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Cláudio Camargo Coelho ANALISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA E APLICAÇÃO DO MODELO GRAVITACIONAL AOS FLUXOS TURÍSTICOS PARA O BRASIL Belo Horizonte Centro Universitário UNA Agosto/2009

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Cláudio Camargo Coelho

ANALISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA E APLICAÇÃO DO MODELO GRAVITACIONAL AOS

FLUXOS TURÍSTICOS PARA O BRASIL

Belo Horizonte Centro Universitário UNA

Agosto/2009

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Cláudio Camargo Coelho

ANALISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA E APLICAÇÃO DO MODELO GRAVITACIONAL AOS

FLUXOS TURÍSTICOS PARA O BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa

de Mestrado em Turismo e Meio

Ambiente do Centro Universitário UNA,

como requisito parcial para obtenção do

título de Mestre em Turismo e Meio

Ambiente.

Orientador: Dr. José Euclides Alhadas Cavalcanti Co-orientadora: Dra. Wanyr Romero Ferreira

Belo Horizonte Centro Universitário UNA

Agosto/2009

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C672a Coelho, Cláudio Camargo

Análise estatística multivariada e aplicação do modelo gravitacional aos fluxos turísticos para o Brasil / Cláudio Camargo Coelho 2009

64f.: il.

Orientador: Dr. José Euclides Alhadas Cavalcanti

Dissertação (mestrado) Centro Universitário UNA, Programa de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente.

Bibliografia f. 61-64

1. Turismo 2. Turismo Brasil. I. Cavalcanti, José Euclides Alhadas. II. Centro Universitário UNA. III. Título

CDU:338.482

Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Título de Mestre em Turismo e Meio Ambiente e aprovada pelo Programa de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente do Centro Universitário UNA

Aprovada em: _______________________________.

Banca Examinadora:

___________________________________________

Prof. Dr. José Euclides Alhadas Cavalcanti

___________________________________________

Profa. Dra. Wanyr Romero Ferreira

___________________________________________

Prof. Dr. Geraldo Moreira da Rocha Filho

Belo Horizonte Centro Universitário UNA

Agosto/2009

A meus pais, irmãs, à m inh a e tern a com pan heira Aline e a

meu filho João Cláudio que m e apoiaram com m u ito

carinho em todos os momentos deste trabalho.

AGRADECIMENTOS

Aos Profs. Dr. José Euclides Alhadas Cavalcanti e Dra. Wanyr Romero Ferreira pelo competente trabalho de orientação e pela confiança em mim depositada e ao prof. Dr. Geraldo Moreira da Rocha Filho, avaliador externo;

Aos amigos do ISEED, Argemiro Afonso D. Lessa, Renato Valony, Zenon Batista e especialmente, Paulo R. Carvalho, Tita, Antônio Baeta, Tirso Tarrau e Marlon Aredes, pela ajuda e apoio nas horas difíceis, e também à Profa. Maria de Fátima Mesquita de Miranda pela ajuda e confiança;

Aos meus pais Osvaldo e Gláucia pelo incentivo aos estudos durante todos estes anos;

Aos Professores e Funcionários do Curso de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente que, de alguma forma, contribuíram para o bom desenvolvimento do trabalho;

Aos meus colegas do programa pela ajuda, carinho, amizade e colaboração em todos os momento da pesquisa;

Ao amigo Evandro Oliveira pelo apoio material e ajuda junto à Embratur, Carolina pela revisão e ao comandante Montandon pelas traduções;

A todos, inclusive os que porventura eu tenha esquecido de citar aqui, muito obrigado.

RESUMO

As análises estatísticas e, mais recentemente, a formulação de Modelos

Matemáticos são ferramentas das mais importantes para a pesquisa em qualquer área do

conhecimento, porém, ainda pouco exploradas em pesquisas da área de Turismo. Este

trabalho busca preencher uma lacuna existente nos estudos quantitativos aplicados ao

Turismo, analizando alguns fatores que contribuem ou prejudicam os fluxos turísticos

internacionais para o Brasil. Aplicou-se o modelo gravitacional de Issac Newton que é

usado amplamente na Física e que, aos poucos, vem sendo usado também para modelar

quantitativamente problemas típicos das Ciências Humanas e Sociais. Na pesquisa,

comprovou-se que o modelo gravitacional pode ser aplicado para o estudo dos fluxos

turísticos entre os principais países emissores e o Brasil. A aplicação do modelo

comprovou que a distância é um fator que influencia negativamente o fluxo turístico, e

que a renda e o PIB dos países emissores são fatores que influenciam positivamente.

Palavras-chave: Turismo, Modelo Gravitacional, Fluxos turísticos.

ABSTRACT

Statistical analyses and more recently the formulation of some Mathematical

Models are important instruments used as research field in any area, not properly explored

so far in tourism research. This work is intended to fill an existing gap in the quantitative

studies related to the tourism, assessing some factors which contribute or cause damage to

the international tourist flow to Brazil. We have applied the Gravitational Model of Isaac

Newton which is widely used in Physics and that has been gradually used to shape

quantitatively situations coming from the Human & Social Sciences, as well. In this

research, we have proved that we can apply the gravitational model to the tourist flows

among that main countries and Brazil, taking into account the "distance" as a factor that

affects negatively the tourist flow. On the other hand, "high income" and "GDP (Gross

Domestic Product)" are factors that influence positively.

Key-words: Tourism, Gravitational Model, Tourist Flows.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1

TOTAL DA DEMANDA TURÍSTICA EM 2007 (EM %) ....................................... 24

FIGURA 2

DEMANDA TOTAL POR VIAGENS E TURISMO NA AMÉRICA DO SUL ............... 27

FIGURA 3

ESQUEMA DO PROCESSO DE MODELAGEM MATEMÁTICA................................ 35

FIGURA 4

DIAGRAMA DE FORÇAS. ................................................................................. 39

FIGURA 5

FLUXO DE TURISTAS PARA O BRASIL ............................................................. 47

FIGURA 6

PIB DOS PAÍSES EMISSORES (MILHÕES DE US$)............................................. 47

FIGURA 7

IDH DOS PAÍSES EMISSORES (MULTIPLICADO POR 1000) ............................... 48

FIGURA 8

DISTÂNCIA DOS PAÍSES EMISSORES (KM) ................................................... 49

FIGURA 9

POPULAÇÃO DOS PAÍSES EMISSORES.......................................................... 49

FIGURA 10

MATRIZ DE DISPERSÃO DE VARIÁVEIS MÉTRICAS......................................... 51

FIGURA 11

DENDOGRAMA (PAÍSES EMISSORES)............................................................. 53

LISTA DE TABELAS

TABELA 1

TOTAL DE DEMANDA TURÍSTICA EM 2007 EM BILHÕES DE US$ .................... 24

TABELA 2

CRESCIMENTO DA DEMANDA POR VIAGENS E TURISMO NOS ÚLTIMOS 10 ANOS

(CRESCIMENTO REAL) ................................................................................................. 26

TABELA 3

DEMANDA TOTAL POR VIAGENS E TURISMO .................................................. 27

TABELA 4

FLUXO TURÍSTICO DOS PRINCIPAIS PAÍSES EMISSORES DE TURISTAS PARA O

BRASIL DADOS REFERENTES A 2005 ........................................................................... 28

TABELA 5

FLUXO, PIB, IDH, DISTÂNCIA E POPULAÇÃO DOS PRINCIPAIS EMISSORES DE

TURISTAS PARA O BRASIL ........................................................................................... 45

TABELA 6 LN(FLUXO REAL) E LN(FLUXO CALCULADO PELO MODELO).......................... 55

TABELA 8 LN(FLUXO REAL) E LN(FLUXO CALCULADO PELO MODELO, USANDO

POPULAÇÃO)............................................................................................................... 57

LISTA DE ABREVIATURAS

CST

Conta Satélite do Turismo

EMBRATUR

Instituto Brasileiro de Turismo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH

Índice de Desenvolvimento Humano

ILO International Labour Organization

IMF

International Monetary Fund

OMT - Organização Mundial de Turismo

PIB Produto interno bruto

UNCTAD

United Nations Conference on Trade and Development

UNESCO

United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

WTO World Tourism Organization

WTTC World Travel & Tourism Council

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 11

2. PROPOSTA DE PESQUISA .................................................................................. 12

2.1 OBJETIVOS .................................................................................................. 14

2.1.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................. 14

2.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................... 14

3. REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................... 16

3.1. O TURISMO NA ATUALIDADE..................................................................... 16

3.1.1 O TURISMO INTERNACIONAL............................................................... 17

3.1.2 DADOS ESTATÌSTICOS DO TURISMO INTERNCIONAL.................... 21

3.2 FATORES QUE INFLUENCIAM OS FLUXOS TURISTICOS ....................... 29

3.3 ESTATÍSTICA MULTIVARIADA .................................................................... 32

3.4 MODELAGEM MATEMÁTICA ....................................................................... 33

3.4.1 O MODELO GRAVITACIONAL ............................................................ 36

4. METODOLOGIA.................................................................................................... 40

4.1 EXAMINANDO OS DADOS ............................................................................. 40

4.2 ESTATÍSTICA MULTIVARIADA E ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS ...... 41

4.3 MODELO GRAVITACIONAL DO TURISMO................................................. 42

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................................ 45

5.1 ANÁLISE EXPLORATÓRIA DOS DADOS..................................................... 45

5.2 ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS .................................................................... 52

5.3 O MODELO GRAVITACIONAL ...................................................................... 54

6. CONCLUSÕES........................................................................................................ 58

7. REFERÊNCIAS....................................................................................................... 59

11

1. INTRODUÇÃO

O turismo é uma atividade econômica de vital importância para os países em

desenvolvimento principalmente na geração do PIB, na geração de poupança interna, na

arrecadação de impostos, na geração de empregos, na geração de produção e demanda e

na manutenção do equilíbrio do fluxo populacional entre regiões e com o exterior (IBGE,

2005:2). Essa visão é confirmada também por Silva (2004:9), quando aponta que o

turismo pode ser um meio para se atingir o desenvolvimento econômico em regiões

periféricas já que o fluxo de turistas ricos dos centros metropolitanos deveria injetar

moeda estrangeira e gerar empregos.

É importante destacar que o considerável crescimento dos fluxos turísticos

internacionais, medidos por instituições internacionais tais como a OMT (Organização

Mundial do Turismo) e WTTC (World Travel & Tourism Council), traz à tona a

necessidade de se analisar e de interpretar os fatores de atração e repulsão que exercem

influência nestes fluxos, tais como: a distância entre os países, a renda per capita do país

emissor, a população do país emissor, ou o seu PIB.

Essas e outras informações sobre os fluxos turísticos são normalmente escassas e

incompletas, o que dificulta, tanto para o setor privado quanto para o governamental, a

formulação de políticas públicas, planejamentos estratégicos e a eficiência nos negócios.

A utilização de um modelo matemático permite tal análise e estudo, além de preencher

algumas lacunas deixadas pelos poucos estudos quantitativos e aplicações da estatística no

turismo.

12

2. PROPOSTA DE PESQUISA

A utilização de dados estatísticos em estudos no turismo é um campo de pesquisa

dos mais importantes, e, ao mesmo tempo, ainda pouco explorado. Nos países da América

do Sul encontram-se poucos dados estatísticos ou literatura a respeito, e no caso

específico do Brasil, apesar dos esforços de órgãos governamentais como EMBRATUR e

IBGE, a falta de informações é notável. Muitos dados importantes não são coletados, o

que dificulta qualquer tipo de estudo mais profundo. Além disso, boa parte das

informações disponibilizadas pelos setores público e privado é inconsistente, pouco

confiável e, por conseguinte, inútil

(SANTOS, 2003:1). Esta falta de estudos, não só no

âmbito estatístico, é confirmada também por Assis (2003:10): convém lembrar também

que, a despeito do boom do turismo no mundo, os estudos acadêmicos no Brasil ainda são

recentes (embora, em expressivo crescimento) .

Para o turista, as finalidades de sua viagem são basicamente de ordem recreativa

ou em menor escala de natureza profissional, porém, em ambos os casos, as atividades são

eminentemente de natureza econômica, sendo voltadas para a recepção, a prestação de

serviços e a satisfação das necessidades dos turistas. Segundo Lage & Feitosa (2002:3),

todas as viagens, sendo para fins turísticos ou não, motivadas por públicos diferenciados,

têm fundamentação econômica

pela demanda, satisfazem a necessidades ilimitadas, e,

pela oferta, atendem aos interesses da lucratividade gerando riqueza para o país ou região

que o explora adequadamente.

Portanto, as estatísticas no turismo são de vital importância para que os gestores

públicos tomem conhecimento de como ocorrem ou se processam os fluxos turísticos em

seus territórios e possam fazer um correto planejamento e alocação de verbas de

13

investimento no turismo, tão necessário neste setor que se caracteriza por ser uma

atividade atípica, na qual o bem não se desloca até o mercado:

Trata-se de um bem que não se desloca até o local de consumo, sendo antes o consumidor a deslocar-se a fim de consumir o bem; Trata-se de um bem de luxo, e, por conseguinte, de um bem cujo consumo aumenta à medida que aumenta a rendimento dos consumidores; Trata-se de um bem de exportação. Na verdade, a venda de um produto ou serviço turístico consiste também num ato de exportação, na medida em que o consumidor-turista vem adquirir a um país estrangeiro algo não adquirido no seu próprio país, importando assim o bem em causa (com única diferença de ter sido o consumidor

e não o produto a deslocar-se até o local de consumo); Trata-se de um bem em que os atos de aquisição e de consumo não são simultâneos, sendo antes defasados no tempo; Finalmente, o turismo pode ser encarado como uma transferência espacial de poder de compra, uma vez que os visitantes auferem os seus rendimentos num local diferente daquele em que vão despendê-lo, havendo por isso lugar a uma transferência espacial de rendimentos cada vez que alguém adquire um produto turístico. (MATIAS, 2003:8)

Os países da América Latina têm aumentado o seu interesse pelo turismo, pois esta

atividade dinâmica pode servir como fonte de geração de renda, emprego, crescimento do

setor privado, aperfeiçoamento da infra-estrutura e, basicamente, para o enriquecimento

dos países e aumento da qualidade de vida das pessoas. O turismo também possui a

vantagem de não requerer o mesmo volume de investimentos e desgastes de recursos para

colocá-lo no mercado internacional que outras atividades requerem, tais como um

carregamento de minerais ou de produtos agricolas.

O incremento turístico é especialmente estimulado nos países em desenvolvimento como suplementares a outras formas de crescimento econômico, tais como manufatura ou exportação de recursos naturais

(OMT 2003:17).

Por ser uma atividade atípica, que vai além dos setores convencionais da

economia, abrangendo aspectos econômicos, sociais, religiosos, culturais, etc., o turismo

deve ser compreendido em sua totalidade para que possa vir a ser uma importante fonte de

riquezas para o país. Hoje, ele pode ser considerado como uma dimensão vital da

integração global e das atividades comerciais e que poderá vir a ser a maior fonte global

de trocas internacionais (VIETZE, 2008:3).

14

O turismo tem no território, na paisagem natural, no patrimônio histórico e na

cultura popular suas principais matérias-primas. Seu estudo abrange áreas tão distintas

como sociologia, história, geografia, administração e economia, dentre outros. Os

métodos quantitativos são ferramentas importantes para auxiliar na compreensão deste

fenômeno complexo. Assim, as análises envolvidas nos estudos de turismo não podem

ficar restritas às ferramentas tradicionais, é necessário fazer uso de instrumentos não

convencionais, dentre eles a modelagem matemática e a geografia econômica.

2.1 OBJETIVOS

2.1.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho é analisar os fluxos turísticos para o Brasil dos

principais países emissores de turistas, utilizando-se a estatística multivariada e a

modelagem matemática, mais especificamente o modelo gravitacional do turismo.

2.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar se as ferramentas da estatística tradicional e da estatística

multivariada conseguem explicar e analisar as principais características da

distribuição do fluxo de turistas entre o Brasil e os vinte principais países

emissores de turistas do mundo (origens e destinos).

Determinar as relações de atração e repulsão dos fluxos turísticos dos

principais países emissores em relação ao Brasil, valendo-se de um modelo

de relacionamento, do tipo inverso quadrado (modelo gravitacional).

15

Analisar as causas que podem influenciar os padrões existentes nos fluxos

turísticos atuais entre os vinte maiores emissores de turistas para o Brasil.

16

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. O TURISMO NA ATUALIDADE

Vive-se numa época em que as transformações ocorrem num nível de agilidade

cada vez mais intenso. Estas transformações atingem, dentre outras, as áreas de transporte

e de comunicação, que exercem forte influência em todas as atividades humanas, entre

elas, a atividade turística. Com o advento das comunicações via satélite e a Internet, algo

que acontece em algum lugar remoto do planeta chega ao conhecimento de todo o mundo

em poucas horas, isto quando o acontecimento não for em tempo real. E também em

poucas horas pode-se chegar ao local, devido ao grande avanço nos meios de transporte

(principalmente com o barateamento do transporte aéreo). Com todas essas

transformações, que provocam o encurtamento dos espaços, o turismo tem sofrido grandes

mudanças nos últimos anos. Apesar das catástrofes e de todos os problemas mundiais

recentes (gripes aviária e suína, tsunami, guerras, terrorismo), ele vem crescendo como

poucas atividades no mundo, e ajudando no desenvolvimento de diversas localidades. É

uma atividade que tem crescido substancialmente durante o último quarto de século como

um fenômeno econômico e social (IBGE, 2006), mesmo levando-se em conta a queda de

8% entre janeiro e fevereiro de 2009, devido ao impacto da recessão econômica mundial e

da crise referente à gripe A(H1N1), o que, segundo a OMT (2009) provocará uma

diminuição de 2% ou 3% no movimento turístico do ano de 2009.

17

3.1.1 O TURISMO INTERNACIONAL

Turismo pode ser entendido de várias formas. Boyer (2003:16) o define como

sendo um conjunto dos fenômenos resultantes da viagem e da estadia temporária de

pessoas fora de seu domicílio, na medida em que este deslocamento satisfaz, no lazer,

uma necessidade cultural da civilização industrial , ou, segundo Massieu,

Como atividade econômica, o turismo, por uma parte, está definido pela demanda e pelo consumo dos visitantes, sejam eles turistas (quer dizer, visitantes que pernoitam) ou visitantes de um dia. Por outro lado, o turismo se refere aos bens e serviços produzidos para atender a referida demanda. [ ], inclui uma ampla gama de atividades diferentes por exemplo, [ ], alojamento, abastecimento, compras, serviços de agencias de viajem, operadores de turismo receptivo e emisor (MASSIEU, 2004:34)1.

Neste trabalho adotou-se a definição da Organização Mundial do Turismo (OMT):

são as atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente

habitual por não mais de um ano consecutivo, para lazer, negócios ou outros objetivos

(OMT 2003:18). Já o termo viagem é o ato de uma pessoa sair de sua comunidade por

negócio ou prazer, mas não para viajar diariamente indo e vindo do trabalho ou da escola

(GEE2 et al. apud OMT 2003:18).

Segundo Boyer (2003:39), o fenômeno designado, na época romântica, por uma

nova palavra, por um neologismo, decorre de The Tour, fenômeno original, nasceu e se

desenvolveu na Inglaterra do século 18 que fez todas as Revoluções: industrial, agrícola,

financeira. Acrescenta-se a Revolução Turística; os aristocratas, os rendeiros da terra, que

concentravam as honras, ameaçados de perder uma parte de seu poder em proveito da

1 como actividad económica, el turismo, por una parte, está definido por la demanda y el consumo de los visitantes, ya sean turistas (es decir, visitantes que pernoctan) o visitantes del día. Por otra parte, el turismo se refiere a los bienes y servicios producidos para atender a dicha demanda. [ ], incluye una amplia gama de actividades diferentes por ejemplo, [ ] alojamiento, abastecimiento, compras, servicios de agencias de viaje, operadores de turismo receptivo y emisor. 2 Gee, C.Y, Makens, J. C. and Chov, D. J. L. The travel industry (2nd Ed.). New York, NY: Van Nostrand Reinhold - 1989

18

burguesia ascendente, entenderam distinguir-se ao exaltar valores da gratuidade: a riqueza

ociosa, uma cultura greco-romana, jogos e esportes com regras complexas (o que

desencorajava imitação), viagens sem obrigação e para os jovens educados nos melhores

colégios, a educação recebia seu acabamento com The Tour (BOYER, 2003:39).

Pode-se dizer que o turismo é uma das invenções humanas voltadas, em suas

origens, para as elites. Ainda segundo Boyer:

as primeiras antecipações datam do século 16, com alguns viajantes humanistas que tiveram curiosidade pela Itália e o apetite pela Antigüidade. (...) As grandes descobertas datando do século 18: propus chamar o seu conjunto de Revolução Turística. Surgiu então o amor pelo campo, que se torna lúdico, a transformação das práticas populares de uso das águas no termalismo mundano das estações termais que se estendeu até os balneários oceânicos o novo desejo de ir aos limites e as invenções sucessivas das Geleiras, do Mont Blanc e do alpinismo e, enfim, a longa temporada de inverno no sul da França (BOYER, 2003:19).

O turismo contemporâneo é herdeiro destas formas elitistas. Passou-se de um

pequeno número às massas sem revolucionar o conteúdo (BOYER, 2003:31), e surgiu

como uma movimentação (de massas ou não), principalmente, internacional. Ele não foi o

resultado de geração espontânea. Lanfant (1995:25) diz que seu desenvolvimento foi

impelido por um poderoso aparato de promoção turística, apoiado altamente por grandes

organizações internacionais

Nações Unidas, ILO, UNCTAD, IMF, UNESCO, e Banco

Mundial.

De acordo com a OMT (OMT 2003:19), o turismo internacional difere do turismo

doméstico e ocorre quando o viajante cruza a fronteira de um país. Mas não pode ser

considerado, segundo Lanfant:

como uma simples extensão do turismo doméstico, levado por uma irresistível propensão para viajar, ou reduzir sua significância econômica simplesmente pela sua contribuição ao comércio internacional. O turismo internacional se tornou um elo de ligação entre dois mundos, desiguais em seus desenvolvimentos: a sociedade pós-industrial emissora, e os países em desenvolvimento (LANFANT, 1995:28).

Lanfant (1995) ainda completa que o turismo coloca junto, grupos sociais com

19

discursos contrastantes: países desenvolvidos ou em desenvolvimento, populações

urbanas e rurais, sociedades tecnológicas e tradicionais; fenômeno que estabelece novas

relações sociais.

O interesse pelo estudo do turismo internacional sempre foi grande, sobretudo por

razões econômicas, porque essa forma de deslocamento desempenha importante papel nos

fluxos comercial e monetário entre as nações, sendo em alguns casos, a principal fonte de

receitas de uma localidade ou até mesmo de um país. Apesar deste interesse maior pelo

turismo internacional, não se pode esquecer que ele se relaciona com o turismo doméstico,

pois as escolhas dos viajantes mudam dependendo das circunstâncias, e o turismo

doméstico pode ser substituído pelo internacional e vice-versa sob a influência de fatores

externos, tais como o aumento relativo da renda real, as diferenças de preços entre países

e as condições políticas internacionais (OMT 2003:19).

A escala do turismo doméstico mundial excede em muito a escala do turismo

internacional mundial; Em 1975, o total de chegadas de turistas domésticos atingiu 5,6

bilhões, enquanto o total de chegadas de turistas internacionais chegou a 567 milhões

uma proporção de 10:1 (OMT 2003:30). Porém, o turismo no mundo é normalmente e

tradicionalmente medido pelo turismo internacional. Segundo Massieu (2004:22):

O turismo não apenas inclui os viajantes internacionais (ou seja, turismo receptor do ponto de vista dos destinos, ou turismo emissor do ponto de vista dos mercados emissores), mas também inclui o turismo no próprio país de residência (ou seja, turismo interno). O turismo mundial é medido tradicionalmente pelas chegadas de turistas internacionais e pelos ingressos na rubrica Viagens da Balança de Pagamentos. (MASSIEU, 2004:22)3.

Apesar dessa importância, o turismo internacional não pode ser considerado como

a chave do impulso econômico; quaisquer que sejam os meios para o seu incremento, ele

3 El turismo no sólo incluye los viajes internacionales (es decir, turismo receptor desde el punto de vista de los destinos, o turismo emisor desde el punto de vista de los mercados emisores), sino también incluye el turismo en el proprio país de residencia (es decir, turismo interno). El turismo mundial se ha medido tradicionalmente por las llegadas de turistas internacionales y por los ingresos de la rúbrica Viajes de la Balanza de Pagos.

20

exige precauções importantes para que traga os benefícios reais esperados. (SILVA,

2004:13). Segundo Callizo Soneiro4 apud Silva (2004:14), integrado com o meio

receptor e eficazmente planejado o turismo pode se tornar um agente dinamizador de

áreas deprimidas. Então, deve-se ter em mente que o turismo internacional, apesar de

não ser considerado como o principal fator, pode vir a ser muito importante no

desenvolvimento e na captação de recursos para a economia dos países, já que é uma

atividade que possui grande poder de redistribuição espacial de renda, pois os principais

emissores de turistas são os países ricos e os receptores nem sempre são os países ricos

(IGNARRA, 1988:61). Assim, as análises dos impactos econômicos e culturais do

turismo internacional são de vital importância e a estatística e os modelos matemáticos

podem ser ferramentas importantes para medir os fluxos de turistas entre países emissores

e receptores.

Para isto, a Conta Satélite de Turismo (CST) - documento padronizado pelas

Nações Unidas para avaliar o impacto do turismo na economia, medindo o consumo

pessoal, despesas em negócios, capital investido, gastos governamentais, produto interno

bruto, empregos gerados pela atividade turística - é, segundo o World Travel & Tourism

Council (WTTC, 2007), o mais importante passo no sentido de medir e desenvolver a

atividade turística, além de garantir a credibilidade das medições do turismo. De acordo

com a OMT, a Conta Satélite do Turismo é entendida como:

um conjunto de recomendações pormenorizadas, coerentes e flexíveis para países, relativas a um sistema de base de classificações, definições e agregados, que está relacionado com os quadros tipo do Sistema de Contas Nacionais das Nações Unidas de 1993, devendo ser aplicado à economia nacional numa base anual. Este sistema constitui assim a base para as comparações internacionais do impacto do turismo na economia (OMT, 1999:i).

A importancia da CST é confirmada por Massieu:

4 CALIZZO SONEIRO, Javier. Aproximación a La geografía Del turismo. Madrid: Sínteses, 1991. (Espacios y Sociedades, 21)

21

A CST é um instrumento que responde a estas necessidades e características

facilitando (para o total de um país e referidas a um período de um ano) um marco articulado de informações de caráter econômico tanto para os que tomam decisões políticas como para aqueles que o fazem em relação a decisões empresariais

(MASSIEU 2004:31)5.

Apesar desta importância, poucos países da América Latina, inclusive o Brasil,

implantaram ou estão implantando essa metodologia. Isto dificulta qualquer tomada de

decisão e escolha de políticas públicas por parte das autoridades governamentais, e de

investimentos por parte dos empresários.

3.1.2 DADOS ESTATÍSTICOS DO TURISMO INTERNACIONAL

Em 2006 foram registradas 843 milhões de chegadas internacionais no mundo,

representando um aumento de 4,5% em relação ao ano de 2005.

Apesar dos riscos que enfrentava o turismo nestes doze meses

em particular o terrorismo, a preocupação sanitária pela gripe aviária, [ ], 2006 voltou a ser um bom ano, com um crescimento acima das previsões de 4,1 % a longo prazo, e com o respaldo de um dos maiores periodos de expansão econômica continuada (OMT, 2007:1)6.

Nesse período, o maior crescimento ocorreu na África, com 8,1%, destacando-se

um grande desempenho da África Subsaariana. África do Sul, Quênia e Marrocos

continuam com excelentes resultados. Em seguida estão a Ásia e a região do Pacífico com

um incremento de 7,6%, recuperando-se do tsunami de dezembro de 2004. A América do

Sul teve um crescimento de 7,2%, com Chile, Colômbia, Paraguai e Peru apresentando

crescimento de dois dígitos (OMT, 2007:1).

5 La CST es un instrumento que responde a estas necesidades y características facilitando (para el total de um país y referidas al período de um año) um marco articulado de información de carácter económico tanto para quienes toman decisiones políticas como para aquellos que lo hacen en relación con decisiones empresariales. 6 A pesar de los riesgos a los que se enfrentaba el turismo hace doce meses

en particular el terrorismo, la preocupación sanitaria por la gripe aviar [ ] , 2006 volvió a ser un buen año, con un crecimiento por encima de la previsión del 4,1 % a largo plazo, y con el respaldo de uno de los periodos más largos de expansión económica continuada.

22

Em 2007, estima-se um aumento de 6% no total das chegadas internacionais em

todo o mundo, o que representaria 900 milhões de chegadas (OMT, 2008:1). Também se

espera que esse crescimento se torne mais sólido, pois as empresas, os consumidores, os

governos e as instituições internacionais estão mais preparados e com mais experiência

para responder às emergências e às catástrofes e, com o crescimento das redes de

informações, os consumidores se encontram melhor informados e preparados para

escolher os seus destinos. Esses dados estatísticos são um grande indicador do escopo do

fenômeno da mobilidade espacial internacional de pessoas (LANFANT, 1995:27).

Segundo dados da WTTC (2007), em 2007 espera-se que o turismo contribua com

10,4% para o PIB (Produto interno bruto) mundial, o que significa um total de US$ 5,4

trilhões. Ainda segundo estes dados da WTTC (2007), em relação aos empregos gerados,

a estimativa é que o turismo, no âmbito mundial, gere 8,3% dos empregos (ou um em

cada 12 empregos) em 2007. A região do Caribe é a que tem maior participação de

empregos na área do turismo (são 14,8%), indicando a importância deste setor para a

região. Logo após seguem a América do Norte (12,8%) e a União Européia (11,8%). Na

América Latina, apenas 6,9% dos empregos estão em áreas relacionadas com o turismo

(sendo melhor apenas que a região do Sul da Ásia com 5,2%). Porém, analisando o

crescimento acumulado dos empregos, nos últimos 10 anos, a América Latina mostra um

crescimento anual de 2,7%, perdendo apenas para o Oriente Médio com 3,0%. A União

Européia (1,3%) e a América do Norte (1,2%) por terem mercados já consolidados

ficaram com crescimentos muito baixos, ficando à frente apenas do Nordeste da Ásia que

teve um crescimento de apenas 0,7% (WTTC, 2007).

O consumo pessoal7 mundial com o turismo é estimado em US$ 2,9 trilhões. A

7 Inclui todos os gastos pessoais dos viajantes na economia local, incluindo bens e serviços (Hotel, transportes, alimentação, souvenires, etc.) Podem ocorrer antes, durante e depois da viagem.

23

União Européia e a América do Norte, ambas com aproximadamente US$ 1,03 trilhões,

são as que apresentam maior participação. A América Latina possui uma participação de

US$ 63 bilhões. As viagens de turismo de negócios no mundo são estimadas em US$ 743

bilhões (WTTC, 2007).

Em termos de capitais investidos8, têm-se uma expectativa de que os países

invistam US$ 1,1 trilhão, públicos e privados. Os investimentos governamentais são

estimados em US$ 334 bilhões (3,9% do total de gastos governamentais) (WTTC,

2007:17). Esses dados são bastante significativos perante os problemas ocorridos nos

últimos anos pelo mundo que poderiam afetar o turismo, tais como terrorismo, fenômenos

naturais e fatores políticos, comprovando que o turismo possui uma resistência

extraordinária e uma habilidade sem precedentes para superar as crises (JIMÉNEZ,

2004:24).

Em termos mundiais, espera-se que o turismo gere em 2007, US$ 7,06 trilhões

(demanda total9), o que significa um aumento de 3,9% e, entre 2008 e 2017 espera-se um

aumento de 4,3%, em termos reais, por ano (WTTC, 2007:12). Os dados de demanda

turística mundial são apresentados na Tabela 1, e ilustrados na FIG 1.

8 Inclui investimentos públicos e privados. 9 Agregado nominal de atividade turística no país que inclui: Viagens e turismo pessoal, Viagens de negóciosl, Gastos governamentais (individual), Visitors Exports, Gastos governamentais (coletivo), Capital Investido, Exportações (não-visitantesr)

24

TABELA 1 Total de demanda turística em 2007 em bilhões de US$

US$ % do total Mundo 7 060 100,0% U. Européia 2 486 35,2% América do Norte 2 040 28,9% Nordeste da Ásia 1 184 16,8% Sudeste da Ásia 197 2,8% América Latina 186 2,6% Oriente Médio 172 2,4% Sul da Ásia 82 1,2% Norte da África 61 0,9% Caribe 56 0,8%

Fonte: WTTC (2007)

FIGURA 1 Total da demanda turística em 2007 (em %) Fonte: WTTC (2007) com dados da tabela 1

25

A Tabela 1 e o mapa temático representado na FIG 1 mostram que a União

Européia mantém-se no primeiro lugar, seguido da América do Norte, em termos de

demanda turística. A América Latina espera contar com apenas 2,6% da demanda mundial

do turismo, ficando muito atrás da União Européia e América do Norte, e próximo do

sudeste asiático (2,8%), mesmo com todos os problemas sofridos por esta região, como o

tsunami de 2004 ou gripe aviária (2003/2004), o que vem ao encontro de Boyer:

Vemos uma zona de turismo quase de massa, a Europa Ocidental, que reforça sua primazia e confirma sua tendência a um turismo zonal (no interior da Europa). Observamos que a América do Norte (Estados Unidos e Canadá) é a segunda zona turística do mundo, como emissora e receptora (com o Caribe que a prolonga). Constatamos a existência e o progresso de focos secundários: Austrália

Nova Zelândia, África do Sul, Japão e alguns outros. Mas não constatamos ma tendência geral nítida para os intercâmbios turísticos verdadeiramente mundiais (BOYER 2003:166).

Pela Tabela 2, que mostra a evolução de demanda nos últimos 10 anos, verifica-se

que houve um aumento em todas as regiões, sendo que o maior crescimento foi verificado

na Sul da Ásia (7,3%) e o menor na União Européia (3,3%). A América Latina ficou com

um crescimento de 4,7%. Este dado pode ser considerado promissor, pois apresenta um

crescimento real maior que a União Européia e a América do Norte, mercados já

consolidados. Observa-se que a América Latina ainda é um mercado em construção,

porém seu incremento fica apenas próximo dos outros mercados tais como o Oriente

Médio, região conturbada e abalada por constantes guerras, e muito abaixo da Ásia como

um todo.

26

TABELA 2

Crescimento da demanda por viagens e turismo nos últimos 10 anos

(crescimento real)

Dados anuais ( %)Mundo 4,4% Sul da Ásia 7,3% Sudeste da Ásia 6,3% Nordeste da Ásia 5,8% Norte da África 5,0% América Latina 4,7% Oriente Médio 4,5% América do Norte 4,0% Caribe 3,4% U. Européia 3,3%

Fonte: WTTC (2007)

Neste novo milênio resta pouca dúvida de que o turismo continuará a ser um dos

setores de crescimento mais dinâmicos da economia global. A demanda por turismo pode

diminuir em tempos e em áreas de crise, e não obstante as inevitáveis flutuações

ocorridas, a tendência geral do turismo de hoje continua sendo a de contínuo crescimento

(KELLER10 apud TRIGO, 2005:3).

Considerando apenas a América do Sul (excluindo-se Guianas e Suriname), na

Tabela 3, que apresenta a demanda turística por países, verifica-se que o Brasil é o país

com maior demanda turística com US$ 79,2 bilhões, representando quase 50% de toda a

demanda da América do Sul, seguido de longe pela Argentina com US$ 26,5 bilhões

(menos da metade da demanda do Brasil). Os demais países estão bem atrás do Brasil e da

Argentina e mesmo do Peru que, com toda riqueza e herança Inca, não consegue bons

resultados (apenas US$ 8,7 bilhões), aparecendo inclusive atrás da Venezuela, da

Colômbia e do Chile. O pior desempenho fica por conta do Paraguai, com apenas 0,6% da

demanda, o que representa um pouco menos de US$ 1 bilhão.

10 KELLER, P. Tourism in a globalized society. Introductory report. Madrid: WTO, 2002.

27

TABELA 3 Demanda total por viagens e turismo

Bilhões US$ % Brasil 79,2 47,1% Argentina 26,5 15,8% Venezuela 19,2 11,4% Colômbia 12,8 7,6% Chile 12,1 7,2% Peru 8,7 5,2% Equador 4,5 2,7% Uruguai 2,7 1,6% Bolívia 1,3 0,8% Paraguai 0,943 0,6%

TOTAL > 168,4 Fonte: WTTC (2007)

Uma melhor forma de visualizar estas informações é através do mapa temático da

FIG 2.

FIGURA 2 Demanda total por viagens e turismo na América do Sul Fonte: Dados da tabela 3

Dentro desse contexto, pode-se verificar que o Brasil tem um papel de destaque no

turismo sul-americano, ficando com quase a metade da demanda por viagens e turismo no

28

continente. Segundo a Tabela 4, os maiores fluxos para o Brasil são oriundos da

Argentina com 992.299 turistas, EUA com 793.559, Portugal com 357.640, Uruguai com

341.647 e Alemanha com 308.598 turistas. Esses países totalizam quase 52% de todo

fluxo de turistas internacionais para o Brasil. Os menores fluxos são do Equador, com

15.149 turistas, da China com 18.017 e da Austrália com 20.949 turistas.

TABELA 4 Fluxo turístico dos principais países emissores de turistas para o Brasil Dados referentes a 2005

Fluxo de turistas para o Brasil 1 Argentina 992.299 2 EUA 793.559 3 Portugal 357.640 4 Uruguai 341.647 5 Alemanha 308.598 6 Itália 303.878 7 França 252.099 8 Paraguai 249.030 9 Espanha 172.979

10

Chile 169.953 11

Reino Unido 169.514 12

México 73.118 13

Bolívia 68.670 14

Japão 68.066 15

Peru 60.251 16

Venezuela 48.598 17

Colômbia 47.230 18

Austrália 20.949 19

China 18.017 20

Equador 15.149 Fonte: OMT (2007) - Documento: Chegada de turistas não-residentes na fronteira nacional, por país

de residência 11

Nota-se que alguns países próximos e até mesmo fronteiriços com o Brasil

apresentam fluxos menores do que países mais distantes, como são os casos do Equador e

da Colômbia que apresentam um fluxo muito baixo, enquanto EUA, Portugal e Alemanha

apresentam fluxos mais altos.

11 Arrivals of non-resident tourists at national borders, by country of residence.

29

3.2 FATORES QUE INFLUENCIAM OS FLUXOS TURISTICOS

Entender as motivações e os fatores que influenciam os fluxos turísticos é uma

tarefa muito complexa que exige pesquisas em diversas fontes e em diversos campos da

ciência. Andrade (2007) afirma que:

dentro do processo de tomada de decisões do consumidor por determinado produto ou serviço, podemos destacar o consumo de viagens de lazer, que deve ser aqui entendido como um conceito mais amplo que a simples motivação por descanso ou recreação, incluindo também os aspectos históricos e culturais. As viagens de lazer, inseridas na atividade turística, são uma das características marcantes da nossa sociedade (ANDRADE, 2007:118).

O turismo é composto basicamente por um fluxo de pessoas que se deslocam de

seus locais de residência para outros locais. Essa movimentação de turistas entre espaços

de emissão e recepção propicia uma maior integração, o que possibilita a ampliação das

relações políticas, sociais econômicas e culturais entre os diferentes lugares do planeta,

assim como redefine a relação espaço-tempo (ASSIS, 2003:2).

Para Vietze (2008:3), para que o turismo venha a se tornar um importante fator de

desenvolvimento, um importante questionamento a ser respondido é quais os fatores

determinantes que empurram a demanda do turismo nos países emissores.

As motivações que levam o turista a se deslocar são muitas e diversificadas. Para

Santos (2004:25), os fluxos turísticos são determinados por nove fatores: população,

sociedade e cultura, aspectos econômicos, motivadores, infra-estrutura-geral, serviços

turísticos, deslocamento, sistema de distribuição e aspectos legais. De uma forma mais

geral, o comportamento humano, de acordo com a abordagem desenvolvida por Maslow12

apud Andrade (2007:118) é motivado pela busca de satisfação de cinco grandes

12 MASLOW, A. H. (1989). A Theory of Human Motivation. In LYNE, C. (Ed.). Leisure travel and tourism. Massachusetts: Institute of Certified Travel Agents.

30

necessidades: as fisiológicas, as de segurança, as de amor, as de estima e as de auto-

realização. Para Vietze (2008:3), embora a demanda internacional por turismo seja

influenciada por vários fatores, os estudos anteriores de demanda turística se concentram

em fatores econômicos, primariamente a renda.

Diferentemente de outros bens de consumo, a oferta turística não pode se deslocar,

ela há de ser consumida in loco. Conseqüentemente, o desenvolvimento dos meios de

transporte, principalmente o aéreo, que se tornou mais acessível com o direito a férias

remuneradas, possui um grande destaque como influenciador dos fluxos turísticos. Como

afirma Silva (2004:4): a necessidade do consumidor ou do produtor de se deslocar afeta

setores e atividades como saúde, educação, turismo, cultura bibliotecas, teatros, museus,

etc., serviços financeiros, restaurantes e o comércio atacadista.

Não serão abordadas nesta pesquisa as motivações sociológicas e psicológicas que

influenciam na escolha de um destino turístico, ou o que motiva o turista a sair de sua

localidade. Neste estudo, analisar-se-á, como um dos fatores, a influência da distância

nestas escolhas. A minimização dos deslocamentos e de seus custos é uma condição

básica para o consumidor do turismo:

os destinos turísticos tendem a ser cada vez mais longínquos, uma vez que os avanços tecnológicos e a concorrência internacional têm reduzido o custo real de viajar, quer em termos de tempo, quer em termos monetários. Verifica-se, aliás, uma crescente atenção aos preços por parte dos turistas. Uma das conseqüências mais diretas deste fato é que fica cada vez maior a importância das viagens aéreas de mais baixo custo (os designados vôos charter), competindo mesmo com o transporte terrestre e marítimo/fluvial em distâncias relativamente curtas (GODINHO & ALBUQUERQUE, 2001:19).

O aumento da renda individual, ou do poder aquisitivo da população,

principalmente nos países emissores, também influenciam e determinam os fluxos

turísticos. O turismo é uma atividade econômica, portanto, é regido pelas mesmas leis que

regem os mercados mundiais, com seus princípios e leis básicas. Nesta perspectiva, e, por

31

ser um bem de luxo, o turismo tende a ter uma demanda altamente elástica em relação à

renda (elasticidade-renda), ou como descrevem Heilbroner & Thurow (1981:122) de que

modo nossa disposição ou capacidade de comprar ou vender responde a uma variação da

renda, em lugar do preço. Ainda segundo Heilbroner & Thurow (1981:122) vendas de

um bem ou serviço elástico em relação à renda elevam-se, proporcionalmente, mais

depressa do que a renda. Portanto, pode-se considerar de maneira geral, que o aumento

da renda média da população (aumento do PIB) pode gerar um aumento do turismo.

O orçamento de férias dos distintos grupos e classes sociais é influenciado pelos

fatores aqui descritos, porém, outros fatores podem também influenciar, tais como o

desenvolvimento de produtos competitivos é, no entanto, muitas vezes dificultado por fatores como má acessibilidade, infra-estruturas inadequadas, insuficiências crônicas nos transportes, inadequação de instalações, falta de fundos para investimento, tecnologia rudimentar, problemas de gestão e escassez de pessoal qualificado

(GODINHO & ALBUQUERQUE, 2001:15).

Ou ainda:

Instabilidade política, dificuldades econômicas e publicidade mal orientada também podem prejudicar a imagem do destino e reduzir os lucros do sector. Em termos gerais, pode dizer-se que a procura de turismo é influenciada, principalmente, por três fatores

o rendimento das famílias, o número de dias de férias e a estrutura etária da população, todos eles diretamente relacionados com o grau de desenvolvimento econômico (GODINHO & ALBUQUERQUE, 2001:15).

Nesse sentido, considerando que fatores culturais e sociais também se destacam, o

IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) se evidencia como uma importante ferramenta

para medir o desenvolvimento de uma sociedade ao longo do tempo.

Se o conceito de desenvolvimento humano é muito mais vasto do que qualquer resultado que um índice composto possa oferecer, o IDH oferece uma alternativa poderosa ao rendimento enquanto medida sumária do bem-estar humano. Oferece um ponto de partida útil para a riqueza de informação sobre os diversos aspectos do desenvolvimento humano (RDH, 2006:276).

O IDH é calculado em intervalos de cinco anos. De acordo com o Relatório de

Desenvolvimento Humano de 2006,

32

é um índice composto que mede as realizações médias num país em três

dimensões básicas do desenvolvimento humano: uma vida longa e saudável, medida pela esperança de vida à nascença; conhecimento, medido pela taxa de alfabetização de adultos e pela taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior; e um padrão de vida digno, medido pelo produto interno bruto (PIB) per capita em PPC (paridade do poder de compra) em dólares. O índice é construído com base em indicadores disponíveis a nível mundial através de uma metodologia simples e transparente

(RDH,

2006:276).

Portanto, neste trabalho, levam-se em conta três fatores influenciadores dos fluxos

turísticos: a distância entre os centros emissores e receptores, o produto interno bruto

(PIB) dos países emissores e o seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

3.3 ESTATÍSTICA MULTIVARIADA

A estatística tradicional sofreu grande impulso com o desenvolvimento das

tecnologias computacionais. Os métodos estatísticos estão sendo levados ao extremo com

o poder dos computadores, sendo possível a criação de métodos novos e mais potentes,

que anteriormente (sem a utilização de computadores) não seriam possíveis. Por isto, a

tarefa de analisar e manipular grandes quantidads de dados está cada vez mais fácil. A

estatística multivariada constitui um dos métodos estatísticos que simultaneamente

analisam múltiplas medidas sobre cada indivíduo ou objeto sob investigação (HAIR et

al., 2005:26). Ela ainda pode ser entendida como o estudo estatístico no qual várias

variáveis são analisadas e medidas simultâneamente. Com a estatística univariada (uma ou

duas variáveis) fica muito difícil analisar várias correlações entre as variáveis, pois a

tendência é que a análise e a correlação se tornem muito complexas.

A estatística multivariada pode ser dividida em dois grupos, segundo Mingoti

(2005:21), um primeiro consistindo em técnicas exploratórias de sintetização (ou

simplificação) da estrutura de variabilidade dos dados, e um segundo, consistindo em

33

técnicas de inferência estatística. Ainda segundo Mingoti:

os métodos de estatística multivariada são utilizados com o propósito de simplificar ou facilitar a interpretação do fenômeno que está sendo estudado através da construção de índices ou variáveis alternativas que sintetizem a informação original dos dados; construir grupos de elementos amostrais que apresentem similaridade entre si, possibilitando a segmentação do conjunto de dados original; investigar as relações de dependência entre as variáveis respostas associadas ao fenômeno e outros fatores (variáveis explicativas), muitas vezes com objetivos de predição; comparar populações ou validar suposições através de testes de hipóteses (MINGOTI, 2005:22).

Neste trabalho serão utilizadas a técnica de regressão múltipla, apropriada quando

o problema de pesquisa envolve uma única variável dependente métrica considerada

relacionada a duas ou mais variáveis independendes métricas (HAIR, 2005:32) e a

análise de agrupamentos, que é uma técnica analítica para desenvolver subgrupos

significativos de indivíduos ou objetos

3.4 MODELAGEM MATEMÁTICA

A modelagem é uma aplicação da matemática que pode ser utilizada em todas as

áreas de conhecimento. Ela serve para a criação de modelos matemáticos com o objetivo

de tentar fazer previsões, e pode também ser encarada como um método científico de

pesquisa (BASSANEZI, 2004:16).

Modelo Matemático é um conjunto de símbolos e relações matemáticas que representam de alguma forma o objeto estudado. A importância do modelo matemático consiste em se ter uma linguagem concisa que expresse nossas idéias de maneira clara e sem ambigüidades, além de proporcionar um arsenal enorme de resultados (teoremas) que propiciam o uso de métodos computacionais para calcular suas soluções numéricas (BASSANEZI, 2004:20).

Pode-se dizer que as ciências naturais como a Física, a Astrofísica, a Engenharia e

a Química já estão hoje amplamente matematizadas em seus aspectos teóricos. As

ciências biológicas, apoiadas inicialmente nos paradigmas da Física e nas analogias

34

conseqüentes ficaram, com o tempo, cada vez mais matematizadas. Nesta área a

matemática tem servido de base para modelar, por exemplo, os mecanismos que

controlam a dinâmica de populações, a epidemiologia, a ecologia, a neurologia, a genética

e os processos fisiológicos (BASSANEZI, 2004:19).

De acordo com Ragsdale (2004:4), podemos citar como principais características e

benefícios da modelagem:

os modelos são usualmente uma simplificação dos objetos e dos problemas

de decisões;

é mais barato analisar os problemas de decisão, usando modelos;

os modelos oferecem informações em menor tempo;

os modelos freqüentemente ajudam examinar situações que seriam

impossíveis no mundo real;

os modelos proporcionam um entendimento do problema e nos permite

insights já durante a investigação.

É bem verdade que a modelagem matemática nas ciências sociais ainda não está

devidamente consolidada em termos de uma maior exatidão. Ela ainda não obteve

resultados comparáveis aos que obteve nas ciências exatas. Porém, a simples

interpretação de dados estatísticos tem servido, por exemplo, para direcionar estratégias

de ação nos meios comerciais e políticos (BASSANEZI, 2004:19).

Genericamente, pode-se dizer que a matemática e a realidade são dois conjuntos

disjuntos e que a modelagem é um meio de fazê-los interagir. Pode-se esquematizar a

modelagem matemática de acordo com a FIG. 3.

35

FIGURA 3 Esquema do processo de modelagem matemática.

Fonte: BIEMBENGUT (2003:13).

Ainda de acordo com Bassanezi (2004), Modelagem Matemática é um processo

dinâmico utilizado para a obtenção e validação de modelos matemáticos. É uma forma de

abstração e generalização com a finalidade de previsões e tendências. A modelagem

consiste, essencialmente, na arte de transformar situações da realidade em problemas

matemáticos cujas soluções devem ser interpretadas na linguagem usual. A modelagem

eficiente permite fazer previsões, tomar decisões, explicar e entender; enfim, participar do

mundo real com capacidade de influenciar em suas mudanças (BASSANEZI, 2004:31).

Ragsdale (2004:7) classifica os modelos em três tipos: Prescritivos, são os que

tentam determinar os valores de uma variável (chamada independente) que produzam os

melhores resultados de outra variável (chamada dependente). Preditivos são os que

tentam predizer ou estimar os valores que uma variável (dependente) assumirá quando

outra variável (independente) assumir determinados valores. E os Descritivos são aqueles

que, se apoiando em variáveis e dados bastante exatos, tentam descrever a relação

existente entre duas ou mais variáveis. Neste trabalho, utiliza-se do modelo gravitacional

que é um modelo descritivo. Este modelo é descrito a seguir.

Modelagem Matemática

Situação Real

Matemática

modelo

36

3.4.1 O MODELO GRAVITACIONAL

Várias abordagens têm sido sugeridas para o estudo (e previsões) dos fluxos

turísticos. As mais tradicionais utilizam-se de variáveis sócio-econômicas, tais como

idade, renda, nível educacional ou ocupação. Em alguns estudos (MOUTINHO e

TRIMBLE, 199113 ou SMITH, 198514 apud NYAUPANE, 2003), aproveitando o

desenvolvimento dos computadores e a facilidade e agilidade de cálculos, procurou-se

incluir variáveis geográficas e de posição, tais como distância da residência até o destino

turístico, distribuição espacial dos atrativos turísticos ou urbanização. Dentre estas

variáveis geográficas, a distância é uma das mais importantes e pode ser mais bem

estudada por meio de um modelo gravitacional. Este modelo pode ser utilizado para

estimativas futuras de fluxos. Podem-se analisar dados e situações reais, e fazer previsões

para criação de planejamentos.

Foi o britânico Isaac Newton (1642-1727) a enunciar a famosa lei da Gravitação

Universal: Tudo se passa como se matéria atraísse matéria na razão direta do produto das

massas e na razão inversa do quadrado da distância

(CARRON, 2002). Em 1687, com a

publicação do livro Princípios Matemáticos da Filosofia Natural , Newton lançou as

bases da Física Clássica, propondo a lei da gravitação universal para explicar os

movimentos dos planetas em torno do Sol. Os planetas são mantidos em órbita devido a

uma ação mútua, ou seja, devido à força de atração entre o Sol e os planetas.

Exaustivamente verificada por processos experimentais, a lei da gravitação

universal de Newton, foi um passo decisivo na Astronomia. Ela permite explicar e prever

as trajetórias de todos os corpos sob ação gravitacional (TAVALERA, 2005).

13 MOUTINHO, L., & TRIMBLE, J. A probability of revisitation model: The case of winter visits to the Grand Canyon. 1991. The service Industries Jornal, 11, 439-457. 14 SMITH, S. L. J. U.S. vacation travel patterns: Correlates of distance decay and the willingness to travel. 1985. Leisure Sciences, 7, 151-174.

37

A fórmula criada por Newton é:

221

d

MMGF

(1)

em que: F é a força de atração entre as massas de dois corpos, M1 é a massa de um dos

corpos, M2 é a massa do outro corpo, d é a distância entre os dois corpos e G é uma

constante, chamada de constante de gravitação universal.

Na segunda metade do século XIX iniciou-se a aplicação do modelo gravitacional

de Newton em outras áreas do conhecimento que não fosse a Física. Hoje, este modelo é

muito difundido e aplicado em diversas áreas, principalmente por ser de simples

entendimento.

A primeira aplicação conhecida de modelagem gravitacional para explicar

interações no espaço territorial em atividades humanas deve-se a Carey (1865), ainda que,

neste caso, com uma abordagem de cunho sócio-econômico (MATIAS, 2003:15).

Recentemente, ainda neste contexto, a modelagem gravitacional ganhou expressão

nomeadamente por parte da geografia econômica, uma vez que sua lógica permite entre

outras coisas

instrumentalizar o elemento distância no âmbito da análise das relações

comerciais entre países e regiões. Efetivamente, partindo da equação (1) e fazendo

algumas adaptações pode-se confirmar teoricamente a noção intuitiva de que os fluxos

comerciais tendem a ser maiores entre os países mais próximos geograficamente.

Em estudos de Tinbergen15 (1962) e Pöyhönem16 (1963) apud Matias (2003:15),

constata-se que a correlação negativa entre os fluxos comerciais e a distância entre os

mercados de origem e o destino se verifica genericamente para todos os países,

15 Tinbergen (1962) Shaping the World Economy: Suggestions for an International Economic Policy, New York, Twentieth Century Fund 16 Pöyhönen, Pentti (1963) "A Tentative Model for the Volume of Trade Between Countries," Weltwirtschaftliches Archiv 90 (1), pp. 93-99

38

independentemente das suas diferenças de riqueza, graus de desenvolvimento, cultura,

sistema político, história e organização societária.

Para Vietze (2008:4), em economia, os modelos gravitacionais possuem uma já

estabelecida e longa história na análise de fluxos de dados. Além do mais, são motivados

pelo seu sucesso empírico em explicar o comércio internacional. O mesmo autor afirma

ainda que, além do comércio internacional, a equação gravitacional também pode ser

aplicada a uma gama de interações sociais como imigração, estudos regionais ou

investimentos estrangeiros diretos. A equação gravitacional pode ser aplicada também no

campo do turismo.

Nos fenômenos sociais, a variável dependente é a força de interação entre dois

elementos sociais que representariam as massas no modelo tradicional de Newton. Estes

elementos sociais poderiam ser: a população, o PIB, as quantidades de leitos disponíveis

em hotéis, a quantidade de empresas de alimentação, as instituições de ensino, enfim,

qualquer tipo de elemento com caráter social.

Praticamente qualquer tipo de fenômeno que envolva interações sociais pode ser descrito pelo modelo gravitacional. A força de interação entre dois elementos sociais é dada em função da massa dos dois elementos e da força de atrito entre eles. No modelo de Newton, as massas são medidas em quilogramas, e nas ciências sociais, essa grandeza deve ser medida em uma unidade de acordo com o elemento social considerado (SANTOS, 2004:93).

Logo, como se trata de turismo, a variável dependente se refere aos fluxos

turísticos entre os países, medidos em termos de quantidade de turistas. O modelo

proposto, busca determinar a dinâmica dos fluxos turísticos entre os países emissores e o

Brasil, partindo de alguns fatores escolhidos.

No modelo, o fluxo de saída de uma localidade emissora é entendido como uma

força repulsiva, que obriga

o turista a sair de sua localidade para visitar outra. E a

localidade de destino é caracterizada pela força de atração, que também obriga o turista

39

a sair de sua localidade, atraindo-o para o destino. Estas forças são maiores ou menores

quanto maiores ou menores forem os atrativos turísticos de uma localidade destino, ou

quanto mais estruturados estes destinos estiverem em termos de equipamentos turísticos e

de apoio. Por outro lado, os preços praticados nos destinos podem ser encarados como

uma relação inversa, ou seja, quanto maiores os preços, menos atração esta localidade

exercerá.

Além destas forças de atração e repulsão, os fluxos turísticos sofrem uma força de

atrito, que é explicada pela força que aproxima ou distancia duas localidades, dificultando

o fluxo entre elas. As principais determinantes da força de atrito são os aspectos

econômicos comparativos entre origem e destino, a distância geográfica, suas relações

culturais e sociais, a configuração do sistema de distribuição e as relações legais

bilaterais (SANTOS, 2004:104). A FIG. 4 apresenta este diagrama de forças.

FIGURA 4 Diagrama de forças.

Fonte: SANTOS, 2004

Origem Destino

forças repulsivas

forças de atração

preços

Infra-

negócios

outros

atrativos Qtd pop

Cultura

Renda

Distribuição

Outros

Distância

Relações Culturais

Sistema de distribuição

Relações legais

forças

de atrito

Fluxo de turistas

40

4. METODOLOGIA

4.1 EXAMINANDO OS DADOS

A tarefa de exame de dados é essencial para uma boa análise multivariada. A

análise cuidadosa dos dados nos leva a uma melhor previsão e a uma avaliação mais

precisa de dimensionalidade (HAIR, 2005:49) e completa ao examinar os dados antes

da aplicação de uma técnica multivariada, o pesquisador passa a ter uma visão crítica e

teórica.

Os dados utilizados na pesquisa são: FLUXO (Fluxo de turistas a partir do país

emissor em direção ao Brasil), PIB (Produto interno bruto do país emissor), IDH (Índice

de desenvolvimento humano do país emissor), POPULAÇÃO (População absoluta do país

emissor) e DISTÂNCIA (em km) da capital do país até Brasília.

Um problema que se apresenta é como calcular as distâncias entre os países, já que

esta é uma noção questionável. Mesmo com suas limitações, a opção aqui escolhida foi

medir a distância euclidiana entre as capitais dos países e, para tal fim, foi utilizado o

software de geoprocessamento MAPINFO, através de sua ferramenta de medir distâncias

em um mapa mundi digitalizado e registrado. O procedimento de registro informa ao

software as coordenadas geográficas de um mapa digitalizado, permitindo assim obter as

distâncias como se o pesquisador estivesse no mundo real, pois agora, cada parte do mapa

digitalizado corresponde a uma coordenada real.

41

4.2 ESTATÍSTICA MULTIVARIADA E ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS

Outro estudo que pode ser feito é a Análise de Agrupamentos, também conhecida

como análise de conglomerados, classificação ou cluster (MINGOTI, 2005:155). O seu

objetivo é agrupar elementos similares, de acordo com uma série de variáveis previamente

definidas, ou seja, elementos que fiquem num mesmo agrupamento devem possuir uma

homogeneidade e os elementos que fiquem em grupos diferentes devem possuir uma alta

heterogeneidade, ou, de acordo com Bussab (1990), é uma variedade de técnicas e de

algorítmos cujo objetivo é separar objetos em grupos similares.

Segundo Mingoti (2005:156) uma questão importante refere-se ao critério a ser

utilizado para se decidir até que ponto os elementos de um conjunto de dados podem ou

não ser considerados como semelhantes.

Para cada elemento amostral têm-se informações de p-variáveis armazenadas em um vetor, a comparação de diferentes elementos amostrais poderá ser feita através de medidas matemáticas (métricas, que possibilitem a comparação de vetores, como as medidas de distância. Assim, podemos calcular as distâncias entre vetores, de observações dos elementos amostrais e agrupar aqueles de menor distância. (MINGOTI, 2005: 156)

Neste estudo usa-se a Distância Euclidiana como medida de similaridade entre as

observações.

A análise de agrupamentos é útil quando uma pesquisa possuir uma quantidade

grande de observações que não apresentem significado a não ser agrupadas em subgrupos

semelhantes (HAIR, 2005:384). Esta análise pode também ser útil no desenvolvimento de

hipóteses relativas à natureza dos dados ou no exame de hipóteses previamente

estabelecidas. Além disto, pode-se usar a Análise de Agrupamentos como uma ferramenta

descritiva dos dados, sem base teórica e não inferencial. É usada principalmente como

uma técnica exploratória (HAIR, 2005:385).

42

A similaridade entre as observações pode ser medida de várias maneiras, dentre

elas a Distância Euclidiana, que é a medida mais usada para representar similaridades

entre duas observações. Essencialmente, é uma medida do comprimento de um segmento

de reta desenhado entre dois objetos

(HAIR, 2005:382). Assim, usando-se os dados da

TAB 5, e o software EXCEL com pacote StatistiXL próprio para análises multivariadas,

pode-se criar os agrupamentos e colocá-los na forma de gráficos chamados Dendogramas.

4.3 MODELO GRAVITACIONAL APLICADO AO TURISMO

A equação (1), quando aplicada aos fluxos comerciais, pode ser escrita da seguinte

forma (MATIAS, 2003:17):

ij

jiij D

YcYE = ijji DYcY (2)

em que Eij são as exportações entre os países i e j, c é uma constante, Yi é a renda do país

i, Yj é a renda do país j, e Dij é a distância entre os países i e j, sendo

e , parâmetros

a estimar, representando as elasticidades das exportações relativa à renda e à distância.

Linearizando a expressão (2), obtém-se:

ijjiij DYYcE lnlnlnlnln

(3)

Nota-se na expressão acima que os parâmetros

e

são precedidos por sinais

positivos, enquanto

é precedido pelo sinal negativo. Como todos os valores destes

parâmetros são positivos, a equação está de acordo com a suposição de que a distância

afeta inversamente (negativamente) os fluxos comerciais.

Sendo o turismo um bem econômico, de natureza intrinsecamente exportável, a

expressão 2 pode ser aplicada ao setor, bastando para isto considerar em Eij as exportações

43

de bens turísticos entre países i e j, passando os parâmetros ,

e

a serem

interpretados como as elasticidades das exportações turísticas relativamente à renda e à

distância (MATIAS, 2003:17).

Ao aplicar esta equação aos fluxos turísticos entre o Brasil e alguns países,

tomando como variável dependente os fluxos turísticos de um país i oriundo do país j

(Eij), enquanto a variável explicativa é a distância entre os países i e j, pode-se comprovar

a hipótese de que a distância é um fator relevante para o fluxo turístico, usando a equação

(3).

Usou-se, neste trabalho, uma modelagem gravitacional do tipo descritiva, na qual

são analisados os fluxos turísticos entre o Brasil e alguns dos principais países emissores

de turistas no mundo. Os países foram escolhidos de modo a se ter representantes de todos

os principais continentes, pela relevância nos fluxos turísticos internacionais, e pela

disponibilidade de dados. Foram eles: da América do Norte, os EUA e o México; da

Europa, a Espanha, o Reino Unido, Portugal, a França, a Itália e a Alemanha; da Ásia, o

Japão e a China; da Oceania, a Austrália e da América do Sul, a Argentina, o Uruguai, o

Chile, a Bolívia, o Paraguai, o Peru, a Colômbia, o Equador e a Venezuela.

Como variável de atrito, usar-se-á a distância calculada entre as capitais dos países

e a capital brasileira, e como massas , o PIB dos países e o IDH. Ao aplicar estas

variáveis na equação 2 tem-se:

ij

iiij

D

IDHcPIBF

(4)

que, linearizada, fica:

ijiiij DIDHPIBcF lnlnlnlnln

(5)

em que, Fij representa o fluxo turístico para o Brasil a partir do país i, Dij é a distância do

44

Brasil ao país i, o PIBi e IDHi são respectivamente o PIB e o IDH do país i.

Propõe-se usar o PIB e o IDH por suas relevâncias na explicação do volume de

turistas que chegam ao Brasil, na medida em que constituem uma avaliação de dimensões

como rendimento e qualidade de vida, indispensáveis para a procura de um bem de luxo

como o turismo.

Para estimar os parâmetros e validar o modelo gravitacional aplicado ao turismo,

usam-se métodos estatísticos de regressão múltipla. Por meio destes métodos, se buscou

verificar se os fluxos turísticos realmente dependem negativamente da distância e

positivamente do PIB do país de origem e de seu IDH.

A regressão múltipla é usada para analisar a relação entre uma única variável

dependente, neste caso o fluxo turístico, e diversas variáveis independentes, nesse caso o

PIB, o IDH e a Distância. O seu objetivo é usar as variáveis independentes, cujos valores

são conhecidos, para prever os valores da variável dependente, ou para testar algum

modelo, como o gravitacional no caso deste trabalho, já que se conhecem os possíveis

valores da variável dependente (o fluxo turístico).

45

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

A Tabela 5 sumariza os dados obtidos por meio do software MAPINFO. Estes

dados foram usados para testar o modelo gravitacional.

TABELA 5 Fluxo, PIB, IDH, Distância e População dos principais emissores de turistas para o Brasil

Fluxo17

para o Brasil PIB18

(milhões US$) IDH19

População20 Distância21

ao Brasil (km)

Argentina 992.299 183.193 0,863 39.356.000 2.456 EUA 793.559 12.416.505

0,948 302.711.000 6.799 Portugal 357.640 183.305 0,904 10.571.000 7.286 Uruguai 341.647 16.791 0,851 3.200.000 2.308 Alemanha 308.598 2.794.926 0,932 82.200.000 9.600 Itália 303.878 1.762.519 0,940 58.432.000 8.913 França 252.099 2.126.630 0,942 63.363.000 8.733 Paraguai 249.030 7.328 0,757 6.033.000 1.612 Espanha 172.979 1.124.640 0,938 44.871.000 7.745 Chile 169.953 115.248 0,859 16.580.000 3.253 Reino Unido 169.514 2.198.789 0,940 60.836.000 8.802 México 73.118 768.438 0,921 105.200.000 6.838 Bolívia 68.670 9.335 0,692 9.828.000 2.296 Japão 68.066 4.533.965 0,949 127.781.000 17.673 Peru 60.251 79.379 0,767 28.068.000 3.299 Venezuela 48.598 140.192 0,784 27.500.000 3.683 Colômbia 47.230 122.309 0,790 47.517.000 3.930 Austrália 20.949 732.499 0,957 20.908.000 14.145 China 18.017 2.234.297 0,768 1.320.668.000

14.253 Equador 15.149 36.489 0,765 13.730.000 3.991

Fonte: Ver nota de rodapé

Os dados da Tabela 5 mostram que os maiores fluxos turísticos para o Brasil

ocorrem de países longínquos como os EUA, Portugal, a Alemanha, a Itália e a França.

17 OMT (2007) - Documento: Arrivals of non-resident tourists at national borders, by country of residence 18 http://portalsepin.seplan.go.gov.br 19 Development Programme Report das Nações Unidas elaborado em 2006 20 http://portalsepin.seplan.go.gov.br 21 Valores calculados com o programa Mapinfo

46

Apenas a Argentina e o Uruguai aparecem como países próximos que possuem grandes

fluxos. A Bolívia (que faz fronteira com o Brasil) e o Peru apresentam fluxos parecidos

com o longínquo Japão. A Colômbia, o Equador e a Venezuela apresentam fluxos

parecidos com a China e a Austrália. A mera observação da tabela então, não sugere que a

distância seja um fator importante nestes fluxos turísticos, conforme a hipótese.

Este primeiro exame dos dados teve como objetivo a simplificação da descrição

dos dados e obtenção de uma visão mais profunda da sua natureza (TRIOLA, 1999:51), e

se presta a explorar os dados em um nível preliminar, com poucas ou nenhuma hipótese a

respeito dos dados e através de simples histogramas.

5.1 ANÁLISE EXPLORATÓRIA DOS DADOS

Apresentam-se, a seguir, uma análise baseada em histogramas criados a partir dos

dados apresentados na Tabela 5.

A FIG 5 mostra o fluxo de turistas para o Brasil, em 2006, oriundos dos países

selecionados para esta pesquisa. A FIG. 6, que mostra o PIB para os diferentes países,

permite concluir que a grande maioria deles possui PIB abaixo dos US$ 2 trilhões. Com

relação ao IDH, mostrado na FIG 7, a distribuição é mais homogênea.

47

FIGURA 5 Fluxo de turistas para o Brasil

FONTE: OMT (2007): Arrivals of non-resident tourists at national borders, by country of residence

FIGURA 6 PIB dos países emissores (milhões de US$)

FONTE: http://portalsepin.seplan.go.gov.br

48

FIGURA 7 IDH dos países emissores

FONTE: Development Programme Report das Nações Unidas elaborado em 2006

A FIG 8 se refere às distâncias entre as capitais dos países emissores e Brasília,

medidas no mapa e a FIG. 9 mostra que, entre os países analisados existe uma

predominância de países com populações abaixo dos 250 milhões de habitantes (18

países).

49

FIGURA 8 DISTÂNCIA dos países emissores (km)

FONTE: Obtidas no software Mapinfo

FIGURA 9 POPULAÇÃO dos países emissores

FONTE: http://portalsepin.seplan.go.gov.br

50

Pelos dados apresentados nas Figuras 5 a 9 , nota-se que a maioria dos países (12)

apresenta fluxos de até 200.000 turistas (FIG 5). Se forem considerados também os 6

países com fluxos abaixo de 400.000, verifica-se que a grande maioria dos países

analisados (18 entre 20) enviaram menos de 500.000 turistas para o Brasil no ano de 2006.

Quatorze países possuem PIB abaixo de 2 trilhões de dólares (FIG 6), enquanto seis deles

(a França, o Reino Unido, a China, a Alemanha, o Japão e os Estados Unidos) possuem

PIB superior. O IDH (FIG 7) apresenta uma distribuição mais homogênea, com uma leve

predominância de países com IDH acima de 0,9. Quanto à distância (FIG 8) entre as

capitais dos países emissores e Brasília, medidas no mapa, verifica-se que a maior parte

dos países emissores se encontra mais próxima (17 países com distância menor ou igual a

10.000 km). Finalmente, em relação à população (FIG 9), verifica-se que 19 países

emissores de turistas possuem população abaixo de 250.000.000 de habitantes.

Outra ferramenta usada nesta fase exploratória é a matriz de dispersão de dados

métricos, que é uma matriz resumo das relações e correlações entre todas as variáveis em

estudo. A FIG 10 apresenta a matriz obtida por meio do software Excel.

Esta matriz mostra as correlações bivariadas acima da diagonal e os diagramas de

dispersão, abaixo da diagonal. A diagonal representa a distribuição de cada variável.

Todos os valores de R2 das correlações bivariadas são muito pequenos, mostrando que

não existe uma correlação entre estas variáveis, o que indica que, por exemplo, o IDH

independe do tamanho da população (correlação = 0,011 ou seja, apenas 1,1% dos valores

observados do IDH possuem correlação com a população). Este resultado pode ser

visualizado no diagrama de dispersão (abaixo da diagonal

terceiro gráfico contando a

partir da esquerda, na última linha). Observa-se que os pontos estão dispersos e afastados

da reta de ajuste.

51

FLUXO

0,182 0,0009 0,057 0,008

PIB

0,208 0,13 0,075

IDH

R Sq Linear = 0,208

0,374 0,011

Dist

0,201

Pop

FLUXO PIB IDH Dist. Pop.

FIGURA 10 Matriz de dispersão de variáveis métricas

FONTE: Dados da pesquisa

Pela matriz de dispersão de variáveis métricas (FIG 10) verifica-se que as

correlações obtidas são fracas, consequentemente não existe uma correlação entre as

variáveis. A correlação mais forte foi entre o Fluxo e o PIB dos países emissores, que

ficou em 0,182 ou seja, 18% dos valores dos fluxos turísticos pode ser explicado pelo PIB

desses países.

Por esta exploração inicial e pela análise dos histogramas mostrados nas figuras 5

a 9, não se pode inferir que o fluxo turístico para o Brasil possua alguma relação com as

variáveis estudadas.

52

5.2 ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS

Pelo dendograma criado pela análise de agrupamentos (FIG. 11) não se verifica

grupos ou agrupamentos muito destacados, segundo as variáveis consideradas. Apesar

disto, sete grupos pouco marcantes podem ser extraídos: o primeiro seria formado por

Equador, Portugal, Bolívia, Paraguai, Chile, Uruguai, Austrália, Venezuela e Peru. Um

segundo grupo, muito pouco distante do primeiro seria formado por Espanha, Argentina e

Colômbia. O terceiro grupo, mais destacado dos demais, porém com pouca diferença,

seria formado por Reino Unido, França e Itália. Alemanha estaria sozinha num quarto

grupo. No quinto Japão e México. Os EUA formaria sozinho o grupo seis e a China

também sozinha, o grupo sete.

Destes grupos, observa-se que os quatro primeiros não possuem diferenças

significativas entre eles, sendo todos muito próximos. Apenas nos três últimos grupos

(Japão e México

EUA

China) é que se pode destacar uma diferença relevante,

evidenciando que através dos dados escolhidos (PIB, POPULAÇÃO, IDH e

DISTÂNCIA) não se pode separar ou explicar os fluxos turísticos de maneira consistente.

53

FIGURA 11 Dendograma (países emissores)

FONTE: Dados da pesquisa

54

5.3 RESULTADO DA APLICAÇÃO DO MODELO GRAVITACIONAL AO TURISMO

A estimativa pela regressão múltipla, utilizando-se o software EXCEL, pacote

ANALISE DE DADOS e ferramenta REGRESSÃO (onde a opção intervalo y de

entrada corresponde à coluna FLUXO P/ BRASIL, e a opção intervalo x de entrada

às

colunas PIB, IDH e DISTÂNCIA) permite comprovar a hipótese de que a distância é uma

força repulsiva do fluxo turístico, enquanto o PIB e o IDH são forças atrativas. Esta

regressão apresenta os seguintes valores para os parâmetros - que indicam as

elasticidades - da equação (5):

= 0,3868, = 9,0161,

= -2,2804 e c = -34,36 (6)

o que leva à equação final:

iiii DIDHPIBF ln2804,2ln0161,9ln3868,036,34ln

(7)

em que:

Fi = Fluxo turístico do país i ao Brasil

PIBi = PIB do país i

IDHi = Índice de desenvolvimento humano do país i

Di = Distância do país i até Brasília

Através da equação (7), pode-se construir a Tabela 6, na qual são mostrados os

valores reais dos fluxos turísticos e os calculados pelo modelo.

55

TABELA 6 ln(Fluxo real) e ln(Fluxo calculado pelo modelo)

ln(Fluxo) REAL

ln(fluxo) MODELO

Diferença absoluta (real

modelo)

Desvio (%)

(real-modelo)x100

real

1 Argentina 13,81 13,48 0,33 2,4 2 EUA 13,58 13,63 0,05 0,4 3 Portugal 12,79 11,42 1,37 10,7 4 Uruguai 12,74 12,57 0,17 1,3 5 Alemanha 12,64 12,12 0,52 4,1 6 Itália 12,62 12,19 0,44 3,5 7 França 12,44 12,32 0,11 0,9 8 Paraguai 12,43 12,01 0,41 3,3 9 Espanha 12,06 12,31 0,25 2,1

10 Chile 12,04 12,62 0,57 4,8 11 Reino Unido 12,04 12,30 0,26 2,1 12 México 11,20 12,28 1,08 9,7 13 Bolívia 11,14 10,49 0,65 5,8 14 Japão 11,13 11,08 0,05 0,5 15 Peru 11,01 11,42 0,41 3,7 16 Venezuela 10,79 11,59 0,79 7,4 17 Colômbia 10,76 11,45 0,69 6,4 18 Austrália 9,95 10,95 1,00 10,1 19 China 9,80 9,38 0,41 4,2 20 Equador 9,63 10,66 1,03 10,7

Nota-se que as diferenças entre os fluxos reais e os fluxos calculados pelo modelo

são pequenas em quase todos os casos, com exceção de Portugal, do México, da Austrália

e do Equador (diferenças próximas à 10%). Os países cujos fluxos mais se enquadraram

no modelo foram os EUA e o Japão (diferenças próximas a 0) além do Uruguai e da

França. Este resultado quer dizer que a equação gravitacional encontrada pode explicar

bem os fluxos turísticos entre os países, pois as diferenças entre os fluxos reais e os fluxos

calculados pela equação são pequenas.

Usando este modelo, obtém-se a comprovação empírica da grande relevância dos

fatores distância, PIB e IDH nos fluxos turísticos para o Brasil, ficando explicado do

ponto de vista teórico o grande fluxo de argentinos, norte-americanos e uruguaios,

56

respectivamente primeiro, segundo e quarto maiores fluxos turísticos para o Brasil. No

caso da Argentina e do Uruguai, explica-se pela pouca distância e pelos bons índices de

PIB e IDH, já no caso dos EUA, apesar de ter uma distância um pouco maior, ela é

compensada pelo grande valor do PIB.

Já os casos dos outros países sul-americanos (Peru, Bolívia, Venezuela e Equador)

que possuem pouco fluxo, pode-se considerar que a distância entre eles e o Brasil é

grande em virtude das poucas e precárias vias de ligações existentes entre estes países,

além de seus valores baixos para o PIB e o IDH.

Nas regressões múltiplas, um valor muito importante é o chamado R2 (coeficiente

de determinação). Este valor corresponde ao grau de ajustamento da equação de

regressão múltipla aos dados amostrais

(TRIOLA, 1999:256), ou seja, é um índice que

indica quanto o modelo está fazendo previsões de forma correta. O valor encontrado de R2

foi de 0,704 o que indica um bom ajuste entre a variável dependente Fi e as independentes

Di, IDHi e PIBi (70,4% dos fluxos turísticos são explicados diretamente pelo IDH e pelo

PIB do país e inversamente pela Distância do país até o Brasil).

O modelo revela uma relação positiva entre os índices escolhidos IDH e PIB, e o

fluxo turístico. No caso do PIB, a elasticidade calculada foi de 0,3868 e indica que um

aumento de 1% no PIB do país emissor produz um aumento de 0,3868% no fluxo turistico

para o Brasil. O valor negativo para o parâmetro da distância confirma que ela e os fluxos

turísticos estão inversamente correlacionados, ou seja, quanto maior a distância menor o

fluxo turístico.

Mudando algum parâmetro, como por exemplo, substituindo o IDH pela

POPULAÇÃO (Tabela 5) do país emissor, os valores mudam conforme a Tabela 8. Além

disto, o parâmetro R2 se modifica, diminuindo seu valor para 0,611 (ou seja, agora, apenas

57

61,1% dos fluxos turísticos são explicados diretamente pela POPULAÇÃO e pelo PIB do

país e inversamente pela Distância do país até o Brasil).

Não se usou a variável população diretamente neste estudo pois, como diz Vietze

(2008), a população é uma variável altamente correlacionada pela área do país assim

como o PIB. Ou seja, a utilização do PIB, deve apresentar interrelação com a variável

população.

De qualquer forma, a mudança de algum parâmetro pode influenciar no modelo e

torná-lo menos fiel à realidade. Com as atuais facilidades da computação, podem-se testar

vários parâmetros e ajustar o modelo de acordo com os dados originais, de forma a se

encontrar os que melhor se ajustem.

TABELA 8 ln(Fluxo real) e ln(Fluxo calculado pelo modelo, usando População)

PAÍS ln(FLUXO

REAL) ln(Fluxo calculado)

MODELO 1 Argentina 13,81 12,95 2 EUA 13,58 13,74 3 Portugal 12,79 11,21 4 Uruguai 12,74 12,17 5 Alemanha 12,64 12,17 6 Itália 12,62 12,08 7 França 12,44 12,31 8 Paraguai 12,43 11,69 9 Espanha 12,06 12,18

10 Chile 12,04 12,39 11 Reino Unido

12,04 12,33 12 México 11,20 11,40 13 Bolívia 11,14 10,90 14 Japão 11,13 10,96 15 Peru 11,01 11,58 16 Venezuela 10,79 11,99 17 Colômbia 10,76 11,33 18 Austrália 9,95 10,73 19 China 9,80 9,13 20 Equador 9,63 10,78

58

6. CONCLUSÕES

Estudos estatísticos constituem um elemento fundamental para a tomada de

decisões em qualquer tipo de empreendimento e em muitas pesquisas científicas. Eles não

apenas ajudam a identificar o público alvo e as suas necessidades, como são importantes

também por abranjer não somente os aspectos econômicos, mas além destes, os aspectos

sociais, os culturais, os geográficos e outros. Dentre os aspectos geográficos, a distância

tem um forte peso, pois o Turismo tem a peculiaridade de possuir uma mercadoria imóvel,

em que o consumidor é que deve se deslocar até ela, justificando a utilização da geografia

econômica e os modelos gravitacionais.

Nesse estudo buscou-se explicar e criar um modelo no qual a variável distância

tem notadamente uma forte influência nos fluxos de turistas. Aplicou-se o modelo

gravitacional de Issac Newton, usado amplamente na Física, para analisar as principais

características da distribuição do fluxo de turistas entre o Brasil e os vinte principais

países emissores de turistas do mundo. Os resultados obtidos a partir da aplicação do

modelo permitiram afirmar que, pelo fato do coeficiente de regressão (R2) ter sido alto

(70,4%), a distância é um fator que influencia negativamente o fluxo turístico, e que a

renda e o PIB dos países emissores são fatores que influenciam positivamente.

Assim, os fluxos turísticos podem ser explicados pela equação que descreve a

interação gravitacional de Newton, usando PIB e IDH como variáveis diretamente

proporcionais e DISTÂNCIA como uma variável inversamente proporcional.

59

7. REFERÊNCIAS

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