120
Teologia Prática 3 Prof. Ricardo Augusto Arakaki I o Semestre de 2008 FTBSP

Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Teologia Prática 3

Prof. Ricardo Augusto Arakak i

I o Semestre de 2008

FTBSP

Page 2: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

l^idh & LÚÓ C&r, -^*-

r : H: ' 4Í Èllsl&féiss^

Introdução 3

1. Mensagem, Sermão e Pregação: é tudo a mesma coisa? 4

2. Critérios na Escolha do Texto "12

3. A Leitura com Propósitos 19

4. O Esboço Analítico 26

5. A Pesquisa Bíblica 3 5

6. A Progressão Lógica 41

7. As Ilustrações 5 1

8. A Exortação 5 8

9. A Abertura e o Fechamento dos Tópicos 64

10. A Introdução 7 3

11. A Conclusão 8 2

12. A Composição e O Esboço 9 0

13. A Comunicação Verbal e não Verbal 98

14. Exemplo de Sermão 1 0 9

Bibliografia 1 1 4

Adendos

Oficinas 115

Conteúdo Programático 119

Relatório de Leitura 121

Avaliação do Curso 114

Page 3: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

J

• m r4 i i í-*% «•» f \ > t t i i w v i U v O

"A pregação é a apresentação da verdade através da personalidade". 1

Phillips Brooks

Esta é uma das mais celebres frases produzidas no mundo da pregação. De fato, Deus

decidiu comunicar Sua verdade por meio de instrumentos humanos sem anular suas características,

temperamentos e personalidades. Para falar, Deus não usa megafones, mas pessoas: "Antes de

mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois, jamais

a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo

Espírito Santo" (2a Pe 1.20,21).

Por esta razão, é possível perceber tantos estilos e maneiras diferentes na comunicação da

Palavra, seja por meio da escrita ou da fala. Basta comparar dois grandes pregadores

contemporâneos como Russel Shedd e Ed René Kivitz, e ficará claro para nós, a verdade de que

Deus usa, poderosamente, homens com estilos tão diferentes para comunicar eficazmente a Sua

Palavra.

Porém, isto não significa que o pregador vale-se tão somente de sua intuição e carisma para

interpretar e comunicar as verdades das Escrituras. A Bíblia recomenda o preparo adequado tanto

para a interpretação quanto para a comunicação da Palavra de Deus: "Pregue a Palavra, esteja

preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda paciência e doutrina" (2a Tm

4.2).

Em outras palavras, o pregador sério terá no preparo seu grande segredo no trabalho de

interpretar e pregar corretamente as Escrituras. Para esta árdua, mas gratificante tarefa, além do

poder ilumínador do Espírito Santo, contará também com as disciplinas da Hermenêutica e da

Homilética.

Robert H. Stein define "Hermenêutica" como "a prática ou a disciplina da interpretação2".

"Homilética", segundo John A. Broadus, é "a simples adaptação da retórica às finalidades particulares

e às demandas da pregação cristã3". Em outras palavras, Hermenêutica é a ciência e a arte de

interpretar as Escrituras e Homilética é a ciência e a arte de pregar as Escrituras.

O alvo deste curso é simples: aprender a construir, passo a passo, um sermão bíblico e

dinâmico, usando as técnicas da hermenêutica e da homilética.

Assim, arregacemos as mangas e ao trabalho! Pois, como escreveu o apóstolo Paulo:

"Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que

maneja corretamente a Palavra da Verdade" (2a Tm 2.15).

1 Robsom Moura Marinho. A Arte de Pregar, a comunicação na homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 16 2 Robert H. Stein. Guia Básico para a Interpretação da Bíblia, Interpretando Conforme as Regras. Rio de Janeiro, CPAD, 2000, p. 20 3 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.29

Page 4: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

4

vlensagem, Pregação e Sermão. 3 i udo a mesma Coisa?

Para responder a esta pergunta, pensemos num "bolo". Quando vamos preparar um bolo, é

necessário lembrar de, pelo menos, três elementos:

• Conteúdo: num bolo vão ovos, leite, açúcar, fermento, farinha e outros ingredientes.

• Forma: a fôrma em que se colocará o bolo para assá-lo pode ser "redonda", "quadrada",

"retangular".

• Entrega: o bolo poderá ser servido em "pratos de porcelana", "pratinhos de plástico", ou, até

mesmo, em um simples "guardanapo".

Quando o assunto é "mensagem", "sermão" e "pregação", não é diferente. Também é

necessário pensar em três elementos: conteúdo, forma e entrega.

• Conteúdo: é a mensagem, isto é, o que falar.

• Forma: é o sermão, isto é, o como falar.

• Entrega: é a pregação, isto é, quando falar.

O conteúdo da pregação é o que se chama de mensagem. A estrutura, ou, a forma que se dará à

mensagem é o que se chama de sermão. E, o ato de entregar a mensagem na forma de um sermão

é o que se chama de pregação. Assim:

"O pregador é aquele que faz a pregação de uma mensagem por meio de um sermão".

Entendido este princípio, vamos estudar mais profundamente estes três elementos da comunicação

cristã.

Como vimos, a mensagem é o conteúdo do sermão. Não é difícil supor que a mensagem

de um sermão deva ser bíblica. Como escreveu John Knox:

Page 5: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

A mensagem do pregador precisa provir não de acontecimentos correntes, ou literatura em voga, ou de tendências prevalecentes de um tipo ou de outro, não de filósofos, políticos, poetas e nem mesmo, em último recurso, da própria experiência ou reflexão do pregador, mas sim das Escrituras4.

No entanto, por estranho que pareça, é possível pregar um sermão cuja mensagem não seja

autenticamente bíblica. Ligue a televisão, coloque, por exemplo, num programa como o da Seicho-no-

ie, assista uma de suas palestras e você logo comprovará esta verdade.

Por outro lado, também é possível pregar um sermão cujo conteúdo pareça bíblico, possua

até versículos bíblicos, mas cuja mensagem não é bíblica. Leia Mateus 4.6, onde é relatada a

tentação de Jesus e você verá que o tentador usou (distorceu) as próprias Escrituras, na tentativa de

persuadir O Filho de Deus.

Um sermão somente será "bíblico", não apenas quando sua mensagem tiver apoio nas

Escrituras, mas quando expressar a interpretação correta das Escrituras:

"...o uso da Bíblia , e até mesmo o seu uso em larga escala, não é suficiente para garantir a pregação bíblica eficiente ou mesmo autêntica. Tudo depende de como nós a usamos"5.

A mensagem, isto é, o conteúdo de um sermão, deve ser bíblico, pelas seguintes razões:

a. A Mensagem Bíblica Alimenta: um dos objetivos principais da pregação bíblica não é entreter,

nem informar, mas alimentar. Uma igreja que não é alimentada pela mensagem bíblica é uma igreja

faminta:

Privado do consenso normativo quanto ao conteúdo autorizado, o pregador se volta para a

psicologia popular, para os acontecimentos atuais ou para as resenhas de livros, visando a

alimentar o faminto com essas coisas6.

Como disse O Senhor, o espírito do homem tem fome da Palavra de Deus: ..."Nem só de pão

viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4.4).

b. A mensagem Bíblica Transforma: Agostinho se converteu lendo um manuscrito que continha as

palavras do apóstolo Paulo registradas em Romanos 13.13-14. Martinho Lutero também teve sua

4 John Knox. A Integridade da Pregação. São Paulo, Aste, 1964. p. 11 5 Idem, pg 13 6 David L. Larsen. Anatomia da Pregação (São Paulo: Editora Vida, 2005), pg.23

Page 6: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

o

vida transformada ao meditar em Romanos 1.17, a ponto de dizer; "senti que havia nascido de novo e

que as portas do paraíso me haviam sido abertas" 7.

Estas duas vidas e muitas outras foram transformadas pela mensagem bíblica, que

continuará transformando, enquanto for pregada (2a Tm 3.16,17).

c. A Mensagem Bíblica Unge: "unção" é "autoridade". A autoridade do pregador é resultado de

pregar aquilo que Deus autorizou. O homem que pregar a palavra de Deus será revestido de

autoridade concedida pelo próprio Deus: "... Filho do homem, coma este rolo; depois vá falar à nação

de Israel" (Ez 3.1).

Billy Graham, famoso evangelista, a princípio teve dificuldades em aceitar a autoridade da

Bíblia8. Porém, no decorrer de seu ministério, seu poder na pregação se deveu basicamente à sua

convicção na autoridade das Escrituras, tanto que, sua fase mais conhecida é: "A Bíblia diz".

O sermão é a estrutura que se dá à mensagem a ser pregada.

Existem, pelo menos, quatro tipos de sermão quanto à estrutura:

a. Temático ou Tópico: é o sermão cujas divisões derivam de um tema. Não se prende a um único

texto, cada divisão pode ter base em um texto diferente ou não.

O "ponto forte" deste tipo de sermão é a didática. O "ponto fraco" é o risco de "usar o texto

como pretexto", uma vez que a estrutura do sermão é fruto da reflexão do pregador. Porém, um

sermão temático pode ser tão bíblico como qualquer outro se, a argumentação de cada divisão

proceder da interpretação correta do versículo escolhido: "O sermão tópico não é necessariamente

menos bíblico no conteúdo e no desenvolvimento do que o sermão Textual ou o Expositivo".

Exemplo: características do amor de Deus:

1. É incondicional (Rm 5.8)

2. É ativo (Jo 3.16)

3. É Eterno (1 Co 13.8).

7 Justo L. Gonzáles. A Era dos Reformadores - Uma história ilustrada do Cristianismo, vol.6, São Paulo, Vida Nova, 1995, p.50. s David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2005, p.32

Page 7: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Charles H. Spurgeom, considerado o "príncipe dos pregadores" era um pregador

costumeiramente fazia sermões temáticos.

b. Textual: é o sermão cujas divisões derivam de um ou dois versículos. Suas divisões nascem da

estrutura do próprio versículo.

Exemplo: condições do discipulado (Lc 9.23):

1. Negar a si mesmo

2. Tomar a cruz

3. Seguir Jesus

O ponto forte deste sermão é a "concisão". Pessoas ficam admiradas em ver como é possível

extrair tantas riquezas de um trecho tão pequeno das Escrituras. O ponto fraco é a tendência de usar

o texto apenas como "trampolim" para aquilo que se deseja dizer, como aqueles que lêem um

versículo no início da pregação e não falam mais nele. Outro problema é concentrar-se num versículo

apenas e esquecer o seu contexto imediato, isto é, os versículos anteriores e posteriores que lançam

luz sobre o versículo a ser pregado, como também esquecer de seu contexto maior, isto é, aquilo que

as demais Escrituras revelam sobre o assunto. É como alguém que foca em uma única peça do

quebra cabeça e acaba pregando sobre "folha de laranja", enquanto o quadro completo mostra que a

folha é de "maçã".

c. Expositivo: É o sermão cujas divisões derivam de uma passagem bíblica. Suas divisões nascem

da estrutura da própria passagem.

Exemplo: instruções sobre a oração (Tg 5.13-18):

1. Quando orar (v13):

a. No sofrimento

b. Na alegria

2. Como orar (v14-15a):

a. Em nome do Senhor

b. Com fé

3. Porque orar (v15b-18):

a. A oração trás cura

b. A oração proporciona perdão

c. A oração é poderosa e eficaz

Page 8: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

O ponto forte deste tipo de sermão é fidelidade ao texto bíblico. Os grandes pregadores

contemporâneos o recomendam e chegam a dedicar um capítulo, ou até mesmo um livro inteiro na

defesa deste tipo de sermão. Karl Lachler, em seu livro "Prega a Palavra", cita Crisóstomo, um dos

pais da Igreja, grande pregador apelidado como "boca de ouro", que disse: "o valor da pregação

expositiva reside no fato de que Deus fala o máximo e o pregador o mínimo"9.

O ponto fraco deste tipo de pregação é que nem sempre ela atende ao momento específico

da congregação. Por exemplo, não seria pecado um pastor, cujos membros de sua congregação

perderam familiares num recente acidente de avião, interromper sua série de preleções no livro de

Esdras, por exemplo, e pregar sobre "A presença de Deus nas tragédias repentinas". Como escreve

Ed René Kivitz: "Toda a Bíblia é divinamente inspirada, mas nem toda a Bíblia é contextualmente

relevante"10.

d. Expositivo Temático: é o sermão cujas divisões derivam de um tema de uma passagem.

O ponto forte deste tipo de sermão é conciliação entre a didática e a fidelidade bíblica. O pregador

que prepara um sermão expositivo temático vê o texto bíblico como uma prateleira de supermercado.

Uma prateleira de laticínios, por exemplo, pode conter leite, queijo, iogurtes e requeijão. No caso,

"laticínios" é o que define os tipos de alimentos da prateleira, porém, cada alimento tem também suas

características específicas. Assim, "laticínios" seria o tema geral da prateleira, enquanto que "leite",

queijo", "iogurtes" e "requeijão" seriam os temas específicos. O pregador expositivo-temático, ao invés

de pregar sobre "laticínios" e falar sobre cada um dos alimentos desta prateleira, escolherá apenas

um dos produtos, por exemplo "leite" e discorrerá sobre este assunto específico à luz do todo. Em

outras palavras, o pregador expositivo temático percebe o tema principal do texto e também seus

temas específicos, mas concentra a elaboração do sermão em apenas um tema específico. Por

exemplo, ao pregar em Tiago 5.13-18, ao invés de pregar tudo o que o texto fala sobre a oração, ele

escolherá apenas um tema específico do texto para pregar:

Exemplo: razões para orar:

1. A oração trás cura (v15a)

2. A oração proporciona perdão (15b)

3. A oração é poderosa e eficaz (16)

O ponto fraco deste tipo de sermão pode ser ignorar o tema principal da passagem.

9 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.53 1 0 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997.

Page 9: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

9

*

i l t - - ")*< /í" ^ ' ; " " j

Assim como vemos nos filmes sobre a Idade Média o arauto comunicando em praça pública

os editos do rei, Deus também escolhe homens para serem Seus arautos, isto é, para comunicarem

Sua mensagem ao Seu povo. Deus usou profetas como Moisés, Jeremias, Isaías e Daniel para este

fim. Cabe, então, uma pergunta, é o pregador de hoje um profetal

No hebraico "profeta" é "nãbhT", que significa, literalmente, "qualquer um em quem a

mensagem de Deus emana". No grego "profeta" é "prophetes", proclamador da mensagem divina. Em

resumo, o sentido das palavras bíblicas usadas para definir "profeta" é "alguém a quem e por quem

Deus fala"11. Porém, como bons exegetas, não devemos nos ater apenas ao sentido semântico das

palavras, mas procurar entender o contexto no qual elas estão inseridas. Para tanto, nos lembremos

de que a revelação de Deus foi progressiva, ela não veio de uma vez, mas em etapas, como vemos

abaixo

Processo de Roveiaçõo

Deus

1 Lei

1 Profetas

1 Jesus

Apóstolos

1 Bíblia

Pregadores

Page 10: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Como podemos ver, existe uma "interdependência" em todo o processo de revelação divina.

Moisés promulgou a Lei ao povo de Israel, dependente daquilo que Deus revelava a ele. A

mensagem dos profetas, que exigiam que o povo se voltasse para O Senhor, não era novidade, mas

estava de acordo com aquilo que já havia sido revelado na Lei: "À Lei e ao Testemunho! Se eles não

falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva" (Is 8.20). O próprio Senhor Jesus pregou de

acordo com o que estava escrito na Lei e nos Profetas (Mt 5.17). Os apóstolos ensinavam de acordo

como o que haviam aprendido de Jesus (Mt 28.19,20). A Bíblia é composta pela Lei, pelos profetas e

pelo testemunho dos apóstolos.

Logo, os pregadores de hoje, se querem ser comunicadores da Palavra de Deus, assim como

fizeram os demais, também devem respeitar e limitar seus ensinos a tudo o que foi revelado antes

deles. Desta forma, quanto ã "posição" no processo de revelação divina, os pregadores não estão no

mesmo patamar que Isaías, Jeremias e Daniel. Segundo John Sttot:

"O pregador cristão não é um profeta. Ele não recebe qualquer revelação original; sua

tarefa é expor a revelação que já foi definitivamente dada"12.

Por esta razão, o apóstolo Paulo prefere se referir aos pregadores do Evangelho como

"despenseiros dos mistérios de Deus". Onde "mistério" é aquilo que seria impossível ao homem

descobrir, mas que já foi revelado por Deus (Col 1.26). E "despenseiro" é aquele responsável pela

alimentação da família a quem serve, e, busca na dispensa da casa, o alimento a ser preparado e

servido. Assim é o pregador, um despenseiro. É aquele que vai à dispensa de Deus, à Bíblia, e dali

separa e prepara a boa refeição para a família de Deus.

"Assim, pois, que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos

mistérios de Deus. Ora, além disso, requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel" (1a Co

4.1).

Agora, fica mais fácil entender a relação entre "mensagem", "sermão" e "pregação", em

comparação aos elementos do "bolo".

" W. E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p.903

Page 11: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

11

Elementos Bolo Hermenêutica / Homilética

Conteúdo Ovos, leite,farinha, fermento... Mensagem (o que falar)

Forma Redondo, quadrado, retangular... Sermão (como falar)

Entrega Prato de porcelana, pratinhos de

plástico, guardanapo.

Pregação (quando falar)

Que a mensagem que você prega seja bíblica, para que possua unção, alimente e transforme

vidas. Que teu sermão seja bem estruturado, para facilitar o entendimento. Que a tua pregação seja

eficaz, trabalho de um bom despenseiro dos mistérios de Deus.

1. Qual é a diferença entre mensagem, sermão e pregação?

2. Por que é importante que o conteúdo da pregação seja bíblico?

3. Com qual tipo de sermão você mais se identifica? Explique.

4. O pregador de hoje é um profeta? Explique.

1 2 John Stot. O Perfil do Pregador. São Paulo, Editora Sepal, 2000, p. 13

Page 12: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

12

Já aprendemos que o conteúdo do sermão, isto é, a mensagem, precisa ser bíblica, a fim de

que cumpra os propósitos que Deus tem para com a pregação: "Assim será a palavra que sair da

minha boca. Ela não voltará para Mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para a

que a enviei" (Is 55.11).

Da mesma maneira que é impossível fazer um "suco de laranja" sem laranjas, será também,

no mínimo estranho, fazer uma pregação bíblica sem um texto bíblico. Da mesma maneira que o

suco é extraído da laranja, a mensagem é extraída do texto. Por isto, tão importante como saber

escolher as laranjas que serão usadas na produção do suco, é saber escolher o texto do qual se

extrairá a mensagem a ser pregada. Como escreveu John A. Broadus:

"...A seleção apropriada de um texto é questão de grande importância. Uma escolha feliz animará o pregador para a preparação e enunciação de seu sermão e o ajudará a obter rapidamente a atenção dos ouvintes"13.

A pergunta que fica é: como escolher o texto para o sermão?

Creio ser possível estabelecer alguns critérios:

O público alvo representa os ouvintes aos quais será comunicada a mensagem.

A importância de se conhecer o púbico alvo está na adequação necessária que se

fará à mensagem, ao sermão e à pregação, a fim de que este público seja alcançado.

Assim, o público alvo definirá:

1 3 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.40

Page 13: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

13

a. O assunto da mensagem: segundo Aristóteles "é o ouvinte que determina a finalidade e o

objetivo do discurso" u . Isto parece óbvio, pois se os ouvintes são, por exemplo, adolescentes, pouco

ou nada os atrairá numa mensagem sobre as "alegrias da terceira idade". Por outro lado, se a platéia

é composta por senhores e senhoras acima dos sessenta anos de idade, não caberá pregar a eles

uma mensagem sobre "respostas bíblicas às crises da adolescência", a não ser que sejam avôs

preocupados em entender melhor seus netos.

Fica claro a importância de se conhecer o público alvo para a escolha da mensagem a ser

pregada. Porém, Martin Lloid Jones, grande pregador inglês, que ocupou o púlpito da capela de

Westminster por trinta anos, afirmou que não são as pessoas que decidem e determinam o que deve

ser pregado, e de que maneira, pois nós é quem possuímos a Revelação, a Mensagem, e

precisamos torná-la compreendida15. Ele, inclusive, testemunha de uma experiência que teve, ao

pregar na capela da Universidade de Oxford, ocasião em que pregou àqueles universitários e

doutores "da mesma maneira que teria pregado em qualquer outro lugar":

Eu pregara exatamente da mesma maneira que teria pregado em qualquer outro local. No momento que a reunião foi encerrada, e antes mesmo que eu tivesse tido tempo para descer da plataforma, veio correndo para mim a esposa do diretor, para dizer-me: "Quer saber de uma coisa? Essa foi a coisa mais notável que já se sucedeu nesta capela". Eu perguntei: "O que a senhora quer dizer? "Bem", retrucou ela, "você sabia que foi, literalmente, o primeiro homem que eu ouvi nesta capela que pregou para nós como se fôssemos pecadores"?! Então ela acrescentou: "Todos os pregadores que têm vindo aqui, por ser uma capela da Universidade de Oxford, obviamente tem tido cuidados especiais para preparar sermões polidos e intelectuais, supondo que todos somos grandes intelectos. Para começar, os pobres sujeitos deixam entrever que eles mesmos não são grandes intelectos, embora se tenham esforçado o máximo para apresentar o último grama de erudição e cultura, e o resultado é que vamos embora absolutamente famintos e sem qualquer reação. Temos ouvido aqueles ensaios, e nossas almas foram deixadas ressequidas. Parece que eles não compreendem que, embora vivamos em Oxford, nem por isso deixamos de ser pecadores"16.

Aparentemente, as opiniões de Aristóteles e Lloid Jones se excluem mutuamente,

podendo dividir opiniões. Porém, penso ser possível uma conciliação entre os dois pensamentos.

Imagine um público formado por "espíritas", o qual se dispõe a ouvir um pregador do

Evangelho. Qual o tema que logo nos vêm à mente para pregar a este público? "Salvação"!

Obviamente, não se espera que o pregador, intimidado pela platéia, faça uma palestra sobre a "A

Salvação por meio da caridade", a fim de agradar seus ouvintes. Porém, também não parece

adequado que ele pregue sobre "as falácias de Alan Kardec". Uma mensagem adequada seria "A

Salvação por meio da fé em Jesus".

1 4 Robsom Moura Marinho - A. Arte de Pregar, a comunicação na homilética. São Paulo, Vida Nova 1999, p 90 1 5 D.Martin Lloyd-Jones. Pregação e Pregadores. São Paulo: Fiel, p. 95 1 6 I d e m , p. 91

Page 14: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

1 <+

Perceba que o perfil do público definiu o tema da mensagem: "Salvação". Mas não definiu

o que falar sobre o tema "Salvação". O público define o tema a ser pregado, mas não o que falar

sobre o tema. Pregar às necessidades do público alvo não significa pregar o que o público alvo

quer ouvir, mas o que o público alvo precisa ouvir.

b. O tipo de sermão: um sermão desinteressante não produz nada, exceto pessoas

desinteressadas17. As pessoas não são atraídas apenas pelo o que se fala, mas também em o como

se fala. Por exemplo, um pregador americano pode estar falando algo muito interessante e relevante

para uma congregação brasileira, mas de nada adiantará seu esforço se as pessoas que o ouvem

não entenderem sua língua. Para que haja a compreensão da mensagem é necessário que ela seja

comunicada por meio de um código inteligível pelos ouvintes. Como mostra o exemplo abaixo:

Emissor j> Receptor ( )

Mensagem codificada Mensagem recebida

Embora saibamos que dificilmente o receptor conseguirá absorver toda a mensagem

comunicada a ele, isto não exclui o esforço do pregador em tentar comunicar de forma mais clara e

contextualizada possível a mensagem aos ouvintes. Pois o receptor só entenderá a mensagem se ela

for transmitida num código que ele reconheça.

Desta maneira, o público alvo definirá no sermão:

O tamanho: num casamento, por exemplo, não é de bom tom um sermão longo.

O alvo das atenções devem ser os noivos e não o pregador.

• A estrutura: em velórios, as pessoas estão carentes do consolo da palavra de

Deus. Um breve sermão temático ou textual sobre a presença de Deus nas horas

difíceis da vida deve cair melhor do que um minucioso sermão expositivo.

As Ilustrações: sabemos de um pregador que contou uma ilustração "engraçada"

sobre pescaria a uma igreja localizada no ABC de São Paulo. Ninguém riu. Não

porque a ilustração não fosse engraçada, mas por ninguém a entendeu.

Provavelmente, uma ilustração sobre carros, naquele contexto, funcionaria

melhor.

• O vocabulário: conta-se que John Wesley antes de pregar um sermão, o lia para

sua empregada. Caso ela não entendesse uma palavra, ele trocava a palavra por

uma que ela pudesse entender. Como disse Paulo:"...prefiro falar cinco palavras

compreensíveis para instruir os outros a falar dez mil palavras em uma língua" (1a Co

14.19).

1 7 Robsom Moura Marinho - A Arte de Pregar, a comunicação na homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 89

Page 15: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

c. O estilo da pregação: não é necessário ser mestre em homilética para saber a diferença entre

pregar num quarto de hospital para uma pessoa, e numa praça pública para quinhentas pessoas. O

local, o contexto dos ouvintes e o horário em que será realizada a pregação, influenciarão o olhar, o

tom de voz, a gesticulação, a movimentação e, até mesmo, a altura da voz do pregador.

Como explica o sábio Salomão: "A bênção dada aos gritos cedo de manhã, como maldição é

recebida" (Pv 27.14).

i * í ! I! -* J i 5 '->-í v! ; j » i é l

Alguém já disse que "vale mais uma palavra dita na unção do Senhor do que mil

palavras pronunciadas na força do homem". Jeremias denunciou os profetas que pregavam sem

antes, terem comparecido no concilio do Senhor (Jr 23.18,22).

Comparecer no concilio do Senhor significa buscar o conselho de Deus para a mensagem

que deverá ser pregada. Pois o pregador conhece as pessoas por vista, mas Deus conhece os seus

corações.

Quando Jonatas Edwards pregou pela primeira vez o sermão "Pecadores nas mãos de um

Deus irado", nada aconteceu. Frustrado, voltou para casa e se humilhou diante do Senhor. Decidiu

pregar o mesmo sermão na reunião seguinte. Conta-se que, como da outra vez, Edwards

pregou o seu sermão lendo-o à luz fraca de uma pequena lamparina. No entanto, as pessoas,

enquanto o ouviam, se seguravam nos bancos com medo de caírem no Inferno. Aquela ocasião

foi o marco inicial de um grande avivamento.

,-jj S li-»T« ! s.' = . ?">'" '••'•-•'• " '' ^ isE!*?1'" * i

Após orar a Deus, apresentando o público ao qual se tem a incumbência de pregar, algumas

possibilidades de temas começarão a ventilar na mente. O assunto poderá ser considerado propício à

pregação:

a. Se for coerente com a ocasião: há ocasiões especiais que requerem pregações especiais. Num

culto evangelístico, uma mensagem sobre "os benefícios de seguir a Jesus" servirá melhor à

ocasião do que uma mensagem sobre "as maldições de não ser dizimista". Num encontro de

casais, uma mensagem sobre as "bênçãos do casamento duradouro" servirá melhor do que uma

mensagem sobre "as bênçãos de ser solteiro". Num congresso de jovens, uma mensagem sobre

"os desafios de ser cristão no mundo digital", servirá melhor do que uma mensagem sobre "os

Page 16: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

16

cinco fundamentos do calvinismo", este úitimo ficaria muito bem num congresso de teologia para

pastores. A ocasião justifica ou não o assunto da pregação.

b. Se tiver embasamento bíblico: o homiléta, ao se decidir por um tema, procurará na Bíblia algum

texto que o embase e o direcione. Isto não significa usar um texto como pretexto, ou como um

trampolim para aquilo que se pretende pregar. Antes, significa encontrar luz sobre o que Deus pensa

a respeito do assunto escolhido, uma fonte que fornecerá a ele as revelações do Espírito Santo sobre

o determinado tema.

Veja abaixo a diferença entre "usar um texto como pretexto" e "usar um texto para embasamento".

o Texto como pretexto: se busca um texto apenas para sustentar aquilo que,

previamente, já se decidiu pregar.

Idéia

Bíblia

o Texto como embasamento: se busca um texto para se extrair dele as verdades

divinas sobre a idéia, o tema, isto é, o assunto que se pretende abordar.

Idéia

Bíblia

y

Verdades sobre a Idéia, Tema, Assunto.

Page 17: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

17

Um exemplo aclarará ainda mais a questão. Suponha que um pregador queira pregar sobre .

"santificação" e entenda que ela se dê por meio do "auto flagelo". Ele bem poderia encontrar o texto

de Paulo, em 1a Co 9.27, que diz: "Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que,

depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado". Ignorando o contexto em

que o versículo se encontra, Ele poderá usá-lo apenas como pretexto para sustentar sua tese. Como

é dito, "um texto sem contexto é pretexto". Porém, se tal pregador for sincero e temente a Deus,

apesar de possuir tal conceito equivocado sobre a santificação, ele humildemente pesquisará nas

Escrituras o que a Bíblia ensina, de fato, sobre o assunto. Diante das verdades encontradas na Bíblia,

ele abandonará sua antiga idéia sobre a santificação e pregará o que a Palavra, de fato, ensina. Note

que ele buscou o texto bíblico para descobrir as verdades sobre o tema e não para sustentar suas

idéias pessoais sobre o mesmo.

Na verdade, toda boa idéia está na Bíblia. Se o pregador tiver uma boa idéia, mas não

conseguir encontrar um texto que a embase, de duas uma: ou não conhece a Bíblia, ou sua idéia não

é uma boa idéia. Vale o exemplo do contemporâneo pregador, Rick Warren que diz que, em seu

início de ministério:

"Nos primeiros vinte anos de meu ministério de pregação, descobrir tudo o que Deus tinha a dizer em um determinado assunto era uma tarefa laboriosa de abrir sobre a mesa uma dúzia de concordâncias e olhar para uma lista de todas as palavras relacionadas com o assunto. Poderia levar vários dias de 8 horas de trabalho só pesquisando os versículos"18.

Após a definição do tema, uma boa concordância bíblica fornecerá uma série de

opções de textos possíveis à pregação do assunto escolhido. No entanto, será necessário

julgar entre todas as opções, qual é a que melhor se encaixa para a ocasião. Pois toda

Escritura é inspirada, mas nem toda a Escritura é relevante, dependendo do contexto, da

ocasião e do momento das pessoas.

Por exemplo, numa visita hospitalar a alguém enfermo, não será sábio pregar um

texto como Lc 29.1: "Ó Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz o teu

servo". Certamente, um texto como o Salmo 41.3: "O Senhor o susterá em seu leito de

enfermidade, e da doença o restaurará", servirá melhor à ocasião e fortalecerá o espírito do

abatido. Como alguém já disse: "fale às necessidades das pessoas e sempre terá ouvintes".

1 8 Rick Warren. Pregação para Transformar Vidas. Purpose Driven Ministries, p. 36

Page 18: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

18

Um professor de homilética costuma dizer, guardadas as devidas proporções, que tão

importante quanto escolher alguém para casar é escolher o texto para pregar. Pois, após a

escolha do texto, pregador e texto terão que conviver juntos, até que a pregação os separe.

Por isto, conheça bem a sua Bíblia. Seja sensível às necessidades do seu público.

Escolha um texto que arda no seu coração e o pregue com entusiasmo. Pois, se o pregador

não vibrar com o texto a congregação também não vibrará 19.

1. Identifique seu "público alvo" e defina "três características" do mesmo.

2. Depois de orar pelo seu "público alvo", qual foi o assunto escolhido para pregar?

3. Selecione três textos bíblicos que falam sobre o assunto escolhido.

4. Dos três textos selecionados qual é o escolhido para a pregação? Explique.

1 9 Robsom Marinho. A Arte de Pregar-A Comunicação na Homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 162

Page 19: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

19

j C* s 4 L i í CS a S 1 ;J - W I V w w

Ninguém pode falar bem de algo que não conhece bem. Um dos princípios do "falar bem" é o

"domínio do assunto". Por exemplo, se caso nos fosse dito para darmos uma "palavrinha" em público

agora, provavelmente, seria muito mais fácil falar sobre nossa biografia do que sobre física quântica,

pelo menos para a grande maioria.

É tão grande a importância de se conhecer bem um assunto, antes de poder falar

com credibilidade a respeito dele, que Reinaldo Polito, um mestre em retórica, aconselha:

"Se você tiver de falar sobre qualquer assunto, saiba tudo sobre ele e se transforme numa autoridade a respeito do tema. Essa segurança será percebida pelos ouvintes no momento da apresentação, e as pessoas ficarão mais disposta a confiar na mensagem. Quanto mais preparado você estiver, mais segurança irá demonstrar e mais credibilidade poderá conquistar"20.

Uma vez que é necessário conhecer bem um assunto para falar bem sobre o mesmo,

também será necessário conhecer bem o texto para falar com propriedade sobre o texto. A pergunta

que fica é: quai é o primeiro passo para conhecer bem um texto o qual se deseja pregar?

Conta-se que John Stott, famoso pregador e escritor inglês, possui o hábito de ler o

texto cinqüenta vezes "até Deus começar a lhe falar", e mais quantas vezes forem

necessárias "até Deus parar de lhe falar". É claro que nem todo pregador possuirá, na fase

de preparo do sermão, o tempo necessário para ler o texto mais de cinqüenta vezes, porém,

de certo, a boa leitura do texto é o primeiro passo para conhecer bem o texto que se deseja

pregar.

Também é verdade que se não possuirmos propósitos bem definidos ao começar a

leitura de um texto bíblico, poderemos lê-lo cinqüenta vezes e não chegarmos a lugar algum.

Assim, a qualidade da leitura será mais eficiente do que a quantidade de leituras.

A técnica da "Leitura com Propósito" evitará que leiamos o texto bíblico a esmo e

garantirá o maior proveito de cada leitura, pois propõe sete passos para a leitura do texto com

propósitos bem definidos:

2 0 Reinaldo Polito. Super Dicas para falar bem em Conversas e Apresentações. São Paulo, Editora Saraiva, 2005, p. 38

Page 20: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Uma das críticas ferinas que os teólogos liberais fazem contra os ortodoxos, ou,

fundamentalistas, como eles preferem se referir aos colegas, é a de interpretar o texto bíblico à luz

dos dogmas já estabelecidos pela tradição, o que, segundo eles, impede que se enxergue a verdade

pura e simples que um texto específico deseja comunicar. Verdade é que, de fato, o exegeta ortodoxo

interpreta um texto bíblico se mantendo próximo às idéias bíblicas características e essenciais21. O

que é salutar e honesto, pois, uma vez que acreditamos e insistimos na coerência da Bíblia, devemos

interpretar um texto específico das Escrituras à luz dos demais textos das Escrituras.

Porém, precisamos admitir que algumas ou muitas vezes, o exegeta chega ao texto com a

mente já cheia de idéias pré-concebidas sobre o próprio texto, idéias estas que nem sempre são

verdadeiras. A pergunta que fica é como ler e interpretar um texto bíblico sem preconceitos,

mantendo-se fiei aos que as demais Escrituras revelam? É claro que o estudo íntegro do texto em

questão, juntamente com a consulta de outros textos relacionados, servirá para confirmar ou não

nossas idéias sobre o mesmo, o que será tratado mais adiante. Por hora, enquanto estamos ainda na

fase de "reconhecimento" do texto, será de muita valia aprender a técnica do "brainstorm".

Em inglês, "brainstorm" significa "tempestade de idéias". É usado por equipes de trabalho que

entendem que, antes de aparecer uma boa idéia sobre algo é necessário tirar da cabeça todas as

más idéias. No caso dos homilétas não é muito diferente. Antes de ler um texto, é necessário

preparar a mente para a leitura. Em outras palavras, antes de descobrir e enriquecer a mente com as

boas idéias de um texto bíblico é necessário tirar da cabeça todas as más idéias sobre o texto bíblico

já recebidas anteriormente por meio de estudos bíblicos, leituras e, até mesmo pregações, ocasiões

em que podem ter nos sido transmitidas informações equivocadas sobre o texto em questão. Veja o

exemplo abaixo:

Mente

Estudos Informações sobre o texto (preconceitos)

Leituras H

Pregações

Leitura do Texto

Verdade

Texto

2 1 John Knox. A Integridade da Pregação (São Paulo, Aste, 1964), pg 21.

Page 21: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

21

Neste exemplo, a mente lê o texto já cheia de "pré - conceitos" a respeito do mesmo, o que a

impede de enxergar a verdade que, de fato, ele comunica. Um dos motivos pelos quais muitos judeus

não aceitaram a Jesus Cristo como o Messias prometido nas Escrituras foi o conceito equivocado que

tinham sobre as Escrituras que anunciavam o Messias. Por esta razão, o Senhor advertiu: "Vocês

erram pois não conhecem as Escrituras, nem o poder de Deus"(Mt 22.29).

Logo, para fazer a leitura de um texto das Escrituras com a mente aberta para receber as

verdades do texto, é necessário tirar da mente todas as "inverdades" recebidas sobre o texto.

Para tanto, um bom exercício será tomar uma folha de papel e escrever nela tudo o que já se

sabe ou se pensa saber sobre o texto. Após este procedimento, a mente estará pronta para aceitar as

verdades que o texto deseja, de fato, comunicar.

Mente

N Informações V e r d a d e §íl ' > sobre o texto

(preconceitos)

Folha

Verdade

Texto

No exemplo acima, se passou para uma folha de papel tudo o que já se sabia ou

"pensava-se que sabia" sobre o texto. Este exercício, o "brainstorm", preparou ou até "limpou"

a mente para ler o texto sem preconceitos e receber a verdade que ele comunica. Como

Jesus ensinou: "Lancem fora o velho para que entre o novo".

iiiiMiiiiiiwiilMÉwiiiiii iiiil iiti i i ií i um ii) ii innrr in

A observação preliminar é o "quebra gelo" com o texto. Nesta leitura, não se tem o compromisso

de conhecer precisamente tudo o que texto diz, mas apenas de tomar notas das primeiras

impressões que já "saltam aos olhos" ao se fazer a leitura. Uma boa dica é, neste passo, ler o maior

número possível de traduções disponíveis, isto ajudará o pregador a observar as várias nuanças e

Page 22: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

22

possibilidades do texto, estimulando a criatividade da mente e o surgimento de temas possíveis de

serem abordados. O pastor Irland Pereira de Azevedo, experiente pregador, certa vez, nos contou em

classe que, no preparo de seus sermões, coloca em cima de sua mesa diferentes traduções da Bíblia

abertas no texto que se propõe a estudar, o que o faz atentar para diferentes nuanças e

possibilidades do texto que, até então não havia observado.

Após as observações preliminares, o pregador além de ter dado o primeiro passo na

familiarização do texto, estará também preparado para definir o tipo de texto que tem em mãos:

narrativa, poesia, parábola, profecia, etc.

O m fVrfV+ecfo

Certa mulher, ao chegar da igreja, foi indagada pelo marido: "Sobre o que o pregador falou

hoje"? A mulher respondeu:

- Acho que sobre o "pecado".

- Mas, o que sobre o "pecado"? O marido questionou.

- Bem... acho que o pregador era "contra".

Se o tema da pregação não estiver claro para o pregador, muito menos será claro para os

ouvintes. Por isto, é necessário definir com precisão o tema que será abordado do texto do qual se

pretende pregar. O Tema Geral é o assunto principal do texto, definido, geralmente, por uma única

palavra. Exemplo: santificação, providência, milagre, ansiedade, bênção...

É possível encontrar o Tema Geral de uma passagem, pelo menos, de duas formas:

• A ten tando para as palavras que se repetem: ao ler Mateus 6.24-34 na NVI, o

leitor perceberá que a palavra "preocupação" ( nas suas variadas declinações ), é

repetida "seis vezes" por Jesus. Naturalmente, o tema principal desta passagem é

"preocupação", "ansiedade". , ~ ©UKo. f 7^V ' i üêVc . i 4 A M w J V i ^ a i u ^ p * * ^ IJ&3D í-e.V CfVf-fi.0 U&^-áiC^a c-y

Aten tando para palavras que se cont ras tam: e m 2°Reis 4.1-7 é possível

observar as "palavras nucleares", isto é, as palavras principais do texto, sem as quais

o texto perderia o sentido: credor, filhos, nada, vasilha, azeite, encher, cheias. Parece

claro que as palavras "nada" e "cheias" contrastam no decorrer da passagem. Logo,

não seria equivocado sugerir "providência" como o tema geral do texto.

A definição do Tema Geral evitará que "saíamos dos trilhos" durante a pregação.

Page 23: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

O Parágrafo Predicável é a delimitação do texto que vamos trabalhar. Em outras palavras, é a

passagem a ser pregada. Um Parágrafo Predicável é .uma passagem que trata de um tema de forma

completa22. Os números dos capítulos e versículos nas Escrituras foram colocados por editores da

Bíblia, não pelos escritores inspirados da Bíblia. Assim, nem sempre os números dos capítulos e

versículos delimitam de forma correta o início, o meio e o fim de uma passagem. Uma boa dica para

se delimitar o Parágrafo Predicável é ler os versículos anteriores e posteriores e observar se o Tema

Geral se repete. Caso afirmativo, o pregador deverá incluir e abordar tais versículos em seu estudo

para o desenvolvimento do sermão. Em 2° Reis 4.1-7, que citamos anteriormente, por exemplo, o

tema "providência" não se repete no capítulo anterior, nem no posterior. Logo, podemos ter certeza

de que o Parágrafo Predicável da passagem é, de fato, 4.1-7, pois os versículos delimitados tratam

do tema de forma completa.

É o ato de escrever com suas outras palavras o texto a ser trabalhado. Karl Lachler sugere

que a paráfrase do texto seja feita com um dicionário de sinônimos em mãos, substituindo cada

substantivo e verbo por seus sinônimos correspondentes23. Porém, creio ser possível também fazer a

paráfrase de um texto reescrevendo-o com "nossas próprias palavras". Em todo o caso, aquele que

se propor a fazer o exercício da paráfrase, o fará em todos os versículos do parágrafo, que o ajudará

a atentar para detalhes importantes do mesmo, que passariam despercebidos numa leitura

apressada. Abaixo, exemplo de um versículo parafraseado:

"O Criador se importou com os homens tão grandemente, que entregou Seu Filho único, com a

finalidade de que qualquer que depositar sua fé em Jesus Cristo não seja condenado, mas receba

a salvação"(João 3.16).

Já vimos que um "texto sem contexto é pretexto". Além da observação das passagens

anteriores e posteriores ao texto estudado, o estudo das palavras nucleares, isto é, das palavras

3

2 2 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p. 10

Page 24: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

que dão o sentido da passagem bíblica, será de fundamental importância para o entendimento

da mensagem que o autor, inspirado pelo Espírito desejou comunicar.

Um bom exemplo da importância das palavras de um texto bíblico é o Salmo 37.5: "Entregue

o seu caminho ao Senhor, confie Nele e Ele agirá". No original hebraico, o verbo "entregue" significa,

literalmente, "role"24. Isto porque, quando um viajante se preparava para atravessar o deserto

carregando um fardo pesado, fazia com que o camelo se abaixasse para receber a carga a ser

carregada. A carga era "rolada" para as costas do camelo e, assim, a viagem se tornava menos

penosa para o homem. Logo, o sentido do texto é: "Na caminhada da vida coloque seus fardos

pesados sobre o Senhor, Ele te ajudará a carregá-los". Tal sentido está de acordo com outras

passagens, como 1a Pe 5.7: "Lancem sobre Ele toda a sua ansiedade, porque Ele tem cuidado de

vós".

A seleção de palavras servirá de guia para a pesquisa bíblica e ajudará o pregador a se

aprofundar no entendimento verdadeiro do texto, o que enriquecerá a mensagem e edificará os

ouvintes na beleza da Palavra de Deus: "Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua

Lei" (S1119.18).

Dizem que "uma imagem vale mais que mil palavras". Verdade é que a visualização do

movimento das idéias do texto ajudará na compreensão maior do mesmo. Fazer o gráfico da

passagem significa descrever em imagens o movimento do texto. Por exemplo, 2° Re 4.1-7:

Busca

CREDOR :;>

Depem

PROFETA

Obediência

VIZINHOS

2 3 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.84 2 4 Derek Kidner. Salmos 1-72. Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, p. 171

Page 25: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

O Gráfico nos possibilita abordagens múltiplas do texto em questão, isto é, abordá-lo de

diversos ângulos. Por exemplo, este texto pode ser abordado pelo ângulo:

• da Viúva: Atitudes para receber a Providência de Deus:

1. Buscar a Deus

2. Crer em Deus

3. Obedecer a Deus

4. Depender de Deus

• do Profeta: Ações para com os Aflitos:

1. Ouvi-los com atenção

2. Orientá-los com sabedoria

3. Ajudá-los com amor

Como vemos, cada abordagem do texto possibilitará um sermão diferente.

"""""-AQterminar a Leitura com Propósito o pregador não apenas fez uma boa leitura do texto,

mas tirou o^máximo proveito da leitura. Não o leu apenas por ler, mas o leu para entender.

Como diz Paulo: "Persiste em ler, exortar e ensinar (...) Persevera nestas coisas, porque,

fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem" (1a Tm 4.16).

1. Use a técnica do brainstorm antes de ler o texto escolhido para o sermão.

2. Faça a "Observação Preliminar" do texto e o defina: epístola, poesia, narração,

profecia, etc.

3. Escreva a "Paráfrase" do texto.

4. Defina o "Tema Geral".

5. Delimite o "Parágrafo Predicável".

6. Selecione as palavras mais relevantes para pesquisa.

7. Esboce um gráfico do "movimento do texto".

Page 26: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Tudo o que Deus criou possui ordem, lógica e estrutura. A natureza está cheia de provas.

Podemos observar desde o minúsculo corpo de uma formiga, até o de um grande mamífero, ou até

mesmo a singeleza de uma árvore, com suas raízes, tronco e galhos, e logo somos convencidos que

todas as coisas possuem uma estrutura lógica. É esta estrutura lógica que torna inteligíveis as coisas

à mente humana. Tanto que é comum alguém reclamar que não entendeu algo, dizendo: "isto não

tem lógica".

Mentes são lógicas. Portanto, se o sermão possui como uma de suas incumbências tornar a

pregação da mensagem bíblica clara para os que a ouvem, é necessário que os ensinos que ele

contém também estejam organizados, isto é, estruturados, de forma lógica.

Como escreveu David L. Larsen:

"Aprendemos mais facilmente sobre os assuntos que nos são apresentados de forma organizada, de modo que existe poder maior no pensamento organizado25".

Charles W. Koller devidamente afirma:

"Uma boa estrutura é útil não somente para o pregador, dando-lhe noção de tempo,

de desenvolvimento e de proporção, mas também para o auditório. O ouvir

inteligente requer que o curso do pensamento fique claro para o ouvinte"26.

Assim, uma vez que os ensinos do sermão bíblico derivam-se do texto bíblico, a pergunta que

precisamos responder é: "como organizar de forma lógica os ensinos de um texto da Bíblia"?0

Esboço Analítico é uma técnica que ajudará o expositor bíblico a organizar os ensinos de um

texto de forma lógica, o que ajudará a cativar e manter a atenção dos ouvintes, pelo fato de a mente

humana ser atraída naturalmente pela ordem lógica27.

2 5 David L. Larsen. Anatomia da Pregação (São Paulo: Editora Vida, 2005), pg.60. 2 6 Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p. 38 2 7 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.84

Page 27: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

27

• • . :

__ I S S i l i i ; ; ' " ^ SSifeÊÉS

É possível fazer um esboço analítico, pelo menos, de duas maneiras: de acordo com a

estrutura literária da passagem, ou, de acordo com o tema geral da passagem. Para fins didáticos,

vamos definir o esboço analítico de acordo com a estrutura literária da passagem como "Esboço

Analítico Literário", e o esboço analítico de acordo com o tema como "Esboço Analítico Temático". È

necessário afirmar que um tipo de esboço analítico não exclui o outro. O pregador minucioso se

utilizará dos dois tipos de esboços analíticos para dominar ainda mais o texto. Vamos definir os dois

tipos de esboços analíticos:

, % r fM | 5 -i 4 ' - ., Th ai'nfc>wtigigHEraaMfcfiTi.ft*jaBSfc'ifcf>5 h í i n j . & M i à í «t i í jjfàrt—-.^-J"

É uma análise da passagem de acordo com sua estrutura literária. Veja um exemplo de

esboço analítico de acordo com a estrutura literária de Tiago 3.1-12:

1. Tiago aconselha a nem todos serem mestres (v1-2):

a. Pois os que ensinam serão julgados com maior rigor (v1)

b. Pois todos tropeçam no falar (v2a)

c. Para não tropeçar no falar é necessário ser perfeito (v2b)

2. Tiago compara a língua, pequeno órgão do corpo que se vangloria de grandes coisas, com

pequenos elementos que fazem grandes coisas (v3-5):

a. Com o freio que faz o cabalo obedecer (v3)

b. Com o leme que dirige o navio (v4)

c. Com a fagulha que incendeia o bosque (v5)

3. Tiago compara a língua com coisas depreciativas (v6a):

a. É um fogo (v6a)

b. É um mundo de iniqüidade (v6a)

4. Tiago alerta sobre os perigos da língua, que é colocada entre os membros do corpo (v6b):

a. Contamina a pessoa por inteiro fi/6b)

b. Incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno(v6b)

5. Tiago contrasta as coisas domadas com a língua indomada (v7-8):

a. O homem domina toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar (v7).

b. O homem não domina a língua, que é um mal incontrolável, cheio de veneno mortal

(v8).

6. Tiago fala sobre as contradições da língua (v9-10):

a. Com a língua bendizemos o Senhor (v9a)

b. Com a língua amaldiçoamos os homens, que são feitos à semelhança de Deus (v9b).

c. Da mesma boca procede bênção e maldição (v10)

7. Tiago expõe os motivos para a coerência no uso da língua (v11-12):

a. Podem sair água amarga e doce da mesma fonte?(v11)

b. Pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira figos?(v12a)

c. Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce (v12b).

Page 28: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Como podemos ver, este tipo de esboço analítico "desseca" a passagem,

procurando encontrar uma estrutura coerente no fluxo de suas idéias. É como fazer o "mapa"

do texto, a fim de não se perder ou se desviar do caminho traçado pelo autor.

É uma análise não de acordo com a estrutura literária do texto, como no exemplo

anterior, mas, de acordo com o tema geral da passagem. Para entendermos como se faz um

esboço analítico de acordo com o tema geral da passagem, vamos usar a analogia da

Dispensa e os alimentos.

a. A Dispensa e os Alimentos

Imagine que você vá ao supermercado e compre: Laranja, Frango, Bombons, Morango,

Peixe, Balas, Pirulitos e Maçã. Quando chegar em casa, provavelmente, não guardará estes

alimentos numa mesma prateleira, mas guardará cada um de acordo com sua natureza. Para tanto,

será necessário definir a natureza de cada um:

Laranja (fruta)

Frango (carne)

Bombons (doce)

Morango (fruta)

Peixe (carne)

Balas (doce)

Pirulitos (doce)

Maçã (fruta)

Definida a natureza de cada alimento, será conveniente agrupá-los e guardá-los nas

prateleiras de uma "dispensa".

Page 29: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Frango

Peixe

Laranja

Morango

Maçã

Bombons

Balas

Pirulitos

Você também poderá nomear cada prateleira de acordo com o tipo de alimentos que ela guarda.

C A R N E S

Frango

Peixe

F R U T A S

Laranja

Morango

Maçã

D O C E S

Bombons

Balas

Pirulitos

Muito bem, você guardou seus alimentos de forma lógica e organizada, o que facilitará

visualização e o uso dos mesmos. Mas, o que tudo isto tem a ver com o sermão?

Page 30: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

j U

b. O Texto, o Tema e as Lições

Um texto da Bíblia, de certa forma, é como um supermercado. Nele nós encontramos

alimentos de diversos tipos que, na verdade, são os ensinos que o mesmo possuí.

Assim como é necessário organizar os alimentos do supermercado numa dispensa, de

acordo com a natureza de cada um, também será necessário organizar os diversos ensinos de um

texto num esboço analítico de acordo com a natureza de cada um.

Assim, o "Esboço Analítico Temático" é a "dispensa" que organiza os ensinos de um texto de

acordo com o seu tema principal, ou, se você preferir, que organiza as idéias de um parágrafo

predicável28 Vejamos, então, um exemplo de Esboço Analítico Temático.

c. "Esboço Analítico Temático" de Tiago 3.1-12.

Para se fazer o "Esboço Analítico" de um texto, de acordo com seu tema geral, é necessário,

em primeiro lugar, definir qual é o Tema Geral do texto em questão. No caso de Tiago 3.1-9, é

evidente que "língua" é o Tema Geral do texto. Uma vez definido o Tema Geral do texto, vamos

extrair os ensinos que ele trás sobre a "língua", pois, "assim com retiramos alimentos do

supermercado, também retiramos ensinos do texto bíblico".

Ensinos sobre a língua:

• É um pequeno órgão do corpo (v5a).

» Se vangloria de grandes coisas (v5b).

• É um fogo (v6a).

• É mundo de iniqüidade (v6b).

Contamina a pessoa por inteiro (v6c).

• Incendeia todo curso da vida (v6d).

• É incendiada pelo Inferno (v6e).

• Ninguém consegue domar (v8a).

• É um mal incontrolável (v8b).

• É veneno mortal (v8c).

• Com ela bendizemos ao Senhor (v9a).

• Com ela amaldiçoamos os homens (v9b).

2 8 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p. 11

Page 31: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

31

Da mesma maneira como definimos a natureza de cada alimento, devemos definir também a

natureza de cada ensino:

• É um pequeno órgão do corpo (v5a) - característica

• Se vangloria de grandes coisas (v5b) - ação

• É como um fogo (v6a) - comparação

• É como mundo de iniqüidade (v6b). - comparação

Contamina a pessoa por inteiro (v6c) - ação

• Incendeia todo curso da vida (v6d) - ação

• É incendiada pelo Inferno (v6e) - característica

• Ninguém consegue do mar (v8a) - característica

• É um mal incontrolável (v8b) - característica

• É como um veneno mortal (v8c) - comparação

• Com ela bendizemos ao Senhor (v9a) - uso

• Com ela amaldiçoamos os homens (v9b) - uso

Após definir a natureza de cada ensino que o texto apresenta sobre a "língua", podemos

agrupar os "ensinos" de mesma natureza colocando-os também na "dispensa", nomeando cada

"prateleira" de acordo com a natureza dos ensinos que ela contém.

CARACTERÍSTICAS

É um pequeno órgão do corpo (v5a) É incendiada pelo Inferno (v6e) Ninguém consegue domar (v8a) É mal incontrolável (v8b)

COMPARAÇÕES

É como um fogo (v6a) É como um mundo de iniqüidade (v6b) É como um veneno mortal (v8c)

AÇÕES

Se vangloria de grandes coisas (v5b) Contamina a pessoa por inteiro (v6c) Incendeia todo curso da vida (v6d)

USOS

Com ela bendizemos ao Senhor (v9a) Com ela amaldiçoamos os homens (v9b)

Page 32: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Perceba que cada "prateleira" contém "ensinos específicos" (características,

comparações, ações, usos) sobre o tema geral (língua). Embora seja possível, em um

único sermão, pregar tudo o que a dispensa ensina sobre a língua, melhor será considerar

cada prateleira da dispensa como uma possibilidade diferente de sermão.

Considerando cada "prateleira" como uma possibilidade de sermão, o pregador

poderá pregar quatro sermões sobre a língua:

1o Sermão: As Características da Língua:

1. É um pequeno órgão do corpo (v5). 2. É incendiada pelo Inferno (v6). 3. Ninguém consegue domar (v8a). 4. É mal incontrolável (v8b).

2° Sermão: As Comparações da Língua:

1. É como um fogo (v6a). 2. É como um mundo de iniqüidade (v6b). 3. É como um veneno mortal (v8).

3o Sermão: As Ações da Língua:

1. Se vangloria de grandes coisas (v5). 2. Contamina a pessoa por inteiro (v6a). 3. Incendeia todo curso da vida (v6b).

4o Sermão: Os Usos da Língua:

1. Com ela bendizemos a Deus (v9a). 2. Com ela amaldiçoamos os homens (v9b).

Aqui, se torna necessário algumas observações.

Primeiro, os ensinos de cada sermão, organizados pelo esboço analítico temático,

provavelmente, serão as divisões do mesmo. Por exemplo, no sermão 2 (As Comparações da

Língua), cada "comparação" (é como um fogo, é como um mundo de iniqüidade, é como um veneno

mortal) será uma divisão do sermão, caso a exegese do texto, o que veremos a frente, confirme cada

"comparação".

Segundo, como já dito, é possível considerar a estrutura apresentada acima como um único

sermão de "quatro divisões", onde as divisões seriam: "as características da língua", "as comparações

da língua", "as ações da língua", "os usos da língua". Aliás, seria isto o que alguns considerariam

como "sermão expositivo". Porém, precisamos lembrar que pregar expositivamente não significa falar

tudo o que um texto ensina num só dia. E como o pastor Ed René Kivitz sugere: "em vez de prega um

sermão com cinco divisões e algumas subdivisões, os pregadores deveriam ensinar apenas uma

coisa de cada vez" 29.

2 9 Ed René Kivitz em entrevista ao Jornal Expressão - Vida Nova para a Teologia Brasileira. São Paulo, Outubro de 2000 - ano4, p. 3

Page 33: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

d. A Definição dos Termos <

Agora que aprendemos a separar, organizar e agrupar os ensinos de mesma natureza que o

texto apresenta, precisamos definir os termos como a homiiética sugere.

• Tema Geral é o assunto principal do texto. No caso do exemplo acima, o Tema Geral

é "língua".

Temas Específicos são os "subtemas" que derivam do tema geral, no caso:

"Características da Língua", "Comparações da Língua", "Ações da Língua" e "Usos da

Lingua".

• Palavra Chave é o substantivo plural que define os ensinos de mesma natureza:

"características", "comparações", "Ações", "Usos". Em outros casos, poderão ser

usados muitos outros substantivos plurais como:

Aflições Hostilidades Quesitos

Alternativas Idéias Questões

Atitudes Indícios Razões

Bases Intenções Remédios

Benefícios Jactâncias Resultados

Buscas Jeitos Setas

Casos Justificativas Sinais

Causas Lembranças Situações

Conseqüências Lições Tarefas

Desejos Lutas Tentações

Dicas Maneiras Tipos

Dores Marcas Urgências

Elogios Mentiras Utilidades

Elos Naturezas Unidades

Estados Nomes Valores

Falácias Nuanças Venenos

Fatos Operações Vícios

Fraquezas Oportunidades Xenofilias

Garantias Ordens Xenofobias

Gestos Penitências Xeques

Graças Poderes Zelos

Habilidades Provas Zombarias

Heranças Qualidades Zunidos

Repare que a palavra chave é sempre um "substantivo no plural", devido ao fato de

que ela se relaciona às divisões do sermão, que, geralmente, possui mais de uma divisão.

Como se pode ver, existe quase uma infinidade de substantivos plurais que podem ser usados

Page 34: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

,34

como "palavras chaves" na estruturação dos sermões. Cabe ao pregador escolher aquela

palavra que melhor representará os ensinos do texto.

Ao retirar do texto seus ensinos de mesma natureza e organizá-los na "Dispensa", você se

utilizou da técnica do "Esboço Analítico" para organizar os ensinos do seu sermão e garantiu uma

qualidade imprescindível a um sermão que as pessoas ouvem: estrutura lógica. Pois:

"A boa estrutura pode fazer a diferença entre a futilidade e a eficiência de um sermão e, com os anos, pode levar

um pregador da mediocridade para a excelência"30-,

1. Faça o Esboço Analítico de acordo com a Estrutura Literária da passagem.

2. Faça o esboço Analítico de acordo com o Tema Geral da passagem. Siga os seguintes passos:

a. Defina o "Tema Geral". b. Escreva os ensinos que o texto apresenta sobre o Tema Geral. c. Classifique cada ensino de acordo com sua natureza. Ex.: Características,

atitudes, definições... d. Coloque os ensinos de mesma natureza nas "prateleiras" da "dispensa". e. Nomeie cada prateleira com a "palavra chave" (substantivo plural) que

representa seu conteúdo. f. Escolha a "prateleira" que será a estrutura do corpo de seu sermão.

3 0 Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p. 38

Page 35: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Como colocar carne no sermão?

Esta foi a pergunta que um aluno de homilética fez após aprender a fazer o "Esboço Analítico"

do texto. Com o Esboço Analítico foi possível estruturar as partes maiores do sermão, que poderão

vir a ser as divisões principais do mesmo. Por exemplo:

Atitudes em meio à adversidade (2°Re 4.1-7):

1. Buscara Deus

2. Crerem Deus

3. Obedecer a Deus

4. Depender de Deus

Já temos o esqueleto do sermão. Porém, como alguém afirmou: "ninguém se alimenta de

ossos". É hora de colocar "carne". Uma vez que o propósito é fazer um sermão bíblico, a carne do

sermão só poderá vir de uma fonte: a Bíblia.

A Pesquisa Bíblica é o ato de levantar informações sobre o texto e o seu contexto. Em outras

palavras, é o ato de "garimpar" o texto com o fim de extrair as verdades preciosas e eternas que nele

se encontram, como fazia Martinho Lutero:

"Martinho Lutero testificou que seu estudo da Palavra era semelhante ao ato de colher maçãs. Ele chacoalhava a árvore toda, de modo que as frutas mais maduras pudessem cair. Em seguida, subia na árvore e chacoalhava cada ramo, cada galho e cada broto. Depois, procurava debaixo de cada folha"31.

A Pesquisa Bíblica pode ser dividida em duas partes: a Pesquisa do Livro e a Pesquisa do

Texto.

3 1 David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2005, p.50

Page 36: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

36

~ " " V. • . V" • - . X ,

Na Pesquisa do Livro fazemos o levantamento das informações macro do texto, ou seja,

as informações sobre o texto que não estão no texto. Para se fazer a Pesquisa do Livro, é

necessário fazer o levantamento das seguintes informações:

a. Autor do texto: saber quem escreveu o texto em questão, sua teologia e seu momento histórico,

será útil na interpretação correta do mesmo. Por exemplo, saber que Lucas é o autor do Livro de Atos

já dá um bom argumento para o pregador estimular sua congregação a cumprir o chamado de serem

testemunhas de Jesus (At 1.8), usando os dons e talentos de cada um. Lucas, no caso, não era

apóstolo, nem mesmo pregador. Mas como escritor, cumpriu e ainda cumpre seu chamado como

testemunha pelo Evangelho que escreveu.

b. Destinatários: São os leitores originais, as pessoas às quais o autor bíblico dirigiu o seu escrito.

Saber que os destinatários de Mateus eram judeus explica porque o autor, em Seu Evangelho, faz

tantas referências às profecias do Antigo Testamento sobre o Messias. Seu propósito é convencer os

judeus que Jesus é o Cristo.

c. Propósito: entender o motivo pelo qual o autor bíblico escreveu o que escreveu, será útil para o

entendimento das nuanças e das emoções intrínsecas em suas palavras. Em Gálatas, Paulo escreve

que a Lei serviu de "aio" até Cristo. Aio era o instrutor de crianças responsável pelo encaminhamento

das mesmas32. Para Paulo o objetivo da Lei era levar o pecador a reconhecer a necessidade de se

ter Cristo como Seu Salvador, doutrina importante para uma Igreja assediada a ter a Lei como meio

de salvação.

d. Língua: Não é necessário argumentar sobre a importância do conhecimento da língua em que,

originalmente, foi escrito o texto bíblico. Por exemplo, um erro comum é usar o a palavra grega

"ekklesia" (chamados para fora)33, para defender a idéia de que a Igreja deve sair das "quatro

paredes" e ir ao mundo, afinal o vocábulo que deu origem à palavra Igreja significa "chamados para

fora". Porém, um estudo mais acurado do uso da palavra "ekklesia" para a Igreja, nos tempos

bíblicos, mostrará que o sentido não é de chamados para "fora das quatro paredes do templo", mas

tem o significado de "um grupo de pessoas que foram conclamadas para fora de seus lares a fim de

virem se encontrar-se com Deus"34.

3 2 J.D.Douglas (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p.46 3 3 W. E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p. 419 3 4 William Barclay. Palavras Chaves do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, p.46

Page 37: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

37

e. Data: dependendo da época em que uma palavra foi escrita, ela poderá adquirir significado

diferente. Por exemplo, a palavra cruz vem do grego stauros que, literalmente, significa "madeiro". De

fato, o madeiro, em sua origem era uma "estaca" em que os condenados eram executados. Porém,

na época de Jesus, tempo do império Romano, o stauros, isto é, o madeiro já havia adquirido a forma

de "cruz"35. Sem o conhecimento da data em que o testemunho da crucificação foi escrito, e, tendo

como base apenas o significado original da palavra stauros, poderíamos ser levados à interpretação

incorreta de que Cristo teria sido colocado numa "estaca" e não numa "cruz".

f. Lugar: Quando o apóstolo Paulo escreveu 2a Timóteo, ele se encontrava, não mais numa prisão

domiciliar, mas numa masmorra escura, fria e úmida. Isto explica o pedido de sua capa (2a Tm 4.13) e

o tom melancólico presente em algumas linhas da carta (2a Tm 4.16). O conhecimento do contexto

geográfico, em alguns casos, é essencial para entender o "colorido" ou, os "tons sombrios" do texto.

g. Cultura: Na época dos apóstolos, a cabeça rapada da mulher significava que ela havia sido

submetida à humilhação pública devido à algum ato vergonhoso, como o adultério; ou que queria

demonstrar emancipação e insubmissão a seu marido36. Parece que as prostitutas também tinham o

costume de usarem cabelos curtos37. Assim, quando Paulo exorta as mulheres de Corinto a usarem o

véu, preocupava-se com o testemunho público das mesmas. O princípio do texto é que a aparência

das mulheres cristãs deve refletir dignidade e respeito para com Deus e seus maridos.

•i-ijt^-

Na Pesquisa do Texto fazemos o levantamento das informações micro do texto, ou seja,

as informações sobre o texto que estão no texto. Para se fazer a Pesquisa do Texto, são

necessários os seguintes passos:

a. Pesquisar o significado exegético das palavras nucleares do texto: O significado exegético de

uma palavra é o seu significado original quando foi escrita pelo autor bíblico. O pregador sério se

preocupará em pesquisar as palavras nucleares de seu texto em busca de seu significado verdadeiro.

Para tanto, é necessário fazer a pesquisa exegética dos:

• Substantivos: A palavra "mundo", por exemplo, no grego, pode ter pelo menos 4

significados diferentes: universo, planeta terra, sistema que faz oposição a Deus e

3 5 J.D.Douglas (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo, Vida Nova, 1995, p.378-381 3 6 Kenneth Barker (Organizador Geral). Bíblia de Estudo NVI. São Paulo,Editora Vida,2003, p. 1969 3 7 Russel Norman Champlim. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo -v.4 .São Paulo: Editora Milenium,1987, p. 170,171

Page 38: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

38 pessoas . Em João 3.16: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu único

Filho, para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna". Qual o

significado que João tinha em mente quando escreveu a palavra "mundo"?

• Verbos: Em Colossences 2.14, Paulo escreve que Cristo cancelou o escrito da dívida

que era contra nós. Neste contexto, o verbo "cancelou" pode ser a tradução de duas

palavras gregas, "chiazein" que significa "riscou", ou "exaleiphein" que significa "apagou".

Os escritos de divida podiam ser cancelados fazendo um "xis" sobre a nota promissória

(chiazein), ou apagando a escrita com uma bucha umedecida, uma vez que os

pergaminhos eram feitos de peles de animais e a tinta era à base de água39. Caso o

apóstolo tivesse usado "chiazein" para "cancelou" poderíamos ter a idéia de que Deus

cancelou nossas dívidas, porém, as continua vendo, uma vez que um "xis" deixa ainda à

mostra o escrito no papel. Porém, ao usar "exailephein", o apóstolo inspirado por Deus

nos dá a garantia que Jesus não apenas pagou, mas apagou os nossos pecados da vista

de Deus.

b. Consultar comentários Bíblicos: Nos comentários bíblicos encontramos informações preciosas

sobre o texto e seu contexto que enriquecerão a exposição bíblica. A consulta de, pelo menos, três

comentários bíblicos, a seleção de informações, e o agrupamento dessas informações abaixo de

cada tópico do sermão servirá de "matéria prima" para o desenvolvimento da argumentação do

tópico. Como alguém já disse: "...é bom saber o que Deus falou a Calvino, a Lutero e a outros sobre o

texto que estamos estudando".

c. Redefinir o Esboço Analítico: Após a Pesquisa Bíblica será necessário checar se o Esboço

Analítico que foi feito no exercício anterior corresponde, de fato, às verdades do texto. Haverá

ocasiões em que o esboço analítico deverá ser modificado, a fim de fazer justiça à mensagem real do

texto. Por exemplo, alguém poderia fazer o seguinte Esboço analítico de Apocalipse, capítulo 3.14-

22:

Ações de Jesus:

1. Disciplina quem ama (v19)

2. Bate à porta do coração do ímpio (v20)

3. Honra quem vence (v21)

Porém, após a Pesquisa Bíblica, entenderá que, de acordo com o contexto imediato, Jesus

não está batendo nas portas do coração do ímpio, mas, na verdade, está batendo nas portas do

3 8 W. E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p.809 3 9 William Barclay. Palavras Chaves do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, p.46

Page 39: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

coração da Igreja, uma vez que o destinatário daquela carta é a Igreja de Laodicéia. Tal informação

força a mudança do Esboço Analítico:

Ações de Jesus:

1. Disciplina quem ama (v19)

2. Bate à porta do coração da Igreja (v20)

3. Honra quem vence (v21)

• • • , . .

Uma boa biblioteca não é feita de um dia para o outro. Porém, com um pouco de esforço e

investimento, podemos, aos poucos, montarmos nossa biblioteca particular, com o mínimo necessário

de obras que muito nos ajudarão no trabalho com os textos bíblicos. A seguir, uma sugestão de

material básico para o trabalho da Pesquisa Bíblica:

a. Bíblias nas línguas originais: embora não seja imprescindível que o pregador seja um

mestre em grego e hebraico, é necessário que, pelo menos seja capaz de manusear um texto nas

línguas bíblicas, a fim de aumentar as possibilidades de encontrar "pepitas de ouro" em "terra

virgem". Por melhor que seja a "água de copinho", nunca superará a sensação de beber a água direto

da fonte.

b. Chave Lingüística, léxicos, gramáticas, dicionários lingüísticos e exegéticos: são

ferramentas valiosas que nos abrem as portas do entendimento de um texto em hebraico ou grego.

Com um pouco de disposição e prática, o pregador, com estas ferramentas, poderá fazer descobertas

que lhe trarão uma nova compreensão dos textos, proporcionará rico conteúdo ao sermão, dará à

pregação um sabor de originalidade e edificará tanto ao pregador quanto àqueles que semanalmente

o ouvem.

c. Dicionários ou Manuais Bíblicos: trazem artigos sobre palavras, objetos, nomes,

profissões, costumes, que faziam parte do mundo bíblico, proporcionando ao estudante uma visão

mais ampla do ambiente histórico e cultural em que os textos foram escritos.

d. Atlas Bíblico: trás mapas que ajudam a localizar os principais lugares, onde ocorreram os

principais acontecimentos da história de Israel e da Igreja Primitiva.

e. Bíblias de Estudo e Comentários Bíblicos: trazem informações valiosas, desde

especulações sobre lugar, data, autor e destinatários, até o sentido exegético de palavras do texto

comentado.

Assim como o marceneiro, o mecânico, o pintor, precisam de oficinas com ferramentas

suficientes e adequadas para realizarem seus respectivos trabalhos, o pregador precisa de uma

Page 40: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

4<J

biblioteca que contenha o mínimo necessário de livros que o ajudarão a fazer uma boa pesquisa

sobre o texto que pretende pregar. Como sugere Lester Harnish, "o ministro deveria possuir uma

biblioteca que lhe custe pelo menos o que custa o carro que ele dirige, e passe quatro horas por dia,

cinco dias por semana, em concentrada leitura e estudo"40.

Ao terminar a Pesquisa Bíblica, o pregador estará mais convicto da mensagem a ser

pregada, o que lhe conferirá propriedade e autoridade na pregação. Pois ele falará não sobre "o que

pensa do texto", mas sobre "o que O Espírito Santo revelou por meio do texto".

Faça uma boa Pesquisa Bíblica do texto que deseja pregar, descubra o ouro das Escrituras,

coloque carne em seu sermão. Pois como o apóstolo Paulo escreveu: "..que os homens nos

considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus" ( 1aCo 4.1).

1. Faça a Pesquisa do Livro: Pesquise as seguintes "informações" a respeito do livro

bíblico em que se encontra seu texto:

a. Características do Autor

b. Situação dos Destinatários

c. Propósito da Escrita

d.Data e Momento Histórico

e.Língua

f. Cultura da Época

g. Local da Escrita

2. Faça a Pesquisa do Texto: Pesquise as seguintes "informações" a respeito do texto:

a.Selecione as palavras mais relevantes para pesquisa (substantivos, verbos, adjetivos)

b.Dê o significado exegético das palavras selecionadas.

c. Faça um levantamento de informações importantes do texto, consultando, pelo menos, três

"comentários bíblicos".

d. Reveja e finalize seu "esboço analítico".

4 0 Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p. 40

Page 41: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

41

10

J 1—? y-t. 1 « ,-"v, i u w i d í s o a u s— w c j 1 1 ,

Já aprendemos que um dos segredos do "falar bem" é a estrutura do discurso: "para que a

comunicação oral seja eficiente precisa estar fundamentada numa estrutura intelectual. Não basta

ficar de pé e falar. É necessário ter em mente, organizadamente, o que falar"41.

Por esta razão, todo bom discurso precisa ter "começo, meio e fim", o que, na Homilética,

chamamos de: "introdução", "corpo" (ou desenvolvimento) e "conclusão".

Sabemos também que, para facilitar ainda mais o entendimento dos ouvintes, os pregadores

costumam estruturar o "corpo" do sermão em divisões, isto é, em tópicos. Por exemplo:

Atitudes em meio à adversidade (2°Re 4.1-7):

1. Buscar a Deus

2. Crerem Deus

3. Obedecer a Deus

4. Depender de Deus

Neste ponto do estudo, uma pergunta é importante: quais são os elementos que compõem o

tópico? Para responder a esta pergunta, observe o tópico de sermão redigido abaixo:

1. O dinheiro não compra a sobrevivência

Abertura: Quem não se lembra da onda chamada Tsunami que destruiu centenas de casas e pessoas no começo

do ano na Ásia em um de seus lugares mais ricos. No momento da tragédia, pergunto, o que o dinheiro pôde fazer

por aquelas pessoas? Nada. E porque? Porque o dinheiro não garante a vida de ninguém.

Exposição Bíblica: Por isso que Jesus contou a parábola do rico insensato. Conta-se que a fazenda de um homem

produziu tanto que não cabia em seus celeiros. Então ele disse: Já sei o que vou fazer. Vou derrubar estes celeiros e

construir outros maiores. Então direi a minha alma: agora descansa e folga, você tem sustento para muitos dias.

Deus, porém, disse a Ele: "Louco, hoje mesmo pedirei a sua alma, e todas estas riquezas de que ihe servirá"?

Significado: O dinheiro ajuda a vida, mas não é a vida.

Relação: O dinheiro pode comprar remédios, mas não pode comprar cura ( tem gente morrendo de AIDS todo dia,

tanto pobres quanto ricos).

O dinheiro pode comprar uma boa festa de casamento, mas não pode comprar um bom casamento

( lembra o do Ronaldo Fenômeno?).

O dinheiro pode comprar alimento, mas não é comida.

Ilustração: Lembro de ter assistido a um filme baseado numa história real, de um avião que caiu em meio a um lugar

gelado e deserto. As pessoas não tiveram outra alternativa do que comer a carne dos mortos no desastre, e queimar

dinheiro para derreter o gelo e poderem beber água. Que lição de vida aquelas pessoas tiveram.

Exortação: Se você puder:

• Faça um seguro de vida.

• Tenha um plano de saúde.

• Coloque cerca elétrica em sua casa.

Mas nunca se esqueça:

Fechamento: "Se o Senhor não guardar a casa, em vão vigia o sentinela".

Page 42: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

fechamento. Estes elementos não estão colocados nesta ordem por acaso, mas tal ordem

proporciona ao fluxo das idéias o que chamamos de "progressão lógica". A "progressão lógica" pode

ser percebida em vários discursos, inclusive em anúncios de propagandas. Veja o exemplo:

Abertura: Você precisa emagrecer? Chegou o que você precisa.

Exposição: Novo Diet Life, um composto alimentar a base de proteínas e ervas, que alimentam e diminui o apetite

naturalmente.

Significado: Com Diet Life você se alimenta e emagrece com saúde,

j Relação: Chega de:

=> Brigar com a balança.

=> Perder as roupas que mais gosta.

=> Sofrer diante do espelho.

"Afinal, você também merece ser feliz".

Ilustração: Veja como Diet Life mudou a vida de muita gente: "Eu vivia dentro de casa e gastava meu dinheiro com dietas

que não funcionavam. Agora, com Diet Life, eu gasto menos e vivo mais".

Exortação:

=> Não perca tempo.

=> Faça seu pedido.

=> Viva mais feliz.

Fechamento: Com Diet Life uma nova vida espera por você!

Aqui, alguns estudantes piedosos poderiam perguntar: será correto usar uma técnica secular

de comunicação e persuasão para comunicar a Palavra de Deus? Isto não seria "secularizar" a

comunicação sacra, ou depender mais da técnica do que da ação do Espírito na pregação?

i ,'W| i I l i m i l PI M'l il ' I iiMi ' I I i ii l i . Hl- "<; ™ «hi?- .--..-; *- i * < » < • - . « » I! ny

Boas perguntas, merecem boas respostas. Vejamos algumas razões para uso da técnica da

Progressão Lógica na estruturação dos tópicos dos sermões:

a. A técnica não exclui a dependência do Espírito Santo: o pregador depende da ação do Espírito

de Deus tanto na elaboração, quanto na comunicação do sermão. Em nenhum momento, a técnica

conseguirá substituir o poder de Deus. Assim como um corpo sem espírito, é um sermão sem a

bênção de Deus, embora belo e bem estruturado não produz nada. Como Koiler afirma: "a excelência

da estrutura não pode compensar a ausência do Espírito Santo. Sem a direção e a capacitação do

4 1 Noélio Duarte. VocêpodeF'falar Melho. (São Paulo: Hagnos,2001), pg 68.

Page 43: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

43

Espírito Santo, por mais habilidoso que seja nas técnicas homiléticas, seria tão somente um

"carpinteiro homilético", produzindo e pregando sermões "de pau"42.

b. A ação do Espírito não exclui o esforço humano em se persuadir ao Evangelho: o próprio

apóstolo Paulo se esforçou ao máximo, usando todos os recursos que possuía para persuadir os que

o ouviam a se voltarem para a verdade do Evangelho: "Uma vez que conhecemos o temor do Senhor,

procuramos persuadir os homens" (2aCo 5.11a)\ e: "tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar

os judeus (...) Para os que estão sem Lei, tornei-me como sem Lei, embora não esteja livre da Lei de

Deus, e sim sob a Lei de Cristo, a fim de ganhar os que não têm a Lei. Para com os fracos tornei-me

fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns.

Faço tudo isso por causa do Evangelho, para ser co-participante dele" (1a Co 20-23).

O conteúdo do Evangelho é inegociável, não muda, nem se adapta, é eterno e imutável.

Porém, a forma de se apresentá-lo, esta sim, pode e deve variar de acordo com a época, a ocasião e

o público alvo. É nesse momento que entra a ação do homem, que, debaixo da orientação do

Espírito, se esforçará em organizar e estruturar a mensagem, a fim de que requeira dos seus ouvinte

o mínimo esforço para entendê-la .

Lembremos que, antes de Deus dar vida aos "ossos secos", primeiro os colocou, de novo, em

ordem (Ez 37.7,10). D.Martin Lloyd Jones ilustra muito bem a relação que deve haver entre o agir do

homem e o de Deus, para o sucesso da pregação:

Já tive a oportunidade de frisar que alguns homens caem no erro de depender

exclusivamente da unção do Espírito, negligenciando tudo quanto se refere à preparação. A

maneira correta de encarar a unção do Espírito é pensar nela como aquilo que se derrama

sobre a preparação. Existe um incidente no Antigo Testamento que provê ótima ilustração

acerca desse relacionamento. Trata-se do episódio de Elias ao enfrentar os falsos profetas

de Israel, no Monte Carmelo. Somos ali informados que Elias erigiu um altar, em seguida

cortou lenha e a arrumou sobre o altar. Então, matou o novilho, corto-o em pedaços e os

colocou sobre a lenha. Tendo feito tudo isso, orou para que descesse o fogo; e o fogo

desceu. Essa é a ordem das coisas43.

c. A progressão lógica é uma ferramenta de comunicação: Não é que os homens criaram uma

técnica para falar bem e os pregadores hão de se adaptar à técnica. Antes, a progressão lógica é fruto da

observação de discursos eficazes, percebida por mestres ao longo da história, como David G. Buttrick,

que observa que "todo falar implica uma seqüência". Não é produto de "laboratório", antes é criação

Daquele que colocou ordem em tudo, até no discurso, Deus: "Pois Deus não é Deus de desordem, mas

de paz" (1a Co 14.33). O Deus que zela pela ordem no culto, não desejaria ordem no sermão?

Da mesma forma como um pregador pode optar por usar ou não um microfone para pregar, assim

também a progressão lógica é uma ferramenta que o pregador pode optar por usar ou não na elaboração

de seus sermões, especialmente, de seus tópicos. Porém, assim como em muitas ocasiões o uso do

4 2 Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações -Cristão, 1999, p. 39

Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo

Page 44: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

4 4

microfone se torna imprescindível, trazendo diversos benefícios a quem dele se utiliza, o uso da

progressão lógica também trará muitos benefícios a quem se utilizar desta ferramenta.

A progressão lógica é uma técnica de comunicação que, uma vez usada para a organização

dos elementos do tópico, proporcionará os seguintes "benefícios":

a. Objetividade: há sermões e tópicos que são como o vento, "não se sabe de onde vêm e nem

para onde vai". É cheio de rodeios. As idéias são colocadas sem ordem e sem direção, causando

nada, a não ser confusão na mente dos ouvintes. A progressão lógica, além de ordem, dará

direção à fala do tópico, pois confere ao orador o "ponto de partida" e o "ponto de chegada".

b. Liberdade: Charles Spurgeon declarou, e com razão, que há pregador que é como um

"passarinho comendo alpiste", pois, enquanto prega, passa a maior parte do tempo levantado e

abaixando a cabeça, alternando o olhar entre o público "a que se dirige" e o "esboço que o dirige".

Pregar usando a progressão lógica não significa, necessariamente, pregar sem esboço, mas,

uma vez que se tem na mente a "seqüência" dos elementos do tópico, o pregador se sentirá mais

"livre" do papel. Alguém já disse que, ter na cabeça a seqüência do que se pretende comunicar é

como atravessar um rio pisando nas pedras em fileiras: "enquanto um pé pisa numa pedra, o

outro pé já está indo na direção da outra".

c. Qualidade: Assim como uma "receita" possui ingredientes que não podem faltar, pois são eles

que garantem o sabor de um prato, o tópico também possui elementos que não podem faltar a

fim de se garantir a qualidade da comunicação. Uma vez que se conhece os elementos do

tópico, o pregador, além de ter nestes elementos um mapa de trabalho ( pois se esforçará para

colocar em seu tópico, cada um deles ) terá também, em tais elementos, os seus indicadores de

qualidade do tópico do sermão. Assim, quando o pregador acertar, saberá porque acertou.

d. Novidade: mentes são atraídas pela novidade e dispersas pela repetição. A progressão lógica

aplicada aos elementos do tópico evitará que o pregador faça rodeios, isto é, repita aquilo que já

falou uma vez e não necessita repetição. Pelo contrário, exigirá que sua fala caminhe em linha

reta, avançando para informações novas, o que, naturalmente, prenderá a atenção da platéia.

4 3 D.Martin Lloyd Jones. Pregação e Pregadores. Editora Fiel, 224

Page 45: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

45

Assim como as águas de um rio, as palavras do orador devem fluir sempre para frente e com

direção.

e. Simplicidade: tradicionalmente acostumou-se a estruturar o conteúdo das divisões dos

sermões em subdivisões. Veja um exemplo:

Tema Sermão: Opressão Espiritual

Palavra Chave: verdades sobre opressão espiritual

1. Opressão não é possessão:

/. O que é possessão

II. O que é opressão

2. O Salvo poderá ficar oprimido, não possuído:

I. Pois Jesus o protege

II. Pois Deus nele habita

3. É possível vencer a opressão:

I. Convertendo-se

II. Santificando-se

Embora tal estrutura seja bem inteligível, as divisões com subdivisões podem, em algum

momento, "truncar" a comunicação, a tornando enfadonha e impedindo sua espontaneidade

cativante. Até mesmo John A. Broadus, clássico homiléta, em seu livro "A Preparação e Entrega de

Sermões", publicado pela primeira vez em 1870, fala sobre o risco de se usar subdivisões:

Quando um assunto especial requerer explanação e argumentos, será melhor nos

atermos a divisões claramente marcadas e também freqüentemente a subdivisões; estas,

porém, não devem ser muitas, e nem enunciadas de modo a impedir que o discurso

prossiga como um todo vivo, nem interrompa seu movimento progressivo para o fim prático

em vista44.

Enquanto a técnica das subdivisões divide o conteúdo do tópico trazendo seus já

mencionados inconvenientes, a progressão lógica estrutura o tópico de forma mais simples,

proporcionando fluidez à comunicação. Ela ordena seus elementos (abertura, contexto,

significado, relação, ilustração, exortação e fechamento) de forma que não interrompem um ao

outro, mas se complementam, dando a impressão de um único movimento, o que facilita o

entendimento dos ouvintes e os cativa.

Entendida a questão, é hora de responder a pergunta: "como estruturar os tópicos do sermão

em progressão lógica"? Para tanto, faremos uso do Estudo Indutivo.

4 4 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.134

Page 46: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

46

•/<-»-•••• A • • Í; Í; j ' i, •

O Estudo Indutivo é uma técnica de estudo, de perguntas e respostas, que possui três fases:

Observação, Interpretação e Aplicação. As perguntas da fase de "Observação", "Interpretação" e

"Aplicação", nos ajudarão a desenvolver os elementos "Exposição Bíblica", "Significado" e "Relação"

do tópico, respectivamente.

Estudo indutivo Elementos do Tópico (Divisão)

Observação Exposição Bíblica

Interpretação ^ Significado

Aplicação Relação

Perceba que assim, a base estrutural de cada tópico do sermão se resumirá a expor uma

observação do texto, interpretar seu significado e relacionar o significado à vida por meio da

aplicação. Não é necessário comentar o vigor, a dinâmica e atração que a simplicidade desta

estrutura proporcionará a cada tópico, isto é, a cada divisão.

Para função de exemplo, vamos tomar novamente o texto de 2 Re 4.1-7, e aplicar as três

fases do Estudo Indutivo:

a. Observação: na fase de observação, não existe ainda a preocupação de se interpretar o

que o texto diz, mas de simplesmente atentar para o que ele diz. Por isto, se torna tão necessária a

Pesquisa Bíblica antes de chegar a esta fase do estudo, pois todas as perguntas de observação

serão feitas a partir das informações descobertas na exegese.

Para desenvolver a Exposição Bíblica do tópico é necessário fazer as seguintes perguntas de

Observação à Pesquisa Bíblica feita em relação ao texto que se deseja pregar:

• Quais são as informações da pesquisa, que se relacionam ao tópico em questão?

Page 47: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

47

1 .Buscar a Deus

Informações da Pesquisa Bíblica que se relacionam ao tópico "buscar a Deus":

• Os filhos eram considerados bênção de Deus. A mulher que os perdesse seria considerada amaldiçoada.

• Os milagres de Eliseu tinham o propósito de comprovarem seu ministério profético,semelhante ao de Elias.

• O sacerdote representava o povo diante de Deus e o profeta representava Deus diante do povo.

• A mulher, quando viúva, corria o risco de viver de prostituição caso não houvesse sustento familiar para ela, uma vez que não possuía trabalho nem renda.

Acima foram colocadas todas as informações da Pesquisa Bíblica que se relacionam

especificamente com o tópico acima: "Buscar a Deus".

A segunda pergunta a ser feita é:

• De todas estas informações, qual é a que mais comprova a verdade de que, nas

horas das provações, deve-se buscar a Deus a fim de receber Sua providência?

1 .Buscar a Deus

Informação da Pesquisa Bíblica que mais comprova o tópico "Buscar a Deus":

Os filhos eram considerados bênção de Deus. A mulher que os perdesse seria considerada amaldiçoada.

Os milagres de Eliseu tinham o propósito de comprovarem seu ministério profético,semelhante ao de Elias.

• O sacerdote representava o povo diante de Deus e o profeta representava Deus diante do povo.

• A mulher, quando viúva, corria o risco de viver de prostituição caso não houvesse sustento familiar para ela, uma vez que não possuía trabalho nem renda.

A informação sublinhada é a escolhida para comprovar o tópico cujo ensino é "Buscar

a Deus". A terceira pergunta, então, é:

Page 48: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

48

• Como explicar esta observação do texto de forma que as pessoas entendam?

1 .Buscar a Deus

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do

povo diante de Deus, o profeta era o representante do Senhor diante do povo.

Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava a ajuda de Deus.

Como vemos, as perguntas de Observação desenvolveram o elemento do tópico Exposição

Bíblica.

b. Interpretação: agora chegou a hora de encontrar o Significado da Exposição Bíblica,

pois, uma vez que se expôs uma observação do texto, será necessário explicar qual é o seu

significado, isto é, qual é o ensino. Para desenvolver o Significado do tópico é necessário fazer as

seguintes perguntas de Interpretação à Exposição Bíblica do tópico :

• Que verdade teológica ou ética esta informação ensina?

• Como resumir este ensino em uma única sentença?

j .Buscar a Deus

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo diante de

Deus, o profeta era o representante do Senhor diante do povo.

Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus.

Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus.

As perguntas de Interpretação ajudaram a encontrar o Significado do texto que está sendo exposto,

especificamente, neste tópico.

c. Aplicação: esta é talvez, uma das fases mais difíceis do estudo, pois é hora de relacionar o

ensino descoberto à vida prática das pessoas. Até então interrogávamos o texto e exigíamos

respostas dele, agora interrogamos a nós mesmos e exigimos respostas por meio de perguntas

difíceis do tipo: "Como posso viver esta verdade"? Porque as pessoas precisam saber desta

verdade? "O que esta verdade pode mudar na vida da Dona Maria, que sofre com o alcoolismo do

marido; do Antônio que foi despedido; do Rogério que não passou de novo no Vestibular"; da Rosa

que está grávida?

Tal exercício exige muita reflexão, meditação e oração. É o que Sócrates devidamente

chamou de "parto de idéias". Nosso consolo é que, uma hora, de tanto "esquentar a cabeça", o fogo

Page 49: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

4 9

do coração acende. É o que Arquimedes chamou de "eureka", o que muitos chamam de "lampejo", e

o que os mais sofisticados preferem chamar de "Insight" ("ver no interior", "compreensão")45.

É nessa hora do sermão que os ouvintes costumam dizer: "Deus está falando comigo". E, de

fato está, pois o pregador, neste exato momento está relacionando o que o texto bíblico do tópico

ensina com a vida prática das pessoas que formam a congregação, além de estar pregando com

autoridade e convicção, pois sabe que antes de Deus estar falando à congregação, Deus falou com

ele.

Para desenvolver a Relação do tópico é necessário fazer as seguintes perguntas de

Aplicação ao Significado do tópico:

Porque as pessoas precisam saber desta verdade?

• Quais áreas da vida esta verdade engloba?

• Como viver na prática esta verdade ?

» O que pode impedir que as pessoas vivam esta verdade ?

• Como resumir o melhor desta reflexão em um parágrafo?

Após aplicar estas questões ao Significado do tópico, o resultado é "pensamento" que faz

relação entre o significado e a vida prática dos ouvintes:

j .Buscar a Deus

Exposição Bíblica: Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus. Naquele

tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo diante de Deus, o profeta era

o representante de Deus diante do povo.

Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus.

Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda:

• Do banco, e é endividada. Da bebida, e é viciada.

• Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aqueia que busca ajuda de Deus é abençoada".

Às vezes a Relação vem naturalmente ao responder às perguntas de aplicação, às

vezes, quando ainda estamos na fase da Interpretação, e, em dias mais inspirados, quando ainda

estamos fazendo a Pesquisa Bíblica. Porém, há vezes em que terminamos todos os processos e

nosso coração continua como uma "laranja seca". Porém, não é hora de desespero, o trabalho não foi

4 5 John Parker & Mônica Stahel (tradutores). Pass Word. English Dictionary for Speakers ofPortuguese. São Paulo: Martins Fontes,2005, p.270,494

Page 50: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

50

desperdiçado, tudo o que foi estudado e meditado está plantado como sementes no inconsciente, e,

em breve, brotarão como pensamentos vigorosos, profundos e permeados de convicção. Por isto,

uma dica, traga sempre papel e caneta com você, para que na hora dos "insights", você os possa

imediatamente colher, anotando-os com alegria e coração grato. Pois aquilo que brotar em seu

coração, após o estudo sério da Palavra, certamente é o que Deus deseja que você comunique ao

povo sedento. Pois como diz Moisés:

"A palavra está bem próxima de vocês, está em sua boca e em seu coração"; por isso vocês

poderão obedecer-lhe" (Dt 30.14).

Ao aplicar a técnica do Estudo Indutivo, você:

1. Preencheu boa parte dos elementos que compõem o tópico em progressão lógica.

2. Estabeleceu uma doutrina proveniente da exposição bíblica e a aplicou, de forma prática,

na vida das pessoas.

3. Aqueceu teu coração com as verdades de Deus, o que se tranformará em convicção e

autoridade na hora da pregação:

"O meu coração dispara dentro de mim, não posso ficar calado. Ouvi o som da trobeta, ouvi o

grito de guerra" (Jeremias 4.19b).

Faça o Estudo Indutivo respondendo às perguntas, preenchendo assim, os seguintes

elementos dos tópicos:

1. Exposição Bíblica

a. Quais são as informações da Pesquisa Bíblica que se relacionam ao tópico?

b. Qual é a informação encontrada na Pesquisa Bíblica que mais prova,

Esclarece e sustenta o tópico?

c. Como explicar, na linguagem de hoje, esta informação?

2. Significado:

a. Qual é a verdade teológica, ética, ou moral que o "Contexto Bíblico" ensina?

b. Como sintetizar este ensino em uma única sentença?

3. Relação:

a. Porque as pessoas precisam saber disto?

b. Quais áreas da vida este ensino engloba e por quê?

c. Como é possível viver este ensino na prática?

d. O que pode impedir as pessoas de viverem este ensino?

e. Como resumir o melhor desta reflexão em um "pensamento"?

Observação: Este exercício deve ser feito para cada tópico de seu sermão.

Page 51: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

As Ilustrações

Alguém já disse que "um sermão sem ilustração é como um quarto escuro sem janela". A

ilustração, como o nome já diz, tem a função de "lançar luz" 46 sobre uma idéia, isto é, "esclarecer",

"elucidar", "exemplificar" um ensino do sermão. Além disso, as ilustrações concretizam o abstrato e

até fornecem "descanso" para a mente. Elas saciam a carência daqueles que, ao ouvirem um ensino,

naturalmente pedem: "Me dá um exemplo".

Quando um doutor da Lei perguntou a Jesus quem era seu "próximo" para que pudesse amá-

lo, Jesus não teorizou a respeito do tema, com pensamentos e idéias abstratas, mas contou-lhe uma

parábola, a do bom samaritano, estória esta que exemplificou de forma clara e vigorosa o ensino de

amar ao próximo (Lucas 10.25-37).

Nosso Mestre por excelência usou de forma criativa e competente o recurso das ilustrações

para tornar acessível e concreto os ensinos do Reino aos Seus ouvintes. Por isto, nós, Seus

discípulos comissionados a pregar, devemos nos esforçar para aprendermos também a dominar e

usar este poderoso recurso de comunicação.

Vejamos então, o "porque", o "onde" e o "como" das ilustrações.

B B S i W m M & â ^ 8 i l , 9

Jesus se utilizou de vários recursos ilustrativos como parábolas, exemplos da natureza, e

muitas comparações com o que era comum ao povo de seu tempo (grão de mostarda, fermento,

dracma) para tornar compreensível o ensino do Reino. O resultado de tanta excelência na

comunicação e no ensino é que "as pessoas O ouviam com prazer" (Marcos 12.37).

Além do exemplo de Jesus, existem ainda várias razões para o pregador se esmerar no uso

de ilustrações em seus sermões. As razões são:

a. Exemplificar: geralmente, as pessoas aprendem a partir daquilo que já conhecem. Isto é, o novo é

mais facilmente compreendido se comparado com algo já conhecido. Em outras palavras, as pessoas

aprendem por meio de comparações. Conta-se que um pregador, que preparava um sermão

doutrinário sobre a divindade de Cristo, lutava para tornar tal doutrina mais acessível à gente de sua

congregação. Até que teve uma idéia, ao subir ao púlpito, disse: "Hoje eu trouxe uma árvore comigo".

As pessoas olharam para todos os cantos e não encontraram a árvore. Até que o pregador,

4 6 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p. 213.

Page 52: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

mostrando uma semente de pinheiro que trazia consigo, afirmou: "Assim como há uma árvore dentro

desta semente, há um Deus em Jesus".

Até mesmo o abstrato pode ser entendido se comparado com aigo concreto.

b. Comprovar: Há pessoas que "precisam ver para crer". Assim como as propagandas de T V

mostram gente satisfeita pelo uso do produto anunciado, a fim de provar sua funcionalidade, também

nos sermões é necessário provar a veracidade do ensino antes de exigir uma atitude positiva das

pessoas. Foi assim que Moisés provou ao povo que havia sido enviado por Deus, mostrando a eles

sinais como a vara que se transformou em serpente e a mão que se tornou leprosa. Antes de vender

um produto é necessário provar sua utilidade, antes de vender uma idéia é necessário provar sua

veracidade.

c. Facilitar: de acordo com um estudo sobre a relação entre os sentidos e o aprendizado, as pessoas

aprendem 85% pela visão, 10% pela audição, 2% pelo tato, 1,5% pelo olfato e 1,5% pelo paladar47.

Johns A. Broadus já havia percebido esta tendência humana, quase dois séculos atrás:

A necessidade de iluminar o sermão de modo apropriado está na atitude mental do povo.

Quer gostemos ou não, a maior parte de nós tem que pregar à mentalidade cinematográfica.

A mente do povo está acostumada a imagens, quadros, cenas e se move em transições

rápidas, e certamente não está acostumada ao pensamento longo ou profundo e ao

argumento pesado48.

Numa sociedade tão acostumada a aprender por meio de informações visuais, as ilustrações

terão um papel essencial no aprendizado por terem o poder de criar imagens na mente, enquanto são

proferidas. Como diz um provérbio árabe: "o melhor orador é aquele que transforma ouvidos em

olhos"49.

d. Despertar: As ilustrações não servem apenas para manter a atenção do público, mas também

para despertar a atenção do público. Um grande pregador já afirmou que basta dizer a frase "vou

contar uma estória" e as pessoas levantam a cabeça e colocam os olhos em você. Afinal, quem é que

não gosta de ouvir uma boa estória? /}/> Á j

Desde crianças estamos acostumados a ouvi-las: contos de fada, fábulas, histórias

de aventuras e mistério, histórias de amor. Para ouvir e ver histórias, vamos ao

cinema, alugamos filmes. As histórias são didáticas, como as fábulas50.

4 7 Robsom Marinho. A Arte de Pregar-A Comunicação na Homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p.99,100. 4 8 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.213. 4 9 Robsom Marinho. A Arte de Pregar - A Comunicação na Homilética. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 99 5 0 Antônio Suárez Abreu. A Arte de Argumentar - Gerenciando razão e Emoção. Cotia: Ateliê Editorial,2005, p.69

Page 53: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

53

e. Emocionar: infelizmente, a maioria das pessoas não toma decisões movidas pela razão, mas pela

emoção. Enquanto os conceitos falam à mente das pessoas, a ilustração fala ao coração. Natã,

profeta de Deus, conseguiu quebrantar o coração de Davi e convencê-lo de seu pecado de adultério,

simplesmente lhe contando uma estória sobre o homem rico que roubou a única ovelha de um pobre

vizinho, para servir de jantar aos seus convidados. Ao ouvir o relato, Davi perguntou indignado e

enfurecido: "Quem é este perverso"? Bastou a Natã dizer: "És tu".

Muitos pregadores sentem dificuldades de encontrar boas ilustrações para seus sermões e

acabam optando por não usá-las, o que empobrece em muito sua comunicação. No entanto, há

quase uma infinidade de lugares e meios onde é possível encontrar boas ilustrações:

a. Bíblia: as Escrituras constituem uma grande fonte de histórias interessantes e cheias de lições

espirituais que podem ser usadas para ilustrar sermões. O problema é que, geralmente, o público da

Igreja já conhece a maioria dessas histórias, o que faz com que elas percam um pouco do impacto

ilustrativo. Porém, uma boa saída é contar a história bíblica de uma maneira nova, onde a mensagem

é mantida, mas sua forma é contextualizada. Por exemplo:

"Um empresário de negócios teve muito lucro com suas ações na bolsa. Para guardar tanto dinheiro,

ele abriu várias contas e disse consigo: "descansa alma, pois você tem dinheiro para muitos dias".

Porém, Deus lhe disse: "Louco, ainda hoje pedirei a tua alma". E todo este dinheiro, para que lhe

servirá"? ( baseado em Lc 12.13-21). Como aconselha Reinaldo Polito:

b. História: Sempre é possível aprender com a história de pessoas, de nações e de empresas. A

história humana é um arquivo vivo de lições para a vida. A história de Thomaz Edson, por exemplo,

possui uma grande lição de perseverança. Conta-se que antes de conseguir inventar a lâmpada, ele

falhou cerca de mil vezes.

c. Mídia: "histórias" e "estórias" que aparecem nos livros, jornais, revistas e filmes também podem

ser usados como ilustrações. Reinaldo Polito, conhecido orador brasileiro, fala de oradores que

usam notícias do jornal do dia para ilustrarem suas apresentações. Tal atitude dá à apresentação um

"ar de contemporaneidade", isto é, de atual, além de despertar o interesse.

"Se, entretanto, resolver contar uma história surrada pelo uso, ponha a criatividade

para funcionar e revista-a com uma roupagem nova, atraente, de tal maneira que

pareça aos ouvintes uma peça inédita, como se estivessem ouvindo aquela narrativa

pela primeira vez"51. ,51

5 1 Reinaldo Polito. Super Dicas para Falar Bem em Conversas e Apresentações. Editora Saraiva, 2005,p.20

Page 54: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

d. Natureza: quem gosta de observar a natureza sabe a riqueza de lições que ela possui. A formiga

ensina sobre o trabalho diligente; a ovelha ensina da importância do pastor; e a galinha, que acolhe

seus pintinhos debaixo das asas, do cuidado de Deus. Como diz o Salmo 19.1: "Os Céus declaram a

glória de Deus, o firmamento proclama a obra de suas mãos".

Certo irmão, em férias no litoral, percebeu alguns mariscos que viviam apegados sobre uma rocha

adentrando o mar. As ondas implacáveis batiam sobre a rocha com força, e, por vezes, a

submergia. Porém, as ondas passavam e os mariscos permaneciam sobre a rocha sem serem

arrastados pela força das águas.

Tal exemplo é uma boa ilustração sobre o ensino de Jesus sobre construir a casa sobre a

rocha, isto é, sobre Ele, a fim de permanecermos em meio às tempestades e ondas da vida.

f. Cotidiano: o pregador atento desenvolverá a chamada "mente homilética". Ele contemplará nos

acontecimentos da vida, desde os mais importantes até os mais rotineiros, lições que poderão ser

usadas em sermões e inspirar muita gente. Como o caso da mãe que caminhava de mãos dadas com

seu filho pequeno ao longo de uma rua. Não se sabe porque, o menino, quis soltar-se e correr na

frente, apesar dos protestos da mãe. Por fim, após alguns passos, ele tropeçou, se espatifou no

chão e como era de se esperar, começou a chorar. A mãe se aproximou dele, o levantou, o colocou

no colo e o consolou até que, ele parou de chorar. Assim age Deus com Seus filhos, quando

insistem em andar em Sua frente e, depois de alguns passos sozinhos, tropeçam e se espatifam no

chão.

g. Experiências: Os acontecimentos doces e até amargos que aconteceram em sua vida ou na de

conhecidos, também possuem lições que podem ajudar a muitos. Porém alguns cuidados são

necessários ao contar uma experiência pessoal. Se a experiência é a de uma outra pessoa, será

prudente e ético pedir sua permissão para contar. Caso a experiência diga respeito à tua vida, evite

se delongar muito e nunca seja o "herói da história". Geralmente, pecadores agraciados por Deus

ganham a empatia do público, enquanto os santos de pedestal ganham a antipatia.

Page 55: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

, « • j >: i r: !S k- t i o'

Pior que um sermão sem ilustrações, somente um sermão com más ilustrações. Nem todo

caso, história ou exemplo é digno de ser proferido. Por esta razão, é necessário conhecer algumas

características das boas ilustrações:

a. Apropriadas: a ilustração só será útil se estiver de acordo com o ensino do tópico. Se o tópico faia

de santidade, a ilustração deverá ser sobre santidade; se o tópico fala sobre família, a ilustração

deverá ser sobre família; se o tópico fala sobre trabalho, a ilustração deverá ser sobre trabalho, A

função da ilustração é exemplificar e esclarecer o ensino do tópico e não ser um bem em si mesma. A

luz é útil quando ilumina algo escuro e não quando ofusca os olhos. Toda ilustração inapropriada

chamará a atenção para ela mesma, tirando o foco do ensino que ela pretendia ilustrar:

Conta-se de um pintor espanhol que, pintando a Última Ceia, desenhou sobre a mesa

uns cálices de prata tão lindos e extraordinários que passaram a ser a primeira coisa a atrair a

atenção e admiração dos ouvintes que viam o quadro. Depois, notando isso, tomou o pincel e

os apagou, para que nada impedisse o observador de olhar para Jesus52.

b. Concisas: a boa ilustração explica, não precisa ser explicada. Quanto menos palavras forem

usadas para dizerem um máximo de coisas, mais impactos elas terão. Quanto mais palavras forem

usadas para dizerem um mínimo de coisas, menos impacto terão.

c. Críveis: existem ilustrações que, ao invés de suscitarem a fé, suscitam a dúvida. Elas são tão

incríveis que as pessoas, ao ouvirem, se perguntam: "será que é verdade"? Exija fé do povo, mas não

abuse. Ao contar algo incrível forneça a fonte, para que seu sermão não caia em descrédito. As

ilustrações não precisam ser incríveis, mas precisam ser críveis.

d. Verdadeiras: Martin D.Lyoid Jones, antes de se tornar pregador, chegou a ser assistente do

cardiologista real, na Inglaterra, devido sua formação e capacidade médica53. Ele conta que certa vez,

ouviu um pregador falar que o erro de uma senhora, que morrera de câncer, depois de procurar

tardiamente um médico, foi não ter dado atenção à "primeira picada de dor". A esse respeito, o êx-

médico Lyoid Jones diz:

Para mim, que era médico, ouvir tal coisa era algo ridículo. Pois a dificuldade que

circunda esse tipo de câncer é que ele não provoca qualquer dor, até haver avançado a um estado

muito adiantado; pois geralmente cresce de maneira insidiosa e calma. A dificuldade daquela

3 2 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.225 3 3 Franklin Ferreira. D.Martyn Lloyd-Jones - Pregador da Palavra. São Paulo, PES, p. 2

Page 56: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

56

pobre mulher não era que ela havia ignorado a dor, e, sim, provavelmente, que tinha ignorado

alguma protuberância, que talvez ela pudesse ter apalpado54.

Não subestime seus ouvintes, quando falar sobre assuntos de outras áreas,

certifique-se da precisão das informações, senão, você corre o risco de cometer uma "gafe" e perder

a credibilidade. Isto não significa que todas as ilustrações precisam ser sempre casos reais. Você

pode falar de fábulas, contos, e até criar estórias, se for dotado de boa imaginação, porém, deve

certificar seus ouvintes do que está fazendo. Isto pode ser feito, com poucas palavras, como: "existe

um historieta que diz"...; "conta-se de"...; "imagine que... fazendo assim, ficará claro que a história que

você está contando tem fins meramente ilustrativos.

e. Contextualizadas: cada contexto possui suas características próprias. Caberá ao pregador

adaptar suas ilustrações ao contexto em que está inserido para pregar. Um pastor ao pregar na

região do grande ABC, em São Paulo, contou uma ilustração "engraçada" sobre pescaria, porém,

ninguém achou graça. O motivo das pessoas não terem rido, não foi a falta de graça da ilustração,

mas porque não entenderam a ilustração. O pregador reconheceu que, naquele contexto, ao invés de

contar uma ilustração sobre pescaria, deveria ter contado uma sobre indústria automobilística.

f. Medidas: isenção de ilustração obscurece o sermão, porém, muita ilustração ofusca o sermão. É

claro que o número de ilustrações irá variar de sermão para sermão, segundo as necessidades dos

mesmos. Porém, um bom conselho é usar pelo menos uma ilustração para cada tópico e não mais de

duas. As ilustrações fazem parte do sermão, mas não são o sermão. Como adverte D.Martin Lloyd

Jones:

A ilustração visa ilustrar a Verdade, e não a exibir a si própria, e nem chamar a atenção para si

mesma. Antes, deve servir de meio para guiar e ajudar as pessoas a perceberem o princípio que o

pregador está enunciando e proclamando, de modo ainda mais patente55.

Agora que temos uma noção sobre o uso das ilustrações, pensemos em uma para ilustrar o

tópico que desenvolvemos no capítulo anterior.

5 4 D.Martin Lloyd-Jones. Pregação e Pregadores. Editora Fiel, 170 5 5 Idem, p.169

Page 57: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

1-Buscar a Deus

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo

diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo.

"Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus".

Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus.

Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda:

• Do banco, e é endividada. • Da bebida, e é viciada.

Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada".

Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido à precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e seu risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido.

Ao usar ilustrações você tornará seu sermão mais claro, atrativo, rico em conteúdo,

consequentemente, mais eficaz na comunicação. Por todas estas razões, não ignore o uso

ilustrações no sermão, pois, como é sabido de todos: "Uma imagem vale mais que mil palavras".

Ilustre cada tópico de seu sermão. Para tanto, siga os passos abaixo:

1. Observe o conteúdo do tópico e o ensino que ele procura comunicar.

2. Procure em fontes diversas (livros, natureza, cotidiano, sites, etc), exemplos,

histórias, acontecimentos, experiências, que ilustram o ensino do tópico.

3. Abaixo do tópico escreva a ilustração e cite a sua "fonte".

Obs: Faca este exercício para cada tópico de seu sermão.

Page 58: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

58

Quando Pedro terminou seu sermão no dia do Pentecostes , as pessoas ficaram aflitas em

seu coração, pois haviam entendido sua mensagem, mas não sabiam o que fazer. Assim,

perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: "Irmãos, que faremos"? Pedro, então, os exortou, isto

é, disse-lhes claramente o que deveriam fazer: "Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado

em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo".

Após o apóstolo lhes dizer o que deveriam fazer, cerca de 3000 almas creram e foram batizadas

naquele dia (Atos 2.14-41).

Este acontecimento, marco da Igreja de Cristo, deixa clara a verdade: por melhor e mais

inspirado que o sermão seja, se o pregador não disser às pessoas, claramente, o que devem fazer

diante da mensagem que ouviram, elas não saberão o que fazer. Por esta razão, é importante que

todo sermão reserve um lugar para a exortação.

Muitos carregam na mente a idéia de que "exortação" é uma "chamada de atenção", uma

"correção enérgica", ou seja, "uma bronca". Porém, no Novo Testamento, a palavra "exortar" é a

tradução de "parakaleõ", que, literalmente significa "chamar para o lado" ( para = "para o lado"; kaleõ

= chamar). Basta esta explicação para entendermos que "exortar" não significa "apontar o dedo" para

as pessoas, mas "se colocar ao lado" das pessoas.

Porém, é salutar ainda dizer que "parakaleõ" tem o sentido de "admoestar", "instigar" a

pessoa a buscar algum curso de conduta. A palavra "exortar" também pode ser a tradução da palavra

"protrepõ", com o sentido de "impelir moralmente", "incentivar", "encorajar", "animar"56.

Certo pastor, de nome Moisés, conta a respeito de como estava desconsolado no velório de

seu pai, quando um colega se colocou ao seu lado e apertando-lhe os ombros, disse: "força Moisés,

força"! Tal atitude lhe trouxe consolo e encorajamento. Estes são os sentidos básicos de "exortar"

pessoas, significa "consolá-las" ou "encorajá-las", ou ainda, as duas coisas.

Em resumo, exortação é uma chamada a ação.

5 6 W.E.Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p. 635

Page 59: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Segundo o dicionário, aplicação é o ato ou efeito de aplicar. É o emprego, a utilização, o

uso57. No sermão, é todo momento em que o pregador mostra o que uma verdade do sermão implica

na vida de seu ouvinte, como ela se relaciona com o dia a dia:

A Aplicação, no sentido estrito, é essa parte, ou partes, do discurso em que mostramos

como o assunto se aplica às pessoas a quem nos dirigimos, quais as instruções práticas que o

assunto lhes oferece, e o que ele exige que cada ouvinte faça 58.

Sendo assim, podemos considerar como "aplicação", os elementos do tópico: Relação,

Ilustração e Exortação.

ESTRUTURA LÓGICA TOPICO ELEMENTOS TÓPICO

Observação ^ Exposição Bíblica

Interpretação ^ Significado

x— Relação

Aplicação Ilustração

Exortação

Enquanto a Relação faz a ponte entre a verdade e a vida, e a Ilustração comprova a

funcionalidade da verdade na vida, a Exortação chama os ouvintes à ação de colocarem em

prática a verdade na vida. Assim, melhor que dizer que a Exortação é a Aplicação, é dizer

que a Exortação é um elemento importante da Aplicação.

5 7 Michaelis. Dicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo, Editora Melhoramentos, 2002, p.58 5 8 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.228

Page 60: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Nem sempre é fácil exortar alguém a tomar uma atitude na vida. Ainda porque, a tendência

das pessoas é resistirem a mudanças. Por isso, é bom saber alguns segredos de como motivar

alguém a agir. Veja então, as características de uma boa exortação:

a. Pessoal: uma das diferenças entre um discurso e uma pregação, é que o discurso fala sobre, a

pregação fala com. Em outras palavras, em um discurso o foco é discorrer sobre um assunto, mas na

pregação o foco é falar com as pessoas. Desta feita, ao fazer uma exortação, não discurse, pregue.

Spurgeon dizia que nunca teremos de fato pregado em quanto não usarmos a palavra "você" 59.

Assim, ao invés de dizer "a igreja deve se levantar", diga, "você deve se levantar". Ao invés de dizer,

"O povo precisa confiar mais em Deus", diga, "Você precisa confiar mais em Deus". Lembre-se, Deus

não te chamou para discursar, Deus te chamou para pregar. Como disse Daniel Webster:

"Quando uma pessoa prega para mim, quero que faça disso um assunto pessoal, um

assunto pessoal, um assunto pessoal"!60

b. Possível: Se você quiser que as pessoas não levem a sério as exortações de seu sermão, então,

basta pedir para elas fazerem coisas impossíveis. Jesus acusou os fariseus de exortarem as pessoas

a fazerem coisas que, nem mesmo eles conseguiam fazer: "Atam fardos pesados e difíceis de

suportar, e os põem nos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los" (Mt

23.4). Você pode exortar as pessoas a carregarem a cruz, conforme Jesus ensinou, mas não pode

colocar sobre elas fardos pesados difíceis de suportar, pedindo que elas façam coisas que Jesus

nunca pediu. Por exemplo, uma coisa é exortar as pessoas a evangelizarem todos os dias, nem

sempre isto será possível, tanto que, isto não está na Bíblia. Outra coisa é pedir que elas não percam

oportunidades de evangelizar. Isto, além de ser possível, está na Bíblia: "Andai em sabedoria com os

que estão de fora, aproveitando bem cada oportunidade"(Cl 4.5).

c. Objetiva: A mídia usa e abusa de imperativos ao exortar as pessoas à ação: "Tome uma atitude

que alimenta, beba Dan'up"! "Ligue já"! "Assista agora..." "Não mude de canal". "Fique conosco". De

fato, a exortação acaba tomando a forma de imperativo, isto é, de "ordem". Há quem afirme que os

sermões mais rejeitados pelo público são aqueles que possuem exortações diretas51, aquelas que

fazem uso dos imperativos. E, que, o melhor e mais eficaz meio de levar as pessoas a responderem

positivamente ao que a mensagem pede, seria usar aplicações indiretas, deixando a cargo das

5 9 David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2005, p.41 6 0 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo,Editora Custom, 2003, p.227

Page 61: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

ó l

próprias pessoas a aplicação em suas vidas. De fato, em algumas ocasiões, este método pode vir a

calhar, porém, se observarmos os sermões de Jesus perceberemos que Ele usava exortações diretas

e imperativas: "... Arrependam-se e creiam nas boas novas" (Mc 1.15)] "Vão por todo o mundo e

façam discípulos de todas as nações" (Mt 28.19,20).

Num incêndio, os bombeiros não ficam fazendo rodeios, ou, educadamente, insinuando o que

as pessoas devem fazer. Pelo contrário, eles precisam ser diretos ao falarem o que as pessoas

devem fazer para salvarem suas vidas: "evacuem a área", "usem a saída de emergência", "não usem

o elevador", ao invés de: "O que vocês acham de irem tomar uma brisa lá fora, se as coisas aqui

dentro começarem a esquentar"? A questão não é se devemos fazer exortações diretas ou não, é

óbvio que sim. A questão é, como fazê-las? Uma boa dica é ser o mais sucinto possível, ninguém

gosta de ficar ouvindo o que deve fazer por muito tempo. Por isto, ao invés de escrever dez linhas de

exortação em seu sermão, prefira algo como: "Beba Coca Cola".

d. Honesta: Uma das grandes tentações do púlpito é o abuso de poder. O pregador sabe que,

dificilmente, alguém se levantará para contestar algo que ele esteja dizendo durante a pregação, uma

vez que, em tese, ele deve estar pregando a Palavra de Deus. Porém, como sabemos, nem sempre é

assim. Há pregadores que se protegem atrás do púlpito para mandarem recados para indivíduos e

falarem coisas que não teriam coragem de dizerem pessoalmente, porém, fazem isto não sem

prejuízo:

Aquilo que popularmente chamamos de "carapuça" para esta ou para aquela pessoa,

ou par um grupo de indivíduos, sempre produz mais mal que bem62.

Por isto, a exortação do sermão não deve ser motivada pelas mágoas, ressentimentos,

dissabores e diferenças de opinião e preconceitos. Mas ela deve ser honesta, ou seja, baseada em

princípios bíblicos e não em costumes ou posições pessoais. Por exemplo, uma coisa é dizer: "Se

você é crente, você não deve assistir televisão". Outra coisa é dizer: "se você é crente, busque a

santificação, selecione o que você assiste na televisão".

e. Coerente: Não misture "alhos com bugalhos". Se você está pregando um tópico do sermão que

fala sobre "maçã", a exortação deverá ser algo como: "Coma maçã" e não "Coma melão". Se o tópico

do sermão fala sobre "dinheiro", a exortação deverá ser algo como "cuidado com a cobiça pelo

dinheiro", e, não "Se batize hoje mesmo". Uma ilustração mostrava um homem saindo apenas de

cueca da Igreja e dizendo: "Este foi o melhor sermão sobre contribuição que já ouvi na vida". É mais

ou menos assim que as pessoas devem sair de um culto, onde acabaram de ouvir um sermão,

sabendo exatamente o que devem fazer. Isto é o que se espera das exortações do sermão: levar

claramente as pessoas à uma ação".

6 1 Robsom Marinho. A Arte de Pregar - A Comunicação na Homilética. São Paulo: Vida Nova, 1999, p 176 6 2 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.229

Page 62: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

oz

Mv Á.iScà^íJ^iM^^^i^Z- - --J, áiVic ** M _

Há pregadores que preferem deixar a exortação para o finai do sermão, para a conclusão,

como fazia Jônatas Edwards, de quem se dizia que ele armava os canhões na primeira parte do

sermão, e atirava com eles no final. Não há dúvidas do efeito de deixar a exortação para o final, após

as pessoas estarem convencidas da verdade, e, assim, mais dispostas a uma ação positiva em

relação a ela. Porém, entendemos que uma exortação em cada tópico tornará mais preciso e didático

o aprendizado.

Abaixo, é mostrado o lugar da "exortação" dentro de um tópico.

1.Buscar a Deus

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo

diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo.

"Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus".

Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus.

Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda:

• Do banco, e é endividada. • Da bebida, e é viciada.

Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada".

Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido a precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e ser risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido.

Exortação: Na adversidade, busque ajuda de Quem ajuda. Busque a ajuda de Deus.

Como você pode ver, a exortação vem logo depois da ilustração. Tal ordem não é sem razão.

A exortação vem depois da ilustração porque as pessoas só estarão prontas a tomarem uma

atitude, depois de comprovarem a "funcionalidade" do ensino apresentado. Dentro do tópico, a

ilustração tem o propósito de comprovar a veracidade do ensino, a exortação tem o propósito de

chamar as pessoas a uma atitude de acordo com o ensino provado.

Page 63: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

63

Se esforce na construção das exortações dos seus sermões, a fim de que, depois de te

ouvirem, ninguém venha a dizer: "Irmãos, que faremos"?

Prepare a "exortação" de cada tópico de seu sermão. Siga os seguintes passos:

1. Observe o conteúdo do tópico e o ensino que ele procura comunicar.

2. Responda às perguntas:

a. Diante desta verdade, que "ação" Deus espera dos ouvintes?

b. Com que palavras posso comunicar, sucintamente,

esta exortação de Deus aos ouvintes?

3. Redija a exortação usando imperativo.

Obs: Faca este exercício para cada tópico de seu sermão.

Page 64: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

64

A Abertura e o Fechamento cios Tópicos

Um grande banquete deve começar com uma "boa entrada" e deve terminar com um "bom

cafezinho", na opinião da maioria das pessoas. Nós bem que poderíamos dar o tópico do sermão

como completo, uma vez que ele já possui Exposição Bíblica, Significado, Relação, Ilustração e

Exortação.

1-Buscar a Deus

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo

diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo.

"Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus".

Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus.

Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda:

• Do banco, e é endividada. • Da bebida, e é viciada. • Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada".

Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido à precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e ser risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido.

Exortação: Na adversidade, busque ajuda de Quem ajuda. Busque ajuda de Deus.

Com tais elementos já é possível transmitir a mensagem do tópico de forma clara e precisa,

e, na verdade, a maioria dos pregadores pára por aqui. Porém, é possível ainda acrescentar ao tópico

do sermão dois elementos que tornarão a comunicação ainda mais completa e eficaz. Estes

elementos são: a "Abertura" e o "Fechamento" do tópico, que servem como a "entrada" e o

"cafezinho" da divisão. As pessoas, ao recebê-los, se sentirão ainda mais satisfeitas com o banquete

servido.

Page 65: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

65

A abertura pode também ser comparada ao aviãozinho que faz a criança abrir a boca para

receber a comida. Assim como a mãe atrai a atenção do fiiho com a intenção de alimentá-lo, a

abertura também tem o propósito de "abrir o apetite" do ouvinte para o ensino que será comunicado

pelo tópico em questão. Como alguém já disse, "você só ganhará o coração de alguém, se antes

ganhar-lhe a atenção". É verdade, as pessoas só estarão dispostas a receberem o ensino do tópico,

depois de terem suas atenções despertas e atraídas para ele. Desta forma, a abertura serve como a

introdução do tópico, cujo principal objetivo é ganhar a atenção das pessoas e prepará-las para

receberem a exposição bíblica que será feita a seguir. Veja o exemplo:

1 .Buscar a Deus

Abertura: Alguém já disse que: "para cada problema existe uma solução". Não sei até

que ponto isto é verdade, mas de uma coisa sei: "na hora da adversidade, a solução é

buscar a Deus". Como fez a viúva deste texto.

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo

diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo.

"Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus".

Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus.

Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda:

• Do banco, e é endividada. Da bebida, e é viciada. Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada".

Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido à precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e ser risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido.

Exortação: Na adversidade, busaue aiuda de Quem aiuda. Busaue aiuda de Deus.

Existem também várias maneiras de se fazer uma Abertura. A seguir vejamos alguns tipos de

abertura que poderiam muito bem servir para o nosso tópico exemplificado acima. A Abertura poderá

ser:

Page 66: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

a. Analogia: Como já dito, as pessoas aprendem por comparação, e as analogias podem servir muito

bem para este fim:

Quando queremos argumentar pela analogia, utilizamos como tese de adesão inicial

um fato que tenha uma relação analógica com a tese principal63.

Uma analogia usada na abertura, que esteja de acordo com o ensino do tópico, poderá

facilitar o entendimento deixando mais claro o ensino do tópico, por exemplo:

"Toda criança, quando está em dificuldades busca a ajuda dos pais e estes a ajudam. Da

mesma forma, se você buscar a Deus quando passar por adversidade, Ele, como bom Pai também te

ajudará".

b. Pergunta retórica: O método da pergunta, quando usado na medida certa, sempre tem o efeito de

chamar a atenção das pessoas. O apóstolo Paulo usava muito do recurso das perguntas retóricas

para provar seus argumentos e conquistar a concordância de seus ouvintes. Por exemplo, quando ele

explicava aos romanos que a graça não deve ser motivo para o pecado, ele usa um pergunta retórica

para provar seu argumento: "Que diremos pois? Permaneceremos no pecado para que a graça

aumente"? (Rm 6.1). Em seguida, ele mesmo responde: "De modo nenhum" (Rm 6.2). As perguntas

retóricas têm, de fato, este fim, suscitar uma resposta esperada e desejada, não desafiar a

inteligência dos ouvintes, mas levá-los a responder algo que comprove o que está sendo dito.

Os puritanos também aprenderam a usar perguntas retóricas em seus sermões:

Entendem o que quero dizer por pergunta retórica? É uma pergunta que faz com que o ouvinte

responda a si mesmo, na sua própria cabeça. E alguma vez você pode fazer esta pergunta tão bem

feita que alguém vai abrir a boca e falar na igreja, mas a pergunta retórica faz com que o coração se

envolva diretamente com a aplicação64.

Uma vez que a pergunta retórica tem o poder de "abrir a guarda da mente", por meio da

resposta que leva à concordância com o orador, ela poderá servir de boa abertura para o tópico

conduzindo as mente rapidamente para a outra parte do discurso, a Exposição Bíblica. Exemplo:

"Quem aqui está isento de, na hora do desespero, trocar os pés pelas mãos"? Pior que trocar os "pés

pelas mãos", é trocar Deus por "outra solução".

c. Ditado: Geralmente, as pessoas têm os ditados como fruto da sabedoria popular, e, portanto,

verdadeiros. Usar um ditado, ou um dito popular no início do tópico pode ter um bom efeito, pois

como escreveu Ver Trench:

6 3 Antônio Suárez Abreu. A Arte de Argumentar - Gerenciando razão e Emoção. Cotia: Ateliê Editorial,2005, p. 64 6 4 Joseph Pipa. O Sermão Puritano que Transforma. Artigo publicado na revista Os Puritanos, ano VII, n° 4, 1999, p. 27

Page 67: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

67

"Grandes pregadores populares têm aberto caminho para chegar ao coração de seus semelhantes

empregando amplamente provérbios conhecidos"65.

No nosso tópico de estudo (Buscar a Deus), se optássemos por abrílo com um ditado

poderíamos fazer assim:

O povo diz que "Deus ajuda quem cedo madruga". Na verdade, "Deus ajuda a todos os que O

buscam". Veja o caso desta viúva...

d. Ilustração: O método didático da ilustração pode servir bem à abertura, uma vez que a ilustração

não tem apenas a capacidade de "lançar luz sobre um ensino", mas também de "despertar a atenção

para o ensino". Tendo o cuidado de não ser prolixo, o pregador poderá perceber bons resultados em

iniciar o tópico com uma ilustração. Por exemplo:

"Fico impressionado toda vez que leio a história de Sansão. Certa vez, depois dele ter

vencido mil filisteus, estava com sede a ponto de morrer. Então, orou a Deus pedindo água. O

Senhor, movido de compaixão, tirou água da rocha e ele pôde beber. Por toda a Bíblia vemos Deus

provendo ajuda aqueles que O buscam, como no caso também desta viúva"...

e. Estatística: Se verdadeira, uma estatística, além de trazer informação e conscientização, pode

trazer também a atenção da platéia:

"Você sabe que apenas 20% dos crentes oram quando passam por apertos? Você faz parte

dos 80% ou dos 20% ? Parece que a viúva de nosso texto fazia parte dos 20%"...

É claro que, no uso de uma estatística, deverá ser citada a fonte e a data da pesquisa, em

outras palavras, não invente estatística. Pois os números não mentem, mas você pode cair na

tentação. Como diz o pastor Jorge Schutz: "Na hora da ilustração, o diabo senta na ponta do banco,

pois sabe que lá vem mentira".

Como vemos, há várias maneira de se fazer uma abertura, as citadas acima são apenas

algumas. O importante é que a abertura seja breve, clara e faça fácil ligação com o ensino do tópico.

Dizem que não fechar um pensamento é como "não dar laço no cordão do sapato, logo, logo

sai do pé"66. Terminar um tópico não é simplesmente parar de falar, mas encerrar devidamente o que

se estava falando, a fim de fixar e comprovar o ensino comunicado.

Você pode fazer o fechamento do pensamento de um tópico por meio de:

Um pensamento: "Quem procura acha, e Quem busca a Deus O encontra".

6 5 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.223 6 6 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p. 20

Page 68: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

68

Um ditado: "Deus é Pai, não é padrasto".

Um versículo bíblico: "Vocês me procurarão e me encontrarão quando me buscarem

de todo o coração" (Jeremias 29.33).

A Proposição do sermão: Aprenderemos, mais para frente, o que é proposição. Cabe

agora dizer que a proposição é a tese central do sermão, a idéia principal que se

procura pregar e provar. Ela é uma afirmação teológica que abarca todo o ensino do

sermão e é escrita em uma sentença. Por exemplo: "Deus socorre os necessitados";

"O socorro dos aflitos vem do Senhor"; Deus é provedor; etc.

Há pregadores que têm o costume de repetir a proposição diversas vezes durante o sermão

em partes estratégicas, a fim de que a congregação grave o ensino central da mensagem:

A proposição deve, então, fazer uma "ponte" para os ouvintes em direção à

primeira divisão principal e, sucessivamente, para as outras divisões67.

Creio que em sermões doutrinários, onde o grande objetivo é inculcar uma doutrina na mente

dos ouvintes, a repetição da proposição no fechamento de cada tópico funcionará muito bem, a ponto

das pessoas poderem sair do templo, repetindo verbalmente a proposição, como testemunha Karl

Lacher:

Um de meus alunos adotou como prática enfatizar verbalmente a proposição, até que a

congregação a memorizasse. Em sua igreja isto praticamente se tornou parte dos

cumprimentos entre as pessoas. Aquela igreja foi grandemente edificada nas Escrituras

durante seu "ministério da palavra" ali68.

Assim como a Abertura do Tópico pode ser feita de diversas maneiras, também existem

diferentes formas de fazer o Fechamento do Tópico. O importante é encerrar com algo que conclua o

pensamento. No tópico abaixo, escolheu-se fazer seu fechamento usando um versículo bíblico.

6 7 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica (São Paulo, Vida Nova, 2000), pgl09. 6 8 Ibdem, pg.110.

Page 69: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

69

1.Buscar a Deus

Abertura: Alguém já disse que: "para cada problema existe uma solução". Não sei até

que ponto isto é verdade, mas uma coisa sei: "na hora da adversidade, a solução é

buscar a Deus".

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo

diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo.

"Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus".

Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus.

Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda:

» Do banco, e é endividada. Da bebida, e é viciada.

• Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada".

Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido à precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e ser risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido.

Exortação: Na adversidade, busque ajuda de Quem ajuda. Busque ajuda de Deus.

Fechamento: Pois a Bíblia diz: "Vocês me procurarão e me encontrarão quando me buscarem de todo o coração" (Jr 29.33).

Perceba, que o versículo bíblico que fechou o tópico, não foi escolhido a esmo, mas de

acordo com o ensino demonstrado no tópico. Assim, o versículo não apenas fecha o tópico, mas o

comprova.

Após completar o tópico com a abertura e o fechamento você completou o tópico do sermão,

com todos os elementos necessários para que haja a progressão lógica. Lembre-se que tais

elementos devem fazer parte, não apenas de um, mas de cada tópico de seu sermão, para que, em

cada um deles haja a "progressão lógica" do pensamento. Isto garantirá conteúdo, lógica e atenção

para aquilo que você estará pregando.

Page 70: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

É necessário, a esta altura do estudo, algumas observações em relação ao modo como

estruturou-se o tópico.

a. A progressão Lógica não é uma "camisa de força": ninguém é obrigado e nem deve

sacrificar a criatividade e a direção do Espírito, para ficar preso à ordem dos elementos do tópico

estruturado em progressão lógica. Podemos considerar o tópico de um sermão como um "tabuleiro

de xadrez". Para se aprender a jogar xadrez é necessário primeiro, conhecer as peças que

compõem o jogo, como o cavalo, a torre, o bispo, o rei, a rainha e os peões. Também é necessário

saber o lugar que inicialmente ocupam no tabuleiro e os movimentos de cada um. No decorrer do

jogo, porém, cada jogador vai movimentando as peças de acordo com sua perspicácia.

A mesma coisa ocorre com o tópico do sermão estruturado em progressão lógica.

Inicialmente, foi necessário conhecer os elementos que o compõem: abertura, exposição bíblica,

significado, relação, ilustração, exortação e fechamento. Depois, tornou-se necessário saber a

ordem que cada elemento ocupa no tópico e seu movimento, isto é, sua função. Porém, no decorrer

do ministério, com o acúmulo de certa experiência, o pregador terá a perspicácia de começar a

mexer nas peças de seu tabuleiro, isto é, nos elementos do tópico, de modo que poderá optar em

colocá-los em outra ordem, ou, até mesmo abrir mão de um ou outro.Tudo isto ele fará, é claro,

sem sacrificar o movimento, a progressão e a lógica do discurso do tópico.

Porém, antes de começar a mexer nas peças do tabuleiro é necessário saber quais são

as peças, quais os lugares que ocupam no tabuleiro e como se movimentam.

b. A Progressão Lógica pode fazer de um tópico, um breve sermão: não faltarão ocasiões em

que o ministro será convidado para pregar em velórios de não crentes, em aniversários, em eventos

da comunidade, e em muitas outras ocasiões especiais, onde não se esperará, nem se desejará da

parte dele um sermão de 30 minutos. Pelo contrário, ele será advertido previamente que o que se

espera dele é apenas uma "devocional", ou uma breve "palavrinha". E, de fato, haverá ocasiões

especiais em que o melhor a fazer é ser breve. Porém, a exigência da brevidade em algumas

ocasiões não deve ser motivo para que se perca oportunidades de se comunicar o Evangelho com

bom conteúdo e boa forma. A pergunta que fica é: como pregar de forma breve sem ser superficial?

Creio que é em momentos como este que a noção da progressão lógica se torna tão vital. Pois o

pregador que souber estruturar um tópico com os elementos da progressão lógica, logo perceberá

que um tópico estruturado desta maneira pode ser naturalmente transformado em um breve

sermão, com começo, meio e fim, além de possuir bom conteúdo.

Veja um exemplo de sermão para funeral, estruturado como se fosse um tópico em

progressão lógica:

Page 71: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

1

Abertura: Lembro-me do caso de uma moça de 23 anos, saudável, ativa e cheia de sonhos. Certo

dia ela sentiu uma dor no estômago. A levaram para o hospital, pensando que lhe dariam um

medicamento e, em seguida, a trariam de volta. Porém, o inesperado aconteceu, sua situação se

agravou e ela, infelizmente, faleceu.

A verdade é que a morte não escolhe dia para chegar. Ela pode bater às portas de um idoso

de 80 anos, para um homem de 40, para uma jovem de 23, para uma criança com 10 e até para um

bebê ainda na barriga da mãe.

"A morte chega para todos"

Exposição Bíblica: é por isto que o sábio Salomão, inspirado por Deus, fala que é melhor irmos a

um casa em que há luto, que a uma casa em que há festa. Pois é num velório que nos lembramos

do caminho de todo homem: nascer, crescer, viver e morrer.

Significado: Por causa do pecado, o destino de todo homem é morrer.

Relação: A pergunta que fica é: se a morte é o destino de todos, por que ninguém se acostuma

com ela? Porque a morte é o destino de todos, mas não é o fim de todos.

Para aqueles que estão em Cristo, a morte não é o fim da vida, mas uma passagem para a

verdadeira vida, ao lado de Deus.

Ilustração: sei da história verídica de um homem que perdeu seu filho em um acidente de carro.

No velório, tal senhor sentou-se em uma cadeira, tomou seu neto no colo e, abrindo seu hinário,

cantou o conhecido hino "Tu és Fiel Senhor". Estaria ele fora de si ou convicto da fidelidade do

Senhor em cumprir sua promessa que diz "aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto viverá"?

Exortação: Se Deus é Fiel, então descansemos na certeza que, se o sr. Fulano partiu com Cristo,

está agora descansando nos braços de Deus.

Fechamento: pois a palavra de Deus diz: "O aguilhão da morte é o pecado (...), mas graças a

Deus que rios dá vitória por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo" (1a Co 15.56,57).

Amém

c. A Progressão Lógica não quebra a unidade do sermão

Alguns poderiam criticar a estruturação dos tópicos por meio daquilo que chamamos de

"progressão lógica", dizendo que, uma vez que damos a cada tópico uma estrutura de começo, meio

e fim, fazemos com que cada tópico seja um "sermão em si mesmo", pregando assim, vários sermões

em uma única ocasião. Tal crítica serve para nos alertar que os tópicos podem ser autônomos e

exclusivos, mas nunca independentes.

Veja a incoerência de um sermão em que os tópicos são independentes:

Page 72: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Lições bíblicas:

1. A língua é um mal incontrolável

2. Trazei todos os dízimos a casa do Senhor

3. Todo aquele que crer deve ser batizado

No exemplo acima, embora cada tópico isolado possua, de fato, uma lição bíblica, por outro

lado, todos juntos não possuem nenhuma unidade. Isto sim, seria pregar três sermões diferentes

numa única ocasião. Porém, nossa proposta não é esta. Pensamos nos tópicos como "dedos de uma

mesma mão", onde cada dedo possui sua estrutura própria e bem definida, porém, juntos, formam

uma única mão. Da mesma forma, os tópicos podem ter sua estrutura própria e bem definida, mas

devem formar um único sermão. Como já dito, o que dará unidade aos tópicos do sermão, será o

tema específico:

Características da Língua:

1. É um pequeno órgão do corpo (v5).

2. É incendiada pelo Inferno (v6).

3. Ninguém consegue domar (v8a).

4. É mal incontrolável (v8b).

Neste exemplo, os tópicos do sermão são autônomos, porém, juntos, formam um único

sermão, pois possuem o mesmo tema específico: Características da Língua.

Lembro-me da ocasião em que um bom pregador, que havia pastoreado por mais de uma

década uma grande igreja de São Paulo, me contou uma experiência que viveu com os membros de

sua congregação. Em uma reunião, os diáconos elogiaram a qualidade dos sermões do pastor,

porém, confessaram que tais sermões eram estruturados de tal forma que, caso alguém da

congregação perdessem o início, ou alguma parte do sermão, não poderiam entender mais nada que

viesse depois. O pastor, compreendendo a situação, passou a estruturar seus sermões de forma

muito parecida com a que é sugerida aqui. Fez com que cada tópico, apesar de formarem um único

sermão, possuísse estrutura própria e comunicassem uma mensagem completa, de começo, meio e

fim. De modo que, se alguém "perdesse" o primeiro tópico, ainda poderia ter sua mente e coração

abençoado com a mensagem dos próximos. Não é preciso dizer os benefícios que tal atitude de

humildade trouxe para a congregação e para o próprio pastor.

Como disse Paulo: "Fiz-me de tudo para com todos, para por todos os meios chegar a salvar

alguns"(1a Coríntios 9.22b).

1. Faça a abertura dos tópicos de seu sermão.

2. Faça o fechamento dos tópicos de seu sermão.

Page 73: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

73

1 0

, « j 3 1 i í \J L i U O VJ

"Se o pregador não conseguir captar a atenção durante os primeiros trinta segundos, talvez

nunca a consiga de modo algum" 69. Este conceito expresso por Haddon W. Robson, certamente, é

verdadeiro e conhecido não apenas na área da Homilética, mas também nas demais áreas da

comunicação. Por exemplo, os publicitários conseguem chamar a atenção e comunicar suas idéias

em apenas trinta segundos nos anúncios de TV. Logo, não é de surpreender que, a platéia televisiva

que temos hoje em nossas congregações, ainda que inconsciente, espere que os pregadores sejam

também capazes de captar sua atenção e comunicar algo logo nos primeiros momentos do sermão.

Karl Lachler comparou a introdução como "jogar o anzol" 70, pois, é na Introdução que o

pregador "fisga" a atenção do público e apresenta a idéia do sermão. Como já disse alguém: "antes

de ganhar o coração das pessoas, é necessário ganhar seus ouvidos".

Porém, nem todo pregador tem se mostrado capaz de "ganhar os ouvidos dos homens" no

início do sermão, quanto menos, "ganhar seus corações", no decorrer do sermão. Por isto, fica a

pergunta: como fazer uma introdução que capte a atenção e conduza as pessoas, com interesse,

para as demais partes do sermão?

Se a introdução é responsável por captar a atenção e conduzir as pessoas às demais partes

do sermão, então, podemos dizer que a introdução é tanto a isca quanto a porta de entrada do

sermão. De fato, a Introdução tem, basicamente, duas partes:

a. Proposição, a "porta do sermão": A proposição é o sermão em "miniatura". É a síntese

do sermão. Pode ser considerada a porta do sermão, pois faz a ligação entre a introdução e

os tópicos do sermão. Talvez seja instrutivo saber como grandes pregadores e mestres da

Homilética definem a proposição do sermão:

6 9 Haddon W. Robinson. A Pregação Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 1990, p.107 7 0 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 109.110

Page 74: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

74

• Charles W. Koller: "É o cerne do sermão"71,

• Ed René Kivitz: "A proposição é a verdade máxima de um sermão expositivo temático

(...) é o sermão abreviado, enquanto que o sermão é a proposição desdobrada"12.

• John A. Broadus: "É uma enunciação do assunto a qual o pregador se propõe a

desenvolver"73.

• Karl Lacher: A proposição é o coração do sermão. Assim como o coração bombeia o

sangue, dando vida ao corpo humano, a proposição vitaliza a forma e o conteúdo do

sermão74.

A proposição é composta por três elementos:

I. Afirmação Teológica (A.T): é a grande idéia, a tese que se pretende comunicar e defender

no sermão.

Exemplos:

• É possível vencer tentações.

• Jesus Cristo é Senhor e Salvador.

• O Espírito Santo habita em todo crente.

Perceba que todas as frases acima são afirmações com conteúdo teológico. Porém,

haverá momentos em que a tese do sermão poderá apresentar conteúdo ético ou moral.

Exemplos:

• Os pais são os maiores responsáveis pela educação dos filhos.

• O cristão precisa ser honesto em seus negócios.

• A vida é passageira.

A Afirmação Teológica é sempre a declaração de um princípio expresso em uma única sentença.

II. Sentença de Transição (S.T): é a ponte literária entre a Afirmação Teológica e a Palavra

Chave.

Exemplos:

• Este texto apresenta...

• Nesta noite, gostaria de apresentar...

• Nesta passagem, aprendemos...

7 1 Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p.71 7 2 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p.12 7 3 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo: Editora Custom, 2003, p.75 7 4 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 109,110

Page 75: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

75

III. Palavra Chave (P.C): Como já aprendido, é sempre um substantivo plural, que engloba e

confere unidade literária aos tópicos. Exemplos: "características", "passos", "atitudes",

"provas", "conseqüências", "ações", etc...

A união destes três elementos: Afirmação Teológica, Sentença de Transição e

Palavra Chave formam a Proposição. Veja alguns exemplos:

• É possível vencer tentações (A. T). Este texto apresenta (S. T), três atitudes(P. C), para

vencer tentações.

Os pais são os maiores responsáveis pela educação dos filhos (A.T). Nesta

passagem, aprendemos (S.T) duas "ações"(P.C) para o cumprimento desta verdade.

O Cristão precisa ser honesto em seus negócios (A.T). Nesta noite, gostaria de

apresentar (S.T), quatro características (P.C) do cristão honesto.

Podemos afirmar com extrema alegria e convicção o valor de se usar uma proposição no sermão.

Temos observado que, ao anunciá-la durante a pregação, muitos irmãos na congregação começam a

fazer anotações, pois, já entendem que é a partir deste momento, que as principais lições do sermão

serão comunicadas. Certa vez, uma jovem adolescente nos mostrou o que havia anotado da

pregação. Ela, com facilidade, reproduziu em uma folha de caderno o esboço do sermão com a

palavra chave e suas principais divisões. Tal exemplo mostra a importância da proposição para a

clareza da comunicação e como, de fato, ela serve de "porta" para o sermão. Como afirma a

declaração clássica de J. H. Jowet:

Tenho uma convicção de que nenhum sermão está pronto para ser pregado, ou para

ser escrito por extenso, até que possamos expressar seu tema numa frase curta e fecunda,

clara como cristal75.

b. Chamada, a "isca do sermão": a chamada são as primeiras palavras do sermão, que tem como

objetivo chamar a atenção do público e conduzir à proposição. Pode se começar um sermão de

várias formas atrativas:

• Pergunta: Embora alguns oradores mais antigos façam objeção a começar um sermão com

uma pergunta, tal estratégia funciona, quando o objetivo é captar a atenção do público:

"Quantos aqui estão passando por uma grande adversidade"?

• Ilustração: As ilustrações são úteis não apenas em exemplificar o ensino de um tópico, mas

também em servir como uma boa chamada para a introdução, pois atrai de início a atenção do

7 5 Haddon W. Robinson. A Pregação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1990, p.25

Page 76: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

76

auditório70. Exemplo: Lutero, pai da Reforma Protestante, em meio à adversidade da perseguição

trancou-se em seu quarto escuro e lá ficou por dias. Até que sua esposa, vestida de preto, foi ao seu

encontro. Ao vê-la naqueles trajes, Lutero perguntou:

- "Porque você está de luto? Quem morreu"?

- "Deus". Ela respondeu.

- "Ora, Deus não pode morrer". Ele, contrariado, respondeu.

- "Mas você está vivendo como se Deus estivesse morto".

Ao ouvir a argumentação verdadeira de sua esposa, Lutero se levantou em meio à sua

adversidade, para gravar seu nome na história para sempre.

Biografia: Pessoas se interessam em ouvir histórias sobre pessoas. Biografias de cristãos,

de personagens da história, de atletas, e até de gente comum, além de atraírem os ouvidos,

aquecerão muitos corações. Por exemplo, um sermão cujo tema seja "Vivendo os sonhos de

Deus", bem poderia ser iniciado com uma rápida descrição da biografia de Martin Luther King,

o pastor negro que deu sua vida pela erradicação do racismo nos Estados Unidos, e que,

começou seu mais célebre sermão com a frase: "Eu tenho um sonho".

• Atualidades: As manchetes dos jornais, os assuntos da semana, os acontecimentos no

mundo, sempre serão interessantes e darão um ar contemporâneo ao sermão. Um dos

conselhos de Karl Lacher ao preparar a introdução é se perguntar quais os cinco

acontecimentos atuais de porte (locais, nacionais ou internacionais) e quais se relacionam

com a proposição de modo a iluminá-la11.

• Frase: Uma simples frase pode chamar muita atenção. Em certo congresso de jovens

evangélicos, o preletor começou sua pregação dizendo: "Eu não quero mais ser evangélico".

Não é preciso dizer, que até os mais desinteressados fixaram os olhos no pregador após tal

frase. Por isso, no começo do sermão, diante um público geralmente apático, é boa coisa

cutucá-los com uma frase que provoque impacto78.

Agora que conhecemos a estrutura básica de uma introdução: a Chamada e a Proposição,

respectivamente, a isca e a porta, vejamos um exemplo de Introdução:

7 6 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo,Editora Custom, 2003, p.215 7 7 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.109,110 7 8 Reinaldo Polito. Super Dicas para Falar Bem em Conversas e Apresentações. Editora Saraiva, 2005, p.46

Page 77: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

/ /

Chamada: Lutero, pai da Reforma Protestante, em meio à adversidade da perseguição

trancou-se em seu quarto escuro e lá ficou por dias. Até que sua esposa, vestida de

preto, foi ao seu encontro. Ao vê-la naqueles trajes, Lutero perguntou:

- "Porque você está de luto? Quem morreu"?

-"Deus". Ela respondeu.

- "Ora, Deus não pode morrer". Ele, contrariado, respondeu.

Ela, porém, com firmeza afirmou:

- "Mas você está vivendo como se Deus estivesse morto".

Ao ouvir a sábia argumentação de sua esposa, Lutero se levantou em meio à sua

adversidade, para gravar seu nome na história para sempre.

Proposição: Porque Deus está vivo é possível vencer adversidades (AT). Neste texto

encontramos (ST), quatro atitudes (P.C) para se vencer as adversidades da vida.

É claro que, com o tempo, o pregador poderá incrementar a introdução com outros

elementos, como: "problemática", "idéia exegética", "interrogativa" e outros:

Chamada: "Deus está morto". Qualquer cristão piedoso, se levantaria para se opor a

esta famosa frase do filósofo alemão Nietzsche.

Idéia exegética: Todos os crentes sabem que Deus está vivo para sempre.

Problemática: O problema é que, em meio às adversidades da vida, muitos acabam

vivendo como se Deus estivesse morto.

• É a pessoa demitida que entra em desespero.

É a mulher abandonada que se afunda na depressão.

• É a mãe que perde as esperanças de ver a cura de um filho.

Interrogativa: A pergunta que fica é: O que fazer quando as adversidades batem nas

portas da vida?

Ilustração: Lutero, pai da Reforma Protestante, em meio à adversidade da perseguição,

trancou-se em seu quarto escuro e lá ficou por dias. Até que sua esposa, vestida de

preto, foi ao seu encontro. Ao vê-la naqueles trajes, Lutero perguntou:

- "Porque você está de luto? Quem morreu"?

- "Deus". Ela respondeu.

- "Ora, Deus não pode morrer". Ele, contrariado, respondeu.

- "Mas você está vivendo como se Deus estivesse morto".

Ao ouvir a argumentação verdadeira de sua esposa, Lutero se levantou em meio

à sua adversidade, para gravar seu nome na história para sempre.

Insight: "São nas maiores adversidades da vida que o poder de Deus mais se

manifesta".

Proposição: Porque Deus está vivo é possível vencer adversidades (AT). Neste texto encontramos (ST), quatro atitudes (P.C) para se vencer as adversidades da vida.

Page 78: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

78

Poderá até variar os elementos que compõe a introdução, sem é claro, destruir a estrutura

básica da chamada e da proposição. Como por exemplo, ao invés de usar uma ilustração na

introdução, dar de forma habilidosa e sucinta um panorama geral do contexto do texto em questão:

Chamada: "Deus está morto". Qualquer cristão piedoso, se levantaria para se opor a esta

famosa frase do filósofo alemão Nietzsche.

Idéia exegética: Todos os crentes sabem que Deus está vivo para sempre.

Problemática: O problema é que, em meio às adversidades da vida, muitos acabam vivendo

como se Deus estivesse morto.

• É a pessoa demitida que entra em desespero.

• É a mulher abandonada que se afunda na depressão.

• É a mãe que perde as esperanças de ver a cura de um filho.

Interrogativa: A pergunta que fica é: O que fazer quando as adversidades batem nas portas da

vida?

Contexto: Talvez, um dos textos que melhor respondem a esta pergunta seja o que temos em

mãos. O texto que nos conta a história de uma viúva aflita em meio à uma adversidade repentina,

que viveu nos tempos dos profetas, mais precisamente, no tempo de Eliseu, o sucessor de Elias.

Alguns acreditam que este texto, faz parte de uma série que mostra o poder do Deus vivo agindo

por meio de seu instrumento escolhido. Se pudéssemos resumir a mensagem deste texto em

uma única sentença seria:

Insight: "São nas maiores adversidades da vida que o poder de Deus mais se manifesta".

Proposição: Porque Deus está vivo é possível vencer adversidades (AT). Neste texto

encontramos (ST), quatro atitudes (P.C) para se vencer as adversidades da vida.

>.•'." ' w"-- • - .. . '•-*") • • • • ' / - » r . •: i J11 •. "«!>'• ;) i • s; .: ? :'•>-. i s

Para que a Introdução cumpra seu papel de ser a "isca" e a "porta" do sermão, ela precisa

possuir algumas "qualidades". Vejamos algumas:

a. Atrativa: Se durante uma apresentação a um auditório, fosse lançada uma pedra na janela, isto

faria com que todos desviassem sua atenção à mesma. A Introdução é uma "pedrada na janela", pois

tem como um de seus objetivos chamar a atenção do público para o orador. Num culto, o pastor local

da igreja começou seu sermão com a seguinte frase: "O novo ateu é cristão". Após tal frase, ele

explicou as atitudes de cristãos professos que demonstram ateísmo. Tal introdução foi uma "pedrada

na janela".

Page 79: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

79

b. Coerente: Um sermão coerente é como um trem saindo de um túnel. Primeiro vemos a parte da

frente, depois cada um de seus vagões, e enfim, a traseira. Embora haja partes distintas no trem, elas

são feitas do mesmo material e pintadas da mesma cor, o que dá unidade ao todo. Assim, para que a

introdução seja coerente com as outras partes do sermão, ela deve possuir a mesma natureza que as

demais. Isto é, se o sermão é sobre santidade, a introdução deverá falar sobre santidade. Se o

sermão é sobre famiiia, a introdução deverá tratar de família. Dependendo do ambiente, alguém que

quisesse pregar sobre "saudade", poderia usar na introdução, por exemplo, a música tema das

vitórias de Airtom Senna.

c. Distinta: Há pregadores que não sabem diferenciar a introdução da apresentação. Ao ponto de

que, ao começarem a falar, as pessoas se perguntam: "ele já começou a pregar, ou ainda está se

apresentando"? A diferença entre a apresentação e a introdução é que a apresentação é a hora dos

cumprimentos, da rápida apresentação da pessoa do orador, caso esteja visitando a congregação e

da abertura da Bíblia no texto indicado. A Introdução é, por sua vez, é simplesmente e

necessariamente, o início do sermão. Uma boa dica para distinguir a apresentação da introdução é

seguir os passos:

I. Apresentação

II. Leitura do Texto

III. Oração

IV. Introdução do Sermão.

Alguns pregadores preferem outra seqüência:

/. Apresentação

II. Oração

III. Introdução

IV. Leitura do Texto

Porém, a experiência mostra que a primeira alternativa, além de ser mais fácil de ser feita,

parece ser mais eficaz. Tudo vai depender das características pessoais do orador, o importante é que

fica claro para a congregação onde terminou a apresentação e onde começou a pregação.

d. Breve: atualmente temos testemunhado a tendência de grandes pregadores se demorarem mais

na introdução, a ponto dela ficar comparativamente maior do que cada tópico distinto do sermão.

Porém, o natural é que a introdução seja breve:

Note que uma pedrada na vidraça tem o poder de acordar todos os que estiverem dormindo

nas proximidades e fazer com que todos olhem na sua direção (...) Agora, se você ficar meia hora

atirando pedras na parede sem acertar a vidraça, todo mundo se acostuma com as pedradas e elas já

Page 80: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

nao causam mais impacto( e ainda há o perigo de você acertar o ouvinte). Em outras palavras, a

introdução deve durar só o suficiente para conquistar a atenção e introduzir o assunto79.

Assim, num sermão bem planejado, a introdução geralmente corresponde a 15% do sermão,

enquanto que o corpo corresponde a 75% e a conclusão corresponde a 10%. Ainda que a introdução

seja uma das menores partes do sermão, de forma alguma ela é menos importante. Pelo contrário,

ela é uma das partes mais importantes da prédica, pois, de sua correta execução depende todo o

restante do sermão. Pois como escreveu Duane Litfin: "Você nunca tem uma segunda chance de

causar uma primeira impressão"80.

e. Acessível: se você quiser ganhar a antipatia e o conseqüente desinteresse do público, logo em

suas primeiras palavras, coloque na Introdução assuntos complexos que a maioria não entenda; use

palavras rebuscadas a ponto das pessoas pensarem em levar, em seu próximo sermão, não apenas

Bíblias, mas também dicionários. Mantenha uma postura de superioridade e santidade durante a

palestra, assim, as pessoas ficarão com suas cabeças baixas, quem sabe dormindo ou, na melhor

das hipóteses, lendo a Bíblia (em outro texto). Por exemplo: "Caríssima irmandade, estamos a

carecer nesta lida, preparar-nos com intrepidez varonil, para a parúsia de nosso Senhor. Desta feita,

venho-lhes ensinar "três axiomas" da Escatologia joanina". Talvez, quando tal pregador chegar ao

terceiro "axioma", a maioria ainda esteja se perguntando: "Mas, o que é 'equisioma', hein"? Lembre-81

se, a simplicidade é a máxima sofisticação .

Nunca subestime o valor de uma boa Introdução, pois ela pode aquecer o coração de um

auditório frio, despertar a atenção de um público desinteressado e conduzir o sermão em um caminho

lógico e claro. Se esforce para fazer a Introdução como qualquer outra parte do sermão. Pois, como

alguém já disse: "A primeira impressão é a que fica".

7 9 Robsom Marinho. A Arte de Pregar-A Comunicação na Homiiética São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 70 8 0 Idem, 67. 8 1 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homiiética, 1997, p.23

Page 81: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

81

Faça a "Introdução" de seu sermão. Siga os seguintes passos:

1. Prepare a "proposição" do sermão.

Êx: "Deus perdoa o arrependido" (Afirmação Teológica). Neste texto encontramos

(Sentença de Transição) 2 provas (Palavra Chave) desta verdade.

2. Prepare a "chamada" de seu sermão:

a. Escolha uma forma para começar o sermão ( Pergunta, Frase de Efeito, Ilustração,

Atualidades ou outros), de modo que chame a atenção dos ouvintes e os conduza à

proposição.

b. Se necessário, faça a ligação entre a "chamada" e a "proposição" por meio dos "elos de

ligação" (problemática", interrogativa, ilustração, etc).

c. Redija sua Introdução de modo completo (Chamada, Elos de Ligação, Proposição).

Page 82: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Segundo Jerry Stanley Key, "se as primeiras impressões são as mais notáveis, as últimas são

as mais duradouras". Estas palavras resumem bem a importância da conclusão do sermão. Concluir

um sermão não é simplesmente "parar de falar", "bater os esboços no púlpito e dizer amém", ou ainda

"agradecer a oportunidade". Não, concluir o sermão significa dar o desfecho do assunto que foi

proposto na introdução e desenvolvido no corpo. Para se ter idéia da importância da conclusão do

sermão, veja algumas definições sobre a conclusão formuladas por grandes pregadores:

• "A conclusão do sermão também serve como uma sobremesa, para que os ouvintes

saiam sentindo o sabor doce do sermão"82 (Robson Moura Marirho).

• "Concluir é colocar a última pedra no quebra-cabeça, a pedra que completa o

quadro'83 (John Stott).

• "Concluir é dar o laço após colocar o sapato. Um sermão sem conclusão é um sapato

desamarrado; logo, logo, sai do pé". 84 (Ed René Kivitz).

Uma vez que a conclusão é tão importante quanto a Introdução e o Corpo do sermão,

devemos ter em mente algumas qualidades que fazem uma boa conclusão:

a. Coerente: Usando mais uma vez a analogia do trem, a conclusão seria o último vagão, porém, tão

importante quanto os anteriores, formando com os outros um todo coerente. Dizer que a conclusão

necessita ser coerente com o restante do sermão, implica dizer que ela precisa estar de acordo com

o assunto do sermão. Se o tema do sermão for sobre "pecado", a conclusão deve encerrar o assunto

sobre "pecado" do sermão. Se o tema do sermão for "mordomia", a conclusão deve ser o

encerramento do assunto sobre mordomia apresentado no sermão. Não acrescente assunto novo na

conclusão, mas conclua de acordo com o tema proposto na Introdução e desenvolvido no Corpo.

Como disse John Stott:

•Ao pregar, diga-lhes o que vai dizer e, tendo-lhes dito, diga-lhes o que disse". 85

8 2 Robsom Marinho. A Arte de Pregar - A Comunicação na Homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p.81 8 3 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p.20

Page 83: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

83

b. Breve: dentre as partes "macro" do sermão, a conclusão é a parte mais breve, tomando,

geralmente, "dez por cento" do tempo da pregação. Assim, numa pregação de trinta minutos, a

conclusão levará, em média, três minutos. Se alguém se aventurar a delongar-se muito na hora de

concluir, correrá o risco de ouvir a platéia começar a dizer "amém" antes de se encerrar o sermão.

Como Robsom Marinho alerta: "pare de pregar, antes que as pessoas parem de ouvir"! 86

c. Enxuta: uma conclusão breve não significa sem conteúdo, mas enxuta. Para tanto é necessário

"cortar" tudo aquilo que é desnecessário e sem proveito numa conclusão, como afirma Aristóteles:

"Qualquer coisa cuja ausência ou presença não faz diferença, não é essencial". 87 Se existem duas

coisas desnecessárias que alguns pregadores insistem em colocar na conclusão são desculpas e

agradecimentos. Se você pregou, de fato, a Palavra de Deus, nenhum dos dois são necessários. As

desculpas minimizarão a autoridade do que foi pregado e os agradecimentos podem dar a impressão

de que os ouvintes fizeram um favor em ouvir a Palavra. Isto não é nada bom. Pelo contrário, em

alguns países como Inglaterra, por exemplo, no final de um culto, é costume das pessoas

cumprimentarem o pregador agradecendo-lhe o sermão pregado.

d. Clara: conta-se de um pregador que, na conclusão de seu sermão sobre o dever da Igreja em

atuar fora das "quatro paredes", perguntou aos ouvintes: "o que vocês estão fazendo ainda aí

sentados"? Então, desceu do púlpito e saiu do templo, para dar o exemplo. É claro que não caberá,

em toda conclusão de um sermão, fazer algo de tamanho impacto assim. Se não, a congregação, se

tornará insegura e começará a se perguntar em cada sermão: "o que ele vai aprontar dessa vez"?

Porém, em toda conclusão, caberá ao pregador deixar bem claro o que se espera dos ouvintes, e um

pouco de criatividade pode ajudar muito na fixação da mensagem. Afinal, o alvo final de um sermão

não é o belo discurso, mas a transformação de vidas.

e. Natural: quando um orador anuncia que está terminado, as pessoas acreditam e se preparam para

ouvir as últimas palavras da prédica. O problema é que, não raras vezes, elas são enganadas. O

orador se delonga por mais dez minutos e um clima de inquietação se instaura no auditório. Isto

acontece porque ao anunciar a conclusão, a mente se prepara para o encerramento do assunto.

Quando isto não acontece, o resultado é a impaciência, a inquietação e a frustração. Como escreve

Lachler:

Um preparo prático e diligente da conclusão ajudará o expositor a evitar o grande erro que

chamo de "descumprimento de promessa". O pregador diz: "Concluindo..." e prega, prega e prega88.

8 4 Idem 8 5 Idem 8 6 Robsom Marinho. A Arte de Pregar-A Comunicação na Homilética. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.85 8 7 Idem, p. 81 8 8 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 119

Page 84: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

84

Por isto, é melhor não anunciar a conclusão, olhar no relógio de pulso e dizer "já estou

concluindo". Ou, se anunciar que vai concluir, conclua mesmo.

f. Planejada: A pregação de um sermão é como pilotar um avião. Antes do vôo, o piloto já tem tudo

planejado: a decolagem, o percurso, e a aterrissagem. Em outras palavras, ele sabe de onde vai sair,

por onde vai passar e onde vai chegar. Da mesma forma, se o pregador deseja evitar "acidentes"

durante a pregação, também deverá ter planejado todo o percurso do vôo, ou melhor, da pregação: a

introdução, o corpo e, inclusive, a conclusão. Como é sabido: "Aquele que falha em planejar, está

planejando falhar".

• j ty j í -»i f. u * r; J ÍH «]«(»'<* »ítí f» "<•:'. 5

Parece que a maioria dos livros de Homiiética concorda que existem dois elementos básicos

na estrutura da conclusão: "o resumo" e o "desafio". De fato, estes dois elementos assegurarão que a

conclusão cumpra seu papel de relembrar e motivar as consciências para uma tomada de decisão, a

partir do que foi pregado.

a. Resumo Reflexivo: O resumo reflexivo é uma breve reflexão a partir de tudo que foi pregado. É

como dizer: "Bem, diante do que foi dito... a conclusão é esta"! Salomão fez um bom resumo reflexivo

no final de seu livro: "Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: tema a Deus e obedeça aos

seus mandamentos, porque isso é o essencial para o homem" (Eclesiastes 12.13).

O Resumo Reflexivo faz um apanhado geral do sermão e tem efeito didático, pois ajuda a

relembrar e organizar na mente do ouvinte a essência da mensagem pregada. É possível fazer o

resumo reflexivo por meio:

• De um pensamento que leve as pessoas a meditarem sobre o que ouviram.

• Da repetição da proposição para dar um efeito de unidade ao sermão, pois

fará um "link" direto com a introdução.

• De uma ilustração que exemplifique a prática daquilo que foi proposto.

• De uma repetição dos tópicos pregados, embora deva ser feito com

elegância e criatividade, a fim de não parecer uma repetição de idéias, como

escreve Larsen:.

"Qualquer citação breve dos pontos, na maioria dos casos deve ser mais sutil e sugestiva. Esta

técnica é muito pesada e deve ser evitada"89.

S 9 David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2005, p. 119

Page 85: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

85

No exemplo abaixo, decidiu-se fazer o resumo reflexivo por meio de uma ilustração, que faz

ligação direta com a introdução (confira a Introdução, pg. 78,79):

Resumo Reflexivo: Conta-se que um homem caminhava com Jesus na praia, enquanto o

filme de sua vida passava diante de seus olhos. Ao caminharem, as pegadas de ambos

eram deixadas na areia. O homem percebeu que nos momentos das maiores adversidades

de sua vida, só havia suas próprias pegadas na areia. Então, disse a Jesus: "Porque nos

momentos mais difíceis da vida, o Senhor me deixou só"?

Ao que O Senhor lhe respondeu: "Nos momentos mais difíceis de sua vida, não te deixei

só, mas lhe carreguei no colo".

" Tanto o ímpio, quanto o crente, passam por adversidades na vida. Mas o que crê em Deus

não passa sozinho, passa com Jesus".

b. O Desafio: O desafio não é um "apelo" para que as pessoas levantem a mão, ou venham à frente

para receberem oração ou para firmarem um compromisso. O desafio é uma exortação, uma

chamada a ação, a fim de que as pessoas tomem uma atitude em relação ao que ouviram na

pregação. Assim como a "exortação" presente nos tópicos, o "desafio" também é feito em forma

imperativa e acompanhado por um "fechamento", que pode ser um pensamento, a repetição da

proposição ou um versículo bíblico relacionado com o que se propõe.

A diferença entre a exortação presente nos tópicos e o desafio presente na conclusão é que a

exortação é uma chamada à ação de acordo com o assunto específico do tópico, enquanto que o

desafio é uma chamada a ação de acordo com o tema geral do sermão.

No exemplo abaixo, a conclusão completa do sermão:

Resumo Reflexivo: Conta-se que um homem caminhava com Jesus na praia, enquanto o filme de sua

vida passava diante de seus olhos. Ao caminharem, as pegadas de ambos eram deixadas na areia. O

homem percebeu que nos momentos das maiores adversidades de sua vida, só havia suas próprias

pegadas na areia. Então, disse a Jesus: "Porque nos momentos mais difíceis da vida, o Senhor me

deixou só ?

Ao que O Senhor lhe respondeu: "Nos momentos mais difíceis de sua vida, não te deixei só, mas lhe

carreguei no colo".

"Tanto o ímpio, quanto o crente, passam por adversidades na vida. Mas o que crê em Deus não passa

sozinho, passa com Jesus".

Desafio: Em meio às adversidades de sua vida: busque, creia, obedeça e dependa de Deus . Pois O

Senhor diz: "Eu Sou O Senhor Seu Deus, que o segura pela mão direita e lhe diz: Não Tema, Eu o

ajudarei" (Isaías 41.13).

Page 86: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Que tal, vermos como as principais partes do sermão: Introdução, Corpo (Desenvolvimento) e

Conclusão se relacionam? Abaixo, cada uma destas importantes partes do sermão estruturadas:

Chamada: "Deus está morto". Qualquer cristão piedoso se levantaria para se opor a esta famosa frase do

filósofo alemão Nietzsche.

Idéia exegética: Todos os crentes sabem que Deus está vivo para sempre.

Problemática: O problema é que, em meio às adversidades da vida, muitos acabam vivendo como se Deus

estivesse morto.

É a pessoa demitida que entra em desespero.

• É a mulher abandonada que se afunda na depressão.

• É a mãe que perde as esperanças de ver a cura de um filho.

Interrogativa: A pergunta que fica é: O que fazer quando as adversidades batem nas portas da vida?

Contexto: Talvez, um dos textos que melhor respondem a esta pergunta seja o que temos em mãos. O

texto que nos conta a história de uma viúva aflita em meio a uma adversidade repentina, que viveu nos

tempos dos profetas, mais precisamente, no tempo de Eliseu, o sucessor de Elias. Alguns acreditam que

este texto faz parte de uma série que mostra o poder do Deus vivo agindo por meio de seu instrumento

escolhido. Assim, se pudéssemos resumira mensagem deste texto em uma única sentença, ela seria:

Insight: "São nas maiores adversidades da vida que o poder de Deus mais se manifesta".

Proposição: Porque Deus está vivo é possível vencer adversidades (AT). Neste texto encontramos (ST),

quatro atitudes (P. C) para se vencer com Deus, as adversidades da vida.

1 .Buscar a Deus

Abertura: Alguém já disse que: "para cada problema existe uma solução". Não sei até que ponto isto é verdade, mas de uma coisa sei: "na hora da adversidade, a solução é buscar a Deus". Como fez a viúva deste texto.

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo diante de Deus, o

profeta era o representante de Deus diante do povo.

"Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus".

Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus.

Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda:

• Do banco, e é endividada. • Da bebida, e é viciada. • Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada".

Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido à precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e ser risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido.

Exortação: Na adversidade, busque ajuda de Quem ajuda. Busque ajuda de Deus.

Fechamento: Pois a Bíblia diz: "Vocês me procurarão e me encontrarão quando me buscarem de todo o coração" (Jr 29.33).

Page 87: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

87

Resumo Reflexivo: Conta-se que um homem caminhava com Jesus na praia, enquanto o filme de sua vida

passava diante de seus olhos. Ao caminharem, as pegadas de ambos eram deixadas na areia. O homem

percebeu que nos momentos das maiores adversidades de sua vida, só havia suas próprias pegadas na areia.

Então, disse a Jesus: "Porque nos momentos mais difíceis da vida, o Senhor me deixou só"? Ao que O Senhor lhe respondeu:"Nos momentos mais difíceis de sua vida, não te deixei só, mas lhe carreguei no colo".

"Tanto o ímpio, quanto o crente, passam por adversidades na vida. Mas o que crê em Deus não passa sozinho, passa com Jesus".

Desafio: Em meio às adversidades de sua vida: busque, creia, obedeça e dependa de Deus . Pois O Senhor diz:

"Eu Sou O Senhor Seu Deus, que o segura pela mão direita e lhe diz: Não Tema, Eu o ajudarei" (Isaías 41.13).

Aí estão as partes principais de nosso sermão estruturadas. É claro que neste exemplo, na

parte do Corpo (Desenvolvimento), foi colocado apenas o primeiro tópico do sermão, Buscar a Deus.

Estão faltando as demais divisões, como, Obedecer a Deus; Crer em Deus e Depender de Deus.

Porém, basta um exemplo de tópico para sabermos como estruturar os demais.

Apesar de tudo parecer meio "quadradinho", devido à estruturação completa e planejada de

cada parte, é possível fazer uma leitura fluente da redação do sermão como se fosse uma única

peça, com transições suaves de uma parte para outra. Esta fluência na redação resultará em fluência

na pregação.

É neste ponto que alguns se "assustam" em ver tudo planejado e estruturado no sermão e

levantam a questão: "E se o Espírito Santo quiser falar algo na pregação que eu não tenha

planejado"?

Em primeiro lugar, entendemos que o mesmo Espírito que fala no momento da pregação é o

Espírito que fala no momento da preparação.

É certo que, ao se preparar a pregação, e assim o culto como um todo, O Espírito

Santo pode nos guiar antecipadamente em relação àquele evento, tão certo quanto num momento

específico"90.

9 0 David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo. Editora Vida, 2005, p.179

Page 88: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Desta maneira, o natural é que O espírito te ilumine a respeito do que deve falar antes de

falar. Foi assim com os profetas:

"E Ele me disse: 'Filho do homem, coma este rolo; depois vá falar à nação de Israel'. Eu abri

a boca, e Ele me deu o rolo para comer. E acrescentou: 'Filho do homem, coma este rolo que estou

lhe dando e encha seu estômago com ele'. Então eu o comi, e em minha boca era doce como o mel.

Depois Ele me disse: 'Filho do homem, vá agora à nação de Israel e diga-lhes as minhas palavras"

(Ezequiel 3.1-4).

Como vemos, O Espírito de Deus falou ao profeta antes de enviá-lo para pregar ao povo.

Porém, é necessário admitir que, em algumas ocasiões, O Espírito concedeu a palavra ao

mensageiro na oportunidade da pregação. Como no Dia do Pentecostes, em que Pedro, cheio do

Espírito Santo, se levantou e pregou com ousadia a respeito de Jesus Cristo (At 2.14-40). Isto pode

ocorrer ainda hoje, ocasiões em que devido à necessidade do momento, o Espírito capacita o

pregador a falar de improviso, mas com autoridade, unção e poder.

De fato, não faltarão ocasiões em que o Espírito Santo de Deus nos impulsionará a falarmos

de improviso, acrescentarmos ao sermão algo não pensado na preparação, ou, a retirar algo do

sermão que, de alguma forma, seria prejudicial à congregação.

Porém, a dependência do Espírito não deve servir de desculpa aos profetas preguiçosos que

esperam que tudo "caia do Céu", na hora que bem desejam. D.Martin Lloyd-Jones relata um caso

interessante, que chega a ser comovente:

..."ele pensava contar com bases bíblicas para não preparar os seus sermões. Ele

não tivera de preparar-se durante o período do reavivamento, e, terminado esse

reavivamento, ele sentia que tinha garantias espirituais para dar prosseguimento a esta

prática. Sua base bíblica era o trecho do Salmo 81, que diz: "Abre bem a tua boca, e ta

encherei". Ele interpretava essas palavras como se elas ensinassem que um homem pode

subir ao púlpito sem preparar-se previamente, porquanto o material de seu sermão lhe seria

outorgado. O pobre sujeito punha isso literalmente em prática; e o resultado é que ele

esvaziou os bancos de sua igreja, tornando-se mais ou menos inútil como pregador, durante

os cinqüenta anos seguintes".91

Assim, parece que o correto a fazer é se preparar de forma diligente e, ao mesmo tempo,

depender do Espírito, mantendo as antenas ligadas durante todo o processo, a fim de sermos

guiados por ele desde a oração da preparação até o amém da pregação.

9 1 D.Martin Lloyd-Jones. Pregação e Pregadores. Editora Fiel, 164

Page 89: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

89

Ao preparar a conclusão, você não apenas garantiu um "gran finali" ao sermão, mas deu às

pessoas um caminho claro para andarem, ao atravessarem as portas do templo e voltarem

novamente à realidade de suas vidas, no trabalho, em casa e na família.

Por isto, prepare bem a conclusão de seus sermões, pois como afirma David Larsen:

"certamente nossa conclusão não deve ser nenhum beco sem saída, mas uma via expressa que 92 convide a uma vida mais abundante em Jesus Cristo".

1. Prepare o "resumo reflexivo" da conclusão.

a. O que deve ficar gravado no coração dos ouvintes?

b. Como posso resumir isto de forma mais sucinta e criativa possível? (ênfase dos

tópicos, ilustração, frase de efeito, etc).

2. Prepare o "desafio" da conclusão:

a. Diante do "resumo reflexivo"o que Deus claramente exige que ouvintes façam?

b. Como posso escrever este desafio em uma única sentença?

c. Qual versículo Bíblico dá base para este desafio ?

3. Escreva sua conclusão de modo completo (resumo reflexivo e desafio).

9 2 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 120

Page 90: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

90

1 i 3 í p o 25 I v C5 O Cã O g i i O 1 Cá V W Ç? 52»

Conta-se que um cego em Paris, pedia esmola com uma placa onde estava escrito: "Sou

cego, me dê uma esmola". Porém, ninguém lhe dava nada. Um publicitário, passando por ali,

condoeu-se dele, tomou a placa e mudou o escrito. Ao final da tarde, o cego tinha mais esmolas do

que jamais havia recebido em um dia. O publicitário havia escrito em sua placa: "É primavera em

Paris e não posso vê-la".

Tão importante quanto saber o que falar é saber como falar. Dependendo de como

expressamos nossas idéias, ganharemos ou não o coração dos homens. Salomão sabia desta

verdade, por isto, além de ensinar conhecimento ao povo, "procurou também encontrar as palavras

certas" (Eclesiastes 12.10).

A preocupação com o bom falar foi notória no período greco-romano. As tribunas da

antigüidade foram palcos de grandes oradores como Demóstenes e Cícero, e, do surgimento da

retórica. Por definição, retórica é um conjunto de regras relativas à eloqüência93, ou, num sentido

mais prático, é a arte de se expressar de modo fácil, apropriado e irresistível94. Em outras palavras, a

"retórica" é um conjunto de técnicas de oratória, que, uma vez assimiladas, servem como uma

ferramenta eficaz para a boa comunicação.

SS&TWfc e i»' " - * rSj Ps ' ... »* ** * • J tm i i : H »1 s ipk - cx « » i - : n i t ; i i n .

' ' • • • -

Segundo a história, Córax, grego siciliano, é considerado o criador da retórica. Parece que

ele, com a ajuda de um discípulo:

...estabeleceu certas regras para o discurso, dividindo-o em cinco partes: proêmio, ' • 95 narrativa, argumentos, observações e sumario .

Antes de saber como algumas dicas retóricas podem colaborar com a confecção final e

apresentação do sermão, vamos conhecer um pouco sobre a história dessa arte, como ela adentrou

a Igreja e influenciou a pregação cristã.

9 3 Michaelis. Dicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo,Editora Melhoramentos, 2002, p.678 9 4 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p28 9 5 Noélio Duarte. Você pode Falar Melhor. São Paulo, Hagnos, 2001, p.56

Page 91: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

91

a, A Retórica e a Igreja Primitiva: a princípio, a retórica não foi aceita na comunidade cristã judaica

do primeiro século. Os judeus da Palestina rejeitavam a cultura grega conhecida também como

helenismo e tudo o que ela continha, inclusive, a retórica. Além disso, existiam as escolas sofistas,

cujo propósito era ensinar a persuasão por meio do discurso, mesmo em detrimento à verdade. Os

sofistas, por meio das técnicas retóricas, eram capazes de "fazer o pior, parecer melhor"9S. Por estas

razões, o estilo de pregação cristã judaica, a princípio, se limitou em narrar fatos históricos do povo

judeu e aplicar à situação do momento, como fez Estevão, ao tentar convencer os judeus de seu

tempo que Jesus era O Messias (At 7.1-53).

No entanto, à medida que o Evangelho se expandiu para o mundo, gentios conversos

adentraram a Igreja, e trouxeram consigo as técnicas da retórica. Como parece ter sido o caso de

Apoio, judeu helenizado: "Chegou a Éfeso um judeu chamado Apoio, natural de Alexandria, homem

eloqüente e poderoso nas Escrituras" (At 18.24).

Na Igreja de Corinto, havia pregadores que faziam uso da retórica com fins espúrios, inclusive

para denegrir a autoridade do apóstolo Paulo: "pois alguns dizem: as cartas dele são duras e fortes,

mas ele pessoalmente não impressiona, e a sua palavra é desprezível" (2a Co 10.10). Paulo, porém,

possuía um motivo para não fazer uso dos recursos retóricos no ensino da Igreja: "Minha mensagem

e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de

demonstração do poder do Espírito, para que a fé de vocês não se baseasse na sabedoria humana,

mas no poder de Deus" (1a Co 2.4,5).

Porém, a versatilidade do apóstolo dos gentios, fez com que, em momentos propícios e para

platéias específicas, ele usasse a retórica para melhor comunicar o Evangelho. Como aconteceu em

Atenas, capital grega, na oportunidade que lhe foi dada de pregar no Areópago (At 17. 22-31).

A partir dessas referências bíblicas, podemos entender que a retórica é uma ferramenta de

comunicação que pode ser utilizada para o bem ou para o mal. É como uma "faca", que pode ser

usada tanto para preparar o alimento, quanto para matar.

b. A Retórica e a História da Igreja: a Igreja produziu e continua produzindo grandes oradores ao

longo de sua história, uma vez que a pregação da Palavra é essencial ao seu modus vivendi.

Conheça alguns dos grandes pregadores que contribuíram para a expansão do Evangelho às mentes

mais exigentes.

• João Crisóstomo, que foi bispo de Constantinopla no século IV, foi chamado de "língua

dourada", devido a sua eloqüência em prol das verdades cristãs.

"Para João, todavia, o púlpito não era simplesmente uma tribuna onde ele oferecia brilhantes

peças de oratória. Ele foi antes a expressão oral de toda a sua vida, cenário de sua batalha

9 6 Idem.

Page 92: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

contra os poderes do mal, vocação insubordinável que mais tarde lhe custou o desterro e até a

vida".97

• Agostinho, um dos mais célebres teólogo e filósofo do cristianismo. Antes de se converter,

fora professor de retórica em Catargo, Roma e Milão, em meados do século IV. Sua

conversão se deu em parte, pelas pregações de outro grande orador cristão, Ambrósio.

"Agostinho, como professor de retórica, foi ouvir a pregação do famoso bispo. Seu

propósito não era ouvir o que Ambrósio dizia, mas como ele o dizia. Se Ambrósio tinha tanta

fama de ser um bom orador, a causa disto deveria ser sua retórica. Agostinho, pois, foi por

razões puramente profissionais diversas vezes à Igreja, para ouvir a pregação de Ambrósio. À

medida que o ouvia, no entanto, prestava menos atenção à maneira com que o bispo elaborava

seus sermões, e mais ao que dizia neles" (...) O que Ambrósio na verdade estava fazendo,

apesar de não estar ciente disto, era mostrar ao mestre de retórica a riqueza e o valor das

Escrituras".98

• Charles Spurgeon, foi considerado o príncipe dos pregadores. Para acolher o

grande número de pessoas que vinham o ouvir, cerca de dez mil, foi construído o

Metropolitan de Londres. O seguinte trecho mostra como o grande pregador inglês,

além de ser cheio do Espírito, era também um ourives das palavras:

"O que é a mãe para o filho,

O que é o guia na selva ínvia,

O que é o óleo para a onda turbada,

O que é o resgate para o escravo

O que é a água para o mar

Isso é Jesus Cristo para mim ".99

Ainda houve muitos outros como, Jonathan Edwards, John Wesley, Billy Graham e

Rubens Lopes. E hoje, não é diferente. Aqueles que têm se mostrado mais competentes no

púlpito são os que parecem unir o poder do Espírito às técnicas retóricas para melhor

comunicar o Evangelho de Jesus. Como escreve Broadus:

Com respeito à perícia, o ato de pregar é uma arte. E enquanto a arte não pode

criar os requeridos poderes mentais ou corporais, nem substituí-los quando realmente

ausentes, não obstante, ela pode desenvolvê-los e aprimorá-los, e ainda ajudar o homem a

usá-los com maiores vantagens100.

9 7 Justo L. Gonzáles. Uma História Ilustrada do Cristianismo, Vol. 2 - A Era dos Gigantes. São Paulo, Vida Nova, 1995, p. 147 9 8 Idem , p.167,168 9 9 C.H.Spurgeon. Esboços Bíblicos. De Gênesis ao Apocalipse - Aprendendo com o Príncipe dos Pregadores. São Paulo: Shedd Publicações, 2002, p. 12 1 0 0 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.28

Page 93: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Assim, muito ganharemos se também pudermos unir vida piedosa e de estudo sério

das Escrituras, às técnicas de comunicação que nos ajudarão a transmitir de forma mais

eficaz as verdades eternas e salvadoras de Deus.

' rawHi wiiit.1»''»! 'MitaiMMiflMii' wí..'»pgtawwwB!»» •of-imi, L,- • J (:..; . l » « Í : , : : •• • urratMn iiiiÉiwfliiiiiillwii II TI, ti n uti I esMmftxs^mi,. *

Agora que o sermão está estruturado e já se sabe o que falar, é necessário pensar

em como falar. É nesse ponto que os princípios da retórica contribuem muito com o

pregador, pois lhe mostram o melhor caminho para anunciar O Caminho, pois lhe constrange

a escolher as melhores palavras para pregar a Palavra. Como disse Samuel Taylor

Coleridge: "Na boa comunicação, há uma razão não só para cada palavra, mas para a

posição de cada palavra"101.

Assim como existem passos para a boa estruturação do sermão, também é possível

alguns passos para a boa comunicação do mesmo. A seguir, algumas sugestões:

a. Redija o sermão: Quem nunca passou pela experiência de, em meio a uma fala, lhe dar

o famoso "branco"? É comum ver novatos pregadores, ora ou outra, se verem perdidos em

meio a tantas palavras, ou, às vezes, lhes faltarem palavras, fazendo com que o inevitável

silêncio, ou "branco", seja substituído por ruídos silábicos como o "hããm"... "é".... Ou, até

mesmo, por alguns recursos evangelicais bem usuais como: "amém"? "Aleluia", "louvado

seja O Senhor" e outros mais. Todos estes "nós" de comunicação poderiam ser evitados, ou

pelo menos, amenizados, se o pregador pudesse, antes de subir ao púlpito, fazer o exercício

de redigir o seu sermão. Tal exercício não visa a memorização de palavra por palavra a ser

proferida no púlpito, o que tornaria artificial a pregação, mas fazer com que o pregador, de

"ante mão", já perceba onde seu pensamento está embaraçado, confuso, nebuloso, e, se

force a encontrar palavras precisas e caminhos adequados para comunicar suas idéias. Tal

esforço trará mais clareza ao pensamento e mais exatidão no falar, o que contribuirá para a

eloqüência. Como cita Francis Bacon: "Escrever faz com que um homem exato seja exato no 102 pensamento e na fala" .

b. Refine o sermão: No exercício de redigir o sermão, o pregador "soltou seu pensamento"

e escreveu tudo no papel. Contudo, o bom pregador não apenas sabe o que falar, mas

também como falar e o que não falar. Ao refinar o sermão, ele deverá:

1 0 1 Robsom Marinho. A Arte de Pregar- A Comunicação na Homilética. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.l 1 1 0 2 Haddon W. Robinson. A Pregação Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 1990, p. 117

Page 94: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

• Simplificar palavras: a obrigação do pregador não é faiar "difícil" ou falar "bonito",

mas, falar de modo que as pessoas entendam. Como fizeram os levitas no tempo de Esdras

e Neemias: "leram o livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando-o, a fim de que o

povo entendesse o que estava sendo lido" (Ne 8.8).

Cuidado com o "evangeliquês", o "teologuês", e a tentação de querer impressionar,

seja simples. Ao invés de falar labor, fale trabalho; ao invés de dizer "parousia", diga "volta

de Cristo". Se você usar palavras que não fazem parte do vocabulário dos seus ouvintes,

você falará como um estrangeiro para eles. Por isto, é melhor adequar suas palavras ao

nível da platéia. Como fazia John Wesley, que antes de pregar, costumava ler seus sermões

a uma empregada doméstica, e caso não fosse entendida uma palavra, ele a tirava103. Como

disse o apóstolo Paulo: "Todavia, na igreja prefiro falar cinco palavras compreensíveis para

instruir os outros a falar dez mil palavras em uma língua" (1a Co 14.18).

• Cortar palavras: Quanto mais palavras para dizerem menos coisas, menos impacto

terão. Quanto menos palavras para dizerem mais coisas, mais impacto terão. Fale menos e

diga mais. Para isto, corte tudo o que é desnecessário:

• Repetição de idéias: o que é bem dito uma vez, não precisa de repetição.

• Acessórios de linguagem: nem sempre adjetivos e pronomes são essenciais.

Quando os pronomes e os adjetivos não forem essenciais na

comunicação, corte-os. Assim: "Nessa manhã ensolarada,

maravilhosa e encantadora, vamos abrir nossa Bíblia e aquecer o

nosso coração". Fica melhor: "Nessa manhã, vamos abrir a Bíblia e

aquecer o coração".

Nunca use duas palavras, quando uma é suficiente.

• Concretizar palavras: Na comunicação é melhor ser específico do que ser genérico, é

melhor ser concreto do que ser abstrato. Por isto, não diga "frutas", diga "banana,

maçã, pêra". Não diga "roupas", mas diga "camisa", "calça", "terno". Não diga

"eletrodoméstico", diga "geladeira", "liqüidificador", "batedeira". Ao usar palavras

concretas, você estimulará a criação de imagens na mente do ouvinte, o que

facilitará o entendimento da mensagem. Lembre-se: "o bom orador é aquele que

transforma ouvidos em olhos".

• Figurar palavras: Lembro-me de um culto, numa igreja localizada em uma favela, que o

pregador disse: "ninguém tem peito de aço". Todos entenderam o que ele quis dizer,

o que talvez não acontecesse se ele falasse: "ninguém é imortal". As figuras de

linguagem também podem ser poderosos recursos de comunicação verbal. Dentre

vários tipos de figuras de linguagem, citamos:

Page 95: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

• Símile: é a comparação, é o como. Por exemplo: "A vida é como uma

neblina". "O pecado é como uma maçã bonita por fora, mas podre por dentro".

Jesus usou muitas símiles para elucidar Seu ensino sobre o Reino. Ele disse

que o Reino de Deus é como o grão de mostarda, como o fermento e como o

tesouro escondido.

• Metáfora: é a equivalência, é dizer que uma coisa é a outra. Por exemplo:

"A minha vida é um livro aberto". "Nenhum homem é uma ilha". Jesus também

usou metáforas quando disse: "Vocês são o sal da terra e a luz do mundo"; "Eu

sou a videira e vocês são os ramos"; "Eu sou o caminho, a verdade e a vida".

• Metonímia: é usar a parte de algo para significar o todo. Quando Jesus

disse: "O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça", não quis dizer que

não tinha um travesseiro, mas, que não tinha morada fixa ou grandes recursos.

Da mesma forma, quando o poeta diz "Meus braços precisam dos teus" 104, está

expressando sua necessidade pela pessoa inteira por meio de uma parte do seu

corpo.

Alguns podem ver tais recursos apenas como detalhes que pouca diferença farão.

Mas, prefiro concordar com Mark Twain que disse:

"A diferença entre a palavra certa e a quase certa é a diferença entre o relâmpago e o vaga

lume"105.

^jàà^^^ssãtimmems&íimeÈísmí

Ao terminar o preparo do sermão, o pregador se deparará com a seguinte pergunta:

o que levar para o púlpito? Há pregadores que levam o sermão totalmente redigido como

um manuscrito, outros levam apenas um esboço, e, há quem não leve nada. É claro que isto

dependerá da formação e da natureza de cada pessoa. Porém, será proveitoso estudarmos

cada uma dessas possibilidades.

a. Manuscrito: é o sermão totalmente redigido. É mais bem usado em ocasiões solenes,

como formatura, posse, e outras cerimônias em que a polidez e o formalismo são bem

vindos e necessários. Apesar de alguns pregadores terem se aperfeiçoado na arte de ler

sermões, de modo que parecem estar pregando livremente, o manuscrito exigirá que o

pregador tire, constantemente, o olhar dos ouvintes. O que pode lhe custar bem caro,

principalmente, se a platéia não é afeita a discursos. Como afirma Haddon W. Robinson:

1 0 3 Robsom Marinho. A Arte de Pregar-A Comunicação na Homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 111 1 0 4 Antônio Suárez Abreu. A Arte de Argumentar - Gerenciando Razão e Emoção. Cotia: Ateliê Editorial, 2005, p . l l l

Page 96: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

O sermão não deve ser lido diante da congregação. A leitura mata o senso

vivo da comunicação106.

b. Esboço: são breves anotações do sermão. É geralmente feito em uma pequena folha de

papel, que cabe dentro da Bíblia. Anotam-se as divisões do sermão e algumas palavras ou

sentenças, que, ao serem lidas, desencadeiam todo o pensamento preparado. A maioria dos

pregadores usa esboço. Alguns com maior dependência, e outros, com tanta independência,

que, em certas ocasiões, não o consultam nem uma vez sequer. É como um mapa, a gente

usa apenas quando fica em dúvida sobre o caminho. O príncipe dos pregadores, Charles

Spurgeon, usava uma pequena folha de anotações como esboço, que usava muito pouco107,

e era capaz de pregar horas sem perder a atenção da congregação:

"Alguns andam de muletas e lêem quase todo o sermão; isto como norma, deve ser um

mau negócio. A maior parte dos pregadores precisa carregar um elemento de apoio,

mesmo que muitas vezes não dependa dele. O homem perfeitamente capaz não

precisa nada disso. Não sou um desses irmãos de primeira classe; com meu cajado

tenho atravessado este Jordão"...108

c. Sem anotações: Alguém já disse que "o papel é um péssimo condutor de energia". Com

relação à pregação, isto pode ser uma grande verdade. Quanto menos o pregador depender

do papel, mais contato visual manterá com a platéia, o que pode ser um ponto a mais na

eficácia da comunicação. Pregar sem anotações não significa pregar sem preparo, pelo

contrário, é necessário estar extremamente preparado. Não significa pregar algo decorado,

isto faria com que o pregador parecesse mais um proclamador de poesia. Também não

significa pregar sem esboço. A diferença é que, ao invés do esboço estar no papel, está no

coração:

"Andrew W . Blackwood lembra-nos que a pregação sem anotações foi o

método de Jesus, dos profetas e dos apóstolos que, quando pregavam,

falavam de coração a coração e de olhos a olhos". 109

Cabe lembrar que o mais importante não é como se prega, mas, o que se prega.

Seja por meio de um manuscrito totalmente redigido, por meio de algumas anotações, ou

ainda, sem esboço nenhum, a ordem é que se pregue a Palavra: "Pregue a Palavra, esteja

preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e

doutrina" (2aTimóteo 4.2).

1 0 5 Robsom Marinho. A Arte de Pregar - A Comunicação na Homiiética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 110. 1 0 6 Haddon W. Robinson. A Pregação Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 1990, p. l 19 1 0 7 Charles W. Koller. Pregação Expositiva sem Anotações. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 33 1 0 8 C.H.Spurgeon. Esboços Bíblicos. De Gênesis ao Apocalipse - Aprendendo com o Príncipe dos Pregadores São Paulo, Shedd Publicações, 2002, p. 13

Page 97: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Porém, o pregador, como "ourives das palavras", não deve ignorar a importância de

seu preparo, o que inclui também no afiar das palavras de seu sermão, para que estas

sejam tão cortantes quanto à mensagem que anuncia:

"Pois a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois

gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os

pensamentos e intenções do coração" (Hb 4.12).

Assim, o pregador diligente se preocupará tanto com o pensamento, como também

com o revestimento do pensamento. Como defende Broadus: "O pensamento é certamente

a coisa principal, mas o estilo é também muito importante". 110

Faça a "Composição e as Anotações" de seu sermão. Siga os seguintes passos:

1. Redija o sermão:

a. Redija cada parte de seu sermão como se estivesse falando aos ouvintes.

2. Refine o sermão:

a. Pense no tempo disponível para a pregação (tempo que te deram para pregar).

b. Troque as palavras "difíceis" por palavras "simples".

c. Corte tudo o que não é essencial:

• Repetição de idéias

• Acessórios de linguagem (adjetivos, pronomes, etc.)

• Detalhes

d. Use palavras concretas e figuras de linguagem (símile, metáfora, sinédoque).

3. Faça o "esboço" do sermão:

a. Resuma o manuscrito de seu sermão em formas "sintetizadas".

b. Passe a limpo a "síntese" em uma pequena folha para pregação.

1 0 9 Charles W. Koller. Pregação Expositiva sem Anotações. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p.32 1 1 0 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.244

Page 98: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

ys

<ç o

• \ ' ^ ^ Í-V^ B 1 vs. **** V f 1M * - I ^^ / J ^ ü i n U í m o c i v cs O f c l wU cá I 4-í ; m c í O i c í

Quem não se lembra daquele personagem humorístico chamado "Patropi", famoso pela sua

resposta costumeira "sei lá entende"? A graça do seu papel estava justamente na dificuldade que ele

tinha de se comunicar, mesmo sendo um estudante de comunicação. Não é difícil encontrar

seminaristas e até pastores em ativa, com a mesma dificuldade de Patropi, pois cometem erros

primários de dicção, de gesticulação e até de postura. Falam errado, comem palavras, olham para o

vazio, são monótonos... Erros estes que, longe de serem facilmente ignorados, chamam mais a

atenção da platéia do que o conteúdo que tentam transmitir, o que contribui e muito para o fracasso

da comunicação. A boa notícia é que, com algumas orientações, treinamento prático, e esforço, é

possível melhorar consideravelmente sua eficácia em se comunicar.

Mas afinal, o que é comunicação?

Segundo Michaelis, comunicação é aviso, informação transmissão de uma ordem ou

reciamaçãou\ Porém, para fins homiléticos, melhor definição do que esta é aquela que define

comunicação como a ação de transmitir uma mensagem por meio de um código compreensível e

claro para o ouvinte. Como bem ilustra o conhecido desenho abaixo:

M e n s a g e m

E m i s s o r R e c e p t o r

Quando o receptor (ouvinte) entende a mensagem transmitida pelo emissor, ocorreu

a comunicação. Assim, na Homiiética, uma definição possível para comunicação poderia ser

o ato de transmitir uma mensagem por meio de um sermão inteligível aos ouvintes.

O pregador que se preze se preocupará não apenas em preparar bem o seu sermão,

mas também em comunicá-lo bem. Por isto, vamos conhecer dois tipos de comunicação

essenciais para a pregação eficaz do sermão, a comunicação verbal e a comunicação não

verbal.

Page 99: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Um ditado conhecido de todos é aquele que diz "quem tem boca vai a Roma".

Porém, não apenas a capacidade de falar, mas, principalmente, a capacidade de falar bem é

essencial para o sucesso na liderança de um grupo, no ensino de uma matéria e até mesmo

nos relacionamentos pessoais.

Talvez, um dos maiores exemplos do poder da comunicação verbal seja Adolf Hitler,

o líder nazista que convenceu toda uma nação a apoiar suas loucuras de conquistas

mediante seus discursos eloqüentes e, por alguns, considerados sobrenaturais. Seja como

for, cabe à testemunha de Cristo redimir o poder das palavras e colocá-lo a serviço do

Reino.

Vejamos alguns elementos que possibilitam a boa comunicação verbal.

a. Dicção: ter uma boa dicção significa pronunciar de forma correta e inteligível cada

palavra. Se o orador não pronunciar corretamente as palavras de seu discurso, os ouvintes

poderão não entendê-lo, ou, entendê-lo com dificuldade.

Para se ter uma boa dicção é necessário atentar para a:

• Articulação: não existe "nós forno", existe "nós fomos". Não existe "nós vamo

ficá", existe "nós vamos ficar". As palavras precisam ser bem articuladas, isto

é, precisam ser pronunciadas completamente.

• Pronúncia: diz respeito a emitir o som correto das palavras. Por exemplo, ao

invés de dizer "nóis vai iscutá", dizer "nós vamos escutar".

Como alguém já disse: para as pessoas te ouvirem, você não precisa falar bonito,

precisa falar corretamente.

b. Tom: existem três tipos de tom, o grave, o médio e o agudo. No passado, pregador bom

era aquele que exibia seu vasto vocabulário com uma voz tipo de locutor de rádio. O

importante era falar bonito. Hoje, numa sociedade informatizada como a nossa, não é mais

este estilo que atrai os ouvintes. Pelo contrário, as pessoas são ávidas por uma

comunicação simples e prática. Isto é, se no passado os paradigmas da pregação atraente

já foram o vocabulário e o timbre do pregador, hoje, os paradigmas são o conteúdo e a

praticidade. As pessoas estão mais interessadas em ouvir algo que possam entender e

colocar em prática, do que ouvir algo rebuscado, ornamentado, até musicado, mas

irrelevante.

"'Michaelis. Dicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo,Editora Melhoramentos, 2002, p. 187

Page 100: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

1 u u

Porém, não podemos ignorar o inconveniente que uma voz estridente ou grave

demais pode provocar. A voz muito aguda pode irritar os ouvidos em menos de cinco

minutos e a voz muito grave faz parecer que o pregador está falando de dentro de uma

caverna com um megafone, o que impossibilita o entendimento de muitas palavras. Uma boa

dica para os casos menos graves é procurar se ouvir, por meio de gravações em áudio, e ir

tentado se auto corrigir. Porém, se o caso for mais sério, a consulta de um fonoaudiólogo

pode ser a melhor saída.

c. Modulação: Ninguém agüenta ficar trinta minutos fazendo força para ouvir alguém falando tão

baixo. Por outro lado, não há tímpanos que agüentem uma pessoa gritando o tempo todo. Na

pregação o que mantém a atenção dos ouvintes não é a altura da fala, mas é a variação da fala.

Imagine um auditório que, aos poucos, começa a falar juntamente com o pregador. O que ele deve

fazer? Aumentar a voz de modo que ela sobressaia a dos "ouvintes", certo? Errado. Nesses casos,

abaixar a altura da voz chamará mais a atenção da platéia do que começar a berrar.

Certo pastor conta de sua experiência na plantação de uma igreja em uma favela. Diante de

um público não acostumado a ouvir sermões, hora ou outra durante a pregação ele se via competindo

em altura com os falantes. O resultado é que quanto mais alto ele falava, mais alto o público falava.

Até que mudou de estratégia. Quando as pessoas começavam a falar durante a pregação ele

abaixava o volume da voz, o que chamava a atenção de quem falava pela "quebra" do som ambiente,

e, os que não percebiam, eram repreendidos pelos outros com um educado, mas incisivo "shhhhhh"!

O resultado era o silêncio.

O contraste é um poderoso meio de comunicação. Isto é, durante a fala, o pregador deve

alternar a altura da voz, a fim de produzir modulação e contraste. Tal variação evita a monotonia e

contribui para manter a atenção da platéia. Por isto, um ótimo recurso a ser usado é o microfone.

Com ele o pregador pode variar grandemente a altura da voz a ponto de até sussurrar e ser ouvido.

O bom pregador aprenderá a fazer bom uso do microfone. Como escreve o professor de Homilética

Jorge Schutz Dias:

O microfone é um amigo do pregador! Não dê pancada nele antes de usá-lo. No caso de

dificuldades em conviver com ele, faça um curso e aprenda a usar o recurso112.

d. Ritmo: diz respeito à velocidade com que se fala. Dependendo do ritmo que se imprime à

fala, as pessoas entenderão mais, ou, menos, do que se pretende comunicar. Se o pregador

falar muito rápido, os ouvintes perderão palavras. Se o pregador falar muito devagar, a

atenção dos ouvintes "escapará" por entre as lacunas muito espaçosas que ficarão entre

uma palavra e outra no discurso. Noéli Duarte, fonoaudiólogo e professor de oratória,

apresenta em seu livro Você pode Falar Melhor, uma interessante relação entre o número de

palavras por minuto (p.p.m.) e a compreensão da comunicação:

Page 101: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Até 60 p.p.m. - Tendência à fuga da concentração: compreensão incerta.

• Até 80 p.p.m. - Comunicação eficiente, ótima capacitação: compreensão total.

Até 100 p.p.m. - Baixa eficácia articular, dicção sofrível: compreensão de 30%.

• Até 120 p.p.m - Respiração descoordenada, dicção confusa: compreensão de 50%.

• Até 140 p.p.m - Ineficácia articular. Péssima dicção: compreensão de 30%.

Acima de 160 p.p.m. - grave distúrbio da comunicação, compatível com distúrbios

psíquicos, descontrole, confusão de idéias (superposição). Compreensão total

bloqueada. A mais grave forma de compreensão113.

Como vemos, o ideal é pronunciar em média 80 palavras por minuto. Porém,

ninguém precisa treinar para falar o tempo todo nesse ritmo. Assim como a altura da voz

deve ter variação no discurso, o ritmo também deve ser variado, a fim de não criar

monotonia. Dessa maneira, o melhor conselho é variar: acelere, vá devagar, pare... Toda

esta variação de acordo com a emoção da idéia comunicada e a circunstância do

momento.

A Comunicação Não Verbal diz respeito à comunicação que não faz uso da voz.

Quem subestima o poder de um "olhar de mãe", ou dúvida que os surdos se comunicam?

Por incrível que pareça, a comunicação não verbal é tão, ou, até mais poderosa que a

comunicação verbal. Como defende Herbert Spencer:

Dizer "saia daqui" é bem menos expressivo do que apontar a porta da rua.

Colocar-se um dedo nos lábios tem maior poder que segredar "não fale". Um sinal com a

mão dirá "venha cá". Frase alguma dará melhor idéia de surpresa do que arregalar os

olhos e erguer as sobrancelhas. O sacudir de ombros certamente perderá muito quando

posto em palavras114.

O bom pregador, ou, comunicador, alia de forma coerente e harmoniosa o uso da

comunicação verbal e não verbal. Por isto, também cabe atentar para alguns elementos da

comunicação não verbal.

1 1 2 Jorge Schutz Dias. Dicas aos Pregadores. Suplemento do CD-ROM Bíblia em Ação - Pregando com os mestres, São Paulo, Vida Nova. 1 1 3 Noélio Duarte. Você pode Falar Melhor. São Paulo, Hagnos, 2001. p.49,50. 1 1 4 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p365

Page 102: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

a. Postura: diz respeito ao modo como se posiciona o corpo na tribuna, púlpito ou

plataforma. Uma postura curvada demonstra medo, insegurança ou um sentimento de

inferioridade. Por outro lado, o orador que estufa o peito como um pombo demonstra

arrogância e sentimento de superioridade, o que atrai a antipatia da platéia sobre si mesmo.

David Larsen, experiente pregador, confessa que teve que corrigir essa falha nos seus

primórdios de ministério:

Lembro-me de um professor que me ajudou muito, mostrando que eu sempre

iniciava o sermão com uma elevação das narinas tal qual um búfalo farejando o chão.

Era um gesto de arrogância e que precisava de atenção imediata115.

A melhor postura é a natural, ereta, com os pés bem postos e firmados no

chão, principalmente, quando se inicia o sermão. Tal visão transmite respeito, experiência e

segurança tranqüilizadora aos ouvintes, pois, em tal postura parece estar escrito: "Fiquem

tranqüilos, fiz a lição de casa".

b. Gestos: dizem que há pessoas que "falam com as mãos". Ninguém deve subestimar o

poder dos gestos na comunicação. Não gesticular para pregar é abrir mão de uma excelente

ferramenta de comunicação, as mãos. Porém, toda ferramenta pode ser bem ou mal usada.

Vejamos algumas dicas para o bom uso da gesticulação na pregação:

• A gesticulação deve ser coerente: O Inferno não se aponta para cima, nem o

Céu para baixo. A gesticulação não deve ser independente da fala, antes ela

enfatiza a fala, para tanto, precisa ser coerente com a mesma. Assim como

a baqueta do maestro rege a sinfonia, as idéias regem a gesticulação.

• A gesticulação deve ser natural: Nada de planejar os gestos. Tamanho

perfeccionismo só roubará a naturalidade da gesticulação junto com sua

força. A gesticulação na pregação deve ser tão espontânea quanto a própria

fala na pregação.

• A gesticulação deve ser sensata: bom senso fica bem em todo lugar, ainda

mais no púlpito. Com isso, não se pretende defender a idéia antiga de que a

gesticulação, por exemplo, não deve passar da linha dos ombros. Em

ocasiões formais, tal conselho é valioso, mas diante de alguns tipos de

público, tal comedimento poderá servir apenas para que se preste menos

atenção ainda no pregador. Quando se diz que os gestos devem ser

sensatos, quer se dizer que não devem assar os limites da sensibilidade do

público. Por exemplo, apontar o dedo, bater no púlpito, cerrar os punhos,

1 1 5 David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2005.p.l84.

Page 103: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

são gestos indelioados e desnecessários. A tendência do público de hoje é

repelir ditadores.

c. Olhos: nunca exageramos em admitir o poder de um olhar. Bastou um olhar de Jesus a

Pedro, para que o coração do apóstolo pescador se partisse em choro convulso com

lágrimas amargas de arrependimento: "O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro.

Então Pedro se lembrou da Palavra que O Senhor tinha dito: 'Antes que o galo cante hoje,

você me negará três vezes'. Saindo dali, chorou amargamente" (Lc 22.61-62).

Como dizem, os "olhos não mentem". E é verdade, eles são o espelho da alma,

capaz de desmentir tudo o que as palavras teimam em dizer. Algumas expressões de olhar

são bastante conhecidas:

Olhar para baixo: expressa vergonha, omissão ou culpa.

• Olhar para cima: alguns acreditam que o olhar para cima e do lado direito

indica criação e invenção. Olhar para cima e do lado esquerdo indica

recordação. Seja como for olhar para cima durante a pregação só se

pretender simular alguém vendo a volta de Cristo ou algo similar.

• Olhar nos olhos: sinceridade, verdade, confiança.

Quando alguém deseja saber se o outro está falando a verdade costuma dizer: "fale

olhando nos meus olhos". Da mesma forma as pessoas querem ver os olhos do pregador,

pois inconscientemente ou conscientemente sabe que seus olhos comunicarão tão quanto

ou até méis que suas palavras.

Portanto, nada de ficar olhando "por cima da cabeça das pessoas", ou para "um

ponto no fundo do auditório". Olhe para todos, para os próximos e os distantes, para os do

lado direito e os do lado esquerdo, para os da galeria e os de trás. Inclua a todos com o seu

olhar. As pessoas precisam ver nos teus olhos a verdade que você comunica com a boca.

d. Movimentação: aqui as opiniões se divergem até mesmo entre grandes e respeitados

pregadores. Alguns defendem que a movimentação só serve para tirar a atenção dos ouvintes,

enquanto outros entendem que a movimentação adequada contribui para a performance do

pregador. Talvez a verdade esteja no meio termo e no bom senso. O melhor não é ficar como uma

árvore que criou raiz, nem um tigre que anda de um lado para o outro na jaula. Mas, movimentar-se

toda vez que, e apenas quando, for preciso. Movimentação sem necessidade é ruído na

comunicação, mas, movimentação de acordo com a necessidade é ênfase na comunicação.

A movimentação torna-se necessária quando precisar:

• Retomar a atenção: olhar muito tempo para um mesmo lugar pode cansar os olhares. Em

algumas ocasiões, sair detrás do púlpito pode fazer com que os olhares se fitem novamente

no comunicador. Porém, cuidado, a movimentação serve para enfatizar o conteúdo, não

para compensar a falta de conteúdo.

Page 104: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

104

Exemplificar: o pregador pode vivificar novamente um evento bíblico com sua interpretação.

Por exemplo, para explicar que o verbo entregar no hebraico (SI 37.5), literalmente, significa

rolar, aludindo às cargas roladas para as costas do camelo, o pregador bem fará em sair de

trás do púlpito para exemplificar alguém rolando uma carga pesada sobre o animal. Tal ato

trará vida e interesse a esta parte do sermão.

Lembre-se que a movimentação, quando necessária, deve ocorrer entre os pensamentos e

nunca nos pensamentos. Isto é, termine de falar algo, então se movimente. Movimentar antes de

terminar um pensamento é tirar a atenção do pensamento e colocá-la no movimento.

Alguns cuidados com situações naturais, porém, danosas, a todos os que enfrentam o

desafio de falar em público devem ser analisados.

a. O medo: grande parte dos livros de Homilética afirmam que um dos maiores, senão o maior medo

das pessoas é ter de falar em público:

De repente, você é convocado para falar em público. Você se levanta e vai para

frente. Agora, a realidade descortina-se à sua frente: O auditório, o público, as pessoas

olhando... Olhares indagadores, críticos, afirmativos, contestadores, crucificados, analíticos...

olhares e pessoas. Agora você está diante só da massa... O que fazer? Nesse momento, os

amigos não podem ajudar (quando muito, fazem-no na elaboração do discurso, mas não na

apresentação oral), e o apoio é dado à distância. Só você pode falar, apresentar-se. Solidão.

Então surgem algumas modificações no corpo: as mãos esfriam, as pernas e os pés tremem,

os lábios e os dentes trincam, aparece a gagueira... Não raras vezes o "branco" se instala e o

mutismo é a conseqüência mais triste116.

Talvez apenas uma pequena parcela de pessoas não tenha vivido algo parecido com a

situação vivida acima. Todos, inclusive oradores experientes, estão sujeitos a enfrentar o medo na

hora de falar ao público. Algumas dicas, porém, poderão ser úteis no enfrentamento desta situação

comum:

Saiba que é natural: Às vezes, o medo é traiçoeiro. Acontece algumas vezes que o pregador

se sente totalmente seguro durante os momentos que antecedem sua vez, porém quando

chega a hora de falar, eis que ele aparece: o medo (e todo de uma vez). Por isto, a melhor

coisa a fazer não é se enganar achando que não sentirá medo, que a experiência ou uma

possível facilidade de falar resolverá tudo. Pelo contrário, espere o medo, pois naturalmente

Page 105: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

ele virá. Como escreveu Marinho: "se todo mundo tem medo de falar em público, você não

vai querer ser a única exceção da humanidade a falar sem medo! Ou vai"?117

Use o medo: o medo quando controlado pode ser usado a favor do orador tanto na

preparação, quanto na pregação. No estágio da preparação ele é como um alerta avisando o

pregador da necessidade de preparo. No estágio da pregação ele libera a adrenalina que

livra a fala da apatia e da morosidade.

Respire fundo: uma respiração ofegante denuncia o nervosismo do orador. Isto acontece

porque a respiração está relacionada com os batimentos do coração. Assim, se o coração

dispara a respiração sinaliza. Por isto, antes de subir à plataforma para falar, procure

respirar fundo algumas vezes para colocar os nervos no lugar.

• Conte algo: contar algo não significa confessar o nervosismo. Há quem diga que confessar

diante da platéia o seu nervosismo ajuda. De fato ajuda, ajuda o pregador a ficar com cara

de coitado e a platéia totalmente insegura: "ai, e agora"? Imagine os passageiros em um

avião pronto a decolar ouvirem do piloto do avião: "senhores passageiros, preciso confessar

que estou muito nervoso em ter que pilotar este avião". Talvez, alguns desistissem da

viagem. Essa é a vontade que alguns sentem ao ouvirem um pregador confessar que está

nervoso, desistir de ouvi-lo e passar a orar por ele. Melhor do que isso é contar algo

engraçado, ou usar algum incidente do momento como "quebra gelo".

Lembro-me de um congresso em que houve uma apresentação musical antes da

pregação. A cantora apresentou-se maravilhosamente bem e o público a aplaudiu até o momento do

pregador chegar ao púlpito. As primeiras palavras do pregador foram: "Obrigado, não precisava".

Todos riram, o "gelo foi quebrado", e, o ambiente entre pregador e público tornou-se totalmente

propício à pregação.

Porém, cuidado! Apesar de eficaz, este recurso é bem arriscado. Só use o humor

caso esteja plenamente convicto e seguro que as pessoas entenderão. Lembre-se, pior que o medo

é uma piada sem graça.

• Faça oração: orar nunca é demais. Porém, isto não significa ficar de olhos fechados o tempo

todo, enquanto o culto acontece. Aliás, olhar para o público nos momentos que antecedem a

sua vez, te ajudará a "sentir" o ambiente e começar de forma mais propícia à situação.

Mesmo assim, é possível, em intervalos regulares, clamar o favor de Deus: "Não andem

ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças,

apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus que excede todo o entendimento,

guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus" (Fl 4.6,7). Por isto, peça a ajuda de

1 1 6 Noélio Duarte. Você pode Falar Melhor. São Paulo: Hagnos, 2001. p.68. 1 1 7 Robsom Marinho. A Arte de Pregar - A Comunicação na Homilética. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 110.

Page 106: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

1UÕ

Deus e confie: o mais interessado no sucesso da pregação é o Senhor118.

• Esteja preparado: se você estiver bem preparado sentirá medo, se estiver mal preparado

ficará em pânico. Por mais que você domine um assunto, o preparo sempre será essencial

para conseguir controlar o nervosismo que nasce do medo do momento. Por isto, é mister

ouvir e colocar em prática o conselho de Polito:

Todas essa recomendações ajudam no momento de falar, mas nada substitui uma

consistente preparação. Use sempre todo o tempo que dispõe119.

b. A Leitura do Texto: geralmente, a hora da leitura do texto que antecede a pregação é um

momento tedioso e cansativo, onde algumas pessoas, principalmente os mais jovens, nem sequer

olham para o texto. Mas isto, não por culpa do texto, nem da platéia, nem da juventude. Na maioria

das vezes, o pregador lê o texto como estivesse se obrigando a uma atividade necessária, mas

enfadonha para ele mesmo. Porém, é possível fazer da leitura um momento vivido e instrutivo.

Enfatize os verbos, tome cuidado com os acentos, respeite as vírgulas e pontos, pronuncie cada

palavra, olhe alternativamente para o público, ponha sentimento. Não apenas leia, interprete!

David L. Larsen, que inclusive ministra um curso sobre leitura como ler as Escrituras em voz

alta, aconselha:

Toda leitura das Escrituras é uma interpretação e isso exige preparação (...) A leitura

deve ser introduzida com palavras variadas e em pequeno número. Deve-se dar ampla

oportunidade para que toda a congregação encontre o texto indicado para a leitura (...) A

própria maneira pela qual a palavra é tomada nas mãos e manipulada já transmite uma

mensagem. Uma pronúncia mais atlética das palavras e uma melhor "mastigação" de certos 120 sons ajudam as pessoas a entenderem a interpretação .

Creia, você pode abençoar sua congregação com uma boa leitura do texto bíblico mais do

que imagina. Certa mulher disse ao seu pastor no final do culto: "nem precisava da pregação, só a

leitura do texto já falou muito comigo". Como exortou Paulo à Timóteo: "Até a minha chegada,

dedique-se, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino"(1aTm 4.13).

c. A Vestimenta: este assunto, apesar da tendência de ser controvertido e, às vezes, até polêmico,

seria mais facilmente resolvido, sem querer ser moralista, com um pouco de humildade e bom senso.

Para evitar confusão e mal estar tenha em mente que a ocasião define a vestimenta. Numa

formatura, por exemplo, não seria adequado o paraninfo discursar de calça jeans e camiseta diante

de uma platéia engravatada e de beca. Assim como seria inapropriado o preletor de um

acampamento de adolescentes ir vestido de terno e com colarinho clerical. Convenhamos, cada

lugar e ocasião exigirá as devidas adaptações afim de que não se crie barreiras à comunicação.

1 1 8 Idem, p. 45 119 Reinaldo Polito. Super Dicas para falar bem em Conversas e Apresentações. São Paulo, Editora Saraiva, 2005. p. 130

Page 107: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

Lembro-me que ao fazer um curso sobre pregação em ocasiões especiais, coube-me pregar em um

cuito ecumênico. Apesar da situação ser simulada, o professor, antes que eu falasse qualquer

palavra, me interrompeu e disse: "o xeique virá de turbante, o rabino de quipá, o padre de batina e só

o pastor de forma inapropriada"? Apesar de constrangedor, valeu a lição.

Ao ser convidado para pregar em "território desconhecido", pergunte sobre que tipo de

vestimenta é requerida e esperada dos oradores pelo público local. Caso não seja possível, prefira ir

mais social, pois afinal, é mais fácil tirar um terno do que arranjar um.

d. Os ruídos: pode vir do ambiente externo e do ambiente interno, da platéia e do próprio pregador.

Pode ser um barulho de motor, um choro de criança, os passos de uma mulher de salto alto,

microfonia, cacoetes do pregador, enfim, ruído é tudo aquilo que atrapalha a comunicação.

Normalmente, os ruídos irritam mais o preletor do que os ouvintes, embora, os ouvintes também

possam se irritar com os ruídos emitidos pelo preletor. Como agir diante dos ruídos? Vejamos cada

situação.

• Ruídos da platéia: quando o ruído vem do ambiente, como uma microfonia, ou da

platéia, como alguém que chega atrasado e desfila por todo o auditório, até encontrar um

lugar, atraindo todos os olhares para si, o melhor a fazer é tentar ignorar, pois, o ruído logo

termina e os olhares se voltam naturalmente para o orador. Por isto é melhor contar até

dez, ou até cinqüenta e manter a calma, do que tomar uma atitude que venha atrair a

antipatia do público.

Um outro recurso é, até quanto possível, adaptar o ruído como um aparato improvisado do

sermão. Certo pregador falava da lei natural dos atos e conseqüências: "Se você colocar a mão no

fogo, se queimará; se você sair na chuva se molhará"... Nisto, uma criança pequena subiu na

plataforma, chamando a atenção de todos. A mãe logo tomou a criança e a tirou da plataforma. Ao

que o pregador comentou: "Se você subir na plataforma, alguém te tirará"...

Porém, nem sempre será possível ignorar ou adaptar os ruídos ao sermão. Por exemplo, a

presença de pessoas embriagadas e barulhentas no auditório, manifestações demoníacas,

tempestade e ventania, animais que adentrem o ambiente, falta de energia... Tudo isto é impossível

de ser ignorado. É claro que, todas estas situações podem ser evitadas por uma equipe

previamente treinada para prevenir estes tipos de incidentes. Porém, caso aconteça algo deste

porte, peça sabedoria a Deus e tome as devidas providências.

James 0'Fraser, um missionário inglês, que trabalhou no início do século XX, na plantação

de igrejas numa região montanhosa da China, sabia muito bem o que era competir com ruídos

enquanto tentava ensinar. Sua biógrafa descreve uma situação que deve servir de consolo para

todos nós:

"O principal problema era conseguir que eles ouvissem. Eles conversavam alegremente uns com os

outros, e até mesmo com ele enquanto tentava ensinar. Porcos, galinhas e crianças pequenas somavam-

se à confusão e se uma manada de bois passasse, a congregação inteira saía para assistir"121.

1 2 0 David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo, Editora Vida, 2005.p. 178 1 2 1 Eileen Crossman. Montain Rain. A New Biography of James O Fraser. Singapura, Overseas Missionary Fellowship. p.185

Page 108: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

1US

• Ruídos do pregador: o pregador também pode emitir ruídos que ele não percebe,

mas todos percebem e torcem para um dia ele também perceber. Por exemplo, o

famoso "né", e o retórico "amém?", que alguns usam como vírgula. O coçar a

cabeça e a barba. A mão no bolso, o molhar os lábios, o andar frenético de um lado

para o outro, enfim:

Todo o gesto repetido desperta a atenção do ouvinte e desvia-o do

sermão. Controle-se. Observe-se a si mesmo! Antes que os adolescentes

façam piadas de você! 122

Um bom conselho para identificar cacoetes é filmar e assistir suas próprias pregações, ou, se preferir

algo mais simples, pedir que alguém próximo a você, o observe pregando e depois lhe mostre os possíveis

problemas. No início pode doer um pouco, mas vai ajudar muito. Sabemos de um grande pregador que pede a

uma professora de língua portuguesa que anote e lhe corrija todos os erros gramaticais ele cometera ao pregar.

Talvez, esta humildade e desejo de aprender, seja uma das razões pelas quais ele tornou-se um grande

pregador.

Demóstenes, grande orador grego, fracassou em seu primeiro discurso. Devido a um cacoete de

erguer repetidas vezes o ombro, saiu vaiado da tribuna. Porém, não desistiu. Chegando em casa, pendurou

uma espada apontada na altura de seu ombro, e treinou constantemente diante do espelho. Cada vez que o

ombro se levantava era ferido pela espada. O resultado é que o ombro foi condicionado pela dor e ele tornou-se

um dos maiores oradores da história123.

Sempre é possível aprender, melhorar e se aperfeiçoar.

Por isto, não desista. Aprenda com os erros. Sempre se prepare. Continue aprendendo e trabalhando,

consagrando cada conquista aos pés do Senhor. Pois como o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito afirma:

"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo

que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" (1a Coríntios 15.58).

Que Deus te abençoe. Amém.

Prepare-se para pregar

1. Releia o sermão.

2. Memorize a ordem dos pensamentos.

3. Pregue para si mesmo.

4. Ore e vá em frente!

1 2 2 Jorge Schutz Dias. Dicas aos Pregadores. Suplemento do CD-ROM Bíblia em Ação - Pregando com os mestres. São Paulo, Vida Nova. 1 2 3 Robsom Marinho. A Arte de Pregar-A Comunicação na Homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 45

Page 109: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

109

xv.n^&W-y z- "S^-c-Vv^ VS "tf • • r.'f itíjyorr

" J { j™->\ «.a.. r

Série: O Sermão do Monte Título Sermão: O Cristão e as Preocupações Texto: Mt 6.25-34

Introdução:

^ Chamada: Trabalhei cerca de cinco anos com publicidade. Um ramo em que não existe horário para sair, não existe feriado, não existe final de semana. O que existe é "prazo". Se há um trabalho para ser entregue na Segunda Feira, esqueça o fim de semana. Perdi as contas de quantas noites varei para cumprir com um prazo. No meio desse turbilhão de estresse, reparei que um colega estava com olheiras fundas e escuras. Perguntei: "Que são estas olheiras, varou noite de novo"? Ao que me respondeu: "Não, são as minhas preocupações".

Não é a toa que Provérbios 12.25 diz que "a preocupação do coração do homem o abate".

Problemática: Tem gente que vive com o rosto abatido e preocupado com:

• O filho: a hora que chega e como chega. O que será do meu filho? • O dinheiro: as contas, as dívidas, o fim do mês. • O trabalho: "Ai meu Deus, amanhã é Segunda-Feira".

Insight: "A verdade é que todo mundo tem problemas, logo, todo mundo tem preocupações".

Interrogativa: Por isto, te pergunto: o que tem perturbado e roubado tua paz? Qual é o fardo pesado que você tem carregado? Em outras palavras, qual é hoje, tua maior preocupação?

Eu não sei qual é a tua maior preocupação, mas sei que:

-f Proposição: Deus não deseja que você viva atormentado pelas tuas preocupações. Jesus ensina neste texto, alguns conselhos para você lidar melhor com suas preocupações:

Page 110: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

1 1U

1. Lembre-se que Deus cuida de você (v.26)

Abertura: Fiz uma pesquisa sobre o preço de alguns "pássaros" e descobri que um Bicudo vale R$ 5.000, o Picharrro custa R$1.500, o Canário R$50,00, o Periquito 15,00 e o Pardal... bem, não vale nada, pois tal pássaro não se cria.

Você está mais para um Bicudo ou para um Pardal ?

Exposição Bíblica: Na época de Jesus, as aves, como os pardais, também não valiam quase nada. A carne das aves era considerada a "carne dos pobres", pois eram as mais baratas que se podiam comprar num mercado. Tanto que Maria e José ofereçam como oferta, por ocasião do nascimento de Jesus, dois pombinhos, oferta requerida aos pobres.

O que Jesus está ensinado é simples: Se Deus cuida em sustentar as aves que não valem quase nada, não cuidará em sustentar você?

Significado: A mesma mão que sustenta os passarinhos é a mão que sustenta você. Pois a mão que sustenta você não é a mão do seu patrão, não é a mão dos seus clientes, mas é a mão de Deus.

Relação: Por quantos passarinhos você trocaria seu filho? Com certeza, você dirá: "Por nenhum. Podem me oferecer uma Arara Azul, um Condor, uma Águia de cabeça branca, não troco meu filho, ele vale mais que todas juntas"!

Este é o sentimento de Deus por você. Se colocarem de um lado você, e, do outro, todas as aves do planeta, desde as menores até as maiores, desde as mais comuns até as mais raras, Deus dirá: "Você vale mais, pois todas essas aves são minhas criaturas, mas você é meu Filho".

Ilustração: Certo vez, o pastor Ricardo Gondim disse: "Se Deus alimenta até mesmo os urubus da Marginal Tietê, não vai alimentar você que é a imagem e semelhança Dele"?

Exortação: Saiba que O Deus que te sustento ontem, é o Deus que te sustenta hoje e que sempre te sustentará.

Fechamento: Pois Jesus disse: "Vocês valem mais que muitos pardais"

Page 111: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

111

2. Tenha Deus como Norte de sua vida (v33)

Abertura: Em um laboratório, ensinaram um ratinho a tocar na alavanca de sua gaiolinha para obter comida. Como experiência, deixaram-no cinco dias acorrentado e sem comer. Quando o soltaram, estava tão desesperado, que corria em círculos na gaiola, se esquecendo que bastava tocar na alavanca para obter comida.

"As pessoas agem da mesma forma quando desesperadas pelas preocupações, perdem o norte, isto é, ficam desnorteadas".

Exposição Bíblica: é por isto que Jesus, ao dizer que se deve buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e Sua justiça, deixa bem claro qual é o Norte da vida: "Deus". Pense comigo. "Reino é o lugar onde que um rei governa, manda, tem a sua vontade feita. "Justiça" é aquilo que é correto aos olhos do Rei".

Assim, buscar em primeiro lugar o reino de Deus e Sua justiça é buscar a vontade de Deus para Sua vida.

É como se você tivesse um mapa da vida nas mãos, e quando se perdesse o abrisse e visse ao lado do N de "Norte", escrito entre parênteses: "Vontade de Deus". Pronto, é para lá que você deve ir.

Significado: A vontade de Deus é o Norte da vida.

Relação: Sabe o que você deve fazer quando ao perder o Norte uma preocupação encher seu coração? Transformar sua preocupação em oração. Pois, todas as vezes que você transformar sua preocupação em oração, receberá direção.

Se pudéssemos colocar em uma fórmula, isto seria:

"Preocupação + Oração = Direção".

Ilustração: Conheço um rapaz que desempregado, endividado e já ficando desesperado, orou buscando direção de Deus. Teve a seguinte idéia, se oferecer para trabalhar de graça para quem devia, até saldar a dívida. O resultado é que, no final do mês ele acabou sendo contratado como chefe do setor onde trabalhou.

Exortação: No meio de seus desesperos e preocupações:

• Transforme suas preocupações em orações. • Peça o Norte para a vida. • Busque a vontade de Deus.

Fechamento: Pois, Jesus disse que se você fizer isto, "todas as demais coisas serão acrescentadas".

Page 112: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

112

3. Confie a Deus o seu amanhã

Abertura: Alguém já disse que, a maioria das pessoas, vive a maior parte do tempo remoendo o passado e preocupada com o futuro, e não vive o hoje.

Exposição Bíblica: Por isso Jesus disse: "não se preocupem com o dia do amanhã". Na Bíblia, um dos significados da palavra "preocupação" é "ser ansioso antes do tempo", "ser ansioso de antemão". Em palavras concretas, "ocupar a mente hoje, com as coisas do amanhã". Jesus não está dizendo que você não deva ser responsável para com o hoje, mas que você não deve ser preocupado com o amanhã.

Significado: Por que ser preocupado não significa ser responsável.

Relação: sabe a diferença entre irresponsável, responsável e preocupado?

O irresponsável é aquele que deixa o trabalho de hoje para o amanhã. O responsável é aquele que faz o trabalho de hoje no dia de hoje. O preocupado é aquele que tenta fazer o trabalho de amanhã hoje, mas não faz nem o de hoje, nem o do amanhã, pois tenta fazer os dois de uma vez.

"O preocupado se acha responsável, mas na verdade é desconfiado"

Ilustração: Quando Deus guiou o povo no deserto, ordenou que não colhessem maná além do necessário para o dia. Eles deveriam confiar Deus providenciaria para o amanhã. Os desobedientes viam o maná excedente apodrecer em suas panelas. Porque será que o maná apodrecia? Talvez, por que se não apodrecesse, estocariam, venderiam, comercializariam, e já não teriam tempo nem para Deus e nem para viverem. - Ei Jacó, vamos ao culto hoje? -Não vai dar, tenho uma reunião em minha empresa, a MANA S.A. Vamos começar a exportar maná para os árabes.

Exortação: Plante hoje para colher amanhã. Trabalhe hoje para receber amanhã. Mas nunca venda o hoje pelo amanhã. Pois, como dizem:

Fechamento: O futuro pertence a Deus.

Page 113: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

113

Conclusão

Resumo Reflexivo: O seu futuro não é incerto, mas certo. Pois seu futuro não está nas tuas mãos, mas nas mãos de Deus. Se seu futuro estivesse em suas mãos, você teria motivos para se preocupar. Porém, se seu futuro está nas mãos de Deus, você tem motivos para confiar.

Desafio: Por isto, não viva atormentado pelas preocupações. Mas, se a preocupação arrombar as portas de seu coração, faça o que diz 1a Pedro 5.7:

Fechamento: "Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, pois Ele tem cuidado de vocês".

Que Deus te abençoe e te cubra com a paz que excede todo entendimento. Em Cristo Jesus, amém.

Glórias a Ti, Senhor!

Page 114: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

ABREU, Antônio Suárez. A Arte de Argumentar - Gerenciando razão e Emoção. Cotia: Ateliê

Editorial, 2005

BARCLAY, William. Palavras Chaves do Novo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 2000)

BARKER, Kenneth (Organizador Geral). Bíblia de Estudo NVI (São Paulo:Editora Vida,2003)

BROADUS, John A. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003

CHAMPLIM, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo -v.4.São

Paulo: Editora Milenium,1987

CROSSMAN, Eileen. Montain Rain. A New Biography of James O Fraser. Singapura: Overseas Missionary Fellowship..

DOUGLAS, J.D. (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995

DUARTE, Noélio. Você pode Falar Melhor. São Paulo: Hagnos, 2001

FERREIRA, Franklin. D.Martyn Lloyd-Jones - Pregador da Palavra. São Paulo: PES

GONZÁLES, Justo L. A Era dos Gigantes - Uma História Ilustrada do Cristianismo, Vol. 2. São Paulo: Vida Nova, 1995

A Era dos Reformadores - Uma história ilustrada do Cristianismo, vol. 6. São

Paulo: Vida Nova, 1995

KIDNER, Derek. Salmos 1-72. introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, pg. 171.

KIVITZ, Ed René. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997.

KNOX, John. A Integridade da Pregação. São Paulo, Aste, 1964

KOLLER.Charles W. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São

Paulo, Mundo Cristão, 1999.

LACHER Karl. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000

LARSEN, David L. Anatomia da Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2005

LLOYD-JONES, D.Martin. Pregação e Pregadores. São Paulo: Fiel

MARINHO, Robsom Moura. A Arte de Pregar, a comunicação na homilética. São Paulo, Vida Nova

1999.

PARKER, John: STAHEL, Mônica (tradutores). Pass Word. Engiish Dictionary for Speakers of

Portuguese. São Paulo: Martins Fontes,2005

POLITO, Reinaido. Super Dicas para falar bem em Conversas e Apresentações. São Paulo: Editora

Saraiva, 2005

ROBINSON, Haddon W. A Pregação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1990

STEIN, Robert H. Guia Básico para a Interpretação da Bíblia, interpretando conforme as regras. Rio

de Janeiro, CPAD.

VINE. W. E.; UNGER Merril F.; JR. William White. Dicionário Vine - O Significado Exegético e

Exposítívo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002).

SPURGEON, C.H. Esboços Bíblicos. De Gênesis ao Apocalipse - Aprendendo com o Príncipe dos

Pregadores. São Paulo: Shedd Publicações, 2002

STOTT, John. O Perfil do Pregador. São Paulo, Editora Sepal, 2000

WARREN, Rick. Pregação para Transformar Vidas. Purpose Driven Ministries.

Bibliografia Suplementar

Jornal Expressão: Vida Nova para a Teologia Brasileira, ano 4. São Paulo: Vida Nova, 2000.

Os Puritanos, ano 7, n° 4. Recife: Ministério Grande Momento, 1999.

Michaellis: Dicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo:Melhoramentos, 2002.

Bíblia em Ação:Pregando com os Mestres (CD-ROM). São Paulo: Vida Nova.

Page 115: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

115

" - - <

iíii.-j-'J

Oficina 1: Lei a tira e responda às perguntas

Linus: Este é um belo balão.

Sally: Obrigada.

Linus: O que ele faz?

Sally: Ele não faz nada, a não ser voar, se eu soltá-lo...

Linus: Porque você não pinta a palavra "amor" nele e o deixa voar para algum lugar?

Isto deve mudar a vida da pessoa que encontrá-lo...

Sally: Talvez alguma pessoa que esteja deprimida vai achá-lo e ser encorajada para seguir em

frente.

Linus: Talvez algum grande líder vá encontrá-lo e seja inspirado para promover a paz no mundo.

Sally: Vá balão! Leve nossa mensagem de amor!

Woodstock: ?

1. Qual é a idéia que a estória transmite?

2. O que esta idéia tem a ver com a pregação?

Page 116: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

l l õ

Oficina 2: Leia Tiago 3.1-12 e faça o Esboço Analítico Temático usando a Dispensa

.. /

Page 117: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

117

Oficina 3: em cada Proposição abaixo:

• Sublinhe a Afirmação Teológica • Destaque a Sentença de Transição

Faça um circulo na Palavra Chave

o 0 Socorro vem do Senhor. Neste texto encontramos três razões para esperar o

socorro do Senhor.

o 0 Espírito Santo habita em todo crente. Nesta noite gostaria de compartilhar

quatro provas desta doutrina.

o Em Jesus Cristo já recebemos todas as bênçãos espirituais. Este texto

apresenta algumas destas bênçãos

o Este texto afirma que cabe aos pais educarem seus fi lhos no caminho do

Senhor e ensina 5 maneiras de se fazer isto.

o Jesus Cristo voltará. Por esta razão, você deve tomar os seguintef cuidados

com sua vida.

f S J c / ^

A w

í c .

3

i

â

5 - / i , f - oO cm " c '

u . Í> y ctin & L ^ O ,

fl Ât' OÍS ÚV CX VJ-

u n J *

Page 118: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

118

Ofic ina 4: Ouça o sermão e complete as lacunas abaixo:

• Afirmação Teológica:

^ l d

• Sentença de Transição:

• Palavra Chave:

f - ^ J ü f ^ CÕ

• Divisões:

to Sò>

U r - , ÇQ.. X . r- -í rjCjQ v yl-O Hf

à 1 ! Cfr -

(\(^J,oh l y J . ^ 1/

- \ Q u j j l ê r - í ^ / o „

çp o pUd^i/i > 'tá 7

•f G) * ô ^ i C j ^ ò

i . t

f L CpsiVM^

O

Page 119: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

119

l l l f i p f : | P -- - , - - -

Ementa: "Teologia Prática III" ( Homiiética ) é uma disciplina que fornece noções de Homiiética, visando o desenvolvimento e o aperfeiçoamento do aluno na produção e comunicação de sermões.

Objetivo: Por meio das técnicas aprendidas, o aluno deverá preparar um sermão estruturado de acordo com as normas homiléticas.

Metodologia e Recursos

• Aulas expositivas dialogadas • Oficinas

• Recursos áudio visuais

Tarefas

• Participar das aulas e oficinas em classe. • Fazer as atividades correlacionadas à matéria dada em aula. • Entregar um sermão escrito, estruturado de acordo com as técnicas aprendidas. • Relatório de Leitura

Sistema de Avaliação

a. Presença nas aulas = 1 ponto b. Atividades entregue em dia = 1,2 pontos c. Trabalho escrito = 7 pontos d. Relatório de Leitura = 1,8 pontos

A "nota final" será o resultado da somatória das atividades propostas: a + b + c + d = "nota final".

Obs.: O atraso na entrega dos trabalhos resultará no decréscimo de nota do mesmo, como se segue:

Atividades: - 0,05 pontos. * Trabalho Escrito: -1,0 por dia/aula de atraso. • Relatório de Leitura: -0,5 por dia/aula de atraso.

Bibliografia Básica LACHLER, Karl. Prega a Palavra. São Paulo, Vida Nova, 1995. MARINHO, Robsom Moura. A Arte de Pregar. São Paulo, Vida Nova, 1999. STOTT, John R.W. O Perfil do Pregador. São Paulo, Sepal, 2000.

Bibliografia Suplementar ABREU, Antônio Suárez. A Arte de Argumentar - Gerenciando Razão e Emoção. Cotia, Ateliê Editorial, 2005. ARTHUR, Kay. Como estudar sua Bíblia pelo Método Indutivo. São Paulo, Vida, 1998. BROADUS, John A. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003. DUARTE, Noélio. Você Pode Falar Melhor. São Paulo, Hagnos, 2001. KEY, Jerry Stanley. José da Silva, um Pregador Leigo. Rio de Janeiro, JUERP, 1973. KNOX, John. A Integridade da Pregação. Aste, 1964. JONES, D.Martyn Uoyd Jones. Pregação e Pregadores. São Paulo, Fiel.

Page 120: Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

120

Fevereiro

12 Apresentação do Curso / Palestra: "Mensagem, Sermão e Pregação. É Tudo a mesma coisa"?

19 Passos na Escolha do Texto para o Sermão

26 A Leitura com Propósito

Março

04 O Esboço Analítico - conceito

11 O Esboço Analítico - prática / Semana Cultural

18 A Pesquisa Bíblica 1: o livro

25 A Pesquisa Bíblica 2: o texto / Culto

Abril

01 A Progressão Lógica

08 As Ilustrações

15 A Exortação

22 Semana de Atividades Programadas

29 Abertura e Fechamento dos Tópicos

Maio

06 A Introdução

13 A Conclusão / Culto

20 A Composição e o Esboço

27 A Comunicação Verbal e Não Verbal

Junho

03 Análise de uma pregação em vídeo / Entrega do Trabalho Escrito

10 Palestra Especial / Entrega do Relatório de Leitura

17 Entrega de Notas / Dinâmica do "Diamante

24 Exame Final