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Comportamentos Indicativos de Apego em Crianças com Autismo
Cláudia Sanini, Gabriela Damasceno Ferreira, Thiago Spillari Souza & Cleonice Alves Bosa
Resumo:
Os autores apresentam evidências dos comportamentos de apego em crianças autistas. Participam do estudo trinta crianças com idades entre três e oito anos de idade, sendo que dez delas apresentam síndrome de Down, dez com desenvolvimento típico e as outras dez com autismo. Os grupos não apresentam diferenças significativas em relação aos comportamentos de apego, porém o grupo com autismo apresentou maior número de comportamento de esquiva, sendo essas constatações feitas através de uma sessão de observação de brincadeira livre considerando os comportamentos interativos da criança com a mãe e com a uma pessoa estranha. Os autores concluem através das comparações intragrupos, que os autistas estabelecem mais comportamento de apego com a mãe do que com estranhos.
Estudos sobre autismo em análise do comportamento: aspectos metodológicos
Paulo Goulart & Grauben José Alves de Assis
Resumo:
Os autores trazem um estudo pautado nas teorias da análise experimental do comportamento, teorias essas que tem um papel de contribuição muito grande na identificação e na captação das variáveis que afetam o repertório de autistas. Ao analisar o trabalho, é possível verificar que se utilizaram duas linhas diferentes de pesquisa, a primeira delas que busca a manutenção de operantes verbais e o seu estabelecimento, a outra que tem como objetivo a busca pela identificação das variáveis que agem no controle e no estabelecimento dos estímulos. Concluem ressaltando a importância do analista do comportamento e a função que ele exerce em relação ao desenvolvimento de trabalhos e de programas que auxiliem na educação de pessoas que tem papel de extrema relevância no desenvolvimento do autista, (são eles os familiares e educadores).
AUTISMO SOB PERSPECTIVA COMPORTAMENTAL
O termo autismo vem do grego “autós” que significa “de si mesmo” e é
segundo o CID-10, classificado como F84-0, como:
“um transtorno do desenvolvimento, definido pela presença de desenvolvimento anormal e/ou comprometimento que manifesta antes da idade de 3 anos e pelo tipo característico de funcionamento anormal em todas as três áreas: de interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo. O transtorno ocorre três a quatro vezes mais freqüentemente em garotos do que em meninas”. (KUPERSTEIN, 2009.)
O autismo é caracterizado por comportamentos como: usar as pessoas
como ferramentas; resistir a mudanças de rotina; não interagir com outras
pessoas; apego não apropriado a objetos; não manter contato visual; agir como
surdo; resistir ao aprendizado; não demonstrar medo do perigo; risos e
movimentos não apropriados; resistir ao contato físico; acentuada atividade
física; girar objetos de maneira bizarra e peculiar; às vezes agressivo e
destrutivo; modo e comportamento indiferente e arredio. (KUPERSTEIN, 2009)
No artigo “Comportamento Indicativo de Apego em Crianças com
Autismo”, os autores investigaram os comportamentos que caracterizam o
apego, sendo eles o toque, o contato visual, resposta aos estímulos dos pais,
gerando assim interação entre os membros da família.
Já no artigo de Goulart e Assis, é ressaltada a importância da Análise
Experimental do Comportamento como impulsionadora e mantenedora de
operantes verbais em autistas.
O apego serve de estímulo discriminativo, que sinaliza que uma dada
resposta será reforçada, para os pais, estimulando o nível de interação. O
autismo é caracterizado pelo isolamento e por comportamentos repetitivos,
essas características são estímulos delta, que sinalizam que uma resposta não
será reforçada, para pais, e sua permanência transforma-se em punição,
estímulo aversivo. A Análise Experimental do Comportamento considera o
autismo como
“uma síndrome de déficits e excessos que [pode ter] uma base neurológica, mas que está, todavia, sujeita à mudança, a partir de interações construtivas, cuidadosamente organizadas com ambiente físico e social” (GREEN, 2001 apud GOULART & ASSIS, 2002).
E a partir desse conceito a Análise Experimental do Comportamento
torna-se ideal para manutenção e melhora comportamental, aumentando assim
o nível de interação social e ambiental.
Em 1961, Ferster (apud SAMPAIO, 2009) lançou a hipótese de que o
autismo seria resultado da interação inadequada entre filhos e pais, levando
assim a uma falha na aprendizagem dos primeiros. Atualmente esta hipótese
tornou-se ultrapassada, entretanto durante as pesquisas, que queriam provar
se essa era verdadeira ou não, se percebeu que o meio exerce forte influência
sobre o comportamento do autista, influência esta que abriu campo para a
atuação da teoria comportamental.
O objetivo da intervenção da Análise Experimental do Comportamento
em autistas é desenvolver o repertório comportamental dos mesmos
reforçando os comportamentos relevantes nas habilidades do âmbito social e
minimizando os comportamentos inadequados, utilizando-se métodos com
princípios comportamentais.
Existe uma variedade de metodologias de base comportamental que os
terapeutas fazem uso. As técnicas de tratamento comportamental mais
conhecidas são: Intervenção Intensiva; PECS (Picture Exchange
Communication System); ABA (Applied Behavior Analysis), entre outros.
A Intervenção Intensiva consiste em facilitar a aquisição de
comportamentos funcionais, como alimentar-se e vestir-se sozinhos, e prevenir
que os comportamentos inadequados, como ser arredio e debater-se, sejam
instalados e corrigidos com maior facilidade do que os instalados há mais
tempo, reforçando os comportamentos funcionais já existentes, introduzindo
novos e dando importância aos funcionais para extinguir os disfuncionais.
O PECS foi criado com a finalidade de auxiliar os autistas de diferentes
idades e com dificuldade de comunicação a adquirirem repertório verbal
através de intercâmbio de imagens. As figuras são usadas como alternativa
para aqueles que não têm o repertório verbal desenvolvido, em vez de
palavras, aponta-se figuras para expressar o que se deseja e cada
comunicação bem sucedida é reforçada pelo objeto. Com o passar do tempo o
repertório do autista vai aumentando e o preparando para começar a verbalizar
suas vontades.
O ABA tem por objetivo ajudar cada individuo a desenvolver
habilidades que permitirão que o autista se torne tão independente e bem-
sucedido quanto possível em longo prazo. O ABA tem como objetivo preservar,
modificar ou introduzir comportamentos previamente observados e
identificados que o indivíduo tem com o ambiente. A cada resposta certa dada,
é lhe oferecido algo aprazível, um reforçador positivo. Se utilizado de forma
correta, este reforçador torna-se capaz de fazer com que o indivíduo repita o
mesmo comportamento em busca do reforçamento. Depois de um período, o
reforço deve ser conduzido de forma intermitente, o comportamento passa
assim a fazer parte do repertório dos portadores do autismo sem a
necessidade do reforço contínuo.
O terapeuta deve utilizar além das técnicas, estratégias que
possibilitem contingências para a manutenção dos novos comportamentos com
a adição de reforços, até que esteja inserido no repertório comportamental,
depois sendo gradualmente retirados. É preciso considerar que as
contingências onde os autistas forem ser inseridos, como a escola e a família,
devem ser adequadas para a generalização dos comportamentos aprendidos,
levando os pais e educadores a aprenderem manejos das técnicas
comportamentais. Lembrando sempre que para modificar comportamentos é
preciso conhecê-los.
O comportamento verbal é visto por Skinner (apud BRINO & SOUZA,
2005) como uma resposta ambiental a estímulos provenientes da interação
entre as pessoas, e mantido pelo comportamento operante, comportamento
este que produz conseqüências, modificações no ambiente e é afetado por
elas. O comportamento verbal é o que mais propicia melhoras no nível de
interação social dos autistas, tornando necessária a inclusão de reforçadores
para que este comportamento ocorra. O grupo de operantes verbais se torna
mais viável por serem realizados em ambientes parecidos com o ambiente
natural dos indivíduos autistas, para que seja possível a comunicação e a
interação com outras pessoas, atendendo as necessidades deles de forma
mais imediata.
A falta de características que demonstram apego, a resistência ao
toque, entre outras, dificultam a interação do autista com outras pessoas e
facilita a interação com o meio, portanto a estimulação ambiental é fundamental
para o desenvolvimento de habilidades que auxiliem na interação em diferentes
contingências.
Há dois filmes que mostram o autismo sob perspectivas diferentes. No
primeiro, “Meu filho, minha vida” (Son rise, a miracle – 1979), é mostrado o dia
a dia de uma família com um autista ainda criança, do diagnóstico da doença
até a descoberta de uma terapia alternativa, criada pelos pais. No filme é
possível verificar a falta de pesquisas sobre o autismo e que o tratamento, na
época, só era iniciado depois da criança ter completado três anos de idade, por
isso, como os pais do filme acreditavam, já haveria agravado o quadro do
distúrbio e a criança já estaria muito centrada em seu ‘mundo’ particular. Ainda
neste mesmo filme, a terapia comportamental observada em universidades da
época é mostrada de uma maneira ruim, utilizando de punições físicas para
extinguir comportamentos disfuncionais, levando assim os pais de Raun a
criarem uma rotina com estímulos que possibilitassem seu desenvolvimento
intelectual, afetivo e social, sem punição e sim com reforçamento, o que
apresentou resultados positivos.
No segundo filme, Rain Man (1988), é mostrado o comportamento de
um autista adulto que vive em uma instituição para portadores de deficiências
mentais, onde o importante para Raymond era manter sua rotina, contingências
com estímulos reforçadores intermitentes. O filme mostra somente uma face do
autismo, onde o portador tem uma inteligência acima do nível normal, mas isso
não é uma regra do distúrbio, pode haver também demência associada com o
mesmo.
O autismo ainda é tabu, não há na mídia divulgação deste distúrbio e o
conhecimento sobre ele fica limitado ao meio acadêmico, muitas vezes não
chegando às pessoas que têm contado direto com os portadores, como pais e
professores, pessoas essas que exercem papéis fundamentais na formação
dos mesmos. Faz-se necessário o esclarecimento dos comportamentos
característicos do autismo, porque só assim possibilitará que a terapia
comportamental ajude a evitar o desenvolvimento de comportamentos
inadequados e inserindo os funcionais. É importante ressaltar que o
conhecimento só se torna válido quando ele é veiculado, pois à medida que
estes forem divulgados e debatidos amplamente na sociedade, propiciará
condições da mesma modificar como o conhecimento está sendo produzido,
direcionado, aplicado e conseqüentemente melhorado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO
PROFª. Drª. PAOLA BIASOLI ALVES
ADRIANA MENDES BARBALHO
ANDREA CRISTINA TEIXEIRA DA SILVA
JULIANA BATISTA FITARONI
PÂMELA THAÍS DELMONDES
THAYANE DE ALMEIDA FERREIRA
AUTISMO SOB PERSPECTIVA COMPORTAMENTAL
Cuiabá-MT
2009