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1 – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS TÍTULO I DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz;

APOSTILA DIREITO CONSTITUCIONAL

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Para MPOG 2015

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1 CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988: PRINCPIOS FUNDAMENTAISTTULO IDOS PRINCPIOS FUNDAMENTAISArt. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos:I - a soberania;II - a cidadania;III - a dignidade da pessoa humana;IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V - o pluralismo poltico.Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.Art. 2 So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio.Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil:I - construir uma sociedade livre, justa e solidria;II - garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.Art. 4 A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes internacionais pelos seguintes princpios:I - independncia nacional;II - prevalncia dos direitos humanos;III - autodeterminao dos povos;IV - no-interveno;V - igualdade entre os Estados;VI - defesa da paz;VII - soluo pacfica dos conflitos;VIII - repdio ao terrorismo e ao racismo;IX - cooperao entre os povos para o progresso da humanidade;X - concesso de asilo poltico.Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-americana de naes.2 - APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAISA Constituio foi idealizada pelos juristas para ser a norma mais importante do Estado, a qual todos devem obedincia, inclusive os governantes. Por esta razo, sua aplicabilidade muito estudada, visto que, teoricamente, esta s atingir sua finalidade quando todos a respeitarem, ou em outras palavras, a cumprirem.Neste ponto, cabe esclarecer que este tema tambm envolve uma de suas classificaes, quanto estabilidade. Segundo critrios de estabilidade das Constituies, dividem-se em: Rgidas aquelas que seu processo de mutao extremamente rigoroso, tendo procedimento especfico para sua elaborao e alterao, o qual difere dos demais processos legislativos; Flexveis as que no possuem este procedimento, podendo ser alteradas de forma simplificada, at mesmo pela edio de uma nova lei e Semi-Rgidas que possuem parte de seu texto tratado de forma rgida e outra de maneira flexvel.Sendo assim, s possvel falar da aplicabilidade das normas constitucionais quando se tratar das Constituies rgidas, posto que as normas inferiores devam obedecer aos parmetros estabelecidos por aquela. Em verdade, esta espcie extremamente formal, posto que as exigncias de sua alterao sejam muito rigorosas, dificultando sua mutao.A doutrina jurdica ensina que a anlise de qualquer norma envolve vrios aspectos, dentre eles destacam-se: vigncia e eficcia. Aqui onde se aprofundar a discusso deste captulo, posto que o Direito Constitucional estabelecesse regras para o tratamento das normas constitucionais, regulamentando uma matria por demais tormentosa: a sua aplicabilidade. inegvel que o mandamento normativo deve ser vigente e eficaz. Contudo, nem sempre isto possvel, podem ocorrer casos em que o regramento precise de uma complementao para ser aplicvel ou para melhorar sua concreo. Da a existncia de diferentes tipos de normas constitucionais.O constituinte, sabendo das dificuldades desta atividade, previu um remdio constitucional para auxiliar neste ponto: o Mandado de Injuno. Esta espcie processual restringe sua atuao a auxiliar a aplicao da norma constitucional ao caso concreto, mais especificamente quando este procedimento depender da existncia de normas infraconstitucionais.Em regra, toda norma deve ser vigente e eficaz, posto que as normas sejam criadas para que a Sociedade as aplique nos fatos do cotidiano a fim de propiciar a continuidade da convivncia entre os homens. Partindo dessa premissa, que se originaram as teorias que classificam as normas constitucionais quanto a sua aplicabilidade.Quando se fala em eficcia, faz-se necessrio diferenciar a eficcia jurdica da eficcia social. Na viso de Lus Roberto Barroso, a eficcia jurdica est relacionada produo dos efeitos jurdicos, ou seja, esta conectada a satisfao de todos os seus elementos: regulao do cotidiano da sociedade, regular os atos que podem ocorrer entre os indivduos, entre estes e o Estado e vice-versa. Por esta viso, a eficcia jurdica est ligada aplicabilidade, executoriedade e exigibilidade das normas. Conclui-se, ento, que a norma poder ter eficcia jurdica sem ter a eficcia social ou o contrrio, pois os sentidos esto apartados.De fato, a principal diferena entre ambas que a eficcia social s alcanada quando a maioria da comunidade a quem esta norma dirigida a cumpre, enquanto que a outra basta cumprir com exigncias formais para sua satisfao.Ao estudar esta matria, contata-se que existem vrias teorias a este respeito, pois que a regulao de um Estado no tarefa fcil, por englobar vrios fatores, exigindo do legislador a adoo de diversas posturas ao tratar dos mais diversos temas. A verdade que ainda no h um consenso doutrinrio sobre o que vem a ser a eficcia das normas.Por isso, serviu de inspirao para vrios doutrinadores criarem propostas de classificao dessas tendo em vista as suas caractersticas. Ao chegar a este ponto, precisa-se esclarecer que ainda no possvel afirmar que uma classificao correta em detrimento das outras, mas apenas que algumas delas j foram superadas e outras esto mais bem enquadradas no pensamento do constitucionalismo contemporneo.Sobre as normas constitucionais, admite-se que todas gozam de eficcia, pelo menos a jurdica, porm diferenciando-se quanto social, haja vista algumas delas dependerem de regulamentao infraconstitucional para s ento atingirem a sua finalidade: a efetivao.Marcelo Alexandrino e Vicente de Paulo (2010, p. 59) abordam em sua obra a viso de Ruy Barbosa sobre as normas constitucionais:Da constatao dessas diferenas, Ruy Babosa, inspirado na doutrina norte-americana, j enquadrava as normas constitucionais em dois grupos:a) Normas autoexecutveis (self-executing; self-enforcing; self-acting) preceitos constitucionais completos, que produzem seus plenos efeitos com a simples entrada em vigor da Constituio; eb) normas no autoexecutveis (not self-executing; not self-enforcing provisions ou not self-acting), indicadoras de princpios, que necessitam de atuao legislativa posterior, que lhes d plena aplicao.Alm dessa classificao, existe a do Professor Jos Afonso da Silva, a qual a maioria da doutrina e da jurisprudncia ptria adotou no que pertence forma de encarar as normas constitucionais quanto a sua eficcia e aplicabilidade.2.1 NORMAS DE EFICCIA PLENA, CONTIDA E LIMITADANa obra de Alexandre Moraes este doutrinador, de acordo com o critrio de Jos Afonso da Silva, que separou as normas constitucionais em trs espcies: normas de eficcia plena, contida e limitada. Por esta diviso, tal entendimento conhecido como teoria tricotmica.1.1. Normas de Eficcia Plena.A primeira espcie composta por aqueles dispositivos normativos que necessitam apenas da sua publicao para adquirirem vigncia e eficcia, posto que j estejam aptos a produzirem os seus efeitos. Alexandre de Moraes (2007, p. 7) ensina que este tipo composto por:quelas que, desde a entrada em vigor da Constituio, produzem, ou tm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situaes, que o legislador constituinte direta e normativamente, quis regular. (por exemplo: os remdios constitucionais).Essas normas no possuem a necessidade de regulamentao posterior, por no dependerem de complementao, ou algo que defina o seu contedo. Isto s possvel devido caracterstica de exprimirem a finalidade que querem alcanar de forma direta e clara, sem obstculos. Observa-se que tais normas no deixam lacunas para questionamentos. Com isso, podem ser consideradas normas de aplicabilidade direta, imediata e integral.A Constituio Federal de 1988 possui alguns exemplos, como o caso dos artigos 18 e 25:Art. 18.A organizao poltico-administrativa da Repblica Federativa do Brasil compreende a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, todos autnomos, nos termos desta Constituio.Art. 25.Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituies e leis que adotarem, observados os princpios desta Constituio.Neste caso, a forma mais simples de interpretao, a literal, j suficiente para demonstrar que estes regramentos no dependem de mais nada para serem aplicados.1. 2. Normas de Eficcia Contida.Outro tipo desta classificao so as normas constitucionais de eficcia contida, que embora possuam tambm aplicabilidade com a publicao da norma, caracterizam-se pela necessidade de regulamentao por norma infraconstitucional posterior a fim de equilibrarem a sua eficcia. Portanto, so aquelas que geram efeitos imediatos, mas com o decorrer do tempo podem sofrer restries.O nclito doutrinador Jos Afonso da Silva (apud, Moraes, 2007, p. 7) as define como:aquelas em que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos determinada matria, mas deixou margem atuao restritiva por parte da competncia discricionria do Poder Pblico, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas anunciados.Nestes termos, podem ser consideradas como normas constitucionais dotadas de aplicabilidade direta, imediata, porm no integral, pois esto submetidas a limitaes que restringem a sua eficcia e aplicabilidade. Estas limitaes podem ser determinadas tanto pelo legislador infraconstitucional como por outras normas constitucionais, devido o decurso de sua utilizao.Este jurista ainda destaca as suas peculiaridades, de acordo com Jos Afonso da Silva (apudPaulo; Alexandrino. 2010. ps. 60,61):a) so normas que, em regra, solicitam a interveno do legislador ordinrio, fazendo expressa remisso a uma legislao futura; mas o apelo ao legislador ordinrio visa a restringir-lhes a plenitude da eficcia, regulamentando os direitos subjetivos que delas decorrem para os cidados, indivduos ou grupos;b) enquanto o legislador ordinrio no expedir a normao restritiva, sua eficcia ser plena; nisso tambm diferem das normas de eficcia limitada, de vez que a interferncia do legislador ordinrio, em relao a estas, tem o escopo de lhes conferir plena eficcia e aplicabilidade concreta e positiva;c) so de aplicabilidade direta e indireta, visto que o legislador constituinte deu normatividade suficiente aos interesses vinculados matria de que cogitem;d) algumas dessas normas j contm um conceito tico juridicizado (bons costumes, ordem pblica etc.) com valor societrio ou poltico a preservar, que implica a limitao de sua eficcia;e) sua eficcia pode ainda ser afastada pela incidncia de outras normas constitucionais, se ocorrerem certos pressupostos de fato (estado de stio, por exemplo).As normas de eficcia contida exigem, em regra, a atuao do legislador ordinrio reclamando uma legislao futura. Mas, essa atuao no ser para tornar a norma exercitvel, mas apenas para restringir sua atuao no exerccio do direito.Um bom exemplo de norma constitucional de eficcia contida o artigo 5, inciso XII da Magna Carta:Art. 5, XII livre o exerccio e qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer;Neste dispositivo a postura adotada pelo constituinte foi diferente, pois deixa claro que o direito ali tratado pode ser exercido de imediato, salvo nos casos em que j existir lei para o caso, ocasio em que esta dever ser aplicada para tratar dos casos nela previstos.1.3. Normas de Eficcia Limitada.Esta espcie diferencia-se das outras pelo fato de que a simples publicao do texto normativo no capaz de produzir qualquer efeito, necessitando da atuao do legislador, a fim de que elabore norma que estabelea parmetros para o seu contedo.Ento, pode-se dizer que so normas que o legislador constituinte no dotou de normatividade suficiente. Para melhor compreenso, o mestre Jos Afonso da Silva (apud, Moraes, 2007, p. 7) explica com maior clareza: aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, porque somente incidente totalmente sobre esses interesses, aps uma normatividade ulterior que lhes desenvolva a aplicabilidadeDestaque-se que o renomado professor ainda classifica estas normas em: as definidoras de princpio institutivo ou organizativo e as definidoras de princpio programtico. O trao distintivo daquelas que so utilizadas pelo constituinte para estabelecer estruturas ou atribuies de rgos, instituies ou entidades, para que futuramente possam ser definidas mediante lei. No que tange s programticas, sabe-se que no dependem apenas da elaborao da norma posterior, mas, principalmente, do adimplemento das condies necessrias para sua efetivao. Para facilitar a compreenso, como se o Estado tivesse o planejamento de executar uma ao, mas para isto deveria desenvolver vrias etapas, onde todas elas estariam previstas em lei e o incio da posterior dependesse da execuo total da anterior.O nclito Jorge Miranda (apud, Moraes, 2007, p. 7) explica as normas programticas da seguinte forma:so de aplicao diferida, e no de aplicao ou execuo imediata; mais do que comandos-regras, explicitam comando-valores; conferem elasticidade ao ordenamento constitucional; tm como destinatrio primacial embora no nico o legislador a cuja opo fica a ponderao do tempo e dos meios em que vm a ser revestidas de plena eficcia (e nisso consiste a discricionariedade); no consentem que o cidado as invoquem j (ou imediatamente aps a entrada em vigor da Constituio), pedindo aos tribunais o seu cumprimento s por si, pelo que pode haver quem afirme que os direitos que delas constam, mxime os direitos sociais, tm mais natureza de expectativas que de verdadeiros direitos subjetivos; aparecem, muitas vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente indeterminados.A Constituio Federal de 1988 tambm possui este tipo de norma, em seus artigos 7, XX e 173, 4:Art. 7, XX- Proteo do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos especficos, no termos da lei.Art. 173,4- A lei reprimir o abuso do poder econmico que vise dominao dos mercados, eliminao da concorrncia e ao aumento arbitrrio dos lucros.Este estudo tambm rendeu outra classificao: impositivas ou facultativas. As facultativas so caracterizadas por no imporem uma obrigao, mas permitirem que o legislador ordinrio pudesse instituir ou regular as situaes nelas previstas. So impositivas aquelas normas que trazem uma imposio ao legislador, no sentido de terem que elaborar, obrigatoriamente, uma legislao integrativa.As normas de eficcia limitada de princpio institutivo ou organizativo esto prescritas na Lei Maior em seus artigos 33; 92, 2 e 93:Art. 33.A lei dispor sobre a organizao administrativa e judiciria dos Territrios.Art. 92, 2- A lei regular a organizao e o funcionamento do Conselho da Repblica.Art. 93.Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal dispor sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princpios:Neste caso, estas normas fazem a previso de que, posteriormente, sero necessrios regulares atribuies de instituies ou agentes pblicos a fim de aprimorar o funcionamento da mquina administrativa.1.2. Classificao quanto intangibilidade e os efeitos das Normas.Ainda encontrou-se a classificao proposta pela Professora Maria Helena Diniz frisada por Alexandre de Moraes, que trata de dois critrios: da intangibilidade e da produo de efeitos concretos pelas normas. De acordo com esta teoria, os dispositivos se subdividem em: eficcia absoluta, eficcia plena, eficcia restringvel e eficcia dependente de complementao legislativa.As regras de eficcia absoluta so aquelas imutveis, em que nem mesmo as emendas constitucionais podem modific-las. Como exemplo destas pode-se citar as clusulas ptreas, encontradas no artigo 60, 4 da Magna Carta.Normas de eficcia plena so as que produzem seus efeitos desde a sua entrada em vigor, pois possuem todos os elementos necessrios para a produo imediata dos efeitos nelas previstos. Diferencia-se das posteriores no que diz respeito possibilidade de modificao por emendas constitucionais, porque podem ser alteradas.A Professora Maria Helena Diniz no se distancia da opinio do Mestre Jos Afonso da Silva quando trata das normas de eficcia restringvel, as quais se aprecem com as de eficcia contida concebidas pelo outro doutrinador. Nestes termos, pode-se afirmar que possuem aplicao imediata, tendo a sua eficcia restringida pela edio de lei posterior.J as normas de eficcia dependente de complementao legislativa, como o nome descreve, so aquelas que precisam da elaborao de lei posterior, as quais tero a tarefa de regulamentar o direito que aquelas prevem, para o pleno exerccio de seus dispositivos, no possuindo aplicao imediata. Assim s podero produzir efeitos no momento em que for promulgada a legislao regulamentadora.2.2 NORMAS PROGRAMTICASSegundo Jos Afonso da Silva: tais normas estabelecem apenas uma finalidade, um princpio, mas no impe propriamente ao legislador a tarefa de atu-la, mas requer uma poltica pertinente satisfao dos fins positivos nela indicados[3].Dessa forma, muitas dessas normas esto inseridas em princpios, sintetizando programas e linhas de pensamento poltico a fim de que o legislador ordinrio se encarregue de prover meios para que possa se tornar uma realidade.Nestes termos, a professora Regina Maria Macedo Nery Ferrari afirma:As normas programticas impem ao Estado o cumprimento de certos fins, a consecuo de certas tarefas de forma a realizar certos princpios ou objetivos, fazendo surgir, por conseqncia, a necessria proteo dos interesses subjetivos que da dimanam, proteo esta que pode ocorrer ora de modo direto, quando o interesse geral coletivo fica em segundo plano; ora indiretamente, quando o interesse coletivo encontra-se em primeiro plano, e o individual s ser protegido reflexamente, em decorrncia da promoo do interesse geral.[4]Portanto, a norma constitucional estabelece apenas uma finalidade, um princpio, mas no impe propriamente ao legislador a tarefa de atu-la, mas requer uma poltica pertinente satisfao dos fins positivos nela indicados.No entanto, apesar da caracterstica programtica insculpida no referido preceito constitucional, a doutrina moderna tem afirmado que tais normas devem, ao menos, assegurar o mnimo de existncia condigna aos indivduos, na sua vida em sociedade. Assim, o mnimo existencial deve ser garantido de plano por tais normas, independentemente de sua implementao por meio de polticas pblicas. Do contrrio, as normas programticas no passariam de meros programas polticos ou apelos ao legislador, sem qualquer grau de vinculao jurdica.Nesse sentido, Canotilho deixa claro que o fato de dependerem de providncias institucionais para a sua realizao no quer dizer que no tenham eficcia. Ao contrrio, sua imperatividade direta reconhecida, como imposio constitucional aos rgos pblicos. E conclui:[...] as normas programticas tm eficcia jurdica imediata, direta evinculantenos casos seguintes:I estabelecem um dever para o legislador ordinrio;II condicionam a legislao futura, com a consequncia de sereminconstitucionaisas leis ou atos que as ferirem;III informam a concepo do Estado e da sociedade e inspiram suaordenaojurdica, mediante a atribuio de fins sociais, proteo dos valores da justia social e revelao dos componentes do bem comum;IV constituem sentido teleolgico para interpretao, integrao e aplicao das normas jurdicas.V condicionam a atividade discricionria da Administrao e do Judicirio;VI criam situaes jurdicas subjetivas, de vantagem ou de desvantagem.[5]Assim, de um lado, afirma-se que a preservao do mnimo de existncia condigna sempre qualificada como direito subjectivo. esse ncleo central, esse mnimo existencial que, uma vez descumprido, justifica a interveno do Judicirio nas polticas pblicas, para corrigir rumos ou implement-las.Diz, com efeito, Maria Paula Dallari Bucci,que um dos efeitos da aplicabilidade das normas programticas a proibio de omisso dos Poderes Pblicos na realizao dos direitos sociais. E, de outro lado, seria absolutamente frustrante, do ponto de vista poltico, aceitar a inexequibilidade dos direitos sociais[6]Segundo o Min. Celso de Mello: a interpretao da norma programtica no pode transform-la em promessa constitucional inconseqente.Nessa linha decidiu o STJ:Em verdade, inconcebvel que se submeta a Administrao, de forma absoluta e total, lei. Muitas vezes, o vnculo de legalidade significa s a atribuio de competncia, deixando zonas de ampla liberdade ao administrador, com o cuidado de no fomentar o arbtrio. Para tanto, deu-se ao Poder Judicirio maior atribuio para imiscuir-se no mago do ato administrativo, a fim de, mesmo nesse ntimo campo, exercer o juzo de legalidade, coibindo abusos ou vulnerao aos princpios constitucionais, na dimenso globalizada do oramento.[7]Do Supremo Tribunal Federal, nesse sentido, h a deciso monocrtica do Ministro Celso de Mello na ADPF 45 9, assim expressa:No obstante a formulao e a execuo de polticas pblicas dependam de opes polticas a cargo daqueles que, por delegao popular, receberam investidura em mandato eletivo, cumpre reconhecer que no se revela absoluta, nesse domnio, a liberdade de conformao do legislativo, nem a de atuao do Poder Executivo.No h, portanto, como sustentar da impossibilidade do Poder Judicirio,guardio da legalidade e protetor dos direitos e liberdades, no dizer de Caio Tcito, gerir ou exercer poltica econmica e social em substituio aos Poderes Legislativo ou Executivo (justiciabilidade), na seara da concretizao dos direitos fundamentais sociais, enquanto entendidos como direitos subjetivos (subjetivao), de tal modo que o Ministrio Pblico, dentre outros, se habilita como legitimado postulao (posio jurdica) da satisfao daquele direito subjetivo.De outro lado, a interveno judicial na gerncia ou no exerccio de polticas sociais e econmicas cabveis aos demais poderes do Estado, sempre depender do entendimento de jurisprudncia, porm, certo que, ao menos, cabe ao Poder Judicirio o poder de fiscalizar o sistema de prioridades concretamente fixado pelo legislador Constituinte.Nesse sentido, a jurisprudncia do STF:CRIANAS E ADOLESCENTES VTIMAS DE ABUSO E/OU EXPLORAO SEXUAL. DEVER DE PROTEO INTEGRAL INFNCIA E JUVENTUDE. OBRIGAO CONSTITUCIONAL QUE SE IMPE AO PODER PBLICO. PROGRAMA SENTINELAPROJETO ACORDE. INEXECUO, PELO MUNICPIO DE FLORIANPOLIS/SC, DE REFERIDO PROGRAMA DE AO SOCIAL CUJO ADIMPLEMENTO TRADUZ EXIGNCIA DE ORDEM CONSTITUCIONAL.CONFIGURAO, NO CASO, DE TPICA HIPTESE DE OMISSO INCONSTITUCIONAL IMPUTVEL AO MUNICPIO. DESRESPEITO CONSTITUIO PROVOCADO POR INRCIA ESTATAL (RTJ 183/818-819).COMPORTAMENTO QUE TRANSGRIDE A AUTORIDADE DA LEI FUNDAMENTAL (RTJ 185/794-796).IMPOSSIBILIDADE DE INVOCAO, PELO PODER PBLICO, DA CLUSULA DA RESERVA DO POSSVEL SEMPRE QUE PUDER RESULTAR, DE SUA APLICAO, COMPROMETIMENTO DO NCLEO BSICO QUE QUALIFICA O MNIMO EXISTENCIAL(RTJ 200/191- -197).CARTER COGENTE E VINCULANTE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, INCLUSIVE DAQUELAS DE CONTEDO PROGRAMTICO, QUE VEICULAM DIRETRIZES DE POLTICAS PBLICAS. PLENA LEGITIMIDADE JURDICA DO CONTROLE DAS OMISSES ESTATAIS PELO PODER JUDICIRIO. A COLMATAO DE OMISSES INCONSTITUCIONAIS COMO NECESSIDADE INSTITUCIONAL FUNDADA EM COMPORTAMENTO AFIRMATIVO DOS JUZES E RE 482.611 / SC 2 TRIBUNAIS E DE QUE RESULTA UMA POSITIVA CRIAO JURISPRUDENCIAL DO DIREITO. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM TEMA DE IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS DELINEADAS NA CONSTITUIO DA REPBLICA (RTJ 174/687 RTJ 175/1212-1213 RTJ 199/1219- -1220). RECURSO EXTRAORDINRIO DO MINISTRIO PBLICO ESTADUAL CONHECIDO E PROVIDO. (RE 482.611 SC)Ademais, o Min. Celso de Mello, na ADPF 45/DF, expressamente disps sobre o tema:ARGIO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL.A QUESTO DA LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENO DO PODER JUDICIRIO EM TEMA DE IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS, QUANDO CONFIGURADA HIPTESE DE ABUSIVIDADE GOVERNAMENTAL. DIMENSO POLTICA DA JURISDIO CONSTITUCIONAL ATRIBUDA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBTRIO ESTATAL EFETIVAO DOS DIREITOS SOCIAIS, ECONMICOS E CULTURAIS.CARTER RELATIVO DA LIBERDADE DE CONFORMAO DO LEGISLADOR. CONSIDERAES EM TORNO DA CLUSULA DA RESERVA DO POSSVEL. NECESSIDADE DE PRESERVAO, EM FAVOR DOS INDIVDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO NCLEO CONSUBSTANCIADOR DO MNIMO EXISTENCIAL. VIABILIDADE INSTRUMENTAL DA ARGIO DE DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAO DAS LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE SEGUNDA GERAO).Por outro lado, importante notar que devem ser observados limites para a ingerncia do poder judicirio na execuo das referidas normas, designadas programticas. Isso porque, a atuao judiciria deve se pautar pura e simplesmente na garantia de uma mnima eficcia de tais normas, para que estas no se tornem meros planos de governo. Deve, assim, exigir que o Administrador competente atue dentro dos limites oramentrios que possui. Isso porque, a Administrao Pblica, calcada no seu poder discricionrio, compete estabelecer as polticas sociais derivadas de normas programticas, vedado ao Poder Judicirio interferir nos critrios de convenincia e oportunidade que norteiam as prioridades traadas pelo Executivo.3 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAISTTULO IIDOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAISCAPTULO IDOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOSArt. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:I - homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos termos desta Constituio;II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei;