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Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DO MESTRADO EM CIÊNCIAS DO CUIDADO EM SAÚDE ANDRÉA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES O CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS URBANO EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO Niterói - RJ Dezembro/2011

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  • 1

    Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa

    COORDENAO GERAL DE PS-GRADUAO

    COORDENAO DO MESTRADO EM CINCIAS DO

    CUIDADO EM SADE

    ANDRA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES

    O CUIDADO COM A SADE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE NIBUS URBANO

    EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO

    Niteri - RJ

    Dezembro/2011

    http://www.uff.br/

  • 2

    ANDRA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES

    O CUIDADO COM A SADE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE NIBUS URBANO

    EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado

    Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade

    da Universidade Federal Fluminense, como

    requisito parcial para obteno do Ttulo de

    Mestre.

    Linha de pesquisa: Cuidados coletivos em Enfermagem e Sade nos seus processos

    educativos e de gesto.

    Orientadora: Prof Dr. ZENITH ROSA SILVINO

    Niteri RJ

    Dezembro/2011

  • 3

    R 696 Rodrigues, Andra Maria dos Santos.

    O cuidado com a sade auditiva em motoristas de nibus

    urbano em uma empresa de transporte coletivo no Rio de

    Janeiro / Andra Maria dos Santos Rodrigues.

    Niteri: [s.n.], 2011.

    92 f.

    Dissertao (Mestrado em Cincias do Cuidado em Sade) -

    Universidade Federal Fluminense, 2011.

    Orientador: Prof. Zenith Rosa Silvino.

    1. Audiologia. 2. Audiometria. 3. Audio. 4. Perda auditiva.

    5. Sade do trabalhador. 6. Enfermagem

    CDD 617.8

  • 4

    ANDRA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES

    O CUIDADO COM A SADE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE NIBUS URBANO

    EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado

    Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade

    da Universidade Federal Fluminense como

    requisito parcial para obteno do ttulo de

    Mestre.

    Aprovado em 12/12/2011.

    BANCA EXAMINADORA

    ______________________________________________________________________

    Prof Dr Zenith Rosa Silvino Presidente

    Universidade Federal Fluminense

    ______________________________________________________________________

    Prof Dr Mrcia Cavadas Monteiro 1 Examinadora

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    ______________________________________________________________________

    Prof Dr Elaine Antunes Cortez 2 Examinadora

    Universidade Federal Fluminense

    ______________________________________________________________________

    Prof Dr Heidi Elisabeth Baeck 1 Suplente

    Universidade Veiga de Almeida - RJ

    ______________________________________________________________________

    Prof Dr Ftima Helena do Esprito Santo 2 Suplente

    Universidade Federal Fluminense

  • 5

    Dedico este trabalho a minha filha Beatriz que

    com sua alegria de criana me contagia.

    Atravs de seu olhar posso ver um mundo

    melhor e cheio de novas perspectivas.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradeo a Deus, quem me capacita todos os dias da minha vida,

    sozinha nada poderia fazer. Toda honra e toda glria sejam dadas a Ele.

    Ao meu marido Marcelo, pelos momentos de apoio e incentivo e que com muito amor

    entendeu os momentos de ausncia e sempre confiou em mim, meu companheiro nesta

    caminhada.

    Aos meus pais Horcio e Lda pelo suporte e auxlio em todos os momentos que

    precisei para concluso de mais uma etapa em minha vida. Obrigada por acreditarem sempre

    em mim.

    A amiga e fonoaudiloga Jssica Novais pela amizade, ajuda e apoio e pelas palavras

    de encorajamento.

    A minha orientadora Dra Zenith, pelos ensinamentos, pela pacincia e por ter me

    possibilitado crescer no meio acadmico.

    A todos os professores do Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade

    pela ajuda na construo de novos saberes e pelo estmulo a pesquisa. Em especial as

    professoras Dra Ftima Helena e Dra Snia Mara.

    As professoras componentes da banca examinadora Dra Mrcia Cavadas, Dra Heidi

    Baeck e Dra Elaine Cortez, obrigada pelo carinho e disponibilidade.

    Aos meus colegas de turma do Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em

    Sade, to especiais, cada um na sua essncia, foi muito bom nosso convvio nesse perodo.

    Em especial agradeo pelas novas amigas que conquistei nesses anos com as quais

    dividi muitos momentos de alegrias e de ansiedade: Mnica Simes, Glaucimara Riguete, e

    Luana Pestana.

    A amiga e fonaoudiloga Andra Carielo pela cooperao e pelo companheirismo.

    Em especial aos motoristas de nibus pela disponibilidade e ateno.

    A empresa de transporte coletivo que autorizou a realizao do estudo, contribuindo

    para construo deste trabalho.

    Ao inspetor de trfego e ao funcionrio do Setor de Recursos Humanos da Empresa de

    transporte coletivo, pois sempre estiveram prontos a colaborar com a pesquisa.

    A todos que direta ou indiretamente estiveram presentes e acompanharam a elaborao

    desta pesquisa, meu sincero agradecimento.

  • 7

    O temor do Senhor o princpio do

    conhecimento, mas os insensatos desprezam a

    sabedoria e a disciplina.

    (Provrbios 1:7)

  • 8

    RESUMO

    Trata-se de uma pesquisa desenvolvida junto ao Mestrado Acadmico em Cincias do

    Cuidado em Sade que tem como objeto de estudo o cuidado com a sade auditiva em

    motoristas de nibus urbanos, considerando que a sade auditiva um dos aspectos

    fundamentais para a comunicao humana. A pesquisa fundamentou-se nos pressupostos

    tericos da audio, na rea da sade do trabalhador e na perspectiva do cuidado em sade,

    pois cuidar da sade do trabalhador buscar espaos e condies de trabalho saudveis

    fazendo com que sua atividade diria seja cada vez menos prejudicial, tanto no campo fsico

    quanto no campo psquico. Os objetivos do estudo foram: identificar a existncia de variao

    nos limiares auditivos dos motoristas de nibus atravs das audiometrias ocupacionais ao

    longo de trs anos consecutivos; verificar os saberes dos motoristas de nibus urbano em

    relao aos riscos de exposio ao rudo e sobre o cuidado com sua sade auditiva; descrever

    o Programa de Conservao Auditiva da Empresa de Transporte Coletivo; e discutir aes de

    cuidado com a sade auditiva para compor o Programa de Conservao Auditiva. A

    abordagem metodolgica utilizada foi um estudo de caso em uma empresa de transporte

    coletivo localizada na Cidade do Rio de Janeiro. A caracterizao do estudo observacional,

    do tipo coorte, que significa a seleo de indivduos conforme o status de exposio, sendo

    acompanhados para avaliao da incidncia de doena. Para anlise dos dados estatsticos

    foram utilizados como mtodos: ANOVA de Friedman para verificar a existncia de variao

    significativa nas audiometrias, ao longo de trs anos consecutivos; o teste de comparaes

    mltiplas de Nemenyi, para identificar quais os anos que apresentam diferenas significativas

    entre si; e o teste dos postos sinalizados de Wilcoxon para verificar a existncia de variao

    na audiometria entre as orelhas, direita e esquerda. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comit de

    tica e Pesquisa do Hospital Universitrio Antonio Pedro da Universidade Federal

    Fluminense (HUAP/ UFF) sob CAAE - 6141.0.000.258-10. Os resultados da pesquisa

    apontam que existem variaes nos limiares auditivos dos motoristas de nibus ao longo de

    trs anos consecutivos, separadamente, por orelha. Comparando-se os limiares da orelha

    direita e esquerda observou-se que a orelha direita no apresentou diferenas significantes nas

    frequncias analisadas dos exames audiomtricos realizados, porm a orelha esquerda

    apresentou diferenas significativas em trs frequncias (500 Hz, 1000 Hz e 3000 Hz).

    De acordo com a Classificao da Portaria 19 (1998), evidenciou-se que houve uma reduo

    do nmero de motoristas com exame de referncia dentro dos limites de normalidade, em

    relao ao terceiro ano observado (exame sequencial). Cabe ressaltar, que a ocorrncia das

    classificaes de agravamento ou desencadeamento de Perda Auditiva Induzida por Rudo

    (PAIR) no foram identificadas na amostra avaliada.

    Destaca-se que os motoristas de nibus em sua maioria no possuem conhecimento sobre os

    riscos de exposio e cuidados com a sade auditiva, advindos da falta de informao. Esse

    estudo aponta que a atuao do fonoaudilogo atravs de aes de cuidado inseridas no

    Programa de Conservao Auditiva imprescindvel para promover a sade auditiva no

    ambiente de trabalho.

    Descritores: Audiologia, audiometria, audio, perda auditiva, sade do trabalhador,

    enfermagem.

  • 9

    ABSTRACT

    This is a survey developed along the Academic Masters in health care sciences that have as an

    object of study the hearing health care in urban bus drivers, since the hearing health is one of

    the fundamental aspects to human communication. The survey was based on theoretical

    assumptions of the hearing, in the area of workers' health and the prospect of health care

    because care of workers' health is seeking spaces and healthy working conditions causing

    their daily activity to become less and less harmful, both in physical and psychic field. The

    objectives of the study were to: identify the existence of variation in auditory thresholds of

    bus drivers through the occupational audiometries over three consecutive years; verify the

    knowledge of urban bus drivers in relation to risks of exposure to noise and about the care of

    their health hearing; describe the company's Hearing Conservation program of Collective

    Transport; and discuss actions of hearing health care to compose the Hearing Conservation

    program. The methodological approach used was a case studied in a public transportation

    company located in the city of Rio de Janeiro. The characterization of the observational study

    is of a kind cohort, which means the selection of individuals as the exposure status, being

    monitored with a view to assessing the incidence of the disease. For analysis of the statistical

    data were used as methods: Friedman's ANOVA to verify the existence of significant

    variation in audiometries, over three consecutive years; multiple comparisons testing

    Nemenyi, to identify which year that have significant differences between themselves; and

    testing of flagged posts of Wilcoxon to verify the existence of variation in audiometry

    between the ears, right and left. This research was approved by the Ethics Committee and

    University Hospital Research Antonio Pedro of the Universidade Federal Fluminense

    (HUAPUFF) under CAAE-6141.0.000.258-10. Search results show that there are variations in

    the auditory thresholds of bus drivers over three consecutive years, separately, by ear.

    Comparing left and right ear thresholds observed that the right ear did not present significant

    differences in frequencies of audiometric tests conducted, analyzed but the left ear presented

    significant differences in three frequencies (500 Hz, 1000 Hz and 3000 Hz). According to the

    classification of the Gatehouse 19, it showed that there was a reduction in the number of

    drivers with reference examination within the bounds of normality, in relation to the third year

    observed (sequential examination). Please note that the occurrence of the trigger or worsen

    ratings for Noise-induced hearing loss (PAIR) were not identified in the sample evaluated. It

    is noteworthy that the bus drivers mostly do not have knowledge about the risks of exposure

    and hearing health care, from lack of information. This study points out that the actions of the

    audiologist through careful actions entered in the Hearing Conservation program is essential

    to promote hearing health in the working environment.

    Keywords: Audiology, audiometry, hearing, hearing loss, occupational health, nursing.

  • 10

    Lista de Quadros

    QUADRO 1 CLASSIFICAO DO NVEL DE AUDIO 25

    QUADRO 2 RECONHECIMENTO E AVALIAO DE RISCOS PARA AUDIO 61

    QUADRO 3 CARACTERIZAO DA EXPOSIO 61

    QUADRO 4 GERENCIAMENTO AUDIOMTRICO 62

    QUADRO 5 MEDIDAS DE PROTEO COLETIVA 62

    QUADRO 6 MEDIDAS DE PROTEO INDIVIDUAL 63

    QUADRO 7 EDUCAO E MOTIVAO 63

    QUADRO 8 GERENCIAMENTO DE DADOS 64

    QUADRO 9 AVALIAO DO PROGRAMA 64

  • 11

    Lista de Tabelas

    TABELA 1 DELTA ENTRE ORELHAS (OE-OD) PARA CADA ANO E

    FREQUNCIA

    47

    TABELA 2 ANLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA

    DIREITA

    49

    TABELA 3 ANLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA

    ESQUERDA

    50

    TABELA 4 DELTAS ABSOLUTOS ENTRE OS TRS ANOS OBSERVADOS POR

    ORELHA E FREQUNCIA

    55

    TABELA 5 CLASSIFICAO DAS AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 NOS

    EXAMES CONSECUTIVOS

    56

    TABELA 6 INTERPRETAO DO RESULTADO DO EXAME AUDIOMTRICO

    SEGUNDO A PORTARIA 19

    56

    TABELA 7 DESCRITIVA DO FORMULRIO (N = 94)

    58

  • 12

    Lista de Grficos

    GRFICO 1 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 500 HZ POR ORELHA 51

    GRFICO 2 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 1000 HZ POR ORELHA 51

    GRFICO 3 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 2000 HZ POR ORELHA 52

    GRFICO 4 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 3000 HZ POR ORELHA 52

    GRFICO 5 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 4000 HZ POR ORELHA 53

    GRFICO 6 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 6000 HZ POR ORELHA 53

    GRFICO 7 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 8000 HZ POR ORELHA 54

    GRFICO 8 AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 AO LONGO DE TRS

    MOMENTOS OBSERVADOS

    57

  • 13

    Lista de abreviaturas e siglas

    ANOVA Anlise de Varincia

    CEREST

    CESTEH

    CFFa

    CRFa

    Centro de Estudos da Sade do Trabalhador e Ecologia Humana

    Centro de Referncia em Sade do Trabalhador

    Conselho Federal de Fonoaudiologia

    Conselho Regional de Fonoaudiologia

    CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes

    CLT Consolidao das Leis do Trabalho

    dB Decibel

    dB (NA)

    DP

    DVRT

    EP

    Decibel (Nvel de Audio)

    Desvio Padro

    Distrbio de voz relacionado ao trabalho

    Erro Padro

    ENSP

    EPI

    Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca

    Equipamento de Proteo Individual

    FUNDACENTRO Fundao Jorge Duprat Figueiredo, de Segurana e Medicina do Trabalho

    Hz

    INSS

    Hertz

    Instituto Nacional do Seguro Social

    HUAP

    kHz

    Hospital Universitrio Antnio Pedro

    Quilohertz

    MTB Ministrio do Trabalho

    NR-7 Norma Regulamentadora No. 7

    NR-9 Norma Regulamentadora No. 9

    NR-15

    NIOSH

    Norma Regulamentadora No. 15

    National Institute for Occupational Safety and Helth

    OMS Organizao Mundial de Sade

    OPAS Organizao Panamericana de Sade

    OD

    OE

    Orelha Direita

    Orelha Esquerda

    PR Unidade Federativa do Estado do Paran

    PAINPSE Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados

    PAIR Perda Auditiva Induzida por Rudo

    PCA Programa de Conservao Auditiva

    PCMSO Programa de Controle de Medicina e Sade Ocupacional

    PPRA Programa de Preveno de Riscos Ambientais

    RJ

    SP

    Unidade Federativa do Estado do Rio de Janeiro

    Unidade Federativa do Estado de So Paulo

    SES

    SESDEC

    Secretaria do Estado da Sade

    Secretaria de Estado de Sade e Defesa Civil do Rio de Janeiro

    SSST

    SMAC

    SESMT

    Servio de Sade e Segurana do Trabalho

    Secretaria Municipal de Meio Ambiente

    Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho

    SMTR Secretaria Municipal de Transportes

    SUS Sistema nico de Sade

    UFF

    VA

    Universidade Federal Fluminense

    Via area

    VO Via ssea

  • 14

    SUMRIO

    APRESENTAO 15

    INTRODUO 16

    CAPTULO I - FUNDAMENTAO TERICA 20

    1.1 A Audio e o Sistema auditivo 20

    1.1.1 Estruturas perifricas do sistema auditivo 21

    1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo 22

    1.1.3 Alteraes no sistema auditivo 22

    1.1.4 Avaliao do sistema auditivo 24

    1.2 CONSIDERAES SOBRE EXPOSIO AO RUDO E A PAIR 27

    1.3 A SADE DO TRABALHADOR E A ATUAO FONOAUDIOLGICA 30

    1.4 PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA 33

    1.5 A SADE AUDITIVA E O CUIDADO EM SADE 36

    CAPTULO II ABORDAGEM METODOLGICA 40

    2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO 40

    2.2 LOCAL DO ESTUDO 41

    2.3 POPULAO DO ESTUDO 42

    2.4 ASPECTOS TICOS DA PESQUISA 42

    2.5 COLETA DE DADOS 43

    2.5.1 Identificando os limiares auditivos 43

    2.5.2 Formulrio sobre a exposio ao rudo e ao cuidado com a sade auditiva 43

    2.5.3 Descrio do Programa de Conservao Auditiva 44

    2.6 ANLISE DOS DADOS 45

    CAPTULO III RESULTADOS 46

    3.1 ANLISE INICIAL DA VARIAO DOS LIMIARES AUDITIVOS ENTRE

    AS ORELHAS DIREITA (OD) E ESQUERDA (OE)

    48

    3.2 IDENTIFICAO DA VARIAO DOS LIMIARES AUDITIVOS AO LONGO

    DE TRS ANOS CONSECUTIVOS SEPARADAMENTE POR ORELHA

    48

    3.3 COMPARAO DOS DELTAS DOS LIMIARES ENTRE OS ANOS E AS

    ORELHAS DIREITA E ESQUERDA

    54

    3.4 RESULTADOS DOS EXAMES AUDIOMTRICOS CONFORME A

    CLASSIFICAO DA PORTARIA 19

    56

  • 15

    3.5 RESULTADO DO FORMULRIO APLICADO AOS MOTORISTAS DE NIBUS 58

    3.5.1 Caracterizao dos sujeitos da amostra 60

    3.6 DESCRITIVA DO PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA 60

    CAPTULO IV DISCUSSO 65

    4.1 IDENTIFICAO DA VARIAO DOS LIMIARES AUDITIVOS 65

    4.2 OS SABERES DOS MOTORISTAS DE NIBUS SOBRE A EXPOSIO AO

    RUDO E CUIDADO COM A SADE AUDITIVA

    68

    4.2.1 Questes relacionadas aos sujeitos e suas caractersticas auditivas 68

    4.2.2 Questes relacionadas ao cuidado com a sade auditiva e sobre a exposio ao rudo 70

    4.3 O PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA DA EMPRESA DE

    TRANSPORTE COLETIVO

    71

    4.4 AES DE CUIDADO COM A SADE AUDITIVA 73

    CONSIDERAES FINAIS 75

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 77

    APNDICES 84

    Apndice A: Formulrio para descrio do Programa de Conservao Auditiva 84

    Apndice B: Formulrio sobre a exposio ao rudo e cuidado com a sade auditiva 85

    Apndice C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 86

    ANEXOS 87

    Anexo A: Ministrio do Trabalho e Emprego Portaria 3214 NR 7 anexo I quadro II 87

    Anexo B: Parecer do Comit de tica em pesquisa da Faculdade de Medicina/HUAP 92

  • 15

    APRESENTAO

    Desde a graduao no curso de Fonoaudiologia surgiu o interesse em estudar sobre a

    sade dos trabalhadores que poderiam desenvolver algum dficit no processo comunicativo

    devido s atividades laborais.

    Nesta ocasio como trabalho de concluso de curso, foi desenvolvido um estudo sobre

    a oratria como instrumento do resgate da expresso natural, pessoal e funcional da voz

    facilitando a prtica profissional dos advogados.

    O interesse em estudar sobre os aspectos que envolvem a sade auditiva surgiu

    durante a atuao profissional na rea da audiologia ocupacional. Destaca-se que no cotidiano

    de trabalho, durante a realizao de exames audiomtricos em trabalhadores de empresas de

    transporte coletivo observou-se a prevalncia de diagnsticos sugestivos de perda auditiva por

    nveis de presso sonora elevada, a falta de conhecimento e do cuidado por parte dos

    trabalhadores em relao audio.

    Em busca de novos saberes na rea da sade do trabalhador considerando que

    atualmente a fonoaudiologia conta com um deslocamento de muitos profissionais para novos

    campos de atuao ingressei como aluna especial na disciplina de Gesto de Programas

    Ocupacionais do Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade da Universidade

    Federal Fluminense (UFF) e no Ncleo de Estudos e Pesquisas em Cidadania e Gerncia na

    Enfermagem (NECIGEN) na linha de pesquisa de sade do trabalhador que tem como uma de

    suas propostas, a anlise dos aspectos envolvidos na investigao e interveno dos agravos

    sade do trabalhador.

    Como Aluna Efetiva do Curso de Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em

    Sade (MACCS/UFF) desenvolvi o estudo junto linha de pesquisa de cuidados coletivos em

    enfermagem e sade nos seus processos educativos e de gesto, por conter atividades de

    cuidado no contexto poltico social e no processo de trabalho em sade. Sade das populaes

    vulnerveis. Gesto do cuidado e do trabalho em sade

  • 16

    INTRODUO

    O objeto de estudo desta pesquisa o cuidado com a sade auditiva dos motoristas de

    nibus urbano.

    Considerando que a comunicao um aspecto fundamental nas relaes de trabalho,

    nas quais as funes de audio, voz, fala e de linguagem precisam estar em pleno

    funcionamento em seus aspectos anatmicos e fisiolgicos para que a mensagem que se

    deseja tornar comum ao outro no seja prejudicada.

    Durante a atuao profissional na rea da Audiologia Ocupacional foi observada a

    prevalncia de diagnsticos sugestivos de Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR), a falta

    de conhecimento e do autocuidado no que se refere sade auditiva, por parte dos motoristas

    de nibus, o que pode representar danos a sua sade com repercusses na qualidade do

    trabalho desenvolvido.

    A partir da observao emprica supracitada surgiu a inquietao sobre a efetividade

    do programa de conservao auditiva aplicado na empresa de transporte coletivo, em relao

    aos cuidados com a audio dos motoristas de nibus.

    Cada vez mais nos ambientes de trabalho e sociais, a exposio ao rudo acima dos

    limites permissveis orelha humana tem se tornado um agente presente. O dano auditivo

    decorrente dessa exposio tem carter irreversvel se tornando necessria uma conduta

    preventiva sobre os riscos que permeiam a sade auditiva.

    O efeito causado pela exposio ao rudo, principalmente sobre a audio, tem sido

    objeto de diversos estudos na rea da sade dos trabalhadores. As dificuldades auditivas

    ocasionadas pela exposio prolongada ao rudo intenso, quando afetam a comunicao,

    prejudicam as relaes interpessoais de seu portador, podendo levar sensao de insucesso e

    frustrao, que caracterizam as desvantagens psicossociais e que tm importante impacto na

    vida do sujeito, afetando sua vida profissional, social e familiar (GONALVES; IGUTI,

    2006).

  • 17

    O cuidado com a sade auditiva do trabalhador importante instrumento para

    construo de um ambiente laboral saudvel criando possibilidades de interveno e atuao,

    de modo que os impactos eminentes do risco de exposio ao rudo intenso possam ser

    amenizados e controlados.

    Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS) no ano de 2005, cerca de duzentos e

    setenta e oito milhes de pessoas foram acometidas de perda auditiva, e 80% delas vivem em

    pases de baixa e mdia renda. A exposio excessiva ao rudo um dos fatores que contribui

    para esta estatstica. A OMS refere tambm que para prevenir a perda auditiva por exposio

    ao rudo, se deve reduzir a exposio, em termos profissionais e de lazer, utilizando

    equipamentos de proteo individual, medidas de controle e de engenharia (OMS, 2010).

    Outros rgos internacionais tambm chamam a ateno para esse fato, como por

    exemplo o National Institute for Occupational Safety and Helth (NIOSH), que traz como

    dados estatsticos que quatro milhes de trabalhadores nos Estados Unidos trabalham sob

    risco de exposio ao rudo diariamente, e que dez milhes de pessoas tm perda auditiva

    relacionada a tal exposio.

    So contabilizados vinte e dois milhes de trabalhadores expostos ao risco rudo,

    anualmente. O Occupational Safety e Helth Administration (OSHA) destaca que as perdas

    auditivas relacionadas ao rudo foram consideradas como um dos mais prevalentes problemas

    de sade ocupacional nos ltimos vinte cinco anos nos Estados Unidos.

    No Brasil ainda no existem dados estatsticos que apontam para a realidade dessa

    problemtica. Os sistemas de informao e de fiscalizao so precrios no possibilitando o

    registro real dos casos. Considera-se tambm a existncia da subnotificao da doena

    (TELES; MEDEIROS, 2007).

    A poluio sonora um dos fatores de risco ambientais que interfere no estado de

    sade das populaes. Todos os rudos provenientes de uma ou mais fontes sonoras, ao

    mesmo tempo em um ambiente, geram desconforto e podem causar efeitos negativos sobre a

    sade humana.

    A urbanizao e o aumento do trfego de veculos nas vias pblicas propiciam o

    aumento dos ndices de poluio sonora para populao em geral e, principalmente, para os

    indivduos que trabalham diariamente sob o risco de exposio desta natureza. O crescimento

    urbano intensifica a necessidade de deslocamento das pessoas em diferentes pontos das

    grandes cidades, resultado da necessidade cotidiana da populao.

  • 18

    O nibus ainda o transporte pblico mais utilizado por grande parte da populao,

    apesar das falhas na prestao do servio, como por exemplo, a irregularidade de horrios e a

    lotao dos veculos. Quando a qualidade do referido servio no satisfatria h um

    aumento na utilizao de automveis, vans, txis, dentre outros, causando engarrafamentos e

    contribuindo ainda mais para a poluio do ambiente.

    Segundo Cocco e Silveira (2011), o sistema de transporte pblico coletivo essencial

    enquanto servio de utilidade pblica que garante a reproduo social da fora de trabalho

    mediante as interaes espaciais que efetuam, aumentando de diversas maneiras a

    produtividade do trabalho, seja diretamente, a partir do conforto, da confiabilidade e da

    segurana oferecidos pelo servio, ou indiretamente, quando este facilita o acesso a outros

    meios de consumo coletivo que potencializam e complexificam a fora de trabalho.

    O sistema de transportes no municpio do Rio de Janeiro possui aproximadamente oito

    mil e setecentos veculos, em circulao pelas vias pblicas, administrados por quarenta e sete

    empresas privadas a partir de concesso pblica. a modalidade de transporte mais utilizada

    pela populao do Rio de Janeiro (SMTR, 2011).

    Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC, 2011):

    medida que a cidade cresce as queixas pblicas relacionadas ao rudo

    tornam-se cada vez mais numerosas. No Rio de Janeiro, pelo menos 60% das

    reclamaes recebidas pela SMAC, so relacionadas a incmodo sonoro.

    Esse percentual, em uma cidade com tantos outros focos potenciais de

    conflito ambiental, mostra com clareza a dimenso que a questo sonora

    ocupa junto a seus habitantes e sua importncia para a determinao da

    qualidade do ambiente de seus habitantes.

    Os motoristas de nibus so os trabalhadores que desempenham suas atividades nesse

    ambiente pblico, no possuindo um local restrito para realizar suas tarefas, logo esto

    diariamente sujeitos s condies do clima, do trfego, trajeto das vias, violncia urbana e

    sobrecarga de rudo ambiental (BATTISTON; CRUZ; HOFFMANN, 2006).

    A categoria dos motoristas de nibus urbanos tem grande importncia social,

    principalmente nas sociedades contemporneas e mais urbanizadas, no somente pela

    exposio a condies de trabalho bastante especficas, mas tambm pela responsabilidade

    coletiva de sua atividade: o transporte cotidiano de passageiros. Em funo disso, esse grupo

    vem sendo objeto frequente de estudos epidemiolgicos na rea de sade do trabalhador e da

    medicina ocupacional (BENVEGN et al, 2008).

  • 19

    Nesse sentido, esses profissionais necessitam de aes de preveno e cuidado com a

    sade auditiva, pois a dificuldade em ouvir ou a perda da audio so alteraes que podem

    ser evitadas por meio do acompanhamento contnuo do perfil auditivo e da conscientizao

    sobre a importncia da audio.

    Diante dos fatos supracitados, foram levantadas as seguintes hipteses para estudo:

    - Existem variaes nos limiares auditivos dos motoristas de nibus ao longo de trs

    anos consecutivos;

    - No existem variaes nos limiares auditivos dos motoristas de nibus, ao longo de

    trs anos consecutivos;

    - Os motoristas de nibus tm conhecimento sobre os riscos de exposio e cuidados

    com a sade auditiva;

    - Os motoristas de nibus no tm conhecimento sobre os riscos de exposio e

    cuidados com a sade auditiva.

    Para responder as hipteses levantadas, foram traados como objetivos:

    1 Identificar a ocorrncia de variaes nos limiares auditivos dos motoristas de

    nibus urbano, atravs do cadastro audiomtrico dos exames ocupacionais, ao longo de trs

    anos consecutivos;

    2 Verificar os saberes dos motoristas de nibus urbano, em relao aos riscos de

    exposio ao rudo e sobre o cuidado com sua sade auditiva;

    3 - Descrever o Programa de Conservao Auditiva da Empresa de Transporte

    Coletivo;

    4 - Discutir aes de cuidado com a sade auditiva para compor o Programa de

    Conservao Auditiva.

  • 20

    CAPTULO I

    FUNDAMENTAO TERICA

    1. A AUDIO E O SISTEMA AUDITIVO

    por meio da audio que se ouve e se percebe os sons gerados no ambiente. A

    audio considerada essencial para os indivduos, pois a base da comunicao humana.

    Alm disso, a formao e o desenvolvimento da fala e da linguagem esto diretamente ligados

    a um bom funcionamento de tal sentido.

    A audio ocorre por meio do sistema auditivo, que constitudo por estruturas

    sensoriais e conexes. Esse sistema pode ser dividido em duas pores distintas, mas inter-

    relacionadas que so: sistema auditivo perifrico e sistema auditivo central.

    O sistema auditivo perifrico compreende estruturas da orelha externa, orelha mdia e

    orelha interna e do sistema nervoso perifrico, no qual ocorre a captao e transmisso da

    onda sonora pela orelha externa, a transduo sonora na membrana timpnica, cadeia

    ossicular e msculos intratimpnicos (orelha mdia) e o processamento da informao

    auditiva na cclea e poro coclear do nervo vestbulo coclear (orelha interna e sistema

    nervoso perifrico) (BONALDI, 2011, p. 5).

    O sistema auditivo central se refere s vias auditivas localizadas no tronco enceflico e

    reas corticais, onde o processamento das informaes sonoras realizado. Os impulsos

    nervosos so transmitidos pelas fibras do VIII nervo craniano para os ncleos cocleares,

    tronco enceflico, tlamo e crtex (TEIXEIRA; GRIZ, 2011, p. 17).

  • 21

    1.1.1 Estruturas perifricas do sistema auditivo

    A orelha externa a parte do sistema auditivo que protege, absorve e transforma a

    energia das ondas acsticas em energia mecnica vibratria. Coleta e dirige as ondas sonoras

    atravs do meato acstico externo at a membrana timpnica. constituda pelo pavilho

    auricular e meato acstico externo que so as partes cartilagnea e ssea.

    A comunicao entre as orelhas mdia e interna e o ambiente externo realizada pelo

    meato acstico externo, que tem a funo bsica de conduzir os sons at a membrana

    timpnica. O meato acstico e o pavilho auricular possuem propriedades acsticas

    interessantes para fisiologia da audio, pois aumentam o efeito da sombra sonora e, tambm

    aumentam nossa sensibilidade aos sons (ZEMLIN, 2000).

    A orelha mdia representada pela cavidade timpnica onde se encontra a cadeia

    ossicular (martelo, bigorna e estribo), articulada entre si com seus msculos e ligamentos, a

    tuba auditiva, o adito, o antro e as clulas mastideas. um transformador de impedncia

    altamente eficiente que possibilita a transmisso adequada das vibraes areas aos lquidos

    labirnticos (MUNHOZ et al, 2003).

    A orelha interna localiza-se na poro petrosa do osso temporal, e pode ser dividida

    em dois sistemas de cavidades: um que abriga os rgos do equilbrio e o outro que protege os

    rgos essenciais da audio. Os sistemas so denominados de labirinto sseo e labirinto

    membranoso.

    No labirinto sseo est localizada a cclea que possui funo auditiva, o vestbulo e os

    canais semicirculares (anterior, posterior e lateral) que possuem funo de deteco e

    orientao da cabea no espao. Dentro do labirinto sseo localiza-se o labirinto membranoso,

    e o espao entre eles preenchido pela perlinfa (rica em sdio), no labirinto membranoso

    encontra-se a endolinfa (rica em potssio) que constitudo pelo ducto coclear, sculo e

    utrculo, ducto e saco endolinftico (SANTOS; RUSSO, 2009).

    Na orelha interna est localizada a cclea, estrutura muito importante para o estudo da

    PAIR, pois nela que est localizado o rgo de Corti, formado pela membrana tectria, pelas

    clulas de sustentao e clulas ciliadas que podem ser lesadas pela exposio a nveis

    elevados de presso sonora.

    As clulas ciliadas so as clulas sensoriais, destinadas transformao das ondas

    sonoras em impulsos nervosos. Devido ao seu posicionamento no ducto coclear podem ser

    chamadas de clulas ciliadas internas e externas. (BONALDI, 2011, p. 11).

  • 22

    As caractersticas das clulas ciliadas lhes permitem movimentos que repercutem

    sobre a lmina basilar e a estrutura do ducto coclear. Essas clulas possuem protenas

    contrteis como, por exemplo, actina, miosina e um sistema de cisternas laminadas ao longo

    de todo comprimento da clula. Esse sistema de cisternas ajuda a manter a forma da clula,

    integridade estrutural e ainda funciona como uma fora elstica. Elas se encurtam quando

    polarizadas e se estendem quando hiperpolarizadas. (BONALDI, 2011, p. 12).

    As clulas ciliadas externas constituem o amplificador coclear, que por meio da

    inclinao de seus clios amplifica o estmulo para determinar a deflexo dos clios das clulas

    ciliadas internas que so receptoras e codificadoras cocleares, transmitindo a informao

    sonora codificada da cclea para os ncleos cocleares e destes para o crtex auditivo

    (BONALDI, 2011, p. 13).

    1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo

    Os centros auditivos do tronco cerebral desempenham funes importantes na

    determinao da direo de onde vem o som e, ao mesmo tempo, no direcionamento da

    cabea e dos olhos na mesma direo. No crtex auditivo so analisados as caractersticas

    tonais e o significado dos sons.

    Os sinais auditivos chegam ao crebro pelo componente coclear do oitavo par

    craniano, o nervo vestbulo coclear, que termina nos ncleos cocleares do tronco cerebral. Os

    sinais so transmitidos pelo ncleo olivar superior, colculo inferior do tronco cerebral, corpo

    geniculado medial do tlamo, e finalmente, para o crtex auditivo (TEIXEIRA; GRIZ, 2011).

    1.1.3 Alteraes no sistema auditivo

    Quando o sistema auditivo tem algum dano, seja de carter hereditrio ou adquirido,

    pode ser considerado que o indivduo portador de uma deficincia auditiva ou surdez.

    A incapacidade de ouvir reflete na dificuldade de se adquirir linguagem e,

    consequentemente, afeta sua capacidade de comunicao que um instrumento necessrio

    para a execuo das atividades sociais pertinentes ao ser humano.

  • 23

    A deficincia auditiva diz respeito perda total ou parcial da capacidade de ouvir, que

    pode ser causada por problemas na gestao e no parto como, por exemplo: prematuridade;

    doenas infecciosas como rubola, meningite, sarampo; infeces crnicas nos ouvidos e

    utilizao inadequada de medicamentos ototxicos.

    A deficincia auditiva pode surgir em qualquer fase da vida do indivduo, desde a

    gestao, na infncia ou at mesmo, na vida adulta.

    O rudo excessivo, incluindo a exposio no ambiente de trabalho um agente

    causador de perda auditiva, principalmente na fase adulta, pois alm de causar um nus social

    e econmico sobre o indivduo que adquiriu a perda auditiva, dificulta sua relao com a

    famlia e no trabalho.

    comum a pessoa se isolar e no querer participar de grupos sociais o que afeta

    diretamente a sua qualidade de vida. Alm disso, muitas vezes, por questes financeiras,

    algumas pessoas, principalmente os trabalhadores, no possuem condies de adquirir um

    Aparelho de Amplificao Sonora Individual (AASI), o que contribui ainda mais para a

    sensao de solido, frustrao e incapacidade.

    Segundo Seligman (1997), as leses da orelha interna resultantes da exposio ao

    rudo levam ao esgotamento fsico e a alteraes qumicas, metablicas e mecnicas do rgo

    sensorial auditivo, refletindo na leso das clulas ciliadas (externas e internas), com leso

    parcial ou total do rgo de Corti. A exposio pode apresentar-se da seguinte forma:

    1. Por exposio aguda; Trauma Sonoro e Mudana Temporria no Limiar (TTS -

    Temporary Threshold Shift)

    2. Por exposio Crnica - Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR) ou Mudana

    Permanente no Limiar (PTS - Permanente Threshold Shift)

    A PAIR1 o agravo mais conhecido quando a exposio ao rudo evidenciada. De

    forma geral h um reconhecimento da sociedade e da comunidade cientfica de que a

    exposio contnua ao rudo pode causar danos audio.

    Alm disso, alguns sintomas associados perda auditiva podem surgir como, por

    exemplo, a intolerncia a sons intensos e o zumbido que considerado o mais frequente deles.

    O Ministrio da Sade define a PAIR como a perda provocada pela exposio, por

    tempo prolongado, ao rudo. Configura-se como uma perda auditiva do tipo neurossensorial,

    geralmente bilateral, irreversvel e progressiva com o tempo de exposio ao rudo (CID 10

    1 Apesar da portaria 19(1998) anexo I da Norma Regulamentadora n 7 sugerir o termo perda auditiva induzida

    por nveis de presso sonora elevados (PAINPSE), neste estudo optou-se em utilizar o termo PAIR, por ser mais

    difundido e conhecido em meio aos profissionais de sade, engenharia e segurana e para os trabalhadores.

  • 24

    H 83.3). Consideram-se como sinnimos: perda auditiva por exposio ao rudo no trabalho,

    perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia ocupacional, perda auditiva

    induzida por nveis elevados de presso sonora, perda auditiva induzida por rudo

    ocupacional, perda auditiva neurossensorial por exposio continuada a nveis elevados de

    presso sonora de origem ocupacional (BRASIL, 2006).

    O cuidado com a da sade auditiva das populaes, principalmente dos trabalhadores

    que diariamente esto vulnerveis exposio do rudo ocupacional, deve ser considerado de

    fundamental importncia. A preveno e o desenvolvimento de aes para o controle,

    eliminao ou diminuio do risco precisam ser priorizados objetivando a construo de

    ambientes saudveis, auditivamente.

    1.1.4 Avaliao do sistema auditivo

    So muitos os testes e exames utilizados para avaliar a audio. O que deve ser

    considerado a especificidade do que se deseja inferir. A avaliao audiolgica composta

    por procedimentos comportamentais, eletroacsticos e eletrofisiolgicos.

    Segundo Santos e Russo (2009, p. 68), medir a audio pode referir-se em primeiro

    lugar aos parmetros de intensidade e de altura do tom, s qualidades do timbre, da durao,

    s condies de origem e direo da fonte sonora.

    Durante a realizao de um exame auditivo dois fenmenos so observados: o evento

    fsico, objetivo, mensurvel e o evento psicofsico, que o resultado da sensao que o

    estmulo produz a uma pessoa, sendo, portanto, um fenmeno subjetivo.

    Na avaliao audiolgica, a audiometria tonal considerada como a mais

    fundamental, representando o primeiro teste de bateria bsica. Avalia todo sistema auditivo,

    pois a resposta da pessoa depende da compreenso sobre o procedimento do exame e a

    elaborao de uma resposta, no sendo, portanto avaliado, apenas o rgo da audio.

    O objetivo da audiometria tonal liminar a determinao dos limiares de audibilidade,

    isto , verificar o mnimo de intensidade sonora necessria para provocar a sensao auditiva

    e comparar os valores com o padro considerado dentro da normalidade (SANTOS; RUSSO,

    2009).

    A finalidade da determinao dos limiares de audibilidade de vrias ordens tais

    como: detectar a existncia de perda auditiva em crianas, adultos e idosos; auxiliar o

  • 25

    topodiagnstico das leses auditivas que possam atingir as orelhas externa mdia ou interna;

    determinar o tipo de perda auditiva; servir como exame admissional, peridico e demissional

    para trabalhadores expostos a rudo em programas de conservao auditiva; entre outros

    (SANTOS; RUSSO, 2009).

    Ao longo do tempo, vrias propostas de classificao para perda auditiva foram

    adotadas, porm atualmente, a proposta recomendada a que consta nas Portarias 587/2004 e

    589/2004 do Ministrio da Sade que determina as diretrizes nacionais para polticas pblicas

    da sade auditiva, recomendada pela Organizao Mundial de Sade (OMS) no ano de 1997,

    que utilizam as mdias das frequncias de 500 Hz, 1000 Hz, 2000 Hz e 4000 Hz (LOPES,

    2011, p. 76).

    Quadro 1 Classificao do nvel de audio.

    NVEL DE

    AUDIO

    MDIA DAS

    FREQUNCIAS DE

    500, 1, 2, E 4 KHz

    CARACTERSTICAS

    RECOMENDAES

    Audio Normal

    0 a 25 dB No tem problemas

    auditivos. Capaz de ouvir

    sussurros

    Cuidado com audio.

    Perda de Audio

    Leve

    26-40 dB

    Capaz de ouvir e repetir

    palavras faladas em voz

    normal, at 1 metro de

    distncia

    O uso de AASI pode ser

    recomendado.

    Perda de Audio

    Moderada

    41-60 dB

    Capaz de ouvir e repetir

    palavras faladas em voz

    alta, at 1 metro de

    distncia

    Recomenda-se o uso de

    AASI

    Perda de Audio

    Severa

    61-80 dB

    Capaz de ouvir e repetir

    palavras faladas em voz alta

    (gritando) direcionando

    para a orelha melhor.

    Necessrio o uso de AASI.

    Recomenda-se o uso da

    lngua de sinais e leitura

    labial.

    Perda de Audio

    Profunda

    Maior que 81dB

    Incapacidade em ouvir e

    compreender palavras

    faladas em voz muito alta

    (gritando).

    Necessrio o uso de AASI.

    Recomenda-se o uso da

    lngua de sinais e leitura

    labial.

    Em se tratando de audiometrias ocupacionais, o Conselho Federal e os Regionais de

    Fonoaudiologia (2009), atravs de um guia de orientaes sobre audiometria tonal,

    logoaudiometria e medidas de imitncia acstica trouxeram informaes aos fonoaudilogos

    de que os laudos das audiometrias, tanto de referncia quanto sequenciais, deveriam conter

    Fonte: Organizao Mundial da Sade, 2005

  • 26

    descries do tipo, grau e configurao audiomtrica, sempre com base na literatura cientfica

    e, principalmente, sem utilizar classificao de frequncia isolada em termos de grau, uma vez

    que no h referncia da literatura para tal. Ressaltaram, ainda, que os laudos dos exames

    ocupacionais devem conter todas as determinaes da Portaria n 19 do Ministrio do

    Trabalho e Emprego - MTE, 1998, Anexo 1(A) ou da legislao vigente.

    Entende-se como audiometria de referncia o exame realizado quando ainda no se

    possui um exame audiomtrico prvio que, geralmente, so os exames admissionais. Os

    exames que sero realizados posteriormente so considerados exames sequenciais. Esses

    exames devem ser comparados, porm, quando algum exame audiomtrico sequencial

    apresenta alterao em relao ao de referncia, este passa a ser o novo exame audiomtrico

    de referncia. Os exames anteriores passam a constituir o histrico evolutivo da audio do

    trabalhador.

    A interpretao do resultado do exame audiomtrico com finalidade de preveno em

    conformidade com a Portaria 19 - MTE, 1998, Anexo 1(A) segue os seguintes parmetros:

    - Dentro dos limites aceitveis: os audiogramas com limiares auditivos menores ou

    iguais a 25 dB (NA), em todas as frequncias examinadas.

    - Sugestivos de PAIR: audiogramas que nas frequncias de 3.000 Hz, e/ou 4.000 Hz,

    e/ou 6.000 Hz apresentam limiares auditivos acima de 25 dB (NA) e mais elevados do que nas

    outras frequncias testadas, estando estas comprometidas ou no, tanto no teste da via area

    quanto da via ssea, em um ou em ambos os lados.

    - No sugestivos de PAIR: audiogramas com piora nos limiares auditivos do exame

    sequencial no caractersticos de PAIR. Como por exemplo: sinais de acometimento

    condutivo ou misto, ou leso neurossensorial, mas com limiares tonais igualmente

    comprometidos ou mais elevados nas freqncias mais baixas.

    - Sugestivos de desencadeamento de PAIR: quando o exame de referncia est dentro

    dos padres aceitveis, mas a comparao com audiograma sequencial apresenta piora nas

    freqncias de 3.000 Hz, 4.000 Hz, e/ou 6.000 Hz.

    Essa piora considerada quando ocorre a diferena entre as mdias aritmticas dos

    limiares auditivos no grupo de frequncias de 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000 Hz igualando ou

    ultrapassando 10 dB (NA) ou a piora em pelo menos uma das freqncias de 3.000Hz,

    4.000Hz ou 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 15 dB (NA).

    - Sugestivos de agravamento de PAIR: quando o exame de referncia j apresenta

    configurao compatvel com PAIR e h piora em 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000 Hz no exame

    sequencial.

  • 27

    Essa piora considerada quando ocorre a diferena entre as mdias aritmticas dos

    limiares auditivos no grupo de freqncia de 500 Hz, 1.000Hz e 2.000 Hz, ou no grupo de

    freqncias de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 10 dB (NA) e a piora em

    uma freqncia isolada igualando ou ultrapassado 15 dB (NA).

    - Estvel em relao ao de referncia: Quando os limiares auditivos no apresentam as

    diferenas citadas anteriormente.

    A avaliao audiolgica peridica permite o acompanhamento da progresso da perda

    auditiva, que pode variar de acordo com a intensidade e com o tempo de exposio, alm da

    suscetibilidade individual. A velocidade da progresso da perda auditiva determina a eficcia

    das medidas de proteo que devem ser aplicadas (MINISTRIO DA SADE, 2006).

    1.2 CONSIDERAES SOBRE A EXPOSIO AO RUDO E A PAIR

    O som originado por uma vibrao mecnica que se propaga no ar estimulando o

    sistema auditivo. transmitido de forma ondulatria, sendo que a velocidade dessa

    transmisso depende das caractersticas da onda no meio que se propaga. Portanto, o som

    definido como qualquer vibrao, conjunto de vibraes ou ondas mecnicas que podem ser

    ouvidas (SALIBA, 2009).

    O rudo basicamente todo som que no desejado ou perturbador. Todos os sons que

    se ouve podem ser classificados como rudo, desde que sejam indesejados por outros

    indivduos que venham a capt-los. O rudo pode ser considerado como sinal acstico que

    influencia o bem estar fsico e mental do indivduo (RUSSO, 1993).

    Saliba (2009, p. 18) registra que:

    O rudo o fenmeno fsico vibratrio com caractersticas indefinidas de

    variaes de presso (no caso ar) em funo da freqncia, isto , para

    determinada freqncia podem existir, em forma aleatria atravs do tempo,

    variaes de diferentes presses.

    Dentre as diversas causas de poluio, ressalta-se que o rudo proveniente de veculos

    de transportes, atividades laborativas e de lazer tem contribudo para colocar a poluio

    sonora como a terceira causa de poluio no mundo, perdendo apenas para o ar e a gua. Tal

    fato representa, entre outros, um risco para audio de toda a populao (FIORINI, 2000).

  • 28

    Os sintomas no auditivos tambm podem surgir devido exposio ao rudo. Os

    efeitos no auditivos causados pela exposio, atualmente, vem recebendo ateno por parte

    dos pesquisadores.

    Ibaez, Schneider e Seligman (2001, p. 48) descrevem que os sintomas no auditivos

    relacionadas exposio podem ser de neurolgicas, vestibulares, digestivos e

    comportamentais que atingem comunicao e causam distrbios do sono.

    Segundo Fiorini (2004) as consequncias da exposio ao rudo podem ser de duas

    ordens: efeitos na audio e efeitos gerais. Essa exposio pode perturbar o trabalho, o

    descanso, o sono, a comunicao nos seres humanos, causar dficit na audio, provocar

    reaes psicolgicas, fisiolgicas e at patolgicas.

    Petian (2008) buscou estimar a prevalncia do incmodo causado pelo rudo em

    trabalhadores de estabelecimentos comerciais no municpio de So Paulo. Detectou-se que o

    incmodo relacionado ao rudo no local de trabalho foi estimado em 62,5%. Foi ressaltado

    que o local de trabalho era ruidoso 65,75% dos trabalhadores e, 62% que o rudo do trfego

    no local de trabalho era incmodo. Com os resultados deste estudo pode-se inferir que os

    trabalhadores conheciam tanto o risco fsico do rudo, quanto o incmodo que ele pode

    causar. Os trabalhadores relataram que o rudo poderia causar ou agravar alguns problemas de

    sade, principalmente a perda auditiva, estresse e irritabilidade.

    Benvegn et al (2008) observaram a existncia de uma associao significativa entre

    os problemas psiquitricos menores e a hipertenso em motoristas de nibus na cidade de

    Santa Maria no Rio Grande do Sul. Esse achado parece reforar a hiptese da associao entre

    estresse e problemas psicolgicos com hipertenso.

    No estudo de Lacerda et al (2010) concluiu-se que as queixas mais frequentes

    relacionadas audio entre os motoristas de nibus foi o zumbido e a sensao de plenitude

    auricular.

    Ogido, Andrade Costa e Machado (2009), em um estudo relacionado com sintomas

    auditivos e vestibulares causados pela exposio ao rudo, concluram que as disfunes

    auditivas so queixas constantes na populao atendida em um centro de referncia de sade

    ocupacional de Campinas (SP), reforando a necessidade permanente da adoo de medidas

    preventivas em relao exposio ao rudo, tanto coletivas quanto individuais.

    O Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva publicou seu posicionamento

    sobre a PAIR em seu primeiro boletim em 1994, revisto em 1999 definindo-a da seguinte

    maneira:

  • 29

    A perda auditiva induzida pelo rudo relacionada ao trabalho, diferentemente do

    trauma acstico uma diminuio gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposio

    continuada a elevados nveis de presso sonora. As caractersticas principais so:

    - Na maioria das vezes sempre neurossensorial, em razo do dano causado as clulas

    do rgo de Corti.

    - Uma vez instalada irreversvel e, quase sempre, similar bilateralmente.

    - Raramente leva perda auditiva profunda, pois, no ultrapassa os 40 dB nas

    frequncias baixas e mdias e os 75 dB nas frequncias altas.

    - Manifesta-se primeira e predominantemente nas frequncias de 6.000 Hz, 4.000 Hz,

    e 3.000 Hz, com agravamento da leso, estende-se s frequncias de 8.000 Hz, 2.000 Hz,

    1.000 Hz, 500 Hz e 250 Hz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas.

    - Tratando-se de uma doena predominantemente coclear, o portador da PAIR pode

    apresentar intolerncia a sons intensos, zumbidos, alm de ter comprometida a inteligibilidade

    da fala, em prejuzo do processo de comunicao.

    - Uma vez cessada a exposio ao rudo provavelmente no haver a progresso da

    PAIR.

    - influenciada principalmente, pelas caractersticas fsicas do rudo, como o tipo, o

    espectro e o nvel de presso sonora, pelo tempo de exposio e pela suscetibilidade

    individual.

    - Geralmente atinge o nvel mximo para as frequncias de 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000

    Hz nos primeiros dez a quinze anos de exposio, sob condies estveis de rudo. Com o

    passar do tempo, a progresso da leso se torna mais lenta.

    - PAIR relacionada ao trabalho no torna o ouvido mais sensvel a futuras exposies.

    - O diagnstico nosolgico de PAIR relacionada ao trabalho somente pode ser

    estabelecido, por meio de um conjunto de procedimentos que envolvam anamnese clnica e

    ocupacional, exame fsico, avaliao audiolgica e, se necessrio, exames complementares.

    Esse diagnstico realizado pelo mdico do trabalho.

    - Pode ser agravada pela exposio simultnea a outros agentes, como produtos

    qumicos e vibraes.

    - uma doena passvel de preveno e pode acarretar ao trabalhador alteraes

    funcionais e psicossociais capazes de comprometer sua qualidade de vida.

    A possibilidade de prevalncia de PAIR um fato eminente, portanto h uma

    necessidade de no apenas realizar audiometrias ocupacionais pontuais, mas tambm de

    monitorar a audio dos trabalhadores de forma longitudinal, como parte de um programa de

  • 30

    conservao auditiva. Resultados encontrados em estudos relacionados prevalncia de PAIR

    contriburam para melhor compreenso do comportamento de algumas das principais

    caractersticas relacionadas doena, em uma situao particular de organizao do trabalho,

    relativamente comum nas indstrias brasileiras (GUERRA et al, 2005 ; TELES; MEDEIROS,

    2007).

    1.3 A SADE DO TRABALHADOR E A ATUAO FONOAUDIOLGICA

    O trabalho humano um importante componente para evoluo social e econmica de

    uma sociedade. Atravs dele o homem garante sua subsistncia e da sua famlia e deve se

    sentir satisfeito em suas atividades laborais, pois atravs delas que colhe os resultados de

    seu prprio esforo. Trabalhar deve ser algo prazeroso que traga satisfao pessoal e

    profissional ao indivduo (RODRIGUES et al, 2012).

    Na sociedade brasileira, o trabalho mediador de integrao social, tanto por seu valor

    econmico quanto cultural tendo assim, importncia fundamental no modo de vida das

    pessoas e na sua sade fsica e mental. Fica claro que os trabalhadores, tanto individualmente

    como coletivamente, devem estar cientes do desgaste sofrido e que se no bem administrado

    pode desencadear processos patolgicos (TRINDADE et al, 2006).

    Cuidar da sade do trabalhador buscar espaos e condies de trabalho saudveis

    fazendo com que sua atividade diria seja menos prejudicial para ele, tanto no campo fsico

    quanto no campo psquico. Dejours e Abdoucheli (2007, p. 125) ao citarem as condies de

    trabalho fazem referncia como presses fsicas, mecnicas, qumicas e biolgicas do posto

    de trabalho, onde os corpos dos trabalhadores so afetados, ocasionando a eles desgaste,

    envelhecimento e doenas somticas.

    O campo da sade do trabalhador no Brasil passou a ser competncia da Unio a partir

    da constituio de 1988, atravs do Sistema nico de Sade (SUS). Em algumas cidades, h o

    incremento de Programas de Sade do Trabalhador na rede pblica, na perspectiva da Sade

    Coletiva, estruturando-se aes de assistncia e vigilncia em sade dos trabalhadores, com

    caracterstica interdisciplinar e interinstitucional (GONALVES, 2009).

    Segundo Lacaz (2007) a sade do trabalhador campo de prticas e conhecimentos

    cujo enfoque terico-metodolgico, no Brasil, emerge da Sade Coletiva, buscando conhecer

    e intervir nas relaes de trabalho e de sade-doena.

  • 31

    A abordagem de riscos sade do trabalhador permite que o controle de causas de

    acidentes, sejam agentes fsicos, qumicos e biolgicos causadores de agravos, esforos

    fsicos e sobrecargas mentais. Essa interveno se efetiva basicamente no campo tecnolgico,

    mas tem consequncias sobre a sade, que devem ser acompanhadas, por meio de indicadores

    sociais e sanitrios (MACHADO, 1997).

    Trabalhar integradamente as questes relacionadas sade do trabalhador e ao meio

    ambiente um passo fundamental para se desenvolver novas abordagens terico-

    metodolgicas que possibilitem avanar nos processos de anlise e interveno sobre as

    situaes e eventos de riscos que so colocados para trabalhadores e o meio ambiente como

    um todo (PORTO; FREITAS, 1997).

    Segundo Mendes e Dias (1991), o objeto da sade do trabalhador pode ser definido

    como o processo sade e doena dos grupos humanos, em sua relao com o trabalho.

    Representa um esforo de compreenso desse processo, como e porque ocorre, e do

    desenvolvimento de alternativas de interveno que levem transformao em direo

    apropriao pelos trabalhadores e dimenso humana do trabalho, numa perspectiva

    teleolgica.

    Segundo Gonalves (2004), a ao do fonoaudilogo em sade do trabalhador deve

    visar comunicao efetiva do mesmo, garantida pela audio preservada. Tal ao

    promotora da sade, pois no se identificam os problemas auditivos unicamente, mas so

    analisadas as formas como eles acontecem, permitindo aes para evit-los e que iro

    repercutir na melhoria da qualidade de vida do trabalhador.

    A atuao fonoaudiolgica engloba aes de promoo, proteo e recuperao da

    sade nos diversos aspectos relacionados comunicao humana em todo o ciclo vital, se

    inserindo em unidades bsicas de sade, ambulatrios de especialidades, hospitais, unidades

    educacionais, domiclios e outros recursos da comunidade (LIPAY; ALMEIDA, 2007).

    O fonoaudilogo o profissional capacitado para avaliar, diagnosticar e atuar no

    sentido da preveno, atravs dos seus conhecimentos sobre os agentes de risco sade, do

    local ou rgo que pode ser lesionado e atravs da realizao dos exames audiolgicos. A

    principal caracterstica profissional do fonoaudilogo a sua atuao multidisciplinar por

    possuir conhecimentos de outras reas como fsica acstica, audiologia e educao,

    permitindo uma atuao preventiva da perda auditiva em vrias circunstncias (MORATA;

    ZUCKI, 2005, p.25).

  • 32

    A ao do fonoaudilogo na rea da sade do trabalhador, bem como o

    estabelecimento e a consolidao desse mercado de trabalho partiu do pioneirismo e da

    determinao de alguns profissionais em um momento poltico propcio. Espera-se que uma

    trajetria similar desponte junto sade ambiental (MORATA; ZUCKI 2005, p.26).

    Conforme descrito no Boletim n 2 do Comit Nacional de Rudo, no que tange

    avaliao audiolgica do trabalhador exposto a rudo, um dos requisitos para confiabilidade

    dos resultados da audiometria tonal limiar que alm de ser obrigatrio por lei o exame

    realizado por profissional legalmente habilitado, isto , o fonoaudilogo ou o mdico

    (NUDELMANN et al, 2001).

    Os agravos pertinentes atuao do fonoaudilogo na sade do trabalhador so a

    PAIR e os distrbios da voz relacionados ao trabalho (DVRT). A notificao dos casos de

    PAIR obrigatria no Estado do Rio de Janeiro desde 2003, de acordo com a resoluo da

    SES n 2.075, e nacionalmente desde 2004, conforme a Portaria GM/MS n 777. (REDE

    NACIONAL DE ATENO INTEGRAL SADE DO TRABALHADOR, 2010).

    A notificao de agravos da atuao fonoaudiolgica vem acontecendo

    gradativamente. Os profissionais envolvidos ainda precisam se conscientizar da importncia

    dessa atividade. Essa notificao importante para produo de dados epidemiolgicos que

    embasem as medidas de controle e preveno das doenas relacionadas ao trabalho.

    Partindo do princpio de que a fonoaudiologia uma rea que vem avanando no

    conhecimento cientfico e na atuao no campo da sade do trabalhador, cabe ressaltar o

    quanto se faz necessrio a insero deste profissional nas equipes de servio especializado em

    Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho SESMT.

    Rodrigues e Silvino (2010) ao realizarem uma reviso na literatura sobre a exposio

    ao rudo relacionada sade auditiva verificaram que o maior nmero de produes dentro

    desse eixo temtico se concentra entre os profissionais mdicos e fonoaudilogos. Tal anlise

    permitiu perceber a visibilidade da trajetria percorrida pela fonoaudiologia nessa temtica.

    O Conselho Federal de Fonoaudiologia (2011) e instituies afins estudam a

    possibilidade de incluso da Fonoaudiologia do Trabalho como uma rea de especialidade da

    profisso.

    Normalmente, o que se observa nas empresas onde os funcionrios esto sob o risco

    de exposio ao rudo, com necessidade de monitoramento da audio a atuao do

    fonoaudilogo como prestador de servios ou como terceirizado.

  • 33

    Se em cada instituio tivesse um fonoaudilogo atuando integradamente com a

    equipe das reas mdica, de engenharia e de segurana atravs do desenvolvimento de aes

    para prevenir os agravos sade, possivelmente os trabalhadores e a instituio seriam

    beneficiados, na perspectiva de minimizar as doenas ocupacionais, bem como proteger a

    integridade auditiva do trabalhador.

    1.4 PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA

    Para se evitar o impacto negativo do rudo sobre a qualidade de vida do trabalhador

    necessria a implantao de medidas preventivas. O objetivo de um Programa de Conservao

    Auditiva (PCA) deve ser a preservao da audio, por meio da identificao de riscos,

    monitoramento auditivo, medidas de proteo contra o rudo e medidas educativas

    (GONALVES, 2004).

    A finalidade de um PCA estabelecer procedimentos adequados de gerenciamento das

    medidas de controle de exposio ocupacional ao rudo. Como qualquer programa, a

    eficincia do PCA depende do comprometimento de todas as pessoas envolvidas em sua

    elaborao e execuo.

    Segundo Saldanha Jnior (2009, p. 13):

    As atividades do PCA devem ser reavaliadas periodicamente visando ao

    aprimoramento e adequao em relao s modificaes que possam

    ocorrer na empresa, seja por demanda dos processos produtivos, seja pela

    reorganizao do trabalho, ou ainda, por mudanas da legislao ou dos

    riscos ocupacionais.

    Em 1965, no Brasil o Ministrio do Trabalho e Previdncia Social estabelece atravs

    da portaria n 491, no seu art. 2 que a eliminao da insalubridade poderia ocorrer pela

    aplicao de medidas de proteo coletiva ou individual. Ainda na portaria n 491, em seu

    anexo onze, os quadros com descrio dos agentes insalubres e respectivos graus de

    insalubridade eram demonstrados. Um desses quadros j mencionava sobre os trabalhos em

    ambiente com excesso de rudo, no especificando, entretanto, as medidas de proteo contra

    a exposio ao rudo. (KWITKO, 2001).

    Em 1967 (Decreto Lei n 229), enfocando a exposio ao rudo, destacou:

    obrigatoriedade das empresas quanto ao fornecimento de equipamentos de proteo

  • 34

    individual aos empregados gratuitamente e o uso dos EPI sendo obrigatrio para os

    empregados e tambm ficou impedida a comercializao de qualquer equipamento de

    proteo individual sem aprovao certificada pela segurana e higiene do trabalho. Tornou-

    se obrigatrio a realizao de exame mdico na admisso, peridicos e em atividades

    insalubres, alm da renovao semestral. Em 1978, a portaria n 3.214 aprova as normas

    regulamentadoras (KWITKO, 2001).

    No que se diz respeito exposio ao rudo na sade do trabalhador, verifica-se que a

    primeira obrigao legal surgiu em 1978, com a Portaria 3.214 e suas Normas

    Regulamentadoras, sendo que a manuteno obrigatria da sade auditiva, por meio de

    audiometrias, surgiu em 1983 com a Portaria n 12. A obrigao em manter o Programa de

    Preveno de Riscos Ambientais (PPRA) surgiu em 1994 com a Portaria n 25 (KWITKO,

    2001).

    No Brasil cabe ao Ministrio do Trabalho (MTB) a funo de regulamentar a

    Legislao Trabalhista e a Fundao Jorge Duprat Figueiredo, de Segurana e Medicina do

    Trabalho (FUNDACENTRO), a realizao de estudos e pesquisas pertinentes aos problemas

    de segurana, higiene, meio ambiente e medicina do trabalho relacionada promoo das

    melhorias das condies de trabalho, alm de subsidiar a elaborao e reviso das normas

    regulamentadoras. As Normas Regulamentadoras (NR), at o momento so trinta e quatro

    dispondo sobre os servios especializados em engenharia de segurana e medicina do

    trabalho.

    Na NR 7 esto descritas as especificaes do Programa de Controle Mdico de Sade

    Ocupacional - PCMSO que estabelece a obrigatoriedade de elaborao e implementao do

    programa com objetivo de promoo e preservao da sade dos seus trabalhadores

    (BRASIL, 1978).

    Encontramos como parte integrante desta NR a Portaria 19 que tem como objetivo:

    Estabelecer diretrizes e parmetros mnimos para a avaliao e o

    acompanhamento da audio do trabalhador atravs da realizao de exames

    audiolgicos de referncia e seqenciais; fornecer subsdios para a adoo de

    programas que visem preveno da PAIR e a conservao da sade

    auditiva dos trabalhadores. (Portaria SSST, 1998)

    Na portaria supracitada tambm foram estabelecidos: a definio e a caracterizao da

    PAIR; os princpios e os procedimentos bsicos para realizao do exame audiomtrico; a

    interpretao dos resultados do exame audiomtrico com finalidade de preveno; os

    parmetros para diagnstico da PAIR para definio da aptido ao trabalho e as condutas

    preventivas.

  • 35

    A NR 9 - Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA, visa preservao

    da sade e da integridade fsica dos trabalhadores, atravs da antecipao, reconhecimento,

    avaliao e consequente controle da ocorrncia de riscos ambientais existentes ou que venham

    a existir no ambiente de trabalho, tendo em considerao a proteo do meio ambiente e dos

    recursos naturais. Ministrio do trabalho (BRASIL, 1978).

    Na NR 15 (Lei 6.515 de 22/12/1977) esto descritas em seu anexo 1: as atividades, as

    operaes e os agentes insalubres, alm dos limites de tolerncia, de cada risco, inclusive os

    tempos mximos de exposio permitida aos diversos nveis de intensidade sonora. Define

    tambm, as situaes que, quando vivenciadas nos ambientes de trabalho pelos trabalhadores,

    caracterizam seu exerccio insalubre (BRASIL, 1978).

    Saldanha Jnior (2009) props em seu estudo a realizao um protocolo de auditoria

    para PCA, de acordo com a legislao brasileira onde concluiu que embora a Legislao

    Brasileira tenha avanado nas ltimas duas dcadas, no que diz respeito s aes relacionadas

    conservao auditiva nos ambientes de trabalho, ainda hoje muitas empresas no possuem o

    conjunto de aes coordenadas de forma necessria para garantir a eficcia do PCA, tanto do

    ponto de vista preventivo, quanto no que diz respeito ateno do trabalhador.

    Miranda e Dias (2004) ao realizarem um estudo sobre a inspeo e auditoria PPRA e

    PCMSO em empresas dos ramos da indstria, servios e comrcio constataram que entre as

    vinte e oito empresas que elaboraram o PPRA, vinte e seis (92,9%) delas apresentaram algum

    tipo de inconsistncia dos dados em seu programa, por estarem incorretos ou por no terem

    qualidade. Analisando-as conforme os riscos ocupacionais, verificou-se que em 82,1% dos

    casos, as inconsistncias relacionavam-se com os riscos fsicos como, por exemplo, a

    exposio ao rudo. Entre as empresas que apresentaram inconsistncias relacionadas com os

    riscos fsicos, em 35,7% delas a inconsistncia se referia ao reconhecimento dos riscos, em

    35,7% avaliao quantitativa, em 60,7% implantao de medidas coletivas e, em 17,9%

    implantao de medidas de proteo individual.

    No Chile, atravs do levantamento de alguns dados da exposio ao rudo, em

    empresas metalrgicas e indstria madeireira apontou-se que para lidar com o risco rudo, as

    empresas devem estabelecer programas de monitoramento para acompanhar os trabalhadores

    expostos garantindo a qualidade dos dispositivos de proteo auditiva e fornecendo

    orientaes de seleo e utilizao adequada aos funcionrios (VALENZUELA; VILLAGRA,

    2006).

    Em Taiwan resultado de um estudo mostrou que a alterao no limiar auditivo foi

    maior para os trabalhadores que foram expostos ao rudo mais tolueno em comparao com

  • 36

    aqueles expostos somente ao rudo. Uma interveno eficaz, nesse caso, seria o

    estabelecimento de polticas que determinem os limites mximos de exposio para solventes

    neste ramo de atividade (CHANG et al, 2006).

    Em Washington, srias preocupaes foram levantadas sobre a adequao da

    preveno, regulao e estratgias de execuo dos programas de preveno da perda auditiva

    nos Estados Unidos. Concluram que a maioria das empresas oferece pouca ou nenhuma

    ateno ao controle do rudo e que utilizavam, principalmente, a proteo auditiva como base

    para prevenir a perda auditiva, apesar de 38% dos trabalhadores das empresas pesquisadas

    no utilizarem os protetores, rotineiramente. As empresas preferiam adotar somente a

    utilizao dos protetores do que a adoo de programas de preveno da perda auditiva com

    medidas educativas e de controle (DANIELL et al, 2006).

    1.5 A SADE AUDITIVA E O CUIDADO EM SADE

    A sade auditiva um dos aspectos fundamentais para a comunicao humana. O que

    difere o ser humano dos outros seres a forma de se comunicar.

    As aes de promoo, proteo e recuperao da sade devem ser garantidas nos

    vrios aspectos relacionados comunicao humana. Sua qualidade determinante para a

    autoconfiana, felicidade e segurana, propiciando uma comunicao mais efetiva e

    fundamental para a sade do sujeito (ANDRADE, 1996).

    Faz-se necessrio que o sujeito envolvido em alguma atividade de trabalho que possa

    gerar dficits em sua sade seja incentivado e orientado para a promoo de cuidado

    proporcionando melhoria na sua qualidade de vida.

    um grande desafio para o ser humano fazer articular trabalho com cuidado prpria

    sade. A ruptura entre trabalho e cuidado uma realidade desde a antiguidade, principalmente

    a partir do processo industrial do sculo XIII, caracterizando-se pela ditadura do modo-de-ser-

    trabalho como inveno, produo e dominao. Portanto, o resgate do cuidado no se faz

    custa do trabalho e sim mediante uma forma de entender e realiz-lo. Para isso o ser humano

    precisa voltar sobre si mesmo e descobrir o seu modo-de-ser-cuidado (BOFF, 1999, p.99).

  • 37

    Para Christovam (2009, p.74):

    O homem como sujeito do cuidado tambm um ser cognoscvel capaz de

    aprender a conhecer a si mesmo, a sociedade e o ambiente o qual est

    inserido, a sua cultura e as vrias culturas que permeiam e influenciam a

    sociedade, o ambiente e as relaes estabelecidas.

    O cuidado deve ser entendido como uma atividade que vai alm do exerccio

    profissional. Esse cuidado deve existir entre os profissionais e os trabalhadores envolvidos em

    uma organizao. O fato que pequenas mudanas no modo de agir com os outros

    demonstrando interesse e cuidado com a sua sade convergem para um relacionamento de

    confiana entre a pessoa que deseja cuidar e o indivduo que est recebendo o cuidado.

    No ambiente ocupacional, focalizando as empresas de nibus as aes de cuidado

    podem determinar a diminuio dos impactos causados pelos riscos que envolvem a atividade

    profissional. Trazer para os trabalhadores informaes importantes sobre o cuidado de si pode

    favorecer a autonomia, autoconfiana em busca de seu bem estar e, consequentemente a

    melhoria na qualidade na sua sade.

    O cuidado passa por uma questo cultural em que o local ou pessoas dotadas de

    princpios culturais diferentes percebem, praticam e conhecem formas diferentes de exercer o

    prprio cuidado. Portanto, mesmo o cuidado humano sendo universal ele demonstrado

    atravs de diferentes aes, estilo de vida e de sentidos prprios.

    Para Leininger2 (1991 apud GEORGE, 2000, p. 299), o cuidado cultural definido

    como:

    Os valores, as crenas e modos de vida padronizado aprendidos, subjetiva e

    objetivamente e transmitidos que auxiliam, sustentam, facilitam ou

    capacitam outro indivduo ou grupo a manter seu bem estar, sade, melhorar

    sua condio humana e seu modo de vida ou lidar com a doena, a

    deficincia ou a morte.

    No caso do trabalhador, em situao particular os motoristas de nibus, o cuidado

    primordial para manuteno da qualidade de sua sade. Podem surgir distrbios orgnicos

    psquicos e ergonmicos que iro afetar a execuo da atividade de dirigir, alm da vida

    social e coletiva desse profissional. A atividade que eles desempenham desgastante, e sua

    eficcia est relacionada principalmente a fatores ambientais do local de trabalho e a forma

    como eles lidam com esses fatores (BATTISTON et al, 2006).

    2 GEORGE, Julia. B. Teorias de Enfermagem: os fundamentos prtica profissional. 4 ed. Porto Alegre: Artes

    Mdicas Sul, 2000.375p.

  • 38

    Segundo Maranho (2000), as aes de cuidado com a sade podem ser priorizadas e

    organizadas de acordo com diferentes concepes sobre o processo sade-doena, sobre o

    desenvolvimento humano e de acordo com o contexto sociocultural.

    Portanto a maneira como o indivduo cuida da prpria sade depende de suas

    concepes pessoais e de quanto esse cuidado prioritrio para si. Normalmente o que

    acontece a busca do bem estar quando a sade se apresenta debilitada, fazendo com que o

    indivduo passe a se atentar para a necessidade de se cuidar.

    Diante dessas consideraes a prtica do cuidado atravs de procedimentos ou

    esclarecimentos sobre alguma situao que possa colaborar para a melhora do estado de sade

    do sujeito, deve vir acompanhada do empenho desse sujeito em reconhecer a importncia de

    se autocuidar.

    Para George (2000), o autocuidado o desempenho ou prticas de atividades que os

    indivduos realizam em seu benefcio para manter a vida, a sade, e o bem estar. Este ajuda a

    manter a integridade estrutural e o funcionamento humano, contribuindo para o

    desenvolvimento humano.

    Para Silva et al (2009), o autocuidado uma atividade do indivduo apreendida pelo

    mesmo e orientada para um objetivo, tendo como propsito, o emprego de aes de cuidado

    seguindo um modelo, que contribui para o desenvolvimento humano.

    O autocuidado foi mencionado pela primeira vez em 1958, a partir das reflexes da

    Enfermeira Dorothea Orem sobre a necessidade dos indivduos serem auxiliados pela

    enfermagem. (GEORGE, 2000).

    A ao de autocuidado, para Orem, a capacidade ou o poder de engajar-se no

    autocuidado. Essa capacidade seria afetada por fatores condicionantes bsicos como sexo, o

    estado de desenvolvimento, o estado de sade, a orientao scio-cultural, os fatores do

    sistema familiar, os padres de vida, os fatores ambientais, a adequao e a disponibilidade,

    de recursos. Orem destaca tambm que normalmente os adultos se cuidam voluntariamente.

    Os bebs, as crianas, os idosos, os enfermos e os deficientes exigem cuidados ou assistncia

    completa nas atividades de autocuidado (GEORGE, 2000).

    A utilizao do cuidado e do autocuidado na perspectiva da sade auditiva pode ser

    importante instrumento para que o trabalhador preserve a sua audio.

    Cada vez mais a populao em geral est exposta nveis de presso sonoras elevadas

    decorrentes do aumento da urbanizao ou pela utilizao prolongada dos tocadores pessoais

    de msica em formato digital que atualmente se faz presente em meio aos adultos, crianas e

    adolescentes.

  • 39

    Os indivduos que trabalham sob o risco de exposio ao rudo devem se cuidar ainda

    mais para que o efeito desta exposio no seja potencializado. Alm disso, precisam ter

    acesso a informaes quanto a agentes agressores a sua sade, ou seja, os riscos as quais esto

    expostos decorrentes das suas atividades laborais, como o caso dos motoristas de nibus que

    diariamente vivem a agresso de rudos no ambiente das grandes cidades.

  • 40

    CAPTULO II

    ABORDAGEM METODOLGICA

    2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

    Trata-se de um estudo de caso observacional do tipo coorte, retrospectivo com

    abordagem quantitativa.

    O mtodo de estudo de caso uma forma de investigar um tpico emprico seguindo

    um conjunto de procedimentos pr-especificados, conta com mltiplas fontes de evidncia

    para dar suporte ao estudo. Propicia uma descrio ampla e profunda do fenmeno social,

    devido a sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidncias e permitir que as

    caractersticas holsticas e significativas dos processos organizacionais e administrativos

    sejam retidas (YIN, 2010).

    Os estudos observacionais so investigaes em que a informao sistematicamente

    colhida, onde no h uma interveno ativa do investigador. Observaes sistemticas,

    especialmente ao longo do tempo, podem permitir concluso causal. um tipo de desenho

    que deve ser respeitado visto sua eficcia (LUNA FILHO, 1998).

    Os estudos de coorte seguem grupos de sujeitos no tempo que tm como objetivo

    descrever a incidncia de certos desfechos, ao longo do tempo e analisar associaes entre os

    preditores e esses desfechos. Os estudos de coorte retrospectivos permitem os desfechos j

    terem ocorrido quando o estudo foi iniciado (HULLEY et al, 2008).

  • 41

    Segundo Medronho (2004), os estudos de coorte so estudos observacionais, onde a

    seleo dos sujeitos para um estudo depende das caractersticas de sua exposio a um

    determinado risco. Os sujeitos so monitorados ao longo do tempo, com o objetivo de

    verificar a incidncia de doenas ou outro desfecho de interesse (MEDRONHO et al, 2004).

    No estudo retrospectivo o investigador identifica uma amostra montada no passado,

    coleta os dados sobre as medidas passadas, onde as informaes j foram reunidas, bem como

    as aferies de base realizadas e o perodo de seguimento, encerrado (HULLEY et al, 2008).

    A abordagem quantitativa se refere a fatos pertinentes ao mundo concreto, objetivo e

    mensurvel advindo das cincias naturais ou sociais. Alm disso, a quantificao dos dados

    coletados tratada por meio de anlises estatsticas e matemticas (FIQUEIREDO; SOUZA,

    2011).

    2.2 LOCAL DO ESTUDO

    A pesquisa foi realizada em uma empresa de transporte coletivo, localizada no

    municpio do Rio de Janeiro, devidamente autorizada pela Diretoria da Empresa.

    A empresa se caracteriza como particular, prestando servio pblico. Faz parte do

    ramo rodovirio, desde a dcada de 60 quando iniciou a construo de seu espao fsico e a

    disponibilizao da primeira frota de nibus.

    Nas instalaes da empresa funcionam: o Setor de Recursos Humanos; o Servio de

    Medicina Ocupacional, com sala para realizao das audiometrias; Refeitrio; Servio de

    Mecnica e Abastecimento dos nibus.

    A empresa opera, atualmente, com cento e sessenta e oito carros em oito linhas e

    quatro servios que ligam o centro da Cidade Zona Norte, e da Zona Sul Zona Norte da

    Regio Metropolitana do Rio de Janeiro. A frota inclui: nibus padro, micronibus,

    supermicros e nibus adaptados para acesso a portadores de deficincia.

    Em dezembro de 2008, a empresa, recebeu o prmio Parceria Eficiente 2008 na

    categoria empresa, institudo pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficincia. Esse

    prmio atribudo todo ano a empresas, empresrios, instituies comunitrias, cidados,

    instituies pblicas e servidores municipais que promovem incluses de portadores de

    deficincia no mercado de trabalho e aes voltadas para a melhoria da qualidade de vida das

    pessoas com deficincia.

    http://www.transporteestrelaazul.com/Paginas%20Secundarias/pgLinhasAtual.htmhttp://www.transporteestrelaazul.com/Paginas%20Secundarias/pgLinhasAtual.htm

  • 42

    2.3 POPULAO DO ESTUDO

    A empresa de transporte coletivo campo dessa pesquisa, tem como parte integrante de

    seu quadro funcional quatrocentos e trinta motoristas de nibus urbano. A amostra foi

    constituda de cento e doze motoristas, caracterizando aproximadamente 26 % da populao

    total.

    Como critrios de incluso para o estudo foram considerados: motoristas com data de

    admisso nos anos de 2007, 2008 e 2009; ser do sexo masculino; idade inferior a sessenta

    anos; funo de motoristas e que desejassem participar do estudo, por opo.

    Como critrios de excluso foram considerados: os motoristas afastados pelo Instituto

    Nacional do Seguro Social (INSS) e os motoristas que foram demitidos no perodo da

    investigao.

    2.4 ASPECTOS TICOS DA PESQUISA

    Os motoristas foram informados sobre a finalidade do estudo e qual a utilidade dos

    respectivos resultados, obedecendo aos cuidados ticos em relao ao sigilo e

    confidencialidade dos dados, em concordncia com a Resoluo n 196 de 10 de outubro de

    1996 do Conselho Nacional de Sade que referencia os princpios bsicos da biotica:

    autonomia, no maleficncia, beneficncia e justia, visando assegurar os direitos e deveres

    que dizem respeito comunidade cientfica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.

    Ainda em concordncia com a Resoluo n 196/96 do Conselho Nacional de Sade

    foi solicitado aos sujeitos da pesquisa a assinatura do Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido (APNDICE III(C) autorizando sua participao voluntria. O respeito devido

    dignidade humana exige que toda pesquisa se processe aps consentimento livre e esclarecido

    dos sujeitos, indivduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a

    sua anuncia participao na pesquisa.

    Este trabalho foi aprovado pelo Comit de tica e Pesquisa do Hospital Universitrio

    Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense (HUAP/UFF) sob CAAE -

    6141.0.000.258-10 (ANEXO I(A).

  • 43

    2.5 COLETA DOS DADOS

    2.5.1 Identificando os limiares auditivos

    A primeira fase foi identificao dos limiares auditivos, por meio do cadastro

    audiolgico dos motoristas de nibus contidos no banco de dados do software Winaudio 7.4.

    O Winaudio um software de apoio audiolgico direcionado para mdicos e

    fonoaudilogos que atuam na rea de audiologia clnica e ocupacional e para empresas que

    necessitam de controle de sade ocupacional. A verso ocupacional direcionada para o

    acompanhamento permanente do paciente.

    A verso Ocupacional do Winaudio engloba nove mtodos de avaliao, para esse

    estudo foi utilizado como mtodo de avaliao, o proposto pela Portaria 19 da Secretaria de

    Segurana e Sade do Trabalho.

    Os valores dos limiares auditivos registrados por meio do software Winaudio 7.4

    foram coletados pela pesquisadora. Essa coleta obedeceu ordem cronolgica relativa data

    de admisso dos motoristas. Primeiramente foram coletados os valores dos limiares dos

    motoristas admitidos no ano de 2007(exame de referncia) e seus exames sequenciais 2008 e

    2009, depois dos admitidos em 2008 (exame de referncia) e seus exames sequenciais 2009 e

    2010, e por ltimo, dos motoristas admitidos em 2009 (exame de referncia) e exames

    sequenciais 2010 e 2011.

    Os dados foram inseridos em um banco de dados criado pela pesquisadora no software

    Excel, e analisados posteriormente atravs de estatstica descritiva.

    2.5.2 Formulrio sobre a exposio ao rudo e ao cuidado com a sade auditiva

    A segunda fase foi realizada atravs de um formulrio com perguntas relacionadas

    exposio ao rudo e ao cuidado com a sade auditiva aplicado aos motoristas de nibus.

    (APNDICE II(B)

    Segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2007), o formulrio uma lista informal,

    catlogo ou inventrio, destinado coleta de dados resultantes de observaes, interrogaes

    e seu preenchimento realizado pelo pesquisador. O formulrio pode ser considerado

    vantajoso, pois o pesquisador junto ao sujeito pode esclarecer as dvidas em relao aos

    questionamentos apresentados, garantindo a uniformidade das informaes.

  • 44

    A aplicao do formulrio, inicialmente foi efetuada no dia da realizao do exame

    audiomtrico peridico dos motoristas de nibus.

    Devido ao prazo para o trmino do estudo, a realizao da aplicao do formulrio, se

    deu em dias extras, durante os meses de maio, junho, julho, agosto e setembro de 2011,

    obedecendo aos turnos de trabalho dos motoristas. Mediante esse fato aplicou-se o formulrio

    a noventa e quatro motoristas no sendo possvel a resposta de toda a amostra (cento e doze

    motoristas).

    Os motoristas do primeiro turno responderam ao formulrio, junto com a

    pesquisadora, antes do incio de sua jornada de trabalho, na garagem da empresa. O primeiro

    turno normalmente iniciava suas atividades, por volta das quatro horas da manh.

    Os motoristas do segundo turno responderam ao formulrio, junto com a pesquisadora,

    ao trmino de sua jornada de trabalho, durante a entrega dos veculos na garagem da empresa.

    O horrio do trmino das atividades do segundo turno era em torno de duas horas da manh.

    O resultado das perguntas respondidas atravs do formulrio foi inserido em um banco

    de dados criado pela pesquisadora no software Excel, analisados posteriormente atravs de

    estatstica descritiva.

    2.5.3 Descrio do Programa de Conservao Auditiva

    A terceira fase do estudo constou da descrio do Programa de Conservao Auditiva

    atravs de um formulrio seguindo as recomendaes para a elaborao do PCA segundo o

    Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva Boletim n 6, 1999 (APNDICE I(A).

    A pesquisadora agendou uma visita com a equipe de Segurana do Trabalho da

    empresa. Durante a visita foi apresentado o PPRA sendo observadas as informaes

    pertinentes aos profissionais do trfego, em particular aos motoristas de nibus.

    As etapas que constituem o PCA foram informadas pela equipe de segurana do

    trabalho que se props a discorrer sobre cada etapa, mediante o formulrio em forma de check

    list apresentado pela pesquisadora.

    A pesquisadora no teve acesso ao documento fsico do PCA, pois segundo a Equipe

    de Segurana do Trabalho o mesmo se encontra em reformulao devido recente transio

    do pessoal da Engenharia de Segurana.

  • 45

    2.6 ANLISE DOS DADOS

    A anlise descritiva apresentada sob forma de tabelas e os dados observados, atravs

    de mdia desvio padro (DP) e mediana, juntamente com grficos ilustrativos e com os

    dados categricos, atravs de frequncia e percentual.

    A anlise estatstica foi composta pelos seguintes mtodos:

    - Anlise de Varincia (ANOVA): procedimento utilizado para comparar trs ou mais

    tratamentos. Existem muitas variaes da ANOVA devido aos diferentes tipos de

    experimentos que podem ser realizados.

    Foi utilizada a ANOVA de Friedman3 para verificar se existe variao significativa na

    audiometria (em dB) ao longo de trs anos consec