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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais
de 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
ANÁLISE DAS PRECIPITAÇÕES E DO BALANÇO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO NO TRIÂNGULO MINEIRO (MG): UMA SÉRIE HISTÓRICA DE 34 ANOS
NATHALIE RIBEIRO SILVA1
PAULO CEZAR MENDES2 RESUMO: Esse trabalho objetiva analisar, espacializar e caracterizar as condições de
precipitação e os consequentes déficits e excedentes hídricos na região do Triângulo
Mineiro (MG). Essa região abrange o total de 35 municípios com um contingente
populacional de 1.485.500 habitantes (IBGE, 2010), destacando no cenário nacional como
grande produtora agrícola de cereais, hortifrúti e cana-de-açúcar. Foram analisados dados
pluviométricos de 1975 a 2009, de 19 postos pertencentes à Agência Nacional de Águas
(ANA), os quais foram espacializados por meio de Sistema de Informação Geográfica (SIG)
no programa ArcGis (9.3). Identificou-se que o Triângulo Mineiro apresenta uma precipitação
média anual de 1.489 mm. Há uma alternância entre seis meses de chuva e seis meses de
um período mais seco, os quais influenciaram diretamente o balanço hídrico climatológico
contabilizado pela quantidade de água presente no solo.
Palavras-chave: Regime Pluviométrico, Balanço Hídrico, Triângulo Mineiro (MG).
ABSTRACT: This work aims to analyze, spatialise and characterize the precipitation
conditions and deficits and water surplus consequent in the region of Triângulo Mineiro. This
area covers a total of 35 municipalities with a population of 1,485,500 inhabitants (IBGE,
2010), highlighting the national scene as a major agricultural producer of cereals, fruits,
vegetables and sugar cane.Rainfall data were analyzed from 1975 to 2009, 19 stations
belonging to the Agência Nacional de Águas (ANA), which are specialized by means of
Geographic Information System (GIS) in ArcGIS program (9.3). It was identified that the
Triângulo Mineiro has an average annual rainfall of 1,489 mm. There is an alternation
between six months of rain and six months in a drier period, which influenced directly the
climatic water balance accounted for by the amount of water present in the soil.
Key words: Regime of precipitation, Hydric Balance, Triângulo Mineiro (MG).
1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia.
Email: [email protected] 2 Professor Doutor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Email:
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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais
de 25 a 29 de outubro de 2016
1 – Introdução
A distribuição sazonal como espacial das precipitações predominantes em
determinada região influenciam diretamente as atividades produtivas, tanto urbanas quanto
rurais. Por isso, é de extrema importância conhecer as características pluviométricas no que
diz respeito ao planejamento do espaço rural e urbano e na gestão do território maximizando
de forma eficiente os investimentos de recursos públicos e privados nas atividades
produtivas – como as agropecuárias, sobretudo aquelas ligadas às atividades agrícolas – e
de infra-estrutura também.
No meio rural, mesmo com a utilização das modernas técnicas de produção tanto na
agricultura como na pecuária, a distribuição pluviométrica reflete diretamente na produção e
na produtividade. As variações na precipitação ao longo ano, possuem uma relação direta
com as condições atmosféricas, sendo capazes, muitas vezes de forma imprevista,
prejudicar qualquer sistema produtivo. No caso da criação de gado, tanto na atividade
leiteira como na de corte, as condições de seca, por exemplo, podem provocar prejuízos ao
rebanho, como, a carência de água para sedentação desses animais, a qualidade nutritiva
dos pastos, provocando alterações em suas funções fisiológicas, comprometendo a
produção de leite e carne.
Diante da constatação de que a distribuição pluviométrica é um dos importantes
elementos para as atividades agropecuárias e de grande interferência na ocupação do
espaço urbano, e que ainda, o conhecimento acerca das características pluviométricas
adquire cada vez mais importância para o planejamento desse espaço vivido, motivou o
desenvolvimento deste trabalho, que busca, analisar, espacializar e caracterizar as
condições de precipitação e os consequentes déficits e excedentes hídricos observados na
região do Triângulo Mineiro (MG).
A área de estudo situa-se na parte oeste do Estado de Minas Gerais entre as
coordenadas geográficas 18° 18’ e 20°27’ de latitude Sul e 47° 28’ e 51° 30’ de longitude
Oeste. O Triângulo Mineiro faz limite com os Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e
Goiás (Figura 1). Ela abrange uma área total de 53.725 km², onde se localizam 35 municípios,
distribuídos em quatro Microrregiões: de Frutal, Ituiutaba, Uberaba e de Uberlândia.
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de 25 a 29 de outubro de 2016
Figura 1 – Mapa de Localização da área de estudo
2 – Materiais e métodos
A modificação do ambiente natural é realizada pelo homem a fim de, primeiramente
suprir suas necessidades básicas, e depois atender seus interesses diversos, seja no âmbito
econômico, político e social. As modificações no espaço rural, também são intensas,
principalmente quando diante da necessidade em ocupar extensas áreas naturais para
realizar a produção de alimentos. O sucesso de tal atividade produtiva, também é dependente
das condições climáticas. Ayoade ao se tratar de clima e agricultura, defende que,
Apesar dos recentes avanços tecnológicos e científicos, o clima é ainda a variável mais importante na produção agrícola. O fator climático afeta a agricultura e determina a adequação dos suprimentos alimentícios de dois modos principais. Um é através dos azares (imprevistos) climáticos para as lavouras e o outro é através do controle exercido pelo clima sobre o tipo de agricultura praticável ou viável numa determinada área. Os parâmetros climáticos exercem influência sobre todos os estágios da cadeia de produção agrícola, incluindo a preparação da terra, semeadura, crescimento dos cultivos, colheita, armazenagem, transporte e comercialização. (AYOADE, 2010, p. 261)
O estudo em questão contempla a análise de uma série histórica de 34 anos
ininterruptos de dados pluviométricos (1975 a 2009), extraídos de 19 postos pluviométricos
pertencentes à rede de observação da Agência Nacional de Águas (ANA), já
disponibilizados em seu sitio eletrônico: www.hidroweb.ana.gov.br.
A análise dos dados em um período igual ou superior a 30 anos é considerada ideal
para tais análises conforme sugere Ayoade, que para a classificação de um determinado
clima, considera que:
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...clima é a síntese do tempo num dado lugar durante um período de aproximadamente 30-35 anos. O clima, portanto, refere-se às características da atmosfera, inferidas de observações contínuas durante um longo período. O clima abrange um maior número de dados do que as condições médias do tempo em uma determinada área. Ele inclui considerações dos desvios em relação às médias (isto é, variabilidade), condições extremas, e as probabilidades de ocorrência de determinadas condições de tempo. (AYOADE, 2010, p.2)
Assim, para realizar as análises pluviométricas e do balanço hídrico nesta região foi
levantado o maior número de dados a fim de obter as médias mensais (tendência) e
identificar a variabilidade do elemento analisado (precipitação) como condicionante do
tempo e das deficiências e excedências hídricas.
Os 19 postos pluviométricos estão instalados em 14 municípios que englobam a área
de estudo. No quadro 1 estão relacionados os respectivos postos com seu respectivo
número de identificação (ANA) e sua localização geográfica (latitude e longitude) e a altitude
quando identificada pela ANA. Alguns municípios possuem mais de uma Estação
Pluviométrica. Todavia é bom lembrar que alguns municípios possuem grande área
territorial o que justifica o número de posto instalado. Essa quantidade de localidades
favorece ainda mais a interpretação dos dados e a consistência dos mesmos, pois pode-se
avaliar a diferença e a variação da quantidade de chuva precipitada em pontos diferentes do
município, bem como em áreas com altitudes variadas.
Para agrupar os dados pluviométricos coletados utilizou-se a ferramenta Microsoft
Office Excel 2007, o qual permitiu o agrupamento em planilhas para realizar o tratamento
dos dados de cada posto pluviométrico. Em seguida, foi feita a união de todos esses postos
instalados nos municípios da área de estudo, para enfim, obter os dados resultantes de toda
a região do Triângulo Mineiro.
Quadro 1: Localização das Estações Pluviométricas
Município Nº de
estações Código
Estações Período dos
dados
Coordenadas Geográficas Altitude
(m) Lat. Sul Long.Oeste
Triângulo Mineiro
1. Campina Verde 1 1949004 1975/2009 19°32’32” 49°28’59” 525
2. Comendador Gomes 2 1949005 1975/2009 19°41’53” 49°05’02” 655
3. Iturama 3 1950000 1975/2009 19°43’29” 50°11’30” 456
4. Gurinhatã 4 1949003 1975/2009 19°12’48” 49°47’17” 533
5. Ipiaçu 5 1849002 1975/2009 18°41’31” 49°56’55” 466
6. Ituiutaba 6 1849000 1975/2009 18°56’28” 49°27’47” 563
7 1949006 1975/2009 19°02’7” 49°41’48” 450
7. Campo Florido 8 1948007 1975/2009 19°46’14” 48°34’27” 666
8. Araguari 9 1848010 1975/2009 18°39’04” 48°12’33” 796
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de 25 a 29 de outubro de 2016
9. Canápolis 10 1849006 1975/2009 18°46’19” 49°04’11” 605
10. Cascalho Rico 11 1847007 1975/2009 18°34’44” 47°52’45” 810
11. Monte Alegre de Minas 12 1848000 1975/2009 18°52’20” 48°52’10” 730
13 1848009 1975/2009 18°51’45” 48°35’02” 700
12. Prata 14 1948005 1975/2009 19°14’49” 48°33’58” 735
15 1949002 1975/2009 19°21’35” 49°10’49” 734
13. Tupaciguara
16 1848004 1975/2009 18°41’54” 48°46’55” 793
17 1848006 1975/2009 18°36’03” 48°41’27” 732
18 1848008 1975/2009 18°29’32” 48°54’10” 732
14. Uberlândia 19 1948006 1975/2009 18°59’18” 48°11’25” 776
Fonte: ANA (2016). Org. Nathalie R. Silva (2016)
Para o cálculo do balanço hídrico, inicialmente foi identificado os dados de
temperatura, obtida por meio da média estimada mensal de cada município deste estudo.
Para tanto foi inserido na equação de regressão múltipla linear, os dados da latitude,
longitude (valores em décimos de grau) e a altitude do município.
A partir dos dados de temperatura, precipitação e da latitude geográfica dos
municípios, foi possível calcular o balanço hídrico do solo da área de estudo, estimando a
disponibilidade de água no mesmo pelo método de Thornthwaite e Mather (1955), com
Capacidade de Armazenamento (CAD) igual a 100mm. Esse CAD foi escolhido pelo fato do
mesmo ser o mais adequado na escala de análise abordada no cálculo de balanço hídrico
nesta região dos cerrados, independente do tipo de solo, mas de cultivo, normalmente
utilizado para culturas anuais e perenes (PEREIRA, et al, 2002). Para todas as localidades
foi utilizado esse valor como índice padrão. No cálculo da confecção deste balanço hídrico,
utilizou-se um software desenvolvido por Rolim e Sentelhas (2000), o qual oferece os
valores de déficits e excedentes hídricos daqueles municípios analisados.
Para ilustrar a dinâmica pluviométrica, os déficits e excedentes hídricos do Triângulo
Mineiro, a partir da consolidação dos dados foram elaborados mapas que espacializaram os
mesmos no Sistema de Informações Geográficas (SIGs) por meio do Software ArcGis 9.3.
Os mapas confeccionados demonstraram como ocorreu a distribuição espacial do
comportamento da precipitação e do balanço hídrico em toda a área de estudo.
3 – Resultados e discussão
De acordo com a Tabela 1, pode-se verificar o comportamento das chuvas durante o
ano e a sua média anual de acordo com os dados obtidos das estações pluviométricas dos
municípios analisados no período de 34 anos (1975 a 2009).
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Verifica-se que a distribuição das médias pluviométricas anuais e mensais não
ocorrem de modo uniforme no espaço e no tempo. A média pluviométrica da área de estudo
é de 1.489 mm, com uma variação média interna de cerca de 280 mm ao longo do ano. Há
uma alternância entre seis meses de chuva e seis meses de um período mais seco. As
chuvas concentram-se nos meses de outubro a março (Gráfico 1), período em que a
precipitação corresponde a 85% das chuvas anuais; o que equivale a aproximadamente
1.300 mm.
Gráfico 1: Variação da Precipitação Mensal da área de estudo.
Fonte: ANA (2016). Org. Nathalie R. Silva (2016)
O destaque é para o mês de janeiro, onde a precipitação média registrada foi de 293
mm. Entre os meses de abril e setembro predomina uma maior carência de chuvas, neste
período a média precipitada é de 218 mm, o que corresponde a 15% do total das chuvas
anuais. Julho é o mês com menor índice pluviométrico, com registro médio de 10 mm.
Em uma análise considerando o trimestre mais seco e o mais úmido, temos que, em
novembro, dezembro e janeiro são os meses que predominam o período chuvoso; juntos,
eles somam uma precipitação média de cerca de 755 mm, isso significa que 51% das
chuvas anuais precipitam neste período do ano. Os meses de junho, julho e agosto se
referem ao período mais seco, eles somam uma média de precipitação de 42 mm, o que
corresponde a 3% do total das chuvas anuais.
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Tabela 1 – Precipitação Média do Triângulo Mineiro (1975 a 2009)
Municípios Estações
Pluviométricas JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Triângulo Mineiro
Campina Verde 1949004 269 210 184 92 40 16 11 19 58 119 178 237 1433
Comendador Gomes 1949005 302 233 185 96 45 16 11 23 57 117 176 272 1533
Iturama 1950000 280 223 175 75 46 19 14 21 65 97 169 255 1439
Gurinhatã 1949003 271 214 165 80 40 16 9 13 58 115 167 246 1394
Ipiaçu 1849002 278 195 186 78 36 15 8 14 49 107 158 254 1379
Ituiutaba 1849000 285 197 179 84 39 15 11 16 54 124 193 242 1439
1949006 279 219 184 87 34 17 12 13 50 111 163 251 1420
Campo Florido 1948007 319 248 182 88 50 21 11 19 59 127 187 280 1590
Araguari 1848010 288 214 215 74 32 15 9 14 44 109 191 321 1524
Canápolis 1849006 319 204 181 94 38 16 7 18 50 126 196 278 1527
Cascalho Rico 1847007 332 246 234 85 41 11 11 14 57 113 214 302 1660
Monte Alegre de Minas 1848000 298 194 184 85 41 17 11 17 52 119 212 277 1508
1848009 289 205 199 78 40 20 8 20 47 109 208 291 1514
Prata 1948005 283 249 220 92 52 14 12 19 60 123 188 306 1618
1949002 306 218 181 86 35 14 9 15 58 108 174 264 1468
Tupaciguara
1848004 250 182 178 78 41 15 8 16 45 104 177 259 1352
1848006 280 187 182 75 32 13 8 13 48 96 199 296 1429
1848008 341 213 198 66 35 14 7 14 57 95 196 331 1566
Uberlândia 1948006 291 199 194 81 42 16 12 15 45 112 188 299 1493
Média 293 213 190 83 40 16 10 16 53 112 186 277 1489
Municípios localizados fora da área de estudo usados para realizar a interpolação dos dados na confecção dos
mapas
Santa Juliana - MG 1947001 285 188 164 77 43 18 12 17 60 114 190 283 1451
Estrela do Sul - MG 1847001 305 209 193 70 38 12 11 12 48 109 202 298 1507
Monte Carmelo - MG 1847000 305 207 176 69 35 13 10 13 52 118 194 288 1478
Itumbiara - GO 1849016 266 193 195 104 36 13 6 16 53 115 194 265 1457
Três Ranchos - GO 1847006 278 215 193 87 25 13 10 12 48 107 206 286 1481
Fonte: ANA (2016).
Org. Nathalie R. Silva (2016)
Na Figura 2 é possível visualizar a espacialização do comportamento da precipitação
no Triângulo Mineiro durante o período analisado (1975 a 2009). Como a variação média
pluviométrica dos municípios trabalhados foi de 308 mm anuais (valor mínimo de 1.352 mm
e máximo de 1.660 mm), classificaram-se tais valores em quatro intervalos de 100 mm, com
variação entre 1.300 e 1.700 mm de chuva, utilizando uma escala gradativa de cores. O
primeiro intervalo referiu-se aos comportamentos pluviométricos médios de 1.300 a 1.400
mm (cor azul claro), o segundo intervalo compreendeu os valores médios de 1.401 a 1.500
mm (azul claro médio), o terceiro se referiu ao intervalo de 1.501 a 1.600 mm (azul escuro
médio) e o último intervalo integrou os comportamentos pluviométricos médios de 1.600 a
1.700 mm (cor azul escuro).
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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais
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Figura 2: Mapa da Precipitação Média Anual da área de estudo
A porção oeste do Triângulo Mineiro registrou os índices mais baixos (ilustrado pela
cor azul mais clara), onde se localizam municípios como Ipiaçu (média anual de 1.379 mm),
Gurinhatã (média anual de 1.394 mm) e Ituiutaba (médias anuais de 1.420 e 1.439 mm em
suas duas estações). No município de Tupaciguara, apesar de não se situar nessa faixa da
região, registrou-se o menor índice médio pluviométrico em uma de suas três estações
(1848004), com 1.352 mm anuais, localizado na porção norte do Triângulo Mineiro. Além
disso, uma outra estação desse município (1848006) apresentou médias pluviométricas de
1.429 mm, dessa forma, na interpolação dos dados formou-se um círculo de cor clara que
delimita as variações pluviométricas entre 1.300 e 1.400 mm.
Na porção central do Triângulo Mineiro, registrou-se uma variação média pluviométrica
entre 1.400 mm e 1.700 mm. No intervalo de 1.400 a 1.500 mm, incluíram municípios como,
Prata (média de 1.468 mm em uma de suas duas estações) e Uberlândia (média anual de
1.493mm), no intervalo entre 1.501 e 1.600 mm estão municípios como Monte Alegre de Minas
(médias anuais de 1.508 e 1.514 mm em suas duas estações), e Araguari (média anual de
1.524 mm). O intervalo de 1.600 a 1.700 mm, cuja classe está representada pela cor mais
escura no mapa se refere aos maiores índices pluviométricos, teve sua abrangência na parte
central do Triângulo Mineiro e na porção noroeste, onde estão situados municípios como Prata
(média anual de 1.618 mm em uma de suas duas estações) e Cascalho Rico (média anual de
1.660 mm), município com o maior índice pluviométrico registrado na região.
Um destaque importante observado na espacialização das chuvas no Triângulo
Mineiro foi nos municípios de Tupaciguara e Prata, que possuem respectivamente em sua
área de abrangência três e duas estações pluviométricas, as quais registraram valores
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próximos de precipitação média. Isso fez com que o mesmo município ocupasse intervalos
de classes diferentes. O município de Tupaciguara teve cada uma de suas três estações
(1848004, 1848006 e 1848008) ocupadas em três intervalos de classes distintos, visto que
suas médias pluviométricas foram 1.352, 1.429 e 1.566 mm, respectivamente. Assim, o
mesmo município ocupou as faixas em que a precipitação média variou entre 1.300 e 1.600
mm. No município de Prata, na estação 1949002, o índice pluviométrico médio registrado foi
de 1.468 mm anuais e na estação 1948005, a média anual foi 1.618 mm. Assim, cada
estação ocupou intervalos de classes diferentes, a primeira de cor azul claro médio e a
segunda, azul escuro.
O Balanço hídrico contabiliza a quantidade de água presente no solo, sabe-se que a
precipitação é a fonte original da água que penetra e escoa sobre a superfície terrestre.
Parte dessa água é utilizada pelas plantas e a outra escoa para o lençol freático para, em
seguida, evaporar-se ou ser em parte reabsorvida pelo sistema do solo e das plantas. Assim
como a chuva, o balanço hídrico também é expresso em milímetros, ou seja, um litro de
água por metro quadrado de superfície. O cálculo do balanço hídrico do solo é de suma
importância no processo de caracterização do clima regional, é uma ferramenta essencial ao
planejamento e à gestão de atividades agrícolas, pois permite conhecer o comportamento
da água no solo no decorrer do ano e sua relação direta com a ocorrência de precipitações.
Pereira, et al (2002, p. 251), destaca que o balanço hídrico se trata de um “indicador
climatológico da disponibilidade hídrica na região.”
O método para o cálculo do balanço hídrico foi criado em 1955, e aperfeiçoado em
1957 por Thorntwaite & Mather. Neste trabalho foi utilizado um software desenvolvido por
Rolim e Sentelhas (2000) que oferece os valores de déficits e excedentes hídricos a partir
de dados de precipitação e temperatura média. Dessa forma foi possível verificar de acordo
com a quantidade de água que entrou no solo, por meio da precipitação, a quantidade de
água que ficou retida, chamado de excedente hídrico e a quantidade de água que faltou no
solo, ou seja, há um processo mais intenso de evaporação e transpiração do que os índices
de precipitações, expresso em forma de déficit hídrico.
O valor da Capacidade de Campo (CAD) utilizado, foi o de 100 mm, de acordo com
Pereira, et al (2002, p. 253),
Na elaboração do balanço hídrico climatológico, o primeiro passo é a seleção do CAD [...] Como o balanço hídrico, segundo Thorntwaite & Mather (1955), é mais utilizado para fins de caracterização da disponibilidade hídrica de uma região em bases climatológicas e comparativas, a seleção da CAD é feita mais em função do tipo de cultura ao qual se quer aplicá-lo do que do tipo de solo [...] Assim, independente do tipo de solo, pode-se
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de 25 a 29 de outubro de 2016
adotar valores de CAD entre [...] 75 e 100mm, para culturas anuais; entre 100 e 125mm, para culturas perenes.
Não foram utilizadas todas as estações pluviométricas para o cálculo do balanço hídrico,
pois algumas delas possuem dados ausentes em alguns meses do ano. Assim, para evitar
informações irreais no trabalho, optou-se por utilizar aquelas estações que possuíssem
praticamente todos os dados mensais. Algumas estações pluviométricas, como a do município
de Campina Verde, possuíam dados ausentes em vários meses do ano de 1975. Assim, o
cálculo do balanço hídrico foi realizado a partir de 1976 até 2009. De acordo com a Tabela 2,
pode-se verificar os valores dos excedentes e déficits hídricos.
Tabela 2: Cálculo do Balanço Hídrico do Solo – Valores médios do excedente e déficit hídricos do Triângulo Mineiro – MG.
MÉDIA DO EXCEDENTE HÍDRICO MENSAL / ANUAL
Município Estações J F M A M J J A S O N D TOT.
Campina Verde 1949004 123,6 94,5 63,4 20,6 0,1 0 0 0,2 0 1 21,8 75,2 400
Com. Gomes 1949005 157,6 103,4 68,2 22,7 0,8 0,3 1,1 4,3 2,5 7,8 29,6 89,8 488
Iturama 1950000 123,4 104,1 51,4 9,7 0,4 0 0 0 0 1,2 19,1 86,1 395
Gurinhatã 1949003 129,2 97,7 44,3 7,2 0 0 0 0 0 1,2 18 73,5 371
Ipiaçu 1849002 105,9 64 43,1 3,7 0 0,8 0 0 0 0,4 1,7 61,8 281
Ituiutaba 1849000 141,5 86,2 56,2 8,9 4,4 0,4 0 0 0 2,9 19,6 96,4 417
Campo Florido 1948007 185,8 132 61,9 20,1 4,1 0,9 0 0 0,6 9,5 24,7 130,6 570
Araguari 1848010 171,4 121,8 114 10,2 0,3 0 0 0 0 4,3 41,8 186,6 650
Canápolis 1849006 189,1 97 69,4 22,1 2,2 1,8 0 0 0 1 35,4 128,8 547
Cascalho Rico 1847007 218,5 149,3 125 22,4 4,8 0,2 2,1 0 0,7 9,3 68,8 166,3 768
Monte A. Minas 1848000 174,2 94,1 72,8 15,6 3,6 0 0 0 0 3,7 48,2 137,1 549
Prata 1949002 164,6 104,5 59,2 11,4 0,9 0,3 0 0 0,6 1,5 16,3 97,1 456
Tupaciguara 1848006 169,5 95,2 78,7 18,5 2,9 0,2 0 0 0 4,8 28,8 147 546
Uberlândia 1948006 178 103,3 88 15,2 1,5 0 0 0 0 5,8 38,5 163,9 594
Médias totais 159,5 103,4 71,1 14,9 1,8 0,3 0,2 0,3 0,3 3,9 29,5 117,2 502
MÉDIA DO DÉFICIT HÍDRICO MENSAL / ANUAL
Município Estações J F M A M J J A S O N D TOT.
Campina Verde 1949004 0,3 1,8 2,6 9,8 15,8 27,3 41,2 59 53,6 33 8,8 1,2 254
Com. Gomes 1949005 7 6,4 9,1 14,1 17,1 24,4 37,4 54,8 51,5 40,2 18,6 7,1 288
Iturama 1950000 0,3 1,7 3,6 14,6 15,9 27,9 41,4 59,7 53,6 53,2 16,5 4,3 293
Gurinhatã 1949003 0,3 0,9 2,6 10,1 18 27,3 44,1 65,8 59,5 39 10,7 1,1 279
Ipiaçu 1849002 2,1 3,2 5,3 17,3 29,6 43,8 60,6 83,2 90,5 70,1 31,4 1,6 439
Ituiutaba 1849000 0,4 2,7 2 8 20,5 28,5 43,5 61,7 60,9 32,3 2,9 1,9 265
Campo Florido 1948007 0,2 0,4 0,9 8 10,4 20,7 34,6 49 45,9 22,9 2,5 0,6 196
Araguari 1848010 0,2 1 1,8 5,6 15 23 35,1 46,8 45,7 20,5 1,1 0 196
Canápolis 1849006 0 1,2 2,1 8,6 15,7 28 43,5 55,1 55,9 27,5 4,4 0,4 242
Cascalho Rico 1847007 0,2 1,6 1,2 7,5 14,3 26,4 39,1 51,8 44 25,2 3,9 0 215
Monte A.Minas 1848000 0,4 1,7 1,6 5,7 13,7 25,1 36,3 51,1 52,5 27,1 1,7 0 217
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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais
de 25 a 29 de outubro de 2016
Prata 1949002 0,5 2,1 1,9 8,9 19 31 44,3 61,7 58,4 39,9 9,4 0,3 277
Tupaciguara 1848006 0,5 0,6 2 7,9 17 26,4 38,3 52,8 49,6 27,3 6,9 0,2 230
Uberlândia 1948006 0 0,8 0,5 4,3 10,4 19,8 31,7 45,7 43 21,5 3,7 0 181
Médias totais 0,9 1,9 2,7 9,3 16,6 27,1 40,8 57 54,6 34,3 8,8 1,3 255
Fonte: ANA (2010). Org. Nathalie R. Silva (2010)
Os excedentes hídricos apresentam uma média regional de 502 mm. Os seus
maiores valores ocorreram nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, todos com médias
acumuladas superiores a 100 mm, período em que coincide com o maior período de chuvas,
sendo que em janeiro o excedente atingiu valores de aproximadamente 160 mm. De maio a
setembro registraram-se os menores índices, a média do excedente hídrico nesse período
variou entre 0,2 e 1,8 mm. Já as médias dos déficits hídricos anuais apresentaram uma
média regional de 255 mm.
A partir do mês de abril até meados de outubro há o registro de retirada de água do solo
maior que a reposição, sendo que no mês de maio nota-se a ocorrência de déficit hídrico que
aumenta gradativamente até atingir seu pico no mês de agosto superando 50 mm. Com a
ocorrência de precipitações a partir de setembro, os índices do déficit hídrico reduziram-se
gradativamente, nos meses de setembro e outubro.
Na Figura 3, os dados dos excedentes hídricos estão espacializados no mapa. Como a
variação desse elemento ocorreu entre 281 mm e 768 mm, adotou-se uma divisão de seis
classes a cada 100 mm, aproximadamente. Percebe-se que a excedência hídrica aumenta
seus valores no sentido oeste-leste no Triângulo Mineiro. Na porção oeste da região verifica-
se uma faixa (de cor clara) que ocupa os valores médios entre 200 e 400m, é onde se localiza
o município de Ipiaçu, com menor índice de excedente hídrico anual, com média de 281 mm e
outros municípios como Gurinhatã (média de 371 mm), Iturama (média de 395 mm) e
Campina Verde (média de 400 mm). A maior porção no mapa é ocupada pelas variações
entre 400 e 700 mm, incluem nessa classe municípios como Prata (média de 456 mm),
Uberlândia (média de 594 mm) e Araguari (média de 650 mm). Na porção noroeste e sudeste
do Triângulo Mineiro registrou-se no mapa, os maiores índices dos excedentes hídricos,
sendo o município de Cascalho Rico o que apresentou uma média de 768 mm.
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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais
de 25 a 29 de outubro de 2016
Figura 3: Mapa da média do Excedente Hídrico da área de estudo.
Quanto aos déficits hídricos (Figura 4), novamente o município de Ipiaçu, apresenta os
valores extremos, é o que possui o maior valor médio de déficit hídrico, com 439 mm, sendo
este inclusive, um dos municípios com menores médias pluviométricas da região. Ele ocupa a
porção oeste do Triângulo Mineiro, parte de cor mais escura do mapa, onde possui os maiores
valores de déficits hídricos. Se comparado ao mapa de precipitação (Figura 2) verifica-se que
nessa região predominam os menores índices pluviométricos. Na porção central do Triângulo
Mineiro os déficits hídricos variam entre 200 e 400 mm, cujos valores são encontrados em
municípios como Monte Alegre de Minas (média de 217 mm), Campina Verde (média de 254
mm) e Iturama (293 mm). Uberlândia, localizado na parte leste do Triângulo Mineiro, foi o
município que apontou o menor valor de deficiência hídrica, com média de 181 mm.
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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais
de 25 a 29 de outubro de 2016
Figura 4: Mapa da média do Déficit Hídrico da área de estudo.
4 – Conclusões
A partir das análises feitas neste trabalho, identificou-se que as características
pluviométricas de uma determinada região são fundamentais para o desenvolvimento das
atividades econômicas, sobretudo para as atividades agropecuárias, como é o caso da
região do Triângulo Mineiro. Portanto, o conhecimento da variação temporal e espacial no
comportamento das chuvas é de grande relevância nas etapas de planejamento e gestão
das atividades agrícolas, que envolvem as etapas de preparação do solo, plantio, tratos
culturais, colheita; pós-colheita e também a comercialização.
Observa-se que no Triângulo Mineiro a estação chuvosa com seis meses de duração
(outubro a março) é um fator relevante para o bom desenvolvimento da agricultura,
sobretudo aquela realizada durante o verão (culturas de ciclo curto). Contudo, deve-se dizer
que na estação seca, também é possível a agricultura desde que se utilize de técnicas de
irrigação; pois as temperaturas menores no período de inverno fazem com que a
necessidade de água para as culturas seja reduzida (baixo déficit hídrico). Tal característica
regional faz com que os cultivos irrigados ganham cada vez mais espaço, destacando-se as
lavouras de café, trigo, feijão, alho, cebola, cenoura, banana, etc.
A metodologia utilizada no trabalho foi suficiente para a realização da pesquisa,
porém, as maiores dificuldades foram encontradas em relação à carência de dados das
estações pluviométricas, pertencentes a rede da Agência Nacional de Águas. Muitas delas
não dispunham de dados que contemplassem o período de 1975 e 2009, outras, tinham
dados ausentes em vários meses desses anos, o que inviabilizou utilizar seus dados para
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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais
de 25 a 29 de outubro de 2016
não retratar algo que não fosse condizente com a realidade temporal e espacial. Por isso,
identifica-se a fundamental importância em manter tais estações sempre em bom
funcionamento por meio de manutenções periódicas.
Para identificar as diferenciações espaciais pluviométricas no Triângulo Mineiro, a
quantidade de Estações (19) bem distribuídas em toda a região foi suficiente para a análise
geral da mesma. Principalmente, pelo fato das Estações Pluviométricas estarem operando
por um período já superior a 30 anos, o que propicia maior confiabilidade e precisão nos
dados coletados. Outra constatação é em relação à leitura (registro) da quantidade
precipitada diariamente pelos postos pluviométricos. O bom funcionamento desses postos e
a constante manutenção dos mesmos garantem a identificação e registro real da quantidade
de chuva precipitada.
5 – Referências ANA - Agência Nacional de Águas. Disponível em <http://www.ana.gov.br>. Acesso em 04 de abril de 2016. AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Tradução de Maria Juraci Zani dos santos. 6ª edição. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. HIDROWEB – Sistema de Informações Hidrológicas. Disponível em <http://hidroweb.ana.gov.br/>. Acesso em 05 de março de 2016. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. @Cidades. Disponível em <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 05 de março de 2016. MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de textos, 2007. PEREIRA, A. R.; ANGELOCCI, L. R.; SENTELHAS, P. C. Agrometeorologia: fundamentos e aplicações práticas. Guaíba: Agropecuária, 2002. 478 p. ROLIM, G. S. & SENTELHAS, P. C. Balanço hídrico normal por Thorntwaite e Mather (1955). Piracicaba: ESALQ/USP – Departamento de Ciências Exatas: Área de Física e Meteorologia, 1999 (programa para Excel v. 6).
THORNTHWAITE, C. W.; MATHER, J. R. The water balance. Publications in Climatology. New Jersey, Drexel Institute of Technology, 104p. 1955.m