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‘Voltar para Casa’ Recursos para Introdução da Meditação dentro da Tradição Cristã Conteúdo 1. O que é a Meditação na Tradição Cristã? 2. O Caminho do Mantra 3. A viagem da Meditação 4. Os Frutos da Meditação 5. Estágios da Viagem 6. Organizando o Seminário “Voltar para Casa” 7. Palestras Introdutórias 8. Perguntas e Respostas 9. Papel do Grupo de Meditação Cristã 10. Lista de Recursos

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‘Voltar para Casa’Recursos para Introdução da Meditação

dentro da Tradição Cristã

Conteúdo

1. O que é a Meditação na Tradição Cristã?

2. O Caminho do Mantra

3. A viagem da Meditação

4. Os Frutos da Meditação

5. Estágios da Viagem

6. Organizando o Seminário “Voltar para Casa”

7. Palestras Introdutórias

8. Perguntas e Respostas

9. Papel do Grupo de Meditação Cristã

10. Lista de Recursos

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IntroduçãoVocê está prestes a tomar parte na partilha com outros do ensino da meditação. O manual oferece-lhe recursos para isto coletados na experiência de muitos, ao realizarem a introdução à meditação dentro da tradição Cristã. Você também se tornará mais consciente de como nossa comunidade é chamada a ser. Todo bom professor deixa depois de si uma escola e como Cristãos estamos na Escola de Cristo, ‘aprendendo a nos revestir de Cristo’, como disse São Paulo. São Bento deixou sua Regra para Cristãos em todos os caminhos da vida e chamou o mosteiro de ‘escola do serviço do Senhor’.

John Main é o fundador de uma escola dentro da grande Escola de Cristo e da Oração Cristã. Através de sua inspiração muitos encontram um caminho para retornar ao essencial da experiência Cristã, à oração do coração, à experiência do Cristo interior, ao Espírito que habita em nós. John Main sabia tão bem quanto qualquer um que o ensinamento da meditação é “captado” mais do que “ensinado”, mas mesmo assim encorajou muito às pessoas a se esforçarem para o levar adiante, para ensiná-lo, compartilhá-lo com outros, em grupos pequenos ou individualmente ou apenas por seu exemplo silencioso. Compreendeu muito claramente que se trata de uma comunicação pessoal, e que cada um de nós medita porque este dom lhe foi passado por alguém pessoalmente, em alguma etapa de sua vida. Como acontece com qualquer dom do Espírito, ele pede para ser compartilhado.

Aprender sempre significa aprendendo a aprender, e sobretudo numa escola espiritual os professores são estudantes e os estudantes são professores. Professores ideais são pessoas que tem humildade bastante, sabedoria e conhecimento suficiente para poderem entrar numa situação e realmente estar abertos ao momento presente. Qualquer grupo em que se esteja será uma relação única. Se estiver dando uma palestra numa noite ou por um dia, isto se torna uma relação muito próxima. Estão lhe ouvindo – dá medo, pode ficar nervoso, mas poderá transformar isto em vantagem, mostrando seu estado em vez de tentar esconder, e encontrando nesta fraqueza o sentido do Espírito. Aprenderá algo com isto. Esta situação única que poderá ser sentida por alguns, é de certa maneira como estar num palco. Um ator que vai representar Hamlet seis noites por semana, provavelmente sente que sabe o texto mas ao mesmo tempo sabe que sua performance será bem diferente a cada noite, uma audiência diferente, talvez local diferente, etc. A peça que está representando tem significados infinitos e ramificações com as quais pode sempre aprender. Em nosso caso não estamos representando ou lendo o texto de outro. Estamos sendo nós mesmos e falando a partir de nossa própria experiência, dentro de uma tradição e de uma comunidade.

Acontece então que se puder enfrentar a situação desta maneira (com preparo suficiente mas também com bastante espontaneidade e risco) o ensino será realmente enriquecedor para você. De alguma maneira também aprenderá algo toda vez. Talvez seja no que diga e que não sabia estar sabendo ou em conexão que faça, numa percepção de algo da Escritura. Pode ser em questão levantada por alguém ou apenas na peculiaridade do grupo, que de certa maneira encarna um aspecto do mistério do qual você não tinha consciência anteriormente.

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É importante constatar que dar uma palestra é ação muito criativa, plena de oração, uma experiência muito real da presença de Cristo dentro de e entre todas as pessoas.

Embarcar em tal seminário de introdução à meditação é um salto de fé a cada vez. Nunca se encontra um caminho fácil para enfrentá-lo. É sempre um salto de fé. Se conseguir essa abordagem toda vez que apresentar um ensinamento, então crescerá. Cada ato de fé aprofunda a própria fé.

Penso que deve examinar-se – porque quer fazer isto? Porque quer ensinar meditação? É preciso que queira fazê-lo. Deve ser algo que tenha muita vontade de fazer. Mas deve também sentir uma insegurança saudável a este respeito. Queira fazê-lo mas não seja demais seguro. Por outro lado, não sinta que não sabe o bastante. Muita fé, um pouco de experiência, então se somam. E não se tem certeza o que é fé e o que é experiência.

Cada vez que fizer este salto de fé para compartilhar o ensinamento, estará aprofundando sua própria compreensão dele. Pense nisto cada vez como um momento de inocência com o grupo com que estiver. É certamente um momento de igualdade. Estará com eles, eles estarão com você. Existem momentos na vida como no nascimento e na morte, casamentos, em que de certa maneira, como seres humanos, chegamos a uma inocência primordial. É com isto que se assemelha compartilhar um caminho espiritual. Penso que um seminário como este deve ser como um grupo de meditação ou meditar junto. Abordamo-lo com alegria, com antecipação, num desses momentos de inocência.

Os Dois PombosSímbolo da Comunidade Mundial para Meditação Cristã

e da Medio Media

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O símbolo dos dois pombos na borda de um cálice ou outro vaso é muito antigo e repercute profundamente em muitas culturas.

O uso do símbolo pela Comunidade Mundial inspira-se no mosaico do quinto século na Galla Placidia, uma das Igrejas Cristãs primitivas de Ravenna, originalmente construída como túmulo imperial. Existem antecedentes do símbolo tanto na arte Romana como na Grega mas suas primeiras raízes são provavelmente Fenícias.

O símbolo da pomba bebendo é arquetípico. É uma metáfora transcultural do sagrado, do qual se pode ter experiência somente por absorção pessoal na realidade. A associação com a água na iconografia Cristã evoca o simbolismo místico da morte, nascimento e regeneração ou purificação pelo batismo. A água é o princípio feminino antigo na natureza, associado com as fases da lua e de todo poder de doação de vida. Como néctar, era símbolo Grego de imortalidade, como vinho, torna-se o sangue de Cristo na iconografia Cristã.

A pomba é símbolo Cristão do Espírito Santo. Na mitologia Grega era o pássaro de Venus – pássaro do amor. Na arte Cristã, os sete dons do Espírito Santo foram representados como pombas na Árvore da Vida, ou bebendo as águas da sabedoria e da vida eterna.

O Cálice evoca o mistério do sacrifício, que está no coração da Eucaristia Cristã, onde o Filho se oferece ao Pai no amor do Espírito Santo, e une toda criação nesta oblação. Uma extraordinária semelhança com este rico símbolo espiritual pode ser encontrada no Mundaka Upanishad da tradição da Índia, que assim o descreve:

“Os pássaros, dois amigos gentis, moram na mesma árvore. Um, come o fruto dela e o outro observa em silêncio. O primeiro é a alma humana que descansa naquela árvore e, apesar de ativa, sente-se triste por sua falta de sabedoria. Mas ao ver o poder e a glória do espírito superior, fica livre da tristeza”

Aqui o dualismo dos dois pássaros sugere a unidade subjacente da vida ativa e da vida contemplativa em cada ser humano. Marta e Maria são irmãs inseparáveis na vida de todos que adoram a Deus na profundeza de seu espírito.

Como disse John Main:

“Existe uma harmonia essencial entre Ser e Ação. Deus é atividade pura. A pura quietude não é inativa. É energia harmonizada que chegou ao mais alto objetivo a que se destina, e esta harmonia contem o poder e o significado de todo movimento. A meditação é a realização do Ser, da pura ação. Não pode ser um estado meramente passivo porque o que é tanto energético como parado é, no ponto mais alto da ação, energia – consciência incandescente”.

A Roda da Oração

Quietude no Centro

A finalidade de uma roda é movimentar uma carroça. A oração é a roda que movimenta nossa vida espiritual em direção a Deus.

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Para girar, a roda precisa estabelecer contato com o chão. Se não tocar o chão, a roda não pode movimentar a carroça; ela ficará somente girando em torno de si mesma. Por isso é preciso que haja um tempo e lugar em nossa vida diária que dedicamos à oração.

Os raios da roda são como as diferentes formas de oração. Todas as formas de oração são válidas e dão resultado. Temos a Eucaristia, oração de intercessão, a oração de petição, os sacramentos, a leitura da Escritura e as devoções pessoais.

O que mantém os raios juntos e faz virar a roda é o aro central. Os raios convergem no eixo central. Podemos pensar no eixo central como sendo igual à Oração de Cristo que habita em nosso coração.

No eixo central da roda existe imobilidade. Sem o ponto fixo no centro, a roda não pode girar.

A meditação consiste em atingir a quietude no centro de nosso ser. Quando meditamos, atingimos esta quietude central que é a fonte de toda nossa ação, nosso movimento para Deus, por meio de Cristo dentro de nós. O movimento da roda requer imobilidade no centro. Esta é a relação que existe entre ação e contemplação.

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O que é Oração?Uma definição muito antiga de oração descreve-a como “a elevação do coração e da mente para Deus”. O que é a “mente”, o que é o “coração”? A mente é o que pensa - ela questiona, planeja, preocupa-se, fantasia. O coração é o que sabe – ele ama. A mente é o órgão do conhecimento, o coração, o órgão do amor. A consciência mental precisa eventualmente ceder e abrir-se à forma mais plena de conhecer que é a consciência do coração. O amor é conhecimento total.

Entretanto, a maior parte de nosso treino em oração limita-se à mente. Fomos ensinados, quando crianças a dizer nossas orações, a pedir a Deus o que necessitamos para nós ou para outros. Mas esta é apenas uma das metades do mistério da oração. A outra metade é a oração do coração, onde não estamos pensando em Deus ou falando com ele ou pedindo alguma coisa. Permanecemos simplesmente com Deus, que habita em nós pelo Espírito Santo que nos foi dado por Jesus. O Espírito Santo é o amor, o relacionamento de amor que flui entre Pai e Filho. É este Espírito que Jesus infundiu em cada coração humano. A meditação é, portanto, a oração do coração que nos une com a consciência humana de Jesus, no Espírito. “Não sabemos rezar como convém, mas o próprio Espírito Santo reza dentro de nós”. (Romanos 8.26)

Podemos estabelecer regras para a oração mental – oração com palavras ou utilizando pensamentos sobre Deus. Existem muitos “métodos de oração mental”, mas para a oração do coração não há técnica ou regras: Onde está o Espírito, haverá liberdade. (2 Coríntios 3:17)

O Espírito Santo na Igreja moderna, especialmente após o Concílio Vaticano do início dos anos 1960, tem nos ensinado a recuperar esta outra dimensão da oração. Os documentos do Concílio, tanto sobre a Igreja como sobre a liturgia, deram ênfase à necessidade de desenvolver “uma orientação contemplativa” na vida espiritual dos Cristãos. Todos são chamados à plenitude da experiência de Cristo, qualquer que seja seu tipo de vida.

Isto significa que devemos ir além do nível da oração mental: falar com Deus, pensar em Deus, pedir a Deus nossas necessidades. Precisamos chegar às profundezas, aonde o próprio espírito de Jesus está orando em nosso coração, no silêncio profundo de sua união com nosso Pai, no Espírito Santo.

Oração contemplativa não é privilégio de padres e freiras ou tipos místicos especiais. É dimensão da oração a que somos chamados. Não se trata de experiências extraordinárias ou estados alterados de consciência. É o que Tomás de Aquino chamava “simples gozo da verdade”. William Blake falou da necessidade de “limpar as portas da percepção” para que possamos ver tudo como realmente é: infinito.

Tudo isto diz respeito à consciência contemplativa na vida comum. A meditação leva-nos a isto, e faz parte do mistério total da oração de qualquer pessoa que esteja procurando a plenitude do ser.

Pense na oração como uma grande roda. Roda que gira toda nossa vida em direção a Deus. A oração é parte essencial de uma vida plenamente humana. Se não oramos, estaremos apenas meio vivos e nossa fé meio desenvolvida.

Os raios da roda representam diferentes tipos de oração. Oramos de diferentes maneiras, em momentos diferentes, conforme nos sentimos. Pessoas diferentes preferem diferentes modos de oração. Os raios representam, por exemplo, a Eucaristia, os outros sacramentos, oração espiritual, de petição e intercessão, carismática, devoções, o rosário, etc.

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Entretanto, o que torna Cristãs todas estas diferentes formas de oração é serem centradas em Cristo. Os raios são formas de expressão que se ajustam ao eixo central da roda que é a oração do próprio Jesus. Sua oração é significado e fonte da oração Cristã. Em São Paulo: “Não sou eu quem ora mas Cristo que ora em mim”. Assim, no modelo da roda, toda forma de oração flui para dentro e fora do espírito de Jesus, louvando a Deus na criação e por ela. Toda forma de oração é válida. Todas têm efeito. São inspiradas pela oração da consciência humana de Jesus que está em nós pela graça do Espírito Santo.

Esta é uma compreensão à luz da fé da roda da oração. Não estamos pensando nisto enquanto meditamos. Como experiência, a roda também nos ensina algo importante. No eixo da roda, no centro da oração, encontra-se a quietude. Sem quietude no centro, não haveria movimento ou crescimento na circunferência. Meditação é o trabalho de encontrar e ser um com esta quietude, que é a marca do Espírito. “Aquiete-se e saiba que eu sou Deus!”

Oração contemplativa é abertura total e união com a oração de Jesus. Contemplação é ser silencioso, quieto e simples. E o coração da oração de Jesus é sua comunhão de amor com o Pai, é sua atenção voltada para o Pai, no Espírito Santo.

Portanto, a oração Cristã significa entrar na vida da Santíssima Trindade em, através e, com a mente e o coração humanos de Jesus.

Para muitos, a oração é basicamente um apelo a Deus por ajuda em tempos de necessidade. É natural expressar nossa fé e confiança em Deus desta maneira e nestas horas. Mas qual é nossa fé em Deus? Não é que, como diz Jesus, Deus conhece nossas necessidades antes mesmo que peçamos?

Não expressamos nossas necessidades para informar Deus do que não sabe ou para persuadi-lo a mudar de idéia. Rezamos por nossas necessidades sobretudo porque assim aprofundamos nossa confiança em que Deus sabe e se interessa por nós.

A não ser que nossa fé seja clara e profunda, nossa oração pode facilmente encalhar em seu desenvolvimento, retida em nível do ego. Para muitos Cristãos esta é a crise de sua fé hoje em dia e reflete o freqüente nível superficial de espiritualidade Cristã. A oração do coração, oração contemplativa, meditação, é essencialmente oração de fé. Em silêncio aceitamos que Deus conhece nossas necessidades, e que este conhecimento é o amor responsável pela criação e que eventualmente nos completará.

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O Ensinamento EssencialSão Paulo disse que não sabemos orar, mas o Espírito ora dentro de nós (Romanos 8:26). Esta é a chave para compreender o verdadeiro significado da oração Cristã. Sugere que aprendemos a orar não por nos esforçar, mas suspendendo, ou deixando de lado, nosso esforço. E, ao invés, aprendendo a ser.

Isto abre caminho à oração profunda do coração, aonde podemos encontrar “o amor de Deus enchendo as profundezas de nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado por Ele” (Romanos 6:5). Isto é vivência pura, para além de pensamento, dogma e imaginação.

Meditação é prática espiritual universal que nos encaminha à esta dimensão de oração, à oração de Cristo. Leva-nos ao silêncio, quietude e simplicidade.

Como Cristãos, meditamos porque acreditamos no Cristo ressuscitado, que ele vive e que vive dentro de nós. Como discípulos de Jesus, o Mestre, acreditamos quando ele nos chama para deixar de lado as preocupações do eu e segui-lo ao Reino de Deus, para “participar no próprio ser de Deus”.

A meditação tem pois a ver com o relacionamento com Jesus. Jesus sabia que tanto vinha do Pai como estava com ele. Este conhecimento de si mesmo de Jesus leva-nos a nos conhecer como templos do Espírito Santo. Entendemos também que não precisamos procurar por Jesus porque Jesus já nos encontrou. Não escolhemos, somos escolhidos.

É nossa fé que torna nossa meditação Cristã. É Cristã também por ser centrada na consciência humana de Jesus, dentro de nosso ser interior. Como Cristãos, naturalmente meditamos com outros Cristãos, nossa vida é orientada e enriquecida em comunidade pela Escritura, sacramentos e diferentes formas de ministrar do Espírito, com amor e compaixão.

A teologia básica da meditação é a mesma que é básica no evangelho. Jesus, por sua vida, morte e ressurreição, abriu para nós um caminho para Deus e ao nos enviar o Espírito Santo, transformou-se em nosso caminho e nosso guia.

A prática da meditação é um caminho de vivência do evangelho, não apenas ler ou pensar. Na meditação procuramos o tesouro interior e precisamos estar preparados para abandonar tudo para encontrá-lo. É o “tesouro escondido no campo”, dito por Jesus na parábola do Reino. Como professores de meditação, somos chamados a viver a experiência de Jesus em nossa vida, em nossa jornada espiritual, e a ajudar a passar esta tradição para outros.

Sabemos que a meditação é um caminho de abrir mão, não apenas de imagens e conceitos, mas também de expectativas. Não é um caminho para procurar fazer algo, ou desejar chegar a algum lugar, ou, por assim dizer, forçar a mão de Deus. “Não se faça a minha vontade, mas a Sua”. A meditação tem a ver com perceber, mais do que atingir. Perceber a presença interior de Deus, perceber o que já foi feito, como costumava dizer Dom John Main. Trata-se de deixar de lado metas.

Jesus não ensinou nenhum método especial de oração, mas podemos ver, pelo que diz sobre a oração no Sermão da Montanha, que a meditação é um caminho para encontrá-lo e segui-lo. A meditação é totalmente consistente com seu ensinamento sobre oração.

- A oração, assim como a boa obra, não deve ser somente exteriorizada. Não se trata de parecer santo ou ser admirado por outros. Nem se trata de nos sentir santos. Jesus diz “sua mão esquerda não deve saber o que está fazendo a mão direita”. A oração é um trabalho humilde e espontâneo que nos ajuda a discernir a realidade. (Mateus 6:1-4)

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- A oração deve ser interior. Pessoas que preferem oração muito pública caem facilmente na hipocrisia, que é discórdia entre nossa identidade interior e a exterior. Jesus nos diz para ir “a nosso quarto particular” e orar naquele “lugar secreto”. A palavra ‘secreto’ aqui significa também ‘misterioso’. Mistério não é mágica. É a experiência da realidade que a consciência mental por si só não pode conter ou compreender. A oração é por natureza misteriosa, e o lugar mais profundo do mistério na vida humana é o coração. O ‘quarto particular’ é metáfora da câmara interior do coração. (Mateus 6:5-6)

- Na oração não devemos “ir falando”. Mais palavras não fazem Deus nos ouvir melhor. À oração não importa quantidade – “orações” - mas qualidade – “atenção”. (Mateus 6:7-8)

- Oração não é em primeiro lugar pedir coisas a Deus, porque ele “sabe o que precisamos antes que peçamos a ele”. (Mateus 6:8)

- Precisamos priorizar os tesouros espirituais do Reino mais do que o bem-estar material. (Mateus 6:19-21)

Precisamos parar de nos preocupar com o futuro e confiar em Deus. A ansiedade é inimiga da oração. Faz que fiquemos demais auto centrados e impede que percebamos o dom já depositado com amor em nossos corações. (Mateus 6:25-37)

Finalmente, Jesus diz que a oração é “colocar nossa mente no Reino de Deus em primeiro lugar”. Em outras palavras, dar atenção à “única coisa necessária” - ter isto em mente. Então todas as outras coisas virão também. (Mateus 6:33)

Estes sete ensinamentos de Jesus sobre a oração é o que colocamos em prática na meditação: humildade, interioridade, silêncio, confiança, espiritualidade, paz e atenção.

E ainda, não se preocupe com o amanhã, ele nos diz. Na meditação deixamos de pensar no passado e no futuro e aprendemos a viver plenamente no momento presente. Não precisamos dominar técnicas difíceis ou teorias para meditar. Precisamos apenas nos sentir à vontade e alertas. Isto é o que o mantra nos ajuda a fazer.

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O que é a MeditaçãoMeditação, como ensina John Main, é um caminho de auto conhecimento e auto aceitação. Este é o primeiro passo indispensável a qualquer conhecimento de Deus. Mas não é sobretudo um conhecimento intelectual, porque a ele se chega por profunda harmonia na quietude de mente e corpo. O corpo faz parte do caminho espiritual para Deus. Tampouco é uma viagem isolada ou a sós. A solidão da meditação nos alerta para a profunda interdependência com outras pessoas e por isto ‘meditação cria comunidade’.

John Main via na Igreja do futuro uma Comunidade. A renovação espiritual do Cristianismo é o próximo grande passo no movimento que vai da identidade medieval para a identidade moderna. Com isto advirá nova apreciação da compreensão Cristã básica da própria oração. Oração não é falar ou pensar em Deus mas estar com Deus. Minha oração não é basicamente minha se estou transcendendo minha visão estreita e egocêntrica da realidade. A essência da oração Cristã é a consciência humana de Jesus adorando a Deus no centro da pessoa humana.

Na meditação, o caminho que leva adiante na consciência crescente do Espírito orando dentro de nós, repousa na fidelidade profunda em dizer o mantra. É a fiel repetição de nossa palavra que integra todo nosso ser. Faz isto porque nos leva ao silêncio, à concentração, ao nível de consciência necessário para permitir a abertura da mente e do coração ao trabalho de amor de Deus, nas profundezas de nosso ser.

Ao começar a meditar, temos três objetivos preliminares.1. Dizer o mantra durante toda a duração da meditação. Levará provavelmente algum tempo

para atingir este primeiro estágio e temos que aprender a ser pacientes. Não podemos forçar o acontecimento, mas simplesmente dizer o mantra sem pressa, ou expectativa.

2. Dizer o mantra durante toda a meditação sem interrupção, mantendo calma diante de distrações. Nesta fase o mantra se assemelha a um arado que continua resolutamente através do campo revolto de nossa mente, sem se desviar por obstruções ou distúrbios.

3. O terceiro destes objetivos preliminares é dizer o mantra durante todo o tempo da meditação, inteiramente livre de distrações. As áreas superficiais da mente estarão em sintonia com a paz profunda no âmago do ser. Os mesmos sons harmônicos estarão em todo nosso ser. Neste estado vamos além do pensamento, além da imaginação, e além de imagens. Estamos simplesmente em contato com a Realidade, na presença do Deus que habita em nosso coração.

Esta transformação de nossa natureza é colocada para nós como possibilidade real e imediata. O mantra é simplesmente um meio que conduz a esta experiência Cristã central, levando-nos a conhecer, por nossa própria experiência, que o amor de Deus enche nosso coração mais profundo, pelo Espírito Santo. Precisamos prepará-lo para receber a maravilhosa mensagem do Evangelho em toda plenitude. E até que tenhamos expandido nossa consciência seremos incapazes disto, e seremos incapazes também de conhecer o que realmente significa a linguagem tradicional religiosa que usamos.

A meditação é precisamente o caminho que precisamos seguir para expandir nossos corações, abrir nossa visão e clarear a mente e a percepção. Os estágios de nosso progresso virão a seu tempo, o tempo de Deus. Somente impedimos esta progressão ao ficarmos demais auto conscientes sobre nosso estágio de desenvolvimento. A maior tentação de todas é complicar o processo e a nós mesmos. “A não ser que se tornem como criancinhas ...” A meditação nos simplifica ao ponto de poder receber a plenitude da verdade e a plenitude do amor.

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A PráticaA meditação é vivência. Isto é trata-se de uma forma de experiência não de teoria ou de qualquer pensamento. É uma forma incarnada de oração. O corpo não é barreira entre Deus e nós. É o sacramento de nosso ser que nos foi dado por Deus. É por isso que o corpo precisa fazer parte de toda a experiência da oração. As regras simples são: Sente-se: o corpo relaxado mas não em posição indolente Sente-se quieto: o corpo expressa a atitude total da pessoa, de atenção e reverência. Mantenha as costas retas, o corpo alerta e acordado. Respire normalmente: a forma ideal seria pelo ventre. Fique relaxado mas alerta: a fórmula para a paz. Delicadamente feche os olhos e comece a recitar o mantra: Ma-ra-na-tha. Repita sua

palavra de oração durante todo o tempo da meditação.

Ao sentar para meditar, aproveite para encontrar a postura que lhe possibilite conforto e segurança. Relaxe tensões óbvias do corpo, nos ombros, pescoço, olhos, testa. As posturas sentadas básicas, para se experimentar, são numa cadeira de costas retas, num banco de oração, ou sentando no chão de pernas cruzadas, com pequena almofada atrás como suporte.

Escolha uma hora sossegada e lugar onde não seja perturbado. Trate sua meditação como tempo prioritário. Começará a ver porque meditantes consideram estas horas como as mais importantes do dia. Se possível, mantenha a mesma hora e lugar todo dia pois isto ajuda a aprofundar o ritmo de oração na vida. Sobretudo seja suave consigo mesmo. Dê tempo ao tempo para inserir esta nova disciplina em sua vida.

Inicie e termine a meditação com música ou outra coisa que aquiete e concentre. A meditação pode ser integrada a outras formas de oração, como a Eucaristia ou Escritura.

Meditar com um grupo semanalmente é meio poderoso de aprofundamento e apoio. Grupos permitem compartilhar inspiração e encorajamento e constituem oportunidade de ouvir ensinamentos. Experimenta-se a dimensão da presença de Cristo revelada “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome”. (Mateus 18:20)

A dificuldade prática que todos encontram na meditação é o problema incessante da distração. É simplesmente o efeito da atividade mental constante. O mantra é meio simples e com resultado para lidar com todo tipo de distração. Diante da distração: Não procure lutar contra, quer se trate de pensamentos, imagens ou sentimentos. Dê toda atenção ao mantra, suave e fielmente retornando a ele durante toda meditação. Não ligue para a distração. Trate como ruído de fundo. Seja humilde, paciente, fiel, mantenha senso de humor: não transforme toda nuvem em

noite escura. Mas não subestime a perseverança que precisará ou a graça que receberá.

O mantra é como um caminho através de uma selva espessa. Por mais estreito que seja o caminho, siga-o fielmente e ele o levará além da selva da mente, para o grande espaço aberto do coração. Quando lhe parecer que vagou para fora do caminho, simplesmente retorne imediatamente a ele. Fracasso e sucesso não são termos relevantes para descrever a experiência da meditação. São termos usados pelo ego, e na meditação estamos aprendendo a “deixar para trás o eu, o ego”.

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A Oração no Novo Catecismo

O Novo Catecismo da Igreja Católica contem resumos sugestivosdos ensinamentos tradicionais da igreja sobre a oração.

Uma leitura cuidadosa das seções que seguem será compensadora.

Seções citadas:

2608 – conversão do coração...não ficar repetindo frases vaziasNossa oração simples e direta do coração, dentro do Espírito de Cristo, nos reconcilia com inimigos e com toda a humanidade em nossa jornada espiritual de volta ao Pai.

2612 – o Reino de Deus está próximoNa oração permanecemos alertas com e em Cristo. Vemos nossa vida e toda criação redimida no Cristo Ressuscitado que é o mesmo, ontem, hoje e para sempre.

2614 – o mistério da oração para o Pai...em nome de JesusA vontade do Pai é uma com a vontade de Jesus. Nada é recusado a quem une seu coração com fé e amor ao Cristo glorificado.

2615 – o Espírito Santo interior...No Espírito Santo nossa oração é uma com a comunhão de amor que une o Pai e o Filho.

2616 – a Oração de JesusNa oração nossos corações estão unidos pela fé com a oração de Jesus ao Pai. Por ele, com ele e nele.

O Caminho da Oração

2664 – acesso ao Pai pela oração em nome do FilhoComo o Espírito de Cristo está sempre presente em nossos corações, nossa oração, tanto falada como silenciosa, pessoal ou comunitária, retorna no amor ao Pai.

2666 – plenitude do nome de JesusO sagrado nome de Jesus é único. Contem a plenitude do plano de Deus de redenção para toda a humanidade e toda a criação. Ao pronunciar o nome do Senhor entramos pela fé na Presença Divina.

2668 – repetição do nome como oração...”todo o tempo”Ao permitir que o sagrado nome de Jesus fique arraigado em nosso coração, vivemos no amor e pelo amor. Nossa vida é transformada.

2689 – grupos de OraçãoA igreja é uma comunidade de fé alimentada pelo amor e pela prática dos fieis. Grupos pequenos de crentes dedicados à oração renovam e enriquecem toda a comunidade e o mundo.

2691 – tendo um lugar especialA oração litúrgica comunitária pode ser melhor oferecida numa igreja (ou mosteiro) que é a casa de Deus. A oração pessoal pode ser melhor praticada em casa, ou capela particular. Peregrinos podem oferecer orações nos lugares sagrados do mundo.

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Disposição do Coração

2705 – A meditação é sobretudo uma busca.A oração é parte essencial de nossa busca de compreensão. O que podemos aprender nas Escrituras, ícones, símbolos sagrados e trabalhos de espiritualidade; e como podem eles nos aproximar de Deus hoje em dia?

2706 – Meditar no que lemos...Na oração e na leitura atenta confrontamos o texto com nossa própria vida. O que capto com minha mente e com meu coração?

2707 – “...métodos de meditação...”Somos encorajados a seguir os ensinamentos de um grande mestre espiritual para que nos guie num caminho que leve ao Pai, por meio de Cristo, no Espírito de Amor. Nossa determinação de perseverar conduz ao amor de nossa prática diária.

2708 – pensamento , imaginação, emoção, e desejo.Nossas faculdades naturais, intelectuais e emocionais, são motivadas pelo amor a viver mais profundamente no Espírito. Formas tradicionais de oração nos conduzem à união com Deus no silêncio.

Oração contemplativa

2709 – O que é oração contemplativa? Na oração contemplativa nossos corações estão unidos a Deus no amor. O Amante e o Amado são um.

2710 – tempo e duração Devemos providenciar uma hora certa em lugar sossegado para a oração, caso estejamos com vontade ou não. Entramos no coração “em pobreza e fé”.

2711 – “recolhendo-se no coração”... “permanecendo onde o Senhor habita em nós...”No silêncio de nossos corações plenos de fé oferecemos todo nosso ser a Deus – oferecendo-nos a Deus e aceitando-nos como vindos Dele.

2712 – a retribuição do amor... resposta de entrega e uniãoComo filhos de Deus, recebemos de bom grado o amor de Deus em nossos corações e o retribuímos. Este continua sendo o amor trinitário: Pai, Filho e Espírito.

2713 – comunhão com a Santíssima TrindadeOração contemplativa é dom (graça), um acordo (relação), e uma comunhão (Criador/criatura/criação).

2714 – Cristo habitando em nossos corações...O tempo na oração é “intenso” e pleno do poder do Espírito, fortalecendo nossa fé, estabelecendo-nos no amor.

2715 – o “olhar” fixo em Jesus...conhecimento interior do Senhor.Na oração não nos voltamos para dentro de nós mesmos como objeto de estudo. Dirigimos nosso ser mais verdadeiro para os outros e para Deus em silêncio, quietude e simplicidade.

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2716 – participando no “Sim” de Jesus O Fiat de Maria e o “Sim” de Jesus estão unidos em nossos corações. Somos ouvintes ativos da palavra não falada de Deus.

2717 – o silêncio interiorPela consciência humana de Jesus, nossa oração sem palavras aquece o coração e sopra o fogo do amor de Deus.

2718 – relações da oração contemplativa com a EucaristiaNossa vida, nossa oração, nossa louvação estão unidos na oração de Cristo e em sua Igreja.

2719 – oração contemplativa e o mistério Pascal “na intenção das multidões”. A disciplina da oração é uma jornada espiritual diária compartilhando na Vida, Ensinamento, Morte e Ressurreição de Jesus.

2729, 2730, 2731 – distrações, aridez, problemas com a fidelidade na oraçãoQuando surgem distrações devemos ignorá-las e simplesmente retornar a nossa oração. Protegemos o coração dia e noite para estar melhor preparados para receber o amor de Deus. Aceitamos nossas percepções da oração como áridas e sem gosto, sabendo que isto “dará muito fruto”.

2732 – enfrentando tentações na oraçãoEm nossa vida diária, a nada preferimos em lugar de Cristo. Este compromisso eleva nossa fé. Frente ao fracasso aparente, renovamos o compromisso de percorrer a trilha da oração, confiando na graça de Deus.

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O Mantrana Tradição Cristã de Meditaçãoe o ensinamento de John Main

O ensinamento sobre o mantra é o coração do ensinamento de John Main sobre a oração. É também sua contribuição mais importante para a espiritualidade Cristã contemporânea, com ramificações em muitos aspectos da igreja e seu papel no mundo moderno. Portanto, é importante saber com clareza o que ensinou e como este ensinamento se encaixa em toda a tradição Cristã de oração: como deriva desta tradição e como contribui para ela.

O que ensinou surgiu de experiência própria na jornada espiritual e da história de sua vida.

Como John Main redescobriu e recuperou o mantra

Nas Palestras de Gethsemani John Main descreve como teve seu primeiro encontro com o mantra e começou a praticar a meditação. Seu mestre Indiano ou Swami Satyananda, veio ao encontro do forte desejo do jovem Irlandês de aprofundar sua própria fé Cristã e vida de oração, quando o introduziu ao mantra, como forma de acalmar ao que ele se referia como a mente cheia de distrações, conhecida como mente de macaco. John Main, em princípios dos anos 50, mostrou também abertura pouco habitual a outra tradição religiosa, ao aceitar este ensinamento. Como nos diz, isto foi resultante da forte impressão que lhe causou seu mestre, como homem de Deus e como alguém cujo ensinamento espiritual era vivido com tanta compaixão ativa e compromisso social.

Podemos ver esta primeira experiência com um mestre espiritual sublinhando a importância posterior atribuída por John Main a que se tenha um professor na viagem da meditação. Aprender a meditar não é somente questão de dominar uma técnica. É muito mais aprender a apreciar e a responder diretamente a nossa própria natureza profunda ... Seria ideal encontrar um professor que ajude na orientação desta peregrinação. Este livro talvez lhe forneça inspiração para fazer isto. (WS 1)

Para muitos no mundo inteiro John Main tornou-se este mestre por quem procuravam – um professor que lhes apontou o Cristo como mestre de todos. Quase trinta anos depois de encontrar seu próprio mestre na Malásia, e pouco antes de sua morte, falou sobre o conselho essencial na meditação que havia recebido. Este, disse, foi o melhor conselho que jamais recebeu sobre a oração e podia ser resumido em três palavras: diga seu mantra.

A repetição de uma única palavra ou frase curta para aquietar a mente e abrir o coração não pareceu inteiramente estranho a John Main, quando primeiro ouviu falar nisto. Muita oração Cristã em suas diferentes formas, devoções e liturgia, envolvem a repetição das mesmas palavras, as vezes em forma de cântico: rosário, ladainha, até mesmo o ofício divino ou a Eucaristia. Mantras típicos Cristãos são o Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai. Apesar da tradição ocidental não ter a elaborada e sofisticada ciência do mantra encontrada no oriente, a prática está bem estabelecida.

O novo para o jovem John Main foi a simplicidade e precisão da exposição do mestre sobre o mantra. Pensamentos e sentimentos elaborados são abandonados na prática do mantra que se ocupa, não com atividades mentais, mas com a abertura dos tesouros do coração.

John Main não manteve contato com seu mestre (que faleceu com pouca idade em 1961), mas perseverou na meditação diária que se transformou no fundamento de sua vida espiritual. Quando lhe foi dito de suspender a prática por seu mestre de noviços em 1958, retornou com relutância a uma rotina quase exclusivamente mental, oração vocal e litúrgica. Mas alguns anos depois, a leitura de Augustine Baker, monge Beneditino do sec.17, serviu para fazê-lo voltar a sua prática de Meditação. Baker ocupava lugar de destaque na espiritualidade Beneditina. Sua ênfase na vida contemplativa, sua convicção dela ser o caminho para a espiritualidade madura, sua insistência em que ela estava aberta à leigos e monásticos e sua percepção sobre a eficácia

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de aspirações ligadas ao mantra e à oração jaculatória, chamaram a atenção de John Main em momento crucial de sua vida.

Sobretudo, Baker levou John Main a John Cassian, em cujas Conferências Nove e Dez sobre a Oração, ele encontrou a tradição Cristã do mantra descrita com clareza e confiança. Cassiano, assim como outros mestres da Tradição do Deserto, estava interessado em atingir a finalidade da vida do monge – ‘oração continua’ – e em lidar com o problema perene de distrações mentais. Ele recomendou a repetição continua, ‘incessante’, de uma fórmula pela qual o monge seria levado à ‘oração pura ‘ ou ‘oração do fogo’ e à união mais profunda com o Cristo Ressuscitado. E ainda, os mistérios da Sagrada Escritura seriam conhecidos e experimentados com intensidade incomparavelmente maior. A chave de Cassiano para esta oração do coração, que enfrentava com eficiência o problema avassalador das distrações, era a primeira das Bem-aventuranças: pobreza de espírito.

Seguindo esta linha, John Main encontrou o mesmo ensinamento essencial sobre o mantra na tradição da Igreja Oriental da Oração de Jesus, na Nuvem do Não Saber do século 14 e em mestres modernos tais como o Abade John Chapman.

A tradição da meditação Cristã é muito simples e sobretudo uma resposta prática a esta questão (como orar em profundidade); entretanto concentra em si a rica e profunda experiência de santos conhecidos e desconhecidos. (WS x)

John Main voltou então à prática da meditação. No início, limitou-se a pensar em como esta tradição poderia enriquecer a igreja na vida monástica. Mas logo notou que a relevância ‘deste método muito simples’ estava na maneira como atendia à necessidade gritante de tantos de toda idade e tipo de vida por uma experiência aprofundada de oração.

Seus primeiros ensinamentos publicados sobre meditação foram em resposta a apelo de missionários ativos por um apoio contínuo. Entretanto, seu principal meio de ensino sempre foi oral e pessoal. Sobretudo, evitava falar sobre meditação no abstrato. O mantra, dizia, é captado, não ensinado. Quando dele falava, sempre meditava com seus ouvintes.

O ensinamento mais profundo e o fim de todas as palavras será uma participação no momento criativo da oração. (WS xi) Basicamente seu professor tem apenas uma instrução para dar que é dizer seu mantra. Mais do que isto é apenas encorajamento e conforto até que o mantra esteja arraigado em sua consciência. (WS 17-18)

Como dizer o mantra

“Amorosamente e em profundo espírito de fé” (WS 17)...Sem pressa ou expectativa. Não existe método estabelecido para dize-lo, exceto que deve ser dito no interior, silenciosamente e em quietude física, sem movimento dos lábios ou língua. As sílabas devem ser articuladas claramente. Muitos coordenam o mantra com a respiração mas não se recomenda nenhuma técnica especial de respirar. Uma forma freqüente é dizer o mantra na inspiração e expirar em silêncio. A atenção deve ficar focalizada no som do mantra. Deve-se ‘escutá-lo’ . Repetir delicada e fielmente sem muito esforço. Não o use como instrumento para reprimir ou espantar pensamentos. Ignore as distrações (todos os pensamentos e sentimentos durante a meditação são distrações). Não analise o significado do mantra. Abrace-o generosamente como uma disciplina.

A meditação não é uma técnica de oração...digo simples, não fácil...O caminho da simplicidade logo se torna uma peregrinação em que sentiremos a dificuldade de abrir mão de nossas vidas...O fruto da simplicidade radical do mantra é uma alegria difícil de descrever e uma paz além do entendimento. (WS 47)

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A Nuvem do Não Saber sugere dizer a palavra ‘toda e por inteiro’ e incessantemente. Cassiano diz que o mantra abarca todos nossos pensamentos e sentimentos e assim podemos ‘renunciar a todas as riquezas do pensamento e da imaginação’.

Metáforas

John Main usa uma variedade de símbolos para descrever o mantra, incluindo: instrumento musical, arado, sinal de radar, polir espelho, viagem, cordas de lira, bastão de peregrino, poste alto, imã sobre ferro, chave, pêndulo, limpador de pára-brisa. Dizendo que poderia ser como subir o lado de uma montanha enquanto repercute no vale embaixo. (WS 54)

A Disciplina e a Escolha do Mantra

Duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde, por um mínimo de vinte minutos e tempo ideal de trinta minutos. Hora e lugar sossegados e, quando possível, o mesmo lugar e hora todo dia. Sente quieto e ereto. Fique com a mesma palavra. Não interrompa ou altere

Escolha o mantra em consulta com um professor. Deve ser uma palavra sagrada de sua tradição. A escolha de palavra que não seja em sua língua, ajuda para que não haja associações mentais. O som da palavra é o que importa, especialmente a vogal longa em ‘maranatha’. Sobretudo, fique com a mesma palavra e volte sempre para ela, não se importando com distrações que interrompam sua atenção.

O desafio do mantra deve ser enfrentado e não é contornado por troca constante para outro ‘mais fácil’. Se acontecer de precisar trocar, a ajuda de que precisar lhe será dada.. Tudo que precisamos fazer é começar – e continuar a começar.

Processo e Progresso

A meditação é um processo e é melhor não analisar, nem a si mesmo e certamente não aos períodos de meditação, por sinais de progresso. O que pode parecer meditação desperdiçada pode ser a mais importante da vida, disse John Main. Paciência e perseverança com a disciplina diária vêm em primeiro lugar.

Entretanto, sem perder de vista o ideal, é preciso aprender a ser paciente consigo mesmo diante de desapontamentos, retrocessos, preguiça, ou indisciplina, em sua prática.

Aos poucos, o mantra movimenta-se da cabeça para o coração. No princípio, parece que o dizemos na cabeça, batalhando com todo tipo de distração. Imperceptivelmente, o limite de atenção se expande e ele passa para o coração. John Main disse que existem três objetivos preliminares: primeiro, dizer o mantra durante toda a duração da meditação (dê 25 anos para isto), depois dize-lo enquanto se permanece calmo face a distrações, e finalmente, dize-lo livre de toda distração, para além de pensamento e imaginação.

Outra maneira de descrever o processo é dizer que no princípio se diz o mantra, depois se sonoriza e finalmente se escuta.

É neste momento que nossa meditação está realmente começando. Estamos realmente começando a concentrar distanciados de nós mesmos...envoltos em atenção que vai se aprofundando. WS 54)

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O que faz o Mantra?

Fidelidade que vai se aprofundando leva à conscientização crescente da presença divina dentro de nós. Deparamos com a integração e a simplificação de todo o ser, ao nos abrir à ação do amor de Deus, nas profundezas de nosso ser.

O mantra permite-nos ‘deixar para trás o eu’ em resposta fundamental ao chamado de Jesus para segui-lo em seu mistério pascal. Cada meditação é modelo daquele ciclo vital de morte e ressurreição. Tiramos a atenção de nós mesmos. Paramos de pensar sobre nós, e assim ficamos (como fomos criados para ser) centrados em outro e mais amantes. Nossa consciência encontra um centro mais profundo e mais autêntico. Ela nos desprende aos poucos da consciência do ego. O mantra leva a mente à quietude, silêncio e concentração.

Sente-se os frutos da meditação na vida diária, especialmente em nossas relações. Os frutos do espírito (Gal 5) ficam mais evidentes no desabrochar da vida divina através da natureza humana. Isto mostra sobretudo que dizer o mantra é ato de fé e amor. Os valores da vida, as prioridades, mudam naturalmente e ficam mais harmonizadas com o espírito. Ficamos mais silenciosos, ao ficar atentos a Deus e aos outros. A quietude alerta de mente e coração transforma a vida, enquanto somos conduzidos ‘de profundidade a profundidade do silêncio purificador’(WS 31). Este silêncio não é só nosso mas é o silêncio de Cristo.

Ali no silêncio da Palavra partilhamos sua experiência de se escutar eternamente falado pelo Pai. (WS 34)

Dizendo o Mantra continuamente?

Este é o coração do ensinamento de John Main e de sua transmissão da tradição do mantra. Ele repete o alerta de Cassiano contra a ‘pax perniciosa’ (paz perniciosa) e ‘sopor letalis’ (sono letal) como a flutuação sagrada em que podemos desperdiçar muitos anos ou uma vida inteira.

Um momento particularmente perigoso é quando o mantra nos leva a um estado de repouso e paz. Pensamos que não temos pensamentos, sem perceber que pensar é um pensamento. Procuramos segurar a experiência de paz, sem ver que tentar possuir um dom leva a sua perda.

A simplicidade da repetição continua do mantra significa que evitamos estas decepções óbvias, que tão facilmente colocam o ego de novo encarregado de ‘minha’ oração. O chamado da meditação é pobreza total de espírito. É simples mas não fácil. (WS 56)

Para Sempre?

Em WS 55 e de forma um pouco mais longa em um de seus últimos escritos, a Introdução a Momento de Cristo, John Main descreve sucintamente como o mantra pode, provavelmente depois de longa prática, levar (as vezes) ao silêncio absoluto. Esta experiência não deve ser procurada ou fabricada.

Não era do estilo do ensino de John Main descrever estas experiências porque ele sabia que, não só são indescritíveis, mas que tentar imaginá-las antes de tê-las, pode ser muito contra producente para o progresso. Portanto:

Diga o mantra até que não possa mais dize-lo e logo que perceber que parou de dize-lo, comece a dize-lo de novo.

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Teologia

John Main era um teólogo bom demais, e com demais prática em outras formas de oração para dizer que o mantra era ‘o único caminho’. Ele disse honestamente:

É o único caminho que eu encontrei. Na minha experiência, é o caminho de pura simplicidade que nos permite tornar plena e integralmente conscientes do Espírito que Jesus enviou a nosso coração... (WS 42)

Ele compara (WS 39) o mantra com a Eucaristia na forma como expande níveis de consciência e dimensões de tempo.

É o eco de nossa resposta ao grito de amor do Espírito à vida inteira de Jesus retornando ao Pai (WS 39)

Na escritura (O Coração Ardente) e na teologia, bem como em muitas outras fontes variadas, John Main encontrou ilustrações sobre como o caminho do mantra ajudou o Cristão a ‘verificar as verdades da fé em sua experiência própria’. Em WS ele desenvolve sua teologia de meditação à luz de sua experiência e à serviço da orientação de outros para que também assim o façam, por si mesmo Insistiu que não valia a pena discutir sobre o mantra com alguém que se recusasse a entrar na experiência de silêncio a que leva.

Sua teologia está centrada na visão Cristã de unidade (WS vii). Ele identifica a experiência de Deus em Jesus como o chamado universal para a santidade e a contemplação, e para a realidade que a oração não é minha oração mas a oração do próprio Jesus, em sua consciência humana, que retorna ao Pai no amor, e volta a nós no Espírito. Na meditação, abrimos nossa consciência humana para a dele e assim vamos com ele em seu retorno ao Pai, no Espírito.

O mantra permite que aconteça esta abertura pelo silêncio e a pobreza do espírito. . .

O mantra aquieta e conclama todas as nossas faculdades para chegar a um ponto único...completa simplicidade que demanda nada menos do que tudo. (WS 44)

WS: John Main, A Palavra Que Vem do Silêncio (Paulist 1980) (Edições Paulinas).

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O Caminho do Mantra1. Parece impossível, quase inacreditável para nós quando começamos a aprender a meditar que a disciplina de dizer esta pequena palavra, nosso mantra, possa ser um caminho espiritual profundo, que aos poucos transforma nossa vida de maneira profunda. Mas é isso mesmo. Pense no grão de mostarda a que se referiu Jesus no Evangelho, que cresce e se torna imensa árvore onde os pássaros se aninham para descansar. O mantra é exatamente a mesma coisa. É uma palavra muito pequena, uma pequena semente de fé, mas ela nos faz criar raízes além do efêmero, além das coisas que passam. Ela nos enraíza naquela realidade eterna que chamamos de Deus.

2. O mantra é expressão de nossa fé e amor. Se quiser, é um sacramento, no sentido que é expressão exterior de nossa fé interior na presença de Deus em nosso coração. Em nossa meditação, todos nossos sentimentos de fé, amor, devoção, louvor, agradecimento, etc., estão contidos no fiel e incondicional dizer da palavra de oração.

3. Dizer o mantra é a forma de oração que nos conduz à atitude de silêncio e quietude, simplicidade, pobreza espiritual, total e desapegada atenção à presença do Espírito Santo em nós. É o caminho de silêncio, quietude, simplicidade, compromisso, disciplina, pobreza de espirito, de deixar para trás o eu, de fé, sacrifício, generosidade, e, portanto, de amor.

4. O mantra é o caminho que nos permite transcender as distrações e as maquinações do ego durante nossa meditação.

5. Dom John descreve o poder do mantra nas seguintes metáforas: Um sinal de radar dirige uma aeronave a seu destino em neblina espessa. Enquanto a aeronave focaliza no sinal de radar, ela fica dentro de seu trajeto, está indo para o destino. O mantra é como um instrumento musical que tocamos nas profundezas de nosso espírito, que nos leva para casa, para a fonte da harmonia, para nosso centro. Quando escutamos este instrumento musical tocando em nosso próprio coração, gradual e simplesmente entramos em harmonia com todo nosso ser e assim em harmonia com toda a criação, e em harmonia com Deus. O mantra é como um desses sinais que ficam acendendo no escuro, guiando um navio para o porto ou uma aeronave para a pista. Pisca no escuro. Quando se começa a meditar vai-se dizendo o mantra no escuro. É preciso fazer este ato de fé.

O mantra é como a agulha numa bússola. Ela mostra sempre a direção a ser tomada, desapegada de si mesmo e voltada para Deus. Para onde quer que o ego nos dirija, a bússola sempre aponta para a direção certa. O mantra quando dito com generosidade, fidelidade e amor, sempre apontará na direção de Deus.

Um imã em contato com filamentos de ferro coloca-os nos campos certo de força. Da mesma maneira, o mantra nos conduz a alinhar nossos poderes e faculdades entre si.

O mantra assemelha-se a um arado que continua resolutamente através do campo revolto de nossa mente, inalterado por qualquer obstáculo.

Quando conseguimos ouvir o som do mantra suavemente em nossos corações, é como empurrar levemente um pêndulo que precisa apenas de pequeno estímulo para começar a oscilar em ritmo calmo e firme.

O mantra assemelha-se a um escultor cinzelando um grande bloco de granito. Cada vez que dizemos o mantra, estará sendo estruturada a forma que Deus tem para nós. Podemos pensar que somos vagarosos, até sem mérito. Mas precisamos apenas permanecer em quietude e permitir que sejamos formados.

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6. Dom Laurence Freeman descreve o poder do mantra da forma seguinte: O mantra é como uma trilha através de selva espessa. Por mais estreita que seja, siga-a fielmente e ela levará para além da selva da mente ao grande espaço aberto do coração. Quando achar que saiu do caminho, simplesmente volte a ele imediatamente. O grande dom do mantra é ser imediato. Por mais tempo que tenha estado distraído, perdido na selva da mente, nunca estará mais do que a um passo do caminho. Comece novamente a dizer o mantra, e estará de volta a ele.

Há algum tempo estive num concerto. Enquanto esperávamos que começasse, eu ouvia a orquestra afinando. Era o som mais discordante que jamais tinha ouvido. Cada instrumento tocava à sua maneira, em desarmonia total. Então aconteceu que o oboé, pequeno e discreto instrumento, começou a tocar, e todos os outros se afinaram com ele. Aos poucos a falta de harmonia começou a se acalmar. Houve silêncio e o concerto começou. Parece-me que o mantra assemelha-se muito àquele pequeno oboé. Na meditação, o mantra produz harmonia entre todas as partes de nosso ser, uma por uma, pedaço por pedaço. E quando estamos em harmonia, somos a música de Deus.

7. Quando começamos a meditar, não estamos familiarizados com um mantra como Maranatha. Para que o mantra torne-se familiar e se enraíze em nós, precisamos repeti-lo o mais amiúde possível. No tempo que destinamos especialmente à meditação, 20/30 minutos, vamos dize-lo com toda atenção possível. Mas esse período não é muito longo e sobra o resto do dia e da noite. Dizer o mantra pode estender-se a essas horas. Muitas são as oportunidades durante o dia em que podemos dizer o mantra e assim ir enraizando-o mais profundamente a cada vez. Em oportunidades tais como lavar, limpar carro, correr ou andar, esperar transporte público, viajar de ônibus, metrô, trem, andar de elevador. Dizer o mantra silenciosamente nessas horas é ótima ocasião para praticar a presença de Deus em tudo que fazemos.

8. A repetição continua do mantra, no meio de todas nossas distrações durante a meditação transforma-se em manifestação interior de nossa fé firme em Deus, não importa o que aconteça em nossa vida.

9. Podemos todos usar o mesmo mantra, Maranatha, em nossa meditação individual. Mas é a fé, a fidelidade, e o amor que dedicamos a ele que o torna especial para cada um de nós.

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O Mantra, Distrações e a Mente de Macaco

Quero agora apresentar uma questão especial que todos enfrentamos. É a questão das distrações. O que se deve fazer quando se começa a meditar e pensamentos que nos distraem vêm a nossa mente? O conselho que a tradição tem para dar é ignorar as distrações e dizer sua palavra, e continuar dizendo sua palavra. Não desperdice energia franzindo a testa e dizendo, ‘Não pensarei no que terei para jantar’, ou ‘a quem é que vou ver hoje’, ou ‘onde é que vou amanhã’, ou qualquer que seja a distração. Não tente usar energia para dissipar a distração. Simplesmente ignore-a e a maneira de fazer isto é dizer sua palavra. (John Main, Moment of Christ)

O papel do mantra ao lidar com distrações

O problema que todos temos para chegar ao silêncio interior na meditação é que nossas mentes estão cheias de pensamentos, imagens, sensações, emoções, percepções, expectativas, arrependimentos, uma gama interminável de distrações.

Santa Teresa d’Ávila disse em certa ocasião que a mente é como um barco onde marinheiros amotinados amarraram o capitão. Todos os marinheiros se revezam na direção do barco que naturalmente roda em círculos, e eventualmente se choca com as pedras. Essa é nossa mente, diz Teresa, cheia de pensamentos que nos levam em todas as direções. Ela também diz ‘distrações e a mente errante fazem parte da condição humana e não podem ser evitadas, como é também o caso de comer ou dormir’.

A mente humana tem sido comparada a uma grande árvore com macacos pulando de galho em galho tagarelando sem parar. Laurence Freeman ao comentar esta estória, diz que existe um caminho que leva através desta selva de macacos barulhentos, e este é a prática de recitar um mantra em nossos períodos diários de meditação.

Existe outra estória maravilhosa que ilustra a caprichosa mente humana Na Índia a mente é amiúde comparada à tromba de um elefante, irrequieta, curiosa e sempre dispersiva. Na Índia, ao olhar um elefante numa parada veremos como a comparação é exata. Nas cidades e vilarejos Indianos, elefantes são freqüentemente levados em procissões religiosas pelas ruas até os templos. As ruas são tortas e estreitas, dos dois lados têm barracas de frutas e legumes. Lá vem o elefante com sua tromba irrequieta e num rápido movimento agarra um cacho inteiro de bananas. É quase possível vê-lo perguntando, ‘Que outra coisa esperam que eu faça? Aqui está minha tromba e ali estão as bananas. ‘Ele simplesmente não sabe que outra coisa fazer com sua tromba. Na próxima barraca ele pega um coco e joga dentro da boca depois das bananas. Ouve-se um grande estalo e o elefante movimenta-se para a próxima barraca. Nenhuma ameaça consegue fazer a tromba inquieta sossegar.

Mas o treinador sábio, caso conheça bem seu elefante, simplesmente dará àquela tromba um pequeno pedaço de bambu para segurar antes do início da procissão. O elefante então andará orgulhosamente com cabeça erguida, segurando o pedaço de bambu na sua frente como um maestro com seu bastão. Ele não se interessa mais por bananas ou cocos, sua tromba tem algo para segurar.

A mente humana se parece muito com a tromba do elefante. A maior parte do tempo não tem nada que segurar. Mas é possível evitar que se disperse no mundo de pensamentos, imaginação e fantasia simplesmente dando-lhe algo para segurar – um mantra.

O mantra é um auxílio para a concentração, que nos permite ir além das distrações, incluindo palavras e pensamentos, até pensamentos sagrados. Dizemos o mantra devagar, com atenção firme. Quando descobrimos que a mente dispersou, simplesmente voltamos a nosso mantra. Não podemos impor esta forma de oração por simples força de vontade. Não tente com muita

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insistência. Deixe-se ir, relaxe. Não há necessidade de batalhar ou lutar com distrações. Simplesmente, volte à repetição do mantra.

John Main lembra-nos também que não devemos tentar forçar a eliminação de distrações. De fato, devemos dispensar metas e a tentativa de atingir qualquer coisa. O mantra ficará arraigado em nossa consciência pela simples fidelidade de retornar a ele pela manhã e à tarde. A meditação consiste em nos centrar em nosso âmago, e abrir-nos ao Cristo que está orando em de nós.

Mas aqui uma palavra de precaução. A repetição do mantra não traz paz imediata, harmonia, ausência de distrações ou silêncio. Temos que aceitar estarmos na peregrinação da meditação. Não devemos nos aborrecer com distrações continuas. Nossa finalidade não é ficar livre de todo pensamento. Novamente, esta seria uma meta e não queremos ter metas. John Main aconselhou-nos constantemente a não chegar à meditação com expectativas. Portanto, não lute ou se amofine por causa de distrações. O mantra simplesmente exprime nossa abertura para Deus e Sua presença que habita em nós.

Simone Weil, escritora francesa que morreu em 1943 com idade de 33 anos, foi apóstola da vida espiritual e definiu a oração como sendo atenção. O mantra nos leva a esta atenção.

Pascal sentia que o maior inimigo da oração era o ‘Sono de Gethsemani’ – quando os apóstolos dormiram em vez de ficarem atentos com Jesus. Pascal sentia que a desatenção e sonolência eram inimigas da oração. Novamente, o mantra ajuda-nos com este problema fazendo-nos prestar atenção.

Um problema muito observado pelos que meditam é que o processo de pensar continua mesmo enquanto se diz o mantra. Existe até um termo para isto. Chama-se duplicando. Não é preciso se aborrecer com isto. Com perseverança o mantra se fortalecerá e nossos pensamentos diminuirão à medida que continuamos a peregrinação da meditação.

É importante lembrar que enquanto somos bombardeados por pensamentos e imagens durante a meditação, nossa vontade continua sintonizada na presença de Deus. Para lidar com distrações precisamos de delicadeza e paciência. Temos que esperar, como as virgens sábias, com paciência e esperança. Delicadeza e paciência indicam que o espírito age em silêncio dentro de nós.

(Adaptado de Paul Harris – Christian Meditation, Contemplative Prayer for a New Generation)

Escolhendo o mantra

Como dito anteriormente, maranatha é uma das orações Cristãs mais antigas. É uma palavra aramáica, língua falada por Jesus, e significa ‘Venha Senhor Jesus’ ou ‘O Senhor Vem’. São Paulo termina sua primeira carta aos Coríntios com esta palavra e ela é a última no Livro do Apocalipse de São João. (1 Cor. 16:22; Rev. 22:20). Paulo escrevia aos Coríntios em Grego, mas termina sua carta com a palavra aramáica, maranatha. Mestres da Escritura dizem-nos que Paulo podia fazer isto porque todos os primeiros Cristãos compreendiam perfeitamente esta palavra. Era um código que permitia aos Cristãos entrar em lares para a celebração da Eucaristia.

Maranatha aparece também num dos mais antigos fragmentos escritos existentes da liturgia da Eucaristia. No convite para receber a comunhão o padre diz: Louvor ao Filho de David. Se alguém estiver santo, que se aproxime. Se alguém não estiver santo, que se arrependa. Maranatha. Venha Senhor Jesus. (Didache 10)

Apesar de maranatha ser uma palavra sagrada para Cristãos, na hora da meditação não nos atemos ao significado da palavra. Queremos ir além de pensamentos e imagens e simplesmente permanecer em silêncio no Senhor. Um mantra não é algo mágico; ou misterioso.

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É na realidade algo muito prático porque acalma nossa mente e coração e leva-nos à presença de Deus.

Ao dizer maranatha, a palavra é separada em quatro sílabas enfatizadas igualmente ma-ra-na-tha. E escutamos a palavra como som ao ser dita delicadamente, continuamente pelo período inteiro da meditação. John Main diz que poderá chegar o dia em que penetraremos na nuvem do não saber, em que haverá silêncio, silêncio absoluto, e já não poderemos ouvir o mantra. Este silêncio absoluto poderá durar apenas um curto período de tempo e após devemos retornar a dizer o mantra.

Outros mantras Cristãos

John Main menciona a palavra utilizada por Jesus em sua própria oração, ‘Abba’. Assim como ‘Maranatha’ esta palavra é aramáica e significa ‘Pai’. Menciona também o nome Jesus, apesar de sentir que o mantra Jesus oferece certas dificuldades para os Ocidentais centrados na mente, pois sentia que um mantra na língua do meditante traria inevitáveis associações e portanto distrações.A escolha do mantra é importante e deveria idealmente ser santificada por longo uso. E ainda, ele é em geral dado por um mestre, tal como John Main.

A seguir damos alguns mantras para Cristãos sugeridos por vários escritores. Abba, Paz, Vinde Espírito Santo, Kyrie Eleison, Cristo Ressuscitou, meu Senhor e meu Deus, Veni Sancte Spiritus, Senhor Vinde Logo em Meu Auxílio, Deus é Amor.

Alterando nosso mantra

Tendo em vista que queremos que o mantra fique enraizado dentro de nós, o ensinamento tradicional indica escolher um mantra e permanecer com ele. Se transplantamos continuamente uma planta e arrancamos as raízes várias vezes, pode acontecer que as raízes tendo sido demais molestadas já não peguem mais. Algumas pessoas quando entram em dificuldades com distrações em sua meditação, sentem que é tempo de mudar o mantra. Faz parte da inquietação de nossa época. Tentar um mantra por seis semanas e depois experimentar outro. Mas desta maneira não funciona. Escolha um mantra, fique com ele, e deixe que venha a ficar profundamente enraizado dentro de você.

Existe uma linda estória (apócrifa) sobre um velho eremita do deserto com um mantra que se havia enraizado dentro dele em quarenta anos. As vezes gostava de recitá-lo em voz alta. Sua vida profunda de meditação possibilitava a realização de pequenos milagres, como fazer chuva cair do céu, andar sobre a água num rio das redondezas, e outras coisas semelhantes, ou pelo menos assim diz a estória. Um dia, monges visitantes ouviram-no cantarolar seu mantra e acharam que não pronunciava sua palavra corretamente. Decidiram então que uma correção fraternal se fazia necessária, e ensinaram-lhe como pronunciar da maneira correta. O eremita era humilde e agradeceu-os profusamente pela pronúncia correta. Daquele momento em diante ele disse a palavra corretamente. Entretanto, na próxima vez que foi andar sobre a água, afundou no rio.

Existe outra estória comparando a pessoa que fica mudando o mantra a um fazendeiro que cava em dez lugares diferentes à procura de água. O fazendeiro começa a cavar num ponto até que isso fique difícil, passa então para outro lugar. Nesse novo lugar, diz ‘está demais quebradiço aqui, experimentarei outro’. Em seguida bate numa pedra, e pelo resto do dia passa de um lugar para outro. O que se quer mostrar aqui é que, se o fazendeiro tivesse gasto o mesmo tempo e energia cavando num lugar só, ele logo atingiria a profundidade necessária para encontrar água. Dá-se o mesmo na escolha e recitação de nosso mantra. Persevere e fique com um mantra e ele encontrará a água que dá vida. .

(Adaptado de Paul Harris – Christian Meditation – Contemplative Prayer for a New Generation)

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O Caminho do Mantra naTradição Cristã do Oriente e do OcidenteA mente deve incessantemente agarrar-se ao mantra até que, fortalecida por seu uso continuo, descarta e rejeita a matéria rica e extensa de todo tipo de pensamento, e se restringe à pobreza do verso único... Os que praticam esta pobreza chegam com facilidade à primeira das Bem-aventuranças: ‘Bem-aventurados são os pobres em espírito pois deles é o Reino dos Céus’.

João Cassiano – Conferência X

O resto você aprenderá com a ajuda de Deus, praticando a atenção do espírito e guardando Jesus em seu coração; sente-se pois em sua cela e ele lhe ensinará todas as coisas.

São Simeão, a Nova Teologia

Use esta pequena palavra, e reze não com muitas palavras mas com uma pequena palavra de uma sílaba. Fixe esta palavra fortemente no coração para que ali esteja, venha o que vier. Com esta palavra você suprimirá todos os pensamentos.

A Nuvem do Não Saber – Capítulo 7

Sentado em sua cela...una a mente ao coração e daí envie seu grito mental ao Senhor Jesus.

São Gregório do Sinai

Sentado em sua cela, concentre a mente e a dirija no caminho da respiração em que ao inspirar ela seja levada ao coração Mantenha-a ai, e não a deixe em silêncio, mas ao contrário, dê-lhe a seguinte oração: ‘Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tenha misericórdia de mim’. Que esta seja sua ocupação constante, jamais abandonada...Leva ao desejo do Divino e ao amor.

Monges Callistos e Ignatius – Philokalia

A continua Oração de Jesus, no interior, é um chamado constante e ininterrupto pelo divino Nome de Jesus com os lábios, em espírito, no coração...quem se acostuma a fazer este apelo experimenta como resultado um consolo tão profundo, e uma necessidade tão grande de oferecer sempre a oração, que não poderá mais viver sem fazer isto, que continuará por si a se fazer ouvir dentro dele.

O Caminho do Peregrino

Que a memória de Jesus fique unida a sua respiração, e então conhecerá a importância do silêncio.

São João da Escada

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A melhor coisa que se possa fazer é fixar Jesus dentro do coração e nada mais querer.

Richard – Fogo de Amor

Simone Weil desenvolveu o hábito de recitar o Pai Nosso em Grego...“O efeito desta prática é extraordinário e me surpreende cada vez pois, apesar de ter a experiência a cada dia, ela excede minhas expectativas em toda recitação.

As vezes, logo as primeiras palavras arrancam meus pensamentos do meu corpo e o transportam a um lugar fora no espaço, onde não há nem perspectiva nem ponto de vista. O infinito da habitual expansão da percepção é substituído por um infinito em segundo e, as vezes, em terceiro grau. Ao mesmo tempo, preenchendo todas as partes deste infinito, há silêncio, um silêncio que não é ausência de som mas que é objeto de uma sensação positiva, mais positiva do que a do som. Barulhos, se há algum, só me alcançam depois de atravessar este silêncio.

Também, por vezes, durante a recitação ou em outros momentos, Cristo está presente comigo em pessoa, mas sua presença é infinitamente mais real, mais comovente, mais clara, do que naquela primeira ocasião em que tomou posse de mim.“

Simone Weil

É quase impossível para pessoas que iniciam acreditar que haja algo muito significativo em sentar quieto, fechando os olhos delicadamente e apenas começar a recitar uma palavra. É preciso aceitar isto na base da fé quando se inicia. Eu comecei a meditar assim há uns trinta anos. Suponho que eu era estúpido como qualquer um de minha idade porque ficava perguntando ao homem que me ensinava: ‘Quanto tempo isto vai levar? Sabe, não posso ficar sentado por aqui dizendo esta palavra toda a vida’. Ele me dirigia um olhar meio sentido, e continuava a olhar enfrente atravessando-me ou então dizia, ‘Diga seu mantra’. Trinta anos depois, fico ainda assombrado com a sabedoria daquele ensinamento. Como disse, é preciso aceitar com base na fé quando se começa. Nada que diga pode ser muito significativo para você em comparação com o poder persuasivo de sua própria experiência. Você penetrará na simplicidade cada vez mais esclarecida.

John Main

Dom John Main insistiu sempre que este é um caminho muito simples e humilde. ‘Em quietude repetir sua palavra’, ele disse, ‘mantém o ego em seu lugar e deve levá-lo ao transcendente’. Mas a não ser que o mantra seja acompanhado por fé e amor, não tem verdadeiro valor; seria meramente um mecanismo. É um perigo real confiar no mecanismo do mantra, mas como expressão de fé e amor ele se torna um meio muito poderoso de orientar sua fé e abri-lo para Deus.

Bede Griffiths

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MaranathaFrase Aramáica que aparece em 1 Co 16:22. Pode ser traduzida em Aramáico como maran’ata, “ Nosso Senhor Veio”, ou como marana’ta, “Venha, Nosso Senhor”.

A ocorrência da frase, “Venha, Senhor Jesus” em Apc 22:20, é, com exceção do nome próprio, uma tradução de Marana’ta, e torna o significado da frase um pouco mais provável. Paulo não poderia ter colocado uma invocação Aramáica numa carta à Igreja de Corinto a não ser que já fosse conhecida por eles, e dificilmente poderiam sabê-la se não se tratasse de invocação de liturgia bem conhecida. Sua origem deve ter acontecido nas comunidades da Palestina, de onde passou para as igrejas Helênicas. É pois um atestado do uso nos primórdios do título Senhor dado a Jesus. A invocação deve ter tido seu lugar na celebração da Eucaristia. O “Venha” pelo que reza pode ser tanto a vinda escatológica (cf.Parusia) ou a vinda na celebração da Eucaristia. Mais provavelmente, não se deve distinguir muito estritamente entre as duas vindas. A Eucaristia era um banquete messiânico e era símbolo perpétuo e indicação segura da Parusia (l Co 11:26).

O uso da frase Aramáica na liturgia é um paralelo do uso das palavras Hebraicas Amem, Aleluia e Hosana, e as palavras Gregas Kyrie Eleison na liturgia Romana moderna.

O Labirinto de ChartresAo entrar na grande Catedral de Chartres do século 13 pela porta oeste, percebemos estar andando encima e dentro do Labirinto do Peregrino. O Labirinto é desenhado sobre pedra negra no chão da nave da Catedral, debaixo do Vitral da Rosa, cujo diâmetro ele reflete com exatidão. Na Idade Média, peregrinos pobres que não podiam ir a Jerusalém, faziam uma ‘peregrinação’ simbólica de joelhos por entre as voltas e curvas deste labirinto.Em Chartres, como em muitas Catedrais Européias, encontravam-se desenhos semelhantes; este mandala espiritual tinha muito significado na devoção de leigos. Muitas gerações viveram a alegria de chegar ao centro do labirinto depois de muita dúvida e hesitação.

Seguindo o labirinto aqui reproduzido com o dedo, começaremos a compreender porque John Main considerava a meditação, não somente método de oração, mas uma peregrinação e um caminho de vida. Fazer a peregrinação do labirinto com devoção, como meditar, ilumina a viagem de nossa vida. As dobras e retrocessos ajudam a colocar nossos períodos de acedia e apatheia, turbulência e paz, na perspectiva do desenho maior da viagem.

Começamos no início. Toda viagem humana, mesmo a espiritual que transcende tempo e espaço, tem um começo definido. Não estamos distante do centro, mesmo no início, mas temos uma viagem a fazer, um processo de realização e auto descoberta antes de poder saber que, de fato, estamos e sempre estivemos no centro. Na partida, parece que chegaremos ao centro

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numa corrida reta, mas logo encontramos a estrutura de dobras e voltas que testam e aprofundam nossa fé. Pode parecer que estamos perdendo terreno, voltando para trás -- e depois de anos de meditação podemos as vezes pensar que não fizemos nenhum progresso – mas estará acontecendo a maturação de nossa fé que é o significado essencial do crescimento espiritual. Esta mesma fé então nos mostrará que as idas e vindas da jornada, não são uma forma de Deus tornar a vida mais difícil, mas a maneira de um professor compassivo e sábio desamarrar os nós de nosso coração.

O labirinto mostra a sabedoria de não tentar medir nosso progresso, precisamente porque a viagem não é linear e mental mas cíclica e espiritual, como anéis de espiral. Tudo que importa é a confiança de saber que estamos à caminho. O caminho para o centro é estreito mas leva à fonte da vida. A vida é eterna em sua fonte. Precisamos apenas permanecer no caminho. Se tentamos enganar e pular por cima, indo para onde queremos estar, sem seguir o caminho, ficamos perdidos e confusos. Mas podemos começar de novo em qualquer ponto. A compaixão sempre presente de Deus é sentida mais diretamente na constância do caminho e na última descoberta, no centro, do significado da jornada que fizemos. Precisamos somente continuar indo adiante na fé. Quem procura, encontra.

A meditação é um caminho. Primeiramente, caminho de experiência mais do que pensamento ou imaginação. Até um símbolo como o labirinto aponta para isto. Um símbolo como o Labirinto do Peregrino de Chartres, apesar de rico em significado, só é compreendido mesmo quando percebido do além de si mesmo e inteiramente fora do mundo dos sinais. Olhar uma ilustração do labirinto e seguir a viagem ao centro com o dedo é muito diferente de fazê-lo de joelhos. Quão diferente então será a prática diária da meditação do que meramente ler ou falar sobre ela. (Boletim da Meditação Cristã - Março de 1992)

A Jornada da MeditaçãoA viagem da meditação é essencialmente uma peregrinação a nosso próprio coração, o lugar mais sagrado do mundo, onde habita o Espírito Santo e encontramos Cristo.

Evagrius, Padre do Deserto do Século quatro, mostrou em seus escritos profunda percepção psicológica sobre o que nos acontece nesta viagem de pura oração, a meditação não conceptual. Ele era muito auto observador e auto analítico, mas isto apenas à serviço de sua tentativa de ficar totalmente desprendido de si mesmo. Sua finalidade na vida era a Contemplação. Seu mestre Makarios disse: “A oração é a atividade artística do coração”. Evagrius aplicou sua mente ao que se passava no coração, ponderando o que a experiência de pura oração estava fazendo com ele, em termos do processo de cura geral da vida.

Ele descreveu com clareza os estágios que passamos em nossa viagem espiritual.

O primeiro estágio é conversão.Quando começamos, poderemos sentir o primeiro fervor da conversão. A disciplina parece fácil e começamos com entusiasmo e compromisso com os períodos de meditação.

O segundo estágio é uma aceitação cada vez mais profunda da disciplina.O entusiasmo inicial é testado e um compromisso mais profundo é necessário com a disciplina, tanto exterior como interior. Leva tempo para integrar a meditação duas vezes ao dia, à vida. E também para enraizar o mantra no coração. Mas, eventualmente, a disciplina transforma-se em alegria. “Todo o caminho para o Céu é celestial, porque Jesus é o Caminho”, diz Santa Catarina de Siena. Praticamos sem exigências por ‘resultados’ou expectativas. Ficamos indiferentes tanto a distrações como à alegria do silêncio.

No terceiro estágio somos assediados pelo que Evagrius chamou ‘Demonio de Acedia’. Apesar de moderno nas percepções, era um homem de seu tempo, e assim motivações psicológicas são vistas como Anjos ou Demônios, entidades psíquicas autônomas.

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Todo meditante está familiarizado com este demônio. Ele se manifesta como desencanto pelo caminho; estamos entediados e tudo está maculado. Achamos que podemos encontrar coisa mais útil para fazer com nosso tempo do que sentar para meditar. É tempo de aridez, tédio, turbulência, e distrações, sendo o silêncio interior coisa do passado. Sentimentos e memórias reprimidas podem vir à superfície. Deus parece estar ausente. Não há consolo. Não temos mais consciência da presença do amor de Deus. São João da Cruz chamou isto de “Noite Escura da Alma”.

É nossa ‘experiência do deserto’. É tempo de teste espiritual; somos tentados, como Jesus foi tentado no deserto. Queremos desistir.

Thomas Merton falando sobre a experiência do deserto disse “Só quando pudermos ‘abrir mão’ de tudo dentro de nós, todo desejo de ver, de conhecer, de saborear e de experimentar o consolo de Deus, só então poderemos verdadeiramente experimentar Sua presença”.

Tudo que podemos fazer é perseverar na repetição fiel do mantra e aceitar sua pobreza. “Bem-aventurados são os pobres em espírito, deles é o Reino dos Céus”. (Mateus 5:3) Temos confiança que Deus nos guia, está presente e nos ama e nunca permitirá que sejamos tentados além de nossas forças.

É uma experiência purificadora, um desafio para superar nossa auto obsessão, para meditar sem recompensa, sem saber para onde estamos sendo levados; para meditar assolados por distrações. Eventualmente, rompemos toda resistência e chegamos ao auto conhecimento, purificados e fortalecidos. Desta maneira o deserto é também nosso caminho para a Terra Prometida.

próximo estágio que é Apatheia,

Calma profunda e imperturbável. Agora alcançamos nossa identidade essencial: isto é, o que somos, quando o fluir de pensamentos e sentimentos estão tranqüilizados, quando as máscaras do ego foram descartadas. Foi transcendido todo o mundo conhecido de formas e todos os conceitos da mente. Esta calma, este bem-estar, esta paz e alegria é ao mesmo tempo consciência perfeita, super alerta. É estar plenamente vivo “A Glória de Deus é uma criatura humana plenamente viva”. (Bispo Irenaeus)

Deste estágio surge

o estágio final de Agape:

A mais alta experiência de todas – um sentimento de unicidade e do universal, amor incondicional de Deus. Sabemos que nosso espírito é um com o Espírito. Penetramos na corrente do amor entre o Criador e o criado. Chegamos em casa.

Apesar de Evagrius apresentar os estágios de forma linear, ele tinha consciência que a jornada é mais em espiral, com os estágios reaparecendo, juntando e transformando. O progresso espiritual não pode ser medido da mesma maneira como medimos o bem-estar físico ou os talentos mentais. Os frutos da meditação é que são o verdadeiro teste do progresso: crescimento em amor, compaixão, ficar centrado no outro e paz. Amiúde, outros à nossa volta e perto de nós podem perceber a mudança gradual melhor do que nós mesmos. Não importa o tempo que leva, contanto que estejamos à caminho. Os estágios de nosso progresso virão a seu tempo, o tempo de Deus.

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Os Frutos da MeditaçãoO Poder de Integração da Meditação

John Main resumiu os frutos da meditação: “é minha convicção pessoal que a meditação pode acrescentar uma dimensão de riqueza incalculável à vida. Gostaria de ter o poder persuasivo ou a eloquência para convencer todos da importância que dou a meditar.

Quando começar, e para muitos de nós leva meses e anos para começar, mas quando começar, descobrirá que a meditação é o grande poder integrador em sua vida, dando profundidade e perspectiva a tudo o que é e a tudo que faz. E o motivo para isso é: você estará começando a viver a partir do poder do amor de Deus, aquele poder presente em nosso coração, em toda sua imensidão, em toda sua simplicidade, no Espírito de Jesus. O poder integrador da meditação afeta todas as partes de nossa vida. Toda ela é, por assim dizer, alinhada no Cristo. E Sua vida e presença se faz sentir em cada parte de nossa vida. E o caminho para isso é o da humildade, simplicidade, o caminho do mantra”.

Os Frutos do Espírito

A mudança pessoal, interior que nos acontece ao meditar, pode ser melhor descrita no que São Paulo chama os frutos do Espírito: Amor, alegria, paz, paciência, bondade, fidelidade, benevolência e auto controle. (Gal 5)

AMOR vem em primeiro lugar – “o maior dom”. Com ele, também encontraremos nova alegria na vida, mesmo em tempos de estresse e sofrimento.

ALEGRIA é mais profunda do que prazer. Encontra-se na apreciação das coisas simples e naturais da vida.

PAZ é o dom que Jesus nos deu no Espírito. É a energia de sua própria harmonia profunda consigo mesmo, com o Pai, e com toda a criação.

PACIÊNCIA é a cura de nossos rompantes de irritação e intolerância, e de todas as maneiras como tentamos possuir os outros.

BENEVOLÊNCIA é o dom de tratar os outros como gostaríamos que nos tratassem.

BONDADE não é “nossa” mas somos essencialmente bons e nossa natureza humana é divina porque fomos criados por Deus e porque Deus habita em nós.

FIDELIDADE é dom desenvolvido com a disciplina da meditação diária e o mantra. Para todo relacionamento ser humano e amoroso, precisamos aprofundá-lo com a fidelidade.

AUTO CONTROLE é necessário se pretendermos gozar a vida com total a liberdade do Espírito. É fruto do equilíbrio da meditação, o caminho do meio entre todos os extremos.

Ao meditar, somos santificados porque somos curados. A fonte de nosso ser é também a fonte que nos cura e nos torna plenos. Os frutos do Espírito crescem de forma gradual em nós, porque começamos a nos dirigir ao poder do amor no centro de nosso ser.

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Aprendendo a ser

Meditamos afim de ser. Ser a pessoa que somos chamados a ser. E que é uma pessoa que aceita inteiramente a dádiva de sua própria criação, aceita e corresponde totalmente ao dom de vida plena que nos é dado em Jesus. Mais do que isso, meditamos em resposta a nossa própria natureza, como templos do Espírito Santo. Ao sentar diariamente para meditar, lembre que o propósito de tudo é perder a auto consciência.

A meditação ajuda-nos a SER porque nela aprendemos a nos desligar da insegurança, de nossas imagens, de nossos pensamentos, e aprendemos a abrir o coração. Ela nos ensina a responder à vida sem exigências, sem expectativas.

Aprender a SER significa:

a. não usar “máscaras” para esconder nossos verdadeiros sentimentos, não representar.

b. não responder aos outros de maneira programada, tais como preconceitos, desejo de atenção e aprovação.

c. deixando que os outros possam também ser, deixando que Deus seja.

Nossa capacidade de ser, nossa confiança ao ser, vem da experiência na meditação de que somos amados, amados incondicionalmente por Deus como sua criação única.

Aprendendo a viver plenamente no Momento Presente

Meditar nos ensina a ficar inteiramente conscientes do momento presente. Isto acontece porque dedicamos nossa plena atenção à repetição do mantra. Ficamos inteiramente presentes ao mantra, sem pensamentos do passado ou futuro. A não ser que aprendamos a viver plenamente no momento presente, estaremos vivendo na superfície da vida. O passado já passou, o futuro é incerto, e por isso tudo o que temos é o momento presente. Viver uma vida plena requer darmos valor a cada momento, vivendo-o com consciência. Isto também pode ser descrito como conservando um estado de ATENÇÃO em tudo o que fazemos.

Assim, se estamos vivendo no momento presente:

o momento mais importante é o AGORA

a pessoa mais importante é a com quem se está AGORA

a coisa mais importante é a que se está fazendo AGORA

Dom Bede Griffiths descreveu a ATENÇÃO como damos a seguir:

“Os grandes mestres espirituais de todas as religiões praticaram eles mesmos e ensinaram a atenção. Estar atento é viver no momento presente, não estar aprisionado ao passado, nem antecipar um futuro que pode nunca acontecer. Quando estamos inteiramente conscientes do presente, a vida se transforma, desgaste e estresse desaparecem. Muito da vida moderna é antecipação febril de atividade e excitação no futuro. Precisamos aprender a nos desligar disto entrando na liberdade e possibilidade do presente”.

Ficando mais enraizados, mais centrados.

Ficar mais enraizado, mais centrado, significa ser mais firme, mais consistente na maneira que se encara a vida, especialmente problemas da vida. Ser menos sugestionável, menos volúvel. Menos suscetível de balançar entre extremos de humores e ações. Ser guiado por valores de peso. Desenvolver melhor compreensão de:

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o que é realmente importante na vidao que é trivial o que é passageiroo que realmente permanece

A meditação nos ajuda no enraizamento e na centralização, porque na disciplina diária, e de forma gradativa, vamos ficando mais enraizados e centrados nas profundezas de nosso ser, pela fiel repetição de nosso mantra.

Dom John Main coloca isto da maneira seguinte:

“Cada vez mais homens e mulheres em nossa sociedade começam a compreender que nossos problemas pessoais, e os que enfrentamos como sociedade, são basicamente problemas espirituais. O que cada vez mais pessoas estão compreendendo neste mundo é que o espírito humano não pode encontrar realização apenas em sucesso e progresso material. Não que sucesso e progresso material sejam maus em si mesmo, mas simplesmente não são adequados como resposta final e última para a situação humana.

Como resultado do materialismo em que vivemos, tantos homens e mulheres estão descobrindo que o espírito está sufocado e muito da frustração de nosso tempo deve-se ao sentimento que fomos criados para algo melhor do que isto, algo mais sério do que asobrevivência dia a dia. Para conhecer a nós mesmos, para nos entender, e afim de poder começar a resolver nossos problemas, e a colocar a nós e a nossos problemas em perspectiva, precisamos simplesmente entrar em contato com nosso espírito.

Nosso espírito está enraizado em Deus. A meditação é um caminho para entrar em contato com nosso espírito, e nesse contato encontrar o caminho da integração, ao perceber tudo que nos aconteceu entrando em harmonia, toda nossa experiência sendo julgada e alinhada em Deus.

Tudo o que somos, tudo em nossa vida, fica alinhado ao plano de Deus e tudo encontra seu lugar certo. Meditar é poderoso porque nos dirige para esta ordem correta, para esta tranqüilidade, para esta paz.

Isto é porque nossa ordem de valores mudou. Em vez de nosso sistema de valores basear-se no eu ou no ego, em sucesso pessoal ou auto promoção, ou outro destes fatores limitadores, nosso sistema de valores passa a ser baseado em Deus.

Descobrimos, ao ser revelado o que acontece em nosso próprio coração, ao descobrirmos nele a presença de Jesus, que DEUS É AMOR. Isto nos leva a uma conclusão que deslancha grande poder: que só existe uma coisa que importa em última análise, e esta é que cresçamos em amor. Tudo o mais é secundário. Tudo é inconseqüente. Uma vez que esta percepção se torne poderosa o bastante, nossa vida se altera e vemos a realidade maior de valores “centrados no outro” como compaixão, compreensão. Começamos, portanto, a ser verdadeiramente pessoas espirituais. Estamos então em contato com a vida em seu centro; e lembre-se, Deus é o centro, Deus é amor, e Jesus é a revelação deste amor”.

Aprendendo a abandonar o desejo e a praticar o contentamento

Algo que aprendemos na meditação é a abandonar o desejo. Aprendemos, porque somos chamados a viver inteiramente no momento presente. Isto parece muito estranho numa sociedade ávida de atingir alvos, e para pessoas que foram criadas para fazer tanto esforço ansioso. A verdadeira tragédia de nosso tempo é que estamos tão cheios de desejos: felicidade, sucesso, riqueza, poder, ou qualquer outra coisa que estamos sempre imaginando como poderíamos ser. Muito raramente chegamos a nos conhecer como somos, e a aceitar nossa situação presente.

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Oração e a Dimensão Social do Evangelho

O Reino de Deus em nosso mundo depende da conversão do coração humano. Sem esta conversão indispensável, as mudanças estruturais resultantes de ‘boas obras’ transformam-se eventualmente em maus sistemas que perpetuam diferentes formas de injustiça. Apesar da conversão do coração humano e as mudanças estruturais precisarem ser trabalhadas simultaneamente, estas mudanças continuam sendo um complemento da mudança fundamental que sustenta todo sistema de verdadeira paz e justiça: a conversão do coração humano. Para que nosso mundo se transforme num lugar onde irmãos não sejam excluídos ou mal tratados no econômico, no social e na vida emotiva, o coração humano precisa ser desviado de sua propensão à egocentricidade, que produziu a injustiça e a falta de paz que temos em nosso mundo.

A contemplação é um caminho para esta conversão necessária do coração humano. Obras de paz e justiça se transformarão em atividade dos que conhecem a experiência da oração autêntica, porque amor de Deus e amor do próximo são verdades inseparáveis.

Estágios da JornadaA jornada da meditação fornece profundas intuições sobre a vida da mente em seus vários níveis e, em última análise, cura a alma.Um pequeno diagrama pode ajudar a mostrar os níveis de consciência que vamos atingindo e atravessando, na peregrinação da meditação. Como todo diagrama, e como os sistemas psíquico-místicos dos grandes mestres da tradição, pode também confundir, se acharmos que diz tudo, ou se tentarmos forçar nossa própria experiência a se conformar totalmente com ele. Como um mapa, destina-se a ser usado por qualquer um, e por isso é baseado na experiência universal, ao passo que cada um de nós faz uma viagem única. E é também a nossa experiência pessoal que interpreta o mapa, mesmo quando o estamos seguindo.. A meditação é um trabalho, tanto nosso trabalho de procura de Deus como o dele de nos procurar. É também uma peregrinação pelo universo misterioso da pessoa humana, uma pesquisa do auto conhecimento, em que a transcendência do egoísmo permite que surja o conhecimento unitivo de Deus, sem dualidade. O significado e a autenticidade de nossa vida dependem deste auto conhecimento.

Qualquer um que senta para ficar quieto, encontra-se imediatamente no primeiro nível de consciência, um pouco abaixo da superfície do funcionamento diário da consciência da mente. É uma surpresa desconcertante o grau de indisciplina e inquietação em nossa mente de macaco. Santa Teresa a comparava com um barco cuja tripulação havia-se amotinado, amarrado o capitão e que caoticamente se alternava na navegação do barco. Alguns dias podem ser melhor do que outros, em termos de distratividade, mas mesmo isso prova quão volúvel é nossa mente superficial, como se liga a condições externas, como somos pouco

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centrados. Ai sentamos e começamos a dizer o mantra com fé e atenção. Em três segundos, (em dia bom) estaremos preparando uma lista de compras, ou decidindo o que usar à noite ou ensaiando a chamada telefônica que esquecemos de fazer antes.‘Portanto, solicito-vos deixar de lado pensamentos ansiosos sobre comida e bebida que vos mantêm vivos, e vestimentas para cobrir o corpo. Certamente, a vida é mais do que comida e o corpo mais do que agasalhos’ (Mateus 6:25)Pretendemos ficar quietos no momento presente, o único da realidade, e o de encontro com Deus que é ‘Eu Sou’. Mas em segundos estamos tendo pensamentos de ontem, fazendo planos para amanhã ou tecendo sonhos acordados de realização de desejos, no reino da fantasia. ‘Coloquem a mente no reino de Deus e sua justiça antes de qualquer outra coisa, e todo o resto lhes será também dado. Portanto, não fiquem ansiosos pelo amanhã; o amanhã cuidará de si mesmo’ (Mateus 6:33)

O ensinamento de Jesus sobre a oração é simples e puro, incisivamente prudente e de bom senso. Entretanto, parece muito além de nossa capacidade de praticá-lo. Falava ele realmente para a humanidade comum?

A descoberta de nossas distrações superficiais é humilhante. Entretanto, ajuda lembrar que essa é uma descoberta universal – senão por que teria Cassiano recomendado o mantra (ele o chamava 'fórmula’) há seiscentos anos? E nossa época acrescentou ainda mais ao problema da distração natural, pela massa enorme de informação e estímulo em que precisamos navegar todos os dias, tentando absorver e classificar tudo, do momento que ligamos o rádio pela manhã até que desligamos a televisão à noite.

Com esta descoberta, é fácil ficar desanimado e abandonar a meditação: ‘Não é meu tipo de espiritualidade. Não sou pessoa dada à disciplina. Por que meu tempo de oração precisa ser outro tempo de trabalho?’ Esta falta de ânimo dissimula as vezes um sentimento repetido de falha e inadequação, a parte fraca de nosso ego danificado e auto rejeitado: ‘Não sou bom em coisa alguma – nem na meditação’. O que mais precisamos neste estágio inicial é perceber o significado da meditação, e ter uma sede que venha de nível mais profundo da consciência do que esse em que parece estarmos encalhados. É aqui bem no início, portanto, que encontramos, talvez mesmo sem ainda a reconhecer como tal, a graça encorajadora. Vem de fora de nós na forma de ensinamento, tradição, amizade espiritual e inspiração. De dentro, vem como sede intuitiva por uma experiência mais profunda. Cristo que, como Espírito, está tanto fora como dentro de nós, parece nos empurrar de fora e nos puxar por dentro.

Ajuda compreender claramente desde o início qual é o significado e o propósito do mantra. Não é um condão mágico que apaga a mente ou um botão que liga em Deus, mas uma disciplina, ‘começando na fé e terminando em amor’, que nos leva à pobreza em espírito. Não dizemos o mantra para dispersar distrações, mas para ajudar a tirar nossa atenção delas. Simplesmente descobrir que somos, não importa quão pobremente, livres para colocar nossa atenção em outro lugar, é o primeiro grande despertar. É o começo do aprofundamento da consciência, que nos permite deixar as distrações na superfície, como ondas na superfície do oceano. Mesmo neste primeiro estágio da viagem, estaremos aprendendo a verdade mais profunda, ao deixar nossos pensamentos religiosos bem como os comuns para trás: não é nossa oração mas a oração de Cristo que nos interessa. No deslocamento do centro da consciência do ego para o verdadeiro si mesmo, todas as noções de ‘meu’ e ‘de mim’ começam a abrandar.

Enquanto estivermos vivendo algo como uma vida normal, este nível de consciência será o primeiro que encontraremos, a cada vez que meditarmos. Em maus dias e em noites escuras pode parecer que nunca fomos além disto. Mas meramente estar consciente disto, e enfrentar, já é início da transcendência. De forma gradativa, uma mudança realmente acontece neste nível de superfície. Notamos primeiro, talvez, na maneira como conseguimos sentar quietos, sem ter que ler uma revista ou remoer antiga ansiedade; menos impaciência e sentido da Presença de Deus em engarrafamentos ou filas de super mercados. Uma vida mental mais calma e firme surge nos relacionamentos diários. Na meditação, ficamos familiarizados e amigos das estruturas e dos hábitos de nossa mente, e mais tolerantes com sua maneira inquieta.

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Segundo Nível

Atingir o segundo nível, ou zona, de consciência não significa que tenhamos dominado para sempre a disciplina do primeiro nível. Carregamos a maior parte de nossos defeitos conosco no caminho todo. Neste nível mais profundo, encontramos os baús de guardados de nossa vida. Tudo o que fizemos e dissemos ou pensamos ou imaginamos, cada impressão, real ou imaginária, tem aqui seu lugar, dentro da entidade orgânica de nossa psique. Os grande sistemas de arquivo deste universo interior único são nossos relacionamentos, reais e imaginados, tudo que a nós tiver sido feito e dito.

Aqui temos que enfrentar o que processos inconscientes decidiram, por nós, que não temos de enfrentar. Lembranças perdidas, esquecidas ou enterradas, com emoções e pensamentos a elas ligadas, podem ser despertadas e desencadeadas, se estiverem bloqueando o movimento da conscientização que se dirige ao verdadeiro centro da identidade pessoal. As vezes este trabalho de cura, integração e auto aceitação pode ser tão turbulento, a sua maneira, como as distrações de superfície. Emoções fortes, tais como ansiedade, medo ou raiva podem emergir do nada e por nenhum motivo aparente. Mais raramente, lembranças vivas de eventos esquecidos reaparecem no fundo do olho da imaginação.

Entretanto, em geral, é trabalho que acontece abaixo da superfície da mente consciente, fora do alcance da máquina fotográfica do ego. O mantra torna-se então como a semente na parábola de Jesus que um homem plantou na terra, indo depois cuidar de sua vida diária. O tempo todo a semente continuou crescendo no seio escuro da terra, ‘como, ele não sabia’.

Se o perigo no primeiro nível é que fiquemos desanimados e resolvamos desistir, existe outro perigo a este nível: quando fica difícil, as vezes começamos a desejar alguma paz imediata e o consolo que pensávamos a meditação nos prometia. Outro perigo igualmente grave é que ficamos fascinados com nós mesmos. O inconsciente, ao ser penetrado pela luz da consciência, tem muitas criaturas estranhas e fascinantes para nos mostrar. Há muitos quartos maravilhosos para descobrir na psique, ambientes de trabalho, bibliotecas, centros de serviço. A repetição fiel do mantra pode, em comparação, parecer desinteressante ou impedir a apreciação destas maravilhas. Mas a fidelidade neste estágio tem mais maravilhas para revelar do que jamais poderemos imaginar. O auto conhecimento, no sentido espiritual do termo, não se restringe ao que descobrimos sobre nós mesmos, neste nível de consciência. Mas o conhecimento total do Si-Mesmo, para o qual viajamos, é preparado pelo que nos acontece neste estágio. Pode tanto ser considerado como purificação ou como liberação, e as vezes, quando nossos medos mais profundos e sombras são expostos, até como exorcismo. Pelo que acontece neste nível, ficamos conscientes, em outras ocasiões de reflexão e oração, das principais estruturas de nossa personalidade. Vemos as necessidades que tínhamos e que a vida não proporcionou, e os ferimentos que resultaram. Ferimentos que escondemos ou alardeamos. Destes ferimentos podemos ver emergir imagens de esperança e felicidade que perseguimos pelas estradas e atalhos da vida. Vemos os padrões em nossos relacionamentos ficarem visíveis, e assim podemos assumi-los, em vez de culpar outros. Descobrimos que nos tornamos o que somos, pela maneira como reagimos e interagimos (ou recusamos de o fazer) mais do que pelo que nos foi feito.Como todo conhecimento, esta consciência psicológica tem potencial igual tanto para a criatividade como para a destruição. Pode tecer uma teia de auto absorção e uma couraça de auto suficiência. Ou pode nos mostrar o poder do perdão e da tolerância, partindo de dentro da relação primária com nós mesmos, e assim nos dar possibilidade de viver mais plenamente e generosamente com todos os outros na aliança da compaixão.

A direção a que nos conduzirá este nível de consciência é de total importância para o resto de nossa jornada. Existe muita solidão e as vezes verdadeiro sofrimento neste nível. A graça então nos proporciona o amor e o bálsamo necessários para nossa decisão de perseverar.

‘Ele estava entre as feras; e os anjos o socorreram’ (Marcos 1:13). Aqui, acima de tudo, vemos a relação entre meditação e comunidade. Ao nos tornarmos a pessoa que somos chamados a ser, compreendemos que ser pessoa é mais do que ser um ego, um indivíduo em isolamento.

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Ser pessoa é estar em relação. E assim descobrimos algo que ainda não entendemos bem sobre a natureza da própria realidade: que Deus não pode ser impessoal.

A turbulência deste nível de consciência é variável. As vezes surgem grandes calmarias: tempos em que sentimos que estamos integrados e que conseguimos unir as coisas. Depois, um dia nosso comportamento, ou um sentimento exaltado vindo de não se sabe onde, lembra-nos que este processo se estenderá pelo tempo em que estivermos a caminho. Da mesma maneira, nossas distrações de superfície continuam, talvez desapercebidas, ao mesmo tempo em que estamos absortos em pensamentos profundos. Entremeios, uma personalidade psicológica mais madura começa a se formar. Reconhecemos como tendo nosso nome e aparência. Podemos aceitá-la sem vergonha ou pena e com amor. Este eu que podemos encarar e repensar é preciso que também deixemos para trás. Antes, deixamos o eu da superfície atribulada, indo de uma atividade para outra. Entretanto, com a abertura de níveis mais profundos, parece que ficamos até mais atarefados do que antes. A vida se passa em muitos níveis simultâneos, todos se harmonizando entre si, na fé e amor do mantra. Com esta harmonia interior maior, estaremos prontos para mais profundidade.

Terceiro Nível

O ego tem sido companheiro constante desde o princípio. Agora, no terceiro nível, vamos enfrentá-lo. No primeiro nível o encontramos em seu estado mais dispersivo, vestido em roupagens mutantes da vida diária. No segundo estágio, ele se veste em roupas dramáticas de época, referentes aos diferentes palcos de nossa história psicológica, e representando muitos papeis: vítima, explorador, criança, adolescente, adulto, buscador religioso, rebelde ou acomodado, caloteiro, queixoso, amante, mágico, guerreiro, rei ou rainha.

É do ego que vem toda a resistência à esta viagem em direção ao verdadeiro Si-mesmo. Entretanto, o ego é também veículo da jornada. Hoje em dia tipicamente, focalizamos no veículo mais do que na viagem. Assim como fazemos do automóvel um ídolo, quando é nada mais do que um meio útil de transporte, podemos insistir tanto no ego e seus processos que perdemos de vista todo o significado espiritual da pessoa inteira.

Neste terceiro nível de consciência confrontamos o ego em sua nudez, com sua vestimentas temporariamente deixadas de lado. A Nuvem do Não Saber descreve este estágio como uma ‘conscientização absoluta da própria existência’ que subsiste entre nós mesmos e Deus. Esta consciência, a Nuvem também nos diz, precisa desaparecer antes que ‘possamos experimentar a contemplação em sua perfeição’. É uma consciência tocada pela mais profunda tristeza existencial – não mágoa por algo que aconteceu, mas pelo fato da existência individual ser essencialmente separada do Ser. Precisamos enfrentar e eventualmente transcender esta mágoa existencial, antes que possamos sentir a alegria de existir.

Aqui também compreendemos o significado de pegar nossa cruz a cada dia e seguir o Senhor. Nossa cruz está decorado pelas vicissitudes da vida, mas a madeira da cruz é este sentido de nudez pela separação do ego. Nenhum ato da vontade pode nos fazer passar por cima deste obstáculo, nenhuma técnica pode fazê-lo sumir. Somos convidados a sentar ao pé da cruz neste estágio, com fé cada vez mais pura.

Ao esperar no sinal de trânsito, não existe alternativa senão a paciência. John Main disse que há necessidade de mais e não menos fé, à medida que continuamos a peregrinação. Aqui, onde enfrentamos, não só distrações mas a raiz de sua causa, nossa fé se aprofunda e amadurece, pela cooperação entre nosso espírito e o Espírito de Deus, até que estejamos prontos – a cooperação que vemos como sincronicidade e chamamos de destino.

A fidelidade e maturação que desenvolvemos nos estágios anteriores, nos são úteis neste nível. Nosso amigo o mantra está agora arraigado e as dúvidas e concessões antigas, presentes nos primeiros estágios de qualquer relação, já cederam. A Nuvem nos lembra da necessidade de ser fiel à ‘pequena palavra única’ ‘na paz e na guerra’, assim como Cassiano insistia que repetíssemos a ‘fórmula’ ‘na prosperidade e na adversidade’. A ênfase de John Main na

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fidelidade simples ao mantra ‘do princípio ao fim de cada meditação’ está dentro desta antiga tradição de oração Cristã, prática, útil, sábia. Faz muito sentido, entretanto, somente à medida que nossa própria experiência assim nos ensine.

O que acontece depois?

Uma caricatura de dois meditantes zen mostra um fazendo a outro esta pergunta, com a resposta, ‘O que quer dizer, o que acontece depois, isto já é tudo!’

Temos que estar preparados para que isto seja ‘tudo’ para o momento. Entretanto, fé não é somente questão de suportar teimosamente. É também uma nova visão. E assim como cresceu, a fé nos possibilitou ver algo do que está além da percepção física e mental. Sabemos que não estamos aguardando sem esperança ou alegria. ‘Vós não o vistes, mas o amais; e confiando nele agora sem o ver, sois tomados por uma alegria grande demais para palavras, enquanto colheis os frutos da fé, isto é, a salvação para vossas almas’. (1Pedro 1: 8-9). De forma gradativa e repentina a luz de uma lâmpada brilhando em lugar escuro, como descrito por São Pedro, dá lugar ao amanhecer, e a estrela da manhã se eleva para iluminar nossos corações e mentes (2Pedro 1:19)

A percepção que tem o ego em sua nudez, de sua existência finita, é como uma parede de tijolo que não podemos transpor por nós mesmos. No tempo de Deus e por dom gratuito, aparece uma abertura na parede do eu. Nesta abertura de auto transcendência, fica para trás o eu e encontramos nosso verdadeiro ser em Cristo. E neste momento, há encontro com a humanidade de Jesus, diferente de qualquer outro encontro ou reconhecimento que tiver acontecido em estágios anteriores. Aqui o encontramos na ação pura e sem dualidade do Espírito, para além de qualquer imagem ou idéia que possamos ter dele. Isto ocorre na realidade do Espírito que sustenta todo dogma e doutrina. (Colocamos nossa fé na realidade à que apontam as palavras, como diz Aquino, não nas próprias palavras.)

Como disse John Main sobre este estágio da viagem, encontramos Jesus na fronteira de nosso próprio destino e ele se torna nosso guia no novo território de Deus, o Reino. Tudo que Jesus disse de si faz sentido neste encontro: porta de curral dos carneiros, caminho, verdade, vida, ressurreição, vinho nutriente, amigo.

Reconhece-lo neste encontro é redenção. Concentra nosso ser numa experiência de amor tão plenamente pessoal e única, que ela se torna a marca da Verdade pela qual todas as outras experiências e percepções têm que ser julgadas. Aqui nesta abertura em nós mesmos e além de nós mesmos, seremos iluminados pelo Espírito para fazer a viagem com Jesus, na mente de Cristo, para dentro do amor sem limites de Deus.

Quando acontecerá isto? Em certo sentido, pela Incarnação e Ressurreição, já aconteceu em cada um de nós. É apenas uma realidade que aguarda ser despertada. A física descobriu a dualidade na natureza da matéria como sendo tanto uma onda como uma partícula, dependendo de como olhamos. Da mesma maneira, nossa peregrinação de meditação nestes diferentes níveis de consciência, podem ser vistos ou como sucessivos – um estágio depois do outro – ou simultâneos – é tudo agora. Ambos são verdadeiros, dependendo da maneira como olhamos. A maneira como vemos é decidida pela profundidade da visão clareada pela fé.

Nesta visão, podemos olhar para frente e para trás, a partir do ponto fixo do momento presente. Podemos ver como cada estágio de nossa viagem, mesmo os níveis superficiais com distrações da mente de macaco, foram sempre tocados e guiados pelo Espírito que agora nos revela Jesus, ao remover o véu. Vemos agora como os conflitos e ferimentos mais profundos de nossa psique, no segundo nível, estão repletos do poder de cura do Espírito. E, ao ver como cada parte nossa vive e se move em Deus, os frutos do Espírito começam a se manifestar em todos os níveis de nossa existência.

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(Laurence Freeman – Web of Silence)

Níveis de ConsciênciaA viagem da meditação como vimos, é a viagem à profundidade de nosso próprio ser, ao lugar onde somos a imagem de Deus. Não podemos atingir esta profundidade sem passar por todas as camadas de nossa psique. Seria maravilhoso se pudéssemos contornar todos os níveis feridos e doloridos de nosso ser, e alcançar o reino espiritual diretamente. Tentar fazer isto leva a muitos problemas mais adiante. As probabilidades são que atingiremos o nível de ‘paz perniciosa’ sobre o qual Cassiano nos previne nas Conferências.

A outra possibilidade é que poderemos nos tornar muito esclarecidos e pacíficos em nossa meditação, quando estamos distante das necessidades da vida diária, como em épocas de retiro. Depois, quando retornamos à vida de todo dia, esta paz e calma desaparecem, e somos lançados mais uma vez em todos nossos problemas e padrões, Existe também o perigo do ego fazer uso desta calma e clareza para nos convencer que agora somos santos, e começamos a usar nossa energia espiritual para inflacionar nosso ego. Existem exemplos disto em alguns falsos líderes espirituais que temos visto em tempos recentes. Claramente, Jesus tinha consciência deste problema, quando preveniu seus discípulos para tomar cuidado com os que “vêm entre vós como lobos em pele de carneiro”.

O diagrama abaixo produzido por Laurence Freeman OSB, é de grande ajuda na compreensão da viagem pelos níveis de nosso ser.

Uma vez que chegamos abaixo do nível de distração mental de superfície, a mente de macaco, começamos a tocar nos níveis mais profundos da psique, e neste nível nossas feridas do passado são nossas distrações. Em geral, apresentam-se na forma de emoções negativas. Pode nos acontecer de ter sentimentos de raiva, ou dor ou medo. Ou outros sentimentos relacionados a estes três básicos, e que são luxúria, inveja, ciúme, bem como toda espécie de desejo pernicioso. Toda pessoa tem em si tais camadas de emoção reprimida, para alguns isto é mais forte do que para outros. A maneira como se apresentam dependerá da experiência de vida e do sexo de cada pessoa.

Quando sentimos emoções negativas na meditação, é importante compreender isto como parte do processo de integração, que é essencial ao crescimento em direção à plenitude. As emoções em si são sensações naturais do corpo e não são erradas ou pecaminosas. Algumas podem ser dolorosas e parecem nos dominar. Se lhes for permitido surgir em nós, enquanto continuamos a prestar atenção ao mantra, elas fluirão com o tempo, como nuvens num céu tempestuoso. O perigo está em darmos atenção e permitir à mente criar, e se deixar levar, por fantasias ou lembranças que surgem com elas. Quando fazemos isto, fortalecemos as emoções em vez de

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deixá-las passar. Permiti-las, sem se ater a elas, é o que cura. Este é o poder terapêutico da meditação. Entretanto, é difícil fazer isto e quanto mais forte for a emoção, mais difícil. Caso a dor seja intolerável ou quando estivermos sendo dominados pelo conteúdo da emoção, então é importante buscar ajuda fora do tempo da meditação. Terapia ou aconselhamento de alguém que tenha um sentido do espiritual, pode ser um auxílio na cura de emoções assim dolorosas.

Algumas pessoas lembram da causa da emoção que surge, outras, não. Para a cura na meditação, não importa que seja de uma ou de outra maneira. Algumas pessoas passam por períodos em que choram muito durante a meditação, sem saber de onde vem a tristeza. Este choro pode curar tanto quanto se a causa fosse conhecida.

Se tivermos a disposição para continuar meditando, não importa o que possa surgir, então a meditação é terapia suficiente. Para algumas pessoas o nível de repressão é tão forte que não conseguem começar a se soltar durante a meditação. Quando este for o caso, a pessoa em geral experimenta uma forte sensação de estar ‘encalhada’ ou bloqueada’, e que há algo de errado. Um humor aborrecido continuo, ligeiramente deprimido, pode também ser um sinal. Nestes casos, talvez seja necessário receber ajuda, na forma de terapia, para começar o processo de superar o conteúdo inconsciente que está nos bloqueando.

Durante a meditação, simplesmente ignoramos todo conteúdo. Entretanto, se ficarmos conscientes de uma distração recorrente, quer tenha a ver com uma pessoa ou evento em nossa vida, isto talvez possa ser algo que requer atenção, fora do período da meditação. Um relacionamento rompido e não curado, será provavelmente uma fonte de distração continua, até que receba cuidados. A meditação exige que completemos nossas pendências, se quisermos ter esperança de ser fiel a ela.

Para muitas pessoas a hora de olhar mais profundamente, chega na crise da meia idade, quando foram removidas as fontes anteriores de satisfação, ou quando alguma tragédia lhes aconteceu ou surge alguma crise de mudança de vida. Esta é freqüentemente a hora quando pessoas começam uma busca espiritual e se voltam para a meditação.

Portanto, é muito comum que pessoas levantem questões sobre estes tópicos, quando chegam para aprender meditação. E é importante para quem ensina meditação ter pelo menos uma consciência básica deste processo, e das maneiras como se pode aconselhar pessoas a lidar com ele.

Laurence Freeman OSB ‘Web of Silence’ DLT Pg.

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“Voltar para Casa”

Seminário Introdutório à Meditação Cristã

Terminamos de fazer a revisão do Ensinamento Essencial e da informação básica que nos ajudará a oferecer este seminário. Veremos agora como apresentar o Ensinamento.

O Seminário é organizado de maneira que facilite ser oferecido em contextos diferentes, e possa ser composto de abordagens consideradas as mais adequadas, aproveitando precedentes já experimentados.

Existe naturalmente o ensinamento básico – “O Ensinamento Essencial” - que será o princípio unificador em cada apresentação que oferecermos. As condições únicas de cada seminário é que decidirá os materiais específicos a serem selecionado para a apresentação do Ensinamento Essencial. Encoraja-se encontrar e usar a própria voz, além de exemplos da própria experiência para ilustrar o ensinamento.

O ensinamento essencial está contido em “A Palavra que Vem do Silêncio”, “Meditação Cristã”, e “The Gethsemani Talks”. O Seminário Introdutório apresenta o ensinamento nas formas que damos a seguir:

A TRADIÇÃO CRISTÃ E O CONTEXTO DA MEDITAÇÃO

APRESENTANDO A SIMPLICIDADE DA MEDITAÇÃO

COMO MEDITAR

MEDITAÇÃO COMO DISCIPLINA ESPIRITUAL E CAMINHO DE VIDA

A COMUNIDADE CRIADA PELA MEDITAÇÃO

Detalhes Práticos para Planejar e

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Conduzir um Evento

Antes do Evento

Ao decidir organizar um evento é importante considerar.

1. A liderança: caso planeje liderar o evento, qual é o apoio com que espera poder contar vindo de outros meditantes. Boa idéia seria planejar o evento com seu grupo, ou alguns meditantes amigos, pois isto garantirá apoio adequado.

2. Assumindo que este seja um evento introdutório, quais são os participantes mais prováveis? É preciso decidir se será um evento de paróquia local, evento ecumênico, ou um evento generalizado. Publicidade é muito importante. É bom distribuir avisos o mais extensamente possível, mas ficando dentro das metas previstas. Para os eventos generalizados é útil colocar avisos em locais seculares como bibliotecas, lojas, etc., e anunciar na imprensa local. Escrever um artigo para a publicação de sua paróquia, ou boletim ecumênico, ou jornal local, pode ser boa maneira de se preparar o evento.

3. A escolha do local é importante. A audiência que se procura atrair pode também ter influência sobre isto. O local precisar estar dentro do orçamento. Tamanho, temperatura, decoração, e equipamento, são outros fatores a serem considerados. Se for planejada a exibição do vídeo “Voltar para Casa”, será essencial providenciar um cassete.

4. Custo do Evento. Isto pode ser um problema se não houver recursos disponíveis. As vezes a paróquia ajudará em evento da paróquia ou mesmo mais geral. Ou à grupo ecumênico local. Se tiver que arriscar na cobertura de gastos, é importante fazer estimativa cuidadosa do evento para evitar perdas. Custos relativos a antes do evento, podem incluir aluguel de sala, fotocópias ou impressão, correio e viagens. Ao estabelecer o preço do evento, estes itens devem ser levados em consideração. Pode ser útil estabelecer dois preços para o evento, um para pessoas de renda normal, outro para os de baixa renda. Ao fazer a estimativa, o preço dos primeiros deve cobrir o custo dos segundos. Este empreendimento não poderá ser inteiramente sem risco porque não é possível garantir uma resposta adequada. Uma forma de contornar isto, se for necessário, é trabalhar com estimativa ligada a um número mínimo de participantes, e cancelar caso ele não seja atingido com alguma antecedência.

5. Folha de informações para distribuição e Reservas. A Folha de informações (conserve-a simples) sobre o evento precisa ser checada com cuidado para que todos os detalhes estejam corretos e incluídos. Data, hora de início e término, local e seu acesso. Preço e como fazer reservas, com instruções sobre como pagar e a quem contatar para mais detalhes. Se forem aceitas pessoas que chegarem no dia, é preciso que isto seja dito claramente. Talvez se faça necessário enviar informações adicionais aos que fizerem reservas: viagem, estacionamento, etc..

6. É útil ter crachás para participantes, pois isto ajuda nas apresentações e no conhecimento mútuo. Isto se aplica sobretudo aos eventos mais longos, e em geral não é possível numa sessão introdutória curta.

Durante o Evento

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a)Antes da chegada dos participantes:

1. É importante ter arranjado ajuda suficiente para esta parte do evento, para que na chegada haja tempo de dar aos participantes boas vindas, recebe-los, etc. O ambiente precisa estar calmo, dando impressão de presteza e calor humano de boas vindas na chegada das pessoas. Isto estabelecerá o tom para todo o evento.

2. Arrumar a sala de maneira convidativa, com um ponto em que focalizar, tal como um ícone, flores ou uma vela que podem criar um efeito especial, quando a sala for desnuda, como em geral acontece nas paróquias.

3. É útil ter uma amostra de livros e fitas, avisos e outras informações sobre eventos, etc.4. Listagens bem feitas dos que fizeram reservas, quantia paga ou devida, conforme for o caso,

serão de ajuda na hora do registro. As listas deverão ter o mesmo formato usado para fazer reservas. Listas em ordem alfabética ajudam os que se ocupam do registro.

5. Material para distribuição ou informações por escrito podem ser dadas por ocasião do registro, ou podem ser colocados nas cadeiras.

6. Tocar música suave quando as pessoas estão chegando e ocupando seus lugares, contribuirá para um ambiente de espera em quietude, a não ser que petiscos estejam sendo servidos.

7. Para eventos de fim de semana, ajuda permitir que o registro se faça entre a hora do chá e o jantar, oferecendo chá à chegada das pessoas.

8. Se for necessário, é útil colocar avisos anunciando a conferência, indicando estacionamentos, entrada, etc.

b) Na chegada das pessoas:

1. Este é um momento muito importante, as pessoas podem estar se sentindo intimidadas ou inseguras e o calor e amizade da recepção contribui muito para as dispor favoravelmente ao que vão receber.

2. A eficiência e clareza no procedimento do registro e informações dadas, permite um ambiente de paz e quietude que deverá ser mantido.

3. Quando for hora de começar será útil deixar alguém no local de registro durante algum tempo para receber retardatários e dirigi-los discretamente à sala.

4. Durante todo o evento é bom, sempre que possível, ter mais do que uma pessoa atenta às necessidades dos participantes. Esta pessoa, ou pessoas, precisam poder ser identificadas pelo grupo de alguma maneira.

5. Quanto mais longo o evento, tanto mais cuidado precisa ser dado à preparação e organização do evento no seu desenrolar. Trabalho de equipe e a meditação comunitária criam elementos essenciais.

Horário Sugerido

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1. Seminário à noite

19.00 – 19.30 Chegada e Registro (Café opcional)

19.30 Recepção e Introdução.(o método da introdução pode variar dependendo do tamanho do grupo e do tempo disponível)a)O/A Líder se apresenta – e em seguida convida cada um a dizer quem é e porque veio. Solicitar a alguns que digam o que já sabem sobre os companheiros. b)Ou sugerir que as pessoas se dividam em grupos de cinco ou seis e se apresentem uns aos outros. Um de cada grupo pode informar ao todo algumas das razões para as vindas. Estas são todas maneiras de sentir o grupo e apreender o que estão esperando e procurando.

19.45 Palestra IntrodutóriaIntervalo para relaxamento, se não tiver havido no começo.20-25 minutos. Período de MeditaçãoIntervalo para CaféPeríodo para Perguntas e Respostas.

21.15 aproximado. Informações de Encerramento. Assinatura para os que desejam o boletim. Como contatar grupos: ter disponíveis folhas com números de contato para os grupos locais, para distribuição. Pedidos de livros e fitas, etc.

2. À tarde (Meio dia)

(Tempo conforme as circunstâncias)

14.0 Chegada e Registro

14.30 Recepção e Introdução como acima. (Breve silêncio de recolhimento é útil no período de introdução).

14.45 Palestra Introdutória (45 minutos aproximados)Intervalo para Relaxamento25 minutos. Período de MeditaçãoPerguntas

14.30 Chá14.45 Vídeo “Voltar para Casa” ou segunda palestra. (ver sessão de sugestões para segundas palestras).17.15 Encerramento como acima

3. Seminário de Um Dia

(Horários de acordo com as circunstâncias)

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10.00 Chegada e Registro (Café opcional)

10.30 Recepção e Introduções como acima

11.0 Palestra Introdutória Intervalo para relaxar 25 minutos de Meditação

12.30-13.30 Intervalo para Almoço

13.30 Sessão de Perguntas e Respostas

14.0 Vídeo “Voltar para Casa” ou Segunda palestra.Seguido de Partilha ou perguntas.Alternativa de alguma prática de exercícios de alongamento, relaxamento ou respiratórios poderia ser incluída.

15.0 Chá

15.30 25 minutos de Meditação

16.0 Encerramento como acima.Partida

(Caso o dia seja mais longo, um período de reflexão poderia ser introduzido possivelmente sobre um texto escolhido. Isto poderia também ser feito em grupos, com ou sem retorno de comentários. Elementos essenciais sugeridos são dois períodos de meditação e dois períodos de informações. Alguns exercícios de alongamento e algum aprendizado sobre postura e respiração poderiam também ser incluídos caso o líder ou outra pessoa conheça o assunto).

4. Retiro de Fim de Semana

(Podem ser utilizados qualquer um dos retiros guardados em fita de Laurence Freeman, como material extra, ou fitas de John Main. Entretanto, o líder deve contribuir com algo pessoal seguindo as recomendações deste seminário. Para fim de semana, pode ajudar e ser útil ter um tema, além da introdução à meditação. E.g. Meditação e Plenitude – Aspetos do Amor – Meditação e Viagem Espiritual – Vivendo no Momento Presente, Etc.)

Na noite de Sexta-feira, como for conveniente. Recepção e Apresentações. É aconselhável permitir que cada pessoa se apresente e partilhe esperanças e expectativas, etc. Isto dá ao líder possibilidade de sentir as necessidades e a situação do grupo. Curta apresentação do horário do fim de semana Curto período de silêncio (5-10 minutos aproximados) Oração da Noite, Completas é muito útil, se disponível.Sábado

Antes do Café Oração da Manhã e Meditação com instrução sucinta sobre como meditar.

Manhã Palestra Introdutória.

Intervalo para Café

25 min. Sessão de Meditação (pode ser precedida de instrução, alongamento, respiração e como se sentar).

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Perguntas ou reflexão compartilhada sobre a experiência.

Almoço Tempo livre (com tema sugerido para reflexão)Chá Segunda Palestra (ver sugestões) ou Palestras em fitas de John Main ou Laurence Freeman. Partilha e discussão de todos ou em grupos.

Antes do Jantar Meditação e Oração de Fim de Tarde.Jantar

Outra palestra curta ou fita ou vídeo ‘Voltar para Casa’. Oração da Noite e meditação opcional

DomingoAntes do Café Meditação e Oração da Manhã.

Café

(Dependendo do local, composição do grupo e disponibilidade de padre, poderá ser incluída neste dia a Eucaristia ou um serviço ecumênico ou algum tipo de celebração)

Mais uma palestra sobre o tema do fim de semana que dê expansão à introdução e apresente material novo.

Intervalo para Café Período de Meditação (com alongamentos, respiração, etc. conforme necessário) Seguido por mais tempo para perguntas. Ou havendo meditantes experientes presentes, duas ou três pessoas poderiam dar testemunho sobre o papel da meditação em sua vida.

Almoço

Sessão de Encerramento

Sessão de Encerramento

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1. O encerramento do evento é muito importante. Os pontos seguintes devem ser levados em consideração.

2. Avaliação : Pode ser de muito valor ter um formulário de avaliação simples para dar aos participantes na última sessão. Esta é uma maneira de avaliar como o evento foi recebido, e pode também fornecer idéias e orientações para futuros eventos. Quanto mais longo for o evento, mais útil será ter uma avaliação. Não deverá ser recomendado fazer uma introdução no fim da tarde, por falta de tempo suficiente.

3. Olhando Para Frente : É muito importante se assegurar que as pessoas recebam informação adequada sobre como manter contato, receber o boletim, encontrar o grupo mais próximo, etc. Isto deve ser explicado com clareza e de preferência que haja listas de assinatura para os interessados. Não havendo grupo ainda em área onde já se vê que isto seria necessário, é importante dar tempo para discutir isto e encontrar meios para que um grupo tenha início. É importante tomar nota durante a sessão de pessoas prováveis, e falar com elas sobre a possibilidade de iniciar um grupo. Fale com clareza sobre o apoio que pode ser esperado para quem dá início a um grupo. Isto deve ser oferecido e estar logo disponível para quem estiver interessado. (Ver apêndice sobre recursos).

4. Apoio para a Jornada : Dependendo de como foram tratados os assuntos de comunidade, tradição e ensinamento durante o evento, é importante dar ênfase à dificuldade de ir adiante a sós. O motivo principal de existência da WCCM é ser uma comunidade que dá suporte a meditantes de maneiras diversas. O fato de ser uma comunidade, em vez de uma organização, precisa ser sempre enfatizado. Isto mostrará a importância de grupos, e também o valor dos recursos disponíveis para grupos e indivíduos. A Fita sobre o Serviço de Aluguel deve ser divulgada, onde for útil. O valor de ensinamento contido no Boletim, em livros e fitas, deve também ser enfatizado. Outro apoio disponível são contatos com o Centro Nacional e a rede, onde existirem, incluindo o calendário de eventos.

Introduzindo a Meditação

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a uma Audiência de predominância Cristã

1. Apresente-se e fale sucintamente sobre como começou a meditar e depois conduza o grupo ao silêncio por alguns minutos, antes de iniciar com uma leitura apropriada de passagem da Escritura e comentar sobre ela, de maneira que estabeleça a meditação como um caminho de oração, firmemente enraizado na tradição Cristã.

a) Escolha uma ou duas passagens, de acordo com inclinação sua e da audiência. Por exemplo:

- Mateus 6,6 - interioridade, poucas palavras- Mateus 6,8 - confiança- Mateus 6,25 - desligamento de preocupações, atenção- Efésios 3, 14-21 - interioridade, amar a plenitude de ser- João 14, 19/20} inhabitação mútua, vida Cristo-cêntrica João 15, 4, 5/6} unidade, interioridade João 17,21 }

(Para outras passagens veja: Gregory Ryan: “The Burning Heart”)

b) ou, utilize dizeres dos Santos ou de autores que sejam relevantes para a audiência.

Por exemplo

Santo Agostinho : “Se o conhecer, não é Deus” .

Santo Agostinho : “Todo o propósito da vida é restaurar a saúde do olho do coração, pelo qual vemos a Deus”.

Hildegard Von Bingen : “A oração não é nada mais do que inspirar e expirar o espírito do Universo”.

Dom Bede Griffiths : “Oração é a prática da presença de Deus”.

Meister Eckhart : “Todas as imagens que temos de Deus vêm de nosso entendimento de nós mesmos”.

Meister Eckhart : “Rezo a Deus para que me livre de deus”. Wittgenstein : “A respeito daquilo, sobre o que não se pode falar, não devemos dizer nada”.

2. Chame atenção para o fato que em muitas tradições existe ênfase excessiva no fazer, atividades da paróquia, comissões, etc. Aponte a diferença entre ser e fazer – estamos todos ‘fazendo’ demais. Veja a estória de ‘Marta e Maria’ (Lucas 10, 38-42)

Sugira que a qualidade de nossa atividade depende de nosso ‘ser’ - estar em pazconsigo mesmo, estar em silêncio interior, afim de poder escutar os outros.

3. Dê relevo ao fenômeno universal de fome por uma vida espiritual mais profunda, o por que de pessoas estarem deixando a Igreja. Refletir sobre razões especialmente de jovens.

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4. Enfatize a tradição universal da Meditação, que não é somente uma tradição oriental, mas está também enraizada na tradição Cristã.

- Escritura (Mateus 6,6 etc. - ver 1)- João Cassiano e os Padres do Deserto. Tradição da ‘oração pura’ .- Evagrius – estágios do caminho espiritual.- Tradição da Igreja Oriental em relação à Oração de Jesus (cf. Lucas 18, 13/14)

‘Oração do Coração’: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, que sou um pecador”.

- A Nuvem do Não Saber “uma pequena palavra” Deus/Amor.- John Main/Laurence Freeman. “Maranatha”- (Preparação: Useful resource – fitas por Laurence Freeman: All and Nothing”.

5. Situe-se sucintamente para o grupo, dentro do WCCM e depois apresente John Main e sua redescoberta da tradição Cristã de meditação em João Cassiano.

- Dê relevo à importância de John Main como líder espiritual. Ele contribuiu muito para a recuperação da tradição espiritual e para a dimensão contemplativa.

- Dê ênfase a aspectos de sua estória, de acordo com a audiência. - John Main: “A Meditação é tão natural para o espírito como respirar é para o corpo”.

Depois da morte de John Main, Laurence Freeman tem liderado a Comunidade Mundial para Meditação Cristã. (WCCM)

Leitura Preparatória – ‘The Gethsemani Talks’ Paul Harris – ‘John Main by Those Who Knew Him’ Vida e Ensinamento de John Main – Fita por Laurence Freeman.

Dê relevo ao fato de João Cassiano ser um professor aceito por todos os Cristãos, tendo existido muito antes de ocorrer a ruptura na Cristandade.Mencione o escândalo da divisão Cristã, referindo-se a Lucas 22, 24-27 ou Marcos 10, 42-46 ou Mateus 20, 25-26, e aponte o interesse ecumênico na meditação – é uma maneira natural de Cristãos rezarem juntos. Palavras e ritual podem dividir. Enquanto a Oração profunda mostra que já somos “um em Cristo”. “Porque onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ai estarei eu entre eles” (Mateus 18,20).

A meditação não erradica diferenças, mas passamos a vê-las de forma mais suave e perdoável. Diferenças não precisam ser divisões.

Enfatize que a meditação é uma dimensão da oração que leva ao silêncio. Não estamos falando com Deus, nem pensando sobre Deus, mas ‘estamos com’ Deus, estamos em comunhão com a presença de Cristo dentro de nosso coração. O silêncio é “adorar em espírito e verdade”. 6. Apresente a meditação como o anel que faltava na corrente de nossa oração. Completa e

melhora, sem tomar o lugar de outras formas de oração. Enriquece a oração espiritual.(Use a imagem da ‘Roda da Oração’ do vídeo ‘Voltar para Casa’).

7. a) Enfatize a simplicidade da Meditação, técnica não complicada, sem teorias difíceis para aprender, mas requer disciplina – prática duas vezes ao dia leva à oração continua.

Na meditação aquietamos o corpo e o espírito, para que o Espírito possa crescer.

b)Traga à tona a teologia básica da oração (o quanto o tempo permitir). Santo Agostinho disse que Cristo nos ensina porque ele ora dentro de nós e por nós.

Mateus 5,3 pobreza de espíritoLucas 9,23 deixar o eu para trás i.e. a auto consciência

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Lucas 10,21 revelação aos ‘simples’Marcos 10,15 confiança de criança, humilde, amorosaSão Paulo, Rom. 8,26-27 verdadeiro mestre interior1Cor 3, 16 espírito que habita em nosso interiorAtos 17, 28 Cristo - cêntricoGal 2,20 centrado no CristoJoão 4, 24-25 Deus é EspíritoJoão 17,21 Unidade

8. Introduza o conceito do Mantra – Palavra Sânscrita, mas atualmente já no Dicionário Oxford de Inglês e usado na vida diária. Termo Sânscrito significando “o que clareia a mente”. O termo de João Cassiano “fórmula” foi traduzido por John Main como “mantra”. Estamos usando no mesmo sentido que o “Caminho do Peregrino” fala da “Oração de Jesus” – algo que repetimos no coração.

John Main recomendou “Maranatha” – importante oração em Aramáico para os primeiros Cristãos. São Paulo usa a palavra em 1Cor 16; São João termina as Revelações com ela, e de acordo com estudiosos modernos, era palavra chave para os primeiros Cristãos participarem na celebração Eucarística: significa “Vem Senhor” e “O Senhor vem”.

9. Explique a finalidade do Mantra.

- Simplifica e produz unidade na mente ao livrá-la da distração. O resultado: quietude- alerta, focalizada em Deus. Colocando a mente no Reino antes de qualquer coisa.- Silenciando nossos pensamentos, deixamos “o eu para trás” (Lucas 9,23) e ficamos mais

atentos a Deus e aos outros.- Ao limitar-se à “pobreza do verso único”, fica-se “pobre em espírito” (Mateus 5,3)- “Coloque a mente no Reino de Deus e na justiça antes de todo o resto”(Mateus 6, 33/34)

(Ver folha separada sobre o Mantra)10. Saliente os frutos da meditação. Ao silenciarmos os pensamentos de todo dia, e focalizar na

atenção a Deus, estamos nos abrindo para a ação do amor de Deus em nosso ser – e assim “Maranatha” transforma-se em chamado poderoso de amor.

O efeito é – completa mudança de vida, abrindo a dimensão contemplativa do viver.

Os Frutos do Espírito (Gal 5:22) descrevem melhor as mudanças. Não tentamos fazer algo acontecer durante a meditação, mas sim realizar o que o Senhor já fez em nós(Ver folha separada sobre ‘Os Frutos do Espírito’)

11. Enfatize que não devemos avaliar nossa meditação. Falha ou sucesso não são termos relevantes para descrever a experiência da meditação. São termos do ego. Questionar o progresso espiritual faz na realidade parte da obsessão por si mesmo. John Main diz que na meditação pretende-se tirar o foco de cima de si mesmo, trata-se de perder a auto consciência. Estamos aprendendo a “deixar para trás o si mesmo (o ego)”. O único teste verdadeiro de crescimento espiritual é o aumento da simplicidade, amor e compaixão por outros, na vida diária.

12. Enfatize o valor de continuar em grupo; a importância da meditação na construção da comunidade. Estamos juntos numa viagem que cria a comunidade e o sentimento de ligação, amor a Deus, amor ao próximo, amor a si mesmo – como uma mesma realidade.

- Utilize estórias que enfatizem como a vida e fé Cristãs estão sendo beneficiadas pela meditação, e como ela ajuda no casamento de ação e contemplação. E ainda, como cria um Cristão mais sincero e autêntico para o próximo milênio.

- Conte sua experiência de chegada à meditação e seu compromisso com ela.

(Recurso: Paul Harris: Meditação Cristã por Aqueles Que A Praticam).

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13. Saliente a meditação como caminho para um equilíbrio teológico, por não ser discursiva nem dogmática, mas baseada em experiência. Funciona como antídoto ao fundamentalismo, ao respeitar diferenças e aprender a perdoar uns aos outros a partir do ‘coração’. Tanto a diversidade como a unidade. (Marcos 9, 38-41. Jesus mostrando tolerância e respeitando diferenças)

A Meditação é a volta para a casa de nós mesmos, para nosso relacionamento pessoal com Cristo e para a unidade original Cristã.

14. Explique como dizer o Mantra: suavemente, sem avaliar, sem esperar conseguir algo, sem usar como instrumento para bater nos pensamentos, repita com fé e amor.

(Veja folha separada sobre metáforas para o Mantra)Poderíamos comparar as metáforas para o mantra com a maneira de Jesus descrever a si mesmo: e.g. “Eu sou a videira” “Eu sou o caminho”, a porta estreita.

15. Prepare o grupo para meditar (ver ‘Sua Prática Diária’ e folha separada) Escolha música adequada ou cante com um grupo acostumado com canto litúrgico.

16. Medite por 25 – 30 minutos.

17. Discussão. Suscite perguntas e comentários. Encoraje questões práticas, não obstante o ‘básico’ que possam parecer a quem apresenta. Enfatize a simplicidade e como aprendemos com nossa experiência. Apresente sua própria experiência de aprendizado da disciplina. Convide pessoas a apenas começar. Refira-se a livros de John Main. Dê informações sobre grupos semanais, boletim, e outros recursos para dar início à prática pessoal diária.

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Introduzindo a Meditaçãoa um grupo misto ou de predominância

da mentalidade leiga

1) Apresente-se e descreva sucintamente como começou a meditar e depois leve o grupo ao silêncio por alguns momentos. Saliente que a meditação é uma tradição espiritual encontrada no coração de todas as religiões, incluindo a Cristã.

2) Explique o significado da palavra ‘meditação’.

- Em Latim, ‘meditatio’ tem sua origem em “stare in medio” significando “permanecer no centro”.

- “Meditare” em Latim foi usado para traduzir a palavra Grega ‘meletan’ que significa “repetir”. - O prefixo ‘med-‘ sugere (como em medicina) cuidado, atenção e dedicação.- Todos estes significados refletem o que é a meditação: ficar atento com todo nosso ser à

uma palavra ou frase que repetimos. O resultado é ficar centrado o que aquieta o corpo e a mente, para que o espírito possa crescer. Crescer espiritualmente é ficar menos auto consciente e mais aberto ao Amor.

- “Contemplação”, que é freqüentemente usado como sinônimo - vem do Latim “contemplare”, que significa “estar no templo” i.e. “na presença de Deus”.

(D.Bede Griffiths: “A oração é a prática da presença de Deus” e “Deus é Amor” (1João 4:9).

- Refira-se a técnicas de meditação usadas para relaxamento e saúde – eficazes a sua maneira. Mas a ênfase aqui é numa disciplina espiritual. Não uma teoria, mas uma forma de experiência, envolvendo corpo, mente e espírito, levando à quietude, silêncio, simplicidade.

3) Saliente a fome universal por espiritualidade hoje em dia, a procura por uma experiência mais profunda. A meditação como caminho de sabedoria. O significado de auto conhecimento.

- Meister Eckhart: “Deus está em casa, nós é que fomos passear”.A meditação é um caminho de “Volta para Casa”, em primeiro lugar para nós mesmos, depois, para Deus.

“Ficar atento”, “estar em casa” ajuda-nos a lidar com os problemas contemporâneos da sociedade, com seu estresse e falta de consenso moral.

- John Main: “Cada vez mais homens e mulheres em nossa sociedade começam a compreender que nossos problemas pessoais e os problemas que enfrentamos como sociedade, são basicamente problemas espirituais. O que cada vez maior número de nós está compreendendo neste mundo é que o espírito humano não consegue encontrar realização apenas em sucesso ou prosperidade material. Não que sucesso e prosperidade material sejam maus em si, mas simplesmente não são adequados como resposta final e última à situação humana.

Como resultado do materialismo em que vivemos, tantos homens e mulheres estão descobrindo que seu espírito está sufocando, e muito da frustração de nossa época deve-se ao sentimento que fomos criados para algo melhor do que isto, algo mais sério do que a sobrevivência dia a dia.

Para conhecer a nós mesmos, compreender a nós mesmos, e poder começar a resolver nossos problemas, e a colocar nossos problemas e a nós mesmos em perspectiva, temos simplesmente que entrar em contato com nosso espírito.

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Como vivemos numa realidade tanto material como espiritual, o Cristão acredita que pode ter experiência do centro de toda realidade em Jesus Cristo, que era espírito feito carne”.

4) Contraste a complexidade da vida moderna com a simplicidade da meditação, a repetição quieta do Mantra, com fé simples, duas vezes ao dia, dia após dia. Não um arranjo, mas disciplina firme e simples.

- Apresente John Main e sua redescoberta da tradição da meditação, na tradição Cristã de João Cassiano e os Padres do Deserto do século 4.

- Situe sua pessoa na Comunidade Mundial para Meditação Cristã, atualmente liderada por Laurence Freeman.

5) Sublinhe a importância da meditação como disciplina, uma prática diária.

Está muito ocupado? A meditação cria energia, cria paz, e assim reduz o estresse e a ansiedade, tornando-o mais preparado para enfrentar o dia a dia..

Conte estórias relevantes sobre meditantes. (Recurso: Paul Harris: ‘Meditação Cristã Pelos Que a Praticam’)

6) Fale sobre os frutos da meditação na vida diária, especialmente nos relacionamentos humanos, consigo mesmo, outros, o ambiente, a sociedade – e o mistério além de palavras que chamamos Deus. A meditação clareia, simplifica e dá unidade à mente ao livrá-la da distração – e esta ‘claridade’ leva à ‘caridade’.Silenciando nossos pensamentos, ‘deixamos o ego para trás’ (Lucas 9,23).

- Meister Eckhart: “A relação é a essência de tudo o que existe”

A Meditação ajuda a entrar em relação correta consigo mesmo, e depois naturalmente com os outros. ‘Ame a si mesmo como seu próximo’.

Uma vez que relacionamentos clareiam, a vida vai se passar nos recursos interiores mais profundos.

Relacionamentos são a chave para a felicidade pessoal e profissional (Frutos do Espírito em São Paulo (Gal. 5:22).

(Ver folha separada sobre ‘Frutos do Espírito’)

7) Fale sobre a Regra de São Bento, como descrição ocidental antiga da harmonia de vida, altamente produtiva, bem organizada e espiritual. Reconcilia corpo, mente e espírito, bem como o indivíduo e a comunidade em horas regulares de oração: “Trabalhe e Ore”.

8) Mostre que:- meditação é a espiritualidade de uma comunidade global, é ponte natural entre religiões,

respeitando diferenças religiosas mas superando divisões, medo e preconceitos. Deixando para trás pensamentos, palavras e imagens, pode-se percorrer o caminho comum do mistério que permanece abaixo de toda realidade.

- Fale sobre o diálogo Cristão – Budista entre nossa Comunidade e o Dalai Lama – a Confer:ência de John Main “O Bom Coração” e o Programa “O Caminho da Paz”. A meditação tem a ver com ir descobrindo a plenitude da vida e se tornar plenamente vivo. “Eu vim para que os homens tenham vida, e a tenham plenamente”(João 10:10).

John Main: “A finalidade da meditação é avançar no caminho da plenitude de sua própria humanidade. Meditar é simplesmente aceitar o dom de sua própria criação, e desenvolver o potencial para corresponder ao dom plenamente. Não somos pessoas que precisam viver na superfície, ou pessoas condenadas a viver vidas de emoções rasas. Meditar é deixar o raso, deixar a superfície, e entrar nas profundezas de seu próprio ser.Na tradição Cristã, meditar é simplesmente estar aberto ao Espírito do Amor, ao Espírito de Deus”.

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9) Passando da morte (mudança, desapontamento, perda) para a vida mais plena (alegria em coisas simples, paz em tempos difíceis). Alcançando um estado de equilíbrio e harmonia.

10) Mencione o sagrado do corpo, estar presente, mesmo na doença ou dor. Estar no presente. A melhor maneira de cuidar do futuro é cuidar do momento presente. A meditação não é experiência ‘mental’ somente, mas integrada, corpo, mente, espírito.

11) Enfatize o valor de um grupo assíduo:- encoraja pessoas a perseverarem na meditação e dá apoio em tempos de aridez.- A importância da meditação como construtora de sentido de comunidade. Estamos numa

jornada juntos e isso cria uma comunidade e o sentimento de estar conectado. Amor de Deus, Amor do Próximo, amor de si, como uma mesma realidade.

- (compare com AA)

12) Lidere o grupo na prática da meditação. (Fonte: ‘Sua Prática Diária’ e folha separada)

13) Medite por 25 – 30 minutos.

14) Discussão. Suscite perguntas e comentários. Encoraje questões práticas, por mais ‘básicas ‘que possam parecer. De ênfase à simplicidade e à maneira como nós aprendemos a partir de nossa experiência. Ofereça sua própria experiência de aprendizado da disciplina. Convide pessoas a apenas começar. Faça referência aos livros de John Main. De informações às pessoas sobre grupos semanais, boletim e outros recursos para dar início à prática pessoal diária.

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Síntese do Ensinamento

Aprender a meditar e aprender o que a meditação tem para nos ensinar são ambos dois tipos de aprendizado diferentes dos que estamos acostumados a fazer. Não estamos aprendendo nada de ‘novo’, dentro do que compreendemos como novidade. Estamos re-aprendendo algo que sabemos desde a infância, e que perdemos antes de poder integrá-lo de forma madura. Estamos des-aprendendo muito, condicionamentos de nossa educação e treinamentos que são inadequados à uma vida plenamente desenvolvida. O que estamos aprendendo neste processo de reaprender e desaprender é algo muito direto e simples para entender, a não ser dentro e através da experiência. Somos demais complexos e auto conscientes para fazer a experiência, no início. Algum ensinamento, não só pelo exemplo (o melhor ensinamento) mas também por palavras e idéias, é necessário para nos manter no caminho que nos prepara para a ‘experiência do magistério’ propriamente dita. Tentarei sintetizar este ensinamento que é dos mais simples, dando os elementos essenciais da meditação. Começarei por nos colocar dentro do contexto do ensinamento Cristão essencial encontrado na Escritura. São Paulo está refletindo aqui sobre o potencial que todos temos para uma vida mais plena e rica, para uma vida enraizada no mistério de Deus.

Ajoelho em oração ao Pai, de quem toda família no céu e na terra recebe seu nome, para dos tesouros de sua glória dar-vos força e poder por seu Espírito em vosso Ser interior, e que pela fé Cristo habite em vossos corações no amor. Com raízes profundas e bases firmes, possais ser fortes para saber, com todo o povo de Deus, qual é a largura, a altura, e o comprimento do amor de Cristo, e conhece-lo, apesar de ser além do conhecimento. Possais assim chegar à plenitude do ser, a plenitude do próprio Deus. (Efe. 3:14-19)

Esta é uma descrição maravilhosamente sintética do destino de cada um de nós, como Cristãos, como seres humanos. Nosso destino, nosso chamado, é para que cheguemos a uma plenitude de ser que é a plenitude do próprio Deus. Em outras palavras, cada um de nós é chamado a um desenvolvimento ilimitado, infinito, pelo caminho da fé e do amor, ao deixarmos para trás a estreiteza de nosso ego, e entrarmos no mistério sempre em expansão do próprio ser de Deus.

A única qualidade que precisamos para começar é coragem. Dar início a meditar é como procurar petróleo no deserto. A superfície é tão árida e poeirenta que é preciso aceitar com fé as pesquisas dos geólogos que dizem que, nas profundezas desta terra seca, existe uma grande fonte de poder. Quando começamos a meditar pela primeira vez, não é possível deixar de esperar que algo aconteça, que agora tenhamos alguma visão, que agora chegaremos a um conhecimento mais profundo. Mas nada acontece. Perseverar para além deste estágio, um dos muitos obstáculos que nossa fé encontrará, nos levará a ver que o amor estará trabalhando sossegadamente no coração da fé. Quando vemos isto, que não é somente pela fé que vamos adiante, mas pela fé e o amor, então teremos realmente começado. Por esta fé Cristo vive em nós no amor. Sua inhabitação é o companheiro constante do professor. Nossa coragem de iniciante levou-nos a encontrar um professor.

Mas é na realidade porque ‘nada acontece’ que se pode ter certeza de estar no caminho certo, o caminho da simplicidade, da pobreza, da entrega que fortalece. Jesus disse que seu Espírito pode ser encontrado em nossos corações. Meditar é descobrir esta verdade como sendo a realidade presente dentro de nós, no centro de nossa vida. O Espírito que somos convidados a descobrir no coração é a fonte de poder que enriquece cada aspecto e cada parte de nossa vida. O Espírito é o Espírito eterno da vida e o Espírito eterno do amor. O chamado feito aos Cristãos é de não ser vivos pela metade, o que significa estar meio morto, mas ser plenamente vivo, vivo com o dinamismo do Espírito, com o poder e a energia de que fala São Paulo, e que flui continuamente em nosso coração. Liberar este poder é estarmos liberados nós mesmos. A liberdade vem a seguir, se aceitarmos a disciplina para realizar o caminho até ela, dia a dia. O caminho da meditação é a própria simplicidade. Temos somente que começar com simplicidade e assim continuar. É essencial percorrer a trilha, estar à caminho, todos os dias de nossa vida. Estando o Espírito a fluir continuamente em nós, levando-nos com ele para Deus, precisamos continuamente descobri-lo.

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Sinal muito indicativo desta continuidade de presença é a quietude física que nos disciplinamos a adotar durante a meditação. É algo que precisamos aprender, reaprender à medida que desaprendemos nossa inquietude condicionada. Simplesmente colocamos o corpo na almofada, na cadeira, e o deixamos lá, totalmente entregue ao trabalho da meditação. Este é o primeiro passo longe do egoísmo e de nossa preocupação compulsiva com nós mesmos, ao abrir nossa consciência ao que está além de nós, a realidade sem limites que expande nosso espírito para um amor imprevisível, generoso, desapegado. O desafio que cada um de nós tem que enfrentar é ir além de onde agora nos encontramos, para ir adiante. Somos peregrinos e por isso temos que fazer progresso. A progressão depende de nossa disposição de crescer, desenvolver, além de nós mesmos, para dentro da profunda e generosa vida de Deus. Assim, para começar, sentamos quietos.

Depois, fechando os olhos suavemente, começamos a recitar nosso mantra. Para meditar tudo que temos de fazer é dizer a palavra do princípio até o fim. Não pense no que está ou não esta fazendo. Não pense em si. Não se pergunte ‘Será isto uma completa perda de tempo? O que conseguirei com isto?’ Todos estes pensamentos precisam desaparecer, ser abandonados. Eles deixarão de incomodar se perseverarmos com o mantra, aprofundando a fé, liberando o poder de amor do Espírito. A meditação nos leva continuamente a um estado de consciência não dividida em que nos tornamos um com o Um que é um. Nossa unidade crescente, com nós mesmos e com Deus, é o processo que sublinha nosso senso que nós, ou melhor, a vida vivida em nós é algo mais profundo, mais generoso, mais vivo. Entretanto, a meditação pede que nosso compromisso seja totalmente prático, nosso compromisso espiritual.

O chamado, o destino, que ouvimos São Paulo legar para nós, não é somente um chamado para, nos momentos religiosos de nossa agenda ocupada, entrar num bocado de riqueza espiritual. O chamado é para entrar totalmente e plenamente, sem reservas, sem contar o custo, na verdade que dá poder a cada um de nós de ser plenamente humano, verdadeiramente confiante em si, o que significa confiante para amar e ser amado.

Novamente, precisamos lembrar que não estamos falando de uma doutrina elitista ou esotérica. Este chamado, este destino, está ao alcance de cada um de nós. Tudo que precisamos fazer é nos comprometer com a viagem, com a prática. E a prática da tradição – e não deixe que algo lhe desvie disto – é repetir a palavra do princípio ao fim com fidelidade crescente. Esta verdade de nosso destino é não só acessível para nós, mas é também o fundamento de toda a realidade. Para atingir esta realidade temos que ser simples, ficar quieto, ser silencioso. Estes são os elementos da oração e a oração é estar atento – atento ao que é a realidade suprema da presença de Deus, seu amor, dentro de nossos próprios corações. Precisamos aprender a deixar de pensar sobre nós mesmos. Precisamos aprender a simplesmente ser, o que significa estar totalmente atento à presença de Deus, à presença daquele que é, e que é o fundamento de nosso ser, e de todo ser. Não precisamos ter receio ao partir, ao deixar o eu para trás e partir ao encontro do outro. Não precisamos ter dúvida ou medo. O Espírito em nossos corações, o Espírito ao qual nos abrimos na meditação é o Espírito de compaixão, de delicadeza, de perdão, de total aceitação, o Espírito de amor.

Para que nossa vida seja plenamente humana, precisamos encontrar o Espírito de amor dentro de nós mesmos. Não se trata de uma viagem apenas para peritos espirituais. É uma viagem para todo aquele que quiser viver a sua vida plenamente. A quem se dirigia São Paulo quando escreveu estas palavras?

Rezo para que sejam iluminados os olhos de vosso coração, para que conheçais qual é a esperança a que ele vos chamou, e quais as riquezas da glória de sua herança a vós reservada – e qual é em nós, os que cremos, a suprema grandeza de seu poder. (Efe 1:18-19)

A meditação é o grande caminho da confiança. Sentamos, sentamos quietos, dizemos nosso mantra com fidelidade crescente e confiamos todo nosso ser a Deus. Fazemos isto toda manhã e toda noite de nossas vidas e assim aprendemos a viver a partir daquela confiança, viver a partir do amor que a fé revela e libera.

John Main – Heart of Creation

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A Luz da PalavraQuando falamos ou pensamos sobre a meditação, é muito fácil deixar-se levar pela teoria. E a meditação é um mistério extremamente excitante e maravilhoso para ser falado e pensado. Entretanto, falar e pensar têm um grande perigo embutido, que é não se ir além das palavras e idéias, e assim ficar olhando um reflexo no espelho. Ficamos tão fascinados pelo refletido e tão alheios ao fato que o espelho distorce o que reflete, que deixamos de virar e olhar a coisa real. O ensinamento de um grande mestre como John Main tem o poder de nos inspirar, e de nos fazer virar e olhar a coisa real. Olhar a coisa real significa fazer a coisa real. Significa realmente meditar, realmente disponibilizar o tempo, toda manhã e tarde, para ver a realidade. O ensinamento que recebemos, e que procuramos compartilhar e viver, é inteiramente realista e prático. Não se ocupa somente com especulação e elaboração de teorias; preocupa-se sobretudo com a experiência, experiência na fé. Em primeiro lugar, vem a experiência de começar a meditar. Em segundo, a experiência de ir aprendendo. E somente em terceiro, a experiência propriamente dita e a meta de chegada. Por causa da conexão íntima entre o ensinamento e a nossa experiência, o ensinamento tem autoridade para refletir e guiar nossa experiência. Isto é o que denominamos ‘tradição viva’.

Cada um de nós entra nela quando começa a meditar. Sendo uma tradição que começou há muito tempo, é uma que, em grande medida, formou-nos no que já somos, quando nela entramos. Este ensinamento ou tradição, é de total simplicidade. Diz que para meditar precisamos ficar silenciosos e quietos, não só no exterior, não só fisicamente – apesar disto também ser essencial – mas interiormente silenciosos e interiormente quietos. Desta maneira, a tradição leva-nos a penetrar no conhecimento da unidade com nós mesmos. O ensinamento leva-nos a nos encontrar. Nossa quietude externa reflete a quietude interior. Quando meditamos, precisamos tentar sentar o mais quieto possível, e não ficar displicentes com esta disciplina de quietude, no passar das semanas e meses. Pode parecer algo muito elementar a ser feito, mas é o primeiro passo, e o primeiro passo é da maior importância. Depois, começa-se a dizer o mantra. Durante o tempo da meditação, não se terá nada mais a fazer, nada mais com que se ocupar, nada para ambicionar, para planejar ou analisar. É preciso somente repetir a palavra. Dizer a palavra levará ao silêncio ainda mais profundo, em que se poderá descobrir quem somos, e (ainda mais maravilhoso) poderemos permitir que Deus seja quem é dentro de nós.

Quaisquer pensamentos, idéias ou imagens que possam fluir na mente, apenas deixe que passem. As percepções que possam surgir, deixe também passar. Faça o mesmo com pensamentos ou distrações triviais. Não importa o que venha à mente ou o que imagine; simplesmente volte a dizer sua palavra. A repetição purifica. O mantra purificará seu coração, sua consciência, e levará àquela pura simplicidade de uma criança que necessitamos para entrar no Reino. O mantra é o caminho.

Quando a maioria de nós começa no caminho, a experiência inicial é muito diferente daquela a que somos eventualmente conduzidos. Não é uma de alegria, paz e contentamento. Ouvimos falar sobre este ensinamento que trata de como viver a partir da fonte de alegria dentro de nós. E saímos à procura do reino de paz dentro de nós. Mas no início é mais provável encontrarmos desejo irrequieto e descontentamento. Somos todos radicalmente descontentes, porque somos encorajados e treinados para viver demasiado no futuro, planejando para o futuro, ou então no passado, arrependendo-nos e analisando sempre. Nossa inquietude nos leva a perder a única oportunidade que temos de contentamento, de plenitude de vida. A chance única que temos é o momento presente. Perdendo isso, perdemos tudo.

Vivendo no passado ou no futuro, acabamos descontentes, porque ficando tão ocupados com o que não temos, tão preocupados com o que desejamos, deixamos de ver o que nos foi dado. A não ser que mudemos de atitude e deixemos o espelho, estaremos condenados a ser descontentes. Mesmo que consigamos as vezes o que desejamos, continuaremos descontentes. Conseguir o que desejamos não vai nos satisfazer, porque neste quadro de concupiscência da mente, sempre haverá algo mais que se deseja, e que fica além de nosso alcance imediato. O estado de descontentamento não é regido pelo espírito de amor mas pelo egoismo. O único caminho que leva à paz é reconhecer e receber o que nos foi dado. Em geral não damos

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atenção ao maior dom que nos foi dado. Não conseguimos vê-lo. Não é saúde, riqueza, beleza ou talento. O maior dom é nosso ser, simplesmente existir.. Este é o dom primeiro e fundamental. Se falharmos em reconhece-lo , o que também significa falhar em aceitá-lo, então nada do que vier em nossa direção poderá realmente ser nosso. Aceitar este dom é o primeiro passo, o passo essencial, para ser plenamente vivo e assim inteiramente satisfeito.

Aceitar o dom é o que fazemos quando meditamos. A meditação tem a ver com ser em vez de fazer, apesar de levar muito tempo para isto nos parecer familiar como idéia, e ainda mais tempo para aceitar como experiência. É muito difícil para nós preocupar-nos com ser em vez de fazer. Ainda por algum tempo, depois de começar a meditar, continuamos a ver a meditação como sendo relacionada sobretudo com o fazer. Temos que reconhecer que é assim no começo. Mas que nossa percepção vai se purificando na continuação. Ao aprender como ser, como aceitar o dom de nosso ser, encontraremos contentamento verdadeiro. Deixamos para trás desejo, inquietude e todas as imagens que essas paixões criam. Naturalmente, como resultado, nosso fazer é radicalmente purificado por nossa meditação. A maneira como vivemos, a qualidade de nossa vida, a generosidade de nossos relacionamentos, são todos com o tempo transformados pela nova compreensão que adquirimos ao aprender a ser e a aceitar o dom de nosso ser.

Tudo isto é um processo de crescimento em nosso espírito. Não é uma experiência imediata. Por isso, quando começamos a meditar, é importante não procurar ter experiências, certamente não tentar criar ou simular, antecipar ou possuí-las. Trata-se de um processo de crescimento igual ao decantar de impurezas num copo d’água. No princípio todas as impurezas circulam fazendo a água ficar turva e opaca. Mas não interferindo e deixando o copo sossegado, as impurezas vão para o fundo, a água fica quieta e clara. Ao olhar a água, pode-se avaliar a beleza da pureza, sua clareza e o que é a simplicidade. Quando opaca, a água reflete. Quando clara, pode-se ver através dela.

A primeira coisa que precisamos aprender a fazer é ficar sossegados, ficar quietos. Somos todos turvos. Somos todos demasiado auto reflexivos. Precisamos deixar que nossa consciência clareie. Este é o processo simplificador da meditação, ficar quietos no centro de nosso ser. Quer dizer ficar realmente quietos, não apenas pensando em ficar quietos, ou dizendo como seria bom se ficássemos quietos e fossemos mais espirituais, mas de fato ficando quietos e, com tempo, permitindo o fluir de toda nossa ação a partir da harmonia desta quietude. Na quietude, nosso espírito clareia. Torna-se puro e translúcido. O Deus cujo espírito habita em nós, brilha então através de nós como a luz do sol através da água. É a isto que chamamos pureza de coração. Esta é a claridade de consciência que nos permite ver a Deus. ‘Bem-aventurados os puros de coração’, disse Jesus, ‘pois eles verão a Deus’. Kierkegaard definiu a pureza de coração como desejar uma só coisa.A maioria de nós deseja coisas demais. Restringir nosso desejo a uma coisa, purifica-nos aos poucos do desejo. Clareia-nos porque quando meditamos tudo o que desejamos é dizer o mantra. Todo o resto é deixado para trás. Repetir nossa palavra fielmente, com simplicidade e amor, leva-nos àquela quietude em que vemos a luz claramente, tanto no interior como a nossa volta. Portanto, vemos tudo claramente porque vemos à luz do próprio criador da visão. O salmista louvou a Deus cantando: ‘Em sua luz, vemos a luz’.

Esta claridade é sentida como alegria. Ver a luz é a essência da alegria e por isso é a única base segura de contentamento em nossa vida. Como espírito de paz, age em prol da tranqüilidade e harmonia em cada setor da vida. É somente necessário que fiquemos quietos, e em seguida que permaneçamos na trilha que nos leva adiante na quietude. A trilha nos solicita apenas que sejamos totalmente simples nesses dois períodos de meditação cada dia, e que sejamos o mais fiel possível à repetição de nossa palavra.

A Luz que encontramos é a luz da Palavra descrita no Evangelho de João:No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. (João 1: 1-5)

(Laurence Freeman – Light Within - Luz Interior)

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“Somos o que Fazemos com Silêncio”Santo Agostinho disse muita coisa maravilhosa, e uma delas é esta: Todo o propósito da vida é restaurar a saúde do olho do coração através do qual vemos a Deus”. Este é realmente também todo o propósito da oração: restaurar a saúde do olho do coração através do qual vemos a Deus – em nós mesmos, nos outros, em todas as coisas. Existe um pressuposto na descrição de Agostinho: que, enquanto o olho do coração é um dom de Deus, NÓS temos o trabalho de conservar sua saúde. NÓS – cada um – somos os responsáveis. Subentende-se que a saúde do olho do coração é algo que precisa ser cuidado, cultivado, protegido, contra o que o desafia durante a vida, coisas que o assaltam – tanto vindas de dentro como de fora. E novamente, esta é uma responsabilidade tão vital porque é somente através deste olho que podemos verdadeiramente ver a Deus – em nós mesmos, nos outros, em todas as coisas.

Não é através do olho empírico dos sentidos. Não é através do olho racional da mente ou do intelecto. Mas através do olho espiritual do coração. E quanto mais crescermos no espírito, tanto mais aguda e forte será a visão deste olho, este olhar do espírito. E tanto maior será nosso amor.

Portanto, o que gostaria de partilhar com vocês esta manhã é um caminho antigo de crescimento espiritual, um caminho de saúde espiritual – que é inacreditavelmente simples e poderoso. É o caminho da oração contemplativa ou da meditação – uma disciplina pessoal diária, uma prática de silêncio, quietude e simplicidade, ao alcance de cada um de nós – não como substituto de todas as outras formas de oração, mas como um centro para elas. Assim como o eixo de uma roda centraliza os aros e torna possível seu movimento e estabilidade.

É importante saber que esta forma de oração está profundamente enraizada em nossa tradição Cristã – nos evangelhos e nos ensinamentos dos Padres da Antigüidade. Mas enquanto as raízes são profundas e continuam vivas, a trepadeira pouco floresceu nestes séculos. Na realidade, quase se perdeu, e na igreja organizada permanece ausente, pois não só não é lembrada ou ensinada, mas é mal compreendida, tida como estrangeira, pertencente a outras tradições, tal como a Budista. Ou então é vista como uma forma muito rarefeita, útil em nossa tradição apenas para muito poucas pessoas estranhas, freqüentadoras de mosteiros do século 14, vestidas em hábitos e capuzes. Certamente não coisa para o dia-a-dia de mulheres e homens Cristãos como você e eu.

Entretanto, a boa nova é que um dos acontecimentos mais significativos dos últimos 50 anos é a recuperação desta tradição no Ocidente, como uma forma verdadeiramente Cristã de espiritualidade, e como caminho para qualquer um, para cada um de nós.

Uma das pessoas mais responsáveis por esta recuperação foi um Monge Beneditino Inglês chamado John Main, nascido em 1926 e falecido em 1982. John Main era – e através de seus livros e fitas permanece – um grande mestre de oração contemplativa que viu a oração como o meio principal de saúde espiritual, crescimento espiritual. De muitas maneiras, teve ele uma abordagem extremamente prática. Não prometeu experiências místicas ou visões. Ele não disse que se começaria a levitar, ouvir vozes. Ele disse simplesmente que se cresceria em Cristo. E disse que seria possível medir este crescimento não pela qualidade da oração mas pela qualidade de vida, a qualidade do amor. É somente na vida diária que encontramos os verdadeiros frutos ou as medidas do crescimento em Cristo.

Na realidade, ele disse que há cinco sinais:mais enraizamento em si mesmo (o si mesmo verdadeiro, não o falso, do ego);estabilidade emocional mais profunda;maior simplicidade e clareza intelectual;maior capacidade de centrar-se nos outros e não em si mesmo; eir se tornando mais amante e mais consciente do amor como a energia essencial da vida.

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Quando John Main falava sobre centrar a oração, ele não se referia à qualidade e quantidade de nossos pedidos ou intercessões. Nem do quanto ou com que freqüência praticamos isso. Ele falava sobre a qualidade e a quantidade de nosso silêncio, nossa capacidade de ficar quietos, silenciosos e simples na presença de Deus, por um período determinado de cada dia. Ele falava sobre a oração do coração, a oração não de palavras e imagens, mas do silêncio. E isto nos traz ao título de nossa palestra.

Ele vem de um Alemão do século 19, Friedrich von Hugel, que escreveu um livro, que provavelmente nenhum de nós tem à cabeceira no momento, chamado OS ELEMENTOS MÍSTICOS DA RELIGIÃO. Von Hugel apresentou uma declaração surpreendentemente clara sobre a finalidade e os meios da vida espiritual, além duma afirmação prática -- tudo em sete palavras. Ele disse, “Nós somos o que nós fazemos com silêncio”.

Nós somos o que nós fazemos com silêncio. A definição de Von Hugel coloca uma alternativa curiosa às definições deste tipo mais conhecidas, como a sempre popular: nós somos o que comemos. Realmente, se quiséssemos, variações nesta linha poderiam oferecer uma história comparativa da filosofia humana, de tamanho portátil, desde – nós somos o que foram nossos pais – nós somos o que pensamos – nós somos o que produzimos – nós somos o que compramos – nós somos o que acontece com nossa química cerebral no momento.

Portanto, como é estranha a noção de Von Hugel: nós somos o que fazemos com silêncio. Parece totalmente oposta a tudo que, de outra forma, definiria nosso sucesso e identidade. Mesmo assim, o que diz faz eco no coração de toda tradição espiritual, toda tradição terrestre de sabedoria – especialmente a nossa. Mas na tradição Cristã, a prática e a finalidade do silêncio, a sabedoria do silêncio, foram quase perdidas, não apenas nos ambientes institucionais de oração, mas também na oração pessoal . Enquanto rezamos, podemos permanecer em silêncio exterior, mas por dentro falamos desbragadamente. E na igreja, por haver tão pouco silêncio exterior, é quase impossível o silêncio interior.

Existe certamente em nossa cultura comercial, competitiva, grande aversão ao silêncio. Em vez de silêncio, quietude e simplicidade, temos distração e complexidade, temos barulho e negócios. Temos tagarelice de toda espécie, mas talvez o mais ensurdecedor é o que acontece em nossa própria mente, o que os Budistas chamam nossa mente de macaco, cada uma sendo uma árvore cheia de macacos falando todos ao mesmo tempo.

Obviamente, esta é uma longa estória, mas o ponto a registrar no momento é, se o que fazemos com o silêncio é fugir dele, livrar-nos dele a qualquer custo, enchê-lo de barulho e afazeres, preocupá-lo com nossas ansiedades e fantasias, com nós mesmos: NÃO PODEMOS CRESCER EM ESPÍRITO. E não vamos faze-lo. Não podemos viver plenamente no momento presente, o único momento que é realmente nosso.

Deixem que lhes conte uma pequena estória Budista sobre dois discípulos Zen, que ilustra o ponto que queremos registrar. Cada um destes discípulos estava se vangloriando sobre os méritos de seu respectivo mestre. O primeiro discípulo disse: Meu mestre fica de um lado do rio e eu do outro segurando um pedaço de papel. Ele desenha um quadro no ar e o quadro aparece no meu papel! Ele faz milagres!! O segundo discípulo não se deixou impressionar. Meu mestre faz milagres maiores do que esse:Quando ele dorme, ele dormeQuando ele come, ele comeQuando ele trabalha, ele trabalhaQuando ele medita, ele medita.

E o que é este milagre maior descrito pelo segundo discípulo? É o milagre maior de simplesmente ser, estar no momento presente, inteiramente ligado, totalmente presente. E o que é tão milagroso nisto? Obviamente, para criaturas que estão em geral completamente distraídas, são tremendamente auto conscientes, estão freqüentemente perdidas no passado ou perdidas no futuro, ou agem e vivem aos olhos de outros, a santidade simples do momento, do Agora, é bastante milagrosa. A habilidade do segundo mestre de apenas ser, e, como diz a última linha, ficar quieto, silencioso e simples em meditação ou oração, é sem dúvida o milagre maior.

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Isto é muito consistente com a tradição de sabedoria de nossa própria fé. Temos recomendações do próprio Cristo sobre a oração, em Mateus: “Ide a vosso lugar secreto e fechai a porta”, não continueis tagarelando. Existem testemunhos antigos poderosos, especialmente na sabedoria dos Padres do Deserto que, nos primeiros cem anos depois de Cristo, procuraram viver pura e honestamente de acordo com o evangelho de Jesus, nos desertos da África. Como muitos de vocês sabem, os Dizeres dos Padres do Deserto – aforismas curtos e simples, sem análise ou interpretação, são um baú de tesouros de percepções que ainda brilham. Aqui está um destes Dizeres que melhor se aplica ao tema de hoje:

Um certo irmão foi ver o Abade Moisés e disse, “Padre, podes me dar uma boa palavra?”O Abade Moisés disse-lhe, “Vá se sentar em sua cela e sua cela lhe ensinará tudo”.

Ou como disse o salmista mil anos antes, “Fique em quietude e saiba que eu sou Deus”. E se ainda precisarmos de uma versão mais corrente, podemos buscar no grande filósofo Francês de aforismas, Pascal, que disse, “Todos os problemas da vida recaem sobre nós porque recusamos de sentar quietos por algum tempo cada dia em nosso quarto”.

A tradição Cristã do ensinamento de quietude, silêncio e simplicidade, como a forma de oração que leva ao centro, é poderosa e de longa data, mesmo que a maioria de nós nunca tenha tido a oportunidade de encontra-la em curso regular de educação religiosa. Talvez, o personagem pivô na tradição contemplativa ocidental seja João Cassiano, que estudou no século 5 os Padres do Deserto e foi o grande mestre de São Bento, cuja regra ainda constitui a base espiritual da fé Anglicana.Quando era jovem, Cassiano foi ao Egito com um companheiro para aprender com os Padres, e seus escritos subsequentes formam o cerne da tradição monástica do Ocidente. Damos a seguir um exemplo da percepção de Cassiano. O evangelhos nos lembra, diz ele, de entrar em nosso aposento, fechar a porte e rezar a nosso Pai. Está bem, mas o que significa isto realmente? Eis como Cassiano traduz a metáfora e aplica à nossa experiência pessoal.

“Oramos em nosso aposento, quando removendo o coração para o interior e abandonando a algazarra de todos os pensamentos e ansiedades, iniciamos nossa oração em segredo e em contato íntimo com o Senhor. Oramos com portas fechadas quando com lábios cerrados e silêncio total, oramos para o que busca não palavras mas corações”.

O que busca não palavras mas corações. O Pai que já sabe o que precisamos mesmo antes que peçamos. O Espírito que ora em nós, porque, como nos lembra o evangelho, “nós não sabemos como orar”.

Entretanto, a grande percepção prática que Cassiano nos oferece é o COMO. Ele partilhou o que chamou de “fórmula” de repetição de um único verso ou frase curta: sente-se, fique quieto, diga sua palavra, repita sua palavra – não como encantamento mágico, mas como instrumento para ajudar a ser humilde e silencioso diante de Deus. Um meio através do qual possamos ter a experiência da “pobreza de espírito”, que Jesus descreve nas Bem-aventuranças. Eis aqui o que Cassiano diz sobre a fórmula para a oração contemplativa: a repetição humilde de um único verso ou palavra:

A mente deve sem cessar apegar-se a ele até que, fortalecida por uso continuo e pela meditação constante, ela descarte e rejeite todo o rico material de todo tipo de pensamento. Ela se restringirá à pobreza deste verso único e assim chegará facilmente àquela bem-aventurança do evangelho que ocupa o primeiro lugar entre as outras bem-aventuranças: porque ele diz “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o reino dos céus”. E desta maneira seremos...pobres com grandeza...

A pobreza de um verso. Sendo pobres com grandeza de espírito diante de Deus. Estas são as palavras que deram motivação à John Main e à redescoberta desta tradição em meados do século vinte.

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A tradição do ensinamento de Cassiano a Main está baseada na noção que o silêncio não é só ausência de barulho, mas uma prática, uma disciplina, uma escolha, uma maneira de ser. Um caminho de humildade. Um caminho de Fé. A tradição declara também que o segredo, o que buscamos, as vezes tão desesperadamente, não está LÁ FORA. Está dentro de nós. É o tesouro escondido em nossos próprios corações. Mas para descobri-lo, para encontrar o segredo plenamente e desfrutá-lo, precisamos aprender como ficar quietos, ser simples e silenciosos em alguma forma disciplinada regular.

Portanto, qual é este dom que já possuímos? Qual é o tesouro escondido em nossos corações? Dom John diz que é a paz do próprio Cristo, seu presente de despedida para cada um de nós, uma paz a partir da qual poderemos viver e enfrentar cada dia – se pudermos apenas estar em contato com ela. Naturalmente, esta é a teologia da inhabitação de Cristo e a teologia da meditação dentro da tradição Cristã. Dirijamo-nos ao fim de tarde do dia da ressurreição, lendo em João:

Então nesse mesmo fim de tarde, sendo o primeiro dia da semana, quando por medo dos Judeus, as portas estavam fechadas no recinto em que se encontravam reunidos, Jesus apareceu no meio deles e disse, A Paz esteja convosco. E mostrou-lhes suas mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor e então Jesus disse novamente, A Paz esteja convosco. Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. E quando havia dito isto, assoprou sobre eles e disse: Recebam o Espírito Santo.

A tradição de oração inspirada por nossa fé no Cristo ressuscitado que vive e vive em nós – não é pois um chamado de longa distância mas uma entrada para dentro do coração. Não se trata de um dom para o qual seja necessário economizar, ou se preocupar sobre quando chegará. Como nos lembra Dom Laurence Freeman, sucessor Beneditino de John Main, “Já aconteceu...O Espírito já foi assoprado em nossos corações.

É este espírito e seu poder de reconhecimento e amor que Jesus assoprou em cada coração humano. É o dom central de nossa fé. Estamos falando de oração, a prática da oração. Novamente, não a oração em que estamos pedindo algo ou pensando em nós mesmos ou outros. Mas a oração do coração em que estamos simplesmente sendo e sendo simples, na presença de Deus. Onde não estamos tentando provar alguma coisa ou impressionar alguém. Onde estamos ainda tentando, apesar de todo frenesi, clamor e complexidade de nossas vidas, “ficar quietos e saber que Deus é Deus”.

Esta portanto é a tradição. Uma disciplina espiritual, forma de oração que não substitui outras formas. Mas forma de oração que nos fundamenta no trabalho mais importante que Jesus pede de nós: Deixar o eu para trás. E por que? Para que possamos ser mais beatos, mais santificados do que outros pobres mortais. Não, para que possamos crescer no amor, para que possamos realmente tentar ver a Deus em nós mesmos, nos outros, em todas as coisas.

Trata-se simplesmente de prestar atenção ao que fazemos com nosso silêncio. Reserve pelo menos 20 minutos no início e ao final de cada dia. Reserve este tempo apesar de tudo o mais que tenha de fazer. Reserve-o apenas para ser: ficar quieto, ser simples. Procure encontrar um local o mais sossegado possível. Se puder, use sempre o mesmo local e o torne sagrado. Acenda uma vela. Use um ícone. Tire os sapatos. Nem pense em ligar o rádio. Sente e fique confortável. Costas eretas. Feche os olhos suavemente. Não se mexa, fique o mais quieto possível. Sem tensão. Relaxe mas fique alerta. Apenas seja e respire.

Respire o Espírito Santo que Cristo lhe deu e continua a dar. Concentre-se por um minuto no milagre de sua respiração. Em seu dom sempre renovado. E depois, como nos ensina a tradição, comece a dizer uma palavra sagrada, silenciosamente, interiormente. John Main chama-a de “mantra”. O que ele recomenda é maranatha, palavra Aramáica – língua do próprio Jesus, que significa “Venha Senhor” ou “O Senhor Veio”. Diga-o em quatro sílabas de igual tamanho: Ma-ra-na-tha.

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Repita suavemente e continuamente, do princípio até o fim do período de sua oração. Não pense em nada. Apenas repita a palavra suavemente, com fé. Pensamentos e distrações VIRÃO, mas deixe-os fluir. Não vá atrás deles. Aceite a palavra como um dom destinado a ajudar sua mente a focalizar e a ficar atenta à oração simples e quieta do coração.

Permitam que termine com algumas palavras de Laurence Freeman, outro Beneditino que ensina a prática de meditação Cristã, e que nos lembra que a finalidade da oração, como diz Santo Agostinho, é restaurar a saúde do olho do coração. Lembra-nos também que a oração é um trabalho pessoal, disciplina diária – que exige tempo, dedicação, amor e fé.

“Crescimento no espírito”, diz ele, “não é uma experiência imediata. É um processo semelhante ao decantar de impurezas num copo de água. No início as impurezas se agitam tornando a água turva, opaca. Mas não interferindo com o copo e permitindo que permaneça sossegado, as impurezas assentam-se, a própria água fica quieta e de uma clareza translúcida. Ao olhar através da água, percebe-se como é bela sua pureza, sua claridade, e pode-se ver o que a simplicidade realmente é. Quando opaca, a água reflete. Quando clara, pode-se ver através dela.

“A primeira coisa que precisamos aprender a fazer é permitir que fiquemos sossegados, quietos. Somos todos turvos. Somos todos demasiado auto reflexivos. Precisamos permitir que nossa consciência clareie. Eis o processo que simplificante da meditação, ficar quieto no puro centro de nosso ser. Isto significa realmente quieto, não apenas pensando em ficar quieto ou dizendo como seria bom se ficasse quieto e fosse mais espiritual, mas de fato ficando quieto e, com tempo, permitindo que toda ação possa fluir a partir da harmonia com esta quietude. Na quietude nosso espírito clareia. Torna-se puro e translúcido. O Deus cujo Espírito habita em nós brilha então através de nosso espírito como a luz do sol brilha através da água. É a isto que chamamos pureza do coração. Esta é a claridade da consciência que nos permite ver a Deus”.

Carla Cooper

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O Período de Meditação

Terminada a palestra introdutória, chegou o momento de introduzir a meditação. Fique ciente que isto é um desafio. Este é o momento em que se é realmente chamado a partilhar a fé: nada mais falando sobre o assunto!

Estando as pessoas sentadas por algum tempo, permita momentos para ficarem de pé e relaxar ou faça pausa de cinco minutos, mantendo silêncio. Pode ser útil fazer exercícios de alongamento antes de sentar de novo, se lhe parecer exeqüível. Não sendo, permita alguns momentos para que possam se recompor antes de introduzir a meditação.

Não tenha medo de usar alguns momentos para ajudar o grupo a ficar na melhor posição possível para a meditação. Dê instruções sobre como sentar.

Se estiver sentada numa cadeira, sente bem para trás, e depois use as costas da cadeira como ponto de apoio mais do que como encosto. A regra mais importante de postura é que as costas devem ficar retas. Para isto é preciso assegurar que o contorno da cabeça e a bacia encontrem posições naturais de alinhamento. Encontrando a posição de equilíbrio, não precisará se esticar. A parte superior da cabeça deve estar como que puxada por um cordão preso ao teto, com o queixo em direção ao peito e não apontando para fora ou para o alto. Isto permite à parte detrás do pescoço ficar alongada e livre e portanto relaxada.

Se estiver no chão ou em banqueta de oração, as mesmas regras se aplicam à espinha, deve ficar apoiada e ereta, mas não forçada, tensa ou rígida. Em casa, é importante se dar tempo para encontrar a melhor maneira de sentar.

Qualquer que seja a forma que escolher para sentar, é importante que não passe o tempo de meditação pensando sobre a dor que está sentindo ou o desconforto. O corpo deve estar o mais afinado possível sem estar forçado ou com dor. A capacidade de sentar bem aumentará com a prática. Lembre-se que o primeiro passo para a quietude é sentar quieto durante o tempo da meditação.

Quando estiver bem acomodado, sinta o corpo na cadeira por alguns momentos, fique ciente dos pontos de contato com cadeira ou chão. Sinta que o seu peso natural descansa.

Tome agora conhecimento de sua respiração. Sinta a inspiração e a expiração do ar. Nosso ar é o ar da vida. Em muitas línguas, respirar é a mesma palavra que espírito. Portanto, ficar consciente de nossa respiração é muito útil para levar à quietude. Não altere a respiração, permita apenas que o movimento abdominal deixe o ar fluir até a base dos pulmões. Esta respiração abdominal faz muito bem à saúde bem como à meditação.

Agora feche os olhos de leve.

Quando se sentir pronto, introduza suavemente sua palavra de oração, seu mantra. O mantra que sugerimos é a palavra MARANATHA. Caso use esta palavra repita-a devagar em quatro sílabas de igual entonação MA-RA-NA-THA.

Outras palavras adequadas seriam o nome de “Jesus” ou “Abba”. Ao dizer a palavra, ouça-a e permita que vá se aprofundando da mente para o coração. Não pense em seu significado. John Main observou que muitas pessoas dizem o mantra de forma coordenada com o ritmo de sua respiração ou batida do coração. Se puder fazer uma coisa ou a outra, é ótimo. Entretanto, disse ele, se não conseguir fazer isto naturalmente, então “apenas repita como puder”. É importante usar sempre a mesma palavra depois que tiver sido escolhida, para que possa ficar enraizada no seu ser e ai repetir a si mesma. Não use o mantra para atacar os pensamentos ou reprimir sentimentos. Seja muito delicado e simplesmente volte sua atenção de leve e fielmente para a palavra, toda vez que vier a distração. Volte sem recriminação ou crítica.

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Agora, meditaremos durante 30 minutos.

Tendo dado as instruções, diga-lhes como a meditação terá início e fim e.g. com alguns minutos de música.

Ao final, permita tempo adequado para sair da meditação, especialmente se ela for seguida por um período de perguntas e respostas. Seria útil transmitir às pessoas a importância de dar tempo para sair da meditação, e recomendar maneiras de marcar o tempo em casa: com música previamente gravada – silêncio – música,(amostras de fitas poderiam ser usadas e mostradas), ou com uma sineta suave. Tudo para evitar a distração de ‘ficar olhando o relógio’ durante os períodos de meditação. O tempo dos períodos poderiam ser explicados. Talvez sugerindo iniciar com 20 minutos, aumentando aos poucos para 30 minutos, o tempo ideal. Enfatizar também a importância de regularidade e de meditar duas vezes ao dia, caso haja vontade de adotar esta forma de oração. É útil apontar que, para muitas pessoas, aceitar o compromisso com a meditação leva tempo. Estamos sempre começando e leva tempo para iniciar. O compromisso aumenta quanto mais perseverarmos no caminho, até que se torna o centro de nossa vida.

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Perguntas e RespostasNo período de discussão após a sessão de meditação haverá provavelmente uma gama de perguntas. Responda como melhor puder. Se não conseguir pensar numa resposta, diga simplesmente ‘eu não sei’ ou ‘vou pensar sobre isso’. Mas o mais provável é que possa responder adequadamente, com suas próprias palavras, e a partir de sua própria experiência e leitura. Damos a seguir apenas algumas perguntas mais freqüentes com respostas adequadas. Como é que você responderia usando suas próprias palavras?

P. Porque usamos um mantra? Qual é o papel do mantra e como escolho um?

R. O propósito do mantra tem três aspectos: primeiro, ajuda a lidar com distrações. A mente necessita focalizar num ponto, em algo em que fique absorvida para que as distrações possam ser ignoradas. Segundo, leva a uma disposição de simplicidade. Terceiro, e o mais importante para nós que meditamos como Cristãos, repetir o mantra é expressão de fé em Cristo que vive em nossos corações.

O mantra é escolhido com cuidado. É expressão de nossa fé. A meditação é Cristã por causa da fé da pessoa que medita. O mantra é nossa expressão disto. Apesar de ser aceitável que se escolha o próprio mantra, a forma ideal é o mestre dar ao estudante um mantra. O Espírito é o mestre interior, e por isso ele pode inspirar o mantra escolhido.

O mantra recomendado por John Main é a palavra MARANATHA. É uma palavra Aramáica, língua falada por Jesus. Significa Venha Senhor Jesus ou O Senhor Vem. Como não é em nossa língua, não tem pensamentos associados e não encoraja pensarmos. É uma palavra de ritmo equilibrado, com um longo som a. Encaixa bem com o ritmo da respiração, e é uma das orações Cristãs mais antigas. Abba ou o nome de Jesus ou a Oração de Jesus ou parte dela ou qualquer frase curta da Escritura, pode ser usado como mantra. A ‘fórmula’ que João Cassiano recomendou é a frase ‘Ó Deus vinde em meu auxílio. Ó Deus apresse em me ajudar’. Escolher sua palavra é importante. Uma vez escolhida, é importante, de acordo com a tradição, permanecer sempre com a mesma palavra. Assim ela fica enraizada no coração e torna-se uma forma de oração continua.

P. É necessário meditar duas vezes por dia? Acho possível encaixar um período, mas o segundo é freqüentemente impossível.

R. Em certa ocasião alguém queixou-se a John Main que não encontrava tempo para o segundo período de meditação. Esperava que Dom John simpatizasse com ele. Apesar de reconhecer que nem sempre é fácil, a resposta de John Main foi que se ele realmente quisesse o bastante, encontraria tempo. A pessoa voltou para casa, revisou sua agenda e encontrou o tempo necessário. Entretanto, uma vez é melhor do que nada, devemos fazer o que pudermos e o compromisso aumentará com a prática continua.

P. É importante o tamanho do período de meditação?

R. Sim, é preciso permitir uma tentativa razoável. Não se pode pegar um minuto aqui e outro ali. É como assar pão: é preciso deixá-lo no forno por tempo suficiente para que cresça. Vinte minutos é quase o tempo mínimo. Leva quase isso para atingir algum nível de quietude e paz ou sossego mental. Trinta minutos é o ideal, mas muitas pessoas precisam de algum tempo para aumentar o período para trinta minutos, duas vezes ao dia. O que é importante é determinar o seu tempo e segui-lo. É boa idéia providenciar um sinal externo para que não precise olhar o relógio. Também ajuda meditar com outros regularmente. Descobrirá freqüentemente que pessoas que começam a meditar em situações extremas de sua vida, tendem a aumentar o período bastante depressa. Um sentido de urgência faz aumentarem, porque não querem perder tempo.

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P. A maneira de respirar é importante?

R. O primeiro objetivo desta forma de meditação é dizer o mantra continuamente, e é isso que precisamos aprender a fazer. Devemos respirar naturalmente. Não concentre em sua respiração. Dê toda atenção ao mantra. Descobrirá que de forma muito natural o mantra se integrará com sua respiração. As vezes coordenar-se-á com outro ritmo do corpo como o pulso ou a batida do coração, mas muitas pessoas repetem o mantra integrando à respiração. Uma maneira simples talvez seja dizer o mantra ao inspirar, e expirar em silêncio. Ou Ma-ra ao inspirar e Na-tha ao expirar. Aprender a respirar bem, usando a parte abdominal, é altamente recomendável para a saúde, não só para a meditação. Respirar corretamente é um auxílio importante no relaxamento e vai junto com a postura. John Main não deu ênfase à respiração, porque preocupou-se em conservar a disciplina simples, não enfatizar demasiadamente o método, para que não seja transformado em técnica. Quando se desenvolve o interesse pela técnica, esquece-se a finalidade da disciplina

P. É a postura importante quando se medita?

R. Sim. A regra de postura mais importante é conservar as costas retas. Se usar uma cadeira, procure uma de altura certa para dar a suas costas o apoio de que necessita. Sendo a espinha conservada ereta e relaxada, é possível ficar alerta. Postura caída leva à sonolência e até a dormir. A postura ideal é a de lotus porque conserva a espinha automaticamente em sua posição ereta. Ela não é possível para a maioria de nós; quase tão bom pode ser encontrar uma postura no chão, cruzando as pernas ou usando uma banqueta de oração. Entretanto, o mais importante é conservar-se em posição ereta e ficar alerta, sem sentir dor desnecessária ou desconforto. Uma prática física como ioga pode ajudar muito, tanto com a postura como com a respiração. Como a meditação envolve a pessoa toda, corpo, psique e espírito, é de grande importância o que fazemos com nosso corpo durante a meditação, e aprender a sentar corretamente é ingrediente vital no aprendizado de se aprofundar no silêncio, quietude e simplicidade da meditação.

P. Gosto de meditar mas para mim é algo muito particular. Porque devo meditar com um grupo? Para mim seria motivo de distração. Porque devo entrar num grupo?

R. É importante meditar a sós e a maior parte do tempo é isto que acontece. Entretanto, muitas pessoas acham difícil continuar com regularidade a sós, especialmente em tempos difíceis. John Main acreditava na importância da comunidade que é criada pela meditação. O silêncio em grupo é freqüentemente mais profundo do que estando só. O grupo dá apoio e encoraja pessoas a continuarem a prática a sós. As que meditam juntas, descobrem que a experiência produz união entre elas em nível profundo, mesmo quando pouco sabem umas das outras. Portanto, grupos têm muitas funções, mas há quem pratique regularmente a sós sem apoio de grupo. Sabem que quando meditam nunca estão só, pois encontram-se unidos a todos os outros meditantes pelo mundo afora.

P. Qual é a diferença em relação a outras formas de meditação, como Meditação Transcendental, ou oração? Como a meditação ajuda no relacionamento com os outros?

R. A resposta às duas perguntas é “unidade”. Primeiro, é importante ver de que meditação da tradição Cristã estamos falando, o que tem em comum com outras tradições e como talvez difere. É mais importante refletir sobre a unidade na meditação. Mas o que torna a meditação diferente como prática espiritual é que não é praticada como técnica. Existe grande diferença entre a prática da meditação como técnica e como disciplina. Somos condicionados tecnologicamente e por isso pensamos que existe uma grande técnica a ser descoberta. Pensamos “Usarei isto para ver o que consigo, melhorar minha performance talvez, e abandonar se não me ajudar”. Mas como disciplina, trazemos para a meditação uma dimensão de fé e

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perseverança. Talvez seja necessário insistir por algum tempo antes de realmente compreender o que esta fé significa. Por isso é importante que a meditação seja ensinada como disciplina espiritual em vez de técnica. E porque, para dizer sem rodeios, é possível colher melhores resultados como disciplina espiritual, simplesmente porque é mais provável perseverar. Com a fé como força de motivação existe mais razão para perseverar.

O que faz a meditação ser Cristã é a fé ser Cristã. Não é a técnica que a torna Cristã, Budista ou Hindu. É a fé que se tem. Por isso é uma maneira tão maravilhosa para cada pessoa, qualquer que seja sua tradição, realizar sua viagem de fé e verificar pessoalmente as verdades desta fé, enquanto, ao mesmo tempo, compartilha uma profunda experiência espiritual com pessoas de outras tradições. O erro tremendo é dizer, “eu creio em minha fé e isso significa que a fé de outros deve estar enganada”. Intelectualmente, é lógico, é neste ponto que encalhamos. Mas na dimensão do espírito podemos viver a unidade, e em direção à unidade é que nos leva a meditação. Isto torna-se realidade muito perceptível quando se medita em grupo. A comunicação não se faz pela linguagem ou pelo corpo. Mas uma comunicação mais profunda entra em ação. Descobre-se também que quando meditamos com alguém, o relacionamento fica diferente e mais fácil, a partir de nível mais profundo de união pessoal.

P. Tem pessoas que meditam sem ter recebido ensinamento?

R. Sim. Ao ensinarmos meditação pode parecer que o mantra é algo recém descoberto. Ao passo que é conclusão natural de certos estados de consciência em que pessoas entram naturalmente, e restringir a consciência a uma palavra conduz ao silêncio total.

P. Quando medito sinto comichão nas mãos, isto está certo? (Coração bater forte, sensações de calor ou frio ou qualquer outra sensação física)

R. Quando meditamos, a integração e harmonia de toda nossa pessoa vai acontecendo. Isto é positivo, toma as vezes a forma de sensações físicas variadas, e estas devem simplesmente ser ignoradas pois desaparecerão quando terminar sua ação. Estas sensações estão ligadas ao movimento e ao fluir da energia através de nosso sistema. O relaxamento resultante da meditação permite o fluir da nossa energia com mais liberdade e isto pode causar sensações físicas.

P. Quando medito vejo cores, isto é muito agradável, será que devo me deliciar? (Isto pode ser luz ou sensações de amor, paz, etc.)

R. O importante a lembrar é que nenhuma das experiência que possamos ter é a finalidade da meditação. Fazem parte do processo de integração. A coisa vital é não se ligar a elas, ou desejá-las, mas apenas permitir que venham e partam, continuando a prestar atenção ao mantra.

P. Medito há algum tempo, mas parece que me faz ficar pior! Freqüentemente sinto muita raiva quando medito. Outras vezes fico muito triste e choro muito. O que está acontecendo?

R. Quando meditamos temos que atravessar todas as camadas de nossa consciência, ao nos aproximarmos de Deus na profundeza de nosso ser. Não existe caminho até a profundidade da união com Deus, a não ser através das camadas de nosso ser. Na realidade, a experiência da pergunta refere-se à cura das emoções. Pode não parecer isto quando estiver acontecendo, mas trata-se do ressentimento de velhos ferimentos, dor, etc. Novamente, o importante é apenas tentar deixar acontecer, por assim dizer permitir a exibição dos fogos de artifício,

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enquanto se procura com delicadeza manter o mantra em foco. Se a dor ou outra emoção ficarem intoleráveis, talvez seja necessário procurar ajuda, aconselhamento, ou terapia fora do período de meditação. Outros derivativos podem ser procurados, tais como pintar, escrever, etc. Qualquer que seja a ajuda que precisar em tais ocasiões, continue a meditar. A combinação de meditação com outras formas de cura pode ser muito poderosa.

P. Quando estou em meditação repetindo o mantra, acontece as vezes que fico em paz, e parece-me que o apropriado neste momento seria deixar de repetir o mantra e permanecer em paz. Se continuar a dizer o mantra nesse momento, estarei interferindo nesta janela aberta de paz. Estou forçando minha mente a continuar pensando. Qual é o ensinamento sobre isto?

R. John Main ensinou que em determinada ponto, talvez depois de muitos anos, o mantra levaria ao silêncio total, talvez por apenas poucos e breves momentos, durante o período de meditação. Mas esta é uma experiência que não devemos antecipar nem desejar. O que significa o silêncio total? Não se estará em silêncio total se for possível dizer “Eu estou em silêncio” ou “estou descansando” ou “estou gostando disto”. Já se estará pensando. Isto é parte muito sutil mas essencial do ensinamento.

Dizer o mantra continuamente conduz a uma mudança na maneira de repeti-lo. No decorrer de semanas, meses, anos, repete-se o mantra com menos esforço, menos força, com mais fidelidade mas também com mais suavidade. John Main diz que no início dizemos o mantra na cabeça, com esforço, depois ele é um som mais natural que vem do coração e aceita melhor as distrações; em seguida ficamos na escuta do mantra com total atenção. Visto desta maneira, a repetição do mantra não é pensar, mas sim escutar. O quarto estágio seria silêncio, algo que não podemos antecipar.

(Esta é uma pergunta muito importante. Todo líder de grupo ou pessoa que ensina meditação precisa conhecer este aspecto do ensinamento, que se encontra bem explicado em “A Palavra que Vem do Silêncio”. Deve testá-lo com sua própria experiência e então estará apto a expressá-lo com confiança em seu grupo ou quando ensinando.)

P. Qual é a relação entre meditação e ação social?

R. Como conseqüência de nossa oração, devemos estar envolvidos com o mundo. Toda ação nossa deverá ser conseqüência da oração. Na meditação estamos purificando nossa vida interior afim de poder ir em direção aos outros. Uma coisa deve fluir da outra.

O objetivo de nossa oração é comunhão com o Corpo de Cristo, e estar em união com o Corpo de Cristo é também estar com os irmãos em todo o mundo, porque é onde o Cristo ressuscitado está presente. Quando a oração não ajuda a extensão ao próximo, deixa de ser oração verdadeira. O Amor de Deus e o amor do próximo são verdades essenciais e toda oração deve levar à comunidade que é o mundo. Não se trata de somente pensar sobre isto, mas de ver o que podemos fazer, o que Cristo fez, pois estamos agora em união com a presença libertadora de Cristo no mundo.

É preciso cuidado para não pensar que nossa meditação é uma ocupação passiva. É coisa muito ativa, sentar, praticar, dedicar tempo. Tudo que inclui é ativo e exige atenção, não desatenção. Se realmente meditarmos, tudo o que fizermos na vida, será feito de outra forma; com mais atenção, em nível mais profundo – com mais sensibilidade e compaixão. Isto não significa necessariamente que somos todos chamados a fazer coisas conhecidas como justiça social. Cada um serve a humanidade de forma diversa, podendo as vezes parecer pouco ativa, mas sendo na realidade muito profunda e significativa.

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Se formos pessoas do fazer, e se sempre assim fomos, interessadas em questões de justiça social, da paróquia, de política, descobriremos que ao começarmos a meditar vamos descriminar melhor o que fazemos, e como usamos nosso tempo. Pode também levar-nos a compreender melhor porque fazemos certas escolhas relacionadas ao serviço.

A meditação altera toda nossa atitude quanto à ação. Os frutos da meditação ficam bem aparentes ao se viver a vida. Fica-se mais compassivo, mais amoroso, mais delicado.

P. As vezes quando se está de férias, pessoas da família talvez estejam todas juntas em um só aposento e pode ser difícil encontrar tempo ou sossego para meditar. Haveria alguma sugestão para lidar com a situação?

R. Quantos de nós ficamos intimidados ou relutantes de dizer, enquanto socializamos ou estamos em férias com outros, que temos de nos distanciar para meditar. Como aborda isto? Sente-se livre o bastante para dizer que esta é sua maneira e pedir que aceitem, não como demonstração ante social? Mas que este é um compromisso de disciplina e precisa atende-lo?

Precisamos fazer o que podemos e não o que não for possível. Deixar de meditar não deve ser de forma alguma motivo de sentir culpa! Enquanto enfatiza a importância da meditação sistemática, John Main enfatizou também com igual insistência a importância de não permitir que a meditação se transforme em mais um motivo para se sentir culpado.

Caso sua audiência seja sobretudo Católica, damos a seguir tipos de perguntas que podem ser feitas

P. A Igreja aprova a meditação?

Sim. Em documentos do Concílio Vaticano fica claro que Cristãos são chamados não só a orar com outros, mas a ‘entrar em seus aposentos para orar ao Pai em segredo’ (Mt. 6:6); e também cita São Paulo e sua exortação para que Cristãos orem sem cessar (1Th. 5:17). A prática da meditação Cristã, fiel à tradição da Igreja, é maneira de atender à vocação Cristã de oração. O Concílio encoraja aprofundamento da oração na contemplação e documentos posteriores enfatizam a importância de recuperar tradições Cristãs perdidas ou negligenciadas.

O Papa João Paulo II, em Novembro 1992, pregou que “Qualquer método de oração é válido sendo inspirado por Cristo e leva a Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida”. Quem medita entra na corrente da oração de Jesus que sempre flui para o Pai com o poder e o amor do Espírito Santo.

P. A meditação Cristã está de acordo com o ensinamento geral da Igreja?

Certamente. A oração é sempre vista pela Igreja como fonte de sabedoria e compaixão na vida Cristã. É uma peregrinação com fé para estar totalmente atento na presença de Deus. Envolve deixar para trás o eu, indo além de nós mesmos até Deus, que está sempre além de nós mas, ao mesmo temo mais perto do que estamos de nós mesmos. Trata-se de uma oração que é sempre um dom de Deus, e não de uma técnica.Conduz os que meditam a buscar os frutos da oração no amor.

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[“A oração contemplativa Cristã conduz ao amor do próximo, à ação e à aceitação dos desafios, e precisamente por causa disto aproxima-nos de Deus”. – Tirado da Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre Alguns Aspectos da Meditação Cristã, 1989, P.18]

P. Como é que isto se relaciona com a Missa/Sacramentos?

* A vida espiritual, como explicou o Concílio Vaticano II, não se limita à participação na liturgia. Nesta visão a meditação Cristã faz parte da totalidade de nossa vida espiritual. A meditação claramente não toma o lugar ou substitui outras formas de oração mas, ao nos tornar mais conscientes do centro que é constituído pela oração de Jesus, enriquece todas. * Como a fidelidade à meditação Cristã vem do Espírito Santo, assim também pelo Espírito podemos esperar que participar na Missa e sacramentos em geral nos fortaleça.

P. Meditação não significa Meditação Inaciana?

* Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio (Século 16) contêm certos métodos de oração mental, e desde a época que foram compostos, muitas congregações religiosas adotaram a espiritualidade ensinada e praticada pelos Jesuítas. O caminho Inaciano ficou conhecido e é praticado como um método de “meditação discursiva”. Outras escolas de espiritualidade também surgiram na vida da igreja, como por exemplo, São Francisco de Sales em “Uma Introdução à Vida Devota”. Entretanto, Santo Inácio também pregou a importância da contemplação como finalidade de toda oração e ação. *A oração contemplativa tem uma longa história nas Igrejas do Ocidente e Oriente. São Bento (c.480 – 547) tem sido chamado o Pai do Monaquismo no Ocidente. Ao escrever sobre Santo Antônio (c.250 – 356) do Egito, ‘o pai de todos os monges’, Santo Atanásio escreveu que “Ele orava freqüentemente, pois tinha aprendido que se devia orar em segredo e orar sem cessar”.

P. E o que acontece com a Razão?

*A meditação não é ante racional. A clareza e o conhecimento da razão e imaginação são aumentados pela prática da meditação. {Ver Carta do Papa João Paulo II sobre Fé e Razão]*Na meditação Cristã a mente fica alerta, apesar de não pretender nada mais do que ficar quieta e silenciosa na presença de Deus. Relembrar o salmista que diz ‘Fique quieto e saiba que eu sou Deus’. (Sal. 46)

P. Onde é dito que Jesus meditava com um mantra?

Não é dito. Jesus não ensinou “métodos” de oração mas seu ensinamento sobre a oração nos direciona à interioridade, confiança e simplicidade. Sabemos pelo ensinamento de Jesus sobre a oração que não devemos ‘juntar frases vazias como fazem os Gentios; pois pensam que serão ouvidos por causa de suas muitas palavras. Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe o que precisais antes de pedir’. “Rezem pois desta maneira: Pai Nosso que estais no Ceú, Santificado Seja Vosso Nome ...” (Mt. 6: 7-9)

Na meditação Cristã existe reconhecimento implícito que o Pai sabe o que precisamos antes que peçamos. Santo Agostinho disse ‘não dizemos nada que não se encontre nesta oração do Senhor, se orarmos correta e adequadamente’, ‘e temos Cristo em nosso interior como nosso Mestre’.

P. A meditação é o mesmo que contemplação?

Volta e meio encontraremos estas palavras com significado diferente. Entretanto, notamos que na introdução geral de “A Palavra Que Vem do Silêncio”, John Main escolhe o uso do termo meditação como ‘sinônimo de termos como contemplação, oração contemplativa, oração meditativa, e assim por diante’. Depois acrescenta, “O contexto essencial da meditação pode ser encontrado nos relacionamentos fundamentais de nossa vida, a relação que temos como criaturas com Deus, nosso Criador”. Pode-se dizer que a meditação é o trabalho que fazemos com fé e amor para receber ou entrar plenamente no dom do estado de contemplação, que já está presente em nós pela inhabitação do Espírito Santo.

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Caso sua audiência seja predominantemente Cristã de várias denominações, este é o tipo de pergunta que pode ser levantada.

P. Isto não é Budista?

É engano identificar a meditação como tendo sido preservada somente por tradições Orientais, incluindo o Budismo. Através do ensinamento de John Main e outros no Século 20, podemos apreciar de novo o lugar da meditação na tradição Cristã.

P. O que faz a meditação ser Cristã?

* É nossa fé em nossso amor que faz em a meditação ser Cristã.* Como diz São Paulo, em Romanos 8:26, o Espírito anseia em nós [em nosso cerne interior, além de palavras, além de pensamentos, além de imagens] com suspiros profundos demais para palavras. O Espírito está conosco em nossa oração, rezando dentro de nós, e como diz John Main em “A Palavra Que Vem do Silêncio”, “a oração é então a vida do Espírito de Jesus dentro de nosso coração humano...”* Atenção e receptividade são as qualidades que nos permitem ficar mais incorporados com a Palavra dentro de nós, que é o Filho, falado pelo Pai e retornando ao Pai.

P. O Demônio penetra na mente vazia?

* Na meditação Cristã o trabalho é para conduzir a mente e todo nosso ser à quietude e ao silêncio. Jesus refere-se à primazia da “pobreza de espírito” como condição para entrar no Reino de Deus.* A quietude tanto da mente como do corpo a que nos conduz o mantra é preparação para a entrada em nosso próprio silêncio, e para nossa progressão através das esferas de silêncio.

P. Aonde está mencionada na Escritura?

* A Escritura fornece a inspiração e o propósito de toda oração. Um estudo da história e da tradição da Igreja antiga mostrará que esta forma de oração era verdadeiramente familiar para os Judeus Cristãos daquele período.* Relembramos que João Cassiano nos faz rever as Bem-aventuranças (Mt. 5: 1- 11) que surgem da ‘pobreza do verso único’. Ele diz que esta pobreza nos levará com facilidade à primeira das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois é deles o Reino do Céu”. Além disso, a finalidade que Cassiano propõe em suas Conferências é pureza de coração: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”.

P. Não é Auto Centrada?

Não. Trata sobretudo de deixar para trás o eu e dirigir-se ao Outro.

P. Não será apenas Auto Hipnose?

A mente permanece alerta, e ocupada com a arte da atenção. A mente consciente não é jamais fechada, mas, pelo contrário, expandida além de sua auto fixação habitual.

P. Se concentrar no mantra, estarei trancando o Espírito Santo do lado de fora?

A meditação nos conduz a um estado de receptividade de coração aberto ao Espírito de Jesus que habita em nosso coração. O mantra nos mantém abertos ao Espírito em pobreza e simplicidade.

P. Isto não será somente Católico?

A meditação torna-se expressão de unidade, e de modo especial para Cristãos. Pessoas de fé Cristã podem descobrir livremente uma herança compartilhada de fé como algo que é antigo, e ao mesmo tempo pronto para reviver.

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Caso sua audiência seja sobretudo secular, estas são as questões que podem levantar:

P. Porque temos que colocar religião na meditação?

A meditação purifica a religião e a restaura em seu propósito verdadeiro de ensinar e inspirar a unidade espiritual da humanidade.

P. Preciso de fé para meditar?

* Em primeiro lugar talvez não saibamos o que nos faz meditar. Talvez sintamos que temos pouca ou nenhuma fé.* A fidelidade é necessária para continuar a meditar.

P. Quais são os benefícios físicos?

Evidência médica mostra por exemplo que a meditação abaixa a pressão do sangue e aumenta o sistema imunológico. Mas o significado maior da meditação é elevar o sentido de plenitude humana na harmonia de corpo, mente e espírito.

P. É o mesmo que Oração Centrante?

Existe uma harmonia essencial entre estas duas abordagens da meditação. A Oração Centrante coloca uma ênfase diferente no mantra.

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A Reunião de Grupo SemanalO legado especial da vida e ensinamento de John Main é o extraordinário crescimento de pequenos grupos de Meditação Cristã com encontros semanais, em vários países do mundo. John Main esperava que o ensinamento fosse compartilhado de forma orgânica através de pequenos grupos de homens e mulheres encontrando-se regularmente em casas, paróquias, colégios e locais de trabalho. Ele tinha compreensão profunda da antiga tradição de Cristãos reunindo-se para rezar. Como assinalado por Laurence Freeman, ele via este desenvolvimento moderno da contemplação como tendo origem em comunidades de fé, e na liturgia do coração da Igreja primitiva. Os primeiros Cristãos também se reuniam em pequenos grupos nas casas uns dos outros. Este reunir-se para orar formou a ‘koinonia’ ou interação social e a comunhão, marca que distinguia e dava poder à Igreja primitiva.

John Main tinha compreensão clara da necessidade de uma comunidade de fé que solidificasse o compromisso individual à disciplina espiritual da meditação, e que, ao mesmo tempo, ajudasse o ensinamento a chegar a participantes novos. Nossa experiência humana nos diz que encontrar com outros numa peregrinação comum pode dar o apoio que precisamos para continuar a viagem. A experiência também demonstrou que quando um grupo começa em nova área geográfica, pessoas que nunca haviam antes meditado tendem a se juntar ao grupo. Novos grupos introduzem novas pessoas à meditação.

Existem muitos bons motivos para que pessoas se reunam uma vez por semana num grupo de meditação. Reunião em grupo promove um laço espiritual entre os participantes e interesse mútuo entre os que estão numa peregrinação comum. Como já mencionado, o grupo de meditação é na realidade uma comunidade de fé muito parecida com a dos primeiros Cristãos da época de São Paulo. Ao comentar sobre meditar em grupo, Padre William Johnston SJ, em seu livro, The Inner Eye of Love, diz: ‘Por exemplo, podemos sentar juntos em meditação silenciosa e sem palavras. E em tal situação, não só sentiremos o silêncio em nosso coração mas também o silêncio de todo o grupo. As vezes esse silêncio é quase palpável e pode unir as pessoas mais profundamente do que quaisquer palavras’.

O coração do grupo de meditação é compartilhar o silêncio. Este é o motivo principal para pessoas no mundo todo estarem espontaneamente iniciando pequenos grupos semanais. O poder e a força de meditar junto vêm das palavras de Jesus, ‘Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ai estarei no meio deles” (Mat. 18:20) Este é o motivo principal para a reunião semanal. É como se os meditantes instintivamente se dessem conta que esta viagem é difícil de fazer só, mas que fica muito mais fácil quando feita com outros. É verdade que nenhum outro pode meditar por nós, que meditamos a sós todo dia, mas ao mesmo tempo, sabemos que precisamos do apoio de outros para perseverar na viagem.

O ambiente de grupo permite a principiantes aprender ‘como’ meditar. Pessoas novas podem se integrar num grupo a qualquer hora. E a reunião semanal fornece apoio e encorajamento aos que sintam desânimo ou tenham dificuldades ‘no caminho’. Todos nós precisamos de tempos em tempos, o encorajamento de ver outros comprometidos e fieis à disciplina. Precisamos também absorver o ensinamento mais profundamente e isso fazemos em reuniões semanais, com fitas de John Main. Já existem umas 200 palestras gravadas disponíveis abrangendo diversos aspectos da meditação. Estas palestras fornecem instruções e aumentam a motivação, ajudando assim a perseverar no caminho. Podem nos dar um apoio semanal, parte do alimento que necessitamos na viagem.

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O Papel do Grupo de Meditação CristãO grupo semanal de Meditação Cristã é um acontecimento significativo na Igreja hoje em dia.

Faz parte do grande movimento do Espírito Santo que está aprofundando a vida espiritual de Cristãos leigos no mundo inteiro. Grupos reúnem-se agora em 35 países, em paróquias, casas, escritórios, colégios, prisões, hospitais e comunidades.

O grupo de meditação é diferente do habitual grupo de oração. Apesar da meditação não excluir outras formas de oração, o grupo é para meditantes o fundamento de sua vida espiritual. Ele não focaliza a oração vocal, petições ou louvor. É preciso que isto fique claro para participantes novos.

O formato do grupo é simples e a reunião é em geral mais curta do que em grupos de oração – aproximadamente uma hora. Consiste de três elementos essenciais:

1. Um tempo para o ensinamento (uma fita ou palestra)2. Meia hora de meditação em silêncio3. Um tempo para perguntas ou partilha

O líder do grupo aceita a responsabilidade em nome do grupo de manter este formato. O líder portanto providencia a fita a ser usada no início, marca a hora para meditar e dirige o tempo de perguntas/partilha.

O grupo é uma comunidade. Ela está ligada por uma profunda amizade espiritual entre seus membros. Encoraja pessoas a perseverar na meditação, dá apoio à sua prática diária e ajuda a recomeçar quando desistem. O grupo é também um centro de hospitalidade espiritual para qualquer um que esteja à procura de Deus. É um grupo de ensino onde pessoas podem aprender sobre a meditação na tradição Cristã, e recebem ajuda para iniciar.

O líder do grupo é um meditante comum como qualquer outra pessoa. Ele ou ela não ocupa posição de um gurú ou perito. Mas apenas compartilha sua fé e compromisso. Depois de meditar por algum tempo, consegue provavelmente responder às questões simples de principiantes baseado em sua própria experiência.

Entretanto, líderes de grupos pertencem também a comunidades mais abrangentes e podem recorrer a outros para ajuda e aconselhamento em qualquer tempo. Podem aprofundar o próprio conhecimento da meditação continuamente por meio de leituras de John Main ou Laurence Freeman ou ouvindo suas fitas, participando em retiros ou seminários, e, claro pela leitura que fazem da Escritura e por sua vida sacramental.

O manual ‘O Grupo de Meditação Cristã’ é bom guia para dar início e para liderar um grupo de meditação semanal.

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O Grupo de Meditação CristãEm contato com os outros, despertamos para a verdade mais profunda de nosso ser que devemos ver, e assim aprendemos a viajar além de nós mesmos. É por isto que meditar regularmente, de forma diária ou semanal, com o mesmo grupo ou comunidade é uma tal fonte de sustentação saudável para nossa peregrinação. Não podemos manter a ilusão de uma peregrinação em isolamento, quando estamos na presença de outros. Apesar desta mesma presença física e espiritual levar-nos a um compromisso pessoal mais profundo com a quietude, o silêncio e a fidelidade.

O grupo ou comunidade assinalam igualmente o fim de todo heroísmo falso e auto dramatização. Estar em contato com as falhas habituais e limitações de outros, coloca nossos recursos e fidelidade na perspectiva que precisamos para equilibrar a harmonia em nossa vida. Na presença de outros, conhecemos a nós mesmos...

A cada dia fico mais surpreso com a gama e variedade das pessoas que realmente ouvem a mensagem do ensinamento sobre meditação, que ouvem isto a partir de alguma profunda e talvez desconhecida quietude dentro de si. E fico ainda mais inspirado porque tantos permanecem fieis à disciplina e à fidelidade que torna a escuta realmente significativa. São pessoas de todas as idades e antecedentes, educacional social e religioso. Mas todos descobriram o centro comum, Cristo, que vive em seu coração e no coração de toda a criação.

John Main – The Present Christ

Por exemplo, podemos sentar em meditação silenciosa e sem palavras. E nesta situação podemos sentir não só o silêncio em nosso próprio coração, mas o silêncio de todo o grupo. As vezes tal silêncio será quase palpável e ele pode unir pessoas mais profundamente do que quaisquer palavras.

William Johnston – The Inner eye of Love

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O Líder de Grupo de Meditação Cristã

Qualidades de um líder de grupo

1. Comprometimento pessoal com a meditação como ensinada na Comunidade para Meditação Cristã.

2. O desejo de partilhar o dom com outros.

3. Um sentimento de pertencer à Comunidade Mundial para Meditação Cristã que este ensinamento criou em todo o mundo.

As responsabilidade de um líder de grupo

1. Ser um centro estável para as reuniões do grupo semanal. Estar presente ou providenciar para que o grupo seja dirigido por outra pessoa. Providenciar os aspectos práticos de tempo e espaço para a reunião. Ter a fita ou palestra preparada, inclusive para marcar o tempo de meditação.

2. Dar boas vindas a participantes novos e introduzi-los ao ensinamento e aos outros membros do grupo, de maneira amigável. Mostrar interesse nas perguntas dos novos e em seu progresso.

3. Encorajar a prática diária do compromisso de meditar duas vezes ao dia, mas também aceitar que leva tempo para que as pessoas criem esta disciplina.

4. Ser a pessoa de ligação com a comunidade maior de meditantes, local e global.

Desafios de liderar um grupo

1. Ver que o significado e a força de um grupo encontra-se em sua fé, não em número de membros. Um grupo de 2 ou 3 é tão bom como um grupo de 20 ou 30.

2. Ver que pessoas talvez venham ao grupo por algum tempo e depois se afastam. Não se pode saber o que o Espírito tenha talvez realizado naquela pessoa em sua curta estadia no grupo.

3. Aprofundar sua prática pessoal de meditação afim de melhor apresentá-la aos outros.

4. Ver que sua experiência de Deus aprofunda-se ao tomar parte na maneira como outros chegam a conhecer a Deus.

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Lista de Recursos

Livros (em português – Paulus Editora)

John Main

Meditação CristãA Palavra que vem do Silêncio

O Momento de Cristo

Laurence Freeman

A Luz que vem de DentroA Prática Diária da Meditação Cristã

Vídeo

Voltar para Casa(Paulus Vídeo)

* Existem vários Livros e Vídeos em inglês. As pessoas interessadas podem ver os títulos pela internet no Site da Medio Media:

www.mediomedia.com

ou pedir o catálogo à WCCM em Londres:

World Community for Christian Meditation23 Kensington Square

London W8 5HNUK

Telefone: +44 (0) 207 937 4679Fax : +44 (0) 207 937 6790

e-mail : [email protected]

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A Escola para Professores é o principal novo desenvolvimento na Comunidade, desde a primeira Escola que aconteceu em Florença, Itália, em 1997.Desde então várias Escolas já aconteceram em diferentes países e há planos para muitas outras em 2000.Elas tem sido uma experiência profundamente enriquecedora para todos os participantes e deram frutos para poder compartilhar e disseminar o ensinamento de muitas maneiras.Os participantes são meditantes compromissados e que estão dispostos a partilhar o dom com outros.

O fruto da primeira fase é ‘O Seminário Voltar para Casa’ planejado para ajudar o meditante comum a transmitir o ensinamento essencial de maneira simples e clara.

A segunda fase da Escola consistirá de seminários sobre tópicos em áreas específicas para aprofundar o ensinamento.Serão produzidos módulos especiais que permitirão formas diferentes de transmissão.Os primeiros módulos devem ter sido apresentados à reunião do colegiado em Florença, em Maio de 1999.

No terceiro estágio da Escola o foco estará no crescimento pessoal do professor individual ao freqüentar um retiro mais extenso.

O ensinamento de John Main e Laurence Freeman constituem o fundamento deste Manual e reconhecimentos e agradecimentos são devidos aos membros da Comunidade tanto na Grã Bretanha como em redor do mundo por seu trabalho preparatório, especialmente Peter Ng, Doreen Romandini, Greg Ryan, e Elizabeth West.

Para informações adicionais sobre a Escola de Professores, favor contatar:

World Community for Christian MeditationSchool for Teachers Co-ordinatorMrs. Kim Nataraja23 Kensington SquareLondon W8 5HNUK

Telefone: +44 (0) 207 937 4679Fax : +44 (0) 207 937 6790e-mail : [email protected]: http://www.wccm.org