei sem receio, A nado atravessando a profunda corrente!

Os registros biográficos apurados testemunham que a vinda de Corrêa de Araújo, em São Luís, se deu aos dezesseis anos, paracompletar o ciclo de estudos que havia

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iniciado na cidade de Pedreiras, culminando com a obtenção do diploma de bacharel em ciências jurídicas e sociais, em 1928, conferido pela Faculdade de Direito do Maranhão.

Aos 18 anos, ocorre seu batismo poético, com a publicação do livro Harpas de Fogo, àquela época considerado um grande acontecimento literário na província. O roteiro cronológico irá incluir em 1906 o Evangelho de Moço, que terá o soneto Dualismo Psicológico reverenciado nas terras lusitanas:

Vivemos a brigar com moinhos de vento pelo idealismo, por valores eternos, mas em algum lugar em nós um Sancho Pança censura, cru e realista, pois é de sua natureza o amor à mesa, à carne, às honrarias e ao ganho vil.

Em 1908, publica o poema Pela Pátria e ladeado pelos parceiros e intelectuais Antônio Lobo, Ribeiro Amaral Clodoaldo de Freitas, Godofredo Viana, dentre outros confrades, funda a Academia Maranhense de Letras (AML), ocupando a cadeira n. 16, aos 23 anos de existência, patroneada pelo poeta Raimundo Correia.

[E por falar em academia,] O atual ocupante da cadeira n. 16 da AML, Natalino Salgado, lembrou em seu discurso de posse na Casa de Gonçalves Dias de algumas outras facetas do poeta, assim expostas em sua manifestação acadêmica:

Foi professor do Liceu Maranhense, escola centenária em que ministrava as matérias História Universal e Sociologia. Durante muitos anos foi diretor da Biblioteca Pública Benedito Leite, onde exerceu com denodo a função de guardião de letras, e pôde demonstrar seu amor aos livros.

Em sua profícua existência poética, também militou no jornalismo e colaborou com o jornal Pacotilha, como fariam no futuro, Paulo Nascimento Moraes e Neiva Moreira. O pouco que foi dito sobre Corrêa de Araújo, os esparsos dados biográficos, revelam um homem excêntrico, de opiniões firmes e das quais não se arredava, como alguém que estivesse entrincheirado.

A tese defendida para assumir a titularidade da disciplina que ministraria no Liceu Maranhense versava sobre a religião como problema social eo problema político do Brasil.

Corrêa de Araújo marcará sua passagem pela estação terrena provocando muitas polêmicas sobre as coisas que acreditava e defendia, não medindo consequências para dar publicidade às suas ideias e bombardear os seus desafetos, o que acabou lhe rendendo o encarceramento por motivações políticas e ideológicas, com certeza espelhadas nos versos do soneto Oráculo:

Amo tanto a Verdade que a procuro Em tudo que ma possa revelar,

No homem simples, no espírito mais puro, Nas grandes almas de esplendor solar.

Amo-a e atraio-a ... No quarto pobre e obscuro,

Vendo a divina Aparição entrar, Vendo a invisível, eu me transfiguro E eis-me qual seu Oráculo a falar...

Nem sei mesmo o que digo nos momentos

De tão celestes arrebatamentos, De tão suprema transfiguração.

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O que sei é que tudo quanto ensino É da Verdade – o Espírito Divino,

Que tem um Templo no meu coração...

E como estou a falar de poetas e de sonetos, considero oportuno resgatar, neste momento, o de número 48, legado pela lira do eterno José Chagas, brindando os cem anos de Corrêa de Araújo - O Rio da Saudade - do qual ofereço aos presentes as duas primeiras estrofes:

o poeta morreu em São Luís, Triste por não morrer, como queria, Vendo em seu chão natal morrer feliz

O seu último sol no último dia.

Teve em saudade tudo quanto quis, Pois só em sonho o rio ficaria A alimentar de amores a raiz Que sustentava a sua poesia.

O poeta e as suas circunstâncias, nem sempre amoldadas às conveniências, não poderia sobreviver impunemente à saga dos que resistem a baixar a cabeça, ou ajoelhar-se diante do trono dos poderosos, preferindo a miséria e a solidão da arte como escudos humanos para a mercancia da alma. E, assim como poucos,não se curvouàordem natural das coisas e polemizou, como pôde, contra tudo e todos.

Recolhido ao exílio humano e geográfico das ruas e becos de São Luís tornou-se memória viva da distante e querida Pedreiras, ou seja, “virou azulejo” em 24 de agosto de 1951, no mesmo dia do suicídio de Vargas que aconteceria três anos mais tarde, e no mesmo ano da grande insurgência da Ilha Rebelde, que passaria para a história conhecida como a Greve de 51. O quarto de um velho sobrado da Travessa da Passagem serviria como cenário para o seu passamento.

Costumo dizer que em São Luís os poetas não morrem, viram azulejos, “porque a morte acaba sendo/A verdadeira testemunha da vida/Que passa para os nomes de praças e ruas/E tantas vezes/Vai morar nas conversas/Dos salões de barbeiros/Ou nos palpites/Das bancas de jogo do bicho.”

Com este sentimento extraído da gaveta da memória faço questão de compartilhar com todos os presentes, encerrando meu elogio ao patrono, um poema inédito, de dupla autoria, minha e do poeta pedreirense Samuel Barreto, feito em homenagem ao imortal José Chagas, com o qual saudamos nosso patrono comum Raimundo Corrêa de Araújo:

No ataúde estavas por inteiro Poeta, cidade e sentimento

Ali, naquele abrigo derradeiro Imenso num sutil compartimento.

Dormitavas poesias no silêncio

Dos canhões apontados para o mundo Quem sabe, lavorando outras palavras:

Palafitas e palmeiras num segundo.

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A morte, poeta, é um segredo Guardado no mistério das marés,

Memória das enchentes e do degredo Da alma encharcando igarapés.

Agora, só cirandas e toadas

Decifram um acorde penitente Que segue escancarando a madrugada No peito, dedilhando a dor da gente.

Pela ponte um discurso verdadeiro Um olhar vislumbrando outro céu,

Na viagem dos telhados, o primeiro, Era um homem debaixo do chapéu.

É o Chagas nas marcas dos cabritos Paraíba lhe tangeu na compaixão, Mearim que molhou os seus atritos

De Pedreiras a São Luís do Maranhão.

Na palavra deu a vida para o belo Quando a dor não cabia mais em nós,

Mas na ilha construiu o seu castelo Dando fala para quem não tinha voz.

Muito obrigado!

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FESTA PARA JOÃOZINHO

SAMUEL BARRETO Academia Pedreirense de Letras

Eram quase 19 horas Na ilha que fica fora do continente Enquanto os vagabundos vagavam De um lado para o outro Tentando mastigar o frio da fome. Nas pedras do tempo um ruído Que parece pintar um colorido Tonalizando de poesia na rua da estrela, Para um poeta do meio do povo Que final,mente entra de porta adentro Na casa das letras desta cidade Que um dia já foi um país! O homem olha-se assim tão menino E a sua mãe continua a tece panos Na velha fábrica da sua imaginação. Recorda profundamente do seu pai, E dnça nas notas poéticas da canção Que lhe dedicou com o afeto da alma. É mesmo um poeta cheio de vida Que por algumas vezes já teimou De andar perigosamente nos braços Da fria morte, alias caminhos mde todos! A cruz pesada de cada dia é tão somente A mais perfeita caneta que vai escrevendo Com altos e baixos os rascunhos Da nossa história no mundo. Um tambor de crioula ecoa Com suas mais firmes pungadas Com os improvisos de Filipe E um velho boi equilibra o canto Do seu mais famoso amo... Teté solta um debochado sorriso Ao lado do mestre Nelson Brito, Sabará tenta acompanhar A viola incansável de Gerô, E Correa de Araujo celebra Com seus versos a festa Da poesia do poeta João.

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CAMARADA JOÃO

JOANA BITTENCOURT Academia Pinheirense de Letras, Artes e Cultura

João camarada, inspira canção No Beco da Lapa transpira Poesia, conhece o Desterro Na palma da mão. Moleque traquina, cidadão do Mundo. Da sua sacada chora seu Degredo. Na roda da vida virou um Brinquedo, atrás dos segredos desses Casarões. João guerrilheiro, contra a oligarquia, João o poeta, sonha nostalgia. Nela se Embriaga, nela se inspira. Ser um bom Burguês, não lhe aprouveria! João proletário, das lutas renhidas. Procura nos versos o tempo da vida. João obrigado por não desistir, por Fazer da esperança, obra do porvir. Já não és maus teu, já não te pertences. Agora patrimônio da humanidade, lá vai Seu João paisagem nua. Virou azulejo No meio da rua.

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A Confreira ANA LUIZA ALMEIDA FERRO teve publicado o seu 11º livro: Criminalidade organizada: comentários à Lei 12.850, de 02 de agosto de 2013. Curitiba: Juruá, 2014, 282 p. (em coautoria com Flávio Cardoso Pereira, de Goiás, e Gustavo dos Reis Gazzola, de São Paulo). O livro está disponível pela internet, no site da Editora Juruá, e, em São Luís, na Livraria do Advogado (Tropical Shopping e Fórum do Calhau), com lançamento previsto para o segundo semestre.

RESUMO Análise, artigo a artigo, da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, nova lei de controle do crime organizado, com ênfase nos antecedentes históricos do crime organizado, nas características doutrinárias da organização criminosa, na evolução de seu conceito no Direito brasileiro, no crime de organização criminosa, com suas causas de aumento de pena e circunstância agravante, no crime de obstrução à persecução penal, na medida cautelar aplicável ao funcionário público, no efeito da sentença condenatória, na investigação criminal e nos meios de obtenção da prova, em especial no tocante à colaboração premiada, à ação controlada, à infiltração de agentes e ao acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações, nos crimes ocorridos na investigação e na obtenção da prova, no procedimento relativo aos delitos tipificados na Lei nº 12.850/2013, nas questões da duração da instrução criminal no caso de réu preso e da possibilidade de decretação do sigilo da investigação diante do princípio constitucional da ampla defesa, nas alterações infligidas aos artigos 288 e 342 do Código Penal, na revogação da Lei nº 9.034/1995 e no confronto da novel lei com a Lei nº 12.694/2012, quanto ao conceito de organização criminosa.

Criminalidade Organizada - Comentários à Lei 12.850, de 02 de Agosto de 2013 - Prefácio de Eugenio Pacelli - A Organização Criminosa - A Colaboração Premiada - A Infiltração Policial - As Ações Controladas - Análise Artigo a Artigo - Com Exemplos Práticos. Ana Luiza Almeida Ferro, Flávio Cardoso Pereira e Gustavo dos Reis Gazzola, 282 p.

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Lançamento da REVISTA JURIS

Lançada dia 04 de abril, a REVISTA JURIS, do Centro de Estudos Constitucionais de Gestão Pública, WWW.cecgp.com.br; conta a colaboração de nossos Membros Ana Luiza Almeida Ferro; e João Batista Ericeira:

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25 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ACERTOS E DESACERTOS2

JOÃO BATISTA ERICEIRA3

RESUMO A evolução histórica do Constitucionalismo Ocidental. O impulso do Direito Constitucional após a Segunda Guerra Mundial. A Declaração dos Direitos Humanos de 1948 e as constituições modernas. A Constituição Federal de 1988. Os acertos e os desacertos. 25 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ACERTOS E DESACERTOS4

Dizia Aristóteles, (384 a 322 a.C.) o sábio grego da antiguidade clássica: os homens sempre procurarão a Constituição perfeita para regê-los sem, todavia encontrá-la. Séculos depois, aplicando a proposição aristotélica a atual Carta Politica brasileira, completando agora um quarto de século de existência, pode-se concluir: como as suas contemporâneas, ela não é perfeita, mas era a possível quando da sua promulgação em 5 de outubro de 1988, após vinte ano de ditadura, em que vigoravam no âmbito do Direito Público as anti-constituições, os atos institucionais.

O constitucionalismo como ideia politico-jurídica é recente na História ocidental, data do século 18, extraída dos compêndios do iluminismo filosófico, inspirador das revoluções francesa de 1789 e da independência dos Estados Unidos de 1776. Transferiu-se para a centúria seguinte tornando-se presente no cenário da luta política travada entre o absolutismo do poder real e a sua limitação através da Lei maior votada pelos representantes da soberania popular. A Constituição passou a ser o pacto de poder, erigindo-se a partir dele a estrutura legal e institucional do Estado moderno.

A vertente alemã de Ferdinand de Lassale (1825- 1864) e Konrad Hesse (1919- 2005) estabeleceu célebre discussão sobre a natureza da Constituição. O primeiro defendendo ser o texto constitucional um composto de matéria sociológica, determinada pela realidade econômica, militar, e cultural, hegemônico em determinado contexto político. O jurídico seria simples folha de papel a serviço desses interesses. O segundo sustentando a natureza normativa, o seu caráter especifico, interagindo sobre a base social, através da “voluntas constitutiones”, abarcando dialeticamente os agentes públicos e a sociedade.

Karl Loewenstein (1891-1973) ingressou no debate propondo a superação dos dualismos pela interação entre o Estado e a Sociedade operada pela Norma Fundamental, gerando entre os cidadãos o sentimento constitucional.

O constitucionalismo moderno recebeu enorme impulso e aceitação na comunidade jurídica internacional a partir do final da Segunda Guerra Mundial em 1945. Sofreu considerável influencia da Declaração dos Direitos do Homem de 1948 da Organização das Nações Unidas - ONU, com repercussão na Constituição alemã de 1949, a Lei Fundamental; na italiana de 1948, na francesa de 1958, e mais recentemente, a espanhola de 1978, e a portuguesa de 1976. O professor português José

2 ERICEIRA, João Batista. 25 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ACERTOS E DESACERTOS.

REVISTA JURIS, ano 1, n. 1, março/abril 2014, p. 35-36 3 Coordenador do Núcleo de Ciências Politicas do CECGP; membro do Instituto dos Advogados do

Brasil; Presidente da Seccional do Colégio Brasileiro de Faculdades de Direito; Vice-Presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas.

4 Exposição ao Seminário de Direito Constitucional promovido pelo Centro de Estudos Constitucionais e Gestão Pública, dia 18 de outubro de 2013.

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Gomes Canotilho, da Universidade de Coimbra, a define como: “técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos”.

Elias Díaz, jurista espanhol, da Universidade Autônoma de Madri, sustenta a tese de a base constitucional contemporânea ser os Direitos Humanos contidos nas sucessivas Declarações internacionais de Direito.

A nossa Constituição de 1988 recebeu o legado dessa doutrina e de doutrinadores brasileiros, a exemplo de Afonso Arinos, Miguel Reale, Paulo Bonavides, José Afonso Silva. Sobre ela incidem múltiplos olhares: os dos doutrinadores; dos juízes e tribunais e dos agentes do Executivo e do Legislativo.

Quais serão os da sociedade e dos cidadãos? Eles se refletiriam no clima das manifestações populares detonadas a partir do mês de junho? Como se vê, pelo tempo da discussão, a Constituição de 1988 é jovem, mas evidencia sinais de maturidade.

Para avaliá-la dispenso autores estrangeiros, valendo-me da metodologia de um pensador brasileiro, Miguel Reale que descreve o fenômeno jurídico como tridimensional: normativo, fático e valorativo. Neste último é incontestável a sua legitimidade, considerando a inegável participação da sociedade nos trabalhos de sua elaboração, bem como o claro compromisso com os valores da democracia, dos direitos individuais e sociais, da liberdade e da justiça social. No plano fático, é patente a sua ineficácia ou ineficiência na aplicabilidade normativa de parte principalmente dos agentes públicos. Onde estão os serviços de educação, de saúde, de segurança, de mobilidade urbana; e os compromissos com a moralidade pública?

O primeiro desacerto da Constituição seria formal, por expressar o conteúdo de maneira analítica e prolixa ao invés de adotar o modelo enunciativo e sintético. Quando da promulgação continha 250 artigos e mais 95 no ato das disposições constitucionais transitórias. Ao longo de 20 anos lhe foram acrescidos 90 artigos, 312 parágrafos, 309 incisos, 90 alíneas. Até agora são 74 emendas. A estatística é invocada para justificar a reforma do seu texto a pretexto de enxuga-la. A Constituição aprovada há 25 anos conteria imperativos ideológicos superados pelo triunfo neoliberal. Advogam substituí-los, em lugar dos princípios sociais-democratas, os neoliberais.

Quanto ao conteúdo, ao tratar da Reforma Agrária no artigo 184 parágrafo 1º, prevê a indenização previa em dinheiro das benfeitorias, e proíbe a desapropriação da propriedade produtiva, inviabilizando dessa forma a solução da secular questão fundiária.

Fortaleceu o Poder Judiciário, a Advocacia (artigo 133) e o Ministério Público. Criou a Defensoria Pública. Prevê o Direito a Justiça célere (Emenda 45/2004). Ampliou os direitos sociais, difusos, dentre eles, o ambiental; a proteção a idosos, a crianças; protegeu minorias, de etnia, de gênero; a família, alargando o seu conceito de organização social.

A maioria das emendas constitucionais versa sobre a previdência social, a supressão de direitos, a quebra do monopólio estatal do petróleo, a permissão da privatização de empresas e serviços públicos.

A balança de acertos e desacertos ao longo desses vinte e cinco anos busca equilibrar-se. Para os conservadores se atrela mais à esquerda. Para os progressistas volta-se para a direita. As vozes das ruas prenunciam mudanças, sobretudo no campo dos direitos políticos. Seu grande mérito foi, sem nenhuma dúvida, a manutenção do

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regime democrático, após o sacrifício de duas décadas de autoritarismo, penalizando as gerações de pós Segunda Grande Guerra Mundial.

Deverá agora abrir-se para possibilitar a realização da vontade política das novas gerações, ecoando nas ruas desde junho passado.

Nas tarefas de interpretação e aplicação da Constituição, é válido não esquecer o conselho do emérito jurista austríaco Hans Kelsen (1881-1973): “A essência da democracia só pode ser compreendida tendo-se em mente a antítese entre ideologia e realidade”.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ERICEIRA, João Batista. O Olhar da Justiça. São Luís: Editora Escola de Formação de Governantes – EFG, 2004. ERICEIRA, João Batista. A Reinvenção do Judiciário. São Luís: ESA/OAB, 2006. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 10. Ed. São Paulo: Editora Método, 2006. BONAVIDES, Paulo. Política e Constituição: os caminhos da democracia. 1. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1985. REALE, Miguel. Por uma Constituição brasileira. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1985. NADAL, Fábio. A Constituição como mito: o mito como discurso legitimador da constituição. São Paulo: Método, 2006. COELHO, João Gilberto Lucas. A nova Constituição: avaliação do texto e comentários. 2. Ed. Rio de Janeiro: Revan, 1991. KUNTZ, J. E. F. R. Qual o futuro dos direitos?: estado, mercado e justiça na reestruturação capitalista. São Paulo: Max Limonad, 2002. RODRIGUES, Lêda Boechat. Direito e Política: os direitos humanos no Brasil e nos Estados unidos. Rio de janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1991. BEARD, Charles. A. A Suprema corte e a Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 1965. DIREITOS HUMANOS: Documentos Internacionais. Brasília: Presidência da República, Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2006.

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EDWIN SUTHERLAND: O CRIME DE COLARINHO BRANCO E O CRIME ORGANIZADO5

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO6

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. A teoria da associação diferencial. 3. O crime de colarinho branco sob a perspectiva criminológica. 4. Considerações finais. 5. Referências.

RESUMO: O presente artigo procura oferecer uma visão geral e sistemática sobre o pensamento de Edwin Sutherland, particularmente no tocante à teoria da associação diferencial e às características do crime de colarinho branco como fenômeno criminológico, em busca de uma maior compreensão das semelhanças e diferenças entre a criminalidade dos indivíduos das classes sociais mais baixas e a criminalidade dos indivíduos das classes mais altas, bem como do próprio fenômeno do crime organizado.

ABSTRACT: This article intends to present a general and systematic view on Edwin Sutherland’s ideas, emphasizing his theory of differential association and the characteristics of white collar crime as a criminological phenomenon, in search of a deeper understanding of the similarities and differences between the criminality of lower social class individuals and the criminality of upper-class individuals, as well as of the very phenomenon of organized crime.

PALAVRAS-CHAVE: Criminologia. Sutherland. Associação diferencial. Crime de colarinho branco. Underworld. Upperworld. Crime organizado.

KEYWORDS: Criminology. Sutherland. Differential association. White collar crime. Underworld. Upperworld. Organized crime.

1. Introdução

Concebida por Edwin Sutherland, a teoria da associação diferencial, embora não seja definitiva ou esteja acima de qualquer crítica ou questionamento – o que vale, em princípio, para toda e qualquer teoria –, é essencial para uma maior compreensão dos crimes associativos e, mais importante, do fenômeno do crime organizado. Foi introduzida pelo autor na edição de 1939 do seu livro Principles of criminology, sofrendo modificação na edição de 1947, o qual se tornaria the most influential textbook in the history of criminology.7

5 FERRO, Ana Luiza Almeida. Edwin Sutherland: o crime de colarinho branco e o crime

organizado. REVISTA JURIS, São Luís, v. 1, n. 1, p. 92-105, mar./abr. 2014. 6 Promotora de Justiça-MA, Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG), Professora da Universidade

Ceuma e da ESMP/MA, Membro efetivo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, da qual foi Presidente (biênio 2011-2013), Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Membro efetivo da Academia Ludovicense de Letras e da Academia Caxiense de Letras e Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica. Autora dos livros jurídicos: O Tribunal de Nuremberg (2002), Escusas absolutórias no Direito Penal (2003), Robert Merton e o Funcionalismo (2004), O crime de falso testemunho ou falsa perícia (2004), Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely (2008) e Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009), pela qual foi entrevistada no Programa do Jô. Também autora de quatro livros de poesias e de diversos artigos jurídicos e históricos e peças processuais publicados em revistas especializadas, entre as quais a Revista dos Tribunais e a Revista do IHGM.

7 “[...] o mais influente manual na história da Criminologia.” SUTHERLAND, EDWIN H. In: ENCYCLOPEDIA of Criminology. Routledge. Richard A. Wright and J. Mitchell Miller, Editors.

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2. A teoria da associação diferencial

Constrói Sutherland sua teoria8 com base em alguns pilares, princípios atinentes ao processo pelo qual uma determinada pessoa mergulha no comportamento criminoso:

a) o comportamento criminoso é aprendido, o que implica a dedução de que este não é herdado e de que a pessoa não treinada no crime não inventa tal comportamento, do mesmo modo que o indivíduo sem treinamento em Mecânica não cria invenções mecânicas;

b) o comportamento em tela é aprendido em interação com outras pessoas, em um processo de comunicação, que é, em muitos aspectos, verbal, o que não elimina a gestual;

c) a principal parte da aprendizagem do comportamento criminoso dá-se no interior de grupos pessoais privados, significando, em termos negativos, o papel relativamente desimportante desempenhado pelas agências impessoais de comunicação, do tipo dos filmes e jornais, na gênese do comportamento criminoso;

d) a aprendizagem de um comportamento criminoso abrange as técnicas de cometimento do crime, que são ora muito complexas, ora muito simples, assim como a orientação específica de motivos, impulsos, racionalizações9 e atitudes;

e) a orientação específica de motivos e impulsos é aprendida a partir de definições favoráveis ou desfavoráveis aos códigos legais, de maneira que, em algumas sociedades, o indivíduo está cercado por pessoas que invariavelmente percebem os códigos legais como normas de observância necessária, enquanto que, em outras, verifica-se o inverso, ele se encontra cercado por pessoas cujas definições apoiam a violação dos códigos legais, sendo que, na sociedade americana, quase sempre, essas definições se apresentam mescladas, resultando na ocorrência de conflito normativo no tocante aos códigos legais;

f) o fato de a pessoa se tornar delinquente se deve ao excesso de definições em favor da violação da lei sobre aquelas em oposição à infringência desta, constituindo este o princípio definidor da associação diferencial e reportando-se tanto a associações criminosas quanto a anticriminosas, sem deixar de incluir forças contrárias;10

Three-Volume Set. Disponível em: <http://cw.routledge.com/ref/criminology/sutherland.html>. Acesso em: 10 Feb. 2014. (Tradução nossa).

8 Ver, sobre o assunto, FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. Curitiba: Juruá, 2009. p. 149-168.

9 Consigna HOWARD BECKER que a maioria dos grupos desviantes possui uma razão fundamental autojustificante (a self-justifying rationale) ou uma “ideologia”, sendo uma de suas funções oferecer ao indivíduo razões que pareçam ser justas e justifiquem a continuidade da linha de atividade por ele iniciada. E arremata: A person who quiets his own doubts by adopting the rationale moves into a more principled and consistent kind of deviance than was possible for him before adopting it. BECKER, Howard S. Outsiders: studies in the sociology of deviance. New York: The Free Press, 1997. p. 38-39. “Uma pessoa que acalma suas próprias dúvidas ao adotar a razão fundamental se move para um tipo de comportamento desviante mais marcado por princípios e consistente do que lhe era possível antes de adotá-la.” (Tradução nossa).

10 Sobre esse princípio, esclarece EDWIN SUTHERLAND: The hypothesis of differential association is that criminal behavior is learned in association with those who define such criminal behavior favorably and in isolation from those who define it unfavorably, and that a person in an appropriate situation engages in such criminal behavior if, and only if, the weight of the favorable definitions exceeds the weight of the unfavorable definitions. SUTHERLAND, Edwin H. White collar crime: the uncut version. New Haven/London: Yale University Press, 1983. p. 240. “A hipótese da associação diferencial é que o comportamento criminoso é aprendido em associação com aqueles que definem tal comportamento

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g) as associações diferenciais podem variar em frequência, duração, prioridade e intensidade, significando dizer que as associações com o comportamento criminoso e igualmente aquelas com o comportamento anticriminoso sofrem variações nesses aspectos;

h) o processo de aprendizagem do comportamento criminoso por associação com padrões criminosos e anticriminosos envolve todos os mecanismos peculiares a qualquer outro processo de aprendizagem, acarretando, no plano negativo, a conclusão de que a aprendizagem do comportamento criminoso não está restrita ao processo de imitação, de feição que a pessoa seduzida, por exemplo, aprende o comportamento criminoso mediante associação, não sendo tal processo ordinariamente caracterizado como imitação;

i) o comportamento criminoso, conquanto traduza uma expressão de necessidades e valores gerais, não é explained by those general needs and values, since noncriminal behavior is an expression of the same needs and values.11

criminoso favoravelmente e em isolamento daqueles que o definem desfavoravelmente, e que uma pessoa em uma situação apropriada se envolve em tal comportamento criminoso se, e unicamente se, o peso das definições favoráveis excede o peso das definições desfavoráveis.” (Tradução nossa).

11 “[...] explicado por aquelas necessidades e valores gerais, uma vez que o comportamento não criminoso é uma expressão das mesmas necessidades e valores.” SUTHERLAND, Edwin H.; CRESSEY, Donald R.; LUCKENBILL, David F. Principles of criminology. 11th ed. New York: General Hall, 1992. p. 90. (Tradução nossa). EDWIN SUTHERLAND censura, por tal motivo, o esforço de vários estudiosos no sentido da formulação de explicação a respeito da conduta delitiva por meio de impulsos e valores gerais: Thieves generally steal in order to secure money, but likewise honest laborers work in order to secure money. The attempts by many scholars to explain criminal behavior by general drives and values, such as the happiness principle, striving for social status, the money motive, or frustration, have been, and continue to be, futile, since they explain lawful behavior as completely as they explain criminal behavior. Such drives and values are similar to respiration, which is necessary for any behavior but does not differentiate criminal from noncriminal behavior. Ibidem, p. 90. “Os ladrões geralmente furtam a fim de obter dinheiro, porém igualmente trabalhadores honestos trabalham a fim de obter dinheiro. Os esforços de muitos estudiosos para explicar o comportamento criminoso por impulsos e valores gerais, tais como o princípio da felicidade, a luta por status social, o motivo do dinheiro, ou a frustração, foram, e continuam a ser, vãs, já que eles explicam a conduta lícita tão completamente quanto eles explicam a conduta criminosa. Tais impulsos e valores são similares à respiração, que é necessária para qualquer comportamento, mas não diferencia o comportamento criminoso do não criminoso.” (Tradução nossa). Os nove princípios da teoria da associação diferencial elencados foram extraídos da citada obra Principles of criminology. Ibidem, p. 88-90. A associação diferencial é uma das construções teóricas arroladas entre as teorias da aprendizagem social ou social learning, para as quais “o comportamento delituoso se aprende do mesmo modo que o indivíduo aprende também outras condutas e atividades lícitas, em sua interação com pessoas e grupos e mediante um complexo processo de comunicação. O indivíduo aprende assim não só a conduta delitiva, senão também os próprios valores criminais, as técnicas comissivas e os mecanismos subjetivos de racionalização (justificação ou autojustificação) do comportamento desviado.” GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. A moderna Criminologia “científica” e os diversos modelos teóricos. Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Sociologia Criminal. In: GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 278. A pobreza e a classe social não constituem fatores suficientes para a explicação da tendência de alguém para o delito, no cenário das teorias da aprendizagem: Experts who study learning theory suggest that poverty and social class are not enough to explain one’s propensity for criminal activity. Persons learn how to become criminals and how to deal emotionally with the consequences of their acts. LYMAN, Michael D.; POTTER, Gary W. Organized crime. 2nd ed. New Jersey: Prentice Hall, 1999. p. 74. “Expertos que estudam a teoria da aprendizagem sugerem que a pobreza e a classe social não são suficientes para explicar a propensão de alguém para a atividade criminosa. As pessoas aprendem como se tornar criminosas e como lidar emocionalmente com as consequências dos seus atos.” (Tradução nossa).

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Entende Sutherland não ser necessário explicar porque as pessoas possuem determinadas associações, em razão da complexidade dos fatores em questão. Por ilustração, ele cita que um garoto sociável, expansivo e ativo, vivendo em uma área de elevada taxa de criminalidade, apresenta grande probabilidade de vir a travar contato com outros garotos do bairro, aprender padrões de comportamento criminoso com eles e, por último, se tornar, ele próprio, um delinquente. Por outro lado, um garoto emocionalmente perturbado, no mesmo bairro, que seja sozinho, introvertido e inativo, pode permanecer mais em casa, deixando de conhecer outros garotos do bairro e de se envolver em comportamento criminoso. Na terceira hipótese, o garoto sociável, expansivo e ativo pode virar escoteiro, jamais se engajando em atividades criminosas. Sua inferência é de que a definição das associações de uma pessoa acontece em um contexto geral de organização social, porquanto, conforme leciona, uma criança é geralmente criada em uma família, cujo lugar de residência depende largamente da renda familiar, não se olvidando a existência de relação entre a taxa de criminalidade da área e o valor de aluguel das casas, entre outros fatores da organização social que influenciam as associações de alguém.12

Em suma, todo comportamento, na visão do doutrinador, seja legal ou criminoso, é aprendido em decorrência de associações com outros,13 verificando-se a parte mais importante da aprendizagem no seio de grupos pessoais íntimos. O comportamento criminoso, embora denote necessidades e valores gerais, não é explicado por esses referenciais, já que o comportamento conformista, não criminoso, exprime iguais necessidades e valores. As fontes motivacionais do comportamento são, destarte, as mesmas tanto para o criminoso como para o conformista, respeitador da lei, repousando a diferença no fato de que a persecução dos objetivos, pelo primeiro, se faz com o emprego de meios ilícitos. A associação diferencial emerge, por conseguinte, como produto de socialização no qual o criminoso e o conformista são orientados por muitos princípios idênticos. As variáveis da frequência, duração, prioridade e intensidade da associação determinam o que é aprendido, sendo que, se são suficientes e as associações, criminosas, a pessoa aprende as técnicas de perpetração de delitos, além dos impulsos, atitudes, justificativas e racionalizações que compõem a congérie de pré-condições para o comportamento criminoso, significando que o desenvolvimento de

12 SUTHERLAND, Edwin H.; CRESSEY, Donald R.; LUCKENBILL, David F. Op. cit., p. 90. 13 Nessa linha, ensina HOWARD BECKER: Here it is sufficient to say that many kinds of deviant activity

spring from motives which are socially learned. Before engaging in the activity on a more or less regular basis, the person has no notion of the pleasures to be derived from it; he learns these in the course of interaction with more experienced deviants. He learns to be aware of new kinds of experiences and to think of them as pleasurable. What may well have been a random impulse to try something new becomes a settled taste for something already known and experienced. The vocabularies in which deviant motivations are phrased reveal that their users acquire them in interaction with other deviants. The individual learns, in short, to participate in a subculture organized around the particular deviant activity. BECKER, Howard S. Op. cit., p. 30-31. “Aqui é suficiente dizer que muitas espécies de atividade desviante jorram de motivos que são socialmente aprendidos. Antes de se engajar na atividade numa base mais ou menos regular, a pessoa não tem noção dos prazeres a serem derivados da mesma; ela os aprende no curso da interação com desviantes mais experientes. Ela aprende a dar-se conta de novas variedades de experiências e a pensar nelas como prazerosas. Aquilo que poderia bem ter sido um impulso fortuito para tentar alguma coisa nova se torna um gosto assentado por alguma coisa já conhecida e experimentada. Os vocabulários nos quais as motivações desviantes são expressas revelam que os seus usuários os adquirem em interação com outros desviantes. O indivíduo aprende, em resumo, a participar de uma subcultura organizada em torno da atividade desviante particular.” (Tradução nossa).

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uma predisposição favorável aos estilos de vida delinquentes é desencadeado pela aprendizagem desse conjunto de instrumentais.14

Michael Lyman e Gary Potter explicam que a propensão para o comportamento inovador (criminoso) depende da força das associações com outras pessoas:

Sutherland argues that criminal behavior occurs when definitions favorable to violation of the law exceed definitions unfavorable to violation of the law. Sutherland (1973) suggests that factors such as deprivation, limited access to legitimate alternatives, and exposure to innovative success models (i.e., pimps, gamblers, or drug dealers) create a susceptibility to criminal behavior.15

Salienta Howard Abadinsky, no cenário da associação diferencial, a relevância do ambiente socioeconômico propício à aprendizagem de técnicas da criminalidade sofisticada:

Learning the techniques of sophisticated criminality requires the proper environment – ecological niches or enclaves where delinquent/criminal subcultures [...] flourish and this education is available. In a capitalist society, socioeconomic differentials relegate some persons to an environment wherein they experience a compelling sense of strain – anomie – as well as differential association. In the environment where organized crime has traditionally thrived, strain is intense. Conditions of severe deprivation are coupled with readily available success models and associations that are innovative, such as racketeers and drug dealers. This makes certain enclaves characterized by social disorganization and delinquent/criminal subcultures spawning grounds for organized crime.16

3. O crime de colarinho branco sob a perspectiva criminológica

Todavia, Edwin Sutherland, em sua teoria da associação diferencial, não se concentra tão somente nas associações que determinam a criminalidade das classes baixas. Foi ele quem introduziu o termo white-collar crime (crime de colarinho branco) no mundo acadêmico – em discurso intitulado The white collar criminal, proferido à American Sociological Society (Sociedade Americana de Sociologia), como seu presidente, em 1939 –, que seria pouco a pouco incorporado à linguagem científica nos

14 Ver ABADINSKY, Howard. Organized crime. 7th ed. Belmont, California: Wadsworth, 2003. p. 34-

35; e LYMAN, Michael D.; POTTER, Gary W. Op. cit., p. 75-76. 15 “Sutherland argumenta que o comportamento criminoso ocorre quando definições favoráveis à violação

da lei excedem definições desfavoráveis à violação da lei. Sutherland (1973) sugere que fatores tais como privação, acesso limitado a alternativas legítimas e exposição a modelos de sucesso inovadores (isto é, proxenetas, jogadores ou traficantes de drogas) criam uma suscetibilidade ao comportamento criminoso.” Ibidem, p. 75. (Tradução nossa).

16 “Aprender as técnicas da criminalidade sofisticada requer o ambiente apropriado — nichos ou encraves ecológicos, onde as subculturas delinquentes/criminosas [...] florescem e esta educação está disponível. Em uma sociedade capitalista, os diferenciais socioeconômicos relegam algumas pessoas a um ambiente no qual elas experimentam uma sensação compelente de tensão — anomia — bem como a associação diferencial. No ambiente onde o crime organizado tem tradicionalmente prosperado, a tensão é intensa. Condições de privação aguda estão ligadas a modelos e associações de sucesso prontamente disponíveis, que são inovadoras, tais como criminosos organizados e traficantes de drogas. Isto torna certos encraves caracterizados pela desorganização social e por subculturas delinquentes/criminosas campos de desova para o crime organizado”. ABADINSKY, Howard. Op. cit., p. 35. (Tradução nossa).

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Estados Unidos e em vários outros países, a exemplo da França (crime en col blanc), da Itália (criminalità in coletti bianchi) e da Alemanha (Weisse-Kragen-Kriminalität). O seu ensaio sobre o crime de colarinho branco, no campo da Criminologia, publicado em 1949, constituiu a sensação editorial daquela década.

O argumento de sua obra White collar crime, aliás, é de que o comportamento criminoso não encontra uma explicação apropriada em patologias sociais – caso da pobreza, no sentido de necessidade econômica, e de outras causas a ela associadas, como habitação pobre, falta de educação e de recreações organizadas e disrupção na vida familiar – ou pessoais – primeiro, pela sequência evolutiva dos estudos, anormalidades biológicas, depois inferioridade intelectual e, mais recentemente, instabilidade emocional. O vetor causal mora nas relações sociais e interpessoais, ora associadas com a pobreza, ora com a riqueza, ora com ambas. O crime de colarinho branco, exempli gratia, não pode ser justificado pelo fator pobreza, nem tampouco por qualquer das patologias sociais ou pessoais que a acompanham. Mais ainda, o argumento é de que as pessoas situadas nos estratos socioeconômicos superiores se envolvem em muito comportamento criminoso, não sendo este, consequentemente, um fenômeno determinado pelo fator classe, nem mais nem menos associado às classes inferiores; e de que a distinção entre o comportamento criminoso nos primeiros e aquele relativo às últimas está principalmente nos procedimentos administrativos utilizados no tratamento dos transgressores.17

Para dar maior sustentação factual à sua tese referente aos delitos cometidos por pessoas do upperworld, adota como objeto de estudo as setenta maiores empresas americanas, nos ramos da manufatura, mineração e comércio, com alicerce nas listas das duzentas maiores corporações não financeiras nos Estados Unidos, elaboradas por Berle e Means em 1929 e pela Temporary National Economic Committee (Comissão Econômica Nacional Temporária) em 1938, mormente quanto às decisões dos tribunais e comissões administrativas contra aquelas, levando em consideração espécies de violações da lei como a concorrência desleal, a propaganda enganosa, as infrações contra o privilégio de invenção, as marcas de indústria e comércio e os direitos autorais, as práticas desleais na seara das normas trabalhistas, a fraude financeira, as infrações às regulamentações de guerra, entre outras, algumas apropriadamente tidas como delitos e outras estreitamente aparentadas com o comportamento criminoso, contra uma ou mais classes de vítimas, tais como os consumidores, os concorrentes, os acionistas e outros investidores, os inventores, os empregados e o próprio Estado, na forma de fraudes no terreno tributário e de suborno de servidores públicos.

Como resultado de sua análise, verifica que 779 das 980 decisões contrárias às setenta corporações selecionadas atestavam a prática de crimes e que tal criminalidade não era evidenciada pelos procedimentos convencionais inerentes ao Direito penal, contudo, ao contrário, encoberta por procedimentos especiais, de sorte a proporcionar a supressão ou, pelo menos, a minimização do estigma do delito.18 Nesse sentido, acusa semelhança entre o crime de colarinho branco e a delinquência juvenil, posto que, em ambos os casos, identifica a ocorrência de alteração dos procedimentos próprios do Direito penal, objetivando evitar a atribuição do estigma do crime aos ofensores. Em sequência, porém, admite que a atenuação ou eliminação do estigma tem sido menos eficaz no caso da delinquência juvenil do que no da criminalidade do “colarinho branco”, em função do fato de os procedimentos para a primeira representarem um

17 Ver SUTHERLAND, Edwin H. Op. cit., p. 5-7. 18 Ibidem, p. 52-53.

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desvio menos completo em cotejo com os procedimentos penais convencionais, de a maioria dos delinquentes juvenis pertencer à classe social inferior e de os jovens não serem organizados para a proteção de suas reputações, motivo pelo qual permanece-lhes o estigma do ilícito, bem como a inclusão no âmbito de abordagem das teorias sobre a conduta criminosa e, mesmo, a expressiva participação em termos de dados para investigação criminológica. Já na criminalidade do “colarinho branco”, os símbolos externos se encontram mais eficazmente apagados, razão pela qual tais delitos têm sido excluídos como alvo de estudo da Criminologia, não obstante tais símbolos não ostentarem o poder de lhes retirar o caráter delitivo.19

No trecho adiante transcrito, Sutherland ressalta o efeito neutralizador da estigmatização do crime propiciado pela aplicação diferencial da lei no caso das empresas e fornece exemplo de sua concretização nos Estados Unidos:

This differential implementation of the law as applied to the crimes of corporations eliminates or at least minimizes the stigma of crime. This differential implementation of the law began with the Sherman Antitrust Act of 1890. As previously described, this law is explicitly a criminal law and a violation of the law is a misdemeanor no matter what procedure is used. The customary policy would have been to rely entirely on criminal prosecution as the method of enforcement. But a clever invention was made in the provision of an injunction to enforce a criminal law; this was an invention in that it was a direct reversal of previous case law. Also, private parties were encouraged by treble damages to enforce a criminal law by suits in civil courts. In either case, the defendant did not appear in the criminal court and the fact that he had committed a crime did not appear on the face of the proceedings.

The Sherman Antitrust Act, in this respect, became the model in practically all the subsequent procedures authorized to deal with the crimes of corporations.20

19 Ibidem, p. 55. 20 “Esta implementação diferencial da lei como aplicada aos crimes das corporações elimina ou, pelo

menos, minimiza o estigma do crime. Esta implementação diferencial da lei começou com a Lei Antitruste de Sherman, de 1890. Como anteriormente descrito, esta lei é explicitamente uma lei penal e uma violação da lei é uma contravenção não obstante qual procedimento seja usado. A política costumeira teria sido contar inteiramente com a persecução penal como o método de cumprimento da lei. Mas uma engenhosa invenção foi feita na prescrição de um remédio jurídico para aplicar uma lei penal; isto foi uma invenção que representou uma reversão direta da jurisprudência anterior. Ademais, partes privadas foram encorajadas por altos prejuízos a executar uma lei penal por meio de ações nos tribunais cíveis. Em qualquer caso, o réu não aparecia na corte penal e o fato de que ele havia cometido um crime não aparecia diante dos procedimentos. A Lei Antitruste de Sherman, neste pormenor, tornou-se o modelo em praticamente todos os procedimentos subsequentes autorizados a lidar com os crimes das corporações.” Ibidem, p. 53-54. (Tradução nossa). Deveras oportuna é a asserção de MICHEL FOUCAULT: “Ora, essa delinqüência própria à riqueza é tolerada pelas leis, e, quando lhe acontece cair em seus domínios, ela está segura da indulgência dos tribunais e da discrição da imprensa.” Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 1987. p. 239. Igualmente merece referência a observação de FLÁVIA SCHILLING sobre o mecanismo das “ilegalidades toleradas”, em comentário ao pensamento do célebre filósofo gaulês: “As ilegalidades toleradas funcionariam nos interstícios das leis, apresentando uma heterogeneidade de modalidades, encaixando-se no jogo das tensões entre os ordenamentos legais, as práticas e técnicas administrativas e o que cada sociedade vai reconhecendo como normal e anormal, lícito ou ilícito, legítimo ou ilegítimo.” Corrupção, crime organizado e democracia. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 9, n. 36, p. 402, out./dez. 2001.

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O seu conceito de white collar crime, avisa o criminólogo, não tem a pretensão de ser definitivo, mas precisamente de atrair a atenção para ilícitos que não são comumente incluídos no terreno das investigações criminológicas, conquanto devessem. Segundo ele, tal crime may be defined approximately as a crime committed by a person of respectability and high social status in the course of his occupation.21

Hermann Mannheim vê cinco elementos no conceito de Sutherland:

Embora SUTHERLAND acentuasse que a sua definição de crime de colarinhos brancos era apenas “aproximada”, a verdade é que ela tem sido, em geral, pacificamente aceite. Consta de cinco elementos: a) é um crime; b) cometido por pessoas respeitáveis e c) com elevado status social; d) no exercício da sua profissão. Para além disso, constitui, normalmente, uma violação da confiança.22

Na concepção de Edwin Sutherland, três fatores podem explicar a implementação diferencial da lei penal no concernente às grandes corporações. São eles o status do homem de negócios, a tendência ao não uso de métodos penais e o ressentimento relativamente inorganizado do público contra crimes de colarinho branco.

Quanto ao primeiro fator, defende ele que, exprimindo os métodos utilizados no cumprimento de qualquer lei uma adaptação das características dos prováveis infringentes da lei, de acordo com as apreciações dos legisladores e das pessoas ligadas à engrenagem da Justiça, as apreciações relativas aos homens de negócios, visivelmente os prováveis infringentes das leis que reprimem o crime de colarinho branco, revelam um amálgama de medo e admiração. O medo dos responsáveis pelo sistema da Justiça penal é de hostilizar os homens de negócios, em face de seu poder econômico e de sua capacidade de represália. A admiração tem suas raízes na homogeneidade cultural que 21 “[...] pode ser definido aproximadamente como um crime cometido por uma pessoa de respeitabilidade

e elevado status social no desempenho de sua ocupação.” SUTHERLAND, Edwin H. Op. cit., p. 7. (Tradução nossa). Face ao teor de sua formulação, o criminólogo afasta do alcance de seu conceito muitos delitos da classe superior, tais como a maioria dos casos de homicídio, intoxicação ou adultério, porquanto não integram a rotina profissional, o mesmo se verificando em relação às fraudes, do tipo conto do vigário, executadas por opulentos membros do submundo, por não serem consideradas pessoas dotadas de respeitabilidade ou alto status social. Cf. ibidem, p. 7.

22 MANNHEIM, Hermann. Criminologia comparada. Tradução de J. F. Faria Costa e M. Costa Andrade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, [1984-85]. v. 2, p. 724. Ele ainda aproveita para chamar a atenção para o sentido extensivo que a expressão “crime de colarinho branco” ganha no mundo anglo-saxão: “Por outro lado, nas suas referências a casos paradigmáticos, o próprio SUTHERLAND foi, de forma muito consciente, além do campo das grandes sociedades e dos delinquentes de elevado estatuto social, incluindo fraudes ou furtos praticados por pessoas da classe média como empregados bancários de baixos salários, proprietários de pequenas oficinas de reparação de automóveis, relógios, rádios, máquinas de escrever ou vendedores destes produtos. A utilização da expressão “colarinhos brancos” com este alcance está perfeitamente sintonizada com o significado que genericamente lhe é atribuído nos Estados Unidos e na Inglaterra.” Ibidem, p. 727. Todavia, examinando o conceito do crime do colarinho branco em Edwin Sutherland, GILBERT GEIS assinala que, para ele, o que sobressai é uma impressão de que o autor was most concerned with the illegal abuse of power by upper-echelon businessmen in the service of their corporations, by high-ranking politicians against their codes of conduct and their constituencies, and by professional persons against the government and against their clients and patients. GEIS, Gilbert. White-collar crime: what is it? In: SHICHOR, David; GAINES, Larry; BALL, Richard (Org.). Readings in white-collar crime. Prospect Heights, Illinois: Waveland Press, 2002. p. 10-11. Isto é, “estava mais preocupado com o abuso ilegal de poder por homens de negócios dos escalões mais altos, a serviço de suas empresas, por políticos de alta posição contra seus códigos de conduta e seu eleitorado, e por profissionais contra o governo e contra seus clientes e pacientes.” (Tradução nossa).

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os legisladores e magistrados compartilham com os homens de negócios, pois os legisladores, por exemplo, admiram e respeitam estes últimos, não podendo visualizá-los como criminosos, dado que não combinam com o estereótipo popular do “criminoso”, e julgando que estes homens de “respeitabilidade” se conformarão à lei como resultado de pressões muito suaves.

No tocante ao segundo fator, o autor pontifica que a tendência à não utilização ou à diminuição do espaço de métodos penais, cujo avanço mais rápido deu-se exatamente na seara dos crimes de colarinho branco em contraste com outras infrações, é geralmente identificada nas seguintes medidas: o abandono de penalidades extremas como morte e tortura, a substituição de métodos penais convencionais por métodos não penais do gênero da suspensão condicional da pena e a suplementação de métodos penais por métodos não penais, a exemplo das políticas educacionais no interior das prisões. Esta tendência se deve, prossegue o sociólogo, a um conjunto de mudanças sociais, representadas no ampliado poder da camada socioeconômica mais baixa, alvo tradicional das penalidades; na inclusão no âmbito da legislação penal de uma parte significativa do estrato socioeconômico mais alto; na maior interação social entre as classes, ocasionando um clima de maior compreensão e solidariedade; no insucesso dos métodos penais para ensejar quedas substanciais nas taxas de criminalidade; e na fragilização da concepção psicológica que destacava o emprego da dor no controle do comportamento.

Finalmente, sobre o terceiro fator, o do ressentimento relativamente inorganizado do público contra delitos de colarinho branco, aponta o doutrinador três razões para a natureza diversa da relação entre a lei e os costumes nessa esfera:

a) as violações da lei por homens de negócios possuem cunho complexo – não configurando ataque simples e direto de uma pessoa contra outra, como o são as lesões corporais –, com efeitos difusos, que podem se espalhar por um longo período de tempo e alcançar uma altíssima quantidade de pessoas, sem que alguém, em particular, sofra muito, em um determinado tempo, e demandando, em muitas situações de crimes de colarinho branco, a apreciação por parte de peritos nos ramos profissionais da verificação do fato sob investigação;

b) os meios de comunicação não expressam os sentimentos morais organizados da comunidade em relação aos crimes de colarinho branco, parcialmente em função da complexidade destes e da dificuldade de apresentá-los como notícias, contudo possivelmente muito mais em virtude do fato de tais agências pertencerem a homens de negócios ou serem por eles controladas e de elas próprias se envolverem nas violações de muitas das leis em causa;

c) as normas regendo o mundo dos negócios e os delitos relacionados se encontram situados em uma parte relativamente nova e especializada das legislações, ao passo que os crimes tradicionais permanecem insertos no corpo dos códigos penais regulares, recebendo estes ilícitos a maior atenção dos professores de Direito penal, os quais têm negligenciado o conhecimento da maior parte do Direito penal do Estado moderno, sendo que, de maneira semelhante, o público em geral usualmente não tem consciência de muitas das disposições especializadas, daí decorrendo a falta de organização do ressentimento do público.23

23 Sobre os três fatores apresentados, determinantes da implementação diferencial da lei penal quanto aos

crimes e criminosos de colarinho branco, ver SUTHERLAND, Edwin H. Op. cit., p. 56-60.

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Além disso, aduz Sutherland que os princípios que embasavam a posição contrária à admissibilidade da responsabilidade penal das empresas sofreram reversão nos tribunais americanos, passando a permitir a condenação frequente destas, por crimes como homicídio culposo, furto e destruição de propriedade, entre muitos outros:

Such decisions involved reversal of the three principles on which the earlier decisions were based. First, the corporation is not merely a legislative artifact. Associations of persons existed prior to the law and some of these associations have been recognized as entities by legislatures. These corporations and other associations are instrumental in influencing legislation. Consequently legislation is in part an artifact of corporations, just as corporations are in part an artifact of legislatures. Second, the requirement that criminal intent be demonstrated has been eliminated from an increasing number of criminal laws [...]. Third, the location of responsibility has been extremely difficult in many parts of modern society, and responsibility is certainly a much more complicated concept than is ordinarily believed. The old employers’s liability laws, which were based on the principle of individual responsibility, broke down because responsibility for industrial accidents could not be located. [...] Some attention has been given to the location of responsibility for decisions in the large corporations. Although responsibility for actions of particular types may be located, power to modify such actions lies also at various other points. Due largely to the complexity of this concept, the question of individual responsibility is frequently waived and penalties are imposed on corporations. This does, to be sure, affect the stockholder who may have almost no power in making decisions as to policy, but the same thing is true of other penalties which have been suggested as substitutes for fines on corporations, namely, dissolution of the corporation, suspension of business for a specified period, restriction of sphere of action of the corporation, confiscation of goods, publicity, surety for good behavior, and supervision by the court.24

Aludindo à referência de Thorstein Veblen ao “homem pecuniário ideal” e ao “delinquente ideal”, Sutherland comenta que o primeiro expressa a cultura especial do mundo dos negócios, enquanto o segundo exemplifica a cultura especial do submundo,

24 “Tais decisões envolveram a reversão dos três princípios nos quais as decisões anteriores estavam

baseadas. Primeiro, a corporação não é meramente um artefato legislativo. Associações de pessoas existiram antes da lei e algumas destas associações foram reconhecidas como entidades pelas legislaturas. Estas corporações e outras associações são instrumentais em influenciar a legislação. Consequentemente, a legislação é em parte um artefato das corporações, exatamente como as corporações são em parte um artefato das legislaturas. Segundo, o requisito de que o dolo seja demonstrado tem sido eliminado de um crescente número de leis penais [...]. Terceiro, a localização da responsabilidade tem sido extremamente difícil em muitas partes da sociedade moderna, e a responsabilidade é certamente um conceito muito mais complicado do que ordinariamente se acredita. As velhas leis sobre a responsabilidade dos empregadores, que eram baseadas no princípio da responsabilidade individual, sucumbiram porque a responsabilidade por acidentes industriais não podia ser localizada. [...] Alguma atenção tem sido dada à localização da responsabilidade por decisões nas grandes corporações. Embora a responsabilidade por ações de tipos particulares possa ser localizada, o poder de modificar tais ações encontra-se também em vários outros pontos. Devido largamente à complexidade deste conceito, a questão da responsabilidade individual é frequentemente posta de lado e as penas são impostas às corporações. Isto efetivamente, sem dúvida, afeta o acionista que pode não ter qualquer poder em tomar decisões no que tange à política, mas a mesma coisa é verdade em relação a outras penas que têm sido sugeridas como substitutos para multas impostas às corporações, isto é, a dissolução da empresa, a suspensão das atividades por um período especificado, a restrição da esfera de ação da empresa, o confisco de mercadorias, a publicidade, a fiança por bom comportamento e a supervisão pela corte.” Ibidem, p. 61-62. (Tradução nossa).

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tendo como melhor agente o ladrão profissional,25 e passa a firmar semelhanças e diferenças entre esses dois tipos de criminalidade e os seus respectivos protagonistas.

Para ele, em primeiro lugar, no respeitante às similaridades, tanto a criminalidade das corporações quanto a dos ladrões profissionais são persistentes, de modo que existe grande proporção de reincidentes entre os transgressores. O criminólogo observa que nenhuma das medidas aplicadas aos homens de negócios por violação da lei tem sido muito efetiva no propósito de reabilitá-los ou de desestimular outros a práticas assemelhadas.

O segundo ponto reside no reconhecimento de que o comportamento ilícito é muito mais extensivo do que revelam as ações penais e as petições iniciais, querendo dizer, por exemplo, que muitos tipos de violação da lei são praticados pela grande maioria das empresas e indústrias, não traduzindo condutas isoladas de um ou alguns homens de negócios colhidos na malha da Justiça, mas práticas reiteradas de muitos, nem sempre processados.

O terceiro ponto encontra-se na constatação de que o homem de negócios violador das leis reguladoras do mundo dos “colarinhos brancos” frequentemente não perde status entre seus colegas, cujas reações são muitas vezes de admiração pelas práticas do smart man. O princípio geral usualmente invocado é o da violação do código legal não implicar necessariamente a violação do código dos negócios, de sorte que a perda de prestígio está vinculada à infração do código de negócios e não à infração do código legal, exceto quando coincidentes.

Um quarto traço que aproxima os homens de negócios dos ladrões profissionais está na atitude de desrespeito dos dois grupos no tocante à lei, ao governo e a membros da estrutura do Estado. Os primeiros costumeiramente sentem e expressam menosprezo pela lei, pelo governo e seu pessoal, ao passo que os últimos exibem o mesmo desprezo pela lei, e ainda por policiais, promotores de justiça e magistrados. Esse desprezo pela lei, compartilhado por ambas as categorias, nutre-se do fato de que esta lhes veda o comportamento reprovado. No caso dos homens de negócios, o pessoal do governo lhes parece uma equipe de políticos e burocratas e as pessoas com autorização para a investigação das práticas de negócios, bisbilhoteiros. Esses homens de “colarinho

25 A. MACK reporta-se a alguns traços do criminoso profissional na concepção inspirada por Edwin

Sutherland: Cependant nous estimons que les définitions que l’on trouve dans la plupart des écrits théoriques, à la suite de Sutherland, sont encore pleinement valables; c’est-à-dire que les criminels professionnels constituent une élite, une toute petite fraction admirée et faisant partie d’un groupe plus large de malfaiteurs à plein temps; et que le statut de cette élite a été acquis à la suite d’une formation dispensée par leurs supérieurs, ce qui en a fait des spécialistes. Il y a également dans la signification du terme la notion d’intelligence supérieure, ou du moins celle d’un jugement pratique supérieure, qui permet à celui qui en jouit d’éviter les risques du métier, tel l’emprisonnement, plus fréquemment que les autres criminels moins doués. MACK, J. A. Le crime professionnel et l’organisation du crime. Revue de science criminelle et de droit pénal comparé, Paris, n. 1, p. 7, jan./mars 1977. “Contudo, estimamos que as definições que encontramos na maior parte dos escritos teóricos, seguindo Sutherland, são ainda plenamente valiosas; tal quer dizer que os criminosos profissionais constituem uma elite, uma pequenina fração admirada e fazendo parte de um grupo maior de malfeitores em tempo integral; e que o estatuto desta elite foi obtido como resultado de uma formação dispensada pelos seus superiores, o que fez deles especialistas. Há igualmente na significação do termo a noção de inteligência superior, ou pelo menos aquela de um julgamento prático superior, que permite àquele que dele desfruta evitar os riscos do ofício, tal como a prisão, mais frequentemente que os outros criminosos menos dotados.” (Tradução nossa). Por outro lado, ele defende que o principal defeito do estereótipo agasalhado no vocábulo “profissional” encontra-se no fato de este centralizar a atenção na pessoa e na personalidade do criminoso, em detrimento da atenção que deve ser dispensada ao elemento organizacional nos ilícitos maiores. Ibidem, p. 7-8.

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branco”, que, muitas vezes, encaram a promulgação de uma lei e não a sua violação como o verdadeiro crime, acreditam que quanto menos governo melhor, salvo quando pretendem obter favores especiais deste.

Ainda no domínio das semelhanças, Sutherland indica três aspectos da racionalidade da corporação quanto ao comportamento ilícito. Primeiramente, as empresas levam em conta dois fatores principais para a escolha dos delitos: o menor perigo destes serem detectados e identificados e a seleção de vítimas com menor probabilidade de reação. Tanto os crimes das corporações como os furtos profissionais são cuidadosamente selecionados, sendo perpetrados contra vítimas consideradas fracas como oponentes. No atinente aos crimes das empresas, suas vítimas raramente se encontram em situação de travar luta contra a direção daquelas. Os consumidores encontram-se espalhados e desorganizados, além de carecerem de informação objetiva, e os acionistas, similarmente, raramente conhecem os procedimentos complexos das corporações às quais estão ligados, além de receberem pouca informação referente às políticas ou à condição financeira dessas empresas.

Diz respeito o segundo aspecto à escolha de ilícitos de difícil prova, quer no universo dos criminosos de colarinho branco, quer no dos ladrões profissionais. O ramo da publicidade é um bom exemplo, porquanto, uma vez que um pouco de propaganda exageradamente elogiosa é admitida como justificável, há dificuldade quanto à consecução de prova atestando o uso de propaganda exageradamente elogiosa desarrazoada.

Quanto ao terceiro aspecto, o doutrinador lembra a política das corporações de “dar um jeito” nos casos e processos, à semelhança dos ladrões profissionais que confiam no dinheiro e na boa relação com um mediador eficiente perante os canais próprios, para explorar uma peça fraca no mecanismo das pessoas necessárias a uma condenação. Como exemplos concretos, o órgão federal da Food and Drug Administration (Administração de Alimentos e Drogas) já sofreu pressões de senadores e deputados, com ameaças de corte de verbas, para impedir a aplicação da lei no relativo a determinadas pessoas e, após a Primeira Grande Guerra Mundial, por causa da atuação dinâmica da Federal Trade Commission (Comissão Federal do Comércio), o Presidente dos Estados Unidos, procurado por representantes de grandes empresas, substituiu alguns membros da aludida comissão por outros mais solidários com as práticas do reino dos negócios, provocando o indeferimento de pleitos formulados contra muitas corporações. Outra tática utilizada é a do suborno. E a costumeira prática das empresas de fazer um acordo com acionistas minoritários, quando estes propõem uma ação contra a administração destas, faz lembrar a indenização do ladrão profissional ao ofendido, pelo furto executado, com o intuito de deter a persecução penal.26

Por derradeiro, Edwin Sutherland não esquece as diferenças entre o crime de colarinho branco e o furto profissional, garantindo que as principais dizem respeito às concepções dos transgressores sobre si próprios e às concepções do público sobre estes:

The professional thief conceives of himself as a criminal and is so conceived by the general public. Since he has no desire for a favorable public reputation, he takes pride in his reputation as a criminal. The businessman, on the other hand, thinks of

26 Sobre as similaridades apresentadas, entre a criminalidade dos agentes do “colarinho branco” e a dos

ladrões profissionais, ver SUTHERLAND, Edwin H. Op. cit., p. 227-229; 236-239.

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himself as a respectable citizen and, by and large, is so regarded by the general public.27

Consoante o autor, os homens de negócios não se enxergam como enquadrados no estereótipo do “criminoso”, mesmo quando violam a lei. Por outro prisma, habitualmente pensam em si mesmos como “violadores da lei” – um indubitável eufemismo –, entretanto o fazem com orgulho, vangloriando-se, em seu círculo privado, pela prática de tais violações, porque a lei e não a sua infringência é que lhes parece reprovável. São apoiados por seus colegas nas violações em tela, o que lhes assegura uma consciência que geralmente não lhes incomoda. O sentimento de vergonha pelas práticas de negócios desleais, quando existente, parece reservado, mais frequentemente, aos homens de negócios mais jovens, por não haverem assimilado ainda, totalmente, a mentalidade e as atitudes peculiares ao universo dos negócios.

Expõe o criminólogo que a ideia de alguém sobre si próprio como criminoso se funda numa caracterização geral e num tipo ideal. Como, continua ele, dois dos fatores mais determinantes para a identificação do eu com o tipo ideal correspondem ao tratamento oficial como criminoso e à associação pessoal íntima com aqueles que veem a si mesmos como criminosos, a ilação é de que o criminoso do “colarinho branco” não se julga um criminoso, pois ele não é submetido aos mesmos procedimentos oficiais destinados a outros violadores da lei e, graças ao seu status social, não se envolve e não é envolvido em associação pessoal íntima com aqueles que se autodenominam criminosos.

Não são unicamente os homens de negócios que rejeitam a identificação como criminosos; o público também, geralmente, lhes nega o enquadramento no estereótipo, sendo a sua concepção associada algumas vezes à ideia do status, e este aparentemente baseado na detenção de poder. O público, certamente, não atribui ao homem de negócios, em princípio, o cultivo de altos padrões de honestidade e de escrupulosidade na observância da lei, porém, face ao seu status alicerçado no poder, não logra percebê-lo como criminoso, ou seja, o típico, como o ladrão profissional.28

Com o escopo de salvaguarda de suas reputações, os homens de negócios promovem justificativas e racionalizações – como a de que todo mundo faz propaganda exageradamente elogiosa de suas mercadorias, para descaracterizar o cunho reprochável da fraude na publicidade –, cuja função é a ocultação do fato do crime, repelindo, por exemplo, o emprego de palavras que denotem pejorativamente a natureza de suas práticas, como “desonesto” e “fraudulento”, e incentivando a sua substituição por palavras e expressões eufemísticas.29 Nesse sentido, o homem de negócios e o ladrão profissional se afastam:

27 “O ladrão profissional concebe a si mesmo como um criminoso e é assim concebido pelo público geral.

Uma vez que não tem qualquer desejo por uma reputação pública favorável, ele se orgulha de sua reputação como criminoso. O homem de negócios, por outro lado, pensa em si próprio como um cidadão respeitável e, de modo geral, é assim considerado pelo público geral.” Ibidem, p. 230. (Tradução nossa).

28 A propósito das diferenças expostas, entre a criminalidade dos agentes do “colarinho branco” e a dos ladrões profissionais, ver ibidem, p. 230-232.

29 LOUK HULSMAN, contudo no contexto de sua proposta abolicionista do sistema penal, é um dos autores que salientam o poder estigmatizante das palavras e a necessidade de mudança de linguagem, mas sem a conservação das velhas categorias nas novas palavras e expressões. HULSMAN, Louk; CELIS, Jacqueline Bernat de. Penas perdidas: o sistema penal em questão. Tradução de Maria Lúcia Karam. 2. ed. Niterói: Luam, 1997. p. 95-96.

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The policy of corporations is general public adherence to the law and secret defections from the law. In this respect the businessman is quite different from the professional thief. In professional theft the fact of crime is a matter of direct observation, and the important problem for the thief is to conceal his identity in order to avoid punishment but not in order to maintain his status in the general public. In white collar crime, on the other hand, the important problem for the criminal is to conceal the fact of crime, since the identity of the firm which violates the law is generally known.30

Outra estratégia dos homens de negócios em favor da proteção de suas reputações é o seu esforço no sentido de uma implementação diferente das leis a eles aplicáveis, mediante substituições dos procedimentos cabíveis por outros menos estigmatizantes, porquanto não desejam ser presos por policiais, nem ser obrigados ao comparecimento perante uma corte penal, ou tampouco ser condenados pela perpetração de crimes.

Para preservar o status e a concepção de não enquadramento no universo criminoso, as empresas igualmente empregam especialistas em Direito, assim como em relações públicas e propaganda. O porta-voz dos homens de negócios, que equivale ao advogado que defende o ladrão profissional contra acusações específicas, desempenha uma função de natureza bem mais inclusiva, que é a de influenciar a promulgação e a aplicação da lei no relativo a seus clientes, de antecipadamente recomendar a estes os métodos passíveis de uso com relativa impunidade e de defender os mesmos duplamente, tanto perante os tribunais, quanto perante o público, diante de acusações específicas que lhes forem feitas.31

De sua análise, conclui Sutherland que os delitos de colarinho branco não representam, em princípio, infrações isoladas e involuntárias de regulamentos técnicos – embora possam sê-lo, como exceção à regra –, contudo, ao contrário, são, em grande proporção, deliberados, com uma unidade relativamente consistente, e, mais que isso, são também organizados. Na compreensão do autor, a organização para o delito pode ser de dois tipos: formal ou informal, encontrando-se o primeiro, na hipótese dos ilícitos das empresas, exempli gratia, na concorrência desleal e nos esforços para o controle da legislação, a seleção de administradores e a limitação de verbas para a execução de leis que possam atingi-las, e o segundo, na formação de consenso entre homens de negócios, voltado, por ilustração, para a prática da concorrência desleal. Daí o seu entendimento do delito de colarinho branco como “crime organizado”.32

Um trecho que bem aglutina as ideias do sociólogo sobre o crime de colarinho branco como “crime organizado” é o que ora reproduzimos:

Evidence has been presented in previous chapters that crimes of business are organized crimes. This evidence includes references not only to gentlemen’s agreements, pools, trade associations, patent agreements, cartels, conferences, and

30 “A política das corporações é adesão pública geral à lei e defecções secretas da lei. Neste aspecto, o

homem de negócios é inteiramente diferente do ladrão profissional. No furto profissional, o fato do crime é uma questão de observação direta e o problema importante para o ladrão é ocultar sua identidade a fim de evitar a punição, mas não para manter seu status perante o público geral. No crime de colarinho branco, por outro lado, o problema importante para o criminoso é ocultar o fato do crime, uma vez que a identidade da firma que viola a lei é geralmente conhecida.” SUTHERLAND, Edwin H. Op. cit., p. 232. (Tradução nossa).

31 Ver ibidem, p 233-234. 32 Ver ibidem, p. 227; 229; 239.

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other informal understandings, but also to the tentacles which business throws out into the government and the public for the control of those portions of the society.33

Em um dos capítulos finais de sua obra White collar crime, o doutrinador sustenta que os dados disponíveis, conquanto não permitam uma explicação absoluta do delito de colarinho branco, sugerem que a gênese deste reside no mesmo processo geral aplicável a outras modalidades de comportamento criminoso, ou seja, a associação diferencial,34 que, na sua visão, a despeito de não oferecer, como hipótese, uma

33 “Evidência foi apresentada nos capítulos anteriores de que os crimes de negócios são crimes

organizados. Esta evidência inclui referências não apenas a acordos de cavalheiros, trustes, associações comerciais, acordos de patentes, cartéis, reuniões e outros entendimentos informais, mas também aos tentáculos que a empresa lança sobre o governo e o público pelo controle daquelas porções da sociedade.” Ibidem, p. 256. (Tradução nossa). É claro que o sentido que Edwin Sutherland empresta à expressão “crime organizado” não coincide exatamente com a concepção de crime organizado fundada na definição de organização criminosa contida no art. 1º, § 1º, da novel Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, no caso brasileiro: “Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.” Nem tampouco com a que propugnamos a partir do conceito de organização criminosa que formulamos: “Cremos, então, que a organização criminosa pode ser conceituada como a associação estável de três ou mais pessoas, de caráter permanente, com estrutura empresarial, padrão hierárquico e divisão de tarefas, que, valendo-se de instrumentos e recursos tecnológicos sofisticados, sob o signo de valores compartilhados por uma parcela social, objetiva a perpetração de infrações penais, geralmente de elevada lesividade social, com grande capacidade de cometimento de fraude difusa, pelo escopo prioritário de lucro e poder a ele relacionado, mediante a utilização de meios intimidatórios, como violência e ameaças, e, sobretudo, o estabelecimento de conexão estrutural ou funcional com o Poder Público ou com algum(ns) de seus agentes, especialmente via corrupção – para assegurar a impunidade, pela neutralização da ação dos órgãos de controle social e persecução penal –, o fornecimento de bens e serviços ilícitos e a infiltração na economia legal, por intermédio do uso de empresas legítimas, sendo ainda caracterizada pela territorialidade, formação de uma rede de conexões com outras associações ilícitas, instituições e setores comunitários e tendência à expansão e à transnacionalidade, eventualmente ofertando prestações sociais a comunidades negligenciadas pelo Estado. E crime organizado é a espécie de macrocriminalidade perpetrada pela organização criminosa.” FERRO, Ana Luiza Almeida. Op. cit., p. 499. Mas o sentido dado por Sutherland oferece relevantes subsídios para a compreensão do fenômeno do crime de colarinho branco dentro do contexto do crime organizado, particularmente quanto às alusões do sociólogo às estratégias do mundo dos negócios com o objetivo de controlar o governo e o público em benefício de seus interesses.

34 A associação diferencial é descrita por EDWIN SUTHERLAND nestes termos: When persons become criminal, they do so because of contacts with criminal behavior patterns and also because of isolation from anticriminal behavior patterns. Any person inevitably assimilates the surrounding culture unless other patterns are in conflict; thus a southerner does not pronounce r because other southerners do not pronounce r. Negatively, this proposition of differential association means that associations which are neutral as far as crime is concerned have little or no effect on the genesis of criminal behavior. Much of the experience of a person is neutral in this sense, such as learning to brush one’s teeth. This behavior has no positive or negative effect on criminal behavior except as it may be related to associations which are concerned with the legal codes. Such neutral behavior is important especially in occupying the time of a child so that he or she is not in contact with criminal behavior while engaged in the neutral behavior. SUTHERLAND, Edwin H.; CRESSEY, Donald R.; LUCKENBILL, David F. Op. cit., p. 89. “Quando as pessoas se tornam criminosas, elas o fazem devido a contatos com padrões de comportamento criminoso e também devido ao isolamento em relação a padrões de comportamento anticriminoso. Qualquer pessoa inevitavelmente assimila a cultura circundante a menos que outros padrões estejam em conflito; por conseguinte, um sulista não pronuncia r porque outros sulistas não pronunciam r. Negativamente, esta proposição da associação diferencial significa que as associações que são neutras no que diz respeito ao crime têm pouco ou nenhum efeito sobre a gênese da conduta criminosa. Muito da experiência de uma pessoa é neutro neste sentido, tal como aprender a escovar os dentes. Este comportamento não tem qualquer efeito positivo ou negativo sobre a conduta criminosa

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explicação total ou absoluta do fenômeno do delito de colarinho branco ou de qualquer outro ilícito, é talvez a que melhor se amolda aos dados sobre tais infrações penais, em cotejo com outras hipóteses gerais.35

Estabelecido este ponto, ele passa a desenvolver uma teoria sobre o crime de colarinho branco, aproveitando para exibir, em dado momento, a anatomia simplificada da associação diferencial no caso do criminoso em causa:

White collar criminals, like professional thieves, are seldom recruited from juvenile delinquents. As a part of the process of learning practical business, a young man with idealism and thoughtfulness for others is inducted into white collar crime. In many cases he is ordered by managers to do things which he regards as unethical or illegal, while in other cases he learns from those who have the same rank as his own how they make a success. He learns specific techniques of violating the law, together with definitions of situations in which those techniques may be used. Also, he develops a general ideology. This ideology grows in part out of the specific practices and is in the nature of generalization from concrete experiences, but in part it is transmitted as a generalization by phrases such as “We are not in business for our health,” “Business is business,” and “No business was ever built on the beatitudes.” These generalizations, whether transmitted as such or constructed from concrete practices, assist the neophyte in business to accept the illegal practices and provide rationalizations for them.36

Constituindo um processo de associação diferencial, os homens de negócios, além de expostos a definições em prol do cometimento do delito de colarinho branco, encontram-se isolados de definições hostis a esse crime e protegidos contra estas. Mesmo crescendo em um lar onde a honestidade é firmada como virtude, tais ensinamentos domésticos guardam pouca relação explícita com as práticas dos negócios, até porque aqueles que as tacham de indesejáveis e ilícitas são habitualmente enquadrados como “comunistas” ou “socialistas”, o que praticamente lhes priva de qualquer poder de influência em suas definições.

Os meios de comunicação, embora continuem muitas vezes definindo as infrações comuns do Código Penal de uma maneira bastante crítica, não deferem o mesmo tratamento ao delito de colarinho branco e aos seus perpetradores, por várias razões,

exceto quando possa estar relacionado a associações que tratam dos códigos legais. Tal comportamento neutro é importante especialmente em ocupar o tempo de uma criança, de modo que ele ou ela não esteja em contato com a conduta criminosa enquanto envolvido no comportamento neutro.” (Tradução nossa).

35 SUTHERLAND, Edwin H. Op. cit., p. 240. 36 “Criminosos de colarinho branco, como ladrões profissionais, são raramente recrutados entre

delinquentes juvenis. Como parte do processo de aprendizagem dos negócios práticos, um jovem com idealismo e consideração pelos outros é iniciado no crime de colarinho branco. Em muitos casos, ele recebe ordens de gerentes para fazer coisas que ele considera antiéticas ou ilegais, enquanto em outros casos ele aprende daqueles que possuem a sua mesma graduação como fazer sucesso. Ele aprende técnicas específicas de violar a lei, juntamente com definições de situações em que aquelas técnicas podem ser usadas. Ademais, ele desenvolve uma ideologia geral. Esta ideologia cresce em parte pelas práticas específicas e está na natureza da generalização de experiências concretas, mas em parte é transmitida como uma generalização por expressões tais como ‘Não estamos no ramo de negócios pela nossa saúde’, ‘Negócios são negócios’ e ‘Jamais um negócio foi construído sobre as beatitudes’. Estas generalizações, quer transmitidas como tais ou construídas a partir de práticas concretas, ajudam o neófito nos negócios a aceitar as práticas ilegais e prover racionalizações para as mesmas.” Ibidem, p. 245. (Tradução nossa).

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entre as quais: a inegável homogeneidade existente nos padrões e princípios compartilhados pelos proprietários e dirigentes dos jornais de maior destaque e das corporações de radiodifusão e cinema, por ilustração, que representam grandes empresas capitalistas, e pelos dirigentes de outras corporações; o fato de a receita mais expressiva destas agências de comunicação derivar dos anúncios e demais instrumentos publicitários de outras empresas, ensejando uma eventual adoção de linha crítica das práticas dos negócios em geral ou de corporações específicas em uma provável perda de significativa parcela da receita mencionada; e o envolvimento das próprias empresas de comunicação em violações da lei classificáveis como delitos de colarinho branco, como concorrência desleal, propaganda enganosa e outras.

Não somente os meios de comunicação protegem os homens de negócios e suas empresas de severas críticas e da estigmatização do delito; igualmente membros da estrutura do Estado o fazem, de que é exemplo a implementação diferencial das leis, como a opção, no cenário americano, por procedimentos perante o Juízo de Equidade para homens de negócios acusados de concorrência desleal e por procedimentos penais para sindicalistas enfrentando acusações semelhantes.

Esta posição menos crítica dos integrantes do Estado e do governo em relação aos homens de “colarinho branco”, em confronto com o tratamento dispensado às pessoas da camada socioeconômica mais baixa, é produto, na avaliação de Sutherland, de diversas relações:

a) a homogeneidade cultural existente, de modo geral, entre os membros do governo e os homens de negócios, ambos pertencendo, no contexto americano, às classes mais altas da sociedade;

b) a presença de homens de negócios, como membros, nas famílias de muitos componentes do governo;

c) a frequente existência de amizade pessoal unindo muitos homens de negócios a integrantes do governo;

d) a presença de muitas pessoas em posições no governo, como executivos, diretores, advogados e outros, com ligações, no passado, com firmas e empresas;

e) o desejo de muitas pessoas no governo de garantir emprego nas firmas ou empresas depois do término de sua participação naquele;

f) o grande poder das corporações na sociedade americana, objeto de seu estudo, com sua capacidade de promover ou prejudicar os programas de interesse do governo;

g) a íntima conexão entre o programa do governo e os partidos políticos, cujo sucesso nas campanhas eleitorais depende da contribuição de grandes somas oriundas de importantes homens de negócios.37

O sociólogo faz um paralelo entre a associação diferencial, vista como uma explicação hipotética do crime pelo prisma do processo pelo qual ocorre a iniciação de uma pessoa no universo do delito, e a desorganização social, encarada como uma explicação hipotética do fenômeno criminoso pela ótica da sociedade, sendo uma

37 Ver ibidem., p. 250-252. O autor sintetiza as relações determinantes da posição menos crítica dos

membros do governo contra os homens de “colarinho branco”, ipsis litteris: Thus, the initial cultural homogeneity, the close personal relationships, and the power relationships protect businessmen against critical definitions by government. Ibidem, p. 252. “Assim, a homogeneidade cultural inicial, as relações pessoais íntimas e as relações de poder protegem os homens de negócios contra definições críticas pelo governo.” (Tradução nossa).

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compatível com a outra, de sorte a funcionarem como contraparte uma da outra, e aplicando-se ambas aos delitos em geral, inclusive o de “colarinho branco”.38

Por fim, Sutherland constata a pouca importância das leis no controle do comportamento no mundo dos negócios, exceto se apoiadas por uma administração com disposição política para combater o comportamento ilegal. E esta, por seu turno, detém pouca força para suster essa espécie de comportamento, exceto se apoiada por um público disposto ao cumprimento da lei. Sua sugestão está na formação de um nítido antagonismo entre o público e o governo, de um lado, e os homens de “colarinho branco” infratores da lei, do outro:

This calls for a clear-cut opposition between the public and the government, on the one side, and the businessmen who violate the law, on the other. This clear-cut opposition does not exist and the absence of this opposition is evidence of the lack of organization against white collar crime. What is, in theory, a war loses much of its conflict because of the fraternization between the two forces. White collar crimes continue because of this lack of organization on the part of the public.39

4. Considerações finais

A teoria da associação diferencial é fundamental para uma compreensão mais aprofundada do fenômeno do crime organizado, ao manter uma ponte entre o underworld, com seus ilícitos peculiares, como os patrimoniais, e o upperworld, com seus delitos de colarinho branco, e entre a criminalidade dos indivíduos das classes sociais mais baixas, recrutados, por exemplo, em favelas, bairros propícios ao seu desencadeamento, e em prisões divididas em facções, e a criminalidade dos indivíduos das classes mais altas, recrutados, a título ilustrativo, no próprio ambiente de trabalho, em contato com homens de negócios, executivos, autoridades e membros do governo; ao mostrar as relações nem sempre éticas ou lícitas entre os homens de negócios e as autoridades e os esforços no sentido de uma implementação especial da lei e de um esmaecimento das marcas estigmatizantes do delito no tocante aos primeiros; e, mormente, ao patentear algumas dessas conexões promíscuas com o Poder Público ou com alguns de seus representantes e chamar a atenção para uma criminalidade por vezes quase “invisível”, mas não por isso menos socialmente danosa, a dos que trajam ternos e ostentam seus colarinhos não tão imaculadamente brancos.

38 Segundo o doutrinador, a desorganização social pode se manifestar como ausência de padrões (anomia)

ou conflito de padrões. Esta última situação, por seu turno, assemelha-se à associação diferencial, por envolver uma ratio entre a organização em favor de infrações à lei e a organização em vez da desorganização social. Assim, a empresa possui uma organização rígida voltada para a violação das regulamentações do universo dos negócios, ao passo que a sociedade política não está similarmente organizada contra tais violações. Ibidem, p. 255-256.

39 “Isto pede uma oposição bem delineada entre o público e o governo, de um lado, e os homens de negócios que violam a lei, do outro. Esta oposição bem delineada não existe e a ausência desta oposição é evidência da falta de organização contra o crime de colarinho branco. O que é, na teoria, uma guerra perde muito do seu conflito por causa da confraternização entre as duas forças. Os crimes de colarinho branco continuam por causa desta falta de organização por parte do público.” Ibidem, p. 257. (Tradução nossa).

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5. Referências

ABADINSKY, Howard. Organized crime. 7th ed. Belmont, California: Wadsworth, 2003. BECKER, Howard S. Outsiders: studies in the sociology of deviance. New York: The Free Press, 1997. 215 p. FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. Curitiba: Juruá, 2009. 704 p. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 1987. Título do original francês: Surveiller et punir. GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. A moderna Criminologia “científica” e os diversos modelos teóricos. Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Sociologia Criminal. In: GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 171-299. GEIS, Gilbert. White-collar crime: what is it? In: SHICHOR, David; GAINES, Larry; BALL, Richard (Org.). Readings in white-collar crime. Prospect Heights, Illinois: Waveland Press, 2002. p. 7-25. HULSMAN, Louk; CELIS, Jacqueline Bernat de. Penas perdidas: o sistema penal em questão. Tradução de Maria Lúcia Karam. 2. ed. Niterói: Luam, 1997. 180 p. Título do original francês: Peines perdues: le système pénal en question. LYMAN, Michael D.; POTTER, Gary W. Organized crime. 2nd ed. New Jersey: Prentice Hall, 1999. MACK, J. A. Le crime professionnel et l’organisation du crime. Revue de science criminelle et de droit pénal comparé, Paris, n. 1, p. 5-18, jan./mars 1977. MANNHEIM, Hermann. Criminologia comparada. Tradução de J. F. Faria Costa e M. Costa Andrade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, [1984-85]. v. 2. SCHILLING, Flávia. Corrupção, crime organizado e democracia. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 9, n. 36, p. 401-409, out./dez. 2001. SUTHERLAND, Edwin H. White collar crime: the uncut version. New Haven/London: Yale University Press, 1983. SUTHERLAND, Edwin H.; CRESSEY, Donald R.; LUCKENBILL, David F. Principles of criminology. 11th ed. New York: General Hall, 1992. (The Reynolds Series in Sociology). SUTHERLAND, EDWIN H. In: ENCYCLOPEDIA of Criminology. Routledge. Richard A. Wright and J. Mitchell Miller, Editors. Three-Volume Set. Disponível em: <http://cw.routledge.com/ref/criminology/sutherland.html>. Acesso em: 10 Feb. 2014.

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O CECGP, o jornal O IMPARCIAL e Revista JURIS, promoveram o Seminário de Ciência Política, "A operação civil-militar de 64: o contexto maranhense", realizado dia 10 de abril das 15:00hs às 18:00hs no auditório do jornal O Imparcial, com a participação do membro João Batista Ericeira, com o tema “Natureza político-juridica da operação civil-militar de 64 e suas consequências para o futuro do Maranhão.

“NATUREZA POLÍTICO-JURIDICA DA OPERAÇÃO CIVIL-MILITAR DE 64 E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O FUTURO DO

MARANHÃO”.

JOÃO BATISTA ERICEIRA Em 1964, no mundo prevalecia a bipolarização da Guerra Fria: a divisão política, militar, e ideológica entre Estados Unidos e União Soviética. No Brasil, vivíamos o ciclo do populismo e do nacional-desenvolvimentismo iniciado por Getúlio Vargas em 1930. O parque industrial estava montado, precisava começar a produzir, gerando impasse entre as reivindicações sociais e os interesses dos industriais e dos latifundiários. Os partidos políticos, a UDN que elegeu Jânio Quadros, o PSD de Juscelino Kubitschek, o PTB de João Goulart, contemplavam em suas plataformas e prometiam alargar os Direitos sociais.

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O Maranhão era governado por Newton Belo, e nas eleições para governador marcadas para 1965, o candidato do PSD era o deputado Renato Archer. As Oposições Coligadas, reunião dos partidos que se antepunham ao então delegado junto ao poder central, senador Vitorino Freire, poderia escolher um entre os três prováveis candidatos: Neiva Moreira, José Sarney, Cid Carvalho, que articulara uma dissidência no PSD. Todos queriam assumir o papel de delegados do Poder Central, continuando a tradição maranhense do caciquismo. Na República Velha, exerceram o comando da chefia oligárquica Benedito Leite, Urbano Santos. Este último por duas vezes vice-presidente da República.

Na exposição ao Seminário “A Operação Civil-Militar de 64: o contexto maranhense”, promovido pela parceria “O Imparcial e CECGP”, o jornalista e historiador Benedito Buzar descreveu o clima do dia 31 de março: sem manifestações populares ou distúrbios. Algumas poucas prisões de Maria Aragão, William Moreira Lima, Bandeira Tribuzi, Sálvio Dino, Nagib Jorge Neto, Edson Vidigal, de diretores da UMES, dentre outros. Seguiram-se pontuais intervenções em órgãos públicos federais.

A Assembleia Legislativa cassou o mandato dos deputados estaduais Sálvio Dino e Benedito Buzar e de alguns suplentes. Perguntei aos dois: em que se baseava a Resolução que os cassou? Responderam-me: em um cabograma do general Justino Alves Bastos, comandante do IV Exército sediado em Recife. E o direito de defesa previsto pela Constituição Federal de 1946? A Carta Magna não estava mais vigorando, falava-se de uma Revolução, a partir do Ato Institucional expressando a vontade do grupo político que tomara o Poder central.

No dicionário da Ciência Política, a palavra revolução tem várias acepções, no sentido sociológico, ela ocorre quando se dão mudanças profundas na estrutura da sociedade, repercutindo na economia, nos meios de produção. São exemplos da História Contemporânea: a guerra da independência dos Estados Unidos de 1776; a revolução francesa de 1789. Mais recentemente, a soviética de 1917, a chinesa de 1948, a cubana de 1959.

Utiliza-se também a palavra revolução com significado político-jurídico, na concepção adotada pelo filósofo do Direito e cientista político Hans Kelsen (1881-1973), a maior figura do mundo jurídico do século passado. Tem neste plano, a importância de Karl Marx (1818-1883) para as ciências econômicas e socais, e de Freud (1856-1939) para a psicologia. Provocou profunda e radical ruptura, fazendo a teoria jurídica gravitar em torno do ilícito, e não do lícito, como se fazia antes dele.

Para Kelsen, dá-se a revolução quando a ordem legal, constitucional, é substituída por meios ilegítimos, e não previstos pela ordem jurídica derrubada, por outra, em razão da mudança do centro de poder. Assim, em 1889, 1930, 1945, 1964, houve a substituição do governo central, por novo grupo de direção, mantendo-se o funcionamento dos serviços públicos, seguido do reconhecimento pela comunidade de países, como previsto pelo Direito Internacional.

A historiadora Regina Faria e o jurista Pedro Leonel Pinto de Carvalho discorreram brilhantemente sobre os efeitos de março de 64, analisando a conjuntura internacional e nacional. De minha parte, adotei a terminologia kelseniana, com o escopo de enfocar a relação centro-periferia, como o fez o general Golbery Couto e Silva, chamando-o de movimento de sístole e diástole, brilhantemente desenvolvido pelo sociólogo José Ribamar Caldeira, no notável trabalho “Estabilidade social e crise política, o caso do Maranhão”, publicado pela revista de Ciência Política da UFMG.

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Com a mudança do centro do Poder, o oligarca pós Revolução de 30, Vitorino Freire, tinha que ser substituído, tal como se procedeu em outros estados. Neiva Moreira teve o mandato cassado; Renato Archer foi vetado em comunicação do presidente Castelo Branco ao governador Newton Belo. Cid Carvalho inviabilizado pelas ligações com Juscelino e a adesão a João Goulart.

José Sarney tornou-se o único nome viável para governador e delegado do Poder Central. Castelo Branco facilitou-lhe o caminho, determinando a revisão eleitoral, reduzindo em 40% o eleitorado do interior, onde se localizavam os bolsões da fraude.

Ascendendo ao governo estadual, triunfando nas eleições de 1965, Sarney, como delegado do Poder central, deflagrou o processo de modernização capitalista conservadora do Estado, tal como Castelo Branco no plano federal: executando as obras de infraestrutura de energia, estradas, comunicação, universidades.

Mas a tradição oligárquica do Maranhão prosseguiu. Ela veio do Império, passou para a República, de Urbano Santos a Vitorino Freire. Após 64 a tradição continuou com o grupo que se instalou no poder, liderado por José Sarney, legitimado pelas obras de modernização capitalista do Estado, que se prolonga até hoje.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Kelsen, Hans. Teoria Pura do Direito. 9. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. Buzar, Benedito. O Vitorinismo: Lutas Políticas no Maranhão de 1945 a 1965. São Luís: Lithograf – Industria Gráfica e Editora, 1998. Corrêa, Rossini. Atenas Brasileira: a cultura maranhense na civilização nacional. Brasília: Thesaurus: Corrêa & Corrêa, 2001. Costa, Wagner Cabral da. História do Maranhão: novos estudos. São Luís: Edufma, 2004. Ramos, Clóvis. Roteiro Literário do Maranhão: neoclássicos e românticos. Niterói: Clóvis Ramos, 2001.

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O ÚLTIMO CAFÉ DO POETA

CERES COSTA FERNANDES

Publicado em O ESTADO DO MARANHÃO, 18 de maio de 2014

Ele veio! Como uma aparição benfazeja, menino grande, caneludo e magro, envolto em um enorme paletó de outras eras mais saudáveis, chega o Poeta, amparado pelo irmão e pela sobrinha-filha Deusana. O momento é de intensa emoção. Sente-se a ternura no ar. Como se chegasse um artista pop, um astro do futebol. Acho que isso provém da dignidade interna que emanava de José Chagas. Ele não é só um grande escritor, o poeta de São Luís, o cronista mais perfeito da atualidade, o palavrador por excelência, mas o homem correto e digno, puro e bom. Uma rara combinação de genialidade e grandeza de alma, que nos faz dizer que ele é único e insubstituível. Logo, ele é cercado pelos amigos, beijado e acarinhado pelas mulheres. Vou recebê-lo e também acarinhá-lo. Ele veio! É mais, muito mais, do que eu podia esperar.

Foi, em 26 de abril de 2011, o Café Literário do Odylo em homenagem a José Chagas, na última terça-feira do mês. Durante a tarde, caíra uma chuva tal as dos antigos verões chuvosos da minha infância, quando se dizia: “abril, chuvas mil”. O Café do Poeta, longamente acalentado por mim, à espera de um momento melhor na saúde do querido José Francisco das Chagas, saúde frágil, fênix mil vezes renascida, sempre a dar sustos nos seus amigos, aconteceria, afinal. O temor de não poder homenageá-lo em vida decidiu-me. A homenagem seria feita mesmo sem a sua presença.

Sempre antes de todo e qualquer café, dos 30 já realizados, me ponho tensa, tal qual a primeira vez. Marcado para começar às 18:30, momentos antes parara de chover na Praia Grande. Mas a inquietação tomava conta de mim por inteira – nesta Ilha, a chuva, levada pelo vento, cai por partes –, onde mais estaria chovendo? O palestrante escolhido, Sebastião Duarte, chegaria a tempo? E os convidados? Conseguiriam alcançar a Praia Grande, mercê dos engarrafamentos tenebrosos que se formam a cada temporal?

As pessoas começam a chegar, amigos de Chagas, amigos à mancheia! A chuva não os intimidou.

Acomodamos o Poeta no pequeno palco, em uma poltrona, lado a lado com Sebastião Duarte que nos vai falar a respeito do homem e do poeta. Sebastião discorre sobre a infância de Chagas em Aroeiras, município de Piancó, na Paraíba, desenha o percurso da família que aporta em Pedreiras, em 1945, e nos diz da chegada de José Chagas a São Luís, em 1948, desfiando a sua entrada no mundo poético e boêmio da Ilha e no mundo dos livros, sempre entremeando os fatos com o eu lírico do poeta. Passa a analisar, com competência as suas obras, uma a uma. O poeta ouve calado. Ao término, agradece as palavras de Sebastião, nega os elogios, diz que é apenas um versejador e que estava recolhido e que “a Ceres me tirou do meu recolhimento (culpa) e me trouxe a este ambiente hoje, ambiente que, de certa maneira, me alegra e me fortifica (alívio e alegria)”.

Pede, então, para dirigir ao público algumas palavras e, com voz forte e jovem que contrasta com a sua figura frágil, profere as palavras assustadoras: “ Quase que nego tudo o que disse na maioria desses poemas [...] Preocupava-me com a palavra desde criança, enquanto outras crianças brincavam, eu brincava de letras. Meu

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empolgamento com isso era tal que me esqueci que a poesia vem antes da palavra. Que a poesia precede o poema [...] A infância vive a infância. Todos nós nascemos poéticos. Todos nós fazemos poesia, o que não quer dizer que façamos poemas.

Nega também o valor do poema “A alegria que (se) tem com o mundo, as estrelas, o luar, o pôr do sol, a namorada, um jogo de futebol, uma praia. Tudo isso é poesia, sem necessitar de poema”. Nega-se, “não sou um poeta, sou um versejador”. É o Chagas revoltado com as dores da doença, com “as noites terríveis de insônia, em que faz poemas mentalmente” e talvez os esqueça pela manhã, lamenta, talvez, a infância sem brincadeiras, o que perdeu de vida real.

Mas Chagas não pode se desvestir de poeta. Logo se volta para o sonho: “Filho de lavrador, de 7 para 8 anos vivia no cabo da enxada, mas já achava que o mundo não era só aquilo. Sonhava também [...] Muitas vezes plantei o arroz real, mas o arroz do sonho era o que mais crescia”.

E, reafirmando-se como ser poético, negando a negação do poema, Chagas pede para ler as seus últimos poemas!

E assim o fez, por um bocado de tempo. O poeta estendeu-se por mais de uma hora. Até que, sentindo-o cansando, com a voz quase inaudível, tentei, mansamente, tirar-lhe o microfone. Ele me segurou firme a mão e disse “deixe-me falar um pouco mais, não sei quando terei outra oportunidade como essa”. Meu coração baqueou. Não pude contrariá-lo. Depois, ao ver o DVD, ele mesmo ordenou “corta essa parte”. Disse-me sua filha, Deusana, que foi essa a sua última fala em publico e da felicidade dele ao fazê-la.

Todos nós, os amigos, sabíamos que ele mantinha poemas inéditos colocados em sacos, o que ele próprio chamava de “poemas de encher o saco”. Deu à guarda de Jomar, o grande editor da Academia Maranhense de Letras, sacos desses poemas. Jomar prometeu publicá-los. Não estaremos tão órfãos.

Esse foi o mais belo Café Literário dos 31 já efetuados: o público todo composto de amigos de Chagas; as mulheres que se puseram bonitas para agradá-lo; o belo livro, cuidadosamente preparado pelo Foto Sombra, que todos assinaram; o poema de “Os Canhões do silêncio”, o do pastor de luas, recitado por Leda Nascimento, sua intérprete maior; os poemas espontâneos que foram surgindo do público, como os de “Maré Memória”, recitados por Uimar, por entre as mesas; como o que Joel recitou do alto da escada e a emoção que tomou conta de todos...

Chagas, que bom que pude fazer-te essa homenagem, embora ínfima para o que tu mereces, que bom que o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, um dia, pôde te receber em festa, que bom que te alegraste com isso. Obrigada por dares-me esse inesquecível presente, querido Figura.

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CRÔNICAS, CONTOS, ARTIGOS

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ANTONIO NOBERTO ESCREVE, E ALERTA:

Confreiras e confrades,

Esta bela imagem que foi colocada na capa do nosso material da ALL, infelizmente, não é da nossa primeira romancista brasileira Maria Firmina dos Reis (1825 - 1917):

Aliás, é quase certo que não seja dela. Recebi uma cópia dessa foto faz alguns anos das mãos do amigo e confrade (agora patrono da ALL e in memorian) José Ribamar Souza dos Reis, o "Reis da maranhensidade", de quem assumi a coluna “Trincheira da Maranhensidade” no Jornal Pequeno. Reis também acreditava que a imagem também fosse de Firmina.

Anos depois, sem duvidar, ao receber o título de cidadão vimarense (em 2011) das mãos do desembargador Guerreiro Junior na Câmara Municipal de Guimarães, fiz a doação de um belo quadro que mandei pintar exclusivamente para este importante evento. O quadro foi pintado pelo consagrado artista plástico Rogério Martins. E (creio) ainda está exposto naquela casa legislativa.

Realizada a cerimônia de entrega do quadro, poucos meses depois, começaram a surgir indagações e depois "afirmações" de que não era nossa abolicionista. Alguns comentários no blog vimarense.zip.net, do meu amigo Nonato Brito foram tão lúcidos quanto à nossa "barrigada" que aceitei como realmente não sendo.

O que me recordo dos comentários é que seria de uma escritora gaúcha (?) de sobrenome Balmer (?). Posso fazer a pesquisa desses questionamentos e trazer à baila

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para nossa confraria. Depois fui à campo para me certificar das informações que me deram um banho de água fria. Estaria o amigo Reis equivocado? Não teria feito ele uma pesquisa sobre a veracidade da foto? Acho que não o fez.

Uma primeira informação sobre a "descoberta" da foto de Firmina é que teria sido encontrada no Arquivo Público do estado em outros tempos. Fui lá e ninguém confirmou a história. Nunca ouviram falar do "achado". O que soube por último é que a imagem em tela teria sido usada pela primeira vez em uma monografia defendida no Piauí. E de lá se espalhou para o Maranhão.

Ninguém mais que eu queria que fosse nossa escritora ludovicense, mas pelo que pude depreender é que a imagem não é de Maria Firmina dos Reis, infelizmente.

A única imagem dela que é aceita é aquela do busto do Panteon da Praça do Panteon, fruto da descrição de uma pessoa que viveu com ela (sua filha adotiva?) e relatou os traços dela na velhice. A descrição foi feita à José do Nascimento Moraes Filho, biógrafo de Firmina, e consta em uma obra dele, exatamente sobre a vida e obra de Firmina. Acho que essa pesquisa acurada vai cair no colo de Dilercy e tenho alguns caminhos para ajudá-la, caso seja solicitado.

Busto da escritora Maria Firmina dos Reis, de autoria do escultor maranhense Flory Gama, esculpido a partir das informações prestadas por vimarenses que conviveram com a mestra-régia, como dona Nhazinha Goulart, criada pela romancista na residência da Praça Luís Domingues, e por dona Eurídice Barbosa, procedente da Fazenda Nazaré, que foi aluna de Maria Firmina na Escola Mista de Maçaricó. O busto foi colocado no ano de 1975 na Praça do Panteon, em frente à Biblioteca Pública Benedito Leite, na Capital junto a outros 17 intelectuais maranhenses. Posteriormente, os 18 bustos do Panteon Maranhense foram transferidos para os jardins do Museu Histórico e Artístico do Maranhão, localizado na Rua do Sol, em São Luís, onde se encontram até hoje

Sugiro que enquanto a imagem não for confirmada ou totalmente refutada (isso

através de pesquisa acurada) que não seja utilizada pela ALL para não correr o risco de colocar a instituição em descrédito. Reafirmo que é com muita tristeza que digo isto, pois a imagem é muito bela e casa perfeitamente com aquilo que imaginamos dela (mulata, bela, segura, etc).

Estou à disposição para maiores esclarecimentos.

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Independente do destino da pesquisa desde já coloco um desafio aos confrades e confreiras. E acho que isso faz parte do metier de uma confraria como a nossa: trazer os restos mortais de Firmina do cemitério municipal de Guimarães para a Praça central daquela cidade. Colocá-los em um belo mausoléu na praça central vai ser uma bela contribuição à memória e ao turismo.

Estamos juntos! Forte abraço!

Antonio Noberto

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POLÊMICA CONTINUA: LEITORES AFIRMAM QUE ARTISTA PLÁSTICO PINTOU QUADRO DA ESCRITORA GAÚCHA MARIA BENEDITA BORMAN

COMO SE FOSSE DE MARIA FIRMINA

NONATO BRITO Blog http://vimarense.zip.net

A leitora do blog, Mariana Leite, enviou esta foto, afirmando que o bico-de-pena da página 193 do livro "Mulheres Illustres do Brazil", de 1899, revela o rosto da escritora Maria Benedita Borman, que escrevia sob o psedônimo "Délia", e não da escritora Maria Firmina dos Reis.

A palavra "Délia", na página do lado direito, abaixo do bico-de-pena, revela o pseudônimo da escritora gaúcha Maria Benedita Borman

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Quadro de Maria Firmina dos Reis, pintado pelo artista plástico Rogério Martins

Quatro leitores do Blog Vimarense enviaram mensagem sustentando que o artista plástico Rogério Martins pintou o quadro da escritora gaúcha Maria Benedita Borman, conhecida pelo pseudônimo de “Délia”, como se fosse da romancista Maria Firmina dos Reis. O quadro encontra-se atualmente na Câmara Municipal. As mensagens encontram-se na íntegra no arquivo do blog, na postagem do dia 21/02/2011.

A leitora Mariana Leite, de São Luís, enviou, inclusive, fotos da capa e de páginas do livro “Mulheres Illustres do Brazil”, publicado pela primeira vez no ano de 1899 e reeditado no ano de 1996, pela Editora Mulheres, com sede em Florianópolis-SC, onde se encontra, na página 193, o bico-de-pena com o rosto da escritora Maria Benedita Borman, e que postamos aqui. Observa-se que é o mesmo utilizado pelo artista plástico em sua obra, que se encontra em exposição na Câmara Municipal.

A leitora, ao mesmo tempo, indicou o site onde também se pode confirmar o mesmo bico-de-pena com o rosto de Maria Benedita Borman, utilizado pelo pintor na sua obra:www.normatelles.com.br/coleção_rosas_de_leitura.html

A mensagem da leitora é a seguinte:

“Ficou muito bonita a pintura, mas infelizmente não é da romancista Maria Firmina dos Reis. É da escritora gaúcha Maria Benedita Borman, que utilizava o pseudônimo Délia em sua obra literária. Tenho esse livro de que fala o leitor Ricardo Gouveia. É o livro “Mulheres Illustres do Brazil”, publicado pela primeira em 1899, no início da República e reeditado em 1996. Envio-lhe para o seu e-mail fotos que tirei do livro incluindo o bico-de-pena da escritora Maria Benedita Borman (Délia). É a mesma utilizada pelo pintor. Espero ter contribuído para tirar a dúvida. Parabéns pelo blog, que não exclui os temas literários. Mariana Leite”.

O leitor Ricardo Almeida Gouveia, do Rio-RJ enviou a seguinte mensagem:

“Eu não sabia que a sua cidade tinha prestado essa homenagem à romancista Maria Firmina em 1975. As fotos publicadas no seu blog são de muita valia. Vi a polêmica em torno da pintura de Maria Firmina, de autoria do pintor Rogério Martins. O quadro é uma iniciativa louvável, mas a pintura não é de Maria Firmina, infelizmente. Ele pintou a escritora gaúcha Maria Benedita Borman, de pseudônimo “Délia”, nascida em 25/11/1853 e falecida em 15/05/1896, como se fosse Maria Firmina. Esse bico-de-pena que inspirou o pintor encontra-se na

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página 193 do livro “Mulheres Illustres do Brazil”, assim mesmo em português oitocentista, de autoria de Ignez Sabino, cujo fac-símile foi publicado no ano de 1996 pela Editora Mulheres - fone (043) 3233-2164, sediada em Florianópolis-SC. Esse bico-de-pena com o rosto da escritora Maria Benedita Borman pode também ser encontrado na Internet no endereço www.normatelles.com.br/colecao_rosas_de_leitura.html. Saudações firminianas Ricardo Gouveia”.

A leitora Cristina Ribeiro Silva, de São Luís, enviou a seguinte mensagem:

“Fui ao Google e descobri que essa foto em que o pintor Rogério Martins se baseou está no site www.fapepi.pi.gov.br na internet, encontrada na tese de doutorado da Profª. Algemira de Macedo Mendes, professora da Universidade Estadual do Piauí. O título da tese é “Maria Firmina dos Reis e Amélia Beviláqua na História da Literatura Brasileira”.

Nesse trabalho consta esse retrato atribuído a Maria Firmina com a seguinte legenda abaixo da foto: “Um dos poucos registros de Maria Firmina, encontrado na biblioteca pública de São Luís-MA”.

O escritor Nascimento Moraes, pesquisador que descobriu Maria Firmina na Biblioteca Benedito Leite, no início da década de 1970, afirmava que não foi encontrada nenhuma foto dela. Ele morreu em fevereiro de 2009 e até essa data aqui em São Luís não houve nenhuma divulgação em jornais da descoberta da fotografia de Maria Firmina.

Prá (sic) tirar a dúvida, entrem em contato com a Profª Algemira e peçam informações como ela obteve essa foto e publiquem no blog.

A leitora Lúcia Cardoso, do Rio-RJ, enviou a seguinte mensagem:

“Concordo com o leitor Everaldo. Eu estava em São Luís em 1975, fazendo o Curso de Letras, no antigo ILA, na Praça Gonçalves Dias, e adquiri, com dificuldade, um exemplar de “Maria Firmina – Fragmentos de uma vida”, de Nascimento Moraes Filho, editado pelo SIOGE. Curiosamente, as páginas do livro não são numeradas. Está lá, na página que seria a de número 269, após o título “Crônica ou Prosa Poemática ou Poema em Prosa?”

que transcrevo aqui:

“TRAÇOS FÍSICOS – Nenhum retrato deixou Maria Firmina dos Reis. Mas estão acordes os traços desse retrato-falado dos que a conheceram ao andar pelas casas dos 85 anos: Rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanho-escuros, nariz curto e grosso; lábios finos; mãos e pés pequenos; meã (1,58, pouco mais ou menos), morena.”

Sugiro consultarem o filho do escritor, Renan Moraes, que mora em São Luís e que guarda o acervo do seu pai, que residia no Beco do Couto. Lúcia Cardoso.

O quadro com pintura do rosto da escritora Maria Firmina dos Reis vem causando polêmica entre os leitores do blog após a postagem da foto tirada quando da afixação do quadro na Câmara Municipal durante as festividades dos 253 anos de Guimarães.

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O quadro é de autoria do consagrado pintor Rogério Martins e doado à Câmara Municipal pelo escritor e etnólogo Antônio Noberto, que esteve presente à solenidade, no dia 19 do mês passado.

Os leitores Judson Rosa, Dayane Barbosa e Ciara Ribeiro questionaram a pintura da escritora Maria Firmina, considerando que no quadro ela aparece como sendo branca, quando, é sabido que ela era mulata. Maria Firmina dos Reis, primeira romancista da literatura brasileira, nasceu em São Luís, era filha de João Pedro Esteves e de Leonor Felipe dos Reis e passou a residir aos 22 anos em Guimarães, após a sua aprovação em concurso público para exercer o cargo de professora de primeiras letras na Vila de Guimarães, onde viria a realizar toda a sua obra literária, falecendo no ano de 1917, aos 92 anos, pobre e cega, mas com o reconhecimento e a admiração dos vimarenses.

A leitora Ciara Ribeiro, vimarense residente em São Luís, escreve em sua mensagem incluída na notícia publicada no blog no dia 23 de janeiro passado: “Gostaria de perguntar: a nossa educadora não era negra? Pois nesse quadro ela aparece branca ou parda. Falo isso porque na história da Educação maranhense e vimarense há livros que mostram fotos em relação ao tom de pele negra.”

Por sua vez, a leitora Dayane Barbosa, ex-aluna da Escola Nossa Senhora da Assunção, afirma que tudo que se sabia até então sobre as feições da escritora Maria Firmina era apenas “retrato falado” por não ter sido encontrada nenhuma foto ou gravura da primeira romancista brasileira. O texto enviado pela leitora Dayane Barbosa é o seguinte:

"Me fiz a mesma pergunta que a Ciara. Bom, eu fiz um trabalho sobre a vida da romancista quando eu estudava no CEM e até dei palestras para outras turmas na época. Me apaixonei pela história dela, indo até seu túmulo e pelo que lembro ninguém tinha fotos ou qualquer imagem dela. Tudo que se sabia era sobre retrato falado, e de acordo com a pesquisa que eu fiz buscando ajuda até mesmo do professor Aldenir Guimarães (pessoa que contribuiu muito para a minha pesquisa), ela era mulata. Fiquei surpresa com esta Maria Firmina. Minha pesquisa não está errada e sim o pintor”.

O leitor vimarense Judson Rosa escreve em sua mensagem: “Talvez o pintor tenha sido infeliz por não conhecer a história e pintou o quadro pela sua ótica. O quadro deve ter sido pintado conforme foto no Google”.

A controvérsia está estabelecida. O que a equipe do blog conseguiu pesquisar, baseado no livro “Maria Firmina dos Reis – Fragmentos de uma Vida”, de autoria do escritor José Nascimento Moraes Filho, o descobridor da obra de Maria Firmina, publicado no ano de 1975, é o seguinte: Durante a exaustiva pesquisa realizada pelo Professor Nascimento Moraes não foi encontrada nenhuma foto ou pintura da primeira romancista brasileira, segundo relata o escritor no último capítulo do livro.

O busto de Maria Firmina, colocado na Praça do Panteon, na Capital, no ano de 1975, foi esculpido pelo maranhense Flory Gama, radicado no Rio de Janeiro, a partir de informações prestadas por vimarenses que conviveram com a escritora, como dona Nhazinha Goulart, criada por Maria Firmina na residência da Praça Luís Domingues, e ainda viva no ano de 1975, por dona Eurídice Barbosa, procedente da Fazenda Nazaré, que havia sido aluna da mestra régia na Escola Mista de Maçaricó, dentre outros, fatos relatados pelo escritor Nascimento Moraes em seu livro.

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De qualquer modo, a equipe do blog vai entrar em contato com o escritor Antônio Noberto, doador do quadro à Câmara Municipal, para trazer mais informações aos leitores do Blog Vimarense.

ESCRITOR ANTÔNIO NOBERTO FAZ DOAÇÃO DE QUADRO DE MARIA FIRMINA À CÂMARA MUNICIPAL

O escritor Antônio Noberto, membro do Conselho Diretor da Aliança Francesa em São Luís, fez doação, no dia do aniversário da cidade, de um quadro com a imagem da romancista Maria Firmina dos Reis à Câmara Municipal.

O quadro, pintado por Rogério Martins, foi afixado na Galeria da Câmara Municipal e estará disponível à visitação pública todos os dias úteis.

À solenidade estiveram presentes o presidente da Câmara Municipal, Gilmar Pereira Avelar, o prefeito padre William Guimarães da Silva, o vice-prefeito José Murilo Nunes de Sousa, a secretária municipal de Educação, Denildes Cunha, o desembargador Guerreiro Júnior, os vereadores Ataíde Aires Junior, Osvaldo Gomes, Lourdes Camargo, Paulo Sérgio Santos Ramos (Paulo Maluf), Nilce Farias Ribeiro e Carlos Cunha, a escritora Joana Bitencourt.

O escritor Antônio Noberto foi agraciado pela Câmara Municipal com o título de cidadão vimaranense.

Antônio Noberto é escritor, jornalista e etnólogo e turismólogo, autor dos livros “A influência francesa em São Luís” e “Só por uma Estação: Uma viagem ao Brasil”.

http://vimarense.zip.net/arch2011-01-01_2011-01-31.html

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“SUGESTÕES DE NOMES PARA COMPOREM O QUADRO DE PATRONOS DE CADEIRAS (1 a 40) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL)”

NOTA: A Comissão composta por Wilson Pires Ferro e Ana Luiza Almeida Ferro para apresentar à Plenária da ALL os nomes a serem ‘eleitos’ Patronos da mesma recebeu a contribuição de Leopoldo Gil Dulcio Vaz, na busca de fotografias, retratos, imagens dos escobibliografia a seguir é resultado desse trabalho; ainda deverão ser acrescidos os nomes sugeridos – e aceitos – durante a sessão realizada no Auditório do “Odilo Costa, filho”. O Prof. Wilson dividiu os indicados nos seguintes grupos: I SÃO LUÍS, MAS QUE RESIDIRAM NA CIDADE POR ALGUM TEMPO. A ordem, é da data de nascimento, com o mais antigo ocupando acompleta dos Patronos será publicada quando do Elogio profe

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SUGESTÕES DE NOMES PARA COMPOREM O QUADRO DE PATRONOS DE CADEIRAS (1 a 40) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL)”

WILSON PIRES FERRO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

NOTA: A Comissão composta por Wilson Pires Ferro e Ana Luiza Almeida Ferro para apresentar à Plenária da ALL os nomes a serem ‘eleitos’ Patronos da mesma recebeu a contribuição de Leopoldo Gil Dulcio Vaz, na busca de fotografias, retratos, imagens dos escobibliografia a seguir é resultado desse trabalho; ainda deverão ser acrescidos os nomes

durante a sessão realizada no Auditório do “Odilo Costa, filho”. O Prof. Wilson dividiu os indicados nos seguintes grupos: I – LUDOVICENSES”; II - NÃO NASCIDOS EM SÃO LUÍS, MAS QUE RESIDIRAM NA CIDADE POR ALGUM TEMPO. A ordem, é da data de nascimento, com o mais antigo ocupando a Cadeira 1 e assim sucessivamente.completa dos Patronos será publicada quando do Elogio proferido pelos Fundadores.

CLAUDE D’ABBEVILLE (França)/(não conhecida)/ Obras: A História dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circunvizinhas (o mais completo relato sobre a fundação de São Luís)/

PE. ANTÔNIO VIEIRA (Portugal - 06.02.1608 – 18.07.1697) Obras: Vozes saudosas – Sermões vários - Obras completas (27 volumes) - Sermões – Sermões no Brasil e em Portugal./

MANUEL ODORICO MENDES 24.01.1799 – 17.08.1864 Obras: Merope, de Voltaire – Hino à tarde (poesia) de Voltaire – Eneida brasileira, de Virgílio – Opúsculo acerca do Palmeirim de Inglaterra – Ilíada de Homero Homero

FRANCISCO SOTERO DOS REIS 22.04.1800 – 10.03.1871 Obras: Postilas de gramática geral; aplicada à língua portuguesa pela análise dos clássicos: ou guia para a construção portuguesa – Gramática portuguesa: acomodada aos princípios gerais da palavra seguidos de imediata aplicação prática – Comentários de Caio Julio Cesar, traduzidos em português – Curso de literatura portuguesa e brasileira.

JOÃO FRANCISCO LISBOA Pirapemas - 22.03.1812 - 26.04.1863 Obras: Obras de João Francisco Lisboa (4 v.) – Jornal de Timon (v. 1) – Jornal de Timon (v. 2) – Jornal de Timon (v. 3)./

SUGESTÕES DE NOMES PARA COMPOREM O QUADRO DE PATRONOS DE CADEIRAS (1 a 40) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL)”

NOTA: A Comissão composta por Wilson Pires Ferro e Ana Luiza Almeida Ferro para apresentar à Plenária da ALL os nomes a serem ‘eleitos’ Patronos da mesma recebeu a contribuição de Leopoldo Gil Dulcio Vaz, na busca de fotografias, retratos, imagens dos escolhidos. A bio-bibliografia a seguir é resultado desse trabalho; ainda deverão ser acrescidos os nomes

durante a sessão realizada no Auditório do “Odilo Costa, filho”. O Prof. NÃO NASCIDOS EM

SÃO LUÍS, MAS QUE RESIDIRAM NA CIDADE POR ALGUM TEMPO. A ordem, é da data de adeira 1 e assim sucessivamente. A biografia

rido pelos Fundadores.

Obras: A História dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circunvizinhas (o mais completo relato sobre a

Obras completas (27 Sermões no Brasil e em Portugal./

Hino à tarde (poesia) – Tancredo, Opúsculo acerca do

Ilíada de Homero – Odisséia de

Postilas de gramática geral; aplicada à língua portuguesa pela análise dos clássicos: ou guia para a

Gramática portuguesa: acomodada aos princípios gerais da palavra seguidos de imediata aplicação

Cesar, traduzidos em Curso de literatura portuguesa e brasileira.

Jornal de Timon Jornal de Timon (v. 3)./

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CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA Brejo dos Anapurus - 14.10.1818 – 01.03.1881 Obras: Código Filipino ou ordenações do Reino de Portugal, anotadas e seguidas da legislação subsequente portuguesa e brasileira até 1870 – Memórias para a história do extinto Estado do Maranhão/

ANTÔNIO GONÇALVES DIAS GONÇALVES DIAS Caxias - 10.08.1823 – 03.11.1864 Obras: Primeiros cantos – Segundos cantos e sextilhas de Frei Antão – Últimos cantos – Cantos – Primeiros cantos, Segundos cantos, Últimos cantos – Novos cantos – Os timbiras Dicionário da língua tupi – Obras póstumas./

MARIA FIRMINA DOS REIS 11.10.1825 – 11.11.1917 Obras: Úrsula, Gupeva (romances) e Cantos à beira

ANTÔNIO HENRIQUES LEAL Cantanhede - 24.07.1828 -29.09.1885 Obras: Panteon maranhense – Apontamentos para a história dos jesuítas no Brasil – Lucubrações./

JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE SOUSÂNDRADE Guimarães - 09.07.1832 - 21.04.1902 Obras: Harpas selvagens – Impressos – Obras poéticas errante – Novo Éden; poemeto da adolescência, 1888

CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES CELSO MAGALHÃES Viana - 11.11.1849 – 09.06.1879 Obras: Ela por ela (novela) – Versos – Um estudo de temperamento (romance) – A poesia popular brasileira trabalho – O domingo./

JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL 03.05.1853 – 30.04.1927 Obras – Apontamentos para a história da revolução da balaiada – Fundação do Maranhão – Limites do Maranhão com o Piauí ou a questão de Tutóia – Efemérides maranhenses do Maranhão em 1896./

Obras: Código Filipino ou ordenações do Reino de Portugal,

sequente portuguesa e Memórias para a história do extinto

Segundos cantos e sextilhas de Frei Primeiros cantos, Segundos

Os timbiras –

Obras: Úrsula, Gupeva (romances) e Cantos à beira-mar

Apontamentos para a história

Obras poéticas – Guesa Novo Éden; poemeto da adolescência, 1888-1889./

Um estudo de A poesia popular brasileira – O

Apontamentos para a história da revolução da balaiada Limites do Maranhão com o Piauí

Efemérides maranhenses – O Estado

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ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO ARTUR DE AZEVEDO 07.07.1855 – 22.10.1908 Obras: Carapuças – Horas de Humor – O dia de finados – Rimas de Artur Azevedo (poesias) – Contos fora de moda – Contos efêmeros – Contos em verso – Contos cariocas – Vida alheia./

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ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO ALUÍSIO DE AZEVEDO 14.04.1857 – 21.01.1913 Obras: Uma lágrima de mulher – O mulato – Memórias de um condenado – A gazetinha – A condessa Vésper (mistério da Tijuca) – Casa de pensão – Filomena Borges – O coruja – O país – O homem – O cortiço – A mortalha de Alzira – Livro de uma sogra (romance) – Demônios (contos) – Pegadas (contos)./

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RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA RAIMUNDO CORREIA 13.05.1859 – 13.09.1911 - Nasceu a bordo do vapor São Luís, na baía de Mogunça, viajando com seus pais de Turiaçu para a capital São Luís Obras: Primeiros sonhos – Sinfonias – Versos e versões – Aleluias – Poesias./

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ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS BARBOSA DE GODOIS 10.11.186 – 04.09.1923 Obras: História do Maranhão – O mestre e a escola – Os ramos da educação na escola primária – Higiene pedagógica.

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CATULO DA PAIXÃO CEARENSE 08.10.1863 – 10.05.1946 Obras: Cancioneiro popular de modinhas brasileiras – Lira Brasileira – Poesias Populares – Novos cantares – Sertão em flor – Meu sertão – Poemas bravios - Alma do sertão – Mata iluminada – Fábulas e alegorias – O sol e a lua – Um boêmio do céu – Meu Brasil – Testamento da árvore – Um caboclo brasileiro – O milagre de São João – Aos pescadores – Oração à bandeira./

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HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETO COELHO NETO Caxias - 21.02.1864 – 28.11.1934 Obras: A capital federal (impressões de um sertanejo) – O País – Miragem – O rei fantasma – Inverno em flor – O morto (memórias de um fuzilado) – O paraíso (excelsas fantasias) – O rajá de Pendjab – A conquista – Tormenta – Inocêncio inocente – O malho – O arara – Turbilhão – Esfinge – Rei negro (romance bárbaro) – O mistério – O polvo – Fogo-fátuo/

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JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA DUNSHEE DE ABRANCHES 02.09.1867 – 11.03.1941 Obras: Os crimes de Grajaú – A República em Maranhão – Memórias de um histórico – Literatura maranhense – Atas e atos do governo provisório – Garcia de Abranches, o censor – A Setembrada – O cativeiro - A esfinge de Grajaú./

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JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA GRAÇA ARANHA 21.06.1868 – 26.01.1931 Obras: Canaã – Malazarte – A estética da vida – Machado de Assis e Joaquim Nabuco – O espírito moderno – A viagem maravilhosa./

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MANUEL FRAN PAXECO FRAN PAXECO Portugal - 09.03.874 – 17.09.1952 Obras: O Sr. Silvio Romero e a literatura portuguesa - O Maranhão e seus recursos – O comércio maranhense – A literatura portuguesa na Idade Média – Portugal e a Renascença – Os Braganças e a Restauração – Angola e os alemães – O trabalho maranhense – Portugal e o Maranhão – Geografia do Maranhão – Trabalhos do Congresso Pedagógico do Maranhão./

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JOSÉ AMÉRICO OLÍMPIO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO MARANHÃO SOBRINHO Barra do Corda - 20.12.1879 - 25.12.1915 Obras: Papéis velhos – Estatuetas – Vitórias Régias./

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DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES São Bento - 29.11.1880 – 26.12.1946 Obras: Mosaicos – O dominó vermelho – Contos da minha terra – Silhuetas.

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MANUEL VIRIATO CORRÊA BAIMA DO LAGO FILHO VIRIATO CORRÊA Pirapemas - 23.01.1884 – 10.04.1967 Obras: Terra de Santa Cruz – Histórias da nossa História – Brasil dos meus avós – Baú velho – Gaveta do sapateiro – Alcovas da História – Mata galego – Casa de Belchior – O país do pau de tinta – Balaiada – Era uma vez – Contos da História do Brasil – Varinha de condão – Arca de Noé – No Reino da bicharada – Quando Jesus nasceu – A macacada – Os meus bichinhos – História do Brasil para crianças – Meu torrão – Bichos e bichinhos – No país da bicharada – Cazuza – A descoberta do Brasil – História de Caramuru – A bandeira das esmeraldas – As belas histórias da História do Brasil – Curiosidades de História do Brasil – História da liberdade no Brasil./

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LAURA ROSA 01.10.1884 -14.11.1976 Obras: Promessas (contos) – Castelos no ar (poemas inéditos).

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RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO Pedreiras - 29.05.1885 – 24.08.1951 Obras: Harpas de fogo – Evangelho de moço - Pedreiras – Acrópole – Ode a Portugal - A tirania – Pela Pátria – A religião: fenômeno social, através de poesias – Ode a Gonçalves Dias – O canto das cigarras – O tiranete de Atenas.

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HUMBERTO DE CAMPOS VERAS HUMBERTO DE CAMPOS Miritiba - 25.10.1886 – 05.12.1934 Obras: Poeira – Poesias completas – Da seara de Booz (colheita de Ruth) –Mealheiro de Agripa – Destinos – Os párias – Lagartas e libélulas – Sombras que sofrem - Sepultando os meus mortos – Notas de um diarista – Reminiscências – Um sonho de pobre – Contraste – Últimas crônicas – Vale de Josafá – Tonel de Diógenes – Serpente de bronze – Gansos do Capitólio – A bacia de Pilatos – A funda de Davi – Grãos de mostarda – Pombos de Maomé – O arco de Esopo – Antologia dos humoristas galantes – Alcova e salão – Memórias – Memórias inacabadas – Fragmentos de um diário – Carvalhos e roseiras – Crítica – O monstro e outros contos – Histórias maravilhosas – À sombra das tamareiras – O Brasil anedótico – O conceito e a imagem na poesia brasileira – Antologia da Academia Brasileira de Letras./

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ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA ASTOLFO SERRA Matinha - 22.05.1900 - ? Obras: Gleba que canta – Profetas de fogo – Noventa dias de governo – Aspectos de uma campanha – Discursos políticos – Guesa Errante (estudo) – Terra enfeitada e rica – Caxias e seu governo civil na Província do Maranhão – A vida simples de um professor de aldeia – A Balaiada – A vida vale um sorriso – Uma aventura sentimental – Gonçalves Dias e os problemas da economia nacional – Celso Magalhães e o folclore nacional – Sociologia dos morros cariocas – O negro na formação econômica do Maranhão./

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MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER DILÚ MELLO Viana -25.09.1913 – 24.04.2000 Obras: não encontrei nenhum livro publicado por ela. Foi, entretanto, uma cantora, compositora, folclorista e musicista que muito honrou o nome da terra no país e no exterior. Era uma musicista de mão cheia, tocava acordeon, violão, piano, viola caipira, harpa paraguaia, dentre outros instrumentos. Dilú gravou pouco mais de uma dúzia de discos compactos 78 rmp, três LPs e deixou um legado de mais de 100 composições, canções que eram verdadeiras poesias. Aquela Janela, Boiuna, Bonecos de Maracatu, Brasil em Três Minutos, Cada criança é uma canção, A Canção do Bolo, Canção para adormecer mamãe, Canção para fazer mamãe feliz, Caxias – Cidade Princesa, Cigarra, Compadre José, Criança, Dança do Esquinado, Diluiu-se, Eu dei, eu dei, Estrada de Ferro da Bahia, Festinha Boa, Fole de pano, A História da Árvore de Natal, Jura de Caboclo, Heloísa, Hino à Bandeira do Maranhão, Louvação a São José de Ribamar, Nos Braços da Liberdade, Oração, Policromia, Rio, Amor, Fantasia, São Luís – Cidade Sorriso, Só

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quero Lili, Noite de São João do Maranhão e Saudades do Maranhão, que por mais de uma década era a característica sonora com que as rádios de São Luís iniciavam o dia: ‘Maranhão, que terra boa/Onde o poeta nasceu/Maranhão é minha terra/Berço que Deus me deu/A linda praia...’ (e por aí vai). Fez sucesso com suas canções em países da América, como Uruguai, Paraguai e Argentina, Peru, principalmente, e até na Europa, notadamente na Espanha, Portugal, Alemanha. Por seus méritos na composição e intepretações de suas belas canções ela foi eleita membro efetivo da Academia Carioca de Letras, tomando posse em 1978./

30

ODYLO COSTA, FILHO 14.12.1914 - ?) Obras: Graça Aranha e outros ensaios – Livro de poemas de 1935 – A faca e o rio – Tempo de Lisboa e outros poemas – Cantiga incompleta – Os bichos no céu – Notícias de amor – A vida de Nossa Senhora./

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MÁRIO MARTINS MEIRELES 08.03.1915 – 10.05.2003 Obras: O imortal Marabá – Gonçalves Dias e Ana Amélia – José do Patrocínio – Panorama da Literatura Maranhense - Veritas liberabit nos – Pequena História do Maranhão – O 5º. Centenário do Infante D. Henrique no Maranhão – História do Maranhão – França Equinocial – Guia Turístico – São Luís do Maranhão – Glorificação de Gonçalves Dias – Catulo, seresteiro e poeta – São Luís – cidade dos azulejos – História da Independência do Maranhão – Santos Dumont e a conquista dos céus – Melo e Póvoas – governador e capitão-general do Maranhão – Discursos na Academia – História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão – Dom Diogo de Sousa – governador e capitão-general do Maranhão e Piauí – O ensino superior no Maranhão; esboço histórico – Apontamentos para a história da Farmácia no Maranhão – Os negros no Maranhão – O brasão d’armas de São Luís do Maranhão – O Maranhão e a República – Os holandeses no Maranhão – História do Comércio do Maranhão (v. 4) – Apontamentos para a história da Medicina no Maranhão – Rosário do Itapecuru-Grande – Dez estudos históricos – A Santa Casa de Misericórdia do Maranhão; subsídios para a sua história – Vinte e Oito ou Vinte de Julho? – João de Barros, primeiro donatário do Maranhão – O Brasil e a partição do mar-oceano./

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JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO JOSUÉ MONTELLO 21.08.1917 - ? Obras: (Romances) Janelas fechadas - A luz da estrela morta – Labirinto de espelhos – A décima noite – Os degraus do paraíso – Cais da sagração – Os tambores de São Luís – Noite sobre Alcântara – A coroa de areia – O silêncio da confissão – Largo do Desterro – Aleluia – Pedra viva – Uma varanda sobre o silêncio – Perto da meia-noite – Antes que os pássaros acordem – A última convidada – Um beiral para os bentivis – O camarote vazio – O baile de despedida – A viagem sem regresso – Uma

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sombra na parede - Mulher proibida – Enquanto o tempo não passa – (novela) – O fio da meada - Duas vezes perdida – Numa véspera de Natal – Uma tarde, outra tarde – A indesejada aposentadoria – Glorinha – Um rosto de menina e outras novelas reais

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CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA CARLOS DE LIMA 14.03.1920 – Obras: Bumba-meu-boi (folclore) – Bumba-meu-boi do Maranhão (toadas) – História do Maranhão – Réquiem para um menino – A festa do Divino Espírito Santo em Alcântara – As minhas e a dos outros – estórias maranhenses – Carta ao compadre Tiburtino – ABC do SEBRAE – Lendas do Maranhão – Poesias esparsas – Arquivo morto – Tempestade no lago – Artigos e crônicas em jornais e revistas – História do Maranhão (A Colônia) – História do Maranhão (A Monarquia) – História do Maranhão (A República)./

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LUCY DE JESUS TEIXEIRA LUCY TEIXEIRA Caxias - 11.07 1922 - ? Obras: Elegia fundamental – Primeiro Palimosesto – No tempo dos alamares e outros sortilégios./

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DOMINGOS VIEIRA FILHO 25.09.1924 - ? Obras: Superstições ligadas ao parto e à vida infantil – A linguagem popular do Maranhão – A festa do Divino Espírito Santo – Folclore sempre – O negro na poesia brasileira – Nina Rodrigues – Estudos geográficos do Maranhão – Breve história das ruas de São Luís – Breve história das ruas e praças de São Luís – Panorama da diplomacia – A Polícia Militar do Maranhão – Folclore do Maranhão./

36

JOÃO MIGUEL MOHANA Bacabal, 15 de junho de 1925 — São Luís, 12 de agosto de 1995 Obras: O outro caminho – Maria da tempestade – Sofrer e amar – A vida sexual dos solteiros e casados – O mundo e eu – Amor e responsabilidade – Padres e bispos autoanalisados – Ajustamento conjugal – Prepare seus filhos para o futuro – Paz pela oração – Céu e carne no casamento – O encontro – Plenitude humana./

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MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD 10.07.1925 – 13.10.2005 Obras: A ciranda da vida – Grades e azulejos – Rio Vivo – Teias

do tempo – O preço – Cinza e rosa – Um amor de psiquiatra.

38

DAGMAR DESTÊRRO E SILVA 09.09.1925 - 2004 Obras: Recordando São Luís – Segredos dispersos – Parábola do sonho quase vida – Pedra-vida – Poemas para São Luís – Canto ao entardecer – Seleta poética

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JOSÉ TRIBUZI PINHEIRO GOMES BANDEIRA TRIBUZI 02.02.1927 – 8 de setembro de 1977 Obras: Alguma existência – Safra – Sonetos – Pele e osso – Breve memorial de longo tempo – Louvação de São Luís (Hino)./

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JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS 22.03.1947 – 09.12.2010 Obra: Bumba-meu-boi: o Maior Espetáculo Popular; São João em São Luis; Contos da Ilha; Newton Pavão – mestre das artes; o ABC do Bumba meu Boi; Sertão de minha terra; Folclore maranhense – informes; Folclore Maranhense; Feira da Praia Grande; Realidade Maranhense;

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QUANDO O CORAÇÃO FALA MAIS ALTO.

AYMORÉ ALVIM.

Alguns dias atrás, uma querida amiga trouxe-me para ler “A Queda – as memórias de um pai em 424 passos” do jornalista Diogo Mainardi.

Deixei, temporariamente, de lado o “Inferno” de Dan Brown e “Médico de Homens e Almas” de Taylor Caldwell. Priorizei a leitura de “A Queda” mais por ela e menos por Mainardi, apesar de ter sido um assíduo leitor da sua coluna na Revista “VEJA”.

Comecei, então, a leitura, ou melhor, a minha caminhada pela trilha do Mainardi e fui me empolgando a cada “passo” percorrido.

O caminho é áspero, pedregoso, cheio de surpresas e obstáculos, de decepções e de lutas, mas também de vitórias, de muitas vitórias.

Não obstante tudo isso, à medida que se avança, o Mainardi vai tornando a sua estrada luminosa, florida e gostosa de andar pelas lições de amor, de desprendimento e de respeito à vida que transmite ao leitor a cada “passo”.

Nesse livro, o Mainardi conta a história do nascimento do seu filho Tito, no ano 2.000. Tito é o primeiro filho de Mainardi e Anna, nascido em um hospital de Veneza. Tito foi vítima de um grave erro médico. Foi vítima de uma amniotomia mal conduzida e desnecessária por inoportuna e perigosa segundo a perícia médico-legal que conduziu o caso. Tito sofreu asfixia e desenvolveu uma paralisia cerebral.

As informações que lhe prestou o pediatra não lhe garantiram se Tito teria uma boa qualidade de vida, se ficaria defeituoso, dependente ou se permaneceria, em estado vegetativo. Por alguns momentos, Mainardi achou que seria melhor se Tito morresse. Mas o seu primeiro contato com Tito o transformou. Desejou que ele permanecesse vivo, não importaria como, porque o amaria de qualquer maneira. Mainardi, entre a qualidade de vida e o respeito à vida ou entre a vida e a morte fez sua opção pela vida.

A vida venceu. Mainardi e Anna venceram e passaram a se dedicar integralmente à condução da cura de Tito ate onde lhes for possível. Tito, este ano, completa 14 anos e os progressos alcançados são bem visíveis e promissores. Mainardi e Anna não perderam nunca a esperança. Mainardi e Anna são pessoas de fé.

O interessante é que Mainardi se diz ateu. Não teve ainda o dom da revelação do Pai. No entanto, isto me permitiu algumas reflexões. Uma delas é sobre tantos cristãos católicos que dizem acreditar em Deus e, por banalidades egoístas, optam pela morte através do aborto, pela pena capital ou da eutanásia. Mainardi, então, para mim é um ateu cristão que se contrapõe pela fé e opção pela vida aos cristãos ateus. Deus é vida. O nosso Deus é o Deus dos vivos. Mainardi tem fé na vida. Logo, Manardi ateu acredita em Deus. Assim, Mainardi é uma lição, um exemplo aos católicos ateus que banalizam a vida, banalizando Deus.

Ao longo dos “424 passos”, Diogo Mainardi deixa claro que Tito fortaleceu e oxigenou ainda mais a sua união com Anna para que Tito viva. Isto me fez lembrar também do meu Guto. Guto é o meu Tito, deficiente e dependente. Guto foi meu cordão umbilical que nos ligou à nossa placenta, Maria Augusta. Ela oxigenou e alimentou por vários anos a nossa união. Era preciso que Guto vivesse. Guto

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dependia de nós. Mas a nossa placenta morreu. Augusta partiu. Nós ficamos sós, eu e Guto. Guto é minha vida. Eu vivo em função de Guto. Mainardi e Anna também vivem em função de Tito.

Gostei muito do livro e o recomendo.

Mainardi ateu é um grande exemplo e um modelo de vida aos cristãos ateus. Mainardi, nos seus 424 passos, nos mostra a força do amor, quando o coração fala mais alto.

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PALESTRA EM LYON40

ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

Saudação às Autoridades presentes, diretores, professores... Convidados e alunos..., familiares e amigos...

“Crônicas de 400 anos”, o livro a que venho lançar, aqui e agora, é uma homenagem a São Luís do Maranhão e aos franceses seus fundadores, em 1612, Reafirma um estilo narrativo existente desde os tempos de Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, capuchinhos que acompanharam a expedição de Daniel de La Touche e tornaram-se os cronistas pioneiros do cotidiano da cidade.

Todos já devem saber que há uma velada polêmica, que vez por outra vem à tona por parte de alguns intelectuais da minha cidade, quanto aos verdadeiros fundadores de São Luís. Há fatos históricos, registros fidedignos e incontestáveis de que foram os franceses.

Quando os franceses ocuparam as terras brasileiras e fundaram São Luís, em 1612 (onde Jacques Riffaut já havia estado em 1594), com Daniel de La Touche à frente de uma caravela e duas naus, mais 500 homens e os Frades capuchinhos, após 116 dias desde Cancale, “precisamos refletir sobre algumas das circunstâncias mais representativas então vigentes na França”, e sobre o que aconteceu depois de mais de três anos de colonização, para que o ideal da França Equinocial não pudesse ser concretizado.

Ilustres historiadores pertencentes à já centenária e os Academia Maranhense de Letras manifestaram-se a respeito da fundação de São Luís, tais como Barbosa de Godois, José Ribeiro do Amaral; Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, cronistas pioneiros da cidade, também.

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Também venho a esta vetusta Universidade em grata missão oficial da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, em São Luís, a fim de firmar um “Memorando Geral de Entendimentos para Cooperação Mútua” com a Universidade

40 Palestra bilíngue proferida em Lyon-França, por ocasião do lançamento e autógrafos do Livro

"Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans", na Université Lumière 2 e seu Instituto de Estudos Brasileiros, no dia 3 de abril de 2014, às 14 horas, na presença de diretores, professores e alunos daquela Universidade, além de intelectuais franceses e convidados.

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Lumière Lyon 2, que dará início a um novo tempo nas nossas relações internacionais “desenvolvendo experiências educacionais e científicas de fortalecimento e enriquecimento”.

Este Ato, portanto, situa-se além de uma realização pessoal deste professor e cronista. Contou, desde os primeiros momentos, com a compreensão da ilustre professora Maria da Conceição Coelho Ferreira, responsável pelo Instituto de Estudos Brasileiros, desta Universidade, acatando nossas manifestações de interesse e dando bom termo aos nossos entendimentos.

Agradeço de coração à ilustre professora, bem como e de igual forma ao professor Aldir Araújo Carvalho Filho, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da UFMA, que formalizou em nome do Senhor Reitor Natalino Salgado Filho, esses entendimentos.

A UFMA é uma universidade relativamente nova, pois foi oficialmente criada em 1966. Antes existiram Escolas isoladas e que foram transformadas em uma Fundação. Atualmente, tendo à frente o Magnífico Reitor Natalino, a quem agradeço a viabilidade da minha viagem, nossa Universidade tem experimentado franco progresso na melhoria e expansão dos seus diversos cursos pelos inúmeros campi, no Estado do Maranhão, além de significativa ampliação das suas instalações no campus do Bacanga, em São Luís. Estamos vivendo um acelerado progresso.

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Permitam apresentar-me. Sou economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, em 1959, e professor universitário aposentado pela Universidade Federal do Maranhão, onde ensinei de 1979 a 1997; antes fui professor-fundador da Universidade Estadual do Maranhão, onde ajudei a criar, a partir de 1968, as primeiras escolas de ensino superior ligadas ao Estado. Na Universidade ensinei principalmente Teoria Econômica, Economia Monetária e Mercado de Capitais. Desenvolvo atividades literárias, como membro das Academias Caxiense, em Caxias, e Ludovicense de Letras, em São Luís.

No momento, estou escrevendo o Elogio ao meu Patrono, na Academia Ludovicense de Letras, Francisco Sotero dos Reis, a ser proferido no mês de julho próximo. Ele nasceu e morreu no Maranhão do século XIX, “foi jornalista, poeta e escritor, e deu lume a uma obra estritamente vinculada a assuntos filológicos [...]”, foi precursor do “fenômeno raro do aparecimento de verdadeiros mestres da Língua Portuguesa Clássica”, no século XX.

Um panorama da literatura brasileira, segundo Luiz Ruffato, jornalista e escritor, “[...] embora caudatária da literatura portuguesa, desde cedo a paisagem e uma maneira diferente de modular a língua conformaram a mentalidade brasileira [...]”; “[...] o Brasil colonizado a partir de 1500 recebeu vagas influências estrangeiras”. Situa o ano de 1836 “como marco fundador da literatura nacional”, que segue bem diversificada nos dias atuais cultuando valores do passado e aplaudindo, os novos.

Sotero dos Reis (1800-1871), meu Patrono na ALL, estudou 29 dos principais autores portugueses e brasileiros, destacando-se Gil Vicente, Luiz Vaz de Camões, Alexandre Herculano, Padre Antônio Vieira, Manoel Odorico Mendes, Antonio Gonçalves Dias e Antonio Henriques Leal.

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Este é o meu segundo trabalho de crônicas. São 27 selecionadas, antes publicadas na imprensa de São Luís e reunidas em livro, a fim de superar a perenidade dos textos jornalísticos. A principal dessas crônicas presta meu tributo à única cidade brasileira fundada pelos franceses, São Luís do Maranhão; elas falam, ainda, das minhas viagens, sobre outras cidades, livros, música, família, estudos, valores e crenças. “Tratam de coisas passadas com intenção de preservar memórias, não de desvalorizar o presente”.

Segundo palavras do apresentador e tradutor do Livro, professor Cadmo Soares Gomes, “[...] o lirismo criativo está sempre presente e se desvela às vezes em melancolia [...]. Quando trata da família, revela o espírito romântico, rendendo-se aos sentimentos suaves [...]”.

Chamo atenção para as epígrafes que coloquei encimando cada crônica. Foi de propósito. Além de prestigiar a memória dos seus autores, adéquam-se, na maioria das vezes, ao que escrevi. São para reflexão.

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Desejaria, doravante, fazer alguns comentários sobre as motivações que me levaram a escrever algumas das crônicas selecionadas.

RAZÃO E SENSIBILIDADE (páginas 17 a 22) é um grito de alerta em favor do patrimônio histórico das cidades, particularmente de Caxias, no Maranhão, no Brasil, minha terra natal; é um posicionamento democrático contra o lento, gradual e inexorável processo de “modernização” dos espaços às vezes onde se nasce, cresce e morre.

AMOR PERDIDO (páginas 49 a 55) é sobre futebol, que já gostei tanto, todavia acabei perdendo o interesse face desilusões ocasionadas por circunstâncias adversas. Dizem que “somos nós e as nossas circunstâncias”, não é assim?

O SERENO DO CASSINO (páginas 101 a 104). “Sereno” diz-se das pessoas que permanecem, de fora, observando os que entram, nos bailes da vida; e Cassino com dois “s” não é clube de jogo, contudo clube de dança. Os de fora observam, fazem comentários de toda ordem, riem, divertem-se com os ditos “privilegiados”: sobre se estão bem vestidos, bem acompanhados. É divertido!

VEREDA TROPICAL (páginas 119 a 124) lembra da minha juventude, em São Luís, e das músicas caribenhas que tocavam nos clubes da cidade, nos bailes da vida, das namoradas e das dificuldades em conservá-las.

MELANCOLIA (páginas 125 a 128) Gosto tanto desta crônica, que parece ficção, mas é realidade, pois foi baseada em fatos reais; mostra como o simples viver é, para algumas pessoas, um verdadeiro dilema. “Seriam os poetas predestinados aos sofrimentos da alma”?

O QUE É A FELICIDADE? (páginas 195 a 200). Quem sabe? Eu arrisquei escrever sobre algo apenas experimentado por quem sente. Cada qual é feliz à sua maneira; não há uma receita pronta e acabada.

“Todos têm direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade”, disse Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, quando esboçou as primeiras linhas do texto da Declaração de Independência dos EUA, em 1776.

Busquemos, pois, esses direitos.

Muito obrigado.

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CONFERENCE A LYON

Professores e alunos da Universidade,

no Salão de Conferência do Campus de Portes des Alpes, no Bron.

Avant de commencer, j'aimerais saluer les Autorités ici présentes, à savoir les directeurs, professeurs... invités et élèves..., proches et amis...

“Chroniques de 400 ans/Crônicas de 400 anos”, l'ouvrage dont je vous parlerai, est un hommage à São Luís do Maranhão et à ses fondateurs français; cette ville a été bâtie en 1612. Ce livre réaffirme un style narratif déjà existant du temps de Claude d'Abbeville et Yves d´Évreux, moines capucins qui faisaient partie de l’expédition de Daniel de La Touche et qui devinrent les premiers chroniqueurs du quotidien de cette ville.

Vous devez avoir à l’idée qu’il existe une polémique, de part de certains intellectuels de ma ville, au sujets des premiers fondateurs de São Luís. Cependant, des faits historiques et des sources sûres prouvent que ce sont bien les français qui en sont à l’origine.

Les français se sont installés sur les terres du Brésil actuel et ont fondé São Luís en 1612 (et où Jacques Riffault avait déjà été, en 1594), grâce à Daniel de La Touche et sa flotte composée d’une caravelle et deux navires, ainsi qu’un total de 500 hommes repartis entre l’équipage et les moines capucins, après 116 jours de navigation depuis Cancale. À partir de là, “Il faut prendre conscience du contexte spécifique alors en vigueur en France”, et sur ce qui s’est passé après un peu plus de trois ans de colonisation, pour comprendre pourquoi le projet d’une France Equinoxiale n’a pas vu le jour.

D’illustres historiens faisant partie de la centenaire Académie des Lettres du Maranhão/Academia Maranhense de Letras, se sont déjà intéressés au thème de la fondation de São Luís. Citons entre autres Barbosa de Godois et José Ribeiro do Amaral. Claude d´Abbeville et Yves d´Évreux, premiers chroniqueurs de la ville, le furent aussi.

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De même, je viens dans votre respectable établissement en tant que représentant officiel de l’Université Fédérale du Maranhão - UFMA, de São Luís, dans le but de signer un “Memorandum Général d’Entente pour une Cooperation Mutuelle” avec l’Université Lumière Lyon 2, qui permettra le commencement d’une coopération internationale

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bilatérale pour “développer des partenariats académiques et scientifiques, afin de renforcer et d’enrichir mutuellement nos connaissances”.

Cet acte, cependant, va bien au-delà d’une réalisation personnelle du modeste professeur et chroniqueur que je suis. J’ai pu compter, dès les premiers instants, sur la compréhension de la professeure Maria da Conceição Coelho Ferreira, responsable de l’Institut d’ Études Brésiliennes de votre université, avec laquelle je partage des intérêts communs.

Je tiens à remercier très sincèrement, par la même occasion le professeur Aldir Araújo Carvalho Filho, responsable du bureau des relations internationales de l’UFMA, qui a formalisé, au nom de Monsieur le Recteur Natalino Salgado Filho, cette entente.

L’UFMA est une université relativement moderne, car elle a été officiellement créée en 1966. Il existait auparavant des Écoles isolées qui furent réunies par l’intermédiaire d’une Fondation. Actuellement, et ce grâce au Recteur Natalino, que je remercie au passage pour avoir permis ma présence parmi vous aujourd’hui, notre université s’est fixée comme priorité l’amélioration et le développement de diverses disciplines dans ses autres antennes universitaires, dans l’État du Maranhão. À cela s’ajoute l’agrandissement du campus central de Bacanga, à São Luís. Bref, l’UFMA est en pleine expansion.

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Permettez-moi de me présenter. Je suis économiste de formation – j’ai obtenu mon diplôme à la Faculté des Sciences Politiques et Économiques/Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas de Rio de Janeiro en 1959 – et professeur émérite de l’Université Fédérale do Maranhão, où j’ai enseigné de 1979 à 1997. Je suis entre autres, l’un des professeurs-fondateurs de l’Université d’État du Maranhão/Universidade Estadual do Maranhão, pour laquelle j’ai aidé à créér, à partir de 1968, les premières écoles d’Enseignement Superieur rattachées à l’État du même nom. J’ai principalement enseigné la Théorie Économique, l’Économie monetaire et le Marché des capitaux. J’organise désormais des activités littéraires, comme confrère de l’Académie de Caxias/ Academia Caxiense, ainsi que pour l’Académie Ludovicienne (ludoviciens et ludoviciennes sont les habitants de São Luís) /Academia Ludovicense de Letras (ALL), de São Luís.

En ce moment, j’écris un hommage au fondateur de l’Académie Ludovicienne des Lettres / Academia Ludovicense de Letras, Francisco Sotero dos Reis, qui doit paraître en juillet. Il naquit et mouru au Maranhão, au XIXe siècle. “Il fut journaliste, poète et écrivain, et donna naissance à une oeuvre strictement liée aux sujets philologiques [...]”. C’est le précurseur du “phénomène rare de l’aparition des grands auteurs de la Langue Portuguaise Classique”, du XXe siècle.

Selon Luiz Ruffato, journaliste et écrivain, le panorama de la littérature brésilienne, “[...] bien qu’influencé fortement par la littérature portugaise, a souhaité dès le début s’en démarquer en modulant la langue conformément à la mentalité du pays [...]”; “[...] le Brésil colonisé à partir de 1500 reçu plusieurs vagues d’influences extérieures”. Il considère l’année 1836 “comme le commencement de la littérature nationale brésilienne”, qui reste très diversifiée encore de nos jours, cultivant les valeurs passées sans remettre en cause les valeurs actuelles.

Sotero dos Reis (1800-1871), le fondateur de l’ALL, étudia vingt-neuf des principaux auteurs lusophones, tels que Gil Vicente, Luiz Vaz de Camões, Alexandre Herculano,

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Padre Antônio Vieira, Manoel Odorico Mendes, Antonio Gonçalves Dias et Antonio Henriques Leal.

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Ceci est le deuxième travail de mes chroniques. Vingt-sept ont été sélectionnées, avant d’être réunies dans un ouvrage et publiées à São Luís ; ceci dans le but de dépasser la pérennité des textes journalistiques. La principale chronique de ce recueil rend hommage à l’unique ville brésilienne fondée par les Français, à savoir São Luís do Maranhão; elles traitent en outre de mes voyages dans d’autres villes, de livres, musique, famille, études, valeurs et croyances. “Il est question d’évènement passés, dans le but de les garder en mémoires, sans pour autant dévaloriser le présent”.

Selon les propres mots du présentateur et traducteur du livre, le professeur Cadmo Soares Gomes, “[...] le lyrisme créatif est toujours présent et se révèle parfois dans la mélancolie [...]. Quand il traite de la famille, il se révèle un esprit romantique, se rapportant aux sentiments suaves [...]”.

Je souhaite attirer votre attention sur les épigraphes que j’ai volontairement placé au-dessus de chaque chronique. Cela a été fait volontairement. Au-delà de préserver la mémoire de leurs auteurs, ils s’adaptent, dans la plupart des cas, à ce que j’ai écris. Elles servent à la réflexion.

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Je souhaiterais à présent, faire quelques commentaires sur les motivations qui m’ont poussées à écrire ces chroniques, sélectionnées parmi d’autres.

RAISON ET SENSIBILITÉ (pages 17 à 22) est un cri d’alerte à l’attention vers le patrimoine historique des villes, particulièrement de Caxias, au Maranhão – Brésil –, mon lieu de naissance; c’est un parti pris démocratique contre le lent, progressif et inexorable processus de “modernisation” des espaces où l’on naît, grandit et meurt à la fois.

AMOUR PERDU (pages 49 à 55) traite du football, sport que j’ai tant aimé, et dont j’ai fini par me désintéresser suite à des circonstances contraires. Ne dit-on pas que “nous sommes nous et nos circonstances”?

O SERENO DO CASSINO (pages 101 à 104). Sont qualifiées de “Serenos” les personnes qui restent dehors, à observer ceux qui entrent, dans les bals; et Cassino avec deux “s” n’est pas un lieu de jeux de hasard, mais plutôt une discothèque. Les « Serenos » observent, commentent tout, rient, et se moquent des “privilégiés”: à propos de leur tenue, leur compagne. C’est amusant!

COULOIR DE MUSIQUE TROPICALE (pages 119 à 124) relate les souvenirs de mon enfance à São Luís, et des musiques caribéennes que l’on entendait dans les clubs de la ville, les bals, mais aussi les amours de jeunesse et les difficultés à maintenir la flamme.

MÉLANCOLIE (pages 125 à 128). J’apprécie tout particulièrement cette chronique, qui semble être une fiction, mais qui est pourtant bien réelle. Basée sur des faits véridiques, elle montre comment le simple fait de vivre est, pour certaines personnes, un vrai dilemme. “Les poètes seraient-ils prédestinés à avoir une âme tourmentée”?

QU’EST CE QUE LE BONHEUR? (pages 195 à 200). Qui le sait vraiment? Je me suis risqué d’écrire sur une chose qui peut être seulement vécue par qu'en sent. À chacun sa manière d’être heureux; il n’y a pas de recette prédéfinie.

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“Toute personne a droit à la vie, à la liberté et à la recherche du bonheur”. Ainsi le disait en ces mots Thomas Jefferson, troisième président des États-Unis, lorsqu’il écrivit les premières lignes de la Déclaration d’Independence des États-Unis, en 1776.

J’achèverai mes propos en vous laissant réfléchir sur cette déclaration.

Merci beaucoup de votre attention.

Professores e alunos da Universidade,

no Salão de Conferência do Campus de Portes des Alpes, no Bron.

Escritor lionês Jean-Yves Loude

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MEDICINA E ESPIRITUALIDADE

AYMORÉ ALVIM

Será que pode haver algum nexo entre as duas? Eis aí uma questão. Primeiramente, vejamos o que é medicina. Dentre as muitas conceituações, para mim é um conjunto de saberes que visa a cura ou a recuperação do paciente do seu estado de dor ou de um processo mórbido qualquer. Aqui, podemos entender um câncer ou, até mesmo, os momentos de desespero sofridos por certas pessoas frente a uma grande injustiça ou do inevitável, a morte.

Por aqui, podemos conceber que a pessoa parece não ser apenas corpo, matéria. Tudo indica haver mais alguma coisa que nos permita ir um pouco mais além do plano material para podermos atingi-la na sua plenitude. É a visão holística do ser. O homem pré-histórico ou das cavernas, ao longo do seu processo de evolução temporal, passou a entender, em dado momento, que havia condições para desenvolver pensamentos ou concepções abstratas. Com isto começou a conceber que além do seu corpo físico deveria haver mais alguma coisa que embora não visse passou a intuir a sua existência.

Hipócrates, considerado, o pai da Medicina Ocidental, já fazia referência aos objetivos da arte de curar no aforismo atribuído a ele: curar às vezes; aliviar quando possível; consolar sempre.

Caso você atente para isto, será possível observar que a cura ou o ato de aliviar requerem condutas, no plano biológico, físico, que compõe em grande percentual os paradigmas curriculares dos cursos de medicina, no Brasil. Mas, o ato de consolar é uma atitude altruísta, que, sem considerar a visão positivista de Comte, é a expressão de um sentimento de solidariedade, comiseração, de amor cuja expressão exige da pessoa uma limpeza interior de tudo aquilo que possa se contrapor à manifestação desse sentimento humano: a raiva, o ódio, a inveja, o ânimo violento, a vaidade, culpa e outros mais. Como podemos verificar, são atitudes positivas que vão além do plano biológico, isto é, um ato transcendente.

É uma dimensão que exige a interiorização necessária a uma relação íntima consigo, com Deus ou com forças universais, dependendo do credo de cada um. É aqui que se estabelece o encontro da Medicina com a espiritualidade, com a fé e religião.

Atualmente, várias Universidades americanas e também algumas brasileiras têm desenvolvido pesquisas, nessa área, com profícuos resultados, no processo de cura de muitos pacientes, principalmente, portadores de doenças crônicas como câncer, as cardiovasculares e outras.

O Dr. Koenig, psiquiatra, no Hospital Duke, nos Estados Unidos, tem registrado em seus trabalhos a influência que exerce, nas pessoas, o exercício da espiritualidade ou a prática da fé.

Essas pessoas adoecem com menos frequência, têm melhor funcionamento do seu sistema de defesa ou imune, evoluem melhor, no processo de cura, como ainda, apresentam uma diminuição na ocorrência de doenças crônicas.

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Desta forma, podemos concluir que um processo de cura não está adstrito à ação exclusiva do médico, mas para que se concretize é importante a ativa participação do paciente, o que só é conseguido quando se estabelecem entre eles uma mútua relação de confiança que fortalece a relação médico-paciente tão desgastada, ultimamente, pela obsessiva opção pela tecnologia.

Compete, ainda, aos cursos de medicina incluir técnicas que possam instruir o médico na abordagem do seu paciente, nesse mister, resultante de preconceitos antirreligiosos decorrentes do modelo de formação universitária que recebeu. A conscientização, por parte do médico, da importância desses valores o torna mais hábil para saber como despertá-los, nos seus pacientes, que se tornarão mais receptivos ao tratamento e passam a alimentar mais a esperança na vida.

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BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40

[...] Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis[...]

LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011

Uma advertencia: “Escrevi para aprender”41. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a construção do que tratamos por espaço intelectual e análise das estratégias de afirmação42, disputas e repertórios nele acionados, constituíram-se em importantes fontes para obtenção de dados relativos aos agentes em questão, as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Buscou-se mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhemos informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sites particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico.

A originalidade está na abordagem...

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Antologia, de acordo com a Wikipédia43, (ανθολογία ou "coleção de flores", em grego), é uma coleção de trabalhos literários (ou musicais) agrupados por temática, autoria ou período. A palavra vem do nome da mais antiga antologia que se tem conhecimento, organizada pelo poeta grego Meléagro. É usado para categorizar coleções de obras curtas, tais como histórias curtas e romances curtos, em geral agrupados em um único volume para publicação. Refe-se a coleção de trabalhos literários.

41 MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O

BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18 42 SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão.

43 http://pt.wikipedia.org/wiki/Antologia

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T. S. Eliot, em O que é poesia menor? 44, nos assegura que o valor primordial das antologias, como de resto de toda literatura, é “nos dar prazer, embora outras serventias possam prestar aos leitores interessados”. Entre elas, assinala o poeta-crítico, “as antologias são uteis porque ninguém tem tempo de ler tudo, e existem poemas dos quais apenas algumas passagens permanecem vivas” (in BARBOSA FILHO, 2004)45.

No Maranhão, foram publicadas, já, várias antologias que se tornaram clássicas, como: Parnaso Maranhense, de Gentil Homem de Almeida Braga; Panteon Maranhense, de Henriques Leal; Os novos atenienses – subsídios para a história literária do Maranhão, de Antônio Lobo (2008, 3 ed.), a do cinquentenário da Academia Maranhense de Letras, Antologia AML 1908-195846, de Mário Meireles; Arnaldo de Jesus Pereira; Domingos Vieira Filho (1958; 2008); para a construção da presente antologia recorreremos a elas, sempre que necessário, mas a principal fonte será Clóvis Ramos: Nosso céu tem mais estrelas – 140 anos de literatura maranhense (1972); Onde canta o sabiá – estudo histórico-literário da poesia do Maranhão (1972); Roteiro literário do Maranhão – neoclássicos e romanticos (2001); Rossi Corrêa, com O modernismo no Maranhão (1989); Formação social do Maranhão – o presente de uma arqueologia (1993); e Atenas Brasileira – a cultura maranhese na civilização nacional (2001); Jomar Moares com seu Apontamentos de literatura maranhense (1976); e quando necessário nos Perfis Academicos da AML (1993); Assis Brasil e A poesia maranhense no século XX (1994); Arlete Nogueira da Cruz, com o seu magistral Sal e Sol (2006); José Henrique de Paula Borralho, com Uma Athenas equinocial – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro (2010) e Terra e Ceu de Nostalgia – tradição e identidade em São Luis do Maranhão (2011); e por fim, Ricardo Leão: Os atenienses – a invenção do cânone nacional (2011).

Leão (2011)47 refere-se à utilização do terno atenienses para definir a condição de literatos do Maranhão:

Entende-se por ‘atenienses’ um grupo de intelectuais surgidos durante o século XIX, mais especificamente em São Luis do Maranhão, decorrente do epíteto de ‘Atenas Brasileira” que a cidade recebeu em função da movimentada vida cultural e do número expressivo de intelectuais e literatos ali nascidos ou residentes - depois em parte migrados para a Corte no Rio de Janeiro -, com um papel muito importante na configuração da vida politica e literária do país que tinha acabado de emancipar-se da antiga metrópole portuguesa. Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis, a qual teria sido um dos poucos centros de intensa atividade intelectual do primeiro e segundo periodo imperial brasileiro. [...]. (p. 33).

Esclarece, ainda, que a adoção do

44 ELIOT, T. S. Ensaios de Doutrina Crítica. Lisboa: Guimarães Editores, 1977, citado por BARBOSA

FILHO, Hildeberto. LITERATURA NA ILHA (POETAS E PROSADORES MARANHENSES). São Luis: Lithograf, 2004.

45 BARBOSA FILHO, Hildeberto. LITERATURA NA ILHA (POETAS E PROSADORES MARANHENSES). São Luis: Lithograf, 2004.

46 MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958

MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958. Edição fa-similar comemorativa do centenario de fundação da Academia Maranhense de Letras, AML, 2008.

47 LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011

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tropo ateniense também se inspira na obra do crítico maranhense Frederico José Correia, em seu Um livro de crítica (1878)48, no qual critica a invenção em torno da Atenas Brasileira, particularmente endereçada ao biógrafo maranhense Antonio Henriques Leal, autor do Pantheon Maranhense.

Esse autor utiliza o conceito de “cânone” que é, com efeito, uma seleção de obras que atende critérios de eleição e exclusão, os quais podem:

[...] orientados pela questão da representatividade histórica e da fundação e formação de uma literatura, compondo, enfim, a arqueologia do campo intelectual e dos letrados de um país ou, no caso específico da literatura, seguir uma orientação de acordo com a representatividade estética dos textos. (p. 34).

[...] O cânone, portanto, é uma lista de textos, autores e obras, coadjuvada por uma elaborada narrativa historiográfica que, apesar de sua pretenção em ser verídica, como se resto o é toda historiografia, traz consigo motivações que, pelo fato de incluir excluindo, trai e solapa a sua pretenção histórica enquanto verdade absoluta, natural e indubitável. (p. 36).

Reis Carvalho (citado por DURANS, 2012)49 dividiu a literatura maranhense em três ciclos, admitindo que, para essa classificação, não houve “na realidade fatos decisivos e característicos na sua evolução, capazes de representar as linhas divisórias de cada ciclo”. Ele, porém, demarca cronologicamente a literatura da seguinte maneira: “o primeiro ciclo vai de 1832 a 1868”; “o segundo ciclo da literatura maranhense abrange a geração nascida das duas primeiras décadas do último semi-século, de 1850 a 1870”; “O terceiro ciclo [...] compreende os escritores nascidos nas duas primeiras décadas da última geração do século passado, 1870 a 1890” (CARVALHO, 1912, v. 4, p. 9737, 9742 e 9748)50.

Mário Meireles51, seguindo e citando a periodização de Reis Carvalho, admite, no século XIX, a presença de três grandes ciclos, embora ressaltando que, no início daquele século, ocorreu um ciclo de transição (1800-1832) que, para ele, não apresentava relevância para a história literária do Maranhão. No prefácio da Antologia da AML apresentam as seguintes fases: Primeira fase: de maior extensão de tempo, que vai dos séculos XVII a XVIII, da “literatura sobre a terra”; Segunda fase: de transição, do primeiro quartel do seculo XIX, de características essencialmente coimbrão, periodo do romantista classicista52; Terceira fase: do segundo ao terceiro quartel da centúria

48 CORRÊA, Frederico José. UM LIVRO DE CRÍTICA. São Luis: Tip. Do Frias, 1878. 49 DURANS, Patrícia Raquel Lobato. A LITERATURA MARANHENSE NA HISTORIOGRAFIA

LOCAL: representações e contradições. In LITTERA ON LINE, Número 05 – 2012, Departamento de Letras | Universidade Federal do Maranhão, disponível em file:///C:/Users/Leopoldo/Downloads/1270-4439-1-PB%20(1).pdf , acessado em 08 de março de 2014

50 CARVALHO, Antônio dos Reis. A literatura maranhense. In: BIBLIOTECA Internacional de Obras Célebres. Rio de Janeiro: Sociedade Internacional, 1912. v. 20. (citado por DURANS, 2012).

51 MEIRELES, Mário. PANORAMA DA LITERATURA MARANHENSE. São Luís: Imprensa Oficial, 1955;

MEIRELES; FERREIRA; e VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obras citadas; 52 O Classicismo teve início na Itália no século XIV e apogeu no final do século XVI, espalhando-se

rapidamente pela Europa, com a criação da imprensa as informações eram divulgadas com maior rapidez - ocorreu dentro do Renascimento. É uma literatura antiga que sofreu várias influências principalmente greco-latinas, devido à criação das primeiras universidades. Em 1527, quando Francisco Sá de Miranda retornava a Portugal, vindo da Itália, trazendo o doce estilo novo (soneto + medida nova). Clóvis Monteiro assinala que o Classicismo em Portugal durou três séculos de atividades literárias: iniciado em 1527 e encerrado em 1825. No Brasil Colônia, o Classicismo português do período cultista também influenciou a literatura, como por exemplo, na obra Prosopopéia de Bento

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oitocentista, quando surge a imprensa periódica, regresso dos doutores de Coimbra, que em constituir o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro53; São Luis torna-se a Atenas Brasileira; Quarta fase: do terceiro ao ultimo quartel do seculo passado (o livro é de 1958...), com o surgimento do naturalismo54, do parnasianismo55, do simbolismo56; os intelectuais da terra são afastados para fora dela, reconhecidos como literatos nacionais; Quinta fase, e para os Autores, a penultima, dos ultimos anos do seculo XIX para o primeiro quartel do seculoo XX, ciclo do decadentismo57; Sexta, e

Teixeira, que imitava os versos de Camões, até meados do século XVIII, quando surgiria uma literatura nacional ou brasileira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_classicista

53 O Romantismo no Brasil teve como marco fundador a publicação do livro de poemas "Suspiros poéticos e saudades", de Domingos José Gonçalves de Magalhães, em 1836, e durou 45 anos. Ainda no mesmo ano, no Brasil - momento histórico em que ocorre o Romantismo, 14 anos após a sua Independência - esse movimento é visível pela valorização do nacionalismo e da liberdade, sentimentos que se ajustavam ao espírito de um país que acabava de se tornar uma nação rompendo com o domínio colonial. Três fundamentos do estilo romântico: o egocentrismo, o nacionalismo e liberdade de expressão. O egocentrismo: também chamado de subjetivismo, ou individualismo. Evidencia a tendência romântica à pessoalidade e ao desligamento da sociedade. O artista volta-se para dentro de si mesmo, colocando-se como centro do universo poético. A primeira pessoa ("eu") ganha relevância nos poemas. O nacionalismo: corresponde à valorização das particularidades locais. Opondo-se ao registro de ambiente árcade, que se pautava pela mesmice, vendo pastoralismo em todos os lugares, o Romantismo propõe um destaque da chamada "cor local", isto é, o conjunto de aspectos particulares de cada região. Esses aspectos envolvem componentes geográficos, históricos e culturais. Assim, a cultura popular ganha considerável espaço nas discussões intelectuais de elite. A liberdade de expressão: é um dos pontos mais importantes da escola romântica. "Nem regra , nem modelos "- afirma Victor Hugo, um dos mais destacados românticos franceses. Pretendendo explorar as dimensões variadas de seu próprio "eu", o artista se recusa a adaptar a expressão de suas emoções a um conjunto de regras pré-estabelecido. Da mesma forma, afasta-se de modelos artísticos consagrados, optando por uma busca incessante da originalidade. Primeira geração - Indianista ou Nacionalista; Segunda geração - Ultrarromantismo ou Mal do Século; Terceira geração – Condoreira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo_no_Brasil

54 Naturalismo - literária conhecida por ser a radicalização do Realismo, baseando-se na observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. O naturalismo como forma de conceber o universo constitui um dos pilares da ciência moderna, sendo alvo de considerações também de ordem filosófica. No Brasil, as primeiras obras naturalistas são publicadas em 1880, sendo influenciada pela leitura de Émile Zola. O primeiro romance é O mulato (1881) do maranhense Aluísio de Azevedo, o escritor que melhor representa a corrente literária do naturalismo brasileiro. Além dessa obra, foi o responsável pela criação de um dos maiores marcos da literatura brasileira: O cortiço.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalismo#Naturalismo_em_Portugal_e_no_Brasil 55 O parnasianismo é uma escola literária ou um movimento literário essencialmente poético,

contemporâneo do Realismo-Naturalismo. Um estilo de época que se desenvolveu na poesia a partir de 1850, na França. No Brasil, o parnasianismo dominou a poesia até a chegada do Modernismo brasileiro. A importância deste movimento no país deve-se não só ao elevado número de poetas, mas também à extensão de sua influência, uma vez que seus princípios estéticos dominaram por muito tempo a vida literária do país, praticamente até o advento do Modernismo em 1922. http://pt.wikipedia.org/wiki/Parnasianismo#No_Brasil

56 Simbolismo é um movimento literário da poesia e das outras artes que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da época. Movido pelos ideais românticos, estendendo suas raízes àliteratura, aos palcos teatrais, às artes plásticas. Não sendo considerado uma escola literária, teve suas origens de As Flores do Mal, do poeta Charles Baudelaire

57 Decadentismo é uma corrente artística, filosófica e, principalmente, literária que teve sua origem na França nas duas últimas décadas do século XIX e se desenvolveu por quase toda Europa e alguns países da América. A denominação de decadentismo surgiu como um termo depreciativo e irônico empregado pela crítica acadêmica, mas terminou sendo adotada pelos próprios participantes do movimento. http://pt.wikipedia.org/wiki/Decadentismo

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ultima fase analisada pelos antologistas da AML, atual, para eles, que que corresponde ao ciclo do modernismo58.

Meireles (1980)59 caracteriza, os ciclos literários maranhenses através dos títulos dos capítulos de sua obra: “Séculos XVI e XVII – Literatura sobre o Maranhão”; “Século XVIII – Ainda literatura sobre a terra”; “Século XIX – O ciclo de transição do seu primeiro quartel (1800-1832)”; “Século XIX – Segundo Ciclo (1832-1868) – O grupo maranhense no Romantismo brasileiro. O Maranhão Atenas Brasileira”; “Século XIX – o ciclo de 1868 a 1894. Os homens de letras do Maranhão passam a ser, essencialmente, literatos nacionais”; “Século XX: o ciclo de 1894 a 1932, o decadentismo; a reação local para estabelecer, no Maranhão, os foros de Atenas Brasileira”; “Os tempos atuais”.

Na primeira edição de História do Maranhão60 - no capítulo intitulado Panorama Cultural do Maranhão no Império -, aponta os ciclos literários maranhenses, traçando um esquema parecido com os dos autores supracitados. Ele, porém, associa características econômicas a esses ciclos :

Este Grupo Maranhense abrange, no tempo, o ciclo que vai de 1832 a 1868 e corresponde assim, no campo econômico, ao ciclo do algodão”. E continua: “Com o ciclo do açúcar, sobrevém o ciclo literário de 1868 a 1894 [...] desfazendo-se o Grupo local, os nossos homens de letras passam a emigrar cedo para o Sul, onde, granjeando justo renome, fazem-se essencialmente literatos nacionais (MEIRELES, 1980, citado por DURANS, 2009; 2012) 61.

Durans (2009; 2012) 62 afirma que no século XVII, inicia-se uma literatura descritiva acerca do Maranhão produzida pelos colonizadores, a fim de identificar, caracterizar, relatar e descrever a terra conquistada:

58 O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente sobre a cena

artística e a sociedade brasileira na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. O movimento no Brasil foi desencadeado a partir da assimilação de tendências culturais e artísticas lançadas pelas vanguardas europeias no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, como o Cubismo e o Futurismo. Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. Porém, nem todos os participantes desse evento eram modernistas: Graça Aranha, um pré-modernista, por exemplo, foi um dos oradores. Não sendo dominante desde o início, o modernismo, com o tempo, suplantou os anteriores. Foi marcado, sobretudo, pela liberdade de estilo e aproximação com a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais radicais em relação a esse marco. Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de Parnasianismo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo_no_Brasil;

http://www.infoescola.com/literatura/modernismo/ 59 MEIRELES, 1955, obra citada; 60 MEIRELES, Mário. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão,

1980. 61DURANS, Patrícia Raquel Lobato. OS NOVOS ATENIENSES E O IMAGINÁRIO DE

DECADÊNCIA: as representações em Missas negras, de Inácio Xavier de Carvalho. São Luis, 2009. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Orientadora: Prof. Dra. Maria Rita Santos. Disponível em http://www.geia.org.br/pdf/Monografia_Patr%C3%ADcia_Normalizada.pdf , acessada em 11 de março de 2014.

DURANS, 2012, obra citada; 62 DURANS, 2009; 2012, obras citadas;

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Essa produção inicial é denominada ‘literatura de viajantes’, ‘relatos de viajantes’, entre outras denominações. Esses textos tinham como função descrever os aspectos naturais, econômicos e sociais das terras descobertas, com o fim de servir como fonte de informação e de propaganda da terra conquistada. Com o tempo e sua ampla divulgação na imprensa européia, tais produções vão se tornando cada vez mais bem elaboradas.

Já Jomar Moraes é responsável por consolidar a demarcação da literatura maranhense em ciclos, uma vez que se propõe a atingir o objetivo de

[...] apreciar a evolução da literatura maranhense, assim como o papel que lhe cabe no contexto da literatura brasileira, examinando a questão sob seus aspectos mais relevantes [...]: o da importância pessoal de certas figuras e o da repercussão que como grupo geracional foi possível alcançar [...]. (MORAES, 1976, grifo nosso)63.

Para Durans (2012) 64 esse objetivo fica mais evidente com a própria organização do livro, em capítulos e tópicos, apresentados de forma temporalmente linear e delimitando momentos literários. A partir da segunda parte, intitulada Autonomia literária, aparecem os seguintes capítulos: “1832-1868 – Grupo maranhense”; “1870/1890 – Um vigoroso sopro renovador”; ”1899/1930 – Os Novos Atenienses”; “Depois de 1922”.

Prossegue Durans (2012) 65, para quem:

A literatura maranhense apresenta três grandes ciclos, nascendo de fato com a geração romântica, uma vez que antes dela somente existiam relatos sobre o Maranhão e não uma literatura do Maranhão propriamente dita. Didaticamente, muitos autores que se debruçam sobre a crítica, análise e história da literatura maranhense dividem-na em ciclos e gerações que encerram especificidades consoantes ao tempo em que foram produzidos.

A versão oficialmente estabelecida da história da literatura maranhense, com a recente renovação dos debates sobre esse tema, está sendo revista. Lacunas e contradições têm sido apontadas nas investigações históricas até então empreendidas, instigando novos estudos, novas versões, novos olhares – às vezes olhares desconfiados (DURANS, 2009; 2012).

É Ramos (1972, p. 9-10)66 quem afirma que “o Maranhão sempre participou dos grandes movimentos culturais surgidos no Brasil, dando ele mesmo, em muitas ocasiões, o grito de renovação que empolga”. Esse autor classifica nossa literatura em nove fases:

1ª fase – de extensa duração, é “a da literatura sobre a terra”, feita pelos cronistas a contar dos padres capuchos d´Abbeville e d´Evreux;

2ª fase – a do ciclo de transição, em que desapareceram os ultimos cronistas e ensaia-se a literatura da terra, já no primeiro quartel do século XIX, literatura que se caracteriza pela feição coimbrã, fruto do classicismo;

63 MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976 64 DURANS, 2009, obra ciatada. 65 DURANS, 2012, Obra citada. 66 RAMOS, Clovis. NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS – 140 anos de literatura maranhense. Rio de

Janeiro: Pongetti, 1972.

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3ª fase – a que surge a imprensa periódica – “o Conciliador”, “O Argos da Lei”, e “O Censor”, e que os filhos da terra, formados em Coimbra, de regresso da Europa, constituem o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro, justamente a geração de Odorico Mendes, Sotero dos Reis, João Francisco Lisboa, e Gonçalves Dias;

4ª fase – a partir de 1865, a que possibilitou o surgimento do naturalismo, do parnasianismo e do simbolismo, de poetas e escritores levados por força do fator economico a se transferirem para o Sul do país, e foram, muitos deles, literatos nacionais: Teixeira Mendes, Teófilo Dias, Adelino Fontoura, Artur e Aluisio Azevedo, Coelho Neto, Dunshee de Abranches;

5ª fase – com inicio em 1900, em consequencia da visita de Coelho Neto ao Maranhão, de intelectuais que procuraram, permanecendo na terra natal, desenvolve-la, faze-la outra vez grande centro de cultura, a geração de Antonio Lobo, Correa de Araujo, e Nascimento de Moraes, fase áurea do simbolismo no Maranhão, que viu também, como escritores nacionais, Humberto de Campos, Viriato Correa, e Graça Aranha;

6ª fase – ciclo do modernismo, segundo Meireles (1958) a fase atual, mas de transição, de poetas ainda apegados a velhas formulas, neoromanticos uns, neoparnasianos outros, neosimbolistas grande parte, já se firmando alguns poucos, nos canones trazidos pelo modernismo: a fase inaugurada em 1927 por Astolfo Serra;

7ª fase – inicio do movimento “Renovação”67, sob a orientação de Antonio Lopes, é a geração de 4568, quando o modernismo se impôs no Maranhão, principalmente na pintura com J. Figueiredo, cubista; Floriano Teixeira, na mesma linha de Portinari; Cadmo Silva, surrealista, e Jorge Brandão; a fase de Erasmo Dias, em que o Maranhão viu emigrar mais alguns de seus melhores talentos: Josué Montello, Manoel Caetano Bandeira de Melo, Franklin de Oliveira, e Osvaldo Marques;

8ª fase – a da geração de 50, que prosseguiu com exito, a renovação modernista, chegando à poesia concreta69 e neoconcretista70, ao mesmo tempo em que

67 “O movimento de renovação colocado pelas escolas literárias não consiste necessariamente na

exclusão de uma geração anterior, mas um retorno a um movimento que vem antes do modelo negado. Assim aconteceu com o Arcadismo, que revisita os modelos clássicos; com o Parnasianismo, que retoma o Classicismo; e com o Simbolismo, que reassume o subjetivismo romântico. Assim também ocorreu com a literatura neo-ateniense, que pretendia revalidar o foro de Atenas Brasileira, igualando-se a todos os outros”. DURANS, 2009, obra citada.

68 Na literatura brasileira, a chamada Geração 45 surgiu a partir de trabalhos de poetas que produziam uma literatura oposta às inovações modernistas de 1922. Uma fase de literatura intimista, introspectiva e de traços psicológicos. http://www.infoescola.com/literatura/geracao-de-45/

69 Poesia concreta é um tipo de poesia vanguardista, de caráter experimental, basicamente visual, que procura estruturar o texto poético escrito a partir do espaço do seu suporte, sendo ele a página de um livro ou não, buscando a superação do verso como unidade rítmico-formal. Surgiu na década de 1950 no Brasil e na Suíça, tendo sido primeiramente nomeada, tal qual a conhecemos, por Augusto de Campos na revista Noigandres de número 2, de 1955, publicada por um grupo de poetas homônimo à revista e que produziam uma poesia afins. Também é chamada de (ou confundida com) Poesia visual em algumas partes do mundo. O poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjetivas. seu material: a palavra (som, forma visual, carga semântica) . seu problema: um problema de funções- relações desse material. fatores de proximidade e semelhança, psicologia de gestalt. ritmo: força relacional. o poema concreto, usando o sistema fonético (dígitos) e uma sintaxe analógica, cria uma área linguística específica - "verbivocovisual"- que participa das vantagens da comunicação não-verbal, sem abdicar das virtualidades da palavra, com o poema concreto ocorre o fenômeno da metacomunicação: coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não verbal, com a nota de que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-conteúdo, não da usual comunicação de mensagens. a poesia concreta visa

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parte dela se voltava para o romantismo e o simbolismo, fenomeno que também ocorreu no ambito nacional;

9ª fase – a patir de 1969, de jovens que buscavam, atraves de movimentos como a Antroponáutica71, novas formulas poeticas e, como reação ao modernismo, já concluindo o seu ciclo, o movimento dos trovadores72.

Recorremos, ainda, a Clóvis Ramos (2001) 73 - fênix renasce das cinzas, ao propor-se a realizar o “sonho do Dr. Eliezer Moreira Filho”, com a publicação de uma Antologia escolar maranhense. Abrangência das fases diversas da rica vida literária do Maranhão. São elas:

Volume I – quando a brilhante aurora despertava: cronistas franceses, os portugueses da fase colonial e a poesia neoclássica do Maranhão;

Do sol meridiano a luz dourada – os românticos da geração de Gonçalves Dias;

Um Sol de fogo – geração de Sousândrade;

ao mínimo múltiplo comum da linguagem, daí a sua tendência à substantivação e à verbificação : "a moeda concreta da fala" (sapir). daí suas afinidades com as chamadas "línguas isolantes"( chinês) : "quanto menos gramática exterior possui a língua chinesa, tanto mais gramática interior lhe é inerente ( humboldt via cassirer) . o chinês oferece um exemplo de sintaxe puramente relacional baseada exclusivamente na ordem das palavras ( ver fenollosa, sapir e cassirer). http://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_concreta

70 Neoconcretismo foi um movimento artístico surgido no Rio de Janeiro, Brasil, em fins da década de 1950, como reação ao concretismo ortodoxo. Os neoconcretistas procuravam novos caminhos dizendo que a arte não é um mero objeto: tem sensibilidade, expressividade, subjetividade, indo muito além do mero geometrismo puro. Eram contra as atitudes cientificistas e positivistas na arte. A recuperação das possibilidades criadoras do artista (não mais considerado um inventor de protótipos industriais) e a incorporação efetiva do observador (que ao tocar e manipular as obras torna-se parte delas) apresentam-se como tentativas de eliminar a tendência técnico-científica presente no concretismo. O movimento neoconcreto nunca conseguiu impor-se totalmente fora do Rio de Janeiro, sendo largamente criticado pelos concretistas ortodoxos paulistas, partidários da autonomia da forma em detrimento da expressão e implicações simbólicas ou sentimentais. O MANIFESTO NEOCONCRETO - No dia 23 de março de 1959, o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil , (dirigido por Reynaldo Jardim, participante do movimento) publicou o 'Manifesto Neoconcreto', assinado por Ferreira Gullar , Reynaldo Jardim , Theon Spanudis , Amílcar de Castro , Franz Weissmann , Lygia Clark e Lygia Pape . http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoconcretismo.

71 Em 26 de maio de 1972, foi lançada, em Noite de Autógrafos, em São Luís do Maranhão, a antologia poética Antroponáutica, que apresenta poemas de poetas até então inéditos, em livros. Eram eles Chagas Val, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar e Valdelino Cécio. Para eles, alguma coisa estava errada, já que a Semana de Arte Moderna havia acontecido, de maneira ruidosa, há 52 anos antes, em 1922, no Teatro Municipal de São Paulo e poucos, à exceção de Nascimento Moraes Filho, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi, Oswaldino Marques, Lago Burnett e José Chagas, pouquíssimos outros dela tomaram conhecimento, decorridas cinco décadas. Era como se São Luís vivesse ainda em plena época do soneto parnasiano sem tomar conhecimento sequer da linguagem revolucionária de O Guesa, de Sousândrade. GASPAR, Viriato. Os Trinta Anos Pós-Antroponáutica. GUESA ERRANTE, Suplemento literário – Jornal pequeno, São Luis, 29 de novembro de 2005.

72 Com a instituição dos Jogos Florais no ano de 1960, o movimento dos trovadores (então sob a égide do GBT, Grêmio Brasileiro de Trovadores) teve um grande impulso, embora ainda incipiente. Com a fundação e o estatuto definitivo em 1966, a entidade passa a multiplicar-se pelo país inteiro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Brasileira_de_Trovadores

73 RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: neoclássicos e românticos. Quando a brilhante aurora despontava – do sol meridiano a luz dourada – um sol de fogo. Niterói: Clovis Ramos, 2001

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Volume II – onde as estrelas cantam – no tempo de Frutuoso Ferreira, tempo também de Teófilo Dias, Raimundo Correia, Catulo, Coelho Neto e Graça Aranha (fase do movimento naturismo e do parnasianismo);

De rosas cor de rosa no sol posto – o simbolismo no Maranhão;

Vão se abrindo as estrelas e as juremas – sobre o sincretismo, que resultou nos caminhos abertos para o modernismo, entre nós;

Volume III – Asas cantando sob um céu lilás – os ecléticos e os da geração de Corrêa da Silva;

Volume III - o despenhadeiro das auroras – a geração de 45, de poetas e escritores voltados ao hermetismo, à poesia de vanguarda – pós-modernos, uns e outros ainda apegados aos ritmos tradicionais;

Rosas manhãs – contendo a poesia atual do Maranhão;

Um quarto volume, sendo preparado para apresentar, ainda, autores maranhenses, antigos e modernos, que não foram incluídos nos roteiros, e já prontos.

E mais adiante, apresenta-nos novo roteiro, com os títulos que formam o Novo Parnaso Maranhense:

A irmã da noite – a grande poesia do Maranhão, estudo e antologia;

A pedra e o monte – a poesia neoclássica do Maranhão;

O astro das manhãs – o Maranhão na poesia romântica e utra-romantica;

A flor do abismo – ainda os românticos e parnasianos do Maranhão ou a geração de 1880;

No infinito mar – poetas tradicionalistas, de estilo clássico-romantico;

Sinos do entardecer – que exalta bandeira Tribuzzi – ainda com a poesia tradicionalista de poetas imbuídos de sincretismo;

Soluços nas ramadas – começo do modernismo no Maranhão ou geração de 1900;

Velário das estrelas – o modernismo no Maranhão, a geração de 1930;

A música dos violinos ou a geração de 45;

Verbo em chamas – movimentos de vanguarda, poetas pós-modernos, ou a geração de 60;

Espelho grande do tempo – movimentos de vanguarda, pós-modernos;

Brisa e espuma – a nova poesia do Maranhão;

O céu é a mesma luz – que o continua, reunindo poetas do final do século XX, de Enes de Sousa (João Nascimento Sousa), Antonio Carlos Alvim, Leonardson dos Santos Castro, Lenita de Sá, Francisco de Assis Peres Sousa, Paulo Melo Souza, Cesar William, e Luís Inácio Araujo – nascidos nas décadas de 1960/70, e outros, a João Fábio Ramos de Souza, o mais moço, nascido em 1983 [...]

Assis Brasil (1994) 74 faz um “retrospecto poético”, antes de entrar na Poesia do Século XX, considerando que a evolução histórica e estética de nossa (brasileira) poesia

74 BRASIL, Assis, obra citada

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pagou tributo, por longos anos, à evolução da poesia portuguesa, desde os séculos XVI a XIX, de tradição erudita e pomposa, cultivando metáforas e referencias mitológicas, influenciada pela poesia greco-latina.

Para esse autor, as mudanças – aos trancos e barrancos – vieram com os pré-românticos, mudando a linguagem e a estrutura dos poemas, com imagens mais simples, perdendo a ortodoxia nas rimas, com versos mais curtos. Junto com preocupações mais intimas – lirismo – surgem os temas populares e folclóricos. “O Poeta corria atrás da nacionalidade”. Afirma, ainda, que chegou a falar-se, “em pleno fastígio do Neoclassicismo e do pré-romantismo, em Modernismo ‘avant la lettre’, uma ligeira prova do um ‘avant-goût’ que viria à frente” (BRASIL, 1994)75.

Apresenta uma nova ‘“temporalidade”, numa corrida de revezamento, de “forma pendular”, das correntes e movimentos literários, onde uma escola ou estética rígida, formal, algo cerebral, sempre tem sido substituída por uma mais libertária, mais objetiva, como foi a passagem do classicismo para o romantismo, voltando à rigidez com o parnasianismo:

Cronologicamente, a geração de poetas maranhenses que está viva no começo da primeira e segunda décadas do século, e que já experimentara as mudanças romântico-parnasian, enfrentará, mais uma vez, a mudança daquele pendulo estético (p. 21).

Durans (2012) 76 servindo-se de Moisés (2004) 77 estabelece um critério cronológico para distinguir os termos geração, era, época, período e fase:

[...] Para o autor, era designa um lapso de tempo maior em que se fragmenta a história de um povo; época designa a subdivisão de uma era; período, por sua vez, é a subdivisão de uma época; e finalmente fase constitui uma subdivisão do período ou da biografia de autores. Geração poderia, então, ser identificada com período ou fase, enquanto era e época designariam sucessões de gerações irmanadas pelos mesmos ideais. O uso do termo geração pode se dar ainda no sentido biossociológico, ou seja, de faixa etária. Esse é, portanto, um conceito polissêmico, frequentemente empregado, ainda, em sentido político-ideológico (de engajamento político ou militância política), ou em alusão a uma determinada concepção estética, artística ou cultural (escolas). O termo geração no sentido de mesma faixa etária tem sido amplamente usado pela historiografia, frequentemente associado à intelectualidade, à noção de herança, de grupo de intelectuais que dão continuidade a certos referenciais de outros que viveram em épocas anteriores, figurando como patrimônio dos mais velhos.

Rodrigues (2008) 78 afirma com base em Ortega y Gasset e Julian Mariais, que as gerações literárias compreenderiam, grosso modo, um período de 15 anos. Esta seria a escala.

75 BRASIL, Assis, obra citada. 76 DURANS, 2012, Obra citada. 77 MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004, citado por DURANS,

2012 78 RODRIGUES, Geraldo Pinto. A Geração de 45 na poesia brasileira. In POETA POR POETA. São

Paulo, Marideni, 2008, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/geracao_de_45_na_poesia_brasileira.html , acessado em 09 de março de 2014

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A poesia do Século XX é, então, dividida em “gerações”, começando pela de Sousândrade, presidente de honra da Oficina dos Novos; seguindo-se a geração de Correa da Silva, a de Bandeira Tribuzi, e a de Luis Augusto Cassas.

No Maranhão, segundo Castro (2008) 79, a criação de uma academia de letras destinava-se ao cultivo das letras pela ação coletiva ou individual dos seus membros, que buscavam resgatar as glórias intelectuais perdidas durante o suposto Decadentismo80. Para os literatos maranhenses do início do século XX, urgia salvaguardar esse passado de glórias que, segundo eles, suplantava o de todas as outras províncias. Domingos Barbosa afirmava:

Somos uma terra de gramáticos... pelo menos, é assim que todos, a uma voz, nos apelidam [...] Não sei, assim de terra que tenha origem mais fidalga, nem seja mais nobre pela velha e pura linhagem da inteligência e do saber. E, desde os seus princípios até hoje – haveis de perdoar ao maranhense a imodéstia da afirmação – não sei qual possa arrolar maior número de nomes famozos do que os daquêles que entre nós têm cintilado, assim nas ciências como nas letras. (Revista da Academia Maranhense de Letras, 1917, p. 53, citado por Castro, 2008).

Para Meireles (1955) 81, a Academia Maranhense de Letras foi uma transformação da Oficina dos Novos, pelo fato de alguns operários82 terem participado como membros fundadores da Academia, entre eles: Godofredo Viana, Vieira da Silva e Astolfo Marques; no entanto, Jomar Morais discorda e observa que a relação destes intelectuais com a Oficina dos Novos já não ia além do apoio e da simpatia.

Jomar Morais faz esta afirmação baseado no registro de atividades concomitantes das entidades nos jornais da época. Um jantar de confraternização foi registrado entre as duas confrarias no Hotel Central em 15 de novembro de 1908, ou seja, as duas instituições existiram ao mesmo tempo, mesmo que por um curto período em razão do término da Oficina (CASTRO, 2008) 83.

Essa autora considera que, talvez, a maior particularidade dessa instituição (AML) tenha sido a oficialização de uma história da literatura maranhense e com ela a construção de um passado para as nossas letras, elaborando uma história oficial das obras e dos autores mais importantes do Estado.

[...] No próprio culto que rendemos aos nomes dos que nos engrandeceram e nobilitaram os dias idos, não vizâmos somente a homenagem que o dever nos reclama de cada um de nós, e a todos nos ordena. Evocâmo-los tanto para maior

79 CASTRO, Ana Caroline Neres. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: UM SÉCULO

INVENTANDO TRADIÇÕES (1908-2008). OUTROS TEMPOS, Volume 5, número 5, junho de 2008-Dossiê História da América

80 Na literatura clássica maranhense, esse período situado entre os anos de 1894 a 1932, foi marcado pelo “marasmo” e “letargia” na produção local, ocasionada pela ausência dos literatos que foram para outras regiões do país em busca de melhores oportunidades. Também pode ser caracteriza do pela tentativa de reação dos intelectuais que permaneceram na capital maranhense, autointitulados “Novos Atenienses”. (CASTRO, 2008, obra citada).

81 MEIRELES, Mário Martins. PANORAMA DA LITERATURA MARANHENSE. São Luís: Imprensa Oficial, 1955.

82 Assim eram denominados os membros da Oficina dos Novos. 83 Convém ressaltar, que no ano de 1917, a Oficina dos Novos passou por uma reorganização e definiu

como membros honorários os sócios da Academia Maranhense de Letras, outrora a ela ligados. Pelo quadro de membros efetivos que àquela data compunham o corpo social da Oficina, não é possível encontrar nenhum dos nomes daqueles pertencentes à Academia Maranhense de Letras. CASTRO, 2008, obra citada.

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glória sua como para exemplo aos de hoje, de modo que possamos bem preparar os dias de amanhã. (Revista da Academia Maranhense de Letras, 1917, p. 37, in CASTRO, 2008) 84.

Continua: Para tanto, além de reunir dados biográficos e literários, adotaram patronos para cada uma das cadeiras da Academia. Esses patronos deviam ser intelectuais maranhenses, já falecidos que marcaram a história literária do Estado, ou seja, na ausência de um passado literário estruturado, organizar-se-ia uma genealogia elevando alguns nomes para que formassem, de repente, o capital simbólico da instituição.

[...] Sem história, não pode haver tradição, nem nacionalidade, assim como sem memória não pode haver individualidade. [...] esse movimento, porém, limitar-se-á a um surto de imperialismo ou de militaria, se não for inspirado, idealizado pelo culto das glórias [...]. (Revista da Academia Maranhense de Letras, 1916-1919, p. 101 in CASTRO, 2008) 85.

Silva (2013) 86 afirma ser exemplar a forma como se estrutura a AML e o IHGM

em sua relação com os Patronos, Fundadores de Cadeiras e Ocupantes, cuja genealogia funciona à espécie de um sistema de parentesco, conforme descreve Alfredo Wagner (2008) 87:

Tem-se um conjunto de autores, representados como personalidades e figuras tutelares da historiografia regional, que ampara a criação das cadeiras e seus respectivos fundadores e demais ocupantes. Por disposições estatuárias a cada cadeira corresponde um patrono, uma figura como “autoridade em história, ou geografia e ciências afins”, e um fundador, que representa aquele que evoca o patrono ao criar um assento na instituição. O nome dos patronos jamais poderá ser substituído pelos vindouros ocupantes das cadeiras conforme reza o art. 31, § Segundo[Regimento Interno da AML]. Seus nomes mantêm vivas e encarnam os fundamentos das tradições letradas, permitindo aos que aspiram lugares nos panteons e galerias de “vultos maranhenses” uma relação em linha direta com os seus protetores.

Castro (2008) coloca que entre 1916 e 1918, houve intensa movimentação no sentido de traçar uma memória literária para o Estado. As principais medidas tomadas foram:

· Inauguração da estátua de João Lisboa e confecção de uma obra literária sobre a vida do jornalista;

· Reimpressão de inéditos de Sotero dos Reis e de trabalhos de Nina Rodrigues;

· Comemoração do primeiro centenário do nascimento de Cândido Mendes;

84 CASTRO, 2008, obra citada. 85 CASTRO, 2008, obra citada. 86 SILVA, Franklin Lopes. LITERATURA, POLÍTICA, E PESSOALIDADE: LÓGICAS CRUZADAS

DE ATUAÇÃO NO ESPAÇO INTELECTUAL MARANHENSE (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. 2013

87 ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. A IDEOLOGIA DA DECADÊNCIA: LEITURA ANTROPOLÓGICA A UMA HISTÓRIA DA AGRICULTURA NO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Editora Casa 8/FUA, 2008.

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· Estudos realizados em sessões públicas sobre Celso Magalhães e Gonçalves Dias;

· Discursos homenageando Sotero dos Reis, Maranhão Sobrinho, Almeida Oliveira;

· Autorização do Congresso Estadual para publicação da Seleta Maranhense de Astolfo Marques.

Na visão de Martins (2006) 88,

[...] o problema fundamental para esses novos atenienses era dar conta da montagem dessa trajetória intelectual. Com efeito, remontar uma continuidade das teias evolutivas da produção intelectual maranhense não indicava constituir-se uma tarefa cuja consecução fosse produzida pelo voluntarismo evidente na postura de muitos desses intelectuais. Ao contrário, definir as linhas mestras da formação cultural do Maranhão significava identificar com clareza meridiana a ausência de vida cultural orgânica (ARANTES, 1997, p. 17), a falta de seriação de ideias, a ausência de uma genética. (ANDRADE Apud SODRE, 1984, p. 65).

Corrêa (2001) 89 informa que na Ilha de São Luis, em agosto de 1922, surge a antologia Sonetos Maranhenses, lançado pela Távola do Bom Humor, contando com: José Augusto Vieira dos Reis, Cypriano Marques da Silva, Chrysostomo de Souza, Joaquim de Souza Martins, Carlos de Castro Martins, e J. Ribamar Teixeira Leite, todos de escassa memória na história da literatura maranhense. O surgimento dessa antologia visava comemorar o centenário da Independência do Brasil.

Noticia do Diário de S. Luiz90, edição de 10 de outubro de 1921, informa que a Távola do Bom Humor, em reunião do dia anterior resolvera publicar uma coletânea de “sonetos maranhenses”, divulgando a nossa literatura. Pretendiam reunir num volume mais de cem sonetos de autores maranhenses, dividida em duas partes, de poetas mortos e de poetas vivos, desde Gonçalves Dias e Odorico Mendes, até os novíssimos bardos. A comissão organizadora era composta dos cavalheiros Guimarães Neto, De Castro Martins, Cryzostomo de Souza, J. Souza Martins, e J. Teixeira Leite. Em nota91 de A Pacotilha de 30 de dezembro de 1921, era informado que a Távola estaria organizando sua antologia, e que Graça Aranha deveria escrever a introdução. Em nova nota, desta vez de 02 de março de 1922, era informado ao grande público que estava indo à gráfica, e contava com mais de cem sonetos de poetas nascidos no Maranhão, desde Odorico Mendes até a geração atual92. Em O Jornal, edição de 3 de fevereiro de 1922, era confirmada a elaboração da obra, com mais de cem poemas, graças aos esforços de Crizostomo de Sousa93. Em nova nota, em O Jornal, edição de 10 de agosto de 192294, era informada que já encontrava disponível as subscrições para aquisição da obra. Compilados pela Távola do Bom Humor, conteria cento e cinquenta e seis sonetos de

88 MARTINS, Manoel de Jesus Barros. OPERÁRIOS DA SAUDADE: OS NOVOS ATENIENSES E A

INVENÇÃO DO MARANHÃO. São Luís: Edufma, 2006. 89 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO

NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 90 SONETOS MARANHENSES, Diário de São Luis, 10 de outubro de 1921, p. 3 91 SONETOS MARANHENSES. A Pacotilha, São Luis, sexta-feira, 21 de dezembro de 1921, p. 4 92 SONETOS MARANHENSES. A Pacotilha, São Luis, quinta-feira, 02 de março de 1922, p. 4. 93 SONETOS MARANHENSES, O Jornal, São Luis, 3 de março de 1922, p. 94 SONETOS MARANHENSES, O Jornal, São Luis, 10 de agosto de 1922, p. 4

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autores nascidos no Maranhão, contemplando desde Odorico Mendes até o ultimo aedo presente, revelando nomes ainda desconhecidos. Dedicados a nossa terra, e em homenagem a Antonio Lobo. Novamente, o Jornal de 5 de setembro em propaganda informa que já se encontrava à venda, com mais de 160 autores95. A Pacotilha de 5 de setembro de 1922 também informa que já se encontrava a venda na casa Laureta; informa o jornal, ao agradecer o exemplar enviado à redação, que continha mais de cem sonetos, de Odorico Mendes até os vates atuais 96.

Em 2009, em postagem no meu Blog97 trago um dos autores publicado nos “Sonetos Maranhenses”:

A literatura tem se constituída importante fonte de informação para buscar a memória dos esportes, no Maranhão. Terra de escritores, de poetas, de jornalistas, os tivemos interessados no esporte: desde Gonçalves Dias, Aluísio Azevedo, Dunshee de Abranches (meu Patrono no IHGM), Coelho Neto, Nascimento de Moraes, até Dejard Ramos Martins… descobri outro poeta, que se dedicou a escrever sobre o esporte; um poema:

NUNES PEREIRA - Manuel Nunes Pereira – (1892 — 1985), nascido no Estado do Maranhão, foi um antropólogo ictiólogo que viveu grande parte de sua vida em Manaus, e, posteriormente, na cidade do Rio de Janeiro.

Coelho Netto – transformado em uma, nem sempre bem sucedida, agencia de empregos, solicitou a um amigo uma colocação a Nunes Pereira:

“Prestes amigo, O portador, Manuel Nunes Pereira, é poeta e do Maranhão, já se vê, filho da oliveira e da cigarra. Dá-lhe tu que o tens, um lugarzinho no posto que és defensor perpétuo e escracha contrabandistas.

Se deferires este meu pedido, saberei cantar-te o favor em rimas de ouro, as quais já levam o selo e o coração do teu,

Coelho Netto”.

Nunes Pereira foi veterinário do Ministério da Agricultura até a sua aposentadoria e teve alguns de seus opúsculos científicos editados pela Div. de Caça e Pesca do M.A. (O pirarucu, A tartaruga verdadeira do Amazonas e O peixe-boi da Amazônia, tendo sido este último artigo científico publicado, em 1944, no Boletim do Ministério da Agricultura).

Escreveu diversos livros, sendo a sua obra mais conhecida Moronguetá – um decameron indígena, conjunto monumental de pesquisas, apresentado por Thiago de Mello (dois tomos), onde constam reproduções de páginas de cartas a Nunes Pereira emanadas de cientistas sociais como Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss. Com esses estudiosos o antropólogo maranhense-amazonense travou contato pessoal, quando da passagem deles pelo Brasil. Carlos Drummond de Andrade escreveu, no Jornal do Brasil, uma crônica sobre o autor de Os índios maués, um dos primeiros pesquisadores mestiços brasileiros – era cafuzo, descendente de índios, negros e brancos – a obter reconhecimento científico internacional89.

Informa Côrrea90 ser o “Prestes amigo” burocrata aduaneiro, que despachou o jovem Nunes Pereira, sem dar-lhe o emprego. Não atendido em sua pretensão, Nunes Pereira pediu o bilhete de Coelho Netto de volta. O “Prestes amigo”

95 SONETOS MARANHENSES, O Jornal, São Luis, 5 de setembro de 1922, p. 4 96 SONETOS MARANHENSES. A Pacotilha, 6 de setembro de 1922, p. 1 97 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. NUNES PEREIRA e o DISCÓBOLO. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ. Disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/12/24/nunes-pereira/, acessado em 18 de maio de 2014

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mandou-o bater em retirada, afirmando que jamais devolveria um bilhete de Coelho Netto! Desafiado o poeta, havendo perdido o emprego e a oportunidade de ficar no Rio de Janeiro – sonho multicor dos maranhenses no passado – decide que, sem o bilhete, jamais ficaria! E o toma de assalto; o “Prestes amigo” fica atônito, em face da força titânica e hercúlea do poeta na vida prática…

Em 1922, ano da Semana de Arte Moderna, Nunes Pereira era um Atlas a arremessar o seu:

“DISCÓBOLO:”

Lembra Antnoud, perante os meus olhos de artista, Na graça e robustez da plástica espartana, Se, ao sol, que adusta a gleba e os píncaros conquista, Pisa o fulgido pó do estádio que se aplana. Vai, de um lado – e o outro lado, ao término da pista, A ovação que de um coro uníssono espadana, Lança o disco primeiro… e ei-lo, trepido, à vista, Fulge, dentro da luz como uma oblata humana. Arremessa outro disco… e mais outro… e outros muitos, Numa hercúlea impulsão de braços de granito, Sobem, no ar descrevendo intérminos circuitos. E a alma sonha, a seguir de áureos discos os rastros, Um Titan, que atirasse à mudez do Infinito. Os discos de crystal polychrono doa astros

Conforme Corrêa (2010) 98 afirma:

De geração em geração a poesia maranhense vai construindo/percorrendo seu itinerário histórico-literário – de Gonçalves Dias a Sousândrade, remontando ao Grupo Maranhense, passando pelos Novos Athenienses, pela Oficina dos Novos (1900), por Corrêa de Araújo (que, transitando do parnasiano ao pré-moderno, antecipa a geração de 30/40)... Lembrando Bandeira Tribuzi (que, com Alguma Existência, descortina novos horizontes estéticos), o grupo Antroponautico (1972)... Chegando a Luís Augusto Cassas, no transe do século XX/XXI.

Barros (?) 99 considera ser importante destacar que, entre as décadas de 30 e 40, o

fenômeno de aliciamento de poetas, romancistas e ensaístas foi um fenômeno nacional. Com Paulo Ramos, a máquina do Estado foi expandida. Houve um crescimento das instituições públicas. Surgiu um mercado de trabalho mais típico dos intelectuais. Estes, antes “reclusos à existência vacilante da boemia, de mestre-escola e do jornalismo provinciano” passaram a “compartilhar das responsabilidades administrativas do Estado” (CORRÊA, 1993):

98 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista

Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf

99 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181

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Paulo Ramos foi encontrar os intelectuais do Maranhão na Academia Maranhense de Letras (AML), “instituição concentradora da inteligência e dos mecanismos regulares e legitimados de um hipotético reconhecimento das qualidades literárias”. No contexto estado-novista, vários foram os intelectuais maranhenses que se destacaram no exercício da atividade pública, entre os quais, Agnello Costa, Clodoaldo Cardoso, Ribamar Pinheiro, Astolfo Serra, Luso Torres, Oliveira Roma e Nascimento Moraes. Tais intelectuais justificavam o Estado Novo enumerando suas consequências positivas (CORRÊA, 1993, p. 209-219) 100.

A jovem Geração de 30 vai congregar-se no Cenáculo Graça Aranha, estimulada que foram pelo Mestre Antonio Lopes da Cunha, professor do Liceu Maranhense. Josué Montello foi o orador na solene fundação do Cenáculo:

De minha geração literária, em São Luis, eu era o primeiro a sair da província. Antônio Lopes, mestre de literatura do Liceu Maranhense, professor de Faculdade de Direito e grande jornalista, havia-nos reunido à sua volta, sob a invocação do nome de Graça Aranha, num grêmio literário que tinha por sede o Largo do Carmo. [...] Do mestre de Canaã, Lopes não ensinara a insurreição exemplar, que o impelira a romper com a Academia e a tradição literária; ensinara-nos o seu lado acadêmico, que o levara a escrever pouco antes desse rompimento, o primoroso confronto de Nabuco e Machado de Assis, na introdução à correspondência epistolar dos dois escritores. (CORREA, 2001, p. 212) 101.

Para Corrêa (2001), talentos ressalvados, Edmo Leda e Sebastião Corrêa morreram precocemente, e Erasmo Dias e Paulo Nascimento Moraes não construíram, de maneira organizada, obras literárias. Cedo também desapareceu Viana Guará. E alguns, como costumeiro, não confirmaram a vocação matinal, não deixando vestígio na história da literatura maranhense.

Terminada a década de 30, os principais entusiastas da mocidade intelectual maranhense estavam radicados no Rio de Janeiro, onde acreditavam ter perspectivas de reconhecimento nacional como escritores e estudiosos: Neiva Moreira, Ignácio Rangel, Josué Montello, Oswaldino Marques, Franklin de Oliveira, Odylo Costa, filho, Antonio de Oliveira e Manoel Caetano Bandeira de Mello. Outros, como Erasmo Dias, Mário Meireles e Nascimento Moraes, permaneceram no Maranhão. (CORRÊA, 1993). Rossini Corrêa (1989) 102 vai identificá-los como a Geração de 30.

Foi Corrêa da Silva quem sustentou o fogo do combate - afirma Corrêa (2001) 103 – minimizadas as fileiras da falange erguida por Antonio Lopes, nas páginas do Diário do Norte, com o suplemento “Renovação”, que substitui tanto o Cenáculo Graça Aranha, quanto o Centro Maranhense de Artes e Letras. “Renovação” extingue-se com a debandada de quase todos os seus fundadores para fora da ilha, não deixando maiores frutos, mas deve ser lembrado pelo que representou para um punhado de jovens talentosos. Antonio Oliveira, diz que nos últimos trinta anos (1953, quando fala):

100 CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA

ARQUEOLOGIA. São Luis: SIOGE, 1993. 101 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 102 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. 103 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001

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Antonio Lopes da Cunha esteve sempre à frente de quase todos os movimentos literários promovidos pelos moços do Maranhão. Portanto, sua influencia na formação literária desses moços constituirá, sem dúvidas, um capitulo interessante da história da literatura maranhense. (p. 215).

Prossegue Corrêa (2001), dizendo que, daquela geração de 30, ninguém foi mais pranteado do que Sebastião Corrêa, que deixou inédito o livro de poemas Reminiscências.

Barros (2005, 2013?) 104, ao analisar a literatura maranhense num recorte temporal de 1930 a 1960, afirma que, politicamente, podemos afirmar a existência de dois momentos: Primeiro, entre fins da década de 30 e metade da década de 40, quando Paulo Ramos foi Interventor (15/08/1936 – 23/3/1945).

Paulo Ramos, nomeado por Getúlio Vargas em 1937 para Interventor Federal no Maranhão traça uma estratégia política, segundo Corrêa (1993, grifo do autor) 105 - foi “a da produção e consolidação de uma convincente autonomia administrativa, que promovesse o distanciamento gradativo dos tradicionais litigantes oligárquicos da máquina do Estado”. E os soldados que foram seus combatentes “outros não foram, senão os intelectuais”. Com a renúncia militar de Getúlio Vargas, a máquina protetora dos intelectuais maranhenses foi desmontada.

Em 1939 aparece o primeiro número da “Revista Athenas”, e, nas palavras de Nascimento Moraes (1939) 106, tratar-se-ia de “uma arrancada” comprovadora de que “A Athenas Brasileira vive. Não é menos vigorosa a sua expressão mental”. Este é um momento em que a noção de cultura – e tradição – indicada pelo desejo da afirmação do termo “Atenas” ainda continua a apontar, sobretudo para uma tradição que valoriza a Europa, um texto velho, mas continuamente revitalizado.

Nesse período, além da chamada Geração de 30, ou sob sua interferência/influencia, aparece o Centro Cultural Gonçalves Dias. No dizer de Corrêa (1989) 107, organizada com a participação de intelectuais experimentados, como Luso Torres, Manoel Sobrinho, Clodoaldo Cardoso, Bacelar Portela e Nascimento de Moraes (pai), acrescido pelos representantes da mocidade, como Nascimento Morais Filho, Vera Cruz Santana, Arimatéia Atayde, Reginaldo Telles de Sousa, José Figueiras, Agnor Lincoln da Costa, Antonio Augusto Rodrigues, José Bento Nogueira Neves e Haroldo Lisboa Olimpio Tavares. Corrêa (1989, p. 66) traz o depoimento de um dos fundadores do Centro:

Sentimos que a Academia Maranhense de Letras atravessava uma fase de silencio e que a juventude não recebia estímulos no plano literário. Resolvemos, por isso,

104 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re)

inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181, O tema enfocado neste artigo foi discutido na monografia “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidade popular ressignificadas na maranhensidade ateniense”, defendida no curso de História da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005) e também em eventos (BARROS, 2004a, 2004b, 2004c). As fontes históricas citadas podem ser localizadas na Biblioteca Pública Benedito Leite (Setor Arquivo), em São Luís/MA. Disponível em http://www.outrostempos.uema.br/volume03/vol03art10.pdf, acessado em 02/05/2014

105 CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luis: SIOGE, 1993.

106 MORAES, José Nascimento de. Uma arrancada. REVISTA ATHENAS, São Luís, p. 1-2, jan. 1939, citado ,por BARROS (S.D.).

107 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989.

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fundar uma agremiação que pudesse acordar a Academia e, ao mesmo tempo, oferecer aos jovens, nos encontros semanais, oportunidade para o despertar de tendências. A entidade significou, assim, um movimento de reencontro com a tradição literária do Estado e de estímulo às iniciativas no plano das letras.

Outro dos fundadores declara que, teoricamente, o Centro já estava fundado, pois se reuniam no Bar Paulista, e à noite, na Galeria do Carmo, para declarar poesias e discutir literatura. Não era um movimento de escola literária, declara outro integrante a Corrêa (1989): o movimento era cultural, portanto, global. Envolvia tudo – não havendo nunca antes no Maranhão, um movimento neste sentido.

Os encontros centristas aconteciam, então, já, no Casino Maranhense, no Clube Litero Recreativo Português, e na Escola Benedito Leite e, as solenidades mais representativas, no teatro Artur Azevedo.

A publicação de revistas, enquanto veículos culturais foram duas, barcando os ângulos histórico – Caderno Histórico – e literário – Caderno Literário. A deferência de Sebastião Archer da Silva, possibilitando a publicação das revistas, significou um passaporte para a chegada ao aparelho de comunicação de Victorino de Britto Freire, então já senador da república. Assim foi que o Diário de São Luís, do extinto Partido Social Trabalhista, começou a circular seu suplemento literário, sob a direção de Nascimento Morais Filho. O suplemento cultural já estava com 40 números publicados quando Lago Burnett e Ferreira Gullar assumiram a sua direção. E diferentemente de Nascimento Morais Filho, passam a exercer censura, decidindo que “Toda a matéria que não for solicitada deverá passar pela nossa censura” (CORRÊA, 1989, p. 89):

Refletiam, decerto, o contexto do CCGD, relacionado com as exigências da redação do Diário de São Luis. Entretanto, sob disfarce, o sarcasmo da história se processava, e José Sarney, polemicando sobre o poético com os centristas, começava a escrever para o publico, sob beneplácito do Senador Victorino Freire, o qual na década seguinte, o lançaria na política e a quem viria a combater e suceder historicamente.

Depois, de meados da década de 40 até meados da década de 60, período correspondente à oligarquia vitorinista108 que será substituída por outra, a oligarquia Sarney, em 1965. Informa Barros (2005) 109:

Os interventores que substituíram Paulo Ramos: Clodomir Serra Serrão Cardoso (23/3/1945 – 7/11/1945), Saturnino Belo (16/2/1946 – 10/04/1947) e João Pires Ferreira (10-14/4/1947). Os governadores no período vitorinista: Sebastião Archer (1947-1951), Eugênio Barros (1951-1956), José de Matos Carvalho (1957-1961) e Newton de Barros Bello (1961-1966). Neste cenário, terão papel fundamental membros da chamada “Geração de 45” e, em ambos os momentos,

108 Após o declínio do Estado Novo, a história maranhense foi marcada pela ascensão política de

Victorino Freire, um dos principais articuladores da campanha do General Dutra à presidência e responsável pela organização do PSD no Maranhão, partido que tinha fortes ligações na esfera federal e mantinha-se internamente baseado em mandonismos locais e no uso sistemático da “Universidade da Fraude” nos processos eleitorais (in COSTA, Wagner Cabral da. O SALTO DO CANGURU: DITADURA MILITAR E REESTRUTURAÇÃO OLIGÁRQUICA NO MARANHÃO PÓS-1964. CIÊNCIAS HUMANAS EM REVISTA, São Luís, UFMA/CCH, v. 2, n. 1, p. 183-192, 2004.

109 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181

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vozes se levantarão para pintar o Maranhão como decadente, mas pronto para reerguer-se revivendo supostos tempos áureos e prósperos de Atenas.

Importante lembrar que “Alvorada”, jornal do Colégio de 2º Grau “Liceu Maranhense”, então principal escola de Ensino Médio do Estado, é um dos principais jornais que significa a maranhensidade a partir dos motivos da velha Atenas de Gonçalves Dias. Em sua primeira edição, em 10/05/1945, está a poesia “Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa que, tomado pelo espírito da tentativa de revificação dos ditos verdadeiros valores da cultura e da sociedade maranhense, convoca a “mocidade”, declamando: “Acorda Mocidade! Acorda Ateniense! [...].

Em 1948, Lilah Lisboa de Araujo funda a Sociedade de Cultura Artística do Maranhão, mais um dentre tantas sociedades culturais surgidas nesse período. Quanto ao “Gonçalves Dias” recebeu total apoio do então Governador Sebastião Archer da Silva, patrocinando, o Governo, algumas publicações através do sistema oficial do Estado, assim como cedendo espaço, Teatro, para as jornadas semanais, difusão através da rádio oficial, e espaço na Revista da Academia Maranhense de Letras.

Lago Burnett e Ferreira Gullar, agindo como autônomos em relação ao CCGD partem para a publicação da revista Saci – ilustrada por Cadmo Silva e o próprio Lago Burnett, com tiragem de 3.000 exemplares, aceitava colaboração:

[...] O Saci é a figura mais importante da História do Brasil... folclórico. Saci está em toda parte, dá cabo de tudo, remexe com tudo e provoca todo mundo. Mas Saci não é mau. Ele quer apenas se divertir. Ele sempre aparece assim, de repente, sem ser esperado. Não é de cerimônias. O Saci é o tipo mais simples que existe: não tem preconceitos, nem preferências e muito menos tabu. Não tem idade, não teve principio e nem terá fim. Ele é eterno como tudo que é bom e que é belo. Finalmente, como não bebe água encanada de outras fontes, de lagoas estagnadas ou de poços obsoletos, não sofre do fígado e vive sempre sorrindo, com a consciência tranquila de quem faz o bem. O Saci é muito feliz, podem crer! Na sua humildade, é o ente mais feliz do mundo.

Tinha como mérito a abertura à congregação pluralista de colaboradores - no

entender de Corrêa (1989) – haja vista a diversificação do conteúdo, reunindo desde antigos cantares de trovador até poemas sem rima e métrica. A revista, bastante satírica, foi um excelente instrumento de critica ao ambiente literário de São Luis:

[...] provocando, destacadamente, Corrêa de Araujo, Assis Garrido e Clodoaldo Cardoso. Não dispensava, também, a Academia Maranhense de Letras, para onde a maioria migraria, logo a partir da década seguinte, com José Sarney, Lago Burnett e Domingos Vieira Filho. O sodalício se apresentava ao trocadilho “só-dá-lixo”, com os candidatos a acadêmicos denominados de substitutos de “ilustres mortos” e chamados por uma hipotética “ordem analfabética [...] (CORRÊA, 1989, p. 112-113) 110.

Ambos, Ferreira Gullar e Lago Burnett – e tão efêmera quando a Saci – fundam o jornal Letras da Província – periódico de artes e letras da cidade de São Luis do Maranhão, aberto a colaboradores de todo o Brasil, com dois endereços para correspondência; divulgavam os livros recebidos também no Suplemento Cultual do

110 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989

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Diário de São Luis. Informa ainda Corrêa (1989) o surgimento de outra revista, a Afluente, sob a direção de José Carlos e José de Ribamar – Burnett e Gullar. Essa revista teve como particularidade, uma preocupação inédita com a pesquisa, questionando a preferência literária e o problema do livro no Maranhão (CORRÊA, 1989).

A geração seguinte foi a “geração de 45”. Para Rego (2010) 111, também denominada de “Movimento da Movelaria Guanabara”, onde:

O contexto literário da capital maranhense vai-se dinamizar a partir de encontros realizados na Movelaria Guanabara, de propriedade do artista plástico Pedro Paiva. A Movelaria Guanabara servia como espaço para a realização de encontros e debates que, segundo Rossini Corrêa, ali eram traçados caminhos imediatos de intervenção intelectual na realidade maranhense.

Silva (2011; 2013?) 112, ao investigar as diferentes estratégias, espaços e

modalidades de atuação em que se insere um conjunto de agentes que ingressaram na carreira literária entre os anos de 1945 e 1964 no Maranhão, identificou sete movimentos culturais, citando – em quadro – os seguintes: Centro Cultural Gonçalves Dias, Grupo Movelaria, Grupo Ilha, Afluente, Opinião, Apolônia Pinto, e dentre os intelectuais analisados em seu trabalho, alguns não participaram de qualquer movimento (seria o sétimo, de seu quadro):

[...] superado o chamado Estado Novo, que no Maranhão transcorre sob a interventoria de Paulo Ramos, destacam-se entre os “intelectuais” expoentes e os “movimentos” em que se engajavam, nomes como os de José do Nascimento Morais Filho, José Sarney e Bandeira Tribuzi (todos contidos entre os casos aqui analisados), reconhecidamente lideranças do Centro Cultural Gonçalves Dias, Grupo Ilha e Grupo Movelaria Guanabara, respectivamente. No interior destes “movimentos” destacam-se, vinculados ao Centro, Bernardo Coelho de Almeida, Nascimento Moraes Filho, Vera-Cruz Santana, Manuel Sobrinho, Tobias Pinheiro, Dagmar Desterro, Ferreira Gullar, Lago Burnett, Bandeira Tribuzi – deslocando-se logo depois para o Grupo Ilha. Em torno deste último transitavam José Sarney, Bello Parga, Carlos Madeira e Lucy Teixeira. Quanto ao Movelaria Guanabara, uniram-se Antonio Almeida e Lago Burnett, que até então compunha o Centro Cultural Gonçalves Dias.

Moraes (1993) 113, ao analisar a obra de Bello Parga, poeta modernista, fala da existência do Grupo Ilha, de São Luis, liderado por José Sarney e Bandeiras Tribuzzi, e da qual o biografado fazia parte, chegando a integrar o conselho editorial da revista Ilha

111 REGO, Rosemary. A “geração de 45” - (Ou o Movimento da Movelaria Guanabara), In GUESA

ERRANTE, edição 221, publicado em 10 de setembro de 2010, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/13/Pagina1235.htm

112 SILVA, Franklin L. A LITERATURA COMO CONDIÇÃO: APONTAMENTOS PARA A ANÁLISE DAS ENTRADAS NA CARREIRA LITERÁRIA NO MARANHÃO CONTEMPORÂNEO (1945-1964). REVISTA OUTROS TEMPOS, V. 8, número 11, 2011 – Dossiê História e Literatura.

SILVA, Franklin Lopes. LITERATURA, POLÍCIA E PESSOALIDADE: LÓGICAS CRUZADAS DE ATUAÇÃO NO ESPAÇO INTELECTUAL MARANHENSE (1945-1964). Síntese da monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. 2013?, disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014

113 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993

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- no começo da década de 1950114 - porta-voz do grupo, que pregava as ideias pós-modernistas da geração de 1945.

O Grupo Ilha é uma dissidência do CCGD, formalizado com a presença e influencia de Bandeira Tribuzzi que fora afastado do Centro por faltas – faltara três sessões seguidas, contrariando o seu regulamento, que previa a participação obrigatória em todas as sessões; todos são úteis, ninguém é necessário... Trouxe consigo José Sarney, Erasmo Dias, Luis Carlos Belo Parga, Lago Burnett...

Publicam, em 1948, o mensário de cultura “Malasarte”, dirigido por José Brasil (teatrólogo), J. Figueiredo (pintor), e pelos poetas Corrêa da Silva e Bandeira Tribuzi. Em seu editorial – aos leitores – é informado que era formado por um pequeno grupo de alguns dos modernos artistas e escritores do Maranhão atual (1948...). Seus colaboradores foram: Corrêa da Silva, Erasmo Dias, Franklin de Oliveira e Oswaldino Marques, contrapostos a Bandeira Tribuzi e seu circulo, integrado por José Sarney, Lucy Teixeira, Belo Parga, Carlos Madeira, e Domingos Vieira Filho, e temperados por figuras atomizadas, àquela altura, como José Brasil e Lago Burnett (CORRÊA, 1989) 115:

De onde transparece a conclusão de que muito embora aqueles rapazes tenham ficado rotulados como o Grupo Ilha ou Grupo da Movelaria, o pioneirismo do Modernismo maranhense está radicado no mensário de cultura Malazarte, cujos responsáveis diretos e compósitos foram Corrêa da Silva e J. Figueiredo / José Brasil e Bandeira Tribuzi. A experiência de A Ilha, revista mensal de arte dirigida por José Sarney e Bandeira Tribuzi, representou, portanto, um desdobramento das atividades do poeta luso-maranhense enquanto organizador da cultura. A publicação contava com um conselho de redação integrado por Lucy Teixeira, Erasmo Dias, Murilo Ferreira, Domingos Vieira Filho e Luis Carlos Bello Parga.

A Ilha nasceu só E sempre será Mas não hermética E inacessível Pode-se chegar a ela Por qualquer ponta Da Estrela Cardeal Não é preciso bussola Basta atravessar a água Mas não vão se afogar Com o peso da roupa Para alcançar a Ilha É Preciso que dispam As roupas que ainda vestem.

Rossini Corrêa (1993) 116 considera que a “Geração de 45” foi um momento de maior embate literário e resistência política. Ferreira Gullar, jovem intelectual, travou 114 https://br.noticias.yahoo.com/interior-maranh-o-para-bras-lia-154800961.html 115 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. 116 CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA

ARQUEOLOGIA. São Luis, SECMA, 1993, p.226.

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um embate literário com Corrêa de Araújo, que resultou em grande polêmica. A relação dos jovens intelectuais com os escritores de contexto literário diferente foi marcada por discordâncias e contendas. Foi na verdade o maior período de irreverência literária vivido no Maranhão, como se pode observar na afirmação de Lago Burnett: “De modo geral, havia de parte dos velhos simpatia por nós, mas nós éramos realmente insubmissos, atacávamos, atacávamos, atacávamos”:

Voltando-se à Movelaria Guanabara, as discussões ali travadas não se limitavam apenas às discussões literárias, mas passando pelas artes plásticas, entre outros assuntos. O Centro Cultural Gonçalves Dias tinha como meio de divulgação de seu pensamento crítico, um suplemento cultural publicado no jornal Diário de São Luiz, de propriedade do senador Vitorino Freire. Devido o posicionamento questionante dos jovens intelectuais, este teve a sua concessão cancelada. Era o momento de repressão política vivida pelos intelectuais da Geração de 45 e o Maranhão dominado pela oligarquia vitorinista. (REGO, 2010) 117

Como já mostrou Gonçalves (2000) 118, analisando processos de (re) invenção do Maranhão, a partir do estudo da trajetória (fabricada, deliberadamente construída, que se apresenta como natural) de Sarney no campo político e no campo intelectual, a “geração de 50” (geração de 45) idealizou o Maranhão propondo um projeto coletivo para o mesmo, tal projeto foi convertido em projeto pessoal pelo próprio Sarney. Longe de romper com o “estado dinástico”, com o velho e o retrógrado (do vitorinismo) 119, Sarney, com seu projeto “Maranhão Novo”, reinstala e reabilita aquele estado de dinastia. Longe de ser natural, “o Maranhão foi inventado e reinventado, tantas vezes quanto puderam ser construídas estratégias para tal”.

Para Silva (2013) 120, a historiografia e crítica literária local passou a denominar de “modernismo literário” no Maranhão o período de 1945 e 1950 - período etiquetado por “oligarquia vitorinista”. Tais epígrafes consagradas pela historiografia local às diversas fases da política maranhense não têm por fortuitas suas origens e podem nos fornecer importantes elementos para compreendermos os usos estratégicos da memória e das referências ao passado como forma de coesão dos grupos em torno de um passado comum reivindicado:

Envoltos pela atmosfera de disputas faccionais entre “vitorinistas” e “oposicionistas” que (de)marcaria a historiografia maranhense, os “intelectuais” da segunda metade do século XX não hesitaram em se posicionar fazendo uso de suas “vocações literárias”, dando prosseguimento à tarefa herdada dos protagonistas políticos de outrora nas lutas pela libertação do Maranhão, em direção à retomada do seu mítico passado glorioso, de exuberância econômica,

117 REGO, 2010, obra citada, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/13/Pagina1235.htm 118 GONÇALVES, Fátima. A INVENÇÃO DO MARANHÃO DINÁSTICO. São Luís: EDUFMA-

PROIN-CS. 2000 119 O vitorinismo (1945-1966) caracteriza-se pelo domínio, da cena política estadual, de Victorino Freire,

da Ocupação, contestado pelas Oposições Coligadas, que ascenderiam ao poder em meados dos anos 60, tendo início o sarneísmo; a Ocupação era acusada pelas Oposições de consolidar um projeto contrário às verdadeiras tradições maranhenses; trata-se do período de invenção da mística “Ilha Rebelde” na Greve de 1951 e de forte reatualização do mito da Atenas Brasileira. In COSTA, Wagner Cabral da. SOB O SIGNO DA MORTE: DECADÊNCIA, VIOLÊNCIA E TRADIÇÃO EM TERRAS DO MARANHÃO. 2000. 200f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000.

120 SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014

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política e cultural, cujo significado é constantemente reinventado conforme se rearranjam os grupos em disputa. Esta observação ganha relevância para este estudo ao percebermos que, no universo analisado, as principais posições dentre os cargos eletivos e da administração pública são ocupados por figuras proeminentes nas disputas faccionais, aliadas ao grupo dos oposicionistas, que se impôs na posição de dominante no espaço do poder político maranhense.

Menezes (2010) 121 ao traçar o perfil literário e político de dois maranhenses – de nome Ribamar: Gullar e Sarney, afirma:

Antes de receber a alcunha de intelectual, vanguardista, crítico e memorialista, Ribamar já era conhecido no meio acadêmico ludovicense antes mesmo de escrever o seu primeiro livro de poesia, pois era apadrinhado por Manuel Sobrinho (na foto, ao lado do jovem Ribamar e do jornalista Lago Burnett) que fora um dos organizadores do Centro Cultural Gonçalves Dias, uma sociedade cultural que agremiava experientes e jovens escritores de São Luís e que fora presidida por Nascimento Moraes (pai). Em 1946/7, outro Ribamar (então estudante de direito) também tentou entrar para esse clube de intelectuais, não conseguiu. Segundo Nascimento Moraes, sua produção textual foi considerada medíocre pelos mestres literários, entretanto, no mesmo ano o jovem Bandeira Tribuzi (recém-chegado de Portugal) conseguiu entrar e torna-se amigo tanto dos gonçalvinianos (que incluía também Nascimento Moraes Filhos e Lago Burnett e o primeiro Ribamar), quantos daqueles que frequentavam a Movelaria Guanabara (Belo Parga, Murilo Ferreira, Lucy Teixeira e o segundo Ribamar).

E assim partem Ferreira Gullar, Lago Burnett, Lucy Teixeira, entre outros. Ferreira Gullar quando se despede dos seus familiares, dos amigos e dos mestres, afirmando para os novos companheiros de ofício que no Maranhão não havia artes plásticas e que vivera uma fase pré-poética. Ou, como ainda confessou para a Folha de São Paulo em 2005122:

Nasci em São Luís. Era uma cidade à qual as coisas chegavam cem anos depois. Para mim, os poetas estavam todos mortos. Essa era uma profissão de defuntos. Então, comecei como poeta parnasiano, com decassílabos e dodecassílabos. Só

121 MENEZES, Flaviano. Os dois filhos do Mará - Primeira Parte. In Encontrando as Pedras XLI, Blog

MARANHARTE, sábado, 10 de abril de 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhos-do.html, acessado em 08/05/2014

122 MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhos-do.html, acessado em 08/05/2014

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mais tarde tomei conhecimento de que havia outra poesia que não era rimada e metrificada: nenhum princípio a priori, nenhuma norma.

Mais tarde, em outra entrevista, agora para a revista E (nº 77, SESC) 123, ao ser lembrado sobre uma afirmativa de Mário Faustino na qual dizia que o maranhense havia saído de São Luís e chegado ao Rio sabendo tudo de poesia e de artes plásticas, Ribamar/Gullar arrisca ser mais humilde:

[...] A cidade de São Luís continua a ser uma terra de poetas, de pessoas estudiosas e apaixonadas pela literatura, especificamente pela poesia. Quando saí de lá, eu não tinha o conhecimento sobre arte que adquiri um tempo depois. Um dos motivos de ter saído de lá foi exatamente esse. Eu era apaixonado pelas artes plásticas, e lá não havia praticamente nada de artes plásticas. Não tinha museu, salão, galeria de arte, não havia nada. Sequer havia livro sobre arte nas livrarias. O primeiro livro de arte que li era do pai de um amigo meu. [...]

Ao que confirma o outro Ribamar/Sarney, em comentário de Menezes (2010) 124, quando fala de sua mágoa com os escritores do CCGD, em sua Coluna no jornal O Estado do Maranhão de 24/06/2007:

Mas me angustiava o atraso do Maranhão, sua mentalidade romântica e desalentada. Já, então, lera tudo sobre nosso estado, tinha a cabeça feita sobre as origens dos seus problemas. Mas não tinha com quem conversar sobre isso. Minha geração era só, como sempre acontece no Maranhão, prisioneira do brilho literário. E era para isso e por isso que nos reuníamos todas as tardes na Movelaria Guanabara, de Pedro Paiva, local também dos pintores modernos. O CCGD, cultor do beletrismo, o outro grupo de jovens literatos, não nos aceitava.

Aqui permanecendo Bandeira Tribuzi no seu labor literário e no desempenho de suas atividades como economista e Nascimento Morais Filho. Para Rego (2010):

A Geração de 45 foi a mais dinâmica e determinada de todas as gerações pós-anos quarenta, como se pode observar na afirmação de Lago Burnett: “Até hoje, no Maranhão, têm surgido, depois de nós, apenas tentativas isoladas de valores autônomos. Desapareceu o espírito de equipe que, embora tenha mérito apenas episódio, facilita a deflagração de movimentos, sobretudo quando se quer mudar alguma coisa.

Nos anos 50/60, Cruz (Machado) (2006) 125 refere-se à Galeria dos Livros, do emblemático Antonio Neves, onde eram lançados os livros, nas famosas noites de autógrafos. Era Arlete Cruz quem organizava as ‘noitadas’, distribuindo os convites, o coquetel, no espaço cedido, sem custos, para aqueles então jovens literatos, artistas, intelectuais:

Formávamos, assim, um grupo de artistas, ou de pessoas ligadas à arte, com várias tendências e gerações, não chegando a se constituir um movimento

123 MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-

xli-os-filhos-do.html, acessado em 08/05/2014 124 MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhos-do.html, acessado em 08/05/2014 125 CRUZ (MACHADO), Arlete Nogueira da. SAL E SOL. Rio de Janeiro: Imago, 2006

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organizado (nem sequer éramos da Academia Maranhense de Letras, excetuando-se um ou dois), com alguns mais participativos do que outros, mas todos amigos: Bernardo Almeida, José Chagas, Antonio Almeida, Nauro Machado, João Mohana, Carlos Cunha, Paulo Moraes, Venúsia Neiva, Luiz de Mello, Bandeira Tribuzzi, Manoel Lopes, Fernando Moreira, Henrique Augusto Moreira Lima, Olga Mohana, Ubiratan Teixeira, Bernardo Tajra, Déo Silva, Lourdinha Lauande,, Murilo Ferreira, Sérgio Brito, Reynaldo Faray, José Frazão, Maia Ramos, José Maria Nascimento, Jorge Nascimento, Helena Barros, Antonio Garcez, Fernando Braga, Moema Neves, José Caldeira, Erasmo Dias, Reginaldo Telles, José Martins, Yedo Saldanha, Domingos Vieira Filho, Lucinda dos Santos, Márcia Queiroz minha mãe Enói, que me acompanhava sempre), Dagmar Desterro, Mário Meireles, Nascimento Morais Filho, e José Sarney [...] alguns mais tarde se juntariam a nós, como Pedro Paiva, e Ambrósio Amorim (ambos de volta a São Luis), Chagas Val, Virginia Rayol, Alberico Carneiro, Lucia e Leda Nascimento, Othelino Filho, Aldir Dantas, Carlos Nina, Péricles Rocha, José de Jesus Santos, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Lenita de Sá, Luiz Carlos Santos, Nagy Lajos, Aurora da Graça,, dentre outros. (p. 97).

É nesta mesma época que aparece o Suplemento Literário do Jornal do Maranhão – por um período dirigido por Arlete Cruz (Machado) -, um semanário da Arquidiocese dirigido por José Ribamar Nascimento. Nas manhãs de sábado reuniam-se todos por lá, agregando-se ao grupo José Carlos Sousa e Silva, Jamerson Lemos, Lima Filho, Fernando Nascimento Moraes e Orlandex.

Surgem o Plano Editorial SECMA126 e o Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís” 127, com objetivo de incentivar a produção intelectual e literária de alto nível do Maranhão. Para Leão (2008) 128, os novos nomes revelados pelos concursos literários “Gonçalves Dias” e “Cidade de São Luís”:

[...] vêm confirmar mais uma vez esta respeitada tradição, com obras que revelam, além do talento de seus autores, originalidade e competência intelectual acima da média, corroborando um novo quadro de escritores dignos desse título e dos mestres que os inspiram e guiam. A classificação de novíssimos escritores como

126 PLANO EDITORIAL DA SECMA: PRÊMIO GONÇALVES DIAS DE LITERATURA: “Quando em

1994, a governadora Roseana Sarney extinguiu o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, uma instituição que iria completar 100 anos de serviços prestados ao Estado, os artistas se ressentiram de um golpe jamais esperado. Com isso, houve um sensível prejuízo para os Planos Editoriais existentes do próprio Sioge, da Secretaria de Cultura do Estado e da Fundação Cultural do Município de São Luís, já que os livros eram editados na gráfica daquele Órgão. http://www.guesaerrante.com.br/2009/11/19/Pagina1204.htm, 19 de novembro de 2009

127 Instituído pela Prefeitura de São Luís, através da Fundação Municipal de Cultura – FUNC, atendendo o que rege a Lei Municipal nº 560, de 03/09/1995 e objetivando descobrir, divulgar e premiar valores artísticos e culturais do Maranhão. De caráter competitivo e classificatório, aberto a 6 (seis) gêneros artísticos e literários de obras inéditas (exceção para os trabalhos de jornalismo) em língua portuguesa de autores maranhenses ou comprovadamente radicados a pelo menos 1 (um) ano no Estado. DAS CATEGORIAS: 1 – Prêmio Aluízio Azevedo: para obra de ficção compreendendo novelas, romances, contos, peça teatral e literatura infantil; 2 – Prêmio Antonio Lopes: para obra de erudição, compreendendo crítica literária e pesquisa folclórica; 3 – Prêmio Sousândrade: para livro de poesia; 4 – Prêmio Zaque Pedro: para obra literária na área das artes plásticas, que resgate a memória de artistas, obras ou movimentos artísticos maranhenses; 5 – Prêmio Inácio Cunha: para obra literária na área musical, que resgate a memória de artistas maranhenses; 6 – Prêmio para Jornalismo: para trabalho de jornalismo impresso.

128 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

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Bioque Mesito, Bruno Azevedo, Igor Nascimento, Josoaldo Lima Rego, José Marcelo Silveira, Márcio Coutinho, Gilmar Pereira da Silva, Wilson Marques de Oliveira, Francisco Inaldo Lima Lisboa, Wilson de Oliveira Costa Dias, Felipe Magno Silva Pires, entre outros que já vinham traçando a sua trajetória literária há algum tempo, como Geraldo Iensen, Lenita Estrela de Sá, além deste cronista, inclusos alguns escritores com obras já sedimentadas – Fernando Braga, Chagas Val, Jomar Moraes, Herbert de Jesus Santos, entre outros.

O Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, foi criado em 1955 por lei municipal, mas realizado somente a partir de 1974 pela Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FUNC).

Bruno Azevedo (2012) 129 expõe sua revolta com os diversos concursos literários que eram realizados à época, afirmando:

Nossas possibilidades de edição se resumem a duas secretarias de cultura que valem menos que a merda do pombo da cumeeira do Oscar Frota. Os editais são escritos por um paquiderme, executados por um protozoário e resultam em livros tão feios que, ao longo dos anos, recusei-me a ler vários por não suportar o contato com o objeto.

Os caras não se importam com algo com o qual eu me importo muitíssimo, e isso me emputecia! Me inscrevi nesses editais por anos e anos, ganhei algumas vezes, mas nunca saía nada! É preciso que vocês entendam que um dia eu levei esse povo muito a sério. Eu até lia os poemas, porra!

Com o tempo, passou a me incomodar mais a atitude dos autores, que se sujeitam ao Cidade de São Luís todos os anos, sabendo do embuste, como se sujeitam aos editais da Secma (quando esta os faz). O trabalho deles ficava, ao logo dos anos, tão medíocre quanto o esquema todo. Parecia que os editais, antes de promover o tal fomento à produção, a viciava. Há de se tirar o chapéu ao funcionismo, conseguir travar gerações inteiras com uma estratégia de edição tosca e migalhenta como esta é um lance de gênio. Gente que, anos antes, tava amolando as pontas das facas aos murros.

Silva (2013)130 ao analisar os espaços de publicação, afirma que estes recebem tratamento de lugares (lieux), no sentido empregado por Eliana Reis (2001)131, como espaços de “expressão oficial dos grupos” e de criação de laços de identificação, vínculos afetivos e sociais entre os agentes (milieu) - “Lieux du Milieux”.

Estes lugares apresentam-se, portanto, como fontes privilegiadas para a análise do trabalho de construção da memória dos agentes e grupos que por eles ligavam-se, afirmavam-se e se distinguiam por coalizões distintas:

[...] Entre estas alianças, destacam-se as facções em torno de movimentos políticos e literários, que propiciavam também o controle de importantes espaços de

129 AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012,

disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014

130 SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 131 REIS, Eliana T. dos. JUVENTUDE, INTELECTUALIDADE E POLÍTICA: ESPAÇOS DE ATUAÇÃO E REPERTÓRIOS DE MOBILIZAÇÃO NO MDB GAÚCHO DOS ANOS 70. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFRGS, 2001 citada por SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014

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publicação, ensejando inclusive o ingresso de diversos autores na carreira literária. A exemplo da importância desses espaços de afirmação temos a Tipografia São José, da Arquidiocese de São Luís. Gerenciada por Bernardo Coelho de Almeida – entrementes incluído entre importantes estreias como as de José Chagas, Nauro Machado, Macedo Neto, Manuel Lopes e Nascimento Moraes Filho –, fundador da revista Legenda e também publica várias obras de colaboradores desta revista no período analisado, além de lançar outros livros de estreia, como o de José Chagas, Canção da Expectativa (1955). Pelo Centro Cultural Gonçalves Dias Lago Burnett lançou sua primeira obra, Estrela do Céu Perdido (1949) e através da revista Afluente edita alguns livros de sua autoria, como O Ballet das Palavras (1951) e Os Elementos do Mito (1953). Além destas, Voz no Silêncio, de Manuel Lopes (1953); Canção Inicial, de José Sarney (1954) e Iceberg de Macedo Neto (1955). Há também os que não chegaram a publicar, mas participavam dos conselhos editoriais organizados por estes espaços, é o caso de Luís Carlos Bello Parga, que integrava o conselho editorial da revista Ilha, Fundada pelo Grupo Ilha, sob as lideranças de José Sarney e Bandeira Tribuzi, da qual também participava Lucy Teixeira. No entanto, as vinculações destes agentes a determinados lugares e “movimentos culturais” devem ser analisadas relacionando-se os demais posicionamentos tomados em domínios diferenciados e considerados estrategicamente como oportunidades para o estabelecimento de alianças que retroalimentam suas variadas formas de atuação – facilidades de publicação, nomeação para cargos públicos etc. Desta forma a ocupação de cargos públicos vinculados a atividades culturais como a Secretaria de Cultura, FUNC, SIOGE, Conselho Estadual de Cultura e o IPHAN, constituem-se em estratégias privilegiadas para as relações de aliança faccional, que implicam em relações de trocas e retribuições entre estes “intelectuais”, no trânsito entre os domínios político e literário. Assim considerados, justifica-se o percentual elevado dos agentes que ocuparam tais funções administrativas, buscando através do granjeamento das instâncias culturais do estado, condições de sobrevivência, econômica e principalmente literária, que um contexto como o maranhense, sem uma relativa autonomia deste espaço, não lhes poderia ofertar.

Bruno Azevedo (2012) 132 ao referir-se à revista/editora Pitomba, criada por ele, Celso Borges, e Rouben da Cunha Rocha assim se posiciona:

A Pitomba é uma forma positiva de recusa à calhordice geral, ao amadorismo da oficialidade, devolvendo a ofensa na forma de livros ofensivos, porque ousamos achar que o livro é um troço importante, bonito, tesudo e tal. Também é uma maneira de existir, e qualquer existência fora das paredes das repartições, no Maranhão, é transgressora.

Pitomba é uma revista com 44 páginas e tiragem de 500 exemplares. Sem periodicidade, privilegia a produção de artistas contemporâneos das regiões Norte-Nordeste, poetas, prosadores, artistas plásticos, músicos, ilustradores, quadrinhistas e fotógrafos de fora do centro do mapa cultural brasileiro. Editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha. O projeto gráfico é de Bruno Azevêdo, com colaboração de Celso e Reuben. A revista sai com o apoio da livraria Poeme-se e do Chico Discos.

132 AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012,

disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014

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Os editores da Revista Pitomba eram: Bruno Azevêdo – escritor. Formado em História, faz mestrado em Ciências Sociais. Autor de Hemóstase (2000); A Bailarina no Espelho (2007); Breganejo Blues - novela trezoitão (2009); e Monstro Souza - romance festifud (2010). Em 2009, fundou a editora Pitomba! livros e discos; Celso Borges - poeta e jornalista, publicou 8 livros de poesia, os últimos: XXI, Música e Belle Époque, compõem a trilogia A posição da poesia é oposição, em formato livro CD. Desenvolve projetos de poesia no palco, entre eles Poesia Dub, A Palavra Voando e Sarau Cerol; Reuben da Cunha Rocha – ensaísta, poeta e tradutor, com trabalhos publicados nas revistas Cult, Autofagia e Modo de Usar & Co. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Tem inédito o livro Guia prático de atentado ao Papa.

Os anos 70/80, aqui (no Maranhão) convencionados Geração Luís Augusto Cassas:

[...] abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)... Este último, tendo participação confirmada na vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie. (Corrêa, 2010) 133.

O Movimento “Antroponáutica” nasceu no Liceu134 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)135; segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)136. Dinacy Corrêa (2010) 137 diz ser intergrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento: Luís Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1948), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” 138, – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80.

A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirmam que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas- e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”...

133 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista

Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf

134 Escola fundada em 1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde Sotero dos Reis foi primeiro diretor e professor.

135 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d.

136 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994.

137 CORRÊA, 2010, obra citada 138 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis:

Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São

Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara:

Guiarnicê, 2008

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Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) 139, assim se coloca:

Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa.

Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia.

Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo.

Em outro contato, Corrêa 140confirma:

[...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica.

Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas.

Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar.

[como você vê esse(s) movimento(s)? percebe-se que vocês participaram de vários desses, a partir dos anos 70... o que significou e por que naquele cadinho, surgiram

139 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de

2014. 140 CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz,

em 20 de maio de 2014.

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tantos movimentos tentando revitalizar a literatura/poesia de São Luís? qual a efetiva participação de vocês?]

Na minha compreensão, mais ou menos formais, pouco se me deu, pouco se me dá, os movimentos foram os acontecimentos reais, que alimentaram vocações e permitiram que a fidelidade à causa da cultura sobrevivesse no cenário da história do Maranhão.

A nossa efetiva participação era simplesmente total. Estávamos congraçados e arrebanhados, como sugeria Bandeira Tribuzzi – ‘mantenham-se arrebanhados’ – e assim permanecemos até que cada um passasse a escrever de maneira singular o seu destino intelectual.

Deste cadinho de gente surgiram nomes como os de Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, César Teixeira, Josias Sobrinho, Cyro Falcão, Edmilson Costa, Ribamar Corrêa e outros mais, cujas pegadas deixaram marca na areia, na poesia, na música, na pintura, no jornalismo e nas ciências humanas.

A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’.

Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neorromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) 141. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968).

Concordamos que se deva ser acrescentada nessa fase o grupo do Guarnicê, “nascidos” em 1982, tendo como participes Joaquim Haickel junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (irmão de Joaquim, Nagib Haickel Filho), que produziam e apresentavam o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Rádio Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense, se servindo do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense (VAZ, 2011)142; chegaram a publicar uma Revista – Guarnicê.

Seria uma 10ª fase?

A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração acima 143 [a anterior], aponta, em seu

141 ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994 142 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO

HAICKEL, Cadeira 47. Proferido em 13 de Setembro de 2011. Revista do IHGM, no. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 47, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011

143 [Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da

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Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica.. (In GUERRA ERRANTE, 2012).144.

Sobre o Guarnicê, buscamos tanto em Haickel (2014) 145:

Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente,

quanto em Corrêa (2014) 146, a explicação necessária sobre esse “movimento”:

Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, Johão Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno.

Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu).

Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com

temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Some-se a esses nomes, o de Lago Burnet, Déo Silva, José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.] IN http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm

144 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm

145 HAICKEL, Joaquim. Em Correspondência pessoal a Vaz, Leopoldo, em 11/03/2014: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é de do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”.

146 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014.

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a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão.

O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero147. E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília.

FONTE: Lima, 2003, ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, p 9; 100

“Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 148. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponautica:

Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponautica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira.

1984 surge a Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista. Reúne 25 poetas e 60 poemas. De Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo Melo Souza. Recebe capa e ilustrações de Erico Junqueira Ayres e a seleção dos poemas fica a cargo de Celso Borges e Joaquim Haickel. Nauro Machado, no Caderno Alternativo, publica uma critica implacável à Antologia Guarnicê, que segundo ele, os poemas ali editados representavam “um simples ódio contra o sistema ou a vida”, com a média beirando a “entronização de um compromisso que se pretendendo político consegue apenas

147 BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20

ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 148 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara;

Guarnicê, 2003.

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baratear a Arte como um produto também cultural”. Recomenda que os poetas se submetam à orientação de alguém experimentado. Não tarda a resposta, dada por Celso e Joaquim... No ano seguinte, a Antologia Erótica Guarnicê. No dizer de Roberto Kenard, o Guarnicê nunca chegou a ser um movimento. Era tão somente uma publicação.

Lima (2003) 149 afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson brito, Aldo Leite, e muitos outros.

Em setembro de 1974, surge o jornal A Ilha, criado por Paulo Detoni, Luis Carlos Jatobá e João Gonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes, Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme Junior, José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger, Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas.

Os membros desses diversos movimentos são identificados, também, como a Geração Mimeógrafo, iniciada pelo poeta Ribamar Feitosa – natural de Parnaíba-PI -; com o nome de José Rimarvi publica, em 1969, o livro Planície quase minha, impresso no SIOGE. Em 1978, lança – em parceria com José Maria Medeiros – o livro Jo-Zé, datilografado em estêncil e rodado em mimeografo. Depois de alguns lançamentos nesse mesmo formato, e ao lado de poetas estudantes da UFMA, já em 1979, cria a revista Vivência, porta-estandarte do movimento Arte e Vivência, e como integrantes, além do próprio Feitosa, Celso Borges, Antonio José Gomes, José Maria Medeiros, Robson Coral, Rita de Cássia Oliveira, Nonato Pudim, Ivanhoé Leal, Luis Carlos Cintra, Euclides Moreira Neto, Cunha Santos Filho, Kiko Consulim.

Marcelo Chalvinski, Fernando Abreu, Garrone, Joe Rosa, de óculos escuros, Zé Maria Medeiros

149 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003

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Também denominada Geração Mimeógrafo, e que integrou a última fase dos Párias. Ano - 92/93, uma das fotos para matéria do oitavo lançamento da revista 'Uns & Outros’, o "Oitavo Andar” 150. Em 1984, Feitosa aparece nas páginas da revista Guarnicê... Em suas páginas, também aparece João Ewerton, manifestando suas inquietações sobre o futuro das artes plásticas: ele é o presidente da Associação Maranhense de Artes Plásticas, onde transitam, entre os anos 1970 e 1980, Nagy Lajos, Ambrósio Amorim, Dila, Jesus Santos, Antonio Almeida, Péricles Rocha, Lobato, A. Garcês, Rosilan Garrido, Luiz Carlos, Airton Marinho, Ciro Falcão, Fransoufer, Marlene Barros, Rogério Martins e Tercio Borralho, utilizando-se dos mais diversos espaços para suas exposições, como o Cenarte, da Fundação Cultural do Maranhão; Galeria do Beco, de Zelinda Lima e Violeta Parga; Solar Nazeu quadros, da UFMA; Centro de Arte Japiassu, criando em 1972 por Rosa Mochel, Fátima Frota e Péricles Rocha; Galeria Eney Santana, ateliê de Nagy Lajos, e a galeria da Caixa Econômica Federal. Da geração de artistas que se firmam nos anos 80, Miguel Veiga, Paulo Cesar, Donato, Geraldo Reis, Fernando Mendonça, Cosme Martins, Marçal Athaide.

Segundo Lima (2003), os cadernos de cultura, por essa época, ainda eram raros, embora São Luis estivesse vivendo um processo de ebulição cultural, com os seus teatros, músicos, artistas, poetas, escritores e movimentos literários. Mas, diz ele, entre as publicações e periódicos de São Luis, entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e Carlos Andrade. Pelas folhas do tabloide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira Ayres. Américo Azevedo neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento, com seções de literatura, crônicas, poesia e musica, além de cinema. Abre caminho para os chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo.

Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro... Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado...

Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE – conforme Lima (2013)151; e outros de maneira independente. Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico Carneiro.

150 Informações de Marcelo Chalvisnki, e de Paulo Melo, através de correspondência eletrônica, em

30/04/2014. 151 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003

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Lima (2003) faz outro registro importante do período: a coleção Documentos Maranhenses, da Academia Maranhense de Letras, idealizada por Jomar Moraes e com o apoio da ALUMAR.

“Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra [...] assim eu posso trabalhar tranquilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão.

Não devemos esquecer a “Akademia dos Párias”. Lima e Outros (2003) 152 confirmam que já em 1985 Celso Borges abrira uma janela na revista Guarnicê para a Akademia dos Párias, que contava em seus quadros com Fernando Abreu, Raimundo Garrone, Ademar Danilo, Sonia Jansen, Antonio Carlos Alvim, João Carlos Raposo, Paulinho Nó Cego, Guaracy Brito Junior, Ronaldo Reis, Gisa Goiabeira, Maristela Sena, Rozendo, Henrique Bóis, entre outros. “Bem vindos, los párias!”, os saudou Celso no lançamento da revista Uns e Outros, em 1984. Os Párias? - Pergunta-se Félix Lima, e responde que recebem influencias variadas: de Ferreira Gullar e Mário Quintana a Lobão e Caetano; de Whitman e Drummond a Leminski e Chacal; e ainda Angela Rôrô, Elomar, Bukovski, Poe, etc. Anunciam o novo e pregam o desregramento e o anti-academiscismo. “Nenhum de nós vai à missa aos domingos”, advertem153.

152 LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara;

Guarnicê, 2003. 153 LIMA e Outros, 2003, obra citada..

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A revista Uns & Outros atrai discípulos e chega à marca de oito edições temáticas, com a ultima circulando em 1995.

Ao mesmo tempo, 1985, surge o “Poeme-se” - que deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografia de Mobi, é desenvolver uma poesia social, “tentar fazer da poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 154. Mais tarde, o grupo abre mão do engajamento social e parte para a divulgação de uma poesia livre em espaços alternativos. O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o “espaço” Papoético! 154 LIMA e Outros, 2003, obra citada..

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Zeca Baleiro, antes de partir para São Paulo em 1989, publica a revista Undegrau (1988), na linha do Guarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e Outros (2003) 155. Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma. A revista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone, Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi, Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa, Ramsés Ramos, e Edgar Rocha.

E esta outra geração (1990/2000...) que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas e urbanoides. [...] Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura.(In GUESA ERRANTE, 2012)156

Aparecem, assim, novos grupos organizados, como o caso do Poeisis, ao qual pertence Antônio Aílton, Bioque Mesito, e pelos poetas co-geracionais Danyllo Araújo, Geane Fiddan e Natinho Costa. Outros nomes que aguardam publicação, possuindo

155 LIMA e Outros, 2003, obra citada. 156 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-

luis-contemporanea-4400.htm

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obras inéditas de grande relevo estético, são a poeta Jorgeana Braga (A casa do sentido vermelho, Sangrimê, Cerca Viva), Nilson Campos (o romance A Noite, além de contos e poemas), e a sensível poeta Rosemary Rego, com uma obra lírica surpreendente. Uma geração, afinal, não se faz somente de poetas publicados e, às vezes, alguns de seus melhores talentos estão entre aqueles inéditos em vida, como é o caso de vários exemplos, como o de Konstantinos Kaváfis, Emily Dickinson e Cesário Verde157.

Sobre esse movimento, Antonio Aílton158 deu-me o seguinte depoimento:

O “movimento Poesis” iniciou-se em 2006, a partir da iniciativa de Geane Lima Fiddan e do poeta Bioque Mesito, os quais convidaram Antonio Aílton, Rosimary Rego, Hagamenon de Jesus, Paulo Melo Sousa, Raimundo Nonato Costa (Natinho Costa), Daniel Falcão Bertoldo (músico), e Danilo Araújo, grupo que foi crescendo por convites a outros poetas, tais como José Couto Corrêa Filho e César Borralho (este na verdade mais como “participação” em alguns momentos), além de Graziella Stefani, que não escrevia, mas deveria fazer o marketing do grupo.

A ideia era promover ações abrangentes de realizar projetos de incentivo à leitura, de criação e encontros literários e, sobretudo divulgação, unindo, nesta divulgação poesia e música erudita através de recitais em locais públicos e significativos de São Luís, com ideia de expansão para o interior do Estado. Foram montados grandes recitais públicos acompanhados de piano, violoncelo, percussão, violão, flauta, gaita, etc., sendo o mais marcantes na Praça Gonçalves Dias, na Escola de Música do Maranhão e no Teatro João do Vale159, o maior e mais importante deles160, o último com direção da Cássia Pires. Foram feitas chamadas pela TV para esses recitais, e foram filmados [registro fílmico]. Receberam certo [e parco] patrocínio particular e público.

Pela necessidade de receber patrocínios mais significativos, o que só seria possível como pessoa jurídica, foi criada a POIESIS – ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES, em 19/05/2006, totalmente legal, com registro civil de pessoa jurídica e estatuto próprio, com Antonio Aílton Santos Silva como presidente, Geane Lima Ferreira Fiddan como vice-presidente, Fábio Henrique Gomes Brito [Bioque Mesito] como primeiro secretário, Raimundo Nonato Costa e Rosemary como tesoureiros. Hagamenon e Paulo ficaram no Conselho Fiscal.

Na verdade, após a criação da Associação seguiu-se apenas o que já estava programado, isto é, os recitais e organizou-se um projeto de “feira literária”, que não foi em frente porque se soube que a Prefeitura de São Luís começava a organizar a 1ª FELIS, como ocorreu logo depois.

Com a dispersão de muitos membros para estudos e saídas do estado, como foi o meu caso, a Associação ficou em latência, cada um realizando projetos individuais até o momento.

157 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 158 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de

2014, via correio eletrônico. 159 Geane Lima pode dar informações mais precisas sobre estes recitais, pois ela os organizou mais

efetivamente e era quem dialogava com os músicos, sobretudo sobre questões financeiras. 160 Não lembro a data, mas tenho a filmagem. OBS: Da relação “Poiesis” em seu texto, não participaram Jorgeane Braga nem Natanílson Campos. Estes

eram sim do CURARE. Também não me lembro de Mobi fazer parte desse grupo, ao menos com esse nome...

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Outro grupo que surge nessa época, o Grupo Carranca, capitaneado pelos poetas e escritores Mauro Ciro Falcão e Samarone Marinho, comparsas das atividades do Curare - e vice-versa. A partir de 2000, a existência dos dois grupos se encontra praticamente paralelas, e confundidas. Pertencentes a uma faixa geracional um pouco diferente – embora quase coeva –, os membros do Grupo Carranca aceitaram dividir seus espaços e iniciativas, durante algum tempo, com o Grupo Curare. Durante vários anos, as reuniões e encontros do Grupo Curare e Grupo Carranca aconteceram na casa do jornalista Gojoba, sempre com bastante aconchego e diversão. A participação de vários membros do antigo Curare consta das antologias de poemas e contos organizadas pelo grupo Carranca, que agitaram o cenário literário de São Luís entre 1999 e 2002. De lá para cá, os membros de ambos os grupos, agora identificados pelos laços comuns, com seus projetos e propostas definidos, trabalham para construir a identidade da nova literatura maranhense161.

Antonio Aílton também se refere a esses grupos, Curare, e Carranca162:

Em relação ao CURARE, é bom ressaltar que os diálogos, discussões e encontros informais - determinantes para o impulso e maturação da literatura de muitos de seus membros -, consolidaram uma amizade duradoura entre partes de seus membros, tanto que alguns consideram que um certo ‘espírito’ desse grupo não se extinguiu.

O papel aglutinante desse grupo foi sempre do poeta Hagamenon de Jesus (junto com Antonio Aílton, Ricardo Leão, Dyl Pires, Bioque Mesito). Houve também uma confluência dessa amizade com membros do grupo Carranca (jovens e iniciantes poetas), o qual era encabeçado por Mauro Ciro e Elias Rocha, encontrando-se dominicalmente na residência do jornalista Gojoba, pai de Mauro Ciro.

A principal contribuição do grupo (reduzido a um pequeno núcleo) foi ou tem sido, a meu ver, o incentivo e impulso para a busca de uma superior qualidade da produção (poética ou teórica), o incentivo ao crescimento e destaque de cada um – o que pode ser constado nas premiações recebidas pelos membros do grupos (ver relação dos concursos), as quais são motivos de alegria e discussão conjunta.

Leão (2008) 163 – ao comentar os resultados dos concursos de 2007 da SECMA e do Concurso Literário “Cidade de São Luis”, afirma que todos estes novos talentos fazem parte, ao fim e ao cabo, de um mesmo grupo, a maior parte na mesma faixa geracional, outros em faixas diferentes, de poetas, escritores e intelectuais que, lutando por visibilidade e reconhecimento no cenário da literatura maranhense contemporânea:

[...] já vêm trabalhando há pelo menos dez anos, quando não mais, no sentido de produzir uma obra capaz de continuar, com dignidade e competência, a tradição de literatura que o precede, com profundo respeito aos grandes autores maranhenses do passado, mas também com ousadia e inovações.

161 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 162 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de

2014, via correio eletrônico 163 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA

ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

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Para Dyl Pires164, a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam.

Entre seus livros de formação, estão A Poesia Maranhense no Século 20 - Antologia (1994), organizado por Assis Brasil; o último número da revista publicada pela Academia dos Párias (8º Andar); O Circuito da Poesia Maranhense, livro organizado por Dilercy Adler; as antologias poéticas do Grupo Carranca; o Suplemento Vagalume, de Alberico Carneiro.

As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. “Couto abria sua casa para nos receber em sábados dionisíacos. Ali era a nossa Movelaria Guanabara”, lembrou.

Ele destacou também a importância dos projetos de fomento à produção literária promovidos pela Fundação Municipal de Cultura, a Secretaria Estadual, o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas (SIOGE), entre outras instituições.

Já Bioque Mesito165 reconheceu que a geração daquela época foi sendo valorizada quando passou a assinar prefácios de livros e a participar de suplementos literários. Ele ressaltou nomes de outros artistas fora da literatura que contribuíram para a formação da estética do trabalho deles, como o artista visual Binho Dushinka.

Assumindo uma postura mais contemporânea, afirmou não ter influência da poesia de Nauro Machado e que nomes como Augusto Cassas, Mauro Portela, Aberico Carneiro, Celso Borges, Chagas Val e Fontenelle foram mais importantes na sua formação como poeta.

Estamos diante da GERAÇÃO 90, que tinha entre seus membros, além de Dyl Pires, Bioque Mesito e Sebastião Ribeiro, representantes do grupo de poetas daquela geração, nomes como Agamenon Almeida, Eduardo Júlio, Antônio Ailton, Ricardo Leão, Jorgeana Braga, Mauro Ciro, Lúcia Santos, Marco Polo Haickel, Natan, entre outros perdidos na lembrança.

Em 1995, segundo Leão (2008) 166, surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense:

Tratava-se, destarte, de um projeto pretensioso. Porém, não se produz arte literária, sobretudo dentro de uma tradição longa e respeitada como a maranhense, de modo impune e sem grandes pretensões, até mesmo alguma megalomania. É necessário, portanto, recapitular um pouco dessa história, antes que sejamos os únicos que ainda se lembrem dela.

164 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 165 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 166 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

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[...] O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro.

Ricardo Leão recorda que a ideia inicial de montar o grupo fora dele e de Dyl Pires, após um encontro ocorrido em 1995 na Biblioteca Pública Benedito Leite, no anexo aos fundos, onde se elaborou uma lista inicial de amigos e conhecidos comuns, constante de uns 25 nomes, entre os quais vários que já se vinham destacando em concursos locais e nacionais. O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Polo Haickel. O encontro havia, pois, acontecido. Como o projeto da revista naufragou após um tempo, faltou um evento que registrasse e existência do grupo (LEÃO, 2008).

Antonio Aílton Santos Silva (2014) 167, um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especial do Curare, deu um depoimento muito esclarecedor, ao pedir sua biobibliografia; transcrevo-a em parte - a integra está no devido lugar -, pois muito diz sobre como funcionavam esses movimentos, ou grupos, e esclarece muitos pontos. Vamos aos “FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS”:

As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. [...] Apague-se certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009).

[...] Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA [...] O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. [...] Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?...

167 SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA

TRANSITADA DE MUITOS - DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.

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[...] Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, [...] além da jovem poeta Rosemary Rego.

[...] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires.

A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais. Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996).

[...] O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este, sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão.

Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/ UFMA/ Academia Maranhense de Letras.

O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de

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Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros.

O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002).

[...] Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007.

Dilercy Adler (1995) 168 organiza a antologia (a primeira) Circuito de Poesia Maranhense – 100 poemas, 61 autores, contando com a colaboração de José Chagas, Arlete Machado, Alberico Carneiro, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Paulo M. Sousa, Leda Nascimento, e do grande homenageado, Nauro Machado; as fotos foram de Edgar Rocha. O objetivo era mostrar a produção maranhense de poesias durante a 47ª Reunião Anual da SBPC, realizada em São Luis.

Logo a seguir, 1998, começa a organizar as antologias da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, Latinidade169. A SCL-MA tem em sua diretoria, além da Dilercy (presidente), Ana Maria Costa Felix (vice), Roberto Mauro Gurgel Rocha (1º Secretario); Cesar maranhão (2º Secretário); José Rafael Oliveira (Tesoureiro), e Paulo Melo Sousa (Diretor Cultural). A SCL foi fundada em 1909 na Itália; em 1942, a segunda, em Portugal; o Brasil foi o terceiro país a recebê-la, pelo final dos anos 70, fundada por Joaquim Duarte Batista; no Maranhão foi criada em 25 de junho de 1997,

168 ADLER, Dilercy Aragão. CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE. São Luis: UNICEUMA, 1995 169 ADLER, Dilercy (Organizadora). I COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA

LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 1998.

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no Palácio Cristo Rei. No ano seguinte, sai a sua primeira coletânea; com periodicidade de dois anos. Foi até a quarta edição, em 2004170. Atualmente, Dilercy dirige a SCL-Brasil, desde 2013, quando do Projeto Gonçalves Dias; a seccional do Maranhão está se reestruturando, já que ela não pode acumular as funções...

Em 1996, é publicada uma antologia de jovens poetas - posteriormente chamada Safra 90, que consagrou um bom número dos que faziam parte da configuração original do grupo Curare: Antônio Aílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito), Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos), Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros:

[...] Entretanto, não foi inteiramente um sucesso, pois a antologia surgiu com a proposta de divulgar a jovem poesia de todo o Estado; embora o pessoal do grupo Curare fosse a maioria, a antologia não estava atrelada à existência de um grupo, pois havia outros antologiados que não comungavam de ideias comuns e mesmo pertenciam a faixas geracionais diferentes, como o caso de Ribamar Filho, o “Riba” do sebo Poeme-se, ex-integrante da Akademia dos Párias. 171

As propostas do Grupo Curare são efetivadas em um evento, no inicio de 1998, quando surge a ideia de uma exposição e recital, intitulada Sygnos.doc, acontecida no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. Esta exposição absorveu muitos esforços, consumindo muito tempo, nervosismo e paciência. O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego172.

170 ADLER, Dilercy (Organizadora). II COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA

LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2000. ADLER, Dilercy (Organizadora). III COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA

LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2002. ADLER, Dilercy (Organizadora) IV COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA

LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2004. 171 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 172 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

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Alberico Carneiro173 tem uma grande contribuição, com o seu Suplemento Literário do Jornal Pequeno: O Guesa Errante174. Vem publicando sistematicamente antologias dos novos poetas. Desde 2002, seus anuários retratam não só o panorama da literatura brasileira, e em especial a maranhense, como dá oportunidade aos novos autores:

Um anuário cultural e literário não é tão só um documento de resgate, frio e estanque. Mais que isso é o registro de invenções ficcionais de poéticas de várias linguagens que incluem desde o poema, a prosa e passa pela música, o cinema, o teatro, o folclore, o artesanato e as artes plásticas em geral. [...] É a celebração de um acontecimento raro no panorama da literatura maranhense nos dias atuais [...] Anuário é a biografia e a autobiografia de um raro sobrevivente no mundo das Letras da Atenas Brasileira, o Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. É um marco do aniversário da poesia em festa e em estado de graça que, em sua força emotiva, nos comove e emociona através das linguagens verbal (do poema, do conto, do romance, do ensaio, da crítica) e não verbal (das artes plásticas, da música, dos semáforos, dos sinais de comunicação gestual e do que há de corpográfico na dança, no teatro, no cinema e no dia-a-dia do Universo. [...] A publicação dos Anuários serve também para constatar que a linha editorial do Suplemento não contempla exclusivamente os artistas consagrados, pois dá destaque aos novos, inclusive aos quase desconhecidos e aos desconhecidos, desde que suas produções apresentem valor no processo evolutivo da criação literária maranhense.175

Também de 2002 é o movimento denominado Poesia Maloqueirista, nascida em São Paulo, do encontro de poetas que veiculavam seus libretos pelas ruas, de identidade mambembe; atualmente, na era digital, o coletivo reforça tais elementos com uma posição artística multifacetada, que mantém a poesia como base de linguagem, porém abrindo o campo de criação e troca de experiências, desenvolvendo saraus, oficinas, publicando livros, promovendo intervenções performáticas e eventos multimídias. Convidados para se integrar ao grupo, os maranhenses Celso Borges, Reuben da Cunha Rocha, Josoaldo Lima Rego, além do cantor Marcos Magah, que participam de uma antologia organizada neste ano de 2014176.

A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Maranhão – SOBRAMES-MA – lança, em 2003, sua primeira antologia: Arte de Ser. Cinco anos depois, 2009, aparece a sua segunda – Receita poética177.

Em 2011, é realizada a exposição TrezeAtravésTreze178, de poesia e artes plásticas com 26 artistas (13 poetas + 13 artistas plásticos) que dialogam entre si, direta 173 ALBERICO CARNEIRO - Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento

Cultural e Literário do JORNAL PEQUENO. Admirável poeta e professor nasceu em Primeira Cruz, no dia 15 de maio de 1945, e viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado. In http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/alberico_carneiro.html

174Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/ 175 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/24/Pagina17.htm 176 Jornal O ESTADO DO MARANHÃO. LEITURAS DE UMA NOVA LITERATURA

MARANHENSE. Caderno Alternativo, São Luis, 13 de março de 2014, p.1. 177 HERBERT, Michel (Organizador). RECEITA POÉTICA – antologia. São Luis: Lithograf, 2009 178 http://ponteaereasl.wordpress.com/2011/12/13/exposicao-de-poesia-e-artes-plasticas-reune-26-artistas-na-galeria-hum/

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ou indiretamente, apresentando um painel de escritores e pintores maranhenses de um período que cobre os últimos 30 anos: final do século 20 e início do 21. Versos de 13 poetas atravessando os traços de 13 artistas plásticos, poética plástica que vem ocupando salões, galerias e livrarias do Maranhão e do Brasil. A produção é da Galeria HUM e da revista cultural Pitomba! “Poesia não é só poesia e nunca apenas poesia, mas diálogo e atrito com outras formas de expressão”. TrezeAtravésTreze é um exercício, uma possibilidade de aproximação entre artistas maranhenses que nas últimas três décadas se destacam na literatura e nas artes visuais”, diz Celso Borges. Poetas: Antonio Ailton | Celso Borges | Couto Correa Filho | Diego Menezes Dourado | Dyl Pires | Eduardo Júlio | Fernando Abreu | Jorgeana Braga | Josoaldo Rego | Lúcia Santos | Luís Inácio | Paulo Melo Souza | Reuben da Cunha Rocha; Artistas Plásticos: Almir Costa | Ana Borges | Claudio Costa | Cosme Martins | Ednilson Costa | Edson Mondego | Fernando Mendonça | Marçal Athayde | Marlene Barros| Ton Bezerra| Roberto Lameiras | Paulo Cesar | Victor Rego

Dilercy Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz organizam a Antologia “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” 179, em 2013, após quase três anos de intenso trabalho. Obra em dois volumes, contendo, o primeiro, 999 poemas em homenagem ao Poeta Caxiense, e o segundo, o poema: “Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia”, de Alberico Carneiro180, completando mil poemas. Ainda, um terceiro volume, coletânea sobre a vida e obra de Antonio Gonçalves Dias, reunindo 46 pesquisadores181. E um quarto volume...182

A Antologia Mil poemas para Gonçalves Dias é a quarta organizada nesse sentido, em todo o mundo. Reuniu poetas do: Brasil, Chile, Peru, Uruguai, Portugal, Equador, México, Canadá, Panamá, Japão, e de Moçambique; dos Estados Unidos América; da Argentina, Bolívia, Venezuela, Espanha, França, Bélgica e Áustria. Do Brasil, diversos estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Paraíba, Goiás, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal, Paraná, Piauí, Sergipe, Alagoas, Santa Catarina, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte.

Do Maranhão, a cidade de São Luís foi representada por 89 poetas, seguida de Caxias, Esperantinópolis, Guimarães, São Bento, Sambaíba, Carolina, Balsas, Palmeirândia, Pinheiro, Pedreiras, São Vicente Férrer, Vitória do Mearim, Codó, Paraibano, Turiaçu, Lago da Pedra, Coroatá, Pio XII, Dom Pedro, Cururupu, Presidente Dutra, São Francisco do Maranhão, Itapecuru-Mirim, Viana, Barra do Corda, Vargem

179 ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS.

São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1a_-_parte_1; http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1b_-_parte_2;

180 CARNEIRO, Alberico. ILHA DO AMOR – GONÇALVES DIAS E ANA AMÉLIA. IN ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/livro_alberico_1_

181 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/sobre_gd2a_1;

182 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO. “Estava eu no meu canto, saboreando o ‘dulce far niente’ pós ressaca das correrias dos últimos seis meses dedicados integralmente ao Projeto Gonçalves Dias – não conto o ano e alguns meses anteriores a 2013... Quando a Dilercy manda mensagem: Combinamos produzir um ‘Diário de Viagem’. Depois lhe falo melhor do Projeto, combinamos no ônibus. Mas, de um modo geral, é escrever sobre a participação e impressão no/do evento. [...]. O nome proposto é: “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS: diário de viagem.” In ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores) “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” - DIÁRIO DE VIAGEM. São Luis, 2014, no prelo.

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Grande, São João Batista, São Bernardo, Barão do Grajaú. Há outros participantes sem identificação de país e/ou estado brasileiro.

De acordo com Teixeira (2014) 183, um novo grupo se forma: “Marcha pela poesia”, movimento que nasceu numa dessas redes sociais que circulam pela Internet. Vem se reunindo no Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho”. O autor da matéria não fala quem são os seus membros, mas trata-se de jovens com idade entre 25 e 30 anos, já com uma vasta produção divulgada através dos meios digitais, que já podem compor uma coletânea.

E tem-se conhecimento de um “Catálogo dos Cafés Literários do Odylo”, sendo organizado por Ceres Fernandes, dos quatro anos de palestras, debates, entrevistas e mesas redondas, 30 cafés, que será editado por Jomar Moraes. Certamente será mais um documento de atividades literárias realizadas em São Luís184...

Quando da constituição da ALL, o Membro Fundador Wilson Pires Ferro, juntamente com a Confreira Ana Luíza Almeida Ferro constituíram comissão para elaborar uma lista de literatos para comporem o quadro de Patronos das Cadeiras a serem fundadas: “SUGESTÕES DE NOMES PARA COMPOREM O QUADRO DE PATRONOS DE CADEIRAS (1 a 40) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL)” 185. Elaboram dois quadros: nascidos em São Luis – ludovicenses; e literatos não-ludovicenses, mas que tiveram sua obra ligada à cidade e/ou ao Maranhão, considerando dos mais antigos aos contemporâneos, todos falecidos:

I – LUDOVICENSES

- Manuel Odorico Mendes - (24.01.1799 – 17.08.1864). Obras: Merope, de Voltaire – Hino à tarde (poesia) – Tancredo, de Voltaire – Eneida brasileira, de Virgílio – Opúsculo acerca do Palmeirim de Inglaterra – Ilíada de Homero – Odisséia de Homero.

- Francisco Sotero dos Reis - (22.04.1800 – 10.03.1871). Obras: Postilas de gramática geral; aplicada à língua portuguesa pela análise dos clássicos: ou guia para a construção portuguesa – Gramática portuguesa: acomodada aos princípios gerais da palavra seguidos de imediata aplicação prática – Comentários de Caio Julio Cesar, traduzidos em português – Curso de literatura portuguesa e brasileira.

183 TEIXEIRA, Ubiratan. HOJE É DIA DE... POETAS SE REUNEM NO “ODYLO”. O ESTADO DO

MARANHÃO, São Luis, 25 de março de 2014, sexta-feira. Caderno Alternativo, p. 8, disponível em http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2014/04/25/pagina266627.asp, : Rapazes e moças que formam o grupo maranhense "Marcha pela Poesia" estarão se reunindo hoje no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho para escutar mais um luminar de nossa história literária, desta vez a poetisa, cronista e contista Arlete Nogueira da Cruz Machado e debaterem com a convidada aspectos importantes da cultura literária maranhense, sobretudo aqueles que forem destacados por Arlete ao longo de sua conversa.

184 FERNANDES, Ceres. Correspondência pessoal. Em 11 de março de 2014. Via correio eletrônico. 185 ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL. Livro de Atas. ATA DE REUNIÃO no. 03/2013

- 05 de outubro de 2013 - ATA DA REUNIÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, realizada no dia 05 de outubro de 2013, na Sala de Multimídias do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho.

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- Joaquim Maria Serra Sobrinho/(20.07.1838 – 29.10.1888)/Obras: Mosaico – O salto de Lêucade – Um coração de mulher – Versos – Quadros – A imprensa no Maranhão – 1820-1880 (sessenta anos de jornalismo).

- Maria Firmina dos Reis/(11.10.1825 – 11.11.1917)/Obras: Úrsula, Gupeva (romances) e Cantos à beira-mar.

- Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo/(07.07.1855 – 22.10.1908)/Obras: Carapuças – Horas de Humor – O dia de finados – Rimas de Artur Azevedo (poesias) – Contos fora de moda – Contos efêmeros – Contos em verso – Contos cariocas – Vida alheia.

- Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo (14.04.1857 – 21.01.1913) Obras: Uma lágrima de mulher – O mulato – Memórias de um condenado – A gazetinha – A condessa Vésper (mistério da Tijuca) – Casa de pensão – Filomena Borges – O coruja – O país – O homem – O cortiço – A mortalha de Alzira – Livro de uma sogra (romance) – Demônios (contos) – Pegadas (contos).

- Raimundo da Mota de Azevedo Correia/(nasceu a bordo do vapor São Luís, na baía de Mogunça, viajando com seus pais de Turiaçu para a capital São Luís)/(13.05.1859 – 13.09.1911)/Obras: Primeiros sonhos – Sinfonias – Versos e versões – Aleluias – Poesias.

- José Pereira da Graça Aranha/(21.06.1868 – 26.01.1931)/Obras: Canaã – Malazarte – A estética da vida – Machado de Assis e Joaquim Nabuco – O espírito moderno – A viagem maravilhosa.

- Euclides Faria (26.03.1846 – 11.10.1911)/Obras: Diversos – Arabescos – Cartas ao compadre Tibúrcio (notícias da Capital por Lourenço Gomes Furtado – Miscelânea – Cartas a pai Tobias – Retratos a giz – Obras – Brisas da Amazônia – O tacacá – Cartas ao compadre Tibúrcio.

- José Ribeiro do Amaral (03.05.1853 – 30.04.1927)/Obras – Apontamentos para a história da revolução da balaiada – Fundação do Maranhão – Limites do Maranhão com o Piauí ou a questão de Tutóia – Efemérides maranhenses – O Estado do Maranhão em 1896.

- Hugo Vieira Leal (21.07. 1857 – 16.03.1893)/Obras: Rosa Branca – Laurita (romances) – Rosas de maio –Lucrézia – Camões e o século XIX.

- Antônio Batista Barbosa de Godois/(10.11.1860 – 04.09.1923)/Obras: História do Maranhão – O mestre e a escola – Os ramos da educação na escola primária – Higiene pedagógica.

- Mário Martins Meireles (08.03.1915 – 10.05.2003)/Obras: O imortal Marabá – Gonçalves Dias e Ana Amélia – José do Patrocínio – Panorama da Literatura Maranhense - Veritas liberabit nos – Pequena História do Maranhão – O 5º. Centenário do Infante D. Henrique no Maranhão – História do Maranhão – França Equinocial – Guia Turístico – São Luís do Maranhão – Glorificação de Gonçalves Dias – Catulo, seresteiro e poeta – São Luís – cidade dos azulejos – História da Independência do Maranhão – Santos Dumont e a conquista dos céus – Melo e Povoas – governador e capitão-general do Maranhão – Discursos na Academia – História da

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Arquidiocese de São Luís do Maranhão – Dom Diogo de Sousa – governador e capitão-general do Maranhão e Piauí – O ensino superior no Maranhão; esboço histórico – Apontamentos para a história da Farmácia no Maranhão – Os negros no Maranhão – O brasão d’armas de São Luís do Maranhão – O Maranhão e a República – Os holandeses no Maranhão – História do Comércio do Maranhão (v. 4) – Apontamentos para a história da Medicina no Maranhão – Rosário do Itapecuru-Grande – Dez estudos históricos – A Santa Casa de Misericórdia do Maranhão; subsídios para a sua história – Vinte e Oito ou Vinte de Julho? – João de Barros, primeiro donatário do Maranhão – O Brasil e a partição do mar-oceano.

- Maria da Conceição Neves Aboud/(10.07.1925 - ?)/Obras: A ciranda da vida – Grades e azulejos – Rio Vivo – Teias do tempo – O preço – Cinza e rosa – Um amor de psiquiatra.

- Dagmar Destêrro e Silva (09.09.1925 - ?)/Obras: Recordando São Luís – Segredos dispersos – Parábola do sonho quase vida – Pedra-vida – Poemas para São Luís – Canto ao entardecer – Seleta poética.

- Josué de Souza Montello/(21.08.1917 - ?)/Obras: (Romances) Janelas fechadas - A luz da estrela morta – Labirinto de espelhos – A décima noite – Os degraus do paraíso – Cais da sagração – Os tambores de São Luís – Noite sobre Alcântara – A coroa de areia – O silêncio da confissão – Largo do Desterro – Aleluia – Pedra viva – Uma varanda sobre o silêncio – Perto da meia-noite – Antes que os pássaros acordem – A última convidada – Um beiral para os bentivis – O camarote vazio – O baile de despedida – A viagem sem regresso – Uma sombra na parede - Mulher proibida – Enquanto o tempo não passa – (novela) – O fio da meada - Duas vezes perdida – Numa véspera de Natal – Uma tarde, outra tarde – A indesejada aposentadoria – Glorinha – Um rosto de menina e outras novelas reais.

- José do Nascimento Morais Filho/(15.07.1922 - ?)/Obras: Clamor da hora presente – Guarnicê – Pé de conversa – Azulejos – O que é o que é? - Esfinge do azul – Esperando a missa do galo – Maria Dilermina; fragmentos de uma vida – Cancioneiro geral do Maranhão.

- José do Nascimento Moraes (19.03.1882 – 21.02.1958) Obras: Puxos e repuxos – Vencidos e degenerados – Neurose do medo.

- Franklin de Oliveira/(12.0.1916 - ?)/Obras: Sete dias – A fantasia exata – Rio Grande do Sul: um novo Nordeste – Revolução e contra-revolução no Brasil - Que é a revolução brasileira? – Viola d’amore – Morte da memória nacional – A tragédia da renovação brasileira – Literatura e civilização – Euclydes; a espada e a letra – A Semana de Arte Moderna na contramão da história e outros ensaios.

- João Dunshee de Abranches Moura (02.09.1867 – 11.03.1941)/Obras: Os crimes de Grajaú – A República em Maranhão – Memórias de um histórico – Literatura maranhense – Atas e atos do governo provisório – Garcia de Abranches, o censor – A Setembrada – O cativeiro - A esfinge de Grajaú.

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- Antônio Francisco Leal Lobo/(04.07.1870 – 24.06.1916)/Obras: Henriqueta – Debalde – A carteira de um neurastênico – (romances) – Os novos atenienses – Pela rama – A política maranhense.

- Odylo Costa, filho/(14.12.1914 - ?)/Obras: Graça Aranha e outros ensaios – Livro de poemas de 1935 – A faca e o rio – Tempo de Lisboa e outros poemas – Cantiga incompleta – Os bichos no céu – Notícias de amor – A vida de Nossa Senhora.

- Oswaldino Ribeiro Marques/(17.10.1916 - ?)/(Obras: Poemas quase dissolutos – Sinto que sou uma cidade – Cravo bem temperado – Usina do sonho.

- Laura Rosa/(01.10.1884 -14.11.1976)/Obras: Promessas (contos) – Castelos no ar (poemas inéditos).

- José Tribuzi Pinheiro Gomes (Bandeira Tribuzi)/(02.02.1927 - ?)/(Obras: Alguma existência – Safra – Sonetos – Pele e osso – Breve memorial de longo tempo – Louvação de São Luís (Hino).

- Domingos Vieira Filho/(25.09.1924 - ?)/Obras: Superstições ligadas ao parto e à vida infantil – A linguagem popular do Maranhão – A festa do Divino Espírito Santo – Folclore sempre – O negro na poesia brasileira – Nina Rodrigues – Estudos geográficos do Maranhão – Breve história das ruas de São Luís – Breve história das ruas e praças de São Luís – Panorama da diplomacia – A Polícia Militar do Maranhão – Folclore do Maranhão.

- José Carlos Lago Burnett (15.08.1929 - ?)/Obras: Estrela do céu perdido – O ballet das palavras – Os elementos do mito – 50 poemas de Lago Burnett.

- Carlos Orlando Rodrigues de Lima/(14.03.1920 - ?)/Obras: Bumba-meu-boi (folclore) – Bumba-meu-boi do Maranhão (toadas) – História do Maranhão – Réquiem para um menino – A festa do Divino Espírito Santo em Alcântara – As minhas e a dos outros – estórias maranhenses – Carta ao compadre Tiburtino – ABC do SEBRAE – Lendas do Maranhão – Poesias esparsas – Arquivo morto – Tempestade no lago – Artigos e crônicas em jornais e revistas – História do Maranhão (A Colônia) – História do Maranhão (A Monarquia) – História do Maranhão (A República).

- Catulo da Paixão Cearense/(08.10.1863 – 10.05.1946)/Obras: Cancioneiro popular de modinhas brasileiras – Lira Brasileira – Poesias Populares – Novos cantares – Sertão em flor – Meu sertão – Poemas bravios - Alma do sertão – Mata iluminada – Fábulas e alegorias – O sol e a lua – Um boêmio do céu – Meu Brasil – Testamento da árvore – Um caboclo brasileiro – O milagre de São João – Aos pescadores – Oração à bandeira.

II - NÃO NASCIDOS EM SÃO LUÍS, MAS QUE RESIDIRAM NA CIDADE POR ALGUM TEMPO

- Claude d’Abbeville (França)/(não conhecida)/Obras: A História dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circunvizinhas (o mais completo relato sobre a fundação de São Luís)

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- Yves d’Évreux (França)/(1577 - depois de 1629)/Obra: Viagem ao Norte do Brasil (Continuação da história das coisas mas memoráveis havidas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614)

- Diogo de Campos Moreno (Portugal) (não conhecida)/Obra: Jornada do Maranhão por ordem de S. Majestade feita em 1614.

- Manoel de Sousa Sá (não identificada)/(ignorada)/Obra: Breve relação da conquista do Maranhão.

- Simão Estácio da Silveira (Portugal)/(Não conhecida)/Obra: Relação sumária das coisas do Maranhão.

- Pe. João Felipe Bettendorf (Luxemburgo)/(não conhecida)/Obra: Crônica da Missão dos padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão.

- Francisco Teixeira de Morais (Portugal)/(não conhecida)/Obra: Relação Histórica de política do tumulto que sucedeu na cidade de São Luís do Maranhão.

- Frei Cristóvão de Lisboa (Portugal)/(25.7.1583 – 14.04.1652)/Obras: História natural e moral do Maranhão – História dos animais e árvores do Maranhão.

- Bernardo Pereira de Berredo e Castro (Portugal)/(ignorada)/Obra: Anais históricos do Estado do Maranhão.

- Pe. José Xavier de Moraes da Fonseca Pinto (Portugal)/(01.12.1708 - ?)/Obras: História da Companhia de Jesus na extinta província do Maranhão e Pará.

- Pe. Antônio Vieira (Portugal)/(06.02.1608 – 18.07.1697)/Obras: Vozes saudosas – Sermões vários - Obras completas (27 volumes) - Sermões – Sermões no Brasil e em Portugal.

- Raimundo José de Sousa Gaioso (Argentina)/(1747 – 1813)/Obras: Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do Maranhão.

- Francisco de Paula Ribeiro (Portugal)/(ignorada)/Obras: Roteiro de viagem – Memória sobre nações gentias que presentemente habitam o continente do Maranhão – Mapa geográfico da Capitania do Maranhão.

- Poranduba Maranhense.

- Antonio Bernardino Pereira do Lago (Portugal)/(ignorada)/Obras: Itinerário da Província do Maranhão: 1820 – Roteiro da costa da Província do Maranhão desde Jericoacoara até a ilha de São João, da entrada e saída pela baia de São Marcos – Estatística histórico-geográfica da Província do Maranhão.

- Martius (Karl Frederich Phillip Von) e Spix (Johann Batist von) (Alemanha)Martius/(17.04.1794 – 13.12.1888) e Spix (1781 – 1827)/Obra: Viagem pelo Brasil (A grande aventura de Spix e Martius./b) Autores do grupo maranhense: neoclássicos e românticos

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- João Francisco Lisboa (Pirapemas)/(22.03.1812 - 26.04.1863)/Obras: Obras de João Francisco Lisboa (4 v.) – Jornal de Timon (v. 1) – Jornal de Timon (v. 2) – Jornal de Timon (v. 3).

- Antônio Gonçalves Dias (Caxias)/(10.08.1823 – 03.11.1864)/Obras: Primeiros cantos – Segundos cantos e sextilhas de Frei Antão – Últimos cantos – Cantos – Primeiros cantos, Segundos cantos, Últimos cantos – Novos cantos – Os timbiras – Dicionário da língua tupi – Obras póstumas./

- Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) (Guimarães)/(09.07.1832 - 21.04.1902)/Obras: Harpas selvagens – Impressos – Obras poéticas – Guesa errante – Novo Éden; poemeto da adolescência, 1888-1889.

- César Augusto Marques (Caxias)/(12.12.1826 – 05.10.1900)/Obras: Almanaque de lembranças brasileiras – Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão.

- Antônio Henriques Leal (Cantanhede)/(24.07.1828 -29.09.1885)/Obras: Panteon maranhense – Apontamentos para a história dos jesuítas no Brasil – Lucubrações.

- Trajano Galvão de Carvalho (Vitória do Mearim)/(19.01.1930 – 14.07.1864)/Obras: Sertanejas – Colaborou em Parnaso maranhense, A Casca da gameleira.

- Francisco Dias Carneiro (Passagem Franca)/(23.11.1837 – 17.01.1896)/Obras: Poesias – Poesias diversas – Colaborou no romance A Casca da gameleira.

- Cândido Mendes de Almeida (Brejo dos Anapurus)/(14.10.1818 – 01.03.1881)/Obras: Código Filipino ou ordenações do Reino de Portugal, anotadas e seguidas da legislação subsequente portuguesa e brasileira até 1870 – Memórias para a história do extinto Estado do Maranhão

- Luís Antônio Vieira da Silva (Visconde de Vieira da Silva) (Fortaleza-CE)/(02.10.1828 – 03.11.1889)/Obras: História da Independência da Província do Maranhão.

- Celso Tertuliano da Cunha Magalhães (Viana)/(11.11.1849 – 09.06.1879)/Obras: Ela por ela (novela) – Versos – Um estudo de temperamento (romance) – A poesia popular brasileira – O trabalho – O domingo.

- Teófilo Odorico Dias de Mesquita (Caxias)/(08.11.1854 – 29.03.1889)/Obras: Flores e amores – Lira dos Verdes anos – Contos tropicais – Fanfarras – A comédia dos deuses.

- Adelino Fontoura Chaves (Axixá)/(30.03.1855 – 02.05.1884)/Obras: Dispersos – A ficha de Adelino Fontoura na Academia

- Henrique Maximiano Coelho Neto (Caxias)/(21.02.1864 – 28.11.1934)/Obras: A capital federal (impressões de um sertanejo) – O País – Miragem – O rei fantasma – Inverno em flor – O morto (memórias de um fuzilado) – O paraíso (excelsas fantasias) – O rajá de Pendjab – A conquista – Tormenta – Inocêncio inocente – O malho – O arara – Turbilhão – Esfinge – Rei negro (romance bárbaro) – O mistério – O polvo – Fogo-fátuo

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- João de Deus do Rego (Caxias)/(22.11.1867 – 30.06.1902)/Obras: Primeiras rimas – Últimas rimas

- Manuel Francisco Pacheco (Fran Pacheco)/(Portugal)/09.03.874 – 17.09.1952)/Obras: O Sr. Silvio Romero e a literatura portuguesa - O Maranhão e seus recursos – O comércio maranhense – A literatura portuguesa na Idade Média – Portugal e a Renascença – Os Braganças e a Restauração – Angola e os alemães – O trabalho maranhense – Portugal e o Maranhão – Geografia do Maranhão – Trabalhos do Congresso Pedagógico do Maranhão.

- José Américo Olímpio Cavalcante dos Albuquerques Maranhão Sobrinho (Barra do Corda)/(20.12.1879 - 25.12.1915)/Obras: Papéis velhos – Estatuetas – Vitórias Régias.

- Domingos Quadros Barbosa Álvares (São Bento)/(29.11.1880 – 26.12.1946)/Obras: Mosaicos – O dominó vermelho – Contos da minha terra – Silhuetas.

- Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho (Pirapemas)/(23.01.1884 – 10.04.1967)/Obras: Terra de Santa Cruz – Histórias da nossa História – Brasil dos meus avós – Baú velho – Gaveta do sapateiro – Alcovas da História – Mata galego – Casa de Belchior – O país do pau de tinta – Balaiada – Era uma vez – Contos da História do Brasil – Varinha de condão – Arca de Noé – No Reino da bicharada – Quando Jesus nasceu – A macacada – Os meus bichinhos – História do Brasil para crianças – Meu torrão – Bichos e bichinhos – No país da bicharada – Cazuza – A descoberta do Brasil – História de Caramuru – A bandeira das esmeraldas – As belas histórias da História do Brasil – Curiosidades de História do Brasil – História da liberdade no Brasil.

- Joaquim Vespasiano Ramos (Caxias)/(12.08.1884 – 26.12.1916)/Obra: Cousa alguma.

- Raimundo Corrêa de Araújo (Pedreiras)/(29.05.1885 – 24.08.1951)/Obras: Harpas de fogo – Evangelho de moço - Pedreiras – Acrópole – Ode a Portugal - A tirania – Pela Pátria – A religião: fenômeno social, através de poesias – Ode a Gonçalves Dias – O canto das cigarras – O tiranete de Atenas.

- Humberto de Campos Veras (Miritiba)/(25.10.1886 – 05.12.1934)/Obras: Poeira – Poesias completas – Da seara de Booz (colheita de Ruth) –Mealheiro de Agripa – Destinos – Os párias – Lagartas e libélulas – Sombras que sofrem - Sepultando os meus mortos – Notas de um diarista – Reminiscências – Um sonho de pobre – Contraste – Últimas crônicas – Vale de Josafá – Tonel de Diógenes – Serpente de bronze – Gansos do Capitólio – A bacia de Pilatos – A funda de Davi – Grãos de mostarda – Pombos de Maomé – O arco de Esopo – Antologia dos humoristas galantes – Alcova e salão – Memórias – Memórias inacabadas – Fragmentos de um diário – Carvalhos e roseiras – Crítica – O monstro e outros contos – Histórias maravilhosas – À sombra das tamareiras – O Brasil anedótico – O conceito e a imagem na poesia brasileira – Antologia da Academia Brasileira de Letras.

- João Miguel Mohana (Bacabal)/(15.06.1925 - )/Obras: O outro caminho – Maria da tempestade – Sofrer e amar – A vida sexual dos solteiros e casados – O mundo e eu – Amor e responsabilidade – Padres e bispos autoanalisados – Ajustamento conjugal –

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Prepare seus filhos para o futuro – Paz pela oração – Céu e carne no casamento – O encontro – Plenitude humana.

- Lucy de Jesus Teixeira (Caxias)/(11.07 1922 - ?)/Obras: Elegia fundamental – Primeiro Palimosesto – No tempo dos alamares e outros sortilégios.

- Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello) (Viana)/(25.09.1913 – 24.04.2000)/Obras: não encontrei nenhum livro publicado por ela. Foi, entretanto, uma cantora, compositora, folclorista e musicista que muito honrou o nome da terra no país e no exterior. Era uma musicista de mão cheia, tocava acordeon, violão, piano, viola caipira, harpa paraguaia, dentre outros instrumentos. Dilú gravou pouco mais de uma dúzia de discos compactos 78 rmp, três LPs e deixou um legado de mais de 100 composições, canções que eram verdadeiras poesias. Aquela Janela, Boiuna, Bonecos de Maracatu, Brasil em Três Minutos, Cada criança é uma canção, A Canção do Bolo, Canção para adormecer mamãe, Canção para fazer mamãe feliz, Caxias – Cidade Princesa, Cigarra, Compadre José, Criança, Dança do Esquinado, Diluiu-se, Eu dei, eu dei, Estrada de Ferro da Bahia, Festinha Boa, Fole de pano, A História da Árvore de Natal, Jura de Caboclo, Heloísa, Hino à Bandeira do Maranhão, Louvação a São José de Ribamar, Nos Braços da Liberdade, Oração, Policromia, Rio, Amor, Fantasia, São Luís – Cidade Sorriso, Só quero Lili, Noite de São João do Maranhão e Saudades do Maranhão, que por mais de uma década era a característica sonora com que as rádios de São Luís iniciavam o dia: ‘Maranhão, que terra boa/Onde o poeta nasceu/Maranhão é minha terra/Berço que Deus me deu/A linda praia...’ (e por aí vai). Fez sucesso com suas canções em países da América, como Uruguai, Paraguai e Argentina, Peru, principalmente, e até na Europa, notadamente na Espanha, Portugal, Alemanha. Por seus méritos na composição e intepretações de suas belas canções ela foi eleita membro efetivo da Academia Carioca de Letras, tomando posse em 1978.

- Astolfo Henrique de Barros Serra (Matinha)/(22.05.1900 - ?)/Obras: Gleba que canta – Profetas de fogo – Noventa dias de governo – Aspectos de uma campanha – Discursos políticos – Guesa Errante (estudo) – Terra enfeitada e rica – Caxias e seu governo civil na Província do Maranhão – A vida simples de um professor de aldeia – A Balaiada – A vida vale um sorriso – Uma aventura sentimental – Gonçalves Dias e os problemas da economia nacional – Celso Magalhães e o folclore nacional – Sociologia dos morros cariocas – O negro na formação econômica do Maranhão.

FORAM ACRESCIDOS na lista de nomes de patronos disponíveis para votação, mais 03 (três) nomes:

1) José Ribamar Sousa Reis, 2) Erasmo Dias; e 3) Dom Luis Raimundo da Silva Brito.

Algumas ponderações: 1) Na escolha dos patronos, priorizar os vultos literários

nascidos em São Luís (na proporção de 50% na composição da ALL), sem, claro, ignorar os notáveis nascidos no Estado do Maranhão e em outros estados que tenham honrado São Luís. 2) Fazer constar da relação de patronos aquele que foi o emitente da Certidão de Nascimento de São Luís: Claude d’Abbeville e, se possível, também Yves d’Évreux.

Por votação, foram escolhidos como Patronos:

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LUDOVICENSES: 01) Manuel Odorico Mendes; 02) Francisco Sotero dos Reis; 03) Maria Firmina dos Reis; 04) Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo; 05) Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo; 06) Raimundo da Mota de Azevedo Correia; 07) José Pereira da Graça Aranha; 08) José Ribeiro do Amaral; 09) Antônio Batista Barbosa de Godois; 10) Mário Martins Meireles; 11) Maria da Conceição Neves Aboud; 12) Dagmar Destêrro e Silva; 13) Josué de Souza Montello; 14) João Dunshee de Abranches Moura; 15) Odylo Costa, filho; 16) Laura Rosa; 17) José Tribuzi Pinheiro Gomes (Bandeira Tribuzi); 18) Domingos Vieira Filho; 19) Carlos Orlando Rodrigues de Lima; 20) Catulo da Paixão Cearense;

NÃO LUDOVICENSES: 21) Claude d’Abbeville (França); 22) Pe. Antônio Vieira (Portugal); 23) João Francisco Lisboa (Pirapemas); 24) Antônio Gonçalves Dias (Caxias); 25) Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) (Guimarães); 26) Antônio Henriques Leal (Cantanhede); 27) Cândido Mendes de Almeida (Brejo dos Anapurus); 28) Celso Tertuliano da Cunha Magalhães (Viana); 29) Henrique Maximiano Coelho Neto (Caxias); 30) Manuel Francisco Pacheco (Fran Pacheco) (Portugal); 31) José Américo Olímpio Cavalcante dos Albuquerques Maranhão Sobrinho (Barra do Corda); 32) Domingos Quadros Barbosa Álvares (São Bento); 33) Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho (Pirapemas); 34) Raimundo Corrêa de Araújo (Pedreiras); 35) Humberto de Campos Veras (Miritiba); 36) João Miguel Mohana (Bacabal); 37) Lucy de Jesus Teixeira (Caxias); 38) Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello) (Viana); 39) Astolfo Henrique de Barros Serra (Matinha); 40) José Ribamar Sousa dos Reis.

Para o Plano desta Antologia da Academia Ludovicense de Letras, serão incluídos os Patronos – ludovicenses ou não – e junto, os respectivos Fundadores de cada uma das 40 (quarenta) Cadeiras. A seguir, e em homenagem à participação feminina na construção da literatura ludovicense, estas estarão incluídas numa segunda sessão, caso não estejam, já, contempladas na primeira; por fim, os literatos...

Buscamos a justificativa em destacar a presença feminina em Silva (2009) 186, que afirma: ao longo dos cem anos de existência da Academia Maranhense de Letras, dos cento e quarenta e dois (142) membros, apenas oito (8) são mulheres. São elas: Laura Rosa, Mariana Luz, Dagmar Desterro, Conceição Aboud, Lucy Teixeira, Ceres Costa Fernandes, Laura Amélia Damous e Sônia Almeida.

Corrêa e Pinto (2011) 187, ao lançarem olhar sobre a poesia maranhense contemporânea de autoria feminina - a safra poética das últimas décadas do século XX, a partir dos anos 80 -, identificam: Laura Amélia Damous, Dilercy Adler, Rita de Cássia Oliveira, Rosemary Rego, Geanne Fiddan, Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline.

A Academia Ludovicense de Letras, dentre seus membros – Patronos e Fundadores – possui seis Patronas, das Cadeiras:

186 SILVA, RENATO KERLY MARQUES. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: Produção

literária e reconhecimento de Escritoras maranhenses. Dissertação de mestrado. Ufma, 2009. Disponivel em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_docman&task...

187 CORRÊA, Dinacy Mendonça; PINTO, Anderson Roberto Corrêa. POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS. Revista Garrafa 23, janeiro-abril 2011. Condensação/adaptação de “Teares da Literatura Maranhense: poetisas contemporâneas”. Relatório Final do Projeto de Iniciação Científica BIC-Uema/Fapema-2008/09 de Anderson Roberto Corrêa Pinto, bolsista/orientando da Professora Dinacy Mendonça Corrêa (Projeto TEARES DA LITERATURA MARANHENSE. Núcleo de Estudos Linguísticos e Literários. Curso de Letras/Cecen/Uema.

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08: Maria Firmina dos Reis – também Patrona da Academia, por isso “Casa de Firmina dos Reis”;

25: Laura Rosa; 29: Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello); 34: Lucy de Jesus Teixeira; 37: Maria da Conceição Neves Aboud; e 38: Dagmar Destêrro e Silva.

Dentre as Fundadoras: ocupam:

Cadeira 8, Dilercy Adler; Cadeira 30, Clores Holanda Silva; e Cadeira 31, Ana Luiza Almeida Ferro.

Em março, quando da eleição de novos membros das ALL, foram indicadas e aceitas:

Ceres Costa Fernandes, cadeira 34 patroneada por Lucy de Jesus Teixeira, indicação de Álvaro Urubatam Melo;

Maria Thereza de Azevedo Neves, indicada por Sanatiel de Jesus Pereira, para a cadeira 13 patroneada por Artur Azevedo;

Eva Maria Nunes Chatel, indicação de Ana Luiza Almeida Ferro, para ocupar a Cadeira 29, patroneada por Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello).

E como as Cadeiras estão ordenadas cronologicamente, dos mais antigos aos mais novos, não há necessidade de enquadramento a uma das fases, ou geração – acima já identificadas...

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DIA DO TRABALHO OU DO TRABALHADOR?

AYMORÉ ALVIM

APLAC, AMM, IHGM, ALL.

Com manifestações bastante variadas, o dia 1o de maio, dedicado ao Trabalho, é comemorado, na grande maioria dos países do mundo.

Resta-nos, divagando um pouco, em face da complexidade dos problemas que ocorrem no momento atual da produtividade humana, questionarmos se o sujeito, objeto de tantas festividades, é realmente o Trabalho ou o Trabalhador.

Sendo o Trabalho o alvo das comemorações, tudo bem. O tributo tem seu destino certo. Afinal de contas o Trabalho, entendido como atividade humana transformadora da natureza em produtos que atendam às necessidades do homem e que dinamiza o progresso das sociedades com vista ao bem estar social, parece fazer jus as manifestações. Mas, se tais homenagens visam o Trabalhador e suas conquistas, coitado! Em comunhão com o pensamento de todos eles tanto do Brasil quanto, possivelmente, da grande parte de outros países, na realidade, no dia 1o de maio, pouco ou quase nada há o que comemorar.

Talvez o dia por ser feriado se preste a alguns passeios a reflexões sobre a sua atual situação. O Trabalhador parece não haver acompanhado, na sua saga através das civilizações, o ritmo e o dinamismo assumidos pelo Trabalho que, desde o primeiro momento, foi a grande mola propulsora do desenvolvimento dos povos e das nações. Desde épocas imemoriais, o Trabalho sempre foi considerado a atividade mais importante da produção social. Estruturado no tripé, matéria a ser transformada, instrumentos para operar essas transformações e o Trabalhador, agente inteligente e operacional no sistema, tal organização, nas comunidades primitivas, era bastante harmônica e cooperativa. A lenta, mas progressiva transformação que a partir de então ocorreu, no aperfeiçoamento dos meios de produção, propiciou um aumento cada vez maior dos produtos com a consequente estocagem de excedentes levando, assim, à formação de riquezas, ao crescimento demográfico, ao surgimento de grandes centros e entrepostos comerciais dentre outros benefícios decorrentes. Aparece, aí, substituindo o primitivo sistema de trocas, o Capital que pela força de pressão que passa a exercer, na florescente economia, conduz de forma gradual e inexorável ao surgimento da organização empresarial que passou a reunir, nessa mesma estrutura, os Trabalhadores e os meios de produção.

Nessa etapa do processo de evolução do Trabalho, verifica-se uma crescente e gradativa complexidade, nas relações dos elementos do tripé, com início, possivelmente, há 10.000 anos, quando das profundas transformações experimentadas pelas comunidades da época surgiu a agricultura. Como corolário aparece a divisão do trabalho, primeiramente, entre membros de uma mesma família ou tribo. Em um segundo momento, começa a ser incorporada, ao sistema, a força de trabalho de outros elementos estranhos ao ambiente familiar em função da expansão das atividades, no campo, e pelo estímulo propiciado pelos excedentes de produção. Incorpore-se, aí, o início da prática da escravidão. O descompromisso com a recompensa pelo trabalho realizado conduz à auferição de maiores lucros, o que permite maiores investimentos, principalmente, na melhoria técnica dos instrumentos meios de transformação, com maior incremento à produção.

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Aprofunda-se cada vez mais a divisão do Trabalho. A propriedade do solo e a concentração de riquezas, em mãos de poucas famílias, levam à criação de uma classe social dominante. Esta assumiu o exercício do trabalho intelectual e das atividades políticas, competindo às outras atividades, consideradas como trabalho de pouca expressão social por consumir considerável energia muscular. Eram as classes menos privilegiadas e aos escravos. Tal estrutura de hierarquização social já se torna bem nítida, na idade antiga, entre os povos da Mesopotâmia, do Egito, da Grécia e de Roma. Essas divisões de classes que, paulatinamente, foram marginalizando o Trabalhador, agente substantivo do processo produtivo, da distribuição das riquezas por ele geradas, se tornaram mais acentuadas, ao longo da Idade Média, quando crescentes sentimentos de descontentamento e de inconformidade de classes exploradas deságuam, nas profundas transformações sociais que pôs fim ao regime feudal, propiciando a emergência da classe burguesa. Todas essas transformações evoluíram para a grande revolução industrial que tem marcado profundamente as relações de trabalho, a partir do final do século XVIII até nossos dias, quando a revolução tecnológica da automação e o processo de globalização da economia, em moda, turvam o horizonte de esperança do Trabalhador.

Dentro desse contexto, constata-se que o Trabalho como atividade transformadora é a grande alavanca do progresso dos povos desde os primórdios da civilização até os nossos dias. A hierarquização de classes gerada no seu bojo ao longo da história tem levado o Trabalhador a uma incessante luta não somente para ocupar o espaço social que lhe é reservado, como ainda, para participar de forma equânime na distribuição da riqueza que ajudou a produzir.

Esse desejo é a aspiração das classes trabalhadoras que têm, no Trabalho, a expressão maior da dignidade humana, o que é reforçado através do pensamento de João Paulo II expresso, na Encíclica Laborem Exercens, 1991, para quem o Trabalho constitui a dimensão fundamental da existência do homem sobre a Terra.

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SELO COMEMORATIVO - HISTÓRICO E JUSTIFICATIVA

DILERCY ADLER

O presente selo comemorativo objetiva registrar, no ano de 2015, dois importantes aniversários para a cidade de São Luís: o de dois anos de fundação da Academia Ludovicense de Letras-ALL (e os cento e noventa anos de Maria Firmina dos Reis que é Patrona da Casa (1825-1817).

Se, por um lado, a Academia de Letras da capital do Maranhão, São Luís, só foi fundada depois da criação de várias Academias de Letras de outros municípios do estado (10 de agosto de 2013), e após 105 anos de criação da Academia Maranhense de Letras-AML por sinal ambas fazem aniversário no mesmo dia - Dia do nascimento do ilustre poeta maranhense Gonçalves Dias- data escolhida em sua homenagem, por outro lado, Maria Firmina dos Reis, como estreante, teve a sua entrada oficial na Literatura Maranhense marcada por palavras de entusiasmo e estímulo pela imprensa, embora a seguir tenham ficado esquecidas a sua obra e a sua expressiva figura feminina, configurando nas palavras de José Nascimento Morais Filho, uma amnésia coletiva, por mais de um século.

No seu livro MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luís, 1975, p. 03, Morais registra:

[...] Descobrimo-la, casualmente, em 1973, ao procurarmos nos bolorentos jornais do século XIX, na Biblioteca “Benedito Leite”, textos natalinos de autores maranhenses para nossa obra “Esperando a Missa do Galo”.

Embora participasse da vida intelectual maranhense publicando livros ou colaborando quer em jornais e revistas literárias quer em antologias. -“Parnaso Maranhense”-cujos nomes foram relacionados, em nota, sem exceção, por Sílvio Romero, na sua “História da Literatura Brasileira”, registrada no “cartório intelectual” de Sacramento Blake - o “Dicionário Bibliográfico Brasileiro” – com surpreendentes informações, quase todas ratificadas por nossa pesquisa, Maria Firmina dos Reis, lida e aplaudida no seu tempo,foi como que por amnésia coletiva totalmente esquecida o nome e a obra!...

Ainda no relato de Morais, Maria Firmina dos Reis foi uma mulher humilde, negra, professora leiga, que, mesmo discriminada pela hipocrisia da sociedade maranhense da época, tornou-se, na segunda metade do século XIX, a primeira romancista da Literatura Brasileira e a primeira poeta da Literatura Maranhense.

Ela nasceu em São Luís do Maranhão, no dia 11 de outubro de 1825 e, depois de aprovada em primeiro lugar num concurso público para o magistério, foi nomeada para trabalhar em Guimarães, cidade onde passou a morar até a morte, aos 92 anos, em 11 de novembro de 1917. Maria Firmina escreveu outras obras como o livro Cantos à Beira-Mar, poesia, o conto A Escrava e Gupeva, romance indianista publicado três vezes nos jornais de São Luís. A segunda edição de Úrsula, um fac-simile do romance original, foi publicada em 1975, ano em que foi erigido, em São Luís, na Praça do Panteon, um busto em homenagem a ela, feito pelo escultor Flory Gama. A edição fac-similar do romance só se tornou possível graças ao escritor, historiador e bibliófilo Horácio de Almeida, que doou o livro ao Governo do Estado. A terceira edição, com prefácio do

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intelectual negro norte-americano, Charles Martin, saiu em 1988, por ocasião da comemoração do centenário da Abolição da Escravatura.

Desse modo, com esse selo objetivamos honrar a memória da grande escritora maranhense, como prova do nosso reconhecimento pelo seu grande trabalho literário, de cunho político muito forte e singular, já que viveu nos últimos dias da escravidão e realçava sempre em suas obras a humanidade do negro, do índio e da mulher. E ainda comemorar o nascimento de mais uma Academia de Letras nesta cidade, que já foi conhecida como a Athenas Brasileira, por ter filhos ilustres no cenário da cultura brasileira.

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CARAMURU ROSENHEIM

SANATIEL PEREIRA

Engenheiro, Professor da UFMA, Membro da Academia Sambentuense, Academia Ludovicense de Letras e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.

Uma das passagens do Novo Testamento que mais tenho apreço é aquela em que Jesus pergunta a Pedro se ele o amava. A questão era tão importante que Pedro teve que responder, por três vezes, a mesma pergunta de forma firme, e convincente: “Sim, Senhor, eu vos amo!”. Acredito, Jesus ainda não totalmente convencido, sob a forma de um conselho, acrescentou, naquela oportunidade, a Pedro: “Então, apascenta as minhas ovelhas”. Alguns historiadores canônicos dizem que Pedro não deve ter gostado muito da puxada de orelhas do Mestre, pois era conhecido por ser muito magnânimo, para não dizer colérico.

Outro dia, pela terceira vez, um brasileiro, como eu, filho de família de imigrantes, perguntou-me se eu era nativo do Estado do Maranhão. Esse “nativo” com ranço e cheiro de preconceito, mesmo embalado de boas maneiras, nunca me agradou, confesso. Quero acreditar, pode até ser uma forma velada de admiração, por vivermos em condições bastante distantes daquelas vividas em sua terra natal, e termos conseguido ser o que somos. Entretanto, penso comigo mesmo, que este questionamento vem a ser parecido ao conselho de Jesus a Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas”.

Pedro, quanto mais arguido, mais deveria fortalecer a sua identidade cultural e se inspirar para buscar todas as formas de mecanismos para realizar a sua missão, enquanto homem de fé, com sucesso. Eles, os discípulos, como Pedro, não eram muitos, mas sabiam que eram importantes e essenciais para a causa que estavam abraçando. Muitos foram embora e serviram com seus talentos para o crescimento de outros povos. Alguns só voltaram os ossos; outros nem os ossos.

Nessa ocasião em que fui arguido, o meu inquiridor não tinha aparência de Jesus, mas foi um momento de significância tão grande, que nunca mais o esqueci. A história milenar de pensar que ainda somos descendentes de gregos ou de troianos sempre promove divisão em qualquer reunião em que se queira estabelecer a paz e a união entre os povos.

Antes que eu pudesse expressar qualquer reação, Chico, meu colega de viagem, com a aparência impulsiva de Pedro, soltou as pérolas que eu nunca poderia imaginar colocar naquela ocasião, com um nível de sutileza e inteligência, digna de um discípulo de Jesus. Ele falou, como o Mestre, em metáforas.

Ele disse ao nosso interlocutor, que na verdade não possuíamos realmente esses nomes, e de fato, nos chamávamos Caramuru Rosenheim e Caramurú Steinheim, e éramos primos. Morávamos em um dos melhores pedaços deste grande país-continente chamado Brasil. Não sabíamos o que era poluição em qualquer nível, e muito menos no nível social. Só existia uma família e todos sabiam que tínhamos vindo para nos aperfeiçoar, e ninguém era dono de qualquer pedaço da terra, do mar ou do céu.

Antes de o nosso interlocutor expressar qualquer reação, meu amigo foi logo perguntando a ele se já tinha provado alguma vez do tacacá, do açaí ou de costelas de

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tambaqui. Se ainda não havia sentido de perto o calor da floresta amazônica; do marulho de remos de uma canoa à noite sobre as águas doces do maior rio do mundo. Se ainda não havia atravessado a linha do Equador e levantado os olhos para o céu e apreciado a beleza das estrelas que estão lá, pedindo para ser vistas e reverenciadas. Perguntou em tom de reservas, se ele alguma vez na vida havia tomado um banho de chuva; apanhado um pinto nas mãos ou uma manga em um dos ramos de uma mangueira frondosa. Se já havia dormido em uma rede tapuirana e acordado pelo som alegre e musical das aves no galinheiro, ao amanhecer. Sentido os pingos de água que caiem de um telhado, em uma casa sem forro, em uma noite de chuva torrencial. Bebido água de poço...

Perplexo, nosso irmão brasileiro, sem ter palavras para responder ao meu companheiro de viagem, abanou, de forma resoluta, a cabeça em sinal de negação, e recebendo, como Pedro, o conselho mais amoroso que alguém poderia dar a outro naquela situação: “Amigo, amigo, vai conhecer o país que lhe recebeu como berço e esqueça essa história de etnias”.

Não tive ainda a oportunidade de encontrar novamente o meu irmão brasileiro para saber se havia visto o país que meu colega Chico lhe tentou mostrar, e por ele ignorado. Depois daquele evento, também nunca mais vi o meu companheiro daquela notável viagem. Espero que ambos estejam bem!

Afinal, cada um de nós continua realizando a sua própria viagem.

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O CAMINHO DAS ESTRELAS

SANATIEL PEREIRA

Engenheiro, Professor da UFMA, Membro da Academia Sambentuense, Academia Ludovicense de Letras e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.

Eu sempre penso, nos meus devaneios, que alguém brinca, em um tabuleiro de xadrez, com aqueles que vivem abaixo do Céu sobre este planeta que chamamos Terra. A questão é que poucos percebem a brincadeira, e levam as coisas muito a sério. Afirmo isso para não dizer que tomam as coisas para si, particularmente, como ofensas ou injustiças, na maioria das vezes. A maior parte dos que vivem neste mundo pensam dessa forma. Alguns, desatentos, passam a vida toda se reclamando, perdendo o tempo precioso de “treinar” para ser um bom jogador. Outros, não fleumáticos, se comportam como para-choques de carros, que se chocam, regularmente, com qualquer obstáculo, por não saber dirigir a sua máquina com perícia e atenção. Acredito que muita gente passa pela vida sem saber o que veio fazer aqui. Mas a brincadeira de xadrez parece real.

O conhecimento da Natureza e de nós mesmos é o grande tabuleiro em que emergimos logo quando nascemos. Este é o momento zero do tempo que teremos para brincar. Parece, a priori, inverossímil esta visão da vida sob todos os pontos de vista. Mas será isso mesmo? Será que não usamos o nosso tempo para assuntos que não dizem respeito a coisa alguma do que viemos fazer aqui? É só observar a condição humana, daquele que está retornando, para percebermos que quase ninguém obteve sucesso na sua viagem a este planeta. Madre Teresa de Calcutá dizia que se você quiser saber se o caminho que está fazendo é o verdadeiro, veja se isso lhe traz alegria. Portanto, alegria é a palavra-chave! E a alegria, podemos perceber pelas crianças, está no ato de brincar! E eles, lá no Céu, estão a brincar conosco, o tempo inteiro, embora não percebamos. São muitos os arquétipos utilizados neste imenso tabuleiro para nos dar a ilusória certeza de que estamos vivos, e vivemos neste planeta maravilhoso que teimamos em não conhecer melhor.

A sofisticada máquina humana - onde habitamos, desenvolvemos os sentidos, as emoções e a mente, e nos transportamos - nada mais é do que veículo temporal de sobrevivência na Terra, que precisa diuturnamente ser mantida adequadamente alimentada para funcionar bem. A partir daqui começa o jogo! Se estivermos atentos, podemos perceber que não existe ninguém negro, branco, amarelo ou pardo, mas somente o Homo sapiens, independente da sua origem, tradição, religião ou classe social. Isto já foi mostrado por diversas pessoas que desenvolveram as suas capacidades independentemente dessas características culturais. O mundo está cheio de exemplos contemporâneos como Bill Gates, Steve Jobs e Edson Arantes do Nascimento, o nosso Pelé. Procurando, cada um encontra o seu talento, e se habilita para jogar! Quanto maior o talento, provavelmente maiores serão as dificuldades do jogo, porque para quem mais for dado, mais será cobrado. É a lei e regra.

A primeira fase do jogo é sair das influências do próprio corpo. Ele precisa ser alimentado de tal forma que não venha interferir nas funções que lhe permitem fazer interface com o mundo que o rodeia. A Natureza nos fornece tudo que necessitamos para sobreviver sem nenhum sacrifício. Algumas pessoas não conseguem sair da zona de influência de seu próprio corpo e fracassam nesta etapa caindo na armadilha do narcisismo. Mas, enquanto houver tempo, o jogo pode ser novamente reiniciado e essa

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etapa pode ser ultrapassada com sucesso. Nos limites do funcionamento do corpo vem a etapa do jogo em que existe uma encruzilhada, na qual tem que se escolher entre comer ou se alimentar. Cada escolha leva a experiências algumas vezes irreversíveis, prejudicando o funcionamento exemplar dos diferentes sistemas da nossa máquina orgânica e a forma de nos comportarmos diante das outras pessoas e do mundo físico. Portanto, comer não é a mesma coisa que alimentar adequadamente a máquina.

Destituído de status ilusórios e escolhendo o combustível ideal para manter a máquina em funcionamento, estamos aptos a entrar no caminho para brincar. Descobrir o nosso talento é uma prova intuitiva que só se conhece caminhando, ou viajando. Aquele que não caminha é como um livro que nunca foi aberto para ler. O poeta já deixou dito que viajar é preciso.

O maravilhoso neste processo é que ninguém é impedido de ter as suas próprias escolhas e experiências na sua passagem sobre o grande tabuleiro que constitui a vida na Terra. Como vivemos em um sistema binário, as nossas escolhas devem sempre ser na direção que nos traga alegria, naturalmente. Se para a direita, alegria! Se para a esquerda, alegria!

Boa caminhada!

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MELANCOLIA

ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

“A tristeza é inevitável, mas não é vantajosa.” Jorge Luís Borges (1899-1986), escritor argentino.

Todos achavam que ele era uma pessoa esquisita. Sempre foi. Descendente de família tradicional tinha tudo para tornar-se membro atuante em qualquer área representativa da sociedade. A muitos intrigava a sua passividade, o fato de manter-se invariavelmente taciturno, calado, pensativo, como se alimentasse reflexões sobre um sonho impossível de ser realizado. Na juventude desejara ser um religioso chegando a frequentar um seminário, e talvez também tivesse pensado em ser médico ou comerciante, quem sabe.

Por que alguém com todos esses atributos pode chegar à depressão? Que espécie de trauma o teria atingido a ponto de deixa-lo apático, sem graça pela vida? Vocação contrariada? Amores desfeitos? Ninguém sabia.

Homem culto fazia versos deixando transparecer a sua clausura interior. Escrevia para si mesmo, sem maiores preocupações com os leitores, revelando frieza e um forte egoísmo que dizem ter aqueles que escrevem. Só que, no caso dele, essa condição era exacerbada. Tinha muitos amigos e mesmo com esses conversava regradamente ou simplesmente se limitava a ouvi-los. Não os procurava, era procurado por eles.

Seriam os poetas predestinados aos sofrimentos da alma? E é mesmo verdade que os escritores são egoístas por natureza? E os amigos, de perto ou de longe, realmente existem?

Naquele tempo um desses amigos, que certamente compreendia mais do que os outros, o procurava, quase todas as tardes, para um passeio de carro. Percorriam lado a lado as principais ruas da cidadezinha onde moravam, a rodar e a rodar, apenas observando a paisagem, sem muita conversa, olhar perdido no horizonte.

O silêncio pode ser expressivo em determinados momentos. Nenhuma palavra conforta quando o espírito está atribulado.

Esse homem esquisito pouco frequentava festas, cafés, praças; quando o fazia, todavia, parecia longe de tudo e apenas ouvia os próprios pensamentos. Nas suas andanças pelas ruas da cidade, quase sempre só, parecia distante, sem rumo certo, olhar mergulhado no vazio, como se não soubesse bem de onde vinha e aonde queria chegar. O que, de fato, o atormentava? Talvez lembranças do passado e das coisas boas sem volta, ou quem sabe dúvidas de um presente atribulado, ou ainda incertezas sobre o futuro.

Um dia ele ficou sozinho em casa. Dormia. Parecia estar sonhando os sonhos dos justos, como merecia sonhar; a angústia do seu viver e a melancolia dos seus dias, entretanto, nunca permitiram que aqueles sonhos se tornassem realidade. Quando o encontraram ele jazia preso aos punhos da própria rede onde, aparentemente tranquilo, dormira a noite anterior.

Ninguém sabe o que se esconde nos corações humanos.

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MOMENTOS ONÍRICOS.

AYMORÉ ALVIM.

Já estava há dois anos, no Seminário. Acabara de completar os 14. Os hormônios em plena ebulição.

Em uma das nossas saídas à Catedral, para cantar uma missa solene celebrada por D. Delgado, eu vi, ao passar pela Rua de Santo Antônio, uma mocinha em uma janela que me fez um sorriso. Parecia ter a minha idade, mas foi o bastante para incrustar a pequena na minha cabeça.

Quando ia para o salão de estudos, lá estava ela. Na sala de aula, estava presente. Se me recolhia para rezar, a capetinha não me deixava em paz. Quanto mais eu rezava para afastar a tentação mais o cão atentava.

Isso chamou a atenção dos padres. Não conseguia me concentrar em nada. A turma dizia que, às vezes, eu falava sozinho, mas não era. Eu ficava pensando o que lhe dizer se um dia a encontrasse.

Numa tarde, o regente me disse que o diretor espiritual queria falar comigo após o jantar.

- Boa noite, padre, o senhor quer falar comigo?

- Entre e sente nessa cadeira. Seu Aymoré, os padres estão preocupados com você. Eles o têm achado muito desatento, nas aulas, no salão de estudos e até nas missas. O que está acontecendo?

- Nada, padre.

- Nada, não. Não minta para mim. Quero apenas ajudá-lo. Vamos lá, diga o que o perturba.

- Padre, é o seguinte. Há uns dias, eu tive um sonho de sexo e isso me deixou impressionado. No dia seguinte, fui estudar na biblioteca e lá encontrei “A Divina Comédia”. Comecei a ler, mas não prossegui, pois me lembrei do sonho e como vou ser padre fiquei com medo de ir para o inferno. Será que por causa desse sonho eu vou pro inferno, padre?

- Ah! Então é isso? Não, meu filho. Na sua idade esses sonhos são comuns. O que você não deve é ficar pensando neles para não alimentar ilusões. Você quer ser padre, não quer?

- Ah! Quero sim, seu padre.

- Então não fique pensando nesses devaneios oníricos.

- Mas, seu padre, não foram “omíricas”, foram “mulhéricas”.

- Seu Aymoré, onírico quer dizer sonho, fantasia, ilusões. São reflexos do nosso universo emocional.

- Ah, bem! Assim tá bom, seu padre.

- Então, tire essas coisas da cabeça. Procure rezar e meditar mais.

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- Obrigado, padre, e me retirei.

Em uma tarde de quarta-feira, dia de sueto no Seminário, saí para ir à casa da minha tia. Ao passar por aquela rua, ela estava na janela. Riu para mim. Olhei para um lado e para outro. Não vi ninguém. Encostei.

- Isto é um santinho pra te proteger e te fazer pensar em mim. Como é teu nome, divina criatura?

- Não é divina? Eu não tenho nome. Deu uma risada e saiu da janela. Eu fiquei sem graça, sem saber o que fazer com aquele santinho na mão. Nunca mais a vi. Até consegui esquecê-la por uns tempos, mas de vez em quando ela passeava pelo meu universo emocional como disse o padre.

Quando deixei o Seminário fui morar, na Rua da Cruz, na pensão da minha tia. De vez em quando, eu ainda me lembrava da divina menina sem nome. Um dia passando pela Rua de Santo Antônio resolvi encostar, na casa da moça da janela. Então soube que havia ido com os pais de muda para o Rio de Janeiro. Então compreendi que tudo não passou mesmo de um momento onírico. Pura fantasia de um padreco.

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QUEM NÃO PODE COM O POTE NÃO AGARRA NA RODILHA.

AYMORÉ ALVIM AMM, ALL, IHGM, APLAC.

Na semana passada, quando preparava o elogio do patrono da Cadeira que

ocupo, na Academia Ludovicense de Letras, com o tema: “Barbosa de Godói no cenário cultural do Maranhão”, deparei-me, ao pesquisar sobre os componentes do Grupo Maranhense, com o poeta e tradutor Odorico Mendes, quem primeiro traduziu para o português os épicos Eneida de Virgílio e Ilíada e Odisséia de Homero. Isto me fez lembrar um episódio ocorrido quando eu estava no Seminário por volta de 1956. O Seminário Santo Antônio, à época, era dirigido pelos padres lazaristas que mantinham a Academia D. Francisco de Paula e Silva.

Todos os domingos, a partir das 14:00h., havia reunião acadêmica, sempre presidida pelo padre reitor.

Essas reuniões eram mais um exercício didático-pedagógico do que propriamente um movimento literário. Ali nós aprendíamos a ler, discursar de improviso, declamar poesias, interpretar e ate fazer crítica sobre um discurso ou uma poesia apresentada.

Os seminaristas que cursavam até o terceiro ano declamavam poesias, liam crônicas ou discursavam. Às vezes, o padre que nos ensinava português dava a um de nós um tema para estudar e preparar um discurso para ser apresentado, na sessão seguinte. Outras vezes, o padre reitor, no início da reunião, chamava dois ou três seminaristas, dava-lhes um tema para ser discursado de improviso, no final da sessão.Os alunos do 4°, 5° e 6° anos podiam, ainda, discursar ou declamar poesias em grego ou em latim. Para isso, o interessado deveria solicitar com uma semana de antecedência.

Foi o que fez Francisco Lima. Além de ser um aluno aplicado era convencido demais, parecendo, às vezes, que vivia nas nuvens. Ele dizia que isso era porque era poeta. Estava conversando com as neréiades inspiradoras. Em tudo o que se falava ele dizia que era bonzão nisso. Dizia saber mais latim, português, matemática e outras disciplinas do que qualquer um de nós. Simplesmente, era o tal. Por isso era chamado de Chico Bonzão.

Em um desses domingos, Chico Bonzão se inscreveu para declamar uma poesia em latim. Disse-nos depois que iria preparar o primeiro canto da Eneida de Virgílio. Que a gente podia aguardar para que pudéssemos ver como se declamava em latim clássico.

A Eneida é um épico latino composto por Virgílio, poeta romano que viveu no século I a.C. Ele o escreveu por solicitação do imperador Augusto para cantar as glórias do império. O tema principal gira em torno da saga do troiano Eneas que após a guerra de Tróia viajou pelo Mediterrâneo e chegou à península Itálica se tornando, então, o ancestral de todos os romanos.

Chegado o dia, nos reunimos no salão de estudos e o padre reitor deu por aberta a sessão.

Após uns dois ou três, Bonzão foi chamado.

- Seu Francisco Lima, que poesia vai declamar?

- O primeiro canto da Eneida.

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- E o senhor preparou bem, seu Lima? O senhor não está no quarto ano e Virgílio não é traduzido só no quinto?

- Mas está tudo aqui. Apontou o dedo indicador para a cabeça.

- Então vamos lá, disse-lhe o reitor.

Bonzão subiu no púlpito, deu uma sobranceira olhada na platéia e começou.

- “Arma virumque cano, Troia qui primus ab oris Italiam, Fato profugus, Laviniaque venit litora”... ( “eu canto as armas e o varão que lá de Troia prófugo, à Itália e de Lavino às praias trouxe o primeiro fado” O. Mendes)...

Aí, Bonzão engatou.

- Como é, seu Francisco, vai terminar ou não?

- Seu padre, eu estou querendo, mas fugiu da cabeça. Eu sabia todo esse primeiro canto. Não sei o que aconteceu.

- Muito bem, o que o senhor entendeu do que decorou?

- Padre, eu entendi quase tudo. O que me complicou mesmo foi esse “virumque”.

- Então o senhor não entendeu nada. Diga que poeta português para escrever o seu poema se inspirou na Eneida?

- Bonzão pensou um pouco e... Ah! seu padre, essa eu sei. Foi o nosso grande poeta Gonçalves Dias que cantou os nossos índios.

Aí o pessoal não aguentou e a gargalhada foi geral. Bonzão estava lívido.

- Seu Francisco, o senhor é um grande idiota. O que Gonçalves Dias tem a ver com Eneida do Virgílio.

- Padre, o que ele tinha com essa Eneida do Virgílio eu realmente não sei. O que eu ouvi dizer foi que ele gostava de uma moça daqui de São Luís, mas a família não queria por ele ser mulato. Não é isso?

Outra gargalhada do pessoal...

- Seu Francisco, o senhor é um caso perdido. A partir de amanhã, nas horas de folga o senhor venha para o salão de estudos e copie 100 vezes o primeiro canto com a tradução. Ao terminar me entregue para conversarmos.

Quem quisesse ver homem brabo era só perguntar pra Bonzão por Eneida.

Bonzão passou um mês para concluir a incumbência. Nunca mais quis saber de declamar em latim.

Como se costuma dizer na minha terra: “Quem não pode com o pote não agarra na rodilha”.

Bonzão agarrou... dançou..

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REIVENTAR O CAPITALISMO?

ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

No decurso da crise da zona do euro escrevi vários artigos a respeito. Essa crise convém lembrar, decorrente da derrocada das “sub-primes” (títulos lastreados em hipotecas e negociados junto ao sistema bancário americano), abalou de vez a teoria da regulação dos mercados e de que os consumidores agem racionalmente. Fez surgir a chamada “financeirização” da economia em que bancos “grandes demais para quebrar” extrapolaram a capacidade de administrar suas transações, com alavancagens em ativos de alto risco, principalmente envolvendo os famosos derivativos.

Em artigo intitulado “A economia precisa de novas teorias”, publicado no jornal “O Estado do Maranhão”, já que para evitar a repetição do que aconteceu em 1929 os bancos centrais decidiram injetar muitos trilhões de dólares em socorro de governos endividados e do próprio sistema bancário na iminência de não ter de volta seus créditos, ficou evidente para mim essa necessidade. Era preciso restabelecer a lógica da proporção entre meios de pagamento e produtos/serviços disponíveis, de base monetária e do seu multiplicador, da necessidade de regulação por parte das autoridades monetárias.

Com o lançamento do livro “O Capital do Século XXI”, do economista francês Thomas Piketty, da escola de economia da Universidade de Paris, não precisamos mais de uma nova teoria, pelo menos no que se refere à concentração e distribuição de renda no regime capitalista, se considerarmos implícitas na sua obra questões de políticas monetária e fiscal. Mas as suas teses vêm sendo muito discutidas pela academia em suas diversas correntes de pensamento.

Piketty tem defendido ardentemente os seus conceitos e base de dados utilizada às conclusões de sua pesquisa embasadora das teses expostas em seu Livro (entrevista à “Veja”, edição do dia 11 de junho/2014). A sua afirmação maior é de que o sistema capitalista, à medida que as economia cresce ao longo do tempo, é cada vez mais concentrador e menos distribuidor de renda, que “a renda sobre o capital é sempre maior que o crescimento econômico”, que a desigualdade no tratamento da riqueza gerada permanece presente entre as diversas classes sociais, e sugere o “remédio”: taxação progressiva das grandes fortunas, pois “os rankings de riqueza indicam que os mais ricos estão cada vez mais ricos, e cada vez mais rápido”.

Sabemos de há muito sobre teorias acerca do sistema capitalista. Apenas para lembrar a mais marcante delas, de cunho socialista, a da “mais-valia”, em que se pregava a apropriação do fator trabalho no ato da produção e não somente após a venda do produto, por parte do detentor do capital. Faria diferença na questão da distribuição da renda; hoje, a participação do trabalhador no lucro das empresas não seria um reconhecimento disso?

Piketty admite as vantagens do sistema capitalista, “no livre mercado e na propriedade privada [...], mas vê que há “um risco se não mostrarmos que existem formas de repartir os ganhos da globalização de forma mais equilibrada”. O certo é que a melhoria na participação da riqueza gerada deveria ser função do crescimento e da produtividade decorrente da utilização racional dos fatores de produção, base do desenvolvimento econômico; nada de formas de protecionismo incentivadas pela filantropia e pela política.

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ESPERANDO O HEXA.

AYMORÉ ALVIM

Evoco Camões, o grande bardo português, pela adequação destes versos ao que ora pretendemos: “Cesse tudo o que a musa antiga canta que outro valor mais alto se alevanta”.

Exatamente. Cessemos com os protestos, greves pelo menos, nestes próximos trinta dias, porque a Copa do Mundo de Futebol está aí.

É um momento impar não só para os amantes do esporte como, penso eu, para a grande maioria dos brasileiros porque não é possível alguém ficar indiferente a esta grande festa que mexe com o emocional do nosso povo. Por outro lado, quantos de nós teremos outra chance de ver o Brasil disputar uma Copa em casa?

É até possível, como relata a imprensa, que deva ter havido desvio de recursos públicos, superfaturamento nas obras de reformas ou mesmo de construções de estádios, aeroportos, espaços urbanos, etc. Mas, para isto temos a Polícia, Ministério Público, um grupo de órgãos de fiscalização e a Justiça.

Acredito, também, que os nossos governos deveriam dispensar, de há muito tempo, à saúde, educação, segurança, moradia o mesmo padrão FIFA que vem sendo posto em prática para recebermos esse certame internacional.

Mas, o que pergunto é o seguinte: O que a FIFA tem com tudo isso? Se nós não sabemos exigir dos nossos governos a solução para os nossos problemas, a FIFA parece saber muito bem apresentar suas demandas aos países que se candidatam, de livre e espontânea vontade, para sediar um evento de tal magnitude. E, quando o fazem, devem avaliar muito bem as vantagens que poderão obter.

Mas, agora, não faz o menor sentido querer conturbar tão importante certame protestando contra a ação dos nossos governos, na condução dos interesses públicos. O Brasil, somente o Brasil, pagará o preço diante da comunidade internacional pelo não cumprimento dos compromissos assumidos.

Quem demonstrará falta de urbanidade para com os visitantes que vêm deixar parte de suas poupanças e ampliar a oferta de empregos, nas cidades-sede, somos nós brasileiros.

É isso que queremos? Claro que não.

A FIFA fez a parte dela. Querem sediar a Copa de 2014? Isso tem um preço. Paga quem pode. O Brasil disse que podia, então, a Copa está aí.

Se, no entanto, alguma das partes descumpriu algum dos itens do contrato acordado foi o nosso governo com os problemas não resolvidos em alguns estádios, aeroportos, mobilidade urbana e, quem sabe, outras coisas mais.

Creio não ser o momento adequado para exigir “padrão FIFA” para saúde, educação, moradia, segurança, etc. O momento para isso está chegando. É a partir de agosto quando começarão as campanhas para as eleições de outubro.

Avaliem os candidatos, verifiquem se têm consciência das dificuldades que o país vem passando, nessas áreas, e, se realmente, estão preparados e têm condições de dar uma solução eficaz para esses problemas.

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Mas, tem que ser ao longo da campanha para eleições. Depois de eleitos e empossados ninguém os tira de lá e aí será tarde demais. Se voltarem às ruas, novamente serão recebidos à bala de borracha e bombas de efeito moral. Por isso, a hora está chegando. Escolham bem para não haver arrependimento depois.

Mas, agora? Agora não. Vamos é nos unir numa corrente vitoriosa e exigir dos nossos atletas que nos dêem o Hexa.

Logo, “cesse tudo que a musa antiga canta que outro valor mais alto se alevante”: BRASIL, Campeão do mundo / 2014.

É isso aí, turma. Pra frente, Brasil!

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NOITES DE JUNHO

ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

“O balão vai subindo, vai caindo a garoa; o céu é tão lindo e a noite é tão boa. São João, São João, acende a fogueira no meu coração.” Dos auto-falantes de Caxias, nos meus tempos de mocidade.

Estamos novamente festejando Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal. Na Caxias dos meus tempos de moço, quando os papagaios já haviam vencido os fortes ventos do mês de Maio, os festejos juninos que se seguiam alegravam as noites da cidade e varavam as suas frias madrugadas. Naquele tempo, o bumba-boi ainda não era o forte entre os caxienses durante as festas deste mês.

Lembro-me da Marujada comandada pelo Atanásio, que conheci já bem idoso, à frente o Joaquim Soldado envergando uma vistosa e colorida fantasia de adereços diversificados dos pés à cabeça, adentrando as residências portando a escultura em madeira de um animal qualquer, carregado no topo de uma taboa, bicho que tanto podia ser uma cotia como um porco. As manifestações do Divino Espírito-Santo já enriqueciam o nosso acervo cultural de valores e crenças.

Tenho algumas preferências pelo bumba-boi, embora não seja um frequentador assíduo dos arraiais onde dança. Acho lindas as dançarinas-indias, e as toadas; lembro-me do Robson, um nosso colaborador em tempos idos, que gostava de cantar quando ia despachar papéis. Brandão, você já conhece esta? E punha-se a cantar a toada mais recente. Gostava, como eu, da “Bela Mocidade”, a mais bonita já composta pelo Coxinho, cantador reverenciado pelos ludovicenses. Aprecio mais o boi de orquestra, pois lembra as suas prováveis origens jazzísticas, os ritmos de Nova Orleans.

Voltemos a Caxias, no mês de junho, entre os anos de 46 a 54, onde, com antecedência, moças e rapazes já haviam ensaiado as danças tradicionais da época, destacando-se as Quadrilhas; o grande mestre Othon Cunha -de tradicional família da qual descende a minha inesquecível Conceição-, era um exímio dançarino de todos os ritmos, um verdadeiro Fred Astaire. Os grupos que ele treinava eram os melhores a se apresentar nos clubes sociais.

A Praça Gonçalves Dias se transformava num verdadeiro “campo de guerra” entre os adultos: busca-pés, bombas-de-murrão, morteiros, foguetes, além dos inofensivos “traques”, estrelinhas, chuvas-de-prata, a cargo dos mais jovens, das crianças. Muita gente acabava se queimando. O cheiro de pólvora impregnava o ar misturado à fumaça dos artefatos detonados, e os pulmões e os olhos sofriam as conseqüências, porém tudo era compensador e tornava-se inesquecível.

E as crendices ? Eram muitas: a de que Santo Antônio é casamenteiro; a de que pingos de vela numa bacia com água desenham as iniciais do nome do futuro marido (ou esposa, para os homens que acreditavam menos); a de que uma faca enfiada na bananeira vem manchada com as letras iniciais daquele ou daquela que virá e ficará para sempre de posse do nosso coração. A propósito, minha esposa, Conceição, há prazerosos mais de 52 anos, ora interrompidos pelos desígnios de Deus, dizia ter feito algumas dessas “simpatias” numa noite de São João, quando ainda éramos simples amigos.

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Há pouco menos de dez anos, o destino, pela mão dos homens e mulheres, e em certas circunstâncias, acabou por colocar sob minha responsabilidade velar também pela cultura de Caxias, assim como pela educação, o desporto e o lazer. Foram grandes os esforços despendidos em pleitos inclusive submetidos ao Ministério da Cultura.

Tentar recuperar espaços antes palco de manifestações do gênero, como o Teatro Fênix e o que existe no Centro de Cultura; resgatar o que denominamos de a História Oral da Cidade; reinstalar uma Biblioteca Pública; dotar a Lira Municipal de novos instrumentos musicais; promover cada vez mais os intelectuais, principalmente os da terra, adquirindo seus livros, para acervo das escolas. O Parque da Cidade, que neste mês de festas juninas supõe-se continuar proporcionando, de graça, diversão para todos, é uma prova insofismável do quanto uma administração municipal pode fazer pelas tradições culturais.

Que todos aproveitem e se divirtam em nome da paz e da tranquilidade, a tônica entre os caxienses e ludovicenses amantes das letras e das artes, comprometidos com o bem-estar e o progresso da sua cidade.

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A CONSTITUIÇÃO EM RUÍNAS

JOÃO BATISTA ERICEIRA

A partir de amanhã abre-se o prazo das convenções partidárias visando escolher os candidatos às eleições para a Presidência da República, Câmara Federal, Senado, governos estaduais e assembleias legislativas. A escolha de dirigentes para os principais cargos de direção da Administração Pública do país deveria, em principio, provocar o interesse da população destinatária das ações do governo, consagradas sob a denominação de políticas públicas. Como todos sabem, há enorme volume de reivindicações não atendidas, provocando desde junho do ano passado, sucessivas manifestações pleiteando a melhoria dos transportes públicos, da segurança, educação, saúde, mobilidade urbana, moradia, e o combate à corrupção.

Embora extensos os pleitos dos manifestantes, estes parecem não relacioná-los com a representação política, com os candidatos e os partidos das eleições de 5 de outubro. Dirão o horário da propaganda eleitoral na televisão e rádio não começou. Momento em que os postulantes e as suas propostas tornar-se-ão conhecidas. Não procede, pois apesar da proibição da propaganda eleitoral antecipada, é do conhecimento geral, há mais de um ano ela se faz. As multas aplicadas pela Justiça Eleitoral são recorridas, anistiadas ou revogadas por legislação elaborada pelos próprios interessados. Logo, não é por desconhecer candidatos e propostas, mas por deles descrer, conforme as pesquisas divulgadas, que o eleitorado não estabelece relação entre os seus anseios e a postulação dos cargos públicos eletivos.

Pesquisa Datafolha divulgada no último fim de semana concluiu: os candidatos às eleições presidenciais mantiveram a tendência de queda nas preferencias, elevando-se o percentual dos que pretendem votar em branco ou nulo, somando-se mais 30% de eleitores sem candidato. O quadro não se restringe a eleição presidencial, estendem-se aos governos estaduais, assembleias legislativas, Câmara Federal e Senado. Indicam à primeira vista, a agudização da crise de representação política, péssima para a legitimidade do regime. Agravam-se as dificuldades pelas promessas de deflagração de campanha nacional a favor do voto branco e do nulo.

Não é de agora, analistas políticos examinam os resultados das eleições e das pesquisas, e apontam para a gravidade do problema, propõem a reforma politico-eleitoral para contorná-lo. Tudo em vão. Os representantes do povo permanecem surdos ao clamor das ruas. Preferem as emendas cosméticas na legislação. Proceder às reformas profundas na legislação seria devolver o poder ao povo, contrariar os seus próprios interesses. Preferem adiá-las para as próximas eleições, e a cada ano aumenta o abismo entre os representados e os representantes.

As eleições adquiriram feição mercadológica, dominadas pelo dinheiro para a compra dos votos, e pelos marqueteiros, hábeis em transformar os candidatos em produtos, juntamente com as promessas mirabolantes, distantes das reais necessidades do eleitorado. Depois, no exercício do mandato, as atividades serão pautadas por negócios entre amigos, enquanto a população padece as dificuldades materiais do cotidiano.

A origem do desinteresse do eleitorado está no divórcio entre ele e os seus representantes institucionais. Na Primeira República, entre 1889 e 1930, aconteceu algo semelhante entre a população e os representantes políticos. Ruy Barbosa, mentor

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intelectual da Constituição de 1891, percebeu, e propôs a revisão para adequá-la aos interesses dos representados. Em vão, a reforma foi superficial para salvaguardar os privilégios dos congressistas. Ele advertiu na palestra a “A Constituição em Ruinas”, proferida em 1914: “A Constituição está em destroços (...). (Mas não é ela) que está em perigo: é a pátria, o Brasil (...). Se não erguermos um grande movimento de reabilitação, a falência da nacionalidade estará declarada”.

O mesmo jurista que em Manifesto a Nação em 1892, alardeara: “Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei da não salvação...”. Ele não estava proclamando a revolução, mas as suas palavras inspiraram as quarteladas que se seguiram na década de vinte, até desembocar no pronunciamento militar, chamado de Revolução de Trinta,

Não se fez a Reforma Constitucional preconizada por Ruy, a força das armas encarregaram-se de fazê-la. A História, de outro modo, pode repetir-se cem anos depois. As ruas clamam para que os políticos reformem a Constituição de 88 a fim de que se faça legitimamente representar e participar dos atos do governo. Se não for ouvida, poderemos caminhar para rupturas institucionais não desejadas. Se fará em nome do Direito, situado acima das leis dos que teimam em repetir as mesmas práticas, talvez por cegueira ou ignorância histórica. Nesse caso, os números das pesquisas não mentem jamais. Quem tiver olhos e ouvidos, que veja e ouça.

Em homenagem a Ruy e ao seu dom de profecia, cem anos depois, adoto para a epígrafe deste texto, a mesma da palestra de 1914.

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POSTURAS DO MUNICÍPIO DE ARARI

JOÃO FRANCISCO BATALHA

João Francisco Batalha é maranhense de Arari. Titular da Academia Arariense Vitoriense de Letras, Academia Ludovicense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.

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O primeiro código de posturas do município de Arari foi aprovado pela Assembleia Provincial do Maranhão, em 1º de junho de 1866, depois de ouvida a Comissão de Câmaras Municipais e por solicitação da própria Câmara de vereadores de Arari, quando o novel município ainda não possuía nem dois anos de emancipado. O projeto deu origem à Lei 798, de 20 de julho do mesmo ano, promulgada pelo desembargador Miguel Joaquim Aires do Nascimento em sua segunda passagem pela presidência da província do Maranhão (julho/agosto de 1866), a mesma autoridade que promulgou a lei que criou o município, em 27 de junho de 1864.

Bastante avançada para a época a lei já tratava de aspectos ambientais, que hoje tanto debatemos e nos preocupamos, tais como: queimadas dos campos, destruição dos filhotes de peixes, limpeza pública, ocupação indevida dos terrenos públicos, destinação adequada aos animais mortos, alvarás de funcionamento, fiscalização nas matanças dos bovinos e no funcionamento do comércio fixo e ambulante exercido por lojistas, barraqueiros, quitandeiros, mascates e regatões. Aos comerciantes de estabelecimentos fixos que quisessem mascatear, havia a obrigatoriedade de solicitar licença à Câmara Municipal. Preocupava-se, também, com a salubridade pública do município, proibia colocar animais mortos e substâncias venenosas ou qualquer imundície nos igarapés e no rio e coibia correr e esquipar a cavalo pelas ruas da então vila, tanto de dia, como à noite, bem como proibia a divagação de porcos na vila da cidade, com multas contra seus donos.

Como nos dias atuais, em que é proibido pescaria no período do defeso, já naquela época era proibido pescar de tarrafa no Lago da Morte, antes que a tapagem do Nema fosse liberada para o público, bem como deixar morrer sobre a terra peixes miúdos nas pescarias feitas em lagos, igarapés e rio. Jacarés ou outros animais mortos teriam que ser enterrados em lugares que não causassem danos à salubridade.

Preocupada também com a preservação dos valores morais da família arariense, o preceito legal proibia espetáculos públicos de qualquer natureza nos limites da vila, sem prévia licença da Câmara Municipal. Aos contraventores eram impostas pesadas multas. Em seu artigo 34, a lei 798 dizia textualmente “Qualquer pessoa que encontrada a lavar-se nua dentro dos limites desta vila, antes das sete horas da noite, ou depois das cinco da manhã, será multada em 5$000 réis”.

Na época, as residências de Arari não tinham banheiro nem água canalizada e o normal era utilizar-se o rio Mearim como fonte direta de fornecimento de água bruta (não tratada) para o consumo caseiro, bem como tomar banho e lavar roupas e animais em suas margens. Os homens de calção e as mulheres de vestido. Claro que o texto moralizador era no sentido de proibir os moradores da vila tomar banhos despidos, antes da sete horas da noite e depois das cinco horas da manhã. Fora desse horário, estavam todos liberados, não obstante o rio ser povoado de piranhas de dentes cortantes e afiados, extremamente vorazes.

O banho noturno permitido expunha os usuários do rio a um ataque do peixe carnívoro. O Mearim possuía uma fauna rica em piranhas, peixe que prefere a carne

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como alimento. De ação incontrolável por sangue é capaz de distingui-lo a distancia, pelo faro. Ainda que não exista na história do município registro de ataque a banhistas, apenas relatos populares com pessoas mortas por afogamento.

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A LEI, ORA A LEI...

JOÃO BATISTA ERICEIRA

Getúlio Vargas, um dos construtores do Brasil moderno, a propósito do cumprimento das leis trabalhistas que copiara da Itália de Mussolini, teria pronunciado a célebre frase: “A Lei, ora a Lei...”. De formação positivista, o ditador acreditava em um Estado forte, governado pelos mais esclarecidos e por leis científicas. Após 1937 mostrou que a sua crença nos postulados positivistas era real, enquanto a questão do cumprimento das leis jurídicas ficava em segundo plano. Em um país que como couves, elas pegam ou não pegam, não é difícil encontrar as raízes históricas dessa atitude. Remontam a colonização, quando Portugal para cá mandava funcionários com ordenações. Eles eram os primeiros a descumpri-las, dentre outras razões, para enganar o Rei. Sem esquecer, este encarnava o Estado e suas regras.

Há, portanto, o carma histórico-cultural de descumprimento das leis, que passa de geração para geração, na monarquia, na república, na democracia, na ditadura, o comportamento é o mesmo. Se as leis não são cumpridas, pelas mesmas razões as sentenças judiciais delas derivadas. Os exemplos se repetem no cotidiano. O compositor Roberto Carlos acentua em uma canção: “tudo que eu gosto, é ilegal, imoral ou engorda”. O brasileiro cultua o gosto pela ilegalidade. O poeta José Chagas, com fino humor dizia: “a única coisa que funciona no Brasil é o jogo do bicho, porque é ilegal”. E acrescentava, no dia em que for legalizado não funcionará.

Em outras palavras traduzia o sentimento de que o legal, o institucional, foram feitos para não funcionar, situados que estão na esfera do surreal, bem expressado pelo jurista argentino Luiz Alberto Warat, interpretando o livro “Dona Flor e seus dois maridos”, de Jorge Amado, como a perfeita metáfora do Brasil, convivendo ao mesmo tempo com duas realidades. De um lado o marido legal, Teodoro Madureira, que não satisfazia, de outro, o boêmio Vadinho que a satisfazia.

Há outras geniais incursões no mundo da literatura para retratar a realidade das leis no Brasil, como a efetuada por Tércio Sampaio Ferraz Jr., Professor de Teoria Geral do Direito da USP, utilizando do clássico de Lewis Carrol, “A Doutora Alice no país da Lei”. Nele, a personagem interroga o Dr. Coelho Branco, depois de constatadas várias ilegalidades: “então, para que servem as leis?”. O Coelho responde: “servem para muitas coisas, para explicar o principio da legalidade insculpido na Constituição”. Mas como, se as ilegalidades e inconstitucionalidades vicejam e prosperam por aí? O mesmo Coelho retruca: “elas serão declaradas inconstitucionais na próxima Constituição”. Dito isto, ele despareceu e a advogada Alice despertou do sonho.

Se assim não fosse, ele poderia responder-lhe ainda acerca de outras fantasias, como a dos decretos-leis, chamados de medidas provisórias. De efeito imediato, com frequência ferem a direito líquido e certo, mas o poder interpretativo assim não os considera. Tornando irrelevante a situação fática de lesão concreta ou de ameaça aos direitos das pessoas. O Coelho Branco estabelece distinção entre Poder Judiciário e o poder interpretativo. E deixa claro: este último é quem prevalece movido por circunstancias e interesses.

O poeta Ferreira Gullar, em artigo recente publicado pela “Folha de São Paulo”, sob o título “Cidade do Barulho”, adverte: “o problema é que a lei, em nosso país, não

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vale, a não ser contra o cidadão que acredita nela”. O pressuposto é antigo e aparece na frase atribuída ao político mineiro Benedito Valadares: “para os amigos tudo, para os inimigos, apenas os rigores das leis”. Ou seja, elas não se aplicam aos donos do poder e seus amigos.

Diante da constatação é inevitável a indagação: assim, o Direito não existe? Claro que sim. Ele é que faz a maioria das pessoas cumprir as suas obrigações mesmo sem o funcionamento das instituições e das suas leis. Jean Cruet, na “Vida do Direito e a inutilidade das Leis” asseverava: todo o dia se vê os fatos mudando as leis, nunca ocorrendo o contrário.

O jurista alemão Savigny acreditava na inviabilidade da vontade arbitrária do legislador para regular a conduta das pessoas, preferindo apostar na força dos costumes para fazê-lo. Nessa hipótese, as leis são assunto sério demais para ficar apenas a cargo de políticos.

O legislador para tornar-se obedecido terá que submeter-se a ética do interesse geral. Será inútil impor regras de cima para baixo sem a concordância dos cidadãos.

Por que manifestantes, grevistas, policiais, não cumprem as leis e as correspondentes decisões judiciais? Porque não as pactuaram. Do jeito que está tudo caminha para a anarquia generalizada. Há necessidade de esboçar novo pacto social, e a partir dele formular leis geradas pelo consenso de todos.

Pois a assim continuar, caminhamos para o caos e a democracia corre perigo.

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POESIASPOESIASPOESIASPOESIAS

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REPÚDIO AO ESTUPRO

DILERCY ADLER Uma poesia contra a violência exercida sobre a mulher,

sobre o amor, sobre o sexo, sobre o homem!

Estupro violência maior

pra com a mulher violência maior

pra com o sexual violência maior

pra com o bom do amor!

estupro aberração maior do desejo menor

encarnação do desamor do ódio

em lampejos de sadismo e horror!

estupro

a negação do afetivo na carne

a negação da sedução no desejo

a negação do sublime no sexo

a negação do homem e da mulher

seja ele concreto seja ele simbólico

o meu repúdio!

(ADLER, 1991, p.84)

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POESIA PROFILÁTICA.

AYMORÉ ALVIM

Quando, às vezes, me perguntam És poeta? - Poeta nada, ó cara, Eu faço meus versos. Assim, eu me distraio E me enterneço. Pois acho um bom remédio Para o cérebro. Não te envergonhes, Faz tuas poesias. Não te envaideces Se te chamarem poeta. Expressa apenas Os teus sentimentos E, assim, evitas O que te aborrece. Pra quem não joga Dama nem xadrez. E palavras cruzadas Também nunca faz. Fazer poesias Após certa idade Previne o Alzheimer E outras coisas mais. ________________________ Por isso, Faz tuas poesias E publica no fb Pra gente lê E, assim, vais fazendo tua profilaxia. Que tal?

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AMOR E DESEJO

AYMORÉ ALVIM.

Gosto demais de ti Eu não o nego, Mas amar-te como esperas Eu não consigo Amei uma só vez E fui feliz. Me arriscar de novo É impossível.

O amor que me ofereces É possessivo. Não quero pertencer A mais ninguém. Nem dar satisfação Da minha vida. Fazer somente aquilo Que a mim convém.

Amor é um processo Permanente. Eu falo de amor, Não de desejo. Desejo se resolve Num lampejo, Mas nunca satisfaz Completamente.

O amor, não. O amor é paciente. Que vai nos invadindo Lentamente. É um aprendizado, Nunca acaba, Unindo duas almas Para sempre.