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CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE QUÍMICA MESTRADO EM GEOCIÊNCIAS – GEOQUÍMICA AMBIENTAL ANA PAULA DA SILVA AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS RESPONSÁVEIS PELA EMISSÃO DO N 2 O, NUM ORGANOSSOLO EM MANGUARIBA – RJ NITERÓI 2011

ANA PAULA DA SILVA AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS ......S586 Silva, Ana Paula da. Avaliação dos processos responsáveis pela emissão do N2O, num organossolo em Manguariba - RJ / Ana

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  • CENTRO DE ESTUDOS GERAIS

    INSTITUTO DE QUÍMICA

    MESTRADO EM GEOCIÊNCIAS – GEOQUÍMICA AMBIENTAL

    ANA PAULA DA SILVA

    AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS RESPONSÁVEIS PELA EMISSÃO DO N2O,

    NUM ORGANOSSOLO EM MANGUARIBA – RJ

    NITERÓI

    2011

  • ANA PAULA DA SILVA

    AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS RESPONSÁVEIS PELA EMISSÃO DO N2O,

    NUM ORGANOSSOLO EM MANGUARIBA – RJ

    Dissertação de Mestrado apresentada ao

    Curso de Pós-Graduação em Geociências

    da Universidade Federal Fluminense, como

    requisito parcial para a obtenção do Grau

    de Mestre . Área de concentração:

    Geoquímica Ambiental.

    NITERÓI

    2011

  • S586 Silva, Ana Paula da.

    Avaliação dos processos responsáveis pela emissão do N2O, num organossolo em Manguariba - RJ / Ana Paula da Silva. – Niterói : UFF. Programa de Geoquímica, 2011.

    89 f. : il. ; 30 cm.

    Dissertação (Mestrado em Geociências - Geoquímica Ambiental). Universidade Federal Fluminense, 2011. Orientador: Prof. Dr. John Edmund Lewis Maddock.

    1. Óxido nitroso (N2O). 2. Efeito estufa. 3. Solo alagado.

    4. Água fluvial. 5. Manguariba (RJ). 6. Produção intelectual.

    CDD 574.5222

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus pais pelo amor, força e dedicação.

    Ao meu orientador Prof. Dr. John Edmund Lewis Maddock pela orientação, pelas

    horas e horas de dedicação no laboratório sempre ao meu lado dando apoio e

    também pela amizade.

    Ao meu namorado Jeffrey Belsky pelo amor e compreensão.

    Aos amigos Joana, Monique, Cissa e todos os alunos e funcionários do laboratório

    do Professor Emmanuel.

    Aline Soares a Luiz Clemense pelos empréstimos e pelos finais de semana de

    trabalho duro no laboratório.

    Ao Prof. Emmanuel, por ceder reagentes e manter as dependências do laboratório

    sempre à disposição.

    A grande amiga Olga Gomes pelo apoio e dedicação e por ser minha fiel escudeira

    nas horas em que mais preciso.

    Um agradecimento especial a todos da minha turma, pelos churrascos no

    quadradinho, pelos estudos na biblioteca e pela união. Sentirei saudades! Nafisa,

    Rafa, Camilinha, Maria, Logato, Marcelão obrigada pelos almoços no bandex foram

    sempre divertidíssimos!

    Ao grande Nivaldo, que sempre “salva” na hora do desespero, que esperava pelos

    atrasos no dia da matrícula e outras coisas mais.

    Ao Amigo e Pesquisador David Villas Bôas da Embrapa Solos por estar sempre

    pronto a colaborar.

    A Capes pelo suporte financeiro.

  • RESUMO

    O aquecimento global provocado por gases como CO2, N2O e o CH4

    resultantes de atividades agrícolas e por solos alagados tem motivado inúmeros

    estudos em diversos países, procurando quantificar a contribuição de diferentes

    sistemas na emissão desses gases. Os objetivos desse estudo foram elucidar o

    mecanismo de produção do gás do efeito estufa, óxido nitroso (N2O) em uma área

    de floresta secundária baixa localizada em Manguariba - Rio de Janeiro e determinar

    se estas emissões ocorrem acompanhadas por processos de nitrificação ou

    desnitrificação. Para que isso fosse possível, foram realizadas quatro campanhas de

    amostragens seguidas de experimentos de incubação do solo em laboratório e

    análises químicas deste solo antes e após as incubações. Medidas de variação de

    pressão em câmaras sob condições controladas de temperatura foram realizadas

    empregando-se um manômetro tubo em “U” em quatro experimentos e um

    barômetro/sensor/datalogger em outros dois experimentos. As concentrações de

    N2O, bem como as de CH4 no solo, foram determinadas antes e após as incubações

    por cromatografia gasosa. Na primeira campanha de amostragem foram coletadas

    também amostras de água em um curso de água que pode ser uma fonte de

    nitrogênio para este solo, pois em época de chuvas a água poluída com esgoto

    doméstico, deste riacho chega até os pontos de amostragem. Foram determinadas

    as concentrações de amônio e nitrato em amostras do solo, antes e após

    incubações, e na água do riacho. Através dos dados gerados pelas análises

    químicas determinamos as taxas líquidas de nitrificação, mineralização/assimilação

    ocorridas durante o período de incubação do solo e correlacionamos essas taxas

    com a produção de óxido nitroso. A nitrificação a uma taxa constante se mostrou

    dominante no experimento onde houve a maior produção de N2O. Nos demais

    experimentos a nitrificação permaneceu dominante, porém seguida por

    desnitrificação em outros dois experimentos, nos quais a produção do gás foi muito

    pequena e até mesmo nula, indicando a redução do óxido nitroso a N2. A

    desnitrificação ocorreu de forma dominante em apenas um dos experimentos e

    possivelmente foi seguida por nitrificação, pois houve uma pequena produção de

    N2O durante esta incubação.

  • O experimento com o barômetro/sensor/datalogger foi realizado a fim de confirmar

    qual seria o processo dominante ao longo destas incubações. Com este sensor

    observamos nitrificação dominante com produção de óxido nitroso. Comparando-se

    as taxas de variação de pressão realizadas através do medidor tubo “U” com as

    taxas de variação do barômetro/sensor/datalogger chega-se à conclusão de que o

    uso do último levou a maior precisão e confiabilidade e, portanto que futuros

    experimentos devem ser realizados com sensor datalogger.

    Não foram observadas correlações entre fluxos de emissão de N2O pelo solo medido

    em situ e os fluxos gerados durante as incubações. Observamos também que a

    água do afluente do Rio Guandu analisada apresentou altas concentrações de

    nitrato e amônia e pode ser considerada como fonte de N inorgânico para este solo.

    Palavras-chave: Óxido Nitroso. Gases do efeito estufa. Solo.

  • ABSTRACT

    The global warming caused by greenhouse gases like CO2, CH4 and N2O

    resulting from agricultural activities and flooded soils has motivated numerous

    studies in many countries, seeking to quantify the contribution of different systems on

    greenhouse gas emissions. The objectives of this study were to elucidate the

    mechanism of production of greenhouse gas, nitrous oxide (N2O) in a secondary

    forest area located in downtown Manguariba (Rio de Janeiro) and determines if these

    emissions occur accompanied by processes of nitrification and denitrification. To

    make this possible, there were four sampling campaigns followed by incubation

    experiments of soil in the laboratory and chemical analyses of soil before and after

    incubations. Measures of barometric pressure variation in PVC chambers under

    controlled temperature were carried out using a variation of a pressure gauge

    manometer tube into "U" for four incubation experiments and a sensor which

    measures the pressure variation barometer / sensor / datalogger (Baro Diver) during

    the third and fourth experiments. N2O concentrations were determined by gas

    chromatography. In the first year of sampling, samples of water were taken from a

    tributary of the Rio Guandu, which can be a source of sewage pollution for this soil,

    because in the rainy season the water in this tributary reaches the sampling points.

    Chemical analysis was performed for determination of NH4+ and for analysis of nitrate

    ions. Data generated by the chemical analysis determined the rate of net nitrification,

    mineralization / assimilation which occurred during the incubation periods and

    correlated these rates with the production of nitrous oxide. Nitrification at a constant

    rate proved to be dominant in the experiment where there was a greater production

    of N2O. In other experiments, however, nitrification remained dominant followed by

    denitrification in two other experiments, in which gas production was very small and

    even zero, indicating the reduction of nitrous oxide to N2. Denitrification was very

    dominant in only one experiment and was followed by nitrification possibly because

    there was a small N2O production during this incubation. The experiment with the

    barometer / sensor / datalogger (Baro Diver) was carried out to confirm what would

    be the dominant process along these incubations. With this sensor we observed

    nitrification-dominant production of nitrous oxide. There were no correlations between

    the flow of N2O emitting in situ and flow generated during the incubation periods. We

    also observed that the effluent water from the Rio Guandu sample showed high

  • concentrations of nitrate and ammonia and can be considered as a source of

    inorganic N to this soil.

    Keywords: Nitrous oxide. Greenhouse gases. Soil.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 : Ciclo do Nitrogênio no solo 21

    Figura 2: Localização da área de estudo 28

    Figura 3: Águas do afluente do Rio Guandu 29

    Figura 4: Câmara estática circular 31

    Figura 5: Seringas de polipropileno para coleta e transporte

    das amostras de gás 32

    Figura 6: Amostra de gás sendo retirada da câmara estática 32

    Figura 7: Amostragem do solo indeformado 33

    Figura 8: Amostra de solo retirada do anel de aço 35

    Figura 9: Amostra de solo sendo pesada 35

    Figura 10: Filtração das amostras de solo 36

    Figura 11: Câmaras de incubação 37

    Figura 12: Esquema de incubação com manômetro 37

    Figura 13: Barômetro /sensor /datalogger 38

    Figura 14: Barômetro/sensor/datalogger sendo colocado na

    câmara 39

    Figura 15: Foto do experimento de incubação 39

    Figura 16: Esquema de destilação simples 46

    Figura 17: Amostragem de água do Rio Guandu em

    Manguariba, RJ. 48

    Figura 18: Geração e consumo de gás, experimento 1. 54

    Figura 19: Geração e consumo de gás, experimento 2. 58

    Figura 20: Geração e consumo de gás, experimento 3. 61

    Figura 21: Experimento 3 realizado com

    barômetro/sensor/datalogger 62

    Figura 22: Consumo e produção de gás, experimento 4. 65

    Figura 23: Experimento 4 realizado com sensor barômetro

  • Figura 24: Média dos fluxos de emissão de N2O pelo solo

    67

    Figura 25: Taxa de geração de N2O durante as incubações 68

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 : Gases do Efeito estufa 17

    Tabela 2: Descrição da área de estudo 30

    Tabela 3: Descrição das propriedades físicas do Organossolo 30

    Tabela 4: Número total de amostras coletadas e destinadas

    as determinações químicas e ao experimento de incubação 34

    Tabela 5: Medidas da mudança de pressão dentro da câmara 45

    Tabela 6: Densidade do solo e umidade gravimétrica 49

    Tabela 7: Porosidade, umidade volumétrica e facão de

    saturação com água 50

    Tabela 8: Peso do solo e volume de gás na câmara de

    incubação 51

    Tabela 9: Concentração de NO3- e NH4+, experimento 1. 52

    Tabela 10: Média das concentrações de NO3- e NH4+,

    experimento 1. 53

    Tabela 11: Taxa líquida de nitrificação, mineralização,

    produção de N2O e umidade, experimento1. 54

    Tabela 12: Concentração de NO3- e NH4+, experimento 2. 56

    Tabela 13: Média das concentrações de NO3- e NH4+,

    experimento 2 56

    Tabela 14: Taxa líquida de nitrificação, mineralização,

    produção de N2O e umidade, experimento 2. 57

    Tabela 15: Concentração de NO3- e NH4+, experimento 3. 59

    Tabela 16: Média das concentrações de NO3- e NH4+,

    experimento 3. 60

    Tabela 17: Taxa líquida de nitrificação, mineralização,

    produção de N2O e umidade, experimento 3. 60

    Tabela 18: Concentração de NO3- e NH4+, experimento 4. 63

    Tabela 19: Média das concentrações de NO3- e NH4+,

    experimento 4. 64

    Tabela 20: Média das concentrações de NO3- e NH4+,

    experimento 4. 64

  • Tabela 21: Resultados das amostras de água do curso

    d’água 68

    Tabela 22: Resumo dos dados das incubações 70

  • LISTA DE ABREVIAÇÕES

    N2O Óxido Nitroso

    CH4 Metano

    NO3- Nitrato

    CO2 Dióxido de carbono

    NO2 Dióxido de nitrogênio

    NH3 Amônia

    NH4+ Amônio

    [NO3-] Concentração de nitrato

    [NH4+] Concentração de amônia

    KCl Cloreto de Potássio

    KMnO4 Permanganato de Potássio

    HCl Ácido clorídrico

    DP Desvio Padrão

    ECD Detector de captura de elétron

    Exp. Experimento

    FID Detector de ionização de chama

    [NO3-]i Concentração de nitrato inicial

    [NH4+]i Concentração de amônia inicial

    [NO3-]f Concentração de nitrato final

    [NH4+]f Concentração de amônia final

    FBN Fixação Biológica de Nitrogênio

    n.o número de oxidação

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO 16

    1.1 O EFEITO ESTUFA 17

    1.2 OS GASES E A AGRICULTURA 18

    1.3 A CONTRIBUIÇÃO DO BRASIL PARA O

    AQUECIMENTO GLOBAL 19

    ATRAVÉS DAS EMISSÕES DE CO2

    1.4 A CONTRIBUÇÃO DO CH4 PARA O AQUECIMENTO

    GLOBAL 19

    1.5 A CONTRIBUIÇÃO DO N2O PARA O AQUECIMENTO

    GLOBAL

    1.5.1 Ciclo do Nitrogênio 19

    2 OBJETIVO GERAL 25

    3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 26

    4 ÁREA DE ESTUDO 27

    4.1 Descrição da área de estudo 30

    5 MATERIAIS E MÉTODOS 31

    5.1 Amostragens e atividades no laboratório 31

    5.1.1 Os fluxos naturais de emissão dos GEE pelo solo 31

    5.1.2 As amostras de solo 33

    5.1.2.1 Experimento de incubação 36

    5.1.2.2 Medidas usadas para determinar os parâmetros do 40

    processos de nitrificação e desnitrificação do experimento de

    incubação

    5.1.2.3 O balanço de gases 42

    5.1.2.4 Análise de nutrientes inorgânicos do solo 45

    5.2 COLETA DA ÁGUA DO AFLUENTE DO RIO GUANDU 48

    6 RESULTADOS E DISCUSSÃO 49

    6.1 Parâmetros de solo 49

    6.2 Resultados das incubações 51

    6.2.1 Experimento 1 51

    6.2.2 Experimento 2 55

  • 6.2.3 Experimento 3 59

    6.2.4 Experimento 3 Incubação com barômetro/sensor

    datalogger 62

    6.2.5 Experimento 4 63

    6.3 EMISSÃO N2O NCUBAÇÃO X EMISSÃO N2O NO

    CAMPO 67

    6.4 RESULTADO DA ANÁLISE DA ÁGUA DO CURSO

    D'ÁGUA 68

    7 RESUMO DOS RESULTADOS 71

    8 CONCLUSÃO 74

    9 ANEXO 75

  • 1 INTRODUÇÃO

    O aumento que vem acontecendo na concentração de N2O na atmosfera é

    difícil explicar em termos de fatores antropogênicos, pois as estatísticas

    apresentadas nos principais balanços globais do gás não apontam estas avaliações.

    Este aumento pode ser atribuído a emissões por solos cultivados, devido ao

    crescente uso de fertilizantes nitrogenados (IPCC, 2001; MOSIER et al., 1998;

    KROEZE et al., 1999). Contudo, o solo de florestas úmidas tropicais (naturais)

    continua sendo considerado como uma das maiores fontes mundiais deste gás na

    atmosfera (IPCC, 2001), sem adequada diferenciação destas florestas. O IPCC

    somente considera o balanço mundial de N2O fechado, pelo apelo às incertezas nas

    estimativas dos fluxos de emissões dos vários ambientes. Isto faz com que estudos

    sobre as fontes e os mecanismos de produção deste gás sejam necessários.

    O estudo das vias de produção de óxido nitroso pode ser realizado através do

    uso da técnica de marcação isotópica com o traçador 15N que é um método

    sofisticado de quantificação de nitrogênio, pois um solo fertilizado com adubo

    marcado em 15N apresenta condições de rastreamento do nitrogênio marcado

    inferindo-se no total utilizado pela planta, e o presente no solo após o ciclo do N.

    (BOLOGNA et al., 2006).

    Porém esta é uma técnica dispendiosa que exige espectrometria de massa.

    Sendo assim, é necessário fazer estudos de uma técnica para elucidar as vias de

    produção do gás de efeito estufa óxido nitroso, que seja eficiente e menos

    dispendiosa.

  • 17

    1.1 O EFEITO ESTUFA

    Os principais gases responsáveis pelo efeito estufa natural são: CO2, CH4,

    N2O e vapor de água. Esses gases também são chamados de GEES (gases do

    efeito estufa) retêm a radiação infravermelha que é emitida da superfície para a

    atmosfera da Terra, mantendo assim o calor aprisionado provocando o aquecimento

    do ar. Fontes antropogênicas aumentam a concentração desses gases que já eram

    emitidos por fontes naturais, e ainda acrescentam novos gases no cenário dos gases

    estufa, tais como os clorofluorcarbonos (CFCs).

    De acordo com Cotton & Pielke (1995) um aumento da temperatura global

    elevaria o nível das águas do mar, modificaria a precipitação e outras condições

    climáticas locais.

    Antes da era industrial, a concentração de gases de efeito estufa atmosférica

    permaneceu relativamente constante. Desde então, a concentração destes gases

    aumentaram muito direta ou indiretamente devido a fontes de atividades humanas

    (IPCC, 2001).

    A tabela 1 apresenta exemplos de alguns gases de efeito estufa e resume

    suas concentrações da era pré industrial a 1998, sua alteração durante a década de

    1990 e seus respectivos tempo de vida na atmosfera.

    Tabela 1 Gases de efeito estufa

    Concentração Pré Industrial

    Concentração em 1998

    Mudanças na taxa de

    concentraçãob

    Tempo de vida na

    atmosfera CO2 aproximadamente

    280 ppm 365 ppm 1,5 ppm/ ano 5 a 200

    anos c

    CH4

    aproximadamente 700 ppb

    1745 ppb 7,0 ppb/anoa 12 anos d

    N2O aproximadamente 270 ppb

    314 ppb 0,8 ppb/ano 114anos d

    Fonte IPCC 2001 a Taxa tem flutuado entre 0,9 ppm/ano e 2,8 ppm/ano para CO2 e entre 0 e 13 ppb / ano para CH4 no período de 1990 a 1999.

    bTaxa calculada para o período de 1990 - 1999.c não só o tempo de vida útil.d Este tempo de vida tem sido definido como um tempo de ajuste que leva em consideração o efeito indireto do gás no seu tempo de residência própria. (Obs.: ppm=parte por milhão, ppb=parte por bilhão).

  • 18

    A concentração de CO2 na atmosfera aumentou de 280 ppm em 1750 para

    367 ppm em 1999 (31%) (IPCC, 2001). Como pode ser visto, o principal GEE é o

    CO2. No Brasil, as emissões cresceram nos últimos 40 anos, porém é preciso

    salientar que os países desenvolvidos são os que mais contribuem para o aumento

    na concentração de gases estufa na atmosfera (ROCHA, 2003).

    A concentração atmosférica de CH4 aumentou em cerca de 150% (1.060 ppb)

    desde 1750 (IPCC, 2001). A massa troposférica de CH4 é estimada em 4700

    teragramas (SASS, 1999) e a emissão anual oriunda de solos naturalmente

    inundados e de lavouras de arroz é estimada em 145 Tg ano-1, a qual tem

    aumentado a uma taxa de 1% ao ano (CAO et al., 1998).

    A concentração atmosférica de óxido nitroso aumentou constantemente

    durante a era industrial. De acordo com Krupa (1997) sua concentração atmosférica

    é cerca de 10% maior que na era pré industrial e segundo IPCC (2001) é de 16%

    (46ppb) maior do que em 1750 em virtude das causas antropogênicas.

    Embora a concentração de N2O seja pequena em relação aos outros gases,

    ele contribui com cerca de 6% do efeito estufa. O aumento da concentração de óxido

    nitroso na atmosfera se deve ao uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura,

    conversão de áreas de floresta para agricultura, etc. (ROBERTSON; GRACE, 2004).

    1.2 OS GASES E A AGRICULTURA A previsão do crescimento populacional de 5,7 bilhões em 1995 para 8,3

    bilhões em 2025 é no mínimo, assustador e alarmante. É urgente pensar em

    aumentar a produção agrícola sem danificar o meio ambiente, sem o uso de energia

    não renovável para produção de nitrogênio combinado sintético e contaminação

    ambiental com nitratos (NO3-), nitritos (NO2

    -) e amônia (NH3) que crescem em

    proporções preocupantes (TOKESHI, 2008).

  • 19

    Comunicações nacionais recentes sobre GEE principalmente CO2, N2O e CH4

    indicam que em geral os GEE’s emitidos nos trópicos são principalmente

    relacionados aos desmatamentos e intensificação da agricultura, enquanto que em

    regiões temperadas os GEE’s são provenientes da queima de combustíveis fósseis

    nos transportes e setores industriais (UNFCCC, 2006). A queima de combustíveis

    fósseis e a produção de cimento são globalmente responsáveis por 66% do total de

    GEE emitidos para a atmosfera (basicamente CO2). A agricultura representa 20% e

    as mudanças no uso da terra 14% completando o total de emissões antropogênicas

    (IPCC, 2001).

    1.3 A CONTRIBUIÇÃO DO BRASIL PARA O AQUECIMENTO GLOBAL ATRAVÉS DA EMISSÃO DE CO2

    No Brasil, as práticas agrícolas e as mudanças do uso da terra devido ao

    desmatamento, são as principais fontes de emissão dos GEE. Aproximadamente

    75% do CO2 que o Brasil emite para a atmosfera são derivados de práticas agrícolas

    e do desmatamento. Apenas 25% são derivados da queima de combustíveis fósseis.

    O Brasil está situado em 17º lugar na classificação mundial dos países emissores de

    GEE, se não levarmos em consideração o desmatamento. No entanto, nos

    colocamos em 5º lugar na classificação ao considerarmos essa atividade humana

    (CERRI, 2007).

    1.4 A CONTRIBUIÇÃO DO CH4 PARA O AQUECIMENTO GLOBAL

    Presume-se que o aumento do nível de metano atmosférico seja

    conseqüência de atividades humanas, devido ao aumento na produção de alimento,

    utilização de combustíveis fósseis, desmatamento de áreas de floresta e também

    devido a fontes naturais como no caso do metano produzido biologicamente na

    decomposição anaeróbia de material vegetal.

  • 20

    As zonas úmidas são a maior fonte natural deste gás, também conhecido

    como gás de pântano. Animais ruminantes incluindo bovino, ovinos e certos animais

    selvagens produzem grandes quantidades de metano como subproduto da digestão

    da celulose. A decomposição anaeróbia (ou seja, aquela que ocorre em condições

    deficientes de oxigênio) da matéria orgânica do lixo em aterros é outra importante

    fonte de metano. (BAIRD, 2002).

    1.5 A CONTRIBUIÇÃO DO N2O PARA O AQUECIMENTO GLOBAL

    Estima-se que as emissões antrópicas globais de N2O sejam de 3,7 a 7,7 Tg

    N ano-1, com uma média provável estimada em 5,7 Tg N ano-1 (IPCC, 1995).

    Utilizando dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e

    Alimentação) e a metodologia do IPCC, as emissões diretas de N2O a partir de solos

    agrícolas são estimadas em 2,5 Tg N, as emissões diretas de animais de pastoreio

    em 1,6 Tg de N, e as emissões indiretas resultantes de nitrogênio de origem agrícola

    na atmosfera e sistemas aquáticos em 1,9 Tg N-N2O. (IPCC, 1996).

    Independentemente da fonte, acredita-se que a maioria do N2O é gerado por

    processos bioquímicos.

    1.5.1 Ciclo do nitrogênio O ciclo do nitrogênio é um complexo ciclo biogeoquímico em que o nitrogênio

    é convertido a partir de sua forma na atmosfera inerte molecular (N2) em uma forma

    que é útil em processos biológicos.

    As formas do nitrogênio nos ecossistemas podem apresentar números de

    oxidação entre +5 e -3 (NH4+ => n.o.(N) = -3, N2O => n.o. (N) = +1, NO => n.o. (N) =

    +2, NO2 => n.o. (N) = +4, NO3- => n.o. (N) = +5). O N2 entra no ecossitema por

    deposições seca e úmida, a queda de “litter” e sua decomposição e taxas de

    mineralização são reguladores importantes no ciclo do nitrogênio em florestas

    (MONK; DAY, 1985). É perdido como NOx, N2 e N2O ou seja produtos gasosos, ou

    formas dissolvidas de N como nitrato, amônio e compostos orgânicos, os quais são

    lixiviados do perfil do solo (QUALLS; HAINESS, 1991).

  • 21

    A dinâmica do nitrogênio (N) no solo envolve processos de natureza física,

    química e biológica, que determinarão se o N permanecerá adsorvido na camada

    agricultável do solo, se será absorvido pelas plantas, lixiviado ou se será volatilizado

    (NH4, N2O, N2) (FELIZARDO et al., 2008).

    A figura 1 mostra as transformações sofridas pelo nitrogênio no solo.

    Figura 1 Ciclo do Nitrogênio

    O N disponível para as plantas depende da quantidade de MOS no solo

    (AMADO et al., 2001), da característica dos resíduos vegetais (TRINSOUTROT

    et al., 2000), do manejo adotado (KRISTENSEN et al., 2003), do tipo de solo

    (THOMSEN et al., 2000), da umidade, da aeração e da temperatura do solo

    (SIERRA; MARBÁN, 2000) sendo assim a concentração de N assim como a

    composição bioquímica dos resíduos culturais são fatores determinantes para a

    mineralização ou imobilização do elemento no solo (GLASENER et al., 2002;

    MARQUEZ et al., 2000; MARY et al., 1996).

  • 22

    Pode se observar na figura 1 que NH3/NH4+ é produzida pela decomposição

    da matéria orgânica do solo (MOS) e é consumida pela assimilação através dos

    microorganismos existentes no solo. Através da nitrificação (nitratação) o nutriente

    inorgânico NH3/NH4+ pode ser oxidado a NO2

    - pelas nitrossomonas e a NO3- pelas

    nitrobacter. O processo de redução de nitrato a nitrito, passando por óxido nitroso

    até sua forma mais reduzida a N2 é chamado de desnitrificação.

    A formação do óxido nitroso em solos de florestas tropicais tem um papel

    importante dentro do ciclo biogeoquímico do nitrogênio e representa a maior fonte de

    emissão natural do gás. Sua produção é controlada biologicamente e depende

    diretamente da presença de NO3- e NH4

    + no solo. Ver ciclo (figura 1).

    Os principais processos biológicos de transformação do nitrogênio são:

    • Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN): Constitui o principal processo que

    abastece a biosfera de maneira contínua com novas quantidades de

    compostos nitrogenados, é um processo realizado por bactérias e

    cianobactérias que vivem simbioticamente com ou dentro de espécies de

    plantas, no qual há redução do nitrogênio atmosférico a NH3. As leguminosas

    possuem o mecanismo simbiótico mais sofisticado e eficiente entre as

    associações de plantas superiores com bactérias fixadoras de N2 e as

    leguminosas de grão e forrageiras têm papel importante na agricultura tropical

    (DÖBEREINER, 1990).

    • A manufatura industrial de NH3 é uma forma de fixação artificial de nitrogênio

    atmosférico, grande parte desta NH3 destina-se à produção de fertilizantes

    agrícolas, sendo diretamente responsável por pelo menos uma parte da

    emissão de N2O pela agricultura.

    • Assimilação ou Imobilização: A assimilação consiste na absorção do nitrogênio

    inorgânico, inicialmente na forma de íon amônio, ou nitrato em moléculas

    orgânicas, geralmente complexas (BRITO 2004; ROWELL 1994). Faz parte

    do metabolismo das plantas e de outros organismos do solo.

    • Mineralização: A mineralização consiste na degradação da matéria orgânica sob

    a ação de certas bactérias transformando o conteúdo de Norg em nitrogênio

    inorgânico (NH4+ e NO3

    -) (ROWELL, 1994).

  • 23

    • Nitrificação: Processo que requer condições aeróbias e está diretamente

    relacionada ao suprimento de NH4+,é mediada principalmente por bactérias

    autotróficas (GIACOMINI et AL., 2006).

    • Desnitrificação: Ocorre em condições anaeróbias, é realizada por bactérias

    heterotróficas anaeróbias facultativas, as quais dependem da disponibilidade de

    carbono orgânico e de nitrato (GIACOMINI et AL., 2006). Os microorganismos

    desnitrificadores utilizam o nitrogênio na forma de nitrato como aceptor final de

    elétrons sob condições anaeróbias (STOUTHAMER et al., 1980; TIEDJE, 1988).

    Ambos os processos podem ocorrer simultaneamente no solo, haja vista que

    no interior dos agregados podem desenvolver-se micro sítios de aerobiose e

    anaerobiose (GIACOMINI et al., 2006).

    As reações de nitrificação consistem na oxidação do íon amônio em nitrito e,

    subseqüentemente a nitrato e estão descritas abaixo:

    NH4

    + + 3/2 O2 NO2- + H2O + 2H

    + ∆H=-59 Kcal.mol-1 (Equação1)

    NO2- + 1/2 O2 NO3

    - ∆H= -18 Kcal.mol-1 (Equação2)

    As principais bactérias responsáveis pela reação (Equação1) são as

    Nitrossomonas e pela reação (Equação2) as Nitrobacter (BRITO, 2004). A

    nitrificação é um processo aeróbio e pode ter como subproduto a formação de N2O.

    A reação de desnitrificação consiste na redução do nitrato para N2.

    2NO3

    - + 12H+ + 10e- � N2 + 6H2O (Equação 3)

    Este processo também ocorre em condições de baixas concentrações

    de oxigênio, mas podem também ocorrer em ambientes aeróbios desde que esses

    ambientes contenham micro-sitios anóxicos. A disponibilidade de O2 no solo é um

    dos principais fatores que regulam a nitrificação, desnitrificação e liberação de N2O

    (KHALIL et al., 2004 ).

  • 24

    A sequência da desnitrificação é a seguinte:

    NO3- NO2

    - NO N2O(g) N2(g)

    Nos solos os principais gêneros de bactérias que fazem desnitrificação são as

    Pseudômonas e Alcaligenes. (BAIRD, 2002).

    É possível que a nitrificação e a desnitrificação ocorram simultaneamente,

    pois o solo não é homogêneo, podendo assim existir microagregados no solo

    anóxicos no meio de aglomerados saturados com água ao lado de poros maiores

    não saturados com água, permitindo o transporte de oxigênio da superfície e a

    ocorrência de nitrificação.

    Para uma melhor compreensão dos processos biogeoquímicos envolvidos no

    ciclo do N alguns fatores como concentração de substrato e oxigênio, porosidade,

    permeabilidade e outros devem ser estudados, pois o conhecimento das

    concentrações dos substratos nitrato e amônio e das propriedades físicas do solo

    nos permite cálcular as taxas líquidas de nitrificação e mineralização.

    Os solos são constituídos por uma mistura de partículas sólidas de natureza

    mineral e orgânica, ar e água, formando um sistema trifásico, sólido, gasoso e

    líquido. O espaço do solo não ocupado por sólidos e ocupado pela água e ar

    compõem o espaço poroso, definido como sendo a proporção entre o volume de

    poros e o volume total de um solo. No volume do solo é incluído o volume de sólidos

    e o de poros do solo, que é de importância direta para o crescimento de raízes e

    movimento de ar, água e solutos no solo.

    A porosidade depende do tipo do solo, os macroporos permitem a drenagem

    da água por percolação e o movimento livre do ar enquanto os microporos retêm

    água tendo seu movimento dificultado.

    A permeabilidade controla a percolação da água através do solo e junto com

    a umidade ou grau de saturação de água do solo controla também a difusão dos

    gases no solo e a disponibilidade de oxigênio. O grau de saturação está relacionado

    com a umidade, pois corresponde aos poros do solo que estão preenchidos com

    água.

    O grau de saturação do solo com água causa grande influência nas emissões de N2O (ALVES et al., 2006).

  • 2 OBJETIVO GERAL

    O objetivo geral deste trabalho é identificar os mecanismos de produção

    do óxido nitroso (N2O) em organossolos. Visto a dificuldade de separar os

    efeitos dos vários fatores que poderão afetar a produção do N2O em solos

    em situ, este estudo foi realizado por incubações desse solo sob condições

    controladas de temperatura, com medida da produção de N2O, produção e

    consumo do CH4, variações nas concentrações de espécies minerais de

    nitrogênio (NH4+ e NO3

    -) e balanço barométrico de produção/consumo de

    gases. Este conjunto de medidas providencia estimativas quantitativas de

    nitrificação ou desnitrificação bruta, simultaneamente com a medida de

    produção de óxido nitroso.

  • 3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    Para alcançar o objetivo geral foram traçados os seguintes objetivos específicos:

    • Determinar em solos que conhecidamente emitem altos fluxos de N2O se isto

    ocorre acompanhado por processo de nitrificação ou de desnitrificação.

    • Identificar quais são os mecanismos que controlam as emissões de óxido

    nitroso realizando experimentos de incubação acompanhados de medidas de

    variação barométrica, e assim através destas medidas distinguir qual o

    processo que contribui com o maior fluxo de N2O do solo para atmosfera.

    • Avaliar se os maiores fluxos de N2O emitidos do solo para atmosfera ocorrem

    durante os menores intervalos em que o solo se mantém incubado e verificar

    se durante longos experimentos de incubação o óxido nitroso se mantém ou é

    reduzido a N2 por desnitrificação.

  • 4 ÁREA DE ESTUDO

    A área de estudos está localizada na comunidade de Manguariba, em Santa

    Cruz (RJ) nas proximidades da Avenida Brasil e fábrica da AMBEV entre as

    coordenadas Sul 22°52’07,1” Oeste 43°37’28,4”, é um a área sujeita a alagamento

    por estar adjacente a um afluente do Rio Guandu e apresentar um nível freático

    raso.

    O solo é classificado, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

    (EMBRAPA), como um Organossolo de Baixada, compreendendo a baixada de

    Sepetiba, próxima a uma área de urbanização e de baixa utilização agrícola cuja

    vegetação é composta de floresta tropical perenifólia de várzea e relevo plano.

    A área sedimentar da Baixada de Sepetiba estende-se pelos municípios do RJ,

    Itaguaí e parte de Seropédica, em plena região Metropolitana, contém pequenas

    áreas descontínuas de Organossolos representativos do estado do Rio de Janeiro,

    desenvolvidos a partir de depósitos orgânicos acumulados em condições de má

    drenagem.

  • 28

    Figura 2 Localização da área de estudos, Manguariba - Rio de Janeiro.

    Nessa classe de solos são constatados os teores mais altos de carbono

    orgânicos. São solos intensamente escuros, com matéria orgânica bem

    decomposta, têm valores extremamente baixos de densidade do solo, 0,2

    mg/m3 a 0,3 mg/m3. Os solos com baixos valores de densidade (menor que 1

    Mg/m3) têm volumes de espaço poroso que constituem mais de 50% do seu

    volume total. Esses solos altamente porosos permitem rápida infiltração e

    percolação da água, mas também exibem adequada retenção de água, devido

    ao seu alto teor de matéria orgânica acumulada ao longo de anos (FAGERIA,

    2006).

    O uso agrícola inadequado, a má drenagem e a urbanização

    desordenada destruíram grandes áreas destes solos no estado, por falta de

    uma política ambiental de preservação (SANTOS et al., 2005).

  • 29

    As áreas de coletas de solo localizam-se nas proximidades de um

    afluente do Rio Guandu. Em eventuais períodos de chuva as águas deste

    afluente, poluído por esgotos domésticos da comunidade, atingem o ponto de

    coleta deixando toda área submersa.

    A figura 3 mostra o afluente do Rio Guandu que passa nas proximidades

    dos pontos de amostragem.

    Figura 3 Águas do afluente do Rio Guandu.

  • 30

    4.1 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

    Na tabela 2 segue a descrição do organossolo da área de estudo.

    Tabela 2 Descrição da área de estudo. Situação e Declive Trincheira sob mata secundária com 1 a 2%

    de declive. Cronologia e Litologia

    Sedimentos do Holoceno.

    Material Originário

    Sedimentos orgânicos e argilo-siltosos.

    Pedregosidade

    Não

    Rochosidade

    Não

    Relevo Local

    Plano

    Relevo Regional

    Plano e suave ondulado

    Erosão

    Nula

    Drenagem

    Muito mal drenado.

    Vegetação

    Floresta tropical perenifólia de várzea, de pequeno porte, segundo crescimento.

    Uso à época

    Floresta tropical perenifólia de várzea, de pequeno porte, segundo crescimento.

    Dados acima referentes ao Ponto de Amostragem UTM: 23 K 0641105 e 7470417 (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento – Embrapa).

    Tabela 3 Descrição das propriedades físicas do Organossolo.

    Fonte: Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento - Embrapa.

    Horizonte Composição granulométrica da

    terra fina g.kg-1solo Argila

    dispersa em água g.kg-1solo

    Grau de

    flocu-lação (%)

    Relação Silte/ Argila

    Símbolo Profundidade

    (cm)

    Areia grossa 2-0,20 (mm)

    Areia fina

    0,20-0,05 (mm)

    Silte 0,05-0,

    002 (mm)

    Argila < 0, 002 (mm)

    O 5-0 59 1 367 573 425 26 0,64

    H1 -20 95 1 323 581 366 37 0,56

  • 5 MATERIAIS E MÉTODOS

    5.1 AMOSTRAGENS E ATIVIDADES NO LABORATÓRIO Foram realizas quatro campanhas de amostragem no período de 17/11 a

    07/12 de 2010. Em quatro ocasiões / dias diferentes, foram amostrados ar, solo e

    água.

    5.1.1 Os fluxos (naturais) de emissão dos GEE pelo solo

    Os fluxos de gases foram medidos usando câmaras estáticas circulares, de

    30 cm de diâmetro e 15 cm de altura seguindo o procedimento de Maddock e Santos

    (1997), (Figura 4).

    Figura 4 Câmara estática circular

  • 32

    As amostras de ar foram coletadas e transportadas em seringas de

    polipropileno. Na figura 5 temos as seringas utilizadas no experimento e na figura 6

    tem-se a amostra sendo retirada da câmara estática circular.

    Figura 5 Seringas de polipropileno para coleta e transporte das amostras de gás.

    Figura 6 Amostra de gás sendo retirada da câmara estática.

    As concentrações de N2O foram determinadas por cromatografia gasosa em

    cromatógrafo Shimadzu GC-17, com coluna empacotada com PORAPAK Q, detector

    de captura de elétrons (ECD), e gás eluente argônio / 5% metano. As concentrações

    de CH4 foram determinadas em cromatógrafo Shimatdzu GC-6A, também com

  • 33

    coluna empacotada com PORAPAK-Q, porém com gás de arraste nitrogênio 4.2

    (especificação do gás) e detector FID.

    As análises foram realizadas no Laboratório de Geoquímica da UFF.

    5.1.2 As amostras de solo

    As amostras de solo foram coletadas aleatoriamente (todas na mesma área

    de estudo) em profundidades de 0 -10 cm, através de um amostrador de solo intacto

    (Bravifer). Em cada dia de amostragem coletou-se um número total de amostras,

    todas indeformadas (tabela 4).

    A figura 7 mostra a coleta do solo indeformado sendo retirada da camada de 0 -10

    cm de profundidade.

    Figura 7 Amostragem do solo indeformado.

    A fim de calcular a variação nas taxas de concentrações de nitrato e amônio

    antes e após os experimentos de incubação um número de amostras de solo foram

    diretamente destinadas as análises químicas para determinação dessas

    concentrações sem passar por experimento de incubação, ou seja, nos dando as

    concentrações desses nutrientes inorgânicos “antes” da incubação enquanto outra

    parte das amostras foram destinadas diretamente para as câmaras de incubação.

  • 34

    Após o período de incubação sub-amostras do solo foram analisadas

    quimicamente dando as concentrações dos nutrientes inorgânicos “pós” incubação.

    A tabela 4 mostra no número total de amostras coletadas para cada

    experimento, o número de amostras que seguiram diretamente para os tratamentos

    e análises químicas sem passar pelo período de incubação e também o número de

    amostras submetidas à incubação.

    Tabela 4 Número total de amostras coletadas e destinadas as determinações químicas e ao experimento de incubação

    Número total de amostras de solo

    coletadas

    Número de amostras

    para determinações

    químicas

    Número de amostras

    incubadas

    Experimento 1

    6

    4

    2

    Experimento 2

    6

    4

    2

    Experimento 3

    5

    3

    2

    Experimento 4

    4

    2

    2

    Ao chegar ao laboratório as amostras destinadas as análises químicas foram

    retiradas do anel de aço e colocadas em frascos de polietileno (figura 8) que

    continham 50ml de KCL 2M.

  • 35

    Estes frascos contendo KCL 2M foram pesados antes e após a adição de solo

    (Figura 9).

    Figura 8 Amostra de solo retirada do anel de aço e sendo colocada no frasco de polietileno contendo

    50 mL de KCL 2M.

    Figura 9 Amostra de solo sendo pesada (Balança Bel) em frasco de polietileno contendo KCL 2M

    Os frascos contendo solo foram agitados em mesa agitador orbital Mod. 109 marca Nova Ética por uma hora a 130 rpm.

    A agitação é necessária para que os nutrientes inorgânicos sejam extraídos

    completamente. Após a extração as amostras foram filtradas (figura 10) em filtro de

    papel de filtração rápida (JP 41).

  • 36

    E em seguida foi obtido um extrato mais limpo mediante nova filtração em filtro de

    filtração lenta (42 Whatman).

    Figura 10 Amostras de solo sendo filtradas para determinação de nitrato e amônio.

    Nestes extratos foram determinadas as concentrações de NO3- e NH4

    +. As

    alíquotas do filtrado destinadas à determinação de nitrato foram estocadas em

    frascos de polietileno a -15°C para posterior análi se, realizadas sempre no dia

    seguinte a coleta. As determinações de NH4+ foram realizadas no mesmo dia em

    que as amostras foram coletadas para evitar perda por volatilização. A metodologia

    da análise dos nutrientes inorgânicos do solo se encontra no item 5.1.2.4.

    5.1.2.1 Experimento de incubação

    Um número de amostras de solo foi submetido ao experimento de

    incubação (tabela 4).

    Para realização deste experimento foram construídas duas câmaras de PVC

    com um septo para amostragem de gás headspace (Figura 11).

  • 37

    Figura 11 Câmara de Incubação com ligação de aço inox para o manômetro e câmara maior para incubação com Barômetro/sensor/data logger (Baro Diver). A câmara menor apresenta um conector de aço inox que se acopla a um manômetro tubo em “U”, a câmara maior armazena em seu interior o Barômetro/sensor/data logger (Baro Diver).

    As amostras foram pesadas no laboratório, em seguida colocadas dentro das

    câmaras headspace e submetidas a incubações. Para quantificar a taxa líquida de

    nitrificação e desnitrificação no solo e identificar os processos de produção do gás

    óxido nitroso utilizamos medidas volumétricas de produção e consumo de gás.

    Para isso, uma câmara menor com conector de aço inox foi acoplada a um

    medidor de variação de pressão manômetro tubo em “U” (figura 12).

    Figura 12 O esquema mostra a medida do balanço do gás no cubo de incubação utilizando um manômetro tubo em “U” com solução de permanganato (água).

  • 38

    A variação de pressão indicada pelo manômetro tubo “U” fornece a

    quantidade de gás produzido ou consumido durante uma incubação do solo.

    Porém, esta variação depende também do volume de gás não ocupado por

    solo e água no sistema cuba+capilar de inox (invariavelmente durante uma

    incubação), e do volume entre a junção e a superfície da solução de permanganato

    no manômetro (variável com a pressão indicada).

    A câmara maior demonstrada na figura 11, foi utilizada somente nos

    experimentos 3 e 4 e armazenava em seu interior o barômetro/sensor/datalogger

    (Baro Diver). A figura 13 mostra o barômetro que foi utilizado para medir a variação

    de pressão dentro da câmara estanque e respectivamente na figura 14 o sensor está

    sendo colocado no interior da câmara.

    Figura 13 Barômetro/sensor / datalogger sensor (Baro Diver)

  • 39

    Figura 1 Barômetro/sensor /datalogger sendo colocado no interior da câmara.

    As câmaras headspace contendo as amostras de solo foram mantidas a

    temperatura constante por imersão dessas câmaras em banho termostato durante o

    procedimento de incubação adotado neste estudo.

    A figura 15 a seguir mostra o banho termostato responsável por manter a

    temperatura do solo igual à temperatura do solo no campo. No banho termostato as

    câmaras foram mantidas submersas.

    Figura 2 Foto do Experimento de Incubação: Banho termostato com manômetro Tubo em “U” acoplado.

  • 40

    Após o período de incubação as amostras foram retiradas do banho

    termostato, em seguida foram tratadas e analisadas quimicamente para

    determinação das concentrações de NO3- e NH4

    + (Pós Incubação).

    As metodologias destas análises químicas encontram-se detalhadas no Anexo.

    5.1.2.2 Medidas usadas para determinar os parâmetros do processo de

    nitrificação e desnitrificação do experimento de incubação

    Muitas tentativas de determinar qual o processo responsável para a produção

    de N2O têm sido realizadas, mas estas geralmente resultaram em conclusões

    ambíguas, devido às dificuldades de medir taxas brutas de nitrificação e de

    desnitrificação. Portanto, medidas envolvendo incubação de amostras de solo, onde

    uma amostra é analisada quimicamente antes e depois de ser mantida sob

    condições controladas durante um determinado período de tempo possibilita medir

    variações nas concentrações das espécies de nitrogênio (NH4+ e NO3

    -), ou seja, as

    taxas líquidas de nitrificação e desnitrificação.

    Para se saber as taxas absolutas de nitrificação e desnitrificação, seria

    necessário determinar as taxas de mineralização ou assimilação.

    Essas taxas absolutas não podem ser determinadas por medidas de

    variações de concentrações ou quantidades de diferentes formas de nitrogênio, pois

    a quantidade de nitrogênio orgânico normalmente encontrado no solo é muito maior

    que qualquer variação no mesmo, ou qualquer variação nas quantidades de

    espécies de nitrogênio inorgânico.

    A taxa de produção de N2 por desnitrificação poderia ser determinada por

    quantificação do N2. Porém, esta abordagem sofre um problema parecido com a

    anterior – A quantidade de N2 presente no gás do solo, que é basicamente ar, é

    muito maior que qualquer produção do gás por desnitrificação e assim a produção

    fica indetectável com precisão analítica.

  • 41

    Tentativas de resolver este problema têm sido feitas pela substituição do gás

    do solo com uma mistura de oxigênio e argônio, mas, na prática é difícil garantir a

    completa substituição e é necessário no processo, aplicar vácuo ao solo.

    Assim, poderá haver erros devido à permanência de resíduos de N2(ar) no

    solo, estresse ao biossistema, e perturbação dos possíveis efeitos da não

    homogeneidade do solo que foram mencionados anteriormente.

    Outra abordagem é a dosagem da amostra com NH4+, NO3- ou Norgânico

    enriquecido no isótopo natural 15N, permitindo quantificar os processos de

    nitrificação e desnitrificação.

    Esta abordagem apresenta dois problemas:

    (1) Requer espectrômetros de massa de elementos leves;

    (2) Não considera o efeito dos microambientes no solo, pois é necessário

    introduzir o 15N na amostra, o que somente pode ser feito por

    homogeneização da mesma, através da mistura física do solo, de maneira

    não determinada (não definida espacialmente), por percolação por exemplo.

    Este processo de adição de 15N perturba e descaracteriza os microambientes

    existentes no solo.

    Basicamente, estas medidas são usadas para determinar dois parâmetros, a

    taxa líquida de nitrificação (NIT=[NO3-] final da incubação - [NO3-] início da incubação = ∆NO3- )

    e a taxa líquida de mineralização (MIN = ∆(NO3- + NH3)).

    Dependendo da condição encontrada pode ocorrer:

    • NIT > 0 indica que a taxa bruta de nitrificação > taxa de desnitrificação

    (assimilação de NO3- é geralmente desprezível).

    • NIT < 0 indica que a taxa de desnitrificação > taxa de nitrificação

    • [NO3-]final da incubação ≈ 0 indica que não esta ocorrendo desnitrificação.

    • MIN > 0 indica que esta tendo mineralização de Norgânico e

    • MIN < 0 indica assimilação de N (Ninorg. � Norgânico).

  • 42

    Ainda se pode concluir, nos seguintes casos:

    • NIT > 0 e MIN > 0 = Nitrificação > Desnitrificação, mas pode haver os dois

    processos.

    • NIT > 0 e MIN < 0 = Nitrificação está ocorrendo provavelmente sem

    nenhuma desnitrificação.

    • NIT < 0 e MIN > 0 = Taxa de desnitrificação > Taxa de nitrificação, mas

    ainda pode estar ocorrendo nitrificação.

    • NIT < 0 e MIN < 0 = Desnitrificação está ocorrendo.

    As quantidades ou concentrações de amônio e nitrato são expressas em

    termos de (mol/mmol/µmol N)/g solo seco.

    5.1.2.3 O Balanço de gases

    O balanço de gases produzidos e consumidos por processos bioquímicos no

    solo apresenta uma abordagem factível à medida de nitrificação:

    NH4+ + 2O2 NO3

    - +H2O + 2H+ (Equação 3)

    A equação (3) acima mostra que cada mol de NH4+ que é oxidado em

    nitrificação requer 2 mols de O2. Pela equação 4 observa-se que cada mol de NO3-

    que sofre desnitrificação produz 1/2 mol de N2 e 5/4 mols de CO2.

    4NO3- + 5CH2O + 4H

    + 2N2(g) + 5CO2 + 7H2O (Equação 4).

    Em contraste, a respiração de oxigênio por organismos no solo não resulta

    em variação líquida de números de mols de substâncias gasosas, pois 1 mol de CO2

    é produzido para cada mol de O2 consumido:

    CH2O(s) + O2(g) CO2(g) + H2O(l) (Equação 5)

  • 43

    Sob condições de anoxia a biogênese do metano poderá ocorrer no solo.

    CH2O(s) CH4(g) + CO2(g) (Equação 6)

    Este processo produz os gases metano e dióxido de carbono, mas a

    produção de metano pode ser medida por amostragem antes e depois de

    incubações, e análise das amostras. Por estequiometria, a produção de CO2 por

    metanogênese pode ser estimada a partir do CH4.

    Assim, a incubação de uma amostra em câmara estanque, com medida do

    balanço de gás total poderá servir para medir nitrificação e desnitrificação. Como se

    dá nas equações 6 e 7.

    ∆(mols gás) = ∆O2(Eq. 3) + ∆N2(Eq. 4) + ∆CO2(Eq. 4) + 2 ∆CH4 (Eq. 6) (Equação 7)

    ∆O2(Eq. 3) sempre será negativo (consumo de oxigênio).

    ∆N2(Eq. 4) + ∆CO2(Eq. 4) sempre serão positivos (produção pela nitrificação).

    Assim:

    ∆(mols gás) - 2 ∆CH4 (medido) < 0, a nitrificação predomina.

    ∆(mols gás) - 2 ∆CH4 (medido) > 0, a desnitrificação predomina.

    Não é possível quantificar (as taxas de nitrificação e desnitrificação

    simultaneamente), a não ser presumir que somente um processo acontece.

    Nitrificação: ∆(mols gás) - 2 ∆CH4 (Eq. 6, medido) = ∆O2(Eq. 3)

    Desnitrificação: ∆(mols gás) - 2 ∆CH4 (Eq. 6, medido) = ∆N2(Eq. 4) + ∆CO2.

    ∆(mols gás) - 2 ∆CH4 (Eq. 6, medido) = 13/8 ∆N2(Eq. 4).

    Para medir ∆(mols gás), idealmente a variação da pressão será à medida de

    um volume de gás constante, à temperatura constante.

  • 44

    O volume de gás na câmara pode ser estimado de duas maneiras:

    (1) Pesar o solo introduzido na câmara estanque da incubação, calcular o seu

    conteúdo de umidade (água) e a sua densidade, bem como o volume total da

    câmara. Determinar o volume do solo e obter o volume ocupado pela fase gasosa na

    câmara; e

    (2) Injetar uma quantidade conhecida de gás na câmara (aproximadamente 5

    ml) e medir o aumento da pressão.

    Os cálculos do volume de gás ocupado no sistema estão demonstrados no

    anexo e foram realizados através de planilhas no Excel.

    Para levar em conta esses dois volumes é necessário:

    • Determinar o volume do sistema por injeção de um volume conhecido de

    nitrogênio no sistema, através do septo.

    • Saber o diâmetro interno do tubo de vidro.

    Os cálculos dos volumes estão demonstrados no anexo 1.

    A tabela 5 mostra o número de medidas da mudança da pressão dentro da

    câmara de incubação variou em cada experimento, assim como o tempo em que o

    solo foi mantido incubado.

  • 45

    Tabela 5 Número de medidas da mudança da pressão dentro da câmara de

    incubação variou em cada experimento, assim como o tempo em que o solo foi

    mantido incubado.

    Experimento

    Tempo em que o solo foi

    mantido incubado

    Número de medidas da

    variação da pressão dentro

    da câmara

    Exp 1 45,3 horas 3

    Exp 2 49,5 horas 5

    Exp 3 72,5 horas 11

    Exp 4 73,5 horas 9

    5.1.2.4 Análises de nutrientes inorgânicos do solo As determinações das concentrações de NO3

    - e NH4+ foram realizadas para

    as amostras que não foram submetidas ao experimento de incubação. As médias

    foram usadas como as concentrações iniciais dos nutrientes ([NO3-]i e [NH4+]i).

    Essas determinações químicas também foram realizadas também para as

    amostras que foram submetidas à incubação e as médias destas análises tidas

    como as concentrações finais “pós” ([NO3-]f e [NH4+]f) incubação destas amostras de

    solo.

    Os processos analíticos seguem a metodologia colorimétrica baseada na

    reação de Bertholet (método do Indofenol) para determinação de NH4+ e o método

    colorimétrico descrito por Bremner e Keeney segundo Grasshoff et al. (1983) para

    análise do íon nitrato.

  • 46

    Foi necessário muito cuidado no preparo dos reagentes, e na descontaminação da

    vidraria para evitar a contaminação com amônia do ar do laboratório e do ambiente

    de trabalho em geral.

    A água utilizada era recém destilada para evitar contaminação pelo ar,

    principalmente na análise do íon amônio e a vidraria foi mantida por três dias em

    banho de HCl 2M para total descontaminação. Contaminações na água pelo ar

    foram observadas nos testes feitos com água destilada e Milli-Q coletadas horas

    antes das análises. Para minimizar esta interferência foi montado no laboratório um

    sistema simples de destilação a partir de uma solução de ácido sulfúrico diluído,

    preparado com água Milli-Q, com intuito de reter qualquer amônia, e a água obtida

    foi utilizada para preparo dos reagentes e padrões. A figura 16 representa o

    esquema de destilação simples utilizado no laboratório.

    Figura 3 Esquema de destilação simples Fonte: http://www.qmc.ufsc.br/qmc5230/aula02/destsimples.html

  • 47

    Análise de NH4+

    O método utilizado baseia-se na formação do composto azul intenso de

    indofenol, resultante da redução do íon amônio com compostos fenólicos na

    presença de um agente oxidante hipoclorito (neste caso Trione, ácido

    dicloroisocianúrico – dicloro-s-triazina-2.4.6 (1H, 3H, 5H)).

    Análise de NO3-

    Neste método colorimétrico o nitrato é reduzido a nitrito em meio redutor

    constituído de grânulos de cádmio ativados por deposição de cobre.

    NO3- + Cd(s) + 2H- NO2

    - + Cd 2- + H2O

    O método é baseado na redução quantitativa do NO3- a NO2

    - e na reação de

    Griesss/llosvay, onde o nitrito reage com a sulfanilamida em meio ácido (pH < 2)

    para formar um complexo diazóico demonstrado na equação a seguir:

    NH2SO2C6H4-NH2 + NO2- + 2H+ 2H2O +(NH2SO2C6H4-N≡N)+

    Em seguida o complexo reage com N-nafitiletilenodiamino dando uma

    coloração rosa.

    2H2O +(NH2SO2C6H4-N≡N)+ + C10H7-NH-(CH2)2-NH2

    2H+ + NH2SO2C6H4-N=N-C10H6-NH-(CH2)2-NH2

    Os procedimentos analíticos das análises dos nutrientes inorgânicos estão

    detalhados no anexo.

  • 48

    5.2 COLETA DA ÁGUA DO AFLUENTE DO RIO GUANDU

    As amostragens de águas (figura 17) foram realizadas na superfície e no

    fundo do corpo d’água. Esta água de enchente alcança a área de estudos em época

    de chuva e mantêm os pontos de amostragem de fluxo de gás (interface

    solo/atmosfera) e de solo submersos.

    Figura 4 Amostragem de água do rio Guandu-mirim em Manguariba (RJ)

    As amostras de água foram armazenadas e transportadas em garrafas de

    polietileno de 1L e levadas ao laboratório, filtradas e em seguida foram determinadas

    as concentrações de NH4+ (no mesmo dia da amostragem).

    Alíquotas dessas amostras foram armazenadas em frascos de polietileno a

    15°C para posterior determinação de NO 3-. As determinações de NO3

    - nas amostras

    de água assim como nas amostras de solo foram realizadas sempre no dia seguinte

    ao processo de amostragem.

    A determinação da concentração de NO3- e NH4

    + nas amostras de água foi

    realizada somente no experimento 1, nos demais experimentos estas análises não

    se fez necessária.

    Os procedimentos analíticos das análises dos nutrientes inorgânicos na água

    foram os mesmos procedimentos adotados para as análises de solo e estão

    detalhados no Anexo (10.2 e 10.3).

  • 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

    6.1 PARÂMETROS DO SOLO A densidade do solo e a umidade gravimétrica do solo foram determinadas em cada

    experimento realizado e estão apresentados na tabela 6.

    Tabela 6 Densidade do solo e umidade gravimétrica Amostragem Identificação

    da Amostra

    Umidade

    gH2O/gsolo

    ρ do solo

    g/cm3

    Exp 1 Amostra A 0,51 0,84

    Exp 1 Amostra B 0,54 0,67

    Exp 2 Amostra C 0,51 0,61

    Exp 2 Amostra D 0,49 0,69

    Exp 3 Amostra E 0,63 0,56

    Exp 3 Amostra F 0,46 0,74

    Exp 4 Amostra G 0,51 0,61

    Exp 4 Amostra H 0,45 0,82

    A porosidade, a umidade volumétrica e a fração de saturação com H2O do

    solo de Manguariba foram determinados em todos os experimentos realizados e

    estão demonstrados na tabela 7.

  • 50

    Tabela 7 Porosidade, umidade volumétrica e fração de saturação com H2O Amostragem Identificação

    da Amostra

    Peso

    do Solo

    úmido

    no Anel

    Porosidade Umidade

    Volumétrica

    ml/ml solo

    Umidade

    (%)

    Exp 1 Amostra A 42,0 0,58 0,43 0,74

    Exp 1 Amostra B 33,5 0,66 0,36 0,54

    Exp 2 Amostra C 30,5 0,69 0,31 0,45

    Exp 2 Amostra D 34,5 0,65 0,34 0,52

    Exp 3 Amostra E 28,0 0,72 0,35 0,49

    Exp 3 Amostra F 37,0 0,63 0,34 0,54

    Exp 4 Amostra G 30,5 0,69 0,31 0,45

    Exp 4 Amostra H 41,0 0,59 0,37 0,63

    O peso do solo foi sempre determinado antes e após cada experimento

    de incubação, esses dados nos permitem a realização dos cálculos para

    determinação do volume de gás na câmara de incubação, ou seja, o volume de

    ar existente na câmara e intra agregados do solo. Os dados de peso e volume

    de gás no interior da câmara de incubação estão descritos na tabela 8.

  • 51

    Tabela 8 Peso do solo e volume de gás na câmara de incubação Identificação

    da Amostra

    Estimativa

    Peso Seco

    (g)

    Estimativa

    Vol.

    Umidade

    (cm3)

    Estimativa

    Vol. Gás

    no Anel

    (cm3)

    Vol.Estimado

    do gás no

    sistema de

    incubação

    (cm3) Exp 1(amostra

    A e B)

    75,5

    39,5

    23

    38

    Exp 2(amostra

    C e D)

    65

    32,5

    35

    33

    Exp 3(amostra

    E e F)

    65

    34,5

    33

    33

    Exp 4(amostra

    G e H)

    71,5

    34

    30

    36

    6.2 RESULTADOS DAS INCUBAÇÕES

    6.2.1 Experimento 1

    Durante o experimento 1 o solo foi mantido incubado por 45,3 horas, a

    tabela 9 mostra os resultados das análises químicas que foram realizadas

    antes e após período de incubação do solo.

  • 52

    Tabela 9 Concentração de NH4+ e NO3

    - nas amostras do solo antes e após a incubação, experimento 1

    Amostras

    [NH4+] µmol/gsolo

    seco

    [NO3-] µmol/gsolo seco

    1 Solo Antes Inc 0, 642 0, 174

    2 Solo Antes Inc 0, 937 0, 217

    3 Solo Antes Inc 0, 538 0, 214

    4 Solo Antes Inc 0, 941 0, 139

    8 Solo Pós Inc 0, 879 1, 895

    9 Solo Pós Inc 3, 106 0, 720

    N1= 4 amostras de solo Antes Inc , N2=2 amostras de solo Pós Inc (sendo que N1=número de amostras que não foram submetidas a incubação, foram analisadas quimicamente para nos dar as concentrações iniciais de [NO3

    -]i e [NH4+]i e N2= número de amostras do solo submetido a

    incubação, foram analisadas quimicamente para nos dar as concentrações finais [NO3-]f e

    [NH4+]f ou seja pós incubação.

    Na tabela 10 encontra-se o cálculo das concentrações médias de NH4+

    antes e pós incubação, e as médias das concentrações de NO3- antes e após

    período de incubação do solo.

  • 53

    Tabela 10 Média das concentrações de NH4+ e NO3- das amostras de solo antes e após incubação, experimento 1

    Média [NH4+]i

    (µmol/gsolo)

    seco Antes Inc.

    [NH4+]f

    (µmol/gsolo)

    seco Pós Inc.

    Média [NO3-]i

    (µmol/gsolo)

    seco Antes Inc.

    Média [NO3-]f

    (µmol/gsolo)

    seco Pós Inc.

    0, 764 1, 992 0, 186 1, 307

    DP estimado de acordo com o método de range DP=1,0133 para [NH4+] e DP=0,6929 para

    [NO3-] (ECKSCHLAGER, 1972 )

    Duas sub-amostras do solo analisado após incubação foram retiradas

    sem homogeneização do solo incubado. Sendo assim, as grandes variações de

    concentrações de espécies inorgânicas de nitrogênio nestas subamostras

    possivelmente são explicadas por uma distribuição não homogênea da

    umidade no solo durante a incubação Não havia como evitar a percolação de

    água para a parte inferior da amostra.

    As variações na concentração de nitrato são causadas pela diferença

    entre as taxas de nitrificação e desnitrificação. Como não é possível separar os

    efeitos de ambos os processos pela variação da [NO3-] antes e após incubação

    essa variação nos indica (tabela 11) a taxa líquida de nitrificação. A produção

    de N2 indicaria o processo de desnitrificação, porém a variação do nitrogênio

    orgânico não pode ser medida, pois é desprezível quando comparada ao

    conteúdo total de nitrogênio orgânico no solo. Qualquer variação na

    concentração de Norgânico não estaria abaixo de um limite de detecção.

  • 54

    A tabela 11 mostra a taxa líquida de nitrificação, mineralização, a

    umidade do solo representada pela fração de saturação com água e a

    produção de óxido nitroso durante o experimento 1 de incubação.

    Tabela 11 Taxa líquida de Nitrificação, Mineralização, Produção de N2O e Umidade, experimento 1. Taxa de

    Nitrificação

    Líquida (µmol/gsolo

    seco/h)

    Taxa de

    Mineralização

    Líquida (µmol/gsolo

    seco/h)

    Taxa Média de

    Produção N2O

    (µmol/gsolo seco/h)

    Umidade

    (%)

    0, 025 0, 052 0, 0094 0,64

    A figura 18 mostra a geração e o consumo de gás (medidos

    barométricamente) durante o experimento 1 cuja duração foi de

    aproximadamente 45,3 horas de incubação do solo.

    Figura 18 Geração e consumo de gás do experimento 1, medida conforme o procedimento do Anexo 9.1 interpretada a partir da equação 7).

  • 55

    Observa-se na figura 18 uma diminuição da pressão no manômetro

    “Tubo em U” ao longo do experimento. Segundo Ingwersen et al. (1999), a

    oxidação de NH4+/NH3 para NO3

    -, ou seja nitrificação, como indicado pela

    Equação 3 anteriormente, ocorre com consumo de oxigênio molecular e

    diminuição da pressão.

    A nitrificação foi observada a uma taxa constante como pode ser visto

    na figura 18. A concentração de N2O medida no gás da câmara estanque após

    as primeiras 18 horas de incubação foi de 4410 ppm e após 45,3 h de

    incubação 109 ppm. Essa diminuição na quantidade do gás produzido pode ser

    explicada pela redução do N2O a N2 após o longo período de incubação do

    solo.

    6.2.2 Experimento 2

    Durante o experimento 2 o solo foi mantido incubado por 49,5 horas, a

    tabela 12 apresenta os resultados das análises químicas que nos mostra a

    determinação das concentrações de NH4+ e NO3

    - antes e após incubação do

    solo neste experimento.

  • 56

    Tabela 12 Concentração de NH4+ e NO3- do solo antes e após incubação, experimento 2.

    Amostras

    [NH4+] µmol/gsolo seco

    [NO3-] µmol/gsolo seco

    1 Solo Antes Inc. 0, 421 1, 114

    2 Solo Antes Inc. 0, 604 0, 376

    3 Solo Antes Inc. 0, 406 1, 988

    4 Solo Antes Inc. 0, 270 0, 686

    5 Solo Pós Inc. 0, 345 1, 620

    10 Solo Pós Inc. 0, 225 1, 612

    N1= 4 amostras de solo Antes Inc , N2=2 amostras de solo Pós Inc (sendo que N1=número de amostras que não foram submetidas a incubação, foram analisadas quimicamente para nos dar as concentrações iniciais de [NO3

    -]i e [NH4+]i e N2= número de amostras do solo submetido a

    incubação, foram analisadas quimicamente para nos dar as concentrações finais [NO3-]f e

    [NH4+]f ou seja pós incubação).

    A tabela 13 mostra cálculos das concentrações médias de NH4+

    e NO3-

    antes e pós incubação do solo.

    Tabela 13 Média das concentrações de NH3 e NO3- do solo antes e após

    incubação, experimento 2. Média [NH4+]i

    µmol/gsolo

    seco Antes Inc.

    [NH4+]f

    µmol/gsolo

    seco Pós Inc.

    Média [NO3-]i

    µmol/gsolo

    seco Antes Inc

    Média [NO3-]f

    µmol/gsolo

    seco Pós Inc.

    0, 425 0, 285 1, 041 1, 61

    DP estimado de acordo com o método de range DP=0,1495 para [NH4+] e DP=0,6360 para

    [NO3-]

  • 57

    Como visto na tabela 13, há diminuição na concentração de NH4+

    e o

    aumento da concentração de NO3-, assim sendo podemos supor que houve

    nitrificação, mas através das medidas barométricas poderemos verificar em

    que etapa do experimento isso ocorreu.

    Através da tabela 14 observa-se que a taxa de nitrificação líquida é

    maior que a taxa de mineralização líquida. Pode-se observar também a

    umidade que é considerada um fator favorável a nitrificação.

    A alíquota de gás retirada do interior da câmara onde o solo foi mantido

    incubado durante aproximadamente 49,5 horas apresentou uma concentração

    de 253 ppm de N2O.Tem-se uma taxa de produção de N2O aproximadamente

    1/60 da taxa de mineralização e 1/80 da taxa de nitrificação.

    Tabela 14 Taxa líquida de Nitrificação, Mineralização, Produção de N2O e Umidade, experimento 2. Taxa de

    Nitrificação

    Líquida (µmol/gsolo

    seco/h)

    Taxa de

    Mineralização

    Líquida (µmol/gsolo

    seco/h)

    Taxa Média de

    Produção N2O

    (µmol/gsolo seco/h)

    Umidade

    (%)

    0, 012

    0, 009

    0, 00014

    0,48

  • 58

    Através da figura 19 pode-se observar durante a incubação as etapas

    onde acontece o consumo e a produção de gás no interior da câmara, ao longo

    do experimento 2.

    Figura 19 Geração e Consumo de Gás durante a incubação do experimento 2.

    Todos os dados das determinações químicas de nitrato e amônio

    indicam que ocorre a nitrificação, porém através das medidas barométricas

    observa-se que a desnitrificação acontece em proporção maior durante todo

    experimento. Esse fato não pode ser explicado através de variações das taxas

    líquidas de variação na concentração de nitrato e amônio após a incubação,

    pois como se pode ver na Equação 4, este processo leva a produção de N2 e

    essa produção é desprezível quando comparada as quantidades do gás já

    existente no ar do solo.

  • 59

    6.2.3 Experimento 3

    Durante o experimento 3 o solo foi mantido incubado por 72,5 horas, a

    tabela 15 apresenta a concentração de NO3- e NH4

    + do solo antes e após o

    período de Incubação do solo durante este experimento.

    Tabela 15 Concentração de NO3- e NH4+ do solo antes da incubação, experimento 3.

    Amostras

    [NH4+] µmol/gsolo

    seco

    [NO3-] µmol/gsolo seco

    1 Solo Antes Inc 1, 145 0, 153

    2 Solo Antes Inc 2, 598 0, 389

    3 Solo Antes Inc 0, 966 0, 070

    4 Solo Pós Inc c/

    sensor

    9, 163 -

    5 Solo Pós Inc 1, 476 0, 122

    N1= 3 amostras de solo Antes Inc, N2=2 amostras de solo Pós Inc (sendo que N1=número de amostras que não foram submetidas à incubação, foram analisadas quimicamente para nos dar as concentrações iniciais de [NO3

    -]i e [NH4+]i e N2= número de amostras do solo submetido à

    incubação, foram analisadas quimicamente para nos dar as concentrações finais [NO3-]f e

    [NH4+]f, ou seja, pós incubação. A [NO3

    -]f da amostra 4 solo pós inc c/ sensor não foi medida.

  • 60

    A tabela 16 apresenta o cálculo das médias das concentrações de NH4+

    e NO3- do solo antes e após o período de incubação.

    .

    Tabela 16 Média das concentrações de NH4+ e NO3- do solo antes e após a incubação do experimento 3. Média [NH4+]

    µmol/gsolo

    seco Antes Inc.

    [NH4+]

    µmol/gsolo

    seco Pós Inc.

    Média [NO3-]

    µmol/gsolo

    seco Antes Inc

    [NO3-]

    µmol/gsolo

    seco Pós Inc.

    1, 570 5, 320 0, 204 0, 122

    DP calculado de acordo com o método de range DP=3,5238 para [NH4+] e DP =0,1549 para

    [NO3-] .

    Uma taxa de nitrificação líquida negativa e uma alta taxa de

    mineralização líquida são observadas durante o experimento 3 de incubação

    (tabela 17).

    Tabela 17 Taxa líquida de Nitrificação, Mineralização, Produção de N2O e Umidade, experimento 3. Taxa de

    Nitrificação

    Líquida (µmol/gsolo

    seco/h)

    Taxa de

    Mineralização

    Líquida (µmol/gsolo

    seco/h)

    Taxa Média de

    Produção N2O

    (µmol/gsolo seco/h)

    Umidade

    (%)

    -0, 0011

    0, 051

    0, 00000

    0,51

  • 61

    Após 72,5 horas de experimento não houve produção de óxido nitroso. A

    alta taxa de mineralização pode explicar o aumento na concentração de NH4+

    após o período de incubação do solo, fornecendo substrato para nitrificação.

    Pode-se observar através da diminuição da pressão na figura 20 que

    houve nitrificação seguida de desnitrificação. Obteve-se uma concentração de

    óxido nitroso nula. Possivelmente o N2O produzido por nitrificação após um

    longo período de incubação foi reduzido a N2 por desnitrificação.

    Como houve a geração de gás e não houve produção de óxido nitroso,

    amostrou-se uma alíquota de gás do interior da câmara para posterior

    determinação de concentração do gás metano. Verificou-se uma concentração

    de 2,15 ppm de metano. A pequena produção que pode ter acontecido se deve

    a respiração microbiológica anaeróbica.

    Figura 20 Consumo e produção do gás durante o experimento 3.

  • 62

    6.2.4 Experimento 3 Incubação com barômetro/sensor datalogger

    Durante o experimento 3 com o sensor datalogger o solo foi mantido

    72,5 horas incubado, a figura 21 mostra toda a variação de pressão dentro da

    segunda câmara de incubação registrada pelo barômetro/sensor/datalogger .

    Figura 21 Experimento realizado com barômetro/sensor/datalogger (Baro Diver) em uma segunda câmara de incubação durante o experimento 3.

    O primeiro experimento com sensor de pressão datalogger nos mostra

    em intervalos de 15 minutos durante uma incubação de 113,15 horas uma

    pequena queda na pressão dentro câmara após a estabilização da temperatura

    do sistema indicando que houve nitrificação durante o experimento de

    incubação do solo.

  • 63

    6.2.5 Experimento 4

    Durante o experimento 4 o solo foi mantido por 73,5 horas incubado, a

    tabela 18 apresenta a concentração de NO3- e NH4

    + do solo antes e após o

    período de incubação durante o experimento 4.

    Tabela 18 Concentração de NH4+ e NO3- do solo antes e após incubação, experimento 4.

    Amostras

    [NH4+] µmol/gsolo

    seco

    [NO3-] µmol/gsolo seco

    1 Solo Antes Inc 0, 042 1, 286

    4 Solo Antes Inc 0, 035 0, 018

    3 Solo Pós Inc 0, 065 1, 083

    6 Solo Pós Inc 0, 018 0, 585

    N1= 2 amostras de solo Antes Inc , N2=2 amostras de solo Pós Inc (sendo que N1=número de amostras que não foram submetidas a incubação, foram analisadas quimicamente para nos dar as concentrações iniciais de [NO3

    -]i e [NH4+]i e N2= número de amostras do solo submetido a

    incubação, foram analisadas quimicamente para nos dar as concentrações finais [NO3-]f e

    [NH4+]f ou seja pós incubação).

    A tabela 19 apresenta o cálculo das médias das concentrações de NH4+

    e NO3- do solo antes e após o período de incubação.

  • 64

    Tabela 19 Média das concentrações de NH4+ e NO3- do solo antes e após a incubação, experimento 4.

    Média [NH4+]

    µmol/gsolo

    seco Antes Inc.

    [NH4+]

    µmol/gsolo

    seco Pós Inc.

    Média [NO3-]

    µmol/gsolo

    seco Antes Inc

    Média [NO3-]

    µmol/gsolo

    seco Pós Inc.

    0, 039 0, 041 0, 652 0, 834

    DP calculado de acordo com o método de range DP=0, 0228 para [NH4+] e DP =0, 6158 para

    [NO3-]·.

    Na tabela 19 observa-se a taxa média da produção de N2O em duas

    câmaras simultaneamente. Uma câmara acoplada a um medidor de pressão

    tubo em “U” como nos demais experimentos, e uma segunda câmara com um

    sensor/data logger (Baro Diver) no seu interior. Os dados da taxa de nitrificação

    e mineralização líquida também se encontram na tabela 20.

    Tabela 20 Taxa líquida de Nitrificação, Mineralização, Produção de N2O e de Umidade no experimento 4. Taxa de

    Nitrificação

    Líquida

    (µmol/gsolo

    seco/h)

    Taxa de

    Mineralização

    Líquida

    (µmol/gsolo seco/h)

    Taxa Média

    de Produção

    N2O (µmol/gsolo

    seco/h)

    Taxa Média de

    Produção N2O

    (µmol/gsolo

    seco/h)c/Sensor

    Umidade

    (%)

    0, 0025

    0, 0025

    0, 00012

    0, 000028

    0,54

  • 65

    A concentração de N2O após 49,5 h de incubação foi de 387ppm.

    A concentração do gás metano na câmara com manômetro tubo em “U”

    foi de 1,46 ppm, um pouco abaixo da concentração atmosférica, indicando que

    não houve geração durante a incubação e que o consumo de metano foi

    desprezível. Na câmara com sensor de pressão pós incubação 2,49 ppm

    indicando que neste caso houve certa geração de CH4.

    Figura 22 Consumo e produção de gás durante o 4. A diminuição da pressão representada na figura 22 e também o aumento

    da concentração de nitrato após a incubação (tabela 17) mostram a nitrificação

    ocorrendo inicialmente, seguida de desnitrificação ou metanogênse.

  • 66

    Este foi mais um experimento com longo tempo de incubação

    aproximadamente 73,5 horas, onde houve absorção de gás inicialmente

    durante a nitrificação seguida de produção líquida de gás durante a

    desnitrificação. As alíquotas de gás foram retiradas da câmara para posterior

    determinação da concentração de N2O e CH4.

    O óxido nitroso possivelmente foi produzido durante a nitrificação e

    reduzido em seguida a N2 por desnitrificação.

    Experimento 4 com barômetro/sensor/datalogger

    A figura 23 mostra a variação de pressão dentro da câmara durante a

    incubação com barômetro/sensor/datalogger durante o experimento 4.

    Figura 23 Experimento 4 realizado com sensor barômetro/sensor/datalogger (Baro Diver) numa segunda câmara de incubação.

  • 67

    Este experimento com sensor de pressão datalogger mostra em

    intervalos de 15 minutos durante uma incubação de 67,15 horas uma queda na

    pressão dentro câmara, esta diminuição da pressão nos dá indícios de

    nitrificação. Nos dois experimentos de incubação a nitrificação se dá a uma

    taxa constante demonstrada pela constante diminuição da pressão indicada

    pelo sensor.

    6.3 EMISSÃO N2O INCUBAÇÃO X EMISSÃO N2O NO CAMPO Nas ocasiões de coleta do solo foram realizadas simultaneamente

    medidas de fluxo de N2O na interface solo/ em situ. Valores médios para cada

    amostragem são apresentados na figura 24.

    Figura 24 Média de fluxos de emissão de N2O pelo solo nos dias de coleta para incubações DPs indicados estimados dos experimentos 1, 2 e 4, N=2 (duas medidas de fluxo). Experimento 3, N=1

  • 68

    Nenhuma correlação foi observada, entre fluxos de N2O emitido pelo

    solo medido no campo e nas taxas de geração de N2O nos experimentos de

    incubação correspondentes, os quais são resumidos na figura 25.

    Isso possivelmente pode ser explicado pelo fato de que nenhum período

    padronizado chegou a ser adotado para as incubações e como mencionado

    antes, aparentemente, parte do N2O produzido no início de incubações foi

    consumido posteriormente.

    Figura 25 Taxa de geração N2O durante as incubações

    6.4 RESULTADOS DA ANÁLISE DA ÁGUA DO CURSO D’ÁGUA Tabela 21 Resultados das amostras de água Amostras

    de água

    Concentração

    NO3- µmol/L

    Concentração

    NH4+ µmol/L

    Data da coleta

    Superfície 2,3 66 17/11/2010

    Fundo 2,0 66 17/11/2010

    As concentrações de nitrato e amônio podem variar de acordo com a sazonalidade local.

    As amostras coletadas no corpo d’água apresentaram elevadas concentrações

    de nitrato e amônio ( tabela 21 ). Os resultados analíticos das concentrações

    de nitrato e amônio na água indicam a contribuição do lançamento de esgoto

    0,00E+00

    2,00E-03

    4,00E-03

    6,00E-03

    8,00E-03

    1,00E-02

    1 2 3 4 5

    Experimentos

    mol

    /g.s

    olo

    -1.h

    Incubação

  • 69

    doméstico e pouco aeração, porém a sazonalidade do período da amostragem

    deve ser considerado. Provavelmente a água que chega até o ponto onde

    coletou-se o solo e o gás está atuando como fonte de nitrogênio para este solo

    podendo ser um dos fatores responsáveis pelo alto fluxo de N2O na área

    estudada.

  • 70

    Tabela 22 Resumo dos dados das incubações:

    Incubação Umidade

    solo Duração da incubação h

    Seqüência de processos, deduzida da produção de

    gás

    Magnitude

    máxima das variações do

    gás Variação gás, início --> fim

    Nitrificação, início -->fim

    Amônia, início --> fim

    Mineralização início --> fim Produção N2O

    % saturação µM.gsolo-1h-1 µM.gsolo

    -1h-1 µM.gsolo-1h-1 µmol.gsolo

    -1h-1

    17/Nov 0,64 45,3 Nitrificação, taxa constante Grande (>-100µmol)

    -100 (nitrificação) 0,025 0,027 0,052 0,009400

    24/Nov 0,48 49,5

    Desnitrificação, possivelmente seguida por nitrificação

    Pequena (-70µmol)

    -45 (nitrificação) -0,0011 0,052 0,051 0,000000

    14/Dez 0,54 73,5 Nitrificação, seguida por desnitrificação mais forte

    Pequena/média (>=30µmol)

    +30 (desnitrificação) 0,0059 0,020 0,0062 0,000120

    14/Dez sensor 0,54 73,5 Nitrificação, taxa constante Grande (=-429 µmol)

    Grande (=-429 µmol) -0,0009 -0,020 -0,0012 0,0000014

  • 7 RESUMO DOS RESULTADOS

    Foram realizados 4 experimentos de incubação. Os dois primeiros

    experimentos (Exp 1 e Exp 2) foram realizados com uma câmara com septo para

    amostragem do gás do headspace acoplada a um medidor de pressão tubo “U”. Os

    dois últimos experimentos (Exp 3 e Exp 4) foram realizados com duas câmaras de

    PVC com septo para amostragem do gás do headspace, uma acoplada ao medidor

    de pressão tubo “U” e a segunda coma um medidor de pressão

    barômetro/sensor/datalogger (Baro Diver) no seu interior.

    O experimento 1 apresentou a maior taxa de mineralização (degradação da

    matéria orgânica (MO) sob a ação de certas bactérias transformando-as em íons

    NH4+), fornecendo quantidades de substrato suficientes para as reações de

    nitrificação e maior produção de N2O. A umidade (64%) e o menor tempo de

    incubação do solo (45,3 horas) neste experimento podem ajudar a explicar a alta

    taxa líquida de nitrificação e a grande produção de óxido nitroso.

    Pode-se observar que durante todas as incubações exceto no experimento

    com o sensor de pressão datalogger que houve mineralização.

    Ao se observar as figuras 18, 19, 20, 21, 22, e 23 nota-se que a nitrificação

    ocorreu durante pelo menos em uma parte de todos os experimentos de incubação.

    De acordo com o balanço de produção e consumo de gás observa-se nitrificação

    líquida ocorrendo em três incubações e a desnitrificação líquida ocorrendo em outras

    duas incubações.

  • 72

    A nitrificação líquida medida pela diferença das concentrações de NO3- antes

    e após a incubação apresenta valores positivos em três casos e valores negativos

    em outros dois casos.

    Durante o experimento 2 os dados indicam a ocorrência simultânea de

    desnitrificação seguida por nitrificação limitada por falta de substrato amônia. A

    desnitrificação acontece em proporção maior em todo experimento não pode ser

    explicada através de variações das taxas líquidas de variação na concentração de

    nitrato e amônio após a incubação, pois este processo leva a produção de N2, e não

    é possível medir essa taxa de variação.

    O experimento 3 mostra um aumento da concentração de amônia durante a

    incubação e alta taxa de mineralização do nitrogênio, o processo de desnitrificação

    provavelmente reduziu o N2O para N2, pois não houve geração de N2O entre o início

    e o fim da incubação.

    Na última incubação experimento 4, observa-se uma nitrificação intensa e a

    taxa constante, porém uma menor taxa de N2O também foi observada, podendo ser

    explicada pelo maior tempo de incubação que possivelmente favoreceu a redução

    do N2O a N2.

    Em todos os processos de um modo geral a nitrificação é considerada

    dominante já que desnitrificação ocorreu intensamente apenas no experimento 2.

    Isso pode mostrar que os experimentos de longa duração não são favoráveis

    a produção de óxido nitroso, pois este é reduzido a N2.

    O experimento 4 por apresentar as mesmas condiç