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Antologia Poética Escolas | João de Araújo Correia

Antologia poética

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Page 1: Antologia poética

Antologia Poética

Escolas | João de Araújo Correia

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Antologia Poética

Nome: Cesarina Sousa

Nº: 13 Turma: 10ºF

Disciplina: Português

Docente: Emília Craveiro

Ano Lectivo 2013/2014

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Introdução

• A Poesia nasceu não se sabe ao certo quando nem como, mas é expressa pela linguagem humana e como tal indica, quem sabe se não existiria mesmo antes da escrita. É uma arte e como tal é necessário valora-la e dar-lhe vida, e construir no seu amplo terreno novos projectos.

• Assim, pode-se escrever antologias como esta, que preservam algumas das maravilhosas obras que os poetas escrevem e que nos transmitem algo.

• No âmbito da disciplina de Português, este trabalho consiste numa antologia poética, com poemas seleccionados por mim, com a finalidade de demonstrar as minhas preferências no campo da poesia.

• Tentei diversificar autores e temáticas, mas tive como objectivo pessoal colocar poemas com que me identificasse de alguma forma.

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Ser poeta Ser poeta é ser mais alto, é ser maiorDo que os homens! Morder como quem beija!É ser mendigo e dar como quem sejaRei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendorE não saber sequer que se deseja!É ter cá dentro um astro que flameja,É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…É seres alma e sangue e vida em mimE dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca

Florbela Espanca

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Terror de Te Amar

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeiçãoOnde tudo nos quebra e emudeceOnde tudo nos mente e nos separa.

Que nenhuma estrela queime o teu perfilQue nenhum deus se lembre do teu nomeQue nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puroLivre como o vento e repetidoComo o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Todas as cartas de amor…Todas as cartas de amor sãoRidículas.Não seriam cartas de amor se não fossemRidículas.Também escrevi em meu tempo cartas de amor,Como as outras,Ridículas.As cartas de amor, se há amor,Têm de serRidículas.Mas, afinal,Só as criaturas que nunca escreveramCartas de amorÉ que sãoRidículas.Quem me dera no tempo em que escreviaSem dar por issoCartas de amorRidículas.A verdade é que hojeAs minhas memóriasDessas cartas de amorÉ que sãoRidículas.(Todas as palavras esdrúxulas,Como os sentimentos esdrúxulos,São naturalmenteRidículas.)

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

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Há Palavras que Nos Beijam

Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca.

Palavras de amor, de esperança,

De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas

Quando a noite perde o rosto;

Palavras que se recusam

Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas

Entre palavras sem cor,

Esperadas inesperadas

Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama

Letra a letra revelado

No mármore distraído

No papel abandonado)

Palavras que nos transportam

Aonde a noite é mais forte,

Ao silêncio dos amantes

Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

Alexandre O'Neill

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Lembra-te

Lembra-teque todos os momentosque nos coroaramtodas as estradasradiosas que abrimosirão achando sem fimseu ansioso lugarseu botão de floriro horizontee que dessa procuraextenuante e precisanão teremos sinalsenão o de saberque irá por onde fomosum para o outrovividos

Mário Cesariny

Mário Cesariny

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Urgentemente

É urgente o amorÉ urgente um barco no mar

É urgente destruir certas palavras,ódio, solidão e crueldade,alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,multiplicar os beijos, as searas,é urgente descobrir rosas e riose manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luzimpura, até doer.É urgente o amor, é urgentepermanecer.

Eugénio de Andrade

Eugénio de Andrade

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Soneto do amor total

Amo-te tanto meu amor... não canteO humano coração com mais verdade...Amo-te como amigo e como amanteNuma sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestanteE te amo além, presente na saudade.Amo-te, enfim, com grande liberdadeDentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmenteDe um amor sem mistério e sem virtudeCom um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúdeÉ que um dia em teu corpo de repenteHei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícios de Moraes

Vinícios de Moraes

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Última páginaVou deixar este livro. Adeus. Aqui morei nas ruas infinitas. Adeus meu bairro página branca onde morri onde nasci algumas vezes.

Adeus palavras comboios adeus navio. De ti povo não me despeço. Vou contigo. Adeus meu bairro versos ventos.

Não voltarei a Nambuangongo onde tu meu amor não viste nada. Adeus camaradas dos campos de batalha. Parto sem ti Pedro Soldado.

Tu Rapariga do País de Abril

tu vens comigo. Não te esqueças da primavera. Vamos soltar a primavera no País de Abril.

Livro: meu suor meu sangue

aqui te deixo no cimo da pátria

Meto a viola debaixo do braço

e viro a página. Adeus.

Manuel Alegre

Manuel Alegre

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Sono limpo

Não mais sono, mas sono limpode todo excremento romântico.A isso aspira, deus expulsode um Olimpo onde sonhar eram versõesde existir.Não á morte: ao sonoque petrifica a morte e vai aléme me completa em finidade,ser isento de ser, predestinadoao prémio excelso de exalar-se.Não mais, não mais gozode instantes de delícia, pasmo, espasmoQuero a última ração do vácuo,a última danação, parágrafo, penúltimodo estado- menos isso – de não ser.

Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade

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Quando eu sonhavaQuando eu sonhava, era assim

Que nos meus sonhos a via;

E era assim que me fugia,

Apenas eu despertava,

Essa imagem fugidia

Que nunca pude alcançar.

Agora que estou desperto,

Agora que a vejo fixar...

Para quê? – Quando era vaga,

Uma ideia, um pensamento,

Um raio de estrela incerto

No imenso firmamento,

Uma quimera, um vão sonho,

Eu sonhava – mas vivia:

Prazer não sabia o que era,

Mas a dor não na conhecia...

Almeida Garret

Almeida Garret

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Análise do poema “Há palavras que nos beijam” de Alexandre O’neill

Análise externa:

• O poema é constituído por 5 estrofes de 4 versos, classificando-se de quadras.

• Quanto á rima, é apresentado o esquema rimático abcb/aded/fghg/ijlj/mnon, rimando o 1º verso da 1ª estrofe com o 1º verso da 2ª estrofe (“beijam”), rima intercalada. Na 1ª estrofe temos a rima do 2º verso com o 4º verso (rima cruzada), sendo o 3º verso solto. Na 2ª estrofe ocorre a mesma sequência. Na 3ª, 4ª e 5ª estrofe ocorre a rima do 2º e 4º verso, sendo uma rima cruzada e o 1º e 3º verso são versos soltos.

• Quanto ao número de sílabas métricas todos os vinte versos são constituídos por 7 sílabas métricas, sendo redondilhas maiores ou heptassilabos.

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Análise interna:

• Tema: as palavras, abrangem muito mais do que se pensa, pode despertar em cada um de nós inúmeros sentimentos, simplesmente pelo facto de as mencionarmos, de as ouvirmos ou somente de pensarmos nelas.

• Assunto: o sujeito poético transmite os seus sentimentos e pensamentos neste poema, fazendo a apologia das palavras.

Refere-se sobretudo às palavas que de forma personificada têm boca que nos podem beijar/tocar trazendo-nos felicidade. Em oposição a estas agradáveis palavras, o poeta faz referência também às palavras sem cor, banais.

• Primeira estrofe e primeiro verso: na primeira estrofe do poema é possível ler que existem palavras que são como verdadeiros beijos, de esperança porque chegam de pessoas sinceras. Aqui, sim, “as palavras de amor, de esperança louca” é transmitido uma ideia de que estas palavras de amor e de esperança estão a apoiar-nos, dão-nos uma determinada força para seguir em frente em momentos em que nos sentimos desmotivados. O adjectivo “louca” reforça essa mesma ideia, realçando então o poder das palavras que de certa forma são encorajadoras.

Desta forma podemos epilogar que o poeta, comparando as palavras ao beijo e à esperança, está a demonstrar a verdadeira força que estas apresentam. Por um lado como o beijo elas acalmam, sossegam, acarinham e confortam, por outro lado como esperança elas permitem acreditar, seguir em frente e enfrentar obstáculos.

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• Segunda estrofe: já na segunda estrofe o poeta orienta mais os seus versos ás pessoas infelizes, referindo que as palavras detêm um poder só se conseguirem ajudar a superar a infelicidade dos maus momentos presentes nas vidas dessas pessoas, “quando a noite perde o rosto”. Esta ajuda, muitas vezes não passa só de uma tentativa, pois é em grande parte recusada, pois estes momentos de mágoa e tristeza transportam-nos para um outro mundo, uma outra realidade em que a única percepção é que tudo é impossível e inalcançável, “Palavras que se recusam/Aos muros do teu desgosto.”

• Terceira estrofe: na terceira estrofe é feita uma comparação entre as palavras com a poesia e o amor, “Como a poesia ou o amor”. Isto porque tanto a poesia como o amor, erguem-se a qualquer momento, e geralmente são bastante imprevisíveis, trazendo na sua bagagem uma esperança de dar cor à vida, “De repente coloridas/Entre palavras sem cor”.

• Quarta estrofe: na quarta estrofe, o sujeito poético quer essencialmente dar a entender que, quando estamos apaixonados, temos uma vontade louca de escrever o nome do(a) nosso(a) amado(a), “letra a letra”. Quer isto dizer que não importa onde vamos escrever, numa pedra completamente insignificante, num bocado de papel rasgado de um caderno, o importante é transmitir, através da palavra, o nome da pessoa que amamos.

O facto de a estrofe surgir entre parêntesis pode representar um único momento do poema, e significa que apesar de uma pequena acção, como escrever um nome num papel, o significado para a pessoa que escreve é grandioso.

• Quinta estrofe: na última e quinta estrofe, o autor mostra que as palavras podem ser também partilhadas em silêncio, ou seja, as palavras são ditas, mas não se ouvem, pois os amantes não precisam de falar para saber o que o seu parceiro pensa ou sente, “Ao silêncio dos amantes”.

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• Figuras de estilo:

11º verso (Esperadas inesperadas)-oxímoro-contradição de ideias, aproximação de dois termos incompatíveis.

15º verso (No mármore distraído)-personificação- é atribuída uma característica própria de um ser humano a um objecto inanimado.

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Conclusão

• A Poesia sente-se, compreende-se e interpreta-se. É uma forma de ser imaginária e um mundo de possibilidades, onde as mentiras são verdades e onde o “eu” se torna outra pessoa. O lugar onde as palavras nos enganam e nos fazem sonhar, onde os sonhos se tornam realidade e onde a realidade se torna um sonho. Incrivelmente bela a Poesia está presente na vida de todas as pessoas, num poema ou numa simples frase que chama por nós. O que interessa é ler… Um poema, dois ou três…Uma antologia!

• Se um poema já nos faz sonhar por um tempo, imaginemos o que uma antologia nos fará!

• Consome-nos num tempo que não passa e num espaço irreal onde cada poema é uma nova aventura e um novo turbilhão de sentimentos. Uma forma de aprender que nos eleva a um patamar cujo único caminho é a Poesia e na qual não existem atalhos para lá chegar…