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APOSTILA APOSTILA DE DE DIREITOS HUMANOS DIREITOS HUMANOS ENSINO À DISTÂNCIA CAS - 2004 INSTRUTORES: 1º TEN PM KLEBER INSTRUTORES: 1º TEN PM KLEBER CAP PM FLÁVIO CAP PM FLÁVIO SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO DIRETORIA DE ENSINO, INSTRUÇÃO E PESQUISA CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS

APOSTILA - DIREITOS HUMANOS

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APOSTILAAPOSTILADEDE

DIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOS

ENSINO À DISTÂNCIACAS - 2004

INSTRUTORES: 1º TEN PM KLEBERINSTRUTORES: 1º TEN PM KLEBERCAP PM FLÁVIOCAP PM FLÁVIOCAP PM JOSENYCAP PM JOSENY

SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO

DIRETORIA DE ENSINO, INSTRUÇÃO E PESQUISACENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS

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DIREITOS HUMANOSDIREITOS HUMANOS

INTRODUÇÃO

Ao logo da história, verificamos que os direitos fundamentais dos seres humanos foram resultado de grandes convulsões políticas e sociais. Nenhuma das conquistas históricas foi resultado do consentimento dos poderosos. Sempre representaram lutas intensas que demandaram o reconhecimento de direitos e liberdades anteriormente inexistentes. As lutas dos povos pela emancipação foram o motor que possibilitou os espaços de libertação humana subvertendo ordens injustas, alienantes e desumanizadoras.

Nesta perspectiva é que a promulgação da declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948, constitui um marco no caminho que a humanidade percorreu para se libertar do jugo dos preconceitos, da superstição, da exploração e da opressão.

INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA HUMANA:

A Pessoa Humana necessita da garantia de vários direitos para que possa manter sua existência com dignidade. O artigo 5º da Constituição Federal prevê a garantia desses direitos fundamentais indispensáveis à dignidade humana.

Direitos Humanos são os direitos e garantias fundamentais da Pessoa Humana. É também um conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano, que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana.

FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS:

Os Direitos Humanos possuem como fundamento a própria evolução da sociedade nos campos abaixo:

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Campo jurídico: O direito romano forneceu importantes bases para o atual direito em todo o mundo.

Campo político: A Revolução Francesa que preconizava a igualdade, a liberdade e a fraternidade.

Campo econômico: O capitalismo, que consagrou o direito à propriedade privada.

Campo cultural: O Renascimento do século XVI coloca o homem como “centro do universo” antropocentrismo, portanto, com os naturais direitos à vida, à liberdade, à expressão (através do surgimento das grandes obras de arte).

Campo religioso: O Cristianismo e as demais religiões pregam o amor fraternal, o respeito à pessoa.

PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS:

Nos países de regime democrático, como o Brasil, os Direitos Humanos estão resguardados pela sua principal lei a Constituição Federal.

POLICIA, DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS:

A Policia Militar é um órgão extremamente interessado no respeito aos direitos da pessoa, e não poderia ser diferente, pois existe para a preservação da ordem pública. O desrespeito à Cidadania é nítido sinal de desordem.

A preocupação da Policia Militar com o absoluto respeito aos Direitos Humanos é dupla: além do dever legal de fazer cumprir as leis, e com isso coibir que pessoas desrespeitem os direitos de outras, ela tem o dever e interesse institucional de prevenir, evitar e punir todos os atos ilegais de seus integrantes.

Assim, a Corporação não poderá ser condescendente com qualquer ato de seus integrantes que viole os direitos da pessoa.

É de se observar que não há espaço para aqueles que não respeitam os Direitos Humanos, pois é uma exigência natural resultante do amadurecimento da própria sociedade. Os eventuais infratores ficam sujeitos à lei.

A Corporação também exige de seus componentes o reconhecimento aos direitos de todas as pessoas, assim, mesmo o infrator penal tem direitos inerentes à sua pessoa. E, em conseqüência todos os responsáveis pela Segurança Pública (ordem pública) devem saber que o criminoso não deixa de ser pessoa.

Portanto, tem direito a ampla defesa e ao contraditório, o que não permite que o policial militar cometa qualquer ato com a intenção de fazer “justiça com as próprias mãos”. A função do policial militar é proteger a

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sociedade, coibir as infrações de acordo com a lei, e jamais julgar qualquer pessoa por sua conduta ou executar qualquer pena.

CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS:

DIREITOS INDIVIDUAIS: VIDA (enfocando a integridade física, psíquica e moral; pena de morte e tortura); LIBERDADE ( enfocando os aspectos de liberdade da pessoa física, liberdade de pensamento, liberdade de expressão coletiva e liberdade de ação profissional); IGUALDADE ( abordando o aspecto da discriminação e direitos da mulher), SEGURANÇA (enfocando a importância do policiamento ostensivo e a busca pessoal sem abusos) e PROPRIEDADE. (enfocando os conflitos de terras e invasões).

DIREITOS SOCIAIS: EDUCAÇÃO, SAÚDE, TRABALHO. DIREITOS COLETIVOS: Direito à reunião, à associação. DIREITOS POLÍTICOS: artigo 14 e 17 da CF – eleger e ser

eleito. DIREITO À NACIONALIDADE: artigo 12 e 13 da CF.

PROTEÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS:

A proteção aos direitos fundamentais dá-se por meio do PODER legalmente constituído, organizado, que tem na força das LEIS o seu sustentáculo. É o chamado “ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO”.

CONCEITOS:

DIREITOS HUMANOS

O conceito de direitos Humanos apresenta uma série de interpretações que dependem da orientação jurídica que se tenha sobre o fenômeno jurídico, a sociedade e as relações de poder. Dessa maneira podemos afirmar que o conteúdo dos direitos humanos é marcado política e ideologicamente. Por outro lado, não existe uma uniformidade conceitual sobre o tema. Diferentes denominações chegaram a tratar do mesmo assunto: direitos naturais, direitos do homem, direitos do cidadão, direitos civis, liberdades públicas, direitos fundamentais, garantias individuais, etc.

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Os Direitos humanos são os direitos fundamentais de todas a pessoas, sejam elas mulheres, negros, homossexuais, índios, portadores de deficiência, portadores de HIV, crianças e adolescentes, idosos, policias, presos, despossuídos e os que têm acesso à riqueza. Todos, enquanto pessoas, devem ser respeitados. Tem a ver com o dia-a-dia de cada um; com a maneira de relacionar-se com as demais pessoas; do convívio com as pessoas aparentemente diferentes; da prática da tolerância, do respeito ao próximo que pode ter uma religião, uma cultura, a cor, o sexo, a idade e uma aparência diferentes.

Os gestos, as ações e as atitudes, o exercício do respeito, da aceitação e do apreço á diversidade das culturas de nosso mundo, por menores que sejam, estarão contribuindo para fomentar os direitos humanos. Estes se referem a um sem-número de campos da atividade humana: o direito de ir e vir sem ser molestado; o direito de ser acusado dentro de um processo legal e legítimo, onde as provas sejam conseguidas dentro da boa técnica e do bom direito, sem estar sujeito a torturas e maus-tratos; o direito de exigir o cumprimento da lei; o direito de trabalhar e viver sem se tornar alvo de humilhações, violência, agressões, desrespeito, perseguição e discriminação.

ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

É o estado regido por leis, em o governo está nas mãos de representantes legitimamente eleitos pelo povo. Encontra-se em contraposição à concepção absolutista de Estado, que é regido pela força, pela vontade do monarca.

A Conferência de Viena reconhece que é indissociável a inter-relação entre democracia e o respeito aos direitos humanos; que são os elementos de referência para o aperfeiçoamento da prática política. Vale ressaltar que, o império da lei – próprio do Estado de Direito – dissociado da questão democrática dá margem a uma série de desmandos ou de uma governabilidade dissociada das condições democráticas. Portanto, a democracia, o desenvolvimento e o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais são conceitos interdependentes que se reforçam mutuamente. Contudo, sem direitos humanos reconhecidos e tutelados não existem as condições apropriadas para a solução pacífica dos conflitos, pois as práticas democráticas de lidar com os conflitos instigam a um internacionalismo de vocação pacífica, em função de sua homologia com a diplomacia concebida como um processo contínuo de diálogo e de negociação.

PRINCÍPIOS DO ESTADO DE DIREITO

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LEGALIDADE: Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei.

DIVISÃO DE PODERES: Divisão do Poder absoluto em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, que são harmônicos e independentes entre si, a fim de assegurar o necessário equilíbrio Democrático.

GARANTIA DOS DIREITOS INDIVIDUAIS: Vida, liberdade, igualdade, saúde e segurança

CIDADANIA:

Antes de estudarmos o conceito de cidadania, é prudente analisarmos os conceitos de nacionalidade e naturalidade, uma vez que são conceitos distintos, mas um está diretamente ligado ao outro. Nacionalidade é um vínculo jurídico entre o indivíduo e o Estado, pelo qual aquele se torna parte integrante do povo deste. Cidadania é um vínculo político, próprio do nacional no exercício de seus direitos políticos, que lhe confere o direito de participar da formação da vontade política do Estado. A nacionalidade é um pressuposto da cidadania. Para ser cidadão é indispensável que o indivíduo ostente a qualidade de nacional. Já a naturalidade é um simples vínculo territorial, indicando o local de nascimento.

Estudando o conceito de cidadania, verificamos a doutrina o apresenta sob duas concepções:

a) Cidadania em sentido estrito. De acordo com terminologia tradicional, adotada pela legislação infraconstitucional e pela quase-unanimidade dos autores de direito constitucional, é o direito de participar da vida política do País, da formação da vontade nacional, abrangendo os direitos de votar e ser votado. É uma qualidade própria do cidadão, que é justamente o nacional no gozo de direitos políticos.

b) Cidadania em sentido amplo. Tem um alcance maior. Esta concepção vem consagrando-se no uso popular e na utilização política do termo, significando o efetivo gozo dos direitos previstos no texto Constitucional. Adotado esse sentido mais abrangente, os nacionais identificam-se como os cidadãos de um Estado.

Existem duas espécies de cidadania: ativa e passiva. A primeira é o direito de votar, enquanto a segunda, o de ser votado. Adquire-se a cidadania pelo alistamento eleitoral, que é o procedimento administrativo perante a Justiça Eleitoral pelo qual se verifica se o indivíduo preenche os requisitos exigidos para se inscrever como eleitor.

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CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

Essa idéia, que é central para a compreensão dos Direito humanos, da dignidade da pessoa e sua universalidade, explica, por exemplo, porque quando ocorre uma violação grave dos DH no Brasil temos de aceitar a interferência de outro Estado, como, por exemplo, as comissões européias e norte – americanas, que vem investigar genocídio de índios, massacre de crianças, violações dos Direitos Humanos dos presos etc. Por que essa intromissão é legítima? Porque os Direitos Humanos são direitos sem fronteiras, eles superam as fronteiras jurídicas e a soberania dos Estados.

A primeira geração é a das liberdades individuais, ou os chamados direitos civis. São as liberdades consagradas no século XVIII, com o advento do liberalismo; constituem direitos individuais contra a opressão do Estado, contra o absolutismo, as perseguições religiosas e políticas, contra o medo avassalador em uma época em que predominava o arbítrio e a distinção rigorosíssima em castas sociais, mais do que em classes sociais. Trata-se das liberdades de locomoção, propriedade, segurança, acesso à justiça, opinião, crença religiosa, integridade física. Essas liberdades individuais, também chamadas direitos civis, foram consagradas em várias declarações e firmadas nas constituições de diversos países.

A segunda geração é a dos direitos sociais, do século XIX e meados do século XX. São todos aqueles direitos ligados ao mundo do trabalho, como o direito ao salário, à seguridade social, férias, previdência etc. São também aqueles direitos que não estão vinculados ao mundo do trabalho e mais importante ainda porque são direitos de todos e não apenas daqueles que estão empregados. Trata-se dos direitos de caráter social mais geral, como o direito à educação, saúde, habitação. São direitos marcados pelas lutas dos trabalhadores já no século XIX e acentuadas no século XX, as lutas dos socialistas e da social-democrática, que desembocaram no Estado de Bem-estar Social.

A terceira geração é aquela que se refere aos direitos coletivos da humanidade. Referem-se esses ao meio ambiente, à defesa ecológica, à paz, ao desenvolvimento, à autodeterminação dos povos, à partilha do patrimônio cientifico, cultural e tecnológico. Direitos sem fronteiras, direitos chamados de solidariedade planetária. Assim sendo, quando, por exemplo, a França realiza explosões nucleares no Pacífico isso também nos diz respeito, porque o direito das gerações futuras a um meio ambiente não degradado já se incorporou à consciência internacional como um direito inalienável.

Essas três gerações, de certa maneira, englobam e enfeixam os três da Revolução Francesa: o da liberdade, o da igualdade e da fraternidade, ou da solidariedade. Como enfatizei que os Direitos Humanos são históricos, vale lembrar que já se fala numa quarta geração de Direitos Humanos, que são aqueles direitos que poderão surgir a partir de novas descobertas científicas,

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novas abordagens do conhecimento da diversidade cultural e das mudanças políticas.

Partimos da premissa de que a igualdade não significa uniformidade, homogeneidade. Daí, o direto à igualdade pressupõe – e não é uma contradição – o direito à diferença. Diferença não é sinônimo de desigualdade, assim como igualdade não é sinônimo de homogeneidade e de uniformidade. A desigualdade pressupõe uma valoração de inferior e superior; pressupõe uma valorização positiva ou negativa e, portanto, estabelece quem nasceu para mandar e quem nasceu para obedecer; quem nasceu para ser respeitado e quem nasceu para respeitar. A diferença é uma relação horizontal, nós podemos ser muito diferentes (já nascemos homens ou mulheres, o que é uma diferença fundamental, mas não desigualdade; será uma desigualdade se essa diferença for valorizada no sentido de que os homens são superiores às mulheres, ou vice-versa, que os brancos são superiores aos negros, ou vice-versa, que os europeus são superiores aos latino-americanos e assim por diante. A igualdade significa a isonomia, que é a igualdade diante da lei, da justiça, diante das oportunidades na sociedade, se democraticamente aberta a todos. A igualdade no sentido socioeconômico – e volto a questão da dignidade – daquele mínimo que garanta a vida com dignidade, e que está contemplado na segunda geração de Direitos Humanos. A igualdade entendida como direito à diferença: todos somos igualmente portadores do direito à diversidade cultural, do direito à diferença de ordem cultural, de livre escolha ou por contingência de nascimento.

A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA AO LONGO DA HISTÓRIA

Historicamente, a concepção de cidadão decorre da idéia da igualdade política e da participação de todos. Essa idéia permeou a Grécia antiga e foi resgatada pela Revolução Francesa.

Os romanos faziam distinção entre a cidadania e a cidadania ativa Os cidadãos ativos eram os que tinham o direito de participar das atividades políticas.

A Constituição Francesa, elaborada em 1971, mantém a idéia da diferença de cidadania ativa, utilizada pelos romanos.

Os direitos sociais são os mais difíceis de serem materializados, considerando-se que requerem mecanismo de distribuição de renda e de implementação de políticas sociais.

A existência da cidadania democrática requer assegurar a vigência de regime democrático fundamentado na liberdade, no seu sentido mais amplo, e na garantia da igualdade para todos.

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HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS:

Evolução histórica dos direitos humanos

Como afirma Noberto Bobbio (1992), sem os direitos do homem protegidos e reconhecidos, não há democracia; sem democracia não existem as condições mínimas para solução pacífica dos conflitos, e os direitos não são exercitados. A democracia é a sociedade dos cidadãos, e os súditos se tornam cidadãos quando lhes são reconhecidos os direitos fundamentais.

Inicialmente os direitos humanos foram conhecidos direitos naturais, impostos por Deus, sendo utilizados contra os burgueses, em favor dos reis, em favor da aristocracia. Posteriormente, o pressuposto teológico é rejeitado sob o argumento de que o fundamento dos direitos humanos não está em Deus e sim na razão. O fundamento racionalista não rejeita os direitos naturais, mas desloca a sua explicação para a razão.

No final da Idade Média, surge a burguesia como classe social, que se fortalece através da atividade econômica. Esta, no entanto, era uma classe marginalizada do poder político. Foi o burguês, associado aos pensadores liberais-como Espinoza, Locke, Rosseau e Montesquieu que defendeu a liberdade e a igualdade como valores. O valor da liberdade aparece já no embrião dos direitos humanos. Essa liberdade, no entanto, não era em benefício de todos, mas sim das classes específicas, principalmente em favor do clero e da nobreza e com algumas concessões em benefício do povo.

Algumas críticas têm sido feitas no sentido de que o surgimento dos direitos humanos teve como objetivo atender aos interesses burgueses, bem como a compreensão de que a idéia de homem enquanto cidadão é muito abstrata.

Ao mesmo tempo em que as pessoas são iguais, elas são livres, e essa liberdade é intrínseca a todo ser humano. E para que a liberdade individual prevaleça é necessário que as pessoas tenham as mesmas oportunidades e condições, de forma que possam exercer sua livre escolha.

Quando falamos em direitos na perspectiva democrática, ou seja, o espaço político de todos, a relação direito/dever é intrínseca, e esta relacionada a concepção de governo republicano, no sentido do bem comum, do bem coletivo. Portanto, “o poder é de todos” significa que cada indivíduo tem o direito de participar dele, mas também o dever de fazê-lo ( Renato Janine Ribeiro,1998 ).

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Os direitos humanos são naturais porque dizem respeito à dignidade da pessoa humana e existem antes de qualquer lei, intrínsecos a todo ser humano; são universais porque não se referem apenas a um membro de uma sociedade política; e são históricos porque foram modificando-se e ampliando-se ao longo da história da humanidade. Os direitos humanos são comuns a todos os homens, são públicos e não privados e estão vinculados á própria condição humana.

Apesar de os termos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais terem aparecido na França durante o século XVIII, e a sua formulação jurídico-positiva no plano do reconhecimento constitucional ser um fenômeno que se consolidou principalmente durante o século XIX, as origens de sua fundamentação filosófica remontam aos primórdios da civilização humana. Pois, no mundo antigo, diferentes princípios fundaram sistemas de proteção aos valores humanos, marcados pelo humanismo ocidental e pelo humanismo oriental. Assim, distintos ordenamentos jurídicos da Antiguidade, como o Código de Hamurabi, ou os dez mandamentos, previam princípios de proteção de valores humanos através de uma concepção ético-religiosa.

Foi somente a partir dos séculos XVI e XVII que surgiram as condições objetivas e subjetivas que possibilitaram a modificação dos referenciais de conhecimento e cultura, com o desenvolvimento de novo paradigmas culturais, estéticos, éticos, que se expressaram através do Renascimento e da Reforma Protestante, onde a valorização do indivíduo e o desenvolvimento da noção de livre arbítrio abriram caminho para a posterior constituição do modelo jusnaturalista moderno.

No contexto do século XVIII, caracterizado pela filosofia iluminista, e por uma radicalização do confronto anti-absolutista, foram apresentadas as idéias de pensadores como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que inspiraram os movimentos revolucionários na França e na América. É o período que preparava as grandes transformações sociais e políticas que levaram à elaboração da Declaração de Direitos de Virgínia, em 1776, e da Declaração de Direitos do homem e do Cidadão, aprovada pela Assembléia Nacional francesa em 1789.

Em 1863, na cidade de Genebra (Suíça), durante a Batalha de Solferino, o médico suíço Henry Dunant, com o nome de Cruz Vermelha, escreveu um livro com proposta de criação de um pelotão de médicos para socorrer vítimas de combate naquela batalha, e ele também propôs a criação de juizado internacional para doutrinar ações e realizar julgamentos. Contudo, com a criação da ONU, no final da segunda guerra mundial, foi mudado o nome de Cruz Vermelha para Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), tendo como símbolo a Cruz Vermelha. Entretanto, os muçulmanos deram o nome de Comitê Internacional do Crescente Vermelho (CICV), tendo como símbolo a Lua Crescente.

É a partir do séc. XX que os Direitos Humanos começa a incorporar-se no plano internacional, enquanto o século anterior presenciou o seu

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reconhecimento constitucional. A prova é tanta que após 1948, com a Declaração Universal de Direitos do Homem aprovada pela ONU, tornou-se mais usual a denominação direitos Humanos, pela importância valorativa que expressa um caráter de universalidade para todos os seres humanos.

A ampliação da proteção dos Direitos Humanos para o plano internacional elaborou instrumentos como a Declaração americana de Direitos e deveres do Homem, de abril de 1948; a Declaração Universal de Direitos Humanos, da ONU, de dezembro de 1948; Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966; o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de1966; a Convenção Européia de Direito Humanos, de 1950; a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José), de 1969; a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 1984; a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra Mulher, de 1979; a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, de 1965; a Convenção sobre os Direitos as Criança, de 1989; a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985; a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, de 1994; etc.

O QUE SÃO DIREITOS HUMANOS

Direitos Humanos: Noção e Significado

A expressão “direitos humanos” é uma forma abreviada de mencionar os direitos fundamentais da pessoa humana.

Esse conjunto de condições e de possibilidades associa as características naturais dos seres humanos, a capacidade natural de cada pessoa e os meios de que a pessoa pode valer-se como resultado da organização social. É esse conjunto que se dá o nome de direitos humanos. Tais direitos correspondem necessidades essenciais da pessoa humana. Assim por exemplo, a vida é um direito humano fundamental, porque sem ela a pessoa não existe.

Um ponto deve ficar claro, desde logo: a afirmação da igualdade de todos os seres humanos não quer dizer igualdade física nem intelectual ou psicológica. Cada pessoa humana tem sua individualidade, sua personalidade, seu modo próprio de ver e de sentir as coisas.

Direitos Humanos: Faculdade de Pessoas Livres

Todas as pessoas nascem essencialmente iguais e, portanto, com direitos iguais. Mas ao mesmo tempo que nascem iguais todas as pessoas

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nascem livres. Gozar de um direito é uma faculdade da pessoa humana, não uma obrigação.

No ano de 1948 a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos que dizem em seu artigo primeiro que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Além disso, segundo a Declaração, todos devem agir, em relação uns aos outros, “com espírito de fraternidade”.

O que significa ter um direito?

Temos direitos a coisas distintas, como propriedade, liberdade de expressão, voto, educação ou saúde, à prestação jurisdicional. Para cada um desses direitos existirão distintas formas de dever. Nesse sentido, é muito difícil falar em direito sem pensar imediatamente em uma obrigação, que pode significar simplesmente o dever de abster de uma determinada conduta (não torturar) ou a obrigação de fazer algo (obrigação da política de investigar um caso de tortura).

Necessidades de conciliação entre direitos

Cabe destacar que a relação entre direitos e obrigações mediada e não automática. Portanto, ter um direito significa ter uma boa justificativa, uma razão suficiente para que outras pessoas vejam obrigações e então tenham deveres em relação àquela pessoa que tem um direito. Os direitos não geram obrigações diretas para as outras pessoas, mas razões para que elas se encontrem obrigadas.

Fundamentos dos direitos humanos

Quando associamos a expressão “humanos” a idéia de direitos, a presunção de superioridade inerente aos direitos em geral, torna-se ainda mais peremptória, uma vez que esses direitos buscam proteger valores, interesses e necessidades indispensáveis à realização da condição de humanidade de todas as pessoas. Agrega-se, assim a força ética à idéia de direitos, passando esses direitos a servir de veículo aos princípios de justiça de uma determinada sociedade.

A centralidade da pessoa humana

As declarações de direitos e constituições que foram produzidas a partir da Revolução Francesa e da americana, dão início à linguagem moderna dos direitos humanos, têm por fundamento o pressuposto moral básico de que todas as pessoas são merecedoras de igual respeito e consideração.

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Ao redigir a declaração de Direitos de Virgínia de 1776, logo após a ruptura dos laços com a metrópole, Jefferson afirma que “todos os homens são por natureza igualmente livres e independentes e têm certos direitos inatos”. Da mesma forma, os franceses ao redigir a Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão de 1789 estabeleceram que “todos os homens nascem e são livres e iguais” e que o fim de toda a ‘associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem”.

O Estado e os direitos são assim, obras humanas que têm por única finalidade a preservação da esfera de dignidade das pessoas.

A erosão dos direitos humanos

A idéia de que as pessoas têm direitos que lhe são inerentes, pelo simples fato de serem humanas, passou por um forte processo de erosão no início do século XX, não apenas do ponto de vista filosófico como especialmente da perspectiva prática. Esse processo de erosão culminou com a barbárie do holocausto em que judeus, ciganos, comunistas, homossexuais e outras minorias foram privados de seus direitos a partir de um processo de exclusão moral. O holocausto e outras barbáries do período, como os campos soviéticos de trabalhos forçados e a bomba atômica, causaram um profundo choque na consciência da comunidade internacional. É como reação a essa demonstração de irracionalidade e da capacidade do homem de se auto - destruir que surge a idéia contemporânea de direitos humanos .trata-se de uma reação, ainda que filosoficamente mal resolvida, ao vazio ético deixado pelo desencantamento que favoreceu o nazismo e todas as atrocidades do século XX.

A POLÍCIA MODERNA E UMA NOVA ÉTICA

Os povos livres e democráticos pedem muito às próprias forças de polícia. Essas forças devem defender os indivíduos e as instituições exercitando e aplicando as leis reconhecidas no sistema jurídico interno; porém devem também respeitar e tutelarem os direitos humanos.

Há que está como numa balança, de um lado a tutela do indivíduo, do outro a tutela do Estado, podendo haver conflito e Estado.

Nos países em que imperam a ditadura e o autoritarismo a polícia oferece uma total proteção ao Estado, esquecendo-se dos Direitos dos indivíduos.

As próprias leis são estabelecidas de forma, às vezes a negar os direitos humanos e as mais básicas liberdades civis. Nesses países se observam intensos fenômenos de corrupção no interior dessas forças; daí resultando comportamentos arbitrários que terminam em tortura e tratamento desumano e degradante. Todavia não se pode dizer que os países ou as polícias estão nos

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dois extremos: países democráticos, polícia respeitadora dos direitos humanos e países não democráticos, polícia não respeitadora dos direitos humanos.

A verdade, como afirma (Paolo Carlotto, pá 25) “Aspectos democráticos e aspectos autoritários defesa dos direitos e exercício de poder, estão presente em todas as polícias do mundo, e também em países democráticos ocidentais assistimos abusos da autoridade de polícia”.

Se houvesse um mundo ideal não precisaria, mas, sentimentos ais como, justiça, respeito aos outros estão em contradição com sentimentos tais como, ambição, avidez, prevaricação, daí porque sempre será necessário na sociedade moderna à presença de força de polícia, como forma de controle social, através do poder reinante. É, portanto para o exercício do controle que nascem as instituições que aplicam as leis, tais como Polícia e Judiciário. A questão é que enquanto protetor dos direitos dos indivíduos estes instrumentos os mesmos que protegem o Estado.

A autoridade é resultado do poder seja positivo ou negativo. Justa e legítima podemos definir aquela autoridade que deriva da lei democraticamente promulgada e respeitada por todos. A autoridade que é baseada no poder e no arbítrio não é justa e legitima, mas, nasce do autoritarismo. Este tipo de autoridade que pretende uma cega obediência é ofensiva para uma conceituação substancial dos Direitos Humanos. No nosso sistema jurídico compreendemos que esta obediência cega e irrestrita exigida por parte da cúpula da Polícia Militar sobre os seus subordinados que é entrave, também, para uma real política de Direitos Humanos. As forças de policia unida ao sistema judiciário representam um instrumento para a tutela dos indivíduos e das instituições.

O OFÍCIO DE POLÍCIA E A DEMOCRACIA

Redefinir o perfil do ofício da polícia constitui-se o primeiro desafio. Sair da perspectiva de uma atividade de uma atividade simples e amadora e evoluir para a condição de profissão complexa, que necessita de mão-de-obra qualificada, de técnica apuradas nas intervenções do cotidiano e de uma gestão especializada, consiste exigência básica para a prática da polícia em um cenário político e social democrático e do pleno exercício da cidadania.

Manter um organismo desaparelhado e um quadro despreparado profissionalmente, integrado por pessoas robotizadas, sem individualidade, sem vontade própria, sem iniciativa, resignada, sempre foi a intenção daqueles que exercem o poder. Pois assim, obediente, dependente e subordinada, a polícia não reage e, submissa, atende os interesses resultantes das relações de força vigentes na sociedade. Por isso, até aqui, as políticas pouco contemplaram a modernização e a qualificação das polícias.

Hoje, em regra as Polícias Militares possuem 13 níveis hierárquicos, os quais não possuem correspondência com a estrutura de execução da atividade, no sentido de divisão de trabalho, onde cada degrau necessita de determinados conhecimentos e habilidades. Verifica-se que alguns níveis

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possuem as mesmas exigências, podendo ser unificadas. Na realidade, genericamente, pode-se estruturar as divisões hierárquicas na atividade policial: no campo técnico, como a execução propriamente dita, a coordenação/fiscalização temporal do serviço e a gerência responsável polo emprego dos recursos em um pequeno espaço geográfico; no campo da gestão, a administração operacional, tática e estratégica.

DIREITOS HUNANOS: Coisa de Polícia

Reflexões sobre Polícia e Direitos Humanos

Durante muitos anos o tema “Direitos Humanos” foi considerado antagônico ao de segurança pública.Produto do autoritarismo vigente no país entre 1964 e 1984 e da manipulação,por ele , dos aparelhos policiais, esse velho paradigma maniqueísta cindiu sociedade e polícia, como se a última não fizesse parte da primeira.

Polícia, então, foi uma atividade caracterizada pelos segmentos progressistas da sociedade, de forma equivocadamente conceitual, como necessariamente afeta á repressão anti-democrática, á truculência, ao conservadorismo. ”Direitos Humanos” como militância, na outra ponta, passaram a ser vistos como ideologicamente filiados á esquerda, durante toda a vigência da Guerra Fria (estranhamente, nos países do “socialismo real”, eram vistos como uma arma retórica e organizacional do capitalismo). No Brasil, em momento posterior da história, a partir da rearticulação democrática, agregou-se a seus ativistas a pecha de “defensores de bandidos” e da impunidade.

Evidentemente, ambas visões estão fortemente equivocadas e prejudicadas pelo preconceito.

Estamos há mais de uma década construindo uma nova democracia e essa paralisia de paradigmas das “partes” (uma vez que assim ainda são vistas e assim se consideram), representa um forte impedimento á parceria para a edificação de uma sociedade mais civilizada.

Aproximar a polícia das ONGs que atuam com Direitos Humanos, e vice-versa, é tarefa impostergável para que possamos viver , a médio prazo em uma nação que respire “cultura de cidadania”. Para que isso ocorra, é necessário que nós, liderança do campo dos Direitos Humanos, desarmemos as “minhas ideologias” das quais nos cercamos,em um primeiro momento,justificável, para nos defendermos da policia ,e que agora nos impedem de aproximar-nos . O mesmo vale para a polícia.

Podemos aprender muito uns com os outros, ao atuarmos como agentes da mesma democracia.

Nesse contexto partir de quase uma década de parceria no campo da educação para os direitos humanos junto á polícia e das coisas que vi e

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aprendi com a polícia, é que gostaria de tecer as singelas treze considerações a seguir:

Cidadania, Dimensão primeira

1ª-O policial é, antes de tudo um cidadão, e na cidadania deve nutrir sua razão de ser Irmana-se, assim, a todos os membros da comunidade em direitos e deveres. Sua condição de cidadania é, portanto, condição primeira, tornando-se bizarra qualquer reflexão fundada sobre suposta dualidade ou antagonismo entre uma “sociedade civil” e outra “sociedade policial”. Essa afirmação é plenamente válida mesmo quando se trata da Polícia Militar, que é um serviço público realizado na perspectiva de uma sociedade única, da qual todos os segmentos estatais são derivados. Portanto não há, igualmente, uma ”sociedade civil” e outra “sociedade militar”. A “lógica”, da Guerra Fria, aliada aos “anos de chumbo”, no Brasil, é que se encarregou de solidificar esses equívocos tentando transformar a polícia, de um serviço à cidadania, em ferramenta para enfrentamento do “inimigo interno”. Mesmo após o encerramento desses anos de paranóia, seqüelas ideológicas persistem indevidamente, obstaculizando, em algumas áreas a elucidação da real função política.

Policial: cidadão qualificado

2ª-O agente de segurança pública é contudo, um cidadão qualificado: emblematiza o Estado, em seu contato mais imediato com a população. Sendo a autoridade mais comumente encontrada tem portanto, a missão de ser uma espécie de “porta voz” popular do conjunto de autoridades das diversas áreas do poder. Além disso, porta a singular permissão para o uso da força e das armas, no âmbito da lei,o que lhe confere natural e destacada autoridade para a construção social ou para sua devastação. O impacto sobre a vida de indivíduos e comunidades, exercido por esse cidadão qualificado é, pois, sempre um impacto extremado e simbolicamente referencial para o bem ou para o mal-estar da sociedade.

Policial: pedagogo da cidadania

3ª-Há assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que, como em outras profissões de suporte público, antecede as próprias especificidade de sua especialidade.

Os paradigmas contemporâneos na área da educação nos obrigam a repensar o agente educacional de forma mais influente. No passado, esse papel estava reservado unicamente aos pais, professores e especialistas em educação. Hoje é preciso incluir com primazia no rol pedagógico outras profissões irrecusavelmente formadoras de opinião: médicos, advogados, jornalistas e policiais, por exemplo.

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O policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais abrangentes, é u pleno e legítimo educador. Essa dimensão é inabdicável e reveste de profunda nobreza a função policial, quando conscientemente explicitada através de comportamentos e atitudes.

RIGOR versus VIOLÊNCIA

4ª -O uso legítimo da força não se confunde, contudo, com truculência.

A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no campo formal, pela lei, no campo racional pela necessidade técnica e, no campo moral, pelo antagonismo que deve reger a metodologia de policiais e criminosos.

“ÉTICA” CORPORATIVA versus ÉTICA CIDADÃ

5ª - Essa consciência de auto - importância obriga o policial a abdicar de qualquer lógica corporativista.

Ter identidade com a polícia, amar a corporação da qual participa, coisas essas desejáveis, não se pode confundir, em momento algum, com acobertar práticas abomináveis. Ao contrário, a verdadeira identidade policial exige do sujeito um permanente zelo pela “limpeza” da instituição da qual participa.

Um verdadeiro policial, ciente do seu valor social, será o primeiro interessado no “expurgo” dos maus profissionais, dos corruptos, torturadores e dos psicopatas, pois estes prejudicam o equilíbrio psicológico de todo o conjunto da corporação e denigre o esforço heróico de todos aqueles outros que cumprem corretamente sua espinhosa missão. Por esse motivo não está disposto a conceder-lhes qualquer tipo de espaço.

Aqui, se antagoniza a “ética da corporação” ( que na verdade é a negação de qualquer possibilidade ética ) com a ética da cidadania ( aquela voltada à missão da polícia junto a seu cliente, o cidadão ).

CAPTURA

A CONDUTA DOS ENCARREGADOS DA APLICAÇÃO DA LEI

Os princípios da legalidade e necessidade, juntamente com a proibição da arbitrariedade, impõem certas expectativas na conduta dos encarregados da aplicação da lei, em situações de captura,. Estas expectativas relacionam-se ao conhecimento da lei e dos procedimentos a serem observados

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em situações específicas e/ou circunstancias que possam levar à privação da liberdade.

O conjunto de Princípios declara que captura, detenção ou prisão somente deverão ser efetuadas em estrita conformidade com os dispositivos legais e por encarregados competentes, ou pessoas autorizadas para aquele propósito (Princípio 2).

A palavra competentes significa não somente autorizadas, mas também deve ser entendida como referindo-se à aptidão, à atitude mental e física dos encarregados da aplicação da lei em situações de captura. Para efetuar-se uma captura que atenda a todos os requisitos de legalidade, necessidade e não arbitrariedade é necessário muito mais do que a mera aplicação da lei. Somente treinamento e experiência podem desenvolver, nos encarregados da aplicação da lei, a capacidade de distinguir entre situações individuais e adaptar suas reações às circunstancias de um caso particular.

PRÁTICA GERENCIAL

A necessidade de ter encarregados competentes para efetuar uma captura levou muitas organizações de aplicação da lei, de vários países, a manter unidades ou equipes especializadas para situações de capturas difíceis ou perigosas. Estas unidades ou equipes consistem de encarregados da aplicação da lei que são selecionadas e treinadas para desempenhar uma função para qual nem todo encarregado da aplicação da lei pode ser considerado competente.

O comportamento individual dos encarregados da aplicação da lei em situações de captura determinará em cada situação o grau de arbitrariedade que será atribuído àquele comportamento. A garantia da igualdade e da prevenção da discriminação está nas mãos dos indivíduos encarregados da lei – assim como a responsabilidade de assegurar o respeito aos direitos de cada pessoa capturada, de acordo com a lei.

A PESSOA CAPTURADA

Direitos no ato da captura

Sempre que uma pessoa for capturada, a razão deve ser pela suspeita da prática de um delito ou por ação de uma autoridade.

Toda pessoa capturada deverá ser informada, no momento de sua captura, das razões da captura, devendo ser prontamente informada de qualquer acusação contra ela.

A pessoa capturada deverá ser levada de custódia, devendo ser conduzida prontamente perante um juiz ou outra autoridade habilitada por leia exercer poder judiciário por lei a exercer poder judicial, que decidirá sobre a legalidade e a necessidade da captura.

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Uma pessoa detida sob acusação criminal terá direito a julgamento dentro de um prazo razoável, ou aguardar julgamento em liberdade.

As autoridades responsáveis pela captura, detenção ou prisão de uma pessoa devem, respectivamente, no momento da captura e no início da detenção ou da prisão, ou pouco depois, prestar-lhe informação e explicá-lo sobre os direitos e sobre o modo de os exercer.

PRÁTICA GERENCIAL

Um exemplo de boa prática de aplicação da lei é a produção e disseminação de folhetos explicando os direitos de pessoas capturadas. Em muitos países as organizações de aplicação da lei produzem tais folhetos em várias línguas para assegurar sua acessibilidade. Ao ser levada à custódia policial, a pessoa em questão recebe um desses folhetos na sua língua materna, explicando seus direitos e como exercê-los.

Direitos imediatamente após a Captura

A presunção da inocência aplica-se a todas pessoas detidas e deve também refletir-se no tratamento delas.

São proibidas medidas além das necessidades para evitar a obstrução do processo de investigação ou para manter a ordem e segurança do local de detenção.

Uma pessoa detida tem o direito à assistência de um advogado e condições razoáveis devem ser propiciadas para que este direito seja exercido. Um advogado de ofício deve ser providenciado pela autoridade judicial ou outra autoridade caso a pessoa detida não tenha advogado próprio, e de graça, caso não tenha condições financeiras.

Os direitos de uma pessoa detida e/ou seu advogado são os seguintes:

ter oportunidade efetiva de ser ouvido por uma autoridade judicial ou outra autoridade;

receber comunicação pronta e completa de qualquer ordem de detenção, juntamente com as razões para tal;

comunicar-se entre si e ter tempo e condições adequadas para consulta em sigilo absoluto, sem censura e sem demora;

comunicar-se entre si sob vigilância de um encarregado da aplicação da lei, porém sem serem ouvidos;

ter acesso às informações gravadas durante toda duração de qualquer interrogatório, e dos intervalos entre interrogatórios, e à identidade dos encarregados da condução dos interrogatórios e outras pessoas presentes;

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de tomar medidas, em conformidade com a legislação nacional, perante uma autoridade, para impugnar a legalidade da detenção, de forma a obter sua libertação caso seja ilegal;

de apresentar requerimento ou queixa relativos ao tratamento de detido, em particular no caso de tortura ou tratamento cruel, desumano ou degradante, às autoridades administrativas ou superiores e, quando necessário, às autoridades apropriadas investidas de poderes de revisão ou correção.

VERTENTES DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL DA DIGNIDADE HUMANA:

Os três principais elementos que dão sustentação a toda arquitetura internacional de normas e mecanismos de proteção aos Direitos Humanos são a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, o Pacto Internacional de Direito Civil e Político e o Pacto Internacional de Direito Econômico Social e Cultural, ambos de 1966, e também o protocolo facultativo ao Pacto Internacional de Direito Civil e Político.

Tornando a Declaração Universal dos Direitos do Homem como ponto inicial e de referência, a comunidade internacional continuou a elaborar Tratados que se concentrassem em áreas ou tópicos específicos no campo dos Direitos Humanos.

A Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) efetivamente tornou os Direitos Humanos uma questão de interesse internacional. A própria ONU considera a promoção e a proteção dos Direitos Humanos como uma de sua finalidade principal, assumindo essa tarefa através de atividades abrangentes que visam estabelecer padrões conforme descrito acima.

A promulgação de uma infinidade de instrumentos internacionais relacionados aos Direitos Humanos dos Estados Membros da ONU.

Direitos do homem: são válidos para todos os povos e em todos os tempos. Emerge da própria natureza humana e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal. Dimensão jusnaturalistas-universalista.

Direitos fundamentais: são os direitos do homem garantidos e limitados espaço-temporalmente. São os direitos objetivamente vigentes numa ordem jurídica concreta.

DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

Aplicado em conflitos armados Aplicado no dia-a-dia (na paz)Instrumentos: Convenções de Genebra e

de HaiaInstrumentos: Tratados. Pactos e Convenções

de Direitos HumanosPrisioneiros de guerra, combatentes, civil

em área de conflito, conduta de Todos os indivíduos

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hostilidades, alvos protegidos, tipos de armas e munições, etc.

Não podem ser derrogados Podem ser suspensos (há exceções)

Tribunal Criminal Internacional (hoje o de Ruanda é o da antiga Iugoslávia)

Comissões. Comitês e Cortes Internacionais de Direitos Humanos (em fase de finalização a

instituição do Tribunal Penal Internacional)

DECLARAÇÕES E TRATADOS INTERNACIONAIS:

As Declarações são meramente orientadoras e referenciais, enquanto os Pactos, Tratados e Convenções internacionais são juridicamente obrigatórios.

RECEPÇÃO AOS PACTOS, TRATADOS E CONVENÇÕES

INTERNACIONAIS:

De acordo com a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969, os Tratados Internacionais são acordos internacionais concluídos entre Países, na forma escrita e regulados pelo Direito internacional. Interessa-nos, porém, estudar o modo pelo qual os mesmos passam a integrar o Direito interno. Para tanto, importa a análise das regras estabelecidas a esse respeito na Constituição Federal.

Inicialmente, deve ser salientado que o artigo 21, I da Constituição Federal estabelece ser competência exclusiva da União “manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais”. Por seu turno, estabelece o artigo 84, VIII, da Constituição Federal que “compete privativamente ao Presidente da República celebrar Tratados, Convenções e Atos Internacionais, sujeitos a referendo no Congresso Nacional“.

O artigo 4º da Constituição Federal estipula que a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais por princípios, entre os quais da independência e da prevalência dos direitos humanos. Isso implica que o país, embora desobrigado, buscará aderir a todas as iniciativas internacionais sobre o assunto.

Assim, a celebração dos tratados sempre será levada a cabo pela representação diplomática do Governo Federal, sendo que a assinatura dos tratados será de atribuição do Presidente da República ou de representante por ele designado.

O marco inicial do processo de incorporação de Pactos, Tratados e Convenções Internacionais de Direitos Humanos pelo Direito Brasileiro foi a ratificação, em 1º de fevereiro de 1.984, da Convenção sobre a Eliminação de

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todas as formas de Discriminação contra a Mulher (Assembléia Geral das Nações Unidas, de 18 de dezembro de 1.979).

A partir dessa ratificação, inúmeros outros relevantes instrumentos internacionais de proteção dos Direitos Humanos foram, também, incorporados pelo Direito Brasileiro, sob a égide da Constituição Federal de 1.988.

Assinado o tratado internacional pelo Poder Executivo, faz-se necessária sua aprovação pelo Poder Legislativo (mediante decreto legislativo), seguida de sua ratificação pelo Presidente da República. Desta feita, o processo de formação dos tratados consiste em um ato complexo, do qual não participa apenas o chefe do Poder Executivo Federal, ma também o Poder Legislativo, em estrita obediência ao princípio da harmonia entre os Poderes.

No Brasil, a ratificação de um documento internacional deve obedecer ao que dispõe o artigo 49, inciso I, da Constituição Federal que estabelece ser competência exclusiva do Congresso Nacional “resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional”.

1) Assinatura do Presidente da República como signatário das Nações Unidas;

2) Aprovação pelo Congresso Nacional através de Decreto Legislativo, e

3) Presidente da República edita Decreto Presidencial promulgando o Documento Internacional.

DECLARAÇÃO FRANCESA DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO:

França, 26 de agosto de 1789.

Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e a felicidade geral.

Em razão disto, a Assembléia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:

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Art. 1º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.

Art. 2º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são: a liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão.

Art. 3º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.

Art. 4º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.

Art. 5º A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.

Art. 6º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.

Art. 7º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos, mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.

Art. 8º A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessária e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.

Art. 9º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.

Art. 10º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.

Art. 11º A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.

Art. 12º A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.

Art. 13º Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.

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Art. 14º Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.

Art. 15º A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.

Art. 16º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.

Art. 17º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização.

RECONSTRUÇÃO, AMPLIAÇÃO E CONTRADIÇÕES DOS DIREITOS

HUMANOS:

Terminada a guerra, foi criada, em 26 de junho de 1.945, pela Carta de São Francisco, a Organização das Nações Unidas, retomando o caminho interrompido da extinta Liga das Nações, agora com mais amplitude.

A CARTA DA ONU:Desde o fim da 2ª Guerra Mundial, a comunidade internacional, sob

orientação da ONU, tem se empenhado em criar padrões de Direitos Humanos o que constitui uma tentativa de construir um arcabouço jurídico para a sua promoção e proteção eficaz. Em geral, esses padrões foram estabelecidos com o desenvolvimento de Tratados Multilaterais que criam obrigações para os Estados Membros.

Os objetivos da ONU são: Manter a paz e a segurança internacional; Obter cooperação internacional na solução de problemas internacionais de naturezas econômicas, sociais, culturais ou humanitárias e na disseminação e no encorajamento do respeito pelos Direitos Humanos e pelas liberdades fundamentais de todos sem distinção de raça, sexo, idioma ou religião.

Iniciaram-se, então, os trabalhos que redundaram na “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, adotada e proclamada pela Resolução numero 217 da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.

A Declaração Universal de 1948 inaugurou uma concepção contemporânea de Direitos Humanos, na medida em que integrou os direitos civis e políticos, vinham se desenvolvendo desde o século XVIII, especialmente após a “Declaração” Francesa de 1789, aos direitos econômicos, sociais e culturais, demandados no século XIX e XX pelo movimento operário, que foram valorizados particularmente após a “Declaração” Russa de 1918.

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Ao mesmo tempo em que foram resgatados e integrados, alguns Direitos Humanos - por sinal, muito antigos – foram também, pela primeira vez, levados a serio. Já na época da criação da ONU e, com mais ênfase nas décadas de cinqüenta e sessenta, vigorosas lutas de libertação nacional obrigaram a que o velho direito a autodeterminação dos povos, tão proclamado quanto violentado com arrogância pelas potências colonialistas, passassem, finalmente, da teoria a pratica.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS:

(Assembléia Geral das Nações Unidas, 10 de dezembro de 1.948).

A Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) é hoje o instrumento de direitos humanos de maior importância. Adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas de 1948, não é um tratado, porém tinha-se a intenção de criar um documento que fornecesse uma estrutura para orientação e interpretação das disposições e obrigações de Direitos Humanos, contidas na Carta da ONU. Foi o desenrolar posterior da história legislativa dos Direitos Humanos que, na verdade, levou ao conhecimento da posição notável da Declaração Universal no atual Direito Internacional dos Direitos Humanos. A Declaração Universal foi adotada em 1948, foi só em 1966 que a Comissão dos Direitos Humanos terminou a elaboração dos principais Pactos, Tratados e Convenções e dos Protocolos Facultativos.

Muitas das disposições da Declaração Universal foram inscritas nas Constituições e Legislações Nacionais de Estados-membros da ONU. A prática geral dos Estados no campo dos Direitos Humanos tem sido baseada na Declaração desde 1948.

A expedita conclusão do primeiro elemento da trilogia que compõe a Carta Internacional dos Direitos Humanos não deve ser interpretada como signo ou resultado natural de um consenso universal que pudesse então existir sobre tais direitos. Na verdade o tema sempre foi controverso e a própria decisão de se confeccionar a Carta em etapas, com três componentes separados, é decorrência dos acordos entre as diferentes visões de mundo presentes na Comissão e na Assembléia Geral da ONU. A DUDH é meramente orientadora e referencial, enquanto os Pactos são juridicamente obrigatórios.

A redação da Declaração de 1948 é enxuta e secular, desprovida de referências metafísicas. Proclama o “ideal comum a ser atingido por todos os Povos e Nações”.

Artigo1 Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

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Artigo2 I) Todo o homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

II) Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo3 Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo4 Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos estão proibidos em todas as suas formas.

Artigo5 Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo6 Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Artigo7 Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos tem direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo8 Todo o homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo9 Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo10 Todo o homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo11 I) Todo o homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias a sua defesa.

II) Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional.

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Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo12 Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques a sua honra e reputação. Todo o homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo13 I) Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

II) Todo o homem tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo14 I) Todo o homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

II) Este direito não pode ser invocado em casos de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo15 I) Todo homem tem direito a uma nacionalidade.

II) Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo16 I) Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, tem o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

II) O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

III) A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo17 I) Todo o homem tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

II) Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo18 Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

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Artigo19 Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras.

Artigo20 I) Todo o homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.

II) Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo21 I) Todo o homem tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.

II) Todo o homem tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

III) A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo22 Todo o homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.

Artigo23 I) Todo o homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

II) Todo o homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

III) Todo o homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como a sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

IV) Todo o homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.

Artigo24 Todo o homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

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Artigo25 I) Todo o homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

II) A maternidade e a infância tem direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Artigo26 I) Todo o homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnica profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

II) A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

III) Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo27 I) Todo o homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de fruir de seus benefícios.

II) Todo o homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Artigo28 Todo o homem tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo29 I) Todo o homem tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

II) No exercício de seus direitos e liberdades, todo o homem estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

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III) Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo30 Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer direitos e liberdades aqui estabelecidos.

CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA

APLICAÇÃO DA LEI:

(Assembléia Geral das Nações Unidas, 17 de dezembro de 1.979.)

O termo “funcionários responsáveis pela aplicação da lei” inclui todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes policiais, especialmente poderes de detenção ou prisão. Nos países onde os poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de segurança do Estado, será entendido que a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os funcionários de tais serviços.

Artigo 1º - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer.

Artigo 2º - No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos humanos de todas as pessoas.

Artigo 3º - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.

Artigo 4º - Os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento do dever ou necessidade de justiça estritamente exija outro comportamento.

Artigo 5º - Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outro

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tratamento ou pena cruel, desumano ou degradante, nem nenhum destes funcionários pode invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça de guerra, ameaça a segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública, como justificativa para torturas ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 6º - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem garantir a proteção da saúde de todas as pessoas sob sua guarda e, em especial, devem adotar medidas imediatas para assegurar-lhes cuidados médicos, sempre que necessário.

Artigo 7º - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer quaisquer atos de corrupção. Também devem opor-se vigorosamente e combater todos estes atos.

Artigo 8º - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e este Código. Devem também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se com rigor a quaisquer violações da lei e deste Código.

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que houve ou que está para haver uma violação deste Código, devem comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades competentes ou órgãos com poderes de revisão e reparação.

ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS (ONGs):

São entidades desvinculadas do Poder Público, formadas por pessoas que se dedicam a uma causa comum. No campo dos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana, tem destacada atuação no Brasil a Anistia Internacional.

PRISÃO LEGAL

O artigo 5º, inciso LXI da CF prevê: “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”.

O artigo 5º, inciso LXIII da CF prevê: “O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada à assistência da família e de advogado”.

O artigo 5º, inciso LXIV da CF prevê: “O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial”.

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O artigo 5º, inciso LXV da CF prevê: “A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”.

A ATIVIDADE POLICIAL E O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:

O artigo 5º, inciso LVII da CF prevê: “Ninguém será considerado culpado até trânsito em julgado da sentença penal condenatória”.

Como importante agente da Cidadania, o policial militar deve ter preparo físico, intelectual e emocional para manter a serenidade, mesmo atuando em contato com pessoas aflitas, com problemas e necessitadas.

O policial militar deve partir do princípio de que todas as pessoas são inocentes, e só deve mudar esse posicionamento, diante de fatos concretos. É claro que considerar alguém inocente não implica em deixar de tomar as necessárias medidas de segurança pessoal. A inobservância desse princípio pode levar o policial militar a cometer abuso de autoridade por constrangimento ou violência arbitrária.

Em que pese o fato da sociedade apresentar nítidos sintomas da doença chamada “desrespeito aos Direitos Humanos”, onde as cadeias estão superlotadas, e os crimes continuam sendo cometidos, o policial militar não pode partir do princípio de que, individualmente, pouco ou nada resta a fazer. Cada um pode e deve lembrar–se de que sua atuação é de extrema importância para recuperar as raízes de alguns valores esquecidos, e para fortalecer o interior da pessoa, que cresce e se arrepende quando se vê bem tratada mesmo diante de seus erros.

Jamais deve–se acusar alguém sobre algo que não sabe ser verdadeiro. Respeite o princípio da presunção da inocência. Lembre–se de que ser acusado de algo que não fez ou deixou de fazer, quando inocente, é um fato que desespera qualquer pessoa, dando a nítida sensação de injustiça.

DIREITO À IMAGEM E A EXPOSIÇÃO INDEVIDA

O artigo 5º, inciso X da CF prevê: “ São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente”.

A pessoa presa não é obrigada a dar entrevistas para a mídia. Quem forçá-la incorrerá no crime de abuso de autoridade ou no artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente, se o constrangimento for contra menor, além disso, estará sujeito à obrigação de indenização pelos danos materiais e morais à imagem.

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CONDUÇÃO E TRATAMENTOS CONDIGNOS COM A PESSOA HUMANA

O policial militar deve estar bem preparado para não ofender os direitos da pessoa mesmo diante de situações complexas.

Durante o atendimento das ocorrências policiais, deve–se ter cautela para não se envolver na ocorrência, devendo manter o equilíbrio e a mais absoluta imparcialidade.

As pessoas merecem o mesmo tratamento, sem discriminação de qualquer natureza.

Deve–se lembrar que a simples presença ostensiva e profissional, apoiada sempre no espírito de atingir o bem comum, constitui–se no mais eficiente meio para desestimular a prática de delitos.

A legitima defesa e o estrito cumprimento do dever legal diante do respeito à Cidadania

Numa visão menos apurada , poderíamos entender como ofensa aos Direitos Humanos a situação, ou fato em que a lei deixe de considerar crime quem atinge o direito de outrem em legítima defesa ou no estrito cumprimento do dever legal.

A legítima defesa e o estrito cumprimento do dever legal não podem ser considerados como uma forma legal de infringir os direitos da pessoa. Na verdade, trata-se de um amparo legal a determinadas condutas que visam, exatamente, a defesa dos Direitos Humanos.

O policial militar deve estar consciente de que sua arma só deve ser usada como último instrumento de defesa de direitos próprios ou de terceiros, e jamais com a intenção de matar alguém, pois o objetivo deve ser claro no sentido de apenas fazer cessar a agressão injusta aos citados direitos.

Quando se faz cumprir um mandado judicial, portanto no estrito cumprimento do dever legal, antes de estar infringindo os Direitos Humanos, está mantendo a “justiça”, e por certo, defendendo outro direito ainda maior.

Assim, a lei brasileira jamais autoriza uma pessoa a tirar a vida de outra, pois mesmo em legítima defesa, a reação além de moderada, só deve permanecer enquanto durar a agressão injusta.

LEI DE TORTURA LEI N.º 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997

Art 1º - Constitui crime de tortura:I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,

causando-lhe sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

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c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

§ 2º - Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

§ 3º - Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

§ 4º - Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:I - se o crime é cometido por agente público;II - se o crime é cometido contra criança, gestante, deficiente e

adolescente;III - se o crime é cometido mediante seqüestro.§ 5º - A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego

público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.§ 6º - O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou

anistia.§ 7º - O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do

§ 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. Art. 2º - O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não

tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Art. 3º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4º - Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Constituição Federal de 1988.Manual para Instrutores – Comitê Internacional da Cruz Vermelha,

Genebra, 1988.Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).Pactos da Humanidade – 1997 – Anistia Internacional.Direitos Humanos: Construção da Liberdade e da Igualdade – Centro

de Estudos – PGE – 2.000.Programa Nacional de Direitos Humanos.Ricardo Balestreri, Direitos Humanos: Coisa de Polícia.Carlos Magno Nazareth Cerqueira, A Polícia e Os Direitos Humanos:

Estratégias de Ação.

http://www.dhnet.org.br/direitos/index.htmlwww. direitoshumanos .usp.br/ www.direitoshumanos.org.br/

www.gddc.pt/direitos-humanos/index-dh.html - 24k

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EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO:

1.O que são Direitos Humanos?2.Como os Direitos Humanos são tratados na Constituição Federal de

1988?3.Quais os avanços trazidos pela Constituição à matéria dos Direitos

Humanos?4.Faça um breve comentário sobre cada expressão abaixo, atribuindo e

contemplando significados próprios (qual o significado de cada uma dessas expressões para você?) 

Solidariedade, Cidadania, Igualdade, Liberdade, Democracia, Dignidade Humana, Progresso Social, Respeito, Ética.

5.Qual a concepção contemporânea de Direitos Humanos?

6.Qual o significado prático de se qualificar os direitos humanos como universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados?

7.Compare e comente a vedação da prática de tortura na Declaração de 1948 e na Constituição Federal de 1988.

8.Uma das razões que policiais são tão reservados a respeito do conceito de direitos humanos é que, quando se fala em direitos humanos parece que estão mais voltados à proteção dos criminosos que às vítimas. Você considera que isto reduz o valor dos direitos humanos?

9. O que significa a palavra cidadania?

10. O que é Ética corporativa?11. Que pena está estabelecida para o policial que comete o crime de

tortura? 

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12. O que significa ser um policial qualificado?

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