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ALOCAÇÃO DE FITOMASSA NA MAMONEIRA (RICINUS COMMUNIS L) EM FUNÇÃO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA E DA TEMPERATURA NOTURNA EM CÁMARA DE CRESCIMENTO Wilton Nunes de Queiroz 1 , Uilma Cardoso de Queiroz 2 , Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão 3 , Renilson Targino Dantas 1 , Maria Isabel de Lima Silva 2 1 UFCG, [email protected] , [email protected]; 2 UFPB, [email protected] , [email protected]; 3 Embrapa Algodão,[email protected] RESUMO - Planta de origem tropical, a mamoneira (Ricinus Communis L.) é uma oleaginosa tolerante à seca e sensível às condições climáticas (altitude, umidade, temperaturas diurnas e noturnas, e ocorrência de orvalho) que, se inadequadas, favorescem o crescimento vegetativo em detrimento da produção. Neste trabalho, objetivou-se verificar e quantificar os efeitos de adubação nitrogenada e temperatura noturna. Conduziu-se o experimento em condições de ambiente natural e câmara de crescimento da Embrapa Algodão, em Campina Grande – PB, nos meses de Julho à Agosto de 2005. Utilizou-se o delineamento de blocos casualizados com quatro repetições e oito tratamentos, em distribuição fatorial, sendo os fatores quatro doses de Nitrogênio (0; 60; 120 e 180 kg/ha) e duas temperaturas noturnas alta (31°C) e baixa (entre 17 a 20°C). A temperatura mais elevada foi simulada em câmara de crescimento, com 70% de umidade relativa do ar; a mais baixa, refletem condições noturnas locais. Tanto a adubação como a temperatura noturna elevada favorescem o crescimento vegetativo. Aos 60 dias do plantio as plantas, em temperatura noturna mais elevada, não produzem nada; em temperatura mais baixa, elas têm sua produtividade reduzida em até 96%, pelo uso de 60 a 180 kg/ha de nitrogênio. INTRODUÇÃO Considerada como uma planta de elevada tolerância à seca, a mamoneira (Ricinus Communis L.) é muito comum no semi-árido brasileiro. Apesar de apresentar o seu fitossistema de elevado nível de organização morfológico, é bastante sensível a diversos fatores, entre eles o climático. De acordo com Larcher (2000) e Levitt (1972), geralmente o agente estressor leva a planta a sair da condição de normalidade do metabolismo e estabelecer um novo ponto de equilíbrio, com mudanças morfofisiológicas que a planta estabelece para poder lutar contra o estresse e, pelo menos, sobreviver por algum tempo à condição estabelecida pelo agente estressor. Ela apresenta um forte sistema radicular que consegue atingir uma profundidade superior a três metros (POPOVA e MOSHKIN, 1986). Apesar do zoneamento da mamona para a região Nordeste do Brasil, contemplar a altitude, que deve ser de pelo menos 400 metros, além da precipitação pluvial, mínima de 500 mm/ano, com pelo menos quatro meses de chuvas, e temperatura média do ar entre 20 e 30 ˚C, há escassez de informações sobre os efeitos da temperatura noturna e da umidade relativa do ar à, noite no metabolismo e

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ALOCAÇÃO DE FITOMASSA NA MAMONEIRA (RICINUS COMMUNIS L) EM FUNÇÃO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA E DA TEMPERATURA NOTURNA EM CÁMARA DE CRESCIMENTO

Wilton Nunes de Queiroz1, Uilma Cardoso de Queiroz2, Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão3, Renilson Targino Dantas1, Maria Isabel de Lima Silva2

1UFCG, [email protected], [email protected]; 2UFPB, [email protected], [email protected]; 3Embrapa Algodão,[email protected]

RESUMO - Planta de origem tropical, a mamoneira (Ricinus Communis L.) é uma oleaginosa tolerante à seca e sensível às condições climáticas (altitude, umidade, temperaturas diurnas e noturnas, e ocorrência de orvalho) que, se inadequadas, favorescem o crescimento vegetativo em detrimento da produção. Neste trabalho, objetivou-se verificar e quantificar os efeitos de adubação nitrogenada e temperatura noturna. Conduziu-se o experimento em condições de ambiente natural e câmara de crescimento da Embrapa Algodão, em Campina Grande – PB, nos meses de Julho à Agosto de 2005. Utilizou-se o delineamento de blocos casualizados com quatro repetições e oito tratamentos, em distribuição fatorial, sendo os fatores quatro doses de Nitrogênio (0; 60; 120 e 180 kg/ha) e duas temperaturas noturnas alta (31°C) e baixa (entre 17 a 20°C). A temperatura mais elevada foi simulada em câmara de crescimento, com 70% de umidade relativa do ar; a mais baixa, refletem condições noturnas locais. Tanto a adubação como a temperatura noturna elevada favorescem o crescimento vegetativo. Aos 60 dias do plantio as plantas, em temperatura noturna mais elevada, não produzem nada; em temperatura mais baixa, elas têm sua produtividade reduzida em até 96%, pelo uso de 60 a 180 kg/ha de nitrogênio.

INTRODUÇÃO

Considerada como uma planta de elevada tolerância à seca, a mamoneira (Ricinus Communis

L.) é muito comum no semi-árido brasileiro. Apesar de apresentar o seu fitossistema de elevado nível de organização morfológico, é bastante sensível a diversos fatores, entre eles o climático. De acordo com Larcher (2000) e Levitt (1972), geralmente o agente estressor leva a planta a sair da condição de normalidade do metabolismo e estabelecer um novo ponto de equilíbrio, com mudanças morfofisiológicas que a planta estabelece para poder lutar contra o estresse e, pelo menos, sobreviver por algum tempo à condição estabelecida pelo agente estressor. Ela apresenta um forte sistema radicular que consegue atingir uma profundidade superior a três metros (POPOVA e MOSHKIN, 1986). Apesar do zoneamento da mamona para a região Nordeste do Brasil, contemplar a altitude, que deve ser de pelo menos 400 metros, além da precipitação pluvial, mínima de 500 mm/ano, com pelo menos quatro meses de chuvas, e temperatura média do ar entre 20 e 30 ˚C, há escassez de informações sobre os efeitos da temperatura noturna e da umidade relativa do ar à, noite no metabolismo e

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crescimento desta espécie, principalmente das novas cultivares, como é o caso da BRS Paraguaçu, recomendada pela Embrapa para o plantio em todo semi-árido, nos municípios zoneados. Desta forma objetivou-se com este trabalho verificar os efeitos da temperatura noturna e da adubação nitrogenada no crescimento inicial da mamoneira.

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi conduzido em condições de ambiente natural e câmara de crescimento

pertencente ao Centro Nacional de Pesquisa de Algodão – Embrapa Algodão, em Campina Grande – PB, nos meses de Julho à Agosto de 2005. Os dados de temperatura e umidade relativa do ar no interior da câmara de crescimento foram obtidos por um termohidrográfo. Na câmara de crescimento a temperatura média durante todo o experimento e a umidade relativa foram constantes a 30 ºC e 70 %, respectivamente, no período das dezessete horas da tarde a cinco horas da manha. A cultura utilizada foi a BRS Paraguaçú, antes denominada, BRS 188 PARAGUAÇU, da mamoneira. A variedade de mamona utilizada foi a BRS Paraguaçú. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com quatro repetições e oito tratamentos, em arranjo fatorial, sendo os fatores quatro doses de Nitrogênio (0, 60, 120, e 180 kg/ha) e duas temperaturas noturnas, alta (30°C) e baixa (21°C). Foram computadas variáveis relacionadas à fitomassa das plantas, depois de seca em estufa com ventilação forçada, à temperatura de 70 ºC até peso constante.

RESULTADOS E DISCUSSÃONa tabela 1, podem ser observados os resumos das análises da variância dos dados das

variáveis fitomassa do caule, folhas, frutos e raízes, com as significâncias estatísticas obtidas para os fatores estudados e a interação entre eles. Verifica-se que para a variável frutos por planta, fitomassa, a variação foi bem maior do que as observadas nas demais variáveis relacionadas ao saldo fotossintético.

Considerando as variáveis relacionadas com a produção de matéria seca, em que a interação não foi significativa, verifica-se que as partes das plantas reagiram de maneira diferente a simulação do ambiente de baixa altitude, com temperatura noturna mais elevada, com as folhas aumentando e as raízes diminuindo a massa seca, quando comparadas com o ambiente natural, de Campina Grande, independente das doses de nitrogênio utilizadas (Tab. 2). À medida que se aumentaram as doses de nitrogênio, houve maior produção massa seca de folhas e de raízes, com mais intenso incremento nas folhas.

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No tocante à fitomassa do caule, em que a interação entre os fatores estudados foi significativa, a maior produção (37,3 g/planta) foi obtida no ambiente natural com a dose de 180 kg/ha de nitrogênio. Nesta dose, também ocorreu a maior produção de fitomassa do caule na câmara de crescimento (32,4 g/planta), porém ela foi estatisticamente menor que a obtida no outro ambiente. Em geral as doses intermediárias produziram fitomassa de caule semelhante nos dois ambientes, havendo superioridade da câmara de crescimento na dose zero e do ambiente natural na maior dose testada.

Com relação aos frutos, parte econômica das plantas de mamona, que têm sementes, com teor médio de óleo de 48 % na cultivar testada, no ambiente simulado não houve frutificação até os 60 dias da emergência das plântulas, como pode ser observado na Figura 1. No ambiente natural, por outro lado, as plantas já haviam frutificado (Fig. 2), evidenciando o efeito dramático da temperatura noturna elevada, comum em baixa altitude, próximo ao nível do mar, no litoral do Nordeste do Brasil, variando no período de crescimento entre 27 a 32 ˚C, conduzindo as plantas a terem excessiva respiração mitocondrial, reduzindo a fotossíntese líquida e atrasando grandemente o processo de floração e frutificação.

Considerando o ambiente natural de Campina Grande, onde a temperatura noturna foi muito menor (Tab. 4), verificou-se que a adubação reduziu o peso dos órgãos de frutificação. Isto ocorreu porque houve alteração na precocidade, visto que a mamona tem crescimento indeterminado, conforme salientado por Beltrão et al 2001. Na presença de maiores doses de nitrogênio a planta investe mais no seu crescimento vegetativo e retarda o início do florescimento. Como o experimento foi encerrado aos 60 dias da emergência, apenas aquelas plantas mais precoce tinham frutos formados. A redução na produtividade for de 88 a 96% com o encerramento do ciclo aos 60 dias do plantio.

CONCLUSAOO crescimento inicial da mamoneira, cultivar BRS Paraguaçú, dependente da adubação

nitrogenada e das condições ambientais impostas às unidades experimentais. Tanto a adubação como a temperatura noturna mais elevada favorescem o crescimento vegetativo. Aos 60 dias do plantio as plantas, em temperatura noturna mais elevada, não produzem nada; em temperatura mais baixa, elas têm sua produtividade reduzida de 96 a 88% à medida que se aplica de 60 a 180 kg/ha de nitrogênio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBELTRÃO, N.E. de M.; SILVA, L.C; VASCONCELOS, O.L.; AZEVEDO, D.M.P. de; VIEIRA, D.J. Fitologia. In: AZEVEDO, D.M.P. de; LIMA,E.F. (eds.). O Agronegócio da mamona no Brasil. Embrapa Algodão (Campina Grande, PB).- Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p. 37-61.

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EMBRAPA. BRS 188 (PARAGUAÇU). 1999. (Folder);LARCHER, W. Ecofisiologia Vegatal. Capítulo 5, p. 295-303.São Carlos, 2000.LEVITT, J. Responses of plants to enviromental stresses. N ew York, USA: Academic Press. 1972. 697p.POPOVA, G.M.; MOSHKIN, V.A. Botanical classification. In: MOSHKIN, V.A. (ed.). Castor. New Delhi: Amerind Publishing, Co. Put. Ltd. 1986. p. 11-27

Tabela 1. Resumos das análises de variância da matéria seca de caule, folha com pecíolo, fruto e raiz aos 60 dias após emergência. Campina Grande, PB 2005.

Fatores GL

Quadrado médio Caule Folha com pecío-

loFruto Raíz

Temperatura (T) 1 4,3292 ns 186,4863 ** 3368,1528 ** 765,5784 *Doses (D) 3 950,5597 ** 910,9054 ** 1867,0551 ** 1075,8431 **

T x D 3 36,4916 * 6,0494 ns 1867,0551 ** 222,5553 nsTratamentos 7 423,6404 419,6215 2081,4976 665,8248

Blocos 3 4,2521 ns 5,6394 ns 18,3044 ns 355,9297 nsResíduo 21 7,8238 9,9293 24,2011 175,3596

CV(%) 11,5295 12,4268 47,9509 26,6041

Ns : Não significativo pelo teste F a nível de 1 % de probabilidade ** : Significativo pelo teste F a nível de 1 % de probabilidade. * : Significativo pelo teste F a nível de 5 % de probabilidade.

Tabela 2. Valores médios de matéria seca da folha com pecíolo, e raiz aos 60 dias após emergência, em função dos fatores temperatura ambiente e doses de NPK. Campina Grande, PB. 2005

Fatores Folha com pecíolo RaizTemperatura (ºC)Ambiente 1:Campina Grande 22,9 b 54,6 aAmbiente 2:Câmara de Crescimento 27,7 a 44,8 bDoses de NPK (kg/há)0 kg de N / há 12,3 d 33,9 b60 kg de N / há 21,7 c 51,4 ab120 kg de N / há 30,4 b 51,8 ab180 kg de N / há 36,8 a 61,8 aMédia Geral 25,4 49,8

Matéria Seca

Tabela 3. Desdobramento da interação Ambientes (A) vs Doses de Nitrogênio (D), da variável matéria seca do caule nos 60 dias da emergência das plântulas mamona, cultivar BRS-188 Paraguaçu. Campina Grande, PB. 2005.

Ambientes 0 60 120 180Ambiente de Campina Grande 8,1 Cb 20,7 Ba 32,3 Aa 37,3 AaAmbiente da Câmara de Crescimento (Tº e UR% noturna) 12,2 Ca 22,2 Ba 28,5 Aa 32,4 Ab

Doses de Nitrogenio (Kg/N/ha)

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Nas linhas, médias seguidas da mesma letra maiúscula não diferem entre si pelo teste Tukey a nível de 5% de probabilidade. O mesmo ocorre para as colunas, com letras minúscula.

Tabela 4. Desdobramento da interação Ambientes (A) vs Doses de Nitrogênio (D), da variável matéria seca do fruto nos 60 dias da emergência das plântulas mamona, cultivar BRS-188 Paraguaçu. Campina Grande, PB. 2005.

Ambientes 0 60 120 180Ambiente de Campina Grande 66,2 Aa 2,8 Ba 5,2 Ba 7,7 BaAmbiente da Câmara de Crescimento (Tº e UR% noturna) 0,0 Ab 0,0 Aa 0,0 Aa 0,0 Ab

Doses de Nitrogenio (Kg/N/ha)

Nas linhas, médias assinaladas ou possuídas de mesma letra maiúscula, não diferem entre si pelo teste Tukey a nível de 1% de probabilidade. O mesmo ocorre para as colunas, com letras minúscula.

Figura 1. Plantas da mamona que ficaram a noite em ambiente com temperatura media do ar elevada, acima de 28 oC, 12 horas, com umidade relativa do ar também elevada, superior a 70 % e sem orvalho.

Figura 2. Plantas cultivadas nas condições de ambiente de Campina Grande. Todas entraram em processo de floração e frutificação. Campina Grande, Pb, 2005.