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Universidade Presbiteriana Mackenzie 1 ECOARQUITETURA: SOLUÇÕES INTELIGENTES PARA PROJETOS SUSTENTÁVEIS Amanda Zago Polesi (IC) e Nieri Soares de Araujo (Orientador) Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa Resumo O presente estudo tem como propósito discutir sobre métodos projetuais para realizar uma obra ecologicamente correta, comentando simultaneamente a importância da arquitetura sustentável, cada vez mais procurada nos dias de hoje como solução para amenizar os impactos ambientais. A pesquisa foi feita com base nas chamadas "Cinco Bolhas dos Edifícios Verdes", desenvolvidas pelo apresentador ganhador do Emmy, Steve Thomas. O objetivo é explicar cada uma das categorias, além de comentar sobre outras técnicas que contribuem para a sustentabilidade em uma construção, verificando, por fim, sua suficiência e eficiência quando aplicadas em uma obra. A pesquisa busca também mostrar que há maneiras de se construir com menor impacto ambiental e maiores ganhos sociais, sem, contudo, ser economicamente inviável. Por fim, para aplicar o estudo em situações reais, foi escolhido um projeto para análise, no qual se verificou a utilização dos itens estudados e fez-se uma constatação dos resultados. Palavras-chave: arquitetura sustentável, método projetual, soluções alternativas Abstract The present study aims to discuss about projetual methods to realize an environmentally friend work, commenting, at the same time, about sustainable architecture's importance, which has been increasingly used these days as a solution to reduce environmental impacts. The research was based on the "Five Bubbles of Green Building", developed by the Emmy winning award presenter Steve Thomas. The main goal is to explain each category, besides commenting about other techniques that contribute to sustainability on the construction site, checking, finally, its sufficiency and efficiency when applied to a construction. The study also aims to show there are ways to build with less environmental impact and more social benefits, without being, however, economically unfeasible. Finally, to apply the study in a real situation, a project was chose for analysis, on which was verifyed the utilization of the studied topics and a statement of results was made. Key-words: sustainable architecture, projetual methods, alternative solutions

Amanda zago

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ECOARQUITETURA: SOLUÇÕES INTELIGENTES PARA PROJETOS SUSTENTÁVEIS

Amanda Zago Polesi (IC) e Nieri Soares de Araujo (Orientador)

Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa

Resumo

O presente estudo tem como propósito discutir sobre métodos projetuais para realizar uma obra ecologicamente correta, comentando simultaneamente a importância da arquitetura sustentável, cada vez mais procurada nos dias de hoje como solução para amenizar os impactos ambientais. A pesquisa foi feita com base nas chamadas "Cinco Bolhas dos Edifícios Verdes", desenvolvidas pelo apresentador ganhador do Emmy, Steve Thomas. O objetivo é explicar cada uma das categorias, além de comentar sobre outras técnicas que contribuem para a sustentabilidade em uma construção, verificando, por fim, sua suficiência e eficiência quando aplicadas em uma obra. A pesquisa busca também mostrar que há maneiras de se construir com menor impacto ambiental e maiores ganhos sociais, sem, contudo, ser economicamente inviável. Por fim, para aplicar o estudo em situações reais, foi escolhido um projeto para análise, no qual se verificou a utilização dos itens estudados e fez-se uma constatação dos resultados.

Palavras-chave: arquitetura sustentável, método projetual, soluções alternativas

Abstract

The present study aims to discuss about projetual methods to realize an environmentally friend work, commenting, at the same time, about sustainable architecture's importance, which has been increasingly used these days as a solution to reduce environmental impacts. The research was based on the "Five Bubbles of Green Building", developed by the Emmy winning award presenter Steve Thomas. The main goal is to explain each category, besides commenting about other techniques that contribute to sustainability on the construction site, checking, finally, its sufficiency and efficiency when applied to a construction. The study also aims to show there are ways to build with less environmental impact and more social benefits, without being, however, economically unfeasible. Finally, to apply the study in a real situation, a project was chose for analysis, on which was verifyed the utilization of the studied topics and a statement of results was made.

Key-words: sustainable architecture, projetual methods, alternative solutions

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│INTRODUÇÃO

A biosfera é fundamental para a sobrevivência dos seres vivos, especialmente do homem

que, ironicamente, é aquele que mais a deprecia. Isso nem sempre ocorreu desta forma,

pois nos primórdios da humanidade o impacto ambiental causado pela população humana

era pequeno, já que ela era reduzida e tecnologicamente pouco desenvolvida, além de

saber aproveitar os recursos naturais e respeitar seus limites.

O quadro crítico se inicia nos dois últimos séculos, quando se pensava que o crescimento

econômico desenfreado fosse vital ao progresso. Isso fez com que o mundo depositasse

suas esperanças de crescimento e desenvolvimento no volume da produção material, sem

levar em consideração a qualidade de vida e a distribuição social de tal produção.

Hoje há a consciência que a Terra possui uma capacidade limitada e que em determinado

momento ela não terá mais recursos para sustentar a humanidade. Isso, inclusive, já pode

ser notado em inúmeras regiões do planeta, e tem como seus grandes precursores o

irrefreável aumento demográfico, a demasiada poluição ambiental e o inconseqüente uso

dos recursos naturais.

Com o propósito de impedir que esse quadro continue se agravando sucessivamente, foi

proposta uma idéia que consistia em “suprir as necessidades do presente sem comprometer

a capacidade das próximas gerações de suprirem as de seu tempo” (AZUMA, M. e

FALKEMBACH, F., 2003), e a isso se denominou “desenvolvimento sustentável”.

O desenvolvimento sustentável incorpora ao planejamento urbano os fatores econômicos,

sociais e ambientais, levando em consideração as conseqüências das ações tanto em

longos como em curtos prazos.

Considerando-se que a construção civil é uma das maiores consumidoras de recursos,

energia e materiais, a grande e primeira mudança efetiva que deve ocorrer para reverter o

quadro de escassez de recursos naturais que encontramos hoje, está dentro dos elementos

que envolvem o setor construtivo. Assim, entra em ação a arquitetura sustentável, que visa

a criação de edifícios amigos do meio ambiente, por meio de técnicas e materiais que

variam do rudimentar à tecnologia de ponta, buscando sempre o objetivo de promover

equilíbrio entre o ser humano e seu habitat.

Foi apenas na segunda metade do século XX que se começou a executar esse tipo de

construção, após Clube de Roma (1968), Estocolmo (1972), Brundtland (1987), Eco 92

(1992) e Agenda 21 (1992). As construções realizadas antes de tais reflexões ecológicas

não eram planejadas com o intuito de não agredir o meio ambiente, assim, não eram

racionais, havia desperdício de materiais, geração de toneladas de entulho, gastos

incalculáveis de energia e água, etc. Segundo pesquisa do Departamento de Engenharia de

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Construção da Escola Politécnica da USP, “a construção desperdiça em média 56% do

cimento, 44% da areia, 30% do gesso, 27% dos condutores e 15% dos tubos de PVC e

eletrodutos” (TRIGUEIRO, 2003), além dos impactos causados durante o processo

construtivo.

Sabe-se que “os edifícios são responsáveis pelo consumo de 40% da energia total e por

gerar 40% de todo o lixo produzido pelo homem” (GEHLEN, 2008). Levando-se em conta a

proporção dos seus impactos, a indústria da construção pode e deve colaborar com a busca

de um desenvolvimento sustentável. É época de deixar de considerar somente o tripé

tempo, custo e qualidade, e passar a incorporar também os aspectos ambientais.

A discussão cada vez maior em relação aos problemas ambientais e à possibilidade de

escassez dos recursos naturais está aumentando a pressão exercida sobre empresas e

construtoras pelas entidades ambientais e por pesquisadores de fenômenos que podem

ocasionar uma catástrofe ecológica de grandes proporções. Com isso, praticar a

sustentabilidade, para essas empresas e construtoras, passou a ser um diferencial

mercadológico sobre o qual elas aproveitam para aumentar sua lucratividade e potencializar

a venda de seus produtos para um público consumidor mais preocupado e atento a essa

nova realidade que se estabelece. Porém, grande cuidado deve ser tomado pelo público

consumidor de tais produtos ou idéias, pois devido a essa “corrida maluca pelo verde” está

cada vez mais difícil diferenciar o que é um produto verdadeiramente sustentável daquele

que simplesmente recebe uma “maquiagem verde”, também conhecido por “greenwash”

(marketing utilizado para tentar encobrir um desempenho ambiental insatisfatório).

Diante da realidade apresentada, pode-se dizer que nosso país está caminhando na direção

certa. O Brasil passa por um momento em que a esperança é que predomina, tendo em

vista que o país tem atraído olhares de investidores e estrangeiros interessados em seu

mercado para tecnologias sustentáveis. Nas palavras da geógrafa Paola Figueiredo, “o

Brasil ainda engatinha nesse setor”, contudo a nação tem se mostrado com mais condições

que outras para liderar a transição para uma economia sustentável, servindo de exemplo

para os outros e mostrando que o novo modelo é viável, além de vantajoso tanto em termos

ambientais, como econômicos e sociais (IDÉIA SUSTENTÁVEL, 2009, Ed. 16). As maiores

oportunidades no país estão ligadas à energia renovável, resíduos sólidos, água, eficiência

energética e saneamento.

1.0│ECOPRINCÍPIOS

Muitas pessoas imaginam que para fazer arquitetura sustentável devemos executar

somente coberturas verdes, construções de bambu, madeira e materiais reciclados, etc.

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Entretanto, fazer uma arquitetura sustentável vai muito além disso; requer prévio estudo da

região, do terreno e seu entorno, análise de materiais viáveis e disponíveis, estudo da

melhor estratégia energética, melhor implantação, etc., enfim, uma série de fatores que vão

influir no melhor aproveitamento e na complexidade da obra. Para auxiliar na listagem

desses itens, os escritórios criaram os chamados “ecoprincípios”. Neste estudo, foi

escolhido um conjunto de ecoprincípios para análise, denominado “As Cinco Bolhas dos

Edifícios Verdes”.

1.1│ AS CINCO BOLHAS DOS EDIFÍCIOS VERDES

As “Cinco Bolhas dos Edifícios Verdes” são princípios que relacionam os aspectos influentes

em uma construção verde, ou seja, delimitam o que deve ser levado em consideração em

obras sustentáveis, de acordo com a opinião de seu criador, Steve Thomas (apresentador

de televisão americano que trabalha com renovação de edifícios e propostas sustentáveis).

As cinco bolhas de Thomas, esquematizadas na Figura 1, possuem tamanhos diferentes; as

bolhas maiores (“Energia”, seguida de “Materiais” e “Mão-de-obra”) são consideradas mais

relevantes em relação às menores (“Saúde” e “Design”).

Figura 1. Steve Thomas's 5 bubbles of green building.

Fonte: http://planetgreen.discovery.com/tv/renovation-nation/bubbles-green-building.html

Considerando o contexto histórico, a situação crítica das construções nos dias de hoje e a

sustentabilidade efervescendo nas veias da sociedade, tomaremos as “Cinco Bolhas dos

Edifícios Verdes” para estudo e análise, com o intuito de verificar sua eficiência (e

suficiência) na aplicação em obras atuais, à partir das conclusões realizadas.

1.1│ENERGIA

Ao observarmos o diagrama de Thomas, percebemos claramente que esta é a bolha mais

proeminente dentre as outras, já que é a energia (independente da sua fonte) que fará com

que com que todos os equipamentos, insumos, etc. funcionem em um edifício. Ela é

classificada em “energy in” (energia recebida) e “energy out” (energia utilizada).

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O mundo inteiro está passando por uma crise energética, pois as matérias extraídas da

natureza para produzir energia estão se tornando escassas, além de sua extração danificar

o meio ambiente. No mercado, quando um produto começa a se tornar escasso e raro seu

preço sobe e a solução é utilizar outros produtos semelhantes cujo custo seja menor. No

entanto, diferente dos produtos que podem ser substituídos, “a energia é absoluta e

universalmente insubstituível. Ela é a única fonte de todo trabalho realizado no sistema de

produção” (COMMONER, 1986). Sendo assim, nossa única saída é buscar outras formas de

produzi-la, devendo utilizar sempre uma fonte renovável e equipamentos tecnológicos

“maduros” de preço constante, pois isso permitirá que sempre tenhamos energia disponível

a um preço estável.

Para agravar o quadro, a necessidade energética do mundo está longe de ser saciada;

estima-se que no intervalo de 1990 a 2020 o consumo energético crescerá em 60%,

principalmente nos países em desenvolvimento (PINOTTI, 2010).

Mais especificamente na arquitetura, a energia possui relação direta com o projeto e isso

influi sobre as cidades, já que o edifício, comparado com outras atividades, é o que exige

maior demanda energética da cidade, tendo em vista que ele é seu principal elemento

constituidor. (KATO, 2007)

Tendo em vista estas preocupações, devemos optar pela adoção de partidos que envolvam

baixo consumo energético, tanto nos procedimentos do canteiro de obras, como no

funcionamento da edificação depois de pronta. Ser eficientemente energético não significa,

porém, somente utilizar equipamentos de baixo consumo, mas também levar em

consideração aspectos como: uma boa implantação, adoção de partidos arquitetônicos que

possam ser utilizados para produzir energia e/ou não requeiram tantos gastos com energia

(como por exemplo ar condicionado), além da utilização de fontes energéticas alternativas.

Enfim, poupar gastos energéticos é essencial no ramo da construção, já que, como foi dito

anteriormente, este é o setor que mais consome energia no país (13,8% do PIB – IBGE

1992).

As energias mais utilizadas nos dias de hoje são as provindas de combustíveis fósseis,

como o carvão, petróleo e gás natural.

Como pode ser visto no gráfico abaixo, os tipos de energias considerados renováveis e

limpos são os menos utilizados, e é este quadro que precisa ser revertido.

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Tabela 1 . Consumo de energia ao longo do processo produtivo do edifício Fonte: O consumo de energia nos edifícios (MASCARÓ, 1983)

Gráfico 1. Matriz energética brasileira Fonte: plano decenal de energia/Ministério de Minas e energia/IMPSA

Apesar de as hidrelétricas dominarem o cenário brasileiro e serem consideradas uma forma

de energia renovável e não poluente, existe o problema das inundações que elas podem

provocar, ocasionando o deslocamento de populações e a destruição do bioma em seu

entorno.

Dentre as variáveis energéticas presentes no gráfico, aquelas que precisamos colocar como

líderes de mercado são a solar (placas solares ou sistemas fotovoltaicos) e a eólica.

A energia eólica, apesar de ser a fonte energética mais limpa do mundo, é normalmente

usada como complemento de outras formas de geração de energia, já que ela depende do

vento, um fenômeno natural inconstante e instável.

Já a energia solar, além de limpa, pode ser usada imediatamente ou armazenada para uso

posterior. Seu uso tem crescido constantemente, pois acredita-se que ela será a maior fonte

eficiente de energia no mundo a longo prazo (ROAF, 2006).

Ao contrário do que se pensa, a energia solar funciona em regiões pouco ensolaradas,

inclusive à noite e nos dias nublados (pois é um processo que independe do calor), e por

fim, a energia solar consegue gerar as altas temperaturas necessárias à geração de energia

elétrica.

Embora gastos enormes tenham sido direcionados à infra-estrutura de suporte para energia

convencional, do período de 1993 a 2003 a energia eólica aumentou em 10 vezes sua

quantidade de usuários; já os adeptos à energia solar aumentaram em 7 vezes nesse

mesmo período (PINOTTI, 2010).

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1.2│MATERIAIS

É uma categoria bastante grande, e envolve desde questões de certificação da qualidade

sobre os produtos que se quer utilizar, até sua produção e sua durabilidade. Os principais

fatores relevantes para a escolha dos materiais que serão utilizados em uma construção

sustentável (de acordo com ROAF, 2006) são: a energia necessária para produzi-los, o CO₂

resultante da sua fabricação, o impacto resultante de sua extração, toxidade, transporte e o

grau de poluição resultante do fim da sua vida útil.

A produção de qualquer material além de necessitar de energia, também gera resíduos, já

que todos são processados. A diferença está em escolher aqueles que foram mais

processados (requer maior gasto de energia e maior quantidade de resíduos) ou menos

processados (requer menos gasto de energia e menor quantidade e resíduos). Obviamente,

se a opção escolhida for a dos materiais menos processados estar-se-á contribuindo para a

sustentabilidade na obra.

Além dos citados acima, outro fator a ser considerado na escolha dos materiais deve ser a

energia incorporada de cada um, que é a energia total envolvida na sua fabricação. “Energia

incorporada é uma importante medida porque o uso de fontes de energia não renovável é a

principal razão para a degradação ambiental.” (ROAF, 2006) Para calculá-la precisamente

em um material, todos os estágios nos quais energia é utilizada devem ser considerados.

Quando escolhemos um material cuja energia incorporada é alta estamos sendo

ineficientes, pois “(...) para cada unidade de eletricidade fornecida a um consumidor, foi

consumida uma quantidade maior de energia primária para sua obtenção” (ROAF, 2006).

A energia incorporada dos materiais é também significativa de acordo com a quantidade em

que o material é aplicado na obra. Abaixo está uma tabela onde podem ser observados os

valores de energia incorporada de materiais na edificação:

Tabela 2. Energia incorporada dos materiais de uma edificação.

Fonte: Ecohouse: a casa ambientalmente sustentável (ROAF, 2006)

Os impactos ambientais causados pelos materiais podem ser divididos em: impacto

ambiental devido à produção (uso de energia, exaustão dos recursos, aquecimento global,

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chuva ácida, toxinas) e impacto ambiental devido ao uso (potencial de reuso/reciclagem e

descarte, danos à saúde).

Tabela 3. Impacto ambiental dos principais materiais de construção.

Fonte: Ecohabitar - Arquitetura e Construção

Quando possível, deve-se optar por materiais locais ou aqueles que requerem o mínimo de

processamento em preferência àqueles altamente processados e de localidades mais

distantes. Produtos não-tóxicos devem substituir materiais quimicamente tratados e que

contêm toxinas. A durabilidade dos materiais também é muito significativa, já que afeta a

vida útil de uma edificação e o quanto uma casa de baixo consumo energético dura; todos

os materiais de construção devem ser facilmente recicláveis.

Por fim, um produto deve ser avaliado por todo o seu ciclo de vida, não se levando em

consideração apenas uma fase de sua vida-útil, pois esta pode induzir a uma avaliação

errônea do produto. É preciso analisar desde a sua fonte de matéria-prima, sua produção,

distribuição, utilização e despejo. O produto deve ser analisado nestas etapas segundo os

seguintes aspectos ambientais: resíduos, contaminação de solos, água e ar, consumo de

energia, barulho e habitat natural.

1.3│MÃO-DE-OBRA

A bolha referente à mão-de-obra diz respeito ao valor atribuído a uma construção bem

executada, tendo, portanto, maior durabilidade. Segundo Thomas, um edifício que dura

muitos e muitos anos pode ser considerado sustentável, pois se está poupando a realização

de construções novas ou reformas muito grandes e, consequentemente, um grande gasto

de energia e desperdício de materiais. Nesse espeque, seria válido, por exemplo, considerar

que uma casa antiga é sustentável.

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No entanto, há de se ressaltar que as técnicas e materiais antigos utilizados nesse tipo de

construção não levavam em consideração as preocupações com o meio ambiente, como

ocorre nos dias de hoje e, portanto, a durabilidade do edifício não pode ser considerada

como um único parâmetro de avaliação da sustentabilidade da construção, como

equivocadamente sustenta Thomas.

Além da durabilidade e das técnicas e materiais, a qualidade da mão-de-obra também é

fator relevante que interfere diretamente na sustentabilidade da obra. Quando se contrata

bons trabalhadores, que entendem a importância dos mínimos detalhes para a composição

da obra como um todo, estar-se-á contribuindo para a longevidade do edifício de maneira

direta.

Por outro lado,dispor de mão-de-obra qualificada, que valoriza tais ideais sustentáveis, é

uma tarefa difícil. A sustentabilidade social é um fator que pode ajudar a melhorar o

desempenho do trabalhador, tendo em vista que sua finalidade é possibilitar igual acesso a

todos a bens e serviços necessários para uma vida digna, fazendo, assim, com que o

trabalhador se sinta motivado e satisfeito. Promove-se, desta forma, uma melhora na

produtividade dos serviços.

Do triângulo da sustentabilidade, composto pela sustentabilidade econômica, ambiental e

social, o lado social é, de longe, o seu aspecto mais importante. É dele que emanam os

problemas ou soluções para os outros dois lados, o econômico e o ambiental.

Figura 2. Triângulo da sustentabilidade.

Fonte: Ecosfera - Empreendimentos Sustentáveis

1.4│SAÚDE

A saúde é uma das menores bolhas do conjunto de Thomas, mas nem por isso sua

importância também deve ser reduzida. O sub-tema saúde está relacionado a aspectos que

variam desde a qualidade do ar interior até soluções em que se deve lidar com toxinas de

colas, materiais e tintas.

Saúde também está relacionada à segurança do lugar, assim, o mesmo deve estar

preparado para lidar com terremotos, incêndios e toxidade por compostos químicos. Além

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disso, os usuários devem sentir-se bem no ambiente, portanto ele deve ser um local que

propicie paz, tranqüilidade e sossego aos seus usuários. “A mente e o corpo estão

intimamente ligados; uma pessoa relaxada, confortável, e tranquila em uma casa

provavelmente será mais saudável como conseqüência.” (ROAF, 2006)

A qualidade do ar interior é fundamental tanto para a saúde como para a higiene dos

usuários do edifício, por isso devem ser tomadas providências para obter um ar interno de

qualidade, tais como: projetar utilizando técnicas que permitam uma construção mais

econômica, menos poluente e que impacte de forma menos agressiva o meio ambiente;

poupar a flora e a fauna circundante; procurar não causar contaminações, degradações ou

qualquer tipo de poluição, seja ela ambiental, visual, sonora, do ar, etc; garantir a segurança

interna e externa do edifício, bem como de seus usuários.

1.5│DESIGN

Por fim, mas não menos importante, a quinta e última bolha: Design. Obviamente, ao se

construir uma edificação verde, procura-se levar em consideração fatores como insolação,

tipos de energia, isolamentos térmicos, etc; itens como esses não podem ser ignorados,

mas o design é também um fator importante a ser acrescentado nessa lista.

O design de uma edificação pode variar de acordo com as seguintes situações: clima,

ambiente social, local e orientação solar. Segundo ROAF, “As edificações são nossa terceira

pele.” (ROAF, 2006) A primeira pele é a própria pele, a segunda são as roupas e a terceira

são as edificações. Ou seja, assim como trocamos de roupa de acordo com a temperatura,

o edifício também pode se adaptar de acordo com as condições externas.

Uma edificação com um bom design, além de fazer seus usuários sentirem-se confortáveis

dentro dela, também faz com que sua construção se harmonize com o bairro e com o meio

ambiente.

O design das construções verdes costuma ter um tamanho reduzido e simplificado

(dificilmente se verá mansões que são sustentáveis), por outro lado elas são extremamente

estilosas, inteligentes e de fácil manutenção.

Nos últimos tempos, tem crescido cada vez mais a quantidade de pessoas que optam por

realizar uma construção verde, mesmo sabendo que, a princípio, podem ter que investir

mais nela (a economia em utilizar esses sistemas só será percebida em alguns anos) do

que investiriam em uma construção convencional. O motivo disso é o aumento no número

de cidadãos conscientes, que querem colaborar para a saúde do planeta, além da

satisfação que existe de habitar um espaço de baixo impacto ambiental.

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1.6│APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE STEVE THOMAS

Tais conceitos definidos por S. Thomas podem ser encontrados, por exemplo, no 5.4.7 Arts

Center, localizado no Kansas, em Greensburg, região atingida por um tornado de

intensidade F5, em maio de 2007. Apesar de trágico, o acidente passou a representar uma

oportunidade para a cidade de se reconstruir como uma “cidade verde”. Assim, Greensburg

é a primeira cidade dos Estados Unidos a aprovar uma resolução para certificar que todos

os edifícios da cidade recebam o reconhecimento do LEED Platina, o nível mais alto de

classificação do sistema LEED. Sob tais circunstâncias, o 5.4.7 Arts Center foi construído

pelo Studio 804 (uma organização estudantil, sem fins lucrativos, formada por estudantes de

arquitetura da Universidade do Kansas) com o auxílio de Steve Thomas.

Figura 3. 5.4.7 Arts Center

Fontes: Joah Bussert

Alguns dos princípios aplicados na construção do edifício acima: o uso de turbinas eólicas,

placas solares, bomba de aquecimento geotérmica. Além disso, o edifício possui sistema de

captação de águas pluviais, jardim que requer pouca manutenção, piso de concreto,

sombreamento das janelas, módulos de telhado verde, ventilação cruzada, aproveitamento

de iluminação natural, isolamento feito em papel de jornal para poupar energia, parede

rainscreen, vidros de pouca manutenção e utilização de tapumes de madeira reciclada.

1.7│ÁGUA

Um item de enorme importância que não está presente dentre as Cinco Bolhas dos Edifícios

Verdes de Steve Thomas é a água. Um fator de tamanha importância como este não pode

simplesmente ser deixado de lado. O crescimento das populações mundiais, as mudanças

climáticas, a poluição e a interferência crescente do homem nos fluxos de água naturais são

fatores que conspiram para que a água se torne um dos produtos primários mais valorizados

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do século XXI (ROAF, 2006). “Num futuro muito próximo, a água representará para o setor

privado e a economia global o que o petróleo representa hoje.” (ALMEIDA, 2007)

Segundo o diretor de novos negócios da Tecnisa, Ricardo Leite, o consumo doméstico de

água é pequeno, quando comparado ao da agricultura e da indústria, que juntas utilizam

90% da água disponível. De toda a captação de água para uso industrial ou doméstico, de

5% a 20% não é sustentável a longo prazo, já que a quantidade destinada a tais usos que é

retirada dos lençóis freáticos e bacias hidrográficas é muito superior à da reposição natural

(ALMEIDA, 2007). O gráfico abaixo representa a composição dos usos domésticos da água.

Gráfico 2. Composição dos usos domésticos da água

Fonte: Ecohouse: a casa ambientalmente sustentável (ROAF, 2006)

Segundo especialistas no assunto, a raiz da cultura do desperdício está na própria conta de

água, na qual se pode perceber que os valores cobrados são referentes a abastecimento e

coleta de esgoto, ou seja, nada se cobra pela água. Se os usuários sentissem no bolso a

dor do desperdício, a água certamente estaria sendo poupada. “A tecnologia e o

conhecimento de que dispomos hoje podem reduzir consideravelmente o impacto humano

nos ecossistemas, mas sua utilização em todo o seu potencial permanecerá reduzida

enquanto os serviços oferecidos pelos ecossistemas continuarem a ser percebidos como

‘gratuitos’ e ilimitados, e não receberem o seu devido valor.” (ALMEIDA, 2007)

De acordo com pesquisadores, por “desperdício” entende-se mais do que simplesmente

esquecer uma torneira pingando, significa deixar a água potável escoar pelo ralo sem utilizá-

la. Por isso se faz necessário incluir no conceito das pessoas o valor e a importância da

água, bem como fornecer a elas meios de economizá-la através de intervenções projetuais

que tornem seu consumo eficiente por meio de tecnologias que aproveitem o recurso da

melhor forma possível.

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2.0│CUSTOS x EFICIÊNCIA

Uma dúvida que muitas pessoas possuem sobre se deveriam ou não pôr em prática ações

sustentáveis em suas construções é devido ao custo que isso pode acarretar à obra. Muitos

deixam de fazê-lo, pois o gasto inicial previsto é, de fato, maior do que o de uma construção

convencional. Essa decisão bastante comum, no entanto, é errônea, pois antes de se

decidir, deve-se levar em consideração todo o ciclo de vida da obra, não apenas o custo

estimado durante sua construção. Será ao longo da utilização cotidiana do imóvel que virá a

grande fatia de custos, que poderá chegar a grossos 80% do total, enquanto que os custos

com a construção representarão cerca de 14% (NADER, 2008). Em outras palavras, ao

desconsiderar sistemas racionais de energia e de aproveitamento de água logo na fase de

projeto, a economia conseguida (irrelevante se inserida no custo total da obra) custará muito

caro ao usuário durante a futura operação do imóvel. Este gasto seria desnecessário se o

usuário tivesse adotado equipamentos sustentáveis já no momento da construção, pois seu

investimento seria recuperado logo nos primeiros 18 meses de uso do imóvel.

Um dos responsáveis pelo dito “encarecimento da obra” sustentável é o próprio governo,

que ao invés de incentivar esse tipo de construção e, assim, reduzir os impostos dos

materiais certificados ou reciclados, exige uma série de tributos e burocracias que acabam

encarecendo a utilização desse tipo de material. A boa notícia é que essa mentalidade vem

mudando e devido à grande expansão da oferta e também por políticas públicas de

subsídios, já começa a se alinhar com o desejo dos ambientalistas.

“Resumindo, a sustentabilidade na construção não só é viável, como também necessária e

útil. Não é um resgate do passado nem uma ilusão do futuro” (NADER, 2008). “Muito em

breve, será possível construir casas sustentáveis pelo mesmo custo dos imóveis comuns e

isso, com toda a certeza, será a contribuição definitiva para que a construção de casas

sustentáveis passe a ser a regra e, não mais, a exceção” (NUNES, 2009).

Abaixo está uma tabela que relaciona o impacto ambiental positivo sobre o meio ambiente

de alguns elementos que colaboram para a sustentabilidade versus o custo de implantação

dos mesmos.

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Tabela 4. Impacto ambiental positivo X Custos de implantação

Fonte: Ecohabitar - Arquitetura e Construção

3.0│ELEMENTOS QUE CONTRIBUEM PARA A SUSTENTABILIDADE NA OBRA

Depois de decidir como será aplicada a sustentabilidade no projeto levando-se em

consideração os aspectos elaborados por Steve Thomas, passamos para a próxima etapa:

racionalização da obra.

Não basta ter simplesmente os ideais do projeto sustentáveis; precisa-se levar também em

consideração a execução do mesmo, visando sempre a racionalização dos recursos e o

planejamento dos processos, a fim de que não ocorram imprevistos e materiais não sejam

desperdiçados. Caso contrário, a obra será “falsamente sustentável”.

A racionalização não se restringe apenas a alterações de determinados processos

construtivos, mas exige que haja uma mudança de postura nas fases de projeto. Isso

envolve consequentemente, solucionar todos os problemas e detalhes envolvidos no

processo construtivo no momento da concepção (evitando posteriores improvisações no

canteiro de obras), além de promover maior integração entre os diferentes tipos de projetos

(elétrica, hidráulica, estrutural, etc).

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A otimização dos recursos e do tempo de execução da obra permitem um aumento da

produtividade e a diminuição de custos e prazos e isso é o que muitas empresas têm

buscado nos últimos tempos.

Uma obra racional é conseguida quando nos utilizamos de três elementos (planejamento do

canteiro de obras, utilização de softwares BIM e prototipagem rápida) que serão explicados

a seguir.

3.1│PLANEJAMENTO DO CANTEIRO DE OBRAS

“O projeto do canteiro de obras é o serviço integrante do processo de construção,

responsável pela definição do tamanho, forma e localização das áreas de trabalho, fixas e

temporárias, e das vias de circulação, necessárias ao desenvolvimento das operações de

apoio e execução, durante cada fase da obra, de forma integrada e evolutiva, de acordo

com o projeto de produção do empreendimento, oferecendo condições de segurança, saúde

e motivação aos trabalhadores e, execução racionalizada dos serviços” (FERREIRA e

FRANCO, 1998).

Segundo LIMMER (1997), o canteiro de obras pode ser comparado a uma “fábrica móvel”,

onde os insumos (mão-de-obra, material e equipamentos) é que se deslocam em torno do

produto. Essa metáfora justifica a razão do arranjo do canteiro de obras ser uma das partes

mais importantes do planejamento da obra. Ao se planejar o canteiro, tem-se como meta

conseguir a melhor disposição, dentro do espaço disponível, para todos os insumos, visando

sua integração, minimização de distâncias e boa disposição das áreas de estocagem e

locais de trabalho, mas ao mesmo tempo mantendo a flexibilidade e a produtividade.

Para um canteiro de obras ser sustentável é necessário que as dimensões econômica,

ambiental, social, educacional e cultural da sustentabilidade estejam incorporadas em cada

etapa de execução da obra. O seu exercício vai além do planejamento e programação das

atividades, mas também devem estar presentes nos seus espaços físicos, na maneira como

as diversas tarefas são realizadas, no convívio dos colaboradores e na relação da obra com

as suas áreas vizinhas (GEHLEN, 2008).

O canteiro de obras é o momento chave para disseminação dos princípios da

sustentabilidade por toda a cadeia, segundo GEHLEN (2008), já que ele constitui o ponto

crítico onde serão sintetizadas a concepção e o projeto, sendo o momento onde os maiores

impactos serão gerados e onde todos os envolvidos com a construção irão interagir.

Ao se prezar pela sustentabilidade do canteiro, deve-se aproveitar a iluminação natural,

garantir a renovação do ar e a temperatura das instalações, que apesar de provisórias

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também necessitam de conforto. Para isso, deve-se fazer uso de tecnologias que reduzam o

consumo energético através da utilização de equipamentos mais eficientes e melhores nas

instalações.

3.2│UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES BIM

O BIM (Building Information Modeling) faz parte de uma nova geração de softwares para o

desenvolvimento de projetos que permite ao projetista construir virtualmente um modelo da

edificação. Diferente do sistema CAD (Computer Aided Drawing/Drafting) geométrico, onde

os desenhos não passam de linhas que quando fragmentadas não possuem semântica, o

sistema BIM possibilita a geração de um modelo digital do edifício com informações

(provindas de um banco de dados) atreladas aos seus componentes, ao invés de uma série

de desenhos isolados.

Figura 4. Comparação BIM/CAD com relação à produtividade.

Fonte: revista Téchne - Construção Integrada.

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Figura 5. Comparativo BIM/CAD com relação ao esforço x efeito.

Fonte: Alexander Rodrigues Justi

A introdução dos softwares BIM no mercado possibilitou que fosse dada maior importância à

fase de concepção dos projetos do que em sua representação gráfica, já que os novos

programas possuem o apoio de dados dinâmicos, resultando em representações

simultâneas e de maior precisão e qualidade. Uma das grandes vantagens em se utilizar os

programas BIM é o aumento da produtividade, que reflete conseqüentemente na redução

das horas de trabalho, além de permitir que se anteveja o resultado espacial das escolhas

de projeto, eliminando possíveis interferências entre elementos construtivos antes do inicio

da construção, permitindo assim a racionalização da obra.

Porém, como todo novo instrumento de trabalho, é necessário um pouco de tempo para a

aprendizagem e adaptação do programa (a mudança do CAD para o BIM é como da

prancheta para o computador), além de haver poucos profissionais treinados.

Segundo KELLY, “a tecnologia amplia as nossas possibilidades de escolha em geral, uma

tecnologia apresenta aos seres humanos outra maneira de pensar sobre algo. Cada

invenção permite outra forma de ver a vida. Cada ferramenta, material ou mídia adicional

que inventamos oferece à humanidade uma nova maneira de expressar nossos sentimentos

e outra forma de testar a verdade. O trabalho da coletividade é substituir tecnologias que

limitam nosso poder de escolhas por aquelas que o ampliam” (KELLY, 2007)

Apesar da difícil transição de um programa para o outro, o mercado está exigindo que essa

migração ocorra, pois nesses últimos tempos, a indústria da construção aumentou a

demanda por processos racionais e de melhor desempenho, visando à economia de

recursos e a redução do impacto ambiental. Diante a esses novos paradigmas, o BIM faz-se

necessário para manter ou inserir projetistas no mercado.

3.3│PROTOTIPAGEM RÁPIDA

A prototipagem rápida é uma tecnologia utilizada para fabricar modelos físicos a partir de

fontes de dados de um arquivo em CAD. A criação de tais protótipos auxilia visualmente

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discussões prévias de um projeto com colaboradores ou clientes, além de permitir ensaios

em túnel de vento, verificação da volumetria, função, orientação solar, localização no

terreno, detalhes construtivos, mobiliário, etc.

Figura 6. a) Arquivo digital/ b) Protótipo/ c) Peças iguais feitas com prototipagem rápida/ d) Modelo

impresso em impressora 3D. Fonte: Arquivo digital (SASS, 2004)

Os métodos de produção dos protótipos podem ser classificados segundo sua finalidade, o

número de eixos com que trabalham ou de acordo com a maneira como produzem os

modelos.

No que se refere à sua finalidade, eles podem ser destinados à produção de protótipos, ou

seja, de modelos de avaliação, ou à produção de produtos finais, como elementos

construtivos para serem empregados diretamente na obra.

A prototipagem rápida oferece diversas vantagens, tais como: alta precisão, produção

ilimitada de peças iguais em formato e tamanho, produção de curvas planas, diminuição do

trabalho de acabamento, reduzido tempo de produção, possibilidade de detectar eventuais

erros para que sejam solucionados antecipadamente. No entanto, essa tecnologia funciona

apenas com volumes de protótipo limitados, além da dificuldade de executar peças de

metal.

Atualmente a prototipagem rápida é mais utilizada nas áreas de design e engenharia

mecânica, sendo usada em arquitetura basicamente para a produção de modelos de

edifícios em escala e peças construtivas. Os poucos escritórios de arquitetura que adotaram

recentemente o uso dessas técnicas, como Foster & Partners (Inglaterra), Gehry Associates

(Estados Unidos), Zaha Hadid (Inglaterra) e Morphosis (Estados Unidos) vêm obtendo

resultados impressionantes em termos de qualidade e produtividade. Se não fizessem uso

desse benefício, talvez suas obras tivessem maior dificuldade de concepção e execução ou

mesmo nem chegassem a ser possíveis.

Figura 7. Maquetes produzidas com prototipagem rápida de

Foster & Partners (Londres)

Fonte: Kirsten Kiser

a) b) c) d)

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Já em escritórios brasileiros raramente está presente e quando está surge somente na

apresentação final do projeto. No Brasil, a aplicação da técnica em arquitetura ainda é muito

restrita, e isso se deve a dois fatores: um econômico e outro de ordem social. O econômico

está relacionado aos altos custos dos equipamentos e insumos, que são em sua maioria

importados dos Estados Unidos, da Europa e da China. Existe também uma grande

limitação social ao emprego das técnicas de fabricação digital na área de arquitetura e

construção no Brasil, pois ainda não existe disponibilidade de mão de obra especializada

nessa área. Além disso, o ensino superior de arquitetura e de engenharia civil ainda não

prevê o uso desses novos métodos na produção de maquetes, protótipos e componentes

construtivos.

4.0│ESTUDO DE CASO: CENTRO DE CULTURA MAX FEFFER (CCMF)

Localizado na cidade de Pardinho, interior de São Paulo, encontra-se o Centro de Cultura

Max Feffer, um espaço cultural cuja finalidade é incentivar o desenvolvimento da

comunidade local e da região como um todo. Foi idealizado pelo Instituto Jatobás, uma

organização não governamental que busca, por meio da sustentabilidade, prover uma

melhor qualidade de vida às pessoas, durante sucessivas gerações.

"O projeto do Centro de Cultura Max Feffer (...) tem por objetivo contribuir para descoberta

de alternativas que promovam o conhecimento, o lazer, a inovação, a inclusão social e a

qualidade de vida para a sobrevivência das gerações atuais e futuras" (SANTANA, 2009).

Projeto da arquiteta Leiko Motomura, o centro cultural foi executado com técnicas

ecológicas, sustentáveis e inovadoras em um local previamente ocupado por uma praça,

cedida pela prefeitura para a realização da obra.

Figuras 8, 9 e 10. Centro de Cultura Max Feffer, a cobertura de bambu em destaque. Fonte: site Arcoweb - Amima Arquitetura - Centro de Cultura Max Feffer

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Erguido sobre um terreno de 6.250 m², o Centro dispõe de uma estrutura para incentivar o

desenvolvimento da comunidade local, contando com biblioteca, laboratório de inclusão

digital, auditório, museu do bambu, além de diversas salas de exposição e reunião.

Ao olharmos para a obra, o primeiro elemento que atrai nossos olhos é, sem dúvida, sua

cobertura ondulada, em perfeita sintonia com o meio ambiente. Executada inteiramente em

bambu, a cobertura de 800 m² é sustentada por pilares duplos a cada nove metros, auxiliado

por vigas de eucalipto.

A arquiteta se preocupou com a sustentabilidade do projeto bem antes do início das obras,

ainda durante a fase de planejamento. Assim, houve um prévio estudo sobre qual o tipo

mais adequado de terreno a se construir, qual o melhor posicionamento e dimensionamento

do projeto na implantação, reflexões sobre impermeabilização do solo e reaproveitamento

de água, etc.

Figura 11. O vazio sobre a sala de leitura separa a área da loja do espaço reservado ao Museu do Bambu. Os guarda-corpos reutilizam barras de alumínio de ônibus.

Figura 12: A sala de leitura é separada do ambiente externo por gradis que reaproveitam sobras de chapas de estamparias. As bases dos bancos reciclam antigas colunas de lavatórios e os tijolos de demolição.

Fonte: site Arcoweb - Amima Arquitetura - Centro de Cultura Max Feffer.

O Centro de Cultura Max Feffer apresenta uma lista completa de itens sustentáveis

presentes em sua construção, segundo informado no site da própria arquiteta

(http://www.amima-arquitetura.com/centro_cultura.html). Abaixo estão listados os itens

sustentáveis e em seguida a classificação de acordo com os princípios de Steve Thomas:

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(*) ÁGUA não faz parte das 5 Bolhas dos Edifícios de Steve Thomas

Graças à presença da sustentabilidade na eficiência energética, ventilação natural, redução

do consumo de água tratada e implantação de um programa de gestão de resíduos no

canteiro de obras, a edifícação de Leiko foi a primeira da América Latina a receber a

certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) GOLD na categoria de

espaços culturais, concedido pela instituição americana Green Building Council. O

certificado atesta "(...) que o espaço foi construído dentro de regulamentações que

preservam e contribuem para o equilíbrio do meio-ambiente" (SANTANA, 2009).

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Segundo afirma a arquiteta, projetar uma obra como o Centro de Cultura de Max Feffer

requer mais tempo do que uma obra tradicional, pois incluir a sustentabilidade no projeto

implica o envolvimento de mais fatores, que requerem pesquisa aprofundada a seu respeito,

além de necessitar de uma equipe de projeto maior.

Além de demorar mais a serem projetadas, obras sustentáveis também tendem a ser mais

dispendiosas. Porém, a questão de custos é relativa, pois os investimentos realizados

durante a construção sustentável retornam em um curto prazo e as economias

proporcionadas pelos sistemas instalados perduram por toda a vida da edificação.

Quanto aos elementos que contribuem para a sustentabilidade na obra, Motomura afirma

que a sustentabilidade deve estar presente "desde o primeiro traço", logo foi feito um

planejamento e estudo sobre a obra antes de sua execução, a fim de reduzir ao mínimo os

impactos ambientais. Não foram usadas, porém, tecnologias como a dos softwares BIM ou

de prototipagem rápida para auxílio nos estudos.

Retomando, agora, as 5 Bolhas dos Edifícios Verdes de Steve Thomas, percebe-se que

quase todos os itens sustentáveis presentes no projeto se encaixam em alguma das

categorias (Energia, Materiais, Mão-de-obra, Sáude, Design). Porém, elas não são

suficientes. Ao estudar o caso mais a fundo, nota-se que a ÁGUA (sua preservação, reuso,

bem como métodos e técnicas para se conseguir isso) não faz parte dos princípios de

Thomas, e ao se analisar o projeto do Centro de Cultura de Max Feffer, verifica-se que os

itens sustentáveis relacionados a ela não são poucos, pelo contrário, totalizam quase um

terço das intervenções realizadas.

Portanto, obviamente os princípios de Thomas são importantes, e fazem muita diferença

quando aplicados em uma obra inicialmente tradicional. Todavia, após estudos, constata-se

que eles não são suficientes para tornar uma obra verdadeiramente sustentável; ela ainda

necessita da utilização de outros princípios para alcançar o sucesso esperado, ainda mais

quando se almeja um certificado do porte do LEED.

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5.0│CONCLUSÃO Como se pode perceber há diversas maneiras de se racionalizar tanto o projeto e a maneira

como ele é concebido, como a execução da obra no canteiro. Aplicando-se ao menos um

dos exemplos citados acima, já se consegue detectar melhorias visíveis na construção:

poupar-se-á tempo e custos (a longo prazo), bem como o desperdício de recursos que

refletem diretamente no meio ambiente e também no bolso do empreendedor. Apesar de, na teoria, a racionalização da construção ser um excelente partido a se adotar,

na prática, todos sabemos que se trata de um processo complexo, pois não é fácil encontrar

soluções eficazes e, simultaneamente, eficientes para problemas que envolvam um grande

número de variáveis intervenientes dentro e fora do canteiro. Mas no fim, o mais importante

é não deixar de buscá-las e ter sempre em mente que os princípios de redução de

desperdícios começam antes de entrar no canteiro de obras. A concepção do projeto deve

objetivar o aumento da vida útil do edifício, além de especificar até o menor dos detalhes

para minimizar o desperdício de insumos durante a construção, contribuindo, assim, para

uma construção civil mais racional e, consequentemente, sustentável. É importante salientar

que a arquitetura sustentável não é utópica em suas exigências, e pode ser executada por

quem a ambicione.

Por fim, existem hoje em dia milhares de princípios que fornecem diretrizes para uma

construção sustentável, entretanto nenhum deles é capaz de nos informar na íntegra como

executar uma arquitetura verde, já que ela é muito complexa e envolve diversas variáveis.

Assim, cabe ao profissional analisar para cada projeto, terreno, clientes, interesses e

objetivos, quais elementos da sustentabilidade terão viabilidade de serem aplicados na obra.

Não se deve olvidar que não existe uma obra que seja 100% sustentável, pois as variáveis

que implicam uma construção são milhares, e combinar todas elas (sem que uma interfira

na outra) de forma ecológica é uma tarefa muito difícil. Por isso, é importante ter consciência

de que ao intervir em uma construção que pretende prestigiar a sustentabilidade, ainda que

limitada a alguns aspectos, produz-se impactos positivos e imediatos ao meio ambiente.

Logo, mais do que um modismo, a busca por novas soluções sustentáveis é uma tendência

da arquitetura.

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│REFERÊNCIAS

LIVROS:

[1] ALMEIDA, F. Os desafios da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, 6ª

reimpressão.

[2] COMMONER, B. Energias alternativas. Rio de janeiro: Record, 1986.

[3] LIMMER, C.V. Planejamento, orçamentação e controle de projetos e obras. Rio de

Janeiro: LTC editora, 1997.

[4] PINOTTI, R. Educação ambiental para o século XXI: no Brasil e no mundo. São

Paulo: Blucher, 1ª edição, 2010.

[5] ROAF, S. Ecohouse: a casa ambientalmente sustentável/ Susan Roaf, Manuel

Fuentes, Stephanie Thomas; tradução Alexandre Salvaterra. – 2ª Ed. – Porto Alegre:

Bookman, 2006.

REVISTAS, ARTIGOS E PERIÓDICOS DIGITAIS:

[1] AZUMA, M. e FALKEMBACH, F. A sustentabilidade ambiental aplicada a um projeto

para uma indústria de reciclagem. Em Akrópolis - Revista de Ciências Humanas da

UNIPAR. Disponível em: < http://revistas.unipar.br/akropolis/article/viewFile/375/341 >

Acesso em: 01 set. 2010

[2] KELLY, K. Revista Veja, Edição Especial: Tecnologias, Editora Abril, agosto de 2007.

Disponível em: http://veja.abril.com.br/especiais/tecnologia_2007/p_046.html. Acesso em: 06

nov. 2010

[3] TRIGUEIRO, A. O barato que sai caro. Em Mundo Sustentável. Disponível em: <

http://www.mundosustentavel.com.br/artigo.asp?cd=38 > Acesso em: 01 set. 2010

TESES E DISSERTAÇÕES:

[1] FERREIRA, E. e FRANCO L. Metodologia para elaboração do projeto do canteiro de

obras. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP – Departamento de Engenharia de

Construção Civil, São Paulo, 1998.

[2] GEHLEN, J. Aplicando a sustentabilidade e a produção limpa aos canteiros de

obras. Em 2nd International Workshop Advances in Cleaner Production – Key Elements for

a Sustainable World: energy, water and climate change. São Paulo, 2009.

[3] GEHLEN, J. Construção da sustentabilidade em canteiros de obras – um estudo no

DF. Dissertação apresentada à Universidade de Brasília para a obtenção do título de Mestre

em Arquitetura e Urbanismo, Brasília, 2008.

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

25

[4] KATO, C.A. Arquitetura e sustentabilidade: projetar com ciência da energia.

Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo – Pós Graduação da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2007.

SITES:

[1] http://www.amima-arquitetura.com/index.html > Acesso em: 18 fev. 2011

[2] http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/amima-arquitetura-centro-cultural-28-07-2009.html

> Acesso em: 18 fev. 2011

[3] http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/127/artigo64516-1.asp > Acesso em: 10

jan. 2011

[4] http://planetgreen.discovery.com/tv/renovation-nation/bubbles-green-building.html >

Acesso em: 10 out. 2009

[5] NADER, M. M. Sustentabilidade na construção: nem Flinstones nem Jetsons.

Disponível em: < http://ecohabitararquitetura.com.br/blog/sustentabilidade-na-construcao-

nem-flinstones-nem-jetsons/ > Acesso em: 03 out. 2010

[6] NUNES, R. Casas sustentáveis: Lucro certo. Disponível em: <

http://www.ecologiaurbana.com.br/residencia-sustentavel/casas-sustentaveis-lucro-certo/ >

Acesso em: 03 out. 2010

ENTREVISTAS:

[1] Ana Paula Dominguez da Costa - Departamento de Meio Ambiente, construtora Bueno

Netto (junho/2010)

[2] Leiko Hama Motomura, arquiteta fundadora da Amima Arquitetura (fevereiro/2011)

Contato: [email protected] e [email protected]