43
  2014 Material Didático n.2 Direito Penal   Teoria Geral do Crime Produzido por Gisele Alves

Apostila- Teoria Geral do Crime(1).pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 2014

    Material Didtico n.2 Direito Penal Teoria Geral do Crime

    Produzido por Gisele Alves

  • INTRODUO NOES FUNDAMENTAIS

    Cdigo Penal se divide em:

    PARTE GERAL

    Art. 1 ao art. 120, CP

    PARTE ESPECIAL

    Art. 121 ao art. 361, CP

    CONCEITO de Direito Penal

    Conjunto de normas que descrevem condutas proibidas e suas respectivas sanes. Neste conjunto h ainda normas no incriminadoras com diversas finalidades.

    Cleber Masson (2012, p.3) afirma Direito Penal o conjunto de princpios e leis destinados a combater o crime e a contraveno penal, mediante a imposio da sano penal.

    As normas penais podem ser como afirmamos:

    Normas incriminadoras So aquelas que descrevem condutas proibidas (preceito primrio da norma) e a sano correspondente (preceito secundrio da norma). Dentre estas existem as normas incriminadoras em branco que possuem seu preceito primrio (definio da conduta criminosa) incompleto e, portanto, precisam da complementao de outra norma. A norma penal em branco pode ser homognea ou em sentindo amplo, ou heterognea ou em sentido estrito. Na primeira hiptese o complemento se origina da mesma fonte legislativa que editou a norma em branco (Ex. art. 237 do CP), j no segundo caso o completo oriundo de fonte distinta da norma em branco (Ex. art. 33, caput da Lei n 11.343/2006 - complemento dado pelo poder executivo ANVISA).

    Norma no incriminadora diretiva (define princpios)

    Norma no incriminadora de validade ou de aplicao (define a validade de outras normas)

    Norma no incriminadora explicativa (define um conceito)

    Norma no incriminadora permissiva justificante (excludentes de ilicitude)

    Norma no incriminadora exculpante (excludentes de culpabilidade)

    Caractersticas da Norma Penal

    1) Exclusividade

    Apenas a lei (ato emanado do Poder Legislativo Federal) que tenha natureza penal pode descrever

    crimes e suas respectivas sanes.

  • 2) Imperatividade

    Norma Penal obrigatria, todos esto a ela subordinados independente de sua vontade.

    3) Generalidade

    A norma genrica, no pode ser casusta. Deve ser o mais abrangente possvel, pois se destina a punir

    todas as pessoas.

    4) Bilateralidade

    Ao mesmo tempo em que protege direitos/valores, tambm gera obrigaes/deveres.

    5) Irrefragabilidade

    A revogao de uma norma penal deve ser feita por outra lei.

    FINALIDADE do Direito Penal

    A principal finalidade proteger/tutelar os bens jurdicos mais relevantes, como a vida, o patrimnio, a liberdade, honra, paz pblica, etc.

    Caractersticas do Direito Penal O Direito Penal uma cincia: cultural (classe das cincias do dever ser), normativo (objeto de estudo so as normas-lei), valorativo (valoriza hierarquicamente suas normas), finalista (finaliza proteo dos bens jurdicos fundamentais), autnomo, sancionador (no cria bens jurdicos, mas oferece tutela penal para bens disciplinados por outros ramos do direito), constitutivo (excepcionalmente protege bens no regulados em outros ramos do direito ex. uso indevido de drogas) e por fim fragmentrio (no tutela todos os valores, somente os mais relevantes socialmente).

    Direito Penal OBJETIVO e SUBJETIVO

    O direito penal objetivo o conjunto de normas (regras e princpios) devidamente positivados, que se incumbem da definio dos comportamentos delituosos e da sano correspondente ( pena ou medida de segurana).

    J o direito penal subjetivo consiste no direito de punir do Estado ou ius puniendi. Ao estudarmos o direito penal subjetivo, observamos o direito de que goza o Estado de exigir do infrator que se submeta

  • SUJEITOS do Delito:

    Sujeito ATIVO

    Sujeito ativo quem pratica ou contribui para a conduta descrita na Norma Penal Incriminadora.

    A Pessoa Jurdica pode ser sujeito ativo de um crime? Em que pese entendimentos em contrrio, na atualidade tem prevalecido tal possibilidade, em razo do que est definido nas seguintes normas: artigos 173, 5 e 225, 3, ambos da CF, alm da lei 9605/98 (Lei de crimes ambientais, que previu expressamente tal possibilidade.) O STJ j se manifestou pela possibilidade dos entes fictcios serem sujeitos ativos de crimes. (REsp. 564.960, j.2-6-2005) Classificao de Crimes quanto o Sujeito ATIVO:

    - Crime Comum: pode ser cometido por qualquer pessoa. O legislador no faz restries em relao a sua autoria. A maioria dos crimes do Cdigo Penal Comum. Ex.: homicdio, roubo, estelionato, - Crime Prprio: o legislador restringe a sua autoria a pessoas ou grupos determinados (sujeito ativo possui qualidade especial definida no tipo penal). Neste crime admite-se o concurso de pessoas, tanto na espcie co-autoria, assim como autoria e participao, incluindo-se assim pessoas que no preencham as caractersticas da autoria prevista. (regra do art. 30 do CP) Ex. Crime de peculato (Art. 312) e Crime de infanticdio (Art. 123, CP).

    - Crime de Mo Prpria: legislador restringe a sua autoria a pessoas ou grupos determinados no tipo penal. Admite o concurso de pessoas, mas no na modalidade co-autoria, somente admitindo participao.

    Ex. Crime de falso testemunho ou falsa percia (342, caput, do CP). - Crime Monossubjetivo: Podem ser cometidos por um s agente. Nestes o concurso de pessoas ser eventual e no obrigatrio. Ex. Homicdio, Roubo, Furto, Estupro... (a maioria das infraes) - Crime Plurissubjetivo: Exigem o concurso obrigatrio de agentes para sua configurao tpica. Ex. Quadrilha ou bando (art.288 do CP).

    Sujeito PASSIVO

    aquele que sofre as conseqncias do crime, sendo titular de algum bem juridicamente lesado, cuja ofensa constitui a essncia do delito, ou seja, a vtima do crime.

    A doutrina faz distino entre sujeito passivo material e sujeito passivo formal. O primeiro seria o titular do bem protegido, enquanto que o segundo seria sempre o Estado.

  • Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo de um crime, inclusive entes sem personalidade jurdica, como famlia, coletividade, pessoa fsica ou jurdica.

    O morto no sujeito passivo de crime. Todos os crimes previstos envolvendo o morto dizem respeito a outros entes.

    Ex. Calnia contra o morto - O sujeito passivo a famlia do morto.

    Ex. Vilipndio de cadveres O sujeito passivo a coletividade.

    Obs: Animais tambm no podem ser sujeitos passivos, pois a titularidade do direito no deles, e sim da coletividade. Podem ser objeto material do crime, como na Lei de crimes ambientais.

    Sujeito Passivo se divide em:

    - Sujeito Passivo Determinado.

    Quando possvel conhecer a vitima que sofreu a ao penal. Ex.: Homicdio, estupro, furto

    - Sujeito Passivo Indeterminado

    Quando a ao criminosa lesa um bem que no de uma pessoa(as) determinada(as). So bens que pertencem coletividade. Esses crimes em que o sujeito passivo indeterminado so chamados de delitos difusos. Ex.: Crimes contra o meio ambiente. Ex.: Crimes contra o consumidor. Ex.: Crime contra ordem tributria.

    OBS:

    A Pessoa Jurdica pode ser sujeito passivo de um crime, mas ateno, no qualquer crime, depende da natureza do delito. Por exemplo, a Pessoa Jurdica no pode ser vtima de um homicdio, estupro, etc. No entanto, pode ser vtima de um crime contra o patrimnio, estelionato, de um crime de dano, etc.

  • OBJETOS do Delito:

    3 - Objetos do crime

    3.1) Objeto Jurdico

    3.2) Objeto Material

    3.1 Objeto Jurdico

    o bem jurdico tutelado na Norma Penal (vida, patrimnio, sade pblica, etc).

    Ex.: Crime de homicdio, a vida o bem tutelado. Mas no qualquer vida, pois h vida humana e animal. O bem tutelado a vida humana, mas no crime de homicdio o objeto protegido a vida humana extra-uterina, pois a vida humana uterina bem jurdico do crime de aborto.

    Ex.: Crime contra o patrimnio = o bem jurdico protegido o patrimnio

    Ex.: Crime de estupro = o bem jurdico protegido a liberdade sexual.

    Ex.: Crime Peculato = o bem jurdico protegido o patrimnio pblico, o errio.

    3.2 Objeto material

    a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa do sujeito ativo. O objeto material no o valor social abstratamente protegido. O objeto material a coisa corprea sob a qual incide a ao do sujeito ativo.

    Ex: No homicdio o objeto material o corpo humano com vida.

    Ex: No roubo o objeto material o bem subtrado mediante violncia ou grave ameaa (pode ser um celular, carro, etc.)

    Ex.: Crime de estupro = o objeto material o corpo vivo de pessoa.

    Ex.: Crime do art.155 5 = o objeto material o veculo automotor.

  • TEORIA do Crime

    CONCEITO de crime

    Conceito analtico

    Pelo conceito analtico procura-se analisar o crime a partir dos elementos que compem uma conduta injusta.

    CRIME Conceito Tripartido

    Fato tpico + Ilcito. + Culpvel.

    Injusto penal

    Teorias da Ao

  • FATO Tpico

    FATO TPICO o fato humano que se enquadra perfeitamente aos elementos da descrio tpica. O fato

    tpico refere-se existncia de uma conduta que gera um resultado criminoso (penalmente relevante),

    dolosa ou culposa, obrigatoriamente descrita em uma norma penal. Tal resultado deve estar ligado a esta

    conduta por um elo, chamado de nexo de causalidade. O Fato tpico decorrncia do Princpio da

    Reserva Legal. No h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao legal (art. 1

    do CP // art. 5 XXXIX, CF). Trata-se do enquadramento de um fato a uma norma incriminadora.

    O Fato Tpico, segundo uma viso Finalista, composto pelos seguintes elementos:

    - Conduta: dolosa ou culposa; comissiva ou omissiva;

    - Resultado;

    - Nexo de Causalidade (ligao entre a conduta e o resultado);

    - Tipicidade: tipicidade formal + tipicidade material ou tipicidade formal + tipicidade conglobante.

    A Teoria Finalista surgiu contrariando alguns aspectos da Teoria Causalista. Para a Teoria Finalista, o fato tpico no apenas formado por elementos objetivos, fazem parte dele tambm os elementos subjetivos.

    Para os finalistas a conduta um comportamento humano dirigido a uma finalidade. O dolo e a culpa integram o fato tpico. Para os finalistas, toda conduta tem uma finalidade. Ningum pratica uma conduta sem finalidade.

    CONDUTA

    Conduta toda ao ou omisso humana, consciente e voluntria, dolosa ou culposa, dirigida a uma determinada finalidade tpica ou no, mas que produz ou tenta produzir um resultado previsto em lei como crime.

    Obs: A ao animal s interessa ao direito penal quando sua ao for provocada pelo homem, ou seja, quando o animal utilizado como instrumento para o crime pelo homem. Neste caso a ao ser considerada humana.

    Obs: A conduta tanto nos delitos dolosos como culposos deve ser consciente.

    Teorias sobre conduta CAUSALISTA, FINALISTA E SOCIAL.

    Causalista/Naturalstica De acordo com esta teoria conduta qualquer comportamento humano que

    produz modificao no mundo exterior (resultado), independente da verificao do dolo ou da culpa do

    agente. Para esta teoria, dolo e culpa, devem ser analisados na culpabilidade para fim de reprovao

    pessoal. No adotada porque, alm de no considerar a inteno do agente como elemento propulsor

  • da conduta humana, tambm no explica de forma suficiente, a existncia dos crimes omissivos e

    tentados.

    Finalista A conduta todo comportamento humano, consciente e voluntrio, dirigido a um fim. Esta

    teoria constatou a importncia da existncia do elemento subjetivo do injusto, ou seja, a finalidade

    existente em toda conduta humana, sendo assim, se no existir a vontade de realizar uma conduta

    reprovvel, no h como enquadrar o fato em um tipo legal. Dolo e culpa, para esta teoria fazem parte da

    conduta (fato tpico) e no da culpabilidade.

    Social A conduta toda ao socialmente relevante, dominada ou dominvel pela vontade humana.

    Tal teoria uma ponte entre as duas anteriores, mas no foi adotada em virtude da dificuldade em

    conceituar o que seja relevncia social da conduta.

  • CLASSIFICAO dos CRIMES QUANTO CONDUTA.

    As condutas no Direito Penal podem ser: COMISSIVA E OMISSIVA No h crime sem conduta,

    no admitimos a adoo de crimes de mera suspeita (agente punido pela suspeita despertada por seu

    modo de agir)

    Conduta Comissiva / Crimes comissivos so crimes em que seu tipo penal incriminador prev uma

    conduta positiva, de ao, de fazer. So as chamadas normas proibitivas, que probem a realizao de

    determinados comportamentos. (art. 121, do CP)

    Conduta omissiva/Crimes Omissivos Tais crimes ao contrrio do ltimo tratado, impe a realizao

    de um comportamento, de uma ao, portanto a no realizao desta ao importa na ocorrncia do

    crime omissivo. So chamadas normas preceptivas, aquela que exige um comportamento positivo do

    agente.

    A omisso poder ter relevncia penal tanto quando o agente no faz o que deveria ser feito, ou quando

    faz algo diferente do que era o imposto por lei.

    Existem duas espcies de crimes omissivos: Omissivos prprios e Omissivos imprprios.

    Nos Crimes omissivos prprios ou puros o legislador imps o dever de agir no prprio tipo penal

    incriminador (preceito preceptivo). So crimes de mera conduta, nos quais o legislador no estabeleceu

    nenhum resultado naturalstico, descrevendo simplesmente o ato omissivo (conduta negativa), e

    conseqentemente, estabelecendo uma regra genrica de agir para no incorrer no mesmo. A simples

    omisso causa suficiente para a consumao, independente de qualquer resultado conseqente. (Ex.

    Art. 135, 244 e 246, todos do CP)

    Omisso de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistncia, quando possvel faz-lo sem risco pessoal, criana abandonada ou extraviada, ou pessoa invlida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou no pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pblica: Ex.: Um desconhecido que passava pelo local e viu a criana se afogando, e, mesmo sabendo nadar, nada fez para impedir a morte. Esse terceiro desconhecido no pode responder pelo crime de homicdio, ou seja, pelo resultado morte, pois no tinha o dever legal de evitar o resultado. Ele responder apenas pelo crime de omisso de socorro.

    A teoria acolhida pelo Cdigo Penal para explicar o crime o omissivo e a relevncia jurdica da omisso

    foi a Teoria Normativa De acordo com tal teoria a omisso um indiferente penal, pois o nada no

    produz efeitos jurdicos, no entanto, se aceita responsabilizar o omitente pela produo do resultado,

    quando a norma o atribuiu o dever jurdico de agir para evit-lo.

  • Nos Crimes omissivos imprprios ou impuros ou Comissivos por omisso, o sujeito ativo da

    infrao punido em um tipo penal incriminador que descreve o resultado que ele deveria ter impedido,

    mas no impediu. Este tipo trata-se de uma norma comissiva/proibitiva, que descreve uma ao e o

    referido resultado consequente. Por que o sujeito que se omite responder em um crime comissivo?

    Porque o legislador adotando a teoria normativa sobre omisso estabeleceu a norma do art. 13, 2 do

    CP, estabelecendo um rol de pessoas que possuem dever jurdico de agir (chamados agentes

    garantidores), impedindo a ocorrncia de resultados previstos em tipos comissivos contra aqueles que

    devem proteger/tutelar. Caso tais agentes se omitam, e sua omisso colabore para a produo do

    resultado descrito em um tipo comissivo, tal resultado ser atribudo ao omitente.

    Ex. Salva vidas que se omite em um socorro, poder ser responsabilizado no tipo comissivo de homicdio, em caso

    de morte da vtima.

    Art. 13. Relevncia da omisso 2 A omisso penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigao de cuidado, proteo ou vigilncia; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrncia do resultado.

    Neste dispositivo o legislador estabelece o dever de agir para alguns agentes, que denominamos agentes garantidores. Somente as pessoas referidas no 2 do art. 13, CP podem pratic-lo. Em tais infraes o agente garantidor no responde to s pela omisso, mas pelo prprio resultado conseqente da conduta omissiva.

  • Nos crimes omissivos imprprios/comissivos por omisso o delito que ser imputado ao agente que se omite ser um tipo penal comissivo, sendo que tal agente no ter dado causa a tal infrao por ao, mas sim por omisso. Neste crime o agente causa do delito por no ter tentado impedi-lo. Ocorre que nem todos podem figurar como sujeitos do delito nos Crimes Comissivos por Omisso, somente aqueles considerados garantidores (art. 13, 2, do CP). Tais agentes tm o dever especial de agir (de proteger) pessoas e demais bens jurdicos.

    Garantidores: pais, professores, mdicos, bombeiros, agentes de segurana pblica, etc.

    Ex.: Uma me que v seu filho se afogando e no age para tentar impedir a morte responder pelo crime de homicdio doloso. Em face do poder de famlia, ela tinha o dever legal de evitar o resultado.

    TIPO PENAL DOLOSO

    O dolo o elemento subjetivo do crime.

    DOLO no Cdigo Penal

    Art.18. Diz-se o crime:

    I doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

    Pargrafo nico - Salvo os casos expressos em lei, ningum pode ser punido por fato previsto como crime, seno quando o pratica dolosamente

    Teorias sobre o dolo adotadas no art. 18, I, do CP : Vontade e Assentimento.

    Teoria da Vontade Para haver dolo preciso que exista: Conscincia do ato, Conscincia da

    causalidade do ato (previsibilidade do resultado) e vontade de realizar o ato e produzir o resultado

    previsto.

    Teoria do Assentimento/Consentimento/Anuncia Para haver dolo preciso que exista:

    Conscincia do ato, Conscincia da causalidade do ato (previsibilidade da possibilidade de ocorrncia do

    resultado) e com relao a produo deste resultado o agente no tem vontade que ocorra, mas assume

    o risco de sua ocorrncia, no o deseja, mas consente em sua ocorrncia.

    ELEMENTOS do Dolo:

    Diante do exposto os ELEMENTOS DO DOLO so: Conscincia e Vontade. Tais elementos devem ser

    verificados em trs momentos distintos.

    1 - Conscincia da conduta e do possvel resultado a se produzir.

    2- Conscincia sobre o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado.

    3- Exteriorizao da vontade ou da anuncia na produo do resultado. Basta para a verificao do dolo

    que o resultado se produza em conformidade com a vontade do agente. Observe que, com relao ao

  • nexo causal, no necessrio que o iter criminis transcorra como imaginado pelo agente, subsistindo o

    dolo, desde que o fim almejado ocorra, mesmo que de forma diferente.

    A regra contida no pargrafo nico do art. 18 do Cdigo Penal de que o dolo a regra; a culpa a exceo. Se no houver essa ressalva expressa no texto da lei, sinal de que no se admite, naquela infrao penal, a modalidade culposa.

    Ex: Crime de dano. Art. 163, CP. O legislador somente fez a previso da sua forma dolosa.

    HIPTESES DE EXCLUSO DE CONDUTA: - COAO FSICA Irresistvel - Elimina a voluntariedade. Ex: uma pessoa arrastada pelo vento atinge fortemente outra pessoa e causa fortes leses. Neste caso no possvel imputar dolo ou culpa, ou seja, a conduta no considerada. - ATOS REFLEXOS Os atos reflexos so movimentos corpreos, que ocorrem estimulados por fatores externos. Excluem a conduta e a responsabilizao penal, em razo da ausncia da voluntariedade. Ex: uma pessoa sofre choque eltrico e, no ato de reflexo, atinge outrem vindo a causar-lhe leses. - ESTADOS DE INCONCINCIA - elimina a conscincia do agente, e assim o dolo e a culpa, como o sonambulismo e hipnose. OBS: A embriaguez letrgica (coma, sono) tambm considerada um estado de inconscincia, no entanto, tal assunto deve ser cuidadosamente estudado no captulo referente inimputabilidade.

    ESPCIES de DOLO

    Dolo direto - Tambm definido como dolo determinado A vontade do agente voltada para um

    resultado determinado. Previsto no art. 18, I, 1 parte do CP diz-se crime doloso quando o agente

    quis o resultado. O agente pratica a conduta descrita no tipo. o dolo por excelncia.

    Divide-se em: Dolo direto de 1 grau e Dolo direto de 2 grau.

    Dolo direto de 1 grau Neste, a vontade do agente direcionada para determinado resultado, que

    por ele efetivamente perseguido. Neste a vontade final do agente voltada diretamente para realizar os

    elementos do tipo, englobando, pois, o fim proposto e os meios escolhidos para atingi-lo.

    Dolo de 2 grau/ Dolo de conseqncias necessrias Neste, em que pese a vontade do agente,

    estar direcionada para um determinado resultado, a utilizao de meios para alcanar tal resultado,

    obrigatoriamente, necessariamente produziro efeitos colaterais, que no so imediatamente desejados

    pelo agente, mas que sero de supervenincia certa caso ele produza o resultado efetivamente

    pretendido. A principal diferena do dolo de 2 grau para o dolo eventual que no eventual existe

    probabilidade do resultado acontecer e no de 2 grau existe a certeza de que ocorrer.

  • Ex. Terrorista internacional coloca bomba no avio para matar uma pessoa especfica, mas mata os outros passageiros pelos efeitos colaterais da bomba.

    Dolo indireto Neste a vontade do agente no dirigida para um resultado determinado.

    Divide-se em Dolo alternativo e Dolo Eventual.

    Dolo alternativo aquele em que o agente deseja, indistintamente, um ou outro resultado que previu

    como possvel, ou seja, o agente destina sua inteno, com igual intensidade, a produzir um entre vrios

    resultados, previstos como possveis. Ex. n 1 Pessoa que atira contra outra com inteno de matar ou

    ferir. Ex. n 2: Um ladro que vai entrar na casa e no se importa se h algum na casa ou no. Se

    praticar furto ou roubo indiferente.

    Dolo eventual Previsto no art. 18, I, parte final, do CP- ou assumiu o risco de produzi-lo.

    Caracteriza-se pela frmula da previsibilidade + aceitao. O agente prev que agindo de determinada

    forma pode atingir o resultado, apesar de no o querer, continua a conduta assumindo o risco da

    produo do resultado. Nesta modalidade de dolo o agente no quer o resultado por ele previsto, mas ao

    fazer a previso de sua possibilidade, assume o risco de sua produo, no se importando se ocorrer.

    Dolo Eventual e os crimes de trnsito

    Questo extremamente polmica.

    Dolo Genrico e Dolo Especfico

    Dolo genrico Quando a vontade do agente se limita prtica da conduta tpica descrita na norma,

    sem nenhum fim especial. Ex. homicdio.

    Dolo especfico (atualmente denominado elemento subjetivo especial do tipo) Existe em crimes

    que a vontade da prtica da conduta acrescida de uma finalidade especial. Ex.Resistncia, Injria, etc.

    Dolo de dano e Dolo de perigo

    Dolo de dano Ocorre quando o agente quer ou assume o risco de lesionar um bem jurdico

    penalmente tutelado. Ex. Leso corporal e Homicdio.

    Dolo de perigo Ocorre quando o agente quer ou assume o risco de expor a perigo de leso um bem

    jurdico penalmente tutelado. Ex. art.130 do CP.

  • Dolo geral/ Dolo por erro sucessivo/ Aberratio Causae

    Ocorre quando o sujeito ativo acreditando ter produzido o resultado desejado, pratica nova conduta com

    outro fim, e ao final constata que foi sua ltima ao que produziu efetivamente o que objetivava desde o

    incio. Este um erro que recai sobre a relao de causalidade, e tal erro de natureza acidental, e por

    isso no isenta de pena, j que o agente queria o resultado, e o produziu. O dolo geral e envolve todo o

    desenrolar da conduta do agente, do incio da execuo at sua consumao.

    No tocante ao reconhecimento de circunstncia qualificadora, dever ser considerado o meio de

    execuo que o agente desejava empregar para a consumao, e no aquele que acidentalmente

    causou o resultado. Ex. A tentou matar B envenenado, acreditando que este estava morto, lanou seu

    corpo ao mar. Ocorre que a vtima morreu por asfixia causada pelo afogamento. Na aplicao da pena

    considerar-se- a morte por envenenamento e no por asfixia.

    Dolo antecedente, Dolo atual e Dolo subseqente

    Dolo antecedente Dolo inicial o que existe desde o incio da execuo do crime, no entanto, este

    dolo pode no subsistir durante o desenvolvimento integral dos atos executrios. H quem no concorda

    com este dolo, entendendo que deve sempre existir dolo atual.

    Dolo atual aquele que persiste durante todo o desenvolvimento dos atos executrios.

    Dolo subseqente ou sucessivo o dolo que se verifica, quando o agente aps iniciar uma conduta

    lcita, de boa f, passa a agir de forma ilcita no desenrolar do ato, incorrendo assim em um crime, ou

    quando aps o ato, realizado sem conscincia da ilicitude, vem saber de sua ilicitude, e no tenta evitar

    suas conseqncias. Este dolo importante para distinguir os crimes de Estelionato e Apropriao

    indbita.

    TIPO PENAL CULPOSO

    A partir de uma concepo finalista, a culpa elemento normativo da conduta, pois sua verificao

    depende da valorao do caso concreto.

    Os crimes culposos so previstos em tipos penais abertos, pois a lei no descreve em tais tipos a

    descrio da conduta criminosa, reservando esta misso para o magistrado, que caso a caso ir apreciar

    se houve ou no culpa no ato.

    Geralmente o legislador descreve a conduta na sua forma dolosa, e quando quer estabelecer para tal

    ao uma variante culposa, utiliza a expresso se o crime culposo, mas nada impede que haja uma

  • descrio tpica culposa, ou seja, a previso de crime culposo em tipo penal fechado, como ocorre com a

    receptao culposa, prevista no art. 180, 3, do CP.

    Crime culposo aquele que se verifica por uma conduta voluntria do agente, que foi realizada

    sem a devida ateno. Esta conduta visa um fim lcito, mas acaba gerando um resultado diverso

    considerado ilcito pela norma penal. Ou quando a conduta ilcita, no se destina a produo do

    resultado naturalstico ocorrido e que configura o crime culposo.

    Previsto no art. 18 do CP Diz-se o crime:

    Crime culposo

    Art. 18, II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudncia, negligncia ou impercia.

    Pargrafo nico - Salvo os casos expressos em lei, ningum pode ser punido por fato previsto como crime, seno quando o pratica dolosamente.

    Para que possamos falar em delito culposo faz-se necessria a ocorrncia de um resultado.

    REQUISITOS DO CRIME CULPOSO

    1) Conduta inicial voluntria e consciente (voluntariedade abrange apenas a execuo da conduta e no a produo do resultado).

    2) Falta de dever de cuidado objetivo na execuo da conduta (negligncia, imprudncia ou impercia). 3) Resultado involuntrio (no desejado). 4) Nexo causal (relao de causa e efeito entre a conduta descuidada e o resultado naturalstico necessrio provar que o resultado no se daria, se a ao preenchida com o dever de cuidado fosse evitada ou realizada). 5) Previsibilidade objetiva do resultado (possibilidade de previso do resultado por parte do sujeito ativo -

    homem mdio e prudente para aferir). 6) Tipicidade

    ESPCIES DE CULPA

    O crime culposo um crime de tipo aberto, pois ao encontrar no CP o crime culposo no h distino de culpa por negligncia, impercia e imprudncia. Alm disso, no traz descrio completa da conduta.

    a) Culpa Consciente e Inconsciente

    A culpa consciente ou inconsciente dependendo da previso ou no do resultado.

    culpa consciente

    Na culpa consciente, assim como no dolo eventual o agente prev que agindo daquela maneira poder vir a causar o resultado. No entanto, ao contrrio do dolo eventual, onde o agente aceita a ocorrncia do resultado, na culpa consciente no existe tal aceitao, pois o agente acredita que as suas caractersticas pessoais ou habilidades sero capazes de impedir a ocorrncia do resultado.

    culpa inconsciente

    Nesta forma de culpa, a pessoa agindo por imprudncia, impercia ou negligncia causa resultado injusto no querido, que ela no previu (apesar de previsvel possibilidade de previso) e conseqentemente no aceita como possvel.

    b) Culpa Prpria e imprpria

  • - Culpa Prpria

    aquela que se verifica nas 3 formas tradicionais de culpa: negligncia, imprudncia e impercia.

    Imprudncia O agente faz alguma coisa quando no deveria fazer. Trata-se de conduta positiva descuidada praticada pelo agente.

    Negligncia, - ocorre quando no faz algo que deveria fazer. Trata-se de conduta omissiva descuidada.

    Impercia o descumprimento de uma regra tcnica de profisso, arte ou ofcio.

    - Culpa Imprpria

    Ocorre nas hipteses das chamadas descriminantes putativas, conforme redao do 1 do art. 20 do CP, ou seja, nos casos de erro evitvel sobre as excludentes de ilicitude (art.23 do CP). Neste caso o sujeito age com dolo, porm ser punido a ttulo de culpa pelo que fez de acordo com o art. 20, 1, do CP, por isso ser imprpria.

    Ex: Pessoa que mata outrem, por confundi-lo com um bandido.

    GRAUS DE CULPA

    No passado se fazia distino quanto intensidade da culpa: levssima, leve e grave. Atualmente o direito

    penal brasileiro rejeita a diviso da culpa em graus. Ou a culpa, ou ela no existe, sendo o fato

    penalmente atpico (irrelevante).

    COMPENSAO DE CULPAS

    Ocorre quando a culpa do agente anulada pela culpa da vtima. Isso no admitido no Brasil, dado o

    carter pblico do direito penal. A culpa da vtima poder, no entanto, funcionar como circunstncia

    judicial favorvel em favor do agente (art. 59 do CP)

    CONCORRNCIA DE CULPAS

    Quando duas ou mais pessoas atravs de suas condutas descuidadas concorrero para o mesmo

    resultado naturalstico tpico. Neste caso todos que contriburam culposamente para o resultado por ele

    respondem, no podendo, no entanto se admitir nesta hiptese o concurso de pessoas por ausncia de

    vnculo psicolgico entre os envolvidos.

    EXCLUSO DA CULPA

    A culpa poder ser excluda nas seguintes hipteses:

    Caso fortuito e fora maior acontecimentos imprevistos, imprevisveis e inevitveis que no

    podem ser controlados pela vontade do agente.

    Erro profissional a culpa do resultado naturalstico no do agente, mas da cincia (Ex.

    descoberta da cura de uma doena)

  • Risco tolerado H uma linha divisria entre o crime culposo e os fatos impunveis resultantes

    do risco juridicamente tolervel. A evoluo humana criou a prtica de condutas/ atividades que

    possibilitam riscos calculados para alguns bens jurdicos penalmente tutelados. Ex. Piloto que

    testa uma nova aeronave para a evoluo da cincia, aceita-se o risco da morte de tal piloto.

    Ex. Mdico que precisa realizar cirurgia, mesmo que em situao precria, em razo do doente

    estar em estado grave sabe que a precariedade do local, dos instrumentos pode levar a morte,

    mas a no realizao da cirurgia tambm levaria e com mais certeza.

    Princpio da confiana Define que todo aquele que age com o devido cuidado, e confiando

    que os demais assim tambm faro, no pode ser reponsabilizado pela falta de cuidado alheia

    que o envolveu. Ex. Motorista que se chocou com outro veculo ao cruzar um semforo verde

    para ele, no poder ser responsabilizado por eventual morte deste condutor que agiu

    imprudentemente.

    TIPO PENAL PRETERDOLOSO

    Preterdolo significa ir alm do dolo.

    Crime preterdoloso ou preterintencional aquele em que a conduta dolosa ocasiona produo de um

    resultado mais grave do que o pretendido.

    Trata-se de figura hbrida, pois o crime preenchido de dolo na conduta inicial (antecedente) e culpa na

    produo do resultado (conseqente). a combinao dos elementos dolo e culpa, no curso da execuo

    do ato, levando o agente a produo de um resultado diverso do pretendido.

    O preterdolo entendido como um elemento subjetivo-normativo, sendo o dolo o elemento subjetivo, e a

    culpa o elemento normativo, que depende de juzo de valor para sua verificao.

    O crime preterdoloso trata-se de crime qualificado pelo resultado, e todo crime que tem tal natureza trata-

    se de crime nico e complexo, pois resulta da juno de dois crimes.

    H outras espcies de crimes que so qualificados pelo resultado, mas que no se tratam de crimes

    preterdolosos. So os que apresentam:

    - Dolo no antecedente e dolo no resultado agravador Ex. Latrocnio, que tambm pode ser

    preterdoloso.

    - Culpa no antecedente e culpa no resultado agravador Ex. Crimes culposos de perigo comum, que

    resultam leses graves ou morte art. 258, caput, CP)

  • - Culpa no antecedente e dolo no resultado agravador Ex. art. 303, pargrafo nico da Lei n

    9.503/97 CTB Conduta inicial culposa (leso culposa no trnsito) e majorante por conduta posterior

    realizada com dolo (omisso do socorro).

    RESULTADO

    CLASSIFICAO dos crimes quanto ao resultado

    Crime MATERIAL

    No crime material o legislador descreve no tipo penal conduta e resultado. Para que este crime seja

    consumado ser necessria a ocorrncia de ambos. A maioria dos crimes do Cdigo Penal material. Se

    o crime material no foi consumado ocorre uma tentativa de crime material. S o crime classificado e

    no as circunstncias. A tentativa uma circunstncia.

    Ex: homicdio - necessrio o resultado morte

    Ex: furto - necessrio subtrair e ficar com a posse do bem.

    Nexo

    Crime Material Conduta + Resultado

    Crime FORMAL

    Nos crimes formais o legislador descreve conduta e resultado no tipo penal, mas para a consumao do crime basta a realizao da conduta, no sendo necessria a obteno do resultado, pois a consequncia a mesma se o crime for consumado. Neste caso, a diferena ser na pena. Geralmente os crimes formais se caracterizam pela utilizao de expresses como: com a inteno de; com intuito de; visando, etc.

    No caso do art. 158, por exemplo, a conduta de constranger algum j o crime consumado, independente do resultado (obteno da vantagem econmica indevida) ocorrer. A ocorrncia do resultado nestas espcies de crime leva ao delito ao exaurimento. Neste ltimo caso poder o agente ter um pena uma pena mais rigorosa, do que no caso da simples consumao.

  • Crimes de MERA CONDUTA Nos crimes de mera conduta o legislador no faz previso de um resultado possvel, descreve apenas uma conduta.

    Ex: Art. 150, CP - Violao de domiclio

    Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tcita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependncias:

    NEXO DE CAUSALIDADE

    a relao de causalidade/causa e efeito entre conduta e resultado, que a modificao de algo no mundo exterior. Vale lembrar que nem todo crime possui resultado, e conseqentemente, tambm no ter nexo causal.

    Relao de causalidade

    Art. 13. O resultado, de que depende a existncia do crime, somente imputvel a quem lhe deu causa.

    Considerase causa a ao ou omisso sem a qual o resultado no teria ocorrido.

    Teorias sobre relao de causalidade.

    a) Teoria da equivalncia dos antecedentes causais

    De acordo com tal teoria, tudo que concorre para o resultado causa, e havendo mais de uma condio

    concorrendo para o evento criminoso todas se equivalero na causalidade. O CP adota esta teoria, mas

    em ajuste com a Teoria da Causalidade Adequada.

    b) Teoria da Causalidade Adequada de acordo com essa teoria a causa a condio mais adequada

    a produzir o resultado.

    c) Teoria da Imputao Objetiva Essa teoria procura limitar a causalidade natural fundada na Teoria

    da equivalncia dos equivalentes causais. Para tanto procura encontrar critrios mais objetivos para a

    verificao da existncia de relao de imputao entre conduta e resultado. O que ela pretende

    efetivamente observar se o agente produziu um risco juridicamente relevante e proibido ao bem jurdico.

    Essa teoria s estudada no crime material. Para um maior aprofundamento da matria, consultar

    Rogrio Greco - Curso de Direito Penal: parte geral, volume I. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p.234-243.

  • Conceito de CAUSA:

    Desenvolveu-se no mbito do estudo da teoria da conditio sine qua non o estudo das causas independentes, que so todos os atos e eventos que possam interferir na produo de um resultado, e podemos caracteriz-los como fatos que se interpem na relao causal (conduta/resultado) e a influenciam. Caso haja mais de uma causa concorrendo com a conduta do agente para um mesmo resultado definimos estas como CONCAUSAS. Para Nucci (2013), concausa a confluncia de uma causa exterior vontade do agente na produo de um mesmo resultado, estando lado a lado com a ao principal.

    As causas podem ser:

    - Absolutamente Independentes

    - Relativamente Independentes

    Causa Absolutamente Independente

    No tem nenhuma vinculao com a atividade do criminoso, surgem por si mesmas e, portanto, no podem ser atribudas a ele. So aquelas causas que produziriam o resultado, ainda que no houvesse qualquer conduta por parte do agente, e em razo disso tal resultado no poder ser atribudo a ele, em quaisquer das situaes abaixo.

    Causas absolutamente independentes so divididas em 3 espcies:

    a) Absolutamente independentes Preexistentes (Anterior conduta do agente)

    Ex: Uma pessoa vai casa de outra, para mat-la, dispara os tiros e posteriormente o laudo aponta que a pessoa j estava morta por envenenamento.

    b) Absolutamente independentes Concomitantes (Simultnea conduta do agente)

    Ex.: Um sujeito atira duas vezes e erra e antes de atirar a terceira vez, o teto desaba sobre a vtima, e ela morre.

    c) Absolutamente independentes Supervenientes (Posterior conduta do agente)

    Ex: O agente entra na casa da vtima e atira, mas no a mata, causando apenas ferimentos no letais. Aps a sua sada da casa a mesma desaba matando a vtima. No sendo a conduta do agente causadora da morte da vtima.

    Causa Relativamente independente

    Esta Causa tem ligao com a ao do criminoso, ou seja, est agregada a conduta do agente constituindo em regra concausa na produo do resultado com base na teoria da equivalncia das condies. O legislador neste caso previu apenas uma exceo, no caso das causas supervenientes.

    Causas relativamente independentes so divididas em 3:

    a) Relativamente independente Preexistente (Anterior conduta do agente) Ex: o agente atira em local no letal na vtima e no a mata, mas a pessoa era hemoflica e tal doena produz uma hemorragia fora do comum causada pelo tiro, levando a vtima a morte.

  • b) Relativamente independente Concomitantes (Simultnea a conduta do agente) Ex: o agente atira na direo de uma pessoa, e ela morre vtima de parada cardaca causada pelo susto (nexo entre a ao do agente e o fato).

    c) Relativamente independente Superveniente (Posterior conduta do agente). a nica causa que tem previso em lei (art. 13, 1, do CP). Ex: Um agente atira e no consegue matar. A pessoa levada em uma ambulncia para o hospital, porm um acidente ocorrido no caminho causa a morte da vtima.

    AS CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES TIVERAM ORIGEM NA PRPRIA CONDUTA DO AGENTE E NO EXCLUEM O RESULTADO INJUSTO PARA O AGENTE. A NICA EXCEO A CAUSA SUPERVENIENTE QUE EXCLUIR A IMPUTAO, PORTANTO, NO EXEMPLO ACIMA NO SER IMPUTADA A MORTE AO AGENTE QUE ATIROU EM RAZO DO DISPOSTO NO ART. 13, 1, DO CP.

    TIPICIDADE

    Tipicidade = Adequao de um fato humano concreto a um tipo penal previsto em lei, que o define abstratamente.

    CONCEITO de tipo penal modelo de comportamento proibido. O tipo penal a descrio abstrata do crime feita detalhadamente pela lei penal (MOARES; CAPOBIANCO: 2012:63). Para uma conduta ser tpica ela deve se encaixar perfeitamente ao tipo penal. Adequao tpica o encaixe da ao ou omisso proibida a um tipo penal especfico.

    FORMAS de adequao tpica

    Direta Ocorre quando a adequao entre a conduta e a norma imediata, sem precisar recorrer a normas de extenso que liguem a conduta ao tipo penal. Ex: Sujeito que subtrai relgio que pertence a outrem, tomando posse do mesmo. Tal conduta se amolda perfeitamente no art. 155, caput do CP. Indireta Ocorre quando a adequao tpica no se d diretamente, exigindo-se para tanto uma norma de extenso para ligar o fato concreto ao tipo penal. Ex: Se o agente tentou matar e no conseguiu, se deu um homicdio tentado, no possvel usar apenas o artigo 121,caput do CP, mas tambm dever ser usado o artigo 14, II, do mesmo diploma, para definir que a infrao se deu na forma tentada.

    CUIDADO I:Tipicidade Penal:Para haver tipicidade penal modernamente indispensvel haver:

    Tipicidade formal/legal Adequao do fato norma.

    +

    Tipicidade conglobante que = conduta antinormativa + tipicidade material.

    a-Conduta antinormativa Contrria norma e no imposta ou estimulada por ela. OBS: Um fato no pode ser tpico se a prpria lei o estimulou ou ordenou. No significa dizer que as excludentes de ilicitude deixem de existir, permanecem especialmente para justificar situaes tolerveis. b-Tipicidade material critrio material de seleo do bem tutelado. De acordo com tal critrio excluem-se dos tipos os fatos de bagatela ou insignificantes.

  • ELEMENTOS DO TIPO PENAL

    Podem ser de 3 espcies:

    - Elementos OBJETIVOS

    - Elementos SUBJETIVOS

    - Elementos NORMATIVOS

    - Elementos OBJETIVOS:

    So as informaes contidas no tipo penal que se referem aos fatos criminosos e no podem faltar para caracterizao do crime, cuja compreenso independe de interpretao valorativa por parte do interprete. Expresses referentes a conduta do crime, tempo, lugar, meios de execuo, qualidades da vtima, etc.

    Ex: No crime de Homicdio: Matar e algum so os elementos objetivos do tipo penal e no necessrio buscar em outros mbitos o elemento matar ou algum, pois so conceitos claros e objetivos.

  • - Elementos SUBJETIVOS:

    Existem dois elementos subjetivos: dolo ou a culpa. Alguns entendem que a culpa elemento normativo do tipo, j que o descuido precisa ser valorado no caso concreto.

    Alguns delitos dolosos trazem ainda o chamado elemento subjetivo especial do tipo, que a finalidade que o agente quer alcanar com sua conduta definida no tipo. Ex. Art. 158 do CP fim de obter vantagem econmica indevida (elemento subjetivo especial)

    Outro elemento subjetivo seria aquele referente conscincia do agente representada no tipo. Ex. Receptao do art. 180 do CP, quando o legislador se refere a sabe ser produto de crime.

    OBS: Alguns entendem que a culpa elemento normativo, j que o descuido precisa ser valorado caso a caso.

    - Elementos NORMATIVOS:

    Os elementos normativos esto contidos nos elementos objetivos, mas a sua compreenso depende de uma interpretao valorativa. Todo termo normativo tem uma descrio que necessita de interpretao em outras normas ou cincias. Expresses como: indevidamente, sem justa causa, sem autorizao, etc., geralmente so elementos normativos.

    Ex: Lei de Drogas - Sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar. Esta expresso o chamado elemento normativo do tipo, que precisa ser valorado caso a caso.

  • ETAPAS de Realizao do Delito:

    Iter Criminis

    So as fases que o sujeito ativo do crime deve perpassar at alcanar o delito na forma consumada.

    Existem 4 etapas:

    - Fase 1: Cogitao

    - Fase 2: Atos preparatrios

    - Fase 3: Atos executrios

    - Fase 4: Consumao (art.14,I, CP)

    - Fase 1: COGITAO

    Fase do delito que no punvel. Ato meramente intelectual. Significa imaginar o delito sem exteriorizar nada materialmente. Se o agente no ultrapassar esta fase no haver punio, em razo do princpio da transcendentalidade.

    - Fase 2: Atos PREPARATRIOS

    O indivduo comea a materializar o crime. Fase de preparao material do delito, mas ainda no a execuo dos elementos do tipo penal.

    Ex.: Homicdio - O agente compra veneno, compra uma faca, aluga um imvel para praticar o crime. Estes atos no so ilcitos, mas so preparatrios para o delito. possvel que os atos preparatrios configurem outros delitos. Neste caso o agente ser responsabilizado pelos ato preparatrio que constituiu tal delito autnomo,e no pelo delito que estava preparando.

    - Fase 3: Atos EXECUTRIOS

    O individuo inicia os atos executrios quando comea a realizar os elementos da definio do tipo penal. Ex. Matar no homicdio; Subtrair no furto; Usar violncia ou ameaa no estupro.

    - Fase 4: CONSUMAO

    Caso o agente aps iniciar a execuo dos elementos do tipo, posteriormente consiga concluir todos, estaremos diante de um crime consumado.

    Art. 14 - Diz-se o crime: Crime consumado I - consumado, quando nele se renem todos os elementos de sua definio legal;

    A consumao varia de acordo com a particularidade de cada infrao. Nos crimes materiais e culposos ocorre com a produo do resultado. Nos crimes omissivos prprios com a omisso (conduta) Nos crimes de mera conduta com a execuo da conduta. Nos crimes formais com a conduta, apesar da previso do resultado na norma. Nos crimes qualificados pelo resultado com a ocorrncia do resultado que qualifica (reprova mais). Nos crimes permanentes a consumao se mantm enquanto perdurar a permanncia da conduta.

  • OBS: Alguns entendem haver uma Fase 5 : Exaurimento - Esta fase se situa aps a consumao, e esgota o delito plenamente.

    possvel que o agente no execute/conclua todos os elementos do tipo penal, neste caso podem ocorrer uma das hipteses descritas abaixo:

    TENTATIVA se no concluir em razo de algo alheio sua vontade.

    DESISTNCIA VOLUNTRIA OU ARREPENDIMENTO EFICAZ se o agente no concluir por ato

    voluntrio.

    - Tentativa

    Tentativa o incio dos atos executrios sem a consumao do crime por razes alheias a vontade do agente. Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuda de um a dois teros, quem define o quantum a diminuir o juiz, conforme caso concreto.

    A natureza jurdica da tentativa de causa de diminuio de pena sobre o crime consumado.

    Art. 14 - Diz-se o crime:

    Tentativa

    II - tentado, quando, iniciada a execuo, no se consuma por circunstncias alheias vontade do agente.

    Pena de tentativa - P - Salvo disposio em contrrio, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime

    consumado, diminuda de um a dois teros

    Espcies de Tentativa

    Tentativa perfeita ou acabada aquela em que o agente esgota todos os meios ao seu

    alcance para consumar, o que no ocorre por razes alheias a sua vontade.

    Tentativa imperfeita ou inacabada aquela em que o agente no esgota os meios, sendo

    interrompido durante os atos de execuo.

    OBS: No admitem tentativa Crimes habituais, Crimes culposos (a culpa imprpria admite

    art. 20, 1 do CP), Crimes preterdolosos, crimes unissubsistentes (ato nico), Crimes

    omissivos prprios, Contravenes penais (art. 4 da Lei de contravenes penais D.L.

    3688/41), Crimes em que forma tentada equipara-se consumada. (art.352 do CP)

    Desistncia Voluntria e Arrependimento Eficaz

    Em ambos os institutos, o agente entra nos atos executrios e no h consumao do delito porque voluntariamente no realiza os elementos do tipo por inteiro. Ambos tm a mesma conseqncia jurdica prevista no art. 15 do CP, que punir apenas pelos atos praticados at o momento em que voluntariamente interrompeu a ao ou realizou ato eficaz a impedir a execuo. Em ambas as situaes no h que se cogitar punir o agente pelo forma tentada daquilo que almejava, j que demonstrou vontade de interromper, e assim o fez.

    Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execuo ou impede que o resultado se produza, s responde pelos atos j praticados.

    - Desistncia voluntria Previso legal na 1 parte do art. 15, CP. O agente necessariamente iniciou a execuo do crime e no prossegue por vontade prpria, No consuma o crime voluntariamente. Podendo prosseguir, no prossegue. A interrupo suficiente para no haver a consumao, no necessrio o agente fazer

  • mais nada para evitar a consumao. Conhecida como Tentativa Abandonada. O agente responde pelos atos praticados at a interrupo voluntria. - Arrependimento Eficaz Previso legal na 2 parte do art. 15, CP. O agente interrompe a ao, mas deve praticar um ato eficaz para evitar a consumao. O agente responde pelos atos praticados at a interrupo voluntria.

    Duas correntes sobre a questo da voluntariedade:

    - Uma diz que h obrigatoriedade da espontaneidade do agente.

    - Outra diz que h possibilidade de haver motivao externa, mas desde que a deciso seja voluntria e que o agente tenha possibilidade de continuar a ao, mas assim no faz por vontade prpria.

    CUIDADO II: Natureza jurdica do art. 15 do CP.

    Para alguns se trata de causa de extino da punibilidade (Hungria).

    Para outros um caso d atipicidade do fato (Greco, Frederico Marques, Damsio, etc.)

    Arrependimento POSTERIOR

    O Art. 16, caput, do CP trata do arrependimento do criminoso aps a consumao do delito. A vantagem ter uma causa de reduo considerada em relao pena do crime consumado (de 1/3 a 2/3, mesma reduo da tentativa).

    Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violncia ou grave ameaa pessoa, reparado o dano ou restituda a coisa, at o recebimento da denncia ou da queixa, por ato voluntrio do agente, a pena ser reduzida de um a dois teros.

    Sobre o artigo 16, CP: Tem natureza jurdica de causa de diminuio de pena, tambm chamada de Minorante. cabvel a extenso da reduo aos co-autores.

    - H requisitos para o criminoso receber o Arrependimento posterior:

    Requisitos do art. 16, CP (todos devem ser obedecidos):

    - S cabe arrependimento posterior em crime sem violncia ou grave ameaa a pessoa.

    - S ter direito ao benefcio, pessoa que demonstrar arrependimento atravs do ato de reparar o dano voluntariamente ou restituir a coisa ou objeto do crime voluntariamente.

    - Prazo para reparar o dano ou restituir a coisa: at antes do juiz receber a denncia do MP (no crime de ao penal pblica) ou at antes do recebimento da queixa de vtima (no crime de ao penal privada).

  • - Se no for possvel preencher todas as exigncias do artigo 16, o agente pode ainda receber o benefcio da atenuante de pena, art. 65, III, b, ltima parte, do CP, caso repare o dano voluntariamente at antes do julgamento.

    CUIDADO I: LEI 9099/95 Juizados Especiais Criminais.

    Nesta lei o instituto da composio de danos traz como conseqncia a renncia ao direito de queixa ou representao.

    CUIDADO II: STF entende no caber a previso do art. 16 do CP no art. 171, 2, VI, do CP (emisso de cheque sem proviso de fundos), j que neste caso, se reparado o dano antes da denncia, no haver ao penal. (Smula 554 do STF).

    CUIDADO III: O art. 16 do CP, tambm cabvel nos crimes culposos.

    CUIDADO IV: No caso da repao do dano ser total ou parcial. STJ exige que seja total, mas outros na doutrina (Greco) admitem que a reparao parcial, tambm possibilita a aplicao do art. 16 do CP.

  • TEORIA DO ERRO

    1) ERRO DE TIPO (art. 20, CP)

    Erro de tipo pode ser - Essencial

    . - Acidental

    O ERRO DE TIPO ESSENCIAL recai sobre os elementos essenciais constitutivos do tipo penal, sem os quais no h o crime. Tal erro pode ser inevitvel, excluindo dolo e culpa, e assim tambm o fato tpico, ou pode ser evitvel, excluindo apenas o dolo, mas punindo na forma culposa do delito, se houver. O erro de tipo pode ser determinado por terceiro (art. 20, 2, do CP)

    Os ERROS DE TIPO ACIDENTAIS, no isentam o agente da pena, mas produzem outras conseqncias jurdicas. So eles:

    Erro sobre a pessoa art. 20 3, do CP. Erro na execuo art. 73, caput, do CP. Resultado diverso do pretendido art. 74, caput, do CP

    2) ERRO DE PROIBIO (art. 21, CP)

    Erro sobre a ilicitude do ato. O agente realiza o ato definido na norma com dolo, mas sem o conhecimento de tal lei e sem a conscincia da ilicitude do ato, ou seja, acredita que seu ato permitido/lcito.

  • Erro sobre a ilicitude do fato (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    Art. 21 - O desconhecimento da lei inescusvel. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitvel, isenta de pena; se evitvel, poder diminu-la de um sexto a um tero. (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    Pargrafo nico - Considera-se evitvel o erro se o agente atua ou se omite sem a conscincia da ilicitude (REAL) do fato, quando lhe era possvel (POTENCIAL), nas circunstncias, ter ou atingir essa conscincia. (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    - Erro de Proibio - Inevitvel Afasta a potencial e a real conscincia da ilicitude do ato Excludente de culpabilidade e isenta o agente da pena.

    - Evitvel Afasta apenas a real conscincia da ilicitude, mas mantm a potencial. No exclui a culpabilidade e por isso trata-se apenas de reduo de pena de 1/6 a 1/3.

    FATO Ilcito / Antijurdico

    Ilicitude o segundo elemento do crime. Pelo conceito analtico - tripartido, crime um ato humano tpico, ilcito e culpvel. O crime depende dos trs elementos, caso contrrio o fato no criminoso. Porm, se houver alguma excludente de ilicitude no h crime. O fato pode ser tpico e no ser ilcito. H uma presuno de ilicitude quando o fato tpico, mas no necessariamente ser crime, apesar da conduta estar descrita na norma incriminadora A principal norma que traz as causas de excluso de ilicitude do ato tpico o artigo 23 do CP (norma permissiva justificante), que justifica a prtica de atos tpicos em quatro circunstncias: Estado de necessidade, Legtima defesa, Estrito cumprimento do dever legal ou Exerccio regular de um direito.

    Art. 23 - No h crime quando o agente pratica o fato:

    I - em estado de necessidade;

    II - em legtima defesa;

    III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exerccio regular de direito.

    ESTADO DE NECESSIDADE Art. 23, I, do CP c/c Art. 24 do CP

    O conceito de Estado de necessidade est expresso na norma explicativa do art. 24, caput, do CP, onde esto dispostos os requisitos desta excludente. Todas as excludentes tm requisitos objetivos (materiais) e requisitos subjetivos (dolo).

    Requisitos OBJETIVOS:

    Situao de perigo atual para um bem jurdico/Ameaa de leso a um bem jurdico; A jurisprudncia tem admitido tambm a hiptese de perigo iminente.

    Tal perigo atual no pode ter sido causado voluntariamente (dolosamente) por quem alega o estado de necessidade;

    No haver outra soluo para afastar o perigo;

    Estar em estado de necessidade de si mesmo ou de terceiros;

  • O bem sacrificado, deve ter sido escolhido para tanto, por um critrio de razoabilidade. Por exemplo, permitir o aborto, cuja gravidez foi provocada por crime de estupro. A Vida ou a Honra? O legislador permitiu salvar o bem de menor valor e sacrificar o de maior valor, a vida, por um critrio de razoabilidade.

    Requisito SUBJETIVO:

    Dolo de salvar um bem jurdico prprio ou alheio.

    LEGTIMA DEFESA Art. 23, II do CP c/c Art. 25 do CP

    O conceito de Legtima defesa est exposto na norma penal explicativa do art. 25, caput, do CP, onde esto previstos seus requisitos.

    A legtima defesa pressupe a existncia de uma agresso injusta atual ou iminente de uma pessoa contra outra, de forma direta ou indireta (por exemplo: usando um animal, uma arma, veneno, explosivo). O agredido deve atuar moderadamente para defesa de si ou de outrem

    Requisitos OBJETIVOS da Legtima Defesa:

    Injusta agresso atual ou iminente; Escolha de meio necessrio para repelir a agresso; Repelir moderadamente a agresso; (fazer a agresso cessar / usar o meio necessrio p/ fazer a agresso parar)

    Por exemplo, se o meio necessrio era s pegar um pedao de pau que estava disponvel, mas deu preferncia ao uso de uma arma. Desta forma, como o agente no usou o meio suficiente e necessrio no configura a legtima defesa, e sim o seu excesso. No entanto, tudo dever ser considerado no caso concreto. Tambm no basta utilizar o meio suficiente e necessrio, necessrio que o utilize moderadamente. Se for alm do necessrio para fazer a agresso parar, o agente responder pelas leses causadas pelo excesso.

    Requisito Subjetivo:

    Dolo de defesa prpria ou de terceiros

    Ex: Uma pessoa (A) sai de casa com dolo de matar um inimigo(B). Ao chegar na rua observa o seu inimigo de frente para outro homem (C), parecendo estar ambos conversando. Quando (A) atira em (B) pelas costas, com dolo de matar, por acaso salva a vida de (C), pois (B) estava com um revlver apontado para (B) e ia mat-lo. (A) no pode alegar legitima defesa, pois o dolo no foi defender (C), mas sim matar (B).

    Legtima Defesa Sucessiva

    Trata-se da legitima defesa do agressor que passa a se defender do excesso daquele que at ento era vtima. Ex: A` ataca B que se defende com excesso e A entra em legitima defesa sucessiva.

    Estrito cumprimento de DEVER LEGAL e Exerccio REGULAR de Direito.

    So as excludentes de ilicitude previstas no art. 23, III, do CP.

    Apesar de estarem previstas no mesmo dispositivo legal so causas de excluso de ilicitude distintas

    (so conceitos distintos). Ambas so situaes que excluem a ilicitude do ato, e por isso, no h crime. O

  • ato tpico, mas no ilcito. No art. 23, III, parte 1, o sujeito tem um direito, uma faculdade de exercer

    determinada atividade, mas no art. 23, III, parte 2 destinada s pessoas que tm o dever de exercer

    determinada atividade.

    Exerccio regular de direito (faculdade)

    Pessoas ao exercerem determinadas profisses, determinados esportes, possuem direito de exercer

    determinadas condutas, mesmo que estas estejam descritas em normas incriminadoras. No entanto,

    para ser crime no basta ser um fato tpico. Essas pessoas esto protegidas pela excludente de ilicitude.

    O sujeito que desempenha tais atividades est efetivando um direito.

    Ateno - O exerccio deve ser REGULAR do direito, ou seja, deve ser obedecido rigorosamente o

    regulamento da atividade em questo. O excesso ocorre quando o agente no cumprir o regulamento,

    de forma dolosa ou culposa (por descuido). Se exceder o que est no regulamento da atividade no vai

    configurar a excludente de ilicitude e o agente ser responsabilizado pelos excessos praticados.

    Ex: O mdico cirurgio ao realizar o corte no paciente est no exerccio regular de um direito. Assim

    tambm o lutador de boxe, desde que limitado as aes previstas em seu regulamento.

    Requisito Objetivo:

    - Exercer o direito de forma regulamentar.

    Requisito Subjetivo:

    - dolo de exercer o direito de forma regulamentar.

    Estrito Cumprimento de Dever Legal (obrigao)

    As pessoas que possuem o dever de exercer determinada atividade, normalmente so aquelas que

    tm funo pblica, ou seja, fazem parte da administrao pblica. Existem atividades que os

    funcionrios pblicos exercem e que esto descritas em normas incriminadoras. A conduta desses

    sujeitos no sero consideradas crimes, em razo da inexistncia da ilicitude.

    Quando NO h ESTRITO cumprimento do dever legal responde pelo excesso praticado dolosa ou

    culposamente (descuido, negligncia). Normalmente doloso.

    Ex: Oficial de justia, Policial Militar e Bombeiros em atividade funcional.

    Requisitos objetivos:

    - Pessoa legtima para cumprimento do dever legal;

    - Deve estar atuando no cumprimento do dever legal;

    - O cumprimento do dever legal deve ser cumprido de forma estrita.

    Requisito subjetivo:

    - Dolo de cumprimento do dever legal de forma estrita.

  • Observaes Ver efeitos civis do estado de necessidade e legtima defesa nos artigos 188, I e II,

    pargrafo nico, 929 e 930 do Cdigo Civil.

    O art. 24, 1 do CP trata daqueles que tem o dever legal de enfrentar o perigo, ponderado pelo princpio da razoabilidade.

    Art. 23, pargrafo nico, do CP Punio do excesso doloso ou culposo em quaisquer das excludentes.

    Ofendculas Aparelhos predispostos para defesa da propriedade (eletrificao de fios, instalao de armas prontas, ces, etc.). Alguns entendem ser legtima defesa preordenada, outros acham que a natureza exerccio regular de um direito (direito de defesa da propriedade).

    FATO Culpvel

    Conceito de culpabilidade formal ou analtico

    Conceito lato senso de culpa, que significa reprovao. O conceito estrito senso de culpa significa descuido, imprudncia, impercia (crime culposo)

    Pelo conceito analtico procura-se conceituar o crime a partir de seus elementos que compe a infrao penal. Chama-se conceito analtico, pois analisa as caractersticas ou elementos que compe a infrao penal. Pelo conceito analtico crime um fato tpico, ilcito e culpvel.

    Culpabilidade = ato culpvel aquele que merece reprovao. Na culpabilidade verificamos a reprovabilidade pessoal do agente. Existem situaes em que a conduta do agente no ser culpvel, por ausncia de algum elemento que compe a Culpabilidade.

    A Culpabilidade possui 3 elementos, sem estes a pessoa no reprovvel, e, portanto, no h crime

    So elementos integrantes da culpabilidade segundo a Teoria Finalista (majoritria):

    1 - Imputabilidade (capacidade = capaz, imputvel)

    2 - Potencial conscincia da ilicitude do fato

    3 - Exigibilidade de conduta diversa

    IMPUTABILIDADE:

    Capacidade para ser culpvel./Ser capaz de receber reprovabilidade pessoal.

    O INIMPUTVEL, portanto, aquele que no goza de tal capacidade.

    Existem 3 dispositivos no CP definindo os inimputveis: arts. 26, 27 e 28.

    O legislador quando definiu cada dispositivo como casos de inimputabilidade adotou um critrio fixador da inimputabilidade. A regra que os juzes s podem declarar inimputveis baseados na prova do critrio fixador de inimputabilidade.

    O critrio regra no Brasil o Biopsicolgico. De acordo com este critrio, para pessoa ser inimputvel necessrio se faz dois tipos de prova: biolgica e psicolgica.

  • A prova biolgica consiste em demonstrar que a pessoa possui alguma desordem biolgica ou orgnica, podendo ser uma doena, uma intoxicao, como na embriaguez, uma imaturidade biolgica, ou seja, devem ser feitas as provas biolgicas de acordo com os dispositivos da lei - Artigos 26, 27 e 28 do CP. Mas, no basta a prova biolgica, pois o critrio biopsicolgico.

    A prova psicolgica a prova do estado em que a pessoa se encontrava no momento do ato tpico e ilcito. A prova psicolgica consiste em demonstrar que no momento do ato a pessoa perdeu totalmente uma de duas capacidades: a capacidade intelectual ou a capacidade volitiva.

    Ex: um esquizofrnico que praticou um ato tpico e ilcito. No basta s provar a esquizofrenia, pois isso s prova biolgica, deve ser feita a prova que na hora do ato o sujeito perdeu totalmente a capacidade intelectual ou a capacidade volitiva.

    Capacidade intelectual = discernimento = definir certo ou errado.

    Capacidade volitiva = capacidade de autodeterminao da vontade.

    OBS: A MENORIDADE o nico caso de INIMPUTABILIDADE do agente que exige apenas PROVA BIOLGICA.

    Casos de Inimputabilidade

    1 DISPOSITIVO art. 26, caput, do CP

    Art. 26 - isento de pena o agente que, por doena mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ao ou da omisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984).

    Reduo de pena

    Pargrafo nico - A pena pode ser reduzida de um a dois teros, se o agente, em virtude de perturbao de sade mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado no era inteiramente capaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento

    O art. 26 traz trs situaes de inimputabilidade:

    Doena mental, Desenvolvimento mental incompleto e Desenvolvimento mental retardado.

    Doena mental

    Doena mental aquela que afeta as funes do intelecto e da determinao da vontade do agente. No necessrio que a doena retire ambas as funes, bastando a perda total de apenas uma delas. Tal prova biopsicolgica ser diagnosticada por um perito.

  • Ex: demncia senil, esquizofrenia, arteriosclerose cerebral, todos os tipos de psicose, sfilis cerebral, etc.

    Obs. - pessoas que esto em nvel avanado de dependncia qumica podem ser diagnosticadas com embriaguez patolgica ou intoxicao patolgica (espcie de psicose txica)

    Obs. Embriaguez significa intoxicao

    Obs.: Epilepsia no doena mental, no retardo mental e no desenvolvimento mental incompleto. Mas, nos momentos de crise da doena a pessoa pode perder totalmente a capacidade volitiva e/ou intelectual. O CP no previu essa condio do epiltico. A jurisprudncia tem manifestado pela aplicao do art. 26, caput do CP por analogia in bonam partem, exigindo-se sempre a prova biopsicolgica.

    Desenvolvimento mental incompleto e desenvolvimento mental retardado.

    Ambos no tm sua capacidade mental plena. No desenvolvimento mental incompleto h chances da pessoa atingir a plenitude mental via tratamento. Mas, no desenvolvimento mental retardado a medicina ainda no conseguiu desenvolver tratamentos para dar a estas pessoas chances de alcanar a plenitude mental.

    Exemplos de casos de retardo: oligofrnicos, idiotice e imbecilidade, todos esto relacionados com o baixo ndice do coeficiente intelectual.

    Exemplos de casos de desenvolvimento mental incompleto: surdo-mudo incapacitado mentalmente em razo da deficincia, silvcolas (pessoa inadaptada socialmente ndio, esquim).

    Ateno: Nem todos surdos-mudos so inimputveis, mas somente os que, pela doena, tm a capacidade mental afetada (perda total da capacidade intelectual ou volitiva).

    SANO tratamento.

    O Estado baseado na ideia de prevenir a sociedade de atos perigosos criou para os inimputveis do art. 26, caput, do CP uma sano teraputica, denominada, medida de segurana. Neste tipo de sano, ao invs de aplicar uma pena retributiva/castigo, aplica-se uma pena tratamento.

    Medida de segurana a sano tratamento aplicvel aos inimputveis do art. 26, caput, do CP.

    Existem duas espcies de Medidas de Segurana:

    - Internao em hospital de custdia e tratamento psiquitrico. Em geral aplicada ao inimputvel do art. 26, caput, do CP, que praticou fato injusto, cuja pena cabvel em lei seria recluso.

    - Tratamento ambulatorial Aplica-se em geral ao inimputvel que praticou injusto previsto em lei com qualquer outra pena que no seja recluso. Neste caso, pode o juiz decidir pela internao se julgar necessrio. (ver art. 97, c/c art. 96,I, II, ambos do CP).

  • Prazo das Medidas de Segurana:

    O prazo mnimo da Medida de Segurana de 1 a 3 anos, mas o limite mximo 30 anos ( h inmeras posies sobre tal tema esta nossa posio atual posio do STF - procure pesquisar outras posies), porque no pode haver nenhuma pena perptua no Brasil, nem os efeitos da condenao

    podem ser perptuos (art. 5, XLVII, da CF/88). O artigo 75 do CP estabelece o limite da pena no Brasil (30 anos).

    Semi-imputvel art. 26, pargrafo nico: Agente que possui um dos fatores biolgicos definidores da incapacidade, mas no demonstra a perda total das capacidades intelectual ou volitiva. Ter como conseqncia uma pena reduzida, que pode vir a ser substituda por medida de segurana, se necessria (art. 98 do CP).

    2 DISPOSITIVO art. 27, caput, do CP - Menores de dezoito anos.

    Segundo o dispositivo acima os menores de 18 anos so penalmente inimputveis/incapazes. Os menores de 18 anos no praticam crimes e por isso esto sujeitos a uma legislao especial por eventual ato infracional anlogo a crime que por ventura praticarem. Essa legislao especial o Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA lei n 8069/90 Estatuto da Criana e do Adolescente.

    A menoridade um caso de inimputabilidade que s exige prova biolgica, ou seja, a inimputabilidade absoluta do sujeito.

    Quando um menor de 18 anos pratica um fato tpico e ilcito, ele no pode ser criminalizado, pois no goza de capacidade de ser culpvel, de ser imputvel. O que determina a incapacidade do agente de acordo com o artigo 27 do CP imaturidade do agente.

    De acordo com o ECA, criana aquela que tem de 0 a 12 anos incompletos, e adolescente o que tem de 12 a 18 incompletos.

    H 2 tipos de medidas no ECA: - Medidas protetivas ou de proteo (art. 101, ECA)

    So utilizadas nos casos em que a criana e o adolescente precisarem de proteo dos seus direitos, mesmo se no praticarem atos infracionais. Crianas que praticam atos infracionais no podem sofrer medidas socioeducativas, s podem sofrer as medidas do art. 101, ECA.

    Exemplo de medidas protetivas: - Adoo; Colocao em abrigo; Matrcula e freqncia obrigatria em escola; Tratamento de desintoxicao; Tratamento psicolgico e psiquitrico; etc. - Medidas socioeducativas (art. 112, ECA) Somente se aplicam aos adolescentes que praticam ato infracional. O juiz da Vara de Infncia e Juventude poder aplicar cumulativamente uma medida socioeducativa com alguma protetiva. Poder tambm aplicar mais de uma socioeducativa pelo mesmo ato infracional. As medidas socioeducativas so: advertncia, reparao do dano, liberdade assistida, prestao de servios comunidade, regime de semiliberdade e internao.

  • Casos de internao do adolescente:

    Art. 122. A medida de internao s poder ser aplicada quando:

    I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaa ou violncia a pessoa;

    II - por reiterao no cometimento de outras infraes graves; -

    III - por descumprimento reiterado e injustificvel da medida anteriormente imposta.

    1 O prazo de internao na hiptese do inciso III deste artigo no poder ser superior a trs meses.

    2. Em nenhuma hiptese ser aplicada a internao, havendo outra medida adequada.

    3 DISPOSITIVO art. 28, 1 Embriaguez Acidental e Completa

    Art. 28 1 - isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou fora maior, era, ao

    tempo da ao ou da omisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

    entendimento

    Este dispositivo traz a questo da embriaguez acidental e completa, ltimo caso de inimputabilidade do CP. Tambm exige a prova biopsicolgica, sem esta no haver declarao da inimputabilidade do agente. No momento do fato tpico e ilcito, h de se fazer prova de que o agente perdeu TOTALMENTE (devido questo biolgica) a capacidade intelectual (entender o que certo ou errado) ou a capacidade volitiva (autodeterminao da vontade).

    A prova biolgica da embriaguez do art. 28 1, a prova que houve embriaguez e que esta foi acidental e completa. Embriaguez uma intoxicao aguda, profunda, porm transitria, causada por lcool ou por substncias anlogas, como remdios, drogas etc.

    Para o agente provar que inimputvel por esta embriaguez, o legislador exigiu que essa embriaguez tivesse duas caractersticas: acidental e completa; caso contrrio, no ser declarado inimputvel.

    Embriaguez ACIDENTAL:

    Quando proveniente de caso fortuito ou fora maior. A pessoa no teve inteno de se intoxicar, no foi um ato voluntrio, nem no caso fortuito nem na fora maior.

    Fora Maior: ocorre quando algo externo (outra ao humana) ao agente, o obriga, impe, determina sua intoxicao.

    Ex: colocam uma arma na cabea e obrigam o agente a ingerir a substncia; boa noite cinderela tambm um caso.

    Caso Fortuito: Neste o agente tambm no quer ficar intoxicado. H duas hipteses de caso fortuito:

    1 CASO: O agente no tem conhecimento que est ingerindo a substncia embriagante. No h ao externa de outra pessoa,

    Ex: Tomar uma medicao pensando que outra substncia.

    2 CASO: Ocorre quando a pessoa sabe que est ingerindo a substncia, mas no conhece o efeito embriagante que a substncia produzir nele. Normalmente ocorre com medicamentos.

    Embriaguez COMPLETA:

    Para saber se a embriaguez ocorreu ou no de forma completa preciso estudar as fases da embriaguez. So trs as fases (conforme a doutrina e a jurisprudncia estabelecem):

  • 1 fase: EXCITAO Nesta fase o agente no perde a capacidade de entendimento, apenas tem diminudo sua autocrtica, portanto neste caso no h embriaguez completa ainda.

    2 fase: DEPRESSO Desta fase em diante a embriaguez j completa, pois j possibilita a perda

    total das capacidades intelectuais e volitivas da pessoa, no podendo faltar prova psicolgica

    confirmando tal fato.

    As caractersticas da pessoa nesta fase

    - Perda de coordenao motora e dos reflexos;

    - Excesso de agressividade e irritabilidade;

    3 fase: LETARGIA Esta fase se d com o coma embriagante, com o sono, o desmaio.

    Requisitos para ser inimputvel do art. 28 1:

    Requisitos biolgicos (prova biolgica)

    1 provar que a embriaguez foi acidental (caso fortuito e fora maior)

    2 - e completa (na 2 ou 3 fase da embriaguez)

    Requisito psicolgico Estabelecer prova de que no ato a pessoa perdeu toda capacidade de entendimento intelectual ou a capacidade de autodeterminao da vontade, neste caso declarado inimputvel pelo art. 28 1. A consequncia jurdica da embriaguez acidental por caso fortuito ou fora maior a iseno de pena.

    Art. 28, 2, do CP: Reduo de Pena

    Art. 28 - 2 - A pena pode ser reduzida de um a dois teros, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou fora maior, no possua, ao tempo da ao ou da omisso, a plena capacidade de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    Semelhante ao semi-imputvel, ou imputvel com culpabilidade diminuda do art. 26, P. O agente no perde toda a capacidade intelectual ou volitiva, mas por conta da embriaguez ter sido acidental o legislador estabeleceu um tratamento diferenciado ao agente, que a reduo de sua pena de 1/3 a 2/3.

    IMPORTANTE:

    Embriaguez patolgica (voluntria) = doena mental

    Embriaguez acidental (involuntria).

    POTENCIAL CONSCINCIA DA ILICITUDE

    Para uma pessoa ser culpvel ela deve ter a conscincia do seu ato, ou ao menos possibilidade de alcanar.

  • O legislador torna culpvel quem tem a conscincia da ilicitude e quem poderia ter alcanado a conscincia. A nica maneira de no ser culpvel no ter a real conscincia e nem a possibilidade de alcan-la.

    Causas de Excluso da potencial conscincia da ilicitude

    A lei traz casos que nem a pessoa tem a real conscincia e nem a possibilidade de alcan-la, sendo assim no haver a culpabilidade e conseqentemente o crime.

    1) Erro de Proibio (art. 21, CP).

    2) Obedincia hierrquica (art. 22, CP) Alguns entendem que esta excludente da exigibilidade de conduta diversa (3 elemento da culpabilidade).

    3) Descriminantes Putativas (art. 20, 1) Alguns entendem (posio majoritria) ser esta o erro de tipo permissivo, e portanto tratar-se de excludente de tipicidade, pela ausncia do dolo e da culpa, quando plenamente justificado o erro.

    1) ERRO DE PROIBIO (art. 21, CP)

    Erro sobre a ilicitude do ato. O agente realiza o ato definido na norma com dolo, mas sem o conhecimento de tal lei e sem a conscincia da ilicitude do ato, ou seja, acredita que seu ato permitido/lcito.

  • Erro sobre a ilicitude do fato (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    Art. 21 - O desconhecimento da lei inescusvel. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitvel, isenta de pena; se evitvel, poder diminu-la de um sexto a um tero. (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    Pargrafo nico - Considera-se evitvel o erro se o agente atua ou se omite sem a conscincia da ilicitude (REAL) do fato, quando lhe era possvel (POTENCIAL), nas circunstncias, ter ou atingir essa conscincia. (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    - Erro de Proibio - Inevitvel Isento de Pena.

    - Evitvel reduo de pena de 1/6 a 1/3.

    - Erro de tipo - Essencial

    . - Acidental

    O ERRO DE TIPO ACIDENTAL recai sobre os elementos essenciais constitutivos do tipo penal, sem os quais no h o crime. Tal erro pode ser inevitvel, excluindo dolo e culpa, e assim tambm o fato tpico, ou pode ser evitvel, excluindo apenas o dolo, mas punindo na forma culposa do delito, se houver. O erro de tipo pode ser determinado por terceiro (art. 20, 2, do CP)

    Os ERROS DE TIPO ACIDENTAIS, no isentam o agente da pena, mas produzem outras conseqncias jurdicas. So eles:

    Erro sobre a pessoa art. 20 3, do CP. Erro na execuo art. 73, caput, do CP. Resultado diverso do pretendido art. 74, caput, do CP

    2) OBEDINCIA HIERRQUICA (art. 22, CP)

    Exclui a Potencial Conscincia da ilicitude. um tema controverso. H autores que consideram que essa excludente no exclui o 2 elemento da culpabilidade, mas sim o 3 elemento, ou seja, a Exigibilidade de Conduta Diversa.

    Quem alega a excludente o sujeito subordinado. Dependendo do caso o subordinado pode ser isento de pena e apenas o superior ser responsabilizado. Mas, para isso ocorrer existem requisitos. Se estes no ocorrerem o subordinado responder com o superior em Concurso de Pessoas.

  • Requisitos da Obedincia Hierrquica

    S cabe alegar a excludente nas relaes de direito pblico;

    Deve haver uma relao de hierarquia entre quem deu a ordem e quem recebeu a ordem;

    Para haver excludente a ordem no pode ser manifestamente ilegal, ou seja, claramente ilegal. O sujeito subordinado deve acreditar que a ordem lcita;

    O funcionrio deve cumprir estritamente a ordem do superior.

    Duas situaes importantes:

    Se a ordem for manifestamente ilegal o subordinado perde a excludente e responde em Concurso de Pessoas (com o Superior).

    Se o subordinado se exceder perde a excludente e pode responder por outro crime que decorre dos atos do excesso.

    Se o subordinado se exceder perde a excludente e pode responder ainda por outro crime que decorre dos atos do excesso.

    Em ambos os casos, que so de concurso de pessoas entre Superior e Subordinado, haver uma circunstncia agravante da pena para o superior e uma circunstncia atenuante da pena para o subordinado.

    Agravantes no caso de concurso de pessoas:

    Art. 62 - A pena ser ainda agravada em relao ao agente que: (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    III - instiga ou determina a cometer o crime algum sujeito sua autoridade...

    Circunstncias atenuantes

    Art. 65 - So circunstncias que sempre atenuam a pena: (Redao dada pela Lei n 7.209,/84)

    III - ter o agente:(Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    c) cometido o crime sob coao a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influncia de violenta emoo, provocada por ato injusto da vtima;

    3) DESCRIMINANTES PUTATIVAS (imaginrias) - art. 20, 1, do CP

    Excludente da Potencial Conscincia da ilicitude para alguns (Matria da culpabilidade);

    Erro de tipo permissivo para outros (Matria do fato tpico).

    Descriminante putativa uma espcie de erro que recai sobre os elementos de uma norma permissiva, que definem as causas de excluso de ilicitude (legtima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exerccio regular de um direito). O agente supe estar diante da excludente de ilicitude que lhe autoriza a agir, mas no est.

    Se o erro for inevitvel o sujeito ser isento de pena.

    Se o erro for evitvel o sujeito ser punido na forma culposa, segundo o art. 20, 1 do CP, se no houver previso de forma culposa ele ser isento de pena.

  • EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

    Significa poder Exigir Conduta Diferente daquela praticada pelo sujeito, e que constitui um injusto. Para no ser culpvel o agente precisa estar em situao em no lhe seja possvel exigir outra conduta a no ser a que foi realizada.

    A excludente prevista legalmente para este elemento da culpabilidade :

    - Coao Moral Irresistvel

    NO se pode exigir conduta diferente do agente que estava sob coao irresistvel, portanto, este no ser culpvel.

    Coao irresistvel e obedincia hierrquica

    Art. 22. Se o fato cometido sob coao irresistvel ou em estrita obedincia a ordem, no manifestamente

    ilegal, de superior hierrquico, s punvel o autor da coao ou da ordem.

    H duas formas de coao:

    Coao Moral irresistvel

    Coao Fsica irresistvel

    Em ambas h 3 sujeitos: coator, coagido e vtima.

    Na coao fsica o coagido no executa a conduta dolosa, nem culposa, ficando isento do crime, por ausncia do fato tpico. Sendo punido apenas o coator.

    Na coao moral o coagido executa a conduta dolosa forado pelo coator, mas ser isento do crime por inexigibilidade de conduta diversa, que afasta a culpabilidade e o crime. Neste caso tambm s ser punido o coator.

    Se a coao for resistvel, coator e coagido respondero em concurso de agentes. Ver as circunstncias agravantes e atenuantes, respectivamente previstas nos art. 62 e 65 do CP.

  • BIBLIOGRAFIA

    BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral vol. 1, 16 ed. So Paulo: Saraiva, 2012.

    CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral vol. 1, 16 ed. So Paulo: Saraiva, 2012.

    ESTEFAM, Andr. Direito Penal: parte geral vol. 1, 2 ed. So Paulo: Saraiva, 2012.

    GRECO, Rogrio. Curso de Direito Penal: parte geral vol. 1, 13 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

    JJUUNNQQUUEEIIRRAA,, GGuussttaavvoo;; VVAANNZZOOLLIINNII,, PPaattrrcciiaa.. MMaannuuaall ddee ddiirreeiittoo ppeennaall.. SSoo PPaauulloo:: SSaarraaiivvaa,,

    22001133..

    MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado: parte geral vol. 1, 6 ed. rev., atual. e ampliada. Rio de Janeiro: Forense; So Paulo: Mtodo, 2013.

    MMOORRAAEESS,, GGeeoovvaannee;; CCAAPPOOBBIIAANNCCOO,, RRooddrriiggoo JJuulliioo.. CCoommoo ssee pprreeppaarraarr ppaarraa oo EExxaammee ddaa

    OOrrddeemm PPeennaall VVooll.. 55.. RRiioo ddee JJaanneeiirroo:: FFoorreennssee;; SSoo PPaauulloo:: GGeenn//MMttooddoo,, 22001122..

    NUCCI, Guilherme de Souza. Cdigo Penal Comentado: verso compactada, 2 ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.