O Amor de Pedro e Ins

Ncleo de Estgio: Ana Couto e Cludia PereiraProfessora Orientadora: Maria do Rosrio Silva

O Amor de Pedro e Ins Pontos da Apresentao:1. A histria 2. A literatura

A HISTRIA

A Histria de um Amor As fontes histricas do amor de Ins de Castro e D. Pedro so as crnicas de: Lpez de Ayala (D. Pedro), Ferno Lopes (D. Pedro) e Rui de Pina (D. Afonso IV).

De que nos falam estas fontes?

A Paixo do Infante D. Pedro, filho de D. Afonso IV, pela aia da sua mulher uma paixo que se prolongou durante dez anos aps a morte de Constana; As intrigas espanholas relativamente Corte Portuguesa; Os receios dos conselheiros de Afonso IV; Os acontecimentos que conduziram morte de Ins de Castro; A clera de D. Pedro e o castigo dos conselheiros de seu pai; A trasladao dos restos mortais de Ins, de Coimbra para Alcobaa.

Quem foi Ins de Castro?

Ins de Castro era filha de D. Pedro Fernandes de Castro, neto ilegtimo de D. Sancho IV. Era tambm neto do Rei D. Sancho, mas no pelo ramo bastardo, o Infante D. Pedro (1320-1367).

Ins era dama de honor de D. Constana, a esposa do prncipe D. Pedro. Percebendo a paixo de D. Pedro pela aia, a irm do Prncipe, D. Maria, convidou Ins para madrinha do seu primeiro filho, D. Fernando. Contudo, a paixo continuou, para escndalo de muitos. D. Afonso IV (1291-1357) interveio, expulsando Ins de Castro de Portugal. No castelo de Albuquerque (fronteira de Espanha), Ins continuou a ter notcias do amante.

Quem foi Ins de Castro? (Continuao) Em 1349, morre D. Constana, e D. Pedro, contrariando a vontade de Afonso IV, faz com que Ins de Castro regresse a Portugal, passando a viver com ela.

D. Afonso IV, receando as intenes dos parentes de Ins, viu na ligao do seu filho, e nas sucesses que dela resultariam, um grave perigo para a independncia nacional.

Os ltimos anos do reinado de D. Afonso IV foram marcados pela guerra civil que o ops ao filho. O motivo foi o assassnio de Ins de Castro (Coimbra, 7 de Janeiro de 1355). D. Afonso ordenara o assassnio por razes de Estado afastar do herdeiro portugus as influncias dos Castros, que tentavam envolver o Infante D. Pedro numa revolta contra Castela. Se tal acontecesse, Portugal quebrava tratados existentes, o que significaria a guerra.

Quem foi D. Pedro I, o Cru?Nascido em Coimbra no ano de 1320, D. Pedro tornou-se Rei de Portugal aos 37 anos (1357). Ferno Lopes (1380-1460), o grande cronista portugus, atribuiu-lhe muitas qualidades, destacando-se a da justia. Foi amado pelo povo e temido pelos poderosos. Foi amado porque, na sua crueldade e no seu sadismo, era cego na aplicao da lei afirmou-se como um grande smbolo de autoridade e fora, acima de todas as classes.

Tais anos nunca houve em Portugal, como estes que reinara el-rei D. Pedro. (Crnica de D. Pedro, Captulo 44). Neste elogio, Ferno Lopes referia-se ao facto de o reinado de D. Pedro ter sido, no sculo XIV, o nico em que a guerra esteve ausente; foi tambm um perodo de crescimento econmico.No sculo XX, o historiador Jos Mattoso escreveu sobre D. Pedro I: Ser recordado ainda como o av da dinastia de Avis e o louco amante de Ins. (MATTOSO e SOUSA, 1993).

A LITERATURA

Pedro e Ins: um amor literrio O amor de Pedro e Ins serviu de mote literrio desde o sculo XV, poetas e escritores encontraram neste amor trgico uma fonte de inspirao. Morte de Ins Columbano Bordalo Pinheiro (1901-1904)

Pedro e Ins: um amor literrio (continuao)A morte de Ins de Castro tratada literariamente, pela primeira vez, nas trovas de Garcia de Resende (1470-1536), no Cancioneiro Geral (colectnea de poesia palaciana portuguesa publicada em 1516). Resende imagina Ins no Inferno, contando a tragdia do seu amor e alertando outras mulheres para os perigos do amor. O texto est repleto de emotividade e apresenta o pormenor do assassnio.

Meus filhos pus de redor de mim com gram homildade; mui cortada de temor lhe disse: -"Havei, senhor, desta triste piadade!" Excerto das Trovas

Pedro e Ins: um amor literrio (continuao)Pensa-se que foi nas trovas de Resende que Lus de Cames se inspirou para escrever o episdio do canto III dOs Lusadas, inserindo-o na narrao da Histria de Portugal feita por Vasco da Gama ao Rei de Melinde.

NOs Lusadas, Cames associou o trgico amor a um espao (o rio Mondego, e lugares prximos). Exaltou tambm a beleza de Ins e a grandeza da sua dor (Ins msera e mesquinha infeliz e desgraada) no momento em que a morte lhe foi imposta como punio por um amor contrrio aos interesses de Estado.

Pedro e Ins: um amor literrio (continuao)As filhas do Mondego a morte escura Longo tempo chorando memoraram, E, por memria eterna, em fonte pura As lgrimas choradas transformaram. Os Lusadas, canto III; estrofe 135, versos 1 a 4. Nascia assim o mito de Ins de Castro, o mito da mulher-mrtir A poesia modifica a Histria. Sem introduzir no caso mais inovaes que a indicao da toponmia (elemento fundamental na constituio da lenda), Cames retomou as situaes das crnicas e das trovas de Resende, e deu-as em forma perfeita, penetrando-as ao mesmo tempo de profunda verdade humana e de poesia lendria; em Cames que o tema da Castro recebe ao aurola que h-de faz-lo atravessar o tempo []. Dicionrio da Literatura (itlicos nossos)

Pedro e Ins: um amor literrio (continuao)Castro (forma abreviada do ttulo Tragdia mui sentida e elegante de Dona Ins de Castro) o nome de uma tragdia que Antnio Ferreira escreve na segunda metade do sculo XVI (editada em 1587). Com um assunto nacional, esta pea tem um pendor profundamente clssico (o seu autor era um profundo humanista). Ferreira colocou novamente em oposio a piedade (ou o amor) e as razes de Estado.

Acto V, Castro, fala de D. Pedro: Tu sers c rainha, como foras. Teu inocente corpo ser posto Em estado real. Aparece pela primeira vez num texto literrio a coroao pstuma.

Pedro e Ins: um amor literrio (continuao) Literatura e HistriaDurante o sculo XVII, a historiografia portuguesa viria a tratar como verdades histricas acontecimentos que, de facto, ganharam existncia apenas no contexto de obras literrias. Ao longo dos sculos XVII e XVIII, o tratamento literrio do tema/mito continuou, mesmo em lngua castelhana. Ins de Castro aparecia como vtima inocente de um amor. Sculo XVIII: o amor de Ins e Pedro triunfa no teatro, no s entre os elementos da Arcdia (Academia Literria fundada em 1757) como tambm no teatro de cordel (produo literria de caractersticas populares; deve o seu nome ao facto de ser publicada em papel de fraca qualidade, sob a forma de folhetos que estavam expostos para venda pendurados em cordis).

Pedro e Ins: um amor literrio (continuao)A poesia do sculo XVIII tambm continuou o culto do tema, a par do culto de Cames. Temos, por exemplo, o poema de Bocage (1765-1805) com o ttulo Cantata morte de Ins de Castro.Em suma, no sculo XVIII, Ins de Castro era representada como: uma vtima do amor; esposa legtima (acreditava-se num casamento secreto com D. Pedro); uma me digna e infeliz; rodeada por crianas indefesas no momento da execuo.

Sc. XIX: o tema foi aprofundado pelas tendncias romnticas (na poesia e no teatro), mas os historiadores portugueses procuraram abordar o amor de Pedro e Ins numa perspectiva mais cientfica.

Pedro e Ins: um amor literrio (concluso)No sculo XX, os aspectos realistas ou patticos que foram explorados no sculo anterior so abandonados. O tema persiste numa literatura que pretende manter viva a lenda e o mito. Podem indicar-se, no sculo XX, exemplos como os dos poetas Ruy Belo, Miguel Torga e Natlia Correia (). Incio do sculo XXI O tema/mito mantm-se vivo. A prov-lo esto ttulos como os seguintes: A Rainha Morta e o Rei Saudade: o amor de Pedro e Ins de Castro, de Antnio Franco Cndido (2003); La Reine Morte Ins de Castro. de Sophie Lucet (2005).

Mas o tema no vive apenas na arte literria

Pedro e Ins: um amor que ainda viveTal est, morta, a plida donzela,Secas do rosto as rosas e perdida A branca e viva cor, co a doce vida. Lus de Cames, Os LusadasImagens do Bailado Pedro e Ins Companhia Nacional de Bailado. (encenao de Olga Roriz)

Bibliografia ConsultadaBERNARDES, Jos Augusto Cardoso et al. (dir.). Biblos Enciclopdia Verbo das Literaturas de Lngua Portuguesa, Volume 2. Direco de Lisboa / So Paulo: Editorial Verbo, 1997.

COELHO, Jacinto do Prado (dir.). Dicionrio da Literatura, 2. Volume. Direco de. Porto: Figueirinhas, 1981.

MATTOSO, Jos. e SOUSA, Armindo de. Histria de Portugal Segundo Volume: A Monarquia Feudal (1096-1480), Direco de Jos Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1993.

Grande Enciclopdia Portuguesa e Brasileira, Volume VI. Lisboa / Rio de Janeiro: Editorial Enciclopdia, 1945.

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