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JONAS R.SANCHES Alquimia Poética Jonas Rogerio Sanches 2012

Alquimia Poética · Alquimia Poética 9 Prefácio Com qual curiosidade te pões a ler o livro da tua vida? Com qual medo lanças o olhar ao teu interior? Acaso, o que desejais? Eu

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JONAS R.SANCHES

Alquimia Poética

Jonas Rogerio Sanches

2012

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Jonas Rogerio Sanches

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D 175p SANCHES, Jonas Rogerio

Alquimia Poética/ Jonas Rogerio Sanches –

Catanduva: Sanches, 2012

ISBN: 978-85-914088-1-8

1.Poesia Brasileira

CDD B 869.1

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Dedicado esta obra aos Seres de Luz que trabalham incessantemente pela evolução da humanidade.

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Lancei todos os ingredientes Em cadinho hermético

E o cozimento se deu em fogo brando As nuvens plúmbeas que ali pairavam

Metamorfosearam-se E da seiva da vida o leite da virgem

Minha alma em transmutação Despida da aura do chumbo

Vestida do puro ouro alquímico E a grande obra se fez em mim

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Agradecimentos Agradeço primeiramente ao Universo Infindável que lapida a cada dia todos os meus sentidos e me deixa nu diante dos infinitos e pequenos detalhes onde me mostra que Deus está na mesma intensidade no microcosmo e no macrocosmo. Agradeço aos amigos do Grupo “O Macaco Pensador” que me apoiam e me proporcionam ferramentas muito úteis à divulgação de meu trabalho, em especial ao autor Augusto Branco que me presenteou com o prefácio dessa obra. Agradeço a todos os leitores e apreciadores da poesia, pois sem eles não teria sentido nada disso, agradeço também a todos os amigos que me apoiam e incentivam em meus escritos. Agradeço a minha amada Mãe que pacientemente me atura dia pós dia, na alegria e na queda e me ama de uma maneira que nunca encontrarei palavras para descrever, também agradeço ao meu querido Pai que está sempre do meu lado quando necessito... Agradeço também a Elsy Myrian Pantoja que está do meu lado desde o início de tudo isso e que amo por demais. Enfim agradeço a todos aqueles que acreditaram e continuam acreditando em seus próprios sonhos, pois são os sonhos que movem a humanidade!

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Prefácio

Com qual curiosidade te pões a ler o livro da tua vida? Com qual medo lanças o olhar ao teu interior? Acaso, o que desejais? Eu te observo, sei de ti, e vou matar-te para fazer-te renascer! Nada escapa ao tempo e à alquimia do Universo. Mas, antes, conheça-te. Transmute-se. Voe nas asas da poesia com Jonas Rogério Sanches e reflita, emocione-se, encontre a suprema inspiração da vida, e ilumine-se! Augusto Branco

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Índice

Dedicatória_______________________________________________3 Agradecimentos___________________________________________7 Prefácio _________________________________________________ 9 Índice ___________________________________________________ 11 Alquimia Poética ________________________________________ 17 A Voz do Meu Silêncio____________________________________18 Ações e Reações _________________________________________ 19 Inefável ________________________________________________20 Reticências ______________________________________________ 21 Espasmos Alegóricos _____________________________________ 22 Elixir ____________________________________________________23 Trovão dos Tempos ______________________________________24 Oração aos Quatro Ventos _______________________________ 25 Cama de Pregos ________________________________________26 Pétalas Pálidas _________________________________________ 28 Cala-te Ego ____________________________________________ 29 Uníssono _______________________________________________ 30 O Poeta e o Vento ______________________________________ 31 Letargia ________________________________________________32 Mágoas Extintas ________________________________________ 33 Ritual __________________________________________________34 Os Primórdios da Busca _________________________________ 35 A Lenda de Amor dos Destemidos _______________________ 36 Sussurros do Universo ___________________________________ 37 Verdades Exiladas ______________________________________ 38 Luar Enfeitiçado ________________________________________39 Eclosão ________________________________________________ 40 Plenilúnio ______________________________________________ 41

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Ancestrais ______________________________________________42 Vias Alegóricas _________________________________________ 43 Lembranças Desfeitas ___________________________________44 Novos Horizontes _______________________________________45 Mares de Mistérios ______________________________________46 Saudade Minha... Versos Seus ____________________________47 Sincronia de Amor ______________________________________48 Sagradas Mulheres ______________________________________49 Reino Encantado _______________________________________ 50 Plenitude ______________________________________________ 51 Frutos Maduros _________________________________________52 Amplitude _____________________________________________ 53 Desabrochar da Alma ___________________________________54 Encanto de Sereia _______________________________________55 Falsas Riquezas ________________________________________ 56 Lápis N°2 _______________________________________________57 Meia Noite _____________________________________________58 O Macaco Pensador _____________________________________59 Perseguições ___________________________________________60 Visão de Xamã _________________________________________ 61 Quase Morte ___________________________________________62 Tristeza ________________________________________________63 Rios da Existência ______________________________________ 64 Ápice _________________________________________________ 65 Sequências e Sequelas ___________________________________66 Dias de Silêncio _________________________________________ 68 Entre Fronteiras _______________________________________ 69 Lúdico ________________________________________________ 70 Semeador de Sonhos ___________________________________ 71 Mil Anos de Juventude __________________________________ 72 Prisioneiros do Tempo __________________________________ 73 Por Amor Renasci ______________________________________ 74 Dias Vazios _____________________________________________ 76 Tudo Passa _____________________________________________ 77

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Poeta Encharcado ______________________________________ 78 Meu Coração... Sua Morada... ___________________________ 79 A Grande Dança dos Astros ______________________________80 Transitório _____________________________________________ 81 Batendo um Papo com a Natureza _____________________ 82 Secreto ________________________________________________ 83 Colhendo os Frutos dos Sonhos __________________________ 84 Resquícios ______________________________________________ 85 Eu em Cacos ____________________________________________86 Quatro Quadras ________________________________________ 87 Fora do Tempo _________________________________________ 88 Paz Interior _____________________________________________89 Hermético _____________________________________________90 Indescritível _____________________________________________91 O Domador ____________________________________________92 Navegando os Mares da Vida ____________________________93 Liberdade... Felicidade... Fatalidade... ___________________ 94 Moribundo _____________________________________________ 95 A Noite da Minha Alma ________________________________ 96 Tinta Nanquim _________________________________________ 97 Cães da Boemia ________________________________________ 98 Saudade Prematura ____________________________________99 Devaneios Primaveris __________________________________100 Ritos Agrícolas _________________________________________ 101 Eu e as Estrelas ________________________________________102 Primordial ____________________________________________ 103 Fantasioso ____________________________________________ 104 Iniciático ______________________________________________ 105 Os Sonhos de Pã ______________________________________ 106 Noites Infinitas ________________________________________ 107 Luar de Equinócio ____________________________________ 108 Meu Mundo de Poesias _______________________________ 109 As Estações dos Deuses _________________________________ 110 Tardes Vazias _________________________________________ 111

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Ser Feliz... Viver Feliz __________________________________ 112 Confins do Universo _____________________________________114 Dança Celular __________________________________________115 Ressurreição ____________________________________________116 Embaixo do Picadeiro Sempre Dorme um Vira-Lata _____ 117 Porta Entreaberta _____________________________________ 118 Final Feliz _____________________________________________ 119 Os Véus Mágicos da Revelação _________________________ 120 Ilusões e Desenganos ____________________________________121 O Cântico das Vertigens ________________________________122 A Rosa Noturna ________________________________________123 Sentimentos Concretos __________________________________124 Castelos Desfeitos ______________________________________ 125 Psicoses Embalsamadas _______________________________ 126 Onde se esconderam os astronautas? ___________________ 127 Desvarios _____________________________________________ 128 Falésias Vazias ________________________________________ 130 O Coração da Alma ___________________________________ 131 Sentença de Amor ____________________________________ 132 A Cor da Saudade ____________________________________ 133 Retrato Abstrato ______________________________________ 134 Dois Extremos _________________________________________ 136 Poeta Adormecido ____________________________________ 137 Olhares Cotidianos ____________________________________ 138 Os Campos do Nosso Amor ____________________________ 139 Poesia Sertaneja _____________________________________ 140 Pobre Futuro ________________________________________ 141 Partida _____________________________________________ 142 A Canção dos Tempos _______________________________ 143 Voos Poéticos _______________________________________ 144 Anjo de Escorpião ___________________________________ 145 Os Ácidos do Meu Jardim ____________________________ 146 O Ladrão dos Jardins Desgastados _____________________ 148 Deixarei Algumas Coisas ______________________________ 150

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Germinação ____________________________________________151 Sequelas do Tempo _____________________________________152 Dias e Dias ____________________________________________ 153 D’onde Vim? __________________________________________ 154 Meu Caminho... Minhas Colheitas _______________________ 155 Triunfal _______________________________________________ 156 Inconformidades ______________________________________ 157 O Sol, a Lua e o Nosso Amor ____________________________ 158 O Casamento Astrológico do Rei ________________________ 160 Empírico ______________________________________________ 161 Cerejeiras em Flor _____________________________________ 162 Submerso _____________________________________________ 163 Noites Insossas _________________________________________ 164 Palavras do Coração _________________________________ 165 Noite Desfeita ________________________________________ 166 Viagem Astral ________________________________________ 167 Espinhos _____________________________________________ 168 Transformações ______________________________________ 169 Vinhos do Deserto ____________________________________ 170 Contemplações _____________________________________ 171 Vigiando o Tempo ___________________________________ 172 O Limbo dos Deuses __________________________________ 173

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Alquimia Poética

Transmuto-me, e à poesia... Ainda grosseira, pronta a ser lapidada e lanço cadinho em chama;

e os ingredientes estão dispostos em novas palavras, segredos desvelados e velados, renovados em Hermética.

Transmuto-me, sou a poesia... No fogo alquímico,

cozinhando no mercúrio, em leite da terra; devorador de vocábulos disfarçados... Sou sol,

e o criptógrafo adormecido desperta, revelando a pedra da consciência... Matriz do elixir.

Transmuto-me, em vertigens poéticas... Em brasas Mergulho nesse fumegante frenesi transformador

D’onde retiro o sal dos sábios e as novas revelações Transito agora entre os estágios transformadores

E a noite de estrelas fez-se presente em nova rima

Transmuto-me, sou o próprio carvão... Tornar-me-ei ouro Dentre todas as estrofes da minha vida, vou luzir em magma, das entranhas da mãe criadora jorrará a bebida revigorante; e antes de renascer morrerei três vezes, em sepulcro lacrado,

e resplandecente e eterna minh’alma completará a obra; que no orvalho colhido pela manhã se fez consumada.

De um processo denominado de Alquimia Poética...

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A Voz do Meu Silêncio

Vou despir-me de toda sanidade Gritarei para os ouvidos do eco

E deixarei as palavras reverberarem Dentre as paredes do templo

Vou derramar o último copo de vinho E sujar as vestes imaculadas da virgem

Não saciarei mais essa sede sórdida Somente auscultarei o sangue nas veias

Correrei nas frestas do desfiladeiro

Até faltar-me o oxigênio E descalço pisarei as brasas

Até satisfazer a fome de viver

Logo após dormirei o sono dos justos E acordarei nos braços da minha violeta Onde poderei me deleitar em seus traços

E sorriremos novamente ao pôr do sol

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Ações e Reações

Vejo-me acorrentado... Aprisionado Por esses grilhões kármicos que adquiri Com erros e palavras... Ações e reações Alusão eloquente de um eterno existir

Vejo-me caminhando em círculos Por esse ciclo vicioso de ingratidão Onde quitei o preço da perdição E nova dívida foi feita em vão

Vejo o universo insuflar-se na alma

Com esse sopro quente de vida Dando a chave da porta ausente

E sapatos novos para eu caminhar

Vejo-me pagando os pecados Como um Cristo sem fé e esperança Perdoei-me pelas injúrias proferidas

Naqueles dias que o frio invadiu a alma

Vejo-me estirado pelas vias cósmicas Jogando esse jogo sem saber as regras Arbitrando os próprios passos cansados

E bebendo daquela fonte de luz

Ah! Se ainda fosse tarde ou madrugada E as escolhas tivessem sido feitas Pelas estrelas que vigiam os dias

Ou pelo par de olhos que espreita calado

Mas somos os escolhedores... E os atores dessa peça...

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Inefável

Sou solo... Sou pasto... Repleto de flores Campestres... De todas as cores... Sou fungo

D’onde surgem mágicos cogumelos dourados Sou o leão alado que sobrevoa os montes proibidos

Sou o sol e a luz azul que reflete o diamante

Sou o sedento desejo de dois amantes Que se entregam um ao outro por inteiro E se degustam e adormecem no celeiro

Sou essa vontade impiedosa de sorrir

Ao peregrino... E gritar com minha rouca voz Para esse mundo paradisíaco e insano

Que sou anterior há todos os anos

Sou sua eterna gana de alegria Sou você e você faz parte de mim

Mesmo que não me reconheça Dentro do seu sagrado templo coração

Entre as pilastras do seu ser eu sou

O alicerce da grande obra Pois sou o princípio de tudo

E você reside em minha mente

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Reticências

Um céu pálido como a neve Nessa tarde estranha e vazia

Onde vejo as andorinhas Dançando em suas acrobacias

Um cálido vento lava meu rosto

Distante a vagar em pensamentos Recostado na janela ao meu gosto

Onde o artista aventurou outro esboço

E nos canteiros tão caladas essas flores Como se o tempo estivesse parado

E da ampulheta que contava uma história Restaram apenas cacos despedaçados

E as areias do relógio se espalharam Levando as trágicas horas escondidas

Para as casas que os ponteiros isolaram Nas reticências brandas dessa vida

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Espasmos Alegóricos

Espasmos de inspirações nesse sol Que aquece e desgasta minhas palavras

Espasmos de dor sobre o lençol Que me deixam insone nas madrugadas

Espasmos e lapsos de memórias

Tão antigas que deixei na encruzilhada Espasmos pela água tão gelada

Que pela cachoeira foi a tempos derramada

Espasmos longos em um peito doentio Que aquela tarde se banhava lá no rio

Rio de águas claras e de vida borbulhante Que busca o mar nesse fluxo constante

Eu tive espasmos ao escrever tal poesia

Incerto ao verso vazado pelo punhal Não fui direto, mas usei alegorias.

Para entregar-me as castas luzes do arrebol

Também espasmos pelo sangue escorrido Sono letárgico, desregrado e fatal.

No seio eterno do universo escondido Nos abraços escassos entre o bem e o mal

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Elixir

Esquadrinhei todo meu ser Desde o nadir até o zênite Em busca de um tesouro Mais valioso que o ouro

Abri os baús da minha mente

Que estavam trancados hermeticamente Encontrei somente fragmentos Guardei-os e segui em frente

Dissolvi-me em minha epífise

Levando todos os achados Lancei-os dentro do cadinho

Para serem metamorfoseados

Processo alquímico em movimento Purificando os pensamentos Longe da influência externa Fez-se o elixir da vida eterna

Mais esse ato consumado Mercúrio e sal unificados

Transmutação que se completa Minh’alma que se liberta

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Trovão dos Tempos

O som do trovão sagrado Ecoou por anos-luz bradando Em todo recôndito universal

E deixando seu verbo em semente

O som do trovão sagrado se calou Diante tantas injustiças e maldades Que aqui ele encontrou... Chorou

E o verbo se corroeu solitário esse dia

A alma do mundo também se corroeu Sendo roída pela discórdia e a ganância

Mas espera calada sua ressurreição E o mundo clama pelo renascimento

E eu clamo pelo entendimento Pelo retorno do som do trovão

Pelo amor mútuo entre os povos E grito pela alma do mundo

Grito até acabar minha voz

Pois meu coração também chora E o que eu posso deixar são somente palavras

Que às vezes nem serão lidas

Mas a chuva sempre volta E rega os campos de trigo

E o ouro já se foi junto aos reis O que restou foi um recomeço

Somente esbocei um breve sorriso e morri em paz...

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Oração aos Quatro Ventos

Acalentado por esse sol que nasce No leste de minh’alma e aquece

Meus sonhos e a vontade de continuar Pelas veredas da iniciação oculta

Protegido pelos anjos do sul que me guardam

De todas as mazelas da discórdia E dedilham suas harpas incandescentes

Gravando seus acordes no profundo do ser

Alimentado pelas luzes do oeste que clareiam Minha vida e minha visão limitada E como o archote do velho ermitão

Indicam-me os caminhos verdadeiros

Abençoado pelos guardiões das torres do norte Que se postam imponentes como muralhas

Blindando-me da flecha envenenada inimiga Elevam-me aos pedestais do meu próprio eu

Declamo agradecido aos quatro ventos

Em toda glória poética imortal Palavras de súplica e misericórdia

Àqueles que cegos tateiam caminhos vãos

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C a m a

d e

Pregos

E o pergaminho veio a mim profanado Mais o purifiquei com o sal dos deuses E as mazelas desfeitas já são passado

O corpo insano foi testemunha

As linhas borradas reescrevi são Com a sagrada pena dos tempos Com meu próprio sangue escrevi

E o consagrei diante os faraós

Mas as tristezas eu calei Deixei folhas em branco

O livro das lastimas eu abandonei Para ser preenchido pelos covardes

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E os meus estigmas marcaram Aquelas palavras que não foram ditas

Mas foram lidas pelos guardiões Que adormeceram em segredo

A mágica foi escondida pelos sacerdotes Morri varias vezes tentando desvelá-la

Deitei-me na cama de pregos E morri pela última vez

Mas ressurgi radiante

No peito o galardão mortífero Que eu trouxe dos confins do limbo

Onde espiei por detrás da porta

A verdade escondi em códigos E deixei as civilizações a esmo

Nessa caça sem sentido Em busca das riquezas mundanas

E os pergaminhos se desfizeram com a chuva de verão...

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Pétalas Pálidas

Escute o som desse silêncio que permeia

O vácuo intenso do universo pessoal Onde pintei milhões de estrelas e cometas

Com tintas velhas numa tela de lençol

Agora olhe e veja as formas do invisível Que preenchem tudo nesse mundo que criei

Sobre alicerce em dimensões de ruptura Realidades em tons falsos que perjuram

Sinta o olor denso das flores sem perfume Que eu plantei junto aos rios da existência Pétalas pálidas foram tingidas de betume De um brilho cego sob a luz do vaga-lume

Incoerência em atitudes que aprazem

Nessa loucura onde os olhares se satisfazem Mas abdico desses sorrisos materiais

Pois me cansei dos caminhos intransitáveis

Venha comigo e olharemos pelos espelhos Enfrentaremos aquilo que mais tememos O microcosmo incompreendido interior

Onde os flagelos inconscientes causam dor

Também veremos aqueles homens antigos Que éramos quando o sol ainda brilhava

Agora somos uma frase mal escrita Que solitária e indefesa a alma grita

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Cala-te Ego

Silencia-te ego e deixa-me sorrir

Não me escondas atrás do seu véu Pois preciso completar o ritual

E queimar os incensos necessários

Se fores caminhar junto de mim Silencia-te ego e deixa-me chorar

Pelas almas dos inimigos de batalhas E orar pelas suas glórias e coragem

Cala-te agora ego e deixa-me partir

Pois minha jornada ainda nem começou E as trilhas que andarei são pedregosas E repletas de armadilhas de eu mesmo

Cala-te ego e encoraje-me a continuar

Minha vontade já se fortaleceu E a mágica dos tempos idos retornou

Ao aconchego do meu alforje

Sem tu serei livre novamente ego E poderei olhar com sinceridade o espelho

Que reflete minh’alma e seu esplendor Um olhar que enternece e cura-me a dor

Silencia-te ego e deixa-me viver

Caminhar minha senda de magia Desvendando todos os arcanos

E iniciando-me em meu próprio mistério

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Uníssono

Que as árvores escutem minha oração E guarde-a em suas raízes profundas

Espalhe-as por todo o chão Torne-as sementes fecundas

Que os pássaros enxerguem minha alma E se embebedem na luz de minha aura Em suas penas guardem meus segredos

Levem voando para longe os meus medos

Que a flor singela me empreste seu perfume Meu lampião será o brilho do vaga-lume

Nos oceanos cantarei com os golfinhos Cavalgarei junto aos cavalos-marinhos

Que as estrelas olhem por mim eternamente

Sejam meu lar quando eu partir em liberdade Que eu me incorpore ao éter hermeticamente

Dissolvendo-me junto à espiritualidade

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O Poeta e o Vento

Voa o vento... Range a porta

Maçaneta não entorta Mas o vento faz rabisco E o poeta... Imprevisto

Voa o vento... Trás o som

Sinfonias do trovão Chuvarada lava o chão

E o poeta... Oração

Voa o vento... E assovia Na figueira o nhambu pia

Cantarola o sabiá E o poeta... A contemplar

Voa o vento... Leva o tempo

Para os confins do pensamento Foge a regra dos tratados E o poeta... Enamorado

Voa o vento... Leva a vida

Velhos jovens em despedida Deixando marcas das suas pegadas

E o poeta... Na encruzilhada

Voa o poeta... E venta o vento Poeta o vento... Venta nos versos

Poeta venta... Faz poesia E o vento volta no outro dia

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Letargia

Sigo nessa letargia silenciosa E o mundo em sua correria barulhenta

Meus olhos veem de forma amorosa Essa insanidade mundana turbulenta

Sigo no mundo meio deslocado

E o mundo segue alocado em minh’alma Uma união do calmo e do revoltado

Ilusão e realismo misturados

Sigo em meu sonho atracado Minha âncora presa às raízes profundas

Mas as irradiações da vontade perpetuam E os fantasmas da alma no éter flutuam

Sigo em direção a mim mesmo

Firmando os pés na estrada desconhecida E a cada passo revela-se o novo Debaixo dos véus do misterioso

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Mágoas Extintas

Nos inóspitos recônditos da mágoa Encontramos motivos para perdoar

Reencontramo-nos com os próprios erros E aprendemos também a não magoar

Extingui há tempos os velhos rancores Eliminando os germes da insatisfação

Cultivo na mente os jardins sutis Da felicidade e da gratidão

Colherei os frutos dessa plantação

Com a intenção de espalhar as sementes Sem titubear criar novo bordão

Parafraseando o amor pertinente

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Ritual

Todos os encantamentos foram desfeitos

Na madrugada fria ao som da flauta Naquele altar de velas, cores e incensos Onde a luz purificou a espada sagrada

O sangue quente fervilhou nas veias

Perante a perene visão de seres Que como fluídos se aproximaram

E exalaram os olores místicos do invisível

E a mágica dos elementais determinou Que uma rosa nasceria em cada cruz Para aliviar todos pesares que jazem

Sobre os ombros cansados do buscador

Novamente a vontade fortaleceu-se E inquebrantável tornou-se o cálice Onde estava contido aquele espírito

Que lentamente se lapidava

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Os Primórdios da Busca

Primordiais conhecimentos retidos Pelas chaves do secreto da alma

Aventurei-me e enfrentei todo perigo Buscando abrir o compartimento escondido

Deparei-me com tantos eus e suas facetas

E cada um com a sua dissertação Tive que uni-los em um eu predominante Com uma ação determinada e unificante

Assim galguei com ardor o primeiro degrau

Mas logo a frente estava o coração Que dividido entre o certo e o extasiante

Impôs a regra d’eu ceder à meditação

Passaram eras ou minutos incontáveis Não sei dizer tal qual seria a descrição

Até que o órgão do amor abriu suas portas E me indicou onde mora a minha razão

Entrei correndo em direção àquela luz

Mas sua clareza fulminou a minha visão Somente a voz da consciência eu escutei

Tudo que viste foi uma mera ilusão

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A Lenda de Amor dos Destemidos

Naveguei solitário pelos mansos rios

E desaguei pleno em seu coração Aonde eu me abriguei de toda tristeza E refiz-me baseado em nossa pureza

Agora juntos velejaremos pelos mares

Impulsionados pelos rubros ventos da paixão Contemplaremos um ao outro até a alma

Protegeremo-nos de toda mágoa e insatisfação

E todas as noites vigiaremos as estrelas Que como raras joias enfeitam o firmamento

Nas madrugadas prateadas voaremos Pelo infinito... Sem nos perdermos

E às profundezas do oceano convidativo Visitaremos todos os reinos desconhecidos

Conheceremos o Deus Netuno e suas filhas Também Atlântida e suas maravilhas

Uma promessa então faremos para as Sereias

Para eu ver a nossa história eternizada E o nosso amor pelos tempos será conhecido

Como a Lenda de Amor dos Destemidos

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Sussurros do Universo

Na negrura impenetrável da noite Ouço os sussurros do universo

Que contam a história dos tempos Para todos os que querem escutar

E nesse mesmo breu que me envolve

Percebo a música do movimento Que permeia e transmuta em luz

Toda treva que resiste ao equilíbrio

Então venha comigo e contemple Essa melodia que é o ás da criação Que soa nos ventos e no coração

Marcando o ritmo do inefável

Então venha comigo amigo brincar De rimar nessa dança estrelar

Onde o arquiteto é o pensamento É o maior mandamento é amar

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Verdades Exiladas

Epifanias enclausuradas em sementes Na vastidão desse deserto desolado

Onde a chuva se esqueceu de estacionar Onde os pássaros já não podem mais voar Conhecimentos escondidos entre as frestas Dessas muralhas que suspendem até o céu

E o ancião entre as cavernas exiladas Dorme seu sono enfeitiçado e sem perdão

Por entre as trilhas tortas desse labirinto Caminha o rei chaveiro do desconhecido Guardando as chaves de toda sabedoria O grande arcano reservado ao escolhido

E as transições se acusam por trás das portas O alienado da loucura planta quimeras O sol em sangue inocente foi banhado

Para tornarem-se homens dos Deuses aliados

E no escuro de um frio profundo o taciturno Sem mais palavras em esconderijos noturnos

Olhares duros transparecem ser soturno Por entre as lápides da campa aonde durmo

Ali calado eu aguardo por meu mestre Pois nessa vida trago marcas que fortalecem

E as respostas são me dadas ao seu tempo Vindas ao ouvido sussurradas pelo vento

Somente a lua em cálice à estrela... Brilha opaca

Justificando as cicatrizes e as feridas Nos pés descalços de uma mente insensata

Nos olhos ávidos de uma busca sensata

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Luar Enfeitiçado

Eu já voei por tantos céus e também Por entre as nuvens das curiosidades

Que carregaram-me e trouxeram-me aqui Nesse momento... Com essas palavras

Queria saber realmente o que sou

Então busquei as respostas em lugares Inimagináveis... Onde descobri maravilhas

Também chorei pelas decepções que causei

Mas nunca desisti de entender o mundo E a vida... O universo em suas linhas tortas

Onde se esconderam todos os Anjos Que se envergonhavam diante dela

Pois ela é bela... E tem a face prateada Enquanto minha face está pranteada

De saudade... E o peito ofegante Clama silencioso pela próxima dose

Dose essa sem as medidas do amor Pois já lhe serviram de honestidade

E o seu afago está aguardando oportunidade De olhar novamente o firmamento e gritar...

Tu és a mais bela!... LUA CHEIA

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Eclosão

A vida eclodindo nos campos

Em meio à grama tenra e orvalhada Seguindo os planos divinos da eternidade

Em sua forma microscópica e delicada

Arquitetura universal regente da perfeição Onde o grande e pequeno seguem sua evolução

Belezas e mistérios entre essa transformação Onde o onisciente é presente em manipulação

Plenitude por todos os cantos

Desde o micróbio à constelação Cada um vivendo sua etapa

Nas páginas do livro da ascensão

Observo tudo acontecer Mesmo sem poder compreender

O funcionamento de outro universo Em expansão dentro do meu ser

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Plenilúnio

Toda brilhosa em noite de plenilúnio

Grita o disco prateado clareando o estradão A viola companheira nas mãos do cantador Despontando em breves notas a cura da dor

Lua cheia sua beleza à de frustrar os outros astros

Seu clarão é luz da noite iluminando os pastos Espalhando mistérios por esses campos vastos

Enfeitiçando o trovador em busca de inspiração

Na sua face apedrejada carrega São Jorge Com sua lança afiada combatendo o dragão O outro lado sempre negro trás uma agonia Esperando esperançoso o sempre ausente dia

Canta ao colo do poeta seresta encantada

Sempre presente companheira pelas madrugadas Corpo de leite para meu deleite... Com minhas palavras

Rainha das poesias... Mãe das paixões desenfreadas

Lua em clarão... Noite de plenilúnio Coração sereno... Sossego noturno

Amores e sonhos... Florescem no peito Foi mais uma noite... Restou somente o leito

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Ancestrais

Busquei pelas estrelas meus ancestrais Busquei os genes da minha criação Nos tempos anteriores aos mundos No nascimento da primeira estrela

Procurei pela linhagem primordial

Escondida em cada chakra desperto E a energia fluiu livre pelo corpo

Gravando as respostas no meu DNA

Entrei pelas portas paralelas E não fui notado pelos seus pensamentos

Que dispersos contemplava a criação E me aconcheguei no seio do mundo

Mundo de estrelas e cometas célebres D’onde olhei e pairei nas cordilheiras Junto aos sábios espíritos das nuvens

Que cantavam verbos de chuvas torrenciais

Mirei firme a planície inacabada de eu mesmo E projetei alicerces inabaláveis e cósmicos

Aonde poderei erguer as muralhas espelhadas Que refletem as mentes construtoras

Finquei a bandeira da paz e reinei

Pleno de certezas e alegrias Pelas dinastias do destino incerto

Imune ao tempo... Deitado ao relento

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Vias Alegóricas

Desprendido de tudo

Deixo os pensamentos vagar a esmo O ser revigora-se em plenitude

Percebo que não sou mais o mesmo

Entrego-me a diáfana luz cósmica No rosto o semblante guerreiro

Destemido e dissolvido Unido ao momento derradeiro

De casta divina e real é a alma

Que aos poucos se manifesta Lançando-se aos caminhos estéreis

Onde a subconsciência é o que resta

Degraus a subir no caminho da evolução Necessidade de uma auto-compreensão A saber, que as respostas estão contidas, Nos recônditos da mente e do coração.

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Lembranças Desfeitas

Perambulando entre as lembranças

Dentre tantas portas que perdi a chave Algumas eu tive que arrombar para saber O que espreitava por detrás das cortinas

Aqueles olhares soturnos e espiões Dos lapsos incontidos de vastidão

Que me ocorrem na transitoriedade Das estações do meu incerto clima

Ah lembranças!... Algumas ainda nem tive

Ficaram esquecidas pelos becos escuros Onde me desfiz das tristezas E nunca mais resolvi voltar

Somente sentei-me na areia molhada

E os beijos das ondas em meus pés Fizeram-me agradável companhia Durante mais um arrebol colorido

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Novos Horizontes

Novos horizontes poéticos

Iluminados pelo mesmo velho sol noturno Onde as palavras fluem como suor e sangue

E as parábolas já não são as mesmas

Novos horizontes espaciais Devorados pelos buracos negros da mente

Onde me perdi entre os escombros E recolhi todas as letras entre as estrelas mortas

Novos horizontes vitais

Onde se escondem o segredo do elixir Ali bebi do leite da virgem

E embebi minh’alma em mercúrio

Novos horizontes eu desenhei E plantei árvores que alcançam às nuvens

Colori o céu com tintas transparentes E derramei toda a essência nos rios da vida

Novos horizontes da humanidade

Que se perdem nos tempos incontáveis Onde descansarei minha pena

E guardarei as poesias para um dia qualquer

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Mares de Mistérios

Miro-te nesse horizonte infindo

E deleito-me nas suaves espumas E brumas de suas ondas magníficas

Que nas brancas areias vem me beijar

Mergulho nas suas profundezas Em busca de cores e palavras escondidas

Sou guiado pela escolta de Netuno Que sorrindo reina o seu mundo

Em suas mágicas cantigas tenazes vozes Entoadas pelas Ondinas junto as Sereias Que hipnotizam os homens mais ferozes

Levando-os a loucura derradeira

Tu és o mar que oculta histórias e segredos De grandiosidade que chega a causar medo

Tu és o mar que alimenta o pirangueiro Mar que enfeita e banha o litoral brasileiro

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Saudade Minha... Versos Seus

Noites que passam como os dias

Já não me assolo em falsos lamentos Deixo a chuva entrar pela janela E molhar o cobertor empoeirado

Dias longos... Tão longos quanto às noites

Que parecem flutuar em um mesmo momento E a saudade já é comum... Fez juramento

Segundos que duram horas... Sem você

Dias lúgubres... Como as noites sem lua E o lamento é de saudade... De você

O leito frio é desconvidativo... Fujo à poesia E nela encontro-me com seus traços

Seus ternos e doces traços... Convidativos Que me inspiram a continuar... Vivendo

Lutando, chorando... Vencendo Alimentando essa vontade de voltar

Tendo a certeza que o tempo joga o jogo

E a esperança a pouco pálida... Enrubesceu Dando o ritmo em meus versos que são seus

Ressuscitando o coração que padeceu

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Sincronia de Amor

Nas palavras ditas mudas Em seu gesto carinhoso Minha face fica rubra

Com olhar simples e bondoso

Nem mesmo a distância impede D’eu falar-te ao coração

Que por ti rompo barreiras E desfaço as fronteiras

Pois amor igual não há

Como o nosso sincronismo Desvendamos um ao outro Dentre o nosso sincretismo

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Sagradas Mulheres

Mulher é um ser sagrado... Santificado

Nos trás a benção e carrega a vida Aconchegada em seu ventre

E protegida pelo amor materno

Mulher que em luz radiante Num ato de dor e alegria

Concebe ao mundo o choro primevo De mais uma criança... Acolhida em seu seio

Divino feminino... Dádivas de beleza

Sem vocês o mundo seria mudo E não haveria mais sorrisos O encanto estaria perdido

A homenagem que faço

Sai de minh’alma... A vocês Mulheres do mundo... E uma em especial

Que possui a chave do meu coração

Mulher que eu amo... Demais Que trouxe a minha vida... A paz

Companheira que me deixa... Feliz A mulher que ao meu lado... Eu sempre quis

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Reino Encantado

Vivo em um reino de fantasia Entre gnomos, duendes e poesias.

Onde a alegria rege a soberba E o impossível se faz melodia

Que é cantado pelos silfos voadores

E também pelas sereias e seus amores As salamandras atendem todo o rogo Seres do fogo comandantes desse jogo

Os nobres elfos cuidam de toda natureza

Junto às fadas com sua delicadeza Olho de Hórus vigiando lá da torre

E os grandes Merlin e Zaratrusta são os mentores

Tanta magia que é regida pelo equilíbrio Tantos olores vêm dos jardins dos lírios

Nos campos a vida surge a todo o momento Germinando sementes espalhadas pelos ventos

Assisto tudo enlaçado a minha amada Olhando a lua até a alta madrugada

Tantas belezas que até parece um sonho Um reino mágico que nunca será enfadonho

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Plenitude

Pleno de vida eu sacio minha sede

Sacio a sede da alma secreta E a sede do eu controverso

Com jarras d’água do deserto

Pleno de amor eu curo minhas dores Curo as feridas do tempo

E as moléstias do eu insano Com doses incontidas de verdade

Pleno de dúvidas eu busco respostas

Nos registros akáshicos eternos Ou em um simples livro de receitas

Olhando pelo inverso da luneta

Pleno de palavras eu busco poetar Rabisco em minhas páginas amareladas

Os segredos do eu imaginário Com lápis, borracha e apontador.

Pleno de curiosidade eu olho as estrelas Calo e adormeço perante os mistérios

Que consomem meu eu mesmo Com raios ultravioletas

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Frutos Maduros

Frutos de longas batalhas Esse sangue que banha a terra

Essa camisa molhada de lágrimas E também esses olhos famintos de amor

Frutos de longas jornadas

Esses pés cansados e calejados A face coberta de poeira

E a bagagem que traz grãos de areia

Frutos da fé e da crença Os dias onde éramos crianças

Onde o que se via era pura inocência Em meio ao caos e a demência

E onde estão nossos pais? A vida já os tirou de nós?

Agora somos os novos pais E os pais hoje são os avôs

Nascimento e morte constante

De sementes de ideias na mente Umas brotam, mas outras padecem.

E os frutos maduros adormecem

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Amplitude

Vejo os caminhos explanarem-se a frente E as hipóteses se multiplicam aos coelhos Portos e portas a serem esquadrinhados

A procura do tesouro das almas buscadoras

Imensos vales de oportunidades germinam Jorrando sementes e sonhos perpétuos

Esperanças incontidas e realizáveis Onde me agarro forte... Seguindo as estações

Vejo todos os caminhos com clareza

O da vida e o da morte, o da luz e o da escuridão; mas contenho-me em meus passos serenos,

em uma busca de cada coisa ao tempo certo.

E folheio os livros antigos, minuciosamente; a procura de eu mesmo escondido as entrelinhas,

a procura de um segredo novo, a tempos esquecido; a procura da luz primeva da matriz da criação.

E o encontrar é pleno e transcendente...

Satisfazendo todos os sentidos...

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Desabrochar da Alma

Eu me abordo diante das dificuldades Sacramentado de vontades verossímeis Que me guiam e iluminam os quereres

Fortalecendo as águias dos meus sentidos

Resplandeço em coragem diante os fatos O medo se faz coerente... Mas sou prudente

E encaro minhas quimeras de tridente em punho Lacerados combates ante os espelhos da vida

Permaneço em meu caminho... Seguindo inabalável O impossível é o distante a ser buscado... Palpável Incansável, alimento os sonhos com as conquistas; e as benesses desse cultivo são flores benquistas,

que colho com foice de ouro e com destreza,

alimentando o espírito com o amor da natureza. E o que resta é um longo caminho a percorrer

Sem morte, sem vida, sem corpo e sem feridas...

A alma se liberta, e a centelha reascende em todo o esplendor, revivendo os primórdios, o desabrochar da consciência.

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Encanto de Sereia

Avistei-te as pedras em sua beleza Seu canto hipnotizante que atraiu

O seu olhar terno e misterioso... Sereia Despiu-me os sentidos, enlevados ao mar.

Como pérola destacou-se em lua branda

Prateadas e mágicas escamas sensuais Queria um beijo e você a minha alma

Devorar-me-ia em seu leito de oceanos

Sereia cante seu amor aos marinheiros E o seu feitiço espalhe ao vento minuano Sereia despe-se de peixe em maravilha

Mostrando o corpo que só Deus a de esculpir

Sereia e morte aos felizes apaixonados Arrebatados nas magias desse encanto

Enquanto um beijo que deságua em profundezas Saciará da mulher-peixe todos os prantos

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Falsas Riquezas

Corsários e piratas em batalhas épicas Pelo ouro perdido dos deuses

Histórias e magia na ilha da morte Vilões e heróis a sua própria sorte

Conquistas lendárias de grandes guerreiros

Que almejavam o mundo aos seus pés Buscas sangrentas pela donzela amada

Vidas inocentes ceifadas pela espada

O mundo em caos pelo falso poder Guerras, armas e discórdias,

Desamores, mortes e barbáries; Alimentadas por mentes insanas e cruéis.

Tudo isso uma vã busca de realização Dos ignóbeis caprichos do homem cego

Irrealizáveis feitos terminados na campa Reis sucumbindo à própria pompa

E ainda nos nossos dias nada se difere Pelo fama e riquezas o homem fere

Desolando em ilusões fúteis o fiel servo Que humilde acumula seus bens espirituais

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Lápis N°2

No rádio tocando Led Zeppelin Na cabeça turbilhões de acordes No peito aquela ânsia de viver

Nos olhos um marejado de saudade

Lá fora a chuva castiga meu jardim O vento assovia nas frestas da janela

Ao longe o apito ensurdecedor do trem Na rua sempre o mesmo vai e vem

No caderno me rendo às linhas

E imagino-as como cordas de violão Onde dedilho as palavras agudas

Acompanhando o som de um avião

Tantos os detalhes ao meu redor A criança que chora na casa ao lado

Cães que ladram pelos portões Vários momentos e inspirações

Junto tudo em turnos e serestas

Onde eu vagueio e sou o narrador Tenho o mundo na ponta do lápis

E no coração tenho um grande amor

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Meia-Noite

Embriago-me com o sangue da terra Nessa meia-noite com as armas em riste

Projetando sombras fantasmagóricas Pelos vãos da cortina velha e rasgada

Todos os gritos vãos me cansaram

Calo-me então e gargalho pelos cantos Sem temer os olhos que me vigiam

Sem colher os narcisos murchos na varanda

Resta-me um derradeiro suspiro ainda Nessa meia-noite ressonante e aguda

De bizarros murmúrios do lado de fora Então me afogo em mais um gole

Mas a garrafa me diz ao pé do ouvido

Somos apenas nós nessa meia-noite Nem as estrelas vieram compartilhar

Dessa penumbra que nos envolve

De pitoresco somente o olhar no espelho Em meio à barba desfeita e mal aparada

Onde sei que ainda existe uma criança Que caminha solitária em direção ao infinito

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O Macaco Pensador

Pense Macaco... Pense Pense e sonhe com as palavras Deixe os devaneios escorrerem Pelas frestas nuas e iluminadas

Pense Macaco... Pense

Pense em prosa e poesia Viva sua noite e durma seu dia

Chore as lágrimas da alegria

Pense Macaco... Pense Pense em mim, em você e em nada, sorria e deposite sua crônica no além;

além do vale ou além-túmulo.

Pense Macaco... Pense Pois é o Macaco Pensador

Livre da morte... Livre da dor Livre de angustias e do dissabor

Pense Macaco...

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Perseguições

Perseguido por sonhos dialéticos Acordo na noite em outra realidade

Onde as sombras se escondem de mim E assustam-me com olhares ríspidos

Perseguido por realidades paralelas Salto de um penhasco de algodão

Estendo minhas asas de cera E adormeço antes do sol nascer

Perseguido pelas flores vivas do amanhecer

Recolho-me na tumba dos mil perfumes Onde ressuscitarei no pôr do sol

E espalharei incensos pelas colunas do templo

Perseguido pelos reflexos de eu mesmo Mergulho no espelho do infinito Onde canto glórias ao Cósmico E vigio os dias em introspecção

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Visão de Xamã

Quantos impossíveis fizeram-se possíveis Na poesia... Escrita... Dita... Que grita!

E regurgita... Palavras desditas Nas psicoses da amanita muscaria

Quantos sóis se puseram antes de amanhecer

Esse dia de cores cortantes e pulsantes Que alimentam a visão do velho xamã

Olhando as lembranças do amanhã

E as estrelas caídas no meu quintal Apagaram-se e deixaram vestígios De um mundo distante e vibrante

Onde foram deixados todos os sortilégios

Caí em pranto e levantei sorrindo Quando reli as anotações do hierofante

Que escondiam o princípio de tudo Símbolos perdidos que me deixaram mudo

E mais uma vez chorei...

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Quase Morte

Encontrei-me diante do infinito Vasculhando o eu finito

D’onde calei aquele grito Que ecoou durante dias pelo túmulo

Mas ainda não morri por inteiro

Minha centelha se escoou pela fresta fria E juntei-me novamente aos astros Deixando vestígios e uma história

Renascido de uma morte mal morrida

Ressurgi em novas vestes de luz Agora o caminho recomeça tênue

E outra vez aprenderei a andar sozinho

Deixarei os ventos do norte indicarem-me a direção Por onde seguirei destemido e feliz

Em busca das lendas que um dia acreditei A procura do reino que um dia abandonei

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Tristeza

O que sinto agora é amargura Como se pisasse em cacos de vidro

Nessa estrada que é tão dura Onde a realidade não é mais pura

O que sinto agora é uma tristeza

Nesse chuvisco a meia luz O peito em vão dói que dá medo

E a vida insiste em guardar segredo

O que sinto agora é sem explicação Vontade era me enterrar no chão

Deixar de lado esse mundo cão Onde já não tem gente de coração

Sairei na chuva até me resfriar

Quem sabe deixe as lágrimas na mesa d’um bar Ou afogue essa tristeza pelo ribeirão

Caminhando a esmo com os pés no chão

Vida que desola... Coração que chora Dor de alma é coisa que ninguém merece

Fica a poesia e o corpo vai embora Fica o homem nu quando a alma esmaece

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Rios da Existência

Na calada madrugada de minh’alma busco arrego em mil livros de cetim, em vistosos simbolismos eclesiásticos; è, pois, árduo o rebento dessa vida.

Acabrunhado de vertigens ostentosas

aonde os rios, mentes tão bruscas... Deságuam cachoeiras despencadas de palavras;

em lagoas mansas de apreciação.

O uivar nessa calada madrugada, temeroso uivar de lobos, entre risos dentre as matas,

entre os gemidos da noite viva, obscuridades escondidas entre as flores do meu jardim.

Jardins noturnos de alma em riste, almas vivas.

Jardins de outono de almas velhas, adormecidas; guardiãs das estações vindouras, do novo cálice...

D’onde a vida jorrará límpida e renovada...

Então liberto navegarei os rios da existência plena...

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Ápice

Nascemos para morrer Nossa glória é o final

O ápice do existir O derradeiro sorrir

Somos lembrados após a morte Mais do que quando vivíamos Essa é uma lei que soa forte Essa é a lei da própria sorte

Vivemos sem olhar os lados

Em nossas tarefas concentrados Quando devíamos sorrir a toa

E preocuparmo-nos com as pessoas

Pense com zelo nessa proposta Estenda as mãos e não vire as costas

Pois nosso extremo é a transição E o grande final a extrema unção

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Sequências e Sequelas

Encurralado pela vida Pelos leões famintos

Pela sede do viajante Pelos medos internos

Encarcerado pelas quedas

Pelos grilhões da dor Pelas prisões da família Mas liberto pelo amor

Enterrado até o pescoço

De areia movediça Enterrado vivo

Enterrando sementes

Plantando eus pelo quintal Plantando estrelas nos campos

Plantando rosas para você Para te acordar com um sorriso

Para alimentar meus sonhos E retornar com honra ao lar Retornar a minha amada Retornar ao seio Cósmico

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Desvendando o ser Desvendando os véus de Ísis

Desvendando eu mesmo

Sem trevas Sem medo Sem corpo

Entregue aos desejos

Entregue a você E desfazendo-se de mim Desfazendo-se do mundo

Da vida

Da morte Das tristezas

E refazendo-me em paz

A suprema paz de amar E em você me diluir...

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Dia de Silêncio

Queria um dia inteiro de silêncio Para escutar os meus cabelos crescendo

O sangue quente borbulhando pelas veias E aquele vento desgastando o grão de areia

Queria ouvir as vozes dos corações

E então falar-lhes através dos pensamentos Para parar e escutar o som do vento

Que em silêncio varre e cuida do tempo

Quero o silêncio para escutar o universo Ouvir as vozes das estrelas lá no céu

O grito frágil da imponente voz de Deus E as trombetas dos anjos reverberarem

Também silêncio para escutar meu coração

Que chora brando corroído de saudade Examinar todos os caminhos e tempestades

Depois voltar feliz para casa com você

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Entre Fronteiras

Caminho na fronteira entre o real e a fantasia Ali planto sementes e semeio poesias

Amores e tristezas em palavras de nostalgia Estrelas e planetas repletos de magia

Ando pelo limiar entre o concreto e o imaginário Se quiser descrevo os sinos a soar no campanário

E aquela procissão, muitas vozes e um rosário Basta só criar na mente o enredo e o cenário

Busco minhas verdades entre a ciência e a ficção

Ali vou aonde quero, meus caminhos não tem chão De transporte tenho asas e de amigo tenho um cão

Minha maior felicidade é ter você no coração

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Lúdico

Um mundo lúdico aos olhos distraídos Um mundo cão na pele do faminto

Que iludido na miragem do alimento Roeu-se em sonhos num cruel lamento

Lúdicos espasmos de uma mente sã Que iludida por sonhos e ideias vãs

Sucumbiu ao próprio temperamento E entregou-se aos famintos lobos da vida

Mas nada se perde quando a eternidade é

E o tempo se redime em minutos esquecidos A alma absorta em sofrimento resplandece

E a chance de um recomeço logo transparece

Já não há mais a fome que era a morte O alimento disponível agora é a luz

Sentimentos distorcidos são desvelados Surge a esperança na palavra que reluz

Almas que vão e que vem a todo instante

O movimento de evolução cede outra chance Manifesta-se alva a escadaria da ascensão

E a velha consciência recebe um novo coração

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Semeador de Sonhos

Planto sonhos em campos férteis Trabalho árduo com meu arado E as sementes trato em celeiros Que guardam as almas nobres

Planto sonhos em campos verdes Espalhando sulcos na terra dócil

Ramas crescentes em ilusões reais De realizações benfazejas da vida

Planto sonhos em minha alma E semeio minhas vontades sãs

Colhendo minhas alegrias diárias Espalhando os sentires ao vento

Planto sonhos em nosso destino Faço planos sobre o nosso amor

Relações que serão eternas Amor de alma inquebrantável

Planto meus versos nos campos mentais Diluindo meus sentimentos no mundo Descrevendo toda a experiênciação

Do meu olhar como semeador de sonhos

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Mil Anos de Juventude

Guardei as lembranças nas flores daquele ipê Mas as pétalas caíram no outono E foram pisoteadas pelo tempo

Que passa sem olhar os sentimentos

Lancei todos os sofrimentos nas corredeiras do regato E as águas límpidas lavaram meus pecados

A chama crepitou iridescente no coração E uma paz irreconhecível estacionou em mim

Então me sentei e contemplei o céu

E o seu azul engoliu os meus quereres Fraturou todos os meus sentidos

E meus fragmentos espalharam-se ao vento

Agora era eu espalhado por todo o sempre Imune à ação irrevogável do tempo

E meus mil anos de juventude Passaram sem deixar rastros

Mas as palavras gravadas nos corações Ficarão eternizadas... Em versos dóceis

O meu grito mudo ecoará pelas muralhas do castelo E abalará as quatro colunas do templo esquecido

Acordando o grande senhor do karma

Do seu sono de cem eras...

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Prisioneiros do Tempo

Lembranças eclesiais de tempos distantes Onde ainda éramos extraterrestres E nossos corpos dissolviam-se em luz

Viajando na velocidade dos pensamentos

Mas fomos levados para as hecatombes Tratados como animais ferozes

Aprisionaram-nos em um mundo distante E assim roubaram todas as almas

O que restou-nos foi somente a esperança De que um dia seríamos livres novamente

Mas nossa consciência fragmentou-se E até hoje procuramos pelos cacos

Separamo-nos daquela mente coletiva

E perdemo-nos em nossos próprios labirintos Onde temerosos mergulhamos na solidão

E guardamos as respostas nas nossas profundezas

Mas o tempo de glórias retornará E unificar-nos-emos em uma corrente

Que inquebrantável nos levará Nesse prodigioso retorno ao lar

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Por Amor Renasci

Então morri mais uma vez E adentrei os domínios do limbo

Para resgatar-me Para purificar-me

Para aprender Para me libertar

E subi degraus em luz

Apoiado em anjos Que me mostravam

Passados Futuros

Mortes e vidas

E chegamos em casa E revi os sorrisos Revi a saudade

E o coração partiu Doeu de amor

Aos que ficaram

E eu quis voltar Eu quis viver aqui

Eu quis te reencontrar E batalhei E eu venci

Encontrei-te

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Então sorri novamente

Amei novamente Amor de eras

Amor que cura Amor certeiro Amor eterno

E agora estou aqui Escrevendo versos

Ao amor Ao leitor

A flor A mim

Versos eternos a você...

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Dias Vazios Dias vazios que silenciam a alma Dias onde o olhar vaga a esmo

E os pássaros se calam Diante a trovoada que se aproxima

Dias vazios onde reina a saudade E o acorde distante já não ressoa

Somente o sol ressecando as folhas E a pele gasta do agricultor

Dias vazios entrecortados pelo vento Onde o veleiro carregou os amores

Deixando apenas esse vácuo Que entorpeceu o meu olhar

Dias vazios onde as rimas choraram Acompanhando o som do coração

Que trêmulo insistia em bater Contando a história de uma vida

Dias vazios onde sentei calado Olhando as águas do manso regato

Que no sopé da montanha matava a sede Daquela vegetação que roubou minhas cores

Dias vazios que passaram devagar Acompanhando meus passos lerdos

E cobriram minhas pegadas na areia Deixando apenas um sussurro surdo

Dias vazios onde morri mais uma vez

E descansei minha poesia No mármore frio junto ao anjo

Que resgatou o meu espírito

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Tudo Passa

Passam os séculos como dias Passa a vida sem pressa

E os transeuntes passam apressados Com suas rotinas decapitadas

Passam aviões nas alturas toda hora

Passa um rastro de cometa quase nunca No outro dia passou despercebido E no amanhã não vai mais passar

Passam-me ideias poéticas às vezes Que passo a lápis para o caderno Passando a limpo todas as frases

Passam também principados e potestades

Passo meu cargo... Passo a vez Faço um risco e passo embaixo Risco o mundo com meus traços

E espero o tempo passar

Passou a dor... Da tristeza E o sorriso passou para todos

E riram até rolarem as lágrimas Desse passado irreal e hilário

Passei vidas incontáveis... Consertando E errando... Começando novamente Refazendo o passado... No presente

Repassando as imagens gravadas em mim

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Poeta Encharcado

O poeta trilha

as letras

Sorri à vida bela

Olhar

de amor real

Ao pleno

sentir d’alma

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Meu Coração... Sua Morada...

Essa sede que me invade... Consome Deturpa os sentidos e turva minha visão

E meu coração pedinte... Clama você Gritando versos incessantes de amor

Rimando em suas contrações

Com os espasmos amante-vasculares Simplório como ele só... Mas bom

E sincero consigo mesmo... Fiel

E como um guia esse coração me conduz Elevando minhas vontades... Ao ápice Sussurrando soluções discretas de viver Em sua humildade destrambelhada

Ah! Esse coração tem fechadura,

tem tranca, e a chave? Só você tem; E fez morada tranquila... Zelosa,

adocicando a cada dia o meu viver.

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A Grande Dança dos Astros

Partículas em nebulosas explosivas Que se chocam pelos campos do céu

Dando a luz a novas estrelas e variáveis Germinando esses jardins infindáveis

Átomos milhares se aglutinam Nas rodas de ciranda cósmica

Nesse incessante bailado paradoxal Formando os pilares do equilíbrio

Galáxias se encontrando violentamente

Sem parcimônia e sem escrúpulos Transformando a vida e a morte Determinando destinos e legados

Sóis queimando em solidão

Aquecendo e alimentando a vida Iluminando os recônditos mais obscuros Dentro desse movimento inexplicável

O macro... O micro... O Cosmos... O físico... O intelecto... O espírito... O homem... Alma... Consciência...

O Todo... O Tudo... O Nada...

O Eu e Você evoluindo juntos Cada qual em sua hierarquia

O Ser e o não Ser em complemento Ditando a marcha em sua supremacia

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Transitório

Foi em uma noite de inverno Que um ser esplêndido nos arrebatou

Um unicórnio que voava sem asas E para as nuvens nos carregou

Lá caminhamos abraçados Como se flutuássemos livres

Pelas belas paragens celestes Que nos circundavam sem horizontes

Seguimos juntos pelas leves trilhas

Que por entre as nuvens luziam qual ouro Levando ao topo da montanha

Ao mágico e divino castelo do Éter

Onde nos fundimos em luz novamente E nossas almas unificadas num mesmo

Contemplariam todos os mistérios No caminho em direção ao Todo

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Batendo um Papo com a Natureza

Oh, donzela Natureza, eu te pergunto se tua beleza é o magismo do divino

e me respondes com sua doce voz ventosa: - Sou próprio Deus manifestado em meus idílios.

Serias tu, oh, natureza, a criadora ou és criada na vontade interior?

-Sou eu o verbo que fez carne, que fez árvore; sou a perfeita e imutável lei do amor.

Mão Natureza é masculina ou feminina?

Onde é seu ventre? D’onde vem repleta vida? -Sou o andrógino que morre e renasce,

que dá a luz e impõe a treva nesse mundo:

minha vontade é meu ventre criador, a vida em mim está contida em infinito;

jorro sementes e novos mundos eu vomito, sou a guardiã das verdades e dos mitos...

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Secreto

Escondo-me às vezes desse verbo embrutecido Torturado pelas falanges falantes... Inúteis

Silencio diante dessas pitorescas vontades nuas Dos escritos ressuscitados nos livros de papel jornal

Escondo-me às vezes desse mundo judiado

Deteriorado pelas ganâncias pútridas... Do homem Calo-me diante dessas nuances sórdidas Das cores opacas e distorcidas pela noite

Escondo-me às vezes desse sol que repele

O fogo consumidor de mentes e pensamentos Recolho-me à sombra de um deserto noturno

Onde os pecados foram mutilados... Decepados

Escondo-me às vezes do meu próprio eu Castigado pelas dores incessantes... Contidas

Mergulho nesse poço de incertezas viris Onde as respostas são apenas palavras vãs

Escondo minhas mãos e meus sonhos Desfaleço em mares de fúria ardente

Afogo-me nas águas versificadas da poesia E deixo uma marca indelével na face oculta da lua

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Colhendo os Frutos dos Sonhos Não espero o céu nem o inferno

Espero meu amor enlaçado em meus braços O céu assim far-se-ia presente em mim

E o inferno da solidão se extinguiria Não espero aplausos nem ovações

Espero somente o sol trazendo um novo dia Espargindo em seus raios toda a nova esperança De um recomeço... De um sorriso... Do seu abraço

Não espero as noites com suas trevas

Pois nas noites essa distância me consome Meu sono que não chega dilacera-me

E minha voz grita por seus beijos

Não espero a morte... Não devo a ela minha alegria Espero sim a vida contínua... Ao seu lado Caminhando juntos em direção as estrelas

De onde guardaremo-nos de toda injúria proferida

Não espero favores divinos ou milagrosos Faço de minha trilha um eterno construir Recebo aquilo que plantei nos dias de luz

E continuo colhendo as flores do amor por Ti

Mas espero nosso reencontrar apaixonado Quando cobrirei de pétalas angélicas seu leito

Perfumando seus doces sonhos E acordando-te para contemplarmos o etern

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Resquícios

Entranhado n’alma do mundo Contorço-me no casulo de vida

Dentro dessa casca física e pesada D’onde minh’alma se aflige por liberdade

E os resquícios dos passados longínquos

De vidas e mortes esquecidas pelos anciãos Impõe grilhões nessa jornada estagnada Fados guardados nos cadernos do tempo

Minhas asas a muito já se cansaram

Voaram limbos e céus em busca da verdade Derreteram em sóis de eternidades refletidas

Nos olhares vigilantes de um poeta morto

E não haverá privilégios... Tudo estará anotado em versos... E será sepultado em uma tumba piramidal

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Eu em Cacos

Transmuto o meu mundo em cadinhos e páginas Tentando encontrar as chaves desse portal

Que transporta por entre as dimensões Elevando o teor das percepções

Reajo e engajo minha concepção

Planejo em meus cálculos as fórmulas do eu Enfrento os pesadelos sem mais distinção

E acordo em um mundo latente

Já não vejo as verdadeiras formas de mim O real se escondeu entre a luz e a treva Arrebatando-me em um tombo sem fim

Juntando os meus cacos espalhados por terra

Penumbras contínuas desfalecem a flor Que enfeita essa lápide marcada de dor

Os vermes famintos fazem seu papel Meus versos desfeitos atrás desse véu

Sentidos ocultos em cada palavra

Ditando a jornada que não tem parada Eterno preâmbulo da obra inacabada

E o que restou de tudo foi um simples vazio

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Quatro Quadras

Quatro quadras que me separam do final São somente quatro quadras entre eu e a alegria

Quatro quadras de verbetes um tanto descomunal Quatro quadras de um colorido louco e sensacional

Quatro quadras resolvidas em versos de poesia

Quatro quadras de alicerces da minha construção São quadrantes de magia essas quadras abstratas

São quatro quadras das misteriosas alegorias desbravadas

Quatro quadras e quatro sóis refrescados pelo vento Quatro fases dessa lua demarcando os elementos

Se aliando aos quatro ases fujo a regra dos lamentos Quatro quadras de estrelas sobre o meu encantamento

Agora são quatro linhas que demarcam a última quadra Quatro véus de entendimento dessa vida que se acaba

Quatro rosas coloridas perfumando aquela cova E a alma em sua sina novamente se renova

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Fora do Tempo

Já houve um tempo onde eu acreditava Nos homens... Na bondade... Na morte Hoje é um tempo sem tempo... Sem dó

A temperança é galardão extinto

Haverá um tempo onde sorrirei novamente Tempo esse de guerras terminadas... Minhas utopias

Meus sonhos e meus filhos... Filhos do sol Tempo de glórias e misericórdia... Reino de luz

E também será um tempo onde partirei

E assistirei minhas vidas passadas E planejarei vidas futuras... Resgates

Um tempo fora do tempo... Sem medidas existenciais

Longe da morte a plenitude de viver Viver o sempre... Sem tempo

E com o amor presente... Constantemente Nessa odisseia de porquês e de eterna-mentes

Em uma dimensão distante quem sabe existirei...

Novamente...

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Paz Interior

Mantendo a paz interior eu enfrento

Todas as injúrias vomitadas pelas bocas Cegas que dizem sem mesmo compreender

Que o eterno é sempre agora

É nessa mesma paz que enfrento eu mesmo Mergulhando no abismo da transcendência

Direcionando meus tentáculos de luz E agarrando-me a segurança de um novo porvir

Mas as falsas bocas insistem em blasfemar

Contra a verdade... Dura e temerosa Pois seus mundos ruiriam... Torres de Babel

Apoiados em alicerces sobre a areia

Mesmo assim continuo em paz Pois o sol me disse um dia desses Que a verdade tem várias faces

E se demonstra no semblante de cada alma

Olho-me no espelho da vida e admito Pois nessa paz vejo minh’alma... Em poesia Descrevendo minha verdade... Sua mentira

Fitando o rosto solar até cegar-me

E voo com os ventos... Viajando o tempo infinito...

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Hermético

Guardei os ossos dos rituais nas catacumbas E espalhei encantamentos hieroglíficos pelos porões

Aquele cálice partiu-se em seu próprio veneno E as nuvens de tormenta cobriram o firmamento

Aquele senhor sinistro continuou sua jornada

Avistava-o ainda entre os clarões da tempestade Envolto em vultos escarnecidos que guardavam

Os segredos das palavras que não serão ditas jamais

O paladar degustava os ávidos sentidos novos E a boca jorrava todas as luzes do amanhã Aos ouvidos surdos ao que é profano e hostil

E cerrava os véus diante as visões das pitonisas virgens

Os degraus se partiram com a batalha de Jacó E o anjo perturbou-se diante tal infâmia

Mas os portais cumpriram as profecias desditas E a próxima geração foi amputada em seu berço

Restaram apenas resquícios dos velhos pergaminhos

Cacos de um cotidiano fantástico e sobrenatural Onde ao som das trombetas eram ditos Salmos

E o anoitecer derramava nos corações o leite das estrelas

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Indescritível

Como descrever certos momentos... Sentimentos

Abrem-se buracos imensos no peito... Tristeza presente É um misto de saudade do amor e minha constante dor

Desalentos seguidos que me arrebatam do universo

Como descrever essa falta de sentidos... Silêncios contidos Na alma um desvario temporário... Solidão momentânea

Certos e errados misturados... Cores sem pigmentos Esse mesmo dia-a-dia em preto e branco... Resta a poesia

Descreveria poesia... Escreveria poesia... Dormiria poesia Mas apenas esse respirar ofegante me invade... Palavras

Ditas e desditas... Gravadas e esquecidas... Nos livros E nas paredes de uma caverna... Onde acordo pasmo

Sem saber se a noite vai voltar... Tenho estrelas guardadas E preciso libertá-las para voarem no firmamento... Brilhar E iluminar minha sombria sensação... Obscuro momento

Descrevendo a poesia... Escrevendo poesia... Adormecendo

E os gestos estão misturando-se com os vultos que resolveram partir

Mas me deixaram descrever meus sonhos...

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O Domador O domador e sua vida

A serem domadas as fases Acentuada as crases

Amansada pelo chicote

O domador de caminhos Inerte ao animal interno Que feroz desgasta-se

Em sua prisão temporária O domador e sua coragem

Enfrentando a besta dos tempos Guardando a face ao vento E a vitória não é mais tardia

O domador de sua vontade

Amarrado aos grilhões amargos Do alvorecer gelado e vazio Por onde aceitou palpites

O domador de almas Carrasco de si mesmo

Caminhante de histórias Percussor do verbo solitário

O domador da morte

Que descansa em seu leito Frio e aconchegante

Esperando as portas se abrirem

Para domar os últimos passos Para adentrar ao lado de fora Fora da vida... Fora da morte

Fora de alcance... Dentro do universo

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Navegando os Mares da Vida

Resolvi zarpar mais uma vez E enfrentar meus fantasmas

Navegar pelos mares de mistérios E encontrar aquele tesouro oculto

Levarei comigo somente a coragem

E minha espada guardarei na viagem Pois essa é a batalha dos sentidos

A fusão do corpo, da mente e do espírito

Deixarei os ventos fustigarem minhas velas E como uma nau à deriva serei carregado

Para dentro da gruta do desconhecido Onde ainda reside um obscuro de mim

Enfrentarei de armas em riste os pesadelos

E enterrarei todas as quimeras entre as montanhas Escalarei o cimo do céu com minha galhardia E cantarei símbolos sagrados no Templo do Sol

Somente assim poderei retornar

Com as rosas eternas dos jardins da vida E me lançar aos seus carinhos delicados

Para contemplarmos o universo lado a lado

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Liberdade... Felicidade... Fatalidade...

E se a morte me espreitasse no amanhecer Quando o sol clareasse minha janela

Ficaria eu estirado... Gelado... De boca aberta Ou apenas me libertaria dessa dor corrosiva

E se a morte viesse gritante e me roubasse

Aqueles minutos preciosos onde eu não disse Que te amo... E não te abracei como devia

Pois essa cruel distância me impediu

E se a morte passasse em branco E meu corpo velho rejuvenescesse

Como as lagartas em casulo... Renascesse Em leveza e metamorfose de uma borboleta

E se a morte for mentira... Um logro da vida

Banhada de incertezas e sonhos vãos Então calar-me-ia... Prantearia em poesia

Essa perdição... Essa espera... Tudo em linhas

E se a morte não me deixasse terminar Esse cigarro que me acompanha nos versos

Fluiria eu tal qual fumaça... Incenso de alma Espalhando meu olor entre os cedros

Mas venha em sua carruagem de pavor Buscar-me em meu dito dia derradeiro

Pois te espero... Ansioso e sem temor E carregue-me a uma dimensão superior

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Moribundo

Era um velho homem com seus botões E eram muitos botões... E casacos sem botões

Ou quem sabe eram camisas de força Onde ele repousava sua sanidade

Era o mesmo homem... Cansado mas vivo

Vivo aos auspícios da morte... Solitário Ouvindo o ranger das molas da cadeira de balanço Contando os passos do relógio... Chegando ao fim

Era um homem... Velho jovem homem

O mesmo homem de respeito... Agora triste Desperdiçado tempo vivido... Agora morto

Vivo-morto... Implorando à vida misericórdia

E o homem da funerária sorrindo... Vivo Dinheiro vivo... Do finado compadecido

Pagando seu jazigo... Tão morto quanto vivo Pagando a hipoteca... E os pecados mais secretos

Agora descansado... Corpo despedaçado

Mais morto do que vivo... Gelado ao pé do ouvido As vozes do outro lado... Olhar apavorado

Tão vivo agora morto... Deitado endurecido

E termina o funeral... Uma salva de tiros Agora vou indo embora para continuar morrendo lentamente

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A Noite da Minha Alma

Minh’alma mergulhada em uma noite de trevas Buscando em um universo caótico... A luz

Seguindo os determinismos do coração Que almeja conhecimento e iluminação

Minh’alma delimitada aos sentidos corporais

Buscando se libertar dos grilhões da carne Tentando emergir dessa noite negra e temerosa

Onde repousam as aflições das dúvidas que me invadem

Minh’alma fragmentada... Distorcida... Escondida Juntando os próprios pedaços... Numa centelha só Unindo-se a alma do mundo... Ao sopro Cósmico

Minh’alma repleta de bagagem das vidas passadas

Traçando os caminhos das vidas futuras Presenciando os experimentos da vida eterna

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Tinta Nanquim

Vou delineando esse palavreado rústico Tentando divagar num sentimento abrupto

Seguindo devagar o ciclo ininterrupto E olhando as esferas de luz nesse céu vazio

Vou alimentando as linhas distorcidas

Tentando encontrar o fundo desse mar Nadando a braçadas sem me afogar

E sentindo a maresia furtar meus sentidos

Vou eu colorindo essa tela fúnebre Com cores vibrantes de uma vida curta

Morrendo e nascendo em mundo versificado Pincelando os verbos mais simplificados

Vou nessa semântica inexorável

Nesse linguajar de todos os povos Livre em poesias adjetivos novos

E a escrita da alma resumiu meus passos

Vou ser paciente com a inspiração E vou ter com os versos a santa comunhão

Molhando a caneta em tinta nanquim Descrevendo as horas... Em folhas carmim

E deixarei minh’alma gravada nos papiros...

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Cães da Boemia

Guitarras gritantes nos becos vazios Latidos soberbos ecoam pela noite

E o frio endurece os corações Copos de uísque e um blues sorrateiro

Cigarros nos cinzeiros a meia brasa Olhares famigerados ou esquecidos

Histórias de assassínios brutais O falecimento de mais uma dose

Corpos desnutridos caminham

Com suas barbas brancas e sujas Ouço murmúrios do lado de fora

E a guitarra grita antigos sentimentos

Madrugadas caladas de mistérios No quarto de hotel barato a morte

Despreocupada assiste a vida Passando e beijando seus pés

E a guitarra já cansada

Recolhe-se a um novo dia Inútil rotina... Cães da boemia

Agora embriagados e adormecidos

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Saudade Prematura

Deixou passar a vida diante dos olhos Mas entardeceu e a partida cedeu

Lugar as lágrimas da saudade prematura Contorcido no peito o sentimento Dolorido e escasso de esperança

Mas são somente tombos na jornada E os aprendizados serão eternos

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Devaneios Primaveris

Enveredando meus passos cansados Busco repouso em meio à natureza

Vislumbramentos de seres alados Pássaros e insetos... Um tanto norteados

E as inverossímeis alegações das borboletas

Diante as cores aveludadas das pétalas Convidativas em suas perfeitas geometrias

Tudo em seu devido tom... Em plena alegria

E entre as bromélias repletas de primaveras Vejo o arfar de um gerânio já desgastado Que desfolhado tenta seu último repente

Pela hortênsia violeta por quem está apaixonado

E a desgastura dessas brumas oloríferas Conjecturam os olfatos mais refinados Atraem o tão embelezado beija-flor

Que em suas asas o universo foi transpor

Vivacidade... Eternidade estonteante Ciclos eternos em aquarelas extasiantes

Mãe natureza... E seu pai Cósmico edificando Estacionários anjos em ramos de lisianto

Rimas floridas e perfumadas no ataúde

Onde eu guardo meus pecados em segredo Versos pintados e salpicados ao som do vento

Enfatizando minha introspecção e recolhimento

E as libélulas de todas as nuances despedem-se do arrebol...

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Ritos Agrícolas

Foram me dado às passagens secretas Para adentrar com Demeter os recitais Contidos nos misteriosos cultos de Elêusis Guardados pelos olhares de Perséfone

Jardineiro do mundo... Da Babilônia... Do universo Em meu cativeiro plantando as flores mais belas

Suspensas em mágicos jardins de heliotropos azuis Onde as borboletas de cetim repousavam seus colos

E os pastos fartos ao agricultor que guardou o amor Nos ritos antigos das fases lunares... Olhar das estrelas

E as marcas da vida sulcaram seus traços de sabedoria Grande aliado ao sol que reflete as asperezas dos segredos

No cadafalso rolaram muitas cabeças

E as leis aplicadas ao bel prazer... Olhos petrificados E Demeter e Perséfone aguaram as plantações

Com o sangue inocente dos mártires... E a vida floriu

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Eu e as Estrelas

Sinto-me tão perto das estrelas Por isso amo versejar a elas

Pois elas cuidam-me prudentes Como se eu fosse o filho delas

Olho-as no profundo firmamento

E sinto no peito o pulsar de suas luzes Como se fosse o meu alimento

Influenciando em meus sentimentos

Em sonhos me desfaço do corpo E voo em direção ao espaço

Mirando esses mundos desconhecidos Mas que me remetem a saudades inexplicáveis

Eu e as estrelas... Miríades de estrelas

Sensações espaciais e estrelares Tripulante da vida que eu sou

Busco-as e admiro-as todas as noites

Penso comigo onde será meu próximo lar Será em uma estrela tão distante que não vejo

Ou será aqui mesmo com meus desejos Olhando as estrelas distantes em meus ensejos

Mas o amanhã ainda não nasceu

E o que enxergo serão estrelas mortas... Restarão apenas suas luzes viajantes

E os meus devaneios e amores por elas...

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Primordial

Renascido entre as portas paralelas Que dividem os anos que se foram Segui novamente a busca eterna

De me encontrar com o primordial

O Homem-Primórdio dos tempos O Todo em fusão transcendente

Ecoando a vida através dos elementos Manifestando Sua vontade e pensamento

Experiências de Si mesmo dentro do receptáculo O Cósmico animando os seus sentidos pela vida

Reflete-se na infinitude distorcida esse espetáculo Direcionando a luz e as trevas pelo seu prior vernáculo

Acolhidos os sintomas primais da criação

Deu Seu sopro de vida e fez bater o coração Do barro à inteligência refletiu todo progresso

Nascimento e evolução dando ritmo a esse processo

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Fantasioso

Fantasias vividas plenamente Entre leões de purpurina

E imaginações esvoaçantes Na terra dos livros em branco

Fantasias descritas pelos ventos Que sopram do leste cósmico

Trazendo as folhas das árvores de ouro E as flores do alvorecer para você

Fantasias e alucinações cortantes

Afiadas como a espada de Dom Quixote Lendárias como as batalhas de Pantaleão

Retratadas em uma tela de cinema

Fantasias e máscaras de carnaval Coloridos estonteantes e vazados Escorridos pelos rostos assustados

De dois soldados cercados de inimigos

Fantasias e poesias imaginárias Nascidas na ponta da pena do pavão

E na mente insana de um escritor Que se alimenta de letras e de amor

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Iniciático

Metamorfoseio-me nessa crisálida mundo Onde pago meus pecados de outrem

Uma constante dúvida de vida em vida Submisso aos vícios da delicada carne

Transmuto-me a cada palavra ouvida A cada palavra proferida e elaborada

Nesse incerto mundo de deslizes Onde o purgatório se fez presente

Refino-me em muitos aspectos A percepção já não é a mesma

As ideias se aglutinam ordenadas E os sentidos se aperfeiçoam

Flagelo-me ante a fraqueza diária Que assola o corpo limitado e fraco

Que já não consegue reter minh’alma Então provo dos manjares celestes da sabedoria

Mas guardo-a em meus recônditos secretos

E faço dela meu archote nesse mundo trevoso Onde a ilusão comanda os corações profanos Mas o adepto segue inabalável em sua busca

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Os Sonhos de Pã Soou a flauta de Pã

E os ecos ressoaram em minh’alma Natureza de prodígios e deuses esquecidos

E na gruta ofertei meu sacrifício

Soou a flauta de Pã E Baco sorridente e festivo

Ofereceu-me o sangue da uva Em uma dança frenética e sobrenatural

Soou novamente aquela flauta E Pã iridescente desceu os montes

E banhou-se nas nascentes da vida Onde bebiam todas as espécies

Baco agora já é adormecido Embriagado de sabedoria

Pã assiste dos cimos nevados E as hordas celestes cantam salmos Despeço-me do sonho e dos santos Dirijo-me aos rochedos da ilusão

Fico na beirada do penhasco das alegorias E alço voo com minhas asas de falcão

O que resta é somente uma lembrança vaga

Os Deuses viraram mitos novamente Mas o esquecimento foi retalhado

E novos altares foram fumegados com os olores sagrados

Das fontes cristalinas jorraram todas as palavras E foi reescrito na lâmina os signos do céu

E Pã adormecido sonhava com novos mundos Onde reinava supremo em sua natureza

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Noites Infinitas

Noites sem fim nesse dia infinito E as paredes do quarto a me sufocar

Um mundo gigante a se limitar Nas asperezas da vida... Na mesa de um bar

Noites distantes onde a mente retumba Um grito de angústia... Um copo vazio

Um corpo disforme... Um olhar penetrante E já não questiono nem o garçom... Nem o universo

Noites sem lua, sem frio, sem esperança Sentimentos bradam os gestos desfeitos

Onde a poesia se perdeu... Incompreendida E os homens escravos... Esqueceram-se de viver

Noites eternas como um piscar de olhos

Olhos vigilantes... Resumidos em lágrimas Olhares que se apaixonam sem se cruzarem

E desperdiçam todas as oportunidades únicas

Noites onde escrevo a minha solidão Sem tristeza... Sem mácula... Sem pudor

Preso nessas entranhas envelhecidas Amarrado a esse gentil calabouço maternal

Noites que resolvo voar em divagações

Noites que escorrem pelas sarjetas... E o sangue Lava as mãos famintas de você... Que espera O toque carinhoso... O beijo quente... O amor

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Luar de Equinócio

Março um mês de transições No ciclo das quatro estações

E a lua causa sensações Dentro dos nossos corações

Luar de março em equinócio

Brilho escaldante, luar de outono Ressurge a vida em todo o norte É a primavera de flor em sorte

Recomeçando outra estação A lua nova acompanhando

Em sua singela evolução

Mãe Gaia em sua respiração O oceano é seu coração

Contemplo essa transformação

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Meu Mundo de Poesias

Saciar-me-ia uma poesia adocicada Com pitadas de amor... Parafraseada Lembrariam os meus primeiros versos Que à poesia sentiram-se controversos

Se anoitecesse a pino o sol de meio-dia

Tu serias ao certo minha companhia Oh minha amante... Viajante clandestina

Minha poesia que ao pranto desatina

Vejo-te ao léu olhando o céu... Oh poesia! Minha oração nas horas de agonia

É meu retrato três por quatro de alegria Sem tu eu seria notas vagas em melodia

Felicidade que fez morada em minhas linhas

Em verso e prosa... É o perfume das minhas rosas Meridianos que contam a história dos anos

Que eu vivia contente a fazer planos

Agora me resta da estrofe de minh’alma As rimas dóceis em homenagem a você

Oh poesias natureza de vivalma Serás comigo até o dia de eu morrer

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As Estações dos Deuses

Lembro dos Deuses que adormeciam no outono Levando com eles todas as folhas e flores

E os campos ficavam cor de ferrugem Tendo somente o vento frio como amigo

Mas o céu tornava-se mais bonito

Pois as estrelas vigiavam os seus sonos E quando o cometa apontava no horizonte

Despertava o inverno com seus flocos de neve

Mas os Deuses cansar-se-iam das cores pálidas E após seus sonos cósmicos renasceriam Junto à primavera em suas novas vestes Pintando as paisagens com tenra vida

E o mesmo ciclo foi executado em perfeição

Pelos solstícios e equinócios de mil eras D’onde eu assisti tudo calado e solitário

E dei abrigo a todos Eles em meu coração

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Tardes Vazias São as mesmas tardes vazias Entre um soluço e um susto

Descomunal às vezes Tardes vazias de outono

São tardes em desalento

Eu e a pena... Também o vento Carregando meus suspiros

Levando minha intolerância

Tardes vazias em tempo algum Ou somente naquele tempo

Ou em todos os relógios do mundo Tardes de outono sem cores

Ou cores já tardias e descoloridas Nessas tardes vazias de amor De pensamentos e saudades Bucólicas tardes de outono

Onde planto vendavais

E varro todas as folhas secas Para baixo daquela fogueira

Onde plantei sementes e lágrimas Miseráveis tardes tão vazias

Sem nenhum chafariz para banhar-me Sem nenhuma praça deserta

Onde poderia eu virar um pássaro

Tardes vazias repletas de murmúrios Do lado de fora do espelho... O mundo

Onde o outono não repousa mais Aonde escondi todas as rosas mortas

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Ser Feliz... Viver Feliz

A vida às vezes pede uma lágrima Mas uma lágrima de alegria

Acompanhada por um largo sorriso Vindo do fundo da alma

A vida nos pede para sermos felizes

Mas aonde se encontra a tal felicidade? Acredito esteja nos detalhes Nos atos vindos do coração

Em momentos de contemplação

De todo o magnífico e belo que nos cerca Mas nos esquecemos de observar

O quão belo e perfeito é viver

Viver com amor próprio E na mesma intensidade amar o próximo

Indiferente de cor e crença Seja na saúde... Seja na doença

Ser feliz... Viver feliz!

Ser nós mesmos... Dar o melhor de nós Em tudo o que fazemos

Nos mais insignificantes momentos

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Sem querer agradar Mas sem a intenção de magoar Simplesmente sendo verdadeiro

E lutando pelos sonhos mais profundos

Ser feliz... Viver feliz! Estendendo a mão

Incondicionalmente... Por amor Por necessidade de crescer

Sem olhar ao qual ou a quem

Mas olhando a nós mesmos Vigiando pelo próximo

E tornando a fé inabalável

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Confins do Universo

Eu gosto de viajar pelos confins do universo E pelo espelho olhar o meu reverso Degustar o sol e seu calor supremo

E na janela deixar a luz transparecendo

Eu gosto das primaveras em quadros de aquarela Olhar todos os tons de olhos semicerrados

E nas letras guardar as cores... Flores em poesia Escutando as notas dispersas dos pássaros ao fim do dia

Eu gosto do seu afago... Seu toque enternecido

Sua voz soando doce... Chamando-me de querido Logo eu ruborizo a face... Diante sua formosura Nós juntos olhando ao mar o belo reflexo da lua

Eu gosto de viajar pelos confins do universo

Levando você comigo... Em um ônibus meteoro Turnês pelo infinito... Onde a noite é o inverso

Sinfonias de alegria... Que hoje registro em versos

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Dança Celular

Todo o ferro do meu sangue virou ferrugem E a boca do meu estômago ficou banguela Estrelas cadentes pelo céu de minha boca

Faminto eu fritei as batatas de minhas pernas

E martelei com o martelo de meu ouvido A casca dura da minha glândula pineal

Meu pé esquerdo do direito é amigo Lavei as mãos para coçar o meu umbigo

Minha consciência inconsciente observa Todas as mudanças nessa dança celular

Represei toda a água do organismo E com meu barco de papel fui navegar

E a menina dos meus olhos sempre brilhosa

Menina violeta sempre doce e charmosa Que olha meus passos... Tira-me dos embaraços

Afaga-me terna apertando nossos laços

E na meninge os segredos da esfinge Que em silêncio vigilante se impõe Assume o risco e ilumina o coração

Que em sua marcha espalha comiseração

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Ressurreição

Novamente me desfaço dos laços mundanos Desfalecido de todos os velhos sentidos

O corpo frágil desmembrado e adormecido Em seu repouso preparando a ressurreição Dentro do peito gemendo o velho coração

Espírito em evolução em seu corpo renascido Novos mistérios desvendados e uma vida ressurgindo

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Embaixo do Picadeiro Sempre Dorme um Vira-Lata

Que venham chuvas e temporais

Que venha o carteiro com notícias dela Que venha toda ordem de palavras

E venha o circo trazendo alegria

Estarei de guarda-chuva resfriado Meu cachorro pega as cartas para mim Minha caneta não distorce o vocábulo

E o espetáculo do palhaço chega ao fim

Venham raios, granizo e trovoadas Venha o recado no pedaço de papel

Venha o Aurélio trazendo seu dicionário E os trapezistas voadores de carmim

Eu estarei fotografando em minha mente Todas as vindas e idas loucas de um navio

Bibliotecas cheias de bibliotecários nus E os palhaços equilibristas em suas bicicletas

Venham comentários falsos na esquina

Que eu farei deles poesias em forma de cordel Venham todas as gaitas desafinadas

Que eu afinarei as notas do seu coração

Venham vocês com suas calças coloridas Tomar um trago no balcão do botequim

Tragam moedas antigas para minha coleção E sigam viajem com a trupe dos cachorros vira-latas

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Porta Entreaberta

Vislumbrei de relance aquela porta Que entreaberta mostrava-se tentadora Com seus caminhos repletos de espinhos

E amedrontadores dragões em seus ninhos

Com coragem estampada à face Entrei sem pedir licença... E enfrentei Aqueles medos a muito esquecidos

Que surgiam repentinos e fantasmagóricos

Pisei os espinhos com dor e prazer E enchi-me de cicatrizes de aprendizados

Aquela dor lancinante que um dia incomodou Tornou-se aliada nessa jornada de venturas

Diante os dragões prostrei-me de joelhos

Para ouvir o canto mágico da sabedoria antiga Forjei-me em seus sopros de fogo purificador

E atravessei os portais da sanidade

Aceitei minha loucura poética e escrevi A história dos tempos e da criação Descrevi o gênesis diante de mim

Nas paredes do templo com sangue e carvão

Depois em um ato de redenção Ofertei minha alma e toda alegria

Aos sábios profetas e ao ancião Que guardava os segredos do meu coração

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Final Feliz

O próprio eu conjugado em palavras

Indefinidas e com dúvidas intermináveis Onde as respostas quase sempre escapam

Por entre os dedos dos meus temores

Mas não fugirei das verdades cruas Enfrentarei o monstro de sete cabeças

E refarei o final da história Em uma batalha épica e inesquecível

Roubarei o coração do dragão

E curarei todas as minhas chagas Com a magia dos velhos sábios

Que aprendi com aquele menino

Liberto então retornarei para Ela E a cortejarei com flores mágicas Que foram ofertadas pela rainha

E nos amaremos até o fim dos tempos

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Os Véus Mágicos da Revelação Busco me encontrar nesse caos intrínseco

Mesmo distante busco curar as feridas Remediando o peito rechaçado e ofegante

Com poesias e sonhos inimagináveis Busco suas mãos quentes e o seu afago

E você mesmo distante me consola E escrevo até gastar meus dedos cansados

Deixando meus versos insossos com mais sabor Busco respostas sobre a vida e a morte

Mas a eternidade se nega ao meu apelo E se demonstra infinita e inexorável

Me deixando apenas vagas explicações

Busco essa luz que se manifesta em tudo O Todo refletido em cada olhar de esperança O bafo quente que sopra do ventre do mundo

Que enfático gravou novos caracteres irreconhecíveis Busco a poesia perfeita e extravagante

Adiciono pitadas de eu mesmo no cadinho E deixo as operações mágicas manifestarem-se

Nessa infinita metamorfose de palavras

Busco a vontade inabalável e plausível E os artefatos sagrados do hierofante

A dama lunar me vigia em seu firmamento E me impõe obstáculos e provações

Mas minha busca é sincera E determinado vencerei as provas E com o coração lapidado e puro

Receberei o galardão e a minha espada

Então as portas se abrirão... E verdade jorrará intacta

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Ilusões e Desenganos

Travessias de uma vida... De uma morte Apoiadas em versos repletos de ilusões Onde enganos tornam-se desenganos

E as vestimentas gastas vestem o peregrino

Ilusões da vida... Desenganos da morte O próximo passo em direção a uma miragem

Refletida nas vontades abandonadas Que um dia foram sonhos

Mas todos os caminhos causam ferimentos

E os devaneios se perdem... No seio do universo A verdade é crua e eterna

Segue seu ciclo

E os falsos prazeres deturpam os quereres Sacudindo a poeira fina das sandálias

E mergulhando na realidade Onde sem amor não poderá se libertar

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O Cântico das Vertigens

Bebi da taça do veneno das vertigens E os pássaros de fogo me levaram até o sol

Onde repousei meus sentidos em forja E transmutei-me em pedra azul de diamante

As ilusões se dissiparam em cânticos sublimes

Elevando os mistérios do voo dos dragões As harpas ressoaram nesse amanhecer de gigantes

E os sinos em dissonantes clamaram a pura verdade

Do sangue puro dos elementos sou descendente E os quadrantes universais eu levarei aos filhos do céu

Todas as mágicas então se tornarão desnecessárias E as almas serão absolvidas e diluídas em luz

Os fragmentos da esmeralda fundir-se-ão em novo coração

E o anjo mensageiro ressurgirá em seu esplendor Trazendo todas as novas aos filhos da eternidade

Agregando o bem e o mal em uma única vontade

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A Rosa Noturna

Meu canto e a rosa noturna Flagelos das sinas soturnas

E o perfume embriaga e entorpece O seu perfume minha Flor Violeta

Meus sonhos compõem o real No coração às noites solitárias E minh’alma então te procura

Avistando-te na casa a beira-mar

E as rosas rubras desse amor Fulguram-se entre as ondas

E transparecem acompanhando Esse olhar de doçura que Tu és

Enlaço-te em minha aura

E sentimo-nos como a luz dos tempos Brilhando e guiando um ao outro

Nesse relampejar dos destinos que se cruzam

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Sentimentos Concretos

Olho esse céu azul profundo Como um oceano de nuvens

Atmosférico sentimento Queria eu ser vapor de chuva

Olho esse verde picado de folhas

Condomínio dos pássaros da liberdade Fotossintético sentimento

Queria eu ser seiva de planta

Olho esse marrom germinador Lar de vida e aconchego da semente

Sentimento gravitacional Queria eu ser túnel de formigueiro

Olho esse invisível essencial

Arfar divino que enche os pulmões Sentimento oxigenado

Queria eu ser sopro do mundo

Olhe bem essas linhas Onde preencherei com versos

Sentimentos poéticos Queria eu um dia ser escritor

Mas olhe tudo atento

Deixe fluir o sentimento Sentimentos concretos

Sentidos como a brisa última do universo

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Castelos Desfeitos

Tantos os sonhos desfeitos... Eram perfeitos Mas ruíram como castelos de areia

Sonhos levados no vaivém das ondas E a esperança... Uma dança que não voltará

Todos os planos ficaram... Guardados

Castelos inacabados largados no tempo Na palma das mãos levo o mundo perfeito

Castelo de areia pelo vento desfeito

Todas as guerras já foram travadas Castelos sangrentos... Assombrados Lugares desbravados abandonados Restaram apenas castelos de areia

E o soar das trombetas... Nas torres Anunciam a chegada da armada Aurora renasce na praia isolada

E ali construí meu castelo de areia

E o tempo me dissipou em seus grãos O corpo desfeito enterrado na areia A alma liberta de todos os grilhões

E os castelos cobertos de lendas Adormeceram...

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Psicoses Embalsamadas

Pensamentos todos embalsamados Nessa constante deglutição de sentidos Engolindo os ácidos lisérgicos xamânicos

Contidos nas vértebras de uma planta rara

Pensamentos se mumificando em êxtase Colocados enfileirados em suas prateleiras

Sujeitos a úberes alucinações psicóticas Retratadas em fotografias em preto e branco

Pensamentos brunidos e ostentosos

De ideias novas... Atafulhados De cores pungentes aos olhos virgens

Semicerrados nessa mesma demagogia

Pensamentos esvoaçantes que me escapam Nessa eterna continuação de eu mesmo Visões confusas entre as palavras claras

Ofuscantes como sóis em conjunção

Ser pensante... Inconstante... Predominante Ignorante as canastrices de um universo pálido Tendo as estrelas como espinhas em sua face

E um olhar distante anos-luz daqui desse terraço

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Onde se esconderam os astronautas?

Onde se esconderam os astronautas Com suas flores espaciais?

Não deixaram nem a silhueta De seus passados no planeta

Suas histórias foram rabiscadas Pelo pincel da criança muda

E os seus conhecimentos sepultados Na tumba fria de um faraó

Onde se esconderam os astronautas?

Será que fugiram em suas naves? Ou mergulharam no sono profundo

Em suas camas planetárias? Quem sabe um dia retornarão

Por enquanto adormecerei Vigiando as estrelas

Esperando-os Com a rosa negra

E um punhal em minha mão

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Desvarios

Nesse mesmo fim de tudo Ou esse mesmo fim de nada

Onde o louco fica mudo E a plebéia lhe da água

Nesse meio instante ido

Ou o mesmo instante agora Que o padre tira a batina

E o Cristo vai embora

Seja agora ou mesmo antes Pois depois seria tarde

Parte o barco sem despedida Com a força desmedida

E as horas foram muitas

Ou não foram e sim ficaram Onde o tempo já está gasto

E os relógios já pararam

Nasce a flor e o beija-flor Ou só nasce a criança

Nasce o tango e a valsa Mas na noite morre a dança

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Chora a mãe a dor do filho Ou o pai abre um sorriso

Chora o filho a mãe perdida Chora o pai em sua partida

Ficam versos desvairados

Ou ficam somente letras vãs Ficariam olhares apaixonados

Se voltassem amanhã

Esperaria com sorrisos Ou chorando de saudade Dos amores desmedidos Dramas da eternidade

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Falésias Vazias

Vejo os tons da natureza em sua infinitude Sinto os dons da natureza em sua plenitude

E a expansão cognitiva manifestada Em açoites de ondas brutas nas falésias vazias

Vejo o grão minúsculo de vida e morte Grãos nocivos da existência de cada um

Em seu começo, meio e fim eternos Experimentando a essência do Sempiterno

Sinto essa brisa cósmica de ventos universais

Jorrar em fontes gigantescas e alegóricas Onde forjam as espadas dos guerreiros arcanjos E as efígies gastas pelos tempos idos se desfazem

Sinto que o caminho acabou de começar E mesmo jovem estou cansado pelas vidas

Que me trouxeram até essas letras Onde derramo as gotas de mercúrio de minh’alma

Sinto o frescor da chuva derradeira da estação

Lavar meu rosto marcado pelos sulcos da penúria Vejo a história se passando, mas fico aqui sentado

Esperando algum cometa me arrebatar para as estrelas

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O Coração da Alma

Os grandes ventos ressurgiram nessa tarde Varrendo os céus nessa poeira infernal

Meus olhos secos já não veem mais a estrada Mas continuo sem temer o temporal

Visão noturna em dia claro se compôs Um turbilhão de nuvens enegrecidas Um vasto raio do tridente foi lançado

E o mundo num surdo trovão estremeceu

Segui em grito a minha vontade dirigida E na batalha dos elementos eu adentrei

Fogo dos céus e água dos mares em conflito E a terra firme sendo assolada pelos silfos

Meus ferimentos foram às marcas do universo Eu diluído em éter alienado as quatro forças

Nessa explosão que mata e revive todas as formas E segue o ciclo lapidando o coração da nossa alma

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Sentença de Amor

Nossos laços são inquebrantáveis Mesmo com toda distância entre nós Pois um amor de almas transcende Aos obstáculos que a jornada impõe

Fundimo-nos em um só espírito

Para suprirmos essa falta um do outro E nas noites que me sinto mais sozinho A minh’alma te busca em seu ninho

Mas a saudade sempre me acompanha

Coração alquebrado se acanha Pois me falta esse olhar de ternura

Que me acalma e me leva a loucura

Mas te amo mesmo tão distante E sei que meu lar é o seu coração

Onde me aconcheguei sem pedir licença E fiz desse amor a nossa sentença

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A Cor da Saudade

Por essas vias onde caminho ofegante Deixo minhas pegadas sulcadas no chão

Deixo o sal de minhas lágrimas de sangue E continuo sem desânimo ou dúvidas

A minh’alma sobressai entre as quimeras

E liberta-se dos pesadelos

O meu querer me guia E o arrebol trás saudade do meu amor

A noite predomina e as trevas escondem as cores do seu olhar

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Retrato Abstrato

Onde estarão todas as flores espaciais E os pássaros flamejantes do sol?

Guardei-os na caixa de pandora da ilusão Junto às libélulas que coloriam aquela tela

Onde estarão todos os pingos de chuva

Que escorriam ligeiros das nuvens de algodão? Foram tragados pela respiração do mundo

E lançados nessas veias etéreas do vazio

Onde estará minh’alma agora? Vasculhei por todo o cosmos e não achei

Será que fui arrebatado por um disco voador Ou somente sonhei em uma noite de geada

E meus olhos dispersos caíram em minhas mãos

Olhando fixos para minha cara de assustado Tentei colocá-los em minha face novamente Mas roubaram meus sentidos e fiquei inerte

Tentei juntar todos meus pedaços espalhados Mas o vento levou embora os meus cabelos

Espalhando-os pelos campos estrelares E eu já não conseguia mais sofrer

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A gravidade eu já não sinto aprisionar-me Seria a morte ou mera alucinação

E olhei do alto aquele lago espelhado Lá encontrei a alma que eu buscava na vastidão

Entendi então que toda continuidade

Do que eu vejo é minha grande extensão Estou ligado por fios dourados à eternidade

Alienado às forças universais da criação

E as flores espaciais brotaram em meus galhos Onde os pássaros do sol fizeram seus ninhos E as veias etéreas aguaram minhas raízes

Quando minh’alma retornou incandescente

Então recomecei... E deixei fluir meus pensamentos... E minha vontade se fez verbo... E meu verbo se manifestou...

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Dois Extremos

Dias bons e dias maus Em nossa vida irreal

Ou meramente o equilíbrio Que torna tudo tão real

Tão pleno e às vezes tão vazio

Vitorioso ou derrotado Mas tão preciso e certeiro De coração apaixonado

Acertos ou erros talvez

Sempre a uma próxima vez Tombos para nos levantarmos Morremos pra ressuscitarmos

Chorar de novo ou ser feliz Tão certo de sua diretriz Calar ou então se revelar

Na poesia a recitar

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Poeta Adormecido

Pelos flancos da vida vou seguindo Atrelado ao meu determinismo

Mas o poeta interior está adormecido Antes mesmo de a noite ter amanhecido

E o sol atrasado e preguiçoso

Cede alguns minutos a última estrela Que agradece e brilha sorrateira Na manhã que logo se incendeia

A lua leitosa abandona a timidez

E ao astro rei mostra sua tez Brindando o dia com presença agraciada Banhando a noite com sua face prateada

Dias e noites de beleza interminável Sol, lua e estrela nesse ciclo inefável

E o poeta continua adormecido Mas seu olhar sempre certeiro e preciso

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Olhares Cotidianos

Observo cabeças pensantes transitando Também as não pensantes... Muitas mesmo Observo o arvoredo passeando... Ali parado

Olhando a algazarra dos pardais gritões

Observo as mesmas cabeças agora paradas E o arvoredo se abana de calor... Venta forte

Os não pensantes não veem nada disso... Vagueiam Em suas rotinas vestindo camisetas suadas... Iguais

Observo o banco da praça ali sozinho... E me aconchego

Boa tarde ao arvoredo... Agradecido à sombra E são tantos transeuntes... Carecas e invisíveis

Descalços e espirrando uma velha gripe... Hipnotizados

Eu o observador agora observado... Pelo cão sarnento Faminto de carinho e de um almoço gentil... Olhar triste

E o pedaço de pão envelhecido... Agora me serviu Foi o começo de uma nova amizade... Fiel amizade

Observo agora o cão sorrindo... Bebeu água da sarjeta

E o olhar distraído dos transeuntes... Nada notam Celulares e rotinas... Atropelamento na esquina

Cansado eu me retiro do mundo... E volto à poesia

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Os Campos do Nosso Amor

Pelos campos de estrelas eu plantarei Sementes de planetas exóticos cheios de vida

E espalharei gritos agudos pelas galáxias Onde ecoarão por tempos eternos

Pelos campos de estrelas eu caminharei Escrevendo entre elas todo meu amor Calando os dias sem final nem começo

E lançarei no espaço meu carinho por você

Pelos campos de estrelas te levarei Segurando firme em suas mãos quentes

Mostrarei-te novos mundos onde eu semeei Flores e ritos de um tempo esquecido

Pelos campos de estrelas eu divagarei

Buscando a rima perfeita como nós dois Então farei a poesia de nossas almas

E pintarei nosso retrato no rosto do sol

Ficaremos gravados na história dos astros Como dois cometas que viajam unidos

Pelas órbitas intermináveis do amor real E nos anos vindouros contarão nossa lenda

E dos campos de estrelas assistiremos sorrindo o futuro

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Poesia Sertaneja

Eu tenho um grande coração É um coração sertanejo

Que acorda junto aos pássaros E com as galinhas dorme cedo

Mas em noite enluarada

Tem fogueira lá no terreiro Gratidão pela companhia

Violas... Estrelas guia

Corujas de olhos acesos Cascavel no mata-burro

Os morcegos em voos leves Em seu dilema noturno

E na estrada o clarão

Da nossa deusa lua cheia No açude fazendo coro Têm várias lindas sereias

Junto ao coro minha viola De parceiro um vozeirão

Pensamento em minha amada Terra vasta esse sertão

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Pobre Futuro

Homens atrozes dignos de comiseração Que por riquezas ceifam muitas vidas

Desrespeitando do grande ao pequeno Pobres almas infestadas de gana e veneno

Sei que também não sou perfeito E estou longe de ser um exemplo

Mas por nosso planeta exijo respeito Pois é onde nossos filhos terão que viver

Olhe nossas florestas já tão devastadas

Os rios e a terra muito castigados A fauna tão bela hoje está escassa

Caminhamos em direção a uma desgraça

O que fará quando faltar alimento? Dinheiro é certo que não comerá

Olhará para traz com arrependimento Vendo os efeitos no leito onde padecerá

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Partida

Do meu velho barco avisto-te às falésias Com olhar de pranto diante minha partida Mas não me demoro em minha aventura

Guarde-se a mim em sua candura

Vejo seu aceno mergulhado em lágrimas Seu triste olhar em meu barco partindo

Pelos sete mares não terei amantes Pois meu coração rendeu-se a você

Guarde sua mácula em seu vestido branco Guarde o seu amor que eu virei buscá-lo Pois guardo no peito você minha bela flor

Estar longe de você é motivo de dor

Sei que tu me amas então não se demore Ficarei olhando os dias ao horizonte

Aqui dessas falésias onde lanço um pranto Por você estar agora tão distante

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A Canção dos Tempos

A nossa canção foi escrita pelos anjos Em partituras decifradas pelos banjos

Cifras de ouro reluzente e divino Com o relutante e belo soar dos sinos

Coros de arcanjos entoavam a melodia

Anunciando em suas harpas mais um dia E com a chegada dos querubins em sinfonia

Fez-se no céu a obra prima da alegria

Quantos amores inspirados nessa cena Que emanavam os olores da açucena

Muitos os pássaros que voavam agradecidos Também cantando e acompanhando os amigos

Fez-se a canção mais bela entre os tempos

Que é cantada ainda hoje pelos ventos Fez-se uma tela retratando tal beleza Com os pincéis e as cores da natureza

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Voos Poéticos

São minhas asas em penas de poesia Que me carregam em voos líricos

Onde pairo em ideias e inspirações Conjugadas aos meus devaneios e aspirações

São minhas asas cor de fogo e a poesia Que me movem de mundo em mundo Fantasiando, compondo e poetando... Todos os lilases e vitrais da imaginação

São essas asas... Extensas asas púrpuras

Que me sustentam em abismos matinais Êxtases em cimos de montanhas encantadas

Liberdades plenas em viagens ostentosas Sobrevoando em nuvens densas cor-de-rosa

Delineando as retas curvas dessa prosa

Asas de anjos, de falcões e potestades, que me rodeiam orientando o meu planar; deliciando-me em visões de mil paragens,

são minhas asas que me levam sobre o mar; e me enlevam em delírios nos ciprestes...

Rasantes livres de uma alma a se explanar

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Anjo de Escorpião

Entre os astros brindei o Escorpião Encarcerado em constelação

Achaiah disposto em companhia Mostrando-me o peso dos sóis Duplo-etéreo em sublimação

Duplo signo... Ascendente escorpião Anjo Protetor... Impávido Guardião

E as esfinges e mistérios em cifras Entre a penumbra e um escasso respirar

Entre os astros localizei o lar

De esferas e constelações Órion fugidio... Chegaste ao céu Escorpião

A espada de dois fulgores de Achaiah A proteção e o esclarecimento

Sagrado Anjo Guardião... Resplandecei Em signos de estrelas aladas e fórmulas Nas entrelinhas das novas revelações

Na poesia escondida em pergaminhos

E nos espasmos nus de um poeta místico Buscando o próximo alvorecer, ou a cegueira;

de um crepúsculo entre os entraves do amanhã.

Não adormeça os meus sentidos Anjo! E deixe os esclarecimentos para o próximo poema, que falará do Amor Angelical que me derramas;

e das palavras secretas que sussurrou antes de partir.

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Os Ácidos do Meu Jardim

Eu sóbrio entre sombras Embriagando-me em luzes

Satisfazendo os sentidos adormecidos Desnudo em águas turbulentas

Palavras sóbrias eu esqueci

Deixei-as guardadas já não sei aonde Seguindo entorpecido... Gritando o vazio

Em vocábulos de minha insensatez

Sobriedade e embriaguez poéticas Misturando-se em céus lilases

Em cadinhos de estrelas cadentes Burilados pelos artesãos dos versos...

...Versos entorpecentes e esotéricos,

tirados de uma planta alucinógena; ou de um ritual ameno de outono...

Onde me encontrei com a grande lua.

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Entre as sombras vivo sóbrio Embriagando-me de luzes Entorpecendo-me de você

Amando-te mesmo em distância

E as rimas eu deixei nos meus jardins Em frascos de ácido lisérgico

Libertei os devaneios E compus em vozes mudas

Todos os gemidos do amanhecer

E as páginas secretas Revelaram-se intactas

O amor e o deleite Reservei-os somente a ti

Junto às pétalas do meu ser em flor

E perpetuou-se o desejo A Flor Violeta cedeu E o Girassol... Sorriu;

e amou, e brilhou, e viveu, os dóceis afagos desse amor.

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O Ladrão dos Jardins Desgastados

Da lua Roubo o sol Em cascatas de estrelas Deturpando equilíbrios Cerzindo as costuras temporais Da lua Roubo a luz Em baionetas desgastadas Acariciando os sorrisos Enfurecendo os dedilhados Da rua Roubo os sons Em caixas de papelão Ensurdecendo as chaminés Despoluindo os tímpanos vindouros Da rua Roubo o chão E superfícies austeras Caminhando em solavancos Guardando no meio-fio as redundâncias Da lima Eu roubo a acidez Em palidez de sumos Em sucos gástricos absorvidos Depositados nas vertentes do organismo

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Da lima Eu roubo a lâmina Em espadas afiadas Em cinzeis esquecidos pelo artesão E escrevo canhoto minhas letras destras Da vida Eu roubo a morte Em sonhos alucinantes Na campa do destino quebro lápides E cavo buracos em jardins esmorecidos Da vida Eu roubo a vida E os sonhos de uma papoula Definhando em uma seringa de analgésicos Onde repouso todas as aberrações inalteradas Da lua eu roubo o sol, e a rua eu desconstruo; da vida eu roubo a lua, e em sóis aterradores, grito os sonhos, roubo as limas do meu quintal; e o buril e guardo em masmorras de eu mesmo, e roubo todos os astros desconhecidos em uma luneta.

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Deixarei Algumas Coisas

Deixarei toda poesia esvair-se de mim E nas sarjetas enxurradas de palavras Lavando os dicionários aposentados

Deixados na gaveta do criado falante

Deixarei as luzes artificiais apagadas E iluminarei as frestas com meu olhar Sobrepondo sombras atrás de você

Quando as curvas do tempo se dissolverem

Deixarei os livros antigos em uma mercearia E os comerciantes aprenderão os modos necessários

Enquanto os transeuntes continuam suas sendas Em ruas paralelas cobertas de paralelepípedos

Deixarei algumas rosas no seu travesseiro

Enquanto você se banha ao luar de agosto Os perfumes celestiais roubarei em frascos

E derramarei gotas de orvalho no seu amanhã

Para que se refresque em lembranças vivas E eu seja a marca inviolável em você

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Germinação

Imensidões guardadas, em cadinhos herméticos; densas vias de ideias... Todas em unidade, esperando o desabrochar da flor da alma

que germina devagar nos campos universais.

Mundos contidos em sementes, florir de galáxias, esperando a serem cultivados pela inteligência divina; esperando o sopro do Cósmico... A vontade criadora

d’onde nascem as equações a serem resolvidas.

E nascem anjos e homens, mitos e fábulas... Mas a mente é limitada e o abranger é falho.

E vemos somente o que nos é destinado; ou, o que queremos ver, ou podemos ver.

E o recipiente está abarrotado... Pronto ao cultivo,

esperando as vontades lançarem as sementes, esperando o domínio de si mesmo, de fato;

vivendo em múltiplas dimensões reciprocamente.

Germinando em si a semente que és... Cultivando novos mundos em poesia...

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Sequelas do Tempo

Vejo o tempo deixando sequelas O meu coração contorce-se

Tantas cacetadas que a vida imprime E somente as sequelas do tempo ficarão

Vejo a vida escorrendo entre os dedos

A lágrima do coração supriu a dor Entre tantas hipóteses... A morte

Entre tantas mortes... A vida

Vejo a morte escorrendo entre os dedos Entorpecido em melancolias cotidianas

Entre tantos sorrisos... A morte Entre tantas mortes... Um sorriso

Vejo o tempo deixando sequelas e morte Vejo o tempo ceifando a vida e o sorriso

Sinto o sal das lágrimas do coração Entre tantas sensações... A tristeza

Vejo a vida deixando sequelas no tempo

E a morte deixando sequelas na vida As lágrimas e os sorrisos... Restantes

E meu olhar é o que ficou... Calando o vento

E a morte caminhante, passeando vidas, deixando sequelas e lágrimas no tempo;

é o que restará ao homem.

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Dias e Dias

Dias em que me retiro do mundo Tão calado, reflexos de alma,

tempos sombrios... Tempos luzentes; descobertas em universo individual.

Dias em que mergulho nos oceanos da vida

Tão calado, espelhos de existências, tempos novos... Lembranças inexistentes;

de passos ainda não caminhados.

Anseios de novos dias, dias melhores. Mesmo velho sol em cada alvorada, diluindo-se

em éter, espargindo vida e ceifando a treva; fugazes segundos dispersos em devaneios.

Dias que terminam e recomeçam

Incessantes, calando corações em crepúsculo, encantando em arrebóis dourados; e

alimentando minha esperança e meu sorriso.

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D’onde Vim?

Vim das costelas do espaço sideral Fui formado em átomos do sol

Derretido e forjado na soleira do mundo Dorminhoco em estrelas de um vagabundo

Vim das neves, do frio meteórico de Plutão.

Vim do calor extremo da cratera de um vulcão Fragmentado em moléculas de arco-íris

Coloridos em filetes de eu mesmo na velocidade da luz

Vim do âmago de um buraco negro esquecido Expelido no grito do cometa errante

Lançado em órbita de evolução Viajando os confins do infinito

Vim da luz e da sombra, intercaladas em cada segundo,

espalhadas e sobrepostas em uma parede nua. Entre os pilares de dois extremos

Aonde repousei nas areias do tempo

E os jardins cósmicos sempre em flores espaciais Perfumam meus alicerces... Regem a minha sinfonia de viver...

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Meu Caminho... Minhas Colheitas...

Integrado aos filamentos cósmicos Desfaço-me em partículas de luz primordial Onde busco as digitais matriarcais da poesia

A matriz da criação... O início do primeiro dia

Em conjunção com as estrela me alinho E o que reflete é um grande desalinho Mágicos nuances de universos paralelos

Paisagens míticas de encanto belo

Versifico então toda essa grande experiência Em letras místicas de grande florescência E a cruz pesada de um longínquo tempo

Ficou para trás com todos os lamentos

Agora são leves todos os fados experimentados Abriu-se a frente grande caminho iluminado Onde eu plantarei as minhas sementes puras

E nascerão flores de extinta candura

Serão criados então os jardins da minh’alegria Com borboletas que trafegam as maresias

E o balanço na frondosa amoreira Terá seu nome gravado na madeira

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Triunfal Sou acometido por sonhos

E metamorfoses de parábolas Que tentavam explicar os mundos

Fazendo analogias com os seres

Mas as bocas não ouviam mais E as doutrinas foram sacrificadas Em troca de um cálice de vinho

O puro vinho do sangue real Então bebi de toda a sabedoria

E deitei o corpo em estrelas Deitei o espírito em campos de alfazema

E a consciência então se calou

Calou o mundo Em ecos vazios

E calaram as galáxias Em explosões de vida

Em destruição e reconstrução Em mudanças caóticas no macro

E transmutações do micro Em fusão com o Cósmico

Em um retorno triunfal Aos berços da criação Diluindo a centelha

E desaguando no oceano de Deus Despindo-se do corpo... Unificando-se ao Todo

E os esclarecimentos tornaram-se irrisórios Pois não restaram as lembranças da gênesis primordial

E o existir perpetuou-se em si mesmo E das entranhas do Ser jorraram estrelas e novos mundos...

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Inconformidades São conformidades sucintas

De coisas normais Das coisas extravagantes

E das coisas que não foram feitas

Conformismos ditosos Que curvam o meu verificar

Turvam os rios venosos, que regam minhas entranhas.

E as modificações são como caramujos Protegidas pelas cascas endurecidas, movendo-se em lentidão extrema; deixando seu rastro peçonhento.

Mas as pessoas estão conformadas

Deixaram de usar a vontade, marionetes de rotinas;

enfeitando os comerciais de televisão,

enfeitando a árvore de natal, colocando meias na lareira;

esperando o Papai Noel, com uma cesta de soluções.

Conformidades inconformadas Sempre a mesma insatisfação. sensação que está incompleto;

sensações estranhas antes de dormir...

E essa diligência sem rédeas continua sua jornada Girando, girando e girando...

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O Sol, a Lua e o Nosso Amor

Vem à lua e parte Desprateando Deixando saudade No amor do terreiro Deixa a lua e parte Em sua jornada Na madrugada Iluminada E o sol vem já raiando Mil sóis de prata Mil sóis de lata Em desbravata E os raios caloríficos Vem penetrantes Alucinantes Com tons brilhantes E do afago ficou saudade A vida não afaga Só o amor afaga A vida derruba

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E ensina a levantar Ensina a perder

E também a ganhar Ensina a sorrir

E ensina a chorar

A partir A voltar A Sofrer

E a amar

Por isso amo loucamente A vida

Minha donzela Amo o sol e a lua

Em seus mistérios astrológicos

Amo eu mesmo Pois necessito de cuidados

Necessito dos seus cuidados E dos seus beijos

Dos seus abraços

Do seu perfume amanhecendo Adormecido do meu lado

E a lua partindo Se despedindo

E o sol raiando

Na alma Na vida

No nosso amor

Um amor reverenciado pelos astros

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O Casamento Astrológico do Rei

Deixo os escritos e o Cósmico dirigirem meu legado Enfatizando essa transformação necessária de vida

Onde as velhas vestes morrem para renascer Onde se realiza o casamento alquímico do iniciado

Deixo os passos secretos descritos somente n’um olhar

E o simbolismo é revelado de boca em boca... Regenerando Sobre os Arcanos repousam as barbas brancas e negras

E a sombra das mechas escondidas nas faces de um mesmo Deus

Deixo todos os bens desse mundo para esse mundo

E carrego as minhas tralhas de luz, buriladas n’alma E as verdades se dão em seu momento propício

Pois o archote queima em lume eterno e inabalável

Deixo os brilhos dos esclarecimentos guiarem-me Por entre as vielas e gretas dos meus instintos adormecidos Encontro-me com todos os eus que vigiavam os meus atos

E a razão indissolúvel alicerça os auspícios da minha fé

Deixo os olhares dos adeptos se comunicarem em cartas Tarôs de profecias pessoais... Incomunicáveis mistérios

Presságios interagindo com os passos do rei solar E a verdade intacta se mantém velada ao vulgo

Enquanto as estrelas encerram todas as provas vividas pelo

buscador

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Empírico

Em superfície sublime de paz Arrebatado em momento empírico

Entre luzes e vozes de amor Resplandece no mundo o Pastor

Vem trazendo rebanho de Anjos

E coroas de estrelas nas mãos Magnânimo vem reinar em seu trono

Ensinando a viver como irmãos

Reine a vida liberta da carne Ressoou sobre o verbo da terra

Em relâmpagos dividiu-se luz e sombra E a amizade predominou sobre a guerra

E as palavras de amor transmitidas

Pelos verbos dos filhos do Pai Tornar-se-iam as regras de vida Extinguindo as agruras vividas

O retorno de um Rei Celestial

Como dito em livros e profecias Selando aqueles antigos escritos Que descreveram os últimos dias

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Cerejeiras em Flor

Vi na sombra da mariposa que crescia, a pequenez tornar-se imensa... Causas da luz, e busquei abrigo, busquei o perigo; encontrei caminhos... Levaram-me ao verdadeiro, ao amor, ao verdadeiro amor. Vi na sombra da mariposa que crescia, um lugar para proteger-me do sol... Consumidor, avassalador de desejos, sombras em luz; guiando-me pelos caminhos... Mostraram-me o verdadeiro, um grande saber, um verdadeiro e grande saber. Vi na sombra agora imensa, asas de purpurina... E dois cometas enamorados, fogo e céu se unindo, luz em sombras; guiando as almas pelas estrelas... Mundos verdadeiros, novos mundos, onde reinou a paz e a alegria... Onde fiz guarida ao meu amor, e plantamos jardins e borboletas; e adormecemos nas cerejeiras em flor.

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Submerso

Eu surrupio imagens do universo Imerso ao léu em minha alcova

Entre as paredes portas se abrem Sem que a vontade se mova

E na janela aberta

Todas as flores são insípidas Pois provei todas as pétalas

E as cores tem o mesmo gosto insosso

Um pouco mais perto da noite Raios solares banham as vidraças

E mais uma vez o carteiro não chegou Trazendo-me notícias dela

Então me recolho em devaneios sãos E a lâmpada queimada do aposento

Sempre deixo acesa, esperando sua luz A caneta e o abajur clareiam-me os vultos

Somente a réstia de um novo dia Pendurado na parede da capela

Poesia guardada em porões úmidos E eu procrio letras, sentado só em minha cadeira cinza

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Noites Insossas

Noites a fio distorcidas, pelas dores, pelo frio;

pelos devaneios fúnebres, que assolam-me a alma.

São momentos de regaço à poesia,

escancarando o sentir, ápices de solidão; como encruzilhadas de verão, deteriorando minhas ilusões.

Somente versos agonizam o peito,

vastidão de vazios em espera, sem esperanças; gritando mudos em minha consciência entorpecida,

procurando afagos em minhas composições.

Mas tão distantes são os edens do ser, e as maçãs apodrecidas não instigam mais; repelem os mais secretos desejos contidos,

o que me resta sou eu mergulhado nas lástimas de mim.

Anseios distantes de um sol no amanhecer, insone espalho olhares escarnecidos às paredes ; e as antigas canções de ninar calaram insossas, refletidas em um espelho sem mágica alguma.

Aonde o sono for será distante à vontade, pairar insatisfeito, em dias intermináveis;

espasmos tão rarefeitos, não mais surtem efeito, somente o leito gélido de um corpo já cansado.

Enquanto as estrelas consolam em suas solidões eternas...

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Palavras do Coração

Meu coração... Imenso coração Onde guardo todas as alegrias

Morada do meu amor Templo de luz, recôndito de paz.

Meu coração... Tão frágil Nesse titubear cansado

De tanta saudade, de tantas tristezas e felicidades.

Meu coração... Sanctum da minh’alma

Transmutando-se e lapidando-se Nas experiências interiores de contemplação Deixando marcas no sutil coração do espírito

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Noite Desfeita

Em uma noite desfeita Em riscos pálidos de estrelas

Que caem em mundos distantes Definhando toda a luz esquecida

Em rios caudalosos onde nadam peixes coloridos

E a noite risca o horizonte Em relutantes espasmos do dia

Onde a lua reflete o lago quase morto

Em uma noite desfeita Em salpicadas nuvens da alvorada Riscadas pelos deslumbres solares

Nos telhados mudos coloridos

E nos patamares estratosféricos Onde nadam pássaros de penas coloridas Riscando os ares dos pensamentos de Deus

D‘onde a vida jorra em todas as formas

Em uma noite desfeita Em sonhos edênicos no travesseiro

Riscados por lembranças de outras vidas Refletindo os karmas de um espírito livre

Nos livros inacabados dessa história

Onde estão as marcas de cada borboleta Escritos em folhas de casulos de ouro

Pelas canetas do livre arbítrio de cada um

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Viagem Astral

Entreguei-me aos ritos Para suprir minha ânsia de saber

Aconcheguei-me em palavras E purifiquei todos meus símbolos

Aspergi minhas orações em incenso E os olores levaram-nas aos mestres

Generosos guardiões das torres do leste Que trazem mais um alvorecer renovador

Abandonei os dogmas e segui a alma

Tornei-me livre diante o astral E seguindo a risca meu aprendizado

Dirigi-me ao templo do Grande Sol Central

Fui recebido por coros entoados do além Arrebatado a um mundo que tanto busquei Mas o tempo é tão curto e tenho uma missão

De continuar entre os homens estendendo minhas mãos

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Espinhos

Dos tormentos ficaram espinhos Mas os ferimentos deixaram lições Seguindo os passos truncados não desisti Mas fiquei ofegante em meus pensamentos Os tropeços serviram para abrir meus olhos Calados sentimentos desfocados... Dispersos O ressurgimento é sempre brilhoso E as hipóteses se multiplicam infinitamente Com a pinça da existência arranquei os espinhos E com minha bengala escalei a montanha... Solitário e silencioso

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Transformações

Há transformações todos os dias,

minutos, segundos; desabrochares de vida.

Há transformações

nos corações, no âmago diáfano do existir;

em mim, em você e no universo.

Transmutações luzidias alquimias de seres reais,

de vidas reais, almas reais; palpável universo pessoal e coletivo.

Lapidação, sublimação do espírito,

em constante ramificação, espalhando as raízes da consciência em mundos novos;

alimentando-se de suas próprias continuações.

E os ventos cósmicos semeiam sementes pelo infinito...

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Vinhos do Deserto

Nesse deserto escasso de abraços Busco desintegrar os átomos de luz

Em miragens de velhos oásis e cachoeiras Falta-me você nessa noite ensolarada

Nesse deserto escasso de estrelas

Onde as noites esconderam-se em sóis Busco entender aonde foram os polos Mas sua falta me deixa desorientado

Nesse deserto de noites lúgubres

Bebo os planetas em brindes alienígenas Bebo o sol escasso de piedade

Bebo de todos os licores e vinhos E o gosto é o dos seus lábios

Nesse deserto inacabado Onde crescem uvas Dionisíacas Onde enchi a taça de segredos

Onde bebeu Dante em sua odisseia

Beberemos os vinhos desse deserto E segredaremos aos silfos

As vozes do vento Os espasmos dos elementos

Todos os dias dessa noite inacabada Todos os amores distantes em saudades

Eu e você em um deleite matinal Eu e você misturando nossos gostos

Nos vinhos envelhecidos dos nossos beijos Nesse deserto escasso de abraços e de estrelas

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Contemplações

Olhando para as miragens da minha mente Vejo um oásis de terras férteis e produtivas Então com minha pena sulco as sementes E deixo brotar os sublimes sentires da vida

Em palavras de querências secretas Em sensações indefiníveis ao verbo No navegar manso de um versejar

Na colheita dos corações semeadores

Olhando para essa vasta gama de ideias e ideais Vejo belezas escondidas em tímidos sorrisos Muitas vezes melancólicos e tristes sorrisos

Se escondendo em uma falta de expressão inata

Ou entre as árvores da floresta dos desconhecidos Nos atos cotidianos ritualísticos da labuta cruel

Que priva às vezes das libertas aventuras mentais Nos rosto daqueles batalhadores indômitos da vida

Olhando no espelho entrego-me as reflexões De todas as divagações e aspirações contidas Nessa imagem inversa de eu mesmo refletida

Mostrando minha alma despida de qualquer máscara

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Vigiando o Tempo

Infiltrando-me nos planos do amanhã Caminho o meu hoje pleno de ontem

Nessa jornada sinuosa e cheia de dentes Numa boca entreaberta por detrás da porta

E em gaivotas matinais esvaem-se os recadinhos

No bocejo do pelicano adormece a cavalinha E o mergulhão afinado submerge em maestria

Marcando o espreguiçar matinal de um novo dia

E eu, somente espio as frestas dos tempos; desconfiado de todos os caranguejos e siris,

na maré baixa, olho os brilhos em cascatas... E o tempo urge em lampejos insaciáveis

Como se engolisse todos os mundos, todas as cerejas e estrelas cadentes;

todos os vivos e todos os mortos, num banquete de cabeças atemporais...

E o velho, já cansado, lê sempre o mesmo livro...

O livro das amareladas páginas de uma vida breve...

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O Limbo dos Deuses

Em labirintos de minotauros desfalecidos Eu jogo damas com o rei de um baralho

E furto as rédeas de um cavalo alvoroçado Para gritar em vento ao rosto a aventura

Em montes híbridos de plantas comestíveis

Eu me disfarço em terremoto e compro remos Que levarei como presente até Caronte

Para passear em sua barca no rio da morte

E reconheço à porta o cão de três cabeças Cérbero em brasas rosnando pelo seu osso

Encantos fúnebres e cantos para Hades Que solitário é o guardião do calabouço

Mitologias distorcidas pelos tempos

O grande Zéfiro abandonou os ventos E a Medusa que pavorosa pela beleza Petrificou-se no espelho da natureza

São tantas arcas de Noé que hoje navegam Levando estórias em continentes esquecidos E na cratera do vulcão... Porta do Tártaro

Cronos e os tempos tão cruéis são derretidos

Eu vejo tudo bebericando junto a Baco Em salões nobres fantasiados aqui no Olimpo

Olhando os Deuses se vestindo de farrapos Virando escravos de seus medos nesse limbo

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