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DOUTORAMENTO EM ARQUITETURA AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA ARQUITETURA DA HABITAÇÃO A HUMANIZAÇÃO NA ARQUITETURA DOS HOSPITAIS DA REDE SARAH DE REABILITAÇÃO ANA KARINE CARNEIRO ARRUDA ABRIL DE 2015

Artigo Arquitetura Da Habitação 17.04.2015

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trabalho sobre a arquitetura da habitação

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Page 1: Artigo Arquitetura Da Habitação 17.04.2015

DOUTORAMENTO EM ARQUITETURA

AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA ARQUITETURA DA HABITAÇÃO

A HUMANIZAÇÃO NA ARQUITETURA DOS HOSPITAIS DA REDE

SARAH DE REABILITAÇÃO

ANA KARINE CARNEIRO ARRUDA

ABRIL DE 2015

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A HUMANIZAÇÃO NA ARQUITETURA DOS HOSPITAIS DA REDE

SARAH DE REABILITAÇÃO

THE HUMANIZATION IN THE ARCHITECTURE OF SARAH CHAIN OF

HOSPITALS OF REHABILITATION

RESUMO

As edificações hospitalares evoluíram ao longo dos séculos, configurando-se em modelos que

vão desde as primeiras edificações com perfil de confinamento e segregação de seus doentes,

seguidas dos modelos terapêuticos e tecnológicos, até os hospitais contemporâneos do século

XXI, que incorporam à busca pela cura, o cuidado e bem estar de pacientes frente aos novos

perfis nosológicos da população. Dentro deste contexto, os hospitais da rede Sarah, projetados

pelo arquiteto Luís Filgueiras Lima - Lelé, apresentam uma linguagem e identidade

arquitetônica muito próprias. Além de seus aspectos técnico-construtivos e formais, tais

hospitais têm como peculiaridade e importância os seus espaços vivenciais e sua humanização,

que se destacam principalmente diante da integração de sua concepção arquitetônica com a

natureza e com a arte. Neste âmbito, deve-se compreender a relevância da humanização dos

Hospitais da Rede Sarah, materializada nos espaços alternativos para terapia e vivência, numa

integração entre os novos paradigmas da medicina à concepção arquitetônica.

PALAVRAS CHAVE

Arquitetura hospitalar, humanização, Rede Sarah de Hospitais, Lelé.

ABSTRACT

Hospital buildings have evolved over the centuries, configuring up in models ranging from the

first buildings with only confinement and segregation profile of their patients, through the

therapeutic and technological models, to contemporary hospitals in the twenty-first century,

which incorporate the search for a cure, the care and wellbeing of patients face the new

nosological profile of the population. Within this context, Sarah Chain of Hospitals, designed

by architect Luís Filgueiras Lima - Lele, have a language and very own architectural identity.

Besides its technical, constructive and formal aspects, such hospitals have as peculiarity and

importance their experiential spaces and its humanization, which stand out mainly on the

integration of its architectural design with nature and art. In this context, one must understand

the relevance of the humanization of Sarah Chain of Hospitals, embodied in alternative spaces

for therapy and experiences in an integration of the new paradigms of medicine to the

architectural design.

KEYWORDS

Hospital architecture, humanization, Sarah Chain of Hospitals, Lelé.

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1.INTRODUÇÃO

A idealização dos espaços hospitalares e sua consequente configuração física sempre estiveram

vinculadas a evolução dos conceitos e práticas médicas sobre a doença e a busca da sua cura,

que se relaciona com aspectos culturais e ideológicos de uma determinada época, e com os

avanços tecnológicos da medicina ao longo dos séculos. Neste contexto os hospitais evoluem,

configurando-se em modelos, que vão desde o hospital de confinamento, predominante até

início do século XVIII, passando pelo hospital terapêutico, do século XVIII e século XIX, e

hospital tecnológico, do final do século XIX e século XX, até os hospitais contemporâneos do

século XXI, com novas abordagens relacionadas, principalmente, ao conforto ambiental e bem-

estar dos pacientes. No entanto, no final do século XX, ainda sob forte influência e hegemonia

do hospital tecnológico, destaca-se a arquitetura dos hospitais da rede Sarah, que rompem com

a configuração predominante da época e antecipam características contemporâneas,

principalmente no que tange a humanização hospitalar.

Os hospitais da rede Sarah, projetados pelo arquiteto Luís Filgueiras Lima - Lelé, apresentam

uma linguagem e identidade arquitetônica muito próprias, que se desvencilham do modelo

tecnológico predominante na época da implantação de sua primeira unidade, em 1980, marcada

pelos monoblocos verticais.

As características arquitetônicas da Rede se enquadram no modernismo, porém com formas

mais livres, ao mesmo tempo que adiantam concretamente, grandes questões da virada do

século 21, como a alta tecnologia em arquitetura, eficiência energética, conforto ambiental,

limites de recursos naturais, economia dos meios e sustentabilidade. O arquiteto desenvolve sua

arquitetura alcançando a essência da arquitetura moderna, a harmonia e “união” da forma e

função, ao mesmo tempo em que antecipa características que se destacam na arquitetura

contemporânea representada por grandes nomes como por exemplo Calatrava, Gehry, Foster

(JATOBÁ, 2015).

Além dos aspectos técnico-construtivos e formais, a peculiaridade e importância dos hospitais

da rede Sarah, está nos seus espaços vivenciais, que se destacam diante da integração de sua

concepção arquitetônica com a natureza, com a arte, com os princípios de organização do

trabalho e com os diferentes programas de reabilitação, que incorporam a humanização e a

participação da família.

A rede Sarah de Hospitais sintetizou princípios técnico-construtivos e conceituais com ênfase

na promoção de espaços arquitetônicos mais agradáveis e humanizados, contrariando àquelas

estruturas das arquiteturas hospitalares cerradas, mediocremente funcionalistas, correntes até

meados da década de 1960 (EKERMAN, 2005)

Segundo Baptista (2011), O hospital já não é simplesmente um espaço de saúde no sentido

estrito, mas simultaneamente um espaço social mais alargado, que vai para além da relação

médica com o doente, embora dela parta necessariamente. Na verdade ao contrário dos grandes

complexos hospitalares modernos do século XX, quais máquinas gigantescas organizadas por

extensas alas anônimas e assépticas, o hospital contemporâneo aproxima-se da experiência da

vida quotidiana, integrando afirmativamente todas as funções complementares que a permitem

e fomentam. O autor afirma ainda que, mais do que puras máquinas de curar, os hospitais são

hoje, em si mesmos, verdadeiros espaços vivenciais.

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É neste âmbito que se deve compreender a relevância arquitetônica dos Hospitais da Rede

Sarah, onde a humanização, é materializada nos espaços alternativos para terapia e vivência,

numa integração entre os novos paradigmas da medicina à concepção arquitetônica.

2. A EVOLUÇÃO TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA HOSPITALAR

O perfil dos primeiros estabelecimentos voltados à saúde era de acolhida, de abrigo e cuidado,

funcionando desde casa de caridade e asilo até casa de peregrinos e casa dos desvalidos. O

sistema de cuidados de saúde e hospitalar, tal como conhecemos hoje, tem uma longa história,

cujo início data da baixa idade média (MURKEN, 2011).

Desde a antiguidade até meados do século XVIII, a maneira de encarar a doença esteve

vinculada ao sagrado, o que resultou na utilização dos templos religiosos como modelos

arquitetônicos de locais de acolhida e tratamento. Os espaços para tratamento da saúde

priorizam durante muito tempo o aspecto sagrado ou religioso, até porque aqueles que

forneciam os cuidados tinham tais procedimentos como ocupação (CARVALHO, 2014).

A predominância inicial do sagrado no tratamento da doença na idade média não esconde a

tentativa de marginalização do doente, da consideração dos males da saúde como punição

divina, implicando no afastamento do olhar do cidadão dito saudável.

O modelo das estruturas hospitalares estava ligado ao confinamento. O objetivo dos edifícios

era mais a proteção dos que estavam fora do que o atendimento para os pacientes em custódia

e uma vez dentro, sob custódia, havia pouca esperança de recuperação (MIQUELIN, 1992).

“O hospital da idade média era uma pequena parte do monastério

dedicado ao asilo dos pobres ou a passagem de peregrinos em rota

para os lugares santos” (PIELTAIN 2000, p.9 apud CARVALHO,

2014).

A forma arquitetônica predominante destes hospitais era a nave, basílica ou capela. A separação

do doente era apenas por sexo, acumulando-se no mesmo espaço - e, por vezes, na mesma

cama – os mais diversos casos. As principais características do sistema em nave eram: não

diferenciação de doenças e não limitação do número de doentes recebidos. Isto conduzia à

formação de grandes espaços indiferenciados, em que as pessoas eram amontoadas, agravando

o estado em que se encontravam (CARVALHO, 2014).

A imagem dos poucos hospitais implantados em aglomerados urbanos e cruzamento de rotas

comerciais era usualmente associada à morte. O objetivo básico, além do abrigo aos viajantes

era o confinamento das pessoas doentes, preparando-as eventualmente para a morte; elas eram

‘’ pacientes’’, pois pacientemente – ou pelo menos assim se desejava – aguardavam o curso dos

acontecimentos (MIQUELIN, 1992).

Neste período os hospitais repetiam as estruturas góticas das catedrais através de largas paredes,

assemelhando-se às fortificações e às prisões. As enfermarias eram ambientes insalubres onde

a iluminação natural era praticamente inexistente. Como o vento era considerado contaminante

e veiculador de miasmas1, as janelas possuíam pequenas dimensões, deixando o ambiente

escuro e amedrontador (LUKIANTCHUK, 2010).

1 Na Idade Média acreditava-se que as doenças tinham origem nos miasmas, que seriam conjuntos de odores fétidos provenientes de matéria orgânica em putrefação.

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O papel do arquiteto era circunscrito à ornamentação do projeto dos edifícios que, em geral

reproduziam a arquitetura de templos de desenho em nave ou cruciforme (TOLEDO, 2008).

O hospital só assume a missão de curar, exercendo pela primeira vez uma função terapêutica

em meados do século XVIII, frente ao cenário de avanços na medicina e progressos científicos

e a pesquisas desenvolvidas pelo médico francês Jacques-René Tenon (1724-1816), sobre os

aspectos funcionais e operacionais dos hospitais europeus.

Segundo Mignot (1983) apud Toledo (2002) os avanços da medicina, contribuíram para a

mudança do conceito da doença como um golpe do destino ou castigo divino para um fato

patológico. A presença do médico, ausente até 1770, tornou-se obrigatória, sendo

gradativamente exigida por maior tempo no hospital, que passa a ser visto como local

privilegiado para a prática médica.

De acordo com Toledo (2008) os progressos científicos que marcaram o século XVIII e XIX,

nomeadamente na medicina com as descobertas de Phillipe Pinel (1745-1826), Claude Bernard

(1813-1878), Ignaz Phillipe Semmelweis (1818-1865), Joseph Lister (1827-1912), Robert

Koch (1845-1923) e de tantos outros que construíram a chamada “era de ouro da medicina”

decorreram para o aparecimento do hospital terapêutico.

Pesquisas desenvolvidas por Tenon, sobre os aspectos funcionais e operacionais dos hospitais

franceses e ingleses baseadas em visitas programadas, com detalhada análise de suas condições

de atenção, associaram a cura dos pacientes à qualidade do ambiente hospitalar. Dentre as

principais diretrizes estabelecidas, reunidas em Mémoires sur les Hôpitaux a Paris, estavam a

organização do fluxo de pessoas e materiais, as dimensões das enfermarias, o número máximo

de camas e seus espaçamentos, e condições de ventilação e exaustão dos ambientes. Tais

diretrizes configuram-se como primeiras iniciativas de humanização do ambiente hospitalar.

Diversas foram as soluções dos arquitetos da época, que passam a ser os profissionais mais

requisitados a atender as diretrizes sugeridas, fazendo a arquitetura hospitalar passar a ter o

mesmo estatuto de um gesto médico, como defende Foucault.

O hospital como instrumento terapêutico é uma invenção relativamente nova, que data do final

do século XVIII. A consciência de que o hospital pode e deve ser um instrumento destinado a

curar aparece claramente em torno de 1780 e é assinalada por uma nova prática: a visita e a

observação sistemática e comparada dos hospitais (FOUCAULT, 1979).

As diversas soluções arquitetônicas estudadas, culminaram na criação do modelo pavilhonar,

desenvolvido pelo arquiteto Bernard Poyet (1742-1824) em colaboração com o próprio médico

Tenon. Segundo Benchimol (1990) apud Toledo (2002) os princípios delineados por Tenon

presidiram a arquitetura hospitalar ao longo de todo o século XIX e pelo menos até a década de

1920, representados por longos pavilhões paralelos, ordenados de maneira regular, segundo

diversos sistemas de simetria.

Destacada também é a obra da enfermeira Florence Nightingale em Notes on Hospitals

(NIGHTINGALE, 1863), que defendia uma forma particular de pavilhão. O padrão

estabelecido pela chamada enfermaria Nightingale representou grande avanço no sistema, pois

fixava um número máximo de pacientes por compartimento, além de estabelecer condições de

ventilação e separação entre camas (FIGURA 1).

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Figura 1: Planta esuqemática da enfermaria Nightingale. Fonte: Miquelin (1992, p.47)

O sistema pavilhonar representou um claro avanço formal e funcional na história da arquitetura

hospitalar. Nessa fase, os hospitais deixam de ser locais para exclusão e aguardo da morte para

se transformarem em instrumentos efetivos de recuperação e cura. O sistema pavilhonar vem

limitar a quantidade de doentes por bloco, adotar a ventilação cruzada e toda uma estrutura de

apoio aos cuidados de saúde, auxiliando na afirmação do novo papel dos médicos e enfermeiros

leigos no cuidado e cura dos doentes (CARVALHO,2014).

A plena aceitação e consolidação do modelo pavilhonar, na Europa, dar-se-ia no século XIX

com a construção do Hospital Laribosière de Paris, projetado por Gauthier em 1839, com

capacidade para 905 leitos dispostos em pavilhões com 32 leitos (TOLEDO, 2002) (FIGURAS

2 E 3).

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Figura 2: Planta esquemática do hospital Lariboisière. Fonte: Pieltain (2000) apud Carvalho (2014).

Figura 3: Fachada do hospital Lariboisière em 2009. Fonte: GEA-hosp (2014) apud Carvalho (2014).

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No entanto, nesta mesma época, muitas eram as críticas ao hospital pavilhonar. A sua grande

extensão, que ocupava grandes áreas, numa época de vertiginoso aumento do valor da terra,

geravam grandes percursos de funcionários e pacientes. Além disso, o fim da teoria dos

miasmas, não mais apontava para a necessidade de isolamento entre pavilhões e para as

considerações da época sobre ventilação cruzada.

As críticas da primeira metade do século XIX e as novas teorias sobre a doença, somadas à

industrialização farmacêutica e de germicidas, à incorporação de tecnologias à medicina e aos

avanços na construção civil, dão origem ao novo paradigma do hospital, agora, tecnológico.

Na medida em que a medicina incorporava novas tecnólogas para aumentar a eficácia dos

diagnósticos e tratamentos, os hospitais transformavam-se em verdadeiras “máquinas de curar”

e a arquitetura tinha a sua função terapêutica reduzida, pois, numa medicina fundamentada no

paradigma curativo, essa função passava a ser exclusiva dos médicos e da poderosíssima

indústria farmacêutica (TOLEDO, 2008).

O hospital tecnológico tem como partido arquitetônico o monobloco vertical, estimulado na

época pelo uso intensivo de estruturas metálicas e posteriormente do concreto armado,

viabilizado pelo uso de elevadores. O novo modelo incorporava duas importantes inovações

tecnológicas na construção de edificações: o uso do concreto armado e de elevadores

(FOUCAULT, 1979; BENCHIMOL, 1990 apud TOLEDO 2002).

As soluções dadas até o final do século XIX representadas por pés-direitos altos, grandes

janelas, que permitiam a ventilação cruzada, pátios centrais com jardins que valorizavam a

entrada da luz do sol, até sofisticados sistemas de ventilação foram desaparecendo com o

surgimento dos hospitais monoblocos, que privilegiaram a verticalização e, consequentemente,

sua dependência dos sistemas mecanizados de climatização (MONTERO, 2006).

Tecnologias assimiladas da engenharia naval, foram incorporadas trazendo como consequência

espaços enclausurados, com pé direitos menores, diminuição das aberturas ou janelas que,

embora resolvessem os problemas de climatização e ventilação em ambientes especiais como

salas de cirurgia, teve sua utilização generalizada. Essa situação trouxe como principal

consequência a despreocupação com a humanização dos ambientes dos edifícios e o aumento

do consumo de energia elétrica, entre outros aspectos (MONTERO, 2006).

Segundo Carvalho (2014), neste modelo, o ambiente perde o seu papel no tratamento de saúde

idealizando-se como edificações hermeticamente fechadas, sem ventilação e luz natural direta.

As janelas são altas e pequenas, não permitindo sua abertura frequentemente e a visão ao

exterior.

Com o crescente desenvolvimento tecnológico, as soluções que permitiam a iluminação e

ventilação natural deram lugar aos sistemas mecanizados de iluminação e ventilação

(MIQUELLIN, 1992).

O ar condicionado e a iluminação artificial tornaram-se soluções mais fáceis para as diversas

construções, em especial os edifícios hospitalares (LIMA, 2005 apud MONTERO, 2006).

O paradigma exclusivamente curativo, transforma o monobloco vertical em verdadeiras

maquinas de curar que se consolidam na primeira metade do século XX, permanecendo

hegemônicos até o final do mesmo século. Nestas edificações hospitalares há um grande

comprometimento do consumo energético, do conforto ambiental, e dos aspectos relacionados

à humanização.

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No entanto, a partir das últimas décadas do século XX a medicina hospitalar passa a valorizar,

ao lado do objetivo de curar, a missão de cuidar, passando a incorporar soluções voltadas ao

bem estar dos seus usuários e ao conforto ambiental.

De acordo com Toledo (2008) o cuidar assume a mesma importância do ato de curar na medida

em que grande parte das mudanças dos quadros nosológicos decorre do crescimento de doença

crônicas, sem expectativa de cura e de doenças ligadas à velhice, resultante do aumento da

expectativa de vida da população. Tais mudanças exigem cuidados permanentes dos pacientes

que passam a permanecer por mais tempo nos ambientes hospitalares, até então desenhados nos

moldes do paradigma apenas curativo.

Vê-se um retorno às questões abordadas no modelo terapêutico do século XIX, mas com um

enfoque diferente, não mais vinculado à proliferação da doença, mas à humanização e conforto

ambiental. Onde, segundo Carvalho (2014) o ambiente tem uma participação decisiva na

determinação da saúde humana, sendo a arquitetura a ciência e a arte de idealizar tais ambientes.

Segundo Toledo (2005), Michel Foucault, ao analisar, em seu livro Microfísica do Poder, o

nascimento do hospital terapêutico no final do século XVIII, tratou magistralmente dessa

questão ao escrever: “A arquitetura hospitalar é um instrumento de cura de mesmo estatuto que

um regime alimentar, uma sangria ou um gesto médico” (FOUCAULT, 1979, p. 109).

Baptista (2011) afirma que a grande alteração na maneira como se entendem e concebem os

equipamentos hospitalares, nos dias de hoje, reside na passagem de uma concepção puramente

funcional para uma abordagem mais experiencial, mais focalizada no bem-estar do doente. Num

certo sentido, a arquitetura também cura. E com esta alteração é a própria ideia de arquitetura

que muda. Por isso o hospital já não pode ser mais aquele espaço neutro e anônimo, onde a

máquina médica atua com rigor e precisão, mas um espaço mais ativo e atuante, onde o doente

também é estimulado a reagir, ou seja onde pode ser igualmente participante.

Além da humanização dos espaços, as questões enfatizadas na virada do século 21, como a alta

tecnologia em arquitetura, a eficiência energética, o conforto ambiental e a sustentabilidade

passam a ser consideradas na concepção dos hospitais contemporâneos. Hoje, entende-se que,

mais do que economia de energia, a escolha de soluções que permitem o uso de ventilação

natural traz benefícios sensíveis, tronando os ambientes mais naturais e humanos.

“O Hospital aberto torna-se a melhor solução para diminuir a infecção

hospitalar e brindar ambientes agradáveis para recuperação” (LIMA,

2005 apud MONTERO, 2006).

Para Toledo (2005) a humanização do edifício hospitalar é considerada como uma espécie de

sinônimo de “boa arquitetura”. Ou seja: uma arquitetura cujo valor não se limite à beleza do

traço, à funcionalidade ou ao domínio dos aspectos construtivos, mas que alie esses aspectos à

criação de espaços que favoreçam não só a realização e, até mesmo, o surgimento de novos

procedimentos, como também um maior bem-estar físico e psicológico de seus usuários, sejam

eles pacientes, acompanhantes ou funcionários.

Se, em geral, é nesse edifício que nos conscientizamos de nossa fragilidade, impotência e

solidão diante da doença, é nele também que poderemos vir a encontrar a coragem, a

solidariedade e a esperança, tão necessárias ao processo de cura. A humanização do edifício

hospitalar é a condição imprescindível para que esses sentimentos positivos possam florescer,

ajudando-nos a superar o estresse, a mitigar a dor e a abreviar o momento da alta (TOLEDO,

2005).

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Diante desse novo paradigma, tem-se como importante exemplar a arquitetura dos Hospitais da

Rede Sarah que, apesar de ter suas primeiras unidades concebidas na época de hegemonia do

monobloco vertical, reúnem características arquitetônicos contemporâneos, baseados na

temática sustentável, além de integrar a sua concepção arquitetônica os princípios do cuidado

e bem estar dos usuários, materializando espaços humanizados e de vivência, como referência

para os hospitais contemporâneos.

3. OS HOSPITAIS DA REDE SARAH DE REABILITAÇÃO

Em 1980 inaugura-se em Brasília o primeiro hospital da Rede Sarah Kubitschek, um conjunto

de hospitais públicos, projetados pelo arquiteto João Filgueiras Lima – Lelé, especializados na

reabilitação de pessoas com problemas físico-motores, hoje presentes em nove cidades

brasileiras. O hospital Sarah de Brasília foi unidade pioneira da Rede, composta atualmente

pelos hospitais de Brasília (1980), São Luís (1993), Salvador (1994), Belo Horizonte (1997),

Fortaleza (2001), Brasília-Lago Norte (2003), Rio de Janeiro (2009) e hospital geral de São

Carlos (em construção); pelos postos avançados de Macapá (2005) e Belém (2007) e pelo

Centro de Reabilitação infantil do Rio de Janeiro (2002).

As características arquitetônicas dos hospitais se enquadram no modernismo, porém com

formas mais livres, ao mesmo tempo em que antecipam concretamente, grandes questões da

virada do século 21, como a alta tecnologia em arquitetura, eficiência energética, conforto

ambiental, limites de recursos naturais, economia dos meios e sustentabilidade. O arquiteto

desenvolve sua arquitetura alcançando a essência da arquitetura moderna, a harmonia e “união”

da forma e função, ao mesmo tempo em que antecipa características que se destacam na

arquitetura contemporânea representada por grandes nomes como por exemplo Calatrava,

Gehry, Foster (JATOBÁ, 2014).

As edificações da Rede Sarah derivam de uma metodologia projetual e sistemas construtivos

comuns, assumindo uma linguagem arquitetônica peculiar, onde cada edifício apresenta certa

particularidade estética, seja pelo aspecto compositivo, disposição espacial ou inserção de

estruturas formais específicas em razão dos inúmeros vínculos que o programa estabelece com

a tradição cultural, a realidade socioeconômica, os valores humanos, e as condicionantes locais

(clima, topografia, vegetação, acessibilidade, dimensões do terreno (GUIMARÃES, 2010)

(FIGURAS 4 E 5).

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Figura 4:Hospital Sarah Brasília Lago Norte. Fonte: Lima (2012).

Figura 5: Hospital Sarah Rio de Janeiro. Fonte: Site da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação2.

Sobre a arquitetura da Rede Sarah, Guimarães (2010) afirma que, a tecnologia é admitida como

recurso necessário à materialização dos espaços mais humanos e democráticos. A forma

arquitetônica é considerada parte de uma reflexão crítica sobre o tempo, o espaço e o ser, não

estando necessariamente subjugada a uma fórmula fechada (tratado, normas, categorias

estilísticas, tipologias), mas sim definida por uma matriz metodológica flexível e aberta que

permita a ela moldar-se às realidades objetivas e subjetivas do mundo contemporâneo, em

constante transformação, e acenando por uma linguagem própria dessa contemporaneidade dá

vida aos espaços que, bem mais do que uma área compartimentada da construção, é o lugar

onde as atividades acontecem e as relações humanas são construídas (GUIMARÃES, 2010).

A humanização dos hospitais da rede Sarah é materializada nas estruturas destinadas a solários,

terraços jardins e a grandes áreas destinadas às atividades de reabilitação, assim como na fluidez

dos espaços internos, delimitados em sua grande maioria por painéis divisórios vazados, que

permitem maior proximidade entre usuários. A peculiaridade de tais espaços, está associada à

2 Disponível em: < http://www.sarah.br/a-rede-SARAH/nossas-unidades/unidade-rio/> Acesso em: 05 de Março de 2015.

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integração dos hospitais à natureza e à arte, fundamental para percepções positivas e bem-estar

de todos os usuários.

A arte está presente em todos os hospitais da Rede Sarah, tanto em ambientes internos quanto

nas fachadas. As obras de arte, do artista plástico Athos Bulcão dão movimento ao que antes

era parede, emprestando cor ao que antes era concreto, desta forma a monotonia de grandes

superfícies neutras é “quebrada” com os elementos artísticos de Bulcão. O objeto artístico é o

próprio objeto arquitetônico complementando o espaço, onde superfícies desprovidas de

interesse, como fachadas, empenas, painéis, divisórias, paredes e muros são transformadas em

obras de arte, que anima o ambiente com cores, contornos, relevos e geometrias.

Costi (2002) salienta a importância da Rede Sarah de hospitais pela sua proposta arquitetônica,

que, relacionada ao clima, permite a integração com a natureza. Cores estimulantes estão

presentes, assim como obras de arte perfeitamente adaptadas ao conjunto, demonstrando que a

valorização dos ambientes é feita com diversos elementos (COSTI, 2002).

RIBEIRO (2004) afirma que o “os hospitais do Lelé, ao contrário de espaços constrangedores

de sofrimento, tornaram-se locais amenos, generosos, lúdicos, ricos em volumes e cores: a

própria expressão e sentido da palavra Reabilitação.

4. A MATERIALIZAÇÃO DA HUMANIZAÇÃO

Amplos espaços para a prática de atividades esportivas e complementares, como oficinas de

dança e de artes, se materializam em lúdicas áreas de reabilitação, que podem configurar-se

como áreas internas e/ou externas em todos os hospitais da Rede Sarah de reabilitação.

Figura 6:Área externa ao hospital Sarah Rio de Janeiro. Fonte: Latorraca (2010).

No Hospital Sarah Fortaleza, um amplo espaço interno sob um grande vão livre, abriga um

ajardinado pátio de convivência, que se integra visualmente às circulações das enfermarias nos

níveis superiores, que se abrem como galerias para o grande espaço ajardinado,

deliberadamente localizado em um ponto de convergência entre as circulações internas e de

visitantes e de pacientes externos. Os pacientes internados, distribuídos ao longo das galerias

do bloco de internação, podem observar as seções de fisioterapia e os eventos culturais que se

realizam no pátio (FIGURAS 6 E 7).

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Figura 7: Pátio interno do Hospital Sarah Fortaleza. Fonte: Lima (2012).

Figura 8: Atividade sendo desenvolvida no pátio interno do Hospital Sarah Fortaleza. Fonte: Site da

Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação3.

A área de reabilitação do centro de apoio à paralisia cerebral do Hospital Sarah Lago Norte de

Brasília, possui área central destinada a jogos e terapias coletivas integrada a salas periféricas,

onde se desenvolvem as atividades de apoio. Esta, ainda proporciona o lúdico às crianças, que

se exercitam na parte central do círculo como estivessem num grande picadeiro de circo,

iluminado pela grande claraboia. Já no ginásio estão dispostos linearmente os setores de

hidroterapia, fisioterapia e quadra de esportes, sob um grande shed que capta a iluminação e

ventilação naturais.

3 Disponível em: < http://www.sarah.br/a-rede-SARAH/nossas-unidades/unidade-fortaleza/> Acesso em 05 de Março de 2015.

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Figura 9: Centro de apoio à paralisia cerebral do Hospital Sarah Lago Norte de Brasília. Fonte:

Lima (2012).

Figura 10: Quadra de esportes do ginásio do Hospital Sarah Lago Norte. Fonte: Lima (2012).

Os solários e terraços jardins podem estar vinculados diretamente às enfermarias ou às áreas de

fisioterapia, numa configuração integrada, já que predominantemente estas últimas apresentam

relações de contiguidade entre si.

Os terraços jardins são elementos marcantes no Hospital Sarah Brasília, onde grandes vigas

tipo Vierendeel4 limitam grandes espaços ajardinados que recebem entrada de sol. Estes têm

como função fundamental tornar mais humanizados os espaços das enfermarias, contribuindo

para o equilíbrio psicológico dos pacientes que se sociabilizam e tomam banhos diários de sol,

além de contribuírem para a prevenção da infecção cruzada (FIGURAS 11 A 13).

4 Tipo de sistema estrutural composto por barras conectadas entre si através de nós, não havendo formação obrigatória de triângulos, como nas treliças.

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Figura 11: Terraço jardim do Hospital Sarah Brasília. Fonte: Lima (2012).

Figura 12: Terraço jardim sob banho de sol. Fonte: Lima (2012).

Figura 13: Integração da enfermaria com o terraço jardim. Fonte: Guimarães (2010).

Os solários são elementos arquitetônicos marcantes nos Hospitais Sarah de Belo Horizonte,

Fortaleza e Rio de Janeiro.

Em Belo Horizonte, foram criadas três grandes plataformas com estrutura em concreto armado

em forma de um octógono, adjacentes ao bloco de internação (FIGURAS 14 E 15).

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Figura 14: Solários do Hospital Sarah Belo Horizonte. Fonte: Lima (2012).

Figura 15: Detalhe dos solários do Hospital Sarah Belo Horizonte. Fonte: Site da Rede Sarah de

Hospitais de Reabilitação5.

Em Fortaleza, numa configuração semelhante, ao longo da fachada do bloco vertical de

internação, encontram-se dois conjuntos estruturais independentes destinados aos solários das

enfermarias. Estes estão ligados às varandas do respectivo pavimento sempre no trecho

correspondente à fisioterapia, sendo também utilizados como extensão desta para tratamento ao

ar livre (FIGURAS 16 E 17).

5 Disponível em: < http://www.sarah.br/a-rede-SARAH/nossas-unidades/unidade-belo-horizonte/> Acesso em 05 de Março de 2015.

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Figura 16: Solários do Hospital Sarah Fortaleza. Fonte: Lima (2012).

Figura 17: Detalhe do solário do Hospital Sarah Fortaleza. Fonte: Lima (2012).

No Sarah Rio de Janeiro, o solário é constituído de duas plataformas metálicas localizadas em

cada nível dos dois pavimentos de internação, com acesso através de uma passarela, ambientada

por um grande espelho d´água (FIGURAS 18 E 19).

Figura 18: Passarela de acesso ao solário do Hospital Sarah Rio de Janeiro. Fonte: Lima (2012).

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Figura 19: Solário do Sarah Rio de Janeiro. Fonte: Lima (2012).

4.1 A FLUIDEZ DOS ESPAÇOS E A ARTE INCORPORADA NA ARQUITETURA

Os espaços internos dos hospitais da Rede Sarah são predominantemente delimitados por

painéis vazados que criam espaços mais fluidos e descontraídos, fazendo com que o paciente

não se sinta oprimido dentre quatro paredes, encontrando solidariedade ao dirigir o olhar pelas

fendas criadas propositalmente, entrevendo outros pacientes no ambiente contíguo. Os painéis,

sempre coloridos, harmônicos e leves, são obras de arte idealizadas pelo artista plástico Athos

Bulcão, que tem sua marca registrada em toda a arquitetura dos hospitais da rede, tanto

internamente quanto externamente (FIGURAS 20 A 24).

Figura 20: Painel metálico com elementos vazados pintados, projetados pelo artista plástico Athos

Bulcão. Fonte: Lima (2012).

Page 19: Artigo Arquitetura Da Habitação 17.04.2015

Figura 21: Divisória em lâmina de madeira colorida, que permite a ventilação entre o setor de

fisioterapia e a circulação do Sarah Lago Norte em Brasília. Fonte: Lima (2012).

Figura 22: Painéis divisórios metálicos do Hospital Sarah Rio de Janeiro. Fonte: Latorraca (2010).

Figura 23: Painéis com bandeirolas multicoloridas no Centro de apoio à paralisia cerebral do Sarah

Lago Norte. Fonte: Lima (2012).

Os painéis móveis do Centro de Paralisia Cerebral do Lago Norte, com desenhos geométricos

de Athos Bulcão – na realidade divisórias pivotantes, como se fossem bandeirolas, abrem o

espaço para o exterior, integrando-o à natureza circundante.

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Figura 24: Vista geral do Centro de Apoio à Paralisia Cerebral do Sarah Lago Norte. Fonte: Lima

(2012).

4.2 A INTEGRAÇÃO COM A NATUREZA

A integração dos Hospitais da Rede Sarah com a natureza garante a preservação da vegetação

original e a exploração das características naturais locais, contribuindo potencialmente para

percepções positivas incorporadas na rotina de funcionários e pacientes, que interagem

facilmente com a natureza, tanto externamente quanto internamente à edificação, num estímulo

à rotina de trabalho e reabilitação dos pacientes, tornando-se parte integrante do processo de

cura (FIGURA 25 E 26).

Figura 25: Jardim externo do Hospital Sarah Salvador. Fonte: Montero (2006).

Page 21: Artigo Arquitetura Da Habitação 17.04.2015

Figura 26: Vista de um dos jardins externos do Hospital Sarah salvador. Fonte: Lima (2012).

O Sarah Lago Norte Brasília, integra-se com o lago Paranoá de forma a explorar os benefícios

da beleza da paisagem além de possibilitar práticas de reabilitação no Lago (FIGURA 27 E 28).

Figura 27: Integração do Hospital Sarah Brasília Lago Norte com o Lago Paranoá. Fonte: Lima

(2012).

Figura 28: Atividade de reabilitação integrada ao Lago Paranoá. Fonte: Site da Rede Sarah de

Hospitais de Reabilitação6.

6 Disponível em: < http://www.sarah.br/a-rede-SARAH/nossas-unidades/unidade-brasilia-lago-norte/> Acesso em 05 de Março de 2015.

Page 22: Artigo Arquitetura Da Habitação 17.04.2015

Segundo Guimarães (2010), a implantação dos edifícios da Rede Sarah, além de captar os

ventos e a luz do sol, explora as potencialidades visuais da paisagem, na comunicação que as

áreas internas e externas estabelecem a partir das grandes aberturas, dos painéis vazados,

translúcidos ou transparentes que o delimitam.

Além do contato com a natureza exterior, jardins internos em meio a grandes aberturas de luz

carregam de humanização os ambientes hospitalares, que transmitem sensações de leveza e bem

estar (FIGURA 29 A 31).

Figura 29: Vista de jardim interno do Hospital Sarah Salvador. Fonte: Lima (2012).

Figura 30: Vista de um dos jardins internos do Hospital Sarah Fortaleza. Fonte: Lima (2012).

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Figura 31: Vista do Jardim interno do Hospital Sarah Fortaleza. Fonte: Montero (2006).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo (MIQUELIN, 1992), os hospitais são empreendimentos complexos, que abrigam

pessoas em confronto com emoções e incertezas nos momentos críticos da existência humana,

como nascimento, sofrimento profundo, risco de vida, dor, doença, cura, qualidade de vida e

morte, e por essa razão sua arquitetura deve ajudar psicologicamente na melhoria dos pacientes.

De acordo com Montero (2006), a configuração espacial, por meio da iluminação, das cores, da

ventilação, entre outros, influencia o estado psicológico dos pacientes, agravando ou

melhorando seu ânimo, vendo-se que além do tratamento médico e a metodologia da equipe

médica, a arquitetura também é fundamental para estimular o psicológico dos pacientes.

Dentro dos aspectos da humanização, pode-se dizer que, além de transcender ao modelo

hegemônico do final do século XX do monobloco vertical, se adequando ao modelo de hospital

contemporâneo, a arquitetura dos hospitais Sarah desperta sensações e percepções positivas,

seja no tocante do bem estar de equipes de trabalho quanto de seus pacientes.

Neste contexto, o aspecto formal e compositivo dos hospitais da rede Sarah, mediante seus

espaços vivenciais, representados por terraços jardins, solários e áreas lúdicas de reabilitação,

assim como a fluidez dos espaços e a arte incorporada na arquitetura e integração com a

natureza, influenciam positivamente os sujeitos, contribuindo para o processo de recuperação e

cura.

Page 24: Artigo Arquitetura Da Habitação 17.04.2015

6. REFERÊNCIAS

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