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Apostila D.penal - Leis Extravagantes

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Faculdade de Direito

Direito Penal II

Lei de Crimes Hediondos, Lei de Tortura e Regimes em face das Leis Especiais.

Aline Luiz Oliveira

CM: 402.3160-7

Carlos Eduardo M. R. Nishida

CM: 402.4793-7

Fernando Csar Gomes de Souza

CM: 402.2981-5

Giovanna Arajo Pacheco

CM: 402.4602-7

Renato Sampaio Ferreira

CM: 402.4718-1

Ricardo Brendli Tozetti

CM: 402.3056-2

Rodrigo Val Baraldi

CM: 402.4524-1

Direito Noturno

Turma 3o T

Professor Marcelo Martins Berthe

Direito Penal II

So Paulo 2003

Aline Luiz Oliveira

Carlos Eduardo M. R. Nishida

Fernando Csar Gomes de Souza

Giovanna Arajo Pacheco

Renato Sampaio Ferreira

Ricardo Brendli Tozetti

Rodrigo Val BaraldiLEI DE CRIMES HEDIONDOS, LEI DE TORTURA E REGIMES EM FACE DAS LEIS ESPECIAIS:

Trabalho referente avaliao da disciplina de Direito Penal II, do terceiro semestre do curso de Direito Noturno, sob orientao do Professor Marcelo Martins Berthe.

Universidade Presbiteriana Mackenzie

So Paulo 2003

SUMRIO

1. Introduo

05

2. Crimes Hediondos

06

2.1. Histrico

06

2.2. Conceito

07

2.3. Espcies

08

2.3.1. Homincdio

08

2.3.2. Latrocnio

10

2.3.3. Extoro

12

2.3.4. Extoro Mediante Sequestro

13

2.3.5. Estupro

15

2.3.6. Atentado Violento ao Pudor

16

2.3.7. Epidemia com Resultado Morte

16

2.3.8. Falsificao, Corrupo, Adulterao ou Alterao de Produto Destinado a Fins Teraputicos ou Medicinais17

2.3.9. Genocdio

17

3. Tortura

18

3.1. Histrico

18

3.2. Introduo da Tortura

18

3.3. Abolio da Tortura

19

3.4. Conceituao e Espcies

19

3.5. Modalidades

20

3.5.1. Interrogatrio (Mental)

20

3.5.2. Alta Segurana (Isolamento)

21

3.5.3. Inquisio (reeducao)

21

3.5.4. Privao do Sono

22

3.5.5. Silncio

22

3.5.6. Hospitais Psiquitricos

22

3.5.7. Tortura Qumica

23

3.5.8. Soro da Verdade

23

3.5.9. Lavagem de Crebro

23

3.6. Tortura Como Crime, Precedentes

23

3.7. Conceito no Direito Penal Brasileiro

24

3.8. A Lei no 9.455 de 7 de Abril de 1997

24

3.9. Tipo Objetivo

24

3.9.1. Subtipos da Tortura

25

3.9.2. Formas Qualificadas

26

3.10. Tipo Subjetivo

26

3.11. Extraterritorialidade

26

4. Dispositivos das Leis

27

4.1. Anistia, Graa e Indulto; Fiana e Liberdade Provisria27

4.2. Regimes de Cumprimento da Pena

29

4.3. Direito de Apelar em Liberdade

30

4.4. Priso Temporria

30

4.5. Estabelecimentos Penais

31

4.6. Livramento Condicional

31

4.7. Alterao das Penas dos Crimes Hediondos

32

4.8. As penas: Atenuantes e Agravantes

33

4.8.1. Atenuantes:

33

4.8.2. Agravantes:

34

4.9. Regimes de Penas Tortura

35

4.10. Fiana, graa e Anistia Tortura

36

5. Aspectos Polmicos

36

6. Jurisprudncia

38

6.1. Tortura

38

6.2. Crimes Hediondos

38

7. Concluso

41

8. Anexos

42

8.1. Transparncias

42

8.2. Jurisprudncias

42

9. Referncias Bibliograficas

43

1. INTRODUO

O grupo vem atravs deste trabalho conceituar e estudar os crimes hediondos, a tortura bem como suas penas a opinio de diversos autores sobre pontos polmicos das leis especiais, com o objetivo de ampliarmos nosso conhecimento sobre o tema, bem com nossa viso sobre o Direito Penal.

2. CRIMES HEDIONDOS

2.1. HISTRICO

O tema crimes hediondos vem previsto na Constituio Federal, permitindo que legislao infraconstitucional, atravs de leis complementares e ordinrias, dispusesse sobre temas considerados polmicos e de difcil soluo em nvel constitucional. A Constituio peca por descer a detalhes que, a rigor no deveriam constar na Carta Magna.

Em meio a grande insegurana vivida pela sociedade em seus diversos setores, surge um momento oportuno para a edio da Lei n. 8.072, de 25 de Julho de 1990, um imperativo constitucional previsto no art. 5, XLIII. O clima emocional vivenciado neste perodo exigia a criao de dispositivos duros que combatessem os chamados crimes hediondos.

Dessa forma, a sociedade exigia do Governo uma maior sensao de segurana, a criao da Lei de Crimes Hediondos veio com o objetivo de diminuir a criminalidade e criar um clima de maior segurana na populao.

A Lei n.8072, que dispe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5, XLIII, da Constituio Federal, e determina outras providncias, resultou de vrios projetos de lei que tramitavam no Congresso Nacional, alguns oriundos da Cmara dos Deputados, outros do Senado Federal, e at do Executivo.

Sua origem imediata foi o Projeto de Lei n. 50/90 do Senado Federa, de autoria do Senador Odacir Soares, de 17 de Maio de 1990.Esse projeto estabelecia apenas novas disposies penais para os crimes de seqestro e extorso mediante seqestro e dava outras providncias de ordem processual penal.

Em seu art. 1 o projeto alterava a redao dos arts. 75, 83, 107, 109, 148 e 159 do Cdigo Penal, o que significava fundamentalmente penas mais severas para os crimes de seqestro e de extorso mediante seqestro. Tornava-os imprescritveis alterao do art. 107, IV e acrescentava o pargrafo nico a art.109. eram insuscetveis de fiana, graa ou anistia.

Pelo art. 2 o projeto alterava o art. 594 do Cdigo Processual Penal, acrescentando-lhe o pargrafo nico para dizer que o condenado por esses crimes em hiptese alguma, podia apelar em liberdade.

J o art. 3 previa que as penas desses artigos deveriam ser cumpridas integralmente em regime fechado, alterando inclusive a Lei de Execuo Penal, no admitindo a remio pelo trabalho realizado.

Tambm era defesa a concesso da liberdade provisria cm ou sem fiana, e determinava que o seqestro praticado por motivos polticos seria punido nos termos desta lei.

Na justificativa ao projeto, referia-se o ilustre Senador a que sendo esses crimes uma atividade das mais nefastas, que crescia dia a dia, deveria ser coibida em qualidade e quantidade. Por isso foi dada nfase a todas as restries no cumprimento da pena, inclusive permitindo ultrapassa o limite legal de 30 anos previsto no art. 75 do Cdigo Penal com a nova redao por ele proposta, j que o limite de 30 anos, ser indiferente o cometimento ou no de outros crimes.

O Senador Mauro Benevides, relator na Comisso da Constituio, cuja filosofia era de sancionar os culpados segundo a indignao que esses crimes causam sociedade; evidente, portanto, tambm a procedncia e oportunidade da proposio. Apresentou apenas trs emendas mais de ordem tcnico-legislativa do que de contedo.

O projeto em sua redao foi aprovado pelo Senado no dia 20 de junho de 1990, sendo relator o Senador Pompeu de Souza. Nesta mesma data foi encaminhado Cmara dos Deputados.

Ali tramitavam uma srie de projetos de lei sobre o mesmo assunto, incluindo o do Executivo subscrito pelo ento Ministro da Justia Saulo Ramos. Esse projeto,que tinha como base o anteprojeto elaborado pelo Conselho Nacional de Penitenciria, considerava crimes hediondos no art. 1 trs em seu inciso primeiro o latrocnio, extorso qualificada pela morte, extorso mediante seqestro e na forma qualificada, epidemia com resultado morte, envenenamento de gua potvel ou de substncia alimentcia ou medicinal, e o genocdio tentados ou consumados; trs em seu inciso II como os crimes hediondos os crimes praticados com violncia pessoa, que provoquem repulsa social, pela gravidade do fato ou pela maneira de execuo, segundo deciso fundamentada do juiz competente.

O inciso I tornou-se o art. 1 da Lei n.8072/90, acrescido dos crimes de estupro e de atentado violento ao pudor. O inciso II no foi aproveitado, adotando a lei, dessa forma, o critrio exclusivamente legal para a definio do crime hediondo.

O substitutivo da Cmara dos Deputados foi lido no Senado no dia 29 de Junho, e no dia 10 de Julho foi votado em plenrio, aprovado com declarao de voto dos Senadores Humberto Lucena e Cid Sabia de Carvalho. No dia 11 foi enviada mensagem Presidncia da Repblica para a sano Presidencial, mesmo dia em que a mesa diretora do Senado comunicou Cmara dos Deputados a aprovao do projeto de seu encaminhamento sano presidencial.

No dia 25 de Julho, os diversos projetos foram englobados no substitutivo da Cmara aprovado no Senado transformaram-se na Lei n.8072/90, que traz como ementa: Dispe sobre os crimes hediondos, nos termos do artigo 5, inciso XLIII, da Constituio Federal, e determina outras providncias.

O Presidente da Repblica vetou o art. 4 e o art. 11 pelas razes expostas na mensagem n. 550 encaminhada ao Presidente do Senado Federal, considerando-os contrrios ao interesse pblico.

2.2. CONCEITO

Podemos definir como crime hediondo uma conduta delituosa revestida de excepcional gravidade, seja na execuo, quando o agente revela total desprezo pela vtima, insensvel ao sofrimento fsico ou moral a que a submete, seja quanto natureza do bem jurdico ofendido, seja ainda especial condio das vtimas.

No Direito Penal brasileiro o termo hediondo no havia sido empregado at que a Constituio de 1988, utilizasse da expresso crimes hediondos, remetendo legislao ordinria a tarefa de defini-los. que, apesar de a hediondez, como conduta humana, ser de fcil entendimento, no precisando de definio, no momento em que erigida categoria de qualificativo de um delito, por fora do princpio da reserva legal, torna-se imperativo que haja uma tipificao legal. Assim que o prprio texto constitucional, em seu inciso, diz que sero aqueles crimes definidos em lei; no deixando tal flexibilidade a qualquer interpretao do juiz, no havendo abrangncia com relao a condutas que poderiam ser caracterizados como hediondo.

Os crimes hediondos esto previstos no art. 1 da Lei, em oito incisos e pargrafo nico. So os seguintes:

1) homicdio simples, quando praticado em atividade tpica de grupo, e homicdio qualificado;

2) latrocnio;

3) extorso comum qualificada pela morte;

4) extorso mediante seqestro nas formas simples e qualificadas;

5) estupro nas formas simples e qualificadas;

6) atentado violento ao pudor nas formas simples e qualificadas;

7) epidemia com resultado morte;

8) falsificao, corrupo, adulterao ou alterao de produto destinado a fins teraputicos ou medicinais;

9) genocdio.

A incluso do homicdio entre os crimes hediondos de alguma forma vem ao encontro de algumas posies doutrinrias que no se conformavam coma a sua no incluso j na verso inicial da lei, no se justificava a ausncia do homicdio qualificado, sobretudo se praticado com certos requintes de hediondez. Atende, sobretudo, a anseios populares, j que o projeto de lei que deu origem Lei n. 8930, de 6 d Setembro de 1994, foi incentivado por mais de um milho de assinaturas, campanha liderada pela escritora Glria Perez, me da atriz Daniela Perez, assassinada de forma brutal no dia 28 de Dezembro de 1992, e por Joclia Brando, me da menina Miriam, seqestrada e morta por dois rapazes em Belo Horizonte, no incio de 1993.

Foi excludo do rol dos crimes hediondos o envenenamento de gua potvel ou de substncia alimentcia ou medicinal, qualificado pela morte, crime esse previsto no art. 270, combinado com o art. 285 do Cdigo Penal.

2.3. ESPCIES

2.3.1. HOMICDIO

Com a nova redao introduzida pela Lei n. 8930/94, o homicdio passou a ser o primeiro dos crimes hediondos.mas no todo o homicdio. O inciso I do art. 1 da lei apenas considera hediondo o homicdio doloso quando praticado em atividade tpica de grupo de extermnio, ainda que cometido por um s agente, e o homicdio qualificado.

A lei penal protege a vida humana. Caracterizando como hediondo o crime de homicdio, o legislador tenta atender um apelo social, tentando tornar mais efetiva a proteo do bem maior da pessoa, a vida. Quanto mais nobre for o bem jurdico a ser tutelado, maior deve ser a proteo a ele proporcionada pelo ordenamento positivo. Muitas foram as crticas feitas a Lei n. 8930/94, que inclui o homicdio como crime hediondo. A Associao dos advogados Criminais do Estado de So Paulo (Acrimesp) protestou contra a sano desta Lei, enviando mensagem ao ento Presidente Itamar Franco, no qual criticava a medida, tendo em vista que no somente o aumento das penas ir diminuir a criminalidade; ainda acrescentaram como critica que, nos quatro anos de experincia com relao a crimes hediondos, os seqestros e o trfico s aumentaram, o que vem demonstrar que a legislao provocou mais desastres do que benefcios.

Nem todas as figuras tpicas do homicdio so considerados crimes hediondos. Das quatro simples, privilegiado, qualificado e culposo -, apenas o qualificado sempre hediondo, e simples o circunstancialmente.

Tipo objetivo e tipo subjetivo

Os elementos objetivos do tipo so os chamados essentialia delicti, ou seja, os dados estruturais de um crime. O homicdio possui como ncleo o verbo matar. A conduta pode assumir as mais variadas formas. O homicdio o chamado crime de ao livre, podendo ser praticado atravs de quaisquer meios;direitos ou indiretos, comissivos ou omissivos, fsicos, qumicos, patognicos e at morais ou psquicos.

O elemento subjetivo do delito o aspecto interno, psicolgico, relativo conscincia e vontade do criminoso. a vontade do criminoso. a vontade de matar animus necandi ou occidendi -, o dolo genrico, mo exigindo qualquer fim especial. A finalidade determinante do homicdio pode, sim, qualificar o delito, ou ser causa de diminuio da pena. Admite-se o dolo eventual.

Sujeito ativo e sujeito passivo

O homicdio um crime comum. Assim, pode ser praticado por qualquer pessoa. O sujeito ativo carece de quaisquer atribuies especiais. Como crime de dano que , exige-se efetiva leso ao bem jurdico tutelado.

O sujeito passivo , na descrio do tipo, qualquer ser humano com vida extra-uterina, independentemente da idade, sexo ou raa. Tambm no se questiona a higidez da pessoa, nem sequer se a vida ou no vivel. Atente-se, porm, que o termo inicial a partir do qual a pessoa humana poder vir a ser sujeito passivo do crime de homicdio dado pelo tipo penal do art.123, que trata do infanticdio. Ser homicdio a eliminao da vida humana extra-uterina se no tipificar o infanticdio.

Consumao e tentativa

Todos os crimes hediondos prevem a forma tentada e a consumada, o mesmo acontece com o homicdio.como crime material, consuma-se com a morte. A forma tentada exige ateno especial para diferenci-la do crime de leses corporais.no fcil distinguir o homicdio tentado do crime do art. 129. os autores, ao discorrerem sobre a matria, afirmam que a distino se far pela presena do elemento subjetivo. Presente o animus necandi, haver tentativa de homicdio; se o dolo for apenas o de ferir o animus laendendi, o delito ser o de leses corporais.

Alguns autores, ao tratarem do homicdio tentado, prevem tre espcies de tentativa: a imperfeita, a perfeita e a branca. A primeira, ou tentativa propriamente dita, verifica-se nos casos em que o processo de execuo interrompido p circunstncias alheias a vontade do agente. Na segunda, tambm chamada de criem falho, todos os atos executrios so praticados pelo agente, mas o resultado no se verifica por circunstncia alheias a vontade do agente; a tentativa branca ou incruenta ocorre na hiptese em que o sujeito dispara contra a vtima mas nem sequer a atinge.

As trs formas de tentativa caracterizam o crime hediondo, e a pena e abstrato a mesma.

Pena e ao penal

Ao contrrio de outros crimes considerados hediondos pela lei, o homicdio no teve sua pena alterada, nem no mnimo nem no mximo. A pena aquela do art. 121 do Cdigo Penal: homicdio simples, o do caput recluso de 6 (seis) anos a 20 (vinte) anos; homicdio qualificado, o do 2 - recluso de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

A ao penal pblica incondicionada. O processo, porm, segue o rito especial, j que se trata de crime doloso contra a vida,e por preceito constitucional (art.5 , XXXVIII, d) o julgamento de competncia do tribunal do jri. O Cdigo de Preocesso Penal cuida deste rito nos arts. 406 e s.

2.3.2. LATROCNIO

A Lei n. 8072/90, em seu art. 1, II, diz que considerado hediondo o crime de latrocnio (art. 157, 3, in fine). Esta lei inovou, pois no Cdigo Penal o crime do art. 157, 3, no produz a rubrica latrocnio, como faz nos demais artigos, quando d o nome ao crime que tipifica no dispositivo numerado. o que o conceito de natureza grave, e no somente aquele do qual resulta a morte. De qualquer forma, convencionou-se chamar latrocnio apenas a ltima figura; da a expresso utilizada pela lei, in fine.

Tipo objetivo e tipo subjetivo

A conduta tpica do roubo subtrair coisa mvel, alheia, para si ou para outrem. Mas, ao contrrio do furto simples e do furto qualificado, h o emprego da violncia ou grave ameaa, e esta vai dirigida contra a pessoa.

A coisa deve ser mvel e alheia. Coisa um termo amplo para o Direito Penal, e como o dispositivo tutela, em princpio, o patrimnio, deve possuir valor econmico. Contudo, no se pode excluir certas coisas que para a vtima possuem valor de afeio pela utilizao. Devendo ser alheia, a coisa pertencer a outrem, ou estar na posse de terceiros. O roubo seja ele prprio (o do caput pela subtrao precedida da violncia ou de grave ameaa contra a pessoa) ou imprprio (o do 1, caracterizado pela violncia ou grave ameaa contra a pessoa, aps a subtrao para garantir a posse da coisa subtrada), ocorrendo a morte da vtima, mesmo que seja pessoa diversa da do titular do bem patrimonial, tipificado est o latrocnio.

O tipo subjetivo o dolo genrico (vontade livre e consciente de subtrair a coisa) acompanhado do dolo especfico, expresso na frase para si ou para outrem. o anims furandi ou o animus rem sibi habendi. Mas no latrocnio no se perquire se o evento morte foi ou no querido pelo agente. O latrocnio independe do dolo do agente para o resultado morte.

Sujeito ativo e sujeito passivo

Como rime comum que , o latrocnio tem como sujeito ativo qualquer pessoa. O sujeito passivo, por sua vez, ser o proprietrio, ou o possuidor da coisa. Sero tambm sujeitos passivos todas as pessoas que forem vtimas fatais da violncia praticada pelos agentes no momento da subtrao ou logo aps, independentemente de sua relao com o bem patrimonial subtrado.

Consumao e tentativa

Merece especial ateno no estudo do latrocnio o item consumao e tentativa,em face da duplicidade do bem jurdico tutelado. Os problemas surgem quando um dos componentes do crime no se consuma.

Morte consumada e subtrao consumada: latrocnio consumado, e no homicdio qualificado consumado em concurso com furto consumado;

Morte consumada e subtrao tentada: a soluo para esta hiptese a mais controvertida, havendo cinco correntes:

A. Latrocnio Tentado;

B. Homicdio Qualificado Consumado em Concurso Material com Roubo Tentado;C. Homicdio Qualificado Consumado em Concurso Formal com Furto Tentado;D. Homicdio Qualificado;E. Homicdio Consumado. Esta soluo amplamente aceita, embora no se amolde consumao do crime complexo, j que este exige que se consumam os elementos dele componentes, contudo, a corrente dominante na jurisprudncia, e o supremo Tribunal Federal a reconheceu como a menos imperfeita, editando o verbete n.618 de sua smula, que reza: h crime de latrocnio quando o homicdio se consuma, ainda que no realize o agente a subtrao de bens da vtima;

morte tentada e subtrao consumada: duas solues:tentativa de homicdio qualificado pela finalidade e latrocnio tentado;

morte tentada e subtrao tentada:latrocnio tentado, sendo orientao pacfica na doutrina e na jurisprudncia.

Pena e ao penal

A pena para este crime j era uma das mais severas do Estatuto Repressivo, e a Lei dos Crimes Hediondos manteve essa caracterstica. O mnimo legal foi alterado, a pena : recluso de 20 a 30 anos. No crime de latrocnio, mais do que em outros, deve-se atentar para as regras do art. 29 do Cdigo Penal, sobretudo no que se refere conduta do partcipe, prevista em seus pargrafos. Contudo, pela distino entre co-autor e partcipe, desnecessrio saber qual dos co-autores do latrocnio causou verdadeiramente a morte da vtima, pois todos respondem pelo fato.

A ao penal no crime de latrocnio pblica e incondicionada. A competncia do juiz singular e no do tribunal do jri. um crime contra o patrimnio, embora haja o evento morte. Este entendimento pacfico, e o Supremo Tribunal Federal editou o verbete n. 603 de sua smula: a competncia para o processo e julgamento de latrocnio do juiz singular e no do tribunal do Jri.

2.3.3. EXTORSO

A Lei n. 8072/90 erigiu condio de crime hediondo a extorso qualificada pela morte e a extorso mediante seqestro, esta ltima na forma simples e nas formas qualificadas.

O projeto de lei, inicialmente, no previa a incluso do crime de extorso entre os crimes hediondos, mesmo que fosse qualificada pela morte; to-somente inclui a extorso mediante seqestro, j que a simples extorso no estava entre aqueles crimes que afligiam a sociedade civil no momento emocional da elaborao da lei.

A extorso vem prevista no art. 158 do Cdigo Penal: Constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econmica, a fazer, tolerar, que se faa ou deixar de fazer alguma coisa:

2 Aplica-se extorso praticada mediante violncia o disposto no 3 do artigo anterior.

O art. 1 da Lei n.8072/90 apenas considera crime hediondo a extorso qualificada pela morte (art. 158, 2). O 2 manda aplicar o 3 do art. 157. aplicam-se, pois, as mesmas regras do latrocnio, estudadas anteriormente, haja vista que, quando o art. 6 vai definir as novas penas, o art. 158, 2, nem sequer mencionado.

A extorso um crime contra o patrimnio, mas esto tuteladas por este dispositivo tambm a liberdade e a incolumidade da pessoa, e na qualificada, a vida.

Tipo objetivo e tipo subjetivo

O tipo objetivo da extorso a conduta de constranger, ou seja, obrigar, coagir, forar, conduta essa que deve ser praticada mediante violncia ou grave ameaa contra a pessoa; a grave ameaa por vezes deixa dvidas, pois h necessidade de uma e outra serem meios adequados para deixarem a vtima intimidada e coagida.Nlson Hungria diz que uma das formas mais freqentes de extorso a praticada mediante ameaa de revelao de fatos escandalosos ou difamatrios, para coagir o ameaado a comparar o silncio do ameaador. a chantage, dos franceses, ou o blackmail dos ingleses.

O tipo subjetivo o dolo, mas o dispositivo em questo exige algo mais do que o dolo genrico. A conduta deve ter como finalidade a obteno de indevida vantagem econmica (dolo especfico). Se mesmo som a violncia ou grave ameaa a exigncia de vantagem devida, no haver extorso, e sim exerccio arbitrrio das prprias raes, previsto no art.345 do Cdigo Penal.

A vantagem necessariamente deve ser econmica; assim o ato que a vtima obrigada a praticar, deixar de praticar ou permitir que algum pratique pode ser ou no de carter patrimonial, mas deve produzir efeitos de natureza econmica em proveito do agente ou de outrem. Por isso que se afirma que o ato juridicamente nulo (CC, art145), porque no traz nenhum benefcio de ordem econmica, sendo praticado pela vtima, no tipifica o crime de extorso.

Sujeito ativo e sujeito passivo

Sendo um crime comum, o sujeito pode ser qualquer pessoa. J o passivo pode ser uma ou vrias pessoas. A vtima tanto a submetida violncia, como a que deixa de fazer ou tolera que se faa alguma coisa, e ainda a que sofre o prejuzo econmico.

Consumao e tentativa

Discute-se se um crime formal ou material. Se formal, a consumao ocorre o simples efeito da conduta do agente sobre a vtima, independentemente se obtm ou no o proveito prprio. Se material, contudo, h necessidade de o agente obter a indevida vantagem econmica para que o delito esteja consumado.

Se aceitarmos a corrente majoritria do crime formal, com relao ao aspecto da co-autoria e participao, que no havendo necessidade da obteno da indevida vantagem econmica ara a consumao, os atos praticados por outro agente aps a prtica da conduta de coao sobre a vtima constituiro crime autnomo, que ser o de favorecimento real, previsto no art. 349 do Cdigo Penal. Assim, para a corrente que o considera formal, no crime de extorso, a co-autoria e participao somente so possveis at ao momento em que a vtima faz, deixa de fazer, ou tolera que se faa alguma coisa.

Pena e ao penal

Por fora do prprio 2 aplica-se o mesmo tratamento do latrocnio. Assim a pena a mesma: foi alterada de 15 a 30 anos para de 20 a 30 anos. A ao penal pblica e incondicionada. Mesmo para a forma qualificada pela morte (2) e que foi considerada crime hediondo, a competncia do juiz singular e no tribunal do jri.

2.3.4. EXTORSO MEDIANTE SEQESTRO

O crime previsto no art. 159 e seus pargrafos do Cdigo Penal sempre foi considerado o de maior gravidade pela legislao brasileira. Dessa forma, a pena aplicada era a mais severa: recluso de 20 a 30 anos e multa, quando qualificado pela morte da vtima (3).

A Lei n.8072/90, editada sob o impacto emocional da onda dos seqestros no Pas, no podia de forma alguma deixar de inclu-lo entre os crimes hediondos.

Ao contrrio da extorso a que se refere o art. 158 do Cdigo Penal, considera crime hediondo apenas na forma qualificada pela morte, aqui, a lei considera crime hediondo todas as formas de extorso mediante seqestro, desde a simples, do caput, at aquela em que ocorre a morte da vtima.

Diz o art. 159: Seqestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condio ou preo do resgate.

No se deve confundir este crime com o art. 148 do Cdigo Penal. O seqestro e crcere privado um crime contra a liberdade pessoal, tutelado a lei liberdade fsica da pessoa, sobretudo a liberdade de movimento no espao. Aqui, como crime de extorso comum j comentado, o bem jurdico protegido o patrimnio, e com ele tambm a liberdade individual, a integridade e a vida da pessoa.

Tipo objetivo e tipo subjetivo

O ncleo do delito seqestrar, ou seja, privar a vtima de sua liberdade. A conduta de seqestrar praticada com a finalidade de obter qualquer vantagem, vantagem essa que a lei no especifica se devida ou indevida, se econmica ou no.

A lei, por ltimo, fala nela como condio ou preo do resgate. Utilizando a palavra preo, d a entender o dispositivo que a exigncia se faz de um valor em dinheiro, geralmente em moeda estrangeira, atravs de qualquer tipo de ao do sujeito passivo.

Sujeito ativo e sujeito passivo

um crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.mas sendo complexo quanto ao objeto jurdico sujeito ativo no somente o que seqestra, mas o que para os parentes da vtima, leva mensagens, guarda o seqestrado, pega o resgate etc. delito permanente: o tempo de seqestro pode ser de curta ou longa durao. O que se requer que o seqestro seja idneo para produzir na vtima a certeza de que a perda da liberdade est condicionada ao preo do resgate. O menor ou maior lapso de tempo de seqestro importante para efeitos da qualificadora do 1.

O sujeito passivo a pessoa seqestrada, podendo ser tambm outra que tenha sofrido o prejuzo patrimonial e diferente da primeira.Problema interessante se coloca se o seqestro for de cadver e exigido for resgate pela sua devoluo. Considerando que o cadver no pessoa (como exige o tipo), no haver a este delito, podendo caracterizar-se, sim, o de destruio, subtrao ou ocultao de cadver previsto no art.211 do Cdigo Penal, e porque h exigncia de vantagem econmica, o de extorso comum (a do art.158), em concurso material.

Consumao e tentativa

Diferente da extorso comum, no h dvidas quanto consumao deste delito. Trata-se de um crime formal que se consuma com o simples seqestro. Tirada a liberdade da pessoa ainda que por curto espao de tempo, desde que seja juridicamente relevante se presente o dolo especfico, operou-se a consumao.

Mais ainda, embora formal. Admite-se a tentativa. o seqestro que aqui um crime-meio, em si, ele delito material, ou seja, exige o resultado lesivo, no caso, a privao da liberdade. Portanto, se o seqestro ficar em grau de tentativa,a extorso mediante seqestro tambm permanece na forma tentada. o exemplo clssico da interveno quando a vtima ainda est sendo arrastada para o veculo.

Formas qualificadas

Nos 1, 2 e 3, o Cdigo trata da extorso mediante seqestro nas formas qualificadas.

Em primeiro lugar, o tempo de cativeiro que vai qualificar a extorso. Como salientamos acima,a durao do seq67uestro no interfere no tipo nem a consumao do delito; se o tempo de cativeiro for superior a 24 horas (1 figura do 1) teremos a forma qualificada.

Ainda no 1 duas outras hipteses qualificam a extorso: a de ser a vtima de seqestro menor de dezoito anos (2figura) e haver sido o crime cometido por quadrilha ou bando. O gravam e justificado no primeiro caso pela maior privao da liberdade e conseqente sofrimento da vtima e dos seus familiares. A segunda figura contempla a vtima criana ou adolescente. Aqui a vtima, por um Aldo, mais indefesa, oferecendo menor resistncia a o agente; por outro lado, mais indefesa, oferecendo menor resistncia ao agente; por outro, causa maior sofrimento prpria vtima e maior temor s demais pessoas que vo negociar o resgate.

A terceira figura do 1 a prtica do seq6uestro por quadrilha ou bando. Pela redao do dispositivo no suficiente concurso de agentes mas a presena do elemento subjetivo de todos os agentes. Devem ser quatro ou mais os associados (art. 288 do CP), essa associao indispensvel que tenha o fim predeterminado da prtica de crimes independentemente de sua natureza.

O 2 contempla a forma qualificada pelo resultado leso corporal de natureza grave, e o 3, a forma qualificada pela morte. Em ambos os casos, alm da liberdade individual e do patrimnio, protege a lei a vida da pessoa.

Pena e ao penal

A Lei dos Crimes Hediondos manteve esta caracterstica com algumas inovaes, sendo que as penas do crime de extorso mediante seqestro so as maiores de nossa lei penal.

Assim, de acordo com o art. 6 da Lei n. 8072/90 temos:

Para forma comum: recluso de a 15 anos;

Para forma qualificada do 1:recluso de 12 a 20 anos;

Para forma qualificada do 2: recluso de 16 a 24 anos;

Para forma qualificada do 3: recluso de 24 a 30 anos.

A Lei de Crimes Hediondos eliminou a pena de multa; e aumentou a pena mnima par todas as suas formas, sendo mantido o mximo.

A verso original do 4, acrescentado pela lei dos crimes hediondos, exigia que o crime fosse cometido por quadrilha ou bando. Agora, com a nova redao dada pela Lei n. 9269, de 22 de abril de 1996, suficiente que o crime seja praticado em concurso.

A ao penal pblica incondicionada. A competncia do juiz singular, inclusive para a extorso qualificada pela morte.

2.3.5. ESTUPRO

A liberdade sexual insere-se naqueles direitos que tem a pessoa humana de dispor de seu corpo como melhor lhe aprouver, dentro das situaes impostas pela sociedade, a moralidade pblica.

O estupro vem conceituado no art. 213 do Cdigo Penal: Constranger a mulher conjuno carnal, mediante violncia ou grave ameaa.

O estupro o primeiro dos crimes contra liberdade sexual, mas aqui apenas tutelada a liberdade sexual da mulher (o sujeito passivo unicamente e o homem nico sujeito ativo possvel). o direito de dispor do seu corpo.

Para se caracterizar o estupro tem de haver violncia ou grave ameaa, a presena de constrangimento imprescindvel para a tipificao, para esta ocorrer tem de haver a cpula vagnica, ou seja, refere-se ao coito normal, tem de haver a penetrao do membro viril masculino na vagina da mulher. Indiferente se a introduo completa ou incompleta; que haja a ejaculao ou no, ou que vise procriao.

J o modo de violncia, essa pode ser a fsica (mais comum) e grave ameaa. A violncia fsica agira no modo de anular a resistncia da vitima, (essa resistncia, que imprescindvel, para que se confirme o crime hediondo, j que a vtima tem de se opor tentativa do estuprador) a grave ameaa, seria uma conduta de uma mal to grave que anularia a vontade da vtima lutar contra o dano, um exemplo seria a ameaa sobre o filho da vtima.

Pode haver a co-autoria no estupro, aquele que de alguma forma concorra para a consumao do estupro.

Muitos podem confundir a tentativa de estupro com atentado violento ao pudor, outro crime hediondo que veremos mais frente, mas se vontade do autor era a de, com o constrangimento, praticar a conjuno carnal, e esta no se verificaram por circunstancia alheias sua vontade, no h o que se falar em atentado violento ao pudor e sim em tentativa de estupro.

Assim como os demais crimes hediondos a lei aumentou sensivelmente a penas tanto no mnimo como no Mximo: a forma simples, a recluso de 3 a 8 anos, passou para 6 a 10 anos; forma qualificada, com leso grave, passou de 4 a 12 anos, para 8 a 12 nos e os estupros que so seguidos de morte de 8 a 20, passaram para 12 a 25 anos.

2.3.6. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR

O art. 214 diz: Constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjuno carnal. Esse artigo diz respeito ao Atentado Violento ao Pudor, tambm considerado um crime hediondo.

O ato libidinoso seria toda afronta ao pudor, praticada com propsito sensual ou luxurioso, assim so considerados atos libidinosos todos os que tem como finalidade ltima a sensual, e o ato tem de ser praticado pela, com ou sobre a vtima coagida, nem sempre se exigindo o contato.

Como no estupro aqui tem de haver o elemento tpico, o constrangimento sobre a vtima, na forma de grave ameaa ou violncia, assim como as penas impostas pela lei, j diferente do primeiro no atentado violento o sujeito passivo pode ser tanto o homem como a mulher, j que a lei protege o pudor individual no se pode fazer distino quanto ao sexo do indivduo.

Por fim, h tambm a extino da punibilidade, previsto no art. 107, VII e VIII, do Cdigo Penal, que dizem respeito ao casamento da vtima com seu agressor.

2.3.7. EPIDEMIA COM RESULTADO MORTE

Neste, ao contrario dos outros, a lei protege a sade pblica, dentro de um contexto mais amplo, que a incolumidade coletiva, preservando no mais a vida do indivduo isolado, mas sim da coletividade.

A Epidemia est prevista no art. 267 do Cdigo Penal, e o dispositivo vem assim redigido: Causar epidemia, mediante a propagao de germes patognicos. um crime de perigo presumido, de forma absoluta; mas, ao mesmo tempo, de dano em relao aos atingidos, pois constitui em si mesmo evento lesivo.

Para tipificar o crime, necessrio que a disseminao seja de germes patognicos (vrus, bactrias, bacilos), sendo essa disseminao feita por qualquer individuo (sujeito ativo), que atingir toda uma sociedade ou qualquer sujeito atingido individualmente (sujeito passivo).

A consumao do crime se dar com o surgimento da epidemia, em curto espao de tempo, o simples fato de distribuio dos germes no gerar o crime, tem de haver a disseminao. Mas ser considerada a tentativa, a conduta que, por meio idneo de distribuio de germes, no chegou a provocar a difuso da molstia, por circunstancias alheias vontade do agente, independentemente se naturais por fora de ao externa.

2.3.8. FALSIFICAO, CORRUPO, ADULTERAO OU ALTERAO DE PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPUTICOS OU MEDICINAIS

uma conduta que passou a ser considerado crime hediondo, mas para entender melhor necessrio situar-se nos acontecimentos de 1998. Trata-se do escndalo da falsificao de medicamentos que de forma bombstica veio a pblico pela mdia escrita e falada, nesse ano o governo descobriu 138 medicamentos falsos nas prateleiras das farmcias. E com as conseqncias, como a morte de pessoas por tomarem medicamentos adulterados ou como gravidez causada por plulas falsas, entre outros, o Direito Penal teve de agir rpido, e rapidamente passou a rotular esse crime como hediondo.

Na nova redao o tipo do art. 272 cuida apenas de produtos alimentcios, enquanto o art. 273 refere-se a produtos destinados a fins medicinais ou teraputicos, e este ltimo que foi includo nos crimes hediondos.

A tipificao se diz respeito falsificao (fraudar), corrupo (estragar, infectar) adulterao (modificar pra pior) ou alterao (mudar, modificar) de produtos destinados a fins teraputicos ou medicinais.

O crime pode ser cometido por qualquer pessoa, sendo a coletividade, cuja sade posta em risco o sujeito passivo do crime.

2.3.9. GENOCDIO

Termo criado em 1944 por Lemkin, genocdio um vocbulo hbrido que para alguns deriva da palavra grega genos (raa, nao, tribo) e do sufixo cidio (matar), embora seja o mesmo tipo objetivo dos outros crimes j consagrados, o genocdio tem conduta adversa, j que esta deve ser dirigida para os membros de determinado grupo nacional, tnico, religioso ou racial.

O genocdio exige sempre dolo, deve haver uma vontade especfica de se aniquilar todo mundo.

O sujeito ativo pode ser qualquer, mas via de regra, contudo, sero chefes polticos ou militares (o art. 4 da lei aumenta em um tero a pena, quando o autor for governante ou funcionrio pblico), j o sujeito passivo deve ser levar em conta o objetivo da conduta, o ato deve ser dirigido distribuio de um grupo. Irrelevante, portanto, se o resultado acometeu apenas um indivduo desse grupo.

Apesar de em outras legislaes o delito de genocdio imprescritvel, em nosso Direito Penal tal no ocorre.

Por fora da lei dos Crimes Hediondos, apenas se aplicam ao genocdio os dispositivos ali expressos, no consta o da imprescritibilidade.

3. TORTURA

3.1. HISTRICO

A tortura, ao lado de seu uso, perde-se no inicio da civilizao e tem uma conotao poltica muito importante pois ela se confunde com o poder.

Os persas, na antiguidade, colocavam o condenado em dois botes, s com a cabea e os membros de fora. Untavam-no com mel e leite o rosto, membros e costas. Viravam-no para o sol. No demorava muito e o corpo era invadido pelas moscas que, aos poucos, o dilaceravam.

O Cdigo de Hamurabi previa ara os criminosos a empalao, a fogueira, a amputao de rgos e a quebra de ossos.

A bblia, no antigo testamento tambem admitia a tortura dos escravos (Jugo e rdea dobram o pescoo, e ao escravo mau torturas e interrogatrio, Exodo 33:27), porm encontramos referncias condenatrias tortura, pois a simples confisso no tinha nenhum valor.

Para os gregos e romanos a tortura somente era usada contra os escravos, que eram considerados como coisa. Entre os homens livres ela no era empregada. Nos tempos antigos, a tortura confunde-se com a prpria pena. Para a codificao justiniana a tortura era um meio incerto de se averiguar a verdade e por isso nada se encontra sobre a tortura no Corpus Juris Civilis Justinianeo.

Com os catlicos a tortura permanece proibida, Santo Agostinho fala: Enquanto se investiga um crime se um homem inocente, se lhe tortura por um delito incerto, se lhe pe uma dor certssima; no por que saiba se o delinquente que sofre, mas por que no se sabe se , com qual ignorncia do juiz venha ser a calamidade do inocente.

Pouco antes de Santo Agostinho, em 382, o snodo romano, presidido pelo Papa Dmaso, remete alguns cnones aos bispos da Glia, entre os quais se declara expressamente que no so livres de pecados os funcionrios civis que condenaram pessoas morte, deram sentenas injustas e exerceram a tortura judiciria. J o Papa Inocncio I (401-417) escreve em sua epstola VI: Pediram-nos a opinio sobra aqueles que, aps haverem recebido o batismo, tiveram cargos pblicos e exercerm a tortura, ou aplicaram sentenas capitais. A este respeito nada nos foi transmitido. Iniciava-se, pois o consentimento implcito s normas processuais romanas apesar da suposta critianizao do processo.

3.2. A INTRODUO DA TORTURA

A partir do sculo XI, com a colonizao dos brbaros, comeam a surgir, apesar da oposio da igraja, os chamados Juzos de Deus (onde o ru, para provar que falava a verdade, colocava a mo dentro de uma tina de leo fervendo; se no gemesse falava a verdade).Era, em juizo, o inicio da tortura.

No sculo XII, o direito penal do ocidente retomou os princpios do direito romano imperial e reintroduziu a tortura judiciria, apesar de, mesma poca afirmar a igreja: A confisso no deve ser obtida pela tortura, como escreveu o Papa Alexandre.

No sculo seguinte, a tortura passa a fazer parte dos cdigos processuais, especialmentes nos estados centralizados, como Castella, de Afonso X, a Siclia, de Frederico II e a Frana, de Luis IX. Simultaneamente a Igreja passa a admitir o uso processual da Tortura.

Em 1252, o Papa Inocncio IV aprova a legislao penal de Frederico II e aceita que Hereges, sem mutilao e sem perigo de ida possam ser torturados a fim de revelar os prprios erros e acusar os outros como se faz com os ladres e salteadores.

Com o sculo XIV comeam a surgir referncias no processo criminal com o crescimento dos processos secretos com os Juzos de Deus e suas provas cruis. Os processos eram escritos e secretos especialmente por medo da reao do povo contra os julgamentos e seus juzes j que - com a confisso forada pelos sofrimentos, e forjada, muitas vezes, devido astcia do juz inquisitor tudo era vlido para a condenao dos rus.

So Toms de Aquino admite pois que, no havendo outro recurso para se apurar a verdade justa a aplicao de tortura, mesmo sobre um inocente. Tal poisio inalgura na igreja a adoo de tortura como prtica sistemtica de preservao da disciplina religiosa. Ela passa a ser oficialme aceita nos processos de heresia, no obstante no se recementde sua aplicao direta por religiosos, padres e bispos. Sendo a confisso a base, sendo secretos os interrogatrios era fcil praticar tortura ja que no existiam testemunhas.

Outro campo aberto tortura secreta foi a perseguio feita no final da idade mdia magos e bruxas; sendo a magia algo secreto justificava esses processos escondidos, secrevtos, onde o uso da magia e sua imputao estavam sempre presentes: para vencer a magia, s tortura mediante fogo e assim por diante.

A inquisio catlica fez grande uso da tourtura, como prova e como pena. No manual do Inquisitor, de Frei Nicolau Emrico l-se: Os tormento no so mesmo um mtodo mais seguro para se conseguir a verdade. H homens fracos que, primeira dor confessam crimes que no cometeram, enquanto outros teimosos e fortes, so capazes de suportar os maiores tormentos.

3.3. ABOLIO DA TORTURA

A constituio da utria de 1768 previa a tortura e seus inmeros suplcios, contudo, por uma ordenana de 1773 a imperatriz Maria Teresa extingue sua aplicao. Em 1786, por uma outra ordenana a tortura era abolida. O autor que mais influnciou para qua a tortura fosse banida foi Beccaria em sua obra Dos Delitos e das Penas.3.4. CONCEITUAO E ESPCIES

Em um conceito claro pode-se conceituar a tortura como todo sofrimento ou dor fsica ou mental deliberadamente infligido ao acusado por agente da autoridade pblica.

O V Congresso da ONU para a preveno do delito e tratamento do delinqente, em sei art I define a tortura como sendo todo ato de dor ou sofrimento severo, fsico ou mental , infligido a alguem, intencionalmente, com o fim de obter informaesou confisso dele ou terceiro.

A tortura usada com os seguintes objetivos:

A. Como meio de prova Na poca em que a confiso era considerada a rainha das provas o acusado era submetido a vrios suplcios, dentre os quais veremos mais adiante.

B. Intimidao Ameaa-se com a tortura, como forma de intimidar o prisioneiro. S a simples ameaa da tortura faz com que o preso sinta-se mentalmente abalado.

C. Como pena Era o que tinha mais uso entre os atigos at a idade mdia. Hoje raro entre ns o emprego da tortura como meio de punio.

D. Satisfao no raro a tortura era aplicada para satisfazer os instintos mrbidos dos esbirros, num autntico exemplo de sadismo.

3.5. MODALIDADES

As modalidades em que se exerce a tortura so mltiplas e de enorme variedade.

3.5.1. INTERROGATRIO (MENTAL)

Para exercer efeitos interrogativos, o interrogatrio pode ser utilizado

mesmo antes da priso.

Assim, durante determinado tempo, que pode se estender por at meses, exerce-se sobre a pessoa uma viilncia constante, acompanhamdo-a distncia, por civis mas no to a distncia que no possa perceber estar sendo seguido. seguido como uma sombra por onde quer que v.

Em uma segunda fase efetuada a priso do indivduo, feita normalmente, na frente de testemunhas parentes, vizinhos ou conhecidos com o intuito de envergonhar e humilhar o preso. Assim que chega ao presdio e antes de ser colocado na cela o preso vestido to somente com um macaco.

Na cela colocado junto com presos mais velhos, j reeducados, que tero o papel de estimula-lo a falar contar seus crimes e mostrar seu arrependimento perante seus colegas.

Aps isso o preso colocado por um determinado tempo em isolamento, sem poder falar com ninguem, trata-se se uma cela sem janelas, parede e mveis branco e bem iluminada todo o tempo. Somente a entrega da refeio quebra a rotina do silncio do preso. Aps um tempo no isolamento o comportamento do preso afetado, o indivduo passa a procurar sons humanos e interessado a conversar, fazer confidncias.

Se mesmo aps esse periodo o preso continuar a negar o crime mesmo que no o tenha cometido passa-se a uma fase mais rigorosa onde a alimentao torna-se insuficiente, sem sabor.

Os interrogatrios so feitos normalmente durante o dia e se arrastam noite adentro e muitas vezes no passa de discuso para perturbar o ru, que aconselhado a escrver sua biografia que por melhor que a faa, caso no confesse sua culpa no crime de maneira clara, rasgada para que outra, onde a falha do preso esteja presente da forma desejada, seja escrita.

O interrogador tambm muda seu comportamento conforme lhe de interesse: no incio cordial, depois irritado; passa a seguir a insolente, promete e, se no d certo, ameaa.

Cada vez que volta cela o preso presionado pelos companheiros, que no o deixam dormir, comer, o insultam...

Seguindo, os interrrogatrios comeam a serem realizados noite, a qualquer hora, para confundir o preso, que fica debaixo de uma luz forte, e seus interrogadores na penumbra,se revezando nas perguntas. Os interrogatrios se tornam interminveis, podendo durar dias.

Os interrogadores so, normalmente mais de um, o primeiro faz papel de bravo , severo, um segundo se apresenta mais cordial e um terceiro, que torna-se um confidente, orientador. Revezam-se em ameaas , promessas e risos.

As vezes, aps um interrogatrio, passam-se dias e at semanas antes do ru ser ouvido de novo, isso para que ele fique com vontade de se abrir.

Isso acontece at a confisso estar correta. O ru conta sua biografia e imbuti nesta o sentimento de culpabilidade.

3.5.2. ALTA SEGURANA (ISOLAMENTO)

Esse Sistema ainda hoje utilizado na Alemanha Federal para cumprimento de pena onde os presos - normalmente terroristas ficam isolados em em prises de alta segurana. Porm, eles podem ver televises e receber jornais, o que minora um pouco.

O isolamente total e completo, os isolados no vem e nem conversam com ninguem, pois no tem nenhum ruido vindo do mundo exterior,a cela acstica e a iluminao artificial dia e noite e constante, no h nenhuma janela.

Se caso de interrogatrio o preso colocado em uma cela isolada onde ouve grito de pessoas sendo torturadasfisicamente (normalmente so fitas gravadas).

Essa tcnica foi muito usada nos pases do cone sul surante as ditaduras. S que no Brasil, a tcnica no estava muito evoluida: durante o interrogatrio no usavam fitas, os gritos eram mesmo de presos das celas vizinhas.

Aps certo tempo, comeam a sentir alucinaes e apresentar problemas comportamentais. O equilibrio afetado por ser localizado no pavilho auditivo. Essas prises passam por severa crtica , dados os danos mentais que causam aos prisioneiros e que inicialmente no podem ser constatados pelos mdicos, j que no deixam marcas diretas.

3.5.3. INQUISIO (REEDUCAO)

Este sistema foi muito empregado nos pases socialistas, em especial, at hoje na China. Consistem em interrogatrios que tem dupla finalidade: Fazer com que o preso confesse seu crime ou suas atividades subversivas contra o regime e ao mesmo tempo reeducar o preso. Em suma, visa destruir o velho homem, seus costumes e habitos antigos, para criar um novo homem com ideias mais convenientes para o regime de governo.

O preso tratado de maneira semelhante ao interrogatrio s que desta vez o tempo de priso antes do interrogatrio maior (meses e at mesmo anos) ou seja o preso fica questionando a verdadeira razo de sua priso sendo tambm mais incentivado pelos outro presos critiacar a si mesmo.

Sua confisso e questionada e mudada at que se torne conveniente e, quando isso acontece, algumas vanytagens soi acrescentadas ao regime prisional e a reeducao comea, um porm que a pena indeterminada, logo o prisioneiro somente ser libertado quando completamente reeducado.

Uma novidade do sistema chins que, condenado ou no, o preso paga suas despesas.

3.5.4. PRIVAO DO SONO

A privao do sono um sistema que data da inquisio. Consiste em um interrogatrio sem pausa para descansar durante dias afio. No maximo oito dias e oito noites.

A cela est sempre acesa. Muitos dias sem dormir causam ao preso alucinaes, vises e sinais de fadiga. comum os interrogatrios comearem a noite para perturbar o sono do preso e seguirem varios dia a dentro. Obviamente h um revezamento nos interrogadores.

Ocorrem modificaes bioquimicas no indivduo, levando h uma confuso temporal e espacial, a pessoa fica incapaz de se organizar.

Durante o interrogatrio o preso fica em posies incmodas, visando com isso abater seu nimo. Os interrogadores seguem o comportamento de praxe: um deles duro, outro ameaador e um terceiro bonzinho, confidente. Para que o preso no durma, caindo de sono ministra-se caf e at mesmo cafena atravs de injeo. O prisioneiro cai em profunda prostrao.

3.5.5. SILNCIO

uma das torturas mais graves. Acstica de vedao total nas celas e, para maior silncioo prdio de um s andar. Somente entrega das refeices quebra a rotina do preso.

Esse sistema de pena usado na Alemanha, Inglaterra - onde o preso fica os primeiro noventa dias em isolamento completo na Frana - para penas de curta durao - e na Irlanda onde para combater o IRA o ru fica isolado sendo0lhe colocado uma mscar com buracos apenas para os olhos, fica tambm privado do sol e submetido a um sistema de po e agua.

3.5.6. HOSPITAIS PSIQUITRICOS

O primeiro hospital psiquitrico de que se tem notcia foi criado em 1656, em Paris. A partir da comeou-se a internar pacientes doentes mentais e a buscar uma tcnica para trata-los. Regra geral, emprega-se uma tcnica para, pelo menos, acalma-los.

Seu uso para a tortura foi especialmente usado na Unio Sovitica fazendo o indivdo ser internado desnecessriamente o paciente fica internado por motivos poltico - durante longos prazos.

No tratamento so usadas tcnicas como o eletrochoque, o uso de drogas e a insulinoterapia.

A aplicao do eletrochoque acaba por modificar o comportamento das pessoas, causando tambm efeitos secundrios como a dor de cabea e perda de memria. Esse tratamento encontra acolhimento em muitas leis autoritrias.

A insulinotrapia consuste na aplicao de insulina injetavel provocando uma diminuio do aucar no sangue e em decorrncia disso a pessoa entra em coma, depois comea a suar e fica agitado e agressivo. Esse tratamento foi muito utilizado durante e logo aps a Segunda Guerra.

A URSS e muitas outra ditaduras usaram a psiquiatria como forma de pnir seus opositores polticos chegando ao ponto de a KGB ter um sob sua administrao um grande intituto psquitrico.

3.5.7. TORTURA QUMICA

A tcnica moderna de interrogatrios esta cada vez mais ligada ao uso de drogas, fazendo o que podemos chamar de violncia qumica. Tem-se a aplicao de drogas que exercero influncias sobre o fsico e o psicolgico do indivduo.

Temos como exemplos de drogas usadas com o objetivo de abater o animo do paciente o haloperidol, clopromazine, sulfazine (que provova uma febre artificial de 40o graus rapidamente juntamente com dores musculares tornando o paciente do preso bastante doloroso.)

3.5.8. SORO DA VERDADE

Consiste na ministrao de uma droga qumica (o Evipan, a Escopolamina, o Pentotal desenvolvido e usado durante a primeira Guerra) que causa no paciente uma loquacidade, o desejo de confidncias, da o fato de dizer a verdade.

3.5.9. LAVAGEM DE CREBRO

Essa uma espcie de tortura que foi bastante usada polo nazismo e counismo, um sistema de psicanlise. a tecnologia do comportamento, que posta em prtica em prises e hospitais psiquitricos, muitas vezes mutilando o crebro (como as cirurgias de lobotomia, que consiste em seccionar fibras nervosas dos dois lobos frontais vegetalizando, muitas vezes, o paciente).

3.6. TORTURA COMO CRIME, PRECEDENTES

A tortura considerada pela ONU como crime. Ela tem vrios estgios at atingir sua proibio.

A Tortura passou por vrios estgios, a saber:

A. Tolerncia informal Onde a tortura aplicada sem o apoio de qualquer lei, sem qualquer interveno legal.B. Tortura Legal Quando temos a legislao que objetiva por um lado garantir a tortura e de outro, fiscaliza-la, determinando seu tipo e regulamentao. O cerne dessa regulamentao, que a tortura era empregada como meio de prova em caso de confiso e como pena.C. Periodo Proibitivo o periodo atual, quando existem normas constitucionais que a probem e seu emprego no admitido em qualquer hiptese que seja.Em 10 de Dezembro de 1984 houve uma conveno das Naes Unidas, que o Brasil aderiu, onde se criminalizou a tortura.

3.7. CONCEITO NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

A tortura no crime hediondo, mas sua prtica aplicam-se muitos dos dispositivos da Lei n. 8.072/94. A Lei mais recente, a 9.455 de 7 de abril de 1997, que define os crimes de tortura e d outras providncias, ela foi, de certo modo, mais benigna do que a Lei dos Crimes Hediondos, o que ilgico, pois as duas esto previstas no mesmo inciso da Constituio Federal e assim, por mandamento Constitucional, sofrem ou deveriam sofrer os mesmo gravames processuais.

Ao formular a Lei de Tortura , os legisladores usaram critrios que podem ser chamados de tipo penal aberto, ou seja, so critrios no muito especficos e que no descrevem totalmente as condutas abrangidas, e com isso deixa uma margem de valorao sobretudo na hora do juiz interpret-las.

3.8. A LEI NO 9.455 DE 7 DE ABRIL DE 1997

At a Lei n. 9.455/97, o crime de tortura no podia ser conceituado, isto ocorria tambm por que este crime no existia em nosso ordenamento jurdico como crime autnomo. Mas agora temos a lei, e o conceito da prtica do crime de tortura est nos dois primeiros incisos do seu art. 1:

Constitui crime de tortura:

I. Constranger algum com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento fsico ou mental;

II. Submeter algum, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violncia ou grave ameaa, a intenso sofrimento fsico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de carter preventivo.

Observando-se estes incisos, possvel verificar uma certa semelhana entre este tipo penal e o de constrangimento ilegal que previsto no artigo 146 do Cdigo Penal, j que nos dois tipos o sujeito ativo tem a finalidade de obter da vtima um comportamento por ela no desejado.

Dentre os objetivos jurdicos esto a integridade fsica e psquica da pessoa humana, a sade fsica e mental, em suma a vida humana. Mas sem dvida a liberdade psquica e fsica da pessoa em sua autodeterminao tambm protegida, e a tortura a corrupo deste direito.

3.9. TIPO OBJETIVO

Inciso I

Podemos caracterizar a tortura toda vez que for empregada violncia ou grave ameaa com as finalidades previstas nos dois incisos do artigo 1, todo e qualquer sofrimento fsico ser considerado tortura. No inciso I, a idia gira em torno do verbo constranger, este pode ocorrer de vrias maneiras, podendo ser tipificada como coao mediante violncia ou grave ameaa ou de fato a causa de dor fsica ou o desgaste corporal.

Alm do desgaste fsico h tambm o mental, este caracterizado pelo tormento psquico, a depresso, dentre outras coisas. A vtima pode ser levada a sentir-se assim quando levada a permanecer longos perodos sem dormir, ou submetida a prolongados interrogatrios.

Existem trs finalidades para que estas condutas previstas no inciso I sejam consideradas o crime de prtica de tortura.

a) Com a finalidade de obter informao, declarao ou confisso da vtima ou de terceira pessoa, envolve o fato de persuadir a vtima por meio de violncia ou grave ameaa para que ela informe, declare ou admita a autoria de um fato. Nesta situao h duas vtimas do crime de prtica de tortura.

b) Para provocar ao ou omisso de natureza criminosa, este caso diferente do primeiro pois exige agora que a violncia ou grave ameaa provoque a vtima a praticar uma conduta criminosa. Podendo ocorrer comissiva ou omissivamente. Se for uma coao irresistvel, apenas o coator responde pelo crime que o coagido praticar (de acordo com os termos do art 22 do CP causa de excluso de culpabilidade). Se for uma coao resistvel, ser difcil ser caracterizado o crime de tortura e ambos respondero pela conduta criminosa.

c) E por ltimo h a finalidade de discriminao racial ou religiosa. Neste caso no temos uma conduta que o coator busca fazer com que o coagido exera. Mas como previsto no caput do inciso constranger, ento pode-se entender que mesmo no exigindo uma ao ou omisso da vtima, h a discriminao que pode vir a criar sofrimento psquico na vtima.

Inciso II

A conduta prevista neste inciso tambm prev o crime de tortura, mas se reveste de algumas circunstncias importantes. Uma destas circunstncias que caracteriza crime prprio, ao contrrio do que prev o inciso I que diz que crime comum podendo ser praticado por qualquer pessoa. Aqui o sujeito ativo tem que ter caractersticas especiais, ele tem que ter a vtima em seu poder, guarda ou autoridade, outra caracterstica que o ncleo do verbo no mais constranger e sim submeter que significa subjugar, reduzir obedincia, rejeitar a vtima a algo, fazendo isso usando de violncia ou grave ameaa.

3.9.1. SUBTIPOS DA TORTURA

Existem, alm dos tipos previstos nos incisos I e II do artigo 1, outras condutas que poderamos chamar de tortura.

a) Pessoa presa ou sujeita a medida de segurana; no se pode sujeitar estas pessoas a sofrimento fsico ou mental, no admitindo o uso de violncia ou grave ameaa bem como o uso de narcticos, hipnose, uso de cela escura, falta de alimentao, etc;

b) Tortura por omisso, este pode ser de duas formas. A primeira a omisso quanto prtica do crime, deveria evit-lo e no o faz, e a segunda a omisso na apurao, ou seja, tinha a obrigao de investigar e se omite. Estas duas formas so crimes prprios porque exigem que o omitente tenha o dever jurdico de impedir o resultado, embora no esclarea se o omitente seja ou no funcionrio pblico ou se o faz para satisfazer um sentimento pessoal.

3.9.2. FORMAS QUALIFICADAS

So hipteses de crime preterdoloso, ou seja, qualificadas pelo resultado. Diz o 3: Se resulta leso corporal grave ou gravssima a pena de recluso de quatro a dez anos, se resulta morte, a recluso de oito a dezesseis anos. V-se que crime qualificado, pois a pena autnoma, desvinculada dos delitos fundamentais. Se o resultado for leso ou morte culposa ento absorvido pela tortura, se for doloso torna-se homicdio qualificado nos termos do artigo 121, 2 inciso III do CP o qual absorver este delito o qual a tortura funciona como qualificadora do homicdio. Com respeito s leses graves e gravssimas podem diferenciar se estas forem culposas e ento no h alterao no tipo principal, ou se forem dolosas, e assim haver tentativa de homicdio qualificado pela tortura (artigo 121, 2 III, com combinao com artigo 14, II todos do CP) e quando a leso for gravssima, prevista no inciso V do 2, o agente responder por este crime (artigo 125 do CP) em concurso com o crime de tortura simples.

3.10. TIPO SUBJETIVO

Na parte subjetiva o crime essencialmente doloso. Para o que previsto no 1 apenas o dolo genrico o bastante, j para as demais formas exige-se o chamado dolo especfico ou o elemento subjetivo do tipo: com o fim

de obter informao, para provocar ao ou omisso, etc.

3.11. EXTRATERRITORIALIDADE

O artigo 2 da Lei n. 9.455/97 cria uma nova exceo ao princpio da territorialidade adotado em nosso sistema penal brasileiro previsto pelo artigo 5 do CP. Dispe aquele dispositivo que o disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime no tenha sido cometido em territrio nacional, sendo vtima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdio brasileira.

A primeira hiptese, a que se refere a quando a vtima for brasileira, foi adotado o princpio real, ou o princpio da defesa ou proteo. A lei protege o bem jurdico independentemente da nacionalidade do agente. Podemos dizer que aqui trata-se da extraterritorialidade incondicionada, j que no existe requisito algum para a aplicao da Lei brasileira.

J na segunda hiptese, quando o agente encontra-se em local sob jurisdio brasileira. Neste caso adotado pela lei o princpio da justia universal ou justia cosmopolita, no importando a nacionalidade da vtima nem do agente. Por este princpio aplica-se a Lei do pas onde se encontre o criminoso. Neste caso chamado de extraterritorialidade condicionada j que necessrio que o agente esteja em territrio brasileiro.

4. DISPOSITIVOS DA LEI

4.1. ANISTIA, GRAA E INDULTO; FIANA E LIBERDADE PROVISRIA

Anistia, graa e indulto so institutos de direito substantivo, e so causas de extino de punibilidade previstas no art. 107, II, do Cdigo Penal. So formas de perdo, mas, possuem peculiaridades, diferenciando-se quanto sua aplicao e efeitos.

O termo anistia encerra em si a noo de perdo geral. Em termos mais tcnicos e na definio de Maximiliano, citada por Noronha, anistia um ato do poder soberano, que cobre com o vu do olvido certas infraes criminais, e, em conseqncia, impede ou extingue os processos respectivos e torna de nenhum efeito penal as condenaes.

Pode ocorrer anistia antes ou depois da sentena, extinguindo a ao e a condenao, se destinando a fatos e no a pessoas, embora possa exigir algumas condies subjetivas para ser aplicada ao ru ou condenado. Opera ex tunc, isto , para o passado, apagando o crime e extinguindo todos os efeitos penais da sentena (pena pecuniria, sursis- suspenso condicional da pena, pressuposto de reincidncia, etc) porm, no abrange os efeitos civis (dever de indenizar, perdimentos de instrumentos ou produtos do crime, etc) e, a anistia pode ser geral ou restrita, incondicionada ou condicionada.

Esse instituto geralmente aplicado a crimes polticos, e seu alcance abrangente pois, apaga o crime e extingue todos os efeitos penais, mesmo depois do trnsito em julgado da sentena condenatria.

No Brasil prerrogativa da Unio conceder anistia art.21,XVII da Constituio Federal -, sendo competncia do Congresso Nacional com a sano do Presidente dispor sobre sua concesso (art.48, VIII). Assim, ser ela concedida mediante lei e, o Poder Judicirio, como em qualquer lei, ir examinar seu alcance e fazer sua aplicao e interpretao.

Como o objetivo da anistia o interesse pblico, os interessados no a podem recusar; contudo, se for condicionada ao cumprimento de alguma exigncia, os destinatrios podem se negar a cumpri-la. E, uma vez aceita, no pode ser revogada (art. 5o, XXXVI, da Constituio Federal) mesmo que o anistiado no cumpra as condies impostas, podendo responder, pelo ilcito previsto no art.359 do Cdigo Penal.

Concedida a anistia, de ofcio, a requerimento do interessado ou do Ministrio Pblico, por proposta da autoridade administrativa ou do Congresso Penitencirio, o juiz decidir extinta a punibilidade (art.187, da Lei de Execuo Penal).

Quanto a graa e indulto, que tambm so formas de clemncia do Estado, aplicam-se sempre a pessoas determinadas e no a fatos (como na anistia).

A Constituio Federal vigente no se refere mais graa, mas apenas ao indulto (art.84, XII) passando a graa, por essa razo, a ser tratada como indulto individual na Lei de Execuo Penal (art.188); o que no ocorreu na reforma da Parte Geral do Cdigo Penal.

O indulto individual (ou graa) pode ser total (ou pleno), alcanando todas as sanes impostas ao condenado (quando extinguem totalmente as penas), ou parcial, com a reduo ou substituio da sano (caso chamado de comutao). Pode ser provocado por petio do condenado, por iniciativa do Ministrio Pblico, do Conselho Penitencirio, ou da autoridade administrativa (art.188).

O indulto coletivo abrange sempre um grupo de sentenciados e inclui, geralmente, os beneficirios tendo em vista a durao das penas que a eles foram aplicadas, embora sendo exigidos requisitos subjetivos (como primariedade, por exemplo) e objetivos (cumprimento de parte da pena, etc). Tambm pode ser total ou parcial.

Ao contrrio da anistia, o alcance destes dois institutos no abrangente, pois apenas atingem os efeitos da sentena condenatria, exigindo, portanto, a aplicao de penas e, tambm, apenas extinguem a punibilidade prevalecendo os demais efeitos de condenao. Via de regra as sanes extintas vm discriminadas nos decretos dos indultos, individual e coletivo.

Pode obter o indulto aquele que est em gozo do sursis ou do livramento condicional, permitindo tambm a soma das penas de duas condenaes para verificar-se se esto dentro ou fora dos limites previstos dentro do decreto do indulto(so institutos compatveis, e nada impede a aplicao sobreposta).

Como o indulto pressupe penas impostas, condenao, discute-se a possibilidade de sua incidncia nos casos de sentenas recorrveis.

Somente extinguem-se com o indulto (individual ou coletivo) as sanes mencionadas nos respectivos decretos, permanecendo os demais efeitos da sentena condenatria, sejam penais ou civis. O indulto, regra geral, no pode ser recusado, mas se condicionado admite-se a recusa.

Segundo o Art. 2o da Lei no 8072/90 dispe que os crimes hediondos, a prtica da tortura, o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins e terrorismo so insuscetveis de:

I- anistia, graa e indulto;

II- fiana e liberdade provisria.

Este inciso reproduz o contedo do art.5o, XLIII, da Constituio, inciso este que, ao lado do imperativo constitucional da elaborao de uma lei que definisse os crimes hediondos, j de antemo, os considerava inafianveis e insuscetveis de graa ou anistia.

Na comparao entre o dispositivo constitucional e o art. 2o da lei dos Crimes Hediondos, duas observaes so necessrias: no inciso proibitivo da Carta Magna o constituinte no inseriu o indulto, enquanto o legislador ordinrio o fez; no inciso constitucional que estava em vigor desde a data da promulgao e, portanto, com aplicao imediata para a prtica da tortura, o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo. Apenas ficaram em aberto para os crimes hediondos, os quais ficaram aguardando sua definio em lei, assim, veio para regulamentar a Lei no 8072/90.

Portanto, por disposio constitucional (art.5o, XLIII), regulamentada pela Lei no 8072, de 25-7-1990, so insuscetveis de anistia, graa de indulto os crimes arrolados no art. 2o,I, dessa lei. Nesse sentido, o art.1o, 6o, da Lei no 9455, de 7-4-1997, que probe a graa e anistia ao condenado por crime de tortura. Dessa forma, a Lei de Tortura vedou to somente a concesso da anistia, graa e fiana e, por se tratar de lei especial, que regulamentou todo o tema de tortura, revogou, somente esse tipo delito, a vedao ao indulto e liberdade provisria. Entretanto, esses benefcios continuam incabveis aos crimes hediondos, trfico ilcito de entorpecentes ou drogas afins e terrorismo.

Essas colocaes feitas anteriormente vm sendo confirmadas nos ltimos anos pelos sucessivos indultos presidenciais, por ocasio do Natal. Tomando como ponto inicial o Decreto n1242/94, que proibia a concesso do indulto para os condenados por crimes considerados hediondos na poca de sua edio, independentemente se praticados antes ou depois da Lei no8072/90. Os indultos que se seguiram mantiveram a mesma linha de proibio.

A fiana e a liberdade provisria tambm foram objeto de dispositivo da Lei no8072/90, sendo considerados os crimes arrolados no art. 2o, II, insuscetveis de fiana e liberdade provisria. Mais uma vez, a redao do dispositivo no foi da melhor tcnica, pois melhor ficaria se viesse redigido: liberdade provisria com ou sem fiana.A no-concesso da liberdade provisria representa grande castigo para os indiciados ou rus nos delitos previstos nesta lei visto que, a liberdade provisria constitui um direito subjetivo e, como tal, se presentes os requisitos legais, no pode ser negado ao requerente.

A liberdade provisria com ou sem fiana tratada no Captulo VI do Ttulo IX do Cdigo de Processo Penal, interpretando-se contrario sensu, ou seja, inverte-se o raciocnio: sempre que no for proibida, a fiana deve ser concedida de ofcio ou a requerimento das partes, na esfera policial ou j em juzo. Restaurou assim, ainda que indiretamente, o art.322 do Cdigo de Processo Penal, alterado pela Lei no6416/77, o qual dizia que ningum ser levado priso ou nesta conservado, se prestar fiana, nos casos em que a lei no a proibir. E, nos crimes abrangidos pela Lei no 8072/90, a lei faz essa proibio.

Mas, a vedao liberdade provisria no impede o relaxamento do flagrante pelo juiz (art.5o, LXV) se houver ilegalidade na priso. Esse vcio pode ser reconhecido quando for constatado excesso de prazo da priso processual (sem que tenha havido julgamento); quando no confirmada a situao de flagrncia; se reconhecida nulidade na lavratura do auto de priso, etc.

4.2. REGIMES DE CUMPRIMENTO DA PENA

1O A pena por crime previsto neste artigo (2o da Lei 8072/90) ser cumprida integralmente em regime fechado.

Na legislao penal comum, somente fixado regime fechado para ru condenado, por crime de recluso, com pena superior a oito anos, ou se for reincidente. Alm disso, esse regime fechado apenas para o incio do cumprimento da pena, podendo o ru progredir para regimes mais brandos, como o semi-aberto e aberto, caso preecha determinados requisitos. Entretanto, a Lei de Crimes Hediondos estabeleceu, como vimos, que o regime dever ser cumprido sempre em regime fechado, independentemente do montante da condenao e de reincidncia do ru nos crimes hediondos, tortura, trfico e terrorismo. Dessa forma, est vedada a progresso para os condenados por estes crimes abrangidos pela Lei no 8072/90. Essa questo da no progresso alvo de muitas crticas, tem gerado polmica quanto questo de constitucionalidade.

O art.10, 7o, da Lei no9455/97, contrariando o dispositivo em anlise, estabelecendo que os condenados por crime de tortura apenas iniciaro o cumprimento da reprimenda em regime fechado. Assim, a obrigatoriedade de cumprir pena integralmente no regime fechado continua a existir nos delitos hediondos, trfico de entorpecentes e terrorismo. Somente para os crimes de tortura que a Lei no9455/97 admitiu o regime inicial fechado. Essa regra tambm tem gerado discusso por parte do doutrina e da jurisprudncia, alguns entendem que os crimes hediondos, trfico de entorpecentes e terrorismo deveriam ter um tratamento paritrio ao dos de tortura mas, esse argumento no foi acolhido pelos tribunais, visto que a Lei no9455/97 especfica para os crimes de tortura, no podendo ter seu mbito de incidncia ampliado em afronta a disposies expressas da Lei no8072/90.

Apesar de constituir disposio expressa da Lei dos Crimes Hediondos, a aplicao de pena integral em regime fechado pressupe que o juiz mencione tal circunstncia na sentena. Por isso, se ele disser apenas que o regime inicial ser o fechado e o Ministrio Pblico no interpuser o devido recurso de apelao, o condenado ter direito progresso.

4.3. DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE

2o Em caso de sentena condenatria, o juiz decidir fundamentadamente se o ru poder apelar em liberdade.

Conforme o art. 594 do Cdigo de Processo Penal, s poder apelar em liberdade se for primrio e de bons antecedentes. Todavia, essa regra deixou de se aplicar aos crimes hediondos, na medida em que o art. 2o 2o da Lei dos Crimes Hediondos permite que o juiz decida livremente se o condenado poder ou no apelar em liberdade, desde que justifique sua deciso. Assim, mesmo que primrio e de bons antecedentes, poder ter sua priso decretada pelo juiz e, por outro lado, ainda que reincidente, poder o juiz deixar de faze-lo, desde que de forma fundamentada.

Ressalta-se que o se o ru respondeu ao processo preso, em caso de condenao, dever ser mantido no crcere, pois sua libertao equivaleria concesso de liberdade provisria, vedada pelo art.2o, II, Da Lei 8072/90.

Essa questo de recurso em liberdade um dos que causa maior polmica e deixa dvidas sobre sua aplicao e abrangncia.

4.4. PRISO TEMPORRIA

3o A priso temporria, sobre a qual dispe a Lei no7960/89, nos crimes previstos neste artigo, ter o prazo de trinta dias, prorrogveis por igual perodo em caso de extrema e comprovada necessidade.

A priso temporria o nomem iuris de outra modalidade de priso provisria, considerada esta como a priso que imposta antes do trnsito em julgado da sentena condenatria. Dessa forma, constitui nova espcie de priso cautelar ao lado da priso em flagrante, preventiva, por pronncia e por sentena condenatria recorrvel.

, como a conhecemos atualmente, um instituto recente, visto que emergiu com a Medida Provisria no111/89, aprovada pelo Congresso Nacional e transformada na Lei no7960, de 21-12-1989. Antes dela, existia apenas Lei de Segurana Nacional.

A priso temporria, decretada quando imprescindvel para as investigaes do inqurito policial e, como j vimos ter prazo de trinta dias prorrogveis por mais trinta em caso de extrema e comprovada necessidade em se tratando de crime hediondo, trfico de entorpecentes, terrorismo ou tortura. Para os demais crimes, o prazo da priso temporria de cinco dias, prorrogveis por mais cinco dias.

Como essa priso decretada por prazo certo, previamente estipulado pelo juiz, ela no se computa nos demais prazos processuais quando existe pedido de relaxamento de flagrante por excesso de prazo durante o transcorrer da ao penal.

4.5. ESTABELECIMENTOS PENAIS

Art. 3o A Unio manter estabelecimentos penais, de segurana mxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanncia em presdios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pblica.

medida de grande importncia em virtude da periculosidade daqueles que infringem os crimes dessa lei. Dessa forma, a colocao desses criminosos em presdios de segurana mxima, de preferncia em local distante daquele que o condenado costuma agir, tornou-se imperativa na atualidade. Entretanto, o que se tem visto so os governos no atentando para esse dispositivo de imensa relevncia no combate violncia.

4.6. LIVRAMENTO CONDICIONAL

Art.5o da Lei 8072/90 ao art.83 do Cdigo Penal acresce o seguinte inciso:

V- cumprindo mais de dois teros da pena, nos casos de condenao por crime hediondo, prtica da tortura, trfico de entorpecentes e drogas afins e terrorismo, se o apenado no for reincidente especfico em crimes dessa natureza.

O livramento condicional, segundo Noronha, a concesso, pelo poder jurisdicional, da liberdade antecipada ao condenado, mediante a existncia de pressupostos, e condicionada a determinadas exigncias durante o restante da pena, que deveria cumprir preso. Trata-se de uma antecipao provisria da liberdade do preso, liberdade essa concedida sob certas condies e se cumpridos alguns pressupostos. Caso o preso preencher todos os requisitos legais, o livramento condicional assume a natureza de um direito subjetivo e no de um favor.

Entre os pressupostos objetivos esto: o tipo de pena, que deve ser privativa de liberdade (recluso, deteno ou priso simples) e igual ou superior a dois anos, permitindo, para a contagem desse tempo mnimo, a soma de penas aplicadas em processos diferentes; e, que o condenado tenha cumprido parte da pena imposta. J entre os pressupostos subjetivos temos: bons antecedentes do condenado; e, bom comportamento e bom desempenho no trabalho que lhe foi atribudo (estas duas exigncias tm fundamento porque so formas de avaliar a capacidade de o sentenciado se adaptar nova realidade social, se concedido o livramento condicional).

Pela legislao comum, o livramento condicional pode ser obtido aps o cumprimento de um tero da pena para os rus primrios e metade para os reincidentes, desde que satisfeitos tanto os pressupostos objetivos quanto os subjetivos. Entretanto, para os crimes contidos na Lei no8072/90, esse benefcio s poder ser concedido, de acordo com a nova regra, aps o cumprimento de dois teros da reprimenda imposta, desde que o condenado no seja reincidente especfico. A Lei no9455/97 (Lei da Tortura) no fez essa referncia ao livramento condicional, de forma que o dispositivo em anlise continua sendo aplicvel aos crimes de tortura.

A respeito do significado da reincidncia especfica, existem duas orientaes: uma corrente, denominada de restritiva, entende que ela s est presente quando o agente, depois de condenado por um determinado delito hediondo ou equiparado, comete novamente a mesma espcie de crime, por exemplo: condenado em definitivo por trfico, novamente condenado pelo comrcio de entorpecente; a outra corrente, chamada de ampliativa, diz que existe a reincidncia especfica quando o agente, aps ser condenado por um dos crimes tratados na lei, comete outro crime hediondo ou equiparado, qualquer que seja ele, por exemplo: Uma pessoa condenada por latrocnio comete trfico de entorpecentes. Sob o ponto de vista de Victor Gonalves, esta a orientao certa por que a lei veda o livramento quando o sujeito reincidente especfico em crime dessa natureza, ou seja, quando, aps condenado por qualquer crime hediondo ou assemelhado, pratica qualquer outros desses delitos.

O nico benefcio concedido eventualmente cabvel o livramento condicional (arts. 5o da Lei no8072/90, e 83, V, do Cdigo Penal), que, no regime de cumprimento de pena, mas antecipao da liberdade sob certas condies.

4.7. ALTERAO DAS PENAS DOS CRIMES HEDIONDOS

A Lei no8072/90, alm de todas as providncias j citadas, aumentou as penas previstas em abstrato para os crimes hediondos.

No crime de latrocnio a pena passou a ser de vinte anos a trinta anos, aplicvel tambm ao crime de extorso qualificada pela morte (art. 158, 2o, do Cdigo Penal).

O delito de extorso mediante seqestro sofreu alterao na pena em todas as suas figuras (simples e qualificadas). Acontece que, ao aumentar essas penas, o legislador, talvez por equvoco ( tese da maioria dos autores), excluiu a pena de multa antes prevista, fazendo com que tal crime no mais possua essa espcie de pena.

J em relao aos crimes sexuais, o legislador igualou as penas dos crimes de estupro e atentado violento ao pudor ( se equiparam em gravidade), que passaram a ter pena de recluso, de seis a dez anos.

O art.223, caput, trata dos crimes de estupro e atentado ao pudor qualificados pela leso grave, e sua pena foi aumentada por recluso, de oito a doze anos. O pargrafo nico trata da qualificadora da morte, e a pena passou a ser de recluso, de doze a vinte e cinco anos. Essas formas qualificadoras so preterdolodas, isto , somente se aperfeioam quando o sujeito age com dolo e, culposamente, provoca a leso grave ou a morte. Assim, quem estupra uma mulher e, em seguida, dolosamente a mata, responde por estupro simples e por homicdio qualificado (ambos hediondos), em concurso material.

Em relao epidemia, o carter hediondo s estar presente se a epidemia for qualificada pelo resultado morte, a a pena ser aplicada em dobro (10, do art.267 do Cdigo Penal). O mesma questo qualificadora se aplica aos crimes de envenenamento de gua potvel, substncia alimentcia ou medicinal.

Em resumo, as penas cominadas pela Lei no 8072/90 foram substancialmente agravadas. Todos esses crimes, com exceo do genocdio, tiveram seus valores mnimos alterados para mais, e, na maioria dos casos, os valores mximos abstratos ultrapassariam a barreira dos 30 anos, teto esse, contudo, mantido como limite mximo, por disposio expressa do art. 9o da mesma lei.

4.8. AS PENAS: ATENUANTES E AGRAVANTES

4.8.1. ATENUANTES:

Dentro do esprito que informou a Lei dos Crimes Hediondos, pode parecer contraditria que nela exista dispositivos que venham a favorecer os rus ou condenados. O certo que no se pode falar em atenuantes, no sentido tcnico, como no art.65 do Cdigo Penal, por exemplo, e sim, causas de diminuio de pena, j que determinam o quantum da diminuio e podem reduzir a pena final abaixo do mnimo cominado ao delito (ao contrrio das atenuantes genricas).

Delao Eficaz:

Art. 7o ao art. 159 do Cdigo Penal fica acrescido o seguinte pargrafo:

4o Se o crime cometido em concurso, o concorrente que o denunciar autoridade, facilitando a libertao do seqestrado, ter sua pena reduzida de um a dois teros.

Trata-se de causa obrigatria de diminuio de pena, que, para ser aplicada, exige que o crime tenha sido cometido por pelo menos duas pessoas e que qualquer delas(co-autor ou partcipe) arrependa-se e delate as demais autoridade (policiais, juzes, promotores), de tal forma que o seqestrado venha a ser libertado.

Assim, para a obteno do benefcio o agente deve , por iniciativa prpria ou quando questionado pela autoridade, prestar informaes que efetivamente facilitem a localizao e libertao da vtima. Da o nome delao eficaz.

Os requisitos so, portanto:

1. prtica de extorso mediante seqestro por duas ou mais pessoas;

2. delao feita por um dos concorrentes autoridade;

3. eficcia da delao.

Para decidir acerca do quantum de reduo, o juiz decidir levando em conta a maior ou menor contribuio para a libertao da vtima. Quanto maior a contribuio, maior dever ser a reduo.

A Lei no9807/99, que ficou conhecida por estabelecer normas de proteo a testemunhas e vtimas, em seu art.13, previu a possibilidade de o juiz conceder perdo judicial ao delator. Esse dispositivo, entretanto, no revogou o art.159, 4o, do Cdigo Penal. Dessa forma, quando incabvel a aplicao desse benefcio, e normalmente o ser, poder ser reconhecido o instituto da delao eficaz criado pela Lei dos Crimes Hediondos.

Quadrilha:

Art.80 Ser de trs a seis anos de recluso a pena prevista no art.288 do Cdigo Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prtica de tortura, trfico de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.

O art.288 do Cdigo Penal trata do crime de quadrilha ou bando, que consiste na associao de quatro ou mais pessoas com o fim de cometer reiteradamente crimes.

Este dispositivo, no caput, cuida de aumentar a pena para o crime este crime, que era de uma trs anos e agora passa a ser de trs a seis anos de recluso, quando a associao criminosa se fizer com o fim de cometimento de crimes hediondos, prtica de tortura, trfico de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. O benefcio da reduo da pena encontra-se no pargrafo nico que vem assim redigido:

O participante e o associado que denunciar autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, ter a pena reduzida de um a dois teros.

Esse instituto foi chamado por Damsio de Jesus de traio benfica, pois resulta reduo da pena como conseqncia da delao de comparsas mas, s haver essa diminuio da pena se a delao implicar efetivo desmantelamento da quadrilha. Desmantelar significa impedir que as atividades do bando prossigam.

Pode-se assim dizer que a aplicao desse instituto pressupe:

1. existncia de uma quadrilha formada para prtica de crimes hediondos, tortura, trfico ou terrorismo;

2. delao da existncia da quadrilha autoridade por um de seus integrantes;

3. eficcia da delao, possibilitando o seu desmantelamento

Como o legislador utilizou a expresso participante e associado, se faz relevante a distino: o membro do bando que alm do crime de quadrilha comete o crime hediondo ou qualquer dos outros ali referidos (nem todo membro da quadrilha responde necessariamente por todos os crimes do grupo, mas somente por aquele para o qual concorreu) o associado -, e o terceiro que de alguma forma contribui para o cometimento do crime efetivamente praticado pela quadrilha o participante. Um e outro sero beneficiados pela reduo. O associado, nas penas dos dois crimes. O participante, no crime praticado. Assim, conclui-se que, o membro da quadrilha, como exemplo, que efetivamente participar da prtica de um latrocnio ( associado), ou qualquer outra pessoa que de alguma forma concorreu pra este crime (participante) sero beneficiados com a reduo da pena. O primeiro ter reduzida as penas do crime de quadrilha e de latrocnio. O segundo apenas a do latrocnio.

O quantum da reduo, entre um ou dois teros, deve guardar relao com a maior ou menor colaborao do agente.

No caso de concurso material entre o crime de quadrilha e outros delitos praticados por seus integrantes, a reduo da pena atingir apenas o primeiro (quadrilha).

4.8.2. AGRAVANTES:

Art.9o as penas fixadas no art.6o para os crimes capitulados nos arts. 157, 3o, 158, 2o, 159, caput e seus 1o,2o e 3o, 213, caput, e sua combinao com o art.223, caput e pargrafo nico, 214 e sua combinao com o art.223, caput e pargrafo nico, todos do Cdigo Penal, so acrescidas de metade, respeitando o limite superior de trinta anos de recluso, estando a vtima em qualquer das hipteses referidas no art.224 tambm do Cdigo Penal.

Assim que o art. 224 do Cdigo Penal, que at a edio desta lei apenas criava a presuno da violncia nos crimes contra os costumes previstos no Cdigo Penal, passa agora tambm a ter fora de uma causa que sempre aumentada a pena para os crimes do art. 9o, quais sejam: o latrocnio; extorso qualificada por morte; extorso mediante seqestro simples e qualificada; estupro e o atentado violento ao pudor na forma simples e qualificada pela violncia da qual resulte leso grave ou morte.

Dispe o art.224 do Cdigo Penal:

Presume-se violncia, se a vtima:

a) no maior que catorze anos;

b) alienada ou dbil mental, e o agente conhecia essa circunstncia;

c) no pode, por qualquer outra causa, oferecer resistncia.

O aumento no se aplica aos crimes de homicdio qualificado, epidemia qualificada, falsificao de substncia medicinal e genocdio, pois, apesar de constiturem delitos hediondos, no foram mencionados nesse art.9o. Em relao ao homicdio qualificado, existe regra especfica no art.121, 4o, parte final, do Cdigo Penal, estabelecendo um aumento de um tero da pena apenas na hiptese de a vtima ser menor de quatorze anos.

Nos crimes graves como latrocnio, extorso seguida de morte, extorso mediante seqestro, o dispositivo ressalva que o juiz no pode aplicar aumento superior a trinta anos. No se deve confundir essa regra com aquela contida no art. 75 do Cdigo Penal. Com efeito, o art. 9o da Lei dos Crimes Hediondos probe a fixao de pena superior a trinta anos quando a condenao se refira a um s crime. J o art.75 permite que, no caso de concurso de crimes apurados em um processo, a pena atinja patamares superiores (acima de cem anos, por exemplo), mas o condenado, desse total, s ir cumprir trinta anos.Nesses crimes graves, existe entendimento de que a norma fere o princpio constitucional da individualizao da pena (art.5o, XLVI, da Constituio Federal). Suponha-se que um latrocnio contra uma criana. A pena de vinte a trinta anos, aumentada da metade pela idade da vtima, resultando, em abstrato, em pena de trinta a quarenta e cinco anos. Assim, como o juiz na pode fixar pena acima de trinta anos, no h como ele individualizar a sano, necessariamente, ser fixada nesse patamar (trinta anos).

4.9. REGIMES DE PENAS TORTURA

De acordo com o 7 da lei que prev o condenado por crime revisto nesta Lei, salvo hiptese do 2 (Tortura por omisso), iniciar o cumprimento da pena em regime fechado, a concluso