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B. Indústr. anim., Nova Odessa,SP, 44(2) :335-47, jul.!dez. 1987 APLICAÇÃO DE NíVEIS DE ENXOFRE NA FORMA DE GESSO PARA CULTIVO DO CAPIM-COLONIÃO EM DOIS ~OLOS ARENOSOS DO ESTADO DE SAO PAULO (1) (Guinea grass responses ta sulfur as gypsum in an Entisal and an Untisa/ fram Brazil) FRANCISCO ANTONIO MONTEIRO (2) e JOSÉ MONTEIRO CARRIEL (3) RESUMO: Em experimento de vasos conduzido em casa de vegetação do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, SP, o capim-colonião comum (Panicum maximum Jacq.l foi cultivado em um solo Areias Ouartzosas, de Brotas, SP, e em um Podzólico Vermelho- Amarelo variação l.aras, de Nova Odessa,nos quais foram aplicados cinco níveis de enxo- fre (O, 3D, 60, 90 e 120 kg/hal, na forma de gesso. Utilizou-se o delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições. As respostas do capim-colonião aos níveis de enxofre foram muito mais evidentes no solo Areias Ouartzosas do que no Podzólico. A máxima produção de matéria seca do capim no solo de Brotas seria obtida mediante a aplicação de 75 kg de S/ha. Em qualquer dos solos, um mínimo de 30 a 40 kg de S/ha foi neces- sário para a gramínea ter de 0,08 a 0,12% de S na parte aérea, bem como apresentar uma relação N:S de 13,7:1. A aplicação de n fveis de gesso resultou em acréscimos na porcen- tagem de cálcio e em decréscimos na porcentagem de potássio no tecido vegetal, bem como contribuiu para elevar o teor de cálcio trocável e diminuir o pH determinado em água, em ambos os solos. A deficiência de enxofre em cultura e plantas forrageiras tem sido relatada nas mais variadas partes do mmdo, Nas re- giões tropicais, freqüentemente se encon- tram baixas concentrações de enxofre dis- ponível no vol.urre do solo explorado pelas raízes, em especial nos solos arenosos e pobres em matéria orgânica (KAMPRATIl & TILL, 1983). INTRODUÇÃO A aplicação de enxofre a vários ti- pos de solo tem proporcionado significati- vos aomentos na produção de matéria seca de gramíneas pertencentes a uma série de gêneros e cultivadas nas regiões tropicais e subtropicais (McCLUN:; & QUINN, 1959; McCLUNGet al.i i, 1959; WERNERet al.i.i , 1967; WOODHOUSE, 1969; CASAGRANDE & SOUZA, 1982; HADDAD, 1983; DYNIA & CUNHA, 1984 e (1) Parte do Projeto IZ-011 /76. Realizado com recursos parciais do acordo IZ/Ultrafértil S. A., Indústria e Comércio de Fertilizantes. Recebido para publicação em abril de 1987. (2) Da Seção de Nutrição de Plantas Forrageiras, Divisão de Nutrição Animal e Pastagens. Bolsista do CNPq. (3) Da Seção de Nutrição de Plantas Forrageiras, Divisão de Nutrição Animal e Pastagens. 335

APLICAÇÃO DE NíVEIS DE ENXOFRE NA FORMA DE GESSOPARA … · centagem de enxofre que corresponderia à máxima produção de matéria seca no segundo corte do caplinseria de 0,18

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B. Indústr. anim., Nova Odessa,SP, 44(2) :335-47, jul.!dez. 1987

APLICAÇÃO DE NíVEIS DE ENXOFRE NA FORMA DE GESSO PARA CULTIVO DOCAPIM-COLONIÃO EM DOIS ~OLOS ARENOSOS DO ESTADO DE SAO PAULO (1)

(Guinea grass responses ta sulfur as gypsum in an Entisal and an Untisa/ fram Brazil)

FRANCISCO ANTONIO MONTEIRO (2) e JOSÉ MONTEIRO CARRIEL (3)

RESUMO: Em experimento de vasos conduzido em casa de vegetação do Instituto deZootecnia, em Nova Odessa,SP, o capim-colonião comum (Panicum maximum Jacq.l foicultivado em um solo Areias Ouartzosas, de Brotas, SP, e em um Podzólico Vermelho-Amarelo variação l.aras, de Nova Odessa,nos quais foram aplicados cinco níveis de enxo-fre (O, 3D, 60, 90 e 120 kg/hal, na forma de gesso. Utilizou-se o delineamento de blocosao acaso, com quatro repetições. As respostas do capim-colonião aos níveis de enxofreforam muito mais evidentes no solo Areias Ouartzosas do que no Podzólico. A máximaprodução de matéria seca do capim no solo de Brotas seria obtida mediante a aplicaçãode 75 kg de S/ha. Em qualquer dos solos, um mínimo de 30 a 40 kg de S/ha foi neces-sário para a gramínea ter de 0,08 a 0,12% de S na parte aérea, bem como apresentar umarelação N:S de 13,7:1. A aplicação de n fveis de gesso resultou em acréscimos na porcen-tagem de cálcio e em decréscimos na porcentagem de potássio no tecido vegetal, bemcomo contribuiu para elevar o teor de cálcio trocável e diminuir o pH determinado emágua, em ambos os solos.

A deficiência de enxofre em culturae plantas forrageiras tem sido relatadanas mais variadas partes do mmdo, Nas re-giões tropicais, freqüentemente se encon-tram baixas concentrações de enxofre dis-ponível no vol.urre do solo explorado pelasraízes, em especial nos solos arenosos epobres em matéria orgânica (KAMPRATIl&TILL, 1983).

INTRODUÇÃO

A aplicação de enxofre a vários ti-pos de solo tem proporcionado significati-vos aomentos na produção de matéria secade gramíneas pertencentes a uma série degêneros e cultivadas nas regiões tropicaise subtropicais (McCLUN:;& QUINN, 1959;McCLUNGet al.i i, 1959; WERNERet al.i.i ,1967; WOODHOUSE,1969; CASAGRANDE& SOUZA,1982; HADDAD, 1983; DYNIA & CUNHA, 1984 e

(1) Parte do Projeto IZ-011 /76. Realizado com recursos parciais do acordo IZ/Ultrafértil S. A., Indústria e Comérciode Fertilizantes. Recebido para publicação em abril de 1987.

(2) Da Seção de Nutrição de Plantas Forrageiras, Divisão de Nutrição Animal e Pastagens.Bolsista do CNPq.(3) Da Seção de Nutrição de Plantas Forrageiras, Divisão de Nutrição Animal e Pastagens.

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MAIAVOLTA et al.í.í.,1984). Também signifi-cativos incrementos PE concentração de en-xofre em grarníneas forrageiras foram re-portados por WOODHOUSE (1969), HADDAD(1983) e MAIAVOLTA et alii (1984).

Paralelamente à carência de enxofrenas plantas em nossas condições, a indús-tria nacional de fertilizantes fosfatadostem obtido o gesso agrícola como subprodu-

to na produção de ácido fosfórico. SegundoVITTI & MAIAVOLTÂ (1985), cerca de setemilhões de toneladas de gesso agrícolapodem vir a ser produzidas anualnente noBrasil.

o presente trabalho objetivou estu-dar os efeitos do gesso aplicado a doissolos arenosos do Estado de São Paulo naprodução e composição mineral do cap~co-lonião (Paní.cimmaximum Jacq.).

MATERIAL E MÉTODOS

Experimentos em vasos com caplin-co-lonião comm (Panicum rooximum Jacq.) foramdesenvolvidos no período de novembro a ja-neiro, em casa de vegetação do Institutode Zootecnia, em Nova Odessa, SP. Foramempregados um solo Areias Quartzosas, pro-cedente do cerrado de Brotas, SP, e um so-lo Podzólico Vermelho-Amarelo variação La-ras, de Nova Odessa. Cada solo foi coleta-do à profundidades de ° a 30 em, secado àsombra, homogeneizado e peneirado para sercolocado nos vasos. Utilizar~se vasos decerâmica pintados internamente com tintalinpermeabilizante, revestidos com sacosplásticos e contendo 5,7 e 5,0 kg de ter-ra, respectivamente.

As análises granulométrica e qUDTI1cadas amostras dos solos de Brotas e de NovaOdessa revelaram, respectivamente, 5,7% e4% de areia grossa, 33% e 81% de areia fi-na, 1% e 2% de limo, 9% e 13% de argila,1,9% e 2,8% de matéria orgânica, pH = 5,3

3+e 5,2, AI trocável = 0,45 e 0,852+e.mg/100 ml , Ca trocável 0,5 e 0,22+e.mg/lOO ml , Mg trocável = 0,1 e 0,1

+e.mg/100 ml, K trocável = 12 e 53 pg/rnleP extraível = 16 e 1 pg/rnl.

Os tratamentos compreenderam CInCOníveis de enxofre aplicados na fonna degesso (CaS04.2H20 reagente analítico) eforam distribuídos em blocos ao acaso, comquatro repetições. O enxofre foi testadonas doses correspondentes a 0, 30, 60, 90e 120 kg/ha.

A correção da acidez do solo foiefetuada através da mistura de reagentesanalíticos CaO e MgO aos solos de Brotas eNova Odessa, respectivamente, em dosescorrespondentes a 0,68 e 1,28 t de cal-cário (23,3% CaO e 15,5% MgO) por hectare.Imediatamente após a calagem adicionou-seágua deionizada até atingir a capacidadede campo dos solos e deixou-se em incuba-ção por 44 dias.

A semeadura do capím-coloní.ão foirealizada diretamente nos vasos e após su-cess~vos desbastes deixar~se quatroplantas por vaso.

Por ocasião do plantio foi empregadauma adubação básica com nitrogênio (30 kglha, como uréia), fósforo (120 kg de P O I2 5

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~----------------------------------------------------------------------------------------------------e\

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ha, como NaH2P04.H20), potássio (90 kg deK20/ha, como KCl), boro (0,5 kg/ha, comoH BO ), cobre (2,0 kg/ha, como quelato dec6br~), zinco (2,0 kg/ha, como quelato dezinco) e molibdênio (0,25 kg/ha, comoNa MoO .2H O). Aos 22 dias após a serreadu-

2 4 2ra efetuou-se uma adubação nitrogenada (naforma de uréia) em cobertura e correspon-dente a 70 kg de N/ha. Todos os nutrientesforam fornecidos através do uso de reagen-tes analíticos e na forma de soluções di-luídas.

Os vasos foram irrigados diariamentecom água deionizada e, aos 37 dias após oplantio, procedeu-se ao primeiro corte dasplantas, com remoção sorente da parteaérea. Imediatamente após o corte foi efe-tuada outra adubação nitrogenada em cober-tura, à base de uréia e correspondente a100 kg de N/ha. Após 28 dias realizou-se osegundo corte no capj~colonião, tratando-

se de coletar a parte aérea das plantas ede separar as raízes do solo, bem como la-vá-las. Por ocasião de cada corte foi rea-lizada a contagem do nÚID2ro de perfilhosno capDn de cada vaso.

Todo o material colhido sofreu seca-gem a 650C em estufa de circulação forçadade ar, foi pesado, moído e encaminhado aolaboratório para as determinações de ni-trogênio (método semDnicro-Kjeldahl), fós-foro (método colorirnétrico, comvanado-molibdato de amônia), enxofre (de-terminação indireta, por espectrofotare-tria de absorção atômica, segundo BAIAGLlA(1976), e cálcio, magnésio e potássio (es-pectrofotaretria de absorção atômica apósdigestão nítrico-perclórica).

Ao final do experimento realizou-seuma amostragem de solo nos vasos, agrupan-do-se as subamostras das quatro repetiçõessegundo os níveis de enxofre empregados.

RESULTAOOS E DISCUSSÃO

Os efeitos da aplicação de níveis degesso aos solos de Brotas e de Nova Odessaresultaram em significativas (p (0,05) va-riações na produção de matéria seca e nacomposição mineral do capDn-colonião e sãomostrados nas figuras de 1 a 8. Através doexame dessas figuras pode-se verificar queo emprego do gesso proporcionou efeitossignificativos em maior nÚID2ro de variá-veis estudadas no solo de Brotas do que node Nova Odessa. Neste aspecto, t-DNTEIRO etalii (1983) também encontraram respostasmais expressivas do siratro e da galáxia àaplicação de gesso, quando cultivados nosolo de Brotas do que no de Nova Odessa.

O capim-co.loní.ãocultivado no solode Brotas teve sua produção de matéria se-ca lineanne~te incrementada no primeirocrescimento e variando segundo uma equa-ção do segundo grau na rebrota, em conse-qüência da adição dos níveis de gesso aosolo (figura 1). WERNER et alii (1967)também obtiveram significativo aumento naprodução de matéria seca do cap~coloniãodesenvolvido num Latossolo Vermelho-Escur.ofase arenosa, de Andradina, SP, quando in-cluíram 40 kg de S/ha a uma adubação can-pleta. A máxima produção de matéria secapor ocasião de segundo corte do capim nosolo de Brotas foi alcançada com o emprego

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de 75 kg de S/ha (aproximadanente 450 kgde gesso/ha); Trabalhando cem um solo decerrado de Brotas, HADDAD(1983) obteve amáxima produção de matéria seca do capim-colonião quando o enxofre era aplicado àbase de 55 a 60 kg/ha, em presença de 100a 200 kg de N/ha.

A produção de matéria seca do capimdesenvolvido no solo de Nova Odessa nãosofreu variações significativas (p > 0,05)cem os níveis de gesso testados. Emambos

os cortes, rmst rou produções relativarrentemais elevadas (m§dias de 14,1 e 11,O glvaso no pr irre.í.ro e segundo cortes, res-

pectivarrente) nesse solo do que no de Bro-tas. Tambémo núrero de perfilhos da gra-mínea, contados por ocasião do prineirocrescinento e na rebrota, não variou sig-nificativarrente cem os níveis de enxofre.O nÚJrerode perfilhos por vaso era de tre-ze e catorze à época do pr íne iro corte ede 24 a 27 no segundo corte, nos solos deBrotas e de Nova Odessa,respectivarrente.

I~corte :y= 10,48 + O,Ol03X (R2= 0.66)

-- - 2':'corte: Y = 5,192 + 0,0820 X - O,000546X2 (R2=O,86)

12 o

10

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S (kg/ha)

Figuro 1. Produção de matéria seca do capim-colonião em funcão dos

nrveis de enxofre no solo de Brotas

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I':' corte: Y =0,058 + 0,0023X-O,000009 X2(R2=0,99)

--- ~ corte: Y =0,002 + 0,o023X-O,000009X2 (R2=q97)

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A aplicação de gesso no Areias Quar-tzosas de Brotas resultou em concomitantesIncrerrentos na porcentagem de enxofre naparte aérea da gramínea obtida nos doiscortes (figura 2)• A máxima Porcentagemdesse nutriente na planta sorente seriaalcançada com dose mais elevada do que asutilizadas nesse experimento (cerca de 128kg de S/ha) e seria esperada atingir 0,21%em qualquer dos cortes. Entretanto, a por-'centagem de enxofre que corresponderia àmáxima produção de matéria seca no segundocorte do caplinseria de 0, 18 de S.

0,23

0,2\

0,\9

0,\7

0,\5

CJ)

~0,13

o

0,11

0,09

0,07

Além da porcentagem de enxofre notecido foliar, a relação N:S tem sido aro-plarrente utilizada para avaliar o estadonutricional das plantas quanto ao elerren-to. DIJKSHOORN & VAN WIJK (1967) propuse-ram uma relação de 13,7:1 caro adequadapara gramíneas em geral. No presente tra-balho, essa relação variou entre 16,9:1 e4,7: 1 por ocasião do primeiro corte e29,1:1 e 2,8:1 à época do segundo corte docapim-colonião no solo de Brotas (figura3). Em ambos os cortes, quando o gesso nãofoi aplicado ao solo de Brotas, a relação

v

o 30o ~------------~------------~------------~------------~--

90 12060S (kg/ha)

Figura 2. Porcentagem de enxofre na parte aérea do capim-coloniãoem funcão dos níveis de enxofre no solo de Brotas

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I?corte: Y = 16,93 -O,2633X + 0,00 142X2( R2= 0,98)

- - - 2? corte: Y = 29,13 -O,6246X + 0,00371 X2( R~ 0,89)

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N:S na gramínea excedia 13,7:1, eviden-ciando claramente a deficiência de enxofrepara o normal crescínento do capim-colo-nião. Mediante o emprego de gesso no solo,a relação N:S no capim decrescia e o valorde 13,7:1 era atingido rresrroà época dosegundo corte, com o uso de 30 kg de S/haaproximadamente (figura 3). Com a utiliza-ção dessa dose de enxofre, a porcentagemdo nutriente na planta era de cerca de0,12% (figura 2).

No solo Podzólico de Nova Odessa, osefeitos dos níveis de enxofre na produçãode matéria seca nos dois cortes do capim,

32

28

bem corro na porcentagem de enxofre e narelação N:S no material colhido no prirrei-ro corte, não foram significativos (p >0,05) e evidentes como aqueles verificadosno solo de Brotas. Entretanto, por ocasiãodo segundo corte do exper-imento o teor deenxofre e a relação N:S variaram linear-rrent.e(aurent.ando no prirreiro caso e de-crescendo no segundo) com as doses de en-xofre no solo (figura 4). No solo Podzóli-co, a aplicação de 40 kg de S/ha resulta-va numa relação N:S de 13,7:1 e numa por-centagem aproximada de 0,08 de enxofre nocapirn-colonião, por ocasião do segundocorte.

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o 3004-------------~----------~------------~------------~--

60 90 120

S (kg lho)

Figura 3. Efeito da aplicação de enxofre ao solo de Brotas na relação

N: S na parte aérea de capim-oolonião

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Os valores encontrados para a por-centagem de enxofre no capim-colonião cem28 dias de rebrota e que estariam equipa-rados à relação N:S de 13,7:1 ficaram, emambos os solos, entre 0,08 e 0, 12. SMITH &SIREGAR (1983) apresentaram dados para umgrupo de gramíneas forrageiras tropicais(entre as quais havia um Panicum) e suge-riram que o nível crítico de enxofre paratais plantas, aos 28 dias de rebrota, es-taria entre 0,07% e 0,11%.

O gesso (sulfato de cálcio díh idra-tado) que atua no fornecimento de enxofre,também supre o cálcio ao sistemasolo-planta. Assim, o capim-colonião co-

lhido nos dois cortes e nos dois solos te-ve a sua porcentagem de cálcio incrementa-da pela adição de gesso (figuras 5 e 6).Cabe ainda ressaltar que os teores dessenutriente na parte aérea do capim se nos-

traram mais elevados no material coletadono segundo corte do experimento. HADDAD(1983) também reportou que o gesso funcio-nou cano fonte de cálcio para o capím-co-lonião cultivado num solo de cerrado. Alémdos significativos incrementos na porcen-tagem de cálcio na planta, a aplicação dosníveis de gesso serviu para elevar os teo-res de cálcio trocável em ambos os solos(quadro 1). MONTEIRO et alii (1983) traba-lharam com solos coletados nos rnesrros10-

-- %S : y = 0,062 +0,00043 X (R2= 0,97)

--- N:S; y= 16,12-0P6358X (R~O,91)

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18

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14 ti)

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12 g-ãia:

10

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O~"-"-"-"-"-~"---"-------~----"---"--r"-----"-"-"-+OO ~ ~ ~S (kg/ha)

Figura 4. Porcentagem de enxofre e relação N:S na parte aérea de

capim ..cotonião'a época do segundo corte em função dos

níveis de enxofre no solo de Nova Odessa

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1.3

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I~ cor te Y> 0,663 + 0,0011 X ( R2: 0,91) .

--- 2~ cor teY> 0,915 + 0,0068X-O,000035X2(R2:0,90)

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o

30 60

S (kg/ha)

90 120

Figura 5. Porcentagem de cálcio na parte aérea do ccprrn-coloniõo emfunçõo dos nIveis de enxofre no solo de Brotas

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-- I~ corle: y= 0,499 + O,00039X (R2e 0,96)

1,2 --- 2':' co rle :Y = 0,850 + 0,00 176X ( R2 = 0,86)

1,1 - --",-----1,0 -- •...- ..•.-• -------0,9 -----O 0,8U~ 0,7o

0,6

0,5

0,4

° ° 30 60 90 120

S (kg/ho)

Figura 6. Porcentagem de cálcio no porte aéreo do capim-colonião em

funcõo dos níveis de enxofre no solo de Novo Odessa

Quadro 1. Análise química em amostras do solo de Brotas e de NovaOdessa co1etadas nos vasos ao final do experimento

(a) 3+ 2+ 2+S MO pH A1 Ca Mg K

(kg/ha) (X) e.mg/100 m1 (llg/m1)

Brotas

O 1,4 5,6 0,2 0,5 0,1 1230 1,2 5,6 0,2 0,6 0,1 760 1,4 5,5 0,2 0,7 0,1 790 1,4 5,4 0,2 0,7 0,1 7

120 1,3 5,4 0,2 0,7 0,1 7

Nova Odessa

O 1,8 5,6 0,4 0,5 0,2 1030 1,8 5,5 0,4 0,6 0,2 1060 1,8 5,4 0,4 0,7 0,2 1290 1,6 5,3 0,4 0,6 0,1 10

120 1,7 5,3 0,4 0,8 O, 10

a = Determinado em água (1:2,5).

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cais que os do presente ensaio e obtiveramsignificativos acréscirros na porcentagemde cálcio de quatro leguminosas forragei-ras, bem cornorelataram elevações no teorde cálcio trocável nesses solos arenososmediante o uso dos níveis de gesso.

A porcentagem de potássio no capim-colonião analisado por ocasião dos doiscortes no experimento como solo de Brotasvariou significativamente (p < 0,01) comos níveis de gesso. Nas plantas desenvol-vidas no solo de NovaOdessa, tal variaçãofoi significativa (p < 0,05) no materialcoletado no segundo corte. Emqualquer doscasos, as porcentagens de potássio verifi-cadas nas plantas crescidas nos mais altosníveis de gesso foram inferiores àquelasobservados na ausência do empregodo gesso

nos dois solos (figuras 7 e 8). Os valoresmínirros para a porcentagem de potássio nagramínea ocorreram quando o gesso supriade 78 a 82 kg de S/ha ao solo de Bro-tas e 69 kg de S/ha ao solo de NovaOdes-sa. Significativas reduções no teor de po-tássio no tecido foliar de trevo brancomediante a aplicação de níveis de gesso (Oa 60 kg de S/ha)a um Spodosol, foram re-portados por M:lNI'EIRO(1986). TarrbémROSa-

LEM& MACHAOO (1984) obtiveram reduções naporcentagem de potássio em algodoeiro,quando utilizaram doses de gesso que al-cançaram até 5,5 t/ha emdois Latossolos.Os valores encontrados para o teor de po-tássio trocável tanto no solo de Brotascornono de NovaOdessa no final do experi-mento, foram similares para os níveis degesso utilizados (quadro 1).

-- I? corte: Y = 0,796 - O,0039X+O,OO0024X2(~=O,92)

--- 2?corte:Y = 0,501 - O,0059X +0,000038 X2(R~O,84)0,9

0,8

0,7

0,6

~ 0,5

~o 0,4

0,3

0,2

0,1

OO

o

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30 60S (kg/ho)

90 120

figuro 7. Fbrcentogem de potdssio no porte aérea do copirn-coloniôo

em funcõo dos níveis de enxofre no solo de Brotas

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o pH, determinado em água para ambosos solos, mostrou valor de 0,2 a 0,3 uni-dades nenor nos solos que receberam dosesmais elevadas de gesso do que na não apli-cação de gesso (quadro 1) • mNrEIRO etalii (1983) tanbém obtiveram reduções nopH do solo (determinado em água), quandoaplicaram gesso e cultivaram leguminosasforrageiras nesses dois solos. Ainda, re-duções nos valores de pH do solo rredi.ante

0,45

0,43

0,41

0,39:\C

~o0,37

0,35

0,33

oo

a aplicação de gesso a umLatossolo Verme-lho-Escuro fase arenosa (pH determinado emágua) e a um Spodosol (pH em água e em 1 !:!KCl) também foram descritas por ROSOLEM&MACHAOO (1984) e mNTEIRO (1986) , res-pectivarrente. Dentro dos níveis de gessoestudados' no presente exper inento não sedetectaram sensíveis variações nos demaisparâmetros analisados nos dois solos.

Y = 0;430 - 0,00248 X + O,OOOOl8X2 (R2= 0,93 )

60

S (kg/ho)

90 120

Figura 8. Porcentagem de potássio na parte aérea do capim-coloniãob época do segundo corte em funcoo dos mveis de enxofreno solo de Nova Odessa

A deficiência de enxofre para o nor-mal crescÍllEnto do cap~colonião foi maisevidente nas Areias Quartzosas de Brotasdo que no Podzóliéo Vermelho-Amarelo va-riação Laras de Nova Odessa. A fim de que

COOCLUSÕES

a produção de matéria seca da gramíneaatingisse o nível máximono solo de Brotasa dose de gesso a ser aplicada deveriafórnecer 75 kg de sitia.

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Umnrínírro de 30 a 40 kg de Slha serrost rou necessário para que o capirn-colo-nião apresentasse im teor mínirro de enxo-fre entre 0,08% e 0,12% e uma relação N:Sde 13,7:1 quando cultivado em qualquer dosdois solos.

A aplicação de gesso aos solos are-nosos de Brotas e de Nova Odessa resultouem acréscim::>s na porcentagem de cálcio naforrageira e no teor de cálcio trocávelnos dois solos, bem como em decréscim::>s naporcentagem de potássio no caplin e no pHdeterminado em água em ambos os solos.

SUMMARY: A greenhouse experiment was carried out with Guinea grass (Panicummaximum Jacq.) grown on an Entisol and on an Ultisol at Instituto de Zootecnia, inNova Odessa, State of São Paulo, Brazil. Rates of O, 30, 60, 90 and 120 kg S (as gypsum)per hectare were applied to the soils. A randomized complete block design with fourreplications was used, Guinea grass was more responsive to S rates in the Entisol than inthe Ultisol. Maximum herbage vleld in the Entisol would be reached at 75 kg S/ha.Sulfur concentrations between 0.08 and 0.12% and a N:S ratio of 13.7:1 in the top ofthe grass were obtained when at least 30 to 40 kg S per hectare were supplied to bothsoils. Calcium concentration in the plant tissue and exchangeable Ca in the soil wereincreased, where as K concentration in the grass and soil pH 'lin water) were decreasedas a consequence of gypsum application.

AGRADECIMENTOS

À engenheira agrônama Eliana Aparecida Schammass, da Divisão de Técnica Básica eAuxiliar do Instituto de Zootecnia, pela colabo~ação no uso do computador para análisesestatísticas; ao médico veterinário Gabriel A. Sarr i.ez, do Centro de Infonnática naAgricultura da ESALQ/uSp,pelo apoio na preparação dos gráficos através do computador.

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