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Andrea Monique da Silva Araújo Ação Humanitária e Missões de Paz no Terreno: O Caso do Sudão do Sul Universidade Fernando Pessoa Porto 2017

Ação Humanitária e Missões de Paz no Terreno: O Caso do ... Araújo.pdf · ONU Organização das Nações Unidas ONG Organização Não Governamental OING Organização Internacional

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Page 1: Ação Humanitária e Missões de Paz no Terreno: O Caso do ... Araújo.pdf · ONU Organização das Nações Unidas ONG Organização Não Governamental OING Organização Internacional

Andrea Monique da Silva Arauacutejo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no

Terreno

O Caso do Sudatildeo do Sul

Universidade Fernando Pessoa

Porto

2017

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ii

Andrea Monique da Silva Arauacutejo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no

Terreno

O Caso do Sudatildeo do Sul

Universidade Fernando Pessoa

Porto

2017

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

iii

Andrea Monique da Silva Arauacutejo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no

Terreno

O Caso do Sudatildeo do Sul

______________________________

Trabalho apresentado agrave Universidade Fernando Pessoa

como parte dos requisitos para a obtenccedilatildeo do grau de mestre

em Accedilatildeo Humanitaacuteria Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento

sob orientaccedilatildeo da Professora Doutora Claacuteudia Ramos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

iv

Resumo

Na presente dissertaccedilatildeo satildeo abordados os principais problemas associados agrave escolta

militar a voluntaacuteriosprofissionais humanitaacuterios das ONG OING ou OIG A

problemaacutetica associada eacute o cumprimento por parte da comunidade humanitaacuteria dos

princiacutepios humanitaacuterios fundamentais da independecircncia neutralidade e imparcialidade

Ou seja o estudo centra-se na relaccedilatildeo entre humanitaacuterio e militar e nas consequecircncias

que podem advir daiacute como por exemplo desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

ONG OING ou OIG queda dos donativos ataques entre outros As questotildees centrais

satildeo as seguintes Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de

vida ou correcirc-lo ao respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente

Seraacute que eacute possiacutevel encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a

seguranccedila e proteccedilatildeo dos humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma

alternativa

Satildeo tambeacutem exploradas as diversas opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno sem colocar em causa os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios Por exemplo satildeo analisadas potenciais colaboraccedilotildees e atuais

colaboraccedilotildees com as operaccedilotildees de paz de peacekeeping peacebuilding e peace

enforcement as missotildees integradas e ainda seraacute explorada a opccedilatildeo da contrataccedilatildeo das

agecircncias militares privadas

A dissertaccedilatildeo assenta tambeacutem num estudo de caso sobre o Sudatildeo do Sul onde eacute

avaliada esta relaccedilatildeo militar-humanitaacuterio no terreno Conclui-se que no Sudatildeo do Sul

eacute necessaacuteria uma maior cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares no terreno de forma a

que seja garantida a proteccedilatildeo e seguranccedila aos humanitaacuterios e por conseguinte se

permita que as organizaccedilotildees humanitaacuterias consigam realizar o seu trabalho que eacute

fundamental para a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Como seraacute possiacutevel verificar as duas

soluccedilotildees que parecem mais seguras satildeo as missotildees integradas e escolta concedida no

acircmbito de missotildees sob a responsabilidade de proteger

Palavras-chave Escolta militar princiacutepios humanitaacuterios peacekeeping peacebuilding

peace enforcement seguranccedila comunidade humanitaacuteria missotildees integradas Sudatildeo do

Sul

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

v

Abstract

In this dissertation the main problems related to the military escort to NGO volunteers

humanitarian professionals OING or OIG are addressed The associated problem is the

compliance by the humanitarian community with the fundamental humanitarian

principles of independence neutrality and impartiality That is the study focuses on the

relationship between humanitarian and military personnel and the consequences that

may arise therefrom such as distrust of the population in relation to NGOs NGOI or

IGO dropping of donations attacks among others The core questions are Is better to

respect fundamental humanitarian principles in full Is it possible to find an alternative

to the military escort to ensure security protection of the humanitarian Are private

military agencies an alternative

In other words the various options that can guarantee humanitarian safety on the

ground without undermining the fundamental humanitarian principles are explored For

example potential collaboration and current collaboration with peacekeeping

peacebuilding operations peace enforcement integrated missions and the option of

hiring private military agencies will be explored

The dissertation is also based on a case study on South Sudan where this military-

humanitarian relationship is evaluated on the ground It is concluded that in South

Sudan there is a need for greater humanitarian-military cooperation on the ground in

order to ensure the protection and security of humanitarian aid and therefore to enable

humanitarian organizations to carry out their work which is fundamental to the

pacification of the territory The two solutions that seem most viable are the integrated

missions and escort given by humanitarian personnel under the mission of the

responsibility to protect

Keywords Military escort humanitarian principles peacekeeping peacebuilding

peace enforcement safety humanitarian community integrated missions Southern

Sudan

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vi

Dedicatoacuteria

Para os meus pais que tornaram possiacutevel

realizar este sonho e agrave minha prima de

coraccedilatildeo Rosa Santos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vii

Agradecimentos

Agradeccedilo aos meus pais por todo o apoio que me transmitiram ao longo do meu

percurso acadeacutemico e todas as aprendizagens que me transmitiram ao longo da vida

Agradeccedilo aos meus amigos pelo apoio incondicional carinho e pelos bons momentos

Agradeccedilo ao meu primo e agrave sua esposa que satildeo como irmatildeos para mim por todo o

amor compreensatildeo apoio e carinho Foram fundamentais ao longo do meu percurso

acadeacutemico e na minha formaccedilatildeo enquanto pessoa

Gostava de endereccedilar um agradecimento muito especial agrave Professora Claacuteudia Ramos

por tudo o que me ensinou ao longo do meu percurso acadeacutemico todo o empenho

dedicaccedilatildeo compreensatildeo exigecircncia disponibilidade e apoio Mas sobretudo gostava de

agradecer pelo incentivo e apoio nos momentos menos bons que ocorreram ao longo do

periacuteodo de redaccedilatildeo da dissertaccedilatildeo e por ter-me feito natildeo desistir em momento algum

de terminar o meu mestrado quando os momentos que estava a atravessar eram

momentos difiacuteceis

Agradeccedilo tambeacutem ao Professor Joatildeo Casqueira ao Professor Aacutelvaro Campelo agrave

Professora Teresa Toldy e ao Professor Paulo Vila Maior pela sabedoria que

partilharam ao longo de todo o meu percurso acadeacutemico que foi pautado por excelentes

professores

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

viii

Iacutendice

Resumo iv

Abstract v

Dedicatoacuteria vi

Agradecimentos vii

Iacutendice viii

Iacutendice de Figurashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip ix

Lista de Acroacutenimos x

Introduccedilatildeo 1

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria 10

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a abordagem

humanitaacuteria 21

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding 21

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar 23

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares 28

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno 40

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 48

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso 53

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul 53

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das ONG 59

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar 62

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 69

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas 73

Conclusatildeo 75

Bibliografia 80

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ix

Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terrenohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip43

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sulhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip53

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

x

Lista de Acroacutenimos

AMI Assistecircncia Meacutedica Internacional

AMP Agecircncias Militares privadas

CAI Conflito Armado Internacional

CANI Conflito Armado Natildeo Internacional

CERF Central Emergency Response Fund

CMOC Civil Military Operation Center

DIH Direito Internacional Humanitaacuterio

DDR Desarmamento Desmobilizaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo

DSL Defense System Limited

ECHO European Civil Protection and Aid Operations

HC Humanitarian Coordinator

HCT Humanitarian Country Team

ICRC International Comittee of Red Cross

IASC Inter-Agency Standing Committee

IAP Integrated Assessment and Planning

ICISS International Commission on Intervention and State Sovereignity

JOC Joint Operations Center

MSF Meacutedicos Sem Fronteiras

NU Naccedilotildees Unidas

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

OING Organizaccedilatildeo Internacional Natildeo Governamental

OCHA United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

OCDE Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econoacutemico

OFDA Office of US Foreign and Disaster Assistance

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

PCI Projetos de curto impacto

RESG Representante Especial do Secretaacuterio Geral

RCO Resident Coordinatoracutes Office

R2P Responsibility to protect

UE Uniatildeo Europeia

UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

UNMISS United Nation Missions for South Sudan

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF United Nations Childrenrsquos Fund

WFP World Food Programme

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

1

Introduccedilatildeo

Na presente dissertaccedilatildeo iraacute ser abordada a relaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a Accedilatildeo

Securitaacuteria como garante de proteccedilatildeo e escolta aos humanitaacuterios em situaccedilotildees de

elevado perigo podendo potencialmente colocar a missatildeo humanitaacuteria em causa devido

agrave dificuldade de acesso ao terreno A resposta humanitaacuteria eacute composta por trecircs fases A

primeira eacute o fornecimento dos bens essenciais como a aacutegua abrigo e alimentaccedilatildeo A

segunda eacute a ajuda agraves viacutetimas para recuperarem os seus meios de subsistecircncia bem como

a reconstruccedilatildeo das infraestruturas sociais e materiais baacutesicas Por uacuteltimo haacute a prevenccedilatildeo

de novas cataacutestrofes Logo a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal objetivo aliviar o

sofrimento humano de forma a que a populaccedilatildeo possa viver com dignidade e se salvem

vidas A accedilatildeo humanitaacuteria divide-se nas seguintes aacutereas a ajuda ao desenvolvimento a

defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda humanitaacuteria mais urgente

(OIKOS 2015 UNRIK 2014)

Jaacute a accedilatildeo securitaacuteria nomeadamente as lsquomissotildees de pazrsquo eacute predominantemente do tipo

militar tendo regra geral de ser pedida pelo Estado que estaacute a atravessar o conflito

como foi o caso do Ruanda Somaacutelia Sudatildeo do Sul entre outros As accedilotildees securitaacuterias

ao abrigo das missotildees de paz tecircm como objetivos fornecer assistecircncia e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados que a paz possa ser estabelecida e o genociacutedio

prevenido ou interrompido Dentro da accedilatildeo securitaacuteria encontram-se as operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mais extrema o peace enforcement O peace

enforcement pode ser ativado em casos extremos e ao abrigo do princiacutepio da

responsabilidade de proteger Ainda assim os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm

de se limitar a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para fazerem respeitar os

direitos humanos violados e fornecer assistecircncia ao povo local (Gordon1996 Bellamy

e Wheeler 2006 Massingham 2009 Weiss 2017)

A questatildeo central da investigaccedilatildeo eacute portanto a articulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o

militar em paiacuteses que estejam a passar por conflitos armados Sempre que os

profissionais humanitaacuterios estejam em paiacuteses em estado de guerra ou poacutes-guerra

poderatildeo sentir dificuldades na hora de aceder a locais onde a populaccedilatildeo necessite de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

2

mais ajuda devido ao facto de natildeo terem escolta militar para esse efeito Outro

problema eacute a possibilidade de haver confusatildeo dos humanitaacuterios com os militares e por

isso a populaccedilatildeo rejeitar a ajuda das organizaccedilotildees humanitaacuterias Portanto o foco do

tema da dissertaccedilatildeo eacute identificar a importacircncia do papel dos militares para o bom

desempenho dos profissionais humanitaacuterios

Ou seja o estudo centra-se nas consequecircncias que podem advir daiacute como por exemplo

desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves ONG OING ou OIG queda dos donativos

ataques entre outros Do ponto de vista praacutetico as questotildees centrais seratildeo as seguintes

Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de vida ou correcirc-lo e

respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente Seraacute que eacute possiacutevel

encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a seguranccedila e proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma alternativa

Nesta dissertaccedilatildeo constatar-se-aacute que existe um cruzamento entre a accedilatildeo humanitaacuteria

(humanitaacuterios) e o sistema securitaacuterio (militares) sendo os atores deste uacuteltimo

normalmente os membros das operaccedilotildees de peacekeeping peace enforcement ou a

componente policial e militar do peacebuiliding podendo ainda ocorrer haver no

terreno uma forccedila militar estatal como no caso de algumas intervenccedilotildees militares como

seraacute explicitado adiante Neste uacuteltimo caso soacute mesmo em uacuteltima circunstacircncia os

humanitaacuterios aceitariam a escolta de forma a natildeo perderem a sua imparcialidade e

independecircncia

As operaccedilotildees de peacekeeping satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas

tambeacutem para a proteccedilatildeo dos civis para assistir ao desarmamento agrave desmobilizaccedilatildeo e agrave

reintegraccedilatildeo de ex-combatentes para suportar a organizaccedilatildeo de eleiccedilotildees para proteger e

promover os direitos humanos e para ajudar na construccedilatildeo de um ldquoestado de direitorsquo

(rule of law) fazendo a ponte com as operaccedilotildees de peacebuilding no terreno e sendo os

seus atores parceiros ldquonaturaisrdquo dos humanitaacuterios no terreno (UN sda UN sdb)

As razotildees pelas quais foi escolhido este tema satildeo sobretudo motivaccedilotildees pessoais mas

tambeacutem a relevacircncia do mesmo para a construccedilatildeo do saber na aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria

cooperaccedilatildeo e desenvolvimento sobretudo na parte da accedilatildeo humanitaacuteria Explorar novos

caminhos e trabalhar novos paradigmas para a evoluccedilatildeo positiva da accedilatildeo das missotildees no

terreno eacute fulcral para o futuro da accedilatildeo humanitaacuteria ndash eacute urgente encontrar novas soluccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

3

para que os humanitaacuterios e os militares possam satisfazer as necessidades das

populaccedilotildees que residam em locais de conflito

Uma articulaccedilatildeo entre os humanitaacuterios e os membros de operaccedilotildees de peacekeeping ou

peacebuilding pode revelar-se importante para o sucesso das missotildees em que os

profissionais humanitaacuterios participam sobretudo se essas missotildees forem sediadas em

locais de tensatildeo aberta ou altamente conflituosos Para aleacutem da motivaccedilatildeo pessoal

explicada existe pois uma motivaccedilatildeo social sendo ela a de colaborar para alertar os

agentes responsaacuteveis pela accedilatildeo humanitaacuteria para as novas necessidades e desafios nesta

aacuterea de forma a contribuir mais e melhor na sociedade

Os objetivos do estudo ao abordar este tema satildeo explorar a relaccedilatildeo existente ou natildeo

entre o profissional humanitaacuterio e o militar bem como entender ateacute que ponto essa

relaccedilatildeo eacute ou natildeo beneacutefica para a eficaacutecia da accedilatildeo humanitaacuteria e se porventura coloca em

causa os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios que satildeo a imparcialidade neutralidade e

independecircncia Eacute pretendido tambeacutem explorar as vaacuterias opccedilotildees de obtenccedilatildeo de

seguranccedila e identificar as melhores opccedilotildees

No entanto o objetivo central eacute explorar as dinacircmicas de articulaccedilatildeo entre o

humanitaacuterio e o militar em missotildees humanitaacuterias nas suas diversas formas quer com a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas quer com o apoio dos peacekeepers ou

forccedilas militares do paiacutes que estaacute sob a ajuda humanitaacuteria e a accedilatildeo militar Dado o cariz

do mestrado em Accedilatildeo Humanitaacuteria que visa formar tambeacutem para a praacutetica de terreno

este objetivo afigura-se fundamental

O paradigma investigativo escolhido para a dissertaccedilatildeo eacute o qualitativo que assenta na

interpretaccedilatildeo de determinados fenoacutemenos de modo a construir uma nova visatildeo acerca

do tema de estudo A parte empiacuterica da dissertaccedilatildeo conta com um estudo de caso sobre

o Sudatildeo do Sul onde eacute analisada a interaccedilatildeoarticulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o militar

no terreno com recurso a anaacutelise bibliograacutefica e documental nomeadamente a anaacutelise

de um guia sobre missotildees integradas elaborado pela OXFAM que eacute o UN Integrated

Missions and Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations

Integrated Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) Conta tambeacutem com a

anaacutelise de um documento importante para o estudo do caso do Sudatildeo do Sul que eacute o

Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United Nations

Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) elaborado pelas Naccedilotildees Unidas (NU)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

4

em conjunto com ONG OING e OIG Este eacute um guia que iraacute explicar como deve ser

feita a cooperaccedilatildeo entre a comunidade humanitaacuteria e os peacekeepers no terreno

denominada tambeacutem de missatildeo integrada (minimalista ou maximalista conforme se

explicaraacute)

O motivo da escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso foi o facto de este ser um

Estado de elevada fragilidade onde a guerra civil natildeo aparenta ter um fim agrave vista Outro

motivo foi o nuacutemero crescente de humanitaacuterios atacados sequestrados e assassinados

no terreno o que torna o Sudatildeo do Sul um terreno perigoso para as ONG e OIG se

aventurarem sem que sejam garantidas as devidas condiccedilotildees de seguranccedila e proteccedilatildeo

dos humanitaacuterios O cerne da questatildeo eacute precisamente o facto de essa proteccedilatildeo e

seguranccedila natildeo serem garantidas no terreno pelo Estado que estaacute em conflito armado

natildeo sendo possiacutevel por vezes aos humanitaacuterios chegar a determinados locais por

elevado niacutevel de perigo de vida

Satildeo estes os motivos que justificaram a escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso

complementando assim a parte teoacuterica sobre o dilema dos princiacutepios humanitaacuterios e a

necessidade de proteccedilatildeo no terreno

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

5

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria nasceu com Henri Dunant tendo sido este a criar a Cruz Vermelha

apoacutes a batalha violenta de Solferino em 1859 Teraacute entatildeo uma estrutura composta de

associaccedilotildees pequenas adquirindo uma dimensatildeo sem-fronteiras Comeccedilou por ser

denominada de Comiteacute International de Secours aux Blesseacutes e em 1875 obteve o nome

pela qual eacute conhecida hoje Cruz Vermelha ou Croix Rouge Tinha como principal

objetivo tratar os prisioneiros e feridos de guerra independentemente do lado pelo qual

lutavam Ou seja Dunan apoacutes assistir aos horrores daquela batalha decidiu criar uma

organizaccedilatildeo que tratasse todos os feridos independentemente da raccedila religiatildeo

ideologia cor crenccedila ou etnia (Schaumoff 2011 Crisp 2008)

A Cruz Vermelha comeccedilou por basear-se em trecircs pilares fundamentais que satildeo a

neutralidade a independecircncia da organizaccedilatildeo permanente de socorros e uma convenccedilatildeo

internacional para a proteccedilatildeo dos feridos A accedilatildeo humanitaacuteria tinha e tem como

principal objetivo alivar o sofrimento restabelecer a dignidade e humanidade Estes trecircs

pilares foram rapidamente adotados pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias (Schaumoff

2011 Crisp 2008 Hammond 2015) Em 1965 em Viena a Cruz Vermelha proclamou

os seus sete princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

Independecircncia todas as ONG e OIG devem ser independentes relativamente a qualquer

instituiccedilatildeo Estado ou outro sistema governamental a fim de se poderem movimentar e

agir de acordo com os seus princiacutepios e natildeo sob pressatildeo da entidade da qual dependem

monetariamente ou securitariamente Ou seja a accedilatildeo humanitaacuteria deve ser praticada de

forma autoacutenoma e independente dos agentes poliacuteticos e militares (Hisamoto 2012

IFRCC sd)

Imparcialidade todos devem ser tratados de igual forma independentemente da tribo

etnia da cor do sexo da religiatildeo de ideologia poliacutetica e do geacutenero (IFRCC sd CVP

2017a)

Neutralidade as OIG e ONG devem abster-se de tomar parte em hostilidades ou em

controveacutersias de ordem poliacutetica racial filosoacutefica ou religiosa (IFRCC sd CVP

2017a)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

6

Humanidade este princiacutepio estabelece que todos os feridos devem ser auxiliados dentro

e fora do campo de batalha o sofrimento deve ser aliviado independentemente das

circunstacircncias a vida e a sauacutede devem ser protegidas deve ser promovido o respeito

pela pessoa humana e deve ser favorecida a compreensatildeo a cooperaccedilatildeo e a paz

duradoura entre os povos (IFRCC sd CVP 2017a)

Voluntariado todas as OIG e ONG devem agir de forma voluntaacuteria e desinteressada

(IFRCC sd CVP 2017a)

Unidade a Cruz Vermelha eacute uma soacute podendo em cada paiacutes existir somente sociedades

abertas a todos estendendo assim a sua accedilatildeo humanitaacuteria a todo o territoacuterio nacional

No entanto este princiacutepio eacute estendiacutevel a toda a comunidade humanitaacuteria que deve agir

como uma soacute entreajudando-se e cumprindo o dever de salvar vidas e aliviar o

sofrimento humano (IFRCC sd CVP 2017a)

Universalidade a Cruz Vermelha eacute uma instituiccedilatildeo com cariz universal no seio de

todas as Sociedades Nacionais todas tecircm direitos e deveres iguais de entreajuda o

mesmo princiacutepio vale para as restantes organizaccedilotildees intergovernamentais ou natildeo

governamentais (IFRCC sd CVP 2017a)

Em 1949 foram criadas as Quatro Convenccedilotildees de Genebra e posteriormente os

respetivos protocolos que satildeo de 1977 e satildeo a base do Direito Internacional

Humanitaacuterio onde eacute determinado o tratamento dos soldados e civis durante os conflitos

armados internacionais e natildeo internacionais (CVP 2017b Jurkowski 2017)

A primeira Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos e dos doentes das

Forccedilas Armadas em campanha Aqui eacute estabelecido como devem ser tratados os feridos

e doentes das forccedilas armadas respeitando sempre os princiacutepios fundamentais mais

importantes da accedilatildeo humanitaacuteria que satildeo a neutralidade e imparcialidade Ou seja todo

o doente ou ferido deve ser tratado independentemente da sua cor raccedila credo feacute

religiatildeo geacutenero ideologias poliacuteticas etnias e quer faccedila parte de uma ou outra parte das

hostilidades (ICRC 1949 CVP 2017b Jurkowski 2017)

A segunda Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos doentes e

naacuteufragos das Forccedilas Armadas no mar Eacute aqui estabelecido o tipo de tratamentos que os

feridos doentes e naacuteufragos das forccedilas armadas devem obter e os direitos que lhes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

7

assistem Todos os feridos devem ser assistidos independentemente da religiatildeo crenccedila

feacute religiatildeo ideologias poliacuteticas e quer faccedilam parte de uma ou da outra parte das

hostilidades Caso os humanitaacuterios estejam perante dois feridos e tenham de escolher

devem assistir o ferido que teraacute mais probabilidades de sobreviver natildeo devendo fazer a

escolha com base na nacionalidade faccedilatildeo partidaacuteria crenccedila religiatildeo feacute cor entre

outros Todas as organizaccedilotildees humanitaacuterias e todos os humanitaacuterios devem pois reger-

se pelos princiacutepios da neutralidade e imparcialidade mas tambeacutem humanidade e

independecircncia (ICRC 1949 CVPb 2017)

A terceira Convenccedilatildeo diz respeito ao tratamento dos prisioneiros de guerra Todos os

prisioneiros de guerra devem ser tratados com dignidade e devem ver os seus direitos

consagrados no direito internacional humanitaacuterio respeitados como o acesso a

assistecircncia meacutedica em caso de necessidade a proteccedilatildeo dos seus pertences que natildeo

devem ser alvo de pilhagem e a garantia de um miacutenimo de condiccedilotildees na cela que

permita ao prisioneiro viver com dignidade Natildeo devem ainda ser alvo de torturas

privados de visitas e de um advogado e devem ainda ter acesso a um julgamento

imparcial Em caso de morte o corpo natildeo pode ser profanado e deve ser devolvido agrave

famiacutelia uma vez feito o reconhecimento (ICRC 1949 CVP 2017b)

A quarta Convenccedilatildeo diz respeito agrave proteccedilatildeo de civis em tempo de guerra Nesta

convenccedilatildeo eacute feita a distinccedilatildeo entre os conflitos armados internacionais e os conflitos

armados natildeo internacionais pois a proteccedilatildeo dada aos civis em tempo de conflito a

niacutevel do direito internacional humanitaacuterio eacute diferente Se no caso de um CAI (Conflito

Armado Internacional) os civis e prisioneiros de guerra estatildeo protegidos pelo Direito

Internacional Humanitaacuterio e pelas Convenccedilotildees de Genebra ratificadas por quase todos

os Estados do mundo a verdade eacute que caso o conflito natildeo seja internacional a proteccedilatildeo

dos civis e prisioneiros de guerra eacute colocada em causa O Direito Internacional

Humanitaacuterio natildeo tem legitimidade para atuar em caso de CANI (Conflito Armado Natildeo

Internacional) Logo em caso de CANI os civis e prisioneiros de guerra ficam

entregues agrave sua sorte No entanto eacute possiacutevel contornar este problema recorrendo aos

protocolos adicionais I e II O problema aqui reside no facto de poucos Estados terem

ratificado os protocolos adicionais o que deixa os civis e prisioneiros de guerra numa

posiccedilatildeo delicada em contexto de CAN Outro problema eacute ainda determinar quando eacute

que podemos classificar um conflito armado como sendo internacional ou natildeo Esta eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

8

uma aacuterea complicada e que leva a algumas duacutevidas quanto agrave classificaccedilatildeo do conflito

(Jurkowski 2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional I vem pois fazer a distinccedilatildeo entre os conflitos armados

internacionais e natildeo internacionais e o protocolo adicional II vem fazer algumas

modificaccedilotildees e especificar como devem ser tratados os feridos doentes e prisioneiros de

guerra em cada um dos casos Foram celebrados a 8 de agosto de 1977 (Jurkowski

2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional III celebrado a 8 de dezembro de 2005 vem formalizar o terceiro

emblema do movimento ldquoO Cristal Vermelhordquo Este novo emblema apresenta-se na

forma de um losango inserido dentro de uma moldura vermelha sob fundo branco A

ideia da construccedilatildeo de um novo siacutembolo surgiu com a necessidade de encontrar uma

alternativa agrave cruz e ao crescente que satildeo muitas vezes percecionadas como tendo

conotaccedilotildees religiosas culturais e poliacuteticas o que levava ao desrespeito do emblema dos

humanitaacuterios e das viacutetimas Com o novo emblema denominado de Cristal Vermelho e

com a assinatura do acordo entre o Crescente Vermelho da Palestina e a Magen David

Adom (mais conhecida por estrela de David) a 28 de novembro de 2005 foram

definidos aspetos logiacutesticos no desenvolvimento das operaccedilotildees humanitaacuterias Este

acordo contribuiu para a adoccedilatildeo do III protocolo adicional e para que terminasse um

longo processo diplomaacutetico (CVPb 2017 CVP 2017c ICRC 1949)

Com o aumento do nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento

de conflitos que necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido pela Cruz

Vermelha em 1994 o coacutedigo de conduta humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se

comprometeriam a respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios principalmente os

princiacutepios da neutralidade imparcialidade e independecircncia Este coacutedigo foi assinado por

140 agecircncias de forma a assegurar que os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios fossem

assegurados no terreno (Makintosh 2000 Hammond 2015)

Podemos constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal missatildeo aliviar o

sofrimento humano e devolver dignidade agrave vida das pessoas com necessidades que

devem ser urgentemente apaziguadas Esta ajuda humanitaacuteria deve ter como principal

fim o solidaacuterio e nunca fins lucrativos ou segundas intenccedilotildees como poliacuteticas por

exemplo Os seus valores tecircm origem eacutetico-religiosa cristatilde quanto ao amor ao proacuteximo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

9

no princiacutepio da solidariedade e da caridade bem como no humanitarismo Eacute tambeacutem

estabelecido neste protocolo que a Cruz Vermelha deve estar bem identificada e que

nenhuma instituiccedilatildeoorganizaccedilatildeo humanitaacuteria e religiosa deve ser atacada pois se trata

de entidades imparciais e neutras (Jurkowski 2017 Hammond 2015)

Os princiacutepios humanitaacuterios definem as regras de accedilatildeo no terreno na hora de oferecer

ajuda humanitaacuteria devendo sempre respeitar os referidos sete princiacutepios humanitaacuterios

proclamados em Viena em 1965 pela Cruz Vermelha Os humanitaacuterios devem ainda

manter-se neutros face agraves hostilidades e natildeo devem ser associados implicados ou ter

uma participaccedilatildeo poliacutetica no terreno de forma a natildeo colocar a vida da populaccedilatildeo em

risco e a populaccedilatildeo natildeo recear pedir ajuda Devem tambeacutem manter-se imparciais

quanto ao tratamento das pessoas sendo por isso a independecircncia fulcral que soacute eacute

conseguida mantendo-se neutros (Jurkowski 2017 Crisp 2008 Hammond 2015)

O humanitaacuterio ou a organizaccedilatildeo humanitaacuteria tecircm tambeacutem o dever de denunciar abusos

aos direitos humanos No entanto muitos natildeo o fazem sob medo de ao denunciarem o

Estado denunciado os encarar como tomando um dos lados das hostilidades existentes e

de por isso lhes ser retirada a permissatildeo para permanecerem no terreno ou serem alvos

de ataques entre outros Os Meacutedicos sem Fronteiras por exemplo jaacute encararam este

tipo de problemas e a poliacutetica da organizaccedilatildeo eacute denunciar mesmo que isso signifique ter

de fazer as malas e abandonar o terreno Natildeo denunciar seria cooperar e permitir a

violaccedilatildeo dos direitos humanos ndash este eacute chamado o ldquoprinciacutepio da ingerecircncia

humanitaacuteriardquo Tal significa que o humanitaacuterio deve denunciar os crimes contra os

Direitos Humanos independentemente das consequecircncias (Terry 2002 Hisamoto

2012)

Apoacutes a criaccedilatildeo da Cruz Vermelha vaacuterias organizaccedilotildees internacionais governamentais e

natildeo-governamentais foram surgindo para fornecer ajuda humanitaacuteria aos paiacuteses em

conflito e de extrema pobreza No plano das natildeo governamentais encontramos

organizaccedilotildees como a AMI a OXFAM ou a Caacuteritas A niacutevel intergovernamental a ONU

abriu um escritoacuterio denominado OCHA (United Nations Office for the Coordination of

Humanitarian Affairs) para a coordenaccedilatildeo dos assuntos humanitaacuterios a OCDE tambeacutem

se dedica a esta causa bem como a UE atraveacutes do ECHO (European Civil Protection

and Humanitarian Aid Operations) (Philippe et al 2007)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

10

Podemos entatildeo constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria eacute uma atuaccedilatildeo no terreno de cariz

puramente solidaacuterio e humanitaacuterio que tem como principal objetivo aliviar o sofrimento

humano fornecendo os meios essenciais de subsistecircncia apoio meacutedico e psicoloacutegico

bem como abrigo proteccedilatildeo e apoio legal em caso de a viacutetima ter sido alvo de violaccedilatildeo

dos seus Direitos Humanos Esta atuaccedilatildeo eacute realizada por ONG OING e OIG (Bellamy e

Wheeler 2006)

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute composta por diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sendo a ajuda

humanitaacuteria em contexto de conflito e a defesa dos direitos humanos as aacutereas que iratildeo

ser mais aprofundadas nesta dissertaccedilatildeo As aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo pois a ajuda ao

desenvolvimento a defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda

humanitaacuteria mais urgente A ajuda urgente eacute a mais oacutebvia mas os humanitaacuterios

colaboram tambeacutem no terreno com missotildees orientadas para outros fins e com prazos

mais longos Cada uma dessas aacutereas dentro da ajuda humanitaacuteria requer uma estrateacutegia

diferente de accedilatildeo e cuidados a ter com os proacuteprios humanitaacuterios que satildeo muitas vezes

alvo de sequestros atentados e homiciacutedio Por exemplo a ajuda humanitaacuteria em

contexto de conflito requer uma maior preparaccedilatildeo por parte dos humanitaacuterios para o

terreno onde vatildeo atuar requer um estabelecimento de mecanismos de seguranccedila

detalhados como por exemplo mapear onde estatildeo localizados onde cada grupo da sua

equipa estaacute a operar em determinado momento assegurar meios de telecomunicaccedilatildeo

fiaacuteveis como a raacutedio para que todos os elementos do grupo estejam contactaacuteveis pela

base onde estaacute sediada a organizaccedilatildeo (Ryfman 2007)

Jaacute a aacuterea de ajuda ao desenvolvimento tem como principal foco a erradicaccedilatildeo da

pobreza a niacutevel mundial Essa ajuda eacute fornecida por organizaccedilotildees de paiacuteses

desenvolvidos ou organizaccedilotildees intergovernamentais como a ONU Este objetivo adveacutem

da parceria entre Estados desenvolvidos e em vias de desenvolvimento tendo tido um

marco fundamental na Declaraccedilatildeo do Mileacutenio assinada por 189 Estados em setembro

de 2000 Esta Declaraccedilatildeo do Mileacutenio foi adotada na resoluccedilatildeo ARES552 da

Assembleia Geral das NU Nela ficaram estabelecidos os princiacutepios fundamentais a

serem adotados por todos os Estados Membros que a tenham ratificado A menccedilatildeo

destes princiacutepios iraacute clarificar o conceito da accedilatildeo humanitaacuteria e fazer entender que

certos princiacutepios satildeo negados agraves populaccedilotildees de Estados fragilizados em conflito ou em

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

11

vias de desenvolvimento e que ainda eacute necessaacuterio percorrer um longo caminho na aacuterea

da accedilatildeo humanitaacuteria que neste momento se revela difiacutecil devido agrave inseguranccedila em

determinados terrenos Esses princiacutepios satildeo

Liberdade Todos independentemente do geacutenero devem ter o direito de viver em

dignidade e criar os seus filhos em dignidade livres da fome do medo e da violecircncia

opressatildeo ou injusticcedila Os governos devem ser democraacuteticos e participativos baseados

na vontade do povo

Igualdade nenhum individuo ou naccedilatildeo deve ver a oportunidade de beneficiar do

desenvolvimento negada Os direitos e oportunidades devem ser iguais para todos

Solidariedade Desafios globais devem ser geridos de forma a que os custos e benefiacutecios

sejam distribuiacutedos de forma justa com base no princiacutepio da equidade e justiccedila social

Aqueles que sofrem ou que beneficiam menos merecem a ajuda dos que satildeo mais

beneficiados

Toleracircncia Todo o ser humano deve respeitar-se mutuamente em toda a sua diversidade

de crenccedila cultura e linguagem A diferenccedila na e entre a sociedade natildeo devem ser

temidas ou reprimidas devem antes ser preservadas como um bem precioso da

humanidade Por uacuteltimo deve ser promovida uma cultura de paz e dialogo entre todas

as civilizaccedilotildees

Respeito pela natureza Deve haver prudecircncia na gestatildeo de todas as espeacutecies existentes

e recursos naturais de acordo com a perceccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel A

riqueza da natureza e diversidade de espeacutecies legada pelos nossos antepassados deve ser

preservada para a manutenccedilatildeo do equilibro do meio ambiente no presente e para os

nossos descendentes no futuro O padratildeo de consumismo e constante destruiccedilatildeo da

natureza deve ser mudado

Responsabilidade partilhada A responsabilidade de gerir mundialmente o niacutevel

econoacutemico e o desenvolvimento social bem como ameaccedilas agrave paz internacional e

seguranccedila deve ser partilhada entre naccedilotildees do mundo e deve ser exercida

multilateralmente As NU devem por isso como organizaccedilatildeo mundial de maior

influecircncia ter um papel central nesta questatildeo (UN 2000 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

12

Com base nestes princiacutepios foram estabelecidos os objetivos de desenvolvimento do

mileacutenio e posteriormente em 2015 os 17 objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel

que satildeo 1) Erradicar a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares 2)

Acabar com a fome conseguir seguranccedila alimentar melhorar a nutriccedilatildeo e a promoccedilatildeo

de uma agricultura sustentaacutevel 3) Assegurar uma vida saudaacutevel e promover o bem-estar

para todos em todas as idades 4) Assegurar uma educaccedilatildeo que privilegie a inclusatildeo de

todos que seja equitativa e de qualidade e que promova diversas oportunidades de

aprendizagem ao longo da vida e para todos 5) Alcanccedilar a igualdade de geacutenero

conceder autonomia agraves mulheres 6) Assegurar uma gestatildeo sustentaacutevel da aacutegua e

saneamento e a garantir que toda a populaccedilatildeo tenha acesso agrave aacutegua 7) garantir a todos o

acesso sustentaacutevel e confiaacutevel agrave energia 8) promover o crescimento econoacutemico

sustentado inclusivo e sustentaacutevel emprego pleno e produtivo bem como trabalho

decente para todos 9) Construir infraestruturas resistentes promover a industrializaccedilatildeo

sustentaacutevel de forma a fomentar a inovaccedilatildeo 10) Reduzir as desigualdades no seio do

Estado e entre Estados 11) Tornar as cidades e o patrimoacutenio humano mais inclusivos

seguros resistentes e sustentaacuteveis 12) Assegurar padrotildees de produccedilatildeo e de consumo

sustentaacuteveis 13) Combater as alteraccedilotildees climaacuteticas de forma a diminuir o risco do seu

impacto no nosso planeta 14) Promover o uso sustentaacutevel dos oceanos dos mares e dos

recursos marinhos para um desenvolvimento sustentaacutevel 15) Proteger recuperar e

promover o uso sustentaacutevel dos ecossistemas terrestres gerir de forma sustentaacutevel as

florestas e combater a desertificaccedilatildeo deter e reverter a degradaccedilatildeo da terra e deter a

perda de biodiversidade 16) Promover sociedades paciacuteficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentaacutevel proporcionar o acesso agrave justiccedila com base na igualdade e

equidade construir instituiccedilotildees eficazes responsaacuteveis e inclusivas para todos 17)

Fortalecer os meios de implementaccedilatildeo e revitalizar a parceria a niacutevel global para o

desenvolvimento sustentaacutevel (UN 2015 ONUBR 2017 UN 2017c)

Podemos por isso considerar que a ajuda ao desenvolvimento fornecida pelo PNUD eacute

uma accedilatildeo poliacutetica para melhorar as condiccedilotildees de vida dos paiacuteses em vias de

desenvolvimento numa perspetiva de longo prazo A ajuda eacute fornecida pelos Estados-

membros da OCDE ONU EU BMI e FMI

A luta pelos direitos dos humanos tem como principal objetivo a luta contra a violaccedilatildeo

dos direitos humanos definidos na declaraccedilatildeo universal dos direitos do homem Como

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

13

quadro de referecircncia dos direitos humanos foram ainda redigidas a convenccedilatildeo

internacional para os direitos poliacuteticos e civis e a convenccedilatildeo para os direitos

econoacutemicos sociais e culturais (Ryfman 2007 UN 2017d SDG 2015)

Este tipo de ajuda humanitaacuteria funciona atraveacutes de denuacutencias e pressotildees para que sejam

conhecidas sucessivas violaccedilotildees dos direitos humanos e o direito a uma vida digna

preservado No entanto esta eacute uma aacuterea que pode abrir portas para o conflito entre o

dever de denunciar violaccedilotildees dos Direitos Humanos e os princiacutepios humanitaacuterios Como

foi referido acima as ONG e OIG baseiam-se em sete princiacutepios fundamentais dos

quais trecircs satildeo cruciais ndash a independecircncia a neutralidade e a imparcialidade Ao

denunciar uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a denuacutencia poderaacute ser vista como se a

organizaccedilatildeo estivesse a tomar partido por uma das partes do conflito mesmo que natildeo

seja o caso e eacute assim colocada em causa a neutralidade da organizaccedilatildeo seja ela

internacional local governamental ou natildeo Este eacute um caso bastante delicado pois a

organizaccedilatildeo precisa da autorizaccedilatildeo para poder permanecer no terreno Esta situaccedilatildeo

pode levar a que vaacuterias organizaccedilotildees se sintam intimidadas na hora de denunciar

embora exista um modelo especiacutefico criado pelas Naccedilotildees Unidas para realizar queixas

por violaccedilatildeo dos direitos humanos O procedimento eacute denominado de Human Rights

Council Complaint Procedure A Amnistia Internacional tambeacutem faz queixas por

violaccedilatildeo dos direitos humanos sendo uma ONG muito importante no ativismo pelos

direitos humanos (OHCHR 2017 Hammond 2015)

O Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Direitos Humanos (ACDH) tem

tambeacutem um papel importantiacutessimo na prevenccedilatildeo e denuacutencia de potenciais crimes contra

os direitos humanos no terreno Este Alto Comissariado tem como principal objetivo

dar suporte ao respeito pelos direitos humanos no acircmbito de operaccedilotildees de

peacekeeping peaceenforcement peacebuilding provendo planos estrateacutegicos

policiamento e aconselhamento especializado O Alto Comissariado pode mesmo

indicar a necessidade de acionar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo mas eacute o Conselho de

Seguranccedila que tem o poder decisoacuterio nesta mateacuteria As principais atividades do ACDH

satildeo fazer a monitorizaccedilatildeo diaacuteria investigaccedilatildeo documentaccedilatildeo e relato da situaccedilatildeo

relativa aos direitos humanos advogar junto das autoridades locais e nacionais

envolvendo a sociedade civil e os governos nacionais (desta forma eacute possiacutevel prevenir e

assegurar a reparaccedilatildeo da violaccedilatildeo dos direitos humanos) reportar publicamente ganhos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

14

e falhas nos direitos humanos assegurar que o processo de paz promova a justiccedila e a

equidade construir instituiccedilotildees de direitos Humanos incorporar os direitos humanos

nas missotildees de paz da NU bem como em todos os programas e atividades as NU no

paiacutes (OHCHR 2017)

Eacute ainda nesta aacuterea que se verifica uma maior possibilidade de ser posta em causa a

neutralidade e a independecircncia das organizaccedilotildees Para poder proteger os direitos

humanos e denunciar abusos de direitos humanos perpetrados por exemplo pelo Estado

em cujo territoacuterio se verificam esses atos os humanitaacuterios iratildeo colocar em causa a sua

permanecircncia no terreno Este facto leva a que muitas organizaccedilotildees natildeo realizem a

denuacutencia o que torna de certa forma as mesmas cuacutemplices dessas barbaridades contra a

sua vontade

A promoccedilatildeo da paz recai essencialmente sobre o Conselho de Seguranccedila das NU que

tem como principal objetivo a manutenccedilatildeo e estabelecimento da paz e a seguranccedila

internacional de forma a que natildeo se repita mais nenhum conflito com a dimensatildeo da II

Guerra Mundial tendo esse sido o principal motivo para a fundaccedilatildeo das NU Para

promover a paz as NU atraveacutes do Conselho de Seguranccedila recorreu a operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mesmo ao peace enforcement a diplomacia e a

mediaccedilatildeo preventiva ao combate ao terrorismo (como podemos verificar hoje com o

Daesh) e ao desarmamento que eacute feito atraveacutes da eliminaccedilatildeo do armamento nuclear de

destruiccedilatildeo massiva e regulaccedilatildeo do armamento convencional (Ryfman 2007 UN

2017b Carta das NU 1945)

A ajuda humanitaacuteria eacute a ajuda fornecida em situaccedilotildees de grande emergecircncia sendo a

accedilatildeo das ONG OING e OIG fundamental nas primeiras setenta e duas horas apoacutes o

desastre natural ou ataque em caso de conflito armado O objetivo desta aacuterea da ajuda

humanitaacuteria eacute aliviar o sofrimento humano restabelecendo e protegendo a dignidade

humana ou seja uma vida digna assistindo a populaccedilatildeo fornecendo bens de primeira

necessidade como aacutegua comida abrigo proteccedilatildeo apoio meacutedico e psicoloacutegico Satildeo

exemplo dessa atividade tratar viacutetimas de abuso sexual ajudar a retirar viacutetimas dos

escombros organizar o campo de refugiados para acolher os refugiados requerentes de

asilo com as devidas condiccedilotildees Este eacute um trabalho fundamental capaz de apaziguar

conflitos salvar vidas e restaurar a dignidade Uma populaccedilatildeo com seguranccedila aacutegua

comida e abrigo eacute mais propensa agrave pacificaccedilatildeo Inversamente a escassez de aacutegua eacute o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

15

motivo de vaacuterios conflitos armados e guerras civis como eacute o caso do Sudatildeo do Sul

(Philippe et al 2007)

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute pois como se pocircde verificar muito mais que uma ajuda de

emergecircncia e de reconstruccedilatildeo eacute uma aacuterea dedicada ao respeito dos direitos humanos

respeito pela dignidade do homem e manutenccedilatildeo da paz A sua neutralidade e

imparcialidade permitem fornecer ajuda a todos independentemente da cor raccedila

geacutenero crenccedilas ideologias religiatildeo e origem eacutetnica A neutralidade ou seja o facto de

as ONG e OIG fornecedoras de ajuda natildeo tornarem parte nas hostilidades leva a que

natildeo sejam vistas como apoiantes de uma das partes conflituantes e natildeo sejam por isso

pressionadas a fazer determinados atos ou a natildeo fornecer ajuda a determinadas etnias

entre outros A independecircncia eacute crucial pois uma vez a ONG ou OIG humanitaacuteria

dependente do governo local seraacute pressionada e teraacute de fazer cedecircncias para poder

continuar a permanecer no terreno bem como teraacute dificuldade ou veraacute barrado o acesso

a determinados locais (Ryfman 2007 Smith 2016)

A ONU participa diretamente na ajuda humanitaacuteria atraveacutes do OCHA Este escritoacuterio

das NU eacute responsaacutevel por coordenar uma resposta eficaz em situaccedilotildees de emergecircncia e

o objetivo eacute assistir o mais raacutepida e eficazmente possiacutevel as pessoas em necessidade A

ONU tem ainda o CERF (Central Emergency Response Fund) gerido pelo OCHA que

eacute uma peccedila fundamental para uma resposta raacutepida em contexto de conflito armado ou

desastre natural ou seja permite um raacutepido financiamento para que seja possiacutevel enviar

ajuda ceacutelere O CERF recebe contribuiccedilotildees voluntaacuterias ao longo do ano o que permite

que seja possiacutevel suportar o envio de ajuda humanitaacuteria para o terreno (UN 2017d) As

Naccedilotildees Unidas tecircm ainda nesta aacuterea diversas entidades que fornecem ajuda humanitaacuteria

como por exemplo O United Nation High Commissioner for Refugees para ajudar os

IDP (Internal Displaced Persons) e os refugiados bem como apaacutetridas o UNDP

(United Nations Development Programm) o UNICEF (United Nations Childrenrsquos

Fund) para ajudar as crianccedilas o WFP (World Food Programme) para combater a fome

e a organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede para ajudar os doentes e feridos (ONU 2017)

3 A Carta Humanitaacuteria

A Carta Humanitaacuteria nasceu com o projeto Sphere (The Sphere Projectb sd) em 1997

e tem como objetivo definir padrotildees miacutenimos humanitaacuterios de accedilatildeo no terreno comuns

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

16

a todas as ONG OING OIG e Estados que tenham ratificado as convenccedilotildees e tratados

humanitaacuterios e que se comprometam a cumprir esta declaraccedilatildeo Este projeto nasceu

essencialmente da insatisfaccedilatildeo relativa agrave atuaccedilatildeo das ONG OING e OIG no terreno nos

anos 90 durante as crises da Etioacutepia e do Sudatildeo fazendo com que as ONG chegassem agrave

conclusatildeo de que seria necessaacuterio elaborar um padratildeo de atuaccedilatildeo no terreno para os

profissionais Apoacutes esta discussatildeo comeccedilaram a aparecer manuais teacutecnicos dos MSF e

guias operacionais redigidos pela OXFAM ACNUR (Alto Comissariado das Naccedilotildees

Unidas para os Refugiados) e a OFDA (Office of US Foreign and Disaster Assistance)

entre outras Tambeacutem a Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho tiveram

participaccedilatildeo neste projeto com os coacutedigos e movimentos de conduta para ONG para

desenvolver a sua performance no terreno atraveacutes de programas de formaccedilatildeo (The

Sphere sdb Dyke e Waldmann 2004)

O projeto Sphere eacute governado por um conselho constituiacutedo por 18 membros que

representam redes de agecircncias humanitaacuterias tanto a niacutevel global como nacional que

determina as suas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo As organizaccedilotildees representadas neste

conselho trabalham juntas de forma voluntaacuteria e informal sob a direccedilatildeo do conselho

cujo escritoacuterio estaacute sediado em Genebra e trabalha para implementar estrateacutegias e

prioridades As organizaccedilotildees contribuem tambeacutem para o financiamento do projeto

(The Sphere Project sda)

Logo eacute possiacutevel constatar que a principal meta deste projeto eacute tornar a Accedilatildeo

Humanitaacuteria mais eficiente e que seja feita com mais responsabilidade e que sejam

garantidos os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios O projeto foi elaborado para que as

ONG OING e OIG tivessem um guia sobre como agir no terreno em missotildees de

emergecircncia e em concordacircncia com o Direito Internacional Humanitaacuterio O objetivo

principal deste manual eacute garantir que todo o ser humano dever ter o direito de viver com

dignidade (The Sphere Project sda)

Humanitarian agencies committed to this Charter and to the Minimum Standards will aim to achieve

defined levels of service for people affected by calamity or armed conflict and to promote the observance

of fundamental humanitarian principles (The Humanitarian Charter sd pp 16)

Logo a Carta Humanitaacuteria estaacute comprometida com o aliacutevio do sofrimento humano e a

garantia da dignidade das viacutetimas afetadas pelo conflito armado internacional e natildeo

internacional cataacutestrofes e outras calamidades Por isso tal como foi referido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

17

anteriormente foi estabelecido um padratildeo miacutenimo que estabelece o que deve ser feito

quando as organizaccedilotildees enfrentam pessoas em necessidade de aacutegua saneamento bens

alimentares abrigo e cuidados de sauacutede e de nutriccedilatildeo Isto contribui para uma estrutura

operacional responsaacutevel em mateacuteria de assistecircncia humanitaacuteria (The Sphere Project

sdb Dyke e Waldmann 2004)

O documento estaacute dividido nos seguintes trecircs princiacutepios que devem ser respeitados pela

comunidade internacional humanitaacuteria

Direito a uma vida digna

O direito agrave vida eacute um princiacutepio e uma medida legislativa muito importante eacute um direito

humano Segundo a Carta Humanitaacuteria todos devem ver o seu direito agrave vida preservado

Com isto entende-se o direito a viver em dignidade e livre de tratamentos desumanos

ser impedido da liberdade alvo de traacutefico de pessoas e tratamentos degradantes bem

como puniccedilotildees crueacuteis e violentas Como eacute sabido as mulheres e crianccedilas satildeo tornadas

escravas sexuais e obrigadas a realizar trabalhos forccedilados juntando isto a deslocaccedilatildeo

forccedilada pode falar-se de traacutefico de pessoas que eacute considerado pela declaraccedilatildeo dos

Direitos Humanos um atentado agrave dignidade logo eacute uma violaccedilatildeo da declaraccedilatildeo

Refiram-se ainda as adoccedilotildees ilegais de crianccedilas oacuterfatildes que tambeacutem eacute uma das vertentes

do traacutefico de pessoas bem como o uso de crianccedilas em minas para armadilhar campos

com minas e na frente do exeacutercito (The Sphere Project sda pp 16-17 UN 1948)

A distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes

Eacute muito importante fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes em conflitos

armados pois os civis feridos e prisioneiros estatildeo protegidos atraveacutes do Direito

Internacional Humanitaacuterio e tecircm imunidade aos ataques coisa que os combatentes natildeo

tecircm Os ex-combatentes tambeacutem passam a usufruir dessa imunidade pois deixaram as

armas Este uacuteltimo aspeto eacute muito importante porque ex-combatentes satildeo sempre vistos

como combatentes e podem ser confundidos como tal sendo presos Em caso de prisatildeo

os combatentes de guerra usufruem de certos direitos especiais quanto ao tratamento

que devem ter Em guerras civis eacute difiacutecil fazer esta distinccedilatildeo porque podem existir

forccedilas militares natildeo reconhecidas e oficializadas Esta distinccedilatildeo consta da convenccedilatildeo de

Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais de 1977 conforme jaacute foi referido (The

Sphere Project sda pp 16-17)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

18

O princiacutepio da natildeo expatriaccedilatildeo

Este princiacutepio diz respeito aos refugiados e estabelece que nenhum refugiado deve de

forma alguma ser extraditado de volta para o seu paiacutes de origem onde a sua vida e

liberdade estariam ameaccediladas e correria risco de vida ou tortura devido agraves suas crenccedilas

raccedila religiatildeo ideologia politica entre outros Caso um refugiado seja expatriado o

Estado em questatildeo estaraacute a violar o Direito Internacional Humanitaacuterio e a Convenccedilatildeo de

1951 referente ao Estatuto do refugiado (The Sphere Project sda pp 16-17 UNHCR

2017)

A Carta Humanitaacuteria aborda ainda outro aspeto importante que satildeo as

responsabilidades e o papel que as organizaccedilotildees humanitaacuterias desempenham no terreno

de forma a que a populaccedilatildeo requerente de ajuda e refugiados natildeo corra perigo algum

Essas responsabilidades satildeo as seguintes

1) Evitar expor as viacutetimas a mais danos ou perigos como resultado das suas accedilotildees Neste

contexto o documento aborda a construccedilatildeo de campos para deslocados internos ou

refugiados em locais seguros que natildeo coloquem a vida destes em risco Esta

responsabilidade cabe em primeiro lugar ao Estado no qual a ONG ou OIG estaacute a

operar cabe-lhes garantir a seguranccedila do staff e da sua populaccedilatildeo Soacute em segundo lugar

eacute que cabe agraves agecircnciasorganizaccedilotildees zelar pelo bem-estar pela seguranccedila e satisfaccedilatildeo

das necessidades das pessoas que peccedilam ajuda para que seja restabelecida alguma

dignidade e que possam viver sem medo e terror com as suas necessidades baacutesicas

aliviadas (The Sphere Project sda pp 18)

2) Assegurar o acesso da populaccedilatildeo a uma assistecircncia imparcial Isto significa que as

agecircncias humanitaacuterias devem assistir todas as pessoas que necessitem principalmente

as pessoas que estejam numa situaccedilatildeo mais vulneraacutevel ou enfrentam exclusatildeo social por

motivos poliacuteticos eacutetnicos ou outros Este princiacutepio eacute um dos princiacutepios mais delicados

pois nem sempre as agecircncias humanitaacuterias conseguem aceder aos locais em contexto de

conflito armado que necessitam de assistecircncia das agecircncias O Estado deveria fornecer

escolta ou garantir o acesso seguro aos locais em questatildeo No entanto e como eacute de

prever caso esse local natildeo seja do interesse do Estado por estar dominado por rebeldes

por exemplo aquele natildeo iraacute facilitar o acesso Desta forma as agecircncias de forma a natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

19

correrem risco de vida limitar-se-atildeo aos locais seguros (The Sphere Progect sda

pp18)

3) Proteger as pessoas de danos fiacutesicos e psicoloacutegicos devido a violecircncia ou coerccedilatildeo

Neste princiacutepio falamos em proteger as pessoas de serem forccediladas ou induzidas a agir

contra a sua vontade o que eacute muito comum em contexto de conflito armado (The Sphere

Project sda pp 18)

4) Ajudar reivindicando direitos como a restituiccedilatildeo da propriedade ajudar a niacutevel social

e econoacutemico Eacute ainda o dever das agecircncias humanitaacuterias ajudar as viacutetimas a ultrapassar

as consequecircncias do abuso sexual a niacutevel fiacutesico e psicoloacutegico promovendo o acesso a

medicamentos e a recuperaccedilatildeo de abusos (The Sphere Project sda pp 18)

Por uacuteltimo eacute importante referir os padrotildees miacutenimos que a assistecircncia humanitaacuteria deve

respeitar no terreno de forma a uniformizar a accedilatildeo humanitaacuteria Os padrotildees miacutenimos de

assistecircncia humanitaacuteria foram definidos pelas agecircncias humanitaacuterias que trabalham no

terreno Quem aderir a este padratildeo miacutenimo de assistecircncia humanitaacuteria compromete-se a

assegurar as necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como aacutegua saneamento assistecircncia

meacutedica comida e abrigo para que seja comprido o direito a viver com dignidade Para

isso eacute necessaacuterio que Estado e organizaccedilotildees se comprometam a cumprir este princiacutepio

ao abrigo do direito internacional humanitaacuterio e direito do refugiado (The Sphere

Project sda)

Algumas agecircncias humanitaacuterias operam em determinadas aacutereas especiacuteficas de proteccedilatildeo

dos direitos humanos para que seja mais faacutecil fornecer ajuda Por exemplo existem

ONG especializadas em fornecer assistecircncia a crianccedilas tratar e lutar para a prevenccedilatildeo

de viacutetimas de violecircncia de gecircnero habitaccedilatildeo propriedade e terra minas ativas lei e

justiccedila Quanto agrave lei e justiccedila as agecircncias humanitaacuterias que forneccedilam este serviccedilo

enfrentam muitas vezes verdadeiros dilemas entre denunciar um crime de violaccedilatildeo dos

direitos humanos ou natildeo denunciar para que possam permanecer no terreno e defender

as viacutetimas de abusos fiacutesicos psicoloacutegicos de geacutenero entre outros (The Sphere Project

sda)

Em suma a conceccedilatildeo dos princiacutepios humanitaacuterios surgiu com a Cruz Vermelha tendo

os seus princiacutepios sido proclamados em Viena em 1967 Mais tarde com o aumento do

nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento de conflitos que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

20

necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido em 1994 o coacutedigo de conduta

humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se comprometeriam a respeitar os princiacutepios

humanitaacuterios fundamentais Este coacutedigo foi assinado por 140 agecircncias Outro

documento elaborado foi o Humanitarian Charter and Minimum Standards in Disaster

Response elaborado pelo Sphere Project em 1997 As proacuteprias Naccedilotildees Unidas tambeacutem

deram o seu importante contributo para disseminar os princiacutepios humanitaacuterios no

terreno Os princiacutepios fundamentais tecircm de ser postos em praacutetica tal como o Direito

Internacional Humanitaacuterio aliaacutes um eacute o complemento do outro A CICV (Comiteacute

Internacional da Cruz Vermelha) opera no terreno respeitando o Direito Internacional

Humanitaacuterio e rege-se pelos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios (Makintosh 2000)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

21

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a

abordagem humanitaacuteria

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding

A ONU tem um papel relevante na accedilatildeo securitaacuteria em cenaacuterios de ajuda humanitaacuteria

nomeadamente em Estados que estejam a atravessar conflitos armados e atraveacutes de

missotildees como as de peacekeeping e de peacebuilding A intervenccedilatildeo securitaacuteria

distingue-se da accedilatildeo humanitaacuteria pelo seu caraacuteter militar e poliacutetico Por vezes as

Naccedilotildees Unidas quando realizam uma intervenccedilatildeo militar seja de peacekeeping ou

dentro do peacebuilding podem em determinada circunstacircncias tomar partido por uma

das partes nas hostilidades ou parte conflituante sendo que estas operaccedilotildees tambeacutem

acontecem fora do estrito contexto humanitaacuterio Por sua vez numa situaccedilatildeo de

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria embora haja objetivos humanitaacuterios comuns o modo

de atuaccedilatildeo eacute militar e por isso claramente distinto da accedilatildeo humanitaacuteria

Para clarificar passa-se agrave definiccedilatildeo dos conceitos usados acima

Segundo as NU o peacekeeping corresponde ao seguinte

UN Peacekeepers provide security and the political and peacebuilding support to help countries make the

difficult early transition from conflict to peace UN Peacekeeping is guided by three basic principles

Consent of the parties Impartiality Non-use of force except in self-defence and defence of the mandate

(UN Peacekeeping sdd)

Esta ferramenta tem pois como objetivo ajudar os Estados em conflito a estabelecer e

manter a paz tendo provado ser um dos mecanismos mais eficazes da ONU para o

efeito Os militares do peacekeeping fornecem tambeacutem seguranccedila bem como apoio

poliacutetico para a construccedilatildeo da paz Os militares baseiam-se em trecircs princiacutepios que satildeo 1)

a imparcialidade (o que natildeo implica na formulaccedilatildeo atual neutralidade face ao mandato

que tecircm) 2) consentimento das partes para intervir no conflito (embora em casos

restritos como em casos de genociacutedio se possa aplicar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo

que natildeo precisa do consentimento mas que remete ao peace enforcement) 3) O natildeo uso

da forccedila tendo por exceccedilatildeo a autodefesa e a defesa do mandato como consta da citaccedilatildeo

acima (UN sda UN sdb Pinto 2007)

Ainda segundo Maria do Ceacuteu Pinto as operaccedilotildees de peacekeeping devem ser

imparciais mas tal natildeo implica ficarem indiferentes aos abusos dos direitos humanos

por parte de uma das partes das hostilidades Imparcialidade natildeo eacute pois sinoacutenima de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

22

neutralidade Logo desde que haja uma violaccedilatildeo dos direitos humanos os peacekeepers

devem agir jaacute que o dever deles eacute o de garantir o respeito dos direitos humanos aliviar

o sofrimento humano e garantir uma vida digna agrave populaccedilatildeo em questatildeo Existe por

isso o peacekeeping de terceira geraccedilatildeo denominado de peacekeeping ldquomusculadordquo por

Pinto (2007) ou peacekeeping ldquorobustordquo como eacute denominado pelas NU No entanto

este peacekeeping de terceira geraccedilatildeo continua a necessitar do consentimento do Estado

alvo ou das maiores partes do conflito Jaacute o uso da forccedila sem consentimento remete para

o peace enforcemente que eacute aplicar a paz atraveacutes da forccedila e eacute soacute usado este tipo de

missatildeo em uacuteltimo recurso (Pinto 2007 UN sda UN sdb)

Estas ferramentas satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas tambeacutem para

a proteccedilatildeo dos civis assistir ao desarmamento desmobilizaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo de ex-

combatentes suporte agraves organizaccedilotildees para as eleiccedilotildees proteccedilatildeo e promoccedilatildeo dos direitos

humanos e assistecircncia no restabelecimento do ldquoEstado de direitordquo (UN sda UN

sdb)

Por sua vez Peacebuilding significa na linguagem das Naccedilotildees Unidas

The term itself first emerged over 30 years ago through the work of Johan Galtung who called for the

creation of peacebuilding structures to promote sustainable peace by addressing the ldquoroot causesrdquo of

violent conflict and supporting indigenous capacities for peace management and conflict resolution (hellip)

The Secretary-Generalrsquos Policy Committee has described peacebuilding thus ldquoPeacebuilding involves a

range of measures targeted to reduce the risk of lapsing or relapsing into conflict by strengthening

national capacities at all levels for conflict management and to lay the foundations for sustainable peace

and development Peacebuilding strategies must be coherent and tailored to the specific needs of the 1

Three approaches to Peace peacekeeping peacemaking peacebuildingrdquo (UN 2010 pp 5)

Eacute pois uma accedilatildeo da ONU de identificaccedilatildeo e de suporte agraves estruturas de modo a que a

paz seja solidificada e os conflitos evitados Ou seja satildeo as atividades desenvolvidas

pela ONU para que a construccedilatildeo da paz seja feita no paiacutes onde houve conflito de modo

a que natildeo volte a acontecer o mesmo outra vez Tambeacutem visam fornecer todas as

ferramentas para a construccedilatildeo de um paiacutes forte com um aparelho de poder poliacutetico

soacutelido Logo eacute mais que o fim dos conflitos eacute a construccedilatildeo da paz de forma solidificada

e eficaz (UN 2010)

Segundo a mesma fonte o peacebuilding refere-se a cinco aacutereas que satildeo 1) o apoio agrave

seguranccedila baacutesica 2) os processos poliacuteticos a serem feitos para a construccedilatildeo e

manutenccedilatildeo da paz 3) a garantia da prestaccedilatildeo dos serviccedilos baacutesicos agrave populaccedilatildeo em

geral 4) a restauraccedilatildeo das funccedilotildees do governo central de modo a construir um aparelho

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

23

de poder forte e capaz de garantir e manter a paz bem como de resolver os conflitos

eacutetnicos ou entre grupos internos 5) a revitalizaccedilatildeo da economia para acabar com a

pobreza construir novas infraestruturas para desenvolver a produccedilatildeo para a

autossubsistecircncia do povo e de modo a que os bens fundamentais sejam garantidos a

todos (processo de desenvolvimento do paiacutes) (UN 2010 UN 2009)

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar

A intervenccedilatildeo humanitaacuteria natildeo eacute consensual no Direito no Direito Internacional e nas

Relaccedilotildees Internacionais Segundo o ICRC (2001) O Direito Internacional Humanitaacuterio

natildeo pode servir para legitimar conflitos armados No entanto os Estados aceitam este

tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria nas seguintes situaccedilotildees

The theory of intervention on the ground of humanity () recognizes the right of one State to exercise

international control over the acts of another in regard to its internal sovereignty when contrary to the

laws of humanity (Abiew citin ICRC 2001 pp 528)

O que se pode retirar desta citaccedilatildeo eacute que segundo o Direito Internacional Humanitaacuterio

eacute aceitaacutevel exercer controlo por parte de um Estado sobre a soberania de outro se este

natildeo respeita os direitos humanos fundamentais Ou seja podemos constatar que a

soberania de um Estado natildeo basta para a comunidade internacional natildeo agir face a um

genociacutedio por exemplo

hellip humanitarian intervention is defined as coercive action by States involving the use of armed force in

another State without the consent of its government with or without authorisation from the United

Nations Security Council for the purpose of preventing or putting to a halt gross and massive violations

of human rights or international humanitarian law (ICRC 2001 cit in Danish Institute of International

Afffairs 1991 pp 11)

Esta definiccedilatildeo complementa a anterior referindo que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute uma

accedilatildeo coerciva com recurso a armamento sobre um Estado sem o consentimento do

governo local e eventualmente sem o do Conselho de Seguranccedila das NU O intuito

deste tipo de intervenccedilatildeo eacute parar o desrespeito pelos direitos humanos e do direito

internacional humanitaacuterio (Gordon 1996 ICRC 2001)

Portanto o objetivo desta intervenccedilatildeo eacute aliviar o sofrimento humano e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados para que a paz possa ser estabelecida e o

genociacutedio prevenido ou interrompido Os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm de

ser imparciais e limitar-se a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para

fazerem respeitar os direitos humanitaacuterioshumanos violados e fornecer assistecircncia ao

povo local (Gordon1996 e ICRC 2001)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

24

Todavia este tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria corre o risco de natildeo ser imparcial por

existirem interesses subjacentes aos Estados que decidem intervir militarmente noutro

Estado A intervenccedilatildeo humanitaacuteria pode ser usada como um pretexto para aplicar uma

intervenccedilatildeo militar num Estado ou seja existe o risco de os motivos dessa intervenccedilatildeo

natildeo serem legiacutetimos e terem segundas intenccedilotildees que natildeo somente salvar vidas proteger

a populaccedilatildeo e aliviar o sofrimento humano Dificilmente um Estado corre elevados

riscos sem ter por traacutes outras intenccedilotildees segundo a visatildeo realista das relaccedilotildees

internacionais e por conseguinte poder instala ainda mais o caos no Estado alvo da

intervenccedilatildeo Ou seja pode ser uma carta branca para intervenccedilotildees militares de Estados

com segundas intenccedilotildees que podem ser geoestrateacutegicas ou poliacuteticas por exemplo O

que levanta as seguintes questotildees ateacute que ponto eacute eacutetico aplicar o termo humanitaacuterio

quando se usa a forccedila contra pessoas sendo elas viacutetimas para proteger outras Esta eacute

uma questatildeo que se pode considerar um verdadeiro dilema O uso da palavra

humanitaacuteria aplicada agrave intervenccedilatildeo militar e pode ser uma forma de legitimar o

desrespeito pelo princiacutepio da natildeo ingerecircncia e por conseguinte violar a soberania de

outro Estado que noutras condiccedilotildees natildeo seria aceite Daiacute o acreacutescimo da palavra

ldquohumanitaacuteriardquo a intervenccedilatildeo militar natildeo ser bem vista pela comunidade humanitaacuteria que

se rege pelos princiacutepios de aliviar o sofrimento humano salvar vidas e ajudar No caso

da Nigeacuteria do Haiti e da Libeacuteria nos anos 90 foi usada a figura intervenccedilatildeo militar

ldquohumanitaacuteriardquo para intervir no terreno embora pareccedilam evidentes motivos natildeo

humanitaacuterios (Massingham 2009 Weiss 2017)

Esta intervenccedilatildeo militar eacute uma opccedilatildeo cumulativa agraves operaccedilotildees de peacekeeping que se

revelam ineficazes na hora de proteger a populaccedilatildeo e as ONG OING e OIG

humanitaacuterias A intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria recorre ao uso da forccedila para atingir os

seus fins podendo ser estes proteger os humanitaacuterios a populaccedilatildeo local aliviar o

sofrimento humano velando pelo respeito dos Direitos Humanos e prevenindo crimes

contra a humanidade Ainda segundo Weiss ela eacute qualitativamente distinta do

peacekeeping uma vez que natildeo cumpre o princiacutepio do consentimento No entanto no

peacekeeping de terceira geraccedilatildeo tem havido uma evoluccedilatildeo para o peacekeeping

ldquomusculadordquo tendencialmente convergente com o peace enforcement Ou seja pode em

casos restritos e com consentimento do Conselho de Seguranccedila fazer-se o uso da forccedila

sem as restriccedilotildees convencionais (Weiss 2017 Pinto 2007 Pilbeam 2015b)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

25

Por tudo isso usar a palavra lsquohumanitaacuteriorsquo para uma intervenccedilatildeo de cariz militar natildeo eacute

bem aceite pelo Direito Internacional Humanitaacuterio que prefere uma puniccedilatildeo mais

severa aos Estados perpetradores dos crimes contra a humanidade ao inveacutes de usar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria pois Estados com mais poder militar se imiscuem e quebram o

princiacutepio da natildeo ingerecircncia podendo culminar em accedilotildees discriminatoacuterias no terreno e

problemas diplomaacuteticos entre Estados a niacutevel internacional Para aleacutem disso acrescentar

a palavra humanitaacuteria deveria ser reservado agraves organizaccedilotildees que pretendam aliviar o

sofrimento humano salvar vidas sem recurso agrave violecircncia e armas e natildeo aplicado agrave

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria O uso da palavra humanidade numa intervenccedilatildeo militar

pode dar azo a confusatildeo por parte da populaccedilatildeo local e dificultar o trabalho dos

humanitaacuterios no terreno tornando-os alvo de ataques tambeacutem Eacute por isso necessaacuterio

fazer uma clara distinccedilatildeo entre intervenccedilatildeo humanitaacuteria e accedilatildeo humanitaacuteria (ICRC

2001 Weiss 2017)

A declaraccedilatildeo das NU no capiacutetulo VII (UN Charter 1945) especifica quais as situaccedilotildees

em que pode ocorrer uma intervenccedilatildeo militar nomeadamente no artigo 42ordm que prevecirc

que em caso de ameaccedila agrave seguranccedila e paz internacional o Conselho de Seguranccedila pode

ativar uma intervenccedilatildeo militar

Por outro lado natildeo consta na declaraccedilatildeo das NU se eacute possiacutevel ou natildeo ou em que

situaccedilotildees devem avanccedilar para uma intervenccedilatildeo onde seja possiacutevel o uso da forccedila contra

um Estado caso se verifique um abuso dos direitos humanos ou desrespeito do Direito

Internacional O Direito Internacional Humanitaacuterio deveria equacionar regulamentar a

situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo humanitaacuteria Eacute que a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria parece ser

uma realidade e uma lsquonecessidadersquo em alguns casos em que as operaccedilotildees de

peacekeeping natildeo satildeo suficientes Nesses casos o problema eacute que a accedilatildeo humanitaacuteria

entrou num estado de colapso por falta de seguranccedila e depende em algumas situaccedilotildees

dos militares de operaccedilotildees de peacekeeping ou das intervenccedilotildees militares mais robustas

para poderem aceder a determinados territoacuterios de grande perigo o que leva agrave

necessidade de uma revisatildeo quanto ao papel da accedilatildeo humanitaacuteria e ao reconhecimento

da intervenccedilatildeo humanitaacuteria ainda que natildeo formalmente mas nos bastidores (ICRC

2001 Weiss 2017)

Portanto o uso da forccedila militar com cariz humanitaacuterio soacute deve ser feito em contexto de

crimes contra a humanidade como o genociacutedio crimes de guerra abusos sexuais ou

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

26

limpeza eacutetnica por exemplo e tem como objetivo proteger a populaccedilatildeo e aliviar o

sofrimento humano Os militares da intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria natildeo podem ser

confundidos com os capacetes azuis das operaccedilotildees de paz das NU pois natildeo fazem parte

da mesma missatildeo e os capacetes azuis tecircm um papel mais diversificado para a

manutenccedilatildeo da paz construccedilatildeo do aparelho de poder e negociaccedilotildees podendo soacute usar a

forccedila em caso de legiacutetima defesa e defesa do mandato Jaacute os militares da intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria partem para o terreno para travar os perpetradores dos crimes contra

a humanidade usando a forccedila se necessaacuterio Ou seja eacute a versatildeo mais letal das

intervenccedilotildees internacionais e deve ser usada em uacuteltimo recurso (Weiss 2017)

Dentro das intervenccedilotildees militares pode ainda ser invocado o princiacutepio da

responsabilidade de proteger (R2P) fixado no acircmbito das NU que eacute executado ao

abrigo das NU A responsabilidade de proteger (R2P) pode levar a uma intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mas deve ser autorizada pelo Conselho de Seguranccedila das NU O

R2P deve ser usado em uacuteltimo recurso com meios proporcionais agrave situaccedilatildeo a niacutevel de

armamento e uma vez esgotados todos os meios diplomaacuteticos No Ruanda em 1994 os

peacekeepers natildeo fizeram o uso da forccedila para travar o genociacutedio tendo vindo a missatildeo a

fracassar As NU foram amplamente criticadas pela inaccedilatildeo o que levou ao debate sobre

a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria e posteriormente sobre a R2P (Bellamy 2015

Massingham 2009)

O conceito do R2P eacute pois um princiacutepio legitimador de um tipo de intervenccedilatildeo armada

usado quando os direitos humanos baacutesicos natildeo satildeo respeitados em determinado Estado

em conflito como por exemplo genociacutedios ou violaccedilotildees em massa Em 1994 no

Ruanda uma intervenccedilatildeo sob o R2P teria sido justificaacutevel Esta intervenccedilatildeo natildeo

necessita de autorizaccedilatildeo do Estado para intervir daiacute o termo responsabilidade de

proteger No entanto este conceito eacute complexo devido ao princiacutepio de natildeo ingerecircncia

sobre os assuntos soberanos de determinado Estado Cabe primeiramente ao Governo

do Estado assegurar a proteccedilatildeo da sua populaccedilatildeo No entanto caso o Estado natildeo queira

ou natildeo consiga assegurar a sua proteccedilatildeo e a populaccedilatildeo esteja a ver os seus direitos

baacutesicos serem desrespeitados devido ao conflito armado ou fragilidade do Estado a

comunidade internacional deve agir e intervir Um problema possiacutevel eacute a comunidade

internacional natildeo querer entrar em problemas diplomaacuteticos com determinados Estados

que estejam neste tipo de situaccedilatildeo ou ainda com Estados que apoiem partes tal como a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

27

Ruacutessia (membro permanente do Conselho de Seguranccedila da ONU) a Bashar Al Assad

enquanto os EUA apoiam os rebeldes Havendo diferentes pontos de vista e sendo

necessaacuterio o consenso dos membros permanentes do Conselho de Seguranccedila das NU a

decisatildeo de avanccedilar sob a responsabilidade de proteger pode ser tardia ou mesmo

impossiacutevel tal como se tem verificado (Lobo 2009 Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger nasceu com o relatoacuterio do ICISS (International

Commission on Intervention and State Sovereignity) em 2001 e teve como principal

motor o conflito recente agrave eacutepoca do Ruanda O princiacutepio foi adotado na cimeira

mundial de 2005 com cuidadosa distinccedilatildeo das violaccedilotildees maiores que podem determinar

a ingerecircncia Na praacutetica o Conselho de Seguranccedila soacute tornou oficial a referecircncia agrave

responsabilidade de proteger em 2006 com a resoluccedilatildeo 1674 sobre a proteccedilatildeo de civis

em conflitos armados Esta resoluccedilatildeo foi usada em agosto de 2006 ao estabelecer a

resoluccedilatildeo 1706 que autorizava o destacamento dos peacekeepers para o Darfur Apoacutes o

Sudatildeo vieram as missotildees sob a responsabilidade de proteger da Liacutebia Cocircte drsquoIvoire

Sudatildeo do Sul e Ieacutemen em 2011 e Siacuteria e Repuacuteblica centro Africana em 2012 (Bellamy

2015)

Para que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria seja legitimada sob o conceito do R2P devem ser

reunidas as seguintes condiccedilotildees 1) Estar-se perante uma situaccedilatildeo de genociacutedio ou seja

extermiacutenio de populaccedilatildeo de uma determinada origem eacutetnica ou extermiacutenio de uma

populaccedilatildeo em larga escala 2) Existir intenccedilatildeo justa para que seja justificado o uso de tal

accedilatildeo 3) Usar os meios estritamente necessaacuterios para alcanccedilar os objetivos

estabelecidos 4) Assegurar que as perspetivas de tal accedilatildeo poderatildeo ter uma forte

probabilidade de vir a ter sucesso e de que as suas consequecircncias natildeo seratildeo piores que a

natildeo accedilatildeo (Lobo 2009 Pilbeam 2015b)

As operaccedilotildees de peacekeeping peacebuilding e peace enforcement satildeo muitas vezes

confundidas como jaacute foi referido com o envio de forccedilas militares a tiacutetulo individual de

um Estado por exemplo os EUA e a Franccedila que jaacute fizeram intervenccedilotildees militares sob

pretexto humanitaacuterio As primeiras satildeo missotildees de paz enviadas e coordenadas pela

ONU de forma a restabelecer apaziguar manter a paz e reconstruir o aparelho de

poder para que o Estado conflituante natildeo volte ao estado beligerante Jaacute o segundo eacute

realizado de forma a acabar com os crimes contra a humanidade e podem ser forccedilas

militares de um Estado em particular que decide ir para o terreno embora as

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

28

intervenccedilotildees militares sobretudo quando existem militares mortos sejam difiacuteceis de

explicar agrave populaccedilatildeo de origem dos militares Por outro lado o ldquohumanitarismo

militarrdquo ou seja as intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de paz no terreno levam a

confusatildeo com as ONG Pior neste momento assiste-se a situaccedilotildees em que estatildeo

presentes no terreno intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de peacekeeping o que gera

ainda mais confusatildeo (Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger eacute ainda considerada um princiacutepio e natildeo uma taacutetica mas

o Conselho de Seguranccedila falhou com a Siacuteria ao decidir intervir primeiro na Liacutebia por

questotildees poliacuteticas e natildeo por questotildees de emergecircncia humanitaacuteria O que leva agraves

seguintes questotildees Seraacute a intervenccedilatildeo humanitaacuteria verdadeiramente humanitaacuteria Seraacute

que existem interesses subjacentes a essas mesmas ajudas Seraacute que legitimar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute dar uma carta branca a ingerecircncias nos assuntos da soberania

de forma legiacutetima e aparentemente solidaacuteria A R2P eacute aina assim o tipo de intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mais bem aceite pela comunidade internacional e humanitaacuteria pois

natildeo assenta soacute na invasatildeo imediata e beacutelica mas tambeacutem nos princiacutepios de prevenir

reagir e reconstruir (Bellamy 2015 Weiss 2017)

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares

A coexistecircncia entre militares e humanitaacuterios eacute uma situaccedilatildeo recorrente e natildeo tem de

gerar conflitos deveraacute eacute haver respeito muacutetuo por cada um desses agentes e natildeo deveratildeo

tentar imiscuir-se nos assuntos uns dos outros A accedilatildeo humanitaacuteria eacute um complemento

agraves missotildees de paz Se a accedilatildeo humanitaacuteria estaacute focada em aliviar o sofrimento humano

salvar vidas garantir as necessidades baacutesicas e assistecircncia meacutedica os militares poderatildeo

dedicar-se inteiramente agrave proteccedilatildeo e pacificaccedilatildeo ao inveacutes de terem de realizar estas

tarefas tambeacutem O aumento dos riscos de ataque aos profissionais humanitaacuterios leva a

que esta coexistecircncia se transforme em colaboraccedilatildeo atraveacutes do pedido de

proteccedilatildeoescolta militar Por outro lado colaborando os humanitaacuterios com forccedilas

militares estatais ou ateacute mesmo via organizaccedilotildees internacionais podem ser conotadas

com um dos lados das hostilidades e perder por isso a imagem de neutralidade (Seiple

1996)

Este tema eacute algo complexo e tem de ser encarado com grande cuidado e sensibilidade

pois se por um lado a escolta militar seria a soluccedilatildeo perfeita para assegurar a seguranccedila

no terreno das ONG OING e OIG por outro lado poderaacute pocircr em causa os princiacutepios

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

29

fundamentais humanitaacuterios Existe ainda uma resistecircncia por parte da comunidade

humanitaacuteria em embarcarem missotildees integradas com os capacetes azuis das NU

(Harmer 2008) Por isso na presente dissertaccedilatildeo tentar-se-aacute discutir a melhor soluccedilatildeo

para esse problema de forma a que ambos os atores natildeo sejam prejudicados na sua

missatildeo (Seiple 1996)

A accedilatildeo humanitaacuteria tem como missatildeo aliviar o sofrimento humano e a accedilatildeo securitaacuteria

tem caraacuteter militar e policial estatildeo ambas no terreno isto eacute humanitaacuterios e soldados

coexistem no terreno em missotildees e natildeo podem colocar em causa a missatildeo uns dos

outros Cada uma tem a sua missatildeo uma a de aliviar o sofrimento humano salvar vidas

e devolver a dignidade agrave populaccedilatildeo alvo de terror a outra a de assegurar a seguranccedila

fazer os direitos humanos serem respeitados aliviar o sofrimento humano e pacificar o

terreno no qual estatildeo a operar assegurar que as negociaccedilotildees ocorram sem problemas e

ajudar a reconstruir o Estado desde o aparelho de poder agraves infraestruturas No entanto a

forccedila militar natildeo deixa de ter um caraacuteter beacutelico e natildeo eacute neutro nem independente Isto

pode levar a que a populaccedilatildeo se sinta renitente recuse e se desvie de certas ONG

exatamente por colaborarem com determinada forccedila militar por medo do que possa vir

a acontecer Podem sofrer represaacutelias se colaborarem com o lado A ou B das

hostilidades e este fator poderaacute colocar em causa a missatildeo da comunidade humanitaacuteria

o que soacute eacute possiacutevel tendo a confianccedila da populaccedilatildeo e acesso aos territoacuterios para isso a

neutralidade eacute fulcral (Gibbons e Piquard 2006)

Eacute claro que o equiliacutebrio tambeacutem depende da forccedila militar de que se trata Por exemplo

militares sob a eacutegide da ONU seratildeo mais bem vistos conseguem manter a

imparcialidade e tecircm alguma neutralidade (dependendo dos casos) natildeo colocando assim

em causa o trabalho humanitaacuterio no terreno Jaacute se a ONG ou OIG for escoltada por uma

forccedila militar estatal poderaacute perder a sua neutralidade imparcialidade e independecircncia

pois a sua proteccedilatildeo depende diretamente das forccedilas armadas estatais Depender do

Estado para ver a sua seguranccedila assegurada poderaacute ter as seguintes consequecircncias 1) as

ONG OING e OIG poderatildeo ser pressionadas para natildeo tratar e ajudar determinada

populaccedilatildeo ou etnia 2) poderatildeo ver o seu acesso bloqueado a determinados territoacuterios

cuja populaccedilatildeo o Estado natildeo quer tratar 3) seratildeo temidas e malvistas pela populaccedilatildeo

que estaacute a sofrer agraves matildeos do Estado natildeo procurando ou aceitando a sua ajuda Por isso eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

30

importante analisar a escolta militar tendo em conta este fator (Gibbons e Piquard

2006)

No entanto Svoboda (2014) no seu livro The interaction between humanitarian and

militar actors where do we go from here refere que a interaccedilatildeo entre o profissional

humanitaacuterio e o militar eacute complicada e deve acontecer em uacuteltima instacircncia quando a

seguranccedila do humanitaacuterio eacute colocada em causa devido ao facto de os militares neste

caso os peacekeepers as agecircncias militares privadas a forccedila militar estatal natildeo se

regerem pelos mesmos princiacutepios que os humanitaacuterios e terem em certas circunstacircncias

de usar a forccedila para garantir a seguranccedila no terreno manter e restabelecer a paz Para

tal pode acontecer que estes possam vir a cometer atos incompatiacuteveis com a forma de

estar na Accedilatildeo Humanitaacuteria como por exemplo matar ou usar qualquer tipo de

armamento pois tal vai contra aos princiacutepios humanitaacuterios e Direito Internacional

Humanitaacuterio Pedir ajuda aos peacekeepers agraves agecircncias militares privadas ou outra

forccedila militar pode levar a que a imagem dos humanitaacuterios fique denegrida face agrave

populaccedilatildeo local agraves instituiccedilotildees ou pessoas individuais que doam fundos e que podem

natildeo ver com bons olhos esta interaccedilatildeo o que significa que se pode perder uma fonte de

financiamento o que seria grave para as ONG que dependem destas doaccedilotildees (Svoboda

2014 Cordaid 2014)

Seria por isso mais beneacutefico nos casos de conflitos armados que militares e

humanitaacuterios trabalhassem em conjunto o estritamente necessaacuterio para o sucesso da

missatildeo de ambos Estes natildeo tecircm de partilhar missotildees e princiacutepios Mas devem colaborar

para que a ajuda humanitaacuteria natildeo corra risco de fracassar que a ajuda chegue a toda a

populaccedilatildeo mesmo nos locais de difiacutecil acesso e desta forma seraacute mais faacutecil devolver a

dignidade fornecer os bens de primeira necessidade construir abrigos e campos de

refugiados seguros sempre sem colocar em causa as missotildees de ambos que satildeo

diferentes Eacute claro que esta questatildeo eacute mais complexa fazendo os humanitaacuterios

depararem-se com um grande dilema e tendo de fazer escolhas que em princiacutepio natildeo

deveriam ter de fazer Essa escolha eacute abdicamos dos princiacutepios fundamentais em prol

da nossa seguranccedila seguimos para o terreno mesmo sabendo que corremos perigo de

vida como seremos acolhidos pela populaccedilatildeo local ao chegar com escolta militar como

reagiratildeo os nossos patrocinadores estas satildeo questotildees e dilemas que as ONG enfrentam

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

31

em terrenos delicados muitas vezes essa escolha eacute entre seguranccedila e eacutetica humanitaacuteria

(Cordaid 2014)

Segundo Harmer (2008) o princiacutepio da neutralidade natildeo pode ser levado agrave letra

principalmente em Estados que estejam a atravessar um conflito armado onde a

inseguranccedila e o perigo de vida satildeo uma constante no terreno Deve por isso haver uma

grande reflexatildeo sobre os princiacutepios humanitaacuterios os crescentes ataques aos

humanitaacuterios de forma a que as ONG possam assistir agrave populaccedilatildeo de forma segura sem

ter de quebrar algum princiacutepio (Harmer 2008)

A assistecircncia deve ser provida em caso de conflito armado pela ajuda humanitaacuteria e de

forma a melhor operacionalizar a assistecircncia aos refugiados e agraves pessoas deslocadas

internamente mas para que tal seja possiacutevel eacute preciso criar um ambiente de seguranccedila

aos humanitaacuterios sempre respeitando os seus princiacutepios para que estes consigam

realizar o seu trabalho (Byman et al 2000)

Os humanitaacuterios deveriam ser ajudados pelas forccedilas militares em mateacuteria de transporte

de pessoal e de material de subsistecircncia como por exemplo aacutegua comida

medicamentos e outros mantimentos que de outra forma natildeo seria possiacutevel prover

Segundo Byman et al (2000) a cooperaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios equivaleria a

evidenciar o melhor dos dois mundos Se a forccedila militar pode garantir o transporte

analisar o solo para ver se estaacute armadilhado analisar a aacutegua potaacutevel e fornecer

assistecircncia meacutedica de urgecircncia este seria um bom aliado para a accedilatildeo humanitaacuteria que

pode oferecer assistecircncia meacutedica e tratamentos a meacutedio e longo prazo comida

mantimentos ajuda psicoloacutegica reconstruccedilatildeo satisfazer as necessidades baacutesicas ajudar

na construccedilatildeo de abrigos e gerir campos de refugiados de forma neutra Uma vez que

estes agem frequentemente em separado eacute difiacutecil poder fornecer ajuda humanitaacuteria aos

locais que realmente necessitam sem correr riscos ou demorar demasiado tempo Se

houvesse essa entreajuda os humanitaacuterios poderiam chegar ao local com ajuda militar

pela via aeacuterea ou mariacutetima Logo a forccedila aeacuterea poderia ser um grande aliado das ONG

OING e OIG na hora de ter de realizar deslocaccedilotildees de bens e pessoas (Byman et al

2000)

De certa forma segundo o autor os profissionais humanitaacuterios dependem dos

profissionais militares para poderem desenvolver o seu trabalho de forma segura e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

32

eficaz Por isso os militares devem garantir a seguranccedila nos aeroportos nos portos e

nos locais onde operarem bem como fornecer mapas atualizados das estradas seguras

para realizar as viagens ateacute ao local em questatildeo Evitar-se-iam muitos constrangimentos

e perdas de tempo (Byman et al 1967)

international military forces might also be mandated to play a relevant role in conflict situations

including through the provision of safe and secure environments for the civilian population and for

humanitarian actors to operate in Indeed military and police can execute essential tasks in situations

where governments are unable or unwilling to protect their own population in ways that go beyond the

mandate of humanitarian actors and hence are complementary to those (ECHO sd pp 1)

Segundo Stoddard et al (2009) a maioria das ONG contrata agecircncias militares com a

condiccedilatildeo de natildeo usar armas ou seja contratam soacute a escolta mas natildeo datildeo autorizaccedilatildeo

por uso de violecircncia o que leva ao mesmo problema este tipo de escolta soacute resolve

situaccedilotildees em paiacuteses cujo grau de perigo natildeo eacute muito elevado No entanto algumas ONG

viram-se forccediladas a contratar agecircncias privadas para escolta militar que recorressem agrave

forccedila caso fosse necessaacuterio para os proteger em caso de Estados que estatildeo a atravessar

um periacuteodo de grande conflito Pois escolta militar que natildeo possa fazer uso da forccedila eacute

afinal o mesmo que natildeo ter escolta e por conseguinte proteccedilatildeo eacute ter por exemplo um

agente a acompanhar fardado e nada mais As agecircncias militares privadas e a escolta

militar devem ser usadas em uacuteltimo recurso e nunca como prioridade O problema eacute que

os perpetradores dos ataques locais aos humanitaacuterios tecircm a noccedilatildeo de que os

peacekeepers natildeo podem fazer uso da forccedila a natildeo ser em legiacutetima defesa ou em casos

extremos onde os Direitos Humanos satildeo colocados em causa No entanto os ataques

aos humanitaacuterios natildeo satildeo por vezes graves o suficiente para que haja uma quebra do

princiacutepio do natildeo uso da forccedila O que leva a que a escolta militar natildeo leve propriamente

agrave diluiccedilatildeo dos ataques muito pelo contraacuterio podem intensificar (Stoddard et al 2009)

Seiple (1996) refere que apesar das diferenccedilas marcantes entre o humanitaacuterio e o

soldado a verdade eacute que a interaccedilatildeo no terreno entre os dois tem sido um caso de

sucesso Seiple (1996) apresenta o caso da relaccedilatildeo entre as forccedilas armadas dos EUA e as

ONG no terreno Segundo o autor esta relaccedilatildeo natildeo eacute natural Neste documento satildeo

apresentados quatro casos em que houve uma interaccedilatildeo no terreno entre ONG e

militares dos EUA (as forccedilas militares dos EUA estavam a realizar em caa um dos

casos uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria) que satildeo os seguintes Operation Provide Comfort

a norte do Iraque em 1991 Operation Sea Angel no Bangladesh em 1991 Operation

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

33

Restore Hope na Somaacutelia em 1992 e Operation Supporte Hope no Ruanda em 1994 Eacute

importante sinalizar que estas missotildees foram intervenccedilotildees humanitaacuterias Estas

operaccedilotildees foram efetivamente casos de sucesso militares e humanitaacuterios cooperaram no

terreno com sucesso No entanto a operaccedilatildeo Sea Angel no Bangladesh foi marcada por

diversas tensotildees poliacuteticas entre o governo e as forccedilas militares dos EUA criando uma

dificuldade de operar no terreno Na operaccedilatildeo Restore Hope na Somaacutelia as ONG

viram-se obrigadas a aceitar cooperar com as forccedilas militares dos EUA que estavam a

realizar uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria no terreno A cooperaccedilatildeo um bocado forccedilada

devido agraves circunstacircncias resultou Segundo Seiple (1996) a relaccedilatildeo entre ONG e

militares foi realizada com base no respeito por cada uma as missotildees Uma das ONG

que soacute aceitou em ultimo recurso esta cooperaccedilatildeo foi o MSF pois sabia que sem

seguranccedila natildeo poderiam continuar no terreno No caso da operaccedilatildeo Supporte Hope no

Ruanda natildeo existe uma cooperaccedilatildeo direta entre militares os EUA e ONG neste caso as

ONG que estivessem a operar no terreno tinham de fazer o pedido de escolta militar agraves

NU e esta fazia a ponte entre as ONG e as forccedilas militares no terreno O uacutenico contacto

que ONG e as forccedilas militares dos EUA tinham era o CMOC (The Civil Military

Operation Center) jaacute que neste caso especiacutefico do Ruanda as NU preferiram ser elas a

organizar e prover a seguranccedila ou escolta militar agraves ONG no terreno pois estava a

acontecer um genociacutedio e o clima de inseguranccedila era devastador tendo de haver grande

rigor na cooperaccedilatildeo que era feita a pedido das NU atraveacutes do CMOC Militares e

humanitaacuterios trabalharam em conjunto com sucesso O uacutenico problema que Seiple

aponta agrave accedilatildeo humanitaacuteria eacute a falta de coordenaccedilatildeo no terreno entre ONG OING e OIG

pois havendo coordenaccedilatildeo seria mais faacutecil prover seguranccedila (Seiple 1996)

Se Seiple (1996) via a relaccedilatildeo entre ONG e forccedilas armadas como algo beneacutefico e

essencial para uma boa assistecircncia humanitaacuteria e para ajudar a restabelecer a paz jaacute

Harmer (2008) natildeo pensa o mesmo Harmer redigiu um artigo sobre as missotildees

integradas tendo este tema originado diversos debates acesos entre proacute-integracionistas

e contra Os humanitaacuterios encontram-se renitentes acerca deste tipo de missotildees pois

natildeo querem colocar em causa a sua neutralidade e imparcialidade e perder a

independecircncia o que poderia ter como consequecircncias natildeo poderem assistir populaccedilotildees

que estariam no topo das suas listas teriam de obedecer agraves ordens e objetivos dos

peacekeepers e poderiam ser vistos como entidades poliacuteticas o que vai contra ao que eacute a

essecircncia da Accedilatildeo Humanitaacuteria No entanto como jaacute foi referido a violecircncia sobre os

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

34

humanitaacuterios verificou um aumento draacutestico a partir do ano 2000 tecircm vindo a ter

dificuldade de acesso a certos locais de alto conflito e as ONG no terreno tecircm

dificuldade em sinalizar os seus humanitaacuterios coisa que os peacekeepers fazem bem

embora nem sempre conseguem garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios tambeacutem Eacute

preciso encontrar um ponto de convergecircncia para a accedilatildeo conjunta e no resto

estabelecer bem as diferenccedilas e os pontos em que natildeo podem ceder ou admitir

intervenccedilatildeo muacutetua (Harmer 2008)

A autora refere que o Secretaacuterio-Geral agrave eacutepoca Kofi Annan apelou aquando do

relatoacuterio do painel sobre as missotildees de paz das NU para um plano de integraccedilatildeo agraves

missotildees das NU e referiu que missotildees integradas devem ser adotadas em missotildees de

paz No entanto existe uma grande resistecircncia por parte de grandes ONG e OING a este

tipo de missotildees integradas sejam elas na forma maximalista ou minimalista No modelo

minimalista existe o trabalho do OCHA que tem uma identidade separada e a

integraccedilatildeo eacute feita atraveacutes de uma partilha de informaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo em vez de um

quadro organizacional unificado ou seja a Coordenaccedilatildeo Humanitaacuteria (CH) e o ERSG

(Representante Especial do Secretaacuterio-Geral) mas ao mesmo tempo mantendo um

escritoacuterio individual do OCHA fora do campo O OCHA tem um papel fulcral pois eacute o

elo de ligaccedilatildeo entre as ONG OING e OIG agraves NU mantendo-se no entanto

independecircncia destes face agraves NU de forma a que a imparcialidade independecircncia e a

neutralidade natildeo sejam postas em causa Tambeacutem se evita que as NU exerccedilam pressatildeo

para que a missatildeo seja conduzida de uma forma que natildeo a planeada (Harmer 2008)

Uma integraccedilatildeo maximalista significa a remoccedilatildeo da identidade separada do OCHA e a

lideranccedila humanitaacuteria das NU estaraacute presente integralmente na estrutura de transmissatildeo

geral A maioria das ONG eacute contra a versatildeo maximalista de integraccedilatildeo como a Save the

Children e a Care tendo como principal argumento a necessidade da existecircncia e

abertura do HC (Humanitarian Coordinator) a todos incluindo as organizaccedilotildees que se

sentem desconfortaacuteveis com a ideia de trabalhar com militares Tal eacute perfeitamente

compreensiacutevel pois ao trabalhar com as NU mesmo que numa versatildeo internacionalista

minimalista existe sempre uma perda de independecircncia na hora de decidir quais os

locais prioritaacuterios a assistir no terreno por exemplo (Harmer 2008)

No entanto ainda segundo Harmer (2008) deve ser tida em conta a opccedilatildeo

integracionista minimalista em que permanece o corpo de coordenaccedilatildeo OCHA tendo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

35

mesmo a UNICEF o ACNUR e a OXFAM reconhecido que esta visatildeo integracionista

pode facilitar o delinear de estrateacutegias militares e poliacuteticas sem colocar em causa ou

tentando pocirc-los o minimamente possiacutevel os princiacutepios humanitaacuterios O OCHA deve

neste contexto agir em separado das NU de forma a que possa agir de forma neutra e

imparcial consoante a situaccedilatildeo na qual estatildeo a fornecer ajuda humanitaacuteria para que natildeo

sofra influecircncias e pressotildees A autora refere ainda que nos tempos de hoje a accedilatildeo

humanitaacuteria natildeo pode mais aplicar a neutralidade pura e dura pois existem grandes

perigos de ataques no terreno a ONG sendo necessaacuterio recorrer agraves forccedilas militares

exatamente para garantir a sua seguranccedila A relaccedilatildeo entre humanitaacuterio-militar deve ser

amplamente delineada tendo de ser estabelecido um guia onde sejam indicadas as

circunstacircncias em que deve ser feito o pedido de escolta e proteccedilatildeo aos militares e

como deve ser feito esse procedimento (Harmer 2008)

A adoccedilatildeo do modelo de missatildeo integrada minimalista poderaacute ser a melhor opccedilatildeo para a

comunidade humanitaacuteria em terrenos de alta instabilidade e inseguranccedila Com este

modelo as organizaccedilotildees humanitaacuterias obtecircm proteccedilatildeo e seguranccedila sem colocarem em

causa os princiacutepios humanitaacuterios As missotildees integradas minimalistas natildeo tecircm de se

basear necessariamente na escolta militar podem basear-se tambeacutem na partilha de

informaccedilatildeo acerca dos terrenos seguros terrenos armadilhados mapas com os melhores

caminhos a percorrer entre outras informaccedilotildees No entanto esta colaboraccedilatildeo deve ser

bem estudada e analisada Deve ser tambeacutem estabelecido um guia de colaboraccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares tal como foi criado para a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as

organizaccedilotildees humanitaacuterias (Harmer 2008)

A OXFAM por exemplo redigiu um documento intitulado Un Integrated Missions and

Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations Integrated

Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) acerca das missotildees integradas

com as NU expondo os problemas que poderiam advir desta parceria Segundo a

OXFAM a neutralidade e imparcialidade estariam em causa num mandato que fosse

para aleacutem das partilhas de pontos de vista comum pois teriam uma integraccedilatildeo mais

estrutural sob uma gestatildeo comum do mandato onde as operaccedilotildees de peacekeeping

funccedilotildees poliacuteticas e organizaccedilotildees humanitaacuterias estariam sob a chefia de um uacutenico

mandato Esta situaccedilatildeo poder levar a que os humanitaacuterios percam a independecircncia de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

36

aceder a determinados locais sejam usados para fins poliacuteticos e podem perder a

confianccedila da populaccedilatildeo (OXFAM 2014)

As proacuteprias NU reconheceram em 2013 os riscos inerentes agraves abordagens de

planeamento e avaliaccedilatildeo integrados Esses riscos seriam o facto de poder ser dada a

prioridade agraves missotildees militares ou poliacuteticas que possam influenciar a accedilatildeo humanitaacuteria

como o acesso humanitaacuterio e a seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno As pessoas

podem natildeo procurar ajuda humanitaacuteria de forma a que natildeo se vejam comprometidos e

natildeo sofram represaacutelias Logo caso isto aconteccedila os humanitaacuterios podem natildeo ser

percebidos como imparciais e neutros aos olhos da populaccedilatildeo falhando assim a missatildeo

(OXFAM 2014)

Iraacute ser agora feita uma apreciaccedilatildeo do referido documento da OXFAM (2014) Este

documento eacute relevante para a presente dissertaccedilatildeo pois apresenta o ponto de vista da

ONG em relaccedilatildeo agraves missotildees integradas propondo um conjunto de regras de cooperaccedilatildeo

no terreno entre ONG OING e as NU

Para mitigar estes riscos a OXFAM preparou um conjunto de regras para cooperar

especificamente com as NU

A accedilatildeo humanitaacuteria deve ser separada das operaccedilotildees de peacekeeping ou

poliacuteticas das NU de forma a que natildeo sejam confundidas as missotildees e natildeo haja

confusotildees no terreno

Uma associaccedilatildeo visiacutevel entre os humanitaacuterios que cooperam com as NU e outros

objetivos das NU deve ser minimizada em conflitos e contextos de elevada

fragilidade de forma a prevenir potenciais problemas no terreno

Antes de decidir qualquer abordagem de integraccedilatildeo devem ser feitas avaliaccedilotildees

de risco envolvendo ONG e OING De forma alguma as ONG e OING devem

partir para uma missatildeo integrada sem participarem no processo de planeamento

e abordagem da missatildeo

A avaliaccedilatildeo deve ser revista e feita com regularidade procedendo a mudanccedilas se

necessaacuterias a missatildeo integrada pode ser portanto revista e atualizada consoante

a evoluccedilatildeo da missatildeo no terreno (OXFAM 2014 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

37

A OXFAM refere ainda que as missotildees integradas com as NU devem ter em conta os

princiacutepios humanitaacuterios incluindo assistecircncia baseada na imparcialidade agraves pessoas em

necessidade A OXFAM eacute uma das ONG que eacute muitas vezes associada agraves agecircncias

humanitaacuterias das NU devido aos mecanismos de coordenaccedilatildeo fundos das NU e uso dos

meios de transporte aeacutereos das NU O facto de haver esta associaccedilatildeo agraves agecircncias das

NU pode levar agrave confusatildeo podendo a populaccedilatildeo crer que estas fazem parte das

poliacuteticas e missotildees integradas das NU que muitas vezes apoiam uma das partes das

hostilidades o que coloca em causa o trabalho das ONG ou OING No entanto existem

outras situaccedilotildees que podem levar a este tipo de mal-entendido a saber

Colocar organizaccedilotildees humanitaacuterias e outros atores das NU no mesmo lugar deve

ser evitado a todo o custo pois poderaacute dar azo a mal-entendidos no terreno e

deitar por terra todo o trabalho da ONG ou OING no terreno

O uso da escolta militar para fins humanitaacuterios eacute em determinados casos

fundamental para aceder a territoacuterios No entanto antes de partir para esta

escolha a opccedilatildeo deve ser minuciosamente estudada e soacute em ultimo recurso

usada

Apresentar as operaccedilotildees de peacekeeping ou toda a missatildeo integrada como

sendo humanitaacuteria quando natildeo o eacute Satildeo missotildees completamente diferentes que

decidem cooperar de forma que os humanitaacuterios possam ter o miacutenimo de

condiccedilotildees para operar no terreno

Usar as operaccedilotildees de peacekeeping para fornecer os Quick Impact para

desenvolver confianccedila na missatildeo no mandato e no processo de paz Os QIPs satildeo

projetos de pequena escala (duraccedilatildeo meacutedia de 6 meses) que tecircm como objetivo

ter um impacto imediato que contribua para a estabilizaccedilatildeo reconstruccedilatildeo e

estabilizaccedilatildeo no poacutes-conflito Podem tambeacutem ter um impacto no

desenvolvimento a longo prazo (OXFAM 2014 pp 3)

As NU tambeacutem tecircm feito um esforccedilo para conseguir elaborar um modelo de missatildeo

integrada no qual eacute respeitado o espaccedilo humanitaacuterios e os princiacutepios humanitaacuterios de

forma a mitigar os riscos que podem advir No entanto em 2014 as NU defenderam

uma missatildeo integrada estrutural com a representaccedilatildeo das ONG pela Humanitarian

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

38

Country Team e pelo OCHA (o OCHA faz tambeacutem uma avaliaccedilatildeo e realiza planos

estrateacutegicos de atuaccedilatildeo no terreno consoante os casos) que tem realizado avaliaccedilotildees de

risco subjacentes a este tipo de missatildeo (OCHA sd) No entanto no caso do Sudatildeo do

Sul as NU foram criticadas por terem optado pela missatildeo integrada estrutural onde os

peacekeepers e humanitaacuterios satildeo alvo da mesma gestatildeo programa e poliacuteticas o que

numa situaccedilatildeo como o Sudatildeo do Sul eacute impensaacutevel Como eacute sabido a operaccedilatildeo

peacekeeping esteve do lado do governo ajudando a restabelecer a instituiccedilatildeo de

governaccedilatildeo o que leva a que os humanitaacuterios sejam eles tambeacutem colados ao governo e

seja limitado o acesso a determinados locais ou determinada populaccedilatildeo natildeo queira ser

tratada por eles

Este eacute pois o Guia de missotildees integradas realizado pela OXFAM onde satildeo expostos os

riscos o que deve ser evitado e como evitar que haja um atropelamento dos princiacutepios

fundamentais humanitaacuterios pelas NU no terreno Desta forma respeitando esta guia

seriam evitados potenciais riscos de os princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria serem postos em

causa de haver aproveitamento poliacutetico da missatildeo integrada e limitar os humanitaacuterios a

determinados locais Uma vez as condiccedilotildees respeitadas e a seguranccedila assegurada aos

humanitaacuterios seria mais faacutecil para as ONG ou OING operarem no terreno (OXFAM

2014)

A OXFAM prefere a missatildeo integrada estrateacutegica pois eacute uma abordagem mais coerente

para um trabalho comum entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a operaccedilatildeo de peacekeeping Neste

caso as ONG iriam trabalhar com o OCHA que se manteria independente em relaccedilatildeo

agraves NU e imparcial natildeo sendo toleradas pressotildees para agir de uma dada forma ou aceder

ao local X Jaacute a missatildeo integrada estruturante natildeo faz sentido segundo o OXFAM

Admite uma comunicaccedilatildeo efetiva entre organizaccedilotildees humanitaacuterias e operaccedilotildees de

peacekeeping ou atores poliacuteticos que podem proteger a populaccedilatildeo e o reconhecimento

dos seus direitos No entanto a accedilatildeo humanitaacuteria deve manter-se independente da accedilatildeo

securitaacuteria ou consideraccedilotildees poliacuteticas

Para que as missotildees integradas sejam bem-sucedidas as NU devem respeitar os

seguintes pontos segundo a OXFAM (2014)

A accedilatildeo humanitaacuteria deve continuar estruturalmente separada da poliacutetica ou

componentes de peacekeeping relativamente a uma missatildeo integrada das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

39

Logo uma associaccedilatildeo visiacutevel entre missotildees humanitaacuterias e outros objetivos

devem ser minimizados

Antes de decidir partir para a abordagem de uma missatildeo integrada deve ser feita

uma avaliaccedilatildeo que envolva ONG e OING de forma a identificar potenciais

riscos para a accedilatildeo humanitaacuteria e o que pode ser feito para mitigar os mesmos

Essa avaliaccedilatildeo deveraacute ser feita com regularidade e revista de forma a que

possam ser feitas correccedilotildees

Quaisquer que sejam os acordos feitos relativos agraves missotildees integradas os

mandatos das NU devem sempre respeitar os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios incluindo uma assistecircncia imparcial baseada apenas na

necessidade da populaccedilatildeo

As orientaccedilotildees do IASC (Inter-Agency Standing Commitee) sobre a manutenccedilatildeo

da distinccedilatildeo entre accedilatildeo humanitaacuteria as atividades poliacuteticas ou de manutenccedilatildeo da

paz devem ser rigorosamente aplicadas sempre que haja riscos e estes sejam

encobertos pelas NU Isto inclui o Guia de 2004 sobre as relaccedilotildees civis-militares

em situaccedilotildees de emergecircncia o Guia de 2003 sobre o uso de recursos militares e

de defesa civil para apoiar atividades humanitaacuterias das NU em situaccedilotildees

complexas de emergecircncias e o de 2012 sobre o uso de escoltas armadas aos

comboios humanitaacuterios Estes guias devem ser amplamente promovidos

As negociaccedilotildees humanitaacuterias do acesso agraves pessoas em necessidade devem manter-

se separadas dos objetivos poliacuteticos de forma a que os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios natildeo sejam colocados em causa (OXFAM 2014 pp 4)

Uma vez que as NU assegurem estes pontos todos a OXFAM compromete-se a que vai

Distinguir-se das missotildees das NU enquanto se compromete com a promoccedilatildeo da

coordenaccedilatildeo e proteccedilatildeo dos civis

Promover a distinccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e funccedilotildees poliacuteticas ou de

peacekeeping das missotildees das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

40

Trabalhar com o IASC o HCT e grupos de coordenaccedilatildeo das ONG no terreno de

forma a promover a consciencializaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo consistente e salvaguarda dos

princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria

Invocar a poliacutetica de IAP (Integrated Assessment and Planning) da ONU para

pedir uma revisatildeo dos acordos e devem ser aplicadas medidas de mitigaccedilatildeo no

caso de haver acordos de integraccedilatildeo estabelecidos que sejam considerados como

tendo riscos para accedilatildeo humanitaacuteria

Apoiar os esforccedilos de especialistas humanitaacuterios para desenvolver exerciacutecios de

gerenciamento de crises e fazer um preacute planeamento em campo de forma a

treinar as forccedilas militares que trabalham sob o mandato das NU implantado em

missotildees de manutenccedilatildeo da paz Esses exerciacutecios devem ser explicados aos

comandantes militares e agraves agecircncias de ajuda de forma a avaliarem as

necessidades o potencial e vantagens que os humanitaacuterios gozam nas relaccedilotildees

comunitaacuterias e anaacutelises geograacuteficas bem como as relaccedilotildees sociopoliacuteticas locais

ressalvando a importacircncia de manter uma distinccedilatildeo visiacutevel entre atividades

humanitaacuterias e de manutenccedilatildeo da paz

Solicitar ativamente esforccedilos para rever as missotildees integradas durante a sua

duraccedilatildeo e incentivar a avaliaccedilatildeo independente de sua relaccedilatildeo custo-eficaacutecia

contra o impacto imediato e de longo prazo no final da missatildeo Deve haver um

mecanismo de monitoramento que permita que as missotildees aprendam no terreno

avaliando o que funciona e o que natildeo funciona permitindo proceder a mudanccedilas

se necessaacuterio (OXFAM 2014 pp 5)

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno

Eacute verdade que as ONG humanitaacuterias hospitais humanitaacuterios entidades religiosas e

escolas tecircm estatuto neutral no conflito e natildeo podem por isso ser alvo de ataque

segundo as convenccedilotildees de Genebra no entanto o que se tem verificado eacute um aumento

de ataques a estas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees levando por exemplo MSF agrave

necessidade de trocar a cor da carrinha para natildeo ser confundida com a carrinha do

exeacutercito e ser alvo de ataques como tantas outras ONG tecircm sido alvo O hospital da

MSF foi inclusive alvo em 2015 no Afeganistatildeo por um ataque dos EUA que tendo

provocados 19 mortos dos quais 12 eram membros da organizaccedilatildeo Segundo os MSF

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

41

natildeo haacute desculpa para o ataque dos EUA pois o hospital estava devidamente identificado

e mapeado ou seja identificado O bombardeamento durou 30 minutos mesmo apoacutes a

organizaccedilatildeo avisar os EUA Esta ocorrecircncia eacute muito grave pois ataques a hospitais

podem ser considerados crimes de guerra e mostra que as organizaccedilotildees humanitaacuterias

operam num contexto onde a seguranccedila eacute precaacuteria o que torna difiacutecil realizarem o seu

trabalho Para evitar este tipo de trageacutedias eacute necessaacuterio haver um bom mapeamento das

ONG OING e OIG bem como dos hospitais Este eacute um exemplo de que os ataques tecircm

de ser prevenidos natildeo soacute a partir do terreno mas tambeacutem fora do terreno a niacutevel

internacional para que situaccedilotildees destas natildeo voltem a ocorrer No entanto os ataques satildeo

maioritariamente realizados no terreno por atacantes nacionais do Estado em conflito

armado (Smith 2012 Globo 2015)

A confusatildeo que pode advir da escolta militar eacute uma questatildeo fulcral pois se por um lado

a escolta militar daacute seguranccedila por outro pode levar a que possam ser alvos de ataques

por parte de miliacutecias locais Podem tambeacutem ser facilmente colados a uma das partes das

hostilidades e confundidos com militares caso o material e as carrinhas natildeo sejam

devidamente identificadas tal como aconteceu com o MSF referido acima (Gibbons e

Piquard 2006)

Todos os veiacuteculos das ONG hospitais e produtos devem ser devidamente identificados

de forma a que natildeo sejam confundidos com as forccedilas militares em geral como iraacute ser

abordado no guia de colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares das NU que refere isto

mesmo Militares e ONG humanitaacuterias podem cooperar de forma minuciosa bem

planeada em uacuteltimo recurso e identificando adequadamente as instalaccedilotildees carros

campos de refugiados produtos entre outros Todo o cuidado eacute pouco pois um

pequeno deslize pode ter como consequecircncia uma confusatildeo e resultar num ataque As

ONG devem distanciar-se o maacuteximo dos militares e usar a escolta como jaacute foi referido

como uacuteltimo recurso (Gibbons e Piquard 2006)

Em 2013 registou-se 460 viacutetimas humanitaacuterias das quais 155 pessoas foram

assassinadas e 134 foram raptados e gravemente feridos Houve um aumento de 66

das viacutetimas entre 2012 e 2013 Esta eacute a problemaacutetica central deste estudo e por isso seraacute

feita de seguida uma conceptualizaccedilatildeo sobre o sistema securitaacuterio das Naccedilotildees Unidas e

agecircncias militares privadas nos cenaacuterios humanitaacuterios Jaacute no relatoacuterio de 2015 consta

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

42

que em 2014 foram assassinados 120 humanitaacuterios 88 ficaram feridos e 121 foram

raptados (Ryou et al 2014 Humanitarian Outcomes 2015)

A maior parte das viacutetimas eram membros de ONG locais e faziam parte da Cruz

Vermelha e Crescente Vermelho e os ataques e emboscadas eram em 2013

maioritariamente perpetrados no caminho para os locais onde estes iam operar Para se

ter uma noccedilatildeo mais precisa 87 das viacutetimas satildeo nacionais do paiacutes onde a ajuda estaacute a

ser fornecida e 13 satildeo membros internacionais A seguranccedila dos humanitaacuterios tem

vindo a revelar-se uma razatildeo fundamental para o insucesso de certas missotildees pois natildeo

conseguem chegar aos locais outras ONG decidem abandonar o terreno por natildeo

conseguirem realizar o seu trabalho em seguranccedila Segundo The Aid Worker Security

Report podemos verificar no documento relativo a seguranccedila na aacuterea da accedilatildeo

humanitaacuteria que pouco tem sido investido na mitigaccedilatildeo dos riscos na estrada e natildeo soacute

A 11 de Julho de 2016 foi realizado um ataque a humanitaacuterios em lugar em que estes

foram torturados espancados e abusados sexualmente Este caso violento de ataque a

humanitaacuterios foi amplamente divulgado devido agrave inaccedilatildeo por parte dos peacekeepers

face aos pedidos de ajuda dos humanitaacuterios (Ryou et al 2014 e Adongo 2017)

Os ataques aos humanitaacuterios tecircm ocorrido em 30 Estados No entanto trecircs quartos dos

ataques foram realizados em apenas cinco Estados que estatildeo a passar por um conflito

armado e uma falha de governaccedilatildeo (Estados fraacutegeis) Esses Estados satildeo Sudatildeo do Sul

Sudatildeo Afeganistatildeo Siacuteria e Paquistatildeo Estes ataques satildeo sobretudo raptos e tiroteio

depois vecircm assaltos sem armas de fogo e em uacuteltimo lugar o recurso a explosivos No

entanto este uacuteltimo meacutetodo de ataque tem vindo a sofrer um aumento significativo

entre 2006 e 2013 (Humanitarian Outcomes 2014)

Segundo dados mais recentes do relatoacuterio de Czwarno et al (2017) verifica-se que

houve de facto um aumento do nuacutemero de ataques entre 2007 e 2016

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

43

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terreno

Fonte Czwarno M Harmer A e Stoddard A (2017)

Eacute ainda abordado em Ryou et al (2014) e Brabant et al (2010) o procedimento de

treino dos membros das ONG para uma travessia segura para o local onde pretendam

operar Este programa de treino eacute intitulado de SOP (Standard Operating Procedure)

Neste programa constam os seguintes toacutepicos

bull Aprender conduccedilatildeo defensiva para as situaccedilotildees em que precisariam de fugir de

uma determinada situaccedilatildeo de perigo e adquirir capacidade de negociaccedilatildeo no caso de se

depararem com uma situaccedilatildeo em que teratildeo de negociar com o chefe dos rebeldes do

grupo eacutetnico tribo entre outros

bull Adotar guias de instruccedilatildeo ou manuais de boa conduta em caso de ter de passar

check-points em caso de fogo armado assaltos sequestros etc Este ponto eacute muito

importante pois eacute necessaacuterio ir preparado psicologicamente para fazer a travessia por

check-points saber que tipo de documentos mostrar o que dizer como agir e em caso

de fogo armado quais os procedimentos de proteccedilatildeo do pessoal a adotar

bull Fazer sempre pedido de autorizaccedilatildeo para movimentar o staff ou viajar para

outros locais eacute necessaacuterio avisar sempre e realizar o pedido de autorizaccedilatildeo para natildeo

terem problemas nos check-points e correrem o risco de serem detidos

bull Adotar o procedimento em que todos os elementos do grupo avisam a sua

partida e chegada ao local Este procedimento deve ser adotado pela esquipa de forma a

saberem onde cada elemento estaacute a que horas estaacute prevista a chegada e estarem sempre

0

50

100

150

200

250

300

350

2007 2011 2014 2017

Incidentes

Viacutetimas

humanitaacuterios

mortos

humanitaacuterios

eridos

raptos de

humanitaacuterios

Viacutetimas

internacionais

Viacutetimas

nacionais

5

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

44

contactaacuteveis de modo a que seja faacutecil identificar se um membro do grupo estaacute em

problemas devido agrave incomunicabilidade desaparecimento entre outros

bull Estabelecer toques de recolher e mapear as aacutereas que natildeo sejam seguras no

momento preciso em que pensam partir Este ponto eacute essencial para garantir a seguranccedila

do staff e natildeo correrem riscos desnecessaacuterios

bull Mudar as rotinas para que natildeo sejam alvo faacutecil dos rebeldes ou outras forccedilas

militarespopulaccedilatildeo local que queiram atacar e o staff deve ser acompanhado pelo liacuteder

da comunidade com a qual vatildeo trabalhar de forma a que seja garantida a sua seguranccedila

bull Usar raacutedio de alta frequecircncia e equipamentos sateacutelite em missotildees de longa

distacircncia para que todos os elementos da equipa permaneccedilam contactaacuteveis

bull Regras de conduta entre dois carros e espaccedilamento entre eles eacute importante

sobretudo num campo em que natildeo conhecemos nem estamos acostumados (Ryou et al

2014 pp 8-9 Brabant et al 2010 pp 12-16)

O relatoacuterio de Ryou et al (2014) aponta a escolta militar como ultimo recurso usado

pelas ONG e quando usada eacute fornecida pelo governo do Estado em conflito armado ou

pelos peacekeepers ou pela NATO A NATO eacute uma opccedilatildeo agrave qual a comunidade

humanitaacuteria deveraacute recorrer em uacuteltimo recurso pelo simples facto de natildeo se manter

neutra no terreno o que poder A NATO tem um compromisso com as NU quanto a

assegurar a paz e seguranccedila mundial (Ryou et al 2014 e NATO 2016)

A NATO em conjunto com as NU e a UE atua a prevenir crises gerir conflitos ajudar

a estabilizar em situaccedilotildees de poacutes-conflito Esta cooperaccedilatildeo estende-se agrave avaliaccedilatildeo e

gestatildeo de crises cooperaccedilatildeo civil-militar que eacute o foco do tema que estaacute a ser retratado

nesta dissertaccedilatildeo treino e educaccedilatildeo combate agrave corrupccedilatildeo no setor da defesa accedilatildeo

contra as minas mitigaccedilatildeo das ameaccedilas representadas por dispositivos explosivos

improvisados capacidades civis promoccedilatildeo do papel das mulheres em paz e seguranccedila

proteccedilatildeo de civis incluindo crianccedilas conflitos armados combate agrave violecircncia e violecircncia

de gecircnero controle de armas e natildeo proliferaccedilatildeo e a luta contra o terrorismo A

cooperaccedilatildeo eacute ainda reforccedilada com as NU e outros atores internacionais como a UE e a

Organizaccedilatildeo para a Seguranccedila e a Cooperaccedilatildeo na Europa (OSCE) que satildeo partes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

45

integrantes do contributo da NATO para uma abordagem abrangente quanto agrave gestatildeo e

operaccedilotildees de crise (NATO 2016)

Retomando entatildeo a questatildeo referente agraves opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno agrave primeira vista as melhores opccedilotildees seriam mesmo escolta e

proteccedilatildeo no acircmbito de missotildees sob o princiacutepio da R2P as missotildees integradas

minimalistas ou as agecircncias militares privadas No caso das missotildees integradas em

cooperaccedilatildeo com os peacekeepers respeitando o guia de cooperaccedilatildeo entre militar-

humanitaacuterio no caso das agecircncias militares privadas caso estejam devidamente

regulamentadas no direito internacional humanitaacuterio Por uacuteltimo o peace enforcement ao

abrigo do princiacutepio do R2P eacute a melhor opccedilatildeo para Estados que estejam numa situaccedilatildeo

de alta inseguranccedila pois eacute uma intervenccedilatildeo de emergecircncia A escolta pode facilitar a

deslocaccedilatildeo no entanto eacute preciso respeitar os princiacutepios fundamentais da accedilatildeo

humanitaacuteria e as ONG OING e OIG humanitaacuterias respeitarem as missotildees dos militares

com os quais estatildeo a cooperar nesse preciso momento Esta cooperaccedilatildeo tem como

intuito melhorar a seguranccedila e proteger os humanitaacuterios e natildeo dificultar o trabalho de

ambos (Bellamy 2015)

O problema com a cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao

abrigo do R2P natildeo estaacute isenta de perigos podendo mesmo ser mais os pontos negativos

do que favoraacuteveis Pois os militares sob este tipo de missatildeo natildeo satildeo neutros partindo

para o terreno para acabar com a calamidade que estaacute a acontecer ou seja atacar os

responsaacuteveis pelas atrocidades que poderatildeo ser os proacuteprios governantes Sendo o

governo o responsaacutevel pelas atrocidades os militares do peace enforcement iratildeo estar

contra a forccedila que estaacute no poder e por conseguinte estando os humanitaacuterios a receber

escolta do peace enforcement iratildeo sofrer represaacutelias como ataques ou ver o acesso

negado a determinados locais poderaacute mesmo seraacute negada a permissatildeo de permanecer

no terreno e poderatildeo ser atacados por miliacutecias O perpetrador das atrocidades podem

ainda ser miliacutecias e por conseguinte natildeo ser faacutecil fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e

natildeo combatentes podendo ser atacados civis no terreno colocando uma vez mais a

comunidade internacional num dilema entre a seguranccedila e respeitar os princiacutepios da

neutralidade e imparcialidade colocando-os numa situaccedilatildeo de grande fragilidade

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

46

No entanto existe uma necessidade de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios no terreno e a

comunidade humanitaacuteria eacute fulcral quanto agrave proteccedilatildeo dos civis assistindo medicamente

fornecendo bens essenciais como comida aacutegua medicaccedilatildeo e apoio psicoloacutegico

acolhem refugiados e IDP fazem uso das suas influecircncias para dar apoio juriacutedico agraves

viacutetimas e garantem proteccedilatildeo Estes pontos referidos tecircm um papel crucial na pacificaccedilatildeo

dos territoacuterios O espaccedilo humanitaacuterio neutro e imparcial daacute uma sensaccedilatildeo de proteccedilatildeo agrave

populaccedilatildeo um refugioabrigo e este espaccedilo pode ser colocado em causa com uma

missatildeo integrada com os militares do peace enforcement pois a comunidade

humanitaacuteria eacute politizada involuntariamente perdendo a neutralidade Ou seja eacute um

dilema que os humanitaacuterios atravessam no terreno dilema entre a seguranccedila a

permanecircncia no terreno e salvar vidas (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Apesar destes pontos negativos a verdade eacute que eacute impossiacutevel para a comunidade

humanitaacuteria manter-se neutra neste tipo de conflitos e precisa de escolta para conseguir

prosseguir com a sua missatildeo Segundo Bellamy (2015) a missatildeo sob o princiacutepio da

R2P no Sri Lanka entre 2008-2009 foi mal sucedida as NU natildeo tiveram capacidade

suficiente para proteger os civis e garantir o acesso dos humanitaacuterios aos locais onde

residiam os civis em necessidade A comunidade humanitaacuteria no terreno viu-se forccedilada

a terminar a missatildeo devido ao facto de o governo ter restringido o acesso das

organizaccedilotildees humanitaacuterias e o staff das NU foi persistentemente intimidado As NU natildeo

tentaram chamar o governo agrave realidade evidenciando que restringir o acesso dos

humanitaacuterios vai contra agraves suas obrigaccedilotildees internacionais As NU falharam tambeacutem

quanto ao seu dever de informar os Estados sobre violaccedilotildees dos direitos humanos no

terreno A comunidade humanitaacuteria natildeo pode cooperar com este tipo de accedilotildees vai

contra agrave essecircncia da accedilatildeo humanitaacuteria Logo o peace enforcement sob o princiacutepio do

R2P que inicialmente poderia ser uma soluccedilatildeo viaacutevel para garantir a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios no terreno (devido ao princiacutepio subjacente e agraves restriccedilotildees e regras riacutegidas

de atuaccedilatildeo no terreno) deixa de o ser a partir do momento em que falha como no Sri

Lanka para com os cidadatildeos e para com a comunidade humanitaacuteria uma vez que natildeo

conseguiu garantir um acesso seguro e a permanecircncia dos humanitaacuterios no terreno

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Portanto uma missatildeo integrada no terreno com o peace enforcement ao abrigo do

princiacutepio da responsabilidade de proteger pode ser a soluccedilatildeo mais raacutepida e a mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

47

adequada pois estatildeo todos empenhados em aliviar o sofrimento humano salvar vidas e

por termo agraves atrocidades No entanto na praacutetica esta eacute uma situaccedilatildeo bastante complexa

mas que natildeo deve ser descartada A decisatildeo quanto agrave adoccedilatildeo de uma missatildeo integrada

entre o peace enforcement ao abrigo do R2P e organizaccedilotildees humanitaacuterias deve ser

avaliada e decidida caso a caso (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

No entanto a colaboraccedilatildeo entre militar e humanitaacuterio pode ser fomentada de outra

forma estabelecendo uma verdadeira parceria onde cada um manteacutem a sua

independecircncia e no caso dos humanitaacuterios a imparcialidade e neutralidade A forccedila

militar preferencial para esta parceria seria os peacekeepers pois satildeo uma forccedila militar

internacional e imparcial Desta forma os dois atores complementam-se sem que haja

interferecircncia nas missotildees de cada um Segundo Gibbons e Piquard essa parceria pode

acontecer das seguintes formas

1 A ONG humanitaacuteria pode pedir coordenadas especificas aos militares sobre a

seguranccedila de determinada regiatildeo pedir instruccedilotildees sobre a melhor hora e caminho para

fazer a viagem ateacute determinado local considerado perigoso Desta forma a equipa

poderaacute viajar para o local atraveacutes de um caminho mais seguro recomendado pelos

militares acostumados no terreno Devem tambeacutem permanecer em contacto com a forccedila

militar com a qual estatildeo a colaborar de modo a que caso haja um problema estes

possam assistir a equipa)

2 Poderatildeo pedir contactos ou para agilizar a comunicaccedilatildeo entre a ONG e o liacuteder

da comunidade com a qual iratildeo trabalhar de forma a evitar problemas desagradaacuteveis e a

que sejam aceites no local e assim a ajuda poder ser fornecida sem

3 Os militares podem dar formaccedilatildeo aos humanitaacuterios de autodefesa seguranccedila

como por exemplo o uso da raacutedio como meio de comunicaccedilatildeo mapas entre outros e

como organizarem a logiacutestica toda de forma raacutepida e eficaz (Gibbons e Piquard 2006

pp25-95)

Caso a escolta militar natildeo possa ser dispensada existe ainda a possibilidade de os

militares escoltarem a equipa agrave paisana ou seja sem a farda de modo a natildeo chamarem

a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo local ou dos ldquoinimigosrdquo Deste modo os humanitaacuterios

realizariam a viajarem em seguranccedila a populaccedilatildeo natildeo perderia a confianccedila na ONG

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

48

pois natildeo teriam como saber que estavam a ser escoltados por uma forccedila militar Este

meacutetodo seria para usar esporadicamente (Gibbons e Piquard 2006 pp25-95)

O que se pretende demonstrar com as medidas anteriormente expostas eacute que os

humanitaacuterios devem recorrer soacute em ultimo recurso agrave escolta militar Antes podem pedir

colaboraccedilatildeo do tipo backoffice pedindo informaccedilotildees ou um mapeamento dos caminhos

seguros para chegar a determinado local pedir formaccedilatildeo sobre o uso da raacutedio por

sateacutelite como meio de comunicaccedilatildeo formaccedilatildeo de autodefesa conduccedilatildeo e uso de

determinadas ferramentas de logiacutestica que poderatildeo vir a ser uacuteteis no futuro de forma a

contribuir para uma estadia mais segura sem colocar em causa a missatildeo de ambos e os

princiacutepios humanitaacuterios (Gibbons e Piquard 2006)

Segundo Gibbons e Piquard (2006) ONG OING e OIG natildeo precisam de estar de costas

voltadas para os militares podem colaborar em conjunto de diversas formas que natildeo

sejam diretamente a escolta para natildeo serem associados a determinada forccedila poliacutetica Soacute

como uacuteltimo recurso como em caso de grande perigo deveratildeo pedir escolta ou usar os

meios de transporte militares neste caso o aeacutereo seria o mais desejaacutevel para levar o

maacuteximo de mantimentos possiacutevel

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios

Devido agraves necessidades de proteccedilatildeo e seguranccedila dos humanitaacuterios tecircm-se assistido ao

surgimento de agecircncias de seguranccedila privadas que fornecem serviccedilos de proteccedilatildeo agrave

comunidade humanitaacuteria Peter Singer intitula estas agecircncias de ldquoagecircncias militares

privadasrdquo que oferecem seguranccedila treino para missotildees no terreno e apoio logiacutestico

Hoje as AMP (agecircncias militares privadas) operam em mais de 50 paiacuteses e tiveram um

papel decisivo nos conflitos dos seguintes Estados Angola Croaacutecia Etioacutepia-Eritreia e

Serra Leoa Estas agecircncias militares satildeo geridas por militares reformados e podem ter

mera funccedilatildeo consultiva como tambeacutem podem ter um papel de uma empresa

transnacional usando meios como aviotildees e comandos no terreno para aleacutem da sua vasta

experiecircncia atraveacutes de missotildees realizadas muitas vezes no terreno para o qual iratildeo

fornecer o serviccedilo (Singer 2006)

Podemos dividir as agecircncias de seguranccedila privadas em duas grandes aacutereas que satildeo as

agecircncias militares privadas constituiacutedas por ex-militares reformados ou que tenham

saiacutedo da forccedila militar estatal da qual fazia parte e tecircm como principal objetivo fornecer

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

49

serviccedilos de seguranccedila militar em terrenos de conflito armado internacional ou natildeo caso

seja necessaacuterio e as agecircncias de seguranccedila privada que natildeo iratildeo ser profundamente

exploradas nesta dissertaccedilatildeo A ONU tem vindo a contratar os serviccedilos destas agecircncias

militares privadas bem como as ONG e OING Como eacute possiacutevel constatar os

humanitaacuterios vivem momentos de grande inseguranccedila no terreno caso o Estado em

questatildeo natildeo forneccedila essa seguranccedila agrave ONG que estaacute a operar no terreno As agecircncias

podem fornecer apoio logiacutestico de seguranccedila principalmente nas viagens para o

territoacuterio onde iratildeo trabalhar e trabalho de consultoria Por outro lado haacute as agecircncias de

seguranccedila privadas que realizam o serviccedilo de seguranccedila apenas como um policia

realizaria em territoacuterio nacional Este tipo de agecircncias natildeo tem a responsabilidade de

proteger territoacuterios ou bens privados mas sim de proteger as pessoas neste caso os

humanitaacuterios nas deslocaccedilotildees e no territoacuterio As ONG OING e OIG tecircm vindo a

recrutar os serviccedilos das agecircncias militares privadas pois estas estatildeo habituadas a operar

em contexto de conflitos Estas agecircncias podem ser contratadas por ONG OING OIG

pelo governo por indiviacuteduos a tiacutetulo privado e por empresas privadas Segundo Pilbeam

(2015a) os principais serviccedilos que fornecem satildeo

Combate as agecircncias militares privadas podem ser contratadas para tomar diretamente

parte das hostilidades assistindo as tropas no terreno em combate em caso de falta de

militares

Treino podem igualmente ser contratadas para treinar novos meacutetodos taacuteticos de

sobrevivecircncia como atravessar certas estradas perigosas novos meacutetodos de combate e

como usar determinado armamento bem como meacutetodos de sobrevivecircncia e medicina

de terreno e sobrevivecircncia

Suporte podem ser contratados para fornecer apoio logiacutestico como por exemplo gerir

os bens alimentares e serviccedilos construccedilatildeo e uso de novas tecnologias de informaccedilatildeo

como a raacutedio por exemplo

Seguranccedila este eacute o serviccedilo mais contratado pelas ONG ONIG e OIG humanitaacuterias

com este serviccedilo eacute pretendido garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos como os profissionais

humanitaacuterios campos de refugiados edifiacutecios terrenos entre outros Tecircm tambeacutem como

funccedilatildeo garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos durante o transporte para o terreno Hoje

tambeacutem tecircm a funccedilatildeo de garantir a seguranccedila dos dados e do computador

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

50

Inteligecircncia este serviccedilo diz respeito a recolhimento de dados e anaacutelise dos mesmos

atraveacutes de pesquisa e observaccedilatildeo

Reconstruccedilatildeo estes serviccedilos satildeo muitas vezes requeridos em situaccedilotildees de poacutes-conflito e

o seu principal trabalho eacute livrar terrenos que possam estar minados reconstruccedilatildeo de

infraestruturas e restaurar sistemas essenciais agrave sobrevivecircncia como a aacutegua o

saneamento e a eletricidade (Pilbeam 2015a pp 200)

Pilbeam refere que no caso de Ruanda a ONU teve a necessidade de contratar AMP

para assistir os peacekeepers antes e depois da crise natildeo soacute a niacutevel securitaacuterio mas

tambeacutem a niacutevel de reconstruccedilatildeo logiacutestica entre outros Este tipo de situaccedilotildees natildeo

deveria acontecer pois torna a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios dependentes dos serviccedilos

destas agecircncias militares privados o que aumenta o nuacutemero de mercenaacuterios no terreno

aumenta as despesas tornando a accedilatildeo securitaacuteria num negoacutecio privado Outro problema

eacute o facto de existir um vazio legal na hora de julgar estes militares em caso de infraccedilatildeo

da lei no Estado em que estatildeo a operar Estes natildeo poderatildeo tambeacutem usufruir do estatuto

de prisioneiro de guerra (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam 2015a)

Por exemplo a agecircncia Defense System Limited (DSL) proveu proteccedilatildeo agrave UNICEF no

Sudatildeo e na Somaacutelia e agrave OMS em Angola A Armour Group foi contratada pelo ACNUR

para realizar serviccedilo de seguranccedila no Queacutenia O Dyn Corp disponibilizou meios aeacutereos

e uma rede sateacutelite para comunicaccedilotildees para a ONU mais especificamente para os

membros das operaccedilotildees de peacekeeping em Timor Leste O Pacific Architects

Engeneers (PAE) contribuiu com poliacutecias civis para a missatildeo da ONU no Haiti Esta

contrataccedilatildeo natildeo tem nenhum guia ou legislaccedilatildeo que especifique como onde e em que

circunstacircncias devem ser contratadas este tipo de agecircncias militares privadas de forma

a que possam ser evitados problemas no futuro (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam

2015a)

As organizaccedilotildees humanitaacuterias recorrem unicamente agraves agecircncias de militares privadas

quando a sua seguranccedila corre elevados riscos no local onde pretendam operar e o Estado

natildeo garante escolta militar e seguranccedila aos humanitaacuterios da ONG que pretende operar

naquele local ficando assim ao criteacuterio da ONG recorrer a agecircncias de seguranccedila

privada regressar ou correr o risco mesmo assim Raramente as ONG pedem ajuda em

termos de seguranccedila aos militares que estatildeo em operaccedilatildeo de peacekeeping ou outros

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

51

militares no terreno para que os seus princiacutepios fundamentais natildeo sejam abalados Com

o aumento dos sequestros e mortes de humanitaacuterios aumentou tambeacutem o nuacutemero de

ONG a contratarem agecircncias privadas de seguranccedila Sete agecircncias da ONU admitem ter

contratado agecircncias de seguranccedila para poderem operar em terrenos que estejam a

atravessar por um conflito armado Este facto mostra bem a falta de militares com que a

ONU se depara e a necessidade cada vez maior de garantir a seguranccedila no terreno dos

seus profissionais (Singer 2006)

Singer levanta um problema na contrataccedilatildeo de agecircncias de seguranccedila privadas por

ONG que eacute o facto de estas natildeo saberem como trabalhar em conjunto com militares e

quais os limites de accedilatildeo e conduta destas agecircncias Somente o Comiteacute Internacional da

Cruz Vermelha a Oxfam e a Mercycorps elaboraram documentos sobre a conduta das

agecircncias de seguranccedila privada num manual onde satildeo estabelecidos os limites de accedilatildeo

tipo de armas a usar as tarefas entre outros Ou seja elaboraram um documento onde eacute

estabelecido que tipos de accedilotildees podem e natildeo podem ter no terreno direitos e deveres

para que natildeo haja um uso excessivo e desnecessaacuterio da forccedila e das armas (Singer 2006

Schneiker e Joachim 2015)

No entanto existe um vazio legal e estas agecircncias militares privadas natildeo podem ser

julgadas no terreno nem ao abrigo do Direito Internacional Humanitaacuterio o que torna o

seu uso perigoso Isto acontece porque estas agecircncias natildeo estatildeo a trabalhar para o

Estado X ou Y mas para uma ONG ou OIG ou seja o seu serviccedilo eacute privado e

contratado pela ONG (Singer 2006)

Os militares destas agecircncias privadas contratados pelas ONG OING e OIG satildeo

considerados mercenaacuterios o que faz com que natildeo tenham direito ao estatuto de

prisioneiros de guerras e nem sejam considerados combatentes o que leva a que natildeo

tenham direito agrave expatriaccedilatildeo tratamento meacutedico especial e tenha de se sujeitar ao

tratamento que lhe for concedido pelo Estado no qual foi feito prisioneiro Estes

militares natildeo estatildeo ao serviccedilo de nenhum Estado ou comunidade internacional a

combater estatildeo simplesmente a fornecer um serviccedilo a troco de dinheiro o que faz deles

mercenaacuterios (Pilbeam 2015a)

Natildeo tecircm tambeacutem o direito a serem extraditados para o seu paiacutes de origem tendo por

isso de ser julgados consoante a legislaccedilatildeo local Este vazio legal eacute um grave problema

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

52

que deveraacute ser resolvido pela comunidade internacional Se por um lado temos a

hipoacutetese de estes militares natildeo poderem ser julgados por crimes de guerra caso o

cometa por outro lado temos a hipoacutetese de serem apanhados e presos e nada poder ser

feito para os libertar por natildeo serem prisioneiros de guerra e por isso natildeo estarem

abrangidos pelo Direito Internacional Humanitaacuterio (Pilbeam 2015a)

Do lado das ONG OING e OIG a falta de praacutetica em contratar este tipo de serviccedilos e o

facto de natildeo saberem como lidar com os mercenaacuterios (muitos deles podem ter um

passado duvidoso quanto agrave violaccedilatildeo dos Direitos Humanos) levanta questotildees seacuterias

crimes perpetrados pelas agecircncias militares privadas a ONG que contratem estas

agecircncias eacute tambeacutem culpabilizada o que poderaacute ter consequecircncias nos donativos e na

confianccedila nela depositada (Singer 2006)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

53

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul

O Sudatildeo do Sul eacute uma Repuacuteblica presidencialista e o seu atual Presidente eacute Salva Kiir

A Capital eacute Juba e a moeda eacute a Libra Sul-sudanesa A liacutengua oficial eacute o Inglecircs no

entanto existem vaacuterias liacutenguas faladas que natildeo satildeo oficiais como por exemplo dinka

nuer zande bari e shiluk O Sudatildeo do Sul faz fronteira com o Sudatildeo (de quem se

tornou independente em 2011) a Etioacutepia o Queacutenia o Uganda a Repuacuteblica Democraacutetica

do Congo e a Repuacuteblica Centro Africana Estima-se que em 2011 a populaccedilatildeo do Sudatildeo

do Sul era de 11090104 habitantes Foi a 9 de julho desse mesmo ano que o Sudatildeo do

Sul se tornou um paiacutes independente (CIA sd)

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sul

Fonte Branco (2011)

Desde a independecircncia os variados conflitos intensificaram-se Em 2013 o Sudatildeo do

Sul entrou numa forte crise poliacutetica culminando numa guerra civil Esta crise poliacutetica

aconteceu quando o presidente Salva Kiir membro do maior grupo eacutetnico local Dinka

acusou o vice-presidente do Sudatildeo do Sul Riek Machar membro do grupo eacutetnico Lou

Nuer de uma tentativa de golpe de Estado o que levou ao despoletar de uma guerra

civil onde os membros dos dois grupos eacutetnicos acima referidos entraram eles tambeacutem

em conflito entre si fruto do oacutedio eacutetnico Eacute importante referir os grupos eacutetnicos a que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

54

pertenciam ambos os poliacuteticos parte das hostilidades porque o Sudatildeo do Sul eacute um

Estado dividido em vaacuterias etnias pode mesmo dizer-se que existem vaacuterios lsquoSudatildeosrsquo

dentro do Sudatildeo do Sul o que dificulta o processo de paz por si soacute Este

desentendimento acontece apoacutes o vice-presidente Riek Machar ter acusado o atual

presidente Slava kiir de corrupccedilatildeo de lidar mal com a economia e situaccedilatildeo global do

Sudatildeo do Sul de haver cada vez mais desigualdade entre grupos Em 2013 houve um

coup drsquoeacutetat o que intensificou uma vez mais o conflito pois o presidente Salva Kiir

decidiu demitir todo o governo e assumir total controlo do Estado atirando a tentativa

do golpe de Estado para o vice-presidente Riek Machar Como eacute possiacutevel prever os

conflitos entre as duas partes intensificaram-se mais precisamente entre os dois grupos

eacutetnicos ligados a cada uma destas duas figuras (Nascimento 2017)

Devido ao referido anteriormente deu-se uma divisatildeo dentro do SPLM (Sudan Peoplersquos

Liberation Movement) tendo sido criado o SPLM-IO (Sudan Peoplersquos Liberation

Movement- In Oposition) apoiante do vice-presidente Riek Machar Ao presente a

guerra civil joga-se entre o SPLM o SPLA (Sudan Peopleacutes Liberation Army) e o

movimento pro Riek Machar SPLM-IO Esta divisatildeo que gerou uma grande onda de

violecircncia levou ao aumento draacutestico de pedidos de asilo de refugiados aos paiacuteses

vizinhos e de deslocados internamente (Deutsche Welle 2013 Rolandsen et al 2015

Felix e Coning 2017)

Tinha havido em 2011 segundo Nascimento (2017) uma tentativa afincada de realizar

um acordo de paz duradouro tendo pouco sido feito em termos de desenvolvimento e

garantia das necessidades baacutesicas para toda a populaccedilatildeo ou seja garantir o igual acesso

a todos agrave educaccedilatildeo sauacutede alimentaccedilatildeo seguranccedila e emprego O Sudatildeo do Sul

confronta-se tambeacutem com um governo fraco aumento das hostilidades entre populaccedilotildees

de diferentes etnias alimentadas pelos poliacuteticos e um setor privado e governo corruptos

Natildeo resolvendo estas questotildees eacute impossiacutevel qualquer acordo de paz vingar a natildeo ser no

papel Eacute possiacutevel entatildeo deduzir que este processo de paz natildeo foi coordenado e

uniforme pois o governo optou por estabelecer acordos ao longo do paiacutes criando

divisotildees dentro do recente Estado (Nascimento 2017)

Houve um novo acordo de cessar-fogo em maio de 2014 tendo sido criado um governo

de transiccedilatildeo e foi feito um esboccedilo para a criaccedilatildeo de uma nova constituiccedilatildeo No entanto

houve mais uma vez neste processo uma falta de compromisso para com as partes e a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

55

populaccedilatildeo o que gerou mais ondas de violecircncia Em maio de 2015 o governo do Sudatildeo

do Sul foi pressionado por atores externos a estabelecer um acordo de paz acordo esse

que veio a ser altamente criticado Salva Kiir acusou o acordo de desfavorecer a

comunidade eacutetnica Dinka num futuro governo Este acordo foi tambeacutem criticado pela

sociedade civil por privilegiar a partilha de poderes entre as elites ao inveacutes de prestar

contas e desenvolver um mecanismo de justiccedila onde as atrocidades cometidas pelos dois

partidos fossem punidas Acusou tambeacutem o presidente de natildeo privilegiar o

desenvolvimento a niacutevel educacional socioeconoacutemico e de infraestruturas do Estado e

de natildeo haver a aplicaccedilatildeo da lei Riek Machar voltou ao seu cargo como vice-presidente

tendo de abandonar a cidade de Juba por violecircncia e alegada perseguiccedilatildeo do governo

tendo sido substituiacutedo pelo Presidente Riek Machar pediu ajuda agrave comunidade

internacional para enviar militares que o ajudassem a chegar a Juba em seguranccedila e

retomar o seu cargo Pouco mudou como eacute possiacutevel verificar natildeo se constatou

desenvolvimento algum continua a existir pobreza e a violecircncia natildeo para de aumentar

Salva Kiir (atual presidente) privilegiou a estabilizaccedilatildeo do Estado ao inveacutes do

desenvolvimento o que em conjunto com o conflito eacutetnico despoletou a guerra civil

(Nascimento 2017 Felix e Coning 2017)

Segundo Nascimento (2017) houve ainda uma maacute compreensatildeo frequente quanto ao

uso do peacebuilding confundido com partilha de poderes e recursos Ao inveacutes disso

deveria ter havido uma aposta na criaccedilatildeo de uma democracia soacutelida onde os cidadatildeos

pudessem contribuir na tomada de decisatildeo dos poliacuteticos e desenvolvimento do seu

territoacuterio A parte mais importante para o sucesso do acordo de paz sociedade civil e

partidos natildeo foi todavia parte dos processos de negociaccedilatildeo da paz O processo de paz

centrou-se exclusivamente na partilha de poderes entre os partidos do governo e

militares natildeo tendo sido escutadas opiniotildees de mediadores figuras influentes ou

partidos poliacuteticos Segundo a autora os negociadores do acordo de paz natildeo queriam

entender que o problema ultrapassava a rivalidade poliacutetica que era tambeacutem constituiacutedo

por uma marginalizaccedilatildeo social e econoacutemica que afetava diversos grupos e setores da

populaccedilatildeo (Nascimento 2017 Tafta e Haken 2015)

A guerra civil do Sudatildeo do Sul levou agrave morte de milhares de pessoas Estima-se que

desde 2013 tenham morrido mais de 50 000 pessoas e que tenham fugido cerca de 16

milhotildees de pessoas dos seus lares aquando da tentativa internacional de estabelecer a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

56

paz com o acordo assinado em agosto de 2015 (OCHA 2015) Segundo o OCHA

(2017) cerca de trecircs milhotildees de pessoas tiverem de fugir dos seus lares existem cerca

de 12 milhotildees de deslocados internamente e mais de 13 milhotildees de refugiados

Podemos entatildeo verificar que o Sudatildeo do Sul desde a sua independecircncia natildeo teve um

uacutenico momento de paz e a populaccedilatildeo estaacute a atravessar momentos conturbados haacute

infraestruturas destruiacutedas falta de cuidados meacutedicos trabalho forccedilado violaccedilotildees

abusos deslocaccedilotildees forccediladas destruiccedilatildeo perda de meios de subsistecircncia e surgimento

de doenccedilas tais como a coacutelera diarreia malaacuteria entre outros ateacute aos dias de hoje

(OCHA 2015 CFR 2017 HRP 2017)

O Sudatildeo do Sul eacute ainda considerado um Estado de enorme fragilidade no iacutendice de

fragilidade dos Estados do FFP (2017) contando com uma classificaccedilatildeo de 11390 e

estando mal cotado em todos os indicadores de avaliaccedilatildeo As aacutereas satildeo as seguintes

seguranccedila e aparelho do Estado elites e facotildees clivagens entre grupos decliacutenio

econoacutemico desigualdade no desenvolvimento fuga de ceacuterebros legitimidade do

Estado direitos humanos e Estado de direito serviccedilos puacuteblicos pressotildees demograacuteficas

refugiados e deslocados internamente e finalmente intervenccedilatildeo externa Essa

classificaccedilatildeo significa que o Sudatildeo do Sul estaacute na pior categoria ndash ldquoestado de alertardquo

(100-120) e que registou o pior resultado (primeiro no ranking) em 2017 (TFP 2017a

TFP 2017b)

O paiacutes eacute ainda caracterizado por enfrentar variados problemas como por exemplo a

escassez de aacutegua mau saneamento ou ausecircncia do mesmo falta de meios de

subsistecircncia atravessando um periacuteodo de escassez alimentar o que aumenta

drasticamente os conflitos entre cidades e grupos eacutetnicos pois natildeo estatildeo a lutar

unicamente devido ao conflito e ao oacutedio eacutetnico mas estatildeo a lutar tambeacutem pela obtenccedilatildeo

de meios de subsistecircncia A guerra civil da qual natildeo consegue sair tem como principal

problema o profundo tribalismo caracteriacutestico do Estado e maus poliacuteticos natildeo

conseguindo criar um aparelho de poder forte As regiotildees do Sudatildeo do Sul que foram

mais atingidas pelo conflito satildeo Jonglei Unity e Upper Nile (Tafta 2014 Rolandsen et

al 2015 TFP 2017c Tafta e Haken 2015) Quanto ao IDH (Iacutendice de

desenvolvimento Humano) o Sudatildeo do Sul estaacute avaliado no iacutendice na posiccedilatildeo de 0418

e classificado no ranking na 181ordf posiccedilatildeo sendo a esperanccedila meacutedia de vida de 561 anos

e a escolaridade rondando ateacute os 49 anos O Estado que estaacute em uacuteltimo lugar na

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

57

classificaccedilatildeo eacute a Repuacuteblica Centro Africana na 188ordf posiccedilatildeo com o valor de 0352 O

Estado mais bem posicionado em primeiro lugar eacute a Noruega com o valor de 0949 A

cotaccedilatildeo dos Estados vai de 00 a 1 (UNDP 2016)

Para aleacutem dos problemas internos o Sudatildeo do Sul tem ainda uma relaccedilatildeo muito

fragilizada com o Sudatildeo devido agraves disputas para a aquisiccedilatildeo do petroacuteleo e a fronteira

os territoacuterios de Darfur South Kordofan e Blue Nile que eram disputados Estes

problemas levaram a que houvesse uma priorizaccedilatildeo da seguranccedila ao inveacutes do

desenvolvimento que eacute crucial para pacificar um Estado e desenvolver (Felix e Coning

2017)

O Sudatildeo do Sul foi palco de Acatildeo Humanitaacuteria promovida pela ONU nomeadamente

do OCHA tendo este uacuteltimo realizado um plano estrateacutegico para o Sudatildeo do Sul A

primeira missatildeo realizada pelas NU no Sudatildeo do Sul cujo nome era UNMISS (United

Nation Mission for South Sudan) sob o artigo VII da carta das NU conforme a

resoluccedilatildeo do Conselho de Seguranccedila nordm 1996 de 8 de julho de 2011 tinha como

principal objetivo ajudar o governo a consolidar a paz e seguranccedila incluindo a

mitigaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos bem como a proteccedilatildeo dos civis Comeccedilou em 2011

pelo periacuteodo de um ano mas viria a revelar-se insuficiente e obrigaria a que fosse

necessaacuterio o prolongamento da UNMISS Em 2013 outra crise deflagrou no Sudatildeo do

Sul culminando numa guerra civil conforme referido acima Neste caso a presenccedila da

UNMISS era fulcral no terreno apesar de a relaccedilatildeo entre o governo do Sudatildeo do Sul e a

UNMISS terem atravessado uma crise no terreno pois os militares desta foram

acusados de natildeo serem imparciais e de ajudarem a abater militares favoraacuteveis ao

governo e de que haveria uma maacute conceccedilatildeo da missatildeo no terreno Foi por isso aprovada

pelo Conselho de Seguranccedila a resoluccedilatildeo 2132 (24122013) pela qual foi decidido

aumentar o nuacutemero de militares e poliacutecias no terreno Em 2014 foi reforccedilada a

priorizaccedilatildeo da necessidade de proteccedilatildeo dos civis devido agrave deterioraccedilatildeo da situaccedilatildeo

humanitaacuteria no terreno tendo sido aprovada a resoluccedilatildeo 2155 (27052014) Os

objetivos foram a consolidaccedilatildeo da democracia fraacutegil (statebuilding) em que o paiacutes se

encontrava proteger os civis de possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia fiacutesica proteger grupos

vulneraacuteveis proteger os campos de refugiados e os profissionais humanitaacuterios de

possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia e criar condiccedilotildees para que as ONG humanitaacuterias

pudessem aceder aos locais e fornecer assistecircncia humanitaacuteria Era tambeacutem feita a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

58

monitorizaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de crimes contra os direitos humanos e procurava-se

facilitar a implementaccedilatildeo dos acordos de paz Haacute tambeacutem um mandato atual da

UNMISS em que foram reforccedilados os contingentes em 7000 pessoal militar 9000

poliacutecias e um apropriado contingente de civis Estatildeo autorizados 17 000 tropas nos

quais estatildeo incluiacutedas 4000 forccedilas de proteccedilatildeo regionais Foi aumentado o limite da

poliacutecia para 2101 policiais incluindo policiais individuais unidades policiais formadas

e 78 corretores e solicitado ao Secretaacuterio-Geral que tome as medidas necessaacuterias para

acelerar a forccedila e a geraccedilatildeo de ativos (UNMISS 2017a UNMISS sd UNMISS 2017b

OCHA 2015 OCHA 2017 OCHA sd)

Como eacute possiacutevel constatar o Sudatildeo do Sul necessita de operaccedilotildees de peacekeeping para

manter a paz assegurar os direitos humanos salvar vidas e garantir uma vida digna agrave

populaccedilatildeo local mas tambeacutem necessita e estava num processo de peacebuiling que

procura restaurar o aparelho de poder reconstruir as infraestruturas e ajudar o governo a

fortalecer-se de forma a que a paz permaneccedila e o processo de pacificaccedilatildeo seja realizado

com ecircxito apoacutes o presidente ter assinado em 2015 o acordo de paz como foi referido

anteriormente No entanto como sabemos o Sudatildeo do Sul natildeo estaacute ainda pacificado

permanecendo no terreno cerca de 17000 peacekeepers (OCHA 2015 UNMISS

2017a UNMISS 2017b)

Segundo o Council on Foreign Relations (2017) e tambeacutem o OCHA (2017) o Estado

do Sudatildeo do Sul apresenta um problema no que toca agrave accedilatildeo humanitaacuteria pois o terreno

estaacute cada vez mais perigoso cada vez mais humanitaacuterios satildeo assassinados por grupos

eacutetnicos em guerra dificultando assim a chegada da assistecircncia humanitaacuteria agrave populaccedilatildeo

que estaacute a atravessar grandes privaccedilotildees em termos alimentares de saneamento e de aacutegua

potaacutevel Como eacute sabido o Sudatildeo do Sul tem um grande problema no setor agriacutecola no

saneamento e no acesso a aacutegua o que leva a que os conflitos natildeo cessem muito pelo

contraacuterio pioram A falta de aacutegua potaacutevel eacute um dos grandes problemas existentes no

Sudatildeo do Sul havendo locais em que natildeo existe mesmo sendo necessaacuterio transportaacute-la

para o local o que eacute feito pelas OIG OING e OIG (OCHA 2017 CFR 2017)

Soacute em 2016 os incidentes humanitaacuterios foram de 635 por mecircs de janeiro a junho e de

junho a novembro esse nuacutemero aumentou para 90 Os humanitaacuterios tambeacutem viram a

necessidade de negociar com os militares locais para operar bem como de procurar

apoio na aacuterea da advocacia para a aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria Esta negociaccedilatildeo tem sido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

59

uma constante e estas negociaccedilotildees podem ser realizadas atraveacutes de troca por troca

Existe uma maacute vontade do Estado sentida nos diversos impedimentos burocraacuteticos e

difiacutecil sinalizaccedilatildeo dos civis que estatildeo a receber a assistecircncia humanitaacuteria dificultando

assim o trabalho dos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema eacute que a escolta militar pode levar a que a populaccedilatildeo sinta uma confusatildeo e

associe as ONG OING e OIG aos militares peacekeepers o que eacute negativo Neste caso

a UNMISS natildeo eacute neutra e leva a uma perceccedilatildeo de que as ONG OING e OIG tambeacutem

natildeo satildeo neutras Outro problema foi a poleacutemica em que a UNMISS se envolveu com o

desarmamento da populaccedilatildeo que era feito agrave forccedila e de forma selecionada natildeo tendo os

peacekeepers reagido e tendo a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional

reagido Tudo junto leva a que a populaccedilatildeo sinta receio em pedir ajuda agraves organizaccedilotildees

humanitaacuterias caso a escolta seja feita por militares que tenham algum contacto ou

trabalho com o governo ou as forccedilas militares locais (Felix e Coning 2017)

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das

ONG

Como eacute possiacutevel verificar o caso do Sudatildeo do Sul eacute um caso bastante complicado

sendo mesmo considerado uma emergecircncia humanitaacuteria devido agraves constantes guerras

civis e eacutetnicas que natildeo cessam agrave crise econoacutemica aos choques climateacutericos que levam agrave

escassez de comida falta de aacutegua potaacutevel o que tem como consequecircncia fome e

malnutriccedilatildeo pessoas deslocadas internamente e nuacutemero de refugiados a aumentar

pobreza e crimes de violaccedilatildeo contra os direitos humanos que natildeo cessam O Estado natildeo

se tem revelado eficaz na proteccedilatildeo do seu povo sendo que existem determinados locais

que satildeo praticamente de impossiacutevel acesso aos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema segundo o OCHA natildeo eacute soacute o acesso ao local onde a populaccedilatildeo estaacute em

necessidade mas tambeacutem a permanecircncia das ONG OING ou OIG no terreno Nos dias

14 e 15 de abril de 2016 os humanitaacuterios tiveram de sair do terreno (Waat e Walgak em

Jonglei) devido agrave intensificaccedilatildeo do conflito Essa retirada dos humanitaacuterios do terreno

teve consequecircncias graves a niacutevel de preparaccedilatildeo de comida e distribuiccedilatildeo da mesma

11200 pessoas em Nyrol ficaram sem acesso a educaccedilatildeo sauacutede nutriccedilatildeo e atividades

de limpeza vitais para a populaccedilatildeo Esta deslocaccedilatildeo teve efeitos nefastos para a accedilatildeo

humanitaacuteria em Jonglei quando as instalaccedilotildees humanitaacuterias foram invadidas por civis e

militares durante os atraques de fevereiro Este tipo de ataques natildeo pode repetir-se pois

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

60

a inseguranccedila poderaacute ter como consequecircncia o abandono das ONG OING e OIG do

terreno o que levaraacute a uma intensificaccedilatildeo dos conflitos e a uma populaccedilatildeo ainda mais

fragilizada Um Estado que se pauta por grandes desigualdades entre regiotildees leva a

conflitos que soacute seratildeo amenizados sendo essas necessidades mais urgentes suprimidas

Natildeo adianta fazer missotildees quando natildeo se combate o cerne do problema (OCHA 2017)

Logo estes problemas de acesso poderatildeo levar a que os conflitos se agravem devido agrave

falta de bens de primeira necessidade como por exemplo a aacutegua que como sabemos eacute

um motivo de guerra em vaacuterios paiacuteses e comida pois a pouca comida e aacutegua potaacutevel

existente seraacute disputada gerando ainda mais conflitos Uma maacute nutriccedilatildeo ingestatildeo de

aacutegua natildeo potaacutevel leva ainda a problemas de sauacutede graves Natildeo eacute tambeacutem restabelecida

a dignidade da populaccedilatildeo natildeo eacute protegida dos crimes contra a humanidade como a

exploraccedilatildeo recrutamento de crianccedilas para a guerra e minas abuso sexual e mortes em

massa (OCHA 2017)

Esta falta de seguranccedila no terreno verificada no Sudatildeo do Sul leva agrave necessidade de

existecircncia de proteccedilatildeo militar visto que existe uma dificuldade em fazer valer o DIH no

terreno Como eacute sabido hospitais campos de refugiados e pessoal que trabalha para

organizaccedilotildees humanitaacuterias deveriam estar imunes a qualquer tipo de ataque Mas na

praacutetica tal natildeo se verifica tendo sido um campo de refugiados atacado em 2016 Ao

serem escoltadas ou ao usufruiacuterem de proteccedilatildeo militar as ONG OING ou OIG satildeo

facilmente coladas a uma das partes das hostilidades de que esses militares tambeacutem

tomam parte

Levanta-se ainda outro problema que eacute a negaccedilatildeo de acesso a territoacuterios aos

humanitaacuterios no Sudatildeo do Sul Esta negaccedilatildeo de acesso vem por parte do Governo para

certas regiotildees e das outras partes das hostilidades noutras regiotildees sendo que o governo

natildeo controla bem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Mas eacute um risco que muitos

humanitaacuterios correm correndo mesmo risco de vida rapto e abusos Ou seja o Estado

estaacute a falhar gravemente na proteccedilatildeo e garantia do acesso de ajuda humanitaacuteria agrave sua

populaccedilatildeo o que eacute por si soacute um problema circular num Estado fragilizado Ou seja o

Governo falha ao natildeo garantir a proteccedilatildeo do seu povo e em certos casos ao natildeo deixar as

organizaccedilotildees humanitaacuterias acederem a certos territoacuterios (JMEC 2017 Harmer 2008)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

61

No entanto o Primeiro-Ministro do Sudatildeo do Sul Martin Elia Lamuro negou ter

proibido o acesso dos humanitaacuterios aos territoacuterios cuja populaccedilatildeo enfrenta grandes

necessidades afirmando pelo contraacuterio que se tecircm mostrado recetivos agraves ONG OING e

OIG para a assistecircncia humanitaacuteria em qualquer territoacuterio acusando assim os oficiais

dos EUA de terem redigido relatoacuterios que faltam agrave verdade (Sudan Tribune 2017) Jaacute o

representante russo Petr Illichev das NU diz discordar da visatildeo dos EUA referindo que

a fome eacute devida agraves condiccedilotildees climateacutericas e natildeo devida a questotildees de seguranccedila O

Conselho de Seguranccedila tentou amenizar a situaccedilatildeo referindo que a emergecircncia

humanitaacuteria presente no Sudatildeo do Sul tem como principais culpados todas as partes

envolvidas no conflito Tambeacutem Joseph Mourn Majak Ngor Malok embaixador do

Sudatildeo do Sul nas Naccedilotildees Unidas referiu que natildeo se pode culpar o Governo pela fome e

que este vai fazer os impossiacuteveis trabalhando com a comunidade internacional para

fazer face a este problema Podemos pois constatar que mais que um problema de

seguranccedila o que os humanitaacuterios estatildeo a enfrentar eacute um problema poliacutetico de

bastidores dentro da comunidade internacional (Sudan Tribune 2017)

Como eacute possiacutevel constatar a seguranccedila e o acesso dos humanitaacuterios ao terreno eacute uma

questatildeo bastante complexa pois depende da autorizaccedilatildeo do Estado caso este aceite que

a ajuda humanitaacuteria seja fornecida em todo o territoacuterio que dela necessite e caso decida

proteger os humanitaacuterios Caso o Estado natildeo assegure a proteccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos

humanitaacuterios no acesso ao territoacuterio que necessite de assistecircncia humanitaacuteria os

humanitaacuterios vecircm-se na obrigaccedilatildeo de encontrar uma de quatro soluccedilotildees desistir da

missatildeo e abandonar o terreno arriscar e deslocarem-se aos territoacuterios sem proteccedilatildeo

correndo risco de vida contratar agecircncias militares privadas ou pedir escolta militar aos

peacekeepers

Os peacekeepers da UNMISS natildeo tecircm eles tambeacutem livre acesso a todos os locais no

Sudatildeo do Sul e satildeo vistos de certa forma como adversaacuterios pelo governo e satildeo

acusados de tomarem o partido de uma das partes das hostilidades privilegiando a

proteccedilatildeo ao grupo eacutetnico Nuer em detrimento das outras No entanto esta informaccedilatildeo

natildeo tem a leitura devida pois os peacekeepers protegem os dois lados da mesma forma

a questatildeo eacute que a maioria da populaccedilatildeo registada do POC (Establishment of Protection

of Civilians) eacute de origem eacutetnica Nuer Como consequecircncia desta desconfianccedila a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

62

UNMISS viu negado o seu acesso a determinados locais falhando assim a sua missatildeo a

de proteger os civis e a de proteger os humanitaacuterios (Wells 2017)

O Conselho de Seguranccedila eacute ainda acusado pelos peacekeepers de natildeo dar suporte

poliacutetico e material adequado para a situaccedilatildeo Mesmo apoacutes variados ataques graves aos

militares da UNMISS e agrave populaccedilatildeo o Conselho de Seguranccedila natildeo passou da ameaccedila de

sancionar o Sudatildeo do Sul A gravidade do problema chegou ao ponto de a UNMISS

sofrer ataques aos seus helicoacutepteros natildeo ter material agrave prova de bala tendo assim de

abandonar os meios aeacutereos O Conselho de Seguranccedila mais uma vez nada fez Esta

situaccedilatildeo colocou em causa o trabalho das organizaccedilotildees humanitaacuterias ou seja o acesso

das mesmas a locais de grande necessidade devido ao facto de natildeo poderem contar

mais com ajuda dos peacekeepers para aceder ao terreno (Wells 2017)

Justamente nas missotildees das NU no Sudatildeo do Sul tem-se verificado um fracasso pois

para aleacutem de serem acusados de tomarem partido pelo governo natildeo conseguem

assegurar a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e de deslocados internamente

verificando-se assim em 2013 um aumento da violecircncia e ataques aos campos de

refugiados e deslocados internamente Um dos objetivos da UNMISS eacute assegurar que os

civis consigam aceder agrave ajuda humanitaacuteria que garante os bens essenciais agrave

sobrevivecircncia gestatildeo dos campos de refugiados e outros apoios vitais no entanto a

seguranccedila natildeo eacute assegurada natildeo sendo possiacutevel aos humanitaacuterios assegurar a ajuda

humanitaacuteria agravando-se assim os conflitos (Rolandsen et al 2015)

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar

Segundo Rolandson et al (2015) uma das missotildees que cabe aos peacekeepers eacute

precisamente garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios principalmente em paiacuteses onde

existe uma falta de seguranccedila e proteccedilatildeo aos humanitaacuterios Essa proteccedilatildeo pode ser

realizada atraveacutes de escolta militar direta no caminho para o terreno por via terrestre

aeacuterea ou mariacutetima sendo a via aeacuterea a mais conveniente caso seja necessaacuterio

transportar uma grande quantidade de mercadoria e assim garantir que chega ao destino

intacta Podem ainda garantir a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e deslocados

internamente bem como proteger os bens e as instalaccedilotildees humanitaacuterias (Rolandsen et

al 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

63

Pode verificar-se que as NU mais especificamente o OCHA tecircm vindo a trabalhar no

sentido de existir uma maior cooperaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e as operaccedilotildees de

peacekeeping no terreno de forma a que os humanitaacuterios sejam protegidos e a

assistecircncia humanitaacuteria prestada a toda a populaccedilatildeo independentemente de o territoacuterio

ser ou natildeo de grande perigo O problema desta cooperaccedilatildeo satildeo os princiacutepios

humanitaacuterios que divergem dos princiacutepios dos militares como jaacute foi referido Mas a

coexistecircncia existe eacute um facto havendo no caso do Sudatildeo do Sul um guia sobre como

devem os humanitaacuterios e militares interagir em que circunstacircncia deve ser feita a

escolta e quanto tempo deve durar essa proteccedilatildeoescolta O documento mencionado eacute

intitulado de Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the

United Nations Mission in South Sudan e foi elaborado pela UNMISS o HC e o HCT

(UNMISS e HC 2013)

Os humanitaacuterios viram-se forccedilados a cooperar com os peacekeepers da UNMISS e para

que esta missatildeo integrada funcionasse foi criado o guia de coordenaccedilatildeo entre os atores

humanitaacuterios e a UNMISS jaacute mencionado O guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo

Humanitaacuteria e a UNMISS eacute um documento elaborado a pedido do Humanitarian

Country Team (O HCT eacute um foacuterum estrateacutegico e operacional de tomada de decisatildeo e

supervisatildeo estabelecido e liderado pelo HC) A composiccedilatildeo inclui representantes da

ONU IOM OING a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho O HCT eacute tambeacutem

responsaacutevel por acordar questotildees estrateacutegicas comuns relacionadas com a accedilatildeo

humanitaacuteria (Humanitarian Response sd) em 2012Teve ainda a participaccedilatildeo do

grupo conselheiro militar que contem representantes da comunidade humanitaacuteria e da

UNMISS Eacute por isso um documento fidedigno O objetivo deste guia eacute substituir o SOP

de 2012 relativamente ao uso das forccedilas armadas e escolta militar e fornecer

indicaccedilotildees operacionais sobre a relaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS no Sudatildeo do

Sul de forma a evitar conflitos no terreno fortalecer a coordenaccedilatildeo das atividades

preservar o espaccedilo humanitaacuterio acesso e princiacutepios (HCT e UNMISS 2013 Harmer

2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que a UNMISS estaacute a ter ela proacuteprios problemas de acesso e deslocaccedilatildeo a

determinados locais em que o Estado natildeo ache pertinente a presenccedila dos peacekeepers

Pior em 2011 recusou o destacamento de mais 4000 peacekeepers para reforccedilar os

13500 peacekeepers no terreno com o argumento de que a situaccedilatildeo do conflito armado

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

64

estava a melhorar e natildeo haveria necessidade de destacar mais militares das NU e que o

destacamento de mais militares poria em causa a soberania do Estado O governo

argumentou ainda que tem capacidade para assegurar a proteccedilatildeo dos civis No entanto

apoacutes a ameaccedila das NU com um embargo de armas acabou por aceitar o destacamento

de mais militares Em dezembro de 2016 a Comissatildeo dos Direitos Humanos das NU

pediu urgentemente o destacamento de peacekeepers por causa de assassiacutenios eacutetnicos

(Wells 2016 Aljazeera 2017)

A UNMISS foi acusada por diversas organizaccedilotildees humanitaacuterias de falhar a sua missatildeo

devido agrave sua ineficaacutecia no terreno ou seja natildeo foi capaz de assegurar a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo nem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Todavia eacute preciso ser realista

pouco se pode fazer com um governo que limite o acesso dos peacekeepers a

determinados locais recuse que sejam destacados mais militares para o terreno e soacute

aceite em uacuteltima instacircncia mais destacamentos de militares para o terreno devido a uma

seacuterie de ameaccedilas (Aljazeera 2017 Wells 2016)

O problema eacute a incapacidade das NU e do Governo de assegurarem a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios No ataque de julho de 2016 os peacekeepers foram acusados de agirem

tarde demais de natildeo terem sido capazes de dar resposta e os EUA de natildeo avisarem as

ONG OING e OIG de que havia um perigo de ataque este erro teve como

consequecircncia a morte e violaccedilatildeo em massa dos humanitaacuterios sendo este ataque

considerado uma barbaacuterie Este acontecimento pode ser o despoletar da induacutestria das

agecircncias militares privadas podendo trazer consequecircncias nefastas a longo termo No

entanto segundo a investigaccedilatildeo independente agrave UNMISS requerida pelo Conselho de

Seguranccedila ficou estabelecido que a UNMISS agiu e fez todos os possiacuteveis para salvar

os civis embora esse natildeo seja o sentimento por parte dos humanitaacuterios (Grant 2016)

Segundo a carta enviada pelo Secretaacuterio Geral ao Conselho de Seguranccedila a 17 de abril

de 2017 (NU 2017) exatamente a reportar o ataque explicado anteriormente consta um

pedido de investigaccedilatildeo independente do ataque ocorrido a 23 de agosto de 2016 e

pretende-se verificar as accedilotildees da UNMISS em resposta ao ataque ocorrido apoacutes o inicio

das hostilidades a 8 e 11 de julho de 2016 contra os humanitaacuterios e contra civis tendo

este ataque ocorrido dentro ou nas proximidades das instalaccedilotildees da UNMISS em Juba

A UNMISS foi acusada pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias de ter sido ineficaz na

sua missatildeo de proteger as humanitaacuterias no terreno natildeo tendo os peacekeepers

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

65

respondido aos muitos pedidos de ajuda e proteccedilatildeo Os humanitaacuterios defendem ainda

que os peacekeepers sabiam do perigo existente de ataque e deveriam ter avisado de

forma a que evacuassem os humanitaacuterios e civis do territoacuterio em questatildeo (Grant 2016

UN 2017d)

No entanto foi averiguado pelo Conselho de Seguranccedila que a UNMISS nomeadamente

os peacekeepers fizeram tudo o que estava ao seu alcance para salvar e proteger civis

durante o massacre Tambeacutem foi averiguado que a UNMISS faz um excelente trabalho

de planeamento e preparaccedilatildeo da resposta para salvar civis As informaccedilotildees de

seguranccedila devem segundo o relatoacuterio do Conselho de Seguranccedila serem compartilhadas

pelos peacekeepers com a comunidade humanitaacuteria informaccedilotildees relativas ao terreno

com o foacuterum de forma a que cada um dos agentes saiba o perigo que estaacute a correr Por

isso a UNMISS deve informar quanto a procedimentos de estado de alerta

deslocalizaccedilatildeo e evacuaccedilatildeo pontos de concentraccedilatildeo em Juba refuacutegios designados rotas

aeacutereas de deslocalizaccedilatildeo principais ferramentas de seguranccedila procedimentos de

controle de acesso e o plano em resposta agrave proteccedilatildeo de incidentes civis entre outros

Segundo o Conselho de Seguranccedila estes procedimentos foram adotados embora as

ONG no terreno natildeo concordem com esta conclusatildeo (Grant 2016 UN 2017d)

No Sudatildeo do Sul tem-se verificado uma missatildeo integrada minimalista em que o

OCHA eacute o coordenador e o elo de ligaccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers e trabalha

de forma independente da missatildeo de paz das NU Esta poderaacute ser a melhor receita para

o caso do Sudatildeo do Sul No entanto eacute preciso ter em conta que a UNMISS tem falta de

militares destacados em terrenos problemaacuteticos podendo dificultar este tipo de missotildees

integradas minimalistas como se constatou anteriormente com a inaccedilatildeo dos

peacekeepers face ao ataque do campo de refugiados (Harmer 2017 Aljazeera 2017

Wells 2016)

Por isso podemos contatar que pelo menos no Sudatildeo do Sul existe uma coexistecircncia

bem coordenada e estruturada entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS atraveacutes da

existecircncia de um guia para coordenaccedilatildeo entre humanitaacuterios Eacute possiacutevel constatar

tambeacutem que existe uma preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e em

respeitar o espaccedilo humanitaacuterio na hora de garantir a sua proteccedilatildeoescolta A secccedilatildeo de

Aliacutevio (do Guia da UNMISS) Reintegraccedilatildeo e Proteccedilatildeo tem como principal missatildeo a

proteccedilatildeo de civis em bases da UNMISS e o apoio ao trabalho das organizaccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

66

humanitaacuterias no Sudatildeo Sul Haacute casos em que natildeo existe outra forma de garantir que o

acesso humanitaacuterio proteccedilatildeo e a assistecircncia sejam fornecidos sem ajuda dos

peacekeepers (HCT e UNMISS 2013)

Voltando ao Guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS eacute

reconhecido que as missotildees de peacekeeping das NU como a UNMISS tecircm um

mandato de cariz poliacutetico o que significa que podem tomar partido por uma das partes

das hostilidades e por isso natildeo serem consideradas neutras por todas as partes dentro

do Estado Tal significa uma incompatibilidade entre estes dois atores pois uma junccedilatildeo

da accedilatildeo humanitaacuteria agrave UNMISS poria em causa o mandato humanitaacuterio Eacute ainda

apresentada no documento a diferenccedila entre a assistecircncia militar ao governo (prover

gabinetes conselho e suporte ao governo do Sudatildeo do Sul em relaccedilatildeo agrave transiccedilatildeo

poliacutetica pela qual estava a passar no estabelecimento da autoridade poliacutetica) e a

assistecircncia militar agraves ONG humanitaacuterias (facilitar o acesso prover um ambiente seguro

para a assistecircncia humanitaacuteria bem como promover e monitorizar os Direitos

Humanos) O OCHA estabelece esta coordenaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a

UNMISS atraveacutes dos PCI (Projetos de curto impacto) O OCHA entra em contacto com

o JOC (Joint Operations Center) a niacutevel estatal atraveacutes do escritoacuterio estatal e do RCO

(Resident Coordinatoracutes Office) Os humanitaacuterios natildeo pedem diretamente ajuda militar

mas eacute o OCHA quem trata disso (HCT e UNMISS 2013)

O Sudatildeo do Sul eacute um caso em que a coexistecircncia eacute necessaacuteria para o sucesso tanto da

missatildeo da UNMISS como da accedilatildeo humanitaacuteria devido aos perigos de inseguranccedila

existentes sendo os humanitaacuterios alvos faacuteceis Esta coexistecircncia natildeo tem de ser

incompatiacutevel pois ambos tecircm o objetivo de poupar vidas Por isso nesta coexistecircncia

tem de ser respeitada a missatildeo de ambos sem nenhum dos dois se intrometer nas

atividades do outro minimizando assim o risco de conflito e competiccedilatildeo quando ambos

estatildeo a trabalhar na mesma aacuterea geograacutefica fazendo a clara distinccedilatildeo e separaccedilatildeo das

atividades humanitaacuterias poliacuteticas e militares (HCT e UNMISS 2013)

Portanto os atores humanitaacuterios natildeo satildeo incumbidos de seguir ou respeitar ordens

militares por militares e o contraacuterio O guia militar-civil natildeo aconselha a coabitaccedilatildeo de

humanitaacuterios e militares em situaccedilotildees de emergecircncias complexas No entanto no Sudatildeo

do Sul essa coabitaccedilatildeo por parte da UNMISS e de agecircncias das NU existe em Juba e em

certas capitais de Estado o que pode levar a uma perceccedilatildeo errada das restantes agecircncias

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

67

devido ao facto de uma ter adotado esta decisatildeo de coexistir no mesmo local que os

peacekeepers ou seja pode ter um efeito negativo na comunidade humanitaacuteria (HCT e

UNMISS 2013)

Segundo o guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS (HCT e

UNMISS 2013) deve ser feita uma distinccedilatildeo clara das atividades identidade funccedilotildees e

papeacuteis da accedilatildeo humanitaacuteria dos atores envolvidos na UNMISS Para fazerem esta

distinccedilatildeo devem respeitar os seguintes pontos

bull As armas nunca devem ser usadas em instalaccedilotildees humanitaacuterias e em contexto de

transporte para os locais em questatildeo

bull Deve ser feita a identificaccedilatildeo dos elementos da equipa dos bens de primeira

necessidade veiacuteculos instalaccedilotildees barcos e aviotildees Ou seja devem promover a

distinccedilatildeo das suas respetivas identidades de forma a que natildeo sejam confundidos com a

UNMISS (HCT e UNMISS 2013 pp 4)

Quanto ao uso de ativos e escoltaproteccedilatildeo militar eacute referido no guia que os atores

humanitaacuterios natildeo devem usar os ativos militares ou escoltaproteccedilatildeo militar a fim de

proteger a distinccedilatildeo e salvaguardar a separaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios O uso

dos ativos militares e escoltaproteccedilatildeo militar da UNMISS deve ser adotado em uacuteltimo

recurso e em circunstacircncias especiais uma vez reunidos determinados criteacuterios que

seratildeo explanados a seguir Qualquer decisatildeo quanto ao pedido dos atores humanitaacuterios

relativamente agrave escolta militar seraacute analisada caso-a-caso tendo em conta os ativos

disponiacuteveis custos e prioridades Os criteacuterios satildeo os seguintes

bull O objetivo da missatildeo eacute puramente humanitaacuterio e manteacutem o seu caraacuteter civil e

humanitaacuterio bem como o respeito dos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

bull Tem de haver uma necessidade urgente de ajuda humanitaacuteria natildeo existindo

alternativas para a substituiccedilatildeo no terreno

bull O uso da escolta militar eacute limitado no tempo e escala com uma estrateacutegia clara

de saiacuteda concordada entre os dois atores fora do pedido Natildeo poderaacute ainda

comprometer os atores humanitaacuterios a longo prazo na sua capacidade de poderem

operar de forma segura e efetiva (HCT e UNMISS 2013 pp 5)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

68

O OCHA tem ainda a responsabilidade de elaborar relatoacuterios sobre a escolta militar para

o Humanitarian Country Team e cabe tambeacutem ao OCHA analisar os casos juntamente

com a JOC em especifico para o caso do Sudatildeo do Sul para que tudo corra bem Caso

haja escolta militar os humanitaacuterios devem seguir num veiacuteculo diferente dos militares

da UNMISS que identifique bem que satildeo humanitaacuterios e natildeo militares que satildeo

transportados no veiacuteculo Desta forma a populaccedilatildeo natildeo confundiraacute o pessoal

humanitaacuterio com o pessoal militar Caso haja necessidade de proteccedilatildeo num determinado

local necessidade de reparaccedilatildeo de estradas proteccedilatildeo dos bens e pessoal humanitaacuterio as

ONG devem entrar em contacto com o OCHA afim de requerer a ajuda da UNMISS

Um dos objetivos da UNMISS eacute garantir um ambiente seguro para facilitar o acesso dos

humanitaacuterios aos locais para que estes consigam prestar apoio agrave populaccedilatildeo A UNMISS

natildeo deve usar as instalaccedilotildees humanitaacuterias e vice-versa no entanto em caso de urgente

necessidade deve tal ser analisado caso a caso pelo OCHA ponderando sobre as

instalaccedilotildees disponiacuteveis urgecircncia capacidade e prioridades O mesmo vale para a

evacuaccedilatildeo de pessoal meacutedico e humanitaacuterios em caso de elevada emergecircncia (HCT e

UNMISS 2013 pp 4)

Outro assunto relevante tratado neste guia eacute a partilha de informaccedilatildeo entre os elementos

da UNMISS e os humanitaacuterios pois estes dois elementos devem e tecircm de partilhar

muita informaccedilatildeo de forma atempada e eficiente para coordenar as respetivas

atividades As informaccedilotildees que devem ser partilhadas satildeo as seguintes

bull Informaccedilotildees sobre o tipo de assistecircncia e atividades humanitaacuterias estatildeo a

planear eou vatildeo realizar

bull Informaccedilotildees sobre atividades da UNMISS relevantes para os atores

humanitaacuterios como por exemplo sobre ameaccedilas e seguranccedila do pessoal humanitaacuterio ou

da UNMISS no terreno ou sobre ameaccedilas aos civis

bull Informaccedilotildees sobre atividades mineiras aacutereas minadas e locais com minas por

explodir As viacutetimas e a populaccedilatildeo em geral deveratildeo ser informadas e educadas para os

riscos inerentes (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

No entanto existem informaccedilotildees confidenciais que natildeo deveratildeo em momento algum

ser partilhadas tanto com o pessoal humanitaacuterio como com a UNMISS informaccedilotildees que

podem comprometer a identidade da viacutetima expondo assim o individuo ou um grupo de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

69

indiviacuteduos a um potencial risco principalmente se a viacutetima tiver sofrido crimes contra

os Direitos Humanos (HCT e UNMISS 2013 pp)

Este guia deve ser estudado de forma a que seja aplicado corretamente e os princiacutepios

da UNMISS e dos humanitaacuterios respeitados no terreno evitando potenciais conflitos A

UNMISS ficou incumbida de formar a comunidade humanitaacuteria relativamente ao seu

mandato trabalho e objetivos no terreno em conjunto com o OCHA que representa as

organizaccedilotildees humanitaacuterias e a sua relaccedilatildeo com a UNMISS Eacute ainda recomendado o

treino de ambos para os Direitos Humanos proteccedilatildeo de civis e o Direito Internacional

Humanitaacuterio (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

O CR (conciliation resources) e o ARP (applied research program) satildeo duas partes

funcionais da missatildeo que apoiam as organizaccedilotildees humanitaacuterias fornecendo apoio a niacutevel

de logiacutestica seguranccedila proteccedilatildeo da populaccedilatildeo relocaccedilatildeo do pessoal humanitaacuterio bem

como os deslocados internamente dando informaccedilotildees relativamente aos locais mais

seguros para se reinstalarem e caso necessaacuterio protegendo a instalaccedilatildeo onde residem os

deslocados internamente refugiados e humanitaacuterios Esta coexistecircncia entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias natildeo tem vindo a revelar-se eficaz no contexto do Sudatildeo do

Sul pois os humanitaacuterios embora consigam trabalhar e deslocar-se para certos locais

perigosos o que sem o apoio da UNMISS natildeo seria possiacutevel a UNMISS natildeo foi capaz

de assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios em 2016 aquando do ataque No entanto e

como jaacute foi referido anteriormente esta colaboraccedilatildeo deve ser realizada para casos

pontuais tendo de ser pedida a autorizaccedilatildeo ao OCHA e em uacuteltimo recurso atraveacutes de

projetos de curto impacto (UNMISS 2017 e HCT UNMISS 2013)

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos

humanitaacuterios

Agrave luz da anaacutelise do caso do Sudatildeo do Sul a questatildeo que se levanta neste subtema eacute

essencialmente a de apurar qual o recurso que deve ser usado pelas organizaccedilotildees

humanitaacuterias em situaccedilatildeo de elevado perigo em que o acesso ao local em que a

populaccedilatildeo estaacute a enfrentar grandes necessidades pode representar perigo de vida

precisando assim de uma proteccedilatildeoescolta militar para realizar o trajeto ao local Eacute

preciso desde jaacute dizer que ambas as opccedilotildees tecircm pontos positivos e negativos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

70

O recurso aos peacekeepers pode ser visto como a melhor opccedilatildeo possiacutevel pois

partilham os valores essenciais com os humanitaacuterios salvar vidas e a imparcialidade

No entanto tecircm sido acusados de natildeo agirem atempadamente face agraves ameaccedilas e ataques

perpetrados sobre humanitaacuterios ou seja de falharem a sua missatildeo de garantir a proteccedilatildeo

aos humanitaacuterios que faz parte da sua missatildeo e consta do guia elaborado para a

coexistecircncia no terreno Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors

and the United Nations Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) Em 2016

houve o jaacute referido ataque no Sudatildeo do Sul a humanitaacuterios que natildeo haviam sido

avisados do perigo eminente nem apareceram militares a garantir a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo e dos humanitaacuterios Ou seja eacute possiacutevel concluir que a proteccedilatildeo fornecida

pela UNMISS natildeo eacute a mais eficaz no terreno devido agraves fragilidades que a proacutepria

missatildeo tem vindo a sentir no terreno (Adongo 2017 Grant 2016)

No entanto parece que este caso algo mediatizado acordou a comunidade

internacional Consta no artigo da UNMISS Humanitarian Aid Restored In Aburoc

Folloing Deployment of UNMISS Peacekeepers (Adongo 2017) que soacute foi possiacutevel as

ONG OING e OIG humanitaacuterias regressaram para fornecer ajuda humanitaacuteria em

Malakal devido ao desdobramento dos peacekeepers para a regiatildeo de Aburoc Upper

Nile regiatildeo que as agecircncias humanitaacuterias haviam abandonado devido agrave elevada

inseguranccedila O que confirma o que foi dito ao longo da dissertaccedilatildeo sem seguranccedila no

Sudatildeo do Sul os humanitaacuterios natildeo conseguem operar no terreno tendo de terminar a

missatildeo caso contraacuterio seria colocar as suas vidas em risco (Adongo 2017 e Grant

2016)

Estima-se que durante o recente conflito que levou as agecircncias humanitaacuterias a sair do

local tenha havido 20 000 deslocados internos a fugir ficando sem abrigo Com o

regresso das agecircncias humanitaacuterias foi possiacutevel dar abrigo a 4200 famiacutelias dos campos

de refugiados Outras agecircncias tecircm fornecido ajuda humanitaacuteria mais urgente como

aacutegua potaacutevel que eacute escassa e de difiacutecil acesso sendo necessaacuterios militares peacekeepers

para proteger os principais postos de abastecimento de aacutegua O chefe de campo da

UNMISS em Malakal Hazel de Wet levou a sua equipa a inspecionar o desdobramento

das tropas em Aburoc e a equipa comprometeu-se tambeacutem com as autoridades locais no

terreno relativamente agrave estrateacutegia de apoio agrave assistecircncia humanitaacuteria sendo neste

momento a prioridade dos peacekeepers garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e o seu

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

71

acesso de modo a que a assistecircncia humanitaacuteria chegue a todos A UNMISS reconhece

que eacute essencial fazer com que a assistecircncia humanitaacuteria chegue agrave populaccedilatildeo em

necessidade urgente de comida aacutegua mantimentos e abrigo Soacute fornecendo assistecircncia

humanitaacuteria suprindo as necessidades baacutesicas eacute que eacute possiacutevel resolver os problemas

poliacuteticos tornar a paz duradoura e pensar no desenvolvimento Mas para conseguir esta

harmonia eacute essencial que as operaccedilotildees de peacekeeping se tornem efetivamente mais

ldquomusculadasrdquo como referido por Pinto (2005) para fazer face agraves novas realidades e

adversidades encontradas no terreno Natildeo basta a presenccedila militar tecircm de conseguir

garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios (Adongo 2017)

Os humanitaacuterios tecircm manifestado preferecircncia pelo menos no que diz respeito ao caso

do Sudatildeo do Sul pela escoltaproteccedilatildeo militar fornecida pela UNMISS sendo que se

estabeleceu um guia de cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS conforme referido

acima Este guia eacute um dos motivos para a preferecircncia pelos peacekeepers para a escolta

e proteccedilatildeo pois os humanitaacuterios e militares sabem como agir em que circunstacircncias

conceder e pedir essa proteccedilatildeo e quando deve terminar essa cooperaccedilatildeo no terreno Tal

natildeo existe nas agecircncias militares privadas jaacute que uma vez contratadas o viacutenculo

permanece ateacute ao fim da missatildeo ou contrato e pode haver problemas no terreno entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias e agecircncias militares privadas que poderatildeo representar

problemas seacuterios acresce que os humanitaacuterios natildeo estatildeo preparados para coordenar e

liderar este tipo de agecircncias Ao inveacutes no caso da proteccedilatildeoescolta garantida pela

UNMISS as ONG OING e OIG podem caso a cooperaccedilatildeo natildeo esteja a ser bem-

sucedida reportar a sua insatisfaccedilatildeo e levar a que sejam averiguados os motivos Tal

aconteceu com o ataque aos humanitaacuterios jaacute referido anteriormente A UNMISS foi

questionada e foi feita uma averiguaccedilatildeo pelo Conselho de Seguranccedila para verificar se

houve de facto negligecircncia por parte dos militares Com as agecircncias militares privadas

tal natildeo eacute possiacutevel conforme foi mencionado estes militares tecircm carta branca no terreno

Logo existe mais seguranccedila em cooperar com a UNMISS (HCT e UNMISS 2013 UN

2017d)

Eacute por este motivo que ainda se verifica uma certa resistecircncia por parte de algumas ONG

e OING a recrutar agecircncias militares privadas No entanto e devido agrave necessidade de

celeridade para obter a proteccedilatildeo o recrutamento tem vindo a aumentar no terreno Eacute

neste ponto que as agecircncias militares privadas apresentam vantagens jaacute que natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

72

existem problemas a niacutevel burocraacutetico o que permite partir mais cedo para o terreno e

satildeo mais baratas no caso de serem as agecircncias das NU como a UNICEF e o ACNUR

entre outros a contratar Jaacute o processo de pedido de proteccedilatildeo e escolta militar agrave

UNMISS eacute muito moroso natildeo fazendo face ao problema no imediato (Newton sd)

Estas agecircncias podem ainda garantir que as organizaccedilotildees humanitaacuterias mantecircm a sua

independecircncia relativamente ao Estado neutralidade quanto ao conflito e

imparcialidade no tratamento das pessoas Todavia antes da contrataccedilatildeo deveria ser

requerido o cadastro criminal se existir e se possiacutevel para avaliar se existe algum

antecedente problemaacutetico como por exemplo algum incidente de racismo enquanto

militar no ativo para que haja uma seleccedilatildeo rigorosa das agecircncias a recrutar e dos

militares que integram essa mesma agecircncia desta forma o risco de contratar militares

que tenham cometido atos criminosos e racistas no terreno satildeo menores logo seraacute

menor o risco de haver problemas no terreno (Newton sd Michael et al 2014)

Ou seja as agecircncias militares privadas podem ser uma ajuda fundamental no caso do

Sudatildeo do Sul para a seguranccedila e proteccedilatildeo de ONG OING OIG campos de refugiados

e de deslocados internamente Mas tambeacutem podem ser uma boa alavanca para a

pacificaccedilatildeo do territoacuterio ou seja uma ajuda para a UNMISS e custam menos recursos

financeiros que contratar e solicitar aos Estados mais militares para integrar a missatildeo de

peacekeeping (Newton sd)

Neste momento a melhor opccedilatildeo eacute a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as organizaccedilotildees

humanitaacuterias pois jaacute existe um guia intitulado de que explica em que circunstacircncias

quanto tempo e como deve ser feito pedido de ajuda e a proteccedilatildeoescolta concretizada

Ou seja existem regras a cumprir medidas de prevenccedilatildeo para que natildeo haja choque

entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS no terreno e como deve ser feita a distinccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares Para as agecircncias militares privadas natildeo existem regras de accedilatildeo

conduta ou execuccedilatildeo das suas funccedilotildees tornando a sua presenccedila no terreno um perigo

devido ao vazio legal embora seja mais barato e mais raacutepido em termos de burocracia

contratar estas agecircncias Os militares das agecircncias militares privadas devem ainda estar

devidamente identificados no terreno de forma a que natildeo suscitem confusotildees com os

militares das operaccedilotildees de peacekeeping (Stoddard Harmer e DiDomenico 2008

Newton sd Michael et al 2014 HCT e UNMISS 2012)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

73

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas

Enquanto o Sudatildeo do Sul estiver a atravessar momentos de grande instabilidade poliacutetica

e um conflito armado de grande inseguranccedila e perigo para os civis refugiados e

deslocados internamente natildeo existe uma alternativa viaacutevel para este caso em questatildeo O

governo do Sudatildeo do Sul natildeo consegue assegurar seguranccedila proteccedilatildeo e acesso seguro

aos humanitaacuterios a locais de grande emergecircncia humanitaacuteria locais onde natildeo existe

aacutegua potaacutevel existe falta de comida medicamentos abrigo e meacutedicos Um local como

este eacute difiacutecil de ser pacificado como eacute sabido a aacutegua eacute um dos principais motivos de

guerra no mundo aliando isso a conflitos eacutetnicos e poliacuteticos torna esta guerra numa

difiacutecil de acabar uma guerra endeacutemica (Kaldor 2007) Pior o governo foi acusado de

travar o acesso da ajuda humanitaacuteria a determinados locais Quando o proacuteprio Estado eacute

o perpetrador de atrocidades e nega o acesso da ajuda humanitaacuteria isto quer dizer que a

comunidade humanitaacuteria estaacute por sua conta (Harmer 2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que como pudemos verificar os peacekeepers da UNMISS natildeo

conseguem ou tecircm dificuldade em assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios o que resultou

no massacre de humanitaacuterios em 2016 e foram mesmo acusados de terem

negligenciado a sua funccedilatildeo de proteccedilatildeo estabelecida no guia de cooperaccedilatildeo entre

OCHA e as organizaccedilotildees humanitaacuterias pois natildeo avisaram sequer que existia um perigo

eminente de ataque e que deveriam por isso retirar-se do terreno Ou seja eacute possiacutevel

concluir que esta cooperaccedilatildeo natildeo tem vindo a revelar-se eficaz os acessos continuam a

ser dificultados humanitaacuterios atacados e civis em sofrimento e a viver abaixo do limiar

da dignidade humana O que coloca a seguinte questatildeo valeraacute a pena correr o risco de

colocar em causa a imparcialidade e neutralidade pela proteccedilatildeo dos peacekeepers Eacute

difiacutecil de responder pois natildeo existe um modelo perfeito como alternativa quer agraves

agecircncias militares privadas quer agrave UNMISS (Grant 2016)

Por isso uma alternativa seria talvez tornar puacuteblico o uso das agecircncias militares

privadas pela comunidade internacional estabelecer guias rigorosos de recrutamento e

realizaccedilatildeo de contratos com as NU ou organizaccedilotildees humanitaacuterias que estabeleccedilam os

limites de atuaccedilatildeo quais as funccedilotildees que devem cumprir e que regulamentam a sua

funccedilatildeo Ou seja as agecircncias militares privadas precisam de constar do Direito

Internacional Humanitaacuterio Uma vez a parte legal resolvida seraacute mais faacutecil trabalhar o

setor puacuteblico com o setor privado que engloba ONG e agecircncias militares privadas de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

74

forma a que a accedilatildeo humanitaacuteria seja realizada em seguranccedila e chegue a todos os que

necessitem dela No entanto o tornar as agecircncias privadas regulamentadas na aacuterea da

accedilatildeo humanitaacuteria poderaacute tornaacute-las um grande negoacutecio tendo como consequecircncia

prejudicar dos conflitos como garantia de trabalho para estas agecircncias Por outro lado

haveria um escrutiacutenio na hora de selecionar as agecircncias para que houvesse uma

probabilidade miacutenima destes efetuarem crimes no terreno (Newton sd Harmer 2008 e

MAcArthur 2016 HCT e UNMISS 2013)

Por uacuteltimo poderia existir ainda a opccedilatildeo de usar as missotildees de peace enforcement sob o

princiacutepio da responsabilidade de proteger como veiacuteculo para a accedilatildeo humanitaacuteria pois

neste contexto natildeo se colocariam as questotildees relativas agrave neutralidade e agrave imparcialidade

da forma usual uma vez que o mandato dos militares eacute mais vasto no que ao uso da

forccedila respeita No entanto para o caso do Sudatildeo do Sul seria difiacutecil aplicar uma

intervenccedilatildeo humanitaacuteria ao abrigo da responsabilidade de proteger e violar o princiacutepio

da natildeo ingerecircncia O Sudatildeo do Sul natildeo cumpre todos os requisitos pois natildeo eacute um

conflito armado internacional e o massacre natildeo eacute visto como um genociacutedio Existe sim

uma guerra endeacutemica tentativa de limpeza racial e crimes contra os direitos humanos

Em suma a comunidade internacional haveria de fazer mais para travar o massacre e

proteger a populaccedilatildeo e os humanitaacuterios no terreno Existe jaacute um guia de colaboraccedilatildeo

entre a UNMISS e as ONG OING e OIG mas isso apenas natildeo chega Eacute preciso fazer

mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

75

Conclusatildeo

Como foi possiacutevel constatar ao longo de toda a dissertaccedilatildeo a escolta militar eacute um tema

de extrema complexidade que coloca em causa os princiacutepios humanitaacuterios consagrados

pela Cruz Vermelha Por outro lado existe a necessidade de proteger a missatildeo

humanitaacuteria e os proacuteprios humanitaacuterios no terreno os quais como foi sendo verificado

tecircm vindo a sofrer ataques raptos e assassinatos devido agrave incapacidade ou indiferenccedila

do Estado onde estaacute a ser prestado o apoio humanitaacuterio das ONG OING e OIG A

comunidade internacional natildeo consegue operar de forma eficaz no terreno sem ter

seguranccedila e proteccedilatildeo que deveria ser dada pelo governo do Estado em causa Todavia

caso o governo natildeo tenha capacidade ou natildeo queira garantir essa proteccedilatildeo cabe agrave

comunidade internacional garantir que a populaccedilatildeo desse territoacuterio seja protegida

Uma vez que um governo natildeo assegure essa proteccedilatildeo os humanitaacuterios vecircem-se numa

situaccedilatildeo complexa respeitar os princiacutepios humanitaacuterios ou correr risco de vida Muitos

preferem como foi possiacutevel verificar ao longo da dissertaccedilatildeo correr risco de vida A

independecircncia a imparcialidade e a neutralidade satildeo muito importantes para o sucesso

das missotildees humanitaacuterias Sem independecircncia podem ver o seu acesso a determinados

locais barrados e por conseguinte natildeo tratar determinada populaccedilatildeo o que significa

perder a imparcialidade mesmo que de forma involuntaacuteria Por fim podem ser

associados a uma das partes das hostilidades e por isso perder a neutralidade aos olhos

da populaccedilatildeo local

Foram abordadas diversas formas de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios atraveacutes dos

peacekeepers por exemplo tomando como modelo um guia elaborado especificamente

para as missotildees no Sudatildeo do Sul O guia especifica quando deve ser requerida a escolta

e proteccedilatildeo quando a parceria deve acabar e em que circunstacircncias devem ser feitas a

escolta e o pedido Foram abordadas as missotildees integradas maximalistas (partilham do

mesmo mandato das NU peacekeeping e ONG OING e OIG) ou minimalistas

(UNMISS e ONG OING e OIG cooperam em conjunto pontualmente sem

interferecircncia das NU e sob supervisatildeo do OCHA) sendo que a OXFAM aceita melhor a

missatildeo integrada minimalista sob determinadas regras os princiacutepios humanitaacuterios

devem prevalecer os humanitaacuterios natildeo devem ser envolvidos em assuntos poliacuteticos e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

76

natildeo devem ser associados aos militares Este tipo de missatildeo parece ser a melhor opccedilatildeo

possiacutevel para garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios

Foi tambeacutem abordada a possibilidade de contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas

uma opccedilatildeo raacutepida isenta de burocracias e possivelmente eficaz pois natildeo tem os

mesmos constrangimentos dos peacekeepers no uso da forccedila Mas haacute o problema do

vazio legal que eacute uma espeacutecie de carta em branco para os militares destas agecircncias

poderem cometer crimes e a maior parte destas agecircncias conteacutem militares locais que o

podem fazer e natildeo serem julgados por isso Por outro lado estes militares natildeo tecircm

direito ao estatuto de combatentes de guerra nas Convenccedilotildees de Genebra

Deveria uma vez que as NU contratam este tipo de agecircncias militares privadas

regulamentar-se a atividade no seio do DIH de forma a que estas agecircncias operassem

ao abrigo da lei tendo por isso direitos e deveres a cumprir no terreno e seriam

julgados por crimes de guerra caso cometessem algum Deveria tambeacutem ser redigido e

publicado um guia onde sejam estabelecidas as regras de uma boa colaboraccedilatildeo entre as

ONG OING e OIG no terreno constando os direitos dos colaboradores das agecircncias e

seus deveres Neste caso este tipo de agecircncias poderia ser uma oacutetima ajuda aliada de

comunidade internacional e humanitaacuteria para a pacificaccedilatildeo mitigaccedilatildeo do conflito e para

suprir as necessidades mais baacutesicas da populaccedilatildeo em necessidade e sofrimento que vive

no limiar da pobreza e que vecirc os seus Direitos Humanos serem desrespeitados

Por uacuteltimo existe a possibilidade de se obter seguranccedila atraveacutes de escolta em missotildees

orientadas pela responsabilidade de proteger sob termos semelhantes aos do Guia de

colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers mas claro com a diferenccedila de que neste

caso os militares podem oferecer uma proteccedilatildeo mais eficaz pois podem fazer uso da

forccedila de forma diferente da dos peacekeepers tradicionais que soacute fazem o uso da forccedila

para autodefesa e defesa do mandato A responsabilidade de proteger tem como objetivo

principal acabar com genociacutedios os crimes contra a humanidade ou seja casos

extremos e pode fazer o uso da forccedila sem consentimento do Estado alvo da intervenccedilatildeo

Jaacute as operaccedilotildees de peacekeeping satildeo missotildees que tecircm um papel de estabilizar de

proteccedilatildeo mais ligado agrave reestruturaccedilatildeo do Estado apoiando as declaraccedilotildees de paz e o

bom decorrer das negociaccedilotildees de paz O uso da forccedila eacute mais limitado Os peacekeepers

tecircm-se revelado ineficazes na proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e alvos de criacutetica Na

responsabilidade de proteger o propoacutesito eacute proteger os civis e natildeo acompanhar o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

77

governo ou restabelecer e reconstruir o aparelho do poder por isso natildeo existe o

problema da imparcialidade como na missatildeo UNMISS por exemplo ou a sobrecarga de

responsabilidades dos militares da UNMISS

O peace enforcement ao abrigo do R2P como soluccedilatildeo para garantir a proteccedilatildeo e

seguranccedila dos humanitaacuterios deve pois ser amplamente analisado discutido e somente

decidido se as vantagens forem maiores que as desvantagens Como referido a

cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao abrigo do R2P no

Sri Lanka natildeo foi bem-sucedida Os humanitaacuterios viram o seu acesso a determinados

locais restringido e ateacute em alguns casos viram a sua permanecircncia posta em causa

tendo de terminar a sua missatildeo e regressar Ou seja deixaram de ser vistos como

neutros pelo Estado e as organizaccedilotildees humanitaacuterias que colaboraram com os militares

do peace enforcement viram-se politizados o que natildeo era suposto

A conclusatildeo que pode ser retirada eacute que natildeo existe um modelo ideal que natildeo coloque

em risco os princiacutepios humanitaacuterios em contexto de conflito para assegurar a seguranccedila

dos humanitaacuterios mas sim um modelo preferencial e outras alternativas como a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas Ou seja deveraacute ser escolhido o mal menor

logo a opccedilatildeo que menos danos cause tanto agrave comunidade humanitaacuteria como aos

proacuteprios militares e agrave missatildeo humanitaacuteria em si

Neste momento seria preferencial o modelo de cooperaccedilatildeo entre as NU as ONG

OING e OIG como foi estabelecido com a UNMISS no terreno no Sudatildeo do Sul Se se

seguir o Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United

Nations Mission in South Sudan elaborado pelas NU em conjunto com o OCHA HCT

e as ONG e OING os riscos seratildeo miacutenimos comparados com a contrataccedilatildeo de militares

de agecircncias militares privadas

Eacute verdade que existe ainda uma certa resistecircncia por parte da comunidade internacional

a optar pelas missotildees integradas se bem que existe mais resistecircncia agraves missotildees

integradas maximalistas que agraves missotildees integradas estrateacutegicas ou minimalistas visto

que as missotildees maximalistas satildeo missotildees que visam que ONG e peacekeepers operem

sob o mesmo mandato sendo assim sujeitas agrave mesma hierarquia Jaacute a missatildeo

minimalista eacute ocasional ou seja quando eacute mesmo necessaacuterio e as ONG estatildeo sob a

coordenaccedilatildeo do OCHA e HCT respeitando bem a separaccedilatildeo da comunidade

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

78

humanitaacuteria dos militares Esta eacute tambeacutem uma boa alternativa agraves agecircncias militares

privadas uma vez adotadas regras claras do padratildeo do Guia de coordenaccedilatildeo entre a

UNMISS e as ONG OING humanitaacuterias no terreno

Esta dissertaccedilatildeo focou pois o Sudatildeo do Sul que eacute um caso complexo onde os

humanitaacuterios satildeo atacados incessantemente tendo de ser tomadas providecircncias A

comunidade humanitaacuteria natildeo poderaacute por isso ser tatildeo inflexiacutevel em relaccedilatildeo ao princiacutepio

da neutralidade numa situaccedilatildeo como a do Sudatildeo do Sul Para chegar a determinados

locais eacute preciso que a seguranccedila dos humanitaacuterios seja assegurada para chegar a Juba e

Jonglei e Aburoc por exemplo locais onde a inseguranccedila prevalece e onde os

humanitaacuterios correm grande risco Os humanitaacuterios tecircm neste caso de escolher entre a

vida e salvar vidas para se manterem fieis aos princiacutepios fundamentais

A colaboraccedilatildeo com a UNMISS tem sido fulcral neste caso para que os humanitaacuterios

possam exercer a sua missatildeo em seguranccedila e respeitando os princiacutepios fundamentais no

entanto a cooperaccedilatildeo natildeo eacute bem aceite ainda na comunidade humanitaacuteria No caso do

Sudatildeo do Sul a inseguranccedila dos humanitaacuterios leva a que os bens essenciais como a

aacutegua comida e medicamentos natildeo cheguem ao local sendo estes motivos de guerra

dificultando a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Em suma a accedilatildeo humanitaacuteria eacute fulcral para a

ajuda na pacificaccedilatildeo do Sudatildeo do Sul e outros paiacuteses Deveria por isso haver uma

conferecircncia referente aos princiacutepios humanitaacuterios e agrave seguranccedila e proteccedilatildeo da

comunidade humanitaacuteria em territoacuterios de elevada inseguranccedila jaacute que o Sudatildeo do Sul

natildeo eacute exceccedilatildeo eacute um caso de ldquoEstado fragilizadordquo onde a pacificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo

natildeo seratildeo possiacuteveis tambeacutem sem o sucesso da ajuda dos humanitaacuterios e o sucesso da

ajuda humanitaacuteria no terreno soacute eacute possiacutevel se for garantida a sua proteccedilatildeo e seguranccedila

As agecircncias militares privadas devem ser a ultima opccedilatildeo na equaccedilatildeo pois apresentam

mais riscos que vantagens e as agecircncias com permissatildeo para operar pelo Estado no

Sudatildeo do Sul tecircm como colaboradores ex-combatentes de guerra o que pode ser um

grande risco no terreno Sabe-se que o conflito no Sudatildeo do Sul tem origem eacutetnica

existe um oacutedio racial colocar ex-combatentes de guerra a operar com lsquocarta brancarsquo no

terreno pode originar mais crimes e descreacutedito das ONG OING e OIG

Em suma natildeo existe uma soluccedilatildeo perfeita para garantir a proteccedilatildeo e uma escolta militar

neutra e imparcial uma vez que os militares de qualquer forccedila armada sejam do

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

79

governo da missatildeo das NU ou de outro Estado dificilmente satildeo neutros o que pode

derivar para uma falta de imparcialidade Na teoria eacute possiacutevel fazer a distinccedilatildeo entre

militar e humanitaacuterio mas no terreno haacute dificuldades As ONG e OING vivenciam por

isso um grande dilema que urge resolver

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

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Page 2: Ação Humanitária e Missões de Paz no Terreno: O Caso do ... Araújo.pdf · ONU Organização das Nações Unidas ONG Organização Não Governamental OING Organização Internacional

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ii

Andrea Monique da Silva Arauacutejo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no

Terreno

O Caso do Sudatildeo do Sul

Universidade Fernando Pessoa

Porto

2017

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

iii

Andrea Monique da Silva Arauacutejo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no

Terreno

O Caso do Sudatildeo do Sul

______________________________

Trabalho apresentado agrave Universidade Fernando Pessoa

como parte dos requisitos para a obtenccedilatildeo do grau de mestre

em Accedilatildeo Humanitaacuteria Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento

sob orientaccedilatildeo da Professora Doutora Claacuteudia Ramos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

iv

Resumo

Na presente dissertaccedilatildeo satildeo abordados os principais problemas associados agrave escolta

militar a voluntaacuteriosprofissionais humanitaacuterios das ONG OING ou OIG A

problemaacutetica associada eacute o cumprimento por parte da comunidade humanitaacuteria dos

princiacutepios humanitaacuterios fundamentais da independecircncia neutralidade e imparcialidade

Ou seja o estudo centra-se na relaccedilatildeo entre humanitaacuterio e militar e nas consequecircncias

que podem advir daiacute como por exemplo desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

ONG OING ou OIG queda dos donativos ataques entre outros As questotildees centrais

satildeo as seguintes Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de

vida ou correcirc-lo ao respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente

Seraacute que eacute possiacutevel encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a

seguranccedila e proteccedilatildeo dos humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma

alternativa

Satildeo tambeacutem exploradas as diversas opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno sem colocar em causa os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios Por exemplo satildeo analisadas potenciais colaboraccedilotildees e atuais

colaboraccedilotildees com as operaccedilotildees de paz de peacekeeping peacebuilding e peace

enforcement as missotildees integradas e ainda seraacute explorada a opccedilatildeo da contrataccedilatildeo das

agecircncias militares privadas

A dissertaccedilatildeo assenta tambeacutem num estudo de caso sobre o Sudatildeo do Sul onde eacute

avaliada esta relaccedilatildeo militar-humanitaacuterio no terreno Conclui-se que no Sudatildeo do Sul

eacute necessaacuteria uma maior cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares no terreno de forma a

que seja garantida a proteccedilatildeo e seguranccedila aos humanitaacuterios e por conseguinte se

permita que as organizaccedilotildees humanitaacuterias consigam realizar o seu trabalho que eacute

fundamental para a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Como seraacute possiacutevel verificar as duas

soluccedilotildees que parecem mais seguras satildeo as missotildees integradas e escolta concedida no

acircmbito de missotildees sob a responsabilidade de proteger

Palavras-chave Escolta militar princiacutepios humanitaacuterios peacekeeping peacebuilding

peace enforcement seguranccedila comunidade humanitaacuteria missotildees integradas Sudatildeo do

Sul

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

v

Abstract

In this dissertation the main problems related to the military escort to NGO volunteers

humanitarian professionals OING or OIG are addressed The associated problem is the

compliance by the humanitarian community with the fundamental humanitarian

principles of independence neutrality and impartiality That is the study focuses on the

relationship between humanitarian and military personnel and the consequences that

may arise therefrom such as distrust of the population in relation to NGOs NGOI or

IGO dropping of donations attacks among others The core questions are Is better to

respect fundamental humanitarian principles in full Is it possible to find an alternative

to the military escort to ensure security protection of the humanitarian Are private

military agencies an alternative

In other words the various options that can guarantee humanitarian safety on the

ground without undermining the fundamental humanitarian principles are explored For

example potential collaboration and current collaboration with peacekeeping

peacebuilding operations peace enforcement integrated missions and the option of

hiring private military agencies will be explored

The dissertation is also based on a case study on South Sudan where this military-

humanitarian relationship is evaluated on the ground It is concluded that in South

Sudan there is a need for greater humanitarian-military cooperation on the ground in

order to ensure the protection and security of humanitarian aid and therefore to enable

humanitarian organizations to carry out their work which is fundamental to the

pacification of the territory The two solutions that seem most viable are the integrated

missions and escort given by humanitarian personnel under the mission of the

responsibility to protect

Keywords Military escort humanitarian principles peacekeeping peacebuilding

peace enforcement safety humanitarian community integrated missions Southern

Sudan

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vi

Dedicatoacuteria

Para os meus pais que tornaram possiacutevel

realizar este sonho e agrave minha prima de

coraccedilatildeo Rosa Santos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vii

Agradecimentos

Agradeccedilo aos meus pais por todo o apoio que me transmitiram ao longo do meu

percurso acadeacutemico e todas as aprendizagens que me transmitiram ao longo da vida

Agradeccedilo aos meus amigos pelo apoio incondicional carinho e pelos bons momentos

Agradeccedilo ao meu primo e agrave sua esposa que satildeo como irmatildeos para mim por todo o

amor compreensatildeo apoio e carinho Foram fundamentais ao longo do meu percurso

acadeacutemico e na minha formaccedilatildeo enquanto pessoa

Gostava de endereccedilar um agradecimento muito especial agrave Professora Claacuteudia Ramos

por tudo o que me ensinou ao longo do meu percurso acadeacutemico todo o empenho

dedicaccedilatildeo compreensatildeo exigecircncia disponibilidade e apoio Mas sobretudo gostava de

agradecer pelo incentivo e apoio nos momentos menos bons que ocorreram ao longo do

periacuteodo de redaccedilatildeo da dissertaccedilatildeo e por ter-me feito natildeo desistir em momento algum

de terminar o meu mestrado quando os momentos que estava a atravessar eram

momentos difiacuteceis

Agradeccedilo tambeacutem ao Professor Joatildeo Casqueira ao Professor Aacutelvaro Campelo agrave

Professora Teresa Toldy e ao Professor Paulo Vila Maior pela sabedoria que

partilharam ao longo de todo o meu percurso acadeacutemico que foi pautado por excelentes

professores

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

viii

Iacutendice

Resumo iv

Abstract v

Dedicatoacuteria vi

Agradecimentos vii

Iacutendice viii

Iacutendice de Figurashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip ix

Lista de Acroacutenimos x

Introduccedilatildeo 1

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria 10

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a abordagem

humanitaacuteria 21

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding 21

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar 23

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares 28

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno 40

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 48

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso 53

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul 53

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das ONG 59

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar 62

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 69

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas 73

Conclusatildeo 75

Bibliografia 80

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ix

Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terrenohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip43

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sulhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip53

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

x

Lista de Acroacutenimos

AMI Assistecircncia Meacutedica Internacional

AMP Agecircncias Militares privadas

CAI Conflito Armado Internacional

CANI Conflito Armado Natildeo Internacional

CERF Central Emergency Response Fund

CMOC Civil Military Operation Center

DIH Direito Internacional Humanitaacuterio

DDR Desarmamento Desmobilizaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo

DSL Defense System Limited

ECHO European Civil Protection and Aid Operations

HC Humanitarian Coordinator

HCT Humanitarian Country Team

ICRC International Comittee of Red Cross

IASC Inter-Agency Standing Committee

IAP Integrated Assessment and Planning

ICISS International Commission on Intervention and State Sovereignity

JOC Joint Operations Center

MSF Meacutedicos Sem Fronteiras

NU Naccedilotildees Unidas

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

OING Organizaccedilatildeo Internacional Natildeo Governamental

OCHA United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

OCDE Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econoacutemico

OFDA Office of US Foreign and Disaster Assistance

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

PCI Projetos de curto impacto

RESG Representante Especial do Secretaacuterio Geral

RCO Resident Coordinatoracutes Office

R2P Responsibility to protect

UE Uniatildeo Europeia

UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

UNMISS United Nation Missions for South Sudan

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF United Nations Childrenrsquos Fund

WFP World Food Programme

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

1

Introduccedilatildeo

Na presente dissertaccedilatildeo iraacute ser abordada a relaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a Accedilatildeo

Securitaacuteria como garante de proteccedilatildeo e escolta aos humanitaacuterios em situaccedilotildees de

elevado perigo podendo potencialmente colocar a missatildeo humanitaacuteria em causa devido

agrave dificuldade de acesso ao terreno A resposta humanitaacuteria eacute composta por trecircs fases A

primeira eacute o fornecimento dos bens essenciais como a aacutegua abrigo e alimentaccedilatildeo A

segunda eacute a ajuda agraves viacutetimas para recuperarem os seus meios de subsistecircncia bem como

a reconstruccedilatildeo das infraestruturas sociais e materiais baacutesicas Por uacuteltimo haacute a prevenccedilatildeo

de novas cataacutestrofes Logo a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal objetivo aliviar o

sofrimento humano de forma a que a populaccedilatildeo possa viver com dignidade e se salvem

vidas A accedilatildeo humanitaacuteria divide-se nas seguintes aacutereas a ajuda ao desenvolvimento a

defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda humanitaacuteria mais urgente

(OIKOS 2015 UNRIK 2014)

Jaacute a accedilatildeo securitaacuteria nomeadamente as lsquomissotildees de pazrsquo eacute predominantemente do tipo

militar tendo regra geral de ser pedida pelo Estado que estaacute a atravessar o conflito

como foi o caso do Ruanda Somaacutelia Sudatildeo do Sul entre outros As accedilotildees securitaacuterias

ao abrigo das missotildees de paz tecircm como objetivos fornecer assistecircncia e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados que a paz possa ser estabelecida e o genociacutedio

prevenido ou interrompido Dentro da accedilatildeo securitaacuteria encontram-se as operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mais extrema o peace enforcement O peace

enforcement pode ser ativado em casos extremos e ao abrigo do princiacutepio da

responsabilidade de proteger Ainda assim os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm

de se limitar a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para fazerem respeitar os

direitos humanos violados e fornecer assistecircncia ao povo local (Gordon1996 Bellamy

e Wheeler 2006 Massingham 2009 Weiss 2017)

A questatildeo central da investigaccedilatildeo eacute portanto a articulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o

militar em paiacuteses que estejam a passar por conflitos armados Sempre que os

profissionais humanitaacuterios estejam em paiacuteses em estado de guerra ou poacutes-guerra

poderatildeo sentir dificuldades na hora de aceder a locais onde a populaccedilatildeo necessite de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

2

mais ajuda devido ao facto de natildeo terem escolta militar para esse efeito Outro

problema eacute a possibilidade de haver confusatildeo dos humanitaacuterios com os militares e por

isso a populaccedilatildeo rejeitar a ajuda das organizaccedilotildees humanitaacuterias Portanto o foco do

tema da dissertaccedilatildeo eacute identificar a importacircncia do papel dos militares para o bom

desempenho dos profissionais humanitaacuterios

Ou seja o estudo centra-se nas consequecircncias que podem advir daiacute como por exemplo

desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves ONG OING ou OIG queda dos donativos

ataques entre outros Do ponto de vista praacutetico as questotildees centrais seratildeo as seguintes

Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de vida ou correcirc-lo e

respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente Seraacute que eacute possiacutevel

encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a seguranccedila e proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma alternativa

Nesta dissertaccedilatildeo constatar-se-aacute que existe um cruzamento entre a accedilatildeo humanitaacuteria

(humanitaacuterios) e o sistema securitaacuterio (militares) sendo os atores deste uacuteltimo

normalmente os membros das operaccedilotildees de peacekeeping peace enforcement ou a

componente policial e militar do peacebuiliding podendo ainda ocorrer haver no

terreno uma forccedila militar estatal como no caso de algumas intervenccedilotildees militares como

seraacute explicitado adiante Neste uacuteltimo caso soacute mesmo em uacuteltima circunstacircncia os

humanitaacuterios aceitariam a escolta de forma a natildeo perderem a sua imparcialidade e

independecircncia

As operaccedilotildees de peacekeeping satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas

tambeacutem para a proteccedilatildeo dos civis para assistir ao desarmamento agrave desmobilizaccedilatildeo e agrave

reintegraccedilatildeo de ex-combatentes para suportar a organizaccedilatildeo de eleiccedilotildees para proteger e

promover os direitos humanos e para ajudar na construccedilatildeo de um ldquoestado de direitorsquo

(rule of law) fazendo a ponte com as operaccedilotildees de peacebuilding no terreno e sendo os

seus atores parceiros ldquonaturaisrdquo dos humanitaacuterios no terreno (UN sda UN sdb)

As razotildees pelas quais foi escolhido este tema satildeo sobretudo motivaccedilotildees pessoais mas

tambeacutem a relevacircncia do mesmo para a construccedilatildeo do saber na aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria

cooperaccedilatildeo e desenvolvimento sobretudo na parte da accedilatildeo humanitaacuteria Explorar novos

caminhos e trabalhar novos paradigmas para a evoluccedilatildeo positiva da accedilatildeo das missotildees no

terreno eacute fulcral para o futuro da accedilatildeo humanitaacuteria ndash eacute urgente encontrar novas soluccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

3

para que os humanitaacuterios e os militares possam satisfazer as necessidades das

populaccedilotildees que residam em locais de conflito

Uma articulaccedilatildeo entre os humanitaacuterios e os membros de operaccedilotildees de peacekeeping ou

peacebuilding pode revelar-se importante para o sucesso das missotildees em que os

profissionais humanitaacuterios participam sobretudo se essas missotildees forem sediadas em

locais de tensatildeo aberta ou altamente conflituosos Para aleacutem da motivaccedilatildeo pessoal

explicada existe pois uma motivaccedilatildeo social sendo ela a de colaborar para alertar os

agentes responsaacuteveis pela accedilatildeo humanitaacuteria para as novas necessidades e desafios nesta

aacuterea de forma a contribuir mais e melhor na sociedade

Os objetivos do estudo ao abordar este tema satildeo explorar a relaccedilatildeo existente ou natildeo

entre o profissional humanitaacuterio e o militar bem como entender ateacute que ponto essa

relaccedilatildeo eacute ou natildeo beneacutefica para a eficaacutecia da accedilatildeo humanitaacuteria e se porventura coloca em

causa os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios que satildeo a imparcialidade neutralidade e

independecircncia Eacute pretendido tambeacutem explorar as vaacuterias opccedilotildees de obtenccedilatildeo de

seguranccedila e identificar as melhores opccedilotildees

No entanto o objetivo central eacute explorar as dinacircmicas de articulaccedilatildeo entre o

humanitaacuterio e o militar em missotildees humanitaacuterias nas suas diversas formas quer com a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas quer com o apoio dos peacekeepers ou

forccedilas militares do paiacutes que estaacute sob a ajuda humanitaacuteria e a accedilatildeo militar Dado o cariz

do mestrado em Accedilatildeo Humanitaacuteria que visa formar tambeacutem para a praacutetica de terreno

este objetivo afigura-se fundamental

O paradigma investigativo escolhido para a dissertaccedilatildeo eacute o qualitativo que assenta na

interpretaccedilatildeo de determinados fenoacutemenos de modo a construir uma nova visatildeo acerca

do tema de estudo A parte empiacuterica da dissertaccedilatildeo conta com um estudo de caso sobre

o Sudatildeo do Sul onde eacute analisada a interaccedilatildeoarticulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o militar

no terreno com recurso a anaacutelise bibliograacutefica e documental nomeadamente a anaacutelise

de um guia sobre missotildees integradas elaborado pela OXFAM que eacute o UN Integrated

Missions and Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations

Integrated Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) Conta tambeacutem com a

anaacutelise de um documento importante para o estudo do caso do Sudatildeo do Sul que eacute o

Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United Nations

Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) elaborado pelas Naccedilotildees Unidas (NU)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

4

em conjunto com ONG OING e OIG Este eacute um guia que iraacute explicar como deve ser

feita a cooperaccedilatildeo entre a comunidade humanitaacuteria e os peacekeepers no terreno

denominada tambeacutem de missatildeo integrada (minimalista ou maximalista conforme se

explicaraacute)

O motivo da escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso foi o facto de este ser um

Estado de elevada fragilidade onde a guerra civil natildeo aparenta ter um fim agrave vista Outro

motivo foi o nuacutemero crescente de humanitaacuterios atacados sequestrados e assassinados

no terreno o que torna o Sudatildeo do Sul um terreno perigoso para as ONG e OIG se

aventurarem sem que sejam garantidas as devidas condiccedilotildees de seguranccedila e proteccedilatildeo

dos humanitaacuterios O cerne da questatildeo eacute precisamente o facto de essa proteccedilatildeo e

seguranccedila natildeo serem garantidas no terreno pelo Estado que estaacute em conflito armado

natildeo sendo possiacutevel por vezes aos humanitaacuterios chegar a determinados locais por

elevado niacutevel de perigo de vida

Satildeo estes os motivos que justificaram a escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso

complementando assim a parte teoacuterica sobre o dilema dos princiacutepios humanitaacuterios e a

necessidade de proteccedilatildeo no terreno

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

5

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria nasceu com Henri Dunant tendo sido este a criar a Cruz Vermelha

apoacutes a batalha violenta de Solferino em 1859 Teraacute entatildeo uma estrutura composta de

associaccedilotildees pequenas adquirindo uma dimensatildeo sem-fronteiras Comeccedilou por ser

denominada de Comiteacute International de Secours aux Blesseacutes e em 1875 obteve o nome

pela qual eacute conhecida hoje Cruz Vermelha ou Croix Rouge Tinha como principal

objetivo tratar os prisioneiros e feridos de guerra independentemente do lado pelo qual

lutavam Ou seja Dunan apoacutes assistir aos horrores daquela batalha decidiu criar uma

organizaccedilatildeo que tratasse todos os feridos independentemente da raccedila religiatildeo

ideologia cor crenccedila ou etnia (Schaumoff 2011 Crisp 2008)

A Cruz Vermelha comeccedilou por basear-se em trecircs pilares fundamentais que satildeo a

neutralidade a independecircncia da organizaccedilatildeo permanente de socorros e uma convenccedilatildeo

internacional para a proteccedilatildeo dos feridos A accedilatildeo humanitaacuteria tinha e tem como

principal objetivo alivar o sofrimento restabelecer a dignidade e humanidade Estes trecircs

pilares foram rapidamente adotados pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias (Schaumoff

2011 Crisp 2008 Hammond 2015) Em 1965 em Viena a Cruz Vermelha proclamou

os seus sete princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

Independecircncia todas as ONG e OIG devem ser independentes relativamente a qualquer

instituiccedilatildeo Estado ou outro sistema governamental a fim de se poderem movimentar e

agir de acordo com os seus princiacutepios e natildeo sob pressatildeo da entidade da qual dependem

monetariamente ou securitariamente Ou seja a accedilatildeo humanitaacuteria deve ser praticada de

forma autoacutenoma e independente dos agentes poliacuteticos e militares (Hisamoto 2012

IFRCC sd)

Imparcialidade todos devem ser tratados de igual forma independentemente da tribo

etnia da cor do sexo da religiatildeo de ideologia poliacutetica e do geacutenero (IFRCC sd CVP

2017a)

Neutralidade as OIG e ONG devem abster-se de tomar parte em hostilidades ou em

controveacutersias de ordem poliacutetica racial filosoacutefica ou religiosa (IFRCC sd CVP

2017a)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

6

Humanidade este princiacutepio estabelece que todos os feridos devem ser auxiliados dentro

e fora do campo de batalha o sofrimento deve ser aliviado independentemente das

circunstacircncias a vida e a sauacutede devem ser protegidas deve ser promovido o respeito

pela pessoa humana e deve ser favorecida a compreensatildeo a cooperaccedilatildeo e a paz

duradoura entre os povos (IFRCC sd CVP 2017a)

Voluntariado todas as OIG e ONG devem agir de forma voluntaacuteria e desinteressada

(IFRCC sd CVP 2017a)

Unidade a Cruz Vermelha eacute uma soacute podendo em cada paiacutes existir somente sociedades

abertas a todos estendendo assim a sua accedilatildeo humanitaacuteria a todo o territoacuterio nacional

No entanto este princiacutepio eacute estendiacutevel a toda a comunidade humanitaacuteria que deve agir

como uma soacute entreajudando-se e cumprindo o dever de salvar vidas e aliviar o

sofrimento humano (IFRCC sd CVP 2017a)

Universalidade a Cruz Vermelha eacute uma instituiccedilatildeo com cariz universal no seio de

todas as Sociedades Nacionais todas tecircm direitos e deveres iguais de entreajuda o

mesmo princiacutepio vale para as restantes organizaccedilotildees intergovernamentais ou natildeo

governamentais (IFRCC sd CVP 2017a)

Em 1949 foram criadas as Quatro Convenccedilotildees de Genebra e posteriormente os

respetivos protocolos que satildeo de 1977 e satildeo a base do Direito Internacional

Humanitaacuterio onde eacute determinado o tratamento dos soldados e civis durante os conflitos

armados internacionais e natildeo internacionais (CVP 2017b Jurkowski 2017)

A primeira Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos e dos doentes das

Forccedilas Armadas em campanha Aqui eacute estabelecido como devem ser tratados os feridos

e doentes das forccedilas armadas respeitando sempre os princiacutepios fundamentais mais

importantes da accedilatildeo humanitaacuteria que satildeo a neutralidade e imparcialidade Ou seja todo

o doente ou ferido deve ser tratado independentemente da sua cor raccedila credo feacute

religiatildeo geacutenero ideologias poliacuteticas etnias e quer faccedila parte de uma ou outra parte das

hostilidades (ICRC 1949 CVP 2017b Jurkowski 2017)

A segunda Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos doentes e

naacuteufragos das Forccedilas Armadas no mar Eacute aqui estabelecido o tipo de tratamentos que os

feridos doentes e naacuteufragos das forccedilas armadas devem obter e os direitos que lhes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

7

assistem Todos os feridos devem ser assistidos independentemente da religiatildeo crenccedila

feacute religiatildeo ideologias poliacuteticas e quer faccedilam parte de uma ou da outra parte das

hostilidades Caso os humanitaacuterios estejam perante dois feridos e tenham de escolher

devem assistir o ferido que teraacute mais probabilidades de sobreviver natildeo devendo fazer a

escolha com base na nacionalidade faccedilatildeo partidaacuteria crenccedila religiatildeo feacute cor entre

outros Todas as organizaccedilotildees humanitaacuterias e todos os humanitaacuterios devem pois reger-

se pelos princiacutepios da neutralidade e imparcialidade mas tambeacutem humanidade e

independecircncia (ICRC 1949 CVPb 2017)

A terceira Convenccedilatildeo diz respeito ao tratamento dos prisioneiros de guerra Todos os

prisioneiros de guerra devem ser tratados com dignidade e devem ver os seus direitos

consagrados no direito internacional humanitaacuterio respeitados como o acesso a

assistecircncia meacutedica em caso de necessidade a proteccedilatildeo dos seus pertences que natildeo

devem ser alvo de pilhagem e a garantia de um miacutenimo de condiccedilotildees na cela que

permita ao prisioneiro viver com dignidade Natildeo devem ainda ser alvo de torturas

privados de visitas e de um advogado e devem ainda ter acesso a um julgamento

imparcial Em caso de morte o corpo natildeo pode ser profanado e deve ser devolvido agrave

famiacutelia uma vez feito o reconhecimento (ICRC 1949 CVP 2017b)

A quarta Convenccedilatildeo diz respeito agrave proteccedilatildeo de civis em tempo de guerra Nesta

convenccedilatildeo eacute feita a distinccedilatildeo entre os conflitos armados internacionais e os conflitos

armados natildeo internacionais pois a proteccedilatildeo dada aos civis em tempo de conflito a

niacutevel do direito internacional humanitaacuterio eacute diferente Se no caso de um CAI (Conflito

Armado Internacional) os civis e prisioneiros de guerra estatildeo protegidos pelo Direito

Internacional Humanitaacuterio e pelas Convenccedilotildees de Genebra ratificadas por quase todos

os Estados do mundo a verdade eacute que caso o conflito natildeo seja internacional a proteccedilatildeo

dos civis e prisioneiros de guerra eacute colocada em causa O Direito Internacional

Humanitaacuterio natildeo tem legitimidade para atuar em caso de CANI (Conflito Armado Natildeo

Internacional) Logo em caso de CANI os civis e prisioneiros de guerra ficam

entregues agrave sua sorte No entanto eacute possiacutevel contornar este problema recorrendo aos

protocolos adicionais I e II O problema aqui reside no facto de poucos Estados terem

ratificado os protocolos adicionais o que deixa os civis e prisioneiros de guerra numa

posiccedilatildeo delicada em contexto de CAN Outro problema eacute ainda determinar quando eacute

que podemos classificar um conflito armado como sendo internacional ou natildeo Esta eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

8

uma aacuterea complicada e que leva a algumas duacutevidas quanto agrave classificaccedilatildeo do conflito

(Jurkowski 2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional I vem pois fazer a distinccedilatildeo entre os conflitos armados

internacionais e natildeo internacionais e o protocolo adicional II vem fazer algumas

modificaccedilotildees e especificar como devem ser tratados os feridos doentes e prisioneiros de

guerra em cada um dos casos Foram celebrados a 8 de agosto de 1977 (Jurkowski

2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional III celebrado a 8 de dezembro de 2005 vem formalizar o terceiro

emblema do movimento ldquoO Cristal Vermelhordquo Este novo emblema apresenta-se na

forma de um losango inserido dentro de uma moldura vermelha sob fundo branco A

ideia da construccedilatildeo de um novo siacutembolo surgiu com a necessidade de encontrar uma

alternativa agrave cruz e ao crescente que satildeo muitas vezes percecionadas como tendo

conotaccedilotildees religiosas culturais e poliacuteticas o que levava ao desrespeito do emblema dos

humanitaacuterios e das viacutetimas Com o novo emblema denominado de Cristal Vermelho e

com a assinatura do acordo entre o Crescente Vermelho da Palestina e a Magen David

Adom (mais conhecida por estrela de David) a 28 de novembro de 2005 foram

definidos aspetos logiacutesticos no desenvolvimento das operaccedilotildees humanitaacuterias Este

acordo contribuiu para a adoccedilatildeo do III protocolo adicional e para que terminasse um

longo processo diplomaacutetico (CVPb 2017 CVP 2017c ICRC 1949)

Com o aumento do nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento

de conflitos que necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido pela Cruz

Vermelha em 1994 o coacutedigo de conduta humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se

comprometeriam a respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios principalmente os

princiacutepios da neutralidade imparcialidade e independecircncia Este coacutedigo foi assinado por

140 agecircncias de forma a assegurar que os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios fossem

assegurados no terreno (Makintosh 2000 Hammond 2015)

Podemos constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal missatildeo aliviar o

sofrimento humano e devolver dignidade agrave vida das pessoas com necessidades que

devem ser urgentemente apaziguadas Esta ajuda humanitaacuteria deve ter como principal

fim o solidaacuterio e nunca fins lucrativos ou segundas intenccedilotildees como poliacuteticas por

exemplo Os seus valores tecircm origem eacutetico-religiosa cristatilde quanto ao amor ao proacuteximo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

9

no princiacutepio da solidariedade e da caridade bem como no humanitarismo Eacute tambeacutem

estabelecido neste protocolo que a Cruz Vermelha deve estar bem identificada e que

nenhuma instituiccedilatildeoorganizaccedilatildeo humanitaacuteria e religiosa deve ser atacada pois se trata

de entidades imparciais e neutras (Jurkowski 2017 Hammond 2015)

Os princiacutepios humanitaacuterios definem as regras de accedilatildeo no terreno na hora de oferecer

ajuda humanitaacuteria devendo sempre respeitar os referidos sete princiacutepios humanitaacuterios

proclamados em Viena em 1965 pela Cruz Vermelha Os humanitaacuterios devem ainda

manter-se neutros face agraves hostilidades e natildeo devem ser associados implicados ou ter

uma participaccedilatildeo poliacutetica no terreno de forma a natildeo colocar a vida da populaccedilatildeo em

risco e a populaccedilatildeo natildeo recear pedir ajuda Devem tambeacutem manter-se imparciais

quanto ao tratamento das pessoas sendo por isso a independecircncia fulcral que soacute eacute

conseguida mantendo-se neutros (Jurkowski 2017 Crisp 2008 Hammond 2015)

O humanitaacuterio ou a organizaccedilatildeo humanitaacuteria tecircm tambeacutem o dever de denunciar abusos

aos direitos humanos No entanto muitos natildeo o fazem sob medo de ao denunciarem o

Estado denunciado os encarar como tomando um dos lados das hostilidades existentes e

de por isso lhes ser retirada a permissatildeo para permanecerem no terreno ou serem alvos

de ataques entre outros Os Meacutedicos sem Fronteiras por exemplo jaacute encararam este

tipo de problemas e a poliacutetica da organizaccedilatildeo eacute denunciar mesmo que isso signifique ter

de fazer as malas e abandonar o terreno Natildeo denunciar seria cooperar e permitir a

violaccedilatildeo dos direitos humanos ndash este eacute chamado o ldquoprinciacutepio da ingerecircncia

humanitaacuteriardquo Tal significa que o humanitaacuterio deve denunciar os crimes contra os

Direitos Humanos independentemente das consequecircncias (Terry 2002 Hisamoto

2012)

Apoacutes a criaccedilatildeo da Cruz Vermelha vaacuterias organizaccedilotildees internacionais governamentais e

natildeo-governamentais foram surgindo para fornecer ajuda humanitaacuteria aos paiacuteses em

conflito e de extrema pobreza No plano das natildeo governamentais encontramos

organizaccedilotildees como a AMI a OXFAM ou a Caacuteritas A niacutevel intergovernamental a ONU

abriu um escritoacuterio denominado OCHA (United Nations Office for the Coordination of

Humanitarian Affairs) para a coordenaccedilatildeo dos assuntos humanitaacuterios a OCDE tambeacutem

se dedica a esta causa bem como a UE atraveacutes do ECHO (European Civil Protection

and Humanitarian Aid Operations) (Philippe et al 2007)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

10

Podemos entatildeo constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria eacute uma atuaccedilatildeo no terreno de cariz

puramente solidaacuterio e humanitaacuterio que tem como principal objetivo aliviar o sofrimento

humano fornecendo os meios essenciais de subsistecircncia apoio meacutedico e psicoloacutegico

bem como abrigo proteccedilatildeo e apoio legal em caso de a viacutetima ter sido alvo de violaccedilatildeo

dos seus Direitos Humanos Esta atuaccedilatildeo eacute realizada por ONG OING e OIG (Bellamy e

Wheeler 2006)

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute composta por diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sendo a ajuda

humanitaacuteria em contexto de conflito e a defesa dos direitos humanos as aacutereas que iratildeo

ser mais aprofundadas nesta dissertaccedilatildeo As aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo pois a ajuda ao

desenvolvimento a defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda

humanitaacuteria mais urgente A ajuda urgente eacute a mais oacutebvia mas os humanitaacuterios

colaboram tambeacutem no terreno com missotildees orientadas para outros fins e com prazos

mais longos Cada uma dessas aacutereas dentro da ajuda humanitaacuteria requer uma estrateacutegia

diferente de accedilatildeo e cuidados a ter com os proacuteprios humanitaacuterios que satildeo muitas vezes

alvo de sequestros atentados e homiciacutedio Por exemplo a ajuda humanitaacuteria em

contexto de conflito requer uma maior preparaccedilatildeo por parte dos humanitaacuterios para o

terreno onde vatildeo atuar requer um estabelecimento de mecanismos de seguranccedila

detalhados como por exemplo mapear onde estatildeo localizados onde cada grupo da sua

equipa estaacute a operar em determinado momento assegurar meios de telecomunicaccedilatildeo

fiaacuteveis como a raacutedio para que todos os elementos do grupo estejam contactaacuteveis pela

base onde estaacute sediada a organizaccedilatildeo (Ryfman 2007)

Jaacute a aacuterea de ajuda ao desenvolvimento tem como principal foco a erradicaccedilatildeo da

pobreza a niacutevel mundial Essa ajuda eacute fornecida por organizaccedilotildees de paiacuteses

desenvolvidos ou organizaccedilotildees intergovernamentais como a ONU Este objetivo adveacutem

da parceria entre Estados desenvolvidos e em vias de desenvolvimento tendo tido um

marco fundamental na Declaraccedilatildeo do Mileacutenio assinada por 189 Estados em setembro

de 2000 Esta Declaraccedilatildeo do Mileacutenio foi adotada na resoluccedilatildeo ARES552 da

Assembleia Geral das NU Nela ficaram estabelecidos os princiacutepios fundamentais a

serem adotados por todos os Estados Membros que a tenham ratificado A menccedilatildeo

destes princiacutepios iraacute clarificar o conceito da accedilatildeo humanitaacuteria e fazer entender que

certos princiacutepios satildeo negados agraves populaccedilotildees de Estados fragilizados em conflito ou em

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

11

vias de desenvolvimento e que ainda eacute necessaacuterio percorrer um longo caminho na aacuterea

da accedilatildeo humanitaacuteria que neste momento se revela difiacutecil devido agrave inseguranccedila em

determinados terrenos Esses princiacutepios satildeo

Liberdade Todos independentemente do geacutenero devem ter o direito de viver em

dignidade e criar os seus filhos em dignidade livres da fome do medo e da violecircncia

opressatildeo ou injusticcedila Os governos devem ser democraacuteticos e participativos baseados

na vontade do povo

Igualdade nenhum individuo ou naccedilatildeo deve ver a oportunidade de beneficiar do

desenvolvimento negada Os direitos e oportunidades devem ser iguais para todos

Solidariedade Desafios globais devem ser geridos de forma a que os custos e benefiacutecios

sejam distribuiacutedos de forma justa com base no princiacutepio da equidade e justiccedila social

Aqueles que sofrem ou que beneficiam menos merecem a ajuda dos que satildeo mais

beneficiados

Toleracircncia Todo o ser humano deve respeitar-se mutuamente em toda a sua diversidade

de crenccedila cultura e linguagem A diferenccedila na e entre a sociedade natildeo devem ser

temidas ou reprimidas devem antes ser preservadas como um bem precioso da

humanidade Por uacuteltimo deve ser promovida uma cultura de paz e dialogo entre todas

as civilizaccedilotildees

Respeito pela natureza Deve haver prudecircncia na gestatildeo de todas as espeacutecies existentes

e recursos naturais de acordo com a perceccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel A

riqueza da natureza e diversidade de espeacutecies legada pelos nossos antepassados deve ser

preservada para a manutenccedilatildeo do equilibro do meio ambiente no presente e para os

nossos descendentes no futuro O padratildeo de consumismo e constante destruiccedilatildeo da

natureza deve ser mudado

Responsabilidade partilhada A responsabilidade de gerir mundialmente o niacutevel

econoacutemico e o desenvolvimento social bem como ameaccedilas agrave paz internacional e

seguranccedila deve ser partilhada entre naccedilotildees do mundo e deve ser exercida

multilateralmente As NU devem por isso como organizaccedilatildeo mundial de maior

influecircncia ter um papel central nesta questatildeo (UN 2000 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

12

Com base nestes princiacutepios foram estabelecidos os objetivos de desenvolvimento do

mileacutenio e posteriormente em 2015 os 17 objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel

que satildeo 1) Erradicar a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares 2)

Acabar com a fome conseguir seguranccedila alimentar melhorar a nutriccedilatildeo e a promoccedilatildeo

de uma agricultura sustentaacutevel 3) Assegurar uma vida saudaacutevel e promover o bem-estar

para todos em todas as idades 4) Assegurar uma educaccedilatildeo que privilegie a inclusatildeo de

todos que seja equitativa e de qualidade e que promova diversas oportunidades de

aprendizagem ao longo da vida e para todos 5) Alcanccedilar a igualdade de geacutenero

conceder autonomia agraves mulheres 6) Assegurar uma gestatildeo sustentaacutevel da aacutegua e

saneamento e a garantir que toda a populaccedilatildeo tenha acesso agrave aacutegua 7) garantir a todos o

acesso sustentaacutevel e confiaacutevel agrave energia 8) promover o crescimento econoacutemico

sustentado inclusivo e sustentaacutevel emprego pleno e produtivo bem como trabalho

decente para todos 9) Construir infraestruturas resistentes promover a industrializaccedilatildeo

sustentaacutevel de forma a fomentar a inovaccedilatildeo 10) Reduzir as desigualdades no seio do

Estado e entre Estados 11) Tornar as cidades e o patrimoacutenio humano mais inclusivos

seguros resistentes e sustentaacuteveis 12) Assegurar padrotildees de produccedilatildeo e de consumo

sustentaacuteveis 13) Combater as alteraccedilotildees climaacuteticas de forma a diminuir o risco do seu

impacto no nosso planeta 14) Promover o uso sustentaacutevel dos oceanos dos mares e dos

recursos marinhos para um desenvolvimento sustentaacutevel 15) Proteger recuperar e

promover o uso sustentaacutevel dos ecossistemas terrestres gerir de forma sustentaacutevel as

florestas e combater a desertificaccedilatildeo deter e reverter a degradaccedilatildeo da terra e deter a

perda de biodiversidade 16) Promover sociedades paciacuteficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentaacutevel proporcionar o acesso agrave justiccedila com base na igualdade e

equidade construir instituiccedilotildees eficazes responsaacuteveis e inclusivas para todos 17)

Fortalecer os meios de implementaccedilatildeo e revitalizar a parceria a niacutevel global para o

desenvolvimento sustentaacutevel (UN 2015 ONUBR 2017 UN 2017c)

Podemos por isso considerar que a ajuda ao desenvolvimento fornecida pelo PNUD eacute

uma accedilatildeo poliacutetica para melhorar as condiccedilotildees de vida dos paiacuteses em vias de

desenvolvimento numa perspetiva de longo prazo A ajuda eacute fornecida pelos Estados-

membros da OCDE ONU EU BMI e FMI

A luta pelos direitos dos humanos tem como principal objetivo a luta contra a violaccedilatildeo

dos direitos humanos definidos na declaraccedilatildeo universal dos direitos do homem Como

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

13

quadro de referecircncia dos direitos humanos foram ainda redigidas a convenccedilatildeo

internacional para os direitos poliacuteticos e civis e a convenccedilatildeo para os direitos

econoacutemicos sociais e culturais (Ryfman 2007 UN 2017d SDG 2015)

Este tipo de ajuda humanitaacuteria funciona atraveacutes de denuacutencias e pressotildees para que sejam

conhecidas sucessivas violaccedilotildees dos direitos humanos e o direito a uma vida digna

preservado No entanto esta eacute uma aacuterea que pode abrir portas para o conflito entre o

dever de denunciar violaccedilotildees dos Direitos Humanos e os princiacutepios humanitaacuterios Como

foi referido acima as ONG e OIG baseiam-se em sete princiacutepios fundamentais dos

quais trecircs satildeo cruciais ndash a independecircncia a neutralidade e a imparcialidade Ao

denunciar uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a denuacutencia poderaacute ser vista como se a

organizaccedilatildeo estivesse a tomar partido por uma das partes do conflito mesmo que natildeo

seja o caso e eacute assim colocada em causa a neutralidade da organizaccedilatildeo seja ela

internacional local governamental ou natildeo Este eacute um caso bastante delicado pois a

organizaccedilatildeo precisa da autorizaccedilatildeo para poder permanecer no terreno Esta situaccedilatildeo

pode levar a que vaacuterias organizaccedilotildees se sintam intimidadas na hora de denunciar

embora exista um modelo especiacutefico criado pelas Naccedilotildees Unidas para realizar queixas

por violaccedilatildeo dos direitos humanos O procedimento eacute denominado de Human Rights

Council Complaint Procedure A Amnistia Internacional tambeacutem faz queixas por

violaccedilatildeo dos direitos humanos sendo uma ONG muito importante no ativismo pelos

direitos humanos (OHCHR 2017 Hammond 2015)

O Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Direitos Humanos (ACDH) tem

tambeacutem um papel importantiacutessimo na prevenccedilatildeo e denuacutencia de potenciais crimes contra

os direitos humanos no terreno Este Alto Comissariado tem como principal objetivo

dar suporte ao respeito pelos direitos humanos no acircmbito de operaccedilotildees de

peacekeeping peaceenforcement peacebuilding provendo planos estrateacutegicos

policiamento e aconselhamento especializado O Alto Comissariado pode mesmo

indicar a necessidade de acionar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo mas eacute o Conselho de

Seguranccedila que tem o poder decisoacuterio nesta mateacuteria As principais atividades do ACDH

satildeo fazer a monitorizaccedilatildeo diaacuteria investigaccedilatildeo documentaccedilatildeo e relato da situaccedilatildeo

relativa aos direitos humanos advogar junto das autoridades locais e nacionais

envolvendo a sociedade civil e os governos nacionais (desta forma eacute possiacutevel prevenir e

assegurar a reparaccedilatildeo da violaccedilatildeo dos direitos humanos) reportar publicamente ganhos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

14

e falhas nos direitos humanos assegurar que o processo de paz promova a justiccedila e a

equidade construir instituiccedilotildees de direitos Humanos incorporar os direitos humanos

nas missotildees de paz da NU bem como em todos os programas e atividades as NU no

paiacutes (OHCHR 2017)

Eacute ainda nesta aacuterea que se verifica uma maior possibilidade de ser posta em causa a

neutralidade e a independecircncia das organizaccedilotildees Para poder proteger os direitos

humanos e denunciar abusos de direitos humanos perpetrados por exemplo pelo Estado

em cujo territoacuterio se verificam esses atos os humanitaacuterios iratildeo colocar em causa a sua

permanecircncia no terreno Este facto leva a que muitas organizaccedilotildees natildeo realizem a

denuacutencia o que torna de certa forma as mesmas cuacutemplices dessas barbaridades contra a

sua vontade

A promoccedilatildeo da paz recai essencialmente sobre o Conselho de Seguranccedila das NU que

tem como principal objetivo a manutenccedilatildeo e estabelecimento da paz e a seguranccedila

internacional de forma a que natildeo se repita mais nenhum conflito com a dimensatildeo da II

Guerra Mundial tendo esse sido o principal motivo para a fundaccedilatildeo das NU Para

promover a paz as NU atraveacutes do Conselho de Seguranccedila recorreu a operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mesmo ao peace enforcement a diplomacia e a

mediaccedilatildeo preventiva ao combate ao terrorismo (como podemos verificar hoje com o

Daesh) e ao desarmamento que eacute feito atraveacutes da eliminaccedilatildeo do armamento nuclear de

destruiccedilatildeo massiva e regulaccedilatildeo do armamento convencional (Ryfman 2007 UN

2017b Carta das NU 1945)

A ajuda humanitaacuteria eacute a ajuda fornecida em situaccedilotildees de grande emergecircncia sendo a

accedilatildeo das ONG OING e OIG fundamental nas primeiras setenta e duas horas apoacutes o

desastre natural ou ataque em caso de conflito armado O objetivo desta aacuterea da ajuda

humanitaacuteria eacute aliviar o sofrimento humano restabelecendo e protegendo a dignidade

humana ou seja uma vida digna assistindo a populaccedilatildeo fornecendo bens de primeira

necessidade como aacutegua comida abrigo proteccedilatildeo apoio meacutedico e psicoloacutegico Satildeo

exemplo dessa atividade tratar viacutetimas de abuso sexual ajudar a retirar viacutetimas dos

escombros organizar o campo de refugiados para acolher os refugiados requerentes de

asilo com as devidas condiccedilotildees Este eacute um trabalho fundamental capaz de apaziguar

conflitos salvar vidas e restaurar a dignidade Uma populaccedilatildeo com seguranccedila aacutegua

comida e abrigo eacute mais propensa agrave pacificaccedilatildeo Inversamente a escassez de aacutegua eacute o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

15

motivo de vaacuterios conflitos armados e guerras civis como eacute o caso do Sudatildeo do Sul

(Philippe et al 2007)

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute pois como se pocircde verificar muito mais que uma ajuda de

emergecircncia e de reconstruccedilatildeo eacute uma aacuterea dedicada ao respeito dos direitos humanos

respeito pela dignidade do homem e manutenccedilatildeo da paz A sua neutralidade e

imparcialidade permitem fornecer ajuda a todos independentemente da cor raccedila

geacutenero crenccedilas ideologias religiatildeo e origem eacutetnica A neutralidade ou seja o facto de

as ONG e OIG fornecedoras de ajuda natildeo tornarem parte nas hostilidades leva a que

natildeo sejam vistas como apoiantes de uma das partes conflituantes e natildeo sejam por isso

pressionadas a fazer determinados atos ou a natildeo fornecer ajuda a determinadas etnias

entre outros A independecircncia eacute crucial pois uma vez a ONG ou OIG humanitaacuteria

dependente do governo local seraacute pressionada e teraacute de fazer cedecircncias para poder

continuar a permanecer no terreno bem como teraacute dificuldade ou veraacute barrado o acesso

a determinados locais (Ryfman 2007 Smith 2016)

A ONU participa diretamente na ajuda humanitaacuteria atraveacutes do OCHA Este escritoacuterio

das NU eacute responsaacutevel por coordenar uma resposta eficaz em situaccedilotildees de emergecircncia e

o objetivo eacute assistir o mais raacutepida e eficazmente possiacutevel as pessoas em necessidade A

ONU tem ainda o CERF (Central Emergency Response Fund) gerido pelo OCHA que

eacute uma peccedila fundamental para uma resposta raacutepida em contexto de conflito armado ou

desastre natural ou seja permite um raacutepido financiamento para que seja possiacutevel enviar

ajuda ceacutelere O CERF recebe contribuiccedilotildees voluntaacuterias ao longo do ano o que permite

que seja possiacutevel suportar o envio de ajuda humanitaacuteria para o terreno (UN 2017d) As

Naccedilotildees Unidas tecircm ainda nesta aacuterea diversas entidades que fornecem ajuda humanitaacuteria

como por exemplo O United Nation High Commissioner for Refugees para ajudar os

IDP (Internal Displaced Persons) e os refugiados bem como apaacutetridas o UNDP

(United Nations Development Programm) o UNICEF (United Nations Childrenrsquos

Fund) para ajudar as crianccedilas o WFP (World Food Programme) para combater a fome

e a organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede para ajudar os doentes e feridos (ONU 2017)

3 A Carta Humanitaacuteria

A Carta Humanitaacuteria nasceu com o projeto Sphere (The Sphere Projectb sd) em 1997

e tem como objetivo definir padrotildees miacutenimos humanitaacuterios de accedilatildeo no terreno comuns

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

16

a todas as ONG OING OIG e Estados que tenham ratificado as convenccedilotildees e tratados

humanitaacuterios e que se comprometam a cumprir esta declaraccedilatildeo Este projeto nasceu

essencialmente da insatisfaccedilatildeo relativa agrave atuaccedilatildeo das ONG OING e OIG no terreno nos

anos 90 durante as crises da Etioacutepia e do Sudatildeo fazendo com que as ONG chegassem agrave

conclusatildeo de que seria necessaacuterio elaborar um padratildeo de atuaccedilatildeo no terreno para os

profissionais Apoacutes esta discussatildeo comeccedilaram a aparecer manuais teacutecnicos dos MSF e

guias operacionais redigidos pela OXFAM ACNUR (Alto Comissariado das Naccedilotildees

Unidas para os Refugiados) e a OFDA (Office of US Foreign and Disaster Assistance)

entre outras Tambeacutem a Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho tiveram

participaccedilatildeo neste projeto com os coacutedigos e movimentos de conduta para ONG para

desenvolver a sua performance no terreno atraveacutes de programas de formaccedilatildeo (The

Sphere sdb Dyke e Waldmann 2004)

O projeto Sphere eacute governado por um conselho constituiacutedo por 18 membros que

representam redes de agecircncias humanitaacuterias tanto a niacutevel global como nacional que

determina as suas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo As organizaccedilotildees representadas neste

conselho trabalham juntas de forma voluntaacuteria e informal sob a direccedilatildeo do conselho

cujo escritoacuterio estaacute sediado em Genebra e trabalha para implementar estrateacutegias e

prioridades As organizaccedilotildees contribuem tambeacutem para o financiamento do projeto

(The Sphere Project sda)

Logo eacute possiacutevel constatar que a principal meta deste projeto eacute tornar a Accedilatildeo

Humanitaacuteria mais eficiente e que seja feita com mais responsabilidade e que sejam

garantidos os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios O projeto foi elaborado para que as

ONG OING e OIG tivessem um guia sobre como agir no terreno em missotildees de

emergecircncia e em concordacircncia com o Direito Internacional Humanitaacuterio O objetivo

principal deste manual eacute garantir que todo o ser humano dever ter o direito de viver com

dignidade (The Sphere Project sda)

Humanitarian agencies committed to this Charter and to the Minimum Standards will aim to achieve

defined levels of service for people affected by calamity or armed conflict and to promote the observance

of fundamental humanitarian principles (The Humanitarian Charter sd pp 16)

Logo a Carta Humanitaacuteria estaacute comprometida com o aliacutevio do sofrimento humano e a

garantia da dignidade das viacutetimas afetadas pelo conflito armado internacional e natildeo

internacional cataacutestrofes e outras calamidades Por isso tal como foi referido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

17

anteriormente foi estabelecido um padratildeo miacutenimo que estabelece o que deve ser feito

quando as organizaccedilotildees enfrentam pessoas em necessidade de aacutegua saneamento bens

alimentares abrigo e cuidados de sauacutede e de nutriccedilatildeo Isto contribui para uma estrutura

operacional responsaacutevel em mateacuteria de assistecircncia humanitaacuteria (The Sphere Project

sdb Dyke e Waldmann 2004)

O documento estaacute dividido nos seguintes trecircs princiacutepios que devem ser respeitados pela

comunidade internacional humanitaacuteria

Direito a uma vida digna

O direito agrave vida eacute um princiacutepio e uma medida legislativa muito importante eacute um direito

humano Segundo a Carta Humanitaacuteria todos devem ver o seu direito agrave vida preservado

Com isto entende-se o direito a viver em dignidade e livre de tratamentos desumanos

ser impedido da liberdade alvo de traacutefico de pessoas e tratamentos degradantes bem

como puniccedilotildees crueacuteis e violentas Como eacute sabido as mulheres e crianccedilas satildeo tornadas

escravas sexuais e obrigadas a realizar trabalhos forccedilados juntando isto a deslocaccedilatildeo

forccedilada pode falar-se de traacutefico de pessoas que eacute considerado pela declaraccedilatildeo dos

Direitos Humanos um atentado agrave dignidade logo eacute uma violaccedilatildeo da declaraccedilatildeo

Refiram-se ainda as adoccedilotildees ilegais de crianccedilas oacuterfatildes que tambeacutem eacute uma das vertentes

do traacutefico de pessoas bem como o uso de crianccedilas em minas para armadilhar campos

com minas e na frente do exeacutercito (The Sphere Project sda pp 16-17 UN 1948)

A distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes

Eacute muito importante fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes em conflitos

armados pois os civis feridos e prisioneiros estatildeo protegidos atraveacutes do Direito

Internacional Humanitaacuterio e tecircm imunidade aos ataques coisa que os combatentes natildeo

tecircm Os ex-combatentes tambeacutem passam a usufruir dessa imunidade pois deixaram as

armas Este uacuteltimo aspeto eacute muito importante porque ex-combatentes satildeo sempre vistos

como combatentes e podem ser confundidos como tal sendo presos Em caso de prisatildeo

os combatentes de guerra usufruem de certos direitos especiais quanto ao tratamento

que devem ter Em guerras civis eacute difiacutecil fazer esta distinccedilatildeo porque podem existir

forccedilas militares natildeo reconhecidas e oficializadas Esta distinccedilatildeo consta da convenccedilatildeo de

Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais de 1977 conforme jaacute foi referido (The

Sphere Project sda pp 16-17)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

18

O princiacutepio da natildeo expatriaccedilatildeo

Este princiacutepio diz respeito aos refugiados e estabelece que nenhum refugiado deve de

forma alguma ser extraditado de volta para o seu paiacutes de origem onde a sua vida e

liberdade estariam ameaccediladas e correria risco de vida ou tortura devido agraves suas crenccedilas

raccedila religiatildeo ideologia politica entre outros Caso um refugiado seja expatriado o

Estado em questatildeo estaraacute a violar o Direito Internacional Humanitaacuterio e a Convenccedilatildeo de

1951 referente ao Estatuto do refugiado (The Sphere Project sda pp 16-17 UNHCR

2017)

A Carta Humanitaacuteria aborda ainda outro aspeto importante que satildeo as

responsabilidades e o papel que as organizaccedilotildees humanitaacuterias desempenham no terreno

de forma a que a populaccedilatildeo requerente de ajuda e refugiados natildeo corra perigo algum

Essas responsabilidades satildeo as seguintes

1) Evitar expor as viacutetimas a mais danos ou perigos como resultado das suas accedilotildees Neste

contexto o documento aborda a construccedilatildeo de campos para deslocados internos ou

refugiados em locais seguros que natildeo coloquem a vida destes em risco Esta

responsabilidade cabe em primeiro lugar ao Estado no qual a ONG ou OIG estaacute a

operar cabe-lhes garantir a seguranccedila do staff e da sua populaccedilatildeo Soacute em segundo lugar

eacute que cabe agraves agecircnciasorganizaccedilotildees zelar pelo bem-estar pela seguranccedila e satisfaccedilatildeo

das necessidades das pessoas que peccedilam ajuda para que seja restabelecida alguma

dignidade e que possam viver sem medo e terror com as suas necessidades baacutesicas

aliviadas (The Sphere Project sda pp 18)

2) Assegurar o acesso da populaccedilatildeo a uma assistecircncia imparcial Isto significa que as

agecircncias humanitaacuterias devem assistir todas as pessoas que necessitem principalmente

as pessoas que estejam numa situaccedilatildeo mais vulneraacutevel ou enfrentam exclusatildeo social por

motivos poliacuteticos eacutetnicos ou outros Este princiacutepio eacute um dos princiacutepios mais delicados

pois nem sempre as agecircncias humanitaacuterias conseguem aceder aos locais em contexto de

conflito armado que necessitam de assistecircncia das agecircncias O Estado deveria fornecer

escolta ou garantir o acesso seguro aos locais em questatildeo No entanto e como eacute de

prever caso esse local natildeo seja do interesse do Estado por estar dominado por rebeldes

por exemplo aquele natildeo iraacute facilitar o acesso Desta forma as agecircncias de forma a natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

19

correrem risco de vida limitar-se-atildeo aos locais seguros (The Sphere Progect sda

pp18)

3) Proteger as pessoas de danos fiacutesicos e psicoloacutegicos devido a violecircncia ou coerccedilatildeo

Neste princiacutepio falamos em proteger as pessoas de serem forccediladas ou induzidas a agir

contra a sua vontade o que eacute muito comum em contexto de conflito armado (The Sphere

Project sda pp 18)

4) Ajudar reivindicando direitos como a restituiccedilatildeo da propriedade ajudar a niacutevel social

e econoacutemico Eacute ainda o dever das agecircncias humanitaacuterias ajudar as viacutetimas a ultrapassar

as consequecircncias do abuso sexual a niacutevel fiacutesico e psicoloacutegico promovendo o acesso a

medicamentos e a recuperaccedilatildeo de abusos (The Sphere Project sda pp 18)

Por uacuteltimo eacute importante referir os padrotildees miacutenimos que a assistecircncia humanitaacuteria deve

respeitar no terreno de forma a uniformizar a accedilatildeo humanitaacuteria Os padrotildees miacutenimos de

assistecircncia humanitaacuteria foram definidos pelas agecircncias humanitaacuterias que trabalham no

terreno Quem aderir a este padratildeo miacutenimo de assistecircncia humanitaacuteria compromete-se a

assegurar as necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como aacutegua saneamento assistecircncia

meacutedica comida e abrigo para que seja comprido o direito a viver com dignidade Para

isso eacute necessaacuterio que Estado e organizaccedilotildees se comprometam a cumprir este princiacutepio

ao abrigo do direito internacional humanitaacuterio e direito do refugiado (The Sphere

Project sda)

Algumas agecircncias humanitaacuterias operam em determinadas aacutereas especiacuteficas de proteccedilatildeo

dos direitos humanos para que seja mais faacutecil fornecer ajuda Por exemplo existem

ONG especializadas em fornecer assistecircncia a crianccedilas tratar e lutar para a prevenccedilatildeo

de viacutetimas de violecircncia de gecircnero habitaccedilatildeo propriedade e terra minas ativas lei e

justiccedila Quanto agrave lei e justiccedila as agecircncias humanitaacuterias que forneccedilam este serviccedilo

enfrentam muitas vezes verdadeiros dilemas entre denunciar um crime de violaccedilatildeo dos

direitos humanos ou natildeo denunciar para que possam permanecer no terreno e defender

as viacutetimas de abusos fiacutesicos psicoloacutegicos de geacutenero entre outros (The Sphere Project

sda)

Em suma a conceccedilatildeo dos princiacutepios humanitaacuterios surgiu com a Cruz Vermelha tendo

os seus princiacutepios sido proclamados em Viena em 1967 Mais tarde com o aumento do

nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento de conflitos que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

20

necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido em 1994 o coacutedigo de conduta

humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se comprometeriam a respeitar os princiacutepios

humanitaacuterios fundamentais Este coacutedigo foi assinado por 140 agecircncias Outro

documento elaborado foi o Humanitarian Charter and Minimum Standards in Disaster

Response elaborado pelo Sphere Project em 1997 As proacuteprias Naccedilotildees Unidas tambeacutem

deram o seu importante contributo para disseminar os princiacutepios humanitaacuterios no

terreno Os princiacutepios fundamentais tecircm de ser postos em praacutetica tal como o Direito

Internacional Humanitaacuterio aliaacutes um eacute o complemento do outro A CICV (Comiteacute

Internacional da Cruz Vermelha) opera no terreno respeitando o Direito Internacional

Humanitaacuterio e rege-se pelos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios (Makintosh 2000)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

21

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a

abordagem humanitaacuteria

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding

A ONU tem um papel relevante na accedilatildeo securitaacuteria em cenaacuterios de ajuda humanitaacuteria

nomeadamente em Estados que estejam a atravessar conflitos armados e atraveacutes de

missotildees como as de peacekeeping e de peacebuilding A intervenccedilatildeo securitaacuteria

distingue-se da accedilatildeo humanitaacuteria pelo seu caraacuteter militar e poliacutetico Por vezes as

Naccedilotildees Unidas quando realizam uma intervenccedilatildeo militar seja de peacekeeping ou

dentro do peacebuilding podem em determinada circunstacircncias tomar partido por uma

das partes nas hostilidades ou parte conflituante sendo que estas operaccedilotildees tambeacutem

acontecem fora do estrito contexto humanitaacuterio Por sua vez numa situaccedilatildeo de

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria embora haja objetivos humanitaacuterios comuns o modo

de atuaccedilatildeo eacute militar e por isso claramente distinto da accedilatildeo humanitaacuteria

Para clarificar passa-se agrave definiccedilatildeo dos conceitos usados acima

Segundo as NU o peacekeeping corresponde ao seguinte

UN Peacekeepers provide security and the political and peacebuilding support to help countries make the

difficult early transition from conflict to peace UN Peacekeeping is guided by three basic principles

Consent of the parties Impartiality Non-use of force except in self-defence and defence of the mandate

(UN Peacekeeping sdd)

Esta ferramenta tem pois como objetivo ajudar os Estados em conflito a estabelecer e

manter a paz tendo provado ser um dos mecanismos mais eficazes da ONU para o

efeito Os militares do peacekeeping fornecem tambeacutem seguranccedila bem como apoio

poliacutetico para a construccedilatildeo da paz Os militares baseiam-se em trecircs princiacutepios que satildeo 1)

a imparcialidade (o que natildeo implica na formulaccedilatildeo atual neutralidade face ao mandato

que tecircm) 2) consentimento das partes para intervir no conflito (embora em casos

restritos como em casos de genociacutedio se possa aplicar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo

que natildeo precisa do consentimento mas que remete ao peace enforcement) 3) O natildeo uso

da forccedila tendo por exceccedilatildeo a autodefesa e a defesa do mandato como consta da citaccedilatildeo

acima (UN sda UN sdb Pinto 2007)

Ainda segundo Maria do Ceacuteu Pinto as operaccedilotildees de peacekeeping devem ser

imparciais mas tal natildeo implica ficarem indiferentes aos abusos dos direitos humanos

por parte de uma das partes das hostilidades Imparcialidade natildeo eacute pois sinoacutenima de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

22

neutralidade Logo desde que haja uma violaccedilatildeo dos direitos humanos os peacekeepers

devem agir jaacute que o dever deles eacute o de garantir o respeito dos direitos humanos aliviar

o sofrimento humano e garantir uma vida digna agrave populaccedilatildeo em questatildeo Existe por

isso o peacekeeping de terceira geraccedilatildeo denominado de peacekeeping ldquomusculadordquo por

Pinto (2007) ou peacekeeping ldquorobustordquo como eacute denominado pelas NU No entanto

este peacekeeping de terceira geraccedilatildeo continua a necessitar do consentimento do Estado

alvo ou das maiores partes do conflito Jaacute o uso da forccedila sem consentimento remete para

o peace enforcemente que eacute aplicar a paz atraveacutes da forccedila e eacute soacute usado este tipo de

missatildeo em uacuteltimo recurso (Pinto 2007 UN sda UN sdb)

Estas ferramentas satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas tambeacutem para

a proteccedilatildeo dos civis assistir ao desarmamento desmobilizaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo de ex-

combatentes suporte agraves organizaccedilotildees para as eleiccedilotildees proteccedilatildeo e promoccedilatildeo dos direitos

humanos e assistecircncia no restabelecimento do ldquoEstado de direitordquo (UN sda UN

sdb)

Por sua vez Peacebuilding significa na linguagem das Naccedilotildees Unidas

The term itself first emerged over 30 years ago through the work of Johan Galtung who called for the

creation of peacebuilding structures to promote sustainable peace by addressing the ldquoroot causesrdquo of

violent conflict and supporting indigenous capacities for peace management and conflict resolution (hellip)

The Secretary-Generalrsquos Policy Committee has described peacebuilding thus ldquoPeacebuilding involves a

range of measures targeted to reduce the risk of lapsing or relapsing into conflict by strengthening

national capacities at all levels for conflict management and to lay the foundations for sustainable peace

and development Peacebuilding strategies must be coherent and tailored to the specific needs of the 1

Three approaches to Peace peacekeeping peacemaking peacebuildingrdquo (UN 2010 pp 5)

Eacute pois uma accedilatildeo da ONU de identificaccedilatildeo e de suporte agraves estruturas de modo a que a

paz seja solidificada e os conflitos evitados Ou seja satildeo as atividades desenvolvidas

pela ONU para que a construccedilatildeo da paz seja feita no paiacutes onde houve conflito de modo

a que natildeo volte a acontecer o mesmo outra vez Tambeacutem visam fornecer todas as

ferramentas para a construccedilatildeo de um paiacutes forte com um aparelho de poder poliacutetico

soacutelido Logo eacute mais que o fim dos conflitos eacute a construccedilatildeo da paz de forma solidificada

e eficaz (UN 2010)

Segundo a mesma fonte o peacebuilding refere-se a cinco aacutereas que satildeo 1) o apoio agrave

seguranccedila baacutesica 2) os processos poliacuteticos a serem feitos para a construccedilatildeo e

manutenccedilatildeo da paz 3) a garantia da prestaccedilatildeo dos serviccedilos baacutesicos agrave populaccedilatildeo em

geral 4) a restauraccedilatildeo das funccedilotildees do governo central de modo a construir um aparelho

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

23

de poder forte e capaz de garantir e manter a paz bem como de resolver os conflitos

eacutetnicos ou entre grupos internos 5) a revitalizaccedilatildeo da economia para acabar com a

pobreza construir novas infraestruturas para desenvolver a produccedilatildeo para a

autossubsistecircncia do povo e de modo a que os bens fundamentais sejam garantidos a

todos (processo de desenvolvimento do paiacutes) (UN 2010 UN 2009)

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar

A intervenccedilatildeo humanitaacuteria natildeo eacute consensual no Direito no Direito Internacional e nas

Relaccedilotildees Internacionais Segundo o ICRC (2001) O Direito Internacional Humanitaacuterio

natildeo pode servir para legitimar conflitos armados No entanto os Estados aceitam este

tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria nas seguintes situaccedilotildees

The theory of intervention on the ground of humanity () recognizes the right of one State to exercise

international control over the acts of another in regard to its internal sovereignty when contrary to the

laws of humanity (Abiew citin ICRC 2001 pp 528)

O que se pode retirar desta citaccedilatildeo eacute que segundo o Direito Internacional Humanitaacuterio

eacute aceitaacutevel exercer controlo por parte de um Estado sobre a soberania de outro se este

natildeo respeita os direitos humanos fundamentais Ou seja podemos constatar que a

soberania de um Estado natildeo basta para a comunidade internacional natildeo agir face a um

genociacutedio por exemplo

hellip humanitarian intervention is defined as coercive action by States involving the use of armed force in

another State without the consent of its government with or without authorisation from the United

Nations Security Council for the purpose of preventing or putting to a halt gross and massive violations

of human rights or international humanitarian law (ICRC 2001 cit in Danish Institute of International

Afffairs 1991 pp 11)

Esta definiccedilatildeo complementa a anterior referindo que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute uma

accedilatildeo coerciva com recurso a armamento sobre um Estado sem o consentimento do

governo local e eventualmente sem o do Conselho de Seguranccedila das NU O intuito

deste tipo de intervenccedilatildeo eacute parar o desrespeito pelos direitos humanos e do direito

internacional humanitaacuterio (Gordon 1996 ICRC 2001)

Portanto o objetivo desta intervenccedilatildeo eacute aliviar o sofrimento humano e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados para que a paz possa ser estabelecida e o

genociacutedio prevenido ou interrompido Os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm de

ser imparciais e limitar-se a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para

fazerem respeitar os direitos humanitaacuterioshumanos violados e fornecer assistecircncia ao

povo local (Gordon1996 e ICRC 2001)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

24

Todavia este tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria corre o risco de natildeo ser imparcial por

existirem interesses subjacentes aos Estados que decidem intervir militarmente noutro

Estado A intervenccedilatildeo humanitaacuteria pode ser usada como um pretexto para aplicar uma

intervenccedilatildeo militar num Estado ou seja existe o risco de os motivos dessa intervenccedilatildeo

natildeo serem legiacutetimos e terem segundas intenccedilotildees que natildeo somente salvar vidas proteger

a populaccedilatildeo e aliviar o sofrimento humano Dificilmente um Estado corre elevados

riscos sem ter por traacutes outras intenccedilotildees segundo a visatildeo realista das relaccedilotildees

internacionais e por conseguinte poder instala ainda mais o caos no Estado alvo da

intervenccedilatildeo Ou seja pode ser uma carta branca para intervenccedilotildees militares de Estados

com segundas intenccedilotildees que podem ser geoestrateacutegicas ou poliacuteticas por exemplo O

que levanta as seguintes questotildees ateacute que ponto eacute eacutetico aplicar o termo humanitaacuterio

quando se usa a forccedila contra pessoas sendo elas viacutetimas para proteger outras Esta eacute

uma questatildeo que se pode considerar um verdadeiro dilema O uso da palavra

humanitaacuteria aplicada agrave intervenccedilatildeo militar e pode ser uma forma de legitimar o

desrespeito pelo princiacutepio da natildeo ingerecircncia e por conseguinte violar a soberania de

outro Estado que noutras condiccedilotildees natildeo seria aceite Daiacute o acreacutescimo da palavra

ldquohumanitaacuteriardquo a intervenccedilatildeo militar natildeo ser bem vista pela comunidade humanitaacuteria que

se rege pelos princiacutepios de aliviar o sofrimento humano salvar vidas e ajudar No caso

da Nigeacuteria do Haiti e da Libeacuteria nos anos 90 foi usada a figura intervenccedilatildeo militar

ldquohumanitaacuteriardquo para intervir no terreno embora pareccedilam evidentes motivos natildeo

humanitaacuterios (Massingham 2009 Weiss 2017)

Esta intervenccedilatildeo militar eacute uma opccedilatildeo cumulativa agraves operaccedilotildees de peacekeeping que se

revelam ineficazes na hora de proteger a populaccedilatildeo e as ONG OING e OIG

humanitaacuterias A intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria recorre ao uso da forccedila para atingir os

seus fins podendo ser estes proteger os humanitaacuterios a populaccedilatildeo local aliviar o

sofrimento humano velando pelo respeito dos Direitos Humanos e prevenindo crimes

contra a humanidade Ainda segundo Weiss ela eacute qualitativamente distinta do

peacekeeping uma vez que natildeo cumpre o princiacutepio do consentimento No entanto no

peacekeeping de terceira geraccedilatildeo tem havido uma evoluccedilatildeo para o peacekeeping

ldquomusculadordquo tendencialmente convergente com o peace enforcement Ou seja pode em

casos restritos e com consentimento do Conselho de Seguranccedila fazer-se o uso da forccedila

sem as restriccedilotildees convencionais (Weiss 2017 Pinto 2007 Pilbeam 2015b)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

25

Por tudo isso usar a palavra lsquohumanitaacuteriorsquo para uma intervenccedilatildeo de cariz militar natildeo eacute

bem aceite pelo Direito Internacional Humanitaacuterio que prefere uma puniccedilatildeo mais

severa aos Estados perpetradores dos crimes contra a humanidade ao inveacutes de usar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria pois Estados com mais poder militar se imiscuem e quebram o

princiacutepio da natildeo ingerecircncia podendo culminar em accedilotildees discriminatoacuterias no terreno e

problemas diplomaacuteticos entre Estados a niacutevel internacional Para aleacutem disso acrescentar

a palavra humanitaacuteria deveria ser reservado agraves organizaccedilotildees que pretendam aliviar o

sofrimento humano salvar vidas sem recurso agrave violecircncia e armas e natildeo aplicado agrave

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria O uso da palavra humanidade numa intervenccedilatildeo militar

pode dar azo a confusatildeo por parte da populaccedilatildeo local e dificultar o trabalho dos

humanitaacuterios no terreno tornando-os alvo de ataques tambeacutem Eacute por isso necessaacuterio

fazer uma clara distinccedilatildeo entre intervenccedilatildeo humanitaacuteria e accedilatildeo humanitaacuteria (ICRC

2001 Weiss 2017)

A declaraccedilatildeo das NU no capiacutetulo VII (UN Charter 1945) especifica quais as situaccedilotildees

em que pode ocorrer uma intervenccedilatildeo militar nomeadamente no artigo 42ordm que prevecirc

que em caso de ameaccedila agrave seguranccedila e paz internacional o Conselho de Seguranccedila pode

ativar uma intervenccedilatildeo militar

Por outro lado natildeo consta na declaraccedilatildeo das NU se eacute possiacutevel ou natildeo ou em que

situaccedilotildees devem avanccedilar para uma intervenccedilatildeo onde seja possiacutevel o uso da forccedila contra

um Estado caso se verifique um abuso dos direitos humanos ou desrespeito do Direito

Internacional O Direito Internacional Humanitaacuterio deveria equacionar regulamentar a

situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo humanitaacuteria Eacute que a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria parece ser

uma realidade e uma lsquonecessidadersquo em alguns casos em que as operaccedilotildees de

peacekeeping natildeo satildeo suficientes Nesses casos o problema eacute que a accedilatildeo humanitaacuteria

entrou num estado de colapso por falta de seguranccedila e depende em algumas situaccedilotildees

dos militares de operaccedilotildees de peacekeeping ou das intervenccedilotildees militares mais robustas

para poderem aceder a determinados territoacuterios de grande perigo o que leva agrave

necessidade de uma revisatildeo quanto ao papel da accedilatildeo humanitaacuteria e ao reconhecimento

da intervenccedilatildeo humanitaacuteria ainda que natildeo formalmente mas nos bastidores (ICRC

2001 Weiss 2017)

Portanto o uso da forccedila militar com cariz humanitaacuterio soacute deve ser feito em contexto de

crimes contra a humanidade como o genociacutedio crimes de guerra abusos sexuais ou

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

26

limpeza eacutetnica por exemplo e tem como objetivo proteger a populaccedilatildeo e aliviar o

sofrimento humano Os militares da intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria natildeo podem ser

confundidos com os capacetes azuis das operaccedilotildees de paz das NU pois natildeo fazem parte

da mesma missatildeo e os capacetes azuis tecircm um papel mais diversificado para a

manutenccedilatildeo da paz construccedilatildeo do aparelho de poder e negociaccedilotildees podendo soacute usar a

forccedila em caso de legiacutetima defesa e defesa do mandato Jaacute os militares da intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria partem para o terreno para travar os perpetradores dos crimes contra

a humanidade usando a forccedila se necessaacuterio Ou seja eacute a versatildeo mais letal das

intervenccedilotildees internacionais e deve ser usada em uacuteltimo recurso (Weiss 2017)

Dentro das intervenccedilotildees militares pode ainda ser invocado o princiacutepio da

responsabilidade de proteger (R2P) fixado no acircmbito das NU que eacute executado ao

abrigo das NU A responsabilidade de proteger (R2P) pode levar a uma intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mas deve ser autorizada pelo Conselho de Seguranccedila das NU O

R2P deve ser usado em uacuteltimo recurso com meios proporcionais agrave situaccedilatildeo a niacutevel de

armamento e uma vez esgotados todos os meios diplomaacuteticos No Ruanda em 1994 os

peacekeepers natildeo fizeram o uso da forccedila para travar o genociacutedio tendo vindo a missatildeo a

fracassar As NU foram amplamente criticadas pela inaccedilatildeo o que levou ao debate sobre

a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria e posteriormente sobre a R2P (Bellamy 2015

Massingham 2009)

O conceito do R2P eacute pois um princiacutepio legitimador de um tipo de intervenccedilatildeo armada

usado quando os direitos humanos baacutesicos natildeo satildeo respeitados em determinado Estado

em conflito como por exemplo genociacutedios ou violaccedilotildees em massa Em 1994 no

Ruanda uma intervenccedilatildeo sob o R2P teria sido justificaacutevel Esta intervenccedilatildeo natildeo

necessita de autorizaccedilatildeo do Estado para intervir daiacute o termo responsabilidade de

proteger No entanto este conceito eacute complexo devido ao princiacutepio de natildeo ingerecircncia

sobre os assuntos soberanos de determinado Estado Cabe primeiramente ao Governo

do Estado assegurar a proteccedilatildeo da sua populaccedilatildeo No entanto caso o Estado natildeo queira

ou natildeo consiga assegurar a sua proteccedilatildeo e a populaccedilatildeo esteja a ver os seus direitos

baacutesicos serem desrespeitados devido ao conflito armado ou fragilidade do Estado a

comunidade internacional deve agir e intervir Um problema possiacutevel eacute a comunidade

internacional natildeo querer entrar em problemas diplomaacuteticos com determinados Estados

que estejam neste tipo de situaccedilatildeo ou ainda com Estados que apoiem partes tal como a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

27

Ruacutessia (membro permanente do Conselho de Seguranccedila da ONU) a Bashar Al Assad

enquanto os EUA apoiam os rebeldes Havendo diferentes pontos de vista e sendo

necessaacuterio o consenso dos membros permanentes do Conselho de Seguranccedila das NU a

decisatildeo de avanccedilar sob a responsabilidade de proteger pode ser tardia ou mesmo

impossiacutevel tal como se tem verificado (Lobo 2009 Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger nasceu com o relatoacuterio do ICISS (International

Commission on Intervention and State Sovereignity) em 2001 e teve como principal

motor o conflito recente agrave eacutepoca do Ruanda O princiacutepio foi adotado na cimeira

mundial de 2005 com cuidadosa distinccedilatildeo das violaccedilotildees maiores que podem determinar

a ingerecircncia Na praacutetica o Conselho de Seguranccedila soacute tornou oficial a referecircncia agrave

responsabilidade de proteger em 2006 com a resoluccedilatildeo 1674 sobre a proteccedilatildeo de civis

em conflitos armados Esta resoluccedilatildeo foi usada em agosto de 2006 ao estabelecer a

resoluccedilatildeo 1706 que autorizava o destacamento dos peacekeepers para o Darfur Apoacutes o

Sudatildeo vieram as missotildees sob a responsabilidade de proteger da Liacutebia Cocircte drsquoIvoire

Sudatildeo do Sul e Ieacutemen em 2011 e Siacuteria e Repuacuteblica centro Africana em 2012 (Bellamy

2015)

Para que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria seja legitimada sob o conceito do R2P devem ser

reunidas as seguintes condiccedilotildees 1) Estar-se perante uma situaccedilatildeo de genociacutedio ou seja

extermiacutenio de populaccedilatildeo de uma determinada origem eacutetnica ou extermiacutenio de uma

populaccedilatildeo em larga escala 2) Existir intenccedilatildeo justa para que seja justificado o uso de tal

accedilatildeo 3) Usar os meios estritamente necessaacuterios para alcanccedilar os objetivos

estabelecidos 4) Assegurar que as perspetivas de tal accedilatildeo poderatildeo ter uma forte

probabilidade de vir a ter sucesso e de que as suas consequecircncias natildeo seratildeo piores que a

natildeo accedilatildeo (Lobo 2009 Pilbeam 2015b)

As operaccedilotildees de peacekeeping peacebuilding e peace enforcement satildeo muitas vezes

confundidas como jaacute foi referido com o envio de forccedilas militares a tiacutetulo individual de

um Estado por exemplo os EUA e a Franccedila que jaacute fizeram intervenccedilotildees militares sob

pretexto humanitaacuterio As primeiras satildeo missotildees de paz enviadas e coordenadas pela

ONU de forma a restabelecer apaziguar manter a paz e reconstruir o aparelho de

poder para que o Estado conflituante natildeo volte ao estado beligerante Jaacute o segundo eacute

realizado de forma a acabar com os crimes contra a humanidade e podem ser forccedilas

militares de um Estado em particular que decide ir para o terreno embora as

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

28

intervenccedilotildees militares sobretudo quando existem militares mortos sejam difiacuteceis de

explicar agrave populaccedilatildeo de origem dos militares Por outro lado o ldquohumanitarismo

militarrdquo ou seja as intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de paz no terreno levam a

confusatildeo com as ONG Pior neste momento assiste-se a situaccedilotildees em que estatildeo

presentes no terreno intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de peacekeeping o que gera

ainda mais confusatildeo (Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger eacute ainda considerada um princiacutepio e natildeo uma taacutetica mas

o Conselho de Seguranccedila falhou com a Siacuteria ao decidir intervir primeiro na Liacutebia por

questotildees poliacuteticas e natildeo por questotildees de emergecircncia humanitaacuteria O que leva agraves

seguintes questotildees Seraacute a intervenccedilatildeo humanitaacuteria verdadeiramente humanitaacuteria Seraacute

que existem interesses subjacentes a essas mesmas ajudas Seraacute que legitimar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute dar uma carta branca a ingerecircncias nos assuntos da soberania

de forma legiacutetima e aparentemente solidaacuteria A R2P eacute aina assim o tipo de intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mais bem aceite pela comunidade internacional e humanitaacuteria pois

natildeo assenta soacute na invasatildeo imediata e beacutelica mas tambeacutem nos princiacutepios de prevenir

reagir e reconstruir (Bellamy 2015 Weiss 2017)

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares

A coexistecircncia entre militares e humanitaacuterios eacute uma situaccedilatildeo recorrente e natildeo tem de

gerar conflitos deveraacute eacute haver respeito muacutetuo por cada um desses agentes e natildeo deveratildeo

tentar imiscuir-se nos assuntos uns dos outros A accedilatildeo humanitaacuteria eacute um complemento

agraves missotildees de paz Se a accedilatildeo humanitaacuteria estaacute focada em aliviar o sofrimento humano

salvar vidas garantir as necessidades baacutesicas e assistecircncia meacutedica os militares poderatildeo

dedicar-se inteiramente agrave proteccedilatildeo e pacificaccedilatildeo ao inveacutes de terem de realizar estas

tarefas tambeacutem O aumento dos riscos de ataque aos profissionais humanitaacuterios leva a

que esta coexistecircncia se transforme em colaboraccedilatildeo atraveacutes do pedido de

proteccedilatildeoescolta militar Por outro lado colaborando os humanitaacuterios com forccedilas

militares estatais ou ateacute mesmo via organizaccedilotildees internacionais podem ser conotadas

com um dos lados das hostilidades e perder por isso a imagem de neutralidade (Seiple

1996)

Este tema eacute algo complexo e tem de ser encarado com grande cuidado e sensibilidade

pois se por um lado a escolta militar seria a soluccedilatildeo perfeita para assegurar a seguranccedila

no terreno das ONG OING e OIG por outro lado poderaacute pocircr em causa os princiacutepios

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

29

fundamentais humanitaacuterios Existe ainda uma resistecircncia por parte da comunidade

humanitaacuteria em embarcarem missotildees integradas com os capacetes azuis das NU

(Harmer 2008) Por isso na presente dissertaccedilatildeo tentar-se-aacute discutir a melhor soluccedilatildeo

para esse problema de forma a que ambos os atores natildeo sejam prejudicados na sua

missatildeo (Seiple 1996)

A accedilatildeo humanitaacuteria tem como missatildeo aliviar o sofrimento humano e a accedilatildeo securitaacuteria

tem caraacuteter militar e policial estatildeo ambas no terreno isto eacute humanitaacuterios e soldados

coexistem no terreno em missotildees e natildeo podem colocar em causa a missatildeo uns dos

outros Cada uma tem a sua missatildeo uma a de aliviar o sofrimento humano salvar vidas

e devolver a dignidade agrave populaccedilatildeo alvo de terror a outra a de assegurar a seguranccedila

fazer os direitos humanos serem respeitados aliviar o sofrimento humano e pacificar o

terreno no qual estatildeo a operar assegurar que as negociaccedilotildees ocorram sem problemas e

ajudar a reconstruir o Estado desde o aparelho de poder agraves infraestruturas No entanto a

forccedila militar natildeo deixa de ter um caraacuteter beacutelico e natildeo eacute neutro nem independente Isto

pode levar a que a populaccedilatildeo se sinta renitente recuse e se desvie de certas ONG

exatamente por colaborarem com determinada forccedila militar por medo do que possa vir

a acontecer Podem sofrer represaacutelias se colaborarem com o lado A ou B das

hostilidades e este fator poderaacute colocar em causa a missatildeo da comunidade humanitaacuteria

o que soacute eacute possiacutevel tendo a confianccedila da populaccedilatildeo e acesso aos territoacuterios para isso a

neutralidade eacute fulcral (Gibbons e Piquard 2006)

Eacute claro que o equiliacutebrio tambeacutem depende da forccedila militar de que se trata Por exemplo

militares sob a eacutegide da ONU seratildeo mais bem vistos conseguem manter a

imparcialidade e tecircm alguma neutralidade (dependendo dos casos) natildeo colocando assim

em causa o trabalho humanitaacuterio no terreno Jaacute se a ONG ou OIG for escoltada por uma

forccedila militar estatal poderaacute perder a sua neutralidade imparcialidade e independecircncia

pois a sua proteccedilatildeo depende diretamente das forccedilas armadas estatais Depender do

Estado para ver a sua seguranccedila assegurada poderaacute ter as seguintes consequecircncias 1) as

ONG OING e OIG poderatildeo ser pressionadas para natildeo tratar e ajudar determinada

populaccedilatildeo ou etnia 2) poderatildeo ver o seu acesso bloqueado a determinados territoacuterios

cuja populaccedilatildeo o Estado natildeo quer tratar 3) seratildeo temidas e malvistas pela populaccedilatildeo

que estaacute a sofrer agraves matildeos do Estado natildeo procurando ou aceitando a sua ajuda Por isso eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

30

importante analisar a escolta militar tendo em conta este fator (Gibbons e Piquard

2006)

No entanto Svoboda (2014) no seu livro The interaction between humanitarian and

militar actors where do we go from here refere que a interaccedilatildeo entre o profissional

humanitaacuterio e o militar eacute complicada e deve acontecer em uacuteltima instacircncia quando a

seguranccedila do humanitaacuterio eacute colocada em causa devido ao facto de os militares neste

caso os peacekeepers as agecircncias militares privadas a forccedila militar estatal natildeo se

regerem pelos mesmos princiacutepios que os humanitaacuterios e terem em certas circunstacircncias

de usar a forccedila para garantir a seguranccedila no terreno manter e restabelecer a paz Para

tal pode acontecer que estes possam vir a cometer atos incompatiacuteveis com a forma de

estar na Accedilatildeo Humanitaacuteria como por exemplo matar ou usar qualquer tipo de

armamento pois tal vai contra aos princiacutepios humanitaacuterios e Direito Internacional

Humanitaacuterio Pedir ajuda aos peacekeepers agraves agecircncias militares privadas ou outra

forccedila militar pode levar a que a imagem dos humanitaacuterios fique denegrida face agrave

populaccedilatildeo local agraves instituiccedilotildees ou pessoas individuais que doam fundos e que podem

natildeo ver com bons olhos esta interaccedilatildeo o que significa que se pode perder uma fonte de

financiamento o que seria grave para as ONG que dependem destas doaccedilotildees (Svoboda

2014 Cordaid 2014)

Seria por isso mais beneacutefico nos casos de conflitos armados que militares e

humanitaacuterios trabalhassem em conjunto o estritamente necessaacuterio para o sucesso da

missatildeo de ambos Estes natildeo tecircm de partilhar missotildees e princiacutepios Mas devem colaborar

para que a ajuda humanitaacuteria natildeo corra risco de fracassar que a ajuda chegue a toda a

populaccedilatildeo mesmo nos locais de difiacutecil acesso e desta forma seraacute mais faacutecil devolver a

dignidade fornecer os bens de primeira necessidade construir abrigos e campos de

refugiados seguros sempre sem colocar em causa as missotildees de ambos que satildeo

diferentes Eacute claro que esta questatildeo eacute mais complexa fazendo os humanitaacuterios

depararem-se com um grande dilema e tendo de fazer escolhas que em princiacutepio natildeo

deveriam ter de fazer Essa escolha eacute abdicamos dos princiacutepios fundamentais em prol

da nossa seguranccedila seguimos para o terreno mesmo sabendo que corremos perigo de

vida como seremos acolhidos pela populaccedilatildeo local ao chegar com escolta militar como

reagiratildeo os nossos patrocinadores estas satildeo questotildees e dilemas que as ONG enfrentam

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

31

em terrenos delicados muitas vezes essa escolha eacute entre seguranccedila e eacutetica humanitaacuteria

(Cordaid 2014)

Segundo Harmer (2008) o princiacutepio da neutralidade natildeo pode ser levado agrave letra

principalmente em Estados que estejam a atravessar um conflito armado onde a

inseguranccedila e o perigo de vida satildeo uma constante no terreno Deve por isso haver uma

grande reflexatildeo sobre os princiacutepios humanitaacuterios os crescentes ataques aos

humanitaacuterios de forma a que as ONG possam assistir agrave populaccedilatildeo de forma segura sem

ter de quebrar algum princiacutepio (Harmer 2008)

A assistecircncia deve ser provida em caso de conflito armado pela ajuda humanitaacuteria e de

forma a melhor operacionalizar a assistecircncia aos refugiados e agraves pessoas deslocadas

internamente mas para que tal seja possiacutevel eacute preciso criar um ambiente de seguranccedila

aos humanitaacuterios sempre respeitando os seus princiacutepios para que estes consigam

realizar o seu trabalho (Byman et al 2000)

Os humanitaacuterios deveriam ser ajudados pelas forccedilas militares em mateacuteria de transporte

de pessoal e de material de subsistecircncia como por exemplo aacutegua comida

medicamentos e outros mantimentos que de outra forma natildeo seria possiacutevel prover

Segundo Byman et al (2000) a cooperaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios equivaleria a

evidenciar o melhor dos dois mundos Se a forccedila militar pode garantir o transporte

analisar o solo para ver se estaacute armadilhado analisar a aacutegua potaacutevel e fornecer

assistecircncia meacutedica de urgecircncia este seria um bom aliado para a accedilatildeo humanitaacuteria que

pode oferecer assistecircncia meacutedica e tratamentos a meacutedio e longo prazo comida

mantimentos ajuda psicoloacutegica reconstruccedilatildeo satisfazer as necessidades baacutesicas ajudar

na construccedilatildeo de abrigos e gerir campos de refugiados de forma neutra Uma vez que

estes agem frequentemente em separado eacute difiacutecil poder fornecer ajuda humanitaacuteria aos

locais que realmente necessitam sem correr riscos ou demorar demasiado tempo Se

houvesse essa entreajuda os humanitaacuterios poderiam chegar ao local com ajuda militar

pela via aeacuterea ou mariacutetima Logo a forccedila aeacuterea poderia ser um grande aliado das ONG

OING e OIG na hora de ter de realizar deslocaccedilotildees de bens e pessoas (Byman et al

2000)

De certa forma segundo o autor os profissionais humanitaacuterios dependem dos

profissionais militares para poderem desenvolver o seu trabalho de forma segura e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

32

eficaz Por isso os militares devem garantir a seguranccedila nos aeroportos nos portos e

nos locais onde operarem bem como fornecer mapas atualizados das estradas seguras

para realizar as viagens ateacute ao local em questatildeo Evitar-se-iam muitos constrangimentos

e perdas de tempo (Byman et al 1967)

international military forces might also be mandated to play a relevant role in conflict situations

including through the provision of safe and secure environments for the civilian population and for

humanitarian actors to operate in Indeed military and police can execute essential tasks in situations

where governments are unable or unwilling to protect their own population in ways that go beyond the

mandate of humanitarian actors and hence are complementary to those (ECHO sd pp 1)

Segundo Stoddard et al (2009) a maioria das ONG contrata agecircncias militares com a

condiccedilatildeo de natildeo usar armas ou seja contratam soacute a escolta mas natildeo datildeo autorizaccedilatildeo

por uso de violecircncia o que leva ao mesmo problema este tipo de escolta soacute resolve

situaccedilotildees em paiacuteses cujo grau de perigo natildeo eacute muito elevado No entanto algumas ONG

viram-se forccediladas a contratar agecircncias privadas para escolta militar que recorressem agrave

forccedila caso fosse necessaacuterio para os proteger em caso de Estados que estatildeo a atravessar

um periacuteodo de grande conflito Pois escolta militar que natildeo possa fazer uso da forccedila eacute

afinal o mesmo que natildeo ter escolta e por conseguinte proteccedilatildeo eacute ter por exemplo um

agente a acompanhar fardado e nada mais As agecircncias militares privadas e a escolta

militar devem ser usadas em uacuteltimo recurso e nunca como prioridade O problema eacute que

os perpetradores dos ataques locais aos humanitaacuterios tecircm a noccedilatildeo de que os

peacekeepers natildeo podem fazer uso da forccedila a natildeo ser em legiacutetima defesa ou em casos

extremos onde os Direitos Humanos satildeo colocados em causa No entanto os ataques

aos humanitaacuterios natildeo satildeo por vezes graves o suficiente para que haja uma quebra do

princiacutepio do natildeo uso da forccedila O que leva a que a escolta militar natildeo leve propriamente

agrave diluiccedilatildeo dos ataques muito pelo contraacuterio podem intensificar (Stoddard et al 2009)

Seiple (1996) refere que apesar das diferenccedilas marcantes entre o humanitaacuterio e o

soldado a verdade eacute que a interaccedilatildeo no terreno entre os dois tem sido um caso de

sucesso Seiple (1996) apresenta o caso da relaccedilatildeo entre as forccedilas armadas dos EUA e as

ONG no terreno Segundo o autor esta relaccedilatildeo natildeo eacute natural Neste documento satildeo

apresentados quatro casos em que houve uma interaccedilatildeo no terreno entre ONG e

militares dos EUA (as forccedilas militares dos EUA estavam a realizar em caa um dos

casos uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria) que satildeo os seguintes Operation Provide Comfort

a norte do Iraque em 1991 Operation Sea Angel no Bangladesh em 1991 Operation

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

33

Restore Hope na Somaacutelia em 1992 e Operation Supporte Hope no Ruanda em 1994 Eacute

importante sinalizar que estas missotildees foram intervenccedilotildees humanitaacuterias Estas

operaccedilotildees foram efetivamente casos de sucesso militares e humanitaacuterios cooperaram no

terreno com sucesso No entanto a operaccedilatildeo Sea Angel no Bangladesh foi marcada por

diversas tensotildees poliacuteticas entre o governo e as forccedilas militares dos EUA criando uma

dificuldade de operar no terreno Na operaccedilatildeo Restore Hope na Somaacutelia as ONG

viram-se obrigadas a aceitar cooperar com as forccedilas militares dos EUA que estavam a

realizar uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria no terreno A cooperaccedilatildeo um bocado forccedilada

devido agraves circunstacircncias resultou Segundo Seiple (1996) a relaccedilatildeo entre ONG e

militares foi realizada com base no respeito por cada uma as missotildees Uma das ONG

que soacute aceitou em ultimo recurso esta cooperaccedilatildeo foi o MSF pois sabia que sem

seguranccedila natildeo poderiam continuar no terreno No caso da operaccedilatildeo Supporte Hope no

Ruanda natildeo existe uma cooperaccedilatildeo direta entre militares os EUA e ONG neste caso as

ONG que estivessem a operar no terreno tinham de fazer o pedido de escolta militar agraves

NU e esta fazia a ponte entre as ONG e as forccedilas militares no terreno O uacutenico contacto

que ONG e as forccedilas militares dos EUA tinham era o CMOC (The Civil Military

Operation Center) jaacute que neste caso especiacutefico do Ruanda as NU preferiram ser elas a

organizar e prover a seguranccedila ou escolta militar agraves ONG no terreno pois estava a

acontecer um genociacutedio e o clima de inseguranccedila era devastador tendo de haver grande

rigor na cooperaccedilatildeo que era feita a pedido das NU atraveacutes do CMOC Militares e

humanitaacuterios trabalharam em conjunto com sucesso O uacutenico problema que Seiple

aponta agrave accedilatildeo humanitaacuteria eacute a falta de coordenaccedilatildeo no terreno entre ONG OING e OIG

pois havendo coordenaccedilatildeo seria mais faacutecil prover seguranccedila (Seiple 1996)

Se Seiple (1996) via a relaccedilatildeo entre ONG e forccedilas armadas como algo beneacutefico e

essencial para uma boa assistecircncia humanitaacuteria e para ajudar a restabelecer a paz jaacute

Harmer (2008) natildeo pensa o mesmo Harmer redigiu um artigo sobre as missotildees

integradas tendo este tema originado diversos debates acesos entre proacute-integracionistas

e contra Os humanitaacuterios encontram-se renitentes acerca deste tipo de missotildees pois

natildeo querem colocar em causa a sua neutralidade e imparcialidade e perder a

independecircncia o que poderia ter como consequecircncias natildeo poderem assistir populaccedilotildees

que estariam no topo das suas listas teriam de obedecer agraves ordens e objetivos dos

peacekeepers e poderiam ser vistos como entidades poliacuteticas o que vai contra ao que eacute a

essecircncia da Accedilatildeo Humanitaacuteria No entanto como jaacute foi referido a violecircncia sobre os

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

34

humanitaacuterios verificou um aumento draacutestico a partir do ano 2000 tecircm vindo a ter

dificuldade de acesso a certos locais de alto conflito e as ONG no terreno tecircm

dificuldade em sinalizar os seus humanitaacuterios coisa que os peacekeepers fazem bem

embora nem sempre conseguem garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios tambeacutem Eacute

preciso encontrar um ponto de convergecircncia para a accedilatildeo conjunta e no resto

estabelecer bem as diferenccedilas e os pontos em que natildeo podem ceder ou admitir

intervenccedilatildeo muacutetua (Harmer 2008)

A autora refere que o Secretaacuterio-Geral agrave eacutepoca Kofi Annan apelou aquando do

relatoacuterio do painel sobre as missotildees de paz das NU para um plano de integraccedilatildeo agraves

missotildees das NU e referiu que missotildees integradas devem ser adotadas em missotildees de

paz No entanto existe uma grande resistecircncia por parte de grandes ONG e OING a este

tipo de missotildees integradas sejam elas na forma maximalista ou minimalista No modelo

minimalista existe o trabalho do OCHA que tem uma identidade separada e a

integraccedilatildeo eacute feita atraveacutes de uma partilha de informaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo em vez de um

quadro organizacional unificado ou seja a Coordenaccedilatildeo Humanitaacuteria (CH) e o ERSG

(Representante Especial do Secretaacuterio-Geral) mas ao mesmo tempo mantendo um

escritoacuterio individual do OCHA fora do campo O OCHA tem um papel fulcral pois eacute o

elo de ligaccedilatildeo entre as ONG OING e OIG agraves NU mantendo-se no entanto

independecircncia destes face agraves NU de forma a que a imparcialidade independecircncia e a

neutralidade natildeo sejam postas em causa Tambeacutem se evita que as NU exerccedilam pressatildeo

para que a missatildeo seja conduzida de uma forma que natildeo a planeada (Harmer 2008)

Uma integraccedilatildeo maximalista significa a remoccedilatildeo da identidade separada do OCHA e a

lideranccedila humanitaacuteria das NU estaraacute presente integralmente na estrutura de transmissatildeo

geral A maioria das ONG eacute contra a versatildeo maximalista de integraccedilatildeo como a Save the

Children e a Care tendo como principal argumento a necessidade da existecircncia e

abertura do HC (Humanitarian Coordinator) a todos incluindo as organizaccedilotildees que se

sentem desconfortaacuteveis com a ideia de trabalhar com militares Tal eacute perfeitamente

compreensiacutevel pois ao trabalhar com as NU mesmo que numa versatildeo internacionalista

minimalista existe sempre uma perda de independecircncia na hora de decidir quais os

locais prioritaacuterios a assistir no terreno por exemplo (Harmer 2008)

No entanto ainda segundo Harmer (2008) deve ser tida em conta a opccedilatildeo

integracionista minimalista em que permanece o corpo de coordenaccedilatildeo OCHA tendo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

35

mesmo a UNICEF o ACNUR e a OXFAM reconhecido que esta visatildeo integracionista

pode facilitar o delinear de estrateacutegias militares e poliacuteticas sem colocar em causa ou

tentando pocirc-los o minimamente possiacutevel os princiacutepios humanitaacuterios O OCHA deve

neste contexto agir em separado das NU de forma a que possa agir de forma neutra e

imparcial consoante a situaccedilatildeo na qual estatildeo a fornecer ajuda humanitaacuteria para que natildeo

sofra influecircncias e pressotildees A autora refere ainda que nos tempos de hoje a accedilatildeo

humanitaacuteria natildeo pode mais aplicar a neutralidade pura e dura pois existem grandes

perigos de ataques no terreno a ONG sendo necessaacuterio recorrer agraves forccedilas militares

exatamente para garantir a sua seguranccedila A relaccedilatildeo entre humanitaacuterio-militar deve ser

amplamente delineada tendo de ser estabelecido um guia onde sejam indicadas as

circunstacircncias em que deve ser feito o pedido de escolta e proteccedilatildeo aos militares e

como deve ser feito esse procedimento (Harmer 2008)

A adoccedilatildeo do modelo de missatildeo integrada minimalista poderaacute ser a melhor opccedilatildeo para a

comunidade humanitaacuteria em terrenos de alta instabilidade e inseguranccedila Com este

modelo as organizaccedilotildees humanitaacuterias obtecircm proteccedilatildeo e seguranccedila sem colocarem em

causa os princiacutepios humanitaacuterios As missotildees integradas minimalistas natildeo tecircm de se

basear necessariamente na escolta militar podem basear-se tambeacutem na partilha de

informaccedilatildeo acerca dos terrenos seguros terrenos armadilhados mapas com os melhores

caminhos a percorrer entre outras informaccedilotildees No entanto esta colaboraccedilatildeo deve ser

bem estudada e analisada Deve ser tambeacutem estabelecido um guia de colaboraccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares tal como foi criado para a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as

organizaccedilotildees humanitaacuterias (Harmer 2008)

A OXFAM por exemplo redigiu um documento intitulado Un Integrated Missions and

Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations Integrated

Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) acerca das missotildees integradas

com as NU expondo os problemas que poderiam advir desta parceria Segundo a

OXFAM a neutralidade e imparcialidade estariam em causa num mandato que fosse

para aleacutem das partilhas de pontos de vista comum pois teriam uma integraccedilatildeo mais

estrutural sob uma gestatildeo comum do mandato onde as operaccedilotildees de peacekeeping

funccedilotildees poliacuteticas e organizaccedilotildees humanitaacuterias estariam sob a chefia de um uacutenico

mandato Esta situaccedilatildeo poder levar a que os humanitaacuterios percam a independecircncia de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

36

aceder a determinados locais sejam usados para fins poliacuteticos e podem perder a

confianccedila da populaccedilatildeo (OXFAM 2014)

As proacuteprias NU reconheceram em 2013 os riscos inerentes agraves abordagens de

planeamento e avaliaccedilatildeo integrados Esses riscos seriam o facto de poder ser dada a

prioridade agraves missotildees militares ou poliacuteticas que possam influenciar a accedilatildeo humanitaacuteria

como o acesso humanitaacuterio e a seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno As pessoas

podem natildeo procurar ajuda humanitaacuteria de forma a que natildeo se vejam comprometidos e

natildeo sofram represaacutelias Logo caso isto aconteccedila os humanitaacuterios podem natildeo ser

percebidos como imparciais e neutros aos olhos da populaccedilatildeo falhando assim a missatildeo

(OXFAM 2014)

Iraacute ser agora feita uma apreciaccedilatildeo do referido documento da OXFAM (2014) Este

documento eacute relevante para a presente dissertaccedilatildeo pois apresenta o ponto de vista da

ONG em relaccedilatildeo agraves missotildees integradas propondo um conjunto de regras de cooperaccedilatildeo

no terreno entre ONG OING e as NU

Para mitigar estes riscos a OXFAM preparou um conjunto de regras para cooperar

especificamente com as NU

A accedilatildeo humanitaacuteria deve ser separada das operaccedilotildees de peacekeeping ou

poliacuteticas das NU de forma a que natildeo sejam confundidas as missotildees e natildeo haja

confusotildees no terreno

Uma associaccedilatildeo visiacutevel entre os humanitaacuterios que cooperam com as NU e outros

objetivos das NU deve ser minimizada em conflitos e contextos de elevada

fragilidade de forma a prevenir potenciais problemas no terreno

Antes de decidir qualquer abordagem de integraccedilatildeo devem ser feitas avaliaccedilotildees

de risco envolvendo ONG e OING De forma alguma as ONG e OING devem

partir para uma missatildeo integrada sem participarem no processo de planeamento

e abordagem da missatildeo

A avaliaccedilatildeo deve ser revista e feita com regularidade procedendo a mudanccedilas se

necessaacuterias a missatildeo integrada pode ser portanto revista e atualizada consoante

a evoluccedilatildeo da missatildeo no terreno (OXFAM 2014 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

37

A OXFAM refere ainda que as missotildees integradas com as NU devem ter em conta os

princiacutepios humanitaacuterios incluindo assistecircncia baseada na imparcialidade agraves pessoas em

necessidade A OXFAM eacute uma das ONG que eacute muitas vezes associada agraves agecircncias

humanitaacuterias das NU devido aos mecanismos de coordenaccedilatildeo fundos das NU e uso dos

meios de transporte aeacutereos das NU O facto de haver esta associaccedilatildeo agraves agecircncias das

NU pode levar agrave confusatildeo podendo a populaccedilatildeo crer que estas fazem parte das

poliacuteticas e missotildees integradas das NU que muitas vezes apoiam uma das partes das

hostilidades o que coloca em causa o trabalho das ONG ou OING No entanto existem

outras situaccedilotildees que podem levar a este tipo de mal-entendido a saber

Colocar organizaccedilotildees humanitaacuterias e outros atores das NU no mesmo lugar deve

ser evitado a todo o custo pois poderaacute dar azo a mal-entendidos no terreno e

deitar por terra todo o trabalho da ONG ou OING no terreno

O uso da escolta militar para fins humanitaacuterios eacute em determinados casos

fundamental para aceder a territoacuterios No entanto antes de partir para esta

escolha a opccedilatildeo deve ser minuciosamente estudada e soacute em ultimo recurso

usada

Apresentar as operaccedilotildees de peacekeeping ou toda a missatildeo integrada como

sendo humanitaacuteria quando natildeo o eacute Satildeo missotildees completamente diferentes que

decidem cooperar de forma que os humanitaacuterios possam ter o miacutenimo de

condiccedilotildees para operar no terreno

Usar as operaccedilotildees de peacekeeping para fornecer os Quick Impact para

desenvolver confianccedila na missatildeo no mandato e no processo de paz Os QIPs satildeo

projetos de pequena escala (duraccedilatildeo meacutedia de 6 meses) que tecircm como objetivo

ter um impacto imediato que contribua para a estabilizaccedilatildeo reconstruccedilatildeo e

estabilizaccedilatildeo no poacutes-conflito Podem tambeacutem ter um impacto no

desenvolvimento a longo prazo (OXFAM 2014 pp 3)

As NU tambeacutem tecircm feito um esforccedilo para conseguir elaborar um modelo de missatildeo

integrada no qual eacute respeitado o espaccedilo humanitaacuterios e os princiacutepios humanitaacuterios de

forma a mitigar os riscos que podem advir No entanto em 2014 as NU defenderam

uma missatildeo integrada estrutural com a representaccedilatildeo das ONG pela Humanitarian

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

38

Country Team e pelo OCHA (o OCHA faz tambeacutem uma avaliaccedilatildeo e realiza planos

estrateacutegicos de atuaccedilatildeo no terreno consoante os casos) que tem realizado avaliaccedilotildees de

risco subjacentes a este tipo de missatildeo (OCHA sd) No entanto no caso do Sudatildeo do

Sul as NU foram criticadas por terem optado pela missatildeo integrada estrutural onde os

peacekeepers e humanitaacuterios satildeo alvo da mesma gestatildeo programa e poliacuteticas o que

numa situaccedilatildeo como o Sudatildeo do Sul eacute impensaacutevel Como eacute sabido a operaccedilatildeo

peacekeeping esteve do lado do governo ajudando a restabelecer a instituiccedilatildeo de

governaccedilatildeo o que leva a que os humanitaacuterios sejam eles tambeacutem colados ao governo e

seja limitado o acesso a determinados locais ou determinada populaccedilatildeo natildeo queira ser

tratada por eles

Este eacute pois o Guia de missotildees integradas realizado pela OXFAM onde satildeo expostos os

riscos o que deve ser evitado e como evitar que haja um atropelamento dos princiacutepios

fundamentais humanitaacuterios pelas NU no terreno Desta forma respeitando esta guia

seriam evitados potenciais riscos de os princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria serem postos em

causa de haver aproveitamento poliacutetico da missatildeo integrada e limitar os humanitaacuterios a

determinados locais Uma vez as condiccedilotildees respeitadas e a seguranccedila assegurada aos

humanitaacuterios seria mais faacutecil para as ONG ou OING operarem no terreno (OXFAM

2014)

A OXFAM prefere a missatildeo integrada estrateacutegica pois eacute uma abordagem mais coerente

para um trabalho comum entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a operaccedilatildeo de peacekeeping Neste

caso as ONG iriam trabalhar com o OCHA que se manteria independente em relaccedilatildeo

agraves NU e imparcial natildeo sendo toleradas pressotildees para agir de uma dada forma ou aceder

ao local X Jaacute a missatildeo integrada estruturante natildeo faz sentido segundo o OXFAM

Admite uma comunicaccedilatildeo efetiva entre organizaccedilotildees humanitaacuterias e operaccedilotildees de

peacekeeping ou atores poliacuteticos que podem proteger a populaccedilatildeo e o reconhecimento

dos seus direitos No entanto a accedilatildeo humanitaacuteria deve manter-se independente da accedilatildeo

securitaacuteria ou consideraccedilotildees poliacuteticas

Para que as missotildees integradas sejam bem-sucedidas as NU devem respeitar os

seguintes pontos segundo a OXFAM (2014)

A accedilatildeo humanitaacuteria deve continuar estruturalmente separada da poliacutetica ou

componentes de peacekeeping relativamente a uma missatildeo integrada das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

39

Logo uma associaccedilatildeo visiacutevel entre missotildees humanitaacuterias e outros objetivos

devem ser minimizados

Antes de decidir partir para a abordagem de uma missatildeo integrada deve ser feita

uma avaliaccedilatildeo que envolva ONG e OING de forma a identificar potenciais

riscos para a accedilatildeo humanitaacuteria e o que pode ser feito para mitigar os mesmos

Essa avaliaccedilatildeo deveraacute ser feita com regularidade e revista de forma a que

possam ser feitas correccedilotildees

Quaisquer que sejam os acordos feitos relativos agraves missotildees integradas os

mandatos das NU devem sempre respeitar os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios incluindo uma assistecircncia imparcial baseada apenas na

necessidade da populaccedilatildeo

As orientaccedilotildees do IASC (Inter-Agency Standing Commitee) sobre a manutenccedilatildeo

da distinccedilatildeo entre accedilatildeo humanitaacuteria as atividades poliacuteticas ou de manutenccedilatildeo da

paz devem ser rigorosamente aplicadas sempre que haja riscos e estes sejam

encobertos pelas NU Isto inclui o Guia de 2004 sobre as relaccedilotildees civis-militares

em situaccedilotildees de emergecircncia o Guia de 2003 sobre o uso de recursos militares e

de defesa civil para apoiar atividades humanitaacuterias das NU em situaccedilotildees

complexas de emergecircncias e o de 2012 sobre o uso de escoltas armadas aos

comboios humanitaacuterios Estes guias devem ser amplamente promovidos

As negociaccedilotildees humanitaacuterias do acesso agraves pessoas em necessidade devem manter-

se separadas dos objetivos poliacuteticos de forma a que os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios natildeo sejam colocados em causa (OXFAM 2014 pp 4)

Uma vez que as NU assegurem estes pontos todos a OXFAM compromete-se a que vai

Distinguir-se das missotildees das NU enquanto se compromete com a promoccedilatildeo da

coordenaccedilatildeo e proteccedilatildeo dos civis

Promover a distinccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e funccedilotildees poliacuteticas ou de

peacekeeping das missotildees das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

40

Trabalhar com o IASC o HCT e grupos de coordenaccedilatildeo das ONG no terreno de

forma a promover a consciencializaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo consistente e salvaguarda dos

princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria

Invocar a poliacutetica de IAP (Integrated Assessment and Planning) da ONU para

pedir uma revisatildeo dos acordos e devem ser aplicadas medidas de mitigaccedilatildeo no

caso de haver acordos de integraccedilatildeo estabelecidos que sejam considerados como

tendo riscos para accedilatildeo humanitaacuteria

Apoiar os esforccedilos de especialistas humanitaacuterios para desenvolver exerciacutecios de

gerenciamento de crises e fazer um preacute planeamento em campo de forma a

treinar as forccedilas militares que trabalham sob o mandato das NU implantado em

missotildees de manutenccedilatildeo da paz Esses exerciacutecios devem ser explicados aos

comandantes militares e agraves agecircncias de ajuda de forma a avaliarem as

necessidades o potencial e vantagens que os humanitaacuterios gozam nas relaccedilotildees

comunitaacuterias e anaacutelises geograacuteficas bem como as relaccedilotildees sociopoliacuteticas locais

ressalvando a importacircncia de manter uma distinccedilatildeo visiacutevel entre atividades

humanitaacuterias e de manutenccedilatildeo da paz

Solicitar ativamente esforccedilos para rever as missotildees integradas durante a sua

duraccedilatildeo e incentivar a avaliaccedilatildeo independente de sua relaccedilatildeo custo-eficaacutecia

contra o impacto imediato e de longo prazo no final da missatildeo Deve haver um

mecanismo de monitoramento que permita que as missotildees aprendam no terreno

avaliando o que funciona e o que natildeo funciona permitindo proceder a mudanccedilas

se necessaacuterio (OXFAM 2014 pp 5)

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno

Eacute verdade que as ONG humanitaacuterias hospitais humanitaacuterios entidades religiosas e

escolas tecircm estatuto neutral no conflito e natildeo podem por isso ser alvo de ataque

segundo as convenccedilotildees de Genebra no entanto o que se tem verificado eacute um aumento

de ataques a estas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees levando por exemplo MSF agrave

necessidade de trocar a cor da carrinha para natildeo ser confundida com a carrinha do

exeacutercito e ser alvo de ataques como tantas outras ONG tecircm sido alvo O hospital da

MSF foi inclusive alvo em 2015 no Afeganistatildeo por um ataque dos EUA que tendo

provocados 19 mortos dos quais 12 eram membros da organizaccedilatildeo Segundo os MSF

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

41

natildeo haacute desculpa para o ataque dos EUA pois o hospital estava devidamente identificado

e mapeado ou seja identificado O bombardeamento durou 30 minutos mesmo apoacutes a

organizaccedilatildeo avisar os EUA Esta ocorrecircncia eacute muito grave pois ataques a hospitais

podem ser considerados crimes de guerra e mostra que as organizaccedilotildees humanitaacuterias

operam num contexto onde a seguranccedila eacute precaacuteria o que torna difiacutecil realizarem o seu

trabalho Para evitar este tipo de trageacutedias eacute necessaacuterio haver um bom mapeamento das

ONG OING e OIG bem como dos hospitais Este eacute um exemplo de que os ataques tecircm

de ser prevenidos natildeo soacute a partir do terreno mas tambeacutem fora do terreno a niacutevel

internacional para que situaccedilotildees destas natildeo voltem a ocorrer No entanto os ataques satildeo

maioritariamente realizados no terreno por atacantes nacionais do Estado em conflito

armado (Smith 2012 Globo 2015)

A confusatildeo que pode advir da escolta militar eacute uma questatildeo fulcral pois se por um lado

a escolta militar daacute seguranccedila por outro pode levar a que possam ser alvos de ataques

por parte de miliacutecias locais Podem tambeacutem ser facilmente colados a uma das partes das

hostilidades e confundidos com militares caso o material e as carrinhas natildeo sejam

devidamente identificadas tal como aconteceu com o MSF referido acima (Gibbons e

Piquard 2006)

Todos os veiacuteculos das ONG hospitais e produtos devem ser devidamente identificados

de forma a que natildeo sejam confundidos com as forccedilas militares em geral como iraacute ser

abordado no guia de colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares das NU que refere isto

mesmo Militares e ONG humanitaacuterias podem cooperar de forma minuciosa bem

planeada em uacuteltimo recurso e identificando adequadamente as instalaccedilotildees carros

campos de refugiados produtos entre outros Todo o cuidado eacute pouco pois um

pequeno deslize pode ter como consequecircncia uma confusatildeo e resultar num ataque As

ONG devem distanciar-se o maacuteximo dos militares e usar a escolta como jaacute foi referido

como uacuteltimo recurso (Gibbons e Piquard 2006)

Em 2013 registou-se 460 viacutetimas humanitaacuterias das quais 155 pessoas foram

assassinadas e 134 foram raptados e gravemente feridos Houve um aumento de 66

das viacutetimas entre 2012 e 2013 Esta eacute a problemaacutetica central deste estudo e por isso seraacute

feita de seguida uma conceptualizaccedilatildeo sobre o sistema securitaacuterio das Naccedilotildees Unidas e

agecircncias militares privadas nos cenaacuterios humanitaacuterios Jaacute no relatoacuterio de 2015 consta

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

42

que em 2014 foram assassinados 120 humanitaacuterios 88 ficaram feridos e 121 foram

raptados (Ryou et al 2014 Humanitarian Outcomes 2015)

A maior parte das viacutetimas eram membros de ONG locais e faziam parte da Cruz

Vermelha e Crescente Vermelho e os ataques e emboscadas eram em 2013

maioritariamente perpetrados no caminho para os locais onde estes iam operar Para se

ter uma noccedilatildeo mais precisa 87 das viacutetimas satildeo nacionais do paiacutes onde a ajuda estaacute a

ser fornecida e 13 satildeo membros internacionais A seguranccedila dos humanitaacuterios tem

vindo a revelar-se uma razatildeo fundamental para o insucesso de certas missotildees pois natildeo

conseguem chegar aos locais outras ONG decidem abandonar o terreno por natildeo

conseguirem realizar o seu trabalho em seguranccedila Segundo The Aid Worker Security

Report podemos verificar no documento relativo a seguranccedila na aacuterea da accedilatildeo

humanitaacuteria que pouco tem sido investido na mitigaccedilatildeo dos riscos na estrada e natildeo soacute

A 11 de Julho de 2016 foi realizado um ataque a humanitaacuterios em lugar em que estes

foram torturados espancados e abusados sexualmente Este caso violento de ataque a

humanitaacuterios foi amplamente divulgado devido agrave inaccedilatildeo por parte dos peacekeepers

face aos pedidos de ajuda dos humanitaacuterios (Ryou et al 2014 e Adongo 2017)

Os ataques aos humanitaacuterios tecircm ocorrido em 30 Estados No entanto trecircs quartos dos

ataques foram realizados em apenas cinco Estados que estatildeo a passar por um conflito

armado e uma falha de governaccedilatildeo (Estados fraacutegeis) Esses Estados satildeo Sudatildeo do Sul

Sudatildeo Afeganistatildeo Siacuteria e Paquistatildeo Estes ataques satildeo sobretudo raptos e tiroteio

depois vecircm assaltos sem armas de fogo e em uacuteltimo lugar o recurso a explosivos No

entanto este uacuteltimo meacutetodo de ataque tem vindo a sofrer um aumento significativo

entre 2006 e 2013 (Humanitarian Outcomes 2014)

Segundo dados mais recentes do relatoacuterio de Czwarno et al (2017) verifica-se que

houve de facto um aumento do nuacutemero de ataques entre 2007 e 2016

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

43

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terreno

Fonte Czwarno M Harmer A e Stoddard A (2017)

Eacute ainda abordado em Ryou et al (2014) e Brabant et al (2010) o procedimento de

treino dos membros das ONG para uma travessia segura para o local onde pretendam

operar Este programa de treino eacute intitulado de SOP (Standard Operating Procedure)

Neste programa constam os seguintes toacutepicos

bull Aprender conduccedilatildeo defensiva para as situaccedilotildees em que precisariam de fugir de

uma determinada situaccedilatildeo de perigo e adquirir capacidade de negociaccedilatildeo no caso de se

depararem com uma situaccedilatildeo em que teratildeo de negociar com o chefe dos rebeldes do

grupo eacutetnico tribo entre outros

bull Adotar guias de instruccedilatildeo ou manuais de boa conduta em caso de ter de passar

check-points em caso de fogo armado assaltos sequestros etc Este ponto eacute muito

importante pois eacute necessaacuterio ir preparado psicologicamente para fazer a travessia por

check-points saber que tipo de documentos mostrar o que dizer como agir e em caso

de fogo armado quais os procedimentos de proteccedilatildeo do pessoal a adotar

bull Fazer sempre pedido de autorizaccedilatildeo para movimentar o staff ou viajar para

outros locais eacute necessaacuterio avisar sempre e realizar o pedido de autorizaccedilatildeo para natildeo

terem problemas nos check-points e correrem o risco de serem detidos

bull Adotar o procedimento em que todos os elementos do grupo avisam a sua

partida e chegada ao local Este procedimento deve ser adotado pela esquipa de forma a

saberem onde cada elemento estaacute a que horas estaacute prevista a chegada e estarem sempre

0

50

100

150

200

250

300

350

2007 2011 2014 2017

Incidentes

Viacutetimas

humanitaacuterios

mortos

humanitaacuterios

eridos

raptos de

humanitaacuterios

Viacutetimas

internacionais

Viacutetimas

nacionais

5

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

44

contactaacuteveis de modo a que seja faacutecil identificar se um membro do grupo estaacute em

problemas devido agrave incomunicabilidade desaparecimento entre outros

bull Estabelecer toques de recolher e mapear as aacutereas que natildeo sejam seguras no

momento preciso em que pensam partir Este ponto eacute essencial para garantir a seguranccedila

do staff e natildeo correrem riscos desnecessaacuterios

bull Mudar as rotinas para que natildeo sejam alvo faacutecil dos rebeldes ou outras forccedilas

militarespopulaccedilatildeo local que queiram atacar e o staff deve ser acompanhado pelo liacuteder

da comunidade com a qual vatildeo trabalhar de forma a que seja garantida a sua seguranccedila

bull Usar raacutedio de alta frequecircncia e equipamentos sateacutelite em missotildees de longa

distacircncia para que todos os elementos da equipa permaneccedilam contactaacuteveis

bull Regras de conduta entre dois carros e espaccedilamento entre eles eacute importante

sobretudo num campo em que natildeo conhecemos nem estamos acostumados (Ryou et al

2014 pp 8-9 Brabant et al 2010 pp 12-16)

O relatoacuterio de Ryou et al (2014) aponta a escolta militar como ultimo recurso usado

pelas ONG e quando usada eacute fornecida pelo governo do Estado em conflito armado ou

pelos peacekeepers ou pela NATO A NATO eacute uma opccedilatildeo agrave qual a comunidade

humanitaacuteria deveraacute recorrer em uacuteltimo recurso pelo simples facto de natildeo se manter

neutra no terreno o que poder A NATO tem um compromisso com as NU quanto a

assegurar a paz e seguranccedila mundial (Ryou et al 2014 e NATO 2016)

A NATO em conjunto com as NU e a UE atua a prevenir crises gerir conflitos ajudar

a estabilizar em situaccedilotildees de poacutes-conflito Esta cooperaccedilatildeo estende-se agrave avaliaccedilatildeo e

gestatildeo de crises cooperaccedilatildeo civil-militar que eacute o foco do tema que estaacute a ser retratado

nesta dissertaccedilatildeo treino e educaccedilatildeo combate agrave corrupccedilatildeo no setor da defesa accedilatildeo

contra as minas mitigaccedilatildeo das ameaccedilas representadas por dispositivos explosivos

improvisados capacidades civis promoccedilatildeo do papel das mulheres em paz e seguranccedila

proteccedilatildeo de civis incluindo crianccedilas conflitos armados combate agrave violecircncia e violecircncia

de gecircnero controle de armas e natildeo proliferaccedilatildeo e a luta contra o terrorismo A

cooperaccedilatildeo eacute ainda reforccedilada com as NU e outros atores internacionais como a UE e a

Organizaccedilatildeo para a Seguranccedila e a Cooperaccedilatildeo na Europa (OSCE) que satildeo partes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

45

integrantes do contributo da NATO para uma abordagem abrangente quanto agrave gestatildeo e

operaccedilotildees de crise (NATO 2016)

Retomando entatildeo a questatildeo referente agraves opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno agrave primeira vista as melhores opccedilotildees seriam mesmo escolta e

proteccedilatildeo no acircmbito de missotildees sob o princiacutepio da R2P as missotildees integradas

minimalistas ou as agecircncias militares privadas No caso das missotildees integradas em

cooperaccedilatildeo com os peacekeepers respeitando o guia de cooperaccedilatildeo entre militar-

humanitaacuterio no caso das agecircncias militares privadas caso estejam devidamente

regulamentadas no direito internacional humanitaacuterio Por uacuteltimo o peace enforcement ao

abrigo do princiacutepio do R2P eacute a melhor opccedilatildeo para Estados que estejam numa situaccedilatildeo

de alta inseguranccedila pois eacute uma intervenccedilatildeo de emergecircncia A escolta pode facilitar a

deslocaccedilatildeo no entanto eacute preciso respeitar os princiacutepios fundamentais da accedilatildeo

humanitaacuteria e as ONG OING e OIG humanitaacuterias respeitarem as missotildees dos militares

com os quais estatildeo a cooperar nesse preciso momento Esta cooperaccedilatildeo tem como

intuito melhorar a seguranccedila e proteger os humanitaacuterios e natildeo dificultar o trabalho de

ambos (Bellamy 2015)

O problema com a cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao

abrigo do R2P natildeo estaacute isenta de perigos podendo mesmo ser mais os pontos negativos

do que favoraacuteveis Pois os militares sob este tipo de missatildeo natildeo satildeo neutros partindo

para o terreno para acabar com a calamidade que estaacute a acontecer ou seja atacar os

responsaacuteveis pelas atrocidades que poderatildeo ser os proacuteprios governantes Sendo o

governo o responsaacutevel pelas atrocidades os militares do peace enforcement iratildeo estar

contra a forccedila que estaacute no poder e por conseguinte estando os humanitaacuterios a receber

escolta do peace enforcement iratildeo sofrer represaacutelias como ataques ou ver o acesso

negado a determinados locais poderaacute mesmo seraacute negada a permissatildeo de permanecer

no terreno e poderatildeo ser atacados por miliacutecias O perpetrador das atrocidades podem

ainda ser miliacutecias e por conseguinte natildeo ser faacutecil fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e

natildeo combatentes podendo ser atacados civis no terreno colocando uma vez mais a

comunidade internacional num dilema entre a seguranccedila e respeitar os princiacutepios da

neutralidade e imparcialidade colocando-os numa situaccedilatildeo de grande fragilidade

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

46

No entanto existe uma necessidade de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios no terreno e a

comunidade humanitaacuteria eacute fulcral quanto agrave proteccedilatildeo dos civis assistindo medicamente

fornecendo bens essenciais como comida aacutegua medicaccedilatildeo e apoio psicoloacutegico

acolhem refugiados e IDP fazem uso das suas influecircncias para dar apoio juriacutedico agraves

viacutetimas e garantem proteccedilatildeo Estes pontos referidos tecircm um papel crucial na pacificaccedilatildeo

dos territoacuterios O espaccedilo humanitaacuterio neutro e imparcial daacute uma sensaccedilatildeo de proteccedilatildeo agrave

populaccedilatildeo um refugioabrigo e este espaccedilo pode ser colocado em causa com uma

missatildeo integrada com os militares do peace enforcement pois a comunidade

humanitaacuteria eacute politizada involuntariamente perdendo a neutralidade Ou seja eacute um

dilema que os humanitaacuterios atravessam no terreno dilema entre a seguranccedila a

permanecircncia no terreno e salvar vidas (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Apesar destes pontos negativos a verdade eacute que eacute impossiacutevel para a comunidade

humanitaacuteria manter-se neutra neste tipo de conflitos e precisa de escolta para conseguir

prosseguir com a sua missatildeo Segundo Bellamy (2015) a missatildeo sob o princiacutepio da

R2P no Sri Lanka entre 2008-2009 foi mal sucedida as NU natildeo tiveram capacidade

suficiente para proteger os civis e garantir o acesso dos humanitaacuterios aos locais onde

residiam os civis em necessidade A comunidade humanitaacuteria no terreno viu-se forccedilada

a terminar a missatildeo devido ao facto de o governo ter restringido o acesso das

organizaccedilotildees humanitaacuterias e o staff das NU foi persistentemente intimidado As NU natildeo

tentaram chamar o governo agrave realidade evidenciando que restringir o acesso dos

humanitaacuterios vai contra agraves suas obrigaccedilotildees internacionais As NU falharam tambeacutem

quanto ao seu dever de informar os Estados sobre violaccedilotildees dos direitos humanos no

terreno A comunidade humanitaacuteria natildeo pode cooperar com este tipo de accedilotildees vai

contra agrave essecircncia da accedilatildeo humanitaacuteria Logo o peace enforcement sob o princiacutepio do

R2P que inicialmente poderia ser uma soluccedilatildeo viaacutevel para garantir a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios no terreno (devido ao princiacutepio subjacente e agraves restriccedilotildees e regras riacutegidas

de atuaccedilatildeo no terreno) deixa de o ser a partir do momento em que falha como no Sri

Lanka para com os cidadatildeos e para com a comunidade humanitaacuteria uma vez que natildeo

conseguiu garantir um acesso seguro e a permanecircncia dos humanitaacuterios no terreno

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Portanto uma missatildeo integrada no terreno com o peace enforcement ao abrigo do

princiacutepio da responsabilidade de proteger pode ser a soluccedilatildeo mais raacutepida e a mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

47

adequada pois estatildeo todos empenhados em aliviar o sofrimento humano salvar vidas e

por termo agraves atrocidades No entanto na praacutetica esta eacute uma situaccedilatildeo bastante complexa

mas que natildeo deve ser descartada A decisatildeo quanto agrave adoccedilatildeo de uma missatildeo integrada

entre o peace enforcement ao abrigo do R2P e organizaccedilotildees humanitaacuterias deve ser

avaliada e decidida caso a caso (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

No entanto a colaboraccedilatildeo entre militar e humanitaacuterio pode ser fomentada de outra

forma estabelecendo uma verdadeira parceria onde cada um manteacutem a sua

independecircncia e no caso dos humanitaacuterios a imparcialidade e neutralidade A forccedila

militar preferencial para esta parceria seria os peacekeepers pois satildeo uma forccedila militar

internacional e imparcial Desta forma os dois atores complementam-se sem que haja

interferecircncia nas missotildees de cada um Segundo Gibbons e Piquard essa parceria pode

acontecer das seguintes formas

1 A ONG humanitaacuteria pode pedir coordenadas especificas aos militares sobre a

seguranccedila de determinada regiatildeo pedir instruccedilotildees sobre a melhor hora e caminho para

fazer a viagem ateacute determinado local considerado perigoso Desta forma a equipa

poderaacute viajar para o local atraveacutes de um caminho mais seguro recomendado pelos

militares acostumados no terreno Devem tambeacutem permanecer em contacto com a forccedila

militar com a qual estatildeo a colaborar de modo a que caso haja um problema estes

possam assistir a equipa)

2 Poderatildeo pedir contactos ou para agilizar a comunicaccedilatildeo entre a ONG e o liacuteder

da comunidade com a qual iratildeo trabalhar de forma a evitar problemas desagradaacuteveis e a

que sejam aceites no local e assim a ajuda poder ser fornecida sem

3 Os militares podem dar formaccedilatildeo aos humanitaacuterios de autodefesa seguranccedila

como por exemplo o uso da raacutedio como meio de comunicaccedilatildeo mapas entre outros e

como organizarem a logiacutestica toda de forma raacutepida e eficaz (Gibbons e Piquard 2006

pp25-95)

Caso a escolta militar natildeo possa ser dispensada existe ainda a possibilidade de os

militares escoltarem a equipa agrave paisana ou seja sem a farda de modo a natildeo chamarem

a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo local ou dos ldquoinimigosrdquo Deste modo os humanitaacuterios

realizariam a viajarem em seguranccedila a populaccedilatildeo natildeo perderia a confianccedila na ONG

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

48

pois natildeo teriam como saber que estavam a ser escoltados por uma forccedila militar Este

meacutetodo seria para usar esporadicamente (Gibbons e Piquard 2006 pp25-95)

O que se pretende demonstrar com as medidas anteriormente expostas eacute que os

humanitaacuterios devem recorrer soacute em ultimo recurso agrave escolta militar Antes podem pedir

colaboraccedilatildeo do tipo backoffice pedindo informaccedilotildees ou um mapeamento dos caminhos

seguros para chegar a determinado local pedir formaccedilatildeo sobre o uso da raacutedio por

sateacutelite como meio de comunicaccedilatildeo formaccedilatildeo de autodefesa conduccedilatildeo e uso de

determinadas ferramentas de logiacutestica que poderatildeo vir a ser uacuteteis no futuro de forma a

contribuir para uma estadia mais segura sem colocar em causa a missatildeo de ambos e os

princiacutepios humanitaacuterios (Gibbons e Piquard 2006)

Segundo Gibbons e Piquard (2006) ONG OING e OIG natildeo precisam de estar de costas

voltadas para os militares podem colaborar em conjunto de diversas formas que natildeo

sejam diretamente a escolta para natildeo serem associados a determinada forccedila poliacutetica Soacute

como uacuteltimo recurso como em caso de grande perigo deveratildeo pedir escolta ou usar os

meios de transporte militares neste caso o aeacutereo seria o mais desejaacutevel para levar o

maacuteximo de mantimentos possiacutevel

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios

Devido agraves necessidades de proteccedilatildeo e seguranccedila dos humanitaacuterios tecircm-se assistido ao

surgimento de agecircncias de seguranccedila privadas que fornecem serviccedilos de proteccedilatildeo agrave

comunidade humanitaacuteria Peter Singer intitula estas agecircncias de ldquoagecircncias militares

privadasrdquo que oferecem seguranccedila treino para missotildees no terreno e apoio logiacutestico

Hoje as AMP (agecircncias militares privadas) operam em mais de 50 paiacuteses e tiveram um

papel decisivo nos conflitos dos seguintes Estados Angola Croaacutecia Etioacutepia-Eritreia e

Serra Leoa Estas agecircncias militares satildeo geridas por militares reformados e podem ter

mera funccedilatildeo consultiva como tambeacutem podem ter um papel de uma empresa

transnacional usando meios como aviotildees e comandos no terreno para aleacutem da sua vasta

experiecircncia atraveacutes de missotildees realizadas muitas vezes no terreno para o qual iratildeo

fornecer o serviccedilo (Singer 2006)

Podemos dividir as agecircncias de seguranccedila privadas em duas grandes aacutereas que satildeo as

agecircncias militares privadas constituiacutedas por ex-militares reformados ou que tenham

saiacutedo da forccedila militar estatal da qual fazia parte e tecircm como principal objetivo fornecer

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

49

serviccedilos de seguranccedila militar em terrenos de conflito armado internacional ou natildeo caso

seja necessaacuterio e as agecircncias de seguranccedila privada que natildeo iratildeo ser profundamente

exploradas nesta dissertaccedilatildeo A ONU tem vindo a contratar os serviccedilos destas agecircncias

militares privadas bem como as ONG e OING Como eacute possiacutevel constatar os

humanitaacuterios vivem momentos de grande inseguranccedila no terreno caso o Estado em

questatildeo natildeo forneccedila essa seguranccedila agrave ONG que estaacute a operar no terreno As agecircncias

podem fornecer apoio logiacutestico de seguranccedila principalmente nas viagens para o

territoacuterio onde iratildeo trabalhar e trabalho de consultoria Por outro lado haacute as agecircncias de

seguranccedila privadas que realizam o serviccedilo de seguranccedila apenas como um policia

realizaria em territoacuterio nacional Este tipo de agecircncias natildeo tem a responsabilidade de

proteger territoacuterios ou bens privados mas sim de proteger as pessoas neste caso os

humanitaacuterios nas deslocaccedilotildees e no territoacuterio As ONG OING e OIG tecircm vindo a

recrutar os serviccedilos das agecircncias militares privadas pois estas estatildeo habituadas a operar

em contexto de conflitos Estas agecircncias podem ser contratadas por ONG OING OIG

pelo governo por indiviacuteduos a tiacutetulo privado e por empresas privadas Segundo Pilbeam

(2015a) os principais serviccedilos que fornecem satildeo

Combate as agecircncias militares privadas podem ser contratadas para tomar diretamente

parte das hostilidades assistindo as tropas no terreno em combate em caso de falta de

militares

Treino podem igualmente ser contratadas para treinar novos meacutetodos taacuteticos de

sobrevivecircncia como atravessar certas estradas perigosas novos meacutetodos de combate e

como usar determinado armamento bem como meacutetodos de sobrevivecircncia e medicina

de terreno e sobrevivecircncia

Suporte podem ser contratados para fornecer apoio logiacutestico como por exemplo gerir

os bens alimentares e serviccedilos construccedilatildeo e uso de novas tecnologias de informaccedilatildeo

como a raacutedio por exemplo

Seguranccedila este eacute o serviccedilo mais contratado pelas ONG ONIG e OIG humanitaacuterias

com este serviccedilo eacute pretendido garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos como os profissionais

humanitaacuterios campos de refugiados edifiacutecios terrenos entre outros Tecircm tambeacutem como

funccedilatildeo garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos durante o transporte para o terreno Hoje

tambeacutem tecircm a funccedilatildeo de garantir a seguranccedila dos dados e do computador

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

50

Inteligecircncia este serviccedilo diz respeito a recolhimento de dados e anaacutelise dos mesmos

atraveacutes de pesquisa e observaccedilatildeo

Reconstruccedilatildeo estes serviccedilos satildeo muitas vezes requeridos em situaccedilotildees de poacutes-conflito e

o seu principal trabalho eacute livrar terrenos que possam estar minados reconstruccedilatildeo de

infraestruturas e restaurar sistemas essenciais agrave sobrevivecircncia como a aacutegua o

saneamento e a eletricidade (Pilbeam 2015a pp 200)

Pilbeam refere que no caso de Ruanda a ONU teve a necessidade de contratar AMP

para assistir os peacekeepers antes e depois da crise natildeo soacute a niacutevel securitaacuterio mas

tambeacutem a niacutevel de reconstruccedilatildeo logiacutestica entre outros Este tipo de situaccedilotildees natildeo

deveria acontecer pois torna a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios dependentes dos serviccedilos

destas agecircncias militares privados o que aumenta o nuacutemero de mercenaacuterios no terreno

aumenta as despesas tornando a accedilatildeo securitaacuteria num negoacutecio privado Outro problema

eacute o facto de existir um vazio legal na hora de julgar estes militares em caso de infraccedilatildeo

da lei no Estado em que estatildeo a operar Estes natildeo poderatildeo tambeacutem usufruir do estatuto

de prisioneiro de guerra (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam 2015a)

Por exemplo a agecircncia Defense System Limited (DSL) proveu proteccedilatildeo agrave UNICEF no

Sudatildeo e na Somaacutelia e agrave OMS em Angola A Armour Group foi contratada pelo ACNUR

para realizar serviccedilo de seguranccedila no Queacutenia O Dyn Corp disponibilizou meios aeacutereos

e uma rede sateacutelite para comunicaccedilotildees para a ONU mais especificamente para os

membros das operaccedilotildees de peacekeeping em Timor Leste O Pacific Architects

Engeneers (PAE) contribuiu com poliacutecias civis para a missatildeo da ONU no Haiti Esta

contrataccedilatildeo natildeo tem nenhum guia ou legislaccedilatildeo que especifique como onde e em que

circunstacircncias devem ser contratadas este tipo de agecircncias militares privadas de forma

a que possam ser evitados problemas no futuro (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam

2015a)

As organizaccedilotildees humanitaacuterias recorrem unicamente agraves agecircncias de militares privadas

quando a sua seguranccedila corre elevados riscos no local onde pretendam operar e o Estado

natildeo garante escolta militar e seguranccedila aos humanitaacuterios da ONG que pretende operar

naquele local ficando assim ao criteacuterio da ONG recorrer a agecircncias de seguranccedila

privada regressar ou correr o risco mesmo assim Raramente as ONG pedem ajuda em

termos de seguranccedila aos militares que estatildeo em operaccedilatildeo de peacekeeping ou outros

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

51

militares no terreno para que os seus princiacutepios fundamentais natildeo sejam abalados Com

o aumento dos sequestros e mortes de humanitaacuterios aumentou tambeacutem o nuacutemero de

ONG a contratarem agecircncias privadas de seguranccedila Sete agecircncias da ONU admitem ter

contratado agecircncias de seguranccedila para poderem operar em terrenos que estejam a

atravessar por um conflito armado Este facto mostra bem a falta de militares com que a

ONU se depara e a necessidade cada vez maior de garantir a seguranccedila no terreno dos

seus profissionais (Singer 2006)

Singer levanta um problema na contrataccedilatildeo de agecircncias de seguranccedila privadas por

ONG que eacute o facto de estas natildeo saberem como trabalhar em conjunto com militares e

quais os limites de accedilatildeo e conduta destas agecircncias Somente o Comiteacute Internacional da

Cruz Vermelha a Oxfam e a Mercycorps elaboraram documentos sobre a conduta das

agecircncias de seguranccedila privada num manual onde satildeo estabelecidos os limites de accedilatildeo

tipo de armas a usar as tarefas entre outros Ou seja elaboraram um documento onde eacute

estabelecido que tipos de accedilotildees podem e natildeo podem ter no terreno direitos e deveres

para que natildeo haja um uso excessivo e desnecessaacuterio da forccedila e das armas (Singer 2006

Schneiker e Joachim 2015)

No entanto existe um vazio legal e estas agecircncias militares privadas natildeo podem ser

julgadas no terreno nem ao abrigo do Direito Internacional Humanitaacuterio o que torna o

seu uso perigoso Isto acontece porque estas agecircncias natildeo estatildeo a trabalhar para o

Estado X ou Y mas para uma ONG ou OIG ou seja o seu serviccedilo eacute privado e

contratado pela ONG (Singer 2006)

Os militares destas agecircncias privadas contratados pelas ONG OING e OIG satildeo

considerados mercenaacuterios o que faz com que natildeo tenham direito ao estatuto de

prisioneiros de guerras e nem sejam considerados combatentes o que leva a que natildeo

tenham direito agrave expatriaccedilatildeo tratamento meacutedico especial e tenha de se sujeitar ao

tratamento que lhe for concedido pelo Estado no qual foi feito prisioneiro Estes

militares natildeo estatildeo ao serviccedilo de nenhum Estado ou comunidade internacional a

combater estatildeo simplesmente a fornecer um serviccedilo a troco de dinheiro o que faz deles

mercenaacuterios (Pilbeam 2015a)

Natildeo tecircm tambeacutem o direito a serem extraditados para o seu paiacutes de origem tendo por

isso de ser julgados consoante a legislaccedilatildeo local Este vazio legal eacute um grave problema

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

52

que deveraacute ser resolvido pela comunidade internacional Se por um lado temos a

hipoacutetese de estes militares natildeo poderem ser julgados por crimes de guerra caso o

cometa por outro lado temos a hipoacutetese de serem apanhados e presos e nada poder ser

feito para os libertar por natildeo serem prisioneiros de guerra e por isso natildeo estarem

abrangidos pelo Direito Internacional Humanitaacuterio (Pilbeam 2015a)

Do lado das ONG OING e OIG a falta de praacutetica em contratar este tipo de serviccedilos e o

facto de natildeo saberem como lidar com os mercenaacuterios (muitos deles podem ter um

passado duvidoso quanto agrave violaccedilatildeo dos Direitos Humanos) levanta questotildees seacuterias

crimes perpetrados pelas agecircncias militares privadas a ONG que contratem estas

agecircncias eacute tambeacutem culpabilizada o que poderaacute ter consequecircncias nos donativos e na

confianccedila nela depositada (Singer 2006)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

53

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul

O Sudatildeo do Sul eacute uma Repuacuteblica presidencialista e o seu atual Presidente eacute Salva Kiir

A Capital eacute Juba e a moeda eacute a Libra Sul-sudanesa A liacutengua oficial eacute o Inglecircs no

entanto existem vaacuterias liacutenguas faladas que natildeo satildeo oficiais como por exemplo dinka

nuer zande bari e shiluk O Sudatildeo do Sul faz fronteira com o Sudatildeo (de quem se

tornou independente em 2011) a Etioacutepia o Queacutenia o Uganda a Repuacuteblica Democraacutetica

do Congo e a Repuacuteblica Centro Africana Estima-se que em 2011 a populaccedilatildeo do Sudatildeo

do Sul era de 11090104 habitantes Foi a 9 de julho desse mesmo ano que o Sudatildeo do

Sul se tornou um paiacutes independente (CIA sd)

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sul

Fonte Branco (2011)

Desde a independecircncia os variados conflitos intensificaram-se Em 2013 o Sudatildeo do

Sul entrou numa forte crise poliacutetica culminando numa guerra civil Esta crise poliacutetica

aconteceu quando o presidente Salva Kiir membro do maior grupo eacutetnico local Dinka

acusou o vice-presidente do Sudatildeo do Sul Riek Machar membro do grupo eacutetnico Lou

Nuer de uma tentativa de golpe de Estado o que levou ao despoletar de uma guerra

civil onde os membros dos dois grupos eacutetnicos acima referidos entraram eles tambeacutem

em conflito entre si fruto do oacutedio eacutetnico Eacute importante referir os grupos eacutetnicos a que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

54

pertenciam ambos os poliacuteticos parte das hostilidades porque o Sudatildeo do Sul eacute um

Estado dividido em vaacuterias etnias pode mesmo dizer-se que existem vaacuterios lsquoSudatildeosrsquo

dentro do Sudatildeo do Sul o que dificulta o processo de paz por si soacute Este

desentendimento acontece apoacutes o vice-presidente Riek Machar ter acusado o atual

presidente Slava kiir de corrupccedilatildeo de lidar mal com a economia e situaccedilatildeo global do

Sudatildeo do Sul de haver cada vez mais desigualdade entre grupos Em 2013 houve um

coup drsquoeacutetat o que intensificou uma vez mais o conflito pois o presidente Salva Kiir

decidiu demitir todo o governo e assumir total controlo do Estado atirando a tentativa

do golpe de Estado para o vice-presidente Riek Machar Como eacute possiacutevel prever os

conflitos entre as duas partes intensificaram-se mais precisamente entre os dois grupos

eacutetnicos ligados a cada uma destas duas figuras (Nascimento 2017)

Devido ao referido anteriormente deu-se uma divisatildeo dentro do SPLM (Sudan Peoplersquos

Liberation Movement) tendo sido criado o SPLM-IO (Sudan Peoplersquos Liberation

Movement- In Oposition) apoiante do vice-presidente Riek Machar Ao presente a

guerra civil joga-se entre o SPLM o SPLA (Sudan Peopleacutes Liberation Army) e o

movimento pro Riek Machar SPLM-IO Esta divisatildeo que gerou uma grande onda de

violecircncia levou ao aumento draacutestico de pedidos de asilo de refugiados aos paiacuteses

vizinhos e de deslocados internamente (Deutsche Welle 2013 Rolandsen et al 2015

Felix e Coning 2017)

Tinha havido em 2011 segundo Nascimento (2017) uma tentativa afincada de realizar

um acordo de paz duradouro tendo pouco sido feito em termos de desenvolvimento e

garantia das necessidades baacutesicas para toda a populaccedilatildeo ou seja garantir o igual acesso

a todos agrave educaccedilatildeo sauacutede alimentaccedilatildeo seguranccedila e emprego O Sudatildeo do Sul

confronta-se tambeacutem com um governo fraco aumento das hostilidades entre populaccedilotildees

de diferentes etnias alimentadas pelos poliacuteticos e um setor privado e governo corruptos

Natildeo resolvendo estas questotildees eacute impossiacutevel qualquer acordo de paz vingar a natildeo ser no

papel Eacute possiacutevel entatildeo deduzir que este processo de paz natildeo foi coordenado e

uniforme pois o governo optou por estabelecer acordos ao longo do paiacutes criando

divisotildees dentro do recente Estado (Nascimento 2017)

Houve um novo acordo de cessar-fogo em maio de 2014 tendo sido criado um governo

de transiccedilatildeo e foi feito um esboccedilo para a criaccedilatildeo de uma nova constituiccedilatildeo No entanto

houve mais uma vez neste processo uma falta de compromisso para com as partes e a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

55

populaccedilatildeo o que gerou mais ondas de violecircncia Em maio de 2015 o governo do Sudatildeo

do Sul foi pressionado por atores externos a estabelecer um acordo de paz acordo esse

que veio a ser altamente criticado Salva Kiir acusou o acordo de desfavorecer a

comunidade eacutetnica Dinka num futuro governo Este acordo foi tambeacutem criticado pela

sociedade civil por privilegiar a partilha de poderes entre as elites ao inveacutes de prestar

contas e desenvolver um mecanismo de justiccedila onde as atrocidades cometidas pelos dois

partidos fossem punidas Acusou tambeacutem o presidente de natildeo privilegiar o

desenvolvimento a niacutevel educacional socioeconoacutemico e de infraestruturas do Estado e

de natildeo haver a aplicaccedilatildeo da lei Riek Machar voltou ao seu cargo como vice-presidente

tendo de abandonar a cidade de Juba por violecircncia e alegada perseguiccedilatildeo do governo

tendo sido substituiacutedo pelo Presidente Riek Machar pediu ajuda agrave comunidade

internacional para enviar militares que o ajudassem a chegar a Juba em seguranccedila e

retomar o seu cargo Pouco mudou como eacute possiacutevel verificar natildeo se constatou

desenvolvimento algum continua a existir pobreza e a violecircncia natildeo para de aumentar

Salva Kiir (atual presidente) privilegiou a estabilizaccedilatildeo do Estado ao inveacutes do

desenvolvimento o que em conjunto com o conflito eacutetnico despoletou a guerra civil

(Nascimento 2017 Felix e Coning 2017)

Segundo Nascimento (2017) houve ainda uma maacute compreensatildeo frequente quanto ao

uso do peacebuilding confundido com partilha de poderes e recursos Ao inveacutes disso

deveria ter havido uma aposta na criaccedilatildeo de uma democracia soacutelida onde os cidadatildeos

pudessem contribuir na tomada de decisatildeo dos poliacuteticos e desenvolvimento do seu

territoacuterio A parte mais importante para o sucesso do acordo de paz sociedade civil e

partidos natildeo foi todavia parte dos processos de negociaccedilatildeo da paz O processo de paz

centrou-se exclusivamente na partilha de poderes entre os partidos do governo e

militares natildeo tendo sido escutadas opiniotildees de mediadores figuras influentes ou

partidos poliacuteticos Segundo a autora os negociadores do acordo de paz natildeo queriam

entender que o problema ultrapassava a rivalidade poliacutetica que era tambeacutem constituiacutedo

por uma marginalizaccedilatildeo social e econoacutemica que afetava diversos grupos e setores da

populaccedilatildeo (Nascimento 2017 Tafta e Haken 2015)

A guerra civil do Sudatildeo do Sul levou agrave morte de milhares de pessoas Estima-se que

desde 2013 tenham morrido mais de 50 000 pessoas e que tenham fugido cerca de 16

milhotildees de pessoas dos seus lares aquando da tentativa internacional de estabelecer a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

56

paz com o acordo assinado em agosto de 2015 (OCHA 2015) Segundo o OCHA

(2017) cerca de trecircs milhotildees de pessoas tiverem de fugir dos seus lares existem cerca

de 12 milhotildees de deslocados internamente e mais de 13 milhotildees de refugiados

Podemos entatildeo verificar que o Sudatildeo do Sul desde a sua independecircncia natildeo teve um

uacutenico momento de paz e a populaccedilatildeo estaacute a atravessar momentos conturbados haacute

infraestruturas destruiacutedas falta de cuidados meacutedicos trabalho forccedilado violaccedilotildees

abusos deslocaccedilotildees forccediladas destruiccedilatildeo perda de meios de subsistecircncia e surgimento

de doenccedilas tais como a coacutelera diarreia malaacuteria entre outros ateacute aos dias de hoje

(OCHA 2015 CFR 2017 HRP 2017)

O Sudatildeo do Sul eacute ainda considerado um Estado de enorme fragilidade no iacutendice de

fragilidade dos Estados do FFP (2017) contando com uma classificaccedilatildeo de 11390 e

estando mal cotado em todos os indicadores de avaliaccedilatildeo As aacutereas satildeo as seguintes

seguranccedila e aparelho do Estado elites e facotildees clivagens entre grupos decliacutenio

econoacutemico desigualdade no desenvolvimento fuga de ceacuterebros legitimidade do

Estado direitos humanos e Estado de direito serviccedilos puacuteblicos pressotildees demograacuteficas

refugiados e deslocados internamente e finalmente intervenccedilatildeo externa Essa

classificaccedilatildeo significa que o Sudatildeo do Sul estaacute na pior categoria ndash ldquoestado de alertardquo

(100-120) e que registou o pior resultado (primeiro no ranking) em 2017 (TFP 2017a

TFP 2017b)

O paiacutes eacute ainda caracterizado por enfrentar variados problemas como por exemplo a

escassez de aacutegua mau saneamento ou ausecircncia do mesmo falta de meios de

subsistecircncia atravessando um periacuteodo de escassez alimentar o que aumenta

drasticamente os conflitos entre cidades e grupos eacutetnicos pois natildeo estatildeo a lutar

unicamente devido ao conflito e ao oacutedio eacutetnico mas estatildeo a lutar tambeacutem pela obtenccedilatildeo

de meios de subsistecircncia A guerra civil da qual natildeo consegue sair tem como principal

problema o profundo tribalismo caracteriacutestico do Estado e maus poliacuteticos natildeo

conseguindo criar um aparelho de poder forte As regiotildees do Sudatildeo do Sul que foram

mais atingidas pelo conflito satildeo Jonglei Unity e Upper Nile (Tafta 2014 Rolandsen et

al 2015 TFP 2017c Tafta e Haken 2015) Quanto ao IDH (Iacutendice de

desenvolvimento Humano) o Sudatildeo do Sul estaacute avaliado no iacutendice na posiccedilatildeo de 0418

e classificado no ranking na 181ordf posiccedilatildeo sendo a esperanccedila meacutedia de vida de 561 anos

e a escolaridade rondando ateacute os 49 anos O Estado que estaacute em uacuteltimo lugar na

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

57

classificaccedilatildeo eacute a Repuacuteblica Centro Africana na 188ordf posiccedilatildeo com o valor de 0352 O

Estado mais bem posicionado em primeiro lugar eacute a Noruega com o valor de 0949 A

cotaccedilatildeo dos Estados vai de 00 a 1 (UNDP 2016)

Para aleacutem dos problemas internos o Sudatildeo do Sul tem ainda uma relaccedilatildeo muito

fragilizada com o Sudatildeo devido agraves disputas para a aquisiccedilatildeo do petroacuteleo e a fronteira

os territoacuterios de Darfur South Kordofan e Blue Nile que eram disputados Estes

problemas levaram a que houvesse uma priorizaccedilatildeo da seguranccedila ao inveacutes do

desenvolvimento que eacute crucial para pacificar um Estado e desenvolver (Felix e Coning

2017)

O Sudatildeo do Sul foi palco de Acatildeo Humanitaacuteria promovida pela ONU nomeadamente

do OCHA tendo este uacuteltimo realizado um plano estrateacutegico para o Sudatildeo do Sul A

primeira missatildeo realizada pelas NU no Sudatildeo do Sul cujo nome era UNMISS (United

Nation Mission for South Sudan) sob o artigo VII da carta das NU conforme a

resoluccedilatildeo do Conselho de Seguranccedila nordm 1996 de 8 de julho de 2011 tinha como

principal objetivo ajudar o governo a consolidar a paz e seguranccedila incluindo a

mitigaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos bem como a proteccedilatildeo dos civis Comeccedilou em 2011

pelo periacuteodo de um ano mas viria a revelar-se insuficiente e obrigaria a que fosse

necessaacuterio o prolongamento da UNMISS Em 2013 outra crise deflagrou no Sudatildeo do

Sul culminando numa guerra civil conforme referido acima Neste caso a presenccedila da

UNMISS era fulcral no terreno apesar de a relaccedilatildeo entre o governo do Sudatildeo do Sul e a

UNMISS terem atravessado uma crise no terreno pois os militares desta foram

acusados de natildeo serem imparciais e de ajudarem a abater militares favoraacuteveis ao

governo e de que haveria uma maacute conceccedilatildeo da missatildeo no terreno Foi por isso aprovada

pelo Conselho de Seguranccedila a resoluccedilatildeo 2132 (24122013) pela qual foi decidido

aumentar o nuacutemero de militares e poliacutecias no terreno Em 2014 foi reforccedilada a

priorizaccedilatildeo da necessidade de proteccedilatildeo dos civis devido agrave deterioraccedilatildeo da situaccedilatildeo

humanitaacuteria no terreno tendo sido aprovada a resoluccedilatildeo 2155 (27052014) Os

objetivos foram a consolidaccedilatildeo da democracia fraacutegil (statebuilding) em que o paiacutes se

encontrava proteger os civis de possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia fiacutesica proteger grupos

vulneraacuteveis proteger os campos de refugiados e os profissionais humanitaacuterios de

possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia e criar condiccedilotildees para que as ONG humanitaacuterias

pudessem aceder aos locais e fornecer assistecircncia humanitaacuteria Era tambeacutem feita a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

58

monitorizaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de crimes contra os direitos humanos e procurava-se

facilitar a implementaccedilatildeo dos acordos de paz Haacute tambeacutem um mandato atual da

UNMISS em que foram reforccedilados os contingentes em 7000 pessoal militar 9000

poliacutecias e um apropriado contingente de civis Estatildeo autorizados 17 000 tropas nos

quais estatildeo incluiacutedas 4000 forccedilas de proteccedilatildeo regionais Foi aumentado o limite da

poliacutecia para 2101 policiais incluindo policiais individuais unidades policiais formadas

e 78 corretores e solicitado ao Secretaacuterio-Geral que tome as medidas necessaacuterias para

acelerar a forccedila e a geraccedilatildeo de ativos (UNMISS 2017a UNMISS sd UNMISS 2017b

OCHA 2015 OCHA 2017 OCHA sd)

Como eacute possiacutevel constatar o Sudatildeo do Sul necessita de operaccedilotildees de peacekeeping para

manter a paz assegurar os direitos humanos salvar vidas e garantir uma vida digna agrave

populaccedilatildeo local mas tambeacutem necessita e estava num processo de peacebuiling que

procura restaurar o aparelho de poder reconstruir as infraestruturas e ajudar o governo a

fortalecer-se de forma a que a paz permaneccedila e o processo de pacificaccedilatildeo seja realizado

com ecircxito apoacutes o presidente ter assinado em 2015 o acordo de paz como foi referido

anteriormente No entanto como sabemos o Sudatildeo do Sul natildeo estaacute ainda pacificado

permanecendo no terreno cerca de 17000 peacekeepers (OCHA 2015 UNMISS

2017a UNMISS 2017b)

Segundo o Council on Foreign Relations (2017) e tambeacutem o OCHA (2017) o Estado

do Sudatildeo do Sul apresenta um problema no que toca agrave accedilatildeo humanitaacuteria pois o terreno

estaacute cada vez mais perigoso cada vez mais humanitaacuterios satildeo assassinados por grupos

eacutetnicos em guerra dificultando assim a chegada da assistecircncia humanitaacuteria agrave populaccedilatildeo

que estaacute a atravessar grandes privaccedilotildees em termos alimentares de saneamento e de aacutegua

potaacutevel Como eacute sabido o Sudatildeo do Sul tem um grande problema no setor agriacutecola no

saneamento e no acesso a aacutegua o que leva a que os conflitos natildeo cessem muito pelo

contraacuterio pioram A falta de aacutegua potaacutevel eacute um dos grandes problemas existentes no

Sudatildeo do Sul havendo locais em que natildeo existe mesmo sendo necessaacuterio transportaacute-la

para o local o que eacute feito pelas OIG OING e OIG (OCHA 2017 CFR 2017)

Soacute em 2016 os incidentes humanitaacuterios foram de 635 por mecircs de janeiro a junho e de

junho a novembro esse nuacutemero aumentou para 90 Os humanitaacuterios tambeacutem viram a

necessidade de negociar com os militares locais para operar bem como de procurar

apoio na aacuterea da advocacia para a aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria Esta negociaccedilatildeo tem sido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

59

uma constante e estas negociaccedilotildees podem ser realizadas atraveacutes de troca por troca

Existe uma maacute vontade do Estado sentida nos diversos impedimentos burocraacuteticos e

difiacutecil sinalizaccedilatildeo dos civis que estatildeo a receber a assistecircncia humanitaacuteria dificultando

assim o trabalho dos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema eacute que a escolta militar pode levar a que a populaccedilatildeo sinta uma confusatildeo e

associe as ONG OING e OIG aos militares peacekeepers o que eacute negativo Neste caso

a UNMISS natildeo eacute neutra e leva a uma perceccedilatildeo de que as ONG OING e OIG tambeacutem

natildeo satildeo neutras Outro problema foi a poleacutemica em que a UNMISS se envolveu com o

desarmamento da populaccedilatildeo que era feito agrave forccedila e de forma selecionada natildeo tendo os

peacekeepers reagido e tendo a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional

reagido Tudo junto leva a que a populaccedilatildeo sinta receio em pedir ajuda agraves organizaccedilotildees

humanitaacuterias caso a escolta seja feita por militares que tenham algum contacto ou

trabalho com o governo ou as forccedilas militares locais (Felix e Coning 2017)

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das

ONG

Como eacute possiacutevel verificar o caso do Sudatildeo do Sul eacute um caso bastante complicado

sendo mesmo considerado uma emergecircncia humanitaacuteria devido agraves constantes guerras

civis e eacutetnicas que natildeo cessam agrave crise econoacutemica aos choques climateacutericos que levam agrave

escassez de comida falta de aacutegua potaacutevel o que tem como consequecircncia fome e

malnutriccedilatildeo pessoas deslocadas internamente e nuacutemero de refugiados a aumentar

pobreza e crimes de violaccedilatildeo contra os direitos humanos que natildeo cessam O Estado natildeo

se tem revelado eficaz na proteccedilatildeo do seu povo sendo que existem determinados locais

que satildeo praticamente de impossiacutevel acesso aos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema segundo o OCHA natildeo eacute soacute o acesso ao local onde a populaccedilatildeo estaacute em

necessidade mas tambeacutem a permanecircncia das ONG OING ou OIG no terreno Nos dias

14 e 15 de abril de 2016 os humanitaacuterios tiveram de sair do terreno (Waat e Walgak em

Jonglei) devido agrave intensificaccedilatildeo do conflito Essa retirada dos humanitaacuterios do terreno

teve consequecircncias graves a niacutevel de preparaccedilatildeo de comida e distribuiccedilatildeo da mesma

11200 pessoas em Nyrol ficaram sem acesso a educaccedilatildeo sauacutede nutriccedilatildeo e atividades

de limpeza vitais para a populaccedilatildeo Esta deslocaccedilatildeo teve efeitos nefastos para a accedilatildeo

humanitaacuteria em Jonglei quando as instalaccedilotildees humanitaacuterias foram invadidas por civis e

militares durante os atraques de fevereiro Este tipo de ataques natildeo pode repetir-se pois

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

60

a inseguranccedila poderaacute ter como consequecircncia o abandono das ONG OING e OIG do

terreno o que levaraacute a uma intensificaccedilatildeo dos conflitos e a uma populaccedilatildeo ainda mais

fragilizada Um Estado que se pauta por grandes desigualdades entre regiotildees leva a

conflitos que soacute seratildeo amenizados sendo essas necessidades mais urgentes suprimidas

Natildeo adianta fazer missotildees quando natildeo se combate o cerne do problema (OCHA 2017)

Logo estes problemas de acesso poderatildeo levar a que os conflitos se agravem devido agrave

falta de bens de primeira necessidade como por exemplo a aacutegua que como sabemos eacute

um motivo de guerra em vaacuterios paiacuteses e comida pois a pouca comida e aacutegua potaacutevel

existente seraacute disputada gerando ainda mais conflitos Uma maacute nutriccedilatildeo ingestatildeo de

aacutegua natildeo potaacutevel leva ainda a problemas de sauacutede graves Natildeo eacute tambeacutem restabelecida

a dignidade da populaccedilatildeo natildeo eacute protegida dos crimes contra a humanidade como a

exploraccedilatildeo recrutamento de crianccedilas para a guerra e minas abuso sexual e mortes em

massa (OCHA 2017)

Esta falta de seguranccedila no terreno verificada no Sudatildeo do Sul leva agrave necessidade de

existecircncia de proteccedilatildeo militar visto que existe uma dificuldade em fazer valer o DIH no

terreno Como eacute sabido hospitais campos de refugiados e pessoal que trabalha para

organizaccedilotildees humanitaacuterias deveriam estar imunes a qualquer tipo de ataque Mas na

praacutetica tal natildeo se verifica tendo sido um campo de refugiados atacado em 2016 Ao

serem escoltadas ou ao usufruiacuterem de proteccedilatildeo militar as ONG OING ou OIG satildeo

facilmente coladas a uma das partes das hostilidades de que esses militares tambeacutem

tomam parte

Levanta-se ainda outro problema que eacute a negaccedilatildeo de acesso a territoacuterios aos

humanitaacuterios no Sudatildeo do Sul Esta negaccedilatildeo de acesso vem por parte do Governo para

certas regiotildees e das outras partes das hostilidades noutras regiotildees sendo que o governo

natildeo controla bem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Mas eacute um risco que muitos

humanitaacuterios correm correndo mesmo risco de vida rapto e abusos Ou seja o Estado

estaacute a falhar gravemente na proteccedilatildeo e garantia do acesso de ajuda humanitaacuteria agrave sua

populaccedilatildeo o que eacute por si soacute um problema circular num Estado fragilizado Ou seja o

Governo falha ao natildeo garantir a proteccedilatildeo do seu povo e em certos casos ao natildeo deixar as

organizaccedilotildees humanitaacuterias acederem a certos territoacuterios (JMEC 2017 Harmer 2008)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

61

No entanto o Primeiro-Ministro do Sudatildeo do Sul Martin Elia Lamuro negou ter

proibido o acesso dos humanitaacuterios aos territoacuterios cuja populaccedilatildeo enfrenta grandes

necessidades afirmando pelo contraacuterio que se tecircm mostrado recetivos agraves ONG OING e

OIG para a assistecircncia humanitaacuteria em qualquer territoacuterio acusando assim os oficiais

dos EUA de terem redigido relatoacuterios que faltam agrave verdade (Sudan Tribune 2017) Jaacute o

representante russo Petr Illichev das NU diz discordar da visatildeo dos EUA referindo que

a fome eacute devida agraves condiccedilotildees climateacutericas e natildeo devida a questotildees de seguranccedila O

Conselho de Seguranccedila tentou amenizar a situaccedilatildeo referindo que a emergecircncia

humanitaacuteria presente no Sudatildeo do Sul tem como principais culpados todas as partes

envolvidas no conflito Tambeacutem Joseph Mourn Majak Ngor Malok embaixador do

Sudatildeo do Sul nas Naccedilotildees Unidas referiu que natildeo se pode culpar o Governo pela fome e

que este vai fazer os impossiacuteveis trabalhando com a comunidade internacional para

fazer face a este problema Podemos pois constatar que mais que um problema de

seguranccedila o que os humanitaacuterios estatildeo a enfrentar eacute um problema poliacutetico de

bastidores dentro da comunidade internacional (Sudan Tribune 2017)

Como eacute possiacutevel constatar a seguranccedila e o acesso dos humanitaacuterios ao terreno eacute uma

questatildeo bastante complexa pois depende da autorizaccedilatildeo do Estado caso este aceite que

a ajuda humanitaacuteria seja fornecida em todo o territoacuterio que dela necessite e caso decida

proteger os humanitaacuterios Caso o Estado natildeo assegure a proteccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos

humanitaacuterios no acesso ao territoacuterio que necessite de assistecircncia humanitaacuteria os

humanitaacuterios vecircm-se na obrigaccedilatildeo de encontrar uma de quatro soluccedilotildees desistir da

missatildeo e abandonar o terreno arriscar e deslocarem-se aos territoacuterios sem proteccedilatildeo

correndo risco de vida contratar agecircncias militares privadas ou pedir escolta militar aos

peacekeepers

Os peacekeepers da UNMISS natildeo tecircm eles tambeacutem livre acesso a todos os locais no

Sudatildeo do Sul e satildeo vistos de certa forma como adversaacuterios pelo governo e satildeo

acusados de tomarem o partido de uma das partes das hostilidades privilegiando a

proteccedilatildeo ao grupo eacutetnico Nuer em detrimento das outras No entanto esta informaccedilatildeo

natildeo tem a leitura devida pois os peacekeepers protegem os dois lados da mesma forma

a questatildeo eacute que a maioria da populaccedilatildeo registada do POC (Establishment of Protection

of Civilians) eacute de origem eacutetnica Nuer Como consequecircncia desta desconfianccedila a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

62

UNMISS viu negado o seu acesso a determinados locais falhando assim a sua missatildeo a

de proteger os civis e a de proteger os humanitaacuterios (Wells 2017)

O Conselho de Seguranccedila eacute ainda acusado pelos peacekeepers de natildeo dar suporte

poliacutetico e material adequado para a situaccedilatildeo Mesmo apoacutes variados ataques graves aos

militares da UNMISS e agrave populaccedilatildeo o Conselho de Seguranccedila natildeo passou da ameaccedila de

sancionar o Sudatildeo do Sul A gravidade do problema chegou ao ponto de a UNMISS

sofrer ataques aos seus helicoacutepteros natildeo ter material agrave prova de bala tendo assim de

abandonar os meios aeacutereos O Conselho de Seguranccedila mais uma vez nada fez Esta

situaccedilatildeo colocou em causa o trabalho das organizaccedilotildees humanitaacuterias ou seja o acesso

das mesmas a locais de grande necessidade devido ao facto de natildeo poderem contar

mais com ajuda dos peacekeepers para aceder ao terreno (Wells 2017)

Justamente nas missotildees das NU no Sudatildeo do Sul tem-se verificado um fracasso pois

para aleacutem de serem acusados de tomarem partido pelo governo natildeo conseguem

assegurar a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e de deslocados internamente

verificando-se assim em 2013 um aumento da violecircncia e ataques aos campos de

refugiados e deslocados internamente Um dos objetivos da UNMISS eacute assegurar que os

civis consigam aceder agrave ajuda humanitaacuteria que garante os bens essenciais agrave

sobrevivecircncia gestatildeo dos campos de refugiados e outros apoios vitais no entanto a

seguranccedila natildeo eacute assegurada natildeo sendo possiacutevel aos humanitaacuterios assegurar a ajuda

humanitaacuteria agravando-se assim os conflitos (Rolandsen et al 2015)

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar

Segundo Rolandson et al (2015) uma das missotildees que cabe aos peacekeepers eacute

precisamente garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios principalmente em paiacuteses onde

existe uma falta de seguranccedila e proteccedilatildeo aos humanitaacuterios Essa proteccedilatildeo pode ser

realizada atraveacutes de escolta militar direta no caminho para o terreno por via terrestre

aeacuterea ou mariacutetima sendo a via aeacuterea a mais conveniente caso seja necessaacuterio

transportar uma grande quantidade de mercadoria e assim garantir que chega ao destino

intacta Podem ainda garantir a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e deslocados

internamente bem como proteger os bens e as instalaccedilotildees humanitaacuterias (Rolandsen et

al 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

63

Pode verificar-se que as NU mais especificamente o OCHA tecircm vindo a trabalhar no

sentido de existir uma maior cooperaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e as operaccedilotildees de

peacekeeping no terreno de forma a que os humanitaacuterios sejam protegidos e a

assistecircncia humanitaacuteria prestada a toda a populaccedilatildeo independentemente de o territoacuterio

ser ou natildeo de grande perigo O problema desta cooperaccedilatildeo satildeo os princiacutepios

humanitaacuterios que divergem dos princiacutepios dos militares como jaacute foi referido Mas a

coexistecircncia existe eacute um facto havendo no caso do Sudatildeo do Sul um guia sobre como

devem os humanitaacuterios e militares interagir em que circunstacircncia deve ser feita a

escolta e quanto tempo deve durar essa proteccedilatildeoescolta O documento mencionado eacute

intitulado de Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the

United Nations Mission in South Sudan e foi elaborado pela UNMISS o HC e o HCT

(UNMISS e HC 2013)

Os humanitaacuterios viram-se forccedilados a cooperar com os peacekeepers da UNMISS e para

que esta missatildeo integrada funcionasse foi criado o guia de coordenaccedilatildeo entre os atores

humanitaacuterios e a UNMISS jaacute mencionado O guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo

Humanitaacuteria e a UNMISS eacute um documento elaborado a pedido do Humanitarian

Country Team (O HCT eacute um foacuterum estrateacutegico e operacional de tomada de decisatildeo e

supervisatildeo estabelecido e liderado pelo HC) A composiccedilatildeo inclui representantes da

ONU IOM OING a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho O HCT eacute tambeacutem

responsaacutevel por acordar questotildees estrateacutegicas comuns relacionadas com a accedilatildeo

humanitaacuteria (Humanitarian Response sd) em 2012Teve ainda a participaccedilatildeo do

grupo conselheiro militar que contem representantes da comunidade humanitaacuteria e da

UNMISS Eacute por isso um documento fidedigno O objetivo deste guia eacute substituir o SOP

de 2012 relativamente ao uso das forccedilas armadas e escolta militar e fornecer

indicaccedilotildees operacionais sobre a relaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS no Sudatildeo do

Sul de forma a evitar conflitos no terreno fortalecer a coordenaccedilatildeo das atividades

preservar o espaccedilo humanitaacuterio acesso e princiacutepios (HCT e UNMISS 2013 Harmer

2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que a UNMISS estaacute a ter ela proacuteprios problemas de acesso e deslocaccedilatildeo a

determinados locais em que o Estado natildeo ache pertinente a presenccedila dos peacekeepers

Pior em 2011 recusou o destacamento de mais 4000 peacekeepers para reforccedilar os

13500 peacekeepers no terreno com o argumento de que a situaccedilatildeo do conflito armado

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

64

estava a melhorar e natildeo haveria necessidade de destacar mais militares das NU e que o

destacamento de mais militares poria em causa a soberania do Estado O governo

argumentou ainda que tem capacidade para assegurar a proteccedilatildeo dos civis No entanto

apoacutes a ameaccedila das NU com um embargo de armas acabou por aceitar o destacamento

de mais militares Em dezembro de 2016 a Comissatildeo dos Direitos Humanos das NU

pediu urgentemente o destacamento de peacekeepers por causa de assassiacutenios eacutetnicos

(Wells 2016 Aljazeera 2017)

A UNMISS foi acusada por diversas organizaccedilotildees humanitaacuterias de falhar a sua missatildeo

devido agrave sua ineficaacutecia no terreno ou seja natildeo foi capaz de assegurar a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo nem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Todavia eacute preciso ser realista

pouco se pode fazer com um governo que limite o acesso dos peacekeepers a

determinados locais recuse que sejam destacados mais militares para o terreno e soacute

aceite em uacuteltima instacircncia mais destacamentos de militares para o terreno devido a uma

seacuterie de ameaccedilas (Aljazeera 2017 Wells 2016)

O problema eacute a incapacidade das NU e do Governo de assegurarem a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios No ataque de julho de 2016 os peacekeepers foram acusados de agirem

tarde demais de natildeo terem sido capazes de dar resposta e os EUA de natildeo avisarem as

ONG OING e OIG de que havia um perigo de ataque este erro teve como

consequecircncia a morte e violaccedilatildeo em massa dos humanitaacuterios sendo este ataque

considerado uma barbaacuterie Este acontecimento pode ser o despoletar da induacutestria das

agecircncias militares privadas podendo trazer consequecircncias nefastas a longo termo No

entanto segundo a investigaccedilatildeo independente agrave UNMISS requerida pelo Conselho de

Seguranccedila ficou estabelecido que a UNMISS agiu e fez todos os possiacuteveis para salvar

os civis embora esse natildeo seja o sentimento por parte dos humanitaacuterios (Grant 2016)

Segundo a carta enviada pelo Secretaacuterio Geral ao Conselho de Seguranccedila a 17 de abril

de 2017 (NU 2017) exatamente a reportar o ataque explicado anteriormente consta um

pedido de investigaccedilatildeo independente do ataque ocorrido a 23 de agosto de 2016 e

pretende-se verificar as accedilotildees da UNMISS em resposta ao ataque ocorrido apoacutes o inicio

das hostilidades a 8 e 11 de julho de 2016 contra os humanitaacuterios e contra civis tendo

este ataque ocorrido dentro ou nas proximidades das instalaccedilotildees da UNMISS em Juba

A UNMISS foi acusada pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias de ter sido ineficaz na

sua missatildeo de proteger as humanitaacuterias no terreno natildeo tendo os peacekeepers

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

65

respondido aos muitos pedidos de ajuda e proteccedilatildeo Os humanitaacuterios defendem ainda

que os peacekeepers sabiam do perigo existente de ataque e deveriam ter avisado de

forma a que evacuassem os humanitaacuterios e civis do territoacuterio em questatildeo (Grant 2016

UN 2017d)

No entanto foi averiguado pelo Conselho de Seguranccedila que a UNMISS nomeadamente

os peacekeepers fizeram tudo o que estava ao seu alcance para salvar e proteger civis

durante o massacre Tambeacutem foi averiguado que a UNMISS faz um excelente trabalho

de planeamento e preparaccedilatildeo da resposta para salvar civis As informaccedilotildees de

seguranccedila devem segundo o relatoacuterio do Conselho de Seguranccedila serem compartilhadas

pelos peacekeepers com a comunidade humanitaacuteria informaccedilotildees relativas ao terreno

com o foacuterum de forma a que cada um dos agentes saiba o perigo que estaacute a correr Por

isso a UNMISS deve informar quanto a procedimentos de estado de alerta

deslocalizaccedilatildeo e evacuaccedilatildeo pontos de concentraccedilatildeo em Juba refuacutegios designados rotas

aeacutereas de deslocalizaccedilatildeo principais ferramentas de seguranccedila procedimentos de

controle de acesso e o plano em resposta agrave proteccedilatildeo de incidentes civis entre outros

Segundo o Conselho de Seguranccedila estes procedimentos foram adotados embora as

ONG no terreno natildeo concordem com esta conclusatildeo (Grant 2016 UN 2017d)

No Sudatildeo do Sul tem-se verificado uma missatildeo integrada minimalista em que o

OCHA eacute o coordenador e o elo de ligaccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers e trabalha

de forma independente da missatildeo de paz das NU Esta poderaacute ser a melhor receita para

o caso do Sudatildeo do Sul No entanto eacute preciso ter em conta que a UNMISS tem falta de

militares destacados em terrenos problemaacuteticos podendo dificultar este tipo de missotildees

integradas minimalistas como se constatou anteriormente com a inaccedilatildeo dos

peacekeepers face ao ataque do campo de refugiados (Harmer 2017 Aljazeera 2017

Wells 2016)

Por isso podemos contatar que pelo menos no Sudatildeo do Sul existe uma coexistecircncia

bem coordenada e estruturada entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS atraveacutes da

existecircncia de um guia para coordenaccedilatildeo entre humanitaacuterios Eacute possiacutevel constatar

tambeacutem que existe uma preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e em

respeitar o espaccedilo humanitaacuterio na hora de garantir a sua proteccedilatildeoescolta A secccedilatildeo de

Aliacutevio (do Guia da UNMISS) Reintegraccedilatildeo e Proteccedilatildeo tem como principal missatildeo a

proteccedilatildeo de civis em bases da UNMISS e o apoio ao trabalho das organizaccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

66

humanitaacuterias no Sudatildeo Sul Haacute casos em que natildeo existe outra forma de garantir que o

acesso humanitaacuterio proteccedilatildeo e a assistecircncia sejam fornecidos sem ajuda dos

peacekeepers (HCT e UNMISS 2013)

Voltando ao Guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS eacute

reconhecido que as missotildees de peacekeeping das NU como a UNMISS tecircm um

mandato de cariz poliacutetico o que significa que podem tomar partido por uma das partes

das hostilidades e por isso natildeo serem consideradas neutras por todas as partes dentro

do Estado Tal significa uma incompatibilidade entre estes dois atores pois uma junccedilatildeo

da accedilatildeo humanitaacuteria agrave UNMISS poria em causa o mandato humanitaacuterio Eacute ainda

apresentada no documento a diferenccedila entre a assistecircncia militar ao governo (prover

gabinetes conselho e suporte ao governo do Sudatildeo do Sul em relaccedilatildeo agrave transiccedilatildeo

poliacutetica pela qual estava a passar no estabelecimento da autoridade poliacutetica) e a

assistecircncia militar agraves ONG humanitaacuterias (facilitar o acesso prover um ambiente seguro

para a assistecircncia humanitaacuteria bem como promover e monitorizar os Direitos

Humanos) O OCHA estabelece esta coordenaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a

UNMISS atraveacutes dos PCI (Projetos de curto impacto) O OCHA entra em contacto com

o JOC (Joint Operations Center) a niacutevel estatal atraveacutes do escritoacuterio estatal e do RCO

(Resident Coordinatoracutes Office) Os humanitaacuterios natildeo pedem diretamente ajuda militar

mas eacute o OCHA quem trata disso (HCT e UNMISS 2013)

O Sudatildeo do Sul eacute um caso em que a coexistecircncia eacute necessaacuteria para o sucesso tanto da

missatildeo da UNMISS como da accedilatildeo humanitaacuteria devido aos perigos de inseguranccedila

existentes sendo os humanitaacuterios alvos faacuteceis Esta coexistecircncia natildeo tem de ser

incompatiacutevel pois ambos tecircm o objetivo de poupar vidas Por isso nesta coexistecircncia

tem de ser respeitada a missatildeo de ambos sem nenhum dos dois se intrometer nas

atividades do outro minimizando assim o risco de conflito e competiccedilatildeo quando ambos

estatildeo a trabalhar na mesma aacuterea geograacutefica fazendo a clara distinccedilatildeo e separaccedilatildeo das

atividades humanitaacuterias poliacuteticas e militares (HCT e UNMISS 2013)

Portanto os atores humanitaacuterios natildeo satildeo incumbidos de seguir ou respeitar ordens

militares por militares e o contraacuterio O guia militar-civil natildeo aconselha a coabitaccedilatildeo de

humanitaacuterios e militares em situaccedilotildees de emergecircncias complexas No entanto no Sudatildeo

do Sul essa coabitaccedilatildeo por parte da UNMISS e de agecircncias das NU existe em Juba e em

certas capitais de Estado o que pode levar a uma perceccedilatildeo errada das restantes agecircncias

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

67

devido ao facto de uma ter adotado esta decisatildeo de coexistir no mesmo local que os

peacekeepers ou seja pode ter um efeito negativo na comunidade humanitaacuteria (HCT e

UNMISS 2013)

Segundo o guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS (HCT e

UNMISS 2013) deve ser feita uma distinccedilatildeo clara das atividades identidade funccedilotildees e

papeacuteis da accedilatildeo humanitaacuteria dos atores envolvidos na UNMISS Para fazerem esta

distinccedilatildeo devem respeitar os seguintes pontos

bull As armas nunca devem ser usadas em instalaccedilotildees humanitaacuterias e em contexto de

transporte para os locais em questatildeo

bull Deve ser feita a identificaccedilatildeo dos elementos da equipa dos bens de primeira

necessidade veiacuteculos instalaccedilotildees barcos e aviotildees Ou seja devem promover a

distinccedilatildeo das suas respetivas identidades de forma a que natildeo sejam confundidos com a

UNMISS (HCT e UNMISS 2013 pp 4)

Quanto ao uso de ativos e escoltaproteccedilatildeo militar eacute referido no guia que os atores

humanitaacuterios natildeo devem usar os ativos militares ou escoltaproteccedilatildeo militar a fim de

proteger a distinccedilatildeo e salvaguardar a separaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios O uso

dos ativos militares e escoltaproteccedilatildeo militar da UNMISS deve ser adotado em uacuteltimo

recurso e em circunstacircncias especiais uma vez reunidos determinados criteacuterios que

seratildeo explanados a seguir Qualquer decisatildeo quanto ao pedido dos atores humanitaacuterios

relativamente agrave escolta militar seraacute analisada caso-a-caso tendo em conta os ativos

disponiacuteveis custos e prioridades Os criteacuterios satildeo os seguintes

bull O objetivo da missatildeo eacute puramente humanitaacuterio e manteacutem o seu caraacuteter civil e

humanitaacuterio bem como o respeito dos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

bull Tem de haver uma necessidade urgente de ajuda humanitaacuteria natildeo existindo

alternativas para a substituiccedilatildeo no terreno

bull O uso da escolta militar eacute limitado no tempo e escala com uma estrateacutegia clara

de saiacuteda concordada entre os dois atores fora do pedido Natildeo poderaacute ainda

comprometer os atores humanitaacuterios a longo prazo na sua capacidade de poderem

operar de forma segura e efetiva (HCT e UNMISS 2013 pp 5)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

68

O OCHA tem ainda a responsabilidade de elaborar relatoacuterios sobre a escolta militar para

o Humanitarian Country Team e cabe tambeacutem ao OCHA analisar os casos juntamente

com a JOC em especifico para o caso do Sudatildeo do Sul para que tudo corra bem Caso

haja escolta militar os humanitaacuterios devem seguir num veiacuteculo diferente dos militares

da UNMISS que identifique bem que satildeo humanitaacuterios e natildeo militares que satildeo

transportados no veiacuteculo Desta forma a populaccedilatildeo natildeo confundiraacute o pessoal

humanitaacuterio com o pessoal militar Caso haja necessidade de proteccedilatildeo num determinado

local necessidade de reparaccedilatildeo de estradas proteccedilatildeo dos bens e pessoal humanitaacuterio as

ONG devem entrar em contacto com o OCHA afim de requerer a ajuda da UNMISS

Um dos objetivos da UNMISS eacute garantir um ambiente seguro para facilitar o acesso dos

humanitaacuterios aos locais para que estes consigam prestar apoio agrave populaccedilatildeo A UNMISS

natildeo deve usar as instalaccedilotildees humanitaacuterias e vice-versa no entanto em caso de urgente

necessidade deve tal ser analisado caso a caso pelo OCHA ponderando sobre as

instalaccedilotildees disponiacuteveis urgecircncia capacidade e prioridades O mesmo vale para a

evacuaccedilatildeo de pessoal meacutedico e humanitaacuterios em caso de elevada emergecircncia (HCT e

UNMISS 2013 pp 4)

Outro assunto relevante tratado neste guia eacute a partilha de informaccedilatildeo entre os elementos

da UNMISS e os humanitaacuterios pois estes dois elementos devem e tecircm de partilhar

muita informaccedilatildeo de forma atempada e eficiente para coordenar as respetivas

atividades As informaccedilotildees que devem ser partilhadas satildeo as seguintes

bull Informaccedilotildees sobre o tipo de assistecircncia e atividades humanitaacuterias estatildeo a

planear eou vatildeo realizar

bull Informaccedilotildees sobre atividades da UNMISS relevantes para os atores

humanitaacuterios como por exemplo sobre ameaccedilas e seguranccedila do pessoal humanitaacuterio ou

da UNMISS no terreno ou sobre ameaccedilas aos civis

bull Informaccedilotildees sobre atividades mineiras aacutereas minadas e locais com minas por

explodir As viacutetimas e a populaccedilatildeo em geral deveratildeo ser informadas e educadas para os

riscos inerentes (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

No entanto existem informaccedilotildees confidenciais que natildeo deveratildeo em momento algum

ser partilhadas tanto com o pessoal humanitaacuterio como com a UNMISS informaccedilotildees que

podem comprometer a identidade da viacutetima expondo assim o individuo ou um grupo de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

69

indiviacuteduos a um potencial risco principalmente se a viacutetima tiver sofrido crimes contra

os Direitos Humanos (HCT e UNMISS 2013 pp)

Este guia deve ser estudado de forma a que seja aplicado corretamente e os princiacutepios

da UNMISS e dos humanitaacuterios respeitados no terreno evitando potenciais conflitos A

UNMISS ficou incumbida de formar a comunidade humanitaacuteria relativamente ao seu

mandato trabalho e objetivos no terreno em conjunto com o OCHA que representa as

organizaccedilotildees humanitaacuterias e a sua relaccedilatildeo com a UNMISS Eacute ainda recomendado o

treino de ambos para os Direitos Humanos proteccedilatildeo de civis e o Direito Internacional

Humanitaacuterio (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

O CR (conciliation resources) e o ARP (applied research program) satildeo duas partes

funcionais da missatildeo que apoiam as organizaccedilotildees humanitaacuterias fornecendo apoio a niacutevel

de logiacutestica seguranccedila proteccedilatildeo da populaccedilatildeo relocaccedilatildeo do pessoal humanitaacuterio bem

como os deslocados internamente dando informaccedilotildees relativamente aos locais mais

seguros para se reinstalarem e caso necessaacuterio protegendo a instalaccedilatildeo onde residem os

deslocados internamente refugiados e humanitaacuterios Esta coexistecircncia entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias natildeo tem vindo a revelar-se eficaz no contexto do Sudatildeo do

Sul pois os humanitaacuterios embora consigam trabalhar e deslocar-se para certos locais

perigosos o que sem o apoio da UNMISS natildeo seria possiacutevel a UNMISS natildeo foi capaz

de assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios em 2016 aquando do ataque No entanto e

como jaacute foi referido anteriormente esta colaboraccedilatildeo deve ser realizada para casos

pontuais tendo de ser pedida a autorizaccedilatildeo ao OCHA e em uacuteltimo recurso atraveacutes de

projetos de curto impacto (UNMISS 2017 e HCT UNMISS 2013)

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos

humanitaacuterios

Agrave luz da anaacutelise do caso do Sudatildeo do Sul a questatildeo que se levanta neste subtema eacute

essencialmente a de apurar qual o recurso que deve ser usado pelas organizaccedilotildees

humanitaacuterias em situaccedilatildeo de elevado perigo em que o acesso ao local em que a

populaccedilatildeo estaacute a enfrentar grandes necessidades pode representar perigo de vida

precisando assim de uma proteccedilatildeoescolta militar para realizar o trajeto ao local Eacute

preciso desde jaacute dizer que ambas as opccedilotildees tecircm pontos positivos e negativos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

70

O recurso aos peacekeepers pode ser visto como a melhor opccedilatildeo possiacutevel pois

partilham os valores essenciais com os humanitaacuterios salvar vidas e a imparcialidade

No entanto tecircm sido acusados de natildeo agirem atempadamente face agraves ameaccedilas e ataques

perpetrados sobre humanitaacuterios ou seja de falharem a sua missatildeo de garantir a proteccedilatildeo

aos humanitaacuterios que faz parte da sua missatildeo e consta do guia elaborado para a

coexistecircncia no terreno Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors

and the United Nations Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) Em 2016

houve o jaacute referido ataque no Sudatildeo do Sul a humanitaacuterios que natildeo haviam sido

avisados do perigo eminente nem apareceram militares a garantir a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo e dos humanitaacuterios Ou seja eacute possiacutevel concluir que a proteccedilatildeo fornecida

pela UNMISS natildeo eacute a mais eficaz no terreno devido agraves fragilidades que a proacutepria

missatildeo tem vindo a sentir no terreno (Adongo 2017 Grant 2016)

No entanto parece que este caso algo mediatizado acordou a comunidade

internacional Consta no artigo da UNMISS Humanitarian Aid Restored In Aburoc

Folloing Deployment of UNMISS Peacekeepers (Adongo 2017) que soacute foi possiacutevel as

ONG OING e OIG humanitaacuterias regressaram para fornecer ajuda humanitaacuteria em

Malakal devido ao desdobramento dos peacekeepers para a regiatildeo de Aburoc Upper

Nile regiatildeo que as agecircncias humanitaacuterias haviam abandonado devido agrave elevada

inseguranccedila O que confirma o que foi dito ao longo da dissertaccedilatildeo sem seguranccedila no

Sudatildeo do Sul os humanitaacuterios natildeo conseguem operar no terreno tendo de terminar a

missatildeo caso contraacuterio seria colocar as suas vidas em risco (Adongo 2017 e Grant

2016)

Estima-se que durante o recente conflito que levou as agecircncias humanitaacuterias a sair do

local tenha havido 20 000 deslocados internos a fugir ficando sem abrigo Com o

regresso das agecircncias humanitaacuterias foi possiacutevel dar abrigo a 4200 famiacutelias dos campos

de refugiados Outras agecircncias tecircm fornecido ajuda humanitaacuteria mais urgente como

aacutegua potaacutevel que eacute escassa e de difiacutecil acesso sendo necessaacuterios militares peacekeepers

para proteger os principais postos de abastecimento de aacutegua O chefe de campo da

UNMISS em Malakal Hazel de Wet levou a sua equipa a inspecionar o desdobramento

das tropas em Aburoc e a equipa comprometeu-se tambeacutem com as autoridades locais no

terreno relativamente agrave estrateacutegia de apoio agrave assistecircncia humanitaacuteria sendo neste

momento a prioridade dos peacekeepers garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e o seu

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

71

acesso de modo a que a assistecircncia humanitaacuteria chegue a todos A UNMISS reconhece

que eacute essencial fazer com que a assistecircncia humanitaacuteria chegue agrave populaccedilatildeo em

necessidade urgente de comida aacutegua mantimentos e abrigo Soacute fornecendo assistecircncia

humanitaacuteria suprindo as necessidades baacutesicas eacute que eacute possiacutevel resolver os problemas

poliacuteticos tornar a paz duradoura e pensar no desenvolvimento Mas para conseguir esta

harmonia eacute essencial que as operaccedilotildees de peacekeeping se tornem efetivamente mais

ldquomusculadasrdquo como referido por Pinto (2005) para fazer face agraves novas realidades e

adversidades encontradas no terreno Natildeo basta a presenccedila militar tecircm de conseguir

garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios (Adongo 2017)

Os humanitaacuterios tecircm manifestado preferecircncia pelo menos no que diz respeito ao caso

do Sudatildeo do Sul pela escoltaproteccedilatildeo militar fornecida pela UNMISS sendo que se

estabeleceu um guia de cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS conforme referido

acima Este guia eacute um dos motivos para a preferecircncia pelos peacekeepers para a escolta

e proteccedilatildeo pois os humanitaacuterios e militares sabem como agir em que circunstacircncias

conceder e pedir essa proteccedilatildeo e quando deve terminar essa cooperaccedilatildeo no terreno Tal

natildeo existe nas agecircncias militares privadas jaacute que uma vez contratadas o viacutenculo

permanece ateacute ao fim da missatildeo ou contrato e pode haver problemas no terreno entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias e agecircncias militares privadas que poderatildeo representar

problemas seacuterios acresce que os humanitaacuterios natildeo estatildeo preparados para coordenar e

liderar este tipo de agecircncias Ao inveacutes no caso da proteccedilatildeoescolta garantida pela

UNMISS as ONG OING e OIG podem caso a cooperaccedilatildeo natildeo esteja a ser bem-

sucedida reportar a sua insatisfaccedilatildeo e levar a que sejam averiguados os motivos Tal

aconteceu com o ataque aos humanitaacuterios jaacute referido anteriormente A UNMISS foi

questionada e foi feita uma averiguaccedilatildeo pelo Conselho de Seguranccedila para verificar se

houve de facto negligecircncia por parte dos militares Com as agecircncias militares privadas

tal natildeo eacute possiacutevel conforme foi mencionado estes militares tecircm carta branca no terreno

Logo existe mais seguranccedila em cooperar com a UNMISS (HCT e UNMISS 2013 UN

2017d)

Eacute por este motivo que ainda se verifica uma certa resistecircncia por parte de algumas ONG

e OING a recrutar agecircncias militares privadas No entanto e devido agrave necessidade de

celeridade para obter a proteccedilatildeo o recrutamento tem vindo a aumentar no terreno Eacute

neste ponto que as agecircncias militares privadas apresentam vantagens jaacute que natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

72

existem problemas a niacutevel burocraacutetico o que permite partir mais cedo para o terreno e

satildeo mais baratas no caso de serem as agecircncias das NU como a UNICEF e o ACNUR

entre outros a contratar Jaacute o processo de pedido de proteccedilatildeo e escolta militar agrave

UNMISS eacute muito moroso natildeo fazendo face ao problema no imediato (Newton sd)

Estas agecircncias podem ainda garantir que as organizaccedilotildees humanitaacuterias mantecircm a sua

independecircncia relativamente ao Estado neutralidade quanto ao conflito e

imparcialidade no tratamento das pessoas Todavia antes da contrataccedilatildeo deveria ser

requerido o cadastro criminal se existir e se possiacutevel para avaliar se existe algum

antecedente problemaacutetico como por exemplo algum incidente de racismo enquanto

militar no ativo para que haja uma seleccedilatildeo rigorosa das agecircncias a recrutar e dos

militares que integram essa mesma agecircncia desta forma o risco de contratar militares

que tenham cometido atos criminosos e racistas no terreno satildeo menores logo seraacute

menor o risco de haver problemas no terreno (Newton sd Michael et al 2014)

Ou seja as agecircncias militares privadas podem ser uma ajuda fundamental no caso do

Sudatildeo do Sul para a seguranccedila e proteccedilatildeo de ONG OING OIG campos de refugiados

e de deslocados internamente Mas tambeacutem podem ser uma boa alavanca para a

pacificaccedilatildeo do territoacuterio ou seja uma ajuda para a UNMISS e custam menos recursos

financeiros que contratar e solicitar aos Estados mais militares para integrar a missatildeo de

peacekeeping (Newton sd)

Neste momento a melhor opccedilatildeo eacute a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as organizaccedilotildees

humanitaacuterias pois jaacute existe um guia intitulado de que explica em que circunstacircncias

quanto tempo e como deve ser feito pedido de ajuda e a proteccedilatildeoescolta concretizada

Ou seja existem regras a cumprir medidas de prevenccedilatildeo para que natildeo haja choque

entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS no terreno e como deve ser feita a distinccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares Para as agecircncias militares privadas natildeo existem regras de accedilatildeo

conduta ou execuccedilatildeo das suas funccedilotildees tornando a sua presenccedila no terreno um perigo

devido ao vazio legal embora seja mais barato e mais raacutepido em termos de burocracia

contratar estas agecircncias Os militares das agecircncias militares privadas devem ainda estar

devidamente identificados no terreno de forma a que natildeo suscitem confusotildees com os

militares das operaccedilotildees de peacekeeping (Stoddard Harmer e DiDomenico 2008

Newton sd Michael et al 2014 HCT e UNMISS 2012)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

73

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas

Enquanto o Sudatildeo do Sul estiver a atravessar momentos de grande instabilidade poliacutetica

e um conflito armado de grande inseguranccedila e perigo para os civis refugiados e

deslocados internamente natildeo existe uma alternativa viaacutevel para este caso em questatildeo O

governo do Sudatildeo do Sul natildeo consegue assegurar seguranccedila proteccedilatildeo e acesso seguro

aos humanitaacuterios a locais de grande emergecircncia humanitaacuteria locais onde natildeo existe

aacutegua potaacutevel existe falta de comida medicamentos abrigo e meacutedicos Um local como

este eacute difiacutecil de ser pacificado como eacute sabido a aacutegua eacute um dos principais motivos de

guerra no mundo aliando isso a conflitos eacutetnicos e poliacuteticos torna esta guerra numa

difiacutecil de acabar uma guerra endeacutemica (Kaldor 2007) Pior o governo foi acusado de

travar o acesso da ajuda humanitaacuteria a determinados locais Quando o proacuteprio Estado eacute

o perpetrador de atrocidades e nega o acesso da ajuda humanitaacuteria isto quer dizer que a

comunidade humanitaacuteria estaacute por sua conta (Harmer 2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que como pudemos verificar os peacekeepers da UNMISS natildeo

conseguem ou tecircm dificuldade em assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios o que resultou

no massacre de humanitaacuterios em 2016 e foram mesmo acusados de terem

negligenciado a sua funccedilatildeo de proteccedilatildeo estabelecida no guia de cooperaccedilatildeo entre

OCHA e as organizaccedilotildees humanitaacuterias pois natildeo avisaram sequer que existia um perigo

eminente de ataque e que deveriam por isso retirar-se do terreno Ou seja eacute possiacutevel

concluir que esta cooperaccedilatildeo natildeo tem vindo a revelar-se eficaz os acessos continuam a

ser dificultados humanitaacuterios atacados e civis em sofrimento e a viver abaixo do limiar

da dignidade humana O que coloca a seguinte questatildeo valeraacute a pena correr o risco de

colocar em causa a imparcialidade e neutralidade pela proteccedilatildeo dos peacekeepers Eacute

difiacutecil de responder pois natildeo existe um modelo perfeito como alternativa quer agraves

agecircncias militares privadas quer agrave UNMISS (Grant 2016)

Por isso uma alternativa seria talvez tornar puacuteblico o uso das agecircncias militares

privadas pela comunidade internacional estabelecer guias rigorosos de recrutamento e

realizaccedilatildeo de contratos com as NU ou organizaccedilotildees humanitaacuterias que estabeleccedilam os

limites de atuaccedilatildeo quais as funccedilotildees que devem cumprir e que regulamentam a sua

funccedilatildeo Ou seja as agecircncias militares privadas precisam de constar do Direito

Internacional Humanitaacuterio Uma vez a parte legal resolvida seraacute mais faacutecil trabalhar o

setor puacuteblico com o setor privado que engloba ONG e agecircncias militares privadas de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

74

forma a que a accedilatildeo humanitaacuteria seja realizada em seguranccedila e chegue a todos os que

necessitem dela No entanto o tornar as agecircncias privadas regulamentadas na aacuterea da

accedilatildeo humanitaacuteria poderaacute tornaacute-las um grande negoacutecio tendo como consequecircncia

prejudicar dos conflitos como garantia de trabalho para estas agecircncias Por outro lado

haveria um escrutiacutenio na hora de selecionar as agecircncias para que houvesse uma

probabilidade miacutenima destes efetuarem crimes no terreno (Newton sd Harmer 2008 e

MAcArthur 2016 HCT e UNMISS 2013)

Por uacuteltimo poderia existir ainda a opccedilatildeo de usar as missotildees de peace enforcement sob o

princiacutepio da responsabilidade de proteger como veiacuteculo para a accedilatildeo humanitaacuteria pois

neste contexto natildeo se colocariam as questotildees relativas agrave neutralidade e agrave imparcialidade

da forma usual uma vez que o mandato dos militares eacute mais vasto no que ao uso da

forccedila respeita No entanto para o caso do Sudatildeo do Sul seria difiacutecil aplicar uma

intervenccedilatildeo humanitaacuteria ao abrigo da responsabilidade de proteger e violar o princiacutepio

da natildeo ingerecircncia O Sudatildeo do Sul natildeo cumpre todos os requisitos pois natildeo eacute um

conflito armado internacional e o massacre natildeo eacute visto como um genociacutedio Existe sim

uma guerra endeacutemica tentativa de limpeza racial e crimes contra os direitos humanos

Em suma a comunidade internacional haveria de fazer mais para travar o massacre e

proteger a populaccedilatildeo e os humanitaacuterios no terreno Existe jaacute um guia de colaboraccedilatildeo

entre a UNMISS e as ONG OING e OIG mas isso apenas natildeo chega Eacute preciso fazer

mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

75

Conclusatildeo

Como foi possiacutevel constatar ao longo de toda a dissertaccedilatildeo a escolta militar eacute um tema

de extrema complexidade que coloca em causa os princiacutepios humanitaacuterios consagrados

pela Cruz Vermelha Por outro lado existe a necessidade de proteger a missatildeo

humanitaacuteria e os proacuteprios humanitaacuterios no terreno os quais como foi sendo verificado

tecircm vindo a sofrer ataques raptos e assassinatos devido agrave incapacidade ou indiferenccedila

do Estado onde estaacute a ser prestado o apoio humanitaacuterio das ONG OING e OIG A

comunidade internacional natildeo consegue operar de forma eficaz no terreno sem ter

seguranccedila e proteccedilatildeo que deveria ser dada pelo governo do Estado em causa Todavia

caso o governo natildeo tenha capacidade ou natildeo queira garantir essa proteccedilatildeo cabe agrave

comunidade internacional garantir que a populaccedilatildeo desse territoacuterio seja protegida

Uma vez que um governo natildeo assegure essa proteccedilatildeo os humanitaacuterios vecircem-se numa

situaccedilatildeo complexa respeitar os princiacutepios humanitaacuterios ou correr risco de vida Muitos

preferem como foi possiacutevel verificar ao longo da dissertaccedilatildeo correr risco de vida A

independecircncia a imparcialidade e a neutralidade satildeo muito importantes para o sucesso

das missotildees humanitaacuterias Sem independecircncia podem ver o seu acesso a determinados

locais barrados e por conseguinte natildeo tratar determinada populaccedilatildeo o que significa

perder a imparcialidade mesmo que de forma involuntaacuteria Por fim podem ser

associados a uma das partes das hostilidades e por isso perder a neutralidade aos olhos

da populaccedilatildeo local

Foram abordadas diversas formas de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios atraveacutes dos

peacekeepers por exemplo tomando como modelo um guia elaborado especificamente

para as missotildees no Sudatildeo do Sul O guia especifica quando deve ser requerida a escolta

e proteccedilatildeo quando a parceria deve acabar e em que circunstacircncias devem ser feitas a

escolta e o pedido Foram abordadas as missotildees integradas maximalistas (partilham do

mesmo mandato das NU peacekeeping e ONG OING e OIG) ou minimalistas

(UNMISS e ONG OING e OIG cooperam em conjunto pontualmente sem

interferecircncia das NU e sob supervisatildeo do OCHA) sendo que a OXFAM aceita melhor a

missatildeo integrada minimalista sob determinadas regras os princiacutepios humanitaacuterios

devem prevalecer os humanitaacuterios natildeo devem ser envolvidos em assuntos poliacuteticos e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

76

natildeo devem ser associados aos militares Este tipo de missatildeo parece ser a melhor opccedilatildeo

possiacutevel para garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios

Foi tambeacutem abordada a possibilidade de contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas

uma opccedilatildeo raacutepida isenta de burocracias e possivelmente eficaz pois natildeo tem os

mesmos constrangimentos dos peacekeepers no uso da forccedila Mas haacute o problema do

vazio legal que eacute uma espeacutecie de carta em branco para os militares destas agecircncias

poderem cometer crimes e a maior parte destas agecircncias conteacutem militares locais que o

podem fazer e natildeo serem julgados por isso Por outro lado estes militares natildeo tecircm

direito ao estatuto de combatentes de guerra nas Convenccedilotildees de Genebra

Deveria uma vez que as NU contratam este tipo de agecircncias militares privadas

regulamentar-se a atividade no seio do DIH de forma a que estas agecircncias operassem

ao abrigo da lei tendo por isso direitos e deveres a cumprir no terreno e seriam

julgados por crimes de guerra caso cometessem algum Deveria tambeacutem ser redigido e

publicado um guia onde sejam estabelecidas as regras de uma boa colaboraccedilatildeo entre as

ONG OING e OIG no terreno constando os direitos dos colaboradores das agecircncias e

seus deveres Neste caso este tipo de agecircncias poderia ser uma oacutetima ajuda aliada de

comunidade internacional e humanitaacuteria para a pacificaccedilatildeo mitigaccedilatildeo do conflito e para

suprir as necessidades mais baacutesicas da populaccedilatildeo em necessidade e sofrimento que vive

no limiar da pobreza e que vecirc os seus Direitos Humanos serem desrespeitados

Por uacuteltimo existe a possibilidade de se obter seguranccedila atraveacutes de escolta em missotildees

orientadas pela responsabilidade de proteger sob termos semelhantes aos do Guia de

colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers mas claro com a diferenccedila de que neste

caso os militares podem oferecer uma proteccedilatildeo mais eficaz pois podem fazer uso da

forccedila de forma diferente da dos peacekeepers tradicionais que soacute fazem o uso da forccedila

para autodefesa e defesa do mandato A responsabilidade de proteger tem como objetivo

principal acabar com genociacutedios os crimes contra a humanidade ou seja casos

extremos e pode fazer o uso da forccedila sem consentimento do Estado alvo da intervenccedilatildeo

Jaacute as operaccedilotildees de peacekeeping satildeo missotildees que tecircm um papel de estabilizar de

proteccedilatildeo mais ligado agrave reestruturaccedilatildeo do Estado apoiando as declaraccedilotildees de paz e o

bom decorrer das negociaccedilotildees de paz O uso da forccedila eacute mais limitado Os peacekeepers

tecircm-se revelado ineficazes na proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e alvos de criacutetica Na

responsabilidade de proteger o propoacutesito eacute proteger os civis e natildeo acompanhar o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

77

governo ou restabelecer e reconstruir o aparelho do poder por isso natildeo existe o

problema da imparcialidade como na missatildeo UNMISS por exemplo ou a sobrecarga de

responsabilidades dos militares da UNMISS

O peace enforcement ao abrigo do R2P como soluccedilatildeo para garantir a proteccedilatildeo e

seguranccedila dos humanitaacuterios deve pois ser amplamente analisado discutido e somente

decidido se as vantagens forem maiores que as desvantagens Como referido a

cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao abrigo do R2P no

Sri Lanka natildeo foi bem-sucedida Os humanitaacuterios viram o seu acesso a determinados

locais restringido e ateacute em alguns casos viram a sua permanecircncia posta em causa

tendo de terminar a sua missatildeo e regressar Ou seja deixaram de ser vistos como

neutros pelo Estado e as organizaccedilotildees humanitaacuterias que colaboraram com os militares

do peace enforcement viram-se politizados o que natildeo era suposto

A conclusatildeo que pode ser retirada eacute que natildeo existe um modelo ideal que natildeo coloque

em risco os princiacutepios humanitaacuterios em contexto de conflito para assegurar a seguranccedila

dos humanitaacuterios mas sim um modelo preferencial e outras alternativas como a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas Ou seja deveraacute ser escolhido o mal menor

logo a opccedilatildeo que menos danos cause tanto agrave comunidade humanitaacuteria como aos

proacuteprios militares e agrave missatildeo humanitaacuteria em si

Neste momento seria preferencial o modelo de cooperaccedilatildeo entre as NU as ONG

OING e OIG como foi estabelecido com a UNMISS no terreno no Sudatildeo do Sul Se se

seguir o Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United

Nations Mission in South Sudan elaborado pelas NU em conjunto com o OCHA HCT

e as ONG e OING os riscos seratildeo miacutenimos comparados com a contrataccedilatildeo de militares

de agecircncias militares privadas

Eacute verdade que existe ainda uma certa resistecircncia por parte da comunidade internacional

a optar pelas missotildees integradas se bem que existe mais resistecircncia agraves missotildees

integradas maximalistas que agraves missotildees integradas estrateacutegicas ou minimalistas visto

que as missotildees maximalistas satildeo missotildees que visam que ONG e peacekeepers operem

sob o mesmo mandato sendo assim sujeitas agrave mesma hierarquia Jaacute a missatildeo

minimalista eacute ocasional ou seja quando eacute mesmo necessaacuterio e as ONG estatildeo sob a

coordenaccedilatildeo do OCHA e HCT respeitando bem a separaccedilatildeo da comunidade

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

78

humanitaacuteria dos militares Esta eacute tambeacutem uma boa alternativa agraves agecircncias militares

privadas uma vez adotadas regras claras do padratildeo do Guia de coordenaccedilatildeo entre a

UNMISS e as ONG OING humanitaacuterias no terreno

Esta dissertaccedilatildeo focou pois o Sudatildeo do Sul que eacute um caso complexo onde os

humanitaacuterios satildeo atacados incessantemente tendo de ser tomadas providecircncias A

comunidade humanitaacuteria natildeo poderaacute por isso ser tatildeo inflexiacutevel em relaccedilatildeo ao princiacutepio

da neutralidade numa situaccedilatildeo como a do Sudatildeo do Sul Para chegar a determinados

locais eacute preciso que a seguranccedila dos humanitaacuterios seja assegurada para chegar a Juba e

Jonglei e Aburoc por exemplo locais onde a inseguranccedila prevalece e onde os

humanitaacuterios correm grande risco Os humanitaacuterios tecircm neste caso de escolher entre a

vida e salvar vidas para se manterem fieis aos princiacutepios fundamentais

A colaboraccedilatildeo com a UNMISS tem sido fulcral neste caso para que os humanitaacuterios

possam exercer a sua missatildeo em seguranccedila e respeitando os princiacutepios fundamentais no

entanto a cooperaccedilatildeo natildeo eacute bem aceite ainda na comunidade humanitaacuteria No caso do

Sudatildeo do Sul a inseguranccedila dos humanitaacuterios leva a que os bens essenciais como a

aacutegua comida e medicamentos natildeo cheguem ao local sendo estes motivos de guerra

dificultando a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Em suma a accedilatildeo humanitaacuteria eacute fulcral para a

ajuda na pacificaccedilatildeo do Sudatildeo do Sul e outros paiacuteses Deveria por isso haver uma

conferecircncia referente aos princiacutepios humanitaacuterios e agrave seguranccedila e proteccedilatildeo da

comunidade humanitaacuteria em territoacuterios de elevada inseguranccedila jaacute que o Sudatildeo do Sul

natildeo eacute exceccedilatildeo eacute um caso de ldquoEstado fragilizadordquo onde a pacificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo

natildeo seratildeo possiacuteveis tambeacutem sem o sucesso da ajuda dos humanitaacuterios e o sucesso da

ajuda humanitaacuteria no terreno soacute eacute possiacutevel se for garantida a sua proteccedilatildeo e seguranccedila

As agecircncias militares privadas devem ser a ultima opccedilatildeo na equaccedilatildeo pois apresentam

mais riscos que vantagens e as agecircncias com permissatildeo para operar pelo Estado no

Sudatildeo do Sul tecircm como colaboradores ex-combatentes de guerra o que pode ser um

grande risco no terreno Sabe-se que o conflito no Sudatildeo do Sul tem origem eacutetnica

existe um oacutedio racial colocar ex-combatentes de guerra a operar com lsquocarta brancarsquo no

terreno pode originar mais crimes e descreacutedito das ONG OING e OIG

Em suma natildeo existe uma soluccedilatildeo perfeita para garantir a proteccedilatildeo e uma escolta militar

neutra e imparcial uma vez que os militares de qualquer forccedila armada sejam do

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

79

governo da missatildeo das NU ou de outro Estado dificilmente satildeo neutros o que pode

derivar para uma falta de imparcialidade Na teoria eacute possiacutevel fazer a distinccedilatildeo entre

militar e humanitaacuterio mas no terreno haacute dificuldades As ONG e OING vivenciam por

isso um grande dilema que urge resolver

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

80

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Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

iii

Andrea Monique da Silva Arauacutejo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no

Terreno

O Caso do Sudatildeo do Sul

______________________________

Trabalho apresentado agrave Universidade Fernando Pessoa

como parte dos requisitos para a obtenccedilatildeo do grau de mestre

em Accedilatildeo Humanitaacuteria Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento

sob orientaccedilatildeo da Professora Doutora Claacuteudia Ramos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

iv

Resumo

Na presente dissertaccedilatildeo satildeo abordados os principais problemas associados agrave escolta

militar a voluntaacuteriosprofissionais humanitaacuterios das ONG OING ou OIG A

problemaacutetica associada eacute o cumprimento por parte da comunidade humanitaacuteria dos

princiacutepios humanitaacuterios fundamentais da independecircncia neutralidade e imparcialidade

Ou seja o estudo centra-se na relaccedilatildeo entre humanitaacuterio e militar e nas consequecircncias

que podem advir daiacute como por exemplo desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

ONG OING ou OIG queda dos donativos ataques entre outros As questotildees centrais

satildeo as seguintes Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de

vida ou correcirc-lo ao respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente

Seraacute que eacute possiacutevel encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a

seguranccedila e proteccedilatildeo dos humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma

alternativa

Satildeo tambeacutem exploradas as diversas opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno sem colocar em causa os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios Por exemplo satildeo analisadas potenciais colaboraccedilotildees e atuais

colaboraccedilotildees com as operaccedilotildees de paz de peacekeeping peacebuilding e peace

enforcement as missotildees integradas e ainda seraacute explorada a opccedilatildeo da contrataccedilatildeo das

agecircncias militares privadas

A dissertaccedilatildeo assenta tambeacutem num estudo de caso sobre o Sudatildeo do Sul onde eacute

avaliada esta relaccedilatildeo militar-humanitaacuterio no terreno Conclui-se que no Sudatildeo do Sul

eacute necessaacuteria uma maior cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares no terreno de forma a

que seja garantida a proteccedilatildeo e seguranccedila aos humanitaacuterios e por conseguinte se

permita que as organizaccedilotildees humanitaacuterias consigam realizar o seu trabalho que eacute

fundamental para a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Como seraacute possiacutevel verificar as duas

soluccedilotildees que parecem mais seguras satildeo as missotildees integradas e escolta concedida no

acircmbito de missotildees sob a responsabilidade de proteger

Palavras-chave Escolta militar princiacutepios humanitaacuterios peacekeeping peacebuilding

peace enforcement seguranccedila comunidade humanitaacuteria missotildees integradas Sudatildeo do

Sul

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

v

Abstract

In this dissertation the main problems related to the military escort to NGO volunteers

humanitarian professionals OING or OIG are addressed The associated problem is the

compliance by the humanitarian community with the fundamental humanitarian

principles of independence neutrality and impartiality That is the study focuses on the

relationship between humanitarian and military personnel and the consequences that

may arise therefrom such as distrust of the population in relation to NGOs NGOI or

IGO dropping of donations attacks among others The core questions are Is better to

respect fundamental humanitarian principles in full Is it possible to find an alternative

to the military escort to ensure security protection of the humanitarian Are private

military agencies an alternative

In other words the various options that can guarantee humanitarian safety on the

ground without undermining the fundamental humanitarian principles are explored For

example potential collaboration and current collaboration with peacekeeping

peacebuilding operations peace enforcement integrated missions and the option of

hiring private military agencies will be explored

The dissertation is also based on a case study on South Sudan where this military-

humanitarian relationship is evaluated on the ground It is concluded that in South

Sudan there is a need for greater humanitarian-military cooperation on the ground in

order to ensure the protection and security of humanitarian aid and therefore to enable

humanitarian organizations to carry out their work which is fundamental to the

pacification of the territory The two solutions that seem most viable are the integrated

missions and escort given by humanitarian personnel under the mission of the

responsibility to protect

Keywords Military escort humanitarian principles peacekeeping peacebuilding

peace enforcement safety humanitarian community integrated missions Southern

Sudan

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vi

Dedicatoacuteria

Para os meus pais que tornaram possiacutevel

realizar este sonho e agrave minha prima de

coraccedilatildeo Rosa Santos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vii

Agradecimentos

Agradeccedilo aos meus pais por todo o apoio que me transmitiram ao longo do meu

percurso acadeacutemico e todas as aprendizagens que me transmitiram ao longo da vida

Agradeccedilo aos meus amigos pelo apoio incondicional carinho e pelos bons momentos

Agradeccedilo ao meu primo e agrave sua esposa que satildeo como irmatildeos para mim por todo o

amor compreensatildeo apoio e carinho Foram fundamentais ao longo do meu percurso

acadeacutemico e na minha formaccedilatildeo enquanto pessoa

Gostava de endereccedilar um agradecimento muito especial agrave Professora Claacuteudia Ramos

por tudo o que me ensinou ao longo do meu percurso acadeacutemico todo o empenho

dedicaccedilatildeo compreensatildeo exigecircncia disponibilidade e apoio Mas sobretudo gostava de

agradecer pelo incentivo e apoio nos momentos menos bons que ocorreram ao longo do

periacuteodo de redaccedilatildeo da dissertaccedilatildeo e por ter-me feito natildeo desistir em momento algum

de terminar o meu mestrado quando os momentos que estava a atravessar eram

momentos difiacuteceis

Agradeccedilo tambeacutem ao Professor Joatildeo Casqueira ao Professor Aacutelvaro Campelo agrave

Professora Teresa Toldy e ao Professor Paulo Vila Maior pela sabedoria que

partilharam ao longo de todo o meu percurso acadeacutemico que foi pautado por excelentes

professores

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

viii

Iacutendice

Resumo iv

Abstract v

Dedicatoacuteria vi

Agradecimentos vii

Iacutendice viii

Iacutendice de Figurashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip ix

Lista de Acroacutenimos x

Introduccedilatildeo 1

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria 10

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a abordagem

humanitaacuteria 21

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding 21

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar 23

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares 28

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno 40

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 48

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso 53

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul 53

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das ONG 59

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar 62

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 69

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas 73

Conclusatildeo 75

Bibliografia 80

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ix

Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terrenohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip43

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sulhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip53

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

x

Lista de Acroacutenimos

AMI Assistecircncia Meacutedica Internacional

AMP Agecircncias Militares privadas

CAI Conflito Armado Internacional

CANI Conflito Armado Natildeo Internacional

CERF Central Emergency Response Fund

CMOC Civil Military Operation Center

DIH Direito Internacional Humanitaacuterio

DDR Desarmamento Desmobilizaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo

DSL Defense System Limited

ECHO European Civil Protection and Aid Operations

HC Humanitarian Coordinator

HCT Humanitarian Country Team

ICRC International Comittee of Red Cross

IASC Inter-Agency Standing Committee

IAP Integrated Assessment and Planning

ICISS International Commission on Intervention and State Sovereignity

JOC Joint Operations Center

MSF Meacutedicos Sem Fronteiras

NU Naccedilotildees Unidas

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

OING Organizaccedilatildeo Internacional Natildeo Governamental

OCHA United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

OCDE Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econoacutemico

OFDA Office of US Foreign and Disaster Assistance

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

PCI Projetos de curto impacto

RESG Representante Especial do Secretaacuterio Geral

RCO Resident Coordinatoracutes Office

R2P Responsibility to protect

UE Uniatildeo Europeia

UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

UNMISS United Nation Missions for South Sudan

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF United Nations Childrenrsquos Fund

WFP World Food Programme

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

1

Introduccedilatildeo

Na presente dissertaccedilatildeo iraacute ser abordada a relaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a Accedilatildeo

Securitaacuteria como garante de proteccedilatildeo e escolta aos humanitaacuterios em situaccedilotildees de

elevado perigo podendo potencialmente colocar a missatildeo humanitaacuteria em causa devido

agrave dificuldade de acesso ao terreno A resposta humanitaacuteria eacute composta por trecircs fases A

primeira eacute o fornecimento dos bens essenciais como a aacutegua abrigo e alimentaccedilatildeo A

segunda eacute a ajuda agraves viacutetimas para recuperarem os seus meios de subsistecircncia bem como

a reconstruccedilatildeo das infraestruturas sociais e materiais baacutesicas Por uacuteltimo haacute a prevenccedilatildeo

de novas cataacutestrofes Logo a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal objetivo aliviar o

sofrimento humano de forma a que a populaccedilatildeo possa viver com dignidade e se salvem

vidas A accedilatildeo humanitaacuteria divide-se nas seguintes aacutereas a ajuda ao desenvolvimento a

defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda humanitaacuteria mais urgente

(OIKOS 2015 UNRIK 2014)

Jaacute a accedilatildeo securitaacuteria nomeadamente as lsquomissotildees de pazrsquo eacute predominantemente do tipo

militar tendo regra geral de ser pedida pelo Estado que estaacute a atravessar o conflito

como foi o caso do Ruanda Somaacutelia Sudatildeo do Sul entre outros As accedilotildees securitaacuterias

ao abrigo das missotildees de paz tecircm como objetivos fornecer assistecircncia e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados que a paz possa ser estabelecida e o genociacutedio

prevenido ou interrompido Dentro da accedilatildeo securitaacuteria encontram-se as operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mais extrema o peace enforcement O peace

enforcement pode ser ativado em casos extremos e ao abrigo do princiacutepio da

responsabilidade de proteger Ainda assim os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm

de se limitar a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para fazerem respeitar os

direitos humanos violados e fornecer assistecircncia ao povo local (Gordon1996 Bellamy

e Wheeler 2006 Massingham 2009 Weiss 2017)

A questatildeo central da investigaccedilatildeo eacute portanto a articulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o

militar em paiacuteses que estejam a passar por conflitos armados Sempre que os

profissionais humanitaacuterios estejam em paiacuteses em estado de guerra ou poacutes-guerra

poderatildeo sentir dificuldades na hora de aceder a locais onde a populaccedilatildeo necessite de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

2

mais ajuda devido ao facto de natildeo terem escolta militar para esse efeito Outro

problema eacute a possibilidade de haver confusatildeo dos humanitaacuterios com os militares e por

isso a populaccedilatildeo rejeitar a ajuda das organizaccedilotildees humanitaacuterias Portanto o foco do

tema da dissertaccedilatildeo eacute identificar a importacircncia do papel dos militares para o bom

desempenho dos profissionais humanitaacuterios

Ou seja o estudo centra-se nas consequecircncias que podem advir daiacute como por exemplo

desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves ONG OING ou OIG queda dos donativos

ataques entre outros Do ponto de vista praacutetico as questotildees centrais seratildeo as seguintes

Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de vida ou correcirc-lo e

respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente Seraacute que eacute possiacutevel

encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a seguranccedila e proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma alternativa

Nesta dissertaccedilatildeo constatar-se-aacute que existe um cruzamento entre a accedilatildeo humanitaacuteria

(humanitaacuterios) e o sistema securitaacuterio (militares) sendo os atores deste uacuteltimo

normalmente os membros das operaccedilotildees de peacekeeping peace enforcement ou a

componente policial e militar do peacebuiliding podendo ainda ocorrer haver no

terreno uma forccedila militar estatal como no caso de algumas intervenccedilotildees militares como

seraacute explicitado adiante Neste uacuteltimo caso soacute mesmo em uacuteltima circunstacircncia os

humanitaacuterios aceitariam a escolta de forma a natildeo perderem a sua imparcialidade e

independecircncia

As operaccedilotildees de peacekeeping satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas

tambeacutem para a proteccedilatildeo dos civis para assistir ao desarmamento agrave desmobilizaccedilatildeo e agrave

reintegraccedilatildeo de ex-combatentes para suportar a organizaccedilatildeo de eleiccedilotildees para proteger e

promover os direitos humanos e para ajudar na construccedilatildeo de um ldquoestado de direitorsquo

(rule of law) fazendo a ponte com as operaccedilotildees de peacebuilding no terreno e sendo os

seus atores parceiros ldquonaturaisrdquo dos humanitaacuterios no terreno (UN sda UN sdb)

As razotildees pelas quais foi escolhido este tema satildeo sobretudo motivaccedilotildees pessoais mas

tambeacutem a relevacircncia do mesmo para a construccedilatildeo do saber na aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria

cooperaccedilatildeo e desenvolvimento sobretudo na parte da accedilatildeo humanitaacuteria Explorar novos

caminhos e trabalhar novos paradigmas para a evoluccedilatildeo positiva da accedilatildeo das missotildees no

terreno eacute fulcral para o futuro da accedilatildeo humanitaacuteria ndash eacute urgente encontrar novas soluccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

3

para que os humanitaacuterios e os militares possam satisfazer as necessidades das

populaccedilotildees que residam em locais de conflito

Uma articulaccedilatildeo entre os humanitaacuterios e os membros de operaccedilotildees de peacekeeping ou

peacebuilding pode revelar-se importante para o sucesso das missotildees em que os

profissionais humanitaacuterios participam sobretudo se essas missotildees forem sediadas em

locais de tensatildeo aberta ou altamente conflituosos Para aleacutem da motivaccedilatildeo pessoal

explicada existe pois uma motivaccedilatildeo social sendo ela a de colaborar para alertar os

agentes responsaacuteveis pela accedilatildeo humanitaacuteria para as novas necessidades e desafios nesta

aacuterea de forma a contribuir mais e melhor na sociedade

Os objetivos do estudo ao abordar este tema satildeo explorar a relaccedilatildeo existente ou natildeo

entre o profissional humanitaacuterio e o militar bem como entender ateacute que ponto essa

relaccedilatildeo eacute ou natildeo beneacutefica para a eficaacutecia da accedilatildeo humanitaacuteria e se porventura coloca em

causa os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios que satildeo a imparcialidade neutralidade e

independecircncia Eacute pretendido tambeacutem explorar as vaacuterias opccedilotildees de obtenccedilatildeo de

seguranccedila e identificar as melhores opccedilotildees

No entanto o objetivo central eacute explorar as dinacircmicas de articulaccedilatildeo entre o

humanitaacuterio e o militar em missotildees humanitaacuterias nas suas diversas formas quer com a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas quer com o apoio dos peacekeepers ou

forccedilas militares do paiacutes que estaacute sob a ajuda humanitaacuteria e a accedilatildeo militar Dado o cariz

do mestrado em Accedilatildeo Humanitaacuteria que visa formar tambeacutem para a praacutetica de terreno

este objetivo afigura-se fundamental

O paradigma investigativo escolhido para a dissertaccedilatildeo eacute o qualitativo que assenta na

interpretaccedilatildeo de determinados fenoacutemenos de modo a construir uma nova visatildeo acerca

do tema de estudo A parte empiacuterica da dissertaccedilatildeo conta com um estudo de caso sobre

o Sudatildeo do Sul onde eacute analisada a interaccedilatildeoarticulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o militar

no terreno com recurso a anaacutelise bibliograacutefica e documental nomeadamente a anaacutelise

de um guia sobre missotildees integradas elaborado pela OXFAM que eacute o UN Integrated

Missions and Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations

Integrated Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) Conta tambeacutem com a

anaacutelise de um documento importante para o estudo do caso do Sudatildeo do Sul que eacute o

Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United Nations

Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) elaborado pelas Naccedilotildees Unidas (NU)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

4

em conjunto com ONG OING e OIG Este eacute um guia que iraacute explicar como deve ser

feita a cooperaccedilatildeo entre a comunidade humanitaacuteria e os peacekeepers no terreno

denominada tambeacutem de missatildeo integrada (minimalista ou maximalista conforme se

explicaraacute)

O motivo da escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso foi o facto de este ser um

Estado de elevada fragilidade onde a guerra civil natildeo aparenta ter um fim agrave vista Outro

motivo foi o nuacutemero crescente de humanitaacuterios atacados sequestrados e assassinados

no terreno o que torna o Sudatildeo do Sul um terreno perigoso para as ONG e OIG se

aventurarem sem que sejam garantidas as devidas condiccedilotildees de seguranccedila e proteccedilatildeo

dos humanitaacuterios O cerne da questatildeo eacute precisamente o facto de essa proteccedilatildeo e

seguranccedila natildeo serem garantidas no terreno pelo Estado que estaacute em conflito armado

natildeo sendo possiacutevel por vezes aos humanitaacuterios chegar a determinados locais por

elevado niacutevel de perigo de vida

Satildeo estes os motivos que justificaram a escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso

complementando assim a parte teoacuterica sobre o dilema dos princiacutepios humanitaacuterios e a

necessidade de proteccedilatildeo no terreno

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

5

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria nasceu com Henri Dunant tendo sido este a criar a Cruz Vermelha

apoacutes a batalha violenta de Solferino em 1859 Teraacute entatildeo uma estrutura composta de

associaccedilotildees pequenas adquirindo uma dimensatildeo sem-fronteiras Comeccedilou por ser

denominada de Comiteacute International de Secours aux Blesseacutes e em 1875 obteve o nome

pela qual eacute conhecida hoje Cruz Vermelha ou Croix Rouge Tinha como principal

objetivo tratar os prisioneiros e feridos de guerra independentemente do lado pelo qual

lutavam Ou seja Dunan apoacutes assistir aos horrores daquela batalha decidiu criar uma

organizaccedilatildeo que tratasse todos os feridos independentemente da raccedila religiatildeo

ideologia cor crenccedila ou etnia (Schaumoff 2011 Crisp 2008)

A Cruz Vermelha comeccedilou por basear-se em trecircs pilares fundamentais que satildeo a

neutralidade a independecircncia da organizaccedilatildeo permanente de socorros e uma convenccedilatildeo

internacional para a proteccedilatildeo dos feridos A accedilatildeo humanitaacuteria tinha e tem como

principal objetivo alivar o sofrimento restabelecer a dignidade e humanidade Estes trecircs

pilares foram rapidamente adotados pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias (Schaumoff

2011 Crisp 2008 Hammond 2015) Em 1965 em Viena a Cruz Vermelha proclamou

os seus sete princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

Independecircncia todas as ONG e OIG devem ser independentes relativamente a qualquer

instituiccedilatildeo Estado ou outro sistema governamental a fim de se poderem movimentar e

agir de acordo com os seus princiacutepios e natildeo sob pressatildeo da entidade da qual dependem

monetariamente ou securitariamente Ou seja a accedilatildeo humanitaacuteria deve ser praticada de

forma autoacutenoma e independente dos agentes poliacuteticos e militares (Hisamoto 2012

IFRCC sd)

Imparcialidade todos devem ser tratados de igual forma independentemente da tribo

etnia da cor do sexo da religiatildeo de ideologia poliacutetica e do geacutenero (IFRCC sd CVP

2017a)

Neutralidade as OIG e ONG devem abster-se de tomar parte em hostilidades ou em

controveacutersias de ordem poliacutetica racial filosoacutefica ou religiosa (IFRCC sd CVP

2017a)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

6

Humanidade este princiacutepio estabelece que todos os feridos devem ser auxiliados dentro

e fora do campo de batalha o sofrimento deve ser aliviado independentemente das

circunstacircncias a vida e a sauacutede devem ser protegidas deve ser promovido o respeito

pela pessoa humana e deve ser favorecida a compreensatildeo a cooperaccedilatildeo e a paz

duradoura entre os povos (IFRCC sd CVP 2017a)

Voluntariado todas as OIG e ONG devem agir de forma voluntaacuteria e desinteressada

(IFRCC sd CVP 2017a)

Unidade a Cruz Vermelha eacute uma soacute podendo em cada paiacutes existir somente sociedades

abertas a todos estendendo assim a sua accedilatildeo humanitaacuteria a todo o territoacuterio nacional

No entanto este princiacutepio eacute estendiacutevel a toda a comunidade humanitaacuteria que deve agir

como uma soacute entreajudando-se e cumprindo o dever de salvar vidas e aliviar o

sofrimento humano (IFRCC sd CVP 2017a)

Universalidade a Cruz Vermelha eacute uma instituiccedilatildeo com cariz universal no seio de

todas as Sociedades Nacionais todas tecircm direitos e deveres iguais de entreajuda o

mesmo princiacutepio vale para as restantes organizaccedilotildees intergovernamentais ou natildeo

governamentais (IFRCC sd CVP 2017a)

Em 1949 foram criadas as Quatro Convenccedilotildees de Genebra e posteriormente os

respetivos protocolos que satildeo de 1977 e satildeo a base do Direito Internacional

Humanitaacuterio onde eacute determinado o tratamento dos soldados e civis durante os conflitos

armados internacionais e natildeo internacionais (CVP 2017b Jurkowski 2017)

A primeira Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos e dos doentes das

Forccedilas Armadas em campanha Aqui eacute estabelecido como devem ser tratados os feridos

e doentes das forccedilas armadas respeitando sempre os princiacutepios fundamentais mais

importantes da accedilatildeo humanitaacuteria que satildeo a neutralidade e imparcialidade Ou seja todo

o doente ou ferido deve ser tratado independentemente da sua cor raccedila credo feacute

religiatildeo geacutenero ideologias poliacuteticas etnias e quer faccedila parte de uma ou outra parte das

hostilidades (ICRC 1949 CVP 2017b Jurkowski 2017)

A segunda Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos doentes e

naacuteufragos das Forccedilas Armadas no mar Eacute aqui estabelecido o tipo de tratamentos que os

feridos doentes e naacuteufragos das forccedilas armadas devem obter e os direitos que lhes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

7

assistem Todos os feridos devem ser assistidos independentemente da religiatildeo crenccedila

feacute religiatildeo ideologias poliacuteticas e quer faccedilam parte de uma ou da outra parte das

hostilidades Caso os humanitaacuterios estejam perante dois feridos e tenham de escolher

devem assistir o ferido que teraacute mais probabilidades de sobreviver natildeo devendo fazer a

escolha com base na nacionalidade faccedilatildeo partidaacuteria crenccedila religiatildeo feacute cor entre

outros Todas as organizaccedilotildees humanitaacuterias e todos os humanitaacuterios devem pois reger-

se pelos princiacutepios da neutralidade e imparcialidade mas tambeacutem humanidade e

independecircncia (ICRC 1949 CVPb 2017)

A terceira Convenccedilatildeo diz respeito ao tratamento dos prisioneiros de guerra Todos os

prisioneiros de guerra devem ser tratados com dignidade e devem ver os seus direitos

consagrados no direito internacional humanitaacuterio respeitados como o acesso a

assistecircncia meacutedica em caso de necessidade a proteccedilatildeo dos seus pertences que natildeo

devem ser alvo de pilhagem e a garantia de um miacutenimo de condiccedilotildees na cela que

permita ao prisioneiro viver com dignidade Natildeo devem ainda ser alvo de torturas

privados de visitas e de um advogado e devem ainda ter acesso a um julgamento

imparcial Em caso de morte o corpo natildeo pode ser profanado e deve ser devolvido agrave

famiacutelia uma vez feito o reconhecimento (ICRC 1949 CVP 2017b)

A quarta Convenccedilatildeo diz respeito agrave proteccedilatildeo de civis em tempo de guerra Nesta

convenccedilatildeo eacute feita a distinccedilatildeo entre os conflitos armados internacionais e os conflitos

armados natildeo internacionais pois a proteccedilatildeo dada aos civis em tempo de conflito a

niacutevel do direito internacional humanitaacuterio eacute diferente Se no caso de um CAI (Conflito

Armado Internacional) os civis e prisioneiros de guerra estatildeo protegidos pelo Direito

Internacional Humanitaacuterio e pelas Convenccedilotildees de Genebra ratificadas por quase todos

os Estados do mundo a verdade eacute que caso o conflito natildeo seja internacional a proteccedilatildeo

dos civis e prisioneiros de guerra eacute colocada em causa O Direito Internacional

Humanitaacuterio natildeo tem legitimidade para atuar em caso de CANI (Conflito Armado Natildeo

Internacional) Logo em caso de CANI os civis e prisioneiros de guerra ficam

entregues agrave sua sorte No entanto eacute possiacutevel contornar este problema recorrendo aos

protocolos adicionais I e II O problema aqui reside no facto de poucos Estados terem

ratificado os protocolos adicionais o que deixa os civis e prisioneiros de guerra numa

posiccedilatildeo delicada em contexto de CAN Outro problema eacute ainda determinar quando eacute

que podemos classificar um conflito armado como sendo internacional ou natildeo Esta eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

8

uma aacuterea complicada e que leva a algumas duacutevidas quanto agrave classificaccedilatildeo do conflito

(Jurkowski 2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional I vem pois fazer a distinccedilatildeo entre os conflitos armados

internacionais e natildeo internacionais e o protocolo adicional II vem fazer algumas

modificaccedilotildees e especificar como devem ser tratados os feridos doentes e prisioneiros de

guerra em cada um dos casos Foram celebrados a 8 de agosto de 1977 (Jurkowski

2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional III celebrado a 8 de dezembro de 2005 vem formalizar o terceiro

emblema do movimento ldquoO Cristal Vermelhordquo Este novo emblema apresenta-se na

forma de um losango inserido dentro de uma moldura vermelha sob fundo branco A

ideia da construccedilatildeo de um novo siacutembolo surgiu com a necessidade de encontrar uma

alternativa agrave cruz e ao crescente que satildeo muitas vezes percecionadas como tendo

conotaccedilotildees religiosas culturais e poliacuteticas o que levava ao desrespeito do emblema dos

humanitaacuterios e das viacutetimas Com o novo emblema denominado de Cristal Vermelho e

com a assinatura do acordo entre o Crescente Vermelho da Palestina e a Magen David

Adom (mais conhecida por estrela de David) a 28 de novembro de 2005 foram

definidos aspetos logiacutesticos no desenvolvimento das operaccedilotildees humanitaacuterias Este

acordo contribuiu para a adoccedilatildeo do III protocolo adicional e para que terminasse um

longo processo diplomaacutetico (CVPb 2017 CVP 2017c ICRC 1949)

Com o aumento do nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento

de conflitos que necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido pela Cruz

Vermelha em 1994 o coacutedigo de conduta humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se

comprometeriam a respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios principalmente os

princiacutepios da neutralidade imparcialidade e independecircncia Este coacutedigo foi assinado por

140 agecircncias de forma a assegurar que os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios fossem

assegurados no terreno (Makintosh 2000 Hammond 2015)

Podemos constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal missatildeo aliviar o

sofrimento humano e devolver dignidade agrave vida das pessoas com necessidades que

devem ser urgentemente apaziguadas Esta ajuda humanitaacuteria deve ter como principal

fim o solidaacuterio e nunca fins lucrativos ou segundas intenccedilotildees como poliacuteticas por

exemplo Os seus valores tecircm origem eacutetico-religiosa cristatilde quanto ao amor ao proacuteximo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

9

no princiacutepio da solidariedade e da caridade bem como no humanitarismo Eacute tambeacutem

estabelecido neste protocolo que a Cruz Vermelha deve estar bem identificada e que

nenhuma instituiccedilatildeoorganizaccedilatildeo humanitaacuteria e religiosa deve ser atacada pois se trata

de entidades imparciais e neutras (Jurkowski 2017 Hammond 2015)

Os princiacutepios humanitaacuterios definem as regras de accedilatildeo no terreno na hora de oferecer

ajuda humanitaacuteria devendo sempre respeitar os referidos sete princiacutepios humanitaacuterios

proclamados em Viena em 1965 pela Cruz Vermelha Os humanitaacuterios devem ainda

manter-se neutros face agraves hostilidades e natildeo devem ser associados implicados ou ter

uma participaccedilatildeo poliacutetica no terreno de forma a natildeo colocar a vida da populaccedilatildeo em

risco e a populaccedilatildeo natildeo recear pedir ajuda Devem tambeacutem manter-se imparciais

quanto ao tratamento das pessoas sendo por isso a independecircncia fulcral que soacute eacute

conseguida mantendo-se neutros (Jurkowski 2017 Crisp 2008 Hammond 2015)

O humanitaacuterio ou a organizaccedilatildeo humanitaacuteria tecircm tambeacutem o dever de denunciar abusos

aos direitos humanos No entanto muitos natildeo o fazem sob medo de ao denunciarem o

Estado denunciado os encarar como tomando um dos lados das hostilidades existentes e

de por isso lhes ser retirada a permissatildeo para permanecerem no terreno ou serem alvos

de ataques entre outros Os Meacutedicos sem Fronteiras por exemplo jaacute encararam este

tipo de problemas e a poliacutetica da organizaccedilatildeo eacute denunciar mesmo que isso signifique ter

de fazer as malas e abandonar o terreno Natildeo denunciar seria cooperar e permitir a

violaccedilatildeo dos direitos humanos ndash este eacute chamado o ldquoprinciacutepio da ingerecircncia

humanitaacuteriardquo Tal significa que o humanitaacuterio deve denunciar os crimes contra os

Direitos Humanos independentemente das consequecircncias (Terry 2002 Hisamoto

2012)

Apoacutes a criaccedilatildeo da Cruz Vermelha vaacuterias organizaccedilotildees internacionais governamentais e

natildeo-governamentais foram surgindo para fornecer ajuda humanitaacuteria aos paiacuteses em

conflito e de extrema pobreza No plano das natildeo governamentais encontramos

organizaccedilotildees como a AMI a OXFAM ou a Caacuteritas A niacutevel intergovernamental a ONU

abriu um escritoacuterio denominado OCHA (United Nations Office for the Coordination of

Humanitarian Affairs) para a coordenaccedilatildeo dos assuntos humanitaacuterios a OCDE tambeacutem

se dedica a esta causa bem como a UE atraveacutes do ECHO (European Civil Protection

and Humanitarian Aid Operations) (Philippe et al 2007)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

10

Podemos entatildeo constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria eacute uma atuaccedilatildeo no terreno de cariz

puramente solidaacuterio e humanitaacuterio que tem como principal objetivo aliviar o sofrimento

humano fornecendo os meios essenciais de subsistecircncia apoio meacutedico e psicoloacutegico

bem como abrigo proteccedilatildeo e apoio legal em caso de a viacutetima ter sido alvo de violaccedilatildeo

dos seus Direitos Humanos Esta atuaccedilatildeo eacute realizada por ONG OING e OIG (Bellamy e

Wheeler 2006)

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute composta por diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sendo a ajuda

humanitaacuteria em contexto de conflito e a defesa dos direitos humanos as aacutereas que iratildeo

ser mais aprofundadas nesta dissertaccedilatildeo As aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo pois a ajuda ao

desenvolvimento a defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda

humanitaacuteria mais urgente A ajuda urgente eacute a mais oacutebvia mas os humanitaacuterios

colaboram tambeacutem no terreno com missotildees orientadas para outros fins e com prazos

mais longos Cada uma dessas aacutereas dentro da ajuda humanitaacuteria requer uma estrateacutegia

diferente de accedilatildeo e cuidados a ter com os proacuteprios humanitaacuterios que satildeo muitas vezes

alvo de sequestros atentados e homiciacutedio Por exemplo a ajuda humanitaacuteria em

contexto de conflito requer uma maior preparaccedilatildeo por parte dos humanitaacuterios para o

terreno onde vatildeo atuar requer um estabelecimento de mecanismos de seguranccedila

detalhados como por exemplo mapear onde estatildeo localizados onde cada grupo da sua

equipa estaacute a operar em determinado momento assegurar meios de telecomunicaccedilatildeo

fiaacuteveis como a raacutedio para que todos os elementos do grupo estejam contactaacuteveis pela

base onde estaacute sediada a organizaccedilatildeo (Ryfman 2007)

Jaacute a aacuterea de ajuda ao desenvolvimento tem como principal foco a erradicaccedilatildeo da

pobreza a niacutevel mundial Essa ajuda eacute fornecida por organizaccedilotildees de paiacuteses

desenvolvidos ou organizaccedilotildees intergovernamentais como a ONU Este objetivo adveacutem

da parceria entre Estados desenvolvidos e em vias de desenvolvimento tendo tido um

marco fundamental na Declaraccedilatildeo do Mileacutenio assinada por 189 Estados em setembro

de 2000 Esta Declaraccedilatildeo do Mileacutenio foi adotada na resoluccedilatildeo ARES552 da

Assembleia Geral das NU Nela ficaram estabelecidos os princiacutepios fundamentais a

serem adotados por todos os Estados Membros que a tenham ratificado A menccedilatildeo

destes princiacutepios iraacute clarificar o conceito da accedilatildeo humanitaacuteria e fazer entender que

certos princiacutepios satildeo negados agraves populaccedilotildees de Estados fragilizados em conflito ou em

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

11

vias de desenvolvimento e que ainda eacute necessaacuterio percorrer um longo caminho na aacuterea

da accedilatildeo humanitaacuteria que neste momento se revela difiacutecil devido agrave inseguranccedila em

determinados terrenos Esses princiacutepios satildeo

Liberdade Todos independentemente do geacutenero devem ter o direito de viver em

dignidade e criar os seus filhos em dignidade livres da fome do medo e da violecircncia

opressatildeo ou injusticcedila Os governos devem ser democraacuteticos e participativos baseados

na vontade do povo

Igualdade nenhum individuo ou naccedilatildeo deve ver a oportunidade de beneficiar do

desenvolvimento negada Os direitos e oportunidades devem ser iguais para todos

Solidariedade Desafios globais devem ser geridos de forma a que os custos e benefiacutecios

sejam distribuiacutedos de forma justa com base no princiacutepio da equidade e justiccedila social

Aqueles que sofrem ou que beneficiam menos merecem a ajuda dos que satildeo mais

beneficiados

Toleracircncia Todo o ser humano deve respeitar-se mutuamente em toda a sua diversidade

de crenccedila cultura e linguagem A diferenccedila na e entre a sociedade natildeo devem ser

temidas ou reprimidas devem antes ser preservadas como um bem precioso da

humanidade Por uacuteltimo deve ser promovida uma cultura de paz e dialogo entre todas

as civilizaccedilotildees

Respeito pela natureza Deve haver prudecircncia na gestatildeo de todas as espeacutecies existentes

e recursos naturais de acordo com a perceccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel A

riqueza da natureza e diversidade de espeacutecies legada pelos nossos antepassados deve ser

preservada para a manutenccedilatildeo do equilibro do meio ambiente no presente e para os

nossos descendentes no futuro O padratildeo de consumismo e constante destruiccedilatildeo da

natureza deve ser mudado

Responsabilidade partilhada A responsabilidade de gerir mundialmente o niacutevel

econoacutemico e o desenvolvimento social bem como ameaccedilas agrave paz internacional e

seguranccedila deve ser partilhada entre naccedilotildees do mundo e deve ser exercida

multilateralmente As NU devem por isso como organizaccedilatildeo mundial de maior

influecircncia ter um papel central nesta questatildeo (UN 2000 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

12

Com base nestes princiacutepios foram estabelecidos os objetivos de desenvolvimento do

mileacutenio e posteriormente em 2015 os 17 objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel

que satildeo 1) Erradicar a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares 2)

Acabar com a fome conseguir seguranccedila alimentar melhorar a nutriccedilatildeo e a promoccedilatildeo

de uma agricultura sustentaacutevel 3) Assegurar uma vida saudaacutevel e promover o bem-estar

para todos em todas as idades 4) Assegurar uma educaccedilatildeo que privilegie a inclusatildeo de

todos que seja equitativa e de qualidade e que promova diversas oportunidades de

aprendizagem ao longo da vida e para todos 5) Alcanccedilar a igualdade de geacutenero

conceder autonomia agraves mulheres 6) Assegurar uma gestatildeo sustentaacutevel da aacutegua e

saneamento e a garantir que toda a populaccedilatildeo tenha acesso agrave aacutegua 7) garantir a todos o

acesso sustentaacutevel e confiaacutevel agrave energia 8) promover o crescimento econoacutemico

sustentado inclusivo e sustentaacutevel emprego pleno e produtivo bem como trabalho

decente para todos 9) Construir infraestruturas resistentes promover a industrializaccedilatildeo

sustentaacutevel de forma a fomentar a inovaccedilatildeo 10) Reduzir as desigualdades no seio do

Estado e entre Estados 11) Tornar as cidades e o patrimoacutenio humano mais inclusivos

seguros resistentes e sustentaacuteveis 12) Assegurar padrotildees de produccedilatildeo e de consumo

sustentaacuteveis 13) Combater as alteraccedilotildees climaacuteticas de forma a diminuir o risco do seu

impacto no nosso planeta 14) Promover o uso sustentaacutevel dos oceanos dos mares e dos

recursos marinhos para um desenvolvimento sustentaacutevel 15) Proteger recuperar e

promover o uso sustentaacutevel dos ecossistemas terrestres gerir de forma sustentaacutevel as

florestas e combater a desertificaccedilatildeo deter e reverter a degradaccedilatildeo da terra e deter a

perda de biodiversidade 16) Promover sociedades paciacuteficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentaacutevel proporcionar o acesso agrave justiccedila com base na igualdade e

equidade construir instituiccedilotildees eficazes responsaacuteveis e inclusivas para todos 17)

Fortalecer os meios de implementaccedilatildeo e revitalizar a parceria a niacutevel global para o

desenvolvimento sustentaacutevel (UN 2015 ONUBR 2017 UN 2017c)

Podemos por isso considerar que a ajuda ao desenvolvimento fornecida pelo PNUD eacute

uma accedilatildeo poliacutetica para melhorar as condiccedilotildees de vida dos paiacuteses em vias de

desenvolvimento numa perspetiva de longo prazo A ajuda eacute fornecida pelos Estados-

membros da OCDE ONU EU BMI e FMI

A luta pelos direitos dos humanos tem como principal objetivo a luta contra a violaccedilatildeo

dos direitos humanos definidos na declaraccedilatildeo universal dos direitos do homem Como

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

13

quadro de referecircncia dos direitos humanos foram ainda redigidas a convenccedilatildeo

internacional para os direitos poliacuteticos e civis e a convenccedilatildeo para os direitos

econoacutemicos sociais e culturais (Ryfman 2007 UN 2017d SDG 2015)

Este tipo de ajuda humanitaacuteria funciona atraveacutes de denuacutencias e pressotildees para que sejam

conhecidas sucessivas violaccedilotildees dos direitos humanos e o direito a uma vida digna

preservado No entanto esta eacute uma aacuterea que pode abrir portas para o conflito entre o

dever de denunciar violaccedilotildees dos Direitos Humanos e os princiacutepios humanitaacuterios Como

foi referido acima as ONG e OIG baseiam-se em sete princiacutepios fundamentais dos

quais trecircs satildeo cruciais ndash a independecircncia a neutralidade e a imparcialidade Ao

denunciar uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a denuacutencia poderaacute ser vista como se a

organizaccedilatildeo estivesse a tomar partido por uma das partes do conflito mesmo que natildeo

seja o caso e eacute assim colocada em causa a neutralidade da organizaccedilatildeo seja ela

internacional local governamental ou natildeo Este eacute um caso bastante delicado pois a

organizaccedilatildeo precisa da autorizaccedilatildeo para poder permanecer no terreno Esta situaccedilatildeo

pode levar a que vaacuterias organizaccedilotildees se sintam intimidadas na hora de denunciar

embora exista um modelo especiacutefico criado pelas Naccedilotildees Unidas para realizar queixas

por violaccedilatildeo dos direitos humanos O procedimento eacute denominado de Human Rights

Council Complaint Procedure A Amnistia Internacional tambeacutem faz queixas por

violaccedilatildeo dos direitos humanos sendo uma ONG muito importante no ativismo pelos

direitos humanos (OHCHR 2017 Hammond 2015)

O Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Direitos Humanos (ACDH) tem

tambeacutem um papel importantiacutessimo na prevenccedilatildeo e denuacutencia de potenciais crimes contra

os direitos humanos no terreno Este Alto Comissariado tem como principal objetivo

dar suporte ao respeito pelos direitos humanos no acircmbito de operaccedilotildees de

peacekeeping peaceenforcement peacebuilding provendo planos estrateacutegicos

policiamento e aconselhamento especializado O Alto Comissariado pode mesmo

indicar a necessidade de acionar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo mas eacute o Conselho de

Seguranccedila que tem o poder decisoacuterio nesta mateacuteria As principais atividades do ACDH

satildeo fazer a monitorizaccedilatildeo diaacuteria investigaccedilatildeo documentaccedilatildeo e relato da situaccedilatildeo

relativa aos direitos humanos advogar junto das autoridades locais e nacionais

envolvendo a sociedade civil e os governos nacionais (desta forma eacute possiacutevel prevenir e

assegurar a reparaccedilatildeo da violaccedilatildeo dos direitos humanos) reportar publicamente ganhos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

14

e falhas nos direitos humanos assegurar que o processo de paz promova a justiccedila e a

equidade construir instituiccedilotildees de direitos Humanos incorporar os direitos humanos

nas missotildees de paz da NU bem como em todos os programas e atividades as NU no

paiacutes (OHCHR 2017)

Eacute ainda nesta aacuterea que se verifica uma maior possibilidade de ser posta em causa a

neutralidade e a independecircncia das organizaccedilotildees Para poder proteger os direitos

humanos e denunciar abusos de direitos humanos perpetrados por exemplo pelo Estado

em cujo territoacuterio se verificam esses atos os humanitaacuterios iratildeo colocar em causa a sua

permanecircncia no terreno Este facto leva a que muitas organizaccedilotildees natildeo realizem a

denuacutencia o que torna de certa forma as mesmas cuacutemplices dessas barbaridades contra a

sua vontade

A promoccedilatildeo da paz recai essencialmente sobre o Conselho de Seguranccedila das NU que

tem como principal objetivo a manutenccedilatildeo e estabelecimento da paz e a seguranccedila

internacional de forma a que natildeo se repita mais nenhum conflito com a dimensatildeo da II

Guerra Mundial tendo esse sido o principal motivo para a fundaccedilatildeo das NU Para

promover a paz as NU atraveacutes do Conselho de Seguranccedila recorreu a operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mesmo ao peace enforcement a diplomacia e a

mediaccedilatildeo preventiva ao combate ao terrorismo (como podemos verificar hoje com o

Daesh) e ao desarmamento que eacute feito atraveacutes da eliminaccedilatildeo do armamento nuclear de

destruiccedilatildeo massiva e regulaccedilatildeo do armamento convencional (Ryfman 2007 UN

2017b Carta das NU 1945)

A ajuda humanitaacuteria eacute a ajuda fornecida em situaccedilotildees de grande emergecircncia sendo a

accedilatildeo das ONG OING e OIG fundamental nas primeiras setenta e duas horas apoacutes o

desastre natural ou ataque em caso de conflito armado O objetivo desta aacuterea da ajuda

humanitaacuteria eacute aliviar o sofrimento humano restabelecendo e protegendo a dignidade

humana ou seja uma vida digna assistindo a populaccedilatildeo fornecendo bens de primeira

necessidade como aacutegua comida abrigo proteccedilatildeo apoio meacutedico e psicoloacutegico Satildeo

exemplo dessa atividade tratar viacutetimas de abuso sexual ajudar a retirar viacutetimas dos

escombros organizar o campo de refugiados para acolher os refugiados requerentes de

asilo com as devidas condiccedilotildees Este eacute um trabalho fundamental capaz de apaziguar

conflitos salvar vidas e restaurar a dignidade Uma populaccedilatildeo com seguranccedila aacutegua

comida e abrigo eacute mais propensa agrave pacificaccedilatildeo Inversamente a escassez de aacutegua eacute o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

15

motivo de vaacuterios conflitos armados e guerras civis como eacute o caso do Sudatildeo do Sul

(Philippe et al 2007)

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute pois como se pocircde verificar muito mais que uma ajuda de

emergecircncia e de reconstruccedilatildeo eacute uma aacuterea dedicada ao respeito dos direitos humanos

respeito pela dignidade do homem e manutenccedilatildeo da paz A sua neutralidade e

imparcialidade permitem fornecer ajuda a todos independentemente da cor raccedila

geacutenero crenccedilas ideologias religiatildeo e origem eacutetnica A neutralidade ou seja o facto de

as ONG e OIG fornecedoras de ajuda natildeo tornarem parte nas hostilidades leva a que

natildeo sejam vistas como apoiantes de uma das partes conflituantes e natildeo sejam por isso

pressionadas a fazer determinados atos ou a natildeo fornecer ajuda a determinadas etnias

entre outros A independecircncia eacute crucial pois uma vez a ONG ou OIG humanitaacuteria

dependente do governo local seraacute pressionada e teraacute de fazer cedecircncias para poder

continuar a permanecer no terreno bem como teraacute dificuldade ou veraacute barrado o acesso

a determinados locais (Ryfman 2007 Smith 2016)

A ONU participa diretamente na ajuda humanitaacuteria atraveacutes do OCHA Este escritoacuterio

das NU eacute responsaacutevel por coordenar uma resposta eficaz em situaccedilotildees de emergecircncia e

o objetivo eacute assistir o mais raacutepida e eficazmente possiacutevel as pessoas em necessidade A

ONU tem ainda o CERF (Central Emergency Response Fund) gerido pelo OCHA que

eacute uma peccedila fundamental para uma resposta raacutepida em contexto de conflito armado ou

desastre natural ou seja permite um raacutepido financiamento para que seja possiacutevel enviar

ajuda ceacutelere O CERF recebe contribuiccedilotildees voluntaacuterias ao longo do ano o que permite

que seja possiacutevel suportar o envio de ajuda humanitaacuteria para o terreno (UN 2017d) As

Naccedilotildees Unidas tecircm ainda nesta aacuterea diversas entidades que fornecem ajuda humanitaacuteria

como por exemplo O United Nation High Commissioner for Refugees para ajudar os

IDP (Internal Displaced Persons) e os refugiados bem como apaacutetridas o UNDP

(United Nations Development Programm) o UNICEF (United Nations Childrenrsquos

Fund) para ajudar as crianccedilas o WFP (World Food Programme) para combater a fome

e a organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede para ajudar os doentes e feridos (ONU 2017)

3 A Carta Humanitaacuteria

A Carta Humanitaacuteria nasceu com o projeto Sphere (The Sphere Projectb sd) em 1997

e tem como objetivo definir padrotildees miacutenimos humanitaacuterios de accedilatildeo no terreno comuns

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

16

a todas as ONG OING OIG e Estados que tenham ratificado as convenccedilotildees e tratados

humanitaacuterios e que se comprometam a cumprir esta declaraccedilatildeo Este projeto nasceu

essencialmente da insatisfaccedilatildeo relativa agrave atuaccedilatildeo das ONG OING e OIG no terreno nos

anos 90 durante as crises da Etioacutepia e do Sudatildeo fazendo com que as ONG chegassem agrave

conclusatildeo de que seria necessaacuterio elaborar um padratildeo de atuaccedilatildeo no terreno para os

profissionais Apoacutes esta discussatildeo comeccedilaram a aparecer manuais teacutecnicos dos MSF e

guias operacionais redigidos pela OXFAM ACNUR (Alto Comissariado das Naccedilotildees

Unidas para os Refugiados) e a OFDA (Office of US Foreign and Disaster Assistance)

entre outras Tambeacutem a Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho tiveram

participaccedilatildeo neste projeto com os coacutedigos e movimentos de conduta para ONG para

desenvolver a sua performance no terreno atraveacutes de programas de formaccedilatildeo (The

Sphere sdb Dyke e Waldmann 2004)

O projeto Sphere eacute governado por um conselho constituiacutedo por 18 membros que

representam redes de agecircncias humanitaacuterias tanto a niacutevel global como nacional que

determina as suas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo As organizaccedilotildees representadas neste

conselho trabalham juntas de forma voluntaacuteria e informal sob a direccedilatildeo do conselho

cujo escritoacuterio estaacute sediado em Genebra e trabalha para implementar estrateacutegias e

prioridades As organizaccedilotildees contribuem tambeacutem para o financiamento do projeto

(The Sphere Project sda)

Logo eacute possiacutevel constatar que a principal meta deste projeto eacute tornar a Accedilatildeo

Humanitaacuteria mais eficiente e que seja feita com mais responsabilidade e que sejam

garantidos os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios O projeto foi elaborado para que as

ONG OING e OIG tivessem um guia sobre como agir no terreno em missotildees de

emergecircncia e em concordacircncia com o Direito Internacional Humanitaacuterio O objetivo

principal deste manual eacute garantir que todo o ser humano dever ter o direito de viver com

dignidade (The Sphere Project sda)

Humanitarian agencies committed to this Charter and to the Minimum Standards will aim to achieve

defined levels of service for people affected by calamity or armed conflict and to promote the observance

of fundamental humanitarian principles (The Humanitarian Charter sd pp 16)

Logo a Carta Humanitaacuteria estaacute comprometida com o aliacutevio do sofrimento humano e a

garantia da dignidade das viacutetimas afetadas pelo conflito armado internacional e natildeo

internacional cataacutestrofes e outras calamidades Por isso tal como foi referido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

17

anteriormente foi estabelecido um padratildeo miacutenimo que estabelece o que deve ser feito

quando as organizaccedilotildees enfrentam pessoas em necessidade de aacutegua saneamento bens

alimentares abrigo e cuidados de sauacutede e de nutriccedilatildeo Isto contribui para uma estrutura

operacional responsaacutevel em mateacuteria de assistecircncia humanitaacuteria (The Sphere Project

sdb Dyke e Waldmann 2004)

O documento estaacute dividido nos seguintes trecircs princiacutepios que devem ser respeitados pela

comunidade internacional humanitaacuteria

Direito a uma vida digna

O direito agrave vida eacute um princiacutepio e uma medida legislativa muito importante eacute um direito

humano Segundo a Carta Humanitaacuteria todos devem ver o seu direito agrave vida preservado

Com isto entende-se o direito a viver em dignidade e livre de tratamentos desumanos

ser impedido da liberdade alvo de traacutefico de pessoas e tratamentos degradantes bem

como puniccedilotildees crueacuteis e violentas Como eacute sabido as mulheres e crianccedilas satildeo tornadas

escravas sexuais e obrigadas a realizar trabalhos forccedilados juntando isto a deslocaccedilatildeo

forccedilada pode falar-se de traacutefico de pessoas que eacute considerado pela declaraccedilatildeo dos

Direitos Humanos um atentado agrave dignidade logo eacute uma violaccedilatildeo da declaraccedilatildeo

Refiram-se ainda as adoccedilotildees ilegais de crianccedilas oacuterfatildes que tambeacutem eacute uma das vertentes

do traacutefico de pessoas bem como o uso de crianccedilas em minas para armadilhar campos

com minas e na frente do exeacutercito (The Sphere Project sda pp 16-17 UN 1948)

A distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes

Eacute muito importante fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes em conflitos

armados pois os civis feridos e prisioneiros estatildeo protegidos atraveacutes do Direito

Internacional Humanitaacuterio e tecircm imunidade aos ataques coisa que os combatentes natildeo

tecircm Os ex-combatentes tambeacutem passam a usufruir dessa imunidade pois deixaram as

armas Este uacuteltimo aspeto eacute muito importante porque ex-combatentes satildeo sempre vistos

como combatentes e podem ser confundidos como tal sendo presos Em caso de prisatildeo

os combatentes de guerra usufruem de certos direitos especiais quanto ao tratamento

que devem ter Em guerras civis eacute difiacutecil fazer esta distinccedilatildeo porque podem existir

forccedilas militares natildeo reconhecidas e oficializadas Esta distinccedilatildeo consta da convenccedilatildeo de

Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais de 1977 conforme jaacute foi referido (The

Sphere Project sda pp 16-17)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

18

O princiacutepio da natildeo expatriaccedilatildeo

Este princiacutepio diz respeito aos refugiados e estabelece que nenhum refugiado deve de

forma alguma ser extraditado de volta para o seu paiacutes de origem onde a sua vida e

liberdade estariam ameaccediladas e correria risco de vida ou tortura devido agraves suas crenccedilas

raccedila religiatildeo ideologia politica entre outros Caso um refugiado seja expatriado o

Estado em questatildeo estaraacute a violar o Direito Internacional Humanitaacuterio e a Convenccedilatildeo de

1951 referente ao Estatuto do refugiado (The Sphere Project sda pp 16-17 UNHCR

2017)

A Carta Humanitaacuteria aborda ainda outro aspeto importante que satildeo as

responsabilidades e o papel que as organizaccedilotildees humanitaacuterias desempenham no terreno

de forma a que a populaccedilatildeo requerente de ajuda e refugiados natildeo corra perigo algum

Essas responsabilidades satildeo as seguintes

1) Evitar expor as viacutetimas a mais danos ou perigos como resultado das suas accedilotildees Neste

contexto o documento aborda a construccedilatildeo de campos para deslocados internos ou

refugiados em locais seguros que natildeo coloquem a vida destes em risco Esta

responsabilidade cabe em primeiro lugar ao Estado no qual a ONG ou OIG estaacute a

operar cabe-lhes garantir a seguranccedila do staff e da sua populaccedilatildeo Soacute em segundo lugar

eacute que cabe agraves agecircnciasorganizaccedilotildees zelar pelo bem-estar pela seguranccedila e satisfaccedilatildeo

das necessidades das pessoas que peccedilam ajuda para que seja restabelecida alguma

dignidade e que possam viver sem medo e terror com as suas necessidades baacutesicas

aliviadas (The Sphere Project sda pp 18)

2) Assegurar o acesso da populaccedilatildeo a uma assistecircncia imparcial Isto significa que as

agecircncias humanitaacuterias devem assistir todas as pessoas que necessitem principalmente

as pessoas que estejam numa situaccedilatildeo mais vulneraacutevel ou enfrentam exclusatildeo social por

motivos poliacuteticos eacutetnicos ou outros Este princiacutepio eacute um dos princiacutepios mais delicados

pois nem sempre as agecircncias humanitaacuterias conseguem aceder aos locais em contexto de

conflito armado que necessitam de assistecircncia das agecircncias O Estado deveria fornecer

escolta ou garantir o acesso seguro aos locais em questatildeo No entanto e como eacute de

prever caso esse local natildeo seja do interesse do Estado por estar dominado por rebeldes

por exemplo aquele natildeo iraacute facilitar o acesso Desta forma as agecircncias de forma a natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

19

correrem risco de vida limitar-se-atildeo aos locais seguros (The Sphere Progect sda

pp18)

3) Proteger as pessoas de danos fiacutesicos e psicoloacutegicos devido a violecircncia ou coerccedilatildeo

Neste princiacutepio falamos em proteger as pessoas de serem forccediladas ou induzidas a agir

contra a sua vontade o que eacute muito comum em contexto de conflito armado (The Sphere

Project sda pp 18)

4) Ajudar reivindicando direitos como a restituiccedilatildeo da propriedade ajudar a niacutevel social

e econoacutemico Eacute ainda o dever das agecircncias humanitaacuterias ajudar as viacutetimas a ultrapassar

as consequecircncias do abuso sexual a niacutevel fiacutesico e psicoloacutegico promovendo o acesso a

medicamentos e a recuperaccedilatildeo de abusos (The Sphere Project sda pp 18)

Por uacuteltimo eacute importante referir os padrotildees miacutenimos que a assistecircncia humanitaacuteria deve

respeitar no terreno de forma a uniformizar a accedilatildeo humanitaacuteria Os padrotildees miacutenimos de

assistecircncia humanitaacuteria foram definidos pelas agecircncias humanitaacuterias que trabalham no

terreno Quem aderir a este padratildeo miacutenimo de assistecircncia humanitaacuteria compromete-se a

assegurar as necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como aacutegua saneamento assistecircncia

meacutedica comida e abrigo para que seja comprido o direito a viver com dignidade Para

isso eacute necessaacuterio que Estado e organizaccedilotildees se comprometam a cumprir este princiacutepio

ao abrigo do direito internacional humanitaacuterio e direito do refugiado (The Sphere

Project sda)

Algumas agecircncias humanitaacuterias operam em determinadas aacutereas especiacuteficas de proteccedilatildeo

dos direitos humanos para que seja mais faacutecil fornecer ajuda Por exemplo existem

ONG especializadas em fornecer assistecircncia a crianccedilas tratar e lutar para a prevenccedilatildeo

de viacutetimas de violecircncia de gecircnero habitaccedilatildeo propriedade e terra minas ativas lei e

justiccedila Quanto agrave lei e justiccedila as agecircncias humanitaacuterias que forneccedilam este serviccedilo

enfrentam muitas vezes verdadeiros dilemas entre denunciar um crime de violaccedilatildeo dos

direitos humanos ou natildeo denunciar para que possam permanecer no terreno e defender

as viacutetimas de abusos fiacutesicos psicoloacutegicos de geacutenero entre outros (The Sphere Project

sda)

Em suma a conceccedilatildeo dos princiacutepios humanitaacuterios surgiu com a Cruz Vermelha tendo

os seus princiacutepios sido proclamados em Viena em 1967 Mais tarde com o aumento do

nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento de conflitos que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

20

necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido em 1994 o coacutedigo de conduta

humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se comprometeriam a respeitar os princiacutepios

humanitaacuterios fundamentais Este coacutedigo foi assinado por 140 agecircncias Outro

documento elaborado foi o Humanitarian Charter and Minimum Standards in Disaster

Response elaborado pelo Sphere Project em 1997 As proacuteprias Naccedilotildees Unidas tambeacutem

deram o seu importante contributo para disseminar os princiacutepios humanitaacuterios no

terreno Os princiacutepios fundamentais tecircm de ser postos em praacutetica tal como o Direito

Internacional Humanitaacuterio aliaacutes um eacute o complemento do outro A CICV (Comiteacute

Internacional da Cruz Vermelha) opera no terreno respeitando o Direito Internacional

Humanitaacuterio e rege-se pelos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios (Makintosh 2000)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

21

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a

abordagem humanitaacuteria

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding

A ONU tem um papel relevante na accedilatildeo securitaacuteria em cenaacuterios de ajuda humanitaacuteria

nomeadamente em Estados que estejam a atravessar conflitos armados e atraveacutes de

missotildees como as de peacekeeping e de peacebuilding A intervenccedilatildeo securitaacuteria

distingue-se da accedilatildeo humanitaacuteria pelo seu caraacuteter militar e poliacutetico Por vezes as

Naccedilotildees Unidas quando realizam uma intervenccedilatildeo militar seja de peacekeeping ou

dentro do peacebuilding podem em determinada circunstacircncias tomar partido por uma

das partes nas hostilidades ou parte conflituante sendo que estas operaccedilotildees tambeacutem

acontecem fora do estrito contexto humanitaacuterio Por sua vez numa situaccedilatildeo de

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria embora haja objetivos humanitaacuterios comuns o modo

de atuaccedilatildeo eacute militar e por isso claramente distinto da accedilatildeo humanitaacuteria

Para clarificar passa-se agrave definiccedilatildeo dos conceitos usados acima

Segundo as NU o peacekeeping corresponde ao seguinte

UN Peacekeepers provide security and the political and peacebuilding support to help countries make the

difficult early transition from conflict to peace UN Peacekeeping is guided by three basic principles

Consent of the parties Impartiality Non-use of force except in self-defence and defence of the mandate

(UN Peacekeeping sdd)

Esta ferramenta tem pois como objetivo ajudar os Estados em conflito a estabelecer e

manter a paz tendo provado ser um dos mecanismos mais eficazes da ONU para o

efeito Os militares do peacekeeping fornecem tambeacutem seguranccedila bem como apoio

poliacutetico para a construccedilatildeo da paz Os militares baseiam-se em trecircs princiacutepios que satildeo 1)

a imparcialidade (o que natildeo implica na formulaccedilatildeo atual neutralidade face ao mandato

que tecircm) 2) consentimento das partes para intervir no conflito (embora em casos

restritos como em casos de genociacutedio se possa aplicar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo

que natildeo precisa do consentimento mas que remete ao peace enforcement) 3) O natildeo uso

da forccedila tendo por exceccedilatildeo a autodefesa e a defesa do mandato como consta da citaccedilatildeo

acima (UN sda UN sdb Pinto 2007)

Ainda segundo Maria do Ceacuteu Pinto as operaccedilotildees de peacekeeping devem ser

imparciais mas tal natildeo implica ficarem indiferentes aos abusos dos direitos humanos

por parte de uma das partes das hostilidades Imparcialidade natildeo eacute pois sinoacutenima de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

22

neutralidade Logo desde que haja uma violaccedilatildeo dos direitos humanos os peacekeepers

devem agir jaacute que o dever deles eacute o de garantir o respeito dos direitos humanos aliviar

o sofrimento humano e garantir uma vida digna agrave populaccedilatildeo em questatildeo Existe por

isso o peacekeeping de terceira geraccedilatildeo denominado de peacekeeping ldquomusculadordquo por

Pinto (2007) ou peacekeeping ldquorobustordquo como eacute denominado pelas NU No entanto

este peacekeeping de terceira geraccedilatildeo continua a necessitar do consentimento do Estado

alvo ou das maiores partes do conflito Jaacute o uso da forccedila sem consentimento remete para

o peace enforcemente que eacute aplicar a paz atraveacutes da forccedila e eacute soacute usado este tipo de

missatildeo em uacuteltimo recurso (Pinto 2007 UN sda UN sdb)

Estas ferramentas satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas tambeacutem para

a proteccedilatildeo dos civis assistir ao desarmamento desmobilizaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo de ex-

combatentes suporte agraves organizaccedilotildees para as eleiccedilotildees proteccedilatildeo e promoccedilatildeo dos direitos

humanos e assistecircncia no restabelecimento do ldquoEstado de direitordquo (UN sda UN

sdb)

Por sua vez Peacebuilding significa na linguagem das Naccedilotildees Unidas

The term itself first emerged over 30 years ago through the work of Johan Galtung who called for the

creation of peacebuilding structures to promote sustainable peace by addressing the ldquoroot causesrdquo of

violent conflict and supporting indigenous capacities for peace management and conflict resolution (hellip)

The Secretary-Generalrsquos Policy Committee has described peacebuilding thus ldquoPeacebuilding involves a

range of measures targeted to reduce the risk of lapsing or relapsing into conflict by strengthening

national capacities at all levels for conflict management and to lay the foundations for sustainable peace

and development Peacebuilding strategies must be coherent and tailored to the specific needs of the 1

Three approaches to Peace peacekeeping peacemaking peacebuildingrdquo (UN 2010 pp 5)

Eacute pois uma accedilatildeo da ONU de identificaccedilatildeo e de suporte agraves estruturas de modo a que a

paz seja solidificada e os conflitos evitados Ou seja satildeo as atividades desenvolvidas

pela ONU para que a construccedilatildeo da paz seja feita no paiacutes onde houve conflito de modo

a que natildeo volte a acontecer o mesmo outra vez Tambeacutem visam fornecer todas as

ferramentas para a construccedilatildeo de um paiacutes forte com um aparelho de poder poliacutetico

soacutelido Logo eacute mais que o fim dos conflitos eacute a construccedilatildeo da paz de forma solidificada

e eficaz (UN 2010)

Segundo a mesma fonte o peacebuilding refere-se a cinco aacutereas que satildeo 1) o apoio agrave

seguranccedila baacutesica 2) os processos poliacuteticos a serem feitos para a construccedilatildeo e

manutenccedilatildeo da paz 3) a garantia da prestaccedilatildeo dos serviccedilos baacutesicos agrave populaccedilatildeo em

geral 4) a restauraccedilatildeo das funccedilotildees do governo central de modo a construir um aparelho

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

23

de poder forte e capaz de garantir e manter a paz bem como de resolver os conflitos

eacutetnicos ou entre grupos internos 5) a revitalizaccedilatildeo da economia para acabar com a

pobreza construir novas infraestruturas para desenvolver a produccedilatildeo para a

autossubsistecircncia do povo e de modo a que os bens fundamentais sejam garantidos a

todos (processo de desenvolvimento do paiacutes) (UN 2010 UN 2009)

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar

A intervenccedilatildeo humanitaacuteria natildeo eacute consensual no Direito no Direito Internacional e nas

Relaccedilotildees Internacionais Segundo o ICRC (2001) O Direito Internacional Humanitaacuterio

natildeo pode servir para legitimar conflitos armados No entanto os Estados aceitam este

tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria nas seguintes situaccedilotildees

The theory of intervention on the ground of humanity () recognizes the right of one State to exercise

international control over the acts of another in regard to its internal sovereignty when contrary to the

laws of humanity (Abiew citin ICRC 2001 pp 528)

O que se pode retirar desta citaccedilatildeo eacute que segundo o Direito Internacional Humanitaacuterio

eacute aceitaacutevel exercer controlo por parte de um Estado sobre a soberania de outro se este

natildeo respeita os direitos humanos fundamentais Ou seja podemos constatar que a

soberania de um Estado natildeo basta para a comunidade internacional natildeo agir face a um

genociacutedio por exemplo

hellip humanitarian intervention is defined as coercive action by States involving the use of armed force in

another State without the consent of its government with or without authorisation from the United

Nations Security Council for the purpose of preventing or putting to a halt gross and massive violations

of human rights or international humanitarian law (ICRC 2001 cit in Danish Institute of International

Afffairs 1991 pp 11)

Esta definiccedilatildeo complementa a anterior referindo que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute uma

accedilatildeo coerciva com recurso a armamento sobre um Estado sem o consentimento do

governo local e eventualmente sem o do Conselho de Seguranccedila das NU O intuito

deste tipo de intervenccedilatildeo eacute parar o desrespeito pelos direitos humanos e do direito

internacional humanitaacuterio (Gordon 1996 ICRC 2001)

Portanto o objetivo desta intervenccedilatildeo eacute aliviar o sofrimento humano e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados para que a paz possa ser estabelecida e o

genociacutedio prevenido ou interrompido Os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm de

ser imparciais e limitar-se a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para

fazerem respeitar os direitos humanitaacuterioshumanos violados e fornecer assistecircncia ao

povo local (Gordon1996 e ICRC 2001)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

24

Todavia este tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria corre o risco de natildeo ser imparcial por

existirem interesses subjacentes aos Estados que decidem intervir militarmente noutro

Estado A intervenccedilatildeo humanitaacuteria pode ser usada como um pretexto para aplicar uma

intervenccedilatildeo militar num Estado ou seja existe o risco de os motivos dessa intervenccedilatildeo

natildeo serem legiacutetimos e terem segundas intenccedilotildees que natildeo somente salvar vidas proteger

a populaccedilatildeo e aliviar o sofrimento humano Dificilmente um Estado corre elevados

riscos sem ter por traacutes outras intenccedilotildees segundo a visatildeo realista das relaccedilotildees

internacionais e por conseguinte poder instala ainda mais o caos no Estado alvo da

intervenccedilatildeo Ou seja pode ser uma carta branca para intervenccedilotildees militares de Estados

com segundas intenccedilotildees que podem ser geoestrateacutegicas ou poliacuteticas por exemplo O

que levanta as seguintes questotildees ateacute que ponto eacute eacutetico aplicar o termo humanitaacuterio

quando se usa a forccedila contra pessoas sendo elas viacutetimas para proteger outras Esta eacute

uma questatildeo que se pode considerar um verdadeiro dilema O uso da palavra

humanitaacuteria aplicada agrave intervenccedilatildeo militar e pode ser uma forma de legitimar o

desrespeito pelo princiacutepio da natildeo ingerecircncia e por conseguinte violar a soberania de

outro Estado que noutras condiccedilotildees natildeo seria aceite Daiacute o acreacutescimo da palavra

ldquohumanitaacuteriardquo a intervenccedilatildeo militar natildeo ser bem vista pela comunidade humanitaacuteria que

se rege pelos princiacutepios de aliviar o sofrimento humano salvar vidas e ajudar No caso

da Nigeacuteria do Haiti e da Libeacuteria nos anos 90 foi usada a figura intervenccedilatildeo militar

ldquohumanitaacuteriardquo para intervir no terreno embora pareccedilam evidentes motivos natildeo

humanitaacuterios (Massingham 2009 Weiss 2017)

Esta intervenccedilatildeo militar eacute uma opccedilatildeo cumulativa agraves operaccedilotildees de peacekeeping que se

revelam ineficazes na hora de proteger a populaccedilatildeo e as ONG OING e OIG

humanitaacuterias A intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria recorre ao uso da forccedila para atingir os

seus fins podendo ser estes proteger os humanitaacuterios a populaccedilatildeo local aliviar o

sofrimento humano velando pelo respeito dos Direitos Humanos e prevenindo crimes

contra a humanidade Ainda segundo Weiss ela eacute qualitativamente distinta do

peacekeeping uma vez que natildeo cumpre o princiacutepio do consentimento No entanto no

peacekeeping de terceira geraccedilatildeo tem havido uma evoluccedilatildeo para o peacekeeping

ldquomusculadordquo tendencialmente convergente com o peace enforcement Ou seja pode em

casos restritos e com consentimento do Conselho de Seguranccedila fazer-se o uso da forccedila

sem as restriccedilotildees convencionais (Weiss 2017 Pinto 2007 Pilbeam 2015b)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

25

Por tudo isso usar a palavra lsquohumanitaacuteriorsquo para uma intervenccedilatildeo de cariz militar natildeo eacute

bem aceite pelo Direito Internacional Humanitaacuterio que prefere uma puniccedilatildeo mais

severa aos Estados perpetradores dos crimes contra a humanidade ao inveacutes de usar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria pois Estados com mais poder militar se imiscuem e quebram o

princiacutepio da natildeo ingerecircncia podendo culminar em accedilotildees discriminatoacuterias no terreno e

problemas diplomaacuteticos entre Estados a niacutevel internacional Para aleacutem disso acrescentar

a palavra humanitaacuteria deveria ser reservado agraves organizaccedilotildees que pretendam aliviar o

sofrimento humano salvar vidas sem recurso agrave violecircncia e armas e natildeo aplicado agrave

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria O uso da palavra humanidade numa intervenccedilatildeo militar

pode dar azo a confusatildeo por parte da populaccedilatildeo local e dificultar o trabalho dos

humanitaacuterios no terreno tornando-os alvo de ataques tambeacutem Eacute por isso necessaacuterio

fazer uma clara distinccedilatildeo entre intervenccedilatildeo humanitaacuteria e accedilatildeo humanitaacuteria (ICRC

2001 Weiss 2017)

A declaraccedilatildeo das NU no capiacutetulo VII (UN Charter 1945) especifica quais as situaccedilotildees

em que pode ocorrer uma intervenccedilatildeo militar nomeadamente no artigo 42ordm que prevecirc

que em caso de ameaccedila agrave seguranccedila e paz internacional o Conselho de Seguranccedila pode

ativar uma intervenccedilatildeo militar

Por outro lado natildeo consta na declaraccedilatildeo das NU se eacute possiacutevel ou natildeo ou em que

situaccedilotildees devem avanccedilar para uma intervenccedilatildeo onde seja possiacutevel o uso da forccedila contra

um Estado caso se verifique um abuso dos direitos humanos ou desrespeito do Direito

Internacional O Direito Internacional Humanitaacuterio deveria equacionar regulamentar a

situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo humanitaacuteria Eacute que a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria parece ser

uma realidade e uma lsquonecessidadersquo em alguns casos em que as operaccedilotildees de

peacekeeping natildeo satildeo suficientes Nesses casos o problema eacute que a accedilatildeo humanitaacuteria

entrou num estado de colapso por falta de seguranccedila e depende em algumas situaccedilotildees

dos militares de operaccedilotildees de peacekeeping ou das intervenccedilotildees militares mais robustas

para poderem aceder a determinados territoacuterios de grande perigo o que leva agrave

necessidade de uma revisatildeo quanto ao papel da accedilatildeo humanitaacuteria e ao reconhecimento

da intervenccedilatildeo humanitaacuteria ainda que natildeo formalmente mas nos bastidores (ICRC

2001 Weiss 2017)

Portanto o uso da forccedila militar com cariz humanitaacuterio soacute deve ser feito em contexto de

crimes contra a humanidade como o genociacutedio crimes de guerra abusos sexuais ou

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

26

limpeza eacutetnica por exemplo e tem como objetivo proteger a populaccedilatildeo e aliviar o

sofrimento humano Os militares da intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria natildeo podem ser

confundidos com os capacetes azuis das operaccedilotildees de paz das NU pois natildeo fazem parte

da mesma missatildeo e os capacetes azuis tecircm um papel mais diversificado para a

manutenccedilatildeo da paz construccedilatildeo do aparelho de poder e negociaccedilotildees podendo soacute usar a

forccedila em caso de legiacutetima defesa e defesa do mandato Jaacute os militares da intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria partem para o terreno para travar os perpetradores dos crimes contra

a humanidade usando a forccedila se necessaacuterio Ou seja eacute a versatildeo mais letal das

intervenccedilotildees internacionais e deve ser usada em uacuteltimo recurso (Weiss 2017)

Dentro das intervenccedilotildees militares pode ainda ser invocado o princiacutepio da

responsabilidade de proteger (R2P) fixado no acircmbito das NU que eacute executado ao

abrigo das NU A responsabilidade de proteger (R2P) pode levar a uma intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mas deve ser autorizada pelo Conselho de Seguranccedila das NU O

R2P deve ser usado em uacuteltimo recurso com meios proporcionais agrave situaccedilatildeo a niacutevel de

armamento e uma vez esgotados todos os meios diplomaacuteticos No Ruanda em 1994 os

peacekeepers natildeo fizeram o uso da forccedila para travar o genociacutedio tendo vindo a missatildeo a

fracassar As NU foram amplamente criticadas pela inaccedilatildeo o que levou ao debate sobre

a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria e posteriormente sobre a R2P (Bellamy 2015

Massingham 2009)

O conceito do R2P eacute pois um princiacutepio legitimador de um tipo de intervenccedilatildeo armada

usado quando os direitos humanos baacutesicos natildeo satildeo respeitados em determinado Estado

em conflito como por exemplo genociacutedios ou violaccedilotildees em massa Em 1994 no

Ruanda uma intervenccedilatildeo sob o R2P teria sido justificaacutevel Esta intervenccedilatildeo natildeo

necessita de autorizaccedilatildeo do Estado para intervir daiacute o termo responsabilidade de

proteger No entanto este conceito eacute complexo devido ao princiacutepio de natildeo ingerecircncia

sobre os assuntos soberanos de determinado Estado Cabe primeiramente ao Governo

do Estado assegurar a proteccedilatildeo da sua populaccedilatildeo No entanto caso o Estado natildeo queira

ou natildeo consiga assegurar a sua proteccedilatildeo e a populaccedilatildeo esteja a ver os seus direitos

baacutesicos serem desrespeitados devido ao conflito armado ou fragilidade do Estado a

comunidade internacional deve agir e intervir Um problema possiacutevel eacute a comunidade

internacional natildeo querer entrar em problemas diplomaacuteticos com determinados Estados

que estejam neste tipo de situaccedilatildeo ou ainda com Estados que apoiem partes tal como a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

27

Ruacutessia (membro permanente do Conselho de Seguranccedila da ONU) a Bashar Al Assad

enquanto os EUA apoiam os rebeldes Havendo diferentes pontos de vista e sendo

necessaacuterio o consenso dos membros permanentes do Conselho de Seguranccedila das NU a

decisatildeo de avanccedilar sob a responsabilidade de proteger pode ser tardia ou mesmo

impossiacutevel tal como se tem verificado (Lobo 2009 Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger nasceu com o relatoacuterio do ICISS (International

Commission on Intervention and State Sovereignity) em 2001 e teve como principal

motor o conflito recente agrave eacutepoca do Ruanda O princiacutepio foi adotado na cimeira

mundial de 2005 com cuidadosa distinccedilatildeo das violaccedilotildees maiores que podem determinar

a ingerecircncia Na praacutetica o Conselho de Seguranccedila soacute tornou oficial a referecircncia agrave

responsabilidade de proteger em 2006 com a resoluccedilatildeo 1674 sobre a proteccedilatildeo de civis

em conflitos armados Esta resoluccedilatildeo foi usada em agosto de 2006 ao estabelecer a

resoluccedilatildeo 1706 que autorizava o destacamento dos peacekeepers para o Darfur Apoacutes o

Sudatildeo vieram as missotildees sob a responsabilidade de proteger da Liacutebia Cocircte drsquoIvoire

Sudatildeo do Sul e Ieacutemen em 2011 e Siacuteria e Repuacuteblica centro Africana em 2012 (Bellamy

2015)

Para que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria seja legitimada sob o conceito do R2P devem ser

reunidas as seguintes condiccedilotildees 1) Estar-se perante uma situaccedilatildeo de genociacutedio ou seja

extermiacutenio de populaccedilatildeo de uma determinada origem eacutetnica ou extermiacutenio de uma

populaccedilatildeo em larga escala 2) Existir intenccedilatildeo justa para que seja justificado o uso de tal

accedilatildeo 3) Usar os meios estritamente necessaacuterios para alcanccedilar os objetivos

estabelecidos 4) Assegurar que as perspetivas de tal accedilatildeo poderatildeo ter uma forte

probabilidade de vir a ter sucesso e de que as suas consequecircncias natildeo seratildeo piores que a

natildeo accedilatildeo (Lobo 2009 Pilbeam 2015b)

As operaccedilotildees de peacekeeping peacebuilding e peace enforcement satildeo muitas vezes

confundidas como jaacute foi referido com o envio de forccedilas militares a tiacutetulo individual de

um Estado por exemplo os EUA e a Franccedila que jaacute fizeram intervenccedilotildees militares sob

pretexto humanitaacuterio As primeiras satildeo missotildees de paz enviadas e coordenadas pela

ONU de forma a restabelecer apaziguar manter a paz e reconstruir o aparelho de

poder para que o Estado conflituante natildeo volte ao estado beligerante Jaacute o segundo eacute

realizado de forma a acabar com os crimes contra a humanidade e podem ser forccedilas

militares de um Estado em particular que decide ir para o terreno embora as

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

28

intervenccedilotildees militares sobretudo quando existem militares mortos sejam difiacuteceis de

explicar agrave populaccedilatildeo de origem dos militares Por outro lado o ldquohumanitarismo

militarrdquo ou seja as intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de paz no terreno levam a

confusatildeo com as ONG Pior neste momento assiste-se a situaccedilotildees em que estatildeo

presentes no terreno intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de peacekeeping o que gera

ainda mais confusatildeo (Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger eacute ainda considerada um princiacutepio e natildeo uma taacutetica mas

o Conselho de Seguranccedila falhou com a Siacuteria ao decidir intervir primeiro na Liacutebia por

questotildees poliacuteticas e natildeo por questotildees de emergecircncia humanitaacuteria O que leva agraves

seguintes questotildees Seraacute a intervenccedilatildeo humanitaacuteria verdadeiramente humanitaacuteria Seraacute

que existem interesses subjacentes a essas mesmas ajudas Seraacute que legitimar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute dar uma carta branca a ingerecircncias nos assuntos da soberania

de forma legiacutetima e aparentemente solidaacuteria A R2P eacute aina assim o tipo de intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mais bem aceite pela comunidade internacional e humanitaacuteria pois

natildeo assenta soacute na invasatildeo imediata e beacutelica mas tambeacutem nos princiacutepios de prevenir

reagir e reconstruir (Bellamy 2015 Weiss 2017)

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares

A coexistecircncia entre militares e humanitaacuterios eacute uma situaccedilatildeo recorrente e natildeo tem de

gerar conflitos deveraacute eacute haver respeito muacutetuo por cada um desses agentes e natildeo deveratildeo

tentar imiscuir-se nos assuntos uns dos outros A accedilatildeo humanitaacuteria eacute um complemento

agraves missotildees de paz Se a accedilatildeo humanitaacuteria estaacute focada em aliviar o sofrimento humano

salvar vidas garantir as necessidades baacutesicas e assistecircncia meacutedica os militares poderatildeo

dedicar-se inteiramente agrave proteccedilatildeo e pacificaccedilatildeo ao inveacutes de terem de realizar estas

tarefas tambeacutem O aumento dos riscos de ataque aos profissionais humanitaacuterios leva a

que esta coexistecircncia se transforme em colaboraccedilatildeo atraveacutes do pedido de

proteccedilatildeoescolta militar Por outro lado colaborando os humanitaacuterios com forccedilas

militares estatais ou ateacute mesmo via organizaccedilotildees internacionais podem ser conotadas

com um dos lados das hostilidades e perder por isso a imagem de neutralidade (Seiple

1996)

Este tema eacute algo complexo e tem de ser encarado com grande cuidado e sensibilidade

pois se por um lado a escolta militar seria a soluccedilatildeo perfeita para assegurar a seguranccedila

no terreno das ONG OING e OIG por outro lado poderaacute pocircr em causa os princiacutepios

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

29

fundamentais humanitaacuterios Existe ainda uma resistecircncia por parte da comunidade

humanitaacuteria em embarcarem missotildees integradas com os capacetes azuis das NU

(Harmer 2008) Por isso na presente dissertaccedilatildeo tentar-se-aacute discutir a melhor soluccedilatildeo

para esse problema de forma a que ambos os atores natildeo sejam prejudicados na sua

missatildeo (Seiple 1996)

A accedilatildeo humanitaacuteria tem como missatildeo aliviar o sofrimento humano e a accedilatildeo securitaacuteria

tem caraacuteter militar e policial estatildeo ambas no terreno isto eacute humanitaacuterios e soldados

coexistem no terreno em missotildees e natildeo podem colocar em causa a missatildeo uns dos

outros Cada uma tem a sua missatildeo uma a de aliviar o sofrimento humano salvar vidas

e devolver a dignidade agrave populaccedilatildeo alvo de terror a outra a de assegurar a seguranccedila

fazer os direitos humanos serem respeitados aliviar o sofrimento humano e pacificar o

terreno no qual estatildeo a operar assegurar que as negociaccedilotildees ocorram sem problemas e

ajudar a reconstruir o Estado desde o aparelho de poder agraves infraestruturas No entanto a

forccedila militar natildeo deixa de ter um caraacuteter beacutelico e natildeo eacute neutro nem independente Isto

pode levar a que a populaccedilatildeo se sinta renitente recuse e se desvie de certas ONG

exatamente por colaborarem com determinada forccedila militar por medo do que possa vir

a acontecer Podem sofrer represaacutelias se colaborarem com o lado A ou B das

hostilidades e este fator poderaacute colocar em causa a missatildeo da comunidade humanitaacuteria

o que soacute eacute possiacutevel tendo a confianccedila da populaccedilatildeo e acesso aos territoacuterios para isso a

neutralidade eacute fulcral (Gibbons e Piquard 2006)

Eacute claro que o equiliacutebrio tambeacutem depende da forccedila militar de que se trata Por exemplo

militares sob a eacutegide da ONU seratildeo mais bem vistos conseguem manter a

imparcialidade e tecircm alguma neutralidade (dependendo dos casos) natildeo colocando assim

em causa o trabalho humanitaacuterio no terreno Jaacute se a ONG ou OIG for escoltada por uma

forccedila militar estatal poderaacute perder a sua neutralidade imparcialidade e independecircncia

pois a sua proteccedilatildeo depende diretamente das forccedilas armadas estatais Depender do

Estado para ver a sua seguranccedila assegurada poderaacute ter as seguintes consequecircncias 1) as

ONG OING e OIG poderatildeo ser pressionadas para natildeo tratar e ajudar determinada

populaccedilatildeo ou etnia 2) poderatildeo ver o seu acesso bloqueado a determinados territoacuterios

cuja populaccedilatildeo o Estado natildeo quer tratar 3) seratildeo temidas e malvistas pela populaccedilatildeo

que estaacute a sofrer agraves matildeos do Estado natildeo procurando ou aceitando a sua ajuda Por isso eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

30

importante analisar a escolta militar tendo em conta este fator (Gibbons e Piquard

2006)

No entanto Svoboda (2014) no seu livro The interaction between humanitarian and

militar actors where do we go from here refere que a interaccedilatildeo entre o profissional

humanitaacuterio e o militar eacute complicada e deve acontecer em uacuteltima instacircncia quando a

seguranccedila do humanitaacuterio eacute colocada em causa devido ao facto de os militares neste

caso os peacekeepers as agecircncias militares privadas a forccedila militar estatal natildeo se

regerem pelos mesmos princiacutepios que os humanitaacuterios e terem em certas circunstacircncias

de usar a forccedila para garantir a seguranccedila no terreno manter e restabelecer a paz Para

tal pode acontecer que estes possam vir a cometer atos incompatiacuteveis com a forma de

estar na Accedilatildeo Humanitaacuteria como por exemplo matar ou usar qualquer tipo de

armamento pois tal vai contra aos princiacutepios humanitaacuterios e Direito Internacional

Humanitaacuterio Pedir ajuda aos peacekeepers agraves agecircncias militares privadas ou outra

forccedila militar pode levar a que a imagem dos humanitaacuterios fique denegrida face agrave

populaccedilatildeo local agraves instituiccedilotildees ou pessoas individuais que doam fundos e que podem

natildeo ver com bons olhos esta interaccedilatildeo o que significa que se pode perder uma fonte de

financiamento o que seria grave para as ONG que dependem destas doaccedilotildees (Svoboda

2014 Cordaid 2014)

Seria por isso mais beneacutefico nos casos de conflitos armados que militares e

humanitaacuterios trabalhassem em conjunto o estritamente necessaacuterio para o sucesso da

missatildeo de ambos Estes natildeo tecircm de partilhar missotildees e princiacutepios Mas devem colaborar

para que a ajuda humanitaacuteria natildeo corra risco de fracassar que a ajuda chegue a toda a

populaccedilatildeo mesmo nos locais de difiacutecil acesso e desta forma seraacute mais faacutecil devolver a

dignidade fornecer os bens de primeira necessidade construir abrigos e campos de

refugiados seguros sempre sem colocar em causa as missotildees de ambos que satildeo

diferentes Eacute claro que esta questatildeo eacute mais complexa fazendo os humanitaacuterios

depararem-se com um grande dilema e tendo de fazer escolhas que em princiacutepio natildeo

deveriam ter de fazer Essa escolha eacute abdicamos dos princiacutepios fundamentais em prol

da nossa seguranccedila seguimos para o terreno mesmo sabendo que corremos perigo de

vida como seremos acolhidos pela populaccedilatildeo local ao chegar com escolta militar como

reagiratildeo os nossos patrocinadores estas satildeo questotildees e dilemas que as ONG enfrentam

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

31

em terrenos delicados muitas vezes essa escolha eacute entre seguranccedila e eacutetica humanitaacuteria

(Cordaid 2014)

Segundo Harmer (2008) o princiacutepio da neutralidade natildeo pode ser levado agrave letra

principalmente em Estados que estejam a atravessar um conflito armado onde a

inseguranccedila e o perigo de vida satildeo uma constante no terreno Deve por isso haver uma

grande reflexatildeo sobre os princiacutepios humanitaacuterios os crescentes ataques aos

humanitaacuterios de forma a que as ONG possam assistir agrave populaccedilatildeo de forma segura sem

ter de quebrar algum princiacutepio (Harmer 2008)

A assistecircncia deve ser provida em caso de conflito armado pela ajuda humanitaacuteria e de

forma a melhor operacionalizar a assistecircncia aos refugiados e agraves pessoas deslocadas

internamente mas para que tal seja possiacutevel eacute preciso criar um ambiente de seguranccedila

aos humanitaacuterios sempre respeitando os seus princiacutepios para que estes consigam

realizar o seu trabalho (Byman et al 2000)

Os humanitaacuterios deveriam ser ajudados pelas forccedilas militares em mateacuteria de transporte

de pessoal e de material de subsistecircncia como por exemplo aacutegua comida

medicamentos e outros mantimentos que de outra forma natildeo seria possiacutevel prover

Segundo Byman et al (2000) a cooperaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios equivaleria a

evidenciar o melhor dos dois mundos Se a forccedila militar pode garantir o transporte

analisar o solo para ver se estaacute armadilhado analisar a aacutegua potaacutevel e fornecer

assistecircncia meacutedica de urgecircncia este seria um bom aliado para a accedilatildeo humanitaacuteria que

pode oferecer assistecircncia meacutedica e tratamentos a meacutedio e longo prazo comida

mantimentos ajuda psicoloacutegica reconstruccedilatildeo satisfazer as necessidades baacutesicas ajudar

na construccedilatildeo de abrigos e gerir campos de refugiados de forma neutra Uma vez que

estes agem frequentemente em separado eacute difiacutecil poder fornecer ajuda humanitaacuteria aos

locais que realmente necessitam sem correr riscos ou demorar demasiado tempo Se

houvesse essa entreajuda os humanitaacuterios poderiam chegar ao local com ajuda militar

pela via aeacuterea ou mariacutetima Logo a forccedila aeacuterea poderia ser um grande aliado das ONG

OING e OIG na hora de ter de realizar deslocaccedilotildees de bens e pessoas (Byman et al

2000)

De certa forma segundo o autor os profissionais humanitaacuterios dependem dos

profissionais militares para poderem desenvolver o seu trabalho de forma segura e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

32

eficaz Por isso os militares devem garantir a seguranccedila nos aeroportos nos portos e

nos locais onde operarem bem como fornecer mapas atualizados das estradas seguras

para realizar as viagens ateacute ao local em questatildeo Evitar-se-iam muitos constrangimentos

e perdas de tempo (Byman et al 1967)

international military forces might also be mandated to play a relevant role in conflict situations

including through the provision of safe and secure environments for the civilian population and for

humanitarian actors to operate in Indeed military and police can execute essential tasks in situations

where governments are unable or unwilling to protect their own population in ways that go beyond the

mandate of humanitarian actors and hence are complementary to those (ECHO sd pp 1)

Segundo Stoddard et al (2009) a maioria das ONG contrata agecircncias militares com a

condiccedilatildeo de natildeo usar armas ou seja contratam soacute a escolta mas natildeo datildeo autorizaccedilatildeo

por uso de violecircncia o que leva ao mesmo problema este tipo de escolta soacute resolve

situaccedilotildees em paiacuteses cujo grau de perigo natildeo eacute muito elevado No entanto algumas ONG

viram-se forccediladas a contratar agecircncias privadas para escolta militar que recorressem agrave

forccedila caso fosse necessaacuterio para os proteger em caso de Estados que estatildeo a atravessar

um periacuteodo de grande conflito Pois escolta militar que natildeo possa fazer uso da forccedila eacute

afinal o mesmo que natildeo ter escolta e por conseguinte proteccedilatildeo eacute ter por exemplo um

agente a acompanhar fardado e nada mais As agecircncias militares privadas e a escolta

militar devem ser usadas em uacuteltimo recurso e nunca como prioridade O problema eacute que

os perpetradores dos ataques locais aos humanitaacuterios tecircm a noccedilatildeo de que os

peacekeepers natildeo podem fazer uso da forccedila a natildeo ser em legiacutetima defesa ou em casos

extremos onde os Direitos Humanos satildeo colocados em causa No entanto os ataques

aos humanitaacuterios natildeo satildeo por vezes graves o suficiente para que haja uma quebra do

princiacutepio do natildeo uso da forccedila O que leva a que a escolta militar natildeo leve propriamente

agrave diluiccedilatildeo dos ataques muito pelo contraacuterio podem intensificar (Stoddard et al 2009)

Seiple (1996) refere que apesar das diferenccedilas marcantes entre o humanitaacuterio e o

soldado a verdade eacute que a interaccedilatildeo no terreno entre os dois tem sido um caso de

sucesso Seiple (1996) apresenta o caso da relaccedilatildeo entre as forccedilas armadas dos EUA e as

ONG no terreno Segundo o autor esta relaccedilatildeo natildeo eacute natural Neste documento satildeo

apresentados quatro casos em que houve uma interaccedilatildeo no terreno entre ONG e

militares dos EUA (as forccedilas militares dos EUA estavam a realizar em caa um dos

casos uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria) que satildeo os seguintes Operation Provide Comfort

a norte do Iraque em 1991 Operation Sea Angel no Bangladesh em 1991 Operation

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

33

Restore Hope na Somaacutelia em 1992 e Operation Supporte Hope no Ruanda em 1994 Eacute

importante sinalizar que estas missotildees foram intervenccedilotildees humanitaacuterias Estas

operaccedilotildees foram efetivamente casos de sucesso militares e humanitaacuterios cooperaram no

terreno com sucesso No entanto a operaccedilatildeo Sea Angel no Bangladesh foi marcada por

diversas tensotildees poliacuteticas entre o governo e as forccedilas militares dos EUA criando uma

dificuldade de operar no terreno Na operaccedilatildeo Restore Hope na Somaacutelia as ONG

viram-se obrigadas a aceitar cooperar com as forccedilas militares dos EUA que estavam a

realizar uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria no terreno A cooperaccedilatildeo um bocado forccedilada

devido agraves circunstacircncias resultou Segundo Seiple (1996) a relaccedilatildeo entre ONG e

militares foi realizada com base no respeito por cada uma as missotildees Uma das ONG

que soacute aceitou em ultimo recurso esta cooperaccedilatildeo foi o MSF pois sabia que sem

seguranccedila natildeo poderiam continuar no terreno No caso da operaccedilatildeo Supporte Hope no

Ruanda natildeo existe uma cooperaccedilatildeo direta entre militares os EUA e ONG neste caso as

ONG que estivessem a operar no terreno tinham de fazer o pedido de escolta militar agraves

NU e esta fazia a ponte entre as ONG e as forccedilas militares no terreno O uacutenico contacto

que ONG e as forccedilas militares dos EUA tinham era o CMOC (The Civil Military

Operation Center) jaacute que neste caso especiacutefico do Ruanda as NU preferiram ser elas a

organizar e prover a seguranccedila ou escolta militar agraves ONG no terreno pois estava a

acontecer um genociacutedio e o clima de inseguranccedila era devastador tendo de haver grande

rigor na cooperaccedilatildeo que era feita a pedido das NU atraveacutes do CMOC Militares e

humanitaacuterios trabalharam em conjunto com sucesso O uacutenico problema que Seiple

aponta agrave accedilatildeo humanitaacuteria eacute a falta de coordenaccedilatildeo no terreno entre ONG OING e OIG

pois havendo coordenaccedilatildeo seria mais faacutecil prover seguranccedila (Seiple 1996)

Se Seiple (1996) via a relaccedilatildeo entre ONG e forccedilas armadas como algo beneacutefico e

essencial para uma boa assistecircncia humanitaacuteria e para ajudar a restabelecer a paz jaacute

Harmer (2008) natildeo pensa o mesmo Harmer redigiu um artigo sobre as missotildees

integradas tendo este tema originado diversos debates acesos entre proacute-integracionistas

e contra Os humanitaacuterios encontram-se renitentes acerca deste tipo de missotildees pois

natildeo querem colocar em causa a sua neutralidade e imparcialidade e perder a

independecircncia o que poderia ter como consequecircncias natildeo poderem assistir populaccedilotildees

que estariam no topo das suas listas teriam de obedecer agraves ordens e objetivos dos

peacekeepers e poderiam ser vistos como entidades poliacuteticas o que vai contra ao que eacute a

essecircncia da Accedilatildeo Humanitaacuteria No entanto como jaacute foi referido a violecircncia sobre os

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

34

humanitaacuterios verificou um aumento draacutestico a partir do ano 2000 tecircm vindo a ter

dificuldade de acesso a certos locais de alto conflito e as ONG no terreno tecircm

dificuldade em sinalizar os seus humanitaacuterios coisa que os peacekeepers fazem bem

embora nem sempre conseguem garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios tambeacutem Eacute

preciso encontrar um ponto de convergecircncia para a accedilatildeo conjunta e no resto

estabelecer bem as diferenccedilas e os pontos em que natildeo podem ceder ou admitir

intervenccedilatildeo muacutetua (Harmer 2008)

A autora refere que o Secretaacuterio-Geral agrave eacutepoca Kofi Annan apelou aquando do

relatoacuterio do painel sobre as missotildees de paz das NU para um plano de integraccedilatildeo agraves

missotildees das NU e referiu que missotildees integradas devem ser adotadas em missotildees de

paz No entanto existe uma grande resistecircncia por parte de grandes ONG e OING a este

tipo de missotildees integradas sejam elas na forma maximalista ou minimalista No modelo

minimalista existe o trabalho do OCHA que tem uma identidade separada e a

integraccedilatildeo eacute feita atraveacutes de uma partilha de informaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo em vez de um

quadro organizacional unificado ou seja a Coordenaccedilatildeo Humanitaacuteria (CH) e o ERSG

(Representante Especial do Secretaacuterio-Geral) mas ao mesmo tempo mantendo um

escritoacuterio individual do OCHA fora do campo O OCHA tem um papel fulcral pois eacute o

elo de ligaccedilatildeo entre as ONG OING e OIG agraves NU mantendo-se no entanto

independecircncia destes face agraves NU de forma a que a imparcialidade independecircncia e a

neutralidade natildeo sejam postas em causa Tambeacutem se evita que as NU exerccedilam pressatildeo

para que a missatildeo seja conduzida de uma forma que natildeo a planeada (Harmer 2008)

Uma integraccedilatildeo maximalista significa a remoccedilatildeo da identidade separada do OCHA e a

lideranccedila humanitaacuteria das NU estaraacute presente integralmente na estrutura de transmissatildeo

geral A maioria das ONG eacute contra a versatildeo maximalista de integraccedilatildeo como a Save the

Children e a Care tendo como principal argumento a necessidade da existecircncia e

abertura do HC (Humanitarian Coordinator) a todos incluindo as organizaccedilotildees que se

sentem desconfortaacuteveis com a ideia de trabalhar com militares Tal eacute perfeitamente

compreensiacutevel pois ao trabalhar com as NU mesmo que numa versatildeo internacionalista

minimalista existe sempre uma perda de independecircncia na hora de decidir quais os

locais prioritaacuterios a assistir no terreno por exemplo (Harmer 2008)

No entanto ainda segundo Harmer (2008) deve ser tida em conta a opccedilatildeo

integracionista minimalista em que permanece o corpo de coordenaccedilatildeo OCHA tendo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

35

mesmo a UNICEF o ACNUR e a OXFAM reconhecido que esta visatildeo integracionista

pode facilitar o delinear de estrateacutegias militares e poliacuteticas sem colocar em causa ou

tentando pocirc-los o minimamente possiacutevel os princiacutepios humanitaacuterios O OCHA deve

neste contexto agir em separado das NU de forma a que possa agir de forma neutra e

imparcial consoante a situaccedilatildeo na qual estatildeo a fornecer ajuda humanitaacuteria para que natildeo

sofra influecircncias e pressotildees A autora refere ainda que nos tempos de hoje a accedilatildeo

humanitaacuteria natildeo pode mais aplicar a neutralidade pura e dura pois existem grandes

perigos de ataques no terreno a ONG sendo necessaacuterio recorrer agraves forccedilas militares

exatamente para garantir a sua seguranccedila A relaccedilatildeo entre humanitaacuterio-militar deve ser

amplamente delineada tendo de ser estabelecido um guia onde sejam indicadas as

circunstacircncias em que deve ser feito o pedido de escolta e proteccedilatildeo aos militares e

como deve ser feito esse procedimento (Harmer 2008)

A adoccedilatildeo do modelo de missatildeo integrada minimalista poderaacute ser a melhor opccedilatildeo para a

comunidade humanitaacuteria em terrenos de alta instabilidade e inseguranccedila Com este

modelo as organizaccedilotildees humanitaacuterias obtecircm proteccedilatildeo e seguranccedila sem colocarem em

causa os princiacutepios humanitaacuterios As missotildees integradas minimalistas natildeo tecircm de se

basear necessariamente na escolta militar podem basear-se tambeacutem na partilha de

informaccedilatildeo acerca dos terrenos seguros terrenos armadilhados mapas com os melhores

caminhos a percorrer entre outras informaccedilotildees No entanto esta colaboraccedilatildeo deve ser

bem estudada e analisada Deve ser tambeacutem estabelecido um guia de colaboraccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares tal como foi criado para a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as

organizaccedilotildees humanitaacuterias (Harmer 2008)

A OXFAM por exemplo redigiu um documento intitulado Un Integrated Missions and

Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations Integrated

Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) acerca das missotildees integradas

com as NU expondo os problemas que poderiam advir desta parceria Segundo a

OXFAM a neutralidade e imparcialidade estariam em causa num mandato que fosse

para aleacutem das partilhas de pontos de vista comum pois teriam uma integraccedilatildeo mais

estrutural sob uma gestatildeo comum do mandato onde as operaccedilotildees de peacekeeping

funccedilotildees poliacuteticas e organizaccedilotildees humanitaacuterias estariam sob a chefia de um uacutenico

mandato Esta situaccedilatildeo poder levar a que os humanitaacuterios percam a independecircncia de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

36

aceder a determinados locais sejam usados para fins poliacuteticos e podem perder a

confianccedila da populaccedilatildeo (OXFAM 2014)

As proacuteprias NU reconheceram em 2013 os riscos inerentes agraves abordagens de

planeamento e avaliaccedilatildeo integrados Esses riscos seriam o facto de poder ser dada a

prioridade agraves missotildees militares ou poliacuteticas que possam influenciar a accedilatildeo humanitaacuteria

como o acesso humanitaacuterio e a seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno As pessoas

podem natildeo procurar ajuda humanitaacuteria de forma a que natildeo se vejam comprometidos e

natildeo sofram represaacutelias Logo caso isto aconteccedila os humanitaacuterios podem natildeo ser

percebidos como imparciais e neutros aos olhos da populaccedilatildeo falhando assim a missatildeo

(OXFAM 2014)

Iraacute ser agora feita uma apreciaccedilatildeo do referido documento da OXFAM (2014) Este

documento eacute relevante para a presente dissertaccedilatildeo pois apresenta o ponto de vista da

ONG em relaccedilatildeo agraves missotildees integradas propondo um conjunto de regras de cooperaccedilatildeo

no terreno entre ONG OING e as NU

Para mitigar estes riscos a OXFAM preparou um conjunto de regras para cooperar

especificamente com as NU

A accedilatildeo humanitaacuteria deve ser separada das operaccedilotildees de peacekeeping ou

poliacuteticas das NU de forma a que natildeo sejam confundidas as missotildees e natildeo haja

confusotildees no terreno

Uma associaccedilatildeo visiacutevel entre os humanitaacuterios que cooperam com as NU e outros

objetivos das NU deve ser minimizada em conflitos e contextos de elevada

fragilidade de forma a prevenir potenciais problemas no terreno

Antes de decidir qualquer abordagem de integraccedilatildeo devem ser feitas avaliaccedilotildees

de risco envolvendo ONG e OING De forma alguma as ONG e OING devem

partir para uma missatildeo integrada sem participarem no processo de planeamento

e abordagem da missatildeo

A avaliaccedilatildeo deve ser revista e feita com regularidade procedendo a mudanccedilas se

necessaacuterias a missatildeo integrada pode ser portanto revista e atualizada consoante

a evoluccedilatildeo da missatildeo no terreno (OXFAM 2014 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

37

A OXFAM refere ainda que as missotildees integradas com as NU devem ter em conta os

princiacutepios humanitaacuterios incluindo assistecircncia baseada na imparcialidade agraves pessoas em

necessidade A OXFAM eacute uma das ONG que eacute muitas vezes associada agraves agecircncias

humanitaacuterias das NU devido aos mecanismos de coordenaccedilatildeo fundos das NU e uso dos

meios de transporte aeacutereos das NU O facto de haver esta associaccedilatildeo agraves agecircncias das

NU pode levar agrave confusatildeo podendo a populaccedilatildeo crer que estas fazem parte das

poliacuteticas e missotildees integradas das NU que muitas vezes apoiam uma das partes das

hostilidades o que coloca em causa o trabalho das ONG ou OING No entanto existem

outras situaccedilotildees que podem levar a este tipo de mal-entendido a saber

Colocar organizaccedilotildees humanitaacuterias e outros atores das NU no mesmo lugar deve

ser evitado a todo o custo pois poderaacute dar azo a mal-entendidos no terreno e

deitar por terra todo o trabalho da ONG ou OING no terreno

O uso da escolta militar para fins humanitaacuterios eacute em determinados casos

fundamental para aceder a territoacuterios No entanto antes de partir para esta

escolha a opccedilatildeo deve ser minuciosamente estudada e soacute em ultimo recurso

usada

Apresentar as operaccedilotildees de peacekeeping ou toda a missatildeo integrada como

sendo humanitaacuteria quando natildeo o eacute Satildeo missotildees completamente diferentes que

decidem cooperar de forma que os humanitaacuterios possam ter o miacutenimo de

condiccedilotildees para operar no terreno

Usar as operaccedilotildees de peacekeeping para fornecer os Quick Impact para

desenvolver confianccedila na missatildeo no mandato e no processo de paz Os QIPs satildeo

projetos de pequena escala (duraccedilatildeo meacutedia de 6 meses) que tecircm como objetivo

ter um impacto imediato que contribua para a estabilizaccedilatildeo reconstruccedilatildeo e

estabilizaccedilatildeo no poacutes-conflito Podem tambeacutem ter um impacto no

desenvolvimento a longo prazo (OXFAM 2014 pp 3)

As NU tambeacutem tecircm feito um esforccedilo para conseguir elaborar um modelo de missatildeo

integrada no qual eacute respeitado o espaccedilo humanitaacuterios e os princiacutepios humanitaacuterios de

forma a mitigar os riscos que podem advir No entanto em 2014 as NU defenderam

uma missatildeo integrada estrutural com a representaccedilatildeo das ONG pela Humanitarian

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

38

Country Team e pelo OCHA (o OCHA faz tambeacutem uma avaliaccedilatildeo e realiza planos

estrateacutegicos de atuaccedilatildeo no terreno consoante os casos) que tem realizado avaliaccedilotildees de

risco subjacentes a este tipo de missatildeo (OCHA sd) No entanto no caso do Sudatildeo do

Sul as NU foram criticadas por terem optado pela missatildeo integrada estrutural onde os

peacekeepers e humanitaacuterios satildeo alvo da mesma gestatildeo programa e poliacuteticas o que

numa situaccedilatildeo como o Sudatildeo do Sul eacute impensaacutevel Como eacute sabido a operaccedilatildeo

peacekeeping esteve do lado do governo ajudando a restabelecer a instituiccedilatildeo de

governaccedilatildeo o que leva a que os humanitaacuterios sejam eles tambeacutem colados ao governo e

seja limitado o acesso a determinados locais ou determinada populaccedilatildeo natildeo queira ser

tratada por eles

Este eacute pois o Guia de missotildees integradas realizado pela OXFAM onde satildeo expostos os

riscos o que deve ser evitado e como evitar que haja um atropelamento dos princiacutepios

fundamentais humanitaacuterios pelas NU no terreno Desta forma respeitando esta guia

seriam evitados potenciais riscos de os princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria serem postos em

causa de haver aproveitamento poliacutetico da missatildeo integrada e limitar os humanitaacuterios a

determinados locais Uma vez as condiccedilotildees respeitadas e a seguranccedila assegurada aos

humanitaacuterios seria mais faacutecil para as ONG ou OING operarem no terreno (OXFAM

2014)

A OXFAM prefere a missatildeo integrada estrateacutegica pois eacute uma abordagem mais coerente

para um trabalho comum entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a operaccedilatildeo de peacekeeping Neste

caso as ONG iriam trabalhar com o OCHA que se manteria independente em relaccedilatildeo

agraves NU e imparcial natildeo sendo toleradas pressotildees para agir de uma dada forma ou aceder

ao local X Jaacute a missatildeo integrada estruturante natildeo faz sentido segundo o OXFAM

Admite uma comunicaccedilatildeo efetiva entre organizaccedilotildees humanitaacuterias e operaccedilotildees de

peacekeeping ou atores poliacuteticos que podem proteger a populaccedilatildeo e o reconhecimento

dos seus direitos No entanto a accedilatildeo humanitaacuteria deve manter-se independente da accedilatildeo

securitaacuteria ou consideraccedilotildees poliacuteticas

Para que as missotildees integradas sejam bem-sucedidas as NU devem respeitar os

seguintes pontos segundo a OXFAM (2014)

A accedilatildeo humanitaacuteria deve continuar estruturalmente separada da poliacutetica ou

componentes de peacekeeping relativamente a uma missatildeo integrada das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

39

Logo uma associaccedilatildeo visiacutevel entre missotildees humanitaacuterias e outros objetivos

devem ser minimizados

Antes de decidir partir para a abordagem de uma missatildeo integrada deve ser feita

uma avaliaccedilatildeo que envolva ONG e OING de forma a identificar potenciais

riscos para a accedilatildeo humanitaacuteria e o que pode ser feito para mitigar os mesmos

Essa avaliaccedilatildeo deveraacute ser feita com regularidade e revista de forma a que

possam ser feitas correccedilotildees

Quaisquer que sejam os acordos feitos relativos agraves missotildees integradas os

mandatos das NU devem sempre respeitar os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios incluindo uma assistecircncia imparcial baseada apenas na

necessidade da populaccedilatildeo

As orientaccedilotildees do IASC (Inter-Agency Standing Commitee) sobre a manutenccedilatildeo

da distinccedilatildeo entre accedilatildeo humanitaacuteria as atividades poliacuteticas ou de manutenccedilatildeo da

paz devem ser rigorosamente aplicadas sempre que haja riscos e estes sejam

encobertos pelas NU Isto inclui o Guia de 2004 sobre as relaccedilotildees civis-militares

em situaccedilotildees de emergecircncia o Guia de 2003 sobre o uso de recursos militares e

de defesa civil para apoiar atividades humanitaacuterias das NU em situaccedilotildees

complexas de emergecircncias e o de 2012 sobre o uso de escoltas armadas aos

comboios humanitaacuterios Estes guias devem ser amplamente promovidos

As negociaccedilotildees humanitaacuterias do acesso agraves pessoas em necessidade devem manter-

se separadas dos objetivos poliacuteticos de forma a que os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios natildeo sejam colocados em causa (OXFAM 2014 pp 4)

Uma vez que as NU assegurem estes pontos todos a OXFAM compromete-se a que vai

Distinguir-se das missotildees das NU enquanto se compromete com a promoccedilatildeo da

coordenaccedilatildeo e proteccedilatildeo dos civis

Promover a distinccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e funccedilotildees poliacuteticas ou de

peacekeeping das missotildees das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

40

Trabalhar com o IASC o HCT e grupos de coordenaccedilatildeo das ONG no terreno de

forma a promover a consciencializaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo consistente e salvaguarda dos

princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria

Invocar a poliacutetica de IAP (Integrated Assessment and Planning) da ONU para

pedir uma revisatildeo dos acordos e devem ser aplicadas medidas de mitigaccedilatildeo no

caso de haver acordos de integraccedilatildeo estabelecidos que sejam considerados como

tendo riscos para accedilatildeo humanitaacuteria

Apoiar os esforccedilos de especialistas humanitaacuterios para desenvolver exerciacutecios de

gerenciamento de crises e fazer um preacute planeamento em campo de forma a

treinar as forccedilas militares que trabalham sob o mandato das NU implantado em

missotildees de manutenccedilatildeo da paz Esses exerciacutecios devem ser explicados aos

comandantes militares e agraves agecircncias de ajuda de forma a avaliarem as

necessidades o potencial e vantagens que os humanitaacuterios gozam nas relaccedilotildees

comunitaacuterias e anaacutelises geograacuteficas bem como as relaccedilotildees sociopoliacuteticas locais

ressalvando a importacircncia de manter uma distinccedilatildeo visiacutevel entre atividades

humanitaacuterias e de manutenccedilatildeo da paz

Solicitar ativamente esforccedilos para rever as missotildees integradas durante a sua

duraccedilatildeo e incentivar a avaliaccedilatildeo independente de sua relaccedilatildeo custo-eficaacutecia

contra o impacto imediato e de longo prazo no final da missatildeo Deve haver um

mecanismo de monitoramento que permita que as missotildees aprendam no terreno

avaliando o que funciona e o que natildeo funciona permitindo proceder a mudanccedilas

se necessaacuterio (OXFAM 2014 pp 5)

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno

Eacute verdade que as ONG humanitaacuterias hospitais humanitaacuterios entidades religiosas e

escolas tecircm estatuto neutral no conflito e natildeo podem por isso ser alvo de ataque

segundo as convenccedilotildees de Genebra no entanto o que se tem verificado eacute um aumento

de ataques a estas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees levando por exemplo MSF agrave

necessidade de trocar a cor da carrinha para natildeo ser confundida com a carrinha do

exeacutercito e ser alvo de ataques como tantas outras ONG tecircm sido alvo O hospital da

MSF foi inclusive alvo em 2015 no Afeganistatildeo por um ataque dos EUA que tendo

provocados 19 mortos dos quais 12 eram membros da organizaccedilatildeo Segundo os MSF

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

41

natildeo haacute desculpa para o ataque dos EUA pois o hospital estava devidamente identificado

e mapeado ou seja identificado O bombardeamento durou 30 minutos mesmo apoacutes a

organizaccedilatildeo avisar os EUA Esta ocorrecircncia eacute muito grave pois ataques a hospitais

podem ser considerados crimes de guerra e mostra que as organizaccedilotildees humanitaacuterias

operam num contexto onde a seguranccedila eacute precaacuteria o que torna difiacutecil realizarem o seu

trabalho Para evitar este tipo de trageacutedias eacute necessaacuterio haver um bom mapeamento das

ONG OING e OIG bem como dos hospitais Este eacute um exemplo de que os ataques tecircm

de ser prevenidos natildeo soacute a partir do terreno mas tambeacutem fora do terreno a niacutevel

internacional para que situaccedilotildees destas natildeo voltem a ocorrer No entanto os ataques satildeo

maioritariamente realizados no terreno por atacantes nacionais do Estado em conflito

armado (Smith 2012 Globo 2015)

A confusatildeo que pode advir da escolta militar eacute uma questatildeo fulcral pois se por um lado

a escolta militar daacute seguranccedila por outro pode levar a que possam ser alvos de ataques

por parte de miliacutecias locais Podem tambeacutem ser facilmente colados a uma das partes das

hostilidades e confundidos com militares caso o material e as carrinhas natildeo sejam

devidamente identificadas tal como aconteceu com o MSF referido acima (Gibbons e

Piquard 2006)

Todos os veiacuteculos das ONG hospitais e produtos devem ser devidamente identificados

de forma a que natildeo sejam confundidos com as forccedilas militares em geral como iraacute ser

abordado no guia de colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares das NU que refere isto

mesmo Militares e ONG humanitaacuterias podem cooperar de forma minuciosa bem

planeada em uacuteltimo recurso e identificando adequadamente as instalaccedilotildees carros

campos de refugiados produtos entre outros Todo o cuidado eacute pouco pois um

pequeno deslize pode ter como consequecircncia uma confusatildeo e resultar num ataque As

ONG devem distanciar-se o maacuteximo dos militares e usar a escolta como jaacute foi referido

como uacuteltimo recurso (Gibbons e Piquard 2006)

Em 2013 registou-se 460 viacutetimas humanitaacuterias das quais 155 pessoas foram

assassinadas e 134 foram raptados e gravemente feridos Houve um aumento de 66

das viacutetimas entre 2012 e 2013 Esta eacute a problemaacutetica central deste estudo e por isso seraacute

feita de seguida uma conceptualizaccedilatildeo sobre o sistema securitaacuterio das Naccedilotildees Unidas e

agecircncias militares privadas nos cenaacuterios humanitaacuterios Jaacute no relatoacuterio de 2015 consta

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

42

que em 2014 foram assassinados 120 humanitaacuterios 88 ficaram feridos e 121 foram

raptados (Ryou et al 2014 Humanitarian Outcomes 2015)

A maior parte das viacutetimas eram membros de ONG locais e faziam parte da Cruz

Vermelha e Crescente Vermelho e os ataques e emboscadas eram em 2013

maioritariamente perpetrados no caminho para os locais onde estes iam operar Para se

ter uma noccedilatildeo mais precisa 87 das viacutetimas satildeo nacionais do paiacutes onde a ajuda estaacute a

ser fornecida e 13 satildeo membros internacionais A seguranccedila dos humanitaacuterios tem

vindo a revelar-se uma razatildeo fundamental para o insucesso de certas missotildees pois natildeo

conseguem chegar aos locais outras ONG decidem abandonar o terreno por natildeo

conseguirem realizar o seu trabalho em seguranccedila Segundo The Aid Worker Security

Report podemos verificar no documento relativo a seguranccedila na aacuterea da accedilatildeo

humanitaacuteria que pouco tem sido investido na mitigaccedilatildeo dos riscos na estrada e natildeo soacute

A 11 de Julho de 2016 foi realizado um ataque a humanitaacuterios em lugar em que estes

foram torturados espancados e abusados sexualmente Este caso violento de ataque a

humanitaacuterios foi amplamente divulgado devido agrave inaccedilatildeo por parte dos peacekeepers

face aos pedidos de ajuda dos humanitaacuterios (Ryou et al 2014 e Adongo 2017)

Os ataques aos humanitaacuterios tecircm ocorrido em 30 Estados No entanto trecircs quartos dos

ataques foram realizados em apenas cinco Estados que estatildeo a passar por um conflito

armado e uma falha de governaccedilatildeo (Estados fraacutegeis) Esses Estados satildeo Sudatildeo do Sul

Sudatildeo Afeganistatildeo Siacuteria e Paquistatildeo Estes ataques satildeo sobretudo raptos e tiroteio

depois vecircm assaltos sem armas de fogo e em uacuteltimo lugar o recurso a explosivos No

entanto este uacuteltimo meacutetodo de ataque tem vindo a sofrer um aumento significativo

entre 2006 e 2013 (Humanitarian Outcomes 2014)

Segundo dados mais recentes do relatoacuterio de Czwarno et al (2017) verifica-se que

houve de facto um aumento do nuacutemero de ataques entre 2007 e 2016

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

43

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terreno

Fonte Czwarno M Harmer A e Stoddard A (2017)

Eacute ainda abordado em Ryou et al (2014) e Brabant et al (2010) o procedimento de

treino dos membros das ONG para uma travessia segura para o local onde pretendam

operar Este programa de treino eacute intitulado de SOP (Standard Operating Procedure)

Neste programa constam os seguintes toacutepicos

bull Aprender conduccedilatildeo defensiva para as situaccedilotildees em que precisariam de fugir de

uma determinada situaccedilatildeo de perigo e adquirir capacidade de negociaccedilatildeo no caso de se

depararem com uma situaccedilatildeo em que teratildeo de negociar com o chefe dos rebeldes do

grupo eacutetnico tribo entre outros

bull Adotar guias de instruccedilatildeo ou manuais de boa conduta em caso de ter de passar

check-points em caso de fogo armado assaltos sequestros etc Este ponto eacute muito

importante pois eacute necessaacuterio ir preparado psicologicamente para fazer a travessia por

check-points saber que tipo de documentos mostrar o que dizer como agir e em caso

de fogo armado quais os procedimentos de proteccedilatildeo do pessoal a adotar

bull Fazer sempre pedido de autorizaccedilatildeo para movimentar o staff ou viajar para

outros locais eacute necessaacuterio avisar sempre e realizar o pedido de autorizaccedilatildeo para natildeo

terem problemas nos check-points e correrem o risco de serem detidos

bull Adotar o procedimento em que todos os elementos do grupo avisam a sua

partida e chegada ao local Este procedimento deve ser adotado pela esquipa de forma a

saberem onde cada elemento estaacute a que horas estaacute prevista a chegada e estarem sempre

0

50

100

150

200

250

300

350

2007 2011 2014 2017

Incidentes

Viacutetimas

humanitaacuterios

mortos

humanitaacuterios

eridos

raptos de

humanitaacuterios

Viacutetimas

internacionais

Viacutetimas

nacionais

5

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

44

contactaacuteveis de modo a que seja faacutecil identificar se um membro do grupo estaacute em

problemas devido agrave incomunicabilidade desaparecimento entre outros

bull Estabelecer toques de recolher e mapear as aacutereas que natildeo sejam seguras no

momento preciso em que pensam partir Este ponto eacute essencial para garantir a seguranccedila

do staff e natildeo correrem riscos desnecessaacuterios

bull Mudar as rotinas para que natildeo sejam alvo faacutecil dos rebeldes ou outras forccedilas

militarespopulaccedilatildeo local que queiram atacar e o staff deve ser acompanhado pelo liacuteder

da comunidade com a qual vatildeo trabalhar de forma a que seja garantida a sua seguranccedila

bull Usar raacutedio de alta frequecircncia e equipamentos sateacutelite em missotildees de longa

distacircncia para que todos os elementos da equipa permaneccedilam contactaacuteveis

bull Regras de conduta entre dois carros e espaccedilamento entre eles eacute importante

sobretudo num campo em que natildeo conhecemos nem estamos acostumados (Ryou et al

2014 pp 8-9 Brabant et al 2010 pp 12-16)

O relatoacuterio de Ryou et al (2014) aponta a escolta militar como ultimo recurso usado

pelas ONG e quando usada eacute fornecida pelo governo do Estado em conflito armado ou

pelos peacekeepers ou pela NATO A NATO eacute uma opccedilatildeo agrave qual a comunidade

humanitaacuteria deveraacute recorrer em uacuteltimo recurso pelo simples facto de natildeo se manter

neutra no terreno o que poder A NATO tem um compromisso com as NU quanto a

assegurar a paz e seguranccedila mundial (Ryou et al 2014 e NATO 2016)

A NATO em conjunto com as NU e a UE atua a prevenir crises gerir conflitos ajudar

a estabilizar em situaccedilotildees de poacutes-conflito Esta cooperaccedilatildeo estende-se agrave avaliaccedilatildeo e

gestatildeo de crises cooperaccedilatildeo civil-militar que eacute o foco do tema que estaacute a ser retratado

nesta dissertaccedilatildeo treino e educaccedilatildeo combate agrave corrupccedilatildeo no setor da defesa accedilatildeo

contra as minas mitigaccedilatildeo das ameaccedilas representadas por dispositivos explosivos

improvisados capacidades civis promoccedilatildeo do papel das mulheres em paz e seguranccedila

proteccedilatildeo de civis incluindo crianccedilas conflitos armados combate agrave violecircncia e violecircncia

de gecircnero controle de armas e natildeo proliferaccedilatildeo e a luta contra o terrorismo A

cooperaccedilatildeo eacute ainda reforccedilada com as NU e outros atores internacionais como a UE e a

Organizaccedilatildeo para a Seguranccedila e a Cooperaccedilatildeo na Europa (OSCE) que satildeo partes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

45

integrantes do contributo da NATO para uma abordagem abrangente quanto agrave gestatildeo e

operaccedilotildees de crise (NATO 2016)

Retomando entatildeo a questatildeo referente agraves opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno agrave primeira vista as melhores opccedilotildees seriam mesmo escolta e

proteccedilatildeo no acircmbito de missotildees sob o princiacutepio da R2P as missotildees integradas

minimalistas ou as agecircncias militares privadas No caso das missotildees integradas em

cooperaccedilatildeo com os peacekeepers respeitando o guia de cooperaccedilatildeo entre militar-

humanitaacuterio no caso das agecircncias militares privadas caso estejam devidamente

regulamentadas no direito internacional humanitaacuterio Por uacuteltimo o peace enforcement ao

abrigo do princiacutepio do R2P eacute a melhor opccedilatildeo para Estados que estejam numa situaccedilatildeo

de alta inseguranccedila pois eacute uma intervenccedilatildeo de emergecircncia A escolta pode facilitar a

deslocaccedilatildeo no entanto eacute preciso respeitar os princiacutepios fundamentais da accedilatildeo

humanitaacuteria e as ONG OING e OIG humanitaacuterias respeitarem as missotildees dos militares

com os quais estatildeo a cooperar nesse preciso momento Esta cooperaccedilatildeo tem como

intuito melhorar a seguranccedila e proteger os humanitaacuterios e natildeo dificultar o trabalho de

ambos (Bellamy 2015)

O problema com a cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao

abrigo do R2P natildeo estaacute isenta de perigos podendo mesmo ser mais os pontos negativos

do que favoraacuteveis Pois os militares sob este tipo de missatildeo natildeo satildeo neutros partindo

para o terreno para acabar com a calamidade que estaacute a acontecer ou seja atacar os

responsaacuteveis pelas atrocidades que poderatildeo ser os proacuteprios governantes Sendo o

governo o responsaacutevel pelas atrocidades os militares do peace enforcement iratildeo estar

contra a forccedila que estaacute no poder e por conseguinte estando os humanitaacuterios a receber

escolta do peace enforcement iratildeo sofrer represaacutelias como ataques ou ver o acesso

negado a determinados locais poderaacute mesmo seraacute negada a permissatildeo de permanecer

no terreno e poderatildeo ser atacados por miliacutecias O perpetrador das atrocidades podem

ainda ser miliacutecias e por conseguinte natildeo ser faacutecil fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e

natildeo combatentes podendo ser atacados civis no terreno colocando uma vez mais a

comunidade internacional num dilema entre a seguranccedila e respeitar os princiacutepios da

neutralidade e imparcialidade colocando-os numa situaccedilatildeo de grande fragilidade

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

46

No entanto existe uma necessidade de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios no terreno e a

comunidade humanitaacuteria eacute fulcral quanto agrave proteccedilatildeo dos civis assistindo medicamente

fornecendo bens essenciais como comida aacutegua medicaccedilatildeo e apoio psicoloacutegico

acolhem refugiados e IDP fazem uso das suas influecircncias para dar apoio juriacutedico agraves

viacutetimas e garantem proteccedilatildeo Estes pontos referidos tecircm um papel crucial na pacificaccedilatildeo

dos territoacuterios O espaccedilo humanitaacuterio neutro e imparcial daacute uma sensaccedilatildeo de proteccedilatildeo agrave

populaccedilatildeo um refugioabrigo e este espaccedilo pode ser colocado em causa com uma

missatildeo integrada com os militares do peace enforcement pois a comunidade

humanitaacuteria eacute politizada involuntariamente perdendo a neutralidade Ou seja eacute um

dilema que os humanitaacuterios atravessam no terreno dilema entre a seguranccedila a

permanecircncia no terreno e salvar vidas (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Apesar destes pontos negativos a verdade eacute que eacute impossiacutevel para a comunidade

humanitaacuteria manter-se neutra neste tipo de conflitos e precisa de escolta para conseguir

prosseguir com a sua missatildeo Segundo Bellamy (2015) a missatildeo sob o princiacutepio da

R2P no Sri Lanka entre 2008-2009 foi mal sucedida as NU natildeo tiveram capacidade

suficiente para proteger os civis e garantir o acesso dos humanitaacuterios aos locais onde

residiam os civis em necessidade A comunidade humanitaacuteria no terreno viu-se forccedilada

a terminar a missatildeo devido ao facto de o governo ter restringido o acesso das

organizaccedilotildees humanitaacuterias e o staff das NU foi persistentemente intimidado As NU natildeo

tentaram chamar o governo agrave realidade evidenciando que restringir o acesso dos

humanitaacuterios vai contra agraves suas obrigaccedilotildees internacionais As NU falharam tambeacutem

quanto ao seu dever de informar os Estados sobre violaccedilotildees dos direitos humanos no

terreno A comunidade humanitaacuteria natildeo pode cooperar com este tipo de accedilotildees vai

contra agrave essecircncia da accedilatildeo humanitaacuteria Logo o peace enforcement sob o princiacutepio do

R2P que inicialmente poderia ser uma soluccedilatildeo viaacutevel para garantir a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios no terreno (devido ao princiacutepio subjacente e agraves restriccedilotildees e regras riacutegidas

de atuaccedilatildeo no terreno) deixa de o ser a partir do momento em que falha como no Sri

Lanka para com os cidadatildeos e para com a comunidade humanitaacuteria uma vez que natildeo

conseguiu garantir um acesso seguro e a permanecircncia dos humanitaacuterios no terreno

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Portanto uma missatildeo integrada no terreno com o peace enforcement ao abrigo do

princiacutepio da responsabilidade de proteger pode ser a soluccedilatildeo mais raacutepida e a mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

47

adequada pois estatildeo todos empenhados em aliviar o sofrimento humano salvar vidas e

por termo agraves atrocidades No entanto na praacutetica esta eacute uma situaccedilatildeo bastante complexa

mas que natildeo deve ser descartada A decisatildeo quanto agrave adoccedilatildeo de uma missatildeo integrada

entre o peace enforcement ao abrigo do R2P e organizaccedilotildees humanitaacuterias deve ser

avaliada e decidida caso a caso (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

No entanto a colaboraccedilatildeo entre militar e humanitaacuterio pode ser fomentada de outra

forma estabelecendo uma verdadeira parceria onde cada um manteacutem a sua

independecircncia e no caso dos humanitaacuterios a imparcialidade e neutralidade A forccedila

militar preferencial para esta parceria seria os peacekeepers pois satildeo uma forccedila militar

internacional e imparcial Desta forma os dois atores complementam-se sem que haja

interferecircncia nas missotildees de cada um Segundo Gibbons e Piquard essa parceria pode

acontecer das seguintes formas

1 A ONG humanitaacuteria pode pedir coordenadas especificas aos militares sobre a

seguranccedila de determinada regiatildeo pedir instruccedilotildees sobre a melhor hora e caminho para

fazer a viagem ateacute determinado local considerado perigoso Desta forma a equipa

poderaacute viajar para o local atraveacutes de um caminho mais seguro recomendado pelos

militares acostumados no terreno Devem tambeacutem permanecer em contacto com a forccedila

militar com a qual estatildeo a colaborar de modo a que caso haja um problema estes

possam assistir a equipa)

2 Poderatildeo pedir contactos ou para agilizar a comunicaccedilatildeo entre a ONG e o liacuteder

da comunidade com a qual iratildeo trabalhar de forma a evitar problemas desagradaacuteveis e a

que sejam aceites no local e assim a ajuda poder ser fornecida sem

3 Os militares podem dar formaccedilatildeo aos humanitaacuterios de autodefesa seguranccedila

como por exemplo o uso da raacutedio como meio de comunicaccedilatildeo mapas entre outros e

como organizarem a logiacutestica toda de forma raacutepida e eficaz (Gibbons e Piquard 2006

pp25-95)

Caso a escolta militar natildeo possa ser dispensada existe ainda a possibilidade de os

militares escoltarem a equipa agrave paisana ou seja sem a farda de modo a natildeo chamarem

a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo local ou dos ldquoinimigosrdquo Deste modo os humanitaacuterios

realizariam a viajarem em seguranccedila a populaccedilatildeo natildeo perderia a confianccedila na ONG

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

48

pois natildeo teriam como saber que estavam a ser escoltados por uma forccedila militar Este

meacutetodo seria para usar esporadicamente (Gibbons e Piquard 2006 pp25-95)

O que se pretende demonstrar com as medidas anteriormente expostas eacute que os

humanitaacuterios devem recorrer soacute em ultimo recurso agrave escolta militar Antes podem pedir

colaboraccedilatildeo do tipo backoffice pedindo informaccedilotildees ou um mapeamento dos caminhos

seguros para chegar a determinado local pedir formaccedilatildeo sobre o uso da raacutedio por

sateacutelite como meio de comunicaccedilatildeo formaccedilatildeo de autodefesa conduccedilatildeo e uso de

determinadas ferramentas de logiacutestica que poderatildeo vir a ser uacuteteis no futuro de forma a

contribuir para uma estadia mais segura sem colocar em causa a missatildeo de ambos e os

princiacutepios humanitaacuterios (Gibbons e Piquard 2006)

Segundo Gibbons e Piquard (2006) ONG OING e OIG natildeo precisam de estar de costas

voltadas para os militares podem colaborar em conjunto de diversas formas que natildeo

sejam diretamente a escolta para natildeo serem associados a determinada forccedila poliacutetica Soacute

como uacuteltimo recurso como em caso de grande perigo deveratildeo pedir escolta ou usar os

meios de transporte militares neste caso o aeacutereo seria o mais desejaacutevel para levar o

maacuteximo de mantimentos possiacutevel

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios

Devido agraves necessidades de proteccedilatildeo e seguranccedila dos humanitaacuterios tecircm-se assistido ao

surgimento de agecircncias de seguranccedila privadas que fornecem serviccedilos de proteccedilatildeo agrave

comunidade humanitaacuteria Peter Singer intitula estas agecircncias de ldquoagecircncias militares

privadasrdquo que oferecem seguranccedila treino para missotildees no terreno e apoio logiacutestico

Hoje as AMP (agecircncias militares privadas) operam em mais de 50 paiacuteses e tiveram um

papel decisivo nos conflitos dos seguintes Estados Angola Croaacutecia Etioacutepia-Eritreia e

Serra Leoa Estas agecircncias militares satildeo geridas por militares reformados e podem ter

mera funccedilatildeo consultiva como tambeacutem podem ter um papel de uma empresa

transnacional usando meios como aviotildees e comandos no terreno para aleacutem da sua vasta

experiecircncia atraveacutes de missotildees realizadas muitas vezes no terreno para o qual iratildeo

fornecer o serviccedilo (Singer 2006)

Podemos dividir as agecircncias de seguranccedila privadas em duas grandes aacutereas que satildeo as

agecircncias militares privadas constituiacutedas por ex-militares reformados ou que tenham

saiacutedo da forccedila militar estatal da qual fazia parte e tecircm como principal objetivo fornecer

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

49

serviccedilos de seguranccedila militar em terrenos de conflito armado internacional ou natildeo caso

seja necessaacuterio e as agecircncias de seguranccedila privada que natildeo iratildeo ser profundamente

exploradas nesta dissertaccedilatildeo A ONU tem vindo a contratar os serviccedilos destas agecircncias

militares privadas bem como as ONG e OING Como eacute possiacutevel constatar os

humanitaacuterios vivem momentos de grande inseguranccedila no terreno caso o Estado em

questatildeo natildeo forneccedila essa seguranccedila agrave ONG que estaacute a operar no terreno As agecircncias

podem fornecer apoio logiacutestico de seguranccedila principalmente nas viagens para o

territoacuterio onde iratildeo trabalhar e trabalho de consultoria Por outro lado haacute as agecircncias de

seguranccedila privadas que realizam o serviccedilo de seguranccedila apenas como um policia

realizaria em territoacuterio nacional Este tipo de agecircncias natildeo tem a responsabilidade de

proteger territoacuterios ou bens privados mas sim de proteger as pessoas neste caso os

humanitaacuterios nas deslocaccedilotildees e no territoacuterio As ONG OING e OIG tecircm vindo a

recrutar os serviccedilos das agecircncias militares privadas pois estas estatildeo habituadas a operar

em contexto de conflitos Estas agecircncias podem ser contratadas por ONG OING OIG

pelo governo por indiviacuteduos a tiacutetulo privado e por empresas privadas Segundo Pilbeam

(2015a) os principais serviccedilos que fornecem satildeo

Combate as agecircncias militares privadas podem ser contratadas para tomar diretamente

parte das hostilidades assistindo as tropas no terreno em combate em caso de falta de

militares

Treino podem igualmente ser contratadas para treinar novos meacutetodos taacuteticos de

sobrevivecircncia como atravessar certas estradas perigosas novos meacutetodos de combate e

como usar determinado armamento bem como meacutetodos de sobrevivecircncia e medicina

de terreno e sobrevivecircncia

Suporte podem ser contratados para fornecer apoio logiacutestico como por exemplo gerir

os bens alimentares e serviccedilos construccedilatildeo e uso de novas tecnologias de informaccedilatildeo

como a raacutedio por exemplo

Seguranccedila este eacute o serviccedilo mais contratado pelas ONG ONIG e OIG humanitaacuterias

com este serviccedilo eacute pretendido garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos como os profissionais

humanitaacuterios campos de refugiados edifiacutecios terrenos entre outros Tecircm tambeacutem como

funccedilatildeo garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos durante o transporte para o terreno Hoje

tambeacutem tecircm a funccedilatildeo de garantir a seguranccedila dos dados e do computador

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

50

Inteligecircncia este serviccedilo diz respeito a recolhimento de dados e anaacutelise dos mesmos

atraveacutes de pesquisa e observaccedilatildeo

Reconstruccedilatildeo estes serviccedilos satildeo muitas vezes requeridos em situaccedilotildees de poacutes-conflito e

o seu principal trabalho eacute livrar terrenos que possam estar minados reconstruccedilatildeo de

infraestruturas e restaurar sistemas essenciais agrave sobrevivecircncia como a aacutegua o

saneamento e a eletricidade (Pilbeam 2015a pp 200)

Pilbeam refere que no caso de Ruanda a ONU teve a necessidade de contratar AMP

para assistir os peacekeepers antes e depois da crise natildeo soacute a niacutevel securitaacuterio mas

tambeacutem a niacutevel de reconstruccedilatildeo logiacutestica entre outros Este tipo de situaccedilotildees natildeo

deveria acontecer pois torna a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios dependentes dos serviccedilos

destas agecircncias militares privados o que aumenta o nuacutemero de mercenaacuterios no terreno

aumenta as despesas tornando a accedilatildeo securitaacuteria num negoacutecio privado Outro problema

eacute o facto de existir um vazio legal na hora de julgar estes militares em caso de infraccedilatildeo

da lei no Estado em que estatildeo a operar Estes natildeo poderatildeo tambeacutem usufruir do estatuto

de prisioneiro de guerra (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam 2015a)

Por exemplo a agecircncia Defense System Limited (DSL) proveu proteccedilatildeo agrave UNICEF no

Sudatildeo e na Somaacutelia e agrave OMS em Angola A Armour Group foi contratada pelo ACNUR

para realizar serviccedilo de seguranccedila no Queacutenia O Dyn Corp disponibilizou meios aeacutereos

e uma rede sateacutelite para comunicaccedilotildees para a ONU mais especificamente para os

membros das operaccedilotildees de peacekeeping em Timor Leste O Pacific Architects

Engeneers (PAE) contribuiu com poliacutecias civis para a missatildeo da ONU no Haiti Esta

contrataccedilatildeo natildeo tem nenhum guia ou legislaccedilatildeo que especifique como onde e em que

circunstacircncias devem ser contratadas este tipo de agecircncias militares privadas de forma

a que possam ser evitados problemas no futuro (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam

2015a)

As organizaccedilotildees humanitaacuterias recorrem unicamente agraves agecircncias de militares privadas

quando a sua seguranccedila corre elevados riscos no local onde pretendam operar e o Estado

natildeo garante escolta militar e seguranccedila aos humanitaacuterios da ONG que pretende operar

naquele local ficando assim ao criteacuterio da ONG recorrer a agecircncias de seguranccedila

privada regressar ou correr o risco mesmo assim Raramente as ONG pedem ajuda em

termos de seguranccedila aos militares que estatildeo em operaccedilatildeo de peacekeeping ou outros

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

51

militares no terreno para que os seus princiacutepios fundamentais natildeo sejam abalados Com

o aumento dos sequestros e mortes de humanitaacuterios aumentou tambeacutem o nuacutemero de

ONG a contratarem agecircncias privadas de seguranccedila Sete agecircncias da ONU admitem ter

contratado agecircncias de seguranccedila para poderem operar em terrenos que estejam a

atravessar por um conflito armado Este facto mostra bem a falta de militares com que a

ONU se depara e a necessidade cada vez maior de garantir a seguranccedila no terreno dos

seus profissionais (Singer 2006)

Singer levanta um problema na contrataccedilatildeo de agecircncias de seguranccedila privadas por

ONG que eacute o facto de estas natildeo saberem como trabalhar em conjunto com militares e

quais os limites de accedilatildeo e conduta destas agecircncias Somente o Comiteacute Internacional da

Cruz Vermelha a Oxfam e a Mercycorps elaboraram documentos sobre a conduta das

agecircncias de seguranccedila privada num manual onde satildeo estabelecidos os limites de accedilatildeo

tipo de armas a usar as tarefas entre outros Ou seja elaboraram um documento onde eacute

estabelecido que tipos de accedilotildees podem e natildeo podem ter no terreno direitos e deveres

para que natildeo haja um uso excessivo e desnecessaacuterio da forccedila e das armas (Singer 2006

Schneiker e Joachim 2015)

No entanto existe um vazio legal e estas agecircncias militares privadas natildeo podem ser

julgadas no terreno nem ao abrigo do Direito Internacional Humanitaacuterio o que torna o

seu uso perigoso Isto acontece porque estas agecircncias natildeo estatildeo a trabalhar para o

Estado X ou Y mas para uma ONG ou OIG ou seja o seu serviccedilo eacute privado e

contratado pela ONG (Singer 2006)

Os militares destas agecircncias privadas contratados pelas ONG OING e OIG satildeo

considerados mercenaacuterios o que faz com que natildeo tenham direito ao estatuto de

prisioneiros de guerras e nem sejam considerados combatentes o que leva a que natildeo

tenham direito agrave expatriaccedilatildeo tratamento meacutedico especial e tenha de se sujeitar ao

tratamento que lhe for concedido pelo Estado no qual foi feito prisioneiro Estes

militares natildeo estatildeo ao serviccedilo de nenhum Estado ou comunidade internacional a

combater estatildeo simplesmente a fornecer um serviccedilo a troco de dinheiro o que faz deles

mercenaacuterios (Pilbeam 2015a)

Natildeo tecircm tambeacutem o direito a serem extraditados para o seu paiacutes de origem tendo por

isso de ser julgados consoante a legislaccedilatildeo local Este vazio legal eacute um grave problema

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

52

que deveraacute ser resolvido pela comunidade internacional Se por um lado temos a

hipoacutetese de estes militares natildeo poderem ser julgados por crimes de guerra caso o

cometa por outro lado temos a hipoacutetese de serem apanhados e presos e nada poder ser

feito para os libertar por natildeo serem prisioneiros de guerra e por isso natildeo estarem

abrangidos pelo Direito Internacional Humanitaacuterio (Pilbeam 2015a)

Do lado das ONG OING e OIG a falta de praacutetica em contratar este tipo de serviccedilos e o

facto de natildeo saberem como lidar com os mercenaacuterios (muitos deles podem ter um

passado duvidoso quanto agrave violaccedilatildeo dos Direitos Humanos) levanta questotildees seacuterias

crimes perpetrados pelas agecircncias militares privadas a ONG que contratem estas

agecircncias eacute tambeacutem culpabilizada o que poderaacute ter consequecircncias nos donativos e na

confianccedila nela depositada (Singer 2006)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

53

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul

O Sudatildeo do Sul eacute uma Repuacuteblica presidencialista e o seu atual Presidente eacute Salva Kiir

A Capital eacute Juba e a moeda eacute a Libra Sul-sudanesa A liacutengua oficial eacute o Inglecircs no

entanto existem vaacuterias liacutenguas faladas que natildeo satildeo oficiais como por exemplo dinka

nuer zande bari e shiluk O Sudatildeo do Sul faz fronteira com o Sudatildeo (de quem se

tornou independente em 2011) a Etioacutepia o Queacutenia o Uganda a Repuacuteblica Democraacutetica

do Congo e a Repuacuteblica Centro Africana Estima-se que em 2011 a populaccedilatildeo do Sudatildeo

do Sul era de 11090104 habitantes Foi a 9 de julho desse mesmo ano que o Sudatildeo do

Sul se tornou um paiacutes independente (CIA sd)

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sul

Fonte Branco (2011)

Desde a independecircncia os variados conflitos intensificaram-se Em 2013 o Sudatildeo do

Sul entrou numa forte crise poliacutetica culminando numa guerra civil Esta crise poliacutetica

aconteceu quando o presidente Salva Kiir membro do maior grupo eacutetnico local Dinka

acusou o vice-presidente do Sudatildeo do Sul Riek Machar membro do grupo eacutetnico Lou

Nuer de uma tentativa de golpe de Estado o que levou ao despoletar de uma guerra

civil onde os membros dos dois grupos eacutetnicos acima referidos entraram eles tambeacutem

em conflito entre si fruto do oacutedio eacutetnico Eacute importante referir os grupos eacutetnicos a que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

54

pertenciam ambos os poliacuteticos parte das hostilidades porque o Sudatildeo do Sul eacute um

Estado dividido em vaacuterias etnias pode mesmo dizer-se que existem vaacuterios lsquoSudatildeosrsquo

dentro do Sudatildeo do Sul o que dificulta o processo de paz por si soacute Este

desentendimento acontece apoacutes o vice-presidente Riek Machar ter acusado o atual

presidente Slava kiir de corrupccedilatildeo de lidar mal com a economia e situaccedilatildeo global do

Sudatildeo do Sul de haver cada vez mais desigualdade entre grupos Em 2013 houve um

coup drsquoeacutetat o que intensificou uma vez mais o conflito pois o presidente Salva Kiir

decidiu demitir todo o governo e assumir total controlo do Estado atirando a tentativa

do golpe de Estado para o vice-presidente Riek Machar Como eacute possiacutevel prever os

conflitos entre as duas partes intensificaram-se mais precisamente entre os dois grupos

eacutetnicos ligados a cada uma destas duas figuras (Nascimento 2017)

Devido ao referido anteriormente deu-se uma divisatildeo dentro do SPLM (Sudan Peoplersquos

Liberation Movement) tendo sido criado o SPLM-IO (Sudan Peoplersquos Liberation

Movement- In Oposition) apoiante do vice-presidente Riek Machar Ao presente a

guerra civil joga-se entre o SPLM o SPLA (Sudan Peopleacutes Liberation Army) e o

movimento pro Riek Machar SPLM-IO Esta divisatildeo que gerou uma grande onda de

violecircncia levou ao aumento draacutestico de pedidos de asilo de refugiados aos paiacuteses

vizinhos e de deslocados internamente (Deutsche Welle 2013 Rolandsen et al 2015

Felix e Coning 2017)

Tinha havido em 2011 segundo Nascimento (2017) uma tentativa afincada de realizar

um acordo de paz duradouro tendo pouco sido feito em termos de desenvolvimento e

garantia das necessidades baacutesicas para toda a populaccedilatildeo ou seja garantir o igual acesso

a todos agrave educaccedilatildeo sauacutede alimentaccedilatildeo seguranccedila e emprego O Sudatildeo do Sul

confronta-se tambeacutem com um governo fraco aumento das hostilidades entre populaccedilotildees

de diferentes etnias alimentadas pelos poliacuteticos e um setor privado e governo corruptos

Natildeo resolvendo estas questotildees eacute impossiacutevel qualquer acordo de paz vingar a natildeo ser no

papel Eacute possiacutevel entatildeo deduzir que este processo de paz natildeo foi coordenado e

uniforme pois o governo optou por estabelecer acordos ao longo do paiacutes criando

divisotildees dentro do recente Estado (Nascimento 2017)

Houve um novo acordo de cessar-fogo em maio de 2014 tendo sido criado um governo

de transiccedilatildeo e foi feito um esboccedilo para a criaccedilatildeo de uma nova constituiccedilatildeo No entanto

houve mais uma vez neste processo uma falta de compromisso para com as partes e a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

55

populaccedilatildeo o que gerou mais ondas de violecircncia Em maio de 2015 o governo do Sudatildeo

do Sul foi pressionado por atores externos a estabelecer um acordo de paz acordo esse

que veio a ser altamente criticado Salva Kiir acusou o acordo de desfavorecer a

comunidade eacutetnica Dinka num futuro governo Este acordo foi tambeacutem criticado pela

sociedade civil por privilegiar a partilha de poderes entre as elites ao inveacutes de prestar

contas e desenvolver um mecanismo de justiccedila onde as atrocidades cometidas pelos dois

partidos fossem punidas Acusou tambeacutem o presidente de natildeo privilegiar o

desenvolvimento a niacutevel educacional socioeconoacutemico e de infraestruturas do Estado e

de natildeo haver a aplicaccedilatildeo da lei Riek Machar voltou ao seu cargo como vice-presidente

tendo de abandonar a cidade de Juba por violecircncia e alegada perseguiccedilatildeo do governo

tendo sido substituiacutedo pelo Presidente Riek Machar pediu ajuda agrave comunidade

internacional para enviar militares que o ajudassem a chegar a Juba em seguranccedila e

retomar o seu cargo Pouco mudou como eacute possiacutevel verificar natildeo se constatou

desenvolvimento algum continua a existir pobreza e a violecircncia natildeo para de aumentar

Salva Kiir (atual presidente) privilegiou a estabilizaccedilatildeo do Estado ao inveacutes do

desenvolvimento o que em conjunto com o conflito eacutetnico despoletou a guerra civil

(Nascimento 2017 Felix e Coning 2017)

Segundo Nascimento (2017) houve ainda uma maacute compreensatildeo frequente quanto ao

uso do peacebuilding confundido com partilha de poderes e recursos Ao inveacutes disso

deveria ter havido uma aposta na criaccedilatildeo de uma democracia soacutelida onde os cidadatildeos

pudessem contribuir na tomada de decisatildeo dos poliacuteticos e desenvolvimento do seu

territoacuterio A parte mais importante para o sucesso do acordo de paz sociedade civil e

partidos natildeo foi todavia parte dos processos de negociaccedilatildeo da paz O processo de paz

centrou-se exclusivamente na partilha de poderes entre os partidos do governo e

militares natildeo tendo sido escutadas opiniotildees de mediadores figuras influentes ou

partidos poliacuteticos Segundo a autora os negociadores do acordo de paz natildeo queriam

entender que o problema ultrapassava a rivalidade poliacutetica que era tambeacutem constituiacutedo

por uma marginalizaccedilatildeo social e econoacutemica que afetava diversos grupos e setores da

populaccedilatildeo (Nascimento 2017 Tafta e Haken 2015)

A guerra civil do Sudatildeo do Sul levou agrave morte de milhares de pessoas Estima-se que

desde 2013 tenham morrido mais de 50 000 pessoas e que tenham fugido cerca de 16

milhotildees de pessoas dos seus lares aquando da tentativa internacional de estabelecer a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

56

paz com o acordo assinado em agosto de 2015 (OCHA 2015) Segundo o OCHA

(2017) cerca de trecircs milhotildees de pessoas tiverem de fugir dos seus lares existem cerca

de 12 milhotildees de deslocados internamente e mais de 13 milhotildees de refugiados

Podemos entatildeo verificar que o Sudatildeo do Sul desde a sua independecircncia natildeo teve um

uacutenico momento de paz e a populaccedilatildeo estaacute a atravessar momentos conturbados haacute

infraestruturas destruiacutedas falta de cuidados meacutedicos trabalho forccedilado violaccedilotildees

abusos deslocaccedilotildees forccediladas destruiccedilatildeo perda de meios de subsistecircncia e surgimento

de doenccedilas tais como a coacutelera diarreia malaacuteria entre outros ateacute aos dias de hoje

(OCHA 2015 CFR 2017 HRP 2017)

O Sudatildeo do Sul eacute ainda considerado um Estado de enorme fragilidade no iacutendice de

fragilidade dos Estados do FFP (2017) contando com uma classificaccedilatildeo de 11390 e

estando mal cotado em todos os indicadores de avaliaccedilatildeo As aacutereas satildeo as seguintes

seguranccedila e aparelho do Estado elites e facotildees clivagens entre grupos decliacutenio

econoacutemico desigualdade no desenvolvimento fuga de ceacuterebros legitimidade do

Estado direitos humanos e Estado de direito serviccedilos puacuteblicos pressotildees demograacuteficas

refugiados e deslocados internamente e finalmente intervenccedilatildeo externa Essa

classificaccedilatildeo significa que o Sudatildeo do Sul estaacute na pior categoria ndash ldquoestado de alertardquo

(100-120) e que registou o pior resultado (primeiro no ranking) em 2017 (TFP 2017a

TFP 2017b)

O paiacutes eacute ainda caracterizado por enfrentar variados problemas como por exemplo a

escassez de aacutegua mau saneamento ou ausecircncia do mesmo falta de meios de

subsistecircncia atravessando um periacuteodo de escassez alimentar o que aumenta

drasticamente os conflitos entre cidades e grupos eacutetnicos pois natildeo estatildeo a lutar

unicamente devido ao conflito e ao oacutedio eacutetnico mas estatildeo a lutar tambeacutem pela obtenccedilatildeo

de meios de subsistecircncia A guerra civil da qual natildeo consegue sair tem como principal

problema o profundo tribalismo caracteriacutestico do Estado e maus poliacuteticos natildeo

conseguindo criar um aparelho de poder forte As regiotildees do Sudatildeo do Sul que foram

mais atingidas pelo conflito satildeo Jonglei Unity e Upper Nile (Tafta 2014 Rolandsen et

al 2015 TFP 2017c Tafta e Haken 2015) Quanto ao IDH (Iacutendice de

desenvolvimento Humano) o Sudatildeo do Sul estaacute avaliado no iacutendice na posiccedilatildeo de 0418

e classificado no ranking na 181ordf posiccedilatildeo sendo a esperanccedila meacutedia de vida de 561 anos

e a escolaridade rondando ateacute os 49 anos O Estado que estaacute em uacuteltimo lugar na

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

57

classificaccedilatildeo eacute a Repuacuteblica Centro Africana na 188ordf posiccedilatildeo com o valor de 0352 O

Estado mais bem posicionado em primeiro lugar eacute a Noruega com o valor de 0949 A

cotaccedilatildeo dos Estados vai de 00 a 1 (UNDP 2016)

Para aleacutem dos problemas internos o Sudatildeo do Sul tem ainda uma relaccedilatildeo muito

fragilizada com o Sudatildeo devido agraves disputas para a aquisiccedilatildeo do petroacuteleo e a fronteira

os territoacuterios de Darfur South Kordofan e Blue Nile que eram disputados Estes

problemas levaram a que houvesse uma priorizaccedilatildeo da seguranccedila ao inveacutes do

desenvolvimento que eacute crucial para pacificar um Estado e desenvolver (Felix e Coning

2017)

O Sudatildeo do Sul foi palco de Acatildeo Humanitaacuteria promovida pela ONU nomeadamente

do OCHA tendo este uacuteltimo realizado um plano estrateacutegico para o Sudatildeo do Sul A

primeira missatildeo realizada pelas NU no Sudatildeo do Sul cujo nome era UNMISS (United

Nation Mission for South Sudan) sob o artigo VII da carta das NU conforme a

resoluccedilatildeo do Conselho de Seguranccedila nordm 1996 de 8 de julho de 2011 tinha como

principal objetivo ajudar o governo a consolidar a paz e seguranccedila incluindo a

mitigaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos bem como a proteccedilatildeo dos civis Comeccedilou em 2011

pelo periacuteodo de um ano mas viria a revelar-se insuficiente e obrigaria a que fosse

necessaacuterio o prolongamento da UNMISS Em 2013 outra crise deflagrou no Sudatildeo do

Sul culminando numa guerra civil conforme referido acima Neste caso a presenccedila da

UNMISS era fulcral no terreno apesar de a relaccedilatildeo entre o governo do Sudatildeo do Sul e a

UNMISS terem atravessado uma crise no terreno pois os militares desta foram

acusados de natildeo serem imparciais e de ajudarem a abater militares favoraacuteveis ao

governo e de que haveria uma maacute conceccedilatildeo da missatildeo no terreno Foi por isso aprovada

pelo Conselho de Seguranccedila a resoluccedilatildeo 2132 (24122013) pela qual foi decidido

aumentar o nuacutemero de militares e poliacutecias no terreno Em 2014 foi reforccedilada a

priorizaccedilatildeo da necessidade de proteccedilatildeo dos civis devido agrave deterioraccedilatildeo da situaccedilatildeo

humanitaacuteria no terreno tendo sido aprovada a resoluccedilatildeo 2155 (27052014) Os

objetivos foram a consolidaccedilatildeo da democracia fraacutegil (statebuilding) em que o paiacutes se

encontrava proteger os civis de possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia fiacutesica proteger grupos

vulneraacuteveis proteger os campos de refugiados e os profissionais humanitaacuterios de

possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia e criar condiccedilotildees para que as ONG humanitaacuterias

pudessem aceder aos locais e fornecer assistecircncia humanitaacuteria Era tambeacutem feita a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

58

monitorizaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de crimes contra os direitos humanos e procurava-se

facilitar a implementaccedilatildeo dos acordos de paz Haacute tambeacutem um mandato atual da

UNMISS em que foram reforccedilados os contingentes em 7000 pessoal militar 9000

poliacutecias e um apropriado contingente de civis Estatildeo autorizados 17 000 tropas nos

quais estatildeo incluiacutedas 4000 forccedilas de proteccedilatildeo regionais Foi aumentado o limite da

poliacutecia para 2101 policiais incluindo policiais individuais unidades policiais formadas

e 78 corretores e solicitado ao Secretaacuterio-Geral que tome as medidas necessaacuterias para

acelerar a forccedila e a geraccedilatildeo de ativos (UNMISS 2017a UNMISS sd UNMISS 2017b

OCHA 2015 OCHA 2017 OCHA sd)

Como eacute possiacutevel constatar o Sudatildeo do Sul necessita de operaccedilotildees de peacekeeping para

manter a paz assegurar os direitos humanos salvar vidas e garantir uma vida digna agrave

populaccedilatildeo local mas tambeacutem necessita e estava num processo de peacebuiling que

procura restaurar o aparelho de poder reconstruir as infraestruturas e ajudar o governo a

fortalecer-se de forma a que a paz permaneccedila e o processo de pacificaccedilatildeo seja realizado

com ecircxito apoacutes o presidente ter assinado em 2015 o acordo de paz como foi referido

anteriormente No entanto como sabemos o Sudatildeo do Sul natildeo estaacute ainda pacificado

permanecendo no terreno cerca de 17000 peacekeepers (OCHA 2015 UNMISS

2017a UNMISS 2017b)

Segundo o Council on Foreign Relations (2017) e tambeacutem o OCHA (2017) o Estado

do Sudatildeo do Sul apresenta um problema no que toca agrave accedilatildeo humanitaacuteria pois o terreno

estaacute cada vez mais perigoso cada vez mais humanitaacuterios satildeo assassinados por grupos

eacutetnicos em guerra dificultando assim a chegada da assistecircncia humanitaacuteria agrave populaccedilatildeo

que estaacute a atravessar grandes privaccedilotildees em termos alimentares de saneamento e de aacutegua

potaacutevel Como eacute sabido o Sudatildeo do Sul tem um grande problema no setor agriacutecola no

saneamento e no acesso a aacutegua o que leva a que os conflitos natildeo cessem muito pelo

contraacuterio pioram A falta de aacutegua potaacutevel eacute um dos grandes problemas existentes no

Sudatildeo do Sul havendo locais em que natildeo existe mesmo sendo necessaacuterio transportaacute-la

para o local o que eacute feito pelas OIG OING e OIG (OCHA 2017 CFR 2017)

Soacute em 2016 os incidentes humanitaacuterios foram de 635 por mecircs de janeiro a junho e de

junho a novembro esse nuacutemero aumentou para 90 Os humanitaacuterios tambeacutem viram a

necessidade de negociar com os militares locais para operar bem como de procurar

apoio na aacuterea da advocacia para a aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria Esta negociaccedilatildeo tem sido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

59

uma constante e estas negociaccedilotildees podem ser realizadas atraveacutes de troca por troca

Existe uma maacute vontade do Estado sentida nos diversos impedimentos burocraacuteticos e

difiacutecil sinalizaccedilatildeo dos civis que estatildeo a receber a assistecircncia humanitaacuteria dificultando

assim o trabalho dos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema eacute que a escolta militar pode levar a que a populaccedilatildeo sinta uma confusatildeo e

associe as ONG OING e OIG aos militares peacekeepers o que eacute negativo Neste caso

a UNMISS natildeo eacute neutra e leva a uma perceccedilatildeo de que as ONG OING e OIG tambeacutem

natildeo satildeo neutras Outro problema foi a poleacutemica em que a UNMISS se envolveu com o

desarmamento da populaccedilatildeo que era feito agrave forccedila e de forma selecionada natildeo tendo os

peacekeepers reagido e tendo a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional

reagido Tudo junto leva a que a populaccedilatildeo sinta receio em pedir ajuda agraves organizaccedilotildees

humanitaacuterias caso a escolta seja feita por militares que tenham algum contacto ou

trabalho com o governo ou as forccedilas militares locais (Felix e Coning 2017)

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das

ONG

Como eacute possiacutevel verificar o caso do Sudatildeo do Sul eacute um caso bastante complicado

sendo mesmo considerado uma emergecircncia humanitaacuteria devido agraves constantes guerras

civis e eacutetnicas que natildeo cessam agrave crise econoacutemica aos choques climateacutericos que levam agrave

escassez de comida falta de aacutegua potaacutevel o que tem como consequecircncia fome e

malnutriccedilatildeo pessoas deslocadas internamente e nuacutemero de refugiados a aumentar

pobreza e crimes de violaccedilatildeo contra os direitos humanos que natildeo cessam O Estado natildeo

se tem revelado eficaz na proteccedilatildeo do seu povo sendo que existem determinados locais

que satildeo praticamente de impossiacutevel acesso aos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema segundo o OCHA natildeo eacute soacute o acesso ao local onde a populaccedilatildeo estaacute em

necessidade mas tambeacutem a permanecircncia das ONG OING ou OIG no terreno Nos dias

14 e 15 de abril de 2016 os humanitaacuterios tiveram de sair do terreno (Waat e Walgak em

Jonglei) devido agrave intensificaccedilatildeo do conflito Essa retirada dos humanitaacuterios do terreno

teve consequecircncias graves a niacutevel de preparaccedilatildeo de comida e distribuiccedilatildeo da mesma

11200 pessoas em Nyrol ficaram sem acesso a educaccedilatildeo sauacutede nutriccedilatildeo e atividades

de limpeza vitais para a populaccedilatildeo Esta deslocaccedilatildeo teve efeitos nefastos para a accedilatildeo

humanitaacuteria em Jonglei quando as instalaccedilotildees humanitaacuterias foram invadidas por civis e

militares durante os atraques de fevereiro Este tipo de ataques natildeo pode repetir-se pois

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

60

a inseguranccedila poderaacute ter como consequecircncia o abandono das ONG OING e OIG do

terreno o que levaraacute a uma intensificaccedilatildeo dos conflitos e a uma populaccedilatildeo ainda mais

fragilizada Um Estado que se pauta por grandes desigualdades entre regiotildees leva a

conflitos que soacute seratildeo amenizados sendo essas necessidades mais urgentes suprimidas

Natildeo adianta fazer missotildees quando natildeo se combate o cerne do problema (OCHA 2017)

Logo estes problemas de acesso poderatildeo levar a que os conflitos se agravem devido agrave

falta de bens de primeira necessidade como por exemplo a aacutegua que como sabemos eacute

um motivo de guerra em vaacuterios paiacuteses e comida pois a pouca comida e aacutegua potaacutevel

existente seraacute disputada gerando ainda mais conflitos Uma maacute nutriccedilatildeo ingestatildeo de

aacutegua natildeo potaacutevel leva ainda a problemas de sauacutede graves Natildeo eacute tambeacutem restabelecida

a dignidade da populaccedilatildeo natildeo eacute protegida dos crimes contra a humanidade como a

exploraccedilatildeo recrutamento de crianccedilas para a guerra e minas abuso sexual e mortes em

massa (OCHA 2017)

Esta falta de seguranccedila no terreno verificada no Sudatildeo do Sul leva agrave necessidade de

existecircncia de proteccedilatildeo militar visto que existe uma dificuldade em fazer valer o DIH no

terreno Como eacute sabido hospitais campos de refugiados e pessoal que trabalha para

organizaccedilotildees humanitaacuterias deveriam estar imunes a qualquer tipo de ataque Mas na

praacutetica tal natildeo se verifica tendo sido um campo de refugiados atacado em 2016 Ao

serem escoltadas ou ao usufruiacuterem de proteccedilatildeo militar as ONG OING ou OIG satildeo

facilmente coladas a uma das partes das hostilidades de que esses militares tambeacutem

tomam parte

Levanta-se ainda outro problema que eacute a negaccedilatildeo de acesso a territoacuterios aos

humanitaacuterios no Sudatildeo do Sul Esta negaccedilatildeo de acesso vem por parte do Governo para

certas regiotildees e das outras partes das hostilidades noutras regiotildees sendo que o governo

natildeo controla bem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Mas eacute um risco que muitos

humanitaacuterios correm correndo mesmo risco de vida rapto e abusos Ou seja o Estado

estaacute a falhar gravemente na proteccedilatildeo e garantia do acesso de ajuda humanitaacuteria agrave sua

populaccedilatildeo o que eacute por si soacute um problema circular num Estado fragilizado Ou seja o

Governo falha ao natildeo garantir a proteccedilatildeo do seu povo e em certos casos ao natildeo deixar as

organizaccedilotildees humanitaacuterias acederem a certos territoacuterios (JMEC 2017 Harmer 2008)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

61

No entanto o Primeiro-Ministro do Sudatildeo do Sul Martin Elia Lamuro negou ter

proibido o acesso dos humanitaacuterios aos territoacuterios cuja populaccedilatildeo enfrenta grandes

necessidades afirmando pelo contraacuterio que se tecircm mostrado recetivos agraves ONG OING e

OIG para a assistecircncia humanitaacuteria em qualquer territoacuterio acusando assim os oficiais

dos EUA de terem redigido relatoacuterios que faltam agrave verdade (Sudan Tribune 2017) Jaacute o

representante russo Petr Illichev das NU diz discordar da visatildeo dos EUA referindo que

a fome eacute devida agraves condiccedilotildees climateacutericas e natildeo devida a questotildees de seguranccedila O

Conselho de Seguranccedila tentou amenizar a situaccedilatildeo referindo que a emergecircncia

humanitaacuteria presente no Sudatildeo do Sul tem como principais culpados todas as partes

envolvidas no conflito Tambeacutem Joseph Mourn Majak Ngor Malok embaixador do

Sudatildeo do Sul nas Naccedilotildees Unidas referiu que natildeo se pode culpar o Governo pela fome e

que este vai fazer os impossiacuteveis trabalhando com a comunidade internacional para

fazer face a este problema Podemos pois constatar que mais que um problema de

seguranccedila o que os humanitaacuterios estatildeo a enfrentar eacute um problema poliacutetico de

bastidores dentro da comunidade internacional (Sudan Tribune 2017)

Como eacute possiacutevel constatar a seguranccedila e o acesso dos humanitaacuterios ao terreno eacute uma

questatildeo bastante complexa pois depende da autorizaccedilatildeo do Estado caso este aceite que

a ajuda humanitaacuteria seja fornecida em todo o territoacuterio que dela necessite e caso decida

proteger os humanitaacuterios Caso o Estado natildeo assegure a proteccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos

humanitaacuterios no acesso ao territoacuterio que necessite de assistecircncia humanitaacuteria os

humanitaacuterios vecircm-se na obrigaccedilatildeo de encontrar uma de quatro soluccedilotildees desistir da

missatildeo e abandonar o terreno arriscar e deslocarem-se aos territoacuterios sem proteccedilatildeo

correndo risco de vida contratar agecircncias militares privadas ou pedir escolta militar aos

peacekeepers

Os peacekeepers da UNMISS natildeo tecircm eles tambeacutem livre acesso a todos os locais no

Sudatildeo do Sul e satildeo vistos de certa forma como adversaacuterios pelo governo e satildeo

acusados de tomarem o partido de uma das partes das hostilidades privilegiando a

proteccedilatildeo ao grupo eacutetnico Nuer em detrimento das outras No entanto esta informaccedilatildeo

natildeo tem a leitura devida pois os peacekeepers protegem os dois lados da mesma forma

a questatildeo eacute que a maioria da populaccedilatildeo registada do POC (Establishment of Protection

of Civilians) eacute de origem eacutetnica Nuer Como consequecircncia desta desconfianccedila a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

62

UNMISS viu negado o seu acesso a determinados locais falhando assim a sua missatildeo a

de proteger os civis e a de proteger os humanitaacuterios (Wells 2017)

O Conselho de Seguranccedila eacute ainda acusado pelos peacekeepers de natildeo dar suporte

poliacutetico e material adequado para a situaccedilatildeo Mesmo apoacutes variados ataques graves aos

militares da UNMISS e agrave populaccedilatildeo o Conselho de Seguranccedila natildeo passou da ameaccedila de

sancionar o Sudatildeo do Sul A gravidade do problema chegou ao ponto de a UNMISS

sofrer ataques aos seus helicoacutepteros natildeo ter material agrave prova de bala tendo assim de

abandonar os meios aeacutereos O Conselho de Seguranccedila mais uma vez nada fez Esta

situaccedilatildeo colocou em causa o trabalho das organizaccedilotildees humanitaacuterias ou seja o acesso

das mesmas a locais de grande necessidade devido ao facto de natildeo poderem contar

mais com ajuda dos peacekeepers para aceder ao terreno (Wells 2017)

Justamente nas missotildees das NU no Sudatildeo do Sul tem-se verificado um fracasso pois

para aleacutem de serem acusados de tomarem partido pelo governo natildeo conseguem

assegurar a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e de deslocados internamente

verificando-se assim em 2013 um aumento da violecircncia e ataques aos campos de

refugiados e deslocados internamente Um dos objetivos da UNMISS eacute assegurar que os

civis consigam aceder agrave ajuda humanitaacuteria que garante os bens essenciais agrave

sobrevivecircncia gestatildeo dos campos de refugiados e outros apoios vitais no entanto a

seguranccedila natildeo eacute assegurada natildeo sendo possiacutevel aos humanitaacuterios assegurar a ajuda

humanitaacuteria agravando-se assim os conflitos (Rolandsen et al 2015)

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar

Segundo Rolandson et al (2015) uma das missotildees que cabe aos peacekeepers eacute

precisamente garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios principalmente em paiacuteses onde

existe uma falta de seguranccedila e proteccedilatildeo aos humanitaacuterios Essa proteccedilatildeo pode ser

realizada atraveacutes de escolta militar direta no caminho para o terreno por via terrestre

aeacuterea ou mariacutetima sendo a via aeacuterea a mais conveniente caso seja necessaacuterio

transportar uma grande quantidade de mercadoria e assim garantir que chega ao destino

intacta Podem ainda garantir a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e deslocados

internamente bem como proteger os bens e as instalaccedilotildees humanitaacuterias (Rolandsen et

al 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

63

Pode verificar-se que as NU mais especificamente o OCHA tecircm vindo a trabalhar no

sentido de existir uma maior cooperaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e as operaccedilotildees de

peacekeeping no terreno de forma a que os humanitaacuterios sejam protegidos e a

assistecircncia humanitaacuteria prestada a toda a populaccedilatildeo independentemente de o territoacuterio

ser ou natildeo de grande perigo O problema desta cooperaccedilatildeo satildeo os princiacutepios

humanitaacuterios que divergem dos princiacutepios dos militares como jaacute foi referido Mas a

coexistecircncia existe eacute um facto havendo no caso do Sudatildeo do Sul um guia sobre como

devem os humanitaacuterios e militares interagir em que circunstacircncia deve ser feita a

escolta e quanto tempo deve durar essa proteccedilatildeoescolta O documento mencionado eacute

intitulado de Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the

United Nations Mission in South Sudan e foi elaborado pela UNMISS o HC e o HCT

(UNMISS e HC 2013)

Os humanitaacuterios viram-se forccedilados a cooperar com os peacekeepers da UNMISS e para

que esta missatildeo integrada funcionasse foi criado o guia de coordenaccedilatildeo entre os atores

humanitaacuterios e a UNMISS jaacute mencionado O guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo

Humanitaacuteria e a UNMISS eacute um documento elaborado a pedido do Humanitarian

Country Team (O HCT eacute um foacuterum estrateacutegico e operacional de tomada de decisatildeo e

supervisatildeo estabelecido e liderado pelo HC) A composiccedilatildeo inclui representantes da

ONU IOM OING a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho O HCT eacute tambeacutem

responsaacutevel por acordar questotildees estrateacutegicas comuns relacionadas com a accedilatildeo

humanitaacuteria (Humanitarian Response sd) em 2012Teve ainda a participaccedilatildeo do

grupo conselheiro militar que contem representantes da comunidade humanitaacuteria e da

UNMISS Eacute por isso um documento fidedigno O objetivo deste guia eacute substituir o SOP

de 2012 relativamente ao uso das forccedilas armadas e escolta militar e fornecer

indicaccedilotildees operacionais sobre a relaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS no Sudatildeo do

Sul de forma a evitar conflitos no terreno fortalecer a coordenaccedilatildeo das atividades

preservar o espaccedilo humanitaacuterio acesso e princiacutepios (HCT e UNMISS 2013 Harmer

2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que a UNMISS estaacute a ter ela proacuteprios problemas de acesso e deslocaccedilatildeo a

determinados locais em que o Estado natildeo ache pertinente a presenccedila dos peacekeepers

Pior em 2011 recusou o destacamento de mais 4000 peacekeepers para reforccedilar os

13500 peacekeepers no terreno com o argumento de que a situaccedilatildeo do conflito armado

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

64

estava a melhorar e natildeo haveria necessidade de destacar mais militares das NU e que o

destacamento de mais militares poria em causa a soberania do Estado O governo

argumentou ainda que tem capacidade para assegurar a proteccedilatildeo dos civis No entanto

apoacutes a ameaccedila das NU com um embargo de armas acabou por aceitar o destacamento

de mais militares Em dezembro de 2016 a Comissatildeo dos Direitos Humanos das NU

pediu urgentemente o destacamento de peacekeepers por causa de assassiacutenios eacutetnicos

(Wells 2016 Aljazeera 2017)

A UNMISS foi acusada por diversas organizaccedilotildees humanitaacuterias de falhar a sua missatildeo

devido agrave sua ineficaacutecia no terreno ou seja natildeo foi capaz de assegurar a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo nem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Todavia eacute preciso ser realista

pouco se pode fazer com um governo que limite o acesso dos peacekeepers a

determinados locais recuse que sejam destacados mais militares para o terreno e soacute

aceite em uacuteltima instacircncia mais destacamentos de militares para o terreno devido a uma

seacuterie de ameaccedilas (Aljazeera 2017 Wells 2016)

O problema eacute a incapacidade das NU e do Governo de assegurarem a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios No ataque de julho de 2016 os peacekeepers foram acusados de agirem

tarde demais de natildeo terem sido capazes de dar resposta e os EUA de natildeo avisarem as

ONG OING e OIG de que havia um perigo de ataque este erro teve como

consequecircncia a morte e violaccedilatildeo em massa dos humanitaacuterios sendo este ataque

considerado uma barbaacuterie Este acontecimento pode ser o despoletar da induacutestria das

agecircncias militares privadas podendo trazer consequecircncias nefastas a longo termo No

entanto segundo a investigaccedilatildeo independente agrave UNMISS requerida pelo Conselho de

Seguranccedila ficou estabelecido que a UNMISS agiu e fez todos os possiacuteveis para salvar

os civis embora esse natildeo seja o sentimento por parte dos humanitaacuterios (Grant 2016)

Segundo a carta enviada pelo Secretaacuterio Geral ao Conselho de Seguranccedila a 17 de abril

de 2017 (NU 2017) exatamente a reportar o ataque explicado anteriormente consta um

pedido de investigaccedilatildeo independente do ataque ocorrido a 23 de agosto de 2016 e

pretende-se verificar as accedilotildees da UNMISS em resposta ao ataque ocorrido apoacutes o inicio

das hostilidades a 8 e 11 de julho de 2016 contra os humanitaacuterios e contra civis tendo

este ataque ocorrido dentro ou nas proximidades das instalaccedilotildees da UNMISS em Juba

A UNMISS foi acusada pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias de ter sido ineficaz na

sua missatildeo de proteger as humanitaacuterias no terreno natildeo tendo os peacekeepers

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

65

respondido aos muitos pedidos de ajuda e proteccedilatildeo Os humanitaacuterios defendem ainda

que os peacekeepers sabiam do perigo existente de ataque e deveriam ter avisado de

forma a que evacuassem os humanitaacuterios e civis do territoacuterio em questatildeo (Grant 2016

UN 2017d)

No entanto foi averiguado pelo Conselho de Seguranccedila que a UNMISS nomeadamente

os peacekeepers fizeram tudo o que estava ao seu alcance para salvar e proteger civis

durante o massacre Tambeacutem foi averiguado que a UNMISS faz um excelente trabalho

de planeamento e preparaccedilatildeo da resposta para salvar civis As informaccedilotildees de

seguranccedila devem segundo o relatoacuterio do Conselho de Seguranccedila serem compartilhadas

pelos peacekeepers com a comunidade humanitaacuteria informaccedilotildees relativas ao terreno

com o foacuterum de forma a que cada um dos agentes saiba o perigo que estaacute a correr Por

isso a UNMISS deve informar quanto a procedimentos de estado de alerta

deslocalizaccedilatildeo e evacuaccedilatildeo pontos de concentraccedilatildeo em Juba refuacutegios designados rotas

aeacutereas de deslocalizaccedilatildeo principais ferramentas de seguranccedila procedimentos de

controle de acesso e o plano em resposta agrave proteccedilatildeo de incidentes civis entre outros

Segundo o Conselho de Seguranccedila estes procedimentos foram adotados embora as

ONG no terreno natildeo concordem com esta conclusatildeo (Grant 2016 UN 2017d)

No Sudatildeo do Sul tem-se verificado uma missatildeo integrada minimalista em que o

OCHA eacute o coordenador e o elo de ligaccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers e trabalha

de forma independente da missatildeo de paz das NU Esta poderaacute ser a melhor receita para

o caso do Sudatildeo do Sul No entanto eacute preciso ter em conta que a UNMISS tem falta de

militares destacados em terrenos problemaacuteticos podendo dificultar este tipo de missotildees

integradas minimalistas como se constatou anteriormente com a inaccedilatildeo dos

peacekeepers face ao ataque do campo de refugiados (Harmer 2017 Aljazeera 2017

Wells 2016)

Por isso podemos contatar que pelo menos no Sudatildeo do Sul existe uma coexistecircncia

bem coordenada e estruturada entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS atraveacutes da

existecircncia de um guia para coordenaccedilatildeo entre humanitaacuterios Eacute possiacutevel constatar

tambeacutem que existe uma preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e em

respeitar o espaccedilo humanitaacuterio na hora de garantir a sua proteccedilatildeoescolta A secccedilatildeo de

Aliacutevio (do Guia da UNMISS) Reintegraccedilatildeo e Proteccedilatildeo tem como principal missatildeo a

proteccedilatildeo de civis em bases da UNMISS e o apoio ao trabalho das organizaccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

66

humanitaacuterias no Sudatildeo Sul Haacute casos em que natildeo existe outra forma de garantir que o

acesso humanitaacuterio proteccedilatildeo e a assistecircncia sejam fornecidos sem ajuda dos

peacekeepers (HCT e UNMISS 2013)

Voltando ao Guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS eacute

reconhecido que as missotildees de peacekeeping das NU como a UNMISS tecircm um

mandato de cariz poliacutetico o que significa que podem tomar partido por uma das partes

das hostilidades e por isso natildeo serem consideradas neutras por todas as partes dentro

do Estado Tal significa uma incompatibilidade entre estes dois atores pois uma junccedilatildeo

da accedilatildeo humanitaacuteria agrave UNMISS poria em causa o mandato humanitaacuterio Eacute ainda

apresentada no documento a diferenccedila entre a assistecircncia militar ao governo (prover

gabinetes conselho e suporte ao governo do Sudatildeo do Sul em relaccedilatildeo agrave transiccedilatildeo

poliacutetica pela qual estava a passar no estabelecimento da autoridade poliacutetica) e a

assistecircncia militar agraves ONG humanitaacuterias (facilitar o acesso prover um ambiente seguro

para a assistecircncia humanitaacuteria bem como promover e monitorizar os Direitos

Humanos) O OCHA estabelece esta coordenaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a

UNMISS atraveacutes dos PCI (Projetos de curto impacto) O OCHA entra em contacto com

o JOC (Joint Operations Center) a niacutevel estatal atraveacutes do escritoacuterio estatal e do RCO

(Resident Coordinatoracutes Office) Os humanitaacuterios natildeo pedem diretamente ajuda militar

mas eacute o OCHA quem trata disso (HCT e UNMISS 2013)

O Sudatildeo do Sul eacute um caso em que a coexistecircncia eacute necessaacuteria para o sucesso tanto da

missatildeo da UNMISS como da accedilatildeo humanitaacuteria devido aos perigos de inseguranccedila

existentes sendo os humanitaacuterios alvos faacuteceis Esta coexistecircncia natildeo tem de ser

incompatiacutevel pois ambos tecircm o objetivo de poupar vidas Por isso nesta coexistecircncia

tem de ser respeitada a missatildeo de ambos sem nenhum dos dois se intrometer nas

atividades do outro minimizando assim o risco de conflito e competiccedilatildeo quando ambos

estatildeo a trabalhar na mesma aacuterea geograacutefica fazendo a clara distinccedilatildeo e separaccedilatildeo das

atividades humanitaacuterias poliacuteticas e militares (HCT e UNMISS 2013)

Portanto os atores humanitaacuterios natildeo satildeo incumbidos de seguir ou respeitar ordens

militares por militares e o contraacuterio O guia militar-civil natildeo aconselha a coabitaccedilatildeo de

humanitaacuterios e militares em situaccedilotildees de emergecircncias complexas No entanto no Sudatildeo

do Sul essa coabitaccedilatildeo por parte da UNMISS e de agecircncias das NU existe em Juba e em

certas capitais de Estado o que pode levar a uma perceccedilatildeo errada das restantes agecircncias

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

67

devido ao facto de uma ter adotado esta decisatildeo de coexistir no mesmo local que os

peacekeepers ou seja pode ter um efeito negativo na comunidade humanitaacuteria (HCT e

UNMISS 2013)

Segundo o guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS (HCT e

UNMISS 2013) deve ser feita uma distinccedilatildeo clara das atividades identidade funccedilotildees e

papeacuteis da accedilatildeo humanitaacuteria dos atores envolvidos na UNMISS Para fazerem esta

distinccedilatildeo devem respeitar os seguintes pontos

bull As armas nunca devem ser usadas em instalaccedilotildees humanitaacuterias e em contexto de

transporte para os locais em questatildeo

bull Deve ser feita a identificaccedilatildeo dos elementos da equipa dos bens de primeira

necessidade veiacuteculos instalaccedilotildees barcos e aviotildees Ou seja devem promover a

distinccedilatildeo das suas respetivas identidades de forma a que natildeo sejam confundidos com a

UNMISS (HCT e UNMISS 2013 pp 4)

Quanto ao uso de ativos e escoltaproteccedilatildeo militar eacute referido no guia que os atores

humanitaacuterios natildeo devem usar os ativos militares ou escoltaproteccedilatildeo militar a fim de

proteger a distinccedilatildeo e salvaguardar a separaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios O uso

dos ativos militares e escoltaproteccedilatildeo militar da UNMISS deve ser adotado em uacuteltimo

recurso e em circunstacircncias especiais uma vez reunidos determinados criteacuterios que

seratildeo explanados a seguir Qualquer decisatildeo quanto ao pedido dos atores humanitaacuterios

relativamente agrave escolta militar seraacute analisada caso-a-caso tendo em conta os ativos

disponiacuteveis custos e prioridades Os criteacuterios satildeo os seguintes

bull O objetivo da missatildeo eacute puramente humanitaacuterio e manteacutem o seu caraacuteter civil e

humanitaacuterio bem como o respeito dos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

bull Tem de haver uma necessidade urgente de ajuda humanitaacuteria natildeo existindo

alternativas para a substituiccedilatildeo no terreno

bull O uso da escolta militar eacute limitado no tempo e escala com uma estrateacutegia clara

de saiacuteda concordada entre os dois atores fora do pedido Natildeo poderaacute ainda

comprometer os atores humanitaacuterios a longo prazo na sua capacidade de poderem

operar de forma segura e efetiva (HCT e UNMISS 2013 pp 5)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

68

O OCHA tem ainda a responsabilidade de elaborar relatoacuterios sobre a escolta militar para

o Humanitarian Country Team e cabe tambeacutem ao OCHA analisar os casos juntamente

com a JOC em especifico para o caso do Sudatildeo do Sul para que tudo corra bem Caso

haja escolta militar os humanitaacuterios devem seguir num veiacuteculo diferente dos militares

da UNMISS que identifique bem que satildeo humanitaacuterios e natildeo militares que satildeo

transportados no veiacuteculo Desta forma a populaccedilatildeo natildeo confundiraacute o pessoal

humanitaacuterio com o pessoal militar Caso haja necessidade de proteccedilatildeo num determinado

local necessidade de reparaccedilatildeo de estradas proteccedilatildeo dos bens e pessoal humanitaacuterio as

ONG devem entrar em contacto com o OCHA afim de requerer a ajuda da UNMISS

Um dos objetivos da UNMISS eacute garantir um ambiente seguro para facilitar o acesso dos

humanitaacuterios aos locais para que estes consigam prestar apoio agrave populaccedilatildeo A UNMISS

natildeo deve usar as instalaccedilotildees humanitaacuterias e vice-versa no entanto em caso de urgente

necessidade deve tal ser analisado caso a caso pelo OCHA ponderando sobre as

instalaccedilotildees disponiacuteveis urgecircncia capacidade e prioridades O mesmo vale para a

evacuaccedilatildeo de pessoal meacutedico e humanitaacuterios em caso de elevada emergecircncia (HCT e

UNMISS 2013 pp 4)

Outro assunto relevante tratado neste guia eacute a partilha de informaccedilatildeo entre os elementos

da UNMISS e os humanitaacuterios pois estes dois elementos devem e tecircm de partilhar

muita informaccedilatildeo de forma atempada e eficiente para coordenar as respetivas

atividades As informaccedilotildees que devem ser partilhadas satildeo as seguintes

bull Informaccedilotildees sobre o tipo de assistecircncia e atividades humanitaacuterias estatildeo a

planear eou vatildeo realizar

bull Informaccedilotildees sobre atividades da UNMISS relevantes para os atores

humanitaacuterios como por exemplo sobre ameaccedilas e seguranccedila do pessoal humanitaacuterio ou

da UNMISS no terreno ou sobre ameaccedilas aos civis

bull Informaccedilotildees sobre atividades mineiras aacutereas minadas e locais com minas por

explodir As viacutetimas e a populaccedilatildeo em geral deveratildeo ser informadas e educadas para os

riscos inerentes (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

No entanto existem informaccedilotildees confidenciais que natildeo deveratildeo em momento algum

ser partilhadas tanto com o pessoal humanitaacuterio como com a UNMISS informaccedilotildees que

podem comprometer a identidade da viacutetima expondo assim o individuo ou um grupo de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

69

indiviacuteduos a um potencial risco principalmente se a viacutetima tiver sofrido crimes contra

os Direitos Humanos (HCT e UNMISS 2013 pp)

Este guia deve ser estudado de forma a que seja aplicado corretamente e os princiacutepios

da UNMISS e dos humanitaacuterios respeitados no terreno evitando potenciais conflitos A

UNMISS ficou incumbida de formar a comunidade humanitaacuteria relativamente ao seu

mandato trabalho e objetivos no terreno em conjunto com o OCHA que representa as

organizaccedilotildees humanitaacuterias e a sua relaccedilatildeo com a UNMISS Eacute ainda recomendado o

treino de ambos para os Direitos Humanos proteccedilatildeo de civis e o Direito Internacional

Humanitaacuterio (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

O CR (conciliation resources) e o ARP (applied research program) satildeo duas partes

funcionais da missatildeo que apoiam as organizaccedilotildees humanitaacuterias fornecendo apoio a niacutevel

de logiacutestica seguranccedila proteccedilatildeo da populaccedilatildeo relocaccedilatildeo do pessoal humanitaacuterio bem

como os deslocados internamente dando informaccedilotildees relativamente aos locais mais

seguros para se reinstalarem e caso necessaacuterio protegendo a instalaccedilatildeo onde residem os

deslocados internamente refugiados e humanitaacuterios Esta coexistecircncia entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias natildeo tem vindo a revelar-se eficaz no contexto do Sudatildeo do

Sul pois os humanitaacuterios embora consigam trabalhar e deslocar-se para certos locais

perigosos o que sem o apoio da UNMISS natildeo seria possiacutevel a UNMISS natildeo foi capaz

de assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios em 2016 aquando do ataque No entanto e

como jaacute foi referido anteriormente esta colaboraccedilatildeo deve ser realizada para casos

pontuais tendo de ser pedida a autorizaccedilatildeo ao OCHA e em uacuteltimo recurso atraveacutes de

projetos de curto impacto (UNMISS 2017 e HCT UNMISS 2013)

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos

humanitaacuterios

Agrave luz da anaacutelise do caso do Sudatildeo do Sul a questatildeo que se levanta neste subtema eacute

essencialmente a de apurar qual o recurso que deve ser usado pelas organizaccedilotildees

humanitaacuterias em situaccedilatildeo de elevado perigo em que o acesso ao local em que a

populaccedilatildeo estaacute a enfrentar grandes necessidades pode representar perigo de vida

precisando assim de uma proteccedilatildeoescolta militar para realizar o trajeto ao local Eacute

preciso desde jaacute dizer que ambas as opccedilotildees tecircm pontos positivos e negativos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

70

O recurso aos peacekeepers pode ser visto como a melhor opccedilatildeo possiacutevel pois

partilham os valores essenciais com os humanitaacuterios salvar vidas e a imparcialidade

No entanto tecircm sido acusados de natildeo agirem atempadamente face agraves ameaccedilas e ataques

perpetrados sobre humanitaacuterios ou seja de falharem a sua missatildeo de garantir a proteccedilatildeo

aos humanitaacuterios que faz parte da sua missatildeo e consta do guia elaborado para a

coexistecircncia no terreno Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors

and the United Nations Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) Em 2016

houve o jaacute referido ataque no Sudatildeo do Sul a humanitaacuterios que natildeo haviam sido

avisados do perigo eminente nem apareceram militares a garantir a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo e dos humanitaacuterios Ou seja eacute possiacutevel concluir que a proteccedilatildeo fornecida

pela UNMISS natildeo eacute a mais eficaz no terreno devido agraves fragilidades que a proacutepria

missatildeo tem vindo a sentir no terreno (Adongo 2017 Grant 2016)

No entanto parece que este caso algo mediatizado acordou a comunidade

internacional Consta no artigo da UNMISS Humanitarian Aid Restored In Aburoc

Folloing Deployment of UNMISS Peacekeepers (Adongo 2017) que soacute foi possiacutevel as

ONG OING e OIG humanitaacuterias regressaram para fornecer ajuda humanitaacuteria em

Malakal devido ao desdobramento dos peacekeepers para a regiatildeo de Aburoc Upper

Nile regiatildeo que as agecircncias humanitaacuterias haviam abandonado devido agrave elevada

inseguranccedila O que confirma o que foi dito ao longo da dissertaccedilatildeo sem seguranccedila no

Sudatildeo do Sul os humanitaacuterios natildeo conseguem operar no terreno tendo de terminar a

missatildeo caso contraacuterio seria colocar as suas vidas em risco (Adongo 2017 e Grant

2016)

Estima-se que durante o recente conflito que levou as agecircncias humanitaacuterias a sair do

local tenha havido 20 000 deslocados internos a fugir ficando sem abrigo Com o

regresso das agecircncias humanitaacuterias foi possiacutevel dar abrigo a 4200 famiacutelias dos campos

de refugiados Outras agecircncias tecircm fornecido ajuda humanitaacuteria mais urgente como

aacutegua potaacutevel que eacute escassa e de difiacutecil acesso sendo necessaacuterios militares peacekeepers

para proteger os principais postos de abastecimento de aacutegua O chefe de campo da

UNMISS em Malakal Hazel de Wet levou a sua equipa a inspecionar o desdobramento

das tropas em Aburoc e a equipa comprometeu-se tambeacutem com as autoridades locais no

terreno relativamente agrave estrateacutegia de apoio agrave assistecircncia humanitaacuteria sendo neste

momento a prioridade dos peacekeepers garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e o seu

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

71

acesso de modo a que a assistecircncia humanitaacuteria chegue a todos A UNMISS reconhece

que eacute essencial fazer com que a assistecircncia humanitaacuteria chegue agrave populaccedilatildeo em

necessidade urgente de comida aacutegua mantimentos e abrigo Soacute fornecendo assistecircncia

humanitaacuteria suprindo as necessidades baacutesicas eacute que eacute possiacutevel resolver os problemas

poliacuteticos tornar a paz duradoura e pensar no desenvolvimento Mas para conseguir esta

harmonia eacute essencial que as operaccedilotildees de peacekeeping se tornem efetivamente mais

ldquomusculadasrdquo como referido por Pinto (2005) para fazer face agraves novas realidades e

adversidades encontradas no terreno Natildeo basta a presenccedila militar tecircm de conseguir

garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios (Adongo 2017)

Os humanitaacuterios tecircm manifestado preferecircncia pelo menos no que diz respeito ao caso

do Sudatildeo do Sul pela escoltaproteccedilatildeo militar fornecida pela UNMISS sendo que se

estabeleceu um guia de cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS conforme referido

acima Este guia eacute um dos motivos para a preferecircncia pelos peacekeepers para a escolta

e proteccedilatildeo pois os humanitaacuterios e militares sabem como agir em que circunstacircncias

conceder e pedir essa proteccedilatildeo e quando deve terminar essa cooperaccedilatildeo no terreno Tal

natildeo existe nas agecircncias militares privadas jaacute que uma vez contratadas o viacutenculo

permanece ateacute ao fim da missatildeo ou contrato e pode haver problemas no terreno entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias e agecircncias militares privadas que poderatildeo representar

problemas seacuterios acresce que os humanitaacuterios natildeo estatildeo preparados para coordenar e

liderar este tipo de agecircncias Ao inveacutes no caso da proteccedilatildeoescolta garantida pela

UNMISS as ONG OING e OIG podem caso a cooperaccedilatildeo natildeo esteja a ser bem-

sucedida reportar a sua insatisfaccedilatildeo e levar a que sejam averiguados os motivos Tal

aconteceu com o ataque aos humanitaacuterios jaacute referido anteriormente A UNMISS foi

questionada e foi feita uma averiguaccedilatildeo pelo Conselho de Seguranccedila para verificar se

houve de facto negligecircncia por parte dos militares Com as agecircncias militares privadas

tal natildeo eacute possiacutevel conforme foi mencionado estes militares tecircm carta branca no terreno

Logo existe mais seguranccedila em cooperar com a UNMISS (HCT e UNMISS 2013 UN

2017d)

Eacute por este motivo que ainda se verifica uma certa resistecircncia por parte de algumas ONG

e OING a recrutar agecircncias militares privadas No entanto e devido agrave necessidade de

celeridade para obter a proteccedilatildeo o recrutamento tem vindo a aumentar no terreno Eacute

neste ponto que as agecircncias militares privadas apresentam vantagens jaacute que natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

72

existem problemas a niacutevel burocraacutetico o que permite partir mais cedo para o terreno e

satildeo mais baratas no caso de serem as agecircncias das NU como a UNICEF e o ACNUR

entre outros a contratar Jaacute o processo de pedido de proteccedilatildeo e escolta militar agrave

UNMISS eacute muito moroso natildeo fazendo face ao problema no imediato (Newton sd)

Estas agecircncias podem ainda garantir que as organizaccedilotildees humanitaacuterias mantecircm a sua

independecircncia relativamente ao Estado neutralidade quanto ao conflito e

imparcialidade no tratamento das pessoas Todavia antes da contrataccedilatildeo deveria ser

requerido o cadastro criminal se existir e se possiacutevel para avaliar se existe algum

antecedente problemaacutetico como por exemplo algum incidente de racismo enquanto

militar no ativo para que haja uma seleccedilatildeo rigorosa das agecircncias a recrutar e dos

militares que integram essa mesma agecircncia desta forma o risco de contratar militares

que tenham cometido atos criminosos e racistas no terreno satildeo menores logo seraacute

menor o risco de haver problemas no terreno (Newton sd Michael et al 2014)

Ou seja as agecircncias militares privadas podem ser uma ajuda fundamental no caso do

Sudatildeo do Sul para a seguranccedila e proteccedilatildeo de ONG OING OIG campos de refugiados

e de deslocados internamente Mas tambeacutem podem ser uma boa alavanca para a

pacificaccedilatildeo do territoacuterio ou seja uma ajuda para a UNMISS e custam menos recursos

financeiros que contratar e solicitar aos Estados mais militares para integrar a missatildeo de

peacekeeping (Newton sd)

Neste momento a melhor opccedilatildeo eacute a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as organizaccedilotildees

humanitaacuterias pois jaacute existe um guia intitulado de que explica em que circunstacircncias

quanto tempo e como deve ser feito pedido de ajuda e a proteccedilatildeoescolta concretizada

Ou seja existem regras a cumprir medidas de prevenccedilatildeo para que natildeo haja choque

entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS no terreno e como deve ser feita a distinccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares Para as agecircncias militares privadas natildeo existem regras de accedilatildeo

conduta ou execuccedilatildeo das suas funccedilotildees tornando a sua presenccedila no terreno um perigo

devido ao vazio legal embora seja mais barato e mais raacutepido em termos de burocracia

contratar estas agecircncias Os militares das agecircncias militares privadas devem ainda estar

devidamente identificados no terreno de forma a que natildeo suscitem confusotildees com os

militares das operaccedilotildees de peacekeeping (Stoddard Harmer e DiDomenico 2008

Newton sd Michael et al 2014 HCT e UNMISS 2012)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

73

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas

Enquanto o Sudatildeo do Sul estiver a atravessar momentos de grande instabilidade poliacutetica

e um conflito armado de grande inseguranccedila e perigo para os civis refugiados e

deslocados internamente natildeo existe uma alternativa viaacutevel para este caso em questatildeo O

governo do Sudatildeo do Sul natildeo consegue assegurar seguranccedila proteccedilatildeo e acesso seguro

aos humanitaacuterios a locais de grande emergecircncia humanitaacuteria locais onde natildeo existe

aacutegua potaacutevel existe falta de comida medicamentos abrigo e meacutedicos Um local como

este eacute difiacutecil de ser pacificado como eacute sabido a aacutegua eacute um dos principais motivos de

guerra no mundo aliando isso a conflitos eacutetnicos e poliacuteticos torna esta guerra numa

difiacutecil de acabar uma guerra endeacutemica (Kaldor 2007) Pior o governo foi acusado de

travar o acesso da ajuda humanitaacuteria a determinados locais Quando o proacuteprio Estado eacute

o perpetrador de atrocidades e nega o acesso da ajuda humanitaacuteria isto quer dizer que a

comunidade humanitaacuteria estaacute por sua conta (Harmer 2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que como pudemos verificar os peacekeepers da UNMISS natildeo

conseguem ou tecircm dificuldade em assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios o que resultou

no massacre de humanitaacuterios em 2016 e foram mesmo acusados de terem

negligenciado a sua funccedilatildeo de proteccedilatildeo estabelecida no guia de cooperaccedilatildeo entre

OCHA e as organizaccedilotildees humanitaacuterias pois natildeo avisaram sequer que existia um perigo

eminente de ataque e que deveriam por isso retirar-se do terreno Ou seja eacute possiacutevel

concluir que esta cooperaccedilatildeo natildeo tem vindo a revelar-se eficaz os acessos continuam a

ser dificultados humanitaacuterios atacados e civis em sofrimento e a viver abaixo do limiar

da dignidade humana O que coloca a seguinte questatildeo valeraacute a pena correr o risco de

colocar em causa a imparcialidade e neutralidade pela proteccedilatildeo dos peacekeepers Eacute

difiacutecil de responder pois natildeo existe um modelo perfeito como alternativa quer agraves

agecircncias militares privadas quer agrave UNMISS (Grant 2016)

Por isso uma alternativa seria talvez tornar puacuteblico o uso das agecircncias militares

privadas pela comunidade internacional estabelecer guias rigorosos de recrutamento e

realizaccedilatildeo de contratos com as NU ou organizaccedilotildees humanitaacuterias que estabeleccedilam os

limites de atuaccedilatildeo quais as funccedilotildees que devem cumprir e que regulamentam a sua

funccedilatildeo Ou seja as agecircncias militares privadas precisam de constar do Direito

Internacional Humanitaacuterio Uma vez a parte legal resolvida seraacute mais faacutecil trabalhar o

setor puacuteblico com o setor privado que engloba ONG e agecircncias militares privadas de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

74

forma a que a accedilatildeo humanitaacuteria seja realizada em seguranccedila e chegue a todos os que

necessitem dela No entanto o tornar as agecircncias privadas regulamentadas na aacuterea da

accedilatildeo humanitaacuteria poderaacute tornaacute-las um grande negoacutecio tendo como consequecircncia

prejudicar dos conflitos como garantia de trabalho para estas agecircncias Por outro lado

haveria um escrutiacutenio na hora de selecionar as agecircncias para que houvesse uma

probabilidade miacutenima destes efetuarem crimes no terreno (Newton sd Harmer 2008 e

MAcArthur 2016 HCT e UNMISS 2013)

Por uacuteltimo poderia existir ainda a opccedilatildeo de usar as missotildees de peace enforcement sob o

princiacutepio da responsabilidade de proteger como veiacuteculo para a accedilatildeo humanitaacuteria pois

neste contexto natildeo se colocariam as questotildees relativas agrave neutralidade e agrave imparcialidade

da forma usual uma vez que o mandato dos militares eacute mais vasto no que ao uso da

forccedila respeita No entanto para o caso do Sudatildeo do Sul seria difiacutecil aplicar uma

intervenccedilatildeo humanitaacuteria ao abrigo da responsabilidade de proteger e violar o princiacutepio

da natildeo ingerecircncia O Sudatildeo do Sul natildeo cumpre todos os requisitos pois natildeo eacute um

conflito armado internacional e o massacre natildeo eacute visto como um genociacutedio Existe sim

uma guerra endeacutemica tentativa de limpeza racial e crimes contra os direitos humanos

Em suma a comunidade internacional haveria de fazer mais para travar o massacre e

proteger a populaccedilatildeo e os humanitaacuterios no terreno Existe jaacute um guia de colaboraccedilatildeo

entre a UNMISS e as ONG OING e OIG mas isso apenas natildeo chega Eacute preciso fazer

mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

75

Conclusatildeo

Como foi possiacutevel constatar ao longo de toda a dissertaccedilatildeo a escolta militar eacute um tema

de extrema complexidade que coloca em causa os princiacutepios humanitaacuterios consagrados

pela Cruz Vermelha Por outro lado existe a necessidade de proteger a missatildeo

humanitaacuteria e os proacuteprios humanitaacuterios no terreno os quais como foi sendo verificado

tecircm vindo a sofrer ataques raptos e assassinatos devido agrave incapacidade ou indiferenccedila

do Estado onde estaacute a ser prestado o apoio humanitaacuterio das ONG OING e OIG A

comunidade internacional natildeo consegue operar de forma eficaz no terreno sem ter

seguranccedila e proteccedilatildeo que deveria ser dada pelo governo do Estado em causa Todavia

caso o governo natildeo tenha capacidade ou natildeo queira garantir essa proteccedilatildeo cabe agrave

comunidade internacional garantir que a populaccedilatildeo desse territoacuterio seja protegida

Uma vez que um governo natildeo assegure essa proteccedilatildeo os humanitaacuterios vecircem-se numa

situaccedilatildeo complexa respeitar os princiacutepios humanitaacuterios ou correr risco de vida Muitos

preferem como foi possiacutevel verificar ao longo da dissertaccedilatildeo correr risco de vida A

independecircncia a imparcialidade e a neutralidade satildeo muito importantes para o sucesso

das missotildees humanitaacuterias Sem independecircncia podem ver o seu acesso a determinados

locais barrados e por conseguinte natildeo tratar determinada populaccedilatildeo o que significa

perder a imparcialidade mesmo que de forma involuntaacuteria Por fim podem ser

associados a uma das partes das hostilidades e por isso perder a neutralidade aos olhos

da populaccedilatildeo local

Foram abordadas diversas formas de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios atraveacutes dos

peacekeepers por exemplo tomando como modelo um guia elaborado especificamente

para as missotildees no Sudatildeo do Sul O guia especifica quando deve ser requerida a escolta

e proteccedilatildeo quando a parceria deve acabar e em que circunstacircncias devem ser feitas a

escolta e o pedido Foram abordadas as missotildees integradas maximalistas (partilham do

mesmo mandato das NU peacekeeping e ONG OING e OIG) ou minimalistas

(UNMISS e ONG OING e OIG cooperam em conjunto pontualmente sem

interferecircncia das NU e sob supervisatildeo do OCHA) sendo que a OXFAM aceita melhor a

missatildeo integrada minimalista sob determinadas regras os princiacutepios humanitaacuterios

devem prevalecer os humanitaacuterios natildeo devem ser envolvidos em assuntos poliacuteticos e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

76

natildeo devem ser associados aos militares Este tipo de missatildeo parece ser a melhor opccedilatildeo

possiacutevel para garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios

Foi tambeacutem abordada a possibilidade de contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas

uma opccedilatildeo raacutepida isenta de burocracias e possivelmente eficaz pois natildeo tem os

mesmos constrangimentos dos peacekeepers no uso da forccedila Mas haacute o problema do

vazio legal que eacute uma espeacutecie de carta em branco para os militares destas agecircncias

poderem cometer crimes e a maior parte destas agecircncias conteacutem militares locais que o

podem fazer e natildeo serem julgados por isso Por outro lado estes militares natildeo tecircm

direito ao estatuto de combatentes de guerra nas Convenccedilotildees de Genebra

Deveria uma vez que as NU contratam este tipo de agecircncias militares privadas

regulamentar-se a atividade no seio do DIH de forma a que estas agecircncias operassem

ao abrigo da lei tendo por isso direitos e deveres a cumprir no terreno e seriam

julgados por crimes de guerra caso cometessem algum Deveria tambeacutem ser redigido e

publicado um guia onde sejam estabelecidas as regras de uma boa colaboraccedilatildeo entre as

ONG OING e OIG no terreno constando os direitos dos colaboradores das agecircncias e

seus deveres Neste caso este tipo de agecircncias poderia ser uma oacutetima ajuda aliada de

comunidade internacional e humanitaacuteria para a pacificaccedilatildeo mitigaccedilatildeo do conflito e para

suprir as necessidades mais baacutesicas da populaccedilatildeo em necessidade e sofrimento que vive

no limiar da pobreza e que vecirc os seus Direitos Humanos serem desrespeitados

Por uacuteltimo existe a possibilidade de se obter seguranccedila atraveacutes de escolta em missotildees

orientadas pela responsabilidade de proteger sob termos semelhantes aos do Guia de

colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers mas claro com a diferenccedila de que neste

caso os militares podem oferecer uma proteccedilatildeo mais eficaz pois podem fazer uso da

forccedila de forma diferente da dos peacekeepers tradicionais que soacute fazem o uso da forccedila

para autodefesa e defesa do mandato A responsabilidade de proteger tem como objetivo

principal acabar com genociacutedios os crimes contra a humanidade ou seja casos

extremos e pode fazer o uso da forccedila sem consentimento do Estado alvo da intervenccedilatildeo

Jaacute as operaccedilotildees de peacekeeping satildeo missotildees que tecircm um papel de estabilizar de

proteccedilatildeo mais ligado agrave reestruturaccedilatildeo do Estado apoiando as declaraccedilotildees de paz e o

bom decorrer das negociaccedilotildees de paz O uso da forccedila eacute mais limitado Os peacekeepers

tecircm-se revelado ineficazes na proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e alvos de criacutetica Na

responsabilidade de proteger o propoacutesito eacute proteger os civis e natildeo acompanhar o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

77

governo ou restabelecer e reconstruir o aparelho do poder por isso natildeo existe o

problema da imparcialidade como na missatildeo UNMISS por exemplo ou a sobrecarga de

responsabilidades dos militares da UNMISS

O peace enforcement ao abrigo do R2P como soluccedilatildeo para garantir a proteccedilatildeo e

seguranccedila dos humanitaacuterios deve pois ser amplamente analisado discutido e somente

decidido se as vantagens forem maiores que as desvantagens Como referido a

cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao abrigo do R2P no

Sri Lanka natildeo foi bem-sucedida Os humanitaacuterios viram o seu acesso a determinados

locais restringido e ateacute em alguns casos viram a sua permanecircncia posta em causa

tendo de terminar a sua missatildeo e regressar Ou seja deixaram de ser vistos como

neutros pelo Estado e as organizaccedilotildees humanitaacuterias que colaboraram com os militares

do peace enforcement viram-se politizados o que natildeo era suposto

A conclusatildeo que pode ser retirada eacute que natildeo existe um modelo ideal que natildeo coloque

em risco os princiacutepios humanitaacuterios em contexto de conflito para assegurar a seguranccedila

dos humanitaacuterios mas sim um modelo preferencial e outras alternativas como a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas Ou seja deveraacute ser escolhido o mal menor

logo a opccedilatildeo que menos danos cause tanto agrave comunidade humanitaacuteria como aos

proacuteprios militares e agrave missatildeo humanitaacuteria em si

Neste momento seria preferencial o modelo de cooperaccedilatildeo entre as NU as ONG

OING e OIG como foi estabelecido com a UNMISS no terreno no Sudatildeo do Sul Se se

seguir o Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United

Nations Mission in South Sudan elaborado pelas NU em conjunto com o OCHA HCT

e as ONG e OING os riscos seratildeo miacutenimos comparados com a contrataccedilatildeo de militares

de agecircncias militares privadas

Eacute verdade que existe ainda uma certa resistecircncia por parte da comunidade internacional

a optar pelas missotildees integradas se bem que existe mais resistecircncia agraves missotildees

integradas maximalistas que agraves missotildees integradas estrateacutegicas ou minimalistas visto

que as missotildees maximalistas satildeo missotildees que visam que ONG e peacekeepers operem

sob o mesmo mandato sendo assim sujeitas agrave mesma hierarquia Jaacute a missatildeo

minimalista eacute ocasional ou seja quando eacute mesmo necessaacuterio e as ONG estatildeo sob a

coordenaccedilatildeo do OCHA e HCT respeitando bem a separaccedilatildeo da comunidade

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

78

humanitaacuteria dos militares Esta eacute tambeacutem uma boa alternativa agraves agecircncias militares

privadas uma vez adotadas regras claras do padratildeo do Guia de coordenaccedilatildeo entre a

UNMISS e as ONG OING humanitaacuterias no terreno

Esta dissertaccedilatildeo focou pois o Sudatildeo do Sul que eacute um caso complexo onde os

humanitaacuterios satildeo atacados incessantemente tendo de ser tomadas providecircncias A

comunidade humanitaacuteria natildeo poderaacute por isso ser tatildeo inflexiacutevel em relaccedilatildeo ao princiacutepio

da neutralidade numa situaccedilatildeo como a do Sudatildeo do Sul Para chegar a determinados

locais eacute preciso que a seguranccedila dos humanitaacuterios seja assegurada para chegar a Juba e

Jonglei e Aburoc por exemplo locais onde a inseguranccedila prevalece e onde os

humanitaacuterios correm grande risco Os humanitaacuterios tecircm neste caso de escolher entre a

vida e salvar vidas para se manterem fieis aos princiacutepios fundamentais

A colaboraccedilatildeo com a UNMISS tem sido fulcral neste caso para que os humanitaacuterios

possam exercer a sua missatildeo em seguranccedila e respeitando os princiacutepios fundamentais no

entanto a cooperaccedilatildeo natildeo eacute bem aceite ainda na comunidade humanitaacuteria No caso do

Sudatildeo do Sul a inseguranccedila dos humanitaacuterios leva a que os bens essenciais como a

aacutegua comida e medicamentos natildeo cheguem ao local sendo estes motivos de guerra

dificultando a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Em suma a accedilatildeo humanitaacuteria eacute fulcral para a

ajuda na pacificaccedilatildeo do Sudatildeo do Sul e outros paiacuteses Deveria por isso haver uma

conferecircncia referente aos princiacutepios humanitaacuterios e agrave seguranccedila e proteccedilatildeo da

comunidade humanitaacuteria em territoacuterios de elevada inseguranccedila jaacute que o Sudatildeo do Sul

natildeo eacute exceccedilatildeo eacute um caso de ldquoEstado fragilizadordquo onde a pacificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo

natildeo seratildeo possiacuteveis tambeacutem sem o sucesso da ajuda dos humanitaacuterios e o sucesso da

ajuda humanitaacuteria no terreno soacute eacute possiacutevel se for garantida a sua proteccedilatildeo e seguranccedila

As agecircncias militares privadas devem ser a ultima opccedilatildeo na equaccedilatildeo pois apresentam

mais riscos que vantagens e as agecircncias com permissatildeo para operar pelo Estado no

Sudatildeo do Sul tecircm como colaboradores ex-combatentes de guerra o que pode ser um

grande risco no terreno Sabe-se que o conflito no Sudatildeo do Sul tem origem eacutetnica

existe um oacutedio racial colocar ex-combatentes de guerra a operar com lsquocarta brancarsquo no

terreno pode originar mais crimes e descreacutedito das ONG OING e OIG

Em suma natildeo existe uma soluccedilatildeo perfeita para garantir a proteccedilatildeo e uma escolta militar

neutra e imparcial uma vez que os militares de qualquer forccedila armada sejam do

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

79

governo da missatildeo das NU ou de outro Estado dificilmente satildeo neutros o que pode

derivar para uma falta de imparcialidade Na teoria eacute possiacutevel fazer a distinccedilatildeo entre

militar e humanitaacuterio mas no terreno haacute dificuldades As ONG e OING vivenciam por

isso um grande dilema que urge resolver

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Page 4: Ação Humanitária e Missões de Paz no Terreno: O Caso do ... Araújo.pdf · ONU Organização das Nações Unidas ONG Organização Não Governamental OING Organização Internacional

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

iv

Resumo

Na presente dissertaccedilatildeo satildeo abordados os principais problemas associados agrave escolta

militar a voluntaacuteriosprofissionais humanitaacuterios das ONG OING ou OIG A

problemaacutetica associada eacute o cumprimento por parte da comunidade humanitaacuteria dos

princiacutepios humanitaacuterios fundamentais da independecircncia neutralidade e imparcialidade

Ou seja o estudo centra-se na relaccedilatildeo entre humanitaacuterio e militar e nas consequecircncias

que podem advir daiacute como por exemplo desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves

ONG OING ou OIG queda dos donativos ataques entre outros As questotildees centrais

satildeo as seguintes Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de

vida ou correcirc-lo ao respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente

Seraacute que eacute possiacutevel encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a

seguranccedila e proteccedilatildeo dos humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma

alternativa

Satildeo tambeacutem exploradas as diversas opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno sem colocar em causa os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios Por exemplo satildeo analisadas potenciais colaboraccedilotildees e atuais

colaboraccedilotildees com as operaccedilotildees de paz de peacekeeping peacebuilding e peace

enforcement as missotildees integradas e ainda seraacute explorada a opccedilatildeo da contrataccedilatildeo das

agecircncias militares privadas

A dissertaccedilatildeo assenta tambeacutem num estudo de caso sobre o Sudatildeo do Sul onde eacute

avaliada esta relaccedilatildeo militar-humanitaacuterio no terreno Conclui-se que no Sudatildeo do Sul

eacute necessaacuteria uma maior cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares no terreno de forma a

que seja garantida a proteccedilatildeo e seguranccedila aos humanitaacuterios e por conseguinte se

permita que as organizaccedilotildees humanitaacuterias consigam realizar o seu trabalho que eacute

fundamental para a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Como seraacute possiacutevel verificar as duas

soluccedilotildees que parecem mais seguras satildeo as missotildees integradas e escolta concedida no

acircmbito de missotildees sob a responsabilidade de proteger

Palavras-chave Escolta militar princiacutepios humanitaacuterios peacekeeping peacebuilding

peace enforcement seguranccedila comunidade humanitaacuteria missotildees integradas Sudatildeo do

Sul

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

v

Abstract

In this dissertation the main problems related to the military escort to NGO volunteers

humanitarian professionals OING or OIG are addressed The associated problem is the

compliance by the humanitarian community with the fundamental humanitarian

principles of independence neutrality and impartiality That is the study focuses on the

relationship between humanitarian and military personnel and the consequences that

may arise therefrom such as distrust of the population in relation to NGOs NGOI or

IGO dropping of donations attacks among others The core questions are Is better to

respect fundamental humanitarian principles in full Is it possible to find an alternative

to the military escort to ensure security protection of the humanitarian Are private

military agencies an alternative

In other words the various options that can guarantee humanitarian safety on the

ground without undermining the fundamental humanitarian principles are explored For

example potential collaboration and current collaboration with peacekeeping

peacebuilding operations peace enforcement integrated missions and the option of

hiring private military agencies will be explored

The dissertation is also based on a case study on South Sudan where this military-

humanitarian relationship is evaluated on the ground It is concluded that in South

Sudan there is a need for greater humanitarian-military cooperation on the ground in

order to ensure the protection and security of humanitarian aid and therefore to enable

humanitarian organizations to carry out their work which is fundamental to the

pacification of the territory The two solutions that seem most viable are the integrated

missions and escort given by humanitarian personnel under the mission of the

responsibility to protect

Keywords Military escort humanitarian principles peacekeeping peacebuilding

peace enforcement safety humanitarian community integrated missions Southern

Sudan

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vi

Dedicatoacuteria

Para os meus pais que tornaram possiacutevel

realizar este sonho e agrave minha prima de

coraccedilatildeo Rosa Santos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vii

Agradecimentos

Agradeccedilo aos meus pais por todo o apoio que me transmitiram ao longo do meu

percurso acadeacutemico e todas as aprendizagens que me transmitiram ao longo da vida

Agradeccedilo aos meus amigos pelo apoio incondicional carinho e pelos bons momentos

Agradeccedilo ao meu primo e agrave sua esposa que satildeo como irmatildeos para mim por todo o

amor compreensatildeo apoio e carinho Foram fundamentais ao longo do meu percurso

acadeacutemico e na minha formaccedilatildeo enquanto pessoa

Gostava de endereccedilar um agradecimento muito especial agrave Professora Claacuteudia Ramos

por tudo o que me ensinou ao longo do meu percurso acadeacutemico todo o empenho

dedicaccedilatildeo compreensatildeo exigecircncia disponibilidade e apoio Mas sobretudo gostava de

agradecer pelo incentivo e apoio nos momentos menos bons que ocorreram ao longo do

periacuteodo de redaccedilatildeo da dissertaccedilatildeo e por ter-me feito natildeo desistir em momento algum

de terminar o meu mestrado quando os momentos que estava a atravessar eram

momentos difiacuteceis

Agradeccedilo tambeacutem ao Professor Joatildeo Casqueira ao Professor Aacutelvaro Campelo agrave

Professora Teresa Toldy e ao Professor Paulo Vila Maior pela sabedoria que

partilharam ao longo de todo o meu percurso acadeacutemico que foi pautado por excelentes

professores

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

viii

Iacutendice

Resumo iv

Abstract v

Dedicatoacuteria vi

Agradecimentos vii

Iacutendice viii

Iacutendice de Figurashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip ix

Lista de Acroacutenimos x

Introduccedilatildeo 1

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria 10

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a abordagem

humanitaacuteria 21

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding 21

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar 23

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares 28

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno 40

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 48

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso 53

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul 53

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das ONG 59

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar 62

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 69

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas 73

Conclusatildeo 75

Bibliografia 80

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ix

Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terrenohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip43

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sulhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip53

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

x

Lista de Acroacutenimos

AMI Assistecircncia Meacutedica Internacional

AMP Agecircncias Militares privadas

CAI Conflito Armado Internacional

CANI Conflito Armado Natildeo Internacional

CERF Central Emergency Response Fund

CMOC Civil Military Operation Center

DIH Direito Internacional Humanitaacuterio

DDR Desarmamento Desmobilizaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo

DSL Defense System Limited

ECHO European Civil Protection and Aid Operations

HC Humanitarian Coordinator

HCT Humanitarian Country Team

ICRC International Comittee of Red Cross

IASC Inter-Agency Standing Committee

IAP Integrated Assessment and Planning

ICISS International Commission on Intervention and State Sovereignity

JOC Joint Operations Center

MSF Meacutedicos Sem Fronteiras

NU Naccedilotildees Unidas

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

OING Organizaccedilatildeo Internacional Natildeo Governamental

OCHA United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

OCDE Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econoacutemico

OFDA Office of US Foreign and Disaster Assistance

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

PCI Projetos de curto impacto

RESG Representante Especial do Secretaacuterio Geral

RCO Resident Coordinatoracutes Office

R2P Responsibility to protect

UE Uniatildeo Europeia

UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

UNMISS United Nation Missions for South Sudan

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF United Nations Childrenrsquos Fund

WFP World Food Programme

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

1

Introduccedilatildeo

Na presente dissertaccedilatildeo iraacute ser abordada a relaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a Accedilatildeo

Securitaacuteria como garante de proteccedilatildeo e escolta aos humanitaacuterios em situaccedilotildees de

elevado perigo podendo potencialmente colocar a missatildeo humanitaacuteria em causa devido

agrave dificuldade de acesso ao terreno A resposta humanitaacuteria eacute composta por trecircs fases A

primeira eacute o fornecimento dos bens essenciais como a aacutegua abrigo e alimentaccedilatildeo A

segunda eacute a ajuda agraves viacutetimas para recuperarem os seus meios de subsistecircncia bem como

a reconstruccedilatildeo das infraestruturas sociais e materiais baacutesicas Por uacuteltimo haacute a prevenccedilatildeo

de novas cataacutestrofes Logo a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal objetivo aliviar o

sofrimento humano de forma a que a populaccedilatildeo possa viver com dignidade e se salvem

vidas A accedilatildeo humanitaacuteria divide-se nas seguintes aacutereas a ajuda ao desenvolvimento a

defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda humanitaacuteria mais urgente

(OIKOS 2015 UNRIK 2014)

Jaacute a accedilatildeo securitaacuteria nomeadamente as lsquomissotildees de pazrsquo eacute predominantemente do tipo

militar tendo regra geral de ser pedida pelo Estado que estaacute a atravessar o conflito

como foi o caso do Ruanda Somaacutelia Sudatildeo do Sul entre outros As accedilotildees securitaacuterias

ao abrigo das missotildees de paz tecircm como objetivos fornecer assistecircncia e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados que a paz possa ser estabelecida e o genociacutedio

prevenido ou interrompido Dentro da accedilatildeo securitaacuteria encontram-se as operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mais extrema o peace enforcement O peace

enforcement pode ser ativado em casos extremos e ao abrigo do princiacutepio da

responsabilidade de proteger Ainda assim os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm

de se limitar a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para fazerem respeitar os

direitos humanos violados e fornecer assistecircncia ao povo local (Gordon1996 Bellamy

e Wheeler 2006 Massingham 2009 Weiss 2017)

A questatildeo central da investigaccedilatildeo eacute portanto a articulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o

militar em paiacuteses que estejam a passar por conflitos armados Sempre que os

profissionais humanitaacuterios estejam em paiacuteses em estado de guerra ou poacutes-guerra

poderatildeo sentir dificuldades na hora de aceder a locais onde a populaccedilatildeo necessite de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

2

mais ajuda devido ao facto de natildeo terem escolta militar para esse efeito Outro

problema eacute a possibilidade de haver confusatildeo dos humanitaacuterios com os militares e por

isso a populaccedilatildeo rejeitar a ajuda das organizaccedilotildees humanitaacuterias Portanto o foco do

tema da dissertaccedilatildeo eacute identificar a importacircncia do papel dos militares para o bom

desempenho dos profissionais humanitaacuterios

Ou seja o estudo centra-se nas consequecircncias que podem advir daiacute como por exemplo

desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves ONG OING ou OIG queda dos donativos

ataques entre outros Do ponto de vista praacutetico as questotildees centrais seratildeo as seguintes

Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de vida ou correcirc-lo e

respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente Seraacute que eacute possiacutevel

encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a seguranccedila e proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma alternativa

Nesta dissertaccedilatildeo constatar-se-aacute que existe um cruzamento entre a accedilatildeo humanitaacuteria

(humanitaacuterios) e o sistema securitaacuterio (militares) sendo os atores deste uacuteltimo

normalmente os membros das operaccedilotildees de peacekeeping peace enforcement ou a

componente policial e militar do peacebuiliding podendo ainda ocorrer haver no

terreno uma forccedila militar estatal como no caso de algumas intervenccedilotildees militares como

seraacute explicitado adiante Neste uacuteltimo caso soacute mesmo em uacuteltima circunstacircncia os

humanitaacuterios aceitariam a escolta de forma a natildeo perderem a sua imparcialidade e

independecircncia

As operaccedilotildees de peacekeeping satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas

tambeacutem para a proteccedilatildeo dos civis para assistir ao desarmamento agrave desmobilizaccedilatildeo e agrave

reintegraccedilatildeo de ex-combatentes para suportar a organizaccedilatildeo de eleiccedilotildees para proteger e

promover os direitos humanos e para ajudar na construccedilatildeo de um ldquoestado de direitorsquo

(rule of law) fazendo a ponte com as operaccedilotildees de peacebuilding no terreno e sendo os

seus atores parceiros ldquonaturaisrdquo dos humanitaacuterios no terreno (UN sda UN sdb)

As razotildees pelas quais foi escolhido este tema satildeo sobretudo motivaccedilotildees pessoais mas

tambeacutem a relevacircncia do mesmo para a construccedilatildeo do saber na aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria

cooperaccedilatildeo e desenvolvimento sobretudo na parte da accedilatildeo humanitaacuteria Explorar novos

caminhos e trabalhar novos paradigmas para a evoluccedilatildeo positiva da accedilatildeo das missotildees no

terreno eacute fulcral para o futuro da accedilatildeo humanitaacuteria ndash eacute urgente encontrar novas soluccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

3

para que os humanitaacuterios e os militares possam satisfazer as necessidades das

populaccedilotildees que residam em locais de conflito

Uma articulaccedilatildeo entre os humanitaacuterios e os membros de operaccedilotildees de peacekeeping ou

peacebuilding pode revelar-se importante para o sucesso das missotildees em que os

profissionais humanitaacuterios participam sobretudo se essas missotildees forem sediadas em

locais de tensatildeo aberta ou altamente conflituosos Para aleacutem da motivaccedilatildeo pessoal

explicada existe pois uma motivaccedilatildeo social sendo ela a de colaborar para alertar os

agentes responsaacuteveis pela accedilatildeo humanitaacuteria para as novas necessidades e desafios nesta

aacuterea de forma a contribuir mais e melhor na sociedade

Os objetivos do estudo ao abordar este tema satildeo explorar a relaccedilatildeo existente ou natildeo

entre o profissional humanitaacuterio e o militar bem como entender ateacute que ponto essa

relaccedilatildeo eacute ou natildeo beneacutefica para a eficaacutecia da accedilatildeo humanitaacuteria e se porventura coloca em

causa os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios que satildeo a imparcialidade neutralidade e

independecircncia Eacute pretendido tambeacutem explorar as vaacuterias opccedilotildees de obtenccedilatildeo de

seguranccedila e identificar as melhores opccedilotildees

No entanto o objetivo central eacute explorar as dinacircmicas de articulaccedilatildeo entre o

humanitaacuterio e o militar em missotildees humanitaacuterias nas suas diversas formas quer com a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas quer com o apoio dos peacekeepers ou

forccedilas militares do paiacutes que estaacute sob a ajuda humanitaacuteria e a accedilatildeo militar Dado o cariz

do mestrado em Accedilatildeo Humanitaacuteria que visa formar tambeacutem para a praacutetica de terreno

este objetivo afigura-se fundamental

O paradigma investigativo escolhido para a dissertaccedilatildeo eacute o qualitativo que assenta na

interpretaccedilatildeo de determinados fenoacutemenos de modo a construir uma nova visatildeo acerca

do tema de estudo A parte empiacuterica da dissertaccedilatildeo conta com um estudo de caso sobre

o Sudatildeo do Sul onde eacute analisada a interaccedilatildeoarticulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o militar

no terreno com recurso a anaacutelise bibliograacutefica e documental nomeadamente a anaacutelise

de um guia sobre missotildees integradas elaborado pela OXFAM que eacute o UN Integrated

Missions and Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations

Integrated Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) Conta tambeacutem com a

anaacutelise de um documento importante para o estudo do caso do Sudatildeo do Sul que eacute o

Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United Nations

Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) elaborado pelas Naccedilotildees Unidas (NU)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

4

em conjunto com ONG OING e OIG Este eacute um guia que iraacute explicar como deve ser

feita a cooperaccedilatildeo entre a comunidade humanitaacuteria e os peacekeepers no terreno

denominada tambeacutem de missatildeo integrada (minimalista ou maximalista conforme se

explicaraacute)

O motivo da escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso foi o facto de este ser um

Estado de elevada fragilidade onde a guerra civil natildeo aparenta ter um fim agrave vista Outro

motivo foi o nuacutemero crescente de humanitaacuterios atacados sequestrados e assassinados

no terreno o que torna o Sudatildeo do Sul um terreno perigoso para as ONG e OIG se

aventurarem sem que sejam garantidas as devidas condiccedilotildees de seguranccedila e proteccedilatildeo

dos humanitaacuterios O cerne da questatildeo eacute precisamente o facto de essa proteccedilatildeo e

seguranccedila natildeo serem garantidas no terreno pelo Estado que estaacute em conflito armado

natildeo sendo possiacutevel por vezes aos humanitaacuterios chegar a determinados locais por

elevado niacutevel de perigo de vida

Satildeo estes os motivos que justificaram a escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso

complementando assim a parte teoacuterica sobre o dilema dos princiacutepios humanitaacuterios e a

necessidade de proteccedilatildeo no terreno

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

5

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria nasceu com Henri Dunant tendo sido este a criar a Cruz Vermelha

apoacutes a batalha violenta de Solferino em 1859 Teraacute entatildeo uma estrutura composta de

associaccedilotildees pequenas adquirindo uma dimensatildeo sem-fronteiras Comeccedilou por ser

denominada de Comiteacute International de Secours aux Blesseacutes e em 1875 obteve o nome

pela qual eacute conhecida hoje Cruz Vermelha ou Croix Rouge Tinha como principal

objetivo tratar os prisioneiros e feridos de guerra independentemente do lado pelo qual

lutavam Ou seja Dunan apoacutes assistir aos horrores daquela batalha decidiu criar uma

organizaccedilatildeo que tratasse todos os feridos independentemente da raccedila religiatildeo

ideologia cor crenccedila ou etnia (Schaumoff 2011 Crisp 2008)

A Cruz Vermelha comeccedilou por basear-se em trecircs pilares fundamentais que satildeo a

neutralidade a independecircncia da organizaccedilatildeo permanente de socorros e uma convenccedilatildeo

internacional para a proteccedilatildeo dos feridos A accedilatildeo humanitaacuteria tinha e tem como

principal objetivo alivar o sofrimento restabelecer a dignidade e humanidade Estes trecircs

pilares foram rapidamente adotados pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias (Schaumoff

2011 Crisp 2008 Hammond 2015) Em 1965 em Viena a Cruz Vermelha proclamou

os seus sete princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

Independecircncia todas as ONG e OIG devem ser independentes relativamente a qualquer

instituiccedilatildeo Estado ou outro sistema governamental a fim de se poderem movimentar e

agir de acordo com os seus princiacutepios e natildeo sob pressatildeo da entidade da qual dependem

monetariamente ou securitariamente Ou seja a accedilatildeo humanitaacuteria deve ser praticada de

forma autoacutenoma e independente dos agentes poliacuteticos e militares (Hisamoto 2012

IFRCC sd)

Imparcialidade todos devem ser tratados de igual forma independentemente da tribo

etnia da cor do sexo da religiatildeo de ideologia poliacutetica e do geacutenero (IFRCC sd CVP

2017a)

Neutralidade as OIG e ONG devem abster-se de tomar parte em hostilidades ou em

controveacutersias de ordem poliacutetica racial filosoacutefica ou religiosa (IFRCC sd CVP

2017a)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

6

Humanidade este princiacutepio estabelece que todos os feridos devem ser auxiliados dentro

e fora do campo de batalha o sofrimento deve ser aliviado independentemente das

circunstacircncias a vida e a sauacutede devem ser protegidas deve ser promovido o respeito

pela pessoa humana e deve ser favorecida a compreensatildeo a cooperaccedilatildeo e a paz

duradoura entre os povos (IFRCC sd CVP 2017a)

Voluntariado todas as OIG e ONG devem agir de forma voluntaacuteria e desinteressada

(IFRCC sd CVP 2017a)

Unidade a Cruz Vermelha eacute uma soacute podendo em cada paiacutes existir somente sociedades

abertas a todos estendendo assim a sua accedilatildeo humanitaacuteria a todo o territoacuterio nacional

No entanto este princiacutepio eacute estendiacutevel a toda a comunidade humanitaacuteria que deve agir

como uma soacute entreajudando-se e cumprindo o dever de salvar vidas e aliviar o

sofrimento humano (IFRCC sd CVP 2017a)

Universalidade a Cruz Vermelha eacute uma instituiccedilatildeo com cariz universal no seio de

todas as Sociedades Nacionais todas tecircm direitos e deveres iguais de entreajuda o

mesmo princiacutepio vale para as restantes organizaccedilotildees intergovernamentais ou natildeo

governamentais (IFRCC sd CVP 2017a)

Em 1949 foram criadas as Quatro Convenccedilotildees de Genebra e posteriormente os

respetivos protocolos que satildeo de 1977 e satildeo a base do Direito Internacional

Humanitaacuterio onde eacute determinado o tratamento dos soldados e civis durante os conflitos

armados internacionais e natildeo internacionais (CVP 2017b Jurkowski 2017)

A primeira Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos e dos doentes das

Forccedilas Armadas em campanha Aqui eacute estabelecido como devem ser tratados os feridos

e doentes das forccedilas armadas respeitando sempre os princiacutepios fundamentais mais

importantes da accedilatildeo humanitaacuteria que satildeo a neutralidade e imparcialidade Ou seja todo

o doente ou ferido deve ser tratado independentemente da sua cor raccedila credo feacute

religiatildeo geacutenero ideologias poliacuteticas etnias e quer faccedila parte de uma ou outra parte das

hostilidades (ICRC 1949 CVP 2017b Jurkowski 2017)

A segunda Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos doentes e

naacuteufragos das Forccedilas Armadas no mar Eacute aqui estabelecido o tipo de tratamentos que os

feridos doentes e naacuteufragos das forccedilas armadas devem obter e os direitos que lhes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

7

assistem Todos os feridos devem ser assistidos independentemente da religiatildeo crenccedila

feacute religiatildeo ideologias poliacuteticas e quer faccedilam parte de uma ou da outra parte das

hostilidades Caso os humanitaacuterios estejam perante dois feridos e tenham de escolher

devem assistir o ferido que teraacute mais probabilidades de sobreviver natildeo devendo fazer a

escolha com base na nacionalidade faccedilatildeo partidaacuteria crenccedila religiatildeo feacute cor entre

outros Todas as organizaccedilotildees humanitaacuterias e todos os humanitaacuterios devem pois reger-

se pelos princiacutepios da neutralidade e imparcialidade mas tambeacutem humanidade e

independecircncia (ICRC 1949 CVPb 2017)

A terceira Convenccedilatildeo diz respeito ao tratamento dos prisioneiros de guerra Todos os

prisioneiros de guerra devem ser tratados com dignidade e devem ver os seus direitos

consagrados no direito internacional humanitaacuterio respeitados como o acesso a

assistecircncia meacutedica em caso de necessidade a proteccedilatildeo dos seus pertences que natildeo

devem ser alvo de pilhagem e a garantia de um miacutenimo de condiccedilotildees na cela que

permita ao prisioneiro viver com dignidade Natildeo devem ainda ser alvo de torturas

privados de visitas e de um advogado e devem ainda ter acesso a um julgamento

imparcial Em caso de morte o corpo natildeo pode ser profanado e deve ser devolvido agrave

famiacutelia uma vez feito o reconhecimento (ICRC 1949 CVP 2017b)

A quarta Convenccedilatildeo diz respeito agrave proteccedilatildeo de civis em tempo de guerra Nesta

convenccedilatildeo eacute feita a distinccedilatildeo entre os conflitos armados internacionais e os conflitos

armados natildeo internacionais pois a proteccedilatildeo dada aos civis em tempo de conflito a

niacutevel do direito internacional humanitaacuterio eacute diferente Se no caso de um CAI (Conflito

Armado Internacional) os civis e prisioneiros de guerra estatildeo protegidos pelo Direito

Internacional Humanitaacuterio e pelas Convenccedilotildees de Genebra ratificadas por quase todos

os Estados do mundo a verdade eacute que caso o conflito natildeo seja internacional a proteccedilatildeo

dos civis e prisioneiros de guerra eacute colocada em causa O Direito Internacional

Humanitaacuterio natildeo tem legitimidade para atuar em caso de CANI (Conflito Armado Natildeo

Internacional) Logo em caso de CANI os civis e prisioneiros de guerra ficam

entregues agrave sua sorte No entanto eacute possiacutevel contornar este problema recorrendo aos

protocolos adicionais I e II O problema aqui reside no facto de poucos Estados terem

ratificado os protocolos adicionais o que deixa os civis e prisioneiros de guerra numa

posiccedilatildeo delicada em contexto de CAN Outro problema eacute ainda determinar quando eacute

que podemos classificar um conflito armado como sendo internacional ou natildeo Esta eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

8

uma aacuterea complicada e que leva a algumas duacutevidas quanto agrave classificaccedilatildeo do conflito

(Jurkowski 2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional I vem pois fazer a distinccedilatildeo entre os conflitos armados

internacionais e natildeo internacionais e o protocolo adicional II vem fazer algumas

modificaccedilotildees e especificar como devem ser tratados os feridos doentes e prisioneiros de

guerra em cada um dos casos Foram celebrados a 8 de agosto de 1977 (Jurkowski

2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional III celebrado a 8 de dezembro de 2005 vem formalizar o terceiro

emblema do movimento ldquoO Cristal Vermelhordquo Este novo emblema apresenta-se na

forma de um losango inserido dentro de uma moldura vermelha sob fundo branco A

ideia da construccedilatildeo de um novo siacutembolo surgiu com a necessidade de encontrar uma

alternativa agrave cruz e ao crescente que satildeo muitas vezes percecionadas como tendo

conotaccedilotildees religiosas culturais e poliacuteticas o que levava ao desrespeito do emblema dos

humanitaacuterios e das viacutetimas Com o novo emblema denominado de Cristal Vermelho e

com a assinatura do acordo entre o Crescente Vermelho da Palestina e a Magen David

Adom (mais conhecida por estrela de David) a 28 de novembro de 2005 foram

definidos aspetos logiacutesticos no desenvolvimento das operaccedilotildees humanitaacuterias Este

acordo contribuiu para a adoccedilatildeo do III protocolo adicional e para que terminasse um

longo processo diplomaacutetico (CVPb 2017 CVP 2017c ICRC 1949)

Com o aumento do nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento

de conflitos que necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido pela Cruz

Vermelha em 1994 o coacutedigo de conduta humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se

comprometeriam a respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios principalmente os

princiacutepios da neutralidade imparcialidade e independecircncia Este coacutedigo foi assinado por

140 agecircncias de forma a assegurar que os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios fossem

assegurados no terreno (Makintosh 2000 Hammond 2015)

Podemos constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal missatildeo aliviar o

sofrimento humano e devolver dignidade agrave vida das pessoas com necessidades que

devem ser urgentemente apaziguadas Esta ajuda humanitaacuteria deve ter como principal

fim o solidaacuterio e nunca fins lucrativos ou segundas intenccedilotildees como poliacuteticas por

exemplo Os seus valores tecircm origem eacutetico-religiosa cristatilde quanto ao amor ao proacuteximo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

9

no princiacutepio da solidariedade e da caridade bem como no humanitarismo Eacute tambeacutem

estabelecido neste protocolo que a Cruz Vermelha deve estar bem identificada e que

nenhuma instituiccedilatildeoorganizaccedilatildeo humanitaacuteria e religiosa deve ser atacada pois se trata

de entidades imparciais e neutras (Jurkowski 2017 Hammond 2015)

Os princiacutepios humanitaacuterios definem as regras de accedilatildeo no terreno na hora de oferecer

ajuda humanitaacuteria devendo sempre respeitar os referidos sete princiacutepios humanitaacuterios

proclamados em Viena em 1965 pela Cruz Vermelha Os humanitaacuterios devem ainda

manter-se neutros face agraves hostilidades e natildeo devem ser associados implicados ou ter

uma participaccedilatildeo poliacutetica no terreno de forma a natildeo colocar a vida da populaccedilatildeo em

risco e a populaccedilatildeo natildeo recear pedir ajuda Devem tambeacutem manter-se imparciais

quanto ao tratamento das pessoas sendo por isso a independecircncia fulcral que soacute eacute

conseguida mantendo-se neutros (Jurkowski 2017 Crisp 2008 Hammond 2015)

O humanitaacuterio ou a organizaccedilatildeo humanitaacuteria tecircm tambeacutem o dever de denunciar abusos

aos direitos humanos No entanto muitos natildeo o fazem sob medo de ao denunciarem o

Estado denunciado os encarar como tomando um dos lados das hostilidades existentes e

de por isso lhes ser retirada a permissatildeo para permanecerem no terreno ou serem alvos

de ataques entre outros Os Meacutedicos sem Fronteiras por exemplo jaacute encararam este

tipo de problemas e a poliacutetica da organizaccedilatildeo eacute denunciar mesmo que isso signifique ter

de fazer as malas e abandonar o terreno Natildeo denunciar seria cooperar e permitir a

violaccedilatildeo dos direitos humanos ndash este eacute chamado o ldquoprinciacutepio da ingerecircncia

humanitaacuteriardquo Tal significa que o humanitaacuterio deve denunciar os crimes contra os

Direitos Humanos independentemente das consequecircncias (Terry 2002 Hisamoto

2012)

Apoacutes a criaccedilatildeo da Cruz Vermelha vaacuterias organizaccedilotildees internacionais governamentais e

natildeo-governamentais foram surgindo para fornecer ajuda humanitaacuteria aos paiacuteses em

conflito e de extrema pobreza No plano das natildeo governamentais encontramos

organizaccedilotildees como a AMI a OXFAM ou a Caacuteritas A niacutevel intergovernamental a ONU

abriu um escritoacuterio denominado OCHA (United Nations Office for the Coordination of

Humanitarian Affairs) para a coordenaccedilatildeo dos assuntos humanitaacuterios a OCDE tambeacutem

se dedica a esta causa bem como a UE atraveacutes do ECHO (European Civil Protection

and Humanitarian Aid Operations) (Philippe et al 2007)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

10

Podemos entatildeo constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria eacute uma atuaccedilatildeo no terreno de cariz

puramente solidaacuterio e humanitaacuterio que tem como principal objetivo aliviar o sofrimento

humano fornecendo os meios essenciais de subsistecircncia apoio meacutedico e psicoloacutegico

bem como abrigo proteccedilatildeo e apoio legal em caso de a viacutetima ter sido alvo de violaccedilatildeo

dos seus Direitos Humanos Esta atuaccedilatildeo eacute realizada por ONG OING e OIG (Bellamy e

Wheeler 2006)

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute composta por diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sendo a ajuda

humanitaacuteria em contexto de conflito e a defesa dos direitos humanos as aacutereas que iratildeo

ser mais aprofundadas nesta dissertaccedilatildeo As aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo pois a ajuda ao

desenvolvimento a defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda

humanitaacuteria mais urgente A ajuda urgente eacute a mais oacutebvia mas os humanitaacuterios

colaboram tambeacutem no terreno com missotildees orientadas para outros fins e com prazos

mais longos Cada uma dessas aacutereas dentro da ajuda humanitaacuteria requer uma estrateacutegia

diferente de accedilatildeo e cuidados a ter com os proacuteprios humanitaacuterios que satildeo muitas vezes

alvo de sequestros atentados e homiciacutedio Por exemplo a ajuda humanitaacuteria em

contexto de conflito requer uma maior preparaccedilatildeo por parte dos humanitaacuterios para o

terreno onde vatildeo atuar requer um estabelecimento de mecanismos de seguranccedila

detalhados como por exemplo mapear onde estatildeo localizados onde cada grupo da sua

equipa estaacute a operar em determinado momento assegurar meios de telecomunicaccedilatildeo

fiaacuteveis como a raacutedio para que todos os elementos do grupo estejam contactaacuteveis pela

base onde estaacute sediada a organizaccedilatildeo (Ryfman 2007)

Jaacute a aacuterea de ajuda ao desenvolvimento tem como principal foco a erradicaccedilatildeo da

pobreza a niacutevel mundial Essa ajuda eacute fornecida por organizaccedilotildees de paiacuteses

desenvolvidos ou organizaccedilotildees intergovernamentais como a ONU Este objetivo adveacutem

da parceria entre Estados desenvolvidos e em vias de desenvolvimento tendo tido um

marco fundamental na Declaraccedilatildeo do Mileacutenio assinada por 189 Estados em setembro

de 2000 Esta Declaraccedilatildeo do Mileacutenio foi adotada na resoluccedilatildeo ARES552 da

Assembleia Geral das NU Nela ficaram estabelecidos os princiacutepios fundamentais a

serem adotados por todos os Estados Membros que a tenham ratificado A menccedilatildeo

destes princiacutepios iraacute clarificar o conceito da accedilatildeo humanitaacuteria e fazer entender que

certos princiacutepios satildeo negados agraves populaccedilotildees de Estados fragilizados em conflito ou em

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

11

vias de desenvolvimento e que ainda eacute necessaacuterio percorrer um longo caminho na aacuterea

da accedilatildeo humanitaacuteria que neste momento se revela difiacutecil devido agrave inseguranccedila em

determinados terrenos Esses princiacutepios satildeo

Liberdade Todos independentemente do geacutenero devem ter o direito de viver em

dignidade e criar os seus filhos em dignidade livres da fome do medo e da violecircncia

opressatildeo ou injusticcedila Os governos devem ser democraacuteticos e participativos baseados

na vontade do povo

Igualdade nenhum individuo ou naccedilatildeo deve ver a oportunidade de beneficiar do

desenvolvimento negada Os direitos e oportunidades devem ser iguais para todos

Solidariedade Desafios globais devem ser geridos de forma a que os custos e benefiacutecios

sejam distribuiacutedos de forma justa com base no princiacutepio da equidade e justiccedila social

Aqueles que sofrem ou que beneficiam menos merecem a ajuda dos que satildeo mais

beneficiados

Toleracircncia Todo o ser humano deve respeitar-se mutuamente em toda a sua diversidade

de crenccedila cultura e linguagem A diferenccedila na e entre a sociedade natildeo devem ser

temidas ou reprimidas devem antes ser preservadas como um bem precioso da

humanidade Por uacuteltimo deve ser promovida uma cultura de paz e dialogo entre todas

as civilizaccedilotildees

Respeito pela natureza Deve haver prudecircncia na gestatildeo de todas as espeacutecies existentes

e recursos naturais de acordo com a perceccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel A

riqueza da natureza e diversidade de espeacutecies legada pelos nossos antepassados deve ser

preservada para a manutenccedilatildeo do equilibro do meio ambiente no presente e para os

nossos descendentes no futuro O padratildeo de consumismo e constante destruiccedilatildeo da

natureza deve ser mudado

Responsabilidade partilhada A responsabilidade de gerir mundialmente o niacutevel

econoacutemico e o desenvolvimento social bem como ameaccedilas agrave paz internacional e

seguranccedila deve ser partilhada entre naccedilotildees do mundo e deve ser exercida

multilateralmente As NU devem por isso como organizaccedilatildeo mundial de maior

influecircncia ter um papel central nesta questatildeo (UN 2000 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

12

Com base nestes princiacutepios foram estabelecidos os objetivos de desenvolvimento do

mileacutenio e posteriormente em 2015 os 17 objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel

que satildeo 1) Erradicar a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares 2)

Acabar com a fome conseguir seguranccedila alimentar melhorar a nutriccedilatildeo e a promoccedilatildeo

de uma agricultura sustentaacutevel 3) Assegurar uma vida saudaacutevel e promover o bem-estar

para todos em todas as idades 4) Assegurar uma educaccedilatildeo que privilegie a inclusatildeo de

todos que seja equitativa e de qualidade e que promova diversas oportunidades de

aprendizagem ao longo da vida e para todos 5) Alcanccedilar a igualdade de geacutenero

conceder autonomia agraves mulheres 6) Assegurar uma gestatildeo sustentaacutevel da aacutegua e

saneamento e a garantir que toda a populaccedilatildeo tenha acesso agrave aacutegua 7) garantir a todos o

acesso sustentaacutevel e confiaacutevel agrave energia 8) promover o crescimento econoacutemico

sustentado inclusivo e sustentaacutevel emprego pleno e produtivo bem como trabalho

decente para todos 9) Construir infraestruturas resistentes promover a industrializaccedilatildeo

sustentaacutevel de forma a fomentar a inovaccedilatildeo 10) Reduzir as desigualdades no seio do

Estado e entre Estados 11) Tornar as cidades e o patrimoacutenio humano mais inclusivos

seguros resistentes e sustentaacuteveis 12) Assegurar padrotildees de produccedilatildeo e de consumo

sustentaacuteveis 13) Combater as alteraccedilotildees climaacuteticas de forma a diminuir o risco do seu

impacto no nosso planeta 14) Promover o uso sustentaacutevel dos oceanos dos mares e dos

recursos marinhos para um desenvolvimento sustentaacutevel 15) Proteger recuperar e

promover o uso sustentaacutevel dos ecossistemas terrestres gerir de forma sustentaacutevel as

florestas e combater a desertificaccedilatildeo deter e reverter a degradaccedilatildeo da terra e deter a

perda de biodiversidade 16) Promover sociedades paciacuteficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentaacutevel proporcionar o acesso agrave justiccedila com base na igualdade e

equidade construir instituiccedilotildees eficazes responsaacuteveis e inclusivas para todos 17)

Fortalecer os meios de implementaccedilatildeo e revitalizar a parceria a niacutevel global para o

desenvolvimento sustentaacutevel (UN 2015 ONUBR 2017 UN 2017c)

Podemos por isso considerar que a ajuda ao desenvolvimento fornecida pelo PNUD eacute

uma accedilatildeo poliacutetica para melhorar as condiccedilotildees de vida dos paiacuteses em vias de

desenvolvimento numa perspetiva de longo prazo A ajuda eacute fornecida pelos Estados-

membros da OCDE ONU EU BMI e FMI

A luta pelos direitos dos humanos tem como principal objetivo a luta contra a violaccedilatildeo

dos direitos humanos definidos na declaraccedilatildeo universal dos direitos do homem Como

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

13

quadro de referecircncia dos direitos humanos foram ainda redigidas a convenccedilatildeo

internacional para os direitos poliacuteticos e civis e a convenccedilatildeo para os direitos

econoacutemicos sociais e culturais (Ryfman 2007 UN 2017d SDG 2015)

Este tipo de ajuda humanitaacuteria funciona atraveacutes de denuacutencias e pressotildees para que sejam

conhecidas sucessivas violaccedilotildees dos direitos humanos e o direito a uma vida digna

preservado No entanto esta eacute uma aacuterea que pode abrir portas para o conflito entre o

dever de denunciar violaccedilotildees dos Direitos Humanos e os princiacutepios humanitaacuterios Como

foi referido acima as ONG e OIG baseiam-se em sete princiacutepios fundamentais dos

quais trecircs satildeo cruciais ndash a independecircncia a neutralidade e a imparcialidade Ao

denunciar uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a denuacutencia poderaacute ser vista como se a

organizaccedilatildeo estivesse a tomar partido por uma das partes do conflito mesmo que natildeo

seja o caso e eacute assim colocada em causa a neutralidade da organizaccedilatildeo seja ela

internacional local governamental ou natildeo Este eacute um caso bastante delicado pois a

organizaccedilatildeo precisa da autorizaccedilatildeo para poder permanecer no terreno Esta situaccedilatildeo

pode levar a que vaacuterias organizaccedilotildees se sintam intimidadas na hora de denunciar

embora exista um modelo especiacutefico criado pelas Naccedilotildees Unidas para realizar queixas

por violaccedilatildeo dos direitos humanos O procedimento eacute denominado de Human Rights

Council Complaint Procedure A Amnistia Internacional tambeacutem faz queixas por

violaccedilatildeo dos direitos humanos sendo uma ONG muito importante no ativismo pelos

direitos humanos (OHCHR 2017 Hammond 2015)

O Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Direitos Humanos (ACDH) tem

tambeacutem um papel importantiacutessimo na prevenccedilatildeo e denuacutencia de potenciais crimes contra

os direitos humanos no terreno Este Alto Comissariado tem como principal objetivo

dar suporte ao respeito pelos direitos humanos no acircmbito de operaccedilotildees de

peacekeeping peaceenforcement peacebuilding provendo planos estrateacutegicos

policiamento e aconselhamento especializado O Alto Comissariado pode mesmo

indicar a necessidade de acionar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo mas eacute o Conselho de

Seguranccedila que tem o poder decisoacuterio nesta mateacuteria As principais atividades do ACDH

satildeo fazer a monitorizaccedilatildeo diaacuteria investigaccedilatildeo documentaccedilatildeo e relato da situaccedilatildeo

relativa aos direitos humanos advogar junto das autoridades locais e nacionais

envolvendo a sociedade civil e os governos nacionais (desta forma eacute possiacutevel prevenir e

assegurar a reparaccedilatildeo da violaccedilatildeo dos direitos humanos) reportar publicamente ganhos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

14

e falhas nos direitos humanos assegurar que o processo de paz promova a justiccedila e a

equidade construir instituiccedilotildees de direitos Humanos incorporar os direitos humanos

nas missotildees de paz da NU bem como em todos os programas e atividades as NU no

paiacutes (OHCHR 2017)

Eacute ainda nesta aacuterea que se verifica uma maior possibilidade de ser posta em causa a

neutralidade e a independecircncia das organizaccedilotildees Para poder proteger os direitos

humanos e denunciar abusos de direitos humanos perpetrados por exemplo pelo Estado

em cujo territoacuterio se verificam esses atos os humanitaacuterios iratildeo colocar em causa a sua

permanecircncia no terreno Este facto leva a que muitas organizaccedilotildees natildeo realizem a

denuacutencia o que torna de certa forma as mesmas cuacutemplices dessas barbaridades contra a

sua vontade

A promoccedilatildeo da paz recai essencialmente sobre o Conselho de Seguranccedila das NU que

tem como principal objetivo a manutenccedilatildeo e estabelecimento da paz e a seguranccedila

internacional de forma a que natildeo se repita mais nenhum conflito com a dimensatildeo da II

Guerra Mundial tendo esse sido o principal motivo para a fundaccedilatildeo das NU Para

promover a paz as NU atraveacutes do Conselho de Seguranccedila recorreu a operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mesmo ao peace enforcement a diplomacia e a

mediaccedilatildeo preventiva ao combate ao terrorismo (como podemos verificar hoje com o

Daesh) e ao desarmamento que eacute feito atraveacutes da eliminaccedilatildeo do armamento nuclear de

destruiccedilatildeo massiva e regulaccedilatildeo do armamento convencional (Ryfman 2007 UN

2017b Carta das NU 1945)

A ajuda humanitaacuteria eacute a ajuda fornecida em situaccedilotildees de grande emergecircncia sendo a

accedilatildeo das ONG OING e OIG fundamental nas primeiras setenta e duas horas apoacutes o

desastre natural ou ataque em caso de conflito armado O objetivo desta aacuterea da ajuda

humanitaacuteria eacute aliviar o sofrimento humano restabelecendo e protegendo a dignidade

humana ou seja uma vida digna assistindo a populaccedilatildeo fornecendo bens de primeira

necessidade como aacutegua comida abrigo proteccedilatildeo apoio meacutedico e psicoloacutegico Satildeo

exemplo dessa atividade tratar viacutetimas de abuso sexual ajudar a retirar viacutetimas dos

escombros organizar o campo de refugiados para acolher os refugiados requerentes de

asilo com as devidas condiccedilotildees Este eacute um trabalho fundamental capaz de apaziguar

conflitos salvar vidas e restaurar a dignidade Uma populaccedilatildeo com seguranccedila aacutegua

comida e abrigo eacute mais propensa agrave pacificaccedilatildeo Inversamente a escassez de aacutegua eacute o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

15

motivo de vaacuterios conflitos armados e guerras civis como eacute o caso do Sudatildeo do Sul

(Philippe et al 2007)

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute pois como se pocircde verificar muito mais que uma ajuda de

emergecircncia e de reconstruccedilatildeo eacute uma aacuterea dedicada ao respeito dos direitos humanos

respeito pela dignidade do homem e manutenccedilatildeo da paz A sua neutralidade e

imparcialidade permitem fornecer ajuda a todos independentemente da cor raccedila

geacutenero crenccedilas ideologias religiatildeo e origem eacutetnica A neutralidade ou seja o facto de

as ONG e OIG fornecedoras de ajuda natildeo tornarem parte nas hostilidades leva a que

natildeo sejam vistas como apoiantes de uma das partes conflituantes e natildeo sejam por isso

pressionadas a fazer determinados atos ou a natildeo fornecer ajuda a determinadas etnias

entre outros A independecircncia eacute crucial pois uma vez a ONG ou OIG humanitaacuteria

dependente do governo local seraacute pressionada e teraacute de fazer cedecircncias para poder

continuar a permanecer no terreno bem como teraacute dificuldade ou veraacute barrado o acesso

a determinados locais (Ryfman 2007 Smith 2016)

A ONU participa diretamente na ajuda humanitaacuteria atraveacutes do OCHA Este escritoacuterio

das NU eacute responsaacutevel por coordenar uma resposta eficaz em situaccedilotildees de emergecircncia e

o objetivo eacute assistir o mais raacutepida e eficazmente possiacutevel as pessoas em necessidade A

ONU tem ainda o CERF (Central Emergency Response Fund) gerido pelo OCHA que

eacute uma peccedila fundamental para uma resposta raacutepida em contexto de conflito armado ou

desastre natural ou seja permite um raacutepido financiamento para que seja possiacutevel enviar

ajuda ceacutelere O CERF recebe contribuiccedilotildees voluntaacuterias ao longo do ano o que permite

que seja possiacutevel suportar o envio de ajuda humanitaacuteria para o terreno (UN 2017d) As

Naccedilotildees Unidas tecircm ainda nesta aacuterea diversas entidades que fornecem ajuda humanitaacuteria

como por exemplo O United Nation High Commissioner for Refugees para ajudar os

IDP (Internal Displaced Persons) e os refugiados bem como apaacutetridas o UNDP

(United Nations Development Programm) o UNICEF (United Nations Childrenrsquos

Fund) para ajudar as crianccedilas o WFP (World Food Programme) para combater a fome

e a organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede para ajudar os doentes e feridos (ONU 2017)

3 A Carta Humanitaacuteria

A Carta Humanitaacuteria nasceu com o projeto Sphere (The Sphere Projectb sd) em 1997

e tem como objetivo definir padrotildees miacutenimos humanitaacuterios de accedilatildeo no terreno comuns

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

16

a todas as ONG OING OIG e Estados que tenham ratificado as convenccedilotildees e tratados

humanitaacuterios e que se comprometam a cumprir esta declaraccedilatildeo Este projeto nasceu

essencialmente da insatisfaccedilatildeo relativa agrave atuaccedilatildeo das ONG OING e OIG no terreno nos

anos 90 durante as crises da Etioacutepia e do Sudatildeo fazendo com que as ONG chegassem agrave

conclusatildeo de que seria necessaacuterio elaborar um padratildeo de atuaccedilatildeo no terreno para os

profissionais Apoacutes esta discussatildeo comeccedilaram a aparecer manuais teacutecnicos dos MSF e

guias operacionais redigidos pela OXFAM ACNUR (Alto Comissariado das Naccedilotildees

Unidas para os Refugiados) e a OFDA (Office of US Foreign and Disaster Assistance)

entre outras Tambeacutem a Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho tiveram

participaccedilatildeo neste projeto com os coacutedigos e movimentos de conduta para ONG para

desenvolver a sua performance no terreno atraveacutes de programas de formaccedilatildeo (The

Sphere sdb Dyke e Waldmann 2004)

O projeto Sphere eacute governado por um conselho constituiacutedo por 18 membros que

representam redes de agecircncias humanitaacuterias tanto a niacutevel global como nacional que

determina as suas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo As organizaccedilotildees representadas neste

conselho trabalham juntas de forma voluntaacuteria e informal sob a direccedilatildeo do conselho

cujo escritoacuterio estaacute sediado em Genebra e trabalha para implementar estrateacutegias e

prioridades As organizaccedilotildees contribuem tambeacutem para o financiamento do projeto

(The Sphere Project sda)

Logo eacute possiacutevel constatar que a principal meta deste projeto eacute tornar a Accedilatildeo

Humanitaacuteria mais eficiente e que seja feita com mais responsabilidade e que sejam

garantidos os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios O projeto foi elaborado para que as

ONG OING e OIG tivessem um guia sobre como agir no terreno em missotildees de

emergecircncia e em concordacircncia com o Direito Internacional Humanitaacuterio O objetivo

principal deste manual eacute garantir que todo o ser humano dever ter o direito de viver com

dignidade (The Sphere Project sda)

Humanitarian agencies committed to this Charter and to the Minimum Standards will aim to achieve

defined levels of service for people affected by calamity or armed conflict and to promote the observance

of fundamental humanitarian principles (The Humanitarian Charter sd pp 16)

Logo a Carta Humanitaacuteria estaacute comprometida com o aliacutevio do sofrimento humano e a

garantia da dignidade das viacutetimas afetadas pelo conflito armado internacional e natildeo

internacional cataacutestrofes e outras calamidades Por isso tal como foi referido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

17

anteriormente foi estabelecido um padratildeo miacutenimo que estabelece o que deve ser feito

quando as organizaccedilotildees enfrentam pessoas em necessidade de aacutegua saneamento bens

alimentares abrigo e cuidados de sauacutede e de nutriccedilatildeo Isto contribui para uma estrutura

operacional responsaacutevel em mateacuteria de assistecircncia humanitaacuteria (The Sphere Project

sdb Dyke e Waldmann 2004)

O documento estaacute dividido nos seguintes trecircs princiacutepios que devem ser respeitados pela

comunidade internacional humanitaacuteria

Direito a uma vida digna

O direito agrave vida eacute um princiacutepio e uma medida legislativa muito importante eacute um direito

humano Segundo a Carta Humanitaacuteria todos devem ver o seu direito agrave vida preservado

Com isto entende-se o direito a viver em dignidade e livre de tratamentos desumanos

ser impedido da liberdade alvo de traacutefico de pessoas e tratamentos degradantes bem

como puniccedilotildees crueacuteis e violentas Como eacute sabido as mulheres e crianccedilas satildeo tornadas

escravas sexuais e obrigadas a realizar trabalhos forccedilados juntando isto a deslocaccedilatildeo

forccedilada pode falar-se de traacutefico de pessoas que eacute considerado pela declaraccedilatildeo dos

Direitos Humanos um atentado agrave dignidade logo eacute uma violaccedilatildeo da declaraccedilatildeo

Refiram-se ainda as adoccedilotildees ilegais de crianccedilas oacuterfatildes que tambeacutem eacute uma das vertentes

do traacutefico de pessoas bem como o uso de crianccedilas em minas para armadilhar campos

com minas e na frente do exeacutercito (The Sphere Project sda pp 16-17 UN 1948)

A distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes

Eacute muito importante fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes em conflitos

armados pois os civis feridos e prisioneiros estatildeo protegidos atraveacutes do Direito

Internacional Humanitaacuterio e tecircm imunidade aos ataques coisa que os combatentes natildeo

tecircm Os ex-combatentes tambeacutem passam a usufruir dessa imunidade pois deixaram as

armas Este uacuteltimo aspeto eacute muito importante porque ex-combatentes satildeo sempre vistos

como combatentes e podem ser confundidos como tal sendo presos Em caso de prisatildeo

os combatentes de guerra usufruem de certos direitos especiais quanto ao tratamento

que devem ter Em guerras civis eacute difiacutecil fazer esta distinccedilatildeo porque podem existir

forccedilas militares natildeo reconhecidas e oficializadas Esta distinccedilatildeo consta da convenccedilatildeo de

Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais de 1977 conforme jaacute foi referido (The

Sphere Project sda pp 16-17)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

18

O princiacutepio da natildeo expatriaccedilatildeo

Este princiacutepio diz respeito aos refugiados e estabelece que nenhum refugiado deve de

forma alguma ser extraditado de volta para o seu paiacutes de origem onde a sua vida e

liberdade estariam ameaccediladas e correria risco de vida ou tortura devido agraves suas crenccedilas

raccedila religiatildeo ideologia politica entre outros Caso um refugiado seja expatriado o

Estado em questatildeo estaraacute a violar o Direito Internacional Humanitaacuterio e a Convenccedilatildeo de

1951 referente ao Estatuto do refugiado (The Sphere Project sda pp 16-17 UNHCR

2017)

A Carta Humanitaacuteria aborda ainda outro aspeto importante que satildeo as

responsabilidades e o papel que as organizaccedilotildees humanitaacuterias desempenham no terreno

de forma a que a populaccedilatildeo requerente de ajuda e refugiados natildeo corra perigo algum

Essas responsabilidades satildeo as seguintes

1) Evitar expor as viacutetimas a mais danos ou perigos como resultado das suas accedilotildees Neste

contexto o documento aborda a construccedilatildeo de campos para deslocados internos ou

refugiados em locais seguros que natildeo coloquem a vida destes em risco Esta

responsabilidade cabe em primeiro lugar ao Estado no qual a ONG ou OIG estaacute a

operar cabe-lhes garantir a seguranccedila do staff e da sua populaccedilatildeo Soacute em segundo lugar

eacute que cabe agraves agecircnciasorganizaccedilotildees zelar pelo bem-estar pela seguranccedila e satisfaccedilatildeo

das necessidades das pessoas que peccedilam ajuda para que seja restabelecida alguma

dignidade e que possam viver sem medo e terror com as suas necessidades baacutesicas

aliviadas (The Sphere Project sda pp 18)

2) Assegurar o acesso da populaccedilatildeo a uma assistecircncia imparcial Isto significa que as

agecircncias humanitaacuterias devem assistir todas as pessoas que necessitem principalmente

as pessoas que estejam numa situaccedilatildeo mais vulneraacutevel ou enfrentam exclusatildeo social por

motivos poliacuteticos eacutetnicos ou outros Este princiacutepio eacute um dos princiacutepios mais delicados

pois nem sempre as agecircncias humanitaacuterias conseguem aceder aos locais em contexto de

conflito armado que necessitam de assistecircncia das agecircncias O Estado deveria fornecer

escolta ou garantir o acesso seguro aos locais em questatildeo No entanto e como eacute de

prever caso esse local natildeo seja do interesse do Estado por estar dominado por rebeldes

por exemplo aquele natildeo iraacute facilitar o acesso Desta forma as agecircncias de forma a natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

19

correrem risco de vida limitar-se-atildeo aos locais seguros (The Sphere Progect sda

pp18)

3) Proteger as pessoas de danos fiacutesicos e psicoloacutegicos devido a violecircncia ou coerccedilatildeo

Neste princiacutepio falamos em proteger as pessoas de serem forccediladas ou induzidas a agir

contra a sua vontade o que eacute muito comum em contexto de conflito armado (The Sphere

Project sda pp 18)

4) Ajudar reivindicando direitos como a restituiccedilatildeo da propriedade ajudar a niacutevel social

e econoacutemico Eacute ainda o dever das agecircncias humanitaacuterias ajudar as viacutetimas a ultrapassar

as consequecircncias do abuso sexual a niacutevel fiacutesico e psicoloacutegico promovendo o acesso a

medicamentos e a recuperaccedilatildeo de abusos (The Sphere Project sda pp 18)

Por uacuteltimo eacute importante referir os padrotildees miacutenimos que a assistecircncia humanitaacuteria deve

respeitar no terreno de forma a uniformizar a accedilatildeo humanitaacuteria Os padrotildees miacutenimos de

assistecircncia humanitaacuteria foram definidos pelas agecircncias humanitaacuterias que trabalham no

terreno Quem aderir a este padratildeo miacutenimo de assistecircncia humanitaacuteria compromete-se a

assegurar as necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como aacutegua saneamento assistecircncia

meacutedica comida e abrigo para que seja comprido o direito a viver com dignidade Para

isso eacute necessaacuterio que Estado e organizaccedilotildees se comprometam a cumprir este princiacutepio

ao abrigo do direito internacional humanitaacuterio e direito do refugiado (The Sphere

Project sda)

Algumas agecircncias humanitaacuterias operam em determinadas aacutereas especiacuteficas de proteccedilatildeo

dos direitos humanos para que seja mais faacutecil fornecer ajuda Por exemplo existem

ONG especializadas em fornecer assistecircncia a crianccedilas tratar e lutar para a prevenccedilatildeo

de viacutetimas de violecircncia de gecircnero habitaccedilatildeo propriedade e terra minas ativas lei e

justiccedila Quanto agrave lei e justiccedila as agecircncias humanitaacuterias que forneccedilam este serviccedilo

enfrentam muitas vezes verdadeiros dilemas entre denunciar um crime de violaccedilatildeo dos

direitos humanos ou natildeo denunciar para que possam permanecer no terreno e defender

as viacutetimas de abusos fiacutesicos psicoloacutegicos de geacutenero entre outros (The Sphere Project

sda)

Em suma a conceccedilatildeo dos princiacutepios humanitaacuterios surgiu com a Cruz Vermelha tendo

os seus princiacutepios sido proclamados em Viena em 1967 Mais tarde com o aumento do

nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento de conflitos que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

20

necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido em 1994 o coacutedigo de conduta

humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se comprometeriam a respeitar os princiacutepios

humanitaacuterios fundamentais Este coacutedigo foi assinado por 140 agecircncias Outro

documento elaborado foi o Humanitarian Charter and Minimum Standards in Disaster

Response elaborado pelo Sphere Project em 1997 As proacuteprias Naccedilotildees Unidas tambeacutem

deram o seu importante contributo para disseminar os princiacutepios humanitaacuterios no

terreno Os princiacutepios fundamentais tecircm de ser postos em praacutetica tal como o Direito

Internacional Humanitaacuterio aliaacutes um eacute o complemento do outro A CICV (Comiteacute

Internacional da Cruz Vermelha) opera no terreno respeitando o Direito Internacional

Humanitaacuterio e rege-se pelos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios (Makintosh 2000)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

21

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a

abordagem humanitaacuteria

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding

A ONU tem um papel relevante na accedilatildeo securitaacuteria em cenaacuterios de ajuda humanitaacuteria

nomeadamente em Estados que estejam a atravessar conflitos armados e atraveacutes de

missotildees como as de peacekeeping e de peacebuilding A intervenccedilatildeo securitaacuteria

distingue-se da accedilatildeo humanitaacuteria pelo seu caraacuteter militar e poliacutetico Por vezes as

Naccedilotildees Unidas quando realizam uma intervenccedilatildeo militar seja de peacekeeping ou

dentro do peacebuilding podem em determinada circunstacircncias tomar partido por uma

das partes nas hostilidades ou parte conflituante sendo que estas operaccedilotildees tambeacutem

acontecem fora do estrito contexto humanitaacuterio Por sua vez numa situaccedilatildeo de

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria embora haja objetivos humanitaacuterios comuns o modo

de atuaccedilatildeo eacute militar e por isso claramente distinto da accedilatildeo humanitaacuteria

Para clarificar passa-se agrave definiccedilatildeo dos conceitos usados acima

Segundo as NU o peacekeeping corresponde ao seguinte

UN Peacekeepers provide security and the political and peacebuilding support to help countries make the

difficult early transition from conflict to peace UN Peacekeeping is guided by three basic principles

Consent of the parties Impartiality Non-use of force except in self-defence and defence of the mandate

(UN Peacekeeping sdd)

Esta ferramenta tem pois como objetivo ajudar os Estados em conflito a estabelecer e

manter a paz tendo provado ser um dos mecanismos mais eficazes da ONU para o

efeito Os militares do peacekeeping fornecem tambeacutem seguranccedila bem como apoio

poliacutetico para a construccedilatildeo da paz Os militares baseiam-se em trecircs princiacutepios que satildeo 1)

a imparcialidade (o que natildeo implica na formulaccedilatildeo atual neutralidade face ao mandato

que tecircm) 2) consentimento das partes para intervir no conflito (embora em casos

restritos como em casos de genociacutedio se possa aplicar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo

que natildeo precisa do consentimento mas que remete ao peace enforcement) 3) O natildeo uso

da forccedila tendo por exceccedilatildeo a autodefesa e a defesa do mandato como consta da citaccedilatildeo

acima (UN sda UN sdb Pinto 2007)

Ainda segundo Maria do Ceacuteu Pinto as operaccedilotildees de peacekeeping devem ser

imparciais mas tal natildeo implica ficarem indiferentes aos abusos dos direitos humanos

por parte de uma das partes das hostilidades Imparcialidade natildeo eacute pois sinoacutenima de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

22

neutralidade Logo desde que haja uma violaccedilatildeo dos direitos humanos os peacekeepers

devem agir jaacute que o dever deles eacute o de garantir o respeito dos direitos humanos aliviar

o sofrimento humano e garantir uma vida digna agrave populaccedilatildeo em questatildeo Existe por

isso o peacekeeping de terceira geraccedilatildeo denominado de peacekeeping ldquomusculadordquo por

Pinto (2007) ou peacekeeping ldquorobustordquo como eacute denominado pelas NU No entanto

este peacekeeping de terceira geraccedilatildeo continua a necessitar do consentimento do Estado

alvo ou das maiores partes do conflito Jaacute o uso da forccedila sem consentimento remete para

o peace enforcemente que eacute aplicar a paz atraveacutes da forccedila e eacute soacute usado este tipo de

missatildeo em uacuteltimo recurso (Pinto 2007 UN sda UN sdb)

Estas ferramentas satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas tambeacutem para

a proteccedilatildeo dos civis assistir ao desarmamento desmobilizaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo de ex-

combatentes suporte agraves organizaccedilotildees para as eleiccedilotildees proteccedilatildeo e promoccedilatildeo dos direitos

humanos e assistecircncia no restabelecimento do ldquoEstado de direitordquo (UN sda UN

sdb)

Por sua vez Peacebuilding significa na linguagem das Naccedilotildees Unidas

The term itself first emerged over 30 years ago through the work of Johan Galtung who called for the

creation of peacebuilding structures to promote sustainable peace by addressing the ldquoroot causesrdquo of

violent conflict and supporting indigenous capacities for peace management and conflict resolution (hellip)

The Secretary-Generalrsquos Policy Committee has described peacebuilding thus ldquoPeacebuilding involves a

range of measures targeted to reduce the risk of lapsing or relapsing into conflict by strengthening

national capacities at all levels for conflict management and to lay the foundations for sustainable peace

and development Peacebuilding strategies must be coherent and tailored to the specific needs of the 1

Three approaches to Peace peacekeeping peacemaking peacebuildingrdquo (UN 2010 pp 5)

Eacute pois uma accedilatildeo da ONU de identificaccedilatildeo e de suporte agraves estruturas de modo a que a

paz seja solidificada e os conflitos evitados Ou seja satildeo as atividades desenvolvidas

pela ONU para que a construccedilatildeo da paz seja feita no paiacutes onde houve conflito de modo

a que natildeo volte a acontecer o mesmo outra vez Tambeacutem visam fornecer todas as

ferramentas para a construccedilatildeo de um paiacutes forte com um aparelho de poder poliacutetico

soacutelido Logo eacute mais que o fim dos conflitos eacute a construccedilatildeo da paz de forma solidificada

e eficaz (UN 2010)

Segundo a mesma fonte o peacebuilding refere-se a cinco aacutereas que satildeo 1) o apoio agrave

seguranccedila baacutesica 2) os processos poliacuteticos a serem feitos para a construccedilatildeo e

manutenccedilatildeo da paz 3) a garantia da prestaccedilatildeo dos serviccedilos baacutesicos agrave populaccedilatildeo em

geral 4) a restauraccedilatildeo das funccedilotildees do governo central de modo a construir um aparelho

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

23

de poder forte e capaz de garantir e manter a paz bem como de resolver os conflitos

eacutetnicos ou entre grupos internos 5) a revitalizaccedilatildeo da economia para acabar com a

pobreza construir novas infraestruturas para desenvolver a produccedilatildeo para a

autossubsistecircncia do povo e de modo a que os bens fundamentais sejam garantidos a

todos (processo de desenvolvimento do paiacutes) (UN 2010 UN 2009)

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar

A intervenccedilatildeo humanitaacuteria natildeo eacute consensual no Direito no Direito Internacional e nas

Relaccedilotildees Internacionais Segundo o ICRC (2001) O Direito Internacional Humanitaacuterio

natildeo pode servir para legitimar conflitos armados No entanto os Estados aceitam este

tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria nas seguintes situaccedilotildees

The theory of intervention on the ground of humanity () recognizes the right of one State to exercise

international control over the acts of another in regard to its internal sovereignty when contrary to the

laws of humanity (Abiew citin ICRC 2001 pp 528)

O que se pode retirar desta citaccedilatildeo eacute que segundo o Direito Internacional Humanitaacuterio

eacute aceitaacutevel exercer controlo por parte de um Estado sobre a soberania de outro se este

natildeo respeita os direitos humanos fundamentais Ou seja podemos constatar que a

soberania de um Estado natildeo basta para a comunidade internacional natildeo agir face a um

genociacutedio por exemplo

hellip humanitarian intervention is defined as coercive action by States involving the use of armed force in

another State without the consent of its government with or without authorisation from the United

Nations Security Council for the purpose of preventing or putting to a halt gross and massive violations

of human rights or international humanitarian law (ICRC 2001 cit in Danish Institute of International

Afffairs 1991 pp 11)

Esta definiccedilatildeo complementa a anterior referindo que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute uma

accedilatildeo coerciva com recurso a armamento sobre um Estado sem o consentimento do

governo local e eventualmente sem o do Conselho de Seguranccedila das NU O intuito

deste tipo de intervenccedilatildeo eacute parar o desrespeito pelos direitos humanos e do direito

internacional humanitaacuterio (Gordon 1996 ICRC 2001)

Portanto o objetivo desta intervenccedilatildeo eacute aliviar o sofrimento humano e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados para que a paz possa ser estabelecida e o

genociacutedio prevenido ou interrompido Os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm de

ser imparciais e limitar-se a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para

fazerem respeitar os direitos humanitaacuterioshumanos violados e fornecer assistecircncia ao

povo local (Gordon1996 e ICRC 2001)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

24

Todavia este tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria corre o risco de natildeo ser imparcial por

existirem interesses subjacentes aos Estados que decidem intervir militarmente noutro

Estado A intervenccedilatildeo humanitaacuteria pode ser usada como um pretexto para aplicar uma

intervenccedilatildeo militar num Estado ou seja existe o risco de os motivos dessa intervenccedilatildeo

natildeo serem legiacutetimos e terem segundas intenccedilotildees que natildeo somente salvar vidas proteger

a populaccedilatildeo e aliviar o sofrimento humano Dificilmente um Estado corre elevados

riscos sem ter por traacutes outras intenccedilotildees segundo a visatildeo realista das relaccedilotildees

internacionais e por conseguinte poder instala ainda mais o caos no Estado alvo da

intervenccedilatildeo Ou seja pode ser uma carta branca para intervenccedilotildees militares de Estados

com segundas intenccedilotildees que podem ser geoestrateacutegicas ou poliacuteticas por exemplo O

que levanta as seguintes questotildees ateacute que ponto eacute eacutetico aplicar o termo humanitaacuterio

quando se usa a forccedila contra pessoas sendo elas viacutetimas para proteger outras Esta eacute

uma questatildeo que se pode considerar um verdadeiro dilema O uso da palavra

humanitaacuteria aplicada agrave intervenccedilatildeo militar e pode ser uma forma de legitimar o

desrespeito pelo princiacutepio da natildeo ingerecircncia e por conseguinte violar a soberania de

outro Estado que noutras condiccedilotildees natildeo seria aceite Daiacute o acreacutescimo da palavra

ldquohumanitaacuteriardquo a intervenccedilatildeo militar natildeo ser bem vista pela comunidade humanitaacuteria que

se rege pelos princiacutepios de aliviar o sofrimento humano salvar vidas e ajudar No caso

da Nigeacuteria do Haiti e da Libeacuteria nos anos 90 foi usada a figura intervenccedilatildeo militar

ldquohumanitaacuteriardquo para intervir no terreno embora pareccedilam evidentes motivos natildeo

humanitaacuterios (Massingham 2009 Weiss 2017)

Esta intervenccedilatildeo militar eacute uma opccedilatildeo cumulativa agraves operaccedilotildees de peacekeeping que se

revelam ineficazes na hora de proteger a populaccedilatildeo e as ONG OING e OIG

humanitaacuterias A intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria recorre ao uso da forccedila para atingir os

seus fins podendo ser estes proteger os humanitaacuterios a populaccedilatildeo local aliviar o

sofrimento humano velando pelo respeito dos Direitos Humanos e prevenindo crimes

contra a humanidade Ainda segundo Weiss ela eacute qualitativamente distinta do

peacekeeping uma vez que natildeo cumpre o princiacutepio do consentimento No entanto no

peacekeeping de terceira geraccedilatildeo tem havido uma evoluccedilatildeo para o peacekeeping

ldquomusculadordquo tendencialmente convergente com o peace enforcement Ou seja pode em

casos restritos e com consentimento do Conselho de Seguranccedila fazer-se o uso da forccedila

sem as restriccedilotildees convencionais (Weiss 2017 Pinto 2007 Pilbeam 2015b)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

25

Por tudo isso usar a palavra lsquohumanitaacuteriorsquo para uma intervenccedilatildeo de cariz militar natildeo eacute

bem aceite pelo Direito Internacional Humanitaacuterio que prefere uma puniccedilatildeo mais

severa aos Estados perpetradores dos crimes contra a humanidade ao inveacutes de usar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria pois Estados com mais poder militar se imiscuem e quebram o

princiacutepio da natildeo ingerecircncia podendo culminar em accedilotildees discriminatoacuterias no terreno e

problemas diplomaacuteticos entre Estados a niacutevel internacional Para aleacutem disso acrescentar

a palavra humanitaacuteria deveria ser reservado agraves organizaccedilotildees que pretendam aliviar o

sofrimento humano salvar vidas sem recurso agrave violecircncia e armas e natildeo aplicado agrave

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria O uso da palavra humanidade numa intervenccedilatildeo militar

pode dar azo a confusatildeo por parte da populaccedilatildeo local e dificultar o trabalho dos

humanitaacuterios no terreno tornando-os alvo de ataques tambeacutem Eacute por isso necessaacuterio

fazer uma clara distinccedilatildeo entre intervenccedilatildeo humanitaacuteria e accedilatildeo humanitaacuteria (ICRC

2001 Weiss 2017)

A declaraccedilatildeo das NU no capiacutetulo VII (UN Charter 1945) especifica quais as situaccedilotildees

em que pode ocorrer uma intervenccedilatildeo militar nomeadamente no artigo 42ordm que prevecirc

que em caso de ameaccedila agrave seguranccedila e paz internacional o Conselho de Seguranccedila pode

ativar uma intervenccedilatildeo militar

Por outro lado natildeo consta na declaraccedilatildeo das NU se eacute possiacutevel ou natildeo ou em que

situaccedilotildees devem avanccedilar para uma intervenccedilatildeo onde seja possiacutevel o uso da forccedila contra

um Estado caso se verifique um abuso dos direitos humanos ou desrespeito do Direito

Internacional O Direito Internacional Humanitaacuterio deveria equacionar regulamentar a

situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo humanitaacuteria Eacute que a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria parece ser

uma realidade e uma lsquonecessidadersquo em alguns casos em que as operaccedilotildees de

peacekeeping natildeo satildeo suficientes Nesses casos o problema eacute que a accedilatildeo humanitaacuteria

entrou num estado de colapso por falta de seguranccedila e depende em algumas situaccedilotildees

dos militares de operaccedilotildees de peacekeeping ou das intervenccedilotildees militares mais robustas

para poderem aceder a determinados territoacuterios de grande perigo o que leva agrave

necessidade de uma revisatildeo quanto ao papel da accedilatildeo humanitaacuteria e ao reconhecimento

da intervenccedilatildeo humanitaacuteria ainda que natildeo formalmente mas nos bastidores (ICRC

2001 Weiss 2017)

Portanto o uso da forccedila militar com cariz humanitaacuterio soacute deve ser feito em contexto de

crimes contra a humanidade como o genociacutedio crimes de guerra abusos sexuais ou

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

26

limpeza eacutetnica por exemplo e tem como objetivo proteger a populaccedilatildeo e aliviar o

sofrimento humano Os militares da intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria natildeo podem ser

confundidos com os capacetes azuis das operaccedilotildees de paz das NU pois natildeo fazem parte

da mesma missatildeo e os capacetes azuis tecircm um papel mais diversificado para a

manutenccedilatildeo da paz construccedilatildeo do aparelho de poder e negociaccedilotildees podendo soacute usar a

forccedila em caso de legiacutetima defesa e defesa do mandato Jaacute os militares da intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria partem para o terreno para travar os perpetradores dos crimes contra

a humanidade usando a forccedila se necessaacuterio Ou seja eacute a versatildeo mais letal das

intervenccedilotildees internacionais e deve ser usada em uacuteltimo recurso (Weiss 2017)

Dentro das intervenccedilotildees militares pode ainda ser invocado o princiacutepio da

responsabilidade de proteger (R2P) fixado no acircmbito das NU que eacute executado ao

abrigo das NU A responsabilidade de proteger (R2P) pode levar a uma intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mas deve ser autorizada pelo Conselho de Seguranccedila das NU O

R2P deve ser usado em uacuteltimo recurso com meios proporcionais agrave situaccedilatildeo a niacutevel de

armamento e uma vez esgotados todos os meios diplomaacuteticos No Ruanda em 1994 os

peacekeepers natildeo fizeram o uso da forccedila para travar o genociacutedio tendo vindo a missatildeo a

fracassar As NU foram amplamente criticadas pela inaccedilatildeo o que levou ao debate sobre

a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria e posteriormente sobre a R2P (Bellamy 2015

Massingham 2009)

O conceito do R2P eacute pois um princiacutepio legitimador de um tipo de intervenccedilatildeo armada

usado quando os direitos humanos baacutesicos natildeo satildeo respeitados em determinado Estado

em conflito como por exemplo genociacutedios ou violaccedilotildees em massa Em 1994 no

Ruanda uma intervenccedilatildeo sob o R2P teria sido justificaacutevel Esta intervenccedilatildeo natildeo

necessita de autorizaccedilatildeo do Estado para intervir daiacute o termo responsabilidade de

proteger No entanto este conceito eacute complexo devido ao princiacutepio de natildeo ingerecircncia

sobre os assuntos soberanos de determinado Estado Cabe primeiramente ao Governo

do Estado assegurar a proteccedilatildeo da sua populaccedilatildeo No entanto caso o Estado natildeo queira

ou natildeo consiga assegurar a sua proteccedilatildeo e a populaccedilatildeo esteja a ver os seus direitos

baacutesicos serem desrespeitados devido ao conflito armado ou fragilidade do Estado a

comunidade internacional deve agir e intervir Um problema possiacutevel eacute a comunidade

internacional natildeo querer entrar em problemas diplomaacuteticos com determinados Estados

que estejam neste tipo de situaccedilatildeo ou ainda com Estados que apoiem partes tal como a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

27

Ruacutessia (membro permanente do Conselho de Seguranccedila da ONU) a Bashar Al Assad

enquanto os EUA apoiam os rebeldes Havendo diferentes pontos de vista e sendo

necessaacuterio o consenso dos membros permanentes do Conselho de Seguranccedila das NU a

decisatildeo de avanccedilar sob a responsabilidade de proteger pode ser tardia ou mesmo

impossiacutevel tal como se tem verificado (Lobo 2009 Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger nasceu com o relatoacuterio do ICISS (International

Commission on Intervention and State Sovereignity) em 2001 e teve como principal

motor o conflito recente agrave eacutepoca do Ruanda O princiacutepio foi adotado na cimeira

mundial de 2005 com cuidadosa distinccedilatildeo das violaccedilotildees maiores que podem determinar

a ingerecircncia Na praacutetica o Conselho de Seguranccedila soacute tornou oficial a referecircncia agrave

responsabilidade de proteger em 2006 com a resoluccedilatildeo 1674 sobre a proteccedilatildeo de civis

em conflitos armados Esta resoluccedilatildeo foi usada em agosto de 2006 ao estabelecer a

resoluccedilatildeo 1706 que autorizava o destacamento dos peacekeepers para o Darfur Apoacutes o

Sudatildeo vieram as missotildees sob a responsabilidade de proteger da Liacutebia Cocircte drsquoIvoire

Sudatildeo do Sul e Ieacutemen em 2011 e Siacuteria e Repuacuteblica centro Africana em 2012 (Bellamy

2015)

Para que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria seja legitimada sob o conceito do R2P devem ser

reunidas as seguintes condiccedilotildees 1) Estar-se perante uma situaccedilatildeo de genociacutedio ou seja

extermiacutenio de populaccedilatildeo de uma determinada origem eacutetnica ou extermiacutenio de uma

populaccedilatildeo em larga escala 2) Existir intenccedilatildeo justa para que seja justificado o uso de tal

accedilatildeo 3) Usar os meios estritamente necessaacuterios para alcanccedilar os objetivos

estabelecidos 4) Assegurar que as perspetivas de tal accedilatildeo poderatildeo ter uma forte

probabilidade de vir a ter sucesso e de que as suas consequecircncias natildeo seratildeo piores que a

natildeo accedilatildeo (Lobo 2009 Pilbeam 2015b)

As operaccedilotildees de peacekeeping peacebuilding e peace enforcement satildeo muitas vezes

confundidas como jaacute foi referido com o envio de forccedilas militares a tiacutetulo individual de

um Estado por exemplo os EUA e a Franccedila que jaacute fizeram intervenccedilotildees militares sob

pretexto humanitaacuterio As primeiras satildeo missotildees de paz enviadas e coordenadas pela

ONU de forma a restabelecer apaziguar manter a paz e reconstruir o aparelho de

poder para que o Estado conflituante natildeo volte ao estado beligerante Jaacute o segundo eacute

realizado de forma a acabar com os crimes contra a humanidade e podem ser forccedilas

militares de um Estado em particular que decide ir para o terreno embora as

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

28

intervenccedilotildees militares sobretudo quando existem militares mortos sejam difiacuteceis de

explicar agrave populaccedilatildeo de origem dos militares Por outro lado o ldquohumanitarismo

militarrdquo ou seja as intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de paz no terreno levam a

confusatildeo com as ONG Pior neste momento assiste-se a situaccedilotildees em que estatildeo

presentes no terreno intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de peacekeeping o que gera

ainda mais confusatildeo (Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger eacute ainda considerada um princiacutepio e natildeo uma taacutetica mas

o Conselho de Seguranccedila falhou com a Siacuteria ao decidir intervir primeiro na Liacutebia por

questotildees poliacuteticas e natildeo por questotildees de emergecircncia humanitaacuteria O que leva agraves

seguintes questotildees Seraacute a intervenccedilatildeo humanitaacuteria verdadeiramente humanitaacuteria Seraacute

que existem interesses subjacentes a essas mesmas ajudas Seraacute que legitimar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute dar uma carta branca a ingerecircncias nos assuntos da soberania

de forma legiacutetima e aparentemente solidaacuteria A R2P eacute aina assim o tipo de intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mais bem aceite pela comunidade internacional e humanitaacuteria pois

natildeo assenta soacute na invasatildeo imediata e beacutelica mas tambeacutem nos princiacutepios de prevenir

reagir e reconstruir (Bellamy 2015 Weiss 2017)

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares

A coexistecircncia entre militares e humanitaacuterios eacute uma situaccedilatildeo recorrente e natildeo tem de

gerar conflitos deveraacute eacute haver respeito muacutetuo por cada um desses agentes e natildeo deveratildeo

tentar imiscuir-se nos assuntos uns dos outros A accedilatildeo humanitaacuteria eacute um complemento

agraves missotildees de paz Se a accedilatildeo humanitaacuteria estaacute focada em aliviar o sofrimento humano

salvar vidas garantir as necessidades baacutesicas e assistecircncia meacutedica os militares poderatildeo

dedicar-se inteiramente agrave proteccedilatildeo e pacificaccedilatildeo ao inveacutes de terem de realizar estas

tarefas tambeacutem O aumento dos riscos de ataque aos profissionais humanitaacuterios leva a

que esta coexistecircncia se transforme em colaboraccedilatildeo atraveacutes do pedido de

proteccedilatildeoescolta militar Por outro lado colaborando os humanitaacuterios com forccedilas

militares estatais ou ateacute mesmo via organizaccedilotildees internacionais podem ser conotadas

com um dos lados das hostilidades e perder por isso a imagem de neutralidade (Seiple

1996)

Este tema eacute algo complexo e tem de ser encarado com grande cuidado e sensibilidade

pois se por um lado a escolta militar seria a soluccedilatildeo perfeita para assegurar a seguranccedila

no terreno das ONG OING e OIG por outro lado poderaacute pocircr em causa os princiacutepios

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

29

fundamentais humanitaacuterios Existe ainda uma resistecircncia por parte da comunidade

humanitaacuteria em embarcarem missotildees integradas com os capacetes azuis das NU

(Harmer 2008) Por isso na presente dissertaccedilatildeo tentar-se-aacute discutir a melhor soluccedilatildeo

para esse problema de forma a que ambos os atores natildeo sejam prejudicados na sua

missatildeo (Seiple 1996)

A accedilatildeo humanitaacuteria tem como missatildeo aliviar o sofrimento humano e a accedilatildeo securitaacuteria

tem caraacuteter militar e policial estatildeo ambas no terreno isto eacute humanitaacuterios e soldados

coexistem no terreno em missotildees e natildeo podem colocar em causa a missatildeo uns dos

outros Cada uma tem a sua missatildeo uma a de aliviar o sofrimento humano salvar vidas

e devolver a dignidade agrave populaccedilatildeo alvo de terror a outra a de assegurar a seguranccedila

fazer os direitos humanos serem respeitados aliviar o sofrimento humano e pacificar o

terreno no qual estatildeo a operar assegurar que as negociaccedilotildees ocorram sem problemas e

ajudar a reconstruir o Estado desde o aparelho de poder agraves infraestruturas No entanto a

forccedila militar natildeo deixa de ter um caraacuteter beacutelico e natildeo eacute neutro nem independente Isto

pode levar a que a populaccedilatildeo se sinta renitente recuse e se desvie de certas ONG

exatamente por colaborarem com determinada forccedila militar por medo do que possa vir

a acontecer Podem sofrer represaacutelias se colaborarem com o lado A ou B das

hostilidades e este fator poderaacute colocar em causa a missatildeo da comunidade humanitaacuteria

o que soacute eacute possiacutevel tendo a confianccedila da populaccedilatildeo e acesso aos territoacuterios para isso a

neutralidade eacute fulcral (Gibbons e Piquard 2006)

Eacute claro que o equiliacutebrio tambeacutem depende da forccedila militar de que se trata Por exemplo

militares sob a eacutegide da ONU seratildeo mais bem vistos conseguem manter a

imparcialidade e tecircm alguma neutralidade (dependendo dos casos) natildeo colocando assim

em causa o trabalho humanitaacuterio no terreno Jaacute se a ONG ou OIG for escoltada por uma

forccedila militar estatal poderaacute perder a sua neutralidade imparcialidade e independecircncia

pois a sua proteccedilatildeo depende diretamente das forccedilas armadas estatais Depender do

Estado para ver a sua seguranccedila assegurada poderaacute ter as seguintes consequecircncias 1) as

ONG OING e OIG poderatildeo ser pressionadas para natildeo tratar e ajudar determinada

populaccedilatildeo ou etnia 2) poderatildeo ver o seu acesso bloqueado a determinados territoacuterios

cuja populaccedilatildeo o Estado natildeo quer tratar 3) seratildeo temidas e malvistas pela populaccedilatildeo

que estaacute a sofrer agraves matildeos do Estado natildeo procurando ou aceitando a sua ajuda Por isso eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

30

importante analisar a escolta militar tendo em conta este fator (Gibbons e Piquard

2006)

No entanto Svoboda (2014) no seu livro The interaction between humanitarian and

militar actors where do we go from here refere que a interaccedilatildeo entre o profissional

humanitaacuterio e o militar eacute complicada e deve acontecer em uacuteltima instacircncia quando a

seguranccedila do humanitaacuterio eacute colocada em causa devido ao facto de os militares neste

caso os peacekeepers as agecircncias militares privadas a forccedila militar estatal natildeo se

regerem pelos mesmos princiacutepios que os humanitaacuterios e terem em certas circunstacircncias

de usar a forccedila para garantir a seguranccedila no terreno manter e restabelecer a paz Para

tal pode acontecer que estes possam vir a cometer atos incompatiacuteveis com a forma de

estar na Accedilatildeo Humanitaacuteria como por exemplo matar ou usar qualquer tipo de

armamento pois tal vai contra aos princiacutepios humanitaacuterios e Direito Internacional

Humanitaacuterio Pedir ajuda aos peacekeepers agraves agecircncias militares privadas ou outra

forccedila militar pode levar a que a imagem dos humanitaacuterios fique denegrida face agrave

populaccedilatildeo local agraves instituiccedilotildees ou pessoas individuais que doam fundos e que podem

natildeo ver com bons olhos esta interaccedilatildeo o que significa que se pode perder uma fonte de

financiamento o que seria grave para as ONG que dependem destas doaccedilotildees (Svoboda

2014 Cordaid 2014)

Seria por isso mais beneacutefico nos casos de conflitos armados que militares e

humanitaacuterios trabalhassem em conjunto o estritamente necessaacuterio para o sucesso da

missatildeo de ambos Estes natildeo tecircm de partilhar missotildees e princiacutepios Mas devem colaborar

para que a ajuda humanitaacuteria natildeo corra risco de fracassar que a ajuda chegue a toda a

populaccedilatildeo mesmo nos locais de difiacutecil acesso e desta forma seraacute mais faacutecil devolver a

dignidade fornecer os bens de primeira necessidade construir abrigos e campos de

refugiados seguros sempre sem colocar em causa as missotildees de ambos que satildeo

diferentes Eacute claro que esta questatildeo eacute mais complexa fazendo os humanitaacuterios

depararem-se com um grande dilema e tendo de fazer escolhas que em princiacutepio natildeo

deveriam ter de fazer Essa escolha eacute abdicamos dos princiacutepios fundamentais em prol

da nossa seguranccedila seguimos para o terreno mesmo sabendo que corremos perigo de

vida como seremos acolhidos pela populaccedilatildeo local ao chegar com escolta militar como

reagiratildeo os nossos patrocinadores estas satildeo questotildees e dilemas que as ONG enfrentam

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

31

em terrenos delicados muitas vezes essa escolha eacute entre seguranccedila e eacutetica humanitaacuteria

(Cordaid 2014)

Segundo Harmer (2008) o princiacutepio da neutralidade natildeo pode ser levado agrave letra

principalmente em Estados que estejam a atravessar um conflito armado onde a

inseguranccedila e o perigo de vida satildeo uma constante no terreno Deve por isso haver uma

grande reflexatildeo sobre os princiacutepios humanitaacuterios os crescentes ataques aos

humanitaacuterios de forma a que as ONG possam assistir agrave populaccedilatildeo de forma segura sem

ter de quebrar algum princiacutepio (Harmer 2008)

A assistecircncia deve ser provida em caso de conflito armado pela ajuda humanitaacuteria e de

forma a melhor operacionalizar a assistecircncia aos refugiados e agraves pessoas deslocadas

internamente mas para que tal seja possiacutevel eacute preciso criar um ambiente de seguranccedila

aos humanitaacuterios sempre respeitando os seus princiacutepios para que estes consigam

realizar o seu trabalho (Byman et al 2000)

Os humanitaacuterios deveriam ser ajudados pelas forccedilas militares em mateacuteria de transporte

de pessoal e de material de subsistecircncia como por exemplo aacutegua comida

medicamentos e outros mantimentos que de outra forma natildeo seria possiacutevel prover

Segundo Byman et al (2000) a cooperaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios equivaleria a

evidenciar o melhor dos dois mundos Se a forccedila militar pode garantir o transporte

analisar o solo para ver se estaacute armadilhado analisar a aacutegua potaacutevel e fornecer

assistecircncia meacutedica de urgecircncia este seria um bom aliado para a accedilatildeo humanitaacuteria que

pode oferecer assistecircncia meacutedica e tratamentos a meacutedio e longo prazo comida

mantimentos ajuda psicoloacutegica reconstruccedilatildeo satisfazer as necessidades baacutesicas ajudar

na construccedilatildeo de abrigos e gerir campos de refugiados de forma neutra Uma vez que

estes agem frequentemente em separado eacute difiacutecil poder fornecer ajuda humanitaacuteria aos

locais que realmente necessitam sem correr riscos ou demorar demasiado tempo Se

houvesse essa entreajuda os humanitaacuterios poderiam chegar ao local com ajuda militar

pela via aeacuterea ou mariacutetima Logo a forccedila aeacuterea poderia ser um grande aliado das ONG

OING e OIG na hora de ter de realizar deslocaccedilotildees de bens e pessoas (Byman et al

2000)

De certa forma segundo o autor os profissionais humanitaacuterios dependem dos

profissionais militares para poderem desenvolver o seu trabalho de forma segura e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

32

eficaz Por isso os militares devem garantir a seguranccedila nos aeroportos nos portos e

nos locais onde operarem bem como fornecer mapas atualizados das estradas seguras

para realizar as viagens ateacute ao local em questatildeo Evitar-se-iam muitos constrangimentos

e perdas de tempo (Byman et al 1967)

international military forces might also be mandated to play a relevant role in conflict situations

including through the provision of safe and secure environments for the civilian population and for

humanitarian actors to operate in Indeed military and police can execute essential tasks in situations

where governments are unable or unwilling to protect their own population in ways that go beyond the

mandate of humanitarian actors and hence are complementary to those (ECHO sd pp 1)

Segundo Stoddard et al (2009) a maioria das ONG contrata agecircncias militares com a

condiccedilatildeo de natildeo usar armas ou seja contratam soacute a escolta mas natildeo datildeo autorizaccedilatildeo

por uso de violecircncia o que leva ao mesmo problema este tipo de escolta soacute resolve

situaccedilotildees em paiacuteses cujo grau de perigo natildeo eacute muito elevado No entanto algumas ONG

viram-se forccediladas a contratar agecircncias privadas para escolta militar que recorressem agrave

forccedila caso fosse necessaacuterio para os proteger em caso de Estados que estatildeo a atravessar

um periacuteodo de grande conflito Pois escolta militar que natildeo possa fazer uso da forccedila eacute

afinal o mesmo que natildeo ter escolta e por conseguinte proteccedilatildeo eacute ter por exemplo um

agente a acompanhar fardado e nada mais As agecircncias militares privadas e a escolta

militar devem ser usadas em uacuteltimo recurso e nunca como prioridade O problema eacute que

os perpetradores dos ataques locais aos humanitaacuterios tecircm a noccedilatildeo de que os

peacekeepers natildeo podem fazer uso da forccedila a natildeo ser em legiacutetima defesa ou em casos

extremos onde os Direitos Humanos satildeo colocados em causa No entanto os ataques

aos humanitaacuterios natildeo satildeo por vezes graves o suficiente para que haja uma quebra do

princiacutepio do natildeo uso da forccedila O que leva a que a escolta militar natildeo leve propriamente

agrave diluiccedilatildeo dos ataques muito pelo contraacuterio podem intensificar (Stoddard et al 2009)

Seiple (1996) refere que apesar das diferenccedilas marcantes entre o humanitaacuterio e o

soldado a verdade eacute que a interaccedilatildeo no terreno entre os dois tem sido um caso de

sucesso Seiple (1996) apresenta o caso da relaccedilatildeo entre as forccedilas armadas dos EUA e as

ONG no terreno Segundo o autor esta relaccedilatildeo natildeo eacute natural Neste documento satildeo

apresentados quatro casos em que houve uma interaccedilatildeo no terreno entre ONG e

militares dos EUA (as forccedilas militares dos EUA estavam a realizar em caa um dos

casos uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria) que satildeo os seguintes Operation Provide Comfort

a norte do Iraque em 1991 Operation Sea Angel no Bangladesh em 1991 Operation

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

33

Restore Hope na Somaacutelia em 1992 e Operation Supporte Hope no Ruanda em 1994 Eacute

importante sinalizar que estas missotildees foram intervenccedilotildees humanitaacuterias Estas

operaccedilotildees foram efetivamente casos de sucesso militares e humanitaacuterios cooperaram no

terreno com sucesso No entanto a operaccedilatildeo Sea Angel no Bangladesh foi marcada por

diversas tensotildees poliacuteticas entre o governo e as forccedilas militares dos EUA criando uma

dificuldade de operar no terreno Na operaccedilatildeo Restore Hope na Somaacutelia as ONG

viram-se obrigadas a aceitar cooperar com as forccedilas militares dos EUA que estavam a

realizar uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria no terreno A cooperaccedilatildeo um bocado forccedilada

devido agraves circunstacircncias resultou Segundo Seiple (1996) a relaccedilatildeo entre ONG e

militares foi realizada com base no respeito por cada uma as missotildees Uma das ONG

que soacute aceitou em ultimo recurso esta cooperaccedilatildeo foi o MSF pois sabia que sem

seguranccedila natildeo poderiam continuar no terreno No caso da operaccedilatildeo Supporte Hope no

Ruanda natildeo existe uma cooperaccedilatildeo direta entre militares os EUA e ONG neste caso as

ONG que estivessem a operar no terreno tinham de fazer o pedido de escolta militar agraves

NU e esta fazia a ponte entre as ONG e as forccedilas militares no terreno O uacutenico contacto

que ONG e as forccedilas militares dos EUA tinham era o CMOC (The Civil Military

Operation Center) jaacute que neste caso especiacutefico do Ruanda as NU preferiram ser elas a

organizar e prover a seguranccedila ou escolta militar agraves ONG no terreno pois estava a

acontecer um genociacutedio e o clima de inseguranccedila era devastador tendo de haver grande

rigor na cooperaccedilatildeo que era feita a pedido das NU atraveacutes do CMOC Militares e

humanitaacuterios trabalharam em conjunto com sucesso O uacutenico problema que Seiple

aponta agrave accedilatildeo humanitaacuteria eacute a falta de coordenaccedilatildeo no terreno entre ONG OING e OIG

pois havendo coordenaccedilatildeo seria mais faacutecil prover seguranccedila (Seiple 1996)

Se Seiple (1996) via a relaccedilatildeo entre ONG e forccedilas armadas como algo beneacutefico e

essencial para uma boa assistecircncia humanitaacuteria e para ajudar a restabelecer a paz jaacute

Harmer (2008) natildeo pensa o mesmo Harmer redigiu um artigo sobre as missotildees

integradas tendo este tema originado diversos debates acesos entre proacute-integracionistas

e contra Os humanitaacuterios encontram-se renitentes acerca deste tipo de missotildees pois

natildeo querem colocar em causa a sua neutralidade e imparcialidade e perder a

independecircncia o que poderia ter como consequecircncias natildeo poderem assistir populaccedilotildees

que estariam no topo das suas listas teriam de obedecer agraves ordens e objetivos dos

peacekeepers e poderiam ser vistos como entidades poliacuteticas o que vai contra ao que eacute a

essecircncia da Accedilatildeo Humanitaacuteria No entanto como jaacute foi referido a violecircncia sobre os

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

34

humanitaacuterios verificou um aumento draacutestico a partir do ano 2000 tecircm vindo a ter

dificuldade de acesso a certos locais de alto conflito e as ONG no terreno tecircm

dificuldade em sinalizar os seus humanitaacuterios coisa que os peacekeepers fazem bem

embora nem sempre conseguem garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios tambeacutem Eacute

preciso encontrar um ponto de convergecircncia para a accedilatildeo conjunta e no resto

estabelecer bem as diferenccedilas e os pontos em que natildeo podem ceder ou admitir

intervenccedilatildeo muacutetua (Harmer 2008)

A autora refere que o Secretaacuterio-Geral agrave eacutepoca Kofi Annan apelou aquando do

relatoacuterio do painel sobre as missotildees de paz das NU para um plano de integraccedilatildeo agraves

missotildees das NU e referiu que missotildees integradas devem ser adotadas em missotildees de

paz No entanto existe uma grande resistecircncia por parte de grandes ONG e OING a este

tipo de missotildees integradas sejam elas na forma maximalista ou minimalista No modelo

minimalista existe o trabalho do OCHA que tem uma identidade separada e a

integraccedilatildeo eacute feita atraveacutes de uma partilha de informaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo em vez de um

quadro organizacional unificado ou seja a Coordenaccedilatildeo Humanitaacuteria (CH) e o ERSG

(Representante Especial do Secretaacuterio-Geral) mas ao mesmo tempo mantendo um

escritoacuterio individual do OCHA fora do campo O OCHA tem um papel fulcral pois eacute o

elo de ligaccedilatildeo entre as ONG OING e OIG agraves NU mantendo-se no entanto

independecircncia destes face agraves NU de forma a que a imparcialidade independecircncia e a

neutralidade natildeo sejam postas em causa Tambeacutem se evita que as NU exerccedilam pressatildeo

para que a missatildeo seja conduzida de uma forma que natildeo a planeada (Harmer 2008)

Uma integraccedilatildeo maximalista significa a remoccedilatildeo da identidade separada do OCHA e a

lideranccedila humanitaacuteria das NU estaraacute presente integralmente na estrutura de transmissatildeo

geral A maioria das ONG eacute contra a versatildeo maximalista de integraccedilatildeo como a Save the

Children e a Care tendo como principal argumento a necessidade da existecircncia e

abertura do HC (Humanitarian Coordinator) a todos incluindo as organizaccedilotildees que se

sentem desconfortaacuteveis com a ideia de trabalhar com militares Tal eacute perfeitamente

compreensiacutevel pois ao trabalhar com as NU mesmo que numa versatildeo internacionalista

minimalista existe sempre uma perda de independecircncia na hora de decidir quais os

locais prioritaacuterios a assistir no terreno por exemplo (Harmer 2008)

No entanto ainda segundo Harmer (2008) deve ser tida em conta a opccedilatildeo

integracionista minimalista em que permanece o corpo de coordenaccedilatildeo OCHA tendo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

35

mesmo a UNICEF o ACNUR e a OXFAM reconhecido que esta visatildeo integracionista

pode facilitar o delinear de estrateacutegias militares e poliacuteticas sem colocar em causa ou

tentando pocirc-los o minimamente possiacutevel os princiacutepios humanitaacuterios O OCHA deve

neste contexto agir em separado das NU de forma a que possa agir de forma neutra e

imparcial consoante a situaccedilatildeo na qual estatildeo a fornecer ajuda humanitaacuteria para que natildeo

sofra influecircncias e pressotildees A autora refere ainda que nos tempos de hoje a accedilatildeo

humanitaacuteria natildeo pode mais aplicar a neutralidade pura e dura pois existem grandes

perigos de ataques no terreno a ONG sendo necessaacuterio recorrer agraves forccedilas militares

exatamente para garantir a sua seguranccedila A relaccedilatildeo entre humanitaacuterio-militar deve ser

amplamente delineada tendo de ser estabelecido um guia onde sejam indicadas as

circunstacircncias em que deve ser feito o pedido de escolta e proteccedilatildeo aos militares e

como deve ser feito esse procedimento (Harmer 2008)

A adoccedilatildeo do modelo de missatildeo integrada minimalista poderaacute ser a melhor opccedilatildeo para a

comunidade humanitaacuteria em terrenos de alta instabilidade e inseguranccedila Com este

modelo as organizaccedilotildees humanitaacuterias obtecircm proteccedilatildeo e seguranccedila sem colocarem em

causa os princiacutepios humanitaacuterios As missotildees integradas minimalistas natildeo tecircm de se

basear necessariamente na escolta militar podem basear-se tambeacutem na partilha de

informaccedilatildeo acerca dos terrenos seguros terrenos armadilhados mapas com os melhores

caminhos a percorrer entre outras informaccedilotildees No entanto esta colaboraccedilatildeo deve ser

bem estudada e analisada Deve ser tambeacutem estabelecido um guia de colaboraccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares tal como foi criado para a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as

organizaccedilotildees humanitaacuterias (Harmer 2008)

A OXFAM por exemplo redigiu um documento intitulado Un Integrated Missions and

Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations Integrated

Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) acerca das missotildees integradas

com as NU expondo os problemas que poderiam advir desta parceria Segundo a

OXFAM a neutralidade e imparcialidade estariam em causa num mandato que fosse

para aleacutem das partilhas de pontos de vista comum pois teriam uma integraccedilatildeo mais

estrutural sob uma gestatildeo comum do mandato onde as operaccedilotildees de peacekeeping

funccedilotildees poliacuteticas e organizaccedilotildees humanitaacuterias estariam sob a chefia de um uacutenico

mandato Esta situaccedilatildeo poder levar a que os humanitaacuterios percam a independecircncia de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

36

aceder a determinados locais sejam usados para fins poliacuteticos e podem perder a

confianccedila da populaccedilatildeo (OXFAM 2014)

As proacuteprias NU reconheceram em 2013 os riscos inerentes agraves abordagens de

planeamento e avaliaccedilatildeo integrados Esses riscos seriam o facto de poder ser dada a

prioridade agraves missotildees militares ou poliacuteticas que possam influenciar a accedilatildeo humanitaacuteria

como o acesso humanitaacuterio e a seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno As pessoas

podem natildeo procurar ajuda humanitaacuteria de forma a que natildeo se vejam comprometidos e

natildeo sofram represaacutelias Logo caso isto aconteccedila os humanitaacuterios podem natildeo ser

percebidos como imparciais e neutros aos olhos da populaccedilatildeo falhando assim a missatildeo

(OXFAM 2014)

Iraacute ser agora feita uma apreciaccedilatildeo do referido documento da OXFAM (2014) Este

documento eacute relevante para a presente dissertaccedilatildeo pois apresenta o ponto de vista da

ONG em relaccedilatildeo agraves missotildees integradas propondo um conjunto de regras de cooperaccedilatildeo

no terreno entre ONG OING e as NU

Para mitigar estes riscos a OXFAM preparou um conjunto de regras para cooperar

especificamente com as NU

A accedilatildeo humanitaacuteria deve ser separada das operaccedilotildees de peacekeeping ou

poliacuteticas das NU de forma a que natildeo sejam confundidas as missotildees e natildeo haja

confusotildees no terreno

Uma associaccedilatildeo visiacutevel entre os humanitaacuterios que cooperam com as NU e outros

objetivos das NU deve ser minimizada em conflitos e contextos de elevada

fragilidade de forma a prevenir potenciais problemas no terreno

Antes de decidir qualquer abordagem de integraccedilatildeo devem ser feitas avaliaccedilotildees

de risco envolvendo ONG e OING De forma alguma as ONG e OING devem

partir para uma missatildeo integrada sem participarem no processo de planeamento

e abordagem da missatildeo

A avaliaccedilatildeo deve ser revista e feita com regularidade procedendo a mudanccedilas se

necessaacuterias a missatildeo integrada pode ser portanto revista e atualizada consoante

a evoluccedilatildeo da missatildeo no terreno (OXFAM 2014 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

37

A OXFAM refere ainda que as missotildees integradas com as NU devem ter em conta os

princiacutepios humanitaacuterios incluindo assistecircncia baseada na imparcialidade agraves pessoas em

necessidade A OXFAM eacute uma das ONG que eacute muitas vezes associada agraves agecircncias

humanitaacuterias das NU devido aos mecanismos de coordenaccedilatildeo fundos das NU e uso dos

meios de transporte aeacutereos das NU O facto de haver esta associaccedilatildeo agraves agecircncias das

NU pode levar agrave confusatildeo podendo a populaccedilatildeo crer que estas fazem parte das

poliacuteticas e missotildees integradas das NU que muitas vezes apoiam uma das partes das

hostilidades o que coloca em causa o trabalho das ONG ou OING No entanto existem

outras situaccedilotildees que podem levar a este tipo de mal-entendido a saber

Colocar organizaccedilotildees humanitaacuterias e outros atores das NU no mesmo lugar deve

ser evitado a todo o custo pois poderaacute dar azo a mal-entendidos no terreno e

deitar por terra todo o trabalho da ONG ou OING no terreno

O uso da escolta militar para fins humanitaacuterios eacute em determinados casos

fundamental para aceder a territoacuterios No entanto antes de partir para esta

escolha a opccedilatildeo deve ser minuciosamente estudada e soacute em ultimo recurso

usada

Apresentar as operaccedilotildees de peacekeeping ou toda a missatildeo integrada como

sendo humanitaacuteria quando natildeo o eacute Satildeo missotildees completamente diferentes que

decidem cooperar de forma que os humanitaacuterios possam ter o miacutenimo de

condiccedilotildees para operar no terreno

Usar as operaccedilotildees de peacekeeping para fornecer os Quick Impact para

desenvolver confianccedila na missatildeo no mandato e no processo de paz Os QIPs satildeo

projetos de pequena escala (duraccedilatildeo meacutedia de 6 meses) que tecircm como objetivo

ter um impacto imediato que contribua para a estabilizaccedilatildeo reconstruccedilatildeo e

estabilizaccedilatildeo no poacutes-conflito Podem tambeacutem ter um impacto no

desenvolvimento a longo prazo (OXFAM 2014 pp 3)

As NU tambeacutem tecircm feito um esforccedilo para conseguir elaborar um modelo de missatildeo

integrada no qual eacute respeitado o espaccedilo humanitaacuterios e os princiacutepios humanitaacuterios de

forma a mitigar os riscos que podem advir No entanto em 2014 as NU defenderam

uma missatildeo integrada estrutural com a representaccedilatildeo das ONG pela Humanitarian

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

38

Country Team e pelo OCHA (o OCHA faz tambeacutem uma avaliaccedilatildeo e realiza planos

estrateacutegicos de atuaccedilatildeo no terreno consoante os casos) que tem realizado avaliaccedilotildees de

risco subjacentes a este tipo de missatildeo (OCHA sd) No entanto no caso do Sudatildeo do

Sul as NU foram criticadas por terem optado pela missatildeo integrada estrutural onde os

peacekeepers e humanitaacuterios satildeo alvo da mesma gestatildeo programa e poliacuteticas o que

numa situaccedilatildeo como o Sudatildeo do Sul eacute impensaacutevel Como eacute sabido a operaccedilatildeo

peacekeeping esteve do lado do governo ajudando a restabelecer a instituiccedilatildeo de

governaccedilatildeo o que leva a que os humanitaacuterios sejam eles tambeacutem colados ao governo e

seja limitado o acesso a determinados locais ou determinada populaccedilatildeo natildeo queira ser

tratada por eles

Este eacute pois o Guia de missotildees integradas realizado pela OXFAM onde satildeo expostos os

riscos o que deve ser evitado e como evitar que haja um atropelamento dos princiacutepios

fundamentais humanitaacuterios pelas NU no terreno Desta forma respeitando esta guia

seriam evitados potenciais riscos de os princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria serem postos em

causa de haver aproveitamento poliacutetico da missatildeo integrada e limitar os humanitaacuterios a

determinados locais Uma vez as condiccedilotildees respeitadas e a seguranccedila assegurada aos

humanitaacuterios seria mais faacutecil para as ONG ou OING operarem no terreno (OXFAM

2014)

A OXFAM prefere a missatildeo integrada estrateacutegica pois eacute uma abordagem mais coerente

para um trabalho comum entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a operaccedilatildeo de peacekeeping Neste

caso as ONG iriam trabalhar com o OCHA que se manteria independente em relaccedilatildeo

agraves NU e imparcial natildeo sendo toleradas pressotildees para agir de uma dada forma ou aceder

ao local X Jaacute a missatildeo integrada estruturante natildeo faz sentido segundo o OXFAM

Admite uma comunicaccedilatildeo efetiva entre organizaccedilotildees humanitaacuterias e operaccedilotildees de

peacekeeping ou atores poliacuteticos que podem proteger a populaccedilatildeo e o reconhecimento

dos seus direitos No entanto a accedilatildeo humanitaacuteria deve manter-se independente da accedilatildeo

securitaacuteria ou consideraccedilotildees poliacuteticas

Para que as missotildees integradas sejam bem-sucedidas as NU devem respeitar os

seguintes pontos segundo a OXFAM (2014)

A accedilatildeo humanitaacuteria deve continuar estruturalmente separada da poliacutetica ou

componentes de peacekeeping relativamente a uma missatildeo integrada das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

39

Logo uma associaccedilatildeo visiacutevel entre missotildees humanitaacuterias e outros objetivos

devem ser minimizados

Antes de decidir partir para a abordagem de uma missatildeo integrada deve ser feita

uma avaliaccedilatildeo que envolva ONG e OING de forma a identificar potenciais

riscos para a accedilatildeo humanitaacuteria e o que pode ser feito para mitigar os mesmos

Essa avaliaccedilatildeo deveraacute ser feita com regularidade e revista de forma a que

possam ser feitas correccedilotildees

Quaisquer que sejam os acordos feitos relativos agraves missotildees integradas os

mandatos das NU devem sempre respeitar os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios incluindo uma assistecircncia imparcial baseada apenas na

necessidade da populaccedilatildeo

As orientaccedilotildees do IASC (Inter-Agency Standing Commitee) sobre a manutenccedilatildeo

da distinccedilatildeo entre accedilatildeo humanitaacuteria as atividades poliacuteticas ou de manutenccedilatildeo da

paz devem ser rigorosamente aplicadas sempre que haja riscos e estes sejam

encobertos pelas NU Isto inclui o Guia de 2004 sobre as relaccedilotildees civis-militares

em situaccedilotildees de emergecircncia o Guia de 2003 sobre o uso de recursos militares e

de defesa civil para apoiar atividades humanitaacuterias das NU em situaccedilotildees

complexas de emergecircncias e o de 2012 sobre o uso de escoltas armadas aos

comboios humanitaacuterios Estes guias devem ser amplamente promovidos

As negociaccedilotildees humanitaacuterias do acesso agraves pessoas em necessidade devem manter-

se separadas dos objetivos poliacuteticos de forma a que os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios natildeo sejam colocados em causa (OXFAM 2014 pp 4)

Uma vez que as NU assegurem estes pontos todos a OXFAM compromete-se a que vai

Distinguir-se das missotildees das NU enquanto se compromete com a promoccedilatildeo da

coordenaccedilatildeo e proteccedilatildeo dos civis

Promover a distinccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e funccedilotildees poliacuteticas ou de

peacekeeping das missotildees das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

40

Trabalhar com o IASC o HCT e grupos de coordenaccedilatildeo das ONG no terreno de

forma a promover a consciencializaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo consistente e salvaguarda dos

princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria

Invocar a poliacutetica de IAP (Integrated Assessment and Planning) da ONU para

pedir uma revisatildeo dos acordos e devem ser aplicadas medidas de mitigaccedilatildeo no

caso de haver acordos de integraccedilatildeo estabelecidos que sejam considerados como

tendo riscos para accedilatildeo humanitaacuteria

Apoiar os esforccedilos de especialistas humanitaacuterios para desenvolver exerciacutecios de

gerenciamento de crises e fazer um preacute planeamento em campo de forma a

treinar as forccedilas militares que trabalham sob o mandato das NU implantado em

missotildees de manutenccedilatildeo da paz Esses exerciacutecios devem ser explicados aos

comandantes militares e agraves agecircncias de ajuda de forma a avaliarem as

necessidades o potencial e vantagens que os humanitaacuterios gozam nas relaccedilotildees

comunitaacuterias e anaacutelises geograacuteficas bem como as relaccedilotildees sociopoliacuteticas locais

ressalvando a importacircncia de manter uma distinccedilatildeo visiacutevel entre atividades

humanitaacuterias e de manutenccedilatildeo da paz

Solicitar ativamente esforccedilos para rever as missotildees integradas durante a sua

duraccedilatildeo e incentivar a avaliaccedilatildeo independente de sua relaccedilatildeo custo-eficaacutecia

contra o impacto imediato e de longo prazo no final da missatildeo Deve haver um

mecanismo de monitoramento que permita que as missotildees aprendam no terreno

avaliando o que funciona e o que natildeo funciona permitindo proceder a mudanccedilas

se necessaacuterio (OXFAM 2014 pp 5)

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno

Eacute verdade que as ONG humanitaacuterias hospitais humanitaacuterios entidades religiosas e

escolas tecircm estatuto neutral no conflito e natildeo podem por isso ser alvo de ataque

segundo as convenccedilotildees de Genebra no entanto o que se tem verificado eacute um aumento

de ataques a estas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees levando por exemplo MSF agrave

necessidade de trocar a cor da carrinha para natildeo ser confundida com a carrinha do

exeacutercito e ser alvo de ataques como tantas outras ONG tecircm sido alvo O hospital da

MSF foi inclusive alvo em 2015 no Afeganistatildeo por um ataque dos EUA que tendo

provocados 19 mortos dos quais 12 eram membros da organizaccedilatildeo Segundo os MSF

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

41

natildeo haacute desculpa para o ataque dos EUA pois o hospital estava devidamente identificado

e mapeado ou seja identificado O bombardeamento durou 30 minutos mesmo apoacutes a

organizaccedilatildeo avisar os EUA Esta ocorrecircncia eacute muito grave pois ataques a hospitais

podem ser considerados crimes de guerra e mostra que as organizaccedilotildees humanitaacuterias

operam num contexto onde a seguranccedila eacute precaacuteria o que torna difiacutecil realizarem o seu

trabalho Para evitar este tipo de trageacutedias eacute necessaacuterio haver um bom mapeamento das

ONG OING e OIG bem como dos hospitais Este eacute um exemplo de que os ataques tecircm

de ser prevenidos natildeo soacute a partir do terreno mas tambeacutem fora do terreno a niacutevel

internacional para que situaccedilotildees destas natildeo voltem a ocorrer No entanto os ataques satildeo

maioritariamente realizados no terreno por atacantes nacionais do Estado em conflito

armado (Smith 2012 Globo 2015)

A confusatildeo que pode advir da escolta militar eacute uma questatildeo fulcral pois se por um lado

a escolta militar daacute seguranccedila por outro pode levar a que possam ser alvos de ataques

por parte de miliacutecias locais Podem tambeacutem ser facilmente colados a uma das partes das

hostilidades e confundidos com militares caso o material e as carrinhas natildeo sejam

devidamente identificadas tal como aconteceu com o MSF referido acima (Gibbons e

Piquard 2006)

Todos os veiacuteculos das ONG hospitais e produtos devem ser devidamente identificados

de forma a que natildeo sejam confundidos com as forccedilas militares em geral como iraacute ser

abordado no guia de colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares das NU que refere isto

mesmo Militares e ONG humanitaacuterias podem cooperar de forma minuciosa bem

planeada em uacuteltimo recurso e identificando adequadamente as instalaccedilotildees carros

campos de refugiados produtos entre outros Todo o cuidado eacute pouco pois um

pequeno deslize pode ter como consequecircncia uma confusatildeo e resultar num ataque As

ONG devem distanciar-se o maacuteximo dos militares e usar a escolta como jaacute foi referido

como uacuteltimo recurso (Gibbons e Piquard 2006)

Em 2013 registou-se 460 viacutetimas humanitaacuterias das quais 155 pessoas foram

assassinadas e 134 foram raptados e gravemente feridos Houve um aumento de 66

das viacutetimas entre 2012 e 2013 Esta eacute a problemaacutetica central deste estudo e por isso seraacute

feita de seguida uma conceptualizaccedilatildeo sobre o sistema securitaacuterio das Naccedilotildees Unidas e

agecircncias militares privadas nos cenaacuterios humanitaacuterios Jaacute no relatoacuterio de 2015 consta

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

42

que em 2014 foram assassinados 120 humanitaacuterios 88 ficaram feridos e 121 foram

raptados (Ryou et al 2014 Humanitarian Outcomes 2015)

A maior parte das viacutetimas eram membros de ONG locais e faziam parte da Cruz

Vermelha e Crescente Vermelho e os ataques e emboscadas eram em 2013

maioritariamente perpetrados no caminho para os locais onde estes iam operar Para se

ter uma noccedilatildeo mais precisa 87 das viacutetimas satildeo nacionais do paiacutes onde a ajuda estaacute a

ser fornecida e 13 satildeo membros internacionais A seguranccedila dos humanitaacuterios tem

vindo a revelar-se uma razatildeo fundamental para o insucesso de certas missotildees pois natildeo

conseguem chegar aos locais outras ONG decidem abandonar o terreno por natildeo

conseguirem realizar o seu trabalho em seguranccedila Segundo The Aid Worker Security

Report podemos verificar no documento relativo a seguranccedila na aacuterea da accedilatildeo

humanitaacuteria que pouco tem sido investido na mitigaccedilatildeo dos riscos na estrada e natildeo soacute

A 11 de Julho de 2016 foi realizado um ataque a humanitaacuterios em lugar em que estes

foram torturados espancados e abusados sexualmente Este caso violento de ataque a

humanitaacuterios foi amplamente divulgado devido agrave inaccedilatildeo por parte dos peacekeepers

face aos pedidos de ajuda dos humanitaacuterios (Ryou et al 2014 e Adongo 2017)

Os ataques aos humanitaacuterios tecircm ocorrido em 30 Estados No entanto trecircs quartos dos

ataques foram realizados em apenas cinco Estados que estatildeo a passar por um conflito

armado e uma falha de governaccedilatildeo (Estados fraacutegeis) Esses Estados satildeo Sudatildeo do Sul

Sudatildeo Afeganistatildeo Siacuteria e Paquistatildeo Estes ataques satildeo sobretudo raptos e tiroteio

depois vecircm assaltos sem armas de fogo e em uacuteltimo lugar o recurso a explosivos No

entanto este uacuteltimo meacutetodo de ataque tem vindo a sofrer um aumento significativo

entre 2006 e 2013 (Humanitarian Outcomes 2014)

Segundo dados mais recentes do relatoacuterio de Czwarno et al (2017) verifica-se que

houve de facto um aumento do nuacutemero de ataques entre 2007 e 2016

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

43

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terreno

Fonte Czwarno M Harmer A e Stoddard A (2017)

Eacute ainda abordado em Ryou et al (2014) e Brabant et al (2010) o procedimento de

treino dos membros das ONG para uma travessia segura para o local onde pretendam

operar Este programa de treino eacute intitulado de SOP (Standard Operating Procedure)

Neste programa constam os seguintes toacutepicos

bull Aprender conduccedilatildeo defensiva para as situaccedilotildees em que precisariam de fugir de

uma determinada situaccedilatildeo de perigo e adquirir capacidade de negociaccedilatildeo no caso de se

depararem com uma situaccedilatildeo em que teratildeo de negociar com o chefe dos rebeldes do

grupo eacutetnico tribo entre outros

bull Adotar guias de instruccedilatildeo ou manuais de boa conduta em caso de ter de passar

check-points em caso de fogo armado assaltos sequestros etc Este ponto eacute muito

importante pois eacute necessaacuterio ir preparado psicologicamente para fazer a travessia por

check-points saber que tipo de documentos mostrar o que dizer como agir e em caso

de fogo armado quais os procedimentos de proteccedilatildeo do pessoal a adotar

bull Fazer sempre pedido de autorizaccedilatildeo para movimentar o staff ou viajar para

outros locais eacute necessaacuterio avisar sempre e realizar o pedido de autorizaccedilatildeo para natildeo

terem problemas nos check-points e correrem o risco de serem detidos

bull Adotar o procedimento em que todos os elementos do grupo avisam a sua

partida e chegada ao local Este procedimento deve ser adotado pela esquipa de forma a

saberem onde cada elemento estaacute a que horas estaacute prevista a chegada e estarem sempre

0

50

100

150

200

250

300

350

2007 2011 2014 2017

Incidentes

Viacutetimas

humanitaacuterios

mortos

humanitaacuterios

eridos

raptos de

humanitaacuterios

Viacutetimas

internacionais

Viacutetimas

nacionais

5

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

44

contactaacuteveis de modo a que seja faacutecil identificar se um membro do grupo estaacute em

problemas devido agrave incomunicabilidade desaparecimento entre outros

bull Estabelecer toques de recolher e mapear as aacutereas que natildeo sejam seguras no

momento preciso em que pensam partir Este ponto eacute essencial para garantir a seguranccedila

do staff e natildeo correrem riscos desnecessaacuterios

bull Mudar as rotinas para que natildeo sejam alvo faacutecil dos rebeldes ou outras forccedilas

militarespopulaccedilatildeo local que queiram atacar e o staff deve ser acompanhado pelo liacuteder

da comunidade com a qual vatildeo trabalhar de forma a que seja garantida a sua seguranccedila

bull Usar raacutedio de alta frequecircncia e equipamentos sateacutelite em missotildees de longa

distacircncia para que todos os elementos da equipa permaneccedilam contactaacuteveis

bull Regras de conduta entre dois carros e espaccedilamento entre eles eacute importante

sobretudo num campo em que natildeo conhecemos nem estamos acostumados (Ryou et al

2014 pp 8-9 Brabant et al 2010 pp 12-16)

O relatoacuterio de Ryou et al (2014) aponta a escolta militar como ultimo recurso usado

pelas ONG e quando usada eacute fornecida pelo governo do Estado em conflito armado ou

pelos peacekeepers ou pela NATO A NATO eacute uma opccedilatildeo agrave qual a comunidade

humanitaacuteria deveraacute recorrer em uacuteltimo recurso pelo simples facto de natildeo se manter

neutra no terreno o que poder A NATO tem um compromisso com as NU quanto a

assegurar a paz e seguranccedila mundial (Ryou et al 2014 e NATO 2016)

A NATO em conjunto com as NU e a UE atua a prevenir crises gerir conflitos ajudar

a estabilizar em situaccedilotildees de poacutes-conflito Esta cooperaccedilatildeo estende-se agrave avaliaccedilatildeo e

gestatildeo de crises cooperaccedilatildeo civil-militar que eacute o foco do tema que estaacute a ser retratado

nesta dissertaccedilatildeo treino e educaccedilatildeo combate agrave corrupccedilatildeo no setor da defesa accedilatildeo

contra as minas mitigaccedilatildeo das ameaccedilas representadas por dispositivos explosivos

improvisados capacidades civis promoccedilatildeo do papel das mulheres em paz e seguranccedila

proteccedilatildeo de civis incluindo crianccedilas conflitos armados combate agrave violecircncia e violecircncia

de gecircnero controle de armas e natildeo proliferaccedilatildeo e a luta contra o terrorismo A

cooperaccedilatildeo eacute ainda reforccedilada com as NU e outros atores internacionais como a UE e a

Organizaccedilatildeo para a Seguranccedila e a Cooperaccedilatildeo na Europa (OSCE) que satildeo partes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

45

integrantes do contributo da NATO para uma abordagem abrangente quanto agrave gestatildeo e

operaccedilotildees de crise (NATO 2016)

Retomando entatildeo a questatildeo referente agraves opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno agrave primeira vista as melhores opccedilotildees seriam mesmo escolta e

proteccedilatildeo no acircmbito de missotildees sob o princiacutepio da R2P as missotildees integradas

minimalistas ou as agecircncias militares privadas No caso das missotildees integradas em

cooperaccedilatildeo com os peacekeepers respeitando o guia de cooperaccedilatildeo entre militar-

humanitaacuterio no caso das agecircncias militares privadas caso estejam devidamente

regulamentadas no direito internacional humanitaacuterio Por uacuteltimo o peace enforcement ao

abrigo do princiacutepio do R2P eacute a melhor opccedilatildeo para Estados que estejam numa situaccedilatildeo

de alta inseguranccedila pois eacute uma intervenccedilatildeo de emergecircncia A escolta pode facilitar a

deslocaccedilatildeo no entanto eacute preciso respeitar os princiacutepios fundamentais da accedilatildeo

humanitaacuteria e as ONG OING e OIG humanitaacuterias respeitarem as missotildees dos militares

com os quais estatildeo a cooperar nesse preciso momento Esta cooperaccedilatildeo tem como

intuito melhorar a seguranccedila e proteger os humanitaacuterios e natildeo dificultar o trabalho de

ambos (Bellamy 2015)

O problema com a cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao

abrigo do R2P natildeo estaacute isenta de perigos podendo mesmo ser mais os pontos negativos

do que favoraacuteveis Pois os militares sob este tipo de missatildeo natildeo satildeo neutros partindo

para o terreno para acabar com a calamidade que estaacute a acontecer ou seja atacar os

responsaacuteveis pelas atrocidades que poderatildeo ser os proacuteprios governantes Sendo o

governo o responsaacutevel pelas atrocidades os militares do peace enforcement iratildeo estar

contra a forccedila que estaacute no poder e por conseguinte estando os humanitaacuterios a receber

escolta do peace enforcement iratildeo sofrer represaacutelias como ataques ou ver o acesso

negado a determinados locais poderaacute mesmo seraacute negada a permissatildeo de permanecer

no terreno e poderatildeo ser atacados por miliacutecias O perpetrador das atrocidades podem

ainda ser miliacutecias e por conseguinte natildeo ser faacutecil fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e

natildeo combatentes podendo ser atacados civis no terreno colocando uma vez mais a

comunidade internacional num dilema entre a seguranccedila e respeitar os princiacutepios da

neutralidade e imparcialidade colocando-os numa situaccedilatildeo de grande fragilidade

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

46

No entanto existe uma necessidade de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios no terreno e a

comunidade humanitaacuteria eacute fulcral quanto agrave proteccedilatildeo dos civis assistindo medicamente

fornecendo bens essenciais como comida aacutegua medicaccedilatildeo e apoio psicoloacutegico

acolhem refugiados e IDP fazem uso das suas influecircncias para dar apoio juriacutedico agraves

viacutetimas e garantem proteccedilatildeo Estes pontos referidos tecircm um papel crucial na pacificaccedilatildeo

dos territoacuterios O espaccedilo humanitaacuterio neutro e imparcial daacute uma sensaccedilatildeo de proteccedilatildeo agrave

populaccedilatildeo um refugioabrigo e este espaccedilo pode ser colocado em causa com uma

missatildeo integrada com os militares do peace enforcement pois a comunidade

humanitaacuteria eacute politizada involuntariamente perdendo a neutralidade Ou seja eacute um

dilema que os humanitaacuterios atravessam no terreno dilema entre a seguranccedila a

permanecircncia no terreno e salvar vidas (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Apesar destes pontos negativos a verdade eacute que eacute impossiacutevel para a comunidade

humanitaacuteria manter-se neutra neste tipo de conflitos e precisa de escolta para conseguir

prosseguir com a sua missatildeo Segundo Bellamy (2015) a missatildeo sob o princiacutepio da

R2P no Sri Lanka entre 2008-2009 foi mal sucedida as NU natildeo tiveram capacidade

suficiente para proteger os civis e garantir o acesso dos humanitaacuterios aos locais onde

residiam os civis em necessidade A comunidade humanitaacuteria no terreno viu-se forccedilada

a terminar a missatildeo devido ao facto de o governo ter restringido o acesso das

organizaccedilotildees humanitaacuterias e o staff das NU foi persistentemente intimidado As NU natildeo

tentaram chamar o governo agrave realidade evidenciando que restringir o acesso dos

humanitaacuterios vai contra agraves suas obrigaccedilotildees internacionais As NU falharam tambeacutem

quanto ao seu dever de informar os Estados sobre violaccedilotildees dos direitos humanos no

terreno A comunidade humanitaacuteria natildeo pode cooperar com este tipo de accedilotildees vai

contra agrave essecircncia da accedilatildeo humanitaacuteria Logo o peace enforcement sob o princiacutepio do

R2P que inicialmente poderia ser uma soluccedilatildeo viaacutevel para garantir a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios no terreno (devido ao princiacutepio subjacente e agraves restriccedilotildees e regras riacutegidas

de atuaccedilatildeo no terreno) deixa de o ser a partir do momento em que falha como no Sri

Lanka para com os cidadatildeos e para com a comunidade humanitaacuteria uma vez que natildeo

conseguiu garantir um acesso seguro e a permanecircncia dos humanitaacuterios no terreno

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Portanto uma missatildeo integrada no terreno com o peace enforcement ao abrigo do

princiacutepio da responsabilidade de proteger pode ser a soluccedilatildeo mais raacutepida e a mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

47

adequada pois estatildeo todos empenhados em aliviar o sofrimento humano salvar vidas e

por termo agraves atrocidades No entanto na praacutetica esta eacute uma situaccedilatildeo bastante complexa

mas que natildeo deve ser descartada A decisatildeo quanto agrave adoccedilatildeo de uma missatildeo integrada

entre o peace enforcement ao abrigo do R2P e organizaccedilotildees humanitaacuterias deve ser

avaliada e decidida caso a caso (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

No entanto a colaboraccedilatildeo entre militar e humanitaacuterio pode ser fomentada de outra

forma estabelecendo uma verdadeira parceria onde cada um manteacutem a sua

independecircncia e no caso dos humanitaacuterios a imparcialidade e neutralidade A forccedila

militar preferencial para esta parceria seria os peacekeepers pois satildeo uma forccedila militar

internacional e imparcial Desta forma os dois atores complementam-se sem que haja

interferecircncia nas missotildees de cada um Segundo Gibbons e Piquard essa parceria pode

acontecer das seguintes formas

1 A ONG humanitaacuteria pode pedir coordenadas especificas aos militares sobre a

seguranccedila de determinada regiatildeo pedir instruccedilotildees sobre a melhor hora e caminho para

fazer a viagem ateacute determinado local considerado perigoso Desta forma a equipa

poderaacute viajar para o local atraveacutes de um caminho mais seguro recomendado pelos

militares acostumados no terreno Devem tambeacutem permanecer em contacto com a forccedila

militar com a qual estatildeo a colaborar de modo a que caso haja um problema estes

possam assistir a equipa)

2 Poderatildeo pedir contactos ou para agilizar a comunicaccedilatildeo entre a ONG e o liacuteder

da comunidade com a qual iratildeo trabalhar de forma a evitar problemas desagradaacuteveis e a

que sejam aceites no local e assim a ajuda poder ser fornecida sem

3 Os militares podem dar formaccedilatildeo aos humanitaacuterios de autodefesa seguranccedila

como por exemplo o uso da raacutedio como meio de comunicaccedilatildeo mapas entre outros e

como organizarem a logiacutestica toda de forma raacutepida e eficaz (Gibbons e Piquard 2006

pp25-95)

Caso a escolta militar natildeo possa ser dispensada existe ainda a possibilidade de os

militares escoltarem a equipa agrave paisana ou seja sem a farda de modo a natildeo chamarem

a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo local ou dos ldquoinimigosrdquo Deste modo os humanitaacuterios

realizariam a viajarem em seguranccedila a populaccedilatildeo natildeo perderia a confianccedila na ONG

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

48

pois natildeo teriam como saber que estavam a ser escoltados por uma forccedila militar Este

meacutetodo seria para usar esporadicamente (Gibbons e Piquard 2006 pp25-95)

O que se pretende demonstrar com as medidas anteriormente expostas eacute que os

humanitaacuterios devem recorrer soacute em ultimo recurso agrave escolta militar Antes podem pedir

colaboraccedilatildeo do tipo backoffice pedindo informaccedilotildees ou um mapeamento dos caminhos

seguros para chegar a determinado local pedir formaccedilatildeo sobre o uso da raacutedio por

sateacutelite como meio de comunicaccedilatildeo formaccedilatildeo de autodefesa conduccedilatildeo e uso de

determinadas ferramentas de logiacutestica que poderatildeo vir a ser uacuteteis no futuro de forma a

contribuir para uma estadia mais segura sem colocar em causa a missatildeo de ambos e os

princiacutepios humanitaacuterios (Gibbons e Piquard 2006)

Segundo Gibbons e Piquard (2006) ONG OING e OIG natildeo precisam de estar de costas

voltadas para os militares podem colaborar em conjunto de diversas formas que natildeo

sejam diretamente a escolta para natildeo serem associados a determinada forccedila poliacutetica Soacute

como uacuteltimo recurso como em caso de grande perigo deveratildeo pedir escolta ou usar os

meios de transporte militares neste caso o aeacutereo seria o mais desejaacutevel para levar o

maacuteximo de mantimentos possiacutevel

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios

Devido agraves necessidades de proteccedilatildeo e seguranccedila dos humanitaacuterios tecircm-se assistido ao

surgimento de agecircncias de seguranccedila privadas que fornecem serviccedilos de proteccedilatildeo agrave

comunidade humanitaacuteria Peter Singer intitula estas agecircncias de ldquoagecircncias militares

privadasrdquo que oferecem seguranccedila treino para missotildees no terreno e apoio logiacutestico

Hoje as AMP (agecircncias militares privadas) operam em mais de 50 paiacuteses e tiveram um

papel decisivo nos conflitos dos seguintes Estados Angola Croaacutecia Etioacutepia-Eritreia e

Serra Leoa Estas agecircncias militares satildeo geridas por militares reformados e podem ter

mera funccedilatildeo consultiva como tambeacutem podem ter um papel de uma empresa

transnacional usando meios como aviotildees e comandos no terreno para aleacutem da sua vasta

experiecircncia atraveacutes de missotildees realizadas muitas vezes no terreno para o qual iratildeo

fornecer o serviccedilo (Singer 2006)

Podemos dividir as agecircncias de seguranccedila privadas em duas grandes aacutereas que satildeo as

agecircncias militares privadas constituiacutedas por ex-militares reformados ou que tenham

saiacutedo da forccedila militar estatal da qual fazia parte e tecircm como principal objetivo fornecer

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

49

serviccedilos de seguranccedila militar em terrenos de conflito armado internacional ou natildeo caso

seja necessaacuterio e as agecircncias de seguranccedila privada que natildeo iratildeo ser profundamente

exploradas nesta dissertaccedilatildeo A ONU tem vindo a contratar os serviccedilos destas agecircncias

militares privadas bem como as ONG e OING Como eacute possiacutevel constatar os

humanitaacuterios vivem momentos de grande inseguranccedila no terreno caso o Estado em

questatildeo natildeo forneccedila essa seguranccedila agrave ONG que estaacute a operar no terreno As agecircncias

podem fornecer apoio logiacutestico de seguranccedila principalmente nas viagens para o

territoacuterio onde iratildeo trabalhar e trabalho de consultoria Por outro lado haacute as agecircncias de

seguranccedila privadas que realizam o serviccedilo de seguranccedila apenas como um policia

realizaria em territoacuterio nacional Este tipo de agecircncias natildeo tem a responsabilidade de

proteger territoacuterios ou bens privados mas sim de proteger as pessoas neste caso os

humanitaacuterios nas deslocaccedilotildees e no territoacuterio As ONG OING e OIG tecircm vindo a

recrutar os serviccedilos das agecircncias militares privadas pois estas estatildeo habituadas a operar

em contexto de conflitos Estas agecircncias podem ser contratadas por ONG OING OIG

pelo governo por indiviacuteduos a tiacutetulo privado e por empresas privadas Segundo Pilbeam

(2015a) os principais serviccedilos que fornecem satildeo

Combate as agecircncias militares privadas podem ser contratadas para tomar diretamente

parte das hostilidades assistindo as tropas no terreno em combate em caso de falta de

militares

Treino podem igualmente ser contratadas para treinar novos meacutetodos taacuteticos de

sobrevivecircncia como atravessar certas estradas perigosas novos meacutetodos de combate e

como usar determinado armamento bem como meacutetodos de sobrevivecircncia e medicina

de terreno e sobrevivecircncia

Suporte podem ser contratados para fornecer apoio logiacutestico como por exemplo gerir

os bens alimentares e serviccedilos construccedilatildeo e uso de novas tecnologias de informaccedilatildeo

como a raacutedio por exemplo

Seguranccedila este eacute o serviccedilo mais contratado pelas ONG ONIG e OIG humanitaacuterias

com este serviccedilo eacute pretendido garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos como os profissionais

humanitaacuterios campos de refugiados edifiacutecios terrenos entre outros Tecircm tambeacutem como

funccedilatildeo garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos durante o transporte para o terreno Hoje

tambeacutem tecircm a funccedilatildeo de garantir a seguranccedila dos dados e do computador

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

50

Inteligecircncia este serviccedilo diz respeito a recolhimento de dados e anaacutelise dos mesmos

atraveacutes de pesquisa e observaccedilatildeo

Reconstruccedilatildeo estes serviccedilos satildeo muitas vezes requeridos em situaccedilotildees de poacutes-conflito e

o seu principal trabalho eacute livrar terrenos que possam estar minados reconstruccedilatildeo de

infraestruturas e restaurar sistemas essenciais agrave sobrevivecircncia como a aacutegua o

saneamento e a eletricidade (Pilbeam 2015a pp 200)

Pilbeam refere que no caso de Ruanda a ONU teve a necessidade de contratar AMP

para assistir os peacekeepers antes e depois da crise natildeo soacute a niacutevel securitaacuterio mas

tambeacutem a niacutevel de reconstruccedilatildeo logiacutestica entre outros Este tipo de situaccedilotildees natildeo

deveria acontecer pois torna a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios dependentes dos serviccedilos

destas agecircncias militares privados o que aumenta o nuacutemero de mercenaacuterios no terreno

aumenta as despesas tornando a accedilatildeo securitaacuteria num negoacutecio privado Outro problema

eacute o facto de existir um vazio legal na hora de julgar estes militares em caso de infraccedilatildeo

da lei no Estado em que estatildeo a operar Estes natildeo poderatildeo tambeacutem usufruir do estatuto

de prisioneiro de guerra (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam 2015a)

Por exemplo a agecircncia Defense System Limited (DSL) proveu proteccedilatildeo agrave UNICEF no

Sudatildeo e na Somaacutelia e agrave OMS em Angola A Armour Group foi contratada pelo ACNUR

para realizar serviccedilo de seguranccedila no Queacutenia O Dyn Corp disponibilizou meios aeacutereos

e uma rede sateacutelite para comunicaccedilotildees para a ONU mais especificamente para os

membros das operaccedilotildees de peacekeeping em Timor Leste O Pacific Architects

Engeneers (PAE) contribuiu com poliacutecias civis para a missatildeo da ONU no Haiti Esta

contrataccedilatildeo natildeo tem nenhum guia ou legislaccedilatildeo que especifique como onde e em que

circunstacircncias devem ser contratadas este tipo de agecircncias militares privadas de forma

a que possam ser evitados problemas no futuro (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam

2015a)

As organizaccedilotildees humanitaacuterias recorrem unicamente agraves agecircncias de militares privadas

quando a sua seguranccedila corre elevados riscos no local onde pretendam operar e o Estado

natildeo garante escolta militar e seguranccedila aos humanitaacuterios da ONG que pretende operar

naquele local ficando assim ao criteacuterio da ONG recorrer a agecircncias de seguranccedila

privada regressar ou correr o risco mesmo assim Raramente as ONG pedem ajuda em

termos de seguranccedila aos militares que estatildeo em operaccedilatildeo de peacekeeping ou outros

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

51

militares no terreno para que os seus princiacutepios fundamentais natildeo sejam abalados Com

o aumento dos sequestros e mortes de humanitaacuterios aumentou tambeacutem o nuacutemero de

ONG a contratarem agecircncias privadas de seguranccedila Sete agecircncias da ONU admitem ter

contratado agecircncias de seguranccedila para poderem operar em terrenos que estejam a

atravessar por um conflito armado Este facto mostra bem a falta de militares com que a

ONU se depara e a necessidade cada vez maior de garantir a seguranccedila no terreno dos

seus profissionais (Singer 2006)

Singer levanta um problema na contrataccedilatildeo de agecircncias de seguranccedila privadas por

ONG que eacute o facto de estas natildeo saberem como trabalhar em conjunto com militares e

quais os limites de accedilatildeo e conduta destas agecircncias Somente o Comiteacute Internacional da

Cruz Vermelha a Oxfam e a Mercycorps elaboraram documentos sobre a conduta das

agecircncias de seguranccedila privada num manual onde satildeo estabelecidos os limites de accedilatildeo

tipo de armas a usar as tarefas entre outros Ou seja elaboraram um documento onde eacute

estabelecido que tipos de accedilotildees podem e natildeo podem ter no terreno direitos e deveres

para que natildeo haja um uso excessivo e desnecessaacuterio da forccedila e das armas (Singer 2006

Schneiker e Joachim 2015)

No entanto existe um vazio legal e estas agecircncias militares privadas natildeo podem ser

julgadas no terreno nem ao abrigo do Direito Internacional Humanitaacuterio o que torna o

seu uso perigoso Isto acontece porque estas agecircncias natildeo estatildeo a trabalhar para o

Estado X ou Y mas para uma ONG ou OIG ou seja o seu serviccedilo eacute privado e

contratado pela ONG (Singer 2006)

Os militares destas agecircncias privadas contratados pelas ONG OING e OIG satildeo

considerados mercenaacuterios o que faz com que natildeo tenham direito ao estatuto de

prisioneiros de guerras e nem sejam considerados combatentes o que leva a que natildeo

tenham direito agrave expatriaccedilatildeo tratamento meacutedico especial e tenha de se sujeitar ao

tratamento que lhe for concedido pelo Estado no qual foi feito prisioneiro Estes

militares natildeo estatildeo ao serviccedilo de nenhum Estado ou comunidade internacional a

combater estatildeo simplesmente a fornecer um serviccedilo a troco de dinheiro o que faz deles

mercenaacuterios (Pilbeam 2015a)

Natildeo tecircm tambeacutem o direito a serem extraditados para o seu paiacutes de origem tendo por

isso de ser julgados consoante a legislaccedilatildeo local Este vazio legal eacute um grave problema

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

52

que deveraacute ser resolvido pela comunidade internacional Se por um lado temos a

hipoacutetese de estes militares natildeo poderem ser julgados por crimes de guerra caso o

cometa por outro lado temos a hipoacutetese de serem apanhados e presos e nada poder ser

feito para os libertar por natildeo serem prisioneiros de guerra e por isso natildeo estarem

abrangidos pelo Direito Internacional Humanitaacuterio (Pilbeam 2015a)

Do lado das ONG OING e OIG a falta de praacutetica em contratar este tipo de serviccedilos e o

facto de natildeo saberem como lidar com os mercenaacuterios (muitos deles podem ter um

passado duvidoso quanto agrave violaccedilatildeo dos Direitos Humanos) levanta questotildees seacuterias

crimes perpetrados pelas agecircncias militares privadas a ONG que contratem estas

agecircncias eacute tambeacutem culpabilizada o que poderaacute ter consequecircncias nos donativos e na

confianccedila nela depositada (Singer 2006)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

53

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul

O Sudatildeo do Sul eacute uma Repuacuteblica presidencialista e o seu atual Presidente eacute Salva Kiir

A Capital eacute Juba e a moeda eacute a Libra Sul-sudanesa A liacutengua oficial eacute o Inglecircs no

entanto existem vaacuterias liacutenguas faladas que natildeo satildeo oficiais como por exemplo dinka

nuer zande bari e shiluk O Sudatildeo do Sul faz fronteira com o Sudatildeo (de quem se

tornou independente em 2011) a Etioacutepia o Queacutenia o Uganda a Repuacuteblica Democraacutetica

do Congo e a Repuacuteblica Centro Africana Estima-se que em 2011 a populaccedilatildeo do Sudatildeo

do Sul era de 11090104 habitantes Foi a 9 de julho desse mesmo ano que o Sudatildeo do

Sul se tornou um paiacutes independente (CIA sd)

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sul

Fonte Branco (2011)

Desde a independecircncia os variados conflitos intensificaram-se Em 2013 o Sudatildeo do

Sul entrou numa forte crise poliacutetica culminando numa guerra civil Esta crise poliacutetica

aconteceu quando o presidente Salva Kiir membro do maior grupo eacutetnico local Dinka

acusou o vice-presidente do Sudatildeo do Sul Riek Machar membro do grupo eacutetnico Lou

Nuer de uma tentativa de golpe de Estado o que levou ao despoletar de uma guerra

civil onde os membros dos dois grupos eacutetnicos acima referidos entraram eles tambeacutem

em conflito entre si fruto do oacutedio eacutetnico Eacute importante referir os grupos eacutetnicos a que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

54

pertenciam ambos os poliacuteticos parte das hostilidades porque o Sudatildeo do Sul eacute um

Estado dividido em vaacuterias etnias pode mesmo dizer-se que existem vaacuterios lsquoSudatildeosrsquo

dentro do Sudatildeo do Sul o que dificulta o processo de paz por si soacute Este

desentendimento acontece apoacutes o vice-presidente Riek Machar ter acusado o atual

presidente Slava kiir de corrupccedilatildeo de lidar mal com a economia e situaccedilatildeo global do

Sudatildeo do Sul de haver cada vez mais desigualdade entre grupos Em 2013 houve um

coup drsquoeacutetat o que intensificou uma vez mais o conflito pois o presidente Salva Kiir

decidiu demitir todo o governo e assumir total controlo do Estado atirando a tentativa

do golpe de Estado para o vice-presidente Riek Machar Como eacute possiacutevel prever os

conflitos entre as duas partes intensificaram-se mais precisamente entre os dois grupos

eacutetnicos ligados a cada uma destas duas figuras (Nascimento 2017)

Devido ao referido anteriormente deu-se uma divisatildeo dentro do SPLM (Sudan Peoplersquos

Liberation Movement) tendo sido criado o SPLM-IO (Sudan Peoplersquos Liberation

Movement- In Oposition) apoiante do vice-presidente Riek Machar Ao presente a

guerra civil joga-se entre o SPLM o SPLA (Sudan Peopleacutes Liberation Army) e o

movimento pro Riek Machar SPLM-IO Esta divisatildeo que gerou uma grande onda de

violecircncia levou ao aumento draacutestico de pedidos de asilo de refugiados aos paiacuteses

vizinhos e de deslocados internamente (Deutsche Welle 2013 Rolandsen et al 2015

Felix e Coning 2017)

Tinha havido em 2011 segundo Nascimento (2017) uma tentativa afincada de realizar

um acordo de paz duradouro tendo pouco sido feito em termos de desenvolvimento e

garantia das necessidades baacutesicas para toda a populaccedilatildeo ou seja garantir o igual acesso

a todos agrave educaccedilatildeo sauacutede alimentaccedilatildeo seguranccedila e emprego O Sudatildeo do Sul

confronta-se tambeacutem com um governo fraco aumento das hostilidades entre populaccedilotildees

de diferentes etnias alimentadas pelos poliacuteticos e um setor privado e governo corruptos

Natildeo resolvendo estas questotildees eacute impossiacutevel qualquer acordo de paz vingar a natildeo ser no

papel Eacute possiacutevel entatildeo deduzir que este processo de paz natildeo foi coordenado e

uniforme pois o governo optou por estabelecer acordos ao longo do paiacutes criando

divisotildees dentro do recente Estado (Nascimento 2017)

Houve um novo acordo de cessar-fogo em maio de 2014 tendo sido criado um governo

de transiccedilatildeo e foi feito um esboccedilo para a criaccedilatildeo de uma nova constituiccedilatildeo No entanto

houve mais uma vez neste processo uma falta de compromisso para com as partes e a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

55

populaccedilatildeo o que gerou mais ondas de violecircncia Em maio de 2015 o governo do Sudatildeo

do Sul foi pressionado por atores externos a estabelecer um acordo de paz acordo esse

que veio a ser altamente criticado Salva Kiir acusou o acordo de desfavorecer a

comunidade eacutetnica Dinka num futuro governo Este acordo foi tambeacutem criticado pela

sociedade civil por privilegiar a partilha de poderes entre as elites ao inveacutes de prestar

contas e desenvolver um mecanismo de justiccedila onde as atrocidades cometidas pelos dois

partidos fossem punidas Acusou tambeacutem o presidente de natildeo privilegiar o

desenvolvimento a niacutevel educacional socioeconoacutemico e de infraestruturas do Estado e

de natildeo haver a aplicaccedilatildeo da lei Riek Machar voltou ao seu cargo como vice-presidente

tendo de abandonar a cidade de Juba por violecircncia e alegada perseguiccedilatildeo do governo

tendo sido substituiacutedo pelo Presidente Riek Machar pediu ajuda agrave comunidade

internacional para enviar militares que o ajudassem a chegar a Juba em seguranccedila e

retomar o seu cargo Pouco mudou como eacute possiacutevel verificar natildeo se constatou

desenvolvimento algum continua a existir pobreza e a violecircncia natildeo para de aumentar

Salva Kiir (atual presidente) privilegiou a estabilizaccedilatildeo do Estado ao inveacutes do

desenvolvimento o que em conjunto com o conflito eacutetnico despoletou a guerra civil

(Nascimento 2017 Felix e Coning 2017)

Segundo Nascimento (2017) houve ainda uma maacute compreensatildeo frequente quanto ao

uso do peacebuilding confundido com partilha de poderes e recursos Ao inveacutes disso

deveria ter havido uma aposta na criaccedilatildeo de uma democracia soacutelida onde os cidadatildeos

pudessem contribuir na tomada de decisatildeo dos poliacuteticos e desenvolvimento do seu

territoacuterio A parte mais importante para o sucesso do acordo de paz sociedade civil e

partidos natildeo foi todavia parte dos processos de negociaccedilatildeo da paz O processo de paz

centrou-se exclusivamente na partilha de poderes entre os partidos do governo e

militares natildeo tendo sido escutadas opiniotildees de mediadores figuras influentes ou

partidos poliacuteticos Segundo a autora os negociadores do acordo de paz natildeo queriam

entender que o problema ultrapassava a rivalidade poliacutetica que era tambeacutem constituiacutedo

por uma marginalizaccedilatildeo social e econoacutemica que afetava diversos grupos e setores da

populaccedilatildeo (Nascimento 2017 Tafta e Haken 2015)

A guerra civil do Sudatildeo do Sul levou agrave morte de milhares de pessoas Estima-se que

desde 2013 tenham morrido mais de 50 000 pessoas e que tenham fugido cerca de 16

milhotildees de pessoas dos seus lares aquando da tentativa internacional de estabelecer a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

56

paz com o acordo assinado em agosto de 2015 (OCHA 2015) Segundo o OCHA

(2017) cerca de trecircs milhotildees de pessoas tiverem de fugir dos seus lares existem cerca

de 12 milhotildees de deslocados internamente e mais de 13 milhotildees de refugiados

Podemos entatildeo verificar que o Sudatildeo do Sul desde a sua independecircncia natildeo teve um

uacutenico momento de paz e a populaccedilatildeo estaacute a atravessar momentos conturbados haacute

infraestruturas destruiacutedas falta de cuidados meacutedicos trabalho forccedilado violaccedilotildees

abusos deslocaccedilotildees forccediladas destruiccedilatildeo perda de meios de subsistecircncia e surgimento

de doenccedilas tais como a coacutelera diarreia malaacuteria entre outros ateacute aos dias de hoje

(OCHA 2015 CFR 2017 HRP 2017)

O Sudatildeo do Sul eacute ainda considerado um Estado de enorme fragilidade no iacutendice de

fragilidade dos Estados do FFP (2017) contando com uma classificaccedilatildeo de 11390 e

estando mal cotado em todos os indicadores de avaliaccedilatildeo As aacutereas satildeo as seguintes

seguranccedila e aparelho do Estado elites e facotildees clivagens entre grupos decliacutenio

econoacutemico desigualdade no desenvolvimento fuga de ceacuterebros legitimidade do

Estado direitos humanos e Estado de direito serviccedilos puacuteblicos pressotildees demograacuteficas

refugiados e deslocados internamente e finalmente intervenccedilatildeo externa Essa

classificaccedilatildeo significa que o Sudatildeo do Sul estaacute na pior categoria ndash ldquoestado de alertardquo

(100-120) e que registou o pior resultado (primeiro no ranking) em 2017 (TFP 2017a

TFP 2017b)

O paiacutes eacute ainda caracterizado por enfrentar variados problemas como por exemplo a

escassez de aacutegua mau saneamento ou ausecircncia do mesmo falta de meios de

subsistecircncia atravessando um periacuteodo de escassez alimentar o que aumenta

drasticamente os conflitos entre cidades e grupos eacutetnicos pois natildeo estatildeo a lutar

unicamente devido ao conflito e ao oacutedio eacutetnico mas estatildeo a lutar tambeacutem pela obtenccedilatildeo

de meios de subsistecircncia A guerra civil da qual natildeo consegue sair tem como principal

problema o profundo tribalismo caracteriacutestico do Estado e maus poliacuteticos natildeo

conseguindo criar um aparelho de poder forte As regiotildees do Sudatildeo do Sul que foram

mais atingidas pelo conflito satildeo Jonglei Unity e Upper Nile (Tafta 2014 Rolandsen et

al 2015 TFP 2017c Tafta e Haken 2015) Quanto ao IDH (Iacutendice de

desenvolvimento Humano) o Sudatildeo do Sul estaacute avaliado no iacutendice na posiccedilatildeo de 0418

e classificado no ranking na 181ordf posiccedilatildeo sendo a esperanccedila meacutedia de vida de 561 anos

e a escolaridade rondando ateacute os 49 anos O Estado que estaacute em uacuteltimo lugar na

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

57

classificaccedilatildeo eacute a Repuacuteblica Centro Africana na 188ordf posiccedilatildeo com o valor de 0352 O

Estado mais bem posicionado em primeiro lugar eacute a Noruega com o valor de 0949 A

cotaccedilatildeo dos Estados vai de 00 a 1 (UNDP 2016)

Para aleacutem dos problemas internos o Sudatildeo do Sul tem ainda uma relaccedilatildeo muito

fragilizada com o Sudatildeo devido agraves disputas para a aquisiccedilatildeo do petroacuteleo e a fronteira

os territoacuterios de Darfur South Kordofan e Blue Nile que eram disputados Estes

problemas levaram a que houvesse uma priorizaccedilatildeo da seguranccedila ao inveacutes do

desenvolvimento que eacute crucial para pacificar um Estado e desenvolver (Felix e Coning

2017)

O Sudatildeo do Sul foi palco de Acatildeo Humanitaacuteria promovida pela ONU nomeadamente

do OCHA tendo este uacuteltimo realizado um plano estrateacutegico para o Sudatildeo do Sul A

primeira missatildeo realizada pelas NU no Sudatildeo do Sul cujo nome era UNMISS (United

Nation Mission for South Sudan) sob o artigo VII da carta das NU conforme a

resoluccedilatildeo do Conselho de Seguranccedila nordm 1996 de 8 de julho de 2011 tinha como

principal objetivo ajudar o governo a consolidar a paz e seguranccedila incluindo a

mitigaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos bem como a proteccedilatildeo dos civis Comeccedilou em 2011

pelo periacuteodo de um ano mas viria a revelar-se insuficiente e obrigaria a que fosse

necessaacuterio o prolongamento da UNMISS Em 2013 outra crise deflagrou no Sudatildeo do

Sul culminando numa guerra civil conforme referido acima Neste caso a presenccedila da

UNMISS era fulcral no terreno apesar de a relaccedilatildeo entre o governo do Sudatildeo do Sul e a

UNMISS terem atravessado uma crise no terreno pois os militares desta foram

acusados de natildeo serem imparciais e de ajudarem a abater militares favoraacuteveis ao

governo e de que haveria uma maacute conceccedilatildeo da missatildeo no terreno Foi por isso aprovada

pelo Conselho de Seguranccedila a resoluccedilatildeo 2132 (24122013) pela qual foi decidido

aumentar o nuacutemero de militares e poliacutecias no terreno Em 2014 foi reforccedilada a

priorizaccedilatildeo da necessidade de proteccedilatildeo dos civis devido agrave deterioraccedilatildeo da situaccedilatildeo

humanitaacuteria no terreno tendo sido aprovada a resoluccedilatildeo 2155 (27052014) Os

objetivos foram a consolidaccedilatildeo da democracia fraacutegil (statebuilding) em que o paiacutes se

encontrava proteger os civis de possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia fiacutesica proteger grupos

vulneraacuteveis proteger os campos de refugiados e os profissionais humanitaacuterios de

possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia e criar condiccedilotildees para que as ONG humanitaacuterias

pudessem aceder aos locais e fornecer assistecircncia humanitaacuteria Era tambeacutem feita a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

58

monitorizaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de crimes contra os direitos humanos e procurava-se

facilitar a implementaccedilatildeo dos acordos de paz Haacute tambeacutem um mandato atual da

UNMISS em que foram reforccedilados os contingentes em 7000 pessoal militar 9000

poliacutecias e um apropriado contingente de civis Estatildeo autorizados 17 000 tropas nos

quais estatildeo incluiacutedas 4000 forccedilas de proteccedilatildeo regionais Foi aumentado o limite da

poliacutecia para 2101 policiais incluindo policiais individuais unidades policiais formadas

e 78 corretores e solicitado ao Secretaacuterio-Geral que tome as medidas necessaacuterias para

acelerar a forccedila e a geraccedilatildeo de ativos (UNMISS 2017a UNMISS sd UNMISS 2017b

OCHA 2015 OCHA 2017 OCHA sd)

Como eacute possiacutevel constatar o Sudatildeo do Sul necessita de operaccedilotildees de peacekeeping para

manter a paz assegurar os direitos humanos salvar vidas e garantir uma vida digna agrave

populaccedilatildeo local mas tambeacutem necessita e estava num processo de peacebuiling que

procura restaurar o aparelho de poder reconstruir as infraestruturas e ajudar o governo a

fortalecer-se de forma a que a paz permaneccedila e o processo de pacificaccedilatildeo seja realizado

com ecircxito apoacutes o presidente ter assinado em 2015 o acordo de paz como foi referido

anteriormente No entanto como sabemos o Sudatildeo do Sul natildeo estaacute ainda pacificado

permanecendo no terreno cerca de 17000 peacekeepers (OCHA 2015 UNMISS

2017a UNMISS 2017b)

Segundo o Council on Foreign Relations (2017) e tambeacutem o OCHA (2017) o Estado

do Sudatildeo do Sul apresenta um problema no que toca agrave accedilatildeo humanitaacuteria pois o terreno

estaacute cada vez mais perigoso cada vez mais humanitaacuterios satildeo assassinados por grupos

eacutetnicos em guerra dificultando assim a chegada da assistecircncia humanitaacuteria agrave populaccedilatildeo

que estaacute a atravessar grandes privaccedilotildees em termos alimentares de saneamento e de aacutegua

potaacutevel Como eacute sabido o Sudatildeo do Sul tem um grande problema no setor agriacutecola no

saneamento e no acesso a aacutegua o que leva a que os conflitos natildeo cessem muito pelo

contraacuterio pioram A falta de aacutegua potaacutevel eacute um dos grandes problemas existentes no

Sudatildeo do Sul havendo locais em que natildeo existe mesmo sendo necessaacuterio transportaacute-la

para o local o que eacute feito pelas OIG OING e OIG (OCHA 2017 CFR 2017)

Soacute em 2016 os incidentes humanitaacuterios foram de 635 por mecircs de janeiro a junho e de

junho a novembro esse nuacutemero aumentou para 90 Os humanitaacuterios tambeacutem viram a

necessidade de negociar com os militares locais para operar bem como de procurar

apoio na aacuterea da advocacia para a aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria Esta negociaccedilatildeo tem sido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

59

uma constante e estas negociaccedilotildees podem ser realizadas atraveacutes de troca por troca

Existe uma maacute vontade do Estado sentida nos diversos impedimentos burocraacuteticos e

difiacutecil sinalizaccedilatildeo dos civis que estatildeo a receber a assistecircncia humanitaacuteria dificultando

assim o trabalho dos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema eacute que a escolta militar pode levar a que a populaccedilatildeo sinta uma confusatildeo e

associe as ONG OING e OIG aos militares peacekeepers o que eacute negativo Neste caso

a UNMISS natildeo eacute neutra e leva a uma perceccedilatildeo de que as ONG OING e OIG tambeacutem

natildeo satildeo neutras Outro problema foi a poleacutemica em que a UNMISS se envolveu com o

desarmamento da populaccedilatildeo que era feito agrave forccedila e de forma selecionada natildeo tendo os

peacekeepers reagido e tendo a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional

reagido Tudo junto leva a que a populaccedilatildeo sinta receio em pedir ajuda agraves organizaccedilotildees

humanitaacuterias caso a escolta seja feita por militares que tenham algum contacto ou

trabalho com o governo ou as forccedilas militares locais (Felix e Coning 2017)

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das

ONG

Como eacute possiacutevel verificar o caso do Sudatildeo do Sul eacute um caso bastante complicado

sendo mesmo considerado uma emergecircncia humanitaacuteria devido agraves constantes guerras

civis e eacutetnicas que natildeo cessam agrave crise econoacutemica aos choques climateacutericos que levam agrave

escassez de comida falta de aacutegua potaacutevel o que tem como consequecircncia fome e

malnutriccedilatildeo pessoas deslocadas internamente e nuacutemero de refugiados a aumentar

pobreza e crimes de violaccedilatildeo contra os direitos humanos que natildeo cessam O Estado natildeo

se tem revelado eficaz na proteccedilatildeo do seu povo sendo que existem determinados locais

que satildeo praticamente de impossiacutevel acesso aos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema segundo o OCHA natildeo eacute soacute o acesso ao local onde a populaccedilatildeo estaacute em

necessidade mas tambeacutem a permanecircncia das ONG OING ou OIG no terreno Nos dias

14 e 15 de abril de 2016 os humanitaacuterios tiveram de sair do terreno (Waat e Walgak em

Jonglei) devido agrave intensificaccedilatildeo do conflito Essa retirada dos humanitaacuterios do terreno

teve consequecircncias graves a niacutevel de preparaccedilatildeo de comida e distribuiccedilatildeo da mesma

11200 pessoas em Nyrol ficaram sem acesso a educaccedilatildeo sauacutede nutriccedilatildeo e atividades

de limpeza vitais para a populaccedilatildeo Esta deslocaccedilatildeo teve efeitos nefastos para a accedilatildeo

humanitaacuteria em Jonglei quando as instalaccedilotildees humanitaacuterias foram invadidas por civis e

militares durante os atraques de fevereiro Este tipo de ataques natildeo pode repetir-se pois

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

60

a inseguranccedila poderaacute ter como consequecircncia o abandono das ONG OING e OIG do

terreno o que levaraacute a uma intensificaccedilatildeo dos conflitos e a uma populaccedilatildeo ainda mais

fragilizada Um Estado que se pauta por grandes desigualdades entre regiotildees leva a

conflitos que soacute seratildeo amenizados sendo essas necessidades mais urgentes suprimidas

Natildeo adianta fazer missotildees quando natildeo se combate o cerne do problema (OCHA 2017)

Logo estes problemas de acesso poderatildeo levar a que os conflitos se agravem devido agrave

falta de bens de primeira necessidade como por exemplo a aacutegua que como sabemos eacute

um motivo de guerra em vaacuterios paiacuteses e comida pois a pouca comida e aacutegua potaacutevel

existente seraacute disputada gerando ainda mais conflitos Uma maacute nutriccedilatildeo ingestatildeo de

aacutegua natildeo potaacutevel leva ainda a problemas de sauacutede graves Natildeo eacute tambeacutem restabelecida

a dignidade da populaccedilatildeo natildeo eacute protegida dos crimes contra a humanidade como a

exploraccedilatildeo recrutamento de crianccedilas para a guerra e minas abuso sexual e mortes em

massa (OCHA 2017)

Esta falta de seguranccedila no terreno verificada no Sudatildeo do Sul leva agrave necessidade de

existecircncia de proteccedilatildeo militar visto que existe uma dificuldade em fazer valer o DIH no

terreno Como eacute sabido hospitais campos de refugiados e pessoal que trabalha para

organizaccedilotildees humanitaacuterias deveriam estar imunes a qualquer tipo de ataque Mas na

praacutetica tal natildeo se verifica tendo sido um campo de refugiados atacado em 2016 Ao

serem escoltadas ou ao usufruiacuterem de proteccedilatildeo militar as ONG OING ou OIG satildeo

facilmente coladas a uma das partes das hostilidades de que esses militares tambeacutem

tomam parte

Levanta-se ainda outro problema que eacute a negaccedilatildeo de acesso a territoacuterios aos

humanitaacuterios no Sudatildeo do Sul Esta negaccedilatildeo de acesso vem por parte do Governo para

certas regiotildees e das outras partes das hostilidades noutras regiotildees sendo que o governo

natildeo controla bem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Mas eacute um risco que muitos

humanitaacuterios correm correndo mesmo risco de vida rapto e abusos Ou seja o Estado

estaacute a falhar gravemente na proteccedilatildeo e garantia do acesso de ajuda humanitaacuteria agrave sua

populaccedilatildeo o que eacute por si soacute um problema circular num Estado fragilizado Ou seja o

Governo falha ao natildeo garantir a proteccedilatildeo do seu povo e em certos casos ao natildeo deixar as

organizaccedilotildees humanitaacuterias acederem a certos territoacuterios (JMEC 2017 Harmer 2008)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

61

No entanto o Primeiro-Ministro do Sudatildeo do Sul Martin Elia Lamuro negou ter

proibido o acesso dos humanitaacuterios aos territoacuterios cuja populaccedilatildeo enfrenta grandes

necessidades afirmando pelo contraacuterio que se tecircm mostrado recetivos agraves ONG OING e

OIG para a assistecircncia humanitaacuteria em qualquer territoacuterio acusando assim os oficiais

dos EUA de terem redigido relatoacuterios que faltam agrave verdade (Sudan Tribune 2017) Jaacute o

representante russo Petr Illichev das NU diz discordar da visatildeo dos EUA referindo que

a fome eacute devida agraves condiccedilotildees climateacutericas e natildeo devida a questotildees de seguranccedila O

Conselho de Seguranccedila tentou amenizar a situaccedilatildeo referindo que a emergecircncia

humanitaacuteria presente no Sudatildeo do Sul tem como principais culpados todas as partes

envolvidas no conflito Tambeacutem Joseph Mourn Majak Ngor Malok embaixador do

Sudatildeo do Sul nas Naccedilotildees Unidas referiu que natildeo se pode culpar o Governo pela fome e

que este vai fazer os impossiacuteveis trabalhando com a comunidade internacional para

fazer face a este problema Podemos pois constatar que mais que um problema de

seguranccedila o que os humanitaacuterios estatildeo a enfrentar eacute um problema poliacutetico de

bastidores dentro da comunidade internacional (Sudan Tribune 2017)

Como eacute possiacutevel constatar a seguranccedila e o acesso dos humanitaacuterios ao terreno eacute uma

questatildeo bastante complexa pois depende da autorizaccedilatildeo do Estado caso este aceite que

a ajuda humanitaacuteria seja fornecida em todo o territoacuterio que dela necessite e caso decida

proteger os humanitaacuterios Caso o Estado natildeo assegure a proteccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos

humanitaacuterios no acesso ao territoacuterio que necessite de assistecircncia humanitaacuteria os

humanitaacuterios vecircm-se na obrigaccedilatildeo de encontrar uma de quatro soluccedilotildees desistir da

missatildeo e abandonar o terreno arriscar e deslocarem-se aos territoacuterios sem proteccedilatildeo

correndo risco de vida contratar agecircncias militares privadas ou pedir escolta militar aos

peacekeepers

Os peacekeepers da UNMISS natildeo tecircm eles tambeacutem livre acesso a todos os locais no

Sudatildeo do Sul e satildeo vistos de certa forma como adversaacuterios pelo governo e satildeo

acusados de tomarem o partido de uma das partes das hostilidades privilegiando a

proteccedilatildeo ao grupo eacutetnico Nuer em detrimento das outras No entanto esta informaccedilatildeo

natildeo tem a leitura devida pois os peacekeepers protegem os dois lados da mesma forma

a questatildeo eacute que a maioria da populaccedilatildeo registada do POC (Establishment of Protection

of Civilians) eacute de origem eacutetnica Nuer Como consequecircncia desta desconfianccedila a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

62

UNMISS viu negado o seu acesso a determinados locais falhando assim a sua missatildeo a

de proteger os civis e a de proteger os humanitaacuterios (Wells 2017)

O Conselho de Seguranccedila eacute ainda acusado pelos peacekeepers de natildeo dar suporte

poliacutetico e material adequado para a situaccedilatildeo Mesmo apoacutes variados ataques graves aos

militares da UNMISS e agrave populaccedilatildeo o Conselho de Seguranccedila natildeo passou da ameaccedila de

sancionar o Sudatildeo do Sul A gravidade do problema chegou ao ponto de a UNMISS

sofrer ataques aos seus helicoacutepteros natildeo ter material agrave prova de bala tendo assim de

abandonar os meios aeacutereos O Conselho de Seguranccedila mais uma vez nada fez Esta

situaccedilatildeo colocou em causa o trabalho das organizaccedilotildees humanitaacuterias ou seja o acesso

das mesmas a locais de grande necessidade devido ao facto de natildeo poderem contar

mais com ajuda dos peacekeepers para aceder ao terreno (Wells 2017)

Justamente nas missotildees das NU no Sudatildeo do Sul tem-se verificado um fracasso pois

para aleacutem de serem acusados de tomarem partido pelo governo natildeo conseguem

assegurar a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e de deslocados internamente

verificando-se assim em 2013 um aumento da violecircncia e ataques aos campos de

refugiados e deslocados internamente Um dos objetivos da UNMISS eacute assegurar que os

civis consigam aceder agrave ajuda humanitaacuteria que garante os bens essenciais agrave

sobrevivecircncia gestatildeo dos campos de refugiados e outros apoios vitais no entanto a

seguranccedila natildeo eacute assegurada natildeo sendo possiacutevel aos humanitaacuterios assegurar a ajuda

humanitaacuteria agravando-se assim os conflitos (Rolandsen et al 2015)

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar

Segundo Rolandson et al (2015) uma das missotildees que cabe aos peacekeepers eacute

precisamente garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios principalmente em paiacuteses onde

existe uma falta de seguranccedila e proteccedilatildeo aos humanitaacuterios Essa proteccedilatildeo pode ser

realizada atraveacutes de escolta militar direta no caminho para o terreno por via terrestre

aeacuterea ou mariacutetima sendo a via aeacuterea a mais conveniente caso seja necessaacuterio

transportar uma grande quantidade de mercadoria e assim garantir que chega ao destino

intacta Podem ainda garantir a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e deslocados

internamente bem como proteger os bens e as instalaccedilotildees humanitaacuterias (Rolandsen et

al 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

63

Pode verificar-se que as NU mais especificamente o OCHA tecircm vindo a trabalhar no

sentido de existir uma maior cooperaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e as operaccedilotildees de

peacekeeping no terreno de forma a que os humanitaacuterios sejam protegidos e a

assistecircncia humanitaacuteria prestada a toda a populaccedilatildeo independentemente de o territoacuterio

ser ou natildeo de grande perigo O problema desta cooperaccedilatildeo satildeo os princiacutepios

humanitaacuterios que divergem dos princiacutepios dos militares como jaacute foi referido Mas a

coexistecircncia existe eacute um facto havendo no caso do Sudatildeo do Sul um guia sobre como

devem os humanitaacuterios e militares interagir em que circunstacircncia deve ser feita a

escolta e quanto tempo deve durar essa proteccedilatildeoescolta O documento mencionado eacute

intitulado de Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the

United Nations Mission in South Sudan e foi elaborado pela UNMISS o HC e o HCT

(UNMISS e HC 2013)

Os humanitaacuterios viram-se forccedilados a cooperar com os peacekeepers da UNMISS e para

que esta missatildeo integrada funcionasse foi criado o guia de coordenaccedilatildeo entre os atores

humanitaacuterios e a UNMISS jaacute mencionado O guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo

Humanitaacuteria e a UNMISS eacute um documento elaborado a pedido do Humanitarian

Country Team (O HCT eacute um foacuterum estrateacutegico e operacional de tomada de decisatildeo e

supervisatildeo estabelecido e liderado pelo HC) A composiccedilatildeo inclui representantes da

ONU IOM OING a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho O HCT eacute tambeacutem

responsaacutevel por acordar questotildees estrateacutegicas comuns relacionadas com a accedilatildeo

humanitaacuteria (Humanitarian Response sd) em 2012Teve ainda a participaccedilatildeo do

grupo conselheiro militar que contem representantes da comunidade humanitaacuteria e da

UNMISS Eacute por isso um documento fidedigno O objetivo deste guia eacute substituir o SOP

de 2012 relativamente ao uso das forccedilas armadas e escolta militar e fornecer

indicaccedilotildees operacionais sobre a relaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS no Sudatildeo do

Sul de forma a evitar conflitos no terreno fortalecer a coordenaccedilatildeo das atividades

preservar o espaccedilo humanitaacuterio acesso e princiacutepios (HCT e UNMISS 2013 Harmer

2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que a UNMISS estaacute a ter ela proacuteprios problemas de acesso e deslocaccedilatildeo a

determinados locais em que o Estado natildeo ache pertinente a presenccedila dos peacekeepers

Pior em 2011 recusou o destacamento de mais 4000 peacekeepers para reforccedilar os

13500 peacekeepers no terreno com o argumento de que a situaccedilatildeo do conflito armado

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

64

estava a melhorar e natildeo haveria necessidade de destacar mais militares das NU e que o

destacamento de mais militares poria em causa a soberania do Estado O governo

argumentou ainda que tem capacidade para assegurar a proteccedilatildeo dos civis No entanto

apoacutes a ameaccedila das NU com um embargo de armas acabou por aceitar o destacamento

de mais militares Em dezembro de 2016 a Comissatildeo dos Direitos Humanos das NU

pediu urgentemente o destacamento de peacekeepers por causa de assassiacutenios eacutetnicos

(Wells 2016 Aljazeera 2017)

A UNMISS foi acusada por diversas organizaccedilotildees humanitaacuterias de falhar a sua missatildeo

devido agrave sua ineficaacutecia no terreno ou seja natildeo foi capaz de assegurar a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo nem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Todavia eacute preciso ser realista

pouco se pode fazer com um governo que limite o acesso dos peacekeepers a

determinados locais recuse que sejam destacados mais militares para o terreno e soacute

aceite em uacuteltima instacircncia mais destacamentos de militares para o terreno devido a uma

seacuterie de ameaccedilas (Aljazeera 2017 Wells 2016)

O problema eacute a incapacidade das NU e do Governo de assegurarem a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios No ataque de julho de 2016 os peacekeepers foram acusados de agirem

tarde demais de natildeo terem sido capazes de dar resposta e os EUA de natildeo avisarem as

ONG OING e OIG de que havia um perigo de ataque este erro teve como

consequecircncia a morte e violaccedilatildeo em massa dos humanitaacuterios sendo este ataque

considerado uma barbaacuterie Este acontecimento pode ser o despoletar da induacutestria das

agecircncias militares privadas podendo trazer consequecircncias nefastas a longo termo No

entanto segundo a investigaccedilatildeo independente agrave UNMISS requerida pelo Conselho de

Seguranccedila ficou estabelecido que a UNMISS agiu e fez todos os possiacuteveis para salvar

os civis embora esse natildeo seja o sentimento por parte dos humanitaacuterios (Grant 2016)

Segundo a carta enviada pelo Secretaacuterio Geral ao Conselho de Seguranccedila a 17 de abril

de 2017 (NU 2017) exatamente a reportar o ataque explicado anteriormente consta um

pedido de investigaccedilatildeo independente do ataque ocorrido a 23 de agosto de 2016 e

pretende-se verificar as accedilotildees da UNMISS em resposta ao ataque ocorrido apoacutes o inicio

das hostilidades a 8 e 11 de julho de 2016 contra os humanitaacuterios e contra civis tendo

este ataque ocorrido dentro ou nas proximidades das instalaccedilotildees da UNMISS em Juba

A UNMISS foi acusada pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias de ter sido ineficaz na

sua missatildeo de proteger as humanitaacuterias no terreno natildeo tendo os peacekeepers

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

65

respondido aos muitos pedidos de ajuda e proteccedilatildeo Os humanitaacuterios defendem ainda

que os peacekeepers sabiam do perigo existente de ataque e deveriam ter avisado de

forma a que evacuassem os humanitaacuterios e civis do territoacuterio em questatildeo (Grant 2016

UN 2017d)

No entanto foi averiguado pelo Conselho de Seguranccedila que a UNMISS nomeadamente

os peacekeepers fizeram tudo o que estava ao seu alcance para salvar e proteger civis

durante o massacre Tambeacutem foi averiguado que a UNMISS faz um excelente trabalho

de planeamento e preparaccedilatildeo da resposta para salvar civis As informaccedilotildees de

seguranccedila devem segundo o relatoacuterio do Conselho de Seguranccedila serem compartilhadas

pelos peacekeepers com a comunidade humanitaacuteria informaccedilotildees relativas ao terreno

com o foacuterum de forma a que cada um dos agentes saiba o perigo que estaacute a correr Por

isso a UNMISS deve informar quanto a procedimentos de estado de alerta

deslocalizaccedilatildeo e evacuaccedilatildeo pontos de concentraccedilatildeo em Juba refuacutegios designados rotas

aeacutereas de deslocalizaccedilatildeo principais ferramentas de seguranccedila procedimentos de

controle de acesso e o plano em resposta agrave proteccedilatildeo de incidentes civis entre outros

Segundo o Conselho de Seguranccedila estes procedimentos foram adotados embora as

ONG no terreno natildeo concordem com esta conclusatildeo (Grant 2016 UN 2017d)

No Sudatildeo do Sul tem-se verificado uma missatildeo integrada minimalista em que o

OCHA eacute o coordenador e o elo de ligaccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers e trabalha

de forma independente da missatildeo de paz das NU Esta poderaacute ser a melhor receita para

o caso do Sudatildeo do Sul No entanto eacute preciso ter em conta que a UNMISS tem falta de

militares destacados em terrenos problemaacuteticos podendo dificultar este tipo de missotildees

integradas minimalistas como se constatou anteriormente com a inaccedilatildeo dos

peacekeepers face ao ataque do campo de refugiados (Harmer 2017 Aljazeera 2017

Wells 2016)

Por isso podemos contatar que pelo menos no Sudatildeo do Sul existe uma coexistecircncia

bem coordenada e estruturada entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS atraveacutes da

existecircncia de um guia para coordenaccedilatildeo entre humanitaacuterios Eacute possiacutevel constatar

tambeacutem que existe uma preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e em

respeitar o espaccedilo humanitaacuterio na hora de garantir a sua proteccedilatildeoescolta A secccedilatildeo de

Aliacutevio (do Guia da UNMISS) Reintegraccedilatildeo e Proteccedilatildeo tem como principal missatildeo a

proteccedilatildeo de civis em bases da UNMISS e o apoio ao trabalho das organizaccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

66

humanitaacuterias no Sudatildeo Sul Haacute casos em que natildeo existe outra forma de garantir que o

acesso humanitaacuterio proteccedilatildeo e a assistecircncia sejam fornecidos sem ajuda dos

peacekeepers (HCT e UNMISS 2013)

Voltando ao Guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS eacute

reconhecido que as missotildees de peacekeeping das NU como a UNMISS tecircm um

mandato de cariz poliacutetico o que significa que podem tomar partido por uma das partes

das hostilidades e por isso natildeo serem consideradas neutras por todas as partes dentro

do Estado Tal significa uma incompatibilidade entre estes dois atores pois uma junccedilatildeo

da accedilatildeo humanitaacuteria agrave UNMISS poria em causa o mandato humanitaacuterio Eacute ainda

apresentada no documento a diferenccedila entre a assistecircncia militar ao governo (prover

gabinetes conselho e suporte ao governo do Sudatildeo do Sul em relaccedilatildeo agrave transiccedilatildeo

poliacutetica pela qual estava a passar no estabelecimento da autoridade poliacutetica) e a

assistecircncia militar agraves ONG humanitaacuterias (facilitar o acesso prover um ambiente seguro

para a assistecircncia humanitaacuteria bem como promover e monitorizar os Direitos

Humanos) O OCHA estabelece esta coordenaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a

UNMISS atraveacutes dos PCI (Projetos de curto impacto) O OCHA entra em contacto com

o JOC (Joint Operations Center) a niacutevel estatal atraveacutes do escritoacuterio estatal e do RCO

(Resident Coordinatoracutes Office) Os humanitaacuterios natildeo pedem diretamente ajuda militar

mas eacute o OCHA quem trata disso (HCT e UNMISS 2013)

O Sudatildeo do Sul eacute um caso em que a coexistecircncia eacute necessaacuteria para o sucesso tanto da

missatildeo da UNMISS como da accedilatildeo humanitaacuteria devido aos perigos de inseguranccedila

existentes sendo os humanitaacuterios alvos faacuteceis Esta coexistecircncia natildeo tem de ser

incompatiacutevel pois ambos tecircm o objetivo de poupar vidas Por isso nesta coexistecircncia

tem de ser respeitada a missatildeo de ambos sem nenhum dos dois se intrometer nas

atividades do outro minimizando assim o risco de conflito e competiccedilatildeo quando ambos

estatildeo a trabalhar na mesma aacuterea geograacutefica fazendo a clara distinccedilatildeo e separaccedilatildeo das

atividades humanitaacuterias poliacuteticas e militares (HCT e UNMISS 2013)

Portanto os atores humanitaacuterios natildeo satildeo incumbidos de seguir ou respeitar ordens

militares por militares e o contraacuterio O guia militar-civil natildeo aconselha a coabitaccedilatildeo de

humanitaacuterios e militares em situaccedilotildees de emergecircncias complexas No entanto no Sudatildeo

do Sul essa coabitaccedilatildeo por parte da UNMISS e de agecircncias das NU existe em Juba e em

certas capitais de Estado o que pode levar a uma perceccedilatildeo errada das restantes agecircncias

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

67

devido ao facto de uma ter adotado esta decisatildeo de coexistir no mesmo local que os

peacekeepers ou seja pode ter um efeito negativo na comunidade humanitaacuteria (HCT e

UNMISS 2013)

Segundo o guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS (HCT e

UNMISS 2013) deve ser feita uma distinccedilatildeo clara das atividades identidade funccedilotildees e

papeacuteis da accedilatildeo humanitaacuteria dos atores envolvidos na UNMISS Para fazerem esta

distinccedilatildeo devem respeitar os seguintes pontos

bull As armas nunca devem ser usadas em instalaccedilotildees humanitaacuterias e em contexto de

transporte para os locais em questatildeo

bull Deve ser feita a identificaccedilatildeo dos elementos da equipa dos bens de primeira

necessidade veiacuteculos instalaccedilotildees barcos e aviotildees Ou seja devem promover a

distinccedilatildeo das suas respetivas identidades de forma a que natildeo sejam confundidos com a

UNMISS (HCT e UNMISS 2013 pp 4)

Quanto ao uso de ativos e escoltaproteccedilatildeo militar eacute referido no guia que os atores

humanitaacuterios natildeo devem usar os ativos militares ou escoltaproteccedilatildeo militar a fim de

proteger a distinccedilatildeo e salvaguardar a separaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios O uso

dos ativos militares e escoltaproteccedilatildeo militar da UNMISS deve ser adotado em uacuteltimo

recurso e em circunstacircncias especiais uma vez reunidos determinados criteacuterios que

seratildeo explanados a seguir Qualquer decisatildeo quanto ao pedido dos atores humanitaacuterios

relativamente agrave escolta militar seraacute analisada caso-a-caso tendo em conta os ativos

disponiacuteveis custos e prioridades Os criteacuterios satildeo os seguintes

bull O objetivo da missatildeo eacute puramente humanitaacuterio e manteacutem o seu caraacuteter civil e

humanitaacuterio bem como o respeito dos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

bull Tem de haver uma necessidade urgente de ajuda humanitaacuteria natildeo existindo

alternativas para a substituiccedilatildeo no terreno

bull O uso da escolta militar eacute limitado no tempo e escala com uma estrateacutegia clara

de saiacuteda concordada entre os dois atores fora do pedido Natildeo poderaacute ainda

comprometer os atores humanitaacuterios a longo prazo na sua capacidade de poderem

operar de forma segura e efetiva (HCT e UNMISS 2013 pp 5)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

68

O OCHA tem ainda a responsabilidade de elaborar relatoacuterios sobre a escolta militar para

o Humanitarian Country Team e cabe tambeacutem ao OCHA analisar os casos juntamente

com a JOC em especifico para o caso do Sudatildeo do Sul para que tudo corra bem Caso

haja escolta militar os humanitaacuterios devem seguir num veiacuteculo diferente dos militares

da UNMISS que identifique bem que satildeo humanitaacuterios e natildeo militares que satildeo

transportados no veiacuteculo Desta forma a populaccedilatildeo natildeo confundiraacute o pessoal

humanitaacuterio com o pessoal militar Caso haja necessidade de proteccedilatildeo num determinado

local necessidade de reparaccedilatildeo de estradas proteccedilatildeo dos bens e pessoal humanitaacuterio as

ONG devem entrar em contacto com o OCHA afim de requerer a ajuda da UNMISS

Um dos objetivos da UNMISS eacute garantir um ambiente seguro para facilitar o acesso dos

humanitaacuterios aos locais para que estes consigam prestar apoio agrave populaccedilatildeo A UNMISS

natildeo deve usar as instalaccedilotildees humanitaacuterias e vice-versa no entanto em caso de urgente

necessidade deve tal ser analisado caso a caso pelo OCHA ponderando sobre as

instalaccedilotildees disponiacuteveis urgecircncia capacidade e prioridades O mesmo vale para a

evacuaccedilatildeo de pessoal meacutedico e humanitaacuterios em caso de elevada emergecircncia (HCT e

UNMISS 2013 pp 4)

Outro assunto relevante tratado neste guia eacute a partilha de informaccedilatildeo entre os elementos

da UNMISS e os humanitaacuterios pois estes dois elementos devem e tecircm de partilhar

muita informaccedilatildeo de forma atempada e eficiente para coordenar as respetivas

atividades As informaccedilotildees que devem ser partilhadas satildeo as seguintes

bull Informaccedilotildees sobre o tipo de assistecircncia e atividades humanitaacuterias estatildeo a

planear eou vatildeo realizar

bull Informaccedilotildees sobre atividades da UNMISS relevantes para os atores

humanitaacuterios como por exemplo sobre ameaccedilas e seguranccedila do pessoal humanitaacuterio ou

da UNMISS no terreno ou sobre ameaccedilas aos civis

bull Informaccedilotildees sobre atividades mineiras aacutereas minadas e locais com minas por

explodir As viacutetimas e a populaccedilatildeo em geral deveratildeo ser informadas e educadas para os

riscos inerentes (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

No entanto existem informaccedilotildees confidenciais que natildeo deveratildeo em momento algum

ser partilhadas tanto com o pessoal humanitaacuterio como com a UNMISS informaccedilotildees que

podem comprometer a identidade da viacutetima expondo assim o individuo ou um grupo de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

69

indiviacuteduos a um potencial risco principalmente se a viacutetima tiver sofrido crimes contra

os Direitos Humanos (HCT e UNMISS 2013 pp)

Este guia deve ser estudado de forma a que seja aplicado corretamente e os princiacutepios

da UNMISS e dos humanitaacuterios respeitados no terreno evitando potenciais conflitos A

UNMISS ficou incumbida de formar a comunidade humanitaacuteria relativamente ao seu

mandato trabalho e objetivos no terreno em conjunto com o OCHA que representa as

organizaccedilotildees humanitaacuterias e a sua relaccedilatildeo com a UNMISS Eacute ainda recomendado o

treino de ambos para os Direitos Humanos proteccedilatildeo de civis e o Direito Internacional

Humanitaacuterio (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

O CR (conciliation resources) e o ARP (applied research program) satildeo duas partes

funcionais da missatildeo que apoiam as organizaccedilotildees humanitaacuterias fornecendo apoio a niacutevel

de logiacutestica seguranccedila proteccedilatildeo da populaccedilatildeo relocaccedilatildeo do pessoal humanitaacuterio bem

como os deslocados internamente dando informaccedilotildees relativamente aos locais mais

seguros para se reinstalarem e caso necessaacuterio protegendo a instalaccedilatildeo onde residem os

deslocados internamente refugiados e humanitaacuterios Esta coexistecircncia entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias natildeo tem vindo a revelar-se eficaz no contexto do Sudatildeo do

Sul pois os humanitaacuterios embora consigam trabalhar e deslocar-se para certos locais

perigosos o que sem o apoio da UNMISS natildeo seria possiacutevel a UNMISS natildeo foi capaz

de assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios em 2016 aquando do ataque No entanto e

como jaacute foi referido anteriormente esta colaboraccedilatildeo deve ser realizada para casos

pontuais tendo de ser pedida a autorizaccedilatildeo ao OCHA e em uacuteltimo recurso atraveacutes de

projetos de curto impacto (UNMISS 2017 e HCT UNMISS 2013)

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos

humanitaacuterios

Agrave luz da anaacutelise do caso do Sudatildeo do Sul a questatildeo que se levanta neste subtema eacute

essencialmente a de apurar qual o recurso que deve ser usado pelas organizaccedilotildees

humanitaacuterias em situaccedilatildeo de elevado perigo em que o acesso ao local em que a

populaccedilatildeo estaacute a enfrentar grandes necessidades pode representar perigo de vida

precisando assim de uma proteccedilatildeoescolta militar para realizar o trajeto ao local Eacute

preciso desde jaacute dizer que ambas as opccedilotildees tecircm pontos positivos e negativos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

70

O recurso aos peacekeepers pode ser visto como a melhor opccedilatildeo possiacutevel pois

partilham os valores essenciais com os humanitaacuterios salvar vidas e a imparcialidade

No entanto tecircm sido acusados de natildeo agirem atempadamente face agraves ameaccedilas e ataques

perpetrados sobre humanitaacuterios ou seja de falharem a sua missatildeo de garantir a proteccedilatildeo

aos humanitaacuterios que faz parte da sua missatildeo e consta do guia elaborado para a

coexistecircncia no terreno Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors

and the United Nations Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) Em 2016

houve o jaacute referido ataque no Sudatildeo do Sul a humanitaacuterios que natildeo haviam sido

avisados do perigo eminente nem apareceram militares a garantir a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo e dos humanitaacuterios Ou seja eacute possiacutevel concluir que a proteccedilatildeo fornecida

pela UNMISS natildeo eacute a mais eficaz no terreno devido agraves fragilidades que a proacutepria

missatildeo tem vindo a sentir no terreno (Adongo 2017 Grant 2016)

No entanto parece que este caso algo mediatizado acordou a comunidade

internacional Consta no artigo da UNMISS Humanitarian Aid Restored In Aburoc

Folloing Deployment of UNMISS Peacekeepers (Adongo 2017) que soacute foi possiacutevel as

ONG OING e OIG humanitaacuterias regressaram para fornecer ajuda humanitaacuteria em

Malakal devido ao desdobramento dos peacekeepers para a regiatildeo de Aburoc Upper

Nile regiatildeo que as agecircncias humanitaacuterias haviam abandonado devido agrave elevada

inseguranccedila O que confirma o que foi dito ao longo da dissertaccedilatildeo sem seguranccedila no

Sudatildeo do Sul os humanitaacuterios natildeo conseguem operar no terreno tendo de terminar a

missatildeo caso contraacuterio seria colocar as suas vidas em risco (Adongo 2017 e Grant

2016)

Estima-se que durante o recente conflito que levou as agecircncias humanitaacuterias a sair do

local tenha havido 20 000 deslocados internos a fugir ficando sem abrigo Com o

regresso das agecircncias humanitaacuterias foi possiacutevel dar abrigo a 4200 famiacutelias dos campos

de refugiados Outras agecircncias tecircm fornecido ajuda humanitaacuteria mais urgente como

aacutegua potaacutevel que eacute escassa e de difiacutecil acesso sendo necessaacuterios militares peacekeepers

para proteger os principais postos de abastecimento de aacutegua O chefe de campo da

UNMISS em Malakal Hazel de Wet levou a sua equipa a inspecionar o desdobramento

das tropas em Aburoc e a equipa comprometeu-se tambeacutem com as autoridades locais no

terreno relativamente agrave estrateacutegia de apoio agrave assistecircncia humanitaacuteria sendo neste

momento a prioridade dos peacekeepers garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e o seu

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

71

acesso de modo a que a assistecircncia humanitaacuteria chegue a todos A UNMISS reconhece

que eacute essencial fazer com que a assistecircncia humanitaacuteria chegue agrave populaccedilatildeo em

necessidade urgente de comida aacutegua mantimentos e abrigo Soacute fornecendo assistecircncia

humanitaacuteria suprindo as necessidades baacutesicas eacute que eacute possiacutevel resolver os problemas

poliacuteticos tornar a paz duradoura e pensar no desenvolvimento Mas para conseguir esta

harmonia eacute essencial que as operaccedilotildees de peacekeeping se tornem efetivamente mais

ldquomusculadasrdquo como referido por Pinto (2005) para fazer face agraves novas realidades e

adversidades encontradas no terreno Natildeo basta a presenccedila militar tecircm de conseguir

garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios (Adongo 2017)

Os humanitaacuterios tecircm manifestado preferecircncia pelo menos no que diz respeito ao caso

do Sudatildeo do Sul pela escoltaproteccedilatildeo militar fornecida pela UNMISS sendo que se

estabeleceu um guia de cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS conforme referido

acima Este guia eacute um dos motivos para a preferecircncia pelos peacekeepers para a escolta

e proteccedilatildeo pois os humanitaacuterios e militares sabem como agir em que circunstacircncias

conceder e pedir essa proteccedilatildeo e quando deve terminar essa cooperaccedilatildeo no terreno Tal

natildeo existe nas agecircncias militares privadas jaacute que uma vez contratadas o viacutenculo

permanece ateacute ao fim da missatildeo ou contrato e pode haver problemas no terreno entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias e agecircncias militares privadas que poderatildeo representar

problemas seacuterios acresce que os humanitaacuterios natildeo estatildeo preparados para coordenar e

liderar este tipo de agecircncias Ao inveacutes no caso da proteccedilatildeoescolta garantida pela

UNMISS as ONG OING e OIG podem caso a cooperaccedilatildeo natildeo esteja a ser bem-

sucedida reportar a sua insatisfaccedilatildeo e levar a que sejam averiguados os motivos Tal

aconteceu com o ataque aos humanitaacuterios jaacute referido anteriormente A UNMISS foi

questionada e foi feita uma averiguaccedilatildeo pelo Conselho de Seguranccedila para verificar se

houve de facto negligecircncia por parte dos militares Com as agecircncias militares privadas

tal natildeo eacute possiacutevel conforme foi mencionado estes militares tecircm carta branca no terreno

Logo existe mais seguranccedila em cooperar com a UNMISS (HCT e UNMISS 2013 UN

2017d)

Eacute por este motivo que ainda se verifica uma certa resistecircncia por parte de algumas ONG

e OING a recrutar agecircncias militares privadas No entanto e devido agrave necessidade de

celeridade para obter a proteccedilatildeo o recrutamento tem vindo a aumentar no terreno Eacute

neste ponto que as agecircncias militares privadas apresentam vantagens jaacute que natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

72

existem problemas a niacutevel burocraacutetico o que permite partir mais cedo para o terreno e

satildeo mais baratas no caso de serem as agecircncias das NU como a UNICEF e o ACNUR

entre outros a contratar Jaacute o processo de pedido de proteccedilatildeo e escolta militar agrave

UNMISS eacute muito moroso natildeo fazendo face ao problema no imediato (Newton sd)

Estas agecircncias podem ainda garantir que as organizaccedilotildees humanitaacuterias mantecircm a sua

independecircncia relativamente ao Estado neutralidade quanto ao conflito e

imparcialidade no tratamento das pessoas Todavia antes da contrataccedilatildeo deveria ser

requerido o cadastro criminal se existir e se possiacutevel para avaliar se existe algum

antecedente problemaacutetico como por exemplo algum incidente de racismo enquanto

militar no ativo para que haja uma seleccedilatildeo rigorosa das agecircncias a recrutar e dos

militares que integram essa mesma agecircncia desta forma o risco de contratar militares

que tenham cometido atos criminosos e racistas no terreno satildeo menores logo seraacute

menor o risco de haver problemas no terreno (Newton sd Michael et al 2014)

Ou seja as agecircncias militares privadas podem ser uma ajuda fundamental no caso do

Sudatildeo do Sul para a seguranccedila e proteccedilatildeo de ONG OING OIG campos de refugiados

e de deslocados internamente Mas tambeacutem podem ser uma boa alavanca para a

pacificaccedilatildeo do territoacuterio ou seja uma ajuda para a UNMISS e custam menos recursos

financeiros que contratar e solicitar aos Estados mais militares para integrar a missatildeo de

peacekeeping (Newton sd)

Neste momento a melhor opccedilatildeo eacute a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as organizaccedilotildees

humanitaacuterias pois jaacute existe um guia intitulado de que explica em que circunstacircncias

quanto tempo e como deve ser feito pedido de ajuda e a proteccedilatildeoescolta concretizada

Ou seja existem regras a cumprir medidas de prevenccedilatildeo para que natildeo haja choque

entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS no terreno e como deve ser feita a distinccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares Para as agecircncias militares privadas natildeo existem regras de accedilatildeo

conduta ou execuccedilatildeo das suas funccedilotildees tornando a sua presenccedila no terreno um perigo

devido ao vazio legal embora seja mais barato e mais raacutepido em termos de burocracia

contratar estas agecircncias Os militares das agecircncias militares privadas devem ainda estar

devidamente identificados no terreno de forma a que natildeo suscitem confusotildees com os

militares das operaccedilotildees de peacekeeping (Stoddard Harmer e DiDomenico 2008

Newton sd Michael et al 2014 HCT e UNMISS 2012)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

73

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas

Enquanto o Sudatildeo do Sul estiver a atravessar momentos de grande instabilidade poliacutetica

e um conflito armado de grande inseguranccedila e perigo para os civis refugiados e

deslocados internamente natildeo existe uma alternativa viaacutevel para este caso em questatildeo O

governo do Sudatildeo do Sul natildeo consegue assegurar seguranccedila proteccedilatildeo e acesso seguro

aos humanitaacuterios a locais de grande emergecircncia humanitaacuteria locais onde natildeo existe

aacutegua potaacutevel existe falta de comida medicamentos abrigo e meacutedicos Um local como

este eacute difiacutecil de ser pacificado como eacute sabido a aacutegua eacute um dos principais motivos de

guerra no mundo aliando isso a conflitos eacutetnicos e poliacuteticos torna esta guerra numa

difiacutecil de acabar uma guerra endeacutemica (Kaldor 2007) Pior o governo foi acusado de

travar o acesso da ajuda humanitaacuteria a determinados locais Quando o proacuteprio Estado eacute

o perpetrador de atrocidades e nega o acesso da ajuda humanitaacuteria isto quer dizer que a

comunidade humanitaacuteria estaacute por sua conta (Harmer 2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que como pudemos verificar os peacekeepers da UNMISS natildeo

conseguem ou tecircm dificuldade em assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios o que resultou

no massacre de humanitaacuterios em 2016 e foram mesmo acusados de terem

negligenciado a sua funccedilatildeo de proteccedilatildeo estabelecida no guia de cooperaccedilatildeo entre

OCHA e as organizaccedilotildees humanitaacuterias pois natildeo avisaram sequer que existia um perigo

eminente de ataque e que deveriam por isso retirar-se do terreno Ou seja eacute possiacutevel

concluir que esta cooperaccedilatildeo natildeo tem vindo a revelar-se eficaz os acessos continuam a

ser dificultados humanitaacuterios atacados e civis em sofrimento e a viver abaixo do limiar

da dignidade humana O que coloca a seguinte questatildeo valeraacute a pena correr o risco de

colocar em causa a imparcialidade e neutralidade pela proteccedilatildeo dos peacekeepers Eacute

difiacutecil de responder pois natildeo existe um modelo perfeito como alternativa quer agraves

agecircncias militares privadas quer agrave UNMISS (Grant 2016)

Por isso uma alternativa seria talvez tornar puacuteblico o uso das agecircncias militares

privadas pela comunidade internacional estabelecer guias rigorosos de recrutamento e

realizaccedilatildeo de contratos com as NU ou organizaccedilotildees humanitaacuterias que estabeleccedilam os

limites de atuaccedilatildeo quais as funccedilotildees que devem cumprir e que regulamentam a sua

funccedilatildeo Ou seja as agecircncias militares privadas precisam de constar do Direito

Internacional Humanitaacuterio Uma vez a parte legal resolvida seraacute mais faacutecil trabalhar o

setor puacuteblico com o setor privado que engloba ONG e agecircncias militares privadas de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

74

forma a que a accedilatildeo humanitaacuteria seja realizada em seguranccedila e chegue a todos os que

necessitem dela No entanto o tornar as agecircncias privadas regulamentadas na aacuterea da

accedilatildeo humanitaacuteria poderaacute tornaacute-las um grande negoacutecio tendo como consequecircncia

prejudicar dos conflitos como garantia de trabalho para estas agecircncias Por outro lado

haveria um escrutiacutenio na hora de selecionar as agecircncias para que houvesse uma

probabilidade miacutenima destes efetuarem crimes no terreno (Newton sd Harmer 2008 e

MAcArthur 2016 HCT e UNMISS 2013)

Por uacuteltimo poderia existir ainda a opccedilatildeo de usar as missotildees de peace enforcement sob o

princiacutepio da responsabilidade de proteger como veiacuteculo para a accedilatildeo humanitaacuteria pois

neste contexto natildeo se colocariam as questotildees relativas agrave neutralidade e agrave imparcialidade

da forma usual uma vez que o mandato dos militares eacute mais vasto no que ao uso da

forccedila respeita No entanto para o caso do Sudatildeo do Sul seria difiacutecil aplicar uma

intervenccedilatildeo humanitaacuteria ao abrigo da responsabilidade de proteger e violar o princiacutepio

da natildeo ingerecircncia O Sudatildeo do Sul natildeo cumpre todos os requisitos pois natildeo eacute um

conflito armado internacional e o massacre natildeo eacute visto como um genociacutedio Existe sim

uma guerra endeacutemica tentativa de limpeza racial e crimes contra os direitos humanos

Em suma a comunidade internacional haveria de fazer mais para travar o massacre e

proteger a populaccedilatildeo e os humanitaacuterios no terreno Existe jaacute um guia de colaboraccedilatildeo

entre a UNMISS e as ONG OING e OIG mas isso apenas natildeo chega Eacute preciso fazer

mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

75

Conclusatildeo

Como foi possiacutevel constatar ao longo de toda a dissertaccedilatildeo a escolta militar eacute um tema

de extrema complexidade que coloca em causa os princiacutepios humanitaacuterios consagrados

pela Cruz Vermelha Por outro lado existe a necessidade de proteger a missatildeo

humanitaacuteria e os proacuteprios humanitaacuterios no terreno os quais como foi sendo verificado

tecircm vindo a sofrer ataques raptos e assassinatos devido agrave incapacidade ou indiferenccedila

do Estado onde estaacute a ser prestado o apoio humanitaacuterio das ONG OING e OIG A

comunidade internacional natildeo consegue operar de forma eficaz no terreno sem ter

seguranccedila e proteccedilatildeo que deveria ser dada pelo governo do Estado em causa Todavia

caso o governo natildeo tenha capacidade ou natildeo queira garantir essa proteccedilatildeo cabe agrave

comunidade internacional garantir que a populaccedilatildeo desse territoacuterio seja protegida

Uma vez que um governo natildeo assegure essa proteccedilatildeo os humanitaacuterios vecircem-se numa

situaccedilatildeo complexa respeitar os princiacutepios humanitaacuterios ou correr risco de vida Muitos

preferem como foi possiacutevel verificar ao longo da dissertaccedilatildeo correr risco de vida A

independecircncia a imparcialidade e a neutralidade satildeo muito importantes para o sucesso

das missotildees humanitaacuterias Sem independecircncia podem ver o seu acesso a determinados

locais barrados e por conseguinte natildeo tratar determinada populaccedilatildeo o que significa

perder a imparcialidade mesmo que de forma involuntaacuteria Por fim podem ser

associados a uma das partes das hostilidades e por isso perder a neutralidade aos olhos

da populaccedilatildeo local

Foram abordadas diversas formas de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios atraveacutes dos

peacekeepers por exemplo tomando como modelo um guia elaborado especificamente

para as missotildees no Sudatildeo do Sul O guia especifica quando deve ser requerida a escolta

e proteccedilatildeo quando a parceria deve acabar e em que circunstacircncias devem ser feitas a

escolta e o pedido Foram abordadas as missotildees integradas maximalistas (partilham do

mesmo mandato das NU peacekeeping e ONG OING e OIG) ou minimalistas

(UNMISS e ONG OING e OIG cooperam em conjunto pontualmente sem

interferecircncia das NU e sob supervisatildeo do OCHA) sendo que a OXFAM aceita melhor a

missatildeo integrada minimalista sob determinadas regras os princiacutepios humanitaacuterios

devem prevalecer os humanitaacuterios natildeo devem ser envolvidos em assuntos poliacuteticos e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

76

natildeo devem ser associados aos militares Este tipo de missatildeo parece ser a melhor opccedilatildeo

possiacutevel para garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios

Foi tambeacutem abordada a possibilidade de contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas

uma opccedilatildeo raacutepida isenta de burocracias e possivelmente eficaz pois natildeo tem os

mesmos constrangimentos dos peacekeepers no uso da forccedila Mas haacute o problema do

vazio legal que eacute uma espeacutecie de carta em branco para os militares destas agecircncias

poderem cometer crimes e a maior parte destas agecircncias conteacutem militares locais que o

podem fazer e natildeo serem julgados por isso Por outro lado estes militares natildeo tecircm

direito ao estatuto de combatentes de guerra nas Convenccedilotildees de Genebra

Deveria uma vez que as NU contratam este tipo de agecircncias militares privadas

regulamentar-se a atividade no seio do DIH de forma a que estas agecircncias operassem

ao abrigo da lei tendo por isso direitos e deveres a cumprir no terreno e seriam

julgados por crimes de guerra caso cometessem algum Deveria tambeacutem ser redigido e

publicado um guia onde sejam estabelecidas as regras de uma boa colaboraccedilatildeo entre as

ONG OING e OIG no terreno constando os direitos dos colaboradores das agecircncias e

seus deveres Neste caso este tipo de agecircncias poderia ser uma oacutetima ajuda aliada de

comunidade internacional e humanitaacuteria para a pacificaccedilatildeo mitigaccedilatildeo do conflito e para

suprir as necessidades mais baacutesicas da populaccedilatildeo em necessidade e sofrimento que vive

no limiar da pobreza e que vecirc os seus Direitos Humanos serem desrespeitados

Por uacuteltimo existe a possibilidade de se obter seguranccedila atraveacutes de escolta em missotildees

orientadas pela responsabilidade de proteger sob termos semelhantes aos do Guia de

colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers mas claro com a diferenccedila de que neste

caso os militares podem oferecer uma proteccedilatildeo mais eficaz pois podem fazer uso da

forccedila de forma diferente da dos peacekeepers tradicionais que soacute fazem o uso da forccedila

para autodefesa e defesa do mandato A responsabilidade de proteger tem como objetivo

principal acabar com genociacutedios os crimes contra a humanidade ou seja casos

extremos e pode fazer o uso da forccedila sem consentimento do Estado alvo da intervenccedilatildeo

Jaacute as operaccedilotildees de peacekeeping satildeo missotildees que tecircm um papel de estabilizar de

proteccedilatildeo mais ligado agrave reestruturaccedilatildeo do Estado apoiando as declaraccedilotildees de paz e o

bom decorrer das negociaccedilotildees de paz O uso da forccedila eacute mais limitado Os peacekeepers

tecircm-se revelado ineficazes na proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e alvos de criacutetica Na

responsabilidade de proteger o propoacutesito eacute proteger os civis e natildeo acompanhar o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

77

governo ou restabelecer e reconstruir o aparelho do poder por isso natildeo existe o

problema da imparcialidade como na missatildeo UNMISS por exemplo ou a sobrecarga de

responsabilidades dos militares da UNMISS

O peace enforcement ao abrigo do R2P como soluccedilatildeo para garantir a proteccedilatildeo e

seguranccedila dos humanitaacuterios deve pois ser amplamente analisado discutido e somente

decidido se as vantagens forem maiores que as desvantagens Como referido a

cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao abrigo do R2P no

Sri Lanka natildeo foi bem-sucedida Os humanitaacuterios viram o seu acesso a determinados

locais restringido e ateacute em alguns casos viram a sua permanecircncia posta em causa

tendo de terminar a sua missatildeo e regressar Ou seja deixaram de ser vistos como

neutros pelo Estado e as organizaccedilotildees humanitaacuterias que colaboraram com os militares

do peace enforcement viram-se politizados o que natildeo era suposto

A conclusatildeo que pode ser retirada eacute que natildeo existe um modelo ideal que natildeo coloque

em risco os princiacutepios humanitaacuterios em contexto de conflito para assegurar a seguranccedila

dos humanitaacuterios mas sim um modelo preferencial e outras alternativas como a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas Ou seja deveraacute ser escolhido o mal menor

logo a opccedilatildeo que menos danos cause tanto agrave comunidade humanitaacuteria como aos

proacuteprios militares e agrave missatildeo humanitaacuteria em si

Neste momento seria preferencial o modelo de cooperaccedilatildeo entre as NU as ONG

OING e OIG como foi estabelecido com a UNMISS no terreno no Sudatildeo do Sul Se se

seguir o Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United

Nations Mission in South Sudan elaborado pelas NU em conjunto com o OCHA HCT

e as ONG e OING os riscos seratildeo miacutenimos comparados com a contrataccedilatildeo de militares

de agecircncias militares privadas

Eacute verdade que existe ainda uma certa resistecircncia por parte da comunidade internacional

a optar pelas missotildees integradas se bem que existe mais resistecircncia agraves missotildees

integradas maximalistas que agraves missotildees integradas estrateacutegicas ou minimalistas visto

que as missotildees maximalistas satildeo missotildees que visam que ONG e peacekeepers operem

sob o mesmo mandato sendo assim sujeitas agrave mesma hierarquia Jaacute a missatildeo

minimalista eacute ocasional ou seja quando eacute mesmo necessaacuterio e as ONG estatildeo sob a

coordenaccedilatildeo do OCHA e HCT respeitando bem a separaccedilatildeo da comunidade

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

78

humanitaacuteria dos militares Esta eacute tambeacutem uma boa alternativa agraves agecircncias militares

privadas uma vez adotadas regras claras do padratildeo do Guia de coordenaccedilatildeo entre a

UNMISS e as ONG OING humanitaacuterias no terreno

Esta dissertaccedilatildeo focou pois o Sudatildeo do Sul que eacute um caso complexo onde os

humanitaacuterios satildeo atacados incessantemente tendo de ser tomadas providecircncias A

comunidade humanitaacuteria natildeo poderaacute por isso ser tatildeo inflexiacutevel em relaccedilatildeo ao princiacutepio

da neutralidade numa situaccedilatildeo como a do Sudatildeo do Sul Para chegar a determinados

locais eacute preciso que a seguranccedila dos humanitaacuterios seja assegurada para chegar a Juba e

Jonglei e Aburoc por exemplo locais onde a inseguranccedila prevalece e onde os

humanitaacuterios correm grande risco Os humanitaacuterios tecircm neste caso de escolher entre a

vida e salvar vidas para se manterem fieis aos princiacutepios fundamentais

A colaboraccedilatildeo com a UNMISS tem sido fulcral neste caso para que os humanitaacuterios

possam exercer a sua missatildeo em seguranccedila e respeitando os princiacutepios fundamentais no

entanto a cooperaccedilatildeo natildeo eacute bem aceite ainda na comunidade humanitaacuteria No caso do

Sudatildeo do Sul a inseguranccedila dos humanitaacuterios leva a que os bens essenciais como a

aacutegua comida e medicamentos natildeo cheguem ao local sendo estes motivos de guerra

dificultando a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Em suma a accedilatildeo humanitaacuteria eacute fulcral para a

ajuda na pacificaccedilatildeo do Sudatildeo do Sul e outros paiacuteses Deveria por isso haver uma

conferecircncia referente aos princiacutepios humanitaacuterios e agrave seguranccedila e proteccedilatildeo da

comunidade humanitaacuteria em territoacuterios de elevada inseguranccedila jaacute que o Sudatildeo do Sul

natildeo eacute exceccedilatildeo eacute um caso de ldquoEstado fragilizadordquo onde a pacificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo

natildeo seratildeo possiacuteveis tambeacutem sem o sucesso da ajuda dos humanitaacuterios e o sucesso da

ajuda humanitaacuteria no terreno soacute eacute possiacutevel se for garantida a sua proteccedilatildeo e seguranccedila

As agecircncias militares privadas devem ser a ultima opccedilatildeo na equaccedilatildeo pois apresentam

mais riscos que vantagens e as agecircncias com permissatildeo para operar pelo Estado no

Sudatildeo do Sul tecircm como colaboradores ex-combatentes de guerra o que pode ser um

grande risco no terreno Sabe-se que o conflito no Sudatildeo do Sul tem origem eacutetnica

existe um oacutedio racial colocar ex-combatentes de guerra a operar com lsquocarta brancarsquo no

terreno pode originar mais crimes e descreacutedito das ONG OING e OIG

Em suma natildeo existe uma soluccedilatildeo perfeita para garantir a proteccedilatildeo e uma escolta militar

neutra e imparcial uma vez que os militares de qualquer forccedila armada sejam do

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

79

governo da missatildeo das NU ou de outro Estado dificilmente satildeo neutros o que pode

derivar para uma falta de imparcialidade Na teoria eacute possiacutevel fazer a distinccedilatildeo entre

militar e humanitaacuterio mas no terreno haacute dificuldades As ONG e OING vivenciam por

isso um grande dilema que urge resolver

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

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Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

v

Abstract

In this dissertation the main problems related to the military escort to NGO volunteers

humanitarian professionals OING or OIG are addressed The associated problem is the

compliance by the humanitarian community with the fundamental humanitarian

principles of independence neutrality and impartiality That is the study focuses on the

relationship between humanitarian and military personnel and the consequences that

may arise therefrom such as distrust of the population in relation to NGOs NGOI or

IGO dropping of donations attacks among others The core questions are Is better to

respect fundamental humanitarian principles in full Is it possible to find an alternative

to the military escort to ensure security protection of the humanitarian Are private

military agencies an alternative

In other words the various options that can guarantee humanitarian safety on the

ground without undermining the fundamental humanitarian principles are explored For

example potential collaboration and current collaboration with peacekeeping

peacebuilding operations peace enforcement integrated missions and the option of

hiring private military agencies will be explored

The dissertation is also based on a case study on South Sudan where this military-

humanitarian relationship is evaluated on the ground It is concluded that in South

Sudan there is a need for greater humanitarian-military cooperation on the ground in

order to ensure the protection and security of humanitarian aid and therefore to enable

humanitarian organizations to carry out their work which is fundamental to the

pacification of the territory The two solutions that seem most viable are the integrated

missions and escort given by humanitarian personnel under the mission of the

responsibility to protect

Keywords Military escort humanitarian principles peacekeeping peacebuilding

peace enforcement safety humanitarian community integrated missions Southern

Sudan

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vi

Dedicatoacuteria

Para os meus pais que tornaram possiacutevel

realizar este sonho e agrave minha prima de

coraccedilatildeo Rosa Santos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vii

Agradecimentos

Agradeccedilo aos meus pais por todo o apoio que me transmitiram ao longo do meu

percurso acadeacutemico e todas as aprendizagens que me transmitiram ao longo da vida

Agradeccedilo aos meus amigos pelo apoio incondicional carinho e pelos bons momentos

Agradeccedilo ao meu primo e agrave sua esposa que satildeo como irmatildeos para mim por todo o

amor compreensatildeo apoio e carinho Foram fundamentais ao longo do meu percurso

acadeacutemico e na minha formaccedilatildeo enquanto pessoa

Gostava de endereccedilar um agradecimento muito especial agrave Professora Claacuteudia Ramos

por tudo o que me ensinou ao longo do meu percurso acadeacutemico todo o empenho

dedicaccedilatildeo compreensatildeo exigecircncia disponibilidade e apoio Mas sobretudo gostava de

agradecer pelo incentivo e apoio nos momentos menos bons que ocorreram ao longo do

periacuteodo de redaccedilatildeo da dissertaccedilatildeo e por ter-me feito natildeo desistir em momento algum

de terminar o meu mestrado quando os momentos que estava a atravessar eram

momentos difiacuteceis

Agradeccedilo tambeacutem ao Professor Joatildeo Casqueira ao Professor Aacutelvaro Campelo agrave

Professora Teresa Toldy e ao Professor Paulo Vila Maior pela sabedoria que

partilharam ao longo de todo o meu percurso acadeacutemico que foi pautado por excelentes

professores

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

viii

Iacutendice

Resumo iv

Abstract v

Dedicatoacuteria vi

Agradecimentos vii

Iacutendice viii

Iacutendice de Figurashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip ix

Lista de Acroacutenimos x

Introduccedilatildeo 1

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria 10

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a abordagem

humanitaacuteria 21

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding 21

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar 23

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares 28

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno 40

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 48

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso 53

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul 53

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das ONG 59

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar 62

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 69

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas 73

Conclusatildeo 75

Bibliografia 80

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ix

Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terrenohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip43

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sulhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip53

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

x

Lista de Acroacutenimos

AMI Assistecircncia Meacutedica Internacional

AMP Agecircncias Militares privadas

CAI Conflito Armado Internacional

CANI Conflito Armado Natildeo Internacional

CERF Central Emergency Response Fund

CMOC Civil Military Operation Center

DIH Direito Internacional Humanitaacuterio

DDR Desarmamento Desmobilizaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo

DSL Defense System Limited

ECHO European Civil Protection and Aid Operations

HC Humanitarian Coordinator

HCT Humanitarian Country Team

ICRC International Comittee of Red Cross

IASC Inter-Agency Standing Committee

IAP Integrated Assessment and Planning

ICISS International Commission on Intervention and State Sovereignity

JOC Joint Operations Center

MSF Meacutedicos Sem Fronteiras

NU Naccedilotildees Unidas

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

OING Organizaccedilatildeo Internacional Natildeo Governamental

OCHA United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

OCDE Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econoacutemico

OFDA Office of US Foreign and Disaster Assistance

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

PCI Projetos de curto impacto

RESG Representante Especial do Secretaacuterio Geral

RCO Resident Coordinatoracutes Office

R2P Responsibility to protect

UE Uniatildeo Europeia

UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

UNMISS United Nation Missions for South Sudan

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF United Nations Childrenrsquos Fund

WFP World Food Programme

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

1

Introduccedilatildeo

Na presente dissertaccedilatildeo iraacute ser abordada a relaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a Accedilatildeo

Securitaacuteria como garante de proteccedilatildeo e escolta aos humanitaacuterios em situaccedilotildees de

elevado perigo podendo potencialmente colocar a missatildeo humanitaacuteria em causa devido

agrave dificuldade de acesso ao terreno A resposta humanitaacuteria eacute composta por trecircs fases A

primeira eacute o fornecimento dos bens essenciais como a aacutegua abrigo e alimentaccedilatildeo A

segunda eacute a ajuda agraves viacutetimas para recuperarem os seus meios de subsistecircncia bem como

a reconstruccedilatildeo das infraestruturas sociais e materiais baacutesicas Por uacuteltimo haacute a prevenccedilatildeo

de novas cataacutestrofes Logo a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal objetivo aliviar o

sofrimento humano de forma a que a populaccedilatildeo possa viver com dignidade e se salvem

vidas A accedilatildeo humanitaacuteria divide-se nas seguintes aacutereas a ajuda ao desenvolvimento a

defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda humanitaacuteria mais urgente

(OIKOS 2015 UNRIK 2014)

Jaacute a accedilatildeo securitaacuteria nomeadamente as lsquomissotildees de pazrsquo eacute predominantemente do tipo

militar tendo regra geral de ser pedida pelo Estado que estaacute a atravessar o conflito

como foi o caso do Ruanda Somaacutelia Sudatildeo do Sul entre outros As accedilotildees securitaacuterias

ao abrigo das missotildees de paz tecircm como objetivos fornecer assistecircncia e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados que a paz possa ser estabelecida e o genociacutedio

prevenido ou interrompido Dentro da accedilatildeo securitaacuteria encontram-se as operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mais extrema o peace enforcement O peace

enforcement pode ser ativado em casos extremos e ao abrigo do princiacutepio da

responsabilidade de proteger Ainda assim os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm

de se limitar a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para fazerem respeitar os

direitos humanos violados e fornecer assistecircncia ao povo local (Gordon1996 Bellamy

e Wheeler 2006 Massingham 2009 Weiss 2017)

A questatildeo central da investigaccedilatildeo eacute portanto a articulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o

militar em paiacuteses que estejam a passar por conflitos armados Sempre que os

profissionais humanitaacuterios estejam em paiacuteses em estado de guerra ou poacutes-guerra

poderatildeo sentir dificuldades na hora de aceder a locais onde a populaccedilatildeo necessite de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

2

mais ajuda devido ao facto de natildeo terem escolta militar para esse efeito Outro

problema eacute a possibilidade de haver confusatildeo dos humanitaacuterios com os militares e por

isso a populaccedilatildeo rejeitar a ajuda das organizaccedilotildees humanitaacuterias Portanto o foco do

tema da dissertaccedilatildeo eacute identificar a importacircncia do papel dos militares para o bom

desempenho dos profissionais humanitaacuterios

Ou seja o estudo centra-se nas consequecircncias que podem advir daiacute como por exemplo

desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves ONG OING ou OIG queda dos donativos

ataques entre outros Do ponto de vista praacutetico as questotildees centrais seratildeo as seguintes

Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de vida ou correcirc-lo e

respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente Seraacute que eacute possiacutevel

encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a seguranccedila e proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma alternativa

Nesta dissertaccedilatildeo constatar-se-aacute que existe um cruzamento entre a accedilatildeo humanitaacuteria

(humanitaacuterios) e o sistema securitaacuterio (militares) sendo os atores deste uacuteltimo

normalmente os membros das operaccedilotildees de peacekeeping peace enforcement ou a

componente policial e militar do peacebuiliding podendo ainda ocorrer haver no

terreno uma forccedila militar estatal como no caso de algumas intervenccedilotildees militares como

seraacute explicitado adiante Neste uacuteltimo caso soacute mesmo em uacuteltima circunstacircncia os

humanitaacuterios aceitariam a escolta de forma a natildeo perderem a sua imparcialidade e

independecircncia

As operaccedilotildees de peacekeeping satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas

tambeacutem para a proteccedilatildeo dos civis para assistir ao desarmamento agrave desmobilizaccedilatildeo e agrave

reintegraccedilatildeo de ex-combatentes para suportar a organizaccedilatildeo de eleiccedilotildees para proteger e

promover os direitos humanos e para ajudar na construccedilatildeo de um ldquoestado de direitorsquo

(rule of law) fazendo a ponte com as operaccedilotildees de peacebuilding no terreno e sendo os

seus atores parceiros ldquonaturaisrdquo dos humanitaacuterios no terreno (UN sda UN sdb)

As razotildees pelas quais foi escolhido este tema satildeo sobretudo motivaccedilotildees pessoais mas

tambeacutem a relevacircncia do mesmo para a construccedilatildeo do saber na aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria

cooperaccedilatildeo e desenvolvimento sobretudo na parte da accedilatildeo humanitaacuteria Explorar novos

caminhos e trabalhar novos paradigmas para a evoluccedilatildeo positiva da accedilatildeo das missotildees no

terreno eacute fulcral para o futuro da accedilatildeo humanitaacuteria ndash eacute urgente encontrar novas soluccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

3

para que os humanitaacuterios e os militares possam satisfazer as necessidades das

populaccedilotildees que residam em locais de conflito

Uma articulaccedilatildeo entre os humanitaacuterios e os membros de operaccedilotildees de peacekeeping ou

peacebuilding pode revelar-se importante para o sucesso das missotildees em que os

profissionais humanitaacuterios participam sobretudo se essas missotildees forem sediadas em

locais de tensatildeo aberta ou altamente conflituosos Para aleacutem da motivaccedilatildeo pessoal

explicada existe pois uma motivaccedilatildeo social sendo ela a de colaborar para alertar os

agentes responsaacuteveis pela accedilatildeo humanitaacuteria para as novas necessidades e desafios nesta

aacuterea de forma a contribuir mais e melhor na sociedade

Os objetivos do estudo ao abordar este tema satildeo explorar a relaccedilatildeo existente ou natildeo

entre o profissional humanitaacuterio e o militar bem como entender ateacute que ponto essa

relaccedilatildeo eacute ou natildeo beneacutefica para a eficaacutecia da accedilatildeo humanitaacuteria e se porventura coloca em

causa os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios que satildeo a imparcialidade neutralidade e

independecircncia Eacute pretendido tambeacutem explorar as vaacuterias opccedilotildees de obtenccedilatildeo de

seguranccedila e identificar as melhores opccedilotildees

No entanto o objetivo central eacute explorar as dinacircmicas de articulaccedilatildeo entre o

humanitaacuterio e o militar em missotildees humanitaacuterias nas suas diversas formas quer com a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas quer com o apoio dos peacekeepers ou

forccedilas militares do paiacutes que estaacute sob a ajuda humanitaacuteria e a accedilatildeo militar Dado o cariz

do mestrado em Accedilatildeo Humanitaacuteria que visa formar tambeacutem para a praacutetica de terreno

este objetivo afigura-se fundamental

O paradigma investigativo escolhido para a dissertaccedilatildeo eacute o qualitativo que assenta na

interpretaccedilatildeo de determinados fenoacutemenos de modo a construir uma nova visatildeo acerca

do tema de estudo A parte empiacuterica da dissertaccedilatildeo conta com um estudo de caso sobre

o Sudatildeo do Sul onde eacute analisada a interaccedilatildeoarticulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o militar

no terreno com recurso a anaacutelise bibliograacutefica e documental nomeadamente a anaacutelise

de um guia sobre missotildees integradas elaborado pela OXFAM que eacute o UN Integrated

Missions and Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations

Integrated Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) Conta tambeacutem com a

anaacutelise de um documento importante para o estudo do caso do Sudatildeo do Sul que eacute o

Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United Nations

Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) elaborado pelas Naccedilotildees Unidas (NU)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

4

em conjunto com ONG OING e OIG Este eacute um guia que iraacute explicar como deve ser

feita a cooperaccedilatildeo entre a comunidade humanitaacuteria e os peacekeepers no terreno

denominada tambeacutem de missatildeo integrada (minimalista ou maximalista conforme se

explicaraacute)

O motivo da escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso foi o facto de este ser um

Estado de elevada fragilidade onde a guerra civil natildeo aparenta ter um fim agrave vista Outro

motivo foi o nuacutemero crescente de humanitaacuterios atacados sequestrados e assassinados

no terreno o que torna o Sudatildeo do Sul um terreno perigoso para as ONG e OIG se

aventurarem sem que sejam garantidas as devidas condiccedilotildees de seguranccedila e proteccedilatildeo

dos humanitaacuterios O cerne da questatildeo eacute precisamente o facto de essa proteccedilatildeo e

seguranccedila natildeo serem garantidas no terreno pelo Estado que estaacute em conflito armado

natildeo sendo possiacutevel por vezes aos humanitaacuterios chegar a determinados locais por

elevado niacutevel de perigo de vida

Satildeo estes os motivos que justificaram a escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso

complementando assim a parte teoacuterica sobre o dilema dos princiacutepios humanitaacuterios e a

necessidade de proteccedilatildeo no terreno

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

5

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria nasceu com Henri Dunant tendo sido este a criar a Cruz Vermelha

apoacutes a batalha violenta de Solferino em 1859 Teraacute entatildeo uma estrutura composta de

associaccedilotildees pequenas adquirindo uma dimensatildeo sem-fronteiras Comeccedilou por ser

denominada de Comiteacute International de Secours aux Blesseacutes e em 1875 obteve o nome

pela qual eacute conhecida hoje Cruz Vermelha ou Croix Rouge Tinha como principal

objetivo tratar os prisioneiros e feridos de guerra independentemente do lado pelo qual

lutavam Ou seja Dunan apoacutes assistir aos horrores daquela batalha decidiu criar uma

organizaccedilatildeo que tratasse todos os feridos independentemente da raccedila religiatildeo

ideologia cor crenccedila ou etnia (Schaumoff 2011 Crisp 2008)

A Cruz Vermelha comeccedilou por basear-se em trecircs pilares fundamentais que satildeo a

neutralidade a independecircncia da organizaccedilatildeo permanente de socorros e uma convenccedilatildeo

internacional para a proteccedilatildeo dos feridos A accedilatildeo humanitaacuteria tinha e tem como

principal objetivo alivar o sofrimento restabelecer a dignidade e humanidade Estes trecircs

pilares foram rapidamente adotados pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias (Schaumoff

2011 Crisp 2008 Hammond 2015) Em 1965 em Viena a Cruz Vermelha proclamou

os seus sete princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

Independecircncia todas as ONG e OIG devem ser independentes relativamente a qualquer

instituiccedilatildeo Estado ou outro sistema governamental a fim de se poderem movimentar e

agir de acordo com os seus princiacutepios e natildeo sob pressatildeo da entidade da qual dependem

monetariamente ou securitariamente Ou seja a accedilatildeo humanitaacuteria deve ser praticada de

forma autoacutenoma e independente dos agentes poliacuteticos e militares (Hisamoto 2012

IFRCC sd)

Imparcialidade todos devem ser tratados de igual forma independentemente da tribo

etnia da cor do sexo da religiatildeo de ideologia poliacutetica e do geacutenero (IFRCC sd CVP

2017a)

Neutralidade as OIG e ONG devem abster-se de tomar parte em hostilidades ou em

controveacutersias de ordem poliacutetica racial filosoacutefica ou religiosa (IFRCC sd CVP

2017a)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

6

Humanidade este princiacutepio estabelece que todos os feridos devem ser auxiliados dentro

e fora do campo de batalha o sofrimento deve ser aliviado independentemente das

circunstacircncias a vida e a sauacutede devem ser protegidas deve ser promovido o respeito

pela pessoa humana e deve ser favorecida a compreensatildeo a cooperaccedilatildeo e a paz

duradoura entre os povos (IFRCC sd CVP 2017a)

Voluntariado todas as OIG e ONG devem agir de forma voluntaacuteria e desinteressada

(IFRCC sd CVP 2017a)

Unidade a Cruz Vermelha eacute uma soacute podendo em cada paiacutes existir somente sociedades

abertas a todos estendendo assim a sua accedilatildeo humanitaacuteria a todo o territoacuterio nacional

No entanto este princiacutepio eacute estendiacutevel a toda a comunidade humanitaacuteria que deve agir

como uma soacute entreajudando-se e cumprindo o dever de salvar vidas e aliviar o

sofrimento humano (IFRCC sd CVP 2017a)

Universalidade a Cruz Vermelha eacute uma instituiccedilatildeo com cariz universal no seio de

todas as Sociedades Nacionais todas tecircm direitos e deveres iguais de entreajuda o

mesmo princiacutepio vale para as restantes organizaccedilotildees intergovernamentais ou natildeo

governamentais (IFRCC sd CVP 2017a)

Em 1949 foram criadas as Quatro Convenccedilotildees de Genebra e posteriormente os

respetivos protocolos que satildeo de 1977 e satildeo a base do Direito Internacional

Humanitaacuterio onde eacute determinado o tratamento dos soldados e civis durante os conflitos

armados internacionais e natildeo internacionais (CVP 2017b Jurkowski 2017)

A primeira Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos e dos doentes das

Forccedilas Armadas em campanha Aqui eacute estabelecido como devem ser tratados os feridos

e doentes das forccedilas armadas respeitando sempre os princiacutepios fundamentais mais

importantes da accedilatildeo humanitaacuteria que satildeo a neutralidade e imparcialidade Ou seja todo

o doente ou ferido deve ser tratado independentemente da sua cor raccedila credo feacute

religiatildeo geacutenero ideologias poliacuteticas etnias e quer faccedila parte de uma ou outra parte das

hostilidades (ICRC 1949 CVP 2017b Jurkowski 2017)

A segunda Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos doentes e

naacuteufragos das Forccedilas Armadas no mar Eacute aqui estabelecido o tipo de tratamentos que os

feridos doentes e naacuteufragos das forccedilas armadas devem obter e os direitos que lhes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

7

assistem Todos os feridos devem ser assistidos independentemente da religiatildeo crenccedila

feacute religiatildeo ideologias poliacuteticas e quer faccedilam parte de uma ou da outra parte das

hostilidades Caso os humanitaacuterios estejam perante dois feridos e tenham de escolher

devem assistir o ferido que teraacute mais probabilidades de sobreviver natildeo devendo fazer a

escolha com base na nacionalidade faccedilatildeo partidaacuteria crenccedila religiatildeo feacute cor entre

outros Todas as organizaccedilotildees humanitaacuterias e todos os humanitaacuterios devem pois reger-

se pelos princiacutepios da neutralidade e imparcialidade mas tambeacutem humanidade e

independecircncia (ICRC 1949 CVPb 2017)

A terceira Convenccedilatildeo diz respeito ao tratamento dos prisioneiros de guerra Todos os

prisioneiros de guerra devem ser tratados com dignidade e devem ver os seus direitos

consagrados no direito internacional humanitaacuterio respeitados como o acesso a

assistecircncia meacutedica em caso de necessidade a proteccedilatildeo dos seus pertences que natildeo

devem ser alvo de pilhagem e a garantia de um miacutenimo de condiccedilotildees na cela que

permita ao prisioneiro viver com dignidade Natildeo devem ainda ser alvo de torturas

privados de visitas e de um advogado e devem ainda ter acesso a um julgamento

imparcial Em caso de morte o corpo natildeo pode ser profanado e deve ser devolvido agrave

famiacutelia uma vez feito o reconhecimento (ICRC 1949 CVP 2017b)

A quarta Convenccedilatildeo diz respeito agrave proteccedilatildeo de civis em tempo de guerra Nesta

convenccedilatildeo eacute feita a distinccedilatildeo entre os conflitos armados internacionais e os conflitos

armados natildeo internacionais pois a proteccedilatildeo dada aos civis em tempo de conflito a

niacutevel do direito internacional humanitaacuterio eacute diferente Se no caso de um CAI (Conflito

Armado Internacional) os civis e prisioneiros de guerra estatildeo protegidos pelo Direito

Internacional Humanitaacuterio e pelas Convenccedilotildees de Genebra ratificadas por quase todos

os Estados do mundo a verdade eacute que caso o conflito natildeo seja internacional a proteccedilatildeo

dos civis e prisioneiros de guerra eacute colocada em causa O Direito Internacional

Humanitaacuterio natildeo tem legitimidade para atuar em caso de CANI (Conflito Armado Natildeo

Internacional) Logo em caso de CANI os civis e prisioneiros de guerra ficam

entregues agrave sua sorte No entanto eacute possiacutevel contornar este problema recorrendo aos

protocolos adicionais I e II O problema aqui reside no facto de poucos Estados terem

ratificado os protocolos adicionais o que deixa os civis e prisioneiros de guerra numa

posiccedilatildeo delicada em contexto de CAN Outro problema eacute ainda determinar quando eacute

que podemos classificar um conflito armado como sendo internacional ou natildeo Esta eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

8

uma aacuterea complicada e que leva a algumas duacutevidas quanto agrave classificaccedilatildeo do conflito

(Jurkowski 2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional I vem pois fazer a distinccedilatildeo entre os conflitos armados

internacionais e natildeo internacionais e o protocolo adicional II vem fazer algumas

modificaccedilotildees e especificar como devem ser tratados os feridos doentes e prisioneiros de

guerra em cada um dos casos Foram celebrados a 8 de agosto de 1977 (Jurkowski

2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional III celebrado a 8 de dezembro de 2005 vem formalizar o terceiro

emblema do movimento ldquoO Cristal Vermelhordquo Este novo emblema apresenta-se na

forma de um losango inserido dentro de uma moldura vermelha sob fundo branco A

ideia da construccedilatildeo de um novo siacutembolo surgiu com a necessidade de encontrar uma

alternativa agrave cruz e ao crescente que satildeo muitas vezes percecionadas como tendo

conotaccedilotildees religiosas culturais e poliacuteticas o que levava ao desrespeito do emblema dos

humanitaacuterios e das viacutetimas Com o novo emblema denominado de Cristal Vermelho e

com a assinatura do acordo entre o Crescente Vermelho da Palestina e a Magen David

Adom (mais conhecida por estrela de David) a 28 de novembro de 2005 foram

definidos aspetos logiacutesticos no desenvolvimento das operaccedilotildees humanitaacuterias Este

acordo contribuiu para a adoccedilatildeo do III protocolo adicional e para que terminasse um

longo processo diplomaacutetico (CVPb 2017 CVP 2017c ICRC 1949)

Com o aumento do nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento

de conflitos que necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido pela Cruz

Vermelha em 1994 o coacutedigo de conduta humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se

comprometeriam a respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios principalmente os

princiacutepios da neutralidade imparcialidade e independecircncia Este coacutedigo foi assinado por

140 agecircncias de forma a assegurar que os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios fossem

assegurados no terreno (Makintosh 2000 Hammond 2015)

Podemos constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal missatildeo aliviar o

sofrimento humano e devolver dignidade agrave vida das pessoas com necessidades que

devem ser urgentemente apaziguadas Esta ajuda humanitaacuteria deve ter como principal

fim o solidaacuterio e nunca fins lucrativos ou segundas intenccedilotildees como poliacuteticas por

exemplo Os seus valores tecircm origem eacutetico-religiosa cristatilde quanto ao amor ao proacuteximo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

9

no princiacutepio da solidariedade e da caridade bem como no humanitarismo Eacute tambeacutem

estabelecido neste protocolo que a Cruz Vermelha deve estar bem identificada e que

nenhuma instituiccedilatildeoorganizaccedilatildeo humanitaacuteria e religiosa deve ser atacada pois se trata

de entidades imparciais e neutras (Jurkowski 2017 Hammond 2015)

Os princiacutepios humanitaacuterios definem as regras de accedilatildeo no terreno na hora de oferecer

ajuda humanitaacuteria devendo sempre respeitar os referidos sete princiacutepios humanitaacuterios

proclamados em Viena em 1965 pela Cruz Vermelha Os humanitaacuterios devem ainda

manter-se neutros face agraves hostilidades e natildeo devem ser associados implicados ou ter

uma participaccedilatildeo poliacutetica no terreno de forma a natildeo colocar a vida da populaccedilatildeo em

risco e a populaccedilatildeo natildeo recear pedir ajuda Devem tambeacutem manter-se imparciais

quanto ao tratamento das pessoas sendo por isso a independecircncia fulcral que soacute eacute

conseguida mantendo-se neutros (Jurkowski 2017 Crisp 2008 Hammond 2015)

O humanitaacuterio ou a organizaccedilatildeo humanitaacuteria tecircm tambeacutem o dever de denunciar abusos

aos direitos humanos No entanto muitos natildeo o fazem sob medo de ao denunciarem o

Estado denunciado os encarar como tomando um dos lados das hostilidades existentes e

de por isso lhes ser retirada a permissatildeo para permanecerem no terreno ou serem alvos

de ataques entre outros Os Meacutedicos sem Fronteiras por exemplo jaacute encararam este

tipo de problemas e a poliacutetica da organizaccedilatildeo eacute denunciar mesmo que isso signifique ter

de fazer as malas e abandonar o terreno Natildeo denunciar seria cooperar e permitir a

violaccedilatildeo dos direitos humanos ndash este eacute chamado o ldquoprinciacutepio da ingerecircncia

humanitaacuteriardquo Tal significa que o humanitaacuterio deve denunciar os crimes contra os

Direitos Humanos independentemente das consequecircncias (Terry 2002 Hisamoto

2012)

Apoacutes a criaccedilatildeo da Cruz Vermelha vaacuterias organizaccedilotildees internacionais governamentais e

natildeo-governamentais foram surgindo para fornecer ajuda humanitaacuteria aos paiacuteses em

conflito e de extrema pobreza No plano das natildeo governamentais encontramos

organizaccedilotildees como a AMI a OXFAM ou a Caacuteritas A niacutevel intergovernamental a ONU

abriu um escritoacuterio denominado OCHA (United Nations Office for the Coordination of

Humanitarian Affairs) para a coordenaccedilatildeo dos assuntos humanitaacuterios a OCDE tambeacutem

se dedica a esta causa bem como a UE atraveacutes do ECHO (European Civil Protection

and Humanitarian Aid Operations) (Philippe et al 2007)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

10

Podemos entatildeo constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria eacute uma atuaccedilatildeo no terreno de cariz

puramente solidaacuterio e humanitaacuterio que tem como principal objetivo aliviar o sofrimento

humano fornecendo os meios essenciais de subsistecircncia apoio meacutedico e psicoloacutegico

bem como abrigo proteccedilatildeo e apoio legal em caso de a viacutetima ter sido alvo de violaccedilatildeo

dos seus Direitos Humanos Esta atuaccedilatildeo eacute realizada por ONG OING e OIG (Bellamy e

Wheeler 2006)

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute composta por diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sendo a ajuda

humanitaacuteria em contexto de conflito e a defesa dos direitos humanos as aacutereas que iratildeo

ser mais aprofundadas nesta dissertaccedilatildeo As aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo pois a ajuda ao

desenvolvimento a defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda

humanitaacuteria mais urgente A ajuda urgente eacute a mais oacutebvia mas os humanitaacuterios

colaboram tambeacutem no terreno com missotildees orientadas para outros fins e com prazos

mais longos Cada uma dessas aacutereas dentro da ajuda humanitaacuteria requer uma estrateacutegia

diferente de accedilatildeo e cuidados a ter com os proacuteprios humanitaacuterios que satildeo muitas vezes

alvo de sequestros atentados e homiciacutedio Por exemplo a ajuda humanitaacuteria em

contexto de conflito requer uma maior preparaccedilatildeo por parte dos humanitaacuterios para o

terreno onde vatildeo atuar requer um estabelecimento de mecanismos de seguranccedila

detalhados como por exemplo mapear onde estatildeo localizados onde cada grupo da sua

equipa estaacute a operar em determinado momento assegurar meios de telecomunicaccedilatildeo

fiaacuteveis como a raacutedio para que todos os elementos do grupo estejam contactaacuteveis pela

base onde estaacute sediada a organizaccedilatildeo (Ryfman 2007)

Jaacute a aacuterea de ajuda ao desenvolvimento tem como principal foco a erradicaccedilatildeo da

pobreza a niacutevel mundial Essa ajuda eacute fornecida por organizaccedilotildees de paiacuteses

desenvolvidos ou organizaccedilotildees intergovernamentais como a ONU Este objetivo adveacutem

da parceria entre Estados desenvolvidos e em vias de desenvolvimento tendo tido um

marco fundamental na Declaraccedilatildeo do Mileacutenio assinada por 189 Estados em setembro

de 2000 Esta Declaraccedilatildeo do Mileacutenio foi adotada na resoluccedilatildeo ARES552 da

Assembleia Geral das NU Nela ficaram estabelecidos os princiacutepios fundamentais a

serem adotados por todos os Estados Membros que a tenham ratificado A menccedilatildeo

destes princiacutepios iraacute clarificar o conceito da accedilatildeo humanitaacuteria e fazer entender que

certos princiacutepios satildeo negados agraves populaccedilotildees de Estados fragilizados em conflito ou em

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

11

vias de desenvolvimento e que ainda eacute necessaacuterio percorrer um longo caminho na aacuterea

da accedilatildeo humanitaacuteria que neste momento se revela difiacutecil devido agrave inseguranccedila em

determinados terrenos Esses princiacutepios satildeo

Liberdade Todos independentemente do geacutenero devem ter o direito de viver em

dignidade e criar os seus filhos em dignidade livres da fome do medo e da violecircncia

opressatildeo ou injusticcedila Os governos devem ser democraacuteticos e participativos baseados

na vontade do povo

Igualdade nenhum individuo ou naccedilatildeo deve ver a oportunidade de beneficiar do

desenvolvimento negada Os direitos e oportunidades devem ser iguais para todos

Solidariedade Desafios globais devem ser geridos de forma a que os custos e benefiacutecios

sejam distribuiacutedos de forma justa com base no princiacutepio da equidade e justiccedila social

Aqueles que sofrem ou que beneficiam menos merecem a ajuda dos que satildeo mais

beneficiados

Toleracircncia Todo o ser humano deve respeitar-se mutuamente em toda a sua diversidade

de crenccedila cultura e linguagem A diferenccedila na e entre a sociedade natildeo devem ser

temidas ou reprimidas devem antes ser preservadas como um bem precioso da

humanidade Por uacuteltimo deve ser promovida uma cultura de paz e dialogo entre todas

as civilizaccedilotildees

Respeito pela natureza Deve haver prudecircncia na gestatildeo de todas as espeacutecies existentes

e recursos naturais de acordo com a perceccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel A

riqueza da natureza e diversidade de espeacutecies legada pelos nossos antepassados deve ser

preservada para a manutenccedilatildeo do equilibro do meio ambiente no presente e para os

nossos descendentes no futuro O padratildeo de consumismo e constante destruiccedilatildeo da

natureza deve ser mudado

Responsabilidade partilhada A responsabilidade de gerir mundialmente o niacutevel

econoacutemico e o desenvolvimento social bem como ameaccedilas agrave paz internacional e

seguranccedila deve ser partilhada entre naccedilotildees do mundo e deve ser exercida

multilateralmente As NU devem por isso como organizaccedilatildeo mundial de maior

influecircncia ter um papel central nesta questatildeo (UN 2000 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

12

Com base nestes princiacutepios foram estabelecidos os objetivos de desenvolvimento do

mileacutenio e posteriormente em 2015 os 17 objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel

que satildeo 1) Erradicar a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares 2)

Acabar com a fome conseguir seguranccedila alimentar melhorar a nutriccedilatildeo e a promoccedilatildeo

de uma agricultura sustentaacutevel 3) Assegurar uma vida saudaacutevel e promover o bem-estar

para todos em todas as idades 4) Assegurar uma educaccedilatildeo que privilegie a inclusatildeo de

todos que seja equitativa e de qualidade e que promova diversas oportunidades de

aprendizagem ao longo da vida e para todos 5) Alcanccedilar a igualdade de geacutenero

conceder autonomia agraves mulheres 6) Assegurar uma gestatildeo sustentaacutevel da aacutegua e

saneamento e a garantir que toda a populaccedilatildeo tenha acesso agrave aacutegua 7) garantir a todos o

acesso sustentaacutevel e confiaacutevel agrave energia 8) promover o crescimento econoacutemico

sustentado inclusivo e sustentaacutevel emprego pleno e produtivo bem como trabalho

decente para todos 9) Construir infraestruturas resistentes promover a industrializaccedilatildeo

sustentaacutevel de forma a fomentar a inovaccedilatildeo 10) Reduzir as desigualdades no seio do

Estado e entre Estados 11) Tornar as cidades e o patrimoacutenio humano mais inclusivos

seguros resistentes e sustentaacuteveis 12) Assegurar padrotildees de produccedilatildeo e de consumo

sustentaacuteveis 13) Combater as alteraccedilotildees climaacuteticas de forma a diminuir o risco do seu

impacto no nosso planeta 14) Promover o uso sustentaacutevel dos oceanos dos mares e dos

recursos marinhos para um desenvolvimento sustentaacutevel 15) Proteger recuperar e

promover o uso sustentaacutevel dos ecossistemas terrestres gerir de forma sustentaacutevel as

florestas e combater a desertificaccedilatildeo deter e reverter a degradaccedilatildeo da terra e deter a

perda de biodiversidade 16) Promover sociedades paciacuteficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentaacutevel proporcionar o acesso agrave justiccedila com base na igualdade e

equidade construir instituiccedilotildees eficazes responsaacuteveis e inclusivas para todos 17)

Fortalecer os meios de implementaccedilatildeo e revitalizar a parceria a niacutevel global para o

desenvolvimento sustentaacutevel (UN 2015 ONUBR 2017 UN 2017c)

Podemos por isso considerar que a ajuda ao desenvolvimento fornecida pelo PNUD eacute

uma accedilatildeo poliacutetica para melhorar as condiccedilotildees de vida dos paiacuteses em vias de

desenvolvimento numa perspetiva de longo prazo A ajuda eacute fornecida pelos Estados-

membros da OCDE ONU EU BMI e FMI

A luta pelos direitos dos humanos tem como principal objetivo a luta contra a violaccedilatildeo

dos direitos humanos definidos na declaraccedilatildeo universal dos direitos do homem Como

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

13

quadro de referecircncia dos direitos humanos foram ainda redigidas a convenccedilatildeo

internacional para os direitos poliacuteticos e civis e a convenccedilatildeo para os direitos

econoacutemicos sociais e culturais (Ryfman 2007 UN 2017d SDG 2015)

Este tipo de ajuda humanitaacuteria funciona atraveacutes de denuacutencias e pressotildees para que sejam

conhecidas sucessivas violaccedilotildees dos direitos humanos e o direito a uma vida digna

preservado No entanto esta eacute uma aacuterea que pode abrir portas para o conflito entre o

dever de denunciar violaccedilotildees dos Direitos Humanos e os princiacutepios humanitaacuterios Como

foi referido acima as ONG e OIG baseiam-se em sete princiacutepios fundamentais dos

quais trecircs satildeo cruciais ndash a independecircncia a neutralidade e a imparcialidade Ao

denunciar uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a denuacutencia poderaacute ser vista como se a

organizaccedilatildeo estivesse a tomar partido por uma das partes do conflito mesmo que natildeo

seja o caso e eacute assim colocada em causa a neutralidade da organizaccedilatildeo seja ela

internacional local governamental ou natildeo Este eacute um caso bastante delicado pois a

organizaccedilatildeo precisa da autorizaccedilatildeo para poder permanecer no terreno Esta situaccedilatildeo

pode levar a que vaacuterias organizaccedilotildees se sintam intimidadas na hora de denunciar

embora exista um modelo especiacutefico criado pelas Naccedilotildees Unidas para realizar queixas

por violaccedilatildeo dos direitos humanos O procedimento eacute denominado de Human Rights

Council Complaint Procedure A Amnistia Internacional tambeacutem faz queixas por

violaccedilatildeo dos direitos humanos sendo uma ONG muito importante no ativismo pelos

direitos humanos (OHCHR 2017 Hammond 2015)

O Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Direitos Humanos (ACDH) tem

tambeacutem um papel importantiacutessimo na prevenccedilatildeo e denuacutencia de potenciais crimes contra

os direitos humanos no terreno Este Alto Comissariado tem como principal objetivo

dar suporte ao respeito pelos direitos humanos no acircmbito de operaccedilotildees de

peacekeeping peaceenforcement peacebuilding provendo planos estrateacutegicos

policiamento e aconselhamento especializado O Alto Comissariado pode mesmo

indicar a necessidade de acionar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo mas eacute o Conselho de

Seguranccedila que tem o poder decisoacuterio nesta mateacuteria As principais atividades do ACDH

satildeo fazer a monitorizaccedilatildeo diaacuteria investigaccedilatildeo documentaccedilatildeo e relato da situaccedilatildeo

relativa aos direitos humanos advogar junto das autoridades locais e nacionais

envolvendo a sociedade civil e os governos nacionais (desta forma eacute possiacutevel prevenir e

assegurar a reparaccedilatildeo da violaccedilatildeo dos direitos humanos) reportar publicamente ganhos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

14

e falhas nos direitos humanos assegurar que o processo de paz promova a justiccedila e a

equidade construir instituiccedilotildees de direitos Humanos incorporar os direitos humanos

nas missotildees de paz da NU bem como em todos os programas e atividades as NU no

paiacutes (OHCHR 2017)

Eacute ainda nesta aacuterea que se verifica uma maior possibilidade de ser posta em causa a

neutralidade e a independecircncia das organizaccedilotildees Para poder proteger os direitos

humanos e denunciar abusos de direitos humanos perpetrados por exemplo pelo Estado

em cujo territoacuterio se verificam esses atos os humanitaacuterios iratildeo colocar em causa a sua

permanecircncia no terreno Este facto leva a que muitas organizaccedilotildees natildeo realizem a

denuacutencia o que torna de certa forma as mesmas cuacutemplices dessas barbaridades contra a

sua vontade

A promoccedilatildeo da paz recai essencialmente sobre o Conselho de Seguranccedila das NU que

tem como principal objetivo a manutenccedilatildeo e estabelecimento da paz e a seguranccedila

internacional de forma a que natildeo se repita mais nenhum conflito com a dimensatildeo da II

Guerra Mundial tendo esse sido o principal motivo para a fundaccedilatildeo das NU Para

promover a paz as NU atraveacutes do Conselho de Seguranccedila recorreu a operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mesmo ao peace enforcement a diplomacia e a

mediaccedilatildeo preventiva ao combate ao terrorismo (como podemos verificar hoje com o

Daesh) e ao desarmamento que eacute feito atraveacutes da eliminaccedilatildeo do armamento nuclear de

destruiccedilatildeo massiva e regulaccedilatildeo do armamento convencional (Ryfman 2007 UN

2017b Carta das NU 1945)

A ajuda humanitaacuteria eacute a ajuda fornecida em situaccedilotildees de grande emergecircncia sendo a

accedilatildeo das ONG OING e OIG fundamental nas primeiras setenta e duas horas apoacutes o

desastre natural ou ataque em caso de conflito armado O objetivo desta aacuterea da ajuda

humanitaacuteria eacute aliviar o sofrimento humano restabelecendo e protegendo a dignidade

humana ou seja uma vida digna assistindo a populaccedilatildeo fornecendo bens de primeira

necessidade como aacutegua comida abrigo proteccedilatildeo apoio meacutedico e psicoloacutegico Satildeo

exemplo dessa atividade tratar viacutetimas de abuso sexual ajudar a retirar viacutetimas dos

escombros organizar o campo de refugiados para acolher os refugiados requerentes de

asilo com as devidas condiccedilotildees Este eacute um trabalho fundamental capaz de apaziguar

conflitos salvar vidas e restaurar a dignidade Uma populaccedilatildeo com seguranccedila aacutegua

comida e abrigo eacute mais propensa agrave pacificaccedilatildeo Inversamente a escassez de aacutegua eacute o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

15

motivo de vaacuterios conflitos armados e guerras civis como eacute o caso do Sudatildeo do Sul

(Philippe et al 2007)

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute pois como se pocircde verificar muito mais que uma ajuda de

emergecircncia e de reconstruccedilatildeo eacute uma aacuterea dedicada ao respeito dos direitos humanos

respeito pela dignidade do homem e manutenccedilatildeo da paz A sua neutralidade e

imparcialidade permitem fornecer ajuda a todos independentemente da cor raccedila

geacutenero crenccedilas ideologias religiatildeo e origem eacutetnica A neutralidade ou seja o facto de

as ONG e OIG fornecedoras de ajuda natildeo tornarem parte nas hostilidades leva a que

natildeo sejam vistas como apoiantes de uma das partes conflituantes e natildeo sejam por isso

pressionadas a fazer determinados atos ou a natildeo fornecer ajuda a determinadas etnias

entre outros A independecircncia eacute crucial pois uma vez a ONG ou OIG humanitaacuteria

dependente do governo local seraacute pressionada e teraacute de fazer cedecircncias para poder

continuar a permanecer no terreno bem como teraacute dificuldade ou veraacute barrado o acesso

a determinados locais (Ryfman 2007 Smith 2016)

A ONU participa diretamente na ajuda humanitaacuteria atraveacutes do OCHA Este escritoacuterio

das NU eacute responsaacutevel por coordenar uma resposta eficaz em situaccedilotildees de emergecircncia e

o objetivo eacute assistir o mais raacutepida e eficazmente possiacutevel as pessoas em necessidade A

ONU tem ainda o CERF (Central Emergency Response Fund) gerido pelo OCHA que

eacute uma peccedila fundamental para uma resposta raacutepida em contexto de conflito armado ou

desastre natural ou seja permite um raacutepido financiamento para que seja possiacutevel enviar

ajuda ceacutelere O CERF recebe contribuiccedilotildees voluntaacuterias ao longo do ano o que permite

que seja possiacutevel suportar o envio de ajuda humanitaacuteria para o terreno (UN 2017d) As

Naccedilotildees Unidas tecircm ainda nesta aacuterea diversas entidades que fornecem ajuda humanitaacuteria

como por exemplo O United Nation High Commissioner for Refugees para ajudar os

IDP (Internal Displaced Persons) e os refugiados bem como apaacutetridas o UNDP

(United Nations Development Programm) o UNICEF (United Nations Childrenrsquos

Fund) para ajudar as crianccedilas o WFP (World Food Programme) para combater a fome

e a organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede para ajudar os doentes e feridos (ONU 2017)

3 A Carta Humanitaacuteria

A Carta Humanitaacuteria nasceu com o projeto Sphere (The Sphere Projectb sd) em 1997

e tem como objetivo definir padrotildees miacutenimos humanitaacuterios de accedilatildeo no terreno comuns

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

16

a todas as ONG OING OIG e Estados que tenham ratificado as convenccedilotildees e tratados

humanitaacuterios e que se comprometam a cumprir esta declaraccedilatildeo Este projeto nasceu

essencialmente da insatisfaccedilatildeo relativa agrave atuaccedilatildeo das ONG OING e OIG no terreno nos

anos 90 durante as crises da Etioacutepia e do Sudatildeo fazendo com que as ONG chegassem agrave

conclusatildeo de que seria necessaacuterio elaborar um padratildeo de atuaccedilatildeo no terreno para os

profissionais Apoacutes esta discussatildeo comeccedilaram a aparecer manuais teacutecnicos dos MSF e

guias operacionais redigidos pela OXFAM ACNUR (Alto Comissariado das Naccedilotildees

Unidas para os Refugiados) e a OFDA (Office of US Foreign and Disaster Assistance)

entre outras Tambeacutem a Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho tiveram

participaccedilatildeo neste projeto com os coacutedigos e movimentos de conduta para ONG para

desenvolver a sua performance no terreno atraveacutes de programas de formaccedilatildeo (The

Sphere sdb Dyke e Waldmann 2004)

O projeto Sphere eacute governado por um conselho constituiacutedo por 18 membros que

representam redes de agecircncias humanitaacuterias tanto a niacutevel global como nacional que

determina as suas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo As organizaccedilotildees representadas neste

conselho trabalham juntas de forma voluntaacuteria e informal sob a direccedilatildeo do conselho

cujo escritoacuterio estaacute sediado em Genebra e trabalha para implementar estrateacutegias e

prioridades As organizaccedilotildees contribuem tambeacutem para o financiamento do projeto

(The Sphere Project sda)

Logo eacute possiacutevel constatar que a principal meta deste projeto eacute tornar a Accedilatildeo

Humanitaacuteria mais eficiente e que seja feita com mais responsabilidade e que sejam

garantidos os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios O projeto foi elaborado para que as

ONG OING e OIG tivessem um guia sobre como agir no terreno em missotildees de

emergecircncia e em concordacircncia com o Direito Internacional Humanitaacuterio O objetivo

principal deste manual eacute garantir que todo o ser humano dever ter o direito de viver com

dignidade (The Sphere Project sda)

Humanitarian agencies committed to this Charter and to the Minimum Standards will aim to achieve

defined levels of service for people affected by calamity or armed conflict and to promote the observance

of fundamental humanitarian principles (The Humanitarian Charter sd pp 16)

Logo a Carta Humanitaacuteria estaacute comprometida com o aliacutevio do sofrimento humano e a

garantia da dignidade das viacutetimas afetadas pelo conflito armado internacional e natildeo

internacional cataacutestrofes e outras calamidades Por isso tal como foi referido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

17

anteriormente foi estabelecido um padratildeo miacutenimo que estabelece o que deve ser feito

quando as organizaccedilotildees enfrentam pessoas em necessidade de aacutegua saneamento bens

alimentares abrigo e cuidados de sauacutede e de nutriccedilatildeo Isto contribui para uma estrutura

operacional responsaacutevel em mateacuteria de assistecircncia humanitaacuteria (The Sphere Project

sdb Dyke e Waldmann 2004)

O documento estaacute dividido nos seguintes trecircs princiacutepios que devem ser respeitados pela

comunidade internacional humanitaacuteria

Direito a uma vida digna

O direito agrave vida eacute um princiacutepio e uma medida legislativa muito importante eacute um direito

humano Segundo a Carta Humanitaacuteria todos devem ver o seu direito agrave vida preservado

Com isto entende-se o direito a viver em dignidade e livre de tratamentos desumanos

ser impedido da liberdade alvo de traacutefico de pessoas e tratamentos degradantes bem

como puniccedilotildees crueacuteis e violentas Como eacute sabido as mulheres e crianccedilas satildeo tornadas

escravas sexuais e obrigadas a realizar trabalhos forccedilados juntando isto a deslocaccedilatildeo

forccedilada pode falar-se de traacutefico de pessoas que eacute considerado pela declaraccedilatildeo dos

Direitos Humanos um atentado agrave dignidade logo eacute uma violaccedilatildeo da declaraccedilatildeo

Refiram-se ainda as adoccedilotildees ilegais de crianccedilas oacuterfatildes que tambeacutem eacute uma das vertentes

do traacutefico de pessoas bem como o uso de crianccedilas em minas para armadilhar campos

com minas e na frente do exeacutercito (The Sphere Project sda pp 16-17 UN 1948)

A distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes

Eacute muito importante fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes em conflitos

armados pois os civis feridos e prisioneiros estatildeo protegidos atraveacutes do Direito

Internacional Humanitaacuterio e tecircm imunidade aos ataques coisa que os combatentes natildeo

tecircm Os ex-combatentes tambeacutem passam a usufruir dessa imunidade pois deixaram as

armas Este uacuteltimo aspeto eacute muito importante porque ex-combatentes satildeo sempre vistos

como combatentes e podem ser confundidos como tal sendo presos Em caso de prisatildeo

os combatentes de guerra usufruem de certos direitos especiais quanto ao tratamento

que devem ter Em guerras civis eacute difiacutecil fazer esta distinccedilatildeo porque podem existir

forccedilas militares natildeo reconhecidas e oficializadas Esta distinccedilatildeo consta da convenccedilatildeo de

Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais de 1977 conforme jaacute foi referido (The

Sphere Project sda pp 16-17)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

18

O princiacutepio da natildeo expatriaccedilatildeo

Este princiacutepio diz respeito aos refugiados e estabelece que nenhum refugiado deve de

forma alguma ser extraditado de volta para o seu paiacutes de origem onde a sua vida e

liberdade estariam ameaccediladas e correria risco de vida ou tortura devido agraves suas crenccedilas

raccedila religiatildeo ideologia politica entre outros Caso um refugiado seja expatriado o

Estado em questatildeo estaraacute a violar o Direito Internacional Humanitaacuterio e a Convenccedilatildeo de

1951 referente ao Estatuto do refugiado (The Sphere Project sda pp 16-17 UNHCR

2017)

A Carta Humanitaacuteria aborda ainda outro aspeto importante que satildeo as

responsabilidades e o papel que as organizaccedilotildees humanitaacuterias desempenham no terreno

de forma a que a populaccedilatildeo requerente de ajuda e refugiados natildeo corra perigo algum

Essas responsabilidades satildeo as seguintes

1) Evitar expor as viacutetimas a mais danos ou perigos como resultado das suas accedilotildees Neste

contexto o documento aborda a construccedilatildeo de campos para deslocados internos ou

refugiados em locais seguros que natildeo coloquem a vida destes em risco Esta

responsabilidade cabe em primeiro lugar ao Estado no qual a ONG ou OIG estaacute a

operar cabe-lhes garantir a seguranccedila do staff e da sua populaccedilatildeo Soacute em segundo lugar

eacute que cabe agraves agecircnciasorganizaccedilotildees zelar pelo bem-estar pela seguranccedila e satisfaccedilatildeo

das necessidades das pessoas que peccedilam ajuda para que seja restabelecida alguma

dignidade e que possam viver sem medo e terror com as suas necessidades baacutesicas

aliviadas (The Sphere Project sda pp 18)

2) Assegurar o acesso da populaccedilatildeo a uma assistecircncia imparcial Isto significa que as

agecircncias humanitaacuterias devem assistir todas as pessoas que necessitem principalmente

as pessoas que estejam numa situaccedilatildeo mais vulneraacutevel ou enfrentam exclusatildeo social por

motivos poliacuteticos eacutetnicos ou outros Este princiacutepio eacute um dos princiacutepios mais delicados

pois nem sempre as agecircncias humanitaacuterias conseguem aceder aos locais em contexto de

conflito armado que necessitam de assistecircncia das agecircncias O Estado deveria fornecer

escolta ou garantir o acesso seguro aos locais em questatildeo No entanto e como eacute de

prever caso esse local natildeo seja do interesse do Estado por estar dominado por rebeldes

por exemplo aquele natildeo iraacute facilitar o acesso Desta forma as agecircncias de forma a natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

19

correrem risco de vida limitar-se-atildeo aos locais seguros (The Sphere Progect sda

pp18)

3) Proteger as pessoas de danos fiacutesicos e psicoloacutegicos devido a violecircncia ou coerccedilatildeo

Neste princiacutepio falamos em proteger as pessoas de serem forccediladas ou induzidas a agir

contra a sua vontade o que eacute muito comum em contexto de conflito armado (The Sphere

Project sda pp 18)

4) Ajudar reivindicando direitos como a restituiccedilatildeo da propriedade ajudar a niacutevel social

e econoacutemico Eacute ainda o dever das agecircncias humanitaacuterias ajudar as viacutetimas a ultrapassar

as consequecircncias do abuso sexual a niacutevel fiacutesico e psicoloacutegico promovendo o acesso a

medicamentos e a recuperaccedilatildeo de abusos (The Sphere Project sda pp 18)

Por uacuteltimo eacute importante referir os padrotildees miacutenimos que a assistecircncia humanitaacuteria deve

respeitar no terreno de forma a uniformizar a accedilatildeo humanitaacuteria Os padrotildees miacutenimos de

assistecircncia humanitaacuteria foram definidos pelas agecircncias humanitaacuterias que trabalham no

terreno Quem aderir a este padratildeo miacutenimo de assistecircncia humanitaacuteria compromete-se a

assegurar as necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como aacutegua saneamento assistecircncia

meacutedica comida e abrigo para que seja comprido o direito a viver com dignidade Para

isso eacute necessaacuterio que Estado e organizaccedilotildees se comprometam a cumprir este princiacutepio

ao abrigo do direito internacional humanitaacuterio e direito do refugiado (The Sphere

Project sda)

Algumas agecircncias humanitaacuterias operam em determinadas aacutereas especiacuteficas de proteccedilatildeo

dos direitos humanos para que seja mais faacutecil fornecer ajuda Por exemplo existem

ONG especializadas em fornecer assistecircncia a crianccedilas tratar e lutar para a prevenccedilatildeo

de viacutetimas de violecircncia de gecircnero habitaccedilatildeo propriedade e terra minas ativas lei e

justiccedila Quanto agrave lei e justiccedila as agecircncias humanitaacuterias que forneccedilam este serviccedilo

enfrentam muitas vezes verdadeiros dilemas entre denunciar um crime de violaccedilatildeo dos

direitos humanos ou natildeo denunciar para que possam permanecer no terreno e defender

as viacutetimas de abusos fiacutesicos psicoloacutegicos de geacutenero entre outros (The Sphere Project

sda)

Em suma a conceccedilatildeo dos princiacutepios humanitaacuterios surgiu com a Cruz Vermelha tendo

os seus princiacutepios sido proclamados em Viena em 1967 Mais tarde com o aumento do

nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento de conflitos que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

20

necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido em 1994 o coacutedigo de conduta

humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se comprometeriam a respeitar os princiacutepios

humanitaacuterios fundamentais Este coacutedigo foi assinado por 140 agecircncias Outro

documento elaborado foi o Humanitarian Charter and Minimum Standards in Disaster

Response elaborado pelo Sphere Project em 1997 As proacuteprias Naccedilotildees Unidas tambeacutem

deram o seu importante contributo para disseminar os princiacutepios humanitaacuterios no

terreno Os princiacutepios fundamentais tecircm de ser postos em praacutetica tal como o Direito

Internacional Humanitaacuterio aliaacutes um eacute o complemento do outro A CICV (Comiteacute

Internacional da Cruz Vermelha) opera no terreno respeitando o Direito Internacional

Humanitaacuterio e rege-se pelos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios (Makintosh 2000)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

21

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a

abordagem humanitaacuteria

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding

A ONU tem um papel relevante na accedilatildeo securitaacuteria em cenaacuterios de ajuda humanitaacuteria

nomeadamente em Estados que estejam a atravessar conflitos armados e atraveacutes de

missotildees como as de peacekeeping e de peacebuilding A intervenccedilatildeo securitaacuteria

distingue-se da accedilatildeo humanitaacuteria pelo seu caraacuteter militar e poliacutetico Por vezes as

Naccedilotildees Unidas quando realizam uma intervenccedilatildeo militar seja de peacekeeping ou

dentro do peacebuilding podem em determinada circunstacircncias tomar partido por uma

das partes nas hostilidades ou parte conflituante sendo que estas operaccedilotildees tambeacutem

acontecem fora do estrito contexto humanitaacuterio Por sua vez numa situaccedilatildeo de

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria embora haja objetivos humanitaacuterios comuns o modo

de atuaccedilatildeo eacute militar e por isso claramente distinto da accedilatildeo humanitaacuteria

Para clarificar passa-se agrave definiccedilatildeo dos conceitos usados acima

Segundo as NU o peacekeeping corresponde ao seguinte

UN Peacekeepers provide security and the political and peacebuilding support to help countries make the

difficult early transition from conflict to peace UN Peacekeeping is guided by three basic principles

Consent of the parties Impartiality Non-use of force except in self-defence and defence of the mandate

(UN Peacekeeping sdd)

Esta ferramenta tem pois como objetivo ajudar os Estados em conflito a estabelecer e

manter a paz tendo provado ser um dos mecanismos mais eficazes da ONU para o

efeito Os militares do peacekeeping fornecem tambeacutem seguranccedila bem como apoio

poliacutetico para a construccedilatildeo da paz Os militares baseiam-se em trecircs princiacutepios que satildeo 1)

a imparcialidade (o que natildeo implica na formulaccedilatildeo atual neutralidade face ao mandato

que tecircm) 2) consentimento das partes para intervir no conflito (embora em casos

restritos como em casos de genociacutedio se possa aplicar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo

que natildeo precisa do consentimento mas que remete ao peace enforcement) 3) O natildeo uso

da forccedila tendo por exceccedilatildeo a autodefesa e a defesa do mandato como consta da citaccedilatildeo

acima (UN sda UN sdb Pinto 2007)

Ainda segundo Maria do Ceacuteu Pinto as operaccedilotildees de peacekeeping devem ser

imparciais mas tal natildeo implica ficarem indiferentes aos abusos dos direitos humanos

por parte de uma das partes das hostilidades Imparcialidade natildeo eacute pois sinoacutenima de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

22

neutralidade Logo desde que haja uma violaccedilatildeo dos direitos humanos os peacekeepers

devem agir jaacute que o dever deles eacute o de garantir o respeito dos direitos humanos aliviar

o sofrimento humano e garantir uma vida digna agrave populaccedilatildeo em questatildeo Existe por

isso o peacekeeping de terceira geraccedilatildeo denominado de peacekeeping ldquomusculadordquo por

Pinto (2007) ou peacekeeping ldquorobustordquo como eacute denominado pelas NU No entanto

este peacekeeping de terceira geraccedilatildeo continua a necessitar do consentimento do Estado

alvo ou das maiores partes do conflito Jaacute o uso da forccedila sem consentimento remete para

o peace enforcemente que eacute aplicar a paz atraveacutes da forccedila e eacute soacute usado este tipo de

missatildeo em uacuteltimo recurso (Pinto 2007 UN sda UN sdb)

Estas ferramentas satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas tambeacutem para

a proteccedilatildeo dos civis assistir ao desarmamento desmobilizaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo de ex-

combatentes suporte agraves organizaccedilotildees para as eleiccedilotildees proteccedilatildeo e promoccedilatildeo dos direitos

humanos e assistecircncia no restabelecimento do ldquoEstado de direitordquo (UN sda UN

sdb)

Por sua vez Peacebuilding significa na linguagem das Naccedilotildees Unidas

The term itself first emerged over 30 years ago through the work of Johan Galtung who called for the

creation of peacebuilding structures to promote sustainable peace by addressing the ldquoroot causesrdquo of

violent conflict and supporting indigenous capacities for peace management and conflict resolution (hellip)

The Secretary-Generalrsquos Policy Committee has described peacebuilding thus ldquoPeacebuilding involves a

range of measures targeted to reduce the risk of lapsing or relapsing into conflict by strengthening

national capacities at all levels for conflict management and to lay the foundations for sustainable peace

and development Peacebuilding strategies must be coherent and tailored to the specific needs of the 1

Three approaches to Peace peacekeeping peacemaking peacebuildingrdquo (UN 2010 pp 5)

Eacute pois uma accedilatildeo da ONU de identificaccedilatildeo e de suporte agraves estruturas de modo a que a

paz seja solidificada e os conflitos evitados Ou seja satildeo as atividades desenvolvidas

pela ONU para que a construccedilatildeo da paz seja feita no paiacutes onde houve conflito de modo

a que natildeo volte a acontecer o mesmo outra vez Tambeacutem visam fornecer todas as

ferramentas para a construccedilatildeo de um paiacutes forte com um aparelho de poder poliacutetico

soacutelido Logo eacute mais que o fim dos conflitos eacute a construccedilatildeo da paz de forma solidificada

e eficaz (UN 2010)

Segundo a mesma fonte o peacebuilding refere-se a cinco aacutereas que satildeo 1) o apoio agrave

seguranccedila baacutesica 2) os processos poliacuteticos a serem feitos para a construccedilatildeo e

manutenccedilatildeo da paz 3) a garantia da prestaccedilatildeo dos serviccedilos baacutesicos agrave populaccedilatildeo em

geral 4) a restauraccedilatildeo das funccedilotildees do governo central de modo a construir um aparelho

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

23

de poder forte e capaz de garantir e manter a paz bem como de resolver os conflitos

eacutetnicos ou entre grupos internos 5) a revitalizaccedilatildeo da economia para acabar com a

pobreza construir novas infraestruturas para desenvolver a produccedilatildeo para a

autossubsistecircncia do povo e de modo a que os bens fundamentais sejam garantidos a

todos (processo de desenvolvimento do paiacutes) (UN 2010 UN 2009)

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar

A intervenccedilatildeo humanitaacuteria natildeo eacute consensual no Direito no Direito Internacional e nas

Relaccedilotildees Internacionais Segundo o ICRC (2001) O Direito Internacional Humanitaacuterio

natildeo pode servir para legitimar conflitos armados No entanto os Estados aceitam este

tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria nas seguintes situaccedilotildees

The theory of intervention on the ground of humanity () recognizes the right of one State to exercise

international control over the acts of another in regard to its internal sovereignty when contrary to the

laws of humanity (Abiew citin ICRC 2001 pp 528)

O que se pode retirar desta citaccedilatildeo eacute que segundo o Direito Internacional Humanitaacuterio

eacute aceitaacutevel exercer controlo por parte de um Estado sobre a soberania de outro se este

natildeo respeita os direitos humanos fundamentais Ou seja podemos constatar que a

soberania de um Estado natildeo basta para a comunidade internacional natildeo agir face a um

genociacutedio por exemplo

hellip humanitarian intervention is defined as coercive action by States involving the use of armed force in

another State without the consent of its government with or without authorisation from the United

Nations Security Council for the purpose of preventing or putting to a halt gross and massive violations

of human rights or international humanitarian law (ICRC 2001 cit in Danish Institute of International

Afffairs 1991 pp 11)

Esta definiccedilatildeo complementa a anterior referindo que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute uma

accedilatildeo coerciva com recurso a armamento sobre um Estado sem o consentimento do

governo local e eventualmente sem o do Conselho de Seguranccedila das NU O intuito

deste tipo de intervenccedilatildeo eacute parar o desrespeito pelos direitos humanos e do direito

internacional humanitaacuterio (Gordon 1996 ICRC 2001)

Portanto o objetivo desta intervenccedilatildeo eacute aliviar o sofrimento humano e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados para que a paz possa ser estabelecida e o

genociacutedio prevenido ou interrompido Os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm de

ser imparciais e limitar-se a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para

fazerem respeitar os direitos humanitaacuterioshumanos violados e fornecer assistecircncia ao

povo local (Gordon1996 e ICRC 2001)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

24

Todavia este tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria corre o risco de natildeo ser imparcial por

existirem interesses subjacentes aos Estados que decidem intervir militarmente noutro

Estado A intervenccedilatildeo humanitaacuteria pode ser usada como um pretexto para aplicar uma

intervenccedilatildeo militar num Estado ou seja existe o risco de os motivos dessa intervenccedilatildeo

natildeo serem legiacutetimos e terem segundas intenccedilotildees que natildeo somente salvar vidas proteger

a populaccedilatildeo e aliviar o sofrimento humano Dificilmente um Estado corre elevados

riscos sem ter por traacutes outras intenccedilotildees segundo a visatildeo realista das relaccedilotildees

internacionais e por conseguinte poder instala ainda mais o caos no Estado alvo da

intervenccedilatildeo Ou seja pode ser uma carta branca para intervenccedilotildees militares de Estados

com segundas intenccedilotildees que podem ser geoestrateacutegicas ou poliacuteticas por exemplo O

que levanta as seguintes questotildees ateacute que ponto eacute eacutetico aplicar o termo humanitaacuterio

quando se usa a forccedila contra pessoas sendo elas viacutetimas para proteger outras Esta eacute

uma questatildeo que se pode considerar um verdadeiro dilema O uso da palavra

humanitaacuteria aplicada agrave intervenccedilatildeo militar e pode ser uma forma de legitimar o

desrespeito pelo princiacutepio da natildeo ingerecircncia e por conseguinte violar a soberania de

outro Estado que noutras condiccedilotildees natildeo seria aceite Daiacute o acreacutescimo da palavra

ldquohumanitaacuteriardquo a intervenccedilatildeo militar natildeo ser bem vista pela comunidade humanitaacuteria que

se rege pelos princiacutepios de aliviar o sofrimento humano salvar vidas e ajudar No caso

da Nigeacuteria do Haiti e da Libeacuteria nos anos 90 foi usada a figura intervenccedilatildeo militar

ldquohumanitaacuteriardquo para intervir no terreno embora pareccedilam evidentes motivos natildeo

humanitaacuterios (Massingham 2009 Weiss 2017)

Esta intervenccedilatildeo militar eacute uma opccedilatildeo cumulativa agraves operaccedilotildees de peacekeeping que se

revelam ineficazes na hora de proteger a populaccedilatildeo e as ONG OING e OIG

humanitaacuterias A intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria recorre ao uso da forccedila para atingir os

seus fins podendo ser estes proteger os humanitaacuterios a populaccedilatildeo local aliviar o

sofrimento humano velando pelo respeito dos Direitos Humanos e prevenindo crimes

contra a humanidade Ainda segundo Weiss ela eacute qualitativamente distinta do

peacekeeping uma vez que natildeo cumpre o princiacutepio do consentimento No entanto no

peacekeeping de terceira geraccedilatildeo tem havido uma evoluccedilatildeo para o peacekeeping

ldquomusculadordquo tendencialmente convergente com o peace enforcement Ou seja pode em

casos restritos e com consentimento do Conselho de Seguranccedila fazer-se o uso da forccedila

sem as restriccedilotildees convencionais (Weiss 2017 Pinto 2007 Pilbeam 2015b)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

25

Por tudo isso usar a palavra lsquohumanitaacuteriorsquo para uma intervenccedilatildeo de cariz militar natildeo eacute

bem aceite pelo Direito Internacional Humanitaacuterio que prefere uma puniccedilatildeo mais

severa aos Estados perpetradores dos crimes contra a humanidade ao inveacutes de usar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria pois Estados com mais poder militar se imiscuem e quebram o

princiacutepio da natildeo ingerecircncia podendo culminar em accedilotildees discriminatoacuterias no terreno e

problemas diplomaacuteticos entre Estados a niacutevel internacional Para aleacutem disso acrescentar

a palavra humanitaacuteria deveria ser reservado agraves organizaccedilotildees que pretendam aliviar o

sofrimento humano salvar vidas sem recurso agrave violecircncia e armas e natildeo aplicado agrave

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria O uso da palavra humanidade numa intervenccedilatildeo militar

pode dar azo a confusatildeo por parte da populaccedilatildeo local e dificultar o trabalho dos

humanitaacuterios no terreno tornando-os alvo de ataques tambeacutem Eacute por isso necessaacuterio

fazer uma clara distinccedilatildeo entre intervenccedilatildeo humanitaacuteria e accedilatildeo humanitaacuteria (ICRC

2001 Weiss 2017)

A declaraccedilatildeo das NU no capiacutetulo VII (UN Charter 1945) especifica quais as situaccedilotildees

em que pode ocorrer uma intervenccedilatildeo militar nomeadamente no artigo 42ordm que prevecirc

que em caso de ameaccedila agrave seguranccedila e paz internacional o Conselho de Seguranccedila pode

ativar uma intervenccedilatildeo militar

Por outro lado natildeo consta na declaraccedilatildeo das NU se eacute possiacutevel ou natildeo ou em que

situaccedilotildees devem avanccedilar para uma intervenccedilatildeo onde seja possiacutevel o uso da forccedila contra

um Estado caso se verifique um abuso dos direitos humanos ou desrespeito do Direito

Internacional O Direito Internacional Humanitaacuterio deveria equacionar regulamentar a

situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo humanitaacuteria Eacute que a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria parece ser

uma realidade e uma lsquonecessidadersquo em alguns casos em que as operaccedilotildees de

peacekeeping natildeo satildeo suficientes Nesses casos o problema eacute que a accedilatildeo humanitaacuteria

entrou num estado de colapso por falta de seguranccedila e depende em algumas situaccedilotildees

dos militares de operaccedilotildees de peacekeeping ou das intervenccedilotildees militares mais robustas

para poderem aceder a determinados territoacuterios de grande perigo o que leva agrave

necessidade de uma revisatildeo quanto ao papel da accedilatildeo humanitaacuteria e ao reconhecimento

da intervenccedilatildeo humanitaacuteria ainda que natildeo formalmente mas nos bastidores (ICRC

2001 Weiss 2017)

Portanto o uso da forccedila militar com cariz humanitaacuterio soacute deve ser feito em contexto de

crimes contra a humanidade como o genociacutedio crimes de guerra abusos sexuais ou

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

26

limpeza eacutetnica por exemplo e tem como objetivo proteger a populaccedilatildeo e aliviar o

sofrimento humano Os militares da intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria natildeo podem ser

confundidos com os capacetes azuis das operaccedilotildees de paz das NU pois natildeo fazem parte

da mesma missatildeo e os capacetes azuis tecircm um papel mais diversificado para a

manutenccedilatildeo da paz construccedilatildeo do aparelho de poder e negociaccedilotildees podendo soacute usar a

forccedila em caso de legiacutetima defesa e defesa do mandato Jaacute os militares da intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria partem para o terreno para travar os perpetradores dos crimes contra

a humanidade usando a forccedila se necessaacuterio Ou seja eacute a versatildeo mais letal das

intervenccedilotildees internacionais e deve ser usada em uacuteltimo recurso (Weiss 2017)

Dentro das intervenccedilotildees militares pode ainda ser invocado o princiacutepio da

responsabilidade de proteger (R2P) fixado no acircmbito das NU que eacute executado ao

abrigo das NU A responsabilidade de proteger (R2P) pode levar a uma intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mas deve ser autorizada pelo Conselho de Seguranccedila das NU O

R2P deve ser usado em uacuteltimo recurso com meios proporcionais agrave situaccedilatildeo a niacutevel de

armamento e uma vez esgotados todos os meios diplomaacuteticos No Ruanda em 1994 os

peacekeepers natildeo fizeram o uso da forccedila para travar o genociacutedio tendo vindo a missatildeo a

fracassar As NU foram amplamente criticadas pela inaccedilatildeo o que levou ao debate sobre

a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria e posteriormente sobre a R2P (Bellamy 2015

Massingham 2009)

O conceito do R2P eacute pois um princiacutepio legitimador de um tipo de intervenccedilatildeo armada

usado quando os direitos humanos baacutesicos natildeo satildeo respeitados em determinado Estado

em conflito como por exemplo genociacutedios ou violaccedilotildees em massa Em 1994 no

Ruanda uma intervenccedilatildeo sob o R2P teria sido justificaacutevel Esta intervenccedilatildeo natildeo

necessita de autorizaccedilatildeo do Estado para intervir daiacute o termo responsabilidade de

proteger No entanto este conceito eacute complexo devido ao princiacutepio de natildeo ingerecircncia

sobre os assuntos soberanos de determinado Estado Cabe primeiramente ao Governo

do Estado assegurar a proteccedilatildeo da sua populaccedilatildeo No entanto caso o Estado natildeo queira

ou natildeo consiga assegurar a sua proteccedilatildeo e a populaccedilatildeo esteja a ver os seus direitos

baacutesicos serem desrespeitados devido ao conflito armado ou fragilidade do Estado a

comunidade internacional deve agir e intervir Um problema possiacutevel eacute a comunidade

internacional natildeo querer entrar em problemas diplomaacuteticos com determinados Estados

que estejam neste tipo de situaccedilatildeo ou ainda com Estados que apoiem partes tal como a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

27

Ruacutessia (membro permanente do Conselho de Seguranccedila da ONU) a Bashar Al Assad

enquanto os EUA apoiam os rebeldes Havendo diferentes pontos de vista e sendo

necessaacuterio o consenso dos membros permanentes do Conselho de Seguranccedila das NU a

decisatildeo de avanccedilar sob a responsabilidade de proteger pode ser tardia ou mesmo

impossiacutevel tal como se tem verificado (Lobo 2009 Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger nasceu com o relatoacuterio do ICISS (International

Commission on Intervention and State Sovereignity) em 2001 e teve como principal

motor o conflito recente agrave eacutepoca do Ruanda O princiacutepio foi adotado na cimeira

mundial de 2005 com cuidadosa distinccedilatildeo das violaccedilotildees maiores que podem determinar

a ingerecircncia Na praacutetica o Conselho de Seguranccedila soacute tornou oficial a referecircncia agrave

responsabilidade de proteger em 2006 com a resoluccedilatildeo 1674 sobre a proteccedilatildeo de civis

em conflitos armados Esta resoluccedilatildeo foi usada em agosto de 2006 ao estabelecer a

resoluccedilatildeo 1706 que autorizava o destacamento dos peacekeepers para o Darfur Apoacutes o

Sudatildeo vieram as missotildees sob a responsabilidade de proteger da Liacutebia Cocircte drsquoIvoire

Sudatildeo do Sul e Ieacutemen em 2011 e Siacuteria e Repuacuteblica centro Africana em 2012 (Bellamy

2015)

Para que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria seja legitimada sob o conceito do R2P devem ser

reunidas as seguintes condiccedilotildees 1) Estar-se perante uma situaccedilatildeo de genociacutedio ou seja

extermiacutenio de populaccedilatildeo de uma determinada origem eacutetnica ou extermiacutenio de uma

populaccedilatildeo em larga escala 2) Existir intenccedilatildeo justa para que seja justificado o uso de tal

accedilatildeo 3) Usar os meios estritamente necessaacuterios para alcanccedilar os objetivos

estabelecidos 4) Assegurar que as perspetivas de tal accedilatildeo poderatildeo ter uma forte

probabilidade de vir a ter sucesso e de que as suas consequecircncias natildeo seratildeo piores que a

natildeo accedilatildeo (Lobo 2009 Pilbeam 2015b)

As operaccedilotildees de peacekeeping peacebuilding e peace enforcement satildeo muitas vezes

confundidas como jaacute foi referido com o envio de forccedilas militares a tiacutetulo individual de

um Estado por exemplo os EUA e a Franccedila que jaacute fizeram intervenccedilotildees militares sob

pretexto humanitaacuterio As primeiras satildeo missotildees de paz enviadas e coordenadas pela

ONU de forma a restabelecer apaziguar manter a paz e reconstruir o aparelho de

poder para que o Estado conflituante natildeo volte ao estado beligerante Jaacute o segundo eacute

realizado de forma a acabar com os crimes contra a humanidade e podem ser forccedilas

militares de um Estado em particular que decide ir para o terreno embora as

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

28

intervenccedilotildees militares sobretudo quando existem militares mortos sejam difiacuteceis de

explicar agrave populaccedilatildeo de origem dos militares Por outro lado o ldquohumanitarismo

militarrdquo ou seja as intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de paz no terreno levam a

confusatildeo com as ONG Pior neste momento assiste-se a situaccedilotildees em que estatildeo

presentes no terreno intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de peacekeeping o que gera

ainda mais confusatildeo (Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger eacute ainda considerada um princiacutepio e natildeo uma taacutetica mas

o Conselho de Seguranccedila falhou com a Siacuteria ao decidir intervir primeiro na Liacutebia por

questotildees poliacuteticas e natildeo por questotildees de emergecircncia humanitaacuteria O que leva agraves

seguintes questotildees Seraacute a intervenccedilatildeo humanitaacuteria verdadeiramente humanitaacuteria Seraacute

que existem interesses subjacentes a essas mesmas ajudas Seraacute que legitimar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute dar uma carta branca a ingerecircncias nos assuntos da soberania

de forma legiacutetima e aparentemente solidaacuteria A R2P eacute aina assim o tipo de intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mais bem aceite pela comunidade internacional e humanitaacuteria pois

natildeo assenta soacute na invasatildeo imediata e beacutelica mas tambeacutem nos princiacutepios de prevenir

reagir e reconstruir (Bellamy 2015 Weiss 2017)

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares

A coexistecircncia entre militares e humanitaacuterios eacute uma situaccedilatildeo recorrente e natildeo tem de

gerar conflitos deveraacute eacute haver respeito muacutetuo por cada um desses agentes e natildeo deveratildeo

tentar imiscuir-se nos assuntos uns dos outros A accedilatildeo humanitaacuteria eacute um complemento

agraves missotildees de paz Se a accedilatildeo humanitaacuteria estaacute focada em aliviar o sofrimento humano

salvar vidas garantir as necessidades baacutesicas e assistecircncia meacutedica os militares poderatildeo

dedicar-se inteiramente agrave proteccedilatildeo e pacificaccedilatildeo ao inveacutes de terem de realizar estas

tarefas tambeacutem O aumento dos riscos de ataque aos profissionais humanitaacuterios leva a

que esta coexistecircncia se transforme em colaboraccedilatildeo atraveacutes do pedido de

proteccedilatildeoescolta militar Por outro lado colaborando os humanitaacuterios com forccedilas

militares estatais ou ateacute mesmo via organizaccedilotildees internacionais podem ser conotadas

com um dos lados das hostilidades e perder por isso a imagem de neutralidade (Seiple

1996)

Este tema eacute algo complexo e tem de ser encarado com grande cuidado e sensibilidade

pois se por um lado a escolta militar seria a soluccedilatildeo perfeita para assegurar a seguranccedila

no terreno das ONG OING e OIG por outro lado poderaacute pocircr em causa os princiacutepios

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

29

fundamentais humanitaacuterios Existe ainda uma resistecircncia por parte da comunidade

humanitaacuteria em embarcarem missotildees integradas com os capacetes azuis das NU

(Harmer 2008) Por isso na presente dissertaccedilatildeo tentar-se-aacute discutir a melhor soluccedilatildeo

para esse problema de forma a que ambos os atores natildeo sejam prejudicados na sua

missatildeo (Seiple 1996)

A accedilatildeo humanitaacuteria tem como missatildeo aliviar o sofrimento humano e a accedilatildeo securitaacuteria

tem caraacuteter militar e policial estatildeo ambas no terreno isto eacute humanitaacuterios e soldados

coexistem no terreno em missotildees e natildeo podem colocar em causa a missatildeo uns dos

outros Cada uma tem a sua missatildeo uma a de aliviar o sofrimento humano salvar vidas

e devolver a dignidade agrave populaccedilatildeo alvo de terror a outra a de assegurar a seguranccedila

fazer os direitos humanos serem respeitados aliviar o sofrimento humano e pacificar o

terreno no qual estatildeo a operar assegurar que as negociaccedilotildees ocorram sem problemas e

ajudar a reconstruir o Estado desde o aparelho de poder agraves infraestruturas No entanto a

forccedila militar natildeo deixa de ter um caraacuteter beacutelico e natildeo eacute neutro nem independente Isto

pode levar a que a populaccedilatildeo se sinta renitente recuse e se desvie de certas ONG

exatamente por colaborarem com determinada forccedila militar por medo do que possa vir

a acontecer Podem sofrer represaacutelias se colaborarem com o lado A ou B das

hostilidades e este fator poderaacute colocar em causa a missatildeo da comunidade humanitaacuteria

o que soacute eacute possiacutevel tendo a confianccedila da populaccedilatildeo e acesso aos territoacuterios para isso a

neutralidade eacute fulcral (Gibbons e Piquard 2006)

Eacute claro que o equiliacutebrio tambeacutem depende da forccedila militar de que se trata Por exemplo

militares sob a eacutegide da ONU seratildeo mais bem vistos conseguem manter a

imparcialidade e tecircm alguma neutralidade (dependendo dos casos) natildeo colocando assim

em causa o trabalho humanitaacuterio no terreno Jaacute se a ONG ou OIG for escoltada por uma

forccedila militar estatal poderaacute perder a sua neutralidade imparcialidade e independecircncia

pois a sua proteccedilatildeo depende diretamente das forccedilas armadas estatais Depender do

Estado para ver a sua seguranccedila assegurada poderaacute ter as seguintes consequecircncias 1) as

ONG OING e OIG poderatildeo ser pressionadas para natildeo tratar e ajudar determinada

populaccedilatildeo ou etnia 2) poderatildeo ver o seu acesso bloqueado a determinados territoacuterios

cuja populaccedilatildeo o Estado natildeo quer tratar 3) seratildeo temidas e malvistas pela populaccedilatildeo

que estaacute a sofrer agraves matildeos do Estado natildeo procurando ou aceitando a sua ajuda Por isso eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

30

importante analisar a escolta militar tendo em conta este fator (Gibbons e Piquard

2006)

No entanto Svoboda (2014) no seu livro The interaction between humanitarian and

militar actors where do we go from here refere que a interaccedilatildeo entre o profissional

humanitaacuterio e o militar eacute complicada e deve acontecer em uacuteltima instacircncia quando a

seguranccedila do humanitaacuterio eacute colocada em causa devido ao facto de os militares neste

caso os peacekeepers as agecircncias militares privadas a forccedila militar estatal natildeo se

regerem pelos mesmos princiacutepios que os humanitaacuterios e terem em certas circunstacircncias

de usar a forccedila para garantir a seguranccedila no terreno manter e restabelecer a paz Para

tal pode acontecer que estes possam vir a cometer atos incompatiacuteveis com a forma de

estar na Accedilatildeo Humanitaacuteria como por exemplo matar ou usar qualquer tipo de

armamento pois tal vai contra aos princiacutepios humanitaacuterios e Direito Internacional

Humanitaacuterio Pedir ajuda aos peacekeepers agraves agecircncias militares privadas ou outra

forccedila militar pode levar a que a imagem dos humanitaacuterios fique denegrida face agrave

populaccedilatildeo local agraves instituiccedilotildees ou pessoas individuais que doam fundos e que podem

natildeo ver com bons olhos esta interaccedilatildeo o que significa que se pode perder uma fonte de

financiamento o que seria grave para as ONG que dependem destas doaccedilotildees (Svoboda

2014 Cordaid 2014)

Seria por isso mais beneacutefico nos casos de conflitos armados que militares e

humanitaacuterios trabalhassem em conjunto o estritamente necessaacuterio para o sucesso da

missatildeo de ambos Estes natildeo tecircm de partilhar missotildees e princiacutepios Mas devem colaborar

para que a ajuda humanitaacuteria natildeo corra risco de fracassar que a ajuda chegue a toda a

populaccedilatildeo mesmo nos locais de difiacutecil acesso e desta forma seraacute mais faacutecil devolver a

dignidade fornecer os bens de primeira necessidade construir abrigos e campos de

refugiados seguros sempre sem colocar em causa as missotildees de ambos que satildeo

diferentes Eacute claro que esta questatildeo eacute mais complexa fazendo os humanitaacuterios

depararem-se com um grande dilema e tendo de fazer escolhas que em princiacutepio natildeo

deveriam ter de fazer Essa escolha eacute abdicamos dos princiacutepios fundamentais em prol

da nossa seguranccedila seguimos para o terreno mesmo sabendo que corremos perigo de

vida como seremos acolhidos pela populaccedilatildeo local ao chegar com escolta militar como

reagiratildeo os nossos patrocinadores estas satildeo questotildees e dilemas que as ONG enfrentam

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

31

em terrenos delicados muitas vezes essa escolha eacute entre seguranccedila e eacutetica humanitaacuteria

(Cordaid 2014)

Segundo Harmer (2008) o princiacutepio da neutralidade natildeo pode ser levado agrave letra

principalmente em Estados que estejam a atravessar um conflito armado onde a

inseguranccedila e o perigo de vida satildeo uma constante no terreno Deve por isso haver uma

grande reflexatildeo sobre os princiacutepios humanitaacuterios os crescentes ataques aos

humanitaacuterios de forma a que as ONG possam assistir agrave populaccedilatildeo de forma segura sem

ter de quebrar algum princiacutepio (Harmer 2008)

A assistecircncia deve ser provida em caso de conflito armado pela ajuda humanitaacuteria e de

forma a melhor operacionalizar a assistecircncia aos refugiados e agraves pessoas deslocadas

internamente mas para que tal seja possiacutevel eacute preciso criar um ambiente de seguranccedila

aos humanitaacuterios sempre respeitando os seus princiacutepios para que estes consigam

realizar o seu trabalho (Byman et al 2000)

Os humanitaacuterios deveriam ser ajudados pelas forccedilas militares em mateacuteria de transporte

de pessoal e de material de subsistecircncia como por exemplo aacutegua comida

medicamentos e outros mantimentos que de outra forma natildeo seria possiacutevel prover

Segundo Byman et al (2000) a cooperaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios equivaleria a

evidenciar o melhor dos dois mundos Se a forccedila militar pode garantir o transporte

analisar o solo para ver se estaacute armadilhado analisar a aacutegua potaacutevel e fornecer

assistecircncia meacutedica de urgecircncia este seria um bom aliado para a accedilatildeo humanitaacuteria que

pode oferecer assistecircncia meacutedica e tratamentos a meacutedio e longo prazo comida

mantimentos ajuda psicoloacutegica reconstruccedilatildeo satisfazer as necessidades baacutesicas ajudar

na construccedilatildeo de abrigos e gerir campos de refugiados de forma neutra Uma vez que

estes agem frequentemente em separado eacute difiacutecil poder fornecer ajuda humanitaacuteria aos

locais que realmente necessitam sem correr riscos ou demorar demasiado tempo Se

houvesse essa entreajuda os humanitaacuterios poderiam chegar ao local com ajuda militar

pela via aeacuterea ou mariacutetima Logo a forccedila aeacuterea poderia ser um grande aliado das ONG

OING e OIG na hora de ter de realizar deslocaccedilotildees de bens e pessoas (Byman et al

2000)

De certa forma segundo o autor os profissionais humanitaacuterios dependem dos

profissionais militares para poderem desenvolver o seu trabalho de forma segura e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

32

eficaz Por isso os militares devem garantir a seguranccedila nos aeroportos nos portos e

nos locais onde operarem bem como fornecer mapas atualizados das estradas seguras

para realizar as viagens ateacute ao local em questatildeo Evitar-se-iam muitos constrangimentos

e perdas de tempo (Byman et al 1967)

international military forces might also be mandated to play a relevant role in conflict situations

including through the provision of safe and secure environments for the civilian population and for

humanitarian actors to operate in Indeed military and police can execute essential tasks in situations

where governments are unable or unwilling to protect their own population in ways that go beyond the

mandate of humanitarian actors and hence are complementary to those (ECHO sd pp 1)

Segundo Stoddard et al (2009) a maioria das ONG contrata agecircncias militares com a

condiccedilatildeo de natildeo usar armas ou seja contratam soacute a escolta mas natildeo datildeo autorizaccedilatildeo

por uso de violecircncia o que leva ao mesmo problema este tipo de escolta soacute resolve

situaccedilotildees em paiacuteses cujo grau de perigo natildeo eacute muito elevado No entanto algumas ONG

viram-se forccediladas a contratar agecircncias privadas para escolta militar que recorressem agrave

forccedila caso fosse necessaacuterio para os proteger em caso de Estados que estatildeo a atravessar

um periacuteodo de grande conflito Pois escolta militar que natildeo possa fazer uso da forccedila eacute

afinal o mesmo que natildeo ter escolta e por conseguinte proteccedilatildeo eacute ter por exemplo um

agente a acompanhar fardado e nada mais As agecircncias militares privadas e a escolta

militar devem ser usadas em uacuteltimo recurso e nunca como prioridade O problema eacute que

os perpetradores dos ataques locais aos humanitaacuterios tecircm a noccedilatildeo de que os

peacekeepers natildeo podem fazer uso da forccedila a natildeo ser em legiacutetima defesa ou em casos

extremos onde os Direitos Humanos satildeo colocados em causa No entanto os ataques

aos humanitaacuterios natildeo satildeo por vezes graves o suficiente para que haja uma quebra do

princiacutepio do natildeo uso da forccedila O que leva a que a escolta militar natildeo leve propriamente

agrave diluiccedilatildeo dos ataques muito pelo contraacuterio podem intensificar (Stoddard et al 2009)

Seiple (1996) refere que apesar das diferenccedilas marcantes entre o humanitaacuterio e o

soldado a verdade eacute que a interaccedilatildeo no terreno entre os dois tem sido um caso de

sucesso Seiple (1996) apresenta o caso da relaccedilatildeo entre as forccedilas armadas dos EUA e as

ONG no terreno Segundo o autor esta relaccedilatildeo natildeo eacute natural Neste documento satildeo

apresentados quatro casos em que houve uma interaccedilatildeo no terreno entre ONG e

militares dos EUA (as forccedilas militares dos EUA estavam a realizar em caa um dos

casos uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria) que satildeo os seguintes Operation Provide Comfort

a norte do Iraque em 1991 Operation Sea Angel no Bangladesh em 1991 Operation

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

33

Restore Hope na Somaacutelia em 1992 e Operation Supporte Hope no Ruanda em 1994 Eacute

importante sinalizar que estas missotildees foram intervenccedilotildees humanitaacuterias Estas

operaccedilotildees foram efetivamente casos de sucesso militares e humanitaacuterios cooperaram no

terreno com sucesso No entanto a operaccedilatildeo Sea Angel no Bangladesh foi marcada por

diversas tensotildees poliacuteticas entre o governo e as forccedilas militares dos EUA criando uma

dificuldade de operar no terreno Na operaccedilatildeo Restore Hope na Somaacutelia as ONG

viram-se obrigadas a aceitar cooperar com as forccedilas militares dos EUA que estavam a

realizar uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria no terreno A cooperaccedilatildeo um bocado forccedilada

devido agraves circunstacircncias resultou Segundo Seiple (1996) a relaccedilatildeo entre ONG e

militares foi realizada com base no respeito por cada uma as missotildees Uma das ONG

que soacute aceitou em ultimo recurso esta cooperaccedilatildeo foi o MSF pois sabia que sem

seguranccedila natildeo poderiam continuar no terreno No caso da operaccedilatildeo Supporte Hope no

Ruanda natildeo existe uma cooperaccedilatildeo direta entre militares os EUA e ONG neste caso as

ONG que estivessem a operar no terreno tinham de fazer o pedido de escolta militar agraves

NU e esta fazia a ponte entre as ONG e as forccedilas militares no terreno O uacutenico contacto

que ONG e as forccedilas militares dos EUA tinham era o CMOC (The Civil Military

Operation Center) jaacute que neste caso especiacutefico do Ruanda as NU preferiram ser elas a

organizar e prover a seguranccedila ou escolta militar agraves ONG no terreno pois estava a

acontecer um genociacutedio e o clima de inseguranccedila era devastador tendo de haver grande

rigor na cooperaccedilatildeo que era feita a pedido das NU atraveacutes do CMOC Militares e

humanitaacuterios trabalharam em conjunto com sucesso O uacutenico problema que Seiple

aponta agrave accedilatildeo humanitaacuteria eacute a falta de coordenaccedilatildeo no terreno entre ONG OING e OIG

pois havendo coordenaccedilatildeo seria mais faacutecil prover seguranccedila (Seiple 1996)

Se Seiple (1996) via a relaccedilatildeo entre ONG e forccedilas armadas como algo beneacutefico e

essencial para uma boa assistecircncia humanitaacuteria e para ajudar a restabelecer a paz jaacute

Harmer (2008) natildeo pensa o mesmo Harmer redigiu um artigo sobre as missotildees

integradas tendo este tema originado diversos debates acesos entre proacute-integracionistas

e contra Os humanitaacuterios encontram-se renitentes acerca deste tipo de missotildees pois

natildeo querem colocar em causa a sua neutralidade e imparcialidade e perder a

independecircncia o que poderia ter como consequecircncias natildeo poderem assistir populaccedilotildees

que estariam no topo das suas listas teriam de obedecer agraves ordens e objetivos dos

peacekeepers e poderiam ser vistos como entidades poliacuteticas o que vai contra ao que eacute a

essecircncia da Accedilatildeo Humanitaacuteria No entanto como jaacute foi referido a violecircncia sobre os

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

34

humanitaacuterios verificou um aumento draacutestico a partir do ano 2000 tecircm vindo a ter

dificuldade de acesso a certos locais de alto conflito e as ONG no terreno tecircm

dificuldade em sinalizar os seus humanitaacuterios coisa que os peacekeepers fazem bem

embora nem sempre conseguem garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios tambeacutem Eacute

preciso encontrar um ponto de convergecircncia para a accedilatildeo conjunta e no resto

estabelecer bem as diferenccedilas e os pontos em que natildeo podem ceder ou admitir

intervenccedilatildeo muacutetua (Harmer 2008)

A autora refere que o Secretaacuterio-Geral agrave eacutepoca Kofi Annan apelou aquando do

relatoacuterio do painel sobre as missotildees de paz das NU para um plano de integraccedilatildeo agraves

missotildees das NU e referiu que missotildees integradas devem ser adotadas em missotildees de

paz No entanto existe uma grande resistecircncia por parte de grandes ONG e OING a este

tipo de missotildees integradas sejam elas na forma maximalista ou minimalista No modelo

minimalista existe o trabalho do OCHA que tem uma identidade separada e a

integraccedilatildeo eacute feita atraveacutes de uma partilha de informaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo em vez de um

quadro organizacional unificado ou seja a Coordenaccedilatildeo Humanitaacuteria (CH) e o ERSG

(Representante Especial do Secretaacuterio-Geral) mas ao mesmo tempo mantendo um

escritoacuterio individual do OCHA fora do campo O OCHA tem um papel fulcral pois eacute o

elo de ligaccedilatildeo entre as ONG OING e OIG agraves NU mantendo-se no entanto

independecircncia destes face agraves NU de forma a que a imparcialidade independecircncia e a

neutralidade natildeo sejam postas em causa Tambeacutem se evita que as NU exerccedilam pressatildeo

para que a missatildeo seja conduzida de uma forma que natildeo a planeada (Harmer 2008)

Uma integraccedilatildeo maximalista significa a remoccedilatildeo da identidade separada do OCHA e a

lideranccedila humanitaacuteria das NU estaraacute presente integralmente na estrutura de transmissatildeo

geral A maioria das ONG eacute contra a versatildeo maximalista de integraccedilatildeo como a Save the

Children e a Care tendo como principal argumento a necessidade da existecircncia e

abertura do HC (Humanitarian Coordinator) a todos incluindo as organizaccedilotildees que se

sentem desconfortaacuteveis com a ideia de trabalhar com militares Tal eacute perfeitamente

compreensiacutevel pois ao trabalhar com as NU mesmo que numa versatildeo internacionalista

minimalista existe sempre uma perda de independecircncia na hora de decidir quais os

locais prioritaacuterios a assistir no terreno por exemplo (Harmer 2008)

No entanto ainda segundo Harmer (2008) deve ser tida em conta a opccedilatildeo

integracionista minimalista em que permanece o corpo de coordenaccedilatildeo OCHA tendo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

35

mesmo a UNICEF o ACNUR e a OXFAM reconhecido que esta visatildeo integracionista

pode facilitar o delinear de estrateacutegias militares e poliacuteticas sem colocar em causa ou

tentando pocirc-los o minimamente possiacutevel os princiacutepios humanitaacuterios O OCHA deve

neste contexto agir em separado das NU de forma a que possa agir de forma neutra e

imparcial consoante a situaccedilatildeo na qual estatildeo a fornecer ajuda humanitaacuteria para que natildeo

sofra influecircncias e pressotildees A autora refere ainda que nos tempos de hoje a accedilatildeo

humanitaacuteria natildeo pode mais aplicar a neutralidade pura e dura pois existem grandes

perigos de ataques no terreno a ONG sendo necessaacuterio recorrer agraves forccedilas militares

exatamente para garantir a sua seguranccedila A relaccedilatildeo entre humanitaacuterio-militar deve ser

amplamente delineada tendo de ser estabelecido um guia onde sejam indicadas as

circunstacircncias em que deve ser feito o pedido de escolta e proteccedilatildeo aos militares e

como deve ser feito esse procedimento (Harmer 2008)

A adoccedilatildeo do modelo de missatildeo integrada minimalista poderaacute ser a melhor opccedilatildeo para a

comunidade humanitaacuteria em terrenos de alta instabilidade e inseguranccedila Com este

modelo as organizaccedilotildees humanitaacuterias obtecircm proteccedilatildeo e seguranccedila sem colocarem em

causa os princiacutepios humanitaacuterios As missotildees integradas minimalistas natildeo tecircm de se

basear necessariamente na escolta militar podem basear-se tambeacutem na partilha de

informaccedilatildeo acerca dos terrenos seguros terrenos armadilhados mapas com os melhores

caminhos a percorrer entre outras informaccedilotildees No entanto esta colaboraccedilatildeo deve ser

bem estudada e analisada Deve ser tambeacutem estabelecido um guia de colaboraccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares tal como foi criado para a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as

organizaccedilotildees humanitaacuterias (Harmer 2008)

A OXFAM por exemplo redigiu um documento intitulado Un Integrated Missions and

Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations Integrated

Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) acerca das missotildees integradas

com as NU expondo os problemas que poderiam advir desta parceria Segundo a

OXFAM a neutralidade e imparcialidade estariam em causa num mandato que fosse

para aleacutem das partilhas de pontos de vista comum pois teriam uma integraccedilatildeo mais

estrutural sob uma gestatildeo comum do mandato onde as operaccedilotildees de peacekeeping

funccedilotildees poliacuteticas e organizaccedilotildees humanitaacuterias estariam sob a chefia de um uacutenico

mandato Esta situaccedilatildeo poder levar a que os humanitaacuterios percam a independecircncia de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

36

aceder a determinados locais sejam usados para fins poliacuteticos e podem perder a

confianccedila da populaccedilatildeo (OXFAM 2014)

As proacuteprias NU reconheceram em 2013 os riscos inerentes agraves abordagens de

planeamento e avaliaccedilatildeo integrados Esses riscos seriam o facto de poder ser dada a

prioridade agraves missotildees militares ou poliacuteticas que possam influenciar a accedilatildeo humanitaacuteria

como o acesso humanitaacuterio e a seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno As pessoas

podem natildeo procurar ajuda humanitaacuteria de forma a que natildeo se vejam comprometidos e

natildeo sofram represaacutelias Logo caso isto aconteccedila os humanitaacuterios podem natildeo ser

percebidos como imparciais e neutros aos olhos da populaccedilatildeo falhando assim a missatildeo

(OXFAM 2014)

Iraacute ser agora feita uma apreciaccedilatildeo do referido documento da OXFAM (2014) Este

documento eacute relevante para a presente dissertaccedilatildeo pois apresenta o ponto de vista da

ONG em relaccedilatildeo agraves missotildees integradas propondo um conjunto de regras de cooperaccedilatildeo

no terreno entre ONG OING e as NU

Para mitigar estes riscos a OXFAM preparou um conjunto de regras para cooperar

especificamente com as NU

A accedilatildeo humanitaacuteria deve ser separada das operaccedilotildees de peacekeeping ou

poliacuteticas das NU de forma a que natildeo sejam confundidas as missotildees e natildeo haja

confusotildees no terreno

Uma associaccedilatildeo visiacutevel entre os humanitaacuterios que cooperam com as NU e outros

objetivos das NU deve ser minimizada em conflitos e contextos de elevada

fragilidade de forma a prevenir potenciais problemas no terreno

Antes de decidir qualquer abordagem de integraccedilatildeo devem ser feitas avaliaccedilotildees

de risco envolvendo ONG e OING De forma alguma as ONG e OING devem

partir para uma missatildeo integrada sem participarem no processo de planeamento

e abordagem da missatildeo

A avaliaccedilatildeo deve ser revista e feita com regularidade procedendo a mudanccedilas se

necessaacuterias a missatildeo integrada pode ser portanto revista e atualizada consoante

a evoluccedilatildeo da missatildeo no terreno (OXFAM 2014 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

37

A OXFAM refere ainda que as missotildees integradas com as NU devem ter em conta os

princiacutepios humanitaacuterios incluindo assistecircncia baseada na imparcialidade agraves pessoas em

necessidade A OXFAM eacute uma das ONG que eacute muitas vezes associada agraves agecircncias

humanitaacuterias das NU devido aos mecanismos de coordenaccedilatildeo fundos das NU e uso dos

meios de transporte aeacutereos das NU O facto de haver esta associaccedilatildeo agraves agecircncias das

NU pode levar agrave confusatildeo podendo a populaccedilatildeo crer que estas fazem parte das

poliacuteticas e missotildees integradas das NU que muitas vezes apoiam uma das partes das

hostilidades o que coloca em causa o trabalho das ONG ou OING No entanto existem

outras situaccedilotildees que podem levar a este tipo de mal-entendido a saber

Colocar organizaccedilotildees humanitaacuterias e outros atores das NU no mesmo lugar deve

ser evitado a todo o custo pois poderaacute dar azo a mal-entendidos no terreno e

deitar por terra todo o trabalho da ONG ou OING no terreno

O uso da escolta militar para fins humanitaacuterios eacute em determinados casos

fundamental para aceder a territoacuterios No entanto antes de partir para esta

escolha a opccedilatildeo deve ser minuciosamente estudada e soacute em ultimo recurso

usada

Apresentar as operaccedilotildees de peacekeeping ou toda a missatildeo integrada como

sendo humanitaacuteria quando natildeo o eacute Satildeo missotildees completamente diferentes que

decidem cooperar de forma que os humanitaacuterios possam ter o miacutenimo de

condiccedilotildees para operar no terreno

Usar as operaccedilotildees de peacekeeping para fornecer os Quick Impact para

desenvolver confianccedila na missatildeo no mandato e no processo de paz Os QIPs satildeo

projetos de pequena escala (duraccedilatildeo meacutedia de 6 meses) que tecircm como objetivo

ter um impacto imediato que contribua para a estabilizaccedilatildeo reconstruccedilatildeo e

estabilizaccedilatildeo no poacutes-conflito Podem tambeacutem ter um impacto no

desenvolvimento a longo prazo (OXFAM 2014 pp 3)

As NU tambeacutem tecircm feito um esforccedilo para conseguir elaborar um modelo de missatildeo

integrada no qual eacute respeitado o espaccedilo humanitaacuterios e os princiacutepios humanitaacuterios de

forma a mitigar os riscos que podem advir No entanto em 2014 as NU defenderam

uma missatildeo integrada estrutural com a representaccedilatildeo das ONG pela Humanitarian

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

38

Country Team e pelo OCHA (o OCHA faz tambeacutem uma avaliaccedilatildeo e realiza planos

estrateacutegicos de atuaccedilatildeo no terreno consoante os casos) que tem realizado avaliaccedilotildees de

risco subjacentes a este tipo de missatildeo (OCHA sd) No entanto no caso do Sudatildeo do

Sul as NU foram criticadas por terem optado pela missatildeo integrada estrutural onde os

peacekeepers e humanitaacuterios satildeo alvo da mesma gestatildeo programa e poliacuteticas o que

numa situaccedilatildeo como o Sudatildeo do Sul eacute impensaacutevel Como eacute sabido a operaccedilatildeo

peacekeeping esteve do lado do governo ajudando a restabelecer a instituiccedilatildeo de

governaccedilatildeo o que leva a que os humanitaacuterios sejam eles tambeacutem colados ao governo e

seja limitado o acesso a determinados locais ou determinada populaccedilatildeo natildeo queira ser

tratada por eles

Este eacute pois o Guia de missotildees integradas realizado pela OXFAM onde satildeo expostos os

riscos o que deve ser evitado e como evitar que haja um atropelamento dos princiacutepios

fundamentais humanitaacuterios pelas NU no terreno Desta forma respeitando esta guia

seriam evitados potenciais riscos de os princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria serem postos em

causa de haver aproveitamento poliacutetico da missatildeo integrada e limitar os humanitaacuterios a

determinados locais Uma vez as condiccedilotildees respeitadas e a seguranccedila assegurada aos

humanitaacuterios seria mais faacutecil para as ONG ou OING operarem no terreno (OXFAM

2014)

A OXFAM prefere a missatildeo integrada estrateacutegica pois eacute uma abordagem mais coerente

para um trabalho comum entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a operaccedilatildeo de peacekeeping Neste

caso as ONG iriam trabalhar com o OCHA que se manteria independente em relaccedilatildeo

agraves NU e imparcial natildeo sendo toleradas pressotildees para agir de uma dada forma ou aceder

ao local X Jaacute a missatildeo integrada estruturante natildeo faz sentido segundo o OXFAM

Admite uma comunicaccedilatildeo efetiva entre organizaccedilotildees humanitaacuterias e operaccedilotildees de

peacekeeping ou atores poliacuteticos que podem proteger a populaccedilatildeo e o reconhecimento

dos seus direitos No entanto a accedilatildeo humanitaacuteria deve manter-se independente da accedilatildeo

securitaacuteria ou consideraccedilotildees poliacuteticas

Para que as missotildees integradas sejam bem-sucedidas as NU devem respeitar os

seguintes pontos segundo a OXFAM (2014)

A accedilatildeo humanitaacuteria deve continuar estruturalmente separada da poliacutetica ou

componentes de peacekeeping relativamente a uma missatildeo integrada das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

39

Logo uma associaccedilatildeo visiacutevel entre missotildees humanitaacuterias e outros objetivos

devem ser minimizados

Antes de decidir partir para a abordagem de uma missatildeo integrada deve ser feita

uma avaliaccedilatildeo que envolva ONG e OING de forma a identificar potenciais

riscos para a accedilatildeo humanitaacuteria e o que pode ser feito para mitigar os mesmos

Essa avaliaccedilatildeo deveraacute ser feita com regularidade e revista de forma a que

possam ser feitas correccedilotildees

Quaisquer que sejam os acordos feitos relativos agraves missotildees integradas os

mandatos das NU devem sempre respeitar os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios incluindo uma assistecircncia imparcial baseada apenas na

necessidade da populaccedilatildeo

As orientaccedilotildees do IASC (Inter-Agency Standing Commitee) sobre a manutenccedilatildeo

da distinccedilatildeo entre accedilatildeo humanitaacuteria as atividades poliacuteticas ou de manutenccedilatildeo da

paz devem ser rigorosamente aplicadas sempre que haja riscos e estes sejam

encobertos pelas NU Isto inclui o Guia de 2004 sobre as relaccedilotildees civis-militares

em situaccedilotildees de emergecircncia o Guia de 2003 sobre o uso de recursos militares e

de defesa civil para apoiar atividades humanitaacuterias das NU em situaccedilotildees

complexas de emergecircncias e o de 2012 sobre o uso de escoltas armadas aos

comboios humanitaacuterios Estes guias devem ser amplamente promovidos

As negociaccedilotildees humanitaacuterias do acesso agraves pessoas em necessidade devem manter-

se separadas dos objetivos poliacuteticos de forma a que os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios natildeo sejam colocados em causa (OXFAM 2014 pp 4)

Uma vez que as NU assegurem estes pontos todos a OXFAM compromete-se a que vai

Distinguir-se das missotildees das NU enquanto se compromete com a promoccedilatildeo da

coordenaccedilatildeo e proteccedilatildeo dos civis

Promover a distinccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e funccedilotildees poliacuteticas ou de

peacekeeping das missotildees das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

40

Trabalhar com o IASC o HCT e grupos de coordenaccedilatildeo das ONG no terreno de

forma a promover a consciencializaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo consistente e salvaguarda dos

princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria

Invocar a poliacutetica de IAP (Integrated Assessment and Planning) da ONU para

pedir uma revisatildeo dos acordos e devem ser aplicadas medidas de mitigaccedilatildeo no

caso de haver acordos de integraccedilatildeo estabelecidos que sejam considerados como

tendo riscos para accedilatildeo humanitaacuteria

Apoiar os esforccedilos de especialistas humanitaacuterios para desenvolver exerciacutecios de

gerenciamento de crises e fazer um preacute planeamento em campo de forma a

treinar as forccedilas militares que trabalham sob o mandato das NU implantado em

missotildees de manutenccedilatildeo da paz Esses exerciacutecios devem ser explicados aos

comandantes militares e agraves agecircncias de ajuda de forma a avaliarem as

necessidades o potencial e vantagens que os humanitaacuterios gozam nas relaccedilotildees

comunitaacuterias e anaacutelises geograacuteficas bem como as relaccedilotildees sociopoliacuteticas locais

ressalvando a importacircncia de manter uma distinccedilatildeo visiacutevel entre atividades

humanitaacuterias e de manutenccedilatildeo da paz

Solicitar ativamente esforccedilos para rever as missotildees integradas durante a sua

duraccedilatildeo e incentivar a avaliaccedilatildeo independente de sua relaccedilatildeo custo-eficaacutecia

contra o impacto imediato e de longo prazo no final da missatildeo Deve haver um

mecanismo de monitoramento que permita que as missotildees aprendam no terreno

avaliando o que funciona e o que natildeo funciona permitindo proceder a mudanccedilas

se necessaacuterio (OXFAM 2014 pp 5)

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno

Eacute verdade que as ONG humanitaacuterias hospitais humanitaacuterios entidades religiosas e

escolas tecircm estatuto neutral no conflito e natildeo podem por isso ser alvo de ataque

segundo as convenccedilotildees de Genebra no entanto o que se tem verificado eacute um aumento

de ataques a estas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees levando por exemplo MSF agrave

necessidade de trocar a cor da carrinha para natildeo ser confundida com a carrinha do

exeacutercito e ser alvo de ataques como tantas outras ONG tecircm sido alvo O hospital da

MSF foi inclusive alvo em 2015 no Afeganistatildeo por um ataque dos EUA que tendo

provocados 19 mortos dos quais 12 eram membros da organizaccedilatildeo Segundo os MSF

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

41

natildeo haacute desculpa para o ataque dos EUA pois o hospital estava devidamente identificado

e mapeado ou seja identificado O bombardeamento durou 30 minutos mesmo apoacutes a

organizaccedilatildeo avisar os EUA Esta ocorrecircncia eacute muito grave pois ataques a hospitais

podem ser considerados crimes de guerra e mostra que as organizaccedilotildees humanitaacuterias

operam num contexto onde a seguranccedila eacute precaacuteria o que torna difiacutecil realizarem o seu

trabalho Para evitar este tipo de trageacutedias eacute necessaacuterio haver um bom mapeamento das

ONG OING e OIG bem como dos hospitais Este eacute um exemplo de que os ataques tecircm

de ser prevenidos natildeo soacute a partir do terreno mas tambeacutem fora do terreno a niacutevel

internacional para que situaccedilotildees destas natildeo voltem a ocorrer No entanto os ataques satildeo

maioritariamente realizados no terreno por atacantes nacionais do Estado em conflito

armado (Smith 2012 Globo 2015)

A confusatildeo que pode advir da escolta militar eacute uma questatildeo fulcral pois se por um lado

a escolta militar daacute seguranccedila por outro pode levar a que possam ser alvos de ataques

por parte de miliacutecias locais Podem tambeacutem ser facilmente colados a uma das partes das

hostilidades e confundidos com militares caso o material e as carrinhas natildeo sejam

devidamente identificadas tal como aconteceu com o MSF referido acima (Gibbons e

Piquard 2006)

Todos os veiacuteculos das ONG hospitais e produtos devem ser devidamente identificados

de forma a que natildeo sejam confundidos com as forccedilas militares em geral como iraacute ser

abordado no guia de colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares das NU que refere isto

mesmo Militares e ONG humanitaacuterias podem cooperar de forma minuciosa bem

planeada em uacuteltimo recurso e identificando adequadamente as instalaccedilotildees carros

campos de refugiados produtos entre outros Todo o cuidado eacute pouco pois um

pequeno deslize pode ter como consequecircncia uma confusatildeo e resultar num ataque As

ONG devem distanciar-se o maacuteximo dos militares e usar a escolta como jaacute foi referido

como uacuteltimo recurso (Gibbons e Piquard 2006)

Em 2013 registou-se 460 viacutetimas humanitaacuterias das quais 155 pessoas foram

assassinadas e 134 foram raptados e gravemente feridos Houve um aumento de 66

das viacutetimas entre 2012 e 2013 Esta eacute a problemaacutetica central deste estudo e por isso seraacute

feita de seguida uma conceptualizaccedilatildeo sobre o sistema securitaacuterio das Naccedilotildees Unidas e

agecircncias militares privadas nos cenaacuterios humanitaacuterios Jaacute no relatoacuterio de 2015 consta

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

42

que em 2014 foram assassinados 120 humanitaacuterios 88 ficaram feridos e 121 foram

raptados (Ryou et al 2014 Humanitarian Outcomes 2015)

A maior parte das viacutetimas eram membros de ONG locais e faziam parte da Cruz

Vermelha e Crescente Vermelho e os ataques e emboscadas eram em 2013

maioritariamente perpetrados no caminho para os locais onde estes iam operar Para se

ter uma noccedilatildeo mais precisa 87 das viacutetimas satildeo nacionais do paiacutes onde a ajuda estaacute a

ser fornecida e 13 satildeo membros internacionais A seguranccedila dos humanitaacuterios tem

vindo a revelar-se uma razatildeo fundamental para o insucesso de certas missotildees pois natildeo

conseguem chegar aos locais outras ONG decidem abandonar o terreno por natildeo

conseguirem realizar o seu trabalho em seguranccedila Segundo The Aid Worker Security

Report podemos verificar no documento relativo a seguranccedila na aacuterea da accedilatildeo

humanitaacuteria que pouco tem sido investido na mitigaccedilatildeo dos riscos na estrada e natildeo soacute

A 11 de Julho de 2016 foi realizado um ataque a humanitaacuterios em lugar em que estes

foram torturados espancados e abusados sexualmente Este caso violento de ataque a

humanitaacuterios foi amplamente divulgado devido agrave inaccedilatildeo por parte dos peacekeepers

face aos pedidos de ajuda dos humanitaacuterios (Ryou et al 2014 e Adongo 2017)

Os ataques aos humanitaacuterios tecircm ocorrido em 30 Estados No entanto trecircs quartos dos

ataques foram realizados em apenas cinco Estados que estatildeo a passar por um conflito

armado e uma falha de governaccedilatildeo (Estados fraacutegeis) Esses Estados satildeo Sudatildeo do Sul

Sudatildeo Afeganistatildeo Siacuteria e Paquistatildeo Estes ataques satildeo sobretudo raptos e tiroteio

depois vecircm assaltos sem armas de fogo e em uacuteltimo lugar o recurso a explosivos No

entanto este uacuteltimo meacutetodo de ataque tem vindo a sofrer um aumento significativo

entre 2006 e 2013 (Humanitarian Outcomes 2014)

Segundo dados mais recentes do relatoacuterio de Czwarno et al (2017) verifica-se que

houve de facto um aumento do nuacutemero de ataques entre 2007 e 2016

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

43

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terreno

Fonte Czwarno M Harmer A e Stoddard A (2017)

Eacute ainda abordado em Ryou et al (2014) e Brabant et al (2010) o procedimento de

treino dos membros das ONG para uma travessia segura para o local onde pretendam

operar Este programa de treino eacute intitulado de SOP (Standard Operating Procedure)

Neste programa constam os seguintes toacutepicos

bull Aprender conduccedilatildeo defensiva para as situaccedilotildees em que precisariam de fugir de

uma determinada situaccedilatildeo de perigo e adquirir capacidade de negociaccedilatildeo no caso de se

depararem com uma situaccedilatildeo em que teratildeo de negociar com o chefe dos rebeldes do

grupo eacutetnico tribo entre outros

bull Adotar guias de instruccedilatildeo ou manuais de boa conduta em caso de ter de passar

check-points em caso de fogo armado assaltos sequestros etc Este ponto eacute muito

importante pois eacute necessaacuterio ir preparado psicologicamente para fazer a travessia por

check-points saber que tipo de documentos mostrar o que dizer como agir e em caso

de fogo armado quais os procedimentos de proteccedilatildeo do pessoal a adotar

bull Fazer sempre pedido de autorizaccedilatildeo para movimentar o staff ou viajar para

outros locais eacute necessaacuterio avisar sempre e realizar o pedido de autorizaccedilatildeo para natildeo

terem problemas nos check-points e correrem o risco de serem detidos

bull Adotar o procedimento em que todos os elementos do grupo avisam a sua

partida e chegada ao local Este procedimento deve ser adotado pela esquipa de forma a

saberem onde cada elemento estaacute a que horas estaacute prevista a chegada e estarem sempre

0

50

100

150

200

250

300

350

2007 2011 2014 2017

Incidentes

Viacutetimas

humanitaacuterios

mortos

humanitaacuterios

eridos

raptos de

humanitaacuterios

Viacutetimas

internacionais

Viacutetimas

nacionais

5

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

44

contactaacuteveis de modo a que seja faacutecil identificar se um membro do grupo estaacute em

problemas devido agrave incomunicabilidade desaparecimento entre outros

bull Estabelecer toques de recolher e mapear as aacutereas que natildeo sejam seguras no

momento preciso em que pensam partir Este ponto eacute essencial para garantir a seguranccedila

do staff e natildeo correrem riscos desnecessaacuterios

bull Mudar as rotinas para que natildeo sejam alvo faacutecil dos rebeldes ou outras forccedilas

militarespopulaccedilatildeo local que queiram atacar e o staff deve ser acompanhado pelo liacuteder

da comunidade com a qual vatildeo trabalhar de forma a que seja garantida a sua seguranccedila

bull Usar raacutedio de alta frequecircncia e equipamentos sateacutelite em missotildees de longa

distacircncia para que todos os elementos da equipa permaneccedilam contactaacuteveis

bull Regras de conduta entre dois carros e espaccedilamento entre eles eacute importante

sobretudo num campo em que natildeo conhecemos nem estamos acostumados (Ryou et al

2014 pp 8-9 Brabant et al 2010 pp 12-16)

O relatoacuterio de Ryou et al (2014) aponta a escolta militar como ultimo recurso usado

pelas ONG e quando usada eacute fornecida pelo governo do Estado em conflito armado ou

pelos peacekeepers ou pela NATO A NATO eacute uma opccedilatildeo agrave qual a comunidade

humanitaacuteria deveraacute recorrer em uacuteltimo recurso pelo simples facto de natildeo se manter

neutra no terreno o que poder A NATO tem um compromisso com as NU quanto a

assegurar a paz e seguranccedila mundial (Ryou et al 2014 e NATO 2016)

A NATO em conjunto com as NU e a UE atua a prevenir crises gerir conflitos ajudar

a estabilizar em situaccedilotildees de poacutes-conflito Esta cooperaccedilatildeo estende-se agrave avaliaccedilatildeo e

gestatildeo de crises cooperaccedilatildeo civil-militar que eacute o foco do tema que estaacute a ser retratado

nesta dissertaccedilatildeo treino e educaccedilatildeo combate agrave corrupccedilatildeo no setor da defesa accedilatildeo

contra as minas mitigaccedilatildeo das ameaccedilas representadas por dispositivos explosivos

improvisados capacidades civis promoccedilatildeo do papel das mulheres em paz e seguranccedila

proteccedilatildeo de civis incluindo crianccedilas conflitos armados combate agrave violecircncia e violecircncia

de gecircnero controle de armas e natildeo proliferaccedilatildeo e a luta contra o terrorismo A

cooperaccedilatildeo eacute ainda reforccedilada com as NU e outros atores internacionais como a UE e a

Organizaccedilatildeo para a Seguranccedila e a Cooperaccedilatildeo na Europa (OSCE) que satildeo partes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

45

integrantes do contributo da NATO para uma abordagem abrangente quanto agrave gestatildeo e

operaccedilotildees de crise (NATO 2016)

Retomando entatildeo a questatildeo referente agraves opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno agrave primeira vista as melhores opccedilotildees seriam mesmo escolta e

proteccedilatildeo no acircmbito de missotildees sob o princiacutepio da R2P as missotildees integradas

minimalistas ou as agecircncias militares privadas No caso das missotildees integradas em

cooperaccedilatildeo com os peacekeepers respeitando o guia de cooperaccedilatildeo entre militar-

humanitaacuterio no caso das agecircncias militares privadas caso estejam devidamente

regulamentadas no direito internacional humanitaacuterio Por uacuteltimo o peace enforcement ao

abrigo do princiacutepio do R2P eacute a melhor opccedilatildeo para Estados que estejam numa situaccedilatildeo

de alta inseguranccedila pois eacute uma intervenccedilatildeo de emergecircncia A escolta pode facilitar a

deslocaccedilatildeo no entanto eacute preciso respeitar os princiacutepios fundamentais da accedilatildeo

humanitaacuteria e as ONG OING e OIG humanitaacuterias respeitarem as missotildees dos militares

com os quais estatildeo a cooperar nesse preciso momento Esta cooperaccedilatildeo tem como

intuito melhorar a seguranccedila e proteger os humanitaacuterios e natildeo dificultar o trabalho de

ambos (Bellamy 2015)

O problema com a cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao

abrigo do R2P natildeo estaacute isenta de perigos podendo mesmo ser mais os pontos negativos

do que favoraacuteveis Pois os militares sob este tipo de missatildeo natildeo satildeo neutros partindo

para o terreno para acabar com a calamidade que estaacute a acontecer ou seja atacar os

responsaacuteveis pelas atrocidades que poderatildeo ser os proacuteprios governantes Sendo o

governo o responsaacutevel pelas atrocidades os militares do peace enforcement iratildeo estar

contra a forccedila que estaacute no poder e por conseguinte estando os humanitaacuterios a receber

escolta do peace enforcement iratildeo sofrer represaacutelias como ataques ou ver o acesso

negado a determinados locais poderaacute mesmo seraacute negada a permissatildeo de permanecer

no terreno e poderatildeo ser atacados por miliacutecias O perpetrador das atrocidades podem

ainda ser miliacutecias e por conseguinte natildeo ser faacutecil fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e

natildeo combatentes podendo ser atacados civis no terreno colocando uma vez mais a

comunidade internacional num dilema entre a seguranccedila e respeitar os princiacutepios da

neutralidade e imparcialidade colocando-os numa situaccedilatildeo de grande fragilidade

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

46

No entanto existe uma necessidade de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios no terreno e a

comunidade humanitaacuteria eacute fulcral quanto agrave proteccedilatildeo dos civis assistindo medicamente

fornecendo bens essenciais como comida aacutegua medicaccedilatildeo e apoio psicoloacutegico

acolhem refugiados e IDP fazem uso das suas influecircncias para dar apoio juriacutedico agraves

viacutetimas e garantem proteccedilatildeo Estes pontos referidos tecircm um papel crucial na pacificaccedilatildeo

dos territoacuterios O espaccedilo humanitaacuterio neutro e imparcial daacute uma sensaccedilatildeo de proteccedilatildeo agrave

populaccedilatildeo um refugioabrigo e este espaccedilo pode ser colocado em causa com uma

missatildeo integrada com os militares do peace enforcement pois a comunidade

humanitaacuteria eacute politizada involuntariamente perdendo a neutralidade Ou seja eacute um

dilema que os humanitaacuterios atravessam no terreno dilema entre a seguranccedila a

permanecircncia no terreno e salvar vidas (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Apesar destes pontos negativos a verdade eacute que eacute impossiacutevel para a comunidade

humanitaacuteria manter-se neutra neste tipo de conflitos e precisa de escolta para conseguir

prosseguir com a sua missatildeo Segundo Bellamy (2015) a missatildeo sob o princiacutepio da

R2P no Sri Lanka entre 2008-2009 foi mal sucedida as NU natildeo tiveram capacidade

suficiente para proteger os civis e garantir o acesso dos humanitaacuterios aos locais onde

residiam os civis em necessidade A comunidade humanitaacuteria no terreno viu-se forccedilada

a terminar a missatildeo devido ao facto de o governo ter restringido o acesso das

organizaccedilotildees humanitaacuterias e o staff das NU foi persistentemente intimidado As NU natildeo

tentaram chamar o governo agrave realidade evidenciando que restringir o acesso dos

humanitaacuterios vai contra agraves suas obrigaccedilotildees internacionais As NU falharam tambeacutem

quanto ao seu dever de informar os Estados sobre violaccedilotildees dos direitos humanos no

terreno A comunidade humanitaacuteria natildeo pode cooperar com este tipo de accedilotildees vai

contra agrave essecircncia da accedilatildeo humanitaacuteria Logo o peace enforcement sob o princiacutepio do

R2P que inicialmente poderia ser uma soluccedilatildeo viaacutevel para garantir a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios no terreno (devido ao princiacutepio subjacente e agraves restriccedilotildees e regras riacutegidas

de atuaccedilatildeo no terreno) deixa de o ser a partir do momento em que falha como no Sri

Lanka para com os cidadatildeos e para com a comunidade humanitaacuteria uma vez que natildeo

conseguiu garantir um acesso seguro e a permanecircncia dos humanitaacuterios no terreno

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Portanto uma missatildeo integrada no terreno com o peace enforcement ao abrigo do

princiacutepio da responsabilidade de proteger pode ser a soluccedilatildeo mais raacutepida e a mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

47

adequada pois estatildeo todos empenhados em aliviar o sofrimento humano salvar vidas e

por termo agraves atrocidades No entanto na praacutetica esta eacute uma situaccedilatildeo bastante complexa

mas que natildeo deve ser descartada A decisatildeo quanto agrave adoccedilatildeo de uma missatildeo integrada

entre o peace enforcement ao abrigo do R2P e organizaccedilotildees humanitaacuterias deve ser

avaliada e decidida caso a caso (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

No entanto a colaboraccedilatildeo entre militar e humanitaacuterio pode ser fomentada de outra

forma estabelecendo uma verdadeira parceria onde cada um manteacutem a sua

independecircncia e no caso dos humanitaacuterios a imparcialidade e neutralidade A forccedila

militar preferencial para esta parceria seria os peacekeepers pois satildeo uma forccedila militar

internacional e imparcial Desta forma os dois atores complementam-se sem que haja

interferecircncia nas missotildees de cada um Segundo Gibbons e Piquard essa parceria pode

acontecer das seguintes formas

1 A ONG humanitaacuteria pode pedir coordenadas especificas aos militares sobre a

seguranccedila de determinada regiatildeo pedir instruccedilotildees sobre a melhor hora e caminho para

fazer a viagem ateacute determinado local considerado perigoso Desta forma a equipa

poderaacute viajar para o local atraveacutes de um caminho mais seguro recomendado pelos

militares acostumados no terreno Devem tambeacutem permanecer em contacto com a forccedila

militar com a qual estatildeo a colaborar de modo a que caso haja um problema estes

possam assistir a equipa)

2 Poderatildeo pedir contactos ou para agilizar a comunicaccedilatildeo entre a ONG e o liacuteder

da comunidade com a qual iratildeo trabalhar de forma a evitar problemas desagradaacuteveis e a

que sejam aceites no local e assim a ajuda poder ser fornecida sem

3 Os militares podem dar formaccedilatildeo aos humanitaacuterios de autodefesa seguranccedila

como por exemplo o uso da raacutedio como meio de comunicaccedilatildeo mapas entre outros e

como organizarem a logiacutestica toda de forma raacutepida e eficaz (Gibbons e Piquard 2006

pp25-95)

Caso a escolta militar natildeo possa ser dispensada existe ainda a possibilidade de os

militares escoltarem a equipa agrave paisana ou seja sem a farda de modo a natildeo chamarem

a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo local ou dos ldquoinimigosrdquo Deste modo os humanitaacuterios

realizariam a viajarem em seguranccedila a populaccedilatildeo natildeo perderia a confianccedila na ONG

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

48

pois natildeo teriam como saber que estavam a ser escoltados por uma forccedila militar Este

meacutetodo seria para usar esporadicamente (Gibbons e Piquard 2006 pp25-95)

O que se pretende demonstrar com as medidas anteriormente expostas eacute que os

humanitaacuterios devem recorrer soacute em ultimo recurso agrave escolta militar Antes podem pedir

colaboraccedilatildeo do tipo backoffice pedindo informaccedilotildees ou um mapeamento dos caminhos

seguros para chegar a determinado local pedir formaccedilatildeo sobre o uso da raacutedio por

sateacutelite como meio de comunicaccedilatildeo formaccedilatildeo de autodefesa conduccedilatildeo e uso de

determinadas ferramentas de logiacutestica que poderatildeo vir a ser uacuteteis no futuro de forma a

contribuir para uma estadia mais segura sem colocar em causa a missatildeo de ambos e os

princiacutepios humanitaacuterios (Gibbons e Piquard 2006)

Segundo Gibbons e Piquard (2006) ONG OING e OIG natildeo precisam de estar de costas

voltadas para os militares podem colaborar em conjunto de diversas formas que natildeo

sejam diretamente a escolta para natildeo serem associados a determinada forccedila poliacutetica Soacute

como uacuteltimo recurso como em caso de grande perigo deveratildeo pedir escolta ou usar os

meios de transporte militares neste caso o aeacutereo seria o mais desejaacutevel para levar o

maacuteximo de mantimentos possiacutevel

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios

Devido agraves necessidades de proteccedilatildeo e seguranccedila dos humanitaacuterios tecircm-se assistido ao

surgimento de agecircncias de seguranccedila privadas que fornecem serviccedilos de proteccedilatildeo agrave

comunidade humanitaacuteria Peter Singer intitula estas agecircncias de ldquoagecircncias militares

privadasrdquo que oferecem seguranccedila treino para missotildees no terreno e apoio logiacutestico

Hoje as AMP (agecircncias militares privadas) operam em mais de 50 paiacuteses e tiveram um

papel decisivo nos conflitos dos seguintes Estados Angola Croaacutecia Etioacutepia-Eritreia e

Serra Leoa Estas agecircncias militares satildeo geridas por militares reformados e podem ter

mera funccedilatildeo consultiva como tambeacutem podem ter um papel de uma empresa

transnacional usando meios como aviotildees e comandos no terreno para aleacutem da sua vasta

experiecircncia atraveacutes de missotildees realizadas muitas vezes no terreno para o qual iratildeo

fornecer o serviccedilo (Singer 2006)

Podemos dividir as agecircncias de seguranccedila privadas em duas grandes aacutereas que satildeo as

agecircncias militares privadas constituiacutedas por ex-militares reformados ou que tenham

saiacutedo da forccedila militar estatal da qual fazia parte e tecircm como principal objetivo fornecer

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

49

serviccedilos de seguranccedila militar em terrenos de conflito armado internacional ou natildeo caso

seja necessaacuterio e as agecircncias de seguranccedila privada que natildeo iratildeo ser profundamente

exploradas nesta dissertaccedilatildeo A ONU tem vindo a contratar os serviccedilos destas agecircncias

militares privadas bem como as ONG e OING Como eacute possiacutevel constatar os

humanitaacuterios vivem momentos de grande inseguranccedila no terreno caso o Estado em

questatildeo natildeo forneccedila essa seguranccedila agrave ONG que estaacute a operar no terreno As agecircncias

podem fornecer apoio logiacutestico de seguranccedila principalmente nas viagens para o

territoacuterio onde iratildeo trabalhar e trabalho de consultoria Por outro lado haacute as agecircncias de

seguranccedila privadas que realizam o serviccedilo de seguranccedila apenas como um policia

realizaria em territoacuterio nacional Este tipo de agecircncias natildeo tem a responsabilidade de

proteger territoacuterios ou bens privados mas sim de proteger as pessoas neste caso os

humanitaacuterios nas deslocaccedilotildees e no territoacuterio As ONG OING e OIG tecircm vindo a

recrutar os serviccedilos das agecircncias militares privadas pois estas estatildeo habituadas a operar

em contexto de conflitos Estas agecircncias podem ser contratadas por ONG OING OIG

pelo governo por indiviacuteduos a tiacutetulo privado e por empresas privadas Segundo Pilbeam

(2015a) os principais serviccedilos que fornecem satildeo

Combate as agecircncias militares privadas podem ser contratadas para tomar diretamente

parte das hostilidades assistindo as tropas no terreno em combate em caso de falta de

militares

Treino podem igualmente ser contratadas para treinar novos meacutetodos taacuteticos de

sobrevivecircncia como atravessar certas estradas perigosas novos meacutetodos de combate e

como usar determinado armamento bem como meacutetodos de sobrevivecircncia e medicina

de terreno e sobrevivecircncia

Suporte podem ser contratados para fornecer apoio logiacutestico como por exemplo gerir

os bens alimentares e serviccedilos construccedilatildeo e uso de novas tecnologias de informaccedilatildeo

como a raacutedio por exemplo

Seguranccedila este eacute o serviccedilo mais contratado pelas ONG ONIG e OIG humanitaacuterias

com este serviccedilo eacute pretendido garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos como os profissionais

humanitaacuterios campos de refugiados edifiacutecios terrenos entre outros Tecircm tambeacutem como

funccedilatildeo garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos durante o transporte para o terreno Hoje

tambeacutem tecircm a funccedilatildeo de garantir a seguranccedila dos dados e do computador

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

50

Inteligecircncia este serviccedilo diz respeito a recolhimento de dados e anaacutelise dos mesmos

atraveacutes de pesquisa e observaccedilatildeo

Reconstruccedilatildeo estes serviccedilos satildeo muitas vezes requeridos em situaccedilotildees de poacutes-conflito e

o seu principal trabalho eacute livrar terrenos que possam estar minados reconstruccedilatildeo de

infraestruturas e restaurar sistemas essenciais agrave sobrevivecircncia como a aacutegua o

saneamento e a eletricidade (Pilbeam 2015a pp 200)

Pilbeam refere que no caso de Ruanda a ONU teve a necessidade de contratar AMP

para assistir os peacekeepers antes e depois da crise natildeo soacute a niacutevel securitaacuterio mas

tambeacutem a niacutevel de reconstruccedilatildeo logiacutestica entre outros Este tipo de situaccedilotildees natildeo

deveria acontecer pois torna a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios dependentes dos serviccedilos

destas agecircncias militares privados o que aumenta o nuacutemero de mercenaacuterios no terreno

aumenta as despesas tornando a accedilatildeo securitaacuteria num negoacutecio privado Outro problema

eacute o facto de existir um vazio legal na hora de julgar estes militares em caso de infraccedilatildeo

da lei no Estado em que estatildeo a operar Estes natildeo poderatildeo tambeacutem usufruir do estatuto

de prisioneiro de guerra (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam 2015a)

Por exemplo a agecircncia Defense System Limited (DSL) proveu proteccedilatildeo agrave UNICEF no

Sudatildeo e na Somaacutelia e agrave OMS em Angola A Armour Group foi contratada pelo ACNUR

para realizar serviccedilo de seguranccedila no Queacutenia O Dyn Corp disponibilizou meios aeacutereos

e uma rede sateacutelite para comunicaccedilotildees para a ONU mais especificamente para os

membros das operaccedilotildees de peacekeeping em Timor Leste O Pacific Architects

Engeneers (PAE) contribuiu com poliacutecias civis para a missatildeo da ONU no Haiti Esta

contrataccedilatildeo natildeo tem nenhum guia ou legislaccedilatildeo que especifique como onde e em que

circunstacircncias devem ser contratadas este tipo de agecircncias militares privadas de forma

a que possam ser evitados problemas no futuro (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam

2015a)

As organizaccedilotildees humanitaacuterias recorrem unicamente agraves agecircncias de militares privadas

quando a sua seguranccedila corre elevados riscos no local onde pretendam operar e o Estado

natildeo garante escolta militar e seguranccedila aos humanitaacuterios da ONG que pretende operar

naquele local ficando assim ao criteacuterio da ONG recorrer a agecircncias de seguranccedila

privada regressar ou correr o risco mesmo assim Raramente as ONG pedem ajuda em

termos de seguranccedila aos militares que estatildeo em operaccedilatildeo de peacekeeping ou outros

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

51

militares no terreno para que os seus princiacutepios fundamentais natildeo sejam abalados Com

o aumento dos sequestros e mortes de humanitaacuterios aumentou tambeacutem o nuacutemero de

ONG a contratarem agecircncias privadas de seguranccedila Sete agecircncias da ONU admitem ter

contratado agecircncias de seguranccedila para poderem operar em terrenos que estejam a

atravessar por um conflito armado Este facto mostra bem a falta de militares com que a

ONU se depara e a necessidade cada vez maior de garantir a seguranccedila no terreno dos

seus profissionais (Singer 2006)

Singer levanta um problema na contrataccedilatildeo de agecircncias de seguranccedila privadas por

ONG que eacute o facto de estas natildeo saberem como trabalhar em conjunto com militares e

quais os limites de accedilatildeo e conduta destas agecircncias Somente o Comiteacute Internacional da

Cruz Vermelha a Oxfam e a Mercycorps elaboraram documentos sobre a conduta das

agecircncias de seguranccedila privada num manual onde satildeo estabelecidos os limites de accedilatildeo

tipo de armas a usar as tarefas entre outros Ou seja elaboraram um documento onde eacute

estabelecido que tipos de accedilotildees podem e natildeo podem ter no terreno direitos e deveres

para que natildeo haja um uso excessivo e desnecessaacuterio da forccedila e das armas (Singer 2006

Schneiker e Joachim 2015)

No entanto existe um vazio legal e estas agecircncias militares privadas natildeo podem ser

julgadas no terreno nem ao abrigo do Direito Internacional Humanitaacuterio o que torna o

seu uso perigoso Isto acontece porque estas agecircncias natildeo estatildeo a trabalhar para o

Estado X ou Y mas para uma ONG ou OIG ou seja o seu serviccedilo eacute privado e

contratado pela ONG (Singer 2006)

Os militares destas agecircncias privadas contratados pelas ONG OING e OIG satildeo

considerados mercenaacuterios o que faz com que natildeo tenham direito ao estatuto de

prisioneiros de guerras e nem sejam considerados combatentes o que leva a que natildeo

tenham direito agrave expatriaccedilatildeo tratamento meacutedico especial e tenha de se sujeitar ao

tratamento que lhe for concedido pelo Estado no qual foi feito prisioneiro Estes

militares natildeo estatildeo ao serviccedilo de nenhum Estado ou comunidade internacional a

combater estatildeo simplesmente a fornecer um serviccedilo a troco de dinheiro o que faz deles

mercenaacuterios (Pilbeam 2015a)

Natildeo tecircm tambeacutem o direito a serem extraditados para o seu paiacutes de origem tendo por

isso de ser julgados consoante a legislaccedilatildeo local Este vazio legal eacute um grave problema

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

52

que deveraacute ser resolvido pela comunidade internacional Se por um lado temos a

hipoacutetese de estes militares natildeo poderem ser julgados por crimes de guerra caso o

cometa por outro lado temos a hipoacutetese de serem apanhados e presos e nada poder ser

feito para os libertar por natildeo serem prisioneiros de guerra e por isso natildeo estarem

abrangidos pelo Direito Internacional Humanitaacuterio (Pilbeam 2015a)

Do lado das ONG OING e OIG a falta de praacutetica em contratar este tipo de serviccedilos e o

facto de natildeo saberem como lidar com os mercenaacuterios (muitos deles podem ter um

passado duvidoso quanto agrave violaccedilatildeo dos Direitos Humanos) levanta questotildees seacuterias

crimes perpetrados pelas agecircncias militares privadas a ONG que contratem estas

agecircncias eacute tambeacutem culpabilizada o que poderaacute ter consequecircncias nos donativos e na

confianccedila nela depositada (Singer 2006)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

53

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul

O Sudatildeo do Sul eacute uma Repuacuteblica presidencialista e o seu atual Presidente eacute Salva Kiir

A Capital eacute Juba e a moeda eacute a Libra Sul-sudanesa A liacutengua oficial eacute o Inglecircs no

entanto existem vaacuterias liacutenguas faladas que natildeo satildeo oficiais como por exemplo dinka

nuer zande bari e shiluk O Sudatildeo do Sul faz fronteira com o Sudatildeo (de quem se

tornou independente em 2011) a Etioacutepia o Queacutenia o Uganda a Repuacuteblica Democraacutetica

do Congo e a Repuacuteblica Centro Africana Estima-se que em 2011 a populaccedilatildeo do Sudatildeo

do Sul era de 11090104 habitantes Foi a 9 de julho desse mesmo ano que o Sudatildeo do

Sul se tornou um paiacutes independente (CIA sd)

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sul

Fonte Branco (2011)

Desde a independecircncia os variados conflitos intensificaram-se Em 2013 o Sudatildeo do

Sul entrou numa forte crise poliacutetica culminando numa guerra civil Esta crise poliacutetica

aconteceu quando o presidente Salva Kiir membro do maior grupo eacutetnico local Dinka

acusou o vice-presidente do Sudatildeo do Sul Riek Machar membro do grupo eacutetnico Lou

Nuer de uma tentativa de golpe de Estado o que levou ao despoletar de uma guerra

civil onde os membros dos dois grupos eacutetnicos acima referidos entraram eles tambeacutem

em conflito entre si fruto do oacutedio eacutetnico Eacute importante referir os grupos eacutetnicos a que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

54

pertenciam ambos os poliacuteticos parte das hostilidades porque o Sudatildeo do Sul eacute um

Estado dividido em vaacuterias etnias pode mesmo dizer-se que existem vaacuterios lsquoSudatildeosrsquo

dentro do Sudatildeo do Sul o que dificulta o processo de paz por si soacute Este

desentendimento acontece apoacutes o vice-presidente Riek Machar ter acusado o atual

presidente Slava kiir de corrupccedilatildeo de lidar mal com a economia e situaccedilatildeo global do

Sudatildeo do Sul de haver cada vez mais desigualdade entre grupos Em 2013 houve um

coup drsquoeacutetat o que intensificou uma vez mais o conflito pois o presidente Salva Kiir

decidiu demitir todo o governo e assumir total controlo do Estado atirando a tentativa

do golpe de Estado para o vice-presidente Riek Machar Como eacute possiacutevel prever os

conflitos entre as duas partes intensificaram-se mais precisamente entre os dois grupos

eacutetnicos ligados a cada uma destas duas figuras (Nascimento 2017)

Devido ao referido anteriormente deu-se uma divisatildeo dentro do SPLM (Sudan Peoplersquos

Liberation Movement) tendo sido criado o SPLM-IO (Sudan Peoplersquos Liberation

Movement- In Oposition) apoiante do vice-presidente Riek Machar Ao presente a

guerra civil joga-se entre o SPLM o SPLA (Sudan Peopleacutes Liberation Army) e o

movimento pro Riek Machar SPLM-IO Esta divisatildeo que gerou uma grande onda de

violecircncia levou ao aumento draacutestico de pedidos de asilo de refugiados aos paiacuteses

vizinhos e de deslocados internamente (Deutsche Welle 2013 Rolandsen et al 2015

Felix e Coning 2017)

Tinha havido em 2011 segundo Nascimento (2017) uma tentativa afincada de realizar

um acordo de paz duradouro tendo pouco sido feito em termos de desenvolvimento e

garantia das necessidades baacutesicas para toda a populaccedilatildeo ou seja garantir o igual acesso

a todos agrave educaccedilatildeo sauacutede alimentaccedilatildeo seguranccedila e emprego O Sudatildeo do Sul

confronta-se tambeacutem com um governo fraco aumento das hostilidades entre populaccedilotildees

de diferentes etnias alimentadas pelos poliacuteticos e um setor privado e governo corruptos

Natildeo resolvendo estas questotildees eacute impossiacutevel qualquer acordo de paz vingar a natildeo ser no

papel Eacute possiacutevel entatildeo deduzir que este processo de paz natildeo foi coordenado e

uniforme pois o governo optou por estabelecer acordos ao longo do paiacutes criando

divisotildees dentro do recente Estado (Nascimento 2017)

Houve um novo acordo de cessar-fogo em maio de 2014 tendo sido criado um governo

de transiccedilatildeo e foi feito um esboccedilo para a criaccedilatildeo de uma nova constituiccedilatildeo No entanto

houve mais uma vez neste processo uma falta de compromisso para com as partes e a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

55

populaccedilatildeo o que gerou mais ondas de violecircncia Em maio de 2015 o governo do Sudatildeo

do Sul foi pressionado por atores externos a estabelecer um acordo de paz acordo esse

que veio a ser altamente criticado Salva Kiir acusou o acordo de desfavorecer a

comunidade eacutetnica Dinka num futuro governo Este acordo foi tambeacutem criticado pela

sociedade civil por privilegiar a partilha de poderes entre as elites ao inveacutes de prestar

contas e desenvolver um mecanismo de justiccedila onde as atrocidades cometidas pelos dois

partidos fossem punidas Acusou tambeacutem o presidente de natildeo privilegiar o

desenvolvimento a niacutevel educacional socioeconoacutemico e de infraestruturas do Estado e

de natildeo haver a aplicaccedilatildeo da lei Riek Machar voltou ao seu cargo como vice-presidente

tendo de abandonar a cidade de Juba por violecircncia e alegada perseguiccedilatildeo do governo

tendo sido substituiacutedo pelo Presidente Riek Machar pediu ajuda agrave comunidade

internacional para enviar militares que o ajudassem a chegar a Juba em seguranccedila e

retomar o seu cargo Pouco mudou como eacute possiacutevel verificar natildeo se constatou

desenvolvimento algum continua a existir pobreza e a violecircncia natildeo para de aumentar

Salva Kiir (atual presidente) privilegiou a estabilizaccedilatildeo do Estado ao inveacutes do

desenvolvimento o que em conjunto com o conflito eacutetnico despoletou a guerra civil

(Nascimento 2017 Felix e Coning 2017)

Segundo Nascimento (2017) houve ainda uma maacute compreensatildeo frequente quanto ao

uso do peacebuilding confundido com partilha de poderes e recursos Ao inveacutes disso

deveria ter havido uma aposta na criaccedilatildeo de uma democracia soacutelida onde os cidadatildeos

pudessem contribuir na tomada de decisatildeo dos poliacuteticos e desenvolvimento do seu

territoacuterio A parte mais importante para o sucesso do acordo de paz sociedade civil e

partidos natildeo foi todavia parte dos processos de negociaccedilatildeo da paz O processo de paz

centrou-se exclusivamente na partilha de poderes entre os partidos do governo e

militares natildeo tendo sido escutadas opiniotildees de mediadores figuras influentes ou

partidos poliacuteticos Segundo a autora os negociadores do acordo de paz natildeo queriam

entender que o problema ultrapassava a rivalidade poliacutetica que era tambeacutem constituiacutedo

por uma marginalizaccedilatildeo social e econoacutemica que afetava diversos grupos e setores da

populaccedilatildeo (Nascimento 2017 Tafta e Haken 2015)

A guerra civil do Sudatildeo do Sul levou agrave morte de milhares de pessoas Estima-se que

desde 2013 tenham morrido mais de 50 000 pessoas e que tenham fugido cerca de 16

milhotildees de pessoas dos seus lares aquando da tentativa internacional de estabelecer a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

56

paz com o acordo assinado em agosto de 2015 (OCHA 2015) Segundo o OCHA

(2017) cerca de trecircs milhotildees de pessoas tiverem de fugir dos seus lares existem cerca

de 12 milhotildees de deslocados internamente e mais de 13 milhotildees de refugiados

Podemos entatildeo verificar que o Sudatildeo do Sul desde a sua independecircncia natildeo teve um

uacutenico momento de paz e a populaccedilatildeo estaacute a atravessar momentos conturbados haacute

infraestruturas destruiacutedas falta de cuidados meacutedicos trabalho forccedilado violaccedilotildees

abusos deslocaccedilotildees forccediladas destruiccedilatildeo perda de meios de subsistecircncia e surgimento

de doenccedilas tais como a coacutelera diarreia malaacuteria entre outros ateacute aos dias de hoje

(OCHA 2015 CFR 2017 HRP 2017)

O Sudatildeo do Sul eacute ainda considerado um Estado de enorme fragilidade no iacutendice de

fragilidade dos Estados do FFP (2017) contando com uma classificaccedilatildeo de 11390 e

estando mal cotado em todos os indicadores de avaliaccedilatildeo As aacutereas satildeo as seguintes

seguranccedila e aparelho do Estado elites e facotildees clivagens entre grupos decliacutenio

econoacutemico desigualdade no desenvolvimento fuga de ceacuterebros legitimidade do

Estado direitos humanos e Estado de direito serviccedilos puacuteblicos pressotildees demograacuteficas

refugiados e deslocados internamente e finalmente intervenccedilatildeo externa Essa

classificaccedilatildeo significa que o Sudatildeo do Sul estaacute na pior categoria ndash ldquoestado de alertardquo

(100-120) e que registou o pior resultado (primeiro no ranking) em 2017 (TFP 2017a

TFP 2017b)

O paiacutes eacute ainda caracterizado por enfrentar variados problemas como por exemplo a

escassez de aacutegua mau saneamento ou ausecircncia do mesmo falta de meios de

subsistecircncia atravessando um periacuteodo de escassez alimentar o que aumenta

drasticamente os conflitos entre cidades e grupos eacutetnicos pois natildeo estatildeo a lutar

unicamente devido ao conflito e ao oacutedio eacutetnico mas estatildeo a lutar tambeacutem pela obtenccedilatildeo

de meios de subsistecircncia A guerra civil da qual natildeo consegue sair tem como principal

problema o profundo tribalismo caracteriacutestico do Estado e maus poliacuteticos natildeo

conseguindo criar um aparelho de poder forte As regiotildees do Sudatildeo do Sul que foram

mais atingidas pelo conflito satildeo Jonglei Unity e Upper Nile (Tafta 2014 Rolandsen et

al 2015 TFP 2017c Tafta e Haken 2015) Quanto ao IDH (Iacutendice de

desenvolvimento Humano) o Sudatildeo do Sul estaacute avaliado no iacutendice na posiccedilatildeo de 0418

e classificado no ranking na 181ordf posiccedilatildeo sendo a esperanccedila meacutedia de vida de 561 anos

e a escolaridade rondando ateacute os 49 anos O Estado que estaacute em uacuteltimo lugar na

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

57

classificaccedilatildeo eacute a Repuacuteblica Centro Africana na 188ordf posiccedilatildeo com o valor de 0352 O

Estado mais bem posicionado em primeiro lugar eacute a Noruega com o valor de 0949 A

cotaccedilatildeo dos Estados vai de 00 a 1 (UNDP 2016)

Para aleacutem dos problemas internos o Sudatildeo do Sul tem ainda uma relaccedilatildeo muito

fragilizada com o Sudatildeo devido agraves disputas para a aquisiccedilatildeo do petroacuteleo e a fronteira

os territoacuterios de Darfur South Kordofan e Blue Nile que eram disputados Estes

problemas levaram a que houvesse uma priorizaccedilatildeo da seguranccedila ao inveacutes do

desenvolvimento que eacute crucial para pacificar um Estado e desenvolver (Felix e Coning

2017)

O Sudatildeo do Sul foi palco de Acatildeo Humanitaacuteria promovida pela ONU nomeadamente

do OCHA tendo este uacuteltimo realizado um plano estrateacutegico para o Sudatildeo do Sul A

primeira missatildeo realizada pelas NU no Sudatildeo do Sul cujo nome era UNMISS (United

Nation Mission for South Sudan) sob o artigo VII da carta das NU conforme a

resoluccedilatildeo do Conselho de Seguranccedila nordm 1996 de 8 de julho de 2011 tinha como

principal objetivo ajudar o governo a consolidar a paz e seguranccedila incluindo a

mitigaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos bem como a proteccedilatildeo dos civis Comeccedilou em 2011

pelo periacuteodo de um ano mas viria a revelar-se insuficiente e obrigaria a que fosse

necessaacuterio o prolongamento da UNMISS Em 2013 outra crise deflagrou no Sudatildeo do

Sul culminando numa guerra civil conforme referido acima Neste caso a presenccedila da

UNMISS era fulcral no terreno apesar de a relaccedilatildeo entre o governo do Sudatildeo do Sul e a

UNMISS terem atravessado uma crise no terreno pois os militares desta foram

acusados de natildeo serem imparciais e de ajudarem a abater militares favoraacuteveis ao

governo e de que haveria uma maacute conceccedilatildeo da missatildeo no terreno Foi por isso aprovada

pelo Conselho de Seguranccedila a resoluccedilatildeo 2132 (24122013) pela qual foi decidido

aumentar o nuacutemero de militares e poliacutecias no terreno Em 2014 foi reforccedilada a

priorizaccedilatildeo da necessidade de proteccedilatildeo dos civis devido agrave deterioraccedilatildeo da situaccedilatildeo

humanitaacuteria no terreno tendo sido aprovada a resoluccedilatildeo 2155 (27052014) Os

objetivos foram a consolidaccedilatildeo da democracia fraacutegil (statebuilding) em que o paiacutes se

encontrava proteger os civis de possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia fiacutesica proteger grupos

vulneraacuteveis proteger os campos de refugiados e os profissionais humanitaacuterios de

possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia e criar condiccedilotildees para que as ONG humanitaacuterias

pudessem aceder aos locais e fornecer assistecircncia humanitaacuteria Era tambeacutem feita a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

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monitorizaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de crimes contra os direitos humanos e procurava-se

facilitar a implementaccedilatildeo dos acordos de paz Haacute tambeacutem um mandato atual da

UNMISS em que foram reforccedilados os contingentes em 7000 pessoal militar 9000

poliacutecias e um apropriado contingente de civis Estatildeo autorizados 17 000 tropas nos

quais estatildeo incluiacutedas 4000 forccedilas de proteccedilatildeo regionais Foi aumentado o limite da

poliacutecia para 2101 policiais incluindo policiais individuais unidades policiais formadas

e 78 corretores e solicitado ao Secretaacuterio-Geral que tome as medidas necessaacuterias para

acelerar a forccedila e a geraccedilatildeo de ativos (UNMISS 2017a UNMISS sd UNMISS 2017b

OCHA 2015 OCHA 2017 OCHA sd)

Como eacute possiacutevel constatar o Sudatildeo do Sul necessita de operaccedilotildees de peacekeeping para

manter a paz assegurar os direitos humanos salvar vidas e garantir uma vida digna agrave

populaccedilatildeo local mas tambeacutem necessita e estava num processo de peacebuiling que

procura restaurar o aparelho de poder reconstruir as infraestruturas e ajudar o governo a

fortalecer-se de forma a que a paz permaneccedila e o processo de pacificaccedilatildeo seja realizado

com ecircxito apoacutes o presidente ter assinado em 2015 o acordo de paz como foi referido

anteriormente No entanto como sabemos o Sudatildeo do Sul natildeo estaacute ainda pacificado

permanecendo no terreno cerca de 17000 peacekeepers (OCHA 2015 UNMISS

2017a UNMISS 2017b)

Segundo o Council on Foreign Relations (2017) e tambeacutem o OCHA (2017) o Estado

do Sudatildeo do Sul apresenta um problema no que toca agrave accedilatildeo humanitaacuteria pois o terreno

estaacute cada vez mais perigoso cada vez mais humanitaacuterios satildeo assassinados por grupos

eacutetnicos em guerra dificultando assim a chegada da assistecircncia humanitaacuteria agrave populaccedilatildeo

que estaacute a atravessar grandes privaccedilotildees em termos alimentares de saneamento e de aacutegua

potaacutevel Como eacute sabido o Sudatildeo do Sul tem um grande problema no setor agriacutecola no

saneamento e no acesso a aacutegua o que leva a que os conflitos natildeo cessem muito pelo

contraacuterio pioram A falta de aacutegua potaacutevel eacute um dos grandes problemas existentes no

Sudatildeo do Sul havendo locais em que natildeo existe mesmo sendo necessaacuterio transportaacute-la

para o local o que eacute feito pelas OIG OING e OIG (OCHA 2017 CFR 2017)

Soacute em 2016 os incidentes humanitaacuterios foram de 635 por mecircs de janeiro a junho e de

junho a novembro esse nuacutemero aumentou para 90 Os humanitaacuterios tambeacutem viram a

necessidade de negociar com os militares locais para operar bem como de procurar

apoio na aacuterea da advocacia para a aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria Esta negociaccedilatildeo tem sido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

59

uma constante e estas negociaccedilotildees podem ser realizadas atraveacutes de troca por troca

Existe uma maacute vontade do Estado sentida nos diversos impedimentos burocraacuteticos e

difiacutecil sinalizaccedilatildeo dos civis que estatildeo a receber a assistecircncia humanitaacuteria dificultando

assim o trabalho dos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema eacute que a escolta militar pode levar a que a populaccedilatildeo sinta uma confusatildeo e

associe as ONG OING e OIG aos militares peacekeepers o que eacute negativo Neste caso

a UNMISS natildeo eacute neutra e leva a uma perceccedilatildeo de que as ONG OING e OIG tambeacutem

natildeo satildeo neutras Outro problema foi a poleacutemica em que a UNMISS se envolveu com o

desarmamento da populaccedilatildeo que era feito agrave forccedila e de forma selecionada natildeo tendo os

peacekeepers reagido e tendo a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional

reagido Tudo junto leva a que a populaccedilatildeo sinta receio em pedir ajuda agraves organizaccedilotildees

humanitaacuterias caso a escolta seja feita por militares que tenham algum contacto ou

trabalho com o governo ou as forccedilas militares locais (Felix e Coning 2017)

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das

ONG

Como eacute possiacutevel verificar o caso do Sudatildeo do Sul eacute um caso bastante complicado

sendo mesmo considerado uma emergecircncia humanitaacuteria devido agraves constantes guerras

civis e eacutetnicas que natildeo cessam agrave crise econoacutemica aos choques climateacutericos que levam agrave

escassez de comida falta de aacutegua potaacutevel o que tem como consequecircncia fome e

malnutriccedilatildeo pessoas deslocadas internamente e nuacutemero de refugiados a aumentar

pobreza e crimes de violaccedilatildeo contra os direitos humanos que natildeo cessam O Estado natildeo

se tem revelado eficaz na proteccedilatildeo do seu povo sendo que existem determinados locais

que satildeo praticamente de impossiacutevel acesso aos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema segundo o OCHA natildeo eacute soacute o acesso ao local onde a populaccedilatildeo estaacute em

necessidade mas tambeacutem a permanecircncia das ONG OING ou OIG no terreno Nos dias

14 e 15 de abril de 2016 os humanitaacuterios tiveram de sair do terreno (Waat e Walgak em

Jonglei) devido agrave intensificaccedilatildeo do conflito Essa retirada dos humanitaacuterios do terreno

teve consequecircncias graves a niacutevel de preparaccedilatildeo de comida e distribuiccedilatildeo da mesma

11200 pessoas em Nyrol ficaram sem acesso a educaccedilatildeo sauacutede nutriccedilatildeo e atividades

de limpeza vitais para a populaccedilatildeo Esta deslocaccedilatildeo teve efeitos nefastos para a accedilatildeo

humanitaacuteria em Jonglei quando as instalaccedilotildees humanitaacuterias foram invadidas por civis e

militares durante os atraques de fevereiro Este tipo de ataques natildeo pode repetir-se pois

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

60

a inseguranccedila poderaacute ter como consequecircncia o abandono das ONG OING e OIG do

terreno o que levaraacute a uma intensificaccedilatildeo dos conflitos e a uma populaccedilatildeo ainda mais

fragilizada Um Estado que se pauta por grandes desigualdades entre regiotildees leva a

conflitos que soacute seratildeo amenizados sendo essas necessidades mais urgentes suprimidas

Natildeo adianta fazer missotildees quando natildeo se combate o cerne do problema (OCHA 2017)

Logo estes problemas de acesso poderatildeo levar a que os conflitos se agravem devido agrave

falta de bens de primeira necessidade como por exemplo a aacutegua que como sabemos eacute

um motivo de guerra em vaacuterios paiacuteses e comida pois a pouca comida e aacutegua potaacutevel

existente seraacute disputada gerando ainda mais conflitos Uma maacute nutriccedilatildeo ingestatildeo de

aacutegua natildeo potaacutevel leva ainda a problemas de sauacutede graves Natildeo eacute tambeacutem restabelecida

a dignidade da populaccedilatildeo natildeo eacute protegida dos crimes contra a humanidade como a

exploraccedilatildeo recrutamento de crianccedilas para a guerra e minas abuso sexual e mortes em

massa (OCHA 2017)

Esta falta de seguranccedila no terreno verificada no Sudatildeo do Sul leva agrave necessidade de

existecircncia de proteccedilatildeo militar visto que existe uma dificuldade em fazer valer o DIH no

terreno Como eacute sabido hospitais campos de refugiados e pessoal que trabalha para

organizaccedilotildees humanitaacuterias deveriam estar imunes a qualquer tipo de ataque Mas na

praacutetica tal natildeo se verifica tendo sido um campo de refugiados atacado em 2016 Ao

serem escoltadas ou ao usufruiacuterem de proteccedilatildeo militar as ONG OING ou OIG satildeo

facilmente coladas a uma das partes das hostilidades de que esses militares tambeacutem

tomam parte

Levanta-se ainda outro problema que eacute a negaccedilatildeo de acesso a territoacuterios aos

humanitaacuterios no Sudatildeo do Sul Esta negaccedilatildeo de acesso vem por parte do Governo para

certas regiotildees e das outras partes das hostilidades noutras regiotildees sendo que o governo

natildeo controla bem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Mas eacute um risco que muitos

humanitaacuterios correm correndo mesmo risco de vida rapto e abusos Ou seja o Estado

estaacute a falhar gravemente na proteccedilatildeo e garantia do acesso de ajuda humanitaacuteria agrave sua

populaccedilatildeo o que eacute por si soacute um problema circular num Estado fragilizado Ou seja o

Governo falha ao natildeo garantir a proteccedilatildeo do seu povo e em certos casos ao natildeo deixar as

organizaccedilotildees humanitaacuterias acederem a certos territoacuterios (JMEC 2017 Harmer 2008)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

61

No entanto o Primeiro-Ministro do Sudatildeo do Sul Martin Elia Lamuro negou ter

proibido o acesso dos humanitaacuterios aos territoacuterios cuja populaccedilatildeo enfrenta grandes

necessidades afirmando pelo contraacuterio que se tecircm mostrado recetivos agraves ONG OING e

OIG para a assistecircncia humanitaacuteria em qualquer territoacuterio acusando assim os oficiais

dos EUA de terem redigido relatoacuterios que faltam agrave verdade (Sudan Tribune 2017) Jaacute o

representante russo Petr Illichev das NU diz discordar da visatildeo dos EUA referindo que

a fome eacute devida agraves condiccedilotildees climateacutericas e natildeo devida a questotildees de seguranccedila O

Conselho de Seguranccedila tentou amenizar a situaccedilatildeo referindo que a emergecircncia

humanitaacuteria presente no Sudatildeo do Sul tem como principais culpados todas as partes

envolvidas no conflito Tambeacutem Joseph Mourn Majak Ngor Malok embaixador do

Sudatildeo do Sul nas Naccedilotildees Unidas referiu que natildeo se pode culpar o Governo pela fome e

que este vai fazer os impossiacuteveis trabalhando com a comunidade internacional para

fazer face a este problema Podemos pois constatar que mais que um problema de

seguranccedila o que os humanitaacuterios estatildeo a enfrentar eacute um problema poliacutetico de

bastidores dentro da comunidade internacional (Sudan Tribune 2017)

Como eacute possiacutevel constatar a seguranccedila e o acesso dos humanitaacuterios ao terreno eacute uma

questatildeo bastante complexa pois depende da autorizaccedilatildeo do Estado caso este aceite que

a ajuda humanitaacuteria seja fornecida em todo o territoacuterio que dela necessite e caso decida

proteger os humanitaacuterios Caso o Estado natildeo assegure a proteccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos

humanitaacuterios no acesso ao territoacuterio que necessite de assistecircncia humanitaacuteria os

humanitaacuterios vecircm-se na obrigaccedilatildeo de encontrar uma de quatro soluccedilotildees desistir da

missatildeo e abandonar o terreno arriscar e deslocarem-se aos territoacuterios sem proteccedilatildeo

correndo risco de vida contratar agecircncias militares privadas ou pedir escolta militar aos

peacekeepers

Os peacekeepers da UNMISS natildeo tecircm eles tambeacutem livre acesso a todos os locais no

Sudatildeo do Sul e satildeo vistos de certa forma como adversaacuterios pelo governo e satildeo

acusados de tomarem o partido de uma das partes das hostilidades privilegiando a

proteccedilatildeo ao grupo eacutetnico Nuer em detrimento das outras No entanto esta informaccedilatildeo

natildeo tem a leitura devida pois os peacekeepers protegem os dois lados da mesma forma

a questatildeo eacute que a maioria da populaccedilatildeo registada do POC (Establishment of Protection

of Civilians) eacute de origem eacutetnica Nuer Como consequecircncia desta desconfianccedila a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

62

UNMISS viu negado o seu acesso a determinados locais falhando assim a sua missatildeo a

de proteger os civis e a de proteger os humanitaacuterios (Wells 2017)

O Conselho de Seguranccedila eacute ainda acusado pelos peacekeepers de natildeo dar suporte

poliacutetico e material adequado para a situaccedilatildeo Mesmo apoacutes variados ataques graves aos

militares da UNMISS e agrave populaccedilatildeo o Conselho de Seguranccedila natildeo passou da ameaccedila de

sancionar o Sudatildeo do Sul A gravidade do problema chegou ao ponto de a UNMISS

sofrer ataques aos seus helicoacutepteros natildeo ter material agrave prova de bala tendo assim de

abandonar os meios aeacutereos O Conselho de Seguranccedila mais uma vez nada fez Esta

situaccedilatildeo colocou em causa o trabalho das organizaccedilotildees humanitaacuterias ou seja o acesso

das mesmas a locais de grande necessidade devido ao facto de natildeo poderem contar

mais com ajuda dos peacekeepers para aceder ao terreno (Wells 2017)

Justamente nas missotildees das NU no Sudatildeo do Sul tem-se verificado um fracasso pois

para aleacutem de serem acusados de tomarem partido pelo governo natildeo conseguem

assegurar a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e de deslocados internamente

verificando-se assim em 2013 um aumento da violecircncia e ataques aos campos de

refugiados e deslocados internamente Um dos objetivos da UNMISS eacute assegurar que os

civis consigam aceder agrave ajuda humanitaacuteria que garante os bens essenciais agrave

sobrevivecircncia gestatildeo dos campos de refugiados e outros apoios vitais no entanto a

seguranccedila natildeo eacute assegurada natildeo sendo possiacutevel aos humanitaacuterios assegurar a ajuda

humanitaacuteria agravando-se assim os conflitos (Rolandsen et al 2015)

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar

Segundo Rolandson et al (2015) uma das missotildees que cabe aos peacekeepers eacute

precisamente garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios principalmente em paiacuteses onde

existe uma falta de seguranccedila e proteccedilatildeo aos humanitaacuterios Essa proteccedilatildeo pode ser

realizada atraveacutes de escolta militar direta no caminho para o terreno por via terrestre

aeacuterea ou mariacutetima sendo a via aeacuterea a mais conveniente caso seja necessaacuterio

transportar uma grande quantidade de mercadoria e assim garantir que chega ao destino

intacta Podem ainda garantir a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e deslocados

internamente bem como proteger os bens e as instalaccedilotildees humanitaacuterias (Rolandsen et

al 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

63

Pode verificar-se que as NU mais especificamente o OCHA tecircm vindo a trabalhar no

sentido de existir uma maior cooperaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e as operaccedilotildees de

peacekeeping no terreno de forma a que os humanitaacuterios sejam protegidos e a

assistecircncia humanitaacuteria prestada a toda a populaccedilatildeo independentemente de o territoacuterio

ser ou natildeo de grande perigo O problema desta cooperaccedilatildeo satildeo os princiacutepios

humanitaacuterios que divergem dos princiacutepios dos militares como jaacute foi referido Mas a

coexistecircncia existe eacute um facto havendo no caso do Sudatildeo do Sul um guia sobre como

devem os humanitaacuterios e militares interagir em que circunstacircncia deve ser feita a

escolta e quanto tempo deve durar essa proteccedilatildeoescolta O documento mencionado eacute

intitulado de Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the

United Nations Mission in South Sudan e foi elaborado pela UNMISS o HC e o HCT

(UNMISS e HC 2013)

Os humanitaacuterios viram-se forccedilados a cooperar com os peacekeepers da UNMISS e para

que esta missatildeo integrada funcionasse foi criado o guia de coordenaccedilatildeo entre os atores

humanitaacuterios e a UNMISS jaacute mencionado O guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo

Humanitaacuteria e a UNMISS eacute um documento elaborado a pedido do Humanitarian

Country Team (O HCT eacute um foacuterum estrateacutegico e operacional de tomada de decisatildeo e

supervisatildeo estabelecido e liderado pelo HC) A composiccedilatildeo inclui representantes da

ONU IOM OING a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho O HCT eacute tambeacutem

responsaacutevel por acordar questotildees estrateacutegicas comuns relacionadas com a accedilatildeo

humanitaacuteria (Humanitarian Response sd) em 2012Teve ainda a participaccedilatildeo do

grupo conselheiro militar que contem representantes da comunidade humanitaacuteria e da

UNMISS Eacute por isso um documento fidedigno O objetivo deste guia eacute substituir o SOP

de 2012 relativamente ao uso das forccedilas armadas e escolta militar e fornecer

indicaccedilotildees operacionais sobre a relaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS no Sudatildeo do

Sul de forma a evitar conflitos no terreno fortalecer a coordenaccedilatildeo das atividades

preservar o espaccedilo humanitaacuterio acesso e princiacutepios (HCT e UNMISS 2013 Harmer

2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que a UNMISS estaacute a ter ela proacuteprios problemas de acesso e deslocaccedilatildeo a

determinados locais em que o Estado natildeo ache pertinente a presenccedila dos peacekeepers

Pior em 2011 recusou o destacamento de mais 4000 peacekeepers para reforccedilar os

13500 peacekeepers no terreno com o argumento de que a situaccedilatildeo do conflito armado

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

64

estava a melhorar e natildeo haveria necessidade de destacar mais militares das NU e que o

destacamento de mais militares poria em causa a soberania do Estado O governo

argumentou ainda que tem capacidade para assegurar a proteccedilatildeo dos civis No entanto

apoacutes a ameaccedila das NU com um embargo de armas acabou por aceitar o destacamento

de mais militares Em dezembro de 2016 a Comissatildeo dos Direitos Humanos das NU

pediu urgentemente o destacamento de peacekeepers por causa de assassiacutenios eacutetnicos

(Wells 2016 Aljazeera 2017)

A UNMISS foi acusada por diversas organizaccedilotildees humanitaacuterias de falhar a sua missatildeo

devido agrave sua ineficaacutecia no terreno ou seja natildeo foi capaz de assegurar a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo nem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Todavia eacute preciso ser realista

pouco se pode fazer com um governo que limite o acesso dos peacekeepers a

determinados locais recuse que sejam destacados mais militares para o terreno e soacute

aceite em uacuteltima instacircncia mais destacamentos de militares para o terreno devido a uma

seacuterie de ameaccedilas (Aljazeera 2017 Wells 2016)

O problema eacute a incapacidade das NU e do Governo de assegurarem a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios No ataque de julho de 2016 os peacekeepers foram acusados de agirem

tarde demais de natildeo terem sido capazes de dar resposta e os EUA de natildeo avisarem as

ONG OING e OIG de que havia um perigo de ataque este erro teve como

consequecircncia a morte e violaccedilatildeo em massa dos humanitaacuterios sendo este ataque

considerado uma barbaacuterie Este acontecimento pode ser o despoletar da induacutestria das

agecircncias militares privadas podendo trazer consequecircncias nefastas a longo termo No

entanto segundo a investigaccedilatildeo independente agrave UNMISS requerida pelo Conselho de

Seguranccedila ficou estabelecido que a UNMISS agiu e fez todos os possiacuteveis para salvar

os civis embora esse natildeo seja o sentimento por parte dos humanitaacuterios (Grant 2016)

Segundo a carta enviada pelo Secretaacuterio Geral ao Conselho de Seguranccedila a 17 de abril

de 2017 (NU 2017) exatamente a reportar o ataque explicado anteriormente consta um

pedido de investigaccedilatildeo independente do ataque ocorrido a 23 de agosto de 2016 e

pretende-se verificar as accedilotildees da UNMISS em resposta ao ataque ocorrido apoacutes o inicio

das hostilidades a 8 e 11 de julho de 2016 contra os humanitaacuterios e contra civis tendo

este ataque ocorrido dentro ou nas proximidades das instalaccedilotildees da UNMISS em Juba

A UNMISS foi acusada pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias de ter sido ineficaz na

sua missatildeo de proteger as humanitaacuterias no terreno natildeo tendo os peacekeepers

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

65

respondido aos muitos pedidos de ajuda e proteccedilatildeo Os humanitaacuterios defendem ainda

que os peacekeepers sabiam do perigo existente de ataque e deveriam ter avisado de

forma a que evacuassem os humanitaacuterios e civis do territoacuterio em questatildeo (Grant 2016

UN 2017d)

No entanto foi averiguado pelo Conselho de Seguranccedila que a UNMISS nomeadamente

os peacekeepers fizeram tudo o que estava ao seu alcance para salvar e proteger civis

durante o massacre Tambeacutem foi averiguado que a UNMISS faz um excelente trabalho

de planeamento e preparaccedilatildeo da resposta para salvar civis As informaccedilotildees de

seguranccedila devem segundo o relatoacuterio do Conselho de Seguranccedila serem compartilhadas

pelos peacekeepers com a comunidade humanitaacuteria informaccedilotildees relativas ao terreno

com o foacuterum de forma a que cada um dos agentes saiba o perigo que estaacute a correr Por

isso a UNMISS deve informar quanto a procedimentos de estado de alerta

deslocalizaccedilatildeo e evacuaccedilatildeo pontos de concentraccedilatildeo em Juba refuacutegios designados rotas

aeacutereas de deslocalizaccedilatildeo principais ferramentas de seguranccedila procedimentos de

controle de acesso e o plano em resposta agrave proteccedilatildeo de incidentes civis entre outros

Segundo o Conselho de Seguranccedila estes procedimentos foram adotados embora as

ONG no terreno natildeo concordem com esta conclusatildeo (Grant 2016 UN 2017d)

No Sudatildeo do Sul tem-se verificado uma missatildeo integrada minimalista em que o

OCHA eacute o coordenador e o elo de ligaccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers e trabalha

de forma independente da missatildeo de paz das NU Esta poderaacute ser a melhor receita para

o caso do Sudatildeo do Sul No entanto eacute preciso ter em conta que a UNMISS tem falta de

militares destacados em terrenos problemaacuteticos podendo dificultar este tipo de missotildees

integradas minimalistas como se constatou anteriormente com a inaccedilatildeo dos

peacekeepers face ao ataque do campo de refugiados (Harmer 2017 Aljazeera 2017

Wells 2016)

Por isso podemos contatar que pelo menos no Sudatildeo do Sul existe uma coexistecircncia

bem coordenada e estruturada entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS atraveacutes da

existecircncia de um guia para coordenaccedilatildeo entre humanitaacuterios Eacute possiacutevel constatar

tambeacutem que existe uma preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e em

respeitar o espaccedilo humanitaacuterio na hora de garantir a sua proteccedilatildeoescolta A secccedilatildeo de

Aliacutevio (do Guia da UNMISS) Reintegraccedilatildeo e Proteccedilatildeo tem como principal missatildeo a

proteccedilatildeo de civis em bases da UNMISS e o apoio ao trabalho das organizaccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

66

humanitaacuterias no Sudatildeo Sul Haacute casos em que natildeo existe outra forma de garantir que o

acesso humanitaacuterio proteccedilatildeo e a assistecircncia sejam fornecidos sem ajuda dos

peacekeepers (HCT e UNMISS 2013)

Voltando ao Guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS eacute

reconhecido que as missotildees de peacekeeping das NU como a UNMISS tecircm um

mandato de cariz poliacutetico o que significa que podem tomar partido por uma das partes

das hostilidades e por isso natildeo serem consideradas neutras por todas as partes dentro

do Estado Tal significa uma incompatibilidade entre estes dois atores pois uma junccedilatildeo

da accedilatildeo humanitaacuteria agrave UNMISS poria em causa o mandato humanitaacuterio Eacute ainda

apresentada no documento a diferenccedila entre a assistecircncia militar ao governo (prover

gabinetes conselho e suporte ao governo do Sudatildeo do Sul em relaccedilatildeo agrave transiccedilatildeo

poliacutetica pela qual estava a passar no estabelecimento da autoridade poliacutetica) e a

assistecircncia militar agraves ONG humanitaacuterias (facilitar o acesso prover um ambiente seguro

para a assistecircncia humanitaacuteria bem como promover e monitorizar os Direitos

Humanos) O OCHA estabelece esta coordenaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a

UNMISS atraveacutes dos PCI (Projetos de curto impacto) O OCHA entra em contacto com

o JOC (Joint Operations Center) a niacutevel estatal atraveacutes do escritoacuterio estatal e do RCO

(Resident Coordinatoracutes Office) Os humanitaacuterios natildeo pedem diretamente ajuda militar

mas eacute o OCHA quem trata disso (HCT e UNMISS 2013)

O Sudatildeo do Sul eacute um caso em que a coexistecircncia eacute necessaacuteria para o sucesso tanto da

missatildeo da UNMISS como da accedilatildeo humanitaacuteria devido aos perigos de inseguranccedila

existentes sendo os humanitaacuterios alvos faacuteceis Esta coexistecircncia natildeo tem de ser

incompatiacutevel pois ambos tecircm o objetivo de poupar vidas Por isso nesta coexistecircncia

tem de ser respeitada a missatildeo de ambos sem nenhum dos dois se intrometer nas

atividades do outro minimizando assim o risco de conflito e competiccedilatildeo quando ambos

estatildeo a trabalhar na mesma aacuterea geograacutefica fazendo a clara distinccedilatildeo e separaccedilatildeo das

atividades humanitaacuterias poliacuteticas e militares (HCT e UNMISS 2013)

Portanto os atores humanitaacuterios natildeo satildeo incumbidos de seguir ou respeitar ordens

militares por militares e o contraacuterio O guia militar-civil natildeo aconselha a coabitaccedilatildeo de

humanitaacuterios e militares em situaccedilotildees de emergecircncias complexas No entanto no Sudatildeo

do Sul essa coabitaccedilatildeo por parte da UNMISS e de agecircncias das NU existe em Juba e em

certas capitais de Estado o que pode levar a uma perceccedilatildeo errada das restantes agecircncias

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

67

devido ao facto de uma ter adotado esta decisatildeo de coexistir no mesmo local que os

peacekeepers ou seja pode ter um efeito negativo na comunidade humanitaacuteria (HCT e

UNMISS 2013)

Segundo o guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS (HCT e

UNMISS 2013) deve ser feita uma distinccedilatildeo clara das atividades identidade funccedilotildees e

papeacuteis da accedilatildeo humanitaacuteria dos atores envolvidos na UNMISS Para fazerem esta

distinccedilatildeo devem respeitar os seguintes pontos

bull As armas nunca devem ser usadas em instalaccedilotildees humanitaacuterias e em contexto de

transporte para os locais em questatildeo

bull Deve ser feita a identificaccedilatildeo dos elementos da equipa dos bens de primeira

necessidade veiacuteculos instalaccedilotildees barcos e aviotildees Ou seja devem promover a

distinccedilatildeo das suas respetivas identidades de forma a que natildeo sejam confundidos com a

UNMISS (HCT e UNMISS 2013 pp 4)

Quanto ao uso de ativos e escoltaproteccedilatildeo militar eacute referido no guia que os atores

humanitaacuterios natildeo devem usar os ativos militares ou escoltaproteccedilatildeo militar a fim de

proteger a distinccedilatildeo e salvaguardar a separaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios O uso

dos ativos militares e escoltaproteccedilatildeo militar da UNMISS deve ser adotado em uacuteltimo

recurso e em circunstacircncias especiais uma vez reunidos determinados criteacuterios que

seratildeo explanados a seguir Qualquer decisatildeo quanto ao pedido dos atores humanitaacuterios

relativamente agrave escolta militar seraacute analisada caso-a-caso tendo em conta os ativos

disponiacuteveis custos e prioridades Os criteacuterios satildeo os seguintes

bull O objetivo da missatildeo eacute puramente humanitaacuterio e manteacutem o seu caraacuteter civil e

humanitaacuterio bem como o respeito dos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

bull Tem de haver uma necessidade urgente de ajuda humanitaacuteria natildeo existindo

alternativas para a substituiccedilatildeo no terreno

bull O uso da escolta militar eacute limitado no tempo e escala com uma estrateacutegia clara

de saiacuteda concordada entre os dois atores fora do pedido Natildeo poderaacute ainda

comprometer os atores humanitaacuterios a longo prazo na sua capacidade de poderem

operar de forma segura e efetiva (HCT e UNMISS 2013 pp 5)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

68

O OCHA tem ainda a responsabilidade de elaborar relatoacuterios sobre a escolta militar para

o Humanitarian Country Team e cabe tambeacutem ao OCHA analisar os casos juntamente

com a JOC em especifico para o caso do Sudatildeo do Sul para que tudo corra bem Caso

haja escolta militar os humanitaacuterios devem seguir num veiacuteculo diferente dos militares

da UNMISS que identifique bem que satildeo humanitaacuterios e natildeo militares que satildeo

transportados no veiacuteculo Desta forma a populaccedilatildeo natildeo confundiraacute o pessoal

humanitaacuterio com o pessoal militar Caso haja necessidade de proteccedilatildeo num determinado

local necessidade de reparaccedilatildeo de estradas proteccedilatildeo dos bens e pessoal humanitaacuterio as

ONG devem entrar em contacto com o OCHA afim de requerer a ajuda da UNMISS

Um dos objetivos da UNMISS eacute garantir um ambiente seguro para facilitar o acesso dos

humanitaacuterios aos locais para que estes consigam prestar apoio agrave populaccedilatildeo A UNMISS

natildeo deve usar as instalaccedilotildees humanitaacuterias e vice-versa no entanto em caso de urgente

necessidade deve tal ser analisado caso a caso pelo OCHA ponderando sobre as

instalaccedilotildees disponiacuteveis urgecircncia capacidade e prioridades O mesmo vale para a

evacuaccedilatildeo de pessoal meacutedico e humanitaacuterios em caso de elevada emergecircncia (HCT e

UNMISS 2013 pp 4)

Outro assunto relevante tratado neste guia eacute a partilha de informaccedilatildeo entre os elementos

da UNMISS e os humanitaacuterios pois estes dois elementos devem e tecircm de partilhar

muita informaccedilatildeo de forma atempada e eficiente para coordenar as respetivas

atividades As informaccedilotildees que devem ser partilhadas satildeo as seguintes

bull Informaccedilotildees sobre o tipo de assistecircncia e atividades humanitaacuterias estatildeo a

planear eou vatildeo realizar

bull Informaccedilotildees sobre atividades da UNMISS relevantes para os atores

humanitaacuterios como por exemplo sobre ameaccedilas e seguranccedila do pessoal humanitaacuterio ou

da UNMISS no terreno ou sobre ameaccedilas aos civis

bull Informaccedilotildees sobre atividades mineiras aacutereas minadas e locais com minas por

explodir As viacutetimas e a populaccedilatildeo em geral deveratildeo ser informadas e educadas para os

riscos inerentes (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

No entanto existem informaccedilotildees confidenciais que natildeo deveratildeo em momento algum

ser partilhadas tanto com o pessoal humanitaacuterio como com a UNMISS informaccedilotildees que

podem comprometer a identidade da viacutetima expondo assim o individuo ou um grupo de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

69

indiviacuteduos a um potencial risco principalmente se a viacutetima tiver sofrido crimes contra

os Direitos Humanos (HCT e UNMISS 2013 pp)

Este guia deve ser estudado de forma a que seja aplicado corretamente e os princiacutepios

da UNMISS e dos humanitaacuterios respeitados no terreno evitando potenciais conflitos A

UNMISS ficou incumbida de formar a comunidade humanitaacuteria relativamente ao seu

mandato trabalho e objetivos no terreno em conjunto com o OCHA que representa as

organizaccedilotildees humanitaacuterias e a sua relaccedilatildeo com a UNMISS Eacute ainda recomendado o

treino de ambos para os Direitos Humanos proteccedilatildeo de civis e o Direito Internacional

Humanitaacuterio (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

O CR (conciliation resources) e o ARP (applied research program) satildeo duas partes

funcionais da missatildeo que apoiam as organizaccedilotildees humanitaacuterias fornecendo apoio a niacutevel

de logiacutestica seguranccedila proteccedilatildeo da populaccedilatildeo relocaccedilatildeo do pessoal humanitaacuterio bem

como os deslocados internamente dando informaccedilotildees relativamente aos locais mais

seguros para se reinstalarem e caso necessaacuterio protegendo a instalaccedilatildeo onde residem os

deslocados internamente refugiados e humanitaacuterios Esta coexistecircncia entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias natildeo tem vindo a revelar-se eficaz no contexto do Sudatildeo do

Sul pois os humanitaacuterios embora consigam trabalhar e deslocar-se para certos locais

perigosos o que sem o apoio da UNMISS natildeo seria possiacutevel a UNMISS natildeo foi capaz

de assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios em 2016 aquando do ataque No entanto e

como jaacute foi referido anteriormente esta colaboraccedilatildeo deve ser realizada para casos

pontuais tendo de ser pedida a autorizaccedilatildeo ao OCHA e em uacuteltimo recurso atraveacutes de

projetos de curto impacto (UNMISS 2017 e HCT UNMISS 2013)

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos

humanitaacuterios

Agrave luz da anaacutelise do caso do Sudatildeo do Sul a questatildeo que se levanta neste subtema eacute

essencialmente a de apurar qual o recurso que deve ser usado pelas organizaccedilotildees

humanitaacuterias em situaccedilatildeo de elevado perigo em que o acesso ao local em que a

populaccedilatildeo estaacute a enfrentar grandes necessidades pode representar perigo de vida

precisando assim de uma proteccedilatildeoescolta militar para realizar o trajeto ao local Eacute

preciso desde jaacute dizer que ambas as opccedilotildees tecircm pontos positivos e negativos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

70

O recurso aos peacekeepers pode ser visto como a melhor opccedilatildeo possiacutevel pois

partilham os valores essenciais com os humanitaacuterios salvar vidas e a imparcialidade

No entanto tecircm sido acusados de natildeo agirem atempadamente face agraves ameaccedilas e ataques

perpetrados sobre humanitaacuterios ou seja de falharem a sua missatildeo de garantir a proteccedilatildeo

aos humanitaacuterios que faz parte da sua missatildeo e consta do guia elaborado para a

coexistecircncia no terreno Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors

and the United Nations Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) Em 2016

houve o jaacute referido ataque no Sudatildeo do Sul a humanitaacuterios que natildeo haviam sido

avisados do perigo eminente nem apareceram militares a garantir a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo e dos humanitaacuterios Ou seja eacute possiacutevel concluir que a proteccedilatildeo fornecida

pela UNMISS natildeo eacute a mais eficaz no terreno devido agraves fragilidades que a proacutepria

missatildeo tem vindo a sentir no terreno (Adongo 2017 Grant 2016)

No entanto parece que este caso algo mediatizado acordou a comunidade

internacional Consta no artigo da UNMISS Humanitarian Aid Restored In Aburoc

Folloing Deployment of UNMISS Peacekeepers (Adongo 2017) que soacute foi possiacutevel as

ONG OING e OIG humanitaacuterias regressaram para fornecer ajuda humanitaacuteria em

Malakal devido ao desdobramento dos peacekeepers para a regiatildeo de Aburoc Upper

Nile regiatildeo que as agecircncias humanitaacuterias haviam abandonado devido agrave elevada

inseguranccedila O que confirma o que foi dito ao longo da dissertaccedilatildeo sem seguranccedila no

Sudatildeo do Sul os humanitaacuterios natildeo conseguem operar no terreno tendo de terminar a

missatildeo caso contraacuterio seria colocar as suas vidas em risco (Adongo 2017 e Grant

2016)

Estima-se que durante o recente conflito que levou as agecircncias humanitaacuterias a sair do

local tenha havido 20 000 deslocados internos a fugir ficando sem abrigo Com o

regresso das agecircncias humanitaacuterias foi possiacutevel dar abrigo a 4200 famiacutelias dos campos

de refugiados Outras agecircncias tecircm fornecido ajuda humanitaacuteria mais urgente como

aacutegua potaacutevel que eacute escassa e de difiacutecil acesso sendo necessaacuterios militares peacekeepers

para proteger os principais postos de abastecimento de aacutegua O chefe de campo da

UNMISS em Malakal Hazel de Wet levou a sua equipa a inspecionar o desdobramento

das tropas em Aburoc e a equipa comprometeu-se tambeacutem com as autoridades locais no

terreno relativamente agrave estrateacutegia de apoio agrave assistecircncia humanitaacuteria sendo neste

momento a prioridade dos peacekeepers garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e o seu

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

71

acesso de modo a que a assistecircncia humanitaacuteria chegue a todos A UNMISS reconhece

que eacute essencial fazer com que a assistecircncia humanitaacuteria chegue agrave populaccedilatildeo em

necessidade urgente de comida aacutegua mantimentos e abrigo Soacute fornecendo assistecircncia

humanitaacuteria suprindo as necessidades baacutesicas eacute que eacute possiacutevel resolver os problemas

poliacuteticos tornar a paz duradoura e pensar no desenvolvimento Mas para conseguir esta

harmonia eacute essencial que as operaccedilotildees de peacekeeping se tornem efetivamente mais

ldquomusculadasrdquo como referido por Pinto (2005) para fazer face agraves novas realidades e

adversidades encontradas no terreno Natildeo basta a presenccedila militar tecircm de conseguir

garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios (Adongo 2017)

Os humanitaacuterios tecircm manifestado preferecircncia pelo menos no que diz respeito ao caso

do Sudatildeo do Sul pela escoltaproteccedilatildeo militar fornecida pela UNMISS sendo que se

estabeleceu um guia de cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS conforme referido

acima Este guia eacute um dos motivos para a preferecircncia pelos peacekeepers para a escolta

e proteccedilatildeo pois os humanitaacuterios e militares sabem como agir em que circunstacircncias

conceder e pedir essa proteccedilatildeo e quando deve terminar essa cooperaccedilatildeo no terreno Tal

natildeo existe nas agecircncias militares privadas jaacute que uma vez contratadas o viacutenculo

permanece ateacute ao fim da missatildeo ou contrato e pode haver problemas no terreno entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias e agecircncias militares privadas que poderatildeo representar

problemas seacuterios acresce que os humanitaacuterios natildeo estatildeo preparados para coordenar e

liderar este tipo de agecircncias Ao inveacutes no caso da proteccedilatildeoescolta garantida pela

UNMISS as ONG OING e OIG podem caso a cooperaccedilatildeo natildeo esteja a ser bem-

sucedida reportar a sua insatisfaccedilatildeo e levar a que sejam averiguados os motivos Tal

aconteceu com o ataque aos humanitaacuterios jaacute referido anteriormente A UNMISS foi

questionada e foi feita uma averiguaccedilatildeo pelo Conselho de Seguranccedila para verificar se

houve de facto negligecircncia por parte dos militares Com as agecircncias militares privadas

tal natildeo eacute possiacutevel conforme foi mencionado estes militares tecircm carta branca no terreno

Logo existe mais seguranccedila em cooperar com a UNMISS (HCT e UNMISS 2013 UN

2017d)

Eacute por este motivo que ainda se verifica uma certa resistecircncia por parte de algumas ONG

e OING a recrutar agecircncias militares privadas No entanto e devido agrave necessidade de

celeridade para obter a proteccedilatildeo o recrutamento tem vindo a aumentar no terreno Eacute

neste ponto que as agecircncias militares privadas apresentam vantagens jaacute que natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

72

existem problemas a niacutevel burocraacutetico o que permite partir mais cedo para o terreno e

satildeo mais baratas no caso de serem as agecircncias das NU como a UNICEF e o ACNUR

entre outros a contratar Jaacute o processo de pedido de proteccedilatildeo e escolta militar agrave

UNMISS eacute muito moroso natildeo fazendo face ao problema no imediato (Newton sd)

Estas agecircncias podem ainda garantir que as organizaccedilotildees humanitaacuterias mantecircm a sua

independecircncia relativamente ao Estado neutralidade quanto ao conflito e

imparcialidade no tratamento das pessoas Todavia antes da contrataccedilatildeo deveria ser

requerido o cadastro criminal se existir e se possiacutevel para avaliar se existe algum

antecedente problemaacutetico como por exemplo algum incidente de racismo enquanto

militar no ativo para que haja uma seleccedilatildeo rigorosa das agecircncias a recrutar e dos

militares que integram essa mesma agecircncia desta forma o risco de contratar militares

que tenham cometido atos criminosos e racistas no terreno satildeo menores logo seraacute

menor o risco de haver problemas no terreno (Newton sd Michael et al 2014)

Ou seja as agecircncias militares privadas podem ser uma ajuda fundamental no caso do

Sudatildeo do Sul para a seguranccedila e proteccedilatildeo de ONG OING OIG campos de refugiados

e de deslocados internamente Mas tambeacutem podem ser uma boa alavanca para a

pacificaccedilatildeo do territoacuterio ou seja uma ajuda para a UNMISS e custam menos recursos

financeiros que contratar e solicitar aos Estados mais militares para integrar a missatildeo de

peacekeeping (Newton sd)

Neste momento a melhor opccedilatildeo eacute a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as organizaccedilotildees

humanitaacuterias pois jaacute existe um guia intitulado de que explica em que circunstacircncias

quanto tempo e como deve ser feito pedido de ajuda e a proteccedilatildeoescolta concretizada

Ou seja existem regras a cumprir medidas de prevenccedilatildeo para que natildeo haja choque

entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS no terreno e como deve ser feita a distinccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares Para as agecircncias militares privadas natildeo existem regras de accedilatildeo

conduta ou execuccedilatildeo das suas funccedilotildees tornando a sua presenccedila no terreno um perigo

devido ao vazio legal embora seja mais barato e mais raacutepido em termos de burocracia

contratar estas agecircncias Os militares das agecircncias militares privadas devem ainda estar

devidamente identificados no terreno de forma a que natildeo suscitem confusotildees com os

militares das operaccedilotildees de peacekeeping (Stoddard Harmer e DiDomenico 2008

Newton sd Michael et al 2014 HCT e UNMISS 2012)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

73

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas

Enquanto o Sudatildeo do Sul estiver a atravessar momentos de grande instabilidade poliacutetica

e um conflito armado de grande inseguranccedila e perigo para os civis refugiados e

deslocados internamente natildeo existe uma alternativa viaacutevel para este caso em questatildeo O

governo do Sudatildeo do Sul natildeo consegue assegurar seguranccedila proteccedilatildeo e acesso seguro

aos humanitaacuterios a locais de grande emergecircncia humanitaacuteria locais onde natildeo existe

aacutegua potaacutevel existe falta de comida medicamentos abrigo e meacutedicos Um local como

este eacute difiacutecil de ser pacificado como eacute sabido a aacutegua eacute um dos principais motivos de

guerra no mundo aliando isso a conflitos eacutetnicos e poliacuteticos torna esta guerra numa

difiacutecil de acabar uma guerra endeacutemica (Kaldor 2007) Pior o governo foi acusado de

travar o acesso da ajuda humanitaacuteria a determinados locais Quando o proacuteprio Estado eacute

o perpetrador de atrocidades e nega o acesso da ajuda humanitaacuteria isto quer dizer que a

comunidade humanitaacuteria estaacute por sua conta (Harmer 2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que como pudemos verificar os peacekeepers da UNMISS natildeo

conseguem ou tecircm dificuldade em assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios o que resultou

no massacre de humanitaacuterios em 2016 e foram mesmo acusados de terem

negligenciado a sua funccedilatildeo de proteccedilatildeo estabelecida no guia de cooperaccedilatildeo entre

OCHA e as organizaccedilotildees humanitaacuterias pois natildeo avisaram sequer que existia um perigo

eminente de ataque e que deveriam por isso retirar-se do terreno Ou seja eacute possiacutevel

concluir que esta cooperaccedilatildeo natildeo tem vindo a revelar-se eficaz os acessos continuam a

ser dificultados humanitaacuterios atacados e civis em sofrimento e a viver abaixo do limiar

da dignidade humana O que coloca a seguinte questatildeo valeraacute a pena correr o risco de

colocar em causa a imparcialidade e neutralidade pela proteccedilatildeo dos peacekeepers Eacute

difiacutecil de responder pois natildeo existe um modelo perfeito como alternativa quer agraves

agecircncias militares privadas quer agrave UNMISS (Grant 2016)

Por isso uma alternativa seria talvez tornar puacuteblico o uso das agecircncias militares

privadas pela comunidade internacional estabelecer guias rigorosos de recrutamento e

realizaccedilatildeo de contratos com as NU ou organizaccedilotildees humanitaacuterias que estabeleccedilam os

limites de atuaccedilatildeo quais as funccedilotildees que devem cumprir e que regulamentam a sua

funccedilatildeo Ou seja as agecircncias militares privadas precisam de constar do Direito

Internacional Humanitaacuterio Uma vez a parte legal resolvida seraacute mais faacutecil trabalhar o

setor puacuteblico com o setor privado que engloba ONG e agecircncias militares privadas de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

74

forma a que a accedilatildeo humanitaacuteria seja realizada em seguranccedila e chegue a todos os que

necessitem dela No entanto o tornar as agecircncias privadas regulamentadas na aacuterea da

accedilatildeo humanitaacuteria poderaacute tornaacute-las um grande negoacutecio tendo como consequecircncia

prejudicar dos conflitos como garantia de trabalho para estas agecircncias Por outro lado

haveria um escrutiacutenio na hora de selecionar as agecircncias para que houvesse uma

probabilidade miacutenima destes efetuarem crimes no terreno (Newton sd Harmer 2008 e

MAcArthur 2016 HCT e UNMISS 2013)

Por uacuteltimo poderia existir ainda a opccedilatildeo de usar as missotildees de peace enforcement sob o

princiacutepio da responsabilidade de proteger como veiacuteculo para a accedilatildeo humanitaacuteria pois

neste contexto natildeo se colocariam as questotildees relativas agrave neutralidade e agrave imparcialidade

da forma usual uma vez que o mandato dos militares eacute mais vasto no que ao uso da

forccedila respeita No entanto para o caso do Sudatildeo do Sul seria difiacutecil aplicar uma

intervenccedilatildeo humanitaacuteria ao abrigo da responsabilidade de proteger e violar o princiacutepio

da natildeo ingerecircncia O Sudatildeo do Sul natildeo cumpre todos os requisitos pois natildeo eacute um

conflito armado internacional e o massacre natildeo eacute visto como um genociacutedio Existe sim

uma guerra endeacutemica tentativa de limpeza racial e crimes contra os direitos humanos

Em suma a comunidade internacional haveria de fazer mais para travar o massacre e

proteger a populaccedilatildeo e os humanitaacuterios no terreno Existe jaacute um guia de colaboraccedilatildeo

entre a UNMISS e as ONG OING e OIG mas isso apenas natildeo chega Eacute preciso fazer

mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

75

Conclusatildeo

Como foi possiacutevel constatar ao longo de toda a dissertaccedilatildeo a escolta militar eacute um tema

de extrema complexidade que coloca em causa os princiacutepios humanitaacuterios consagrados

pela Cruz Vermelha Por outro lado existe a necessidade de proteger a missatildeo

humanitaacuteria e os proacuteprios humanitaacuterios no terreno os quais como foi sendo verificado

tecircm vindo a sofrer ataques raptos e assassinatos devido agrave incapacidade ou indiferenccedila

do Estado onde estaacute a ser prestado o apoio humanitaacuterio das ONG OING e OIG A

comunidade internacional natildeo consegue operar de forma eficaz no terreno sem ter

seguranccedila e proteccedilatildeo que deveria ser dada pelo governo do Estado em causa Todavia

caso o governo natildeo tenha capacidade ou natildeo queira garantir essa proteccedilatildeo cabe agrave

comunidade internacional garantir que a populaccedilatildeo desse territoacuterio seja protegida

Uma vez que um governo natildeo assegure essa proteccedilatildeo os humanitaacuterios vecircem-se numa

situaccedilatildeo complexa respeitar os princiacutepios humanitaacuterios ou correr risco de vida Muitos

preferem como foi possiacutevel verificar ao longo da dissertaccedilatildeo correr risco de vida A

independecircncia a imparcialidade e a neutralidade satildeo muito importantes para o sucesso

das missotildees humanitaacuterias Sem independecircncia podem ver o seu acesso a determinados

locais barrados e por conseguinte natildeo tratar determinada populaccedilatildeo o que significa

perder a imparcialidade mesmo que de forma involuntaacuteria Por fim podem ser

associados a uma das partes das hostilidades e por isso perder a neutralidade aos olhos

da populaccedilatildeo local

Foram abordadas diversas formas de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios atraveacutes dos

peacekeepers por exemplo tomando como modelo um guia elaborado especificamente

para as missotildees no Sudatildeo do Sul O guia especifica quando deve ser requerida a escolta

e proteccedilatildeo quando a parceria deve acabar e em que circunstacircncias devem ser feitas a

escolta e o pedido Foram abordadas as missotildees integradas maximalistas (partilham do

mesmo mandato das NU peacekeeping e ONG OING e OIG) ou minimalistas

(UNMISS e ONG OING e OIG cooperam em conjunto pontualmente sem

interferecircncia das NU e sob supervisatildeo do OCHA) sendo que a OXFAM aceita melhor a

missatildeo integrada minimalista sob determinadas regras os princiacutepios humanitaacuterios

devem prevalecer os humanitaacuterios natildeo devem ser envolvidos em assuntos poliacuteticos e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

76

natildeo devem ser associados aos militares Este tipo de missatildeo parece ser a melhor opccedilatildeo

possiacutevel para garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios

Foi tambeacutem abordada a possibilidade de contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas

uma opccedilatildeo raacutepida isenta de burocracias e possivelmente eficaz pois natildeo tem os

mesmos constrangimentos dos peacekeepers no uso da forccedila Mas haacute o problema do

vazio legal que eacute uma espeacutecie de carta em branco para os militares destas agecircncias

poderem cometer crimes e a maior parte destas agecircncias conteacutem militares locais que o

podem fazer e natildeo serem julgados por isso Por outro lado estes militares natildeo tecircm

direito ao estatuto de combatentes de guerra nas Convenccedilotildees de Genebra

Deveria uma vez que as NU contratam este tipo de agecircncias militares privadas

regulamentar-se a atividade no seio do DIH de forma a que estas agecircncias operassem

ao abrigo da lei tendo por isso direitos e deveres a cumprir no terreno e seriam

julgados por crimes de guerra caso cometessem algum Deveria tambeacutem ser redigido e

publicado um guia onde sejam estabelecidas as regras de uma boa colaboraccedilatildeo entre as

ONG OING e OIG no terreno constando os direitos dos colaboradores das agecircncias e

seus deveres Neste caso este tipo de agecircncias poderia ser uma oacutetima ajuda aliada de

comunidade internacional e humanitaacuteria para a pacificaccedilatildeo mitigaccedilatildeo do conflito e para

suprir as necessidades mais baacutesicas da populaccedilatildeo em necessidade e sofrimento que vive

no limiar da pobreza e que vecirc os seus Direitos Humanos serem desrespeitados

Por uacuteltimo existe a possibilidade de se obter seguranccedila atraveacutes de escolta em missotildees

orientadas pela responsabilidade de proteger sob termos semelhantes aos do Guia de

colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers mas claro com a diferenccedila de que neste

caso os militares podem oferecer uma proteccedilatildeo mais eficaz pois podem fazer uso da

forccedila de forma diferente da dos peacekeepers tradicionais que soacute fazem o uso da forccedila

para autodefesa e defesa do mandato A responsabilidade de proteger tem como objetivo

principal acabar com genociacutedios os crimes contra a humanidade ou seja casos

extremos e pode fazer o uso da forccedila sem consentimento do Estado alvo da intervenccedilatildeo

Jaacute as operaccedilotildees de peacekeeping satildeo missotildees que tecircm um papel de estabilizar de

proteccedilatildeo mais ligado agrave reestruturaccedilatildeo do Estado apoiando as declaraccedilotildees de paz e o

bom decorrer das negociaccedilotildees de paz O uso da forccedila eacute mais limitado Os peacekeepers

tecircm-se revelado ineficazes na proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e alvos de criacutetica Na

responsabilidade de proteger o propoacutesito eacute proteger os civis e natildeo acompanhar o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

77

governo ou restabelecer e reconstruir o aparelho do poder por isso natildeo existe o

problema da imparcialidade como na missatildeo UNMISS por exemplo ou a sobrecarga de

responsabilidades dos militares da UNMISS

O peace enforcement ao abrigo do R2P como soluccedilatildeo para garantir a proteccedilatildeo e

seguranccedila dos humanitaacuterios deve pois ser amplamente analisado discutido e somente

decidido se as vantagens forem maiores que as desvantagens Como referido a

cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao abrigo do R2P no

Sri Lanka natildeo foi bem-sucedida Os humanitaacuterios viram o seu acesso a determinados

locais restringido e ateacute em alguns casos viram a sua permanecircncia posta em causa

tendo de terminar a sua missatildeo e regressar Ou seja deixaram de ser vistos como

neutros pelo Estado e as organizaccedilotildees humanitaacuterias que colaboraram com os militares

do peace enforcement viram-se politizados o que natildeo era suposto

A conclusatildeo que pode ser retirada eacute que natildeo existe um modelo ideal que natildeo coloque

em risco os princiacutepios humanitaacuterios em contexto de conflito para assegurar a seguranccedila

dos humanitaacuterios mas sim um modelo preferencial e outras alternativas como a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas Ou seja deveraacute ser escolhido o mal menor

logo a opccedilatildeo que menos danos cause tanto agrave comunidade humanitaacuteria como aos

proacuteprios militares e agrave missatildeo humanitaacuteria em si

Neste momento seria preferencial o modelo de cooperaccedilatildeo entre as NU as ONG

OING e OIG como foi estabelecido com a UNMISS no terreno no Sudatildeo do Sul Se se

seguir o Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United

Nations Mission in South Sudan elaborado pelas NU em conjunto com o OCHA HCT

e as ONG e OING os riscos seratildeo miacutenimos comparados com a contrataccedilatildeo de militares

de agecircncias militares privadas

Eacute verdade que existe ainda uma certa resistecircncia por parte da comunidade internacional

a optar pelas missotildees integradas se bem que existe mais resistecircncia agraves missotildees

integradas maximalistas que agraves missotildees integradas estrateacutegicas ou minimalistas visto

que as missotildees maximalistas satildeo missotildees que visam que ONG e peacekeepers operem

sob o mesmo mandato sendo assim sujeitas agrave mesma hierarquia Jaacute a missatildeo

minimalista eacute ocasional ou seja quando eacute mesmo necessaacuterio e as ONG estatildeo sob a

coordenaccedilatildeo do OCHA e HCT respeitando bem a separaccedilatildeo da comunidade

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

78

humanitaacuteria dos militares Esta eacute tambeacutem uma boa alternativa agraves agecircncias militares

privadas uma vez adotadas regras claras do padratildeo do Guia de coordenaccedilatildeo entre a

UNMISS e as ONG OING humanitaacuterias no terreno

Esta dissertaccedilatildeo focou pois o Sudatildeo do Sul que eacute um caso complexo onde os

humanitaacuterios satildeo atacados incessantemente tendo de ser tomadas providecircncias A

comunidade humanitaacuteria natildeo poderaacute por isso ser tatildeo inflexiacutevel em relaccedilatildeo ao princiacutepio

da neutralidade numa situaccedilatildeo como a do Sudatildeo do Sul Para chegar a determinados

locais eacute preciso que a seguranccedila dos humanitaacuterios seja assegurada para chegar a Juba e

Jonglei e Aburoc por exemplo locais onde a inseguranccedila prevalece e onde os

humanitaacuterios correm grande risco Os humanitaacuterios tecircm neste caso de escolher entre a

vida e salvar vidas para se manterem fieis aos princiacutepios fundamentais

A colaboraccedilatildeo com a UNMISS tem sido fulcral neste caso para que os humanitaacuterios

possam exercer a sua missatildeo em seguranccedila e respeitando os princiacutepios fundamentais no

entanto a cooperaccedilatildeo natildeo eacute bem aceite ainda na comunidade humanitaacuteria No caso do

Sudatildeo do Sul a inseguranccedila dos humanitaacuterios leva a que os bens essenciais como a

aacutegua comida e medicamentos natildeo cheguem ao local sendo estes motivos de guerra

dificultando a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Em suma a accedilatildeo humanitaacuteria eacute fulcral para a

ajuda na pacificaccedilatildeo do Sudatildeo do Sul e outros paiacuteses Deveria por isso haver uma

conferecircncia referente aos princiacutepios humanitaacuterios e agrave seguranccedila e proteccedilatildeo da

comunidade humanitaacuteria em territoacuterios de elevada inseguranccedila jaacute que o Sudatildeo do Sul

natildeo eacute exceccedilatildeo eacute um caso de ldquoEstado fragilizadordquo onde a pacificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo

natildeo seratildeo possiacuteveis tambeacutem sem o sucesso da ajuda dos humanitaacuterios e o sucesso da

ajuda humanitaacuteria no terreno soacute eacute possiacutevel se for garantida a sua proteccedilatildeo e seguranccedila

As agecircncias militares privadas devem ser a ultima opccedilatildeo na equaccedilatildeo pois apresentam

mais riscos que vantagens e as agecircncias com permissatildeo para operar pelo Estado no

Sudatildeo do Sul tecircm como colaboradores ex-combatentes de guerra o que pode ser um

grande risco no terreno Sabe-se que o conflito no Sudatildeo do Sul tem origem eacutetnica

existe um oacutedio racial colocar ex-combatentes de guerra a operar com lsquocarta brancarsquo no

terreno pode originar mais crimes e descreacutedito das ONG OING e OIG

Em suma natildeo existe uma soluccedilatildeo perfeita para garantir a proteccedilatildeo e uma escolta militar

neutra e imparcial uma vez que os militares de qualquer forccedila armada sejam do

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

79

governo da missatildeo das NU ou de outro Estado dificilmente satildeo neutros o que pode

derivar para uma falta de imparcialidade Na teoria eacute possiacutevel fazer a distinccedilatildeo entre

militar e humanitaacuterio mas no terreno haacute dificuldades As ONG e OING vivenciam por

isso um grande dilema que urge resolver

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

80

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Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vi

Dedicatoacuteria

Para os meus pais que tornaram possiacutevel

realizar este sonho e agrave minha prima de

coraccedilatildeo Rosa Santos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

vii

Agradecimentos

Agradeccedilo aos meus pais por todo o apoio que me transmitiram ao longo do meu

percurso acadeacutemico e todas as aprendizagens que me transmitiram ao longo da vida

Agradeccedilo aos meus amigos pelo apoio incondicional carinho e pelos bons momentos

Agradeccedilo ao meu primo e agrave sua esposa que satildeo como irmatildeos para mim por todo o

amor compreensatildeo apoio e carinho Foram fundamentais ao longo do meu percurso

acadeacutemico e na minha formaccedilatildeo enquanto pessoa

Gostava de endereccedilar um agradecimento muito especial agrave Professora Claacuteudia Ramos

por tudo o que me ensinou ao longo do meu percurso acadeacutemico todo o empenho

dedicaccedilatildeo compreensatildeo exigecircncia disponibilidade e apoio Mas sobretudo gostava de

agradecer pelo incentivo e apoio nos momentos menos bons que ocorreram ao longo do

periacuteodo de redaccedilatildeo da dissertaccedilatildeo e por ter-me feito natildeo desistir em momento algum

de terminar o meu mestrado quando os momentos que estava a atravessar eram

momentos difiacuteceis

Agradeccedilo tambeacutem ao Professor Joatildeo Casqueira ao Professor Aacutelvaro Campelo agrave

Professora Teresa Toldy e ao Professor Paulo Vila Maior pela sabedoria que

partilharam ao longo de todo o meu percurso acadeacutemico que foi pautado por excelentes

professores

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

viii

Iacutendice

Resumo iv

Abstract v

Dedicatoacuteria vi

Agradecimentos vii

Iacutendice viii

Iacutendice de Figurashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip ix

Lista de Acroacutenimos x

Introduccedilatildeo 1

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria 10

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a abordagem

humanitaacuteria 21

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding 21

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar 23

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares 28

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno 40

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 48

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso 53

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul 53

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das ONG 59

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar 62

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 69

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas 73

Conclusatildeo 75

Bibliografia 80

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ix

Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terrenohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip43

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sulhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip53

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

x

Lista de Acroacutenimos

AMI Assistecircncia Meacutedica Internacional

AMP Agecircncias Militares privadas

CAI Conflito Armado Internacional

CANI Conflito Armado Natildeo Internacional

CERF Central Emergency Response Fund

CMOC Civil Military Operation Center

DIH Direito Internacional Humanitaacuterio

DDR Desarmamento Desmobilizaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo

DSL Defense System Limited

ECHO European Civil Protection and Aid Operations

HC Humanitarian Coordinator

HCT Humanitarian Country Team

ICRC International Comittee of Red Cross

IASC Inter-Agency Standing Committee

IAP Integrated Assessment and Planning

ICISS International Commission on Intervention and State Sovereignity

JOC Joint Operations Center

MSF Meacutedicos Sem Fronteiras

NU Naccedilotildees Unidas

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

OING Organizaccedilatildeo Internacional Natildeo Governamental

OCHA United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

OCDE Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econoacutemico

OFDA Office of US Foreign and Disaster Assistance

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

PCI Projetos de curto impacto

RESG Representante Especial do Secretaacuterio Geral

RCO Resident Coordinatoracutes Office

R2P Responsibility to protect

UE Uniatildeo Europeia

UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

UNMISS United Nation Missions for South Sudan

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF United Nations Childrenrsquos Fund

WFP World Food Programme

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

1

Introduccedilatildeo

Na presente dissertaccedilatildeo iraacute ser abordada a relaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a Accedilatildeo

Securitaacuteria como garante de proteccedilatildeo e escolta aos humanitaacuterios em situaccedilotildees de

elevado perigo podendo potencialmente colocar a missatildeo humanitaacuteria em causa devido

agrave dificuldade de acesso ao terreno A resposta humanitaacuteria eacute composta por trecircs fases A

primeira eacute o fornecimento dos bens essenciais como a aacutegua abrigo e alimentaccedilatildeo A

segunda eacute a ajuda agraves viacutetimas para recuperarem os seus meios de subsistecircncia bem como

a reconstruccedilatildeo das infraestruturas sociais e materiais baacutesicas Por uacuteltimo haacute a prevenccedilatildeo

de novas cataacutestrofes Logo a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal objetivo aliviar o

sofrimento humano de forma a que a populaccedilatildeo possa viver com dignidade e se salvem

vidas A accedilatildeo humanitaacuteria divide-se nas seguintes aacutereas a ajuda ao desenvolvimento a

defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda humanitaacuteria mais urgente

(OIKOS 2015 UNRIK 2014)

Jaacute a accedilatildeo securitaacuteria nomeadamente as lsquomissotildees de pazrsquo eacute predominantemente do tipo

militar tendo regra geral de ser pedida pelo Estado que estaacute a atravessar o conflito

como foi o caso do Ruanda Somaacutelia Sudatildeo do Sul entre outros As accedilotildees securitaacuterias

ao abrigo das missotildees de paz tecircm como objetivos fornecer assistecircncia e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados que a paz possa ser estabelecida e o genociacutedio

prevenido ou interrompido Dentro da accedilatildeo securitaacuteria encontram-se as operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mais extrema o peace enforcement O peace

enforcement pode ser ativado em casos extremos e ao abrigo do princiacutepio da

responsabilidade de proteger Ainda assim os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm

de se limitar a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para fazerem respeitar os

direitos humanos violados e fornecer assistecircncia ao povo local (Gordon1996 Bellamy

e Wheeler 2006 Massingham 2009 Weiss 2017)

A questatildeo central da investigaccedilatildeo eacute portanto a articulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o

militar em paiacuteses que estejam a passar por conflitos armados Sempre que os

profissionais humanitaacuterios estejam em paiacuteses em estado de guerra ou poacutes-guerra

poderatildeo sentir dificuldades na hora de aceder a locais onde a populaccedilatildeo necessite de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

2

mais ajuda devido ao facto de natildeo terem escolta militar para esse efeito Outro

problema eacute a possibilidade de haver confusatildeo dos humanitaacuterios com os militares e por

isso a populaccedilatildeo rejeitar a ajuda das organizaccedilotildees humanitaacuterias Portanto o foco do

tema da dissertaccedilatildeo eacute identificar a importacircncia do papel dos militares para o bom

desempenho dos profissionais humanitaacuterios

Ou seja o estudo centra-se nas consequecircncias que podem advir daiacute como por exemplo

desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves ONG OING ou OIG queda dos donativos

ataques entre outros Do ponto de vista praacutetico as questotildees centrais seratildeo as seguintes

Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de vida ou correcirc-lo e

respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente Seraacute que eacute possiacutevel

encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a seguranccedila e proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma alternativa

Nesta dissertaccedilatildeo constatar-se-aacute que existe um cruzamento entre a accedilatildeo humanitaacuteria

(humanitaacuterios) e o sistema securitaacuterio (militares) sendo os atores deste uacuteltimo

normalmente os membros das operaccedilotildees de peacekeeping peace enforcement ou a

componente policial e militar do peacebuiliding podendo ainda ocorrer haver no

terreno uma forccedila militar estatal como no caso de algumas intervenccedilotildees militares como

seraacute explicitado adiante Neste uacuteltimo caso soacute mesmo em uacuteltima circunstacircncia os

humanitaacuterios aceitariam a escolta de forma a natildeo perderem a sua imparcialidade e

independecircncia

As operaccedilotildees de peacekeeping satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas

tambeacutem para a proteccedilatildeo dos civis para assistir ao desarmamento agrave desmobilizaccedilatildeo e agrave

reintegraccedilatildeo de ex-combatentes para suportar a organizaccedilatildeo de eleiccedilotildees para proteger e

promover os direitos humanos e para ajudar na construccedilatildeo de um ldquoestado de direitorsquo

(rule of law) fazendo a ponte com as operaccedilotildees de peacebuilding no terreno e sendo os

seus atores parceiros ldquonaturaisrdquo dos humanitaacuterios no terreno (UN sda UN sdb)

As razotildees pelas quais foi escolhido este tema satildeo sobretudo motivaccedilotildees pessoais mas

tambeacutem a relevacircncia do mesmo para a construccedilatildeo do saber na aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria

cooperaccedilatildeo e desenvolvimento sobretudo na parte da accedilatildeo humanitaacuteria Explorar novos

caminhos e trabalhar novos paradigmas para a evoluccedilatildeo positiva da accedilatildeo das missotildees no

terreno eacute fulcral para o futuro da accedilatildeo humanitaacuteria ndash eacute urgente encontrar novas soluccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

3

para que os humanitaacuterios e os militares possam satisfazer as necessidades das

populaccedilotildees que residam em locais de conflito

Uma articulaccedilatildeo entre os humanitaacuterios e os membros de operaccedilotildees de peacekeeping ou

peacebuilding pode revelar-se importante para o sucesso das missotildees em que os

profissionais humanitaacuterios participam sobretudo se essas missotildees forem sediadas em

locais de tensatildeo aberta ou altamente conflituosos Para aleacutem da motivaccedilatildeo pessoal

explicada existe pois uma motivaccedilatildeo social sendo ela a de colaborar para alertar os

agentes responsaacuteveis pela accedilatildeo humanitaacuteria para as novas necessidades e desafios nesta

aacuterea de forma a contribuir mais e melhor na sociedade

Os objetivos do estudo ao abordar este tema satildeo explorar a relaccedilatildeo existente ou natildeo

entre o profissional humanitaacuterio e o militar bem como entender ateacute que ponto essa

relaccedilatildeo eacute ou natildeo beneacutefica para a eficaacutecia da accedilatildeo humanitaacuteria e se porventura coloca em

causa os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios que satildeo a imparcialidade neutralidade e

independecircncia Eacute pretendido tambeacutem explorar as vaacuterias opccedilotildees de obtenccedilatildeo de

seguranccedila e identificar as melhores opccedilotildees

No entanto o objetivo central eacute explorar as dinacircmicas de articulaccedilatildeo entre o

humanitaacuterio e o militar em missotildees humanitaacuterias nas suas diversas formas quer com a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas quer com o apoio dos peacekeepers ou

forccedilas militares do paiacutes que estaacute sob a ajuda humanitaacuteria e a accedilatildeo militar Dado o cariz

do mestrado em Accedilatildeo Humanitaacuteria que visa formar tambeacutem para a praacutetica de terreno

este objetivo afigura-se fundamental

O paradigma investigativo escolhido para a dissertaccedilatildeo eacute o qualitativo que assenta na

interpretaccedilatildeo de determinados fenoacutemenos de modo a construir uma nova visatildeo acerca

do tema de estudo A parte empiacuterica da dissertaccedilatildeo conta com um estudo de caso sobre

o Sudatildeo do Sul onde eacute analisada a interaccedilatildeoarticulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o militar

no terreno com recurso a anaacutelise bibliograacutefica e documental nomeadamente a anaacutelise

de um guia sobre missotildees integradas elaborado pela OXFAM que eacute o UN Integrated

Missions and Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations

Integrated Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) Conta tambeacutem com a

anaacutelise de um documento importante para o estudo do caso do Sudatildeo do Sul que eacute o

Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United Nations

Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) elaborado pelas Naccedilotildees Unidas (NU)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

4

em conjunto com ONG OING e OIG Este eacute um guia que iraacute explicar como deve ser

feita a cooperaccedilatildeo entre a comunidade humanitaacuteria e os peacekeepers no terreno

denominada tambeacutem de missatildeo integrada (minimalista ou maximalista conforme se

explicaraacute)

O motivo da escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso foi o facto de este ser um

Estado de elevada fragilidade onde a guerra civil natildeo aparenta ter um fim agrave vista Outro

motivo foi o nuacutemero crescente de humanitaacuterios atacados sequestrados e assassinados

no terreno o que torna o Sudatildeo do Sul um terreno perigoso para as ONG e OIG se

aventurarem sem que sejam garantidas as devidas condiccedilotildees de seguranccedila e proteccedilatildeo

dos humanitaacuterios O cerne da questatildeo eacute precisamente o facto de essa proteccedilatildeo e

seguranccedila natildeo serem garantidas no terreno pelo Estado que estaacute em conflito armado

natildeo sendo possiacutevel por vezes aos humanitaacuterios chegar a determinados locais por

elevado niacutevel de perigo de vida

Satildeo estes os motivos que justificaram a escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso

complementando assim a parte teoacuterica sobre o dilema dos princiacutepios humanitaacuterios e a

necessidade de proteccedilatildeo no terreno

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

5

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria nasceu com Henri Dunant tendo sido este a criar a Cruz Vermelha

apoacutes a batalha violenta de Solferino em 1859 Teraacute entatildeo uma estrutura composta de

associaccedilotildees pequenas adquirindo uma dimensatildeo sem-fronteiras Comeccedilou por ser

denominada de Comiteacute International de Secours aux Blesseacutes e em 1875 obteve o nome

pela qual eacute conhecida hoje Cruz Vermelha ou Croix Rouge Tinha como principal

objetivo tratar os prisioneiros e feridos de guerra independentemente do lado pelo qual

lutavam Ou seja Dunan apoacutes assistir aos horrores daquela batalha decidiu criar uma

organizaccedilatildeo que tratasse todos os feridos independentemente da raccedila religiatildeo

ideologia cor crenccedila ou etnia (Schaumoff 2011 Crisp 2008)

A Cruz Vermelha comeccedilou por basear-se em trecircs pilares fundamentais que satildeo a

neutralidade a independecircncia da organizaccedilatildeo permanente de socorros e uma convenccedilatildeo

internacional para a proteccedilatildeo dos feridos A accedilatildeo humanitaacuteria tinha e tem como

principal objetivo alivar o sofrimento restabelecer a dignidade e humanidade Estes trecircs

pilares foram rapidamente adotados pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias (Schaumoff

2011 Crisp 2008 Hammond 2015) Em 1965 em Viena a Cruz Vermelha proclamou

os seus sete princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

Independecircncia todas as ONG e OIG devem ser independentes relativamente a qualquer

instituiccedilatildeo Estado ou outro sistema governamental a fim de se poderem movimentar e

agir de acordo com os seus princiacutepios e natildeo sob pressatildeo da entidade da qual dependem

monetariamente ou securitariamente Ou seja a accedilatildeo humanitaacuteria deve ser praticada de

forma autoacutenoma e independente dos agentes poliacuteticos e militares (Hisamoto 2012

IFRCC sd)

Imparcialidade todos devem ser tratados de igual forma independentemente da tribo

etnia da cor do sexo da religiatildeo de ideologia poliacutetica e do geacutenero (IFRCC sd CVP

2017a)

Neutralidade as OIG e ONG devem abster-se de tomar parte em hostilidades ou em

controveacutersias de ordem poliacutetica racial filosoacutefica ou religiosa (IFRCC sd CVP

2017a)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

6

Humanidade este princiacutepio estabelece que todos os feridos devem ser auxiliados dentro

e fora do campo de batalha o sofrimento deve ser aliviado independentemente das

circunstacircncias a vida e a sauacutede devem ser protegidas deve ser promovido o respeito

pela pessoa humana e deve ser favorecida a compreensatildeo a cooperaccedilatildeo e a paz

duradoura entre os povos (IFRCC sd CVP 2017a)

Voluntariado todas as OIG e ONG devem agir de forma voluntaacuteria e desinteressada

(IFRCC sd CVP 2017a)

Unidade a Cruz Vermelha eacute uma soacute podendo em cada paiacutes existir somente sociedades

abertas a todos estendendo assim a sua accedilatildeo humanitaacuteria a todo o territoacuterio nacional

No entanto este princiacutepio eacute estendiacutevel a toda a comunidade humanitaacuteria que deve agir

como uma soacute entreajudando-se e cumprindo o dever de salvar vidas e aliviar o

sofrimento humano (IFRCC sd CVP 2017a)

Universalidade a Cruz Vermelha eacute uma instituiccedilatildeo com cariz universal no seio de

todas as Sociedades Nacionais todas tecircm direitos e deveres iguais de entreajuda o

mesmo princiacutepio vale para as restantes organizaccedilotildees intergovernamentais ou natildeo

governamentais (IFRCC sd CVP 2017a)

Em 1949 foram criadas as Quatro Convenccedilotildees de Genebra e posteriormente os

respetivos protocolos que satildeo de 1977 e satildeo a base do Direito Internacional

Humanitaacuterio onde eacute determinado o tratamento dos soldados e civis durante os conflitos

armados internacionais e natildeo internacionais (CVP 2017b Jurkowski 2017)

A primeira Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos e dos doentes das

Forccedilas Armadas em campanha Aqui eacute estabelecido como devem ser tratados os feridos

e doentes das forccedilas armadas respeitando sempre os princiacutepios fundamentais mais

importantes da accedilatildeo humanitaacuteria que satildeo a neutralidade e imparcialidade Ou seja todo

o doente ou ferido deve ser tratado independentemente da sua cor raccedila credo feacute

religiatildeo geacutenero ideologias poliacuteticas etnias e quer faccedila parte de uma ou outra parte das

hostilidades (ICRC 1949 CVP 2017b Jurkowski 2017)

A segunda Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos doentes e

naacuteufragos das Forccedilas Armadas no mar Eacute aqui estabelecido o tipo de tratamentos que os

feridos doentes e naacuteufragos das forccedilas armadas devem obter e os direitos que lhes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

7

assistem Todos os feridos devem ser assistidos independentemente da religiatildeo crenccedila

feacute religiatildeo ideologias poliacuteticas e quer faccedilam parte de uma ou da outra parte das

hostilidades Caso os humanitaacuterios estejam perante dois feridos e tenham de escolher

devem assistir o ferido que teraacute mais probabilidades de sobreviver natildeo devendo fazer a

escolha com base na nacionalidade faccedilatildeo partidaacuteria crenccedila religiatildeo feacute cor entre

outros Todas as organizaccedilotildees humanitaacuterias e todos os humanitaacuterios devem pois reger-

se pelos princiacutepios da neutralidade e imparcialidade mas tambeacutem humanidade e

independecircncia (ICRC 1949 CVPb 2017)

A terceira Convenccedilatildeo diz respeito ao tratamento dos prisioneiros de guerra Todos os

prisioneiros de guerra devem ser tratados com dignidade e devem ver os seus direitos

consagrados no direito internacional humanitaacuterio respeitados como o acesso a

assistecircncia meacutedica em caso de necessidade a proteccedilatildeo dos seus pertences que natildeo

devem ser alvo de pilhagem e a garantia de um miacutenimo de condiccedilotildees na cela que

permita ao prisioneiro viver com dignidade Natildeo devem ainda ser alvo de torturas

privados de visitas e de um advogado e devem ainda ter acesso a um julgamento

imparcial Em caso de morte o corpo natildeo pode ser profanado e deve ser devolvido agrave

famiacutelia uma vez feito o reconhecimento (ICRC 1949 CVP 2017b)

A quarta Convenccedilatildeo diz respeito agrave proteccedilatildeo de civis em tempo de guerra Nesta

convenccedilatildeo eacute feita a distinccedilatildeo entre os conflitos armados internacionais e os conflitos

armados natildeo internacionais pois a proteccedilatildeo dada aos civis em tempo de conflito a

niacutevel do direito internacional humanitaacuterio eacute diferente Se no caso de um CAI (Conflito

Armado Internacional) os civis e prisioneiros de guerra estatildeo protegidos pelo Direito

Internacional Humanitaacuterio e pelas Convenccedilotildees de Genebra ratificadas por quase todos

os Estados do mundo a verdade eacute que caso o conflito natildeo seja internacional a proteccedilatildeo

dos civis e prisioneiros de guerra eacute colocada em causa O Direito Internacional

Humanitaacuterio natildeo tem legitimidade para atuar em caso de CANI (Conflito Armado Natildeo

Internacional) Logo em caso de CANI os civis e prisioneiros de guerra ficam

entregues agrave sua sorte No entanto eacute possiacutevel contornar este problema recorrendo aos

protocolos adicionais I e II O problema aqui reside no facto de poucos Estados terem

ratificado os protocolos adicionais o que deixa os civis e prisioneiros de guerra numa

posiccedilatildeo delicada em contexto de CAN Outro problema eacute ainda determinar quando eacute

que podemos classificar um conflito armado como sendo internacional ou natildeo Esta eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

8

uma aacuterea complicada e que leva a algumas duacutevidas quanto agrave classificaccedilatildeo do conflito

(Jurkowski 2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional I vem pois fazer a distinccedilatildeo entre os conflitos armados

internacionais e natildeo internacionais e o protocolo adicional II vem fazer algumas

modificaccedilotildees e especificar como devem ser tratados os feridos doentes e prisioneiros de

guerra em cada um dos casos Foram celebrados a 8 de agosto de 1977 (Jurkowski

2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional III celebrado a 8 de dezembro de 2005 vem formalizar o terceiro

emblema do movimento ldquoO Cristal Vermelhordquo Este novo emblema apresenta-se na

forma de um losango inserido dentro de uma moldura vermelha sob fundo branco A

ideia da construccedilatildeo de um novo siacutembolo surgiu com a necessidade de encontrar uma

alternativa agrave cruz e ao crescente que satildeo muitas vezes percecionadas como tendo

conotaccedilotildees religiosas culturais e poliacuteticas o que levava ao desrespeito do emblema dos

humanitaacuterios e das viacutetimas Com o novo emblema denominado de Cristal Vermelho e

com a assinatura do acordo entre o Crescente Vermelho da Palestina e a Magen David

Adom (mais conhecida por estrela de David) a 28 de novembro de 2005 foram

definidos aspetos logiacutesticos no desenvolvimento das operaccedilotildees humanitaacuterias Este

acordo contribuiu para a adoccedilatildeo do III protocolo adicional e para que terminasse um

longo processo diplomaacutetico (CVPb 2017 CVP 2017c ICRC 1949)

Com o aumento do nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento

de conflitos que necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido pela Cruz

Vermelha em 1994 o coacutedigo de conduta humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se

comprometeriam a respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios principalmente os

princiacutepios da neutralidade imparcialidade e independecircncia Este coacutedigo foi assinado por

140 agecircncias de forma a assegurar que os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios fossem

assegurados no terreno (Makintosh 2000 Hammond 2015)

Podemos constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal missatildeo aliviar o

sofrimento humano e devolver dignidade agrave vida das pessoas com necessidades que

devem ser urgentemente apaziguadas Esta ajuda humanitaacuteria deve ter como principal

fim o solidaacuterio e nunca fins lucrativos ou segundas intenccedilotildees como poliacuteticas por

exemplo Os seus valores tecircm origem eacutetico-religiosa cristatilde quanto ao amor ao proacuteximo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

9

no princiacutepio da solidariedade e da caridade bem como no humanitarismo Eacute tambeacutem

estabelecido neste protocolo que a Cruz Vermelha deve estar bem identificada e que

nenhuma instituiccedilatildeoorganizaccedilatildeo humanitaacuteria e religiosa deve ser atacada pois se trata

de entidades imparciais e neutras (Jurkowski 2017 Hammond 2015)

Os princiacutepios humanitaacuterios definem as regras de accedilatildeo no terreno na hora de oferecer

ajuda humanitaacuteria devendo sempre respeitar os referidos sete princiacutepios humanitaacuterios

proclamados em Viena em 1965 pela Cruz Vermelha Os humanitaacuterios devem ainda

manter-se neutros face agraves hostilidades e natildeo devem ser associados implicados ou ter

uma participaccedilatildeo poliacutetica no terreno de forma a natildeo colocar a vida da populaccedilatildeo em

risco e a populaccedilatildeo natildeo recear pedir ajuda Devem tambeacutem manter-se imparciais

quanto ao tratamento das pessoas sendo por isso a independecircncia fulcral que soacute eacute

conseguida mantendo-se neutros (Jurkowski 2017 Crisp 2008 Hammond 2015)

O humanitaacuterio ou a organizaccedilatildeo humanitaacuteria tecircm tambeacutem o dever de denunciar abusos

aos direitos humanos No entanto muitos natildeo o fazem sob medo de ao denunciarem o

Estado denunciado os encarar como tomando um dos lados das hostilidades existentes e

de por isso lhes ser retirada a permissatildeo para permanecerem no terreno ou serem alvos

de ataques entre outros Os Meacutedicos sem Fronteiras por exemplo jaacute encararam este

tipo de problemas e a poliacutetica da organizaccedilatildeo eacute denunciar mesmo que isso signifique ter

de fazer as malas e abandonar o terreno Natildeo denunciar seria cooperar e permitir a

violaccedilatildeo dos direitos humanos ndash este eacute chamado o ldquoprinciacutepio da ingerecircncia

humanitaacuteriardquo Tal significa que o humanitaacuterio deve denunciar os crimes contra os

Direitos Humanos independentemente das consequecircncias (Terry 2002 Hisamoto

2012)

Apoacutes a criaccedilatildeo da Cruz Vermelha vaacuterias organizaccedilotildees internacionais governamentais e

natildeo-governamentais foram surgindo para fornecer ajuda humanitaacuteria aos paiacuteses em

conflito e de extrema pobreza No plano das natildeo governamentais encontramos

organizaccedilotildees como a AMI a OXFAM ou a Caacuteritas A niacutevel intergovernamental a ONU

abriu um escritoacuterio denominado OCHA (United Nations Office for the Coordination of

Humanitarian Affairs) para a coordenaccedilatildeo dos assuntos humanitaacuterios a OCDE tambeacutem

se dedica a esta causa bem como a UE atraveacutes do ECHO (European Civil Protection

and Humanitarian Aid Operations) (Philippe et al 2007)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

10

Podemos entatildeo constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria eacute uma atuaccedilatildeo no terreno de cariz

puramente solidaacuterio e humanitaacuterio que tem como principal objetivo aliviar o sofrimento

humano fornecendo os meios essenciais de subsistecircncia apoio meacutedico e psicoloacutegico

bem como abrigo proteccedilatildeo e apoio legal em caso de a viacutetima ter sido alvo de violaccedilatildeo

dos seus Direitos Humanos Esta atuaccedilatildeo eacute realizada por ONG OING e OIG (Bellamy e

Wheeler 2006)

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute composta por diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sendo a ajuda

humanitaacuteria em contexto de conflito e a defesa dos direitos humanos as aacutereas que iratildeo

ser mais aprofundadas nesta dissertaccedilatildeo As aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo pois a ajuda ao

desenvolvimento a defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda

humanitaacuteria mais urgente A ajuda urgente eacute a mais oacutebvia mas os humanitaacuterios

colaboram tambeacutem no terreno com missotildees orientadas para outros fins e com prazos

mais longos Cada uma dessas aacutereas dentro da ajuda humanitaacuteria requer uma estrateacutegia

diferente de accedilatildeo e cuidados a ter com os proacuteprios humanitaacuterios que satildeo muitas vezes

alvo de sequestros atentados e homiciacutedio Por exemplo a ajuda humanitaacuteria em

contexto de conflito requer uma maior preparaccedilatildeo por parte dos humanitaacuterios para o

terreno onde vatildeo atuar requer um estabelecimento de mecanismos de seguranccedila

detalhados como por exemplo mapear onde estatildeo localizados onde cada grupo da sua

equipa estaacute a operar em determinado momento assegurar meios de telecomunicaccedilatildeo

fiaacuteveis como a raacutedio para que todos os elementos do grupo estejam contactaacuteveis pela

base onde estaacute sediada a organizaccedilatildeo (Ryfman 2007)

Jaacute a aacuterea de ajuda ao desenvolvimento tem como principal foco a erradicaccedilatildeo da

pobreza a niacutevel mundial Essa ajuda eacute fornecida por organizaccedilotildees de paiacuteses

desenvolvidos ou organizaccedilotildees intergovernamentais como a ONU Este objetivo adveacutem

da parceria entre Estados desenvolvidos e em vias de desenvolvimento tendo tido um

marco fundamental na Declaraccedilatildeo do Mileacutenio assinada por 189 Estados em setembro

de 2000 Esta Declaraccedilatildeo do Mileacutenio foi adotada na resoluccedilatildeo ARES552 da

Assembleia Geral das NU Nela ficaram estabelecidos os princiacutepios fundamentais a

serem adotados por todos os Estados Membros que a tenham ratificado A menccedilatildeo

destes princiacutepios iraacute clarificar o conceito da accedilatildeo humanitaacuteria e fazer entender que

certos princiacutepios satildeo negados agraves populaccedilotildees de Estados fragilizados em conflito ou em

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

11

vias de desenvolvimento e que ainda eacute necessaacuterio percorrer um longo caminho na aacuterea

da accedilatildeo humanitaacuteria que neste momento se revela difiacutecil devido agrave inseguranccedila em

determinados terrenos Esses princiacutepios satildeo

Liberdade Todos independentemente do geacutenero devem ter o direito de viver em

dignidade e criar os seus filhos em dignidade livres da fome do medo e da violecircncia

opressatildeo ou injusticcedila Os governos devem ser democraacuteticos e participativos baseados

na vontade do povo

Igualdade nenhum individuo ou naccedilatildeo deve ver a oportunidade de beneficiar do

desenvolvimento negada Os direitos e oportunidades devem ser iguais para todos

Solidariedade Desafios globais devem ser geridos de forma a que os custos e benefiacutecios

sejam distribuiacutedos de forma justa com base no princiacutepio da equidade e justiccedila social

Aqueles que sofrem ou que beneficiam menos merecem a ajuda dos que satildeo mais

beneficiados

Toleracircncia Todo o ser humano deve respeitar-se mutuamente em toda a sua diversidade

de crenccedila cultura e linguagem A diferenccedila na e entre a sociedade natildeo devem ser

temidas ou reprimidas devem antes ser preservadas como um bem precioso da

humanidade Por uacuteltimo deve ser promovida uma cultura de paz e dialogo entre todas

as civilizaccedilotildees

Respeito pela natureza Deve haver prudecircncia na gestatildeo de todas as espeacutecies existentes

e recursos naturais de acordo com a perceccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel A

riqueza da natureza e diversidade de espeacutecies legada pelos nossos antepassados deve ser

preservada para a manutenccedilatildeo do equilibro do meio ambiente no presente e para os

nossos descendentes no futuro O padratildeo de consumismo e constante destruiccedilatildeo da

natureza deve ser mudado

Responsabilidade partilhada A responsabilidade de gerir mundialmente o niacutevel

econoacutemico e o desenvolvimento social bem como ameaccedilas agrave paz internacional e

seguranccedila deve ser partilhada entre naccedilotildees do mundo e deve ser exercida

multilateralmente As NU devem por isso como organizaccedilatildeo mundial de maior

influecircncia ter um papel central nesta questatildeo (UN 2000 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

12

Com base nestes princiacutepios foram estabelecidos os objetivos de desenvolvimento do

mileacutenio e posteriormente em 2015 os 17 objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel

que satildeo 1) Erradicar a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares 2)

Acabar com a fome conseguir seguranccedila alimentar melhorar a nutriccedilatildeo e a promoccedilatildeo

de uma agricultura sustentaacutevel 3) Assegurar uma vida saudaacutevel e promover o bem-estar

para todos em todas as idades 4) Assegurar uma educaccedilatildeo que privilegie a inclusatildeo de

todos que seja equitativa e de qualidade e que promova diversas oportunidades de

aprendizagem ao longo da vida e para todos 5) Alcanccedilar a igualdade de geacutenero

conceder autonomia agraves mulheres 6) Assegurar uma gestatildeo sustentaacutevel da aacutegua e

saneamento e a garantir que toda a populaccedilatildeo tenha acesso agrave aacutegua 7) garantir a todos o

acesso sustentaacutevel e confiaacutevel agrave energia 8) promover o crescimento econoacutemico

sustentado inclusivo e sustentaacutevel emprego pleno e produtivo bem como trabalho

decente para todos 9) Construir infraestruturas resistentes promover a industrializaccedilatildeo

sustentaacutevel de forma a fomentar a inovaccedilatildeo 10) Reduzir as desigualdades no seio do

Estado e entre Estados 11) Tornar as cidades e o patrimoacutenio humano mais inclusivos

seguros resistentes e sustentaacuteveis 12) Assegurar padrotildees de produccedilatildeo e de consumo

sustentaacuteveis 13) Combater as alteraccedilotildees climaacuteticas de forma a diminuir o risco do seu

impacto no nosso planeta 14) Promover o uso sustentaacutevel dos oceanos dos mares e dos

recursos marinhos para um desenvolvimento sustentaacutevel 15) Proteger recuperar e

promover o uso sustentaacutevel dos ecossistemas terrestres gerir de forma sustentaacutevel as

florestas e combater a desertificaccedilatildeo deter e reverter a degradaccedilatildeo da terra e deter a

perda de biodiversidade 16) Promover sociedades paciacuteficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentaacutevel proporcionar o acesso agrave justiccedila com base na igualdade e

equidade construir instituiccedilotildees eficazes responsaacuteveis e inclusivas para todos 17)

Fortalecer os meios de implementaccedilatildeo e revitalizar a parceria a niacutevel global para o

desenvolvimento sustentaacutevel (UN 2015 ONUBR 2017 UN 2017c)

Podemos por isso considerar que a ajuda ao desenvolvimento fornecida pelo PNUD eacute

uma accedilatildeo poliacutetica para melhorar as condiccedilotildees de vida dos paiacuteses em vias de

desenvolvimento numa perspetiva de longo prazo A ajuda eacute fornecida pelos Estados-

membros da OCDE ONU EU BMI e FMI

A luta pelos direitos dos humanos tem como principal objetivo a luta contra a violaccedilatildeo

dos direitos humanos definidos na declaraccedilatildeo universal dos direitos do homem Como

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

13

quadro de referecircncia dos direitos humanos foram ainda redigidas a convenccedilatildeo

internacional para os direitos poliacuteticos e civis e a convenccedilatildeo para os direitos

econoacutemicos sociais e culturais (Ryfman 2007 UN 2017d SDG 2015)

Este tipo de ajuda humanitaacuteria funciona atraveacutes de denuacutencias e pressotildees para que sejam

conhecidas sucessivas violaccedilotildees dos direitos humanos e o direito a uma vida digna

preservado No entanto esta eacute uma aacuterea que pode abrir portas para o conflito entre o

dever de denunciar violaccedilotildees dos Direitos Humanos e os princiacutepios humanitaacuterios Como

foi referido acima as ONG e OIG baseiam-se em sete princiacutepios fundamentais dos

quais trecircs satildeo cruciais ndash a independecircncia a neutralidade e a imparcialidade Ao

denunciar uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a denuacutencia poderaacute ser vista como se a

organizaccedilatildeo estivesse a tomar partido por uma das partes do conflito mesmo que natildeo

seja o caso e eacute assim colocada em causa a neutralidade da organizaccedilatildeo seja ela

internacional local governamental ou natildeo Este eacute um caso bastante delicado pois a

organizaccedilatildeo precisa da autorizaccedilatildeo para poder permanecer no terreno Esta situaccedilatildeo

pode levar a que vaacuterias organizaccedilotildees se sintam intimidadas na hora de denunciar

embora exista um modelo especiacutefico criado pelas Naccedilotildees Unidas para realizar queixas

por violaccedilatildeo dos direitos humanos O procedimento eacute denominado de Human Rights

Council Complaint Procedure A Amnistia Internacional tambeacutem faz queixas por

violaccedilatildeo dos direitos humanos sendo uma ONG muito importante no ativismo pelos

direitos humanos (OHCHR 2017 Hammond 2015)

O Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Direitos Humanos (ACDH) tem

tambeacutem um papel importantiacutessimo na prevenccedilatildeo e denuacutencia de potenciais crimes contra

os direitos humanos no terreno Este Alto Comissariado tem como principal objetivo

dar suporte ao respeito pelos direitos humanos no acircmbito de operaccedilotildees de

peacekeeping peaceenforcement peacebuilding provendo planos estrateacutegicos

policiamento e aconselhamento especializado O Alto Comissariado pode mesmo

indicar a necessidade de acionar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo mas eacute o Conselho de

Seguranccedila que tem o poder decisoacuterio nesta mateacuteria As principais atividades do ACDH

satildeo fazer a monitorizaccedilatildeo diaacuteria investigaccedilatildeo documentaccedilatildeo e relato da situaccedilatildeo

relativa aos direitos humanos advogar junto das autoridades locais e nacionais

envolvendo a sociedade civil e os governos nacionais (desta forma eacute possiacutevel prevenir e

assegurar a reparaccedilatildeo da violaccedilatildeo dos direitos humanos) reportar publicamente ganhos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

14

e falhas nos direitos humanos assegurar que o processo de paz promova a justiccedila e a

equidade construir instituiccedilotildees de direitos Humanos incorporar os direitos humanos

nas missotildees de paz da NU bem como em todos os programas e atividades as NU no

paiacutes (OHCHR 2017)

Eacute ainda nesta aacuterea que se verifica uma maior possibilidade de ser posta em causa a

neutralidade e a independecircncia das organizaccedilotildees Para poder proteger os direitos

humanos e denunciar abusos de direitos humanos perpetrados por exemplo pelo Estado

em cujo territoacuterio se verificam esses atos os humanitaacuterios iratildeo colocar em causa a sua

permanecircncia no terreno Este facto leva a que muitas organizaccedilotildees natildeo realizem a

denuacutencia o que torna de certa forma as mesmas cuacutemplices dessas barbaridades contra a

sua vontade

A promoccedilatildeo da paz recai essencialmente sobre o Conselho de Seguranccedila das NU que

tem como principal objetivo a manutenccedilatildeo e estabelecimento da paz e a seguranccedila

internacional de forma a que natildeo se repita mais nenhum conflito com a dimensatildeo da II

Guerra Mundial tendo esse sido o principal motivo para a fundaccedilatildeo das NU Para

promover a paz as NU atraveacutes do Conselho de Seguranccedila recorreu a operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mesmo ao peace enforcement a diplomacia e a

mediaccedilatildeo preventiva ao combate ao terrorismo (como podemos verificar hoje com o

Daesh) e ao desarmamento que eacute feito atraveacutes da eliminaccedilatildeo do armamento nuclear de

destruiccedilatildeo massiva e regulaccedilatildeo do armamento convencional (Ryfman 2007 UN

2017b Carta das NU 1945)

A ajuda humanitaacuteria eacute a ajuda fornecida em situaccedilotildees de grande emergecircncia sendo a

accedilatildeo das ONG OING e OIG fundamental nas primeiras setenta e duas horas apoacutes o

desastre natural ou ataque em caso de conflito armado O objetivo desta aacuterea da ajuda

humanitaacuteria eacute aliviar o sofrimento humano restabelecendo e protegendo a dignidade

humana ou seja uma vida digna assistindo a populaccedilatildeo fornecendo bens de primeira

necessidade como aacutegua comida abrigo proteccedilatildeo apoio meacutedico e psicoloacutegico Satildeo

exemplo dessa atividade tratar viacutetimas de abuso sexual ajudar a retirar viacutetimas dos

escombros organizar o campo de refugiados para acolher os refugiados requerentes de

asilo com as devidas condiccedilotildees Este eacute um trabalho fundamental capaz de apaziguar

conflitos salvar vidas e restaurar a dignidade Uma populaccedilatildeo com seguranccedila aacutegua

comida e abrigo eacute mais propensa agrave pacificaccedilatildeo Inversamente a escassez de aacutegua eacute o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

15

motivo de vaacuterios conflitos armados e guerras civis como eacute o caso do Sudatildeo do Sul

(Philippe et al 2007)

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute pois como se pocircde verificar muito mais que uma ajuda de

emergecircncia e de reconstruccedilatildeo eacute uma aacuterea dedicada ao respeito dos direitos humanos

respeito pela dignidade do homem e manutenccedilatildeo da paz A sua neutralidade e

imparcialidade permitem fornecer ajuda a todos independentemente da cor raccedila

geacutenero crenccedilas ideologias religiatildeo e origem eacutetnica A neutralidade ou seja o facto de

as ONG e OIG fornecedoras de ajuda natildeo tornarem parte nas hostilidades leva a que

natildeo sejam vistas como apoiantes de uma das partes conflituantes e natildeo sejam por isso

pressionadas a fazer determinados atos ou a natildeo fornecer ajuda a determinadas etnias

entre outros A independecircncia eacute crucial pois uma vez a ONG ou OIG humanitaacuteria

dependente do governo local seraacute pressionada e teraacute de fazer cedecircncias para poder

continuar a permanecer no terreno bem como teraacute dificuldade ou veraacute barrado o acesso

a determinados locais (Ryfman 2007 Smith 2016)

A ONU participa diretamente na ajuda humanitaacuteria atraveacutes do OCHA Este escritoacuterio

das NU eacute responsaacutevel por coordenar uma resposta eficaz em situaccedilotildees de emergecircncia e

o objetivo eacute assistir o mais raacutepida e eficazmente possiacutevel as pessoas em necessidade A

ONU tem ainda o CERF (Central Emergency Response Fund) gerido pelo OCHA que

eacute uma peccedila fundamental para uma resposta raacutepida em contexto de conflito armado ou

desastre natural ou seja permite um raacutepido financiamento para que seja possiacutevel enviar

ajuda ceacutelere O CERF recebe contribuiccedilotildees voluntaacuterias ao longo do ano o que permite

que seja possiacutevel suportar o envio de ajuda humanitaacuteria para o terreno (UN 2017d) As

Naccedilotildees Unidas tecircm ainda nesta aacuterea diversas entidades que fornecem ajuda humanitaacuteria

como por exemplo O United Nation High Commissioner for Refugees para ajudar os

IDP (Internal Displaced Persons) e os refugiados bem como apaacutetridas o UNDP

(United Nations Development Programm) o UNICEF (United Nations Childrenrsquos

Fund) para ajudar as crianccedilas o WFP (World Food Programme) para combater a fome

e a organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede para ajudar os doentes e feridos (ONU 2017)

3 A Carta Humanitaacuteria

A Carta Humanitaacuteria nasceu com o projeto Sphere (The Sphere Projectb sd) em 1997

e tem como objetivo definir padrotildees miacutenimos humanitaacuterios de accedilatildeo no terreno comuns

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

16

a todas as ONG OING OIG e Estados que tenham ratificado as convenccedilotildees e tratados

humanitaacuterios e que se comprometam a cumprir esta declaraccedilatildeo Este projeto nasceu

essencialmente da insatisfaccedilatildeo relativa agrave atuaccedilatildeo das ONG OING e OIG no terreno nos

anos 90 durante as crises da Etioacutepia e do Sudatildeo fazendo com que as ONG chegassem agrave

conclusatildeo de que seria necessaacuterio elaborar um padratildeo de atuaccedilatildeo no terreno para os

profissionais Apoacutes esta discussatildeo comeccedilaram a aparecer manuais teacutecnicos dos MSF e

guias operacionais redigidos pela OXFAM ACNUR (Alto Comissariado das Naccedilotildees

Unidas para os Refugiados) e a OFDA (Office of US Foreign and Disaster Assistance)

entre outras Tambeacutem a Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho tiveram

participaccedilatildeo neste projeto com os coacutedigos e movimentos de conduta para ONG para

desenvolver a sua performance no terreno atraveacutes de programas de formaccedilatildeo (The

Sphere sdb Dyke e Waldmann 2004)

O projeto Sphere eacute governado por um conselho constituiacutedo por 18 membros que

representam redes de agecircncias humanitaacuterias tanto a niacutevel global como nacional que

determina as suas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo As organizaccedilotildees representadas neste

conselho trabalham juntas de forma voluntaacuteria e informal sob a direccedilatildeo do conselho

cujo escritoacuterio estaacute sediado em Genebra e trabalha para implementar estrateacutegias e

prioridades As organizaccedilotildees contribuem tambeacutem para o financiamento do projeto

(The Sphere Project sda)

Logo eacute possiacutevel constatar que a principal meta deste projeto eacute tornar a Accedilatildeo

Humanitaacuteria mais eficiente e que seja feita com mais responsabilidade e que sejam

garantidos os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios O projeto foi elaborado para que as

ONG OING e OIG tivessem um guia sobre como agir no terreno em missotildees de

emergecircncia e em concordacircncia com o Direito Internacional Humanitaacuterio O objetivo

principal deste manual eacute garantir que todo o ser humano dever ter o direito de viver com

dignidade (The Sphere Project sda)

Humanitarian agencies committed to this Charter and to the Minimum Standards will aim to achieve

defined levels of service for people affected by calamity or armed conflict and to promote the observance

of fundamental humanitarian principles (The Humanitarian Charter sd pp 16)

Logo a Carta Humanitaacuteria estaacute comprometida com o aliacutevio do sofrimento humano e a

garantia da dignidade das viacutetimas afetadas pelo conflito armado internacional e natildeo

internacional cataacutestrofes e outras calamidades Por isso tal como foi referido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

17

anteriormente foi estabelecido um padratildeo miacutenimo que estabelece o que deve ser feito

quando as organizaccedilotildees enfrentam pessoas em necessidade de aacutegua saneamento bens

alimentares abrigo e cuidados de sauacutede e de nutriccedilatildeo Isto contribui para uma estrutura

operacional responsaacutevel em mateacuteria de assistecircncia humanitaacuteria (The Sphere Project

sdb Dyke e Waldmann 2004)

O documento estaacute dividido nos seguintes trecircs princiacutepios que devem ser respeitados pela

comunidade internacional humanitaacuteria

Direito a uma vida digna

O direito agrave vida eacute um princiacutepio e uma medida legislativa muito importante eacute um direito

humano Segundo a Carta Humanitaacuteria todos devem ver o seu direito agrave vida preservado

Com isto entende-se o direito a viver em dignidade e livre de tratamentos desumanos

ser impedido da liberdade alvo de traacutefico de pessoas e tratamentos degradantes bem

como puniccedilotildees crueacuteis e violentas Como eacute sabido as mulheres e crianccedilas satildeo tornadas

escravas sexuais e obrigadas a realizar trabalhos forccedilados juntando isto a deslocaccedilatildeo

forccedilada pode falar-se de traacutefico de pessoas que eacute considerado pela declaraccedilatildeo dos

Direitos Humanos um atentado agrave dignidade logo eacute uma violaccedilatildeo da declaraccedilatildeo

Refiram-se ainda as adoccedilotildees ilegais de crianccedilas oacuterfatildes que tambeacutem eacute uma das vertentes

do traacutefico de pessoas bem como o uso de crianccedilas em minas para armadilhar campos

com minas e na frente do exeacutercito (The Sphere Project sda pp 16-17 UN 1948)

A distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes

Eacute muito importante fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes em conflitos

armados pois os civis feridos e prisioneiros estatildeo protegidos atraveacutes do Direito

Internacional Humanitaacuterio e tecircm imunidade aos ataques coisa que os combatentes natildeo

tecircm Os ex-combatentes tambeacutem passam a usufruir dessa imunidade pois deixaram as

armas Este uacuteltimo aspeto eacute muito importante porque ex-combatentes satildeo sempre vistos

como combatentes e podem ser confundidos como tal sendo presos Em caso de prisatildeo

os combatentes de guerra usufruem de certos direitos especiais quanto ao tratamento

que devem ter Em guerras civis eacute difiacutecil fazer esta distinccedilatildeo porque podem existir

forccedilas militares natildeo reconhecidas e oficializadas Esta distinccedilatildeo consta da convenccedilatildeo de

Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais de 1977 conforme jaacute foi referido (The

Sphere Project sda pp 16-17)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

18

O princiacutepio da natildeo expatriaccedilatildeo

Este princiacutepio diz respeito aos refugiados e estabelece que nenhum refugiado deve de

forma alguma ser extraditado de volta para o seu paiacutes de origem onde a sua vida e

liberdade estariam ameaccediladas e correria risco de vida ou tortura devido agraves suas crenccedilas

raccedila religiatildeo ideologia politica entre outros Caso um refugiado seja expatriado o

Estado em questatildeo estaraacute a violar o Direito Internacional Humanitaacuterio e a Convenccedilatildeo de

1951 referente ao Estatuto do refugiado (The Sphere Project sda pp 16-17 UNHCR

2017)

A Carta Humanitaacuteria aborda ainda outro aspeto importante que satildeo as

responsabilidades e o papel que as organizaccedilotildees humanitaacuterias desempenham no terreno

de forma a que a populaccedilatildeo requerente de ajuda e refugiados natildeo corra perigo algum

Essas responsabilidades satildeo as seguintes

1) Evitar expor as viacutetimas a mais danos ou perigos como resultado das suas accedilotildees Neste

contexto o documento aborda a construccedilatildeo de campos para deslocados internos ou

refugiados em locais seguros que natildeo coloquem a vida destes em risco Esta

responsabilidade cabe em primeiro lugar ao Estado no qual a ONG ou OIG estaacute a

operar cabe-lhes garantir a seguranccedila do staff e da sua populaccedilatildeo Soacute em segundo lugar

eacute que cabe agraves agecircnciasorganizaccedilotildees zelar pelo bem-estar pela seguranccedila e satisfaccedilatildeo

das necessidades das pessoas que peccedilam ajuda para que seja restabelecida alguma

dignidade e que possam viver sem medo e terror com as suas necessidades baacutesicas

aliviadas (The Sphere Project sda pp 18)

2) Assegurar o acesso da populaccedilatildeo a uma assistecircncia imparcial Isto significa que as

agecircncias humanitaacuterias devem assistir todas as pessoas que necessitem principalmente

as pessoas que estejam numa situaccedilatildeo mais vulneraacutevel ou enfrentam exclusatildeo social por

motivos poliacuteticos eacutetnicos ou outros Este princiacutepio eacute um dos princiacutepios mais delicados

pois nem sempre as agecircncias humanitaacuterias conseguem aceder aos locais em contexto de

conflito armado que necessitam de assistecircncia das agecircncias O Estado deveria fornecer

escolta ou garantir o acesso seguro aos locais em questatildeo No entanto e como eacute de

prever caso esse local natildeo seja do interesse do Estado por estar dominado por rebeldes

por exemplo aquele natildeo iraacute facilitar o acesso Desta forma as agecircncias de forma a natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

19

correrem risco de vida limitar-se-atildeo aos locais seguros (The Sphere Progect sda

pp18)

3) Proteger as pessoas de danos fiacutesicos e psicoloacutegicos devido a violecircncia ou coerccedilatildeo

Neste princiacutepio falamos em proteger as pessoas de serem forccediladas ou induzidas a agir

contra a sua vontade o que eacute muito comum em contexto de conflito armado (The Sphere

Project sda pp 18)

4) Ajudar reivindicando direitos como a restituiccedilatildeo da propriedade ajudar a niacutevel social

e econoacutemico Eacute ainda o dever das agecircncias humanitaacuterias ajudar as viacutetimas a ultrapassar

as consequecircncias do abuso sexual a niacutevel fiacutesico e psicoloacutegico promovendo o acesso a

medicamentos e a recuperaccedilatildeo de abusos (The Sphere Project sda pp 18)

Por uacuteltimo eacute importante referir os padrotildees miacutenimos que a assistecircncia humanitaacuteria deve

respeitar no terreno de forma a uniformizar a accedilatildeo humanitaacuteria Os padrotildees miacutenimos de

assistecircncia humanitaacuteria foram definidos pelas agecircncias humanitaacuterias que trabalham no

terreno Quem aderir a este padratildeo miacutenimo de assistecircncia humanitaacuteria compromete-se a

assegurar as necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como aacutegua saneamento assistecircncia

meacutedica comida e abrigo para que seja comprido o direito a viver com dignidade Para

isso eacute necessaacuterio que Estado e organizaccedilotildees se comprometam a cumprir este princiacutepio

ao abrigo do direito internacional humanitaacuterio e direito do refugiado (The Sphere

Project sda)

Algumas agecircncias humanitaacuterias operam em determinadas aacutereas especiacuteficas de proteccedilatildeo

dos direitos humanos para que seja mais faacutecil fornecer ajuda Por exemplo existem

ONG especializadas em fornecer assistecircncia a crianccedilas tratar e lutar para a prevenccedilatildeo

de viacutetimas de violecircncia de gecircnero habitaccedilatildeo propriedade e terra minas ativas lei e

justiccedila Quanto agrave lei e justiccedila as agecircncias humanitaacuterias que forneccedilam este serviccedilo

enfrentam muitas vezes verdadeiros dilemas entre denunciar um crime de violaccedilatildeo dos

direitos humanos ou natildeo denunciar para que possam permanecer no terreno e defender

as viacutetimas de abusos fiacutesicos psicoloacutegicos de geacutenero entre outros (The Sphere Project

sda)

Em suma a conceccedilatildeo dos princiacutepios humanitaacuterios surgiu com a Cruz Vermelha tendo

os seus princiacutepios sido proclamados em Viena em 1967 Mais tarde com o aumento do

nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento de conflitos que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

20

necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido em 1994 o coacutedigo de conduta

humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se comprometeriam a respeitar os princiacutepios

humanitaacuterios fundamentais Este coacutedigo foi assinado por 140 agecircncias Outro

documento elaborado foi o Humanitarian Charter and Minimum Standards in Disaster

Response elaborado pelo Sphere Project em 1997 As proacuteprias Naccedilotildees Unidas tambeacutem

deram o seu importante contributo para disseminar os princiacutepios humanitaacuterios no

terreno Os princiacutepios fundamentais tecircm de ser postos em praacutetica tal como o Direito

Internacional Humanitaacuterio aliaacutes um eacute o complemento do outro A CICV (Comiteacute

Internacional da Cruz Vermelha) opera no terreno respeitando o Direito Internacional

Humanitaacuterio e rege-se pelos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios (Makintosh 2000)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

21

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a

abordagem humanitaacuteria

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding

A ONU tem um papel relevante na accedilatildeo securitaacuteria em cenaacuterios de ajuda humanitaacuteria

nomeadamente em Estados que estejam a atravessar conflitos armados e atraveacutes de

missotildees como as de peacekeeping e de peacebuilding A intervenccedilatildeo securitaacuteria

distingue-se da accedilatildeo humanitaacuteria pelo seu caraacuteter militar e poliacutetico Por vezes as

Naccedilotildees Unidas quando realizam uma intervenccedilatildeo militar seja de peacekeeping ou

dentro do peacebuilding podem em determinada circunstacircncias tomar partido por uma

das partes nas hostilidades ou parte conflituante sendo que estas operaccedilotildees tambeacutem

acontecem fora do estrito contexto humanitaacuterio Por sua vez numa situaccedilatildeo de

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria embora haja objetivos humanitaacuterios comuns o modo

de atuaccedilatildeo eacute militar e por isso claramente distinto da accedilatildeo humanitaacuteria

Para clarificar passa-se agrave definiccedilatildeo dos conceitos usados acima

Segundo as NU o peacekeeping corresponde ao seguinte

UN Peacekeepers provide security and the political and peacebuilding support to help countries make the

difficult early transition from conflict to peace UN Peacekeeping is guided by three basic principles

Consent of the parties Impartiality Non-use of force except in self-defence and defence of the mandate

(UN Peacekeeping sdd)

Esta ferramenta tem pois como objetivo ajudar os Estados em conflito a estabelecer e

manter a paz tendo provado ser um dos mecanismos mais eficazes da ONU para o

efeito Os militares do peacekeeping fornecem tambeacutem seguranccedila bem como apoio

poliacutetico para a construccedilatildeo da paz Os militares baseiam-se em trecircs princiacutepios que satildeo 1)

a imparcialidade (o que natildeo implica na formulaccedilatildeo atual neutralidade face ao mandato

que tecircm) 2) consentimento das partes para intervir no conflito (embora em casos

restritos como em casos de genociacutedio se possa aplicar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo

que natildeo precisa do consentimento mas que remete ao peace enforcement) 3) O natildeo uso

da forccedila tendo por exceccedilatildeo a autodefesa e a defesa do mandato como consta da citaccedilatildeo

acima (UN sda UN sdb Pinto 2007)

Ainda segundo Maria do Ceacuteu Pinto as operaccedilotildees de peacekeeping devem ser

imparciais mas tal natildeo implica ficarem indiferentes aos abusos dos direitos humanos

por parte de uma das partes das hostilidades Imparcialidade natildeo eacute pois sinoacutenima de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

22

neutralidade Logo desde que haja uma violaccedilatildeo dos direitos humanos os peacekeepers

devem agir jaacute que o dever deles eacute o de garantir o respeito dos direitos humanos aliviar

o sofrimento humano e garantir uma vida digna agrave populaccedilatildeo em questatildeo Existe por

isso o peacekeeping de terceira geraccedilatildeo denominado de peacekeeping ldquomusculadordquo por

Pinto (2007) ou peacekeeping ldquorobustordquo como eacute denominado pelas NU No entanto

este peacekeeping de terceira geraccedilatildeo continua a necessitar do consentimento do Estado

alvo ou das maiores partes do conflito Jaacute o uso da forccedila sem consentimento remete para

o peace enforcemente que eacute aplicar a paz atraveacutes da forccedila e eacute soacute usado este tipo de

missatildeo em uacuteltimo recurso (Pinto 2007 UN sda UN sdb)

Estas ferramentas satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas tambeacutem para

a proteccedilatildeo dos civis assistir ao desarmamento desmobilizaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo de ex-

combatentes suporte agraves organizaccedilotildees para as eleiccedilotildees proteccedilatildeo e promoccedilatildeo dos direitos

humanos e assistecircncia no restabelecimento do ldquoEstado de direitordquo (UN sda UN

sdb)

Por sua vez Peacebuilding significa na linguagem das Naccedilotildees Unidas

The term itself first emerged over 30 years ago through the work of Johan Galtung who called for the

creation of peacebuilding structures to promote sustainable peace by addressing the ldquoroot causesrdquo of

violent conflict and supporting indigenous capacities for peace management and conflict resolution (hellip)

The Secretary-Generalrsquos Policy Committee has described peacebuilding thus ldquoPeacebuilding involves a

range of measures targeted to reduce the risk of lapsing or relapsing into conflict by strengthening

national capacities at all levels for conflict management and to lay the foundations for sustainable peace

and development Peacebuilding strategies must be coherent and tailored to the specific needs of the 1

Three approaches to Peace peacekeeping peacemaking peacebuildingrdquo (UN 2010 pp 5)

Eacute pois uma accedilatildeo da ONU de identificaccedilatildeo e de suporte agraves estruturas de modo a que a

paz seja solidificada e os conflitos evitados Ou seja satildeo as atividades desenvolvidas

pela ONU para que a construccedilatildeo da paz seja feita no paiacutes onde houve conflito de modo

a que natildeo volte a acontecer o mesmo outra vez Tambeacutem visam fornecer todas as

ferramentas para a construccedilatildeo de um paiacutes forte com um aparelho de poder poliacutetico

soacutelido Logo eacute mais que o fim dos conflitos eacute a construccedilatildeo da paz de forma solidificada

e eficaz (UN 2010)

Segundo a mesma fonte o peacebuilding refere-se a cinco aacutereas que satildeo 1) o apoio agrave

seguranccedila baacutesica 2) os processos poliacuteticos a serem feitos para a construccedilatildeo e

manutenccedilatildeo da paz 3) a garantia da prestaccedilatildeo dos serviccedilos baacutesicos agrave populaccedilatildeo em

geral 4) a restauraccedilatildeo das funccedilotildees do governo central de modo a construir um aparelho

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

23

de poder forte e capaz de garantir e manter a paz bem como de resolver os conflitos

eacutetnicos ou entre grupos internos 5) a revitalizaccedilatildeo da economia para acabar com a

pobreza construir novas infraestruturas para desenvolver a produccedilatildeo para a

autossubsistecircncia do povo e de modo a que os bens fundamentais sejam garantidos a

todos (processo de desenvolvimento do paiacutes) (UN 2010 UN 2009)

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar

A intervenccedilatildeo humanitaacuteria natildeo eacute consensual no Direito no Direito Internacional e nas

Relaccedilotildees Internacionais Segundo o ICRC (2001) O Direito Internacional Humanitaacuterio

natildeo pode servir para legitimar conflitos armados No entanto os Estados aceitam este

tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria nas seguintes situaccedilotildees

The theory of intervention on the ground of humanity () recognizes the right of one State to exercise

international control over the acts of another in regard to its internal sovereignty when contrary to the

laws of humanity (Abiew citin ICRC 2001 pp 528)

O que se pode retirar desta citaccedilatildeo eacute que segundo o Direito Internacional Humanitaacuterio

eacute aceitaacutevel exercer controlo por parte de um Estado sobre a soberania de outro se este

natildeo respeita os direitos humanos fundamentais Ou seja podemos constatar que a

soberania de um Estado natildeo basta para a comunidade internacional natildeo agir face a um

genociacutedio por exemplo

hellip humanitarian intervention is defined as coercive action by States involving the use of armed force in

another State without the consent of its government with or without authorisation from the United

Nations Security Council for the purpose of preventing or putting to a halt gross and massive violations

of human rights or international humanitarian law (ICRC 2001 cit in Danish Institute of International

Afffairs 1991 pp 11)

Esta definiccedilatildeo complementa a anterior referindo que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute uma

accedilatildeo coerciva com recurso a armamento sobre um Estado sem o consentimento do

governo local e eventualmente sem o do Conselho de Seguranccedila das NU O intuito

deste tipo de intervenccedilatildeo eacute parar o desrespeito pelos direitos humanos e do direito

internacional humanitaacuterio (Gordon 1996 ICRC 2001)

Portanto o objetivo desta intervenccedilatildeo eacute aliviar o sofrimento humano e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados para que a paz possa ser estabelecida e o

genociacutedio prevenido ou interrompido Os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm de

ser imparciais e limitar-se a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para

fazerem respeitar os direitos humanitaacuterioshumanos violados e fornecer assistecircncia ao

povo local (Gordon1996 e ICRC 2001)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

24

Todavia este tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria corre o risco de natildeo ser imparcial por

existirem interesses subjacentes aos Estados que decidem intervir militarmente noutro

Estado A intervenccedilatildeo humanitaacuteria pode ser usada como um pretexto para aplicar uma

intervenccedilatildeo militar num Estado ou seja existe o risco de os motivos dessa intervenccedilatildeo

natildeo serem legiacutetimos e terem segundas intenccedilotildees que natildeo somente salvar vidas proteger

a populaccedilatildeo e aliviar o sofrimento humano Dificilmente um Estado corre elevados

riscos sem ter por traacutes outras intenccedilotildees segundo a visatildeo realista das relaccedilotildees

internacionais e por conseguinte poder instala ainda mais o caos no Estado alvo da

intervenccedilatildeo Ou seja pode ser uma carta branca para intervenccedilotildees militares de Estados

com segundas intenccedilotildees que podem ser geoestrateacutegicas ou poliacuteticas por exemplo O

que levanta as seguintes questotildees ateacute que ponto eacute eacutetico aplicar o termo humanitaacuterio

quando se usa a forccedila contra pessoas sendo elas viacutetimas para proteger outras Esta eacute

uma questatildeo que se pode considerar um verdadeiro dilema O uso da palavra

humanitaacuteria aplicada agrave intervenccedilatildeo militar e pode ser uma forma de legitimar o

desrespeito pelo princiacutepio da natildeo ingerecircncia e por conseguinte violar a soberania de

outro Estado que noutras condiccedilotildees natildeo seria aceite Daiacute o acreacutescimo da palavra

ldquohumanitaacuteriardquo a intervenccedilatildeo militar natildeo ser bem vista pela comunidade humanitaacuteria que

se rege pelos princiacutepios de aliviar o sofrimento humano salvar vidas e ajudar No caso

da Nigeacuteria do Haiti e da Libeacuteria nos anos 90 foi usada a figura intervenccedilatildeo militar

ldquohumanitaacuteriardquo para intervir no terreno embora pareccedilam evidentes motivos natildeo

humanitaacuterios (Massingham 2009 Weiss 2017)

Esta intervenccedilatildeo militar eacute uma opccedilatildeo cumulativa agraves operaccedilotildees de peacekeeping que se

revelam ineficazes na hora de proteger a populaccedilatildeo e as ONG OING e OIG

humanitaacuterias A intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria recorre ao uso da forccedila para atingir os

seus fins podendo ser estes proteger os humanitaacuterios a populaccedilatildeo local aliviar o

sofrimento humano velando pelo respeito dos Direitos Humanos e prevenindo crimes

contra a humanidade Ainda segundo Weiss ela eacute qualitativamente distinta do

peacekeeping uma vez que natildeo cumpre o princiacutepio do consentimento No entanto no

peacekeeping de terceira geraccedilatildeo tem havido uma evoluccedilatildeo para o peacekeeping

ldquomusculadordquo tendencialmente convergente com o peace enforcement Ou seja pode em

casos restritos e com consentimento do Conselho de Seguranccedila fazer-se o uso da forccedila

sem as restriccedilotildees convencionais (Weiss 2017 Pinto 2007 Pilbeam 2015b)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

25

Por tudo isso usar a palavra lsquohumanitaacuteriorsquo para uma intervenccedilatildeo de cariz militar natildeo eacute

bem aceite pelo Direito Internacional Humanitaacuterio que prefere uma puniccedilatildeo mais

severa aos Estados perpetradores dos crimes contra a humanidade ao inveacutes de usar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria pois Estados com mais poder militar se imiscuem e quebram o

princiacutepio da natildeo ingerecircncia podendo culminar em accedilotildees discriminatoacuterias no terreno e

problemas diplomaacuteticos entre Estados a niacutevel internacional Para aleacutem disso acrescentar

a palavra humanitaacuteria deveria ser reservado agraves organizaccedilotildees que pretendam aliviar o

sofrimento humano salvar vidas sem recurso agrave violecircncia e armas e natildeo aplicado agrave

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria O uso da palavra humanidade numa intervenccedilatildeo militar

pode dar azo a confusatildeo por parte da populaccedilatildeo local e dificultar o trabalho dos

humanitaacuterios no terreno tornando-os alvo de ataques tambeacutem Eacute por isso necessaacuterio

fazer uma clara distinccedilatildeo entre intervenccedilatildeo humanitaacuteria e accedilatildeo humanitaacuteria (ICRC

2001 Weiss 2017)

A declaraccedilatildeo das NU no capiacutetulo VII (UN Charter 1945) especifica quais as situaccedilotildees

em que pode ocorrer uma intervenccedilatildeo militar nomeadamente no artigo 42ordm que prevecirc

que em caso de ameaccedila agrave seguranccedila e paz internacional o Conselho de Seguranccedila pode

ativar uma intervenccedilatildeo militar

Por outro lado natildeo consta na declaraccedilatildeo das NU se eacute possiacutevel ou natildeo ou em que

situaccedilotildees devem avanccedilar para uma intervenccedilatildeo onde seja possiacutevel o uso da forccedila contra

um Estado caso se verifique um abuso dos direitos humanos ou desrespeito do Direito

Internacional O Direito Internacional Humanitaacuterio deveria equacionar regulamentar a

situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo humanitaacuteria Eacute que a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria parece ser

uma realidade e uma lsquonecessidadersquo em alguns casos em que as operaccedilotildees de

peacekeeping natildeo satildeo suficientes Nesses casos o problema eacute que a accedilatildeo humanitaacuteria

entrou num estado de colapso por falta de seguranccedila e depende em algumas situaccedilotildees

dos militares de operaccedilotildees de peacekeeping ou das intervenccedilotildees militares mais robustas

para poderem aceder a determinados territoacuterios de grande perigo o que leva agrave

necessidade de uma revisatildeo quanto ao papel da accedilatildeo humanitaacuteria e ao reconhecimento

da intervenccedilatildeo humanitaacuteria ainda que natildeo formalmente mas nos bastidores (ICRC

2001 Weiss 2017)

Portanto o uso da forccedila militar com cariz humanitaacuterio soacute deve ser feito em contexto de

crimes contra a humanidade como o genociacutedio crimes de guerra abusos sexuais ou

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

26

limpeza eacutetnica por exemplo e tem como objetivo proteger a populaccedilatildeo e aliviar o

sofrimento humano Os militares da intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria natildeo podem ser

confundidos com os capacetes azuis das operaccedilotildees de paz das NU pois natildeo fazem parte

da mesma missatildeo e os capacetes azuis tecircm um papel mais diversificado para a

manutenccedilatildeo da paz construccedilatildeo do aparelho de poder e negociaccedilotildees podendo soacute usar a

forccedila em caso de legiacutetima defesa e defesa do mandato Jaacute os militares da intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria partem para o terreno para travar os perpetradores dos crimes contra

a humanidade usando a forccedila se necessaacuterio Ou seja eacute a versatildeo mais letal das

intervenccedilotildees internacionais e deve ser usada em uacuteltimo recurso (Weiss 2017)

Dentro das intervenccedilotildees militares pode ainda ser invocado o princiacutepio da

responsabilidade de proteger (R2P) fixado no acircmbito das NU que eacute executado ao

abrigo das NU A responsabilidade de proteger (R2P) pode levar a uma intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mas deve ser autorizada pelo Conselho de Seguranccedila das NU O

R2P deve ser usado em uacuteltimo recurso com meios proporcionais agrave situaccedilatildeo a niacutevel de

armamento e uma vez esgotados todos os meios diplomaacuteticos No Ruanda em 1994 os

peacekeepers natildeo fizeram o uso da forccedila para travar o genociacutedio tendo vindo a missatildeo a

fracassar As NU foram amplamente criticadas pela inaccedilatildeo o que levou ao debate sobre

a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria e posteriormente sobre a R2P (Bellamy 2015

Massingham 2009)

O conceito do R2P eacute pois um princiacutepio legitimador de um tipo de intervenccedilatildeo armada

usado quando os direitos humanos baacutesicos natildeo satildeo respeitados em determinado Estado

em conflito como por exemplo genociacutedios ou violaccedilotildees em massa Em 1994 no

Ruanda uma intervenccedilatildeo sob o R2P teria sido justificaacutevel Esta intervenccedilatildeo natildeo

necessita de autorizaccedilatildeo do Estado para intervir daiacute o termo responsabilidade de

proteger No entanto este conceito eacute complexo devido ao princiacutepio de natildeo ingerecircncia

sobre os assuntos soberanos de determinado Estado Cabe primeiramente ao Governo

do Estado assegurar a proteccedilatildeo da sua populaccedilatildeo No entanto caso o Estado natildeo queira

ou natildeo consiga assegurar a sua proteccedilatildeo e a populaccedilatildeo esteja a ver os seus direitos

baacutesicos serem desrespeitados devido ao conflito armado ou fragilidade do Estado a

comunidade internacional deve agir e intervir Um problema possiacutevel eacute a comunidade

internacional natildeo querer entrar em problemas diplomaacuteticos com determinados Estados

que estejam neste tipo de situaccedilatildeo ou ainda com Estados que apoiem partes tal como a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

27

Ruacutessia (membro permanente do Conselho de Seguranccedila da ONU) a Bashar Al Assad

enquanto os EUA apoiam os rebeldes Havendo diferentes pontos de vista e sendo

necessaacuterio o consenso dos membros permanentes do Conselho de Seguranccedila das NU a

decisatildeo de avanccedilar sob a responsabilidade de proteger pode ser tardia ou mesmo

impossiacutevel tal como se tem verificado (Lobo 2009 Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger nasceu com o relatoacuterio do ICISS (International

Commission on Intervention and State Sovereignity) em 2001 e teve como principal

motor o conflito recente agrave eacutepoca do Ruanda O princiacutepio foi adotado na cimeira

mundial de 2005 com cuidadosa distinccedilatildeo das violaccedilotildees maiores que podem determinar

a ingerecircncia Na praacutetica o Conselho de Seguranccedila soacute tornou oficial a referecircncia agrave

responsabilidade de proteger em 2006 com a resoluccedilatildeo 1674 sobre a proteccedilatildeo de civis

em conflitos armados Esta resoluccedilatildeo foi usada em agosto de 2006 ao estabelecer a

resoluccedilatildeo 1706 que autorizava o destacamento dos peacekeepers para o Darfur Apoacutes o

Sudatildeo vieram as missotildees sob a responsabilidade de proteger da Liacutebia Cocircte drsquoIvoire

Sudatildeo do Sul e Ieacutemen em 2011 e Siacuteria e Repuacuteblica centro Africana em 2012 (Bellamy

2015)

Para que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria seja legitimada sob o conceito do R2P devem ser

reunidas as seguintes condiccedilotildees 1) Estar-se perante uma situaccedilatildeo de genociacutedio ou seja

extermiacutenio de populaccedilatildeo de uma determinada origem eacutetnica ou extermiacutenio de uma

populaccedilatildeo em larga escala 2) Existir intenccedilatildeo justa para que seja justificado o uso de tal

accedilatildeo 3) Usar os meios estritamente necessaacuterios para alcanccedilar os objetivos

estabelecidos 4) Assegurar que as perspetivas de tal accedilatildeo poderatildeo ter uma forte

probabilidade de vir a ter sucesso e de que as suas consequecircncias natildeo seratildeo piores que a

natildeo accedilatildeo (Lobo 2009 Pilbeam 2015b)

As operaccedilotildees de peacekeeping peacebuilding e peace enforcement satildeo muitas vezes

confundidas como jaacute foi referido com o envio de forccedilas militares a tiacutetulo individual de

um Estado por exemplo os EUA e a Franccedila que jaacute fizeram intervenccedilotildees militares sob

pretexto humanitaacuterio As primeiras satildeo missotildees de paz enviadas e coordenadas pela

ONU de forma a restabelecer apaziguar manter a paz e reconstruir o aparelho de

poder para que o Estado conflituante natildeo volte ao estado beligerante Jaacute o segundo eacute

realizado de forma a acabar com os crimes contra a humanidade e podem ser forccedilas

militares de um Estado em particular que decide ir para o terreno embora as

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

28

intervenccedilotildees militares sobretudo quando existem militares mortos sejam difiacuteceis de

explicar agrave populaccedilatildeo de origem dos militares Por outro lado o ldquohumanitarismo

militarrdquo ou seja as intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de paz no terreno levam a

confusatildeo com as ONG Pior neste momento assiste-se a situaccedilotildees em que estatildeo

presentes no terreno intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de peacekeeping o que gera

ainda mais confusatildeo (Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger eacute ainda considerada um princiacutepio e natildeo uma taacutetica mas

o Conselho de Seguranccedila falhou com a Siacuteria ao decidir intervir primeiro na Liacutebia por

questotildees poliacuteticas e natildeo por questotildees de emergecircncia humanitaacuteria O que leva agraves

seguintes questotildees Seraacute a intervenccedilatildeo humanitaacuteria verdadeiramente humanitaacuteria Seraacute

que existem interesses subjacentes a essas mesmas ajudas Seraacute que legitimar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute dar uma carta branca a ingerecircncias nos assuntos da soberania

de forma legiacutetima e aparentemente solidaacuteria A R2P eacute aina assim o tipo de intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mais bem aceite pela comunidade internacional e humanitaacuteria pois

natildeo assenta soacute na invasatildeo imediata e beacutelica mas tambeacutem nos princiacutepios de prevenir

reagir e reconstruir (Bellamy 2015 Weiss 2017)

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares

A coexistecircncia entre militares e humanitaacuterios eacute uma situaccedilatildeo recorrente e natildeo tem de

gerar conflitos deveraacute eacute haver respeito muacutetuo por cada um desses agentes e natildeo deveratildeo

tentar imiscuir-se nos assuntos uns dos outros A accedilatildeo humanitaacuteria eacute um complemento

agraves missotildees de paz Se a accedilatildeo humanitaacuteria estaacute focada em aliviar o sofrimento humano

salvar vidas garantir as necessidades baacutesicas e assistecircncia meacutedica os militares poderatildeo

dedicar-se inteiramente agrave proteccedilatildeo e pacificaccedilatildeo ao inveacutes de terem de realizar estas

tarefas tambeacutem O aumento dos riscos de ataque aos profissionais humanitaacuterios leva a

que esta coexistecircncia se transforme em colaboraccedilatildeo atraveacutes do pedido de

proteccedilatildeoescolta militar Por outro lado colaborando os humanitaacuterios com forccedilas

militares estatais ou ateacute mesmo via organizaccedilotildees internacionais podem ser conotadas

com um dos lados das hostilidades e perder por isso a imagem de neutralidade (Seiple

1996)

Este tema eacute algo complexo e tem de ser encarado com grande cuidado e sensibilidade

pois se por um lado a escolta militar seria a soluccedilatildeo perfeita para assegurar a seguranccedila

no terreno das ONG OING e OIG por outro lado poderaacute pocircr em causa os princiacutepios

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

29

fundamentais humanitaacuterios Existe ainda uma resistecircncia por parte da comunidade

humanitaacuteria em embarcarem missotildees integradas com os capacetes azuis das NU

(Harmer 2008) Por isso na presente dissertaccedilatildeo tentar-se-aacute discutir a melhor soluccedilatildeo

para esse problema de forma a que ambos os atores natildeo sejam prejudicados na sua

missatildeo (Seiple 1996)

A accedilatildeo humanitaacuteria tem como missatildeo aliviar o sofrimento humano e a accedilatildeo securitaacuteria

tem caraacuteter militar e policial estatildeo ambas no terreno isto eacute humanitaacuterios e soldados

coexistem no terreno em missotildees e natildeo podem colocar em causa a missatildeo uns dos

outros Cada uma tem a sua missatildeo uma a de aliviar o sofrimento humano salvar vidas

e devolver a dignidade agrave populaccedilatildeo alvo de terror a outra a de assegurar a seguranccedila

fazer os direitos humanos serem respeitados aliviar o sofrimento humano e pacificar o

terreno no qual estatildeo a operar assegurar que as negociaccedilotildees ocorram sem problemas e

ajudar a reconstruir o Estado desde o aparelho de poder agraves infraestruturas No entanto a

forccedila militar natildeo deixa de ter um caraacuteter beacutelico e natildeo eacute neutro nem independente Isto

pode levar a que a populaccedilatildeo se sinta renitente recuse e se desvie de certas ONG

exatamente por colaborarem com determinada forccedila militar por medo do que possa vir

a acontecer Podem sofrer represaacutelias se colaborarem com o lado A ou B das

hostilidades e este fator poderaacute colocar em causa a missatildeo da comunidade humanitaacuteria

o que soacute eacute possiacutevel tendo a confianccedila da populaccedilatildeo e acesso aos territoacuterios para isso a

neutralidade eacute fulcral (Gibbons e Piquard 2006)

Eacute claro que o equiliacutebrio tambeacutem depende da forccedila militar de que se trata Por exemplo

militares sob a eacutegide da ONU seratildeo mais bem vistos conseguem manter a

imparcialidade e tecircm alguma neutralidade (dependendo dos casos) natildeo colocando assim

em causa o trabalho humanitaacuterio no terreno Jaacute se a ONG ou OIG for escoltada por uma

forccedila militar estatal poderaacute perder a sua neutralidade imparcialidade e independecircncia

pois a sua proteccedilatildeo depende diretamente das forccedilas armadas estatais Depender do

Estado para ver a sua seguranccedila assegurada poderaacute ter as seguintes consequecircncias 1) as

ONG OING e OIG poderatildeo ser pressionadas para natildeo tratar e ajudar determinada

populaccedilatildeo ou etnia 2) poderatildeo ver o seu acesso bloqueado a determinados territoacuterios

cuja populaccedilatildeo o Estado natildeo quer tratar 3) seratildeo temidas e malvistas pela populaccedilatildeo

que estaacute a sofrer agraves matildeos do Estado natildeo procurando ou aceitando a sua ajuda Por isso eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

30

importante analisar a escolta militar tendo em conta este fator (Gibbons e Piquard

2006)

No entanto Svoboda (2014) no seu livro The interaction between humanitarian and

militar actors where do we go from here refere que a interaccedilatildeo entre o profissional

humanitaacuterio e o militar eacute complicada e deve acontecer em uacuteltima instacircncia quando a

seguranccedila do humanitaacuterio eacute colocada em causa devido ao facto de os militares neste

caso os peacekeepers as agecircncias militares privadas a forccedila militar estatal natildeo se

regerem pelos mesmos princiacutepios que os humanitaacuterios e terem em certas circunstacircncias

de usar a forccedila para garantir a seguranccedila no terreno manter e restabelecer a paz Para

tal pode acontecer que estes possam vir a cometer atos incompatiacuteveis com a forma de

estar na Accedilatildeo Humanitaacuteria como por exemplo matar ou usar qualquer tipo de

armamento pois tal vai contra aos princiacutepios humanitaacuterios e Direito Internacional

Humanitaacuterio Pedir ajuda aos peacekeepers agraves agecircncias militares privadas ou outra

forccedila militar pode levar a que a imagem dos humanitaacuterios fique denegrida face agrave

populaccedilatildeo local agraves instituiccedilotildees ou pessoas individuais que doam fundos e que podem

natildeo ver com bons olhos esta interaccedilatildeo o que significa que se pode perder uma fonte de

financiamento o que seria grave para as ONG que dependem destas doaccedilotildees (Svoboda

2014 Cordaid 2014)

Seria por isso mais beneacutefico nos casos de conflitos armados que militares e

humanitaacuterios trabalhassem em conjunto o estritamente necessaacuterio para o sucesso da

missatildeo de ambos Estes natildeo tecircm de partilhar missotildees e princiacutepios Mas devem colaborar

para que a ajuda humanitaacuteria natildeo corra risco de fracassar que a ajuda chegue a toda a

populaccedilatildeo mesmo nos locais de difiacutecil acesso e desta forma seraacute mais faacutecil devolver a

dignidade fornecer os bens de primeira necessidade construir abrigos e campos de

refugiados seguros sempre sem colocar em causa as missotildees de ambos que satildeo

diferentes Eacute claro que esta questatildeo eacute mais complexa fazendo os humanitaacuterios

depararem-se com um grande dilema e tendo de fazer escolhas que em princiacutepio natildeo

deveriam ter de fazer Essa escolha eacute abdicamos dos princiacutepios fundamentais em prol

da nossa seguranccedila seguimos para o terreno mesmo sabendo que corremos perigo de

vida como seremos acolhidos pela populaccedilatildeo local ao chegar com escolta militar como

reagiratildeo os nossos patrocinadores estas satildeo questotildees e dilemas que as ONG enfrentam

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

31

em terrenos delicados muitas vezes essa escolha eacute entre seguranccedila e eacutetica humanitaacuteria

(Cordaid 2014)

Segundo Harmer (2008) o princiacutepio da neutralidade natildeo pode ser levado agrave letra

principalmente em Estados que estejam a atravessar um conflito armado onde a

inseguranccedila e o perigo de vida satildeo uma constante no terreno Deve por isso haver uma

grande reflexatildeo sobre os princiacutepios humanitaacuterios os crescentes ataques aos

humanitaacuterios de forma a que as ONG possam assistir agrave populaccedilatildeo de forma segura sem

ter de quebrar algum princiacutepio (Harmer 2008)

A assistecircncia deve ser provida em caso de conflito armado pela ajuda humanitaacuteria e de

forma a melhor operacionalizar a assistecircncia aos refugiados e agraves pessoas deslocadas

internamente mas para que tal seja possiacutevel eacute preciso criar um ambiente de seguranccedila

aos humanitaacuterios sempre respeitando os seus princiacutepios para que estes consigam

realizar o seu trabalho (Byman et al 2000)

Os humanitaacuterios deveriam ser ajudados pelas forccedilas militares em mateacuteria de transporte

de pessoal e de material de subsistecircncia como por exemplo aacutegua comida

medicamentos e outros mantimentos que de outra forma natildeo seria possiacutevel prover

Segundo Byman et al (2000) a cooperaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios equivaleria a

evidenciar o melhor dos dois mundos Se a forccedila militar pode garantir o transporte

analisar o solo para ver se estaacute armadilhado analisar a aacutegua potaacutevel e fornecer

assistecircncia meacutedica de urgecircncia este seria um bom aliado para a accedilatildeo humanitaacuteria que

pode oferecer assistecircncia meacutedica e tratamentos a meacutedio e longo prazo comida

mantimentos ajuda psicoloacutegica reconstruccedilatildeo satisfazer as necessidades baacutesicas ajudar

na construccedilatildeo de abrigos e gerir campos de refugiados de forma neutra Uma vez que

estes agem frequentemente em separado eacute difiacutecil poder fornecer ajuda humanitaacuteria aos

locais que realmente necessitam sem correr riscos ou demorar demasiado tempo Se

houvesse essa entreajuda os humanitaacuterios poderiam chegar ao local com ajuda militar

pela via aeacuterea ou mariacutetima Logo a forccedila aeacuterea poderia ser um grande aliado das ONG

OING e OIG na hora de ter de realizar deslocaccedilotildees de bens e pessoas (Byman et al

2000)

De certa forma segundo o autor os profissionais humanitaacuterios dependem dos

profissionais militares para poderem desenvolver o seu trabalho de forma segura e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

32

eficaz Por isso os militares devem garantir a seguranccedila nos aeroportos nos portos e

nos locais onde operarem bem como fornecer mapas atualizados das estradas seguras

para realizar as viagens ateacute ao local em questatildeo Evitar-se-iam muitos constrangimentos

e perdas de tempo (Byman et al 1967)

international military forces might also be mandated to play a relevant role in conflict situations

including through the provision of safe and secure environments for the civilian population and for

humanitarian actors to operate in Indeed military and police can execute essential tasks in situations

where governments are unable or unwilling to protect their own population in ways that go beyond the

mandate of humanitarian actors and hence are complementary to those (ECHO sd pp 1)

Segundo Stoddard et al (2009) a maioria das ONG contrata agecircncias militares com a

condiccedilatildeo de natildeo usar armas ou seja contratam soacute a escolta mas natildeo datildeo autorizaccedilatildeo

por uso de violecircncia o que leva ao mesmo problema este tipo de escolta soacute resolve

situaccedilotildees em paiacuteses cujo grau de perigo natildeo eacute muito elevado No entanto algumas ONG

viram-se forccediladas a contratar agecircncias privadas para escolta militar que recorressem agrave

forccedila caso fosse necessaacuterio para os proteger em caso de Estados que estatildeo a atravessar

um periacuteodo de grande conflito Pois escolta militar que natildeo possa fazer uso da forccedila eacute

afinal o mesmo que natildeo ter escolta e por conseguinte proteccedilatildeo eacute ter por exemplo um

agente a acompanhar fardado e nada mais As agecircncias militares privadas e a escolta

militar devem ser usadas em uacuteltimo recurso e nunca como prioridade O problema eacute que

os perpetradores dos ataques locais aos humanitaacuterios tecircm a noccedilatildeo de que os

peacekeepers natildeo podem fazer uso da forccedila a natildeo ser em legiacutetima defesa ou em casos

extremos onde os Direitos Humanos satildeo colocados em causa No entanto os ataques

aos humanitaacuterios natildeo satildeo por vezes graves o suficiente para que haja uma quebra do

princiacutepio do natildeo uso da forccedila O que leva a que a escolta militar natildeo leve propriamente

agrave diluiccedilatildeo dos ataques muito pelo contraacuterio podem intensificar (Stoddard et al 2009)

Seiple (1996) refere que apesar das diferenccedilas marcantes entre o humanitaacuterio e o

soldado a verdade eacute que a interaccedilatildeo no terreno entre os dois tem sido um caso de

sucesso Seiple (1996) apresenta o caso da relaccedilatildeo entre as forccedilas armadas dos EUA e as

ONG no terreno Segundo o autor esta relaccedilatildeo natildeo eacute natural Neste documento satildeo

apresentados quatro casos em que houve uma interaccedilatildeo no terreno entre ONG e

militares dos EUA (as forccedilas militares dos EUA estavam a realizar em caa um dos

casos uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria) que satildeo os seguintes Operation Provide Comfort

a norte do Iraque em 1991 Operation Sea Angel no Bangladesh em 1991 Operation

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

33

Restore Hope na Somaacutelia em 1992 e Operation Supporte Hope no Ruanda em 1994 Eacute

importante sinalizar que estas missotildees foram intervenccedilotildees humanitaacuterias Estas

operaccedilotildees foram efetivamente casos de sucesso militares e humanitaacuterios cooperaram no

terreno com sucesso No entanto a operaccedilatildeo Sea Angel no Bangladesh foi marcada por

diversas tensotildees poliacuteticas entre o governo e as forccedilas militares dos EUA criando uma

dificuldade de operar no terreno Na operaccedilatildeo Restore Hope na Somaacutelia as ONG

viram-se obrigadas a aceitar cooperar com as forccedilas militares dos EUA que estavam a

realizar uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria no terreno A cooperaccedilatildeo um bocado forccedilada

devido agraves circunstacircncias resultou Segundo Seiple (1996) a relaccedilatildeo entre ONG e

militares foi realizada com base no respeito por cada uma as missotildees Uma das ONG

que soacute aceitou em ultimo recurso esta cooperaccedilatildeo foi o MSF pois sabia que sem

seguranccedila natildeo poderiam continuar no terreno No caso da operaccedilatildeo Supporte Hope no

Ruanda natildeo existe uma cooperaccedilatildeo direta entre militares os EUA e ONG neste caso as

ONG que estivessem a operar no terreno tinham de fazer o pedido de escolta militar agraves

NU e esta fazia a ponte entre as ONG e as forccedilas militares no terreno O uacutenico contacto

que ONG e as forccedilas militares dos EUA tinham era o CMOC (The Civil Military

Operation Center) jaacute que neste caso especiacutefico do Ruanda as NU preferiram ser elas a

organizar e prover a seguranccedila ou escolta militar agraves ONG no terreno pois estava a

acontecer um genociacutedio e o clima de inseguranccedila era devastador tendo de haver grande

rigor na cooperaccedilatildeo que era feita a pedido das NU atraveacutes do CMOC Militares e

humanitaacuterios trabalharam em conjunto com sucesso O uacutenico problema que Seiple

aponta agrave accedilatildeo humanitaacuteria eacute a falta de coordenaccedilatildeo no terreno entre ONG OING e OIG

pois havendo coordenaccedilatildeo seria mais faacutecil prover seguranccedila (Seiple 1996)

Se Seiple (1996) via a relaccedilatildeo entre ONG e forccedilas armadas como algo beneacutefico e

essencial para uma boa assistecircncia humanitaacuteria e para ajudar a restabelecer a paz jaacute

Harmer (2008) natildeo pensa o mesmo Harmer redigiu um artigo sobre as missotildees

integradas tendo este tema originado diversos debates acesos entre proacute-integracionistas

e contra Os humanitaacuterios encontram-se renitentes acerca deste tipo de missotildees pois

natildeo querem colocar em causa a sua neutralidade e imparcialidade e perder a

independecircncia o que poderia ter como consequecircncias natildeo poderem assistir populaccedilotildees

que estariam no topo das suas listas teriam de obedecer agraves ordens e objetivos dos

peacekeepers e poderiam ser vistos como entidades poliacuteticas o que vai contra ao que eacute a

essecircncia da Accedilatildeo Humanitaacuteria No entanto como jaacute foi referido a violecircncia sobre os

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

34

humanitaacuterios verificou um aumento draacutestico a partir do ano 2000 tecircm vindo a ter

dificuldade de acesso a certos locais de alto conflito e as ONG no terreno tecircm

dificuldade em sinalizar os seus humanitaacuterios coisa que os peacekeepers fazem bem

embora nem sempre conseguem garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios tambeacutem Eacute

preciso encontrar um ponto de convergecircncia para a accedilatildeo conjunta e no resto

estabelecer bem as diferenccedilas e os pontos em que natildeo podem ceder ou admitir

intervenccedilatildeo muacutetua (Harmer 2008)

A autora refere que o Secretaacuterio-Geral agrave eacutepoca Kofi Annan apelou aquando do

relatoacuterio do painel sobre as missotildees de paz das NU para um plano de integraccedilatildeo agraves

missotildees das NU e referiu que missotildees integradas devem ser adotadas em missotildees de

paz No entanto existe uma grande resistecircncia por parte de grandes ONG e OING a este

tipo de missotildees integradas sejam elas na forma maximalista ou minimalista No modelo

minimalista existe o trabalho do OCHA que tem uma identidade separada e a

integraccedilatildeo eacute feita atraveacutes de uma partilha de informaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo em vez de um

quadro organizacional unificado ou seja a Coordenaccedilatildeo Humanitaacuteria (CH) e o ERSG

(Representante Especial do Secretaacuterio-Geral) mas ao mesmo tempo mantendo um

escritoacuterio individual do OCHA fora do campo O OCHA tem um papel fulcral pois eacute o

elo de ligaccedilatildeo entre as ONG OING e OIG agraves NU mantendo-se no entanto

independecircncia destes face agraves NU de forma a que a imparcialidade independecircncia e a

neutralidade natildeo sejam postas em causa Tambeacutem se evita que as NU exerccedilam pressatildeo

para que a missatildeo seja conduzida de uma forma que natildeo a planeada (Harmer 2008)

Uma integraccedilatildeo maximalista significa a remoccedilatildeo da identidade separada do OCHA e a

lideranccedila humanitaacuteria das NU estaraacute presente integralmente na estrutura de transmissatildeo

geral A maioria das ONG eacute contra a versatildeo maximalista de integraccedilatildeo como a Save the

Children e a Care tendo como principal argumento a necessidade da existecircncia e

abertura do HC (Humanitarian Coordinator) a todos incluindo as organizaccedilotildees que se

sentem desconfortaacuteveis com a ideia de trabalhar com militares Tal eacute perfeitamente

compreensiacutevel pois ao trabalhar com as NU mesmo que numa versatildeo internacionalista

minimalista existe sempre uma perda de independecircncia na hora de decidir quais os

locais prioritaacuterios a assistir no terreno por exemplo (Harmer 2008)

No entanto ainda segundo Harmer (2008) deve ser tida em conta a opccedilatildeo

integracionista minimalista em que permanece o corpo de coordenaccedilatildeo OCHA tendo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

35

mesmo a UNICEF o ACNUR e a OXFAM reconhecido que esta visatildeo integracionista

pode facilitar o delinear de estrateacutegias militares e poliacuteticas sem colocar em causa ou

tentando pocirc-los o minimamente possiacutevel os princiacutepios humanitaacuterios O OCHA deve

neste contexto agir em separado das NU de forma a que possa agir de forma neutra e

imparcial consoante a situaccedilatildeo na qual estatildeo a fornecer ajuda humanitaacuteria para que natildeo

sofra influecircncias e pressotildees A autora refere ainda que nos tempos de hoje a accedilatildeo

humanitaacuteria natildeo pode mais aplicar a neutralidade pura e dura pois existem grandes

perigos de ataques no terreno a ONG sendo necessaacuterio recorrer agraves forccedilas militares

exatamente para garantir a sua seguranccedila A relaccedilatildeo entre humanitaacuterio-militar deve ser

amplamente delineada tendo de ser estabelecido um guia onde sejam indicadas as

circunstacircncias em que deve ser feito o pedido de escolta e proteccedilatildeo aos militares e

como deve ser feito esse procedimento (Harmer 2008)

A adoccedilatildeo do modelo de missatildeo integrada minimalista poderaacute ser a melhor opccedilatildeo para a

comunidade humanitaacuteria em terrenos de alta instabilidade e inseguranccedila Com este

modelo as organizaccedilotildees humanitaacuterias obtecircm proteccedilatildeo e seguranccedila sem colocarem em

causa os princiacutepios humanitaacuterios As missotildees integradas minimalistas natildeo tecircm de se

basear necessariamente na escolta militar podem basear-se tambeacutem na partilha de

informaccedilatildeo acerca dos terrenos seguros terrenos armadilhados mapas com os melhores

caminhos a percorrer entre outras informaccedilotildees No entanto esta colaboraccedilatildeo deve ser

bem estudada e analisada Deve ser tambeacutem estabelecido um guia de colaboraccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares tal como foi criado para a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as

organizaccedilotildees humanitaacuterias (Harmer 2008)

A OXFAM por exemplo redigiu um documento intitulado Un Integrated Missions and

Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations Integrated

Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) acerca das missotildees integradas

com as NU expondo os problemas que poderiam advir desta parceria Segundo a

OXFAM a neutralidade e imparcialidade estariam em causa num mandato que fosse

para aleacutem das partilhas de pontos de vista comum pois teriam uma integraccedilatildeo mais

estrutural sob uma gestatildeo comum do mandato onde as operaccedilotildees de peacekeeping

funccedilotildees poliacuteticas e organizaccedilotildees humanitaacuterias estariam sob a chefia de um uacutenico

mandato Esta situaccedilatildeo poder levar a que os humanitaacuterios percam a independecircncia de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

36

aceder a determinados locais sejam usados para fins poliacuteticos e podem perder a

confianccedila da populaccedilatildeo (OXFAM 2014)

As proacuteprias NU reconheceram em 2013 os riscos inerentes agraves abordagens de

planeamento e avaliaccedilatildeo integrados Esses riscos seriam o facto de poder ser dada a

prioridade agraves missotildees militares ou poliacuteticas que possam influenciar a accedilatildeo humanitaacuteria

como o acesso humanitaacuterio e a seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno As pessoas

podem natildeo procurar ajuda humanitaacuteria de forma a que natildeo se vejam comprometidos e

natildeo sofram represaacutelias Logo caso isto aconteccedila os humanitaacuterios podem natildeo ser

percebidos como imparciais e neutros aos olhos da populaccedilatildeo falhando assim a missatildeo

(OXFAM 2014)

Iraacute ser agora feita uma apreciaccedilatildeo do referido documento da OXFAM (2014) Este

documento eacute relevante para a presente dissertaccedilatildeo pois apresenta o ponto de vista da

ONG em relaccedilatildeo agraves missotildees integradas propondo um conjunto de regras de cooperaccedilatildeo

no terreno entre ONG OING e as NU

Para mitigar estes riscos a OXFAM preparou um conjunto de regras para cooperar

especificamente com as NU

A accedilatildeo humanitaacuteria deve ser separada das operaccedilotildees de peacekeeping ou

poliacuteticas das NU de forma a que natildeo sejam confundidas as missotildees e natildeo haja

confusotildees no terreno

Uma associaccedilatildeo visiacutevel entre os humanitaacuterios que cooperam com as NU e outros

objetivos das NU deve ser minimizada em conflitos e contextos de elevada

fragilidade de forma a prevenir potenciais problemas no terreno

Antes de decidir qualquer abordagem de integraccedilatildeo devem ser feitas avaliaccedilotildees

de risco envolvendo ONG e OING De forma alguma as ONG e OING devem

partir para uma missatildeo integrada sem participarem no processo de planeamento

e abordagem da missatildeo

A avaliaccedilatildeo deve ser revista e feita com regularidade procedendo a mudanccedilas se

necessaacuterias a missatildeo integrada pode ser portanto revista e atualizada consoante

a evoluccedilatildeo da missatildeo no terreno (OXFAM 2014 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

37

A OXFAM refere ainda que as missotildees integradas com as NU devem ter em conta os

princiacutepios humanitaacuterios incluindo assistecircncia baseada na imparcialidade agraves pessoas em

necessidade A OXFAM eacute uma das ONG que eacute muitas vezes associada agraves agecircncias

humanitaacuterias das NU devido aos mecanismos de coordenaccedilatildeo fundos das NU e uso dos

meios de transporte aeacutereos das NU O facto de haver esta associaccedilatildeo agraves agecircncias das

NU pode levar agrave confusatildeo podendo a populaccedilatildeo crer que estas fazem parte das

poliacuteticas e missotildees integradas das NU que muitas vezes apoiam uma das partes das

hostilidades o que coloca em causa o trabalho das ONG ou OING No entanto existem

outras situaccedilotildees que podem levar a este tipo de mal-entendido a saber

Colocar organizaccedilotildees humanitaacuterias e outros atores das NU no mesmo lugar deve

ser evitado a todo o custo pois poderaacute dar azo a mal-entendidos no terreno e

deitar por terra todo o trabalho da ONG ou OING no terreno

O uso da escolta militar para fins humanitaacuterios eacute em determinados casos

fundamental para aceder a territoacuterios No entanto antes de partir para esta

escolha a opccedilatildeo deve ser minuciosamente estudada e soacute em ultimo recurso

usada

Apresentar as operaccedilotildees de peacekeeping ou toda a missatildeo integrada como

sendo humanitaacuteria quando natildeo o eacute Satildeo missotildees completamente diferentes que

decidem cooperar de forma que os humanitaacuterios possam ter o miacutenimo de

condiccedilotildees para operar no terreno

Usar as operaccedilotildees de peacekeeping para fornecer os Quick Impact para

desenvolver confianccedila na missatildeo no mandato e no processo de paz Os QIPs satildeo

projetos de pequena escala (duraccedilatildeo meacutedia de 6 meses) que tecircm como objetivo

ter um impacto imediato que contribua para a estabilizaccedilatildeo reconstruccedilatildeo e

estabilizaccedilatildeo no poacutes-conflito Podem tambeacutem ter um impacto no

desenvolvimento a longo prazo (OXFAM 2014 pp 3)

As NU tambeacutem tecircm feito um esforccedilo para conseguir elaborar um modelo de missatildeo

integrada no qual eacute respeitado o espaccedilo humanitaacuterios e os princiacutepios humanitaacuterios de

forma a mitigar os riscos que podem advir No entanto em 2014 as NU defenderam

uma missatildeo integrada estrutural com a representaccedilatildeo das ONG pela Humanitarian

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

38

Country Team e pelo OCHA (o OCHA faz tambeacutem uma avaliaccedilatildeo e realiza planos

estrateacutegicos de atuaccedilatildeo no terreno consoante os casos) que tem realizado avaliaccedilotildees de

risco subjacentes a este tipo de missatildeo (OCHA sd) No entanto no caso do Sudatildeo do

Sul as NU foram criticadas por terem optado pela missatildeo integrada estrutural onde os

peacekeepers e humanitaacuterios satildeo alvo da mesma gestatildeo programa e poliacuteticas o que

numa situaccedilatildeo como o Sudatildeo do Sul eacute impensaacutevel Como eacute sabido a operaccedilatildeo

peacekeeping esteve do lado do governo ajudando a restabelecer a instituiccedilatildeo de

governaccedilatildeo o que leva a que os humanitaacuterios sejam eles tambeacutem colados ao governo e

seja limitado o acesso a determinados locais ou determinada populaccedilatildeo natildeo queira ser

tratada por eles

Este eacute pois o Guia de missotildees integradas realizado pela OXFAM onde satildeo expostos os

riscos o que deve ser evitado e como evitar que haja um atropelamento dos princiacutepios

fundamentais humanitaacuterios pelas NU no terreno Desta forma respeitando esta guia

seriam evitados potenciais riscos de os princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria serem postos em

causa de haver aproveitamento poliacutetico da missatildeo integrada e limitar os humanitaacuterios a

determinados locais Uma vez as condiccedilotildees respeitadas e a seguranccedila assegurada aos

humanitaacuterios seria mais faacutecil para as ONG ou OING operarem no terreno (OXFAM

2014)

A OXFAM prefere a missatildeo integrada estrateacutegica pois eacute uma abordagem mais coerente

para um trabalho comum entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a operaccedilatildeo de peacekeeping Neste

caso as ONG iriam trabalhar com o OCHA que se manteria independente em relaccedilatildeo

agraves NU e imparcial natildeo sendo toleradas pressotildees para agir de uma dada forma ou aceder

ao local X Jaacute a missatildeo integrada estruturante natildeo faz sentido segundo o OXFAM

Admite uma comunicaccedilatildeo efetiva entre organizaccedilotildees humanitaacuterias e operaccedilotildees de

peacekeeping ou atores poliacuteticos que podem proteger a populaccedilatildeo e o reconhecimento

dos seus direitos No entanto a accedilatildeo humanitaacuteria deve manter-se independente da accedilatildeo

securitaacuteria ou consideraccedilotildees poliacuteticas

Para que as missotildees integradas sejam bem-sucedidas as NU devem respeitar os

seguintes pontos segundo a OXFAM (2014)

A accedilatildeo humanitaacuteria deve continuar estruturalmente separada da poliacutetica ou

componentes de peacekeeping relativamente a uma missatildeo integrada das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

39

Logo uma associaccedilatildeo visiacutevel entre missotildees humanitaacuterias e outros objetivos

devem ser minimizados

Antes de decidir partir para a abordagem de uma missatildeo integrada deve ser feita

uma avaliaccedilatildeo que envolva ONG e OING de forma a identificar potenciais

riscos para a accedilatildeo humanitaacuteria e o que pode ser feito para mitigar os mesmos

Essa avaliaccedilatildeo deveraacute ser feita com regularidade e revista de forma a que

possam ser feitas correccedilotildees

Quaisquer que sejam os acordos feitos relativos agraves missotildees integradas os

mandatos das NU devem sempre respeitar os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios incluindo uma assistecircncia imparcial baseada apenas na

necessidade da populaccedilatildeo

As orientaccedilotildees do IASC (Inter-Agency Standing Commitee) sobre a manutenccedilatildeo

da distinccedilatildeo entre accedilatildeo humanitaacuteria as atividades poliacuteticas ou de manutenccedilatildeo da

paz devem ser rigorosamente aplicadas sempre que haja riscos e estes sejam

encobertos pelas NU Isto inclui o Guia de 2004 sobre as relaccedilotildees civis-militares

em situaccedilotildees de emergecircncia o Guia de 2003 sobre o uso de recursos militares e

de defesa civil para apoiar atividades humanitaacuterias das NU em situaccedilotildees

complexas de emergecircncias e o de 2012 sobre o uso de escoltas armadas aos

comboios humanitaacuterios Estes guias devem ser amplamente promovidos

As negociaccedilotildees humanitaacuterias do acesso agraves pessoas em necessidade devem manter-

se separadas dos objetivos poliacuteticos de forma a que os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios natildeo sejam colocados em causa (OXFAM 2014 pp 4)

Uma vez que as NU assegurem estes pontos todos a OXFAM compromete-se a que vai

Distinguir-se das missotildees das NU enquanto se compromete com a promoccedilatildeo da

coordenaccedilatildeo e proteccedilatildeo dos civis

Promover a distinccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e funccedilotildees poliacuteticas ou de

peacekeeping das missotildees das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

40

Trabalhar com o IASC o HCT e grupos de coordenaccedilatildeo das ONG no terreno de

forma a promover a consciencializaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo consistente e salvaguarda dos

princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria

Invocar a poliacutetica de IAP (Integrated Assessment and Planning) da ONU para

pedir uma revisatildeo dos acordos e devem ser aplicadas medidas de mitigaccedilatildeo no

caso de haver acordos de integraccedilatildeo estabelecidos que sejam considerados como

tendo riscos para accedilatildeo humanitaacuteria

Apoiar os esforccedilos de especialistas humanitaacuterios para desenvolver exerciacutecios de

gerenciamento de crises e fazer um preacute planeamento em campo de forma a

treinar as forccedilas militares que trabalham sob o mandato das NU implantado em

missotildees de manutenccedilatildeo da paz Esses exerciacutecios devem ser explicados aos

comandantes militares e agraves agecircncias de ajuda de forma a avaliarem as

necessidades o potencial e vantagens que os humanitaacuterios gozam nas relaccedilotildees

comunitaacuterias e anaacutelises geograacuteficas bem como as relaccedilotildees sociopoliacuteticas locais

ressalvando a importacircncia de manter uma distinccedilatildeo visiacutevel entre atividades

humanitaacuterias e de manutenccedilatildeo da paz

Solicitar ativamente esforccedilos para rever as missotildees integradas durante a sua

duraccedilatildeo e incentivar a avaliaccedilatildeo independente de sua relaccedilatildeo custo-eficaacutecia

contra o impacto imediato e de longo prazo no final da missatildeo Deve haver um

mecanismo de monitoramento que permita que as missotildees aprendam no terreno

avaliando o que funciona e o que natildeo funciona permitindo proceder a mudanccedilas

se necessaacuterio (OXFAM 2014 pp 5)

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno

Eacute verdade que as ONG humanitaacuterias hospitais humanitaacuterios entidades religiosas e

escolas tecircm estatuto neutral no conflito e natildeo podem por isso ser alvo de ataque

segundo as convenccedilotildees de Genebra no entanto o que se tem verificado eacute um aumento

de ataques a estas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees levando por exemplo MSF agrave

necessidade de trocar a cor da carrinha para natildeo ser confundida com a carrinha do

exeacutercito e ser alvo de ataques como tantas outras ONG tecircm sido alvo O hospital da

MSF foi inclusive alvo em 2015 no Afeganistatildeo por um ataque dos EUA que tendo

provocados 19 mortos dos quais 12 eram membros da organizaccedilatildeo Segundo os MSF

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

41

natildeo haacute desculpa para o ataque dos EUA pois o hospital estava devidamente identificado

e mapeado ou seja identificado O bombardeamento durou 30 minutos mesmo apoacutes a

organizaccedilatildeo avisar os EUA Esta ocorrecircncia eacute muito grave pois ataques a hospitais

podem ser considerados crimes de guerra e mostra que as organizaccedilotildees humanitaacuterias

operam num contexto onde a seguranccedila eacute precaacuteria o que torna difiacutecil realizarem o seu

trabalho Para evitar este tipo de trageacutedias eacute necessaacuterio haver um bom mapeamento das

ONG OING e OIG bem como dos hospitais Este eacute um exemplo de que os ataques tecircm

de ser prevenidos natildeo soacute a partir do terreno mas tambeacutem fora do terreno a niacutevel

internacional para que situaccedilotildees destas natildeo voltem a ocorrer No entanto os ataques satildeo

maioritariamente realizados no terreno por atacantes nacionais do Estado em conflito

armado (Smith 2012 Globo 2015)

A confusatildeo que pode advir da escolta militar eacute uma questatildeo fulcral pois se por um lado

a escolta militar daacute seguranccedila por outro pode levar a que possam ser alvos de ataques

por parte de miliacutecias locais Podem tambeacutem ser facilmente colados a uma das partes das

hostilidades e confundidos com militares caso o material e as carrinhas natildeo sejam

devidamente identificadas tal como aconteceu com o MSF referido acima (Gibbons e

Piquard 2006)

Todos os veiacuteculos das ONG hospitais e produtos devem ser devidamente identificados

de forma a que natildeo sejam confundidos com as forccedilas militares em geral como iraacute ser

abordado no guia de colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares das NU que refere isto

mesmo Militares e ONG humanitaacuterias podem cooperar de forma minuciosa bem

planeada em uacuteltimo recurso e identificando adequadamente as instalaccedilotildees carros

campos de refugiados produtos entre outros Todo o cuidado eacute pouco pois um

pequeno deslize pode ter como consequecircncia uma confusatildeo e resultar num ataque As

ONG devem distanciar-se o maacuteximo dos militares e usar a escolta como jaacute foi referido

como uacuteltimo recurso (Gibbons e Piquard 2006)

Em 2013 registou-se 460 viacutetimas humanitaacuterias das quais 155 pessoas foram

assassinadas e 134 foram raptados e gravemente feridos Houve um aumento de 66

das viacutetimas entre 2012 e 2013 Esta eacute a problemaacutetica central deste estudo e por isso seraacute

feita de seguida uma conceptualizaccedilatildeo sobre o sistema securitaacuterio das Naccedilotildees Unidas e

agecircncias militares privadas nos cenaacuterios humanitaacuterios Jaacute no relatoacuterio de 2015 consta

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

42

que em 2014 foram assassinados 120 humanitaacuterios 88 ficaram feridos e 121 foram

raptados (Ryou et al 2014 Humanitarian Outcomes 2015)

A maior parte das viacutetimas eram membros de ONG locais e faziam parte da Cruz

Vermelha e Crescente Vermelho e os ataques e emboscadas eram em 2013

maioritariamente perpetrados no caminho para os locais onde estes iam operar Para se

ter uma noccedilatildeo mais precisa 87 das viacutetimas satildeo nacionais do paiacutes onde a ajuda estaacute a

ser fornecida e 13 satildeo membros internacionais A seguranccedila dos humanitaacuterios tem

vindo a revelar-se uma razatildeo fundamental para o insucesso de certas missotildees pois natildeo

conseguem chegar aos locais outras ONG decidem abandonar o terreno por natildeo

conseguirem realizar o seu trabalho em seguranccedila Segundo The Aid Worker Security

Report podemos verificar no documento relativo a seguranccedila na aacuterea da accedilatildeo

humanitaacuteria que pouco tem sido investido na mitigaccedilatildeo dos riscos na estrada e natildeo soacute

A 11 de Julho de 2016 foi realizado um ataque a humanitaacuterios em lugar em que estes

foram torturados espancados e abusados sexualmente Este caso violento de ataque a

humanitaacuterios foi amplamente divulgado devido agrave inaccedilatildeo por parte dos peacekeepers

face aos pedidos de ajuda dos humanitaacuterios (Ryou et al 2014 e Adongo 2017)

Os ataques aos humanitaacuterios tecircm ocorrido em 30 Estados No entanto trecircs quartos dos

ataques foram realizados em apenas cinco Estados que estatildeo a passar por um conflito

armado e uma falha de governaccedilatildeo (Estados fraacutegeis) Esses Estados satildeo Sudatildeo do Sul

Sudatildeo Afeganistatildeo Siacuteria e Paquistatildeo Estes ataques satildeo sobretudo raptos e tiroteio

depois vecircm assaltos sem armas de fogo e em uacuteltimo lugar o recurso a explosivos No

entanto este uacuteltimo meacutetodo de ataque tem vindo a sofrer um aumento significativo

entre 2006 e 2013 (Humanitarian Outcomes 2014)

Segundo dados mais recentes do relatoacuterio de Czwarno et al (2017) verifica-se que

houve de facto um aumento do nuacutemero de ataques entre 2007 e 2016

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

43

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terreno

Fonte Czwarno M Harmer A e Stoddard A (2017)

Eacute ainda abordado em Ryou et al (2014) e Brabant et al (2010) o procedimento de

treino dos membros das ONG para uma travessia segura para o local onde pretendam

operar Este programa de treino eacute intitulado de SOP (Standard Operating Procedure)

Neste programa constam os seguintes toacutepicos

bull Aprender conduccedilatildeo defensiva para as situaccedilotildees em que precisariam de fugir de

uma determinada situaccedilatildeo de perigo e adquirir capacidade de negociaccedilatildeo no caso de se

depararem com uma situaccedilatildeo em que teratildeo de negociar com o chefe dos rebeldes do

grupo eacutetnico tribo entre outros

bull Adotar guias de instruccedilatildeo ou manuais de boa conduta em caso de ter de passar

check-points em caso de fogo armado assaltos sequestros etc Este ponto eacute muito

importante pois eacute necessaacuterio ir preparado psicologicamente para fazer a travessia por

check-points saber que tipo de documentos mostrar o que dizer como agir e em caso

de fogo armado quais os procedimentos de proteccedilatildeo do pessoal a adotar

bull Fazer sempre pedido de autorizaccedilatildeo para movimentar o staff ou viajar para

outros locais eacute necessaacuterio avisar sempre e realizar o pedido de autorizaccedilatildeo para natildeo

terem problemas nos check-points e correrem o risco de serem detidos

bull Adotar o procedimento em que todos os elementos do grupo avisam a sua

partida e chegada ao local Este procedimento deve ser adotado pela esquipa de forma a

saberem onde cada elemento estaacute a que horas estaacute prevista a chegada e estarem sempre

0

50

100

150

200

250

300

350

2007 2011 2014 2017

Incidentes

Viacutetimas

humanitaacuterios

mortos

humanitaacuterios

eridos

raptos de

humanitaacuterios

Viacutetimas

internacionais

Viacutetimas

nacionais

5

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

44

contactaacuteveis de modo a que seja faacutecil identificar se um membro do grupo estaacute em

problemas devido agrave incomunicabilidade desaparecimento entre outros

bull Estabelecer toques de recolher e mapear as aacutereas que natildeo sejam seguras no

momento preciso em que pensam partir Este ponto eacute essencial para garantir a seguranccedila

do staff e natildeo correrem riscos desnecessaacuterios

bull Mudar as rotinas para que natildeo sejam alvo faacutecil dos rebeldes ou outras forccedilas

militarespopulaccedilatildeo local que queiram atacar e o staff deve ser acompanhado pelo liacuteder

da comunidade com a qual vatildeo trabalhar de forma a que seja garantida a sua seguranccedila

bull Usar raacutedio de alta frequecircncia e equipamentos sateacutelite em missotildees de longa

distacircncia para que todos os elementos da equipa permaneccedilam contactaacuteveis

bull Regras de conduta entre dois carros e espaccedilamento entre eles eacute importante

sobretudo num campo em que natildeo conhecemos nem estamos acostumados (Ryou et al

2014 pp 8-9 Brabant et al 2010 pp 12-16)

O relatoacuterio de Ryou et al (2014) aponta a escolta militar como ultimo recurso usado

pelas ONG e quando usada eacute fornecida pelo governo do Estado em conflito armado ou

pelos peacekeepers ou pela NATO A NATO eacute uma opccedilatildeo agrave qual a comunidade

humanitaacuteria deveraacute recorrer em uacuteltimo recurso pelo simples facto de natildeo se manter

neutra no terreno o que poder A NATO tem um compromisso com as NU quanto a

assegurar a paz e seguranccedila mundial (Ryou et al 2014 e NATO 2016)

A NATO em conjunto com as NU e a UE atua a prevenir crises gerir conflitos ajudar

a estabilizar em situaccedilotildees de poacutes-conflito Esta cooperaccedilatildeo estende-se agrave avaliaccedilatildeo e

gestatildeo de crises cooperaccedilatildeo civil-militar que eacute o foco do tema que estaacute a ser retratado

nesta dissertaccedilatildeo treino e educaccedilatildeo combate agrave corrupccedilatildeo no setor da defesa accedilatildeo

contra as minas mitigaccedilatildeo das ameaccedilas representadas por dispositivos explosivos

improvisados capacidades civis promoccedilatildeo do papel das mulheres em paz e seguranccedila

proteccedilatildeo de civis incluindo crianccedilas conflitos armados combate agrave violecircncia e violecircncia

de gecircnero controle de armas e natildeo proliferaccedilatildeo e a luta contra o terrorismo A

cooperaccedilatildeo eacute ainda reforccedilada com as NU e outros atores internacionais como a UE e a

Organizaccedilatildeo para a Seguranccedila e a Cooperaccedilatildeo na Europa (OSCE) que satildeo partes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

45

integrantes do contributo da NATO para uma abordagem abrangente quanto agrave gestatildeo e

operaccedilotildees de crise (NATO 2016)

Retomando entatildeo a questatildeo referente agraves opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno agrave primeira vista as melhores opccedilotildees seriam mesmo escolta e

proteccedilatildeo no acircmbito de missotildees sob o princiacutepio da R2P as missotildees integradas

minimalistas ou as agecircncias militares privadas No caso das missotildees integradas em

cooperaccedilatildeo com os peacekeepers respeitando o guia de cooperaccedilatildeo entre militar-

humanitaacuterio no caso das agecircncias militares privadas caso estejam devidamente

regulamentadas no direito internacional humanitaacuterio Por uacuteltimo o peace enforcement ao

abrigo do princiacutepio do R2P eacute a melhor opccedilatildeo para Estados que estejam numa situaccedilatildeo

de alta inseguranccedila pois eacute uma intervenccedilatildeo de emergecircncia A escolta pode facilitar a

deslocaccedilatildeo no entanto eacute preciso respeitar os princiacutepios fundamentais da accedilatildeo

humanitaacuteria e as ONG OING e OIG humanitaacuterias respeitarem as missotildees dos militares

com os quais estatildeo a cooperar nesse preciso momento Esta cooperaccedilatildeo tem como

intuito melhorar a seguranccedila e proteger os humanitaacuterios e natildeo dificultar o trabalho de

ambos (Bellamy 2015)

O problema com a cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao

abrigo do R2P natildeo estaacute isenta de perigos podendo mesmo ser mais os pontos negativos

do que favoraacuteveis Pois os militares sob este tipo de missatildeo natildeo satildeo neutros partindo

para o terreno para acabar com a calamidade que estaacute a acontecer ou seja atacar os

responsaacuteveis pelas atrocidades que poderatildeo ser os proacuteprios governantes Sendo o

governo o responsaacutevel pelas atrocidades os militares do peace enforcement iratildeo estar

contra a forccedila que estaacute no poder e por conseguinte estando os humanitaacuterios a receber

escolta do peace enforcement iratildeo sofrer represaacutelias como ataques ou ver o acesso

negado a determinados locais poderaacute mesmo seraacute negada a permissatildeo de permanecer

no terreno e poderatildeo ser atacados por miliacutecias O perpetrador das atrocidades podem

ainda ser miliacutecias e por conseguinte natildeo ser faacutecil fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e

natildeo combatentes podendo ser atacados civis no terreno colocando uma vez mais a

comunidade internacional num dilema entre a seguranccedila e respeitar os princiacutepios da

neutralidade e imparcialidade colocando-os numa situaccedilatildeo de grande fragilidade

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

46

No entanto existe uma necessidade de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios no terreno e a

comunidade humanitaacuteria eacute fulcral quanto agrave proteccedilatildeo dos civis assistindo medicamente

fornecendo bens essenciais como comida aacutegua medicaccedilatildeo e apoio psicoloacutegico

acolhem refugiados e IDP fazem uso das suas influecircncias para dar apoio juriacutedico agraves

viacutetimas e garantem proteccedilatildeo Estes pontos referidos tecircm um papel crucial na pacificaccedilatildeo

dos territoacuterios O espaccedilo humanitaacuterio neutro e imparcial daacute uma sensaccedilatildeo de proteccedilatildeo agrave

populaccedilatildeo um refugioabrigo e este espaccedilo pode ser colocado em causa com uma

missatildeo integrada com os militares do peace enforcement pois a comunidade

humanitaacuteria eacute politizada involuntariamente perdendo a neutralidade Ou seja eacute um

dilema que os humanitaacuterios atravessam no terreno dilema entre a seguranccedila a

permanecircncia no terreno e salvar vidas (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Apesar destes pontos negativos a verdade eacute que eacute impossiacutevel para a comunidade

humanitaacuteria manter-se neutra neste tipo de conflitos e precisa de escolta para conseguir

prosseguir com a sua missatildeo Segundo Bellamy (2015) a missatildeo sob o princiacutepio da

R2P no Sri Lanka entre 2008-2009 foi mal sucedida as NU natildeo tiveram capacidade

suficiente para proteger os civis e garantir o acesso dos humanitaacuterios aos locais onde

residiam os civis em necessidade A comunidade humanitaacuteria no terreno viu-se forccedilada

a terminar a missatildeo devido ao facto de o governo ter restringido o acesso das

organizaccedilotildees humanitaacuterias e o staff das NU foi persistentemente intimidado As NU natildeo

tentaram chamar o governo agrave realidade evidenciando que restringir o acesso dos

humanitaacuterios vai contra agraves suas obrigaccedilotildees internacionais As NU falharam tambeacutem

quanto ao seu dever de informar os Estados sobre violaccedilotildees dos direitos humanos no

terreno A comunidade humanitaacuteria natildeo pode cooperar com este tipo de accedilotildees vai

contra agrave essecircncia da accedilatildeo humanitaacuteria Logo o peace enforcement sob o princiacutepio do

R2P que inicialmente poderia ser uma soluccedilatildeo viaacutevel para garantir a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios no terreno (devido ao princiacutepio subjacente e agraves restriccedilotildees e regras riacutegidas

de atuaccedilatildeo no terreno) deixa de o ser a partir do momento em que falha como no Sri

Lanka para com os cidadatildeos e para com a comunidade humanitaacuteria uma vez que natildeo

conseguiu garantir um acesso seguro e a permanecircncia dos humanitaacuterios no terreno

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Portanto uma missatildeo integrada no terreno com o peace enforcement ao abrigo do

princiacutepio da responsabilidade de proteger pode ser a soluccedilatildeo mais raacutepida e a mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

47

adequada pois estatildeo todos empenhados em aliviar o sofrimento humano salvar vidas e

por termo agraves atrocidades No entanto na praacutetica esta eacute uma situaccedilatildeo bastante complexa

mas que natildeo deve ser descartada A decisatildeo quanto agrave adoccedilatildeo de uma missatildeo integrada

entre o peace enforcement ao abrigo do R2P e organizaccedilotildees humanitaacuterias deve ser

avaliada e decidida caso a caso (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

No entanto a colaboraccedilatildeo entre militar e humanitaacuterio pode ser fomentada de outra

forma estabelecendo uma verdadeira parceria onde cada um manteacutem a sua

independecircncia e no caso dos humanitaacuterios a imparcialidade e neutralidade A forccedila

militar preferencial para esta parceria seria os peacekeepers pois satildeo uma forccedila militar

internacional e imparcial Desta forma os dois atores complementam-se sem que haja

interferecircncia nas missotildees de cada um Segundo Gibbons e Piquard essa parceria pode

acontecer das seguintes formas

1 A ONG humanitaacuteria pode pedir coordenadas especificas aos militares sobre a

seguranccedila de determinada regiatildeo pedir instruccedilotildees sobre a melhor hora e caminho para

fazer a viagem ateacute determinado local considerado perigoso Desta forma a equipa

poderaacute viajar para o local atraveacutes de um caminho mais seguro recomendado pelos

militares acostumados no terreno Devem tambeacutem permanecer em contacto com a forccedila

militar com a qual estatildeo a colaborar de modo a que caso haja um problema estes

possam assistir a equipa)

2 Poderatildeo pedir contactos ou para agilizar a comunicaccedilatildeo entre a ONG e o liacuteder

da comunidade com a qual iratildeo trabalhar de forma a evitar problemas desagradaacuteveis e a

que sejam aceites no local e assim a ajuda poder ser fornecida sem

3 Os militares podem dar formaccedilatildeo aos humanitaacuterios de autodefesa seguranccedila

como por exemplo o uso da raacutedio como meio de comunicaccedilatildeo mapas entre outros e

como organizarem a logiacutestica toda de forma raacutepida e eficaz (Gibbons e Piquard 2006

pp25-95)

Caso a escolta militar natildeo possa ser dispensada existe ainda a possibilidade de os

militares escoltarem a equipa agrave paisana ou seja sem a farda de modo a natildeo chamarem

a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo local ou dos ldquoinimigosrdquo Deste modo os humanitaacuterios

realizariam a viajarem em seguranccedila a populaccedilatildeo natildeo perderia a confianccedila na ONG

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

48

pois natildeo teriam como saber que estavam a ser escoltados por uma forccedila militar Este

meacutetodo seria para usar esporadicamente (Gibbons e Piquard 2006 pp25-95)

O que se pretende demonstrar com as medidas anteriormente expostas eacute que os

humanitaacuterios devem recorrer soacute em ultimo recurso agrave escolta militar Antes podem pedir

colaboraccedilatildeo do tipo backoffice pedindo informaccedilotildees ou um mapeamento dos caminhos

seguros para chegar a determinado local pedir formaccedilatildeo sobre o uso da raacutedio por

sateacutelite como meio de comunicaccedilatildeo formaccedilatildeo de autodefesa conduccedilatildeo e uso de

determinadas ferramentas de logiacutestica que poderatildeo vir a ser uacuteteis no futuro de forma a

contribuir para uma estadia mais segura sem colocar em causa a missatildeo de ambos e os

princiacutepios humanitaacuterios (Gibbons e Piquard 2006)

Segundo Gibbons e Piquard (2006) ONG OING e OIG natildeo precisam de estar de costas

voltadas para os militares podem colaborar em conjunto de diversas formas que natildeo

sejam diretamente a escolta para natildeo serem associados a determinada forccedila poliacutetica Soacute

como uacuteltimo recurso como em caso de grande perigo deveratildeo pedir escolta ou usar os

meios de transporte militares neste caso o aeacutereo seria o mais desejaacutevel para levar o

maacuteximo de mantimentos possiacutevel

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios

Devido agraves necessidades de proteccedilatildeo e seguranccedila dos humanitaacuterios tecircm-se assistido ao

surgimento de agecircncias de seguranccedila privadas que fornecem serviccedilos de proteccedilatildeo agrave

comunidade humanitaacuteria Peter Singer intitula estas agecircncias de ldquoagecircncias militares

privadasrdquo que oferecem seguranccedila treino para missotildees no terreno e apoio logiacutestico

Hoje as AMP (agecircncias militares privadas) operam em mais de 50 paiacuteses e tiveram um

papel decisivo nos conflitos dos seguintes Estados Angola Croaacutecia Etioacutepia-Eritreia e

Serra Leoa Estas agecircncias militares satildeo geridas por militares reformados e podem ter

mera funccedilatildeo consultiva como tambeacutem podem ter um papel de uma empresa

transnacional usando meios como aviotildees e comandos no terreno para aleacutem da sua vasta

experiecircncia atraveacutes de missotildees realizadas muitas vezes no terreno para o qual iratildeo

fornecer o serviccedilo (Singer 2006)

Podemos dividir as agecircncias de seguranccedila privadas em duas grandes aacutereas que satildeo as

agecircncias militares privadas constituiacutedas por ex-militares reformados ou que tenham

saiacutedo da forccedila militar estatal da qual fazia parte e tecircm como principal objetivo fornecer

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

49

serviccedilos de seguranccedila militar em terrenos de conflito armado internacional ou natildeo caso

seja necessaacuterio e as agecircncias de seguranccedila privada que natildeo iratildeo ser profundamente

exploradas nesta dissertaccedilatildeo A ONU tem vindo a contratar os serviccedilos destas agecircncias

militares privadas bem como as ONG e OING Como eacute possiacutevel constatar os

humanitaacuterios vivem momentos de grande inseguranccedila no terreno caso o Estado em

questatildeo natildeo forneccedila essa seguranccedila agrave ONG que estaacute a operar no terreno As agecircncias

podem fornecer apoio logiacutestico de seguranccedila principalmente nas viagens para o

territoacuterio onde iratildeo trabalhar e trabalho de consultoria Por outro lado haacute as agecircncias de

seguranccedila privadas que realizam o serviccedilo de seguranccedila apenas como um policia

realizaria em territoacuterio nacional Este tipo de agecircncias natildeo tem a responsabilidade de

proteger territoacuterios ou bens privados mas sim de proteger as pessoas neste caso os

humanitaacuterios nas deslocaccedilotildees e no territoacuterio As ONG OING e OIG tecircm vindo a

recrutar os serviccedilos das agecircncias militares privadas pois estas estatildeo habituadas a operar

em contexto de conflitos Estas agecircncias podem ser contratadas por ONG OING OIG

pelo governo por indiviacuteduos a tiacutetulo privado e por empresas privadas Segundo Pilbeam

(2015a) os principais serviccedilos que fornecem satildeo

Combate as agecircncias militares privadas podem ser contratadas para tomar diretamente

parte das hostilidades assistindo as tropas no terreno em combate em caso de falta de

militares

Treino podem igualmente ser contratadas para treinar novos meacutetodos taacuteticos de

sobrevivecircncia como atravessar certas estradas perigosas novos meacutetodos de combate e

como usar determinado armamento bem como meacutetodos de sobrevivecircncia e medicina

de terreno e sobrevivecircncia

Suporte podem ser contratados para fornecer apoio logiacutestico como por exemplo gerir

os bens alimentares e serviccedilos construccedilatildeo e uso de novas tecnologias de informaccedilatildeo

como a raacutedio por exemplo

Seguranccedila este eacute o serviccedilo mais contratado pelas ONG ONIG e OIG humanitaacuterias

com este serviccedilo eacute pretendido garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos como os profissionais

humanitaacuterios campos de refugiados edifiacutecios terrenos entre outros Tecircm tambeacutem como

funccedilatildeo garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos durante o transporte para o terreno Hoje

tambeacutem tecircm a funccedilatildeo de garantir a seguranccedila dos dados e do computador

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

50

Inteligecircncia este serviccedilo diz respeito a recolhimento de dados e anaacutelise dos mesmos

atraveacutes de pesquisa e observaccedilatildeo

Reconstruccedilatildeo estes serviccedilos satildeo muitas vezes requeridos em situaccedilotildees de poacutes-conflito e

o seu principal trabalho eacute livrar terrenos que possam estar minados reconstruccedilatildeo de

infraestruturas e restaurar sistemas essenciais agrave sobrevivecircncia como a aacutegua o

saneamento e a eletricidade (Pilbeam 2015a pp 200)

Pilbeam refere que no caso de Ruanda a ONU teve a necessidade de contratar AMP

para assistir os peacekeepers antes e depois da crise natildeo soacute a niacutevel securitaacuterio mas

tambeacutem a niacutevel de reconstruccedilatildeo logiacutestica entre outros Este tipo de situaccedilotildees natildeo

deveria acontecer pois torna a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios dependentes dos serviccedilos

destas agecircncias militares privados o que aumenta o nuacutemero de mercenaacuterios no terreno

aumenta as despesas tornando a accedilatildeo securitaacuteria num negoacutecio privado Outro problema

eacute o facto de existir um vazio legal na hora de julgar estes militares em caso de infraccedilatildeo

da lei no Estado em que estatildeo a operar Estes natildeo poderatildeo tambeacutem usufruir do estatuto

de prisioneiro de guerra (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam 2015a)

Por exemplo a agecircncia Defense System Limited (DSL) proveu proteccedilatildeo agrave UNICEF no

Sudatildeo e na Somaacutelia e agrave OMS em Angola A Armour Group foi contratada pelo ACNUR

para realizar serviccedilo de seguranccedila no Queacutenia O Dyn Corp disponibilizou meios aeacutereos

e uma rede sateacutelite para comunicaccedilotildees para a ONU mais especificamente para os

membros das operaccedilotildees de peacekeeping em Timor Leste O Pacific Architects

Engeneers (PAE) contribuiu com poliacutecias civis para a missatildeo da ONU no Haiti Esta

contrataccedilatildeo natildeo tem nenhum guia ou legislaccedilatildeo que especifique como onde e em que

circunstacircncias devem ser contratadas este tipo de agecircncias militares privadas de forma

a que possam ser evitados problemas no futuro (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam

2015a)

As organizaccedilotildees humanitaacuterias recorrem unicamente agraves agecircncias de militares privadas

quando a sua seguranccedila corre elevados riscos no local onde pretendam operar e o Estado

natildeo garante escolta militar e seguranccedila aos humanitaacuterios da ONG que pretende operar

naquele local ficando assim ao criteacuterio da ONG recorrer a agecircncias de seguranccedila

privada regressar ou correr o risco mesmo assim Raramente as ONG pedem ajuda em

termos de seguranccedila aos militares que estatildeo em operaccedilatildeo de peacekeeping ou outros

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

51

militares no terreno para que os seus princiacutepios fundamentais natildeo sejam abalados Com

o aumento dos sequestros e mortes de humanitaacuterios aumentou tambeacutem o nuacutemero de

ONG a contratarem agecircncias privadas de seguranccedila Sete agecircncias da ONU admitem ter

contratado agecircncias de seguranccedila para poderem operar em terrenos que estejam a

atravessar por um conflito armado Este facto mostra bem a falta de militares com que a

ONU se depara e a necessidade cada vez maior de garantir a seguranccedila no terreno dos

seus profissionais (Singer 2006)

Singer levanta um problema na contrataccedilatildeo de agecircncias de seguranccedila privadas por

ONG que eacute o facto de estas natildeo saberem como trabalhar em conjunto com militares e

quais os limites de accedilatildeo e conduta destas agecircncias Somente o Comiteacute Internacional da

Cruz Vermelha a Oxfam e a Mercycorps elaboraram documentos sobre a conduta das

agecircncias de seguranccedila privada num manual onde satildeo estabelecidos os limites de accedilatildeo

tipo de armas a usar as tarefas entre outros Ou seja elaboraram um documento onde eacute

estabelecido que tipos de accedilotildees podem e natildeo podem ter no terreno direitos e deveres

para que natildeo haja um uso excessivo e desnecessaacuterio da forccedila e das armas (Singer 2006

Schneiker e Joachim 2015)

No entanto existe um vazio legal e estas agecircncias militares privadas natildeo podem ser

julgadas no terreno nem ao abrigo do Direito Internacional Humanitaacuterio o que torna o

seu uso perigoso Isto acontece porque estas agecircncias natildeo estatildeo a trabalhar para o

Estado X ou Y mas para uma ONG ou OIG ou seja o seu serviccedilo eacute privado e

contratado pela ONG (Singer 2006)

Os militares destas agecircncias privadas contratados pelas ONG OING e OIG satildeo

considerados mercenaacuterios o que faz com que natildeo tenham direito ao estatuto de

prisioneiros de guerras e nem sejam considerados combatentes o que leva a que natildeo

tenham direito agrave expatriaccedilatildeo tratamento meacutedico especial e tenha de se sujeitar ao

tratamento que lhe for concedido pelo Estado no qual foi feito prisioneiro Estes

militares natildeo estatildeo ao serviccedilo de nenhum Estado ou comunidade internacional a

combater estatildeo simplesmente a fornecer um serviccedilo a troco de dinheiro o que faz deles

mercenaacuterios (Pilbeam 2015a)

Natildeo tecircm tambeacutem o direito a serem extraditados para o seu paiacutes de origem tendo por

isso de ser julgados consoante a legislaccedilatildeo local Este vazio legal eacute um grave problema

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

52

que deveraacute ser resolvido pela comunidade internacional Se por um lado temos a

hipoacutetese de estes militares natildeo poderem ser julgados por crimes de guerra caso o

cometa por outro lado temos a hipoacutetese de serem apanhados e presos e nada poder ser

feito para os libertar por natildeo serem prisioneiros de guerra e por isso natildeo estarem

abrangidos pelo Direito Internacional Humanitaacuterio (Pilbeam 2015a)

Do lado das ONG OING e OIG a falta de praacutetica em contratar este tipo de serviccedilos e o

facto de natildeo saberem como lidar com os mercenaacuterios (muitos deles podem ter um

passado duvidoso quanto agrave violaccedilatildeo dos Direitos Humanos) levanta questotildees seacuterias

crimes perpetrados pelas agecircncias militares privadas a ONG que contratem estas

agecircncias eacute tambeacutem culpabilizada o que poderaacute ter consequecircncias nos donativos e na

confianccedila nela depositada (Singer 2006)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

53

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul

O Sudatildeo do Sul eacute uma Repuacuteblica presidencialista e o seu atual Presidente eacute Salva Kiir

A Capital eacute Juba e a moeda eacute a Libra Sul-sudanesa A liacutengua oficial eacute o Inglecircs no

entanto existem vaacuterias liacutenguas faladas que natildeo satildeo oficiais como por exemplo dinka

nuer zande bari e shiluk O Sudatildeo do Sul faz fronteira com o Sudatildeo (de quem se

tornou independente em 2011) a Etioacutepia o Queacutenia o Uganda a Repuacuteblica Democraacutetica

do Congo e a Repuacuteblica Centro Africana Estima-se que em 2011 a populaccedilatildeo do Sudatildeo

do Sul era de 11090104 habitantes Foi a 9 de julho desse mesmo ano que o Sudatildeo do

Sul se tornou um paiacutes independente (CIA sd)

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sul

Fonte Branco (2011)

Desde a independecircncia os variados conflitos intensificaram-se Em 2013 o Sudatildeo do

Sul entrou numa forte crise poliacutetica culminando numa guerra civil Esta crise poliacutetica

aconteceu quando o presidente Salva Kiir membro do maior grupo eacutetnico local Dinka

acusou o vice-presidente do Sudatildeo do Sul Riek Machar membro do grupo eacutetnico Lou

Nuer de uma tentativa de golpe de Estado o que levou ao despoletar de uma guerra

civil onde os membros dos dois grupos eacutetnicos acima referidos entraram eles tambeacutem

em conflito entre si fruto do oacutedio eacutetnico Eacute importante referir os grupos eacutetnicos a que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

54

pertenciam ambos os poliacuteticos parte das hostilidades porque o Sudatildeo do Sul eacute um

Estado dividido em vaacuterias etnias pode mesmo dizer-se que existem vaacuterios lsquoSudatildeosrsquo

dentro do Sudatildeo do Sul o que dificulta o processo de paz por si soacute Este

desentendimento acontece apoacutes o vice-presidente Riek Machar ter acusado o atual

presidente Slava kiir de corrupccedilatildeo de lidar mal com a economia e situaccedilatildeo global do

Sudatildeo do Sul de haver cada vez mais desigualdade entre grupos Em 2013 houve um

coup drsquoeacutetat o que intensificou uma vez mais o conflito pois o presidente Salva Kiir

decidiu demitir todo o governo e assumir total controlo do Estado atirando a tentativa

do golpe de Estado para o vice-presidente Riek Machar Como eacute possiacutevel prever os

conflitos entre as duas partes intensificaram-se mais precisamente entre os dois grupos

eacutetnicos ligados a cada uma destas duas figuras (Nascimento 2017)

Devido ao referido anteriormente deu-se uma divisatildeo dentro do SPLM (Sudan Peoplersquos

Liberation Movement) tendo sido criado o SPLM-IO (Sudan Peoplersquos Liberation

Movement- In Oposition) apoiante do vice-presidente Riek Machar Ao presente a

guerra civil joga-se entre o SPLM o SPLA (Sudan Peopleacutes Liberation Army) e o

movimento pro Riek Machar SPLM-IO Esta divisatildeo que gerou uma grande onda de

violecircncia levou ao aumento draacutestico de pedidos de asilo de refugiados aos paiacuteses

vizinhos e de deslocados internamente (Deutsche Welle 2013 Rolandsen et al 2015

Felix e Coning 2017)

Tinha havido em 2011 segundo Nascimento (2017) uma tentativa afincada de realizar

um acordo de paz duradouro tendo pouco sido feito em termos de desenvolvimento e

garantia das necessidades baacutesicas para toda a populaccedilatildeo ou seja garantir o igual acesso

a todos agrave educaccedilatildeo sauacutede alimentaccedilatildeo seguranccedila e emprego O Sudatildeo do Sul

confronta-se tambeacutem com um governo fraco aumento das hostilidades entre populaccedilotildees

de diferentes etnias alimentadas pelos poliacuteticos e um setor privado e governo corruptos

Natildeo resolvendo estas questotildees eacute impossiacutevel qualquer acordo de paz vingar a natildeo ser no

papel Eacute possiacutevel entatildeo deduzir que este processo de paz natildeo foi coordenado e

uniforme pois o governo optou por estabelecer acordos ao longo do paiacutes criando

divisotildees dentro do recente Estado (Nascimento 2017)

Houve um novo acordo de cessar-fogo em maio de 2014 tendo sido criado um governo

de transiccedilatildeo e foi feito um esboccedilo para a criaccedilatildeo de uma nova constituiccedilatildeo No entanto

houve mais uma vez neste processo uma falta de compromisso para com as partes e a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

55

populaccedilatildeo o que gerou mais ondas de violecircncia Em maio de 2015 o governo do Sudatildeo

do Sul foi pressionado por atores externos a estabelecer um acordo de paz acordo esse

que veio a ser altamente criticado Salva Kiir acusou o acordo de desfavorecer a

comunidade eacutetnica Dinka num futuro governo Este acordo foi tambeacutem criticado pela

sociedade civil por privilegiar a partilha de poderes entre as elites ao inveacutes de prestar

contas e desenvolver um mecanismo de justiccedila onde as atrocidades cometidas pelos dois

partidos fossem punidas Acusou tambeacutem o presidente de natildeo privilegiar o

desenvolvimento a niacutevel educacional socioeconoacutemico e de infraestruturas do Estado e

de natildeo haver a aplicaccedilatildeo da lei Riek Machar voltou ao seu cargo como vice-presidente

tendo de abandonar a cidade de Juba por violecircncia e alegada perseguiccedilatildeo do governo

tendo sido substituiacutedo pelo Presidente Riek Machar pediu ajuda agrave comunidade

internacional para enviar militares que o ajudassem a chegar a Juba em seguranccedila e

retomar o seu cargo Pouco mudou como eacute possiacutevel verificar natildeo se constatou

desenvolvimento algum continua a existir pobreza e a violecircncia natildeo para de aumentar

Salva Kiir (atual presidente) privilegiou a estabilizaccedilatildeo do Estado ao inveacutes do

desenvolvimento o que em conjunto com o conflito eacutetnico despoletou a guerra civil

(Nascimento 2017 Felix e Coning 2017)

Segundo Nascimento (2017) houve ainda uma maacute compreensatildeo frequente quanto ao

uso do peacebuilding confundido com partilha de poderes e recursos Ao inveacutes disso

deveria ter havido uma aposta na criaccedilatildeo de uma democracia soacutelida onde os cidadatildeos

pudessem contribuir na tomada de decisatildeo dos poliacuteticos e desenvolvimento do seu

territoacuterio A parte mais importante para o sucesso do acordo de paz sociedade civil e

partidos natildeo foi todavia parte dos processos de negociaccedilatildeo da paz O processo de paz

centrou-se exclusivamente na partilha de poderes entre os partidos do governo e

militares natildeo tendo sido escutadas opiniotildees de mediadores figuras influentes ou

partidos poliacuteticos Segundo a autora os negociadores do acordo de paz natildeo queriam

entender que o problema ultrapassava a rivalidade poliacutetica que era tambeacutem constituiacutedo

por uma marginalizaccedilatildeo social e econoacutemica que afetava diversos grupos e setores da

populaccedilatildeo (Nascimento 2017 Tafta e Haken 2015)

A guerra civil do Sudatildeo do Sul levou agrave morte de milhares de pessoas Estima-se que

desde 2013 tenham morrido mais de 50 000 pessoas e que tenham fugido cerca de 16

milhotildees de pessoas dos seus lares aquando da tentativa internacional de estabelecer a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

56

paz com o acordo assinado em agosto de 2015 (OCHA 2015) Segundo o OCHA

(2017) cerca de trecircs milhotildees de pessoas tiverem de fugir dos seus lares existem cerca

de 12 milhotildees de deslocados internamente e mais de 13 milhotildees de refugiados

Podemos entatildeo verificar que o Sudatildeo do Sul desde a sua independecircncia natildeo teve um

uacutenico momento de paz e a populaccedilatildeo estaacute a atravessar momentos conturbados haacute

infraestruturas destruiacutedas falta de cuidados meacutedicos trabalho forccedilado violaccedilotildees

abusos deslocaccedilotildees forccediladas destruiccedilatildeo perda de meios de subsistecircncia e surgimento

de doenccedilas tais como a coacutelera diarreia malaacuteria entre outros ateacute aos dias de hoje

(OCHA 2015 CFR 2017 HRP 2017)

O Sudatildeo do Sul eacute ainda considerado um Estado de enorme fragilidade no iacutendice de

fragilidade dos Estados do FFP (2017) contando com uma classificaccedilatildeo de 11390 e

estando mal cotado em todos os indicadores de avaliaccedilatildeo As aacutereas satildeo as seguintes

seguranccedila e aparelho do Estado elites e facotildees clivagens entre grupos decliacutenio

econoacutemico desigualdade no desenvolvimento fuga de ceacuterebros legitimidade do

Estado direitos humanos e Estado de direito serviccedilos puacuteblicos pressotildees demograacuteficas

refugiados e deslocados internamente e finalmente intervenccedilatildeo externa Essa

classificaccedilatildeo significa que o Sudatildeo do Sul estaacute na pior categoria ndash ldquoestado de alertardquo

(100-120) e que registou o pior resultado (primeiro no ranking) em 2017 (TFP 2017a

TFP 2017b)

O paiacutes eacute ainda caracterizado por enfrentar variados problemas como por exemplo a

escassez de aacutegua mau saneamento ou ausecircncia do mesmo falta de meios de

subsistecircncia atravessando um periacuteodo de escassez alimentar o que aumenta

drasticamente os conflitos entre cidades e grupos eacutetnicos pois natildeo estatildeo a lutar

unicamente devido ao conflito e ao oacutedio eacutetnico mas estatildeo a lutar tambeacutem pela obtenccedilatildeo

de meios de subsistecircncia A guerra civil da qual natildeo consegue sair tem como principal

problema o profundo tribalismo caracteriacutestico do Estado e maus poliacuteticos natildeo

conseguindo criar um aparelho de poder forte As regiotildees do Sudatildeo do Sul que foram

mais atingidas pelo conflito satildeo Jonglei Unity e Upper Nile (Tafta 2014 Rolandsen et

al 2015 TFP 2017c Tafta e Haken 2015) Quanto ao IDH (Iacutendice de

desenvolvimento Humano) o Sudatildeo do Sul estaacute avaliado no iacutendice na posiccedilatildeo de 0418

e classificado no ranking na 181ordf posiccedilatildeo sendo a esperanccedila meacutedia de vida de 561 anos

e a escolaridade rondando ateacute os 49 anos O Estado que estaacute em uacuteltimo lugar na

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

57

classificaccedilatildeo eacute a Repuacuteblica Centro Africana na 188ordf posiccedilatildeo com o valor de 0352 O

Estado mais bem posicionado em primeiro lugar eacute a Noruega com o valor de 0949 A

cotaccedilatildeo dos Estados vai de 00 a 1 (UNDP 2016)

Para aleacutem dos problemas internos o Sudatildeo do Sul tem ainda uma relaccedilatildeo muito

fragilizada com o Sudatildeo devido agraves disputas para a aquisiccedilatildeo do petroacuteleo e a fronteira

os territoacuterios de Darfur South Kordofan e Blue Nile que eram disputados Estes

problemas levaram a que houvesse uma priorizaccedilatildeo da seguranccedila ao inveacutes do

desenvolvimento que eacute crucial para pacificar um Estado e desenvolver (Felix e Coning

2017)

O Sudatildeo do Sul foi palco de Acatildeo Humanitaacuteria promovida pela ONU nomeadamente

do OCHA tendo este uacuteltimo realizado um plano estrateacutegico para o Sudatildeo do Sul A

primeira missatildeo realizada pelas NU no Sudatildeo do Sul cujo nome era UNMISS (United

Nation Mission for South Sudan) sob o artigo VII da carta das NU conforme a

resoluccedilatildeo do Conselho de Seguranccedila nordm 1996 de 8 de julho de 2011 tinha como

principal objetivo ajudar o governo a consolidar a paz e seguranccedila incluindo a

mitigaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos bem como a proteccedilatildeo dos civis Comeccedilou em 2011

pelo periacuteodo de um ano mas viria a revelar-se insuficiente e obrigaria a que fosse

necessaacuterio o prolongamento da UNMISS Em 2013 outra crise deflagrou no Sudatildeo do

Sul culminando numa guerra civil conforme referido acima Neste caso a presenccedila da

UNMISS era fulcral no terreno apesar de a relaccedilatildeo entre o governo do Sudatildeo do Sul e a

UNMISS terem atravessado uma crise no terreno pois os militares desta foram

acusados de natildeo serem imparciais e de ajudarem a abater militares favoraacuteveis ao

governo e de que haveria uma maacute conceccedilatildeo da missatildeo no terreno Foi por isso aprovada

pelo Conselho de Seguranccedila a resoluccedilatildeo 2132 (24122013) pela qual foi decidido

aumentar o nuacutemero de militares e poliacutecias no terreno Em 2014 foi reforccedilada a

priorizaccedilatildeo da necessidade de proteccedilatildeo dos civis devido agrave deterioraccedilatildeo da situaccedilatildeo

humanitaacuteria no terreno tendo sido aprovada a resoluccedilatildeo 2155 (27052014) Os

objetivos foram a consolidaccedilatildeo da democracia fraacutegil (statebuilding) em que o paiacutes se

encontrava proteger os civis de possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia fiacutesica proteger grupos

vulneraacuteveis proteger os campos de refugiados e os profissionais humanitaacuterios de

possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia e criar condiccedilotildees para que as ONG humanitaacuterias

pudessem aceder aos locais e fornecer assistecircncia humanitaacuteria Era tambeacutem feita a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

58

monitorizaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de crimes contra os direitos humanos e procurava-se

facilitar a implementaccedilatildeo dos acordos de paz Haacute tambeacutem um mandato atual da

UNMISS em que foram reforccedilados os contingentes em 7000 pessoal militar 9000

poliacutecias e um apropriado contingente de civis Estatildeo autorizados 17 000 tropas nos

quais estatildeo incluiacutedas 4000 forccedilas de proteccedilatildeo regionais Foi aumentado o limite da

poliacutecia para 2101 policiais incluindo policiais individuais unidades policiais formadas

e 78 corretores e solicitado ao Secretaacuterio-Geral que tome as medidas necessaacuterias para

acelerar a forccedila e a geraccedilatildeo de ativos (UNMISS 2017a UNMISS sd UNMISS 2017b

OCHA 2015 OCHA 2017 OCHA sd)

Como eacute possiacutevel constatar o Sudatildeo do Sul necessita de operaccedilotildees de peacekeeping para

manter a paz assegurar os direitos humanos salvar vidas e garantir uma vida digna agrave

populaccedilatildeo local mas tambeacutem necessita e estava num processo de peacebuiling que

procura restaurar o aparelho de poder reconstruir as infraestruturas e ajudar o governo a

fortalecer-se de forma a que a paz permaneccedila e o processo de pacificaccedilatildeo seja realizado

com ecircxito apoacutes o presidente ter assinado em 2015 o acordo de paz como foi referido

anteriormente No entanto como sabemos o Sudatildeo do Sul natildeo estaacute ainda pacificado

permanecendo no terreno cerca de 17000 peacekeepers (OCHA 2015 UNMISS

2017a UNMISS 2017b)

Segundo o Council on Foreign Relations (2017) e tambeacutem o OCHA (2017) o Estado

do Sudatildeo do Sul apresenta um problema no que toca agrave accedilatildeo humanitaacuteria pois o terreno

estaacute cada vez mais perigoso cada vez mais humanitaacuterios satildeo assassinados por grupos

eacutetnicos em guerra dificultando assim a chegada da assistecircncia humanitaacuteria agrave populaccedilatildeo

que estaacute a atravessar grandes privaccedilotildees em termos alimentares de saneamento e de aacutegua

potaacutevel Como eacute sabido o Sudatildeo do Sul tem um grande problema no setor agriacutecola no

saneamento e no acesso a aacutegua o que leva a que os conflitos natildeo cessem muito pelo

contraacuterio pioram A falta de aacutegua potaacutevel eacute um dos grandes problemas existentes no

Sudatildeo do Sul havendo locais em que natildeo existe mesmo sendo necessaacuterio transportaacute-la

para o local o que eacute feito pelas OIG OING e OIG (OCHA 2017 CFR 2017)

Soacute em 2016 os incidentes humanitaacuterios foram de 635 por mecircs de janeiro a junho e de

junho a novembro esse nuacutemero aumentou para 90 Os humanitaacuterios tambeacutem viram a

necessidade de negociar com os militares locais para operar bem como de procurar

apoio na aacuterea da advocacia para a aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria Esta negociaccedilatildeo tem sido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

59

uma constante e estas negociaccedilotildees podem ser realizadas atraveacutes de troca por troca

Existe uma maacute vontade do Estado sentida nos diversos impedimentos burocraacuteticos e

difiacutecil sinalizaccedilatildeo dos civis que estatildeo a receber a assistecircncia humanitaacuteria dificultando

assim o trabalho dos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema eacute que a escolta militar pode levar a que a populaccedilatildeo sinta uma confusatildeo e

associe as ONG OING e OIG aos militares peacekeepers o que eacute negativo Neste caso

a UNMISS natildeo eacute neutra e leva a uma perceccedilatildeo de que as ONG OING e OIG tambeacutem

natildeo satildeo neutras Outro problema foi a poleacutemica em que a UNMISS se envolveu com o

desarmamento da populaccedilatildeo que era feito agrave forccedila e de forma selecionada natildeo tendo os

peacekeepers reagido e tendo a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional

reagido Tudo junto leva a que a populaccedilatildeo sinta receio em pedir ajuda agraves organizaccedilotildees

humanitaacuterias caso a escolta seja feita por militares que tenham algum contacto ou

trabalho com o governo ou as forccedilas militares locais (Felix e Coning 2017)

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das

ONG

Como eacute possiacutevel verificar o caso do Sudatildeo do Sul eacute um caso bastante complicado

sendo mesmo considerado uma emergecircncia humanitaacuteria devido agraves constantes guerras

civis e eacutetnicas que natildeo cessam agrave crise econoacutemica aos choques climateacutericos que levam agrave

escassez de comida falta de aacutegua potaacutevel o que tem como consequecircncia fome e

malnutriccedilatildeo pessoas deslocadas internamente e nuacutemero de refugiados a aumentar

pobreza e crimes de violaccedilatildeo contra os direitos humanos que natildeo cessam O Estado natildeo

se tem revelado eficaz na proteccedilatildeo do seu povo sendo que existem determinados locais

que satildeo praticamente de impossiacutevel acesso aos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema segundo o OCHA natildeo eacute soacute o acesso ao local onde a populaccedilatildeo estaacute em

necessidade mas tambeacutem a permanecircncia das ONG OING ou OIG no terreno Nos dias

14 e 15 de abril de 2016 os humanitaacuterios tiveram de sair do terreno (Waat e Walgak em

Jonglei) devido agrave intensificaccedilatildeo do conflito Essa retirada dos humanitaacuterios do terreno

teve consequecircncias graves a niacutevel de preparaccedilatildeo de comida e distribuiccedilatildeo da mesma

11200 pessoas em Nyrol ficaram sem acesso a educaccedilatildeo sauacutede nutriccedilatildeo e atividades

de limpeza vitais para a populaccedilatildeo Esta deslocaccedilatildeo teve efeitos nefastos para a accedilatildeo

humanitaacuteria em Jonglei quando as instalaccedilotildees humanitaacuterias foram invadidas por civis e

militares durante os atraques de fevereiro Este tipo de ataques natildeo pode repetir-se pois

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

60

a inseguranccedila poderaacute ter como consequecircncia o abandono das ONG OING e OIG do

terreno o que levaraacute a uma intensificaccedilatildeo dos conflitos e a uma populaccedilatildeo ainda mais

fragilizada Um Estado que se pauta por grandes desigualdades entre regiotildees leva a

conflitos que soacute seratildeo amenizados sendo essas necessidades mais urgentes suprimidas

Natildeo adianta fazer missotildees quando natildeo se combate o cerne do problema (OCHA 2017)

Logo estes problemas de acesso poderatildeo levar a que os conflitos se agravem devido agrave

falta de bens de primeira necessidade como por exemplo a aacutegua que como sabemos eacute

um motivo de guerra em vaacuterios paiacuteses e comida pois a pouca comida e aacutegua potaacutevel

existente seraacute disputada gerando ainda mais conflitos Uma maacute nutriccedilatildeo ingestatildeo de

aacutegua natildeo potaacutevel leva ainda a problemas de sauacutede graves Natildeo eacute tambeacutem restabelecida

a dignidade da populaccedilatildeo natildeo eacute protegida dos crimes contra a humanidade como a

exploraccedilatildeo recrutamento de crianccedilas para a guerra e minas abuso sexual e mortes em

massa (OCHA 2017)

Esta falta de seguranccedila no terreno verificada no Sudatildeo do Sul leva agrave necessidade de

existecircncia de proteccedilatildeo militar visto que existe uma dificuldade em fazer valer o DIH no

terreno Como eacute sabido hospitais campos de refugiados e pessoal que trabalha para

organizaccedilotildees humanitaacuterias deveriam estar imunes a qualquer tipo de ataque Mas na

praacutetica tal natildeo se verifica tendo sido um campo de refugiados atacado em 2016 Ao

serem escoltadas ou ao usufruiacuterem de proteccedilatildeo militar as ONG OING ou OIG satildeo

facilmente coladas a uma das partes das hostilidades de que esses militares tambeacutem

tomam parte

Levanta-se ainda outro problema que eacute a negaccedilatildeo de acesso a territoacuterios aos

humanitaacuterios no Sudatildeo do Sul Esta negaccedilatildeo de acesso vem por parte do Governo para

certas regiotildees e das outras partes das hostilidades noutras regiotildees sendo que o governo

natildeo controla bem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Mas eacute um risco que muitos

humanitaacuterios correm correndo mesmo risco de vida rapto e abusos Ou seja o Estado

estaacute a falhar gravemente na proteccedilatildeo e garantia do acesso de ajuda humanitaacuteria agrave sua

populaccedilatildeo o que eacute por si soacute um problema circular num Estado fragilizado Ou seja o

Governo falha ao natildeo garantir a proteccedilatildeo do seu povo e em certos casos ao natildeo deixar as

organizaccedilotildees humanitaacuterias acederem a certos territoacuterios (JMEC 2017 Harmer 2008)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

61

No entanto o Primeiro-Ministro do Sudatildeo do Sul Martin Elia Lamuro negou ter

proibido o acesso dos humanitaacuterios aos territoacuterios cuja populaccedilatildeo enfrenta grandes

necessidades afirmando pelo contraacuterio que se tecircm mostrado recetivos agraves ONG OING e

OIG para a assistecircncia humanitaacuteria em qualquer territoacuterio acusando assim os oficiais

dos EUA de terem redigido relatoacuterios que faltam agrave verdade (Sudan Tribune 2017) Jaacute o

representante russo Petr Illichev das NU diz discordar da visatildeo dos EUA referindo que

a fome eacute devida agraves condiccedilotildees climateacutericas e natildeo devida a questotildees de seguranccedila O

Conselho de Seguranccedila tentou amenizar a situaccedilatildeo referindo que a emergecircncia

humanitaacuteria presente no Sudatildeo do Sul tem como principais culpados todas as partes

envolvidas no conflito Tambeacutem Joseph Mourn Majak Ngor Malok embaixador do

Sudatildeo do Sul nas Naccedilotildees Unidas referiu que natildeo se pode culpar o Governo pela fome e

que este vai fazer os impossiacuteveis trabalhando com a comunidade internacional para

fazer face a este problema Podemos pois constatar que mais que um problema de

seguranccedila o que os humanitaacuterios estatildeo a enfrentar eacute um problema poliacutetico de

bastidores dentro da comunidade internacional (Sudan Tribune 2017)

Como eacute possiacutevel constatar a seguranccedila e o acesso dos humanitaacuterios ao terreno eacute uma

questatildeo bastante complexa pois depende da autorizaccedilatildeo do Estado caso este aceite que

a ajuda humanitaacuteria seja fornecida em todo o territoacuterio que dela necessite e caso decida

proteger os humanitaacuterios Caso o Estado natildeo assegure a proteccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos

humanitaacuterios no acesso ao territoacuterio que necessite de assistecircncia humanitaacuteria os

humanitaacuterios vecircm-se na obrigaccedilatildeo de encontrar uma de quatro soluccedilotildees desistir da

missatildeo e abandonar o terreno arriscar e deslocarem-se aos territoacuterios sem proteccedilatildeo

correndo risco de vida contratar agecircncias militares privadas ou pedir escolta militar aos

peacekeepers

Os peacekeepers da UNMISS natildeo tecircm eles tambeacutem livre acesso a todos os locais no

Sudatildeo do Sul e satildeo vistos de certa forma como adversaacuterios pelo governo e satildeo

acusados de tomarem o partido de uma das partes das hostilidades privilegiando a

proteccedilatildeo ao grupo eacutetnico Nuer em detrimento das outras No entanto esta informaccedilatildeo

natildeo tem a leitura devida pois os peacekeepers protegem os dois lados da mesma forma

a questatildeo eacute que a maioria da populaccedilatildeo registada do POC (Establishment of Protection

of Civilians) eacute de origem eacutetnica Nuer Como consequecircncia desta desconfianccedila a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

62

UNMISS viu negado o seu acesso a determinados locais falhando assim a sua missatildeo a

de proteger os civis e a de proteger os humanitaacuterios (Wells 2017)

O Conselho de Seguranccedila eacute ainda acusado pelos peacekeepers de natildeo dar suporte

poliacutetico e material adequado para a situaccedilatildeo Mesmo apoacutes variados ataques graves aos

militares da UNMISS e agrave populaccedilatildeo o Conselho de Seguranccedila natildeo passou da ameaccedila de

sancionar o Sudatildeo do Sul A gravidade do problema chegou ao ponto de a UNMISS

sofrer ataques aos seus helicoacutepteros natildeo ter material agrave prova de bala tendo assim de

abandonar os meios aeacutereos O Conselho de Seguranccedila mais uma vez nada fez Esta

situaccedilatildeo colocou em causa o trabalho das organizaccedilotildees humanitaacuterias ou seja o acesso

das mesmas a locais de grande necessidade devido ao facto de natildeo poderem contar

mais com ajuda dos peacekeepers para aceder ao terreno (Wells 2017)

Justamente nas missotildees das NU no Sudatildeo do Sul tem-se verificado um fracasso pois

para aleacutem de serem acusados de tomarem partido pelo governo natildeo conseguem

assegurar a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e de deslocados internamente

verificando-se assim em 2013 um aumento da violecircncia e ataques aos campos de

refugiados e deslocados internamente Um dos objetivos da UNMISS eacute assegurar que os

civis consigam aceder agrave ajuda humanitaacuteria que garante os bens essenciais agrave

sobrevivecircncia gestatildeo dos campos de refugiados e outros apoios vitais no entanto a

seguranccedila natildeo eacute assegurada natildeo sendo possiacutevel aos humanitaacuterios assegurar a ajuda

humanitaacuteria agravando-se assim os conflitos (Rolandsen et al 2015)

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar

Segundo Rolandson et al (2015) uma das missotildees que cabe aos peacekeepers eacute

precisamente garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios principalmente em paiacuteses onde

existe uma falta de seguranccedila e proteccedilatildeo aos humanitaacuterios Essa proteccedilatildeo pode ser

realizada atraveacutes de escolta militar direta no caminho para o terreno por via terrestre

aeacuterea ou mariacutetima sendo a via aeacuterea a mais conveniente caso seja necessaacuterio

transportar uma grande quantidade de mercadoria e assim garantir que chega ao destino

intacta Podem ainda garantir a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e deslocados

internamente bem como proteger os bens e as instalaccedilotildees humanitaacuterias (Rolandsen et

al 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

63

Pode verificar-se que as NU mais especificamente o OCHA tecircm vindo a trabalhar no

sentido de existir uma maior cooperaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e as operaccedilotildees de

peacekeeping no terreno de forma a que os humanitaacuterios sejam protegidos e a

assistecircncia humanitaacuteria prestada a toda a populaccedilatildeo independentemente de o territoacuterio

ser ou natildeo de grande perigo O problema desta cooperaccedilatildeo satildeo os princiacutepios

humanitaacuterios que divergem dos princiacutepios dos militares como jaacute foi referido Mas a

coexistecircncia existe eacute um facto havendo no caso do Sudatildeo do Sul um guia sobre como

devem os humanitaacuterios e militares interagir em que circunstacircncia deve ser feita a

escolta e quanto tempo deve durar essa proteccedilatildeoescolta O documento mencionado eacute

intitulado de Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the

United Nations Mission in South Sudan e foi elaborado pela UNMISS o HC e o HCT

(UNMISS e HC 2013)

Os humanitaacuterios viram-se forccedilados a cooperar com os peacekeepers da UNMISS e para

que esta missatildeo integrada funcionasse foi criado o guia de coordenaccedilatildeo entre os atores

humanitaacuterios e a UNMISS jaacute mencionado O guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo

Humanitaacuteria e a UNMISS eacute um documento elaborado a pedido do Humanitarian

Country Team (O HCT eacute um foacuterum estrateacutegico e operacional de tomada de decisatildeo e

supervisatildeo estabelecido e liderado pelo HC) A composiccedilatildeo inclui representantes da

ONU IOM OING a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho O HCT eacute tambeacutem

responsaacutevel por acordar questotildees estrateacutegicas comuns relacionadas com a accedilatildeo

humanitaacuteria (Humanitarian Response sd) em 2012Teve ainda a participaccedilatildeo do

grupo conselheiro militar que contem representantes da comunidade humanitaacuteria e da

UNMISS Eacute por isso um documento fidedigno O objetivo deste guia eacute substituir o SOP

de 2012 relativamente ao uso das forccedilas armadas e escolta militar e fornecer

indicaccedilotildees operacionais sobre a relaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS no Sudatildeo do

Sul de forma a evitar conflitos no terreno fortalecer a coordenaccedilatildeo das atividades

preservar o espaccedilo humanitaacuterio acesso e princiacutepios (HCT e UNMISS 2013 Harmer

2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que a UNMISS estaacute a ter ela proacuteprios problemas de acesso e deslocaccedilatildeo a

determinados locais em que o Estado natildeo ache pertinente a presenccedila dos peacekeepers

Pior em 2011 recusou o destacamento de mais 4000 peacekeepers para reforccedilar os

13500 peacekeepers no terreno com o argumento de que a situaccedilatildeo do conflito armado

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

64

estava a melhorar e natildeo haveria necessidade de destacar mais militares das NU e que o

destacamento de mais militares poria em causa a soberania do Estado O governo

argumentou ainda que tem capacidade para assegurar a proteccedilatildeo dos civis No entanto

apoacutes a ameaccedila das NU com um embargo de armas acabou por aceitar o destacamento

de mais militares Em dezembro de 2016 a Comissatildeo dos Direitos Humanos das NU

pediu urgentemente o destacamento de peacekeepers por causa de assassiacutenios eacutetnicos

(Wells 2016 Aljazeera 2017)

A UNMISS foi acusada por diversas organizaccedilotildees humanitaacuterias de falhar a sua missatildeo

devido agrave sua ineficaacutecia no terreno ou seja natildeo foi capaz de assegurar a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo nem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Todavia eacute preciso ser realista

pouco se pode fazer com um governo que limite o acesso dos peacekeepers a

determinados locais recuse que sejam destacados mais militares para o terreno e soacute

aceite em uacuteltima instacircncia mais destacamentos de militares para o terreno devido a uma

seacuterie de ameaccedilas (Aljazeera 2017 Wells 2016)

O problema eacute a incapacidade das NU e do Governo de assegurarem a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios No ataque de julho de 2016 os peacekeepers foram acusados de agirem

tarde demais de natildeo terem sido capazes de dar resposta e os EUA de natildeo avisarem as

ONG OING e OIG de que havia um perigo de ataque este erro teve como

consequecircncia a morte e violaccedilatildeo em massa dos humanitaacuterios sendo este ataque

considerado uma barbaacuterie Este acontecimento pode ser o despoletar da induacutestria das

agecircncias militares privadas podendo trazer consequecircncias nefastas a longo termo No

entanto segundo a investigaccedilatildeo independente agrave UNMISS requerida pelo Conselho de

Seguranccedila ficou estabelecido que a UNMISS agiu e fez todos os possiacuteveis para salvar

os civis embora esse natildeo seja o sentimento por parte dos humanitaacuterios (Grant 2016)

Segundo a carta enviada pelo Secretaacuterio Geral ao Conselho de Seguranccedila a 17 de abril

de 2017 (NU 2017) exatamente a reportar o ataque explicado anteriormente consta um

pedido de investigaccedilatildeo independente do ataque ocorrido a 23 de agosto de 2016 e

pretende-se verificar as accedilotildees da UNMISS em resposta ao ataque ocorrido apoacutes o inicio

das hostilidades a 8 e 11 de julho de 2016 contra os humanitaacuterios e contra civis tendo

este ataque ocorrido dentro ou nas proximidades das instalaccedilotildees da UNMISS em Juba

A UNMISS foi acusada pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias de ter sido ineficaz na

sua missatildeo de proteger as humanitaacuterias no terreno natildeo tendo os peacekeepers

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

65

respondido aos muitos pedidos de ajuda e proteccedilatildeo Os humanitaacuterios defendem ainda

que os peacekeepers sabiam do perigo existente de ataque e deveriam ter avisado de

forma a que evacuassem os humanitaacuterios e civis do territoacuterio em questatildeo (Grant 2016

UN 2017d)

No entanto foi averiguado pelo Conselho de Seguranccedila que a UNMISS nomeadamente

os peacekeepers fizeram tudo o que estava ao seu alcance para salvar e proteger civis

durante o massacre Tambeacutem foi averiguado que a UNMISS faz um excelente trabalho

de planeamento e preparaccedilatildeo da resposta para salvar civis As informaccedilotildees de

seguranccedila devem segundo o relatoacuterio do Conselho de Seguranccedila serem compartilhadas

pelos peacekeepers com a comunidade humanitaacuteria informaccedilotildees relativas ao terreno

com o foacuterum de forma a que cada um dos agentes saiba o perigo que estaacute a correr Por

isso a UNMISS deve informar quanto a procedimentos de estado de alerta

deslocalizaccedilatildeo e evacuaccedilatildeo pontos de concentraccedilatildeo em Juba refuacutegios designados rotas

aeacutereas de deslocalizaccedilatildeo principais ferramentas de seguranccedila procedimentos de

controle de acesso e o plano em resposta agrave proteccedilatildeo de incidentes civis entre outros

Segundo o Conselho de Seguranccedila estes procedimentos foram adotados embora as

ONG no terreno natildeo concordem com esta conclusatildeo (Grant 2016 UN 2017d)

No Sudatildeo do Sul tem-se verificado uma missatildeo integrada minimalista em que o

OCHA eacute o coordenador e o elo de ligaccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers e trabalha

de forma independente da missatildeo de paz das NU Esta poderaacute ser a melhor receita para

o caso do Sudatildeo do Sul No entanto eacute preciso ter em conta que a UNMISS tem falta de

militares destacados em terrenos problemaacuteticos podendo dificultar este tipo de missotildees

integradas minimalistas como se constatou anteriormente com a inaccedilatildeo dos

peacekeepers face ao ataque do campo de refugiados (Harmer 2017 Aljazeera 2017

Wells 2016)

Por isso podemos contatar que pelo menos no Sudatildeo do Sul existe uma coexistecircncia

bem coordenada e estruturada entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS atraveacutes da

existecircncia de um guia para coordenaccedilatildeo entre humanitaacuterios Eacute possiacutevel constatar

tambeacutem que existe uma preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e em

respeitar o espaccedilo humanitaacuterio na hora de garantir a sua proteccedilatildeoescolta A secccedilatildeo de

Aliacutevio (do Guia da UNMISS) Reintegraccedilatildeo e Proteccedilatildeo tem como principal missatildeo a

proteccedilatildeo de civis em bases da UNMISS e o apoio ao trabalho das organizaccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

66

humanitaacuterias no Sudatildeo Sul Haacute casos em que natildeo existe outra forma de garantir que o

acesso humanitaacuterio proteccedilatildeo e a assistecircncia sejam fornecidos sem ajuda dos

peacekeepers (HCT e UNMISS 2013)

Voltando ao Guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS eacute

reconhecido que as missotildees de peacekeeping das NU como a UNMISS tecircm um

mandato de cariz poliacutetico o que significa que podem tomar partido por uma das partes

das hostilidades e por isso natildeo serem consideradas neutras por todas as partes dentro

do Estado Tal significa uma incompatibilidade entre estes dois atores pois uma junccedilatildeo

da accedilatildeo humanitaacuteria agrave UNMISS poria em causa o mandato humanitaacuterio Eacute ainda

apresentada no documento a diferenccedila entre a assistecircncia militar ao governo (prover

gabinetes conselho e suporte ao governo do Sudatildeo do Sul em relaccedilatildeo agrave transiccedilatildeo

poliacutetica pela qual estava a passar no estabelecimento da autoridade poliacutetica) e a

assistecircncia militar agraves ONG humanitaacuterias (facilitar o acesso prover um ambiente seguro

para a assistecircncia humanitaacuteria bem como promover e monitorizar os Direitos

Humanos) O OCHA estabelece esta coordenaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a

UNMISS atraveacutes dos PCI (Projetos de curto impacto) O OCHA entra em contacto com

o JOC (Joint Operations Center) a niacutevel estatal atraveacutes do escritoacuterio estatal e do RCO

(Resident Coordinatoracutes Office) Os humanitaacuterios natildeo pedem diretamente ajuda militar

mas eacute o OCHA quem trata disso (HCT e UNMISS 2013)

O Sudatildeo do Sul eacute um caso em que a coexistecircncia eacute necessaacuteria para o sucesso tanto da

missatildeo da UNMISS como da accedilatildeo humanitaacuteria devido aos perigos de inseguranccedila

existentes sendo os humanitaacuterios alvos faacuteceis Esta coexistecircncia natildeo tem de ser

incompatiacutevel pois ambos tecircm o objetivo de poupar vidas Por isso nesta coexistecircncia

tem de ser respeitada a missatildeo de ambos sem nenhum dos dois se intrometer nas

atividades do outro minimizando assim o risco de conflito e competiccedilatildeo quando ambos

estatildeo a trabalhar na mesma aacuterea geograacutefica fazendo a clara distinccedilatildeo e separaccedilatildeo das

atividades humanitaacuterias poliacuteticas e militares (HCT e UNMISS 2013)

Portanto os atores humanitaacuterios natildeo satildeo incumbidos de seguir ou respeitar ordens

militares por militares e o contraacuterio O guia militar-civil natildeo aconselha a coabitaccedilatildeo de

humanitaacuterios e militares em situaccedilotildees de emergecircncias complexas No entanto no Sudatildeo

do Sul essa coabitaccedilatildeo por parte da UNMISS e de agecircncias das NU existe em Juba e em

certas capitais de Estado o que pode levar a uma perceccedilatildeo errada das restantes agecircncias

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

67

devido ao facto de uma ter adotado esta decisatildeo de coexistir no mesmo local que os

peacekeepers ou seja pode ter um efeito negativo na comunidade humanitaacuteria (HCT e

UNMISS 2013)

Segundo o guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS (HCT e

UNMISS 2013) deve ser feita uma distinccedilatildeo clara das atividades identidade funccedilotildees e

papeacuteis da accedilatildeo humanitaacuteria dos atores envolvidos na UNMISS Para fazerem esta

distinccedilatildeo devem respeitar os seguintes pontos

bull As armas nunca devem ser usadas em instalaccedilotildees humanitaacuterias e em contexto de

transporte para os locais em questatildeo

bull Deve ser feita a identificaccedilatildeo dos elementos da equipa dos bens de primeira

necessidade veiacuteculos instalaccedilotildees barcos e aviotildees Ou seja devem promover a

distinccedilatildeo das suas respetivas identidades de forma a que natildeo sejam confundidos com a

UNMISS (HCT e UNMISS 2013 pp 4)

Quanto ao uso de ativos e escoltaproteccedilatildeo militar eacute referido no guia que os atores

humanitaacuterios natildeo devem usar os ativos militares ou escoltaproteccedilatildeo militar a fim de

proteger a distinccedilatildeo e salvaguardar a separaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios O uso

dos ativos militares e escoltaproteccedilatildeo militar da UNMISS deve ser adotado em uacuteltimo

recurso e em circunstacircncias especiais uma vez reunidos determinados criteacuterios que

seratildeo explanados a seguir Qualquer decisatildeo quanto ao pedido dos atores humanitaacuterios

relativamente agrave escolta militar seraacute analisada caso-a-caso tendo em conta os ativos

disponiacuteveis custos e prioridades Os criteacuterios satildeo os seguintes

bull O objetivo da missatildeo eacute puramente humanitaacuterio e manteacutem o seu caraacuteter civil e

humanitaacuterio bem como o respeito dos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

bull Tem de haver uma necessidade urgente de ajuda humanitaacuteria natildeo existindo

alternativas para a substituiccedilatildeo no terreno

bull O uso da escolta militar eacute limitado no tempo e escala com uma estrateacutegia clara

de saiacuteda concordada entre os dois atores fora do pedido Natildeo poderaacute ainda

comprometer os atores humanitaacuterios a longo prazo na sua capacidade de poderem

operar de forma segura e efetiva (HCT e UNMISS 2013 pp 5)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

68

O OCHA tem ainda a responsabilidade de elaborar relatoacuterios sobre a escolta militar para

o Humanitarian Country Team e cabe tambeacutem ao OCHA analisar os casos juntamente

com a JOC em especifico para o caso do Sudatildeo do Sul para que tudo corra bem Caso

haja escolta militar os humanitaacuterios devem seguir num veiacuteculo diferente dos militares

da UNMISS que identifique bem que satildeo humanitaacuterios e natildeo militares que satildeo

transportados no veiacuteculo Desta forma a populaccedilatildeo natildeo confundiraacute o pessoal

humanitaacuterio com o pessoal militar Caso haja necessidade de proteccedilatildeo num determinado

local necessidade de reparaccedilatildeo de estradas proteccedilatildeo dos bens e pessoal humanitaacuterio as

ONG devem entrar em contacto com o OCHA afim de requerer a ajuda da UNMISS

Um dos objetivos da UNMISS eacute garantir um ambiente seguro para facilitar o acesso dos

humanitaacuterios aos locais para que estes consigam prestar apoio agrave populaccedilatildeo A UNMISS

natildeo deve usar as instalaccedilotildees humanitaacuterias e vice-versa no entanto em caso de urgente

necessidade deve tal ser analisado caso a caso pelo OCHA ponderando sobre as

instalaccedilotildees disponiacuteveis urgecircncia capacidade e prioridades O mesmo vale para a

evacuaccedilatildeo de pessoal meacutedico e humanitaacuterios em caso de elevada emergecircncia (HCT e

UNMISS 2013 pp 4)

Outro assunto relevante tratado neste guia eacute a partilha de informaccedilatildeo entre os elementos

da UNMISS e os humanitaacuterios pois estes dois elementos devem e tecircm de partilhar

muita informaccedilatildeo de forma atempada e eficiente para coordenar as respetivas

atividades As informaccedilotildees que devem ser partilhadas satildeo as seguintes

bull Informaccedilotildees sobre o tipo de assistecircncia e atividades humanitaacuterias estatildeo a

planear eou vatildeo realizar

bull Informaccedilotildees sobre atividades da UNMISS relevantes para os atores

humanitaacuterios como por exemplo sobre ameaccedilas e seguranccedila do pessoal humanitaacuterio ou

da UNMISS no terreno ou sobre ameaccedilas aos civis

bull Informaccedilotildees sobre atividades mineiras aacutereas minadas e locais com minas por

explodir As viacutetimas e a populaccedilatildeo em geral deveratildeo ser informadas e educadas para os

riscos inerentes (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

No entanto existem informaccedilotildees confidenciais que natildeo deveratildeo em momento algum

ser partilhadas tanto com o pessoal humanitaacuterio como com a UNMISS informaccedilotildees que

podem comprometer a identidade da viacutetima expondo assim o individuo ou um grupo de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

69

indiviacuteduos a um potencial risco principalmente se a viacutetima tiver sofrido crimes contra

os Direitos Humanos (HCT e UNMISS 2013 pp)

Este guia deve ser estudado de forma a que seja aplicado corretamente e os princiacutepios

da UNMISS e dos humanitaacuterios respeitados no terreno evitando potenciais conflitos A

UNMISS ficou incumbida de formar a comunidade humanitaacuteria relativamente ao seu

mandato trabalho e objetivos no terreno em conjunto com o OCHA que representa as

organizaccedilotildees humanitaacuterias e a sua relaccedilatildeo com a UNMISS Eacute ainda recomendado o

treino de ambos para os Direitos Humanos proteccedilatildeo de civis e o Direito Internacional

Humanitaacuterio (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

O CR (conciliation resources) e o ARP (applied research program) satildeo duas partes

funcionais da missatildeo que apoiam as organizaccedilotildees humanitaacuterias fornecendo apoio a niacutevel

de logiacutestica seguranccedila proteccedilatildeo da populaccedilatildeo relocaccedilatildeo do pessoal humanitaacuterio bem

como os deslocados internamente dando informaccedilotildees relativamente aos locais mais

seguros para se reinstalarem e caso necessaacuterio protegendo a instalaccedilatildeo onde residem os

deslocados internamente refugiados e humanitaacuterios Esta coexistecircncia entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias natildeo tem vindo a revelar-se eficaz no contexto do Sudatildeo do

Sul pois os humanitaacuterios embora consigam trabalhar e deslocar-se para certos locais

perigosos o que sem o apoio da UNMISS natildeo seria possiacutevel a UNMISS natildeo foi capaz

de assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios em 2016 aquando do ataque No entanto e

como jaacute foi referido anteriormente esta colaboraccedilatildeo deve ser realizada para casos

pontuais tendo de ser pedida a autorizaccedilatildeo ao OCHA e em uacuteltimo recurso atraveacutes de

projetos de curto impacto (UNMISS 2017 e HCT UNMISS 2013)

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos

humanitaacuterios

Agrave luz da anaacutelise do caso do Sudatildeo do Sul a questatildeo que se levanta neste subtema eacute

essencialmente a de apurar qual o recurso que deve ser usado pelas organizaccedilotildees

humanitaacuterias em situaccedilatildeo de elevado perigo em que o acesso ao local em que a

populaccedilatildeo estaacute a enfrentar grandes necessidades pode representar perigo de vida

precisando assim de uma proteccedilatildeoescolta militar para realizar o trajeto ao local Eacute

preciso desde jaacute dizer que ambas as opccedilotildees tecircm pontos positivos e negativos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

70

O recurso aos peacekeepers pode ser visto como a melhor opccedilatildeo possiacutevel pois

partilham os valores essenciais com os humanitaacuterios salvar vidas e a imparcialidade

No entanto tecircm sido acusados de natildeo agirem atempadamente face agraves ameaccedilas e ataques

perpetrados sobre humanitaacuterios ou seja de falharem a sua missatildeo de garantir a proteccedilatildeo

aos humanitaacuterios que faz parte da sua missatildeo e consta do guia elaborado para a

coexistecircncia no terreno Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors

and the United Nations Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) Em 2016

houve o jaacute referido ataque no Sudatildeo do Sul a humanitaacuterios que natildeo haviam sido

avisados do perigo eminente nem apareceram militares a garantir a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo e dos humanitaacuterios Ou seja eacute possiacutevel concluir que a proteccedilatildeo fornecida

pela UNMISS natildeo eacute a mais eficaz no terreno devido agraves fragilidades que a proacutepria

missatildeo tem vindo a sentir no terreno (Adongo 2017 Grant 2016)

No entanto parece que este caso algo mediatizado acordou a comunidade

internacional Consta no artigo da UNMISS Humanitarian Aid Restored In Aburoc

Folloing Deployment of UNMISS Peacekeepers (Adongo 2017) que soacute foi possiacutevel as

ONG OING e OIG humanitaacuterias regressaram para fornecer ajuda humanitaacuteria em

Malakal devido ao desdobramento dos peacekeepers para a regiatildeo de Aburoc Upper

Nile regiatildeo que as agecircncias humanitaacuterias haviam abandonado devido agrave elevada

inseguranccedila O que confirma o que foi dito ao longo da dissertaccedilatildeo sem seguranccedila no

Sudatildeo do Sul os humanitaacuterios natildeo conseguem operar no terreno tendo de terminar a

missatildeo caso contraacuterio seria colocar as suas vidas em risco (Adongo 2017 e Grant

2016)

Estima-se que durante o recente conflito que levou as agecircncias humanitaacuterias a sair do

local tenha havido 20 000 deslocados internos a fugir ficando sem abrigo Com o

regresso das agecircncias humanitaacuterias foi possiacutevel dar abrigo a 4200 famiacutelias dos campos

de refugiados Outras agecircncias tecircm fornecido ajuda humanitaacuteria mais urgente como

aacutegua potaacutevel que eacute escassa e de difiacutecil acesso sendo necessaacuterios militares peacekeepers

para proteger os principais postos de abastecimento de aacutegua O chefe de campo da

UNMISS em Malakal Hazel de Wet levou a sua equipa a inspecionar o desdobramento

das tropas em Aburoc e a equipa comprometeu-se tambeacutem com as autoridades locais no

terreno relativamente agrave estrateacutegia de apoio agrave assistecircncia humanitaacuteria sendo neste

momento a prioridade dos peacekeepers garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e o seu

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

71

acesso de modo a que a assistecircncia humanitaacuteria chegue a todos A UNMISS reconhece

que eacute essencial fazer com que a assistecircncia humanitaacuteria chegue agrave populaccedilatildeo em

necessidade urgente de comida aacutegua mantimentos e abrigo Soacute fornecendo assistecircncia

humanitaacuteria suprindo as necessidades baacutesicas eacute que eacute possiacutevel resolver os problemas

poliacuteticos tornar a paz duradoura e pensar no desenvolvimento Mas para conseguir esta

harmonia eacute essencial que as operaccedilotildees de peacekeeping se tornem efetivamente mais

ldquomusculadasrdquo como referido por Pinto (2005) para fazer face agraves novas realidades e

adversidades encontradas no terreno Natildeo basta a presenccedila militar tecircm de conseguir

garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios (Adongo 2017)

Os humanitaacuterios tecircm manifestado preferecircncia pelo menos no que diz respeito ao caso

do Sudatildeo do Sul pela escoltaproteccedilatildeo militar fornecida pela UNMISS sendo que se

estabeleceu um guia de cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS conforme referido

acima Este guia eacute um dos motivos para a preferecircncia pelos peacekeepers para a escolta

e proteccedilatildeo pois os humanitaacuterios e militares sabem como agir em que circunstacircncias

conceder e pedir essa proteccedilatildeo e quando deve terminar essa cooperaccedilatildeo no terreno Tal

natildeo existe nas agecircncias militares privadas jaacute que uma vez contratadas o viacutenculo

permanece ateacute ao fim da missatildeo ou contrato e pode haver problemas no terreno entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias e agecircncias militares privadas que poderatildeo representar

problemas seacuterios acresce que os humanitaacuterios natildeo estatildeo preparados para coordenar e

liderar este tipo de agecircncias Ao inveacutes no caso da proteccedilatildeoescolta garantida pela

UNMISS as ONG OING e OIG podem caso a cooperaccedilatildeo natildeo esteja a ser bem-

sucedida reportar a sua insatisfaccedilatildeo e levar a que sejam averiguados os motivos Tal

aconteceu com o ataque aos humanitaacuterios jaacute referido anteriormente A UNMISS foi

questionada e foi feita uma averiguaccedilatildeo pelo Conselho de Seguranccedila para verificar se

houve de facto negligecircncia por parte dos militares Com as agecircncias militares privadas

tal natildeo eacute possiacutevel conforme foi mencionado estes militares tecircm carta branca no terreno

Logo existe mais seguranccedila em cooperar com a UNMISS (HCT e UNMISS 2013 UN

2017d)

Eacute por este motivo que ainda se verifica uma certa resistecircncia por parte de algumas ONG

e OING a recrutar agecircncias militares privadas No entanto e devido agrave necessidade de

celeridade para obter a proteccedilatildeo o recrutamento tem vindo a aumentar no terreno Eacute

neste ponto que as agecircncias militares privadas apresentam vantagens jaacute que natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

72

existem problemas a niacutevel burocraacutetico o que permite partir mais cedo para o terreno e

satildeo mais baratas no caso de serem as agecircncias das NU como a UNICEF e o ACNUR

entre outros a contratar Jaacute o processo de pedido de proteccedilatildeo e escolta militar agrave

UNMISS eacute muito moroso natildeo fazendo face ao problema no imediato (Newton sd)

Estas agecircncias podem ainda garantir que as organizaccedilotildees humanitaacuterias mantecircm a sua

independecircncia relativamente ao Estado neutralidade quanto ao conflito e

imparcialidade no tratamento das pessoas Todavia antes da contrataccedilatildeo deveria ser

requerido o cadastro criminal se existir e se possiacutevel para avaliar se existe algum

antecedente problemaacutetico como por exemplo algum incidente de racismo enquanto

militar no ativo para que haja uma seleccedilatildeo rigorosa das agecircncias a recrutar e dos

militares que integram essa mesma agecircncia desta forma o risco de contratar militares

que tenham cometido atos criminosos e racistas no terreno satildeo menores logo seraacute

menor o risco de haver problemas no terreno (Newton sd Michael et al 2014)

Ou seja as agecircncias militares privadas podem ser uma ajuda fundamental no caso do

Sudatildeo do Sul para a seguranccedila e proteccedilatildeo de ONG OING OIG campos de refugiados

e de deslocados internamente Mas tambeacutem podem ser uma boa alavanca para a

pacificaccedilatildeo do territoacuterio ou seja uma ajuda para a UNMISS e custam menos recursos

financeiros que contratar e solicitar aos Estados mais militares para integrar a missatildeo de

peacekeeping (Newton sd)

Neste momento a melhor opccedilatildeo eacute a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as organizaccedilotildees

humanitaacuterias pois jaacute existe um guia intitulado de que explica em que circunstacircncias

quanto tempo e como deve ser feito pedido de ajuda e a proteccedilatildeoescolta concretizada

Ou seja existem regras a cumprir medidas de prevenccedilatildeo para que natildeo haja choque

entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS no terreno e como deve ser feita a distinccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares Para as agecircncias militares privadas natildeo existem regras de accedilatildeo

conduta ou execuccedilatildeo das suas funccedilotildees tornando a sua presenccedila no terreno um perigo

devido ao vazio legal embora seja mais barato e mais raacutepido em termos de burocracia

contratar estas agecircncias Os militares das agecircncias militares privadas devem ainda estar

devidamente identificados no terreno de forma a que natildeo suscitem confusotildees com os

militares das operaccedilotildees de peacekeeping (Stoddard Harmer e DiDomenico 2008

Newton sd Michael et al 2014 HCT e UNMISS 2012)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

73

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas

Enquanto o Sudatildeo do Sul estiver a atravessar momentos de grande instabilidade poliacutetica

e um conflito armado de grande inseguranccedila e perigo para os civis refugiados e

deslocados internamente natildeo existe uma alternativa viaacutevel para este caso em questatildeo O

governo do Sudatildeo do Sul natildeo consegue assegurar seguranccedila proteccedilatildeo e acesso seguro

aos humanitaacuterios a locais de grande emergecircncia humanitaacuteria locais onde natildeo existe

aacutegua potaacutevel existe falta de comida medicamentos abrigo e meacutedicos Um local como

este eacute difiacutecil de ser pacificado como eacute sabido a aacutegua eacute um dos principais motivos de

guerra no mundo aliando isso a conflitos eacutetnicos e poliacuteticos torna esta guerra numa

difiacutecil de acabar uma guerra endeacutemica (Kaldor 2007) Pior o governo foi acusado de

travar o acesso da ajuda humanitaacuteria a determinados locais Quando o proacuteprio Estado eacute

o perpetrador de atrocidades e nega o acesso da ajuda humanitaacuteria isto quer dizer que a

comunidade humanitaacuteria estaacute por sua conta (Harmer 2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que como pudemos verificar os peacekeepers da UNMISS natildeo

conseguem ou tecircm dificuldade em assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios o que resultou

no massacre de humanitaacuterios em 2016 e foram mesmo acusados de terem

negligenciado a sua funccedilatildeo de proteccedilatildeo estabelecida no guia de cooperaccedilatildeo entre

OCHA e as organizaccedilotildees humanitaacuterias pois natildeo avisaram sequer que existia um perigo

eminente de ataque e que deveriam por isso retirar-se do terreno Ou seja eacute possiacutevel

concluir que esta cooperaccedilatildeo natildeo tem vindo a revelar-se eficaz os acessos continuam a

ser dificultados humanitaacuterios atacados e civis em sofrimento e a viver abaixo do limiar

da dignidade humana O que coloca a seguinte questatildeo valeraacute a pena correr o risco de

colocar em causa a imparcialidade e neutralidade pela proteccedilatildeo dos peacekeepers Eacute

difiacutecil de responder pois natildeo existe um modelo perfeito como alternativa quer agraves

agecircncias militares privadas quer agrave UNMISS (Grant 2016)

Por isso uma alternativa seria talvez tornar puacuteblico o uso das agecircncias militares

privadas pela comunidade internacional estabelecer guias rigorosos de recrutamento e

realizaccedilatildeo de contratos com as NU ou organizaccedilotildees humanitaacuterias que estabeleccedilam os

limites de atuaccedilatildeo quais as funccedilotildees que devem cumprir e que regulamentam a sua

funccedilatildeo Ou seja as agecircncias militares privadas precisam de constar do Direito

Internacional Humanitaacuterio Uma vez a parte legal resolvida seraacute mais faacutecil trabalhar o

setor puacuteblico com o setor privado que engloba ONG e agecircncias militares privadas de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

74

forma a que a accedilatildeo humanitaacuteria seja realizada em seguranccedila e chegue a todos os que

necessitem dela No entanto o tornar as agecircncias privadas regulamentadas na aacuterea da

accedilatildeo humanitaacuteria poderaacute tornaacute-las um grande negoacutecio tendo como consequecircncia

prejudicar dos conflitos como garantia de trabalho para estas agecircncias Por outro lado

haveria um escrutiacutenio na hora de selecionar as agecircncias para que houvesse uma

probabilidade miacutenima destes efetuarem crimes no terreno (Newton sd Harmer 2008 e

MAcArthur 2016 HCT e UNMISS 2013)

Por uacuteltimo poderia existir ainda a opccedilatildeo de usar as missotildees de peace enforcement sob o

princiacutepio da responsabilidade de proteger como veiacuteculo para a accedilatildeo humanitaacuteria pois

neste contexto natildeo se colocariam as questotildees relativas agrave neutralidade e agrave imparcialidade

da forma usual uma vez que o mandato dos militares eacute mais vasto no que ao uso da

forccedila respeita No entanto para o caso do Sudatildeo do Sul seria difiacutecil aplicar uma

intervenccedilatildeo humanitaacuteria ao abrigo da responsabilidade de proteger e violar o princiacutepio

da natildeo ingerecircncia O Sudatildeo do Sul natildeo cumpre todos os requisitos pois natildeo eacute um

conflito armado internacional e o massacre natildeo eacute visto como um genociacutedio Existe sim

uma guerra endeacutemica tentativa de limpeza racial e crimes contra os direitos humanos

Em suma a comunidade internacional haveria de fazer mais para travar o massacre e

proteger a populaccedilatildeo e os humanitaacuterios no terreno Existe jaacute um guia de colaboraccedilatildeo

entre a UNMISS e as ONG OING e OIG mas isso apenas natildeo chega Eacute preciso fazer

mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

75

Conclusatildeo

Como foi possiacutevel constatar ao longo de toda a dissertaccedilatildeo a escolta militar eacute um tema

de extrema complexidade que coloca em causa os princiacutepios humanitaacuterios consagrados

pela Cruz Vermelha Por outro lado existe a necessidade de proteger a missatildeo

humanitaacuteria e os proacuteprios humanitaacuterios no terreno os quais como foi sendo verificado

tecircm vindo a sofrer ataques raptos e assassinatos devido agrave incapacidade ou indiferenccedila

do Estado onde estaacute a ser prestado o apoio humanitaacuterio das ONG OING e OIG A

comunidade internacional natildeo consegue operar de forma eficaz no terreno sem ter

seguranccedila e proteccedilatildeo que deveria ser dada pelo governo do Estado em causa Todavia

caso o governo natildeo tenha capacidade ou natildeo queira garantir essa proteccedilatildeo cabe agrave

comunidade internacional garantir que a populaccedilatildeo desse territoacuterio seja protegida

Uma vez que um governo natildeo assegure essa proteccedilatildeo os humanitaacuterios vecircem-se numa

situaccedilatildeo complexa respeitar os princiacutepios humanitaacuterios ou correr risco de vida Muitos

preferem como foi possiacutevel verificar ao longo da dissertaccedilatildeo correr risco de vida A

independecircncia a imparcialidade e a neutralidade satildeo muito importantes para o sucesso

das missotildees humanitaacuterias Sem independecircncia podem ver o seu acesso a determinados

locais barrados e por conseguinte natildeo tratar determinada populaccedilatildeo o que significa

perder a imparcialidade mesmo que de forma involuntaacuteria Por fim podem ser

associados a uma das partes das hostilidades e por isso perder a neutralidade aos olhos

da populaccedilatildeo local

Foram abordadas diversas formas de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios atraveacutes dos

peacekeepers por exemplo tomando como modelo um guia elaborado especificamente

para as missotildees no Sudatildeo do Sul O guia especifica quando deve ser requerida a escolta

e proteccedilatildeo quando a parceria deve acabar e em que circunstacircncias devem ser feitas a

escolta e o pedido Foram abordadas as missotildees integradas maximalistas (partilham do

mesmo mandato das NU peacekeeping e ONG OING e OIG) ou minimalistas

(UNMISS e ONG OING e OIG cooperam em conjunto pontualmente sem

interferecircncia das NU e sob supervisatildeo do OCHA) sendo que a OXFAM aceita melhor a

missatildeo integrada minimalista sob determinadas regras os princiacutepios humanitaacuterios

devem prevalecer os humanitaacuterios natildeo devem ser envolvidos em assuntos poliacuteticos e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

76

natildeo devem ser associados aos militares Este tipo de missatildeo parece ser a melhor opccedilatildeo

possiacutevel para garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios

Foi tambeacutem abordada a possibilidade de contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas

uma opccedilatildeo raacutepida isenta de burocracias e possivelmente eficaz pois natildeo tem os

mesmos constrangimentos dos peacekeepers no uso da forccedila Mas haacute o problema do

vazio legal que eacute uma espeacutecie de carta em branco para os militares destas agecircncias

poderem cometer crimes e a maior parte destas agecircncias conteacutem militares locais que o

podem fazer e natildeo serem julgados por isso Por outro lado estes militares natildeo tecircm

direito ao estatuto de combatentes de guerra nas Convenccedilotildees de Genebra

Deveria uma vez que as NU contratam este tipo de agecircncias militares privadas

regulamentar-se a atividade no seio do DIH de forma a que estas agecircncias operassem

ao abrigo da lei tendo por isso direitos e deveres a cumprir no terreno e seriam

julgados por crimes de guerra caso cometessem algum Deveria tambeacutem ser redigido e

publicado um guia onde sejam estabelecidas as regras de uma boa colaboraccedilatildeo entre as

ONG OING e OIG no terreno constando os direitos dos colaboradores das agecircncias e

seus deveres Neste caso este tipo de agecircncias poderia ser uma oacutetima ajuda aliada de

comunidade internacional e humanitaacuteria para a pacificaccedilatildeo mitigaccedilatildeo do conflito e para

suprir as necessidades mais baacutesicas da populaccedilatildeo em necessidade e sofrimento que vive

no limiar da pobreza e que vecirc os seus Direitos Humanos serem desrespeitados

Por uacuteltimo existe a possibilidade de se obter seguranccedila atraveacutes de escolta em missotildees

orientadas pela responsabilidade de proteger sob termos semelhantes aos do Guia de

colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers mas claro com a diferenccedila de que neste

caso os militares podem oferecer uma proteccedilatildeo mais eficaz pois podem fazer uso da

forccedila de forma diferente da dos peacekeepers tradicionais que soacute fazem o uso da forccedila

para autodefesa e defesa do mandato A responsabilidade de proteger tem como objetivo

principal acabar com genociacutedios os crimes contra a humanidade ou seja casos

extremos e pode fazer o uso da forccedila sem consentimento do Estado alvo da intervenccedilatildeo

Jaacute as operaccedilotildees de peacekeeping satildeo missotildees que tecircm um papel de estabilizar de

proteccedilatildeo mais ligado agrave reestruturaccedilatildeo do Estado apoiando as declaraccedilotildees de paz e o

bom decorrer das negociaccedilotildees de paz O uso da forccedila eacute mais limitado Os peacekeepers

tecircm-se revelado ineficazes na proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e alvos de criacutetica Na

responsabilidade de proteger o propoacutesito eacute proteger os civis e natildeo acompanhar o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

77

governo ou restabelecer e reconstruir o aparelho do poder por isso natildeo existe o

problema da imparcialidade como na missatildeo UNMISS por exemplo ou a sobrecarga de

responsabilidades dos militares da UNMISS

O peace enforcement ao abrigo do R2P como soluccedilatildeo para garantir a proteccedilatildeo e

seguranccedila dos humanitaacuterios deve pois ser amplamente analisado discutido e somente

decidido se as vantagens forem maiores que as desvantagens Como referido a

cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao abrigo do R2P no

Sri Lanka natildeo foi bem-sucedida Os humanitaacuterios viram o seu acesso a determinados

locais restringido e ateacute em alguns casos viram a sua permanecircncia posta em causa

tendo de terminar a sua missatildeo e regressar Ou seja deixaram de ser vistos como

neutros pelo Estado e as organizaccedilotildees humanitaacuterias que colaboraram com os militares

do peace enforcement viram-se politizados o que natildeo era suposto

A conclusatildeo que pode ser retirada eacute que natildeo existe um modelo ideal que natildeo coloque

em risco os princiacutepios humanitaacuterios em contexto de conflito para assegurar a seguranccedila

dos humanitaacuterios mas sim um modelo preferencial e outras alternativas como a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas Ou seja deveraacute ser escolhido o mal menor

logo a opccedilatildeo que menos danos cause tanto agrave comunidade humanitaacuteria como aos

proacuteprios militares e agrave missatildeo humanitaacuteria em si

Neste momento seria preferencial o modelo de cooperaccedilatildeo entre as NU as ONG

OING e OIG como foi estabelecido com a UNMISS no terreno no Sudatildeo do Sul Se se

seguir o Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United

Nations Mission in South Sudan elaborado pelas NU em conjunto com o OCHA HCT

e as ONG e OING os riscos seratildeo miacutenimos comparados com a contrataccedilatildeo de militares

de agecircncias militares privadas

Eacute verdade que existe ainda uma certa resistecircncia por parte da comunidade internacional

a optar pelas missotildees integradas se bem que existe mais resistecircncia agraves missotildees

integradas maximalistas que agraves missotildees integradas estrateacutegicas ou minimalistas visto

que as missotildees maximalistas satildeo missotildees que visam que ONG e peacekeepers operem

sob o mesmo mandato sendo assim sujeitas agrave mesma hierarquia Jaacute a missatildeo

minimalista eacute ocasional ou seja quando eacute mesmo necessaacuterio e as ONG estatildeo sob a

coordenaccedilatildeo do OCHA e HCT respeitando bem a separaccedilatildeo da comunidade

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

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humanitaacuteria dos militares Esta eacute tambeacutem uma boa alternativa agraves agecircncias militares

privadas uma vez adotadas regras claras do padratildeo do Guia de coordenaccedilatildeo entre a

UNMISS e as ONG OING humanitaacuterias no terreno

Esta dissertaccedilatildeo focou pois o Sudatildeo do Sul que eacute um caso complexo onde os

humanitaacuterios satildeo atacados incessantemente tendo de ser tomadas providecircncias A

comunidade humanitaacuteria natildeo poderaacute por isso ser tatildeo inflexiacutevel em relaccedilatildeo ao princiacutepio

da neutralidade numa situaccedilatildeo como a do Sudatildeo do Sul Para chegar a determinados

locais eacute preciso que a seguranccedila dos humanitaacuterios seja assegurada para chegar a Juba e

Jonglei e Aburoc por exemplo locais onde a inseguranccedila prevalece e onde os

humanitaacuterios correm grande risco Os humanitaacuterios tecircm neste caso de escolher entre a

vida e salvar vidas para se manterem fieis aos princiacutepios fundamentais

A colaboraccedilatildeo com a UNMISS tem sido fulcral neste caso para que os humanitaacuterios

possam exercer a sua missatildeo em seguranccedila e respeitando os princiacutepios fundamentais no

entanto a cooperaccedilatildeo natildeo eacute bem aceite ainda na comunidade humanitaacuteria No caso do

Sudatildeo do Sul a inseguranccedila dos humanitaacuterios leva a que os bens essenciais como a

aacutegua comida e medicamentos natildeo cheguem ao local sendo estes motivos de guerra

dificultando a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Em suma a accedilatildeo humanitaacuteria eacute fulcral para a

ajuda na pacificaccedilatildeo do Sudatildeo do Sul e outros paiacuteses Deveria por isso haver uma

conferecircncia referente aos princiacutepios humanitaacuterios e agrave seguranccedila e proteccedilatildeo da

comunidade humanitaacuteria em territoacuterios de elevada inseguranccedila jaacute que o Sudatildeo do Sul

natildeo eacute exceccedilatildeo eacute um caso de ldquoEstado fragilizadordquo onde a pacificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo

natildeo seratildeo possiacuteveis tambeacutem sem o sucesso da ajuda dos humanitaacuterios e o sucesso da

ajuda humanitaacuteria no terreno soacute eacute possiacutevel se for garantida a sua proteccedilatildeo e seguranccedila

As agecircncias militares privadas devem ser a ultima opccedilatildeo na equaccedilatildeo pois apresentam

mais riscos que vantagens e as agecircncias com permissatildeo para operar pelo Estado no

Sudatildeo do Sul tecircm como colaboradores ex-combatentes de guerra o que pode ser um

grande risco no terreno Sabe-se que o conflito no Sudatildeo do Sul tem origem eacutetnica

existe um oacutedio racial colocar ex-combatentes de guerra a operar com lsquocarta brancarsquo no

terreno pode originar mais crimes e descreacutedito das ONG OING e OIG

Em suma natildeo existe uma soluccedilatildeo perfeita para garantir a proteccedilatildeo e uma escolta militar

neutra e imparcial uma vez que os militares de qualquer forccedila armada sejam do

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

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governo da missatildeo das NU ou de outro Estado dificilmente satildeo neutros o que pode

derivar para uma falta de imparcialidade Na teoria eacute possiacutevel fazer a distinccedilatildeo entre

militar e humanitaacuterio mas no terreno haacute dificuldades As ONG e OING vivenciam por

isso um grande dilema que urge resolver

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vii

Agradecimentos

Agradeccedilo aos meus pais por todo o apoio que me transmitiram ao longo do meu

percurso acadeacutemico e todas as aprendizagens que me transmitiram ao longo da vida

Agradeccedilo aos meus amigos pelo apoio incondicional carinho e pelos bons momentos

Agradeccedilo ao meu primo e agrave sua esposa que satildeo como irmatildeos para mim por todo o

amor compreensatildeo apoio e carinho Foram fundamentais ao longo do meu percurso

acadeacutemico e na minha formaccedilatildeo enquanto pessoa

Gostava de endereccedilar um agradecimento muito especial agrave Professora Claacuteudia Ramos

por tudo o que me ensinou ao longo do meu percurso acadeacutemico todo o empenho

dedicaccedilatildeo compreensatildeo exigecircncia disponibilidade e apoio Mas sobretudo gostava de

agradecer pelo incentivo e apoio nos momentos menos bons que ocorreram ao longo do

periacuteodo de redaccedilatildeo da dissertaccedilatildeo e por ter-me feito natildeo desistir em momento algum

de terminar o meu mestrado quando os momentos que estava a atravessar eram

momentos difiacuteceis

Agradeccedilo tambeacutem ao Professor Joatildeo Casqueira ao Professor Aacutelvaro Campelo agrave

Professora Teresa Toldy e ao Professor Paulo Vila Maior pela sabedoria que

partilharam ao longo de todo o meu percurso acadeacutemico que foi pautado por excelentes

professores

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

viii

Iacutendice

Resumo iv

Abstract v

Dedicatoacuteria vi

Agradecimentos vii

Iacutendice viii

Iacutendice de Figurashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip ix

Lista de Acroacutenimos x

Introduccedilatildeo 1

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria 10

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a abordagem

humanitaacuteria 21

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding 21

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar 23

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares 28

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno 40

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 48

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso 53

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul 53

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das ONG 59

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar 62

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 69

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas 73

Conclusatildeo 75

Bibliografia 80

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ix

Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terrenohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip43

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sulhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip53

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

x

Lista de Acroacutenimos

AMI Assistecircncia Meacutedica Internacional

AMP Agecircncias Militares privadas

CAI Conflito Armado Internacional

CANI Conflito Armado Natildeo Internacional

CERF Central Emergency Response Fund

CMOC Civil Military Operation Center

DIH Direito Internacional Humanitaacuterio

DDR Desarmamento Desmobilizaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo

DSL Defense System Limited

ECHO European Civil Protection and Aid Operations

HC Humanitarian Coordinator

HCT Humanitarian Country Team

ICRC International Comittee of Red Cross

IASC Inter-Agency Standing Committee

IAP Integrated Assessment and Planning

ICISS International Commission on Intervention and State Sovereignity

JOC Joint Operations Center

MSF Meacutedicos Sem Fronteiras

NU Naccedilotildees Unidas

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

OING Organizaccedilatildeo Internacional Natildeo Governamental

OCHA United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

OCDE Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econoacutemico

OFDA Office of US Foreign and Disaster Assistance

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

PCI Projetos de curto impacto

RESG Representante Especial do Secretaacuterio Geral

RCO Resident Coordinatoracutes Office

R2P Responsibility to protect

UE Uniatildeo Europeia

UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

UNMISS United Nation Missions for South Sudan

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF United Nations Childrenrsquos Fund

WFP World Food Programme

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

1

Introduccedilatildeo

Na presente dissertaccedilatildeo iraacute ser abordada a relaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a Accedilatildeo

Securitaacuteria como garante de proteccedilatildeo e escolta aos humanitaacuterios em situaccedilotildees de

elevado perigo podendo potencialmente colocar a missatildeo humanitaacuteria em causa devido

agrave dificuldade de acesso ao terreno A resposta humanitaacuteria eacute composta por trecircs fases A

primeira eacute o fornecimento dos bens essenciais como a aacutegua abrigo e alimentaccedilatildeo A

segunda eacute a ajuda agraves viacutetimas para recuperarem os seus meios de subsistecircncia bem como

a reconstruccedilatildeo das infraestruturas sociais e materiais baacutesicas Por uacuteltimo haacute a prevenccedilatildeo

de novas cataacutestrofes Logo a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal objetivo aliviar o

sofrimento humano de forma a que a populaccedilatildeo possa viver com dignidade e se salvem

vidas A accedilatildeo humanitaacuteria divide-se nas seguintes aacutereas a ajuda ao desenvolvimento a

defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda humanitaacuteria mais urgente

(OIKOS 2015 UNRIK 2014)

Jaacute a accedilatildeo securitaacuteria nomeadamente as lsquomissotildees de pazrsquo eacute predominantemente do tipo

militar tendo regra geral de ser pedida pelo Estado que estaacute a atravessar o conflito

como foi o caso do Ruanda Somaacutelia Sudatildeo do Sul entre outros As accedilotildees securitaacuterias

ao abrigo das missotildees de paz tecircm como objetivos fornecer assistecircncia e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados que a paz possa ser estabelecida e o genociacutedio

prevenido ou interrompido Dentro da accedilatildeo securitaacuteria encontram-se as operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mais extrema o peace enforcement O peace

enforcement pode ser ativado em casos extremos e ao abrigo do princiacutepio da

responsabilidade de proteger Ainda assim os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm

de se limitar a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para fazerem respeitar os

direitos humanos violados e fornecer assistecircncia ao povo local (Gordon1996 Bellamy

e Wheeler 2006 Massingham 2009 Weiss 2017)

A questatildeo central da investigaccedilatildeo eacute portanto a articulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o

militar em paiacuteses que estejam a passar por conflitos armados Sempre que os

profissionais humanitaacuterios estejam em paiacuteses em estado de guerra ou poacutes-guerra

poderatildeo sentir dificuldades na hora de aceder a locais onde a populaccedilatildeo necessite de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

2

mais ajuda devido ao facto de natildeo terem escolta militar para esse efeito Outro

problema eacute a possibilidade de haver confusatildeo dos humanitaacuterios com os militares e por

isso a populaccedilatildeo rejeitar a ajuda das organizaccedilotildees humanitaacuterias Portanto o foco do

tema da dissertaccedilatildeo eacute identificar a importacircncia do papel dos militares para o bom

desempenho dos profissionais humanitaacuterios

Ou seja o estudo centra-se nas consequecircncias que podem advir daiacute como por exemplo

desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves ONG OING ou OIG queda dos donativos

ataques entre outros Do ponto de vista praacutetico as questotildees centrais seratildeo as seguintes

Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de vida ou correcirc-lo e

respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente Seraacute que eacute possiacutevel

encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a seguranccedila e proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma alternativa

Nesta dissertaccedilatildeo constatar-se-aacute que existe um cruzamento entre a accedilatildeo humanitaacuteria

(humanitaacuterios) e o sistema securitaacuterio (militares) sendo os atores deste uacuteltimo

normalmente os membros das operaccedilotildees de peacekeeping peace enforcement ou a

componente policial e militar do peacebuiliding podendo ainda ocorrer haver no

terreno uma forccedila militar estatal como no caso de algumas intervenccedilotildees militares como

seraacute explicitado adiante Neste uacuteltimo caso soacute mesmo em uacuteltima circunstacircncia os

humanitaacuterios aceitariam a escolta de forma a natildeo perderem a sua imparcialidade e

independecircncia

As operaccedilotildees de peacekeeping satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas

tambeacutem para a proteccedilatildeo dos civis para assistir ao desarmamento agrave desmobilizaccedilatildeo e agrave

reintegraccedilatildeo de ex-combatentes para suportar a organizaccedilatildeo de eleiccedilotildees para proteger e

promover os direitos humanos e para ajudar na construccedilatildeo de um ldquoestado de direitorsquo

(rule of law) fazendo a ponte com as operaccedilotildees de peacebuilding no terreno e sendo os

seus atores parceiros ldquonaturaisrdquo dos humanitaacuterios no terreno (UN sda UN sdb)

As razotildees pelas quais foi escolhido este tema satildeo sobretudo motivaccedilotildees pessoais mas

tambeacutem a relevacircncia do mesmo para a construccedilatildeo do saber na aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria

cooperaccedilatildeo e desenvolvimento sobretudo na parte da accedilatildeo humanitaacuteria Explorar novos

caminhos e trabalhar novos paradigmas para a evoluccedilatildeo positiva da accedilatildeo das missotildees no

terreno eacute fulcral para o futuro da accedilatildeo humanitaacuteria ndash eacute urgente encontrar novas soluccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

3

para que os humanitaacuterios e os militares possam satisfazer as necessidades das

populaccedilotildees que residam em locais de conflito

Uma articulaccedilatildeo entre os humanitaacuterios e os membros de operaccedilotildees de peacekeeping ou

peacebuilding pode revelar-se importante para o sucesso das missotildees em que os

profissionais humanitaacuterios participam sobretudo se essas missotildees forem sediadas em

locais de tensatildeo aberta ou altamente conflituosos Para aleacutem da motivaccedilatildeo pessoal

explicada existe pois uma motivaccedilatildeo social sendo ela a de colaborar para alertar os

agentes responsaacuteveis pela accedilatildeo humanitaacuteria para as novas necessidades e desafios nesta

aacuterea de forma a contribuir mais e melhor na sociedade

Os objetivos do estudo ao abordar este tema satildeo explorar a relaccedilatildeo existente ou natildeo

entre o profissional humanitaacuterio e o militar bem como entender ateacute que ponto essa

relaccedilatildeo eacute ou natildeo beneacutefica para a eficaacutecia da accedilatildeo humanitaacuteria e se porventura coloca em

causa os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios que satildeo a imparcialidade neutralidade e

independecircncia Eacute pretendido tambeacutem explorar as vaacuterias opccedilotildees de obtenccedilatildeo de

seguranccedila e identificar as melhores opccedilotildees

No entanto o objetivo central eacute explorar as dinacircmicas de articulaccedilatildeo entre o

humanitaacuterio e o militar em missotildees humanitaacuterias nas suas diversas formas quer com a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas quer com o apoio dos peacekeepers ou

forccedilas militares do paiacutes que estaacute sob a ajuda humanitaacuteria e a accedilatildeo militar Dado o cariz

do mestrado em Accedilatildeo Humanitaacuteria que visa formar tambeacutem para a praacutetica de terreno

este objetivo afigura-se fundamental

O paradigma investigativo escolhido para a dissertaccedilatildeo eacute o qualitativo que assenta na

interpretaccedilatildeo de determinados fenoacutemenos de modo a construir uma nova visatildeo acerca

do tema de estudo A parte empiacuterica da dissertaccedilatildeo conta com um estudo de caso sobre

o Sudatildeo do Sul onde eacute analisada a interaccedilatildeoarticulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o militar

no terreno com recurso a anaacutelise bibliograacutefica e documental nomeadamente a anaacutelise

de um guia sobre missotildees integradas elaborado pela OXFAM que eacute o UN Integrated

Missions and Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations

Integrated Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) Conta tambeacutem com a

anaacutelise de um documento importante para o estudo do caso do Sudatildeo do Sul que eacute o

Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United Nations

Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) elaborado pelas Naccedilotildees Unidas (NU)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

4

em conjunto com ONG OING e OIG Este eacute um guia que iraacute explicar como deve ser

feita a cooperaccedilatildeo entre a comunidade humanitaacuteria e os peacekeepers no terreno

denominada tambeacutem de missatildeo integrada (minimalista ou maximalista conforme se

explicaraacute)

O motivo da escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso foi o facto de este ser um

Estado de elevada fragilidade onde a guerra civil natildeo aparenta ter um fim agrave vista Outro

motivo foi o nuacutemero crescente de humanitaacuterios atacados sequestrados e assassinados

no terreno o que torna o Sudatildeo do Sul um terreno perigoso para as ONG e OIG se

aventurarem sem que sejam garantidas as devidas condiccedilotildees de seguranccedila e proteccedilatildeo

dos humanitaacuterios O cerne da questatildeo eacute precisamente o facto de essa proteccedilatildeo e

seguranccedila natildeo serem garantidas no terreno pelo Estado que estaacute em conflito armado

natildeo sendo possiacutevel por vezes aos humanitaacuterios chegar a determinados locais por

elevado niacutevel de perigo de vida

Satildeo estes os motivos que justificaram a escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso

complementando assim a parte teoacuterica sobre o dilema dos princiacutepios humanitaacuterios e a

necessidade de proteccedilatildeo no terreno

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

5

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria nasceu com Henri Dunant tendo sido este a criar a Cruz Vermelha

apoacutes a batalha violenta de Solferino em 1859 Teraacute entatildeo uma estrutura composta de

associaccedilotildees pequenas adquirindo uma dimensatildeo sem-fronteiras Comeccedilou por ser

denominada de Comiteacute International de Secours aux Blesseacutes e em 1875 obteve o nome

pela qual eacute conhecida hoje Cruz Vermelha ou Croix Rouge Tinha como principal

objetivo tratar os prisioneiros e feridos de guerra independentemente do lado pelo qual

lutavam Ou seja Dunan apoacutes assistir aos horrores daquela batalha decidiu criar uma

organizaccedilatildeo que tratasse todos os feridos independentemente da raccedila religiatildeo

ideologia cor crenccedila ou etnia (Schaumoff 2011 Crisp 2008)

A Cruz Vermelha comeccedilou por basear-se em trecircs pilares fundamentais que satildeo a

neutralidade a independecircncia da organizaccedilatildeo permanente de socorros e uma convenccedilatildeo

internacional para a proteccedilatildeo dos feridos A accedilatildeo humanitaacuteria tinha e tem como

principal objetivo alivar o sofrimento restabelecer a dignidade e humanidade Estes trecircs

pilares foram rapidamente adotados pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias (Schaumoff

2011 Crisp 2008 Hammond 2015) Em 1965 em Viena a Cruz Vermelha proclamou

os seus sete princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

Independecircncia todas as ONG e OIG devem ser independentes relativamente a qualquer

instituiccedilatildeo Estado ou outro sistema governamental a fim de se poderem movimentar e

agir de acordo com os seus princiacutepios e natildeo sob pressatildeo da entidade da qual dependem

monetariamente ou securitariamente Ou seja a accedilatildeo humanitaacuteria deve ser praticada de

forma autoacutenoma e independente dos agentes poliacuteticos e militares (Hisamoto 2012

IFRCC sd)

Imparcialidade todos devem ser tratados de igual forma independentemente da tribo

etnia da cor do sexo da religiatildeo de ideologia poliacutetica e do geacutenero (IFRCC sd CVP

2017a)

Neutralidade as OIG e ONG devem abster-se de tomar parte em hostilidades ou em

controveacutersias de ordem poliacutetica racial filosoacutefica ou religiosa (IFRCC sd CVP

2017a)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

6

Humanidade este princiacutepio estabelece que todos os feridos devem ser auxiliados dentro

e fora do campo de batalha o sofrimento deve ser aliviado independentemente das

circunstacircncias a vida e a sauacutede devem ser protegidas deve ser promovido o respeito

pela pessoa humana e deve ser favorecida a compreensatildeo a cooperaccedilatildeo e a paz

duradoura entre os povos (IFRCC sd CVP 2017a)

Voluntariado todas as OIG e ONG devem agir de forma voluntaacuteria e desinteressada

(IFRCC sd CVP 2017a)

Unidade a Cruz Vermelha eacute uma soacute podendo em cada paiacutes existir somente sociedades

abertas a todos estendendo assim a sua accedilatildeo humanitaacuteria a todo o territoacuterio nacional

No entanto este princiacutepio eacute estendiacutevel a toda a comunidade humanitaacuteria que deve agir

como uma soacute entreajudando-se e cumprindo o dever de salvar vidas e aliviar o

sofrimento humano (IFRCC sd CVP 2017a)

Universalidade a Cruz Vermelha eacute uma instituiccedilatildeo com cariz universal no seio de

todas as Sociedades Nacionais todas tecircm direitos e deveres iguais de entreajuda o

mesmo princiacutepio vale para as restantes organizaccedilotildees intergovernamentais ou natildeo

governamentais (IFRCC sd CVP 2017a)

Em 1949 foram criadas as Quatro Convenccedilotildees de Genebra e posteriormente os

respetivos protocolos que satildeo de 1977 e satildeo a base do Direito Internacional

Humanitaacuterio onde eacute determinado o tratamento dos soldados e civis durante os conflitos

armados internacionais e natildeo internacionais (CVP 2017b Jurkowski 2017)

A primeira Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos e dos doentes das

Forccedilas Armadas em campanha Aqui eacute estabelecido como devem ser tratados os feridos

e doentes das forccedilas armadas respeitando sempre os princiacutepios fundamentais mais

importantes da accedilatildeo humanitaacuteria que satildeo a neutralidade e imparcialidade Ou seja todo

o doente ou ferido deve ser tratado independentemente da sua cor raccedila credo feacute

religiatildeo geacutenero ideologias poliacuteticas etnias e quer faccedila parte de uma ou outra parte das

hostilidades (ICRC 1949 CVP 2017b Jurkowski 2017)

A segunda Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos doentes e

naacuteufragos das Forccedilas Armadas no mar Eacute aqui estabelecido o tipo de tratamentos que os

feridos doentes e naacuteufragos das forccedilas armadas devem obter e os direitos que lhes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

7

assistem Todos os feridos devem ser assistidos independentemente da religiatildeo crenccedila

feacute religiatildeo ideologias poliacuteticas e quer faccedilam parte de uma ou da outra parte das

hostilidades Caso os humanitaacuterios estejam perante dois feridos e tenham de escolher

devem assistir o ferido que teraacute mais probabilidades de sobreviver natildeo devendo fazer a

escolha com base na nacionalidade faccedilatildeo partidaacuteria crenccedila religiatildeo feacute cor entre

outros Todas as organizaccedilotildees humanitaacuterias e todos os humanitaacuterios devem pois reger-

se pelos princiacutepios da neutralidade e imparcialidade mas tambeacutem humanidade e

independecircncia (ICRC 1949 CVPb 2017)

A terceira Convenccedilatildeo diz respeito ao tratamento dos prisioneiros de guerra Todos os

prisioneiros de guerra devem ser tratados com dignidade e devem ver os seus direitos

consagrados no direito internacional humanitaacuterio respeitados como o acesso a

assistecircncia meacutedica em caso de necessidade a proteccedilatildeo dos seus pertences que natildeo

devem ser alvo de pilhagem e a garantia de um miacutenimo de condiccedilotildees na cela que

permita ao prisioneiro viver com dignidade Natildeo devem ainda ser alvo de torturas

privados de visitas e de um advogado e devem ainda ter acesso a um julgamento

imparcial Em caso de morte o corpo natildeo pode ser profanado e deve ser devolvido agrave

famiacutelia uma vez feito o reconhecimento (ICRC 1949 CVP 2017b)

A quarta Convenccedilatildeo diz respeito agrave proteccedilatildeo de civis em tempo de guerra Nesta

convenccedilatildeo eacute feita a distinccedilatildeo entre os conflitos armados internacionais e os conflitos

armados natildeo internacionais pois a proteccedilatildeo dada aos civis em tempo de conflito a

niacutevel do direito internacional humanitaacuterio eacute diferente Se no caso de um CAI (Conflito

Armado Internacional) os civis e prisioneiros de guerra estatildeo protegidos pelo Direito

Internacional Humanitaacuterio e pelas Convenccedilotildees de Genebra ratificadas por quase todos

os Estados do mundo a verdade eacute que caso o conflito natildeo seja internacional a proteccedilatildeo

dos civis e prisioneiros de guerra eacute colocada em causa O Direito Internacional

Humanitaacuterio natildeo tem legitimidade para atuar em caso de CANI (Conflito Armado Natildeo

Internacional) Logo em caso de CANI os civis e prisioneiros de guerra ficam

entregues agrave sua sorte No entanto eacute possiacutevel contornar este problema recorrendo aos

protocolos adicionais I e II O problema aqui reside no facto de poucos Estados terem

ratificado os protocolos adicionais o que deixa os civis e prisioneiros de guerra numa

posiccedilatildeo delicada em contexto de CAN Outro problema eacute ainda determinar quando eacute

que podemos classificar um conflito armado como sendo internacional ou natildeo Esta eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

8

uma aacuterea complicada e que leva a algumas duacutevidas quanto agrave classificaccedilatildeo do conflito

(Jurkowski 2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional I vem pois fazer a distinccedilatildeo entre os conflitos armados

internacionais e natildeo internacionais e o protocolo adicional II vem fazer algumas

modificaccedilotildees e especificar como devem ser tratados os feridos doentes e prisioneiros de

guerra em cada um dos casos Foram celebrados a 8 de agosto de 1977 (Jurkowski

2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional III celebrado a 8 de dezembro de 2005 vem formalizar o terceiro

emblema do movimento ldquoO Cristal Vermelhordquo Este novo emblema apresenta-se na

forma de um losango inserido dentro de uma moldura vermelha sob fundo branco A

ideia da construccedilatildeo de um novo siacutembolo surgiu com a necessidade de encontrar uma

alternativa agrave cruz e ao crescente que satildeo muitas vezes percecionadas como tendo

conotaccedilotildees religiosas culturais e poliacuteticas o que levava ao desrespeito do emblema dos

humanitaacuterios e das viacutetimas Com o novo emblema denominado de Cristal Vermelho e

com a assinatura do acordo entre o Crescente Vermelho da Palestina e a Magen David

Adom (mais conhecida por estrela de David) a 28 de novembro de 2005 foram

definidos aspetos logiacutesticos no desenvolvimento das operaccedilotildees humanitaacuterias Este

acordo contribuiu para a adoccedilatildeo do III protocolo adicional e para que terminasse um

longo processo diplomaacutetico (CVPb 2017 CVP 2017c ICRC 1949)

Com o aumento do nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento

de conflitos que necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido pela Cruz

Vermelha em 1994 o coacutedigo de conduta humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se

comprometeriam a respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios principalmente os

princiacutepios da neutralidade imparcialidade e independecircncia Este coacutedigo foi assinado por

140 agecircncias de forma a assegurar que os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios fossem

assegurados no terreno (Makintosh 2000 Hammond 2015)

Podemos constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal missatildeo aliviar o

sofrimento humano e devolver dignidade agrave vida das pessoas com necessidades que

devem ser urgentemente apaziguadas Esta ajuda humanitaacuteria deve ter como principal

fim o solidaacuterio e nunca fins lucrativos ou segundas intenccedilotildees como poliacuteticas por

exemplo Os seus valores tecircm origem eacutetico-religiosa cristatilde quanto ao amor ao proacuteximo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

9

no princiacutepio da solidariedade e da caridade bem como no humanitarismo Eacute tambeacutem

estabelecido neste protocolo que a Cruz Vermelha deve estar bem identificada e que

nenhuma instituiccedilatildeoorganizaccedilatildeo humanitaacuteria e religiosa deve ser atacada pois se trata

de entidades imparciais e neutras (Jurkowski 2017 Hammond 2015)

Os princiacutepios humanitaacuterios definem as regras de accedilatildeo no terreno na hora de oferecer

ajuda humanitaacuteria devendo sempre respeitar os referidos sete princiacutepios humanitaacuterios

proclamados em Viena em 1965 pela Cruz Vermelha Os humanitaacuterios devem ainda

manter-se neutros face agraves hostilidades e natildeo devem ser associados implicados ou ter

uma participaccedilatildeo poliacutetica no terreno de forma a natildeo colocar a vida da populaccedilatildeo em

risco e a populaccedilatildeo natildeo recear pedir ajuda Devem tambeacutem manter-se imparciais

quanto ao tratamento das pessoas sendo por isso a independecircncia fulcral que soacute eacute

conseguida mantendo-se neutros (Jurkowski 2017 Crisp 2008 Hammond 2015)

O humanitaacuterio ou a organizaccedilatildeo humanitaacuteria tecircm tambeacutem o dever de denunciar abusos

aos direitos humanos No entanto muitos natildeo o fazem sob medo de ao denunciarem o

Estado denunciado os encarar como tomando um dos lados das hostilidades existentes e

de por isso lhes ser retirada a permissatildeo para permanecerem no terreno ou serem alvos

de ataques entre outros Os Meacutedicos sem Fronteiras por exemplo jaacute encararam este

tipo de problemas e a poliacutetica da organizaccedilatildeo eacute denunciar mesmo que isso signifique ter

de fazer as malas e abandonar o terreno Natildeo denunciar seria cooperar e permitir a

violaccedilatildeo dos direitos humanos ndash este eacute chamado o ldquoprinciacutepio da ingerecircncia

humanitaacuteriardquo Tal significa que o humanitaacuterio deve denunciar os crimes contra os

Direitos Humanos independentemente das consequecircncias (Terry 2002 Hisamoto

2012)

Apoacutes a criaccedilatildeo da Cruz Vermelha vaacuterias organizaccedilotildees internacionais governamentais e

natildeo-governamentais foram surgindo para fornecer ajuda humanitaacuteria aos paiacuteses em

conflito e de extrema pobreza No plano das natildeo governamentais encontramos

organizaccedilotildees como a AMI a OXFAM ou a Caacuteritas A niacutevel intergovernamental a ONU

abriu um escritoacuterio denominado OCHA (United Nations Office for the Coordination of

Humanitarian Affairs) para a coordenaccedilatildeo dos assuntos humanitaacuterios a OCDE tambeacutem

se dedica a esta causa bem como a UE atraveacutes do ECHO (European Civil Protection

and Humanitarian Aid Operations) (Philippe et al 2007)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

10

Podemos entatildeo constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria eacute uma atuaccedilatildeo no terreno de cariz

puramente solidaacuterio e humanitaacuterio que tem como principal objetivo aliviar o sofrimento

humano fornecendo os meios essenciais de subsistecircncia apoio meacutedico e psicoloacutegico

bem como abrigo proteccedilatildeo e apoio legal em caso de a viacutetima ter sido alvo de violaccedilatildeo

dos seus Direitos Humanos Esta atuaccedilatildeo eacute realizada por ONG OING e OIG (Bellamy e

Wheeler 2006)

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute composta por diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sendo a ajuda

humanitaacuteria em contexto de conflito e a defesa dos direitos humanos as aacutereas que iratildeo

ser mais aprofundadas nesta dissertaccedilatildeo As aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo pois a ajuda ao

desenvolvimento a defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda

humanitaacuteria mais urgente A ajuda urgente eacute a mais oacutebvia mas os humanitaacuterios

colaboram tambeacutem no terreno com missotildees orientadas para outros fins e com prazos

mais longos Cada uma dessas aacutereas dentro da ajuda humanitaacuteria requer uma estrateacutegia

diferente de accedilatildeo e cuidados a ter com os proacuteprios humanitaacuterios que satildeo muitas vezes

alvo de sequestros atentados e homiciacutedio Por exemplo a ajuda humanitaacuteria em

contexto de conflito requer uma maior preparaccedilatildeo por parte dos humanitaacuterios para o

terreno onde vatildeo atuar requer um estabelecimento de mecanismos de seguranccedila

detalhados como por exemplo mapear onde estatildeo localizados onde cada grupo da sua

equipa estaacute a operar em determinado momento assegurar meios de telecomunicaccedilatildeo

fiaacuteveis como a raacutedio para que todos os elementos do grupo estejam contactaacuteveis pela

base onde estaacute sediada a organizaccedilatildeo (Ryfman 2007)

Jaacute a aacuterea de ajuda ao desenvolvimento tem como principal foco a erradicaccedilatildeo da

pobreza a niacutevel mundial Essa ajuda eacute fornecida por organizaccedilotildees de paiacuteses

desenvolvidos ou organizaccedilotildees intergovernamentais como a ONU Este objetivo adveacutem

da parceria entre Estados desenvolvidos e em vias de desenvolvimento tendo tido um

marco fundamental na Declaraccedilatildeo do Mileacutenio assinada por 189 Estados em setembro

de 2000 Esta Declaraccedilatildeo do Mileacutenio foi adotada na resoluccedilatildeo ARES552 da

Assembleia Geral das NU Nela ficaram estabelecidos os princiacutepios fundamentais a

serem adotados por todos os Estados Membros que a tenham ratificado A menccedilatildeo

destes princiacutepios iraacute clarificar o conceito da accedilatildeo humanitaacuteria e fazer entender que

certos princiacutepios satildeo negados agraves populaccedilotildees de Estados fragilizados em conflito ou em

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

11

vias de desenvolvimento e que ainda eacute necessaacuterio percorrer um longo caminho na aacuterea

da accedilatildeo humanitaacuteria que neste momento se revela difiacutecil devido agrave inseguranccedila em

determinados terrenos Esses princiacutepios satildeo

Liberdade Todos independentemente do geacutenero devem ter o direito de viver em

dignidade e criar os seus filhos em dignidade livres da fome do medo e da violecircncia

opressatildeo ou injusticcedila Os governos devem ser democraacuteticos e participativos baseados

na vontade do povo

Igualdade nenhum individuo ou naccedilatildeo deve ver a oportunidade de beneficiar do

desenvolvimento negada Os direitos e oportunidades devem ser iguais para todos

Solidariedade Desafios globais devem ser geridos de forma a que os custos e benefiacutecios

sejam distribuiacutedos de forma justa com base no princiacutepio da equidade e justiccedila social

Aqueles que sofrem ou que beneficiam menos merecem a ajuda dos que satildeo mais

beneficiados

Toleracircncia Todo o ser humano deve respeitar-se mutuamente em toda a sua diversidade

de crenccedila cultura e linguagem A diferenccedila na e entre a sociedade natildeo devem ser

temidas ou reprimidas devem antes ser preservadas como um bem precioso da

humanidade Por uacuteltimo deve ser promovida uma cultura de paz e dialogo entre todas

as civilizaccedilotildees

Respeito pela natureza Deve haver prudecircncia na gestatildeo de todas as espeacutecies existentes

e recursos naturais de acordo com a perceccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel A

riqueza da natureza e diversidade de espeacutecies legada pelos nossos antepassados deve ser

preservada para a manutenccedilatildeo do equilibro do meio ambiente no presente e para os

nossos descendentes no futuro O padratildeo de consumismo e constante destruiccedilatildeo da

natureza deve ser mudado

Responsabilidade partilhada A responsabilidade de gerir mundialmente o niacutevel

econoacutemico e o desenvolvimento social bem como ameaccedilas agrave paz internacional e

seguranccedila deve ser partilhada entre naccedilotildees do mundo e deve ser exercida

multilateralmente As NU devem por isso como organizaccedilatildeo mundial de maior

influecircncia ter um papel central nesta questatildeo (UN 2000 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

12

Com base nestes princiacutepios foram estabelecidos os objetivos de desenvolvimento do

mileacutenio e posteriormente em 2015 os 17 objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel

que satildeo 1) Erradicar a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares 2)

Acabar com a fome conseguir seguranccedila alimentar melhorar a nutriccedilatildeo e a promoccedilatildeo

de uma agricultura sustentaacutevel 3) Assegurar uma vida saudaacutevel e promover o bem-estar

para todos em todas as idades 4) Assegurar uma educaccedilatildeo que privilegie a inclusatildeo de

todos que seja equitativa e de qualidade e que promova diversas oportunidades de

aprendizagem ao longo da vida e para todos 5) Alcanccedilar a igualdade de geacutenero

conceder autonomia agraves mulheres 6) Assegurar uma gestatildeo sustentaacutevel da aacutegua e

saneamento e a garantir que toda a populaccedilatildeo tenha acesso agrave aacutegua 7) garantir a todos o

acesso sustentaacutevel e confiaacutevel agrave energia 8) promover o crescimento econoacutemico

sustentado inclusivo e sustentaacutevel emprego pleno e produtivo bem como trabalho

decente para todos 9) Construir infraestruturas resistentes promover a industrializaccedilatildeo

sustentaacutevel de forma a fomentar a inovaccedilatildeo 10) Reduzir as desigualdades no seio do

Estado e entre Estados 11) Tornar as cidades e o patrimoacutenio humano mais inclusivos

seguros resistentes e sustentaacuteveis 12) Assegurar padrotildees de produccedilatildeo e de consumo

sustentaacuteveis 13) Combater as alteraccedilotildees climaacuteticas de forma a diminuir o risco do seu

impacto no nosso planeta 14) Promover o uso sustentaacutevel dos oceanos dos mares e dos

recursos marinhos para um desenvolvimento sustentaacutevel 15) Proteger recuperar e

promover o uso sustentaacutevel dos ecossistemas terrestres gerir de forma sustentaacutevel as

florestas e combater a desertificaccedilatildeo deter e reverter a degradaccedilatildeo da terra e deter a

perda de biodiversidade 16) Promover sociedades paciacuteficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentaacutevel proporcionar o acesso agrave justiccedila com base na igualdade e

equidade construir instituiccedilotildees eficazes responsaacuteveis e inclusivas para todos 17)

Fortalecer os meios de implementaccedilatildeo e revitalizar a parceria a niacutevel global para o

desenvolvimento sustentaacutevel (UN 2015 ONUBR 2017 UN 2017c)

Podemos por isso considerar que a ajuda ao desenvolvimento fornecida pelo PNUD eacute

uma accedilatildeo poliacutetica para melhorar as condiccedilotildees de vida dos paiacuteses em vias de

desenvolvimento numa perspetiva de longo prazo A ajuda eacute fornecida pelos Estados-

membros da OCDE ONU EU BMI e FMI

A luta pelos direitos dos humanos tem como principal objetivo a luta contra a violaccedilatildeo

dos direitos humanos definidos na declaraccedilatildeo universal dos direitos do homem Como

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

13

quadro de referecircncia dos direitos humanos foram ainda redigidas a convenccedilatildeo

internacional para os direitos poliacuteticos e civis e a convenccedilatildeo para os direitos

econoacutemicos sociais e culturais (Ryfman 2007 UN 2017d SDG 2015)

Este tipo de ajuda humanitaacuteria funciona atraveacutes de denuacutencias e pressotildees para que sejam

conhecidas sucessivas violaccedilotildees dos direitos humanos e o direito a uma vida digna

preservado No entanto esta eacute uma aacuterea que pode abrir portas para o conflito entre o

dever de denunciar violaccedilotildees dos Direitos Humanos e os princiacutepios humanitaacuterios Como

foi referido acima as ONG e OIG baseiam-se em sete princiacutepios fundamentais dos

quais trecircs satildeo cruciais ndash a independecircncia a neutralidade e a imparcialidade Ao

denunciar uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a denuacutencia poderaacute ser vista como se a

organizaccedilatildeo estivesse a tomar partido por uma das partes do conflito mesmo que natildeo

seja o caso e eacute assim colocada em causa a neutralidade da organizaccedilatildeo seja ela

internacional local governamental ou natildeo Este eacute um caso bastante delicado pois a

organizaccedilatildeo precisa da autorizaccedilatildeo para poder permanecer no terreno Esta situaccedilatildeo

pode levar a que vaacuterias organizaccedilotildees se sintam intimidadas na hora de denunciar

embora exista um modelo especiacutefico criado pelas Naccedilotildees Unidas para realizar queixas

por violaccedilatildeo dos direitos humanos O procedimento eacute denominado de Human Rights

Council Complaint Procedure A Amnistia Internacional tambeacutem faz queixas por

violaccedilatildeo dos direitos humanos sendo uma ONG muito importante no ativismo pelos

direitos humanos (OHCHR 2017 Hammond 2015)

O Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Direitos Humanos (ACDH) tem

tambeacutem um papel importantiacutessimo na prevenccedilatildeo e denuacutencia de potenciais crimes contra

os direitos humanos no terreno Este Alto Comissariado tem como principal objetivo

dar suporte ao respeito pelos direitos humanos no acircmbito de operaccedilotildees de

peacekeeping peaceenforcement peacebuilding provendo planos estrateacutegicos

policiamento e aconselhamento especializado O Alto Comissariado pode mesmo

indicar a necessidade de acionar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo mas eacute o Conselho de

Seguranccedila que tem o poder decisoacuterio nesta mateacuteria As principais atividades do ACDH

satildeo fazer a monitorizaccedilatildeo diaacuteria investigaccedilatildeo documentaccedilatildeo e relato da situaccedilatildeo

relativa aos direitos humanos advogar junto das autoridades locais e nacionais

envolvendo a sociedade civil e os governos nacionais (desta forma eacute possiacutevel prevenir e

assegurar a reparaccedilatildeo da violaccedilatildeo dos direitos humanos) reportar publicamente ganhos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

14

e falhas nos direitos humanos assegurar que o processo de paz promova a justiccedila e a

equidade construir instituiccedilotildees de direitos Humanos incorporar os direitos humanos

nas missotildees de paz da NU bem como em todos os programas e atividades as NU no

paiacutes (OHCHR 2017)

Eacute ainda nesta aacuterea que se verifica uma maior possibilidade de ser posta em causa a

neutralidade e a independecircncia das organizaccedilotildees Para poder proteger os direitos

humanos e denunciar abusos de direitos humanos perpetrados por exemplo pelo Estado

em cujo territoacuterio se verificam esses atos os humanitaacuterios iratildeo colocar em causa a sua

permanecircncia no terreno Este facto leva a que muitas organizaccedilotildees natildeo realizem a

denuacutencia o que torna de certa forma as mesmas cuacutemplices dessas barbaridades contra a

sua vontade

A promoccedilatildeo da paz recai essencialmente sobre o Conselho de Seguranccedila das NU que

tem como principal objetivo a manutenccedilatildeo e estabelecimento da paz e a seguranccedila

internacional de forma a que natildeo se repita mais nenhum conflito com a dimensatildeo da II

Guerra Mundial tendo esse sido o principal motivo para a fundaccedilatildeo das NU Para

promover a paz as NU atraveacutes do Conselho de Seguranccedila recorreu a operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mesmo ao peace enforcement a diplomacia e a

mediaccedilatildeo preventiva ao combate ao terrorismo (como podemos verificar hoje com o

Daesh) e ao desarmamento que eacute feito atraveacutes da eliminaccedilatildeo do armamento nuclear de

destruiccedilatildeo massiva e regulaccedilatildeo do armamento convencional (Ryfman 2007 UN

2017b Carta das NU 1945)

A ajuda humanitaacuteria eacute a ajuda fornecida em situaccedilotildees de grande emergecircncia sendo a

accedilatildeo das ONG OING e OIG fundamental nas primeiras setenta e duas horas apoacutes o

desastre natural ou ataque em caso de conflito armado O objetivo desta aacuterea da ajuda

humanitaacuteria eacute aliviar o sofrimento humano restabelecendo e protegendo a dignidade

humana ou seja uma vida digna assistindo a populaccedilatildeo fornecendo bens de primeira

necessidade como aacutegua comida abrigo proteccedilatildeo apoio meacutedico e psicoloacutegico Satildeo

exemplo dessa atividade tratar viacutetimas de abuso sexual ajudar a retirar viacutetimas dos

escombros organizar o campo de refugiados para acolher os refugiados requerentes de

asilo com as devidas condiccedilotildees Este eacute um trabalho fundamental capaz de apaziguar

conflitos salvar vidas e restaurar a dignidade Uma populaccedilatildeo com seguranccedila aacutegua

comida e abrigo eacute mais propensa agrave pacificaccedilatildeo Inversamente a escassez de aacutegua eacute o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

15

motivo de vaacuterios conflitos armados e guerras civis como eacute o caso do Sudatildeo do Sul

(Philippe et al 2007)

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute pois como se pocircde verificar muito mais que uma ajuda de

emergecircncia e de reconstruccedilatildeo eacute uma aacuterea dedicada ao respeito dos direitos humanos

respeito pela dignidade do homem e manutenccedilatildeo da paz A sua neutralidade e

imparcialidade permitem fornecer ajuda a todos independentemente da cor raccedila

geacutenero crenccedilas ideologias religiatildeo e origem eacutetnica A neutralidade ou seja o facto de

as ONG e OIG fornecedoras de ajuda natildeo tornarem parte nas hostilidades leva a que

natildeo sejam vistas como apoiantes de uma das partes conflituantes e natildeo sejam por isso

pressionadas a fazer determinados atos ou a natildeo fornecer ajuda a determinadas etnias

entre outros A independecircncia eacute crucial pois uma vez a ONG ou OIG humanitaacuteria

dependente do governo local seraacute pressionada e teraacute de fazer cedecircncias para poder

continuar a permanecer no terreno bem como teraacute dificuldade ou veraacute barrado o acesso

a determinados locais (Ryfman 2007 Smith 2016)

A ONU participa diretamente na ajuda humanitaacuteria atraveacutes do OCHA Este escritoacuterio

das NU eacute responsaacutevel por coordenar uma resposta eficaz em situaccedilotildees de emergecircncia e

o objetivo eacute assistir o mais raacutepida e eficazmente possiacutevel as pessoas em necessidade A

ONU tem ainda o CERF (Central Emergency Response Fund) gerido pelo OCHA que

eacute uma peccedila fundamental para uma resposta raacutepida em contexto de conflito armado ou

desastre natural ou seja permite um raacutepido financiamento para que seja possiacutevel enviar

ajuda ceacutelere O CERF recebe contribuiccedilotildees voluntaacuterias ao longo do ano o que permite

que seja possiacutevel suportar o envio de ajuda humanitaacuteria para o terreno (UN 2017d) As

Naccedilotildees Unidas tecircm ainda nesta aacuterea diversas entidades que fornecem ajuda humanitaacuteria

como por exemplo O United Nation High Commissioner for Refugees para ajudar os

IDP (Internal Displaced Persons) e os refugiados bem como apaacutetridas o UNDP

(United Nations Development Programm) o UNICEF (United Nations Childrenrsquos

Fund) para ajudar as crianccedilas o WFP (World Food Programme) para combater a fome

e a organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede para ajudar os doentes e feridos (ONU 2017)

3 A Carta Humanitaacuteria

A Carta Humanitaacuteria nasceu com o projeto Sphere (The Sphere Projectb sd) em 1997

e tem como objetivo definir padrotildees miacutenimos humanitaacuterios de accedilatildeo no terreno comuns

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

16

a todas as ONG OING OIG e Estados que tenham ratificado as convenccedilotildees e tratados

humanitaacuterios e que se comprometam a cumprir esta declaraccedilatildeo Este projeto nasceu

essencialmente da insatisfaccedilatildeo relativa agrave atuaccedilatildeo das ONG OING e OIG no terreno nos

anos 90 durante as crises da Etioacutepia e do Sudatildeo fazendo com que as ONG chegassem agrave

conclusatildeo de que seria necessaacuterio elaborar um padratildeo de atuaccedilatildeo no terreno para os

profissionais Apoacutes esta discussatildeo comeccedilaram a aparecer manuais teacutecnicos dos MSF e

guias operacionais redigidos pela OXFAM ACNUR (Alto Comissariado das Naccedilotildees

Unidas para os Refugiados) e a OFDA (Office of US Foreign and Disaster Assistance)

entre outras Tambeacutem a Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho tiveram

participaccedilatildeo neste projeto com os coacutedigos e movimentos de conduta para ONG para

desenvolver a sua performance no terreno atraveacutes de programas de formaccedilatildeo (The

Sphere sdb Dyke e Waldmann 2004)

O projeto Sphere eacute governado por um conselho constituiacutedo por 18 membros que

representam redes de agecircncias humanitaacuterias tanto a niacutevel global como nacional que

determina as suas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo As organizaccedilotildees representadas neste

conselho trabalham juntas de forma voluntaacuteria e informal sob a direccedilatildeo do conselho

cujo escritoacuterio estaacute sediado em Genebra e trabalha para implementar estrateacutegias e

prioridades As organizaccedilotildees contribuem tambeacutem para o financiamento do projeto

(The Sphere Project sda)

Logo eacute possiacutevel constatar que a principal meta deste projeto eacute tornar a Accedilatildeo

Humanitaacuteria mais eficiente e que seja feita com mais responsabilidade e que sejam

garantidos os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios O projeto foi elaborado para que as

ONG OING e OIG tivessem um guia sobre como agir no terreno em missotildees de

emergecircncia e em concordacircncia com o Direito Internacional Humanitaacuterio O objetivo

principal deste manual eacute garantir que todo o ser humano dever ter o direito de viver com

dignidade (The Sphere Project sda)

Humanitarian agencies committed to this Charter and to the Minimum Standards will aim to achieve

defined levels of service for people affected by calamity or armed conflict and to promote the observance

of fundamental humanitarian principles (The Humanitarian Charter sd pp 16)

Logo a Carta Humanitaacuteria estaacute comprometida com o aliacutevio do sofrimento humano e a

garantia da dignidade das viacutetimas afetadas pelo conflito armado internacional e natildeo

internacional cataacutestrofes e outras calamidades Por isso tal como foi referido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

17

anteriormente foi estabelecido um padratildeo miacutenimo que estabelece o que deve ser feito

quando as organizaccedilotildees enfrentam pessoas em necessidade de aacutegua saneamento bens

alimentares abrigo e cuidados de sauacutede e de nutriccedilatildeo Isto contribui para uma estrutura

operacional responsaacutevel em mateacuteria de assistecircncia humanitaacuteria (The Sphere Project

sdb Dyke e Waldmann 2004)

O documento estaacute dividido nos seguintes trecircs princiacutepios que devem ser respeitados pela

comunidade internacional humanitaacuteria

Direito a uma vida digna

O direito agrave vida eacute um princiacutepio e uma medida legislativa muito importante eacute um direito

humano Segundo a Carta Humanitaacuteria todos devem ver o seu direito agrave vida preservado

Com isto entende-se o direito a viver em dignidade e livre de tratamentos desumanos

ser impedido da liberdade alvo de traacutefico de pessoas e tratamentos degradantes bem

como puniccedilotildees crueacuteis e violentas Como eacute sabido as mulheres e crianccedilas satildeo tornadas

escravas sexuais e obrigadas a realizar trabalhos forccedilados juntando isto a deslocaccedilatildeo

forccedilada pode falar-se de traacutefico de pessoas que eacute considerado pela declaraccedilatildeo dos

Direitos Humanos um atentado agrave dignidade logo eacute uma violaccedilatildeo da declaraccedilatildeo

Refiram-se ainda as adoccedilotildees ilegais de crianccedilas oacuterfatildes que tambeacutem eacute uma das vertentes

do traacutefico de pessoas bem como o uso de crianccedilas em minas para armadilhar campos

com minas e na frente do exeacutercito (The Sphere Project sda pp 16-17 UN 1948)

A distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes

Eacute muito importante fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes em conflitos

armados pois os civis feridos e prisioneiros estatildeo protegidos atraveacutes do Direito

Internacional Humanitaacuterio e tecircm imunidade aos ataques coisa que os combatentes natildeo

tecircm Os ex-combatentes tambeacutem passam a usufruir dessa imunidade pois deixaram as

armas Este uacuteltimo aspeto eacute muito importante porque ex-combatentes satildeo sempre vistos

como combatentes e podem ser confundidos como tal sendo presos Em caso de prisatildeo

os combatentes de guerra usufruem de certos direitos especiais quanto ao tratamento

que devem ter Em guerras civis eacute difiacutecil fazer esta distinccedilatildeo porque podem existir

forccedilas militares natildeo reconhecidas e oficializadas Esta distinccedilatildeo consta da convenccedilatildeo de

Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais de 1977 conforme jaacute foi referido (The

Sphere Project sda pp 16-17)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

18

O princiacutepio da natildeo expatriaccedilatildeo

Este princiacutepio diz respeito aos refugiados e estabelece que nenhum refugiado deve de

forma alguma ser extraditado de volta para o seu paiacutes de origem onde a sua vida e

liberdade estariam ameaccediladas e correria risco de vida ou tortura devido agraves suas crenccedilas

raccedila religiatildeo ideologia politica entre outros Caso um refugiado seja expatriado o

Estado em questatildeo estaraacute a violar o Direito Internacional Humanitaacuterio e a Convenccedilatildeo de

1951 referente ao Estatuto do refugiado (The Sphere Project sda pp 16-17 UNHCR

2017)

A Carta Humanitaacuteria aborda ainda outro aspeto importante que satildeo as

responsabilidades e o papel que as organizaccedilotildees humanitaacuterias desempenham no terreno

de forma a que a populaccedilatildeo requerente de ajuda e refugiados natildeo corra perigo algum

Essas responsabilidades satildeo as seguintes

1) Evitar expor as viacutetimas a mais danos ou perigos como resultado das suas accedilotildees Neste

contexto o documento aborda a construccedilatildeo de campos para deslocados internos ou

refugiados em locais seguros que natildeo coloquem a vida destes em risco Esta

responsabilidade cabe em primeiro lugar ao Estado no qual a ONG ou OIG estaacute a

operar cabe-lhes garantir a seguranccedila do staff e da sua populaccedilatildeo Soacute em segundo lugar

eacute que cabe agraves agecircnciasorganizaccedilotildees zelar pelo bem-estar pela seguranccedila e satisfaccedilatildeo

das necessidades das pessoas que peccedilam ajuda para que seja restabelecida alguma

dignidade e que possam viver sem medo e terror com as suas necessidades baacutesicas

aliviadas (The Sphere Project sda pp 18)

2) Assegurar o acesso da populaccedilatildeo a uma assistecircncia imparcial Isto significa que as

agecircncias humanitaacuterias devem assistir todas as pessoas que necessitem principalmente

as pessoas que estejam numa situaccedilatildeo mais vulneraacutevel ou enfrentam exclusatildeo social por

motivos poliacuteticos eacutetnicos ou outros Este princiacutepio eacute um dos princiacutepios mais delicados

pois nem sempre as agecircncias humanitaacuterias conseguem aceder aos locais em contexto de

conflito armado que necessitam de assistecircncia das agecircncias O Estado deveria fornecer

escolta ou garantir o acesso seguro aos locais em questatildeo No entanto e como eacute de

prever caso esse local natildeo seja do interesse do Estado por estar dominado por rebeldes

por exemplo aquele natildeo iraacute facilitar o acesso Desta forma as agecircncias de forma a natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

19

correrem risco de vida limitar-se-atildeo aos locais seguros (The Sphere Progect sda

pp18)

3) Proteger as pessoas de danos fiacutesicos e psicoloacutegicos devido a violecircncia ou coerccedilatildeo

Neste princiacutepio falamos em proteger as pessoas de serem forccediladas ou induzidas a agir

contra a sua vontade o que eacute muito comum em contexto de conflito armado (The Sphere

Project sda pp 18)

4) Ajudar reivindicando direitos como a restituiccedilatildeo da propriedade ajudar a niacutevel social

e econoacutemico Eacute ainda o dever das agecircncias humanitaacuterias ajudar as viacutetimas a ultrapassar

as consequecircncias do abuso sexual a niacutevel fiacutesico e psicoloacutegico promovendo o acesso a

medicamentos e a recuperaccedilatildeo de abusos (The Sphere Project sda pp 18)

Por uacuteltimo eacute importante referir os padrotildees miacutenimos que a assistecircncia humanitaacuteria deve

respeitar no terreno de forma a uniformizar a accedilatildeo humanitaacuteria Os padrotildees miacutenimos de

assistecircncia humanitaacuteria foram definidos pelas agecircncias humanitaacuterias que trabalham no

terreno Quem aderir a este padratildeo miacutenimo de assistecircncia humanitaacuteria compromete-se a

assegurar as necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como aacutegua saneamento assistecircncia

meacutedica comida e abrigo para que seja comprido o direito a viver com dignidade Para

isso eacute necessaacuterio que Estado e organizaccedilotildees se comprometam a cumprir este princiacutepio

ao abrigo do direito internacional humanitaacuterio e direito do refugiado (The Sphere

Project sda)

Algumas agecircncias humanitaacuterias operam em determinadas aacutereas especiacuteficas de proteccedilatildeo

dos direitos humanos para que seja mais faacutecil fornecer ajuda Por exemplo existem

ONG especializadas em fornecer assistecircncia a crianccedilas tratar e lutar para a prevenccedilatildeo

de viacutetimas de violecircncia de gecircnero habitaccedilatildeo propriedade e terra minas ativas lei e

justiccedila Quanto agrave lei e justiccedila as agecircncias humanitaacuterias que forneccedilam este serviccedilo

enfrentam muitas vezes verdadeiros dilemas entre denunciar um crime de violaccedilatildeo dos

direitos humanos ou natildeo denunciar para que possam permanecer no terreno e defender

as viacutetimas de abusos fiacutesicos psicoloacutegicos de geacutenero entre outros (The Sphere Project

sda)

Em suma a conceccedilatildeo dos princiacutepios humanitaacuterios surgiu com a Cruz Vermelha tendo

os seus princiacutepios sido proclamados em Viena em 1967 Mais tarde com o aumento do

nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento de conflitos que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

20

necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido em 1994 o coacutedigo de conduta

humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se comprometeriam a respeitar os princiacutepios

humanitaacuterios fundamentais Este coacutedigo foi assinado por 140 agecircncias Outro

documento elaborado foi o Humanitarian Charter and Minimum Standards in Disaster

Response elaborado pelo Sphere Project em 1997 As proacuteprias Naccedilotildees Unidas tambeacutem

deram o seu importante contributo para disseminar os princiacutepios humanitaacuterios no

terreno Os princiacutepios fundamentais tecircm de ser postos em praacutetica tal como o Direito

Internacional Humanitaacuterio aliaacutes um eacute o complemento do outro A CICV (Comiteacute

Internacional da Cruz Vermelha) opera no terreno respeitando o Direito Internacional

Humanitaacuterio e rege-se pelos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios (Makintosh 2000)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

21

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a

abordagem humanitaacuteria

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding

A ONU tem um papel relevante na accedilatildeo securitaacuteria em cenaacuterios de ajuda humanitaacuteria

nomeadamente em Estados que estejam a atravessar conflitos armados e atraveacutes de

missotildees como as de peacekeeping e de peacebuilding A intervenccedilatildeo securitaacuteria

distingue-se da accedilatildeo humanitaacuteria pelo seu caraacuteter militar e poliacutetico Por vezes as

Naccedilotildees Unidas quando realizam uma intervenccedilatildeo militar seja de peacekeeping ou

dentro do peacebuilding podem em determinada circunstacircncias tomar partido por uma

das partes nas hostilidades ou parte conflituante sendo que estas operaccedilotildees tambeacutem

acontecem fora do estrito contexto humanitaacuterio Por sua vez numa situaccedilatildeo de

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria embora haja objetivos humanitaacuterios comuns o modo

de atuaccedilatildeo eacute militar e por isso claramente distinto da accedilatildeo humanitaacuteria

Para clarificar passa-se agrave definiccedilatildeo dos conceitos usados acima

Segundo as NU o peacekeeping corresponde ao seguinte

UN Peacekeepers provide security and the political and peacebuilding support to help countries make the

difficult early transition from conflict to peace UN Peacekeeping is guided by three basic principles

Consent of the parties Impartiality Non-use of force except in self-defence and defence of the mandate

(UN Peacekeeping sdd)

Esta ferramenta tem pois como objetivo ajudar os Estados em conflito a estabelecer e

manter a paz tendo provado ser um dos mecanismos mais eficazes da ONU para o

efeito Os militares do peacekeeping fornecem tambeacutem seguranccedila bem como apoio

poliacutetico para a construccedilatildeo da paz Os militares baseiam-se em trecircs princiacutepios que satildeo 1)

a imparcialidade (o que natildeo implica na formulaccedilatildeo atual neutralidade face ao mandato

que tecircm) 2) consentimento das partes para intervir no conflito (embora em casos

restritos como em casos de genociacutedio se possa aplicar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo

que natildeo precisa do consentimento mas que remete ao peace enforcement) 3) O natildeo uso

da forccedila tendo por exceccedilatildeo a autodefesa e a defesa do mandato como consta da citaccedilatildeo

acima (UN sda UN sdb Pinto 2007)

Ainda segundo Maria do Ceacuteu Pinto as operaccedilotildees de peacekeeping devem ser

imparciais mas tal natildeo implica ficarem indiferentes aos abusos dos direitos humanos

por parte de uma das partes das hostilidades Imparcialidade natildeo eacute pois sinoacutenima de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

22

neutralidade Logo desde que haja uma violaccedilatildeo dos direitos humanos os peacekeepers

devem agir jaacute que o dever deles eacute o de garantir o respeito dos direitos humanos aliviar

o sofrimento humano e garantir uma vida digna agrave populaccedilatildeo em questatildeo Existe por

isso o peacekeeping de terceira geraccedilatildeo denominado de peacekeeping ldquomusculadordquo por

Pinto (2007) ou peacekeeping ldquorobustordquo como eacute denominado pelas NU No entanto

este peacekeeping de terceira geraccedilatildeo continua a necessitar do consentimento do Estado

alvo ou das maiores partes do conflito Jaacute o uso da forccedila sem consentimento remete para

o peace enforcemente que eacute aplicar a paz atraveacutes da forccedila e eacute soacute usado este tipo de

missatildeo em uacuteltimo recurso (Pinto 2007 UN sda UN sdb)

Estas ferramentas satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas tambeacutem para

a proteccedilatildeo dos civis assistir ao desarmamento desmobilizaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo de ex-

combatentes suporte agraves organizaccedilotildees para as eleiccedilotildees proteccedilatildeo e promoccedilatildeo dos direitos

humanos e assistecircncia no restabelecimento do ldquoEstado de direitordquo (UN sda UN

sdb)

Por sua vez Peacebuilding significa na linguagem das Naccedilotildees Unidas

The term itself first emerged over 30 years ago through the work of Johan Galtung who called for the

creation of peacebuilding structures to promote sustainable peace by addressing the ldquoroot causesrdquo of

violent conflict and supporting indigenous capacities for peace management and conflict resolution (hellip)

The Secretary-Generalrsquos Policy Committee has described peacebuilding thus ldquoPeacebuilding involves a

range of measures targeted to reduce the risk of lapsing or relapsing into conflict by strengthening

national capacities at all levels for conflict management and to lay the foundations for sustainable peace

and development Peacebuilding strategies must be coherent and tailored to the specific needs of the 1

Three approaches to Peace peacekeeping peacemaking peacebuildingrdquo (UN 2010 pp 5)

Eacute pois uma accedilatildeo da ONU de identificaccedilatildeo e de suporte agraves estruturas de modo a que a

paz seja solidificada e os conflitos evitados Ou seja satildeo as atividades desenvolvidas

pela ONU para que a construccedilatildeo da paz seja feita no paiacutes onde houve conflito de modo

a que natildeo volte a acontecer o mesmo outra vez Tambeacutem visam fornecer todas as

ferramentas para a construccedilatildeo de um paiacutes forte com um aparelho de poder poliacutetico

soacutelido Logo eacute mais que o fim dos conflitos eacute a construccedilatildeo da paz de forma solidificada

e eficaz (UN 2010)

Segundo a mesma fonte o peacebuilding refere-se a cinco aacutereas que satildeo 1) o apoio agrave

seguranccedila baacutesica 2) os processos poliacuteticos a serem feitos para a construccedilatildeo e

manutenccedilatildeo da paz 3) a garantia da prestaccedilatildeo dos serviccedilos baacutesicos agrave populaccedilatildeo em

geral 4) a restauraccedilatildeo das funccedilotildees do governo central de modo a construir um aparelho

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

23

de poder forte e capaz de garantir e manter a paz bem como de resolver os conflitos

eacutetnicos ou entre grupos internos 5) a revitalizaccedilatildeo da economia para acabar com a

pobreza construir novas infraestruturas para desenvolver a produccedilatildeo para a

autossubsistecircncia do povo e de modo a que os bens fundamentais sejam garantidos a

todos (processo de desenvolvimento do paiacutes) (UN 2010 UN 2009)

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar

A intervenccedilatildeo humanitaacuteria natildeo eacute consensual no Direito no Direito Internacional e nas

Relaccedilotildees Internacionais Segundo o ICRC (2001) O Direito Internacional Humanitaacuterio

natildeo pode servir para legitimar conflitos armados No entanto os Estados aceitam este

tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria nas seguintes situaccedilotildees

The theory of intervention on the ground of humanity () recognizes the right of one State to exercise

international control over the acts of another in regard to its internal sovereignty when contrary to the

laws of humanity (Abiew citin ICRC 2001 pp 528)

O que se pode retirar desta citaccedilatildeo eacute que segundo o Direito Internacional Humanitaacuterio

eacute aceitaacutevel exercer controlo por parte de um Estado sobre a soberania de outro se este

natildeo respeita os direitos humanos fundamentais Ou seja podemos constatar que a

soberania de um Estado natildeo basta para a comunidade internacional natildeo agir face a um

genociacutedio por exemplo

hellip humanitarian intervention is defined as coercive action by States involving the use of armed force in

another State without the consent of its government with or without authorisation from the United

Nations Security Council for the purpose of preventing or putting to a halt gross and massive violations

of human rights or international humanitarian law (ICRC 2001 cit in Danish Institute of International

Afffairs 1991 pp 11)

Esta definiccedilatildeo complementa a anterior referindo que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute uma

accedilatildeo coerciva com recurso a armamento sobre um Estado sem o consentimento do

governo local e eventualmente sem o do Conselho de Seguranccedila das NU O intuito

deste tipo de intervenccedilatildeo eacute parar o desrespeito pelos direitos humanos e do direito

internacional humanitaacuterio (Gordon 1996 ICRC 2001)

Portanto o objetivo desta intervenccedilatildeo eacute aliviar o sofrimento humano e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados para que a paz possa ser estabelecida e o

genociacutedio prevenido ou interrompido Os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm de

ser imparciais e limitar-se a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para

fazerem respeitar os direitos humanitaacuterioshumanos violados e fornecer assistecircncia ao

povo local (Gordon1996 e ICRC 2001)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

24

Todavia este tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria corre o risco de natildeo ser imparcial por

existirem interesses subjacentes aos Estados que decidem intervir militarmente noutro

Estado A intervenccedilatildeo humanitaacuteria pode ser usada como um pretexto para aplicar uma

intervenccedilatildeo militar num Estado ou seja existe o risco de os motivos dessa intervenccedilatildeo

natildeo serem legiacutetimos e terem segundas intenccedilotildees que natildeo somente salvar vidas proteger

a populaccedilatildeo e aliviar o sofrimento humano Dificilmente um Estado corre elevados

riscos sem ter por traacutes outras intenccedilotildees segundo a visatildeo realista das relaccedilotildees

internacionais e por conseguinte poder instala ainda mais o caos no Estado alvo da

intervenccedilatildeo Ou seja pode ser uma carta branca para intervenccedilotildees militares de Estados

com segundas intenccedilotildees que podem ser geoestrateacutegicas ou poliacuteticas por exemplo O

que levanta as seguintes questotildees ateacute que ponto eacute eacutetico aplicar o termo humanitaacuterio

quando se usa a forccedila contra pessoas sendo elas viacutetimas para proteger outras Esta eacute

uma questatildeo que se pode considerar um verdadeiro dilema O uso da palavra

humanitaacuteria aplicada agrave intervenccedilatildeo militar e pode ser uma forma de legitimar o

desrespeito pelo princiacutepio da natildeo ingerecircncia e por conseguinte violar a soberania de

outro Estado que noutras condiccedilotildees natildeo seria aceite Daiacute o acreacutescimo da palavra

ldquohumanitaacuteriardquo a intervenccedilatildeo militar natildeo ser bem vista pela comunidade humanitaacuteria que

se rege pelos princiacutepios de aliviar o sofrimento humano salvar vidas e ajudar No caso

da Nigeacuteria do Haiti e da Libeacuteria nos anos 90 foi usada a figura intervenccedilatildeo militar

ldquohumanitaacuteriardquo para intervir no terreno embora pareccedilam evidentes motivos natildeo

humanitaacuterios (Massingham 2009 Weiss 2017)

Esta intervenccedilatildeo militar eacute uma opccedilatildeo cumulativa agraves operaccedilotildees de peacekeeping que se

revelam ineficazes na hora de proteger a populaccedilatildeo e as ONG OING e OIG

humanitaacuterias A intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria recorre ao uso da forccedila para atingir os

seus fins podendo ser estes proteger os humanitaacuterios a populaccedilatildeo local aliviar o

sofrimento humano velando pelo respeito dos Direitos Humanos e prevenindo crimes

contra a humanidade Ainda segundo Weiss ela eacute qualitativamente distinta do

peacekeeping uma vez que natildeo cumpre o princiacutepio do consentimento No entanto no

peacekeeping de terceira geraccedilatildeo tem havido uma evoluccedilatildeo para o peacekeeping

ldquomusculadordquo tendencialmente convergente com o peace enforcement Ou seja pode em

casos restritos e com consentimento do Conselho de Seguranccedila fazer-se o uso da forccedila

sem as restriccedilotildees convencionais (Weiss 2017 Pinto 2007 Pilbeam 2015b)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

25

Por tudo isso usar a palavra lsquohumanitaacuteriorsquo para uma intervenccedilatildeo de cariz militar natildeo eacute

bem aceite pelo Direito Internacional Humanitaacuterio que prefere uma puniccedilatildeo mais

severa aos Estados perpetradores dos crimes contra a humanidade ao inveacutes de usar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria pois Estados com mais poder militar se imiscuem e quebram o

princiacutepio da natildeo ingerecircncia podendo culminar em accedilotildees discriminatoacuterias no terreno e

problemas diplomaacuteticos entre Estados a niacutevel internacional Para aleacutem disso acrescentar

a palavra humanitaacuteria deveria ser reservado agraves organizaccedilotildees que pretendam aliviar o

sofrimento humano salvar vidas sem recurso agrave violecircncia e armas e natildeo aplicado agrave

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria O uso da palavra humanidade numa intervenccedilatildeo militar

pode dar azo a confusatildeo por parte da populaccedilatildeo local e dificultar o trabalho dos

humanitaacuterios no terreno tornando-os alvo de ataques tambeacutem Eacute por isso necessaacuterio

fazer uma clara distinccedilatildeo entre intervenccedilatildeo humanitaacuteria e accedilatildeo humanitaacuteria (ICRC

2001 Weiss 2017)

A declaraccedilatildeo das NU no capiacutetulo VII (UN Charter 1945) especifica quais as situaccedilotildees

em que pode ocorrer uma intervenccedilatildeo militar nomeadamente no artigo 42ordm que prevecirc

que em caso de ameaccedila agrave seguranccedila e paz internacional o Conselho de Seguranccedila pode

ativar uma intervenccedilatildeo militar

Por outro lado natildeo consta na declaraccedilatildeo das NU se eacute possiacutevel ou natildeo ou em que

situaccedilotildees devem avanccedilar para uma intervenccedilatildeo onde seja possiacutevel o uso da forccedila contra

um Estado caso se verifique um abuso dos direitos humanos ou desrespeito do Direito

Internacional O Direito Internacional Humanitaacuterio deveria equacionar regulamentar a

situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo humanitaacuteria Eacute que a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria parece ser

uma realidade e uma lsquonecessidadersquo em alguns casos em que as operaccedilotildees de

peacekeeping natildeo satildeo suficientes Nesses casos o problema eacute que a accedilatildeo humanitaacuteria

entrou num estado de colapso por falta de seguranccedila e depende em algumas situaccedilotildees

dos militares de operaccedilotildees de peacekeeping ou das intervenccedilotildees militares mais robustas

para poderem aceder a determinados territoacuterios de grande perigo o que leva agrave

necessidade de uma revisatildeo quanto ao papel da accedilatildeo humanitaacuteria e ao reconhecimento

da intervenccedilatildeo humanitaacuteria ainda que natildeo formalmente mas nos bastidores (ICRC

2001 Weiss 2017)

Portanto o uso da forccedila militar com cariz humanitaacuterio soacute deve ser feito em contexto de

crimes contra a humanidade como o genociacutedio crimes de guerra abusos sexuais ou

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

26

limpeza eacutetnica por exemplo e tem como objetivo proteger a populaccedilatildeo e aliviar o

sofrimento humano Os militares da intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria natildeo podem ser

confundidos com os capacetes azuis das operaccedilotildees de paz das NU pois natildeo fazem parte

da mesma missatildeo e os capacetes azuis tecircm um papel mais diversificado para a

manutenccedilatildeo da paz construccedilatildeo do aparelho de poder e negociaccedilotildees podendo soacute usar a

forccedila em caso de legiacutetima defesa e defesa do mandato Jaacute os militares da intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria partem para o terreno para travar os perpetradores dos crimes contra

a humanidade usando a forccedila se necessaacuterio Ou seja eacute a versatildeo mais letal das

intervenccedilotildees internacionais e deve ser usada em uacuteltimo recurso (Weiss 2017)

Dentro das intervenccedilotildees militares pode ainda ser invocado o princiacutepio da

responsabilidade de proteger (R2P) fixado no acircmbito das NU que eacute executado ao

abrigo das NU A responsabilidade de proteger (R2P) pode levar a uma intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mas deve ser autorizada pelo Conselho de Seguranccedila das NU O

R2P deve ser usado em uacuteltimo recurso com meios proporcionais agrave situaccedilatildeo a niacutevel de

armamento e uma vez esgotados todos os meios diplomaacuteticos No Ruanda em 1994 os

peacekeepers natildeo fizeram o uso da forccedila para travar o genociacutedio tendo vindo a missatildeo a

fracassar As NU foram amplamente criticadas pela inaccedilatildeo o que levou ao debate sobre

a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria e posteriormente sobre a R2P (Bellamy 2015

Massingham 2009)

O conceito do R2P eacute pois um princiacutepio legitimador de um tipo de intervenccedilatildeo armada

usado quando os direitos humanos baacutesicos natildeo satildeo respeitados em determinado Estado

em conflito como por exemplo genociacutedios ou violaccedilotildees em massa Em 1994 no

Ruanda uma intervenccedilatildeo sob o R2P teria sido justificaacutevel Esta intervenccedilatildeo natildeo

necessita de autorizaccedilatildeo do Estado para intervir daiacute o termo responsabilidade de

proteger No entanto este conceito eacute complexo devido ao princiacutepio de natildeo ingerecircncia

sobre os assuntos soberanos de determinado Estado Cabe primeiramente ao Governo

do Estado assegurar a proteccedilatildeo da sua populaccedilatildeo No entanto caso o Estado natildeo queira

ou natildeo consiga assegurar a sua proteccedilatildeo e a populaccedilatildeo esteja a ver os seus direitos

baacutesicos serem desrespeitados devido ao conflito armado ou fragilidade do Estado a

comunidade internacional deve agir e intervir Um problema possiacutevel eacute a comunidade

internacional natildeo querer entrar em problemas diplomaacuteticos com determinados Estados

que estejam neste tipo de situaccedilatildeo ou ainda com Estados que apoiem partes tal como a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

27

Ruacutessia (membro permanente do Conselho de Seguranccedila da ONU) a Bashar Al Assad

enquanto os EUA apoiam os rebeldes Havendo diferentes pontos de vista e sendo

necessaacuterio o consenso dos membros permanentes do Conselho de Seguranccedila das NU a

decisatildeo de avanccedilar sob a responsabilidade de proteger pode ser tardia ou mesmo

impossiacutevel tal como se tem verificado (Lobo 2009 Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger nasceu com o relatoacuterio do ICISS (International

Commission on Intervention and State Sovereignity) em 2001 e teve como principal

motor o conflito recente agrave eacutepoca do Ruanda O princiacutepio foi adotado na cimeira

mundial de 2005 com cuidadosa distinccedilatildeo das violaccedilotildees maiores que podem determinar

a ingerecircncia Na praacutetica o Conselho de Seguranccedila soacute tornou oficial a referecircncia agrave

responsabilidade de proteger em 2006 com a resoluccedilatildeo 1674 sobre a proteccedilatildeo de civis

em conflitos armados Esta resoluccedilatildeo foi usada em agosto de 2006 ao estabelecer a

resoluccedilatildeo 1706 que autorizava o destacamento dos peacekeepers para o Darfur Apoacutes o

Sudatildeo vieram as missotildees sob a responsabilidade de proteger da Liacutebia Cocircte drsquoIvoire

Sudatildeo do Sul e Ieacutemen em 2011 e Siacuteria e Repuacuteblica centro Africana em 2012 (Bellamy

2015)

Para que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria seja legitimada sob o conceito do R2P devem ser

reunidas as seguintes condiccedilotildees 1) Estar-se perante uma situaccedilatildeo de genociacutedio ou seja

extermiacutenio de populaccedilatildeo de uma determinada origem eacutetnica ou extermiacutenio de uma

populaccedilatildeo em larga escala 2) Existir intenccedilatildeo justa para que seja justificado o uso de tal

accedilatildeo 3) Usar os meios estritamente necessaacuterios para alcanccedilar os objetivos

estabelecidos 4) Assegurar que as perspetivas de tal accedilatildeo poderatildeo ter uma forte

probabilidade de vir a ter sucesso e de que as suas consequecircncias natildeo seratildeo piores que a

natildeo accedilatildeo (Lobo 2009 Pilbeam 2015b)

As operaccedilotildees de peacekeeping peacebuilding e peace enforcement satildeo muitas vezes

confundidas como jaacute foi referido com o envio de forccedilas militares a tiacutetulo individual de

um Estado por exemplo os EUA e a Franccedila que jaacute fizeram intervenccedilotildees militares sob

pretexto humanitaacuterio As primeiras satildeo missotildees de paz enviadas e coordenadas pela

ONU de forma a restabelecer apaziguar manter a paz e reconstruir o aparelho de

poder para que o Estado conflituante natildeo volte ao estado beligerante Jaacute o segundo eacute

realizado de forma a acabar com os crimes contra a humanidade e podem ser forccedilas

militares de um Estado em particular que decide ir para o terreno embora as

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

28

intervenccedilotildees militares sobretudo quando existem militares mortos sejam difiacuteceis de

explicar agrave populaccedilatildeo de origem dos militares Por outro lado o ldquohumanitarismo

militarrdquo ou seja as intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de paz no terreno levam a

confusatildeo com as ONG Pior neste momento assiste-se a situaccedilotildees em que estatildeo

presentes no terreno intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de peacekeeping o que gera

ainda mais confusatildeo (Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger eacute ainda considerada um princiacutepio e natildeo uma taacutetica mas

o Conselho de Seguranccedila falhou com a Siacuteria ao decidir intervir primeiro na Liacutebia por

questotildees poliacuteticas e natildeo por questotildees de emergecircncia humanitaacuteria O que leva agraves

seguintes questotildees Seraacute a intervenccedilatildeo humanitaacuteria verdadeiramente humanitaacuteria Seraacute

que existem interesses subjacentes a essas mesmas ajudas Seraacute que legitimar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute dar uma carta branca a ingerecircncias nos assuntos da soberania

de forma legiacutetima e aparentemente solidaacuteria A R2P eacute aina assim o tipo de intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mais bem aceite pela comunidade internacional e humanitaacuteria pois

natildeo assenta soacute na invasatildeo imediata e beacutelica mas tambeacutem nos princiacutepios de prevenir

reagir e reconstruir (Bellamy 2015 Weiss 2017)

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares

A coexistecircncia entre militares e humanitaacuterios eacute uma situaccedilatildeo recorrente e natildeo tem de

gerar conflitos deveraacute eacute haver respeito muacutetuo por cada um desses agentes e natildeo deveratildeo

tentar imiscuir-se nos assuntos uns dos outros A accedilatildeo humanitaacuteria eacute um complemento

agraves missotildees de paz Se a accedilatildeo humanitaacuteria estaacute focada em aliviar o sofrimento humano

salvar vidas garantir as necessidades baacutesicas e assistecircncia meacutedica os militares poderatildeo

dedicar-se inteiramente agrave proteccedilatildeo e pacificaccedilatildeo ao inveacutes de terem de realizar estas

tarefas tambeacutem O aumento dos riscos de ataque aos profissionais humanitaacuterios leva a

que esta coexistecircncia se transforme em colaboraccedilatildeo atraveacutes do pedido de

proteccedilatildeoescolta militar Por outro lado colaborando os humanitaacuterios com forccedilas

militares estatais ou ateacute mesmo via organizaccedilotildees internacionais podem ser conotadas

com um dos lados das hostilidades e perder por isso a imagem de neutralidade (Seiple

1996)

Este tema eacute algo complexo e tem de ser encarado com grande cuidado e sensibilidade

pois se por um lado a escolta militar seria a soluccedilatildeo perfeita para assegurar a seguranccedila

no terreno das ONG OING e OIG por outro lado poderaacute pocircr em causa os princiacutepios

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

29

fundamentais humanitaacuterios Existe ainda uma resistecircncia por parte da comunidade

humanitaacuteria em embarcarem missotildees integradas com os capacetes azuis das NU

(Harmer 2008) Por isso na presente dissertaccedilatildeo tentar-se-aacute discutir a melhor soluccedilatildeo

para esse problema de forma a que ambos os atores natildeo sejam prejudicados na sua

missatildeo (Seiple 1996)

A accedilatildeo humanitaacuteria tem como missatildeo aliviar o sofrimento humano e a accedilatildeo securitaacuteria

tem caraacuteter militar e policial estatildeo ambas no terreno isto eacute humanitaacuterios e soldados

coexistem no terreno em missotildees e natildeo podem colocar em causa a missatildeo uns dos

outros Cada uma tem a sua missatildeo uma a de aliviar o sofrimento humano salvar vidas

e devolver a dignidade agrave populaccedilatildeo alvo de terror a outra a de assegurar a seguranccedila

fazer os direitos humanos serem respeitados aliviar o sofrimento humano e pacificar o

terreno no qual estatildeo a operar assegurar que as negociaccedilotildees ocorram sem problemas e

ajudar a reconstruir o Estado desde o aparelho de poder agraves infraestruturas No entanto a

forccedila militar natildeo deixa de ter um caraacuteter beacutelico e natildeo eacute neutro nem independente Isto

pode levar a que a populaccedilatildeo se sinta renitente recuse e se desvie de certas ONG

exatamente por colaborarem com determinada forccedila militar por medo do que possa vir

a acontecer Podem sofrer represaacutelias se colaborarem com o lado A ou B das

hostilidades e este fator poderaacute colocar em causa a missatildeo da comunidade humanitaacuteria

o que soacute eacute possiacutevel tendo a confianccedila da populaccedilatildeo e acesso aos territoacuterios para isso a

neutralidade eacute fulcral (Gibbons e Piquard 2006)

Eacute claro que o equiliacutebrio tambeacutem depende da forccedila militar de que se trata Por exemplo

militares sob a eacutegide da ONU seratildeo mais bem vistos conseguem manter a

imparcialidade e tecircm alguma neutralidade (dependendo dos casos) natildeo colocando assim

em causa o trabalho humanitaacuterio no terreno Jaacute se a ONG ou OIG for escoltada por uma

forccedila militar estatal poderaacute perder a sua neutralidade imparcialidade e independecircncia

pois a sua proteccedilatildeo depende diretamente das forccedilas armadas estatais Depender do

Estado para ver a sua seguranccedila assegurada poderaacute ter as seguintes consequecircncias 1) as

ONG OING e OIG poderatildeo ser pressionadas para natildeo tratar e ajudar determinada

populaccedilatildeo ou etnia 2) poderatildeo ver o seu acesso bloqueado a determinados territoacuterios

cuja populaccedilatildeo o Estado natildeo quer tratar 3) seratildeo temidas e malvistas pela populaccedilatildeo

que estaacute a sofrer agraves matildeos do Estado natildeo procurando ou aceitando a sua ajuda Por isso eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

30

importante analisar a escolta militar tendo em conta este fator (Gibbons e Piquard

2006)

No entanto Svoboda (2014) no seu livro The interaction between humanitarian and

militar actors where do we go from here refere que a interaccedilatildeo entre o profissional

humanitaacuterio e o militar eacute complicada e deve acontecer em uacuteltima instacircncia quando a

seguranccedila do humanitaacuterio eacute colocada em causa devido ao facto de os militares neste

caso os peacekeepers as agecircncias militares privadas a forccedila militar estatal natildeo se

regerem pelos mesmos princiacutepios que os humanitaacuterios e terem em certas circunstacircncias

de usar a forccedila para garantir a seguranccedila no terreno manter e restabelecer a paz Para

tal pode acontecer que estes possam vir a cometer atos incompatiacuteveis com a forma de

estar na Accedilatildeo Humanitaacuteria como por exemplo matar ou usar qualquer tipo de

armamento pois tal vai contra aos princiacutepios humanitaacuterios e Direito Internacional

Humanitaacuterio Pedir ajuda aos peacekeepers agraves agecircncias militares privadas ou outra

forccedila militar pode levar a que a imagem dos humanitaacuterios fique denegrida face agrave

populaccedilatildeo local agraves instituiccedilotildees ou pessoas individuais que doam fundos e que podem

natildeo ver com bons olhos esta interaccedilatildeo o que significa que se pode perder uma fonte de

financiamento o que seria grave para as ONG que dependem destas doaccedilotildees (Svoboda

2014 Cordaid 2014)

Seria por isso mais beneacutefico nos casos de conflitos armados que militares e

humanitaacuterios trabalhassem em conjunto o estritamente necessaacuterio para o sucesso da

missatildeo de ambos Estes natildeo tecircm de partilhar missotildees e princiacutepios Mas devem colaborar

para que a ajuda humanitaacuteria natildeo corra risco de fracassar que a ajuda chegue a toda a

populaccedilatildeo mesmo nos locais de difiacutecil acesso e desta forma seraacute mais faacutecil devolver a

dignidade fornecer os bens de primeira necessidade construir abrigos e campos de

refugiados seguros sempre sem colocar em causa as missotildees de ambos que satildeo

diferentes Eacute claro que esta questatildeo eacute mais complexa fazendo os humanitaacuterios

depararem-se com um grande dilema e tendo de fazer escolhas que em princiacutepio natildeo

deveriam ter de fazer Essa escolha eacute abdicamos dos princiacutepios fundamentais em prol

da nossa seguranccedila seguimos para o terreno mesmo sabendo que corremos perigo de

vida como seremos acolhidos pela populaccedilatildeo local ao chegar com escolta militar como

reagiratildeo os nossos patrocinadores estas satildeo questotildees e dilemas que as ONG enfrentam

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

31

em terrenos delicados muitas vezes essa escolha eacute entre seguranccedila e eacutetica humanitaacuteria

(Cordaid 2014)

Segundo Harmer (2008) o princiacutepio da neutralidade natildeo pode ser levado agrave letra

principalmente em Estados que estejam a atravessar um conflito armado onde a

inseguranccedila e o perigo de vida satildeo uma constante no terreno Deve por isso haver uma

grande reflexatildeo sobre os princiacutepios humanitaacuterios os crescentes ataques aos

humanitaacuterios de forma a que as ONG possam assistir agrave populaccedilatildeo de forma segura sem

ter de quebrar algum princiacutepio (Harmer 2008)

A assistecircncia deve ser provida em caso de conflito armado pela ajuda humanitaacuteria e de

forma a melhor operacionalizar a assistecircncia aos refugiados e agraves pessoas deslocadas

internamente mas para que tal seja possiacutevel eacute preciso criar um ambiente de seguranccedila

aos humanitaacuterios sempre respeitando os seus princiacutepios para que estes consigam

realizar o seu trabalho (Byman et al 2000)

Os humanitaacuterios deveriam ser ajudados pelas forccedilas militares em mateacuteria de transporte

de pessoal e de material de subsistecircncia como por exemplo aacutegua comida

medicamentos e outros mantimentos que de outra forma natildeo seria possiacutevel prover

Segundo Byman et al (2000) a cooperaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios equivaleria a

evidenciar o melhor dos dois mundos Se a forccedila militar pode garantir o transporte

analisar o solo para ver se estaacute armadilhado analisar a aacutegua potaacutevel e fornecer

assistecircncia meacutedica de urgecircncia este seria um bom aliado para a accedilatildeo humanitaacuteria que

pode oferecer assistecircncia meacutedica e tratamentos a meacutedio e longo prazo comida

mantimentos ajuda psicoloacutegica reconstruccedilatildeo satisfazer as necessidades baacutesicas ajudar

na construccedilatildeo de abrigos e gerir campos de refugiados de forma neutra Uma vez que

estes agem frequentemente em separado eacute difiacutecil poder fornecer ajuda humanitaacuteria aos

locais que realmente necessitam sem correr riscos ou demorar demasiado tempo Se

houvesse essa entreajuda os humanitaacuterios poderiam chegar ao local com ajuda militar

pela via aeacuterea ou mariacutetima Logo a forccedila aeacuterea poderia ser um grande aliado das ONG

OING e OIG na hora de ter de realizar deslocaccedilotildees de bens e pessoas (Byman et al

2000)

De certa forma segundo o autor os profissionais humanitaacuterios dependem dos

profissionais militares para poderem desenvolver o seu trabalho de forma segura e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

32

eficaz Por isso os militares devem garantir a seguranccedila nos aeroportos nos portos e

nos locais onde operarem bem como fornecer mapas atualizados das estradas seguras

para realizar as viagens ateacute ao local em questatildeo Evitar-se-iam muitos constrangimentos

e perdas de tempo (Byman et al 1967)

international military forces might also be mandated to play a relevant role in conflict situations

including through the provision of safe and secure environments for the civilian population and for

humanitarian actors to operate in Indeed military and police can execute essential tasks in situations

where governments are unable or unwilling to protect their own population in ways that go beyond the

mandate of humanitarian actors and hence are complementary to those (ECHO sd pp 1)

Segundo Stoddard et al (2009) a maioria das ONG contrata agecircncias militares com a

condiccedilatildeo de natildeo usar armas ou seja contratam soacute a escolta mas natildeo datildeo autorizaccedilatildeo

por uso de violecircncia o que leva ao mesmo problema este tipo de escolta soacute resolve

situaccedilotildees em paiacuteses cujo grau de perigo natildeo eacute muito elevado No entanto algumas ONG

viram-se forccediladas a contratar agecircncias privadas para escolta militar que recorressem agrave

forccedila caso fosse necessaacuterio para os proteger em caso de Estados que estatildeo a atravessar

um periacuteodo de grande conflito Pois escolta militar que natildeo possa fazer uso da forccedila eacute

afinal o mesmo que natildeo ter escolta e por conseguinte proteccedilatildeo eacute ter por exemplo um

agente a acompanhar fardado e nada mais As agecircncias militares privadas e a escolta

militar devem ser usadas em uacuteltimo recurso e nunca como prioridade O problema eacute que

os perpetradores dos ataques locais aos humanitaacuterios tecircm a noccedilatildeo de que os

peacekeepers natildeo podem fazer uso da forccedila a natildeo ser em legiacutetima defesa ou em casos

extremos onde os Direitos Humanos satildeo colocados em causa No entanto os ataques

aos humanitaacuterios natildeo satildeo por vezes graves o suficiente para que haja uma quebra do

princiacutepio do natildeo uso da forccedila O que leva a que a escolta militar natildeo leve propriamente

agrave diluiccedilatildeo dos ataques muito pelo contraacuterio podem intensificar (Stoddard et al 2009)

Seiple (1996) refere que apesar das diferenccedilas marcantes entre o humanitaacuterio e o

soldado a verdade eacute que a interaccedilatildeo no terreno entre os dois tem sido um caso de

sucesso Seiple (1996) apresenta o caso da relaccedilatildeo entre as forccedilas armadas dos EUA e as

ONG no terreno Segundo o autor esta relaccedilatildeo natildeo eacute natural Neste documento satildeo

apresentados quatro casos em que houve uma interaccedilatildeo no terreno entre ONG e

militares dos EUA (as forccedilas militares dos EUA estavam a realizar em caa um dos

casos uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria) que satildeo os seguintes Operation Provide Comfort

a norte do Iraque em 1991 Operation Sea Angel no Bangladesh em 1991 Operation

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

33

Restore Hope na Somaacutelia em 1992 e Operation Supporte Hope no Ruanda em 1994 Eacute

importante sinalizar que estas missotildees foram intervenccedilotildees humanitaacuterias Estas

operaccedilotildees foram efetivamente casos de sucesso militares e humanitaacuterios cooperaram no

terreno com sucesso No entanto a operaccedilatildeo Sea Angel no Bangladesh foi marcada por

diversas tensotildees poliacuteticas entre o governo e as forccedilas militares dos EUA criando uma

dificuldade de operar no terreno Na operaccedilatildeo Restore Hope na Somaacutelia as ONG

viram-se obrigadas a aceitar cooperar com as forccedilas militares dos EUA que estavam a

realizar uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria no terreno A cooperaccedilatildeo um bocado forccedilada

devido agraves circunstacircncias resultou Segundo Seiple (1996) a relaccedilatildeo entre ONG e

militares foi realizada com base no respeito por cada uma as missotildees Uma das ONG

que soacute aceitou em ultimo recurso esta cooperaccedilatildeo foi o MSF pois sabia que sem

seguranccedila natildeo poderiam continuar no terreno No caso da operaccedilatildeo Supporte Hope no

Ruanda natildeo existe uma cooperaccedilatildeo direta entre militares os EUA e ONG neste caso as

ONG que estivessem a operar no terreno tinham de fazer o pedido de escolta militar agraves

NU e esta fazia a ponte entre as ONG e as forccedilas militares no terreno O uacutenico contacto

que ONG e as forccedilas militares dos EUA tinham era o CMOC (The Civil Military

Operation Center) jaacute que neste caso especiacutefico do Ruanda as NU preferiram ser elas a

organizar e prover a seguranccedila ou escolta militar agraves ONG no terreno pois estava a

acontecer um genociacutedio e o clima de inseguranccedila era devastador tendo de haver grande

rigor na cooperaccedilatildeo que era feita a pedido das NU atraveacutes do CMOC Militares e

humanitaacuterios trabalharam em conjunto com sucesso O uacutenico problema que Seiple

aponta agrave accedilatildeo humanitaacuteria eacute a falta de coordenaccedilatildeo no terreno entre ONG OING e OIG

pois havendo coordenaccedilatildeo seria mais faacutecil prover seguranccedila (Seiple 1996)

Se Seiple (1996) via a relaccedilatildeo entre ONG e forccedilas armadas como algo beneacutefico e

essencial para uma boa assistecircncia humanitaacuteria e para ajudar a restabelecer a paz jaacute

Harmer (2008) natildeo pensa o mesmo Harmer redigiu um artigo sobre as missotildees

integradas tendo este tema originado diversos debates acesos entre proacute-integracionistas

e contra Os humanitaacuterios encontram-se renitentes acerca deste tipo de missotildees pois

natildeo querem colocar em causa a sua neutralidade e imparcialidade e perder a

independecircncia o que poderia ter como consequecircncias natildeo poderem assistir populaccedilotildees

que estariam no topo das suas listas teriam de obedecer agraves ordens e objetivos dos

peacekeepers e poderiam ser vistos como entidades poliacuteticas o que vai contra ao que eacute a

essecircncia da Accedilatildeo Humanitaacuteria No entanto como jaacute foi referido a violecircncia sobre os

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

34

humanitaacuterios verificou um aumento draacutestico a partir do ano 2000 tecircm vindo a ter

dificuldade de acesso a certos locais de alto conflito e as ONG no terreno tecircm

dificuldade em sinalizar os seus humanitaacuterios coisa que os peacekeepers fazem bem

embora nem sempre conseguem garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios tambeacutem Eacute

preciso encontrar um ponto de convergecircncia para a accedilatildeo conjunta e no resto

estabelecer bem as diferenccedilas e os pontos em que natildeo podem ceder ou admitir

intervenccedilatildeo muacutetua (Harmer 2008)

A autora refere que o Secretaacuterio-Geral agrave eacutepoca Kofi Annan apelou aquando do

relatoacuterio do painel sobre as missotildees de paz das NU para um plano de integraccedilatildeo agraves

missotildees das NU e referiu que missotildees integradas devem ser adotadas em missotildees de

paz No entanto existe uma grande resistecircncia por parte de grandes ONG e OING a este

tipo de missotildees integradas sejam elas na forma maximalista ou minimalista No modelo

minimalista existe o trabalho do OCHA que tem uma identidade separada e a

integraccedilatildeo eacute feita atraveacutes de uma partilha de informaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo em vez de um

quadro organizacional unificado ou seja a Coordenaccedilatildeo Humanitaacuteria (CH) e o ERSG

(Representante Especial do Secretaacuterio-Geral) mas ao mesmo tempo mantendo um

escritoacuterio individual do OCHA fora do campo O OCHA tem um papel fulcral pois eacute o

elo de ligaccedilatildeo entre as ONG OING e OIG agraves NU mantendo-se no entanto

independecircncia destes face agraves NU de forma a que a imparcialidade independecircncia e a

neutralidade natildeo sejam postas em causa Tambeacutem se evita que as NU exerccedilam pressatildeo

para que a missatildeo seja conduzida de uma forma que natildeo a planeada (Harmer 2008)

Uma integraccedilatildeo maximalista significa a remoccedilatildeo da identidade separada do OCHA e a

lideranccedila humanitaacuteria das NU estaraacute presente integralmente na estrutura de transmissatildeo

geral A maioria das ONG eacute contra a versatildeo maximalista de integraccedilatildeo como a Save the

Children e a Care tendo como principal argumento a necessidade da existecircncia e

abertura do HC (Humanitarian Coordinator) a todos incluindo as organizaccedilotildees que se

sentem desconfortaacuteveis com a ideia de trabalhar com militares Tal eacute perfeitamente

compreensiacutevel pois ao trabalhar com as NU mesmo que numa versatildeo internacionalista

minimalista existe sempre uma perda de independecircncia na hora de decidir quais os

locais prioritaacuterios a assistir no terreno por exemplo (Harmer 2008)

No entanto ainda segundo Harmer (2008) deve ser tida em conta a opccedilatildeo

integracionista minimalista em que permanece o corpo de coordenaccedilatildeo OCHA tendo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

35

mesmo a UNICEF o ACNUR e a OXFAM reconhecido que esta visatildeo integracionista

pode facilitar o delinear de estrateacutegias militares e poliacuteticas sem colocar em causa ou

tentando pocirc-los o minimamente possiacutevel os princiacutepios humanitaacuterios O OCHA deve

neste contexto agir em separado das NU de forma a que possa agir de forma neutra e

imparcial consoante a situaccedilatildeo na qual estatildeo a fornecer ajuda humanitaacuteria para que natildeo

sofra influecircncias e pressotildees A autora refere ainda que nos tempos de hoje a accedilatildeo

humanitaacuteria natildeo pode mais aplicar a neutralidade pura e dura pois existem grandes

perigos de ataques no terreno a ONG sendo necessaacuterio recorrer agraves forccedilas militares

exatamente para garantir a sua seguranccedila A relaccedilatildeo entre humanitaacuterio-militar deve ser

amplamente delineada tendo de ser estabelecido um guia onde sejam indicadas as

circunstacircncias em que deve ser feito o pedido de escolta e proteccedilatildeo aos militares e

como deve ser feito esse procedimento (Harmer 2008)

A adoccedilatildeo do modelo de missatildeo integrada minimalista poderaacute ser a melhor opccedilatildeo para a

comunidade humanitaacuteria em terrenos de alta instabilidade e inseguranccedila Com este

modelo as organizaccedilotildees humanitaacuterias obtecircm proteccedilatildeo e seguranccedila sem colocarem em

causa os princiacutepios humanitaacuterios As missotildees integradas minimalistas natildeo tecircm de se

basear necessariamente na escolta militar podem basear-se tambeacutem na partilha de

informaccedilatildeo acerca dos terrenos seguros terrenos armadilhados mapas com os melhores

caminhos a percorrer entre outras informaccedilotildees No entanto esta colaboraccedilatildeo deve ser

bem estudada e analisada Deve ser tambeacutem estabelecido um guia de colaboraccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares tal como foi criado para a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as

organizaccedilotildees humanitaacuterias (Harmer 2008)

A OXFAM por exemplo redigiu um documento intitulado Un Integrated Missions and

Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations Integrated

Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) acerca das missotildees integradas

com as NU expondo os problemas que poderiam advir desta parceria Segundo a

OXFAM a neutralidade e imparcialidade estariam em causa num mandato que fosse

para aleacutem das partilhas de pontos de vista comum pois teriam uma integraccedilatildeo mais

estrutural sob uma gestatildeo comum do mandato onde as operaccedilotildees de peacekeeping

funccedilotildees poliacuteticas e organizaccedilotildees humanitaacuterias estariam sob a chefia de um uacutenico

mandato Esta situaccedilatildeo poder levar a que os humanitaacuterios percam a independecircncia de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

36

aceder a determinados locais sejam usados para fins poliacuteticos e podem perder a

confianccedila da populaccedilatildeo (OXFAM 2014)

As proacuteprias NU reconheceram em 2013 os riscos inerentes agraves abordagens de

planeamento e avaliaccedilatildeo integrados Esses riscos seriam o facto de poder ser dada a

prioridade agraves missotildees militares ou poliacuteticas que possam influenciar a accedilatildeo humanitaacuteria

como o acesso humanitaacuterio e a seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno As pessoas

podem natildeo procurar ajuda humanitaacuteria de forma a que natildeo se vejam comprometidos e

natildeo sofram represaacutelias Logo caso isto aconteccedila os humanitaacuterios podem natildeo ser

percebidos como imparciais e neutros aos olhos da populaccedilatildeo falhando assim a missatildeo

(OXFAM 2014)

Iraacute ser agora feita uma apreciaccedilatildeo do referido documento da OXFAM (2014) Este

documento eacute relevante para a presente dissertaccedilatildeo pois apresenta o ponto de vista da

ONG em relaccedilatildeo agraves missotildees integradas propondo um conjunto de regras de cooperaccedilatildeo

no terreno entre ONG OING e as NU

Para mitigar estes riscos a OXFAM preparou um conjunto de regras para cooperar

especificamente com as NU

A accedilatildeo humanitaacuteria deve ser separada das operaccedilotildees de peacekeeping ou

poliacuteticas das NU de forma a que natildeo sejam confundidas as missotildees e natildeo haja

confusotildees no terreno

Uma associaccedilatildeo visiacutevel entre os humanitaacuterios que cooperam com as NU e outros

objetivos das NU deve ser minimizada em conflitos e contextos de elevada

fragilidade de forma a prevenir potenciais problemas no terreno

Antes de decidir qualquer abordagem de integraccedilatildeo devem ser feitas avaliaccedilotildees

de risco envolvendo ONG e OING De forma alguma as ONG e OING devem

partir para uma missatildeo integrada sem participarem no processo de planeamento

e abordagem da missatildeo

A avaliaccedilatildeo deve ser revista e feita com regularidade procedendo a mudanccedilas se

necessaacuterias a missatildeo integrada pode ser portanto revista e atualizada consoante

a evoluccedilatildeo da missatildeo no terreno (OXFAM 2014 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

37

A OXFAM refere ainda que as missotildees integradas com as NU devem ter em conta os

princiacutepios humanitaacuterios incluindo assistecircncia baseada na imparcialidade agraves pessoas em

necessidade A OXFAM eacute uma das ONG que eacute muitas vezes associada agraves agecircncias

humanitaacuterias das NU devido aos mecanismos de coordenaccedilatildeo fundos das NU e uso dos

meios de transporte aeacutereos das NU O facto de haver esta associaccedilatildeo agraves agecircncias das

NU pode levar agrave confusatildeo podendo a populaccedilatildeo crer que estas fazem parte das

poliacuteticas e missotildees integradas das NU que muitas vezes apoiam uma das partes das

hostilidades o que coloca em causa o trabalho das ONG ou OING No entanto existem

outras situaccedilotildees que podem levar a este tipo de mal-entendido a saber

Colocar organizaccedilotildees humanitaacuterias e outros atores das NU no mesmo lugar deve

ser evitado a todo o custo pois poderaacute dar azo a mal-entendidos no terreno e

deitar por terra todo o trabalho da ONG ou OING no terreno

O uso da escolta militar para fins humanitaacuterios eacute em determinados casos

fundamental para aceder a territoacuterios No entanto antes de partir para esta

escolha a opccedilatildeo deve ser minuciosamente estudada e soacute em ultimo recurso

usada

Apresentar as operaccedilotildees de peacekeeping ou toda a missatildeo integrada como

sendo humanitaacuteria quando natildeo o eacute Satildeo missotildees completamente diferentes que

decidem cooperar de forma que os humanitaacuterios possam ter o miacutenimo de

condiccedilotildees para operar no terreno

Usar as operaccedilotildees de peacekeeping para fornecer os Quick Impact para

desenvolver confianccedila na missatildeo no mandato e no processo de paz Os QIPs satildeo

projetos de pequena escala (duraccedilatildeo meacutedia de 6 meses) que tecircm como objetivo

ter um impacto imediato que contribua para a estabilizaccedilatildeo reconstruccedilatildeo e

estabilizaccedilatildeo no poacutes-conflito Podem tambeacutem ter um impacto no

desenvolvimento a longo prazo (OXFAM 2014 pp 3)

As NU tambeacutem tecircm feito um esforccedilo para conseguir elaborar um modelo de missatildeo

integrada no qual eacute respeitado o espaccedilo humanitaacuterios e os princiacutepios humanitaacuterios de

forma a mitigar os riscos que podem advir No entanto em 2014 as NU defenderam

uma missatildeo integrada estrutural com a representaccedilatildeo das ONG pela Humanitarian

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

38

Country Team e pelo OCHA (o OCHA faz tambeacutem uma avaliaccedilatildeo e realiza planos

estrateacutegicos de atuaccedilatildeo no terreno consoante os casos) que tem realizado avaliaccedilotildees de

risco subjacentes a este tipo de missatildeo (OCHA sd) No entanto no caso do Sudatildeo do

Sul as NU foram criticadas por terem optado pela missatildeo integrada estrutural onde os

peacekeepers e humanitaacuterios satildeo alvo da mesma gestatildeo programa e poliacuteticas o que

numa situaccedilatildeo como o Sudatildeo do Sul eacute impensaacutevel Como eacute sabido a operaccedilatildeo

peacekeeping esteve do lado do governo ajudando a restabelecer a instituiccedilatildeo de

governaccedilatildeo o que leva a que os humanitaacuterios sejam eles tambeacutem colados ao governo e

seja limitado o acesso a determinados locais ou determinada populaccedilatildeo natildeo queira ser

tratada por eles

Este eacute pois o Guia de missotildees integradas realizado pela OXFAM onde satildeo expostos os

riscos o que deve ser evitado e como evitar que haja um atropelamento dos princiacutepios

fundamentais humanitaacuterios pelas NU no terreno Desta forma respeitando esta guia

seriam evitados potenciais riscos de os princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria serem postos em

causa de haver aproveitamento poliacutetico da missatildeo integrada e limitar os humanitaacuterios a

determinados locais Uma vez as condiccedilotildees respeitadas e a seguranccedila assegurada aos

humanitaacuterios seria mais faacutecil para as ONG ou OING operarem no terreno (OXFAM

2014)

A OXFAM prefere a missatildeo integrada estrateacutegica pois eacute uma abordagem mais coerente

para um trabalho comum entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a operaccedilatildeo de peacekeeping Neste

caso as ONG iriam trabalhar com o OCHA que se manteria independente em relaccedilatildeo

agraves NU e imparcial natildeo sendo toleradas pressotildees para agir de uma dada forma ou aceder

ao local X Jaacute a missatildeo integrada estruturante natildeo faz sentido segundo o OXFAM

Admite uma comunicaccedilatildeo efetiva entre organizaccedilotildees humanitaacuterias e operaccedilotildees de

peacekeeping ou atores poliacuteticos que podem proteger a populaccedilatildeo e o reconhecimento

dos seus direitos No entanto a accedilatildeo humanitaacuteria deve manter-se independente da accedilatildeo

securitaacuteria ou consideraccedilotildees poliacuteticas

Para que as missotildees integradas sejam bem-sucedidas as NU devem respeitar os

seguintes pontos segundo a OXFAM (2014)

A accedilatildeo humanitaacuteria deve continuar estruturalmente separada da poliacutetica ou

componentes de peacekeeping relativamente a uma missatildeo integrada das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

39

Logo uma associaccedilatildeo visiacutevel entre missotildees humanitaacuterias e outros objetivos

devem ser minimizados

Antes de decidir partir para a abordagem de uma missatildeo integrada deve ser feita

uma avaliaccedilatildeo que envolva ONG e OING de forma a identificar potenciais

riscos para a accedilatildeo humanitaacuteria e o que pode ser feito para mitigar os mesmos

Essa avaliaccedilatildeo deveraacute ser feita com regularidade e revista de forma a que

possam ser feitas correccedilotildees

Quaisquer que sejam os acordos feitos relativos agraves missotildees integradas os

mandatos das NU devem sempre respeitar os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios incluindo uma assistecircncia imparcial baseada apenas na

necessidade da populaccedilatildeo

As orientaccedilotildees do IASC (Inter-Agency Standing Commitee) sobre a manutenccedilatildeo

da distinccedilatildeo entre accedilatildeo humanitaacuteria as atividades poliacuteticas ou de manutenccedilatildeo da

paz devem ser rigorosamente aplicadas sempre que haja riscos e estes sejam

encobertos pelas NU Isto inclui o Guia de 2004 sobre as relaccedilotildees civis-militares

em situaccedilotildees de emergecircncia o Guia de 2003 sobre o uso de recursos militares e

de defesa civil para apoiar atividades humanitaacuterias das NU em situaccedilotildees

complexas de emergecircncias e o de 2012 sobre o uso de escoltas armadas aos

comboios humanitaacuterios Estes guias devem ser amplamente promovidos

As negociaccedilotildees humanitaacuterias do acesso agraves pessoas em necessidade devem manter-

se separadas dos objetivos poliacuteticos de forma a que os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios natildeo sejam colocados em causa (OXFAM 2014 pp 4)

Uma vez que as NU assegurem estes pontos todos a OXFAM compromete-se a que vai

Distinguir-se das missotildees das NU enquanto se compromete com a promoccedilatildeo da

coordenaccedilatildeo e proteccedilatildeo dos civis

Promover a distinccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e funccedilotildees poliacuteticas ou de

peacekeeping das missotildees das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

40

Trabalhar com o IASC o HCT e grupos de coordenaccedilatildeo das ONG no terreno de

forma a promover a consciencializaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo consistente e salvaguarda dos

princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria

Invocar a poliacutetica de IAP (Integrated Assessment and Planning) da ONU para

pedir uma revisatildeo dos acordos e devem ser aplicadas medidas de mitigaccedilatildeo no

caso de haver acordos de integraccedilatildeo estabelecidos que sejam considerados como

tendo riscos para accedilatildeo humanitaacuteria

Apoiar os esforccedilos de especialistas humanitaacuterios para desenvolver exerciacutecios de

gerenciamento de crises e fazer um preacute planeamento em campo de forma a

treinar as forccedilas militares que trabalham sob o mandato das NU implantado em

missotildees de manutenccedilatildeo da paz Esses exerciacutecios devem ser explicados aos

comandantes militares e agraves agecircncias de ajuda de forma a avaliarem as

necessidades o potencial e vantagens que os humanitaacuterios gozam nas relaccedilotildees

comunitaacuterias e anaacutelises geograacuteficas bem como as relaccedilotildees sociopoliacuteticas locais

ressalvando a importacircncia de manter uma distinccedilatildeo visiacutevel entre atividades

humanitaacuterias e de manutenccedilatildeo da paz

Solicitar ativamente esforccedilos para rever as missotildees integradas durante a sua

duraccedilatildeo e incentivar a avaliaccedilatildeo independente de sua relaccedilatildeo custo-eficaacutecia

contra o impacto imediato e de longo prazo no final da missatildeo Deve haver um

mecanismo de monitoramento que permita que as missotildees aprendam no terreno

avaliando o que funciona e o que natildeo funciona permitindo proceder a mudanccedilas

se necessaacuterio (OXFAM 2014 pp 5)

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno

Eacute verdade que as ONG humanitaacuterias hospitais humanitaacuterios entidades religiosas e

escolas tecircm estatuto neutral no conflito e natildeo podem por isso ser alvo de ataque

segundo as convenccedilotildees de Genebra no entanto o que se tem verificado eacute um aumento

de ataques a estas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees levando por exemplo MSF agrave

necessidade de trocar a cor da carrinha para natildeo ser confundida com a carrinha do

exeacutercito e ser alvo de ataques como tantas outras ONG tecircm sido alvo O hospital da

MSF foi inclusive alvo em 2015 no Afeganistatildeo por um ataque dos EUA que tendo

provocados 19 mortos dos quais 12 eram membros da organizaccedilatildeo Segundo os MSF

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

41

natildeo haacute desculpa para o ataque dos EUA pois o hospital estava devidamente identificado

e mapeado ou seja identificado O bombardeamento durou 30 minutos mesmo apoacutes a

organizaccedilatildeo avisar os EUA Esta ocorrecircncia eacute muito grave pois ataques a hospitais

podem ser considerados crimes de guerra e mostra que as organizaccedilotildees humanitaacuterias

operam num contexto onde a seguranccedila eacute precaacuteria o que torna difiacutecil realizarem o seu

trabalho Para evitar este tipo de trageacutedias eacute necessaacuterio haver um bom mapeamento das

ONG OING e OIG bem como dos hospitais Este eacute um exemplo de que os ataques tecircm

de ser prevenidos natildeo soacute a partir do terreno mas tambeacutem fora do terreno a niacutevel

internacional para que situaccedilotildees destas natildeo voltem a ocorrer No entanto os ataques satildeo

maioritariamente realizados no terreno por atacantes nacionais do Estado em conflito

armado (Smith 2012 Globo 2015)

A confusatildeo que pode advir da escolta militar eacute uma questatildeo fulcral pois se por um lado

a escolta militar daacute seguranccedila por outro pode levar a que possam ser alvos de ataques

por parte de miliacutecias locais Podem tambeacutem ser facilmente colados a uma das partes das

hostilidades e confundidos com militares caso o material e as carrinhas natildeo sejam

devidamente identificadas tal como aconteceu com o MSF referido acima (Gibbons e

Piquard 2006)

Todos os veiacuteculos das ONG hospitais e produtos devem ser devidamente identificados

de forma a que natildeo sejam confundidos com as forccedilas militares em geral como iraacute ser

abordado no guia de colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares das NU que refere isto

mesmo Militares e ONG humanitaacuterias podem cooperar de forma minuciosa bem

planeada em uacuteltimo recurso e identificando adequadamente as instalaccedilotildees carros

campos de refugiados produtos entre outros Todo o cuidado eacute pouco pois um

pequeno deslize pode ter como consequecircncia uma confusatildeo e resultar num ataque As

ONG devem distanciar-se o maacuteximo dos militares e usar a escolta como jaacute foi referido

como uacuteltimo recurso (Gibbons e Piquard 2006)

Em 2013 registou-se 460 viacutetimas humanitaacuterias das quais 155 pessoas foram

assassinadas e 134 foram raptados e gravemente feridos Houve um aumento de 66

das viacutetimas entre 2012 e 2013 Esta eacute a problemaacutetica central deste estudo e por isso seraacute

feita de seguida uma conceptualizaccedilatildeo sobre o sistema securitaacuterio das Naccedilotildees Unidas e

agecircncias militares privadas nos cenaacuterios humanitaacuterios Jaacute no relatoacuterio de 2015 consta

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

42

que em 2014 foram assassinados 120 humanitaacuterios 88 ficaram feridos e 121 foram

raptados (Ryou et al 2014 Humanitarian Outcomes 2015)

A maior parte das viacutetimas eram membros de ONG locais e faziam parte da Cruz

Vermelha e Crescente Vermelho e os ataques e emboscadas eram em 2013

maioritariamente perpetrados no caminho para os locais onde estes iam operar Para se

ter uma noccedilatildeo mais precisa 87 das viacutetimas satildeo nacionais do paiacutes onde a ajuda estaacute a

ser fornecida e 13 satildeo membros internacionais A seguranccedila dos humanitaacuterios tem

vindo a revelar-se uma razatildeo fundamental para o insucesso de certas missotildees pois natildeo

conseguem chegar aos locais outras ONG decidem abandonar o terreno por natildeo

conseguirem realizar o seu trabalho em seguranccedila Segundo The Aid Worker Security

Report podemos verificar no documento relativo a seguranccedila na aacuterea da accedilatildeo

humanitaacuteria que pouco tem sido investido na mitigaccedilatildeo dos riscos na estrada e natildeo soacute

A 11 de Julho de 2016 foi realizado um ataque a humanitaacuterios em lugar em que estes

foram torturados espancados e abusados sexualmente Este caso violento de ataque a

humanitaacuterios foi amplamente divulgado devido agrave inaccedilatildeo por parte dos peacekeepers

face aos pedidos de ajuda dos humanitaacuterios (Ryou et al 2014 e Adongo 2017)

Os ataques aos humanitaacuterios tecircm ocorrido em 30 Estados No entanto trecircs quartos dos

ataques foram realizados em apenas cinco Estados que estatildeo a passar por um conflito

armado e uma falha de governaccedilatildeo (Estados fraacutegeis) Esses Estados satildeo Sudatildeo do Sul

Sudatildeo Afeganistatildeo Siacuteria e Paquistatildeo Estes ataques satildeo sobretudo raptos e tiroteio

depois vecircm assaltos sem armas de fogo e em uacuteltimo lugar o recurso a explosivos No

entanto este uacuteltimo meacutetodo de ataque tem vindo a sofrer um aumento significativo

entre 2006 e 2013 (Humanitarian Outcomes 2014)

Segundo dados mais recentes do relatoacuterio de Czwarno et al (2017) verifica-se que

houve de facto um aumento do nuacutemero de ataques entre 2007 e 2016

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

43

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terreno

Fonte Czwarno M Harmer A e Stoddard A (2017)

Eacute ainda abordado em Ryou et al (2014) e Brabant et al (2010) o procedimento de

treino dos membros das ONG para uma travessia segura para o local onde pretendam

operar Este programa de treino eacute intitulado de SOP (Standard Operating Procedure)

Neste programa constam os seguintes toacutepicos

bull Aprender conduccedilatildeo defensiva para as situaccedilotildees em que precisariam de fugir de

uma determinada situaccedilatildeo de perigo e adquirir capacidade de negociaccedilatildeo no caso de se

depararem com uma situaccedilatildeo em que teratildeo de negociar com o chefe dos rebeldes do

grupo eacutetnico tribo entre outros

bull Adotar guias de instruccedilatildeo ou manuais de boa conduta em caso de ter de passar

check-points em caso de fogo armado assaltos sequestros etc Este ponto eacute muito

importante pois eacute necessaacuterio ir preparado psicologicamente para fazer a travessia por

check-points saber que tipo de documentos mostrar o que dizer como agir e em caso

de fogo armado quais os procedimentos de proteccedilatildeo do pessoal a adotar

bull Fazer sempre pedido de autorizaccedilatildeo para movimentar o staff ou viajar para

outros locais eacute necessaacuterio avisar sempre e realizar o pedido de autorizaccedilatildeo para natildeo

terem problemas nos check-points e correrem o risco de serem detidos

bull Adotar o procedimento em que todos os elementos do grupo avisam a sua

partida e chegada ao local Este procedimento deve ser adotado pela esquipa de forma a

saberem onde cada elemento estaacute a que horas estaacute prevista a chegada e estarem sempre

0

50

100

150

200

250

300

350

2007 2011 2014 2017

Incidentes

Viacutetimas

humanitaacuterios

mortos

humanitaacuterios

eridos

raptos de

humanitaacuterios

Viacutetimas

internacionais

Viacutetimas

nacionais

5

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

44

contactaacuteveis de modo a que seja faacutecil identificar se um membro do grupo estaacute em

problemas devido agrave incomunicabilidade desaparecimento entre outros

bull Estabelecer toques de recolher e mapear as aacutereas que natildeo sejam seguras no

momento preciso em que pensam partir Este ponto eacute essencial para garantir a seguranccedila

do staff e natildeo correrem riscos desnecessaacuterios

bull Mudar as rotinas para que natildeo sejam alvo faacutecil dos rebeldes ou outras forccedilas

militarespopulaccedilatildeo local que queiram atacar e o staff deve ser acompanhado pelo liacuteder

da comunidade com a qual vatildeo trabalhar de forma a que seja garantida a sua seguranccedila

bull Usar raacutedio de alta frequecircncia e equipamentos sateacutelite em missotildees de longa

distacircncia para que todos os elementos da equipa permaneccedilam contactaacuteveis

bull Regras de conduta entre dois carros e espaccedilamento entre eles eacute importante

sobretudo num campo em que natildeo conhecemos nem estamos acostumados (Ryou et al

2014 pp 8-9 Brabant et al 2010 pp 12-16)

O relatoacuterio de Ryou et al (2014) aponta a escolta militar como ultimo recurso usado

pelas ONG e quando usada eacute fornecida pelo governo do Estado em conflito armado ou

pelos peacekeepers ou pela NATO A NATO eacute uma opccedilatildeo agrave qual a comunidade

humanitaacuteria deveraacute recorrer em uacuteltimo recurso pelo simples facto de natildeo se manter

neutra no terreno o que poder A NATO tem um compromisso com as NU quanto a

assegurar a paz e seguranccedila mundial (Ryou et al 2014 e NATO 2016)

A NATO em conjunto com as NU e a UE atua a prevenir crises gerir conflitos ajudar

a estabilizar em situaccedilotildees de poacutes-conflito Esta cooperaccedilatildeo estende-se agrave avaliaccedilatildeo e

gestatildeo de crises cooperaccedilatildeo civil-militar que eacute o foco do tema que estaacute a ser retratado

nesta dissertaccedilatildeo treino e educaccedilatildeo combate agrave corrupccedilatildeo no setor da defesa accedilatildeo

contra as minas mitigaccedilatildeo das ameaccedilas representadas por dispositivos explosivos

improvisados capacidades civis promoccedilatildeo do papel das mulheres em paz e seguranccedila

proteccedilatildeo de civis incluindo crianccedilas conflitos armados combate agrave violecircncia e violecircncia

de gecircnero controle de armas e natildeo proliferaccedilatildeo e a luta contra o terrorismo A

cooperaccedilatildeo eacute ainda reforccedilada com as NU e outros atores internacionais como a UE e a

Organizaccedilatildeo para a Seguranccedila e a Cooperaccedilatildeo na Europa (OSCE) que satildeo partes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

45

integrantes do contributo da NATO para uma abordagem abrangente quanto agrave gestatildeo e

operaccedilotildees de crise (NATO 2016)

Retomando entatildeo a questatildeo referente agraves opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno agrave primeira vista as melhores opccedilotildees seriam mesmo escolta e

proteccedilatildeo no acircmbito de missotildees sob o princiacutepio da R2P as missotildees integradas

minimalistas ou as agecircncias militares privadas No caso das missotildees integradas em

cooperaccedilatildeo com os peacekeepers respeitando o guia de cooperaccedilatildeo entre militar-

humanitaacuterio no caso das agecircncias militares privadas caso estejam devidamente

regulamentadas no direito internacional humanitaacuterio Por uacuteltimo o peace enforcement ao

abrigo do princiacutepio do R2P eacute a melhor opccedilatildeo para Estados que estejam numa situaccedilatildeo

de alta inseguranccedila pois eacute uma intervenccedilatildeo de emergecircncia A escolta pode facilitar a

deslocaccedilatildeo no entanto eacute preciso respeitar os princiacutepios fundamentais da accedilatildeo

humanitaacuteria e as ONG OING e OIG humanitaacuterias respeitarem as missotildees dos militares

com os quais estatildeo a cooperar nesse preciso momento Esta cooperaccedilatildeo tem como

intuito melhorar a seguranccedila e proteger os humanitaacuterios e natildeo dificultar o trabalho de

ambos (Bellamy 2015)

O problema com a cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao

abrigo do R2P natildeo estaacute isenta de perigos podendo mesmo ser mais os pontos negativos

do que favoraacuteveis Pois os militares sob este tipo de missatildeo natildeo satildeo neutros partindo

para o terreno para acabar com a calamidade que estaacute a acontecer ou seja atacar os

responsaacuteveis pelas atrocidades que poderatildeo ser os proacuteprios governantes Sendo o

governo o responsaacutevel pelas atrocidades os militares do peace enforcement iratildeo estar

contra a forccedila que estaacute no poder e por conseguinte estando os humanitaacuterios a receber

escolta do peace enforcement iratildeo sofrer represaacutelias como ataques ou ver o acesso

negado a determinados locais poderaacute mesmo seraacute negada a permissatildeo de permanecer

no terreno e poderatildeo ser atacados por miliacutecias O perpetrador das atrocidades podem

ainda ser miliacutecias e por conseguinte natildeo ser faacutecil fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e

natildeo combatentes podendo ser atacados civis no terreno colocando uma vez mais a

comunidade internacional num dilema entre a seguranccedila e respeitar os princiacutepios da

neutralidade e imparcialidade colocando-os numa situaccedilatildeo de grande fragilidade

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

46

No entanto existe uma necessidade de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios no terreno e a

comunidade humanitaacuteria eacute fulcral quanto agrave proteccedilatildeo dos civis assistindo medicamente

fornecendo bens essenciais como comida aacutegua medicaccedilatildeo e apoio psicoloacutegico

acolhem refugiados e IDP fazem uso das suas influecircncias para dar apoio juriacutedico agraves

viacutetimas e garantem proteccedilatildeo Estes pontos referidos tecircm um papel crucial na pacificaccedilatildeo

dos territoacuterios O espaccedilo humanitaacuterio neutro e imparcial daacute uma sensaccedilatildeo de proteccedilatildeo agrave

populaccedilatildeo um refugioabrigo e este espaccedilo pode ser colocado em causa com uma

missatildeo integrada com os militares do peace enforcement pois a comunidade

humanitaacuteria eacute politizada involuntariamente perdendo a neutralidade Ou seja eacute um

dilema que os humanitaacuterios atravessam no terreno dilema entre a seguranccedila a

permanecircncia no terreno e salvar vidas (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Apesar destes pontos negativos a verdade eacute que eacute impossiacutevel para a comunidade

humanitaacuteria manter-se neutra neste tipo de conflitos e precisa de escolta para conseguir

prosseguir com a sua missatildeo Segundo Bellamy (2015) a missatildeo sob o princiacutepio da

R2P no Sri Lanka entre 2008-2009 foi mal sucedida as NU natildeo tiveram capacidade

suficiente para proteger os civis e garantir o acesso dos humanitaacuterios aos locais onde

residiam os civis em necessidade A comunidade humanitaacuteria no terreno viu-se forccedilada

a terminar a missatildeo devido ao facto de o governo ter restringido o acesso das

organizaccedilotildees humanitaacuterias e o staff das NU foi persistentemente intimidado As NU natildeo

tentaram chamar o governo agrave realidade evidenciando que restringir o acesso dos

humanitaacuterios vai contra agraves suas obrigaccedilotildees internacionais As NU falharam tambeacutem

quanto ao seu dever de informar os Estados sobre violaccedilotildees dos direitos humanos no

terreno A comunidade humanitaacuteria natildeo pode cooperar com este tipo de accedilotildees vai

contra agrave essecircncia da accedilatildeo humanitaacuteria Logo o peace enforcement sob o princiacutepio do

R2P que inicialmente poderia ser uma soluccedilatildeo viaacutevel para garantir a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios no terreno (devido ao princiacutepio subjacente e agraves restriccedilotildees e regras riacutegidas

de atuaccedilatildeo no terreno) deixa de o ser a partir do momento em que falha como no Sri

Lanka para com os cidadatildeos e para com a comunidade humanitaacuteria uma vez que natildeo

conseguiu garantir um acesso seguro e a permanecircncia dos humanitaacuterios no terreno

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Portanto uma missatildeo integrada no terreno com o peace enforcement ao abrigo do

princiacutepio da responsabilidade de proteger pode ser a soluccedilatildeo mais raacutepida e a mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

47

adequada pois estatildeo todos empenhados em aliviar o sofrimento humano salvar vidas e

por termo agraves atrocidades No entanto na praacutetica esta eacute uma situaccedilatildeo bastante complexa

mas que natildeo deve ser descartada A decisatildeo quanto agrave adoccedilatildeo de uma missatildeo integrada

entre o peace enforcement ao abrigo do R2P e organizaccedilotildees humanitaacuterias deve ser

avaliada e decidida caso a caso (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

No entanto a colaboraccedilatildeo entre militar e humanitaacuterio pode ser fomentada de outra

forma estabelecendo uma verdadeira parceria onde cada um manteacutem a sua

independecircncia e no caso dos humanitaacuterios a imparcialidade e neutralidade A forccedila

militar preferencial para esta parceria seria os peacekeepers pois satildeo uma forccedila militar

internacional e imparcial Desta forma os dois atores complementam-se sem que haja

interferecircncia nas missotildees de cada um Segundo Gibbons e Piquard essa parceria pode

acontecer das seguintes formas

1 A ONG humanitaacuteria pode pedir coordenadas especificas aos militares sobre a

seguranccedila de determinada regiatildeo pedir instruccedilotildees sobre a melhor hora e caminho para

fazer a viagem ateacute determinado local considerado perigoso Desta forma a equipa

poderaacute viajar para o local atraveacutes de um caminho mais seguro recomendado pelos

militares acostumados no terreno Devem tambeacutem permanecer em contacto com a forccedila

militar com a qual estatildeo a colaborar de modo a que caso haja um problema estes

possam assistir a equipa)

2 Poderatildeo pedir contactos ou para agilizar a comunicaccedilatildeo entre a ONG e o liacuteder

da comunidade com a qual iratildeo trabalhar de forma a evitar problemas desagradaacuteveis e a

que sejam aceites no local e assim a ajuda poder ser fornecida sem

3 Os militares podem dar formaccedilatildeo aos humanitaacuterios de autodefesa seguranccedila

como por exemplo o uso da raacutedio como meio de comunicaccedilatildeo mapas entre outros e

como organizarem a logiacutestica toda de forma raacutepida e eficaz (Gibbons e Piquard 2006

pp25-95)

Caso a escolta militar natildeo possa ser dispensada existe ainda a possibilidade de os

militares escoltarem a equipa agrave paisana ou seja sem a farda de modo a natildeo chamarem

a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo local ou dos ldquoinimigosrdquo Deste modo os humanitaacuterios

realizariam a viajarem em seguranccedila a populaccedilatildeo natildeo perderia a confianccedila na ONG

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

48

pois natildeo teriam como saber que estavam a ser escoltados por uma forccedila militar Este

meacutetodo seria para usar esporadicamente (Gibbons e Piquard 2006 pp25-95)

O que se pretende demonstrar com as medidas anteriormente expostas eacute que os

humanitaacuterios devem recorrer soacute em ultimo recurso agrave escolta militar Antes podem pedir

colaboraccedilatildeo do tipo backoffice pedindo informaccedilotildees ou um mapeamento dos caminhos

seguros para chegar a determinado local pedir formaccedilatildeo sobre o uso da raacutedio por

sateacutelite como meio de comunicaccedilatildeo formaccedilatildeo de autodefesa conduccedilatildeo e uso de

determinadas ferramentas de logiacutestica que poderatildeo vir a ser uacuteteis no futuro de forma a

contribuir para uma estadia mais segura sem colocar em causa a missatildeo de ambos e os

princiacutepios humanitaacuterios (Gibbons e Piquard 2006)

Segundo Gibbons e Piquard (2006) ONG OING e OIG natildeo precisam de estar de costas

voltadas para os militares podem colaborar em conjunto de diversas formas que natildeo

sejam diretamente a escolta para natildeo serem associados a determinada forccedila poliacutetica Soacute

como uacuteltimo recurso como em caso de grande perigo deveratildeo pedir escolta ou usar os

meios de transporte militares neste caso o aeacutereo seria o mais desejaacutevel para levar o

maacuteximo de mantimentos possiacutevel

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios

Devido agraves necessidades de proteccedilatildeo e seguranccedila dos humanitaacuterios tecircm-se assistido ao

surgimento de agecircncias de seguranccedila privadas que fornecem serviccedilos de proteccedilatildeo agrave

comunidade humanitaacuteria Peter Singer intitula estas agecircncias de ldquoagecircncias militares

privadasrdquo que oferecem seguranccedila treino para missotildees no terreno e apoio logiacutestico

Hoje as AMP (agecircncias militares privadas) operam em mais de 50 paiacuteses e tiveram um

papel decisivo nos conflitos dos seguintes Estados Angola Croaacutecia Etioacutepia-Eritreia e

Serra Leoa Estas agecircncias militares satildeo geridas por militares reformados e podem ter

mera funccedilatildeo consultiva como tambeacutem podem ter um papel de uma empresa

transnacional usando meios como aviotildees e comandos no terreno para aleacutem da sua vasta

experiecircncia atraveacutes de missotildees realizadas muitas vezes no terreno para o qual iratildeo

fornecer o serviccedilo (Singer 2006)

Podemos dividir as agecircncias de seguranccedila privadas em duas grandes aacutereas que satildeo as

agecircncias militares privadas constituiacutedas por ex-militares reformados ou que tenham

saiacutedo da forccedila militar estatal da qual fazia parte e tecircm como principal objetivo fornecer

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

49

serviccedilos de seguranccedila militar em terrenos de conflito armado internacional ou natildeo caso

seja necessaacuterio e as agecircncias de seguranccedila privada que natildeo iratildeo ser profundamente

exploradas nesta dissertaccedilatildeo A ONU tem vindo a contratar os serviccedilos destas agecircncias

militares privadas bem como as ONG e OING Como eacute possiacutevel constatar os

humanitaacuterios vivem momentos de grande inseguranccedila no terreno caso o Estado em

questatildeo natildeo forneccedila essa seguranccedila agrave ONG que estaacute a operar no terreno As agecircncias

podem fornecer apoio logiacutestico de seguranccedila principalmente nas viagens para o

territoacuterio onde iratildeo trabalhar e trabalho de consultoria Por outro lado haacute as agecircncias de

seguranccedila privadas que realizam o serviccedilo de seguranccedila apenas como um policia

realizaria em territoacuterio nacional Este tipo de agecircncias natildeo tem a responsabilidade de

proteger territoacuterios ou bens privados mas sim de proteger as pessoas neste caso os

humanitaacuterios nas deslocaccedilotildees e no territoacuterio As ONG OING e OIG tecircm vindo a

recrutar os serviccedilos das agecircncias militares privadas pois estas estatildeo habituadas a operar

em contexto de conflitos Estas agecircncias podem ser contratadas por ONG OING OIG

pelo governo por indiviacuteduos a tiacutetulo privado e por empresas privadas Segundo Pilbeam

(2015a) os principais serviccedilos que fornecem satildeo

Combate as agecircncias militares privadas podem ser contratadas para tomar diretamente

parte das hostilidades assistindo as tropas no terreno em combate em caso de falta de

militares

Treino podem igualmente ser contratadas para treinar novos meacutetodos taacuteticos de

sobrevivecircncia como atravessar certas estradas perigosas novos meacutetodos de combate e

como usar determinado armamento bem como meacutetodos de sobrevivecircncia e medicina

de terreno e sobrevivecircncia

Suporte podem ser contratados para fornecer apoio logiacutestico como por exemplo gerir

os bens alimentares e serviccedilos construccedilatildeo e uso de novas tecnologias de informaccedilatildeo

como a raacutedio por exemplo

Seguranccedila este eacute o serviccedilo mais contratado pelas ONG ONIG e OIG humanitaacuterias

com este serviccedilo eacute pretendido garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos como os profissionais

humanitaacuterios campos de refugiados edifiacutecios terrenos entre outros Tecircm tambeacutem como

funccedilatildeo garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos durante o transporte para o terreno Hoje

tambeacutem tecircm a funccedilatildeo de garantir a seguranccedila dos dados e do computador

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

50

Inteligecircncia este serviccedilo diz respeito a recolhimento de dados e anaacutelise dos mesmos

atraveacutes de pesquisa e observaccedilatildeo

Reconstruccedilatildeo estes serviccedilos satildeo muitas vezes requeridos em situaccedilotildees de poacutes-conflito e

o seu principal trabalho eacute livrar terrenos que possam estar minados reconstruccedilatildeo de

infraestruturas e restaurar sistemas essenciais agrave sobrevivecircncia como a aacutegua o

saneamento e a eletricidade (Pilbeam 2015a pp 200)

Pilbeam refere que no caso de Ruanda a ONU teve a necessidade de contratar AMP

para assistir os peacekeepers antes e depois da crise natildeo soacute a niacutevel securitaacuterio mas

tambeacutem a niacutevel de reconstruccedilatildeo logiacutestica entre outros Este tipo de situaccedilotildees natildeo

deveria acontecer pois torna a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios dependentes dos serviccedilos

destas agecircncias militares privados o que aumenta o nuacutemero de mercenaacuterios no terreno

aumenta as despesas tornando a accedilatildeo securitaacuteria num negoacutecio privado Outro problema

eacute o facto de existir um vazio legal na hora de julgar estes militares em caso de infraccedilatildeo

da lei no Estado em que estatildeo a operar Estes natildeo poderatildeo tambeacutem usufruir do estatuto

de prisioneiro de guerra (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam 2015a)

Por exemplo a agecircncia Defense System Limited (DSL) proveu proteccedilatildeo agrave UNICEF no

Sudatildeo e na Somaacutelia e agrave OMS em Angola A Armour Group foi contratada pelo ACNUR

para realizar serviccedilo de seguranccedila no Queacutenia O Dyn Corp disponibilizou meios aeacutereos

e uma rede sateacutelite para comunicaccedilotildees para a ONU mais especificamente para os

membros das operaccedilotildees de peacekeeping em Timor Leste O Pacific Architects

Engeneers (PAE) contribuiu com poliacutecias civis para a missatildeo da ONU no Haiti Esta

contrataccedilatildeo natildeo tem nenhum guia ou legislaccedilatildeo que especifique como onde e em que

circunstacircncias devem ser contratadas este tipo de agecircncias militares privadas de forma

a que possam ser evitados problemas no futuro (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam

2015a)

As organizaccedilotildees humanitaacuterias recorrem unicamente agraves agecircncias de militares privadas

quando a sua seguranccedila corre elevados riscos no local onde pretendam operar e o Estado

natildeo garante escolta militar e seguranccedila aos humanitaacuterios da ONG que pretende operar

naquele local ficando assim ao criteacuterio da ONG recorrer a agecircncias de seguranccedila

privada regressar ou correr o risco mesmo assim Raramente as ONG pedem ajuda em

termos de seguranccedila aos militares que estatildeo em operaccedilatildeo de peacekeeping ou outros

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

51

militares no terreno para que os seus princiacutepios fundamentais natildeo sejam abalados Com

o aumento dos sequestros e mortes de humanitaacuterios aumentou tambeacutem o nuacutemero de

ONG a contratarem agecircncias privadas de seguranccedila Sete agecircncias da ONU admitem ter

contratado agecircncias de seguranccedila para poderem operar em terrenos que estejam a

atravessar por um conflito armado Este facto mostra bem a falta de militares com que a

ONU se depara e a necessidade cada vez maior de garantir a seguranccedila no terreno dos

seus profissionais (Singer 2006)

Singer levanta um problema na contrataccedilatildeo de agecircncias de seguranccedila privadas por

ONG que eacute o facto de estas natildeo saberem como trabalhar em conjunto com militares e

quais os limites de accedilatildeo e conduta destas agecircncias Somente o Comiteacute Internacional da

Cruz Vermelha a Oxfam e a Mercycorps elaboraram documentos sobre a conduta das

agecircncias de seguranccedila privada num manual onde satildeo estabelecidos os limites de accedilatildeo

tipo de armas a usar as tarefas entre outros Ou seja elaboraram um documento onde eacute

estabelecido que tipos de accedilotildees podem e natildeo podem ter no terreno direitos e deveres

para que natildeo haja um uso excessivo e desnecessaacuterio da forccedila e das armas (Singer 2006

Schneiker e Joachim 2015)

No entanto existe um vazio legal e estas agecircncias militares privadas natildeo podem ser

julgadas no terreno nem ao abrigo do Direito Internacional Humanitaacuterio o que torna o

seu uso perigoso Isto acontece porque estas agecircncias natildeo estatildeo a trabalhar para o

Estado X ou Y mas para uma ONG ou OIG ou seja o seu serviccedilo eacute privado e

contratado pela ONG (Singer 2006)

Os militares destas agecircncias privadas contratados pelas ONG OING e OIG satildeo

considerados mercenaacuterios o que faz com que natildeo tenham direito ao estatuto de

prisioneiros de guerras e nem sejam considerados combatentes o que leva a que natildeo

tenham direito agrave expatriaccedilatildeo tratamento meacutedico especial e tenha de se sujeitar ao

tratamento que lhe for concedido pelo Estado no qual foi feito prisioneiro Estes

militares natildeo estatildeo ao serviccedilo de nenhum Estado ou comunidade internacional a

combater estatildeo simplesmente a fornecer um serviccedilo a troco de dinheiro o que faz deles

mercenaacuterios (Pilbeam 2015a)

Natildeo tecircm tambeacutem o direito a serem extraditados para o seu paiacutes de origem tendo por

isso de ser julgados consoante a legislaccedilatildeo local Este vazio legal eacute um grave problema

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

52

que deveraacute ser resolvido pela comunidade internacional Se por um lado temos a

hipoacutetese de estes militares natildeo poderem ser julgados por crimes de guerra caso o

cometa por outro lado temos a hipoacutetese de serem apanhados e presos e nada poder ser

feito para os libertar por natildeo serem prisioneiros de guerra e por isso natildeo estarem

abrangidos pelo Direito Internacional Humanitaacuterio (Pilbeam 2015a)

Do lado das ONG OING e OIG a falta de praacutetica em contratar este tipo de serviccedilos e o

facto de natildeo saberem como lidar com os mercenaacuterios (muitos deles podem ter um

passado duvidoso quanto agrave violaccedilatildeo dos Direitos Humanos) levanta questotildees seacuterias

crimes perpetrados pelas agecircncias militares privadas a ONG que contratem estas

agecircncias eacute tambeacutem culpabilizada o que poderaacute ter consequecircncias nos donativos e na

confianccedila nela depositada (Singer 2006)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

53

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul

O Sudatildeo do Sul eacute uma Repuacuteblica presidencialista e o seu atual Presidente eacute Salva Kiir

A Capital eacute Juba e a moeda eacute a Libra Sul-sudanesa A liacutengua oficial eacute o Inglecircs no

entanto existem vaacuterias liacutenguas faladas que natildeo satildeo oficiais como por exemplo dinka

nuer zande bari e shiluk O Sudatildeo do Sul faz fronteira com o Sudatildeo (de quem se

tornou independente em 2011) a Etioacutepia o Queacutenia o Uganda a Repuacuteblica Democraacutetica

do Congo e a Repuacuteblica Centro Africana Estima-se que em 2011 a populaccedilatildeo do Sudatildeo

do Sul era de 11090104 habitantes Foi a 9 de julho desse mesmo ano que o Sudatildeo do

Sul se tornou um paiacutes independente (CIA sd)

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sul

Fonte Branco (2011)

Desde a independecircncia os variados conflitos intensificaram-se Em 2013 o Sudatildeo do

Sul entrou numa forte crise poliacutetica culminando numa guerra civil Esta crise poliacutetica

aconteceu quando o presidente Salva Kiir membro do maior grupo eacutetnico local Dinka

acusou o vice-presidente do Sudatildeo do Sul Riek Machar membro do grupo eacutetnico Lou

Nuer de uma tentativa de golpe de Estado o que levou ao despoletar de uma guerra

civil onde os membros dos dois grupos eacutetnicos acima referidos entraram eles tambeacutem

em conflito entre si fruto do oacutedio eacutetnico Eacute importante referir os grupos eacutetnicos a que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

54

pertenciam ambos os poliacuteticos parte das hostilidades porque o Sudatildeo do Sul eacute um

Estado dividido em vaacuterias etnias pode mesmo dizer-se que existem vaacuterios lsquoSudatildeosrsquo

dentro do Sudatildeo do Sul o que dificulta o processo de paz por si soacute Este

desentendimento acontece apoacutes o vice-presidente Riek Machar ter acusado o atual

presidente Slava kiir de corrupccedilatildeo de lidar mal com a economia e situaccedilatildeo global do

Sudatildeo do Sul de haver cada vez mais desigualdade entre grupos Em 2013 houve um

coup drsquoeacutetat o que intensificou uma vez mais o conflito pois o presidente Salva Kiir

decidiu demitir todo o governo e assumir total controlo do Estado atirando a tentativa

do golpe de Estado para o vice-presidente Riek Machar Como eacute possiacutevel prever os

conflitos entre as duas partes intensificaram-se mais precisamente entre os dois grupos

eacutetnicos ligados a cada uma destas duas figuras (Nascimento 2017)

Devido ao referido anteriormente deu-se uma divisatildeo dentro do SPLM (Sudan Peoplersquos

Liberation Movement) tendo sido criado o SPLM-IO (Sudan Peoplersquos Liberation

Movement- In Oposition) apoiante do vice-presidente Riek Machar Ao presente a

guerra civil joga-se entre o SPLM o SPLA (Sudan Peopleacutes Liberation Army) e o

movimento pro Riek Machar SPLM-IO Esta divisatildeo que gerou uma grande onda de

violecircncia levou ao aumento draacutestico de pedidos de asilo de refugiados aos paiacuteses

vizinhos e de deslocados internamente (Deutsche Welle 2013 Rolandsen et al 2015

Felix e Coning 2017)

Tinha havido em 2011 segundo Nascimento (2017) uma tentativa afincada de realizar

um acordo de paz duradouro tendo pouco sido feito em termos de desenvolvimento e

garantia das necessidades baacutesicas para toda a populaccedilatildeo ou seja garantir o igual acesso

a todos agrave educaccedilatildeo sauacutede alimentaccedilatildeo seguranccedila e emprego O Sudatildeo do Sul

confronta-se tambeacutem com um governo fraco aumento das hostilidades entre populaccedilotildees

de diferentes etnias alimentadas pelos poliacuteticos e um setor privado e governo corruptos

Natildeo resolvendo estas questotildees eacute impossiacutevel qualquer acordo de paz vingar a natildeo ser no

papel Eacute possiacutevel entatildeo deduzir que este processo de paz natildeo foi coordenado e

uniforme pois o governo optou por estabelecer acordos ao longo do paiacutes criando

divisotildees dentro do recente Estado (Nascimento 2017)

Houve um novo acordo de cessar-fogo em maio de 2014 tendo sido criado um governo

de transiccedilatildeo e foi feito um esboccedilo para a criaccedilatildeo de uma nova constituiccedilatildeo No entanto

houve mais uma vez neste processo uma falta de compromisso para com as partes e a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

55

populaccedilatildeo o que gerou mais ondas de violecircncia Em maio de 2015 o governo do Sudatildeo

do Sul foi pressionado por atores externos a estabelecer um acordo de paz acordo esse

que veio a ser altamente criticado Salva Kiir acusou o acordo de desfavorecer a

comunidade eacutetnica Dinka num futuro governo Este acordo foi tambeacutem criticado pela

sociedade civil por privilegiar a partilha de poderes entre as elites ao inveacutes de prestar

contas e desenvolver um mecanismo de justiccedila onde as atrocidades cometidas pelos dois

partidos fossem punidas Acusou tambeacutem o presidente de natildeo privilegiar o

desenvolvimento a niacutevel educacional socioeconoacutemico e de infraestruturas do Estado e

de natildeo haver a aplicaccedilatildeo da lei Riek Machar voltou ao seu cargo como vice-presidente

tendo de abandonar a cidade de Juba por violecircncia e alegada perseguiccedilatildeo do governo

tendo sido substituiacutedo pelo Presidente Riek Machar pediu ajuda agrave comunidade

internacional para enviar militares que o ajudassem a chegar a Juba em seguranccedila e

retomar o seu cargo Pouco mudou como eacute possiacutevel verificar natildeo se constatou

desenvolvimento algum continua a existir pobreza e a violecircncia natildeo para de aumentar

Salva Kiir (atual presidente) privilegiou a estabilizaccedilatildeo do Estado ao inveacutes do

desenvolvimento o que em conjunto com o conflito eacutetnico despoletou a guerra civil

(Nascimento 2017 Felix e Coning 2017)

Segundo Nascimento (2017) houve ainda uma maacute compreensatildeo frequente quanto ao

uso do peacebuilding confundido com partilha de poderes e recursos Ao inveacutes disso

deveria ter havido uma aposta na criaccedilatildeo de uma democracia soacutelida onde os cidadatildeos

pudessem contribuir na tomada de decisatildeo dos poliacuteticos e desenvolvimento do seu

territoacuterio A parte mais importante para o sucesso do acordo de paz sociedade civil e

partidos natildeo foi todavia parte dos processos de negociaccedilatildeo da paz O processo de paz

centrou-se exclusivamente na partilha de poderes entre os partidos do governo e

militares natildeo tendo sido escutadas opiniotildees de mediadores figuras influentes ou

partidos poliacuteticos Segundo a autora os negociadores do acordo de paz natildeo queriam

entender que o problema ultrapassava a rivalidade poliacutetica que era tambeacutem constituiacutedo

por uma marginalizaccedilatildeo social e econoacutemica que afetava diversos grupos e setores da

populaccedilatildeo (Nascimento 2017 Tafta e Haken 2015)

A guerra civil do Sudatildeo do Sul levou agrave morte de milhares de pessoas Estima-se que

desde 2013 tenham morrido mais de 50 000 pessoas e que tenham fugido cerca de 16

milhotildees de pessoas dos seus lares aquando da tentativa internacional de estabelecer a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

56

paz com o acordo assinado em agosto de 2015 (OCHA 2015) Segundo o OCHA

(2017) cerca de trecircs milhotildees de pessoas tiverem de fugir dos seus lares existem cerca

de 12 milhotildees de deslocados internamente e mais de 13 milhotildees de refugiados

Podemos entatildeo verificar que o Sudatildeo do Sul desde a sua independecircncia natildeo teve um

uacutenico momento de paz e a populaccedilatildeo estaacute a atravessar momentos conturbados haacute

infraestruturas destruiacutedas falta de cuidados meacutedicos trabalho forccedilado violaccedilotildees

abusos deslocaccedilotildees forccediladas destruiccedilatildeo perda de meios de subsistecircncia e surgimento

de doenccedilas tais como a coacutelera diarreia malaacuteria entre outros ateacute aos dias de hoje

(OCHA 2015 CFR 2017 HRP 2017)

O Sudatildeo do Sul eacute ainda considerado um Estado de enorme fragilidade no iacutendice de

fragilidade dos Estados do FFP (2017) contando com uma classificaccedilatildeo de 11390 e

estando mal cotado em todos os indicadores de avaliaccedilatildeo As aacutereas satildeo as seguintes

seguranccedila e aparelho do Estado elites e facotildees clivagens entre grupos decliacutenio

econoacutemico desigualdade no desenvolvimento fuga de ceacuterebros legitimidade do

Estado direitos humanos e Estado de direito serviccedilos puacuteblicos pressotildees demograacuteficas

refugiados e deslocados internamente e finalmente intervenccedilatildeo externa Essa

classificaccedilatildeo significa que o Sudatildeo do Sul estaacute na pior categoria ndash ldquoestado de alertardquo

(100-120) e que registou o pior resultado (primeiro no ranking) em 2017 (TFP 2017a

TFP 2017b)

O paiacutes eacute ainda caracterizado por enfrentar variados problemas como por exemplo a

escassez de aacutegua mau saneamento ou ausecircncia do mesmo falta de meios de

subsistecircncia atravessando um periacuteodo de escassez alimentar o que aumenta

drasticamente os conflitos entre cidades e grupos eacutetnicos pois natildeo estatildeo a lutar

unicamente devido ao conflito e ao oacutedio eacutetnico mas estatildeo a lutar tambeacutem pela obtenccedilatildeo

de meios de subsistecircncia A guerra civil da qual natildeo consegue sair tem como principal

problema o profundo tribalismo caracteriacutestico do Estado e maus poliacuteticos natildeo

conseguindo criar um aparelho de poder forte As regiotildees do Sudatildeo do Sul que foram

mais atingidas pelo conflito satildeo Jonglei Unity e Upper Nile (Tafta 2014 Rolandsen et

al 2015 TFP 2017c Tafta e Haken 2015) Quanto ao IDH (Iacutendice de

desenvolvimento Humano) o Sudatildeo do Sul estaacute avaliado no iacutendice na posiccedilatildeo de 0418

e classificado no ranking na 181ordf posiccedilatildeo sendo a esperanccedila meacutedia de vida de 561 anos

e a escolaridade rondando ateacute os 49 anos O Estado que estaacute em uacuteltimo lugar na

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

57

classificaccedilatildeo eacute a Repuacuteblica Centro Africana na 188ordf posiccedilatildeo com o valor de 0352 O

Estado mais bem posicionado em primeiro lugar eacute a Noruega com o valor de 0949 A

cotaccedilatildeo dos Estados vai de 00 a 1 (UNDP 2016)

Para aleacutem dos problemas internos o Sudatildeo do Sul tem ainda uma relaccedilatildeo muito

fragilizada com o Sudatildeo devido agraves disputas para a aquisiccedilatildeo do petroacuteleo e a fronteira

os territoacuterios de Darfur South Kordofan e Blue Nile que eram disputados Estes

problemas levaram a que houvesse uma priorizaccedilatildeo da seguranccedila ao inveacutes do

desenvolvimento que eacute crucial para pacificar um Estado e desenvolver (Felix e Coning

2017)

O Sudatildeo do Sul foi palco de Acatildeo Humanitaacuteria promovida pela ONU nomeadamente

do OCHA tendo este uacuteltimo realizado um plano estrateacutegico para o Sudatildeo do Sul A

primeira missatildeo realizada pelas NU no Sudatildeo do Sul cujo nome era UNMISS (United

Nation Mission for South Sudan) sob o artigo VII da carta das NU conforme a

resoluccedilatildeo do Conselho de Seguranccedila nordm 1996 de 8 de julho de 2011 tinha como

principal objetivo ajudar o governo a consolidar a paz e seguranccedila incluindo a

mitigaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos bem como a proteccedilatildeo dos civis Comeccedilou em 2011

pelo periacuteodo de um ano mas viria a revelar-se insuficiente e obrigaria a que fosse

necessaacuterio o prolongamento da UNMISS Em 2013 outra crise deflagrou no Sudatildeo do

Sul culminando numa guerra civil conforme referido acima Neste caso a presenccedila da

UNMISS era fulcral no terreno apesar de a relaccedilatildeo entre o governo do Sudatildeo do Sul e a

UNMISS terem atravessado uma crise no terreno pois os militares desta foram

acusados de natildeo serem imparciais e de ajudarem a abater militares favoraacuteveis ao

governo e de que haveria uma maacute conceccedilatildeo da missatildeo no terreno Foi por isso aprovada

pelo Conselho de Seguranccedila a resoluccedilatildeo 2132 (24122013) pela qual foi decidido

aumentar o nuacutemero de militares e poliacutecias no terreno Em 2014 foi reforccedilada a

priorizaccedilatildeo da necessidade de proteccedilatildeo dos civis devido agrave deterioraccedilatildeo da situaccedilatildeo

humanitaacuteria no terreno tendo sido aprovada a resoluccedilatildeo 2155 (27052014) Os

objetivos foram a consolidaccedilatildeo da democracia fraacutegil (statebuilding) em que o paiacutes se

encontrava proteger os civis de possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia fiacutesica proteger grupos

vulneraacuteveis proteger os campos de refugiados e os profissionais humanitaacuterios de

possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia e criar condiccedilotildees para que as ONG humanitaacuterias

pudessem aceder aos locais e fornecer assistecircncia humanitaacuteria Era tambeacutem feita a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

58

monitorizaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de crimes contra os direitos humanos e procurava-se

facilitar a implementaccedilatildeo dos acordos de paz Haacute tambeacutem um mandato atual da

UNMISS em que foram reforccedilados os contingentes em 7000 pessoal militar 9000

poliacutecias e um apropriado contingente de civis Estatildeo autorizados 17 000 tropas nos

quais estatildeo incluiacutedas 4000 forccedilas de proteccedilatildeo regionais Foi aumentado o limite da

poliacutecia para 2101 policiais incluindo policiais individuais unidades policiais formadas

e 78 corretores e solicitado ao Secretaacuterio-Geral que tome as medidas necessaacuterias para

acelerar a forccedila e a geraccedilatildeo de ativos (UNMISS 2017a UNMISS sd UNMISS 2017b

OCHA 2015 OCHA 2017 OCHA sd)

Como eacute possiacutevel constatar o Sudatildeo do Sul necessita de operaccedilotildees de peacekeeping para

manter a paz assegurar os direitos humanos salvar vidas e garantir uma vida digna agrave

populaccedilatildeo local mas tambeacutem necessita e estava num processo de peacebuiling que

procura restaurar o aparelho de poder reconstruir as infraestruturas e ajudar o governo a

fortalecer-se de forma a que a paz permaneccedila e o processo de pacificaccedilatildeo seja realizado

com ecircxito apoacutes o presidente ter assinado em 2015 o acordo de paz como foi referido

anteriormente No entanto como sabemos o Sudatildeo do Sul natildeo estaacute ainda pacificado

permanecendo no terreno cerca de 17000 peacekeepers (OCHA 2015 UNMISS

2017a UNMISS 2017b)

Segundo o Council on Foreign Relations (2017) e tambeacutem o OCHA (2017) o Estado

do Sudatildeo do Sul apresenta um problema no que toca agrave accedilatildeo humanitaacuteria pois o terreno

estaacute cada vez mais perigoso cada vez mais humanitaacuterios satildeo assassinados por grupos

eacutetnicos em guerra dificultando assim a chegada da assistecircncia humanitaacuteria agrave populaccedilatildeo

que estaacute a atravessar grandes privaccedilotildees em termos alimentares de saneamento e de aacutegua

potaacutevel Como eacute sabido o Sudatildeo do Sul tem um grande problema no setor agriacutecola no

saneamento e no acesso a aacutegua o que leva a que os conflitos natildeo cessem muito pelo

contraacuterio pioram A falta de aacutegua potaacutevel eacute um dos grandes problemas existentes no

Sudatildeo do Sul havendo locais em que natildeo existe mesmo sendo necessaacuterio transportaacute-la

para o local o que eacute feito pelas OIG OING e OIG (OCHA 2017 CFR 2017)

Soacute em 2016 os incidentes humanitaacuterios foram de 635 por mecircs de janeiro a junho e de

junho a novembro esse nuacutemero aumentou para 90 Os humanitaacuterios tambeacutem viram a

necessidade de negociar com os militares locais para operar bem como de procurar

apoio na aacuterea da advocacia para a aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria Esta negociaccedilatildeo tem sido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

59

uma constante e estas negociaccedilotildees podem ser realizadas atraveacutes de troca por troca

Existe uma maacute vontade do Estado sentida nos diversos impedimentos burocraacuteticos e

difiacutecil sinalizaccedilatildeo dos civis que estatildeo a receber a assistecircncia humanitaacuteria dificultando

assim o trabalho dos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema eacute que a escolta militar pode levar a que a populaccedilatildeo sinta uma confusatildeo e

associe as ONG OING e OIG aos militares peacekeepers o que eacute negativo Neste caso

a UNMISS natildeo eacute neutra e leva a uma perceccedilatildeo de que as ONG OING e OIG tambeacutem

natildeo satildeo neutras Outro problema foi a poleacutemica em que a UNMISS se envolveu com o

desarmamento da populaccedilatildeo que era feito agrave forccedila e de forma selecionada natildeo tendo os

peacekeepers reagido e tendo a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional

reagido Tudo junto leva a que a populaccedilatildeo sinta receio em pedir ajuda agraves organizaccedilotildees

humanitaacuterias caso a escolta seja feita por militares que tenham algum contacto ou

trabalho com o governo ou as forccedilas militares locais (Felix e Coning 2017)

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das

ONG

Como eacute possiacutevel verificar o caso do Sudatildeo do Sul eacute um caso bastante complicado

sendo mesmo considerado uma emergecircncia humanitaacuteria devido agraves constantes guerras

civis e eacutetnicas que natildeo cessam agrave crise econoacutemica aos choques climateacutericos que levam agrave

escassez de comida falta de aacutegua potaacutevel o que tem como consequecircncia fome e

malnutriccedilatildeo pessoas deslocadas internamente e nuacutemero de refugiados a aumentar

pobreza e crimes de violaccedilatildeo contra os direitos humanos que natildeo cessam O Estado natildeo

se tem revelado eficaz na proteccedilatildeo do seu povo sendo que existem determinados locais

que satildeo praticamente de impossiacutevel acesso aos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema segundo o OCHA natildeo eacute soacute o acesso ao local onde a populaccedilatildeo estaacute em

necessidade mas tambeacutem a permanecircncia das ONG OING ou OIG no terreno Nos dias

14 e 15 de abril de 2016 os humanitaacuterios tiveram de sair do terreno (Waat e Walgak em

Jonglei) devido agrave intensificaccedilatildeo do conflito Essa retirada dos humanitaacuterios do terreno

teve consequecircncias graves a niacutevel de preparaccedilatildeo de comida e distribuiccedilatildeo da mesma

11200 pessoas em Nyrol ficaram sem acesso a educaccedilatildeo sauacutede nutriccedilatildeo e atividades

de limpeza vitais para a populaccedilatildeo Esta deslocaccedilatildeo teve efeitos nefastos para a accedilatildeo

humanitaacuteria em Jonglei quando as instalaccedilotildees humanitaacuterias foram invadidas por civis e

militares durante os atraques de fevereiro Este tipo de ataques natildeo pode repetir-se pois

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

60

a inseguranccedila poderaacute ter como consequecircncia o abandono das ONG OING e OIG do

terreno o que levaraacute a uma intensificaccedilatildeo dos conflitos e a uma populaccedilatildeo ainda mais

fragilizada Um Estado que se pauta por grandes desigualdades entre regiotildees leva a

conflitos que soacute seratildeo amenizados sendo essas necessidades mais urgentes suprimidas

Natildeo adianta fazer missotildees quando natildeo se combate o cerne do problema (OCHA 2017)

Logo estes problemas de acesso poderatildeo levar a que os conflitos se agravem devido agrave

falta de bens de primeira necessidade como por exemplo a aacutegua que como sabemos eacute

um motivo de guerra em vaacuterios paiacuteses e comida pois a pouca comida e aacutegua potaacutevel

existente seraacute disputada gerando ainda mais conflitos Uma maacute nutriccedilatildeo ingestatildeo de

aacutegua natildeo potaacutevel leva ainda a problemas de sauacutede graves Natildeo eacute tambeacutem restabelecida

a dignidade da populaccedilatildeo natildeo eacute protegida dos crimes contra a humanidade como a

exploraccedilatildeo recrutamento de crianccedilas para a guerra e minas abuso sexual e mortes em

massa (OCHA 2017)

Esta falta de seguranccedila no terreno verificada no Sudatildeo do Sul leva agrave necessidade de

existecircncia de proteccedilatildeo militar visto que existe uma dificuldade em fazer valer o DIH no

terreno Como eacute sabido hospitais campos de refugiados e pessoal que trabalha para

organizaccedilotildees humanitaacuterias deveriam estar imunes a qualquer tipo de ataque Mas na

praacutetica tal natildeo se verifica tendo sido um campo de refugiados atacado em 2016 Ao

serem escoltadas ou ao usufruiacuterem de proteccedilatildeo militar as ONG OING ou OIG satildeo

facilmente coladas a uma das partes das hostilidades de que esses militares tambeacutem

tomam parte

Levanta-se ainda outro problema que eacute a negaccedilatildeo de acesso a territoacuterios aos

humanitaacuterios no Sudatildeo do Sul Esta negaccedilatildeo de acesso vem por parte do Governo para

certas regiotildees e das outras partes das hostilidades noutras regiotildees sendo que o governo

natildeo controla bem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Mas eacute um risco que muitos

humanitaacuterios correm correndo mesmo risco de vida rapto e abusos Ou seja o Estado

estaacute a falhar gravemente na proteccedilatildeo e garantia do acesso de ajuda humanitaacuteria agrave sua

populaccedilatildeo o que eacute por si soacute um problema circular num Estado fragilizado Ou seja o

Governo falha ao natildeo garantir a proteccedilatildeo do seu povo e em certos casos ao natildeo deixar as

organizaccedilotildees humanitaacuterias acederem a certos territoacuterios (JMEC 2017 Harmer 2008)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

61

No entanto o Primeiro-Ministro do Sudatildeo do Sul Martin Elia Lamuro negou ter

proibido o acesso dos humanitaacuterios aos territoacuterios cuja populaccedilatildeo enfrenta grandes

necessidades afirmando pelo contraacuterio que se tecircm mostrado recetivos agraves ONG OING e

OIG para a assistecircncia humanitaacuteria em qualquer territoacuterio acusando assim os oficiais

dos EUA de terem redigido relatoacuterios que faltam agrave verdade (Sudan Tribune 2017) Jaacute o

representante russo Petr Illichev das NU diz discordar da visatildeo dos EUA referindo que

a fome eacute devida agraves condiccedilotildees climateacutericas e natildeo devida a questotildees de seguranccedila O

Conselho de Seguranccedila tentou amenizar a situaccedilatildeo referindo que a emergecircncia

humanitaacuteria presente no Sudatildeo do Sul tem como principais culpados todas as partes

envolvidas no conflito Tambeacutem Joseph Mourn Majak Ngor Malok embaixador do

Sudatildeo do Sul nas Naccedilotildees Unidas referiu que natildeo se pode culpar o Governo pela fome e

que este vai fazer os impossiacuteveis trabalhando com a comunidade internacional para

fazer face a este problema Podemos pois constatar que mais que um problema de

seguranccedila o que os humanitaacuterios estatildeo a enfrentar eacute um problema poliacutetico de

bastidores dentro da comunidade internacional (Sudan Tribune 2017)

Como eacute possiacutevel constatar a seguranccedila e o acesso dos humanitaacuterios ao terreno eacute uma

questatildeo bastante complexa pois depende da autorizaccedilatildeo do Estado caso este aceite que

a ajuda humanitaacuteria seja fornecida em todo o territoacuterio que dela necessite e caso decida

proteger os humanitaacuterios Caso o Estado natildeo assegure a proteccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos

humanitaacuterios no acesso ao territoacuterio que necessite de assistecircncia humanitaacuteria os

humanitaacuterios vecircm-se na obrigaccedilatildeo de encontrar uma de quatro soluccedilotildees desistir da

missatildeo e abandonar o terreno arriscar e deslocarem-se aos territoacuterios sem proteccedilatildeo

correndo risco de vida contratar agecircncias militares privadas ou pedir escolta militar aos

peacekeepers

Os peacekeepers da UNMISS natildeo tecircm eles tambeacutem livre acesso a todos os locais no

Sudatildeo do Sul e satildeo vistos de certa forma como adversaacuterios pelo governo e satildeo

acusados de tomarem o partido de uma das partes das hostilidades privilegiando a

proteccedilatildeo ao grupo eacutetnico Nuer em detrimento das outras No entanto esta informaccedilatildeo

natildeo tem a leitura devida pois os peacekeepers protegem os dois lados da mesma forma

a questatildeo eacute que a maioria da populaccedilatildeo registada do POC (Establishment of Protection

of Civilians) eacute de origem eacutetnica Nuer Como consequecircncia desta desconfianccedila a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

62

UNMISS viu negado o seu acesso a determinados locais falhando assim a sua missatildeo a

de proteger os civis e a de proteger os humanitaacuterios (Wells 2017)

O Conselho de Seguranccedila eacute ainda acusado pelos peacekeepers de natildeo dar suporte

poliacutetico e material adequado para a situaccedilatildeo Mesmo apoacutes variados ataques graves aos

militares da UNMISS e agrave populaccedilatildeo o Conselho de Seguranccedila natildeo passou da ameaccedila de

sancionar o Sudatildeo do Sul A gravidade do problema chegou ao ponto de a UNMISS

sofrer ataques aos seus helicoacutepteros natildeo ter material agrave prova de bala tendo assim de

abandonar os meios aeacutereos O Conselho de Seguranccedila mais uma vez nada fez Esta

situaccedilatildeo colocou em causa o trabalho das organizaccedilotildees humanitaacuterias ou seja o acesso

das mesmas a locais de grande necessidade devido ao facto de natildeo poderem contar

mais com ajuda dos peacekeepers para aceder ao terreno (Wells 2017)

Justamente nas missotildees das NU no Sudatildeo do Sul tem-se verificado um fracasso pois

para aleacutem de serem acusados de tomarem partido pelo governo natildeo conseguem

assegurar a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e de deslocados internamente

verificando-se assim em 2013 um aumento da violecircncia e ataques aos campos de

refugiados e deslocados internamente Um dos objetivos da UNMISS eacute assegurar que os

civis consigam aceder agrave ajuda humanitaacuteria que garante os bens essenciais agrave

sobrevivecircncia gestatildeo dos campos de refugiados e outros apoios vitais no entanto a

seguranccedila natildeo eacute assegurada natildeo sendo possiacutevel aos humanitaacuterios assegurar a ajuda

humanitaacuteria agravando-se assim os conflitos (Rolandsen et al 2015)

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar

Segundo Rolandson et al (2015) uma das missotildees que cabe aos peacekeepers eacute

precisamente garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios principalmente em paiacuteses onde

existe uma falta de seguranccedila e proteccedilatildeo aos humanitaacuterios Essa proteccedilatildeo pode ser

realizada atraveacutes de escolta militar direta no caminho para o terreno por via terrestre

aeacuterea ou mariacutetima sendo a via aeacuterea a mais conveniente caso seja necessaacuterio

transportar uma grande quantidade de mercadoria e assim garantir que chega ao destino

intacta Podem ainda garantir a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e deslocados

internamente bem como proteger os bens e as instalaccedilotildees humanitaacuterias (Rolandsen et

al 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

63

Pode verificar-se que as NU mais especificamente o OCHA tecircm vindo a trabalhar no

sentido de existir uma maior cooperaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e as operaccedilotildees de

peacekeeping no terreno de forma a que os humanitaacuterios sejam protegidos e a

assistecircncia humanitaacuteria prestada a toda a populaccedilatildeo independentemente de o territoacuterio

ser ou natildeo de grande perigo O problema desta cooperaccedilatildeo satildeo os princiacutepios

humanitaacuterios que divergem dos princiacutepios dos militares como jaacute foi referido Mas a

coexistecircncia existe eacute um facto havendo no caso do Sudatildeo do Sul um guia sobre como

devem os humanitaacuterios e militares interagir em que circunstacircncia deve ser feita a

escolta e quanto tempo deve durar essa proteccedilatildeoescolta O documento mencionado eacute

intitulado de Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the

United Nations Mission in South Sudan e foi elaborado pela UNMISS o HC e o HCT

(UNMISS e HC 2013)

Os humanitaacuterios viram-se forccedilados a cooperar com os peacekeepers da UNMISS e para

que esta missatildeo integrada funcionasse foi criado o guia de coordenaccedilatildeo entre os atores

humanitaacuterios e a UNMISS jaacute mencionado O guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo

Humanitaacuteria e a UNMISS eacute um documento elaborado a pedido do Humanitarian

Country Team (O HCT eacute um foacuterum estrateacutegico e operacional de tomada de decisatildeo e

supervisatildeo estabelecido e liderado pelo HC) A composiccedilatildeo inclui representantes da

ONU IOM OING a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho O HCT eacute tambeacutem

responsaacutevel por acordar questotildees estrateacutegicas comuns relacionadas com a accedilatildeo

humanitaacuteria (Humanitarian Response sd) em 2012Teve ainda a participaccedilatildeo do

grupo conselheiro militar que contem representantes da comunidade humanitaacuteria e da

UNMISS Eacute por isso um documento fidedigno O objetivo deste guia eacute substituir o SOP

de 2012 relativamente ao uso das forccedilas armadas e escolta militar e fornecer

indicaccedilotildees operacionais sobre a relaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS no Sudatildeo do

Sul de forma a evitar conflitos no terreno fortalecer a coordenaccedilatildeo das atividades

preservar o espaccedilo humanitaacuterio acesso e princiacutepios (HCT e UNMISS 2013 Harmer

2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que a UNMISS estaacute a ter ela proacuteprios problemas de acesso e deslocaccedilatildeo a

determinados locais em que o Estado natildeo ache pertinente a presenccedila dos peacekeepers

Pior em 2011 recusou o destacamento de mais 4000 peacekeepers para reforccedilar os

13500 peacekeepers no terreno com o argumento de que a situaccedilatildeo do conflito armado

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

64

estava a melhorar e natildeo haveria necessidade de destacar mais militares das NU e que o

destacamento de mais militares poria em causa a soberania do Estado O governo

argumentou ainda que tem capacidade para assegurar a proteccedilatildeo dos civis No entanto

apoacutes a ameaccedila das NU com um embargo de armas acabou por aceitar o destacamento

de mais militares Em dezembro de 2016 a Comissatildeo dos Direitos Humanos das NU

pediu urgentemente o destacamento de peacekeepers por causa de assassiacutenios eacutetnicos

(Wells 2016 Aljazeera 2017)

A UNMISS foi acusada por diversas organizaccedilotildees humanitaacuterias de falhar a sua missatildeo

devido agrave sua ineficaacutecia no terreno ou seja natildeo foi capaz de assegurar a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo nem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Todavia eacute preciso ser realista

pouco se pode fazer com um governo que limite o acesso dos peacekeepers a

determinados locais recuse que sejam destacados mais militares para o terreno e soacute

aceite em uacuteltima instacircncia mais destacamentos de militares para o terreno devido a uma

seacuterie de ameaccedilas (Aljazeera 2017 Wells 2016)

O problema eacute a incapacidade das NU e do Governo de assegurarem a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios No ataque de julho de 2016 os peacekeepers foram acusados de agirem

tarde demais de natildeo terem sido capazes de dar resposta e os EUA de natildeo avisarem as

ONG OING e OIG de que havia um perigo de ataque este erro teve como

consequecircncia a morte e violaccedilatildeo em massa dos humanitaacuterios sendo este ataque

considerado uma barbaacuterie Este acontecimento pode ser o despoletar da induacutestria das

agecircncias militares privadas podendo trazer consequecircncias nefastas a longo termo No

entanto segundo a investigaccedilatildeo independente agrave UNMISS requerida pelo Conselho de

Seguranccedila ficou estabelecido que a UNMISS agiu e fez todos os possiacuteveis para salvar

os civis embora esse natildeo seja o sentimento por parte dos humanitaacuterios (Grant 2016)

Segundo a carta enviada pelo Secretaacuterio Geral ao Conselho de Seguranccedila a 17 de abril

de 2017 (NU 2017) exatamente a reportar o ataque explicado anteriormente consta um

pedido de investigaccedilatildeo independente do ataque ocorrido a 23 de agosto de 2016 e

pretende-se verificar as accedilotildees da UNMISS em resposta ao ataque ocorrido apoacutes o inicio

das hostilidades a 8 e 11 de julho de 2016 contra os humanitaacuterios e contra civis tendo

este ataque ocorrido dentro ou nas proximidades das instalaccedilotildees da UNMISS em Juba

A UNMISS foi acusada pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias de ter sido ineficaz na

sua missatildeo de proteger as humanitaacuterias no terreno natildeo tendo os peacekeepers

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

65

respondido aos muitos pedidos de ajuda e proteccedilatildeo Os humanitaacuterios defendem ainda

que os peacekeepers sabiam do perigo existente de ataque e deveriam ter avisado de

forma a que evacuassem os humanitaacuterios e civis do territoacuterio em questatildeo (Grant 2016

UN 2017d)

No entanto foi averiguado pelo Conselho de Seguranccedila que a UNMISS nomeadamente

os peacekeepers fizeram tudo o que estava ao seu alcance para salvar e proteger civis

durante o massacre Tambeacutem foi averiguado que a UNMISS faz um excelente trabalho

de planeamento e preparaccedilatildeo da resposta para salvar civis As informaccedilotildees de

seguranccedila devem segundo o relatoacuterio do Conselho de Seguranccedila serem compartilhadas

pelos peacekeepers com a comunidade humanitaacuteria informaccedilotildees relativas ao terreno

com o foacuterum de forma a que cada um dos agentes saiba o perigo que estaacute a correr Por

isso a UNMISS deve informar quanto a procedimentos de estado de alerta

deslocalizaccedilatildeo e evacuaccedilatildeo pontos de concentraccedilatildeo em Juba refuacutegios designados rotas

aeacutereas de deslocalizaccedilatildeo principais ferramentas de seguranccedila procedimentos de

controle de acesso e o plano em resposta agrave proteccedilatildeo de incidentes civis entre outros

Segundo o Conselho de Seguranccedila estes procedimentos foram adotados embora as

ONG no terreno natildeo concordem com esta conclusatildeo (Grant 2016 UN 2017d)

No Sudatildeo do Sul tem-se verificado uma missatildeo integrada minimalista em que o

OCHA eacute o coordenador e o elo de ligaccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers e trabalha

de forma independente da missatildeo de paz das NU Esta poderaacute ser a melhor receita para

o caso do Sudatildeo do Sul No entanto eacute preciso ter em conta que a UNMISS tem falta de

militares destacados em terrenos problemaacuteticos podendo dificultar este tipo de missotildees

integradas minimalistas como se constatou anteriormente com a inaccedilatildeo dos

peacekeepers face ao ataque do campo de refugiados (Harmer 2017 Aljazeera 2017

Wells 2016)

Por isso podemos contatar que pelo menos no Sudatildeo do Sul existe uma coexistecircncia

bem coordenada e estruturada entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS atraveacutes da

existecircncia de um guia para coordenaccedilatildeo entre humanitaacuterios Eacute possiacutevel constatar

tambeacutem que existe uma preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e em

respeitar o espaccedilo humanitaacuterio na hora de garantir a sua proteccedilatildeoescolta A secccedilatildeo de

Aliacutevio (do Guia da UNMISS) Reintegraccedilatildeo e Proteccedilatildeo tem como principal missatildeo a

proteccedilatildeo de civis em bases da UNMISS e o apoio ao trabalho das organizaccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

66

humanitaacuterias no Sudatildeo Sul Haacute casos em que natildeo existe outra forma de garantir que o

acesso humanitaacuterio proteccedilatildeo e a assistecircncia sejam fornecidos sem ajuda dos

peacekeepers (HCT e UNMISS 2013)

Voltando ao Guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS eacute

reconhecido que as missotildees de peacekeeping das NU como a UNMISS tecircm um

mandato de cariz poliacutetico o que significa que podem tomar partido por uma das partes

das hostilidades e por isso natildeo serem consideradas neutras por todas as partes dentro

do Estado Tal significa uma incompatibilidade entre estes dois atores pois uma junccedilatildeo

da accedilatildeo humanitaacuteria agrave UNMISS poria em causa o mandato humanitaacuterio Eacute ainda

apresentada no documento a diferenccedila entre a assistecircncia militar ao governo (prover

gabinetes conselho e suporte ao governo do Sudatildeo do Sul em relaccedilatildeo agrave transiccedilatildeo

poliacutetica pela qual estava a passar no estabelecimento da autoridade poliacutetica) e a

assistecircncia militar agraves ONG humanitaacuterias (facilitar o acesso prover um ambiente seguro

para a assistecircncia humanitaacuteria bem como promover e monitorizar os Direitos

Humanos) O OCHA estabelece esta coordenaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a

UNMISS atraveacutes dos PCI (Projetos de curto impacto) O OCHA entra em contacto com

o JOC (Joint Operations Center) a niacutevel estatal atraveacutes do escritoacuterio estatal e do RCO

(Resident Coordinatoracutes Office) Os humanitaacuterios natildeo pedem diretamente ajuda militar

mas eacute o OCHA quem trata disso (HCT e UNMISS 2013)

O Sudatildeo do Sul eacute um caso em que a coexistecircncia eacute necessaacuteria para o sucesso tanto da

missatildeo da UNMISS como da accedilatildeo humanitaacuteria devido aos perigos de inseguranccedila

existentes sendo os humanitaacuterios alvos faacuteceis Esta coexistecircncia natildeo tem de ser

incompatiacutevel pois ambos tecircm o objetivo de poupar vidas Por isso nesta coexistecircncia

tem de ser respeitada a missatildeo de ambos sem nenhum dos dois se intrometer nas

atividades do outro minimizando assim o risco de conflito e competiccedilatildeo quando ambos

estatildeo a trabalhar na mesma aacuterea geograacutefica fazendo a clara distinccedilatildeo e separaccedilatildeo das

atividades humanitaacuterias poliacuteticas e militares (HCT e UNMISS 2013)

Portanto os atores humanitaacuterios natildeo satildeo incumbidos de seguir ou respeitar ordens

militares por militares e o contraacuterio O guia militar-civil natildeo aconselha a coabitaccedilatildeo de

humanitaacuterios e militares em situaccedilotildees de emergecircncias complexas No entanto no Sudatildeo

do Sul essa coabitaccedilatildeo por parte da UNMISS e de agecircncias das NU existe em Juba e em

certas capitais de Estado o que pode levar a uma perceccedilatildeo errada das restantes agecircncias

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

67

devido ao facto de uma ter adotado esta decisatildeo de coexistir no mesmo local que os

peacekeepers ou seja pode ter um efeito negativo na comunidade humanitaacuteria (HCT e

UNMISS 2013)

Segundo o guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS (HCT e

UNMISS 2013) deve ser feita uma distinccedilatildeo clara das atividades identidade funccedilotildees e

papeacuteis da accedilatildeo humanitaacuteria dos atores envolvidos na UNMISS Para fazerem esta

distinccedilatildeo devem respeitar os seguintes pontos

bull As armas nunca devem ser usadas em instalaccedilotildees humanitaacuterias e em contexto de

transporte para os locais em questatildeo

bull Deve ser feita a identificaccedilatildeo dos elementos da equipa dos bens de primeira

necessidade veiacuteculos instalaccedilotildees barcos e aviotildees Ou seja devem promover a

distinccedilatildeo das suas respetivas identidades de forma a que natildeo sejam confundidos com a

UNMISS (HCT e UNMISS 2013 pp 4)

Quanto ao uso de ativos e escoltaproteccedilatildeo militar eacute referido no guia que os atores

humanitaacuterios natildeo devem usar os ativos militares ou escoltaproteccedilatildeo militar a fim de

proteger a distinccedilatildeo e salvaguardar a separaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios O uso

dos ativos militares e escoltaproteccedilatildeo militar da UNMISS deve ser adotado em uacuteltimo

recurso e em circunstacircncias especiais uma vez reunidos determinados criteacuterios que

seratildeo explanados a seguir Qualquer decisatildeo quanto ao pedido dos atores humanitaacuterios

relativamente agrave escolta militar seraacute analisada caso-a-caso tendo em conta os ativos

disponiacuteveis custos e prioridades Os criteacuterios satildeo os seguintes

bull O objetivo da missatildeo eacute puramente humanitaacuterio e manteacutem o seu caraacuteter civil e

humanitaacuterio bem como o respeito dos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

bull Tem de haver uma necessidade urgente de ajuda humanitaacuteria natildeo existindo

alternativas para a substituiccedilatildeo no terreno

bull O uso da escolta militar eacute limitado no tempo e escala com uma estrateacutegia clara

de saiacuteda concordada entre os dois atores fora do pedido Natildeo poderaacute ainda

comprometer os atores humanitaacuterios a longo prazo na sua capacidade de poderem

operar de forma segura e efetiva (HCT e UNMISS 2013 pp 5)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

68

O OCHA tem ainda a responsabilidade de elaborar relatoacuterios sobre a escolta militar para

o Humanitarian Country Team e cabe tambeacutem ao OCHA analisar os casos juntamente

com a JOC em especifico para o caso do Sudatildeo do Sul para que tudo corra bem Caso

haja escolta militar os humanitaacuterios devem seguir num veiacuteculo diferente dos militares

da UNMISS que identifique bem que satildeo humanitaacuterios e natildeo militares que satildeo

transportados no veiacuteculo Desta forma a populaccedilatildeo natildeo confundiraacute o pessoal

humanitaacuterio com o pessoal militar Caso haja necessidade de proteccedilatildeo num determinado

local necessidade de reparaccedilatildeo de estradas proteccedilatildeo dos bens e pessoal humanitaacuterio as

ONG devem entrar em contacto com o OCHA afim de requerer a ajuda da UNMISS

Um dos objetivos da UNMISS eacute garantir um ambiente seguro para facilitar o acesso dos

humanitaacuterios aos locais para que estes consigam prestar apoio agrave populaccedilatildeo A UNMISS

natildeo deve usar as instalaccedilotildees humanitaacuterias e vice-versa no entanto em caso de urgente

necessidade deve tal ser analisado caso a caso pelo OCHA ponderando sobre as

instalaccedilotildees disponiacuteveis urgecircncia capacidade e prioridades O mesmo vale para a

evacuaccedilatildeo de pessoal meacutedico e humanitaacuterios em caso de elevada emergecircncia (HCT e

UNMISS 2013 pp 4)

Outro assunto relevante tratado neste guia eacute a partilha de informaccedilatildeo entre os elementos

da UNMISS e os humanitaacuterios pois estes dois elementos devem e tecircm de partilhar

muita informaccedilatildeo de forma atempada e eficiente para coordenar as respetivas

atividades As informaccedilotildees que devem ser partilhadas satildeo as seguintes

bull Informaccedilotildees sobre o tipo de assistecircncia e atividades humanitaacuterias estatildeo a

planear eou vatildeo realizar

bull Informaccedilotildees sobre atividades da UNMISS relevantes para os atores

humanitaacuterios como por exemplo sobre ameaccedilas e seguranccedila do pessoal humanitaacuterio ou

da UNMISS no terreno ou sobre ameaccedilas aos civis

bull Informaccedilotildees sobre atividades mineiras aacutereas minadas e locais com minas por

explodir As viacutetimas e a populaccedilatildeo em geral deveratildeo ser informadas e educadas para os

riscos inerentes (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

No entanto existem informaccedilotildees confidenciais que natildeo deveratildeo em momento algum

ser partilhadas tanto com o pessoal humanitaacuterio como com a UNMISS informaccedilotildees que

podem comprometer a identidade da viacutetima expondo assim o individuo ou um grupo de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

69

indiviacuteduos a um potencial risco principalmente se a viacutetima tiver sofrido crimes contra

os Direitos Humanos (HCT e UNMISS 2013 pp)

Este guia deve ser estudado de forma a que seja aplicado corretamente e os princiacutepios

da UNMISS e dos humanitaacuterios respeitados no terreno evitando potenciais conflitos A

UNMISS ficou incumbida de formar a comunidade humanitaacuteria relativamente ao seu

mandato trabalho e objetivos no terreno em conjunto com o OCHA que representa as

organizaccedilotildees humanitaacuterias e a sua relaccedilatildeo com a UNMISS Eacute ainda recomendado o

treino de ambos para os Direitos Humanos proteccedilatildeo de civis e o Direito Internacional

Humanitaacuterio (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

O CR (conciliation resources) e o ARP (applied research program) satildeo duas partes

funcionais da missatildeo que apoiam as organizaccedilotildees humanitaacuterias fornecendo apoio a niacutevel

de logiacutestica seguranccedila proteccedilatildeo da populaccedilatildeo relocaccedilatildeo do pessoal humanitaacuterio bem

como os deslocados internamente dando informaccedilotildees relativamente aos locais mais

seguros para se reinstalarem e caso necessaacuterio protegendo a instalaccedilatildeo onde residem os

deslocados internamente refugiados e humanitaacuterios Esta coexistecircncia entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias natildeo tem vindo a revelar-se eficaz no contexto do Sudatildeo do

Sul pois os humanitaacuterios embora consigam trabalhar e deslocar-se para certos locais

perigosos o que sem o apoio da UNMISS natildeo seria possiacutevel a UNMISS natildeo foi capaz

de assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios em 2016 aquando do ataque No entanto e

como jaacute foi referido anteriormente esta colaboraccedilatildeo deve ser realizada para casos

pontuais tendo de ser pedida a autorizaccedilatildeo ao OCHA e em uacuteltimo recurso atraveacutes de

projetos de curto impacto (UNMISS 2017 e HCT UNMISS 2013)

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos

humanitaacuterios

Agrave luz da anaacutelise do caso do Sudatildeo do Sul a questatildeo que se levanta neste subtema eacute

essencialmente a de apurar qual o recurso que deve ser usado pelas organizaccedilotildees

humanitaacuterias em situaccedilatildeo de elevado perigo em que o acesso ao local em que a

populaccedilatildeo estaacute a enfrentar grandes necessidades pode representar perigo de vida

precisando assim de uma proteccedilatildeoescolta militar para realizar o trajeto ao local Eacute

preciso desde jaacute dizer que ambas as opccedilotildees tecircm pontos positivos e negativos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

70

O recurso aos peacekeepers pode ser visto como a melhor opccedilatildeo possiacutevel pois

partilham os valores essenciais com os humanitaacuterios salvar vidas e a imparcialidade

No entanto tecircm sido acusados de natildeo agirem atempadamente face agraves ameaccedilas e ataques

perpetrados sobre humanitaacuterios ou seja de falharem a sua missatildeo de garantir a proteccedilatildeo

aos humanitaacuterios que faz parte da sua missatildeo e consta do guia elaborado para a

coexistecircncia no terreno Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors

and the United Nations Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) Em 2016

houve o jaacute referido ataque no Sudatildeo do Sul a humanitaacuterios que natildeo haviam sido

avisados do perigo eminente nem apareceram militares a garantir a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo e dos humanitaacuterios Ou seja eacute possiacutevel concluir que a proteccedilatildeo fornecida

pela UNMISS natildeo eacute a mais eficaz no terreno devido agraves fragilidades que a proacutepria

missatildeo tem vindo a sentir no terreno (Adongo 2017 Grant 2016)

No entanto parece que este caso algo mediatizado acordou a comunidade

internacional Consta no artigo da UNMISS Humanitarian Aid Restored In Aburoc

Folloing Deployment of UNMISS Peacekeepers (Adongo 2017) que soacute foi possiacutevel as

ONG OING e OIG humanitaacuterias regressaram para fornecer ajuda humanitaacuteria em

Malakal devido ao desdobramento dos peacekeepers para a regiatildeo de Aburoc Upper

Nile regiatildeo que as agecircncias humanitaacuterias haviam abandonado devido agrave elevada

inseguranccedila O que confirma o que foi dito ao longo da dissertaccedilatildeo sem seguranccedila no

Sudatildeo do Sul os humanitaacuterios natildeo conseguem operar no terreno tendo de terminar a

missatildeo caso contraacuterio seria colocar as suas vidas em risco (Adongo 2017 e Grant

2016)

Estima-se que durante o recente conflito que levou as agecircncias humanitaacuterias a sair do

local tenha havido 20 000 deslocados internos a fugir ficando sem abrigo Com o

regresso das agecircncias humanitaacuterias foi possiacutevel dar abrigo a 4200 famiacutelias dos campos

de refugiados Outras agecircncias tecircm fornecido ajuda humanitaacuteria mais urgente como

aacutegua potaacutevel que eacute escassa e de difiacutecil acesso sendo necessaacuterios militares peacekeepers

para proteger os principais postos de abastecimento de aacutegua O chefe de campo da

UNMISS em Malakal Hazel de Wet levou a sua equipa a inspecionar o desdobramento

das tropas em Aburoc e a equipa comprometeu-se tambeacutem com as autoridades locais no

terreno relativamente agrave estrateacutegia de apoio agrave assistecircncia humanitaacuteria sendo neste

momento a prioridade dos peacekeepers garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e o seu

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

71

acesso de modo a que a assistecircncia humanitaacuteria chegue a todos A UNMISS reconhece

que eacute essencial fazer com que a assistecircncia humanitaacuteria chegue agrave populaccedilatildeo em

necessidade urgente de comida aacutegua mantimentos e abrigo Soacute fornecendo assistecircncia

humanitaacuteria suprindo as necessidades baacutesicas eacute que eacute possiacutevel resolver os problemas

poliacuteticos tornar a paz duradoura e pensar no desenvolvimento Mas para conseguir esta

harmonia eacute essencial que as operaccedilotildees de peacekeeping se tornem efetivamente mais

ldquomusculadasrdquo como referido por Pinto (2005) para fazer face agraves novas realidades e

adversidades encontradas no terreno Natildeo basta a presenccedila militar tecircm de conseguir

garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios (Adongo 2017)

Os humanitaacuterios tecircm manifestado preferecircncia pelo menos no que diz respeito ao caso

do Sudatildeo do Sul pela escoltaproteccedilatildeo militar fornecida pela UNMISS sendo que se

estabeleceu um guia de cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS conforme referido

acima Este guia eacute um dos motivos para a preferecircncia pelos peacekeepers para a escolta

e proteccedilatildeo pois os humanitaacuterios e militares sabem como agir em que circunstacircncias

conceder e pedir essa proteccedilatildeo e quando deve terminar essa cooperaccedilatildeo no terreno Tal

natildeo existe nas agecircncias militares privadas jaacute que uma vez contratadas o viacutenculo

permanece ateacute ao fim da missatildeo ou contrato e pode haver problemas no terreno entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias e agecircncias militares privadas que poderatildeo representar

problemas seacuterios acresce que os humanitaacuterios natildeo estatildeo preparados para coordenar e

liderar este tipo de agecircncias Ao inveacutes no caso da proteccedilatildeoescolta garantida pela

UNMISS as ONG OING e OIG podem caso a cooperaccedilatildeo natildeo esteja a ser bem-

sucedida reportar a sua insatisfaccedilatildeo e levar a que sejam averiguados os motivos Tal

aconteceu com o ataque aos humanitaacuterios jaacute referido anteriormente A UNMISS foi

questionada e foi feita uma averiguaccedilatildeo pelo Conselho de Seguranccedila para verificar se

houve de facto negligecircncia por parte dos militares Com as agecircncias militares privadas

tal natildeo eacute possiacutevel conforme foi mencionado estes militares tecircm carta branca no terreno

Logo existe mais seguranccedila em cooperar com a UNMISS (HCT e UNMISS 2013 UN

2017d)

Eacute por este motivo que ainda se verifica uma certa resistecircncia por parte de algumas ONG

e OING a recrutar agecircncias militares privadas No entanto e devido agrave necessidade de

celeridade para obter a proteccedilatildeo o recrutamento tem vindo a aumentar no terreno Eacute

neste ponto que as agecircncias militares privadas apresentam vantagens jaacute que natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

72

existem problemas a niacutevel burocraacutetico o que permite partir mais cedo para o terreno e

satildeo mais baratas no caso de serem as agecircncias das NU como a UNICEF e o ACNUR

entre outros a contratar Jaacute o processo de pedido de proteccedilatildeo e escolta militar agrave

UNMISS eacute muito moroso natildeo fazendo face ao problema no imediato (Newton sd)

Estas agecircncias podem ainda garantir que as organizaccedilotildees humanitaacuterias mantecircm a sua

independecircncia relativamente ao Estado neutralidade quanto ao conflito e

imparcialidade no tratamento das pessoas Todavia antes da contrataccedilatildeo deveria ser

requerido o cadastro criminal se existir e se possiacutevel para avaliar se existe algum

antecedente problemaacutetico como por exemplo algum incidente de racismo enquanto

militar no ativo para que haja uma seleccedilatildeo rigorosa das agecircncias a recrutar e dos

militares que integram essa mesma agecircncia desta forma o risco de contratar militares

que tenham cometido atos criminosos e racistas no terreno satildeo menores logo seraacute

menor o risco de haver problemas no terreno (Newton sd Michael et al 2014)

Ou seja as agecircncias militares privadas podem ser uma ajuda fundamental no caso do

Sudatildeo do Sul para a seguranccedila e proteccedilatildeo de ONG OING OIG campos de refugiados

e de deslocados internamente Mas tambeacutem podem ser uma boa alavanca para a

pacificaccedilatildeo do territoacuterio ou seja uma ajuda para a UNMISS e custam menos recursos

financeiros que contratar e solicitar aos Estados mais militares para integrar a missatildeo de

peacekeeping (Newton sd)

Neste momento a melhor opccedilatildeo eacute a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as organizaccedilotildees

humanitaacuterias pois jaacute existe um guia intitulado de que explica em que circunstacircncias

quanto tempo e como deve ser feito pedido de ajuda e a proteccedilatildeoescolta concretizada

Ou seja existem regras a cumprir medidas de prevenccedilatildeo para que natildeo haja choque

entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS no terreno e como deve ser feita a distinccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares Para as agecircncias militares privadas natildeo existem regras de accedilatildeo

conduta ou execuccedilatildeo das suas funccedilotildees tornando a sua presenccedila no terreno um perigo

devido ao vazio legal embora seja mais barato e mais raacutepido em termos de burocracia

contratar estas agecircncias Os militares das agecircncias militares privadas devem ainda estar

devidamente identificados no terreno de forma a que natildeo suscitem confusotildees com os

militares das operaccedilotildees de peacekeeping (Stoddard Harmer e DiDomenico 2008

Newton sd Michael et al 2014 HCT e UNMISS 2012)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

73

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas

Enquanto o Sudatildeo do Sul estiver a atravessar momentos de grande instabilidade poliacutetica

e um conflito armado de grande inseguranccedila e perigo para os civis refugiados e

deslocados internamente natildeo existe uma alternativa viaacutevel para este caso em questatildeo O

governo do Sudatildeo do Sul natildeo consegue assegurar seguranccedila proteccedilatildeo e acesso seguro

aos humanitaacuterios a locais de grande emergecircncia humanitaacuteria locais onde natildeo existe

aacutegua potaacutevel existe falta de comida medicamentos abrigo e meacutedicos Um local como

este eacute difiacutecil de ser pacificado como eacute sabido a aacutegua eacute um dos principais motivos de

guerra no mundo aliando isso a conflitos eacutetnicos e poliacuteticos torna esta guerra numa

difiacutecil de acabar uma guerra endeacutemica (Kaldor 2007) Pior o governo foi acusado de

travar o acesso da ajuda humanitaacuteria a determinados locais Quando o proacuteprio Estado eacute

o perpetrador de atrocidades e nega o acesso da ajuda humanitaacuteria isto quer dizer que a

comunidade humanitaacuteria estaacute por sua conta (Harmer 2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que como pudemos verificar os peacekeepers da UNMISS natildeo

conseguem ou tecircm dificuldade em assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios o que resultou

no massacre de humanitaacuterios em 2016 e foram mesmo acusados de terem

negligenciado a sua funccedilatildeo de proteccedilatildeo estabelecida no guia de cooperaccedilatildeo entre

OCHA e as organizaccedilotildees humanitaacuterias pois natildeo avisaram sequer que existia um perigo

eminente de ataque e que deveriam por isso retirar-se do terreno Ou seja eacute possiacutevel

concluir que esta cooperaccedilatildeo natildeo tem vindo a revelar-se eficaz os acessos continuam a

ser dificultados humanitaacuterios atacados e civis em sofrimento e a viver abaixo do limiar

da dignidade humana O que coloca a seguinte questatildeo valeraacute a pena correr o risco de

colocar em causa a imparcialidade e neutralidade pela proteccedilatildeo dos peacekeepers Eacute

difiacutecil de responder pois natildeo existe um modelo perfeito como alternativa quer agraves

agecircncias militares privadas quer agrave UNMISS (Grant 2016)

Por isso uma alternativa seria talvez tornar puacuteblico o uso das agecircncias militares

privadas pela comunidade internacional estabelecer guias rigorosos de recrutamento e

realizaccedilatildeo de contratos com as NU ou organizaccedilotildees humanitaacuterias que estabeleccedilam os

limites de atuaccedilatildeo quais as funccedilotildees que devem cumprir e que regulamentam a sua

funccedilatildeo Ou seja as agecircncias militares privadas precisam de constar do Direito

Internacional Humanitaacuterio Uma vez a parte legal resolvida seraacute mais faacutecil trabalhar o

setor puacuteblico com o setor privado que engloba ONG e agecircncias militares privadas de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

74

forma a que a accedilatildeo humanitaacuteria seja realizada em seguranccedila e chegue a todos os que

necessitem dela No entanto o tornar as agecircncias privadas regulamentadas na aacuterea da

accedilatildeo humanitaacuteria poderaacute tornaacute-las um grande negoacutecio tendo como consequecircncia

prejudicar dos conflitos como garantia de trabalho para estas agecircncias Por outro lado

haveria um escrutiacutenio na hora de selecionar as agecircncias para que houvesse uma

probabilidade miacutenima destes efetuarem crimes no terreno (Newton sd Harmer 2008 e

MAcArthur 2016 HCT e UNMISS 2013)

Por uacuteltimo poderia existir ainda a opccedilatildeo de usar as missotildees de peace enforcement sob o

princiacutepio da responsabilidade de proteger como veiacuteculo para a accedilatildeo humanitaacuteria pois

neste contexto natildeo se colocariam as questotildees relativas agrave neutralidade e agrave imparcialidade

da forma usual uma vez que o mandato dos militares eacute mais vasto no que ao uso da

forccedila respeita No entanto para o caso do Sudatildeo do Sul seria difiacutecil aplicar uma

intervenccedilatildeo humanitaacuteria ao abrigo da responsabilidade de proteger e violar o princiacutepio

da natildeo ingerecircncia O Sudatildeo do Sul natildeo cumpre todos os requisitos pois natildeo eacute um

conflito armado internacional e o massacre natildeo eacute visto como um genociacutedio Existe sim

uma guerra endeacutemica tentativa de limpeza racial e crimes contra os direitos humanos

Em suma a comunidade internacional haveria de fazer mais para travar o massacre e

proteger a populaccedilatildeo e os humanitaacuterios no terreno Existe jaacute um guia de colaboraccedilatildeo

entre a UNMISS e as ONG OING e OIG mas isso apenas natildeo chega Eacute preciso fazer

mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

75

Conclusatildeo

Como foi possiacutevel constatar ao longo de toda a dissertaccedilatildeo a escolta militar eacute um tema

de extrema complexidade que coloca em causa os princiacutepios humanitaacuterios consagrados

pela Cruz Vermelha Por outro lado existe a necessidade de proteger a missatildeo

humanitaacuteria e os proacuteprios humanitaacuterios no terreno os quais como foi sendo verificado

tecircm vindo a sofrer ataques raptos e assassinatos devido agrave incapacidade ou indiferenccedila

do Estado onde estaacute a ser prestado o apoio humanitaacuterio das ONG OING e OIG A

comunidade internacional natildeo consegue operar de forma eficaz no terreno sem ter

seguranccedila e proteccedilatildeo que deveria ser dada pelo governo do Estado em causa Todavia

caso o governo natildeo tenha capacidade ou natildeo queira garantir essa proteccedilatildeo cabe agrave

comunidade internacional garantir que a populaccedilatildeo desse territoacuterio seja protegida

Uma vez que um governo natildeo assegure essa proteccedilatildeo os humanitaacuterios vecircem-se numa

situaccedilatildeo complexa respeitar os princiacutepios humanitaacuterios ou correr risco de vida Muitos

preferem como foi possiacutevel verificar ao longo da dissertaccedilatildeo correr risco de vida A

independecircncia a imparcialidade e a neutralidade satildeo muito importantes para o sucesso

das missotildees humanitaacuterias Sem independecircncia podem ver o seu acesso a determinados

locais barrados e por conseguinte natildeo tratar determinada populaccedilatildeo o que significa

perder a imparcialidade mesmo que de forma involuntaacuteria Por fim podem ser

associados a uma das partes das hostilidades e por isso perder a neutralidade aos olhos

da populaccedilatildeo local

Foram abordadas diversas formas de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios atraveacutes dos

peacekeepers por exemplo tomando como modelo um guia elaborado especificamente

para as missotildees no Sudatildeo do Sul O guia especifica quando deve ser requerida a escolta

e proteccedilatildeo quando a parceria deve acabar e em que circunstacircncias devem ser feitas a

escolta e o pedido Foram abordadas as missotildees integradas maximalistas (partilham do

mesmo mandato das NU peacekeeping e ONG OING e OIG) ou minimalistas

(UNMISS e ONG OING e OIG cooperam em conjunto pontualmente sem

interferecircncia das NU e sob supervisatildeo do OCHA) sendo que a OXFAM aceita melhor a

missatildeo integrada minimalista sob determinadas regras os princiacutepios humanitaacuterios

devem prevalecer os humanitaacuterios natildeo devem ser envolvidos em assuntos poliacuteticos e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

76

natildeo devem ser associados aos militares Este tipo de missatildeo parece ser a melhor opccedilatildeo

possiacutevel para garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios

Foi tambeacutem abordada a possibilidade de contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas

uma opccedilatildeo raacutepida isenta de burocracias e possivelmente eficaz pois natildeo tem os

mesmos constrangimentos dos peacekeepers no uso da forccedila Mas haacute o problema do

vazio legal que eacute uma espeacutecie de carta em branco para os militares destas agecircncias

poderem cometer crimes e a maior parte destas agecircncias conteacutem militares locais que o

podem fazer e natildeo serem julgados por isso Por outro lado estes militares natildeo tecircm

direito ao estatuto de combatentes de guerra nas Convenccedilotildees de Genebra

Deveria uma vez que as NU contratam este tipo de agecircncias militares privadas

regulamentar-se a atividade no seio do DIH de forma a que estas agecircncias operassem

ao abrigo da lei tendo por isso direitos e deveres a cumprir no terreno e seriam

julgados por crimes de guerra caso cometessem algum Deveria tambeacutem ser redigido e

publicado um guia onde sejam estabelecidas as regras de uma boa colaboraccedilatildeo entre as

ONG OING e OIG no terreno constando os direitos dos colaboradores das agecircncias e

seus deveres Neste caso este tipo de agecircncias poderia ser uma oacutetima ajuda aliada de

comunidade internacional e humanitaacuteria para a pacificaccedilatildeo mitigaccedilatildeo do conflito e para

suprir as necessidades mais baacutesicas da populaccedilatildeo em necessidade e sofrimento que vive

no limiar da pobreza e que vecirc os seus Direitos Humanos serem desrespeitados

Por uacuteltimo existe a possibilidade de se obter seguranccedila atraveacutes de escolta em missotildees

orientadas pela responsabilidade de proteger sob termos semelhantes aos do Guia de

colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers mas claro com a diferenccedila de que neste

caso os militares podem oferecer uma proteccedilatildeo mais eficaz pois podem fazer uso da

forccedila de forma diferente da dos peacekeepers tradicionais que soacute fazem o uso da forccedila

para autodefesa e defesa do mandato A responsabilidade de proteger tem como objetivo

principal acabar com genociacutedios os crimes contra a humanidade ou seja casos

extremos e pode fazer o uso da forccedila sem consentimento do Estado alvo da intervenccedilatildeo

Jaacute as operaccedilotildees de peacekeeping satildeo missotildees que tecircm um papel de estabilizar de

proteccedilatildeo mais ligado agrave reestruturaccedilatildeo do Estado apoiando as declaraccedilotildees de paz e o

bom decorrer das negociaccedilotildees de paz O uso da forccedila eacute mais limitado Os peacekeepers

tecircm-se revelado ineficazes na proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e alvos de criacutetica Na

responsabilidade de proteger o propoacutesito eacute proteger os civis e natildeo acompanhar o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

77

governo ou restabelecer e reconstruir o aparelho do poder por isso natildeo existe o

problema da imparcialidade como na missatildeo UNMISS por exemplo ou a sobrecarga de

responsabilidades dos militares da UNMISS

O peace enforcement ao abrigo do R2P como soluccedilatildeo para garantir a proteccedilatildeo e

seguranccedila dos humanitaacuterios deve pois ser amplamente analisado discutido e somente

decidido se as vantagens forem maiores que as desvantagens Como referido a

cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao abrigo do R2P no

Sri Lanka natildeo foi bem-sucedida Os humanitaacuterios viram o seu acesso a determinados

locais restringido e ateacute em alguns casos viram a sua permanecircncia posta em causa

tendo de terminar a sua missatildeo e regressar Ou seja deixaram de ser vistos como

neutros pelo Estado e as organizaccedilotildees humanitaacuterias que colaboraram com os militares

do peace enforcement viram-se politizados o que natildeo era suposto

A conclusatildeo que pode ser retirada eacute que natildeo existe um modelo ideal que natildeo coloque

em risco os princiacutepios humanitaacuterios em contexto de conflito para assegurar a seguranccedila

dos humanitaacuterios mas sim um modelo preferencial e outras alternativas como a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas Ou seja deveraacute ser escolhido o mal menor

logo a opccedilatildeo que menos danos cause tanto agrave comunidade humanitaacuteria como aos

proacuteprios militares e agrave missatildeo humanitaacuteria em si

Neste momento seria preferencial o modelo de cooperaccedilatildeo entre as NU as ONG

OING e OIG como foi estabelecido com a UNMISS no terreno no Sudatildeo do Sul Se se

seguir o Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United

Nations Mission in South Sudan elaborado pelas NU em conjunto com o OCHA HCT

e as ONG e OING os riscos seratildeo miacutenimos comparados com a contrataccedilatildeo de militares

de agecircncias militares privadas

Eacute verdade que existe ainda uma certa resistecircncia por parte da comunidade internacional

a optar pelas missotildees integradas se bem que existe mais resistecircncia agraves missotildees

integradas maximalistas que agraves missotildees integradas estrateacutegicas ou minimalistas visto

que as missotildees maximalistas satildeo missotildees que visam que ONG e peacekeepers operem

sob o mesmo mandato sendo assim sujeitas agrave mesma hierarquia Jaacute a missatildeo

minimalista eacute ocasional ou seja quando eacute mesmo necessaacuterio e as ONG estatildeo sob a

coordenaccedilatildeo do OCHA e HCT respeitando bem a separaccedilatildeo da comunidade

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

78

humanitaacuteria dos militares Esta eacute tambeacutem uma boa alternativa agraves agecircncias militares

privadas uma vez adotadas regras claras do padratildeo do Guia de coordenaccedilatildeo entre a

UNMISS e as ONG OING humanitaacuterias no terreno

Esta dissertaccedilatildeo focou pois o Sudatildeo do Sul que eacute um caso complexo onde os

humanitaacuterios satildeo atacados incessantemente tendo de ser tomadas providecircncias A

comunidade humanitaacuteria natildeo poderaacute por isso ser tatildeo inflexiacutevel em relaccedilatildeo ao princiacutepio

da neutralidade numa situaccedilatildeo como a do Sudatildeo do Sul Para chegar a determinados

locais eacute preciso que a seguranccedila dos humanitaacuterios seja assegurada para chegar a Juba e

Jonglei e Aburoc por exemplo locais onde a inseguranccedila prevalece e onde os

humanitaacuterios correm grande risco Os humanitaacuterios tecircm neste caso de escolher entre a

vida e salvar vidas para se manterem fieis aos princiacutepios fundamentais

A colaboraccedilatildeo com a UNMISS tem sido fulcral neste caso para que os humanitaacuterios

possam exercer a sua missatildeo em seguranccedila e respeitando os princiacutepios fundamentais no

entanto a cooperaccedilatildeo natildeo eacute bem aceite ainda na comunidade humanitaacuteria No caso do

Sudatildeo do Sul a inseguranccedila dos humanitaacuterios leva a que os bens essenciais como a

aacutegua comida e medicamentos natildeo cheguem ao local sendo estes motivos de guerra

dificultando a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Em suma a accedilatildeo humanitaacuteria eacute fulcral para a

ajuda na pacificaccedilatildeo do Sudatildeo do Sul e outros paiacuteses Deveria por isso haver uma

conferecircncia referente aos princiacutepios humanitaacuterios e agrave seguranccedila e proteccedilatildeo da

comunidade humanitaacuteria em territoacuterios de elevada inseguranccedila jaacute que o Sudatildeo do Sul

natildeo eacute exceccedilatildeo eacute um caso de ldquoEstado fragilizadordquo onde a pacificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo

natildeo seratildeo possiacuteveis tambeacutem sem o sucesso da ajuda dos humanitaacuterios e o sucesso da

ajuda humanitaacuteria no terreno soacute eacute possiacutevel se for garantida a sua proteccedilatildeo e seguranccedila

As agecircncias militares privadas devem ser a ultima opccedilatildeo na equaccedilatildeo pois apresentam

mais riscos que vantagens e as agecircncias com permissatildeo para operar pelo Estado no

Sudatildeo do Sul tecircm como colaboradores ex-combatentes de guerra o que pode ser um

grande risco no terreno Sabe-se que o conflito no Sudatildeo do Sul tem origem eacutetnica

existe um oacutedio racial colocar ex-combatentes de guerra a operar com lsquocarta brancarsquo no

terreno pode originar mais crimes e descreacutedito das ONG OING e OIG

Em suma natildeo existe uma soluccedilatildeo perfeita para garantir a proteccedilatildeo e uma escolta militar

neutra e imparcial uma vez que os militares de qualquer forccedila armada sejam do

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

79

governo da missatildeo das NU ou de outro Estado dificilmente satildeo neutros o que pode

derivar para uma falta de imparcialidade Na teoria eacute possiacutevel fazer a distinccedilatildeo entre

militar e humanitaacuterio mas no terreno haacute dificuldades As ONG e OING vivenciam por

isso um grande dilema que urge resolver

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

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Page 8: Ação Humanitária e Missões de Paz no Terreno: O Caso do ... Araújo.pdf · ONU Organização das Nações Unidas ONG Organização Não Governamental OING Organização Internacional

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

viii

Iacutendice

Resumo iv

Abstract v

Dedicatoacuteria vi

Agradecimentos vii

Iacutendice viii

Iacutendice de Figurashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip ix

Lista de Acroacutenimos x

Introduccedilatildeo 1

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria 5

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria 10

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a abordagem

humanitaacuteria 21

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding 21

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar 23

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares 28

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno 40

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 48

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso 53

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul 53

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das ONG 59

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar 62

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios 69

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas 73

Conclusatildeo 75

Bibliografia 80

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

ix

Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terrenohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip43

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sulhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip53

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

x

Lista de Acroacutenimos

AMI Assistecircncia Meacutedica Internacional

AMP Agecircncias Militares privadas

CAI Conflito Armado Internacional

CANI Conflito Armado Natildeo Internacional

CERF Central Emergency Response Fund

CMOC Civil Military Operation Center

DIH Direito Internacional Humanitaacuterio

DDR Desarmamento Desmobilizaccedilatildeo e Reintegraccedilatildeo

DSL Defense System Limited

ECHO European Civil Protection and Aid Operations

HC Humanitarian Coordinator

HCT Humanitarian Country Team

ICRC International Comittee of Red Cross

IASC Inter-Agency Standing Committee

IAP Integrated Assessment and Planning

ICISS International Commission on Intervention and State Sovereignity

JOC Joint Operations Center

MSF Meacutedicos Sem Fronteiras

NU Naccedilotildees Unidas

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

OING Organizaccedilatildeo Internacional Natildeo Governamental

OCHA United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

OCDE Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econoacutemico

OFDA Office of US Foreign and Disaster Assistance

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

PCI Projetos de curto impacto

RESG Representante Especial do Secretaacuterio Geral

RCO Resident Coordinatoracutes Office

R2P Responsibility to protect

UE Uniatildeo Europeia

UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

UNMISS United Nation Missions for South Sudan

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF United Nations Childrenrsquos Fund

WFP World Food Programme

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

1

Introduccedilatildeo

Na presente dissertaccedilatildeo iraacute ser abordada a relaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a Accedilatildeo

Securitaacuteria como garante de proteccedilatildeo e escolta aos humanitaacuterios em situaccedilotildees de

elevado perigo podendo potencialmente colocar a missatildeo humanitaacuteria em causa devido

agrave dificuldade de acesso ao terreno A resposta humanitaacuteria eacute composta por trecircs fases A

primeira eacute o fornecimento dos bens essenciais como a aacutegua abrigo e alimentaccedilatildeo A

segunda eacute a ajuda agraves viacutetimas para recuperarem os seus meios de subsistecircncia bem como

a reconstruccedilatildeo das infraestruturas sociais e materiais baacutesicas Por uacuteltimo haacute a prevenccedilatildeo

de novas cataacutestrofes Logo a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal objetivo aliviar o

sofrimento humano de forma a que a populaccedilatildeo possa viver com dignidade e se salvem

vidas A accedilatildeo humanitaacuteria divide-se nas seguintes aacutereas a ajuda ao desenvolvimento a

defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda humanitaacuteria mais urgente

(OIKOS 2015 UNRIK 2014)

Jaacute a accedilatildeo securitaacuteria nomeadamente as lsquomissotildees de pazrsquo eacute predominantemente do tipo

militar tendo regra geral de ser pedida pelo Estado que estaacute a atravessar o conflito

como foi o caso do Ruanda Somaacutelia Sudatildeo do Sul entre outros As accedilotildees securitaacuterias

ao abrigo das missotildees de paz tecircm como objetivos fornecer assistecircncia e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados que a paz possa ser estabelecida e o genociacutedio

prevenido ou interrompido Dentro da accedilatildeo securitaacuteria encontram-se as operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mais extrema o peace enforcement O peace

enforcement pode ser ativado em casos extremos e ao abrigo do princiacutepio da

responsabilidade de proteger Ainda assim os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm

de se limitar a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para fazerem respeitar os

direitos humanos violados e fornecer assistecircncia ao povo local (Gordon1996 Bellamy

e Wheeler 2006 Massingham 2009 Weiss 2017)

A questatildeo central da investigaccedilatildeo eacute portanto a articulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o

militar em paiacuteses que estejam a passar por conflitos armados Sempre que os

profissionais humanitaacuterios estejam em paiacuteses em estado de guerra ou poacutes-guerra

poderatildeo sentir dificuldades na hora de aceder a locais onde a populaccedilatildeo necessite de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

2

mais ajuda devido ao facto de natildeo terem escolta militar para esse efeito Outro

problema eacute a possibilidade de haver confusatildeo dos humanitaacuterios com os militares e por

isso a populaccedilatildeo rejeitar a ajuda das organizaccedilotildees humanitaacuterias Portanto o foco do

tema da dissertaccedilatildeo eacute identificar a importacircncia do papel dos militares para o bom

desempenho dos profissionais humanitaacuterios

Ou seja o estudo centra-se nas consequecircncias que podem advir daiacute como por exemplo

desconfianccedila da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves ONG OING ou OIG queda dos donativos

ataques entre outros Do ponto de vista praacutetico as questotildees centrais seratildeo as seguintes

Do ponto de vista dos humanitaacuterios seraacute melhor natildeo correr risco de vida ou correcirc-lo e

respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios integralmente Seraacute que eacute possiacutevel

encontrar uma alternativa agrave escolta militar para assegurar a seguranccedila e proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios Seratildeo as agecircncias militares privadas uma alternativa

Nesta dissertaccedilatildeo constatar-se-aacute que existe um cruzamento entre a accedilatildeo humanitaacuteria

(humanitaacuterios) e o sistema securitaacuterio (militares) sendo os atores deste uacuteltimo

normalmente os membros das operaccedilotildees de peacekeeping peace enforcement ou a

componente policial e militar do peacebuiliding podendo ainda ocorrer haver no

terreno uma forccedila militar estatal como no caso de algumas intervenccedilotildees militares como

seraacute explicitado adiante Neste uacuteltimo caso soacute mesmo em uacuteltima circunstacircncia os

humanitaacuterios aceitariam a escolta de forma a natildeo perderem a sua imparcialidade e

independecircncia

As operaccedilotildees de peacekeeping satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas

tambeacutem para a proteccedilatildeo dos civis para assistir ao desarmamento agrave desmobilizaccedilatildeo e agrave

reintegraccedilatildeo de ex-combatentes para suportar a organizaccedilatildeo de eleiccedilotildees para proteger e

promover os direitos humanos e para ajudar na construccedilatildeo de um ldquoestado de direitorsquo

(rule of law) fazendo a ponte com as operaccedilotildees de peacebuilding no terreno e sendo os

seus atores parceiros ldquonaturaisrdquo dos humanitaacuterios no terreno (UN sda UN sdb)

As razotildees pelas quais foi escolhido este tema satildeo sobretudo motivaccedilotildees pessoais mas

tambeacutem a relevacircncia do mesmo para a construccedilatildeo do saber na aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria

cooperaccedilatildeo e desenvolvimento sobretudo na parte da accedilatildeo humanitaacuteria Explorar novos

caminhos e trabalhar novos paradigmas para a evoluccedilatildeo positiva da accedilatildeo das missotildees no

terreno eacute fulcral para o futuro da accedilatildeo humanitaacuteria ndash eacute urgente encontrar novas soluccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

3

para que os humanitaacuterios e os militares possam satisfazer as necessidades das

populaccedilotildees que residam em locais de conflito

Uma articulaccedilatildeo entre os humanitaacuterios e os membros de operaccedilotildees de peacekeeping ou

peacebuilding pode revelar-se importante para o sucesso das missotildees em que os

profissionais humanitaacuterios participam sobretudo se essas missotildees forem sediadas em

locais de tensatildeo aberta ou altamente conflituosos Para aleacutem da motivaccedilatildeo pessoal

explicada existe pois uma motivaccedilatildeo social sendo ela a de colaborar para alertar os

agentes responsaacuteveis pela accedilatildeo humanitaacuteria para as novas necessidades e desafios nesta

aacuterea de forma a contribuir mais e melhor na sociedade

Os objetivos do estudo ao abordar este tema satildeo explorar a relaccedilatildeo existente ou natildeo

entre o profissional humanitaacuterio e o militar bem como entender ateacute que ponto essa

relaccedilatildeo eacute ou natildeo beneacutefica para a eficaacutecia da accedilatildeo humanitaacuteria e se porventura coloca em

causa os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios que satildeo a imparcialidade neutralidade e

independecircncia Eacute pretendido tambeacutem explorar as vaacuterias opccedilotildees de obtenccedilatildeo de

seguranccedila e identificar as melhores opccedilotildees

No entanto o objetivo central eacute explorar as dinacircmicas de articulaccedilatildeo entre o

humanitaacuterio e o militar em missotildees humanitaacuterias nas suas diversas formas quer com a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas quer com o apoio dos peacekeepers ou

forccedilas militares do paiacutes que estaacute sob a ajuda humanitaacuteria e a accedilatildeo militar Dado o cariz

do mestrado em Accedilatildeo Humanitaacuteria que visa formar tambeacutem para a praacutetica de terreno

este objetivo afigura-se fundamental

O paradigma investigativo escolhido para a dissertaccedilatildeo eacute o qualitativo que assenta na

interpretaccedilatildeo de determinados fenoacutemenos de modo a construir uma nova visatildeo acerca

do tema de estudo A parte empiacuterica da dissertaccedilatildeo conta com um estudo de caso sobre

o Sudatildeo do Sul onde eacute analisada a interaccedilatildeoarticulaccedilatildeo entre o humanitaacuterio e o militar

no terreno com recurso a anaacutelise bibliograacutefica e documental nomeadamente a anaacutelise

de um guia sobre missotildees integradas elaborado pela OXFAM que eacute o UN Integrated

Missions and Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations

Integrated Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) Conta tambeacutem com a

anaacutelise de um documento importante para o estudo do caso do Sudatildeo do Sul que eacute o

Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United Nations

Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) elaborado pelas Naccedilotildees Unidas (NU)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

4

em conjunto com ONG OING e OIG Este eacute um guia que iraacute explicar como deve ser

feita a cooperaccedilatildeo entre a comunidade humanitaacuteria e os peacekeepers no terreno

denominada tambeacutem de missatildeo integrada (minimalista ou maximalista conforme se

explicaraacute)

O motivo da escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso foi o facto de este ser um

Estado de elevada fragilidade onde a guerra civil natildeo aparenta ter um fim agrave vista Outro

motivo foi o nuacutemero crescente de humanitaacuterios atacados sequestrados e assassinados

no terreno o que torna o Sudatildeo do Sul um terreno perigoso para as ONG e OIG se

aventurarem sem que sejam garantidas as devidas condiccedilotildees de seguranccedila e proteccedilatildeo

dos humanitaacuterios O cerne da questatildeo eacute precisamente o facto de essa proteccedilatildeo e

seguranccedila natildeo serem garantidas no terreno pelo Estado que estaacute em conflito armado

natildeo sendo possiacutevel por vezes aos humanitaacuterios chegar a determinados locais por

elevado niacutevel de perigo de vida

Satildeo estes os motivos que justificaram a escolha do Sudatildeo do Sul para o estudo de caso

complementando assim a parte teoacuterica sobre o dilema dos princiacutepios humanitaacuterios e a

necessidade de proteccedilatildeo no terreno

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

5

Capiacutetulo I Accedilatildeo Humanitaacuteria

1 Contextualizaccedilatildeo e definiccedilatildeo da Accedilatildeo Humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria nasceu com Henri Dunant tendo sido este a criar a Cruz Vermelha

apoacutes a batalha violenta de Solferino em 1859 Teraacute entatildeo uma estrutura composta de

associaccedilotildees pequenas adquirindo uma dimensatildeo sem-fronteiras Comeccedilou por ser

denominada de Comiteacute International de Secours aux Blesseacutes e em 1875 obteve o nome

pela qual eacute conhecida hoje Cruz Vermelha ou Croix Rouge Tinha como principal

objetivo tratar os prisioneiros e feridos de guerra independentemente do lado pelo qual

lutavam Ou seja Dunan apoacutes assistir aos horrores daquela batalha decidiu criar uma

organizaccedilatildeo que tratasse todos os feridos independentemente da raccedila religiatildeo

ideologia cor crenccedila ou etnia (Schaumoff 2011 Crisp 2008)

A Cruz Vermelha comeccedilou por basear-se em trecircs pilares fundamentais que satildeo a

neutralidade a independecircncia da organizaccedilatildeo permanente de socorros e uma convenccedilatildeo

internacional para a proteccedilatildeo dos feridos A accedilatildeo humanitaacuteria tinha e tem como

principal objetivo alivar o sofrimento restabelecer a dignidade e humanidade Estes trecircs

pilares foram rapidamente adotados pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias (Schaumoff

2011 Crisp 2008 Hammond 2015) Em 1965 em Viena a Cruz Vermelha proclamou

os seus sete princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

Independecircncia todas as ONG e OIG devem ser independentes relativamente a qualquer

instituiccedilatildeo Estado ou outro sistema governamental a fim de se poderem movimentar e

agir de acordo com os seus princiacutepios e natildeo sob pressatildeo da entidade da qual dependem

monetariamente ou securitariamente Ou seja a accedilatildeo humanitaacuteria deve ser praticada de

forma autoacutenoma e independente dos agentes poliacuteticos e militares (Hisamoto 2012

IFRCC sd)

Imparcialidade todos devem ser tratados de igual forma independentemente da tribo

etnia da cor do sexo da religiatildeo de ideologia poliacutetica e do geacutenero (IFRCC sd CVP

2017a)

Neutralidade as OIG e ONG devem abster-se de tomar parte em hostilidades ou em

controveacutersias de ordem poliacutetica racial filosoacutefica ou religiosa (IFRCC sd CVP

2017a)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

6

Humanidade este princiacutepio estabelece que todos os feridos devem ser auxiliados dentro

e fora do campo de batalha o sofrimento deve ser aliviado independentemente das

circunstacircncias a vida e a sauacutede devem ser protegidas deve ser promovido o respeito

pela pessoa humana e deve ser favorecida a compreensatildeo a cooperaccedilatildeo e a paz

duradoura entre os povos (IFRCC sd CVP 2017a)

Voluntariado todas as OIG e ONG devem agir de forma voluntaacuteria e desinteressada

(IFRCC sd CVP 2017a)

Unidade a Cruz Vermelha eacute uma soacute podendo em cada paiacutes existir somente sociedades

abertas a todos estendendo assim a sua accedilatildeo humanitaacuteria a todo o territoacuterio nacional

No entanto este princiacutepio eacute estendiacutevel a toda a comunidade humanitaacuteria que deve agir

como uma soacute entreajudando-se e cumprindo o dever de salvar vidas e aliviar o

sofrimento humano (IFRCC sd CVP 2017a)

Universalidade a Cruz Vermelha eacute uma instituiccedilatildeo com cariz universal no seio de

todas as Sociedades Nacionais todas tecircm direitos e deveres iguais de entreajuda o

mesmo princiacutepio vale para as restantes organizaccedilotildees intergovernamentais ou natildeo

governamentais (IFRCC sd CVP 2017a)

Em 1949 foram criadas as Quatro Convenccedilotildees de Genebra e posteriormente os

respetivos protocolos que satildeo de 1977 e satildeo a base do Direito Internacional

Humanitaacuterio onde eacute determinado o tratamento dos soldados e civis durante os conflitos

armados internacionais e natildeo internacionais (CVP 2017b Jurkowski 2017)

A primeira Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos e dos doentes das

Forccedilas Armadas em campanha Aqui eacute estabelecido como devem ser tratados os feridos

e doentes das forccedilas armadas respeitando sempre os princiacutepios fundamentais mais

importantes da accedilatildeo humanitaacuteria que satildeo a neutralidade e imparcialidade Ou seja todo

o doente ou ferido deve ser tratado independentemente da sua cor raccedila credo feacute

religiatildeo geacutenero ideologias poliacuteticas etnias e quer faccedila parte de uma ou outra parte das

hostilidades (ICRC 1949 CVP 2017b Jurkowski 2017)

A segunda Convenccedilatildeo diz respeito a melhorar a situaccedilatildeo dos feridos doentes e

naacuteufragos das Forccedilas Armadas no mar Eacute aqui estabelecido o tipo de tratamentos que os

feridos doentes e naacuteufragos das forccedilas armadas devem obter e os direitos que lhes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

7

assistem Todos os feridos devem ser assistidos independentemente da religiatildeo crenccedila

feacute religiatildeo ideologias poliacuteticas e quer faccedilam parte de uma ou da outra parte das

hostilidades Caso os humanitaacuterios estejam perante dois feridos e tenham de escolher

devem assistir o ferido que teraacute mais probabilidades de sobreviver natildeo devendo fazer a

escolha com base na nacionalidade faccedilatildeo partidaacuteria crenccedila religiatildeo feacute cor entre

outros Todas as organizaccedilotildees humanitaacuterias e todos os humanitaacuterios devem pois reger-

se pelos princiacutepios da neutralidade e imparcialidade mas tambeacutem humanidade e

independecircncia (ICRC 1949 CVPb 2017)

A terceira Convenccedilatildeo diz respeito ao tratamento dos prisioneiros de guerra Todos os

prisioneiros de guerra devem ser tratados com dignidade e devem ver os seus direitos

consagrados no direito internacional humanitaacuterio respeitados como o acesso a

assistecircncia meacutedica em caso de necessidade a proteccedilatildeo dos seus pertences que natildeo

devem ser alvo de pilhagem e a garantia de um miacutenimo de condiccedilotildees na cela que

permita ao prisioneiro viver com dignidade Natildeo devem ainda ser alvo de torturas

privados de visitas e de um advogado e devem ainda ter acesso a um julgamento

imparcial Em caso de morte o corpo natildeo pode ser profanado e deve ser devolvido agrave

famiacutelia uma vez feito o reconhecimento (ICRC 1949 CVP 2017b)

A quarta Convenccedilatildeo diz respeito agrave proteccedilatildeo de civis em tempo de guerra Nesta

convenccedilatildeo eacute feita a distinccedilatildeo entre os conflitos armados internacionais e os conflitos

armados natildeo internacionais pois a proteccedilatildeo dada aos civis em tempo de conflito a

niacutevel do direito internacional humanitaacuterio eacute diferente Se no caso de um CAI (Conflito

Armado Internacional) os civis e prisioneiros de guerra estatildeo protegidos pelo Direito

Internacional Humanitaacuterio e pelas Convenccedilotildees de Genebra ratificadas por quase todos

os Estados do mundo a verdade eacute que caso o conflito natildeo seja internacional a proteccedilatildeo

dos civis e prisioneiros de guerra eacute colocada em causa O Direito Internacional

Humanitaacuterio natildeo tem legitimidade para atuar em caso de CANI (Conflito Armado Natildeo

Internacional) Logo em caso de CANI os civis e prisioneiros de guerra ficam

entregues agrave sua sorte No entanto eacute possiacutevel contornar este problema recorrendo aos

protocolos adicionais I e II O problema aqui reside no facto de poucos Estados terem

ratificado os protocolos adicionais o que deixa os civis e prisioneiros de guerra numa

posiccedilatildeo delicada em contexto de CAN Outro problema eacute ainda determinar quando eacute

que podemos classificar um conflito armado como sendo internacional ou natildeo Esta eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

8

uma aacuterea complicada e que leva a algumas duacutevidas quanto agrave classificaccedilatildeo do conflito

(Jurkowski 2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional I vem pois fazer a distinccedilatildeo entre os conflitos armados

internacionais e natildeo internacionais e o protocolo adicional II vem fazer algumas

modificaccedilotildees e especificar como devem ser tratados os feridos doentes e prisioneiros de

guerra em cada um dos casos Foram celebrados a 8 de agosto de 1977 (Jurkowski

2017 CVP 2017b ICRC 1949)

O protocolo adicional III celebrado a 8 de dezembro de 2005 vem formalizar o terceiro

emblema do movimento ldquoO Cristal Vermelhordquo Este novo emblema apresenta-se na

forma de um losango inserido dentro de uma moldura vermelha sob fundo branco A

ideia da construccedilatildeo de um novo siacutembolo surgiu com a necessidade de encontrar uma

alternativa agrave cruz e ao crescente que satildeo muitas vezes percecionadas como tendo

conotaccedilotildees religiosas culturais e poliacuteticas o que levava ao desrespeito do emblema dos

humanitaacuterios e das viacutetimas Com o novo emblema denominado de Cristal Vermelho e

com a assinatura do acordo entre o Crescente Vermelho da Palestina e a Magen David

Adom (mais conhecida por estrela de David) a 28 de novembro de 2005 foram

definidos aspetos logiacutesticos no desenvolvimento das operaccedilotildees humanitaacuterias Este

acordo contribuiu para a adoccedilatildeo do III protocolo adicional e para que terminasse um

longo processo diplomaacutetico (CVPb 2017 CVP 2017c ICRC 1949)

Com o aumento do nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento

de conflitos que necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido pela Cruz

Vermelha em 1994 o coacutedigo de conduta humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se

comprometeriam a respeitar os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios principalmente os

princiacutepios da neutralidade imparcialidade e independecircncia Este coacutedigo foi assinado por

140 agecircncias de forma a assegurar que os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios fossem

assegurados no terreno (Makintosh 2000 Hammond 2015)

Podemos constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria tem como principal missatildeo aliviar o

sofrimento humano e devolver dignidade agrave vida das pessoas com necessidades que

devem ser urgentemente apaziguadas Esta ajuda humanitaacuteria deve ter como principal

fim o solidaacuterio e nunca fins lucrativos ou segundas intenccedilotildees como poliacuteticas por

exemplo Os seus valores tecircm origem eacutetico-religiosa cristatilde quanto ao amor ao proacuteximo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

9

no princiacutepio da solidariedade e da caridade bem como no humanitarismo Eacute tambeacutem

estabelecido neste protocolo que a Cruz Vermelha deve estar bem identificada e que

nenhuma instituiccedilatildeoorganizaccedilatildeo humanitaacuteria e religiosa deve ser atacada pois se trata

de entidades imparciais e neutras (Jurkowski 2017 Hammond 2015)

Os princiacutepios humanitaacuterios definem as regras de accedilatildeo no terreno na hora de oferecer

ajuda humanitaacuteria devendo sempre respeitar os referidos sete princiacutepios humanitaacuterios

proclamados em Viena em 1965 pela Cruz Vermelha Os humanitaacuterios devem ainda

manter-se neutros face agraves hostilidades e natildeo devem ser associados implicados ou ter

uma participaccedilatildeo poliacutetica no terreno de forma a natildeo colocar a vida da populaccedilatildeo em

risco e a populaccedilatildeo natildeo recear pedir ajuda Devem tambeacutem manter-se imparciais

quanto ao tratamento das pessoas sendo por isso a independecircncia fulcral que soacute eacute

conseguida mantendo-se neutros (Jurkowski 2017 Crisp 2008 Hammond 2015)

O humanitaacuterio ou a organizaccedilatildeo humanitaacuteria tecircm tambeacutem o dever de denunciar abusos

aos direitos humanos No entanto muitos natildeo o fazem sob medo de ao denunciarem o

Estado denunciado os encarar como tomando um dos lados das hostilidades existentes e

de por isso lhes ser retirada a permissatildeo para permanecerem no terreno ou serem alvos

de ataques entre outros Os Meacutedicos sem Fronteiras por exemplo jaacute encararam este

tipo de problemas e a poliacutetica da organizaccedilatildeo eacute denunciar mesmo que isso signifique ter

de fazer as malas e abandonar o terreno Natildeo denunciar seria cooperar e permitir a

violaccedilatildeo dos direitos humanos ndash este eacute chamado o ldquoprinciacutepio da ingerecircncia

humanitaacuteriardquo Tal significa que o humanitaacuterio deve denunciar os crimes contra os

Direitos Humanos independentemente das consequecircncias (Terry 2002 Hisamoto

2012)

Apoacutes a criaccedilatildeo da Cruz Vermelha vaacuterias organizaccedilotildees internacionais governamentais e

natildeo-governamentais foram surgindo para fornecer ajuda humanitaacuteria aos paiacuteses em

conflito e de extrema pobreza No plano das natildeo governamentais encontramos

organizaccedilotildees como a AMI a OXFAM ou a Caacuteritas A niacutevel intergovernamental a ONU

abriu um escritoacuterio denominado OCHA (United Nations Office for the Coordination of

Humanitarian Affairs) para a coordenaccedilatildeo dos assuntos humanitaacuterios a OCDE tambeacutem

se dedica a esta causa bem como a UE atraveacutes do ECHO (European Civil Protection

and Humanitarian Aid Operations) (Philippe et al 2007)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

10

Podemos entatildeo constatar que a accedilatildeo humanitaacuteria eacute uma atuaccedilatildeo no terreno de cariz

puramente solidaacuterio e humanitaacuterio que tem como principal objetivo aliviar o sofrimento

humano fornecendo os meios essenciais de subsistecircncia apoio meacutedico e psicoloacutegico

bem como abrigo proteccedilatildeo e apoio legal em caso de a viacutetima ter sido alvo de violaccedilatildeo

dos seus Direitos Humanos Esta atuaccedilatildeo eacute realizada por ONG OING e OIG (Bellamy e

Wheeler 2006)

2 Aacutereas de atuaccedilatildeo da accedilatildeo humanitaacuteria

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute composta por diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sendo a ajuda

humanitaacuteria em contexto de conflito e a defesa dos direitos humanos as aacutereas que iratildeo

ser mais aprofundadas nesta dissertaccedilatildeo As aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo pois a ajuda ao

desenvolvimento a defesa dos direitos humanos a promoccedilatildeo da paz e a ajuda

humanitaacuteria mais urgente A ajuda urgente eacute a mais oacutebvia mas os humanitaacuterios

colaboram tambeacutem no terreno com missotildees orientadas para outros fins e com prazos

mais longos Cada uma dessas aacutereas dentro da ajuda humanitaacuteria requer uma estrateacutegia

diferente de accedilatildeo e cuidados a ter com os proacuteprios humanitaacuterios que satildeo muitas vezes

alvo de sequestros atentados e homiciacutedio Por exemplo a ajuda humanitaacuteria em

contexto de conflito requer uma maior preparaccedilatildeo por parte dos humanitaacuterios para o

terreno onde vatildeo atuar requer um estabelecimento de mecanismos de seguranccedila

detalhados como por exemplo mapear onde estatildeo localizados onde cada grupo da sua

equipa estaacute a operar em determinado momento assegurar meios de telecomunicaccedilatildeo

fiaacuteveis como a raacutedio para que todos os elementos do grupo estejam contactaacuteveis pela

base onde estaacute sediada a organizaccedilatildeo (Ryfman 2007)

Jaacute a aacuterea de ajuda ao desenvolvimento tem como principal foco a erradicaccedilatildeo da

pobreza a niacutevel mundial Essa ajuda eacute fornecida por organizaccedilotildees de paiacuteses

desenvolvidos ou organizaccedilotildees intergovernamentais como a ONU Este objetivo adveacutem

da parceria entre Estados desenvolvidos e em vias de desenvolvimento tendo tido um

marco fundamental na Declaraccedilatildeo do Mileacutenio assinada por 189 Estados em setembro

de 2000 Esta Declaraccedilatildeo do Mileacutenio foi adotada na resoluccedilatildeo ARES552 da

Assembleia Geral das NU Nela ficaram estabelecidos os princiacutepios fundamentais a

serem adotados por todos os Estados Membros que a tenham ratificado A menccedilatildeo

destes princiacutepios iraacute clarificar o conceito da accedilatildeo humanitaacuteria e fazer entender que

certos princiacutepios satildeo negados agraves populaccedilotildees de Estados fragilizados em conflito ou em

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

11

vias de desenvolvimento e que ainda eacute necessaacuterio percorrer um longo caminho na aacuterea

da accedilatildeo humanitaacuteria que neste momento se revela difiacutecil devido agrave inseguranccedila em

determinados terrenos Esses princiacutepios satildeo

Liberdade Todos independentemente do geacutenero devem ter o direito de viver em

dignidade e criar os seus filhos em dignidade livres da fome do medo e da violecircncia

opressatildeo ou injusticcedila Os governos devem ser democraacuteticos e participativos baseados

na vontade do povo

Igualdade nenhum individuo ou naccedilatildeo deve ver a oportunidade de beneficiar do

desenvolvimento negada Os direitos e oportunidades devem ser iguais para todos

Solidariedade Desafios globais devem ser geridos de forma a que os custos e benefiacutecios

sejam distribuiacutedos de forma justa com base no princiacutepio da equidade e justiccedila social

Aqueles que sofrem ou que beneficiam menos merecem a ajuda dos que satildeo mais

beneficiados

Toleracircncia Todo o ser humano deve respeitar-se mutuamente em toda a sua diversidade

de crenccedila cultura e linguagem A diferenccedila na e entre a sociedade natildeo devem ser

temidas ou reprimidas devem antes ser preservadas como um bem precioso da

humanidade Por uacuteltimo deve ser promovida uma cultura de paz e dialogo entre todas

as civilizaccedilotildees

Respeito pela natureza Deve haver prudecircncia na gestatildeo de todas as espeacutecies existentes

e recursos naturais de acordo com a perceccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel A

riqueza da natureza e diversidade de espeacutecies legada pelos nossos antepassados deve ser

preservada para a manutenccedilatildeo do equilibro do meio ambiente no presente e para os

nossos descendentes no futuro O padratildeo de consumismo e constante destruiccedilatildeo da

natureza deve ser mudado

Responsabilidade partilhada A responsabilidade de gerir mundialmente o niacutevel

econoacutemico e o desenvolvimento social bem como ameaccedilas agrave paz internacional e

seguranccedila deve ser partilhada entre naccedilotildees do mundo e deve ser exercida

multilateralmente As NU devem por isso como organizaccedilatildeo mundial de maior

influecircncia ter um papel central nesta questatildeo (UN 2000 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

12

Com base nestes princiacutepios foram estabelecidos os objetivos de desenvolvimento do

mileacutenio e posteriormente em 2015 os 17 objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel

que satildeo 1) Erradicar a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares 2)

Acabar com a fome conseguir seguranccedila alimentar melhorar a nutriccedilatildeo e a promoccedilatildeo

de uma agricultura sustentaacutevel 3) Assegurar uma vida saudaacutevel e promover o bem-estar

para todos em todas as idades 4) Assegurar uma educaccedilatildeo que privilegie a inclusatildeo de

todos que seja equitativa e de qualidade e que promova diversas oportunidades de

aprendizagem ao longo da vida e para todos 5) Alcanccedilar a igualdade de geacutenero

conceder autonomia agraves mulheres 6) Assegurar uma gestatildeo sustentaacutevel da aacutegua e

saneamento e a garantir que toda a populaccedilatildeo tenha acesso agrave aacutegua 7) garantir a todos o

acesso sustentaacutevel e confiaacutevel agrave energia 8) promover o crescimento econoacutemico

sustentado inclusivo e sustentaacutevel emprego pleno e produtivo bem como trabalho

decente para todos 9) Construir infraestruturas resistentes promover a industrializaccedilatildeo

sustentaacutevel de forma a fomentar a inovaccedilatildeo 10) Reduzir as desigualdades no seio do

Estado e entre Estados 11) Tornar as cidades e o patrimoacutenio humano mais inclusivos

seguros resistentes e sustentaacuteveis 12) Assegurar padrotildees de produccedilatildeo e de consumo

sustentaacuteveis 13) Combater as alteraccedilotildees climaacuteticas de forma a diminuir o risco do seu

impacto no nosso planeta 14) Promover o uso sustentaacutevel dos oceanos dos mares e dos

recursos marinhos para um desenvolvimento sustentaacutevel 15) Proteger recuperar e

promover o uso sustentaacutevel dos ecossistemas terrestres gerir de forma sustentaacutevel as

florestas e combater a desertificaccedilatildeo deter e reverter a degradaccedilatildeo da terra e deter a

perda de biodiversidade 16) Promover sociedades paciacuteficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentaacutevel proporcionar o acesso agrave justiccedila com base na igualdade e

equidade construir instituiccedilotildees eficazes responsaacuteveis e inclusivas para todos 17)

Fortalecer os meios de implementaccedilatildeo e revitalizar a parceria a niacutevel global para o

desenvolvimento sustentaacutevel (UN 2015 ONUBR 2017 UN 2017c)

Podemos por isso considerar que a ajuda ao desenvolvimento fornecida pelo PNUD eacute

uma accedilatildeo poliacutetica para melhorar as condiccedilotildees de vida dos paiacuteses em vias de

desenvolvimento numa perspetiva de longo prazo A ajuda eacute fornecida pelos Estados-

membros da OCDE ONU EU BMI e FMI

A luta pelos direitos dos humanos tem como principal objetivo a luta contra a violaccedilatildeo

dos direitos humanos definidos na declaraccedilatildeo universal dos direitos do homem Como

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

13

quadro de referecircncia dos direitos humanos foram ainda redigidas a convenccedilatildeo

internacional para os direitos poliacuteticos e civis e a convenccedilatildeo para os direitos

econoacutemicos sociais e culturais (Ryfman 2007 UN 2017d SDG 2015)

Este tipo de ajuda humanitaacuteria funciona atraveacutes de denuacutencias e pressotildees para que sejam

conhecidas sucessivas violaccedilotildees dos direitos humanos e o direito a uma vida digna

preservado No entanto esta eacute uma aacuterea que pode abrir portas para o conflito entre o

dever de denunciar violaccedilotildees dos Direitos Humanos e os princiacutepios humanitaacuterios Como

foi referido acima as ONG e OIG baseiam-se em sete princiacutepios fundamentais dos

quais trecircs satildeo cruciais ndash a independecircncia a neutralidade e a imparcialidade Ao

denunciar uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a denuacutencia poderaacute ser vista como se a

organizaccedilatildeo estivesse a tomar partido por uma das partes do conflito mesmo que natildeo

seja o caso e eacute assim colocada em causa a neutralidade da organizaccedilatildeo seja ela

internacional local governamental ou natildeo Este eacute um caso bastante delicado pois a

organizaccedilatildeo precisa da autorizaccedilatildeo para poder permanecer no terreno Esta situaccedilatildeo

pode levar a que vaacuterias organizaccedilotildees se sintam intimidadas na hora de denunciar

embora exista um modelo especiacutefico criado pelas Naccedilotildees Unidas para realizar queixas

por violaccedilatildeo dos direitos humanos O procedimento eacute denominado de Human Rights

Council Complaint Procedure A Amnistia Internacional tambeacutem faz queixas por

violaccedilatildeo dos direitos humanos sendo uma ONG muito importante no ativismo pelos

direitos humanos (OHCHR 2017 Hammond 2015)

O Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Direitos Humanos (ACDH) tem

tambeacutem um papel importantiacutessimo na prevenccedilatildeo e denuacutencia de potenciais crimes contra

os direitos humanos no terreno Este Alto Comissariado tem como principal objetivo

dar suporte ao respeito pelos direitos humanos no acircmbito de operaccedilotildees de

peacekeeping peaceenforcement peacebuilding provendo planos estrateacutegicos

policiamento e aconselhamento especializado O Alto Comissariado pode mesmo

indicar a necessidade de acionar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo mas eacute o Conselho de

Seguranccedila que tem o poder decisoacuterio nesta mateacuteria As principais atividades do ACDH

satildeo fazer a monitorizaccedilatildeo diaacuteria investigaccedilatildeo documentaccedilatildeo e relato da situaccedilatildeo

relativa aos direitos humanos advogar junto das autoridades locais e nacionais

envolvendo a sociedade civil e os governos nacionais (desta forma eacute possiacutevel prevenir e

assegurar a reparaccedilatildeo da violaccedilatildeo dos direitos humanos) reportar publicamente ganhos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

14

e falhas nos direitos humanos assegurar que o processo de paz promova a justiccedila e a

equidade construir instituiccedilotildees de direitos Humanos incorporar os direitos humanos

nas missotildees de paz da NU bem como em todos os programas e atividades as NU no

paiacutes (OHCHR 2017)

Eacute ainda nesta aacuterea que se verifica uma maior possibilidade de ser posta em causa a

neutralidade e a independecircncia das organizaccedilotildees Para poder proteger os direitos

humanos e denunciar abusos de direitos humanos perpetrados por exemplo pelo Estado

em cujo territoacuterio se verificam esses atos os humanitaacuterios iratildeo colocar em causa a sua

permanecircncia no terreno Este facto leva a que muitas organizaccedilotildees natildeo realizem a

denuacutencia o que torna de certa forma as mesmas cuacutemplices dessas barbaridades contra a

sua vontade

A promoccedilatildeo da paz recai essencialmente sobre o Conselho de Seguranccedila das NU que

tem como principal objetivo a manutenccedilatildeo e estabelecimento da paz e a seguranccedila

internacional de forma a que natildeo se repita mais nenhum conflito com a dimensatildeo da II

Guerra Mundial tendo esse sido o principal motivo para a fundaccedilatildeo das NU Para

promover a paz as NU atraveacutes do Conselho de Seguranccedila recorreu a operaccedilotildees de

peacekeeping peacebuilding e mesmo ao peace enforcement a diplomacia e a

mediaccedilatildeo preventiva ao combate ao terrorismo (como podemos verificar hoje com o

Daesh) e ao desarmamento que eacute feito atraveacutes da eliminaccedilatildeo do armamento nuclear de

destruiccedilatildeo massiva e regulaccedilatildeo do armamento convencional (Ryfman 2007 UN

2017b Carta das NU 1945)

A ajuda humanitaacuteria eacute a ajuda fornecida em situaccedilotildees de grande emergecircncia sendo a

accedilatildeo das ONG OING e OIG fundamental nas primeiras setenta e duas horas apoacutes o

desastre natural ou ataque em caso de conflito armado O objetivo desta aacuterea da ajuda

humanitaacuteria eacute aliviar o sofrimento humano restabelecendo e protegendo a dignidade

humana ou seja uma vida digna assistindo a populaccedilatildeo fornecendo bens de primeira

necessidade como aacutegua comida abrigo proteccedilatildeo apoio meacutedico e psicoloacutegico Satildeo

exemplo dessa atividade tratar viacutetimas de abuso sexual ajudar a retirar viacutetimas dos

escombros organizar o campo de refugiados para acolher os refugiados requerentes de

asilo com as devidas condiccedilotildees Este eacute um trabalho fundamental capaz de apaziguar

conflitos salvar vidas e restaurar a dignidade Uma populaccedilatildeo com seguranccedila aacutegua

comida e abrigo eacute mais propensa agrave pacificaccedilatildeo Inversamente a escassez de aacutegua eacute o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

15

motivo de vaacuterios conflitos armados e guerras civis como eacute o caso do Sudatildeo do Sul

(Philippe et al 2007)

A accedilatildeo humanitaacuteria eacute pois como se pocircde verificar muito mais que uma ajuda de

emergecircncia e de reconstruccedilatildeo eacute uma aacuterea dedicada ao respeito dos direitos humanos

respeito pela dignidade do homem e manutenccedilatildeo da paz A sua neutralidade e

imparcialidade permitem fornecer ajuda a todos independentemente da cor raccedila

geacutenero crenccedilas ideologias religiatildeo e origem eacutetnica A neutralidade ou seja o facto de

as ONG e OIG fornecedoras de ajuda natildeo tornarem parte nas hostilidades leva a que

natildeo sejam vistas como apoiantes de uma das partes conflituantes e natildeo sejam por isso

pressionadas a fazer determinados atos ou a natildeo fornecer ajuda a determinadas etnias

entre outros A independecircncia eacute crucial pois uma vez a ONG ou OIG humanitaacuteria

dependente do governo local seraacute pressionada e teraacute de fazer cedecircncias para poder

continuar a permanecer no terreno bem como teraacute dificuldade ou veraacute barrado o acesso

a determinados locais (Ryfman 2007 Smith 2016)

A ONU participa diretamente na ajuda humanitaacuteria atraveacutes do OCHA Este escritoacuterio

das NU eacute responsaacutevel por coordenar uma resposta eficaz em situaccedilotildees de emergecircncia e

o objetivo eacute assistir o mais raacutepida e eficazmente possiacutevel as pessoas em necessidade A

ONU tem ainda o CERF (Central Emergency Response Fund) gerido pelo OCHA que

eacute uma peccedila fundamental para uma resposta raacutepida em contexto de conflito armado ou

desastre natural ou seja permite um raacutepido financiamento para que seja possiacutevel enviar

ajuda ceacutelere O CERF recebe contribuiccedilotildees voluntaacuterias ao longo do ano o que permite

que seja possiacutevel suportar o envio de ajuda humanitaacuteria para o terreno (UN 2017d) As

Naccedilotildees Unidas tecircm ainda nesta aacuterea diversas entidades que fornecem ajuda humanitaacuteria

como por exemplo O United Nation High Commissioner for Refugees para ajudar os

IDP (Internal Displaced Persons) e os refugiados bem como apaacutetridas o UNDP

(United Nations Development Programm) o UNICEF (United Nations Childrenrsquos

Fund) para ajudar as crianccedilas o WFP (World Food Programme) para combater a fome

e a organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede para ajudar os doentes e feridos (ONU 2017)

3 A Carta Humanitaacuteria

A Carta Humanitaacuteria nasceu com o projeto Sphere (The Sphere Projectb sd) em 1997

e tem como objetivo definir padrotildees miacutenimos humanitaacuterios de accedilatildeo no terreno comuns

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

16

a todas as ONG OING OIG e Estados que tenham ratificado as convenccedilotildees e tratados

humanitaacuterios e que se comprometam a cumprir esta declaraccedilatildeo Este projeto nasceu

essencialmente da insatisfaccedilatildeo relativa agrave atuaccedilatildeo das ONG OING e OIG no terreno nos

anos 90 durante as crises da Etioacutepia e do Sudatildeo fazendo com que as ONG chegassem agrave

conclusatildeo de que seria necessaacuterio elaborar um padratildeo de atuaccedilatildeo no terreno para os

profissionais Apoacutes esta discussatildeo comeccedilaram a aparecer manuais teacutecnicos dos MSF e

guias operacionais redigidos pela OXFAM ACNUR (Alto Comissariado das Naccedilotildees

Unidas para os Refugiados) e a OFDA (Office of US Foreign and Disaster Assistance)

entre outras Tambeacutem a Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho tiveram

participaccedilatildeo neste projeto com os coacutedigos e movimentos de conduta para ONG para

desenvolver a sua performance no terreno atraveacutes de programas de formaccedilatildeo (The

Sphere sdb Dyke e Waldmann 2004)

O projeto Sphere eacute governado por um conselho constituiacutedo por 18 membros que

representam redes de agecircncias humanitaacuterias tanto a niacutevel global como nacional que

determina as suas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo As organizaccedilotildees representadas neste

conselho trabalham juntas de forma voluntaacuteria e informal sob a direccedilatildeo do conselho

cujo escritoacuterio estaacute sediado em Genebra e trabalha para implementar estrateacutegias e

prioridades As organizaccedilotildees contribuem tambeacutem para o financiamento do projeto

(The Sphere Project sda)

Logo eacute possiacutevel constatar que a principal meta deste projeto eacute tornar a Accedilatildeo

Humanitaacuteria mais eficiente e que seja feita com mais responsabilidade e que sejam

garantidos os princiacutepios fundamentais humanitaacuterios O projeto foi elaborado para que as

ONG OING e OIG tivessem um guia sobre como agir no terreno em missotildees de

emergecircncia e em concordacircncia com o Direito Internacional Humanitaacuterio O objetivo

principal deste manual eacute garantir que todo o ser humano dever ter o direito de viver com

dignidade (The Sphere Project sda)

Humanitarian agencies committed to this Charter and to the Minimum Standards will aim to achieve

defined levels of service for people affected by calamity or armed conflict and to promote the observance

of fundamental humanitarian principles (The Humanitarian Charter sd pp 16)

Logo a Carta Humanitaacuteria estaacute comprometida com o aliacutevio do sofrimento humano e a

garantia da dignidade das viacutetimas afetadas pelo conflito armado internacional e natildeo

internacional cataacutestrofes e outras calamidades Por isso tal como foi referido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

17

anteriormente foi estabelecido um padratildeo miacutenimo que estabelece o que deve ser feito

quando as organizaccedilotildees enfrentam pessoas em necessidade de aacutegua saneamento bens

alimentares abrigo e cuidados de sauacutede e de nutriccedilatildeo Isto contribui para uma estrutura

operacional responsaacutevel em mateacuteria de assistecircncia humanitaacuteria (The Sphere Project

sdb Dyke e Waldmann 2004)

O documento estaacute dividido nos seguintes trecircs princiacutepios que devem ser respeitados pela

comunidade internacional humanitaacuteria

Direito a uma vida digna

O direito agrave vida eacute um princiacutepio e uma medida legislativa muito importante eacute um direito

humano Segundo a Carta Humanitaacuteria todos devem ver o seu direito agrave vida preservado

Com isto entende-se o direito a viver em dignidade e livre de tratamentos desumanos

ser impedido da liberdade alvo de traacutefico de pessoas e tratamentos degradantes bem

como puniccedilotildees crueacuteis e violentas Como eacute sabido as mulheres e crianccedilas satildeo tornadas

escravas sexuais e obrigadas a realizar trabalhos forccedilados juntando isto a deslocaccedilatildeo

forccedilada pode falar-se de traacutefico de pessoas que eacute considerado pela declaraccedilatildeo dos

Direitos Humanos um atentado agrave dignidade logo eacute uma violaccedilatildeo da declaraccedilatildeo

Refiram-se ainda as adoccedilotildees ilegais de crianccedilas oacuterfatildes que tambeacutem eacute uma das vertentes

do traacutefico de pessoas bem como o uso de crianccedilas em minas para armadilhar campos

com minas e na frente do exeacutercito (The Sphere Project sda pp 16-17 UN 1948)

A distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes

Eacute muito importante fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e natildeo combatentes em conflitos

armados pois os civis feridos e prisioneiros estatildeo protegidos atraveacutes do Direito

Internacional Humanitaacuterio e tecircm imunidade aos ataques coisa que os combatentes natildeo

tecircm Os ex-combatentes tambeacutem passam a usufruir dessa imunidade pois deixaram as

armas Este uacuteltimo aspeto eacute muito importante porque ex-combatentes satildeo sempre vistos

como combatentes e podem ser confundidos como tal sendo presos Em caso de prisatildeo

os combatentes de guerra usufruem de certos direitos especiais quanto ao tratamento

que devem ter Em guerras civis eacute difiacutecil fazer esta distinccedilatildeo porque podem existir

forccedilas militares natildeo reconhecidas e oficializadas Esta distinccedilatildeo consta da convenccedilatildeo de

Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais de 1977 conforme jaacute foi referido (The

Sphere Project sda pp 16-17)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

18

O princiacutepio da natildeo expatriaccedilatildeo

Este princiacutepio diz respeito aos refugiados e estabelece que nenhum refugiado deve de

forma alguma ser extraditado de volta para o seu paiacutes de origem onde a sua vida e

liberdade estariam ameaccediladas e correria risco de vida ou tortura devido agraves suas crenccedilas

raccedila religiatildeo ideologia politica entre outros Caso um refugiado seja expatriado o

Estado em questatildeo estaraacute a violar o Direito Internacional Humanitaacuterio e a Convenccedilatildeo de

1951 referente ao Estatuto do refugiado (The Sphere Project sda pp 16-17 UNHCR

2017)

A Carta Humanitaacuteria aborda ainda outro aspeto importante que satildeo as

responsabilidades e o papel que as organizaccedilotildees humanitaacuterias desempenham no terreno

de forma a que a populaccedilatildeo requerente de ajuda e refugiados natildeo corra perigo algum

Essas responsabilidades satildeo as seguintes

1) Evitar expor as viacutetimas a mais danos ou perigos como resultado das suas accedilotildees Neste

contexto o documento aborda a construccedilatildeo de campos para deslocados internos ou

refugiados em locais seguros que natildeo coloquem a vida destes em risco Esta

responsabilidade cabe em primeiro lugar ao Estado no qual a ONG ou OIG estaacute a

operar cabe-lhes garantir a seguranccedila do staff e da sua populaccedilatildeo Soacute em segundo lugar

eacute que cabe agraves agecircnciasorganizaccedilotildees zelar pelo bem-estar pela seguranccedila e satisfaccedilatildeo

das necessidades das pessoas que peccedilam ajuda para que seja restabelecida alguma

dignidade e que possam viver sem medo e terror com as suas necessidades baacutesicas

aliviadas (The Sphere Project sda pp 18)

2) Assegurar o acesso da populaccedilatildeo a uma assistecircncia imparcial Isto significa que as

agecircncias humanitaacuterias devem assistir todas as pessoas que necessitem principalmente

as pessoas que estejam numa situaccedilatildeo mais vulneraacutevel ou enfrentam exclusatildeo social por

motivos poliacuteticos eacutetnicos ou outros Este princiacutepio eacute um dos princiacutepios mais delicados

pois nem sempre as agecircncias humanitaacuterias conseguem aceder aos locais em contexto de

conflito armado que necessitam de assistecircncia das agecircncias O Estado deveria fornecer

escolta ou garantir o acesso seguro aos locais em questatildeo No entanto e como eacute de

prever caso esse local natildeo seja do interesse do Estado por estar dominado por rebeldes

por exemplo aquele natildeo iraacute facilitar o acesso Desta forma as agecircncias de forma a natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

19

correrem risco de vida limitar-se-atildeo aos locais seguros (The Sphere Progect sda

pp18)

3) Proteger as pessoas de danos fiacutesicos e psicoloacutegicos devido a violecircncia ou coerccedilatildeo

Neste princiacutepio falamos em proteger as pessoas de serem forccediladas ou induzidas a agir

contra a sua vontade o que eacute muito comum em contexto de conflito armado (The Sphere

Project sda pp 18)

4) Ajudar reivindicando direitos como a restituiccedilatildeo da propriedade ajudar a niacutevel social

e econoacutemico Eacute ainda o dever das agecircncias humanitaacuterias ajudar as viacutetimas a ultrapassar

as consequecircncias do abuso sexual a niacutevel fiacutesico e psicoloacutegico promovendo o acesso a

medicamentos e a recuperaccedilatildeo de abusos (The Sphere Project sda pp 18)

Por uacuteltimo eacute importante referir os padrotildees miacutenimos que a assistecircncia humanitaacuteria deve

respeitar no terreno de forma a uniformizar a accedilatildeo humanitaacuteria Os padrotildees miacutenimos de

assistecircncia humanitaacuteria foram definidos pelas agecircncias humanitaacuterias que trabalham no

terreno Quem aderir a este padratildeo miacutenimo de assistecircncia humanitaacuteria compromete-se a

assegurar as necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como aacutegua saneamento assistecircncia

meacutedica comida e abrigo para que seja comprido o direito a viver com dignidade Para

isso eacute necessaacuterio que Estado e organizaccedilotildees se comprometam a cumprir este princiacutepio

ao abrigo do direito internacional humanitaacuterio e direito do refugiado (The Sphere

Project sda)

Algumas agecircncias humanitaacuterias operam em determinadas aacutereas especiacuteficas de proteccedilatildeo

dos direitos humanos para que seja mais faacutecil fornecer ajuda Por exemplo existem

ONG especializadas em fornecer assistecircncia a crianccedilas tratar e lutar para a prevenccedilatildeo

de viacutetimas de violecircncia de gecircnero habitaccedilatildeo propriedade e terra minas ativas lei e

justiccedila Quanto agrave lei e justiccedila as agecircncias humanitaacuterias que forneccedilam este serviccedilo

enfrentam muitas vezes verdadeiros dilemas entre denunciar um crime de violaccedilatildeo dos

direitos humanos ou natildeo denunciar para que possam permanecer no terreno e defender

as viacutetimas de abusos fiacutesicos psicoloacutegicos de geacutenero entre outros (The Sphere Project

sda)

Em suma a conceccedilatildeo dos princiacutepios humanitaacuterios surgiu com a Cruz Vermelha tendo

os seus princiacutepios sido proclamados em Viena em 1967 Mais tarde com o aumento do

nuacutemero de ONG e OIG a trabalhar na aacuterea humanitaacuteria e o aumento de conflitos que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

20

necessitavam de ajuda humanitaacuteria foi estabelecido em 1994 o coacutedigo de conduta

humanitaacuterio para ONG pelo qual estas se comprometeriam a respeitar os princiacutepios

humanitaacuterios fundamentais Este coacutedigo foi assinado por 140 agecircncias Outro

documento elaborado foi o Humanitarian Charter and Minimum Standards in Disaster

Response elaborado pelo Sphere Project em 1997 As proacuteprias Naccedilotildees Unidas tambeacutem

deram o seu importante contributo para disseminar os princiacutepios humanitaacuterios no

terreno Os princiacutepios fundamentais tecircm de ser postos em praacutetica tal como o Direito

Internacional Humanitaacuterio aliaacutes um eacute o complemento do outro A CICV (Comiteacute

Internacional da Cruz Vermelha) opera no terreno respeitando o Direito Internacional

Humanitaacuterio e rege-se pelos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios (Makintosh 2000)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

21

Capiacutetulo II Cruzamentos entre a abordagem securitaacuteria e a

abordagem humanitaacuteria

1 Definiccedilatildeo de peacekeeping e de peacebuilding

A ONU tem um papel relevante na accedilatildeo securitaacuteria em cenaacuterios de ajuda humanitaacuteria

nomeadamente em Estados que estejam a atravessar conflitos armados e atraveacutes de

missotildees como as de peacekeeping e de peacebuilding A intervenccedilatildeo securitaacuteria

distingue-se da accedilatildeo humanitaacuteria pelo seu caraacuteter militar e poliacutetico Por vezes as

Naccedilotildees Unidas quando realizam uma intervenccedilatildeo militar seja de peacekeeping ou

dentro do peacebuilding podem em determinada circunstacircncias tomar partido por uma

das partes nas hostilidades ou parte conflituante sendo que estas operaccedilotildees tambeacutem

acontecem fora do estrito contexto humanitaacuterio Por sua vez numa situaccedilatildeo de

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria embora haja objetivos humanitaacuterios comuns o modo

de atuaccedilatildeo eacute militar e por isso claramente distinto da accedilatildeo humanitaacuteria

Para clarificar passa-se agrave definiccedilatildeo dos conceitos usados acima

Segundo as NU o peacekeeping corresponde ao seguinte

UN Peacekeepers provide security and the political and peacebuilding support to help countries make the

difficult early transition from conflict to peace UN Peacekeeping is guided by three basic principles

Consent of the parties Impartiality Non-use of force except in self-defence and defence of the mandate

(UN Peacekeeping sdd)

Esta ferramenta tem pois como objetivo ajudar os Estados em conflito a estabelecer e

manter a paz tendo provado ser um dos mecanismos mais eficazes da ONU para o

efeito Os militares do peacekeeping fornecem tambeacutem seguranccedila bem como apoio

poliacutetico para a construccedilatildeo da paz Os militares baseiam-se em trecircs princiacutepios que satildeo 1)

a imparcialidade (o que natildeo implica na formulaccedilatildeo atual neutralidade face ao mandato

que tecircm) 2) consentimento das partes para intervir no conflito (embora em casos

restritos como em casos de genociacutedio se possa aplicar a ldquoresponsabilidade de protegerrdquo

que natildeo precisa do consentimento mas que remete ao peace enforcement) 3) O natildeo uso

da forccedila tendo por exceccedilatildeo a autodefesa e a defesa do mandato como consta da citaccedilatildeo

acima (UN sda UN sdb Pinto 2007)

Ainda segundo Maria do Ceacuteu Pinto as operaccedilotildees de peacekeeping devem ser

imparciais mas tal natildeo implica ficarem indiferentes aos abusos dos direitos humanos

por parte de uma das partes das hostilidades Imparcialidade natildeo eacute pois sinoacutenima de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

22

neutralidade Logo desde que haja uma violaccedilatildeo dos direitos humanos os peacekeepers

devem agir jaacute que o dever deles eacute o de garantir o respeito dos direitos humanos aliviar

o sofrimento humano e garantir uma vida digna agrave populaccedilatildeo em questatildeo Existe por

isso o peacekeeping de terceira geraccedilatildeo denominado de peacekeeping ldquomusculadordquo por

Pinto (2007) ou peacekeeping ldquorobustordquo como eacute denominado pelas NU No entanto

este peacekeeping de terceira geraccedilatildeo continua a necessitar do consentimento do Estado

alvo ou das maiores partes do conflito Jaacute o uso da forccedila sem consentimento remete para

o peace enforcemente que eacute aplicar a paz atraveacutes da forccedila e eacute soacute usado este tipo de

missatildeo em uacuteltimo recurso (Pinto 2007 UN sda UN sdb)

Estas ferramentas satildeo natildeo soacute utilizadas para a resoluccedilatildeo de conflitos mas tambeacutem para

a proteccedilatildeo dos civis assistir ao desarmamento desmobilizaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo de ex-

combatentes suporte agraves organizaccedilotildees para as eleiccedilotildees proteccedilatildeo e promoccedilatildeo dos direitos

humanos e assistecircncia no restabelecimento do ldquoEstado de direitordquo (UN sda UN

sdb)

Por sua vez Peacebuilding significa na linguagem das Naccedilotildees Unidas

The term itself first emerged over 30 years ago through the work of Johan Galtung who called for the

creation of peacebuilding structures to promote sustainable peace by addressing the ldquoroot causesrdquo of

violent conflict and supporting indigenous capacities for peace management and conflict resolution (hellip)

The Secretary-Generalrsquos Policy Committee has described peacebuilding thus ldquoPeacebuilding involves a

range of measures targeted to reduce the risk of lapsing or relapsing into conflict by strengthening

national capacities at all levels for conflict management and to lay the foundations for sustainable peace

and development Peacebuilding strategies must be coherent and tailored to the specific needs of the 1

Three approaches to Peace peacekeeping peacemaking peacebuildingrdquo (UN 2010 pp 5)

Eacute pois uma accedilatildeo da ONU de identificaccedilatildeo e de suporte agraves estruturas de modo a que a

paz seja solidificada e os conflitos evitados Ou seja satildeo as atividades desenvolvidas

pela ONU para que a construccedilatildeo da paz seja feita no paiacutes onde houve conflito de modo

a que natildeo volte a acontecer o mesmo outra vez Tambeacutem visam fornecer todas as

ferramentas para a construccedilatildeo de um paiacutes forte com um aparelho de poder poliacutetico

soacutelido Logo eacute mais que o fim dos conflitos eacute a construccedilatildeo da paz de forma solidificada

e eficaz (UN 2010)

Segundo a mesma fonte o peacebuilding refere-se a cinco aacutereas que satildeo 1) o apoio agrave

seguranccedila baacutesica 2) os processos poliacuteticos a serem feitos para a construccedilatildeo e

manutenccedilatildeo da paz 3) a garantia da prestaccedilatildeo dos serviccedilos baacutesicos agrave populaccedilatildeo em

geral 4) a restauraccedilatildeo das funccedilotildees do governo central de modo a construir um aparelho

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

23

de poder forte e capaz de garantir e manter a paz bem como de resolver os conflitos

eacutetnicos ou entre grupos internos 5) a revitalizaccedilatildeo da economia para acabar com a

pobreza construir novas infraestruturas para desenvolver a produccedilatildeo para a

autossubsistecircncia do povo e de modo a que os bens fundamentais sejam garantidos a

todos (processo de desenvolvimento do paiacutes) (UN 2010 UN 2009)

2 Definiccedilatildeo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria militar

A intervenccedilatildeo humanitaacuteria natildeo eacute consensual no Direito no Direito Internacional e nas

Relaccedilotildees Internacionais Segundo o ICRC (2001) O Direito Internacional Humanitaacuterio

natildeo pode servir para legitimar conflitos armados No entanto os Estados aceitam este

tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria nas seguintes situaccedilotildees

The theory of intervention on the ground of humanity () recognizes the right of one State to exercise

international control over the acts of another in regard to its internal sovereignty when contrary to the

laws of humanity (Abiew citin ICRC 2001 pp 528)

O que se pode retirar desta citaccedilatildeo eacute que segundo o Direito Internacional Humanitaacuterio

eacute aceitaacutevel exercer controlo por parte de um Estado sobre a soberania de outro se este

natildeo respeita os direitos humanos fundamentais Ou seja podemos constatar que a

soberania de um Estado natildeo basta para a comunidade internacional natildeo agir face a um

genociacutedio por exemplo

hellip humanitarian intervention is defined as coercive action by States involving the use of armed force in

another State without the consent of its government with or without authorisation from the United

Nations Security Council for the purpose of preventing or putting to a halt gross and massive violations

of human rights or international humanitarian law (ICRC 2001 cit in Danish Institute of International

Afffairs 1991 pp 11)

Esta definiccedilatildeo complementa a anterior referindo que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute uma

accedilatildeo coerciva com recurso a armamento sobre um Estado sem o consentimento do

governo local e eventualmente sem o do Conselho de Seguranccedila das NU O intuito

deste tipo de intervenccedilatildeo eacute parar o desrespeito pelos direitos humanos e do direito

internacional humanitaacuterio (Gordon 1996 ICRC 2001)

Portanto o objetivo desta intervenccedilatildeo eacute aliviar o sofrimento humano e garantir que os

direitos fundamentais sejam respeitados para que a paz possa ser estabelecida e o

genociacutedio prevenido ou interrompido Os membros da intervenccedilatildeo humanitaacuteria tecircm de

ser imparciais e limitar-se a atuar naquilo para que foram enviados ou seja para

fazerem respeitar os direitos humanitaacuterioshumanos violados e fornecer assistecircncia ao

povo local (Gordon1996 e ICRC 2001)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

24

Todavia este tipo de intervenccedilatildeo humanitaacuteria corre o risco de natildeo ser imparcial por

existirem interesses subjacentes aos Estados que decidem intervir militarmente noutro

Estado A intervenccedilatildeo humanitaacuteria pode ser usada como um pretexto para aplicar uma

intervenccedilatildeo militar num Estado ou seja existe o risco de os motivos dessa intervenccedilatildeo

natildeo serem legiacutetimos e terem segundas intenccedilotildees que natildeo somente salvar vidas proteger

a populaccedilatildeo e aliviar o sofrimento humano Dificilmente um Estado corre elevados

riscos sem ter por traacutes outras intenccedilotildees segundo a visatildeo realista das relaccedilotildees

internacionais e por conseguinte poder instala ainda mais o caos no Estado alvo da

intervenccedilatildeo Ou seja pode ser uma carta branca para intervenccedilotildees militares de Estados

com segundas intenccedilotildees que podem ser geoestrateacutegicas ou poliacuteticas por exemplo O

que levanta as seguintes questotildees ateacute que ponto eacute eacutetico aplicar o termo humanitaacuterio

quando se usa a forccedila contra pessoas sendo elas viacutetimas para proteger outras Esta eacute

uma questatildeo que se pode considerar um verdadeiro dilema O uso da palavra

humanitaacuteria aplicada agrave intervenccedilatildeo militar e pode ser uma forma de legitimar o

desrespeito pelo princiacutepio da natildeo ingerecircncia e por conseguinte violar a soberania de

outro Estado que noutras condiccedilotildees natildeo seria aceite Daiacute o acreacutescimo da palavra

ldquohumanitaacuteriardquo a intervenccedilatildeo militar natildeo ser bem vista pela comunidade humanitaacuteria que

se rege pelos princiacutepios de aliviar o sofrimento humano salvar vidas e ajudar No caso

da Nigeacuteria do Haiti e da Libeacuteria nos anos 90 foi usada a figura intervenccedilatildeo militar

ldquohumanitaacuteriardquo para intervir no terreno embora pareccedilam evidentes motivos natildeo

humanitaacuterios (Massingham 2009 Weiss 2017)

Esta intervenccedilatildeo militar eacute uma opccedilatildeo cumulativa agraves operaccedilotildees de peacekeeping que se

revelam ineficazes na hora de proteger a populaccedilatildeo e as ONG OING e OIG

humanitaacuterias A intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria recorre ao uso da forccedila para atingir os

seus fins podendo ser estes proteger os humanitaacuterios a populaccedilatildeo local aliviar o

sofrimento humano velando pelo respeito dos Direitos Humanos e prevenindo crimes

contra a humanidade Ainda segundo Weiss ela eacute qualitativamente distinta do

peacekeeping uma vez que natildeo cumpre o princiacutepio do consentimento No entanto no

peacekeeping de terceira geraccedilatildeo tem havido uma evoluccedilatildeo para o peacekeeping

ldquomusculadordquo tendencialmente convergente com o peace enforcement Ou seja pode em

casos restritos e com consentimento do Conselho de Seguranccedila fazer-se o uso da forccedila

sem as restriccedilotildees convencionais (Weiss 2017 Pinto 2007 Pilbeam 2015b)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

25

Por tudo isso usar a palavra lsquohumanitaacuteriorsquo para uma intervenccedilatildeo de cariz militar natildeo eacute

bem aceite pelo Direito Internacional Humanitaacuterio que prefere uma puniccedilatildeo mais

severa aos Estados perpetradores dos crimes contra a humanidade ao inveacutes de usar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria pois Estados com mais poder militar se imiscuem e quebram o

princiacutepio da natildeo ingerecircncia podendo culminar em accedilotildees discriminatoacuterias no terreno e

problemas diplomaacuteticos entre Estados a niacutevel internacional Para aleacutem disso acrescentar

a palavra humanitaacuteria deveria ser reservado agraves organizaccedilotildees que pretendam aliviar o

sofrimento humano salvar vidas sem recurso agrave violecircncia e armas e natildeo aplicado agrave

intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria O uso da palavra humanidade numa intervenccedilatildeo militar

pode dar azo a confusatildeo por parte da populaccedilatildeo local e dificultar o trabalho dos

humanitaacuterios no terreno tornando-os alvo de ataques tambeacutem Eacute por isso necessaacuterio

fazer uma clara distinccedilatildeo entre intervenccedilatildeo humanitaacuteria e accedilatildeo humanitaacuteria (ICRC

2001 Weiss 2017)

A declaraccedilatildeo das NU no capiacutetulo VII (UN Charter 1945) especifica quais as situaccedilotildees

em que pode ocorrer uma intervenccedilatildeo militar nomeadamente no artigo 42ordm que prevecirc

que em caso de ameaccedila agrave seguranccedila e paz internacional o Conselho de Seguranccedila pode

ativar uma intervenccedilatildeo militar

Por outro lado natildeo consta na declaraccedilatildeo das NU se eacute possiacutevel ou natildeo ou em que

situaccedilotildees devem avanccedilar para uma intervenccedilatildeo onde seja possiacutevel o uso da forccedila contra

um Estado caso se verifique um abuso dos direitos humanos ou desrespeito do Direito

Internacional O Direito Internacional Humanitaacuterio deveria equacionar regulamentar a

situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo humanitaacuteria Eacute que a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria parece ser

uma realidade e uma lsquonecessidadersquo em alguns casos em que as operaccedilotildees de

peacekeeping natildeo satildeo suficientes Nesses casos o problema eacute que a accedilatildeo humanitaacuteria

entrou num estado de colapso por falta de seguranccedila e depende em algumas situaccedilotildees

dos militares de operaccedilotildees de peacekeeping ou das intervenccedilotildees militares mais robustas

para poderem aceder a determinados territoacuterios de grande perigo o que leva agrave

necessidade de uma revisatildeo quanto ao papel da accedilatildeo humanitaacuteria e ao reconhecimento

da intervenccedilatildeo humanitaacuteria ainda que natildeo formalmente mas nos bastidores (ICRC

2001 Weiss 2017)

Portanto o uso da forccedila militar com cariz humanitaacuterio soacute deve ser feito em contexto de

crimes contra a humanidade como o genociacutedio crimes de guerra abusos sexuais ou

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

26

limpeza eacutetnica por exemplo e tem como objetivo proteger a populaccedilatildeo e aliviar o

sofrimento humano Os militares da intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria natildeo podem ser

confundidos com os capacetes azuis das operaccedilotildees de paz das NU pois natildeo fazem parte

da mesma missatildeo e os capacetes azuis tecircm um papel mais diversificado para a

manutenccedilatildeo da paz construccedilatildeo do aparelho de poder e negociaccedilotildees podendo soacute usar a

forccedila em caso de legiacutetima defesa e defesa do mandato Jaacute os militares da intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria partem para o terreno para travar os perpetradores dos crimes contra

a humanidade usando a forccedila se necessaacuterio Ou seja eacute a versatildeo mais letal das

intervenccedilotildees internacionais e deve ser usada em uacuteltimo recurso (Weiss 2017)

Dentro das intervenccedilotildees militares pode ainda ser invocado o princiacutepio da

responsabilidade de proteger (R2P) fixado no acircmbito das NU que eacute executado ao

abrigo das NU A responsabilidade de proteger (R2P) pode levar a uma intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mas deve ser autorizada pelo Conselho de Seguranccedila das NU O

R2P deve ser usado em uacuteltimo recurso com meios proporcionais agrave situaccedilatildeo a niacutevel de

armamento e uma vez esgotados todos os meios diplomaacuteticos No Ruanda em 1994 os

peacekeepers natildeo fizeram o uso da forccedila para travar o genociacutedio tendo vindo a missatildeo a

fracassar As NU foram amplamente criticadas pela inaccedilatildeo o que levou ao debate sobre

a intervenccedilatildeo militar humanitaacuteria e posteriormente sobre a R2P (Bellamy 2015

Massingham 2009)

O conceito do R2P eacute pois um princiacutepio legitimador de um tipo de intervenccedilatildeo armada

usado quando os direitos humanos baacutesicos natildeo satildeo respeitados em determinado Estado

em conflito como por exemplo genociacutedios ou violaccedilotildees em massa Em 1994 no

Ruanda uma intervenccedilatildeo sob o R2P teria sido justificaacutevel Esta intervenccedilatildeo natildeo

necessita de autorizaccedilatildeo do Estado para intervir daiacute o termo responsabilidade de

proteger No entanto este conceito eacute complexo devido ao princiacutepio de natildeo ingerecircncia

sobre os assuntos soberanos de determinado Estado Cabe primeiramente ao Governo

do Estado assegurar a proteccedilatildeo da sua populaccedilatildeo No entanto caso o Estado natildeo queira

ou natildeo consiga assegurar a sua proteccedilatildeo e a populaccedilatildeo esteja a ver os seus direitos

baacutesicos serem desrespeitados devido ao conflito armado ou fragilidade do Estado a

comunidade internacional deve agir e intervir Um problema possiacutevel eacute a comunidade

internacional natildeo querer entrar em problemas diplomaacuteticos com determinados Estados

que estejam neste tipo de situaccedilatildeo ou ainda com Estados que apoiem partes tal como a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

27

Ruacutessia (membro permanente do Conselho de Seguranccedila da ONU) a Bashar Al Assad

enquanto os EUA apoiam os rebeldes Havendo diferentes pontos de vista e sendo

necessaacuterio o consenso dos membros permanentes do Conselho de Seguranccedila das NU a

decisatildeo de avanccedilar sob a responsabilidade de proteger pode ser tardia ou mesmo

impossiacutevel tal como se tem verificado (Lobo 2009 Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger nasceu com o relatoacuterio do ICISS (International

Commission on Intervention and State Sovereignity) em 2001 e teve como principal

motor o conflito recente agrave eacutepoca do Ruanda O princiacutepio foi adotado na cimeira

mundial de 2005 com cuidadosa distinccedilatildeo das violaccedilotildees maiores que podem determinar

a ingerecircncia Na praacutetica o Conselho de Seguranccedila soacute tornou oficial a referecircncia agrave

responsabilidade de proteger em 2006 com a resoluccedilatildeo 1674 sobre a proteccedilatildeo de civis

em conflitos armados Esta resoluccedilatildeo foi usada em agosto de 2006 ao estabelecer a

resoluccedilatildeo 1706 que autorizava o destacamento dos peacekeepers para o Darfur Apoacutes o

Sudatildeo vieram as missotildees sob a responsabilidade de proteger da Liacutebia Cocircte drsquoIvoire

Sudatildeo do Sul e Ieacutemen em 2011 e Siacuteria e Repuacuteblica centro Africana em 2012 (Bellamy

2015)

Para que a intervenccedilatildeo humanitaacuteria seja legitimada sob o conceito do R2P devem ser

reunidas as seguintes condiccedilotildees 1) Estar-se perante uma situaccedilatildeo de genociacutedio ou seja

extermiacutenio de populaccedilatildeo de uma determinada origem eacutetnica ou extermiacutenio de uma

populaccedilatildeo em larga escala 2) Existir intenccedilatildeo justa para que seja justificado o uso de tal

accedilatildeo 3) Usar os meios estritamente necessaacuterios para alcanccedilar os objetivos

estabelecidos 4) Assegurar que as perspetivas de tal accedilatildeo poderatildeo ter uma forte

probabilidade de vir a ter sucesso e de que as suas consequecircncias natildeo seratildeo piores que a

natildeo accedilatildeo (Lobo 2009 Pilbeam 2015b)

As operaccedilotildees de peacekeeping peacebuilding e peace enforcement satildeo muitas vezes

confundidas como jaacute foi referido com o envio de forccedilas militares a tiacutetulo individual de

um Estado por exemplo os EUA e a Franccedila que jaacute fizeram intervenccedilotildees militares sob

pretexto humanitaacuterio As primeiras satildeo missotildees de paz enviadas e coordenadas pela

ONU de forma a restabelecer apaziguar manter a paz e reconstruir o aparelho de

poder para que o Estado conflituante natildeo volte ao estado beligerante Jaacute o segundo eacute

realizado de forma a acabar com os crimes contra a humanidade e podem ser forccedilas

militares de um Estado em particular que decide ir para o terreno embora as

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

28

intervenccedilotildees militares sobretudo quando existem militares mortos sejam difiacuteceis de

explicar agrave populaccedilatildeo de origem dos militares Por outro lado o ldquohumanitarismo

militarrdquo ou seja as intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de paz no terreno levam a

confusatildeo com as ONG Pior neste momento assiste-se a situaccedilotildees em que estatildeo

presentes no terreno intervenccedilotildees militares e operaccedilotildees de peacekeeping o que gera

ainda mais confusatildeo (Weiss 2017)

A responsabilidade de proteger eacute ainda considerada um princiacutepio e natildeo uma taacutetica mas

o Conselho de Seguranccedila falhou com a Siacuteria ao decidir intervir primeiro na Liacutebia por

questotildees poliacuteticas e natildeo por questotildees de emergecircncia humanitaacuteria O que leva agraves

seguintes questotildees Seraacute a intervenccedilatildeo humanitaacuteria verdadeiramente humanitaacuteria Seraacute

que existem interesses subjacentes a essas mesmas ajudas Seraacute que legitimar a

intervenccedilatildeo humanitaacuteria eacute dar uma carta branca a ingerecircncias nos assuntos da soberania

de forma legiacutetima e aparentemente solidaacuteria A R2P eacute aina assim o tipo de intervenccedilatildeo

militar humanitaacuteria mais bem aceite pela comunidade internacional e humanitaacuteria pois

natildeo assenta soacute na invasatildeo imediata e beacutelica mas tambeacutem nos princiacutepios de prevenir

reagir e reconstruir (Bellamy 2015 Weiss 2017)

3 Coexistecircncia no terreno entre humanitaacuterios e militares

A coexistecircncia entre militares e humanitaacuterios eacute uma situaccedilatildeo recorrente e natildeo tem de

gerar conflitos deveraacute eacute haver respeito muacutetuo por cada um desses agentes e natildeo deveratildeo

tentar imiscuir-se nos assuntos uns dos outros A accedilatildeo humanitaacuteria eacute um complemento

agraves missotildees de paz Se a accedilatildeo humanitaacuteria estaacute focada em aliviar o sofrimento humano

salvar vidas garantir as necessidades baacutesicas e assistecircncia meacutedica os militares poderatildeo

dedicar-se inteiramente agrave proteccedilatildeo e pacificaccedilatildeo ao inveacutes de terem de realizar estas

tarefas tambeacutem O aumento dos riscos de ataque aos profissionais humanitaacuterios leva a

que esta coexistecircncia se transforme em colaboraccedilatildeo atraveacutes do pedido de

proteccedilatildeoescolta militar Por outro lado colaborando os humanitaacuterios com forccedilas

militares estatais ou ateacute mesmo via organizaccedilotildees internacionais podem ser conotadas

com um dos lados das hostilidades e perder por isso a imagem de neutralidade (Seiple

1996)

Este tema eacute algo complexo e tem de ser encarado com grande cuidado e sensibilidade

pois se por um lado a escolta militar seria a soluccedilatildeo perfeita para assegurar a seguranccedila

no terreno das ONG OING e OIG por outro lado poderaacute pocircr em causa os princiacutepios

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

29

fundamentais humanitaacuterios Existe ainda uma resistecircncia por parte da comunidade

humanitaacuteria em embarcarem missotildees integradas com os capacetes azuis das NU

(Harmer 2008) Por isso na presente dissertaccedilatildeo tentar-se-aacute discutir a melhor soluccedilatildeo

para esse problema de forma a que ambos os atores natildeo sejam prejudicados na sua

missatildeo (Seiple 1996)

A accedilatildeo humanitaacuteria tem como missatildeo aliviar o sofrimento humano e a accedilatildeo securitaacuteria

tem caraacuteter militar e policial estatildeo ambas no terreno isto eacute humanitaacuterios e soldados

coexistem no terreno em missotildees e natildeo podem colocar em causa a missatildeo uns dos

outros Cada uma tem a sua missatildeo uma a de aliviar o sofrimento humano salvar vidas

e devolver a dignidade agrave populaccedilatildeo alvo de terror a outra a de assegurar a seguranccedila

fazer os direitos humanos serem respeitados aliviar o sofrimento humano e pacificar o

terreno no qual estatildeo a operar assegurar que as negociaccedilotildees ocorram sem problemas e

ajudar a reconstruir o Estado desde o aparelho de poder agraves infraestruturas No entanto a

forccedila militar natildeo deixa de ter um caraacuteter beacutelico e natildeo eacute neutro nem independente Isto

pode levar a que a populaccedilatildeo se sinta renitente recuse e se desvie de certas ONG

exatamente por colaborarem com determinada forccedila militar por medo do que possa vir

a acontecer Podem sofrer represaacutelias se colaborarem com o lado A ou B das

hostilidades e este fator poderaacute colocar em causa a missatildeo da comunidade humanitaacuteria

o que soacute eacute possiacutevel tendo a confianccedila da populaccedilatildeo e acesso aos territoacuterios para isso a

neutralidade eacute fulcral (Gibbons e Piquard 2006)

Eacute claro que o equiliacutebrio tambeacutem depende da forccedila militar de que se trata Por exemplo

militares sob a eacutegide da ONU seratildeo mais bem vistos conseguem manter a

imparcialidade e tecircm alguma neutralidade (dependendo dos casos) natildeo colocando assim

em causa o trabalho humanitaacuterio no terreno Jaacute se a ONG ou OIG for escoltada por uma

forccedila militar estatal poderaacute perder a sua neutralidade imparcialidade e independecircncia

pois a sua proteccedilatildeo depende diretamente das forccedilas armadas estatais Depender do

Estado para ver a sua seguranccedila assegurada poderaacute ter as seguintes consequecircncias 1) as

ONG OING e OIG poderatildeo ser pressionadas para natildeo tratar e ajudar determinada

populaccedilatildeo ou etnia 2) poderatildeo ver o seu acesso bloqueado a determinados territoacuterios

cuja populaccedilatildeo o Estado natildeo quer tratar 3) seratildeo temidas e malvistas pela populaccedilatildeo

que estaacute a sofrer agraves matildeos do Estado natildeo procurando ou aceitando a sua ajuda Por isso eacute

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

30

importante analisar a escolta militar tendo em conta este fator (Gibbons e Piquard

2006)

No entanto Svoboda (2014) no seu livro The interaction between humanitarian and

militar actors where do we go from here refere que a interaccedilatildeo entre o profissional

humanitaacuterio e o militar eacute complicada e deve acontecer em uacuteltima instacircncia quando a

seguranccedila do humanitaacuterio eacute colocada em causa devido ao facto de os militares neste

caso os peacekeepers as agecircncias militares privadas a forccedila militar estatal natildeo se

regerem pelos mesmos princiacutepios que os humanitaacuterios e terem em certas circunstacircncias

de usar a forccedila para garantir a seguranccedila no terreno manter e restabelecer a paz Para

tal pode acontecer que estes possam vir a cometer atos incompatiacuteveis com a forma de

estar na Accedilatildeo Humanitaacuteria como por exemplo matar ou usar qualquer tipo de

armamento pois tal vai contra aos princiacutepios humanitaacuterios e Direito Internacional

Humanitaacuterio Pedir ajuda aos peacekeepers agraves agecircncias militares privadas ou outra

forccedila militar pode levar a que a imagem dos humanitaacuterios fique denegrida face agrave

populaccedilatildeo local agraves instituiccedilotildees ou pessoas individuais que doam fundos e que podem

natildeo ver com bons olhos esta interaccedilatildeo o que significa que se pode perder uma fonte de

financiamento o que seria grave para as ONG que dependem destas doaccedilotildees (Svoboda

2014 Cordaid 2014)

Seria por isso mais beneacutefico nos casos de conflitos armados que militares e

humanitaacuterios trabalhassem em conjunto o estritamente necessaacuterio para o sucesso da

missatildeo de ambos Estes natildeo tecircm de partilhar missotildees e princiacutepios Mas devem colaborar

para que a ajuda humanitaacuteria natildeo corra risco de fracassar que a ajuda chegue a toda a

populaccedilatildeo mesmo nos locais de difiacutecil acesso e desta forma seraacute mais faacutecil devolver a

dignidade fornecer os bens de primeira necessidade construir abrigos e campos de

refugiados seguros sempre sem colocar em causa as missotildees de ambos que satildeo

diferentes Eacute claro que esta questatildeo eacute mais complexa fazendo os humanitaacuterios

depararem-se com um grande dilema e tendo de fazer escolhas que em princiacutepio natildeo

deveriam ter de fazer Essa escolha eacute abdicamos dos princiacutepios fundamentais em prol

da nossa seguranccedila seguimos para o terreno mesmo sabendo que corremos perigo de

vida como seremos acolhidos pela populaccedilatildeo local ao chegar com escolta militar como

reagiratildeo os nossos patrocinadores estas satildeo questotildees e dilemas que as ONG enfrentam

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

31

em terrenos delicados muitas vezes essa escolha eacute entre seguranccedila e eacutetica humanitaacuteria

(Cordaid 2014)

Segundo Harmer (2008) o princiacutepio da neutralidade natildeo pode ser levado agrave letra

principalmente em Estados que estejam a atravessar um conflito armado onde a

inseguranccedila e o perigo de vida satildeo uma constante no terreno Deve por isso haver uma

grande reflexatildeo sobre os princiacutepios humanitaacuterios os crescentes ataques aos

humanitaacuterios de forma a que as ONG possam assistir agrave populaccedilatildeo de forma segura sem

ter de quebrar algum princiacutepio (Harmer 2008)

A assistecircncia deve ser provida em caso de conflito armado pela ajuda humanitaacuteria e de

forma a melhor operacionalizar a assistecircncia aos refugiados e agraves pessoas deslocadas

internamente mas para que tal seja possiacutevel eacute preciso criar um ambiente de seguranccedila

aos humanitaacuterios sempre respeitando os seus princiacutepios para que estes consigam

realizar o seu trabalho (Byman et al 2000)

Os humanitaacuterios deveriam ser ajudados pelas forccedilas militares em mateacuteria de transporte

de pessoal e de material de subsistecircncia como por exemplo aacutegua comida

medicamentos e outros mantimentos que de outra forma natildeo seria possiacutevel prover

Segundo Byman et al (2000) a cooperaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios equivaleria a

evidenciar o melhor dos dois mundos Se a forccedila militar pode garantir o transporte

analisar o solo para ver se estaacute armadilhado analisar a aacutegua potaacutevel e fornecer

assistecircncia meacutedica de urgecircncia este seria um bom aliado para a accedilatildeo humanitaacuteria que

pode oferecer assistecircncia meacutedica e tratamentos a meacutedio e longo prazo comida

mantimentos ajuda psicoloacutegica reconstruccedilatildeo satisfazer as necessidades baacutesicas ajudar

na construccedilatildeo de abrigos e gerir campos de refugiados de forma neutra Uma vez que

estes agem frequentemente em separado eacute difiacutecil poder fornecer ajuda humanitaacuteria aos

locais que realmente necessitam sem correr riscos ou demorar demasiado tempo Se

houvesse essa entreajuda os humanitaacuterios poderiam chegar ao local com ajuda militar

pela via aeacuterea ou mariacutetima Logo a forccedila aeacuterea poderia ser um grande aliado das ONG

OING e OIG na hora de ter de realizar deslocaccedilotildees de bens e pessoas (Byman et al

2000)

De certa forma segundo o autor os profissionais humanitaacuterios dependem dos

profissionais militares para poderem desenvolver o seu trabalho de forma segura e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

32

eficaz Por isso os militares devem garantir a seguranccedila nos aeroportos nos portos e

nos locais onde operarem bem como fornecer mapas atualizados das estradas seguras

para realizar as viagens ateacute ao local em questatildeo Evitar-se-iam muitos constrangimentos

e perdas de tempo (Byman et al 1967)

international military forces might also be mandated to play a relevant role in conflict situations

including through the provision of safe and secure environments for the civilian population and for

humanitarian actors to operate in Indeed military and police can execute essential tasks in situations

where governments are unable or unwilling to protect their own population in ways that go beyond the

mandate of humanitarian actors and hence are complementary to those (ECHO sd pp 1)

Segundo Stoddard et al (2009) a maioria das ONG contrata agecircncias militares com a

condiccedilatildeo de natildeo usar armas ou seja contratam soacute a escolta mas natildeo datildeo autorizaccedilatildeo

por uso de violecircncia o que leva ao mesmo problema este tipo de escolta soacute resolve

situaccedilotildees em paiacuteses cujo grau de perigo natildeo eacute muito elevado No entanto algumas ONG

viram-se forccediladas a contratar agecircncias privadas para escolta militar que recorressem agrave

forccedila caso fosse necessaacuterio para os proteger em caso de Estados que estatildeo a atravessar

um periacuteodo de grande conflito Pois escolta militar que natildeo possa fazer uso da forccedila eacute

afinal o mesmo que natildeo ter escolta e por conseguinte proteccedilatildeo eacute ter por exemplo um

agente a acompanhar fardado e nada mais As agecircncias militares privadas e a escolta

militar devem ser usadas em uacuteltimo recurso e nunca como prioridade O problema eacute que

os perpetradores dos ataques locais aos humanitaacuterios tecircm a noccedilatildeo de que os

peacekeepers natildeo podem fazer uso da forccedila a natildeo ser em legiacutetima defesa ou em casos

extremos onde os Direitos Humanos satildeo colocados em causa No entanto os ataques

aos humanitaacuterios natildeo satildeo por vezes graves o suficiente para que haja uma quebra do

princiacutepio do natildeo uso da forccedila O que leva a que a escolta militar natildeo leve propriamente

agrave diluiccedilatildeo dos ataques muito pelo contraacuterio podem intensificar (Stoddard et al 2009)

Seiple (1996) refere que apesar das diferenccedilas marcantes entre o humanitaacuterio e o

soldado a verdade eacute que a interaccedilatildeo no terreno entre os dois tem sido um caso de

sucesso Seiple (1996) apresenta o caso da relaccedilatildeo entre as forccedilas armadas dos EUA e as

ONG no terreno Segundo o autor esta relaccedilatildeo natildeo eacute natural Neste documento satildeo

apresentados quatro casos em que houve uma interaccedilatildeo no terreno entre ONG e

militares dos EUA (as forccedilas militares dos EUA estavam a realizar em caa um dos

casos uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria) que satildeo os seguintes Operation Provide Comfort

a norte do Iraque em 1991 Operation Sea Angel no Bangladesh em 1991 Operation

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

33

Restore Hope na Somaacutelia em 1992 e Operation Supporte Hope no Ruanda em 1994 Eacute

importante sinalizar que estas missotildees foram intervenccedilotildees humanitaacuterias Estas

operaccedilotildees foram efetivamente casos de sucesso militares e humanitaacuterios cooperaram no

terreno com sucesso No entanto a operaccedilatildeo Sea Angel no Bangladesh foi marcada por

diversas tensotildees poliacuteticas entre o governo e as forccedilas militares dos EUA criando uma

dificuldade de operar no terreno Na operaccedilatildeo Restore Hope na Somaacutelia as ONG

viram-se obrigadas a aceitar cooperar com as forccedilas militares dos EUA que estavam a

realizar uma intervenccedilatildeo humanitaacuteria no terreno A cooperaccedilatildeo um bocado forccedilada

devido agraves circunstacircncias resultou Segundo Seiple (1996) a relaccedilatildeo entre ONG e

militares foi realizada com base no respeito por cada uma as missotildees Uma das ONG

que soacute aceitou em ultimo recurso esta cooperaccedilatildeo foi o MSF pois sabia que sem

seguranccedila natildeo poderiam continuar no terreno No caso da operaccedilatildeo Supporte Hope no

Ruanda natildeo existe uma cooperaccedilatildeo direta entre militares os EUA e ONG neste caso as

ONG que estivessem a operar no terreno tinham de fazer o pedido de escolta militar agraves

NU e esta fazia a ponte entre as ONG e as forccedilas militares no terreno O uacutenico contacto

que ONG e as forccedilas militares dos EUA tinham era o CMOC (The Civil Military

Operation Center) jaacute que neste caso especiacutefico do Ruanda as NU preferiram ser elas a

organizar e prover a seguranccedila ou escolta militar agraves ONG no terreno pois estava a

acontecer um genociacutedio e o clima de inseguranccedila era devastador tendo de haver grande

rigor na cooperaccedilatildeo que era feita a pedido das NU atraveacutes do CMOC Militares e

humanitaacuterios trabalharam em conjunto com sucesso O uacutenico problema que Seiple

aponta agrave accedilatildeo humanitaacuteria eacute a falta de coordenaccedilatildeo no terreno entre ONG OING e OIG

pois havendo coordenaccedilatildeo seria mais faacutecil prover seguranccedila (Seiple 1996)

Se Seiple (1996) via a relaccedilatildeo entre ONG e forccedilas armadas como algo beneacutefico e

essencial para uma boa assistecircncia humanitaacuteria e para ajudar a restabelecer a paz jaacute

Harmer (2008) natildeo pensa o mesmo Harmer redigiu um artigo sobre as missotildees

integradas tendo este tema originado diversos debates acesos entre proacute-integracionistas

e contra Os humanitaacuterios encontram-se renitentes acerca deste tipo de missotildees pois

natildeo querem colocar em causa a sua neutralidade e imparcialidade e perder a

independecircncia o que poderia ter como consequecircncias natildeo poderem assistir populaccedilotildees

que estariam no topo das suas listas teriam de obedecer agraves ordens e objetivos dos

peacekeepers e poderiam ser vistos como entidades poliacuteticas o que vai contra ao que eacute a

essecircncia da Accedilatildeo Humanitaacuteria No entanto como jaacute foi referido a violecircncia sobre os

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

34

humanitaacuterios verificou um aumento draacutestico a partir do ano 2000 tecircm vindo a ter

dificuldade de acesso a certos locais de alto conflito e as ONG no terreno tecircm

dificuldade em sinalizar os seus humanitaacuterios coisa que os peacekeepers fazem bem

embora nem sempre conseguem garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios tambeacutem Eacute

preciso encontrar um ponto de convergecircncia para a accedilatildeo conjunta e no resto

estabelecer bem as diferenccedilas e os pontos em que natildeo podem ceder ou admitir

intervenccedilatildeo muacutetua (Harmer 2008)

A autora refere que o Secretaacuterio-Geral agrave eacutepoca Kofi Annan apelou aquando do

relatoacuterio do painel sobre as missotildees de paz das NU para um plano de integraccedilatildeo agraves

missotildees das NU e referiu que missotildees integradas devem ser adotadas em missotildees de

paz No entanto existe uma grande resistecircncia por parte de grandes ONG e OING a este

tipo de missotildees integradas sejam elas na forma maximalista ou minimalista No modelo

minimalista existe o trabalho do OCHA que tem uma identidade separada e a

integraccedilatildeo eacute feita atraveacutes de uma partilha de informaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo em vez de um

quadro organizacional unificado ou seja a Coordenaccedilatildeo Humanitaacuteria (CH) e o ERSG

(Representante Especial do Secretaacuterio-Geral) mas ao mesmo tempo mantendo um

escritoacuterio individual do OCHA fora do campo O OCHA tem um papel fulcral pois eacute o

elo de ligaccedilatildeo entre as ONG OING e OIG agraves NU mantendo-se no entanto

independecircncia destes face agraves NU de forma a que a imparcialidade independecircncia e a

neutralidade natildeo sejam postas em causa Tambeacutem se evita que as NU exerccedilam pressatildeo

para que a missatildeo seja conduzida de uma forma que natildeo a planeada (Harmer 2008)

Uma integraccedilatildeo maximalista significa a remoccedilatildeo da identidade separada do OCHA e a

lideranccedila humanitaacuteria das NU estaraacute presente integralmente na estrutura de transmissatildeo

geral A maioria das ONG eacute contra a versatildeo maximalista de integraccedilatildeo como a Save the

Children e a Care tendo como principal argumento a necessidade da existecircncia e

abertura do HC (Humanitarian Coordinator) a todos incluindo as organizaccedilotildees que se

sentem desconfortaacuteveis com a ideia de trabalhar com militares Tal eacute perfeitamente

compreensiacutevel pois ao trabalhar com as NU mesmo que numa versatildeo internacionalista

minimalista existe sempre uma perda de independecircncia na hora de decidir quais os

locais prioritaacuterios a assistir no terreno por exemplo (Harmer 2008)

No entanto ainda segundo Harmer (2008) deve ser tida em conta a opccedilatildeo

integracionista minimalista em que permanece o corpo de coordenaccedilatildeo OCHA tendo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

35

mesmo a UNICEF o ACNUR e a OXFAM reconhecido que esta visatildeo integracionista

pode facilitar o delinear de estrateacutegias militares e poliacuteticas sem colocar em causa ou

tentando pocirc-los o minimamente possiacutevel os princiacutepios humanitaacuterios O OCHA deve

neste contexto agir em separado das NU de forma a que possa agir de forma neutra e

imparcial consoante a situaccedilatildeo na qual estatildeo a fornecer ajuda humanitaacuteria para que natildeo

sofra influecircncias e pressotildees A autora refere ainda que nos tempos de hoje a accedilatildeo

humanitaacuteria natildeo pode mais aplicar a neutralidade pura e dura pois existem grandes

perigos de ataques no terreno a ONG sendo necessaacuterio recorrer agraves forccedilas militares

exatamente para garantir a sua seguranccedila A relaccedilatildeo entre humanitaacuterio-militar deve ser

amplamente delineada tendo de ser estabelecido um guia onde sejam indicadas as

circunstacircncias em que deve ser feito o pedido de escolta e proteccedilatildeo aos militares e

como deve ser feito esse procedimento (Harmer 2008)

A adoccedilatildeo do modelo de missatildeo integrada minimalista poderaacute ser a melhor opccedilatildeo para a

comunidade humanitaacuteria em terrenos de alta instabilidade e inseguranccedila Com este

modelo as organizaccedilotildees humanitaacuterias obtecircm proteccedilatildeo e seguranccedila sem colocarem em

causa os princiacutepios humanitaacuterios As missotildees integradas minimalistas natildeo tecircm de se

basear necessariamente na escolta militar podem basear-se tambeacutem na partilha de

informaccedilatildeo acerca dos terrenos seguros terrenos armadilhados mapas com os melhores

caminhos a percorrer entre outras informaccedilotildees No entanto esta colaboraccedilatildeo deve ser

bem estudada e analisada Deve ser tambeacutem estabelecido um guia de colaboraccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares tal como foi criado para a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as

organizaccedilotildees humanitaacuterias (Harmer 2008)

A OXFAM por exemplo redigiu um documento intitulado Un Integrated Missions and

Humanitarian Action Overview of Oxfamrsquos position on United Nations Integrated

Missions and Humanitarian Action (OXFAM 2014) acerca das missotildees integradas

com as NU expondo os problemas que poderiam advir desta parceria Segundo a

OXFAM a neutralidade e imparcialidade estariam em causa num mandato que fosse

para aleacutem das partilhas de pontos de vista comum pois teriam uma integraccedilatildeo mais

estrutural sob uma gestatildeo comum do mandato onde as operaccedilotildees de peacekeeping

funccedilotildees poliacuteticas e organizaccedilotildees humanitaacuterias estariam sob a chefia de um uacutenico

mandato Esta situaccedilatildeo poder levar a que os humanitaacuterios percam a independecircncia de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

36

aceder a determinados locais sejam usados para fins poliacuteticos e podem perder a

confianccedila da populaccedilatildeo (OXFAM 2014)

As proacuteprias NU reconheceram em 2013 os riscos inerentes agraves abordagens de

planeamento e avaliaccedilatildeo integrados Esses riscos seriam o facto de poder ser dada a

prioridade agraves missotildees militares ou poliacuteticas que possam influenciar a accedilatildeo humanitaacuteria

como o acesso humanitaacuterio e a seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno As pessoas

podem natildeo procurar ajuda humanitaacuteria de forma a que natildeo se vejam comprometidos e

natildeo sofram represaacutelias Logo caso isto aconteccedila os humanitaacuterios podem natildeo ser

percebidos como imparciais e neutros aos olhos da populaccedilatildeo falhando assim a missatildeo

(OXFAM 2014)

Iraacute ser agora feita uma apreciaccedilatildeo do referido documento da OXFAM (2014) Este

documento eacute relevante para a presente dissertaccedilatildeo pois apresenta o ponto de vista da

ONG em relaccedilatildeo agraves missotildees integradas propondo um conjunto de regras de cooperaccedilatildeo

no terreno entre ONG OING e as NU

Para mitigar estes riscos a OXFAM preparou um conjunto de regras para cooperar

especificamente com as NU

A accedilatildeo humanitaacuteria deve ser separada das operaccedilotildees de peacekeeping ou

poliacuteticas das NU de forma a que natildeo sejam confundidas as missotildees e natildeo haja

confusotildees no terreno

Uma associaccedilatildeo visiacutevel entre os humanitaacuterios que cooperam com as NU e outros

objetivos das NU deve ser minimizada em conflitos e contextos de elevada

fragilidade de forma a prevenir potenciais problemas no terreno

Antes de decidir qualquer abordagem de integraccedilatildeo devem ser feitas avaliaccedilotildees

de risco envolvendo ONG e OING De forma alguma as ONG e OING devem

partir para uma missatildeo integrada sem participarem no processo de planeamento

e abordagem da missatildeo

A avaliaccedilatildeo deve ser revista e feita com regularidade procedendo a mudanccedilas se

necessaacuterias a missatildeo integrada pode ser portanto revista e atualizada consoante

a evoluccedilatildeo da missatildeo no terreno (OXFAM 2014 pp 2)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

37

A OXFAM refere ainda que as missotildees integradas com as NU devem ter em conta os

princiacutepios humanitaacuterios incluindo assistecircncia baseada na imparcialidade agraves pessoas em

necessidade A OXFAM eacute uma das ONG que eacute muitas vezes associada agraves agecircncias

humanitaacuterias das NU devido aos mecanismos de coordenaccedilatildeo fundos das NU e uso dos

meios de transporte aeacutereos das NU O facto de haver esta associaccedilatildeo agraves agecircncias das

NU pode levar agrave confusatildeo podendo a populaccedilatildeo crer que estas fazem parte das

poliacuteticas e missotildees integradas das NU que muitas vezes apoiam uma das partes das

hostilidades o que coloca em causa o trabalho das ONG ou OING No entanto existem

outras situaccedilotildees que podem levar a este tipo de mal-entendido a saber

Colocar organizaccedilotildees humanitaacuterias e outros atores das NU no mesmo lugar deve

ser evitado a todo o custo pois poderaacute dar azo a mal-entendidos no terreno e

deitar por terra todo o trabalho da ONG ou OING no terreno

O uso da escolta militar para fins humanitaacuterios eacute em determinados casos

fundamental para aceder a territoacuterios No entanto antes de partir para esta

escolha a opccedilatildeo deve ser minuciosamente estudada e soacute em ultimo recurso

usada

Apresentar as operaccedilotildees de peacekeeping ou toda a missatildeo integrada como

sendo humanitaacuteria quando natildeo o eacute Satildeo missotildees completamente diferentes que

decidem cooperar de forma que os humanitaacuterios possam ter o miacutenimo de

condiccedilotildees para operar no terreno

Usar as operaccedilotildees de peacekeeping para fornecer os Quick Impact para

desenvolver confianccedila na missatildeo no mandato e no processo de paz Os QIPs satildeo

projetos de pequena escala (duraccedilatildeo meacutedia de 6 meses) que tecircm como objetivo

ter um impacto imediato que contribua para a estabilizaccedilatildeo reconstruccedilatildeo e

estabilizaccedilatildeo no poacutes-conflito Podem tambeacutem ter um impacto no

desenvolvimento a longo prazo (OXFAM 2014 pp 3)

As NU tambeacutem tecircm feito um esforccedilo para conseguir elaborar um modelo de missatildeo

integrada no qual eacute respeitado o espaccedilo humanitaacuterios e os princiacutepios humanitaacuterios de

forma a mitigar os riscos que podem advir No entanto em 2014 as NU defenderam

uma missatildeo integrada estrutural com a representaccedilatildeo das ONG pela Humanitarian

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

38

Country Team e pelo OCHA (o OCHA faz tambeacutem uma avaliaccedilatildeo e realiza planos

estrateacutegicos de atuaccedilatildeo no terreno consoante os casos) que tem realizado avaliaccedilotildees de

risco subjacentes a este tipo de missatildeo (OCHA sd) No entanto no caso do Sudatildeo do

Sul as NU foram criticadas por terem optado pela missatildeo integrada estrutural onde os

peacekeepers e humanitaacuterios satildeo alvo da mesma gestatildeo programa e poliacuteticas o que

numa situaccedilatildeo como o Sudatildeo do Sul eacute impensaacutevel Como eacute sabido a operaccedilatildeo

peacekeeping esteve do lado do governo ajudando a restabelecer a instituiccedilatildeo de

governaccedilatildeo o que leva a que os humanitaacuterios sejam eles tambeacutem colados ao governo e

seja limitado o acesso a determinados locais ou determinada populaccedilatildeo natildeo queira ser

tratada por eles

Este eacute pois o Guia de missotildees integradas realizado pela OXFAM onde satildeo expostos os

riscos o que deve ser evitado e como evitar que haja um atropelamento dos princiacutepios

fundamentais humanitaacuterios pelas NU no terreno Desta forma respeitando esta guia

seriam evitados potenciais riscos de os princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria serem postos em

causa de haver aproveitamento poliacutetico da missatildeo integrada e limitar os humanitaacuterios a

determinados locais Uma vez as condiccedilotildees respeitadas e a seguranccedila assegurada aos

humanitaacuterios seria mais faacutecil para as ONG ou OING operarem no terreno (OXFAM

2014)

A OXFAM prefere a missatildeo integrada estrateacutegica pois eacute uma abordagem mais coerente

para um trabalho comum entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a operaccedilatildeo de peacekeeping Neste

caso as ONG iriam trabalhar com o OCHA que se manteria independente em relaccedilatildeo

agraves NU e imparcial natildeo sendo toleradas pressotildees para agir de uma dada forma ou aceder

ao local X Jaacute a missatildeo integrada estruturante natildeo faz sentido segundo o OXFAM

Admite uma comunicaccedilatildeo efetiva entre organizaccedilotildees humanitaacuterias e operaccedilotildees de

peacekeeping ou atores poliacuteticos que podem proteger a populaccedilatildeo e o reconhecimento

dos seus direitos No entanto a accedilatildeo humanitaacuteria deve manter-se independente da accedilatildeo

securitaacuteria ou consideraccedilotildees poliacuteticas

Para que as missotildees integradas sejam bem-sucedidas as NU devem respeitar os

seguintes pontos segundo a OXFAM (2014)

A accedilatildeo humanitaacuteria deve continuar estruturalmente separada da poliacutetica ou

componentes de peacekeeping relativamente a uma missatildeo integrada das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

39

Logo uma associaccedilatildeo visiacutevel entre missotildees humanitaacuterias e outros objetivos

devem ser minimizados

Antes de decidir partir para a abordagem de uma missatildeo integrada deve ser feita

uma avaliaccedilatildeo que envolva ONG e OING de forma a identificar potenciais

riscos para a accedilatildeo humanitaacuteria e o que pode ser feito para mitigar os mesmos

Essa avaliaccedilatildeo deveraacute ser feita com regularidade e revista de forma a que

possam ser feitas correccedilotildees

Quaisquer que sejam os acordos feitos relativos agraves missotildees integradas os

mandatos das NU devem sempre respeitar os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios incluindo uma assistecircncia imparcial baseada apenas na

necessidade da populaccedilatildeo

As orientaccedilotildees do IASC (Inter-Agency Standing Commitee) sobre a manutenccedilatildeo

da distinccedilatildeo entre accedilatildeo humanitaacuteria as atividades poliacuteticas ou de manutenccedilatildeo da

paz devem ser rigorosamente aplicadas sempre que haja riscos e estes sejam

encobertos pelas NU Isto inclui o Guia de 2004 sobre as relaccedilotildees civis-militares

em situaccedilotildees de emergecircncia o Guia de 2003 sobre o uso de recursos militares e

de defesa civil para apoiar atividades humanitaacuterias das NU em situaccedilotildees

complexas de emergecircncias e o de 2012 sobre o uso de escoltas armadas aos

comboios humanitaacuterios Estes guias devem ser amplamente promovidos

As negociaccedilotildees humanitaacuterias do acesso agraves pessoas em necessidade devem manter-

se separadas dos objetivos poliacuteticos de forma a que os princiacutepios fundamentais

humanitaacuterios natildeo sejam colocados em causa (OXFAM 2014 pp 4)

Uma vez que as NU assegurem estes pontos todos a OXFAM compromete-se a que vai

Distinguir-se das missotildees das NU enquanto se compromete com a promoccedilatildeo da

coordenaccedilatildeo e proteccedilatildeo dos civis

Promover a distinccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e funccedilotildees poliacuteticas ou de

peacekeeping das missotildees das NU

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

40

Trabalhar com o IASC o HCT e grupos de coordenaccedilatildeo das ONG no terreno de

forma a promover a consciencializaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo consistente e salvaguarda dos

princiacutepios da accedilatildeo humanitaacuteria

Invocar a poliacutetica de IAP (Integrated Assessment and Planning) da ONU para

pedir uma revisatildeo dos acordos e devem ser aplicadas medidas de mitigaccedilatildeo no

caso de haver acordos de integraccedilatildeo estabelecidos que sejam considerados como

tendo riscos para accedilatildeo humanitaacuteria

Apoiar os esforccedilos de especialistas humanitaacuterios para desenvolver exerciacutecios de

gerenciamento de crises e fazer um preacute planeamento em campo de forma a

treinar as forccedilas militares que trabalham sob o mandato das NU implantado em

missotildees de manutenccedilatildeo da paz Esses exerciacutecios devem ser explicados aos

comandantes militares e agraves agecircncias de ajuda de forma a avaliarem as

necessidades o potencial e vantagens que os humanitaacuterios gozam nas relaccedilotildees

comunitaacuterias e anaacutelises geograacuteficas bem como as relaccedilotildees sociopoliacuteticas locais

ressalvando a importacircncia de manter uma distinccedilatildeo visiacutevel entre atividades

humanitaacuterias e de manutenccedilatildeo da paz

Solicitar ativamente esforccedilos para rever as missotildees integradas durante a sua

duraccedilatildeo e incentivar a avaliaccedilatildeo independente de sua relaccedilatildeo custo-eficaacutecia

contra o impacto imediato e de longo prazo no final da missatildeo Deve haver um

mecanismo de monitoramento que permita que as missotildees aprendam no terreno

avaliando o que funciona e o que natildeo funciona permitindo proceder a mudanccedilas

se necessaacuterio (OXFAM 2014 pp 5)

4 Seguranccedila dos humanitaacuterios no terreno

Eacute verdade que as ONG humanitaacuterias hospitais humanitaacuterios entidades religiosas e

escolas tecircm estatuto neutral no conflito e natildeo podem por isso ser alvo de ataque

segundo as convenccedilotildees de Genebra no entanto o que se tem verificado eacute um aumento

de ataques a estas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees levando por exemplo MSF agrave

necessidade de trocar a cor da carrinha para natildeo ser confundida com a carrinha do

exeacutercito e ser alvo de ataques como tantas outras ONG tecircm sido alvo O hospital da

MSF foi inclusive alvo em 2015 no Afeganistatildeo por um ataque dos EUA que tendo

provocados 19 mortos dos quais 12 eram membros da organizaccedilatildeo Segundo os MSF

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

41

natildeo haacute desculpa para o ataque dos EUA pois o hospital estava devidamente identificado

e mapeado ou seja identificado O bombardeamento durou 30 minutos mesmo apoacutes a

organizaccedilatildeo avisar os EUA Esta ocorrecircncia eacute muito grave pois ataques a hospitais

podem ser considerados crimes de guerra e mostra que as organizaccedilotildees humanitaacuterias

operam num contexto onde a seguranccedila eacute precaacuteria o que torna difiacutecil realizarem o seu

trabalho Para evitar este tipo de trageacutedias eacute necessaacuterio haver um bom mapeamento das

ONG OING e OIG bem como dos hospitais Este eacute um exemplo de que os ataques tecircm

de ser prevenidos natildeo soacute a partir do terreno mas tambeacutem fora do terreno a niacutevel

internacional para que situaccedilotildees destas natildeo voltem a ocorrer No entanto os ataques satildeo

maioritariamente realizados no terreno por atacantes nacionais do Estado em conflito

armado (Smith 2012 Globo 2015)

A confusatildeo que pode advir da escolta militar eacute uma questatildeo fulcral pois se por um lado

a escolta militar daacute seguranccedila por outro pode levar a que possam ser alvos de ataques

por parte de miliacutecias locais Podem tambeacutem ser facilmente colados a uma das partes das

hostilidades e confundidos com militares caso o material e as carrinhas natildeo sejam

devidamente identificadas tal como aconteceu com o MSF referido acima (Gibbons e

Piquard 2006)

Todos os veiacuteculos das ONG hospitais e produtos devem ser devidamente identificados

de forma a que natildeo sejam confundidos com as forccedilas militares em geral como iraacute ser

abordado no guia de colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares das NU que refere isto

mesmo Militares e ONG humanitaacuterias podem cooperar de forma minuciosa bem

planeada em uacuteltimo recurso e identificando adequadamente as instalaccedilotildees carros

campos de refugiados produtos entre outros Todo o cuidado eacute pouco pois um

pequeno deslize pode ter como consequecircncia uma confusatildeo e resultar num ataque As

ONG devem distanciar-se o maacuteximo dos militares e usar a escolta como jaacute foi referido

como uacuteltimo recurso (Gibbons e Piquard 2006)

Em 2013 registou-se 460 viacutetimas humanitaacuterias das quais 155 pessoas foram

assassinadas e 134 foram raptados e gravemente feridos Houve um aumento de 66

das viacutetimas entre 2012 e 2013 Esta eacute a problemaacutetica central deste estudo e por isso seraacute

feita de seguida uma conceptualizaccedilatildeo sobre o sistema securitaacuterio das Naccedilotildees Unidas e

agecircncias militares privadas nos cenaacuterios humanitaacuterios Jaacute no relatoacuterio de 2015 consta

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

42

que em 2014 foram assassinados 120 humanitaacuterios 88 ficaram feridos e 121 foram

raptados (Ryou et al 2014 Humanitarian Outcomes 2015)

A maior parte das viacutetimas eram membros de ONG locais e faziam parte da Cruz

Vermelha e Crescente Vermelho e os ataques e emboscadas eram em 2013

maioritariamente perpetrados no caminho para os locais onde estes iam operar Para se

ter uma noccedilatildeo mais precisa 87 das viacutetimas satildeo nacionais do paiacutes onde a ajuda estaacute a

ser fornecida e 13 satildeo membros internacionais A seguranccedila dos humanitaacuterios tem

vindo a revelar-se uma razatildeo fundamental para o insucesso de certas missotildees pois natildeo

conseguem chegar aos locais outras ONG decidem abandonar o terreno por natildeo

conseguirem realizar o seu trabalho em seguranccedila Segundo The Aid Worker Security

Report podemos verificar no documento relativo a seguranccedila na aacuterea da accedilatildeo

humanitaacuteria que pouco tem sido investido na mitigaccedilatildeo dos riscos na estrada e natildeo soacute

A 11 de Julho de 2016 foi realizado um ataque a humanitaacuterios em lugar em que estes

foram torturados espancados e abusados sexualmente Este caso violento de ataque a

humanitaacuterios foi amplamente divulgado devido agrave inaccedilatildeo por parte dos peacekeepers

face aos pedidos de ajuda dos humanitaacuterios (Ryou et al 2014 e Adongo 2017)

Os ataques aos humanitaacuterios tecircm ocorrido em 30 Estados No entanto trecircs quartos dos

ataques foram realizados em apenas cinco Estados que estatildeo a passar por um conflito

armado e uma falha de governaccedilatildeo (Estados fraacutegeis) Esses Estados satildeo Sudatildeo do Sul

Sudatildeo Afeganistatildeo Siacuteria e Paquistatildeo Estes ataques satildeo sobretudo raptos e tiroteio

depois vecircm assaltos sem armas de fogo e em uacuteltimo lugar o recurso a explosivos No

entanto este uacuteltimo meacutetodo de ataque tem vindo a sofrer um aumento significativo

entre 2006 e 2013 (Humanitarian Outcomes 2014)

Segundo dados mais recentes do relatoacuterio de Czwarno et al (2017) verifica-se que

houve de facto um aumento do nuacutemero de ataques entre 2007 e 2016

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

43

Figura 1 - Vitimas humanitaacuterias no terreno

Fonte Czwarno M Harmer A e Stoddard A (2017)

Eacute ainda abordado em Ryou et al (2014) e Brabant et al (2010) o procedimento de

treino dos membros das ONG para uma travessia segura para o local onde pretendam

operar Este programa de treino eacute intitulado de SOP (Standard Operating Procedure)

Neste programa constam os seguintes toacutepicos

bull Aprender conduccedilatildeo defensiva para as situaccedilotildees em que precisariam de fugir de

uma determinada situaccedilatildeo de perigo e adquirir capacidade de negociaccedilatildeo no caso de se

depararem com uma situaccedilatildeo em que teratildeo de negociar com o chefe dos rebeldes do

grupo eacutetnico tribo entre outros

bull Adotar guias de instruccedilatildeo ou manuais de boa conduta em caso de ter de passar

check-points em caso de fogo armado assaltos sequestros etc Este ponto eacute muito

importante pois eacute necessaacuterio ir preparado psicologicamente para fazer a travessia por

check-points saber que tipo de documentos mostrar o que dizer como agir e em caso

de fogo armado quais os procedimentos de proteccedilatildeo do pessoal a adotar

bull Fazer sempre pedido de autorizaccedilatildeo para movimentar o staff ou viajar para

outros locais eacute necessaacuterio avisar sempre e realizar o pedido de autorizaccedilatildeo para natildeo

terem problemas nos check-points e correrem o risco de serem detidos

bull Adotar o procedimento em que todos os elementos do grupo avisam a sua

partida e chegada ao local Este procedimento deve ser adotado pela esquipa de forma a

saberem onde cada elemento estaacute a que horas estaacute prevista a chegada e estarem sempre

0

50

100

150

200

250

300

350

2007 2011 2014 2017

Incidentes

Viacutetimas

humanitaacuterios

mortos

humanitaacuterios

eridos

raptos de

humanitaacuterios

Viacutetimas

internacionais

Viacutetimas

nacionais

5

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

44

contactaacuteveis de modo a que seja faacutecil identificar se um membro do grupo estaacute em

problemas devido agrave incomunicabilidade desaparecimento entre outros

bull Estabelecer toques de recolher e mapear as aacutereas que natildeo sejam seguras no

momento preciso em que pensam partir Este ponto eacute essencial para garantir a seguranccedila

do staff e natildeo correrem riscos desnecessaacuterios

bull Mudar as rotinas para que natildeo sejam alvo faacutecil dos rebeldes ou outras forccedilas

militarespopulaccedilatildeo local que queiram atacar e o staff deve ser acompanhado pelo liacuteder

da comunidade com a qual vatildeo trabalhar de forma a que seja garantida a sua seguranccedila

bull Usar raacutedio de alta frequecircncia e equipamentos sateacutelite em missotildees de longa

distacircncia para que todos os elementos da equipa permaneccedilam contactaacuteveis

bull Regras de conduta entre dois carros e espaccedilamento entre eles eacute importante

sobretudo num campo em que natildeo conhecemos nem estamos acostumados (Ryou et al

2014 pp 8-9 Brabant et al 2010 pp 12-16)

O relatoacuterio de Ryou et al (2014) aponta a escolta militar como ultimo recurso usado

pelas ONG e quando usada eacute fornecida pelo governo do Estado em conflito armado ou

pelos peacekeepers ou pela NATO A NATO eacute uma opccedilatildeo agrave qual a comunidade

humanitaacuteria deveraacute recorrer em uacuteltimo recurso pelo simples facto de natildeo se manter

neutra no terreno o que poder A NATO tem um compromisso com as NU quanto a

assegurar a paz e seguranccedila mundial (Ryou et al 2014 e NATO 2016)

A NATO em conjunto com as NU e a UE atua a prevenir crises gerir conflitos ajudar

a estabilizar em situaccedilotildees de poacutes-conflito Esta cooperaccedilatildeo estende-se agrave avaliaccedilatildeo e

gestatildeo de crises cooperaccedilatildeo civil-militar que eacute o foco do tema que estaacute a ser retratado

nesta dissertaccedilatildeo treino e educaccedilatildeo combate agrave corrupccedilatildeo no setor da defesa accedilatildeo

contra as minas mitigaccedilatildeo das ameaccedilas representadas por dispositivos explosivos

improvisados capacidades civis promoccedilatildeo do papel das mulheres em paz e seguranccedila

proteccedilatildeo de civis incluindo crianccedilas conflitos armados combate agrave violecircncia e violecircncia

de gecircnero controle de armas e natildeo proliferaccedilatildeo e a luta contra o terrorismo A

cooperaccedilatildeo eacute ainda reforccedilada com as NU e outros atores internacionais como a UE e a

Organizaccedilatildeo para a Seguranccedila e a Cooperaccedilatildeo na Europa (OSCE) que satildeo partes

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

45

integrantes do contributo da NATO para uma abordagem abrangente quanto agrave gestatildeo e

operaccedilotildees de crise (NATO 2016)

Retomando entatildeo a questatildeo referente agraves opccedilotildees que possam garantir a seguranccedila dos

humanitaacuterios no terreno agrave primeira vista as melhores opccedilotildees seriam mesmo escolta e

proteccedilatildeo no acircmbito de missotildees sob o princiacutepio da R2P as missotildees integradas

minimalistas ou as agecircncias militares privadas No caso das missotildees integradas em

cooperaccedilatildeo com os peacekeepers respeitando o guia de cooperaccedilatildeo entre militar-

humanitaacuterio no caso das agecircncias militares privadas caso estejam devidamente

regulamentadas no direito internacional humanitaacuterio Por uacuteltimo o peace enforcement ao

abrigo do princiacutepio do R2P eacute a melhor opccedilatildeo para Estados que estejam numa situaccedilatildeo

de alta inseguranccedila pois eacute uma intervenccedilatildeo de emergecircncia A escolta pode facilitar a

deslocaccedilatildeo no entanto eacute preciso respeitar os princiacutepios fundamentais da accedilatildeo

humanitaacuteria e as ONG OING e OIG humanitaacuterias respeitarem as missotildees dos militares

com os quais estatildeo a cooperar nesse preciso momento Esta cooperaccedilatildeo tem como

intuito melhorar a seguranccedila e proteger os humanitaacuterios e natildeo dificultar o trabalho de

ambos (Bellamy 2015)

O problema com a cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao

abrigo do R2P natildeo estaacute isenta de perigos podendo mesmo ser mais os pontos negativos

do que favoraacuteveis Pois os militares sob este tipo de missatildeo natildeo satildeo neutros partindo

para o terreno para acabar com a calamidade que estaacute a acontecer ou seja atacar os

responsaacuteveis pelas atrocidades que poderatildeo ser os proacuteprios governantes Sendo o

governo o responsaacutevel pelas atrocidades os militares do peace enforcement iratildeo estar

contra a forccedila que estaacute no poder e por conseguinte estando os humanitaacuterios a receber

escolta do peace enforcement iratildeo sofrer represaacutelias como ataques ou ver o acesso

negado a determinados locais poderaacute mesmo seraacute negada a permissatildeo de permanecer

no terreno e poderatildeo ser atacados por miliacutecias O perpetrador das atrocidades podem

ainda ser miliacutecias e por conseguinte natildeo ser faacutecil fazer a distinccedilatildeo entre combatentes e

natildeo combatentes podendo ser atacados civis no terreno colocando uma vez mais a

comunidade internacional num dilema entre a seguranccedila e respeitar os princiacutepios da

neutralidade e imparcialidade colocando-os numa situaccedilatildeo de grande fragilidade

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

46

No entanto existe uma necessidade de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios no terreno e a

comunidade humanitaacuteria eacute fulcral quanto agrave proteccedilatildeo dos civis assistindo medicamente

fornecendo bens essenciais como comida aacutegua medicaccedilatildeo e apoio psicoloacutegico

acolhem refugiados e IDP fazem uso das suas influecircncias para dar apoio juriacutedico agraves

viacutetimas e garantem proteccedilatildeo Estes pontos referidos tecircm um papel crucial na pacificaccedilatildeo

dos territoacuterios O espaccedilo humanitaacuterio neutro e imparcial daacute uma sensaccedilatildeo de proteccedilatildeo agrave

populaccedilatildeo um refugioabrigo e este espaccedilo pode ser colocado em causa com uma

missatildeo integrada com os militares do peace enforcement pois a comunidade

humanitaacuteria eacute politizada involuntariamente perdendo a neutralidade Ou seja eacute um

dilema que os humanitaacuterios atravessam no terreno dilema entre a seguranccedila a

permanecircncia no terreno e salvar vidas (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Apesar destes pontos negativos a verdade eacute que eacute impossiacutevel para a comunidade

humanitaacuteria manter-se neutra neste tipo de conflitos e precisa de escolta para conseguir

prosseguir com a sua missatildeo Segundo Bellamy (2015) a missatildeo sob o princiacutepio da

R2P no Sri Lanka entre 2008-2009 foi mal sucedida as NU natildeo tiveram capacidade

suficiente para proteger os civis e garantir o acesso dos humanitaacuterios aos locais onde

residiam os civis em necessidade A comunidade humanitaacuteria no terreno viu-se forccedilada

a terminar a missatildeo devido ao facto de o governo ter restringido o acesso das

organizaccedilotildees humanitaacuterias e o staff das NU foi persistentemente intimidado As NU natildeo

tentaram chamar o governo agrave realidade evidenciando que restringir o acesso dos

humanitaacuterios vai contra agraves suas obrigaccedilotildees internacionais As NU falharam tambeacutem

quanto ao seu dever de informar os Estados sobre violaccedilotildees dos direitos humanos no

terreno A comunidade humanitaacuteria natildeo pode cooperar com este tipo de accedilotildees vai

contra agrave essecircncia da accedilatildeo humanitaacuteria Logo o peace enforcement sob o princiacutepio do

R2P que inicialmente poderia ser uma soluccedilatildeo viaacutevel para garantir a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios no terreno (devido ao princiacutepio subjacente e agraves restriccedilotildees e regras riacutegidas

de atuaccedilatildeo no terreno) deixa de o ser a partir do momento em que falha como no Sri

Lanka para com os cidadatildeos e para com a comunidade humanitaacuteria uma vez que natildeo

conseguiu garantir um acesso seguro e a permanecircncia dos humanitaacuterios no terreno

(Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

Portanto uma missatildeo integrada no terreno com o peace enforcement ao abrigo do

princiacutepio da responsabilidade de proteger pode ser a soluccedilatildeo mais raacutepida e a mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

47

adequada pois estatildeo todos empenhados em aliviar o sofrimento humano salvar vidas e

por termo agraves atrocidades No entanto na praacutetica esta eacute uma situaccedilatildeo bastante complexa

mas que natildeo deve ser descartada A decisatildeo quanto agrave adoccedilatildeo de uma missatildeo integrada

entre o peace enforcement ao abrigo do R2P e organizaccedilotildees humanitaacuterias deve ser

avaliada e decidida caso a caso (Bellamy 2015 Hammond 2015 Audet 2015)

No entanto a colaboraccedilatildeo entre militar e humanitaacuterio pode ser fomentada de outra

forma estabelecendo uma verdadeira parceria onde cada um manteacutem a sua

independecircncia e no caso dos humanitaacuterios a imparcialidade e neutralidade A forccedila

militar preferencial para esta parceria seria os peacekeepers pois satildeo uma forccedila militar

internacional e imparcial Desta forma os dois atores complementam-se sem que haja

interferecircncia nas missotildees de cada um Segundo Gibbons e Piquard essa parceria pode

acontecer das seguintes formas

1 A ONG humanitaacuteria pode pedir coordenadas especificas aos militares sobre a

seguranccedila de determinada regiatildeo pedir instruccedilotildees sobre a melhor hora e caminho para

fazer a viagem ateacute determinado local considerado perigoso Desta forma a equipa

poderaacute viajar para o local atraveacutes de um caminho mais seguro recomendado pelos

militares acostumados no terreno Devem tambeacutem permanecer em contacto com a forccedila

militar com a qual estatildeo a colaborar de modo a que caso haja um problema estes

possam assistir a equipa)

2 Poderatildeo pedir contactos ou para agilizar a comunicaccedilatildeo entre a ONG e o liacuteder

da comunidade com a qual iratildeo trabalhar de forma a evitar problemas desagradaacuteveis e a

que sejam aceites no local e assim a ajuda poder ser fornecida sem

3 Os militares podem dar formaccedilatildeo aos humanitaacuterios de autodefesa seguranccedila

como por exemplo o uso da raacutedio como meio de comunicaccedilatildeo mapas entre outros e

como organizarem a logiacutestica toda de forma raacutepida e eficaz (Gibbons e Piquard 2006

pp25-95)

Caso a escolta militar natildeo possa ser dispensada existe ainda a possibilidade de os

militares escoltarem a equipa agrave paisana ou seja sem a farda de modo a natildeo chamarem

a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo local ou dos ldquoinimigosrdquo Deste modo os humanitaacuterios

realizariam a viajarem em seguranccedila a populaccedilatildeo natildeo perderia a confianccedila na ONG

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

48

pois natildeo teriam como saber que estavam a ser escoltados por uma forccedila militar Este

meacutetodo seria para usar esporadicamente (Gibbons e Piquard 2006 pp25-95)

O que se pretende demonstrar com as medidas anteriormente expostas eacute que os

humanitaacuterios devem recorrer soacute em ultimo recurso agrave escolta militar Antes podem pedir

colaboraccedilatildeo do tipo backoffice pedindo informaccedilotildees ou um mapeamento dos caminhos

seguros para chegar a determinado local pedir formaccedilatildeo sobre o uso da raacutedio por

sateacutelite como meio de comunicaccedilatildeo formaccedilatildeo de autodefesa conduccedilatildeo e uso de

determinadas ferramentas de logiacutestica que poderatildeo vir a ser uacuteteis no futuro de forma a

contribuir para uma estadia mais segura sem colocar em causa a missatildeo de ambos e os

princiacutepios humanitaacuterios (Gibbons e Piquard 2006)

Segundo Gibbons e Piquard (2006) ONG OING e OIG natildeo precisam de estar de costas

voltadas para os militares podem colaborar em conjunto de diversas formas que natildeo

sejam diretamente a escolta para natildeo serem associados a determinada forccedila poliacutetica Soacute

como uacuteltimo recurso como em caso de grande perigo deveratildeo pedir escolta ou usar os

meios de transporte militares neste caso o aeacutereo seria o mais desejaacutevel para levar o

maacuteximo de mantimentos possiacutevel

5 Seguranccedilas privadas como garante de seguranccedila dos humanitaacuterios

Devido agraves necessidades de proteccedilatildeo e seguranccedila dos humanitaacuterios tecircm-se assistido ao

surgimento de agecircncias de seguranccedila privadas que fornecem serviccedilos de proteccedilatildeo agrave

comunidade humanitaacuteria Peter Singer intitula estas agecircncias de ldquoagecircncias militares

privadasrdquo que oferecem seguranccedila treino para missotildees no terreno e apoio logiacutestico

Hoje as AMP (agecircncias militares privadas) operam em mais de 50 paiacuteses e tiveram um

papel decisivo nos conflitos dos seguintes Estados Angola Croaacutecia Etioacutepia-Eritreia e

Serra Leoa Estas agecircncias militares satildeo geridas por militares reformados e podem ter

mera funccedilatildeo consultiva como tambeacutem podem ter um papel de uma empresa

transnacional usando meios como aviotildees e comandos no terreno para aleacutem da sua vasta

experiecircncia atraveacutes de missotildees realizadas muitas vezes no terreno para o qual iratildeo

fornecer o serviccedilo (Singer 2006)

Podemos dividir as agecircncias de seguranccedila privadas em duas grandes aacutereas que satildeo as

agecircncias militares privadas constituiacutedas por ex-militares reformados ou que tenham

saiacutedo da forccedila militar estatal da qual fazia parte e tecircm como principal objetivo fornecer

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

49

serviccedilos de seguranccedila militar em terrenos de conflito armado internacional ou natildeo caso

seja necessaacuterio e as agecircncias de seguranccedila privada que natildeo iratildeo ser profundamente

exploradas nesta dissertaccedilatildeo A ONU tem vindo a contratar os serviccedilos destas agecircncias

militares privadas bem como as ONG e OING Como eacute possiacutevel constatar os

humanitaacuterios vivem momentos de grande inseguranccedila no terreno caso o Estado em

questatildeo natildeo forneccedila essa seguranccedila agrave ONG que estaacute a operar no terreno As agecircncias

podem fornecer apoio logiacutestico de seguranccedila principalmente nas viagens para o

territoacuterio onde iratildeo trabalhar e trabalho de consultoria Por outro lado haacute as agecircncias de

seguranccedila privadas que realizam o serviccedilo de seguranccedila apenas como um policia

realizaria em territoacuterio nacional Este tipo de agecircncias natildeo tem a responsabilidade de

proteger territoacuterios ou bens privados mas sim de proteger as pessoas neste caso os

humanitaacuterios nas deslocaccedilotildees e no territoacuterio As ONG OING e OIG tecircm vindo a

recrutar os serviccedilos das agecircncias militares privadas pois estas estatildeo habituadas a operar

em contexto de conflitos Estas agecircncias podem ser contratadas por ONG OING OIG

pelo governo por indiviacuteduos a tiacutetulo privado e por empresas privadas Segundo Pilbeam

(2015a) os principais serviccedilos que fornecem satildeo

Combate as agecircncias militares privadas podem ser contratadas para tomar diretamente

parte das hostilidades assistindo as tropas no terreno em combate em caso de falta de

militares

Treino podem igualmente ser contratadas para treinar novos meacutetodos taacuteticos de

sobrevivecircncia como atravessar certas estradas perigosas novos meacutetodos de combate e

como usar determinado armamento bem como meacutetodos de sobrevivecircncia e medicina

de terreno e sobrevivecircncia

Suporte podem ser contratados para fornecer apoio logiacutestico como por exemplo gerir

os bens alimentares e serviccedilos construccedilatildeo e uso de novas tecnologias de informaccedilatildeo

como a raacutedio por exemplo

Seguranccedila este eacute o serviccedilo mais contratado pelas ONG ONIG e OIG humanitaacuterias

com este serviccedilo eacute pretendido garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos como os profissionais

humanitaacuterios campos de refugiados edifiacutecios terrenos entre outros Tecircm tambeacutem como

funccedilatildeo garantir a seguranccedila dos indiviacuteduos durante o transporte para o terreno Hoje

tambeacutem tecircm a funccedilatildeo de garantir a seguranccedila dos dados e do computador

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

50

Inteligecircncia este serviccedilo diz respeito a recolhimento de dados e anaacutelise dos mesmos

atraveacutes de pesquisa e observaccedilatildeo

Reconstruccedilatildeo estes serviccedilos satildeo muitas vezes requeridos em situaccedilotildees de poacutes-conflito e

o seu principal trabalho eacute livrar terrenos que possam estar minados reconstruccedilatildeo de

infraestruturas e restaurar sistemas essenciais agrave sobrevivecircncia como a aacutegua o

saneamento e a eletricidade (Pilbeam 2015a pp 200)

Pilbeam refere que no caso de Ruanda a ONU teve a necessidade de contratar AMP

para assistir os peacekeepers antes e depois da crise natildeo soacute a niacutevel securitaacuterio mas

tambeacutem a niacutevel de reconstruccedilatildeo logiacutestica entre outros Este tipo de situaccedilotildees natildeo

deveria acontecer pois torna a pacificaccedilatildeo dos territoacuterios dependentes dos serviccedilos

destas agecircncias militares privados o que aumenta o nuacutemero de mercenaacuterios no terreno

aumenta as despesas tornando a accedilatildeo securitaacuteria num negoacutecio privado Outro problema

eacute o facto de existir um vazio legal na hora de julgar estes militares em caso de infraccedilatildeo

da lei no Estado em que estatildeo a operar Estes natildeo poderatildeo tambeacutem usufruir do estatuto

de prisioneiro de guerra (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam 2015a)

Por exemplo a agecircncia Defense System Limited (DSL) proveu proteccedilatildeo agrave UNICEF no

Sudatildeo e na Somaacutelia e agrave OMS em Angola A Armour Group foi contratada pelo ACNUR

para realizar serviccedilo de seguranccedila no Queacutenia O Dyn Corp disponibilizou meios aeacutereos

e uma rede sateacutelite para comunicaccedilotildees para a ONU mais especificamente para os

membros das operaccedilotildees de peacekeeping em Timor Leste O Pacific Architects

Engeneers (PAE) contribuiu com poliacutecias civis para a missatildeo da ONU no Haiti Esta

contrataccedilatildeo natildeo tem nenhum guia ou legislaccedilatildeo que especifique como onde e em que

circunstacircncias devem ser contratadas este tipo de agecircncias militares privadas de forma

a que possam ser evitados problemas no futuro (Schneiker e Joachim 2015 Pilbeam

2015a)

As organizaccedilotildees humanitaacuterias recorrem unicamente agraves agecircncias de militares privadas

quando a sua seguranccedila corre elevados riscos no local onde pretendam operar e o Estado

natildeo garante escolta militar e seguranccedila aos humanitaacuterios da ONG que pretende operar

naquele local ficando assim ao criteacuterio da ONG recorrer a agecircncias de seguranccedila

privada regressar ou correr o risco mesmo assim Raramente as ONG pedem ajuda em

termos de seguranccedila aos militares que estatildeo em operaccedilatildeo de peacekeeping ou outros

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

51

militares no terreno para que os seus princiacutepios fundamentais natildeo sejam abalados Com

o aumento dos sequestros e mortes de humanitaacuterios aumentou tambeacutem o nuacutemero de

ONG a contratarem agecircncias privadas de seguranccedila Sete agecircncias da ONU admitem ter

contratado agecircncias de seguranccedila para poderem operar em terrenos que estejam a

atravessar por um conflito armado Este facto mostra bem a falta de militares com que a

ONU se depara e a necessidade cada vez maior de garantir a seguranccedila no terreno dos

seus profissionais (Singer 2006)

Singer levanta um problema na contrataccedilatildeo de agecircncias de seguranccedila privadas por

ONG que eacute o facto de estas natildeo saberem como trabalhar em conjunto com militares e

quais os limites de accedilatildeo e conduta destas agecircncias Somente o Comiteacute Internacional da

Cruz Vermelha a Oxfam e a Mercycorps elaboraram documentos sobre a conduta das

agecircncias de seguranccedila privada num manual onde satildeo estabelecidos os limites de accedilatildeo

tipo de armas a usar as tarefas entre outros Ou seja elaboraram um documento onde eacute

estabelecido que tipos de accedilotildees podem e natildeo podem ter no terreno direitos e deveres

para que natildeo haja um uso excessivo e desnecessaacuterio da forccedila e das armas (Singer 2006

Schneiker e Joachim 2015)

No entanto existe um vazio legal e estas agecircncias militares privadas natildeo podem ser

julgadas no terreno nem ao abrigo do Direito Internacional Humanitaacuterio o que torna o

seu uso perigoso Isto acontece porque estas agecircncias natildeo estatildeo a trabalhar para o

Estado X ou Y mas para uma ONG ou OIG ou seja o seu serviccedilo eacute privado e

contratado pela ONG (Singer 2006)

Os militares destas agecircncias privadas contratados pelas ONG OING e OIG satildeo

considerados mercenaacuterios o que faz com que natildeo tenham direito ao estatuto de

prisioneiros de guerras e nem sejam considerados combatentes o que leva a que natildeo

tenham direito agrave expatriaccedilatildeo tratamento meacutedico especial e tenha de se sujeitar ao

tratamento que lhe for concedido pelo Estado no qual foi feito prisioneiro Estes

militares natildeo estatildeo ao serviccedilo de nenhum Estado ou comunidade internacional a

combater estatildeo simplesmente a fornecer um serviccedilo a troco de dinheiro o que faz deles

mercenaacuterios (Pilbeam 2015a)

Natildeo tecircm tambeacutem o direito a serem extraditados para o seu paiacutes de origem tendo por

isso de ser julgados consoante a legislaccedilatildeo local Este vazio legal eacute um grave problema

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

52

que deveraacute ser resolvido pela comunidade internacional Se por um lado temos a

hipoacutetese de estes militares natildeo poderem ser julgados por crimes de guerra caso o

cometa por outro lado temos a hipoacutetese de serem apanhados e presos e nada poder ser

feito para os libertar por natildeo serem prisioneiros de guerra e por isso natildeo estarem

abrangidos pelo Direito Internacional Humanitaacuterio (Pilbeam 2015a)

Do lado das ONG OING e OIG a falta de praacutetica em contratar este tipo de serviccedilos e o

facto de natildeo saberem como lidar com os mercenaacuterios (muitos deles podem ter um

passado duvidoso quanto agrave violaccedilatildeo dos Direitos Humanos) levanta questotildees seacuterias

crimes perpetrados pelas agecircncias militares privadas a ONG que contratem estas

agecircncias eacute tambeacutem culpabilizada o que poderaacute ter consequecircncias nos donativos e na

confianccedila nela depositada (Singer 2006)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

53

Capiacutetulo III Sudatildeo do Sul Um Estudo de Caso

1 Contextualizaccedilatildeo do conflito do Sudatildeo do Sul

O Sudatildeo do Sul eacute uma Repuacuteblica presidencialista e o seu atual Presidente eacute Salva Kiir

A Capital eacute Juba e a moeda eacute a Libra Sul-sudanesa A liacutengua oficial eacute o Inglecircs no

entanto existem vaacuterias liacutenguas faladas que natildeo satildeo oficiais como por exemplo dinka

nuer zande bari e shiluk O Sudatildeo do Sul faz fronteira com o Sudatildeo (de quem se

tornou independente em 2011) a Etioacutepia o Queacutenia o Uganda a Repuacuteblica Democraacutetica

do Congo e a Repuacuteblica Centro Africana Estima-se que em 2011 a populaccedilatildeo do Sudatildeo

do Sul era de 11090104 habitantes Foi a 9 de julho desse mesmo ano que o Sudatildeo do

Sul se tornou um paiacutes independente (CIA sd)

Figura 2 - Mapa do Sudatildeo do Sul

Fonte Branco (2011)

Desde a independecircncia os variados conflitos intensificaram-se Em 2013 o Sudatildeo do

Sul entrou numa forte crise poliacutetica culminando numa guerra civil Esta crise poliacutetica

aconteceu quando o presidente Salva Kiir membro do maior grupo eacutetnico local Dinka

acusou o vice-presidente do Sudatildeo do Sul Riek Machar membro do grupo eacutetnico Lou

Nuer de uma tentativa de golpe de Estado o que levou ao despoletar de uma guerra

civil onde os membros dos dois grupos eacutetnicos acima referidos entraram eles tambeacutem

em conflito entre si fruto do oacutedio eacutetnico Eacute importante referir os grupos eacutetnicos a que

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

54

pertenciam ambos os poliacuteticos parte das hostilidades porque o Sudatildeo do Sul eacute um

Estado dividido em vaacuterias etnias pode mesmo dizer-se que existem vaacuterios lsquoSudatildeosrsquo

dentro do Sudatildeo do Sul o que dificulta o processo de paz por si soacute Este

desentendimento acontece apoacutes o vice-presidente Riek Machar ter acusado o atual

presidente Slava kiir de corrupccedilatildeo de lidar mal com a economia e situaccedilatildeo global do

Sudatildeo do Sul de haver cada vez mais desigualdade entre grupos Em 2013 houve um

coup drsquoeacutetat o que intensificou uma vez mais o conflito pois o presidente Salva Kiir

decidiu demitir todo o governo e assumir total controlo do Estado atirando a tentativa

do golpe de Estado para o vice-presidente Riek Machar Como eacute possiacutevel prever os

conflitos entre as duas partes intensificaram-se mais precisamente entre os dois grupos

eacutetnicos ligados a cada uma destas duas figuras (Nascimento 2017)

Devido ao referido anteriormente deu-se uma divisatildeo dentro do SPLM (Sudan Peoplersquos

Liberation Movement) tendo sido criado o SPLM-IO (Sudan Peoplersquos Liberation

Movement- In Oposition) apoiante do vice-presidente Riek Machar Ao presente a

guerra civil joga-se entre o SPLM o SPLA (Sudan Peopleacutes Liberation Army) e o

movimento pro Riek Machar SPLM-IO Esta divisatildeo que gerou uma grande onda de

violecircncia levou ao aumento draacutestico de pedidos de asilo de refugiados aos paiacuteses

vizinhos e de deslocados internamente (Deutsche Welle 2013 Rolandsen et al 2015

Felix e Coning 2017)

Tinha havido em 2011 segundo Nascimento (2017) uma tentativa afincada de realizar

um acordo de paz duradouro tendo pouco sido feito em termos de desenvolvimento e

garantia das necessidades baacutesicas para toda a populaccedilatildeo ou seja garantir o igual acesso

a todos agrave educaccedilatildeo sauacutede alimentaccedilatildeo seguranccedila e emprego O Sudatildeo do Sul

confronta-se tambeacutem com um governo fraco aumento das hostilidades entre populaccedilotildees

de diferentes etnias alimentadas pelos poliacuteticos e um setor privado e governo corruptos

Natildeo resolvendo estas questotildees eacute impossiacutevel qualquer acordo de paz vingar a natildeo ser no

papel Eacute possiacutevel entatildeo deduzir que este processo de paz natildeo foi coordenado e

uniforme pois o governo optou por estabelecer acordos ao longo do paiacutes criando

divisotildees dentro do recente Estado (Nascimento 2017)

Houve um novo acordo de cessar-fogo em maio de 2014 tendo sido criado um governo

de transiccedilatildeo e foi feito um esboccedilo para a criaccedilatildeo de uma nova constituiccedilatildeo No entanto

houve mais uma vez neste processo uma falta de compromisso para com as partes e a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

55

populaccedilatildeo o que gerou mais ondas de violecircncia Em maio de 2015 o governo do Sudatildeo

do Sul foi pressionado por atores externos a estabelecer um acordo de paz acordo esse

que veio a ser altamente criticado Salva Kiir acusou o acordo de desfavorecer a

comunidade eacutetnica Dinka num futuro governo Este acordo foi tambeacutem criticado pela

sociedade civil por privilegiar a partilha de poderes entre as elites ao inveacutes de prestar

contas e desenvolver um mecanismo de justiccedila onde as atrocidades cometidas pelos dois

partidos fossem punidas Acusou tambeacutem o presidente de natildeo privilegiar o

desenvolvimento a niacutevel educacional socioeconoacutemico e de infraestruturas do Estado e

de natildeo haver a aplicaccedilatildeo da lei Riek Machar voltou ao seu cargo como vice-presidente

tendo de abandonar a cidade de Juba por violecircncia e alegada perseguiccedilatildeo do governo

tendo sido substituiacutedo pelo Presidente Riek Machar pediu ajuda agrave comunidade

internacional para enviar militares que o ajudassem a chegar a Juba em seguranccedila e

retomar o seu cargo Pouco mudou como eacute possiacutevel verificar natildeo se constatou

desenvolvimento algum continua a existir pobreza e a violecircncia natildeo para de aumentar

Salva Kiir (atual presidente) privilegiou a estabilizaccedilatildeo do Estado ao inveacutes do

desenvolvimento o que em conjunto com o conflito eacutetnico despoletou a guerra civil

(Nascimento 2017 Felix e Coning 2017)

Segundo Nascimento (2017) houve ainda uma maacute compreensatildeo frequente quanto ao

uso do peacebuilding confundido com partilha de poderes e recursos Ao inveacutes disso

deveria ter havido uma aposta na criaccedilatildeo de uma democracia soacutelida onde os cidadatildeos

pudessem contribuir na tomada de decisatildeo dos poliacuteticos e desenvolvimento do seu

territoacuterio A parte mais importante para o sucesso do acordo de paz sociedade civil e

partidos natildeo foi todavia parte dos processos de negociaccedilatildeo da paz O processo de paz

centrou-se exclusivamente na partilha de poderes entre os partidos do governo e

militares natildeo tendo sido escutadas opiniotildees de mediadores figuras influentes ou

partidos poliacuteticos Segundo a autora os negociadores do acordo de paz natildeo queriam

entender que o problema ultrapassava a rivalidade poliacutetica que era tambeacutem constituiacutedo

por uma marginalizaccedilatildeo social e econoacutemica que afetava diversos grupos e setores da

populaccedilatildeo (Nascimento 2017 Tafta e Haken 2015)

A guerra civil do Sudatildeo do Sul levou agrave morte de milhares de pessoas Estima-se que

desde 2013 tenham morrido mais de 50 000 pessoas e que tenham fugido cerca de 16

milhotildees de pessoas dos seus lares aquando da tentativa internacional de estabelecer a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

56

paz com o acordo assinado em agosto de 2015 (OCHA 2015) Segundo o OCHA

(2017) cerca de trecircs milhotildees de pessoas tiverem de fugir dos seus lares existem cerca

de 12 milhotildees de deslocados internamente e mais de 13 milhotildees de refugiados

Podemos entatildeo verificar que o Sudatildeo do Sul desde a sua independecircncia natildeo teve um

uacutenico momento de paz e a populaccedilatildeo estaacute a atravessar momentos conturbados haacute

infraestruturas destruiacutedas falta de cuidados meacutedicos trabalho forccedilado violaccedilotildees

abusos deslocaccedilotildees forccediladas destruiccedilatildeo perda de meios de subsistecircncia e surgimento

de doenccedilas tais como a coacutelera diarreia malaacuteria entre outros ateacute aos dias de hoje

(OCHA 2015 CFR 2017 HRP 2017)

O Sudatildeo do Sul eacute ainda considerado um Estado de enorme fragilidade no iacutendice de

fragilidade dos Estados do FFP (2017) contando com uma classificaccedilatildeo de 11390 e

estando mal cotado em todos os indicadores de avaliaccedilatildeo As aacutereas satildeo as seguintes

seguranccedila e aparelho do Estado elites e facotildees clivagens entre grupos decliacutenio

econoacutemico desigualdade no desenvolvimento fuga de ceacuterebros legitimidade do

Estado direitos humanos e Estado de direito serviccedilos puacuteblicos pressotildees demograacuteficas

refugiados e deslocados internamente e finalmente intervenccedilatildeo externa Essa

classificaccedilatildeo significa que o Sudatildeo do Sul estaacute na pior categoria ndash ldquoestado de alertardquo

(100-120) e que registou o pior resultado (primeiro no ranking) em 2017 (TFP 2017a

TFP 2017b)

O paiacutes eacute ainda caracterizado por enfrentar variados problemas como por exemplo a

escassez de aacutegua mau saneamento ou ausecircncia do mesmo falta de meios de

subsistecircncia atravessando um periacuteodo de escassez alimentar o que aumenta

drasticamente os conflitos entre cidades e grupos eacutetnicos pois natildeo estatildeo a lutar

unicamente devido ao conflito e ao oacutedio eacutetnico mas estatildeo a lutar tambeacutem pela obtenccedilatildeo

de meios de subsistecircncia A guerra civil da qual natildeo consegue sair tem como principal

problema o profundo tribalismo caracteriacutestico do Estado e maus poliacuteticos natildeo

conseguindo criar um aparelho de poder forte As regiotildees do Sudatildeo do Sul que foram

mais atingidas pelo conflito satildeo Jonglei Unity e Upper Nile (Tafta 2014 Rolandsen et

al 2015 TFP 2017c Tafta e Haken 2015) Quanto ao IDH (Iacutendice de

desenvolvimento Humano) o Sudatildeo do Sul estaacute avaliado no iacutendice na posiccedilatildeo de 0418

e classificado no ranking na 181ordf posiccedilatildeo sendo a esperanccedila meacutedia de vida de 561 anos

e a escolaridade rondando ateacute os 49 anos O Estado que estaacute em uacuteltimo lugar na

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

57

classificaccedilatildeo eacute a Repuacuteblica Centro Africana na 188ordf posiccedilatildeo com o valor de 0352 O

Estado mais bem posicionado em primeiro lugar eacute a Noruega com o valor de 0949 A

cotaccedilatildeo dos Estados vai de 00 a 1 (UNDP 2016)

Para aleacutem dos problemas internos o Sudatildeo do Sul tem ainda uma relaccedilatildeo muito

fragilizada com o Sudatildeo devido agraves disputas para a aquisiccedilatildeo do petroacuteleo e a fronteira

os territoacuterios de Darfur South Kordofan e Blue Nile que eram disputados Estes

problemas levaram a que houvesse uma priorizaccedilatildeo da seguranccedila ao inveacutes do

desenvolvimento que eacute crucial para pacificar um Estado e desenvolver (Felix e Coning

2017)

O Sudatildeo do Sul foi palco de Acatildeo Humanitaacuteria promovida pela ONU nomeadamente

do OCHA tendo este uacuteltimo realizado um plano estrateacutegico para o Sudatildeo do Sul A

primeira missatildeo realizada pelas NU no Sudatildeo do Sul cujo nome era UNMISS (United

Nation Mission for South Sudan) sob o artigo VII da carta das NU conforme a

resoluccedilatildeo do Conselho de Seguranccedila nordm 1996 de 8 de julho de 2011 tinha como

principal objetivo ajudar o governo a consolidar a paz e seguranccedila incluindo a

mitigaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos bem como a proteccedilatildeo dos civis Comeccedilou em 2011

pelo periacuteodo de um ano mas viria a revelar-se insuficiente e obrigaria a que fosse

necessaacuterio o prolongamento da UNMISS Em 2013 outra crise deflagrou no Sudatildeo do

Sul culminando numa guerra civil conforme referido acima Neste caso a presenccedila da

UNMISS era fulcral no terreno apesar de a relaccedilatildeo entre o governo do Sudatildeo do Sul e a

UNMISS terem atravessado uma crise no terreno pois os militares desta foram

acusados de natildeo serem imparciais e de ajudarem a abater militares favoraacuteveis ao

governo e de que haveria uma maacute conceccedilatildeo da missatildeo no terreno Foi por isso aprovada

pelo Conselho de Seguranccedila a resoluccedilatildeo 2132 (24122013) pela qual foi decidido

aumentar o nuacutemero de militares e poliacutecias no terreno Em 2014 foi reforccedilada a

priorizaccedilatildeo da necessidade de proteccedilatildeo dos civis devido agrave deterioraccedilatildeo da situaccedilatildeo

humanitaacuteria no terreno tendo sido aprovada a resoluccedilatildeo 2155 (27052014) Os

objetivos foram a consolidaccedilatildeo da democracia fraacutegil (statebuilding) em que o paiacutes se

encontrava proteger os civis de possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia fiacutesica proteger grupos

vulneraacuteveis proteger os campos de refugiados e os profissionais humanitaacuterios de

possiacuteveis ameaccedilas de violecircncia e criar condiccedilotildees para que as ONG humanitaacuterias

pudessem aceder aos locais e fornecer assistecircncia humanitaacuteria Era tambeacutem feita a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

58

monitorizaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de crimes contra os direitos humanos e procurava-se

facilitar a implementaccedilatildeo dos acordos de paz Haacute tambeacutem um mandato atual da

UNMISS em que foram reforccedilados os contingentes em 7000 pessoal militar 9000

poliacutecias e um apropriado contingente de civis Estatildeo autorizados 17 000 tropas nos

quais estatildeo incluiacutedas 4000 forccedilas de proteccedilatildeo regionais Foi aumentado o limite da

poliacutecia para 2101 policiais incluindo policiais individuais unidades policiais formadas

e 78 corretores e solicitado ao Secretaacuterio-Geral que tome as medidas necessaacuterias para

acelerar a forccedila e a geraccedilatildeo de ativos (UNMISS 2017a UNMISS sd UNMISS 2017b

OCHA 2015 OCHA 2017 OCHA sd)

Como eacute possiacutevel constatar o Sudatildeo do Sul necessita de operaccedilotildees de peacekeeping para

manter a paz assegurar os direitos humanos salvar vidas e garantir uma vida digna agrave

populaccedilatildeo local mas tambeacutem necessita e estava num processo de peacebuiling que

procura restaurar o aparelho de poder reconstruir as infraestruturas e ajudar o governo a

fortalecer-se de forma a que a paz permaneccedila e o processo de pacificaccedilatildeo seja realizado

com ecircxito apoacutes o presidente ter assinado em 2015 o acordo de paz como foi referido

anteriormente No entanto como sabemos o Sudatildeo do Sul natildeo estaacute ainda pacificado

permanecendo no terreno cerca de 17000 peacekeepers (OCHA 2015 UNMISS

2017a UNMISS 2017b)

Segundo o Council on Foreign Relations (2017) e tambeacutem o OCHA (2017) o Estado

do Sudatildeo do Sul apresenta um problema no que toca agrave accedilatildeo humanitaacuteria pois o terreno

estaacute cada vez mais perigoso cada vez mais humanitaacuterios satildeo assassinados por grupos

eacutetnicos em guerra dificultando assim a chegada da assistecircncia humanitaacuteria agrave populaccedilatildeo

que estaacute a atravessar grandes privaccedilotildees em termos alimentares de saneamento e de aacutegua

potaacutevel Como eacute sabido o Sudatildeo do Sul tem um grande problema no setor agriacutecola no

saneamento e no acesso a aacutegua o que leva a que os conflitos natildeo cessem muito pelo

contraacuterio pioram A falta de aacutegua potaacutevel eacute um dos grandes problemas existentes no

Sudatildeo do Sul havendo locais em que natildeo existe mesmo sendo necessaacuterio transportaacute-la

para o local o que eacute feito pelas OIG OING e OIG (OCHA 2017 CFR 2017)

Soacute em 2016 os incidentes humanitaacuterios foram de 635 por mecircs de janeiro a junho e de

junho a novembro esse nuacutemero aumentou para 90 Os humanitaacuterios tambeacutem viram a

necessidade de negociar com os militares locais para operar bem como de procurar

apoio na aacuterea da advocacia para a aacuterea da accedilatildeo humanitaacuteria Esta negociaccedilatildeo tem sido

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

59

uma constante e estas negociaccedilotildees podem ser realizadas atraveacutes de troca por troca

Existe uma maacute vontade do Estado sentida nos diversos impedimentos burocraacuteticos e

difiacutecil sinalizaccedilatildeo dos civis que estatildeo a receber a assistecircncia humanitaacuteria dificultando

assim o trabalho dos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema eacute que a escolta militar pode levar a que a populaccedilatildeo sinta uma confusatildeo e

associe as ONG OING e OIG aos militares peacekeepers o que eacute negativo Neste caso

a UNMISS natildeo eacute neutra e leva a uma perceccedilatildeo de que as ONG OING e OIG tambeacutem

natildeo satildeo neutras Outro problema foi a poleacutemica em que a UNMISS se envolveu com o

desarmamento da populaccedilatildeo que era feito agrave forccedila e de forma selecionada natildeo tendo os

peacekeepers reagido e tendo a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional

reagido Tudo junto leva a que a populaccedilatildeo sinta receio em pedir ajuda agraves organizaccedilotildees

humanitaacuterias caso a escolta seja feita por militares que tenham algum contacto ou

trabalho com o governo ou as forccedilas militares locais (Felix e Coning 2017)

2 Emergecircncia humanitaacuteria e dificuldades de acesso ao terreno por parte das

ONG

Como eacute possiacutevel verificar o caso do Sudatildeo do Sul eacute um caso bastante complicado

sendo mesmo considerado uma emergecircncia humanitaacuteria devido agraves constantes guerras

civis e eacutetnicas que natildeo cessam agrave crise econoacutemica aos choques climateacutericos que levam agrave

escassez de comida falta de aacutegua potaacutevel o que tem como consequecircncia fome e

malnutriccedilatildeo pessoas deslocadas internamente e nuacutemero de refugiados a aumentar

pobreza e crimes de violaccedilatildeo contra os direitos humanos que natildeo cessam O Estado natildeo

se tem revelado eficaz na proteccedilatildeo do seu povo sendo que existem determinados locais

que satildeo praticamente de impossiacutevel acesso aos humanitaacuterios (HRP 2017)

O problema segundo o OCHA natildeo eacute soacute o acesso ao local onde a populaccedilatildeo estaacute em

necessidade mas tambeacutem a permanecircncia das ONG OING ou OIG no terreno Nos dias

14 e 15 de abril de 2016 os humanitaacuterios tiveram de sair do terreno (Waat e Walgak em

Jonglei) devido agrave intensificaccedilatildeo do conflito Essa retirada dos humanitaacuterios do terreno

teve consequecircncias graves a niacutevel de preparaccedilatildeo de comida e distribuiccedilatildeo da mesma

11200 pessoas em Nyrol ficaram sem acesso a educaccedilatildeo sauacutede nutriccedilatildeo e atividades

de limpeza vitais para a populaccedilatildeo Esta deslocaccedilatildeo teve efeitos nefastos para a accedilatildeo

humanitaacuteria em Jonglei quando as instalaccedilotildees humanitaacuterias foram invadidas por civis e

militares durante os atraques de fevereiro Este tipo de ataques natildeo pode repetir-se pois

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

60

a inseguranccedila poderaacute ter como consequecircncia o abandono das ONG OING e OIG do

terreno o que levaraacute a uma intensificaccedilatildeo dos conflitos e a uma populaccedilatildeo ainda mais

fragilizada Um Estado que se pauta por grandes desigualdades entre regiotildees leva a

conflitos que soacute seratildeo amenizados sendo essas necessidades mais urgentes suprimidas

Natildeo adianta fazer missotildees quando natildeo se combate o cerne do problema (OCHA 2017)

Logo estes problemas de acesso poderatildeo levar a que os conflitos se agravem devido agrave

falta de bens de primeira necessidade como por exemplo a aacutegua que como sabemos eacute

um motivo de guerra em vaacuterios paiacuteses e comida pois a pouca comida e aacutegua potaacutevel

existente seraacute disputada gerando ainda mais conflitos Uma maacute nutriccedilatildeo ingestatildeo de

aacutegua natildeo potaacutevel leva ainda a problemas de sauacutede graves Natildeo eacute tambeacutem restabelecida

a dignidade da populaccedilatildeo natildeo eacute protegida dos crimes contra a humanidade como a

exploraccedilatildeo recrutamento de crianccedilas para a guerra e minas abuso sexual e mortes em

massa (OCHA 2017)

Esta falta de seguranccedila no terreno verificada no Sudatildeo do Sul leva agrave necessidade de

existecircncia de proteccedilatildeo militar visto que existe uma dificuldade em fazer valer o DIH no

terreno Como eacute sabido hospitais campos de refugiados e pessoal que trabalha para

organizaccedilotildees humanitaacuterias deveriam estar imunes a qualquer tipo de ataque Mas na

praacutetica tal natildeo se verifica tendo sido um campo de refugiados atacado em 2016 Ao

serem escoltadas ou ao usufruiacuterem de proteccedilatildeo militar as ONG OING ou OIG satildeo

facilmente coladas a uma das partes das hostilidades de que esses militares tambeacutem

tomam parte

Levanta-se ainda outro problema que eacute a negaccedilatildeo de acesso a territoacuterios aos

humanitaacuterios no Sudatildeo do Sul Esta negaccedilatildeo de acesso vem por parte do Governo para

certas regiotildees e das outras partes das hostilidades noutras regiotildees sendo que o governo

natildeo controla bem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Mas eacute um risco que muitos

humanitaacuterios correm correndo mesmo risco de vida rapto e abusos Ou seja o Estado

estaacute a falhar gravemente na proteccedilatildeo e garantia do acesso de ajuda humanitaacuteria agrave sua

populaccedilatildeo o que eacute por si soacute um problema circular num Estado fragilizado Ou seja o

Governo falha ao natildeo garantir a proteccedilatildeo do seu povo e em certos casos ao natildeo deixar as

organizaccedilotildees humanitaacuterias acederem a certos territoacuterios (JMEC 2017 Harmer 2008)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

61

No entanto o Primeiro-Ministro do Sudatildeo do Sul Martin Elia Lamuro negou ter

proibido o acesso dos humanitaacuterios aos territoacuterios cuja populaccedilatildeo enfrenta grandes

necessidades afirmando pelo contraacuterio que se tecircm mostrado recetivos agraves ONG OING e

OIG para a assistecircncia humanitaacuteria em qualquer territoacuterio acusando assim os oficiais

dos EUA de terem redigido relatoacuterios que faltam agrave verdade (Sudan Tribune 2017) Jaacute o

representante russo Petr Illichev das NU diz discordar da visatildeo dos EUA referindo que

a fome eacute devida agraves condiccedilotildees climateacutericas e natildeo devida a questotildees de seguranccedila O

Conselho de Seguranccedila tentou amenizar a situaccedilatildeo referindo que a emergecircncia

humanitaacuteria presente no Sudatildeo do Sul tem como principais culpados todas as partes

envolvidas no conflito Tambeacutem Joseph Mourn Majak Ngor Malok embaixador do

Sudatildeo do Sul nas Naccedilotildees Unidas referiu que natildeo se pode culpar o Governo pela fome e

que este vai fazer os impossiacuteveis trabalhando com a comunidade internacional para

fazer face a este problema Podemos pois constatar que mais que um problema de

seguranccedila o que os humanitaacuterios estatildeo a enfrentar eacute um problema poliacutetico de

bastidores dentro da comunidade internacional (Sudan Tribune 2017)

Como eacute possiacutevel constatar a seguranccedila e o acesso dos humanitaacuterios ao terreno eacute uma

questatildeo bastante complexa pois depende da autorizaccedilatildeo do Estado caso este aceite que

a ajuda humanitaacuteria seja fornecida em todo o territoacuterio que dela necessite e caso decida

proteger os humanitaacuterios Caso o Estado natildeo assegure a proteccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos

humanitaacuterios no acesso ao territoacuterio que necessite de assistecircncia humanitaacuteria os

humanitaacuterios vecircm-se na obrigaccedilatildeo de encontrar uma de quatro soluccedilotildees desistir da

missatildeo e abandonar o terreno arriscar e deslocarem-se aos territoacuterios sem proteccedilatildeo

correndo risco de vida contratar agecircncias militares privadas ou pedir escolta militar aos

peacekeepers

Os peacekeepers da UNMISS natildeo tecircm eles tambeacutem livre acesso a todos os locais no

Sudatildeo do Sul e satildeo vistos de certa forma como adversaacuterios pelo governo e satildeo

acusados de tomarem o partido de uma das partes das hostilidades privilegiando a

proteccedilatildeo ao grupo eacutetnico Nuer em detrimento das outras No entanto esta informaccedilatildeo

natildeo tem a leitura devida pois os peacekeepers protegem os dois lados da mesma forma

a questatildeo eacute que a maioria da populaccedilatildeo registada do POC (Establishment of Protection

of Civilians) eacute de origem eacutetnica Nuer Como consequecircncia desta desconfianccedila a

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

62

UNMISS viu negado o seu acesso a determinados locais falhando assim a sua missatildeo a

de proteger os civis e a de proteger os humanitaacuterios (Wells 2017)

O Conselho de Seguranccedila eacute ainda acusado pelos peacekeepers de natildeo dar suporte

poliacutetico e material adequado para a situaccedilatildeo Mesmo apoacutes variados ataques graves aos

militares da UNMISS e agrave populaccedilatildeo o Conselho de Seguranccedila natildeo passou da ameaccedila de

sancionar o Sudatildeo do Sul A gravidade do problema chegou ao ponto de a UNMISS

sofrer ataques aos seus helicoacutepteros natildeo ter material agrave prova de bala tendo assim de

abandonar os meios aeacutereos O Conselho de Seguranccedila mais uma vez nada fez Esta

situaccedilatildeo colocou em causa o trabalho das organizaccedilotildees humanitaacuterias ou seja o acesso

das mesmas a locais de grande necessidade devido ao facto de natildeo poderem contar

mais com ajuda dos peacekeepers para aceder ao terreno (Wells 2017)

Justamente nas missotildees das NU no Sudatildeo do Sul tem-se verificado um fracasso pois

para aleacutem de serem acusados de tomarem partido pelo governo natildeo conseguem

assegurar a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e de deslocados internamente

verificando-se assim em 2013 um aumento da violecircncia e ataques aos campos de

refugiados e deslocados internamente Um dos objetivos da UNMISS eacute assegurar que os

civis consigam aceder agrave ajuda humanitaacuteria que garante os bens essenciais agrave

sobrevivecircncia gestatildeo dos campos de refugiados e outros apoios vitais no entanto a

seguranccedila natildeo eacute assegurada natildeo sendo possiacutevel aos humanitaacuterios assegurar a ajuda

humanitaacuteria agravando-se assim os conflitos (Rolandsen et al 2015)

3 Coexistecircncia entre militares e ONG OING e OIG Escolta militar

Segundo Rolandson et al (2015) uma das missotildees que cabe aos peacekeepers eacute

precisamente garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios principalmente em paiacuteses onde

existe uma falta de seguranccedila e proteccedilatildeo aos humanitaacuterios Essa proteccedilatildeo pode ser

realizada atraveacutes de escolta militar direta no caminho para o terreno por via terrestre

aeacuterea ou mariacutetima sendo a via aeacuterea a mais conveniente caso seja necessaacuterio

transportar uma grande quantidade de mercadoria e assim garantir que chega ao destino

intacta Podem ainda garantir a proteccedilatildeo dos campos de refugiados e deslocados

internamente bem como proteger os bens e as instalaccedilotildees humanitaacuterias (Rolandsen et

al 2015)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

63

Pode verificar-se que as NU mais especificamente o OCHA tecircm vindo a trabalhar no

sentido de existir uma maior cooperaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e as operaccedilotildees de

peacekeeping no terreno de forma a que os humanitaacuterios sejam protegidos e a

assistecircncia humanitaacuteria prestada a toda a populaccedilatildeo independentemente de o territoacuterio

ser ou natildeo de grande perigo O problema desta cooperaccedilatildeo satildeo os princiacutepios

humanitaacuterios que divergem dos princiacutepios dos militares como jaacute foi referido Mas a

coexistecircncia existe eacute um facto havendo no caso do Sudatildeo do Sul um guia sobre como

devem os humanitaacuterios e militares interagir em que circunstacircncia deve ser feita a

escolta e quanto tempo deve durar essa proteccedilatildeoescolta O documento mencionado eacute

intitulado de Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the

United Nations Mission in South Sudan e foi elaborado pela UNMISS o HC e o HCT

(UNMISS e HC 2013)

Os humanitaacuterios viram-se forccedilados a cooperar com os peacekeepers da UNMISS e para

que esta missatildeo integrada funcionasse foi criado o guia de coordenaccedilatildeo entre os atores

humanitaacuterios e a UNMISS jaacute mencionado O guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo

Humanitaacuteria e a UNMISS eacute um documento elaborado a pedido do Humanitarian

Country Team (O HCT eacute um foacuterum estrateacutegico e operacional de tomada de decisatildeo e

supervisatildeo estabelecido e liderado pelo HC) A composiccedilatildeo inclui representantes da

ONU IOM OING a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho O HCT eacute tambeacutem

responsaacutevel por acordar questotildees estrateacutegicas comuns relacionadas com a accedilatildeo

humanitaacuteria (Humanitarian Response sd) em 2012Teve ainda a participaccedilatildeo do

grupo conselheiro militar que contem representantes da comunidade humanitaacuteria e da

UNMISS Eacute por isso um documento fidedigno O objetivo deste guia eacute substituir o SOP

de 2012 relativamente ao uso das forccedilas armadas e escolta militar e fornecer

indicaccedilotildees operacionais sobre a relaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS no Sudatildeo do

Sul de forma a evitar conflitos no terreno fortalecer a coordenaccedilatildeo das atividades

preservar o espaccedilo humanitaacuterio acesso e princiacutepios (HCT e UNMISS 2013 Harmer

2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que a UNMISS estaacute a ter ela proacuteprios problemas de acesso e deslocaccedilatildeo a

determinados locais em que o Estado natildeo ache pertinente a presenccedila dos peacekeepers

Pior em 2011 recusou o destacamento de mais 4000 peacekeepers para reforccedilar os

13500 peacekeepers no terreno com o argumento de que a situaccedilatildeo do conflito armado

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

64

estava a melhorar e natildeo haveria necessidade de destacar mais militares das NU e que o

destacamento de mais militares poria em causa a soberania do Estado O governo

argumentou ainda que tem capacidade para assegurar a proteccedilatildeo dos civis No entanto

apoacutes a ameaccedila das NU com um embargo de armas acabou por aceitar o destacamento

de mais militares Em dezembro de 2016 a Comissatildeo dos Direitos Humanos das NU

pediu urgentemente o destacamento de peacekeepers por causa de assassiacutenios eacutetnicos

(Wells 2016 Aljazeera 2017)

A UNMISS foi acusada por diversas organizaccedilotildees humanitaacuterias de falhar a sua missatildeo

devido agrave sua ineficaacutecia no terreno ou seja natildeo foi capaz de assegurar a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo nem o acesso dos humanitaacuterios ao terreno Todavia eacute preciso ser realista

pouco se pode fazer com um governo que limite o acesso dos peacekeepers a

determinados locais recuse que sejam destacados mais militares para o terreno e soacute

aceite em uacuteltima instacircncia mais destacamentos de militares para o terreno devido a uma

seacuterie de ameaccedilas (Aljazeera 2017 Wells 2016)

O problema eacute a incapacidade das NU e do Governo de assegurarem a proteccedilatildeo dos

humanitaacuterios No ataque de julho de 2016 os peacekeepers foram acusados de agirem

tarde demais de natildeo terem sido capazes de dar resposta e os EUA de natildeo avisarem as

ONG OING e OIG de que havia um perigo de ataque este erro teve como

consequecircncia a morte e violaccedilatildeo em massa dos humanitaacuterios sendo este ataque

considerado uma barbaacuterie Este acontecimento pode ser o despoletar da induacutestria das

agecircncias militares privadas podendo trazer consequecircncias nefastas a longo termo No

entanto segundo a investigaccedilatildeo independente agrave UNMISS requerida pelo Conselho de

Seguranccedila ficou estabelecido que a UNMISS agiu e fez todos os possiacuteveis para salvar

os civis embora esse natildeo seja o sentimento por parte dos humanitaacuterios (Grant 2016)

Segundo a carta enviada pelo Secretaacuterio Geral ao Conselho de Seguranccedila a 17 de abril

de 2017 (NU 2017) exatamente a reportar o ataque explicado anteriormente consta um

pedido de investigaccedilatildeo independente do ataque ocorrido a 23 de agosto de 2016 e

pretende-se verificar as accedilotildees da UNMISS em resposta ao ataque ocorrido apoacutes o inicio

das hostilidades a 8 e 11 de julho de 2016 contra os humanitaacuterios e contra civis tendo

este ataque ocorrido dentro ou nas proximidades das instalaccedilotildees da UNMISS em Juba

A UNMISS foi acusada pelas ONG OING e OIG humanitaacuterias de ter sido ineficaz na

sua missatildeo de proteger as humanitaacuterias no terreno natildeo tendo os peacekeepers

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

65

respondido aos muitos pedidos de ajuda e proteccedilatildeo Os humanitaacuterios defendem ainda

que os peacekeepers sabiam do perigo existente de ataque e deveriam ter avisado de

forma a que evacuassem os humanitaacuterios e civis do territoacuterio em questatildeo (Grant 2016

UN 2017d)

No entanto foi averiguado pelo Conselho de Seguranccedila que a UNMISS nomeadamente

os peacekeepers fizeram tudo o que estava ao seu alcance para salvar e proteger civis

durante o massacre Tambeacutem foi averiguado que a UNMISS faz um excelente trabalho

de planeamento e preparaccedilatildeo da resposta para salvar civis As informaccedilotildees de

seguranccedila devem segundo o relatoacuterio do Conselho de Seguranccedila serem compartilhadas

pelos peacekeepers com a comunidade humanitaacuteria informaccedilotildees relativas ao terreno

com o foacuterum de forma a que cada um dos agentes saiba o perigo que estaacute a correr Por

isso a UNMISS deve informar quanto a procedimentos de estado de alerta

deslocalizaccedilatildeo e evacuaccedilatildeo pontos de concentraccedilatildeo em Juba refuacutegios designados rotas

aeacutereas de deslocalizaccedilatildeo principais ferramentas de seguranccedila procedimentos de

controle de acesso e o plano em resposta agrave proteccedilatildeo de incidentes civis entre outros

Segundo o Conselho de Seguranccedila estes procedimentos foram adotados embora as

ONG no terreno natildeo concordem com esta conclusatildeo (Grant 2016 UN 2017d)

No Sudatildeo do Sul tem-se verificado uma missatildeo integrada minimalista em que o

OCHA eacute o coordenador e o elo de ligaccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers e trabalha

de forma independente da missatildeo de paz das NU Esta poderaacute ser a melhor receita para

o caso do Sudatildeo do Sul No entanto eacute preciso ter em conta que a UNMISS tem falta de

militares destacados em terrenos problemaacuteticos podendo dificultar este tipo de missotildees

integradas minimalistas como se constatou anteriormente com a inaccedilatildeo dos

peacekeepers face ao ataque do campo de refugiados (Harmer 2017 Aljazeera 2017

Wells 2016)

Por isso podemos contatar que pelo menos no Sudatildeo do Sul existe uma coexistecircncia

bem coordenada e estruturada entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS atraveacutes da

existecircncia de um guia para coordenaccedilatildeo entre humanitaacuterios Eacute possiacutevel constatar

tambeacutem que existe uma preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e em

respeitar o espaccedilo humanitaacuterio na hora de garantir a sua proteccedilatildeoescolta A secccedilatildeo de

Aliacutevio (do Guia da UNMISS) Reintegraccedilatildeo e Proteccedilatildeo tem como principal missatildeo a

proteccedilatildeo de civis em bases da UNMISS e o apoio ao trabalho das organizaccedilotildees

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

66

humanitaacuterias no Sudatildeo Sul Haacute casos em que natildeo existe outra forma de garantir que o

acesso humanitaacuterio proteccedilatildeo e a assistecircncia sejam fornecidos sem ajuda dos

peacekeepers (HCT e UNMISS 2013)

Voltando ao Guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS eacute

reconhecido que as missotildees de peacekeeping das NU como a UNMISS tecircm um

mandato de cariz poliacutetico o que significa que podem tomar partido por uma das partes

das hostilidades e por isso natildeo serem consideradas neutras por todas as partes dentro

do Estado Tal significa uma incompatibilidade entre estes dois atores pois uma junccedilatildeo

da accedilatildeo humanitaacuteria agrave UNMISS poria em causa o mandato humanitaacuterio Eacute ainda

apresentada no documento a diferenccedila entre a assistecircncia militar ao governo (prover

gabinetes conselho e suporte ao governo do Sudatildeo do Sul em relaccedilatildeo agrave transiccedilatildeo

poliacutetica pela qual estava a passar no estabelecimento da autoridade poliacutetica) e a

assistecircncia militar agraves ONG humanitaacuterias (facilitar o acesso prover um ambiente seguro

para a assistecircncia humanitaacuteria bem como promover e monitorizar os Direitos

Humanos) O OCHA estabelece esta coordenaccedilatildeo entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a

UNMISS atraveacutes dos PCI (Projetos de curto impacto) O OCHA entra em contacto com

o JOC (Joint Operations Center) a niacutevel estatal atraveacutes do escritoacuterio estatal e do RCO

(Resident Coordinatoracutes Office) Os humanitaacuterios natildeo pedem diretamente ajuda militar

mas eacute o OCHA quem trata disso (HCT e UNMISS 2013)

O Sudatildeo do Sul eacute um caso em que a coexistecircncia eacute necessaacuteria para o sucesso tanto da

missatildeo da UNMISS como da accedilatildeo humanitaacuteria devido aos perigos de inseguranccedila

existentes sendo os humanitaacuterios alvos faacuteceis Esta coexistecircncia natildeo tem de ser

incompatiacutevel pois ambos tecircm o objetivo de poupar vidas Por isso nesta coexistecircncia

tem de ser respeitada a missatildeo de ambos sem nenhum dos dois se intrometer nas

atividades do outro minimizando assim o risco de conflito e competiccedilatildeo quando ambos

estatildeo a trabalhar na mesma aacuterea geograacutefica fazendo a clara distinccedilatildeo e separaccedilatildeo das

atividades humanitaacuterias poliacuteticas e militares (HCT e UNMISS 2013)

Portanto os atores humanitaacuterios natildeo satildeo incumbidos de seguir ou respeitar ordens

militares por militares e o contraacuterio O guia militar-civil natildeo aconselha a coabitaccedilatildeo de

humanitaacuterios e militares em situaccedilotildees de emergecircncias complexas No entanto no Sudatildeo

do Sul essa coabitaccedilatildeo por parte da UNMISS e de agecircncias das NU existe em Juba e em

certas capitais de Estado o que pode levar a uma perceccedilatildeo errada das restantes agecircncias

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

67

devido ao facto de uma ter adotado esta decisatildeo de coexistir no mesmo local que os

peacekeepers ou seja pode ter um efeito negativo na comunidade humanitaacuteria (HCT e

UNMISS 2013)

Segundo o guia de coordenaccedilatildeo entre a Accedilatildeo Humanitaacuteria e a UNMISS (HCT e

UNMISS 2013) deve ser feita uma distinccedilatildeo clara das atividades identidade funccedilotildees e

papeacuteis da accedilatildeo humanitaacuteria dos atores envolvidos na UNMISS Para fazerem esta

distinccedilatildeo devem respeitar os seguintes pontos

bull As armas nunca devem ser usadas em instalaccedilotildees humanitaacuterias e em contexto de

transporte para os locais em questatildeo

bull Deve ser feita a identificaccedilatildeo dos elementos da equipa dos bens de primeira

necessidade veiacuteculos instalaccedilotildees barcos e aviotildees Ou seja devem promover a

distinccedilatildeo das suas respetivas identidades de forma a que natildeo sejam confundidos com a

UNMISS (HCT e UNMISS 2013 pp 4)

Quanto ao uso de ativos e escoltaproteccedilatildeo militar eacute referido no guia que os atores

humanitaacuterios natildeo devem usar os ativos militares ou escoltaproteccedilatildeo militar a fim de

proteger a distinccedilatildeo e salvaguardar a separaccedilatildeo entre militares e humanitaacuterios O uso

dos ativos militares e escoltaproteccedilatildeo militar da UNMISS deve ser adotado em uacuteltimo

recurso e em circunstacircncias especiais uma vez reunidos determinados criteacuterios que

seratildeo explanados a seguir Qualquer decisatildeo quanto ao pedido dos atores humanitaacuterios

relativamente agrave escolta militar seraacute analisada caso-a-caso tendo em conta os ativos

disponiacuteveis custos e prioridades Os criteacuterios satildeo os seguintes

bull O objetivo da missatildeo eacute puramente humanitaacuterio e manteacutem o seu caraacuteter civil e

humanitaacuterio bem como o respeito dos princiacutepios fundamentais humanitaacuterios

bull Tem de haver uma necessidade urgente de ajuda humanitaacuteria natildeo existindo

alternativas para a substituiccedilatildeo no terreno

bull O uso da escolta militar eacute limitado no tempo e escala com uma estrateacutegia clara

de saiacuteda concordada entre os dois atores fora do pedido Natildeo poderaacute ainda

comprometer os atores humanitaacuterios a longo prazo na sua capacidade de poderem

operar de forma segura e efetiva (HCT e UNMISS 2013 pp 5)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

68

O OCHA tem ainda a responsabilidade de elaborar relatoacuterios sobre a escolta militar para

o Humanitarian Country Team e cabe tambeacutem ao OCHA analisar os casos juntamente

com a JOC em especifico para o caso do Sudatildeo do Sul para que tudo corra bem Caso

haja escolta militar os humanitaacuterios devem seguir num veiacuteculo diferente dos militares

da UNMISS que identifique bem que satildeo humanitaacuterios e natildeo militares que satildeo

transportados no veiacuteculo Desta forma a populaccedilatildeo natildeo confundiraacute o pessoal

humanitaacuterio com o pessoal militar Caso haja necessidade de proteccedilatildeo num determinado

local necessidade de reparaccedilatildeo de estradas proteccedilatildeo dos bens e pessoal humanitaacuterio as

ONG devem entrar em contacto com o OCHA afim de requerer a ajuda da UNMISS

Um dos objetivos da UNMISS eacute garantir um ambiente seguro para facilitar o acesso dos

humanitaacuterios aos locais para que estes consigam prestar apoio agrave populaccedilatildeo A UNMISS

natildeo deve usar as instalaccedilotildees humanitaacuterias e vice-versa no entanto em caso de urgente

necessidade deve tal ser analisado caso a caso pelo OCHA ponderando sobre as

instalaccedilotildees disponiacuteveis urgecircncia capacidade e prioridades O mesmo vale para a

evacuaccedilatildeo de pessoal meacutedico e humanitaacuterios em caso de elevada emergecircncia (HCT e

UNMISS 2013 pp 4)

Outro assunto relevante tratado neste guia eacute a partilha de informaccedilatildeo entre os elementos

da UNMISS e os humanitaacuterios pois estes dois elementos devem e tecircm de partilhar

muita informaccedilatildeo de forma atempada e eficiente para coordenar as respetivas

atividades As informaccedilotildees que devem ser partilhadas satildeo as seguintes

bull Informaccedilotildees sobre o tipo de assistecircncia e atividades humanitaacuterias estatildeo a

planear eou vatildeo realizar

bull Informaccedilotildees sobre atividades da UNMISS relevantes para os atores

humanitaacuterios como por exemplo sobre ameaccedilas e seguranccedila do pessoal humanitaacuterio ou

da UNMISS no terreno ou sobre ameaccedilas aos civis

bull Informaccedilotildees sobre atividades mineiras aacutereas minadas e locais com minas por

explodir As viacutetimas e a populaccedilatildeo em geral deveratildeo ser informadas e educadas para os

riscos inerentes (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

No entanto existem informaccedilotildees confidenciais que natildeo deveratildeo em momento algum

ser partilhadas tanto com o pessoal humanitaacuterio como com a UNMISS informaccedilotildees que

podem comprometer a identidade da viacutetima expondo assim o individuo ou um grupo de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

69

indiviacuteduos a um potencial risco principalmente se a viacutetima tiver sofrido crimes contra

os Direitos Humanos (HCT e UNMISS 2013 pp)

Este guia deve ser estudado de forma a que seja aplicado corretamente e os princiacutepios

da UNMISS e dos humanitaacuterios respeitados no terreno evitando potenciais conflitos A

UNMISS ficou incumbida de formar a comunidade humanitaacuteria relativamente ao seu

mandato trabalho e objetivos no terreno em conjunto com o OCHA que representa as

organizaccedilotildees humanitaacuterias e a sua relaccedilatildeo com a UNMISS Eacute ainda recomendado o

treino de ambos para os Direitos Humanos proteccedilatildeo de civis e o Direito Internacional

Humanitaacuterio (HCT e UNMISS 2013 pp 7)

O CR (conciliation resources) e o ARP (applied research program) satildeo duas partes

funcionais da missatildeo que apoiam as organizaccedilotildees humanitaacuterias fornecendo apoio a niacutevel

de logiacutestica seguranccedila proteccedilatildeo da populaccedilatildeo relocaccedilatildeo do pessoal humanitaacuterio bem

como os deslocados internamente dando informaccedilotildees relativamente aos locais mais

seguros para se reinstalarem e caso necessaacuterio protegendo a instalaccedilatildeo onde residem os

deslocados internamente refugiados e humanitaacuterios Esta coexistecircncia entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias natildeo tem vindo a revelar-se eficaz no contexto do Sudatildeo do

Sul pois os humanitaacuterios embora consigam trabalhar e deslocar-se para certos locais

perigosos o que sem o apoio da UNMISS natildeo seria possiacutevel a UNMISS natildeo foi capaz

de assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios em 2016 aquando do ataque No entanto e

como jaacute foi referido anteriormente esta colaboraccedilatildeo deve ser realizada para casos

pontuais tendo de ser pedida a autorizaccedilatildeo ao OCHA e em uacuteltimo recurso atraveacutes de

projetos de curto impacto (UNMISS 2017 e HCT UNMISS 2013)

4 Seguranccedilas privadas vs militares como garante de seguranccedila dos

humanitaacuterios

Agrave luz da anaacutelise do caso do Sudatildeo do Sul a questatildeo que se levanta neste subtema eacute

essencialmente a de apurar qual o recurso que deve ser usado pelas organizaccedilotildees

humanitaacuterias em situaccedilatildeo de elevado perigo em que o acesso ao local em que a

populaccedilatildeo estaacute a enfrentar grandes necessidades pode representar perigo de vida

precisando assim de uma proteccedilatildeoescolta militar para realizar o trajeto ao local Eacute

preciso desde jaacute dizer que ambas as opccedilotildees tecircm pontos positivos e negativos

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

70

O recurso aos peacekeepers pode ser visto como a melhor opccedilatildeo possiacutevel pois

partilham os valores essenciais com os humanitaacuterios salvar vidas e a imparcialidade

No entanto tecircm sido acusados de natildeo agirem atempadamente face agraves ameaccedilas e ataques

perpetrados sobre humanitaacuterios ou seja de falharem a sua missatildeo de garantir a proteccedilatildeo

aos humanitaacuterios que faz parte da sua missatildeo e consta do guia elaborado para a

coexistecircncia no terreno Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors

and the United Nations Mission in South Sudan (HCT e UNMISS 2013) Em 2016

houve o jaacute referido ataque no Sudatildeo do Sul a humanitaacuterios que natildeo haviam sido

avisados do perigo eminente nem apareceram militares a garantir a proteccedilatildeo da

populaccedilatildeo e dos humanitaacuterios Ou seja eacute possiacutevel concluir que a proteccedilatildeo fornecida

pela UNMISS natildeo eacute a mais eficaz no terreno devido agraves fragilidades que a proacutepria

missatildeo tem vindo a sentir no terreno (Adongo 2017 Grant 2016)

No entanto parece que este caso algo mediatizado acordou a comunidade

internacional Consta no artigo da UNMISS Humanitarian Aid Restored In Aburoc

Folloing Deployment of UNMISS Peacekeepers (Adongo 2017) que soacute foi possiacutevel as

ONG OING e OIG humanitaacuterias regressaram para fornecer ajuda humanitaacuteria em

Malakal devido ao desdobramento dos peacekeepers para a regiatildeo de Aburoc Upper

Nile regiatildeo que as agecircncias humanitaacuterias haviam abandonado devido agrave elevada

inseguranccedila O que confirma o que foi dito ao longo da dissertaccedilatildeo sem seguranccedila no

Sudatildeo do Sul os humanitaacuterios natildeo conseguem operar no terreno tendo de terminar a

missatildeo caso contraacuterio seria colocar as suas vidas em risco (Adongo 2017 e Grant

2016)

Estima-se que durante o recente conflito que levou as agecircncias humanitaacuterias a sair do

local tenha havido 20 000 deslocados internos a fugir ficando sem abrigo Com o

regresso das agecircncias humanitaacuterias foi possiacutevel dar abrigo a 4200 famiacutelias dos campos

de refugiados Outras agecircncias tecircm fornecido ajuda humanitaacuteria mais urgente como

aacutegua potaacutevel que eacute escassa e de difiacutecil acesso sendo necessaacuterios militares peacekeepers

para proteger os principais postos de abastecimento de aacutegua O chefe de campo da

UNMISS em Malakal Hazel de Wet levou a sua equipa a inspecionar o desdobramento

das tropas em Aburoc e a equipa comprometeu-se tambeacutem com as autoridades locais no

terreno relativamente agrave estrateacutegia de apoio agrave assistecircncia humanitaacuteria sendo neste

momento a prioridade dos peacekeepers garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e o seu

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

71

acesso de modo a que a assistecircncia humanitaacuteria chegue a todos A UNMISS reconhece

que eacute essencial fazer com que a assistecircncia humanitaacuteria chegue agrave populaccedilatildeo em

necessidade urgente de comida aacutegua mantimentos e abrigo Soacute fornecendo assistecircncia

humanitaacuteria suprindo as necessidades baacutesicas eacute que eacute possiacutevel resolver os problemas

poliacuteticos tornar a paz duradoura e pensar no desenvolvimento Mas para conseguir esta

harmonia eacute essencial que as operaccedilotildees de peacekeeping se tornem efetivamente mais

ldquomusculadasrdquo como referido por Pinto (2005) para fazer face agraves novas realidades e

adversidades encontradas no terreno Natildeo basta a presenccedila militar tecircm de conseguir

garantir a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios (Adongo 2017)

Os humanitaacuterios tecircm manifestado preferecircncia pelo menos no que diz respeito ao caso

do Sudatildeo do Sul pela escoltaproteccedilatildeo militar fornecida pela UNMISS sendo que se

estabeleceu um guia de cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e a UNMISS conforme referido

acima Este guia eacute um dos motivos para a preferecircncia pelos peacekeepers para a escolta

e proteccedilatildeo pois os humanitaacuterios e militares sabem como agir em que circunstacircncias

conceder e pedir essa proteccedilatildeo e quando deve terminar essa cooperaccedilatildeo no terreno Tal

natildeo existe nas agecircncias militares privadas jaacute que uma vez contratadas o viacutenculo

permanece ateacute ao fim da missatildeo ou contrato e pode haver problemas no terreno entre

organizaccedilotildees humanitaacuterias e agecircncias militares privadas que poderatildeo representar

problemas seacuterios acresce que os humanitaacuterios natildeo estatildeo preparados para coordenar e

liderar este tipo de agecircncias Ao inveacutes no caso da proteccedilatildeoescolta garantida pela

UNMISS as ONG OING e OIG podem caso a cooperaccedilatildeo natildeo esteja a ser bem-

sucedida reportar a sua insatisfaccedilatildeo e levar a que sejam averiguados os motivos Tal

aconteceu com o ataque aos humanitaacuterios jaacute referido anteriormente A UNMISS foi

questionada e foi feita uma averiguaccedilatildeo pelo Conselho de Seguranccedila para verificar se

houve de facto negligecircncia por parte dos militares Com as agecircncias militares privadas

tal natildeo eacute possiacutevel conforme foi mencionado estes militares tecircm carta branca no terreno

Logo existe mais seguranccedila em cooperar com a UNMISS (HCT e UNMISS 2013 UN

2017d)

Eacute por este motivo que ainda se verifica uma certa resistecircncia por parte de algumas ONG

e OING a recrutar agecircncias militares privadas No entanto e devido agrave necessidade de

celeridade para obter a proteccedilatildeo o recrutamento tem vindo a aumentar no terreno Eacute

neste ponto que as agecircncias militares privadas apresentam vantagens jaacute que natildeo

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

72

existem problemas a niacutevel burocraacutetico o que permite partir mais cedo para o terreno e

satildeo mais baratas no caso de serem as agecircncias das NU como a UNICEF e o ACNUR

entre outros a contratar Jaacute o processo de pedido de proteccedilatildeo e escolta militar agrave

UNMISS eacute muito moroso natildeo fazendo face ao problema no imediato (Newton sd)

Estas agecircncias podem ainda garantir que as organizaccedilotildees humanitaacuterias mantecircm a sua

independecircncia relativamente ao Estado neutralidade quanto ao conflito e

imparcialidade no tratamento das pessoas Todavia antes da contrataccedilatildeo deveria ser

requerido o cadastro criminal se existir e se possiacutevel para avaliar se existe algum

antecedente problemaacutetico como por exemplo algum incidente de racismo enquanto

militar no ativo para que haja uma seleccedilatildeo rigorosa das agecircncias a recrutar e dos

militares que integram essa mesma agecircncia desta forma o risco de contratar militares

que tenham cometido atos criminosos e racistas no terreno satildeo menores logo seraacute

menor o risco de haver problemas no terreno (Newton sd Michael et al 2014)

Ou seja as agecircncias militares privadas podem ser uma ajuda fundamental no caso do

Sudatildeo do Sul para a seguranccedila e proteccedilatildeo de ONG OING OIG campos de refugiados

e de deslocados internamente Mas tambeacutem podem ser uma boa alavanca para a

pacificaccedilatildeo do territoacuterio ou seja uma ajuda para a UNMISS e custam menos recursos

financeiros que contratar e solicitar aos Estados mais militares para integrar a missatildeo de

peacekeeping (Newton sd)

Neste momento a melhor opccedilatildeo eacute a cooperaccedilatildeo entre a UNMISS e as organizaccedilotildees

humanitaacuterias pois jaacute existe um guia intitulado de que explica em que circunstacircncias

quanto tempo e como deve ser feito pedido de ajuda e a proteccedilatildeoescolta concretizada

Ou seja existem regras a cumprir medidas de prevenccedilatildeo para que natildeo haja choque

entre a accedilatildeo humanitaacuteria e a UNMISS no terreno e como deve ser feita a distinccedilatildeo entre

humanitaacuterios e militares Para as agecircncias militares privadas natildeo existem regras de accedilatildeo

conduta ou execuccedilatildeo das suas funccedilotildees tornando a sua presenccedila no terreno um perigo

devido ao vazio legal embora seja mais barato e mais raacutepido em termos de burocracia

contratar estas agecircncias Os militares das agecircncias militares privadas devem ainda estar

devidamente identificados no terreno de forma a que natildeo suscitem confusotildees com os

militares das operaccedilotildees de peacekeeping (Stoddard Harmer e DiDomenico 2008

Newton sd Michael et al 2014 HCT e UNMISS 2012)

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

73

5 Alternativas agrave escolta militar e agecircncias militares privadas

Enquanto o Sudatildeo do Sul estiver a atravessar momentos de grande instabilidade poliacutetica

e um conflito armado de grande inseguranccedila e perigo para os civis refugiados e

deslocados internamente natildeo existe uma alternativa viaacutevel para este caso em questatildeo O

governo do Sudatildeo do Sul natildeo consegue assegurar seguranccedila proteccedilatildeo e acesso seguro

aos humanitaacuterios a locais de grande emergecircncia humanitaacuteria locais onde natildeo existe

aacutegua potaacutevel existe falta de comida medicamentos abrigo e meacutedicos Um local como

este eacute difiacutecil de ser pacificado como eacute sabido a aacutegua eacute um dos principais motivos de

guerra no mundo aliando isso a conflitos eacutetnicos e poliacuteticos torna esta guerra numa

difiacutecil de acabar uma guerra endeacutemica (Kaldor 2007) Pior o governo foi acusado de

travar o acesso da ajuda humanitaacuteria a determinados locais Quando o proacuteprio Estado eacute

o perpetrador de atrocidades e nega o acesso da ajuda humanitaacuteria isto quer dizer que a

comunidade humanitaacuteria estaacute por sua conta (Harmer 2008 MAcArthur 2016)

O problema eacute que como pudemos verificar os peacekeepers da UNMISS natildeo

conseguem ou tecircm dificuldade em assegurar a proteccedilatildeo dos humanitaacuterios o que resultou

no massacre de humanitaacuterios em 2016 e foram mesmo acusados de terem

negligenciado a sua funccedilatildeo de proteccedilatildeo estabelecida no guia de cooperaccedilatildeo entre

OCHA e as organizaccedilotildees humanitaacuterias pois natildeo avisaram sequer que existia um perigo

eminente de ataque e que deveriam por isso retirar-se do terreno Ou seja eacute possiacutevel

concluir que esta cooperaccedilatildeo natildeo tem vindo a revelar-se eficaz os acessos continuam a

ser dificultados humanitaacuterios atacados e civis em sofrimento e a viver abaixo do limiar

da dignidade humana O que coloca a seguinte questatildeo valeraacute a pena correr o risco de

colocar em causa a imparcialidade e neutralidade pela proteccedilatildeo dos peacekeepers Eacute

difiacutecil de responder pois natildeo existe um modelo perfeito como alternativa quer agraves

agecircncias militares privadas quer agrave UNMISS (Grant 2016)

Por isso uma alternativa seria talvez tornar puacuteblico o uso das agecircncias militares

privadas pela comunidade internacional estabelecer guias rigorosos de recrutamento e

realizaccedilatildeo de contratos com as NU ou organizaccedilotildees humanitaacuterias que estabeleccedilam os

limites de atuaccedilatildeo quais as funccedilotildees que devem cumprir e que regulamentam a sua

funccedilatildeo Ou seja as agecircncias militares privadas precisam de constar do Direito

Internacional Humanitaacuterio Uma vez a parte legal resolvida seraacute mais faacutecil trabalhar o

setor puacuteblico com o setor privado que engloba ONG e agecircncias militares privadas de

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

74

forma a que a accedilatildeo humanitaacuteria seja realizada em seguranccedila e chegue a todos os que

necessitem dela No entanto o tornar as agecircncias privadas regulamentadas na aacuterea da

accedilatildeo humanitaacuteria poderaacute tornaacute-las um grande negoacutecio tendo como consequecircncia

prejudicar dos conflitos como garantia de trabalho para estas agecircncias Por outro lado

haveria um escrutiacutenio na hora de selecionar as agecircncias para que houvesse uma

probabilidade miacutenima destes efetuarem crimes no terreno (Newton sd Harmer 2008 e

MAcArthur 2016 HCT e UNMISS 2013)

Por uacuteltimo poderia existir ainda a opccedilatildeo de usar as missotildees de peace enforcement sob o

princiacutepio da responsabilidade de proteger como veiacuteculo para a accedilatildeo humanitaacuteria pois

neste contexto natildeo se colocariam as questotildees relativas agrave neutralidade e agrave imparcialidade

da forma usual uma vez que o mandato dos militares eacute mais vasto no que ao uso da

forccedila respeita No entanto para o caso do Sudatildeo do Sul seria difiacutecil aplicar uma

intervenccedilatildeo humanitaacuteria ao abrigo da responsabilidade de proteger e violar o princiacutepio

da natildeo ingerecircncia O Sudatildeo do Sul natildeo cumpre todos os requisitos pois natildeo eacute um

conflito armado internacional e o massacre natildeo eacute visto como um genociacutedio Existe sim

uma guerra endeacutemica tentativa de limpeza racial e crimes contra os direitos humanos

Em suma a comunidade internacional haveria de fazer mais para travar o massacre e

proteger a populaccedilatildeo e os humanitaacuterios no terreno Existe jaacute um guia de colaboraccedilatildeo

entre a UNMISS e as ONG OING e OIG mas isso apenas natildeo chega Eacute preciso fazer

mais

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

75

Conclusatildeo

Como foi possiacutevel constatar ao longo de toda a dissertaccedilatildeo a escolta militar eacute um tema

de extrema complexidade que coloca em causa os princiacutepios humanitaacuterios consagrados

pela Cruz Vermelha Por outro lado existe a necessidade de proteger a missatildeo

humanitaacuteria e os proacuteprios humanitaacuterios no terreno os quais como foi sendo verificado

tecircm vindo a sofrer ataques raptos e assassinatos devido agrave incapacidade ou indiferenccedila

do Estado onde estaacute a ser prestado o apoio humanitaacuterio das ONG OING e OIG A

comunidade internacional natildeo consegue operar de forma eficaz no terreno sem ter

seguranccedila e proteccedilatildeo que deveria ser dada pelo governo do Estado em causa Todavia

caso o governo natildeo tenha capacidade ou natildeo queira garantir essa proteccedilatildeo cabe agrave

comunidade internacional garantir que a populaccedilatildeo desse territoacuterio seja protegida

Uma vez que um governo natildeo assegure essa proteccedilatildeo os humanitaacuterios vecircem-se numa

situaccedilatildeo complexa respeitar os princiacutepios humanitaacuterios ou correr risco de vida Muitos

preferem como foi possiacutevel verificar ao longo da dissertaccedilatildeo correr risco de vida A

independecircncia a imparcialidade e a neutralidade satildeo muito importantes para o sucesso

das missotildees humanitaacuterias Sem independecircncia podem ver o seu acesso a determinados

locais barrados e por conseguinte natildeo tratar determinada populaccedilatildeo o que significa

perder a imparcialidade mesmo que de forma involuntaacuteria Por fim podem ser

associados a uma das partes das hostilidades e por isso perder a neutralidade aos olhos

da populaccedilatildeo local

Foram abordadas diversas formas de proteccedilatildeo dos humanitaacuterios atraveacutes dos

peacekeepers por exemplo tomando como modelo um guia elaborado especificamente

para as missotildees no Sudatildeo do Sul O guia especifica quando deve ser requerida a escolta

e proteccedilatildeo quando a parceria deve acabar e em que circunstacircncias devem ser feitas a

escolta e o pedido Foram abordadas as missotildees integradas maximalistas (partilham do

mesmo mandato das NU peacekeeping e ONG OING e OIG) ou minimalistas

(UNMISS e ONG OING e OIG cooperam em conjunto pontualmente sem

interferecircncia das NU e sob supervisatildeo do OCHA) sendo que a OXFAM aceita melhor a

missatildeo integrada minimalista sob determinadas regras os princiacutepios humanitaacuterios

devem prevalecer os humanitaacuterios natildeo devem ser envolvidos em assuntos poliacuteticos e

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

76

natildeo devem ser associados aos militares Este tipo de missatildeo parece ser a melhor opccedilatildeo

possiacutevel para garantir a seguranccedila dos humanitaacuterios

Foi tambeacutem abordada a possibilidade de contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas

uma opccedilatildeo raacutepida isenta de burocracias e possivelmente eficaz pois natildeo tem os

mesmos constrangimentos dos peacekeepers no uso da forccedila Mas haacute o problema do

vazio legal que eacute uma espeacutecie de carta em branco para os militares destas agecircncias

poderem cometer crimes e a maior parte destas agecircncias conteacutem militares locais que o

podem fazer e natildeo serem julgados por isso Por outro lado estes militares natildeo tecircm

direito ao estatuto de combatentes de guerra nas Convenccedilotildees de Genebra

Deveria uma vez que as NU contratam este tipo de agecircncias militares privadas

regulamentar-se a atividade no seio do DIH de forma a que estas agecircncias operassem

ao abrigo da lei tendo por isso direitos e deveres a cumprir no terreno e seriam

julgados por crimes de guerra caso cometessem algum Deveria tambeacutem ser redigido e

publicado um guia onde sejam estabelecidas as regras de uma boa colaboraccedilatildeo entre as

ONG OING e OIG no terreno constando os direitos dos colaboradores das agecircncias e

seus deveres Neste caso este tipo de agecircncias poderia ser uma oacutetima ajuda aliada de

comunidade internacional e humanitaacuteria para a pacificaccedilatildeo mitigaccedilatildeo do conflito e para

suprir as necessidades mais baacutesicas da populaccedilatildeo em necessidade e sofrimento que vive

no limiar da pobreza e que vecirc os seus Direitos Humanos serem desrespeitados

Por uacuteltimo existe a possibilidade de se obter seguranccedila atraveacutes de escolta em missotildees

orientadas pela responsabilidade de proteger sob termos semelhantes aos do Guia de

colaboraccedilatildeo entre humanitaacuterios e peacekeepers mas claro com a diferenccedila de que neste

caso os militares podem oferecer uma proteccedilatildeo mais eficaz pois podem fazer uso da

forccedila de forma diferente da dos peacekeepers tradicionais que soacute fazem o uso da forccedila

para autodefesa e defesa do mandato A responsabilidade de proteger tem como objetivo

principal acabar com genociacutedios os crimes contra a humanidade ou seja casos

extremos e pode fazer o uso da forccedila sem consentimento do Estado alvo da intervenccedilatildeo

Jaacute as operaccedilotildees de peacekeeping satildeo missotildees que tecircm um papel de estabilizar de

proteccedilatildeo mais ligado agrave reestruturaccedilatildeo do Estado apoiando as declaraccedilotildees de paz e o

bom decorrer das negociaccedilotildees de paz O uso da forccedila eacute mais limitado Os peacekeepers

tecircm-se revelado ineficazes na proteccedilatildeo dos humanitaacuterios e alvos de criacutetica Na

responsabilidade de proteger o propoacutesito eacute proteger os civis e natildeo acompanhar o

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

77

governo ou restabelecer e reconstruir o aparelho do poder por isso natildeo existe o

problema da imparcialidade como na missatildeo UNMISS por exemplo ou a sobrecarga de

responsabilidades dos militares da UNMISS

O peace enforcement ao abrigo do R2P como soluccedilatildeo para garantir a proteccedilatildeo e

seguranccedila dos humanitaacuterios deve pois ser amplamente analisado discutido e somente

decidido se as vantagens forem maiores que as desvantagens Como referido a

cooperaccedilatildeo entre humanitaacuterios e militares do peace enforcement ao abrigo do R2P no

Sri Lanka natildeo foi bem-sucedida Os humanitaacuterios viram o seu acesso a determinados

locais restringido e ateacute em alguns casos viram a sua permanecircncia posta em causa

tendo de terminar a sua missatildeo e regressar Ou seja deixaram de ser vistos como

neutros pelo Estado e as organizaccedilotildees humanitaacuterias que colaboraram com os militares

do peace enforcement viram-se politizados o que natildeo era suposto

A conclusatildeo que pode ser retirada eacute que natildeo existe um modelo ideal que natildeo coloque

em risco os princiacutepios humanitaacuterios em contexto de conflito para assegurar a seguranccedila

dos humanitaacuterios mas sim um modelo preferencial e outras alternativas como a

contrataccedilatildeo de agecircncias militares privadas Ou seja deveraacute ser escolhido o mal menor

logo a opccedilatildeo que menos danos cause tanto agrave comunidade humanitaacuteria como aos

proacuteprios militares e agrave missatildeo humanitaacuteria em si

Neste momento seria preferencial o modelo de cooperaccedilatildeo entre as NU as ONG

OING e OIG como foi estabelecido com a UNMISS no terreno no Sudatildeo do Sul Se se

seguir o Guidelines for the Coordination between Humanitarian Actors and the United

Nations Mission in South Sudan elaborado pelas NU em conjunto com o OCHA HCT

e as ONG e OING os riscos seratildeo miacutenimos comparados com a contrataccedilatildeo de militares

de agecircncias militares privadas

Eacute verdade que existe ainda uma certa resistecircncia por parte da comunidade internacional

a optar pelas missotildees integradas se bem que existe mais resistecircncia agraves missotildees

integradas maximalistas que agraves missotildees integradas estrateacutegicas ou minimalistas visto

que as missotildees maximalistas satildeo missotildees que visam que ONG e peacekeepers operem

sob o mesmo mandato sendo assim sujeitas agrave mesma hierarquia Jaacute a missatildeo

minimalista eacute ocasional ou seja quando eacute mesmo necessaacuterio e as ONG estatildeo sob a

coordenaccedilatildeo do OCHA e HCT respeitando bem a separaccedilatildeo da comunidade

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

78

humanitaacuteria dos militares Esta eacute tambeacutem uma boa alternativa agraves agecircncias militares

privadas uma vez adotadas regras claras do padratildeo do Guia de coordenaccedilatildeo entre a

UNMISS e as ONG OING humanitaacuterias no terreno

Esta dissertaccedilatildeo focou pois o Sudatildeo do Sul que eacute um caso complexo onde os

humanitaacuterios satildeo atacados incessantemente tendo de ser tomadas providecircncias A

comunidade humanitaacuteria natildeo poderaacute por isso ser tatildeo inflexiacutevel em relaccedilatildeo ao princiacutepio

da neutralidade numa situaccedilatildeo como a do Sudatildeo do Sul Para chegar a determinados

locais eacute preciso que a seguranccedila dos humanitaacuterios seja assegurada para chegar a Juba e

Jonglei e Aburoc por exemplo locais onde a inseguranccedila prevalece e onde os

humanitaacuterios correm grande risco Os humanitaacuterios tecircm neste caso de escolher entre a

vida e salvar vidas para se manterem fieis aos princiacutepios fundamentais

A colaboraccedilatildeo com a UNMISS tem sido fulcral neste caso para que os humanitaacuterios

possam exercer a sua missatildeo em seguranccedila e respeitando os princiacutepios fundamentais no

entanto a cooperaccedilatildeo natildeo eacute bem aceite ainda na comunidade humanitaacuteria No caso do

Sudatildeo do Sul a inseguranccedila dos humanitaacuterios leva a que os bens essenciais como a

aacutegua comida e medicamentos natildeo cheguem ao local sendo estes motivos de guerra

dificultando a pacificaccedilatildeo do territoacuterio Em suma a accedilatildeo humanitaacuteria eacute fulcral para a

ajuda na pacificaccedilatildeo do Sudatildeo do Sul e outros paiacuteses Deveria por isso haver uma

conferecircncia referente aos princiacutepios humanitaacuterios e agrave seguranccedila e proteccedilatildeo da

comunidade humanitaacuteria em territoacuterios de elevada inseguranccedila jaacute que o Sudatildeo do Sul

natildeo eacute exceccedilatildeo eacute um caso de ldquoEstado fragilizadordquo onde a pacificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo

natildeo seratildeo possiacuteveis tambeacutem sem o sucesso da ajuda dos humanitaacuterios e o sucesso da

ajuda humanitaacuteria no terreno soacute eacute possiacutevel se for garantida a sua proteccedilatildeo e seguranccedila

As agecircncias militares privadas devem ser a ultima opccedilatildeo na equaccedilatildeo pois apresentam

mais riscos que vantagens e as agecircncias com permissatildeo para operar pelo Estado no

Sudatildeo do Sul tecircm como colaboradores ex-combatentes de guerra o que pode ser um

grande risco no terreno Sabe-se que o conflito no Sudatildeo do Sul tem origem eacutetnica

existe um oacutedio racial colocar ex-combatentes de guerra a operar com lsquocarta brancarsquo no

terreno pode originar mais crimes e descreacutedito das ONG OING e OIG

Em suma natildeo existe uma soluccedilatildeo perfeita para garantir a proteccedilatildeo e uma escolta militar

neutra e imparcial uma vez que os militares de qualquer forccedila armada sejam do

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

79

governo da missatildeo das NU ou de outro Estado dificilmente satildeo neutros o que pode

derivar para uma falta de imparcialidade Na teoria eacute possiacutevel fazer a distinccedilatildeo entre

militar e humanitaacuterio mas no terreno haacute dificuldades As ONG e OING vivenciam por

isso um grande dilema que urge resolver

Accedilatildeo Humanitaacuteria e Missotildees de Paz no Terreno O Caso do Sudatildeo do Sul

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