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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA DISCIPLINA: GRANDES CULTURAS II ESTÁGIO A DOCÊNCIA CULTURA DO FEIJÃO COMUM (Phaseolus vulgaris L.) PROF.: Francisco José. A. F. Távora ALUNA: Belísia Lúcia Moreira T. Diniz

Apostila Feijão1

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Page 1: Apostila Feijão1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁCENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIASDEPARTAMENTO DE FITOTECNIA

DISCIPLINA: GRANDES CULTURAS IIESTÁGIO A DOCÊNCIA

CULTURA DO FEIJÃO COMUM (Phaseolus vulgaris L.)

PROF.: Francisco José. A. F. Távora

ALUNA: Belísia Lúcia Moreira T. Diniz

FORTALEZA - CEJULHO - 2006.

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1. ORIGEM

O gênero Phaseolus originou-se nas Américas e compreende aproximadamente

55 espécies, das quais apenas cinco é cultivado: o feijoeiro comum (Phaseolus

vulgaris); o feijão de lima (P. lunatus); o P. polyanthus; o feijão Ayocote (P. coccineus)

e o feijão tepari (P. acutifolius).

Existem diversas hipóteses para explicar a origem e domesticação do feijoeiro.

Tipos selvagens, similares a variedades criolas simpátricas, encontrados no México e a

existência de tipos domesticados, datados de cerca de 7.000 a.C., na Mesoamérica,

suportam a hipótese de que o feijoeiro teria sido domesticado na Mesoamérica e

disseminado, posteriormente, na América do Sul. Por outro lado, achados arqueológicos

mais antigos, cerca de 10.000 a.C., de feijões domesticados na América do Sul (sítio de

Guitarrero, no Peru) são indícios de que o feijoeiro teria sido domesticado na América

do Sul e transportado para a América do Norte.

Dados mais recentes, com base em padrões eletroforéticos de faseolina,

sugerem a existência de três centros primários de diversidade genética, tanto para

espécies silvestres como cultivadas: o mesoamericano, que se estende desde o sudeste

dos Estados Unidos até o Panamá, tendo como zonas principais o México e a

Guatemala; o sul dos Andes, que abrange desde o norte do Peru até as províncias do

noroeste da Argentina; e o norte dos Andes, que abrange desde a Colômbia e Venezuela

até o norte do Peru. Além destes três centros americanos primários, podem ser

identificados vários outros centros secundários em algumas regiões da Europa, Ásia e

África, onde foram introduzidos genótipos americanos.

2. IMPORTÂNCIA DA CULTURA

O feijão tem extrema importância econômica e social no Brasil. De acordo

com os valores divulgados pela Companhia de Abastecimento (Conab), na safra 2005-

06, o feijão representou o quinto granífero mais produzido, ficando atrás apenas da soja,

do milho, do arroz e do trigo.

A cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) tem grande importância na

alimentação humana, em vista de suas características protéicas e energéticas. Em nosso

país, esta leguminosa tem importância social e econômica, por ser responsável pelo

suprimento de grande parte das necessidades alimentares da população de baixo poder

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aquisitivo, que ainda tem apresentado taxas de crescimento relativamente altas e

também pelo contingente de pequenos produtores que se dedicam à cultura.

Os grãos representam uma importante fonte protéica na dieta humana dos

países em desenvolvimento das regiões tropicais e subtropicais. De toda a produção

mundial 47% provem das Américas e cerca de 10% do leste e sul da África.

Propriedades Nutricionais:

Proteína ® 22 e 26%; Carboidratos ® 62 e 67%; Cinzas ® 3,8 e 4,5%; Lipídios ® 1 e 2%; Fibras ® 3,8 e 5,7% Vitaminas ® tiamina, riboflavina, niacina, ácido ascórbico. Minerais ® K (1%), P (0,4%), Fe, Cu, Zn; Valor calórico:341 cal 100g-¹;

3. PRINCIPAIS PRODUTORES

A produção mundial de feijão vem crescendo progressivamente desde os anos

60. Nessa década, os produtores repassavam o produto diretamente para consumidores

da própria região, cooperativas, comerciantes primários e governo. Nessa época

existiam apenas duas safras (das águas e da seca), e maior parte do feijão era cultivado

em consórcio.

No início da década de 80 alcançou cerca de 15 milhões de toneladas e desde o

seu final passou a oscilar em torno de 16 milhões de toneladas.

Cerca de 65% da produção mundial provem de apenas seis países (Brasil,

Índia, México, Mianmar, Estados Unidos e China). O Brasil é o maior produtor mundial

de feijão, responsável por 16,5% da produção mundial, seguido pela Índia e México,

responsáveis, respectivamente, por 16,4% e 9% da produção.

Em 2005, Minas Gerais (559.570 t) suplantou ligeiramente o Paraná (557.019

t), até então o maior produtor nacional de feijão. O produto é cultivado em todos os

estados, sendo que cinco deles (MG, PR, BA, GO e SP) foram responsáveis por cerca

de 69% da safra total.

A produção nacional de feijão em 2005 totalizou 3.021.495 t, um incremento

de 1,8% frente ao ano anterior, conseqüência do aumento no rendimento médio, de 745

kg ha-1 em 2004 para 806 kg ha-1 em 2005, uma vez que a área colhida de 3.748.407 ha,

foi inferior à do ano anterior (3.978.660 ha).

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O excedente exportado é muito pequeno, pois, os principais consumidores

também são os principais produtores da cultura, sendo o volume transacionado entre

países muito pequenos, girando em torno de 5% (Spers & Nassar, 2004).

De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,

as importações de feijão foram de: 78 mil toneladas (safra 1999-00), 129 mil toneladas

(safra 2000-01), 82 mil toneladas (safra 2001-02), 103 mil toneladas (safra 2002-03) e

100 mil toneladas (safra 2003-04), enquanto que as exportações foram de 2 mil

toneladas em cada uma das referidas safras, exceto na safra 2003-04, que foi de 3 mil

toneladas.

É possível explorar a cultura em três épocas distintas, divididas em três safras

consecutivas: Primeira safra ou “safra das águas”, Segunda safra ou “safra da seca” e

Terceira safra ou “safra de inverno”.

A safra das águas, cujo plantio é realizado entre os meses de agosto e

novembro e a colheita entre novembro e abril, está concentrada nas regiões Sul e

Sudeste e no Estado da Bahia, na região de Irecê. É a maior das três safras, em produção

e rendimento.

A safra da seca é normalmente plantada entre janeiro e março e colhida entre

abril e julho. Essa safra abrange os estados das regiões Sudeste e Sul, com concentração

na Região Nordeste que, em anos normais, contribui com mais de 50% da produção.

Segundo a Embrapa Arroz e Feijão, a safra da seca, tanto no sistema solteiro quanto

consorciado, representa a maior área de cultivo na produção nacional de feijão, cerca de

48% da área plantada. No entanto, apresenta a menor produtividade quando comparada

às outras safras.

Na safra de inverno, cultiva-se o feijão irrigado. A plantação ocorre entre abril

e julho e a colheita entre agosto e outubro. A decisão de plantio influenciada pelo

comportamento dos preços na comercialização do feijão colhido na safra da seca.

Atualmente, as duas primeiras safras são responsáveis por cerca de 80% da

produção nacional, que provém de 3,5 milhões ha de lavouras de pequenos e médios

produtores que utilizam na sua maioria, mão-de-obra familiar com baixo nível

tecnológico, o que reflete como conseqüência uma produtividade média de 752 kg ha -1,

considerada baixa.

A safra de inverno, de aproximadamente 800 mil ha, garante os 20% restantes

da produção e tem como origem lavouras com alto nível tecnológico, onde a irrigação é

essencial para alcançar produtividades médias de 1.546 kg ha -1. A cultura de feijão, na

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safra de inverno, vem aumentando e existem previsões de que a produção dessa safra

vai se equilibrar e superar as outras duas.

4.CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA

Do ponto de vista taxonômico o feijão comum é o verdadeiro protótipo do

gênero Phaseolus, classificado por Linneo em 1753.

Reino: VegetalRamo: Embryophytae syphonogamaeSub-ramo: AngiospermaeClasse: DicotyldoneaeOrdem: RosalesFamília: FabaceaeSubfamília: Faboideae (Papilioideae)Tribo: PhaseoleaeGênero: PhaseolusEspécie: Phaseolus vulgares L.

5. MORFOLOGIA

Raiz: o sistema radicular do feijoeiro é formado por uma raiz principal, ou primária,

da qual se desenvolvem, lateralmente, as raízes secundárias e terciárias. Ademais, os

pêlos absorventes estão sempre presentes nas proximidades das regiões de crescimento.

Em geral, a raiz primária possui maior diâmetro do que as demais, especialmente na

fase jovem da planta.

O sistema radicular é bastante superficial 20 – 40 cm do solo. Esta pequena

profundidade das raízes torna-o bastante sensível à deficiência hídrica, e torna a planta

com baixa eficiência em absorver nutrientes, exigindo por isso solos férteis ou boas

adubações, de modo que os nutrientes estejam próximos das raízes, em quantidades

suficientes e no momento adequando.

Caule: é herbáceo (haste), constituído por eixo principal, formado por uma sucessão

de nós e entre-nós. O primeiro nó constitui os cotilédones, o segundo corresponde à

inserção das folhas primárias e o terceiro, das folhas trifolioladas; a porção entre as

raízes e os cotilédones é o hipocótilo e entre os cotilédones e as folhas primárias, o

epicótilo.

Folhas: são simples e opostas nas folhas primárias; e compostas, constituídas de três

folíolos (trifolioladas), com disposição alterna, características das folhas definitivas.

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Quanto à disposição dos folíolos, um é central ou terminal, simétrico, e dois são laterais,

opostos e assimétricos. A cor e a pilosidade variam de acordo com a cultivar, posição na

planta, idade da planta e condições do ambiente.

Flores: São agrupadas em inflorescências do tipo rácimo axilar (no hábito de

crescimento indeterminado) e rácimo terminal (no hábito determinado). É uma planta

autógama, com taxa de cruzamento natural em torno de 2%. Apresentam cálice verde e

a corola é composta por cinco pétalas: uma mais externa e maior denominada

estandarte; duas laterais menores, estreitas, chamadas asas, e duas inferiores,

fusionadas, enroladas em espiral, envolvendo os órgãos reprodutores, denominadas de

quilha. O androceu é constituído de nove estames soldados na base e um livre,

denominado vexilar. O gineceu possui ovário comprido, é súpero, unicarpelar,

pluriovulado; o estilete é encurvado e o estigma é lateral, terminal. Quanto à coloração,

as flores podem ser branca, amarelada, rosada ou violeta.

Fruto: é um legume, deiscente, constituído de duas valvas unidas por duas suturas,

uma dorsal e outra ventral; a forma pode ser reta, arqueada ou recurvada e o ápice,

abrupto ou afilado, arqueado ou reto. A cor é característica da cultivar, podendo ser

uniforme ou apresentar estrias e variar de acordo com o grau de maturação (imaturo,

maduro e completamente seco): de verde, verde com estrias vermelhas ou roxas,

vermelho, roxo, amarelo, amarelo com estrias vermelhas ou roxas, até marrom.

Semente: exalbuminada, isto é, não possui albume, as reservas nutritivas estão

concentradas nos cotilédones. Constituída, externamente, de um tegumento ou testa,

hilo (cicatriz do pedúnculo), micrópila e rafe; internamente, de um embrião formado

pela plúmula, duas folhas primárias, hipocótilo, dois cotilédones e radícula.

Figura 1. Semente do feijão. 1.Cotilédone; 2.Radícula; 3.Plúmula; 4. Tegumento; 5. Hilo; 6. Micrópila;

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Pode ter várias formas: arredondada, elíptica, reniforme ou oblonga, e

tamanhos que variam de muito pequenas (<20g/100 sementes) a grandes (>40g/100

sementes) e apresentar ampla variabilidade de cores, variando do preto, bege, roxo,

róseo, vermelho, marrom, amarelo, até o branco. O tegumento pode ter uma cor

uniforme (cor primária) ou duas (cor primária e secundária), expressa na forma de

estrias, manchas ou pontuações; pode ter brilho ou brilho intermediário ou não ter brilho

(opaca).

6. FENOLOGIA

Fenologia é o estudo dos eventos periódicos da vida vegetal em função da sua

reação às condições de ambiente e sua correlação com aspectos morfológicos da planta.

Assim, percebe-se que o conceito de fenologia envolve o conhecimento de todas as

etapas de crescimento e desenvolvimento da vida vegetal como a germinação,

emergência, elaboração do aparato fotossintético, florescimento, aparecimento de

estruturas reprodutivas e maturação dos frutos e sementes.

O desenvolvimento do feijoeiro compreende duas grandes fases distintas,

denominadas de Fases Vegetativas e Reprodutivas, diferenciadas entre si pela

manifestação de diferentes eventos. A fase vegetativa tem seu início compreendido

entre a germinação até o aparecimento dos primeiros botões florais. A fase reprodutiva

transcorre desde a emissão dos botões florais até o pleno enchimento de vagens e a

maturação das sementes. Nessa fase evidencia-se notória sensibilidade à deficiência

hídrica e excesso de água.

6.1. Descrição dos Estádios Fenológicos

6.1.1. Estádio Vegetativo:

Estádio V0 (Germinação): após a absorção de água pela semente, inicia-se o

processo de germinação, caracterizado pelo aparecimento da radícula (geralmente pelo

lado do hilo). O feijão possui grande sensibilidade à falta de água após a semeadura.

Ainda, o feijoeiro não apresenta satisfatória tolerância à semeadura profunda.

Temperaturas inferiores a 12oC reduzem significativamente a taxa e a velocidade de

germinação das sementes. Por outro lado, valores de temperatura próximos a 25oC,

favorecem consideravelmente o processo referido.

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Estádio V1 (Emergência): a emergência é caracterizada pela presença dos

cotilédones acima da superfície do solo em processo de desdobramento da “alça” do

hipocótilo. A seguir, o epicótilo alonga-se e as folhas primárias, que já se encontravam

diferenciadas no embrião da semente, expandem-se.

Estádio V2 (Desdobramento das folhas primárias): a rapidez do desdobramento, a

conformação e o tamanho da folhas primárias são extremamente importantes para o

estabelecimento da cultura no campo por representar a sede inicial de conversão de

energia. Normalmente, o tamanho potencial das folhas primárias está relacionado com o

tamanho das sementes. Salienta-se também que o tamanho e a conformação das folhas

primárias podem ser reduzidos e afetados pela maior profundidade de semeadura, pela

incidência de pragas e fungos de solo, pela escassez de água, além de ser influenciada

pela integridade e vigor das sementes.

Estádio V3 (Emissão da primeira folha trifoliada): inicia-se quando a primeira

folha trifoliada ou verdadeira encontra-se plenamente desdobrada, o que pode ser

caracterizado pela constatação dos folíolos em posição horizontal. Nesse estádio, os

cotilédones encontram-se em fase final de exaustão e, freqüentemente, já sofreram o

processo de abscisão. Desta forma, a planta passa a depender diretamente dos nutrientes

presentes no solo. O período compreendido entre os estádios V1 e V3, conferem à planta

de feijão mais tolerância a estresses hídricos e baixas temperaturas, em níveis

moderados.

Estádio V4 (Emissão da terceira folha trifoliada): neste período, a terceira folha

trifoliada está plenamente desdobrada e tem início o processo de ramificação da planta.

O tipo de ramificação (principalmente o número e o tamanho dos ramos) depende de

inúmeros fatores, tais como genótipo (características da variedade), condições

ambientais, sistemas de produção adotados e densidade de semeadura, além de outros.

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Tabela 1. Estádios vegetativos do feijoeiro.

Estádios Vegetativos Início de cada etapa dias

V0 Germinação Sementes em condições de germinar 5

V1 Emergência 50% das plântulas c/ cotilédones acima do nível do solo 2-3

V2 Fls 1as 50% das plantas c/ folhas primárias abertas 4

V31a folha

trifoliolada50% das plantas c/ 1a folha trifoliolada aberta 5-9

V43a folha

trifoliolada50% das plantas c/ a 3a folha trifoliolada aberta 7-15

Fonte: Fernadez & Lopes (1986)

6.1.2. Estádio Reprodutivo:

Estádio R5 (Botões florais): esse estádio é caracterizado pelo aparecimento dos

primeiros botões florais. Nas variedades de hábito de crescimento indeterminado (II, III

e IV) o desenvolvimento vegetativo prossegue, mediante a emissão de novos nós, ramos

e folhas. O genótipo, a temperatura, restrições hídricas e fotoperíodo constituem-se nos

principais elementos determinantes do momento do aparecimento dos botões florais.

Estádio R6 (Florescimento): a abertura das primeiras flores define o presente

estádio. Nas plantas de hábito de crescimento determinado (TIPO I), a floração tem

início no último nó da haste principal e prossegue em sentido descendente. Nas plantas

de hábito de crescimento indeterminado (TIPOS II, III e IV), a abertura das flores segue

sentido ascendente. Quanto à necessidade de água, períodos de estresses hídricos de

uma semana por ocasião da floração podem acarretar queda de rendimento ao redor de

48%.

Estádio R7 (Início da formação das vagens): o presente estádio é caracterizado

pelo aparecimento das primeiras vagens, após a murcha da corola, apesar da planta

continuar emitindo novas flores, por tempo variável relacionado aos tipos de plantas

correspondentes. Deficiências hídricas nesse estádio proporcionam a diminuição da

produção pela redução da fotossíntese e do metabolismo da planta, pela queda de

vagens jovens (abortamento) e pela retração do tamanho das vagens em fase de

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crescimento. Perdas correspondentes a 58% podem ocorrer quando a limitação hídrica

ocorre no período efetivo de formação de vagens.

Estádio R8 (Enchimento das vagens): a etapa R8 inicia com o enchimento da

primeira vagem. Nesse estádio, o tamanho da vagem já se encontra definido e a

ocorrência de condições climáticas desfavoráveis, principalmente falta de água e

nutrientes, poderão concorrer para a redução da produção, em número e peso de grãos.

No final da presente etapa, evidencia-se o início do processo de pigmentação das

sementes e em seguida das vagens. No estádio R8 finaliza-se, normalmente, a emissão

de novas folhas por parte das variedades com hábito de crescimento indeterminado,

além de se observar o início do amarelecimento e queda das folhas inferiores da planta.

Estádio R9 (Maturidade das vagens): o referido estádio é caracterizado pela

mudança da cor das vagens (amarela ou pigmentada de acordo com a variedade). As

sementes adquirem sua cor e brilho final. O processo de senescência da planta

(amarelecimento e queda das folhas) se acelera. A evolução normal dessa etapa exige a

ausência ou baixa disponibilidade de água no sistema.

Tabela 2. Estádio reprodutivo do feijoeiro.

Estádios reprodutivos Início de cada etapa Dias

R5 Pré-floração 50% das pls c/ pelo menos 1 botão floral 9-11

R6 Floração 50% das pls c/ pelo menos 1 flor aberta 4-6

R7 Formação de vagens 50% das pls c/ pelo menos 1 vagem visível 8-9

R8 Enchimento das vagens 50% das pls c/ grão em enchimento na 1a vagem 18-24

R9 Maturação 50% das plantas c/ mudança de cor nas vagens 14-15

Fonte: Fernadez & Lopes (1986)

6.2. Hábito de Crescimento: Tipos de Plantas

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Os hábitos de crescimento são agrupados e caracterizados em quatro tipos

principais:

Tipo I - hábito de crescimento determinado, arbustivo e porte da planta ereto.

Haste principal e os ramos laterais terminando em inflorescência;

Talo principal resistente (pouco ramificado);

Pequeno porte (25 – 50 cm);

Ciclo precoce;

Período de florescimento reduzido;

Uniformidade de maturação de vagens;

Tipo II - hábito de crescimento indeterminado, arbustivo, porte da planta ereto e caule

pouco ramificado.

Haste principal de crescimento vertical, ramos laterais não numerosos e

geralmente curtos;

Satisfatório potencial produtivo;

Hábito de crescimento propicia adequada distribuição de flores e vagens na

planta (melhor qualidade);

Tipo III - hábito de crescimento indeterminado, prostrado ou semiprostado, com

ramificação bem desenvolvida e aberta.

Grande número de ramificações;

Guias longas + ramos laterais bem desenvolvidos = aptidão trepadora;

Período de florescimento amplo (15 a 20 dias);

Grande potencial de produção;

Grande desuniformidade de maturação das vagens e grande quantidade de

vagens localizadas na parte baixa da planta;

Tipo IV - hábito de crescimento indeterminado, trepador; caule com forte dominância

apical e número reduzido de ramos laterais, pouco desenvolvido.

Grande desenvolvimento da haste principal (dois a três metros), baixo no de

ramos laterais;

Grande no de nós presentes (30 nós) e acentuada dominância apical;

Floração se prolonga por semanas (Colheita parcelada);

Não são cultivadas no Brasil (exceção – produção de vagens verdes);

7. CLIMA

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7.1. Temperatura

Para que o feijoeiro possa atingir seu rendimento potencial, torna-se necessário

que a temperatura do ar apresente valores mínimo, ótimo e máximo como sendo 12ºC,

21ºC e 29ºC, respectivamente. Com relação à germinação do feijoeiro, valores de

temperatura em torno de 28°C  são considerados ótimos.

Se as baixas temperaturas ocorrerem imediatamente após a semeadura, podem

impedir, reduzir ou atrasar a germinação das sementes e a emergência das plântulas,

podendo resultar em baixa população de plantas e, conseqüentemente, baixa

produtividade. Durante o crescimento vegetativo, baixas temperaturas reduzem a altura

da planta e o crescimento de ramos, conduzindo à produção de pequeno número de

vagens por planta.

Alta temperatura talvez seja o fator climático que exerce maior influencia

sobre o aborto de flores e sobre o vigamento e a retenção final das vagens no feijoeiro,

sendo responsável pela redução no número de sementes por vagem. É importante

ressaltar que altas temperaturas também podem ser decisivas na ocorrência de diversas

enfermidades que acometem a cultura do feijão, principalmente se associada à alta

umidade relativa do ar.

O rendimento de grãos do feijoeiro é bastante afetado quando a temperatura do

ar, na floração, apresenta valores acima de 35°C. Da mesma forma, temperaturas do ar

abaixo de 12°C podem provocar abortamento de flores, concorrendo para um

decréscimo no rendimento do feijoeiro. Além disso, áreas que apresentem umidade

relativa e temperatura do ar acima de 70% e 35°C, respectivamente, podem provocar a

ocorrência de várias doenças.

7.2. Umidade do solo

A cultura do feijão requer boa disponibilidade de água no solo durante todo o

ciclo, principalmente nas etapas de germinação/emergência, floração e enchimento do

grão, as mais críticas com relação a este aspecto.

7.3. Exigências hídricas

A cultura exige um mínimo de 300 mm de precipitação pluviométrica bem

distribuídos durante o ciclo. É mais suscetível a déficit hídrico durante a floração e no

estádio inicial de formação das vagens. O período crítico ocorre 15 dias antes da

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floração. O déficit hídrico causa redução do rendimento devido ao menor número de

vagens/planta e, em menor escala, à diminuição do número de sementes/vagem.

O efeito negativo causado pela redução de água fornecida a cultura pode ser

minimizado conhecendo-se as características pluviais de cada região e o comportamento

das culturas em suas fases fenológicas, ou seja, semeando nos períodos em que a

probabilidade de redução da pluviosidade é menor durante o florescimento e

enchimento de grão.

7.4. Excesso de água no solo

A época de ocorrência do excesso de água no solo poderá ocasionar diferentes

tipos de prejuízos à cultura do feijão. Durante o período de estabelecimento da cultura, o

excesso de água no solo prejudica a germinação e limita o desenvolvimento das raízes,

tornando ainda mais superficial o deficiente sistema radicular do feijoeiro. Além disso,

pode favorecer a incidência de doenças radiculares, reduzindo a sobrevivência das

plântulas. Se o excesso de umidade ocorrer durante o crescimento vegetativo, a

superfície muito úmida do solo pode também favorecer a ocorrência de algumas

enfermidades da parte aérea. É comum ainda o alongamento excessivo da primeira

porção da haste principal do feijoeiro, o hipocótilo, tornando a planta mais sensível ao

acamamento.

As etapas de florescimento e frutificação são as mais sensíveis à má aeração

do solo. A inundação no período de florescimento por dois, quatro ou seis dias pode

ocasionar reduções na produção da ordem de 48%, 57% ou 68%, respectivamente.

Excesso de água no solo na fase de maturação do feijão pode ainda prolongar

o ciclo cultural e atrasar as operações da colheita, além de provocar a brotação e o

aparecimento de manchas no grão, principalmente em cultivares de hábito de

crescimento semiprostado ou prostado, nos quais as vagens podem ficar em contato com

o solo.

8. SOLO

O feijoeiro é uma cultura relativamente exigente no que diz respeito a

condições físicas e químicas do solo. Dessa forma, é importante a escolha da área onde

a cultura vai ser implantada para se obter o potencial máximo de produtividade da

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cultura. O feijoeiro pode ser cultivado em solos de textura variando de arenosa leve até

argilosa. Solos muito argilosos e com problemas de drenagem devem ser evitados. O

feijoeiro não tolera excesso contínuo de água no solo.

Também devem ser evitados solos argilosos com tendência a formação de

crosta superficial como também aqueles sujeitos a formação de camada compacta

subsuperficie (pé-de-grade) que interfere no crescimento radicular do feijoeiro e

conseqüentemente na produtividade final.

O feijoeiro deve ser cultivado em solos sem impedimentos físicos, de pH 5,5 a

6,0; de boa fertilidade e disponibilidade de água. Quanto menor o pH do solo, maior o

efeito de íons tóxicos (Al+++, Mn++, e H+) que limitam o crescimento radicular, o

desenvolvimento da parte aérea e a produção, menor a disponibilidade de nutrientes

para as plantas e menor fixação simbiótica de nitrogênio, resultando em menor

crescimento e menor rendimento de grãos.

A disponibilidade de nutrientes logo após a germinação é essencial para o

estabelecimento da cultura. Qualquer limitação no suprimento de nutrientes no período

logo após a germinação da semente atrasa e diminui a formação de raízes,

comprometendo o crescimento das plantas.

Solos com elevado teor de sais podem trazer sérios inconvenientes à

implantação de lavouras de feijão, uma vez que o feijoeiro é uma das espécies mais

sensíveis a elevados teores de sódio trocável e também à alta condutividade elétrica no

solo.

Cuidado especial deverá ser tomado com o controle da erosão nas lavouras,

pelo fato do feijão possuir um crescimento inicial muito lento, o solo fica

demasiadamente exposto à ação erosiva nesta fase, principalmente na semeadura das

“águas”, quando chuvas fortes são mais freqüentes.

Sempre que possível deve-se evitar áreas cultivadas recentemente com feijão.

A semeadura de feijão na mesma área pode favorecer a incidência de doenças de solo e

da parte aérea da cultura.

9. ADUBAÇÃO MINERAL E CALAGEM

Em relação à cultura do feijão, a quantidade de elementos minerais

encontrados nas diferentes partes da planta, por ocasião da colheita, é mostrada na

Tabela 3.

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Tabela 3. Quantidade, em Kg ha-1, de elementos minerais encontrados no feijoeiro.

Parte da Planta N P K Ca Mg S

Raízes 4,9 0,2 2,7 0,8 0,7 0,5

Hastes 7,7 0,4 9,3 4,4 2,0 1,2

Folhas 2,6 0,8 5,5 5,4 1,4 0,7

Vagens 7,2 1,0 10,1 3,0 1,4 0,7

Sementes 30,4 2,3 11,9 1,3 1,9 1,7

Planta toda 52,8 4,7 39,6 14,8 7,4 4,9

Fonte: Gallo e Miyasaka (1961)

Observa-se que o N e o K são absorvidos em maior quantidade, seguidos pelo

Ca, Mg, S e P. O N, P, K e S acumulam-se principalmente nas sementes, o Ca nas

folhas e o Mg nas hastes.

A prática da adubação depende de vários fatores, os quais devem ser

previamente analisados no sentido de aconselhar os agricultores a praticarem uma

adubação mais adequada, quanto aos aspectos agronômicos (que obtenha maior

eficiência dos fertilizantes) e econômico (que resulte em maior renda líquida ao

produtor). Uma recomendação de adubação que atenda a esses princípios deve ser

fundamentada nos seguintes aspectos: 1) em resultados de análises de solo,

complementadas pela análise de planta; 2) numa análise do histórico da área; 3) no

conhecimento agronômico da cultura; 4) no comportamento ou tipo da cultivar; 5) no

comportamento dos fertilizantes no solo; 6) na disponibilidade de capital do agricultor

para aquisição de fertilizantes; e 7) na expectativa de produtividade. Portanto, a

recomendação de adubação para o feijoeiro, bem como para qualquer outra cultura,

depende da análise cuidadosa de todos esses fatores, ressaltando que não existe uma

regra geral a seguir nas recomendações de adubação.

Quanto à cultura do feijoeiro, a quantidade de fertilizantes varia de acordo com

a época de plantio, quantidade e tipo de resíduo deixado na superfície do solo pela

cultura anterior e com a expectativa de rendimento. Geralmente, varia de 60 a 150 kg

ha-1 de nitrogênio; de 60 a 120 kg ha-1 de P2O5 , dependendo, evidentemente, do teor

disponível de fósforo no solo, das condições de risco e da expectativa de rendimento de

grãos, e de 30 a 90 kg ha-1 de K2O.

Page 16: Apostila Feijão1

Para correção do solo em termos de cálcio, magnésio, enxofre, pH e

precipitação do alumínio na forma de hidróxido, normalmente utiliza-se a calagem. A

calagem é uma técnica economicamente viável devido ao baixo custo do calcário.

10. FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO

O feijoeiro como outras leguminosas de interesse agrícola, pode utilizar

nitrogênio atmosférico por intermédio da associação simbiótica com as bactérias dos

nódulos radiculares – os rizóbios. No caso específico do feijão, a simbiose pode ocorrer

com as seguintes espécies de bactéria: Rhizobium leguminosarum phaseoli, R tropici, R.

gallicum e R. giardinii.

Nas zonas produtoras, os feijoeiros normalmente exibem nódulos nas raízes,

comprovando a presença de rizóbios no solo. Isso não significa, necessariamente, que a

fixação simbiótica esteja resolvendo o problema de fornecimento de nitrogênio aos

feijoeiros, tornando dispensável a adubação nitrogenada. Na realidade, a

experimentação agronômica tem revelado que, em muitos casos, a aplicação do

fertilizante nitrogenado é necessária quando almejamos alta produtividade da cultura, a

despeito da presença de rizóbios, comprovada pela nodulação. Diversos fatores podem

estar contribuindo para essa situação como: condições química e física do solo, cultivar,

estirpe de rizóbio, condições climáticas e rizóbios já existentes no solo.

Então, a inoculação de bactérias do grupo dos rizóbios, capazes de fixar o

nitrogênio atmosférico e fornecê-lo à planta, é uma alternativa que pode substituir, ainda

que parcialmente, a adubação nitrogenada. Resultados indicam que a cultura do

feijoeiro, em condições de campo, pode se beneficiar do processo da fixação biológica

de nitrogênio (FBN) alcançando níveis de produtividade de até 2.500 kg ha-1.

O inoculante brasileiro, durante muito tempo, foi produzido utilizando-se

bactérias que eram obtidas no exterior e testadas pelas instituições de pesquisa no

Brasil. Com a evolução destes estudos, revelou-se a inequação destas estirpes aos solos

tropicais, uma vez que estão sujeitas a um elevado grau de instabilidade genética,

comprometendo sua capacidade de fixar nitrogênio. Este fato pode explicar, pelo menos

parcialmente, a decepção de muitos agricultores com o uso do inoculante nesta cultura

até bem recentemente.

Atualmente, o inoculante comercial para o feijoeiro no Brasil é produzido com

uma espécie de rizóbio adaptada aos solos tropicais, o Rhizobium tropici, resistente a

Page 17: Apostila Feijão1

altas temperaturas, acidez do solo e altamente competitiva, ou seja, em condições de

cultivo favoráveis é capaz de formar a maioria dos nódulos da planta, predominando

sobre a população de rizóbio presente no solo.

A eficiência da FBN, entretanto, depende das condições fisiológicas da planta

hospedeira que fornece a energia necessária para que a bactéria possa realizar

eficientemente este processo. Além da calagem, é importante proceder a correção do

solo com os demais nutrientes. Ressalta-se a importância do fornecimento de fósforo,

deficiente na maioria dos solos tropicais, o qual tem efeito marcante sobre a atividade

da nitrogenase, devido ao alto dispêndio energético promovido pela atividade de FBN.

O molibdênio é um micronutriente que tem efeito marcante sobre a eficiência da

simbiose, sendo um constituinte estrutural da enzima nitrogenase, que, dentro do

nódulo, executa a atividade de FBN. A aplicação foliar de molibdênio promove

aumentos de produtividade em feijoeiro inoculado, sendo que há vários produtos

disponíveis no mercado para esta finalidade.

Apesar de o feijoeiro ser uma planta com grande capacidade de

aproveitamento do nitrogênio disponível no solo, a aplicação de adubos nitrogenados

tende a afetar negativamente este processo. Solos com maiores teores de matéria

orgânica, que liberam nitrogênio lentamente, podem beneficiar a planta do feijoeiro

sem, contudo, reduzir a sua capacidade de fixação. Dentre os fatores ambientais mais

importantes para o processo de fixação biológica de nitrogênio, a ocorrência de

deficiências hídricas, ou seja, seca durante o ciclo de cultivo tem efeito negativo em

diferentes etapas do processo de nodulação e na atividade nodular, além de afetar a

sobrevivência do rizóbio no solo. A ocorrência de altas temperaturas afeta, também, a

sobrevivência do rizóbio no solo, o processo de infecção, a formação dos nódulos e

ainda a atividade de FBN.

O procedimento de inoculação das sementes com rizóbio é simples, bastando

misturar as sementes com o inoculante de rizóbio para o feijão. Este inoculante é,

geralmente, vendido em embalagens contendo a bactéria em veículo turfoso, o mais

recomendado atualmente pela pesquisa.

Deste modo, recomenda-se que a inoculação seja feita à sombra,

preferencialmente nas horas mais frescas do dia, utilizando uma solução açucarada a

10% como adesivo, ou outros produtos como goma arábica a 20%. Mistura-se 200 a

300 ml desta solução ao inoculante (500 g) até formar uma pasta homogênea. Em

seguida, mistura-se esta pasta a 50 kg de sementes de feijão até que fiquem totalmente

Page 18: Apostila Feijão1

recobertas com uma camada uniforme de inoculante. Deixar as sementes inoculadas

secando a sombra, em local fresco e arejado, realizando o plantio até, no máximo, dois

dias após.

11. PREPARO DA ÁREA

Esta operação pode ser realizada manualmente ou com trator de esteiras ou de

pneus, equipados com lâmina e/ou correntão.

O enleiramento deve ser em nível, com equipamentos apropriados, para evitar

a perda da camada superficial do solo. Logo após, deve-se proceder a retirada de raízes

e galhos, a fim de facilitar as operações subseqüentes.

12. PREPARO DO SOLO

Um dos fatores que mais contribui para a obtenção de bons rendimentos na

cultura do feijão é o preparo do solo. Esta operação deve ser realizada de maneira

adequada, a fim de facilitar a operação do plantio, favorecer a geminação das sementes,

propiciar melhor desenvolvimento radicular e promover o controle natural das ervas

daninhas.

12.1. PRÉ-INCORPORAÇÃO DE RESTOS CULTURAIS E INVASORAS

Esta operação consiste na passagem de grade niveladora ou aradora antes da

aração, com o objetivo de desenraizar e triturar os restos de culturas e invasoras

existentes na área. Com esta operação, a matéria orgânica decompõe-se mais

rapidamente, devido à melhor distribuição no perfil do solo. Posteriormente, na aração,

o arado penetrará mais facilmente no solo, permitindo um preparo mais profundo e

homogêneo. O solo deve ser arado numa profundidade de 20 a 25 cm, para permitir um

bom desenvolvimento inicial da cultura livre de plantas daninhas.

13. CUTIVARES

Dentre os insumos que concorrem para aumentar a

produtividade da cultura do feijoeiro, a utilização de uma cultivar

Page 19: Apostila Feijão1

melhorada ou tradicional, que se adapte às condições da região, é

uma das tecnologias de mais baixo custo para o agricultor.

Na escolha da cultivar a ser plantada deve-se dar atenção a

sua recomendação para o Estado, ponderando sobre as seguintes

características: produtividade, resistência ou tolerância às principais

doenças e pragas da região e a aceitação comercial do tipo de grão

pelo mercado consumidor.

Vale salientar o grande número de variedades de feijão

(Phaseolus vulgaris L.), tais como feijão-preto, feijão-mulatinho, feijão-

carioquinha, feijão-pardo, feijão-roxinho, entre outros. Entre as

culturas de grãos, o feijoeiro é a que exibe o mais alto nível de

variabilidade quanto à cor, tamanho e forma da semente, sendo que

estas características influenciam as pessoas quanto à preferência por

determinada variedade.

No Brasil há maior aceitação dos feijões de sementes

pequenas e opacas. O feijão preto é mais popular no Rio Grande do

Sul, Santa Catarina, sul e leste do Paraná, Rio de Janeiro, sudeste de

Minas Gerais e sul do Espírito Santo. No restante do país, este tipo de

grão tem pouco ou quase nenhum valor comercial ou aceitação. O

feijão do tipo carioca é aceito em praticamente todo o país.

No Brasil, a recomendação de novos cultivares de feijão tem sido feita em

função de suas características agronômicas. Algumas delas são as produtividades e

resistências às principais doenças que atacam o feijoeiro. Porém, nos últimos anos os

pesquisadores do Programa de Melhoramento Genético do Feijoeiro têm reconhecido a

importância das características físicas e sensoriais dos grãos de cultivares de feijão na

sua aceitação pelos consumidores.

Tabela 4. Características das principais variedades comerciais no Brasil.Variedade Grupo Origem

Hábito de crescimento INovo Jalo Manteiga Embrapa A & FOuro Branco Branco CIAT

Hábito de crescimento IIRudá Carioca CIAT

Hábito de crescimento IIIAporé Carioca Embrapa A & F

Page 20: Apostila Feijão1

Bambuí Mulatinho Embrapa A & FRoxo 90 Roxo ESALJalo EEP 558 Manteiga IPEACO/EEPBR-IPAGRO Preto Embrapa A & FFonte: Dourado Neto & Fancelli (2000).

14. ÉPOCAS E SISTEMAS DE PLANTIO

No Brasil, o feijoeiro é cultivado de norte a sul, em diferentes épocas e

sistemas de plantio, constituindo não somente cultura de subsistência como também

ocupando posição de destaque, atualmente, como alternativa para agricultura

empresarial. Neste caso, via de regra, as lavouras são irrigadas.

Na outra situação, a cultura fica bastante vulnerável às chuvas, tanto à falta

desta, em períodos críticos (como floração e enchimento de grãos), e/ou a sua

ocorrência por ocasião da colheita. Daí, a grande importância de efetuar-se o plantio nas

épocas menos sujeitas a esses fatores.

Quanto à semeadura, as épocas recomendadas concentram-se, basicamente, em

três períodos, como mostra a Tabela 5.

Tabela 5. Calendário de plantio, colheita e regiões de concentração.Safras Plantio Colheita Regimes de Concentração

1a “águas” Ago/nov. Nov/abr Sul, Sudeste, BA

2a “seca” Jan./mar Abr/jul NE, Sudeste, Sul

3a “inverno” Abr./jul Ago/out MG, GO, SP, BAFONTE: CONAB (2004)

Os sistemas de plantio recomendados são solteiro e consorciado, sendo este

último aconselhável apenas para os agricultores que cultivam pequenas áreas. Dessa

forma, aproveitam ao máximo os limitados recursos de que dispõem, diminuem os

riscos de insucesso da cultura, dispõem de maiores opções na dieta familiar; obtêm

maior eficiência no uso da terra e melhor conservação do solo.

O consórcio pode ser feito com diversas culturas, como café, mandioca, cana-

de-açúcar, palma forrageira e algodão. A cultura mais comumente utilizada é o milho,

cujo consórcio pode ser feito seguindo diferentes arranjos de plantas e diferentes

Page 21: Apostila Feijão1

populações, conforme a maior ou menor importância de uma ou outra cultura para o

produtor.

Quando o milho for considerado cultura principal, recomenda-se: 1) que

sejam utilizadas 40.000 plantas de milho ha-1, fileiras espaçadas de 1 m, 4 plantas m-1; 2)

que sejam utilizadas 100 a 120 mil plantas de feijão, quando este for plantado na mesma

época que o milho, sendo 10 a 12 plantas m -1 e nas linhas do milho; e, caso o feijão seja

plantado após a maturação (plantio de substituição), utilizar 200 a 240 mil plantas de

feijão ha-1, sendo 10 a 12 plantas m-1.

Feijão e milho forem = importantes: devem ser utilizadas as mesmas

populações citadas no parágrafo anterior, com as fileiras espaçadas de 0,5 m, sendo duas

de milho alternadas com duas de feijão, no plantio simultâneo, e três de feijão, no

plantio de substituição.

Maior interesse na cultura do feijão : deve-se aumentar o número de suas

fileiras e reduzir as do milho, mantendo-se 4 a 5 plantas de milho m-1 e 10 a 12 plantas

de feijão m-1.

Cultivo Solteiro: populações de 200 mil a 240 mil plantas ha-1. Isto é obtido

com fileiras espaçadas de 0,5 m e com 10 a 12 plantas m-1 de linha.

Normalmente, utilizam-se 45 a 120 kg de sementes ha-1, dependendo da

cultivar empregada. Para se calcular a quantidade de sementes a ser utilizada num

hectare, pode-se empregar a seguinte fórmula:

Q= D X P X 10

PG X E

Q= quantidade de sementes, em kg ha-1; D= no pls m-1 linear; P= Peso de 100

sementes (grs); PG= Poder germinativo (%); E= espaçamento entre fileiras (m);

A densidade, ou o número de plantas por unidade de área, é resultado da

combinação de espaçamento entre fileiras de plantas e número de plantas por metro de

fileira. Espaçamentos de 0,40 a 0,60 m entre fileiras e com 10 a 15 plantas por metro,

em geral proporcionam os melhores rendimentos

O gasto de sementes varia em função de diferentes fatores: a) espaçamento

entre fileiras; b) no de plantas m-1 de fileira; c) massa das sementes; d) poder

germinativo. Portanto, considerando esses fatores, verifica-se um gasto que varia de 45

a 120 kg ha-1.

Page 22: Apostila Feijão1

A profundidade de semeadura pode variar conforme o tipo de solo. Em geral

recomenda-se de 3-4 cm para solos argilosos ou úmidos e de 5-6 cm para solos

arenosos.

15. MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

Por ser uma cultura de ciclo relativamente curto, o feijoeiro é bastante sensível

à competição, sobretudo nas fases iniciais de desenvolvimento. O período em que as

plantas daninhas causam maiores danos compreende os primeiros 30 dias após a

emergência (DAE), podendo se estender até 40 (DAE) para cultivares de ciclo mais

tardio.

Na estratégia de controle das plantas daninhas, devem estar associados o

melhor método e o momento oportuno, antes do ponto crítico de competição (PCC).

Existem quatro métodos básicos para se controlar as plantas daninhas: controle

cultural, o controle mecânico, o controle biológico e o controle químico.

O controle cultural consiste na utilização de medidas e procedimentos

objetivando a prevenção de infestações e disseminação de plantas daninhas, bem como

o fortalecimento da capacidade competitiva da cultura, representada pelo rápido

estabelecimento e desenvolvimento da espécie comercial.

Os métodos mecânicos mais utilizados referem-se a capina manual e ao cultivo

mecânico (tração animal = um a dois ha/dia e tratorizado = um a dois ha/h). A capina

manual é empregada em áreas pequenas (inferiores a 10 ha), sendo destinada a

pequenos produtores e a lavoura de subsistência. Por outro lado, o controle de plantas

daninhas baseado no uso de cultivadores mecânicos, possibilita a obtenção de maior

rendimento operacional.

O método químico é representado pelo uso de herbicidas, cuja eficiência de

controle é dependente de fatores técnicos, econômicos e climáticos. Em decorrência de

seu custo o emprego de herbicidas tem proporcionado resultados econômicos

satisfatórios em lavouras de feijão onde o rendimento tem se mostrado superior a 1.200

kg ha-1 (20 sc ha-1).

Em áreas comerciais não é possível controlar as plantas daninhas apenas com

métodos mecânicos; assim, é utilizada a integração dos métodos mecânico, cultural,

como espaçamento e densidade, e químico, pelo uso de herbicida.

Page 23: Apostila Feijão1

16. IRRIGAÇÃO

A irrigação por aspersão, nos sistemas: convencional, autopropelido e pivô

central, tem sido o método mais utilizado na cultura do feijoeiro. Em menor escala

também têm sido utilizadas as irrigações por sulcos e a subirrigação em solos de

várzeas. Considerando-se o método de irrigação por aspersão, o sistema pivô central é o

mais apropriado para irrigar áreas individuais maiores e, por isto mesmo, é o mais usado

na cultura do feijoeiro em terras altas na região dos Cerrados, visto que a lucratividade

final obtida com esta cultura depende, entre muitos fatores, do tamanho da área

plantada.

A irrigação por sulcos tem sido usada na cultura do feijoeiro, tanto em terras

altas como em várzeas sistematizadas e drenadas. Os sulcos normalmente apresentam a

forma de V, com 0,15 a 0,20 m de profundidade e 0,25 a 0,30 m de largura. O

espaçamento entre sulcos depende da textura do solo e do perfil de umedecimento. Para

o feijoeiro, geralmente é utilizado o espaçamento de 0,9 a 1,2 m, com duas linhas de

plantas entre os sulcos.

A subirrigação é mais apropriada para terras baixas ou solos de várzeas e, por

isso mesmo, funciona como uma drenagem controlada. Neste sistema, a umidade atinge

as raízes das plantas por meio da ascensão capilar. Em várzeas, o lençol freático deve

ser mantido a uma profundidade tal que permite obter a melhor combinação entre água e

ar na zona radicular. O manejo da água de irrigação e/ou a drenagem reveste-se de

fundamental importância, uma vez que a planta é extremamente sensível aos excessos

de água e, da mesma forma, à toxidez de alguns elementos químicos comuns nesses

solos.

17. PRINCIPAIS PRAGAS

Dentre as principais pragas com ocorrência generalizada nas regiões

produtoras incluem Mosca-branca (Bemisia tabaci); Vaquinhas (Diabrotica speciosa);

Cigarrinha-verde (Empoasca kraemeri); Ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus);

Lagarta das vagens (Elasmopalpus lignosellus); Larva minadora (Liriomyza spp.);

Tripes (Calyothrips spp).

CONTROLE:

Page 24: Apostila Feijão1

Tecnologias de manejo integrado de pragas do feijoeiro (MIP-Feijão), se bem

implementadas, podem reduzir, em média, 50% a aplicação de químicos, sem aumentar

o risco de perdas de produção devido ao ataque de pragas.

18. PRINCIPAIS DOENÇAS

Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum ); Antracnose (Colletotrichum

lindemuthianum); Mancha angular (Phaeoisariopsis griseola); Ferrugem (Uromyces

appendiculatus); Mancha de Alternaria (Alternaria sp); Oídio (Erysiphe polygoni);

Crestamento Bacteriano Comum (Xanthomonas campestris); Mosaico dourado que

tem como vetor a mosca branca e o Mosaico comum; Carvão (Microbotryum phaseoli.

sp).

CONTROLE:

Para o controle das doenças causadas por fungos existe no mercado vários

produtos registrados, que aliados ao bom manejo cultural apresentam bons resultados no

controle destas enfermidades. Além disso, muitos cultivares também apresentam

resistência a algumas doenças.

19. COLHEITA E BENEFICIAMENTO

A colheita do feijão é feita manualmente, ou mecanicamente ou por um

combinação de colheita mecânica e colheita manual.

Na colheita totalmente manual, as plantas são arrancadas quando o produto

atinge teor de umidade na faixa de 30 a 35 % em base úmida. O produto é enleirado no

próprio campo para a secagem ao sol. Quando o produto atinge teor de umidade na faixa

de 15 a 20%, ele é recolhido e colocado sobre terreiros ou lonas onde é debulhado

geralmente por meio de batedura utilizando-se varas flexíveis.

Na colheita totalmente mecânica do feijão são utilizadas máquinas

arrancadoras e máquinas recolhedoras. As máquinas arrancadoras tem a função de

Page 25: Apostila Feijão1

arrancar o produto e enleirá-lo. Essas máquinas são acopladas ao trator e acionadas pela

tomada de potência (TDP). As máquinas recolhedoras trabalham recolhendo o material

de cada linha individualmente. Elas trabalham acopladas a um trator e são acionadas

pela TDP.

Quando a colheita é feita utilizando-se uma combinação de colheita mecânica

e colheita manual as opções são as seguintes:

arranquio manual e recolhimento mecanizado

arranquio manual, recolhimento manual e trilha mecanizada

As máquinas trilhadoras, utilizadas no sistema de combinação entre colheita

manual e colheita mecânica, são máquinas estacionárias acionadas pela TDP do trator,

responsáveis pela trilha, separação e limpeza do feijão. A capacidade de trilha das

máquinas existentes no mercado geralmente atingem a capacidade de até 30 sacas por

hora.

Conforme a colheita, o beneficiamento do feijão também se constitui numa

operação de grande importância, pois os métodos de colheita não proporcionam um

produto final limpo e padronizado em condições de ser comercializado. É necessário

que o produto colhido passe por um processo de limpeza para melhorar a pureza,

germinação e vigor. O beneficiamento é feito, geralmente, por dois equipamentos

principais: a máquina de ar e peneira e a máquina densimétrica, que possui mais

recursos para separar impurezas de tamanho e densidade próximos aos da semente.

Após o beneficiamento, o feijão armazenado, destinado ao plantio ou ao consumo, deve

receber tratamentos especiais para evitar sua depreciação.

A qualidade final do feijão é influenciada pelas condições do armazém e pelas

condições iniciais dos grãos. Os cuidados devem começar na lavoura, com providências

contra danos mecânicos, ataques de insetos e germinação na vagem. Bem como, a

limpeza dos equipamentos de trilha, de transporte e o local de armazenamento, para

eliminar focos de contaminação.

20. EXPURGO

Antes de ser destinado ao mercado ou ao armazém, o feijão deve ser

submetido ao expurgo com fosfina (fosfeto de alumínio), para controle do caruncho, à

base de três pastilhas para cada 15 sacos do produto.

Page 26: Apostila Feijão1

O material a ser expurgado deve ser coberto com lona impermeável e, após

120 horas da distribuição das pastilhas, ser lentamente descoberto.

21. ARMAZENAMENTO

O local de armazenamento do feijão deve ser seco, ventilado e completamente

limpo, livre de quaisquer resíduos de outras safras, mesmo que de outras culturas.

A sacaria não deve ficar em contato direto com o piso, e as janelas, portas e

outras aberturas devem ser protegidas com telas.

22. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DOURADO NETO, D.; FANCELLI, A. L. Produção de feijão. Guaíba: Agropecuária,

2000. 385 p.

THUNG, M. D. T.; OLIVEIRA, I. P. de. Problemas abióticos que afetam a produção

do feijoeiro e seus métodos de controle. EMBRAPA-CNPAF, 1998. 172 p. :il.

VIEIRA, C.; PAULA JUNIOR, T. J. de; BORÉM, A. FEIJÃO: aspectos gerais e

cultura no Estado de Minas. Viçosa: UFV, 1998. 596 p.:il.